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00122
ISSN 1809-466X
9 77180 9 466007
Ano 17
Número 122
outubro/2023
R$ 29,99 28
€ 5,00
ª
PROMOÇÃO: APOIO:
REALIZAÇÃO: PLANEJAMENTO E COMUNICAÇÃO
ORGANIZAÇÃO: E MARKETING:
EXPEDIENTE
PUBLICAÇÃO
Editora Círios SS LTDA
ISSN 1677-7158
05
Rodrigo Barbosa Hühn
Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo o comunicado, desde o mês de pauta@revistaamazonia.com.br
maio, parte dos estados do Amazonas e do Pará vem registrando chuvas
PRODUTOR E EDITOR
abaixo da média. A situação pode ser uma consequência do inverno... Ronaldo Gilberto Hühn
07
Kaufman, Earth’s Future, Genevieve Normand, Graham Rush, Instituto de Tecnologia
de Massachusetts, IPBES, Imprensa MCTI, Mariana Alvarenga, Mathiew Leiser, Matt
Manicoré, Humaitá, Canutama, Lábrea, Boca do Acre, Tapauá e Davenport, Northern Arizona University, Ronaldo G. Hühn, Science, Universidade
Maués, no sul do estado, além da região metropolitana de Manaus. Estadual de Michigan, Universidade Federal do Pará, Universidade de Leeds, Universidade
de Minnesota, Universidade de Utrecht;
O governo também anunciou a destinação de R$ 1,1 milhão...
14
Museu de História Natural da Universidade de Michigan, Nature, NASA/Goddard Space
mais para trás, antes das estações meteorológicas e dos satélites? Flight Center Scientific Visualization Studio, NASA/Joshua Stevens, Nature Reviews Earth
Alguns meios de comunicação relataram que as temperaturas diárias & Environment (2023), Northern Arizona University, NP McKay, 2022, Observatório da
atingiram uma alta de 100.000 anos... Terra da NASA, OsakaWayne Studios via Getty Images, Pedro Biondi/Agência Brasil, PeerJ
(2023), Penn State News, Pixabay/CC0 Domínio Público, Peter Roopnarine, PNAS,
18
os impactos, mostra estudo desenvolvido por pesquisadores Editora Círios SS LTDA
internacionais, com participação da USP. De acordo com a pesquisa,
para cada três árvores que morrerão devido às futuras secas na DESKTOP
Rodolph Pyle
A
CIC
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floresta, uma quarta árvore – embora não diretamente afetada...
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I
LE ESTA REV
24
das áreas protegidas na Amazônia”, revela descobertas alarmantes
sobre a situação vulnerável desses animais e a eficácia das medidas de
conservação. Os mamíferos carnívoros, essenciais para a manutenção
e funcionamento do ecossistema amazônico, estão...
26
consumiram, respectivamente, 22% e 31% do Parque Nacional da
Chapada dos Veadeiros. O chamado Manejo Integrado do Fogo (MIF)
é o conjunto de técnicas que usam o fogo como ferramenta para
prevenir os incêndios florestais, como a queima do excesso...
MAIS CONTEÚDO
[06] Prognóstico de seca para Amazônia [10] Aquecimento das águas pode ter provocado a morte de 5% dos botos de Tefé
[11] Mundo ultrapassa marca de aquecimento de 1,5°C por número recorde de dias [17] IPCC emite orientações para a batalha
contra as mudanças climáticas [18] Seca em uma região da floresta amazônica pode impactar áreas vizinhas e comprometer os
rios voadores [21] As plantas podem piorar a poluição do ar em um planeta em aquecimento [28] Usando o fogo conscientemente
[30] Incêndios florestais no Canadá causam danos devastadores à vida selvagem [32] Medidas que podem ajudar a evitar incêndios
florestais [33] Cientistas pedem plantação de árvores para ajudar a enfrentar ondas de calor [34] Os rios estão aquecendo Para receber edições da
rapidamente e perdendo oxigênio: a vida aquática está em risco [37] 10ª Sessão da Plenária do IPBES e do Dia das Partes Interessadas Revista Amazônia gratuita-
[40] Estudo revela 10 mil registros de antigas comunidades indígenas escondidas sob a floresta amazônica [42] Antigos amazônicos
criaram intencionalmente uma “terra escura” fértil [46] Gases de bactérias e plâncton afetam o clima [48] O aquecimento climático
mente é só entrar no grupo
altera a memória e o futuro das florestas [50] A qualidade da água está se deteriorando nos rios em todo o mundo devido às www.bit.ly/Amazonia-Assinatura
mudanças climáticas e ao aumento de eventos climáticos extremos [52] O derretimento do gelo provavelmente desencadeou ou aponte para o QR Code
mudanças climáticas há mais de 8.000 anos [54] A Corrente do Golfo pode entrar em colapso em 2025, mergulhando a Terra no
caos climático [58] Preservando as florestas para proteger o solo profundo do aquecimento [60] Os seres humanos enfrentaram um
“perigo de extinção” há quase um milhão de anos [62] 19 “extinções em massa” tiveram níveis de CO2 para os quais agora estamos Portal Amazônia
nos voltando [64] A perda da biodiversidade levou ao colapso ecológico após a “Grande Morte” www.revistaamazonia.com.br
A
seca na Amazônia deve du-
rar pelo menos até dezem-
bro quando o fenômeno El
Niño atingirá a sua máxi-
ma intensidade. Até lá, as previsões de
chuva indicam volumes abaixo da mé-
dia. O alerta foi feito nesta quarta-feira
(04) pelo Cemaden, unidade de pesqui-
sa vinculada ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação. Segundo o co-
municado, desde o mês de maio, parte
dos estados do Amazonas e do Pará vem
registrando chuvas abaixo da média.
Dados do Cemaden indicam que a produção agrícola familiar po-
A situação pode ser uma consequência derá ficar comprometida em pelo menos 79 municípios da região
do inverno mais quente provocado pelo
El Niño. O déficit de chuvas registrado
entre julho e setembro no interior do “Em grande parte do Amazonas, Acre Devido ao déficit acumulado de pre-
Amazonas e no norte do Pará foi o mais e Roraima, observa-se uma anomalia de cipitação, a umidade do solo alcançou
severo desde 1980. chuvas de -100 a -150 milímetros. níveis críticos ao longo do mês de se-
tembro”, informou o Cemaden.
Mapa de percentil de umidade do solo para o mês de setembro. As áreas em tons de ver- [*] Agência FAPESP
melho indicam os locais onde a umidade do solo está abaixo da média para setembro
Déficit de chuvas no interior do Amazonas e norte no Pará foi o mais severo em 40 anos.indd 5 16/10/2023 16:46:58
CLUBE DE REVISTAS
Prognóstico de seca para Amazônia
por * Mariana Alvarenga Fotos: Hamilton Garcia
A
escassez de água duran-
te os períodos de seca na
Amazônia afeta direta-
mente as atividades de
pesca, agricultura e abastecimento das
comunidades ribeirinhas. Para apoiar
os órgãos de defesa civil na redução
dos impactos da estiagem, o Centro
Gestor e Operacional do Sistema de
Proteção da Amazônia (Censipam),
do Ministério da Defesa, promoveu
recentemente a conferência “Pré-seca:
Análise e Prognóstico para 2023”.
O evento, que ocorreu em Porto Velho, Durante o 1º Seminário de Hidrologia da Amazônia, o meteo-
rologista Luiz Alves, falou sobre as previsões climáticas
Rondônia, durante o 1º Seminário de Hi-
drologia da Amazônia, contou com uma
série de mesas-redondas e minicursos. O gráfico abaixo apresenta essa O Assessor Executivo da Defesa Civil do
Uma das palestras abordou o tema “Ama- anomalia climática prevista para Mato Grosso, Major do Corpo de Bombeiros,
zônia pelo clima: diagnóstico e prognós- os próximos meses. Lucas Souza, enfatizou que os conhecimen-
tico climático para a Amazônia Legal A área em verde claro aponta tos adquiridos no seminário auxiliam na to-
brasileira e internacional”, na qual o me- baixa incidência de chuva nos es- mada de medidas preventivas e na execução
teorologista Luiz Alves expôs as previsões tados de Roraima, Acre, Amapá e de estratégias de assistência à população
climáticas para os próximos três meses na em parte do Amazonas, Pará, Mato afetada pela seca. “O seminário gerou uma
Amazônia, de julho a setembro. Grosso e Maranhão. aproximação dos pesquisadores, cientistas e
De acordo com o especialista, o fenô- A conferência contou com a par- pessoas que geram dados conosco, da Defesa
meno El Niño, que está ocorrendo desde ticipação de membros da Organi- Civil. A partir das informações geradas por
junho, provoca interferência no clima no zação do Tratado de Cooperação esses especialistas, podemos tomar as deci-
País. O evento natural caracteriza-se pelo Amazônica (OTCA), único bloco sões em situações de risco iminente e buscar
aquecimento das águas do oceano Pacífi- socioambiental da América Latina, ações antes que os desastres possam vir a
co tropical. “Boa parte da Amazônia vai além deles, integrantes de organi- acontecer. O que a gente vê aqui traz mudan-
apresentar chuvas abaixo do normal para zações intergovernamentais e re- ças e melhorias lá na ponta “, frisou.
esse trimestre. A estação seca deverá ser presentantes dos setores público
prolongada e vamos ter mais ocorrência e privado, além da sociedade civil [*] Ascom Ministério da Defesa
de queimadas”, destacou. também participaram.
O
governador do Amazo- A iniciativa acontecerá no âmbito de um reduziu mais de 73% em relação ao mes-
nas, Wilson Lima, assi- novo projeto, em parceria com a Funda- mo período no ano passado, quando o
nou na última 3ª feira ção Amazônia Sustentável (FAS) e apoio Acre registrou 3.650 focos de incêndio.
(12/9) um decreto de da organização Re:wild, do ator Leonar-
emergência ambiental em virtude do Di Caprio. Dados do INPE mostram Amazonas tem o 2º pior
das queimadas que assolam o estado que as queimadas estão se intensificando setembro desde 1998
nas últimas semanas, que vigorará no Amazonas. Somente nos primeiros
por 90 dias. O decreto abrange os dez dias de setembro, foram registrados Calor e seca impulsionam queimadas no
municípios de Apuí, Novo Aripuanã, 3.925 focos de incêndio no estado. maior estado da Amazônia brasileira, que
Manicoré, Humaitá, Canutama, Lá- Desde janeiro, o Amazonas registrou experimentou o segundo pior setembro
brea, Boca do Acre, Tapauá e Maués, 11.736 focos. A situação das queima- em número de focos de fogo desde 1998.
no sul do estado, além da região me- das também é preocupante no Acre. De O Amazonas experimentou um setem-
tropolitana de Manaus. acordo com o INPE, o estado registrou bro particularmente devastador com as
O governo também anunciou a des- 976 focos de incêndio nos primeiros queimadas. De acordo com o Programa
tinação de R$ 1,1 milhão para remune- nove dias de setembro, número cinco Queimadas, do INPE, o estado registrou
rar uma equipe de 153 brigadistas que vezes maior que o registrado no mes- 6.871 focos de incêndio, o segundo pior
atuam contra as queimadas no “arco do mo período no mês de agosto. Ape- índice para o mês desde 1998, quando
desmatamento” do sul amazonense. sar da alta, o número de queimadas começou a série histórica.
Ações do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) no combate aos focos de incêndio
O número é parcial, já que contabiliza Segundo o INPE, foram regis- utilizado por desmatadores para limpar
os focos até o último dia 29. O acumula- trados 32.094 focos em toda a o terreno depois da derrubada da vegeta-
do no último mês só não é maior que o Amazônia Legal em setembro, ção. O quadro é particularmente preo-
de setembro de 2022, quando o Amazo- número abaixo dos 48.570 levantados cupante na região metropolitana de
nas registrou 8.659 focos de incêndio. O no mesmo mês em 2022 e da média his- Manaus. O governador do Amazonas,
total deste ano, no entanto, já está bem tórica para o mês (32.477). Wilson Lima, pediu a ajuda de dois he-
superior à média histórica anual no es- Dois fatores podem explicar essa di- licópteros da Marinha para combater as
tado: de janeiro a setembro, foram con- ferença: o calor intenso e a seca atípica queimadas no entorno da capital ama-
tabilizadas 14.682 queimadas, superior que acometem boa parte da Amazônia zonense. As autoridades estaduais de-
à média de 9.617 dos últimos 25 anos. central nas últimas semanas. cretaram situação de emergência na 6ª
Os dados do Amazonas destoam do O tempo quente e seco facilita a dis- feira (29/9) em 55 dos 61 municípios do
resto do bioma amazônico. seminação do fogo, que segue sendo interior afetados pela seca.
Ocorrências nacionais de internações hospitalares respiratórias e circulatórias (total de 2008 a 2018) (A, B). Concentrações
de PM 2·5 (média durante o período de estudo) (C) e densidade de incêndios florestais (D) (com base na densidade do Kernel
com um tamanho de célula de saída de 0,15°; aqui contabilizamos todos
Últimas notícias
Na quarta-feira, 11/10, a Polícia Fede-
ral prendeu em flagrante dois homens
por envolvimento em queimada ilegal
em região próxima Manaus.
Os presos assumiram que já pratica-
ram o mesmo crime anteriormente e
foram capturados com motosserras, ga-
lões de gasolina e fósforos. Os homens
foram encaminhados para a Superinten-
dência Regional da PF e, em seguida,
para audiência de custódia, onde per-
manecerão à disposição da Justiça.
A Polícia Federal abriu investigação
para verificar as causas das queimadas
na Região Metropolitana de Manaus.
O Amazonas teve reforço federal
contra as queimadas e foi enviado
mais efetivo da Força Nacional para
ampliar o combate aos incêndios flo-
restais no Amazonas. A densa nuvem
de fumaça que encobria Manaus já Presos assumiram que já praticaram o mesmo crime anteriormente
estava se dissipando
por *Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) Fotos: Miguel Monteiro (IDSM)
População afetada
O diretor do Instituto Mamirauá, João Valsecchi, acrescenta
que o baixo nível da água no Lago Tefé também tem causado
transtornos para a população. “Os eventos extremos têm im-
pactado não somente a biodiversidade da região, mas também
a população da Amazônia pela dificuldade de mobilidade, in-
cluindo restrição de acesso a muitas áreas, e consequentemente
o aumento do custo de vida”, relatou. “Escolas estão sendo fe-
chadas, linhas de barcos deixam de funcionar, todos os produ-
tos estão mais caros nas cidades e principalmente no interior e,
neste ano, de forma muito atípica, estamos registrando a mor-
No Lago Tefé, no Amazonas
talidade de pescado e botos no Lago Tefé”, ressaltou. Segundo
o diretor do Mamirauá, na seca de 2010, o Lago Tefé atingiu
C
erca de 5% da população de botos amazônicos da um nível ainda mais baixo, mas os impactos da seca atual po-
região de Tefé, no Médio Solimões, morreu desde dem ser piores. “Esta seca de 2023 pode se tornar mais extre-
o início da seca que atinge o estado do Amazonas. ma. Mesmo antes de atingir níveis tão baixos, o evento causou
A estimativa é da pesquisadora Miriam Marmon- mais danos do que qualquer outro anterior. Isso provavelmente
tel, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, é consequência de um acúmulo de impactos causados pela po-
organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tec- luição urbana, pelo assoreamento do Rio Tefé, pela poluição do
nologia e Inovação. Segundo ela, a mortandade inclui botos ar devido ao grande número de queimadas, e pode ser que ainda
vermelhos e tucuxis. Especialista em mamíferos aquáticos, sejam descobertos outros agravantes.”
Miriam pesquisa os botos da Amazônia há 30 anos. Segundo
ela, a população de botos e tucuxis no Lago Tefé é estimada Ações com a comunidade
em 900 e 500 indivíduos, respectivamente.
“Estamos enfrentando um evento de mortalidade incomum Além do trabalho realizado para recuperar os cetáceos, pes-
de botos amazônicos no Lago Tefé – uma situação muito quisadores do Instituto Mamirauá também estão ajudando a
preocupante e grave. Entre sábado (24) e segunda-feira (2), população ribeirinha. “A gente monitora as informações sobre o
perdemos 110 animais entre botos-vermelhos e tucuxis”, ex- nível do rio e o clima e emite boletins periódicos que são distri-
plicou. De acordo com a pesquisadora do Instituto Mamirauá, buídos na rádio local e pelas redes sociais”, informou o pesqui-
a causa da morte desses animais ainda é desconhecida. Ela sador Ayan Fleischmann. O mapeamento da profundidade do
acredita, no entanto, que a mortandade está ligada às altas Lago Tefé é disponibilizado para evitar que os barcos encalhem.
temperaturas das águas. “A minha impressão é que tem algo “Também estamos falando sobre a seca em locais como a
na água, obviamente, relacionado à situação de seca extrema, feira municipal, para conscientizar a população e discutir
baixa profundidade dos rios e, consequentemente, ao aqueci- medidas de adaptação sobre os eventos climáticos extremos
mento das águas. A média histórica da temperatura da água que temos vivido”, destacou. “Para lidar com esses impactos,
no Lago do Tefé é de 32 graus e, na quinta-feira, nós aferimos precisamos que a população local se engaje, para que possa-
40 graus até três metros de profundidade”, disse. mos nos antecipar à próxima seca extrema”.
Miriam ressaltou que equipes de apoio e resgate de cetáceos
vivos chegaram a Tefé no fim de semana. “Seguimos com a
coleta e amostram de animais mortos e o monitoramento dos
vivos. Agora, vamos tentar uma captura de animal debilitado
para coleta de amostras e acompanhamento.” A pesquisadora
explicou ainda que foi alugado um barco flutuante com piscina,
para onde serão levados os animais resgatados com vida.
O objetivo é manter os animais nesta piscina até sair o re-
sultado da análise dos estudos. “Se for um agente infeccioso,
seria muito arriscado liberar os animais para o rio Solimões,
pois terminaria infectando o resto da população. Aparen-
temente, isso é um evento isolado no Lago Tefé, e não há
registro de algo semelhante acontecendo nas cidades do en-
No Lago Tefé, no Amazonas
torno”, concluiu a pesquisadora.
Aquecimento das águas pode ter provocado a morte de 5 dos botos de Tefé.indd 10 17/10/2023 11:05:42
CLUBE DE REVISTAS
Mundo ultrapassa marca de
aquecimento de 1,5°C por
número recorde de dias
Em cerca de um terço dos dias de 2023, a temperatura média global foi
pelo menos 1,5°C superior aos níveis pré-industriais. Manter-se abaixo
desse marcador a longo prazo é amplamente considerado crucial para
evitar os impactos mais prejudiciais das alterações climáticas
por Daniel Scheschkewitz Fotos: BBC, IPCC, Pixabay/CC0 Domínio Público, Getty/Michael Dantas
M
as 2023 está “no
caminho certo”
para ser o ano mais
quente já registado,
e 2024 poderá ser
ainda mais quente.
“É um sinal de que estamos a atin-
gir níveis que nunca atingimos an-
tes”, afirma a Dra. Melissa Lazenby,
da Universidade de Sussex.
Esta última descoberta ocorre
após temperaturas recordes em se-
tembro e um verão de eventos climá-
ticos extremos em grande parte do
mundo. Quando os líderes políticos
se reuniram em Paris, em Dezembro
de 2015, assinaram um acordo para
manter o aumento a longo prazo das
temperaturas globais neste século
“bem abaixo” dos 2ºC e para envi-
dar todos os esforços para mantê-lo O mundo está a ultrapassar um limiar de aquecimento fundamental a
um ritmo que preocupa os cientistas, concluiu uma análise da BBC
abaixo dos 1,5ºC.
Mundo ultrapassa marca de aquecimento de 1,5°C por número recorde de dias.indd 11 17/10/2023 11:31:38
CLUBE DE REVISTAS
A primeira vez que isto aconteceu na
era moderna foi durante alguns dias em
Dezembro de 2015, quando os políticos
assinavam o acordo sobre o limiar de
1,5ºC. Desde então, o limite foi repeti-
damente quebrado, normalmente ape-
nas por curtos períodos.
Em 2016, influenciado por um forte
evento El Niño – uma mudança climáti-
ca natural que tende a aumentar as tem-
peraturas globais – o mundo viu cerca
de 75 dias acima dessa marca.
Mas a análise da BBC aos dados do
Serviço de Alterações Climáticas Co-
pernicus mostra que, até 2 de Outubro,
cerca de 86 dias em 2023 foram mais de
1,5ºC mais quentes do que a média pré-
-industrial. Isso bate o recorde de 2016
bem antes do final do ano.
Há alguma incerteza quanto ao nú-
mero exato de dias que ultrapassaram
o limite de 1,5°C porque os números
refletem uma média global que pode
apresentar pequenas discrepâncias de
dados. Mas a margem pela qual 2023 já
ultrapassou os números de 2016 dá con-
fiança de que o recorde já foi quebrado.
“O fato de estarmos a atingir esta ano-
malia de 1,5ºC diariamente, e durante
um maior número de dias, é preocu- “Esta é a primeira vez que vemos “O Oceano Atlântico Norte é o mais
pante”, disse. Um fator importante no isto no verão do hemisfério norte, o quente que alguma vez registámos, e
aumento destas anomalias de tempera- que é incomum, é bastante chocante se olharmos para o Oceano Pacífico
tura é o aparecimento de condições de ver o que está acontecendo”, disse o Norte, há uma língua de água anor-
El Niño. Isto foi confirmado há apenas professor Ed Hawkins, da Universida- malmente quente que se estende des-
alguns meses - embora ainda seja mais de de Reading. de o Japão até à Califórnia”, disse a
fraco do que o pico de 2016. “Sei que os nossos colegas austra- Dra. Jennifer Francis, do Woodwell
Estas condições estão a ajudar a lianos estão particularmente preo- Climate Research. Centro nos EUA.
bombear calor do leste do Oceano Pa- cupados com as consequências para Embora as emissões de gases com
cífico para a atmosfera. Isto pode ex- eles com a aproximação do verão [por efeito de estufa estejam a aumentar
plicar porque é que 2023 é o primeiro exemplo, incêndios florestais extre- as temperaturas médias, as razões
ano em que a anomalia de 1,5ºC foi mos], especialmente com o El Niño.” precisas pelas quais estas tempera-
registada entre Junho e Outubro – Os oceanos do mundo também têm turas do mar aumentaram não são
quando combinada com o aquecimen- experimentado temperaturas anor- totalmente conhecidas.
to de longo prazo resultante da quei- malmente altas este ano e, por sua Uma teoria - que ainda é incerta - é
ma de combustíveis fósseis. vez, liberando mais calor na atmosfera. que a queda na poluição atmosféri-
ca causada pelo transporte marítimo
através do Atlântico Norte reduziu o
número de pequenas partículas e au-
mentou o aquecimento.
Até agora, estes “aerossóis” tinham
compensado parcialmente o efeito das
emissões de gases com efeito de estu-
fa, refletindo alguma da energia do Sol
e mantendo a superfície da Terra mais
fria do que seria de outra forma.
Outro fator talvez menos conhecido é
a situação em torno da Antártida.
Tem havido preocupações contínuas
sobre o estado do gelo marinho em tor-
no do continente mais frio, com dados
mostrando níveis muito abaixo de qual-
quer inverno anterior.
O mundo está ultrapassando um limiar de aquecimento
Mundo ultrapassa marca de aquecimento de 1,5°C por número recorde de dias.indd 12 17/10/2023 11:31:39
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pré-industrial poderão persistir,
especialmente quando o El Niño
atingir um pico no final deste ano
ou no início do próximo.
Os investigadores acreditam que
estas anomalias contínuas de altas
temperaturas devem servir de alerta
para os líderes políticos, que se reu-
nirão no Dubai em Novembro para
a cimeira climática COP28.É neces-
sária ação sobre as emissões, dizem
eles, e não apenas a longo prazo.
Em Março, a ONU instou os países
a acelerarem a acção climática, su-
blinhando que já estavam disponí-
veis opções eficazes para reduzir as
emissões, desde energias renováveis
até veículos eléctricos.
O Oceano Atlântico Norte é o mais quente que alguma vez registramos
“Não se trata apenas de atingir um
objetivo final, de emissões líqui-
das zero até 2050, trata-se de como
chegaremos lá”, disse o professor
Hawkins.
«O IPCC [o organismo climático
da ONU] diz muito claramente que
precisamos de reduzir para metade
as emissões ao longo desta década e
depois chegar a zero líquido. Não se
trata apenas de atingir o zero líqui-
do em algum momento, trata-se do
caminho para chegar lá.»
E como demonstraram os aconte-
cimentos climáticos extremos deste
ano – desde ondas de calor na Eu-
ropa até precipitações extremas na
Líbia – as consequências das altera-
ções climáticas aumentam com cada
No início de julho, a Antártida ficou muito quente
fracção de grau de aquecimento.
Mundo ultrapassa marca de aquecimento de 1,5°C por número recorde de dias.indd 13 17/10/2023 11:31:40
CLUBE DE REVISTAS
Ondas de calor recentes
destacam o novo estado
climático da Terra
É realmente mais quente agora do que em qualquer outro momento em
100.000 anos? Muito antes dos termômetros, a natureza deixou seus
próprios registros de temperatura. Kaufman, cientista do clima explica
como o aquecimento global atual se compara às temperaturas antigas
por *Darrell Kaufman Fotos: BC Wildfire Service, DS Kaufman e NP McKay, 2022, Emily Stone, Sean Gladwell via Getty Images, Unsplash
À
medida que o calor escal-
dante atinge grandes áreas
da Terra, muitas pessoas
estão tentando contextuali-
zar as temperaturas extremas e se per-
guntando: quando foi tão quente antes?
Globalmente, 2023 teve alguns dos
dias mais quentes nas medições mo-
dernas, mas e mais para trás, antes das
estações meteorológicas e dos satélites?
Alguns meios de comunicação relata-
ram que as temperaturas diárias atingi-
ram uma alta de 100.000 anos.
Como um cientista paleoclimático
que estuda as temperaturas do passado, Incêndio Donnie Creek, em 12 de maio de 2023, aproximadamente 136 km a
sudeste de Fort Nelson e 158 km ao norte de Fort St. John, no norte de BC
vejo de onde vem essa afirmação, mas
me encolho com as manchetes inexa-
tas. Embora essa afirmação possa estar
correta, não há registros detalhados
de temperatura que se estendam por
100.000 anos, então não temos certeza.
Aqui está o que podemos dizer com
confiança sobre quando a Terra esteve
tão quente pela última vez.
Este é um novo
estado climático
Os cientistas concluíram há alguns
anos que a Terra havia entrado em um
novo estado climático não visto em mais
de 100.000 anos. Como o colega cien-
tista climático Nick McKay e eu discu-
timos recentemente em um artigo de
jornal científico , essa conclusão fazia
parte de um relatório de avaliação cli-
mática publicado pelo Painel Intergo-
vernamental sobre Mudanças Climáti-
cas (IPCC) em 2021. Terra já estava mais de 1 grau Celsius (1,8 Fahrenheit) mais
quente do que os tempos pré-industriais, segundo o IPCC
Ondas de calor recentes destacam o novo estado climático da Terra.indd 14 17/10/2023 13:11:18
CLUBE DE REVISTAS
A Terra já estava mais de 1 grau Cel-
sius (1,8 Fahrenheit) mais quente do
que os tempos pré-industriais, e os ní-
veis de gases de efeito estufa na atmos-
fera eram altos o suficiente para garan-
tir que as temperaturas permanecessem
elevadas por muito tempo.
Mesmo sob os cenários mais otimis-
tas do futuro – nos quais os humanos
param de queimar combustíveis fósseis
e reduzem outras emissões de gases
de efeito estufa – a temperatura mé-
dia global provavelmente permanecerá
pelo menos 1°C acima das temperaturas
pré-industriais, e possivelmente muito
A temperatura média da Terra excedeu 1 grau Celsius (1,8 F) acima da linha de base pré-industrial
mais, por vários séculos.
Este novo estado climático, caracteri-
zado por um nível de aquecimento glo- Este novo estado climático provavelmente persistirá por séculos como o perío-
bal de vários séculos de 1 C e superior, do mais quente em mais de 100.000 anos. O gráfico mostra diferentes reconstru-
pode ser comparado de forma confiável ções de temperatura ao longo do tempo, com temperaturas medidas desde 1850
com reconstruções de temperatura do e uma projeção até 2300 com base em um cenário intermediário de emissões
passado muito distante.
Como estimamos a
temperatura passada
Para reconstruir as temperaturas de
tempos anteriores aos termômetros, os
cientistas do paleoclima contam com
informações armazenadas em uma va-
riedade de arquivos naturais .
O arquivo mais difundido que re-
monta a muitos milhares de anos está
no fundo de lagos e oceanos , onde
uma variedade de evidências biológi-
cas, químicas e físicas oferece pistas
sobre o passado. Esses materiais se
acumulam continuamente ao longo
do tempo e podem ser analisados ex-
traindo um núcleo de sedimento do
leito do lago ou do fundo do oceano.
Esses registros baseados em sedi-
mentos são fontes ricas de informa-
Tentando contextualizar as temperaturas extremas e se perguntando quando foi tão quente antes...
ções que permitiram aos cientistas do
paleoclima reconstruir as temperatu-
ras globais passadas, mas eles têm li-
mitações importantes.
Por um lado, as correntes de fundo
e os organismos escavadores podem
misturar o sedimento, obscurecendo
quaisquer picos de temperatura de
curto prazo. Por outro lado, a linha do
tempo para cada registro não é conhe-
cida com precisão; portanto, quando
vários registros são calculados juntos
para estimar a temperatura global
passada, as flutuações em escala fina
podem ser canceladas.
Por causa disso, os cientistas do pa-
leoclima relutam em comparar o regis-
tro de longo prazo da temperatura pas-
A cientista da Universidade do Arizona, Ellie Broadman, segura um núcleo sada com os extremos de curto prazo.
de sedimento do fundo de um lago na Península de Kenai, no Alasca.
Ondas de calor recentes destacam o novo estado climático da Terra.indd 15 17/10/2023 13:11:19
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Tendências de temperatura nos últimos 65 Ma e potenciais análogos geohistóricos para climas futuros
Olhando para trás dezenas Olhando para o período interglacial O último episódio glacial durou qua-
de milhares de anos de 12.000 anos, a média da tempera- se 100.000 anos. Não há evidências de
tura global ao longo de vários séculos que as temperaturas globais de longo
A temperatura global média da Terra pode ter atingido o pico cerca de 6.000 prazo tenham atingido a linha de base
tem flutuado entre condições glaciais anos atrás , mas provavelmente não pré-industrial em qualquer momento
e interglaciais em ciclos que duram excedeu o nível de aquecimento global durante esse período.
cerca de 100.000 anos, impulsionados de 1°C naquele ponto, de acordo com o Se olharmos ainda mais para trás,
em grande parte por mudanças lentas relatório do IPCC . Outro estudo des- para o período interglacial anterior,
e previsíveis na órbita da Terra com cobriu que as temperaturas médias que atingiu o pico cerca de 125.000
mudanças concomitantes nas concen- globais continuaram a aumentar du- anos atrás, encontramos evidências
trações de gases de efeito estufa na rante o período interglacial. Este é um de temperaturas mais altas.
atmosfera. Atualmente, estamos em tópico de pesquisa ativa . A evidência sugere que a tempera-
um período interglacial que começou Isso significa que temos que olhar tura média de longo prazo provavel-
há cerca de 12.000 anos, quando as mais para trás para encontrar um mente não foi mais do que 1,5 C (2,7
camadas de gelo recuaram e os gases tempo que poderia ter sido tão F) acima dos níveis pré-industriais –
de efeito estufa aumentaram. quente quanto hoje. não muito mais do que o atual nível de
aquecimento global.
O que agora?
Sem reduções rápidas e sustenta-
das nas emissões de gases de efeito
estufa, a Terra está atualmente a
caminho de atingir temperaturas de
aproximadamente 3 C (5,4 F) acima
dos níveis pré-industriais até o fi-
nal do século, e possivelmente um
pouco mais altas.
Nesse ponto, precisaríamos olhar
para trás milhões de anos para en-
contrar um estado climático com
temperaturas tão altas. Isso nos le-
varia de volta à época geológica an-
terior , o Plioceno, quando o clima
da Terra era um parente distante
daquele que sustentou o surgimento
da agricultura e da civilização.
Ondas de calor recentes destacam o novo estado climático da Terra.indd 16 17/10/2023 13:11:20
CLUBE DE REVISTAS
IPCC emite orientações para a batalha
contra as mudanças climáticas
Fotos: IPCC
Todos os dias, a temperatura parece bater todos os recordes, tornando cada dia mais
quente que o anterior. Recentemente, o secretário-geral da ONU, António Guterres,
afirmou que “a era da ebulição global chegou” depois de os cientistas confirmarem
que Julho de 2023 foi o mês mais quente do mundo já registado
V
emos constantemente os efei-
tos das alterações climáticas
nas notícias – desde incêndios
florestais violentos e ondas
de calor até inundações devastadoras que
deixam as comunidades com dificuldades
para lidar com a situação. Mas mesmo
diante destes desafios, há um vislumbre de
esperança. O DISTENDER visa enfrentar
os riscos das alterações climáticas através
de estratégias de mitigação e adaptação.
Apresentou os primeiros resultados do
projeto durante a Conferência sobre Lu-
A era da ebulição global chegou
gares Sustentáveis aos representantes do
Painel Intergovernamental sobre Mudan-
ças Climáticas (IPCC), o que marca um Sem medidas urgentes de adaptação, a Por último, Figueroa destacou a impor-
marco significativo na partilha de conheci- região mediterrânica enfrentará riscos de tância dos instrumentos políticos, regu-
mento e no alinhamento dos resultados do perda de ecossistemas terrestres, redução lamentares e económicos para impulsio-
projeto e das atividades do IPCC. dos glaciares alpinos e impactos crescen- nar mudanças positivas.Alcançar a meta
Especialistas de todo o mundo reuni- tes das ondas de calor. Maria Figueroa, de 1,5 graus e emissões líquidas zero até
ram-se na Conferência sobre Lugares Sus- do grupo de trabalho 3 do IPCC sobre 2050 é essencial, exigindo tecnologias
tentáveis, para discutir como os objetivos Mitigação das Alterações Climáticas, su- sustentáveis, planeamento urbano, efi-
das alterações climáticas e como podem blinhou a necessidade de cumprir a meta ciência energética e mudanças políticas.
ser alcançados considerando edifícios, de 1,5 graus e alcançar emissões líquidas O DISTENDER está desempenhando um
transportes e infraestruturas energéticas zero até 2050 para que as gerações futu- papel significativo na promoção desses
a diferentes níveis. Jan-Gunnar Winther, ras possam desfrutar do direito a um am- objetivos. Ao integrar ações de adaptação
do grupo de trabalho 1 do IPCC sobre Ba- biente limpo, saudável e sustentável. e mitigação das alterações climáticas com
ses das Ciências Físicas, partilhou a reali- abordagens participativas, o DISTEN-
dade alarmante de que o aquecimento glo- DER está promovendo estratégias co-
bal já se instalou. As ações humanas têm muns que reúnem cientistas, empresas,
causado o aquecimento desde o final dos governos, decisores políticos e cidadãos.
anos 70, levando a mudanças nos padrões A singularidade do DISTENDER foi
climáticos em todo o mundo e a um au- delineada pelo coordenador do projeto,
mento dos efeitos climáticos em frequên- Roberto San José, que enfatizou a abor-
cia, número e intensidade. O aumento dos dagem holística e as metodologias desen-
níveis de CO2 também afeta os nossos volvidas que serão testadas nos estudos
oceanos, tornando-os mais ácidos e colo- de caso principais, entregando aos deciso-
cando mais desafios ambientais. res políticos estratégias viáveis para lidar
Piero Lionello, representante do grupo Para atingir este objetivo, Figueroa deli- com os impactos das alterações climáticas
de trabalho 2 do IPCC sobre Impactos, neou várias oportunidades para a mudança através de estratégias integradas de miti-
Adaptação e Vulnerabilidade, mudou o de sistemas, concentrando-se na utilização gação e adaptação com ações multidisci-
foco para a adaptação. Ele discutiu como de tecnologias sustentáveis (como a ener- plinares. abordagem. O trabalho do IPCC
os ecossistemas e os sistemas humanos gia fotovoltaica, a energia eólica onshore e apela aos governos, às empresas e aos in-
são afetados por eventos influenciados os veículos elétricos), melhores práticas de divíduos para que trabalhem em conjunto
pelas mudanças climáticas. A Europa é planeamento urbano e medidas de eficiên- para um planeta mais habitável, desta-
especialmente vulnerável, enfrentando cia energética (como a modernização de cando que a ciência pode sugerir soluções
problemas como o stress térmico, perdas edifícios, transportes sustentáveis meios e e ações, mas a responsabilidade na deci-
agrícolas devido ao calor e à seca. descarbonização das indústrias). são depende dos decisores políticos.
IPCC emite orientações para a batalha contra as mudanças climáticas.indd 17 17/10/2023 12:21:43
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Seca em uma região
da floresta amazônica
pode impactar áreas
vizinhas e comprometer
os rios voadores
Fotos: Erika Berenguer, IF/USP, PNAS
Para cada três árvores que morrerão devido às futuras secas na floresta,
uma quarta árvore – embora não diretamente afetada – também morrerá
A
seca pode atingir somen- Como a falta de chuva diminui forte-
te uma região da floresta mente o volume de reciclagem de água,
amazônica, mas suas conse- também haverá menos chuvas em regiões
quências se estendem para vizinhas, colocando ainda mais partes da
outras áreas, multiplicando os impactos, floresta sob estresse significativo.
mostra estudo desenvolvido por pesqui- Isso traz um alerta quanto aos rios voa-
sadores internacionais, com participação dores. Uma das características da região
da USP. De acordo com a pesquisa, para amazônica é a presença de uma grande
cada três árvores que morrerão devido às quantidade de água que circula pela flo-
futuras secas na floresta, uma quarta ár- resta, suspensa no ar, vinda da evapora-
vore – embora não diretamente afetada ção e da transpiração das plantas, dando
– também morrerá. Segundo os cientis- origem à evapotranspiração: um proces-
tas, o aumento das secas atinge de for- so fundamental para o bom funciona-
mas diferentes cada trecho da floresta. mento do ecossistema amazônico.
Rios voadores
Seca em uma região da floresta amazônica pode impactar áreas vizinhas e comprometer os rios voadores.indd 18 17/10/2023 13:55:50
CLUBE DE REVISTAS
O trabalho teve co-orientação de Hen- foi calcular como a umidade amazôni- evapora e volta a chover.“Utilizamos um
rique Barbosa, professor do Instituto ca se desloca para outras regiões e se conjunto de dados acumulados em vinte
de Física da USP e da Universidade de transforma em chuvas no Sudeste e no anos, composto de informações pontuais
Maryland, nos Estados Unidos. O artigo Sul. “O nosso modelo mostrou, de for- da evapotranspiração em diversos pon-
descrevendo o estudo, Recurrent drou- ma inédita, que o transporte direto junto tos da floresta, os ventos que deslocam
ghts increase risk of cascading tipping com o transporte secundário da umi- a umidade, os dados de precipitação e
events by outpacing adaptive capacities dade é responsável por 27% das chuvas imagens de satélites. Esses dados foram
in the Amazon rainforest, foi publica- nas regiões Sudeste e Sul. Se diminuir analisados a partir da teoria de redes
do na revista PNAS e faz parte de uma a umidade amazônica pela perda de co- complexas e considera as conexões do
série de publicações do grupo que ana- bertura vegetal, diminuirão as chuvas sistema junto com as informações pon-
lisa as interações atmosfera e floresta em outras regiões do País”, alerta. O tuais de cada local”, explica Barbosa ao
a partir de modelos teóricos da física. transporte direto é a umidade que se des- Jornal da USP. “Secas mais intensas
Com essa abordagem foi possível obter loca para essas regiões e se transforma colocam partes da floresta amazôni-
avaliações mais precisas sobre o funcio- em chuva. Já o transporte secundário da ca em risco de secar e morrer. Subse-
namento do clima. Segundo o professor umidade é a contribuição de precipitação quentemente, devido ao efeito de rede,
Barbosa, um dos resultados relevantes que ocorre ao longo de todo o percurso, menos cobertura florestal leva a menos
(A) Propriedade dinâmica de cada1∘×1∘1°×1°célula da grade da floresta tropical representada como o estado da célula
da grade versus o valor do MAP. O estado da célula da grade é limitado pela cobertura florestal total (valor do estado: 1,0)
e um estado alternativo (copa aberta, floresta seca, savana, valor do estado sem árvores: –1,0). Entre estes dois estados
estáveis, a inclinação ocorre quando o valor do MAP cai abaixo do seu MAP específico da adaptação. Como neste estudo
estamos nos concentrando em eventos de derrubada induzidos pela seca de estados florestais para não florestais, cada
célula é estável apenas nos estados marrons, mas não nos estados cinzas (uma vez que não estamos simulando uma
recuperação da floresta). A linha tracejada cinza representa a borda que separa o estado estável superior do inferior (va-
riedade instável). A seta azul representa uma redução potencial na precipitação que é suficiente para desencadear um
evento de tombamento nesta célula específica. (B) O mesmo que em A para MCWD. (C) Rede exemplar de reciclagem de
umidade atmosférica, onde cada círculo florestal representa um1∘×1∘1°×1°célula da grade, cuja dinâmica é mostrada em
A e B . As diferentes células da grade recebem precipitação e experimentam
revistaamazonia.com.br REVISTA AMAZÔNIA 19
Seca em uma região da floresta amazônica pode impactar áreas vizinhas e comprometer os rios voadores.indd 19 17/10/2023 13:55:51
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(A) A probabilidade de tombamento (vulnerabilidade) como uma média de todos os membros do conjunto e de todos
os cenários avaliados que se assemelham aos anos hidrológicos de 2004 a 2014. A região Sudeste é mais vulnerável que
outras regiões, mas também as regiões Sul e Sudoeste são afetadas. (B) Razão geral de tombamento calculada em média
para toda a Bacia Amazônica com barras de erro como o DP ao longo de todos os anos e de todos os 100 membros do con-
junto. Uma versão separada nos cenários de seca futura 2004, 2005,……, 2014 para todos esses potenciais cenários de seca
futura. O MAP não contribui para eventos de tombamento (a probabilidade é inferior a 0,1%) e, portanto, é omitido aqui.
(C) Motivo de tombamento resolvido regionalmente no caso de MCWD ser o motivo de um evento de tombamento. (D) O
mesmo que para C , mas mostrando efeitos de rede (efeitos em cascata da rede de reciclagem de umidade atmosférica) são
o motivo do tombamento. Observe que A é a soma de C e D .
água no sistema geral e, portanto, a mais em circulação diminui e começa aconte- ao efeito cascata, ou seja, oriundo de
danos”, explica o primeiro autor do estu- cer um desequilíbrio. Esse fenômeno outros locais, por exemplo, de regiões
do, o pesquisador Nico Wunderling, do atinge a floresta de maneira desigual mais desmatadas a leste”, explica a
Instituto Potsdam para Pesquisa de Im- devido à sua extensão. Existem regiões coautora Marina Hirota, professora da
pacto Climático da Alemanha. “Embora onde ocorrem secas periódicas enquanto Universidade Federal de Santa Catari-
tenhamos investigado o impacto da seca, outros locais têm abundância de chuvas na, que contou com o apoio do Insti-
essa regra também vale para o desma- todo o ano. Diferenciar o que poderia ser tuto Serrapilheira para este trabalho.
tamento. Isso significa essencialmente um fenômeno natural e o que eram con- “Já para outras regiões da Amazônia,
que, quando você derruba um acre de sequências do aquecimento global foi um em torno de 50% dessa mudança está
floresta, o que você está realmente des- dos resultados relevantes obtidos pela associada à intensificação da estação
truindo é 1,3 acre”, diz Wunderling.Boa pesquisa, graças ao modelo matemáti- seca, e não diretamente ligada àquele
parte da água dos rios voadores retorna co proposto, que permitiu diferenciar e efeito cascata. Isso é muito importan-
aos cursos d´água e solos por meio das quantificar as perturbações. “No caso da te para nosso entendimento de como o
abundantes chuvas e preserva o sistema região Sudeste da Amazônia, cerca de sistema funciona”, finaliza.
floresta-atmosfera em equilíbrio. Com as um terço de qualquer mudança poten-
alterações no clima, a quantidade de água cial de floresta para não floresta é devido [*] Jornal da USP
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Embora o isopreno das árvores possa piorar a poluição do ar, não é ele que cria uma poluição
atmosférica como esta, gosta de salientar Thomas Sharkey, da Michigan State University
por *Matt Davenport, Universidade Estadual de Michigan Fotos: David Iliff, CC BY-SA 3.0
As plantas podem
piorar a poluição do
ar em um planeta
em aquecimento
D
“ everíamos cortar todos
os carvalhos?” per-
guntou Tom Sharkey,
ilustre professor uni-
versitário do Instituto
de Resiliência de Plantas da Michi-
gan State University. É uma pergun-
ta simples que parece um pouco uma
proposta modesta.
Sharkey também trabalha no La-
boratório de Pesquisa de Plantas
Energéticas do Departamento de
Energia da MSU e no Departamento
A emissão de isopreno diminui com o aumento do nível de CO 2 e é independente da fotossíntese
de Bioquímica e Biologia Molecular.
Para ser claro, Sharkey não estava
sugerindo sinceramente que deve- Efeito de 41 Pa e 78 Pa CO2 na emissão de isopreno e na fotossíntese em folhas
ríamos derrubar todos os carvalhos. de choupo. (A) Período de emissão de isopreno e fotossíntese à medida que o
Ainda assim, a sua pergunta foi sé- nível de CO2 muda entre 41 Pa e 78 Pa em uma folha de choupo. (B) Emissão de
ria, motivada pela mais recente in- isopreno registrada em folhas de choupo (n = 14) após atingirem valor estável
vestigação da sua equipa, publicada em 41 e 78 Pa CO2 . Os asteriscos indicam um declínio significativo na emissão de
na revista científica Proceedings of isopreno a 78 Pa CO2 em comparação com o CO2 ambiente (P < 0,001; teste t de
the National Academy of Sciences. Student). Os bigodes dos gráficos de caixa representam IC de 95%.
Mapa da área de estudo. Mapa do Bioma Amazônia (cor sólida verde claro), correspondente à área de estudo. Todas as unidades de conservação
(UC) do Bioma estão representadas no mapa em verde escuro sólido. O arco do desmatamento está representado em forma listrada.
U
m novo artigo publicado na
PeerJ Life & Environment ,
de autoria de Camila Ferreira
Leão, da Universidade Fede-
ral do Pará, lança luz sobre os efeitos das
mudanças climáticas sobre os mamíferos
carnívoros na Amazônia e sua represen-
tação dentro de Áreas Protegidas (UCs).
“Mudanças climáticas e carnívoros:
mudanças na distribuição e eficácia das
áreas protegidas na Amazônia”, revela
descobertas alarmantes sobre a situação
vulnerável desses animais e a eficácia das
medidas de conservação.
Os mamíferos carnívoros, essenciais
para a manutenção e funcionamento do
ecossistema amazônico, estão cada vez
mais em risco devido à interferência hu-
mana, especialmente às mudanças climá-
ticas e ao desmatamento.
Mapa da riqueza taxonômica de espécies em todos os climas cenários. Os mapas foram gerados a partir dos SDMs
sobrepostos (com remanescente florestal) de todas as espécies para cada cenário climático, totalizando 16 níveis. A ri-
queza varia de uma espécie a 16 espécies juntas ao mesmo tempo
À medida que estes impactos au- O estudo fornece conhecimentos crí- dois cenários climáticos para o ano
mentam, torna-se crucial com- ticos para decisores políticos e conser- de 2070. Ao incorporar variáveis bio-
preender como a distribuição e vacionistas, enfatizando a necessidade climáticas e de cobertura vegetal, a
persistência dos carnívoros são afe- de adaptar as medidas de conservação equipe de pesquisa avaliou a área po-
tadas, particularmente na região para enfrentar os desafios específicos tencial perda e adequação climática
tropical da Amazónia. colocados pelas alterações climáti- para estas espécies, bem como a efi-
A p e squ i sa r es s a lt a a n ece s s i - cas aos carnívoros. O estudo utilizou cácia das Áreas Protegidas existentes
d ad e u r ge nt e d e es t r a t é g i a s r o - Modelos de Distribuição de Espécies na salvaguarda do seu futuro.
bu stas d e c on s er v a çã o pa r a m i t i - (SDMs) para avaliar a distribuição
gar a p e r d a po t en ci a l d e es pé ci es geográfica de 16 espécies de carnívoros [*] Universidade Federal do Pará
c a r ní v o r as n a A m a zô n i a . na Amazônia, projetando o futuro sob
Prática é adotada por brigadistas desde 2014 na Chapada dos Veadeiros (GO)
B
rigadistas e pesquisadores do Conhecimento tradicional
Cerrado apontam que o uso
consciente do fogo vem aju-
dando a reduzir os incêndios
florestais na Chapada dos Veadeiros (GO)
nos últimos anos. Prática adotada por
parte dos brigadistas da região desde o
ano de 2014, ela se expandiu, principal-
mente, depois dos grandes incêndios de
2017 e 2020 que consumiram, respecti-
vamente, 22% e 31% do Parque Nacional
da Chapada dos Veadeiros.
O chamado Manejo Integrado do Fogo
(MIF) é o conjunto de técnicas que usam
o fogo como ferramenta para prevenir os
incêndios florestais, como a queima do
excesso de vegetação seca que é propícia
a se tornar combustível de incêndios de Cavalcante (GO) – A brigada de incêndio da Prevfogo, formada
por quilombolas, faz simulação de combate ao fogo no Cerrado
grandes proporções.
O Manejo Integrado do Fogo (MIF) associa aspectos ecológicos, culturais, socioeconômicos e técnicos na execução, na integração, no monitoramento, na ava-
liação e na adaptação de ações relacionadas ao uso do fogo, por meio de queimas prescritas e controladas, à prevenção e ao combate aos incêndios florestais
por * Universidade de Minnesota Fotos: PNAS, Stuart Wagenius, The Prairie Ecologist
O
fogo periódico mantém a
diversidade de plantas em
ecossistemas dependentes
do fogo em todo o mundo.
Os efeitos do fogo na dinâmica popula-
cional e nas taxas vitais, como a repro-
dução, são atribuídos principalmente à
influência do fogo no ambiente físico.
No entanto, o nosso estudo experimen-
tal de 6 anos com 6.357 plantas indivi-
duais em 35 populações fragmentadas
de pradarias revela que os efeitos do
fogo na reprodução sexual dependem
do tamanho da população.
Hoje, os fogos são uma ferramenta im-
portante para o manejo das pradarias e
a conservação da diversidade de plantas
nativas. Nas grandes reservas sabemos
Uma queimada na pradaria em andamento
que o fogo reduz a sombra, influencia o
solo e melhora a produção de sementes
. Mas e os pequenos fragmentos de pra- Cientistas da Universidade de Min- Durante um estudo de seis anos sobre
daria espalhados pelo Centro-Oeste? nesota e do Instituto Negaunee de Echinacea angustifolia, uma planta da
Uma nova pesquisa publicada na Ciência e Ação para Conservação de pradaria comumente conhecida como
PNAS – Academia Nacional de Ciências, Plantas do Jardim Botânico de Chicago coneflower roxo de folhas estreitas, os
analisa como os incêndios afetam a po- investigaram como os incêndios esti- pesquisadores rastrearam 6.357 indi-
linização em remanescentes isolados de mulam a floração e a polinização e até víduos em 35 populações no oeste de
pradarias, que são extremamente impor- que ponto a influência do fogo depende Minnesota, variando em tamanho de
tantes para plantas e polinizadores. do tamanho da população. três a quase 4.000 plantas adultas.
A ciência do fogo é uma área de investigação madura, com ligações bem estabelecidas entre as condições meteorológicas, a aridez dos combustí-
veis (a secagem das florestas e de outros ecossistemas incineráveis) e os aumentos associados no potencial de ignição e na atividade do fogo
S
em excrementos, pegadas, Um cervo e um cervo são vistos em uma floresta
ninhos ou outros vestígios enegrecida na província canadense de Nova Es-
cócia, onde os incêndios florestais costumavam
de vida selvagem – as flo- ser raros, em 22 de junho de 2023
restas boreais do Canadá
foram devastadas por incêndios flo-
restais recordes este ano. Nas florestas
da província de Quebec, o caçador Paul
Wabanonik procura rastros frescos de
alces nas terras ancestrais de sua tribo
indígena, que sustentaram ele e sua
família. “Normalmente, veríamos ves-
tígios por toda parte”, diz o membro da
tribo Ashinabe. Mas “é como um deser-
to”, diz ele enquanto conduz jornalistas
da AFP por uma trilha na floresta.
As pessoas da sua aldeia, centenas de
quilómetros a norte de Montreal, foram
forçadas a fugir dos incêndios florestais
que avançavam em Junho.
Alguns brotos verdes estão começando
a brotar na outrora exuberante floresta
verde carbonizada pelos incêndios.
No outono, a folhagem normalmente
explodiria com cores vermelhas, laranja
e amarelas brilhantes, mas agora está
toda enegrecida. Sem cobertura flores-
tal , não há mais nada para caçar para
alimentar Wabanonik e sua família, e
há poucas chances de a vida selvagem
retornar tão cedo, lamenta ele.
“Não temos uma ideia precisa do nú-
mero de animais que morreram, mas são
centenas de milhares”, diz Annie Lan-
glois, bióloga da Federação Canadense de
Vida Selvagem. Castores, coiotes, gam-
A área acumulada queimada por ano por incêndios florestais no Canadá desde 2014
bás, carcajus, raposas, ursos – a floresta
Partículas de fumaça
O biólogo observa que certas espécies
podem ficar presas rapidamente, por-
que não têm capacidade de voar ou cor-
rer com rapidez suficiente e por longas
distâncias diante de incêndios muito
Um grande incêndio queima florestas e casas em West Kelowna, na pro- intensos e de avanço rápido.
víncia canadense de British Columbia, em 17 de agosto de 2023
Incêndios florestais no Canadá causam danos devastadores à vida selvagem.indd 30 17/10/2023 15:12:58
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E em certas regiões, os incêndios ocor-
reram muito cedo na estação, logo após a
gestação, não deixando qualquer hipótese
de fuga para os filhotes ou lactentes. As
consequências são graves também para a
fauna aquática. Além das cinzas que co-
brem lagos e rios, a erosão do solo causada
pela perda de vegetação altera a qualidade
da água. “Lagos com águas límpidas no
Escudo Canadense ficarão cheios de algas
que sugarão o oxigênio da água, então ha-
verá menos para os animais”, explica Lan-
glois, referindo-se a uma grande área de
rocha exposta. A composição química das
partículas de fumaça de incêndios flores-
tais também é diferente das partículas de
outras fontes de poluição, como emissões
de automóveis ou poluição industrial.
Contém uma proporção maior de po-
luentes à base de carbono em diversas
Os incêndios florestais no Canadá geraram emissões recordes de CO2
formas químicas que às vezes são depo-
sitados a centenas de quilómetros dos
incêndios. Esses vapores têm efeitos
agudos ou crônicos na saúde da vida
selvagem, diz Matthew Mitchell, da
Universidade da Colúmbia Britânica.
“Os animais jovens são frequentemen-
te mais susceptíveis aos efeitos do fumo,
tal como os humanos”, acrescenta, e “até
os animais marinhos como as baleias e
os golfinhos são afectados quando emer-
gem para respirar”. No Canadá, quase
700 espécies já são consideradas amea-
çadas, em grande parte devido à destrui-
ção do habitat causada pela exploração
madeireira e outras invasões. A longo
prazo, os incêndios florestais constituem
uma ameaça adicional para a vida sel-
vagem. Este é o caso do caribu. É pouco
provável que este emblema canadiano
que vive em florestas antigas, alimen-
As florestas a oeste de Quebec, Canadá, foram devastadas como
tando-se de líquenes, recupere durante parte da temporada recorde de incêndios do país neste verão
vários anos da devastação dos incêndios.
Incêndios florestais no Canadá causam danos devastadores à vida selvagem.indd 31 17/10/2023 15:13:00
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É
considerado incêndio flores- • Manter fósforos e isqueiros fora do alcance das crianças;
tal todo fogo fora de controle • Fazer aceiros ao redor de casas, currais, celeiros, armazéns, galpões etc.;
em qualquer tipo de vegeta- • Manter os aceiros sempre bem roçados;
ção, seja em plantações, pas- • Optar, sempre que possível, por estratégias alternativas ao uso do fogo,
tos ou áreas de mata nativa. Os incên- como roçada manual ou por máquinas e plantio direto;
dios podem causar grandes prejuízos à • Se for fazer uma queimada controlada, fazer no fim da tarde ou de manhã
biodiversidade, ao ciclo hidrológico e cedo e com a autorização do Instituto Água e Terra – IAT (antigo IAP);
ao ciclo do carbono na atmosfera.
Relatórios do PNUMA enfatizam a importância das soluções baseadas na natureza (SBN) para mitigar as mudanças climáticas
A
pós um ano de monitori-
zação de temperaturas em
quatro áreas distintas* de
Guildford, Inglaterra, os
investigadores descobriram que locais
baseados na natureza – florestas, pasta-
gens e lagos – eram até 3°C mais frios,
em média, do que áreas construídas. Os
investigadores do GCARE estão agora a Soluções baseadas na natureza para ondas de calor. Assista o Vídeo: www.youtu.be/f46ZA6v5aoA
apelar aos urbanistas para que se con-
centrem na adição de áreas “verdes” e
“azuis” para ajudar a combater ondas de “Recomendamos a plantação de árvores Os sensores capturaram dados a cada
calor anuais cada vez mais frequentes. no maior número possível de espaços pú- minuto, fazendo 633.780 leituras no total.
O professor Prashant Kumar, coautor blicos, especialmente em redor das nossas Os investigadores descobriram que du-
do estudo e diretor fundador do GCA- escolas, como um excelente ponto de parti- rante o verão de 2022, houve uma maior
RE, está endossando uma iniciativa na- da para ajudar as comunidades a enfrentar probabilidade de ondas de calor mais
cional de plantio de árvores e soluções o efeito da ilha de calor urbana. Corpos de intensas e duradouras em comparação
baseadas na natureza: água, como lagos e lagoas, também podem com 2021. A área construída excedeu fre-
“Com as temperaturas globais a subir ajudar a resfriar áreas e podem ser úteis quentemente o limiar de ondas de calor
e o Reino Unido a registar a temperatu- para gerenciar o excesso de águas plu- de 28°C. Em 19 de julho de 2022, que foi
ra mais quente de sempre em Julho de viais.” Os investigadores monitorizaram as o dia mais extremo do ano e o dia mais
2022, a nossa investigação contribui para temperaturas continuamente desde junho quente já registrado no Reino Unido, a
o crescente conjunto de evidências que de 2021 até ao final de agosto de 2022, temperatura subiu para 40,7°C.
confirmam que a natureza é a chave para com sensores de temperatura colocados O professor Kumar acrescentou: “Que-
manter as nossas áreas urbanas frescas. dois a três metros acima do nível do solo. remos que os nossos dados ajudem a
construir modelos ambientais à escala da
cidade e auxiliem os planeadores e cida-
dãos comuns na incorporação de elemen-
tos naturais em áreas construídas.
Este trabalho está alinhado com os
Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável 11 (cidades e comunidades sus-
tentáveis) e 13 (ação climática).
Cientistas pedem plantação de árvores para ajudar a enfrentar ondas de calor.indd 33 17/10/2023 15:26:21
CLUBE DE REVISTAS
Os rios estão aquecendo
rapidamente e perdendo oxigênio:
a vida aquática está em risco
Desoxigenação generalizada no aquecimento dos rios. Os rios estão a aquecer e a per-
der oxigênio mais rapidamente do que os oceanos, de acordo com um estudo liderado
pela Penn State e publicado na Nature Climate Change. O estudo mostra que dos qua-
se 800 rios, o aquecimento ocorreu em 87% e a perda de oxigênio ocorreu em 70%.
Fotos: Leader, Mary Fetzer, Penn State News, Universidade Estadual da Pensilvânia
O
estudo também projeta que Um estudo recente descobriu que os rios estão aquecendo e desoxigenando mais rapi-
nos próximos 70 anos, os damente do que os oceanos, o que poderá ter sérias implicações para a vida aquática — e
para a vida dos seres humanos. A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional esti-
sistemas fluviais, especial- ma que a maioria dos americanos reside a menos de um quilômetro de um rio ou riacho
mente no Sul dos Estados
Unidos, provavelmente passarão por pe-
ríodos com níveis tão baixos de oxigênio
que os rios poderão “induzir a morte agu-
da” de certas espécies de peixes e ameaçar
a diversidade aquática em grande. “Este
é um alerta”, disse Li Li, professor Isett
de Engenharia Civil e Ambiental da Penn
State e autor correspondente do artigo.
“Sabemos que o aquecimento do clima le-
vou ao aquecimento e à perda de oxigénio
nos oceanos, mas não esperávamos que
isso acontecesse em rios rasos e correntes.
O estudo mostra que dos quase 800 rios, o aquecimento ocor- Este é o primeiro estudo a analisar de
reu em 87% e a perda de oxigênio ocorreu em 70% forma abrangente as mudanças de tempe-
ratura e as taxas de desoxigenação nos rios
– e o que descobrimos tem implicações
significativas para a qualidade da água e a
saúde dos ecossistemas aquáticos em todo
o mundo”. A equipe de investigação in-
ternacional utilizou inteligência artificial
e abordagens de aprendizagem profunda
para reconstruir dados historicamente es-
cassos sobre a qualidade da água de quase
800 rios nos EUA e na Europa Central.
Eles descobriram que os rios estão aque-
cendo e desoxigenando mais rapidamen-
te do que os oceanos, o que pode ter sé-
rias implicações para a vida aquática – e
para a vida dos humanos.
A Administração Oceânica e Atmosfé-
rica Nacional estima que a maioria dos
A quantidade de oxigénio dissolvido num rio é uma questão de vida ou morte para as americanos reside a menos de um quilô-
plantas e animais que nele vivem, mas esta concentração de oxigénio varia drastica- metro de um rio ou riacho.
mente de um rio para outro, dependendo da sua temperatura, luz e fluxo únicos
“A temperatura da água ribeirinha e os
níveis de oxigênio dissolvido são medidas
essenciais da qualidade da água e da saú-
de do ecossistema”, disse Wei Zhi, pro-
fessor assistente de pesquisa no Depar-
tamento de Engenharia Civil e Ambiental
da Penn State e principal autor do estudo.
Os rios estão aquecendo rapidamente e perdendo oxigênio a vida aquática está em risco,.indd 34 18/10/2023 11:45:16
CLUBE DE REVISTAS
Os oceanos desempenham um papel importante no ciclo de carbono e no ciclo da água, entre atmosfera, o ambiente físico e os organismos vivos
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REVISTA AMAZÔNIA
Os rios estão aquecendo rapidamente e perdendo oxigênio a vida aquática está em risco,.indd 35 18/10/2023 11:45:17
CLUBE DE REVISTAS
Os rios estão aquecendo rapidamente e perdendo oxigênio a vida aquática está em risco,.indd 36 18/10/2023 11:45:20
CLUBE DE REVISTAS
O
Stakeholder Day reuniu Fotos: IISD/ENB/Anastasia Rodopoulou
cientistas, membros de
comunidades indígenas
e locais e representantes
de organizações da sociedade civil
para trocar opiniões sobre os assun-
tos da agenda da 10ª Sessão da Plená-
ria da IPBES. Entre outros, refletiram
sobre a avaliação temática das Espé-
cies Exóticas Invasoras (EEI), que
deverá ser lançada na sessão.
O conhecimento é fundamental para
informar a tomada de decisões. No que
diz respeito à biodiversidade, é aqui
que entra a IPBES: fornecendo infor-
mações baseadas em evidências e re-
levantes para políticas sobre biodiver-
sidade e serviços ecossistémicos com o
objetivo de promover a conservação e a
utilização sustentável da biodiversida-
de., bem-estar humano a longo prazo e
Presidente do IPBES, Ana María Hernández Salgar
desenvolvimento sustentável.
10ª Sessão da Plenária do IPBES e do Dia das Partes Interessadas.indd 37 18/10/2023 11:44:01
CLUBE DE REVISTAS
Em termos de avaliações adicionais a
serem preparadas até 2030, os delega-
dos aprovaram:
☆ um processo de definição do
escopo para uma segunda ava-
liação global da biodiversidade
e dos serviços ecossistêmicos,
para consideração pelo IPBES 11;
☆ a realização de uma avalia-
ção metodológica acelerada so-
bre o monitoramento da biodi-
versidade e das contribuições da
natureza para as pessoas, para
consideração do IPBES 13; e
☆ a realização de uma avalia-
ção metodológica acelerada do
planeamento espacial integrado
e inclusivo da biodiversidade e
da conectividade ecológica, para
apreciação pelo IPBES 14.
☆ Decidiram também determi-
nar o tema exato para uma ava-
liação adicional no IPBES 12, com
base num novo convite à apre-
sentação de sugestões.
A IPBES 10 terminou com nota alta e com várias salvas de aplausos
Em exposição na IPBES
As espécies invasoras – incluindo plantas, animais e peixes – causam graves danos às culturas, à vida selvagem e à saú-
de humana em todo o mundo. Alguns atacam espécies nativas; outros os superam na competição por espaço e comida
ou espalham doenças. Um novo relatório das Nações Unidas estima as perdas geradas por invasores em mais de 423 mil
milhões de dólares anuais e mostra que estes danos pelo menos quadruplicaram em cada década desde 1970.
Os humanos movem regularmente animais, plantas e outras espécies vivas das suas áreas de origem para novos locais,
seja acidentalmente ou propositalmente. Por exemplo, podem importar plantas de locais distantes para cultivar ou trazer um
38animal
REVISTA não-nativo
AMAZÔNIA para atacar uma praga local . Outros invasores pegam carona na carga ou na água de lastro dos navios.
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CLUBE DE REVISTAS
Estudo revela 10 mil registros de
antigas comunidades indígenas
escondidas sob a floresta amazônica
Estudo liderado por pesquisadores do Inpe e publicado na re-
vista Science, combinou tecnologia de ponta em monitoramen-
to remoto com dados arqueológicos e modelagem estatística
Fotos: Ciência (2023), Diego Lourenço Gurgel
A
floresta amazônica pode
abrigar mais de 10 mil re-
gistros de obras pré-colom-
bianas, construídas antes
da chegada dos europeus. É o que revela
um novo estudo publicado recentemen-
te na revista Science. A pesquisa com-
bina tecnologia de ponta em monitora-
mento remoto com dados arqueológicos
e modelagem estatística avançada para
calcular a quantidade de ocupações
que ainda podem estar escondidas de-
baixo do dossel da floresta amazônica
e apontar os locais onde essas estrutu-
ras podem ser encontradas. Conhecidas
como “obras de terra”, essas estruturas
antecedem a chegada dos europeus ao
continente.
O estudo liderado pelos pesquisa-
Obras de terra identificadas na paisagem amazônica
dores Luiz Aragão e Vinicius Peripato,
Estudo revela 10 mil registros de antigas comunidades indígenas escondidas sob a floresta amazônica.indd 40 18/10/2023 12:26:39
CLUBE DE REVISTAS
O sensor permitiu reconstruir os ele-
mentos da superfície em um modelo 3D
com alto nível de detalhamento.
A partir dos modelos 3D, foi possível
remover digitalmente toda a vegetação
e iniciar a investigação arqueológica do
terreno sob a floresta. “Investigamos
um total de 0,08% da Amazônia e en-
contramos 24 estruturas, jamais cata-
logadas, nos estados do Mato Grosso,
Acre, Amapá, Amazonas e Pará”, expli-
cou Vinicius Peripato.
Usando todos os 961 registros de obras
de terra encontrados até agora, a equipe
também apontou a quantidade de estru-
turas que ainda podem ser encontradas,
demonstrando que dezenas de espécies
de árvores estão relacionadas a essas
ocupações que remontam a um período
entre 1.500 a 500 anos atrás.
“O estudo indica que a floresta ama-
zônica pode não ser tão intocada quanto
muitos pensam, já que quando busca-
mos uma melhor compreensão da exten-
são da ocupação humana pré-colombia-
na na região nos surpreendemos com a
grande quantidade de sítios ainda desco-
nhecidos pela ciência”, afirmou Peripato.
“Tempos atrás, os ecólogos viam a
Amazônia como a grande floresta in-
tocada, mas agora, combinando outros
tipos de vestígios pré-colombianos, po-
demos perceber como muitos locais que
hoje sustentam uma densa floresta já
foram submetidos a extensas obras de Distribuição geográfica de terraplenagens geométricas pré-colombia-
nas conhecidas e recentemente descobertas na Amazônia
engenharia e ao cultivo e domesticação
de plantas pelas sociedades pré-colom-
bianas. Esses povos dominavam técni- (A) Mapa de terraplanagens relatadas anteriormente e recentemente des-
cas sofisticadas de manejo da terra e das cobertas (círculos roxos e estrelas amarelas, respectivamente) relatadas neste
plantas, em certos casos, ainda presen- estudo em seis regiões amazônicas: Amazônia central (CA), Amazônia oriental
tes nos conhecimentos e práticas dos (EA), Escudo das Guianas (GS), noroeste da Amazônia ( NwA), Sul da Amazônia
povos atuais que podem inspirar novas (SA) e Sudoeste da Amazônia (SwA). (B) Terraplanagens recentemente desco-
formas de conviver com a floresta sem a bertas em SA. (C a F) Terraplanagens recentemente descobertas em SwA. (G
necessidade de destruí-la”, acrescentou a I) Terraplenagens recentemente descobertas em GS. (J e K) Terraplanagens
a pesquisadora Carolina Levis, da Uni- recentemente descobertas na CA. Barras de escala, 100 m
versidade Federal de Santa Catarina.
Ocupação ancestral possibilitou a análise dos milhões de “A pesquisa traz inúmeras evidências
pontos presentes nos dados LIDAR e na da ocupação ancestral da floresta amazô-
O chefe da Divisão de Observação da modelagem estatística da distribuição nica por povos originários, de suas formas
Terra e Geoinformática do Inpe, Luiz das feições estudadas”, explicou. de vida e da relação estabelecida por eles
Aragão, destacou o avanço científico e Até agora, as obras de terra eram co- com a floresta. A proteção de seus territó-
tecnológico promovido pela pesquisa. mumente encontradas por meio de ima- rios, línguas, culturas e heranças deve ser
“O estudo avança o conhecimento em gens do Google Earth. No entanto, devi- compreendida como milenar, como são, e
três grandes áreas: na própria arqueo- do à extensão da floresta amazônica e às não ligada a uma data, que é tão recente”,
logia, por meio de novas descobertas; dificuldades de estudar áreas remotas, a ressaltou Luiz Aragão. O estudo publi-
nas ciências ambientais, demonstran- pesquisa lança previsões testáveis sobre cado na revista Science foi assinado por
do o nível de interferência humana locais pouco conhecidos da Amazônia, uma equipe composta por 230 pesquisa-
na região, o que pode ter implicações onde novos trabalhos de campo prova- dores de 156 instituições localizadas em
para seu funcionamento atual e como velmente descobrirão sítios arqueológi- 24 países de quatro continentes.
modelamos o seu futuro; e finalmente cos de dimensões monumentais e ainda
na área de computação aplicada, que bem preservados dentro da floresta. [*] Imprensa MCTI
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CLUBE DE REVISTAS
Antigos amazônicos
criaram intencionalmente
uma “terra escura” fértil
por *Instituto de Tecnologia de Massachusetts Fotos: Science Advances (2023), Unsplash/CC0 Domínio Público
N
a verdade, os solos subja- Esta “ terra escura ” foi encontrada A equipe reuniu resultados de
centes à vegetação florestal, dentro e ao redor de assentamentos análises de solo, observações et-
particularmente nas ter- humanos que datam de centenas a nográficas e entrevistas com co-
ras altas montanhosas, são milhares de anos. E tem sido motivo munidades indígenas modernas,
surpreendentemente inférteis. Grande de algum debate se o solo super-rico para mostrar que a terra escura foi
parte do solo da Amazônia é ácido e po- foi criado propositadamente ou se foi produzida intencionalmente pelos
bre em nutrientes, tornando-o notoria- um subproduto coincidente destas antigos amazônicos como forma de
mente difícil de cultivar. Mas ao longo culturas antigas. Agora, um estudo li- melhorar o solo e sustentar socie-
dos anos, os arqueólogos desenterra- derado por pesquisadores do MIT, da dades grandes e complexas.
ram manchas misteriosamente negras e Universidade da Flórida e do Brasil “Se você deseja ter grandes as-
férteis de solos antigos em centenas de pretende resolver o debate sobre as sentamentos, você precisa de uma
locais em toda a Amazónia. origens da Terra escura. base nutricional.
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(A) Área de estudo do Alto Rio Xingu mostrando a localização das modernas e históricas aldeias Kuikuro e cinco
sítios arqueológicos. O mapa inserido mostra a localização da área de estudo na Bacia Amazônica (estrela vermelha) e
localizações de sítios arqueológicos documentados com terra escura (pontos pretos). (B) Aldeia moderna de Kuikuro
II. O círculo branco mostra a localização da aldeia histórica Kuikuro I (ocupada entre 1973 e 1983). (C) Sítio arqueológi-
co de Seku. Os círculos magenta em (B) e (C) marcam os locais dos poços de teste ao longo dos transectos na Fig . As
setas mostram as direções dos transectos na Fig.. Imagens de satélite: Esri, DigitalGlobe, GeoEye, i-cubed, Agência de
Serviços Agrícolas do Departamento de Agricultura dos EUA, US Geological Survey, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN,
IGP, swisstopo e comunidade de usuários de GIS.
Mas o solo na Amazônia é extensiva- Goldberg, que realizou a análise de dados 2000, com novos dados coletados em
mente lixiviado de nutrientes e natural- quando era estudante de pós-graduação 2018–19. Os cientistas concentraram
mente pobre para o cultivo da maioria das no MIT e agora é professor assistente no seu trabalho de campo na Terra Indí-
culturas”, diz Taylor Perron, professor Universidade de Miami. “É exatamen- gena Kuikuro, na bacia do Alto Xingu,
Cecil e Ida Green de Terra, Atmosférica te isso que queremos para os esforços no sudeste da Amazônia. Esta região
e Ciências Planetárias no MIT. “Argu- de mitigação das alterações climáticas. abriga aldeias modernas de Kuiku-
mentamos aqui que as pessoas desem- Talvez pudéssemos adaptar algumas das ro, bem como sítios arqueológicos
penharam um papel na criação da Terra suas estratégias indígenas numa escala onde se acredita que os ancestrais dos
escura e modificaram intencionalmente maior, para reter carbono no solo, de Kuikuro viveram. Durante várias visi-
o ambiente antigo para torná-lo um lugar formas que agora sabemos que perma- tas à região, Schmidt, então estudante
melhor para as populações humanas”. neceriam lá por muito tempo.” de pós-graduação na Universidade da
E acontece que a terra escura contém O estudo da equipe aparece na Scien- Flórida, ficou impressionado com o
enormes quantidades de carbono arma- ce Advances. Outros autores incluem o solo mais escuro ao redor de alguns
zenado. À medida que gerações traba- ex-pós-doutorado do MIT e autor prin- sítios arqueológicos.
lhavam no solo, por exemplo, enrique- cipal Morgan Schmidt, o antropólogo “Quando vi esta terra escura e como
cendo-o com restos de comida, carvão Michael Heckenberger, da Universida- ela era fértil, e comecei a investigar o
e resíduos, a terra acumulava detritos de da Flórida, e colaboradores de diver- que se sabia sobre ela, descobri que era
ricos em carbono e mantinha-o tranca- sas instituições em todo o Brasil. uma coisa misteriosa – ninguém sabia
do durante centenas a milhares de anos. realmente de onde vinha”, diz ele.
Ao produzir propositadamente terra Intenção moderna Schmidt e seus colegas começaram a
escura, então, os primeiros habitantes fazer observações das práticas moder-
da Amazónia também podem ter criado No seu estudo atual, a equipe sinte- nas de manejo do solo dos Kuikuro.
involuntariamente um poderoso solo tizou observações e dados que Schmi- Estas práticas incluem a geração de
sequestrador de carbono. dt, Heckenberger e outros reuniram “monturos” - pilhas de resíduos e res-
“Os antigos amazônicos colocaram anteriormente, enquanto trabalha- tos de comida, semelhantes a pilhas de
muito carbono no solo, e muito disso vam com comunidades indígenas na composto, que são mantidas em deter-
ainda existe hoje”, diz o coautor Samuel Amazônia desde o início dos anos minados locais no centro de uma aldeia.
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CLUBE DE REVISTAS
Depois de algum tempo, essas pilhas de
resíduos se decompõem e se misturam ao
solo para formar uma terra escura e fér-
til, que os moradores usam para plantar.
Os investigadores também observaram
que os agricultores de Kuikuro espalham
resíduos orgânicos e cinzas em campos
mais distantes, o que também gera terra
escura, onde podem então cultivar mais
culturas. “Vimos atividades que eles fize-
ram para modificar o solo e aumentar os
elementos, como espalhar cinzas no chão
ou espalhar carvão na base da árvore, que
eram ações obviamente intencionais”,
diz Schmidt. Além destas observações, Aldeia Ipatse, no Parque Indígena do Xingu. Atividades do povo Kuikuro
foram a base da pesquisa — Foto: Pedro Biondi/Agência Brasil
também realizaram entrevistas com os al-
deões para documentar as crenças e práti-
cas dos Kuikuro relacionadas com a terra diárias na criação e cultivo do solo rico comunidades indígenas hoje produzem
escura. Em algumas destas entrevistas, os para melhorar o seu potencial agrícola. intencionalmente terra escura, através
aldeões referiram-se à terra escura como Com base nestas observações e entre- das suas práticas para melhorar o solo.
“exegese” e descreveram as suas práticas vistas com os Kuikuro, ficou claro que as Mas poderia a terra escura encontrada
em sítios arqueológicos próximos ter
sido feita através de práticas intencio-
nais semelhantes?
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CLUBE DE REVISTAS
(A) Processamento de mandioca. (B) Descarte de lixo em monturos. (C) Cultivo de quintal. (D) Varrer cinzas e carvão de
uma lareira. (E) Aldeia Kuikuro II com localizações de outras fotos indicadas. (F) Espalhar resíduos de mandioca. (G) Espalhar
cinzas e carvão em volta das árvores. (H) Queimadas em campos e em áreas de descarte de lixo de quintal. (I) Processamento
de mandioca no campo e queima de resíduos e restos culturais.
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CLUBE DE REVISTAS
Gases de bactérias e
plâncton afetam o clima
Fotos: Anders Priemé, Eloisa Lasso, Universidade de Copenhague
E
stamos constantemente cer-
cados por eles. Embora não
Professor Anders Priemé fazendo amostragem em ilhotas ao norte da Groenlândia
possamos vê-los ou senti-
-los, muitas vezes podemos
sentir seu cheiro. Os gases voláteis são Por outro lado, as flores tornam-se ir- Quando acertamos os números, eles
emitidos para a atmosfera por qua- resistivelmente deliciosas para atrair as podem ser incluídos na equação climá-
se tudo ao nosso redor – tanto pelas abelhas e garantir a sua própria polini- tica mais ampla e nos fornecer modelos
criações humanas quanto pela própria zação. Dessa forma, os organismos ‘con- climáticos mais precisos”, diz o professor
natureza: móveis, cosméticos, plantas, versam’ uns com os outros nos ecossis- Riikka Rinnan, chefe do novo centro de
fungos, bactérias – e até mesmo pelo temas com a ajuda dos gases VOC. pesquisa, VOLT – Center for Volatile In-
nosso próprio corpo. Esses compostos Mas os gases VOC dos ecossistemas teractions, da Universidade de Copenha-
químicos, que evaporam facilmente também influenciam o clima global. En- gue. Departamento de Biologia.
e se misturam com outras coisas no tre outras coisas, eles contribuem para a Juntamente com outros três pesqui-
ar, são referidos coletivamente como formação de mais gases de efeito estufa sadores do Departamento de Biologia, o
compostos orgânicos voláteis (VOCs). atmosféricos. O problema é que ainda professor Rinnan recebeu uma doação
Na natureza, todos os organismos pro- não sabemos por quanto. de DKK 60 milhões (8 milhões de eu-
duzem VOCs e os utilizam para se comu- Pesquisadores da Universidade de Co- ros) da Fundação Nacional de Pesquisa
nicarem uns com os outros e se protege- penhagen dedicaram os próximos anos da Dinamarca para administrar o cen-
rem dos inimigos por meio do cheiro e para descobrir. “Eles são um pouco tro pelos próximos seis anos. A cerimô-
da química. Por exemplo, insetos come- brincalhões na equação climática. nia oficial de abertura do centro aconte-
dores de folhas fazem com que as plantas Porque ainda sabemos muito pouco so- cerá em 19 de junho de 2023.
comecem a liberar VOCs que eventual- bre as quantidades de gases emitidos. Este
mente repelem os mesmos insetos. é o conhecimento que gostaríamos de ter. Não é tão simples quanto
os gases de efeito estufA
VOCs são encontrados como milhares
de compostos químicos. Por exemplo, em
compostos como isopreno e metanol.
Embora saibamos muito sobre como
os gases de efeito estufa, como o CO2 e
o metano, afetam o clima, o efeito dos
VOCs é mais inexplorado e complicado.
No entanto, eles são conhecidos por pro-
longar a vida útil do metano na atmos-
fera. Mas, ao mesmo tempo, os VOCs
podem formar minúsculas partículas de
aerossol que refletem a radiação solar e,
assim, resfriam o clima. Portanto, seu
efeito climático geral permanece incerto.
Precisamos saber quantos gases as plantas, o solo, os fungos e as bactérias emitem na atmosfera
Organismos emitem
e consomem VOCs
A ideia por trás do centro VOLT é obter
uma visão profunda de como funcionam
as complexas interações entre os orga-
nismos, o ambiente e a atmosfera. Isso
envolve entender todos os processos bio-
lógicos envolvendo VOCs na natureza –
até como cada tipo de musgo, fungo ou
plâncton emite e consome gases.
“Anteriormente, descobrimos que os
microorganismos produzem gases VOC
e os ‘devoram’ como fonte de energia.
Por exemplo, enquanto uma planta
pode produzir 100 unidades de VOCs,
os microorganismos em suas folhas po- A pós-doutora Amy Smart e a aluna de mestrado Anneka Williams
coletando voláteis das plantas de Paramo em Matarredonda
dem consumir 20 unidades, de modo
que apenas 80 são emitidos. De fato,
processos opostos estão sempre em E como as pesquisas anteriores se con- concentrações geralmente são muito
andamento e não os compreendemos centraram nos gases vegetais, os pesqui- baixas”. Os primeiros projetos de pes-
hoje”, diz Riikka Rinnan, que continua: sadores do novo centro vão voltar mais quisa do centro serão sobre gases VOC
“Portanto, é importante saber quanto sua atenção para outros organismos. em plâncton, solo e musgo.
gás os organismos produzem e quan- “Agora precisamos olhar para todos os
to absorvem para obter uma imagem organismos que ficaram de fora da pes-
mais precisa da quantidade e composi- quisa anterior. Isso inclui o solo – com
ção que escapa dos ecossistemas para sua comunidade de bactérias e fungos
a atmosfera.” A ambição dos pesquisa- – plantas como musgos e organismos
dores é obter uma compreensão geral aquáticos como o plâncton. Mas preci-
das interações entre todos os tipos de samos fazer algumas medições muito
organismos e gases VOC. difíceis, pois os VOCs são reativos e suas
VOLT
O VOLT – o Centro de Interações Vo-
láteis – opera sob os auspícios do De-
partamento de Biologia da Universida-
de de Copenhague e foi criado em 2023
com financiamento da Fundação Nacio-
nal de Pesquisa da Dinamarca.
Além do diretor do centro Riikka Rin-
nan, que é professor de interações ecos-
sistema-atmosfera, o centro é liderado
pelos pesquisadores principais Lasse
Riemann, Anders Priemé e Kathrin
Rousk, que são respectivamente espe-
cialistas em microbiologia marinha, mi-
crobiologia do solo, bem como simbio-
ses e interações do organismo.
Estudando efeitos das minhocas em plantas e solos nos ecossistemas
Fotos: Victor Leshyk, Center for Ecosystem Science and Society, Northern Arizona University
Um circuito mostra como o aquecimento climático pode alterar diferentes legados ecológicos na floresta boreal
do Ártico, que então retroalimentam o aquecimento climático e as mudanças nos processos da paisagem
U
ma equipe de mais de 40 Michelle Mack, investigadora principal e professora de biologia
cientistas recebeu US$ 9,6 do Regents é reconhecida como líder em ciência do fogo
milhões da National Science
Foundation para investigar
essas questões e uma rede de questões
conectadas no interior do Alasca como
parte do Programa de Pesquisa Ecoló-
gica de Longo Prazo Bonanza Creek. O
projeto também é apoiado pela USDA
Forest Service Pacific Northwest Re-
search Station. Michelle Mack, investi-
gadora principal e professora de biolo-
gia do Regents no Center for Ecosystem
Science and Society da Northern Ari-
zona University, disse que a próxima
etapa da pesquisa ocorrerá durante um
período potencialmente transformador
para as florestas boreais do Ártico.
Três painéis de experimento de aquecimento de longo prazo rotulados em texto cinza, da esquerda para a direita: controle, aquecimento de curto
prazo, aquecimento de longo prazo. O tratamento de controle, à esquerda, mostra bactérias, protistas e outros microorganismos identificados
pelo sequenciamento do metagenoma do solo em amarelo, laranja, verde e azul, junto com as cadeias de nutrientes disponíveis. O solo represen-
tado no painel central, que sofreu um aquecimento de curto prazo, mostra uma maior abundância e diversidade de micróbios, alguns dos quais
estão crescendo, incorporando nutrientes e respirando dióxido de carbono. O solo que sofreu um longo aquecimento, imaginado no painel à
direita, mostra menos espécies microbianas e relações competitivas que estão se desenvolvendo para o controle dos nutrientes mais escassos
“Vimos como as mudanças dramáti- melhor incluir as perspectivas e prioridades afeta as trajetórias sucessionais, como o
cas no fogo e no permafrost na floresta de pesquisa das comunidades nativas. degelo do permafrost está mudando a hi-
boreal causadas pelo aquecimento cli- A pesquisa nos próximos seis anos, que drologia na região, como os micróbios do
mático já perturbaram a forma como será co-liderada pelos pesquisadores da solo estão respondendo ao aquecimento e
esses ecossistemas se estabilizaram por NAU Ted Schuur, Xanthe Walker, Lo- como o inseto e planta mineiro da folha
milênios”, disse Mack. “Nos próximos gan Berner, Scott Goetz e colaboradores de álamo tremedor patógenos como o
seis anos, vamos observar como esses especializados de nove instituições aca- cancro do álamo podem determinar a ca-
legados e interrupções estão moldando o dêmicas, o Serviço Florestal dos EUA e pacidade futura do álamo de prosperar e
futuro da floresta e o futuro das comuni- o Serviço Geológico dos EUA, se baseará se reproduzir na região.
dades que dependem da floresta boreal.” em décadas de dados anteriores coleta- Aqui está um exemplo de como a próxi-
A equipe de Mack também perguntará dos através do programa Bonanza Creek ma fase se baseará no legado de pesquisa
como a atividade humana moldou a his- LTER desde 1987. Bonanza Creek, com de Bonanza Creek: a equipe descobriu
tória das florestas, trabalhando com tribos sede na Universidade do Alasca-Fair- que incêndios cada vez mais frequentes
nativas do Alasca para desenvolver ques- banks Institute of Arctic Biology, é um e intensos na floresta boreal resultaram
tões de pesquisa que sejam relevantes para dos 28 locais LTER dos EUA no país. em árvores de folha caduca de cresci-
suas comunidades e papéis no manejo do A equipe trabalhará em uma rede de lo- mento mais rápido, como a bétula e o
fogo hoje. O programa também reunirá um cais no interior do Alasca investigando tó- álamo trêmulo, movendo-se para onde
Conselho Consultivo Nativo do Alasca para picos interligados, incluindo como o fogo crescem mais lentamente. mas o abeto
preto mais inflamável já dominou. Nos
próximos seis anos, eles monitorarão
uma série mais ampla de parcelas de flo-
resta que queimaram em diferentes épo-
cas, incluindo algumas acessíveis apenas
por helicóptero, para construir uma es-
pécie de lapso de tempo que ilustra como
essas florestas estão crescendo e mudan-
do, e que papel o fogo desempenha.
“Nosso trabalho em Bonanza Creek
LTER nos mostrou quão incerto é o fu-
turo da floresta boreal do Ártico”, dis-
se Mack. “A próxima etapa é para essa
equipe realmente talentosa mapear que
tipos de futuros são possíveis, prováveis
e como os humanos desempenharão um
papel em moldá-los”.
Floresta boreal Bonanza Creek LTER no Ártico
Fatores hidroclimáticos, fatores geográficos e atividades humanas que afetam a qualidade da água do rio
A
s alterações climáticas e o
aumento das secas e das
tempestades colocam sérios
desafios à nossa gestão da
água. Não só a disponibilidade da água
está sob pressão, mas também a sua
qualidade. Contudo, de acordo com o
relatório mais recente do IPCC, a nos-
sa compreensão actual desta questão é
inadequada. Para preencher esta lacu-
na, um grupo internacional de cientistas
reuniu um grande conjunto de pesqui-
sas sobre a qualidade da água nos rios
em todo o mundo. O estudo publicado
na Nature Reviews Earth & Environ-
ment, mostra que a qualidade da água
dos rios tende a deteriorar-se durante
Rios em risco: as alterações climáticas estão a diminuir a qualidade global da água
eventos climáticos extremos.
A qualidade da água está se deteriorando nos rios em todo o mundo devido às mudanças climáticas e ao aumento de eventos climáticos extremos.indd 50 18/10/2023 14:27:16
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A qualidade da água deteriora-se nos rios em todo o mundo devido às alterações climáticas
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O derretimento do gelo provavelmente
desencadeou mudanças climáticas
há mais de 8.000 anos
Fotos: Dr. Graham Rush, Universidade de Leeds
U
sando amostras geológicas
do estuário de Ythan, na
Escócia, os cientistas iden-
tificaram o derretimento da
camada de gelo como o provável desenca-
deador de um grande evento de mudança
climática há pouco mais de 8.000 anos.
E a análise – envolvendo uma equipe
de geocientistas de quatro universidades
de Yorkshire, liderada pelo Dr. Graham
Rush, que ocupa cargos na Universidade
de Leeds e na Universidade Leeds Beckett
– poderá conter pistas sobre como a atual
perda de gelo na Groenlândia poderá afe-
tar a os sistemas climáticos do mundo.
Há mais de 8.000 anos, o Atlântico
Norte e o Norte da Europa sofreram um
Mostra do núcleo de sedimentos sendo retirado do Estuário Ythan
arrefecimento significativo devido a alte-
rações num importante sistema de cor-
rentes oceânicas conhecido como Circu- A mudança na AMOC também afetou Acredita-se que um influxo de uma
lação Meridional do Atlântico, ou AMOC. os padrões globais de precipitação. grande quantidade de água doce nos ma-
res de água salgada do Atlântico Norte
causou o colapso do AMOC.
A equipe de investigação recolheu
amostras de sedimentos no estuário de
Ythan para construir uma imagem do
que estava a acontecer ao nível do mar há
mais de 8.000 anos.
Ao analisar os micro fósseis e os sedi-
mentos nas amostras, eles descobriram
que as mudanças no nível do mar se afas-
taram das flutuações normais de fundo de
cerca de dois milímetros por ano e atingi-
ram 13 milímetros por ano, com eventos
individuais no nível do mar, resultando
no aumento da água, provavelmente em
Fósseis de um organismo unicelular Elphidium gerthi
cerca de 2 metros. no Estuário Ythan.
As configurações do manto de gelo Laurentide (LIS) e do Mapa da região do Atlântico Norte c. 8.500 anos cal AP. A costa do
lago Agassiz-Ojibway (LAO) são retiradas de Dalton et al. noroeste da Europa em 9.000 anos cal AP é retirada de (Hill, 2020)
(2020) e Teller et al. (2002) , respectivamente, com o sub-
sequente encaminhamento da água de degelo através
da Baía de Hudson mostrado em azul escuro. A proposta
Hudson Bay Ice Saddle (HBIS) é destacada pela incuba-
ção. As principais correntes (quente = setas vermelhas,
fria = setas azuis) são desenhadas para destacar o padrão
geral da Circulação Meridional do Atlântico com base no
conjunto de dados de Hamilton (2018). Os locais com re-
construções ao nível do mar mencionados no texto são
mostrados em amarelo, incluindo o Estuário do Ythan
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A análise das amostras centrais for-
nece mais evidências de que havia pelo
menos duas fontes principais de água
doce que drenavam para o Atlânti-
co Norte, causando as mudanças na
AMOC, e não uma única fonte como se
pensava anteriormente.
A opinião de muitos cientistas era
que a água doce provinha de um lago
gigante – o Lago Agassiz-Ojibway, que
tinha o tamanho do Mar Negro e estava
situado perto do que hoje é o norte de
Ontário – que desaguara no oceano.
Dr Rush disse: “Mostramos que,
embora enorme, o lago não era
grande o suficiente para dar conta
de toda aquela água que entrava no
oceano e causava o aumento do ní- Parte de uma visualização da NASA da Corrente do Golfo,
mostrando temperaturas da superfície e padrões de fluxo
vel do mar que observamos”.
A circulação oceânica
distribui calor
A energia térmica impulsiona o clima
mundial e a perturbação das corren-
tes oceânicas teve grandes ramificações
em todo o mundo. As temperaturas no
Atlântico Norte e na Europa caíram entre
1,5 e 5 graus C e duraram cerca de 200
anos, com outras regiões a registarem um
aquecimento acima da média. Os níveis
de precipitação também aumentaram
na Europa, enquanto outras partes do
mundo, como partes de África, regista-
ram condições mais secas e períodos de
seca prolongados. Os autores do estudo
acreditam que o estudo dá uma ideia de
como o atual derretimento das camadas
de gelo na Groenlândia pode afetar os
sistemas climáticos globais. Dr. Rush
acrescentou: “Sabemos que a AMOC está
atualmente a abrandar e, embora ainda
debatida, algumas previsões indicam que
poderá encerrar completamente.
“No entanto, olhando para eventos pas-
sados podemos aprender mais sobre o
que causa estas mudanças e a sua proba-
Mapa da região do Atlântico Norte c. 8.500 anos cal AP. A costa do bilidade. Mostrámos que o rápido recuo
noroeste da Europa em 9.000 anos cal AP é retirada de (Hill, 2020)
da camada de gelo, que pode ocorrer na
Groelândia dependendo da trajetória das
a) Uma visão geral do Reino Unido, mostrando a localização de b) - uma futuras emissões de combustíveis fósseis,
imagem de satélite do Estuário Ythan, costa oeste da Escócia (BingTM, 2019). pode causar uma série de efeitos climáti-
c) Mapa do local de campo mostrando a localização de novos transectos e fu- cos significativos que teriam consequên-
ros feitos neste estudo e os transectos existentes de Smith et al. (1999)+ cias muito preocupantes”.
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Uma visão dos furacões se formando sobre o Oceano Atlântico, criada pela
montagem de imagens adquiridas em 6 de setembro de 2017 pelo satélite
U
m sistema vital de correntes O AMOC pode existir em dois estados “Não foi um resultado em que disse-
oceânicas que ajuda a regu- estáveis : um mais forte e mais rápido do mos: ‘Ah, sim, aqui está’. Na verdade,
lar o clima do Hemisfério qual dependemos hoje, e outro que é mui- ficamos perplexos.” AMOC como uma
Norte pode entrar em colap- to mais lento e fraco. Estimativas anterio- correia transportadora global
so a qualquer momento a partir de 2025 res previam que a corrente provavelmen- As correntes do Oceano Atlântico fun-
e desencadear o caos climático, alerta te mudaria para seu modo mais fraco em cionam como uma correia transporta-
um novo estudo controverso. A Circu- algum momento do próximo século. dora global sem fim, movendo oxigênio,
lação Meridional do Atlântico (AMOC), Mas a mudança climática causada pelo nutrientes, carbono e calor ao redor do
que inclui a Corrente do Golfo, governa homem pode levar o AMOC a um ponto de globo. As águas mais quentes do sul, que
o clima trazendo águas tropicais quen- inflexão crítico mais cedo ou mais tarde, são mais salgadas e densas, fluem para o
tes para o norte e águas frias para o sul. previram os pesquisadores em um novo norte para resfriar e afundar sob as águas
Mas os pesquisadores agora dizem estudo, publicado na terça-feira (25 de ju- em latitudes mais altas, liberando calor
que o AMOC pode estar caminhando lho) na revista Nature Communications. na atmosfera. Então, depois de afundar
para um colapso total entre 2025 e “O ponto de inflexão esperado – dado no oceano, a água lentamente se move
2095, causando a queda das tempe- que continuamos com os negócios como para o sul, esquenta novamente e o ciclo
raturas, o colapso dos ecossistemas sempre com as emissões de gases de efeito se repete. Mas a mudança climática está
oceânicos e a proliferação de tempes- estufa – é muito mais cedo do que esperá- diminuindo esse fluxo. A água doce do
tades em todo o mundo. vamos”, disse a coautora Susanne Ditlev- derretimento das camadas de gelo tornou
No entanto, alguns cientistas aler- sen , professora de estatística e modelos a água menos densa e salgada, e estudos
taram que a nova pesquisa vem com estocásticos em biologia na Universidade recentes mostraram que a corrente é a
algumas grandes ressalvas. de Copenhague, à Live Science. mais fraca em mais de 1.000 anos.
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Impressão digital da circulação meridional do Atlântico (AMOC), temperatura da superfície do mar (SST) e média global (GM)
a região do giro subpolar (SG) (contorno preto) no topo da reconstrução SST do conjunto de dados Hadley
Center Sea Ice e Sea Surface Temperature (HadISST) para dezembro de 2020. A região SG SST foi identificada
como uma impressão digital AMOC. b Registro mensal completo do SG SST junto com a média global (GM)
SST. c , d anomalias SG e GM, que são os registros subtraídos da média mensal sobre o registro completo. O
proxy de impressão digital AMOC, que é aqui definido como a anomalia SG menos duas vezes a anomalia GM,
compensando o aquecimento global amplificado polar
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A região perto da Groenlândia, onde
as águas do sul afundam (conhecida Curvas de estado estacionário de simulações de modelos climáticos de Águas Profundas
como giro subpolar do Atlântico Nor- do Atlântico Norte (NADW), com um parâmetro de controle de mudança muito lenta
(força de água doce)
te), faz fronteira com um trecho que
está atingindo temperaturas baixas
recordes, enquanto os mares ao redor
atingem máximas históricas, forman-
do uma “bolha” em constante expan-
são de água fria.
A última vez que o AMOC mudou
de modo durante a era glacial mais
recente, o clima perto da Groenlândia
aumentou de 18 a 27 graus Fahrenheit
(10 a 15 graus Celsius) em uma déca-
da. Se fosse desligado, as temperatu-
ras na Europa e na América do Norte
poderiam cair até 9 F (5 C) no mesmo
período de tempo.
Dados diretos sobre a força do
AMOC só foram registrados des-
de 2004, portanto, para analisar as
mudanças na corrente em escalas de
tempo mais longas, os pesquisadores
recorreram às leituras da temperatu-
ra da superfície do giro subpolar entre
os anos de 1870 e 2020, um sistema
que eles argumentam fornecer uma
‘impressão digital’ para a força da cir-
culação do AMOC.
Ao inserir essas informações em
um modelo estatístico, os pesqui- Controvérsia sobre o colapso previsto
sadores avaliaram a diminuição da
força e resiliência da corrente oceâ- O painel superior mostra modelos apenas do oceano, enquanto o painel in-
nica por meio de suas crescentes ferior mostra os modelos da atmosfera oceânica. As curvas são, mesmo longe
flutuações ano a ano. Os resultados da transição, surpreendentemente bem ajustadas pela Eq. (curvas finas pre-
do modelo alarmaram os pesquisa- tas). Os pontos de bifurcação são indicados com círculos pretos. Observe que,
dores – mas eles dizem que verifi- para alguns modelos, a transição ocorre antes do ponto crítico, como seria de
cá-los apenas reforçou suas desco- se esperar em transições induzidas por ruído. Os círculos coloridos mostram
bertas: a janela para o colapso do as condições atuais para os diferentes modelos. Adaptado de Rahmstorf et al
sistema pode começar já em 2025,
e torna-se mais provável à medida
que o século 21 continua.
“Não me considero muito alarmis-
ta. Em certo sentido, não é frutífe- no AMOC, então este é um resulta- de que o colapso mostrado por mo-
ro”, disse Peter Ditlevsen , profes- do muito preocupante”, David Thor- delos simplificados descreve correta-
sor de física e ciência climática do nalley, professor de oceano e ciência mente a realidade - mas simplesmente
Instituto Niels Bohr em Copenha- climática na University College Lon- não sabemos, e não há discussão séria
gue, à Live Science. don, disse ao Live Science por e- mail sobre as deficiências desses modelos
“Então, meu resultado me incomo- . “Mas existem algumas incógnitas e simplificados”, disse Jochem Marot-
da, de certa forma. Porque [a janela suposições realmente grandes que zke, professor de ciência do clima e
para um possível colapso] é tão pró- precisam ser investigadas antes de diretor do Instituto Max Planck de
xima e tão significativa que temos que termos confiança neste resultado”. Meteorologia em Hamburgo, ao Live
tomar medidas imediatas agora”. Outros cientistas do clima chega- Science por e-mail. fica muito aquém
Oceanógrafos e especialistas em ram ao ponto de jogar água fria nas de seu objetivo autoproclamado de
clima disseram que, embora o estu- descobertas, sugerindo que é “total- estimar a evolução da circulação ape-
do forneça um aviso preocupante, mente incerto” que a evolução ob- nas a partir de observações”.
ele vem com algumas grandes incer- servada da temperatura da super- Os pesquisadores por trás do
tezas. “Se as estatísticas são robustas fície do AMOC possa estar ligada à novo estudo dizem que seus pró-
e são uma maneira correta/relevante força de sua circulação. “Embora a ximos passos serão atualizar seu
de descrever como o AMOC moder- matemática pareça feita com habi- modelo com dados dos últimos
no real se comporta, e as mudanças lidade, a base física é extremamen- três anos, o que deve reduzir sua
se relacionam (apenas) a mudanças te instável: baseia-se na suposição janela para o colapso previsto.
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As alterações climáticas
dão nova cor ao oceano
Duas décadas de medições por satélite mostram que a superfície do mar está ficando verde
Fotos: Observatório da Terra da NASA por Wanmei Liang , usando dados de Cael, BB, et al. (2023).
O
mar azul profundo está ficando um pouco mais Os valores apresentados em verde baseiam-se em toda a
verde. Embora isso possa não parecer tão im- gama de cores e, portanto, captam mais informações sobre o
portante como, digamos, temperaturas recor- ecossistema como um todo.Uma longa série temporal de um
des da superfície do mar , a cor da superfície do único sensor é relativamente rara no mundo do sensoriamento
oceano é indicativa do ecossistema que se encontra abaixo. remoto. Enquanto o satélite Aqua celebrava o seu 20º ano em
Comunidades de fitoplâncton , organismos microscópicos órbita em 2022 – excedendo em muito a sua vida útil de 6 anos
fotossintetizantes, são abundantes em águas próximas à su- – Cael questionou-se que tendências a longo prazo poderiam
perfície e são fundamentais para a cadeia alimentar aquática ser descobertas nos dados. Em particular, ele estava curioso
e o ciclo do carbono. Esta mudança na tonalidade da água para saber o que poderia ter faltado em todas as informações
confirma uma tendência esperada no âmbito das alterações sobre as cores do oceano que havia coletado. “Há mais coisas
climáticas e sinaliza mudanças nos ecossistemas do oceano codificadas nos dados do que realmente utilizamos”, disse ele.
global, que cobre 70 por cento da superfície da Terra. Pesqui- Ao ampliar os dados, a equipe identificou uma tendência de cor
sadores liderados por BB Cael , principal cientista do Centro do oceano que havia sido prevista pela modelagem climática,
Nacional de Oceanografia do Reino Unido, revelaram que mas que deveria levar de 30 a 40 anos de dados para ser detec-
56% da superfície global do mar sofreu uma mudança signi- tada usando estimativas de clorofila baseadas em satélite. Isto
ficativa de cor nos últimos 20 porque a variabilidade natu-
anos. Depois de analisar ral da clorofila é elevada
os dados da cor do em relação à tendên-
oceano do instru- cia das alterações
mento MODIS climáticas. O
(Espectrorra- novo método,
diômetro de incorporando
Imagem de toda a luz vi-
Resolução sível, foi ro-
Moderada) busto o su-
do satéli- ficiente para
te Aqua da confirmar a
NASA , eles tendência em
descobriram 20 anos.Nesta
que grande fase, é difícil
parte da mu- dizer que mu-
dança decorre do danças ecológicas
fato de o oceano ficar Imagem do dia 2 de outubro de 2023. Instrumento: Aqua — MODIS
exatas são responsá-
mais verde.O mapa acima veis pelas novas tonali-
destaca as áreas onde a cor da su- dades. No entanto, postulam os
perfície do oceano mudou entre 2002 e 2022, com tons mais autores, eles poderiam resultar de diferentes conjuntos de
escuros de verde representando diferenças mais significativas plâncton, de partículas mais detríticas ou de outros organis-
(maior relação sinal-ruído). mos, como o zooplâncton. É improvável que as mudanças de
Por extensão, disse Cael, “estes são locais onde podemos cor venham de materiais como plásticos ou outros poluen-
detectar uma mudança no ecossistema oceânico nos últimos tes, disse Cael, uma vez que não são suficientemente difun-
20 anos”. O estudo concentrou-se nas regiões tropicais e didas para serem registadas em larga escala.
subtropicais, excluindo latitudes mais altas, que são escuras “O que sabemos é que nos últimos 20 anos o oceano tornou-se
durante parte do ano, e águas costeiras, onde os dados são mais estratificado”, disse ele. As águas superficiais absorveram o
naturalmente muito ruidosos. Os pontos pretos no mapa in- excesso de calor do clima mais quente e, como resultado, são me-
dicam a área, que cobre 12% da superfície do oceano, onde nos propensas a se misturar com camadas mais profundas e mais
os níveis de clorofila também mudaram durante o período de ricas em nutrientes. Este cenário favoreceria o plâncton adapta-
estudo. A clorofila tem sido a medida preferida pelos cien- do a um ambiente pobre em nutrientes. As áreas de mudança de
tistas de sensoriamento remoto para avaliar a abundância e cor do oceano alinham-se bem com onde o mar se tornou mais
a produtividade do fitoplâncton. No entanto, essas estima- estratificado, disse Cael, mas não existe tal sobreposição com as
tivas usam apenas algumas cores do espectro de luz visível. mudanças de temperatura da superfície do mar.
A
descoberta tem implica- Reduzir simultaneamente as emissões de ozônio
ções para uma estraté- de baixo nível e outros poluentes climáticos de
vida curta, bem como o dióxido de carbono de vida
gia chave na gestão do longa, poderia reduzir a taxa de aquecimento global
carbono que depende do pela metade até 2050, mostra um novo estudo
solo e das florestas – “su-
midouros” naturais de carbono – para
mitigar o aquecimento global.
Cerca de 25% das emissões globais
de carbono são capturadas por flores-
tas, pastagens e pastagens. Durante a
fotossíntese, as plantas armazenam
carbono em suas paredes celulares e
no solo. Devido aos ricos estoques de
carbono de décadas passadas, os solos
contêm duas vezes mais carbono do
que a atmosfera, e os subsolos mais
profundos (mais de 8 polegadas ou “Nosso estudo mostra que a mudança Em 2021, Torn e sua equipe de pes-
20 centímetros) respondem por apro- climática afetará todos os aspectos do quisa forneceram a primeira evidência
ximadamente metade do carbono do ciclo de carbono e nutrientes do solo. física de que temperaturas mais altas
solo. Mas à medida que as populações Também mostra que, em termos de levam a uma queda significativa nos
globais aumentam, também aumen- sequestro de carbono, não existe solu- estoques de carbono armazenados em
tam nossas demandas por novas terras ção milagrosa. Se quisermos que o solo solos florestais profundos – uma perda
agrícolas e madeira. sustente o sequestro de carbono em um de 33% em cinco anos.
A pesquisa mostra que perturbar o mundo em aquecimento, precisaremos No novo estudo, Torn e o primeiro
mundo natural para o comércio tem de melhores práticas de manejo do solo, autor, Cyrill Zosso, da Universidade de
um preço: o Painel Intergovernamen- o que pode significar uma perturbação Zurique, revelam uma imagem mais
tal das Nações Unidas sobre Mudanças mínima dos solos durante o manejo flo- clara do solo em um mundo em aqueci-
Climáticas alertou que as emissões do restal e a agricultura”, disse Margaret mento. Desta vez, a equipe de pesquisa
desmatamento e da agricultura repre- Torn, cientista sênior da Área de Ciên- é a primeira a mostrar que temperatu-
sentam cerca de um quinto dos gases cias Ambientais e da Terra do Berkeley ras mais altas levam a uma queda sig-
de efeito estufa globais. Lab. e um autor sênior do estudo. nificativa nos compostos de carbono
orgânico do solo que são criados pelas
plantas durante a fotossíntese.
Durante um experimento na Blo-
dgett Forest Research Station da
Universidade da Califórnia, no sopé
das montanhas de Sierra Nevada,
os pesquisadores usaram hastes de
aquecimento verticais para aquecer
continuamente terrenos de 1 metro
de profundidade (três pés de profun-
didade) em 4 graus Celsius ( 7 graus
Fahrenheit). Essa é a quantidade de
aquecimento projetada até o final do
século 21, se as emissões de gases de
efeito estufa permanecerem altas.
Cientistas do Berkeley Lab coletam amostras de solo na Blodgett Forest
O gargalo ancestral inicial poderia ter significado o fim dos humanos moder-
nos. A população humana pode ter permanecido em cerca de 1.300 habi-
tantes durante mais de 100.000 anos, e esse gargalo populacional pode ter
alimentado a divergência entre os humanos modernos, os neandertais e os
denisovanos. Durante inferência genômica de um grave gargalo humano
durante a transição do Pleistoceno Inferior para o Médio
H
oje, existem mais de 8 bilhões de
seres humanos no planeta. Do-
minamos as paisagens da Terra
e as nossas actividades estão a
levar à extinção um grande número de outras
espécies. Porém, se um pesquisador tivesse
olhado para o mundo em algum momento
entre 800 mil e 900 mil anos atrás, o quadro
teria sido bem diferente. Hu et al . usaram
um modelo coalescente recentemente desen-
volvido para prever tamanhos de populações
humanas passadas a partir de mais de 3.000
genomas humanos atuais (ver a Perspectiva
de Ashton e Stringer). O modelo detectou
uma redução no tamanho da população dos
nossos antepassados de cerca de 100.000 A arte rupestre num penhasco ilustra como os nossos antepassados humanos sobrevive-
para cerca de 1.000 indivíduos, que persistiu ram face a um perigo desconhecido. Próximo a ele está o fórum central usado pelos pes-
quisadores para inferir o gargalo que ocorreu há cerca de 1 milhão de anos
por cerca de 100.000 anos.
Os seres humanos enfrentaram um “perigo de extinção” há quase um milhão de anos.indd 60 18/10/2023 18:31:31
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Para saber mais sobre o período próxi-
mo da evolução dos humanos modernos,
os cientistas investigaram os genomas
de mais de 3.150 humanos modernos
actuais, de 10 populações africanas e 40
não-africanas. Eles desenvolveram uma
nova ferramenta analítica para deduzir o
tamanho do grupo que constitui os ances-
trais dos humanos modernos, observan-
do a diversidade das sequências genéticas
observadas em seus descendentes.
Os dados genéticos sugerem que entre
813 mil e 930 mil anos atrás, os ancestrais
dos humanos modernos experimentaram
um grave “gargalo”, perdendo cerca de
98,7% de sua população reprodutora.
“Nossos ancestrais experimentaram um Este gráfico mostra a linha do tempo do grave gargalo e quantos indivíduos provavel-
gargalo populacional tão grave por mui- mente existiram durante esse período. A lacuna fóssil dos hominídeos africanos e o
período de tempo estimado da fusão cromossômica são mostrados à direita
to tempo que enfrentaram um alto risco
de extinção”, disse Wangjie Hu , co-autor
principal do estudo , da Escola de Medi-
cina Icahn no Monte Sinai, na cidade de
Nova York, à WordsSideKick.com.
Os pesquisadores estimaram que a po-
pulação reprodutora humana moderna
era de cerca de 1.280 durante cerca de
117.000 anos. “O tamanho populacional
estimado para a nossa linhagem ancestral
é minúsculo e certamente os teria levado
O DNA humano moderno indica
quase à extinção”, disse Chris Stringer , pa- que os ancestrais humanos po-
leoantropólogo do Museu de História Na- dem ter enfrentado a extinção
tural de Londres, que não esteve envolvido há cerca de 900 mil anos, antes
de se recuperarem e possivel-
no novo estudo, à WordsSideKick.com. mente evoluirem para o Homo
Os cientistas notaram que esta queda heidelbergensis , uma espécie
populacional coincidiu com um arrefeci- representada pelo crânio fóssil
africano mostrado aqui
mento severo que resultou no surgimento
de glaciares, numa queda nas temperatu-
ras da superfície dos oceanos e talvez em Isto sugere que a quase erradicação revelar-se-iam suficientemente significa-
longas secas em África e na Eurásia. Os estava potencialmente ligada de alguma tivas para dividir estes sobreviventes em
cientistas ainda não sabem como é que forma à evolução do último ancestral co- populações distintas – humanos moder-
esta mudança climática pode ter afectado mum dos humanos modernos, os nean- nos, neandertais e denisovanos, disse ele.
os humanos porque os fósseis e artefactos dertais e os denisovanos. Além disso, trabalhos anteriores su-
humanos são relativamente escassos du- Se este último ancestral comum viveu geriram que cerca de 900 mil a 740 mil
rante este período, talvez porque a popu- durante ou logo após o gargalo, o garga- anos atrás, dois cromossomos antigos se
lação era muito baixa. lo pode ter desempenhado um papel na fundiram para formar o que é atualmente
Pesquisas anteriores sugeriram que o divisão de grupos humanos antigos em conhecido como cromossomo 2 nos hu-
último ancestral comum compartilhado humanos modernos, Neandertais e Deni- manos modernos. Uma vez que isto coin-
pelos humanos modernos, os neandertais sovanos, explicou Stringer. Por exemplo, cide com o gargalo, estas novas descober-
e os denisovanos, viveu entre 765 mil e 550 pode ter dividido os humanos em pe- tas sugerem que a quase erradicação dos
mil anos atrás, aproximadamente na mes- quenos grupos separados e, ao longo do seres humanos pode ter alguma ligação
ma época que o gargalo recém-descoberto. tempo, as diferenças entre estes grupos com esta grande mudança no genoma
humano, observaram os investigadores.
O estudo foi publicado na revista Science
“Como os neandertais e os denisovanos
partilham esta fusão connosco, ela deve
ter ocorrido antes das nossas linhagens se
separarem”, disse Stringer. Pesquisas fu-
turas podem aplicar esta nova técnica ana-
lítica “a outros dados genômicos, como os
dos neandertais e dos denisovanos”, disse
Stringer. Isto pode revelar se eles também
passaram por grandes gargalos.
Um ‘gargalo ancestral’ destruiu quase 99% da população humana há
800 mil anos. Quatro crânios de ancestrais humanos A. africanus, A.
afarensis, H. erectus, H. neanderthalensis e um crânio humano moderno
revistaamazonia.com.br REVISTA AMAZÔNIA 61
Os seres humanos enfrentaram um “perigo de extinção” há quase um milhão de anos.indd 61 18/10/2023 18:31:32
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19 “extinções em massa” tiveram
níveis de CO2 para os quais agora
estamos nos voltando
por *Earth’s Future Fotos: Brett Monroe Garner, Earth’s Future, OsakaWayne Studios via Getty Images
D
urante a vida humana, as
concentrações de CO2 na
Os níveis atuais de CO2 já estão causando perdas na biodiversidade, diz o estudo
atmosfera da Terra podem
atingir níveis associados a
19 “extinções em massa” que ocorre- Isso estaria próximo das concentra- “A relação entre o dióxido de carbono
ram nos últimos 534 milhões de anos, ções médias de CO2 (870 ppmv) asso- no passado e a extinção no passado nos
sugere uma nova pesquisa. Até 2100, ciadas a grandes acidentes na biodiver- dá uma espécie de parâmetro que pode-
os níveis atmosféricos de dióxido de sidade marinha nos últimos 534 milhões mos aplicar ao presente”, autor do es-
carbono podem subir para 800 partes de anos, de acordo com um estudo pu- tudo William Jackson Davis , biólogo e
por milhão em volume (ppmv) – qua- blicado em 22 de junho na revista Ear- presidente do Instituto de Estudos Am-
se o dobro da concentração de aproxi- th’s Future. Esses eventos de extinção bientais sem fins lucrativos em Santa
madamente 421 ppmv registrada este são preservados no registro fóssil, per- Cruz. , Califórnia, disse ao Live Science.
ano – se não conseguirmos reduzir as mitindo aos cientistas traçar como a bio- O CO2 atmosférico contribui para a
emissões da queima de combustíveis fós- diversidade e o CO2 atmosférico evoluí- perda de biodiversidade por meio da
seis e converter terras para agricultura. ram ao longo da história da Terra. acidificação dos oceanos , disse Davis.
Os oceanos absorvem o dióxido de car-
bono atmosférico, o que torna a água
mais ácida, reduzindo a disponibilidade
de íons de carbonato de cálcio necessá-
rios para que os organismos construam
seus esqueletos e conchas.
Quando esses efeitos são fortes o sufi-
ciente para afetar toda a cadeia alimentar,
eles podem levar a extinções em massa.
CO2 e extinção se
movem em conjunto
No novo estudo, Davis descobriu que
as concentrações de CO2 oscilam com a
biodiversidade marinha no registro fóssil.
“Quando o dióxido de carbono aumen-
ta, a extinção aumenta, e quando o dió-
Séries temporais de extinções em massa e seus subestágios nos últimos 534 milhões de anos
xido de carbono diminui, a extinção di-
minui”, disse ele. Davis então usou essa
relação para estimar a perda de biodiver-
Os rótulos identificam as cinco extinções em massa canônicas. Os dados sidade nas condições atmosféricas atuais.
originais são de Bambach (2006) e Melott e Bambach (2014) com base em JJ “A concentração atual de CO2 na
Sepkoski (1986 , 2002). Cf. com a Figura 1, pág. 178 de Melott & Bambach, 2014 atmosfera é de 421 ppmv”, afirmou.
. As linhas que conectam os pontos de dados nesta série temporal são apenas “Quando ligamos isso à relação entre
para clareza visual e não refletem a existência de dados reais entre os pontos biodiversidade e concentração de CO2
de dados designados. Abreviaturas: Ordov., Ordoviciano; Sil., Siluriano; Carbo- no passado, isso corresponde a uma
nífero., Carbonífero; Paleog., Paleogeno; Neo., Neogene perda de biodiversidade de 6,39%”.
19 “extinções em massa” tiveram níveis de CO2 para os quais agora estamos nos voltando.indd 62 18/10/2023 18:50:11
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Essa estimativa se aproxima da por-
centagem de biodiversidade perdida
no menor evento de extinção “em mas-
sa” considerado no estudo - chamado
“evento de extinção nº 10” - que conde-
nou 6,4% das espécies há 132,5 milhões
de anos. Isso significa que “os humanos
já causaram perdas de biodiversidade
em grau de extinção”, disse Davis.
Os cientistas geralmente definem as
extinções em massa como três quartos
das espécies morrendo em curtos perío-
dos geológicos – em menos de 2,8 mi-
lhões de anos. Sob esta definição, cinco
eventos de extinção em massa molda-
ram a história da Terra , com um sexto
provavelmente em andamento.
Mas outros 45 picos de perda de bio-
diversidade também podem ser con-
siderados extinções em massa, disse
Davis. Para o estudo, uma extinção em
massa foi definida como “qualquer pico
na perda de biodiversidade que é flan-
queado por valores menores”. Por esta
definição, houve 50 extinções em massa
nos últimos 534 milhões de anos, va-
riando de 6,4% a 96% das espécies ma-
rinhas extintas.
É mostrada a relação entre a perda
percentual do gênero e a concentração O CO2 atmosférico contribui para a perda de biodiversidade e branquea-
mento de corais por meio da acidificação e aquecimento dos oceanos
atmosférica de CO2 (curva vermelha, li-
nha de tendência linear de melhor ajus-
te, método dos mínimos quadrados) As setas para cima abaixo da curva de em massa nos últimos 210 Myr (seta ver-
com base no registro fóssil mais recente extinção marcam marcos de concentração melha no canto superior direito). Esta
(últimos 33 milhões de anos). As setas de CO2 , começando com as concentra- curva de extinção mostra que a perda de
para baixo acima da curva de extinção ções atmosféricas interestaduais de CO2 biodiversidade associada ao CO2 atmos-
mostram os cortes percentuais anuais entre as recentes Grandes Idades do Gelo férico já está ocorrendo, enquanto perdas
necessários para atingir a estabilização (seta verde no canto inferior esquerdo) e de biodiversidade comparáveis às extin-
da concentração de dióxido de carbono culminando na concentração atmosférica ções em massa passadas são projetadas
atmosférico (CO2 ). média de CO2 das últimas 19 extinções para um futuro próximo. As unidades de
todos os números, exceto porcentagens e
datas, são ppmv. Abreviaturas: CO2, dió-
xido de carbono; ppmv, partes por milhão
por volume; IPCC, Painel Intergoverna-
mental sobre Mudanças Climáticas.
Os resultados sugerem que a acidifi-
cação oceânica resultante de concentra-
ções elevadas de CO2 é “o mecanismo de
morte imediata” da maioria das extin-
ções em massa, de acordo com o estudo.
“A ligação entre o CO2 na atmosfe-
ra, a temperatura global e a perda de
biodiversidade está bem estabelecida”,
disse Mike Benton , professor de pa-
leontologia de vertebrados na Univer-
sidade de Bristol, no Reino Unido, ao
Live Science por e-mail. As concentra-
ções atmosféricas de CO2 estão aumen-
tando atualmente em mais de 2 ppmv a
cada ano , o que pode desencadear uma
perda de 10% na biodiversidade nas
Gráfico de extinção mostrando os riscos calculados para a biodiversidade associa- próximas décadas, disse Davis.
dos às metas e marcos de redução de CO 2 atmosférico explorados neste artigo
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A perda da biodiversidade
levou ao colapso ecológico
após a “Grande Morte”
A história da biodiversidade da Terra é pontuada episodicamente por extinções em massa.
Estes são caracterizados por grandes declínios na riqueza de táxons, mas o colapso ecológico
que os acompanha raramente foi avaliado quantitativamente. A extinção em massa do Per-
miano-Triássico (PTME; ~252 milhões de anos), como a maior extinção conhecida, alterou
permanentemente os ecossistemas marinhos e abriu caminho para a transição das faunas
evolutivas do Paleozóico para o Mesozóico. Assim, o PTME oferece uma janela para a rela-
ção entre a riqueza do táxon e a dinâmica ecológica dos ecossistemas durante uma extinção
severa. No entanto, o colapso ecológico decorrente do PTME não foi avaliado em detalhes.
Aqui, usando modelos de teia alimentar e um conjunto de dados de paleocomunidades mari-
nhas abrangendo o PTME, mostramos que após a primeira fase de extinção, a estabilidade
da comunidade diminuiu apenas ligeiramente, apesar da perda de mais da metade da di-
versidade taxonômica, enquanto a estabilidade da comunidade diminuiu significativamen-
te na segunda fase. Assim, as mudanças taxonômicas e ecológicas foram inequivocamente
dissociadas, com a riqueza de espécies diminuindo severamente ~ 61 ka antes do colapso da
estabilidade do ecossistema marinho, implicando que em grandes catástrofes, uma queda na
biodiversidade pode ser o prenúncio de um colapso mais devastador do ecossistema
Fotos: Academia de Ciências da Califórnia © Kathryn Whitney, Chien C Lee/PA, Museu de História Natural da Universidade de Michigan, Peter Roopnarine, Unsplash
A
história da vida na Terra
foi pontuada por várias ex-
tinções em massa, sendo
a maior delas o evento de
extinção Permiano-Triássico, também
conhecido como “Grande Morte”, que
ocorreu há 252 milhões de anos.
Embora os cientistas geralmente con-
cordem com suas causas, exatamente
como essa extinção em massa se desen-
rolou – e o colapso ecológico que se se-
guiu – permanece um mistério.
Em um estudo publicado na Current
Biology, os pesquisadores analisaram os
ecossistemas marinhos antes, durante e
depois da Grande Morte para entender
melhor a série de eventos que levaram à
desestabilização ecológica.
Ao fazer isso, a equipe de estudo in-
ternacional – composta por pesquisa-
dores da Academia de Ciências da Cali- O evento de extinção do final do Permiano causou a extinção de cerca de 90% da vida marinha e
fórnia, da Universidade de Geociências 70% dos vertebrados terrestres, provavelmente como resultado da mudança climática do vulca-
nismo hiperativo - quando vulcões expeliram lava basáltica e liberaram gases na atmosfera
da China (Wuhan) e da Universidade de
Bristol – revelou que a perda de biodi-
versidade pode ser o prenúncio de um “A extinção do Permiano-Triássico “Neste estudo, determinamos que a
colapso ecológico mais devastador, uma serve como modelo para estudar a per- perda de espécies e o colapso ecológico
sobre a descoberta, dado que a taxa de da de biodiversidade em nosso planeta ocorreram em duas fases distintas, com
perda de espécies hoje supera aquela hoje”, diz o curador de geologia da Aca- a última ocorrendo cerca de 60.000 anos
durante a “Grande Morte”. demia, Peter Roopnarine, PhD. após a queda inicial da biodiversidade”.
A perda da biodiversidade levou ao colapso ecológico após a “Grande Morte”.indd 64 18/10/2023 19:16:39
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O evento em si eliminou 95% da Resumo Gráfico
vida na Terra, ou cerca de 19 de cada
20 espécies. Provavelmente desenca-
deado pelo aumento da atividade vul-
cânica e um aumento subsequente no
dióxido de carbono atmosférico, cau-
sou condições climáticas semelhan-
tes aos desafios ambientais provoca-
dos pelo homem vistos hoje, ou seja,
aquecimento global, acidificação dos
oceanos e desoxigenação marinha.
Para conduzir o estudo, os pesqui-
sadores examinaram fósseis do sul da
China – um mar raso durante a transi-
ção Permiano-Triássico – para recriar
o antigo ambiente marinho. Ao classi-
ficar as espécies em guildas ou grupos
de espécies que exploram recursos de
maneira semelhante, a equipe conse-
guiu analisar as relações entre presas
e predadores e determinar as funções
desempenhadas pelas espécies anti-
gas. Essas teias alimentares simula-
das forneceram representações plau-
síveis do ecossistema antes, durante e
depois do evento de extinção.
“Os sítios fósseis na China são per-
feitos para esse tipo de estudo porque
precisamos de fósseis abundantes
para reconstruir as redes alimenta-
res”, diz o professor Michael Benton,
da Universidade de Bristol. “Apesar da perda de mais da metade O curador de geologia da Academia, Peter
“As sequências de rochas também das espécies da Terra na primeira fase Roopnarine, PhD, concentra-se na biologia
da mudança global e em como podemos
podem ser datadas com muita preci- da extinção, os ecossistemas perma- desenvolver ainda mais nossa compreensão
são, para que possamos seguir uma neceram relativamente estáveis”, diz dos ecossistemas do passado da Terra para
linha do tempo passo a passo para o pesquisador da Academia Yuangeng
rastrear o processo de extinção e Huang, PhD, agora na Universidade de
eventual recuperação”. Geociências da China.
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Um ecossistema como um todo é mais
resistente a mudanças ambientais quando
existem várias espécies que desempenham
funções semelhantes. Se uma espécie se
extingue, outra pode preencher esse nicho
e o ecossistema permanece intacto. Isso
pode ser comparado a uma economia em
que várias empresas ou corporações forne-
cem o mesmo serviço. O fim de uma cor-
poração ainda deixa o serviço e a economia
intactos, mas o oposto ocorrerá se o servi-
ço for monopolizado por uma única enti-
dade. “Descobrimos que a perda de biodi-
versidade na primeira fase da extinção foi
principalmente uma perda nessa redun-
dância funcional, deixando um número
suficiente de espécies para desempenhar
Uma seção de rocha do limite Permiano-Triássico tirada na província de Hubei, no sul da China
funções essenciais”, diz Roopnarine.
Cenário estratigráfico e paleogeográfico das sucessões abrangendo o evento do final do Permiano na Bacia de Sydney, Austrália
a) Mapa da Bacia de Sydney mostrando a distribuição dos estratos Permiano e Triássico. b) Mapa paleogeográfico do
final do Permiano de Gondwana oriental com a área de estudo marcada imediatamente a oeste de um arco vulcânico
continental flanqueando a margem sudeste de Gondwana. c) Mapa paleogeográfico global para a transição Permiano-
-Triássico mostrando a localização da Grande Província Ígnea das Armadilhas Siberianas , a distribuição das zonas de
subducção (linhas amarelas) e magmatismo félsico (símbolos vulcânicos) formando o ‘anel de fogo’ Pangeano
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sil PROTAGONISTA
da nova economia
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