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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA
CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA

MARCELLE DO SOUTO PEREIRA

POVO ABENÇOADO DO BRASIL:


Uma análise das características da narrativa do pastor Silas Malafaia presentes nos
vídeos do Instagram no contexto da CPI da Pandemia

Niterói
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA

MARCELLE DO SOUTO PEREIRA

POVO ABENÇOADO DO BRASIL:


Uma análise das características da narrativa do pastor Silas Malafaia presentes nos
vídeos do Instagram no contexto da CPI da Pandemia

Trabalho de conclusão de curso apresentado em


27 de setembro de 2021, como requisito parcial
para a obtenção de grau de bacharel em Estudos
de Mídia pela Universidade Federal Fluminense.

Orientador acadêmico:
Profº. Drº. Afonso Albuquerque

Niterói
2021
MARCELLE DO SOUTO PEREIRA

POVO ABENÇOADO DO BRASIL:


Uma análise das características da narrativa do pastor Silas Malafaia presentes nos
vídeos do Instagram no contexto da CPI da Pandemia

Trabalho de conclusão de curso apresentado em


xx de setembro de 2021, como requisito parcial
para a obtenção de grau de bacharel em Estudos
de Mídia pela Universidade Federal Fluminense.

Niterói, ____ de setembro de 2021.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________
Profº. Drº. Afonso Albuquerque (Orientador Acadêmico)

______________________________________________________
Profª. Drª. Ariane Holzbach (Avaliadora)

______________________________________________________
Profª. Mª. Gisele Rangel Maia (Avaliadora)
Aos meus pais, meus apoiadores, minha base e
meu sustento até aqui. Muito obrigada!
Todos querem possuir a verdade. E para possuir
a verdade é preciso que se a engaiole. E para
engaiolar a verdade é necessário engaiolar a
liberdade e o pensamento
(Rubem Alves)
AGRADECIMENTOS

Não foi fácil chegar até aqui, mas eu me sinto extremamente feliz e realizada por ter
conseguido, principalmente neste período tão difícil, cheio de perdas e incertezas. Escrevo
com lágrimas de emoção, gratidão e orgulho.

Quero agradecer a Deus pelo sustento e pela saúde, ter fé e esperança me ajudaram em vários
momentos que eu achei que não conseguiria.

Obrigada mãe e pai, vocês me acolheram quando mais precisei, foram a minha base e força
propulsora para eu chegar até aqui. Vocês me deram o mais importante: amor. Eu dedico esse
diploma a vocês.

Ao meu irmão, Marcos Vinicius, e aos meus familiares, pessoas fundamentais na minha vida e
na minha história.

Aos meus grandes amigos e amigas, obrigada pela amizade, pela parceria, pela presença e
pelo apoio. Vocês são essenciais na minha vida.

À Universidade Federal Fluminense, por contribuir para a minha formação, pelo


conhecimento, pelas experiências e amizades construídas. Viva a universidade pública!

Ao corpo docente de Estudos de Mídia, que contribuiu de forma excepcional para o meu
conhecimento, expansão dos meus horizontes e para o meu pensamento crítico e social.
Obrigada por me tirar da zona de conforto e me fazer uma pessoa melhor. Em especial,
agradeço aos professores: Afonso Albuquerque, Ana Enne e Ariane Holzbach.

Obrigada novamente, Afonso, meu orientador, pela paciência, pelos conselhos e por ter
acolhido o meu projeto.

Finalmente, agradeço a todos que direta ou indiretamente passaram pela minha trajetória e
que agregaram de alguma forma para a minha formação acadêmica, profissional e pessoal.
RESUMO

A pesquisa se propõe analisar as características da narrativa do líder e pastor evangélico Silas


Malafaia, em seu perfil da rede social Instagram, no contexto da CPI da Pandemia. O objetivo
maior é compreender o papel estratégico do Malafaia enquanto líder formador de opinião,
pastor e influenciador midiático, e de que forma ele utiliza o seu papel para influenciar os seus
fiéis em assuntos de interesse social como a política. Para isso, têm-se como corpus da
análise 22 vídeos extraídos do Instagram entre os dias 15 de abril e 22 de julho. Em função da
centralidade do discurso religioso no Brasil, pastores influentes como Silas Malafaia, que
possuem milhões de seguidores espalhados pela internet, ganham uma amplificação de suas
vozes e peso em seus discursos. A fim de um melhor entendimento, buscou-se compreender
quem são os evangélicos pentecostais e suas características, uma vez que é a vertente que
mais cresce e conquistou visibilidade no Brasil. De posse dessas informações, procurou-se,
em seguida, apresentar um panorama da presença dos evangélicos na política a partir da
redemocratização e como eles passaram de “crente não se mete em política" para o lema
“irmão vota em irmão”. Por último, foi realizada uma breve discussão sobre mídia e religião
para então entrarmos nos resultados da pesquisa. Foi possível perceber que o Malafaia se
utiliza de uma estratégia narrativa-argumentativa religiosa para discorrer sobre o tema dos
seus vídeos. Além do seu tom sempre muito incisivo e da segurança demonstrada em suas
declarações, que confere credibilidade aos que o assistem, há uma estratégia narrativa de se
conectar com os fiéis por meio de jargões religiosos, orações e uma fala política que se
confunde com discurso religioso.

Palavras-chave: Pentecostais. Política. Silas Malafaia.Redes Sociais.


ABSTRACT

The research aims to analyze the characteristics of the narrative of the Evangelical leader and
pastor Silas Malafaia, in his profile on the social network Instagram, in the context of the CPI
of the Pandemic. The main objective is to understand Malafaia's strategic role as an opinion
maker, pastor and media influencer, and how he uses his role to influence his faithful in
matters of social interest such as politics. For this, we have as corpus of analysis 22 videos
extracted from Instagram between the 15th of April and the 22nd of July. Due to the centrality
of the religious discourse in Brazil, influential pastors like Silas Malafaia, who have millions
of followers spread over the internet, gain an amplification of their voices and weight in their
speeches. In order to have a better understanding, we sought to understand who the
Pentecostal Evangelicals are and their characteristics, since it is the trend that has grown the
most and has gained visibility in Brazil. With this information in hand, we then tried to
present an overview of the presence of evangelicals in politics after the redemocratization
process and how they went from “a believer not involved in politics” to the motto “brother
votes for brother”. A brief discussion about media and religion was held, so we could enter
the research results. It was possible to notice that Malafaia uses a religious
narrative-argumentative strategy to discuss the theme of its videos. from the security
demonstrated in its statements, which gives credibility to those who watch it, there is a
narrative strategy of connecting with the faithful through religious jargon, prayers and
political speech that is confused with religious speech.

Keywords: Pentecostals. Policy. Silas Malafaia. Social Networks.


LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Distribuição dos 22 vídeos publicados entre 27 de abril e 15 de julho de 2021


no perfil do Silas Malafaia no Instagram
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Feed do perfil do Instagram do pastor Silas Malafaia


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………...11
2. BREVE HISTÓRICO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO PENTECOSTAL NO
BRASIL……………………………………………………………………………....14
2.1. Sobre os evangélicos…………………………………………………..………....14
2.2. As três ondas do pentecostalismo no Brasil…………………………...………....16
2.3. Os dois pilares que sustentam o neopentecostalismo no Brasil: a Teologia da
Prosperidade e a Teologia do Domínio……………………………………………….21
2.3.1. A Teologia da Prosperidade…………………………………………………....21
2.3.2. A Teologia do Domínio…………………….…………………………………..24
3. EVANGÉLICOS E POLÍTICA……...………...…………..…………….………....28
3.1. De “crente não se mete em política” para “irmão vota em irmão”........................28
3.2. Cresce o acirramento das competições no campo religioso……………………...30
3.3. O movimento de “esquerdização” da política evangélica, o crescimento dos
evangélicos no Brasil e os primórdios da bancada evangélica……………………….34
3.4. As mobilizações de 2013 e o congresso mais conservador desde 1964…………41
3.5. O impeachment da presidenta Dilma Roussef em nome de Deus e da família e a
eleição de Jair Messias Bolsonaro…………………………………………………....44
4. MÍDIA E RELIGIÃO………………………………………………………..……...48
4.1. Religião midiatizada……………………………………………………………..48
4.2. A estrutura do Instagram………………………………………………………....49
4.3. Silas Malafaia no Instagram……………………………………………………...50
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………….56
6. REFERÊNCIAS……………………………………………………………………..57
1 INTRODUÇÃO

“Meu irmão foi o terceiro deputado mais eleito, com 135 mil votos. Com a minha
imagem. Eu ajudei a eleger 3 federais aqui no Rio. Eu fui o único cara, na eleição
passada a vereador no Rio de Janeiro a transferir voto para outra pessoa. Ninguém
conseguiu, nem Wagner Montes. Wagner Montes teve 510 mil votos. Foi o deputado
estadual mais votado. Não conseguiu eleger o filho dele vereador. Eu peguei um
jovem da minha igreja, ilustríssimo desconhecido e foi o 7º mais votado na cidade.
Eu quero exercer influência e é o que eu faço. Eu sou pastor há 35 anos. Há 30 anos
eu marco posição. Agora com o crescimento dos evangélicos eu estou aparecendo na
mídia. Não sou o pastor mais influente, nem o dono da verdade. Mas tenho uma
certa influência.” (MALAFAIA, 2014)

Esta foi uma entrevista concedida pelo pastor Silas Malafaia para a Agência Pública1,
no qual ele reconhece o peso da sua figura enquanto pastor e admite querer exercer influência,
muito por conta do crescimento dos evangélicos e pela sua visibilidade na mídia. Os
evangélicos, hoje, podem ser considerados atores importantes na arena política. Segundo
dados do último Censo Demográfico, realizado em 2010 pelo IBGE, ocorreu um crescimento
de 61,45% dos evangélicos no Brasil. Em 2000, 15,4% da população se declarava evangélica.
Em 2010, o percentual avançou para 22,2%. Já em 2020, pesquisa Datafolha2 revelou que
31% dos brasileiros se afirmavam evangélicos. Em uma projeção linear, o doutor em
Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), prevê que em 2036 os evangélicos serão
40,3% da população, ultrapassando os católicos.
Com grande capacidade de mobilização popular, líderes e instituições religiosas detém
credibilidade para além dos assuntos teológicos e perpassam todas as esferas sociais chegando
inclusive na política. Não obstante, a igreja figura entre as instituições com maior grau de
confiança3 pelos brasileiros, ganhando do congresso nacional, da imprensa e da justiça, o que
reverbera no nível de confiança e influência do discurso desses líderes, tal qual o pastor Silas
Malafaia. Assim sendo, o problema a ser discutido nesta pesquisa não é sobre a relevância dos
evangélicos no cenário político, mas o nível de influência de lideranças evangélicas que

1
Disponível em: https://apublica.org/2014/09/o-estopim-da-crise/ . Acesso em 25 de ago. 2021.
2
Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-
e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml . Acesso em 25 de ago. 2021.
3
Disponível em:
http://conteudo.imguol.com.br/blogs/52/files/2015/07/pesquisa-cntmda-128-relatorio-sintese.pdf . Acesso em 24
de ago. 2021.
11
utilizam da sua credibilidade enquanto líderes (pastores, bispos e etc) para opinar sobre
assuntos e pautas relevantes socialmente falando utilizando uma perspectiva religiosa. O
quanto dessa influência não vem pelo tipo de discurso e narrativa, que automaticamente
tornam-se sagradas e inquestionáveis?
Interessa-me, portanto, compreender as minuciosidades da narrativa religiosa dentro
de discursos sobre política. O objeto de estudo é o pastor Silas Malafaia, com recorte para os
vídeos publicados dentro do período da CPI da Pandemia, que compreende os dias 27 de abril
e 15 de julho de 2021, em seu perfil no Instagram. A igreja no cenário brasileiro tem um
poder muito forte de gerar valores e determinar regras morais e sociais que afetam toda a
sociedade. Por isso, a pesquisa se torna relevante pelo contexto que estamos vivenciando, em
que há claramente um avanço de pautas mais conservadoras, que visam frear avanços sociais
já conquistados. Isso ocorre por meio de políticos declaradamente evangélicos e defensores da
família tradicional, uma bancada evangélica barulhenta e uma igreja que se manifesta de
forma conservadora, limitando qualquer tipo de pauta progressista. Além disso, a delimitação
do período se dá pela importância da CPI da Pandemia em um momento que o Brasil é um
dos piores países na gestão da pandemia e se investiga o quanto o presidente Bolsonaro tem
culpa diante de mais de 500 mil mortes, com atrasos comprovados na compra de vacinas que
poderiam ter evitado muitas mortes, discurso anti ciência e antivacina. Em contrapartida,
temos uma parcela da igreja evangélica que endossa e defende o posicionamento do atual
presidente, como mostrarei mais à frente na pesquisa.
A escolha do Instagram foi motivada pela presença ativa do pastor nas redes sociais,
pelo alcance que as mídias sociais oferecem, sua capilaridade e capacidade de ser eficiente e
funcional. Somente no Instagram o pastor tem uma forte presença com uma audiência de mais
de 3 milhões de seguidores. Mariano (2011, p. 251) destaca como os sujeitos políticos
contribuem para ocupação religiosa da esfera pública: fortalecendo “a instrumentalização
mútua entre religião e política” e legitimando e estimulando o ativismo político-partidário
destes grupos. As fronteiras se estenderam e hoje a igreja tem espaço em todas as mídias,
popularizando seu discurso e alcançando um número cada vez maior de pessoas.
Pessoalmente, a pesquisa é um grande desafio por ser um tema que me afeta
diretamente. Eu me tornei cristã evangélica aos 12 anos e passei toda a minha adolescência e
início da juventude dentro da igreja seguindo todas as regras e padrões morais definidos pela
instituição. E naquela época eu lidava muito bem com tudo isso, aceitava a narrativa de que
eu era uma pessoa santa (separada para Deus). De uns anos para cá, tenho questionado
bastante sobre diversos ensinamentos, doutrinas, e essa instrumentalização da religião no qual
12
se usa Deus para legitimar discurso de ódio e de preconceito, principalmente sobre questões
morais. Hoje, vejo uma parte da igreja tomando um caminho sombrio no qual eu não me
encaixo e fico me perguntando se eles realmente sabem qual é o Jesus que eles pregam, o
Deus que eu acredito é amor acima de todas as coisas. Amor, empatia e justiça. Ele jamais
revidaria o mal com o mal ou reforçaria o discurso de ódio para com as minorias ou qualquer
tipo de pessoa. Apesar de todos os questionamentos e das minhas reflexões, questionar algo
declarado “santo” continua sendo um grande desafio contra tudo o que eu cresci aprendendo,
e por isso a minha proposta é apontar trajetórias e um caminho histórico, demonstrando por
meio de pesquisas as minhas análises.
Assim sendo, a pesquisa se divide em três capítulos. No primeiro capítulo, farei um
breve histórico do movimento evangélico pentecostal no Brasil, apresentando as três ondas do
pentecostalismo brasileiro. Em seguida, destacarei os dois principais arcabouços teológicos
que embasam o neopentecostalismo em terras tupiniquim: a Teologia da Prosperidade e a
Teologia do Domínio, que são fundamentais para a compreensão da construção dos
evangélicos como atores políticos expressivos no Brasil, principalmente a partir da abertura
democrática, em 1987, até conquistarem voz e influência na agenda política do país.
No capítulo 2, o intuito é apresentar um panorama do envolvimento dos evangélicos
no cenário político brasileiro, como se deu esse início e crescimento, a partir da
redemocratização, em 1986, quando a atuação política se transforma a partir da entrada
oficial de representantes pentecostais, sobretudo da Assembleia de Deus, mas também das
igrejas Quadrangular e Universal do Reino de Deus. A ideia foi apresentar um panorama
sociológico e as articulações políticas que foram desenvolvidas com objetivos de
instrumentalização da política.
Por fim, no capítulo 3, entramos no objeto, mas antes no eu faço uma breve
abordagem sobre mídia e religião, apresento a estrutura da rede social Instagram e apresento a
os resultado da pesquisa, cujo objetivo é compreender as características presentes na narrativa
dos vídeos produzidos pelo pastor Silas Malafaia, o seu papel estratégico enquanto pastor e
influenciador midiático, e qual é a performance utilizada para influenciar o seu público alvo,
no caso os evangélicos, em temas relevantes de cunho político.

13
2 BREVE HISTÓRICO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO PENTECOSTAL NO
BRASIL

“Religiões: uma enorme feira onde se vendem pássaros


engaiolados de todos os tipos”.

Rubem Alves

A presença dos evangélicos na política já é um fenômeno estudado por diversos


pesquisadores (FRESTON, 1993, MARIANO, 2014), o que demonstra a importância desta
classe para o cenário político/social/religioso no país e consequentemente nos efeitos reais na
conjuntura brasileira.
Neste capítulo, farei uma breve contextualização histórica do movimento evangélico
pentecostal no Brasil apresentando as três ondas do pentecostalismo brasileiro e destacando
suas principais características desde o seu surgimento, a partir da década de 1910. Em
seguida, abordarei acerca dos dois principais arcabouços teológicos que embasam o
neopentecostalismo em terras tupiniquim: a Teologia da Prosperidade e a Teologia do
Domínio, que são fundamentais para a compreensão da construção dos evangélicos como
atores políticos expressivos no Brasil, principalmente a partir da abertura democrática, em
1987.

2.1 Sobre os evangélicos

Os evangélicos são divididos entre 4históricos e pentecostais. Segundo o sociólogo


Paul Freston (1993), a diferença mais importante entre as igrejas históricas e pentecostais é a
crença nos dons do Espírito Santo. Cumpre esclarecer, que o termo “evangélicos” recobre o
campo religioso formado pelas denominações cristãs nascidas na e descendentes da Reforma
Protestante européia do século XVI (MARIANO, 2014). O pentecostalismo, por sua vez, é
considerado o terceiro momento do protestantismo no Brasil.

Nascido nos Estados Unidos no começo deste século, o pentecostalismo,


herdeiro e descendente do metodismo wesleyano e do movimento holiness,

4
As igrejas protestantes históricas são subdivididas entre protestantismo de imigração - pioneira na
implementação do protestantismo no Brasil no século XIX representada pela igreja Luterana - e missionário -
que é considerado o segundo momento do protestantismo no Brasil com a vinda das missões norte-americanas,
cujas denominações tradicionais fundadas foram: Anglicana, Congregacional, Metodista, Presbiteriana e Batista.
14
distingue-se do protestantismo, grosso modo, por pregar, baseado em Atos 2, a
contemporaneidade dos dons do Espírito Santo, dos quais sobressaem os dons de
línguas (glossolalia), cura e discernimento de espíritos. Para simplificar, os
pentecostais, diferentemente dos protestantes históricos, acreditam que Deus, por
intermédio do Espírito Santo e em nome de Cristo, continua a agir hoje da mesma
forma que no cristianismo primitivo, curando enfermos, expulsando demônios,
distribuindo bênçãos e dons espirituais, realizando milagres, dialogando com os seus
servos, concedendo infinitas amostras concretas de Seu supremo poder e inigualável
vontade. (MARIANO, 2014, p. 10)

No Brasil, Freston foi o primeiro a dividir o movimento pentecostal em ondas, a partir


de um recorte histórico-institucional e da análise da dinâmica do pentecostalismo brasileiro:

O pentecostalismo brasileiro pode ser compreendido como a história de três ondas


de implantação de igrejas. A primeira onda é a década de 1910, com a chegada da
Congregação Cristã (1910) e da Assembléia de Deus (1911) (...). A segunda onda
pentecostal é a dos anos 50 e início de 60, na qual o campo pentecostal se fragmenta,
a relação com a sociedade se dinamiza e três grandes grupos (em meio a dezenas de
menores) surgem: a Quadrangular (1951), Brasil Para Cristo (1955) e Deus é Amor
(1962). O contexto dessa pulverização é paulista. A terceira onda começa no final
dos anos 70 e ganha força nos anos 80. Suas principais representantes são a Igreja
Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus
(1980). Novamente essas igrejas trazem uma atualização inovadora da inserção
social e do leque de possibilidades teológicas, litúrgicas, éticas e estéticas do
pentecostalismo. O contexto é fundamentalmente carioca. (FRESTON, 1993, p. 66)

Importante ressaltar que essas divisões do pentecostalismo em três ondas nos auxiliam
a pensar de forma metodológica, segmentada e ordenada a fim de compreendermos o caminho
percorrido pelos evangélicos, suas transformações internas e sua consequente abertura para o
cenário político brasileiro. Tanto os tipos ideais como todo e qualquer aparato conceitual não
correspondem a retratos literários ou fidedignos da realidade, nem a traduzem plenamente.
São instrumentos toscos e generalizantes pelos quais procuramos pensá-la, ordená-la e
compreendê-la (MARIANO, 2014).

Práticas rituais, correntes teológicas, técnicas evangelísticas não respeitam fronteiras


denominacionais nem circulam somente numa determinada vertente evangélica. O
neopentecostalismo não só tende a exercer como já vem exercendo influência no
pentecostalismo clássico e deuteropentecostalismo. (MARIANO, 2014, p.47)

15
Para fins da pesquisa, utilizarei a classificação do pentecostalismo aperfeiçoada por
por Mariano (2012), o qual compreende que o pentecostalismo no Brasil está dividido em três
ondas: o pentecostalismo clássico, que surgiu na década de 1910, deuteropentecostalismo5,
que teve seu início entre as décadas de 50 e 60, e a terceira onda chamada de
neopentecostalismo, que surgiu a partir da década de 70.

2.2 As três ondas do pentecostalismo no Brasil

O pentecostalismo clássico domina de forma absoluta durante os anos de 1910 e 1950.


Este período representa o início da implantação do pentecostalismo no Brasil, com a fundação
da Congregação Cristã (São Paulo, 1910) e da Assembléia de Deus (Belém, 1911), até sua
dispersão para todo o território nacional.

O pentecostalismo brasileiro está ligado de modo direto ao movimento de Los


Angeles. Um sueco de nome Daniel Berg, membro da igreja de Durham, veio para o
Brasil como missionário e, após provocar cisão em uma igreja Batista em Belém do
Pará, fundou, junto com seu compatriota Gunnar Vingrem, as Assembléias de Deus
em 1911. Luigi Francescon, italiano valdense emigrado para os Estados Unidos,
pertencente à Igreja Presbiteriana Italiana de Chicago e influenciado por W. H.
Durham, a cujas reuniões comparecia, afirmou ter recebido o dom de línguas em 25
de agosto de 1907. Por revelação, segundo ele, viajou para a América do Sul a fim
de trazer a nova mensagem. Esteve primeiro em Buenos Aires, depois em Santo
Antônio da Platina, Paraná, e, sem seguida, em São Paulo, onde entre italianos
fundou a atual segunda maior igreja pentecostal no país, a Congregação Cristã no
Brasil. (MENDONÇA, 2002, p. 48)

“Ambas caracterizam-se por um ferrenho anticatolicismo, por enfatizar o dom de


línguas, a crença na volta iminente de Cristo e na salvação paradisíaca e pelo comportamento
radical sectarismo e ascetismo de rejeição do mundo exterior” (MARIANO, 2014, p.29).

Assim, o caráter ascético e separatista do pentecostalismo clássico contribuiu


consideravelmente para o estabelecimento de uma ética de retraimento e não
envolvimento social dos pentecostais a mudanças internas que poderiam alterar seu
5
Ricardo Mariano utiliza essa nomenclatura por considerar que a segunda onda mantém o núcleo teológico do
pentecostalismo clássico, mas surge 40 anos depois com distinções evangelísticas e ênfases doutrinárias próprias.
Ele opta por utilizar o radical deutero (presente no título do quinto livro do pentateuco), que significa segundo ou
segunda vez, por considerar ser apropriado para nomear a segunda vertente pentecostal.
16
modo de discernir as coisas espirituais. A estratégia, portanto, era manter-se cada
vez mais distante daquilo que acarretaria essa transformação. Isso fez deles uma
comunidade sectária que procurava viver a partir de suas próprias convicções, mas
também gerou comportamentos aparentemente alienáveis quanto aos problemas
sociais e políticos que os circundavam. (FERREIRA, 2014, p.52).

Estes primeiros 40 anos, os protestantes apresentaram características específicas de


afastamento do mundo e de tudo que representava o profano, pois eles “estavam no mundo”,
mas não eram “do mundo”, e, por isso, resistiram a tudo que era considerado “mundano”,
pois não podiam se deixar levar pelos valores terrenos, já que eles vislumbravam um lugar
que não dependia do material. Em função disso, ficaram alheios à vida social, à cultura social
e à política. Ser crente neste período implicava severos sacrifícios em troca do conforto
espiritual, da salvação e da convivência da comunidade. Diante das tentações do mundo, e das
necessidades de se manter imaculado, os pentecostais acabaram se fechando numa escolha de
não contaminação com as coisas do mundo. (MARIANO, 2014)

Este comportamento levava esses fiéis a adotar um estilo de vida embasado numa
ética de santidade considerada necessária ao usufruto dessas bênçãos. Para isso,
além de desvalorizar o mundo, se investiam de um modo de vida voltado
exclusivamente para a adoração divina, procurando viver um modelo de santidade
embasado na tradição bíblica e livre de quaisquer interferências profanas.
(FERREIRA, 2014, p.48)

A despeito deste quase um século de existência, Mariano ressalta que:

Ambas ainda mantêm bem vivos a postura sectária e o ideário ascético. Apesar de
pretender manter-se em seu tradicionalismo, a Congregação Cristã vem sofrendo
pequenas alterações na área de usos e costumes e em sua composição social. Já a
Assembléia de Deus, desde 1989 cindida em duas denominações, mostra-se mais
flexível e disposta a acompanhar certas mudanças que estão se processando no
movimento pentecostal e, apesar da defasagem, na sociedade. Seu recente e
deliberado ingresso na política partidária e na TV, em busca de poder, visibilidade
pública e respeitabilidade social, ao lado de outras transformações internas, sinaliza
de modo irrefutável sua tendência à acomodação social, à dessectarização.
(MARIANO, 2014, p. 30)

17
A segunda onda do pentecostalismo no Brasil, classificada de deuteropentecostalismo
por Mariano (2014), teve início a partir da década de 50, na cidade de São Paulo, com o
trabalho missionário de dois ex-atores de filmes de faroeste do cinema americano, Harold
Williams e Raymond Boatright. O movimento, então, se espalhou por meio de tendas
armadas em terrenos baldios em São Paulo, e em 1953, como resultado do movimento,
organizou-se no Brasil com a denominação de igreja do Evangelho Quadrangular.
(MENDONÇA, 2002). Eles trouxeram para o Brasil o evangelismo de massa centrado na
mensagem da cura divina (MARIANO, 2014). Assim, os deuteropentecostais foram
pioneiros na utilização do rádio para difundir suas pregações, e organizam o evangelismo
itinerante em tendas de futebol, teatro e cinemas. Esses métodos inovadores e eficientes
causaram escândalo e reações adversas por toda parte.

Mas, ao chamarem a atenção da imprensa, que os ridicularizava e os acusava de


charlatanismo e curandeirismo, conseguiram pela primeira vez dar visibilidade a este
movimento religioso no país. Com o êxito de sua missão, provocaram a
fragmentação denominacional do pentecostalismo brasileiro, que, até então,
praticamente contava só com a Assembléia de Deus e Congregação Cristã.
(MARIANO, 2014, p. 30).

O movimento de cura divina da Cruzada Nacional de Evangelização da Igreja do


Evangelho Quadrangular foi o rastilho de pólvora da explosão pentecostal no Brasil e
envolveu diversos líderes e pastores leigos de diversas denominações (MENDONÇA, 2012).
Assim, surgiram as igrejas Brasil Para Cristo (São Paulo, 1955), Deus é Amor (São Paulo,
1962), Casa da Benção (Belo Horizonte, 1964) e outras de menor porte.

A ênfase teológica no dom da cura divina, a partir dos anos 50, foi crucial para a
aceleração do crescimento e diversificação institucional do pentecostalismo
brasileiro. As maiores e mais representativas denominações da segunda onda,
citadas acima, continuam a enfatizá-la, visto que a cura constitui um de seus mais
poderosos recursos proselitistas. (MARIANO, 2014, p.31)

No que se refere à teologia, Mariano aponta que as duas primeiras ondas pentecostais,
apresentam diferenças apenas nas ênfases que cada qual confere a um ou outro dom do
Espírito Santo. A primeira enfatiza o dom de línguas6, e a segunda, o dom de cura. Ele aponta
6
De acordo com Ricci, “a glossolalia encarna um fenômeno catalisador de uma complexidade de relações
simbólicas, portanto culturais, que se processam no interior do Pentecostalismo como uma forma de oração
extática reconhecida pelas Igrejas Pentecostais como o “dom de línguas ” (2007, p. 55).
18
que existem diferenças entre as teologias, mas que dizem respeito à ênfase aos diferentes dons
do Espírito Santo, e esclarece que:

Esta relativa homogeneidade teológica se deve ao fato de a Quadrangular, que


originou a segunda onda, ter nascido nos EUA com o mesmo corpo doutrinário
trazido pelos missionários estrangeiros que aqui fundaram a Assembléia de Deus e a
Congregação Cristã. A segunda onda constitui, portanto, um desdobramento
institucional tardio, em solo brasileiro, do pentecostalismo clássico norte-americano.
(MARIANO, 2014, p.31)

Esta divisão entre a primeira e segunda onda se dá principalmente pelo recorte


histórico-institucional, pois elas não apresentam diferenças teológicas significativas entre
ambas. Histórico porque o deuteropentecostalismo se estabelece somente após 40 anos depois
do pentecostalismo clássico, e institucional por conta de algumas distinções evangelísticas e
ênfases doutrinárias próprias. Já no caso do neopentecostalismo (terceira vertente do
pentecostalismo no Brasil), as distinções são “de caráter doutrinário e comportamental, suas
arrojadas formas de inserção social e seu ethos de afirmação do mundo” (MARIANO, 2014).
A partir da segunda metade da década de 70, começa a terceira onda do
pentecostalismo brasileiro, o neopentecostalismo.

A Igreja de Nova Vida, fundada em 1960, no Rio de Janeiro, pelo missionário


canadense Robert McAlister, como escreveram Freston (1993: 96), Hortal (1994: 1)
e Azevedo Júnior (1994: 7), está na origem das igrejas Universal do Reino de Deus
(Rio, 1977), Internacional da Graça de Deus (Rio, 1980) e Cristo Vive (Rio, 1986).
Estas três, ao lado da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Goiás, 1976),
Comunidade da Graça (São Paulo, 1979), Renascer em Cristo (São Paulo, 1986) e
Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo (São Paulo, 1994), constam entre as
principais igrejas surgidas no período. (MARIANO, 2014, p.32)

Embora a Igreja Universal mantenha certas práticas do deuteropentecostalismo, o seu


surgimento que justificou a criação das tipologias e classificações e são as diferenças e as
rupturas em relação às igrejas antecessoras que a identificaram como ponta-de-lança do
neopentecostalismo (MARIANO, 2014). Apesar das tipologias dos pesquisadores como Oro
(1992), Azevedo (1994), Bittencourt (1991) e Freston (1993) não fazerem distinção entre as
igrejas da segunda e terceira ondas, todas priorizam em suas classificações a importância da
Igreja Universal do Reino de Deus como marco para o neopentecostalismo. A IURD

19
conseguiu se expandir de forma rápida, diversificou substancialmente sua base social e
ocupou espaços sociais antes impensáveis para os protestantes no Brasil (FRESTON, 1993).
As igrejas da terceira onda enfatizam a libertação dos demônios, enquanto a primeira onda
privilegia as línguas estranhas e a segunda, a cura divina. (MARIANO, 2014).

Acerca do contexto socioeconômico dos novos pentecostais, vale destacar que:

Em contraste com a segunda onda de igrejas paulistas fundadas por migrantes de


nível cultural simples, a terceira onda é sobretudo de igrejas cariocas fundadas por
pessoas citadinas de nível cultural um pouco mais elevado e pele mais clara.
Iniciando-se no contexto de um Rio de Janeiro marcado pela decadência econômica,
pelo populismo político e pela máfia do jogo, o novo pentecostalismo se adapta
facilmente à cultura urbana influenciada pela televisão e pela ética yuppie.
(FRESTON, 1993, p. 93)

Sobre as características do neopentecostalismo, Ricardo Mariano destaca três aspectos


fundamentais: 1) exacerbação da guerra espiritual contra o Diabo e seu séquito de anjos
decaídos; 2) pregação enfática da Teologia da Prosperidade; 3) liberalização dos
estereotipados usos e costumes de santidade. Ainda há uma quarta característica importante,
ressaltada por Oro (1992):

É o fato de elas se estruturarem empresarialmente. E não é só isso. Elas


verdadeiramente agem como empresas e, pelo menos algumas delas, possuem fins
lucrativos. Resulta destas características a ruptura com os tradicionais sectarismo e
ascetismo pentecostais. Essa ruptura com o sectarismo e o ascetismo puritano
constitui a principal distinção do neopentecostalismo. E isso representa uma
mudança muito grande nos rumos do movimento pentecostal. A ponto de se poder
dizer que o neopentecostalismo constitui a primeira vertente pentecostal de
afirmação do mundo. (MARIANO, 2014, p.36)

Assim, fica claro que para uma igreja ser considerada neopentecostal, a partir de
meados da década de 70, utiliza-se como referência a relação de contraste com as duas
primeiras vertentes da primeira onda do pentecostalismo brasileiro. E quanto mais próxima
das características do neopentecostalismo ela tiver, mais ela estará dentro do ethos e do modo
de ser das igrejas que compõem a vertente neopentecostal. Ou seja, menos ascéticas, e
sectárias, mais liberais e próximas nas questões “extra-igreja”, de ordem empresarial, política,

20
cultural, dentre outras, principalmente naquelas tão rejeitadas pelas igrejas pentecostais
clássicas. (MARIANO, 2014).
Quanto à distintividade teológica dos neopentecostais, é importante destacar dois
problemas: o primeiro é que entre as igrejas pentecostais não existe homogeneidade teológica;
e o segundo problema (esse é de extrema importância, pois direciona os próximos passos
desta pesquisa, ao inserir a Igreja Assembleia de Deus dentro dentro do processo de
“neopentecostalização”) se refere à crescente influência exercida pelas igrejas
neopentecostais, muito por conta do seu sucesso e crescimento e presença na mídia. Assim, as
igrejas pentecostais começam a se abrir e incorporar características e práticas das igrejas
neopentecostais porque também querem visibilidade e crescimento. A influência das últimas e
a disposição das primeiras de “incorporar os modismos teológicos e rituais bem-sucedidos,
deverão, rapidamente, diluir muitas diferenças agora existentes entre elas” (MARIANO,
2014).

2.3 Os dois pilares que sustentam o neopentecostalismo no Brasil: a Teologia da


Prosperidade e a Teologia do Domínio

No Brasil, há dois pilares que sustentam o neopentecostalismo, são eles a Teologia da


Prosperidade e Teologia do Domínio, também conhecida como “guerra santa”. Para
compreendermos o processo de entrada dos evangélicos na política, é fundamental a
elucidação destes dois princípios que são os blocos de construção da terceira onda do
pentecostalismo no Brasil.

2.3.1 A Teologia da Prosperidade

A Teologia da Prosperidade nasce nos EUA na década de 40, mas só se constitui como
movimento doutrinário no decorrer dos anos 70, sob a liderança de Kenneth Hagin,
evangelista, batista, crente da cura divina e pregador da Confissão Positiva7. Muitas vezes o
versículo bíblico “Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e
tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu”, do Evangelho de Mateus é usado para

7
O termo Confissão Positiva refere-se literalmente à crença de que os cristãos detêm poder - prometido nas
Escrituras e adquirido pelo sacrifício vicário de Jesus de trazer à existência, para o bem ou para o mal, o que
declaram, decretam, confessam ou determinam com a boca em voz alta. Para Kenyon Hagin e seus seguidores, o
que é falado com fé torna-se divinamente inspirado. Em suma, as palavras ditas com fé compelem Deus a agir.
(MARIANO, 2014, p.152).
21
fundamentar a Teologia da Prosperidade (DIP, 2018, p.82). Saúde perfeita, prosperidade
material, triunfo sobre o Diabo e vitória sobre todo e qualquer sofrimento, eis a promessa
desses pregadores (MARIANO, 2014, p.152).

Orar é determinar resultados. Determinamos resultados quando oramos obedecendo


à palavra de Deus. A gente leva ao pai, em oração, o nosso problema e diz a Ele que
tal problema já foi resolvido em nome de Jesus, que Ele assim o fará. Nossa oração
só pode trazer resultados se assim o fizermos. Tudo aquilo que você determinar com
confiança, com fé, em nome de Jesus, será realizado. A enfermidade, a miséria, tudo
será solucionado por Deus (...) Deus já fez todas as coisas e nos deu de antemão.
Creia que já recebeu tudo aquilo que quer, porque Deus já nos deu” , pastor Manuel,
Cristo Salva, 10.8.92. ( MARIANO, 2014, p.155).

No Brasil, o movimento iniciou sua trajetória no final dos anos 70. A IURD é a
principal porta de entrada do movimento no Brasil (FRESTON, 1993). Diante das novas
demandas sociais e mudanças que ocorriam na sociedade, e como justificativa para que os
evangélicos fossem autorizados a desfrutar do que o mundo poderia oferecer, além do fato de
que havia uma parcela dos neopentecostais que dispunham de condições econômicas para
então se beneficiarem da sociedade de consumo, a igreja evangélica precisava alterar algumas
de suas concepções teológicas. Houve, portanto, a percepção de que “seria muito difícil para a
igreja competir com os apelos sedutores da sociedade de consumo (...).Ou a igreja se
mantinha ascética e sectária, aumentando sua desvantagem, ou teria de fazer concessões”
(DIP, 2018, p.79).

Essa doutrina, reinterpretando ensinos e mandamentos do Evangelho, encaixou-se


como uma luva tanto para a demanda imediatista de resolução ritual de problemas
financeiros e de satisfação de desejos de consumo dos fiéis mais pobres, a grande
maioria, como para a demanda (infinitamente menor) dos que almejam legitimar seu
modo de vida, sua fortuna e felicidade. Esses, agora, podiam se escudar nas novas
concepções bíblicas da Teologia da Prosperidade em vez de terem de recorrer, para
seu tormento, à teologia (cf. Mateus 19,24; Marcos 10,25 e Lucas 18,25) que
discorria a respeito da impossibilidade de o rico entrar no reino dos céus tal como a
de o camelo atravessar o buraco de uma agulha. (MARIANO, 2014, p.149)

Antes da Teologia da Prosperidade, conforme apontou Andrea Dip (2018), a maioria


dos cristãos acreditava que uma vida de obediência aos princípios bíblicos, de dificuldades e
sofrimento terreno trariam a recompensa da eternidade com Cristo. Tudo que envolvia bem

22
materiais, luxo e as coisas “do mundo” afastavam o crente de Deus. No entanto, a teologia da
prosperidade chega para “subverter radicalmente o velho ascetismo pentecostal”, tornando o
aqui e o agora o lugar de extrema urgência para serem desfrutados e experimentados com
todas as bênçãos divinas de prosperidade, bens materiais e cura divina. “Em vez de glorificar
o sofrimento, tema tradicional no cristianismo, mas definitivamente fora de moda, enaltece o
bem-estar do cristão no mundo''. (FRESTON, 1993, p. 105-106). Assim, o discurso da
Teologia da Prosperidade alterou todo o ethos que norteava os pentecostais até então, ela
“promete prosperidade material, poder terreno, redenção da pobreza nesta vida”.

Ademais, segundo ela, a pobreza significa falta de fé, algo que desqualifica qualquer
postulante à salvação. Seus defensores dizem que Jesus veio ao mundo pregar o
Evangelho aos pobres justamente para que eles deixassem de ser pobres. Da mesma
forma, Ele veio pregar aos doentes porque desejava curá-los. Deus não é sádico, tem
grande prazer no bem-estar físico e na prosperidade material de seus servos. O
contrário não tem respaldo nem sentido bíblico. Os reais servos de Deus não são
nem nunca serão párias sociais. Durante muito tempo o Diabo obscureceu a visão
dos crentes a respeito destas verdades, mas agora, conscientes da ardileza satânica,
eles começam a tomar posse das promessas divinas. (MARIANO, 2014, p. 159)

A nova doutrina, conforme mencionado anteriormente, caminha de mãos dadas com a


Confissão Positiva e coloca nas mãos dos fiéis o papel de protagonista, aquele que tem o
direito de reivindicar e exigir a graça divina e a posse das bênçãos que são dele por direito.
Neste caso, percebe-se que Teologia da Prosperidade inaugurou uma nova forma de se
relacionar com Deus, no qual Deus seria impelido a disponibilizar todos os pedidos do fiel
que cumpriu a sua parte no “contrato” e a divindade então deveria fazer a parte dela de liberar
as bênçãos.

Depende somente do crente receber ou não as bênçãos que confessa. Qualquer


dúvida, por mínima que seja, manifesta quanto à realização do que confessou ou
decretou, impossibilita o recebimento da benção. Quanto mais irrealista for a
confissão, maiores os riscos do fiel duvidar de sua execução. Ainda que a
reivindicação de direitos impossíveis de obter por meio de esforço próprio constitua
enorme demonstração de fé, a demora em alcançar a graça e o descompasso
existente entre a crença e a realidade podem abalar a fé do crente. Uma fé capenga,
inevitavelmente será responsabilizada pelo fracasso da confissão. “Se duvidamos,
criamos uma confissão negativa e o pedido é destruído. Se uma pessoa, por
exemplo, afirma que está curada e mais tarde admite que a dor persiste, a segunda

23
admissão anula a primeira confissão e dá a Satanás o direito de infligir a dor”
(Pieratt, 1993:83). (MARIANO, 2014, p.156)

A TP ensina que a pobreza é resultado de falta de fé ou de ignorância. O princípio


básico da prosperidade é a doação financeira, entendida não como um ato de
gratidão ou devolução a Deus (como na teologia tradicional), mas como um
investimento. Devemos dar a Deus para que ele nos devolva com lucro. (FRESTON,
1994, p. 147)

Uma outra ênfase oferecida pela Teologia da prosperidade é a valorização da saúde do


corpo, ou seja, a preocupação com as enfermidades e a cura das doenças. Ser mais que
vencedor significa ser são e livre de qualquer doença porque o corpo saudável desfruta das
bênçãos oferecidas e resgatadas de Deus. A partir do neopentecostalismo, os cultos de “cura
divina” ganharam mais expressividade com igrejas fazendo campanhas e cultos específicos de
cura de doenças.

Toda essa sistematização indireta promoveu uma nova forma de ver as


denominações evangélicas, e estas neopentecostais. Elas deixaram, paulatinamente,
de ser reconhecidas como agências de “salvação” e passaram a ostentar agora o
termo “solução” (SHAULL, 1999). De fato, essas denominações passaram a receber
diariamente um público que, dentre as mais diversas demandas, buscavam a solução
para seus problemas financeiros, de saúde, emocionais e afins. Rapidamente, outras
denominações que ainda mantinham um discurso de salvação passaram também a
inserir em suas programações momentos de solução. Estariam aí os “cultos de
libertação” e “cultos da vitória”, comumente encontrados nas mais diversas
denominações pentecostais. Mesmo que nessas denominações a salvação ainda
esteja em alta, o que pode ocorrer é que essas religiões “oferecem um caminho de
salvação em situações de profunda crise humana” (SHAULL, 1999, p. 178). Com
isso, o sentido de salvação, apregoado pelo protestantismo e em seguida pelo
pentecostalismo clássico, passa a ser reinterpretado. Não se trataria mais de uma
salvação “deste” mundo, mas “para este” mundo. (FERREIRA, 2014, p.111-112)

2.3.2 Teologia do Domínio

“Não existe nada que esteja fora da ação demoníaca. No futebol, na política, nas artes
e na religião, nada escapa ao cerco do Diabo”. Essa frase, do missionário R. R. Soares, líder
da Igreja Internacional da graça de Deus, revela o sentido da Teologia do Domínio, cujo

24
princípio é o dualismo entre Deus e o Diabo e a luta que permeia os reinos material e
espiritual.

“Entre os neopentecostais encontramos não apenas o dualismo ‘Deus X Diabo’.


Acreditam também que o universo está dividido entre dois reinos: o reino espiritual
e o reino material. O reino espiritual é habitado por seres espirituais: Deus, Diabo,
anjos, demônios, em luta constante. O reino material é este nosso mundo, habitado
pelos homens e pelo restante da criação divina. É o campo de batalha da ‘guerra
espiritual’. É pelo seu domínio que se trava a guerra. E mais: ‘o reino espiritual é
mais real que o material’, dizem eles. O que ocorre neste mundo em que vivemos é
reflexo dos acontecimentos da ordem espiritual” (AZEVEDO JÚNIOR, 1994, p. 10)

Esta exacerbação da guerra espiritual e ênfase de enxergar a presença do Diabo em


todos os lugares são crenças que diferem teologicamente as igrejas neopentecostais do
pentecostalismo clássico, e, em menor grau, do deuteropentocostalismo.

Comparada às denominações das vertentes pentecostais precedentes, as igrejas


neopentecostais parecem ir um pouco mais longe na luta contra o mal. O fato é que
elas hipertrofiam a guerra entre Deus e o Diabo pelo domínio da humanidade. Para
tanto, defendem que o que se passa no “mundo material” resulta da guerra entre
forças divinas e demoníacas no “mundo espiritual”. Guerra que, segundo elas, não
está circunscrita apenas a Deus/anjos X Diabo/demônios. Os seres humanos
participam ativamente dessa guerra, mesmo que não tenham consciência disso. Mais
que isso: é deve primordial do cristão engajar-se no combate às forças das trevas
para realizar a obra divina e, desse modo, reverter as obras do mal cujo principal
objetivo consiste em desviar os homens do caminho estreito da salvação.
(MARIANO, 2003, p. 25)

Tais ações começaram a ganhar força principalmente com a Igreja Universal e a


Internacional da Graça de Deus, a partir da década de 1980, e foi denominada de “guerra
santa”. “Pela primeira vez, então, vê-se, por parte de cristãos, uma atitude frontal de
enfrentamento. Essa é a grande novidade (...). Do lado evangélico temos um verdadeiro
exército de ‘salvos’ com um projeto bem definido de expansão” (MARIANO, 2014, p.111),
2014). Esse enfrentamento veio de encontro às religiões de matrizes africanas consideradas,
de acordo com Macedo (Bispo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus), obra e reduto
diabólicos, antros de manifestação de “estupidez, ignorância e idolatria” e compara seus ritos
com “lodo”, “imundície”, “lamaçal”.

25
Afirma que são frequentadas por pessoas ingênuas e sinceras, mas sobretudo por
"prostitutas, homossexuais e lésbicas" [possuídas por pomba-giras], por “ladrões,
criminosos, contraventores, pederastas e gente desta estirpe” [para “fechar o corpo”],
e por “pessoas viciadas em tóxico, em bebidas alcóolicas, em cigarro ou jogo”
[possuídas por “zé pilintras”]. Assim, “desenvolver-se no espiritismo, significa
tornar-se totalmente submisso aos demônios”. As consequências para seus adeptos
são nefastas, pois “essa religião que está tão popular no Brasil é uma fábrica de
loucos e uma agência onde se tira o passaporte para a morte e uma viagem para o
inferno” (MARIANO, 2014, p.120).

Uma vez identificado o inimigo, cabe então atacá-lo, já que a melhor forma de se
defender é atacando.
Macedo não tem dúvida disso. Ele reclama que “muitos cristãos vivem pedindo
oração porque estão sendo perseguidos pelo diabo. É de estarrecer”, critica, “porque
a realidade deveria ser outra. Os cristãos é que devem perseguir os demônios. Nossa
luta é muito mais de combate do que de defesa (...) A igreja deve ser triunfante e
estar sempre na ofensiva.” (Macedo s/d 114). Desse triunfalismo ofensivo resulta
que o Brasil experimentou na segunda metade dos anos 80 significativo incremento
da hostilidade desses religiosos contra os cultos afro-brasileiros. A Universal
revelou-se a mais ativa e engajada nessa missão, e, talvez por isso, a mais agressiva.
Combativos, muitos de seus pastores, obreiros e fiéis, nesse período, saíram das
trincheiras e puseram a artilharia das tropas do Senhor dos exércitos para efetuar
ousadas missões de ataque aos supostos representantes terrenos do diabo. Ao
ultrapassarem o espaço interno de seus templos, protagonizaram casos diversos de
invasões de centros e terreiros, de imposições forçadas da Bíblia, de agressões
físicas a adeptos dos cultos afro-brasileiros e espíritas e até de práticas de cárcere
privado. (MARIANO, 2003, p. 28).

Além da “guerra santa” contra religiões mediúnicas, a partir da década de 90,


desembarcou no Brasil novas concepções sobre batalha espiritual, concebidas pelas igrejas
dos Estados Unidos, sobretudo nas igrejas neopentecostais Renascer em Cristo, e a
Comunidade Evangélica Sara Nossa terra. “O vínculo de alguns pregadores brasileiros - entre
os quais sobressai Neuza Itioka8 - com a Rede Internacional de Guerra Espiritual, fundada por
Peter Wagner no seminário Fuller, de Pasadena, EUA, propiciou a difusão dessas novas

8
Ex-aluna de Peter Wagner, a pastora Neuza Itioka lidera a Rede Internacional de Guerra Espiritual-BR no país.
Autoria de livros sobre guerra espiritual (1993), ela coordena desde 1989 um grupo de crentes experts em guerra
espiritual que atende cerca de 1.200 pessoas por ano. (MARIANO, 2014, p.143).
26
crenças no Brasil.” Dessa forma, passou-se a travar a guerra espiritual contra os espíritos
territoriais e hereditários. (MARIANO, 2003, p. 31).

Considerados demônios de elevada posição na hierarquia satânica, os espíritos


territoriais estão distribuídos pelo diabo para agir sobre áreas geográficas (bairros,
cidades, países), grupos étnicos, tribais e religiosos. (...) Já os espíritos hereditários
são responsáveis pelas maldições que acometem a família e seus membros.(...) Para
libertar-se é preciso renunciar aos pecados dos ancestrais e quebrar, mediante o
poder divino acionado pelo culto de intercessão, as maldições hereditárias.
(MARIANO, 2003, p. 32)

A crença em espíritos territoriais se adequa aos anseios dos evangélicos em ampliarem


o seu alcance e poder dentro do espectro político com a justificativa de tornar o Brasil enfim
abençoado e livre dos espíritos demoníacos.

Prato cheio para os políticos evangélicos, a crença nos espíritos territoriais tem-se
prestado ao uso eleitoreiro. Justificam seus defensores, candidatos e cabos eleitorais
que a eleição de evangélicos para os altos postos políticos da nação trará bênçãos
sem fim à sociedade. Além de desalojar parlamentares infiéis, idólatras,
macumbeiros e adeptos de práticas pagãs, parcialmente culpados pelas terríveis
maldições que recaem sobre o país, os políticos evangélicos, eleitos teriam a
privilegiada oportunidade de poder interceder, nos planos material e espiritual,
diretamente no próprio local onde se alojam os poderosos demônios territoriais que
tanto oprimem os brasileiros. (MARIANO, 2014. p. 144).

Assim,“ao mesclarem o social com o espiritual, não propõem militância política, mas sim
militância religiosa, engajando o fiel num processo de santificação, ora num combate
espiritual, às vezes nos dois, visando à libertação do mal” (MARIANO, 2014, p. 152).

27
3. EVANGÉLICOS E POLÍTICA

“O mundo não funciona apenas com crenças. Mas


dificilmente consegue funcionar sem elas”.
Clifford Geertz

Neste capítulo, pretendo traçar o cenário da participação evangélica na política, a


partir da redemocratização, em 1986, quando a atuação política se transforma a partir da
entrada oficial de representantes pentecostais, sobretudo da Assembleia de Deus, mas também
das igrejas Quadrangular e Universal do Reino de Deus. “A politização pentecostal visa
fortalecer lideranças internas, proteger as fronteiras da reprodução sectária, captar recursos
para a expansão religiosa e disputar espaços na religião civil'' (FRESTON, 1993).

3.1 De “crente não se mete em política” para “irmão vota em irmão”

“Bastaria o argumento do amor cristão para fazer com que os crentes votassem nos
crentes. Porque quem ama não quer ver o seu irmão derrotado...Crente vota em crente,
porque, do contrário, não tem condições de afirmar que é mesmo crente”. (SYLVESTRE,
53-54). O livro Irmão vota em Irmão, escrito pelo líder assembleiano e assessor do senado,
Josué Sylvestre, teve bastante repercussão no cenário da igreja Assembleia de Deus (AD) e
foi um dos recursos utilizados para incentivar os evangélicos a votarem em candidatos da
igreja. Desta forma, o livro “identifica os evangélicos brasileiros como herdeiros das
promessas Teocráticas do antigo testamento” (FRESTON, 1993).
Além disso, líderes da AD exploraram o sentimento de medo no seu rebanho
(BAPTISTA, 2007), trabalhando com a ideia de duas “ameaças” na nova Constituinte: à
liberdade religiosa e à família. Os boatos corriam sobre o estabelecimento do catolicismo
como religião oficial do Brasil, o terror do comunismo e a perseguição religiosa, e
preocupação com questões envolvendo a família: legalização do aborto, das drogas, do
casamento homeafetivo e do casamento como simples contrato (FRESTON, 1993). Neste
sentido, a entrada pentecostal na política é um ato de defesa cultural; uma reação a mudanças
no ambiente social que ameaçava minar a capacidade de manter a cultura do grupo (BRUCE,
1988, p. 7-16).
Sobre as questões externas, há uma facilidade do sistema eleitoral em aceitar grupos
religiosos sectários, estando mais próximo do sistema norte-americano. “Em um ponto o

28
Brasil é até mais favorável do que os Estados Unidos: os partidos são, na sua maioria, não
apenas ideologicamente fracos, mas também instáveis enquanto máquinas eleitorais”
(FRESTON, 1993, p. 217). Além disso, a conjuntura do período de redemocratização política
no contexto econômico da “década perdida”, que aumenta as tensões sociais e que também
foram fatores que contribuíram para a inserção dos pentecostais na política nacional.

O protestantismo cresce rapidamente na “década perdida”. Mas os economicamente


desesperados não se voltam apenas para novas opções religiosas; também buscam
novos atores políticos que mobilizem com apelos ao messianismo e à politização de
preocupações morais. Os evangélicos, à época possuidores de imagem pública de
honestidade, estavam em condições de serem esses novos atores. (FRESTON, 1993,
p.219)

Ademais, o clientelismo político estava em crise e as igrejas pentecostais aproveitaram


a oportunidade para se estabelecerem enquanto “redes alternativas baseadas na irmandade da
crença”.
Abre-se espaço para a fusão de elementos dos papéis do político clientelista e do
coronel, na figura do deputado “irmão”, inserindo a “base moral do parentesco e da
crença” na construção de um clientelismo mais estável. O político evangélico não
seria um “interesseiro” mas alguém que participa da mesma comunidade de fé. Uma
relação baseada na irmandade na crença, em que o grupo é fundamental, é diferente
da relação personalista entre o líder e o seguidor na umbanda. (...) As redes
eclesiásticas têm vantagens sobre os partidos fracos e clientelas tradicionais
abaladas. (FRESTON, 1993, p.220)

Após 1986, a participação dos pentecostais na política causou impacto por conta das
articulações das corporações eclesiais, pois explicitava claros objetivos de instrumentalização
da política, com o intuito de garantir privilégios e recursos para as instituições religiosas
através de práticas clientelistas praticadas sem nenhum pudor (BAPTISTA, 2007). Na
Assembleia Nacional Constituinte, 32 protestantes parlamentares se elegeram como titulares e
2 suplentes assumiram no período, comparando com as eleições anteriores em que somente 14
haviam sido eleitos, o salto foi considerável. Destaque mesmo para os pentecostais que
subiram de 2 para 18 parlamentares,
Na campanha presidencial de 1989, houve um envolvimento forte dos pentecostais. À
direita, Fernando Collor apoiado pelas principais lideranças evangélicas, e à esquerda, Lula,
que representava o pesadelo do comunismo e a perda da liberdade religiosa. A maioria dos

29
pastores não só apoiaram o candidato Collor, como se mobilizaram nas igrejas, nos meios de
comunicação e até mesmo fizeram campanhas e boca de urna. Fernando Collor aproveitou
para visitar templos, se promover e fortalecer as alianças com os líderes protestantes
(MARIANO, PIERUCCI, 1992).

Por que o apoio de várias cúpulas pentecostais a Collor? Pesaram a


pregação contra a corrupção, a promessa de mudanças e a postura messiânica
“anti-política” (as quais atraíam a camada da população à qual muitos pentecostais
pertenciam). A corrupção é tema político de cunho moral, facilmente compreensível
para o pentecostal despolitizado. Outro trunfo do Collor foi a sua apresentação
como “temente a Deus” em contraste com o "ateísmo" de Lula. (FRESTON, 1993, p.
257)

Em 1990, houve um uma queda na representação dos evangélicos no congresso, o


número de titulares baixou de 32 para 22, porém, no final de 1991, a suplência amenizou essa
discrepância e a presença parlamentar evangélica subiu para 31. Essa queda de representação
parlamentar, e também de votos evangélicos, foi atribuída por alguns deputados às notícias da
imprensa sobre fisiologismo. Neste período, havia muita desilusão com a classe política, tanto
é que 43,5% dos votos para deputado federal foram nulos ou brancos. Além disso, ocorreu
uma alta taxa de renovação da Câmara, somente 37% dos deputados se reelegeram. No caso
dos protestantes, a taxa de reeleição seguiu o mesmo ritmo, 34% (FRESTON, 1993). De
qualquer forma, as eleições de 1990 confirmaram a predominância dos pentecostais na
política e também marcou a entrada da IURD a nível federal.9

3.2 Cresce o acirramento das competições no campo religioso

Diante desse cenário, surge o Movimento Evangélico Progressista (MEP), com o


objetivo de diferenciar os líderes políticos evangélicos.

O MEP se vê como evangélico (conservador na teologia, afirmando a Bíblia, a


evangelização e a conversão); como progressista (comprometido com mudanças
estruturais); e como movimento (uma associação informal e suprapartidária).

9
A representação da Assembleia de Deus não diminuiu, dos 12 candidatos oficiais eleitos em 1986 5 se
reelegeram e 4 assumiram logo como suplentes .Porém, a votação dos eleitos caiu 40%. Sobre a Igreja do
Evangelho Quadrangular, o total de votos também caiu um terço. Nesse sentido, Freston conclui que, embora a
presença dos parlamentares no final de 1991 fosse igual a da legislatura anterior, os votos em candidatos
pentecostais oficiais caíram 35% em 1990. (FRESTON, 1993).
30
Incentiva a filiação a movimentos sociais, sindicatos e partidos. (...) O surgimento
do MEP se deve à junção de fatores internos ao campo protestante com mudanças
religiosas, econômicas e políticas da recente história brasileira. (FRESTON, 1993, p.
275, grifos do autor)

Freston aponta os motivos fundamentais para essa abertura dos evangélicos no campo
progressista: “democracia num contexto de crise política e econômica” - que ele considera o
contexto mais favorável para o processo de esquerdização dos protestantes. - Ademais, “o
surgimento da ética como tema político importante, o fiasco do governo Collor, e o
aprofundamento da crise econômica fortaleceram a tendência” (FRESTON, 1993, p.276)
Entre os principais expoentes da esquerda evangélica, se destacam: a deputada federal
Benedita da Silva, o deputado distrital Wasny Roure, e a maior influência interna à
comunidade protestante foi Robinson Cavalcanti, cientista político e pastor anglicano. Sua
influência se dá por conta do livro Cristianimo e Política (1985), cuja temática pende para a
social-democracia e um dos poucos livros sobre o tema na época, todos do PT. (FRESTON,
1993).
Em 1991, foi fundada a Associação Evangélica Brasileira (AEVB) com o intuito de
ser um órgão representativo pr
otestante. O primeiro presidente deste órgão foi o pastor Caio Fábio, que destacou-se
por ser uma figura questionadora e que se pronunciava sobre as práticas políticas dos
protestantes: “Política é para se fazer em nome do homem, não em nome de Deus. Devemos
fazer uma política verbalmente ateia e praticamente cristã” (FRESTON, 1993, p.134). Dois
dias após o encarceramento do Bispo Macedo10, em 1992, a diretoria da AEVB lançou o
“Manifesto à nação brasileira acerca de charlatanismo, curandeirismo e estelionato”. Nele,
defendia-se a liberdade religiosa e a legitimidade das crenças e práticas da Universal, mas
propuseram que a igreja abrisse sua contabilidade para uma auditoria independente,
coordenada pela AEVB, para investigar a culpa ou inocência de seus líderes, segundo critérios
objetivos da Justiça. No manifesto, a Associação se apresentava como “legítima representante
da comunidade evangélica” (MARIANO, 2014, FRESTON, 1993).
A prisão do bispo Macedo serviu de justificativa para a fundação de outra entidade, o
Conselho Nacional de Pastores do Brasil (CNPB), cuja pretensão era ser considerada a CNBB
(Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) protestante.

10
Macedo foi preso no dia 24 de maio de 1992. O bispo foi acusado de charlatanismo, curandeirismo e
estelionato (MARIANO, 2014).
31
Sob a batuta de Macedo e do pastor Manoel Ferreira, presidente da Convenção
Nacional das Assembléias de Deus (Conamad), nasceu o CNPB com a alegada
missão de defender a liberdade religiosa dos evangélicos. Manoel Ferreira, como
presidente da CNPB, ganhou do bispo programa semanal na TV Record, de 15
minutos, para promover o Conselho no país e obter a adesão do maior número
possível de pastores. (MARIANO, 2014, p. 79)

No pleito de 1994, 27 políticos evangélicos ganharam as eleições, sendo 23 deputados


federais e 4 senadores. Houve alguns destaques evangélicos: Íris Rezende, de forma
proporcional, foi o candidato mais votado do país; Lídia Quinan, a mais votada para deputada
federal em Goiás; Benedita da Silva, mais votada para senadora no Rio; Francisco Silva, o
primeiro colocado para deputado federal no Rio; e Francisco Rossi, candidato que disputou o
segundo turno para a cadeira de governador em São Paulo. Este último passou a representar
um novo perfil de político evangélico no Brasil: “o membro da elite política que se converte”
(FRESTON, 2006).
No Rio de Janeiro, reduto da política evangélica, 60% são pentecostais, com os
batistas ainda liderando os históricos. Entre os neopentecostais, a soberania da Assembleia de
Deus começou a ser ameaçada pelo ligeiro avanço da IURD, que conquistou três vagas
federais no estado. Assim, a nova bancada evangélica seria “acentuadamente conservadora:
19 em partidos à direita do PMDB, seis no próprio PMDB e somente dois em partidos à
esquerda do PMDB”. (FRESTON, 2006, p. 106)
Em relação a campanha presidencial, assim como em 1989, o Bispo Macedo e seus
aliados fizeram uma acirrada oposição ao PT. Os pentecostais de todas as vertentes
associaram o PT e o seu candidato, Lula, ao Diabo, ao comunismo e à Igreja Católica
(MARIANO, 2014).

Por meio da Folha Universal, jornal semanal de circulação nacional, jogaram pesado
contra a candidatura do petista. Além de identificá-lo com o demônio e de
garantirem que sua vitória resultaria em perseguição aos evangélicos, acusações de
que o PT sofria havia tempos, desta vez tiveram a preocupação de consubstanciar
concretamente o riso de um eventual governo de esquerda. Para tanto, usaram armas
e munições tidas como eficazes em seu meio religioso. A Folha Universal acusou o
Partido dos Trabalhadores de pretender legalizar o casamento de homossexuais e
Lula de defender o aborto, mostrou uma foto dele com a banderia brasileira sem a
expressão ordem e progresso e outra em que o ex-líder sindical, ao lado da
mãe-de-santo Nitinha, estaria, conforme destacava a manchete, apelando para o
candomblé, ou seja para o próprio Diabo. (MARIANO, 2014, p. 93-94)

32
Um dos destaques da campanha anti-Lula foi a realização do evento “Clamor pela
Nação”, organizado pela CNPB e liderada por Macedo. A concentração ocorreu no no Aterro
do Flamengo, Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1994 e reuniu 400 mil fiéis, com
transmissão ao vivo pela TV Record, muitos deles com cartazes contra o aborto e o casamento
homoafetivo (claramente um ataque ao programa do governo do PT). Macedo estava
acompanhado de líderes evangélicos, políticos e candidatos políticos e disse que “naquela
eleição, os crentes teriam que decidir entre a igreja de Jesus e a do Diabo” (MARIANO, 2014,
p. 94).
A AEVB também não ficou fora dos ataques. Na Folha Universal de 21 de agosto, o
pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, começou atacando o Decálogo Evangélico do
Voto Ético11.
Fazendo o jogo do CNPB, pastor Malafaia rotulou o documento de “Decálogo da
Rebelião”, condenando a AEVB por tentar, por meio da cartilha, introduzir nas
igrejas “candidatos de esquerda materialista e humanista”, entre os quais Lula. O
líder petista, segundo ele, além de apoiado pela Igreja Católica, idolatria Fidel
Castro, ditador comunista que encarcerava pastores, fechara templos e proibira a
liberdade de culto em Cuba. (MARIANO, 2014, p. 95)

O presidente da AEV, Caio Fábio, também não ficou de fora dos ataques disparados
por Macedo. Ele foi acusado de ser “esquerdista”, de se encontrar com Lula de forma
frequente com o intuito de lhe ensinar como se dirigir aos evangélicos, e de fazer campanha
para o PT. Dessa forma, Macedo e seus aliados pretendiam desqualificar Caio Fábio e a
AEVB com o propósito de colocar a CNPB como exclusiva representante dos evangélicos
(MARIANO, 2014).
Na campanha eleitoral de 1998, os comitês evangélicos não foram muito atuantes em
apoiar ou não candidatos na corrida presidencial, bem como as entidades também se
mantiveram mais tímidas. Mas, eles se destacaram em três eleições para governador e, até
então, a nova bancada evangélica no Congresso era a maior da história, foram 44 deputados
federais evangélicos. A grande novidade é a notável força política da Igreja Universal do
Reino de Deus, que conseguiu eleger 17 deputados federais. A IURD passa então de apenas

11
“Este documento pretendia evitar que pastores e políticos evangélicos manipulassem os fiéis numa direção só,
tentassem transformá-los num curral eleitoral e continuassem a apregoar, como alardeava a Universal, que a
vitória eleitoral de candidatos de esquerda representava grave ameaça à liberdade religiosa.” O documento foi
resultado da Conferência Anual de Igrejas, Missões e Instituições desta entidade, no Rio de Janeiro, nos dias 17
e 18 de março de 1994. (MARIANO, 2014, p. 95).
33
um deputado federal na constituinte em 1998; três em 1990; seis em 1994; e conquistou 17
deputados federais em 1998. (FRESTON, 2006, MARIANO, 2014, CAMPOS, 2003)
No Rio de Janeiro, a dupla Rosinha (PT)/Garotinho (PDT) venceu e é a primeira vez
que o estado terá governador e vice-governadora evangélicos. A IURD apoiou a dupla
Rosinha/Garotinho, “mas depois tirou proveito dessa aliança, colocando alguns de seus
pastores dentro da máquina de Estado, desviando recursos para atendimento de sua
clientela, dentro de um autêntico estilo clientelista”.

No governo, Garotinho prestigiou líderes evangélicos. O deputado federal,


Francisco Silva, um pentecostal de uma igreja autônoma, também radialista, de
discutida moral no Rio de Janeiro, foi para a Secretaria da Habitação. Um
outro pastor, Everaldo Dias Pereira, da Assembléia de Deus, assumiu um
importante cargo no Gabinete Civil. Porém, foi o lançamento de um programa
social intitulado “cheque cidadão”, que prometia a emissão de um cheque de
R$100,00 (cem reais) por mês as pessoas cadastradas em uma das igrejas
responsáveis pelo controle do projeto. Das 270 igrejas ou entidades religiosas
cadastradas, 84% eram igrejas evangélicas escolhidas pelo pastor Everaldo.
(CAMPOS, 2003, p. 27)

Em Goiás, Íris Rezende - que tinha sido o candidato mais votado proporcionalmente
no país em 1994 - perdeu as eleições para um terceiro mandato como governador. Em São
Paulo, Francisco Rossi terminou em quarto lugar (ele que tinha chegado ao segundo turno em
1994 utilizando um discurso evangélico). Sua imagem ficou desgastada por ele ter
intensificado suas críticas ao candidato Maluf, e no segundo turno aliou-se a ele em troca de
uma futura candidatura a prefeito (MARIANO, 2014). As últimas três décadas
experimentadas pela sociedade brasileira foram marcadas pela volta da democracia, pelo
acirramento das competições no campo religioso e pela crescente atuação dos pentecostais na
política partidária e pleitos eleitorais (MACHADO, 2012).

3.3 O movimento de “esquerdização” da política evangélica, o crescimento dos


evangélicos no Brasil e os primórdios da bancada evangélica

No pleito de 2002 ocorreu uma mudança significativa do posicionamento dos


evangélicos chamado por Freston (2006) de “esquerdização” da política evangélica. O cenário
era o seguinte: havia os candidatos à presidência da república Anthony Garotinho (PSB) e

34
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos partidos de ideologia de esquerda. O Rio de Janeiro
apresentava duas candidatas evangélicas ao governo do estado, com grandes possibilidades de
vencer. Além do fato de que lideranças evangélicas, antes responsáveis por demonizar os
partidos de esquerda, admitiam que poderiam votar em candidatos de esquerda neste pleito
(MARIANO, 2014).
Importante mencionar que este pleito é o primeiro que ocorre após a divulgação dos
dados do IBGE no censo de 2000 apontando o crescimento dos evangélicos e expondo as
mudanças ocorridas no campo religioso brasileiro. Segundo dados do IBGE12, as pessoas que
se declararam católicas representavam em 2000, 73,8% da população do País, refletindo ainda
a predominância do catolicismo no Brasil, mas queda se comparado com o último Censo de
1990 quando representava 84% da população. O segundo maior percentual corresponde aos
evangélicos, com 15,4%. Em 1990 os evangélicos representavam 9% da população13,
revelando tendência de crescimento em sentido inverso do que apresentou a religião católica.
Este expressivo crescimento já começava a ter uma significativa importância no cenário
político nos rumos do país.
Neste período, os dois candidatos com maior intenção de votos, segundo pesquisa
DATAFOLHA divulgada às vésperas da eleição, eram Garotinho - com 17% das intenções de
voto geral e 35% entre os evangélicos - e Lula - com 41% das intenções de votos no país e
31% dos evangélicos (FRESTON, 2006). Pode-se perceber que os dois candidatos
acumulavam 2 terços da intenção de votos da classe evangélica e isso apresenta uma grande
mudança se comparado com as últimas eleições democráticas no país. Outro fator curioso é
que embora o candidato Garotinho fosse evangélico, Lula detinha 31% das intenções de votos
desse grupo, o que aponta uma divisão dentro da esquerda evangélica, bem como constata a
pluralidade de pensamentos e posicionamentos. Com Lula na presidência, os evangélicos
ganharam um certo protagonismo, ele ofereceu cargos ao PP - partido que compunha boa
parte dos representantes da Igreja Universal - e depois do PRB (DIP, 2018).
No início da 52ª legislatura da Câmara dos Deputados (2003-2006), os evangélicos
criaram a Frente Parlamentar Evangélica. Ela nasce de uma demanda crescente da ala
evangélica para defender seus próprios interesses. Em setembro de 2003, em solenidade no

12
Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/14244-asi-cens
o-2010-numero-de-catolicos-cai-e-aumenta-o-de-evangelicos-espiritas-e-sem-religiao . Acesso em: 19 de jul.
2021.
13
Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/externo/2019/12/09/O-crescimento-da-f%C3%A9-evang%C3%A9lica .Acesso
em 19 de jul. 2021.
35
plenário Ulysses Guimarães da Câmara dos Deputados, é instalada oficialmente a FPE com o
intuito de: “influenciar as políticas públicas do governo, defendendo a sociedade e a família
no que diz respeito à moral e os bons costumes” (BINDE, 2018, p.15). Na ocasião, houve
distribuição do Novo Testamento para o acervo da Casa, traduzidos em várias línguas
indígenas (BAPTISTA, 2009). Caracterizada como um grupo com demanda de interesses em
comuns, organizados para discutir políticas públicas e elaboração de leis, pode-se considerar,
de acordo com Baptista (2009) a FPE como um “grupo de interesse” (BINDE, 2018). A FPE,
hoje, é comumente chamada de Bancada Evangélica, mas “Bancada” e “Frente Parlamentar”
são conceitos distintos.

Frente Parlamentar, pela definição jurídica, é a associação suprapartidária de pelo


menos um terço de membros do Congresso Nacional, destinada a promover o
aprimoramento da legislação sobre determinado setor da sociedade. (...) Na prática,
uma Frente Parlamentar é uma lista de assinaturas de pelo menos 171 deputados.
Esses deputados autografam voluntariamente o pedido de criação de determinada FP,
isso, porém, não significa que os parlamentares subscritos efetivamente atuem
naquela temática, ou mesmo que apoiem as demandas centrais daquele grupo; Já a
bancada é um grupo de parlamentares que realmente atua em prol de determinada
pauta. (LACERDA, 2019, p.65)

Em sua fundação, a FPE foi composta por 57 deputados e 3 senadores. A sua base era
formada por membros da Assembléia de Deus de variadas formações partidárias (DCD, p.
41). A sua ata informa sobre o objetivo comum dos integrantes:

Trabalhar pelas causas evangélicas, acompanhar e fiscalizar os programas e as


políticas públicas do governo. Queremos, dentro do possível, [o impossível a Deus
pertence] influenciar positivamente na promoção de políticas sociais e econômicas
mais abrangentes. Nas comissões temáticas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, vamos propor legislação que preserve cada vez mais a moral e os bons
costumes. Nosso objetivo é defender a família e o cidadão brasileiro. A intenção de
instituir a Frente Parlamentar Evangélica não é outra senão continuar contribuindo
mais eficientemente com o debate das reformas política, econômica e administrativa
(DCD, 2003, p.141)

A coordenadora da Frente Parlamentar quando questionada sobre qual o papel da FPE


(em entrevista em maio de 2013) responde com uma linguagem de cunho religioso, que se

36
remete ao livro de Ezequiel capítulo 33, em que o profeta é designado como Atalaia de Deus
sendo encarregado de alerta o pecador dos seus maus caminhos (BINDE, 2018).

Atalaia da garantia dos direitos fundamentais efetivos, do direito de ser diferente, do


direito de não ter que concordar com tudo o que dizem, apesar de ter que respeitar o
outro. É uma dicotomia que deve ser levada em consideração. O direito ao respeito e
a questão da concordância, a Frente hoje é muito ponderada no sentido de ser muito
efetiva. Porque existe a fé evangélica, e é a fé que trás para o ser humano a
responsabilidade de responder pela sua condição de vida a de ser agente de
transformação da realidade. Ela não vitimiza o ser humano. Neste sentido ela é
libertadora. (BINDE, 2018, p.75)

Bruno Dantas (2007, p. 174 e 194) identifica que o trabalho da FPE é um trabalho “de
resistência aos avanços sociais, às reivindicações dos movimentos progressistas e à
transformação da sociedade”. Esses tijolos já apontam na construção de uma bancada
evangélica com um projeto político claro de promoção de uma sociedade baseada nos valores
morais, na família tradicional e no cristianismo, a instrumentalização política da religião. Com
efeito, Binde (2015) analisou o perfil e a atuação da frente parlamentar evangélica entre 2003
e 2014 e constatou que em relação à temática, as principais questões que envolvem os
parlamentares da FPE se referem à moralidade e que e assuntos como aborto e
homossexualidade são os que conseguem mais unir a frente para o embate.
A 52ª legislatura foi marcada por escândalos de corrupção como o dos bingos (2005),
mensalão (2006) e das sanguessugas (2006), no qual todos eles tiveram participação de
deputados evangélicos. O caso mais significativo foi a máfia das ambulâncias (conhecida
como operação sanguessuga) em que quase metade dos evangélicos do Congresso Nacional
estavam envolvidos no escândalo - sendo 28 deles membros da FPE (de 60 filiados). O caso
envolvia desvio de recursos públicos, que eram destinados à compra de ambulâncias, por
meio de liberação de emendas parlamentares e esse escândalo afetou intensamente a base
eleitoral envolvida (BENEDITO, 2015). Nenhum dos deputados formalmente acusados foram
reeleitos e somente 15 membros da FPE conseguiram um novo mandato (MARIANO, 2009).
As igrejas Assembléia de Deus e Universal foram as que mais sofreram perdas nesse período
e tiveram que investir mais fortemente em práticas clientelistas para novamente conquistarem
força e influência. Além dos escândalos de corrupção, os deputados evangélicos também
apresentam o caráter corporativista. Segundo Baptista (2007), por algum tempo o bispo
Rodrigues representou o papel de líder supremo da igreja Universal, coordenando o trabalho

37
dos parlamentares eleitos pela denominação e atuando nos acordos políticos e escolha de
candidatos. No caso da Assembleia de Deus, não há um coordenador que atue liderando as
atividades dos deputados, mas foi elaborado um projeto chamado Cidadania AD que
construiu uma estrutura capaz de monitorar e assessorar os candidatos eleitos (MARIANO,
2009).
Na 53ª legislatura (2007-2010) a bancada evangélica perde deputados e a justificativa
é atribuída aos escândalos de corrupção que os os membros evangélicos se envolveram. Mas,
em 2010, a bancada evangélica reergue-se e elege 69 deputados, juntamente com o
crescimento das demandas LGBTs e feministas (LACERDA, 20191).
Conforme aponta Marina Basso Lacerda (2019), em 2008 ocorre o pico das iniciativas
e dos discursos contra o aborto ou pelo endurecimento da legislação. Desde 2005 ocorrem
uma série de discussões acerca da descriminalização do aborto, iniciativas para revisar a
legislação punitiva14 contra o aborto, reação conservadora com propostas de agravamento da
legislação proibitiva15, e até mesmo declarações do ministro da Saúde, José Gomes Temporão,
apoiando descriminalização do aborto, que causou um ensejo de abertura de CPI16
(LACERDA, 2019). Além disso, também ocorreu o lançamento de um novo Programa
Nacional de Diretos Humanos (o PNDH-3)17, em dezembro de 2009, que intensificou as
reações coletivas dos segmentos tradicionais (MACHADO, 2012). Verifica-se, portanto, uma
dinâmica de reação conservadora à medida que se coloca em pauta essas discussões que giram
em torno da moral e da manutenção da família tradicional. Nesse sentido, Machado (2012)
explica que o PNDH-3 causou um grande impacto tanto nos evangélicos, católicos, em
movimentos sociais e nos responsáveis por elaborar a proposta. “Em virtude da forte pressão
das igrejas, a proposta original foi revista, mas as modificações não foram suficientes para

14
“ Em 2005, a secretaria Especial de Políticas para Mulheres do Governo Federal instalara a comissão tripartite -
com representação do Executivo, do Legislativo e da sociedade civil - para revisar a legislação púnitiva contra o
aborto. Também em 2005 o ministro da saúde Humberto Costa publicou a norma técnica “Atenção Humanizada
ao Abortamento” sobre o atendimento nos casos de aborto legalmente autorizado, mesmo sem boletim de
ocorrência. Ambas as iniciativas foram criticadas em discursos em plenário, e a norma técnica foi objeto de um
projeto pela sua revogação” (LACERDA, 2019, p. 66).
15
Em 2006, Eduardo Cunha apresentou o PL 7443/2006 que visava transformar o aborto em crime hediondo.
16
“Ele chegou a afirmar que a discussão sobre o assunto seria machista, uma vez que conduzida apenas por
homens, e que eles se engravidassem “essa questão já estaria resolvida há muito tempo”. Para Temporão, o
aborto deveria ser tratado em uma perspectiva de saúde pública. (LACERDA, 2019, p. 67).
17
O primeiro ponto a se destacar é que o PNDH-3 foi precedido pelo PNDH-1 (1996),que enfatizou os direitos
civis e políticos, e pelo PNDH-2 (2002), “que incorporou os direitos econômicos, sociais, culturais e
ambientais”. Subscrito por trinta e um ministérios diferentes, o PNDH-3 aborda distintos e controversos temas,
como: a descriminalizaçãodo aborto; a criação de uma Comissão da Verdade para investigar os crimes cometidos
na ditadura militar; a criação de redes de proteção dos Direitos Humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais; a regulação governamental dos meios de comunicação, tendo como ponto de referência os direitos
humanos, entre outras coisas (MACHADO,2012, p. 28-29).
38
eliminar as desconfianças dos grupos confessionais em relação ao PT e à sua futura
candidata” (MACHADO, 2012, p. 30).
O ano de 2010 legitima o crescimento e a força dos evangélicos em números com a
divulgação dos dados do IBGE, cujo resultado revelou que 22% da população brasileira se
declara evangélica. Esse resultado colocou algumas denominações evangélicas em uma maior
articulação e envolvimento político em prol dos seus interesses, como foi o caso das igrejas
Universal, Assembleia de Deus e Batista18. A participação dos pentecostais no Poder
Legislativo é explicado por dois vetores principais:

a) como forma de sobrevivência em uma ordem social em que os movimentos


feministas e pela diversidade sexual vinham influenciando as políticas públicas no
campo da educação, da saúde e das relações familiares; e b) como forma de
construção “de uma agência coletiva com pretensões de reconhecimento e
influência”. Portanto, não é propriamente o crescimento da bancada evangélica que
explica o crescimento do ativismo conservador. Mais precisamente, o que informa a
reação pró-família patriarcal seria a busca por visibilidade política por parte desses
religiosos, que visam resistir aos avanços feministas e do movimento LGBT no
Executivo e no Judiciário. (APUD LACERDA, 2019, P. 86, MACHADO, 2012b,
p.39).

Esse pleito foi um marco para os evangélicos no Congresso Nacional porque era a
primeira vez que havia uma candidata forte que representava uma boa parte dos evangélicos, a
candidata Marina Silva. A candidata Dilma no entanto, era vista com certa hostilidade por
alguns religosos, por a atrelarem à pautas progressistas, como a legalização do aborto e
casamento homoafetivo (MACHADO, 2012). De qualquer forma, as mulheres estavam
exercendo um papel cada vez mais forte na política e na sociedade como um todo.
Neste período, a mobilização evangélica no cenário político se fortaleceu e, dentre os
apoiadores da candidata Marina Silva, estavam Sóstenes Apolo da Silva (um dos líderes da
Assembléia de Deus19), que era responsável pelo viés religioso da campanha, lideranças do

18
Machado (2012) ao escrever sobre esse período elucida que as lideranças da AD, que se caracteriza como o
maior grupo pentecostal do Brasil, no primeiro turno se viam divididas entre as candidaturas de Marina Silva,
Dilma Rousseff e José Serra, ao passo que a IURD engajava-se na campanha petista ao mesmo tempo em que
travava duros embates com outras denominações pentecostais na mídia eletrônica, impressa e digital,onde
buscava desconstruir a imagem da candidata Dilma aos temas polêmicos como a descriminalização do aborto e
da união civil de pessoas do mesmo sexo. (CARMO, ROCHA, 2017, p.368).
19
Desde a Assembleia Constituinte, a Assembleia de Deus é a igreja com maior representação no Congresso
Nacional brasileiro (CAMPOS, 2010). Nas últimas eleições, elegeu 33 parlamentares. Também pudera, pois é a
maior e mais antiga denominação pentecostal do Brasil e tem uma força considerável na política pela sua
capilaridade em todo território nacional - no último Censo de 2010, a AD representa 48,5% dos pentecostais.
39
MIR (Ministério Internacional da Restauração), o Conselho Internacional de Pastores e
Ministros do Estado de São Paulo, a Assembleia de Deus dos Últimos Dias e, por um
determinado período da campanha, o pastor Silas Malafaia20, da Igreja Assembleia de Deus
Ministério Vitória em Cristo. Sobre o pastor Silas Malafaia, cabe destacar que no final do
primeiro turno ele resolveu apoiar o candidato José Serra no segundo turno, e essa decisão
ocorreu pela justificativa de que a candidata Marina Silva defendia um plebiscito que
propunha possíveis mudanças nas questões acerca do aborto (VITAL CUNHA; LOPES,
2012).
O pleito de 2010, portanto, foi marcado por discussões que envolviam questões de
natureza religiosa e moral e a instrumentalização política da religião. Nesse sentido, os
evangélicos pentecostais emergem como atores políticos que não só fazem barulho, mas
utilizam a sua autoridade para influenciar e criar um sentimento de “pânico moral” na igreja.
Além disso, uma das grandes estratégias utilizadas pelos pastores é a relação de clientelismo
com os fiéis, no qual ocorrem ações em centros sociais localizados em zonas mais carentes
do estado, tal qual as relações entre políticos e eleitores e as trocas de favores nas campanhas
eleitorais, principalmente com indivíduos de baixa renda e pouca escolaridade.(MACHADO;
MARIZ, 2004).
No início da 54ª legislatura, no primeiro ano do mandato de Dilma Roussef, Lacerda
(2019) destaca um súbito crescimento do ativismo contra a agenda LGBTQIA+ na Câmara
dos deputados. Neste mesmo ano é apresentada a proposta da “cura gay”21 (nome dado pelos
opositores) e o PLC 122 sobre a criminalização da homofobia (foi aprovado na Câmara em
novembro de 2006). Entre 2007 a 2010, a proposta foi tema de 15 pronunciamentos; no ano
de 2011 foi objeto de 25 discursos, ou seja, um crescimento de 66% se comparado com a
soma do período anterior. Todo esse movimento conservador de cunho moral foi uma reação a
dois acontecimentos de maio daquele ano. “O primeiro foi o julgamento, pelo Judiciário, da

Segundo Almeida, (2014, p.87), nas eleições de 2010, para cada voto concedido a um candidato a deputado
federal ligado à IURD, 2,7 votos foram conferidos a outro candidato ligado às Assembleias de Deus.
20
Durante o primeiro turno, Silas Malafaia (líder formador de opinião pública no universo pentecostal do Rio de
Janeiro), espalhou cerca de 600 outdoors em “favor da família e preservação da espécie humana”, além de
postar uma série de vídeos na internet contra o PNDH-3, considerado por ele como “Plano Nacional da Vergonha
Humana”, com o objetivo de alertar os evangélicos sobre a importância do voto, já que as propostas do plano
seriam colocadas em análise na próxima legislatura cujo poder de veto ou sanção estaria nas mãos do executivo
(MACHADO, 2012, p. 33-34). “Acionando pânicos morais através dessas demandas, os vídeos sempre traziam
como imagens do absurdo casais gays se beijando ou abraçados, travestis e transexuais em festas ou na Parada
Gay e imagens (reais ou não) de embriões após a realização de aborto” (VITALCUNHA; LOPES, 2012, p. 76).
21
“A proposta visava sustar uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que veda o oferecimento de
terapias para a homossexualidade”. Segundo João Campos, o autor da proposta, o conselho estava limitando o
trabalho dos profissionais de psicologia, “extrapolando seu poder parlamentar e usurpando a competência
legislativa”. (LACERDA, 2019, p. 69).
40
constitucionalidade da união homoafetiva. O segundo foi a tentativa, pelo Executivo, de se
divulgar um material contra a homofobia nas escolas” (LACERDA, 2019, p.71). O Ministério
da Educação havia lançado o Programa Escola sem Homofobia22, com base em um conjunto
de diretrizes do projeto Brasil sem Homofobia, que visava o combate ao preconceito sexual
nas escolas. O material foi batizado pelo então deputado Jair Bolsonaro de “kit gay”, que
somente no ano de 2011 foi tema de 47 discursos na Câmara dos deputados. Essa iniciativa do
Governo federal foi a força propulsora para o combate à agenda do movimento LGBTQI+ e
um avanço de discursos e posições conservadores no Congresso Nacional. Outro termo que
ganhou força foi a chamada “ideologia de gênero”, que em 2013 ganhou foi resgatado pelo
deputado Pastor Eurico e entrou de vez na agenda legislativa.

De acordo com o parlamentar, os conceitos de “gênero”, “identidade de gênero” e


“orientação sexual” trazem embutida a “ideologia de gênero”. Na sua concepção, o
gênero, ao substituir a “expressão ‘sexo’’’, esconde uma “ideologia que procura
eliminar a ideia de que os seres humanos se dividem em dois sexos”. Para ele, “ a
ideologia de gênero está sendo introduzida na legislação como uma bomba-relógio,
com o objetivo de destruir o conceito tradicional da família como a união de um
homem e uma mulher vivendo com compromisso de criar e educar filhos”. Ele
alerta, ainda, para a existência do movimento organizado em defesa da vida, da
família e da moral e dos bons costumes: (...) quero informá-los que temos aqui no
Congresso Nacional um exército de defensores da família, da vida humana e da
liberdade religiosa atento 24 horas por dia a todas as investidas dos inquisidores da
família, da moral e dos bons costumes (Deputado Pastor Eurico - PSB/PE discurso
em Plenário em 22/11/2013). (LACERDA, 2019, p. 72;73)

3.4 As mobilizações de 2013 e o congresso mais conservador desde 1964

O ano de 2013 foi um ano importante e divisor de águas para a história da política no
Brasil. Neste período, começou uma onda de protestos e mobilizações, cujo início aconteceu
de forma tímida por uma insatisfação popular pelo aumento da tarifa de ônibus na capital
paulista, esse movimento foi nomeado de Movimento Passe Livre (FÉLIX, 2016). Chamado
de Jornadas de Junho, o movimento foi considerado como a maior mobilização de massas nos
últimos 20 anos no Brasil23. A princípio, as manifestações eram noticiadas pela mídia como

22
“O material do programa consistia no Caderno Escola sem Homofobia, que trazia o conceito de gênero, de
diversidade sexual, de homofobia, entre outros, e em vídeos educativos”. (LACERDA, 2019, p. 71).
23
Disponível em
https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/cinco-anos-das-jornadas-de-junho-um-legado-em-disputa .
Acesso em 26 de jul. 2021.
41
atos de vandalismo. Num segundo momento, o destaque vai para a forte repressão policial de
em resposta ao movimento, que começava a tomar forma. No dia 13 de junho, “denominado o
quarto ato contra o aumento das tarifas”, ocorreu uma grande repressão policial com mais de
190 detenções e dezenas de feridos. A violência vitimou inclusive jornalistas que faziam a
cobertura do ato, como o fotógrafo Sérgio Silva, que perdeu a visão no olho esquerdo depois
de ser atingido por uma bala de borracha. A partir desse dia, as imagens das brutalidades por
parte da polícia circulavam o país nos noticiários e na internet, gerando uma onda de repúdio
e mudança de posicionamento da opinião pública em relação ao movimento. “Ficaram
célebres vídeos e outras produções que circularam na web: #ogiganteacordou, vem pra rua e o
mais emblemático não é pelos 20 centavos, postado no Facebook por milhões de perfis no
Brasil e no exterior inclusive pelo próprio dono e criador da rede social.” (FERREIRA;
JÚNIOR, 2017, p.4). O movimento foi se fortalecendo, se tornando cada vez mais intenso e
no dia 17 de junho mais de 40 cidades foram às ruas, totalizando 300 mil pessoas. O terceiro
momento foi marcado pela vitória das demandas e o governo do estado e o prefeito de São
Paulo anunciaram a revogação do aumento das tarifas. A partir daí surgiram outras demandas
e as pessoas começaram a ir para as ruas com suas pautas diversas.

De junho a outubro de 2013, vivemos no Brasil o período de manifestações


populares mais importante e mais contundente no sentido de pensarmos um processo
de radicalização democrática, desde o fim da ditadura militar. As manifestações
levaram às redes (virtuais e não) e para as ruas diversas expressões de
descontentamento com as nossas instituições. Um potente levante da multidão, que
mobilizou milhões de pessoas das mais diversas origens e com as diversas
reivindicações. Foram várias manifestações, quase diariamente, em várias cidades,
com cartazes, faixas, cantos e palavras de ordem, que faziam denúncias diversas:
contra a corrupção, contra projetos de emendas à Constituição e outras propostas do
legislativo, contra governantes, contra a polícia, contra os gastos para a Copa do
Mundo, o racismo e a violência à população negra, contra a homofobia, contra os
péssimos serviços públicos, contra o preço das tarifas de transporte público, e
algumas propostas: passe livre, mais verbas para educação e saúde, escolas e
estádios no “padrão FIFA”, reforma política, desmilitarização da polícia.
(NASCIMENTO, 2014, p. 101.)

A vitória de Dilma em 2014, sendo a quarta consecutiva do PT para o Executivo,


causou uma reação forte entre os seus adversários que não aceitavam a derrota. Nesse sentido,
essas eleições revelavam um Brasil mais conservador e intolerante. Dilma se encontra sem

42
apoio popular, sem base política, num cenário de crise econômica e pressionada por todos os
lados. Somava-se a isso a ruptura entre PT e PMDB na Câmara dos Deputados, quando o PT
tentou lançar candidatura própria (Arlindo Chinaglia, PT), em oposição a Eduardo Cunha
(PMDB) (FERREIRA; JÚNIOR, 2017). Com a vitória de Eduardo Cunha, abriu-se um
cenário de instabilidade política, falta de governabilidade, explodiu escândalos de corrupção e
a Lava Jato avançava com todas as suas denúncias. Silas Malafaia comemorou a vitória do
Eduardo Cunha em seu Twitter: “Parabéns ao novo Presidente da Câmara, deputado
evangélico Eduardo Cunha, uma vitória espetacular. Humilhou o governo e o PT. Vão ter que
nos aturar” (DIP, 2019, p. 63) Além disso, de acordo com o levantamento do departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), “o Congresso eleito em 2014 foi o mais
conservador desde o período pós-1964, com o aumento do número de parlamentares militares,
ruralistas e religiosos” (DIP, 2018, p.49). E em 2015, o primeiro ano da 55ª legislatura, “há
um crescimento expressivo de iniciativas contra a agenda LGBT, isso associado ao combate
ao gênero”. A partir de 2015, portanto, há uma “consolidação à ação reativa iniciada
anteriormente”, sendo até mesmo investigado pela pesquisadora Mariana Lacerda (2019) a
existência de um movimento nercoconservador brasileiro, cujas iniciativas a favor da família
patriarcal crescem em reação a conquistas feminista e LGBT perante poderes instituídos
(LACERDA, 2019, p.79). Entre 2015 e 2016, novamente as ruas se tornaram palco de
manifestações, agora com grupos distintos dos que foram às ruas em 2013.

Ao observar o perfil dos manifestantes, segundo pesquisas de opinião no dia dos


atos em São Paulo, observa-se uma clara diferença entre os cidadãos que
manifestaram em 2013 e os que manifestaram em 2015 e 2016. Os manifestantes
apresentam uma taxa de escolaridade de Ensino Superior de 77%; 18% Médio e 4%
Fundamental. A maioria dos participantes eram homens com mais de 36 anos. Em
termos etários, 40% dos manifestantes apresentavam idade de 51 anos ou mais; 33%
entre 36 e 50 anos e 19% de 26 a 35 anos. Não se pode dizer que a juventude foi às
ruas, como observado em 2013. Em termos de renda, 17% recebiam mais de 3 a 5
salários; 26% recebiam mais de 5 a 10 salários e 24% recebiam mais de 10 a 20
salários. Um movimento típico de classe média – eleitorado derrotado nas eleições
2014. (FERREIRA, JÚNIOR, 2017, p. 55,56)

Os novos movimentos das ruas eram coordenados por grupos como MBL, Revoltados
e o Vem pra Rua, que eram abertamente favoráveis ao início do processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff. Percebe-se um contexto de grupos mais à direita se manifestando

43
em relação à pautas econômica, social e política e uma bancada mais conservadora (a
chamada BBB - Bancada do boi, da bala e da bíblia) que pretende segurar os avanços sociais
e retroceder nas questões de gênero e da mulher.

3.5 O impeachment da presidenta Dilma Roussef em nome de Deus e da família e a


eleição de Jair Messias Bolsonaro

“Que Deus tenha misericórdia desta nação”, assim, Eduardo Cunha, o então presidente
da Câmara dos Deputados, deu início ao processo de Impeachment da presidente Dilma
Rousseff em abril de 2016. Com 367 votos a favor e 137 contra, o processo foi aberto depois
de uma sessão que durou quase 10 horas e foi marcada por discursos misógino, que exaltou
torturador, com deputador dedicando o voto à sua família e em nome de Deus - “a divindade
foi citada por quase 10% da casa, e, de maneira singular, usada nos votos a favor do
impeachment, em discursos moralistas e contra a corrupção” (DIP, 2018, p. 59). A Frente
Parlamentar Evangélica fez questão de se posicionar em relação ao processo de impeachment
e também declarar apoio ao presidente da Câmara dos deputados. Segundo João Campos,
presidente da FPE, o documento reflete o sentimento “não apenas da bancada, mas do
segmento evangélico do país que deseja dias melhores”. Assim, eles emitiram a seguinte nota
à nação brasileira:

A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional - FPE, tendo em vista a


grave crise econômica, moral, ética e política que atravessa o Brasil, com graves
consequências na vida do povo brasileiro, tais como: desemprego, inflação,
fechamento de empresas, descrédito econômico nacional e internacional, e
entendendo que os mais pobres do país são os que mais estão sofrendo com os
resultados dessa crise generalizada. Considerando que os recentes escândalos de
corrupção praticados pelo governo Dilma são uma afronta ao povo e ao estado
democrático de direito e amparada pelo caminho constitucional, legal e democrático
embasado pelo pedido de impeachment que tramita no Congresso Nacional, bem
como a necessidade do país de restabelecer a esperança, a confiança, a unidade
nacional e a retomada do crescimento, DECIDIU, MANIFESTAR
PUBLICAMENTE SUA POSIÇÃO FAVORÁVEL AO IMPEACHMENT DA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA, em reunião extraordinária, na tarde de hoje.
(Brasília, 06 de abril de 2016. João Campos. Deputado Federal Presidente da Frente
Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional)

44
Fora do congresso, todavia, as denominações evangélicas estavam divididas acerca do
processo de Impeachment. Contra o impedimento da presidente estava o Conselho Nacional
de Igrejas Cristãs do brasil (Conic), grupo que basicamente reunia as igrejas “históricas”, com
o argumento de que o Eduardo Cunha se baseava em indícios frágeis para a abertura do
processo e que isso poderia conduzir o Brasil ao caos. Algumas igrejas mais progressistas
também se movimentaram, a exemplo da Frente Evangélica pelo Estado de Direito, fundada
pelo pastor Ariovaldo Ramos, que fez oposição ao governo Temer desde o seu início. À favor,
porém, estavam o Conselho de Pastores do Brasil (CPB) e a Convenção Geral das
Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) que, mais do que perder o mandato, eles diziam
que a Dilma “também deve ir para trás das grades”. O pastor Silas Malafaia “fez um programa
especial em seu canal do Youtube parabenizando a FPE pelo posicionamento e ameaçando
parlamentares que porventura votassem contra o impeachment ou não aparecessem no
Plenário para a votação” (DIP, 2019, p. 62,63), dizendo:

“Lá no seu estado, eu vou ter o prazer de fazer campanha contra você. Vou ter o
prazer de ajudar alguém para te derrotar. Eu vou denunciar em programa de televisão
deputado evangélico que faltar ou que votar contra o impeachment. Pode contar
comigo, que eu vou ser uma muralha no seu estado contra você.” (DIP, 2019, p. 63)

Em agosto do mesmo ano, o Senado aprovou o impeachment por 55 votos a favor e 22


contra com a acusação das chamadas “pedaladas fiscais” - “o atraso, por parte do Tesouro
Nacional, do repasse de verbas a bancos públicos e privados que realizavam os pagamentos de
diversos programas de governo, com o objetivo de apresentar melhores dados fiscais” (DIP,
2019, p. 60). Em seu lugar fica o vice-presidente Michel Temer.
Em 2018, Jair Messias Bolsonaro é eleito presidente da República com 55% dos votos
com o mote de campanha: “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”. Desde 2011 ele
inicia uma proposta mais conservadora e quintuplica seus votos para deputado federal do Rio
de Janeiro em 201424. Desde então, são os seguintes eixos que direcionam seu discurso como
parlamentar: militarismo, antipetismo/corrupção, rigor penal e “kit gay”. Lacerda (2009)
aponta que o grande diferencial da sua atuação nestes anos é sua mobilização aos temas de
cunho sexual, que não compunham seu repertório anteriormente. Neste período, também, o
capitão reformado do exército se batiza evangélico, no Rio Jordão (em Israel), pelas mãos do

24
No ano de 2010, o então deputado federal pelo Rio de Janeiro conquistou 120.646 votos, ao passo que nas
eleições seguintes de 2014, ele conquistou 646.572 votos - um aumento de 436% (LACERDA, 2019).
45
pastor Everaldo. Bolsonaro diz que, como cristão, endossa a visão de que a prosperidade de
Israel é missão de Deus:

A força de um povo que tem história, que tem cultura, que tem fé, que é uno, que
planeja, que ama a liberdade e que respeita a democracia, de um povo que é marco
na resistência de nossa civilização. O que acontece comigo, como cristão, entendo
ser uma missão de Deus. Eu sonho alimentar, com Israel, muitíssimas parcerias
(LACERDA, 2019, p.189))

Silas Malafaia apoiou a sua decisão dizendo que: "Jerusalém , desde que David a
fundou, sempre foi capital do estado de Israel”. E ainda disse que: “quando Bolsonaro mudar
a embaixada para Jerusalém, o Brasil vai ser abençoado como nunca. É a minha fé”.
Bolsonaro se declara cristão, respeitando uma missão divina. “Família e Deus estão no cerne
de sua visão de bom governo” (LACERDA, 2019, p.192). Em seu discurso, após garantir
vaga no segundo turno, ele aponta toda a sua base de sustentação:

Boa noite, brasileiros. Primeiro, meu muito obrigado aos quase cinquenta milhões de
pessoas que acreditaram em mim no último domingo. O nosso compromisso, a nossa
plataforma, a nossa bandeira, baseia-se em João 8:30: ‘Conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará'. Meu muito obrigado às lideranças evangélicas; ao homem do
campo, quer seja do agronegócio, quer seja da agricultura familiar. Obrigado,
caminhoneiros. Obrigado, policiais civis e militares, integrantes das forças armadas.
Obrigado, família brasileira, que tanto clama para que seus valores sejam
respeitados. E mais ainda, que a inocência da criança em sala de aula esteja acima de
tudo. Muito obrigado em especial à região Nordeste, que apesar de eu ter perdido lá,
nunca alguém que fez oposição ao PT teve uma votação tão expressiva como eu tive
(BOLSONARO, 2018 APUD LACERDA, 2019, p.193).

Jair Bolsonaro tem o apoio das principais lideranças evangélicas, como o bispo Edir
Macedo, da Universal do Reino de Deus, e o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus
Vitória em Cristo. Segundo pesquisa Datafolha25 71% dos evangélicos declararam apoio ao
Bolsonaro no segundo turno, ele vence com folga em todos os subgrupos - evangélicos
tradicionais, pentecostais, neopentecostais e outros setores. E Jair Messias Bolsonaro não se
elege sozinho, ele estimula a eleição de 52 deputados do PSL, tornando-se, assim, a segunda
maior bancada da Câmara dos Deputados em 2018 (LACERDA, 2019).

25
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45829796 .Acesso em 03 de ago. 2021.
46
Nota-se, portanto, o avanço dos evangélicos como atores importantes no cenário
político brasileiro impondo uma agenda conservadora, baseada em valores morais, com o
intuito de controle os corpos, manutenção dos privilégios e a clara condução de um plano de
poder, conduzido pelas principais lideranças neopentecostais, pautado numa orientação
evangélica que afete todas as esferas da sociedade. Em seu livro, O plano de poder: Deus, os
cristãos e a política, Edir Macedo descreve sobre a importância de haver representantes de
Deus na política:

“Desde os primórdios da humanidade o ser humano vem lutando por espaços, por
domínio e estabelecimento de poder [...]. Hoje, em sua maioria, essas disputas se dão
por meio das estratégias políticas, o que requer jeito, ideologia, habilidade, poder de
mobilização e convencimento. Para haver disputas, é óbvio que sempre haverá o
outro lado da parte interessada em se estabelecer. Existem agentes do mal, que são
aqueles que fazem oposição acirrada em vários sentidos - inclusive, ou
principalmente, na política - aos representantes do bem. Quantas pessoas têm de fato
a compreensão do significado da política? Maquiavel a definiu como ‘A arte de
governar e estabelecer o poder’ (O príncipe). Sendo assim, do ponto de vista de
Deus, com quem você acha que Ele desejaria que estivesse esse poder e domínio?
Nas mãos de Seu povo, ou não? (DIP, 2019, p. 139)

47
4. MÍDIA E RELIGIÃO

Neste capítulo, será apresentada a análise da performance do pastor Silas Malafaia em


seu perfil na rede social Instagram, buscando compreender o seu papel estratégico enquanto
líder formador de opinião, pastor e influenciador midiático e de que forma ele utiliza o seu
papel como pastor para influenciar os seus fiéis em assuntos de interesse social, como a
política, uma vez que o fato dele ser pastor faz toda a diferença na percepção daqueles que
partilham da mesma crença. Para isso, buscou-se identificar as características narrativas
presentes nos vídeos publicados em seu perfil no período da CPI da pandemia, instalada no
Senado Federal em 27 de abril de 2021, até o último dia de antes do recesso parlamentar, 15
de julho de 2021. Como critério de inclusão, buscou-se analisar todos os vídeos com temas
políticos deste período, que totalizaram 22 vídeos sobre a temática em que houve cuidado em
mencionar os discursos que mais se destacaram na amostra pesquisada.

4.1 Religião midiatizada

Dentre os diversos estudos sobre midiatização, Muniz Sodré (2002) propõe que a
mídia proporciona uma vida própria dentro do espaço social chamado de ‘bios midiático’.
Aristóteles falava de três bios como esfera social existencial da vida ético-social: do
conhecimento, do prazer e da política. Cada bios apresenta um “gênero qualitativo” que se
apresenta na existência humana, uma nova esfera que acontece no digital e afeta a nossa
realidade. Assim, “a mídia apresenta poder para vilipendiar as relações sociais, tornando-se
um aparato social para a modulação de ideias, valores, pensamentos e comportamentos de
acordo com os interesses do mercado, de quem é porta-voz.” (CÉSAR; SALDANHA, 2019,
p.178). Esse processo vem se tornando cada vez mais central, atravessando a vida cotidiana
dos sujeitos.

A midiatização da religião não significa a mera utilização das mídias para a


transmissão de mensagens religiosas, mas sim a incorporação de formatos de
comunicação midiática pelas autoridades religiosas e por seus fiéis, ressignificando
as experiências religiosas e as maneiras como as tradições religiosas lidam com o
mundo que não é religioso e/ou não compartilha de sua crença. (BELLOTTI, 2019,
p.11).

48
A internet proporcionou uma ampliação das conexões das redes sociais no espaço
online (RECUERO, 2009). Com isso, os sites de redes sociais26 reconfiguraram as formas de
comunicação e interações sociais. São nelas que atores religiosos estreitam seus laços com os
fiéis, interagem e fortalecem os seus vínculos. Recuero (2009, p.6) aborda a perspectiva do
capital social - desenvolvida por Bourdieu e também interpretada por outros autores - para
demonstrar como um ator pode adquirir reputação e credibilidade dentro da sua rede social à
medida que informa e constrói suas conexões e assim “mobiliza mais os recursos sociais
também em proveito próprio”. De acordo com o levantamento da Pesquisa Nacional por
Amostras de Domicílios (PNAD) de 201927 82,7% dos domicílios nacionais possuem acesso à
internet. O telefone celular foi encontrado em 99% dos domicílios com acesso à internet e
continua sendo a principal ferramenta utilizada pelos conectados. O acesso à internet por meio
da TV subiu de 23,3% para 31,7% e o uso para assistir vídeos, filmes e séries cresceu de
86,1% para 88,4%. Os números só crescem e isso reitera a força e a presença das mídias no
cotidiano dos brasileiros agindo, também, como meios de informação, conexão e construção
de opinião.
Iniciaremos agora o panorama da pesquisa realizada no perfil do pastor Silas Malafaia,
analisando sua performance e as características da sua narrativa no Instagram. Porém, para
entrar de fato na pesquisa, farei uma breve apresentação do Instagram para a compreensão das
funcionalidades e a estrutura da rede social.

4.2 A estrutura do Instagram

O Instagram é uma rede social de compartilhamento de fotos e vídeos com mais de 1


bilhão de usuários ativos no mundo. O Brasil é o segundo28 país com o maior número de
usuários perdendo apenas para os EUA. Durante a pandemia, 72% dos usuários passaram a
usar mais o Instagram. Desde que foi comprado pelo Facebook em 2012, a plataforma mudou
bastante e continua em constante mudança para acompanhar as novas tendências e redes
sociais concorrentes. Hoje, ele possui diversas funcionalidades e formatos de postagens.

26
Raquel Recuero (2009, p.3) difere redes sociais de sites de redes sociais.”As redes sociais também devem ser
diferenciadas dos sites que as suportam. Enquanto a rede social é uma metáfora utilizada para o estudo do grupo
que se apropria de um determinado sistema, o sistema, em si, não é uma rede social, embora possa compreender
várias delas. Os sites que suportam redes sociais são conhecidos como “sites de redes sociais”.
27
Disponível em:
https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2021/abril/pesquisa-mostra-que-82-7-dos-domicilios-brasileiros-tem-ac
esso-a-internet acesso em 21 de agosto de 2021.
28
Disponível em: https://blog.opinionbox.com/pesquisa-instagram/ acesso em 22 de agosto de 2021.
49
No Instagram é possível ter um perfil que é precedido pelo @ e o nome escolhido, e
com isso o usuário passa a seguir perfis ou ser seguido. No que se refere às publicações, o
usuário tem a possibilidade de postar fotos e vídeos no feed (a tela principal no qual o usuário
visualiza as publicações dos perfis que ele segue), nos reels (vídeo curtos de até 60 segundos
que possuem uma aba específica - e surgiu para concorrer com a rede Social Tik Tok), no
IGTV, (vídeo considerados longos, com mais de 1 minuto), nos stories (publicações que
duram somente 24 horas) e também pode fazer live de até 1 hora no qual os seguidores são
avisados que a live está acontecendo. As interações são diversas, pode-se comentar, curtir,
compartilhar, salvar e marcar amigos em outras publicações, e essas ações ajudam no
engajamento de cada conta. Por sua vez, o engajamento indica ao algoritmo o quanto uma
conta é relevante para mostrar o conteúdo para mais seguidores. Logo, perfis que possuem
excelentes interações são beneficiados pelo algoritmo e alcançam mais visibilidade dentro do
Instagram.

3.3 Silas Malafaia no Instagram

Silas Malafaia é pastor pentecostal da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo,


graduado em Teologia e Psicologia e empresário. É dono da editora Central Gospel, serviço
de streaming Gospel Play, portal de notícias Verdade Gospel e da gravadora Central Gospel
Music. Está desde 1982 na televisão com o seu programa hoje chamado Vitória em Cristo
“defendendo os valores cristãos, a família, a vida e os princípios da palavra de Deus”,
conforme destacado em seu site. Silas Malafaia é conhecido por manifestar opiniões
polêmicas e isso trouxe bastante popularidade e visibilidade ao longo da sua trajetória. Hoje,
ele é considerado um dos conselheiros29 do então presidente Jair Messias Bolsonaro e ele não
tem nenhum problema em dizer que “conversa sim com o presidente sobre política, que falou
sobre pandemia, sobre vacina, sobre tratamento preventivo”30.
Retomando o objetivo deste estudo, o perfil do Instagram do pastor é o @silasmalafaia
e até o dia 22 de agosto de 20021 ele possuía uma audiência de 3 milhões de seguidores e
8.759 publicações. Importante mencionar que o perfil do pastor tem o selo azul do Instagram,
significando que ele é verificado. Um perfil verificado gera mais confiança, pois é uma
maneira do usuário saber que está se relacionando com uma figura pública notável e que não é

29
Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/05/4927618-flavio-bolsonaro-pede-convocacao-de-malafaia
-na-cpi-e-ironiza-nome-da-covid.html .Acesso em 22 de agosto de 2021.
30
Ver em: https://www.instagram.com/p/CPYsUSXhpMx/ . Acesso em 25 de agosto de 2021.
50
um perfil falso. Um breve olhar pelo seu feed nota-se claramente dois grandes temas: religião
e política. A maioria das suas publicações giram em torno destes dois eixos, conforme
podemos visualizar na imagem de uma parte do seu feed do Instagram.

Figura 1: Feed do perfil do Instagram do pastor Silas Malafaia

Dos dias 27 de abril a 15 de julho de 2021, houveram 128 publicações em seu perfil.
Destas, 22 foram vídeos com pauta política. Os vídeos possuem títulos chamativos,
sensacionalistas e até com tom de deboche, atacando a CPI da pandemia, os partidos de
esquerda, as instituições democráticas e a imprensa com o intuito claro de defender o atual
governo.

Tabela 1 - Distribuição dos 22 vídeos publicados entre 27 de abril e 15 de julho de 2021 no perfil do Silas
Malafaia no Instagram

Títulos Data Quantidade


publicada

Bolsonaro e o circo da CPI da pandemia 28/04/21 1

Bolsonaro inocentado! Com a palavra, PT, PSOL, PDT, 30/04/21 2

51
PSB, REDE, PCdoB, PSDB e CPI do COVID

Bolsonaro, as manifestações e a imprensa inescrupulosa 03/05/21 3

Bolsonaro, Renan, CPI e a safadeza 10/05/21 4

Mentiroso e cretino! Por que Renan não quer convocar o 14/05/21 5


diretor da PF na CPI?

A verdade! Israel e os terroristas palestinos 15/05/21 6

Imperdível! Respondendo aos canalhas que montam vídeos 22/05/21 7


contra mim

Bolsonaro e a safadeza da pesquisa da Datafolha 24/05/21 8

A resposta! Estou mentindo? Mais um motivo para me levar 26/05/21 9


na CPI

Arregaram! Por que não me convidaram para ir À CPI? A 27/05/21 10


verdade que o Brasil precisa saber

Bolsonaro e as manifestações contra ele. Só kkk 29/05/21 11

Bolsonaro ou Dória? Quem é genocida? Vamos às provas 31/05/21 12

Silas Malafaia e Renan Calheiros fazem pedido ao jogador 02/06/21 13


Neymar. Qual a diferença?

Bolsonaro, Globo, Copa América e a safadeza! 07/06/21 14

Denúncia gravíssima! Escândalo no circo da CPI da 17/06/21 15


pandemia

Atenção povo cristão! Ciro Gomes não vai nos enganar 21/06/21 16

Vergonha! STF obriga CPI da pandemia e impede 23/06/21 17


governadores corruptos de irem lá

Bolsonaro é acusado por deputado e senadores sem moral 26/06/21 18

52
Importantíssimo! Bolsonaro e o voto impresso 06/07/21 19

Bolsonaro, forças armadas e a prova que não houve 08/07/21 20


corrupção

Por que Bolsonaro é o presidente mais atacado da história do 12/07/21 21


Brasil?

A facada em Bolsonaro e o caso Marielle 15/07/21 22

Fonte: autora (2021)

Em todos os vídeos analisados, o pastor tem um jargão inicial: “Povo abençoado do


Brasil”, buscando dirigir a sua fala e estabelecer vínculo com o povo cristão, que é o seu
público alvo. Malafaia tem um tom sempre muito incisivo e se mostra seguro em suas
declarações, sua retórica confere credibilidade e segurança aos que o assistem. No final de
cada vídeo, Silas volta a condição de pastor abençoando a nação e a família brasileira ou indo
além e fazendo alguma oração mais específica. Destaco a publicação do dia 10/05 em que ele
comenta sobre a “safadeza” da CPI da Pandemia e faz insinuações sobre a índole de Renan
Calheiros, afirmando que a “CPI é uma desmoralização e uma afronta ao povo brasileiro”,
visto que “dos 11 membros da CPI, 6 estão envolvidos em inquéritos”. Antes de finalizar o
vídeo, o pastor faz a seguinte oração: “Sabe o que nos resta? Clamar ao povo, que é o
supremo poder desta nação e clamar a Deus, que é o supremo poder dos céus, da terra e do
universo. E se você concordar com a minha oração diga amém no final: a minha oração é
essa: Deus, em nome de Jesus, nos livre desses homens malignos e corruptos, manifesta o teu
poder, tem misericórdia do Brasil, não permita esses homens maus triunfarem e que a glória
seja toda tua. Eu te peço, em nome de Jesus, amém.” E conclui: “Deus nos livre dessa gente,
guarde você e a tua casa. Que venham tempos de benção e prosperidade para a nação
brasileira. Deus abençoe a todos”. Observa-se aqui o claro entrelace e instrumentalização
entre política e religião (MARIANO, 2011).
Desde o primeiro vídeo, é possível identificar um esforço na defesa do presidente Jair
Messias Bolsonaro, e para isso ele lança mão de ataques à imprensa, quando chama diversas
vezes de “imprensa inescrupulosa”, aos partidos “esquerdopatas” e também ao “circo ca CPI
da Covid”, descredibilizando e atacando os senadores envolvidos, principalmente Renan

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Calheiros, que ele diz ser “mentiroso e cretino”. Além disso, em mais de um vídeo ele é
enfático em transferir as acusações do presidente para os prefeitos e governadores com o
argumento que o presidente virou a “rainha da Inglaterra” e ficou de mãos atadas na gestão da
pandemia, mas que ele repassou muito dinheiro para os estados e os gestores desviaram verba,
e isso a CPI não quer apurar, só querem “atacar o presidente”.
Um fato importante é mencionar que o pastor Silas Malafaia foi citado pelo Flávio
Bolsonaro na CPI da Covid como um dos conselheiros do presidente. No vídeo do dia 27 de
maio, Malafaia surge com o seu tom incisivo e autoritário dizendo que a turma da CPI
“arregou” em não convocá-lo para a CPI porque o Brasil inteiro sabe que ele tem posições
políticas “não como pastor, mas como cidadão do estado democrático de direito”, e que ele
conversa com o presidente sobre “vacina, sobre pandemia, sobre preventivo, sobre dinheiro
enviado aos estados e municípios”. Ele finaliza dizendo que só querem “atacar o presidente e
não querem apurar a verdade dos desvios dos estados e municípios, mas que ele crê que “virá
tempos melhores para o Brasil”.
No vídeo com o título “Bolsonaro e as manifestações contra ele. Só kkk”, o pastor faz
a comparação da passeata contra Bolsonaro e a “motociata” do presidente demonstrando pelas
imagens que as manifestações contra o presidente foram “pífias e medíocres”, afirmando que
“o povo não quer o impeachment não”. No término da sua fala, ele faz uma relação da
esquerda ser igual o diabo que “adora acusar os outros” porque eles que destruíram o país e
agora “querem vender a solução quando eles mesmos são os culpados do arraso”.
Considerando o poder do Diabo para o povo evangélico e o quanto essa figura está
relacionada com tudo que não é de Deus, as palavras foram muito bem escolhidas e arranjadas
para dar um tom ainda mais negativo no que se refere à esquerda. Pode-se perceber o esforço
de se manter a crença na Teologia do Domínio e na ênfase de enxergar o Diabo em todas as
coisas. Ainda sobre o tema, no vídeo do dia 21 de junho, o pastor menciona um vídeo feito
pelo Ciro Gomes em que em uma mão ele porta a Constituição e na outra a Bíblia. Ele faz
toda questão de dizer que a produção foi feita pelo ex-marketeiro do PT, bem como reforçar o
discurso do PDT ter votado a favor da ideologia de gênero: “essa ideologia do marxismo
cultural, que quer dizer que ninguém nasce homem ou mulher e isso vai contra os princípios
cristãos” e que eles são a favor do aborto. Mais uma vez o seu discurso se misturando com
pautas morais sendo atravessado pela religião para falar diretamente com os cristãos.
Na publicação do dia 12 de julho, Malafaia quer provar o motivo do presidente Jair
Bolsonaro ser o presidente mais atacado do Brasil indicando que ele acabou com a “mamata”
e a “cultura da safadeza” em que os presidentes entregavam os ministérios e estatais para
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partidos políticos, alertando que os corruptos querem voltar ao poder e que FHC, Lula e
Dilma deram muito dinheiro para a mídia. Destaque para a sua oração final: “a minha oração
é para que Deus abra os olhos do povo brasileiro, nos livre desses ladrões saqueadores da
nação” E continua profetizando um tempo de bênçãos e prosperidade para todo o Brasil.
Por fim, o último vídeo desse recorte é bastante emblemático porque ele faz uma
relação entre os esforços e o destaque da imprensa ao abordar o assassinato da vereadora
Marielle Franco e a facada do presidente Jair Bolsonaro no período eleitoral. Ele diz que “se
fosse um vereador da direita eles não estavam nem aí” e que “ninguém da imprensa falou do
vínculo de Adélio com a esquerda”. Antes da sua oração final, ele comenta que a “imprensa e
a OAB são esquerdopatas”. Ele termina desejando que “Deus dê saúde total em nome de
Jesus” ao presidente (porque ele estava hospitalizado neste período). "Unindo a minha oração
à milhões de brasileiros ao presidente Bolsonaro, declarando, segundo a palavra de Deus que,
em nome de Jesus, a injustiça não vai prevalecer. Corruptos, homens perversos, ladrões não
vão prevalecer na nossa nação”. Ele continua a oração dizendo que “no tempo de Deus, na
hora certa, essa gente vai ser desnudada. Deus te abençoe, Deus abençoe o Brasil. Deus dê
saúde ao nosso presidente”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou analisar a relação entre mídia, religião e política, com foco nas
características da narrativa presentes nos vídeos do Instagram do pastor Silas Malafaia no
contexto da CPI da Pandemia. Os principais resultados indicam que o pastor se utiliza de
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técnicas de argumentação atravessadas pela religião para conseguir atrair a atenção e a
credibilidade do seu público. Ao iniciar os seus vídeos, ele saúda o seu público com seu
jargão “povo abençoado do Brasil”, logo após segue com a sua pauta e ao finalizar ele
costuma abençoar a nação ou fazer uma oração final com tom de profecia ou indignação.
Foram analisados 22 vídeos publicados entre os dias 27 de abril e 15 de julho de 2021.
Percebe-se, também, que até mesmo os títulos dos vídeos são elaborados no sentido de
chamar a atenção da sua audiência para o tema da publicação. São títulos sensacionalistas, por
vezes irônicos e também atacando políticos, instituições democráticas, a CPI e a imprensa.
Além disso, é possível identificar uma estratégia de demonizar tudo que vem da esquerda para
construir essa relação de esquerda = demônio = inimigo dos cristãos, legitimando a guerra
santa entre Deus e o Diabo reforçando a teologia do Domínio e sua característica de enxergar
o Diabo em todas as coisas.
Como formador de opinião e pastor evangélico, o discurso do pastor Silas Malafaia já
ganha legitimidade e status de verdade por conta da força da religião cristã no Brasil e porque
a cultura da religião evangélica é não questionar os pastores por serem considerados anjos
enviados de Deus. Desse modo, há uma clara estratégia religiosa persuasiva com o intuito de
influenciar e não causar dúvida acerca da sua mensagem, buscando símbolos e técnicas que
promovam conexão de força espiritual com o intuito de elevar o conteúdo para um nível não
só opinativo, mas uma verdade vinda do pastor que tem legitimidade para falar em nome de
Deus.
Antes de terminar, destaco que a pesquisa delimitou um curto espaço de tempo, com
foco em um único personagem e uma única rede social, que não dá conta da complexidade e
das perspectivas sobre o assunto e os atores sociais. Mais do que respostas, buscou-se
dimensionar as características da narrativas presentes nos vídeos e assim abrir espaço para
outras pesquisas sobre o tema e talvez com um maior recorte. Longe de mim querer fazer
generalizações, pois assim como todas as religiões, os evangélicos são complexos, com
diversas vertentes e ideologias, e justamente por isso são atores importantes no cenário
político e em todas as esferas sociais.

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