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(a)
Universidade Federal de Goiás, Email: dayanelucio95@gmail.com
(b)
Universidade Federal de Goiás, Email: karlamsfaria@gmail.com
Resumo
As unidades de conservação no território brasileiro são definidas por ato legal com o objetivo de garantir a
conservação e a preservação de recursos ambientais, em função da localidade e atributos a serem mantidos ou
utilizados. As unidades de conservação podem ser de proteção integral ou de uso sustentável. O objetivo
principal do presente trabalho é analisar o papel regulador do uso do solo da APA das Nascentes do Rio
Vermelho. Os procedimentos metodológicos envolveram a realização de trabalho de campo, tratamento de
imagens de satélite e confecção de mapas de uso e cobertura do solo de 1995 e 2017, assim como avaliação da
paisagem por meio das métricas da ecologia das paisagens. Os resultados indicam que houve um expressivo
aumento da área coberta pela pastagem entre 1995 e 2017, instalando-se em áreas que antes pertenciam às
formações savânicas, inferindo que a APA das Nascentes do Rio Vermelho não está conseguindo regular o uso
do solo.
Palavras chave: APA das Nascentes do Rio Vermelho, Uso do solo, Papel regulador.
1. Introdução
Considerado como o segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado possui uma
grande biodiversidade de espécies endêmicas e é tido como o berço das águas, pois abriga
Criada no ano de 2001, a APA das Nascentes do Rio Vermelho (APANRV) é uma
unidade de conservação da esfera federal, sendo assim administrada e fiscalizada pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, em articulação com
órgãos federais, estaduais e municipais. Localiza-se em área de expansão da fronteira
agrícola, passível de sofrer sérios efeitos, sobretudo de desmatamentos. E também por abrigar
nascentes e ambientes únicos e sensíveis, que necessitam de regulação para que sejam
protegidos.
O presente trabalho tem como objetivo analisar o uso do solo e da função reguladora
da APA das Nascentes do Rio Vermelho (GO) a partir da análise dos anos de 1995 e 2017. A
escolha pelo ano de 1995 se deu pela necessidade de uma perspectiva do uso do solo anterior à
2. Materiais e Métodos
Etapa 2: Revisão das bases conceituais e metodológicas, a fim de dar base para o
estudo;
Etapa 4: Realização de composição colorida RGB 5,4,3 para o Landsat 5 e RGB 6,5,4
para o Landsat 8, no software Envi e de classificação supervisionada das imagens, a partir das
quais foram avaliadas as variações no uso e ocupação do solo nos anos propostos. Para a
realização da interpretação das imagens de satélite, foi considerada a seguinte chave de
classificação:
Para dar respaldo para a classificação das fitofisionomias do Cerrado presentes nas
imagens, foi adotada a caracterização fitofisionômica de Ribeiro e Walter (1998), que traz
elementos importantes para a diferenciação entre formações do bioma Cerrado.
3. Resultados e discussões
As áreas referentes à pastagem estão concentradas na porção oeste do mapa, nas áreas
onde o relevo é mais acentuado. As manchas mais expressivas de pastagem encontram-se no
extremo norte a noroeste da APA e no extremo sul a sudoeste da área de estudo. Verifica-se
que a classe que ocupa a maior área em 1995 é a formação savânica, que representa 87% da
área, estando distribuída por toda a extensão da unidade de conservação trabalhada, porém
predominando na porção nordeste da área. Não foram encontradas na classificação das
imagens de satélite áreas expressivas de agricultura nesse ano avaliado.
Figura 2 ─ Mapa de uso e cobertura do solo da APA das Nascentes do Rio Vermelho, 1995
Elaboração: SOUSA, Silvio Braz de (2017).
Figura 3 ─ Mapa de uso e cobertura do solo da APA das Nascentes do Rio Vermelho, 2017.
Elaboração: SOUSA, Silvio Braz de. (2017).
Houve um aumento também das áreas referentes à zona urbana e agricultura na porção
sul da APA, com presença de dois pivôs centrais no município de Mambaí. Nos dois anos
analisados, a formação campestre encontra-se restrita a pequenos fragmentos e essa condição
pode estar relacionada à sua característica natural de ocorrer em áreas com relevos mais
movimentados, que apresentam solos distintos de áreas planas.
O principal uso antrópico observado na área da APANRV nos dois anos analisados é a
pastagem. Esse dado corrobora o constatado por Santos (2015) em um estudo realizado acerca
da APA das Nascentes do Rio Vermelho.
O fato de a formação savânica possuir vegetação mais espaçada possibilita que o gado
entre na área, podendo provocar a abertura de clareiras na vegetação. Esse fato pode acarretar
na formação de processos erosivos, que são intensificados pela presença do gado. Na área
visitada em campo foram constatadas diversas erosões lineares como, por exemplo, a
demonstrada na Figura 4.
A partir da classificação das imagens de satélite dos anos propostos, foi possível obter
informações acerca da estrutura da paisagem, por meio do software de índices descritores da
ecologia das paisagens, Fragstats. Segundo Volotão (1998), a ecologia das paisagens abrange
o estudo dos padrões das paisagens, assim como as relações entre os fragmentos envolvidos
em um mosaico da paisagem e de como esses padrões se alteram ao longo do tempo.
As métricas expostas na Tabela I fornecem informações acerca da área das classes de
uso e ocupação do solo em 1995 e 2017.
Diferença entre
1995 2017
1995 e 2017 (%)
CA* PLAND** CA* PLAND**
Área Urbana 99,9 0,03 267,4 0,09 + 0,06
Agricultura 50,4 0,01 94062,1 35,1 + 35,09
Pastagem 14125,7 5,2 46917,2 17,5 + 12,3
Form. Flor. 9177,5 3,4 9317,9 3,4 =
Form. Sav. 235130,4 87,8 105002,6 39,2 − 48,6
Form. Camp. 8517,2 3,1 11219,4 4,1 +1
*CA: Área da classe, obtida em hectares (ha) **PLAND: Porcentagem de fragmentos da
mesma classe na paisagem (%). Legenda: Form. Flor.: Formação Florestal; Form. Sav.: Formação
Esse fato se deve ao aumento das áreas de pastagem, que dividiu as áreas de formação
savânica em fragmentos descontínuos. O alto índice de fragmentação da vegetação pode
acarretar em diversos problemas como, por exemplo, a redução do tamanho do habitat da
fauna, alterações na flora e geração do efeito de borda, que modifica o habitat do fragmento
através da influência exercida pelas áreas ao redor da mancha, conforme elucidam Cerqueira
et al (2003).
4. Considerações finais
Apesar de o decreto de criação da APA das Nascentes do Rio Vermelho prever que a
mesma tem o papel de garantir a regulação do uso do solo em seu território, os resultados
demonstrados no presente trabalho trouxeram um panorama distinto do previsto no decreto de
criação.
Foi possível constatar, a partir do aumento da área urbana e da pastagem, que a APA
não impediu que a área fosse ocupada por atividades antrópicas. Com isso, é possível concluir
que a APANRV não está exercendo seu papel regulador do uso do solo.
As áreas que em 1995 eram cobertas, em mais de 85% da paisagem, por formações
savânicas deram lugar, vinte e dois anos depois, a áreas de uso antrópico, principalmente a
pastagem.
Uma alternativa de regulação do uso do solo que poderia ser adotada pela unidade de
conservação em questão seria a criação de zonas de uso restrito em áreas vulneráveis dentro
do território da APA, a fim de controlar o avanço de atividades que apresentam impacto
ambiental negativo à UC.