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1882 LUCY CLIFFORD

A Nova
Mãe INSPIROU
CORALINE
D E NEIL GAIMA N

TRA D U ÇÃO
D E CA RO L
C H IOVAT TO 1
DAS

BY E D ITO R A WIS H

Tradução:
Carol Chiovatto

Preparação:
Karine Ribeiro
Revisão:
João Rodrigues
Capa e projeto gráfico:
Marina Avila

Ilustração de capa:
Ana Milani

2023 ISBN
Copyright 2022 Editora Wish. Este material possui direitos
de tradução e publicação e, ao não divulgá-lo sem prévia
autorização da editora, você está nos ajudando a continuar
publicando raridades para os leitores. Agradecemos por isso.

2
88
UMA RELÍQUIA DE

4
Sinopse
Uma lição de moral para
crianças malcriadas, e
que inspirou Coraline,
de Neil Gaiman

Olho Azul e Peru são duas


garotinhas tão curiosas quanto
seus nomes. Sua mãe as envia
para a cidade para verificarem se
receberam alguma carta do pai,
que está no mar. No caminho,
encontram uma menina estranha
que esconde uma caixa secreta.

5
Só que as garotinhas são
boazinhas demais para ter acesso
ao conteúdo. Para poderem ver
as pessoinhas dançando dentro
da caixa e ouvir seus segredos,
precisam ser malvadas.

Como os antigos e bons contos


de fadas, A Nova Mãe é uma
história inquietante, publicada
originalmente em 1882,
para refletir sobre maldade e
obediência.

6
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7
A Nova
Mãe
Lucy Clifford, 1882

A
s crianças sempre fo-
ram chamadas Olhos
Azuis e Peru, e acostu-
maram-se a usar esses nomes. A mais
velha era como seu querido pai, que
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estava longe no mar, e, quando a mãe
erguia os olhos, com frequência dizia:
— Filha, você ganhou os contor-
nos dos olhos do seu pai. — Pois o pai
tinha o mais azul dos Olhos Azuis,
e assim, aos poucos, sua menininha
ganhou-os como apelido.
A mais nova, uma vez, quando
ainda era quase um bebê, chorou
amargamente porque um peru, que
vivia perto do chalé e às vezes vagava
floresta adentro, de repente desapa-
receu no meio do inverno. Para con-
solá-la, chamaram-na pelo nome da
ave.
9
Agora a mãe, Olhos Azuis, Peru e
a bebê vivam todas num chalé soli-
tário na orla da floresta, a qual ficava
tão próxima que o jardim dos fundos
parecia integrá-la, e os abetos altos
ficavam tão perto que seus imensos
braços pretos se estendiam sobre o
telhadinho de palha e, quando a lua
resplandecia sobre eles, o emara-
nhado de suas sombras tomava as
paredes brancas.
A vila ficava a uma boa cami-
nhada de distância, a quase dois
quilômetros e meio, e a mãe tinha
de trabalhar duro e não tinha tempo
10
para ir ao correio ver se havia alguma
carta do querido marido. Por isso,
costumava mandar as duas crian-
ças à tarde. As duas ficavam muito
orgulhosas de poderem ir sozinhas,
e frequentemente corriam durante
metade do caminho até lá. Quando
voltavam, cansadas da longa cami-
nhada, lá estaria a mãe à espera, vi-
giando a estrada; o chá estaria pronto
e o bebê, berrando de alegria. Se, por
sorte, houvesse alguma carta vinda
do mar, a felicidade era maior ainda.
A sala do chalé era aconchegante: as
paredes eram brancas como a neve
tanto do lado de fora quanto do de
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dentro, e contra elas ficavam pendu-
radas a fôrma de bolo, a assadeira, a
tampa de uma panela, já desgastada
havia muito mais tempo do que as
crianças conseguiam se lembrar, e a
peixeira, toda polida, brilhante como
prata. De um lado da lareira, sobre a
fole, ficava o calendário e, do outro
lado, o relógio que sempre batia a
hora errada e cuja corda acabava cedo
demais, mas era um bom relógio, com
uma pequena imagem em sua face, e
às vezes rodava por quase uma se-
mana sem parar. O cadeirão do bebê
ficava num canto e, em outro, havia
um armário, preso no alto da parede,
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no qual a mãe guardava todo o tipo
de surpresinhas. As crianças costu-
mavam se perguntar como as coisas
que saíam daquele armário haviam
ido parar lá dentro, pois raramente
viam-nas serem postas ali.
— Filhas queridas — disse a mãe,
numa tarde no final do outono —, está
frio demais para ir à vila, mas vocês
precisam andar rápido e, quem sabe,
podem até trazer de volta uma carta
dizendo que seu amado pai já está
voltando para a Inglaterra. — Olhos
Azuis e Peru aprontaram-se depressa
e logo estavam preparadas para sair.
13
— Não demorem — orientou a mãe,
como sempre fazia antes de partirem.
— Vão pelo caminho mais curto, não
olhem para nenhuma pessoa estra-
nha que encontrarem e certifiquem-
-se de não falar com ela.
— Não, mãe — responderam, e a
mãe as beijou e declarou-as boas fi-
lhas queridas, e então as meninas
partiram de bom humor.
A vila estava mais viva do que de
costume, pois houvera uma feira de
variedades no dia anterior, e as pes-
soas entregues à diversão do evento
ainda circulavam pelas ruas, como se
14
relutantes em admitir que o feriado
acabara.
— Queria ter vindo ontem — disse
Olhos Azuis a Peru. — Talvez tivésse-
mos visto alguma coisa.
— Olhe ali — exclamou Peru,
apontando para uma barraca ainda
coberta de biscoitos de gengibre.
Mas as crianças não tinham di-
nheiro. No final da rua, perto do Leão
Azul, onde as carruagens paravam,
havia um homem idoso sentado
no chão, com as costas apoiadas na
parede de uma casa e, ao seu lado,
dois cachorros com coleiras bonitas
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no pescoço. Evidentemente, eram
cachorros dançantes, pensaram as
crianças, e desejaram vê-los se apre-
sentando, mas ambos pareciam tão
cansados quanto o dono e manti-
nham-se imóveis ao lado deste, pa-
recendo incapazes até mesmo de dar
uma balançadinha no rabo.

— Ah, eu queria tanto ter vindo


ontem — repetiu Olhos Azuis, ao
prosseguirem o caminho até o mer-
cadinho que também era o correio.

A carteira estava muito ocupada


pesando um quarto de quilo de café
16
e, quando teve tempo de atender as
crianças, apenas disse:
— Não tem carta para vocês hoje.
— E continuou com o que estava fa-
zendo.
Olhos Azuis e Peru deram meia-
-volta para retornar à casa. Avançaram
devagar pela rua da vila, novamente
cruzando com o homem dos cachor-
ros. Um dos animais havia se erguido
e encontrava-se sentado um tanto
torto, com a cabeça bastante virada
para um lado, parecendo muito me-
lancólico e bastante ridículo. As
crianças prosseguiram na direção
17
da ponte e dos campos que davam na
floresta.
Haviam deixado a vila e cami-
nhado um trecho, quando, pouco
antes de alcançarem a ponte, nota-
ram, descansando contra uma pilha
de pedras na beira da estrada, uma
estranha silhueta sombria. A prin-
cípio, pensaram tratar-se de alguém
dormindo, depois julgaram tratar-se
de uma pobre mulher doente e fa-
minta, para então se darem conta de
que era uma garota de aparência sel-
vagem e muito infeliz, e as duas sen-
tiram haver algo errado. Fitaram-na,
18
pensando em perguntar se podiam
fazer alguma coisa para ajudá-la, pois
eram crianças bondosas e lamenta-
vam ver alguém sofrendo.
A garota parecia alta e tinha cerca
de quinze anos. Vestia roupas bem
esfarrapadas. Envolvendo os om-
bros, usava um velho xale marrom,
rasgado na ponta que lhe caía pelo
meio das costas. Não usava chapéu,
e um velho lenço amarelo, amarrado
ao redor de sua cabeça, escorregara
para trás, amontoando-se em torno
de seu pescoço. Seu cabelo era preto
como carvão, solto e despenteado,
19
largado de qualquer jeito. Não era
muito comprido, mas bastante relu-
zente, e parecia combinar com seus
olhos pretos brilhantes e sua pele
escura e sardenta. Nos pés, usava
meias cinza ásperas e botas grossas
e gastas, cujos cadarços ela eviden-
temente se esquecera de amarrar.
Trazia algo oculto sob o xale, mas as
crianças não sabiam o quê. A princí-
pio, imaginaram ser um bebê, mas
quando, ao vê-las aproximarem-se, a
garota cuidadosamente colocou o ob-
jeto sob si e sentou-se nele, pensaram
ter se enganado. Ela ficou assistindo
à aproximação das crianças e não se
20
moveu até estas estarem a um metro
de distância, quando então secou os
olhos como se tivesse chorado amar-
gamente e ergueu-os.
As meninas pararam em frente a
ela por um momento, encarando-a e
perguntando-se o que fazer.
— Você está chorando? — indaga-
ram timidamente.
Para sua surpresa, a garota res-
pondeu numa voz alegre:
— Ah, não! Muito pelo contrário.
E vocês?
As duas julgaram muito rude
responder de tal modo, pois se via
21
claramente que não estavam cho-
rando. Tiveram vontade de ir embora,
mas a garota olhava-as tão fixamente
com aqueles imensos olhos pretos
que não quiseram fazê-lo antes de
dizer mais alguma coisa.
— Talvez você tenha se perdido —
disseram, com gentileza.
Mas a garota respondeu pronta-
mente:
— Com certeza não. Ora, vocês aca-
baram de me encontrar. Além disso,
moro na vila.
Isso surpreendeu as crianças,
pois nunca a haviam visto antes e
22
imaginavam conhecer de vista todos
os moradores do vilarejo.
— Vamos com frequência à vila —
disseram, pensando que isso a inte-
ressaria.
— É mesmo — respondeu ela.
Foi só isso. Novamente, as crianças
perguntaram-se o que fazer. Peru,
que tinha uma mente inquisitiva,
pensou numa pergunta direta:
— No que você está sentada?
— Num peardrum — respondeu
a garota, ainda com uma voz alegre,
surpreendendo as crianças, pois ela
23
parecia muito gelada e desconfortá-
vel.
— O que é um peadrum? — per-
guntaram.
— Me espanta vocês não saberem
— replicou a garota. — A maioria das
pessoas da boa sociedade têm um.
Então ela o pegou e mostrou-lhes.
Era um instrumento curioso, bem
parecido com um violão em termos
de forma, com três cordas, embora
apenas duas tarraxas para afiná-las.
A terceira nunca era afinada, pro-
duzindo assim um adicional efeito
singular à música da garota da vila.
24
E, no entanto, estranhamente não
se usavam as cordas para tocar o
peardrum; girava-se uma pequena
manivela astuciosamente escondida
numa lateral.
Mas o mais esquisito acerca do
peardrum não era a música que
produzia, as cordas ou a manivela,
mas sim um cubinho preso a uma
lateral, cuja tampinha lisa parecia
abrir-se através de um mecanismo de
mola. Isso foi tudo o que as crianças
conseguiram discernir a princípio.
Estavam bastante ansiosas para ver o
conteúdo da caixinha, ou para saber
25
o que era, mas pensaram que seria
curiosidade demais dizer isso.
— Realmente é uma coisa muito
linda, esse peardrum — comentou
a garota, numa voz quase afetuosa,
olhando o instrumento.
— Onde você o conseguiu? — per-
guntaram as crianças.
— Comprei — respondeu a garota.
— Não custou muito dinheiro? —
indagaram.
— Sim — respondeu a garota, de-
vagar, assentindo. — Custou muito,
muito dinheiro. Eu sou bem rica.
26
Essa foi, na opinião das crianças,
uma asserção extraordinária, pois
não haviam suposto que pessoas ri-
cas vestissem roupas velhas ou saís-
sem por aí sem chapéu. Ela poderia,
no mínimo, ter arrumado o cabelo.
Mas não queriam dizer isso.
— Você não parece rica — disse-
ram, devagar, do modo mais educado
possível.
— Talvez não — replicou a garota
alegremente.
Com isso, as meninas reuniram
coragem e arriscaram um comentá-
rio:
27
— Você parece bem maltrapilha.

Não queriam dizer “esfarrapada”.

— É mesmo? — perguntou a ga-


rota, com a voz de alguém que ou-
vira uma afirmação agradável mas
surpreendente. Num tom satisfeito,
acrescentou: — Um pouco de des-
cuido é muito respeitável. Eu preciso
contar isso a eles — continuou. As
crianças perguntaram-se a quem ela
se referia. A garota abriu a caixinha
na lateral do peardrum e disse, como
se estivesse falando com alguém ca-
paz de ouvi-la: — Elas disseram que
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pareço bem maltrapilha. É uma sorte,
não é?
— Ora, você não está falando com
ninguém! — disseram, mais surpre-
sas do que nunca.
— Ah, sim! Estou falando com os
dois.
— Os dois? — perguntaram, curio-
sas.
— Sim. Aqui dentro eu tenho um
homenzinho vestido de camponês,
usando um chapéu largo de lado, e
uma mulherzinha combinando, ves-
tindo uma anágua vermelha e um
lenço branco preso na frente do peito.
29
Coloco os dois na tampa da caixa e,
quando toco, eles dançam muito lin-
damente. O homenzinho tira o cha-
péu e o balança no ar, e a mulherzinha
segura a anágua meio de lado numa
das mãos e, com a outra, manda um
beijo.
— Ah! Deixe-nos ver! Deixe-nos
ver! — pediram as crianças, ao mesmo
tempo.
A moça do vilarejo olhou-as, em
dúvida.
— Deixá-las verem! — disse, deva-
gar. — Ora, não tenho certeza se posso.
Digam-me, vocês são boazinhas?
30
— Sim, sim — responderam, ávi-
das. — Somos muito boazinhas.
— Então é impossível — respondeu
a garota, resoluta, fechando a tampa
da caixa.
As duas crianças encararam-na,
espantadas.
— Mas somos boazinhas! — ex-
clamaram, julgando que a garota
entendera errado. — Somos muito
boazinhas. A nossa mãe sempre fala.
— Foi o que vocês comentaram —
disse a garota, num tom decidido.
As crianças continuaram sem
compreender.
31
— Então você não pode nos deixar
ver o homenzinho e a mulherzinha?
— perguntaram.
— Ah, não! — respondeu a garota.
— Eu só os mostro para crianças mal-
vadas.
— Para crianças malvadas! — ex-
clamaram.
— Sim, para crianças malvadas —
replicou a garota. — E, quanto piores
forem as crianças, melhor o homem
e a mulher dançam.
Com cuidado, ela colocou o pear-
drum sob a capa esfarrapada e pre-
parou-se para partir.
32
— Eu realmente não teria acredi-
tado que vocês são boazinhas — sol-
tou ela, em tom de reprimenda, como
se as duas houvessem se acusado de
algum grande crime. — Bem, tenham
um bom dia.
— Ah, mas nos mostre o homenzi-
nho e a mulherzinha — pediram.
— Certamente não. — E repetiu: —
Tenham um bom dia.
— Ah, mas seremos malvadas —
volveram as duas, em desespero.
— Temo que não conseguiriam —
replicou a garota, balançando a ca-
beça. — É preciso grande habilidade,
33
especialmente para ser malvada.
Bem, tenham um bom dia — disse,
pela terceira vez. — Talvez eu as veja
na vila amanhã.
E afastou-se depressa, enquanto
as crianças sentiam os olhos enche-
rem-se de lágrimas e seus corações
doerem de desapontamento.
— Ah, se tivéssemos sido malva-
das — disseram —, veríamos os dois
dançando, a mulherzinha segurando
a anágua vermelha e o homenzinho
acenando com o chapéu. Ah, o que
precisamos fazer para ela nos deixar
vê-los?
34
— Que tal se tentarmos ser malva-
das hoje? — sugeriu Peru. — Talvez
ela nos deixe vê-los amanhã.
— Mas, ah! — exclamou Olhos
Azuis. — Eu não sei ser malvada.
Ninguém nunca me ensinou.
Peru refletiu em silêncio por al-
guns minutos.
— Acho que, se tentar, consigo ser
malvada — disse ela. — Vou tentar
hoje à noite.
E então a pobre Olhos Azuis desfe-
z-se em lágrimas.
— Ah, não seja malvada sem mim
— pediu. — Seria tão cruel da sua
35
parte. Você sabe que quero ver o ho-
menzinho e a mulherzinha tanto
quanto você. Você é muito, muito
cruel. — E soluçou amargamente.
E assim, discutindo e chorando,
chegaram em casa. Quando a mãe as
viu, ficou imensamente espantada e,
temendo que houvessem se machu-
cado, correu para encontrá-las.
— Ah, minhas filhas, minhas que-
ridas filhas — disse ela. — Qual é o
problema?
Mas as crianças não quiseram
contar à mãe sobre a moça do vilarejo
36
e o homenzinho e a mulherzinha, en-
tão responderam:
— Não há problema a lg u m,
nenhum mesmo.
E choraram mais ainda.
— Mas por que vocês estão cho-
rando? — perguntou a mãe, surpresa.
— Com certeza podemos chorar, se
quisermos — soluçaram. — Gostamos
muito de chorar.
— Pobrezinhas! — disse para si
mesma a mãe. — Estão cansadas e
talvez com fome. Depois do chá vão
melhorar.
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E voltou para dentro do chalé,
acendendo o fogo e aumentando a
chama até seu reflexo dançar pelas
tampas de latão nas paredes. Colocou
a chaleira para ferver e os aparatos
de chá na mesa, abrindo a janela para
deixar entrar ar fresco, trazendo
luminosidade para todas as coisas.
Em seguida, foi até o armariozinho
preso no alto da parede, tirou de lá
um pouco de pão, pondo-o na mesa,
e disse, numa voz amável:
— Queridas filhinhas, venham to-
mar chá. Está pronto. E, vejam, a bebê
está acordando. Vamos colocá-la no
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cadeirão e ela vai fazer aqueles baru-
lhinhos para nós enquanto comemos.
Mas as crianças não responderam
à mãe; apenas ficaram paradas na ja-
nela, sem dizer nada.
— Venham, crianças — disse a
mãe outra vez. — Venha, Olhos Azuis,
e venha, Peru, minha querida. Aqui
está o delicioso pão doce para o chá.
Olhos Azuis e Peru viraram-se e,
quando viram o pão, recém-assado
e tostado, as xícaras enfileiradas e a
jarra de leite, tudo as esperando, fo-
ram para a mesa, sentaram-se e sen-
tiram-se um pouco mais felizes. A
39
mãe no fim das contas não colocou a
bebê no cadeirão, mas no colo, fazen-
do-a dançar para cima e para baixo;
cantou-lhe trechos de canções, e riu,
parecendo contente, e pensou no ma-
rido, lá longe no mar, perguntando-se
o que ele lhes diria quando voltasse
para casa. Ao erguer o olhar de re-
pente, viu os olhos de Peru cheios de
lágrimas.
— Peru! — exclamou. — Minha
querida! Qual é o problema? Venha
para a mamãe, meu amor. Venha com
a sua mãe.
Baixando a bebê para o tapete,
40
estendeu os braços para a filha. Peru,
levantando-se da cadeira, correu de-
pressa para eles.
— Ah, mãe — soluçou. — Queria
tanto ser malvada.
— Filha querida! — exclamou a
mãe.
— Sim, mãe. — A criança soluçou,
com amargor crescente. — Queria
mesmo ser muito, mas muito mal-
vada.
Olhos Azuis também deixou a ca-
deira e, esfregando o rosto no ombro
da mãe, chorou com tristeza.
41
— Eu também, mãe. Ah, eu daria
tudo para ser muito, muito malvada.
— Mas, minhas queridas filhas,
por que querem ser malvadas? —
quis saber a mãe, espantada.
— Porque queremos — choraram
as duas meninas juntas. — Ah, o que
vamos fazer?
— Eu ficaria muito brava se vo-
cês fossem malvadas — respondeu a
mãe. — Mas vocês não têm como ser,
porque me amam.
— Por que não poderíamos ser
malvadas se amamos você? — per-
guntaram.
42
— Porque isso me deixaria muito
infeliz e, se vocês me amam, não
iriam querer me deixar assim.
— Por que não?
Então a mãe pensou um pouco
antes de responder e, quando o fez,
as meninas mal entenderam, talvez
porque ela parecesse estar falando
mais consigo mesma do que com elas.
— Porque, quando se ama direito,
o seu amor é mais forte do que todos
os sentimentos ruins dentro de si, e
os vence — explicou a mãe, gentil. —
E esse é o teste para saber se o amor é
43
verdadeiro ou falso; grosseria e mal-
dade não têm poder sobre ele.
— Não sabemos o que você quer
dizer! — exclamaram. — E nós a ama-
mos de verdade, mas queremos ser
malvadas.
— Se fosse o caso, eu saberia que
vocês não me amam — disse a mãe.
— E o que você faria? — perguntou
Olhos Azuis.
— Não sei d izer. Eu tenta ria
melhorar vocês.
— Mas e se não conseguisse? Se
fôssemos muito, muito, muito más, e
não quiséssemos ser boazinhas, e aí?
44
— Nesse caso… — disse a mãe,
com tristeza, os olhos enchendo-se
de lágrimas, e um soluço quase a
engasgou. — Eu teria de ir embora,
abandonar vocês e mandar uma mãe
nova para casa, com olhos de vidro e
rabo de madeira.
— Você não faria isso! — protesta-
ram.
— Faria, sim — respondeu a mãe,
baixinho. — Mas isso me deixaria
muito infeliz, e nunca farei nada do
tipo a menos que vocês sejam muito,
muito malvadas, e eu seja obrigada.
— Não seremos ma lvad a s!
45
— exclamara as meninas. — Seremos
boazinhas. Odiaríamos uma mãe
nova, e ela nunca virá.
As duas agarraram-se à mãe e
deram-lhe beijos afetuosos. No en-
tanto, quando foram para a cama,
soluçaram amargamente, pois se
lembraram do homenzinho e da mu-
lherzinha e mais do que nunca qui-
seram vê-los. Mas como suportariam
deixar a mãe partir e outra tomar seu
lugar?

46
2

— Bom dia — disse a garota do vila-


rejo ao ver Olhos Azuis e Peru aproxi-
maram-se. Outra vez, estava sentada
ao lado da pilha de pedras e, sob o
xale, trazia oculto o peardrum. Não
parecia ter se movido desde o dia
anterior. — Bom dia — repetiu, na
mesma voz alegre do dia anterior. —
O tempo está mesmo encantador.
— O homenzinho e a mulherzinha
estão aí dentro? — perguntaram as
crianças, sem prestar atenção ao co-
mentário.
— Sim, obrigada por perguntarem
47
deles — respondeu a garota. — Ambos
estão aqui, e bem. O homenzinho
está aprendendo como fazer tilintar
o dinheiro em seu bolso, e a mulher-
zinha ouviu um segredo. Ela conta
enquanto dança.
— Ah, deixe-nos ver — suplicaram.
— Impossível, eu lhes garanto —
respondeu a garota prontamente. —
É que vocês são boazinhas.
— Ah — disse Olhos Azuis, triste.
— Mas a nossa mãe disse que se for-
mos malvadas ela vai nos abando-
nar e mandar uma nova mãe em seu
48
lugar, com olhos de vidro e rabo de
madeira.
— Ah, é — disse a garota, ainda no
mesmo tom despreocupado. — Isso é
o que todas falam.
— Como assim? — perguntou
Peru.
— Todas fazem esse tipo de ameaça.
Claro que mães com olhos de vidro
e rabo de madeira não existem de
verdade; seriam caras demais para
fabricar.
A s du a s c r i a nça s, es p ec i a l-
mente Peru, perceberam o quanto o
49
comentário fazia sentido, mas, quase
chorando, apenas disseram:
— Pensamos que você bem pode-
ria nos deixar ver o homenzinho e a
mulherzinha dançando.
— É o tipo de coisa que vocês
pensariam — comentou a garota do
vilarejo.
— Mas você vai mesmo mostrar se
formos malvadas? — perguntaram
as meninas, em desespero.
— Temo que vocês não consigam
ser malvadas — respondeu a outra,
desdenhosa. — Isto é, mesmo se ten-
tassem.
50
— Ah, mas vamos tentar! — ex-
clamaram. — Vamos mesmo. Então
mostre-os.
— Com certeza não vou mostrar
antes — replicou a garota, levantan-
do-se e preparando-se para ir embora.
— Mas se formos muito malvadas
hoje à noite, você nos deixa vê-los
amanhã?
— É sempre melhor responder
amanhã às perguntas feitas hoje —
declarou a garota, e virou-se como se
para se afastar, dizendo alegremente:
— Tenham um bom dia. Preciso
51
mesmo ir e tocar um pouco para mim
mesma. Bom dia para vocês.
E, de repente, começou a cantar:

Ah, doce e bela passarinha,


Tanto quanto a abelha grande,
Mas eu mesma sempre preferi
O gentil chimpanzé
O gentil chimpanzé-é-é,
O gentil chimp…

— Ah, perdão — disse ela, olhando


por cima do ombro. — É muito rude
cantar na frente dos outros sem antes
52
pedir licença. Não vou mais fazer
isso.
— Ah, vá em frente, por favor —
disseram as crianças.
— Estou indo — disse a garota, e
afastou-se.
— Não, qu isemos d izer pa ra
continuar cantando — explicaram.
— E deixe-nos ouvi-la tocando — su-
plicaram, lembrando-se de que ainda
não haviam escutado um único som
do peardrum.
— Impossível — contestou a ga-
rota, aumentando a voz, sem se de-
ter. — Vocês são boazinhas, como
53
comentei antes. O prazer da bondade
se concentra em si mesmo; os praze-
res da maldade são muitos e variados.
Tenham um bom dia — gritou, pois
já estava quase fora de alcance.
Por alguns minutos, as crianças
ficaram imóveis, olhando-a, então
desabaram em pranto.
— Ela podia ter nos deixados vê-
-los — soluçaram.
Peru foi a primeira a limpar as lá-
grimas.
— Vamos para casa — disse ela. —
Se formos muito malvadas, talvez ela
nos deixe vê-los amanhã.
54
— Mas o que vamos fazer? — per-
guntou Olhos Azuis, olhando-a.
Durante todo o caminho de volta
para casa, planejaram juntas como
começar a serem malvadas. Naquela
tarde, a querida mãe ficou dolorosa-
mente angustiada, pois, em vez de
sentarem-se para o chá com os cos-
tumeiros rostos sorridentes e aju-
darem-na a limpar as coisas depois
e fazerem tudo o que lhes dizia, as
duas meninas quebraram as canecas
e jogaram o pão e a manteiga no chão.
Quando a mãe as instruiu a fazerem
algo, elas tomaram o cuidado de
55
fazer outra coisa. Quanto a ajudar na
arrumação, as filhas largaram tudo
para ela sozinha e apenas bateram o
pé com raiva diante das ordens para
subirem e permanecerem lá em cima
até ficarem boazinhas.
— Não seremos boazinhas — gri-
taram. — Odiamos ser boazinhas e
queremos sempre ser más. Gostamos
muito de ser más.
— Vocês se lembram do que eu fa-
lei que faria se vocês fossem muito,
muito más? — perguntou a mãe,
triste.
— Sim, sabemos, mas não é verdade
56
— replicaram. — Não existe mãe com
rabo de madeira e olhos de vidro e, se
existisse, nós só a espetaríamos com
alfinetes e a mandaríamos embora.
Mas não existe.
A mãe então acabou ficando real-
mente muito irritada e mandou-as
para a cama, mas, em vez de chora-
rem e se arrependerem diante da-
quela irritação, riram de felicidade
e, quando estavam na cama, senta-
ram-se e cantaram canções alegres a
plenos pulmões.
Na manhã seguinte, bem cedo,
sem pedirem autorização à mãe, as
57
crianças levantaram-se e correram
o mais rápido possível pelos campos,
na direção da ponte, a fim de pro-
curarem pela garota do vilarejo. Ela
estava sentada, como de costume, ao
lado da pilha de pedras, com o pear-
drum sob o xale.
— Agora, por favor, nos mostre o
homenzinho e a mulherzinha e dei-
xe-nos ouvir o peardrum — pediram.
— Fomos muito malvadas ontem à
noite.
A garota, entretanto, manteve o
peardrum cuidadosamente escon-
dido. Elas repetiram:
58
— Fomos muito malvadas.
— Ah, é? — indagou a garota, pre-
cisamente no mesmo tom do dia an-
terior.
— Mas fomos — repetiram as me-
ninas. — Fomos mesmo.
— É o que vocês estão dizendo —
replicou a garota. — Mas não foram
nem de perto malvadas o suficiente.
— Ora, fomos mandadas para a
cama!
— Exato — disse a garota, colo-
cando o outro canto do xale sobre o
peardrum. — Se tivessem sido malva-
das de verdade, não teriam obedecido.
59
Mas vocês não conseguem, enten-
dem? Como comentei antes, ser mal-
vada direito exige muita habilidade.
— Mas quebramos nossas canecas,
jogamos nosso pão e nossa manteiga
no chão, fizemos todo o possível para
incomodar.
— Coisas insignificantes — res-
pondeu a garota do vilarejo, com des-
dém. — Jogaram água fria no fogo,
quebraram o relógio, tiraram todas
as latarias da parede e jogaram-nas
no chão?
— Não! — exclamaram as crianças,
60
horrorizadas. — Não fizemos nada
disso.
— Foi o que pensei — replicou a
garota. — Muita gente confunde ba-
rulhinho e tolice com maldade real,
mas, como comentei antes, é neces-
sário habilidade para fazer a coisa
direito. Bem, tenham um bom dia.
E, antes que as duas meninas pu-
dessem dizer outra palavra, ela desa-
pareceu.
— Vamos ser muito piores! — ex-
clamaram as crianças, em desespero.
— Vamos fazer todas as coisas que ela
disse.
61
Foram para casa e fizeram. Jogaram
água no fogo, derrubaram a assa-
deira, a fôrma de bolo, a peixeira e a
tampa da panela que nunca haviam
visto, e bateram-nas no chão; quebra-
ram o relógio e dançaram em cima
da manteiga; viraram tudo de cabeça
para baixo. E então pararam e se per-
guntaram se haviam sido malvadas o
suficiente. E, quando a mãe viu tudo
o que elas haviam feito, não ralhou
como no dia anterior nem as man-
dou para a cama, apenas desabou em
lágrimas, olhou para as crianças e
disse, com tristeza:
62
— A menos que vocês sejam boazi-
nhas amanhã, minhas pobres Olhos
Azuis e Peru, eu terei mesmo que ir
embora e não voltar mais, e a nova
mãe de quem lhes falei virá para cá.
As duas não acreditaram. Ainda
assim, seus corações doeram com o
quanto a mãe parecia infeliz, e pensa-
ram consigo mesmas que, depois de
ver uma vez o homenzinho e a mu-
lherzinha dançando, seriam boazi-
nhas com a querida mãe para sempre.
Mas por enquanto não podiam ser
boazinhas, não sem ter ouvido o som
do peardrum, visto o homenzinho e
63
a mulherzinha dançando, e ouvido o
segredo — só então ficariam satisfei-
tas.
Na manhã seguinte, antes de os
pássaros despertarem, de o sol ter
subido o bastante para espiar pela ja-
nela do quarto ou de as flores terem
enxugado os olhos, prontas para o
dia, as crianças levantaram-se, saí-
ram de fininho do casebre e correram
pelos campos. Não acharam que a
garota do vilarejo estaria acordada
tão cedo, mas seus corações haviam
doído tanto diante do rosto triste
da mãe que não tinham conseguido
64
dormir. Ansiavam por saber se ha-
viam sido malvadas o suficiente e se
poderiam pelo menos uma vez ouvir
o peardrum e ver o homenzinho e a
mulherzinha antes de voltarem para
casa e serem boazinhas para sempre.

Para sua surpresa, a garota estava


sentada ao lado da pilha de pedras,
como se morasse ali. As duas meninas
dispararam a correr ao avistarem-na,
e notaram que a caixa contendo o
homenzinho e a mulherzinha encon-
trava-se aberta. A garota, no entanto,
apressou-se a fechá-la quando as viu,
65
e as crianças ouviram o estalo da
tranca que a mantinha fechada.
— Fomos muito malvadas — de-
clararam. — Fizemos todas as coisas
que você falou. Agora mostra o ho-
menzinho e a mulherzinha?
A garota olhou-as com curiosi-
dade, então tirou do bolso o lenço
amarelo de seda que às vezes usava
na cabeça e começou a alisar os vin-
cos do tecido com as mãos.
— Vocês parecem mesmo empol-
gadas — comentou ela, no tom cos-
tumeiro. — Deveriam estar calmas; a
calma se avoluma e esconde as coisas,
66
igual a uma grande capa ou ao meu
xale, por exemplo. — E em seguida
desceu o olhar para a cobertura es-
farrapada que ocultava o peardrum.
— Fizemos todas as coisas que
você falou — insistiram as crianças.
— E estamos ansiosas para ouvir o
segredo.
Mas a garota apenas continuou
alisando o lenço.
— Sou muito minuciosa em rela-
ção ao meu vestido — disse ela.
Em sua empolgação, as duas me-
ninas mal conseguiam ouvi-la.
— Mas diga se podemos ver o
67
homenzinho e a mulherzinha — su-
plicaram de novo. — Fomos tão, mas
tão malvadas, que a nossa mãe disse
que vai embora hoje e mandar outra
no lugar se não formos boazinhas.
— É mesmo? — volveu a garota, co-
meçando a se interessar e a se diver-
tir. — As coisas que as pessoas dizem
são as mais esquisitas e engraçadas.
A linguagem tem uma variedade in-
finita.
Mas as crianças não entenderam;
apenas suplicaram outra vez para ver
o homenzinho e a mulherzinha.
— Bem, vejamos — disse a garota,
68
por fim, como se estivesse cedendo.
— Quando a sua mãe disse que iria
embora?
— Mas, se ela for, o que vamos fa-
zer? — perguntaram as meninas, em
desespero. — Não queremos que ela
vá embora. Nós a amamos muito. Ah,
o que faremos se ela for embora?
— As pessoas vão e vêm; primeiro
vão, depois vêm. Talvez ela vá, an-
tes de vir. Ela não poderia vir antes
de ir. — E, de repente, acrescentou:
— É melhor voltarem e serem boazi-
nhas. Vocês não são espertas o sufi-
ciente para serem nada além disso,
69
e o segredo da mulherzinha é muito
importante; ela nunca conta em troca
de uma maldade fingida.
— Mas nós fizemos todas as coi-
sas que você falou! — pontuaram as
crianças, desesperadas.
— Vocês não jogaram o espelho
pela janela, nem puseram a bebê de
cabeça para baixo no chão.
— Não, não fizemos isso — arque-
jaram as crianças.
— Imaginei que não — disse a ga-
rota, triunfante. — Bem, tenham um
bom dia. Não estarei aqui amanhã.
Bom dia para vocês.
70
— Ah, mas não vá embora — pedi-
ram. — Estamos tão infelizes. Deixe-
nos vê-los uma vez.
— Bom, eu passarei na frente da
sua casa às onze da manhã — disse
a garota. — Talvez eu toque o pear-
drum quando estiver por perto.
— E você nos deixará ver o homem
e a mulher? — perguntaram.
— Impossível, a menos que vocês
realmente tenham merecido; mal-
dade fingida só é bondade estragada.
Agora, se vocês quebrarem o espelho
de mão e fizerem as coisas deseja-
das…

71
— Ah, nós vamos! — exclamaram.
— Seremos muito malvadas até ou-
virmos você chegando.
— Temo que seja perda de tempo
— apontou a garota educadamente.
— Mas é claro que eu não gostaria de
interferir com vocês. Sabem, o ho-
menzinho e a mulherzinha, acostu-
mados ao melhor da sociedade, são
muito seletivos. Tenham um bom
dia — disse, assim como sempre di-
zia, e virou-se depressa, mas olhou
por cima do ombro e gritou: — Onze
horas. Serei bem pontual; sou muito
minuciosa com meus compromissos.

72
E outra vez as crianças voltaram
para casa e foram malvadas. Ah, tão
malvadas que o coração de sua que-
rida mãe doeu e seus olhos enche-
ram-se de lágrimas e, por fim, ela
subiu as escadas e, devagar, colocou
o melhor vestido, seu chapéu novo
e vestiu a bebê com as roupas de do-
mingo, então desceu e parou diante
de Olhos Azuis e Peru. Tão logo o fez,
Peru atirou o espelho pela janela. O
objeto caiu com um som alto de esti-
lhaçamento.
— Adeus, minhas filhas — des-
pediu-se a mãe, triste, beijando-as.

73
— Adeus, minha Olhos Azuis, adeus,
minha querida Peru. A nova mãe vai
chegar em casa já. Ah, minhas pobres
filhas.
Chorando amargamente, a mãe
pegou a bebê no colo e virou-se para
deixar a casa.
— Mas, mãe — gritaram as crian-
ças —, nós somos…
De repente, o relógio quebrado ba-
teu dez e meia, e elas souberam que
em meia hora a garota da vila passa-
ria tocando o peardrum. — Mas, mãe,
nós seremos boazinhas às onze e meia.
Volte às onze e meia! — pediram.

74
— Nós duas seremos boazinhas.
Seremos mesmo. Precisamos ser mal-
vadas até as onze horas.
Mas a mãe apenas ergueu o pe-
queno embrulho no qual atara o
avental de algodão e um par de sapa-
tos velhos e dirigiu-se lentamente até
a porta. As crianças pareciam enfei-
tiçadas; não conseguiram segui-la.
As duas abriram bem a janela e cha-
maram-na:
— Mãe! Mãe! Ah, querida mãe,
volte! Vamos ser boazinhas agora!
Vamos ser boazinhas para sempre se
você voltar!

75
Mas a mãe apenas olhou para trás
e balançou a cabeça. As duas viram
lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Volte, querida mãe! — gritou
Olhos Azuis.
Ainda assim, a mãe continuou
atravessando os campos.
— Volte! Volte! — gritou Peru.
Ainda assim, a mãe prosseguiu.
Bem onde o caminho fazia uma
curva, na beira do campo, ela parou
e se virou, acenando para as crianças
na janela com o lenço todo molhado
de lágrimas, e fez a bebê beijar a

76
própria mão. Em um momento, mãe
e bebê haviam sumido de vista.
Então as crianças sentiram o co-
ração doer de remorso e choraram
amargamente, tanto quanto a mãe.
No entanto, não conseguiam acredi-
tar que ela partira. Com certeza vol-
taria, pensaram; não as deixaria de
vez. Mas, ah, se o fizesse — se o fizesse
— se o fizesse…
O relógio quebrado bateu onze ho-
ras e, de repente, veio um som — um
som rápido, estridente, desarmônico,
com uma estranha nota dissonante
a cada alguns intervalos. Elas se

77
entreolharam enquanto seus cora-
ções se aquietavam, pois sabiam ser o
peardrum. Correram para abrir a ja-
nela, e de lá viram a garota do vilarejo
vindo pelos campos em sua direção,
dançando e tocando em sua cami-
nhada. Atrás, caminhando devagar,
embora sempre mantendo distância,
vinha o homem dos cachorros, que
as meninas haviam visto adorme-
cido perto do Leão Azul, no dia em
que avistaram a garota com o pear-
drum. Ele tocava uma flauta cujo
som era estranho e agudo; ouviam-
-na claramente por cima da desarmo-
nia do peardrum. Os dois cachorros
78
seguiam o homem, valsando devagar,
em círculos, sobre as patas traseiras.
— Fizemos tudo o que você nos
falou — gritaram as crianças, uma
vez recuperadas do espanto. — Venha
ver. Agora nos mostre o homenzinho
e a mulherzinha.
A garota não parou de tocar ou de
dançar, mas gritou de volta numa voz
que era meio falada e meio cantada,
parecendo acompanhar o ritmo da
estranha música do peardrum:
— Vocês fizeram tudo malfeito.
Jogaram água do lado errado do
fogo, os itens de latão não estavam

79
exatamente no meio da sala, o relógio
não quebrou o suficiente, vocês não
puseram o bebê de cabeça para baixo
no chão.
Então as crianças, ainda imóveis
na janela, enfeitiçadas, gritaram, su-
plicando e sacudindo as mãos:
— Ah, mas fizemos tudo o que
você falou, e a nossa mãe foi embora.
Mostre o homenzinho e a mulher-
zinha agora e deixe-nos ouvir o se-
gredo.
Ao dizerem isso, a garota estava
bem na frente do chalé, mas não pa-
rou de tocar. O som das cordas parecia

80
atravessar o coração das crianças.
Ela não parou de dançar; já estava
passando reto pelo chalé. Não parou
de cantar, e tudo o que dizia parecia
parte de uma canção terrível.
O homem continuou a segui-la,
sempre à mesma distância, tocando
sua flauta aguda; os dois cachorros
valsavam e valsavam em círculos
atrás dele — os rabos imóveis, as per-
nas retas, as coleiras claras, brancas e
rígidas. Prosseguiram, todos juntos.
— Ah, parem! — gritaram as
crianças. — E mostre o homenzinho
e a mulherzinha agora!

81
Mas a garota cantou, alto e claro,
enquanto a corda desafinada vibrava
mais alto do que sua voz:
— O homenzinho e a mulherzinha
estão bem longe. A caixa deles está
vazia, entendem?
Então, pela primeira vez, as crian-
ças viram que a tampa da caixa es-
tava aberta, pendendo para trás, e
não havia nem homenzinho nem
mulherzinha ali dentro.
— Estou indo para minha terra —
cantou a garota —, para a terra onde
nasci.
E continuou em direção à longa

82
estrada reta que dava na cidade a
muitos e muitos quilômetros de dis-
tância.
— Mas a nossa mãe foi embora —
gritaram as crianças. — Nossa que-
rida mãe vai voltar um dia?
— Não — cantou a garota. —
Nunca vai voltar. Nunca vai voltar.
Eu a vi perto da ponte; ela pegou um
barco no rio. Está velejando rumo ao
mar. Vai reencontrar seu pai e eles
vão continuar velejando, velejando
para os países distantes.
Ao ouvirem isso, as crianças cho-
raram, mas não conseguiram dizer

83
mais nada, pois seus corações pare-
ciam estar se partindo.
A garota, com a voz esvanecendo
cada vez mais na distância, chamou-
-as mais uma vez. Mas, apesar do pa-
vor que aguçava seus ouvidos, mal
conseguiam escutá-la, de tão longe
que se encontrava, e de tão desarmô-
nica que era a música.
— Sua nova mãe está vindo. Já está
a caminho. Mas anda apenas devagar,
pois seu rabo é bastante longo e seus
óculos ficaram para trás. Mas ela está
vindo. Está vindo… vindo… vindo…
A ú ltima pa lav ra mor reu na

84
distância. Foi a última que as crian-
ças escutaram da garota da vila. Ela
continuou a avançar, dançando, e o
homem continuou a segui-la. Viam
que ele ainda tocava, mas já não escu-
tavam o som da flauta. E os cachorros
continuaram valsando e valsando
em círculos. Todos eles prossegui-
ram, cada vez para mais longe, até
não serem mais coisas separadas, até
não passarem de uma confusa massa
de cor desbotada, até serem um ob-
jeto escuro e embaçado que nada po-
deria definir, até terem desaparecido
completamente — completa e eterna-
mente.
85
As crianças viraram-se, entreo-
lharam-se e encararam o casebre
que era seu lar, apenas uma semana
antes tão vivo e feliz, tão aconche-
gante e imaculado. O fogo estava
apagado, e ainda havia água entre as
cinzas; a assadeira, a fôrma de pão, a
peixeira e a tampa da panela, que a
querida mãe costumava passar tanto
tempo esfregando, jaziam no chão,
derrubadas dos pregos de onde ha-
viam pendido por anos. Lá estava o
relógio, quebrado e estragado; não se
via mais a imagenzinha de sua face.
E, embora ainda batesse uma hora
aqui, outra ali, era com a sonoridade
86
de um relógio cujas horas estavam
contadas. E ali estava o cadeirão da
bebê, mas sem bebê para se sentar
nele. Ali estava o armário na parede,
sem um pão delicioso na prateleira.
Ali estavam as xícaras quebradas e
as migalhas de pão jogadas por todo
lado e as tábuas oleosas onde a mãe
se ajoelhara para esfregar até fica-
rem brancas como a neve. No meio
de tudo aquilo, estavam as crianças,
fitando os destroços que haviam
causado, com o coração doendo, os
olhos ofuscados pelas lágrimas, suas
pobres mãozinhas dadas em meio ao
tormento.
87
— Ah, o que faremos? — chorou
Olhos Azuis. — Queria nunca ter
visto a garota do vilarejo e aquele
peardrum horrível.
— Com certeza a mãe vai voltar —
soluçou Peru. — Tenho certeza de que
vamos morrer, se não voltar.
— Não sei o que vamos fazer se a
nova mãe vier — chorou Olhos Azuis.
— Eu nunca, nunca vou gostar de ou-
tra mãe. Não sei o que vamos fazer se
essa mãe horrível vier.
— Não vamos deixá-la entrar —
disse Peru.

88
— Mas talvez ela entre — soluçou
Olhos Azuis.
Por um minuto Peru parou de cho-
rar, a fim de pensar no que deveriam
fazer.
— Vamos passar o ferrolho na
porta e fechar a janela — sugeriu ela.
— E não vamos dar nenhum sinal de
vida quando ela bater.
Então elas passaram o ferrolho
na porta e trancaram bem a janela.
Depois, apesar de tudo o que haviam
dito, sentiram-se malvadas outra
vez, e quiseram muito o homenzinho
e a mulherzinha que nunca haviam

89
visto, muito mais do que a mãe que
as amara durante a vida inteira. Mas
não acreditavam de verdade que sua
própria mãe não voltaria, ou que uma
nova mãe tomaria seu lugar.
Quando chegou a hora do jantar,
estavam com muita fome, mas só
conseguiram encontrar pão velho e
tiveram de se dar por satisfeitas.
— Ah, eu queria ter escutado o
segredo da mulherzinha — chorou
Peru. — Se tivesse, isso não importa-
ria.
Durante toda a tarde, ficaram de
vigília, buscando ouvir, temendo

90
a nova mãe. Mas nem viram nem
ouviram nada e, aos poucos, foram
perdendo o medo de que ela fosse
vir. Pensaram que, talvez, quando
estivesse escuro, sua própria querida
mãe voltasse para casa e, talvez, se
lhe pedissem perdão, ela aceitasse.
Olhos Azuis pensou que, se a mãe vol-
tasse, estaria com muito frio, então
as duas saíram de fininho pela porta
dos fundos e juntaram um pouco de
madeira e, depois de um tempo, pois
a grelha da lareira estava úmida e era
bem difícil manejá-la, acenderam o
fogo. Quando viram o fogo brilhante
ardendo, e as pequenas labaredas
91
pulando e brincando em meio à ma-
deira e ao carvão, começaram a ficar
felizes de novo e a ter certeza de que a
mãe retornaria; a visão do fogo agra-
dável lembrou-as de todas as vezes
que ela as havia esperado chegarem
do correio, e de como as recebera e
as confortara e lhes dera um bom
chá quentinho e um pão delicioso,
e conversara com elas. Ah, como se
arrependiam de terem sido malva-
das, e tudo por causa daquela horrí-
vel garota do vilarejo! Já não davam
a mínima para o homenzinho e a
mulherzinha, nem queriam ouvir o
segredo.
92
Foram buscar um balde de água
e lavaram o chão; encontraram uns
farrapos e esfregaram as louças até
elas brilharem de novo e, colocando
um apoio para pés sobre uma cadeira,
subiram com cuidado e pendura-
ram todas as coisas de volta no lu-
gar. Depois, apanharam os cacos das
xícaras quebradas e deixaram o cô-
modo o mais limpo que podiam, até
parecer cada vez mais que as mãos da
querida mãe haviam se ocupado dele.
Tinham cada vez mais certeza de que
ela retornaria, junto com a querida
bebezinha, e pensaram em aprontar
as coisas do chá, exatamente como
93
ela sempre fizera para as filhas mal-
vadas. Desceram a bandeja de chá e as
xícaras e puseram a chaleira no fogo
para ferver. Deixaram tudo o mais
receptivo possível. Não havia pão de-
licioso para pôr na mesa, mas talvez
a mãe trouxesse algo da vila, pen-
saram. Enfim, tudo estava pronto, e
Olhos Azuis e Peru lavaram o rosto e
as mãos, sentaram-se e esperaram,
pois é claro que não acreditavam no
que garota do vilarejo dissera sobre a
mãe ter ido embora de barco.
De repente, enquanto estavam
sentadas perto do fogo, escutaram o

94
som de algo pesado sendo arrastado
pelo chão do lado de fora, e então veio
um tom alto e terrível de alguém ba-
tendo à porta. As crianças sentiram
o coração parar. Sabiam que não po-
dia ser a própria mãe delas, pois esta
teria girado a maçaneta e tentado
entrar sem bater.
— Ah, Peru! — sussurrou Olhos
Azuis. — Se for a nova mãe, o que va-
mos fazer?
— Não vamos deixá-la entrar —
sussurrou Peru, pois temia falar alto.
Outra vez soou uma longa, alta e
terrível batida na porta.

95
— O que vamos fazer? O que va-
mos fazer? — choraram as crianças,
em desespero. — Ah, vá embora! —
gritaram. — Vá embora! Não vamos
deixá-la entrar; nunca mais seremos
malvadas. Vá embora, vá embora!
Mas, outra vez, veio um som alto
e terrível de alguém batendo.
— Ela vai quebrar a porta, batendo
tão forte! — exclamou Olhos Azuis.
— Vá apoiar as costas conta a porta
— sussurrou Peru. — E vou tentar ver
pela janela se é mesmo a nova mãe.
Tremendo de medo, Olhos Azuis
apoiou as costas contra a porta, e

96
Peru foi até a janela e, pressionando
o rosto contra um dos lados da estru-
tura, espiou o lado de fora. Conseguia
discernir um chapéu preto de cetim,
com um babado ao longo da aba, e
um longo braço ossudo carregando
uma bolsa preta de couro. Debaixo
do chapéu, cintilava uma estranha
luz clara. O coração de Peru apertou
e suas bochechas empalideceram,
pois sabia se tratar do cintilar de dois
olhos de vidro. Aproximou-se pé ante
pé de Olhos Azuis.
— É… é… é! — sussurrou, com
a voz trêmula de medo. — É a nova

97
mãe! Ela veio e trouxe a bagagem
numa bolsa preta de couro pendu-
rada no braço!
— Ah, o que vamos fazer? — cho-
ramingou Olhos Azuis.
Novamente, soou a batida terrível.
— Venha segurar a porta também,
Peru! — exclamou Olhos Azuis. —
Estou com medo de ela quebrar.
Juntas, mantiveram as costas
miúdas contra a porta. Houve uma
longa pausa. Pensaram que, talvez, a
nova mãe houvesse se convencido de
que não havia ninguém em casa para
deixá-la entrar e decidido ir embora,

98
mas as duas crianças ouviram, atra-
vés da fina porta de madeira, a nova
mãe mover-se um pouco e dizer para
si mesma:
— Tenho de derrubar a porta com
meu rabo.
Por um terrível momento, tudo
ficou em silêncio, mas as crianças
quase conseguiam escutá-la erguer
o rabo e, com um golpe assustador, a
portinha pintada rachou-se e lascou-
-se.
Com um guincho, as crianças voa-
ram do ponto onde haviam estado e
atravessaram o chalé em disparada,

99
saindo pela porta dos fundos e mer-
gulhando na floresta além. Passaram
a noite inteira na escuridão e no frio,
e o dia seguinte, e o que veio depois
deste, e durante todos os dias e noites
sombrios e gélidos que se seguiram.
Lá elas ainda estão, crianças.
Passaram lá longas semanas e meses,
tendo apenas as moitas verdes como
travesseiros, e apenas as folhas mor-
tas e marrons para cobri-las, alimen-
tando-se de morangos selvagens no
verão, de nozes quando ainda estão
verdes, de amoras quando não estão
mais azedas no outono e, no inverno,

100
das frutinhas vermelhas que amadu-
recem na neve. Elas vagam em meio
aos altos abetos escuros, ou sob as
imensas árvores além deles. Às vezes,
param para descansar ao lado de uma
lagoa próxima ao bosque onde as sa-
mambaias crescem mais, e anseiam,
com um desejo muito maior do que
as palavras conseguem descrever, ver
sua querida mãe, só mais uma vez,
para lhe dizer que serão boazinhas
para sempre. Só mais uma vez.
A nova mãe continua no chalé,
mas as janelas ficam fechadas e as
portas, trancadas, e ninguém sabe

101
como são as coisas lá dentro. De vez
em quando, nas ocasiões em que a
escuridão toma conta e a noite está
silenciosa, Olhos Azuis e Peru aproxi-
mam-se de mãos dadas, pé ante pé, do
lar onde foram tão felizes um dia, e,
com o coração disparado, observam e
procuram escutar. Às vezes um cinti-
lar ofuscante aparece na janela, e elas
sabem ser a luz dos olhos de vidro da
nova mãe, ou ouvem um estranho
barulho abafado, e sabem ser o som
de seu rabo de madeira sendo arras-
tado pelo chão..

TH E E N D

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103
E X TR A: BIOGR AFIA

Lucy Clifford
Lucy Lane Clifford nasceu em 1846,
poucos anos depois do início do
longevo reinado da rainha Vitória.
104
Informações acerca dos primeiros
anos de vida de Lucy Clifford são di-
fíceis de encontrar; a própria autora
era extremamente reservada no que
diz respeito à sua vida pessoal.
É sabido que ela se casou com
William Kingdon Clifford em 1875,
um professor de matemática e filó-
sofo, que conheceu quando estudava
artes na cidade de Londres. A resi-
dência do casal se tornou um ponto
de encontro para diversos artistas e
intelectuais da época.
William Clifford morreu apenas
quatro anos depois do casamento.
105
Após o falecimento do marido, em
1879, as amizades que o casal Clifford
desenvolveu com George Eliot, Henry
James e outros não apenas se manti-
veram como floresceram.
Em uma época difícil para uma
mulher se sustentar sozinha, George
Eliot foi uma das várias pessoas que
contribuíram para uma pequena
pensão organizada para sustentar
Lucy Clifford e suas duas filhas. Eliot,
que se tornou amiga de Lucy Clifford,
a encorajou a encontrar conforto na
escrita.
Como uma forma de complementar
106
sua renda, Clifford começou a escre-
ver resenhas para a revista Standard.
Seus primeiros trabalhos publicados
eram voltados ao público infantil,
mas ela também escreveu romances,
coletâneas e peças de teatro.
Sua primeira publicação, Mrs.
Keith's Crime, não foi assinada com
seu nome, o que só aconteceu no tra-
balho seguinte. Lucy não teve medo
de explorar outros gêneros e forma-
tos e tornou-se uma referência para
vários outros autores da época, in-
cluindo nomes como Thomas Hardy.
Muito do que se sabe é fruto das
107
palavras daqueles que conviveram
e se encantaram por sua personali-
dade e presença. Henry James, autor
do período vitoriano e amigo íntimo
de Clifford, queimou seus documen-
tos antes de morrer, nos impossibili-
tando de ter acesso ao lado de Lucy
que ele tanto elogiava nas cartas que
trocavam.
Lucy Clifford morreu em abril de
1929 e quase cem anos depois de sua
morte, seu trabalho continua ins-
pirando adaptações e sendo redes-
coberto por novas gerações. A Nova
Mãe, publicado originalmente em
108
1882, além de aparecer em diversas
coletâneas, foi adaptado algumas ve-
zes para o teatro e agora chega com
exclusividade para os assinantes da
Sociedade das Relíquias Literárias.

109
Profissionais
que trabalharam
neste conto

Carol Chiovatto
TR A DUÇÃO

Tradutora, escritora e acadêmica. Mestra


e doutoranda em Estudos Linguísticos e
Literários em Inglês (USP)
@carolchiovatto

110
Karine Ribeiro
PRE PA R AÇÃO

Escritora premiada,
tradutora e revisora,
graduanda em Tradução
pela UFMG. @karineescreve

João Rodrigues
RE V ISÃO

Bacharel em Tradução
e especialista em
Produção e Revisão
Textual.
@jojsrodrigues

111
Ana Milani
ILUSTR AÇÃO

Artista, ilustradora
e influenciada por
literatura, ela se
expressa através do
etéreo e do estranho
Insta: @omnifantasmicdraws

Marina Avila
PROJE TO G R Á FICO

Produtora editorial e
fundadora da Wish. Mãe
de gatos e de livros.
@casatipografica
e @marinalivros
Valquíria Vlad
COMUNICAÇÃO E
COMUNIDA DE

Escritora, pesquisadora
e publicitária formada
pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
@valquiriavlad

Laura Brand
ME DIAÇÃO E
PA R ATE X TOS

Editora, coordenadora
editorial, jornalista e
criadora de conteúdo.
Formada pela PUC-MG
e Columbia Journalism
School. @nostalgiacinza
113
Muito obrigada
por apoiar este
financiamento
coletivo!
Neste mês foi possível viabilizar a cura-
doria, tradução, revisão e ilustração do
conto The New Mother! A cada mês de as-
sinatura, a Wish continuará resgatando
os tesouros do passado em novas edições
para os caçadores das Relíquias Literárias.

Vamos resgatar estes contos raros juntos?

Relíquia 035/Fev 2023

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N O P R ÓX I M O M Ê S

Um conto de fadas
Uma história épica nos Alpes,
escrita por Villamaria.

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