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RANIERE BARBOSA DE LIRA2*, NILDO DA SILVA DIAS3, SANDRA MARIA CAMPOS ALVES4, RAIMUNDO
FERNANDES DE BRITO,5 OSVALDO NOGUEIRA DE SOUSA NETO6
RESUMO - O manejo sustentável da caatinga reduz a devastação do semiárido e visa uma agricultura de base
ecológica norteada por princípios sistemáticos da agroecologia. Neste contexto, buscou-se avaliar os efeitos dos
sistemas de cultivo e manejo da caatinga através da análise dos indicadores químicos da qualidade do solo na
produção agrícola em Apodi, RN. Os sistemas avaliados foram: 1 – área de manejo da caatinga com 5 (cinco)
anos (AMC5); 2 – área de manejo da caatinga com 7 (sete) anos (AMC7); 3 – área de cultivo agrícola (ACA)
em sistema convencional e 4 – área de mata nativa (AMN). As análises químicas revelaram que no manejo da
caatinga durante cinco e sete anos contribuíram de forma benéfica para a conservação da fertilidade do solo.
ABSTRACT - The sustainable management of savanna reduces the devastation of semiarid and aims based
agricultural guided by systematic principles of agroecology. In that connection we evaluated the effects of
cropping systems and management of savanna through the analysis of chemical indicators of soil quality in
agricultural production in Apodi, RN. . The systems were evaluated: 1 - management area of savanna with 5
(five) years (MAS5), 2 - management area of savanna with 7 (seven) years (MAS7), 3 – conventional system
(CSA) and 4 – native forest (NF). The chemical analysis revealed that the management of savanna for five to
seven years is a beneficial way contributed to conservation of soil.
______________________________________________________
*Autor para correspondência.
1
Recebido para publicação em: 09/05/2012; aceito em: 16/01/2012
Parte do trabalho de dissertação do primeiro autor.
2
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, Caixa Postal 137, 59625-900, Mossoró-RN; ranierebarbosa@bol.com.br
3
Departamento de Ciência Ambientais e Tecnológicas, UFERSA, Caixa Postal 137, 59625-900, Mossoró-RN; nildo@ufersa.edu.br
4
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, Caixa Postal 137, 59625-900, Mossoró-RN; sandraalves@ufersa.edu.br
5
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, Caixa Postal 137, 59625-900, Mossoró-RN; haranha1@hotmail.com
R. B. LIRA et al.
R. B. LIRA et al.
de 2003 quando iniciou-se esse tipo de manejo da Mg trocáveis extraídos com solução de 1N de aceta-
caatinga, além de periodicamente jogar a lanço se- to de amônio e analisados por espectrofotometria de
mentes de diferentes espécies vegetais de legumino- absorção atômica (RICHARDS, 1999). P e K foram
sas. Esse arranjo teve início em novembro de 2003. extraídos pelo método Mehlich 1 e analisados por
Durante as chuvas a parcela serve de florada para a colorimetria (método do azul de molibdênio) e foto-
criação de abelhas e no período seco, a área foi utili- metria de chama, respectivamente (EMBRAPA,
zada como banco de proteína, onde o rebanho de 43 1997). A matéria orgânica foi determinada por calo-
animais caprinos permanecia o dia inteiro, tirando rimetria, utilizando o método Walkley e Black. To-
apenas ao final da tarde para dormiram no curral, dos os métodos utilizados encontram-se descritos em
sendo que a permanência nos sistemas de manejo foi (EMBRAPA, 1997). Nas referidas amostras foram
durante todo o período do ano. determinados os teores de P, K+1, Ca+2, Na+ e Mg+2
A área do tratamento manejo da caatinga de 5 foram extraídos com solução de Mehlich 1 e deter-
(cinco) anos - (AMC5) seguiu-se o mesmo formato minado por Espectrofotometria de absorção atômica.
de raleamento da AMC7, porém foi disponibilizada As análises foram realizadas pelo Laboratório de
uma área de 1 ha e não foi feito em faixa conforme a Solos e Nutrição de Plantas da UFERSA. Os dados
AMC7, sendo esta totalmente raleada em toda sua foram submetidos à análise de variância e teste de
extensão, essa foi à segunda intervenção de manejo comparação de médias pelo teste de Tukey (P <
que aconteceu no ano de 2005. Todos os restolhos 0,05), utilizando-se o programa “SISVAR”.
foram colocados em leiras de 5 m de largura para
controle de erosão, a exemplo da AMC7 esta tam-
bém foi introduzida plantas exóticas e nativas. Essa RESULTADOS E DISCUSSÃO
área como as demais áreas de AMC7 e AMN serve
como pastagem de mantença dos caprinos e apicul- O pH do solo nos diferentes ambientes estu-
tura durante todo o período do ano. dados variou de levemente ácido a levemente alcali-
O tratamento da área de cultivo agrícola no (Tabela 1), estando dentro da faixa ótima para o
(ACA) correspondeu a um sistema tradicional de desenvolvimento das culturas (TOMÉ JÚNIOR,
cultivo, em que uma área de 4 ha foi submetida ao 1997). Observa-se que para a área de cultivo agríco-
desmatamento que produziu restolhos lenhosos e la, para as quatros profundidades, os valores de pH
folhosos, que foram queimados no ano de 2003. A foram inferiores as demais áreas estudadas, apresen-
parcela é cultivada todos os anos com milho e feijão tando média de 6,24 (acidez fraca) e com uma queda
desde 2004 no sistema de cultivo de sequeiro, Se- brusca na profundidade de 30 a 50 cm (Figura 1).
gundo informações do Produtor todos os anos dimi- Tal fato pode ser devido aos constantes revolvimen-
nui a produção agrícola, é de se esperar, pois é uma tos do solo para a exploração de cultivos de milho e
área que não se faz nenhum tipo de adubação, so- feijão durante vários anos consecutivos, como tam-
mente planta e espera a colheita. No período seco, a bém a própria dinâmica de manejo, desde a capina,
forragem e os resíduos culturais da área cultivada colheita até a retirada dos restos de cultura para ali-
são utilizados para a suplementação alimentar do mentar os animais, conseqüentemente deixando o
rebanho caprinos. solo desprotegido.
O tratamento da área de mata nativa - (AMN)
é uma área de reserva legal do Assentamento e foi 8.00
considerada como tratamento testemunha, utilizada
no período seco como área de mantença dos animais
(caprinos e criação de abelhas).
A qualidade química do solo foi avaliada 7.00
y = 0.0003x2 -0.0509x + 7.1656 (R² = 0.95*) ACA
através dos indicadores pH, CE, CTC, V%, SB, y = -0.0005x2 + 0.0379x + 6.7518 (R² = 0.98 *) AMC5
pH.
R. B. LIRA et al.
Com relação às demais áreas, apresentam-se tais decompostos, principalmente nos tratamentos de
com uma alcalinidade fraca, exceto para AMC5 na AMN, AMC5 e AMC7. A vegetação tem participa-
profundidade de 0 - 5 cm e AMC7 na profundidade ção ativa nos processos de troca catiônica com o
de 10 - 20 cm, ambos com acidez fraca. Valores de material do solo pelo contato direto das raízes com a
pH variando de neutro a alcalinidade baixa possivel- superfície coloidal (interceptação radicular); além da
mente estão relacionados aos altos teores de bases sua relevante participação na estocagem de nutrien-
trocáveis e a quase ausência de H+Al3+, freqüente- tes no interior dos tecidos, pela absorção dos cátions
mente observados em solos de regiões semiáridas da solução do solo (fluxo de massa e difusão), os
(CORRÊA et al., 2003). quais retornam ao solo pela adição de resíduos vege-
Bayer et al. (2000) concluíram que a utiliza- tais. Nos tratamentos ACA, aonde não se tem vege-
ção de sistemas de manejo do solo sem revolvimento tação para formação dessa dinâmica da CTC, esta
e a adição de resíduos culturais por cinco anos pro- tende a diminuir pela a falta de estocagem de nutri-
moveu melhorias na qualidade química do solo, indi- entes no solo.
cando a sua viabilidade na recuperação de solos de- Maia et al. (2007) estudando os impactos a-
gradados, em médio prazo. groflorestais das áreas de manejo agrossilvopastoril,
Para a salinidade do solo, a CE na área concluíram que houveram reduções nesses atributos
AMC5, em todas as camadas de solo, foi mais eleva- nas áreas de cultivo agrícola devido ao maior revol-
da em relação às demais áreas variando de 118,98 a vimento do solo; enquanto que, o tratamento com
157,46 (Tabela 1). Provavelmente seja devido à alta implantação de manejo da caatinga mostrou-se efici-
atividade microbiana acontecendo nessa área, com ente na ciclagem de nutrientes. Os resultados desse
introdução de leguminosas exóticas. estudo ainda permitiram recomendar o tratamento
A CTC do solo e a saturação por bases (V) silvopastoril para a manutenção da qualidade do solo
conforme (tabela 1) no tratamento AMC5 foram su- e a produção de alimentos na região semiárida Cea-
periores aos demais tratamentos, retratando a impor- rense.
tância da introdução das leguminosas cultivadas nes- A partir do teor de MOS podem ser feitas
sa área, ao longo dos cinco anos essa área teve maior inferências sobre a qualidade de um solo e avaliar a
cuidado por parte do produtor na introdução de espé- capacidade de manter-se produtivo, razão pela a qual
cies vegetais para o suporte forrageiro dos animais, suas medidas são amplamente utilizadas em estudos
entre essas leguminosas, se destaca a leucena e gliri- do impacto de sistemas agrícolas, principalmente em
cídias, refletindo aumento no comportamento das comparação com ambientes naturais. Ao avaliar os
bases trocáveis do solo. Nas profundidades analisa- resultados obtidos, verifica-se que, de maneira geral,
das, a CTC diminuiu com a profundidade do solo, as quatro áreas apresentaram nível médio quanto aos
provavelmente em decorrência da diminuição no teor teores de matéria orgânica, sendo que a AMC7 apre-
de argila e matéria orgânica em maiores profundida- sentou maiores teores nas profundidades iniciais do
des do perfil do solo. Quanto à saturação por bases, solo (0 - 5 cm) em relação às demais áreas. No en-
observou-se que o tratamento AMC5 apresentou tanto, abaixo dos 5 cm iniciais do solo houve uma
maiores valores nas camadas superficiais do solo (0- mudança nesse comportamento, destacando-se o
20 cm), confirmando a eficiência desse sistema na tratamento AMN sobre os demais (Figura 2). Obser-
ciclagem de nutrientes. va-se ainda uma diminuição progressiva no teor de
Os valores elevados de V% estão associados MOS na ACA, fato este, que já é de se esperar, pois
ao material de origem ‘calcário jandaíra’ em propor- a área é proporcionada pelo o cultivo intenso e defi-
cionar altas concentrações de Ca2+ e Mg2+ na área ciência de aporte de matéria orgânica inexistente na
estudada. Essas concentrações elevadas de cálcio e área trabalhada, aliado ao desmatamento e queima da
magnésio, também foram observadas por Araújo e vegetação nativa para exploração agrícola.
Oliveira (2003), estudando Cambissolos na Chapada Os solos do semiárido, geralmente, têm baixa
do Apodi. fertilidade natural e, esta situação se agrava com o
Ainda com relação à saturação por bases, desmatamento da vegetação para estabelecimento de
observam-se que há uma distribuição uniforme para sistemas agropecuários e/ou comercialização da ma-
os tratamentos AMC5, AMC7 e AMN nas camadas deira. O que tem ocasionando redução nos níveis de
0-20 cm, sendo o contrário observado na ACA com matéria orgânica e de nutrientes do solo (ARAÚJO
valores abaixo dos demais, indicando uma degrada- FILHO, 2008).
ção do solo nessa área de estudo, provavelmente O comportamento do tratamento AMN para
devido a falta de práticas de conservação. A unifor- estes atributos quase se mantém inalterados, ou seja,
midade dos valores de saturação por bases está rela- em equilíbrio, diferentemente da ACA, a qual houve
cionada à influência do “Calcária Jandaíra” material o revolvimento do solo para preparo e cultivo, proce-
de origem da Chapada do Apodi. dimento comum nessa área. Esta prática acelera a
Os baixos teores de acidez potencial das áreas decomposição rápida da matéria orgânica (restos
pode ser em função da presença de ácidos orgânicos culturais que ficaram na última colheita). É sabido
que complexam o H+ e Al+3 livres e pelo aumento da que sistemas de cultivo mais intensivo favorece aera-
CTC pelo Ca, Mg e K adicionados via resíduos vege- ção e altas temperaturas do solo, e também pode
R. B. LIRA et al.
Tabela 1. Médias dos valores dos atributos acidez ativa (pH), condutividade elétrica (CE), capacidade de troca de cátions
(CTC), saturação por bases (V%), soma de bases (SB) e acidez potencial (H +AL3+) para as áreas de cultivo agrícola
(ACA), manejo da caatinga com 5 anos (AMC5), áreas de manejo da caatinga com 7 anos (AMC7) e área de mata nativa
(AMN), nas profundidades de 0-5, 5-10, 10-20, 20-30 e 30-50 cm. Apodi, RN.
AMC7 (tabela 2), sendo classificado como alto teor y = 0.001x2 -0.1072x + 3.2252 (R² = 0.95**) ACA
de MOS. Nas demais áreas, classificam-se como 2.00
médio teor de MOS. Algumas regiões apresentam y = 0.0013x2 -0.105x + 2.9072 (R² = 0.96**) AMC5
características climáticas desfavoráveis à manuten- 1.50 y = 0.001x2 -0.0957x + 3.3045 (R² = 0.95**) AMC7
ção da MOS, encontrando-se valores bem reduzidos, y = -0.0006x2 + 0.0 235x + 2.6378 (R² = 0.50*) AMN
como os divulgados por alguns pesquisadores: 0,8 1.00
dag Kg-1 (TIESSEN et al.; 1998), 0,24 dag Kg-1
(SILVA e CHAVES, 2001), 0,48 dag Kg-1 (SU et al.; 0.50
2004), 1,05 dag Kg-1(FRANCELINO et al.; 2005),
0,4 dag Kg-1 (CHAVES et al.; 2006), 3,48 dag Kg-1 0.00
(MAIA et al.; 2006). Deve ser considerado que tais
0 10 20 30 40 50 60
observações para o MOS não dependem essencial-
mente do clima em questão. Além do clima, os fato-
Profundidade (cm)
res que mais afetam as mudanças no MOS são o ma-
nejo de cultivo adotado e a espécie de planta cultiva- Figura 2. Comportamento da matéria orgânica dos trata-
da nas safras anteriores. mentos nas diferentes profundidades. Área de cultivo agrí-
cola - ACA, área de mata nativa cinco anos - AM5, área
Para os teores de fósforo (P) no solo, não hou- de manejo com sete anos - AM7 e área de mata nativa -
ve diferença significativa entre os tratamentos ACA, AMN.
AMC5 e AMN (Tabela 2), enquanto que para o trata- Fonte: pesquisa de campo, nov. 2009.
22 Revista Caatinga, Mossoró, v. 25, n. 3, p. 18-24, jul-set., 2012
EFEITOS DOS SISTEMAS DE CULTIVO E MANEJO DA CAATINGA ATRAVÉS DA ANÁLISE DOS INDICADORES QUIMICOS
DE QUALIDADE DO SOLO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM APODI, RN
R. B. LIRA et al.
500.00
y = -4.7407x + 402.11 (R² = 0.97**)
Os teores de potássio (K) dos ambientes estu-
ACA
450.00
y = 0.3984x2 - 24.886x + 532.87 (R² = 0.97 **) AMC5
dados não diferiram estatisticamente, apresentando
400.00 y = 0.0849x2 - 6.6019x + 350.47 (R² = 0.82*) AMC7
comportamentos leves de diferenciação e uma queda
350.00 à medida que se aumenta a profundidade (Figura 3).
K+ (mg. dm-3)
Tabela 2. Médias dos valores dos atributos matéria orgânica do solo (MOS), fósforo (P), potássio (K+), sódio (Na+), cálcio
(Ca2+) e magnésio (Mg2+) para as áreas de cultivo agrícola (ACA), área de manejo da caatinga com 5 anos (AMC5), áreas
de manejo da caatinga com 7 anos (AMC7) e área de mata nativa (AMN) nas camadas de 0-5, 5-10, 10-20, 20-30 e 30-50
cm.
R. B. LIRA et al.