Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MANAUS – AM
2014
1
MANAUS – AM
2014
2
Ficha Catalográfica
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________
Profª. Dra. Débora Cristina Bandeira Rodrigues – Presidente
Universidade Federal do Amazonas
___________________________________________________
Profª. Dra. Nádia Socorro Fialho Nascimento – Membro
Universidade Federal do Pará
___________________________________________________
Profª. Dra. Patrícia dos Anjos Braga Sá dos Santos – Membro
Universidade Federal do Amazonas
4
AGRADECIMENTOS
Neste momento tão especial de minha vida, são muitas as pessoas a quem gostaria de agradecer,
afinal, foi juntando cada peça deste quebra-cabeça que hoje consigo a montagem completa, tendo
como resultado “um lindo quadro” constituído pela palavra Mestre.
Começarei agradecendo a Deus, pelo dom vida, por tudo o que tem me proporcionado, pelos
ensinamentos, pelas pessoas que colocou até o momento em minha trajetória de vida e pela
indispensável oportunidade de realizar meus sonhos, dando-me forças nos momentos alegres e
difíceis. Senhor, obrigado!
Aos meus Pais, por tudo aquilo que me ensinaram. Por me fazerem acreditar que os
conhecimentos adquiridos no âmbito educacional seriam minha maior herança. Pela
compreensão dispensada, cuidado, carinho e com grande admiração e respeito que tenho a vocês,
muito obrigado!
Aos meus irmãos (Janderlei e Jander Paulo), irmã (Janderléia) e sobrinhos (Rhemison, Tarcísio e
Victor) pelo apoio, compreensão, incentivo e amizade de sempre.
Aos meus tios e tias paternos(as) e maternos(as), em nome de Maria do Carmo e Maria Nogueira
(in memorian), pelo incentivo no processo desta formação acadêmica.
À Profª. Sandra Helena da Silva, pelas palavras de incentivo, carinho e amizade, sempre me
alertando sobre meu potencial de seguir na trilha da pesquisa. Você é uma das “culpadas” pelo
meu ingresso e término do Mestrado. Admiro-te pela coragem, inteligência, paciência,
determinação e o gosto que tem pela pesquisa. Um grande e abençoado obrigado!
À Profª. Andreza Gomes Weil a quem devo “muitos obrigados”! Foi minha professora, colega de
Mestrado e agora colega de trabalho. Obrigado pelo incentivo, apoio e colaboração durante a
realização do Mestrado. Obrigado, sobretudo, pelo compartilhamento das angústias!
Às colegas de Mestrado, Karina, Antonia, Maria Oliveira (Neves), Ária, Maria Joseilda (Branca),
Alessandra, Ingrid, Laura, e ao Jeffeson, pela jornada de amizade que trilhamos repleta de
respeito, debates acadêmicos, produções científicas, viagens, insegurança e medo de prosseguir,
enfim, obrigado por tudo! Nesse complexo mundo do conhecimento científico, de sabores e
dissabores, são necessárias pessoas especiais como vocês.
6
À Laranna Prestes e Keuryanne Reis que, além de colegas de graduação, prosseguimos como
colegas de Mestrado, sempre trocando experiências, dialogando sobre as questões acadêmicas,
compartilhando as angústias, construindo nossos caminhos de vida profissional. Tão deu certo
que hoje, eu e Keuryanne, também somos colegas de trabalho.
À Alcione Teles, Itaciara Pontes, Rônisson e Silvia, pessoas especiais que conheci durante o
percurso do Mestrado, parceiras(o) do mesmo e de outros Programas de Pós-Graduação.
Obrigado por compartilharem o debate das incertezas, os quais nos impulsionam a prosseguir no
campo do conhecimento científico.
À Lindsay, Edivane, Lourdes, Liara e Marineide, com quem compartilho momentos acadêmicos e
de vida desde a graduação.
Aos alun@s do curso de Serviço Social do ICSEZ/UFAM, por colaborarem comigo nesse
processo de construção de conhecimentos a partir das experiências trocadas em sala de aula, e
pela compreensão e colaboração nas vezes que precisei me ausentar do ICSEZ.
À Profa. Dra. Lucilene Ferreira de Melo pelas grandes contribuições durante a qualificação do
Mestrado.
Às Profas. Dras. Nádia Fialho e Patrícia Braga por aceitarem o convite e se disporem em
participar do processo avaliativo desta dissertação.
Enfim, aos demais mesmo que não estejam aqui citados, ratifico meus agradecimentos pelas
palavras de apoio, incentivo e por acreditarem no meu humilde potencial acadêmico.
Obrigado!
7
RESUMO
ABSTRACT
The first decade of the century XXI the apex of changes can be considered in the
theoretical and operational conjuncture of the public politics of Social welfare, tends in view
the consolidation of PNAS, SUAS, National Tipificação of the Serviços Socioassistenciais,
reformulação of LOAS and creation of NOB/SUAS 2012. Like this, it comes if noticing in
that movement of the Social welfare a concern in their operacionalizar programs, projects,
benefits and services socioassistenciais in the perspective of the sustainability, seeking the
enfrentamento of the social vulnerability and, for consequence, the contribution for the users'
of the politics human and social development. With base in this understanding, the study
analyzed the public politics of Social welfare in the extent of the operacionalização of the
Basic Social protection in the municipal districts of Maués and Parintins, in Low Amazon,
tends as reference the social sustainability, above all to the that plays the access, justness in
the offer of the services and enfrentamento of the social vulnerability. The methodological
procedures of the study were ruled in the research bibliographical, documental and of field of
qualitative and quantitative nature. The materialization of the data collection happened in the
municipal thirsts of Maués and Parintins, particularly in the dependences of the Municipal
General offices of Social welfare, in two CRAS selected for the research and in the users'
homes. As instruments and techniques for data collection forms, interviews semiestruturadas,
systematic observation and field diary were used. They participated in the research 24
subjects including Managers, Professionals of the Team of Reference of CRAS and linked
users to the Basic Social protection. Summarily, the results of the study appear that: the
financing on the part of the federal and municipal government doesn't get to assist the demand
of the reality of the municipal districts; there is keep apart of dialogue among those that
operacionalizam the services and the ones that receive the service; scanty contribution of the
foregoing politics in the daily of the individuals and families that participate in the activities
in CRAS; precariousness in the physical atmosphere of CRAS, as well as in the infrastructure;
little formation and continuous training for the workers of SUAS; it lacks of a diagnosis
complete socioterritorial about the situation of social vulnerability of the municipal districts,
among others. Such data allow to affirm that, in Maués and Parintins, the Social welfare is
treated of a politics with great potentials to contribute in the daily of any subject or family that
you/they look for to participate in the services. However, "rowing against the tide", it is a
filled politics of limits and challenges that it qualifies her in a perspective of
(in)sustentabilidade in the intervention that does. If in some moments, she seems to answer to
the populations users' needs, in other, it doesn't get to reach his/her Real effectiveness as it
intends. This way, the need is pointed of rethinking the operacionalização of the referred
politics on the part of the municipal managers, above all, in the optics of the administration
participativa, because only like this, it can be affirmed that the Social welfare, when being
rendered in a given reality, plays the sustainability of their services socioassistenciais, as well
as, contributed to their beneficiaries' sustainability.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição por postos de trabalhos formais por setor de atividades no município
em 2004 e 2010 ...................................................................................................................... 90
Gráfico 2 – Distribuição dos postos de trabalhos formais por setor de atividades no município
em 2004 e 2010 ...................................................................................................................... 94
Gráfico 3 – Estado civil das mulheres – Maués ................................................................... 122
Gráfico 4 – Estado civil das mulheres – Parintins ............................................................... 122
Gráfico 5 – Escolaridade das mulheres entrevistadas CRAS/Maués ................................... 124
Gráfico 6 – Escolaridade das mulheres entrevistadas CRAS/Parintins ............................... 124
Gráfico 7 – Situação no mercado de trabalho das usuárias do CRAS/Maués ..................... 126
Gráfico 8 – Situação no mercado das usuárias do CRAS/Parintins ..................................... 126
Gráfico 9 – Situação do domicílio duas usuárias do CRAS/Maués ..................................... 128
Gráfico 10 – Situação do domicílio das usuárias do CRAS/Parintins ................................. 128
14
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 17
INTRODUÇÃO
O limiar do século XXI vem sendo permeado por mudanças nas questões
econômicas, políticas, culturais e sociais impactando, de alguma forma, na elaboração,
organização e implementação das políticas públicas brasileiras. Nesse âmbito, encontra-se a
política de Assistência Social cujas mudanças assentam-se no seu plano teórico e operacional
a partir da consolidação da Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2004), do
Sistema Único de Assistência Social – SUAS (2005), Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais (2009), reformulação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS
(2011) e a Norma Operacional Básica – NOB/SUAS (2012).
Percebe-se nessa movimentação da Assistência Social uma preocupação em
operacionalizar seus programas, projetos, benefícios e serviços socioassistenciais na
perspectiva da sustentabilidade, visando o enfrentamento da vulnerabilidade social que
amealha grande parcela da população brasileira, e a partir disso, contribuir para o
desenvolvimento humano e social dos usuários da política.
Em relação à sustentabilidade, é compreensível dizer que na conjuntura atual, seu
aspecto conceitual vem sendo debatido numa perspectiva ampla, por isso, não se tem um
entendimento unívoco, seja no âmbito acadêmico ou na mídia de um modo geral. Desse
modo, seu debate perpassa por questões ligadas às dimensões ambientais, econômicas,
culturais, políticas, territoriais e sociais.
A dimensão social da sustentabilidade, foco de discussão neste estudo, está sendo
entendida como a busca pela equidade e acesso aos direitos sociais, visando qualidade de vida
digna para toda sociedade, sobretudo, as populações mais pobres economicamente. Esta
compreensão vai ao encontro com o que preconiza os objetivos da LOAS e o debate que se
faz na Proteção Social Básica – PSB afiançada na PNAS. Tal nível de proteção objetiva
fortalecer as relações e vínculos sociais dos usuários como forma de enfrentamento à
vulnerabilidade social e assim contribuir para melhores condições de vida. Contudo, conforme
Couto et al. (2011), são diversas as dificuldades e fragilidades que, muitas vezes, permeiam a
efetividade das ações e serviços realizados pela Assistência Social nas regiões brasileiras.
No caso da Região Amazônica, segundo Teixeira (1998; 2008), Maciel (2002) e
Silva, C. (2012), é reconhecida a importância da política pública de Assistência Social para a
realidade dos municípios. No entanto, compreendem que sua operacionalização ainda tem um
caminho a percorrer no sentido de atingir proficuamente seus objetivos e assim contribuir de
forma efetiva na melhoria das condições de vida da população local.
18
1
Com base no IBGE a PNAS (2004) categoriza os municípios do Brasil por porte populacional para intervenção
da política de Assistência Social. Subdividem-se em: Pequeno Porte 1 – até 20.000 hab.; Pequeno Porte 2 –
20.001 a 50.000 hab.; Médio Porte – 50.001 a 100.000 hab.; Grande Porte – de 100.001 mil a 900.000 hab.
20
mais pontos de vista e abordagens teóricas dentro da mesma pesquisa cujo intuito é obter “[...]
como resultado final um retrato mais fidedigno da realidade ou uma compreensão mais
completa do fenômeno a analisar”. Esta técnica identifica-se, em alguns momentos, no
cruzamento de informações entre os dados teóricos da política de Assistência Social e falas
dos sujeitos da pesquisa de Maués e Parintins.
Diante disso, a presente dissertação está estruturada em três capítulos. O primeiro
capítulo discute a categoria de Sustentabilidade e suas diversas dimensões, situando-a como
diretriz de análise para políticas públicas na cena contemporânea. O segundo capítulo aborda
a política pública de Assistência Social, enfatizando seus marcos legais e a emergência da
Proteção Social Básica, ademais, desvela a localização da referida política nos municípios de
Maués e Parintins a partir da visão dos gestores e profissionais atuantes nos CRAS. Por fim, o
terceiro capítulo analisa a Proteção Social Básica nos municípios de Maués e Parintins na
perspectiva da sustentabilidade social, para tanto, evidencia a operacionalização dos serviços
socioassistenciais, o perfil e condições de vida das mulheres participantes da pesquisa e a
contribuição da política de Assistência Social para o enfrentamento da vulnerabilidade social.
A reunião dos dados teóricos e empíricos dialogam-se e dá forma a esta dissertação
que, dentre outros propósitos e limitações, expressa sua relevância por possibilitar uma
reflexão mais aprofundada acerca do tema. E, ao mesmo tempo, enriquecer a elaboração de
conhecimentos numa área que se entende haver lacunas referentes à pesquisa científica
voltada para a análise da sustentabilidade dos serviços socioassistenciais implementados pela
Assistência Social no âmbito da PSB. Assim sendo, os resultados da pesquisa poderão servir
de fontes bibliográficas para novos estudos contribuindo no debate que envolve a temática.
Da mesma forma, o estudo tem o intuito de possibilitar qualificação acadêmica profissional
para atuar nas regiões amazônicas, de modo especial no campo das políticas públicas.
Acredita-se que os resultados da pesquisa podem trazer contribuições para o
cotidiano dos beneficiários da PSB, pois analisa o alcance e efetividade das atividades
desenvolvidas pela política de Assistência Social no contexto dos CRAS, considerando o
acesso e equidade nos serviços socioassistenciais e o enfrentamento da vulnerabilidade social.
Do mesmo modo, entende-se que a pesquisa traz resultados que, se bem analisados, podem
servir de subsídios para uma melhor intervenção da Assistência Social na realidade plural dos
municípios estudados, sobretudo no processo operacional das ações/atividades da Proteção
Social Básica.
22
CAPÍTULO I
3
Thomas Robert Malthus nasceu em 1766 e faleceu em 1834 na Inglaterra. Estudioso da economia política,
Malthus acreditava que a população tinha tendência em aumentar de forma geométrica que, por consequência,
gerava uma crescente miséria das grandes massas de população: pobreza extrema e fome permanente. Quando
esses males chegam ao auge, a própria natureza intervém, corrigindo-os por meio de guerras, epidemias, etc.,
reduzindo violentamente a população. Desta forma, em sua tese postulava que a população deveria ser reduzida,
e aconselhava para a abstinência sexual. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/biografias/thomas-robert-
malthus.jhtm>. Acesso em: 07 out. 2014.
26
4
Um debate conceitual sobre os objetivos das políticas públicas está presente no último tópico deste capítulo.
27
5
A fundação do Dag Hammarskjold foi estabelecida em 1962 na memória do segundo secretário geral das
Nações Unidas. O Dag Hammarskjold (1905-1961), durante seu período como o secretário geral, de 1953 até sua
morte em 1961, tornou-se conhecido como um empregado civil internacional extremamente eficiente e dedicado.
Disponível em: <http://ajonu.org/2012/10/17/a-biblioteca-dag-hammarskjold/>. Acesso em: 10 out. 2014.
28
A partir deste período, década de 1980, o supracitado termo “se tornou uma palavra
mal apreciada, desaconselhável mesmo, e progressivamente substituída em inglês pela
expressão sustainable development” (SACHS, 2009, p. 243), isto é, a emergência do
Desenvolvimento Sustentável. Este foi difundido no Relatório Brundtland6 apresentado em
1987 por uma comissão da Organização das Nações Unidas – ONU, cujas conclusões
resultaram no livro intitulado “Nosso Futuro Comum”.
O desenvolvimento sustentável passou a ser conhecido como “aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem
a suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46). Desenvolvimento este que incorpora
nos seus objetivos o discurso de uma sustentabilidade na perspectiva de longo prazo, sem
questionar a lógica do modo de produção capitalista, responsável, em grande medida, pelo
acelerado processo negativo na condição de vida das populações.
Conforme a CMMAD (1991), este conceito traz consigo duas pontuações: 1) refere-
se ao conceito de necessidades, sobretudo as necessidades das populações destituídas dos
direitos sociais e que merecem ter prioridades no momento de operacionalização das políticas
públicas; 2) a noção das limitações, isso porque o avanço das tecnologias e organizações
sociais com interesses distintos impõem mudanças ao meio ambiente e com isso as
necessidades das presentes e futuras gerações ficam fragmentadas. Contudo, é preciso refletir
sobre quais as reais necessidades dos sujeitos que demandam políticas públicas? Pois, a forma
como é tudo isso é tratado pela CMMAD não deixa claro, nem tão pouco rompe com os
padrões desiguais do capitalismo.
A partir deste entendimento, o desenvolvimento sustentável enfatiza como objetivo
final a satisfação das necessidades básicas e aspirações humanas de modo que as populações
dos países em desenvolvimento tenham oportunidades equânimes no acesso à habitação,
emprego, alimentação, vestimentas e serviços sociais. Em síntese, o CMMAD (1991, p. 49)
certifica que:
6
A expressão Brundtland é referente à Gro Harlem Brundtland que, na ocasião era Ministra do Meio Ambiente
da Noruega. Presidiu a Comissão Brundtland, da Organização das Nações Unidas, cujo evento voltava-se para
estudos do meio ambiente.
29
7
O documento final foi publicado em todas as línguas oficiais das Nações Unidas: Árabe, Chinês, Inglês,
Francês, Russo e Espanhol. Para o português foi revisada por Júlia Restrepo e Daniel da Silva, ambos da UFSC.
32
A partir da referida colocação, reitera-se que as políticas públicas, e neste caso deve-
se pensar no Brasil, são ferramentas de suma importância para vislumbrar novos cenários de
condições e qualidade de vida para as populações. Embora, seja sabido que a proposição
dessas políticas engendra-se num contexto econômico, político, social e histórico. Os estilos
de enfrentamento e busca pelo verdadeiro desenvolvimento sustentável não se resume ao
8
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/ongs-divulgam-carta-de-repudio-a-documento-
da-rio-20>. Acesso em: 23 fev. 2014.
9
Leisa Perch é coordenadora de Desenvolvimento Rural e Sustentável do Centro Internacional de Políticas para
o Crescimento Inclusivo das Nações Unidas (IPC-IG, Brasília). Suas palavras aqui citadas referem-se a uma
série de reportagens publicadas no site do IPEA. Neste caso, refere-se à Edição 72. Ano 9. de 15 de Jun. 2012.
33
Marcos Ambientais
Ano Ideias centrais
Internacionais
Sinais de preocupação com o uso dos recursos naturais;
1968 Clube de Roma Desaceleração do desenvolvimento industrial;
Planeta não tem suporte para a explosão populacional;
Crescimento zero.
Relação homem e meio ambiente;
Conferência de Estocolmo
1972 Problemática ambiental ocorre em escala global;
Ampliação dos debates sobre o crescimento populacional.
Estilo de desenvolvimento adaptado para as áreas rurais,
1973 Ecodesenvolvimento
sobretudo, dos países subdesenvolvidos.
Trata-se de tecnologias apropriadas;
Reelaboração do
1974ª Forma de contribuição para as necessidades básicas;
Ecodesenvolvimento
Participação de todos os atores sociais.
40 anos
Bem-estar do indivíduo depende do máximo acesso aos
1974b Declaração de Cocoyoc;
recursos necessários para a vida humana.
Nosso Futuro Comum;
1987 Relatório Brundtland Conceito de Desenvolvimento Sustentável – relação entre
o presente e o futuro das gerações.
Meio Ambiente e Desenvolvimento;
Declaração do Rio;
1992 Eco-92 Agenda 21 – reflexão entre os países de forma global e
20 anos
10
Em aula proferida no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia, no
segundo semestre de 2012.
35
Econômica
Ambiental
proposta concreta de sustentabilidade ambiental. Apesar de que isto tem gerado contínuos
debates sobre seus impactos no cotidiano de vida dos indivíduos.
Conforme os estudos de Silva, P. (2012) e Rodrigues et al. (2013), nas comunidades
ribeirinhas do Amazonas as UCs tem ocasionado limites e perspectivas para a realidade dos
comunitários. Por um lado, influencia na participação dos comunitários nas tomadas de
decisões das Associações, haja vista a assiduidade nas atividades de natureza coletiva; por
outro, incide negativamente na geração de renda dos comunitários, já que são limitados nas
práticas socioculturais e atividades produtivas, tais como a caça, pesca, agricultura e extração
de madeira.
Política
Territorial
11
Na atualidade, o debate em torno da categoria território se complexifica tendo em vista sua profusão teórica
com a discussão de territorialidade. Para Saquet (2009, p. 79), o território configura-se como um espaço natural e
social, sendo, portanto, produzido pelos diferentes atores através da informação, dos valores, efetivação das
redes de comunicação, das atividades produtivas, bem como das representações simbólicas firmadas no cotidiano
de vida. Neste processo, a territorialidade “significa as relações sociais simétricas ou dessimétricas que
produzem historicamente cada território”. Porquanto, o território trata-se de uma construção coletiva e com
múltiplas territorialidades.
43
Social
[...] b) A pobreza não deve ser considerada como a causa principal da degradação; é
preciso que se considerem as políticas governamentais bem como os grupos de
poder e os setores ricos; c) Tanto a pobreza quanto a degradação ambiental podem
ter uma mesma causa: a falta de recursos ou de direitos de propriedade sobre esses
recursos; d) Exemplos de sociedades agrícolas menos integradas ao mercado
mostram um maior equilíbrio ambiental; a degradação poderia vir com a integração
mercantil (FOLADORI, 2002, p. 109).
12
As contribuições de Foladori (2002) são importantes nessa parte, pois, este autor faz uma retomada histórica,
desde os anos 60 até 90, especificamente sobre a sustentabilidade social.
44
Para o referido autor esta hipótese do duplo caminho pressupõe o debate sobre a
implementação de políticas públicas em diversos âmbitos das sociedades, tendo como
finalidade principal o combate à pobreza, a exemplo das políticas de emprego, moradia,
educação e saúde. Além do mais, considera-se o incremento das capacidades humanas de
modo que a qualidade de vida deve ser pensada como objetivo e não ponte para uma natureza
mais saudável.
Não obstante, é importante salientar que, tanto a primeira como a segunda hipótese,
não significam alterações no processo das relações sociais de produção. Por isso, é coerente
afirmar que a hipótese do duplo caminho, apesar de sua proposta ser mais plausível, mesmo
assim apresenta incoerências (Idem, 2002). Visto que, sugere uma participação do setor
público com políticas específicas para cada problema, em contraposição, vivencia-se a
eminência de políticas macroeconômicas internacionais de projeto neoliberal, as quais
primam pela privatização e redução dos gastos sociais, tendo como premissa a redução do
papel do Estado na redução econômica.
Decorre dessas considerações que apesar dos avanços nos planos teóricos e práticos,
o debate sobre a necessidade de implementação de um desenvolvimento sustentável “continua
basicamente atrelado a um desempenho técnico, dentro das regras do jogo do sistema de
mercado capitalista, sem atingir nem questionar as relações de propriedade e apropriação
capitalistas, que geram pobreza, diferenciação social e injustiça” (Idem, p. 172).
Nessa direção, concorda-se com o autor ao mencionar a complexidade de
implementação de um efetivo desenvolvimento sustentável, considerando que a sociedade
está balizada na ótica do mercado capitalista.
Assim, ao se discutir sobre as dimensões da sustentabilidade, é necessário pensar
primeiramente no viés “social”. Pois, esta dimensão é importante porque se constitui na
própria finalidade do desenvolvimento (SACHS, 2002a).
Busca-se com a sustentabilidade social estabelecer um processo de desenvolvimento
conduzido por um padrão de crescimento, no qual haja distribuição equitativa de renda a fim
de assegurar uma melhoria substancial dos direitos das massas populacionais (SACHS, 1993;
2002b). Isso implica na redução do abismo dos padrões de vida entre os detentores do capital
e a classe trabalhadora.
De maneira mais afirmativa, Sachs (2002a, p. 85) pontua que: “[prima pelo] alcance
de um patamar razoável de homogeneidade social; distribuição de renda justa; emprego pleno
45
e/ ou autônomo com qualidade de vida decente; igualdade no acesso aos recursos e serviços
sociais”.
Percebe-se nas considerações do autor que a sustentabilidade por um cenário social
precisa, antes de tudo, da homogeneidade social e de renda entre os sujeitos. Ou seja, uma
vida digna requer o acesso, por parte das populações, a emprego assegurado todos os direitos
que lhe são peculiares e ascensão nos serviços públicos os quais oportunizam ao cidadão
participação efetiva nas políticas públicas. Neste sentido, Sachs (2008) ratifica que ela é
baseada no imperativo ético de solidariedade entre a geração atual e as gerações futuras.
Em consonância com essa compreensão, Guimarães (1997) salienta que a
sustentabilidade social tem como objetivo maior a melhoria da qualidade de vida. Neste
ponto, chama atenção para os países subdesenvolvidos, onde os serviços públicos gravitam
em torno de precariedade social.
Esta concepção é reiterada por Bellen (2007) ao enfatizar que buscar a relação de
igualdade, equidade e acessos aos serviços sociais, trata-se de uma questão complexa nesta
conjuntura atual, mas não impossível. Implica na direção do verdadeiro bem-estar humano, o
qual só será possível quando, dentre outros fatores, todos estiverem abarcados pelos objetivos
concretos das políticas públicas, incluindo saúde, assistência social, educação, trabalho,
habitação, entre tantas outras. Neste ínterim, Bellen (2007, p. 37) postula que:
considerar a realidade local e como está organizada do ponto de vista geográfico, cultural,
político e social é uma tarefa que traz contribuições para entender a essencialidade da questão
social.
Em vários municípios da Região Norte aonde vem se desenvolvendo pesquisas (tais
como em Maués, Parintins, Caapiranga, Iranduba), é possível observar que as refrações da
questão social estão atreladas à dinâmica cotidiana em que os sujeitos buscam por qualidade
na condição de vida, acesso ao mercado de trabalho e aos bens e serviços sociais básicos
(RODRIGUES, 2009; CHAVES et al., 2010; LIRA et al., 2013).
Nessa direção, Silva, C. (2012, p. 26) pondera que:
Econômica
Política
Importa salientar que o ciclo da referida figura é apenas para ilustrar o elo que
perpassa as dimensões, não necessariamente quer dizer que estas findam num sistema cíclico,
ao contrário, enveredam para um contexto que exige o estabelecimento de inter-relações entre
si e com as políticas públicas, porquanto a sustentabilidade destas, visando o cenário da
equidade e justiça social.
As várias dimensões da sustentabilidade possuem uma compreensão específica e
estão relacionadas com um viés particular da sociedade. Embora, na leitura conjuntural destas,
fica notório que o objetivo, é a necessidade de busca por uma sociedade sustentável nas suas
diferentes instâncias e, certamente, a reais efetividades das políticas públicas são de extrema
importância para este processo.
A política pública de Assistência Social localizada no bojo do sistema de proteção
social brasileiro é configurada nesta direção. Ou seja, por meio da sustentabilidade de seus
programas, projetos e serviços socioassistenciais enseja horizontes de desenvolvimento
humano e social o que pressupõe um atendimento qualificável para seus beneficiários. Não
obstante esta compreensão é processual e dialética, pois a concretização de todas as
intervenções da Assistência Social esbarra num emaranhado de burocracias, porquanto, não se
efetivando de maneira total. Assim, o próximo tópico busca aproximar as discussões sobre
sustentabilidade como diretriz de análise para políticas públicas.
49
Para que se possa fazer uma análise da política pública de Assistência Social tendo
como parâmetro a sustentabilidade social, faz-se importante, a priori, dialogar sobre os
aspectos conceituais da categoria políticas públicas no sentido de desvelar a relação profícua
entre estas, assim como problematizar o quão é importante atualmente elaborar, implementar
e operacionalizar políticas públicas de forma sustentável com vistas a um cotidiano equânime,
de justiça social, com bases e fundamentos teórico-metodológicos que efetivamente
contribuem no processo de construção da sustentabilidade.
Pereira (2009) explica que as políticas públicas tratam-se de uma questão relacional
entre Estado e Sociedade Civil. Assim, são políticas destinadas para as populações localizadas
em territórios específicos, de forma que estas possam ter melhores condições de vida e acesso
aos seus direitos já assegurados em lei.
Teixeira (2002a, p. 2), assim sistematiza o conceito de políticas públicas:
Com base nos argumentos do autor, é possível ponderar que as políticas públicas são
ações intencionais do Estado frente às questões que envolvem a sociedade civil. Assim, são
categorizadas em planos, programas, projetos, serviços e ações cujas problemáticas que
demandam resolutividade precisam advir do cotidiano das populações e o Estado, por sua vez,
deve responsabilizar-se pela sua efetividade.
Em consonância com o termo, Sétien e Arriola (apud PEREIRA, 2009, p. 95)
afirmam que “são os programas, projetos e serviços sociais (especialmente estes últimos), [...]
[os responsáveis por] materializar, de fato, as propostas, as ideias, os desenhos de ação, os
objetivos e meios especificados pelas políticas públicas”.
Entende-se que desde o século XVIII quando o mundo presencia as primeiras crises
do capital, de cunho expressamente econômico, e que vão perdurar até o presente momento
num processo cíclico13, paralelo a isto se presenciam discussões sobre a necessidade em
13
De acordo com Netto (2013), pode-se dizer que três etapas marcam as crises cíclicas estruturais do capital. De
1873 a 1886; 1889 a 1945; e a última se intercala desde então até 2008, impactando diretamente nas condições
de trabalho da classe trabalhadora, como é o caso do Serviço Social (informação verbal – Em Palestra proferida
no 14º CBAS, outubro de 2013).
50
Diante das colocações tecidas, vale registrar dois conceitos categóricos que se inter-
relacionam nesse processo de discussão das políticas públicas e sua interface com a
sustentabilidade. O primeiro é referente ao Estado14, que na conjuntura capitalista trata-se de
uma “expressão política da dominação de classe e está a serviço da classe economicamente
mais forte, e não ao interesse comum ou vontade geral” (ARCOVERDE, 2010, p. 37). O
segundo diz respeito à sociedade civil, que na concepção de Cohen e Arato (apud
TEIXEIRA, 2002b) compreende uma pluralidade, famílias, grupos informais, associações
voluntárias, instituições de cultura e comunicação, enfim, os segmentos que aspiram por uma
intervenção qualificada do Estado.
Dependendo do contexto e se o Estado está em crise financeira, logo, não consegue
dar conta de responder às demandas da sociedade civil, “[...] sobretudo aquelas dos segmentos
mais empobrecidos e dos que sofrem vários tipos de discriminação, aglutinando-se em torno
de suas carências e da defesa de seus direitos” (TEIXEIRA, 2002b, p. 24). Com base nas
arguições referendadas, afirma-se que a participação da sociedade civil é deveras relevante na
aplicabilidade das políticas públicas.
Em se tratando da materialização das políticas públicas, Gattai e Alves (2011, p.
164), asseveram que toda e qualquer política pública é concretizada no cotidiano dos
municípios envolvendo as áreas rurais e urbanas. Neste sentido, os autores a concebem “como
um programa, um projeto, uma decisão estratégica, ou seja, qualquer atividade governamental
que tenha impacto sobre a cidade”. Enfatizam ainda, a administração de uma cidade que vai
desde a ocupação territorial até os problemas de cunho social, econômico, cultural, geográfico
e ambiental são questões devidamente administradas por meio de políticas públicas.
Para o fim que se propõe, vale dizer que quando bem elaboradas e operacionalizadas
sob a perspectiva participativa – relação entre Estado e sociedade civil – caminham na direção
do desenvolvimento humano, social e sustentável, especialmente as políticas de cunho social,
já que visam o bem-estar da população tendo em vista o aceso aos direitos sociais
constituídos.
14
No sentido clássico da política, Arcoverde (2010) observa que a discussão do Estado está sintetizada em três
correntes sequenciais: a) concepção liberal defendida por Maquiavel, Hobbes, Locke e Kant; b) concepção
democrático-burguesa com destaque para Rousseau, Tocqueville e Hegel; c) e ainda aqueles da linha marxiana
como Marx, Engels, Lênin e Gramsci. Neste sentido, a autora explicita que no discurso dos chamados
“clássicos” a relação entre Estado e sociedade permeia um caminho de reflexões que variam desde a ordem
política até as particularidades dos indivíduos, incluindo a reflexão sobre as propriedades, as desigualdades, as
religiões entre outros. Maiores detalhes ver: ARCOVERDE, Ana Cristina Brito. Notas sobre Estado e sociedade
nos clássicos da Política. In: Estado e Sociedade: contribuição ao debate sobre políticas públicas. Recife:
Editora Universitária da UFPE, 2010. p. 19-46.
52
Diante disso, com base em Cavalcanti (2002) entende-se que formular políticas
públicas hoje ou operacionalizar aquelas centradas no bem-estar da população, requer a
construção de uma base teórico-conceitual ancorada na sustentabilidade entendida na
perspectiva de mudança social, em vista do efetivo acesso por parte das populações às ações e
serviços concretizados pelas políticas públicas.
Para o referido autor, “o grande desafio do desenvolvimento sustentável deve ser
enfrentado por políticas inteligentes [...] que possam levar a uma melhoria real das condições
e vida [principalmente] das pessoas pobres [...]” (Idem, p. 28). Nessa ótica, a participação
acentua-se como uma ferramenta que, via de regra, contribui para o envolvimento dos setores
populacionais, criando não somente expectativas consistentes, mas fomenta a
responsabilidade de todos quanto às escolhas feitas.
Bellen (2007) reafirma esta discussão ao dizer que a busca pelo progresso em direção
à sustentabilidade é certamente uma escolha de todos os envolvidos, isto é, das organizações,
das comunidades, do Estado e dos indivíduos de um modo geral. Destarte, a participação
cidadã aparece como expoente de possibilidades para gestão das políticas públicas,
colaborando para um desenvolvimento que seja economicamente viável, socialmente justo e
ecologicamente equilibrado, conforme discorre Sachs (2008).
Nesses termos, concorda-se com Sachs (2009, p. 353-354) quando afirma que:
Creio que a política [pública] pesará cada vez mais nas nossas sociedades. Num
mundo complexo de opções múltiplas, em que se enfrentam forças contraditórias, há
pouco lugar para decisões, ideias tomadas em bases „objetivas‟, cientificamente
estabelecidas, [...]. Prefiro a isso um debate politico assumido, em que a busca de
soluções negociadas entre todos os atores do processo de desenvolvimento caminha
junto com o aperfeiçoamento das instituições democráticas e com a superação do
imediatismo imposto pelo ritmo dos prazos eleitorais.
15
Informação Verbal: em aula proferida no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na
Amazônia, 2012.
54
CAPÍTULO II
Este tópico faz um retrospecto sobre a Assistência Social no Brasil trazendo desde o
momento em que toda ação por ela realizada tinha por base a ótica do favor governamental.
Por entender a complexidade e a necessidade de aprofundamento teórico, estabeleceu-se
como marco histórico para o desenvolvimento da discussão os anos 30 do século XX e
percorre-se até o início dos anos 2000, período em que Assistência Social se consolida como
política pública de proteção social. A escolha temporal não é aleatória, uma vez que,
compreender a dinâmica sócio-histórica desta política significa trazer para o debate seus
avanços, potencialidades, limites e perspectivas de intervenção e com isso problematizar seu
caráter sustentável ou não de política pública.
No período de 1930 permeava no Brasil a lógica do laissez-faire, de modo que não
havia uma compreensão da pobreza enquanto expressão da questão social, esta era entendida
como “caso de polícia” e problematizada por meio de aparelhos repressivos do Estado sem a
intervenção de políticas públicas. Os indícios de mudança, conforme Pereira (2011), Behring
e Boschetti (2007), iniciam neste momento histórico, pois, tal período é considerado o limite
de discussão sobre as políticas de proteção social, porém, ainda com um cariz eminentemente
assistencialista, de caridade, filantropia e solidariedade religiosa.
Em estudo sobre a experiência brasileira de proteção social em períodos históricos,
Pereira (2011) sistematiza quatro períodos que demarcam esta trajetória, os quais serão
utilizados neste trabalho para visualizar a evolução da Assistência Social do plano da não
política para o plano da política pública.
O primeiro período transcorre de 1930 a 1964. Neste intervalo, a intervenção do
Estado fundamentou-se no ideário populista, com laivos registros desenvolvimentista. Na
época, um dos maiores governantes foi Getúlio Vargas que propôs a criação do Estado Novo.
Contudo, Pereira (2011), Behring e Boschetti (2007) argumentam que apesar das investidas,
sobretudo à classe empobrecida, o governo não deixou de ter uma intervenção estatal de
cunho ditatorial.
No que se refere à Assistência Social, sua primeira grande regulação aconteceu em
1938 com a criação do Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS. Segundo Mestriner
(2001, p. 57-58), “o Conselho é criado como um dos órgãos de cooperação do Ministério da
Educação e Saúde [...], sendo formado por figuras ilustres da sociedade cultural e filantrópica
e substituindo o governante na decisão quanto a quais organizações auxiliar”.
57
O CNSS vai selar as relações entre Estado e os segmentos da elite, os quais vão
analisar o mérito de concessão dos auxílios financeiros às organizações da sociedade civil
destinados ao amparo social. Difunde-se, assim, a ideia de intervenção da Assistência, sendo
que a ação do Estado não se desvincula da ótica benemérita aos sujeitos situados à margem da
sociedade.
Posteriormente, em 1942, a Assistência Social ganha sua primeira instituição
denominada de Legião Brasileira de Assistência – LBA a qual foi reconhecida como órgão de
colaboração ao processo interventivo do Estado. Conforme Sposati et al. (2010, p. 45-46), a
LBA constituiu-se como,
Na leitura de alguns autores (SPOSATI et al., 2011; COUTO et al., 2011), a LBA
chama atenção para o fato de que inaugura no Brasil o primeiro damismo16, onde a esposa do
Presidente, Darcy Vargas, assume a instituição com o objetivo de trabalhar serviços de
assistência, especialmente às famílias dos convocados para a II Guerra Mundial. Trata-se de
uma instituição que coloca em pauta o vínculo emergencial e assistencial, questões essas que
vão predominar na trajetória da Assistência Social e difundir-se como estigma nas Secretarias
Municipais de Assistência Social dos municípios brasileiros, visto que, em boa parte,
reduzem-se à prática do clientelismo e paternalismo, desconsiderando a ótica dos direitos.
Por volta de 1946, pós II Guerra Mundial, Sposati et al. (2008), enfatiza que a LBA
reformulou as ideias constantes em seu Estatuto e definiu como principal finalidade a defesa
da maternidade e da infância. Desse modo, afirmou-se no âmbito de instituição da área social,
embora tenha sido necessário buscar auxílio junto às escolas de Serviço Social que, naquele
período, estavam iniciando a legitimação da profissão de Assistente Social.
Os anos que perpassam entre as décadas de 50 a 60 são marcados por mudanças no
que concerne à presidência do Brasil, influenciando no próprio percurso da Assistência
16
O livro “O Sistema Único de Assistência Social no Brasil: uma realidade em movimento”, organizado por
Couto et al (2011) traz dados atuais sobre a operacionalização da política de Assistência Social nos municípios
brasileiros, em que se aponta o debate do primeiro damismo como uma questão recorrente na cena
contemporânea, sobretudo nos municípios dos Estados pesquisados: Pará, Maranhão, Pernambuco, São Paulo,
Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. O diferencial está na ideia de que as primeiras-damas atuais
procuram qualificar-se para o exercício da função administrativa ou empenhar-se em conhecer mais
proficuamente a referida política. É uma nova roupagem, porém, não deixa de ser uma atuação de primeira-
dama. No caso dos municípios de Maués e Parintins, lócus do estudo em questão, as Secretárias Municipais de
Assistência Social não são esposas dos prefeitos, contudo, mantêm vínculo familiar sendo irmãs dos mesmos.
58
Social, apesar de sua essência não desvencilhar-se do sistema de ajuda e favor. O país teve
nesse intervalo temporal a gestão de Eurico Gaspar Dutra (1945-1950), cujo governo
centralizou sua ação em prol de uma redemocratização no âmbito de intervenções do Estado;
governos provisórios (1954-1956) que, quase nada mudou na forma de organização do país;
Juscelino Kubitschek (1956-1961) propôs o projeto desenvolvimentista e segundo Almeida
(2006), não passou de uma ilusão, pois sua base estava ancorada em discursos nacionalistas e
de dominação burguesa; Jânio Quadros e João Goulart (1961-1964) defendiam reformas de
base no governo, precisamente em razão da estagnação econômica, resultado, dentre outros
motivos, do endividamento externo e pressão inflacionária.
O segundo período proposto por Pereira (2011) vai de 1964 a 1985. Neste, registra-
se um debate de proteção social arraigado no regime tecnocrático-militar, incluindo a fase de
abertura política. O golpe militar de 1964 incidiu diretamente na relação Estado-Sociedade
Civil, haja vista as extensas manifestações dos movimentos sociais em prol de legitimação
dos direitos humanos, estes, relegados a uma inópia atuação do Estado.
Com intuito de aprimorar os serviços desenvolvidos pela LBA houve a necessidade
de reformulações em seus estatutos. Assim, em 1966 tal instituição passa por mudanças a fim
de se adequar aos mecanismos básicos de política social. Desta feita, é transformada em
Fundação e vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência Social. Em seguida, em 1974,
sob o comando de Geisel, a ditadura militar cria o Ministério da Previdência e Assistência
Social – MPAS, este comporta em sua estrutura uma Secretaria de Assistência Social, a qual
terá como principal missão a formulação de estratégias no campo de ataque à pobreza
(SPOSATI et al., 2008). Já em 1977 a LBA incorpora-se ao Sistema Nacional de Previdência
e Assistência Social – SINPAS.
Conforme Mestriner (2001) é importante notar que essa caminhada de mudanças no
campo da Assistência Social justifica-se pela necessidade de aprimoramento no que tange sua
intervenção junto às populações, especialmente aquelas atingidas parcialmente pelos serviços
oferecidos. O discurso do Estado era de que Assistência Social vivenciava outro momento,
deixando de ser simplesmente filantrópica e assentava-se cada vez mais nas relações sociais
de produção. Contudo, a referida autora assevera que:
O PND emerge para alavancar a Assistência Social, embora deixasse claro que a
mesma deveria voltar-se somente para as populações mais carentes, social e economicamente.
Ademais, naquela época já se pensava na família como principal alvo da Assistência Social,
mas não deixava claro o aspecto conceitual de família, fazendo-se entender o conceito
tradicional de pai-mãe-filhos.
Diante desse contexto, professoras da PUC/SP publicaram, em 1985, a primeira
edição do livro “Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: uma questão em
análise”, resultado de pesquisas acalentadas durantes anos e que até hoje é referência
expoente na discussão sobre o tema. Segundo Sposati (2011, p. 42), “o texto, com os limites
de um debate inaugural, se propôs a fundamentar a assistência social como objeto de estudos
e pesquisas”. Este, de alguma forma, em muito contribuiu para posteriormente o surgimento
de outros textos que tratassem da Assistência Social e a importância de tornar política pública
sob a responsabilidade do Estado.
O terceiro período sinalizado nos estudos de Pereira (2011) compreende de 1985 a
1990. Durante estes cinco anos, as políticas de proteção social estiveram em debate na ótica
de transição para uma democracia liberal, ou ainda Nova República. Assim, neste período,
considera-se que a Assistência Social avançou qualitativamente na medida em que passa a ser
considerada política pública. Sobre isso, a referida autora destaca que:
Data dessa época a inclusão, pela primeira vez na história política do país, da
assistência social (com a sua proposta de satisfação de „mínimos sociais‟) numa
Constituição Federal, na condição de componente (integral e endógeno) do Sistema
de Seguridade Social e de direito de cidadania (Idem, p. 148).
O grande feito de discussão que perpassa nos últimos anos da década de 80 diz
respeito à criação e aprovação da Constituição Federal – CF de 1988 oficializando o triângulo
da Seguridade Social17 formado pela Saúde, Previdência e Assistência Social. Vale salientar
que esta conquista é resultante de um processo histórico de lutas sociais.
O Art. 203 da CF explicita o caráter de política da Assistência Social ao preconizar
que será destinada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição financeira,
cujos objetivos são:
17
Em seu Título VIII, Capítulo II, Art. 194, a CF preconiza que: “A seguridade social compreende um conjunto
integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos
à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 2010, p. 39).
61
redução dos gastos públicos, desemprego em grande escala e, ainda, enfraquecimento das
organizações trabalhistas18.
No caso da Política de Assistência Social, a década de 90 trouxe avanços
significativos, pois foi o período de criação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS
(1993), do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS (1994) e da primeira Proposta
da Política Nacional de Assistência Social – PNAS (1996). Salienta-se que neste momento o
país teve como governante Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, os
quais protagonizaram um “avanço-conservador” no âmbito da proteção social brasileira.
A promulgação da LOAS regulamentou os artigos 203 e 204 da CF ao definir em seu
Art. 1º que “A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um
conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento
às necessidades básicas” (BRASIL, 1993, p. 1).
Decerto que a LOAS19 inovou ao reafirmar a Assistência Social como política de
direito e responsabilidade do Estado. Assim, passa a ser uma política de defesa e de atenção
dos interesses e necessidades sociais, sobretudo dos segmentos mais empobrecidos da
sociedade. Para Yazbek (2008), configurou-se como estratégia fundamental no combate à
discriminação e à subalternidade econômica, cultural e política que permeiam grande parte da
população brasileira.
Uma das questões importantes destacadas na LOAS diz respeito à publicização das
ações no âmbito da Assistência Social, processo este que está diretamente ligado aos
Conselhos sejam eles municipais ou estaduais. Desse modo, a LOAS incitou a criação do
CNAS (1994) o qual substituiu o antigo CNSS.
Raichelis (2011) faz uma análise minuciosa sobre o CNAS e afirma que sua criação
foi minada por debates, conflitos e em vários momentos chegou a ameaçar sua própria
constituição, visto que ia de encontro às proposições estabelecidas pelo Ministério de Bem-
Estar Social, mas precisamente no governo Itamar Franco.
De acordo com a referida autora é “inegável a importância da criação de conselhos
institucionais no campo das políticas sociais, como expressão da conquista da sociedade civil
organizada de novos espaços de participação social e exercício da cidadania” (idem, p. 133).
18
Não cabe aqui aprofundar a discussão sobre o fenômeno do neoliberalismo e suas implicações no mundo do
trabalho. Detalhes encontram em: HARVEY, D. A Condição Pós-Moderna, 2001; LAURELL, A. C. (Org.).
Estado e Políticas Sociais no Neoliberalismo, 2008; ANTUNES, R. Os Sentidos do Trabalho, 2009; entre outros.
19
Importa frisar que, em 2011, a LOAS passou por mudanças em artigos, parágrafos e alíneas em razão da
criação do SUAS que abarca todos os documentos atuais quanto à implantação, implementação e
operacionalização da política de Assistência Social.
63
Eles funcionam como um dos meios de se fazer controle social das ações propostas pelas
políticas sociais a exemplo da Assistência Social.
O ano de 1995 é marcado pela I Conferência Nacional de Assistência Social que se
assentou como marco nas discussões sobre a supracitada política. Posteriormente, as
conferências assumem importância consolidando atualmente em sua IX edição. Ainda em
1995 foi extinta a LBA e o Ministério do Bem-Estar Social, os quais foram substituídos pela
Secretaria de Assistência Social – SAS, assim como foi o ano em que FHC cria o Programa
Comunidade Solidária – PCS20.
Segundo Raichelis (2011), o PCS foi alvo de severas críticas entres os pesquisadores
da área da Assistência Social como Sposati, Pereira, Yazbek e Faleiros. Isso porque a criação
deste Programa caminhava na contramão do que regia a CF de 1988 quando trata da
Seguridade Social em seu processo de proteção social e garantia dos direitos. Para a autora:
Telles (1998, p. 19), vai além desta assertiva e tece criticamente que, “longe de ser
fato episódico ou perfumaria de primeira dama, opera como uma espécie de alicate que
desmonta as possibilidades de formulação da Assistência Social como política pública regida
pelos princípios universais dos direitos e da cidadania”. Assim sendo, os objetivos do PCS
rompiam com as prescrições constitucionais, além de passar por cima dos instrumentos
previstos na LOAS, por consequência feria os direitos e a lógica da democracia.
O PCS foi certamente um retrocesso no debate sobre os direitos sociais no campo da
Seguridade Social. A Assistência Social que aos poucos vinha escalando com intuito de se
afirmar política pública de proteção social, sofre com a criação do PCS a retomada da lógica
do primeiro-damismo, ferindo os prescritos constantes na LOAS que acabava de ser
consolidada. Para Netto (1999), a era FHC foi exatamente o “desmonte dos direitos sociais”.
Quanto à definição de uma política nacional observa-se que foi longo e processual
seu caminho de formulação. Em julho de 1996, a SAS apresentou o primeiro texto como
20
Conforme Raichelis (2011), o PCS foi anunciado por FHC sob o Decreto-Lei nº 1.366/1995 e pelo Decreto-
Alto s/nº de 1995. Foi presidido pela primeira-dama. Seus objetivos pairavam sobre: melhoria do gerenciamento
de programas sociais universais e a promoção da participação da sociedade no controle da execução; apoio a
experiências e projetos de governo e da sociedade em áreas de concentração da pobreza potencializando
iniciativas descentralizadas e em parceria com a sociedade que possam ser multiplicadas; identificação de novas
prioridades e elaboração de propostas de ação em relação a temas emergentes e grupos sociais vulneráveis.
64
Proposta Nacional de Política de Assistência Social. Contudo sua aprovação ocorreu somente
em 1998, cinco anos após a regulamentação da LOAS. Raichelis (2011) argumenta que em
razão do contexto econômico e político da época, tal política apresentou-se insuficiente, pois
não se inseria num plano global e estratégico de intervenção social frente às diferentes
expressões da pobreza no país. Ainda em 1998 foi criado a primeira Norma Operacional
Básica de descentralização visando o repasse do Fundo Nacional de Assistência Social para
Estados e Municípios.
Seguindo esta linha de análise, os anos 2000 são marcados por turbulências no
âmbito político brasileiro, visto que é a passagem da era FHC para a administração de Luís
Inácio Lula da Silva, vinculado ao Partido dos Trabalhadores – PT. Os debates midiáticos,
acadêmicos e as produções teóricas declaradas nesse período apostavam numa grande
transformação no país no que tange às questões econômicas e sociais. Decerto que houve, mas
não como a população e os militantes do PT esperavam.
Neste contexto, a política de Assistência Social se fortalece e torna-se foco do
Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, criado em 2004 na gestão PT como uma
aposta de combate à extrema pobreza no país.
De maneira bastante otimista, Yazbek (2008, p. 95) afirma que:
Pelo exposto é possível afirmar que a Assistência Social muito já avançou no seu
processo de consolidação de política pública afastando-se da ideia de não política. Ao ganhar
o posto de direito social confirma sua necessária intervenção na realidade cotidiana das
populações que, para tanto, requer um olhar mais atuante do Estado como forma de qualificar
os meios para que esta possa de fato contribuir nas problemáticas concernentes à questão
social. Sua efetivação e maior direcionamento para todos os cidadãos brasileiros emerge com
a aprovação da PNAS e do SUAS, vistos como principais ganhos da Assistência Social no
limiar do século XXI. É sobre isso que o tópico a seguir aborda, tratando seu processo de
formação.
65
21
A CIT é um espaço de articulação e interlocução entre os gestores federal, estaduais, do Distrito Federal e
municipais, para viabilizar a política de assistência social, caracterizando-se como instância de negociação e
pactuação quanto aos aspectos operacionais da gestão do SUAS, cuja composição reúne 15 membros titulares
com seus suplentes representando a União, os Estados e o Distrito Federal, e os Municípios. Já a CIB envolve
apenas gestores municipais e estaduais da política de assistência social, assim, sua composição reúne 12
membros titulares com seus suplentes do Estado e dos municípios (Art. 134 e 136, NOB/SUAS, 2012).
66
Isso significa dizer que a gestão do SUAS vem sendo desafiada no processo de
construção desse sistema que renova o contexto operacional da Assistência Social. Bem
observado por Yazbek (2008), sua concretização de política pública de proteção social
direcionada, sobretudo, aos interesses das classes subalternizadas está situada num cenário de
profundas contradições e complexidades do sistema capitalista, portanto, para concretizar-se
no e para o público na atual conjuntura é necessário a construção de estratégias e articulação
efetiva entre as esferas governamentais, mas não só, a sociedade civil organizada deve se
fazer presente em todo este processo.
Importa ressaltar que a proteção social discernida na PNAS (2004) toma por base o
conceito sinalizado nos estudos de Di Giovanni (1998), o qual a compreende como formas
institucionalizadas pelas sociedades no intuito de proteger, se não todos, pelo menos parte de
seus membros, principalmente os que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Box 1
Sobre o conceito de Vulnerabilidade Social
No âmbito acadêmico, o conceito de vulnerabilidade tem sido amplamente discutido de modo que não
há um significado único para o termo. Trata-se de um conceito complexo e os autores que abordam esta
expressão, o reconhecem como um campo multifacetado de interpretações. Por isso, é necessário elucidar a
partir de que concepção se dialoga no contexto da política de Assistência Social.
Abramovay et al. (2002, p. 13), ao realizar um estudo sobre juventude, violência e vulnerabilidade
social na América Latina, compreende que tal expressão é o “resultado negativo da relação entre a
disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o acesso à
estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade”.
Conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2007), o termo
vulnerabilidade perfila entre a precariedade do trabalho, a fragilidade dos suportes advindos do Estado,
consequentemente a falta de proteção social. Neste ínterim, a vulnerabilidade de um indivíduo, família ou
grupos sociais concentra-se na maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu bem-estar.
Para Marandola Jr. e Hogan (2006), a expressão vulnerabilidade é mencionada, hoje, num cenário
extremamente dinâmico e, na maioria das vezes, se agudiza nos estudos sobre a pobreza que envolve a
exclusão/inclusão, marginalidade, apartheid, periferização, segregação, dependência, bem como a diminuição
de renda ou perda de capital social, o que implica na construção da cidadania.
Embasado nestes e em outras aproximações conceituais, pode-se mencionar as sinalizações de
vulnerabilidade social citadas na política de Assistência Social. A PNAS (2004) não conceitua explicitamente
o significado de vulnerabilidade social, mas descortina que as situações para tal questão podem decorrer de
diversas facetas, tais como: da pobreza; inserção precária ou não no mercado de trabalho formal e informal;
privação, referente à ausência de renda e precário ou nulo acesso aos serviços públicos; fragilização de
vínculos afetivos, sejam eles relacionais ou de pertencimento social decorrentes de discriminações etárias,
étnicas, de gênero ou por deficiência, entre outras. São esses elementos que desagregam o tecido social e
clamam por proteção social do Estado.
67
Na trilha deste pensamento, Jaccoud (2009) afirma que a proteção social pode ser
definida como um conjunto que abarca iniciativas públicas ou estatalmente reguladas com
vistas à provisão de serviços e benefícios na tentativa de enfrentar situações de risco ou
privações sociais. Desta feita, observa-se que tal proteção agrega tanto o papel do Estado
quanto da sociedade civil, categorias estas imprescindíveis para uma implementação
qualificada das políticas sociais públicas.
A fim de atender as contingências sociais e à universalização dos direitos sociais, a
PNAS (2004) ratifica que a Assistência Social deve ser realizada de forma integrada às
políticas setoriais locais, tais como saúde, educação, habitação entre outras, levando em
consideração as desigualdades socioterritoriais e a busca pelo seu enfrentamento. Neste
sentido, a PNAS (2004, p. 27) pauta-se nos seguintes objetivos:
fragmentação dos segmentos populacionais. Carvalho (2005) menciona que a partir da década
de 80 as políticas públicas transitam para um campo de mudanças no que concerne à atenção
aos usuários, porém, tal fato ocorria de forma mínima, particularizando na mulher, criança,
adolescente, trabalhador, ou seja, não abarcando todos de forma conjunta.
É com a PNAS e o SUAS que se observa uma leitura macro de atenção aos usuários
das políticas públicas, pois, torna explícito e chama a responsabilidade para a política de
Assistência Social ao afiançar que seu público-usuário são:
Esta assertiva conceitual evidencia que a Assistência Social tem, no seu processo de
operacionalização, muitos desafios e possibilidades referentes ao trabalho com os usuários da
política, isso porque, engloba um número expressivo de questões que perfilam o cotidiano de
uma parcela significativa da população brasileira. No dizer de Couto et al. (2011, p. 40), são
necessidades objetivas e subjetivas baseadas nas condições de pobreza e vulnerabilidades cujo
patamar somam-se as “[...] dificuldades materiais, relacionais, culturais que interferem na
reprodução social dos trabalhadores e de suas famílias”. Deste modo, compreendem que trata-
se de uma pobreza multidimensional de risco material, pessoal, bem como social.
Mister se faz ressaltar o debate sobre o termo “pobreza” no âmbito da política de
Assistência Social, haja vista que, segundo Yazbek (2009), falar de pobreza no contexto da
dinâmica socioassistencial prediz ir além da questão econômica, ou seja, envolve também os
meandros de carência de direitos, de possibilidades, de informações, entre outros fins.
Em um instigante artigo publicado recentemente, arremata a autora:
Abordo a pobreza como uma das manifestações da questão social, e dessa forma
como expressão direta das relações vigentes na sociedade, localizando a questão no
âmbito de relações constitutivas de um padrão de desenvolvimento capitalista,
extremamente desigual, em que convivem acumulação e miséria. Os „pobres‟ são
produtos dessas relações, que produzem e reproduzem a desigualdade no plano
social, político, econômico e cultural, definindo para eles um lugar na sociedade.
(YAZBEK, 2012, p. 289).
69
22
Conforme a PNAS (2004) a proteção social especial deve priorizar e serviços de abrigamento e acolhida, em
particular para aqueles indivíduos que por diversos motivos não contam mais com a proteção e o cuidado dos
familiares.
70
Serviço
Usuários Objetivo Central
Socioassistencial
Famílias em situação de vulnerabilidade Fortalecer a função protetiva das
social decorrente da pobreza, do precário ou famílias, prevenir a ruptura de seus
Serviço de Proteção
nulo acesso aos serviços públicos, da vínculos, promover o acesso e usufruto
e Atendimento
fragilização de vínculos de pertencimento e de direitos, e com isso contribuir na
Integral à Família –
sociabilidade e/ou qualquer outra situação de melhoria da qualidade de vida.
PAIF
vulnerabilidade e risco social residentes nos
territórios de abrangência dos CRAS.
Crianças de até 06 (seis) anos; Crianças e Complementar o trabalho social com
Serviço de adolescentes de 06 (seis) a 15 (quinze) anos; famílias de modo a prevenir a
Convivência e Adolescentes e jovens de 15 (quinze) a 17 ocorrência de situações de risco social,
Fortalecimento de (dezessete) anos; Idosos(as) com idade igual e assim fortalecer a convivência
vínculos – SCFV ou superior a 60 (sessenta) anos, em situação familiar e comunitária.
de vulnerabilidade social.
Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas Visa a prevenção de agravos que
Serviço de Proteção que vivenciam situação de vulnerabilidade possam provocar o rompimento de
Social Básica no social pela fragilização de vínculos vínculos familiares e sociais dos
Domicílio para familiares e sociais e/ou pela ausência de usuários, assim, busca a promoção do
pessoas com acesso a possibilidades de inserção, acesso de pessoas com deficiência e
deficiência e idosas – habilitação social e comunitária. idosas aos serviços de convivência e
SD fortalecimento de vínculos e a toda rede
socioassistencial.
Quadro 3 – Serviços Socioassistenciais da Proteção Social Básica segundo o SUAS.
Fonte: Organização do pesquisador com base na Tipificação Nacional de 2009.
Entre estes serviços, o PAIF é o único que já fazia parte da proteção social básica
antes da aprovação da presente Resolução e o mais presente nos municípios brasileiros, visto
que, segundo a cartilha “Trabalhar na Assistência Social em defesa dos direitos da seguridade
social” publicada em Março de 2011, o PAIF aparece com 85,5%, seguido do Serviço para
Idosos, 84%, e Plantão Social, 67,9%, entre outros. Os outros dois (SCFV e SD) estão em
processo de implementação nos municípios e as Secretarias Municipais de Assistência Social
devem, obrigatoriamente, fazer o reordenamento socioassistencial, enquadrando os diversos
serviços realizados somente nos três aludidos no quadro 03.
De acordo com a PNAS (2004), os serviços de PSB devem, obrigatoriamente, ser
executados nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), bem como em outras
unidades básicas e públicas de alcance da política de Assistência Social. O CRAS constitui-se
numa unidade pública estatal descentralizada. Sua implantação deve estar de acordo com os
índices de vulnerabilidade e riscos sociais em territórios específicos e abarca um total de até
71
1.000 famílias atendidas por ano. Por fim, se caracteriza como a principal porta de entrada do
SUAS no que concerne ao atendimento dos usuários da Assistência Social.
Uma análise crítica sobre a implantação dos CRAS diz respeito à sua estrutura física.
Materiais já elaborados pelo MDS indicam toda a descrição de construção e organização de
um CRAS, contudo, a realidade brasileira diagnosticada em pesquisas acadêmicas e relatórios
do MDS e CFESS deixam claro que um CRAS com toda sua estrutura necessária como deve
23
ser, parece ainda ser utopia! . Ou seja, algo a ser concretizado. Por outro lado, entende-se
este contexto numa via processual a qual enfrenta limitações da própria lógica organizacional
do sistema capitalista imperante nesta sociedade.
De acordo com a PNAS (2004) todos os programas, projetos, benefícios e serviços
no nível de PSB devem estar articulados com as demais políticas públicas, pois dessa maneira
podem-se alcançar resultados mais satisfatórios e atender as reais necessidades dos usuários
da política, garantindo a sustentabilidade das ações e dos serviços socioassistenciais. Assim,
pode contribuir para o processo de inclusão e evitar que os sujeitos, sejam eles individuais ou
coletivos tenham seus direitos violados.
Vale registrar que os Serviços de Proteção Social devem garantir um leque de
seguranças, as quais funcionam como estratégias para a redução ou prevenção dos riscos e
vulnerabilidades sociais aglutinadas no campo da Assistência Social. Destarte, a PNAS
(2004) e o SUAS esclarecem que tais seguranças são:
23
Existe uma vasta publicação no site do MDS sobre a Assistência Social, sendo algumas publicações
concernentes ao trabalho realizado nos CRAS e o funcionamento dos mesmos no contexto dos municípios.
Detalhes, ver: www.mds.gov.br, link da Assistência Social.
72
O reforço da abordagem familiar no contexto das políticas sociais, [...] não apenas
na assistência social requer, portanto, cuidados redobrados para que não se
produzam regressões conservadoras no trato com as famílias, nem se ampliem ainda
mais as pressões sobre as inúmeras responsabilizações que devem assumir,
especialmente no caso das famílias pobres (CAPACITASUAS, 2008, p. 59).
perspectiva territorial presente na PNAS (2004) coloca a necessidade de que as ações a serem
planejadas precisam levar em consideração as questões particulares que envolvem o local de
atuação, o que coaduna com a perspectiva do território embasado na ideia do espaço habitado
e usado, fruto das relações sociais estabelecidas entre os sujeitos que nele habitam.
Para finalizar este tópico, cabe ainda discutir dois elementos que se fazem de
extrema relevância no atual processo de operacionalização da política de Assistência Social.
Trata-se das Normas Operacionais, NOB-RH/SUAS, de 2006, e a NOB/SUAS, de 2012.
A NOB-RH/SUAS, aprovada pela Resolução nº 269 de 2006 e publicada pela
Resolução nº 01, de 2007, representa a profissionalização da política de Assistência Social,
com vistas à qualidade dos serviços públicos garantidos pelo SUAS. Tal Norma aglutina a
compreensão da direção ética e política quanto ao processo de qualificação e oferta dos
serviços, bem como a consolidação do direito socioassistencial.
Com base em Ferreira (2011), a NOB-RH emerge na ótica de melhor conhecer a
gestão e os trabalhadores da Assistência Social, ao mesmo tempo, propor estímulos e
valorização profissional desses trabalhadores a partir de mecanismos permanentes de
formação e educação continuada. Sistematiza os procedimentos para composição de equipes
básicas de referência nos CRAS e CREAS, as quais se consolidam em um conjunto de
profissões, atribuições e competências, o que compreende a instalação da divisão sociotécnica
do trabalho no contexto do SUAS.
Trata-se de uma Norma que vai de encontro com o processo do vínculo empregatício
dos trabalhadores, especialmente porque no campo da Assistência Social, em boa parte dos
municípios brasileiros o trabalho se efetiva de forma precarizado, com muitos trabalhadores
sem vínculos permanentes. Sobre isso, a tabela a seguir explicita a situação dos trabalhadores
da Assistência Social.
Estatutários
Sem vínculo
Sem vínculo
permanente
permanente
por porte
absoluto)
absoluto)
sionados
sionados
Cargos
Cargos
Comis-
Comis-
(valor
(valor
populacional
Total
Total
CLT
CLT
(número de
habitantes)
Pequeno 1
(até 20.000) 52 836 34,3 6,4 22,4 36,9 72 580 34,8 6,5 19,3 39,4
Pequeno 2
(20.001 a 39 599 34,3 8,0 18,9 38,7 55 067 32,6 8,6 17,4 41,4
74
50.000)
Médio
(50.001 a 23 681 37,6 7,6 17,6 37,2 32 277 33,8 9,0 15,1 42,1
100.000)
Grande
(100.001 a 37 702 39,5 14,0 16,3 30,2 54 810 39,4 12,1 15,9 32,6
900.000)
Fonte: Sistematização do pesquisador a partir dos dados da MUNIC/IBGE (2012).
2012 - Norma
Operacional Básica –
NOB/SUAS
2011 – Algumas alterações
Alterações em partes na LOAS
do texto da LOAS - 2009 – Tipificação Nacional de
18 anos Serviços Socioassistenciais
2005 – Sistema Único de Assistência
Da Criação do Social; Norma Operacional Básica –
Conselho para o NOB/SUAS
Sistema Único de 2004 – Ministério do Desenvolvimento Social –
Assistência Social MDS; Política Nacional de Assistência Social -
– 67 anos PNAS
1998 – Primeira Norma Operacional Básica - NOB
1996 – Primeira Proposta da Política Nacional de Assistência
Social
1995 – Primeira Conferência Nacional de Assistência Social;
Secretaria de Assistência Social – SAS; Programa Comunidade
Solidária – PCS
1994 – Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS
1993 – Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS
1988 – Inserção da Assistência Social na Seguridade Social via Constituição Federal
1977 – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social - SINPAS
1974 – Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS
1942 – Legião Brasileira de Assistência – LBA
1938 – Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS
Fig. 2 – Evolução dos principais marcos legais da Assistência Social – 1938 a 2012.
Fonte: Elaboração do pesquisador a partir da fundamentação nos autores citados no capítulo II.
mas pretende-se observar a forma como esta evolui ao mesmo tempo em que, alcança maior
amplitude de proteção social junto aos beneficiários. Busca-se, ainda, a leitura do quanto é/ou
pode ser sustentável no que concerne ao conjunto de programas, projetos, benefícios e
serviços que desenham a política de Assistência Social.
Se em tempos remotos a Assistência Social era vista como prática de solidariedade e
ajuda, hoje, trata-se de uma política que busca o desenvolvimento social e humano dos
beneficiários com vistas ao protagonismo e construção da própria história, isto é, superação
das situações de vulnerabilidade e riscos sociais. Certo que para isso, a Assistência Social
deve operacionalizar-se de maneira sustentável tanto no âmbito do acesso, participação,
equidade, quanto na contribuição para o cotidiano das famílias e indivíduos que buscam a
intervenção desta.
Uma análise relacional entre o debate conceitual de sustentabilidade e as discussões
sobre a Assistência Social desvela que há uma relação entre as questões tratadas. Desde o
surgimento da LOAS, em 1993, passando pela PNAS, em 2004, e mais recentemente a
NOB/SUAS de 2012, pode-se observar afirmações sobre a política de Assistência Social que
convergem para uma perspectiva de sustentabilidade social. Segundo o Art. 7º, parágrafo III
da NOB/SUAS (2012, p. 18), a garantia de proteção socioassistencial compreende:
atuou na ótica do sistema capitalista, buscando riqueza material, cuja “[...] realidade oscila em
prosperidade e oportunidade para uns e miséria e dificuldades para a maioria” (p. 104).
Importa sinalizar, segundo Teixeira (1998), que falar de Assistência Social na
Amazônia requer, a priori, entender de que Amazônia se está falando, pois, sua constituição
sócio-histórica pressupõe tratá-la de forma heterogênea. Tal heterogeneidade se expressa na
exuberância e riqueza dos recursos naturais, no complexo da biodiversidade, no universo de
povos e culturas, na ganância do capitalismo que destrói e avança no desmatamento do verde,
na ideologia dos ditos projetos de desenvolvimento pensados na lógica da modernização
conservadora, na localidade onde estão concentradas as grandes hidrelétricas como as de
Tucuruí e Balbina, enfim, num mosaico que não permite entendê-lo de maneira homogêneo.
Logo, considera-se a importância da Assistência Social neste emaranhado de formação
regional, porém, acreditando na efetivação de uma política que deixa de entrar pela porta dos
fundos das políticas públicas e assume a perspectiva do direito e princípio da justiça social.
Neste cenário complexificado, Maciel (2002, p. 134) registra que:
urbano-industrial sul-sudeste”. Não obstante, para uma real descentralização como pede a
LOAS é preciso fiscalização aproximada e contínua, o que ainda não ocorre efetivamente.
Para a autora, o mais grave da Assistência Social no contexto amazônico é que:
São estas questões acima evidenciadas que não deveriam estar no processo de
operacionalização da política de Assistência Social na Amazônia, no entanto são identificadas
em vários contextos e com frequência. É preciso avançar, romper com a benesse do Estado,
consolidar a perspectiva do direito e contribuir de fato para o protagonismo e construção
social e humana das populações.
Afunilando a discussão, enquanto Amazônia Legal, este território abarca 08 (oito)
estados, a saber: Acre, Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins, Pará, Amazonas, Maranhão e
Mato Grosso. Dentre estes, o Amazonas aparece como sendo o maior em extensão territorial,
inclusive do Brasil, por possuir 1.559.161,682 km2, embora detenha um dos mais baixos
índices de densidade demográfica, ou seja, 2,23 habitantes por km2 (IBGE, 2010). Neste
território, existem 62 municípios com população de 3.483,985 habitantes, dos quais 2.755.490
vivem na área urbana e 728.495 na área rural.
De acordo com Souza (2011), este número expressivo de população que vive na zona
urbana do Amazonas tem sua maior incidência a partir da década de 70 do século XX, haja
vista as repercussões da criação da Zona Franca (ZFM) que apontava para a criação de
empregos, especialmente na capital Manaus. Embora se deva evidenciar que a ZFM é
idealizada “na perspectiva da integração nacional e de responder ao grande capital [...], sendo
um projeto que se constitui em um momento de expansão do grande capital, centrado no setor
produtivo de bens de consumo duráveis [...]” (MOURÃO, 2009, p. 19), neste caso não
atendendo as necessidades existentes na região de forma específica.
A lógica de centralização da população na capital do Estado do Amazonas revela,
segundo Souza (2011), a dinâmica de ação estatal que historicamente privilegiou o grande
centro urbano, em detrimento dos pequenos municípios, em que pese algumas iniciativas de
investimentos mais recentes, sobretudo na educação com a implantação/ampliação de
instituições universitárias estaduais e federais. Neste sentido, afirma a autora:
80
Tabela 2 – População do Estado do Amazonas, por divisão rural e urbana, e por distribuição de faixa
etária de idade em situação de extrema pobreza
População Total População com renda per capita abaixo de R$ 70,00
Urbana % Rural % Urbana % Rural %
298.771 46,06 349.923 53,94
2.755.490 79,09 728.495 20,91 Distribuição por faixa etária de idade – rural e urbana
0a4 5 a 14 15 a 19 20 a 39 40 a 50 65 ou
mais
101.659 201.899 74.169 176.372 75. 366 19.229
% 15,6 31,12 11,43 27,19 11,62 2,96
Total = 3.483.985 Total = 648.694
Fonte: Sistematização do Pesquisador a partir do Relatório de Programas e Ações do MDS, Estado do
Amazonas, com base nos dados do IBGE (2010).
deste público equivale a 53,94%, uma diferença de 7,88% em relação ao público urbano, cujo
percentual equivale a 46,06%. Vale registrar que neste universo de extrema pobreza os dois
mais altos índices por faixa etária de idade encontram-se no intervalo de 5 a 14 anos (31,12%)
e 20 a 39 anos (27,19%). Ou seja, tais dados refletem que no Amazonas há um grande número
de famílias com renda per capita de R$ 70,00, equivalendo a mínimas condições de vida.
Neste sentido, ao tomar como base os objetivos da Assistência Social contidos na
PNAS (2004), entende-se que se trata de uma política que, ao lado de outras políticas
públicas, deveriam assegurar para a população amazonense ações de intensa contribuição na
medida em que se preconizada sua operacionalização de forma equânime, justa e acessível
aos que dela necessitam. Entretanto, esta condição de política continua sendo desafio de
efetivação frente ao cenário de ofensiva neoliberal, onde não exclui a região amazônica.
Na mesma direção do contexto nacional, no Amazonas a política de Assistência
Social segue as regulamentações do SUAS para operacionalizar o trabalho desenvolvido pela
proteção social básica e especial. Neste caso a gestão é comandada pela Secretaria Estadual de
Assistência Social (SEAS). Em se tratando da PSB com foco nos CRAS, o Relatório de
Informações Sociais (2014), evidencia a existência de CRAS cofinanciados em todos os 62
municípios do Estado, o que significa um avanço neste item da política, contudo, é sabido das
dificuldades e fragilidades que, muitas vezes, permeiam a efetividade das ações e serviços
realizados nos CRAS das regiões brasileiras, especificamente no Amazonas (COUTO et al.,
2011; RIBEIRO, 2011; CAVALCANTE, 2012). A tabela na sequência sistematiza a
organização da Assistência Social quanto a instituições básicas no nível de Estado.
Assistência Social a nível estadual. O que se observa na pesquisa é que a SEAS ainda
encontra desafios de efetivar o Sistema de Informação, Monitoramento e Avaliação em todos
os 62 municípios do Estado, pois bem observado, trata-se de uma realidade macro que requer
diversas estratégias, precisamente para alcance daqueles territórios mais longínquos, como é o
caso das áreas rurais.
Cavalcante (2012), por sua vez, faz uma análise minuciosa sobre a operacionalização
da Assistência Social em Manaus a partir dos eixos estruturantes do SUAS. No decorrer do
seu trabalho, é possível observar que, assim como em outras localidades do país, em Manaus
a política de Assistência Social ainda tem muito a percorrer no sentido de consolidar-se
conforme prescreve seus documentos bases de orientação para operacionalização.
Como se pode observar no mapa, o Baixo Amazonas representa a área que fica no
extremo com o Estado do Pará. Em termos populacionais, os municípios perfilam entre
aqueles de pequeno porte: Urucará (17.094 hab.), São Sebastião do Uatumã (10.705 hab.),
Nhamundá (18.278 hab.), Boa Vista do Ramos (14.979 hab.) e Barreirinha (27.355 hab.);
Médio porte: Maués (52.236 hab.); grande porte: Parintins (102.033 hab.).
São municípios que, mesmo inseridos num território macro, possuem peculiaridades
e representações sociais no cotidiano das populações ali residentes. É fato que uma das
maiores questões que os mantêm em comum diz respeito ao fenômeno da enchente e vazante
dos rios, pois alguns são atingidos em maior grau e outros menos. Nesses casos, a política de
Assistência Social, em boa parte, acaba por assumir a base do “iceberg” juntamente com a
Saúde e a Defesa Civil já que os poderes governamentais (Estado e Município) passam as
responsabilidades a estas esferas, sobretudo quanto ao processo de doação de cestas básicas e
medicamentos em geral, ou ainda, criando programas pontuais de transferência de renda,
principalmente para as famílias das áreas rurais atingidas nos períodos da enchente.
Diante desse contexto, visando melhor compreender a dinâmica de organização e
operacionalização da política de Assistência Social nestes municípios, cuja leitura faz-se com
86
24
Durante a pesquisa de campo na cidade de Maués, buscou-se por materiais teóricos que abordassem a história
do município. Duas fontes consideradas principais foram encontradas. A primeira diz respeito a um documento
organizado pela Coordenação da Biblioteca Municipal “Almir Gomes de Almeida”. A segunda reporta-se ao
Livro “A História de Maués: um caminho através do tempo” organizado por Xico Gruber (2010).
87
Pereira da Cruz e José Rodrigues Preto, os quais juntaram 242 famílias de índios Maués e
Mundurucus para organizar a povoação, local este que já servira de território para a aldeia
mundurucu denominada de “Uacituba” (que significa terra grande e fértil) (CERQUA, 2009;
GRUBER et al., 2010).
Até meados de 1800, Luséa sofreu distintas mudanças no que concerne à sua
organização. Em 11 de Setembro de 1865, por meio da Lei nº 151, a sede de Luséa passou a
denominar-se Vila da Conceição. Já em 1892, por Lei Estadual nº 35, o município e sua sede
ganha a denominação de Maués. Contudo, somente em 1896 foi elevado à categoria de cidade
a partir da promulgação da Lei Estadual nº 137. Por volta de 1931, através do Ato nº 45,
Maués manteve-se como município, porém, em 1955 perde parte do seu território dando
origem ao município de Nova Olinda do Norte, e mais tarde, em 1981, perde novamente outra
parte a qual dará início do município de Boa Vista do Ramos (GRUBER et al., 2010).
Nesta trajetória de constituição do município e da cidade, os índios tiveram extrema
contribuição, pois são eles que estão na base e no desenrolar do processo mantendo, em
muitos momentos, sua tradição cultural do ser indígena. Da mesma maneira, o fruto do
guaraná assenta-se como partícipe dessa trajetória já que, a produção deste contribuiu e
continua ainda hoje participando da economia do município. Sobre isso, Guber et al (2010, p.
12), destaca que, em “1905 o Dr. Luiz Pereira Barreto, cientista, após pesquisa sobre o
guaraná, desenvolve o extrato que possibilita a fabricação do 1º refrigerante de guaraná com
sabor próprio denominado „SORF DRINK‟S‟ [...]. Até então o consumo era apenas de
produto em pó ou bastão”.
Um ponto que precisa ser evidenciado no bojo da formação de Maués diz respeito
aos Prefeitos que, juntamente com seus secretariados e sociedade civil estão na ponta de
discussão quanto à consolidação do município e efetivação das políticas públicas. Conforme
Gruber et al (2010), o ano de 1947 é marco de visualização do primeiro prefeito de Maués
representado pela figura de José Michiles. Até 2012, já se teve 15 (quinze) prefeitos que
comandaram a gestão maior do município.
Segundo o Censo Demográfico do IBGE (2010) este município possui população de
52.236 habitantes; destes, 25.832 (49,45%) são moradores da zona urbana e 26.044 (50,55%)
são habitantes da zona rural. Este número populacional faz de Maués o segundo maior
município em população do Território da Cidadania Baixo Amazonas. A figura sequenciada
localiza-o geograficamente com destaque para a área urbana.
88
Área urbana
AM
Maués
Entre 1991 e 2000 o IDHM passou de 0,333 para 0,454. Esse intervalo, segundo o
PNUD (2013), representa uma taxa de crescimento de 36,34%. De 2000 a 2010 o IDHM
passou de 0,454 para 0,588, isso quer dizer que houve uma taxa de crescimento de 29,52%. E
nas últimas duas décadas, de 1991 a 2010, Maués teve um incremento no seu IDHM de
76,58%, acima da média de crescimento nacional (47%) e acima da média de crescimento
estadual (56%). Com o IDHM atual de 0,588, Maués ocupa a 18ª posição em relação aos 62
municípios do Amazonas. E seu IDHM é baixo, porque está distante do nível muito alto que é
de 0,800 a 1,000.
Compreende-se que o IDH de um município é resultado de um conjunto de
elementos os quais implicam, num bom nível educacional, em maior esperança de vida e
renda familiar compatível com sua composição. Entre tais elementos, está o acesso,
participação e equidade dos sujeitos no atendimento das políticas públicas, questão essa que
não exime a Assistência Social.
Sobre o item renda, é possível afirmar, boa parte desta é advinda da inserção no
mercado de trabalho, seja ele formal ou informal. No caso dos postos de trabalhos formais,
em Maués houve um percentual maior e positivo entre 2004 e 2010. O gráfico abaixo
sistematiza as informações.
90
2000 1.856
1800
1600
1400
1200 1.031
1000
800
600
400 233
0 0 52 29 39 37 18 1 102 57 100 0 56
200
0
2004 2010
Gráfico 1 – Distribuição por postos de trabalhos formais por setor de atividades no município em 2004 e 2010.
Fonte: Relatório de Informações Sociais/IBGE (2010).
Pelo gráfico 1 nota-se que Administração Pública, tanto em 2004 quanto em 2010,
foi o setor com maior volume de empregos formais, com 1.031 e 1.856 postos de trabalho
respectivamente, seguido pelo setor de Comércio com 102 e 233 postos. Somados, estes dois
setores representavam, em 2010, 90,4% do total dos empregos formais do município. Por
outro lado, os setores que mais aumentaram a participação na estrutura do emprego formal do
município foram Agropecuária (de 0,00% em 2004 para 2,42% em 2010) e Comércio (de
7,85% para 10,08%). A que mais perdeu participação foi Indústria de Transformação de
4,00% para 1,25%.
No âmbito da cidade, cabe mencionar que assim como em muitas cidades do Brasil,
Maués também tem suas raízes e festas populares que demarcam, em boa parte, o quadro
cultural daquele território. Anualmente, os Festivais de Verão e do Guaraná são destaques em
nível nacional e esbanjam a riqueza cultural do município no segundo semestre do ano. A
fruta do guaraná utilizada em grande escala pelos moradores e contribuinte da economia na
cidade simboliza o nome de um dos festivais.
dos Padres Manuel Pires e Manuel Souza à ilha onde está localizada a cidade; outros como
Bittencourt (2001) explicita que sua base de fundação situa-se nas últimas décadas do século
XVIII. Contudo, é comum o fato de se encontrar nas literaturas que, assim como em Maués,
os primeiros habitantes foram os indígenas compreendidos em muitas etnias.
Conforme as assertivas de Bittencourt (2001), a sede atual de Parintins é uma das
ilhas onde viviam os índios Tupinambás que foram identificados a partir de expedições
enviadas ao Rio Amazonas ainda no período colonial a mando do Governo Português. Este
período remonta a 1796 quando, em uma das viagens de exploração à região amazônica,
ficaram neste território o Capitão José Pedro Cordovil juntamente com seus escravos e
agregados e, por consequência, dedicaram-se às atividades de agricultura, pesca, plantios de
tabaco e produção de farinha.
De posse daquela terra, Cordovil deu-lhe o nome de Tupinambarana, cuja origem
não se refere aos Tupinambás, mas, a um grupo de índios chamados Parintintin. Cerqua
(2009), diz que a palavra Tupinambarana significa “tupi não verdadeiro”, isto é, são os índios
derivados de mestiçagem. Dentre os grupos Tupis, existia um com denominação de
Parintintin. Este último nome dá origem ao nome Parintins.
Desde sua origem até a consolidação como município, Parintins recebeu diversas
denominações: Vila Nova da Rainha (1803), novamente Tupinanbarana (1832), Vila Bela da
Imperatriz (1848). Contudo, a criação da Província do Amazonas em 1850 vai trazer
mudanças quanto à organização dos territórios amazonenses, tanto que, em 15 de outubro de
1852 por meio da Lei nº 02, tal Vila passa à condição de Município da Província. Em 1880,
pela lei provincial nº 499, é mais uma vez emancipada, tornando-se agora Parintins
(BITTENCOURT, 2001; SAUNIER, 2003).
No que diz respeito à organização política de Parintins, o município tem, assim como
Maués, sua primeira “figura” de Prefeito no ano de 1947 em nome de Júlio Furtado Belém. A
partir de então, a gestão municipal foi sendo intercalada e até o momento, em torno de 15
prefeitos já comandaram aquele território.
A cidade de Parintins está situada à margem direita do Rio Amazonas, banhada por
águas barrentas formando uma ilha; possui área territorial de 5.952 km2 e fica distante da
capital Manauara a 369 km em linha reta e 420 km via fluvial. O acesso a esta localidade é
somente via aéreo com duração de 50min, e/ou fluvial com aproximadamente 18h de barco.
De acordo com o Censo Demográfico realizado pelo IBGE (2010), o município abarca uma
população de 102.033 habitantes; destes, 69.890 (68,50%) estão situados na zona urbana e
32.143 (31,50%) contabilizados na zona rural. Esta estimativa populacional faz de Parintins o
92
Área urbana
Parintins
AM
A cidade de Parintins possui atualmente vinte bairros, citam-se: Paulo Corrêa, Itaúna
II, Palmares, Itaúna I, Centro, São Benedito, Nossa Senhora de Nazaré, São José, Francesa,
Santa Rita, Santa Clara, Dejard Vieira, São Vicente de Paula, Vitória Régia, Emílio Moreira,
Raimundo Muniz, João Novo, Castanheira, Jacareacanga, Distrito Industrial. Dentre estes, o
Paulo Corrêa apresenta-se em maior número populacional (13.666 hab.), seguido do Itaúna II
(7.785 hab.), local onde encontra-se o CRAS/Núcleo Paulo Corrêa que foi instituição de
Pesquisa de Campo.
Algumas questões quanto aos bens e serviços sociais da área urbana podem ser
salientadas a partir do Relatório de Informações Sociais (2010). O fornecimento de energia
elétrica está presente praticamente em todas as residências; a rede de abastecimento de água
faz cobertura de 72,1% dos domicílios particulares permanentes; a coleta de lixo atendia
62,6% das residências; 20,5% das casas dispunham de esgotamento sanitário adequado; a taxa
de analfabetismo das pessoas com 10 anos ou mais registrou-se um total de 5,7%.
93
Depreende-se da tabela 5 que entre 1991 e 2000, o IDHM passou de 0,414 para
0,488, isto segundo o PNUD (2013), representa uma taxa de crescimento de 17,87%. Não
obstante, entre 2000 e 2010, o IDHM passou de 0,488 para 0,658, ou seja, uma taxa de
crescimento de 34,84%. Se analisados as duas últimas décadas, infere-se que Parintins teve
um incremento no seu IDHM de 58,94%, acima da média de crescimento nacional (47%) e
acima da média de crescimento estadual (56%).
Da mesma maneira que Maués, em Parintins as políticas públicas tem papel relevante
no que diz respeito à contribuição para um melhor IDH. No último tópico do Capítulo I da
presente dissertação, trabalhou-se sobre os aspectos conceituais e operacionais das políticas
públicas e pôde-se conferir que, estas, só de fato contribuem com a população se gestadas de
forma participativa – Estado e sociedade civil. Certamente que o nível bom ou ruim do IDH
não finda nelas já que outros determinantes também são contributivos para tal.
Ao se reportar à questão do trabalho na cidade de Parintins faz-se importante situar
tanto o trabalho formal quanto o informal, haja vista ser um dos pontos de debates nos vários
âmbitos da sociedade, a exemplo da academia, mídia e de produções científicas. Referente aos
postos de trabalho formal entre 2004 e 2010 o gráfico subsequente sistematiza a informação.
94
6000
4789
5000
4000
3000
2.078
2000
1089
658
1000
123 205 341 537
0 0 89 121 30 17 68 15
0
2004 2010
Gráfico 2 – Distribuição dos postos de trabalhos formais por setor de atividades no município em 2004 e 2010.
Fonte: Relatório de Informações Sociais/IBGE (2010).
25
Detalhes sobre o Festival Folclórico dos bois de Parintins podem ser encontrados em Braga (2002); Valentim
(2005); Nogueira (2006); Suzano (2006), entre outros.
95
locais que reclamavam visibilidade e valor em mercados mais amplos”. Foi uma maneira
encontrada para contornar diversas questões, sobretudo, de âmbito social e econômico.
A festa dos bumbás começou a ter maior ascendência na década 90, quando passa da
simples brincadeira de rua para tornar-se rivalidade na arena entre os bois (BRAGA, 2002;
NOGUEIRA, 2006), no mesmo período que o neoliberalismo acentua-se no cenário nacional
impactando na realidade local, já que empresas nacionais e multinacionais começam a
patrocinar a festa sob o discurso de que todo produto precisa alcançar o mercado.
O Festival é visto pelos segmentos populacionais como de suma importância para a
economia do município, contudo, boa parte desta economia é pontual e arrecadada sob o
trabalho informal e em precárias condições, exemplo disso são os trabalhadores que se
aglomeram no período da festa, não só de Parintins, mas também de outras localidades, como
tricicleiros, vendedores de churrascos, artesanatos, bebidas, alimentação, entre tantos outros.
Certamente que a informalidade e as precárias condições de trabalho não encerram em
Parintins, trata-se de uma problemática presente no território nacional.
O Plano de Assistência Social do Município nos termos que a lei estabelecer, terá
por objetivo analisar a problemática social do Município, visando medidas
preventivas para a recuperação dos desajustados sociais, tendo como meta o
desenvolvimento social, consoante previsto no artigo 203 da Constituição Federal.
26
Não foi possível ter acesso à Lei Orgânica do Município de Maués, visto que, a mesma foi reformulada em
Fevereiro de 2014 e, diferente de Parintins, ainda não é disponibilizada na internet.
98
vinculadas à realidade objetiva que vivenciam no seu cotidiano de trabalho, portanto, são
analisadas à luz do referencial teórico na perspectiva crítico-dialética.
O quadro na sequência apresenta um breve perfil de formação e situação institucional
dos informantes da pesquisa dos dois municípios correspondente à amostra proposta na
categoria dos Profissionais. Como forma de manter a ética e o sigilo da identidade dos
informantes, os nomes pessoais não serão citados, logo, o trabalho identifica-os com base em
suas atuações institucionais.
Serviço Social
Profissional da
Técnico 1 – e
Equipe Técnica Contrato
CRAS/ Especialização em 02 anos
de Referência Temporário
Maués Gestão de Políticas
(nível superior)
Públicas e Serviço Social
Profissional da Psicologia
Equipe Técnica Técnico 2 – e Contrato
03 anos
de Referência CRAS/Maués Especialização em Saúde Temporário
(nível superior) Pública (em andamento)
07 meses
(sendo 02
Subgestora – meses como
Subsecretária da Cargo
SEMASHT/ Enfermagem Secretária e
SEMASTH comissionado
Parintins posteriormente
assumiu como
Subsecretária)
PARINTINS
Coordenador – Contrato
Coordenador Serviço Social 01 ano
CRAS/Parintins Temporário
Profissional da Serviço Social
Técnico 1 –
Equipe Técnica e Contrato
CRAS/ 05 meses
de Referência Especialização em Saúde Temporário
Parintins
(nível superior) Pública da Família
Profissional da
Equipe Técnica Técnico 2 – Contrato
Psicologia 05 meses
de Referência CRAS/Parintins Temporário
(nível superior)
Quadro 6 – Perfil dos sujeitos da Pesquisa – categoria profissionais.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
Instituição/Informação Organizacional da
Maués Parintins
Política
Nível de Gestão Gestão Plena Gestão Plena
Instituição Responsável pela PNAS e o
SEMAS SEMASTH
SUAS
Situação do Espaço Institucional das
Alugado Alugado
Secretarias
Quantidade de CRAS 03 03 (sendo um na zona rural)
Quantidade de CREAS 01 01
Centro de Convivência do Idoso 01 01
Existência do PMAS para o triênio
Sim Sim
2014/2017
Quadro 7 – Localização da PNAS e do SUAS nos municípios.
Fonte: Pesquisa Documental e de Campo, 2013-2014.
Trata-se, portando, de um nível de gestão que exige uma estrutura operacional mais
ampla em termos de alocação de recursos financeiros, estruturação de equipamentos
sociais e instâncias de gestão e controle social, bem como uma política de recursos
humanos.
27
Detalhes sobre todos os requisitos para o nível de Gestão Plena podem ser encontrados na NOB/SUAS, de
2005, disponível no site do MDS, link da Assistência Social.
100
avanços. No entanto, Parintins, considerado de Grande Porte (haja vista ter mais de 101.000
mil habitantes), deve ter no mínimo 4 CRAS, porém, os dados apontam a existência de apenas
3, assim, precisa ampliar para cumprir o que determina a NOB/SUAS (2005).
A pesquisa de campo centralizou-se em um CRAS de cada cidade a fim de verificar a
dinâmica do trabalho realizado junto aos usuários. Em Maués selecionou-se o CRAS I, e em
Parintins elegeu-se o CRAS/Núcleo Paulo Corrêa, cujo critério de escolha foi maior tempo de
funcionamento e maior número de usuários atendidos. Desse modo, ao serem questionados
sobre a condição do espaço físico e infraestrutura para a realização do trabalho nos CRAS, os
profissionais entrevistados afirmaram que:
Subcategorias
retiradas a partir Transcrição de trechos das falas dos sujeitos da pesquisa
das falas
Nosso espaço físico é muito limitado. Não é aquilo que nós almejamos, ou seja,
aquilo que é o correto pra trabalhar, mas infelizmente é o que temos [...] então
a gente tem que se adequar conforme o espaço que temos e atender da maneira
Espaço físico do que dé, entendeu! Não tem uma sala de espera, de atendimento social, de
CRAS inadequado oficinas para os usuários [...]. Então, isso interfere no trabalho, com certeza, e
muito. Porque muitas vezes a gente tem que tirar o pessoal ali da oficina de
desenho pra fazer um atendimento, entendeu! (Coordenador –
Falta de sala de CRAS/Parintins).
atendimento [...] Eu acho muito deficiente. [...] O prédio aqui antes era um bar, agora se
individualizado tornou CRAS, né! E a gente não tem estrutura nenhuma para trabalhar, até
Parintins
porque nós temos uma demanda muito grande. [...] Só tem uma sala da
secretaria e outra ali atrás, mas lá também funciona as oficinas, então assim, é
Mobiliário tudo ao mesmo tempo [...]. Eu tenho um código de ética e tento seguir isso
rigorosamente todos os dias [...]. Porém, aqui as vezes é impossível, não tem
incompleto como, então assim, dentro do CRAS o nosso atendimento é psicossocial né, o
assistente e o psicólogo juntos. [...] Veja a mobiliária, também é muito pouco.
Precisamos de muito mais! (Técnico 2 – CRAS/Parintins).
[...] Nosso espaço está restrito. Não precisa nem a gente comentar porque na
observação você já está vendo a situação. Nós não temos sala particular pra
atender [...]. Transporte nós não temos! Só temos nosso transporte próprio,
Falta de transporte particular. Quando a gente precisa fazer uma viagem pra comunidades como
específico do CRAS Aninga, Parananema e Macurany, a gente solicita da SEMASTH, daí eles
disponibilizam pra esse trabalho. Não temos também um mobiliário completo,
mas procuramos atuar dentro da realidade que possuímos (Técnico 1 –
CRAS/Parintins).
[...] O CRAS não está adequado de acordo com as normas, tipificação da
Assistência Social. Então, a gente se vira como pode, com o que tem né! É o
Sala de uso que o município pode oferecer, visto que não existe um prédio pronto para o
coletivo CRAS [...]. O ideal mesmo seria ter um espaço mais amplo por conta das
Maués
Inacessibilidade na Aqui a parte da estrutura em si que é precária [...]. Não está adequado como
deveria, até mesmo pra acessibilidade para que eles [usuários] possam se sentir
estrutura física do mais seguros. Então precisaria ser mais abrangente. Mas, a gente tem parcerias
CRAS [...] pra viabilizar as atividades. [...] Olha, num primeiro momento eu diria que
os profissionais conseguem dar conta, mas é porque tem muitas coisas do
Parceria com CRAS que ainda não estamos fazendo, mas assim, esse ano vai ser contratado
instituições para mais profissionais, pois a própria NOB/RH diz sobre a organização dos
trabalhadores. Quanto ao transporte é nosso mesmo, particular! Mas a gente
realização de ganha a gasolina da SEMAS quando precisamos fazer alguma coisa fora do
atividades CRAS (Coordenadora – CRAS/Maués).
O nosso trabalho na assistência social é permeado por muitas dificuldades e nós
tentamos trabalhar da melhor forma possível [...]. Não temos espaço adequado,
Poucos materiais nem tão pouco todos os materiais necessários. Nós temos o que chamamos do
para a realização das básico-emergencial. [...] Não temos, por exemplo, transporte [...]. Quando é
atividades lugares mais distantes [...] a gente pede colaboração de nossos orientadores e
nós damos a gasolina que é concedida pela SEMAS, mas pra isso, nós também
encontramos algumas dificuldades no próprio processo burocrático, porque
Falta de transporte todas as visitas que você vai fazer tem que ser gerado um relatório pra justificar
específico do CRAS porquê estamos solicitando a gasolina! [...]. Então, são essas “pequenas”
dificuldades que dificultam nosso trabalho, mas não deixamos de fazê-lo! [...]
Compromisso na Não temos computador, impressora, né! Todo e qualquer documento que
operacionalização precisamos, nós fazemos no nosso próprio notebook, mas tem que ser impresso
lá pra Secretaria. Então assim, este CRAS não possui toda infraestrutura como
dos Serviços rege os documentos da política de Assistência Social (Técnico 2 –
CRAS/Maués).
Quadro 8 – Condição de espaço físico e infraestrutura dos CRAS de Maués e Parintins.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
pesquisas. Assim, tal fato desvela o quanto a política de Assistência Social precisa avançar no
âmbito dos CRAS, sobretudo em municípios distantes das capitais onde, muitas vezes, os
gestores ainda não assumiram o compromisso efetivo com a Assistência Social na perspectiva
de política pública. Vale destacar que, Maués e Parintins recebem recursos financeiros do
governo federal de forma diferenciada, já que depende do porte populacional e do FMAS.
O segundo ponto refere-se à realização do diagnóstico socioterritorial das áreas de
vulnerabilidade e risco social por parte da gestão local. Nesse componente, observou-se que
os municípios ainda estão em processo de implantação e/ou conhecendo sobre este novo item
da política conforme as falas sequenciais:
Não! [...] Essa gestão é nova, né! Então, estamos iniciando ainda. Ano passado a
gente se preocupou muito mais em aprender como funciona a política de Assistência
Social no munício para poder atuar [...]. Aprender tudo, desde o que significa
CRAS. E o que deu pra gente perceber é que isso era necessário, pois, nessa última
capacitação do CapacitaSUAS, nosso técnicos estavam bem mais por dentro da
política do que técnicos de outros municípios (Gestora – SEMAS/Maués).
As falas expressam certa paridade nos dois municípios no que concerne à realização
do diagnóstico socioterritorial por parte da gestão local. Em Maués, percebe-se uma maior
fragilidade, visto que tal questão pouco ou nada aparece no PMAS, embora reconheçam a
necessidade e importância deste item para melhor funcionamento da Gestão Plena. Já em
Parintins, a Subgestora enfatiza que o PMAS contem alguns aspectos do diagnóstico
municipal apontando os focos de vulnerabilidade e risco social que permeiam a realidade dos
parintinenses. Mas, ainda assim, é preciso aprofundar no sentido de melhor desvelar o cenário
das problemáticas, considerando as contribuições da Assistência Social neste âmbito.
De acordo com a NOB/SUAS (2012), o diagnóstico socioterritorial é de extrema
importância para conhecer quem são e onde estão os usuários da Assistência Social a fim de
28
O Coordenador de Programas e Projetos da SEMAS/Maués não estava em nossas critérios de sujeitos da
pesquisa, contudo, durante a entrevista com a Secretária ele estava presente e foi solicitado por esta para
participar, por isso, sua fala aparecerá em alguns momentos.
104
melhor entender suas reais necessidades. Este item deve fazer parte dos PMAS e se coloca
como um processo contínuo de investigação das situações de risco e vulnerabilidade social
presente nos territórios onde intervém a política.
Contudo, para aprimoramento deste diagnóstico é importante que o município
viabilize a criação da equipe de vigilância socioassistencial. Esta última, trata-se de uma
função da política de Assistência Social e foi concebida na PNAS (2004), reiterada na
NOB/SUAS (2005), tornou-se componente da LOAS por meio da Lei nº 12.435/2011, e
afirmou-se com a NOB/SUAS (2012). Assim, é de responsabilidade dos municípios a criação
de um espaço adequado e com recurso humano qualificado para implementação dessa função.
Com a efetivação do diagnóstico socioterritorial acredita-se que mudanças podem
ocorrer na operacionalização da Assistência Social, sobretudo na PSB, pois é uma ferramenta
que enseja a cultura de política pública, atitude ativa da política, domínio do tempo e de ação
por parte dos profissionais (SPOSATI, 2012).
Um outro ponto importante diz respeito à instituição responsável pela Assistência
Social no município conforme consta no quadro 8. Em Maués, a SEMAS está situada no
bairro Maresia e a própria sigla identifica-a como sendo exclusiva à Secretaria Municipal de
Assistência Social, de modo que todas as questões voltadas para este fim estão ligadas à
instituição. Já em Parintins, a SEMASTH situa-se no centro da cidade, porém, pela
nomenclatura pode-se perceber que a Secretaria não é exclusiva da Assistência Social, pois é
um composto de Assistência Social, Trabalho e Habitação. Isso de alguma forma implica na
autonomia e protagonismo da Assistência Social como política pública já que sua atenção não
é particular, mas assenta-se numa “tríplice aliança”.
Nesses termos, Cavalcante (2012) assevera que:
funções, dando todo o apoio dentro de suas possibilidades. Outras questões dizem respeito ao
aspecto estrutural dos CRAS, como já aludido anteriormente.
Os dados até agora analisados situam a operacionalização da política de Assistência
Social nas cidades de Maués e Parintins com foco na PSB e o caráter sustentável desta
política que se assenta num emaranhado de potencialidades, limites e desafios, por conta
disso, às vezes repleta de contradições.
Nessa direção, o debate teórico traçado no capítulo I deste trabalho aponta que na
contemporaneidade é de suma importância que as políticas públicas introduzam em seus
objetivos a perspectiva de sustentabilidade, especialmente, a dimensão social balizada no
aspecto da gestão participativa, da justiça social e do acesso aos bens e serviços sociais.
Pensar a política pública de Assistência Social de forma sustentável começa pelo
processo da gestão, do financiamento dos serviços, das instalações físicas adequadas com
recursos humanos qualificados e materiais necessários para o desenvolvimento dos serviços.
Neste caso, os primeiros achados através do estudo indicam que, Maués e Parintins, assenta-
se diante de muitos desafios para concretizar suas respectivas políticas de Assistência Social.
Assim, a fim de endossar a discussão sobre os serviços socioassistenciais
dinamizados nos CRAS pesquisados, considerando a função das gestões locais, o trabalho
realizado pelos profissionais e a percepção dos usuários, o capítulo a seguir avança nessa
direção. Busca-se com os dados levantados problematizar e desvelar o alcance do trabalho
realizado sob numa leitura da sustentabilidade social, evidenciando a contribuição da PSB
para o enfrentamento da vulnerabilidade social.
107
CAPÍTULO III
de vida dos usuários das atividades realizadas nos CRAS; discute-se o acesso e equidade dos
usuários nos serviços socioassistenciais; e por fim, evidenciam-se as contribuições da política
de Assistência Social para o enfrentamento da vulnerabilidade social.
(COUTO, 2010). Aos poucos este estigma vem sendo superado na medida em que os muros
vão sendo rompidos a ponto de afirmar a relevância desta política para o processo de
desenvolvimento social e humano das populações.
Em relação ao financiamento, sabe-se que é um dos eixos estruturantes do SUAS.
Está assegurado no art. 195 da CF de 1988 e é regulamentado no art. 10 da Lei Orgânica da
Seguridade Social, de 1991. Dispõe sobre a importância da participação de toda sociedade no
financiamento da Seguridade Social, seja de forma direta e indireta, cujos recursos são
provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições
sociais.
A Assistência Social, se comparada à Saúde e a Previdência sempre recebeu a menor
parcela de recursos do governo federal. Conforme dados do CFESS (2013), de 2004 para
2013 houve um aumento significativo no orçamento destinado à Assistência Social, passando
de 6,53% para 10,64%. Desse modo, em 2013 o compartilhamento de recursos da Seguridade
Social foi assim dividido: 74% para a previdência social; 15% para a saúde e 11% foi
destinado a Assistência Social29. Contudo, nesta última, inserido o BPC, os Programas de
Transferência de Renda, a Renda Mensal Vitalícia, restando assim, apenas 1,05% para o
cofinanciamento dos serviços, programas, projetos, política de educação permanente e os
planos do governo federal, a exemplo do Brasil sem Miséria.
Isto significa dizer que os 11% não se traduz em financiamento específico para os
serviços que asseguram as proteções afiançadas da Assistência Social. Para o CFESS (2013,
p. 2) valorizar esta referida política é, então, lutar por uma “[...] obrigatoriedade de, no
mínimo, 10% do orçamento da seguridade social para os serviços socioassistenciais dentre
outros”. Decerto que, esta efetividade de recursos contribuiria significativamente para o
trabalho social realizado com os indivíduos e famílias no cotidiano das instituições de
proteções sociais.
Segundo informações dos PMAS (2014-2017), em Maués, nesse ano de 2014, o
governo federal destinou R$ 259.200,00 para o piso básico fixo, isto é, serviços ofertados nos
CRAS, sendo que o necessário seria em torno de R$ 320.000. Já em Parintins foram
destinados R$ 324.000,00, mas o necessário para atender a demanda seria de
aproximadamente R$ 388.800,00. Daí as críticas sobre o financiamento por parte dos gestores
entrevistados na realidade de Maués e Parintins.
29
Durante a IX Conferência Nacional de Assistência Social a Ministra do MDS, Tereza Campello, informou que
para este ano de 2014, o governo Federal destinou R$ 68 bilhões para os serviços, programas e benefícios do
SUAS, o que representa um aumento de quase 10% em relação a 2013 quando foi investido 62,8% bilhões.
110
O PAIF é o principal serviço né! Mas hoje, por conta do reordenamento, o SCFV
tem um grande público também, porque atende tanto as crianças como os
adolescentes, então nós temos bastantes usuários participando das atividades.
Inclusive está tendo a colônia de férias, onde as crianças veem pra cá e os
orientadores realizam as intervenções por meio das diversas atividades (Técnico 2 –
CRAS/Maués).
Já trabalhamos com os três serviços, conforme fala a política. Sem dúvida, o PAIF
acaba tendo maior público, porque é justamente o atendimento da família. Nós
fazemos um cadastro da família, ou seja, a composição familiar dela todinha e [...].
E no CRAS o foco são as famílias em situação de vulnerabilidade social, aquelas
que são referenciadas para o CadÚnico, o bolsa família [...]. Mas não quer dizer que
a gente não atenda as outras famílias que não estejam nem no CadÚnico ou bolsa
família, a gente não nega atendimento (Técnico 1 – CRAS/Parintins).
Com base no depoimento das informantes é possível notar que, dentre os três
serviços socioassistenciais desenvolvidos nos CRAS de Maués e Parintins, o PAIF desponta-
se como “peça-chave” dos serviços. Tais dados corroboram com a explicação do CFESS
(2011) ao mencionar o PAIF como tendo o maior percentual de atendimento nos CRAS
(85,6%) do país, se comparado ao Serviço para idosos, 84%; Plantão Social, 67,9%; Serviços
Socioeducativos para jovens, 67,3%, entre outros.
No caso de Maués e Parintins, a explicação converge para a ideia de que o foco do
seu atendimento é a família no sentido macro, porquanto é o mais procurado pelos usuários.
Muito embora, o SCFV venha crescendo o número de usuários nestes últimos meses de
intervenção dos CRAS. Já o SD minimamente aparece nas falas dos entrevistados(as). Isso foi
111
perceptível durante o processo de observação no cotidiano das instituições. Tal fato demonstra
incompletude no trabalho realizado, seja pela ausência/demanda de usuários, pela
insuficiência de profissionais, ou ainda infraestrutura adequada para o trabalho o que, de
alguma forma, fragiliza a efetividade dos objetivos da PSB nos CRAS.
É importante frisar que mesmo a família sendo foco dos objetivos da PNAS, nos
CRAS é predominantemente a mulher quem participa dos atendimentos. “São as mulheres,
portanto, que sintetizam a exclusão do acesso aos bens e serviços socialmente produzidos e a
dificuldade de reprodução e necessidades básicas e dos problemas vivenciados pela família”
(SILVA et al., 2011, p. 102).
Em relação ao atendimento, ações e demais atividades operacionalizadas no conjunto
dos serviços socioassistenciais da PSB nos CRAS, os Coordenadores, Assistentes Sociais e
Psicólogas enfatizaram a predominância de:
Atendimento,
Ações e
Atividades
realizadas
Figura 7 – Atendimento, Ações e demais atividades realizadas pelos Serviços Socioassistenciais nos CRAS.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
30
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, foi criado pelo Governo Federal,
em 2011, e está incluído no Plano Brasil sem Miséria (BSM). Tem por objetivo ampliar a oferta de cursos de
educação profissional e tecnológica com duração mínima de 160 horas. Já o Programa Mulheres Mil também foi
instituído em 2011 e está inserido no BSM, especificamente no eixo de Inclusão Produtiva. Tem por objetivo
propiciar o acesso de mulheres em situação de vulnerabilidade social a oportunidades de ocupação e renda por
meio da oferta de cursos de formação inicial e continuada com carga horária mínima de 160 horas.
112
intervenções que compõem o trabalho realizado pelos CRAS via serviços socioassistenciais.
Entende-se que, para contribuir qualitativamente com os usuários, seria necessário um
atendimento maior e com atividades que trabalhassem de forma mais profícua os objetivos da
PSB. As figuras posteriores ilustram algumas imagens das intervenções em Maués e Parintins.
Figura 8 – Oficina de desenho e produção de materiais; produto confeccionado pelas mulheres, CRAS/Maués.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
As oficinas são apontadas pelos sujeitos da pesquisa como de suma importância, uma
vez que promove o diálogo entre profissionais e usuários, além da aprendizagem sobre
produção de materiais diversos, implicando em contribuição social e financeira para as
famílias que participam.
Mesmo não sendo foco deste trabalho, é interessante evidenciar que os dados em
destaque evidenciam aspectos da dimensão econômica da sustentabilidade ao trazerem a
relação do Estado (proporcionando atividades de cunho produtivo) com a sociedade civil
113
(usuários da Assistência Social), tendo com resultado o aprendizado por parte dos usuários e,
consequentemente, renda financeira a partir do que é posto no mercado.
Um dos programas integrantes do trabalho nos CRAS está relacionado ao Programa
Bolsa Família, concebido como Programa de Transferência de Renda e que, prioritariamente
precisa ser ofertado nos CRAS. Em Maués e Parintins, isso não acontece, pois a infraestrutura
das instituições não possui suporte para tal, embora os profissionais façam um prévio
atendimento e encaminham para o setor responsável, no caso de Maués na própria
dependência da SEMAS e em Parintins, em um espaço específico para tal. Esta situação
torna-se complexa e implica na qualidade do trabalho realizado pelos CRAS, visto que, a
intervenção dessas instituições volta-se justamente para aquelas famílias em situação de
vulnerabilidade social as quais em sua maioria são usuárias do Bolsa Família, logo, é parcial o
acompanhamento das famílias inseridas no PSB.
Para uma melhor operacionalização dos serviços da PSB nos CRAS é recomendável
um diálogo profissional, ético e político entre aqueles que estão realizando trabalho nas
pontas. Assim, as equipes que compõe os CRAS pesquisados relataram sobre o processo de
divisão profissional no cotidiano das atividades frente à dinâmica de operacionalização da
política em questão.
Subcategorias
elaboradas a partir Transcrição de trechos das falas dos sujeitos da pesquisa
das falas
Tem algumas funções que são particulares de cada um, né! O papel da
coordenadora é um, da psicóloga é outro, da Assistente também, embora deva
ficar claro que é um trabalho psicossocial [...]. Alguns casos que nós separamos
Trabalho Psicossocial que cabe mesmo somente a um profissional, devido às questões éticas [...]. É
bem interessante isso, quando atendemos uma queixa de um usuário sobre
orientação de benefício, ele começa a falar coisas da vida dele, do cotidiano,
Compromisso ético-
então, às vezes a pessoa traz um problema, aliás, ela pensa que é o problema,
político daí você vai à raiz e verifica que é outra coisa. Nós adotamos essa forma de
trabalhar, até porque essa é a proposta. Não podemos trabalhar de forma
Visita Domiciliar isolada, é um trabalho simples, mas em parceria. [...] Nós não fazemos visitas
separadas [...]. Tem usuário que solicita visita só pra receber uma orientação do
bolsa família, por exemplo, mas na visita a gente identifica outras questões [...]
(Técnico 2 – CRAS/Maués).
Bem, na verdade, nós somos uma equipe mesmo, um ajuda o outro. Nós
trabalhamos na mesma fala [...]. E como atendimento em equipe, quando eu não
estou, ela me passa depois e vice-versa. As visitas, a gente faz juntos, porque
Trabalho em equipe deve ser assim, né! O usuário vem aqui atrás de um benefício eventual, daí
quando chegamos na casa a gente encontra uma outra problemática, os conflitos
familiares, a evasão escolar, enfim, vários outros problemas que requerem nossa
Hierarquia institucional intervenção. E assim, a coordenadora também é nossa grande parceira, ela está
sempre disposta, corre de um lado para o outro pra tentar resolver tudo. Então, é
uma divisão hierárquica que existe, né! Mas, na essência trabalhamos todos
juntos [...] (Técnico 1 – CRAS/Maués).
114
[...] são aquelas constituídas por servidores efetivos responsáveis pela organização e
oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e
especial, levando-se em consideração o número de famílias e indivíduos
referenciados, o tipo de atendimento e as aquisições que devem ser garantidas aos
usuários (grifo nosso).
Sim. Eu penso [...] que não é a questão técnica, mas o que nós precisaríamos de fato
para melhorar, para potencializar os nossos serviços, para ser mais eficaz, para
alcançar mais usuários, seria uma boa estrutura. [...] Ter uma estrutura com suporte
para o trabalho, um computador, uma impressora, espaço pra trabalhar os grupos de
convivência, até porque a questão do ambiente influencia no comportamento dos
nossos usuários. [...] Às vezes você não tem nem um ventilador para oferecer a eles,
tem usuários que veem de tão longe para participar dos grupos, daí chega aqui não
tem um lanche para ser oferecido, um local mais agradável [...]. Tem usuário que
vem aqui precisando apenas uma declaração, que é simples, que dava pra resolver
aqui [...], tenho que levar lá para a Secretaria, imprimir, assinar e entregar para os
usuários. Hoje, por exemplo, não temos internet e a gente sabe que é uma ferramenta
muito importante no trabalho no CRAS (Técnico 2 – CRAS/Maués).
prescrita em lei, além disso, invista em formação e qualificação dos trabalhadores de maneira
a assumir compromisso efetivo com as populações que demandam por serviços da Assistência
Social.
Condição diferente se verifica na realidade do CRAS de Parintins, pois os Técnicos
foram unânimes em dizer que tal equipe não é o suficiente para dar conta da demanda: “Não!
Pra nossa demanda, precisa de mais gente. Eu acredito que no mínimo dois psicólogos, dois
assistente sociais, no mínimo” (Técnico 2 – CRAS/Parintins). A entrevistada alega que
naquele CRAS há um número expressivo de usuários que buscam os serviços, logo, tem-se
um acúmulo de tarefas implicando na qualidade do trabalho realizado.
Essa constatação é outro elemento essencial da discussão sobre a dificuldade que é
operacionalizar os serviços da PSB na perspectiva da sustentabilidade social, considerando as
questões políticas, econômicas e sociais engendradas no cenário amazônico, além das
determinações preconizadas nos documentos legislacionais da política. Se comparado com o
que ratifica a NOB-RH/SUAS (2006), tem-se uma lacuna quanto ao número de profissionais
nos CRAS. Isso porque, quando um município trabalha com a Gestão Plena e é de Médio ou
Grande Porte, para cada CRAS são necessários 04 (quatro) técnicos de nível superior, sendo
02 (dois) assistentes sociais, 01 (um) psicólogo e um profissional que compõe o SUAS, além
do Coordenador o qual, também, deve possuir nível superior. Em Maués e Parintins, nos dois
CRAS a equipe de referência é formada por: 01 (um) assistente social, 01 (um) psicólogo e o
Coordenador, visibilizando a lacuna operacional no item de profissionais.
No que concerne à participação da equipe em capacitação ou formação continuada da
Assistência Social, os informantes da pesquisa afiançaram que:
Sim. Porém, por parte do Estado, acho essa intervenção complexa, pois, durante eu
estar aqui ainda não teve nenhuma capacitação em que a Equipe da SEAS viesse
ministrar, se deslocada até aqui para fazer essa capacitação. Mas, temos nossos
encontros locais promovidos pela SEMAS. Teve um agora na sexta-feira passada,
[...] no qual são os próprios técnicos que fazem [...], é mais uma troca de
conhecimentos (Técnico 2 – CRAS/Maués).
Sim. Mas, considero ser muito raro essas capacitações. Agora assim, eu mesmo
busco me qualificar, eu já fiz uma pós-graduação em Saúde Pública da Família
recentemente. No que se refere à gestão municipal, sempre tem alguma coisa, às
117
vezes capacitação com os profissionais que atuam nos CRAS e tem muitas palestras
voltadas para todos da equipe técnica (Técnico 1 – CRAS/Parintins).
De vez em quando tem pela SEMASTH, pelo Estado ainda não participei. Agora por
exemplo, eu estou fazendo o curso de Libras pela SEMASTH, [...] apareceu essa
oportunidade, estou fazendo o básico e já vou engatar no intermediário. Eu acho
muito bom, porque nós temos aqui pessoas com necessidades especiais, inclusive
um rapaz que é surdo. [...] eu enquanto profissional preciso me adequar, não é ele
tem que se adequar a mim, mas eu a ele [...] (Técnico 2 – CRAS/Parintins).
Subcategorias
elaboradas a partir Transcrição de trechos das falas dos sujeitos da pesquisa
das falas
Planejamento feito Quanto ao planejamento, realizamos reuniões quinzenalmente. Primeiro tem
aquela parte mais sistemática dos profissionais da equipe técnica e depois
pelo Coordenador de sentamos pra reunir com os orientadores sociais. E o nosso monitoramento,
Programas e Projetos avaliação, essas coisas, acontecem assim: todo final de mês a equipe faz um
– SEMAS relatório daquilo que foi realizado no CRAS e cada orientador social também faz
seu relatório, daí é enviado para a SEMAS [...]. E tem relatório trimestral que é
enviado pra SEAS (Coordenadora – CRAS/Maués).
Planejamento No nosso cronograma, nós temos a sexta-feira livre pra fazer planejamento tanto
quinzenal no CRAS para o PAIF como para os grupos de Convivência. Nosso monitoramento e
avaliação acontece entre nós mesmos e pelo Coordenador de Programas e Projetos
da SEMAS, porque nós fazemos um relatório mensal de atividades (Técnico 1 –
Monitoramento e CRAS/Maués).
Avaliação por meio Esse ano o responsável pelos Programas Sociais da SEMAS é quem está
de Relatórios montando todo o planejamento do Trabalho nos CRAS. [...] ele faz o
planejamento macro e quando chega pra cá, nós sentamos com os orientadores e
verificamos o que de fato podemos ofertar. Geralmente toda sexta-feira
Monitoramento e realizamos o planejamento com os orientadores e somente os técnicos acontecem
quinzenal. O monitoramento e avaliação, não é assim muito sistematizado, às
Avaliação não vezes fazemos por conta das nas nossas reuniões, por meio dos relatórios [...]
sistematizado (Técnico 2 – CRAS/Maués).
[...] Na realidade, participa todo mundo né! [...] A gente não impõe nada, por isso
a necessidade de fazer um planejamento de forma conjunta. Então de três em três
meses a gente se reúne pra planejar, e é dessa maneira. [Sobre o monitoramento e
Planejamento avaliação], é realizado por nós mesmos, de forma mensal. A gente vê, senta e
verifica o que fluiu, o que foi bom. [...] A gente tenta tirar proveito daquilo que
trimestral com os foi bom e da parte ruim busca melhorar [...] (Coordenador – CRAS/Parintins).
trabalhadores da PSB
[O planejamento] acontece de forma trimestral. A equipe técnica e todos os [...]
orientadores sociais e facilitadores de oficinas fazem parte. A gente reúne de 15
Monitoramento e em 15 dias pra fazer o monitoramento e avaliação. E de três em três meses a gente
reúne com o grupão para fazer planejamento dos outros três meses (Técnico 1 –
Avaliação quinzenal CRAS/Parintins).
De modo geral, não ficou claro nas falas dos informantes a questão prática do
monitoramento e avaliação das atividades. Que metas são estabelecidas para o trabalho?
Quais objetivos pretendem alcançar? Que instrumentos, indicadores e variáveis precisam ser
levados em consideração?
Diante dos dados, compreende-se a importância de se trabalhar no cotidiano do
CRAS, bem como no quadro geral da política de Assistência Social, a questão do
monitoramento e avaliação, que para tal requer instrumental específico com possibilidades de
indicadores e variáveis que imprimam a qualidade no trabalho desenvolvido, além de
120
estratégias envolvendo todos os atores que operacionalizam e os que são atendidos pelos
serviços. Contudo, notou-se um conhecimento superficial por parte das equipes de referência
dos dois municípios no que tange à compreensão teórico-metodológica do monitoramento e
avaliação dos serviços.
É necessário entender que tal aspecto não se resume a relatórios e reuniões
quinzenais, trata-se de um processo contínuo, cotidiano ou periódico em relação aos objetivos
e metas previamente estabelecidos (ROLIM, 2009), para os quais o corpo técnico de
profissionais precisam ter conhecimento teórico-operativo.
Sobre o conjunto da Assistência Social é de responsabilidade da equipe técnica da
SEAS fazer o monitoramento e avaliação dos programas, projetos, serviços e benefícios da
PSB e PSE nos municípios do Amazonas. Entretanto, como já sinalizado no capítulo II, o
contato técnico da SEAS com as Secretarias de Assistência Social de Maués e Parintins é
considerado fragmentado, resumindo-se a algumas visitas naquelas instituições.
Ainda em torno do planejamento, ressalta-se que isso implica no processo de gestão
dos serviços nos CRAS, e como tal requer participação não só daqueles que o
operacionalizam, como também de quem recebe a aplicabilidade dos serviços. Assim, ao
serem questionados sobre o conhecimento e participação em algum momento que tratasse do
planejamento das atividades, os usuários dos CRAS, tanto de Maués quanto Parintins, foram
unívocos ao afirmaram que “não!”.
De acordo com Cavalcanti (2002), operacionalizar de uma política pública hoje,
especialmente aquela que vise o bem estar e o desenvolvimento humano, social e sustentável
das populações, requer o envolvimento de todos os atores, isso inclui aqueles que recebem a
intervenção das políticas. Em se tratando da Assistência Social, é preciso romper com a ideia
de que, “planeja-se e executa-se junto aos usuários”, ao contrário, “chama-se os beneficiários
dos serviços, ouve-se suas necessidades”, daí sim, planeja-se aquilo que vai interferir
positivamente na vida dos indivíduos e famílias envolvidas no processo.
Nessa direção, a fim de conhecer quem são os demandatários dos serviços
socioassistenciais nos CRAS pesquisados e suas relações com as instituições a partir dos
resultados da pesquisa, apresenta-se o perfil e as condições de vida dos usuários, além de
informações sobre a inserção nas atividades dos CRAS e a visão sobre o que pensam do
trabalho desenvolvido e atividades que participam. Tarefa necessária, quando se busca
perquirir sobre a operacionalização da PSB na realidade de Maués e Parintins e se a mesma
converge para uma perspectiva da sustentabilidade social.
121
3.2 PERFIL E CONDIÇÕES DE VIDA DOS USUÁRIOS DOS CRAS NOS MUNICÍPIOS
Identificação do Informante
Casado(a) Casado(a)
16,7%
16,7% 10,0% 20,0%
50,0% Solteiro(a)
Solteiro(a)
10,0%
Amasiado(a)/
Amasiado(a)/ Amigado(a)
Amigado(a) 30,0% Separado(a)
Judicialmente
16,7% Separado(a) 30,0%
Judicialmente União Estável
Gráfico 3 – Estado civil das mulheres – Maués. Gráfico 4 – Estado civil das mulheres – Parintins.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
incidências das políticas neoliberais, a educação escolar, superior ou profissional acaba por
não abarcar a todos de forma igualitária e, muitas vezes, preocupa-se com o quantitativo com
formação técnica para atendimento do mercado seguindo a lógica do capital, deixando para
segundo plano o aspecto qualitativo.
No contexto da pesquisa foi possível verificar que todas as mulheres entrevistadas
encontram-se entre o ensino fundamental e médio, conforme gráfico na sequência.
Compreende-se disso que todas sabem ler e escrever. Tal fato lhes ajuda sobremaneira no
cotidiano das oficinas que participam.
55 70
50
60
45
40 50
35
30 40
25 30
20
15 20
10
10
5
0 0
Ens. Fund. Ens. Méd. Ens. Méd. Ens. Fund. Ens. Méd. Ens. Méd.
Incomp. Incomp. Comp. Incomp. Incomp. Comp.
Fr. (a) 2 1 3 Fr. (a) 2 2 6
Fr. (%) 33,3 16,7 50 Fr. (%) 20 20 60
Gráfico 5 – Escolaridade das mulheres entrevistadas Gráfico 6 – Escolaridade das mulheres entrevistadas
CRAS/Maués. CRAS/Parintins.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
aprendendo algo, apesar de que nem sempre estas põem em prática aquilo que lhes foi
repassado por falta de condições financeiras.
Não obstante, em Parintins 04 (quatro) mulheres afirmaram já terem participado de
cursos dessa natureza, enquanto que 06 (seis) informaram ainda não terem tido a
oportunidade, mas se fosse oferecido, com certeza seria um bom momento para buscar mais
conhecimentos ou aprendizado.
Em termos de composição familiar e o grau de escolaridade, a pesquisa revelou o
quadro de organização das famílias daquelas mulheres que buscam participar das atividades
dos CRAS, cujos dados indicam arranjos diferenciados em termos sociais e econômicos.
De um modo geral, as famílias dessas mulheres apresentam em suas composições
pais, mães, esposos(as), filhos(as), netos(as), avós, irmãs(os), com escolaridades que perfilam
do ensino infantil ao ensino superior. Vale dizer que nesse universo de familiares, ainda
encontram-se pessoas não alfabetizadas, geralmente aquelas com mais idades, tendo em vista
as dificuldades em suas épocas de adentrar ao sistema educacional.
Essas informações colhidas durante o contato com as mulheres tanto nos CRAS
quanto nas residências, ampliam o debate sobre os diversos grupos familiares presentes na
contemporaneidade não delimitando-se à consanguinidade, mas também, à solidariedade e
cuidado mútuo.
Nesta linha de análise, assevera Szymanski (2002, p. 17):
Situação socioeconômica
Autônomo Autonôma
33%
33% 60%
Aposentada
Gráfico 7 – Situação no mercado de trabalho das Gráfico 8 – Situação no mercado de trabalho das
usuárias do CRAS/Maués. usuárias do CRAS/Parintins.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
31
Em MAUÉS/AM, o total de famílias inscritas no Cadastro Único em março de 2014 era de 10.643, dentre as
quais 7.548 faziam parte do PBF. Já em PARINTINS/AM, o total de famílias inscritas no Cadastro Único era de
17.035 dentre as quais, 12.716 são beneficiárias do PBF.
128
convergem, logo, não é idílico o pensamento dos autores sobre a transferência de renda
repassada para os beneficiários.
10%
33% 50% 10%
Próprio Próprio
Alugado Alugado
Cedido Cedido
80%
17%
Gráfico 9 – Situação do domicílio duas usuárias do Gráfico 10 – Situação do domicílio das usuárias do
CRAS/Maués. do CRAS/Parintins.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
poucos recursos financeiros e materiais, dificilmente vão conseguir uma “formatação” melhor
para o ambiente de moradia.
Entende-se que toda família, independente da composição familiar, precisa de um
local particular e seguro, ou seja, uma moradia que contribua no processo de socialização e
formação da identidade dos sujeitos que ali residem “A casa [ou outro tipo de domicílio] é,
ainda, um espaço de liberdade, no sentido de que nela, em contraposição ao mundo da rua,
são donos de si” (SARTI, 2009, p. 63).
Nesta linha de análise, Yazbek (2009, p. 123) corrobora o aludido ao dizer que: “a
moradia é o mundo da sociabilidade privada, o que significa dizer ajuda mútua, brigas rivalidades,
preferências, tristezas, alegrias, chatices, planos, sonhos, realizações”. Contudo, é necessário que
o ambiente ofereça suporte para tal, pois do contrário, os sujeitos ficam a mercê das
determinações impostas pelo capital que, não fugindo à regra, tem seus impactos no sistema
habitacional.
No contexto amazônico, sobretudo em municípios do Baixo Amazonas, observa-se
brutalmente uma fragmentação na consolidação das políticas públicas, as quais, como já discutido
no decorrer deste estudo, se fossem efetivamente operacionalizadas, teriam grande parcela de
contribuição na condição de vida dos indivíduos, apesar de que, muitos destes, “estão como
vítimas de um sistema que prepara de forma fragilizada o jovem para a sociedade, para o mercado
de trabalho, que pouco estrutura os municípios com políticas públicas que efetivem o acesso aos
direitos sociais: como educação, trabalho, moradia, de qualidade” (RIBEIRO, 2011, p. 110).
É pertinente dizer que todas as residências das interlocutoras da pesquisa, sejam de
Maués ou Parintins, possuíam ligação de água e energia elétrica legalizada, logo, enquadram-
se naqueles percentuais de acesso evidenciados no capítulo II sobre a questão dos bens e
serviços básicos na realidade urbana dos dois municípios. Sobre isso, a tabela na sequência
enfatiza que:
Freezer 01 05 01 09
Micro-ondas 01 05 - 10
Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.
Para ter acesso aos serviços socioassistenciais da PSB é necessário que o usuário
recorra às instituições assistenciais que trabalham com tais serviços. De acordo com a PNAS
(2004) e Couto et al. (2011), o CRAS é por excelência a instituição responsável por trabalhar
131
com a PSB em suas múltiplas atividades que transcorrem da criança ao idoso. Desse modo, o
CRAS não deixa de ter uma representatividade na política de Assistência Social.
Conceitualmente, o CRAS é definido como:
Uma breve discussão no capítulo II sinalizou que o CRAS deve realizar o trabalho
social com famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social. Para tanto, é necessário
oferecer todas as condições materiais, financeiras e humanas para que haja maior qualidade na
execução dos serviços. Fato este que foi considerado fragilizado nas instituições pesquisadas
de Maués e Parintins.
Neste sentido, quando questionadas sobre o entendimento que tinham do CRAS e os
motivos que levaram as informantes da pesquisa a continuarem a participar das atividades
operacionalizadas pelos trabalhadores da PSB no CRAS, responderam que:
Subcategorias
elaboradas a Transcrição de trechos das falas dos sujeitos da pesquisa
partir das falas
Buscar informação, mais conhecimentos. Aqui eles falam sobre tudo, a
questão das relações na família, dos benefícios, essas coisas né!
(ENTREVISTADA 1).
É uma coisa de muito importante para nós, porque traz informações,
Acesso à benefícios e sempre que preciso de algo, elas me ajudam. Faz esse trabalho
informação e com as crianças, né! As atividades de artesanatos e as outras coisas. No meu
conhecimentos entendimento é um momento de convivência, tem sempre o apoio delas que
trabalham lá (ENTREVISTADA 6).
Maués
diversos
Ah, é porque o CRAS é muito bom quanto as informações, os
conhecimentos, eu acho assim, quem vai aprende alguma coisa. E é bom,
porque sempre tem palestras, cursos elas me ligam ou vem aqui pra avisar
(ENTREVISTADA 5).
O CRAS é uma coisa [...] boa, porque a gente vai pra lá e conhece novas
pessoas, a realidade delas, eu gostei de participar. É uma casa das famílias
Socialização né! Só que assim, eu vou até conversar com elas, assim era bom a gente
montar tipo um clube de mães, que a gente pudesse levar as coisas pra fazer
lá, daí eu acho que seria melhor [...] (ENTREVISTADA 3).
132
Cursos É um local que aprendi muitas coisas a partir do trabalho realizado por elas.
profissionalizantes Foi ela que veio aqui me convidar e eu fui, gostei muito e tá me ajudando a
partir do que aprendi (ENTREVISTADA 4).
Aprendizado para Bom, depois que ela me convidou a ir pra lá, eu resolvi ir porque eu estava
obtenção de precisando né! Então, buscar mais conhecimentos, porque lá gente tem
informações sobre várias coisas, e a questão da aprendizagem por meio dos
recurso financeiro cursos, como eu estava sem fazer nada, resolvi ir (ENTREVISTADA 5).
Local de cuidado da O CRAS pra mim é uma residência boa, uma família, que dão atenção pra
família gente. Não tenho queixa não (ENTREVISTADA 5).
É legal, por que eu trago meus filhos pra cá. Eles estudam de manhã e
Atendimento quando é a tarde a gente vem pra casa, pelo menos a gente não fica só em
familiar casa, [...] fica aprendendo aqui (ENTREVISTADA 10).
Socialização Aprendizagem, porque aqui a gente aprende alguma coisa, se distrai e traz as
crianças também (ENTREVISTADA 10).
Ah, porque eu queria aprender alguma coisa né! Vim em busca de
Parintins
atendimento por parte da Equipe de Referência e dos orientadores sociais propicia a ascensão
a determinadas questões presentes no cotidiano individual ou familiar. Parafraseando Torres
(2009), ao recorrer a uma determinada instituição da Assistência Social, o usuário espera que
o profissional seja capaz de construir uma resposta profissional que dê conta de suas
necessidades, as quais são engendradas pelos processos heterogêneos do sistema capitalista.
O segundo motivo refere-se ao atendimento psicossocial. Sem dúvida, na PSB os
profissionais lidam diretamente com este tipo de atendimento, sendo atribuído ao Assistente
Social e psicólogo trabalhar de forma interdisciplinar com vistas a contribuir na resolução das
problemáticas que lhes são apresentadas. Lidar com os usuários e suas demandas ligadas às
expressões da questão social serve também como reconhecimento do saber-fazer na
instituição. Particularmente, essa relação construída entre o Assistente Social e os usuários
“[...] pode proporcionar momentos de reflexão sobre o próprio fazer profissional e o
significado social da profissão” (TORRES, 2009, p. 214).
Outro ponto diz respeito aos cursos profissionalizantes. Já foi aludido no decorrer
deste trabalho que no conjunto dos serviços socioassistenciais existem as oficinas
socioeducativas e profissionalizantes que oferecem momentos de aprendizagem para os
usuários. Muitas vezes, promovido a partir de parcerias com outras instituições visando cursos
que beneficiem o conhecimento e aprendizado sobre confecção de produtos diversos. Assim,
algumas mulheres continuam no CRAS porque veem neste uma porta de acesso ao mercado
de trabalho seja ele formal ou informal.
Coerentemente com o que diz a PNAS (2004) tem-se um último ponto o qual está
relacionado ao atendimento familiar. Na oferta dos serviços socioassistenciais no CRAS o
trabalho social com famílias aparece como questão basilar, trata-se de um trabalho que
envolve todos os entes familiares e, é em busca deste que muitos usuários procuram a
intervenção dos profissionais que ali atuam.
Ao se fazer uma reflexão sobre os dados em discussão é possível visualizar uma
constelação relacional das dimensões da sustentabilidade, particularmente a área econômica,
política e social. Embasando-se nas arguições de Guimarães (2001), Bellen (2007) e Sachs
(2002b), pode-se afirmar que estas dimensões estão presentes nos argumentos dos usuários ao
falarem sobre o conhecimento do CRAS e os motivos de permanência.
No que se refere à inserção dessas mulheres no CRAS, em Maués, a maioria (=04)
afirmaram que foi a partir da visita dos profissionais que, por este contato se sentiram
motivadas a ir conhecer o que era o trabalho no cotidiano daquela instituição. Em Parintins,
das 10 mulheres, 04 informaram que souberam da existência do CRAS por meio de notícias
134
nas rádios locais e, as demais foram através da indicação de amigas, bem como visita de
profissionais do CRAS.
Nessa direção, as informações acima foram corroboradas pelos coordenadores do
CRAS, pois, quando questionados sobre os procedimentos de acesso dos usuários nos
serviços socioassistenciais, os entrevistados foram enfáticos ao dizer que:
Pelas duas formas: busca ativa e demanda espontânea. A busca ativa se constitui
assim de grande importância, até porque nós vamos até os usuários falar sobre o
CRAS, né! Assim, eu não conhecia a área da assistência, vim da educação, então ir
até os usuários, divulgar os serviços pelas rádios, também faz com que os usuários
nos procurem (Coordenadora – CRAS/Maués).
Por demanda espontânea e busca ativa. Nós trabalhamos com esses dois. O ingresso
no projeto é por esses dois meios. Ou, às vezes, até mesmo eles vêm encaminhados,
porque a gente trabalha em rede, então o CREAS, o Ministério Público mandam
crianças e adolescentes para que a gente possa inserir em algum programa, serviço,
etc. Mas a maioria vem por livre espontaneidade. As vezes eles ficam sabendo por
algum amigo, pelas redes sociais, por vizinhos, então eles vem até a gente e daí
inserimos eles nas atividades (Coordenador – CRAS/Parintins).
identificou como recursos: o uso do folder, palestras nas escolas e divulgação nas rádios
locais. Em municípios do Baixo Amazonas, as rádios se constituem como veículo propício
para publicização das ações da política de Assistência Social, entre outras.
Durante as entrevistas, os membros da equipe de referência dos CRAS enfatizaram a
necessidade de num primeiro contato com os usuários, explicar todo o contexto institucional
no que tange à oferta dos serviços socioassistenciais. Por outro lado, se verificou alguns
desencontros de informações por parte das usuárias, isso porque, ao serem questionadas,
algumas responderam não saber teoricamente quais eram os serviços ofertados nos CRAS,
sobretudo o PAIF já que este foi salientado pelos profissionais como sendo o de maior
demanda institucional. Na entrevista, foi indagado às mulheres o que elas sabiam sobre o
PAIF. Nem todas souberam responder, conforme falas na sequência.
Não! Eu sei que participo, acho que isso né! (ENTREVISTADA 2/Maués).
Eu sei pelo que eles falam né! É o trabalho com famílias (ENTREVISTADA
1/Parintins).
Não. Mas isso é uma proposta que temos aqui pra esse CRAS (Técnico 1 –
CRAS/Maués).
Não! Geralmente fica mais interno, mas a gente faz alguns minutos [...], aproveita o
grupo de mulheres, de grávidas que são referenciadas pelo programa para ouvir a
opinião delas sobre o nosso trabalho. Agora teve um momento muito importante
onde eles (usuários) puderam expressar suas opiniões que foi justamente a
Conferência Municipal de Assistência Social e de lá nós tiramos vários indicativos
para melhoria de nossos serviços (Técnico 2 – CRAS/Maués).
Sim. [...] Bom, a Política Nacional de Assistência Social diz que, enquanto
planejamento no CRAS, os usuários têm que participar né! Mas como eu te falei, a
gente convida né, não podemos estar esperando. A gente vai dando andamento nos
planejamentos. Mas, é bom a opinião deles, porque a gente pode tá inserindo ali, se
eles não quiserem dessa forma, mas tem que ver o que tá dentro daquilo que é
preconizado para o trabalho no CRAS (Técnico 1 – CRAS/Parintins).
Sim. [...] houve uma orientação da SEMASTH para que todos os CRAS trabalhem
com temas unificados. Mas, cada qual procura trabalhar da sua maneira. [...] Eu
parto muito da opinião das pessoas, né! [...] Tem muitas situações que foram
planejadas lá que não batem com nossa realidade, então, de vez em quando eu estou
na turma ouvindo as pessoas. Daí eu ouço certas situações e pego aquilo e
transformo num tema. [...] Não sou eu enquanto profissional que vou colocar o meu
pensamento, primeiro eu tenho que escutar pra saber onde estou lidando, saber quais
as necessidades, [...] em cima disso eu trabalho [...] (Técnico 2 – CRAS/Parintins).
SEMASTH procura ouvir os usuários, identificando suas reais necessidades e com isso cria
estratégias para intervir mais efetivamente na realidade social.
Estas informações vão de encontro com o que foi analisado no quadro 11 ao tratar do
planejamento das ações/atividades, visto que o debate sobre a gestão no CRAS implica
necessariamente no processo do planejamento institucional. Se uma vez que os usuários,
vistos como os principais atores na operacionalização dos serviços, não participam da gestão
no CRAS, por consequência, isso pode estar interferindo negativamente na efetividade da
política. Logo, é relevante o trabalho de formação junto aos usuários sobre a supracitada
política visando uma real participação.
O debate teórico já realizado indica que na contemporaneidade a Assistência Social
vem sendo trabalhando na visão de política pública que busca o bem-estar humano e social,
assim, depreende-se nas suas entrelinhas que pode assentar-se como contribuinte para um real
desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira. Contudo, isso requer gestão
participativa, visto que, “a participação contribui para elevar o envolvimento da população,
criando não somente expectativas consistentes, mas um sentimento de responsabilidade
quanto às escolhas feitas” (CAVALCANTI, 2002, p. 37).
Seguindo esta linha de pensamento, é oportuno ponderar que quando se fala em
participação atrela-se à ideia do controle social. Teoricamente, entende-se por controle social
como aquele que é realizado pelo cidadão a partir da vivência no território onde atua, podendo
ser na comunidade, no trabalho, na escola, entre outras localidades. Trata-se de uma forma
organizada que todos os cidadãos possuem para demandar junto aos órgãos competentes do
governo o aperfeiçoamento das políticas públicas, a exemplo da assistência social, educação e
saúde (RAICHELIS, 2011). Para tal se faz necessário o estabelecimento de formação política,
a fim de que os atores sociais envolvidos contribuem de forma qualitativa na proposição e
implementação das políticas públicas.
Neste sentido, ao dialogar com a equipe de referência sobre ações de mobilização
para participação dos usuários do CRAS nas instâncias de controle social do município,
observou-se certa parcialidade no discurso dos mesmos. Primeiro, no próprio entendimento
conceitual da expressão, segundo, resumiram o controle social à lógica do monitoramento e
avaliação ou, rara vezes, mencionaram as conferências municipais de Assistência Social.
Por fim, a pesquisa buscou descortinar as contribuições da PSB para o enfrentamento
da vulnerabilidade social dos indivíduos e famílias participantes dos serviços
socioassistenciais nos CRAS na perspectiva da sustentabilidade social. Tarefa esta complexa e
desafiadora, tendo em vista os elementos estruturais e burocráticos que permeiam o seu
138
contexto operacional. Contudo, uma vez que a Política se propõe a atuar nesta linha,
certamente que uma análise de tal indicador é deveras importante na realidade das cidades
pesquisadas.
Neste limiar do século XXI, filtrado pela gestão “era PT”, tem se debatido sobre a
criação e/ou implementação de programas, projetos serviços e benefícios que possam ir de
encontro com o enfrentamento da extrema pobreza no país. Isso implica na discussão de
redução da vulnerabilidade socioeconômica que assola grande parte da população brasileira.
A partir dos destaques dados pela mídia nacional, seja televisionada ou impressa,
bem como por meio de pesquisas acadêmicas, tem se percebido que a Assistência Social caiu
“na graça” da gestão governamental como política por excelência que deve atuar no bojo das
discussões que envolvem o campo do social, porquanto, a “viga mestra” de enfrentamento à
vulnerabilidade social. Entretanto, a maneira como tudo isso é gestado pelo governo evoca
preocupações no seu aspecto operacional.
Isso porque, trata-se de uma política ancorada em documentos legislacionais que
primam pelo bem estar da população usuária, a partir de um trabalho que busca a
sustentabilidade de suas ações e com isso a contribuição para o sujeito que, mesmo
retoricamente, está sob a proteção do Estado (PNAS, 2004; YAZBEK, 2009). Ademais, é
uma política que pressupõe a categoria “família” como centro das ações/atividades
proporcionadas durante as intervenções e para quem é direcionado todo o trabalho cotidiano.
Entretanto, a forma como tudo isso é operacionalizado e financiado pelos governos federal,
estadual e municipal parece não responder às necessidades reais, sobretudo, daqueles que
sobrevivem em ínfimas condições de vida.
A consolidação da PNAS e do SUAS nos primeiros anos do século vigente, trouxe
como um dos destaques, o direcionamento da Assistência Social como política que está
assentada no trabalho de enfrentamento à vulnerabilidade social, especialmente no contexto
da PSB, visto que, é nesta área que se constitui o trabalho de prevenção. Neste sentido, uma
abordagem no capítulo II apontou os aspectos conceituais do que sejam as atividades da PSB,
ou seja, intervenções que buscam prevenir as situações de risco dos indivíduos e familiares.
Bem como, no Box 1, evidenciou-se que a PNAS (2004) não traz um conceito teórico
explícito do que seja vulnerabilidade social, embora aponte os elementos agravantes para tal.
139
Por conta da dinâmica societária atual a família não se resume a um modelo padrão,
nem tão pouco se constitui como espaço extremamente harmonioso, ela também é marcada
historicamente por conflitos e contradições. Apesar disso, não deixa de ser um espaço
fundamental no contexto da proteção social de seus componentes. Assim, o trabalho
desenvolvido pela Equipe de Referência e demais trabalhadores do CRAS precisam estar
concatenados com o quadro conceitual que se tem hoje da família. Nessa direção, Gueiros
(2002, p. 119) conclui que:
Conhecer a família da qual se fala e para qual muitas vezes dirigimos nossa prática
profissional é muito importante; também é imprescindível compreender sua inserção
social e o papel que a ela está sendo atualmente destinado; e, da mesma forma, é
necessária a mobilização de recursos da esfera pública, visando implementação de
políticas públicas de caráter universalista que assegurem proteção social [...].
Identificação da
Dados preconizados na PNAS / Transcrição de trechos das
Referência de
falas dos sujeitos da pesquisa
Informação
“A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por
Política Nacional de meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de
vínculos familiares e comunitários” (PNAS, 2004, p. 27).
Assistência Social –
“O CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando
PNAS a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário. Neste sentido é
responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral às Famílias” (PNAS,
2004, p. 29).
Tipificação Nacional “O PAIF consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a
141
Sim, porque eles aconselham as crianças a não estarem nas ruas, e do jeito que
está acontecendo tanta coisa (ENTREVISTADA 10).
Quadro 13 – Contribuições para o fortalecimento dos vínculos familiares das informantes da pesquisa.
Fonte: Pesquisa bibliográfica e Pesquisa de Campo, 2013-2014.
142
Esta assertiva ratifica que o PAIF por intermédio de suas ações/atividades deve
contribuir para o não rompimento dos laços familiares a partir do trabalho preventivo. É um
Serviço que busca fortalecer, promover o sujeito e sua família, não sendo, portanto, uma
“prática curativa”.
A fala dos profissionais da equipe de referência do CRAS, tanto de Maués quanto
Parintins se aproxima ao mencionarem que na realidade daqueles municípios o trabalho
desenvolvido tem contribuído para o cotidiano dos usuários, porém, minimamente em relação
ao que diz a política de Assistência Social.
Do depoimento do Técnico 1 – CRAS/Maués tiram-se duas conclusões no que tange
à intervenção realizada e as mudanças nas relações familiares: a primeira está ligada ao
próprio compromisso profissional com os usuários, tendo em vista que o trabalho no CRAS
requer uma prática fundamentada em parâmetros de cunho teórico-metodológico, ético-
político e técnico-operativo. É uma instituição que, na trilha do sistema capitalista, está
entrelaçada por burocracias no que diz respeito à sua relação com a gestão municipal. A
segunda concentra a ideia de que para haver mudanças qualitativas, é necessária a persistência
do usuário quanto sua participação no trabalho realizado, que certamente pressupõe o
engajamento do profissional, logo, entende-se ser necessária a relação entre as partes.
143
6).
O trabalho no geral, tudo que é feito O local, o ambiente, pois quando chove, alaga
(ENTREVISTADA 1). tudo daí tem que suspender as atividades
(ENTREVISTADA 1).
Penso que isso aqui que é ofertado Poderia ampliar as oficinas que tem, por exemplo,
Parintins (ENTREVISTADA 3). para as mulheres, informática, cabeleireiro,
confeitaria. E para os pais, pedreiro, carpinteiro
(ENTREVISTADA 3).
Acho que tudo isso que eles fazem A estrutura que não é boa. Um barracão que
com a gente (ENTREVISTADA 9). quando chove molha tudo (ENTREVISTADA 9).
Quadro 14 – Pontos positivos e negativos do trabalho realizado no CRAS.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
Identificação da
Referência de Transcrição de trechos das falas dos sujeitos da pesquisa
Informação
[...] A gente sempre fala pra eles, aqui é uma intervenção, que nós não vamos dar
conta total daquela situação da família, mas que todas aquelas oficinas, orientações
podem contribuir. Tem algumas mulheres que participaram de nossas oficinas e hoje
já estão vendendo o que produziram, como o produto em EVA, artesanato, cortinas
[...]. E hoje, muitas mulheres estão no “Mulheres Mil” [...] fazendo cursos [...]. E o
legal é que está se valorizando o local, porque como aqui é “a terra do guaraná”, se
procura trabalhar com isso, fazendo produtos que podem ser originar do guaraná
Equipe de (Coordenadora – CRAS/Maués).
Referência – [...] Então, penso que tudo que fazemos aqui no CRAS de alguma forma influencia e
contribui para potencializar os usuários, claro que não 100%, até porque há as
CRAS/Maués dificuldades, mas a gente procura atuar para que esse usuário garanta mesmo que
minimante, o protagonismo social (Técnico 1 – CRAS/Maués).
[...] Em boa parte, penso que aquilo que é ofertado no CRAS contribui. Nós temos
casos de umas senhoras que participaram das atividades do PAIF e hoje já conseguem
fazer sozinhas e vender. E ainda que, as vezes as mulheres nos falam que as palestras,
as atividades no geral vão interferir na vida delas e da família também. Mas, claro que
não é cem por cento (Técnico 2 – CRAS/Maués).
Equipe de Eu vejo assim, que antes do CRAS os adolescentes estavam por ali, sem fazer nada,
na ociosidade, não tinham um acompanhamento, hoje não. Hoje eles já têm todo esse
Referência –
atendimento aqui no CRAS. [...] Então o CRAS é uma ferramenta de grande
146
CRAS/Parintins relevância. [...] O que as famílias, principalmente as mulheres, aprendem nas oficinas,
a ideia é que elas possam pôr em prática e com isso contribuir no cotidiano deles
mesmo (Coordenador – CRAS/Parintins).
Eu penso que todas as atividades que são realizadas por meio do PAIF, como as
orientações, as palestras, as oficinas, acho que elas contribuem para potencializar e
emancipar os usuários, agora é claro que isso leva tempo e nossa contribuição é muito
pouco, até porque ainda estamos com toda essa parcialidade no que se refere á
infraestrutura [...]. Quando digo que contribui é porque, o que me traz todos os dias,
apesar das dificuldades que são muitas, [...], quando eu vejo que alguém sai daqui
com outro pensamento, realmente com aquela questão de que eu sou capaz e daqui
pra adiante eu conduzo minha vida, então penso que esse é o melhor pagamento, a
melhor recompensa que a gente tem (Técnico 2 – CRAS/Parintins).
Já aprendi alguma coisa, mas ainda não coloquei em prática, até porque não tenho
Mulheres mais tanta idade assim pra fazer as coisas (ENTREVISTADA 2).
participantes da Olha, eu já consigo fazer e vender o que aprendi por meio do CRAS, só que assim, eu
Pesquisa/Maués não tenho tantos recursos pra comprar mais materiais e fazer novos produtos. Hoje eu
até já participo da feira do produtor e vendo meus artesanatos. Mas assim, depende
muito do movimento também, às vezes tá bom outras não (ENTREVISTADA 4).
Mulheres Pelo CRAS eu consegui me inscrever no Mulheres Mil e vou começar agora em Abril
(ENTREVISTADA 1).
participantes da
Estou participando das atividades, não sei se lá na frente vai contribuir, mas por
Pesquisa/Parintins enquanto não. As vezes até a gente aprende, a questão é eu ter como fazer sozinha em
casa né! (ENTREVISTADA 2).
Quadro 15 – Alcance do trabalhado realizado pela PSB para enfrentamento da vulnerabilidade social.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.
Das falas em análise, um primeiro elemento que merece reflexão diz respeito à
questão da vulnerabilidade social. Essa discussão é complexa, visto que, não há unanimidade
epistemológica nos conceitos. Assim, de acordo com o texto “Orientações Técnicas sobre o
PAIF” (2012, p. 13), o que deve ficar claro no contexto da Assistência Social é que:
Os municípios estudados, fica notório que na área urbana trata-se de uma política
com grandes potenciais para contribuir no cotidiano de qualquer sujeito ou família que
buscam participar dos serviços. Contudo, “remando contra a maré”, é uma política recheada
de limites e desafios o que a qualifica numa perspectiva de (in)sustentabilidade na intervenção
que faz. Se, em alguns momentos, ela parece responder às necessidades das populações
usuárias, em outros, não consegue atingir sua real efetividade como pretende. Tal questão se
analisada sob o debate conceitual da sustentabilidade social, como bem mencionou Sachs
(2002a; 2002b; 2008), prediz incompletudes na operacionalização dos serviços e que,
portanto, precisam ser superados.
Destarte, as expressões da Assistência Social, especialmente dos serviços da PSB
desenvolvidos no CRAS exigem maior responsabilidade do Estado e que seja de forma
equânime e justa a fim de atingir significativamente o que se propõe. Logo, pensar em novos
horizontes de operacionalização é o que se almeja, para então falarmos de uma política que,
entrando pela porta da frente, assuma seu compromisso de pública e de direito, portanto, de
contribuinte para a sustentabilidade social dos sujeitos que nela buscam e que nela acreditam.
149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar é uma tarefa árdua que demanda o saber-fazer do pesquisador que assume
o compromisso de transitar pelo universo das incertezas. A pesquisa científica é um processo
inconcluso, exigi outras tantas investigações, sobretudo, quando se trata de um objeto
complexo e desafiador, caso da política pública de Assistência Social sob o olhar da
sustentabilidade social no contexto amazônico, este último, locus singular e particular que
exige de todos os sujeitos nele habitado a (re)produção de novas relações a fim de pôr em
pauta suas reais necessidades que demandam, continuamente, respostas públicas.
Discutir teórica e metodologicamente a relação entre a política pública de Assistência
Social e sustentabilidade foi uma tarefa contínua que demandou a persistência do pesquisador,
haja vista a complexidade da questão. Foi por meio da disciplina “Serviço Social e
Sustentabilidade na Amazônia” e dos diálogos frequentes entre orientador e orientando que as
questões relacionais do objeto foram tomando corpo a fim de chegarmos a um denominador
profícuo e necessário entre as categorias de estudo da dissertação.
Assim, com o intuito de desvelar o universo da política de Assistência Social com
foco na Proteção Social Básica a partir da visão dos atores que dela fazem parte é que
propomos o presente estudo, cuja análise pautou-se na ótica da sustentabilidade social na área
urbana dos municípios de Maués e Parintins, ambos situados no Baixo Amazonas. Os dados
da pesquisa de campo levantados através do diálogo receptivo e comprometido por parte dos
sujeitos, agora se tornam públicos e alimentam as colocações que se seguem sobre os
resultados alcançados em todo o processo do estudo:
Sustentabilidade das ações e das famílias usuárias da política de Assistência
Social presente em alguns momentos da PNAS. A partir da análise desenvolvida, não foi
encontrada nenhuma definição ou ponto de partida sobre o termo sustentabilidade na política.
Dessa forma, por estar inserida no âmbito das demais políticas públicas governamentais
entende-se que, a política de Assistência Social assenta-se na perspectiva do discurso do
desenvolvimento sustentável, de modo que sua real efetividade torna-se difícil frente à
conjuntura capitalista que não distribui equitativamente a riqueza social e material.
Gestão e Financiamento da política de Assistência Social em Maués e
Parintins. A pesquisa identificou que os serviços socioassistenciais de proteção social básica
são cofinanciados apenas pelo governo federal com a contribuição do município, ficando o
ente estadual somente na parte técnica, porém atua de forma fragmentada no processo de
implementação do SUAS. Na visão dos informantes da pesquisa o apoio operacional por parte
150
do governo estadual está aquém da necessidade, pois, seria importante que, para além das
visitas técnicas houvesse contribuição financeira, isto é, recursos financiados pelas três esferas
a fim de melhor atingir as populações que são diversificadas e demandatárias dos serviços.
Desencontro de diálogos entre aqueles que operacionalizam os serviços e os
que recebem o atendimento. O estudo realizado apontou que há uma fragilidade e/ou
dificuldade no processo das informações, tendo em vista que, tanto em Maués quanto em
Parintins, a Equipe de Referência do CRAS enfatizou haver todo um atendimento inicial de
apresentação da instituição e os serviços oferecidos para os sujeitos que buscam o
atendimento da Assistência Social. Por outro lado, algumas usuárias entrevistadas afirmaram
desconhecer esse procedimento. Entendemos tal fato como sendo um agravante no âmbito de
uma política que, constitucionalmente é pública, mas, no cotidiano prático deixa margens para
reflexões críticas sobre sua concreticidade. É preciso qualificar o repasse de informações para
os usuários sobre os serviços, programas, projetos e benefícios na perspectiva da gestão
participativa.
Enfrentamento da vulnerabilidade social e contribuição às mulheres e suas
respectivas famílias que participam das atividades no CRAS. Nas duas cidades, a Gestora
e Subgestora Municipal, bem como as Equipes de Referência dos CRAS, foram enfáticas ao
mencionarem que as atividades/ações desenvolvidas não equivalem a cem por cento do que
pretende a supracitada política. Assim, os dados levantados sinalizam que o trabalho realizado
é ínfimo e, poucas vezes contribui para o fortalecimento dos vínculos familiares, a
emancipação e o protagonismo social, em decorrência disso, o enfrentamento da
vulnerabilidade social pela qual passam parcela dos usuários dos serviços socioassistenciais
de Maués e Parintins. Tal questão foi corroborada pelas informantes da pesquisa ao
mencionarem que, para algumas tudo aquilo trabalhado pelo CRAS tem contribuído em
alguma coisa na sua família, para outras, as intervenções são parciais impactando
minimamente nas suas realidades familiares.
Rotatividade dos trabalhadores do SUAS. No caso de Maués e Parintins, até o
momento em que se realizou o estudo não havia tido concurso público municipal voltado para
o campo da Assistência Social de modo que, todos os trabalhadores possuíam apenas um
contrato temporário com a Prefeitura, podendo ser transferidos para outras instituições,
acarretando, desse modo, descontinuidade nas atividades com os usuários dos CRAS.
Certamente que tal feito, não se encerra nos territórios pesquisados, entende-se fazer parte de
todo o cenário brasileiro. Ademais, trata-se de um descompromisso com as populações que
buscam o atendimento assistencial no CRAS, visto que, no processo da rotatividade há uma
151
CRAS
Obedecendo as
diretrizes do
SUAS: espaço
Operacionalização dos físico, recursos
materiais e
Referência
Serviços Socioassistenciais
no CRAS: gestão participativa humanos
Centro de Centro de
Convivência do Geração de
Idoso Renda
Figura 10 – Esquema simulativo de operacionalização da Proteção Social Básica no CRAS sob a perspectiva da sustentabilidade Social
Fonte: Elaboração do Pesquisador, 2014.
154
REFERÊNCIAS
ARCOVERDE, Ana Cristina Brito. Notas sobre Estado e sociedade nos clássicos da Política.
In: Estado e Sociedade: contribuição ao debate sobre políticas públicas. Recife: Editora
Universitária da UFPE, 2010. p. 19-46.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro.
São Paulo: Martins Fontes, 1977.
BELLEN, Hans Michael Van. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio
de Janeiro: FGV, 2007.
______. SUAS: configurando os eixos da mudança. In: CAPACITASUAS, v.1, São Paulo:
IEE\PUC-SP, Brasília: MDS, 2008.
BRONZO, Carla. Território como categoria de análise e como unidade de intervenção nas
políticas públicas. In: FAHEL, M.; NEVES, J. A. B. Gestão e avaliação de políticas sociais
no Brasil. Belo Horizonte: PUC Minas, 2007. p. 91-113.
CHAVES, Maria do Perpétuo Socorro R.; BARROSO, Silvana Compton; LIRA, Talita de
Melo. Questão Socioambiental Contemporânea: práxis do assistente social no contexto rural
da Amazônia. In: Anais do 13º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. São Paulo:
CFESS, 2010. CD-ROM.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 11. ed. São Paulo: Cortez,
2010.
COUTO, Berenice Rojas. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma
equação possível? 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
_____. O Sistema Único de Assistência Social: uma nova forma de gestão da assistência
social. In: Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil. MDS. Brasília:
UNESCO, 2009.
COUTO, Berenice Rojas, et al. O Sistema Único de Assistência Social no Brasil: uma
realidade em Movimento. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
DIEHL, Astor Antônio; TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas:
métodos e técnicas. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
FERREIRA, Stela da Silva. NOB-RH Anotada e Comentada – Brasília, DF: MDS; Secretaria
Nacional de Assistência Social, 2011.
GATTAI, Silvia; ALVES, Luiz Roberto. Indagar para construir políticas de gestão pública.
In: Rev. Pol. Públ. São Luís, v.15, n.1, p. 163-174, jan/jun. 2011.
JACCOUD, Luciana. Proteção Social no Brasil: debates e desafios In: Concepção e gestão da
proteção social não contributiva no Brasil. MDS. Brasília: UNESCO, 2009.
JATOBÀ, Sérgio Ulisses Silva; CIDADE, Lúcia Cony Faria; VARGAS, Glória Maria.
Ecologismo, Ambientalismo e Ecologia Política: diferentes visões da sustentabilidade e do
território. In: Sociedade e Estado, Brasília, v. 24, n. 1, p. 47-87, jan./abr. 2009.
LIRA, Talita de Melo; COSTA, Klilton Barbosa da; SILVA, Mayara Pereira da; MEDEIROS,
Vânia Lima. Atuação Profissional na área Socioambiental na Amazônia: experiência do
Grupo Inter-Ação no Parque Científico e Tecnológico para Inclusão Social. In: Anais do 14º
Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. São Paulo: ABEPSS, 2013. CD-ROM.
MACIEL, Carlos Alberto Batista. A família na Amazônia. Revista Serviço Social &
Sociedade, São Paulo: Cortez, ano XXIII, n. 71, p. 122-137, set. 2002. Edição especial.
MESTRINER, Maria Luiza. O Estado entre a Filantropia e a Assistência Social. São Paulo:
Cortez, 2001.
_____. Sistema Único de Assistência Social. Proteção Social Básica. Orientações Técnicas:
Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Brasília, 2009.
NETTO, Paulo. FHC e a política social: um desastre para as massas trabalhadoras. In:
LESBAUPIN, Ivo (Org.). O desmonte da nação: balanço do Governo FHC. 1999.
NOGUEIRA, Wilson. Festas Amazônicas: boi-bumbá, ciranda e sairé. Manaus: Valer, 2006.
ONU. Organização das Nações Unidas. Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável – Rio+20: O futuro que queremos. Rio de Janeiro: 2012.
Disponível em: < http://www.uncsd2012.org/thefuturewewant.html>. Acesso em: 23 fev.
2014.
PEREIRA, Potyara A. P. Discussões Conceituais sobre Política Social como Política Pública
e Direito de Cidadania. In: BOSCHETTI, Ivanete et al. (Org.). Política Social no
Capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009. p. 87-108.
_____. Necessidades Humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
161
POCHMANN, Marcio et al. (Org). Atlas da exclusão social, volume 5: agenda não liberal da
inclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2005.
RIBEIRO, Patrício Azevedo. Família Parintinense: um estudo sobre as condições de vida das
famílias atendidas no PAIF/núcleo Paulo Corrêa no ano de 2010. 130f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Colegiado de Serviço Social), Instituto de Ciências Sociais, Educação e
Zootecnia, UFAM, Parintins, 2011.
RODRIGUES, Débora Cristina B.; PONTES, Itaciara Prestes da S.; RIBEIRO, Patrício
Azevedo; SILVA, Thamirys Souza; NASCIMENTO, Camila Fernanda P. A Questão
Socioambiental e a Crise Capitalista: estudo da organização sociopolítica das comunidades
ribeirinhas de Livramento e Julião na RDS do Tupé/AM. In: Anais do 14º Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais. São Paulo: ABEPSS, 2013. CD-ROM.
SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Organizado por Paula Yone
Stroh. Rio de Janeiro: Gramond, 2002a.
_____. Estratégias de transição para o século XXI. In: BURSZTYN, M. Para Pensar o
Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 29-56.
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo:
EDUSP, 2002.
SAQUET, Marcos Aurélio. Por uma abordagem territorial. In: SAQUET, M. A.; SPOSITO,
E. S. (Org.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo:
Expressão Popular, 2009. p. 73-94.
SARTI, Cynthia Andersen. A família como espelho: um estudo sobre a moral dos pobres. 5.
ed. São Paulo: Cortez, 2009.
SAUER; Mariane; RIBEIRO, Edaléa Maria. Meio ambiente e Serviço Social: desafios ao
exercício profissional. In: Rev. Textos e Contextos. Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 390-398,
ago/dez. 2012.
SILVA, Maria Ozanira da Silva e; ARAÚJO, Cleonice Correia; LIMA, Valéria Ferreira
Santos de A. Implantação, Implementação e condições de funcionamento do Suas nos
municípios. In: COUTO, B. R. et al. (Org.). O Sistema Único de Assistência Social no Brasil:
uma realidade em movimento. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011. p. 32-65.
SILVA, Heloisa Helena Corrêa da. Expressões da Assistência Social no Médio Juruá –
Amazonas. Manaus: EDUA, 2012.
SPOSATI, Aldaiza; FALCÃO, Maria do Carmo Brant de; FLEURY, Sônia Maria Teixeira.
Os direitos (dos desassistidos sociais). 6. ed. São Paulo: 2008.
_____ et al. Assistência Social na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em
análise. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
_____. A menina LOAS: um processo de construção da assistência social. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
TEIXEIRA, Joaquina Barata. Meio Ambiente, Amazônia e Serviço Social. In: Revista em
Pauta – Faculdade de Serviço Social/RJ. n. 21, p. 141-152, jun. 2008. Disponível em:
<http://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/viewFile/94/87>. Acesso
em: 20 jun. 2012.
_____. A Assistência Social na Amazônia. In: Revista Serviço Social & Sociedade, São
Paulo: Cortez, ano XIX, n. 56, p. 97-113, mar. 1998.
_____. O local e o global: limites e desafios da participação cidadã. 3. ed. São Paulo: Cortez,
2002b.
TELLES, Vera da Silva. No fio da navalha: entre carências e direitos: notas a propósito dos
programas de renda mínima no Brasil. In: Programas de renda mínima no Brasil: impactos e
potencialidades. São Paulo: Cortez, 1998.
YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
_____. Pobreza no Brasil Contemporâneo e suas formas de enfrentamento. In: Revista Serviço
Social & Sociedade, São Paulo: Cortez, n. 110, p. 288-322, abr/jun. 2012.
164
APÊNDICES
165
APÊNDICE A
Categorias de estudo com foco na discussão teórica do objeto: guia de estudo para
levantamento bibliográfico
ROTEIRO:
DEFINIÇÃO DA FORMA DE ABORDAGEM
CATEGORIAS FOCO DA
TEÓRICA
DE ESTUDO DISCUSSÃO
(RECORTE TEMPORAL E A ESCOLHA DA
PERPECTIVA TEÓRICO-CONCEITUAL)
APÊNDICE B
Categorias de estudo com foco em indicadores e variáveis da pesquisa de campo: guia
para elaboração dos instrumentais
APÊNDICE C
Critérios de inclusão e exclusão dos sujeitos da Pesquisa de Campo
APÊNDICE D
Identificação
1. Formação: 2. Vínculo institucional: 3. Tempo na função:
I Identificação
1. Formação: 2. Vínculo Empregatício:
APÊNDICE E
I Identificação
1. Formação: 2. Função que ocupa no CRAS:
5. Sexo: 6. Contato:
( ) Mas. ( ) Fem.
I. Identificação do Informante
1. Estado civil: 2. Sexo:
( ) Solteiro(a) ( ) Mas. ( ) Fem.
( ) Casado(a)
( ) Amasiado(a)/Amigado(a) 3. Idade:
( ) União Estável ( ) 18 a 22 ( ) 38 a 42 ( ) 58 a 60
( ) Separado(a) Judicialmente ( ) 23 a 27 ( ) 43 a 47 ( ) Acima de 60 anos
( ) Viúvo(a). ( ) 28 a 32 ( ) 48 a 52
( ) 33 a 37 ( ) 53 a 57
4. Naturalidade:
174
5. Quais os motivos que o fizeram se deslocar para esta cidade? (Para esta pergunta, considerar as
respostas anteriores).
_______________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Fundamental
Fundamental
Incompleto
Completo
Incompleto
Incompleto
Vínculo
Superior
Completo
Completo
Estudou
Superior
Nunca
Idade
Médio
Médio
familiar
M F S N R$
14. Situação no mercado de trabalho 15. O(a) Sr.(a) recebe algum benefício da Assistência
atual: Social?
( ) Empregado(a) ( ) Sim ( ) Não
( ) Desempregado(a) 16. Se sim, especificar:
( ) Autônomo(a)
Modalidade Valor
( ) Pensionista
( ) Aposentado(a) BPC-LOAS
Bolsa Família
Outro:
17. Na sua família, algum membro Vínculo
recebe benefícios da Assistência Modalidade Valor
Familiar
Social?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, especificar:
31. O(a) Sr.(a) realizava algum trabalho ou curso antes de começar a frequentar o CRAS? Se sim,
qual?
34. Nas atividades que o(a) Sr.(a) participa, em algum momento o técnico do CRAS lhe deu espaço
para falar sobre suas necessidades e interesses? Se sim, em qual momento?
35. As atividades desenvolvidas pelo CRAS/PAIF têm possibilitado a você e sua família melhores
acessos a informação, conhecimentos e fortalecimento dos vínculos familiares? Fale sobre isso.
36. O(a) Sr.(a) têm participado ou está participando de alguma atividade voltada para a qualificação
profissional e, ou geração de renda? Se sim, Qual?
37. Além do(a) Sr.(a) outras pessoas da família participam das ações desenvolvidas nesse CRAS? Se
sim, quem são?
38. Quais os pontos positivos e negativos sobre o trabalho desenvolvido por esse CRAS/PAIF?
39. O(a) Sr.(a) já foi convidada para participar de alguma atividade que tratasse do planejamento,
avaliação e monitoramento das ações desenvolvidas pelo CRAS? Fale sobre isso.
40. O(a) Sr.(a) já foi convidada para participar de alguma Conferência Municipal de Assistência
Social? Fale sobre isso.
177
APÊNDICE F
APÊNDICE H
180
APÊNDICE I
181
APÊNDICE J
182
ANEXO
183
184
185
186
187
188
189