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São Luís - MA
2022
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São Luís - MA
2022
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Agrária. 4. Título.
Serviço Social. I. Azar, Zaira Sabry. II.
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Aprovada em: / /
BANCA EXAMINADORA
1ª Examinadora
2ª Examinadora
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AGRADECIMENTOS
Muito tenho a agradecer nessa jornada de vida acadêmica. Esses agradecimentos são
um brado de vitória minha diante das conquistas alcançadas. O livro do Eclesiastes fala que
“tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de
nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de se arrancar o que se plantou”. E tempo
de finalizar essa etapa de construção de vida chegou. Agradeço em primeiro lugar a Deus por
ter me dado a dádiva de acreditar que era possível, mesmo diante de tantas batalhas, por estar
comigo e ser meu amigo em todos os momentos
Agradeço aos meus pais Zedite Morais e Antonio Garros, que são minha fortaleza.
Obrigada por tudo, pelo apoio, pelo carinho, pelo amor. Agradeço aos meus pais biológicos
Antonio Lourenço e Maria das Graças, por terem me concebido e serem também exemplo
para mim, mesmo não sendo tão próximos mediante os caminhos da vida, mas são um pedaço
de mim, e todos meus irmãos.
Agradeço de modo todo especial à minha orientadora Zaira Sabry. É extrema a
gratidão que tenho por fazeres parte desse processo de formação acadêmica e de vida. Não
foram poucas as chamadas, a insistência, os ensinamentos, seja na sala de aula ou nas
orientações de pesquisa. Quantos conselhos e conversas que me tiravam do chão, quando nem
eu mesma conseguia acreditar que era capaz. Suas palavras foram rosas perfumadas capazes
de trazer alegria e fé. Esse trabalho só foi possível porque me ajudaste nessa trajetória, desde
2017, na iniciação científica. A trajetória desse trabalho foi longa, mas temos hoje o resultado.
Minha imensa gratidão.
Agradeço a todas as professoras do Departamento de Serviço Social da UFMA.
Obrigada por todos os ensinamentos, por toda compreensão e disposição em nos ensinar.
Agradeço a toda minha família, em especial meus padrinhos Isidoro de Jesus e Laura
Reis que são como pais para mim. Obrigada pelo acolhimento, pelas palavras amigas, por
terem me dado força nos momentos difíceis. Agradeço a todos os primos, Ileudo, Tonho,
Paula, Mileide, que sempre estiveram presentes, dando apoio, e em especial Ileide, que me
fortaleceu com palavras e sua presença confortável que me fazia sentir-me tão bem. Gratidão
a vocês.
1
Gratidão por meus amigos de vida, Elijunior e Paulo Rafael. Amigos de todas as
horas. Foram muitas lutas juntos, muitas alegrias, muitas risadas. Eli, amigo sempre
companheiro, apesar das brigas, sempre nos apoiamos na vida acadêmica a fim de
conseguirmos o tão sonhado diploma. Paulo, um compadre, um amigo para todas as horas,
ficava com Catharina para eu estudar. Obrigada, compadre.
Quero agradecer às minhas amigas “da UFMA pra vida” Cleoma Etaniela, Wilaine,
Tassia, Rayssa, Karina. Até aqui sempre nos ajudando. Agradeço a todas os companheiros e
companheiras de sala de aula, de trabalho em equipe, pelas contribuições no cotidiano da vida
acadêmica. Agradeço aos trabalhadores e trabalhadoras de serviços gerais da UFMA, por
deixarem o ambiente mais bonito e limpo e serem essas pessoas que deixavam nossa vida
melhor nos prédios da UFMA. Todos os vendedores de lanche e outros trabalhadores que
faziam parte do cotidiano universitário, por contribuírem com seus serviços.
Agradeço pelo tempo de estágio não obrigatório na Defensoria Pública do Estado, nas
pessoas das assistentes socias e minhas supervisoras técnicas Silene Gomes e Lila Barbosa.
Vocês foram grades professoras de campo e são grandes no trabalho que realizam. À
Universidade Integrada da Terceira Idade (UNITI) onde também cumpri estágio, na pessoa da
assistente social e supervisora técnica Lúcia Ferreira, minha gratidão.
Por fim, diante dessa trajetória veio ao mundo o ser humano mais importante da minha
vida, a minha filha Ana Catharina, o nome mais lindo, uma criança incrível, Seu sorriso é
minha alegria e você não poderia ter chegado em momento melhor. Obrigada, filha, por
existir na minha vida, te amo. Agradeço também ao meu companheiro Jeferson Lima, por
todo apoio e carinho, dedicação. Você é muito especial. Agradeço à Dona Cleres, Érika,
Natiane, Paulo, Daiane, que hoje são uma nova família para mim. Gratidão.
Não cabe aqui todas as pessoas, todos os nomes, são muitos, mas todos que fazem
parte dessa conquista, minha sincera gratidão.
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Moacir Gadotti
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RESUMO
A presente monografia é um estudo sobre a relação do Serviço Social com a questão agrária,
com destaque para a produção científica apresentada no Encontro Nacional de Pesquisadores
e Pesquisadoras de Serviço Social - ENPESS, em um recorte temporal de 2002 a 2018.
Investiga essa relação através de levantamento das publicações científicas dos Anais dos
ENPESS, a partir do eixo temático Questão Agrária, Ambiental eServiço Social, com ênfase
na questão agrária. Utilizou-se como método teórico-analítico o materialismo histórico
dialético, tendo como abordagem a pesquisa qualitativa e quantitativa. Em termos
metodológicos, foram realizadas pesquisas bibliográficas. Aborda elementos sócio-históricos
da questão agrária resgatando sua constituição desde o latifúndio ao agronegócio, que
sintetiza a questão agrária na atualidade; o Serviço Social enquanto profissão inserida na
divisão social e técnica do trabalho que tem por objeto as expressões da questão social.
Compreende a dimensão investigativa, isto é, a pesquisa em Serviço Social, como parâmetro
de aproximação da profissão com a questão agrária. As informações obtidas indicaram que
em 16 anos do encontro foram apresentadas apenas 99 produções científicas o que indica que
a questão agrária ainda não recebe a devida atenção do Serviço Social. Conclui que existe no
interior da profissão a dificuldade de apreensão teórica e aceitação da temática.
ABSTRACT
This monograph is a study on the relationship between Social Work and the agrarian question,
with emphasis on the scientific production presented at the National Meeting of Social Work
Researchers - ENPESS, in a time frame from 2002 to 2018. relationship through a survey of
scientific publications in the Annals of ENPESS, from the thematic axis Agrarian,
Environmental and Social Service, with emphasis on the agrarian question. Dialectical
historical materialism was used as a theoretical-analytical method, with a qualitative and
quantitative research approach. In methodological terms, bibliographic research was carried
out. It approaches socio-historical elements of the agrarian question rescuing its constitution
from the large estate to agribusiness, which summarizes the agrarian question today; Social
Work as a profession inserted in the social and technical division of work that has as its object
the expressions of the social question. It understood the investigative dimension, that is,
research in Social Work, as a parameter of approximation of the profession with the agrarian
question. The information obtained indicated that in the 16 years since the meeting, only 99
scientific productions were presented, which indicates that the agrarian issue still does not
receive due attention from the Social Service. It concludes that within the profession there is a
difficulty in theoretical apprehension and acceptance of the theme.
CF Constituição Federal
CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais
ENPESS Encontro Nacional de Pesquisadoras/es em Serviço
Social
11
LISTA DE QUADROS
QUADRO 8. Trabalhos Publicados nos ENPESS (2002, 2004, 2010, 2012, 2014,
2016) ............................................................................................................................. 77
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14
CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................... 80
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 82
1
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho trata da relação entre a questão agrária e o Serviço Social, tendo como
referência a produção científica apresentada no Encontro Nacional de Pesquisadores e
Pesquisadoras de Serviço Social – ENPESS, em um recorte temporal de 2002 a 2018. O
objetivo principal é relacionar a questão agrária e o Serviço Social por meio da análise dos
Anais dos ENPESS no eixo temático com ênfase na questão agrária.
Tem por objetivos específicos, refletir sobre as teses bases para a questão agrária no
Brasil; resgatar o Serviço Social, enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do
trabalho no âmbito da dimensão investigativa; e mapear as produções que indiquem a relação
do Serviço Social e a questão agrária nos Anais do ENPESS, observando as categorias
centrais de análise.
A questão agrária brasileira está no cerne da formação sócio-histórica do país, e dessa
forma constitui uma das principais expressões da questão social. Assim, ela é determinante
nessa constituição, porém existe a negação de sua importância enquanto categoria histórica
visto se tratar de uma discussão complexa, tomando em conta os aspectos ideológicos,
culturais e políticos do Brasil. O modo de produção capitalista foi a base da configuração da
questão agrária brasileira. A terra, bem comum a todos, tornou-se mercadoria, abundante nas
mãos de poucos, através dos grandes latifúndios. Essa dinâmica se reproduz até os dias atuais.
As contradições sociais inerentes ao capitalismo no campo tomam forma, pois “em todos os
espaços em que se desenvolveu (...) o resultado é essa polarização riqueza/pobreza (...)
(NETTO, 2012, p.150)”.
Considerado um país agrário, o Brasil atualmente carrega em sua economia o
agronegócio como representação. O agronegócio sintetiza a questão agrária na atualidade, e
sua existência na forma que expressa em sua produção agrícola, representa uma ameaça para
os trabalhadores do campo, para o meio ambiente e a economia, pois sua produção é
principalmente para a exportação.
Portanto, a questão agrária se materializa na desigual distribuição de terras, nos
latifúndios e terras improdutivas, na ameaça ao meio ambiente, nos conflitos entre
trabalhadores do campo e fazendeiros, no trabalho escravo, na ameaça às populações
tradicionais, indígenas, quilombolas e ribeirinhas, na carência de políticas
1
públicas para as comunidades rurais: saúde, educação, assistência social, previdência, além
das políticas referentes à produção familiar camponesa; dentre outras formas de exploração1.
Já o Serviço Social é uma profissão que está na linha de frente no enfrentamento das
diversas expressões da questão social, atuando nos diversos espaços sócio-ocupacionais,
instituições públicas e privadas, sendo orientada pelo projeto ético político da profissão, pelo
Código de Ética Profissional, e sua formação fundamentada nas Diretrizes Curriculares de
Formação em Serviço Social. É uma profissão histórica, com caráter teórico-metodológico
crítico, embasada na tradição marxista. A dimensão investigativa do Serviço Social se propõe
a contribuir com a produção do conhecimento, que é a base de compreensão/abstração das
múltiplas expressões da questão social nos âmbitos de atuação e formação profissional,
inseridas no cotidiano de trabalho e pesquisa.
A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS é a
entidade principal que regulamenta, organiza e articula os Grupos de Trabalho e Pesquisa –
GTP, os cursos de graduação e pós-graduação da área, no âmbito da produção científica na
defesa da indissociabilidade do tripé ensino, pesquisa e extensão. O Encontro Nacional de
Pesquisadores em Serviço Social - ENPESS são um espaço de debate e socialização do
conhecimento na área de Serviço Social, e demonstra em suas publicações a incipiência de
trabalhos sobre o tema.
Muito se fala da questão agrária, mas existe no interior da profissão a dificuldade de
apreensão teórica e aceitação da temática. Além do fato de nas conjunturas políticas e
governos que abrangem este recorte não estarem comprometidos com a causa do campo.
Porém, é importante destacar que conforme Delgado (2010, p. 119) “o pragmatismo inserido
na ação profissional nesta área não se constitui de maneira aleatória, mas por conta do
processo histórico que compõe a trajetória da profissão”.
A opção por este objeto de estudo foi motivada pela participação no Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, pela Universidade Federal do
Maranhão, na condição de bolsista no Grupo de Estudos, Pesquisa e Debates em
1
Atualmente, no contexto de pandemia, o agronegócio deixou suas marcas com a alta na regulamentação de
agrotóxicos, com a utilização de venenos proibidos em outros países, contaminando os alimentos e o meio
ambiente. Ver “Relatório Agronegócio e Pandemia no Brasil: uma sindemia está agravando a pandemia de
COVID 19?” por IPEM; ABRASCO, 2021
1
Serviço Social e Movimento Social – GSERMS, no percurso da graduação em Serviço Social.
A temática questão agrária me foi apresentada no meio acadêmico através de eventos e
palestras sobre o tema, da disciplina de Questão Social II – Questão Agrária, e do grupo de
estudos acima citado.
Houve também uma aproximação dos movimentos sociais, em especial do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, através da participação em eventos científicos e
mobilizações sociais. Em princípio houve dificuldades na acepção da temática, considerando
as leituras densas de teóricos clássicos. Todavia, como em qualquer processo de construção
do conhecimento, o próprio movimento da pesquisa contribui para o seu entendimento, o que
possibilitou continuar a pesquisar sobre o tema e trazê-lo para o projeto de monografia.
Inicialmente, a proposta monográfica era investigar a questão agrária na perspectiva
do latifúndio e agronegócio, para o que estava previsto pesquisa de campo que evidenciasse a
vivência dos trabalhadores do campo inseridos na política de reforma agrária vigente.
Entretanto, devido à pandemia da COVID 19, a pesquisa precisou ser redimensionada,
chegando-se à atual.
A fundamentação teórico metodológica que norteia a presente pesquisa é o
materialismo histórico dialético, que está situada na concepção filosófica dos pensadores
sociais Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), baseada no socialismo
científico. Tal método nas ciências sociais se caracteriza por analisar no movimento histórico
das sociedades suas composições, a partir da articulação das três categorias teórico-
metodológicas nucleares: totalidade, contradição e mediação (NETTO, 2009, p.27). Assim,
Netto (2011) contribui sobre a pesquisa esclarecendo que
Essa base teórico-metodológica permite que o objeto em questão possa ser investigado
a partir de bases históricas, isto é, atribui-se a análise compreendendo a historicidade do
objeto proposto, o seu movimento no tempo e no espaço através de
1
aproximações sucessivas da realidade pesquisada que busca na teoria “apreender a essência
(...) do objeto” (NETTO, 2009, p. 8), partindo da aparência, aproximando-se ao máximo de
sua essência.
Constitui uma pesquisa quantitativa e qualitativa e no que se refere aos procedimentos
metodológicos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada a partir da leitura das
produções clássicas e contemporâneas das categorias principais: questão agrária, serviço
social, dimensão investigativa do Serviço Social.
Neste sentido realizou-se um estudo a partir dos Anais do ENPESS, a partir do VIII
ENPESS (2002) ao XVI ENPESS (2018), no intuito de compreender como os eventos foram
se construindo acerca do tema. Foi realizado um levantamento de todos os trabalhos do
evento, e selecionados os trabalhos que abordam a questão agrária e categorias secundárias.
Os dados coletados compreendem a análise dos títulos, resumos e palavras-chaves dos
trabalhos aprovados a respeito da questão agrária, e a avanço na abordagem do eixo temático
onde ela se insere, em especial com a criação dos Grupos de Trabalho e Pesquisa – GTP da
ABEPSS.
Para sistematizar este estudo, os trabalhos selecionados foram organizados em um
quadro constituído de: eixo temático; título do artigo; e palavras-chave. Após leitura dos
resumos foram escolhidos os que correspondiam com o eixo temático, totalizando 99
produções científicas que correspondem à ênfase da questão agrária/rural, nesse recorte
temporal. Ao final, elaborou-se um quadro contendo o número total de produções dos
eventos, o número de produções em questão agrária, e o percentual desta com relação às
produções totais. Essa sistematização visa demostrar como a ênfase em questão agrária se
apresentou nesses eventos em quantidade e em qualidade, através da apreciação dos títulos
dos trabalhos e das palavras-chave.
As informações dessa pesquisa foram coletadas nas publicações dos Anais
disponibilizados em CD-ROM e na página eletrônica da ABEPSS. Esclarece-se que não
foram coletadas informações para a presente pesquisa dos trabalhos apresentados nos X e XI
ENPESS, devido à dificuldade em acessar os conteúdos nos CDs disponibilizados. Vale
ressaltar que a ABEPSS ainda não possui anais eletrônicos dos Encontros, salvo o XVI
ENPESS. As seções que compõem este trabalho estão divididas em dois capítulos.
1
O primeiro capítulo é “Questão agrária no Brasil”, que trata da configuração do
processo histórico de apropriação da terra ao trazer elementos sócio-históricos da questão
agrária: a formação do Brasil colonial e distribuição das terras em sesmarias, as leis de terra, o
latifúndio e o agronegócio como um expressão da questão agrária; a discussão teórico-
conceitual dos principais autores clássicos que debatem a questão agrária no Brasil, com as
teses: feudalismo colonial, capitalismo e escravismo e feudalismo colonial.
O segundo capítulo é “A relação do Serviço Social e a questão agrária”, no qual é feita
uma breve incursão sócio histórica do Serviço Social, apontando a trajetória da profissão no
Brasil, as matrizes teórico-metodológicas do processo de amadurecimento da profissão;
aborda a questão social como objeto de trabalho da profissão; considera a dimensão
investigativa do Serviço Social dentre outros aspectos que configuram a profissão no Brasil.
Também faz breves apontamentos sobre a ABEPSS e o ENPESS, para em seguida tratar das
produções científicas dos ENPESS de 2002 a 1018.
Em termos de considerações, observa-se a relevância dessa pesquisa para a produção
do conhecimento em Serviço Social nesta área ainda escassa em produções e que resiste aos
processos sociais, políticos e ideológicos que a negam, tanto na sociedade geral quanto no
interior da profissão. Assim, reitera-se que existe uma relação entre questão agrária e Serviço
Social, devido ao fato de que a profissão nasce do processo de industrialização e urbanização
e além própria característica histórico-cultural da questão agrária.
1
2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL: indicações teórico históricas
2
Grifo da autora. Considerando neste contexto, a globalização “como a intensificação das relações sociais à
escala mundial, relações que ligam localidades distantes de tal maneira que as ocorrências locais são
moldadas por acontecimentos que se dão a muitos quilómetros de distância” (GIDDENS, p. 52, 1995)
1
que posteriormente será responsável pela produção de itens agrícolas de exportação para a
Europa.
O mercantilismo, sistema embrionário para a eclosão do modo de produção capitalista
atual teve relevante papel nas políticas de navegações e de acumulação organizadas pela
nascente burguesia, portanto, Portugal já não mais vivia sob o regime feudal, e a rigor o
reinado de D. Manuel legitimava o capitalismo através da sua política de navegação e dos
monopólios e manobras internacionais. (SIMONSEN, 1937)
A respeito do “sentido da colonização” o estudioso Caio Prado Junior faz um debate
interessante e mostra em seus estudos que a colonização é senão uma particularidade do
movimento global das transformações econômicas e sociais que ocorreram por meio da
expansão europeia ultramarina, ou “o sistema colonial na totalidade de seus caracteres
econômicos e sociais que se apresenta prenhe de transformações profundas” (PRADO, 2004,
p. 9), onde Portugal se sobressaiu em múltiplos aspectos. Por conseguinte, discorre Prado Jr
(2004, p. 20-21) que
O processo de colonização das terras brasileiras pela Coroa Portuguesa teve seu início
em meados do século XVI com a ocupação do território, subsidiada pelo então capitalismo
comercial europeu, que acabara de se instalar. Os portugueses se apropriaram do espaço
territorial por meio de sua preponderância econômica e militar, impondo desde então vontades
políticas e leis de interesse da monarquia portuguesa. Assim, a dominação do território foi
caracterizada pelo uso da repressão e cooptação dos povos que já habitavam as terras
brasileiras. (STÉDILE, 2005).
2
No Brasil colônia, a primeira forma de distribuição de terras foi a divisão das
capitanias hereditárias aos donatários e prestadores de serviços à Coroa de Portugal. Essas
terras foram utilizadas para monocultivo de produtos agrícolas e também para a pecuária
extensiva. As capitanias eram terras públicas que tinham como principal função servir à
Coroa portuguesa, sendo a maior parte de sua produção agrícola destinada à exportação. Silva
(2014) ao retratar as origens da questão social no Brasil faz um resgate histórico e corrobora
citando o Tratado de Tordesilhas e as Capitanias Hereditárias:
Assim, a partir de 1530 Portugal decide implantar o sistema das sesmarias 3, que de
acordo com Guimarães (2005) representava o conflito de duas classes poderosas de Portugal:
a nascente burguesia comercial e a nobreza feudal. A legislação concebia uma tentativa de
recuperação da frágil agricultura colonial com intuito de que as terras não fossem
abandonadas e retomassem a produção para manter o seu cultivo.
Nesse sentido, Faoro (2000), corrobora sobre a propriedade das sesmarias como
herança para a desigual apropriação das terras, configurada na reprodução do latifúndio e suas
características como a carência de terras aos pequenos trabalhadores e a submissão ao grande
proprietário/fazendeiro. Para o autor,
3
Em um primeiro momento as terras são concedidas aos colonos portugueses que irão explorar a terra de modo a
instaurar o modelo plantation para exportar os produtos agrícolas. “(...) as ‘sesmarias’, designação que teriam as
concessões se alargam por espaços muito grandes, léguas e léguas de terra” (PRADO, p. 120, 2004). Esse
sistema foi utilizado em Portugal, no ano de 1375, pelo rei D. Fernando e tinha por finalidades principais manter
os camponeses na terra para manter a produção dos alimentos em nível adequado tendo em vista os encargos
feudais, além de atribuir penalidades àquelas que não estariam a produzir. (POMAR, 2009, 24-25). Enquanto o
sistema de capitanias perdurou durante apenas 100 anos, o sistema de sesmarias consolida-se e perdura até a
primeira metade do século XIX.
2
Antes de se estabelecer uma lei que regulasse a distribuição de terras de forma legal, a
ocupação da propriedade da terra foi realizada de forma monopolizada, na qual o território
ficava sob a custódia da Coroa ou monarquia. Como se tratavam de terras públicas, a maneira
para atingir os interesses econômicos através da agricultura foi garantir a divisão de terras por
meio de concessão de uso, isto é, em princípio, o uso privativo de um “bem público”,
resguardada com direito à herança, porém, sem autonomia para compra e venda4. Trata-se de
capitalistas colonizadores que dispunham de capital para investir na agricultura (STÉDILE,
2005).
Caio Prado (2004) acrescenta, conforme seus escritos, que a pessoa do colonizador se
tratava do “explorador, o empresário de grande negócio” (PRADO, p.120, 2004), e não do
pequeno agricultor, para produzir nas extensas áreas territoriais concedidas aos colonos, no
Brasil.
Prosseguindo a discussão, a economia colonial brasileira adotou o modelo de
agroexportação, sob seu tripé fundamental: o latifúndio, a monocultura e o escravismo, que
segundo Stédile (2005), no panorama da organização produtiva foram elementos centrais para
a implantação do modelo plantation5. Tal organização produtiva perdurou quatrocentos anos
e constituiu o Brasil como servidor dos interesses da coroa e da classe burguesa nascente,
através da economia agroexportadora. (GUIMARÃES, 2005)
Sobre a chamada monocultura ou monocultivo, como preferido por autores mais
recentes, um aspecto não menos importante são as condições naturais das terras brasileiras,
enquanto território geográfico, que podem ser levadas em consideração quanto ao modelo
agrícola adotado que tem na estrutura a base fundamental da grande propriedade. A
monocultura em geral, se estabelece nas grandes propriedades, em condições climáticas
tropicais, de acordo com Prado Jr (2004). Como os portugueses já tinham experiências
anteriores quanto a colonização dos trópicos, sabiam como adotar a melhor forma de
exploração do território considerando as condições naturais das terras. (PRADO JR, p. 210,
2004)
4
Importante considerar que como “bem público”, nestas terras já viviam os povos originários, assim, a legislação
portuguesa, quando a considera como um bem público da Coroa, usurpa as terras indígenas.
5
O modelo plantation de acordo com João Pedro Stédile é a estrutura de organização da produção agrícola
realizada na grande propriedade, praticando a monocultura que se destinava à exportação fazendo uso de mão de
obra escrava. Alguns dos principais produtos cultivados eram a cana-de-açúcar, o algodão, o cacau e o gado. Esse
termo inglês veio para expressar o modo de produção agrícola das colônias (STÉDILE, 2005).
2
No domínio forense da propriedade, durante a segunda metade do século XIX, houve a
criação da primeira Lei das Terras – Lei nº 601 – no ano de 1850, que representou a primeira
“trava” conservadora, frente às lutas dos povos africanos aqui escravizados. O objetivo dessa
nova lei foi o de não permitir que escravos livres pudessem ocupar as terras, posto que a
legislação passava a condicionar o acesso à mesma por via de compra e venda.
Além disso, a Lei de Terras de 1850 marca ocasionalmente a finalização do sistema de
sesmarias extinto em 1822 (DELGADO, 2005, p. 28). Parafraseando o autor citado sobre a
referida lei, a mesma representa “estatuto fortemente conservador das relações agrárias”
(DELGADO, 2005). Conquanto, com a criação de uma lei que regulamenta a apropriação
legal de terras, os denominados escravos livres não poderiam ter acesso à terra, haja vista que
estes não dispunham de salários pois estavam à mercê do sistema de escravidão ainda vigente,
permanecendo reféns da custódia dos grandes senhores de terras, ou se destinaram a realizar o
trabalho braçal nos portos, na região litorânea.
Silva (2014), em concordância com a metodologia de Caio Prado Junior (1970)
explica que a formação social e econômica brasileira baseada na densa exploração do trabalho
escravo dos povos africanos e dos povos originários (que resistiam à exploração) representam
a gênese da “questão social” brasileira. Neste sentido,
Stédile (2005), menciona que a Lei nº 601, de 1850 foi o “batistério do latifúndio no
Brasil” afinal, “(...) regulamentou e consolidou o modelo da grande propriedade rural, que é
base legal, até os dias atuais, para a estrutura injusta da propriedade da terra no Brasil.”
(STÉDILE, 2005, p. 25). Fica evidente, portanto, que do ponto de vista legal, a lei normatiza a
propriedade privada da terra no Brasil, e esta adquire valor de troca, tornando-se mercadoria.
Posteriormente, com a advento da Lei Aurea, de 1888 oficializa-se a “libertação” dos
trabalhadores que estavam sob o regime de escravidão, em consequência, dois milhões de
pessoas adultas retiram-se das fazendas, das
2
senzalas, em busca de outras formas de trabalho para garantir a sobrevivência, agora nas
cidades. (STÉDILE, 2005).
Considera-se que o modelo agrícola adotado no Brasil Colônia e seus desdobramentos
eclodiram em uma conformação socioespacial e política para o surgimento das grandes
expressões da questão social brasileira, macro divididas em questão social rural e urbana,
ratificando o pensamento de que a questão agrária no Brasil se tonifica a partir dos processos
expressos para a manutenção da grande propriedade latifundiária, como configurações de
poder político e econômico.
Assim, o modelo plantation entra em declínio, tanto com a abolição à escravidão,
quanto com a eclosão da I Grande Guerra mundial, que desestruturou o comércio do
continente europeu e americano. (STÉDILE, 2005). Em virtude desses acontecimentos
configurou-se um contexto de mudanças na conjuntura econômica, que levou à crise no
modelo de agroexportação.
A isso soma-se a abertura à imigração europeia no Brasil, enquanto saída para a
substituição da força de trabalho escrava pela livre, emergindo a produção agrícola, agora sob
a forma de colonato. Os dados avaliam que até o ano de 1914 chegaram ao Brasil mais de 1,6
milhões de imigrantes camponeses desprovidos de recursos. Eram trabalhadores oriundos de
países como Alemanha, Itália, Espanha. Alguns desses imigrantes que se instalaram na região
Sul do Brasil acessaram a terra por meio da compra, entre 25 a 50 hectares. Já outros não
receberam terras, e foram designados a trabalhar em grandes fazendas de café no Rio de
Janeiro e São Paulo. Eram-lhes concedidas lavouras de café, moradia e uma área livre
correspondente a dois hectares – para o cultivo da terra e a criação de animais a fim de
manterem o sustento familiar. (STÉDILE, 2005)
Esse novo modelo de produção comercial no campo deu origem a outro, o denominado
campesinato. Como aponta Stédile (2005), existem duas acepções no que tange seu
aparecimento: as populações miscigenadas do percurso dos 400 anos de colonização “Essa
população, em geral, não se submetia ao trabalho escravo e, ao mesmo tempo, não era
capitalista, eram trabalhadores pobres, nascidos aqui” (STÉDILE, 2005, p. 29); e a imigração
dos milhões de camponeses europeus falto de recursos, como acima citado.
O campesinato está intimamente relacionado à agricultura para a subsistência, isto é, a
produção realizada pela família e o sustento da mesma, mas também voltada
2
para a distribuição interna de alimentos, constituindo um marco para a formação da pequena
propriedade produtora. (BENTHIEN, 2007, p. 580).
Em seu estudo pela Universidade Federal do Paraná, Benthien (2007) discorre a
respeito da formação da pequena propriedade em seu aspecto histórico. Para a autora
É importante destacar que para Prado Júnior (1947) essa agricultura seria um
“acessório”, isto é, um aporte fundamental para a manutenção da economia agroexportadora e
aponta que essas “agriculturas” possuem suas diferenças para a reprodução do projeto
econômico em questão
Já apontei acima os motivos principais porque fiz esta distinção fundamental numa
economia como a nossa, entre a grande lavoura que produz para a exportação e a
agricultura que chamei de “subsistência” por destinar-se ao consumo e à
manutenção da própria colônia (...). Há a considerar a natureza econômica intrínseca
de cada uma e outra categoria de atividade produtiva, o fundamento, o objetivo
primário, a razão de ser respectiva de cada uma delas(...) (PRADO JÚNIOR, 1979,
p. 157 apud DELGADO, 2005, p. 20.
2
então, nesse contexto o modelo de industrialização independente oriundo do projeto
governamental desenvolvimentista do presidente Getúlio Vagas, como cita o autor
(...) E, enfim, em 1930, setores das elites da nascente burguesia industrial dão um
golpe, fazem uma “revolução” política por cima, tomam o poder da oligarquia rural
exportadora e impõe novo modelo econômico para o país. Surgiu, então, o modelo
de industrialização dependente, na conceituação dada por Florestan Fernandes,
conceito esse derivado do fato de a industrialização ser realizada sem rompimento
com a dependência econômica aos países centrais, desenvolvidos, e sem
rompimento com a oligarquia rural, origem das novas elites dominantes. Alguns
estudiosos chamaram esse período de projeto nacional desenvolvimentista; de Era
Vargas, pois o projeto político foi coordenado pela liderança política de Getúlio
Vargas, que governou o país de 1930 a 1945 (STÉDILE, 2005, p. 30).
2
II. Os baixos salários devido a saída dos trabalhadores do campo para fornecer mão de
obra à indústria, e em consequência, excedente mão de obra, isto é, aporte para o
exército industrial de reserva6.
III. A produção de matéria prima agrícola para a indústria tornou-se função dos
trabalhadores do campo, como o carvão, a celulose e a lenha, dentre outros.
IV. Produzir e fornecer alimentos para a cidade por preços baixos para que estes
chegassem baratos à mesa dos trabalhadores urbanos e assim, estes continuassem a se
reproduzir enquanto classe trabalhadora à medida que o salário base era corrigido de
acordo com a cesta básica.
Vale ressaltar, segundo Stédile (2005, p.30) que a conjuntura dos governos militares
apresenta uma agricultura “modernizada, capitalista, e um setor camponês completamente
subordinado aos interesses do capital industrial” Período que ocorre a primeira crise do
modelo de industrialização dependente. Neste ínterim surgem mobilizações sociais e de
disputa entre classe, na busca de atenuar as consequências da crise tanto para a elite do
capital, quanto para a classe trabalhadora. (STÉDILE, 2005)
Um século depois da criação da primeira Lei das Terras, entra vigor no ano de 1964 o
Estatuto da Terra, decretado pelo Marechal Castelo Branco, durante o regime militar,
instituindo a primeira lei de Reforma Agrária no país, porém, tendo por objetivo, evitar o
irromper de novas revoluções sociais (STÉDILE, 2005).
Vinhas7 (2011) faz a crítica a respeito de tal lei frisando que em seus objetivos não está
o transformar a estrutura agrária do Brasil, visto que a lei mantém os privilégios da elite
agrária com a contínua reprodução da grande propriedade, pois o Estatuto “não enfrentou o
aspecto fundamental da estrutura agrária brasileira, ou seja, o monopólio de imensa extensão
de terra por uma minoria de latifundiários, que explora a grande massa de lavradores sem, ou
com pouca terra” (VINHAS, 2011, p. 125). Como cita o próprio autor, desde o exórdio da
colonização, o processo de
6
Netto (2012) fala sobre as consequências da acumulação capitalista em relação à classe operária em meio ao
caos da concentração e centralização do capital, e aponta, a formação do exército industrial de reserva, que sendo
uma designação de Engels, Netto apresenta que é “um grande contingente de trabalhadores desempregados, que
não encontra compradores para a sua força de trabalho” (NETTO, 2012, p. 145)
7
Moisés Vinhas foi militante e escritor. Trecho da obra “Problemas Agrário-Camponeses do Brasil” (Editora
Civilização Brasileira, 1986)
2
ocupação e colonização do Brasil, o monopólio da terra é institucionalizado. (VINHAS, 2011,
p. 137)
O golpe de 1964 derrubou um governo constitucional que estava respaldado por
setores sociais, que envolvia os trabalhadores organizados em sindicatos e movimentos no
campo e nas cidades, partidos, segmentos da classe intelectual, e ainda parte da elite nacional.
Durante o período da ditadura empresarial militar, prisões, intervenções aos sindicatos,
cassações, expulsões, violência, mortes, torturas e humilhações foram realizadas por um
Estado autoritário, e desencadearam grandes consequências para as estruturas sociais.
Com o fim deste período, motivado por amplo movimento de luta dos diversos setores
populares, teve início o período da redemocratização, porém com a ascensão ao poder central
de grupos políticos considerados conservadores, que imprimiram como pauta política o
alinhamento do país à economia neoliberal, apesar da instituição da Constituição Federal, em
1988.
A política econômica neoliberal adotada pelos então governos centrais agravou o
quadro de desigualdades sociais, com aumento da pobreza e da miséria. No entanto, tal
política econômica foi intensamente questionada e combatida pela sociedade em geral e de
forma particular por organizações e movimentos sociais e partidos de esquerda, a exemplo do
Partido dos Trabalhadores (PT), que chega ao poder central em 2002.
Em 2002, aconteceu a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo central,
resultado das décadas de 1980 e 1990, período que representou o apogeu da rearticulação
sindical no país pós ditadura, tendo o Partido uma participação ativa e central na luta dos
trabalhadores urbanos e rurais por seus direitos; havendo apoio e envolvimento de pessoas e
grupos, como intelectuais, artistas e partidários mais próximos às ideias esquerdistas, o que
ocasionou na chegada de Luís Inácio Lula da Silva à presidência da República.
No governo petista instaurado em 2002 a crise das políticas neoliberais evidenciou o
caráter burguês do Estado, pois ainda que o Partido tenha se destacado por suas lutas e postura
de oposição às políticas do governo Fernando Henrique Cardoso, que lhe antecedeu, assim
como a defesa da democracia e participação das classes trabalhadoras, e populares, na
condição de governo, optou por responder aos interesses do capital em uma conjuntura
permeada por aspectos comprometedores
2
dos direitos das classes trabalhadoras, sob a face do capital fictício e parasitário, que se
contrapunha às propostas de cunho mais socialista.
Em relação à questão agrária, o Estado brasileiro passou a financiar os ideais dos
latifundiários e seus projetos econômicos, caminhando na contramão dos ideais dos pequenos
proprietários rurais, dos trabalhadores rurais, e dos camponeses de modo geral, incluindo as
comunidades tradicionais indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas, que constituíam
setores principais das bases dos governos petistas. Esse aspecto desencadeou a discussão atual
entre setores políticos da esquerda e da direita e suas respectivas propostas e concepções de
desenvolvimento para o país.
Na discussão político-econômica da questão agrária na contemporaneidade observa-se
novas formas de rearticulação das forças conservadoras no campo sob a face das novas
relações de produção adotadas na atual fase do capitalismo. Portanto, as práticas produtivas
do agronegócio representam a matriz tecnológica do campo, a partir do resgate histórico no
Brasil, no contexto da nova reestruturação produtiva adotada pelos governos brasileiros do
pós-guerra, o que também caracteriza as estratégias de disseminação ideológica postas pelos
setores hegemônicos de produção no campo.
O próximo item tem o objetivo de abordar elementos conceituais sobre a constituição
da questão agrária brasileira a partir dos clássicos da área. As teses clássicas principais: tese
do feudalismo colonial, do capitalismo e escravismo colonial serão apresentadas de maneira
suscinta nessa sessão. Essa abordagem teórica é de estrema importância pois a questão agrária
recebe um olhar teórico-científico no Brasil, em um primeiro momento, na década de 1960.
Logo após adormece mediante o bojo da conjuntura de ditadura militar e retorna na década de
1980, no bojo do processo de redemocratização com a Constituição Federal de 1988.
2
ligados às teorias marxistas (ERTHAL, 2000), isto é, tendo por parâmetro metodológico o
materialismo histórico dialético para pensar o modo de produção. O referido autor,
fundamentado nos estudos do historiador José Roberto do Amaral Lapa (1929-2000) busca
classificar as obras em quatro grupos de maior relevância para o debate, nos quais pontuam
como eixo principal de estudo, o (os) possível modo (os) de produção da colônia e seu
desdobramento econômico. Amaral Lapa (1991) em sua obra intitulada “O Sistema
Colonial” destaca os seguintes grupos de autores
3
transição política decorrente da luta pela democratização, após 21 anos de um período
autoritário8, caracterizando o que Dreifuss (1981) denomina de ditadura empresarial-militar, e
desde então tomou uma maior proporção em termos de discussão e produção científica, à em
medida que grupos políticos e científicos avançaram no pensamento sobre o tema, o que
infelizmente, é desconhecido pela maioria da população brasileira, que em regra, possui uma
ideia do assunto, baseada no senso comum.
Como assinala Stédile (2013), debates e argumentos sobre a questão agrária e seus
desdobramentos, manifestaram-se progressivamente a partir dos anos de 1980. Anteriormente,
na década de 1960 houve um grande debate, cujo foco principal se encontrava no confronto
de análises sobre a realidade agrária e de sua incidência sobre o desenvolvimento do país,
atentando para aspectos políticos e econômicos.
Tratava-se de contexto de efervescência nas discussões dos partidos políticos e seus
programas, em especial os partidos de esquerda, como o Partido Comunista Brasileiro (PCB)
e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). As teses defendidas por esses partidos advinham
da premissa de que características próprias do feudalismo embricavam diretamente no
desenvolvimento do capitalismo no país. Stédile (2013) menciona que para Alberto Passos
Guimarães e Maurício Vinhas, dois grandes estudiosos do tema, a tese do feudalismo
colonial era vista “como um entrave ao desenvolvimento do capitalismo e até com
resquícios feudais” (STÉDILE, 2013, p.11). Em contraposição, autores como Caio Prado
Júnior, Rui Marini e André Gunder Frank, defendiam que no país, nunca houve colonialismo
feudal, ao afirmarem que no campo, o capitalismo se desenvolvia e as relações sociais de
produção possuíam caráter capitalista, mesmo que peculiar à época, por sua forma de
concentração e de dependência. Stédile (2013), considera que o contexto da ditadura militar
reprimiu o debate, mas que a posteriori, ele retorna nas universidades, nos movimentos
sociais, nos partidos políticos, na Igreja, bem como em outros setores da sociedade; além de o
teor da discussão não estar mais em torno dos possíveis modos de produção agrária do Brasil
colonial, outrossim, busca investigar a natureza da reforma agrária, a
necessidade desta, se está se será revolucionária ou reformista, e outros.
8
Existe uma profunda discussão historiográfica da realidade brasileira contemporânea em torno da duração da
“ditadura civil-militar” ou “empresarial-militar”. Muitos estudos defendem que o período autoritário ou
autocrático durou de 1964, ano do golpe, até 1985, com o fim do mandato do último governante militar. Mas,
recentemente, surgiram movimentos revisionistas que afirmam que o período autoritário durou apenas entre
1969 e 1979, momento de vigência do A.I.5, a exemplo de Villa (2014).
3
Moisés Vinhas (2011, p. 127) considerando aspectos importantes como "a estrutura da
propriedade territorial, a definição de estratos sociais rurais, as contradições econômicas e
sociais no campo e os fundamentais traços da reforma (...)" no intuito de contribuir
intelectualmente com a discussão sobre a reforma agrária e de qual o tipo de reforma agrária
para o Brasil – se uma reforma para os trabalhadores camponeses, que defenda os interesses e
necessidades da classe camponesa que vive de uma produção parca, de subsistência, ou,
mesmo assalariada, mas, com poucos recursos e/ou ausência da terra; ou uma reforma para a
classe burguesa do campo.
Com tais considerações, Vinhas faz uma crítica a Caio Prado Junior, que em sua obra
"Revolução Brasileira”, declara que no Brasil não havia latifúndio, e que a luta pela revolução
seria a mesma, tanto para o proletariado do campo quanto para os trabalhadores da cidade, e
que o primeiro não teria suposto interesse pela posse da terra, mediante relações de trabalho
exclusivamente capitalistas. (VINHAS, 2011, p.123). Destarte, o estudioso declara que “toda
a literatura sobre a questão agrária, assim como a legislação oficial dos diversos diplomas,
planos de governos, grupos de estudos, programas de partidos e correntes políticas assinalam
a existência do latifúndio no Brasil” (VINHAS, 2011, p.131)
Nesse sentido, é indispensável mencionar que as contradições no campo constituem
entraves para a realização de uma reforma agrária inclusiva, que leve em consideração todas
as particularidades que envolvem a economia, as classes sociais que se relacionam
diretamente com a questão agrária.
Concomitantemente, afirma Vinhas (1986) que as contradições regionais, ou seja, as
diferenças entre as regiões e localidades de um país de extensão continental, tornam mais
acentuadas as desigualdades, e faz alusão a Celso Furtado quando este, em uma conferência
para Oficiais das Forças Armadas, em 1959, declara que “que as crescentes disparidades
regionais constituirão o mais grave problema do nosso país nesta segunda metade do século
20”. (FURTADO, 1959, apud VINHAS, 2011, p.134). Em suma, contribui o referido autor
estudado
3
Muitas são as leituras ou interpretações a respeito da questão agrária brasileira, seja no
intuito de dar respostas para a atual configuração política e econômica do Brasil, seja para
desenvolver estratégias políticas de transformação no âmbito agrário e na luta por sua
reforma, mediante as expressões da questão social que orbitam em seu entorno, sejam na
infraestrutura e superestrutura do país.
Gunder (2012, p. 40), crítico da tese feudal, classifica as interpretações sobre o
desenvolvimento do campo em três as quais chama de "marxistas tradicionais”, sendo que "o
feudalismo que antecede o capitalismo, o feudalismo coexiste com o capitalismo e o
capitalismo penetra ou invade o feudalismo." Todas estas acepções, que tem como categoria
central o modo de produção, discutem os “atrasos” da agricultura brasileira e suas
particularidades frente ao modo de produção capitalista.
Seguindo essa linha conceitual, este estudo classifica resumidamente as correntes de
interpretação da questão agrária no Brasil da seguinte forma: tese do feudalismo colonial, tese
do capitalismo colonial e tese do escravismo colonial, que serão apresentadas de forma
resumida neste trabalho.
A primeira tese corresponde àquela que defendeu a existência de relações feudais ou
semifeudais de produção no campo, na qual o autor Alberto Passos Guimarães foi um de seus
destacados pensadores. Guimarães (2005) em sua obra “Quatro Séculos de Latifúndio”
defende que no Brasil, o que houve, foi um colonialismo feudal, com características feudais,
sendo que, no âmbito econômico, a colonização brasileira se desdobrou com características
semelhantes a do feudalismo europeu, o que corroborou para o não avanço das relações
capitalistas de produção. Para o estudioso
3
(...) a História nos mostra, não só em relação à colonização portuguesa como no que
se refere a todas as outras, que as metrópoles exportam para as colônias processos
econômicos e instituições políticas que assegurem a perpetuação de seu domínio.
Por isso, sempre que a empresa colonial precisa utilizar processos econômicos mais
adiantados, ela recorre, como contrapartida obrigatória, a instituições políticas e
jurídicas muito mais atrasadas e opressivas. (GUIMARÃES, 2011, p. 36)
Segue Guimarães (2011, p. 39), afirmando que, mesmo à vista das modificações no
aparelho econômico-social do feudalismo português, que passou da "economia natural para a
economia mercantil", não houveram transformações econômicas suficientes que pudessem se
aproximar de um modo de produção mais avançado, ou seja, do capitalismo. Diz o referido
autor, que há falhas nessa interpretação da conjuntura lusitana, impelindo vários estudiosos
importantes ao “erro” classificatório da economia portuguesa, designando-a capitalista.
Em relação ao escravismo no contexto de uma colonização feudal, o autor compara os
trabalhadores escravizados com os servos das glebas do feudalismo europeu, utilizando o
termo “regressão” no que diz respeito à força de trabalho do regime semifeudal.
Nelson Werneck Sodré (1911-1999) também foi um grande estudioso e político que
concebia a acepção feudal. Tinha como premissa o fato de que a metrópole, ou seja, Portugal,
estava ainda sob a égide do modo de produção feudal.
Criticando a tese do capitalismo, o autor sugere um equívoco, que levaria ao erro de
alguns autores sobre as características do modo de produção na colônia brasileira e suas
relações. Para ele, o equívoco se encontra na apropriação do pensamento de Marx a respeito
do desenvolvimento do capitalismo europeu, pois “Marx observa que o mercantilismo (o
comércio) não bastava para originar o capitalismo na Europa, tendo para isto sido necessária a
indústria (a produção)” (GUNDER, 2021, p. 41).
Assim, a teoria de Sodré estaria firmada na premissa de que “o mercantilismo não
podia produzir, no Brasil, capitalismo, e nem mesmo escravidão” (GUNDER, 2021, p. 41).
Completando, diz Sodré
3
os que apoiaram a tese da existência de características capitalistas na empresa
da colonização foram levados a isso, certamente, pela confusão que reinou por longo
tempo entre as noções da capital comercial, característica da fase mercantil, e
capitalismo. Hoje, parece claro que, embora tenha contribuído para a transformação
de que resultou o aparecimento do modo capitalista de produção, o capital
comercial, como se apresentava na época da expansão ultramarina, estava longe [...]
de caracterizar o referido modo de produção. (Sodré, 1962, apud ROIO, 2016, p. 88)
Agora, partindo para a tese do capitalismo colonial, observa-se que esta linha de
interpretação defende que no Brasil, o que prevaleceu foram relações sociais de produção
com características capitalistas ou pré-capitalistas, ou seja, o capitalismo desenvolvia-se na
agricultura desde o período colonial, configurando-se como capitalismo dependente9, ou
seja, o capitalismo em uma sociedade subdesenvolvida.
De acordo com Erthal (2011), o maior representante da vertente do capitalismo na
constituição econômica do campo brasileiro foi o economista Roberto Simonsen. Simonsen
foi um defensor ferrenho da tese capitalista, atribuindo o processo colonizador e seus
desdobramentos como genuinamente capitalistas. A exemplo, Borges (2011), aponta que,
sobre o estatuto que regia as Capitanias Hereditárias, Simonsen tenta “assinalar-lhe
aspectos essencialmente capitalistas” (BORGES, 2011, p.261).
Stédile (2012), diz que André Gunder Frank foi o primeiro, numa perspectiva marxista
clássica, a fazer uma crítica contundente às teses do PCB da existência do feudalismo na
agricultura brasileira e da América Latina. (STÉDILE, 2012, p. 12)
Gunder (2012) apresenta em seu texto "Agricultura brasileira: capitalismo e o mito
do feudalismo - 1964" uma crítica contundente aos companheiros marxistas que defendem a
tese do feudalismo no campo, quando estes defendem que para haver desenvolvimento
econômico na agricultura seria necessário a implementação de agricultura capitalista, o que
em tese, já seria uma contradição. O autor sugere que a compreensão sobre as crises na
agricultura brasileira seja investigada no próprio sistema capitalista. Entende que a
agricultura do Brasil só será entendida como
9
A autora Mariana Davi Ferreira, com base no conceito de capitalismo dependente de Florestan Fernandes,
explica em seu artigo “Para uma introdução à tese do capitalismo dependente no pensamento de Florestan
Fernandes” que “o subdesenvolvimento latino-americano se funda como parte constitutiva da dinâmica
capitalista, conferindo um caráter particular ao capitalismo dependente. Essa particularidade se deve ao papel
funcional que as economias da região exercem, ontem e hoje, ao processo de acumulação dos países centrais,
desde a acumulação originária, que tem como consequência a adoção de um padrão exportador pelas economias
nacionais, em conformidade com a dinâmica do capitalismo internacional” (FERREIRA, 2019, p.53)
3
produto do desenvolvimento e do subdesenvolvimento do capitalismo mundial. O autor
assim se expressa:
nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde
ouro e diamante; depois, algodão, e em seguida café; para o comércio europeu.
Nada mais que isto. E com tal objetivo, objetivo exterior, voltado
3
para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele
comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileira. Tudo se disporá
naquele sentido: a estrutura bem como as atividades do país. (PRADO JR, 1942, p. 26)
Uma repartição melhor da propriedade agrária, e o mais fácil acesso a ela para os
trabalhadores rurais, constitui, portanto, a meta principal de uma política orientada
para a transformação das relações de trabalho, e melhoria das condições de vida dos
trabalhadores. Mas não há que ver aí, por não ser o caso, nenhuma superação de
pseudoetapa feudal ou semifeudal, e ascensão para o capitalismo. (PRADO
JÚNIOR, 1979, p. 69)
De acordo com Erthal (2011), uma nova perspectiva teórica nasce baseada nos estudos
de Cardoso e Gorender. A tese do escravismo colonial apresentou a ideia de um novo modo
de produção, fundamentando-se em categorias básicas como a escravidão e a plantagem no
âmbito do processo de produção colonial. Nas palavras de Erthal (2011, p. 256), o
posicionamento de Gorender revela que “a utilização da força de trabalho não pode ser fator
contingente ou acidental em qualquer modo de produção” e “do tipo de trabalho decorrem
relações sociais essenciais que definem leis específicas de cada modo de produção”. Daí,
entende-se que sua perspectiva vem em contraposição às outras teorias que defendem um
feudalismo ou semi- feudalismo e, ainda, um capitalismo ou pré-capitalismo colonial.
3
Gorender (2012) à luz de Marx, defende que a principal categoria de sua tese foi a
plantagem10 (plantacion); esta foi sempre dominante enquanto organização produtiva no
escravismo colonial, e por ela se derivou o trabalho escravo (escravidão) que se instaurou em
todas as relações sociais de produção. (GORENDER, 2012). Esse modo de produção tem
finalidade de atender o mercado mundial, longe de este atender o mercado interno e não se
tornou “uma organização mercantil em sua totalidade” (GORENDER, 2012, p. 150). Também
aponta o autor em questão que a organização feudal é distinta da plantagem escravista, pois
nesta última os trabalhadores estão isentos de qualquer autonomia, enquanto na estrutura
feudal as “pequenas explorações familiais tributárias, possuidoras de meio de produção,
autônomas e estáveis, constituem a base do sistema. (GORENDER, 2012, p. 151)
Erthal (2011) também menciona que autores como Nelson Werneck Sodré fazem uma
crítica a Gorender e sua tese, ao falar que o escravismo foi um estágio fundamental se
colocado como ‘escravismo colonial para distingui-lo do clássico’ ERTHAL, 2011, 257).
Todavia atribuir à escravidão a fase de colonização enquanto um modo de produção, regido
por um conjunto de leis próprias, não haveria de ter base fundamentadora.
10
Termo utilizado pelo próprio autor.
3
relativamente povoado, têm-se caracterizado como propriedade latifundiária as áreas acima de
mil hectares” (STÉDILE, 2000, p. 163)
O latifúndio, enquanto sujeito histórico, encontra-se inserido no contexto da
questão agrária brasileira e se apresentou no Brasil, na década de 1990, como novo modelo
de desenvolvimento do setor agropecuário capitalista, que de acordo com Canuto (2004, p.
2) perpassa por uma “construção ideológica para tentar mudar a imagem latifundista,
predadora, expropriatória e excludente da agricultura capitalista”. Na perspectiva da
propriedade latifundiária brasileira – latifúndio – enquanto categoria, a propriedade territorial,
junto aos meios de produção e força de trabalho correspondente aos moldes econômicos
coloniais, constatou-se que a propriedade da terra como categoria de produção, foi capaz de
expressar não apenas interesses econômicos, mas políticos e de poder tendo por referência as
relações sociais construídas, os aspectos culturais europeus e de outros povos incutidos na
sociedade
brasileira, acrescidos de uma nova sociabilidade.
A propriedade da terra no Brasil, segundo Stédile (2000), fica refém do monopólio
capitalista e possui atributo de poder político, em que o grande proprietário possui. Além
disso, o “coronel” foi a figura que evidenciou o poder político de decisão e coação nas
comunidades rurais do Brasil. O coronelismo ainda se sobrepõe na atualidade, nas figuras de
políticos que mandam e desmandam nas unidades federativas, nos municípios e nas esferas
institucionalizadas de poder que configuram a política nacional, estadual e local
3
econômica constituiria uma espécie do novo setor de atividade econômica.”
(DELGADO, 2012, p. 86)
4
Como destaca Azar (2013, p. 96), “o agronegócio, como faceta modernizadora às
velhas práticas da agricultura capitalista, constitui termo forjado na disputa ideológica dos
projetos diferenciados de produção agrícola”.
Assim, o agronegócio como projeto “tech”, ou seja, estruturado sob a adoção das
inovações tecnológicas (maquinários, produção transgênica, uso de agrotóxicos), apresenta-se
na propaganda como moderno, avançado, na vanguarda da produção agrícola, atribuindo
implicitamente a ideia de atraso à agricultura familiar camponesa. Porém, é importante dizer
que estudos mostram, conforme demonstra Azar (2013), que a agricultura familiar é
responsável pela maior parte da produção de alimentos para o consumo interno do país, e
permanece à margem do sistema de produção, além de sofrer a violência e os conflitos pela
terra e pela escassez de projetos financiadores da agricultura campesina, que é, portanto, tão
peculiar e importante para o processo de desenvolvimento de “soberania alimentar” brasileira.
Com isso, pode-se dizer que o discurso de modernidade adotada pelo agronegócio, de
fato mostra os aspectos da modernidade tecnológica que sustenta esta produção, no entanto,
apresenta-se com caráter conservador, na medida em que mantêm as estruturas sócio
econômicas de desigualdade no campo, submetendo as famílias camponesas à dinâmica de
pobreza e falta de condições de trabalho e de vida.
Considerando a discussão realizada a acerca da questão agrária, o próximo capítulo
visa relacionar questão agrária e Serviço Social, tendo como parâmetro a dimensão
investigativa do Serviço Social contextualizado nas produções cientificas em questão agrária
do ENPESS. Assim, o primeiro momento faz o resgate sócio- histórico do Serviço Social e
apresentação da questão social, objeto de trabalho da profissão. Após, faz indicações sobre a
dimensão investigativa do Serviço Social e por fim, apresenta os dados coletados sobre as
produções em questão agrária dos ENPESS mapeados.
4
4
3 SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO AGRÁRIA: uma relação em construção
Este capítulo situa o Serviço Social como profissão construída no processo sócio
histórico brasileiro, observando os elementos teórico metodológicos dessa construção. A
partir desses pontos, levanta-se a discussão sobre a relação entre a profissão e a questão
agrária, haja visto o Serviço Social ter como objeto de trabalho a questão social e suas
múltiplas expressões. A questão agrária está no cerne da formação sócio-histórica do Brasil e
dela se originou tantas outras expressões da questão social que são abordadas na atualidade,
como por exemplo, a questão urbana11.
E é nesse contexto de urbanização e crescimento econômico que o Serviço Social no
Brasil veio avançando perante à crise econômica mundial e o processo de industrialização
brasileira. Fato esse, que deixará a questão agrária à margem da discussão teórico-
metodológica e da produção do conhecimento para o exercício profissional até meados da
década de 1990, contexto no qual a questão agrária começará a se destacar paulatinamente no
campo profissional.
O Serviço Social, como categoria que apresenta caráter investigativo, organiza- se
através da ABEPSS, pesquisas e produção do conhecimento sobre suas diversas áreas de
atuação, sendo a questão agrária um dos eixos de estudos. Neste sentido, este capítulo
apresenta o levantamento feito junto a algumas edições do ENPESS sobre esta expressão da
questão agrária.
De acordo com Iamamoto (2015, p. 22) o Serviço Social é uma profissão especializada
na divisão social e técnica do trabalho, passando por diversas transformações, desde sua
origem até os dias atuais. Nesse processo, a profissão vivenciou um marco de renovação em
suas dimensões teórico-metodológica, técnico-
11
A questão urbana, sendo uma das mais expressivas expressões da questão social da atualidade, está
estritamente articulada à questão agrária, pois a questão urbana em muito se deu da migração de famílias
camponesas às cidades em busca de emprego, diante do processo de industrialização nacional, formando os
grandes aglomerados urbanos tais como as favelas. Delgado (2010) atenta sobre esse aspecto no Brasil, onde
“impôs-se um modelo de industrialização para a agricultura, que provocou a concentração de terras nas mãos de
grupos capitalistas e promoveu um crescente êxodo rural, provocando simultaneamente o agravamento da
questão urbana” (DELGADO, 2010, p. 32)
4
operativa e ético-política, principalmente com o Movimento de Reconceituação do Serviço
Social12 brasileiro. Essas mudanças cooperaram para que o projeto profissional do Serviço
Social se voltasse aos interesses da classe trabalhadora, de forma crítica, expressos no Projeto
Ético Político da profissão, que orienta o compromisso profissional com a qualidade dos
serviços prestados aos usuários, agregados a um projeto de sociedade que vise a garantia de
direitos e a emancipação humana.
O Serviço Social, como profissão, nasce no Brasil, na década de 1930, sob o viés
assistencialista e filantrópico, cuja função era de assistir às necessidades dos trabalhadores das
fábricas que viviam em condições de pauperismo, no sentido de atenuar os conflitos causados
pelas más condições de trabalho associado aos baixos salários, bem como, assistir ao exército
industrial de reserva, que vivia à margem da sociedade capitalista nacional. O
assistencialismo e a caridade serão pilares para a atuação profissional nesse contexto, haja
vista, que sua origem se dará na junção dos interesses do Estado, da iniciativa privada e a
atuação da Igreja Católica13.
Metodologicamente, a profissão em sua fase inicial no Brasil teve como referenciais
teóricos a “Doutrina da Igreja Católica, no ideário Franco-Belga de ação social e no
pensamento de São Tomás de Aquino (séc. XII): o tomismo e o neotomismo” (YAZBEK,
2009, p. 8). Nesse contexto, a questão social é tratada como questão moral e de polícia,
portanto, a princípio o conservadorismo católico - pensamento social da Igreja - norteará as
ações realizadas pelo Serviço Social. Como diz Iamamoto e Carvalho (2014)
12
O Movimento de Reconceituação do Serviço Social é marcado pelo rompimento com o Serviço Social
tradicional, que terá em sua base teórica a tradição marxista, dando, portanto, ao Serviço Social a criticidade
advinda da teoria social do materialismo histórico dialético de Karl Marx.
13
A Igreja Católica foi a responsável pelo processo de formação profissional dos primeiros assistentes sociais do
país. (YAZBEK, 2009). Posteriormente, com o curso promovido pela Igreja de “formação social para moças” é
criado o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), no ano de 1932, que será a organização inicial de onde
surgirá a primeira Escola de Serviço Social. Além de ser responsável pela formação de base, o Centro criou
Centros Operários, que se desdobrou “em sedes da Juventude Operária Católica e serviriam como campos de
estágio para as alunas do curso de Serviço Social” (YAZBEK, p. 8)
4
Somente em 194014, o Serviço Social brasileiro terá contato com outras fontes teórico
metodológicas, quando se aproxima do Serviço Social norte-americano 15 e da teoria social
positivista, de caráter conservador. (YAZBEK, 2009). Nesse período o Estado passa a ser o
regulador e financiador das relações de produção e das necessidades emergentes, das classes
proletárias, garantindo a reprodução do capital. O Estado teve como estratégia a
regulamentação de leis trabalhistas, sociais e sindicais bem como ações assistenciais, que
possibilitasse que o Serviço Social agregasse novas possibilidades de intervenção profissional.
(YAZBEK, 2009). Com isso,
A profissão amplia sua área de ação, alarga as bases sociais de seu processo de
formação, assume um lugar na execução das políticas sociais emanadas do Estado e,
a partir desse momento, tem seu desenvolvimento relacionado com a complexidade
dos aparelhos estatais na operacionalização de Políticas Sociais. (YAZBEK, 2009, p.
10)
Cabe aqui uma elucidação sobre essa reorientação profissional na qual Iamamoto
(1992) citada por Yasbek (2009, p. 5), nomeia como “arranjo teórico doutrinário”, sendo,
portanto, um processo de unificação “do discurso humanista cristão com o suporte técnico-
científico de inspiração na teoria social positivista” (YAZBEK, 2009, p. 5), o que fomenta a
perspectiva conservadora da profissão, mesmo sob a orientação das Ciências Sociais
(YAZBEK, 2009). A profissão se inclina, nessa orientação funcionalista, para o
“aperfeiçoamento de instrumentos e técnicas”, além da “burocratização de atividades
institucionais”. (YASBEK, 1984, citado por YASBEK, 2009, p. 6)
É importante assinalar alguns dos vários avanços do Serviço Social, como a
regulamentação da profissão na divisão sociotécnica do trabalho, no ano de 1954,
14
Trata-se de uma década (1940) marcada pela realização de vários congressos importantes para a profissão,
entre eles o primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social (1947), o primeiro Congresso Pan-Americano de
Serviço Social (1945) e o 2º Congresso Pan-Americano de Serviço Social (1949), realizado no Rio de Janeiro.
(IAMAMOTO, 2014)
15
De acordo com Andrade (2008) é sob influência norte-americana que surge o Serviço Social de Caso, Grupo e
Comunidade, que posteriormente dava origem ao Desenvolvimento de Comunidade (CD). O Serviço Social de
Caso é baseado nas teorias de Mary Richmond, Poter Lee e Gordon Hamilton. Tratase de teorias psicologizantes,
baseada na personalidade dos indivíduos e posteriores mudanças de comportamento (ajuste social). Já o Serviço
Social de Grupo, que tem por finalidade “estabilizar ou melhorar a situação do cliente quanto à adaptação ou
ajustamento social” (ANDRADE, 2008, p. 281) e possuía uma perspectiva educacional, tendo como ênfase a
busca pelo autodesenvolvimento do indivíduo no contexto social inserido. E, por fim, o Serviço Social de
Comunidade (Desenvolvimento de Comunidade), que também tinha por objetivo o ajustamento social dos
sujeitos e a prática do trabalho assistencial, e, foi uma estratégia política que visava a “prosperidade, o progresso
social e a hegemonia ideológica americana (capitalismo)” (ANDRADE, 2008, p. 284).
4
pelo decreto de Lei nº 35.311, de 08 do 04 de 1954, no governo de Getúlio Vargas. Anterior a
esse marco, são instituídas a Associação Brasileira das Escolas de Serviço Social (ABESS)
em 1945, a Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS) em 1946, e a criação do
Código de Ética de 1948.
É, pois, na década de 1960, que novas perspectivas constituirão o movimento de
renovação do Serviço Social. Yasbek (2009) sustenta que em um contexto de mudanças
culturais, político-econômicas e sociais, na dinâmica do capitalismo mundial em avanço, que
reincide na exclusão e subordinação dos países latino- americanos que se desenvolviam, a
categoria profissional começa a questionar-se sobre o projeto profissional tradicional, o que
estabelece “a necessidade de construção de um novo projeto comprometido com as demandas
das classes subalternas” (YAZBEK, 2009, p.7) e, a partir desse contexto, a aproximação e
introdução da referencial teórico marxista: teoria social de Karl Marx16
Eclode, então, o Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino
Americano, que se desenvolverá, de modo particular em cada país e suas determinadas
conjunturas. No Brasil, o movimento toma forma, no contexto de política desenvolvimentista,
ditadura militar e repressão. Essa fase terá como atributos principais o questionamento da
prática profissional, a aproximação dos movimentos sociais e intenção de ruptura (NETTO,
2005) com o Serviço Social tradicional. Esse processo terá como referenciais teóricos, três
vertentes conforme Yasbek (2009, p.8):
Modernizadora: corresponde às abordagens de matriz positivista, estruturalista e
funcionalista, apresentando uma modernização conservadora, na qual busca o
desenvolvimento social através da luta contra o pauperismo e marginalização dos
indivíduos, além de caracterizar a atuação profissional por meio de “um projeto renovador
tecnocrático fundado na busca da eficiência e da eficácia”.
Baseada na fenomenologia / Fenomenológica: trata da incorporação da metodologia
dialógica, que retoma sua direção para a comunidade e para a pessoa, onde o Serviço
Social tem como função contribuir no relacionamento entre o usuário e outras pessoas e o
mundo dessas pessoas.
16
O objeto de estudo de Marx será a sociedade burguesa europeia (séculos XVIII ao XIX) em plena
efervescência do capitalismo monopolista, sendo a questão principal de sua pesquisa o processo de
desenvolvimento e as crises da sociedade burguesa, constituída sob o modo de produção capitalista. Sua teoria se
dá em uma perspectiva crítica (racional) da sociedade tendo por ponto de partida os processos históricos e sua
dinâmica (NETTO, 2009, p. 5).
4
Marxista: que tem como característica principal a aproximação do marxismo e o
entendimento de fazer parte da sociedade de classe, enquanto profissão.
Um marco histórico-político para o desenvolvimento da profissão a ser pontuado foi a
realização do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), que aconteceu em
setembro de 1979, e que ficou conhecido como “Congresso da Virada”, pelo direcionamento
político-social para a construção do Projeto Ético-Político Profissional brasileiro, além de ser,
um marco na orientação da intenção de ruptura com o conservadorismo do Serviço Social.
Seu objetivo principal foi de fazer a articulação sindical em âmbito nacional da categoria, em
meio ao contexto de grandes mobilizações do operariado brasileiro e da classe trabalhadora
que visava um sindicalismo de classes; na organização dos movimentos sociais populares e na
reorganização dos trabalhadores de Serviço Social, no âmbito nacional e estadual.
(ABRAMIDES; CABRAL, 2009).
Desse modo, nas décadas seguintes, o Serviço Social assume elementos teórico-
metodológicos de intervenção fundamentados na tradição marxista, configurando a profissão
em sua atual construção. Tal teoria tem como fundamento a compreensão “do ser social a
partir de mediações” (YAZBEK, 2009, p. 10), entendidas na metodologia interventiva
profissional, que se dará entre as instituições e os usuários, aproximando-se de suas
particularidades em meio à universalidade dos processos sociais macroestruturados. A
profissão ao abordar o marxismo como referência, passa a entender a profissão como parte
integrante da organização social e que está agregada ao dinamismo das relações sociais
participando das mesmas (YAZBEK, 2009).
A década de 1980 avança no âmbito dos direitos sociais com o crescimento
efervescente dos movimentos sociais e o processo de redemocratização política e social do
Estado, através da promulgação da Carta Constitucional de 1988, sendo que o Serviço Social
vivencia a luta constante para romper com o conservadorismo, alcançando novas perspectivas
como no âmbito da produção do conhecimento 17; tomando um posicionamento ideopolítico
centrado na emancipação humana e
17
No âmbito da produção científica, haverá a apropriação do pensamento gramsciano a respeito de abordagens
sobre os conceitos de Estado, sociedade civil, hegemonia, ideologia, entre outros temas, cultura das classes
subalternas; além do pensamento da autora Agnes Heller com a problematização sobre a categoria cotidiano,
dentre outros autores marxistas e suas abordagens relevantes à profissão. (YASBEK, 2009)
4
garantia de direitos político-sociais; e, respeitando o pluralismo que diverge entre os
profissionais identificando no interior da categoria posições reacionárias.
O contexto vivido nos anos 1990 pela profissão é de amadurecimento do Projeto Ético
Político, agora pautado na defesa dos direitos sociais, materializando-se no Código de Ética
Profissional do Assistente Social, na Lei de Regulamentação da Profissão de Serviço Social,
com a Lei 8662 de 1993, e posteriormente nas Diretrizes para o Curso de Serviço Social da
então Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS), em 1996, que
redimensionou a formação profissional para fazer frente à nova conjuntura.
Considerando o Serviço Social tratar- se de uma profissão que se institucionaliza em
um movimento histórico que reproduz o movimento social e suas relações sociais produtivas,
Iamamoto e Carvalho (2014, p. 77) a situam “como um dos elementos que participa da
reprodução das relações de classes e do relacionamento contraditório entre elas”, ou seja, o
Serviço Social se origina da reprodução da sociedade e suas determinações históricas, e “se
configura como um tipo de especialização do trabalho coletivo dentro da divisão social do
trabalho peculiar à sociedade industrial”. (IDEM)
É importante considerar que o Serviço Social emerge na sociedade capitalista tendo
como principal pauta a industrialização e o processo de migração do campo para a cidade.
Sendo, então, na dialética das relações de classes, no bojo da sociedade industrial capitalista,
que a profissão se reproduz, é nesta sociedade, e nas contradições inerentes à sua própria
reprodução que se configura a “questão social”, ou melhor, as expressões da questão social.
Esse modelo de produção se orienta pela dinâmica de acumulação e posse privada de bens e a
exploração da força de trabalho junto à expropriação dos meios de produção à classe
trabalhadora. Aqui se evidencia a marca da contradição, das forças antagônicas entre as
classes sociais: burguesia e proletariado (MARTINELLI, 2011).
O desenvolvimento do modo de produção capitalista europeu, que se deu em de modo
expressivo em meados do século XIX, por meio da expansão industrial e suas consequentes
crises, promoveram à classe trabalhadora a indiscutível situação social de extremo
pauperismo18, permeada pelas más condições de trabalho e
18
Martinelli (2011) contribui sobre a situação das famílias exploradas declarando que “(...) Vivendo uma vida
minada pela doença, pela fome, pelas adversidades das condições de trabalho, e habitando em
4
exploração da força de trabalho, o que demonstrava “graves problemas” 19 sociais,
contribuindo para a hipertrofia do exército industrial de reserva. Posteriormente, diante da
marca da exploração, a classe trabalhadora começa a se organizar, e, na década de 1870, é
notória a existência de um operariado combativo e organizado, que almeja novos moldes
sociais, marcada pela consciência de classe, abrindo um caminho revolucionário para a
organização dos trabalhadores. (MARTINELLI, 2011)
Por isso, Iamamoto (2015) destaca que o avanço do Serviço Social no mundo, ocorreu
de forma necessária em decorrência das transformações da sociedade após a primeira Grande
Guerra Mundial (1914-1918), a Guerra Fria e a hegemonia stadudinense, diante de um padrão
de desenvolvimento que repercutiu em mudança no comportamento da sociedade, tanto no
campo ideológico e cultural, quanto na economia, frente à forte industrialização e o
consumismo, reflexo de tais transformações. Assim, protagonizou-se a organização produtiva
taylorista/fordista, que se dava pela produção industrial em massa e em série, com elevado
nível de organização. (IAMAMOTO, 2015). Assim,
Os ‘30 anos gloriosos’ - do pós-guerra até meados dos anos 1970 - marcaram uma
ampla expansão da economia capitalista, sob a liderança do capital industrial,
apoiada em uma organização da produção de bases tayloristas e fordistas, como
estratégias de organização da gestão do processo de trabalho. (IAMAMOTO, 2015,
p. 29)
locais insalubres e impróprios à vida humana, a família operária tinha sua expectativa de vida reduzida, sendo
frequentes os óbitos de adultos, jovens e crianças” (MARTINELLI, 2011, p. 70)
19
Termo utilizado pela autora. Aqui não se faz referência às terminologias utilizadas pelo Serviço Social quando
à questão social.
4
Iamamoto (2015), contribui sobre as expressões da questão social, reafirmando que
nelas está o alicerce e início da profissão, enquanto especialização do trabalho, e estas, são,
portanto, as formas factíveis de desigualdades da sociedade que possui como modo de
produção, o capitalismo, o que nos leva a compreender que o “(...), o Serviço Social tem na
questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho. Questão social
apreendida como conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura
(...)” (IAMAMOTO, 2015, p. 27). A autora pontua nesse ínterim, que a produção social do
trabalho é coletiva, mas em contrapartida, seu produto é privado e monopolizado pelos donos
dos meios de produção, isto é, por uma minoria da sociedade.
Ao considerar a organização da estrutura social sob o pensamento de Karl Marx, que
está dividida em infraestrutura e superestrutura, e que, portanto, o Estado estabelece nesta
última, os aparatos sociais e jurídicos que determinam os direitos e garantias fundamentais
dos cidadãos, o Serviço Social brasileiro se relaciona diretamente com a formulação de
políticas sociais e públicas e na execução das mesmas, no bojo da sociedade brasileira, ou
seja, a profissão realiza a mediação entre direitos sociais concedidos pelo aparato estatal –
seja na esfera pública ou privada – e os cidadãos, que recebem a atenção necessária para tal
fim. Parafraseando Iamamoto (2015, p. 23), a profissão se institucionaliza por meio da
regulação da vida social realizada pela máquina do Estado que administra os conflitos das e
entre as classes sociais.
Logo, assistentes sociais atuam com a questão social em todas as suas expressões, no
cotidiano profissional como: nas áreas da assistência social, previdência social, na saúde, na
habitação, na atenção às famílias; igualmente, atuam com segmentos sociais considerados
minorias ou mais vulneráveis como população LGBTQ+, mulheres, idosos, crianças e
adolescentes; dentre tantas outras áreas em que se manifestam essas expressões
(IAMAMOTO, 2015), como a agrária, que apresenta suas particularidades como questão.
Cabe então, “decifrar as múltiplas expressões da questão social, sua gênese e as novas
características que assume na contemporaneidade, atribuindo transparência às iniciativas
voltadas à sua reversão e/ou enfrentamento imediato” (IAMAMOTO, 2015, p. 29).
5
Esses profissionais liberais20, que possuem a linguagem como marca em sua
instrumentalidade laboral, trabalham em seus territórios, vivenciando a efetiva luta para a
garantia de direitos aos usuários que buscam os serviços sociais, em um ato de resistência
cotidiana, para desenvolver as atribuições e competências que compele à profissão,
respeitando seus princípios fundamentais e o Código de Ética Profissional.
O Código de Ética do Serviço Social de 1993 é o reflexo das transformações ético-
políticas da profissão, junto à nova perspectiva profissional direcionada na garantia de
direitos, tendo a liberdade como princípio norteador de todo o seu processo de trabalho.
Cumpre ressaltar, que será nesse contexto da década de 1990 que o Serviço Social permitirá
sua interação com a questão agrária, como abordado no próximo item.
Como citado no início deste capítulo, o Serviço Social é uma profissão histórica,
inserida na divisão social e técnica do trabalho coletivo, que tem por objeto de trabalho as
expressões da questão social. Assim, tratar o Serviço Social no âmbito da questão agrária é
fazer o resgate do movimento histórico da sociedade brasileira e suas relações sociais de
produção e a incidência dessa dinâmica sobre a vida dos trabalhadores do campo, pois aponta
Delgado (2010) que “a questão agrária é uma categoria histórica brasileira”21 (DELGADO,
2010, p. 32), entretanto, ainda pouco reconhecida pela categoria profissional, de tal forma,
que a própria percepção sobre a questão social encontra-se essencialmente vinculada na
literatura, como sendo oriunda apenas do processo industrial.
Por isso, para se pensar o Serviço Social na sua relação com a questão agrária é
imprescindível, e, no entanto, percebemos que, apesar de a profissão incluir as
expressões da questão social como seu campo de atuação, a questão agrária, uma
das expressões centrais e fundante da
20
Com base em Iamamoto (2015, p. 95 e 96) o Serviço Social apesar de ser regulamentado como uma profissão,
não possui essa tradição no Brasil, todavia, é amparado por uma relativa autonomia no que concerne ao modo de
conduzir seu atendimento diretamente com o público alvo de seu trabalho baseado no Código de Ética
Profissional.
21
Como visto no capítulo primeiro deste trabalho, a perspectiva histórica em torno da questão agrária é
representada desde a colonização (exploração da grande propriedade da terra, trabalho escravo e monocultivo)
que desemboca na estrutura fundiária e suas relações de trabalho, tal qual pode-se contemplar na atualidade por
meio das lutas dos movimentos sociais do campo.
5
questão social no Brasil na atualidade não recebe a devida atenção, no debate da
profissão. (DELGADO, 2010, p. 19)
5
burguesa. Nesse momento, a reforma agrária era pautada sob o viés da distribuição fundiária
(CAIO PRADO, 2000).
A posteriori, os trabalhadores do campo22 iniciaram sua movimentação social
reivindicatória no intuito de conquistar seus direitos enquanto classe trabalhadora, e mais
tarde, a solução implementada foi a de projetos de colonização (distribuição) de terras, ou
seja, àqueles projetos para conquista de assentamentos, o que minimizaria os conflitos
causados por tais enfrentamentos.
Por conseguinte, é a partir da década de 1980, que as ações de enfretamento em torno
da questão agrária apresentam uma nova reconfiguração, se amplificando, tendo-se em conta
que os trabalhadores camponeses e seus movimentos, observaram que as necessidades de sua
classe vão além da obtenção da terra propriamente dita, isto é, da questão da distribuição de
terras, mas que é impreterível que políticas públicas sejam implementadas para responder à
questões econômicas, sociais e políticas dos camponeses (DELGADO, 2010: 35), pois “a
questão agrária permeia hoje uma série de problemas fundamentais à sociedade brasileira”
(SILVA, 1993, apud DELGADO, 2010, p. 35). Desse modo,
A ampliação dos conflitos revela que os mesmos já não são apenas conflitos em
torno da terra, da produção ou das condições de trabalho. Trata-se também da
construção de obras públicas, da assistência governamental nas situações de
calamidade do meio ambiente, da assistência médica, entre outras questões
(ARAÚJO, 1999, apud DELGADO, 2010, p. 34)
Visto isso, a questão agrária tomará novos rumos quanto à leitura realizada pela
sociedade civil, pelas autoridades, estudiosos e principalmente pelos sindicatos, organizações
e movimentos de linha de frente de luta pela reforma agrária. Havendo um olhar da classe
burguesa, que visa o lucro, e da classe trabalhadora, que é a responsável pelas mudanças no
âmbito agrário. Um exemplo é o do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que
surgiu em 1984, resultante de uma confluência de lutas pelo Brasil e que em sua trajetória tem
a construção de um projeto de reforma agrária popular, fundamentada na transformação
social, a partir do cumprimento da função social da terra, com a preservação ambiental; a
socialização das sementes; a produção agroecológica sustentável; a soberania energética
nacional; o acesso à educação pública gratuita de qualidade bem como aos bens culturais e os
meios de
22
Enfatiza-se que os trabalhadores do campo (camponeses) estão distribuídos em diversas categorias como:
“assentados, assalariados, autônomos, sem-terra, posseiros, meeiros, indígenas, quilombolas, quebradeiras-de-
côco babaçu e pequenos agricultores” (DELGADO, 2010, p. 20)
5
comunicação e a garantia de acesso a todos os direitos sociais de forma democrática (MST,
2021).
Com o processo de amadurecimento da discussão e das lutas reivindicatórias em torno
da questão agrária e seus desdobramentos, fortalecidos na década de 1980 (processo de
redemocratização nacional), será de fato, na década de 1990 que os movimentos sociais irão
combater de modo efetivo as contradições do capital que permeiam a vida campesina, de
modo que
É neste contexto que ‘emergem diferentes formas de luta pela terra (para resistir,
recuperar e/ou entrar na terra), bem como novas formas de organização da unidade
de produção (com mudanças na base técnica, diversificação de atividades, aumento
na escala de produção etc.)’ (MARQUES, 2008: 60), o que tem demonstrado que a
luta entre as classes sociais existe e que está em pura efervescência no meio rural do
país, considerando que há projetos societários distintos em confronto. (DELGADO,
2010, p. 86)
5
Assim, como iniciou de fato a relação do Serviço Social com a causa e/ou questão
agrária? Admite-se os pontos sócio históricos convergentes entre a questão agrária e o Serviço
Social. De um lado, à medida que nas décadas de 1970 e 1980, as lutas sociais dos
trabalhadores do campo e da cidade se evidenciam, principalmente com a ascensão dos
movimentos de luta pela reforma agrária e dos setores trabalhistas da indústria, de outro lado,
o Serviço Social brasileiro também está em transição, afastando-se do conservadorismo
profissional (controle social), para a uma tendência crítica, pós ditadura militar.
É o momento no qual o Serviço Social começa a se aproximar dos “interesses de
emancipação das classes subalternas” (DELGADO, 2010, p.111). Mencionando o pensamento
de Netto (2009), Delgado (2010, p. 111) enfatiza esse marco da profissão pois “desenvolveu
um processo de enfrentamento, recusa e crítica ao conservadorismo profissional, contribuindo
para formar as bases do que denominamos na contemporaneidade de projeto ético-político do
Serviço Social”.
Nesse ínterim, poderia se pensar que o Serviço Social se apropriou efetivamente das
expressões da questão social na esfera da questão agrária, atuando em uma perspectiva
interventiva crítica, no entanto, conforme Delgado (2010), isso não aconteceu de imediato. O
período dos anos 1990, compreendendo um marco para a profissão, especialmente na
pesquisa com a implementação das novas Diretrizes Gerais para o curso de Serviço Social em
1996, e com a aproximação da classe trabalhadora, ainda não recorre aos fundamentos
teóricos existentes da questão agrária para basear sua leitura e intervenção no campo
profissional de atuação, seja no âmbito urbano ou rural.
Ainda existe um distanciamento no bojo da profissão a respeito dessa discussão. Sobre
isso Iamamoto (2015, p. 76) entende que os profissionais são movidos a estar próximo dos
usuários dos serviços sociais, mas que objetivamente seus interesses não se aproximam com
os interesses coletivos e esse profissional se apresenta como um estranho para essas
populações “o assistente social também
5
pode está sendo estranho diante dos segmentos das classes subalternas, contribuindo para que
cidadãos se metamorfoseiem em vítimas, exercendo uma ação de cunho impositivo”
(IAMAMOTO, 2015, p. 77)
Delgado (2010) relata que o debate em torno da questão agrária ainda era
secundarizado, apesar de nesse contexto analítico estar em evidência na sociedade. À vista
disso o Serviço Social deve:
É importante destacar que na pesquisa realizada por Delgado (2010) para sua
dissertação de mestrado, nos trabalhos científicos analisados dos CBAS e ENPSS, são
apresentadas diversas falas de assistentes sociais, nas quais confluem a ideia de que a
formação histórica da profissão no bojo da sociedade capitalista emergente, entrelaçada às
demandas industriais que se configuravam nas cidades, deixaram à margem as demandas
sociais dos trabalhadores camponeses, que não foram levadas em consideração de imediato. A
estudiosa frisa em uma de suas análises que
5
o fato de o Serviço Social ter surgido no contexto da Revolução Industrial, para dá
suporte ao desenvolvimento da sociedade capitalista, que por sua vez tem por espaço
privilegiado o meio urbano (DELGADO, 2010, p. 118.)
De modo genérico, Delgado (2010) conclui em seus estudos que a questão agrária
como particularidade da questão social se dá de variadas maneiras, estando associada à
disputa do capital e do poder econômico. Ao analisar a produção teórica e empírica de
assistentes sociais em seus campos de atuação, a estudiosa chega ao seguinte entendimento
sobre as expressões da questão social no campo
5
para ampliar as possibilidades de efetivação do projeto societário afirmado no
projeto ético-político profissional. (DELGADO, 2010, p. 117)
Esse trecho ressalta a pesquisa enquanto questão essencial para a formação dos
profissionais, o que permitirá que a atuação dos assistentes sociais seja fundamentada no
estudo e aprofundamento das Ciências Sociais Aplicadas, das Ciências Humanas e na teoria
social, e assim, esta atuação seja operacionalizada de
23
Iamamoto (2015) aponta as dimensões do ensino universitário (ensino, pesquisa e extensão) que competem à
política da prática acadêmica. Isso significa estabelecer a uma ponte entre o ensino teórico e prático e a pesquisa
e a extensão que são pilares da formação acadêmica. Estas últimas são realizadas por meio dos grupos de estudos
e seus núcleos temáticos.
5
modo crítico, em meio as demandas cotidianas nos espaços sócio ocupacionais de atuação.
Iamamoto (2015, p. 273) reforça esse pensamento quando afirma que a profissão em
sua dimensão prático-interventiva vai carecer desse aparato teórico- metodológico, que
permitirá “possibilidades de interferências nos processos sociais”. A autora pontua esse fato
como referência para a leitura da realidade vivida pelos assistentes sociais, seja os que estão
alocados diretamente no cotidiano profissional das instituições, ou aqueles que estão ligados
de modo direto com a pesquisa, como professores, e ainda aqueles que se encontram em
processo de formação profissional.
Portanto, a autora identifica que a “dinamicidade dos processos históricos requer a
permanente pesquisa de suas expressões concretas informando a elaboração de propostas de
trabalho que sejam factíveis”. (IAMAMOTO, 2015, p. 272). Isto é, a pesquisa permite que o
Serviço Social avance em propostas teórico- metodológicas e técnico-operativas para o
aperfeiçoamento dos serviços prestados aos usuários dos serviços sociais, seja na elaboração
de novas políticas e atividades pontuais da dinâmica de trabalho institucional, dentre outros
aspectos peculiares à profissão.
E porque a dimensão investigativa do Serviço Social é tão importante para a profissão?
Porque, conforme Iamamoto (2015) as “concepções politicista e tecnicista”, muito já
vivenciadas pela profissão, são atenuadas, haja vista que elas “diluem a particularidade social
do trabalho profissional”. (p. 274). Portanto, quando se pensa sobre a “prática” no âmbito da
formação em Serviço Social, é frisado a dinâmica que perpassa o ensino da teoria e o ensino
da prática, no sentido de que o sujeito em formação tenha a capacidade de apropriação de um
ou mais instrumentais para a análise do objeto, e a “apreensão crítica das situações singulares”
(p. 269) para então, interpretar a/as particularidade/es que esse/es objeto/os de intervenção
e/ou investigação propõe.
Compreender essa dinâmica do Serviço Social desde a formação é essencial quando se
analisa que a produção científica do conhecimento no âmbito da questão agrária ainda é
escassa. Então, indaga-se, porque a dimensão investigativa do Serviço Social no âmbito da
questão agrária ainda é escassa ou pouco vivenciada pelos assistentes sociais brasileiros?
Quais as dificuldades e enfrentamentos que a
5
profissão vivencia, seja na formação acadêmica ou no campo de atuação no âmbito da questão
agrária? Muitas são as reflexões sobre o tema que cabe à profissão se debruçar.
Cumpre ressaltar que mudanças importantes ocorreram na profissão, em especial no
que tange à formação, a partir das Diretrizes Curriculares de Ensino em Serviço Social, com a
aprovação da Proposta Nacional de Currículo Mínimo para o Curso de Serviço Social, em
novembro de 1996, pela Assembleia Geral da então ABESS, baseada nas transformações
ocorridas no interior da profissão, além das mudanças da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), em 1996.
Essas novas diretrizes curriculares foram norteadas por pressupostos que constituem a
formação profissional do assistente social, que, em resumo caracterizam a profissão como
interventiva no âmbito da questão social, mediante as contradições da sociedade capitalista;
sua relação com a questão social é mediatizada por processos sócio históricos e teórico
metodológicos que constituem o processo de trabalho; a inflexão da profissão perante o
reordenamento do capital e do trabalho frente os movimentos das classes trabalhadoras; além
de o processo de trabalho ser configurado pelos determinantes da questão social, e seus
elementos históricos de enfrentamento “permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e
do Estado, através das políticas e lutas sociais.” (DIRETRIZES GERAIS, 1996).
Carregando toda a bagagem da nova perspectiva de formação profissional, o interior
dessa proposta está dividido por Princípios e Diretrizes, e por três Núcleos de
Fundamentação,24 no qual o Núcleo de Fundamentos da Formação Sócio Histórica da
Sociedade Brasileira, no qual a questão agrária é parte imprescindível para configurar a
proposta de uma profissão conectada com a historicidade e totalidade dos processos de
construção social da sociedade brasileira. Assim, pode-se então garantir que a questão agrária
é uma prioridade e está na base da formação dos assistentes sociais. A Lei de Diretrizes
Gerais preconiza que
24
Núcleo de Fundamentos Teórico-Metodológicos da Vida Social; Núcleo de Fundamentos da Formação
Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira: Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional:
6
sociais e políticos peculiares à sociedade brasileira, tais como suas desigualdades
sociais, diferenciação de classe, de gênero e étnico raciais, exclusão social, etc.
(ABEPSS, 1996)
Esse ponto de discussão abre o leque para se pensar e indagar a dificuldade cultural,
promovida pela própria educação formal, no entendimento do que é a questão agrária e as
determinações de sua existência. Nesse âmbito, o Projeto Pedagógico do Serviço Social visa
buscar no ensino, na pesquisa e na extensão essa aproximação, do “desconhecido”. Iamamoto
(2015, p. 171), ao citar o desafio de “historicizar o debate”, chega à sugestão de “iluminar,
por meio da história contemporânea e de uma teoria social crítica nela vincada, as
particularidades do Serviço Social como profissão que realiza e se reproduz no mercado de
trabalho”. Posto isto, a autora compreende no projeto de formação profissional, de modo
particular, no âmbito da pesquisa que,
Conforme o pensamento de Guerra (2009) acima citado, este trabalho irá analisar, no
item seguinte, a produção do conhecimento em Serviço Social no âmbito da questão agrária,
tendo por critério o mapeamento das produções científicas dos ENPESS, em um recorte
temporal de dezesseis anos. Essa análise permitirá relacionar a questão social no âmbito
agrário com o Serviço Social, e dessa maneira, poder identificar se há os avanços e/ou
retrocessos que a profissão vivencia nesse aspecto.
6
3.4 ENPESS: uma síntese da relação Serviço Social e questão agrária
6
De acordo com a ABEPSS (2002), o ENPESS registra em sua história avanço
contínuo de produção do conhecimento, o amadurecimento crescente do trato teórico na área
e o interesse na compreensão da totalidade e das particularidades da questão social e dos
processos político-sociais para seu enfrentamento.
Assim, os eventos realizados objetivam a socialização da produção de conhecimento
da área do Serviço Social, ao cooperar com o debate intelectual e fortalecer os Grupos
Temáticos de Pesquisa (GTP) na área do Serviço Social, contribuindo com a troca intelectual
tanto acadêmica quanto institucional no âmbito profissional, (ABEPPS, s/d). Os ENPESS, na
atualidade, no âmbito da produção, são organizados através dos Grupos Temáticos de
Pesquisa (GTP), que objetivam, de acordo com o Estatuto da ABEPSS, em seu artigo 34
25
Eixos temáticos e quantitativo de trabalhos: Infância e Adolescência: políticas e sujeitos (43); Mundo do
trabalho (39); Assistência: programas, conteúdos e sujeitos (20); Urbano e rural: Movimentos sociais e
intervenções (17); Trabalho e formação do assistente social (38); Saúde: políticas, práticas institucionais e
usuários (36); Questões de gênero e opção sexual (22); Estado, democracia e controle social (41); Iniciação
Científica (118). (ABEPSS, 2002)
6
produzidos por pesquisadores individuais, 53 produções de grupos de pesquisa e 118
trabalhos oriundos de iniciação científica (ABEPSS, 2002). Dentre essas produções,
17 artigos pertencem ao eixo temático “Urbano e rural: Movimentos sociais e intervenções”.
Deste total, foram catalogados neste eixo 11 artigos científicos deste eixo.
Observa-se que nesse período não houve aprovações de trabalhos referentes ao tema
questão agrária, todavia, os títulos dos trabalhos apontavam para as temáticas das questões
urbana e socioambiental. Observou-se também que no eixo temático, onde se insere a questão
agrária, a mesma se apresenta junto à questão urbana, como aponta o quadro abaixo
QUADRO 1. VIII ENPESS (2004)
6
pesquisa e produção do conhecimento em Serviço Social”. Comprometido com a construção e
produção do conhecimento, o IX ENPESS aprovou 545 produções, voltadas principalmente
para a discussão a respeito da formação profissional e a articulação entre a formação e o
exercício profissional (ABEPSS, 2004)
Este Encontro foi organizado em três grandes blocos temáticos e suas subdivisões: I
Formação Profissional: a) Fundamentos do Serviço Social e b) Formação Profissional –
Estado da Arte; II Articulação entre Formação e Exercício Profissional a) Serviço
Social, Política Social, Estado e Sociedade e b) Fundamentos Éticos-Políticos, Teórico-
Metodológicos, Instrumental Técnico-Operativo; III Educação Continuada.
A questão agrária está situada no item Serviço Social, Política Social, Estado e
Sociedade, e o quadro a seguir indica os artigos científicos sobre a questão agrária foram
apresentados
QUADRO 2. IX ENPESS (2004)
6
neste evento, novos elementos de pesquisa, e a questão agrária ainda caminha junto à questão
urbana (questão rural-urbana).
Dando continuidade, de acordo com Silva e Coutinho (s/d), o X ENPESS, realizado na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife (PE), em 2006, teve como tema
norteador “Crise Contemporânea, Emancipação Política e Emancipação Humana: Questões e
Desafios do Serviço Social no Brasil”. As autoras apontam que foram submetidos 1.024, com
aprovação de 745 trabalhos, porém, só identificamos apenas 470 trabalhos nos Anais do
evento. O XI ENPESS, que ocorreu em São Luís – MA, em 2008, teve como tema “Trabalho,
Políticas Socias e Projeto Ético-Político profissional do Serviço Social: resistência e
desafios”, onde foram recomendados o total de 632 trabalhos para apresentações em pôster e
comunicação oral, tendo extensa produção na temática “Formação profissional e o processo
interventivo do Serviço Social.” Diante das dificuldades de realização da pesquisa, frisa-se a
ausência de dados do ENPESS (2006) e ENPESS (2008), compreendendo que os Anais
pesquisados encontram-se publicados em DC-ROM e os CDs obtidos não abriram o conteúdo,
impossibilitando a coleta de dados.
O XII ENPESS foi realizado na cidade Rio de Janeiro – RJ e sediado pela
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no período de 06 a 10 de dezembro de
2010, com o tema regente “Crise do Capital e Produção do Conhecimento na Realidade
Brasileira: pesquisa para quê, para quem e como?”. A referida edição foi um marco até então,
no quantitativo de trabalhos aprovados e publicados. Desse modo foram aprovados 1.293
trabalhos, dispostos em 912 apresentações orais, 165 exposições de pôsteres e 32 Mesas
Temáticas Coordenadas. (SILVA e COUTINHO, s/d). As autoras pontuam que o XII
ENPESS estabelece a estrutura dos Grupos Temáticos de Pesquisa (GTP), realizando a
organização em eixos temáticos sistemáticos para assim
6
na Questão Agrária”, avançam em número de produções e na abordagem de outras categorias
que se correlacionam com a mesma. Como aponta os Anais do ENPESS realizado em 2010,
foram catalogados 15 artigos sobre a temática, nos quais, três textos discutem sobre o Serviço
Social, três discutem a Questão Social no âmbito da questão agrária, além da abordagem de
categorias como: “gênero”, “condições de trabalho”, “agricultura familiar”, “agroecologia”,
“movimentos sociais”, “meio ambiente”, “assentamentos” e “reforma agrária”. Observa-se,
nesse contexto, de forma genérica, a ênfase na discussão sobre as condições de trabalho dos
camponeses, como aponta as informações quadro abaixo
QUADRO 3. XII ENPESS (2010)
6
Assentamento de Reforma Agrária João
Batista II, Castanhal-PA.
ASSENTAMENTOS DE REFORMA Assentamentos,
AGRÁRIA E AS PERSPECTIVAS DE Desenvolvimento Rural,
DESENVOLVIEMNTO RURAL: um estudo Planejamento.
de caso.
AS EXPRESSÕES DA SUBORDINAÇÃO Transformações Societárias,
DO CAMPO AO SISTEMA DO CAPITAL: Meio Rural e Precarização.
reflexões a partir do caso brasileiro.
QUESTÃO SOCIAL E QUESTÃO Questão Social, Reforma
AGRÁRIA: as particularidades da política Agrária, Crise do Capital.
de reforma agrária em tempos de crise do
capital.
Fonte: ABEPSS (2010)
6
QUADRO 4 - XIII ENPESS – 2012
EIXO TEMÁTICO TÍTULOS PALAVRAS-CHAVE
6
Os limites da Reforma Agrária de mercado. Reforma Agrária, Trabalhadores
Rurais, Estado.
A QUESTÃO AGRÁRIA NA AMAZÔNIA Amazônia Maranhense, Questão
MARANHENSE: notas para o debate atual. Agrária, Agronegócio,
Reconcentração Fundiária,
Violência no Campo.
SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO AGRÁRIA: Questão Agrária, Serviço Social,
o “Abelha Operária” como projeto de Projeto de Intervenção.
intervenção.
O VIGOR NOSSO DE CADA DIA: A estética Consciência de Classe, MST,
da mística do Movimento dos Trabalhadores Mística, Estética.
Rurais Sem Terra no processo de formação da
consciência classista.
7
da questão agrária frente às lutas sociais e movimentos sociais do campo/rural. Tal leitura
caracteriza a relação já citada neste trabalho, do Serviço Social com os movimentos socias e a
maior aproximação das pelas causas camponesas, para a emancipação dessa classe, que pode
ser observado no quadro 5.
EIXO
TÍTULOS Palavras-Chave
TEMÁTICO
7
Trabalhadores Rurais Sem
Terra
MULHERES CAMPONESAS BRASILEIRAS: Participação Política Das
relações entre trabalho e participação política. Mulheres, Divisão Sexual Do
Trabalho, Mulheres
Camponesas
Os movimentos sociais rurais e a construção da ideia Convivência, Semiárido,
de convivência com o semiárido brasileiro. Movimentos Sociais
7
agrária”, “mercado”, “mercado financeiro”, “saúde do trabalhador rural”, “criminalização”,
“orçamento público”, “energia limpa e renovável”.
Destaque para a palavra-chave “educação”, que se repete diversas vezes nas acepções
relacionadas à educação popular, educação no campo, educação em direitos humanos, além
do contexto na esfera do ensino universitário em “extensão universitária”, o que evidência
uma importante relação da categoria educação com a questão agrária, e consequentemente,
seu vínculo com o Serviço Social. Outro ponto relevante é a recorrência de palavras-chave
referentes à categoria “mercado” e similares, apontando para os processos mercadológicos no
campo e suas consequências frente à questão social no prisma agrário. Surge ainda, a palavra-
chave “saúde”, que ainda não fora mencionada até então.
QUADRO 6. XV ENPESS (2016)
7
A REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO NA Assentamento; Produção
ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO: Breves Agrícola; Reforma Agrária
considerações sobre a produção agrícola nos De Mercado
Assentamentos Engenho Catarina e Santa Clara.
7
AS TENDÊNCIAS DO AGRONEGÓCIO Burguesia Sucroalcooleira.
SUCROALCOOLEIRO NO BRASIL DOS ANOS Agronegócio. Questão
2000 E O MITO DA ENERGIA “LIMPA E Agrária. Energia Limpa E
RENOVÁVEL”. Renovável
SERVIÇO SOCIAL, QUESTÃO RURAL E A Questão Agrária; Política De
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: Assistência Social; Serviço
aproximações à discussão. Social
A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA Agricultura Familiar,
INSERÇÃO NAS POLÍTICAS PÚLICAS DE Questão Agrária, Políticas
DESENVOLVIMENTO RURAL: um olhar a partir Públicas
do governo Lula, Fernando Henrique Cardoso (F. H.
C), até os dias atuais.
EIXO
TÍTULOS PALAVRAS-CHAVE
TEMÁTICO
7
POLÍTICAS SOCIAIS E CONFLITOS RURAIS: Política Social; Conflitos
Ênfase na limites e perspectivas do reassentamento Socioambientais; Direitos
Questão involuntário das famílias rurais do entorno do Sociais; Desenvolvimento
Agrária território estratégico de Suape/PE Econômico; Famílias Rurais
7
(2010), retrata a produção do Serviço Social de acordo com o relatório da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (2001/2003), responsável pela
avaliação dos Programas de Pós-Graduação da área, que aponta temáticas com maior
evidência em produção
QUADRO 8. Trabalhos publicados nos ENPESS (2002, 2004, 2010, 2014,2016, 2018)
Nº total de Nº de Trabalhos Questão Palavras-chaves mais
ENPESS Trabalhos do Ênfase na Agrária usadas nos artigos
Evento Questão Agrária % selecionados
VIII
427 - - -
(2002)
IX
545 3 0,5% Trabalhador Rural
(2004)
XII
1293 15 1,5% Questão Social
(2010)
XIII
1343 22 1,6% Serviço Social
(2012)
XIV
1097 19 2% Movimentos/Lutas sociais
(2014)
7
XV
917 28 3% Educação
(2016)
XVI
1877 17 0,9% Serviço Social
(2018)
Fonte: organizado pela autora
Em síntese, foram catalogadas 99 produções no decorrer desses anos de ENPESS –
com exceção das edições do X e XI ENPESS. Em relação a quantidade de trabalhos
apresentados em cada edição, observa-se que em 2002 não foram encontrados artigos sobre a
questão agrária. Em 2004 foram apresentados apenas 3 artigos. Há um hiato entre os ENPESS
de 2006 a 2008 devido ausência de dados. Em 2010 esse número sobe, sendo o total de 15
trabalhos. No ENPESS de 2012 observa- se que o número de trabalhos continua crescente,
com 22 publicações. Já em 2014 foram catalogados 19 trabalhos, indicando uma queda. Na
edição de 2016 novamente elevam-se os números com 28 trabalhos científicos. E, por fim, no
ENPESS de 2018 temos uma baixa significativa, com o total de 17 trabalhos.
Por conseguinte, pode-se comparar a quantidade total de trabalhos de cada edição e
com o total de trabalhos com ênfase na questão agrária, onde o percentual da produção em
questão agrária aponta que há uma ampliação no debate e na produção do período de 2004 a
2016, considerando um crescimento de 0,5% para 3%, e uma queda de 2,1% no ano de 2018,
com 09% de produções. Assim, o percentual de produções subsequentes das seis edições com
apresentação de trabalhos foram: 2004: 0,5%; 2010: 1,5%, 2012:1,6%; 2014: 2%; 2016: 3%
e 2018:
0,9%.
As palavras-chaves mais usadas, além da palavra chave “questão agrária” – que é o
foco desse trabalho são: “trabalhador rural”, “questão social”, “agricultura” “Serviço Social”,
“movimentos/lutas sociais”, “educação”, por evento. Vale mencionar o trato teórico sobre a
relação questão agrária e questão de gênero, na categoria “mulher/trabalho da mulher”;
“juventude”, “reforma agrária”, “agricultura familiar”, “agroecologia”, “capitalismo” e
sinônimos, dentre outras categorias secundárias. Nesse aspecto, poder considerar como a
questão agrária se relaciona com outras categorias.
Em termos gerais, os dados desse levantamento indicam uma oscilação na produção
científica em questão agrária o permite compreender a dificuldade enfrentada pela categoria
de apropriar-se dessa expressão da questão social. Como
7
os elementos teóricos da pesquisa indicaram essa limitação está fundamentada no próprio
contexto histórico, tanto da questão agrária brasileira, quanto do Serviço Social.
Assim, faz-se necessária a aproximação e resgate – seja na pesquisa, nos movimentos
socias, nas instituições, nos projetos – da questão agrária por parte da categoria, afim de
contribuir com a construção do conhecimento em Serviço Social e consequentemente, na
formação e atuação da categoria profissional, para o enfretamento da questão agrária em vista
da emancipação humana.
7
CONSIDERAÇÕES
Ao longo desde estudo realizado com o propósito de refletir sobre a relação do Serviço
Social e questão agrária, tendo como referência o ENPESS, resgatou-se as categorias
principais desse objeto de pesquisa: questão agrária, Serviço Social e a dimensão investigativa
do Serviço Social. Essas categorias foram desenvolvidas com base na metodologia crítica
dialética, que busca na teoria apreender a essência do objeto de estudo.
Assim, o desenvolvimento da categoria questão agrária se deu na perspectiva de
aproximação do processo sócio-histórico que configurou a questão agrária brasileira, desde a
colonização até a contemporaneidade. A questão agrária originou- se da distribuição desigual
de terras, com as capitanias hereditárias e consolidou-se através da base econômica da
produção capitalista do campo.
Diante do modo produção capitalista têm-se as contradições inerentes a esta. Não
existe capitalismo sem desigualdades sociais, pois este modo de produção funda- se na
propriedade privada dos meios de produção e na exploração do trabalho. O agronegócio é
uma expressão da contradição no campo. Se apresenta com reatualização do latifúndio, agora
moderno, com matrizes tecnológicas de manutenção. O agronegócio se opõe ao
campesinato/produção familiar e só existe se ferir o direito fundamental à terra e àqueles que
dela tiram seu sustento.
No meio rural, o agronegócio sintetiza a questão agrária na atualidade, por meio do
latifúndio e da agroindústria. Suas contradições negam direitos aos trabalhadores do campo e
das populações tradicionais, negam o direito à terra, o direito de uma reforma agrária
comprometida com a emancipação humana.
No decorrer do trabalho foi necessário entender tal processo para chegarmos ao
Serviço Social, profissão que nasce no processo das contradições do capitalismo. O Serviço
Social possou por amadurecimento em seu percurso histórico sendo construído por várias
matrizes teórico-metodológica, desde a caridade e assistencialismo, até visar a emancipação
humana. Atualmente, a profissão possui uma nova configuração, fundamentada na teoria
crítica de Marx. A questão social é seu objeto de trabalho, e a questão agrária é objeto do
Serviço Social.
Nesse aspecto a relação existente entre Serviço Social e questão agrária no Brasil
ainda é passa por amadurecimento, pois sendo o Serviço Social, na sociedade
8
brasileira, uma profissão que nasceu no contexto do processo de industrialização e
urbanização, a questão agrária foi apreendida com maior resistência. Destacou-se a relação
Serviço Social e questão agrária perpassa pelo pragmatismo está inserido na ação profissional
nesta área existindo devido o processo histórico que constituiu a trajetória do Serviço Social.
Abordou-se a perspectiva da dimensão investigativa da profissão como elemento que
contribui com a formação e a atuação interventiva do profissional do Serviço Social. Nesse
aspecto o profissional e estudante de Serviço Social deve ter uma postura crítica, que busca no
conhecimento e nos processos de trabalho do cotidiano a qualidade nos serviços a serem
prestados aos usuários.
O caminho histórico que o Serviço Social vem percorrendo na produção científica no
âmbito da questão agrária é permeado por lutas e resistência, como a própria questão agrária
brasileira. Ao considerar as produções de cada evento, vemos a persistência do Serviço Social
para se relacionar com a área, seja no âmbito dos movimentos sociais, das políticas públicas,
da relação com a produção e as famílias do campo, seja nas produções submetidas a pesquisas
empíricas, seja nas produções de pesquisas bibliográficas, há um esforço da categoria, entre
profissionais e estudantes, de contribuir com a dimensão investigativa do Serviço Social na
tessitura da questão agrária.
Todavia, pôde-se compreender que ao tomar-se o resgate teórico da questão agrária,
que assinala sua relevância na construção social, política e econômica do país, e, a relação que
essa expressão da questão social possui com o Serviço Social, vislumbra-se que ainda existem
dificuldades de aproximação, e aprofundamento dessa expressão. Dificuldades que se
apresentam na pesquisa e em consequência, na dinâmica e apreensão das formas que a
questão agrária se apresenta no cotidiano profissional.
Considera-se também, que não há resolutividade da questão agrária, ao contrário,
ainda há a uma certa negação da questão agrária existente desde a formação do Brasil, que se
perpetua até os dias atuais, e eventualmente, ocorre o mesmo interior da categoria
profissional, inserida nos processos sócio políticos da sociedade vigente.
8
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