Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Luís-MA
2017
2
São Luís - MA
2017
3
Ficha gerada por meio do SIGAA/Biblioteca com dados fornecidos pelo (a) autor (a).
Núcleo Integrado de Bibliotecas/UFMA
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por até aqui ter me feito forte o suficiente para superar todas as
adversidades da vida!
À minha família, em especial aos meus pais Rosângela e Walber, às minhas irmãs
Edsângela, Bruna e Bianca e ao meu cunhado Leandro, por serem o meu alicerce.
Aos meus três corações que batem fora do meu peito, minha sobrinha e sobrinhos:
Gabriela, Gabriel e Samuel.
A aqueles que eu tenho como meus segundos pais, Manoel Marinho, José Mauro
e Rosa Santana.
À minha orientadora Prof. Dra. Marly Dias, pelos ensinamentos, orientações e por
ter sido minha referência na graduação durante toda a minha vida acadêmica.
Às queridas professoras do DESES/UFMA, as responsáveis pela minha formação
em excelência nesta profissão em que tanto me realizo.
Ao Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Relações de Gênero, Étnico-Raciais,
Geracional, Mulheres e Feminismo – GERAMUS, por me acolher e me fazer sentir uma
feminista em (des) construção.
À equipe da Defensoria Pública do Estado do Maranhão, em especial às minhas
queridas Supervisoras de Estágio Silene e Lila, por acreditarem em mim e ter me dado a
oportunidade de crescer profissionalmente
Às minhas amigas Aline, Andyara, Bianca e Camilla, por estarem comigo desde a
época do colegial.
Aos meus amigos Jairo, Gleydson, Camille e Roseana, pela amizade e pelo
carinho.
Às minhas amigas Danúbia, Denise, Maysa, Tereza, Isabelle, Ívila, Thaiane,
Tatiane e Lyvia, presentes que a UFMA me deu.
Às mulheres-mães-estudantes da UFMA, as quais entrevistei nesta pesquisa.
A todos aqueles que de forma direta ou indireta contribuíram para a construção
desta monografia.
7
RESUMO
ABSTRACT
The purpose of this study is to analyze the nursery in the context of the National Plan for
Student Assistance (PNAES) as a concrete possibility for the admission and stay of women-
mothers-students in the undergraduate courses of the Federal University of Maranhão - Dom
Delgado University City. For that, an analysis is made of student assistance in Brazilian
universities during the twentieth century, as well as the historical rescue of the struggle for
day-care centers in Brazil, with a cut in the presence of these institutions in universities. For
the execution of this exploratory and qualitative case study, 16 (sixteen) female-mothers-
students were interviewed with children between 00 (zero) and 06 (six) years of the 03 (three)
most female courses of the Center of Social Sciences Of UFMA - Dom Delgado University
City. The results point to the relevance of the construction of a day care center in UFMA, as
these can contribute to the ability of the female-student mothers to enter, stay and complete, in
a qualitative way, Higher Education, reducing school dropout and contributing to Equality
between men and women in the academic sphere.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SIGLAS
ANDIFES – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior
ANUUFEI – Associação Nacional das Unidades Universitárias Federais de Educação Infantil
AL – Alagoas
CA – Centro Acadêmico
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CE – Ceará
CF – Constituição Federal
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CNE – Conselho Nacional de Educação
COEDI – Coordenação Nacional de Educação Infantil
CONDICAP – Conselho Nacional dos Dirigentes de Colégios de Aplicação
CRUSP – Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo
CUT – Central Única dos Trabalhadores
DAE – Departamento de Assistência ao Estudante
DEOAC – Departamento de Organização Acadêmica
DF – Distrito Federal
DNCr – Departamento Nacional da Criança
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
ES – Espírito Santo
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
FUM – Fundação Universidade do Maranhão
GERAMUS – Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Relações de Gênero, Étnico-racial,
Geracional, Mulheres e Feminismos
GO – Goiás
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
IFES – Instituições Federais de Ensino Superior
LBA – Legião Brasileira de Assistência
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
MEC – Ministério da Educação
MG – Minas Gerais
MS – Mato Grosso do Sul
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 18
2 A TRAJETÓRIA DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NAS
UNIVERSIDADES BRASILEIRAS 28
2.1 O PLANO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL (PNAES):
princípios, diretrizes e a implementação na Universidade Federal do Maranhão –
UFMA 41
3 A CRECHE COMO POLÍTICA PÚBLICA: direito das crianças e mulheres-
mães 53
3.1 CRECHES NAS UNIVERSIDADES: atualidades e o atendimento oferecido aos
filhos dos (as) estudantes 66
4 ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DA UFMA, MULHERES-MÃES-
ESTUDANTES E CRECHE: o debate a partir dos dados 83
4.1 O CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UFMA E A PRESENÇA
FEMININA: algumas considerações. 83
4.2 MULHERES, ESTUDANTES UNIVERSITÁRIAS E MÃES: uma tríade de
desafios. 89
4.3 O QUE DIZEM AS ENTREVISTADAS SOBRE A POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DA UFMA E DE SEUS DIREITOS
ENQUANTO ESTUDANTES E MÃES. 96
4.4 ACESSO AO SERVIÇO DE CRECHE E O QUE EXPRESSAM AS
MULHERES SOBRE A CONCILIAÇÃO DOS PAPÉIS SOCIAIS DE MÃE E
ESTUDANTE. 98
4.5 A CRECHE NA UFMA: uma possibilidade para a permanência das mulheres,
mães e estudantes nos cursos de graduação da UFMA/Cidade Universitária Dom
Delgado? 104
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 109
REFERÊNCIAS 113
APÊNDICES
ANEXOS
18
1 INTRODUÇÃO
1
A Resolução Nº 236/2015 CONSUN – UFMA (Conselho Universitário da UFMA) alterou o nome de Campus
do Bacanga para Cidade Universitária Dom Delgado, em homenagem ao criador da UFMA, Dom José de
Medeiros Delgado. Disponível em: http://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/noticias/noticia.jsf?id=45393.
Acesso em 14.07.2017.
19
há mulheres que trancam suas matrículas na Universidade por não conseguirem conciliar as
duplas ou triplas jornadas de trabalho que precisam assumir quando optam pela maternidade.
E ainda, após interromper o curso, há casos onde elas perdem a vontade (dado o
cansaço e desafios para voltar e concluir a graduação) ou sequer conseguem ter com quem ou
onde deixar os (as) filhos (as) em segurança. Destarte, elas adiam ou param os estudos para
cuidar dos filhos ou até trabalhar para sustentar as crianças. Mas, será que a Universidade tem
discutido a questão? O dilema dessas alunas tem sido considerado quando se trata de evasão?
Com o advento das mulheres no mercado de trabalho formal, elas assumem várias
jornadas de trabalho, ou seja, trabalham fora, mas também ainda são as maiores responsáveis
pelo trabalho dentro de casa. De acordo com a pesquisa publicada pela PLAN International
Brasil (organização que atua mundialmente na defesa de direitos da criança) essas jornadas
duplas ou triplas de trabalho das brasileiras já começam desde a infância para aquelas que
nascem pobres.
Intitulado “POR SER MENINA NO BRASIL: crescendo entre direitos e
violências”, o estudo, realizado no ano de 2013, ouviu 1.771 meninas de 6 a 14 anos nas cinco
regiões do país e constatou uma desigualdade gritante na distribuição de tarefas domésticas
entre meninas e meninos. Para se ter uma ideia do tamanho desse abismo, 81,4% das meninas
relataram que arrumam a própria cama, tarefa que só é executada por 11,6% dos irmãos.
76,8% das meninas lavam a louça e 65,6% limpam a casa, enquanto apenas 12,5% dos irmãos
lavam a louça e 11,4% limpam a casa (OFICINA DE IMAGENS, 2015).
Além destes, outro dado chama a atenção: 34,6% das meninas entrevistadas são
responsáveis pelos cuidados com os irmãos mais novos contra 10% dos meninos. O que se
pode presumir é que tais papéis sociais de cuidado e tarefas domésticas são estabelecidos
entre homens e mulheres desde a infância e de forma distinta. Este fato interfere diretamente
na vida das meninas: ao assumir tais atividades, qual tempo e disposição elas terão para se
dedicar aos estudos?
Notícia publicada pelo Jornal Estadão, em 26 de setembro de 2012, revela que as
mulheres jovens são majoritárias no grupo denominado -nem-nem- (nem trabalha e nem
estuda), cerca de 70%.2 No total, há 5,3 milhões de jovens que não trabalham nem estudam,
de acordo com a pesquisa coordenada pelo professor Adalberto Cardoso da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro. Se fossem computados os jovens que ainda procuram alguma
ocupação, o número saltaria para 7,2 milhões.
2
Disponível em: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-geracao-nem-nem-imp-,935944. Acesso em
01.01.2017
20
Cabe destacar que esta pesquisa foi realizada quando o país estava em um cenário
favorável, de baixo desemprego e economia em expansão (em 2010, quando o PIB cresceu
7,5%). Isso significa que uma parcela importante dos brasileiros não participou do
desenvolvimento experimentado neste período.
As mulheres, principalmente em razão da maternidade, são maioria nesse grupo -
elas somam 3,5 milhões, e os homens, 1,8 milhão - o que inclui a desigualdade de gênero
como um importante aspecto para a avaliação das condições de vida destas mulheres “nem-
nem”. O impacto também é maior entre os mais pobres, incluindo assim o fator classe social.
Na parcela da população com renda per capita de até R$ 77,75, a geração "nem-nem" chega a
46,2%. E é notável também a disparidade regional: no Norte e no Nordeste, a incidência passa
dos 25%, contra 13% no Sul e 16,8% no Sudeste.
Dados divulgados em reportagem3 da edição do Jornal Bom Dia Brasil,
publicados em 07 de março de 2016, com base na pesquisa realizada pelo Instituto Ayrton
Senna e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2015, 4 reafirmam que
estes dados não se alteraram, à medida que as meninas continuam sendo a maioria da geração
"nem-nem": três em cada dez meninas nem estuda, nem trabalha no país, totalizando 75% das
pesquisadas. Gravidez precoce (na adolescência) é uma das razões para abandonar escola sem
sequer concluir ensino médio.
Elas contabilizam em 62% de adolescentes que viram mães, têm que cuidar do
filho, e 91% são as responsáveis pelas tarefas domésticas. Quase metade, 46% têm renda
domiciliar per capita de até meio salário mínimo. Assim, as mulheres são 74,7% de pessoas
de 15 a 29 anos que não trabalham, não estudam e nem procuram emprego em relação à
população dessa faixa etária por sexo. O percentual de adolescentes sem nenhuma ocupação é
parecido em todas as regiões do Brasil. Entretanto, o Nordeste é a região com o maior
percentual, totalizando 36% das pessoas entre 15 a 29 anos que não trabalham, não estudam e
nem procuram emprego.
O que se pode considerar a partir destes dados é que a situação de mulheres mães,
jovens, pobres e nordestinas é muito preocupante. Ao não ter alternativas, principalmente de
cuidado com os filhos, ficam impedidas de usufruir de seus direitos de acesso à educação e/ou
trabalho digno.
3
Disponível em: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2016/03/meninas-sao-maioria-da-geracao-nem-
nem-aponta-pesquisa.html. Acesso em 17.08.2016.
4
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/12/1714907-geracao-que-nao-trabalha-nao-
estuda-nem-procura-emprego-diminui-no-pais.shtml
21
5
Trata-se da RESOLUÇÃO Nº 238-CONSUN (Conselho Universitário da UFMA), aprovada em 1º de julho de
2015 que tem por objetivo “estabelecer as normas que regem as condutas dos discentes matriculados e
registrados nos diversos cursos e programas presenciais ou não presenciais oferecidos nesta Instituição de Ensino
Superior”. Dentre as principais polêmicas que envolvem esta regulamentação estão: a proibição da entrada na
Universidade da comunidade moradora das áreas adjacentes à instituição, o que contradiz a função social da
Universidade; a proibição de uso de bebida alcóolica e/ou entorpecentes dentro da UFMA além de uso de
palavras como “moral” e “honra” no regulamento.
22
6
O conceito de transversalidade de gênero – ou gender maistreaming - emerge do contexto internacional do
movimento de mulheres frente aos estados Nacionais e as instituições governamentais. A finalidade de seu uso
foi visibilizar e pressionar para adoção de proposições para a melhoria das condições de vida das mulheres. Em
1975, a primeira Conferência Mundial de Mulheres, realizada no México, deu esse passo importante. Em
Beijing, no ano de 1995, a transversalidade de gênero ganhou o status de redefinir a condição das mulheres em
todas as dimensões, social, econômica, cultural e política. De acordo com Bandeira (2005), trata-se de
implicações administrativas e jurídicas que incidirão em questões como o salário, a segurança, a educação, a
divisão de responsabilidades profissionais e familiares e a paridade em processos decisórios. (SOBRAL et al,
2009, p 02).
23
Assim, considera-se que este é o método mais adequado para atingir os objetivos a
que a pesquisa se propõe, ao buscar compreender de que forma uma política que garante o
direito social de acesso e permanência a uma educação de qualidade se efetiva (ou não) em
uma determinada realidade social, entendendo que a conquista de um direito é geralmente o
resultado de toda uma luta dos setores subalternos. Logo, pressupõe-se que o método
histórico-dialético pode proporcionar à pesquisadora enxergar a realidade enquanto uma
totalidade contraditória, histórica e dialética, pois o sujeito que pesquisa precisa ser:
7
Este posicionamento se apresenta no estudo de SILVEIRA (2012), em sua Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Católica de Pelotas – UCPEL, intitulada: “A
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR: uma análise sobre as políticas de permanência das
universidades federais brasileiras”.
25
8
Tem-se a compreensão que, legalmente, a faixa etária de creche corresponde a 0-3 anos. Todavia, durante a
elaboração do estudo, sobretudo quando traçou - se o perfil das Unidades Universitárias de Educação Infantil,
observou-se que elas atendem crianças de até 06 anos. Logo, optou-se por ampliar a amostra do estudo, para
aproximar-se da realidade existente no Brasil.
26
cuidado com filhos e vida acadêmica. Por fim, expressam-se as considerações finais do
conteúdo apresentado, enfatizando o anseio de que este estudo possa contribuir para mais
debates sobre a temática.
28
O primeiro curso superior do Brasil foi criado em 1808, com a chegada da família
real portuguesa ao país. Durante todo o século XIX, o ensino superior brasileiro esteve restrito
a uma parcela extremamente limitada da população, com pouquíssimas instituições no país
(UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES, 2011). Se o acesso à educação básica foi um
desafio para as mulheres, o acesso ao Ensino Superior ainda o é, conforme será explanado
durante toda esta produção.
No Brasil, o Ensino Superior feminino só teve início no final do século XIX
(precisamente no ano de 1879) em autorização concedida por Dom Pedro II, à época
Imperador do Brasil. Exemplo disso, destaca-se a história de Augusta Generosa Estrela, que
30
se formou em medicina em Nova York no ano de 1876 e, ao retornar ao Brasil, foi proibida de
exercer sua profissão (BLAY e CONCEIÇÃO, 1991 apud BEZERRA, 2010).
Assim, pode-se perceber que historicamente a educação das mulheres as preparou
para o ambiente doméstico que o casamento oferecia. E ainda hoje as escolas e Universidades,
mesmo quando já libertas da tutela da igreja e se constituindo enquanto direito formal, ao não
discutir as questões de gênero continuam a transmitir os pressupostos do patriarcado e da
diferenciação entre os sexos presentes na sociedade.
Estes fatos revelam a urgência para que mecanismos de acesso e permanência a
educação fossem criados para que as mulheres exercessem seu direito conquistado de forma
qualitativa. Muito se avançou, é fato, mas há fatores que ainda interferem neste processo,
sobretudo quando o assunto é desempenho de papéis sociais femininos e masculinos, tendo
em vista que mesmo as mulheres alcançando o mundo público, elas ainda são as maiores
responsáveis com o trabalho reprodutivo: afazeres domésticos, cuidado com os filhos, dentre
outros, o que eleva a dificuldade para que elas entrem e permaneçam na Universidade, por
exemplo.
Desta forma, este tópico tem como objetivo trazer reflexões acerca da política de
assistência estudantil, tomando como referência o entendimento de educação como
mecanismo emancipatório e fundamental para o exercício da cidadania. A educação
oportuniza aos sujeitos que a ela tem acesso a capacidade de pensarem por si próprios e
mudarem seus destinos. Atrelada à política de educação, a política de assistência estudantil
(enquanto política pública operacionalizada no âmbito da educação) deve contribuir para
reduzir os efeitos das desigualdades sociais, inclusive entre homens e mulheres (SILVEIRA,
2012).
Em uma perspectiva mais ampla, e foco desta discussão, a assistência estudantil
precisa contribuir para romper com as diferenças de classe, mas sobretudo as de raça/etnia e
gênero que ainda permeiam também o mundo universitário e influenciam na vida das
mulheres que têm acesso à educação superior. Deste modo, não é demais destacar que as
políticas precisam possuir a transversalidade da categoria gênero, desde seu planejamento até
a implementação, de forma a oportunizar a equidade entre homens e mulheres.
Seguindo a linha de pensamento de Silveira (2012), a assistência estudantil no
Brasil possui duas fases distintas, e ambas extremamente relacionadas aos movimentos
sociais, sobretudo ao movimento estudantil, na figura da União Nacional dos Estudantes –
UNE, que durante todo o século XX foi a principal organização dos estudantes brasileiros.
31
presidente João Goulart foi metralhar, invadir e incendiar a sede da UNE, na Praia do
Flamengo 132, na fatídica noite de 30 de março para 1º de abril. Ficava clara a dimensão do
incômodo que os militares e conservadores sentiam em relação à entidade (UNIÃO
NACIONAL DOS ESTUDANTES, 2011).
Destarte, a ditadura perseguiu, prendeu, torturou e executou centenas de
brasileiros e brasileiras, muitos e muitas deles (as) estudantes. O regime militar retirou
legalmente a representatividade da UNE por meio da Lei Suplicy de Lacerda9 e a entidade
passou a atuar na ilegalidade. As universidades eram vigiadas, intelectuais e artistas
reprimidos. Como exemplos, podem ser citados alguns fatos ocorridos no ano de 1966: um
protesto em Belo Horizonte, na Faculdade de Direito que foi brutalmente reprimido e no Rio
de Janeiro, na Faculdade de Medicina da UFRJ, aconteceu o episódio conhecido como
Massacre da Praia Vermelha (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES, 2011).
Em 1970, vinculado ao Ministério da Educação (MEC), foi instituído pelo
governo federal o Departamento de Assistência ao Estudante (DAE), tendo como objetivo
manter uma política de assistência ao estudante universitário em nível nacional, priorizando
os programas de alimentação, moradia, assistência médica e odontológica.
Entretanto, nos governos seguintes o DAE foi extinto (FONAPRACE, 1996). Na
mesma década, através do Decreto nº 69.927, de 13 de janeiro de 1972, era instituído o
Programa “Bolsa de Trabalho” em nível nacional, em uma perspectiva de inserção dos
estudantes ao processo de integração do desenvolvimento econômico-social do país, devendo
ser priorizados os alunos que comprovassem “carência de recursos financeiros” (BRASIL,
1972 apud SILVEIRA, 2012).
De acordo com Lima (2002), somente após a reativação da União Nacional
Estudantil – UNE, e o fim do Decreto-Lei nº 477 de 26 de fevereiro de 1969, que proibia a
existência da instituição, que a luta pela assistência estudantil, principalmente marcada pela
luta pela Pró-Moradia Estudantil foi retomada, tendo como marco representativo a realização
do 1º Encontro de Casas de Estudante, em 1976, no Rio de Janeiro. Das décadas de 1930 até
1980, constitui-se a primeira fase da assistência estudantil brasileira:
9
Trata-se da Lei nº 4.464, de 6 de abril de 1964 que proibia as atividades políticas nas organizações estudantis,
além de definir a regulamentação destas entidades. Flávio Suplicy de Lacerda nasceu em Lapa, no Paraná, no dia
4 de outubro de 1903. Formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica de São Paulo, com Doutorado em
Ciências Físicas e Matemática pela Universidade do Paraná, exerceu vários cargos Técnicos no Estado do
Paraná, assumindo em 1950 o cargo de reitor da Universidade do Paraná. Em 1964, no cargo de Ministro, sofreu
intensa campanha de oposição por parte dos estudantes insatisfeitos com as medidas de seu governo, dentre elas,
a lei já mencionada neste trabalho. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=945&id=13492&option=com_.&view=article. Acesso 29.01.2017.
35
Ano Ação
Inauguração da Casa do Estudante Brasileiro, em Paris, para jovens que iam
1928
estudar na França.
1930 Inauguração da Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro.
Decreto 19.850/31, denominado Lei Orgânica do Ensino Superior, tentativa de
1931 reconhecimento da Assistência Estudantil por meio da regulamentação da política
de assistência estudantil brasileira.
Regulamentação da assistência estudantil, no artigo 157 da Constituição Federal de
1934
1934, inciso §2º.
1937 Criação da União Nacional dos Estudantes (UNE).
1938 II Congresso Nacional dos Estudantes
Constituição de 1946, artigo 166, a Educação é apontada como um direito de todos
e a assistência estudantil se torna obrigatória para todos os sistemas de ensino,
1946 através do artigo 172. Decreto, nº 20.302, estabelecendo que a Seção de Prédios,
Instalações e Estudos dos estabelecimentos de Ensino Superior deveriam pensar
alternativas para os problemas relacionados à assistência médico-social dos alunos
Lei de Diretrizes e Bases – LDB / Lei nº 4.024− a Assistência Estudantil passa a
1961 ser vista como direito igual para todos os estudantes, isto é, como um direito
inserido na política de educação e não mais como ajuda
Constituição Federal de 1967, no artigo 168, a educação é posta novamente como
1967 direito de todos e pela primeira vez é citado que ela deverá assegurar igualdade de
oportunidades.
1969 Decreto-Lei n° 0 477 de 26 de fevereiro de 1969, proibindo a existência da UNE.
Criação do Departamento de Assistência ao Estudante – DAE, vinculado ao MEC,
1970 com o objetivo manter uma política de assistência ao estudante universitário em
nível nacional.
Decreto nº 69.927, de 13 de janeiro de 1972, instituindo o Programa Bolsa de
1972
Trabalho em nível nacional para os estudantes.
1976 1º Encontro de Casas de Estudantes
Fonte: SILVEIRA, 2012, p. 56
Assim, pode-se presumir que apesar dos marcos regulatórios, as ações até então
desenvolvidas tinham um caráter pontual, assistencialista e que muitas delas só foram criadas
mediante a pressão da organização do movimento estudantil, seja a partir de grupos mais
espontâneos, seja de forma institucionalmente organizados, como a UNE (GARRIDO, 2012).
A segunda fase da assistência estudantil brasileira, de acordo com as
sistematizações de Silveira (2012) e Garrido (2012), inicia a partir da década de 1980. Ao
final dos anos 1970, com os primeiros sinais de enfraquecimento do regime militar, a UNE
começou a se reestruturar, após o período que colocou a instituição na ilegalidade. A questão
36
10
Sobre o FONAPRACE. Disponível em http://201.57.207.35/fonaprace/index.php/sobre/.
37
Na Constituição Federal, no artigo 206, está instituído que o ensino será ministrado
com base em alguns princípios sendo o primeiro: I - igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola (BRASIL, 1988). Já na década de 1990, é aprovada
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, que traz em seu texto dispositivos
que amparam a assistência estudantil, dentre os quais destacamos o artigo 3º, que diz
que “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola”, reafirmando o que já foi escrito
na Constituição Federal de 1988 (SILVEIRA, 2012, p. 59).
Ano Ação
1987 Criação do FONAPRACE
Promulgação da Constituição Federal, artigo 206, “I - igualdade de condições para
1988
o acesso e permanência na escola”.
1989 Criação da ANDIFES
Realizado um primeiro levantamento amostral do perfil socioeconômico dos
1994
alunos de graduação das IFES
Aprovação da Lei de Diretrizes e Bases – LDB, artigo 3º: “o ensino será
1996 ministrado com base nos seguintes princípios: igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola”
1996/ Realização da pesquisa: Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de
1997 Graduação das IFES Brasileiras.
39
11
A equidade revela o uso da imparcialidade para reconhecer o direito de cada um, usando a equivalência para se
tornarem iguais. A equidade adapta a regra para um determinado caso específico, a fim de deixá-la mais justa.
Segundo o dicionário Michaelis, a palavra equidade pode ser definida como uma justiça natural; disposição para
reconhecer imparcialmente o direito de cada um. Em resumo, significa reconhecer que todos precisam de
atenção, mas não necessariamente dos mesmos atendimentos. Assim, o princípio da equidade norteia as políticas
públicas brasileiras reconhecendo necessidades de grupos específicos e atuando para reduzir o impacto das
diferenças. No Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, a equidade se evidencia no atendimento aos
indivíduos de acordo com suas necessidades, oferecendo mais a quem mais precisa e menos a quem requer
menos cuidados. Busca-se, com este princípio, reconhecer as diferenças nas condições de vida e saúde e nas
necessidades das pessoas, considerando que o direito à saúde passa pelas diferenças sociais e deve atender a
diversidade. (BLOG DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015. Disponível
em:<http://www.blog.saude.gov.br/entenda-o-sus/50111-voce-sabe-o-que-e-equidade.html>. Acesso em
21.05.2017)
40
Destarte, o Plano Nacional de Assistência Estudantil foi criado, e será abordado com maiores
detalhes no próximo tópico.
Ações essas que contribuíram para a entrada de um novo perfil de estudante nas
universidades federais brasileiras, tornando, dessa maneira, a assistência estudantil
indispensável para a garantia de condições de permanência dos novos acadêmicos
neste grau de ensino. De nada adianta apenas a inclusão de alunos de baixa renda, se
não houver a paralela garantia de que eles possam participar ativamente da vida
universitária e concluir com sucesso tanto os cursos de graduação como os de pós-
graduação (SILVEIRA, 2012, p.13).
Desta forma, o PNAES foi sugerido pelo FONAPRACE, passou por revisão em
2004 e foi finalmente lançado em 2007, por meio de Portaria Normativa Nº 39, do Ministério
da Educação, no âmbito da Secretaria de Educação Superior (SESU) e posteriormente
promulgado em 2010 (LOPES e VIEIRA, 2014).
Regulado pelo Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010, tem por finalidade
ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal,
principalmente quando estes são estudantes de baixa renda. Com isso, procura a igualdade de
oportunidades e contribui para a melhoria do desempenho acadêmico, a partir de medidas que
buscam combater situações de repetência e evasão. O programa também contempla
assistência à moradia estudantil, alimentação, transporte, saúde, inclusão digital, cultura,
esporte, creche, apoio pedagógico e acesso de estudantes com deficiência. As ações são
executadas pela instituição de ensino que recebe os recursos. Ela deve ainda acompanhar e
avaliar o desenvolvimento do programa e prestar contas ao MEC (PORTAL MEC, 2012).
42
apontadas nas pesquisas sobre o perfil do estudante de graduação, a partir das áreas
estratégicas e linhas temáticas definidas.
E ainda: Adequar os programas e projetos articulados e integrados ao ensino, à
pesquisa e à extensão; Assegurar aos estudantes os meios necessários ao pleno desempenho
acadêmico; Promover e ampliar a formação integral dos estudantes, estimulando e
desenvolvendo a criatividade, a reflexão crítica, as atividades e os intercâmbios: cultural,
esportivo, artístico, político, científico e tecnológico; Consolidar a expansão de um sistema de
informações sobre assistência ao estudante nas IFES, por meio da implantação de um banco
de dados nacional.
Além de: Realizar pesquisa a cada 04 anos para atualização do Perfil
Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das IFES; Viabilizar por meio das
IFES uma estrutura organizacional, em nível de Pró - Reitoria com as finalidades específicas
de definir e gerenciar os programas e projetos de assistência estudantil e; Definir um sistema
de avaliação dos programas e projetos de assistência estudantil por meio da adoção de
indicadores quantitativos e qualitativos para análise das relações entre assistência e evasão,
assistência e rendimento acadêmico.
Dentre as metas estabelecidas pela ANDIFES, estava a implantação do Plano
Nacional de Assistência Estudantil no ano de 2007, o que foi alcançado mediante a
promulgação do PNAES em 2010, conforme visto anteriormente. A outra meta consistia na
criação de um Fundo para Assistência Estudantil, onde os recursos destinados serão
adicionados aos que já haviam sendo aplicados.
De acordo com o documento preparado pela ANDIFES, para efeito do
cumprimento do PNAES, deveria ser criado um Fundo para Assistência Estudantil. Esse
deveria ter o valor equivalente a 10% do orçamento anual de OCC (Outros Custeios e
Capitais) das IFES. Para o segundo semestre de 2007, previu-se o equivalente a 5% do
orçamento anual de OCC das IFES. Estes recursos deveriam ser adicionados aos aplicados
pelas IFES.
Assim, a partir do ano de 2008, as instituições federais passaram a ser
contempladas com recursos específicos para programar as ações de assistência estudantil,
devendo ser desenvolvidas nas seguintes áreas: moradia estudantil, alimentação, transporte,
atenção à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e acesso à
universidade, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação (SILVEIRA, 2012).
44
Não há como mensurar o que foi direcionado especificamente para cada um dos
eixos, uma vez que os recursos são repassados para as IFES e estas possuem autonomia para
geri-los de acordo com seus planos de ação, conforme está exposto a seguir. Assim, cada uma
distribui e investe recursos naquilo que consideram prioridade, e não há como particularizar
as áreas de investimento de forma geral.
A expansão do ensino superior se deu com a adesão das Instituições Federais ao
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(REUNI) instituído pelo Decreto-Lei 6. 096 de 27 de abril de 2007, durante o governo do
presidente Luís Inácio Lula da Silva. Este programa teve como finalidade “[...] criar
condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de
graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes
45
nas universidades federais” (BRASIL, 2007). Entre suas principais diretrizes, está a
ampliação de políticas de inclusão e de assistência estudantil (GARRIDO, 2012).
Logo, o objetivo principal do programa consiste em ampliar o acesso e a
permanência dos estudantes na educação superior. A meta inicial era dobrar o número de
alunos nos cursos de graduação em dez anos, a partir de 2008, e permitir o ingresso de 680
mil alunos a mais nos cursos de graduação. Para alcançá-las, todas as universidades federais
apresentaram ao Ministério da Educação planos de reestruturação de acordo com a orientação
do REUNI. As ações previram além do aumento de vagas, medidas como a ampliação ou
abertura de cursos noturnos, o aumento do número de alunos por professor, a redução do
custo por aluno, a flexibilização de currículos e o combate à evasão.
De acordo com o MEC, foram repassados recursos para as IFES brasileiras para a
construção de 113 novas bibliotecas, 62 centros de convivência, 72 moradias estudantis e 127
restaurantes universitários. Apenas entre 2008 e 2012, o Ministério da Educação repassou R$
678,7 milhões às universidades (PORTAL MEC, 2012).
Entretanto, um conceito que se coloca oportuno para esta análise diz respeito ao
que Marilena Chauí aponta sobre a Universidade Operacional. Para a autora, o Estado
capitalista necessita adaptar a universidade para atender aos seus desígnios, colocando-a no
papel de prestadora de serviços.
Desta forma, a autonomia universitária, consoante a autora, se reduz à gestão de
receitas e despesas, de acordo com o contrato de gestão pelo qual o Estado estabelece metas e
indicadores de desempenho, que determinam a renovação ou não renovação do contrato. A
autonomia significa, portanto, gerenciamento empresarial da instituição e prevê que, para
cumprir as metas e alcançar os indicadores impostos pelo contrato de gestão, a universidade
tem "autonomia" para "captar recursos" de outras fontes, fazendo parcerias com as empresas
privadas (CHAUÍ, 2011).
Assim, a universidade deixa de ser uma instituição social (isto é, uma ação social,
uma prática social fundada no reconhecimento público de sua legitimidade e de suas
atribuições) para ser uma organização social, ou seja, definir-se por uma outra prática social, a
de sua instrumentalidade. É regida pelas ideias de gestão, planejamento, previsão, controle e
êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua própria existência, sua função, seu lugar no
interior da luta de classes, pois isso que para a instituição social universitária é crucial, é, para
a organização, um dado de fato. Ela sabe (ou julga saber) por que, para que, e onde existe
(CHAUÍ, 2011).
46
12
A universidade funcional é, de acordo com Chauí (2011), aquela que está voltada para a formação rápida de
profissionais requisitados como mão-de-obra altamente qualificada para o mercado de trabalho. Adapta-se às
exigências do mercado, altera seus currículos, programas e atividades para garantir a inserção profissional dos
estudantes no mercado de trabalho, separando cada vez mais docência e pesquisa. Em suma, a universidade
funcional está voltada diretamente para o mercado de trabalho.
47
13
Cumpre destacar dois aspectos importantes: o primeiro é que as Instituições Federais têm autonomia para criar
e nomear os órgãos que farão o gerenciamento da política internamente. O segundo é que antes da implantação
da PROAES, a Universidade já desenvolvia ações destinadas a finalidade de assistência estudantil, mas este
estudo não as abordará, pois, o mesmo possui um ponto de partida para análise, a saber o PNAES.
50
percurso acadêmico integrado em ações pertinentes à conclusão com êxito do seu curso” e a
visão: “Ser referência no atendimento das demandas estudantis, especialmente para os
estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica”.
Dentre os objetivos da Assistência Estudantil da UFMA, estão: democratizar as
condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal; minimizar os
efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação
superior; e reduzir as taxas de retenção e evasão e contribuir para a promoção da inclusão
social pela educação. Assim, para alcançá-los, são desenvolvidas diversas ações, conforme
mostra a tabela a seguir:
14
De acordo com a PROAES, a indisponibilidade dos dados deve-se ao fato de que a sistematização dos mesmos
ainda não foi concluída pelo Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) da UFMA.
52
consequencias deste processo eram analisadas sob uma perspectiva aparente da realidade
social, culpabilizando os indivíduos pela sua incapacidade de subsistência.
Nesta perspectiva, o Estado se omitia das suas responsabilidades com a
população, adotando ações de cunho conservador e saneadoras para assegurar condições de
higiene social e evitar proliferação de doenças, como pode ser observado no texto
constitucional de 1934:
Art.138. Incumbe á União, aos Estados e aos Municípios nos termos das leis
respectivas; [...] c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de
prole numerosa; [...] f) adoptar medidas legislativas e administrativas tendentes a
restringir a mortalidade e a morbidade infantis; e de hygiene social, que impeçam a
propagação das doenças transmissíveis; [...] (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1934
apud POLETTI, 2015, p. 137).
Todas essas mudanças refletiram-se sobre a família, onde a mulher, por necessidade,
começou a deixar sua casa e ir trabalhar fora. Seus maridos iam para a guerra e as
deixavam responsáveis pelo sustento dos filhos. Logo, trabalhavam no lugar dos
seus maridos. A partir daí um novo cenário surgiu, onde as mulheres assumiram um
novo papel e entraram maciçamente no mercado de trabalho (WEBER E SANTOS
et al, 2006, p. 47).
Desta forma, ao pensar soluções para os cuidados com as crianças enquanto suas
mães cumpriam suas jornadas de trabalho, as creches se apresentaram como uma alternativa,
sobretudo para as mulheres mais pobres, que possuíam (e ainda possuem) a necessidade de
trabalhar para a manutenção material da família:
Artigo 389:
§ 1º - “Os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres
com mais de 16 (dezesseis) anos de idade terão local apropriado onde seja permitido
às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período da
amamentação” (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de28 de fevereiro de 1967)
§ 2º - “A exigência do § 1º poderá ser suprida por meio de creches distritais
mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades públicas ou
privadas, pelas próprias empresas, em regime comunitário, ou a cargo do SESI, do
SESC, da LBA ou de entidades sindicais” (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28
de fevereiro de 1967) (CLT, 1943).
que serviu de base para que este tipo de movimento durasse até os anos de 1970,
principalmente nos bairros pobres onde:
[...] mulheres começaram a lutar também por melhorias nos postos de saúde, nas
escolas, nas creches e nos serviços públicos em geral. Essas organizações,
principalmente os clubes de mães, tiveram o apoio, quando não a promoção, das
Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica (PINTO, 2003, p. 44).
17
A ditadura militar foi o período da política brasileira em que militares conduziram o país. Essa época ficou
marcada na história do Brasil através da prática de vários Atos Institucionais que colocavam em prática a
censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão
àqueles que eram contrários ao regime militar. Teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964,
resultando no afastamento do Presidente da República, João Goulart e durou até a eleição de Tancredo Neves,
em 1985. Os militares na época justificaram o golpe, sob a alegação de que havia uma ameaça comunista no
país. Disponível em: http://www.sohistoria.com.br/ef2/ditadura/.Acesso 29.01.2017.
57
anos estava vinculado aos órgãos de saúde e assistência (KRAMER, 2003; KUHLMANN,
2005 apud CONCEIÇÃO e FISHER, 2012).
Nas décadas de 1970 e 1980, a educação da criança pequena, como uma forma de
compensar as carências ocasionadas pela pobreza, passa a ser vista como um importante
elemento para o desenvolvimento do país (CONCEIÇÃO E FISHER (2012). Em 1988, a luta
e organização dos movimentos sociais de educação, mulheres e feministas, o Estado toma
para si, como expressa o artigo 208, inciso IV, o dever de garantir “atendimento em creche e
pré-escola, às crianças de 00 (zero) a 06 (seis) anos de idade” (BRASIL, 1988).
A Carta Magna de 1988 contempla ainda o direito à creche enfatizando o acesso
das crianças à educação infantil, como afirmam os artigos 6º e 7º da Constituição Federal:
Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta constituição”. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 64, de 2010)
Art. 7º: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco)
anos de idade em creches e pré-escolas; (Inciso alterado pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006) (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, 1988).
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
V – “proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência”; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
IV – “educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de
idade;” (Redação alterada pela Emenda Constitucional nº 53, de 19/12/2006)
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em
regime de colaboração seus sistemas de ensino.
58
de vagas. Diante deles, concluiu-se que o direito a creche está longe de ser assegurado com
qualidade a todas as crianças brasileiras.
Cumpre esclarecer que o Plano Nacional de Educação (PNE) é uma lei ordinária
com vigência de dez anos a partir de 26/06/2014, prevista no artigo 214 da Constituição
Federal. Ele estabelece diretrizes, metas e estratégias de concretização no campo da
Educação. Municípios e unidades da federação devem ter seus planos de Educação aprovados
em consonância com o PNE.
Pode-se perceber os poucos ganhos destes planos avaliando os resultados da meta
1 do PNE. Com base nos dados do IBGE e Pesquisa Nacional por amostra de domicílios
(PNAD), a meta de “Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as
crianças de 04 (quatro) a 05 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em
creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 03
(três) anos até o final da vigência deste PNE”, não foi cumprida.
Os dados apontaram que em 2013, 87,9% das crianças entre quatro e cinco anos
estavam matriculadas em pré-escola. Em 2016 a meta, que seria de 100% (ou seja, matricular
todas as crianças brasileiras em pré-escolas) subiu apenas para 0,01%. Como consequência,
estariam 700 mil crianças fora da escola.
No caso da creche, em 2013, 27% das crianças de 00 a 03 anos frequentavam a
educação infantil, e a meta a ser alcançada em 2016 era de 50% das crianças nesta faixa etária
matriculadas. Todavia, 2,5 milhões de crianças ainda estão fora da escola. A construção do
Plano Municipal da Educação da cidade de São Luís-Maranhão é muito recente, data-se de
2015. Logo, a realidade deficitária com a educação infantil não se altera. Existem na cidade
apenas três creches públicas em funcionamento: Barjonas Lobão, Recanto dos Pássaros e
Maria de Jesus Carvalho, e apenas esta última funcionando em período integral (das 07:30 às
17:30), atendendo nesta modalidade a somente 200 crianças (GERAMUS, 2016).
Em 2016, a população estimada é de 1.082.935 habitantes, de acordo com dados
do IBGE cidades. Em 2011, São Luís ocupava a 12° posição com 15% das crianças
frequentando creches no ranking de “Cobertura de Creches” que avaliava todas as capitais do
Brasil (MOVIMENTO NOSSA SÃO LUÍS, 2011).
Cabe destacar que este dado leva em consideração também as creches privadas
e/ou comunitárias, que funcionam a partir de convênios. O que se presume é que, na medida
em que o município não cumpre suas obrigações, arranjos são criados, inclusive por
iniciativas da população (como as “escolinhas” que surgem a partir das associações de
60
[...] em parceria com o programa Brasil Carinhoso do Governo Federal, iremos fazer
20 creches em tempo integral. As crianças serão tratadas com respeito, terão
alimentação de qualidade, e as mães poderão sair tranquilas para trabalhar. São
soluções reais, possíveis de fazer, pois os recursos já existem. [...] Pode ter certeza:
vou ter determinação para realizar o sonho das mães de São Luís, que é também o
meu sonho, e acredito, que através da educação de nossas crianças que vamos dar
um grande passo em direção ao futuro. Mas para que esta mudança aconteça, preciso
do seu apoio. Quero pedir o seu voto e assumir o compromisso. Vou trabalhar desde
o primeiro dia de mandato, para que daqui a quatro anos você possa olhar no meu
olho e dizer: valeu a pena acreditar na mudança (SANTOS, 2015, p. 65).
Desta forma, apesar dos avanços no plano legislativo, ainda estamos longe de
conquistar um nível real de satisfação de atendimento à demanda, seja no que tange ao
quantitativo ou qualitativo. O acesso à educação infantil deixa a desejar, especialmente
porque, como se observa nos dados apresentados, a metas de acesso à creches e pré-escolas a
todas as crianças está longe de ser cumprida.
E garantir apenas o acesso a creches não adianta. É preciso que estes espaços, de
fato, garantam os direitos das crianças previstos nas legislações pertinentes, que incluem: a
qualificação desse ambiente educacional seja do ponto de vista do próprio espaço
(infraestrutura) e de um projeto pedagógico adequado; de professores e profissionais
qualificados, alimentação de qualidade, acesso à saúde e ao lazer, transporte e outras
dimensões, sempre em diálogo com o desenvolvimento integral desses indivíduos.
A creche precisa ser vista como um direito de todos e todas, dever do Estado, tal
como assinala o GERAMUS (2016), qual seja a de creche pública como aparato físico e
62
humano utilizado para atender a direitos sociais universais, representados pelas necessidades e
demandas de diferentes populações e respeito às especificidades regionais e locais.
A creche é um direito das crianças, mas é também um direito das mulheres,
responsabilizadas, na maioria das vezes, pelas tarefas do cuidado e da reprodução - o
chamado trabalho reprodutivo (cuidar de filhos e filhas, de doentes, de idosos, de maridos e
dos afazeres domésticos). Com todas essas responsabilidades atribuídas às mulheres, é
necessário colocar em prática políticas públicas de apoio e compartilhamento dos trabalhos de
reprodução da vida, que possibilitem a elas construir autonomia econômica, fator essencial
para que se constituam como sujeitos de direitos. Neste sentido, a luta por creches tem dois
aspectos indissociáveis: é um direito das crianças, mas é também um serviço essencial para a
autonomia das mulheres (CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES, 2012).
Sobre a concepção da creche enquanto direito das crianças (mas que se estende
também às mulheres- mães) é importante ressaltar que a creche não se constitui só enquanto
um direito da mãe inserida no mercado de trabalho, mas das trabalhadoras em geral, estando
estas inseridas ou não em trabalhos remunerados fora do lar. Destaca-se ainda que ao discutir
a creche enquanto direito das mulheres-mães não é reafirmar papéis historicamente atribuídos
ao feminino pelo patriarcado, mas sim, considerá-las enquanto sujeito de direitos.
As mulheres, históricas demandantes por creches, enfrentam, na ausência desta
política, a face perversa do patriarcado e da divisão sexual do trabalho pois, ao não ter onde
deixar os filhos em segurança, elas ficam tolhidas de adentrar o mundo público, exercer
trabalhos remunerados fora do lar, estudar, dentre outros (GERAMUS, 2016).
Sobre o patriarcado, Pateman (1993) em seu segundo capítulo do livro “O
contrato sexual” denominado “Confusões Patriarcais”, ressalta as diversas origens do termo
patriarcado, que versam entre o poder do pai sobre os filhos ou sobre a “família”, o direito
essencialmente paternalista, até o patriarcado moderno, ao qual a autora se desdobra a
compreender.
do campo e da floresta”. Portanto, apesar da creche está inserida na política de educação, ela
ainda é pauta nos movimentos de mulheres e feministas, uma vez que aparece no Plano
Nacional de Políticas para as Mulheres.
As creches públicas podem concorrer para melhorar a situação financeira das
mulheres, pois à medida que as alivia do trabalho doméstico e de cuidado, há a possibilidade
de contribuição para elevar a permanência da taxa de participação feminina em trabalhos
remunerados e qualificados, oportunidade de estudo e assim, construir sua autonomia
financeira.
Entende-se a autonomia financeira como um fator de suma importância na busca
da igualdade entre mulheres e homens, sejam elas das cidades, do campo ou da floresta. A
autonomia econômica das mulheres é a condição que elas têm de prover o seu próprio
sustento, decidindo por elas mesmas a melhor forma de fazê-lo. Isso envolve também as
pessoas que delas dependem. Assim, ela é mais do que autonomia financeira, uma vez que
inclui uma perspectiva de vida de longo prazo, com acesso a previdência social e a serviços
públicos (SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, 2014).
Destarte, equipamentos públicos como restaurantes populares, lavanderias
coletivas, dentre outros que auxiliem a aliviar a carga das mulheres são importantes para
fortalecer a luta contra a injusta divisão sexual do trabalho. No caso específico da creche, ao
ter um local seguro onde deixar seus filhos, a mulher pode se inserir de maneira mais
qualificada e tranquila no mercado de trabalho, desenvolver atividades de estudo, saúde e
lazer, atendendo assim aos direitos de mulheres por busca da autonomia financeira e
efetivação dos direitos das crianças.
Defende-se assim, a creche pública enquanto uma política de gênero, pois deve
colaborar com reorganização dos papéis sociais existentes em uma sociedade ainda patriarcal
e estruturada pela divisão sexual do trabalho. Cumpre esclarecer que políticas de gênero são
políticas públicas sensíveis a questão de gênero e têm como objetivo contribuir para o
empoderamento das mulheres e para a erradicação da desigualdade de poder entre as mulheres
e homens. Já as políticas públicas que tenham como alvo as mulheres se voltam mais para a
sobrevivência de mulheres pobres e seus filhos não conduzindo a mulher a uma superação dos
padrões de dominação (FARAH, 2002 apud CORRÊA, 2010).
A creche deve ser serviço público que possui proposição educativa que cumpra
plenamente sua função sociopolítica, que é o atendimento da educação infantil, em período
integral, com articulação entre educação e cuidado, de modo a cumprir os direitos da criança e
da família, de forma universal, gratuita e de qualidade. E ainda, pode permitir às mulheres
66
vivenciar uma nova maternidade sem as pressões e atribuições demasiadas que o patriarcado
atribui a elas (CORRÊA, 2010).
É na década de 1980 até 1992 que as creches nas universidades federais têm sua
grande expansão com a inauguração de 15 novas unidades. A ampliação do número
de unidades teve influência dos avanços da educação infantil e do crescimento da
área como campo de pesquisa, que, a partir dos meados da década de 1980, passa
por significativas transformações, principalmente a partir da Constituição Federal de
1988, quando a creche passa a ser reivindicada também como um direito das
crianças – até então havia sido principalmente a reivindicação de um direito da
mulher trabalhadora (RAUPP, 2004, p. 203).
67
Raupp (2004) afirma que, mesmo que em seus primórdios estas creches tenham
surgido como direito trabalhista, atualmente há outras funções nas unidades de educação
infantil das universidades brasileiras. Assim, ela destaca o papel de campo de estágio para os
cursos ligados à área da educação, e de pesquisa e extensão que envolve as creches
desenvolvidas em algumas Universidades brasileiras:
No que se refere aos objetivos atuais, a maioria das unidades de educação infantil
caracteriza-se como campo de estágio para cursos da universidade. Praticamente
todas as unidades são também campo de pesquisa e de observações, ou seja,
dispõem sua estrutura de funcionamento a profissionais das múltiplas áreas de
conhecimento da universidade para coleta de dados para pesquisa ou para
observações (RAUPP, 2004, p. 207)
federais. Institui o auxílio pré-escolar como assistência indireta aos servidores para
proporcionar atendimento aos dependentes, na faixa etária de 0 a 6 anos, em creches
e pré-escolas, mantém as unidades integrantes da estrutura do órgão ou da entidade
federal existentes, proíbe a criação de novas unidades a partir da data desse
dispositivo e mantém os contratos ou convênios até o prazo final com instituições
particulares ou com entidades públicas, vedando a prorrogação desses
contratos/convênios (RAUPP, 2004, p. 205).
Mesmo com este decreto, ainda há resistência de setores sociais em luta pela
permanência das instituições existentes nos Campi universitários. A exemplo disso, durante o
início dos anos 2000, a principal defesa da Associação Nacional Unidades Universitárias
Federais de Educação Infantil (ANUUFEI) era a de que as creches universitárias, por estarem
vinculadas a Universidades Federais, deveriam estar a serviço do desenvolvimento da função
acadêmica que a Universidade é chamada a exercer na sociedade nos campos do ensino, da
pesquisa e da extensão.
Fundada em 13 de junho de 2002 a partir de um Encontro Nacional das Unidades
de Educação Infantil (UEIs) das universidades federais, a ANUUFEI tem se caracterizado
como um espaço de discussão e troca de informações destas UEIs, visando o fortalecimento
da sua identidade.
Sua história, desde então, está organizada em torno da defesa do princípio de as
UEIs existentes no interior das universidades federais serem um espaço de formação
acadêmica e profissional que produza e socialize conhecimentos. Isto significa as UEIs
estarem em consonância com o princípio norteador da universidade, que a indissociabilidade
entre o ensino, a pesquisa e a extensão (CANCIAN e FERREIRA, 2009).
Dentre seus objetivos, estão: incentivar à participação das Unidades de Educação
Infantil nas políticas de ensino, pesquisa e extensão das IFES; favorecer a integração das
Unidades de Educação Infantil das IFES, sua valorização e sua defesa e; representar o
conjunto de seus filiados, inclusive judicialmente.
O NDI da UFSC coordenou, em 1987, o I Encontro Nacional de Coordenadores
de Creches Universitárias. Quinze anos após, em junho de 2002, novamente o NDI da UFSC
coordenou o II Encontro Nacional das Unidades Universitárias Federais de Educação Infantil.
Em 2003 foi realizado o III Encontro Nacional, sediado pela Unidade de Atendimento à
Criança na Ufscar; onde estiveram presentes 14 (quatorze) destas unidades presentes nos
estados da Bahia, Ceará, Campina Grande, Espírito Santo, Fluminense do Rio de Janeiro,
Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo,
Viçosa (Minas Gerais), onde a temática em discussão foi: “Políticas Públicas em Educação
Infantil e Possíveis Contribuições da Universidade”.
69
NDE/UFLA/C Comunitários
EUFLA
Creche-Escola
UFPB Centro de Educação 1988 SIM
da UFPB
Centro de
Educação
UFPR Hospital de Clínicas 1988 NÃO
Infantil Pipa
Encantada.
Núcleo de Centro de Ciências
Educação Sociais Aplicadas e
UFRN 1998 SIM
Infantil/Colégi Departamento de
o de Aplicação. Educação
Pró-Reitoria de
Unidade Recursos Humanos e
Educacional UFRN Departamento de 1988 NÃO
Infantil Assistência ao
Servidor.
Escola de
Pró-Reitoria de
Educação UFRJ 1981 Não identificado
Pessoal
Infantil
Creche Coordenadoria de
Francesca UFRS Educação Básica e 1972 Não identificado
Zacaro Faraco Profissional
Núcleo de
Centro de Ciências
Desenvolvimen UFSC 1979 SIM
da Educação
to Infantil
Núcleo de Centro de Educação;
Universidade
Educação Núcleo de
Federal de 1989 SIM
Infantil Ipê Desenvolvimento
Santa Maria
Amarelo Infantil;
Unidade de Universidade Secretaria de
Atendimento à Federal de São Assuntos 1992 Não identificado
Criança Carlos Comunitários
Departamento de
Escola Assuntos
Paulistinha de USP Comunitários da Pró 1971 NÃO
Educação - Reitoria de
Extensão da USP
Departamento de
Laboratório de Economia
Desenvolvimen Doméstica do Centro
UFV 1979 SIM
to Humano- de Ciências
LDH Humanas, Letras e
Artes
Laboratório de
Departamento de
Desenvolvimen
UFV Economia 1988 SIM
to Infantil –
Doméstica
LDI
Fonte: CANCIAN e FERREIRA, 2009. Elaborado pela autora. Ano: 2017
71
também Professora do Departamento de Pedagogia. Esta informou que não é recente o debate
sobre a creche na UFMA, destacando o papel fundamental que o seu departamento de
vinculação tem desenvolvido para que a creche se concretize.
Dentre estes, a professora destacou o Núcleo de Educação da Infância da
Universidade Federal do Maranhão (NEIUFMA). Vinculado administrativamente ao Curso de
Pedagogia – Departamentos de Educação I e II – e ao Programa de Pós-Graduação em
Educação – Mestrado em Educação tem suas atividades pautadas em duas frentes: dentre elas,
destaca-se a de mobilização, visando a construção de uma Unidade de Educação Básica de
Educação Infantil dentro da UFMA em parceria com o Governo Municipal de São Luís para
servir de campo de estágio e possibilitar aos parceiros experiências de gestão compartilhada
na/da educação infantil.18
O representante do NEIUFMA reafirmou esta premissa, ao informar que o
NEIUFMA, vinculando também à Pró - Reitoria de Ensino (PROEN) foi criado com o
objetivo primeiro de consolidar o projeto da Creche na UFMA. De acordo com o mesmo, a
Universidade cederia o espaço e a Prefeitura de São Luís construiria a referida creche com os
recursos do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede
Escolar Pública de Educação Infantil (PROINFÂNCIA)19 do Governo Federal.
Neste sentido, houve a iniciativa, por parte da gestão da Universidade que esteve à
frente da Instituição entre os anos de 2007 a 2015 de licitar um convênio, mas o processo
parou por motivos burocráticos, principalmente porque o terreno cedido pela Universidade
não atendia a algumas exigências físicas. Destarte, presume-se que a construção de uma
creche na UFMA não passou de um projeto que pode (e deve) ser retomado, inclusive como
pauta do movimento estudantil.
Atualmente, o único projeto em curso que visa algum atendimento a crianças na
Universidade é a construção de uma brinquedoteca no CCSO, mas que se enquadra como uma
exigência do MEC para a avaliação do curso de pedagogia. Este projeto já foi aprovado pela
Direção do Centro de Ciências Sociais, que também cedeu o espaço. O mesmo está previsto
para entrar em funcionamento ainda no ano de 2017.
18
Disponível em http://www.neiufma.ufma.br/. Acesso em 23.03.2017
19
Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação
Infantil (PROINFÂNCIA), foi criado com o objetivo de fortalecer as unidades de educação infantil, por
considerar que a construção de creches e pré-escolas, bem como a aquisição de equipamentos para a rede física
escolar desse nível educacional, são indispensáveis à melhoria da qualidade da educação. Foi instituído pela
Resolução nº 6, de 24 de abril de 2007, e é parte das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do
Ministério da Educação. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/proinfancia/proinfancia-
apresentacao. Acesso em 14.07.2017.
73
[...] “a Assistência Estudantil não se resume apenas à moradia estudantil, mas inclui
a alimentação; o transporte; a atenção à saúde; a inclusão digital; a cultura; o
esporte; a creche; o apoio pedagógico [...] Há, nesse contexto, a criação de uma
creche que, por sinal, é uma reivindicação de toda a comunidade. Por esta razão, a
instituição vai implantar, no Centro de Assistência Estudantil, uma creche, além dos
serviços já previstos tais como consultórios médicos, sala de idiomas, auditório
multimídia, e outros espaços que estarão sempre à disposição dos 23 mil estudantes
que fazem parte do universo científico-acadêmico” (SITE OFICIAL DA UFMA,
2013).
Estes dados levam a seguinte reflexão: qual tipo de suporte as mulheres recebem
da universidade para iniciar ou continuar a vida acadêmica sendo mãe de crianças pequenas?
Em 27 de fevereiro de 2015, alunas da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
(USP) levaram seus filhos para a sala de aula para protestar sobre a falta de vagas na creche
universitária da instituição.20
As poucas creches existentes atendem a uma parte ínfima da demanda. As vagas
disponíveis não são suficientes para atender a todos e todas. Durante a elaboração desta
pesquisa, ressalta-se que a internet foi uma importante ferramenta, à medida que ela tornou
possível acumular dados e conhecer as experiências de estudantes de outros estados
brasileiros na luta por creches na Universidade.
20
Alunas da USP levam filhos para sala de aula por falta de vaga em creche. Disponível em:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/02/27/alunas-da-usp-levam-filhos-para-sala-de-aula-por-falta-de-vaga-
em-creche.htm. Acesso: 24 de julho de 2016.
76
Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas,
instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)
(WASSERMAN e FAUST, 1994; DEGENNE e FORSE, 1999). Uma rede, assim, é uma
metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões
estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura
social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões. Os atores ou nós (e
ainda, nodos) da rede no ciberespaço podem ser compreendidos como os indivíduos que agem
através de seus fotologs, weblogs e páginas pessoais, bem como através de seus nicknames
(RECUERO, 2009).
Desta forma, as redes sociais, através de seus atores podem expor ideias,
sentimentos, mas também são espaço de denúncias, mobilização e exposição de demandas
que podem ser comuns a diversos sujeitos. Como exemplo, em texto cedido ao blog da
Escreva Lola Escreva21, o coletivo “Iniciativa Mulheres Unidas RS” denunciou vários casos
que evidenciam a necessidade de creches nas Universidades brasileiras, uma vez que relatam
o processo de exclusão que as estudantes que são mães sofrem ao não ter onde deixar os
filhos.
Dentre estes, está o caso da estudante de Letras da UFRGS que levou sua filha de
05 (cinco) anos à aula e quase foi expulsa pela professora. A outra notícia é referente ao
CRUSP (Conjunto Residencial da USP). Depois de mais de 50 casos de violência contra as
mulheres nos prédios, manifestantes ocuparam uma superintendência para demandar que os
agressores - e não as vítimas - fossem punidos com afastamento. Para piorar a situação, o
CRUSP nega vagas às mães. Além destes, ressalta-se o caso da aluna da UFMA relatado na
introdução deste trabalho.
Bunn (2012), ao analisar o conceito de “rede”, refletindo sobre as novas formas de
ação política a partir do desenvolvimento da internet ou “ciberespaço”, (como prefere a
autora) qualifica a rede como lugar de potência, de realização e possibilidades de difundir
21
Esta é uma página na internet mantida por Dolores Aronovich Aguero, professora da UFC, doutora em
Literatura em Língua Inglesa pela UFSC. Mantém este blog criado em 2008 para discussão de assuntos
feministas, literatura, política, combate às opressões, dentre outros. Disponível em:
http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2016/04/quando-ideia-de-creche-foi-abandonada.html
77
reivindicações, disseminando ideias. De acordo com ela, o “ciberespaço” abre espaço para
uma “cibermilitância” e produz uma “cibercidadania”.
22
Comitê da creche. Disponível em:
<https://www.facebook.com/comitecrecheufms/photos/pb.423615301108824.-
2207520000.1469396173./443551145781906/?type=3&theater>. Acesso em: 18.07.2017.
23
Disponível em:< https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaoideia?id=49173>. Acesso em
19.09.2016
79
24
Disponível em:
https://www.facebook.com/superestufrj/photos/a.337844566339834.1073741829.334758653315092/371244286
333195/?type=3&theater. Acesso em 28.07.2016
80
Para Lopes e Vieira (2014), o termo “creche” é tratado pelo PNAES de forma
muito específica, A restrição ao termo acaba por não ser compatível com a realidade
encontrada pelo mapeamento realizado por Raupp (2004) e nos estudos organizados por
Cancian e Ferreira (2009), de que as unidades existentes no Brasil atendem também a pré-
escola e funções que vão para além da educação infantil:
grande maioria dos estudantes não tem filhos (90,8%). O elevado percentual de
estudantes com filhos, que utilizam os serviços de creche (43,4%) oferecidos pelas
Universidades Federais, demonstra a importância da universalização deste serviço
(SILVEIRA, 2012, p. 73).
25
Cumpre destacar que a escolha desse Centro para a realização da pesquisa empírica levou em consideração
aspectos específicos, dentre eles, a vivência da autora, conforme relatado na metodologia do trabalho.
84
É visível perceber que nos cursos que possuem uma grade curricular com
disciplinas próximas a área de exatas (Administração, Ciências Contábeis, Ciências
Econômicas e Ciências Imobiliárias) a presença feminina é menor, enquanto as profissões
com uma grade curricular voltada para as ciências sociais e humanas (Serviço Social,
Pedagogia, Biblioteconomia e Comunicação Social – Relações Públicas) o domínio é
feminino.
Os dados da tabela reafirmam os pressupostos apresentados anteriormente. Os
cursos majoritariamente femininos são os historicamente atribuídos ao cuidado, a reflexão e a
sensibilidade enquanto os cursos com grades curriculares voltadas para as ciências exatas
(mesmo que sejam das ciências sociais) têm a presença de mulheres inferior a 50%.
Destaca-se que este é o reflexo do Sistema Patriarcal, que rege as relações sociais
e de poder há séculos e que ainda está enraizado culturalmente e com fortes repercussões em
todas as esferas da sociedade. Neste sentido, os homens sempre foram protagonistas e
exerceram papel de comando e superioridade, enquanto as mulheres ocuparam o papel de
subalternas.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2006 já apontavam para
85
o aumento maciço de mulheres na Universidade, à medida que mostraram que, dos jovens
com faixa etária entre 18 e 29 anos de idade, frequentando o nível superior do ensino, as
mulheres correspondem a 56,75% (URPIA, 2012).
No entanto, apesar de as mulheres serem hoje maioria entre os egressos e
matriculados no ensino superior, elas ainda são minoria em muitas áreas, estão concentradas
em outras, e avançam lentamente na carreira científica. Compreender os motivos que levam a
essa diferença de gênero é uma questão que vem desencadeando alguns esforços na pesquisa
científica internacional, mas no Brasil ainda são poucas as investigações em torno desta
temática (LETA, 2003 apud URPIA, 2012). Entretanto,
Assim, presume-se que nenhuma área da vida social passou isenta ao patriarcado,
incluindo a vida acadêmica e consequentemente o mercado de trabalho. A divisão sexual do
trabalho, reatualizada no e pelo capitalismo, se apoia em dois pilares fundamentais: o
princípio de separação e o princípio hierárquico, o que implica em distribuição desigual de
poder, prestígio, oportunidade e desvalorização de papeis e espaços sociais distintos para
homens e mulheres.
cuidado dos filhos, do marido, dos doentes e idosos. Aos homens, atribuiu- se a
responsabilidade pelo chamado trabalho produtivo, de produção de mercadorias e, geralmente
realizado fora do lar. Assim, o trabalho masculino é tido como de maior “valor” e prestígio
social, enquanto o trabalho dentro de casa realizado por mulheres nem sempre sequer é
reconhecido enquanto trabalho.
Essa divisão acaba por hierarquizar a posição social de homens e mulheres em
qualquer sociedade; no caso específico da sociedade capitalista, há valorização do trabalho
produtivo (de mais-valia) em detrimento da desvalorização do trabalho reprodutivo (visto
como menos importante e de obrigação feminina).
Nesse sentido, problematizar os lugares centrais que as mulheres estão ocupando
na hierarquia profissional constitui-se em uma tarefa urgente, até para que se possa fomentar
um debate que possibilite, senão o rompimento, ao menos a reflexão do sistema de
dominação-exploração fundido no patriarcado-racismo-capitalismo que se reproduz nesse
processo, alocando sujeitos em postos profissionais em consonância com o gênero (DIAS,
2008). Desta forma,
Faz-se necessário romper com a suposta ideia de que as mulheres [...] estariam
ocupando espaços [...] reservados ao desempenho de suas “aptidões naturais”.
Tendência que oculta tanto a desqualificação e a exploração da força de trabalho
feminina, como dificulta o enfrentamento das desigualdades e das relações de poder
interprofissional que se fazem presentes (DIAS, 2008, p. 18).
masculino. Nesse segmento, apesar da desproporção, houve avanço nos últimos anos: em
2000, as meninas representavam 22,1% dos concluintes de engenharia.
Não é recente e nem desconhecida a relação das mulheres com o Serviço Social, o
curso que aparece em primeira posição na tabela. Têm-se razoável nível de conhecimento
acumulado sobre a categoria, para dizer que esta é uma profissão predominantemente
feminina. Tal determinação não é isenta de consequencias em uma sociedade que remunera as
mulheres, por esta condição, com salários em geral 50% menores do que os pagos aos homens
que exercem atividades idênticas (GRANEMANN, 1999 apud CISNE, 2015).
Em relação à pedagogia, a segunda colocada na tabela, faz-se o uso do que
Guacira Lopes Louro, em seu texto “Mulheres na sala de aula”, afirma. De acordo com a
autora, no final do século XIX e início do século XX, o magistério transforma-se em “trabalho
de mulher”, pois anteriormente era realizado exclusivamente por homens. A justificativa do
discurso centrava-se na ideia de que as mulheres tinham, por natureza, uma inclinação para o
trato com as crianças, que elas eram as primeiras e naturais educadoras, portanto nada mais
adequado do que lhes confiar a educação escolar dos pequenos. Para tanto, seria importante
que o magistério fosse também representado como uma atividade de amor, de entrega e
doação. A ele acorreriam aquelas que tivessem vocação (LOURO, 1997).
Ao compreender a emergência das mulheres na Biblioteconomia, Ferreira (2003)
enfatiza que este se explica a partir de vários fatores: além do aumento da entrada da mulher
no mercado de trabalho e sua necessidade de se construir como sujeito. O fato do Curso de
Biblioteconomia funcionar no turno matutino favorecia e ainda favorece a entrada de
mulheres na Universidade, uma vez que assim elas podem conciliar os estudos com suas
atividades domésticas.
O estudo da autora aponta que dos bibliotecários brasileiros, cerca de 82,75% são
mulheres, e 17,24% são homens, o que revela que a Biblioteconomia é um campo de trabalho
ocupado em sua maioria por mulheres. Observa-se que:
A opção das mulheres pela profissão está relacionada aos estereótipos criados,
reforçada pela ideia de que existem profissões adequadas para as mulheres e para
homens. Estes estereótipos refletem as desigualdades existentes entre os gêneros que
se reproduz através da cultura e daquilo que se convencionou como lugar de homem
e lugar de mulher. Essas definições de lugares também são definidoras dos papéis
sociais e dos lugares de poder e de decisão (FERREIRA e VIEGAS, 2013, p. 06).
Este fenômeno que se faz presente na Biblioteconomia faz parte também de outras
profissões, como a do magistério e a do assistente social, fato já constatado anteriormente
88
(FERREIRA 2003, 2010 apud FERREIRA E VIEGAS, 2013). Logo, não é por serem
exercidas em sua maioria por mulheres que as profissões carregam um estatuto de
subalternidade, mas pelas construções sociais e históricas de uma sociedade patriarcal em
torno do feminino. Destarte, as mulheres são desvalorizadas e subalternizadas, mas não por
motivos naturais, mas sim históricos (VELOSO, 2001 apud CISNE, 2015).
A pouca reflexão sobre as questões de gênero, inclusive no contexto das
profissões, faz com que tais processos sejam naturalizados e as barreiras enfrentadas por elas
acabam por não serem vistas como um problema entre essas categorias de trabalhadoras.
Como reafirmação do que está exposto acima, apresenta-se a afirmação de Maffia
(2013) que diz: “em geral, as mulheres que triunfaram nas ciências negam a existência de
qualquer barreira discriminatória”. Para chegar a esta conclusão, a autora realizou uma
pesquisa de tipo qualitativa com mulheres que ocupavam os cargos máximos de
pesquisadoras em ciência e tecnologia. A quase totalidade das entrevistadas, quando lhes era
perguntado se alguma vez se sentiram descriminadas por serem mulheres, responderam que
não.
Entretanto, ao contarem suas trajetórias no final da entrevista, algumas
começaram a perceber (de forma reflexiva e juntamente com a autora) o conjunto de barreiras
que elas enfrentaram que poderiam ser consideradas fruto de preconceitos de gênero.
Porém, outras entrevistadas, mantiveram-se na posição de culpar as outras
mulheres pelas suas situações sociais, utilizando argumentos como: abandono ou falta de
paixão a sua carreira, por preferirem a vida familiar e/ou por falta de talento. Estes aspectos
também fazem parte de um sistema patriarcal que obriga as mulheres a fazerem escolhas entre
a vida produtiva ou reprodutiva, fato que não é solicitado aos homens. E por serem condições
naturalizadas na sociedade, podem ser, inclusive, reproduzidas pelas mulheres.
Em reportagem divulgada pelo G1 Educação no dia 08 de março de 2017, em
homenagem ao Dia Internacional da Mulher, apresentou dados que demonstraram como ainda
é presente o princípio de separação quando se trata das escolhas da carreira profissional das
mulheres. Aquelas que optam por ingressar em carreiras predominantemente masculinas,
sofrem, inclusive ainda dentro da Universidade, preconceitos de gênero. Para tanto, a matéria
jornalística em questão apresentou diversos testemunhos de mulheres e meninas que
reafirmaram estes pressupostos.
Uma das razões que continua fazendo com que menos mulheres cheguem ao
doutorado é a maternidade. “É algo cultural, não biológico. Há uma pressão de que a família
ficará abandonada se a mulher não estiver presente no lar”, explica a professora Marcia
89
Barbosa, pesquisadora da UFRGS que participou da reportagem. Ela menciona que ocorreu
um avanço no Brasil para tentar conter o efeito de abandono dos estudos: desde 2010, as
mulheres que fazem pós-graduação com bolsa concedida pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) têm direito à licença-maternidade de
até quatro meses, desde que o parto ocorra durante a vigência do programa.
O preconceito que existe com mulheres que querem seguir a carreira de pesquisa
em ciência é chamado de “bullying social” pela professora Marcia, após os estudos sobre
gênero que realizou. “As meninas que conseguem chegar à universidade já são
sobreviventes”, afirma.
Para romper com estes estigmas e ideologias que subjugam as mulheres (e que são
reproduzidas inclusive por mulheres, devido ao sistema patriarcal a que a sociedade está
enraizada) que se fazem presentes também no mundo acadêmico, é necessário não só discutir
as relações sociais entre os sexos no espaço da Universidade, como também oportunizar que
as mulheres estejam presentes no mesmo, garantindo o acesso e a permanência delas a partir
de políticas públicas que atendam a pluralidade do ser mulher, inclusive quando estas ocupam
os papéis sociais de mães e estudantes.
Acredita-se nesta produção que é contraditório estudar para romper com padrões
sociais discriminatórios presentes na sociedade sem que este processo aconteça dentro da
própria Universidade. Afinal, de que adiantará discutir relações sociais entre os sexos se as
estudantes-mães não puderem comparecer às aulas porque não tinham com quem ou onde
deixar os filhos em segurança?
Desta forma, os tópicos que se seguem têm por objetivo analisar de forma
qualitativa os dados colhidos diante da aplicação do roteiro de entrevistas (anexo) como forma
de conhecer a realidade e as necessidades das estudantes mães da UFMA principalmente
quando não há uma creche na Universidade.
Biblioteconomia
13%
Serviço Social
Pedagogia 62%
25%
Maior que 05
Menor que 01
13%
12%
Entre 01 a 03
Entre 04 a 05 44%
31%
26
Tem-se por base o valor do salário mínimo vigente para o ano de 2017, a saber, R$937,00.
93
35
30
25
20
15
10
0
Serviço Social Pedagogia Biblioteconomia
01 filho 37,5 12,5 0
02 filhos 18,7 12,5 12,5
03 ou mais filhos 6,2 0 0
Esta condição se deve a vários fatores, dentre eles, destacam-se: a flexibilidade do sistema de
matrículas da UFMA, que permite que o aluno se matricule por disciplinas e não por
períodos; a dificuldade em seguir de forma linear na graduação, dado que os cursos nem
sempre ofertam todas as disciplinas do período (devido, principalmente, a problemas
estruturais da Universidade, a exemplo da falta de professores, oferta de disciplinas, dentre
outros); e o trancamento do curso, que pode ocorrer pela necessidade de trabalhar e/ou com o
nascimento dos filhos:
“Estou fatorial [...] ingressei em 2011 e tenho previsão de conclusão para 2018 [...]
precisei trancar por conta da gravidez da mais nova; tranquei por um ano; não
tinha como estudar com ela pequenininha” (Mulher-mãe-estudante 14).
Estes fatores que, por um momento, parecem ser de ordem pessoal, refletem na
vida social das mulheres, apresentando-se como uma expressão da “questão social”, à medida
que aliar maternidade e vida acadêmica se torna uma dificuldade real para elas, sobretudo
porque existe todo um discurso e práticas sociais alicerçadas na divisão sexual do trabalho de
cunho patriarcal que não oportuniza que as mulheres participem da vida social de forma
plena.
Esta premissa pode ser confirmada quando a pergunta foi a média de horas
dedicadas à graduação (incluindo o tempo que passam na sala de aula) e aos afazeres
domésticos (incluindo cuidado com os filhos). As estudantes revelaram que dedicam entre 05
a 09 horas ou mais por dia à formação profissional.
Além das horas que passam dentro da sala de aula, o horário de estudo delas em
casa revela uma situação preocupante no que diz respeito aos seus rendimentos acadêmicos:
grande parte afirmou estudar no turno da madrugada, horário em que as crianças estão
dormindo e que grande parte das tarefas domésticas já foram realizadas. Mas, ainda assim,
todas revelaram um cotidiano muito dinâmico, que envolve ações de cuidado com a prole,
casa, estudos e consigo mesma, variando com a disponibilidade:
“Em casa eu só estudo depois das dez da noite, é o horário em que eles dormem, e
que eu fico quieta” (Mulher-mãe- estudante 03).
“Atividade de casa sempre tem né? [...] acordo 05 horas da manhã, faço minhas
atividades de casa e arrumo meus filhos para a creche para poder ir para faculdade
[...] e ainda faço estágio de 05 horas por dia” (Mulher-mãe- estudante 16).
Concorda-se com Saffioti (2013) quando esta afirma que a maternidade não pode
ser encarada como uma carga exclusiva das mulheres. Estando a sociedade interessada no
nascimento e socialização de novas gerações como uma condição de sua própria
sobrevivência, é ela que deve pagar pelo menos parte do preço da maternidade, ou seja,
encontrar soluções satisfatórias para os problemas de natureza profissional que a maternidade
cria para as mulheres, sendo que a creche pode ser uma destas soluções, ao lado de uma nova
cultura que não só proclame, mas que garanta direitos, oportunidades e condições iguais a
homens e mulheres, seja no espaço privado ou no público.
Quando instigadas pela pesquisadora sobre o que sabem e suas opiniões a respeito
dos programas de assistência estudantil da UFMA, 56,2% das entrevistadas afirmaram que
não sabem “nada” ou que “não tem nenhum conhecimento”. Não conhecerem seus direitos,
não reconhecem a necessidade de lutar por eles. Assim, faz-se necessário que, para além do
plano legal, a assistência estudantil seja reconhecida como política pública para a sociedade
como um todo, principalmente para os sujeitos que dela necessitam.
Das mães que responderam conhecer a política, citaram ações pontuais
(restaurante universitário, moradia estudantil, e principalmente as bolsas de auxílio
permanência, dentre outras). Sobre a avaliação desta política, uma afirmação ganha destaque:
“O que eu sei é que é muito falha [...] eu já tentei a bolsa permanência alguns anos
atrás, em 2014, mas ela sempre atrasa, nunca pagam a gente [...] esse foi um dos
motivos também pelos quais eu tranquei alguns anos atrás, porque não tive como
me manter com os gastos de xerox e passagem [...] e isso é triste!” (Mulher-mãe-
estudante 15).
97
“[...] as mães estudantes não contam com nenhum apoio ou auxílio de permanência
[...] só durante a licença maternidade, mas é só 04 meses” (Mulher-mãe- estudante
01).
“Não tem creche para as mães colocarem os filhos enquanto estudam [...]Garante?
(Direitos para as estudantes com filhos) Até agora não, pelo menos eu não vejo
nenhum [...]o que tem são essas flexibilidades do curso, por conta da garantia de
direitos que é necessária” (Mulher-mãe- estudante 02).
“Isso aí é até engraçado. Quando a gente recebe aquela agenda, aquela que a gente
recebe quando tá entrando, lá tem o desenho de uma creche. Eu confesso que fiquei
bem feliz porque eu achei que realmente teria uma creche [...] aí eu me informei e
descobri que aquilo ali não existia que era um projeto de muito tempo que o Reitor
dizia que ia construir, mas na verdade nunca construiu”. (Mulher-mãe- estudante
09).
Desta forma, assim como as trabalhadoras que tem o direito à licença maternidade
garantido no art. 392 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as estudantes, em
qualquer fase da vida escolar, têm direito à licença-maternidade (conforme exposto acima), e
tendo em vista também que a educação é um direito social fundamental garantido pela CF de
1988. Assim, não é coerente, do ponto de vista legal, privá-las do direito de estudar quando as
estudantes engravidam. Todavia, alguns relatos abaixo revelam uma realidade preocupante:
98
“Fui aprovada quando ainda estava de resguardo. Pesquisei meus direitos, dei
entrada na licença maternidade e tive plano de aula especial para fazer as
atividades em casa enquanto amamentava durante 03 meses” (Mulher-mãe-
estudante 04).
“A minha foi tranquila, mas queria que tu botasse que nem todos os cursos da
UFMA oferecem a licença maternidade, tu sabia? A minha colega fazia um curso,
acho que era BICT, e trancaram o curso dela pra ela ficar com o filho dela [...] não
sei se já tem, mas foi logo no primeiro ano do curso [...]Conheço também uma de
odontologia. Lá, eles têm aula de teoria e prática [...] ela propôs que passassem pra
ela as aulas teóricos no período em que estivesse em casa de licença e quando ela
retornasse, ela faria as práticas. Mas não autorizaram, e ela só teve a opção de vir
para a aula ou trancar, aí ela veio para as aulas com o bebê ainda pequeno”
(Mulher-mãe- estudante 02).
Gráfico 04: Acesso à creche para os filhos das mulheres, estudantes e mães.
60
50
50
40
30
18,7 18,7
20
12,5
10
0
Creche Pública Creche Privada Creche Filantrópica Não possui acesso ao
serviço
“Meu filho fica na creche do município só meio período por falta de vaga integral.
Algumas vezes tive que sair correndo da aula porque ele ficou na creche e ninguém
foi buscá-lo” (Mulher-mãe- estudante 12).
meus estudos. Ele sai 11:15 e quando não tem ninguém em casa ele fica com a
vizinha. Tem também problemas como a falta de merenda escolar e infraestrutura.
Esse ano, por exemplo, não teve aula por duas semanas por causa do telhado que
estava em reforma” (Mulher-mãe- estudante 12).
18,7% das entrevistadas afirmaram que pagam para ter seus filhos na creche. Em
uma pesquisa rápida sobre o preço da mensalidade destas instituições, tais valores giram em
torno de R$ 500 a 1.500,00 (dependendo da localização e dos serviços que oferecem). Logo, a
creche privada acaba por ser um privilégio de poucas mães, dado os valores exorbitantes das
mensalidades.
E em relação às entrevistadas, percebeu-se que apesar de algumas terem uma renda
familiar acima de 05 (cinco) salários mínimos, elas enfrentam dificuldades em encontrar
alternativas de cuidado com os filhos. As falas a seguir expressam esta situação:
“Minha irmã trabalha e minha sobrinha [...]às vezes ela precisa sair; e eu ainda
tenho que pagar ela (risos). Porque assim, ficou combinado de eu pagar ela por
semana, aí cada semana eu dava cinquenta reais pra ela, mas era só dois ou três
dias que ela ficava com meu filho, quando eu não trazia [...] mas agora não sei
como vai ficar, porque a situação financeira não tá fácil [...] mas é porque também
ela não trabalha e o marido dela tá desempregado. Ela fica por livre vontade, ela
diz: “não, tia, não precisa!” mas eu dou porque ela vai passar a tarde todinha com
meu filho [...] eu sei que é pouco, mas aí...”(Mulher-mãe- estudante 02).
101
12,5% afirmaram que o companheiro fica com a (s) criança (s) no horário de suas
aulas. Todavia, as estudantes-mães sutilmente expressaram para a entrevistadora que os pais
não têm a mesma obrigação de cuidar dos filhos como as mães, pois os maridos só ficam
quando estão “de folga do trabalho” ou sem fazer alguma outra atividade importante, ao
contrário delas, que constantemente abdicam de seus compromissos (como, por exemplo,
faltar aula) porque não tem com quem deixar os filhos. Mais uma vez, observa-se como ainda
é presente a injusta divisão sexual do trabalho em nossa sociedade:
“Quando eu tenho aula pela manhã meu marido fica, ele tem um horário flexível,
ele é da polícia [...] sempre tira escala e a gente sempre monta um “esqueminha”
pra não comprometer...aí quando não dá é com minha mãe, mas ela tem a vida dela,
ela trabalha...e aí meu marido trabalha, e é só nós dois...eu tenho que me virar nos
30!” (Mulher-mãe- estudante 03).
procriação é uma especificidade, ela não define a totalidade do ser mulher, que hoje
compreende uma série de outras posições sociais (SWAIN, 2007 apud URPIA, 2009).
Devido em parte a esse processo sutil de construção de significados, a
desigualdade de gênero acaba sendo reproduzida durante a transição para a parentalidade,
através de construções parentais de mães como mais essenciais para a criança que pais. Como
consequência, o declínio financeiro e ocupacional frequentemente acompanha esta construção
para a mulher, que tende a sacrificar mais suas carreiras que os pais (COLDERY e
KNUDSON-MARTIN, 2005; WALZER, 1997 apud URPIA, 2009).
Este fato se torna bem visível nesta pesquisa, à medida que apesar de 81,3% das
mulheres, estudantes e mães entrevistadas estarem em uma relação marital, ou seja, contarem
com a convivência dos pais de seus filhos e filhas, poucas declararam tal participação no dia-
a-dia dos afazeres domésticos e de cuidados com os filhos.
Sobre a experiência de levar os filhos para a sala de aula, as respostas revelaram
diversos fatores que merecem ser avaliados. Para melhor compreensão de tais fatores, as mães
foram divididas em dois grupos: as que levam os filhos constantemente porque não tem com
quem ou onde deixá-los e as mães que, mesmo tendo com quem ou onde deixá-los
regularmente, já levaram seus filhos para o espaço acadêmico alguma vez durante a
graduação, dado algum tipo de situação ocasional. Assim, disseram:
“Sim, várias vezes. Não houve problemas com as professoras, pois acredito que elas
conhecem a realidade de serem mães, estudantes e trabalhadoras, elas já passaram
por isso. Acho que a politização do curso também contribui para este
posicionamento delas” (Mulher-mãe- estudante 01).
“Várias vezes precisei trazer. Professor sempre ajudou. Já trouxe várias vezes e as
professoras não se opuseram, disse que quando eu precisasse poderia trazer. E os
alunos brincaram com meu filho (risos) ” (Mulher-mãe- estudante 02).
“Assim, o meu filho sempre vem comigo [...] Está sendo uma experiência
suada...mas nunca “levei bico” de professor porque o meu filho estava bagunçando
na sala. Até (um determinado professor do sexo masculino) de (uma determinada
disciplina) disse: “oh minha filha, fica tranquila, deixa ele bagunçar, deixa ele
gritar...te concentra na aula!”[ ...]então, por esse lado dos professores, eu fui muito
bem abraçada” (Mulher-mãe- estudante 03).
“Por conta de problemas na creche, tive que levá-lo. São problemas que, sem
dúvida, atrapalham muito e que tenho que driblá-los para continuar na
Universidade [...] já levei ele para o RU, e ele comeu junto comigo, mas foi
tranquilo. Também levei para a biblioteca, onde fui reunir com colegas para fazer
trabalho em grupo. Nesse dia foi complicado pois as salas de estudo estavam
103
lotadas, tentamos ficar nas mesas mas tivemos que sair por causa da zoada...ele
começou a chorar e foi super complicado” (Mulher-mãe- estudante 12).
“Às vezes em que precisei trazer eram aulas não oficiais. Das vezes em que precisei
escolher entre trazer ou faltar, preferi faltar porque eu conheço a personalidade de
alguns professores...se ficam incomodados com a zoada dos alunos, que dirá com a
das crianças” (Mulher-mãe- estudante 05).
“Sim, mas não foi uma experiência muito boa porque a criança não tem paciência
para acompanhar” (Mulher-mãe- estudante 07).
“Poucas professoras são sensíveis às questões dos alunos, elas dizem: “Quando
você se matriculou você sabia que o curso era integral” só que isso não pode
acontecer, porque muitas mães são solteiras e precisam estudar” (Mulher-mãe-
estudante 09).
“Não gostei muito. Foi um incômodo, foi bem chato ... mas também foi só uma vez,
porque eu tinha que ir. Toda hora eu saía da sala pra ficar com ela. Ela ficava com
as meninas, mas foi bem assim, como eu posso te dizer...constrangedor” (Mulher-
mãe- estudante 14).
Logo, presume-se que dentre todos os arranjos, o de levar para a sala de aula ainda
é o mais preocupante. Além de não ser um local adequado para crianças, a formação das mães
fica prejudicada, à medida que ao invés de prestar atenção na aula, elas precisam cuidar dos
filhos. Além disso, elas ficam vulneráveis a sofrer constrangimentos devido a situação. Logo,
fica claro que levar para a sala de aula não é a solução.
Quando questionadas sobre se conhecem outras estudantes na condição de mães,
bem como de que forma compartilham estas experiências, elas falaram sobre essas conversas
e também sobre o cotidiano de colegas de outros cursos que não compõem a amostra da
pesquisa, mas que enfrentam os mesmos desafios:
104
“Conheço sim, ela inclusive mora no meu prédio, ela está se formando em
oceanografia... ela traz a filhinha dela desde que nasceu [...] ela também é o mesmo
caso que eu, não tem com quem deixar, ela não é daqui. Ela não tem familiar aqui”
(Mulher-mãe- estudante 03).
“Nem imaginaria uma creche na UFMA [...] porque sei lá, acho que porque eu
tenho uma aversão à creche, aquela coisa de não deixar meus filhos com ninguém
porque são pequenininhos e não sabem se defender...ficar longe da mãe, parece
assim, que eu tô fazendo uma maldade com eles, a ideia que me vem de creche
nesses primeiros anos[...] mesmo sendo uma pedagoga, não pelo fato de o professor
ser mal professor, mas é aquela coisa de mãe, do vínculo, de eu não querer me
desligar deles” (Mulher-mãe- estudante 11).
4.5 A CRECHE NA UFMA: uma possibilidade para a permanência das mulheres, mães e
estudantes nos cursos de graduação da UFMA – Cidade Universitária Dom Delgado?
“Mais que a questão financeira, destaco o caráter afetivo, esse é primordial para as
minhas escolhas em relação ao meu filho. Não gostaria de ficar longe dele, pois ele
é muito pequeno, além do desmame, não quero que ele pare de mamar tão cedo”
(Mulher-mãe- estudante 03).
“O maior desafio pra mim é a distância do meu filho. Por ser integral, passo muito
tempo na Universidade. Se tivesse uma creche aqui, poderia passar mais tempo
próximo a ele, inclusive amamentando” (Mulher-mãe- estudante 04).
[...] a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a
criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da
morbimortalidade infantil. Permite ainda um grandioso impacto na promoção da
saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo de toda a sociedade. Se a manutenção
do aleitamento materno é vital [...] a implementação das ações de proteção e
promoção do aleitamento materno e da adequada alimentação complementar
depende de esforços coletivos intersetoriais e constitui enorme desafio para o
sistema de saúde, numa perspectiva de abordagem integral e humanizada
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015, p. 07).
27
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Disponível em:
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home+/mama/cancer_mama. Acesso em
01.03.2017
106
“O desafio é nem sempre ter com quem deixar a bebê” (Mulher-mãe- estudante 01).
“O maior desafio é encontrar quem fique com meu filho pra vir pra aula” (Mulher-
mãe- estudante 02).
“A distância do meu filho é o maior desafio, pois passo muito tempo fora de casa”
(Mulher-mãe- estudante 04).
valores que variam entre R$100,00 a R$150,00. Considerando os preços das Instituições
privadas (já relatados anteriormente) fica nítido como o valor do auxílio creche é irrisório
diante da necessidade das famílias.
Desta forma, esta pesquisa não concorda que o auxílio-creche, nos valores
repassados atualmente, seja ofertado como solução para a assistência à creche aos estudantes
com filhos, visto que além do valor do auxílio ser muito inferior à mensalidade de uma creche
privada, é simplificar uma demanda que possui vários determinantes, inclusive a de eximir o
Estado de uma responsabilidade que também é sua, a saber, a oferta de creches públicas de
qualidade.
Além disso, é transferir esta responsabilidade para outros setores sociais,
principalmente para a sociedade civil que, diante da insuficiência das políticas públicas, toma
para si a responsabilidade de suprir as demandas da população. Nesse sentido, surgem as
Escolas e Creches Comunitárias onde a realidade destas Instituições está distante do mínimo
necessário para que ofereçam condições dignas para as crianças que utilizam estes serviços.
Assim, as principais sugestões colocadas pelas mulheres para que a UFMA atenda
às necessidades delas e de seus filhos foram a criação da creche, ou de espaços adequados
para crianças, como brinquedotecas e berçários. Estes anseios foram expressos nas falas a
seguir:
“Que a creche saia do plano teórico e se concretize. Que ela seja um espaço
adequado para as crianças, com profissionais qualificados para que possam ficar
em segurança quando as mães estiverem em sala de aula” (Mulher-mãe- estudante
01).
“A construção de uma creche seria uma boa, mas acredito que por ser um projeto
de longo prazo, que houvesse um ambiente adequado para as crianças, para as que
mamam como berçários com trocadores” (Mulher-mãe-estudante 04).
“Um espaço para acolher as crianças enquanto a gente assiste aula” (Mulher-mãe-
estudante 05).
“Teria que ter uma creche de Educação Infantil em horário integral, pois há cursos
integrais. E para as mães dos cursos noturnos, um espaço para receber as crianças,
como brinquedotecas” (Mulher-mãe-estudante 06).
tendo em vista que a Universidade, ao ser um espaço de formulação e análise crítica, tem o
papel de construir políticas de erradicação de todo tipo de opressão, inclusive as de gênero.
Hoje, as mulheres possuem maior nível de escolaridade que os homens e
consequentemente, são maioria no Ensino Superior. Apesar deste avanço, as Instituições de
Ensino ainda não se adequaram à realidade que já não é mais nova. Muito embora haja
abertura do debate de inclusão social na Universidade, a realidade da mulher brasileira e suas
demandas ainda são escassamente levadas em consideração. A segurança, o combate ao
machismo e as políticas de permanência para as mães, por vezes não passam de discursos
(FEDERAÇÃO NACIONAL DE ESTUDANTES DE DIREITO, 2012).
No que tange o acesso ao ensino superior, fica evidente que as mulheres já
acumularam várias conquistas, mas o que ainda se encontra é um cenário de muitas
debilidades no seu cumprimento, inclusive apresentadas nesta produção. Um exemplo é o
direito à licença maternidade por três meses, a partir do oitavo mês de gestação. Mas o que
obriga a Universidade a criar condições reais para incentivar a permanência das mães? Além
de enfrentarem cotidianamente em seus lares e na sociedade o machismo e o preconceito, na
grande maioria das vezes elas também não têm com quem deixar seus filhos, o que as
impossibilita de conciliar a rotina do lar às demandas do curso. Fatos como estes só
contribuem para excluir ainda mais as estudantes oriundas das parcelas mais pobres da classe
trabalhadora (FEDERAÇÃO NACIONAL DE ESTUDANTES DE DIREITO, 2012).
Neste contexto, cabe a todas e todos tomarem para si a responsabilidade de
protagonizarem incessantemente as lutas contra as desigualdades e explorações, desconstruir
mitos e preconceitos ainda enraizados na sociedade, buscando também alcançar um modelo
de Universidade popular que atenda a demanda de todos os setores, inclusive os mais
subalternizados, como as mulheres (FEDERAÇÃO NACIONAL DE ESTUDANTES DE
DIREITO, 2012).
E ainda, criar políticas efetivas de inclusão social, que oportunize o ingresso e
permanência de mulheres na graduação. Neste sentido, ao ter o direito à creche efetivamente
garantido, pode contribuir para que as estudantes-mães concluam o Ensino Superior e
ingressem no mercado de trabalho de forma qualitativa, apesar das adversidades que o sistema
patriarcal e a divisão sexual do trabalho impõem a elas.
109
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
aulas ou até mesmo levar as crianças para a sala de aula, sendo que este é um espaço que nem
de longe é adequado e acolhedor para crianças.
Logo, nos relatos das entrevistadas, foi possível notar as marcas do patriarcado e
da divisão sexual do trabalho, uma vez que em apenas um momento foi mencionada a atuação
da figura masculina na tarefa de cuidado das crianças, mesmo que quase 90% delas afirmaram
ter um companheiro.
Em linhas gerais, foi possível apreender ao longo da pesquisa que, a garantia do
direito a creche com a oferta de creches públicas no âmbito da academia pode contribuir para
o ingresso e permanência de mulheres, estudantes e mães na graduação, à medida que alivia a
carga de cuidados que elas precisam ter com os filhos, possibilitando que elas se qualifiquem
para uma melhor inserção no mercado de trabalho.
Cumpre destacar o disposto do Decreto nº 977, de 10/11/1993, baixado pela
Secretaria da Administração Federal da Presidência da República, que disciplina a assistência
pré-escolar destinada aos dependentes dos servidores públicos da Administração Pública
Federal direta, autárquica e fundacional. Este dispositivo legal surgiu na contramão da
expansão das unidades de educação infantil nos órgãos federais, pois proibiu a criação de
novas unidades e para o atendimento da demanda, instituiu o auxílio pré-escolar como
assistência indireta aos dependentes dos servidores na faixa etária de 00 a 06 anos em creches
e pré-escolas.
E ainda do princípio da CF de 1988 que, em tese, responsabiliza o município para
a criação e gestão de creches públicas, fato que faz a Universidade não possuir a competência
para a criação e manutenção de uma creche. Mas ainda assim a UFMA, em parceira com o
município de São Luís, planejou e investiu no projeto do NEIUFMA, que deveria resultar na
Instituição de Educação Infantil na Universidade, uma oportunidade para que fosse repensado
o papel que as Unidades Universitárias de Educação Infantil podem cumprir nas
Universidades brasileiras.
O vínculo afetivo entre mãe e filho e a amamentação foram apontados pelas
mulheres para a importância de se ter uma creche no espaço em que elas estudam. Todas as
entrevistadas em algum momento afirmaram que se sentiriam mais seguras se os filhos
estivessem em um lugar seguro e próximo a elas, e que inclusive poderiam melhorar o
rendimento acadêmico simplesmente por saberem que o filho está próximo e em segurança,
além de poder ir amamentá-lo sempre que houvesse necessidade.
112
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Maria Paula. Memórias estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias. Relume
Dumará; Rio de Janeiro, 2007.
BATALINI, Marcela Gizeli. FASCINA, Diego Muller. Feminismo e educação: uma leitura
do direito da mulher de frequentar a escola. In VII EPCC – Encontro Internacional de
Produção Científica Cesumar. Paraná, 2011. Disponível em:
http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2011/anais/marcela_gizeli_batalini2.pdf. Acesso
em 04.02.2017.
BRASIL. Código de ética do/a assistente social. Lei 8.662/93 de regulamentação da profissão.
10ª. ed. rev. e atual. Brasília: Conselho Federal de Serviço Social, 2012.
_______. Plano Nacional de Educação (PNE) - 2014-2024. Brasília: Câmara dos Deputados,
Edições Câmara, 2014.
CANCIAN, Viviane Ache. FERREIRA, Ione Mendes Silva (org). Unidades de Educação
Infantil nas Universidades Federais: os caminhos percorridos. Goiânia, 2009.
CAMPOS, Larissa Couto. MACHADO, Thalyson Renan Bitencourt et al. Cotas Sociais,
ações afirmativas e evasão na área de Negócios: análise empírica em uma universidade
federal brasileira. In Rev. Cont. Fin. V 28, n 73, p.27-42, jan/abril 2017. São Paulo –SP.
115
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no brasil: o longo Caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2002.
CISNE, Mirla. Gênero, divisão sexual do trabalho e Serviço Social. Outras Expressões, São
Paulo, 2015.
FERREIRA, Maria Mary. Movimento feminista e políticas públicas. In: Mulher, Gênero e
Políticas Públicas, n.15. UFMA. São Luís, 1999.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4° ed. São Paulo; Atlas, 2002.
117
GUEDES, Moema de Castro. RIBEIRO, Jéssika Martins. A Luta por Creches como
Instrumento de Autonomia Econômica para as Mulheres. In: IV Seminário trabalho e gênero:
protagonismo, ativismo, questões de gênero revisitadas. Goiás, 2012.
LIMA, Carla Patricia Novaes de. A arte da participação e a participação pela arte: uma
experiência nas Casas de Estudantes universitárias da UFPE. In Serviço Social em Revista,
vol 5, n 1. Paraná, 2002.
LOPES, Isabela Pereira. VIEIRA, José Jairo. “Qual a função da creche universitária?” as
finalidades das unidades universitárias federais de educação infantil ontem e hoje. Disponível
em
http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro3/423%20QUAL%20A%20FUN%C3%87%C3
%83O%20DA%20CRECHE%20UNIVERSIT%C3%81RIA%E2%80%9D.pdf. Acesso em
30.05.2016
LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: História das Mulheres no Brasil
(443-481). São Paulo, Contexto, 1997.
MENDEZ, Ana Lúcia de Pinna. VASCONCELLOS, Tânia de. Creches universitárias: lugar
de criança, lugar de formação. In II Congresso Nacional de Formação de Professores/XII
Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores, Cidade, ano xxxx. Disponível
em <http://200.145.6.217/proceedings_arquivos/ArtigosCongressoEducadores/470.pdf>.
Acesso 04.02.2017
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo; Expressão
Popular, 2011.
Pesquisa do IBGE revela que ocupação de creches tem impacto na ocupação das mães.
Disponível em <http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2014-10/creches-tem-
impacto-na-ocupacao-das-maes-diz-ibge> Acesso 18.11.2015
PINTO, Celi. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
2003.
POLETTI, Ronaldo. Coleção Constituições Brasileiras Volume III. Senado Federal; Brasília,
2015.
PORTO, Walter Costa. Coleção Constituições Brasileiras Volume IV. Senado Federal;
Brasília, 2015.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Ed. Meridional (Coleção Cibercultura), Porto
Alegre, 2009. Disponível em http://reitoria.ifpr.edu.br/wp-
content/uploads/2013/11/cartilha_AE_2014.pdf. Acesso 13.08.2016
SILVA, Maria Ozanira Silva e (ORG). Avaliação de Políticas e programas sociais: teoria e
prática. Ed. Veras: São Paulo, 2001.
SILVEIRA, Míriam Moreira da. A assistência estudantil no ensino superior: uma análise
sobre as políticas de permanência das universidades federais brasileiras. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Católica de
Pelotas. Pelotas, 2012
SOBRAL, Rita de Cássia Cronemberger. PEREIRA, Francineide Pires. LUZ, Lila Cristina
Xavier. Políticas públicas e transversalidade do gênero: o caso do Plano Plurianual no Piauí.
In: IV Jornada Internacional de Políticas Públicas "NEOLIBERALISMO E LUTAS
SOCIAIS: perspectivas para as Políticas Públicas". Maranhão, 2009. Disponível em:
<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIV/eixos/4_questao-de-genero/politicas-publicas-
e-transversalidade-do-genero-o-caso-do-plano-plurianual-do-piaui.pdf> Acesso: 04.02.2017
STAMATTO, Maria Inês Sucupira. Um olhar na história: a mulher na escola (BRASIL: 1549
– 1910). In II Congresso Brasileiro de História da Educação. Rio Grande do Norte, 2002.
Disponível em: http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0539.pdf. Acesso em
15.06.2017.
SÃO LUÍS. Plano Municipal de Educação de São Luís – decênio 2015-2014. São Luís:
Prefeitura Municipal de São Luís, 2015.
UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES. Campanha para mães estudantes no dia das
crianças. Disponível em: http://www.une.org.br/2011/10/no-dia-das-criancas-une-lanca-
campanha-para-maes-estudantes/. Acesso em 16. 02. 2017.
URPIA, Ana Maria de Oliveira. Tornar-se mãe no contexto acadêmico: narrativas de um self
participante. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação da
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2009.
120
VIEIRA, Lívia Maria Fraga. Mal necessário: creches no Departamento Nacional da Criança
(1940-1970). In: Card. Pesq. Vol. 67. São Paulo, 1988.
VON ONÇAY, Solange Todero. Escola das classes populares: contribuindo para a construção
de políticas públicas. Cepo; Rio Grande do Norte, 2006.
WEBER, Lidia N. D; SANTOS, Carolina S.D. dos; BECKER, Cintia; SANTOS, Tatiana P.
dos. Filhos em creches no século XXI e os sentimentos das mães. In Revista Psicologia
Argumento, Curitiba, v.24, n. 44 p. 45-54, jan/mar, 2006.
121
APÊNDICES
122
Natureza da pesquisa: A Senhora está sendo convidado a participar desta pesquisa que tem
como objetivo analisar como o Plano Nacional de Assistência Estudantil trata a questão da
creche nas Universidades Federais Públicas, e como este direito tem sido discutido na
especificidade da Universidade Federal do Maranhão - Campus Dom Delgado. A
insuficiência de creches públicas no Brasil afeta diretamente a vida das crianças e das
mulheres-mães, e por este motivo o objetivo deste estudo consiste investigar se e quais os
reflexos que a inexistência de uma creche na UFMA pode trazer para a vida das mulheres-
mães que são também estudantes.
28
Tem-se a compreensão que, legalmente, a faixa etária de creche corresponde a 0-3 anos. Todavia, durante a
elaboração do estudo, sobretudo quando se traçou o perfil das Unidades Universitárias de Educação Infantil,
observou-se que elas atendem crianças de até 06 anos. Logo, optou-se por ampliar a amostra do estudo, para
aproximar-se da realidade existente no Brasil.
124
Riscos e desconfortos: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais ou riscos
de integridade física e/ou moral. Os dados obtidos serão utilizados unicamente para fim de
pesquisa acadêmica, e as participantes terão suas identidades preservadas. Os procedimentos
adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Maranhão (CEP/UFMA), criado através da Resolução nº 460/CONSEPE, de 31 de
maio de 2006, e seu registro aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP), órgão do CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (CNS), no dia 20 de junho de
2007.
Benefícios: ao participar desta pesquisa, a entrevistada não terá nenhum benefício financeiro.
Espera-se que este estudo traga informações importantes sobre a realidade das mulheres mães
da UFMA, de forma a ampliar os debates existentes sobre creches nas Universidades Federais
e sobre a Política de Assistência Estudantil. Para tanto, a pesquisadora se compromete a
divulgar os resultados obtidos através da Defesa Pública de Trabalho de Conclusão de Curso e
em eventos científicos sob a forma de artigos.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre e
gratuita para participar desta pesquisa. Portanto, pedimos que preencha os itens que se
seguem. Lembre-se: não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito ou não
concordar em participar da pesquisa.
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre, gratuita e
esclarecida, manifesto meu consentimento em participar deste estudo. Declaro ainda que
recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e divulgação
dos dados obtidos neste estudo.
___________________________________________________________________
Nome do Participante da Pesquisa
___________________________________________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa
__________________________________________________________________
Assinatura do Pesquisador
125
ANEXOS
126