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enterrado na massa de carne que lhe envolvia as faces redondas, cheias e

vermelhas; o lábio superior, grosso e rosado, repousava complacentemente sobre

o inferior, ainda mais grosso, com um ar de satisfação pessoal, aumentada pelo

hábito que tinha o proprietário dos ditos lábios, de os lamber de vez em quando.

Evidentemente este último olhava para o seu camarada de bordo com um

sentimento meio de espanto meio de sarcasmo; e às vezes, quando o

contemplava frente a frente, dir-se-ia o sol purpureado, contemplando, antes de

se deitar, o cume dos rochedos de Ben-Nevis.

Contudo, a peregrinação dos dois amigos pelas diferentes tavernas da

vizinhança, durante as primeiras horas da noite, haviam sido variadas e cheias de

acontecimentos. Mas os fundos, por mais vastos que sejam, não podem durar

sempre; era pois com as algibeiras vazias que os nossos amigos se tinham

aventurado a entrar na taverna em questão.

No momento em que começa esta história, Legs e o seu companheiro

Hugh Tarpaulin estavam sentados defronte de um amplo frasco de huming stuf ,

não pago, com os cotovelos apoiados sobre uma grande mesa, situada no meio da

casa e a cara metida entre as mãos. De vez em quando olhavam de soslaio para

as palavras sinistras Não há crédito que (com grande espanto e indignação sua)

estavam escritas sobre a porta, em carateres de giz. Não que a faculdade de

decifrar aqueles carateres escritos (faculdade então considerada entre o povo

quase tão cabalística como a arte de os traçar) pudesse, com estrita justiça, ser

imputada aos dois discípulos do mar, mas havia um não sei quê na figura e no

conjunto daquelas letras que pressagiava, na opinião dos dois marítimos, grande

temporal e que os decidiu, de repente, segundo a linguagem metafórica de Legs,

a arrear os mastros e a fugir diante do vento.


Na consequência daquela decisão, os dois amigos, depois de terem

consumido o resto da ale, abotoaram convenientemente os casacos e bateram

em retirada. Tarpaulin entrou ainda duas vezes pela chaminé dentro, julgando

que era a porta da rua, mas por fim conseguiu sair e, meia hora depois da meia

noite, os nossos heróis esgueiravam-se, com toda a velocidade, através de um

beco estreito, na direção das escadas de Santo André, imediatamente perseguidos

pela taverneira do Alegre lobo do mar.

Bastantes anos antes e depois da época em que se passa esta dramática

história, o grito sinistro A Peste! retumbava periodicamente por toda a Inglaterra,

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