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Ministério da Saúde

Secretaria de Atenção à Saúde


Departamento de Atenção Básica

Revista Brasileira

Saúde da Família

Brasília / 2006
Sumário
04 Teatro dos agentes comunitários de 46 Medicina Tradicional Chinesa é
saúde do Piauí tem Promoção da Saúde adotada pelo Serviço Público
como personagem principal
51 Alimentação Saudável melhora saúde
07 Estado Promotor da Saúde dos goianos

14 Reisado - Idosos recuperam tradições 55 Estratégia antibagismo para


conscientizar usuários começa nas Unidades
e alegrias
Básicas de Saúde

17 Literatura de Cordel como 57 Academia da Terceira Idade melhora


instrumento de educação popular para a qualidade de vida em Maringá
saúde
61 Cidadãos da Terceira Idade têm
21 Arte, Promoção da Saúde e Geração atenção de primeira
de Emprego e Renda: atitudes de inclusão
social 63 Ação em rede previne o risco de
violência em Curitiba

26 Promoção da Saúde é tema do Teatro 67 Parcerias viabilizam Estratégia Saúde


de Mamulengo "Para Ser Feliz"
da Família para população das Ilhas de

33 ARTIGO - Promoção da Saúde, Porto Alegre

Práticas Corporais e Atenção Básica

2
Editorial

PROMOÇÃO DA SAÚDE

H
istoricamente, a atenção à saúde viver, condições de trabalho, habitação, am-
no Brasil tem investido na formu- biente, educação, lazer, cultura, acesso a
lação, implementação e concre- bens e serviços essenciais.
tização de políticas de promoção,
A Política Nacional de Promoção da Saúde
proteção e recuperação da saúde. Há, pois,
aponta para a explicitação de mecanismos
um grande esforço na construção de um mo-
que reduzam as situações de vulnerabilidade,
delo de atenção à saúde que priorize ações
defendam radicalmente a eqüidade e incor-
de melhoria da qualidade de vida dos sujei-
porem a participação e o controle social na
tos e coletivos.
gestão das políticas públicas. Define ainda a
Nessa direção, o desafio colocado para o importante interface com a Atenção Básica e
gestor federal do SUS consistiu em propor a Estratégia Saúde da Família, lócus de exe-
uma política transversal, integrada e cução dessas diretrizes. Assim, a nova Políti-
intersetorial, que proporcionasse o diálogo ca Nacional de Promoção da Saúde prioriza
entre as diversas áreas do setor sanitário, para o biênio 2006/2007 ações voltadas para
os outros setores do Governo, os setores a divulgação e implementação dessa Política.
privado e não-governamental e a socieda- Neste contexto estão: Alimentação saudá-
de, compondo redes de compromisso e co- vel; Prática corporal/atividade física; Preven-
responsabilidade quanto à qualidade de vida ção e controle do tabagismo; Redução da
da população em que todos sejam partícipes morbi-mortalidade em decorrência do uso
no cuidado com a saúde. abusivo de álcool e outras drogas; Redução
da morbi-mortalidade por acidente de trân-
O ano de 2006 é particularmente marcante
sito; Prevenção da violência e estímulo à
em relação às práticas que o Brasil desen-
cultura de paz; e Promoção do desenvolvi-
volve para integralidade do cuidado e para a
mento sustentável.
melhoria da qualidade de vida da população.
Em 30 de março de 2006 é aprovada a Po- O destaque da Revista Brasileira de Saúde
lítica Nacional de Promoção da Saúde(PNPS), da Família para o tema Promoção da Saúde
pela portaria nº 687. Promoção da Saúde ratifica o compromisso do Ministério da Saúde
aqui entendida como uma estratégia de ar- na identificação e divulgação de experiências
ticulação transversal que busca promover a para promoção da cooperação horizontal,
qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade no sentido de ampliar e qualificar as ações
e os riscos à saúde relacionados aos seus de promoção da saúde nos serviços e na
determinantes e condicionantes - modos de gestão do Sistema Único de Saúde.

José Agenor Álvares da Silva


Ministro da Saúde
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Parnaíba - PI

Do Movimento Sanitário à nova


forma de tratar a comunidade

Teatro dos agentes comunitários de saúde


do Piauí tem Promoção da Saúde como
personagem principal

N
a parceria costurada en- contexto da estratégia Saúde da
tre a prefeitura de Família.
Parnaíba (PI) e o Teatro
dos Agentes Comunitári- "Com o aperfeiçoamento de traba-
os de Saúde (TACS), ambos são lhos que abordam temas atuais e a
unânimes em dizer que, hoje, o prin- inclusão deste modelo junto à es-
cipal fundamento do Teatro é co- tratégia Saúde da Família, fato que
laborar com a Secretaria Municipal também tem servido de suporte
para as secretarias de Desenvolvi-
de Saúde e a estratégia Saúde da
mento Social e Cidadania, Educa-
Família no trabalho de educação em
ção e Turismo, entre outros, o grupo
saúde, na atenção básica e na pre- adolescentes participantes de pro-
se consolida como um dos mais im-
venção, considerada pelos gestores jetos da secretaria de Desenvolvi-
portantes métodos de divulgação
em saúde como fundamental para mento Social e Cidadania do muni-
e educação em saúde nos diver-
melhorar a qualidade de vida e o cípio sobre as oficinas de teatro.
sos temas abordados como den-
nível de saúde da comunidade. Tais oficinas têm o propósito de es-
gue, aleitamento materno, vacina-
ção, Aids, pré-natal e gravidez na timular os adolescentes a se apro-
Como parceira dessa história com
adolescência", salienta. ximarem do teatro e incentivar, de
final feliz está a secretaria munici-
maneira lúdica e participativa, a dis-
pal de Saúde.
UFSCPara a secretária de cussão de temas como Aids, dro-
Quanto à integração com outros
Saúde, Ivonete Beltrão, o que le- grupos, um dado importante nessa gas, violência, gravidez. Ao final
vou a SMS a dar apoio a essa ação política de diálogos intersetoriais é destas Oficinas, que trabalham tam-
de promoção da saúde é que a pro- que os componentes do TACS já bém a auto-estima individual e co-
posta do grupo se integrava ao ministraram oficinas de teatro para letiva, os grupos de adolescentes
4
apresentam a sua própria peça para disseminar o conhecimento
de teatro com temática livre. sobre saúde para a população sur-
A cena, por exemplo, levada ao
“o desafio é integrar os giu da necessidade de melhorar o
trabalho dos agentes comunitários
palco pelo grupo Teatro dos vários assuntos de saúde, junto às famílias atendi-
Agentes Comunitários de Saú- pertinentes à das nas comunidades de Parnaíba.
de, na peça "A Última Tabacada
de Chico", ganha ainda mais promoção e prevenção
dramaticidade quando o local da saúde. Segundo Rir à vontade, interagir com quem
escolhido para a encenação des- se apresenta e com os demais es-
se teatro: uma praça pública de
seu entendimento, pectadores, além de absorver to-
Parnaíba, cidade localizada no uma mesma peça das as informações repassadas nas
extremo norte do Piauí. A céu sempre aborda vários apresentações faz parte de uma
aberto, na platéia, rostos mar- estratégia de construção coletiva.
cados pela dura lida nos traba- assuntos, desde a A escolha de cada tema nas apre-
lhos mais pesados. No palco, um dengue e como acabar sentações do grupo está condicio-
elenco de atores dispostos a nada às necessidades do trabalho
mostrar a arte de se viver com com o mosquito ou dos ACS. "O processo criativo se
saúde. Nos corações, a certeza como conduzir o pré- dá de forma simples", conta Juarez,
de que no palco da vida, o per- para quem as discussões do grupo
sonagem principal é o cidadão.
natal, até às DST/Aids
dão o grande tempero do espetá-
e como usar culo. Assim, são discutidos os prin-
Usada como forma lúdica para
dar um recado sério, "A Última adequadamente o cipais aspectos do tema a ser abor-
dado, depois escolhido o gênero de
Tabacada de Chico" é um espe- preservativo. "De teatro mais adequado dentro des-
táculo cômico e também dramá-
maneira informal e se aspecto e criado o roteiro do
tico que enfatiza bem os males espetáculo. "Desenvolvemos e es-
do fumo. "É mais assimilável uma descontraída, chega à crevemos os textos depois de
informação por intermédio do população informações pesquisar e fundamentar o tema.
teatro, pois, a linguagem artísti- E, ao longo do processo de mon-
ca tem mais impacto", explica o importantes para que
tagem e oficinas, novas idéias vão
coordenador-geral do grupo, ela possa ter ampliado surgindo e se incorporando à peça".
Juarez Fontenele.
o seu acesso à
Os planos da dupla para esse ano
Acompanhado pelo dramaturgo cidadania” incluem a participação na mostra
e diretor do TACS, Francisco das teatral do Congresso de Preven-
Chagas Araújo da Silva (o ção DST/Aids, em Belo Horizonte,
Chagah), Juarez Fontenele lem- e as montagens do figurino da peça
bra que a idéia de usar o teatro "Com Aids é outra estória" e do es-
petáculo "Ciranda Limpeza".
Peça "A Festa do Boi
As apresentações são agendadas
Estrela" ensina sobre
junto às equipes da estratégia Saú-
como combater o
de da Família e demais secretarias
mosquito da Dengue
por ocasião de eventos de grande
concentração popular e a mensa-
gem, segundo Ivonete Beltrão, "é
levada de maneira simples e ao
mesmo tempo completa e diverti-
da, permitindo a participação do
público com excelentes resultados
no alcance dos objetivos propos-
tos".

"Agora, o projeto tem os desafios


de conseguir outras fontes de fi-
nanciamento, além do Programa
Municipal de DST/Aids, e conciliar
a demanda da comunidade com a
disponibilidade do grupo, já que o
teatro é uma estratégia de traba-
lho destes profissionais de saúde,
que no dia-a-dia têm uma agenda 5
de atividades como agentes co-
munitários de saúde", argumenta.
Por fim, existe a plataforma de
estruturação do grupo como orga-
nização da sociedade civil, de modo
a ter mais alternativas para
viabilizar recursos para o trabalho
do grupo.

A coordenadora do Programa Mu-


nicipal de DST/Aids de Parnaíba,
Alice Vitória Freire Cordeiro
Sampaio, conta que, ao comple-
tar 10 anos de atuação, o trabalho
destes agentes comunitários/ato-
res passou a ser reconhecido, por
meio de apresentações em even-
tos nacionais e regionais. Em sua
avaliação, o desafio é integrar os
vários assuntos pertinentes à pro-
moção e prevenção da saúde. Uma natal, combate à dengue e aleita- ças a este teatro estas informa-
mesma peça sempre aborda vários mento materno; Com a Aids é ou- ções são levadas a um público
assuntos, desde a dengue até às tra estória, falando do uso da ca- maior, principalmente nas escolas,
DST/Aids. "De maneira informal e misinha, dos meios de transmissão nas periferias da cidade. É impor-
descontraída, chega à população da Aids e como se prevenir da do-
tante porque não fala só de DST/
informações importantes para que ença; O Boicidente, revelando o
ela possa ter ampliado o seu aces- mundo da educação no trânsito; e Aids, mas é mais abrangente e fala
so à cidadania", observa. Ela apre- A Última Tabacada de Chico, sobre até de meio ambiente".
senta ainda um outro grande de- a prevenção do tabagismo, mar-
safio: adequar a apresentação do caram a vida de muita gente nas Já para o ator do grupo TACS, que
assunto à faixa etária e ao nível comunidades, é também agente comunitário de
de escolaridade e compreensão da saúde e o lobo na peça "Com Aids
platéia. Integrante da Associação de Mo- é outra estória", Jacy Luiz de Je-
radores do bairro Igaraçu-Parnaíba,
sus Batista, é importante fazer
Maria de Lourdes Pereira do Nasci-
parte do projeto porque " é uma
mento deu um panorama de como
Comunidade e Teatro oportunidade tanto de aprender,
está o trabalho do TACS nas co-

A tuações memoráveis em peças munidades. "É ótimo porque leva como de ensinar e levar a saúde
como A Festa do Boi Estrela, as informações para as pessoas que para a população por meio da in-
que trata da Aids, vacinação, pré- ainda não tem acesso a elas. Gra- formação e do humor".

Público lota praça central da cidade para prestigiar encenação da peça "A Última Tabacada de Chico"

6
Palmas - TO

Estado promotor da saúde


Escolas Promotoras de Saúde e Estratégia Saúde da Família
Ação Intersetorial exitosa

A
Estratégia Escolas Pro- sobre "como promover" a lar que priorize a promoção da saúde
motoras de Saúde, de integração entre essas duas áreas e, dessa forma, promover a
senvolvida no Estado do e tem entre seus objetivos ampliar integração entre os serviços de
Tocantins, por meio da o desenvolvimento e implemen- saúde e a escola, bem como entre
parceria entre Saúde e Educação, tação de uma política intersetorial os setores e as políticas de Saúde
procura dar respostas a questões de atenção integral à saúde esco- e Educação; um de seus desafios
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é fazer com que a gestão e o pla- responsável pelo território onde a de alcançar cerca de 80% de
nejamento assumam a construção escola está inserida. Vale ressaltar efetivação, tem oportunizado, se-
de habilidades para a promoção de que a referência é estabelecida não gundo as próprias equipes de saú-
alianças e implementação de pro- apenas para problemas e enfermi- de, a detecção de problemas que
jetos coletivos, também como ta- dades mas principalmente para a não estão sendo percebidos nas
refa, ampliando a capacidade de gestão integrada, envolvendo di- visitas domiciliares dos agentes co-
análise e de intervenção. agnóstico, análise situacional, pla- munitários, posto que a periodici-
nejamento estratégico, programa- dade de visita é mensal e algumas
Implantada em âmbito estadual em
ção, monitoramento e avaliação, vezes a família procura ocultar o
março de 2002, é desenvolvida em
tendo como desafios: construir ob- problema ou até mesmo negá-lo.
Palmas, capital do Tocantins, des-
jetivos e objetos de investimentos Por meio da expressão ou queixa
de 1999. As modificações, ocorri-
comuns; produzir co-responsabili- dos problemas no ambiente esco-
das no Projeto "Saúde Escolar", do
dade em relação à comunidade e lar, vários casos, alguns que ne-
Fundo Nacional de Desenvolvimento
ao território onde está localizada a cessitaram de intervenção do con-
da Escola e Ministério da Educa-
escola e desenvolver sentimentos selho tutelar e outros que neces-
ção e Cultura - FNDE/MEC, leva-
de pertinência e pertencimento. sitaram de atenção médica com
ram à reflexão e, conseqüentemen-
certa urgência, ou até mesmo uma
te, à reorganização do trabalho de- Desta forma as coordenações da
ação rápida de bloqueio de doen-
senvolvido. escola e das equipes de saúde,
ças transmissíveis, foram
sejam do Programa de Agentes
A revisão do modelo organizacional desencadeadas por meio do desen-
Comunitários de Saúde ou da Es-
e operacional a partir dos princípi- volvimento deste sistema.
tratégia Saúde da Família, consti-
os e da lógica do Sistema Único de
tuem as Equipes Locais de A proposta de co-gestão é
Saúde (SUS), das bases concei-
Gerenciamento Integrado. O tra- viabilizada também pelo processo
tuais da Promoção da Saúde (Car-
balho articulado da equipe escolar de educação permanente destas
ta de Ottawa), da Iniciativa Esco-
com as equipes de saúde, permite Equipes, no qual pode ser desta-
las Promotoras de Saúde (Organi-
que o escolar seja assistido em seus cada a formação para a gestão in-
zação Pan-Americana de Saúde -
principais âmbitos de convivência: tegrada, onde profissionais de saú-
OPAS) e das diretrizes Curriculares
escola, família e comunidade. de e educação participam e cons-
Nacionais da Educação, adotando
troem de forma coletiva, concei-
como eixos estruturantes a ges- Esta articulação tornou viável a
tos, objetivos e possibilidades e
tão, a formação e o processo de implantação de um sistema entre
desenvolvem em conjunto, habili-
ensino e aprendizagem, tem con- a escola e a unidade de saúde, por
dades e competências, para os
tribuído para que os setores de meio das visitas domiciliares do
desafios identificados por meio de
saúde e educação construam ob- Agente Comunitário de Saúde rea-
um processo de ensino aprendiza-
jetivos e objetos de investimento lizadas por solicitação da Escola, a
gem, que tem como base a educa-
comuns e o processo de trabalho partir de critérios de observação
ção popular. Este processo de edu-
desenvolvido tem possibilitado a in- acordados, relata Regiane Rezende,
cação permanente também é com-
clusão das escolas na rede de cui- Coordenadora da Atenção Básica
prometido com a "socialização do
dados progressivos com a saúde do Estado do Tocantins.
Sistema Único de Saúde (SUS)" ou
fortalecendo a consolidação do
No âmbito municipal a Equipe de seja com a apropriação sobre as
SUS.
Gerenciamento Integrado é forma- informações e formas de participa-
A Estratégia é gerenciada nas es- da pelas Secretarias Municipais de ção e de acesso a esse sistema
feras estadual, municipal e local por Saúde e Educação e pelas Direto- tendo como objetivos: promover
meio das Equipes de Gerenciamento rias Regionais de Ensino e no âmbi- uma releitura do SUS a partir da
Integrado (EGI), formando um sis- to estadual pelas Secretarias Es- compreensão do espaço da escola
tema de co-gestão entre saúde e taduais de Saúde e de Educação e como um espaço para o fortaleci-
educação que tem entre seus ob- Cultura e pela União Nacional dos mento e efetivação dos princípios
jetivos efetivar a intersetorialidade. Dirigentes Municipais de Educação. e diretrizes deste sistema,
enfocando a participação e o con-
No âmbito local as escolas são O sistema estabelecido entre a es- trole social; promover uma refle-
8 referenciadas à unidade de saúde, cola e a unidade de saúde, além
9
xão sobre a importância da partici- A Gestão Integrada da Estratégia saúde, promovida por este proces-
pação popular; promover a ampli- nas três esferas conferiu um salto so, também reflete nas ações de
ação dos espaços de participação no desenvolvimento da relação en- educação em saúde e nas deci-
dos estudantes nos processos tre saúde e educação e na própria sões da escola e das unidades de
decisórios e na vida da escola; bem compreensão sobre a responsabili- saúde.
como fazer estes mesmos movi- dade da Educação e da Saúde em
mentos e reflexões em relação às envolver outros setores para a pro- O desenvolvimento deste trabalho
equipes de saúde e ao espaço das moção da saúde e qualidade de integrado e de educação perma-
unidades de saúde. vida. A compreensão ampliada da nente possibilitou a realização do

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planejamento estratégico integra- pactuados indicadores, metas e a lecido modificações, que em rela-
do e ascendente. Desta forma o programação a ser realizada em ção à proposta da promoção da
planejamento da Equipe Estadual conjunto pelos setores saúde edu- saúde são importantes, como a for-
foi desenvolvido a partir da deman- cação, para o alcance das mes- ma de evidenciar e descobrir as
da do planejamento das Equipes Mu- mas. causas dos problemas, desenvol-
nicipais de Gerenciamento Integra- vendo um pensamento
Outro aspecto importante é refe-
do. Este planejamento possibilitou epidemiológico e estratégico, con-
rente a institucionalização, obser-
a criação de uma Matriz de tribuindo para a não naturalização
vada pelas portarias e resoluções
Pactuação, por meio da qual são de problemas que muitas vezes já
da Comissão Intergestora Bipartite,
se apresentavam na escola, mas
a inclusão da Estratégia nos ins-
que por não serem evidenciados e
trumentos de gestão do Sistema
questionados, eram deixados em um
Único de Saúde e a articulação e
segundo plano. A modificação da
estudos da Secretarias Estadual e
forma como a equipe de saúde se
Municipais de Educação e da União
relaciona com a escola, buscando
Nacional dos Dirigentes Municipais
planejar as ações em conjunto,
de Educação/TO, para a inclusão
mudando uma cultura de interrup-
da Estratégia Escolas Promotoras
ção das aulas e da rotina escolar,
de Saúde, como forma de
com atividades pontuais, como pa-
operacionalizar a Promoção da Saú-
lestras ou campanhas, sem progra-
de, no currículo e Projetos Políti-
mação e adaptação ao contexto e
cos Pedagógicos.
ao público a quem são dirigidas,
Um dos desafios da interse- também são ganhos importantes do
torialidade é provocar a inquieta- ponto de vista da intersetorialidade
ção em relação à resistência a mu- e da promoção da saúde.
danças e com isso evitar a aco-
Outro ganho é a modificação
modação das pessoas e paralisa-
organizacional e estratégica da es-
ção dos processos. A
cola, que pode ser observada quan-
intersetorialidade possibilita
do: a escola muda o horário da
releituras da realidade a partir de
um novo olhar de um outro setor, merenda, implanta o recreio dirigi-
e nessa troca pode provocar refle- do, mobiliza a comunidade para a
xões e suscitar mudanças em am- confecção e colocação de corti-
bos os setores. nas nas salas de aula para reduzir
o reflexo do sol no quadro e em
Dentre as principais características conseqüência a dor de cabeça, a
da integração das políticas públi- reforma e construção de banhei-
cas de saúde e educação, citadas ros, entre outras. Desta forma a
por Elvina Gomes de Souza e
operacionalização da estratégia
Aguifaneide Lira Dantas Gondim,
Escolas Promotoras de Saúde tem
Integrantes da Equipe Estadual de
contribuído para uma gestão es-
Gerenciamento pela Secretaria Es-
colar voltada para a Promoção da
tadual de Educação e Cultura, tem
Saúde com base em evidências.
sido o reconhecimento da contri-
buição que a Saúde pode oferecer Toda esta mobilização envolve ne-
para melhorar a qualidade da Edu- gociação, partilha de poder, reco-
cação e vice-versa, percebendo nhecimento de limitações, despren-
que esta parceria soma conheci- dimento, disponibilidade e disposi-
mentos dentro das Escolas. ção para o trabalho em equipe, re-
O processo de trabalho desenvol- conhecimento e valorização de ou-
vido entre as Equipes tem estabe- tros saberes, o que por si já são
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ganhos, posto que são aspectos Atualmente a Estratégia está im- processo, por meio de um esforço
fundamentais para a efetivação da plantada em 10 municípios do Es- coletivo para a compreensão e
Promoção da Saúde. tado integrando 205 escolas e 98 adesão a estas propostas.
unidades de saúde e atendendo a
A Estratégia Escolas Promotoras de cerca de 34% das crianças matri-
Saúde tem induzido a discussão culadas do 1º ao 5º ano da edu- “Atualmente a
sobre a Promoção da Saúde no Es- cação básica nas escolas públicas
Estratégia está
tado do Tocantins, em decorrên- da zona urbana do Tocantins e está
cia da necessidade de articulação
implantada em 10
sendo elaborado um projeto para
entre os setores. As Políticas Na- implantação nos demais municípios
municípios do Estado
cionais de Promoção da Saúde e do Estado, como resultado da de- integrando 205 escolas
de Atenção Básica, bem como o manda do planejamento ascenden- e 98 unidades de
Pacto pela Saúde vieram fortale- te e da solicitação para implanta- saúde e atendendo a
cer este movimento. ção nestes outros municípios. cerca de 34% das
As Políticas Nacionais de Atenção
crianças matriculadas
Básica e Promoção da Saúde, bem do 1º ao 5º ano da
como o Pacto pela Saúde refor- educação básica nas
Escolas Promotoras de Saúde çam a possibilidade de efetivação escolas públicas da
em Araguaína
da Promoção da Saúde como pro- zona urbana do

A Estratégia Escolas Promoto posta e compromisso de Estado, Tocantins e está sendo


contudo faz-se necessário melho-
ras de Saúde foi implantada elaborado um projeto
no município de Araguaína em ju- rar e ampliar a articulação e co-
para implantação nos
lho/2002, por meio de convênio fir- responsabilidade entre os setores
da sociedade e contar com a par-
demais municípios do
mado entre a Prefeitura Municipal
ticipação e controle social neste Estado”
e a Secretaria Estadual de Saúde
Ela abrange 53 Escolas da Rede Pú-
blica de Ensino (municipais e esta-
duais), tendo como público-alvo Queiroz e Aguida Luiza Dias da Cos- A EEPS dentro de Araguaína tra-
10.812 aluno do Ensino Fundamental ta Ribeiro, informam que com a balha de forma sistematizada com
(1ª a 4ª série). EEPS, os temas relacionados à Saú-
os profissionais (gerentes munici-
de são abordados com base no
Tendo como foco a escola que está pais, gerentes locais, agentes es-
contexto da comunidade escolar,
inserida na área de abrangência da colares, agentes comunitários,
com enfoque na promoção de saú-
estratégia SF/PACS e por meio da equipe escolar, equipe de saúde,
de e não na doença. Nessa pers-
análise da realidade da comunida- pais e alunos), compondo uma equi-
pectiva, as Escolas Promotoras de
de escolar, a equipe escolar e a
Saúde deram um salto de qualida- pe integrada para a articulação e
Equipe Saúde da Família realizam
de no que diz respeito à participa- desenvolvimento da Estratégia
um planejamento conjunto das
ção consciente da população.
ações de promoção de saúde a As ações são desenvolvidas de for-
serem trabalhadas por meio das No entendimento dos gestores da ma multidisciplinar, procurando es-
evidências e não por intermédio de saúde local, a comunidade escolar timular a participação dos alunos,
programas pré-estabelecidos. aprendeu e passou a identificar, pais e comunidade, respeitando as
prevenir e reduzir problemas e ris-
Sobre o processo de indução do opiniões e conhecimentos já exis-
cos para a saúde na escola e na
Estado do Tocantins para a pro- tentes. Dessa forma o tema relaci-
comunidade, criando oportunidades
moção de saúde, as integrantes da onado à saúde é abordado de for-
de educação, socialização de in-
Equipe Municipal de Gerenciamento ma dinâmica, com base na cons-
formações e tomada de decisões
Integrado de Araguaína, Alessandra trução de idéias, permitindo a re-
resultando no compartilhamento de
Carla Olm, Alessandra Reis de flexão e autonomia.
12 responsabilidades.
13
Pedrinhas - SE

Reisado - Idosos recuperam tradições e alegrias

E
m Pedrinhas, pequeno uma constante. "Isso é um abu- mentação, com o uso de bebidas
município no estado de so, não está certo. É preciso mu- alcoólicas e do fumo. O arroz com
Sergipe, distante 89 dar essa triste realidade", resmun- o feijão básico que por nada des-
quilômetros da capital gou um dia a enfermeira da es- se mundo alterava aquele quadro
Aracaju, até um ano e meio atrás, tratégia Saúde da Família Rosavina depressivo estampado nos rostos
o pessoal da terceira idade anda- da Conceição Santos, de 65 anos. dos idosos", lembra a enfermeira.
va meio cabisbaixo, cismado com Ela começou então a pensar em
Para mudar este contexto, a en-
o peso dos anos, só falava em uma alternativa de promover a
fermeira decidiu promover a saú-
doenças, desgostoso com as ma- saúde dos idosos de Pedrinhas.
de a partir do conceito holístico
zelas familiares e com essa nova
A enfermeira tinha intimidade com de ser humano, de indivíduo e de
ordem dos tempos modernos que um grupo de aproximadamente 200 saúde. E uma lembrança saudosa
manda os avós cuidarem dos ne- idosos por meio do projeto "Grupo da infância de Rosavina emergiu
tos enquanto os pais vão para o de Amigos da Terceira Idade", e trouxe com ela uma possibilida-
trabalho ou para o lazer. Motivos promovido pelas secretarias mu- de de alegria e perspectivas: o
de sobra para a melancolia entrar nicipais de Saúde e de Ação So- Reisado. "Quando era criança eu
e adoecer ainda mais aquela gen- cial. Nos encontros com o grupo, gostava tanto do Reisado, era
te sem perspectiva naquela cida- os objetivos ainda se fundamen- sempre uma grande festa que
de de apenas 8.700 habitantes. tavam nos métodos tradicionais contagiava todo mundo. E ficou
A procura por atendimento na Uni- de educação e saúde. "Atender o lá na minha infância, ninguém mais
dade Básica de Saúde em busca hipertenso, medir a pressão, cui- aqui no Sergipe ouve falar sobre
de consultas, medicamentos e dar do pé diabético, fazer pales- essa manifestação cultural tão
para medir a pressão arterial era tras sobre os cuidados com a ali- bonita que a gente canta, toca e
14
dança nas praças, nas ruas. É imediato se candidataram a um ço, eles, juntamente com outras
uma maravilha de cores", empol- discreto lugar na platéia. "Em cena pessoas e até nós, conseguimos
ga -se a enfermeira. nem pensar", disse Seu Pedro, de lembrar as danças e os cânticos.
89 anos, um pouco envergonha- A Associação de Moradores ce-
Pronto, era isso! Assim como
do, mas com um sorriso maroto deu o prédio para os ensaios. Dois
aquela lembrança estava viva na
nos olhos como quem ia se diver- idosos sabiam tocar a Zabumba e
memória de Rosavina podia estar
tir a valer. Mas deixa estar que o Triângulo, e fomos à procura do
também na mente daquelas ou-
Rosavina continuava de olho nos sanfoneiro", conta Rosavina.
tras pessoas. Era preciso resga-
talentos esquecidos de cada vovô
tar as referências culturais daquele O grupo se quotizou para pagar o
e vovó daquele grupo. Muito em
grupo e o Reisado era o caminho. sanfoneiro durante os primeiros
breve eles iriam também brilhar,
Uma folia que certamente alegra- ensaios, até que recorreram à
pensava a enfermeira.
ria o triste cotidiano daqueles se- Secretaria de Ação Social que
nhores e senhoras. Uma busca da aprovou o projeto e liberou re-
identidade cultural. Um encontro cursos para viabilizar toda a pro-
Produção
com o prazer. dução. "A estréia foi um sucesso,

A proposta foi aceita com entusi-


asmo por todo o grupo. Até mes-
A pós a escolha do elenco for
mado por 16 pessoas, cada
um escolheu o personagem que
já fizemos apresentação até na
capital Aracaju durante a realiza-

mo por aqueles, a maioria, que de ção da 1ª Mostra de Saúde do


mais lhe agradava. Estado", comemora a enfermeira.
Outros se propuseram E pasmem, cada apresentação do
a costurar, a bordar, Reisado tem duração de três a
enfim, a realizar as di- quatro horas, haja fôlego. "Eles
versas funções neces- rejuvenesceram. Não pensam mais
sárias a uma produção em doença como antes. Não es-
teatral e musical, tão mais na idade do condor. A
como o Reisado. Até pressão arterial e o diabetes es-
que surgiram os pri- tão sob controle. Agora, entusi-
meiros entraves: Onde asmados, eles dizem para todo
ensaiar? Quem ensina- mundo: "somos atores e atrizes
ria as músicas? E as no palco da vida".
danças? Quem seriam
os tocadores? Como Mas, ainda, sobrava talentos ali
pagá-los? A indumen- naquele grupo de idosos que ape-
tária? Como conse- nas o Reisado não comportava.
guir? Quem faria? A Rosavina decidiu então cadastrar
quem recorrer? Tantas e mapear o modus vivendi de to-
perguntas! Tantas dos eles, com a ajuda dos cole-
quantas foram as res- gas de equipe: o odontólogo Fá-
postas que chegaram bio Santos Freitas, o médico
para viabilizar o pro- Rômulo Rodrigues Silva, o auxiliar
jeto. "Dentro do pró- de enfermagem Joel Henrique
prio grupo tinha uma Alves e a assistente social Maria
senhora que os pais Emília Vilanova Ribeiro. "Foi
dela sabiam dançar e revelador a quantidade de sabe-
cantar as músicas do res e fazeres que estavam es-
Reisado. E com esfor- condidos, adormecidos, desvalo- 15
Reisado

O Reisado chegou ao Brasil jun


to com os colonizadores por-
tugueses, que ainda conservavam
a tradição em suas pequenas aldei-
as, celebrando o nascimento do
Menino Jesus. Em Portugal é co-
nhecido como Reisada ou Reseiro.

No Brasil é uma espécie de revista


popular, recheada de histórias fol-
clóricas, mas sua essência conti-
nua a mesma, com uma mistura de
temas sacros e profanos.

O Reisado tradicional é formado por


um grupo de músicos, cantores,
dançarinos que percorrem as ruas
das cidades e até propriedades ru-
rais, de porta em porta, anuncian-
do a chegada do Messias, pedindo
prendas e fazendo louvações aos
donos das casas por onde passam.

A denominação de Reisado ainda


rizados em cada um daqueles ido- brigar com filhos alcoólatras, pas- persiste em Alagoas, Sergipe e
sos", diz a enfermeira. sar mal e ir parar no pronto socor- Bahia. Em diversas outras regiões o
ro. Não. É chegada a hora de le- folguedo é chamado de Bumba-meu-
Um sabia dançar tango, outro val- boi, Boi-de-Reis, Boi Bumbá ou sim-
varmos uma vida mais saudável,
sa, outro forró, outra carimbó. Uma plesmente Boi. Em São Paulo e Mi-
mais tranqüila, com mais alegria e
sabia fazer beiju, outra boneca, nas Gerais é conhecido como Folia
outro chapéu, outros crochê, ta- mais prazer", disse a enfermeira ao
de Reis, onde a festa é composta
petes, tricô, marcenaria, escultu- grupo de 200 idosos.
de apresentações de grupos de
ra e muitos outros cozinhavam músicos e cantores, todos com rou-
Atualmente, um ano e meio de-
muito bem. Diante de tão rica di- pas coloridas, entoando versos so-
pois, Rosavina atesta que a qua-
versidade de talentos, Rosavina bre o nascimento de Jesus Cristo.
lidade vida de 80% deles melho-
disse a eles que se quisessem po-
rou: "Os trabalhos que produzem Em Sergipe, é apresentado em qual-
deriam mudar o rumo de suas vi-
são expostos em bazares ou em quer época do ano e não apenas
das, amenizar os sofrimentos, as
festas comemorativas e muitos nas festas de Natal e Reis. Os te-
tristezas, controlar a pressão ar-
são comercializados e ajudam na mas de seu enredo variam de acor-
terial, o colesterol, o diabetes e
aposentadoria. Basta olhar nos do com o lugar e o período em que
que para isso o melhor remédio
olhos deles. Tem brilho. Tem vida. são encenados: amor, guerra, reli-
seria fazer o que mais gostavam,
Tem esperança. Os queixumes di- gião, entre outros.
ou seja, extravasar os talentos.
"Nada de continuar tomando con- minuíram. A fila na unidade de saú- O Reisado é uma das tradições po-
ta de netos, deixe isso para os de diminuiu. E as pílulas que eles pulares mais ricas e apreciadas do
pais que são filhos que vocês já mais tomam hoje em dia são as folclore brasileiro, principalmente na
cuidaram e educaram. Nada de pílulas da alegria", completa. região Nordeste.
16
MATÉRIA DE CAPA

Literatura de Cordel como instrumento


de educação popular para a saúde
Encontro de Experiências Exitosas em Saúde da Família
premia médico que usa arte para sensibilizar as pessoas

J
oão Pessoa sediou, re- Ele conta que objetivo da inicia- impressa. Chegou ao Brasil trazida
centemente, o I Encon- tiva é capacitar profissionais de pelos portugueses, no século
tro de Experiências saúde e de outros setores, es- XVII, apesar de já existir na Ale-
Exitosas da estratégia tudantes e entes não governa- manha desde os séculos XV e XVI.
Saúde da Família do Nordeste. No mentais para promoverem um No Nordeste brasileiro, o ano de
conjunto de trabalhos apresen- melhor intercâmbio da comunida- 1830 é considerado, historicamen-
tados um se destacou: A Histó- de com os gestores utilizando a te, o ponto de partida da poesia
ria da Saúde no Brasil em versos literatura de cordel como instru- popular com temáticas centradas
de cordel, de José SávioTeixeira mento de educação popular para em narrativas tradicionais e fatos
Pinheiro, médico da estratégia a saúde. circunstanciais, apesar do movi-
Saúde da Família, no Ceará. mento editorial só ter sido inicia-
do nos primórdios do séc. XX.
Segundo Pinheiro, esse texto é
Ascensão do cordel e a saúde
apenas "uma parte" do trabalho Durante a sua trajetória sofreu
desenvolvido por sua equipe, cuja
temática central é A Literatura
de Cordel como instrumento de
D e acordo com o Projeto Re
ceitando o Cordel na Saú-
de Coletiva, a Literatura de Cor-
inúmeros revezes, sendo o maior
deles a partir de 1945 com o apa-
recimento do rádio e do cinema,
educação popular para a Saúde/ del sempre foi apreciada pelo da evolução dos meios de trans-
Projeto Receitando o Cordel na grande público, daí ser definida portes e da intensa migração in-
Saúde Coletiva. como poesia popular, narrativa terna.

17
Atualmente, ainda segundo o sobre a importância do aleitamen- este período; foi feito um traba-
projeto, este estilo literário está to materno com versos anexa- lho de orientação no distrito de
em franca ascensão, abordando dos ao cartão da gestante; na Caipu, em relação às medidas
temas diversos e mostrando que capacitação da estratégia Saú- preventivas e curativas da Den-
venceu todos os desafios de da Família e na gue; e todos os estudantes do
tecnológicos da comunicação fa- conscientização comunitária so- ensino fundamental foram orien-
lada e escrita, daí a sua impor- bre Hanseníase; na divulgação de tados em ações de saúde coleti-
tância no processo educativo do ações preventivas e curativas va. Sávio salienta que "todas es-
país. "Estamos utilizando este em gincanas sobre a Dengue, em sas ações foram conduzidas de
método em Educação em Saúde parceria com a Secretaria Muni- forma contínua e programadas".
por ser um método prático, di- cipal de Educação, e em oficinas
Na avaliação do vencedor do En-
vertido, econômico, popular e de saúde comunitária com os pro-
contro de Experiências Exitosas
facilitador no processo de fixa- fissionais de saúde do município.
da estratégia Saúde da Família,
ção das idéias", explica Pinheiro.
Para o médico-poeta José Sávio observando-se os resultados ob-
já existem resultados práticos tidos com esta nova metodologia,
com o desenvolvimento do pro- a forma dinâmica que se conse-
Cordel torna atrativa
jeto: foram capacitadas e discu- guiu empregar junto ao público-
Educação em Saúde
timos a problemática do estigma alvo e a aceitação geral dos usu-

A metodologia utilizada desen da Hanseníase com as cinco equi- ários do sistema e dos profissio-
volve-se no município de pes da estratégia Saúde da Fa- nais "conclui-se que a literatura
Cariús (CE) desde o início do ano mília, com os técnicos e auxilia- de cordel desempenha uma im-
de 2005, onde é utilizada a Lite- res de enfermagem e com os portante função como forma pe-
ratura de Cordel, tanto oral quan- agentes comunitários de saúde dagógica no processo ensino-
to escrita, nas ações de Educa- do município; todas as lactantes aprendizado por conseguir tornar
ção em Saúde. O método é em- foram incentivadas à prática do mais atrativas as atividades de
pregado no incentivo a lactantes aleitamento materno durante Educação em Saúde".

18
A História da Saúde no Brasil Em Brasília o general Com o foco na ação básica
em versos de cordel Dava a graça do poder O mundo se organizou
E no estado, o coronel Viu saúde para todos
Fotos: Xilogravuras Imitava-o com prazer Em 2000 assim sonhou
Autor: Sávio Pinheiro Filhote de coronel Acreditou nessa idéia
Na cidade vinha a ser. Mudança concretizou.

Na década de sessenta No ano de setenta e quatro No ano de oitenta e seis


Comecei a observar Bom canadense escreveu Foi lavrada grande ata
O doente ter acesso Um trabalho grandioso Ottawa no Canadá
Para os seus males curar Que o mundo bem mereceu: Celebrou uma grande data
Ficando bem satisfeito Um relatório perfeito Com vários sanitaristas
Com enorme bem-estar. Pro planeta apareceu. E grupo tecnocrata.

Quando se sentia doente Marck Lalonde observou Bela Carta de Ottawa


Procurava um hospital Que a morte já acontecia Nutriu o meu pensamento
E encontrando muitos médicos Não só por simples doença Teve cinco bons princípios
Tinha um sucesso total Que aumentava a cada dia Pra sonharmos no momento
Reduzindo num instante Existiam outras causas Se os seguirmos no capricho
O seu destino fatal. Que o povo não entendia. Haverá contentamento.

Sentindo dor de barriga Vários fatores genéticos Exigiu políticas públicas


Tratavam apendicite Danos do meio ambiente Um tanto quanto sadias
Pois era mais lucrativo Vitimavam as pessoas Para evitar que os corruptos
Que tratar bem a enterite E matavam muita gente De mentes já tão vazias
Curavam até mau-olhado Estilo de vida errôneo Maltratem nosso planeta
Internavam sinusite. Deixava o corpo doente. Com as suas vãs fantasias.

O doente ao qual refiro-me Observando esse achado Conscientizar políticos


Sempre beneficiado A população entendeu Mantê-los em sintonia
Não era qualquer um, não! Que a política vigente Co´o sistema tributário
Era aquele apadrinhado Há muito já pereceu Que nos mostra a garantia
Que tivesse um bom emprego Precisando de mudanças É tarefa de nós, todos,
Ou um título carimbado. Foi assim que aconteceu. Pra vivermos bem um dia.

O Brasil desenvolvia No ano de setenta e oito Ambientes favoráveis


Todo o seu potencial Na cidade de Alma-Ata Com trabalho e com lazer
Divulgando para o mundo Pesquisadores atentos Necessitam ser criados
O seu poder estatal De forma não abstrata Pra o povo poder viver
E na doença crescendo Fizeram uma conferência Melhorando a produção
De forma descomunal. Inteligente e sensata. Pra vitória acontecer.

A prevenção era utópica Sanitaristas sentiam Respeitou o meio ambiente


A promoção não existia, Insucesso em todo o mundo Já um tanto devastado
Mas o que o povo almejava O recurso sendo gasto Expôs: se não defendermos
Com tamanha maestria Governos não tendo fundo Será este eliminado
É que o governo curasse A saúde piorando Podendo vir a extinção
Tanta dor, tanta agonia. Sem um êxito profundo. E o planeta castigado.

Mas o modelo existente Resolveram investir Zelar o estilo de vida


Da saúde, que havia Invertendo a atenção Foi tarefa bem vital
Era centrado na cura Na saúde preventiva Pra continuarmos vivo
A doença seduzia Viram o "xis" da questão E seguindo o natural
Os problemas sanitários Pois foi na atenção primária Sem cigarro e sem estresse
Causavam melancolia. Que começou essa ação. Não bebendo a água do mal.

O americano investia A noção primordial Um princípio importante


No modelo brasileiro Que foi lá tão discutida Temos que valorizar
Pois lhe vendiam insumos Elegendo a prevenção Essa participação
E alta tecnologia Como meta garantida Chamada de popular
Ganhando muito dinheiro Evitaria a doença Ela veio mudar tudo
Com a sua grande magia. De má forma combatida. O povo valorizar.

Governante brasileiro A UNICEF e a OMS Eleger prioridades


Pra melhor sobreviver Patrocinaram o evento Tomando as decisões
Fingia fazer o bem Cento e trinta e um países É esforço de um povo
Pra barganhar o poder Discutiram o tormento Que luta por posições,
Pois na eleição era certo Que a saúde assim passava Discutindo o sistema
O seu partido eleger. Justo naquele momento. Dividindo opiniões.
19
Sinalizou pra o futuro O presidente vetou Três anos assim passados
Com a aptidão pessoal, Muito artigo importante Da primeira experiência
Pois investir na pessoa Mas o povo reunido Ceará mais uma vez
É tarefa capital Não se deteve um instante Mostra a sua competência
E buscar os seus valores Pressionou congressistas Expôs o PSF
É estratégia bem vital. Num trabalho fascinante. E também sua tendência.

Pra saúde melhorar O povo se organizou No ano de noventa e quatro


E o povo viver contente Numa batalha valente O Brasil compreendeu
Vamos reorganizar Pressionando o congresso O Programa da Saúde
Os serviços de repente Com postura independente: Da Família, que cresceu.
Pra não ferir os princípios O presidente sustou Veio este para mudar
E sofrer injustamente. A decisão tão indecente. (Paradigma pereceu).

Inspirados nessas teses A lei oitenta oitenta O "Programa" não devia


O Brasil desenvolveu Foi logo modificada Ser chamado de tal nome
Uma tremenda reforma Porém a oitenta e um Pois um programa não o é
Muita gente mereceu Quarenta e dois foi taxada O que vem de cima some
Trabalharam contra as "Forças" Decente para o sucesso Estratégia tem que ser
E a mudança aconteceu. Da saúde organizada. O seu novo codinome.

A Reforma Sanitária Os seus princípios comovem


Que o Brasil valorizou Após esse movimento Pela originalidade
Foi fruto de muito esforço O dinheiro apareceu Trabalha pela família
Que o povo unido gritou Fez o financiamento E pela comunidade
Na Oitava Conferência Valer mais do que valeu Lida com vários setores
Brasília concretizou. O recurso da saúde Saúde é prioridade.
Ajudou quem já sofreu.
A partir desse momento A equipe deve ter
Os políticos de postura Ano de oitenta e sete Qualidade muito boa
Trabalharam de mãos dadas Numa crise sem igual Escutar, saber ouvir
Com muita desenvoltura Crianças morrendo muito Bem valoriza a pessoa
Vindo essa Constituinte Em abandono total Minimizando os problemas
Celebrar nova estrutura. Grupo implantou uma idéia Que a todos nós atordoa.
Pra lá de original.
Deputados entenderam Boa estratégia orienta
A constituição foi feita Cidadã bem dedicada Que a equipe estabeleça
Geraram novo sistema Com esse grupo de ação Previna, trate e promova
Fora de qualquer suspeita Fez o Agente de Saúde Lá dos pés até a cabeça
Foi criado assim o SUS Desbravar nosso sertão Pois não quer que alguém mais
Numa largada perfeita. O Ceará parte na frente sofra
Pisando forte no chão. Por incrível que pareça.
A assembléia geral
Que refez nosso sistema Município de Jucás Pra o programa evoluir
Deu-se em oitenta e oito Inicia esse esplendor Precisa-se ter bom senso,
Com status de poema O projeto cria asas Pois para capacitar
Carta Magna cidadã E voa feito um Condor. O grupo a cada momento
Desbravou todo o sertão
Valorizou nosso lema. O bom facilitador
Subtraindo nossa dor.
Necessita de instrumento.
Foi passado pro papel
Ano de noventa e um
O que na mente existia Prontuário da Família,
Ceará dá o modelo
Idéias muito brilhantes Fichário da Clientela,
O Agente de Saúde
Que imaginamos um dia Rotinas e Protocolos
Brasil olha com bom zelo
Os princípios filosóficos Planejados com cautela
Programa vai pra Brasília
Saíram da fantasia. Oferecem qualidade
É implantado com desvelo.
Atitude muito bela.
Em setembro de noventa
Agente Comunitário
Para regulamentar Porém, método que surge
De Saúde é chamado
O gestor deste país E tenta capacitar
Pelo Planalto Central
Resolve artigos vetar Que lhe fita com agrado O programa da saúde
O povo fica danado Para tratar as famílias Pra família melhorar
Sem querer acreditar. Do Brasil adoentado. É a nossa literatura
De cordel pra declamar.
Concretizar a saúde Andando de casa em casa
E deixá-la bem formada Trabalha a comunidade
Com Controle Social Orientando as pessoas Fim
E de forma organizada Todas de qualquer idade
Reeditar os artigos Promovendo a saúde
Foi tarefa complicada. Do estado e da cidade.
20
Natal - RN

Arte, Promoção da Saúde e Geração de


Emprego e Renda: atitudes de
inclusão social

U
m mutirão interativo atividades lúdicas e laborativas que des. Segundo a enfermeira, a saú-
que busca contribuir envolvam um potencial oriundo da de em seu conceito holístico não
para a promoção da própria comunidade. Valorizar a arte se restringe ao tratamento de agra-
saúde, ao valorizar e e os artesãos, estimulando-os a vos por meio de consultas médicas
resgatar as habilidades artísticas e disseminarem o seu saber cultural e métodos puramente químicos.
culturais dos moradores do territó- à comunidade, é uma forma eficaz "Há a necessidade de uma nova
rio da Unidade Básica de Saúde de resgatar a cidadania e melhorar perspectiva de prevenção utilizan-
(UBS). Esta definição do Projeto
a qualidade de vida dos cidadãos", do-se de condutas e estratégias
Valorizarte mostra a chave do su-
a afirmação é da enfermeira e tam- simples, pouco onerosas e acessí-
cesso de mais essa ação: o traba-
bém coordenadora do Valorizarte, veis à comunidade", defende. Sim-
lho comunitário desenvolvido pela
Maria Madalena de Almeida Dantas. ples também foi a escolha do local
estratégia Saúde da Família/PACS,
para a sede do projeto: a própria
na UBS Planície das Mangueiras, na A partir desta reflexão, conta
zona norte de Natal, capital do Rio UBS em que trabalha no bairro Pla-
Madalena Dantas, foi tomada a de-
Grande do Norte. nície das Mangueiras, em Natal.
cisão de criar, há seis meses, esse
"O bem-estar físico, mental e soci- novo modelo de promoção dos se- De acordo com os gestores da Se-
al pode ser obtido, também, com res humanos em suas comunida- cretaria Municipal de Saúde (SMS),
21
a clientela da UBS Planície das Man- cio de 2006, ao analisar as possí- Passo a passo de um projeto
gueiras tinha ainda como referên- veis saídas para o impasse que "es- de Promoção da Saúde

O
cia o modelo assistencial centrali- tagnava o processo terapêutico",
Valorizarte nasceu com esse
zado na medicalização. As ações percebeu-se que havia a necessi- espírito e com alguns objeti-
educativas realizadas pelos profis- dade de fazer algo inovador que vos básicos: a promoção da saúde
sionais estavam vinculadas a gru- trouxesse impacto e cujas soluções por meio de atividades lúdicas e
pos operativos por meio de pales- viessem das habilidades e do saber laborativas, com a valorização do
tras, festas e eventos comemora- da própria população da localida- potencial humano local e dos ins-
tivos pontuais. Além disso, o clima de. "A comunidade era desprovida trumentos sócio-culturais da co-
anterior ao lançamento do munidade; a redução da incidência
de mecanismos sociais, de lazer e
Valorizarte era de uma visível e/ou agravamentos das doenças
de ofertas de trabalho. Era neces-
desmotivação por parte dos pro- mentais e das patologias crônico-
sário proporcionar atividades
fissionais de saúde que reclama- degenerativas; a melhora da auto-
laborativo-terapêuticas que tives-
vam da rotina e da falta de pers- estima da clientela e dos funcio-
sem também a possibilidade de ge- nários, por intermédio da socializa-
pectivas no trabalho.
ração de uma renda mínima", de- ção e do reconhecimento de seus
Conforme Madalena Dantas, no iní- fende Madalena Dantas. potenciais artísticos e com a divul-

22
gação e propagação de suas habi-
lidades e conhecimentos; e a va-
lorização dos talentos artísticos lo-
cais, especialmente quando incluí-
dos nas atividades da estratégia
Saúde da Família/PACS.

"Após identificarmos as pessoas


que tinham habilidades artísticas na
comunidade, fizemos o convite para
que elas participassem do trabalho
comunitário e todos aceitaram o
convite de imediato", explica a en-
fermeira da UBS Planície das Man-
gueiras. Porém, vários artistas po-
pulares e artesãos encontravam-
se desestimulados e desanimados
pela falta de apoio promocional e
material, mesmo assim, ofereceram- bonecas-de-pano, fuxico, vagonite, Saúde, denominada "1ª Nortearte
se para ensinar o que tinham de mamulengos, e atividades de mú- da Saúde" que deverá ter caráter
mais caro: a sua arte. sica e danças folclóricas, com vis- periódico. A Feira foi organizada
Depois, em reuniões conjuntas com tas à aprendizagem de novas téc- para receber os expositores dos
profissionais de saúde e artistas da nicas e possibilidades de uma fu- trabalhos realizados nas oficinas
comunidade, foi desenhado um pla- tura geração de renda para a co- (incluindo outras UBS da zona nor-
no de atividades e eventos. Op- munidade de Planície das Manguei- te de Natal), além de contar com
tou-se pela realização de oficinas ras, com planos de exposição dos apresentação de performances de
artesanais de crochê, ponto-cruz, trabalhos em uma Feira Cultural da música, dança e teatro.

Madalena Dantas observa que o


projeto tem o apoio da Secretaria
Municipal de Saúde de Natal. A en-
“O Valorizarte nasceu com esse espírito, fermeira lembra da apresentação do
trazendo consigo alguns objetivos básicos: a grupo Boi-de-Reis do Mestre
promoção da saúde por meio de atividades Manoel Rodrigues, realizada no
lúdicas e laborativas, utilizando-se do potencial evento Humanização promovido
humano local e dos instrumentos sócio-culturais pela SMS, em abril, como um dos
pontos altos nesse primeiro semes-
da comunidade; reduzir a incidência e/ou
tre de atuação do projeto. "O Boi-
agravamentos das doenças mentais e das de-Reis do Mestre Manoel Rodrigues
patologias crônico-degenerativas; melhorar a é uma verdadeira relíquia do folclo-
auto-estima da clientela e dos funcionários re do estado, resgatada pelo gru-
envolvidos no processo por intermédio da po de pesquisas culturais da Uni-
socialização e do reconhecimento de seus versidade Federal do Rio Grande do
potenciais artísticos, oportunizando a Norte (Ufrn)", comemora. "O Mes-

divulgação e propagação de suas habilidades e tre Manoel Rodrigues é hipertenso


e é nosso paciente na UBS. Foi uma
conhecimentos; e valorizar os talentos artísticos
grande emoção e um grande su-
locais, ao inseri-los nas atividades da Estratégia
cesso que contou com a partici-
Saúde da Família/PACS.”
pação da gerência do Distrito Sa-
23
nitário Norte de Natal e dos profis-
sionais da Estratégia Saúde da Fa-
mília", diz.

Diálogos

A lúdico-terapia comunitária
permite uma interação grupal
onde estabelece-se uma dinâmica
de apoio e compreensão para que
cada indivíduo externe suas limita-
ções e possibilidades, frustrações
e sofrimentos, compartilhando ex-
periências e aprendendo o saber
coletivo. Resulta daí uma melhora
em sua auto-estima e valorização
de suas potencialidades. O Valorizarte vem promovendo na co- a comunidade. No caso da oficina
Valorizarte, segundo seus princípi- munidade", enumera. de confecção dos fuxicos, admi-
os, promove um contato mais nistrada por um grupo operativo
humanizado com os usuários da preponderantemente formado por
estratégia Saúde da Família e identi- Promoção da Saúde vincula gestantes, foi associada à idéia da
fica situações de agravos que nor- arte, cultura popular, saber tra- multiplicação celular na formação
malmente não seriam detectados dicional e educação em saúde do embrião ao agrupamento das pe-
por causa de costumes culturais ças no processo construtivo do
erroneamente cultivados.

Como exemplo, a enfermeira cita


A s oficinas de artesanato acon
tecem todas as quintas-feiras,
a partir das 14 horas, na UBS Pla-
fuxico.

Na oportunidade, a coordenadora
que há o preconceito de que os nície das Mangueiras. A procura é Madalena Dantas apresentou o ál-
idosos não enxergam bem, "mas grande, tanto de clientes e usuári- bum seriado "Um novo tempo está
nem todos procuram o oftalmolo- os querendo aprender, quanto de para nascer" onde as gestantes
gista para correção de sua dimi- artesãos interessados em divulgar puderam acompanhar, por meio de
nuição da acuidade visual porque o seu trabalho. Uma preocupação fotografias, as etapas de cresci-
pensam que isso é um determinismo dos gestores de saúde locais no mento e desenvolvimento do em-
da própria idade". Em uma das ofi- desenvolvimento do projeto é a brião até o feto. Foram ainda
cinas realizadas, recorda-se, foi vinculação do processo educativo esclarecidas dúvidas acerca de ta-
presenciado o flagrante de uma com as orientações em saúde para bus sobre aborto e parto prematu-
usuária que observava os outros
participantes do trabalho comuni-
tário, mas ela mesma não interagia.

A partir de uma investigação míni-


ma do por quê dessa atitude, ela
respondeu que apenas tinha ver-
gonha de dizer que não enxergava
bem. De imediato procurou-se
desmistificar o preconceito e a mu-
lher foi encaminhada para consulta
com um especialista. "Essa é só uma
faceta do impacto positivo que o
24
ro, repassadas informações sobre cursos e oficinas. Hoje, por meio cado de trabalho. "Isso é muito
idade gestacional, vitalidade e via- de acompanhamento evolutivo dos gratificante, não só pela
bilidade fetal, e trabalhada a ansi- parâmetros clínicos e laboratoriais, capacitação profissional ou pela
edade das gestantes quanto à pro- é possível constatar um ganho sig- conquista do emprego, mas, tam-
vável data do parto. nificativo na saúde dos usuários. bém, porque o curso desempenhou
Ainda nessa oficina a moradora da "Durante as reuniões é possível per- um importante papel no combate
comunidade Maria Tide prontificou- ceber a melhora da auto-estima, ao alcoolismo e à drogadição em
se a ensinar o bordado vagonite, do humor, diminuição dos níveis uma comunidade que tem como
levando de sua casa todos os ma- pressóricos (em seis hipertensos), única alternativa de lazer os bar-
teriais e amostras necessárias para redução dos níveis da lipidemia (em zinhos", avalia.
executar o trabalho. Depois de uma três pessoas com alterações nos
discussão entre os membros do gru- Antes da implantação do projeto,
lipídeos) e dos níveis glicêmicos (em
po sobre oportunidade oferecida e a prática cotidiana na UBS Planí-
três pessoas portadoras de diabe-
a possibilidade de novos ganhos fi- tes), melhora das dores articulares cie das Mangueiras não era dife-
nanceiros, os usuários, bastante e ósseas, como também, da mobi- rente da maioria dos centros de
motivados, revelaram que alguns já saúde espalhados pelo país. Gru-
lidade corporal (em dois usuários
estavam obtendo ganhos monetá- pos de hipertensos, grupos de ges-
com osteoporose) e, ainda, eviden-
rios com o trabalho artesanal re- tantes, grupos de diabéticos; in-
ciou-se uma diminuição do uso de
centemente aprendido. divíduos que, rotulados pelo diag-
psicotrópicos por três usuários",
A produção das oficinas será ex- conta a enfermeira Madalena nóstico, se reuniam em grupos para
posta e comercializada em baza- Dantas. ouvir palestras ou aconselha-
res da cidade de Natal para a ob- mentos. A enfermeira Madalena
tenção de recursos necessários Outro foco do projeto Valorizarte Dantas conta que o Valorizarte
para aquisição de materiais para as é o empenho na luta contra o de- mudou esta realidade. "O projeto
aulas deste segundo semestre, semprego e a ociosidade, com in- chegou propondo a socialização
uma vez que os próprios funcioná- centivos à prática artística e aos aos pacientes a partir do momen-
rios da UBS é que estão quotizando artesãos locais na manutenção de
to que reúne os mais diversos di-
os investimentos no projeto. seus saberes. "Objetivamos a cria-
agnósticos num mesmo grupo de
ção de uma cooperativa gerida e
trabalho. Costumo dizer que é a
auto-sustentada pela própria co-
humanização do SUS", argumenta.
Socialização e Humanização: munidade", afirma a enfermeira.
Conquistas do cotidiano Ela acrescenta ainda que nesse
Em parceria com a Secretaria Mu-

O
processo de socialização ocorreu
Valorizarte tem, atualmente, nicipal de Educação de Natal, por
uma outra mudança de para-
37 usuários participantes nos intermédio da Escola Cooperativa
digmas nas práticas intersociais.
da Planície das Mangueiras, e com
"Durante as oficinas de trabalhos
apoio de voluntários, o Valorizarte
manuais, por exemplo, a médica
concluiu em Agosto o curso
se torna aluna e as pessoas sim-
profissionalizante de "Instaladores
ples da comunidade assumem o
Hidrossanitários", com oito alunos
papel de mestres, dão aulas, en-
aprovados de um total de 15 ins-
sinam aos doutores", diz Madalena
critos.
Dantas. Esse processo estimula a
Com duração de dois meses, o curso auto-estima, resgata os valores
ofereceu aulas noturnas três ve- culturais e aproxima profissionais
zes por semana. Madalena Dantas de saúde da comunidade,
ressalta que os alunos aprovados contextualizando-os no cotidiano
já conseguiram estágios no mer- das pessoas.
25
Olinda - PE

Promoção da Saúde é tema do Teatro de


Mamulengo "Para Ser Feliz"

O
teatro de bonecos da comunidade pela incorporação lúdica, apelo visual e simplicidade
malulengo é uma ma de práticas saudáveis, contribuin- de realização, dessa categoria tea-
nifestação cultural do para a conquista da saúde como tral, para implementar as ativida-
que, há quatro anos, direito legítimo de cidadania. des de educação em saúde na co-
tem sido um eficiente instrumento munidade do Jardim Fragoso, va-
Construir coletivamente a educa-
de Promoção da Saúde na Unida- lorizando a experiência teatral an-
ção em saúde por meio do Teatro
de Básica de Saúde (UBS) do bairro terior de agentes comunitários de
de Mamulengo constituiu-se numa
Jardim Fragoso, na cidade de Saúde (ACS) e de pessoas da co-
perspectiva de que é possível tra-
Olinda, em Pernambuco. Diante de munidade. "A proposta é
balhar ações e intervenções
bonecos, conhecidos também reformular as práticas educativas
educativas embasadas num mo-
como marionetes, fantoches ou
delo pedagógico crítico, a partir da capacitação pedagógi-
títeres, que surgem por trás do
problematizador com abordagem ca libertadora dos profissionais de
pano esticado, onde ficam os ato-
histórico-social fundamentada num saúde para educação popular em
res que dão vida e voz aos perso-
diálogo aberto, reflexivo, ativo e saúde", diz Santos. O projeto de
nagens, o público se diverte, se
interativo, favorecendo o cresci- Promoção da Saúde - Teatro de
identifica e se educa em um dos
mento mútuo das Equipes Saúde Mamulengo "Para Ser Feliz" - re-
raros momentos lúdicos e de rela-
da Família e da comunidade. Esta cebe o apoio da secretaria de Saú-
xamento no cotidiano da comuni-
é a idéia que norteou o dentista e de de Olinda, Instituto Materno
dade.
teatrólogo Paulo César Oliveira Infantil de Pernambuco e do Clube
A idéia é que a ação simulada no Santos, 44 anos, quando em 2002 de Mães da comunidade do bairro
palco possa ser levar à ação real ele resolveu valer-se da linguagem Jardim Fragoso.
26
ber popular, permitem realizar
Artistas populares ações objetivas e subjetivas para
ajudam a manter resolver os problemas encontra-
tradição do mamulengo dos, como exemplo: dificuldade de
integrar as ações de Saúde Bucal
à agenda pré-estabelecida pelas
Equipes Saúde da Família; restrita
participação da comunidade nas
ações educativas; dificuldade no
relacionamento entre as equipes
e destas com a comunidade e vice
e versa.

Santos conta que "para resolver


essa situação foi realizada uma
sensibilização com as equipes e as
pessoas da comunidade visando
consolidar o sentimento de equipe
e a importância da continuidade
das práticas educativas dentro da
promoção e proteção à saúde,
seguida pela realização de ofici-
nas de confecção de bonecos para
o Teatro de Mamulengo e elabo-
ração de textos relacionados aos
agravos e indicadores de saúde
mais relevantes à comunidade", diz
o dentista.
O dentista que há quatro anos in- novos desafios na busca de uma
tegra à Equipe Saúde Bucal, da unidade profissional ainda maior
Estratégia Saúde da Família, na dentro da própria UBS. "Consegui- Saberes e fazeres

N
UBS Jardim Fragoso, em Olinda, mos desconstruir a idéia das Equi-
os primeiros momentos da ofi
conta que antes tinha apenas ex- pes Saúde da Família em nossa
cina de criação de bonecos,
periência profissional em consul- região existirem separadas, e cons-
em uma das salas da UBS do Jar-
tório, na especialidade truímos a prática de uma única
dim Fragoso, começou a surgir algo
endodôntica. Quando ingressou no equipe, coesa, abrangente, com-
de novo que ia além da própria pro-
Saúde da Família ele percebeu que pleta. Todos os programas volta-
dução teatral. Novas relações so-
a odontologia havia perdido tem- dos aos grupos mais suscetíveis
ciais e profissionais começavam a
po demais estando isolada dentro ao agravo - a gestante, o porta-
se estabelecer. Estavam ali reuni-
dos consultórios, distante dos ou- dor de hipertensão ou diabetes,
dos: profissionais de saúde e pes-
tros setores da saúde. "Não havia entre outros - passaram a ter tam-
soas da comunidade, lado a lado,
interface. A odontologia se man- bém o olhar da Saúde Bucal", co-
no mesmo espaço, sem rótulos,
teve isolada inclusive na constru- memora.
com um só objetivo final - a Pro-
ção do SUS. Após a inclusão da
A prática da educação em saúde moção da Saúde por meio do Tea-
Saúde Bucal na Estratégia Saúde
se organizou de tal forma que con- tro de Mamulengo "Para Ser Feliz".
da Família foi que tais conceitos
seguiu transferir, aplicar e gerir de Uma expressão artística de raiz
foram repensados", diz Santos.
forma co-responsável os conhe- nordestina que faz parte da me-
A nova vivência do odontólogo o cimentos técnico-científicos acu- mória cultural de todos que ali es-
entusiasmou a ponto de querer mulados, os quais somados ao sa- tavam, fossem eles médico, den-
27
tista, faxineira, dona de casa, de- a comunidade sobre as carências (Sistema de Informação da Aten-
sempregado etc. As 12 agentes e dificuldades", diz Santos. ção Básica); discussão e encena-
comunitárias de saúde, por exem- ção sobre o Dengue, e só aí, en-
De cada encenação participam em
plo, já tinham alguma experiência tão, após as ACS terem se apro-
média oito personagens. Dois en-
ou envolvimento com o teatro tra- priado das técnicas do mamulengo
tre eles, costumam esquentar os
dicional que por sua vez se somou e dos conhecimentos de saúde
ânimos na cena e na platéia. São
aos fazeres e saberes das pesso- bucal foi que elas começaram a
os vilões. Um é conhecido como o
as daquela comunidade, favore- encenar a Saúde Bucal.
"advogado do diabo", aquele que
cendo assim uma maior
não acredita no sucesso da Es- A introdução e a utilização do Tea-
integração. "Minha experiência
tratégia Saúde da Família e nem tro de Mamulengo nas práticas
como teatrólogo e dentista foi
da Saúde Bucal, e o outro é a tra- educativas das equipes da UBS do
focada em discutir o cotidiano com
dicional bruxa que incita a todos bairro Jardim Fragoso nas ações
vistas ao questionamento e a
ao consumo do açúcar. "No final, de promoção da Saúde Bucal al-
transformação de modelos sociais.
ambos acabam sendo descons- cançou um grande número de pes-
Mas todos os profissionais das
soas e a estratégia
Equipes Saúde da
foi ampliada, ao in-
Família trabalharam,
corporar outros te-
de alguma forma,
para a implemen-
“A prática da educação em saúde se mas importantes

tação do projeto", organizou de tal forma que, consciente e para a saúde, devi-
agindo política e estrategicamente, do a uma resposta
conta Santos.
satisfatória no
conseguiu transferir, aplicar e gerir de
Durante a oficina aprendizado e na
forma co-responsável os conhecimentos
foi aprovada a idéia interação tanto das
de que os bonecos técnico-científicos acumulados, os quais equipes quanto da
tivessem traços de somados ao saber popular, permitem comunidade, desper-
determinadas pes- realizar ações objetivas e subjetivas para tando interesse em
soas da comunida- resolver os problemas encontrados, como aprender e proporcio-
de como, por exem- exemplo: dificuldade de integrar as ações nando mudanças
plo, o "dono da bo- nas práticas diárias.
de Saúde Bucal à agenda pré-
dega", o "ACS", o Outros temas já de-
estabelecida pelas Equipes Saúde da
"líder comunitário", senvolvidos nas en-
entre outras. Além
Família; restrita participação da cenações do Mamu-
de funcionar como comunidade nas ações educativas; lengo são a hiper-
espelho e uma mai- dificuldade no relacionamento entre as tensão, auto-medi-
or identificação do equipes e destas com a comunidade e cação, diabetes,
público com os per- vice e versa.” DST/Aids, deficiênci-
sonagens, a idéia as de fala, violência
de imprimir caracte- doméstica, pré-na-
rísticas de moradores referências truídos e construídos positivamen- tal, hanseníase, tuberculose, to-
do bairro Jardim Fragoso tem ain- te pelos outros personagens", re- dos pontuados pelos indicadores
da o objetivo de elevar a auto- vela Santos. da Atenção Básica.
estima da comunidade. "O perso-
O dentista lembra que o processo Segundo Santos, alguns resulta-
nagem "ACS", por exemplo, funcio-
de implementação do projeto de dos já podem ser percebidos. As
na na representação como um
Promoção da Saúde cumpriu algu- pessoas da comunidade têm in-
catalisador das demandas, de pro-
mas fases temáticas: em primeiro corporado, por exemplo, a serie-
blemas e necessidades; o "líder
lugar foi realizada a mobilização dade de prevenir o Dengue não
comunitário", por sua vez, tem a
comunitária, em seguida veio à dis- deixando água parada; as mulhe-
função de estabelecer a ponte
cussão sobre a importância do SIAB res iniciam o pré-natal cada vez
28 entre a Equipe Saúde da Família e
mais cedo e o acompanhamento símbolos da cultura popular. Há uma com a perspectiva de educação
da puericultura, já é um fato. Ou- total mudança de paradigmas, das popular que propicia um processo
tra mudança de comportamento práticas, a partir da assimilação de mão dupla. "Todos os atores
que também pode ser da nova lógica da Estratégia Saú- envolvidos são educadores e
diagnosticada, diz o dentista, é de da Família pela comunidade. A educandos em busca de uma re-
quanto ao diagnóstico cada vez troca de saberes e fazeres lação social libertadora e
mais precoce de doenças como oportuniza a mudança. A nova ló- emancipadora", diz.
hanseníase e tuberculose e a con- gica apresenta mais co-
Todas as 12 ACS contribuem na
tinuidade do tratamento. responsabilização dos atores en-
elaboração do Teatro de
volvidos com ênfase na promoção
O mais importante em todo esse Mamulengo, assim como, os de-
da saúde além das atividades cu-
trabalho, diz Santos, é a mais membros das equipes, cada
rativas ou de assistências", avalia
integração entre os profissionais um com sua potencialidade, ajuda
o dentista.
da equipe e a aproximação da co- na confecção dos bonecos, na
munidade junto à Equipe Saúde da Ele chama a atenção para o fato construção das músicas, dos tex-
Família. "Quando estamos constru- de que qualquer manifestação cul- tos e na apresentação. A partici-
indo o teatro estamos tural popular pode contribuir como pação das ACS é espontânea. Os
desconstruindo a figura mítica do instrumento de promoção da saú- temas apresentados pelo teatro
médico doutor, porque estamos de e educação em saúde, princi- são escolhidos de acordo com as
trabalhando com instrumentos e palmente quando desenvolvida características do grupo a ser abor-

Alunos aprendem a lição


dada pelos bonecos do
mamulengo

29
dado, perfil epidemiológico das
microáreas, e necessidades das
Equipes Saúde da Família. A co-
munidade participa por meio de
doação de material reciclável para
construção e confecção dos bo-
necos e, também, na sugestão
de temas. O teatro é apresenta-
do na sede da UBS, em espaços
da comunidade e também em
congressos. "Já apresentamos em
diversos municípios de
Pernambuco, sempre com o pro-
pósito de difundir e multiplicar a
idéia de Promoção da Saúde", diz
o dentista.

A partir da identificação da ne-


cessidade de intervenção em uma
micro-área, pelo ACS, pelos pro-
fissionais de nível superior, ou
mesmo por iniciativa e convite da
comunidade, os temas e conteú-
dos essenciais são delimitados du-
rante uma discussão coletiva da
Unidade Básica de Saúde (UBS).
A partir daí, estabelece-se os
personagens essenciais à condu-
ção do tema, e de acordo com
estes personagens, seleciona-se
quais ACS ou Auxiliares tomarão
parte da encenação, de acordo
com as agendas individuais.
delo formal de escovódromo. Já moradores são felizes ou não, as
Durante os ensaios as próprias nas apresentações que priorizam pessoas participam naturalmen-
apresentadoras (mamulengueiras) idosos e gestantes, buscam-se te, cada um trazendo seu pró-
adaptam o texto ao seu linguajar, espaços que permitam acomodar prio banco, homens, mulheres,
com a introdução de falas que com algum conforto este público. crianças e idosos.
contextualizam as manifestações
Durante a apresentação do Tea- Logo após a apresentação os es-
populares festivas da época, bem
tro de Mamulengos os bonecos pectadores participam de uma re-
como riscos sazonais na comuni-
procuram estimular a platéia, dia- flexão sobre o tema abordado e
dade.
logar, provocar o riso mediado pela fornece elementos para a cons-
O local da apresentação condi- figura do agente de Saúde, lide- trução do próximo tema. E por
ciona-se à ação que se segue e rança comunitária e um ou dois fim, os membros da equipe que
ao público alvo. Por exemplo: personagens que retratem um tomaram parte na prática
escovações de crianças realizam- usuário. Quando a encenação ou educativa avaliam seu próprio
se nos pátios das escolas ou vivência ocorre nas microáreas, desempenho buscando avançar
quintais em substituição ao mo- nos quintais das casas, onde os com a proposta.
30
aprendida. Foram mencionados
sentimentos de satisfação, ale-
A arte e seu segredo: gria, felicidade, emoção, sensa-
crianças atentas ção de que estão aprendendo
aprendem mais
brincando", diz o dentista.

Aplausos

O sucesso do Teatro de
Mamulengo enquanto ação
educativa de promoção da saú-
de, em Olinda, é para sorrir de
contentamento. O dentista revela
que há quatro anos, a maior par-
te das famílias do bairro Jardim
Fragoso tinham apenas uma es-
cova de dentes que era sociali-
zada entre todos os familiares. E
mais: sem nenhum acondiciona-
mento com higiene. "As escovas
podiam ser encontradas perdidas
em alguma gaveta, sobre a pia
ou enfiadas em algum tijolo da
parede. Oitenta por cento das
pessoas eram acometidas de pla-
ca bacterianas", afirma o dentis-
ta. Hoje, conta Santos, "salta aos
olhos o interesse de cada pes-
soa em ter a sua própria escova
de dentes, a importância do
acondicionamento e a relevância
"Muitas vezes os próprios mora- mil já assistiram às encenações.
da escovação diária individuali-
dores solicitam apresentações,
O dentista conta que há uma va- zada".
principalmente em datas come-
riedade riquíssima de opiniões so-
morativas. Mais do que uma ati- Todos os indicadores de Saúde
bre o Teatro de Mamulengo "Para
vidade educativa o teatro é uma Bucal apontam uma melhora sig-
Ser Feliz". Todas demonstram sa-
opção de lazer para a comunida- nificativa que, segundo o den-
tisfação pela oportunidade de
de. Os bonecos são uma mani- tista, de maneira alguma resulta
aprender, reconhecendo que tal
festação cultural de Olinda, en- de atividades curativas, mas sim
prática propicia o conhecimento
tão durante a apresentação do e aprendizado através da fala no aumento da autonomia dos
teatro o público revê conceitos dos bonecos com linguagem po- usuários na conquista da Saúde
e valores sem perceber que está pular, em cenas do cotidiano, Bucal. "A consciência adquirida
dentro de uma atividade abordando temas relacionados à por meio dos personagens do Te-
educativa formal", diz Santos. saúde. "Há relatos de crianças que atro de Mamulengo de que o uso
Segundo ele, das oito mil pesso- incluíram o teatro e a fala dos diário da escova de dentes é fun-
as cadastradas pela UBS no Jar- personagens em suas brincadei- damental para a conquista da
dim Fragoso, pelo menos cinco ras, multiplicando a informação Saúde Bucal e que eliminar a pla-
31
ca bacteriana tem grande impor- condições técnicas nem sempre tória do desenvolvimento do
tância nas relações interpessoais ideais, porém, com uma criatividade mamulengo no Brasil. Em Olinda, o
concorrem para o resgate da auto- inigualável e uma comunicabilidade "Museu Espaço Tiridá" e o "Teatro
estima do cidadão e para uma imbatível, que identificam a essên-
Mamulengo Só-Riso" contribuem
melhor qualidade de vida", afirma cia de um teatro verdadeiramente
para a manutenção dessa arte e
Santos. popular norteando artistas e cida-
a preservação dessa cultura cê-
dãos na construção de seus pró-
São espetáculos com essa linha- prios caminhos. Pernambuco é o nica, autenticamente teatral e
gem, feitos por gente simples, com único estado onde se pode acom- popular. Agora, também, a serviço
poucos recursos financeiros, em panhar com mais precisão a his- da Promoção da Saúde.

COQUISTAS AJUDAM A DERRUBAR MITOS

O nome não é comum, espe


cialmente para quem está
ou mora fora de Olinda, uma das
naquele município. Ele revela que
cerca de 30 por cento das pes-
soas que têm filariose, por exem-
O abandono do tratamento, no
caso da tuberculose, é outro as-
sunto que vira composição nos
cidades patrimônio histórico da plo, não conhecem a origem da corações e mentes das coquistas.
Humanidade. Mas esta linda vila, doença, outros 28 por cento acre- Considerado como responsável por
como era chamada, abriga tam- ditam que a hanseníase não tem complicações e pelo surgimento
bém problemas de saúde como a cura. E, no caso da tuberculose, de casos de tuberculose resisten-
hanseníase, tuberculose e grande parte dos pacientes acham tes aos antibióticos, o abandono
filariose que aflige parte da po- que o isolamento e a não utiliza- vai desafiar ainda por muito tem-
pulação olindense. É neste ce- ção de copos e pratos por outra po a criatividade das coquistas.
nário que entram as coquistas, pessoa evita a doença. Junto com a mobilização social
mulheres entre 30 e 70 anos que para a busca de casos sintomáti-
cantam em verso e prosa para a É para derrubar esses mitos que cos respiratórios, os profissionais
comunidade como prevenir as a secretaria vem investindo na estão sendo sensibilizados para a
doenças. Em um mix de sons de cultura popular como meio de se solicitação de HIV em todo caso
origem negra e índia e na base associar às outras ações para pro- comprovado de tuberculose. Ou-
do improviso, as coquistas, nos mover a educação popular, o co- tra ação é a parceria com a co-
últimos três meses, quando esta nhecimento das doenças e, com ordenação de redução de danos
manifestação se tornou mais ex- isso, melhorar a qualidade de vida aos usuários de álcool e ouras dro-
pressiva, freqüentam as Unidades e saúde da população. gas, só para citar algumas.
Básicas de Saúde, geralmente,
"Toda ajuda é bem vinda para E a filariose linfática? Uma das seis
próximas de onde moram. E quem
controlar a hanseníase, por exem- doenças consideradas pela Orga-
está lá na unidade recebe infor-
plo, que em Olinda já atingiu pro- nização Mundial de Saúde (OMS)
mações ao ritmo do coco.
porções inaceitáveis", diz o se- como potencialmente elimináveis
A secretaria municipal de Saúde cretário. De acordo com do mundo é um grave problema
de Olinda incorporou definitiva- parâmetros da Organização Mun- de saúde pública no município de
mente esta expressão cultural dial de Saúde, o município já é Olinda. Determinado a utilizar a
para a prevenção, combate e hiperendêmico. Por isso, em 2005, educação popular em saúde e a
controle dessas doenças, explica o Ministério da Saúde escolheu mobilização social, o secretário
o secretário João Veiga. Ele es- Olinda como um dos 14 municípi- João Veiga apoiou a produção de
clarece que essa é uma das ações os de Pernambuco e dos 206 no um vídeo que está sendo exibido
que integram o Programa de Pro- Brasil como prioritário para o con- em escolas, comunidades, praças
moção da Saúde desenvolvido trole da hanseníase. e outras mídias alternativas.
32
ARTIGO

Promoção da Saúde, Práticas Corporais


e Atenção Básica
Introdução tribuam para a integralidade do
Yara M. Carvalho

P
cuidado e considerem a diversi-
romoção da Saúde é uma es
dade cultural e regional dos ter-
tratégia de produção de saú- Mestre em Educação Física
ritórios e comunidades. Nesse
de articulada às demais políticas e Doutora em Saúde Coleti-
sentido, é uma estratégia de ar- va pela UNICAMP. Realizou
e tecnologias desenvolvidas no
ticulação transversal, integrada pós-doutoramento em "Ci-
sistema de saúde brasileiro que
e intersetorial e seu espaço pri- ências Humanas e Saúde"
busca contribuir com as neces-
vilegiado para implementação é no Instituto de Medicina So-
sidades sociais em saúde, para
a Atenção Básica porque esta é cial/UERJ. Na USP coordena
além do enfoque da doença. Con-
a "porta de entrada" para o usu- o Grupo de Estudos de Edu-
ferências internacionais sobre
ário no serviço de saúde. cação Física e Saúde Coleti-
promoção da saúde, realizadas va, cadastrado no CNPq
pela Organização Mundial de Saú- A Atenção Básica se caracteriza desde 2001.
de (OMS), vêm acontecendo por um conjunto de ações de saú-
desde a segunda metade do sé- de, no âmbito individual e coleti-
escuta e a conversa com intuito
culo passado. No Brasil, particu- vo, que abrange a promoção, a
de compreender o contexto no
larmente, devido ao processo de proteção, a prevenção, o diag-
qual se insere o problema ele
implementação e consolidação do nóstico, o tratamento, a reabili-
leva.
Sistema Único de Saúde (SUS), tação e a manutenção da saú-
os princípios gerais da promoção de. Ela acontece por meio das E a estratégia Saúde da Família
- eqüidade, intersetorialidade, práticas gerenciais e sanitárias - é a principal ação de organiza-
participação social, criação de um democráticas e participativas -, ção da Atenção Básica, porque
entorno propício à vida e à justi- sob a forma de trabalho em equi- carrega como seu principal de-
ça social - encontraram espaço pe, dirigida a populações de ter- safio promover a reorientação
para o seu desenvolvimento. ritórios bem delimitados, pelas das ações de saúde levando-as
quais assume a responsabilidade para mais perto da família, com
Assim, devido a sua articulação
sanitária, considerando a base nos princípios do SUS. O
com a proposta do SUS, a Pro-
dinamicidade existente no espa- atendimento é prestado por mé-
moção da Saúde brasileira tem
ço em que vivem. dicos, enfermeiros, agentes de
outra conotação, - a de uma Po-
saúde, entre outros - que são os
lítica Nacional de Promoção da É um atendimento de alta com-
profissionais das Equipes Saúde
Saúde -, que agrega um concei- plexidade porque a Atenção Bá-
da Família (ESF) - na unidade de
to ampliado de saúde e analisa o sica recebe as múltiplas e mais
saúde ou nos domicílios. E não
processo saúde-doença articula- variadas queixas dos usuários,
raras vezes é possível encontrar
do com as demais políticas e prá- muitas vezes, pouco específicas
ações de promoção com as prá-
ticas do setor saúde e de outros e mal definidas que dificultam o
ticas corporais na SF.
setores, estimulando a co- diagnóstico e o cuidado. Nesse
responsabilização e a co-gestão sentido, há uma preocupação De fato, as práticas corporais
entre os diferentes atores, insti- maior com a signularidade do su- podem ter na Atenção Básica e
tuições e movimentos sociais na jeito que implica, necessariamen- na estratégia Saúde da Família
criação de intervenções que con- te, em privilegiar o encontro, a um espaço interessante para
33
compor com o cuidado e a aten- desconfortos e às diversas ma- complexidade da intervenção em
ção em saúde. Elas ampliam as neiras de perceber e exercitar a Atenção Básica já que na maioria
possibilidades de encontrar, es- sua potência ainda são tímidas. das vezes é o primeiro momento
cutar, observar e mobilizar as O movimento e a gestualidade de contato do usuário com o SUS,
pessoas adoecidas para que, no possibilitam um diálogo diferen- e, portanto, a grande possibilidade
processo de cuidar do corpo, elas ciado entre o usuário, a comuni- de apresentá-lo às novas formas
efetivamente construam relações dade e o serviço de saúde, es- de organização e atendimento do
de vínculo, de co-responsabilida- pecialmente o SUS. serviço - que não o considera um
de, autônomas, inovadoras e so- corpo-objeto mas uma pessoa
Para muitas pessoas, o SUS ain-
cialmente inclusivas de modo a marcada por sua história de vida,
da reproduz uma imagem muito
valorizar e otimizar o uso dos es- suas experiências, por seus limites
ruim da saúde e, sobretudo, da
paços públicos de convivência e e, portanto, com dificuldade de
vida: a perspectiva hospitalo-
de produção de saúde que po-
cêntrica, centrada na figura do manter e conquistar condições de
dem ser os parques, as praças e
médico e na doença deixou de saúde e de vida melhores.
as ruas.
lado a pessoa doente, a terapêu-
Demarcamos as responsabilidades
A nossa experiência mostra que tica e os outros profissionais de
dos profissionais de saúde com
falta informação e conhecimento saúde (enfermeiro, fisioterapeu-
base na formação curricular -
aos profissionais da saúde e aos ta, profissional de educação físi-
escolar e universitária - mas a
usuários dos serviços, no que se ca, terapeuta ocupacional, en-
condição que permite nos dife-
refere às práticas corporais. In- tre outros). A instituição de saúde
renciar na qualidade do serviço e
dicam a atividade física, mas olha para a doença, ainda que
do atendimento em saúde se
aquela atividade chata, para ficar doente e se recuperar
constrói no dia-a-dia do conví-
impositiva, autoritária, medida, seja preciso muita saúde.
vio e do trabalho no serviço. A
cronometrada, inserida no tem-
Há saídas para esses impasses qualidade do ambiente e das re-
po da obrigação. As práticas que
que implicam na ressignificação lações entre os profissionais, en-
nos remetem à descoberta e à
do trabalho e da formação em tre estes e o serviço, entre a po-
consciência do corpo, ao signifi-
saúde: equipe multiprofissional e pulação e os profissionais e o ser-
cado do cuidar e estar atento aos
educação voltada viço, é o patrimônio do SUS.
para a alta
As práticas corporais são com-
ponentes da cultura corporal dos
povos, dizem respeito ao homem
em movimento, à sua
gestualidade, aos seus modos de
se expressar corporalmente.
Nesse sentido, agregam as
mais diversas formas do
ser humano se mani-
festar por meio do
corpo e contemplam
as duas raciona-lidades:
a ocidental (ginásticas, modali-
dades esportivas e caminhadas
podem ser exemplos) e a oriental
(tai-chi, yoga e lutas, entre outras).
34
A todo componente da cultura tegrado" preconizado pela OMS Convivemos com o aumento da
corporal são atribuídos valores, para controlar as enfermidades obesidade e do sobrepeso e com
sentidos e significados e dessa crônicas. Nele se expõem breve- o fast food, com os alimentos
constatação decorre que há sen- mente os principais problemas de adoçados artificialmente, com as
tido praticar ginástica aeróbica saúde e as razões e os antece- gorduras hidrogenadas e os re-
para algumas comunidades, mas dentes da estratégia com intuito frigerantes. É importante desta-
não para outras. O jogo de fute- de orientar as ações em saúde. car aqui que a maioria das men-
bol, por exemplo, é sagens tentam responsabilizar o
O presente texto pretende am-
marcadamente uma modalidade indivíduo pelas escolhas, mas,
pliar os modos de interpretar esse
com a qual se identifica o povo sabemos que muitas vezes não
movimento contemporâneo vol-
brasileiro, já a esgrima, o pólo e há escolha: comprar um pedaço
tado para o cuidado com o cor-
o xadrez não, ainda que seja pos- de queijo é muito mais caro do
po, chamando a atenção para as
sível fazer referência a alguns que um pacote de salgadinho com
práticas corporais; apresentar as
nomes de atletas brasileiros que sabor artificial de queijo, ou com-
principais diferenças conceituais
se dedicam a estas modalidades. prar um litro de refrigerante é
entre atividade física, exercício
muito mais barato do que um li-
O tema em questão, que abarca físico, educação física, lazer e
tro de leite ou suco de frutas.
também e, enfaticamente, o da recreação, muitas vezes usados
atividade física e saúde, mobiliza como sinônimos; e relacionar as As doenças crônicas não-
na atualidade organismos inter- práticas com a Promoção da Saú- transmissíveis (tabagismo, diabe-
nacionais - Organização Mundial de, especialmente no tempo e tes, câncer, doença cardio-
da Saúde, Organização espaço da atenção básica, com vascular e hipertensão), assim
Panamericana de Saúde, gover- vistas a destacar a importância, como os determinantes associa-
nos e ONGs - e nacionais - go- a pertinência e a complexidade dos à redução dos fatores de ris-
vernos e sociedade civil, assim do tema em questão. co (tabaco, alimentação não sau-
como a indústria cultural, com o dável e sedentarismo) caminham
intuito de "orientar" a população, juntos, ao lado dos apelos volta-
os profissionais e os gestores dos 1. As práticas corporais na dos para a atividade física, à
serviços e do ensino em saúde a contemporaneidade medida que as mensagens asso-

H
respeito da atenção ao corpo. ciadas à prevenção e controle
á vários dilemas com os
das doenças são orientadas por
Há várias iniciativas que demar- quais nos deparamos na
diferentes estratégias de
cam os rumos das discussões de atualidade: de um lado, a degra-
"marketing", campanhas e vigilân-
modo a apontar caminhos no sen- dação da qualidade de vida da mai-
cia diante da "vulnerabilidade"
tido de apoiar pessoas e coleti- oria da população brasileira, a in-
coletiva, ou ainda, da "fragilida-
vos para desenvolverem estra- justiça social, a distribuição desi-
de da vida", de um lado, e, de
tégias voltadas para a Promoção gual da riqueza, a fome, a
outro, do crescente mercado da
da Saúde. A Organização Mundi- corrupção e a violência; de outro,
cura.
al da Saúde construiu o projeto o aumento dos ganhos da indús-
"Estratégia Global sobre Alimen- tria da beleza (próteses, plásticas As práticas corporais ganham
tação, Atividade Física e Saúde" e cosméticos), das academias de espaço nas Unidades Básicas de
(EG/OMS), em 2003. O referido ginástica, dos hotéis e resorts ao Saúde, especialmente via estra-
documento é considerado um longo da costa brasileira e do con- tégia Saúde da Família, mas,
marco para o desenvolvimento de sumo de produtos importados as- grande parte das iniciativas ain-
uma Estratégia Mundial sobre ali- sociados à boa forma e à estética da privilegia o fazer atividade fí-
mentação, atividade física e saú- (vitaminas e equipamentos espor- sica (caminhada, ginástica) de
de, de acordo com o enfoque "in- tivos, por exemplo). modo que outras dimensões da
35
relação entre o profissional ou as possibilidades de ação sobre 2.500 calorias é necessário cor-
agente de saúde e a comunida- ele. Há, entretanto, diferenças rer tantos minutos para que não
de não têm sido enfatizadas, cha- conceituais importantes porque aja acúmulo de gordura; e à pre-
mo a atenção aqui para a natu- cada uma das denominações venção da doença (hipertensão
reza didático-pedagógica presen- (exercício físico, atividade física, e diabetes são exemplos).
te na relação e ainda muito pou- educação física, lazer, treinamen-
Essa atividade física fundamen-
co explorada pelos profissionais to e recreação) carrega valores
ta-se na física clássica,
de saúde. Outra questão impor- próprios de determinado tempo e
newtoniana, atividade física
tante: de um lado, as orienta- espaço: a compreensão de lazer
como sinônimo de gasto de ener-
ções se restringem às técnicas, na Grécia Antiga não tem nada a
gia, diretamente associada à idéia
à idéia de que o gasto de ener- ver com a idéia do lazer moder-
de ingestão de calorias: "se você
gia - fazer atividade física - é no, diretamente vinculado ao tra-
ingerir mais calorias será neces-
suficiente para prevenir ou reme- balho e ao modo de vida urbano.
sário fazer mais atividade física".
diar a doença; de outro, os gru- A seguir, então, apresentaremos
A relação entre ingestão de ca-
pos ainda se organizam a partir algumas das formulações mais
lorias e atividade física, portan-
das doenças (atividade física para recorrentes no campo da saúde.
to, é proporcional e essa associ-
diabéticos, hipertensos) ocasio-
ação freqüentemente aparece
nando a exclusão dos demais, ou
nas mensagens que pretendem
seja, quem não é diabético ou 2. Atividade física
influenciar aqueles que querem ou

Q
hipertenso não pode participar.
uando falamos e escreve precisam perder peso.
No entanto, já há várias iniciati- mos a respeito do movi-
Essa aparente solução para os
vas que privilegiam a dimensão mento, o conceito que primeiro
problemas de saúde-doença as-
educativa e a subjetividade no aparece é o da atividade física
sociados à alimentação
cuidado e na atenção à pessoa: seja na mídia impressa e
(sobrepeso, obesidade), qual
formam grupos heterogêneos, no televisiva, seja nos periódicos ci-
seja, a prática de atividade físi-
que diz respeito à idade e à ocor- entíficos, nas pesquisas, nas
ca, tem reforçado equívocos que
rência, estimulam o aprendizado apresentações em congressos ou
contribuem com o pensar, o fa-
voltado para a construção de vín- ainda na conversa diária quando
lar, o escrever e o agir sobre a
culos, de responsabilidades, para o tema se refere à atenção ao
doença, aumentando a dificulda-
a autonomia (individual e coleti- corpo vinculando-o à saúde, ali-
de das instituições, do serviço de
va) e para a capacidade de pro- mentação e nutrição e ao
saúde e dos gestores de, efeti-
vocarem a mudança do pensar e sedentarismo. A discussão, na
vamente, intervir na saúde das
agir em saúde. Existe uma série maioria das vezes, justifica-se
populações.
de práticas que pertencem à cul- para chamar a atenção das pes-
tura corporal do povo brasileiro soas e dos coletivos para a "ne- Não podemos deixar de lado a
ainda pouco exploradas no cam- cessidade" de atividade física, doença, mas precisamos estar
po da saúde e que ajudam a re- com vistas a combater as doen- atentos para o fato de que a de-
pensar e a reinventar de fato a ças que, cada vez mais, com- pender de como se considera a
promoção. prometem a saúde das popula- doença se desloca o foco do su-
ções. E de uma determinada ati- jeito doente para o fenômeno do-
As práticas corporais podem vidade física, aquela associada ao ença e se perde o sujeito, trans-
agregar o conjunto de ações vol- gasto de energia, se você anda formando a doença em estigma
tadas para o cuidado como cor- 30 minutos você gasta em média para o doente. Os casos de pes-
po e à medida que trabalhamos determinada quantidade de ca- soas hipertensas e diabéticas
com um conceito ampliado de lorias, e diretamente vinculada à podem ser ilustrativos. Observe
atenção ao corpo, multiplicamos alimentação, se você ingere a reação de uma família quando
36
fica sabendo que um dos seus
membros está diabético ou
hipertenso: toda a família se volta
para a doença. Os cuidados com
a alimentação, a necessidade de
medicação, ou qualquer outro
procedimento cotidiano relativo à
doença é que acaba mobilizando
a atenção de todos, não neces-
sariamente para o doente, para
a pessoa que manifesta a doen-
ça. Os espaços e tempos do café
da manhã, do jantar e diante da
TV (tempo e espaço de atenção
do lazer para muitos) se trans-
formam muitas vezes em momen-
tos de encontros para as pesso- de que, primeiro, todos têm aces- ele é compreendido como sinôni-
as expressarem e reforçarem a so ao serviço orientado no que mo de atividade física e saúde,
"preocupação" com a doença, re- se refere à atividade física. Isso ou exercício e saúde, ainda que
tomando a conversa ao trazerem não é verdade, ainda que o dis- sejam conceitos distintos. Isso
mais informações, ou ainda lem- curso e as ações sejam aparen- acontece porque os estudos e as
brando de um amigo ou parente temente dirigidas a todos, só pesquisas que comprovam que a
que está com o mesmo proble- atingem alguns, poucos, aqueles atividade física, ou que o exercí-
ma. Quando o assunto volta-se que podem pagar pelos serviços cio faz bem para a saúde têm
para o doente, são freqüentes os e produtos a eles vinculados (cal- como referência, no que se refe-
apelos à necessidade de mudar çado esportivo, equipamentos, re ao movimento, os programas
"o estilo de vida". De fato, é mais academia, personal trainer, etc.). de atividades regulares e
fácil alterar padrões de compor- Segundo, pressupõe-se que a repetitivas. Exemplos podem ser
tamento do que os determinantes atividade física seja sinônimo de os estudos que comparam um
socias da doença. saúde. Outro equívoco. É neces- grupo de sedentários com um
sário conhecimento e informação grupo de praticantes de ativida-
Outra questão que cabe destacar
para orientar a prática; não é raro de física orientada, muitas vezes
aqui: a doença extrapola a dimen-
que a atividade física ocasione chamando a atenção para a
são individual, da pessoa doente
lesões, desconfortos, sofrimen- prevalência e necessidade de
para a dimensão do coletivo, das
to, dor e doença. prevenção de alguma doença.
relações - família, amigos, cole-
gas de trabalho - e é também nes- 3. Exercício físico Entretanto, é sempre importante
lembrar que as amostras utiliza-

O
se sentido que o problema é um
exercício implica na repe das na maioria das pesquisas,
problema social, "controlar" a do-
tição de determinado mo- particularmente as desenvolvidas
ença implica em "controlar" o do-
vimento, ou de determinado con- nos países ricos, são de pessoas
ente. E, assim, orientações relati-
junto de movimentos. Dizemos ou grupos que comem, dormem,
vas aos hábitos saudáveis e à ne-
que estamos nos exercitando estudam, trabalham e têm aces-
cessidade de atividade física, ocu-
quando realizamos movimentos de so ao lazer. Aqui, no Brasil, nós
pam a atenção de todos.
modo encadeado e seqüenciado. sabemos que a maioria da popu-
Há outro dado que merece des- Quando se associa o movimento lação não vive sob essas condi-
taque, parte-se do pressuposto à saúde, na maioria das vezes, ções, além do quê a diversidade
37
local e regional é determinante instrumentos amplamente utiliza- ência, mais especificamente das
das condições de vida e de saú- dos para comparação e classifi- ciências biológicas.
de. Decorre desse fato que não cação de massa corporal, por
Este conhecimento do corpo bi-
podemos adotar, ou nos adequar exemplo, as tabelas de referên-
ológico dos indivíduos, se de um
aos modelos e resultados obti- cia para peso e altura, precisam
lado significou libertação, uma
dos daqueles estudos, mas tê- ser manipuladas com cuidado,
vez que evidenciou as causas das
los como um dos parâmetros para com parcimônia, com bom sen-
doenças (agora não mais enten-
pensar e intervir no processo so, caso contrário às conseqü-
didas como castigos de Deus) e
saúde-doença ou ainda promo- ências podem ser desastrosas.
sistematizou alguns cuidados com
ver saúde.
o corpo, entre os quais a ativi-
A realidade da população brasi- dade física e o exercício físico,
4. Educação Física
leira é distinta em todos os sen- de outro, limitou o entendimento

D
tidos: econômico, cultural, soci- esde o século XVIII, do homem como um ser de natu-
al e político. Essas diferenças se notadamente no século reza social, cuja "humanidade"
expressam também na diversida- XIX, na Europa, o "olhar" para o provém de sua vida em socieda-
de corporal do povo brasileiro. corpo guarda características de.
Observe como é diferente a es- conservadoras e utilitárias. É nes-
Também na Educação Física, de
trutura óssea do povo do sul e se período que o estudo do cor-
maneira geral, apenas se elabo-
do norte; agora compare o pa- po - considerado instrumento de
raram formulações parciais sobre
drão corporal do povo japonês e produção, passou a ser rigoro-
o corpo, à medida que, primeiro,
do africano. Por esse motivo os samente organizado à luz da ci-
partia-se o corpo para, depois,
analisá-lo. Um exemplo dessa re-
dução na compreensão e discus-
são relativa ao corpo pode ser a
freqüente comparação que se faz
do funcionamento das socieda-
des com o funcionamento do cor-
po, análises mecanicistas,
organicistas com dupla função:
de instrumento, na sua relação
com o trabalho, e de objeto, por
meio do qual se intervém no indi-
víduo.

A Educação Física no Brasil tem


raízes na Europa, especialmente
na França do século XIX. Desde
o momento em que foi
implementada no Brasil, no co-
meço do século passado, tem ori-
entado para o ensino do movi-
mento, da técnica, do gesto
automatizado, disciplinado com
vistas a combater a preguiça e a
imoralidade. Naquele momento,
os objetivos que justificavam as
38
intervenções sobre o corpo dos creveu Fernando de Azevedo: "um da que a opção que prevalece
indivíduos, não só por meio da organismo sadio e de músculos no espaço escolar seja a do es-
Educação Física, estavam asso- adestrados é de certo mais fácil porte rendimento. A competição,
ciados à regeneração da raça, ao a moralizar do que uma máquina por exemplo, pode estar presen-
fortalecimento da vontade, ao humana enfraquecida e te na vivência, mas ela não é o
desenvolvimento da moral e à de- emperrada''. elemento determinante.
fesa da pátria.
Há outra questão que merece O Esporte é um bem cultural e
Decorre dessa orientação que as destacar: muitas vezes confun- um direito social. Quando ao lado
práticas voltadas para o cuidado de-se a Educação Física, um da Educação Física, ou do Lazer,
com o corpo afirmaram se como campo de produção de conheci- no entanto, a ênfase recai na sua
práticas capazes de alterar a mento e intervenção profissional dimensão recreativa voltada para
saúde, os hábitos e a própria vida que tematiza formas de ativida- a sua capacidade aglutinadora
dos indivíduos. A Educação Físi- des expressivas corporais (jogos, possibilitando a construção do en-
ca é incluída nas escolas, como danças, ginásticas e lutas, por tendimento do como e do porquê
disciplina componente da grade exemplo) e que forma profissio- ele se faz presente em pratica-
curricular, e passa a integrar o nais no âmbito da graduação e mente todas as culturas das so-
conjunto de ações voltadas para pós-graduação e situa-se aca- ciedades modernas.
a "atenção ao corpo". A cidade, demicamente na Grande Área das
como lugar privilegiado dos acon- Ciências da Saúde, com o Espor- Uma das críticas à formação e
tecimentos políticos, econômicos te - considerado um fenômeno intervenção do profissional que
e sociais da nova sociedade bra- da modernidade de alcance pla- atua sobre o movimento do ser
sileira que se constituía, podia, netário que se tornou a expres- humano diz respeito ao modo
de um lado, ser considerada es- são hegemônica no contexto das como os profissionais entendem
paço dos empreendimentos mo- práticas corporais. Não vou me e atuam sobre o corpo: como
dernos e da consolidação dos deter nesse texto a esse fenô- "matéria-prima", despojado de
novos modos de viver urbano, e meno social e cultural de grande história, de técnica, de subjeti-
de outro, como parte constitutiva relevância na sociedade contem- vidade. Ao compreenderem os
do mesmo processo, era a ex- porânea, mas é importante es- corpos como desprovidos de cul-
pressão concreta da degradação crever aqui que ele agrega ao seu tura, como parte da ordem da
da vida humana. Havia necessi- redor um universo de significa- natureza, reforçam a idéia da
dade, portanto, de adequar os ções que mobilizam pessoas e transmissão de determinado "re-
corpos às mudanças do ambien- coletivos de todos os lugares, pertório corporal".
te. com diferentes condições de vida
O próprio corpo do profissional es-
e que por esse motivo acaba
Assim, o conteúdo da Educação pecífico inscreve e expressa a ló-
emprestando prestígio à Educa-
Física naquele período - a ginás- gica que orienta o conjunto de
ção Física.
tica - se tornou a expressão con- saberes e práticas tradicionais e
creta dos "cuidados corporais" Quando privilegiamos os conteú- eficazes e é no conhecimento ci-
normatizados pelo pensamento dos esportivos nas práticas de entífico que está posto o saber
médico higienista. A Educação Fí- saúde enfatizamos o elemento corporal, o conhecimento das
sica - na escola ou fora dela - lúdico, a capacidade que esses possibilidades e limites do movi-
reproduz os valores da socieda- conteúdos têm de possibilitar o mento humano, movimento en-
de atribuídos aos sujeitos no pla- exercício da solidariedade, da so- tendido como expressão/criação,
no físico ou no da moral. Ela foi ciabilidade, entre outros, em de- como resultado, como síntese
estruturada a partir do ideário trimento do rendimento, do indi- daquilo que o homem realiza em
burguês de civilidade, como es- vidualismo e da competição, ain- sociedade. E aqui é importante
39
ressaltar que ao compreender o É nesse sentido que se estabe- dos ao corpo e, ao mesmo tem-
movimento do ser humano na sua lecem as relações sociais - insti- po, fornecem os novos (da cul-
dimensão pedagógica, ele não se tuições e valores do corpo que tura de consumo), que irão subs-
reduz a um ato biomecânico ou podem gerar conseqüências tituir os tradicionais.
motor, esta forma de expressão irreversíveis. É cada vez mais fre-
O professor de educação física,
que se manifesta por meio do qüente nos depararmos com re-
o médico, o agente de saúde, os
movimento, seja ele codificado portagens e manchetes alertando
profissionais que atuam na área
(gesto desportivo), seja ele cri- para a anorexia, deformações
da saúde, são os mediadores das
ado (expressão), não é algo que estéticas ocasionadas por pro-
influências que os sujeitos rece-
possa ser interpretado apenas dutos de beleza, para os remédi-
bem do meio em que vivem pela
pelas funções orgânicas ou pe- os que promovem o emagrecimen-
sua prática pedagógica, de pro-
los tratados anátomo-fisiológicos. to rápido e sem necessidade de
moção, terapêutica ou clínica.
dietas.
Os "grandes" problemas, no en- Para que haja, de fato, um pro-
tanto, que ainda movem os pro- As mudanças tecnológicas, a in- cesso educativo, é necessário
fissionais específicos são: promo- dústria cultural e a da beleza, a que se compreendam tais signifi-
ver atividade física para, logo em sociedade com características cados, considerando que a mídia
seguida quantificar os dados vi- consumistas e a política de mer- é um forte mecanismo de disse-
sando a melhora das condições cado responsabilizam o indivíduo minação de idéias, conceitos e
físicas e biológicas da saúde nos pela sua qualidade de vida medi- valores. Uma análise dos signifi-
diversos grupos (criança, adoles- ante a "manutenção" do corpo. cados das práticas corporais pa-
cente, adulto e idoso); medir e A ênfase quanto à "manutenção" rece ser fundamental para que
avaliar a motivação e adesão para do corpo e da aparência em uma novos conceitos e valores pos-
a prática do exercício; formular e cultura como a brasileira nos re- sam ser construídos.
propor testes de aptidão física; mete a duas categorias básicas:
propor treinamento físico ou es- o corpo interno e o externo.
portivo; e relatar experiências com
O corpo interno refere-se ao 5. Lazer
a atividade física com objetivo de

O
contexto da saúde e ótimo fun-
reforçar a necessidade da práti- lazer, muitas vezes, é com
cionamento do corpo que, por sua
ca de exercício diário, durante preendido como sinônimo de
vez, exige atenção e reparo di-
determinado tempo e modo. recreação e assim ele é associa-
ante da doença, do abuso e da
Cabe ressaltar ainda que a edu- do a conteúdos de determinadas
deterioração que acompanha o
cação do corpo não se restringe atividades. Esse caráter parcial
processo de envelhecimento. O
aos tempos e espaços da disci- e limitado dificulta a formulação
corpo externo é referente à apa-
plina Educação Física nas esco- de ações específicas no âmbito
rência, bem como ao movimento
las, é objeto de preocupação tam- das políticas públicas e da legis-
e ao controle do corpo no espa-
bém da família, da igreja, do hos- lação e da produção de conheci-
ço social. E essas duas catego-
pital e da prisão, afinal, o "corpo mento. No senso comum, relaci-
rias andam juntas, ou seja, o prin-
é o primeiro lugar onde a mão do ona-se o lazer ao divertimento e
cipal propósito da manutenção do
adulto marca a criança, ele é o ao descanso, deixando de lado a
corpo interno se torna a valori-
primeiro espaço onde se impõem questão do desenvolvimento pes-
zação da aparência do corpo ex-
os limites sociais e psicológicos soal e do social.
terno. E, a indústria cultural e a
que foram dados a sua conduta,
da beleza exercem papel funda- Compreender o lazer, em sua
ele é o emblema onde a cultura
mental nesse processo, uma vez especificidade, em estreita rela-
vem inscrever seus signos como
que transmitem a destruição de ção com as demais áreas de atu-
também seus brasões" (Vigarello,
determinados valores relaciona- ação pode contribuir para alte-
40 1978, p. 9).
rarmos o contexto da vida a par- tir das múltiplas determinações das 6. Recreação

O
tir de mudanças no plano cultu- condições objetivas nele presente.
termo provém do latim
ral. No entanto, o lazer ainda é
E a capacidade de inventar ma- recreatio, recreationem e
privilegiado com base na visão significa recreio. Deriva do vocá-
neiras de ser e de viver permite
funcionalista, desconsiderando o bulo recreare que significa repro-
identificar diferentes manifesta-
contexto e os determinantes que duzir, restabelecer, recuperar. O
ções do lazer e do lúdico em nos-
definem a desigualdades na apro- conceito moderno foi amplamen-
so meio - que se reflete tanto nas
priação do nosso tempo. O lazer te disseminado nos Estados Uni-
condições de vida (de moradia, de dos da América no final do século
é a cultura vivenciada (pratica-
trabalho, de saúde, de educação) XX com o sentido de agregar em
da ou fruída) no "tempo disponí-
como nos valores pessoais e co- uma mesma expressão uma séria
vel". Carrega consigo o caráter
letivos. Dentre as inúmeras formas, de atividades da cultura popular
"desinteressado" da vivência e
é o fazer junto com o outro e o que os municípios organizavam e
está vinculado às demais dimen-
conjunto de significados que se supervisionavam. Esse conceito
sões da vida social. ressurge com um sentido social e
atribui ao fazer que se constitui o
político visando a promoção de
Na contemporaneidade o lazer humano do coletivo e é nesse sen-
elementos como a disciplina, a
remete à idéia de reivindicação tido que o lazer é compreendido
formação da nacionalidade, a in-
social, questão de cidadania, de como um fenômeno sociocultural, corporação de determinados va-
participação cultural, de vivência uma manifestação humana, um di- lores morais, enfim, o ajustamen-
crítica e criativa e de participa- reito de todo cidadão. to à vida em sociedade.
ção cultural. É no lazer que as
condições para a produção de
valores que se contraponham à
sociedade de consumo encontra
espaço mais favorável de forma
a ampliar e potencializar os brin-
quedos, as festas, os jogos, para
além do próprio tempo e espaço
do lazer.

O lazer como direito social des-


loca o foco da discussão para as
conquistas históricas e sociais às
quais ele está articulado. Essas
conquistas dizem respeito às rei-
vindicações pelo estabelecimen-
to do tempo institucionalizado
para o lazer, nos limites da jor-
nada de trabalho, do fim de se-
mana, das férias e dos feriados
remunerados.

Como prática social ele se traduz


como atividade humana construída
historicamente com a intenção de
dar respostas às necessidades
sociais, identificadas pelos que fa-
zem a história do seu tempo a par-
41
42
A propagação da idéia da recrea-
ção orientada, no Brasil, sofreu
influência de países preocupados
com o desenvolvimento dos jo-
gos e da ginástica, tais como Ale-
manha, Inglaterra, França e Itá-
lia. Entretanto, as influências dos
Estados Unidos da América coin-
cidiram com a disseminação dos
princípios pedagógicos da Escola
Nova entre 1920 e 1930 e, por-
tanto, tiveram maior ressonância.

Embora o sentido de recreação


norte-americano não tenha se re-
duzido aos jogos e atividades
prazerosas organizadas para as
crianças, ele se consolida assim
no Brasil. Desde o momento de
implementação dessas idéias em
nosso país houve uma aproxima-
ção com a Educação Física, ofi-
cialmente responsável por de-
senvolver os conteúdos da re-
creação como estratégia
metodológica de organização de
jogos e brincadeiras infantis.

O valor social do empreendimen-


to de recreação para as massas,
iniciado em 1927 e oficializado em
1950, no Brasil, por iniciativa de
Frederico Gaelzer, denominado
Serviço de Recreação Pública de
Porto Alegre não pode ser esque-
cido. Como estratégia de controle
e de manipulação social, a re-
creação foi amplamente utilizada
com o objetivo de organizar o
tempo de lazer das pessoas, es-
pecialmente dos trabalhadores,
com o sentido de minimizar os
perigos do tempo ocioso. O lazer
era compreendido como tempo li-
vre a ser preenchido.

Não há estudos sistematizados,


43
nos últimos anos, que privilegiem evolucionismos unilineares e pro- dos últimos anos temos investi-
uma visão crítica e novos enca- gressivos e eles ocorrem porque gado no sentido de entender de
minhamentos para a recreação. as pessoas não aceitam automa- que modo as pessoas superam ou
Assim, hoje ela se restringe aos ticamente os novos elementos; não essa dissonância indivíduo e
manuais que reproduzem jogos e elas selecionam, modificam e ambiente a que se remete
brincadeiras dirigidos particular- recombinam elementos no encon- Calvino. A expressão os cuida-
mente para as crianças. E a vi- tro cultural. O sincretismo pene- dos com o corpo é compreendida
são técnica e tradicional da re- tra e se dissemina por meio das como referência por meio da qual
creação predomina em diferen- colagens, das montagens e pela as relações sociais são
tes cursos, disciplinas, seminári- etnicidade. Ele significa a coe- construídas e por meio da qual
os e congressos no país. xistência ou justaposição de ele- ganham sentido na vida cotidia-
mentos considerados incompatí- na. Assim, no espaço da cidade,
Se o enfoque tradicional da re-
veis. por exemplo, lugar de
creação tivesse desaparecido
multiplicidade, diversidade,
com o aparecimento das discus- A indústria da beleza, a mídia, a
integração e exclusão há elemen-
sões relativas ao lazer seria mais indústria farmacêutica, a socie-
tos mais do que suficientes para
fácil lidar com a questão. No en- dade de consumo, a tecnologia
pensar a questão.
tanto, ela continua presente na e a cultura narcísica, individua-
dimensão técnica, operacional e lista e competitiva determinam O cuidado com o corpo fala de
descontextualizada da realidade decisivamente para a prolifera- nós mesmos, do nosso modo de
brasileira e do próprio campo onde ção de apelos voltados para a viver e dos nossos conflitos. As-
se inscreve, Educação Física, ge- atividade física, de um lado. De sim, pode revelar, na dimensão
rando ambigüidades. outro, as comunidades carentes do gesto, do vestuário, da pala-
de informação, conhecimento e vra, do estético, da expressão e
acesso ao serviço constituem do movimento, o quanto somos
7. Algumas considerações finais caminhos "alternativos" e ainda tolhidos e mutilados no dia a-dia
pouco visíveis, relativos ao cui- e, ao mesmo tempo, os caminhos

M uitas das atitudes que con


sideramos "naturais", por-
que obedecem às idéias e con-
dado e à atenção ao corpo, com
base em valores que não os pre-
que encontramos para fazer a
vida melhor diante da degrada-
dominantes em contextos soci- ção da qualidade de vida da mai-
dutas relativas ao cuidado e à ais como o nosso. No que se re- oria da população brasileira.
atenção ao corpo, ou a um su- fere ao simbólico, as pessoas e
posto "bom senso", têm história. A atual cultura do bem-estar, do
os coletivos atribuem às práti-
consumo e da mídia é o tripé de
No que diz respeito ao corpo, as cas corporais sentidos e signifi-
uma época, muitas vezes, polari-
experiências corporais, a cultura cados também diversos que nos
zada na atenção ao corpo com
corporal de um povo, como mu- chamam a atenção para a impor-
uma visão volatilizada da pessoa.
lheres e homens se movem, o que tância de um tema ainda pouco
O corpo tem sido instrumentalizado
vêem e ouvem, os odores que explorado não só na pesquisa,
como produto que precisa ser de-
atingem suas narinas, onde co- mas também na formação do pro-
sejado. Nesse contexto, o consu-
mem, seus hábitos de vestir, de fissional da saúde.
mo de atividade física tem cresci-
banhar se, e de se divertir são
Com base no pressuposto de que do bastante também pelo apelo
diferentes.
o "homem contemporâneo perdeu estético. No entanto, pesquisas
Os sincretismos culturais também a harmonia entre ele e o ambien- mais recentes - que se fundamen-
estão presentes na cultura cor- te onde vive, e superar essa de- tam nas ciências sociais e huma-
poral, surgem de cada aspecto sarmonia é uma tarefa árdua" nas - têm demonstrado que as
da contemporaneidade, negam os (Calvino, 1994, p. 141), ao longo práticas corporais possibilitam a
44
nificados ao homem em movimen-
to, é preciso inovar também na
atenção primária, ressignificando
o atendimento e o gerenciamento
de recursos (financeiros e huma-
nos). Verifica-se ainda que a ori-
entação dos gestores é de resul-
tado, apostando os recursos em
assistência médica, mesmo que
existam ações dirigidas para a pro-
moção, com as práticas corporais.
Estas, por sua vez, vivem na
tenção da corda bamba - mantidas
por voluntários (sejam agentes de
saúde, líderes comunitários, ou pro-
fissionais de saúde), como ações
isoladas e dependentes de repas-
ses de verbas que podem termi-
nar a qualquer momento, derru-
bando o malabarista.

Diante das diversidades todas, se-


ria desejável que a ênfase sobre
o termo práticas corporais não
significasse uma renomeação do
que já existe no que se refere à
cultura corporal do nosso povo,
mas que apontasse para um novo
entendimento e, conseqüente-
mente para uma mudança das
orientações no campo das políti-
cas públicas dirigidas para a pro-
dução de saúde no país: mais dis-
construção de caminhos que con- moção por meio das práticas, in- tribuídas e mais sintonizadas com
trastam com esses valores predo- cluindo a avaliação como parte os interesses, necessidades e
minantes e essas atitudes do processo; e, estimular a desejos da população.
imediatistas e utilitaristas da vida pactuação entre gestores, pro-
contemporânea. fissionais e população no sentido Bibliografia
de estimular e oferecer acesso à
Mapear e apoiar ações de práti- CALVINO, I. Marcovaldo ou
diversidade das práticas nos es-
cas corporais - práticas lúdicas As estações na cidade. São
paços públicos são metas a se-
e de lazer - voltadas para toda a Paulo: Companhia das Le-
rem atingidas pela Política Naci-
comunidade nas Unidades Bási- tras, 1994.
onal de Promoção da Saúde.
cas de Saúde e induzir nos ser-
VIGARELLO, G. Les Corps
viços em que ainda não existam; Entretanto, da mesma forma que
Redressé. Paris, Jean
formar e educar os profissionais o conceito de práticas corporais
Pierre Delarge, 1978
de saúde com conteúdos de pro- "inova" ao atribuir sentidos e sig-
45
Campinas - SP

Medicina Tradicional Chinesa é


adotada pelo Serviço Público
Secretaria de Saúde de Campinas adotou a prática corporal Lian Gong em
18 terapias como alternativa de tratamento e colhe resultados positivos

L
ian Gong em 18 terapi- proposta está em sintonia com a move uma ampliação de foco dos
as, técnica terapêutica estratégia Saúde da Família, res- profissionais da saúde, permitin-
pertencente à medicina ponsável pela implantação e ma- do a percepção do paciente no
tradicional chinesa, foi nutenção da prática junto aos meio onde vive e a condição de
inserida há quatro anos pela Se- usuários do SUS Campinas e co- saúde/doença como conseqüên-
cretaria Municipal de Saúde de munidade em geral. cia de seu estilo de vida.
Campinas e é um dos pilares do
projeto Corpo em Movimento, que A diretora do Distrito de Saúde O comportamento dos pacientes
tem o objetivo de trabalhar as Sul de Campinas, Valéria Romero, também é alterado pela prática
dores crônicas e as doenças mús- esclarece que o Lian Gong é uma do Lian Gong. Na avaliação da di-
culo-esqueléticas, reduzir o con- das ações adotadas para expan- retora, eles adquirem a consci-
sumo de antiinflamatórios, resga- dir a atuação da estratégia Saú- ência da necessidade do auto-
tar a autonomia e melhorar a qua- de da Família. Ela explica que a cuidado e da co-responsabilidade
lidade de vida da população. A aplicação da técnica chinesa pro- pela manutenção de sua saúde.
46
A Origem do, as limitações físicas e emoci-

O
onais provocadas pela fadiga ou
Lian Gong em 18 terapías
inflamações das articulações e
foi criada em 1974 pelo médi-
coluna. "Com a prática (da tera-
co ortopedista e traumatologista
pia chinesa), os pacientes con-
Zhuang Yuen Ming, na China. Para
seguem reduzir muito a utilização
o Brasil, foi trazida em 1987 por
de antiinflamatórios", observa.
Maria Lúcia Lee, professora de filo-
sofia e de artes corporais chinesas. A técnica chinesa de tratamento
trabalha corpo, mente e emoção
Consiste em três séries de 18 movi-
paralelamente.Nessa condição,
mentos que estimulam a prática dis-
equilibra o fluxo energético, man-
ciplinar de movimentos ritmados que
tendo a serenidade e fluidez men-
melhoram a circulação sanguínea e
tal, auxiliando na eliminação do
equilibram o fluxo energético. São
nervosismo, medos, inseguranças,
exercícios terapêuticos desenvolvi-
estresse e, principalmente, das
dos com base nos conhecimentos
mágoas guardadas e nutridas du-
da Medicina tradicional chinesa, nos
rante toda uma vida.
princípios das artes marciais e na
fisioterapia embalados por música e
comandos firmes. Em Campinas foi
introduzida e difundida pelo profes-
sor de artes marciais e orientais e
economista Nelson Iba.

Embora seja oferecida em toda a


rede pública de saúde, é no Dis-
trito de Saúde Sul de Campinas
que está concentrado o maior
número de usuários praticantes do
Lian Gong. Na região, 26 turmas
reúnem-se semanalmente para
num trabalho de parceria, entre
profissionais de saúde e usuários,
praticar sob a condução de ins-
trutores o Lian Gong, resgatando
a autonomia e a socialização nos
processos grupais.

A coordenadora de Medicina Tra-


dicional Chinesa (MTC) da Unida-
de Básica de Saúde São Vicente
e instrutora de Lian Gong, Dulce
Helena Barbosa, explica que a te-
rapia é eficiente no tratamento
de doenças articulares, amenizan-
do as dores conseqüentes e
minimizando, quando não eliminan-
47
Para fazer compreender a prática tabelece uma relação entre o cor- Os movimentos suaves ritmados
e o efeito do Lian Gong, o médico po físico do ser humano e um cor- pela música e o contato com a
Luiz César de Almeida, clínico ge- po energético, considerados pela terra, com as plantas, com o ven-
ral e acupunturista da Unidade medicina chinesa para tratamen- to e o calor do sol, se praticados
Básica de Saúde São Vicente, es- to das doenças. rotineiramente são capazes de pro-

48
mover a fluidez energética e dis- damental porque ajuda a pessoa Luciana Souza tinha dificuldades
solver esses 'nós' provocados pela a compreender que faz parte do para andar, uma vez que não ti-
tensão e emoções complicadas, mundo. Ela sofre a influência, mas nha equilíbrio nem para essa sim-
acredita o médico. "Essa interação também influencia todo o contex- ples atividade. Sair sozinha de
com os elementos naturais é fun- to", diz o médico. casa era uma aventura que não
arriscava. Caminhar nos limites
seguros de sua residência já era
Resultados Positivos um risco para ela. "Eu caía muito,

O
trombava com móveis e me ma-
resultado positivo da ado-
chucava. Eu não conseguia parar
ção do Lian Gong como te-
em pé", relata Luciana. "Hoje, eu
rapia alternativa é verificado nos
caminho normalmente e faço exer-
depoimentos dos pacientes e na
cícios que no começo não conse-
redução no número de consultas,
guia fazer".
esclarece Valéria Romero, direto-
ra do Distrito de Saúde Sul. A Esses exercícios ao quais Luciana
mesma avaliação faz Elizabeth Souza se refere consistem em
Yamaguchi, médica pediatra e segurar os tornozelos com as
acupunturista, e Referência do mãos, puxá-los para cima e apoi-
Lian Gong na região. Ela acres- ar-se apenas nas pontas dos pés.
centa que a procura dos Centros O que, agora, ela faz com certa
de Saúde para cura de dores foi desenvoltura. Luciana conta que
consideravelmente reduzida, e o continua tomando remédios para
número de pacientes depressivos controle da epilepsia, mas não tem
está reduzido na mesma propor- sentido necessidade de usar me-
ção. Esse fator ela atribui à prá- dicamentos para minimizar as
tica dos movimentos da terapia complicações provocadas pelas
chinesa e à socialização do paci- alterações no cerebelo.
ente, que interage com outras
Caso menos grave, mas não me-
pessoas com problemas similares
nos limitador, é contado pelo sol-
aos seus durante os encontros.
dador aposentado José Cândido
Enfermidades diversas e comple- Oliveira, 55 anos. Ele também ini-
xas podem ser tratadas com o au- ciou o Lian Gong por indicação
xílio do Lian Gong, como relata a médica há cerca de um ano para
dona de casa Luciana Souza dos amenizar as dores provocadas por
Santos, 29 anos. Ela pratica a te- uma tendinite no ombro direito.
rapia duas vezes por semana no "Eu não conseguia levantar o bra-
Centro de Saúde São Vicente e in- ço. As dores que eu sentia só eram
tensifica a prática em sua casa. aliviadas com antiinflamatórios. Eu
Luciana é epilética e tem altera- tomava muito antiinflamatório". Ele
ções no cerebelo que comprome- estima que dois meses depois de
tem o seu equilíbrio físico. Esses começar o Lian Gong deixou de
problemas a impediam de levar uma tomar os remédios por não mais
vida normal e tranqüila com seu fi- sentir essa necessidade.
lho e marido. "Hoje, eu faço coisas
Maria Caetano de Souza tem 67
que antes eu não fazia", conta.
anos e passou grande parte de 49
sua vida em hospitais para 14 in- parte integrante e ativa da co- da saúde e da qualidade de vida
tervenções cirúrgicas em vários munidade. "Eu vou à igreja sem- da população é incentivo para
órgãos e partes do corpo. Com pre e sou ministra de Eucaristia;
que a Secretaria de Saúde de
uma saúde frágil e com o reuma- eu levo comunhão e conforto aos
Campinas abra espaço para ou-
tismo, passava muito tempo den- doentes a cada 15 dias", relata
orgulhosa. Maria Caetano vai às tras formas de terapia da medi-
tro de casa, limitada aos afaze-
sessões de Lian Gong a pé e ca- cina tradicional chinesa. O coor-
res domésticos. "Eu era uma pes-
minha cerca de 20 minutos para denador de Saúde Integrativa e
soa muito presa, tímida; só fazia
chegar ao local onde faz os exer- professor de acupuntura, William
o meu serviço de casa e não saía
cícios. H. Ferreira, promete trazer em
para nada". Ela faz o Lian Gong
há dois anos e, desde então, en- A certeza dos resultados positi- breve o Qi Kung para a 3ª idade
cara o mundo de frente e se sente vos do Lian Gong para a melhoria e práticas de meditação.
50
Goiânia - GO

A
promoção de hábitos Tem a proposta de levar até a po- interativas, deixando o clima mais
saudáveis de alimenta pulação esclarecimentos sobre te- descontraído e agradável para os
ção e vida foi estabe- mas como: o aproveitamento inte- ouvintes. A metodologia apresen-
lecida na Política Nacio- gral dos alimentos, a alimentação tada foge do esquema tradicional
nal de Alimentação e Nutrição (1999) saudável no ambiente escolar, os das palestras. O trabalho é voltado
como área estratégica da Política Dez Passos da Alimentação Saudá- para a problematização, onde as di-
Nacional de Promoção da Saúde vel para crianças e para adultos ficuldades vividas pelo grupo são le-
(PNPS) pela portaria nº 687 de 30 (Ministério da Saúde, 2004), como vantadas e, a partir dessa interação,
de março de 2006. A partir desse controlar o peso, como prevenir a o facilitador/mediador atua na cons-
marco criou-se mais espaço para o anemia, as ações de prevenção e trução do conhecimento.
desenvolvimento e para a promo- controle dos agravos e doenças
Segundo a nutricionista e especia-
ção de ações relativas a uma ali- decorrentes da má alimentação.
lista em Saúde Pública, Deusa Si-
mentação saudável, fortalecendo a
Participam do projeto "Alimentação mone, a aceitação dos participan-
articulação entre saúde e seguran-
Saudável" 11 distritos de Goiânia. A tes é muito boa. "As pessoas gos-
ça alimentar e nutricional.
ação é centrada em grupos para tam de ser valorizadas, respeita-
O projeto "Alimentação Saudável" pessoas com obesidade, crianças das, ouvidas em suas queixas, dú-
desenvolvido pela Secretaria Muni- com desnutrição gestantes, vidas e dores. Elas acreditam estar
cipal de Saúde de Goiânia tem sido hipertensos e diabéticos. Os temas sendo lembradas, já que cuidamos
um desafio para a Atenção Básica são apresentados por meio de ofi- delas antes que a doença chegue",
desde 1995. cinas, dinâmicas e discussões afirma Deusa. Para ela, o trabalho

51
em grupo é muito interessante, pois te, para quem precisa e não tem Com a expansão do projeto de ali-
aspectos como a socialização do co- condições de buscar auxílio fora do mentação saudável no município de
nhecimento e a participa- Goiânia, uma das estratégi-
ção das comunidades na as é a capacitação dos agen-
construção da cidadania são tes comunitários de Saúde e
“Com a expansão do projeto de
desencadeados e enfermeiros das equipes
alimentação saudável no município
potencializados. "Isso com Saúde da Família. Esses pro-
de Goiânia, uma das estratégias é a
respeito às diferenças e fissionais também participam
capacitação dos agentes
exercício de liberdade de ex- comunitários de saúde e de grupos envolvendo temas
pressão". enfermeiros das equipes Saúde da como: alimentação de crian-
Família. Esses profissionais também ças menores de dois anos,
O local de cada reunião de-
participam de grupos envolvendo alimentação da família, pre-
pende dos grupos e das ne-
temas como: alimentação de venção da anemia e outros
cessidades específicas. As-
crianças menores de dois anos, temas para qualificação pro-
sim, podem ser desenvolvi- alimentação da família, prevenção fissional. Assim, essa estra-
das nas Unidades Saúde da da anemia e outros temas para tégia torna-se ainda mais efi-
Família, mas também em es- qualificação profissional. Assim, caz, já que os todos os pro-
colas, igrejas, creches das essa estratégia torna-se ainda mais fissionais se tornam agentes
regiões ou em uma cozinha. eficaz, já que os todos os
promotores da saúde e pas-
Essa articulação entre os profissionais se tornam agentes
sam a ser multiplicadores
equipamentos de saúde e os promotores da saúde e passam a
dessas informações em suas
espaços quer públicos quer ser multiplicadores dessas
informações em suas visitas e no visitas e no contato com a
das comunidades, evidenci-
contato com a população.” população.
am o caráter transversal das
ações de Promoção da No mês de junho deste ano,
Saúde. foi realizada, na escola municipal
SUS. Porém, ela adverte que é preci-
Vale dos Sonhos, uma oficina de
As ações são acompanhadas por so levar a sério para tudo sair bem.
aproveitamento integral dos ali-
equipes multiprofissionais, que são "Emagreci, mantive o peso e ainda
mentos. A oficina foi apresentada
responsáveis pelo apoio às Equipes aprendi a me alimentar direito", de-
por nutricionistas e direcionada a
Saúde da Família, desenvolvido por clarou a costureira.
agentes comunitários de saúde,
meio de trabalhos em grupos,
Nos grupos freqüentados por merendeiros e pessoas da comu-
capacitações, planejamento e su-
Sirleide, o enfoque era a reeduca- nidade. Os participantes aprende-
pervisão das ações em saúde pú-
ção alimentar e nutricional, e o in- ram sobre a importância dos cui-
blica.
centivo à prática de atividade físi- dados no preparo e na manipula-
ca. Durante os primeiros meses a ção das refeições como: lavar bem
costureira reaprendeu a se alimen- as mãos com água e sabão; lavar
Alimentação Saudável em casa
tar, foi acompanhada por profissio- em água corrente e utilizar

D e acordo com a SMS, o pro nais de saúde e, ao final do trata- sanitizante (hipoclorito) caso for
jeto alcança o objetivo de le- mento, realizou novos exames, consumir verduras cruas; cozinhar
var aos lares uma alimentação mais onde ficou constatado o ótimo re- bem os alimentos; não deixar ali-
saudável. A costureira Sirleide das sultado que obteve. mentos prontos em temperatura
Graças, moradora do Jardim ambiente por mais de 30 minutos
Outra cidadã beneficiada pelo pro-
Guanabara I, acredita no sucesso e verificar sempre a data de vali-
jeto, a dona de casa Maria
da ação. Freqüentadora das reuni- dade dos alimentos.
Aparecida da Silva, moradora do
ões realizadas na Unidade Básica de
Guanabara III/GO, iniciou o trata- Utilizar o alimento em sua totalida-
Saúde do Distrito Norte/GO, ela per-
mento com 121 quilos e com a de significa mais do que economia
deu 25 quilos, no período de um ano,
pressão arterial acima do normal. significa usar os recursos disponí-
com acompanhamento da equipe
Hoje, com 29 quilos a menos e com veis sem desperdício, respeitar a
Saúde da Família com o apoio da
a pressão regular, a dona de casa, natureza e alimentar-se bem, com
equipe de referência.
acredita que o projeto serviu para prazer e dignidade. Essa foi uma das
Segundo seu depoimento, o proje- melhorar sua qualidade de vida, em lições aprendidas pelos participan-
52 to é muito proveitoso, principalmen- todos os aspectos. tes durante a oficina.
RECEITAS REGIONAIS Modo de fazer: Modo de fazer:
SAUDÁVEIS
Tempere o frango com alho, sal, Raspe e lave os maxixes; corte-
Estas e outras receitas regionais pimenta e limão e leve para dou- os em rodelas e tempere com sal
saudáveis foram extraídas do ma- rar no óleo. Faça um refogado e pimenta. Coloque-os em uma
terial "Alimentos Regionais Brasi- com os tomates, a cebola e o panela, adicione o leite e o chei-
leiros - Ministério da Saúde, 2002 cheiro verde bem picados, acres- ro verde. Cozinhe-os até ficarem
cente o frango e as folhas intei- macios e formar um creme.
REGIÃO NORTE
ras de jambu e deixe cozinhar até
Frango ensopado com jambú ficar macio.
Ingredientes REGIÃO CENTRO-OESTE
1 frango em pedaços
REGIÃO NORDESTE Arroz com pequi
1 cebola média
Maxixada Ingredientes:
1 maço de jambu
1 maço de cheiro verde Ingredientes: 2 xícaras de arroz

4 dentes de alho Maxixes verdes 1 porção média de pequis


1 limão Cheiro verde 1 cebola média
2 tomates Leite Água fervente
Sal e pimenta a gosto, óleo Sal e pimenta a gosto Sal e óleo

53
Modo de fazer: Limão e azeite de oliva 2 colheres (sopa) de água

Lave e seque o arroz, do modo 1 xícara (café) de azeite


convencional. Descasque os Modo de fazer: 1 colher (café) de sal
pequis e refogue-os no óleo, jun- 2 dentes de alho
Lave bem as folhas de beldroega
tamente com a cebola. Adicione
e deixe escorrer; coloque em uma 150g de queijo ralado
o arroz, o sal, mexendo sempre,
travessa e regue com o molho 400g de macarrão furado
para refogar. Coloque a água, em
quantidade que dê para cobrir a feito com os temperos.
Rúcula para enfeitar
mistura. Abafe a panela e espere
que dê o ponto.
REGIÃO SUL Modo de fazer:

Macarrão com molho de rúcula Bata no liquidificador o pinhão, a


REGIÃO SUDESTE
e pinhão rúcula, a água, o azeite, o sal, o
Salada de Beldroega Ingrdientes: alho e 50g do queijo. Cozinhe o
Ingrdientes: 8 pinhões cozidos sem casca macarrão al dente. Despeje o mo-
1 prato de folhas de beldroega 4 xícaras de rúcula lavada e pi- lho sobre o macarrão e polvilhe
Sal, alho cocado, pimenta-do-reino cada com o restante do queijo.
54
Niterói - RJ

Estratégia antibagismo para conscientizar


usuários começa nas Unidades Básicas de Saúde

P
ara falar sobre a estra comunidade cresce e os resulta- munidade coberta pelo Programa
tégia antibagista adota dos começam a ser sentidos na Médico de Família desta região.
da pela Secretaria Mu estratégia Saúde da Família na sua Dentre os 65 profissionais de
nicipal de Saúde de diretriz de Promoção da Saúde. Jurujuba, 16 eram fumantes e 12
Niterói (RJ), em parceria com o solicitaram ajuda para deixar de
De acordo com Cristina, há um
Instituto Nacional do Câncer fumar. Estes se transformaram nos
"desdobramento do projeto", a
(Inca), para banir o fumo nas de- primeiros contemplados com o tra-
partir das Unidades Básicas de
pendências das Unidades Básicas tamento, deixando, com suces-
Saúde. Com o exemplo de um
de Saúde (UBS), a responsável so, o vício do cigarro.
local de trabalho sem tabaco, a
pelas coordenações do Controle de
Tabagismo do município e do Cen- comunidade é sensibilizada a fa- Resultante da parceria entre a

tro de Estudos para Tratamento da zer o mesmo. "Este projeto des- Fundação Municipal de Saúde
Dependência à Nicotina do Inca, dobra-se para a comunidade a (FMS) e o Inca/Divisão de
Cristina Cantarino, é prática: "É lei". partir das policlínicas. A primeira Epidemiologia/Conprev/Inca, este
capacitada em Niterói foi a Poli- projeto de pesquisa se refere ao
Cristina lembra que o Inca/MS é clínica Comunitária de Jurujuba", diagnóstico local de fatores de ris-
responsável pelo Programa Nacio- conta ela. Neste local foram ca- co na área de abrangência da
nal de Controle de Tabagismo pacitados 65 funcionários para policlínica comunitária de Jurujuba/
(PNCT) e descentraliza suas ações tornar a Unidade livre do tabaco Programa Médico da Família de
por meio de parcerias com as se- e para abordagem mínima dos fu- Niterói.
cretarias estaduais e municipais mantes.
de Saúde. "Um dos objetivos do Como maior desafio a ser supera-
PNCT é tornar as Unidades Bási- Posteriormente, foi destacado um do ainda nesse ano, a equipe do
cas de Saúde livres do tabaco", grupo menor de funcionários para Inca já elegeu a implantação do
observa ela, salientando que a a chamada "abordagem intensiva tratamento de tabagismo em to-
prefeitura de Niterói investiu neste do fumante", que tem um arsenal das as policlínicas regionais da
trabalho "que começa a dar os fru- de argumentos para iniciar o tra- FMS de Niterói. "Expandindo esse
tos". Aos poucos a adesão da tamento do tabagismo para a co- serviço e garantindo o fluxo con-
55
te da Fundação Municipal de Saú- cer, justificam a realização desse
"A identificação do de, Francisco D'Angelo, e pelo di- trabalho, cuja principal meta é a
tabagismo como retor do Inca, na época, José cessação do hábito de fumar dos
problema de saúde
GomesTemporão. Naquele momen- profissionais de saúde e da popu-
pública e sua vinculação
com diversas doenças, to o diretor do Instituto assegu- lação por eles assistida", sinteti-
em especial, aquelas rou a parceria na Abordagem do za Maria Lúcia Nicolau.
presentes no perfil de Fumante em suas diversas estra-
morbidade de nossas Este projeto se desdobra para as
tégias, bem como a implantação
populações, tais como comunidades de Niterói a partir das
do referido projeto de pesquisa em
as doenças Policlínicas Regionais, seus respec-
Jurujuba.
cardiovasculares, as tivos grupos básicos de trabalho
pulmonares obstrutivas Inicialmente, o público inden- do Programa Médico de Família e
e o câncer, justificam a
tificado foi à população residente profissionais das Unidades Bási-
realização desse
trabalho, cuja principal na área de abrangência da Poli- cas adscritas àquela regional. O
meta é a cessação do clínica Comunitária de Jurujuba, ou primeiro passo é tornar essas Uni-
hábito de fumar dos seja, Jurujuba e Charitas. Atual- dades Básicas de Saúde e/ou
profissionais de saúde e mente, a SMS está ampliando o Módulos do Programa Médico de
da população por eles projeto para o atendimento pro- Família "Livres do Tabaco". Assim,
assistida"
gressivo de toda a população re- todas as equipes da atenção bá-
sidente em Niterói, a partir das sica de saúde passam por um trei-
tínuo de fornecimento de medi- áreas de abrangência das demais namento de como argumentar so-
camentos utilizados para o trata- Policlínicas Regionais de Niterói. bre o assunto. São capacitados
mento de tabagismo para todas e sensibilizados para uma abor-
"A identificação do tabagismo
as policlínicas regionais da FMS dagem mínima do fumante.
como problema de saúde pública
de Niterói, será grande a adesão",
e sua vinculação com diversas Essa experiência está permitindo
apostam todos.
doenças, em especial, aquelas avaliar a facilitação proporciona-
O trabalho das Equipes Saúde da presentes no perfil de morbidade da pela Estratégia Saúde da Fa-
Família vem sendo desenvolvido de nossas populações, tais como mília nas Comunidades, conside-
nas comunidades dos bairros de as doenças cardiovasculares, as radas como de maior risco social,
Jurujuba e Charitas desde 1992. pulmonares obstrutivas e o cân- como campo de pesquisa.
Em 2003, o Programa Médico de
Família de Niterói atingiu uma co-
Ação pela Paz Atividades desenvolvidas na
bertura de 100% dessas popula- Policlínica de Jurujuba pelo Comitê de Defesa
ções, o que corresponde à cerca de Direitos das Crianças e Adolescentes de
de 13 mil pessoas cadastradas. Charitas e Jurujuba Setembro/ 2004

Essas áreas foram escolhidas para


sediar esse projeto-piloto de ces-
sação de tabagismo devido ao
tempo de implantação do Progra-
ma nesses territórios e sua co-
bertura, acompanhados do co-
nhecimento sobre a importância
dos fatores de risco existentes
nessa população para as enfer-
midades crônicas não-trans-
missíveis.

Foi assinado em 2003 um Proto-


colo de Intenções pelo presiden-
56
Maringá - PR

Academia da Terceira Idade melhora


qualidade de vida em Maringá
Unidades Básicas de Saúde que desenvolvem o projeto reforçam o
vínculo entre a prática de atividade física e a saúde

P
roporcionar uma melhor do projeto é a instalação sempre vimento de atividades para for-
qualidade de vida aos nas proximidades das Unidades Bá- talecer, relaxar, alongar, dar agi-
idosos da cidade de sicas de Saúde (UBS), para facili- lidade e promover a flexibilidade
Maringá, noroeste do tar o vínculo entre a prática regu- da maioria dos músculos do cor-
Paraná. Esta iniciativa é da Se- lar de atividade física e saúde. po humano.
cretaria Municipal de Saúde e re-
cebeu o nome de Academia da As ATIs são compostas de dez Devido às especificidades dos
Terceira Idade (ATI). Lá um con- equipamentos de metal com aca- equipamentos, o ritmo e a quan-
junto de equipamentos foram ins- bamento de borracha, livres de tidade são determinados pelo pra-
talados para a prática de ativi- pesos, biomecanicamente ticante. A maioria dos aparelhos
dade física em diversos locais da projetados para a prática de usa a força da própria pessoa
cidade, abertos e ao ar livre. Um exercícios físicos. Os aparelhos para movimentá-lo. Apesar da
dos pré-requisitos fundamentais permitem aos idosos o desenvol- facilidade da prática dos exercí-
57
58
cios, os "atletas" são acompa- outras parcerias para financia-
nhados por profissionais das se- mento de novas unidades estão
cretarias municipais da Saúde e em andamento. "É um processo
de Esporte e Lazer. de construção conjunta, que re-
quer a presença, opinião e o
Além da prática de exercícios físi-
envolvimento das pessoas", des-
cos que auxiliam no controle da
taca a coordenadora do Maringá
pressão arterial e dos níveis de
Saudável, Ana Rosa Oliveira
glicemia e colesterol no sangue, a
Poletto Palácios. Na Prefeitura,
academia apresenta-se como um
todas as secretarias estão inte-
saudável ponto de encontro, com
gradas no Programa.
atividades que visam a prevenção
do estresse e a depressão. É, por
certo, um espaço de convívio sau-
Incentivo
dável, melhorando a sociabilidade

P
e o relacionamento da comunida- ara incentivar os pacientes
de, diz, animada, Maria Emerita da a freqüentarem o espaço, os
Silva. Com 80 anos de idade, ela é profissionais das Unidades Bási-
uma freqüentadora assídua da ATI. cas de Saúde (agentes comuni-
"Venho todos os dias, sem falta", tários de saúde, auxiliares de en-
declara. Na prática diária, a dona fermagem, enfermeiros, psicólo-
de casa percorre a maioria dos 10 gos, dentistas e médicos), mui-
aparelhos que compõe a Academia. tas vezes os acompanham até o
local da prática de atividade físi-
Outro "atleta" que adotou a ATI
ca, permanecendo com eles,
é Ozirde Minucelli. Perto de com-
apoiando-os e orientando-os.
pletar 76 anos de idade, é um
Existe professor de Educação Fí-
dos mais populares. "Faço uma
sica, da secretaria de Esportes,
hora de exercício por dia. Come-
em dois períodos por dia, de se-
ço com uma caminhada pelo bos-
gunda-feira a sábado para ori-
que e, depois, paro na Academia
entar sobre a prática correta dos
para esticar os músculos", afir-
exercícios físicos, evitando assim
ma, em meio a uma seqüência de
lesões e dores musculares.
exercícios para fortalecimento da
musculatura das pernas.

A experiência é relativamente jo- Projeto desperta interesse


vem, já que a primeira ATI foi ins- de outros municípios
talada no município em 12 de abril
deste ano, ao lado da UBS Parigot
de Souza, (área de abrangência S egundo dados atuais do Sis
tema de Informações da
Atenção Básica (Siab), Maringá
de cerca de 11 mil pessoas), a
segunda, em 21 de maio, ao lado conta com 29.812 idosos. A maio-
da UBS Quebec (área de ria dessa população, cerca de 80%
abrangência de cerca de 18 mil é atendida pela estratégia Saúde
pessoas) e a terceira, em 27 de da Família. Segundo Ana Rosa, a
julho ao lado da UBS Iguaçu (cer- iniciativa visa trazer uma boa qua-
ca de 14 mil pessoas). lidade de vida aos idosos do muni-
cípio. "A expectativa de vida da
A administração municipal prevê população vem aumentando des-
a instalação de uma ATI por mês, de a década de 60. Com isso, existe
até o final de 2006, sendo que um número cada vez maior de ido-
59
ATIS já apresentam resulta-
dos positivos

O s depoimentos dos freqüen-


tadores da ATI revelam gran-
de satisfação e melhoria na dis-
posição e nas das condições ge-
rais de saúde, incluindo maior fa-
cilidade de mobilidade, menos do-
res articulares, maior facilidade de
movimentação de pacientes
seqüelados por acidente vascular
cerebral, entre outros. Segundo
os trabalhadores da UBS Parigot
de Souza o fluxo de pacientes ido-
sos na UBS diminuiu após a im-
plantação da ATI, assim como a
sos (60 anos ou mais) com vida A proximidade estratégica da ATI procura por consultas médicas,
ativa, mas nem sempre com uma com a UBS garante o acompanha- fato que merece um estudo mais
boa qualidade de vida", afirma. mento contínuo da população pe- detalhado, devido ao pouco tem-
los profissionais de saúde e de edu- po da experiência.
Segundo ela, as doenças crônicas
cação física. Como o projeto é re-
degenerativas acometem principal- As duas primeiras ATIs , inaugu-
cente, algumas ações ainda es-
mente a faixa etária dos idosos, radas em abril e maio, respecti-
tão em fase de experiência, como
podendo causar seqüelas muitas vamente, já estão apresentando
a ficha de acompanhamento indi-
vezes irreversíveis e limitadoras da resultados concretos. Usuários da
vidual, formada pelos profissionais
qualidade de vida. Academia da Terceira Idade
da UBS e da Secretaria de Espor-
Parigot de Souza com mais de 60
Projeções da Secretaria Estadual tes.
anos diminuíram em 27% o núme-
de Saúde apontam um crescimen-
A Academia da Terceira Idade é ro de consultas e baixaram a re-
to dessa população de 130% no
mais uma ação do Maringá Sau- tirada de antiinflamatórios de
período 2000 a 2025 (dados de
dável. O Programa segue as dire- 4505, em abril, para 3672, em ju-
2006). Em Maringá, a principal causa
trizes de "municípios de comuni- nho, o que representa uma redu-
de mortalidade no ano passado foi
dades potencialmente saudáveis" ção de quase 20%.
"doenças do aparelho circulatório",
da Organização Mundial da Saú-
compreendendo doenças Na unidade Quebec também está
de, a OMS, e da Organização Pan-
hipertensivas, doenças isquêmicas sendo observada melhora geral na
Americana de Saúde, a Opas. A
do coração, doenças cerebrovas- saúde dos usuários. Dos 25 idosos
culares e outras formas de doen- meta é estimular o surgimento de
que recebem acompanhamento,
ças cardíacas. ambientes favoráveis ao bem-es-
100% afirmam que estão se sen-
tar físico, mental, cultural e social
Os idosos respondem por cerca de tindo melhor. É o caso das vizi-
da comunidade.
28% do índice de internação hos- nhas, Jacira Rossi, 56 anos, e Inês
pitalar do município. "A intenção É um projeto amplo que envolve Moura Ferreira, 62 anos, que vão
com as ATIs é incentivar a prática todas as secretarias. Organismos juntas à ATI. Em dias alternados
regular de exercícios físicos, dos governos estadual e federal, as amigas têm a companhia da
minimizando o surgimento e os sin- organizações não governamentais, mãe de Jacira, Benedita Porpeta,
tomas das doenças crônicas clubes de serviço, entidades 78 anos. "Antes da Academia, mi-
degenerativas, principalmente de- assistenciais, associações de clas- nha mãe sofria com dores nos om-
vido a hábitos de vida como se, instituições de ensino e outros bros e braços. Ela nem conseguia
sedentarismo, alimentação, taba- setores organizados da sociedade levar a comida à boca, hoje, ela
gismo, alcoolismo", constata a co- civil também estão sendo convi- se alimenta sem problemas, gra-
ordenadora. dados a participar. ças aos exercícios", conta.
60
Curitiba - PR

Cidadãos da Terceira Idade têm


atenção de primeira
Município gera melhoria na auto-estima e reduz custo e
demanda pelos serviços de saúde

D
ança, Yoga, Tai-Chi- e à cultura que são realizadas em qualidade de vida da turma de
Chuan, Inglês e Na- todos os bairros da cidade. Isso "melhor idade", conforme eles
tação. Estas são al tem gerado bem-estar e melhoria gostam de ser tratados.
gumas das ativida- na auto-estima, além da redu-
Ao todo, 60 mil atendimentos por
des que têm atraído cerca de 150 ção de custos e demando pelos mês à população com mais de 60
mil curitibanos com mais de 60 serviços de saúde na capital. anos que participa de aulas de
anos em vários pontos da cida- hidroginástica, natação,
de. Os idosos que moram em São 129 grupos de convivência
hidroterapia, Tai-Chi-Chuan, dan-
Curitiba, no Paraná, somam 8,4% e Centros de Atividades para Ido-
ça, alongamento, yoga, ginásti-
da população e começaram a re- sos que concentram 1.419 vo-
ca localizada, passeios turísticos,
ceber atenção especial por par- luntários distribuídos em ações
festas típicas, palestras, pintu-
te da prefeitura com atividades voltadas para a terceira idade, ra, terapia do riso, oficina de
voltadas ao lazer, promoção à incluindo programas sociais de auto-estima, inglês, espanhol,
saúde, ao esporte, à educação lazer, de saúde e de melhoria da memorização e alfabetização. 61
Toda essa mobilização tem um ços da Fundação Cultural. Além prindo possíveis carências de afe-
objetivo: atingir a meta da pre- disso, pessoas com mais de 65 to dos idosos. "Para nós é muito
feitura municipal de atender à anos não pagam passagem no gratificante perceber que somos
recomendação da Organização transporte coletivo. esperados, durante toda a se-
das nações Unidas (ONU) de que mana, naquele lar, naquele de-
Asilos - Para os idosos residen-
devem ser desenvolvidos "pro- terminado asilo", explica.
tes nos asilos da cidade, a Pre-
gramas destinados ao idoso com
feitura oferece os programas Estão envolvidas nos programas
ações sociais de envelhecimento
Rede Sol onde dezenas de artis- de atenção ao idoso as secreta-
ativo que possibilitem a essas
tas, entre eles músicos, palha- rias municipais do Esporte, da
pessoas viver com mais liberda-
ços, atores, contadores de his- Saúde, Meio Ambiente, Turismo,
de e com mais dignidade".
tória e palestrantes motiva- Fundação de Ação Social e Fun-
A coordenadora do Programa cionais, levam a alegria para os dação Cultural, que também pro-
Curitiba Solidária, que esse moradores e Linha do Lazer onde
movem regularmente passeios
voluntariado em ações voltadas professores e estagiários de Edu-
turísticos por Curitiba, palestras
também para a terceira idade, cação Física da prefeitura desen-
sobre saúde, mostra de dança,
Cláudia Lambach, conta que, por volvem atividades lúdicas e re-
visitas a museus de arte e expo-
meio dos programas de atenção creativas em diversos asilos e
sições, avaliação audiométrica,
à saúde e bem-estar para a po- hospitais da cidade.
atividades recreativas nas ruas
pulação da terceira idade, o mu-
Segundo a coordenadora do pro- da cidadania, caminhada saudá-
nicípio reduz os custos e a de-
grama Linha do Lazer, Liliane vel nos parques da cidade e bai-
manda pelos serviços de saúde.
Lançone, o Programa acaba su- les para a terceira idade.
Segundo ela, cerca de 70% dos
idosos deixam de usar medica-
mentos depois de incorporar ati-
vidades sociais e esportivas no
seu dia-a-dia. Cláudia acrescen-
ta que há estudos que apontam
a redução do uso de remédios e
da freqüência de visitas ao mé-
dico. "Isso gera uma economia
substancial para o município. Em
Curitiba, os programas sociais
contemplam, além dos idosos, cri-
anças, adolescentes em risco e
pessoas enfermas", comenta.

Os 148 mil idosos que vivem em


Curitiba também têm entrada gra-
tuita nos cinemas da Prefeitura
(Cine Luz e Cinemateca); des-
conto de 50% nos espetáculos
teatrais e shows no Teatro Paiol,
Memorial de Curitiba, Conserva-
tório de MPB, Teatro Novelas
Curitibanas, entre outros espa-
62
Ação em rede previne o risco de
violência em Curitiba

O
s programas: "Rede te com 125 Equipes Saúde da Fa- O serviço é formado pelas escolas
de Proteção à Cri- mília e 114 Equipes Saúde Bucal, municipais, escolas estaduais, cre-
ança e ao Adoles que atendem a 27% (465.750 pes- ches, hospitais, conselhos tutela-
cente em Situação soas) da população de Curitiba. res, SOS Criança, várias secretari-
as municipais, Fundação de Ação
de Risco para a Violência", "Mulher
A Rede de Proteção à Criança e ao Social (FAS), IMAP (Instituto Muni-
de Verdade" - focado no atendi- Adolescente em Situação de Risco cipal de Administração Pública), Ins-
mento à mulher vítima de violência para a Violência foi criada para ca- tituto de Pesquisa e Planejamento
e o projeto "Trânsito Saudável" - pacitar profissionais diretamente de Curitiba (IPPUC), organizações
voltado para a redução da mortali- envolvidos com crianças e adoles- não governamentais e comunidade.
dade por acidentes de trânsito, são centes, para que consigam identifi- "O trabalho de todos os envolvidos
as três principais vertentes de atu- car sinais de violência, avaliar a gra- é fundamental e vai além do aten-
ação do município de Curitiba no vidade da situação e desenvolver dimento à vítima, sendo também
combate à violência. ações de proteção, incluindo ajuda educativo e contemplando a família
à família. como um todo", afirma Hedi.
Os programas funcionam integrados
"A Rede de Curitiba foi pioneira no Entre os trabalhos educativos rea-
com as Unidades de Saúde da es-
Brasil e serve de referência de um lizados estão orientações para que
tratégia Saúde da Família, que são
trabalho integrado de várias esfe- os pais não usem de violência na
responsáveis pelo acompanhamen-
ras e órgãos públicos e privados", educação dos filhos, já que a vio-
to e notificação de casos com sus- explica a integrante da coordena- lência doméstica ocupa o primeiro
peita de violência. Implantado em ção da Rede de Proteção, a médica lugar nas notificações. Em 2004 das
1991, o programa conta atualmen- pediatra Hedi Muraro. 1986 notificações, 91,3% foram de 63
origem doméstica (1813 casos),
seguida pela violência extra-famili-
ar, com 7% dos casos (140 notifi-
cações).

Os pais são aconselhados com al-


gumas regras que podem ajudar na
difícil tarefa de educar: aceitar os
filhos como são, com qualidades e
dificuldades; incentivar e elogiar suas
atitudes positivas; procurar conhe-
cer as etapas do desenvolvimento
para compreender suas atitudes;
estabelecer rotinas na família, como
horários de refeições, de chegar em contra crianças e adolescentes, ceria da Secretaria Municipal da
casa, do banho, de estudar e de somando 27,2% (663 casos). Saúde com a Secretaria de Estado
brincar. da Saúde e Secretaria de Estado
Implantação - A Rede de Proteção da Segurança, permitindo o atendi-
Para que a Rede de Proteção possa foi implantada em Curitiba em 2002, mento conjunto entre a equipe dos
realmente atuar como prevenção de forma gradativa em cada uma hospitais de referência e os médi-
nas situações de maus tratos, foi das nove regionais da cidade. "O cos peritos do IML. Esta mesma
criada a Ficha de Notificação Obri- fato de a estrutura organizacional parceria permitiu maior articulação
gatória da Violência ou Suspeita de ser descentralizada, auxiliou na im- com as Delegacias de Polícia de
Violência na Infância e Adolescên- plantação da Rede e no trabalho Curitiba para priorizar o encaminha-
cia. Na suspeita ou comprovação dentro da realidade local de cada mento das vítimas de violência se-
de violência, os profissionais - pro- regional", explica a assistente soci- xual para o atendimento em um dos
al, integrante da coordenação da Hospitais de Referência.
fessor, médico, enfermeiro, dentis-
Rede de Proteção, Rossana
ta, assistente social ou psicólogo -
Aronson. Outro avanço importante foi a
devem notificar o caso, com base
estruturação, na Unidade de Saúde
no Art. 245 do ECA ( Estatuto da A experiência de Curitiba com a da Criança, do acompanhamento de
Criança e do Adolescente). A ficha Rede de Proteção já foi publicada
cunho psicológico às vítimas de vio-
de notificação é encaminhada aos no trabalho "Políticas Intersetoriais
lência sexual de até 18 anos de ida-
conselhos tutelares e ao SAV - SOS em Favor da Infância", editado pelo
de atendidas no Hospital Pequeno
Criança e foi fundamental para a Ministério da Saúde em 2002.
Príncipe e Hospital Evangélico.
unificação das informações, avalia-
ção e contextua-lização da violên- Programa atende vítimas de "O principal objetivo é evitar as con-
cia doméstica. violência sexual seqüências do abuso sexual que

A
pode resultar em gravidez
A negligência é a principal causa de inda dentro do conceito de
indesejada, doenças sexualmente
violência contra a criança e o ado- identificar e prevenir situações
transmissíveis e HIV. Além de ofe-
lescente em Curitiba. Dados da Rede de risco de violência funciona em
recer também tratamento psicoló-
de Proteção à Criança e ao Adoles- Curitiba, desde março de 2003, o
gico", afirma a coordenadora do pro-
cente mostram que, das 2.438 no- programa Mulher de Verdade. Vol-
tado à mulher vítima de violência grama Mulher de Verdade, a médica
tificações de suspeita de violência pediatra Hedi Muraro.
sexual, o programa conta com a
recebidas em 2005, a negligência
estruturação de três hospitais de
apareceu em 51,1% dos casos Visibilidade - No mês de maio deste
referência: Hospital de Clinicas, Hos-
(1246 notificações). ano foi realizado em Curitiba o Se-
pital Evangélico e Hospital Pequeno
minário Nacional de Experiências na
Os dados também apontam a vio- Príncipe.
Atenção à Violência Doméstica e
lência física em segundo lugar en- Um dos principais diferenciais do pro- Sexual, em parceria coma UNICEF e
tre as maiores causas de violência grama criado em Curitiba é a par- Ministério da Saúde. O objetivo foi
64
Tabela 4 - Notificações de violência sexual contra crianças e adoles-
centes (n.º e média mensal) - Curitiba, década de 90, 2000 a 2004 Rede de proteção já apre-
senta resultados positivos

A comparação dos dados de


atendimentos de violência
sexual realizados pelo SAV -SOS
Criança na década de 90 e nos
anos de 2000 e 2001 e dos noti-
ficados pela Rede de Proteção
entre 2002 e 2004 mostram um
aumento importante no número
Figura 2 - Notificações de VCCA segundo serviço notificador (n.º) - e na média mensal de notifica-
Curitiba, 2004 ções de abuso sexual, mostran-
do a importância do serviço para
a identificação dos casos.

"Os números mostram que esse


tipo de abuso não era devida-
mente notificado e passava mui-
tas vezes pelo anonimato. Com
a Rede o número de casos está
se tornando mais visível, o que
possibilita instituir mecanismos de
proteção mais precocemente",
Fonte: Banco de Dados da Rede de Proteção. Centro de Epidemiologia SMS.
analisa a integrante da coorde-
Cada órgão notificador da Rede de Proteção informa tipos de maus- nação da Rede de Proteção, a
tratos que refletem as características do grupo etário atendido pelo médica pediatra Hedi Muraro.
serviço. Dados de 2004 mostram que os serviços de educação infantil
(pré-escola) e as escolas municipais (6 a 15 anos), notificaram primei-
ramente a negligência.
A Rede é acionada quando
Já nos hospitais e nas Unidades de Saúde, a violência sexual foi a de
maior freqüência. Esse tipo de violência já não aparece de maneira sinais de alerta são
significativa nas notificações feitas pelo SAV-SOS Criança - que é acio- identificados
nado por procura direta da população.

A s notificações são feitas


quando os órgãos integran-
tes da Rede de Proteção obser-
vam sinais de alerta. Nos servi-
ços de educação pode ser ob-
servada uma redução no número
de notificações durante o perío-
do de férias escolares. Este fato
comprova a importância das es-
colas como agente notificador e
observador de abusos sofridos
por crianças e adolescentes.

Fonte: Banco de Dados da Rede de Proteção. Centro de Epidemiologia SMS.

65
de fortalecer a rede de enfrenta- 39 a 42 casos por mês. correspondem ao sexo masculino,
mento à violência doméstica e se- totalizando 2.677 óbitos.
Um dado preocupante é que 62,24%
xual e a troca de experiências na
dos atendimentos são em pacien- Dados preliminares:
atenção a esse tipo de violência.
tes menores de 18 anos. Destes, Gráfico 1 - Principais causas
Indicadores - De 2003 a 2005 fo- aproximadamente 66,94% estão na de óbito no grupo de causas
ram atendidas um total de 1589 faixa etária de dez a 19 anos e externas, Curitiba - 2002.
vítimas de violência sexual. No 41,86% estão na faixa etária de zero
ano de 2003, foram atendidas 623 a nove anos, sendo que 20,04% a
vítimas de violência, uma média violência foi confirmada e os famili-
de 52 casos por mês. De 2004 a ares são os maiores agressores do
2005 o total de atendimentos di- grupo de até 12 anos de idade, para
minuiu para 468 e 498 atendimen- o outro o maior agressor é desco-
tos, baixando para uma média de nhecido - 59,23%. Fonte: SIM /SESA-PR

Tabela.1 - Número e média mensal de atendimentos de vio- Já no ano de 2003 ocorreram 361
óbitos por acidentes de transpor-
lência sexual - Curitiba, 2003 a 2005
tes e os principais tipos foram "coli-
sões" e "atropelamentos". Nas fai-
xas etárias de 18-29 e 30-59, as
colisões provocaram 195 óbitos do
total de 253. Para essas faixas
etárias os atropelamentos represen-
taram 46 mortes do total de 91.
Esses dados mostram que em
Curitiba é a população jovem e adulta
Fonte: CE/SMS
que mais se acidenta.
Gráfico 2 - Percentual de atendimentos segundo faixa etária e Para enfrentar o problema o muni-
sexo da vítima e relação com o autor da agressão - Curitiba, cípio atua em duas vertentes: me-
2003 a 2005. lhorar as informações e a vigilância
sobre acidentes de trânsito; arti-
cular e mobilizar a sociedade para
atuar sobre o problema.

Várias blitz educativas e eventos


de conscientização já foram reali-
zadas na frente de empresas, em
datas comemorativas, nas escolas
Fonte: CE/SMS e para a população adulta e da ter-
ceira idade.

Atualmente várias Secretarias Mu-


Em busca de um "Trânsito nicipais vêm participando de quase
gãos públicos, universidades e
Saudável" todas as atividades desenvolvidas
empresas privadas - são realiza-
pelo projeto, principalmente as que

I mplantado em Curitiba por meio das atividades educativas para a envolvem públicos específicos como
de um convênio com o Ministé- conscientização da população na idosos, crianças e adolescentes.
rio da Saúde e a Secretaria Muni- prevenção de acidentes de trân-
"Mesmo não podendo medir o im-
cipal de Saúde em outubro de sito.
pacto das ações sobre a redução
2003, o projeto "Trânsito Saudá- dos acidentes de trânsito, dados do
Quando o programa surgiu, dados
vel" tem o objetivo de reduzir ris- município mostram que a mortalida-
preliminares apontavam a gravi-
cos de violência e a mortalidade de vem caindo consistente e lenta-
dade do problema: os acidentes mente desde 1996 e com o progra-
por acidentes de trânsito.
de trânsito no município de Curitiba ma devem se reduzir mais acelera-
Com diversas parcerias - Empre- foram responsáveis por 3.444 óbi- damente para o bem da sociedade
tos no período de 1996 a 2003. e do sistema de saúde", conclui a
sa de Urbanização/Diretoria de
coordenadora do programa, Márcia
Trânsito (URBS/DIRETRAN), ór- Destaca-se o fato de que 77,7%
66
Krempel.
Porto Alegre - RS

Parcerias viabilizam Estratégia Saúde


da Família para população das
Ilhas de Porto Alegre

E
m Porto Alegre, capi- nhos de Vento, viabilizaram a im- Básica de Saúde (UBS) no mo-
tal do Rio Grande do plantação da Estratégia Saúde delo tradicional, que em 2004,
Sul, as parcerias fei- da Família em duas ilhas da cida- passou por obras de adequação
tas pela Secretaria de: Ilha da Pintada e Ilha Grande para integrar a estratégia Saúde
Municipal da Saúde com a Asso- dos Marinheiros. A Ilha da Pinta- da Família. Em cada uma das ilhas
ciação Filantrópica Hospital Moi- da já contava com uma Unidade atua, desde junho de 2004, uma
67
Equipe Saúde da Família (ESF) e suas casas", afirma o coordena- A unidade da Ilha da Pintada tra-
uma Equipe Saúde Bucal (EBS). dor da Saúde da Família de Porto balha com ações de prevenção
Alegre, Sati Jaber Mahmud. de doenças, promoção, recupe-
A população das ilhas muitas ve-
ração da saúde, reabilitação,
zes precisava se locomover para Na Ilha da Pintada mora uma po-
rastreamento do câncer gineco-
uma Unidade de Saúde de Porto pulação de 3.680 pessoas. A prin-
lógico (mama e colo uterino) e
Alegre ou Eldorado do Sul, uma cipal fonte de renda é a pesca, o
programas nutricionais.
viagem de aproximadamente 30 comércio e o artesanato. A ESF
minutos. "Agora isso não é mais atende ainda a moradores de ilhas Alguns indicadores mostram a
necessário. A unidade está pró- vizinhas como a Ilha da Conga. A importância da implantação da
xima, os profissionais envolvidos Unidade Básica de Saúde (UBS) UBS na Ilha da Pintada. Segundo
conhecem a realidade das comu- fica ao encargo da Secretaria dados da Secretaria Municipal da
nidades e visitam as famílias em Municipal de Saúde (SMS). Saúde (SMS), o número anual de

68
mortalidade geral que em 2003 em 2005. O acompanhamento Programa de Nutrição melhora
era de 22 pessoas caiu em 2005 pré-natal, com quatro ou mais qualidade de vida das famílias

S
para 14. O número de internações consultas realizadas, passou de
egundo a nutricionista co
também diminuiu de 191 em 2003 83,3% em 2003 para 90,5% em
munitária da Associação
para 183 em 2004. 2005. As internações também di-
Hospitalar Moinhos de Vento, que
A ESF da Ilha Grande dos Mari- minuíram de 145 em 2004 para atua junto com as Equipes SF nas
nheiros atende ainda a popula- 108 em 2005. A população da Ilha ilhas, Enilda Lara Weigert, a mai-
ção da Ilha do Pavão e Ilha das Grande dos Marinheiros, de 4.280 oria das famílias ganha até R$ 600
Flores. A implantação da equipe pessoas, tem como principal fon- com a reciclagem do lixo. O pro-
também já trouxe uma melhora te de renda a separação do lixo blema, segundo ela, é que parte
nos indicadores. Houve uma que- para reciclagem, a pesca e o do lixo é acumulada nos terrenos
da de 23 óbitos em 2003 para 19 comércio. das casas, atraindo animais

69
70
vetores de doenças. O analfa-
betismo também é crítico na re-
gião. Dados do Instituto Brasilei-
ro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostram que a taxa é de
22,75% da população analfabe-
ta. A água encanada está pre-
sente em apenas 17,98% dos
domicílios e somente 0,04% con-
tam com rede de esgoto. "Tra-
çamos esse perfil da região e
centramos a atenção em 25 fa-
mílias que possuem os piores in-
dicadores", explica.

Nesse trabalho de mapeamento


são realizados mutirões, com
envolvimento de agentes comu-
nitários de saúde, com o objeti-
vo de identificar as crianças de
zero a seis em risco nutricional
no Bairro Arquipélago, que com-
preende Ilha Grande dos Mari-
nheiros, Ilha do Pavão, ilha da
Pintada e Ilha das Flores.

O resultado da avaliação de 510


crianças no mês de julho de 2006
mostrou que 200 estão em risco
nutricional, totalizando 39,2% da
população de crianças do Arqui-
pélago. Na Ilha Grande dos Mari-
nheiros foram avaliadas 172 cri-
anças, sendo que 83 (48,2%)
foram classificadas em risco
nutricional. Na Ilha das Flores fo-
ram avaliadas 111 crianças, sen-
do 54 (48,6%) em risco
nutricional. Já na Ilha do Pavão
foram avaliadas 39 crianças, sen-
do 17 (43,5%) em risco
nutricional. E na Ilha da Pintada
foram analisadas 188 crianças,
sendo 46 (24,4%) em risco
nutricional, com o menor
percentual.

A partir da identificação das cri-


anças com risco nutricional e do
71
risco social das famílias é possível ciativa é uma parceria da AAAPIP, e manjerona. A primeira colheita
às lideranças e entidades parcei- do Centro Administrativo Regional deve ser feita em dois meses.
ras, desenvolverem estratégias co- (CAR) Ilhas, secretarias municipais
Fome Zero - A Horta Comunitária
munitárias de saúde (inclusão no de Coordenação Política e
faz parte do programa Fome Zero
Fome Zero, em projetos ambientais Governança Local (SMGL), da Pro-
Porto Alegre - que nas ilhas é co-
e de saneamento básico, oficinas dução, Indústria e Comércio
ordenado pelo Comitê Regional
de educação alimentar, horta e pa- (Smic), de Obras e Viação (Smov),
Fome Zero Arquipélago - a sexta
daria comunitárias). O objetivo é Empresa Pública de Transporte e
experiência de nucleação instala-
minimizar ou resolver o comprome- Circulação (EPTC), e dos depar-
da pelo programa no município. Os
timento da saúde atual da criança
Comitês e os Núcleos Regionais
e qualidade de sua vida futura.
ampliam o mapeamento e o acom-
O acompanhamento também au- “A partir da identificação panhamento das famílias com cri-
das crianças com risco
xilia nos problemas de obesidade anças em risco nutricional, são
nutricional e do risco
da população. A paciente Isabel social das famílias é encarregados da distribuição dos
de Andrade Lemos, de 73 anos, possível às lideranças e alimentos, das atividades de com-
comemora os 21 quilos que per- entidades parceiras, bate à desnutrição materno-infan-
desenvolverem
deu desde que está sendo acom- til, articulam convênios com mer-
estratégias
panhada pela equipe da Ilha da comunitárias de saúde cados e armazéns, incentivam a
Pintada. "Com a Unidade Saúde (inclusão no Fome produção para o autoconsumo e a
da Família aqui perto é bem mais Zero, em projetos venda direta do produtor ao con-
ambientais e de
fácil de a gente tratar da saúde saneamento básico, sumidor e operam atividades de ge-
da gente e da família", afirma ela. oficinas de educação ração de trabalho e renda para o
Dona Isabel mora na ilha há mais alimentar, horta e público atendido pelo programa.
padaria comunitárias).
de 60 anos, teve cinco filhos e
O objetivo é minimizar Integram a nucleação no Bairro
criou mais seis. "Naquele tempo ou resolver o Arquipélago os Núcleos da Ilha
era difícil, a gente tinha que ir comprometimento da
saúde atual da criança e Grande dos Marinheiros e Pavão,
até a capital para tratar das cri-
qualidade de sua vida Núcleo da Ilha da Pintada e Nú-
anças", conta. Hoje ela, os fi-
futura.” cleo da Ilha das Flores. Entre as
lhos, os 22 netos e 16 bisnetos
entidades que compõem o Comitê
freqüentam a Equipe Saúde da
Regional estão a Cooperativa Mis-
Família da Ilha da Pintada.
ta de Produção e Serviços do Ar-
tamentos municipais de Água e
quipélago (Coopal), Associação de
Esgotos (Dmae) e Limpeza Urbana
Moradores, Papeleiros e
Horta comunitária promove (DMLU), que doou cinco tonela-
Carroceiros da Ilha Grande dos
desenvolvimento local das de composto orgânico oriun-
Marinheiros, Clube de Mães Uni-
do da Unidade de Triagem e

E m mais um trabalho de par


ceria, foi inaugurada no início
deste mês uma Horta Comunitá-
Compostagem Lomba do Pinheiro.

A horta funciona numa área comu-


das da Ilha Grande dos Marinhei-
ros, Pastoral da Criança, Irmãos
Maristas, Fundação de Assistên-
ria. "O objetivo é incentivar a au- nitária de 22x15 metros, ao lado da cia Social e Cidadania, Centro Ad-
tonomia das famílias, integrar a co- UBS. Foram plantados chás - ministrativo Regional do Arquipé-
munidade e promover o desenvol- camomila, malva, guaco - um can- lago (CAR), entidades comunitári-
teiro com alface, brócolis, beterra- as e religiosas do bairro, empresas
vimento local", afirma a assisten-
ba, couve chinesa, rúcula, tomate privadas e organizações não go-
te Social da equipe da Ilha da Pin-
e temperos como salsinha, cebolinha
tada, Fernanda Corrêa Silva. A ini- vernamentais do local.
72

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