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Eu, Tu & Nós:

pri.sõ.es do a.ca.so

DALAGO
(org.)

EDITORA COLETIVO CINE-FÓRUM


2024

1
COMITÊ EDITORIAL EDITORA COLETIVO CINE-FÓRUM

Diretora Editorial
Liaki Paha

Co-fundador e diretor geral do Coletivo Cine-Fórum


Renan da Silva Dalago

Produção de Conteúdo e Diretora de Cursos do Coletivo Cine-Fórum


Victória Nantes Marinho Adorno

​Revisão Textual e Gramatical


Rapha Strol
Murilo de Castro

Diagramação e Publicidade
Renan da Silva Dalago

Capista e Ilustrador
Pedro Henrique da Costa

COMITÊ CIENTÍFICO-LITERÁRIO

Dr. Adrianna Alberti - UFMS


Dr. Altamir Botoso - UEMS
Dr. Andre Rezende Benatti - UFRJ
Dr. Claudio Roberto Perassoli Júnior - UNESP
Dr. Danglei De Castro Pereira - UnB
Dr. Daniel Abrão - UEMS
Dr. José Ramón Fabelo Corzo - Instituto de Filosofía del CITMA - Cuba
Dr. Miguel Ángel Fernández –UNA -Paraguai
Dr. Nataniel dos Santos Gomes - UEMS
Dr. Paulo Custódio de Oliveira - UFGD
Dr. Ramiro Giroldo - UFMS
Dr. Volmir Cardoso Pereira - UEMS
Dra. Carolina Barbosa Lima e Santos – USP/UFMS
Dra. Edileuza Penha de Souza - UnB
Dra. Elanir França Carvalho – UFPA
Dra. Janiclei Aparecida Mendonça - UNILA
Dra. Rosalice Lopes - Nedgs/UFGD
Kenny Gabriel Teschiedel - Escritor Literário
Msc. Larissa Ferreira Rachel Ortigoza - UEMS
Msc. Mario Marcio Felix Freitas Filho - UFRJ
Msc. Victória Nantes Marinho Adorno - UEMS

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Eu, Tu & Nós:
pri.sõ.es do a.ca.so

DALAGO
(org.)

EDITORA COLETIVO CINE-FÓRUM


2024

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Copyright © 2024 COLETIVO CINE-FÓRUM

ISBN:
As opiniões expressas pelos auto-
res pertencem a eles e elas e não re-
DIAGRAMAÇÃO
fletem necessariamente a opinião do
Renan da Silva Dalago
Conselho Editorial ou da Editora.
ILUSTRAÇÕES
Pedro Henrique da Costa Esta obra possui finalida-
@art.pedrocosta de literária, de caráter reflexivo.

CAPA Todos os direitos reservados.


Renan da Silva Dalago Nenhuma parte deste livro (dos tex-
tos aos desenhos e ilustrações) podem
ser reproduzidas por quaisquer meios
existentes sem autorização por escri-
to dos autores e detentores do direitos.

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SUMÁRIO
EU 13

TRAUMAS NA PELE
Lilian Maria Custódio Toledo__________________________________15

APESAR
Luiz Felipe dos Santos__________________________________________23

AMARESIA
Aurora Miranda Leão__________________________________________27

LAROYÊ, EXURRADA!
Carlos Santos__________________________________________________35

A DESDOBRA
Ivy Gobeti____________________________________________________41

TU 47

A VIDA E O AMOR
Rita de Cássia A Pacheco Limberti_______________________________49

O CORPO E A PONTE
Patrícia Bersch_________________________________________________53

SOBRE TARTARUGAS, PATAS E PÃO


Rainei Rodrigues Jadejiski______________________________________59

MINHA VIDA EM LINHAS POÉTICAS


Maria dos Remédios Andrade Ribeiro Barros______________________65

CAÇA
Luiz Felipe dos Santos________________________________________________73

DESEJO CAMPONÊS
Aléssio Coco de Andrade_______________________________________77

NÓS 85

VOCÊ QUER SER UM TRANSVIADO?


Rainei Rodrigues Jadejiski______________________________________87

7
ELES E EU
Ivy Gobeti____________________________________________________93

AS CINCO ESTRELAS
Wanessa Rodovalho Melo Oliveira_____________________________99

PENSAMENTOS NA GAVETA
Paula Valéria Andrade_________________________________________107

BRASIL: A CONSTRUÇÃO DA ESPACIALIDADE MULATA


Carlos Santos_______________________________________________113

HORTINHA DE TEMPEROS
Maurício Cintrão____________________________________________119

MINHA PRIMEIRA BARBIE


Alessandra Ribeiro Lima______________________________________125

SOBRE OS AUTORES____________________________________133

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PRI.SÃO
s.f.
1. Detenção; ação de prender, de aprisionar alguém que cometeu um crime.
2. Cativeiro; condição de quem está preso.
3. Presídio; casa de detenção.
4. Detenção de alguém em sua residência.
Plural: Prisões.
Etimologia do latim prehensio.onis.

A.CA.SO
s.m.
1. Causa fictícia de acontecimentos que aparentemente só estão subordinados à lei das
probabilidades.
2. Acontecimento imprevisto; acidente.
3. Sequência de eventos cuja origem não depende da vontade; sorte.
adv.
1. Imprevistamente, porventura; talvez.
2. De modo eventual, casual; eventualmente.
loc. adv.
1. Ao acaso.
2. Sem refletir nem medir as consequências.
Etimologia do latim a casu, ‘por acaso’.

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eu
sei tudo que já passei nessa vida

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TRAUMAS NA PELE

traumas na
pele
Lilian Maria Custódio Toledo

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Uma das coisas mais intrigantes do ser humano é
sua capacidade de mudar a vida de outro ser humano.
Minha história gira em torno de seres humanos que
sem querer ou, pode-se dizer que por obra do acaso, se
encontraram e se modificaram. Se o acaso não existe,
acredito que, de qualquer modo, quem passa por nossas
vidas deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.
Minha história se passa em uma escola, a
princípio um leitor, amável e amigo, pode pensar
que contarei anedotas, soltas e leves, que lhe trarão
lembranças de sua infância e juventude, mas sinto em
dizer que, caso você seja este tipo de leitor, enganou-se
em gênero, número e grau.
Minha história se passa em uma escola da periferia
da cidade, lá se encontravam, se não todas, quase todas
as mazelas sociais: alunos pobres, filhos de presidiá-
rios ou de ex-presidiários, filhos de pais alcoólatras, às
vezes, abusadores e violentos, de mães solteiras e se-
mianalfabetas. Enfim, uma parcela da sociedade
abandonada pelo poder público. Aliás, o público ali não
estava nem um pouco preocupado com qualquer tipo de
poder.

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Para começarmos, irei voltar a um dia específico, se
você me perguntar quando foi esse dia e em que ano, serei
obrigada a mentir. O que sei é apenas sobre as pessoas.
Naquele dia, a escola amanheceu calma, estranhei,
mas agradeci, há um bom tempo que não me era solici-
tado resolver invasões, brigas, discussões ou chamar o
Conselho Tutelar para atender uma família em apuros.
Você deve estar se perguntando o que me atraíra
para aquele lugar. Sempre me questionei isso; a prin-
cípio, posso dizer que foi a necessidade, com o passar
do tempo, fui me afeiçoando a cada pessoa com quem
lidava no dia a dia. Alguns amigos me diziam que eu
estava nas Colinas de Golã, e que eu devia ser louca.
Na época, não entendi muito bem, mas com o tempo a
referência às colinas ficou clara para mim. Fato é que é
preciso estar onde precisam da gente.
Não sei se você, leitor, já entendeu que eu era a
diretora dessa escola e que enquanto tal, cabia a mim,
como já disse, separar as brigas, tomar partido nas
discussões, mesmo que eu nem fizesse ideia de como.
Enfim, tentar dar um “projeto de vida” para mais de 900
alunos, sendo que nem eu sabia qual era o projeto para
minha vida, naquele momento.
Mas não é sobre mim que você, leitor amigo, quer
saber. Vamos aos fatos. A primeira personagem dessa
minha trajetória que quero lhe apresentar se chama Ana,
como o palíndromo do seu nome, Ana soube, aliás sabe
até hoje, como ninguém, retornar, ir do início ao fim,

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como do fim ao início, ou seja, voltar pelos seus pró-
prios passos e superar as dificuldades.
Para falar de Ana, me vem à memória um dia em
específico... o dia em que a encontrei caída no banheiro
feminino, desmaiada e envolta por uma poça de sangue.
Entre o choque da cena e a busca por socorro, muitas
coisas se passaram pela minha cabeça: Quem faria isso
consigo mesmo? Por quê? O que faz com que um jovem,
no caso uma jovem, atente contra a própria vida, se há
tanta coisa para se viver ainda? Tantos sonhos! Que dor
seria essa? Não tive, naquele momento, tempo para res-
ponder todas estas questões. Elas só seriam respondidas
mais tarde.
Já sabemos que a socorri e a encaminhei ao
hospital. Certo é que naquela noite não consegui dormir, as
perguntas teimavam em minha cabeça.
No dia seguinte, procurei me atualizar sobre os
fatos. Por incrível que pareça, Ana havia ido à aula. Mais
indagações me rondaram: como alguém consegue ir à
aula no dia seguinte como se nada tivesse acontecido?
Pedi que a chamassem até minha sala. Minutos
depois, diante de mim, estava uma menina negra, de
seus 14 anos, magra, vestida com um moletom preto
de capuz, apesar de estarmos no verão, com os olhos
mais questionadores que já vi. Se os olhos são o espelho
da alma, Ana trazia sua alma ali. Não sei por que, mas
lembrei-me de Capitu de Machado de Assis, mas ao
contrário. Esclareço...

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Enquanto os olhos de Capitu traziam uma
força que arrastava para dentro, como a vaga que se
retira da praia, nos dias de ressaca, daí a comparação do
narrador; os de Ana pareciam uma força que arrastava
para fora, como se quisessem despejar na areia tudo o
que o mar rejeitava.
Durante mais de 20 minutos, Ana permaneceu muda,
diante das perguntas que eu lhe fazia, só manejava a
cabeça, como se já tivesse respondido uma centena de
vezes as mesmas coisas: Por que você fez isso? Você é
uma moça tão bonita, tem tanta vida pela frente...
Toda essa cantilena se repetiu por quase um mês,
mas eu não podia esquecer a cena, o sangue, eu não
podia esquecer eu mesma, não sei se me explico, mas,
por alguma razão, eu era Ana e Ana era eu. Não que eu
já tivesse atentado contra minha vida, não é isso, mas
existem dores que são humanas ou milenares, sei lá.
Não acho que sejamos capazes de sentir a dor do
outro, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é,
como já disse Caetano, mas acho que somos capazes de
experimentar nossa própria dor, que surge em resposta
ao sofrimento do outro.
Depois de um mês interminável de tentativas
de me aproximar de Ana, finalmente, decide que não
iria mais falar, as palavras eram vãs, e existem coisas
que não devem ser ditas, decidi que eu não precisaria
entender o que se passou naquele dia no banheiro
feminino da escola. Desisti de falar. Com aquela menina

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era preciso apenas sentir. Acho que eu não havia ainda
encontrado a resposta, só sabia que, às vezes, a dor física
é mais branda que a espiritual: uma forma de escavar a
própria carne em busca de sentido, por isso Ana havia se
cortado, com giletes, naquele dia, no banheiro feminino.

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APESAR

APESAR
Luiz Felipe dos Santos

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no inverno
minhas mãos sabem uma da outra
abraçam-se
trocam calor
reconhecem o ponto mais frio
o lugar exato
para o afeto
:
o trato
entre o amor
e o zelo
todo inverno
o gesto se repete
como um lembrete morno
e atrito
de que ainda tenho a mim
apesar de ti
e as outras coisas perecíveis

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AMARESIA

AMARESIA
Aurora Miranda Leão

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Quero ir ao mar
Molhar o pé, levitar com o vento
Soletrar canções, levantar a saia
Despertar sorrisos
Sem medo de tropeçar
Num emaranhado de sargaço
Nem receio de água-viva tocar
Imaginar no celeste anil
O Astro-Rei a escrever o dia
Rimando verão com sinestesia

Quero ir ao mar
Distrair deveres
Imaginar sabores
Olvidar compromissos
Mergulhar nas vagas azuis
Na maciez das espumas rodopiar
Esquecer censuras e pudores
Sem medo de exótica parecer
Ou de vilão marítimo encontrar

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Minh’alma ao mar quer voltar
Brincar de fantasia
Atrever-se a segredar versos
Bailar qual ventania
Ousar passos proibidos
Rimar libido com heresia
Desejo cair no mar
Transgredir como quem faz sinfonia
À espreita do melhor luar
E exuberante gargalhar
Sonhando meus pés nos teus apresar

Quero ir ao mar
Imaginar como seria
Se um dia fosse todo sonhar
Ninho florado qual cupido
Como quem tece sonhos escondido
Cafuné gostoso a entressonhar

Quero ir ao mar
Pular, regozijar
Ao som da marola dançar
Subverter fórmulas
Ousar desequilíbrios
Transpor barreiras
Minar censuras
Nada nem ninguém a impedir
Euforia e liberdade gritar
Como carta de alforria celebrar

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Quero ir ao mar
Vicejar como garça
Recrear feito poesia
Com o corpo escrever
Sabor agridoce de sal e maresia
Impulso sorrateiro a farfalhar
Driblar agendas
Mirando o Infinito
Saudar a natureza e cortejar a fantasia
Deslembrar tristes horas
Sem gozo e magia
Tempo gasto sem cortesia

O mar desejo conquistar


Desimpedida, abonar loucuras
Reacender prazeres
Desassossegar a fantasia
Desconectar de redes todo dia
Deletar tecnologias e ousar
Inéditas aventuras
Juro num instante a libido aflorar
Se pelo mar encontrar
Algum solitário navegante
No desacerto do relógio
Perdido de rumo e aconchego
Bem-vindo no refúgio do meu soletrar

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Preciso voltar ao mar
Desnortear qualquer ciclotimia
Devassar teu sossego
Tuas retinas provocar
Insultar regras tiranas
Só pra ver até onde importa
Essa tal vontade de meditar

Careço ao mar regressar


Para desencaixar a areia
Perturbar a placidez do litoral
A alquimia da cor descortinar
E nas dunas Eros aquecer
Como quem sussurra o cio
No colo do aconchego solar
À espreita de melhor amar

Quero ir ao mar
Não importa a cor, hora ou dia
Tarde da noite, com ou sem melodia
Das estrelas, o feitiço quero alcançar
Do vento, os arroubos imitar
Das ondas, os delírios ecoar

Quero voltar ao mar


Pois mergulhar há de ser
Feitiço e desmesura tanta
Que o apetite vai transbordar
Reverberando sons e luas
Entoando música até a cintura enlaçar

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Ao mar almejo voltar
Recrudescer em lumaréu
Num rebuliço despudorado
Sem dia, tempo ou espaço
Tibungar n’água salgada
Cabelos ao vento, pernas ao léu
Como areia em aluvião
Desses que a frenesia
Costuma chamar Paixão.

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LAROYÊ, EXURRADA!

LAROYÊ,
EXURRADA!
Carlos Santos

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Sapucaí, sapeca aqui. Atabaca cá, atabaque acolá.
Enxurrada de falanges de exus, tais quais sadus nus
em transe cobertos de cinza em desabalada corrida na
hipnose do Kumbamela, invade a passarela como um
despacho em forma de gira, aluvaiando o terreiro de
asfalto. Barafunda de mensageiros, os levam e trazem
do mundo mágico iorubá, atropelando a rotina dos
Orixás, a serviço de Dionísio e de Baco, em uma
guinada sincrética. São exus festeiros abrindo
caminhos para a orgia momesca. Santos intercedeiam, exus
recadeiam. Mexericos da Pomba Gira, bilhetinhos do
Tranca Rua. Mas, no tropel do carnaval, exus são
pura luxúria metamorfoseados de Paollas. Por ser
adolescentemente irreverentes, praticam diabruras
infernais traquinantes, turbinados de axé, nutridos
por farofa de dendê e encharcados de marafo. Pois,
com a deferência de Oxalá, Exu se empanturra de padê
regado a canjebrina. Haja acarajé e abará!!! Haja
marafo!!! Se crescerem viram Orixás. Assim como o
número zero é o limite dialético de uma transição, o marco de
todos os começos, os exus são a borda da iniciação para a
maturidade. Pra assustar, vão de caveira, envoltos
em capa preta com entalhes encarnados, empunhando
tridentes, pra celebrar as sete catacumbas.
Pelintrando com navalha em campana ou em riste, nos
cacos da noite, embaralhando marias e outros rabos
de saia, disputando-as com rasteiras e rabos de arraia
pelos meio fios das quebradas. Ou engabelando na

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lábia malandrina ou com búzios, baralho e dados
viciados. Mas agora é Seu Sete da Lira quem inspira o
ponto na avenida, macumbando e candomblezando a
folia. Já é tempo de espalhar a ordem de Omolu de
fim do luto pandêmico. Fazer os aiê se inebriarem da
euforia dos orum. E a falange flamejante abre alas pela
passarela com o gigante negro possuído pela entidade
coreografando com seu séquito o seu parto na cabaça de
Igbá. Resgate nostálgico do berço africano de onde os
povos iorubanos foram arrancados. Gentes
sequestradas e forçadas a uma diáspora dolorida pelos
rincões das américas. Dos batuques nas senzalas dos
engenhos de açucar no nordeste brasileiro, dos lamentos nos
algodoais do sul norte-americano e dos ritmos das
cantorias nos canaviais caribenhos vieram o
samba e o maracatu, o blues e o jazz, a salsa e o
mambo e todas as variações sincretizadas com a
herança musical europeia como o bolero e o tango. Era o
modo do cativo afro sublimar seu sofrimento e mostrar,
apesar de tudo, sua alma alegre ensolarada e cheia de
apetite pela vida. Então, exus ou vodus da fuzarca, em
Nova Orleans ou no Rio de Janeiro, no Mardi Grass sob a
batuta dos sopros metálicos ou no Carnaval a
mercê do rufar da percussão, fazem a festa como pausas
folguedas em comemoração aos recomeços cotidianos.
Afinal, não há nada fechado, tudo está em aberto por
conta de que o tudo já feito abre novas portas para o
inusitado. A surpresa como afirmação de que a escolha

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de um lado é sempre inevitável, posto que terceira via
é sempre uma ilusão. Como na fita de Möbius, um lado
há de sempre prevalecer. A dialética é um diálogo de
contrários, não de intermediários. Então, tudo Odara!!!
A falange dourada flamejando na passarela, gingando
nos contornos do ponto entoado com fervor, com suas
alegorias encantadas, fez a escolha do lado da vida que
importa, abrindo com as sete chaves as portas do paraíso.

Por essas e outras, lhe imploramos: Fala Majeté!!!

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A DESDOBRA

A DESDOBRA
Ivy Gobeti

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Em meio ao inanimado
Eu me levanto
Transpondo janelas
Alargando fendas
Ao alto olho
As minhas horas são vastas
Que à minha frente tudo é.
E minhas células são faíscas
Venho à tona em meus lugares
Resido no além das épocas

Tudo delibero, no que tudo sou

Porém, calma, não se assuste

É por amor e com alma

Com força bruta e de todo jeito


Vejo coisas reais e desnudas
Carcaça forte pela vida.
Para a vida!

Sou inédita e sem censura.


A volta da chave sem fechadura.
Sou longe e toco altos caminhos
Eu me tremo junto às baixas nuvens
Passo pelos reinos de neve a deserto
Sem machucar

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Não conto mentiras ou me desfaleço
Sou una e me contenho
A grita e o eco do que nunca antes
Descasco, marco-me, cicatrizes sim
Mas não me quebro ao contato
Eu me levanto, ao alto os olhos
Avante, não paro
Sei das brechas por onde me dilatar
Desloco linhas e difamo margens
Não rastejo nem reconheço o chão
Sou mensageira da altitude
Somos longe

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45
46
tu
já escuta meus sinais?

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A VIDA E O AMOR

a vida e o amor
Rita de Cássia A Pacheco Limberti

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A vida

A vida
Não tem trégua
Não tem régua
Não tem regra

Mas chega um dia


A vida arrega...

O amor

O amor
Não tem trégua
Não tem régua
Não tem regra

O amor nunca arrega...

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O CORPO E A PONTE

o corpo e a
ponte
Patrícia Bersch

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54
Seus cabelos brancos voavam em todas as direções. Era uma
tarde quente de verão e o vento se insinuava invadindo as janelas
e dançando ao som de Like a Rolling Stone. Olhou pelo o vidro
traseiro, a estrada de entrada para a praia que fora
estreita no passado tomava a forma de um longo túnel. Adorava
enfrentar o sol através das lentes de seus enormes
culos escuros. Na infância contava os segundos enquanto
conseguia encarar o astro rei antes que
seus olhos ardessem. Entre lembranças de
diversos tempos apreciava a paisagem que se desenhava
a partir da moldura da janela do carro.
***
Arrastava os chinelos pelas ruas de chão. A cada
pisada sentia o corpo musculoso, leve, faiscando...
Sempre atrasada, de ressaca. Perambulava pelos bares
de noite, dormia tarde e reclamava de ter que trabalhar
enquanto podia estar na praia, desfrutando dos dias
de verão. A mãe já havia depositado dinheiro para os
primeiros meses e o combinado é que ela retornasse para
fazer a primeira matrícula na universidade. A saída era
permanecer no trabalho que lhe consumia parte dos dias
no restaurante do amigo carioca, estrangeiro como ela
na região. Afinal não era tão ruim trabalhar de frente
para um rio a beira mar.
***
Se apoiava no braço jovem de Ana, caminhava len-
tamente. Para a idade exibia de alguma disposição.
E saúde. Ainda assim sentia o incômodo do peso da

55
carcaça. A idade não lhe permitia pegar o caminho
da trilha nem o das pedras e nem sabia se eles ainda
existiam. O acesso para os turistas como ela era
atravessar o rio. Os barcos eram mais bem estrutura-
dos que os do passado. A correnteza embalava o velho
corpo. Divagava entre tempos.
***
No único dia de folga da semana ao invés de
atravessar o rio desviava o caminho para a praia,
subia o morro e entrava na trilha para chegar do
outro lado, para a praia quase deserta. Diziam para ela
não fazer a trilha sozinha, mas nunca escutou ninguém.
Em alguns momentos pensou que o outro lado da praia
fosse seu lugar favorito no mundo. Em dias de sol tudo
parecia perfeito. O barulho era do mar, do vento e dos
pássaros. O encontro do céu com o oceano azul formava
uma linha perfeita, quase imperceptível. O olhar alcan-
çava o horizonte sem fim. O vento enchia seus pulmões
de ar. O corpo leve de maresia afundava na areia macia.
***
Um estrondo fez com que todos olhassem para
trás. Uma ponte caía aos poucos. Não havia ponte no
passado. – “Essa ponte tem cinquenta anos, foi
construída quando fecharam para transformar isso aqui
em parque. Não permitiam barcos e turista entrava só
pagando” – explicou o marinheiro enquanto os olhares
acompanhavam o grupo de operários em cima da ponte
com máquinas barulhentas destruindo a passagem.

56
***
Fazia cinquenta anos que não retornava a essa praia.
Uma vida fora construída nesse tempo e antes disso
uma outra vida nesse lugar. Entre tempos navegava e se
apoiava no braço de Ana
.

57
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SOBRE TARTARUGAS, PATAS E PÃO

sobre
tartarugas,
patas e pão
Rainei Rodrigues Jadejiski

59
60
Eu sempre gostei muito de tartarugas, nome
genérico que enquanto pequeno eu usava para me
referir aos quelônios, fossem eles tartarugas
propriamente ditas, jabutis, ou, até mesmo, cágados.
Eu ficava com os olhos bem fixos na televisão quando
passava algo sobre tartarugas nadando ou se
reproduzindo. Achava curioso o fato de elas
desovarem na areia e meses depois os filhotes
nascerem. Esse modo de reprodução despertava o
meu interesse, instigava a minha curiosidade. As
tartarugas não precisam ficar sentadas sobre os ovos,
chocando-os, diferente das galinhas e das patas.
As aves, igualmente as tartarugas, conseguiam me
encantar, principalmente as aves de terreiro, como gali-
nhas, patos, perus, marrecos e gansos. O fato de elas serem
pequenas, estarem sempre perto de casa e se reproduzirem
por meio de ovos me deixava fascinado. Talvez por isso,
desde pequeno, tivesse uma paixão por elas.

61
Quando comecei a engatinhar, comecei a ter
contato direto com as galinhas do terreiro. Diz mamãe
que ela tinha que brigar comigo para eu não comer o cocô
dessas aves. Criança não tem juízo, né? Fui crescendo e,
também, queria criar patos. Um dia, minha tia me deu três
ovos de pata para colocar para chocar. Como eu não tinha
galinha emperriada, resolvi colocar esses ovos para chocar
de outra forma.
Lembrei-me da experiência reprodutiva das
tartarugas. Então, com uma faca de cozinha e uma
enxada sem cabo, comecei a cavar um buraco atrás da
casa. Aquele buraco quadrado, ou berço – por conta da
expectativa de geração de vida –, devia ter um palmo
de fundura. Enterrei os ovos ali, ou melhor, acomodei
aquelas futuras vidas. Coloquei uma tábua por cima do
ninho para os ovos não terem contato direto com a terra,
de forma que não atrapalhasse os patinhos nascerem, e
joguei terra por cima. Achei que o calor gerado naquele
ambiente faria os ovos eclodirem. Muito animado e con-
fiante, contei essa peripécia para a minha mãe.
Alguns dias depois, resolvi abrir aquele ninho para
ver como estavam os ovos. Na verdade, estava com
expectativa de encontrar três patinhos amarelinhos jun-
tinhos, abrindo o bico querendo comida. Não foi bem
isso que aconteceu. O buraco estava vazio. Nem sinais
de ovos e de patinhos.
Fui, chorando, contar para a minha mãe. Descobri
que o pão caseiro amarelinho que eu acabara de comer

62
tinha sido feito com ovos de pata. Só me restou cho-
rar com o estômago cheio. Quanto às tartarugas, anos
depois consegui dois cágados e um jabuti. Às patas, tive
muitas ao longo da vida e vi muitos patinhos nascerem
de patas e de galinhas. Desisti de enterrar ovos. Como
pão, mas não com o mesmo gosto.

63
64
MINHA VIDA EM LINHAS POÉTICAS

minha vida em
linhas poéticas
Maria dos Remédios Andrade Ribeiro Barros

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66
Ilusão
A dor da espera
Na face do rosto
No brilho do sol
Nas tardes do dia

A espera incansável
Que ilusão eu criei
Num sonho perdido
Ou em uma vida talvez

***

Honesto
Honeto tu és o que sois,
Suor trabalho ardil
Vida ferida e cansada
Não se cansa na chegada,
Nem ao menos na saída

Sofre tudo por amor,


Em que a vida não lhe traz favor,
Queres sempre ser só tu,
Uma vida de exemplo,
Porém nunca já sonhou
Em uma vida só de amor.

67
***

Amor x Clamor
Nessa vida não é fácil
Falar de honestidade
Pensar em caridade
E viver por viver

O sonho anda perdido


Anseios e sensações
Parece que tudo padece
No meio das ilusões

O amor pede uma a prova,


No meio do turbilhão,
Mas senti que essa prova,
Decepa sempre seu coração

***

Maria bunita

I
Nasci numa bolha,
Cercada que nem folha,
Nasceu a maria,
Bonita e legal,
Me chamam de fera,
Acho que sou fera radical.

68
II
Eu sempre fui a maria,
Que brincava de correr,
Do pega, do liga,
Amava mesma era saber,
Que a infância pode até durar pouco,
Mas eu aproveitava cada minuto pra valer.

III
Lá em casa somos cinco irmãos,
Eu, edinho, pedito, eriquinho e dezinho,
Sempre muito unidos,
Somos muito amados,
Somos muito irmãos.

IV
Filhos eu tive dois,
Thor e lucas,
Sinônimos de amor, pois,
Foi deus quem me entregou,
Essa tarefa ele confiou.

V
Tive que batalhar muito,
Para me superar,
Buscando sempre melhorar,
Sorri, cai, mas sempre senti,
Que vale a pena viver,
Mesmo sabendo que o sofrer,
Está no nosso eterno reviver,
E assim eu sou feliz.

69
VI
Minha vida parece novela,
Branca, verde e amarela,
Novela mexicana,
Estica e puxa, esquenta e esfria,
Paixões e desilusões,
Cercadas de emoções.

VII
O conselho que te dou é um só,
O respeito faz parte de deus,
O amor irradia o espírito,
O sonhar nos enche de esperança,
O viver faz tudo acontecer,
Então faça tudo que nem os sonhos bons,
Viva, ame, sonhe e respeite-se.

***

O salvador
Vivemos num mundo de batalhas
Mas eis que surge um desvairado
Dizendo ser salvador
Dizendo matar a fome
Daqueles que querem amor

Mata a fome e dá a vida


Daqueles que estão sem saída
Tratando-os com amor
E estes apenas favor

70
Mas o mundo é assim mesmo
Quem dá com amor
Vive sem temor
Porque sabe que vai morrer
Morrer vivendo o verdadeiro amor.

71
72
CAÇA

caça
Luiz Felipe dos Santos

73
74
Vou andando pelas ruas como alguém que segue um
mapa de lugares inventados, buscando indícios da tua
passagem: teus gestos-trânsitos na cidade à noite e tua
voz ranhosa na boca de um estranho, onde vou afundan-
do lentamente, até chegar ao âmago e ter a certeza: não
é você. Então tento pronunciar novamente teu nome no
escuro, como se cada fonema um vagalume – luzes que
tremulam e depois se apagam de vez.

75
76
DESEJO CAMPONÊS

desejo
camponês
Aléssio Coco de Andrade

77
78
Aos amigos que me ouvem
Peço um pouco de atenção
Para contar em versos corridos,
A história de um camponês exaurido,
Mas com um desejo enorme no coração.
Esse camponês inconformado
Com tamanha exploração
Que passa o povo do interior
Faça frio, tempestade ou calor
A enxada está na mão!
Como pode seu menino
Cavar tanto o chão?
Se a vida é mais que isso,
Um desenho e não um rabisco!
Camponês, cadê sua diversão?
A labuta é grande e exaustiva...
Mas, primeiro o patrão!
Abre mão da sua vida,
No tocante da subida,
Não liga com a opressão.
Se não liga eu não afirmo
É apenas uma opinião
O que vejo e tenho em mente,
Até no broto da semente,
O camponês se entrega ao chão.
Em meio a tanto desgosto
De viver sob a pressão,
De quem planta para manter,

79
Uma cidade que precisa comer
Os frutos do sertão.
Camponês, se apruma e vai!
Não desista, meu irmão!
Os seus sonhos são maiores,
A contar desde os menores,
Tu podes ser renovação!
Esse pé que pisa e esmaga
Sem dó ou perdão
É o mesmo que caminha
Com a barriga bem cheinha
Querendo o “bem” da nação.
O camponês fica à espera
Do Agro que se julga “evolução”
Esse agro que aprisiona
Do sem-terra tira a lona
O lucro rompe o torrão.
O sonho do camponês
Dito não foi não
Quisera que todo mundo,
Com um sentimento profundo,
Tivesse um tiquim de compaixão.
A terra grita e agoniza
E muitos não tem essa noção
O dinheiro vem na frente!
A ganância está na mente,
E continua a exploração.
Não consigo prosseguir

80
Sem abrir o coração
Esse camponês que vos escreve
Com alma serena e leve
Deseja a Transformação.
A transformação do ser humano
Mãos unidas em união
Bem querendo cada ser
Retirando da terra o bem viver
Aliando existência à comunhão.
Eu ainda acredito
No abraço de irmão
Abraço sincero e apertado
Mesmo que desconcertado
Mas que tenha amor e admiração.
E você que está nessa
Não se permita à opressão!
Os pés que te pisaram,
Sucumbiram e humilharam,
Impunes não passarão.
Termino essa prosa ligeira
Trazendo essa reflexão...
O coração está aliviado
O poema está acertado
A poesia se torna canção.
Me despeço agradecido
Com a seguinte exclamação:
Ao ler este poema,
Receba um forte aperto de mão.

81
A luta não termina
Essa é a sugestão.
Para seguir em fileira,
Levantando a mesma bandeira,
A favor do amor e do pão.

82
83
84
nós
que queremos amor incondicional

ɯıɯ
̣ ɯǝ ɐʇıq̣ ɐɥ ǝnb ‫ן‬ɐɯ opoʇ ǝ ɯǝq opoʇ

nós

85
86
VOCÊ QUER SER UM TRANSVIADO?

você quer ser


um
transviado?
Rainei Rodrigues Jadejiski

87
88
Até os dez anos, estudava na escolinha multisseriada
que ficava a uns três quilômetros de distância da minha
casa. Eu fazia esse percurso a pé, vez ou outra colhendo
flores para levar para a tia. Todos os dias, cravos, rosas,
veludos e até onze horas enfeitavam a mesa dela num
copo de água transparente.
De repente, tudo isso acabou. Terminei o primário
e fui para o ginásio estudar a quinta série na escola dos
grandões. Deixei de ter uma tia e passei a ter vários
professores e professoras. Ao invés de acordar cedo
para caminhar, madrugava para embarcar no transporte
escolar.
No busão, fazia uma verdadeira viagem. Em alguns
poucos dias a viagem era mais calma, já em tantos outros,
rezava para ela terminar logo. Doía ouvir alguns apeli-
dos: gayzinho, florzinha, menininha, boiola, viadinho,
mariquinha. A criatividade era enorme, a lista, interminável. Eu
segurava firme. Não chorava. Tinha que mostrar que era forte,
pois se uma lágrima caísse, já era, a galera não ia me deixar em
paz e o que era ruim, poderia ficar pior. Tentava sempre ser
precavido e me preparar psicologicamente
para um apelido novo.

89
Quando chegava à escola, eu fazia de tudo para não
ser muito notado. Tentava sair de cena. Tomar água e
ir no banheiro, só em último caso. As filas diárias, após
o sinal da entrada e do fim do recreio, eram uma preo-
cupação, sobretudo no dia de cantar o hino nacional.
Naquele esquema de fila indiana, sempre ficava na
última posição, o que me deixava na mira de
muitos olhares. Que vergonha!
Eu sempre fui uma criança afeminada, com trejeitos,
ou uma criança viada, como quiserem chamar – já estou
preparado para ouvir. Às vezes, não conseguia me se-
gurar. Era difícil controlar os pensamentos, as palavras
e os gestos. Por conta disso, no início da sexta série,
quando o ano letivo mal tinha começado, falei demais e
me dei mal.
Fomos assistir uma palestra no pátio da escola. Todo
mundo reunido. O palestrante era um gato. Um colírio
para meus olhos verdes. Empolgado, fui dizer isso para
minhas colegas, as parceiras desde quando estudava na
escolinha da roça, na escola dos pequenos. Eu confiava
nelas.
Não deu outra. Assim que a aula terminou, a
professora de português pediu que ficasse na sala, não
me deixou sair correndo para pegar o escolar. Eu já
imaginava o que pudesse ter acontecido só de olhar
para a cara dela. Não sei o porquê, mas as meninas me
deduraram, elas deram com língua nos dentes. Era tão
grave o que fiz que elas foram contar para a professora?

90
Eu tremia igual vara verde. Não lembro de quase
nada do esporro que levei, mas as últimas palavras, em
tom de briga, nunca mais esquecerei: você quer ser um
transviado?! Essa pergunta valia como uma lição de
moral. Será que a professora esperava mesmo uma
resposta? Não sei bem o que ela queria dizer com
transviado, mas se for o que estou pensando, hoje
consigo dizer que quero sim! Ou já sou?

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92
ELES E EU

eles e eu
Ivy Gobeti

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94
Não me conte mais nas nossas histórias de antes
Não quero mais ouvir de mim
No álbum de fotografias de meus pais

Não me conte mais como cárcere


Nas grades das suas prisões

Não me reporte mais como


Conclusões dos seus pensamentos
E nem me cante mais
Nas canções que me são preferidas,
Nem nas notas das músicas mais belas
Ou mais profanas, ou mais parecidas comigo

E muito menos me explique mais


Nas citações dos autores que mais adoro
E nem me compartilhe a figura
Em imagem alguma por outro pintada

Tenho direito de saber-me


Tenho o direito.
O direito de saber-me
.
Então não me fale de mim mesma
Nas suas palavras, não me cante

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Nos seus cantos, não me destoe
Na sua apatia, e nem me conforme
Em seu sono, nem me aconchegue
Em seu casulo, prisão!

Não me conte como personagem


Aterrorizado nos seus medos
E nem me conte como alegria
Nas suas futilidades diárias

Não me faça ver-me nas cores


Das suas roupas
Não me faça envergonhar-me na sua moral
Eu tenho o direito de saber e ser, a mim,
de mim e por mim mesma.

Não me sancione em suas leis


Não me proíba em seus desejos
E nem desenhe meu mundo como belo, no seu olhar
Não destrua meu mundo como podre, no seu pesar

Não me conte como antiga no seu passado


E nem como promessa no seu futuro
E nem me dê de presente no seu momento

Não me conte em nada bom


E em nada ruim

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Desde que não parta de mim, não seja em mim,
Não se volte a mim, não comece e termine em mim
Eu tenho o direito de saber, sobre mim.
Aos amigos que me ouvem

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98
AS CINCO ESTRELAS

as cinco
estrelas
Wanessa Rodovalho Melo Oliveira

99
100
Na entrada de uma fazenda, muito, muito
distante, existe uma árvore solitária, na porteira estava
pendurada uma placa com o seguinte nome: Fazenda
Cinco Estrelas. Que coisa curiosa esta árvore tão isolada
com um nome tão peculiar.
Perto dela, passava uma rodovia pouco
movimentada. Em uma noite muito estrelada de lua
cheia, cinco amigos passavam por ali, Raul, Taís,
Mateus, Pedro e Mônica, viajavam animados para a casa
dos pais de Mateus, mas algo estranho aconteceu com o
carro. Logo encostaram na entrada da fazenda e todos
desceram para ver o que tinha acontecido.
Estava uma noite agradável e muito clara porque
a luz da lua rescendia todo o local, então perceberam
que o pneu estava furado, Raul, Pedro e Mateus foram
trocá-lo. Taís e Mônica ficaram por ali, observando
aquela árvore enorme, tão verde e sublime.
Taís viu uma luz brilhante em um dos galhos da
árvore. A curiosidade foi aumentando conforme a luz
brilhava mais. Ela não resistiu, pediu ajuda para Mônica
e subiu na árvore. Quando ela estava perto de encostar
na luz, ela foi sugada para dentro da árvore.

101
Mônica que observava tudo ficou desesperada e
gritou por socorro. Os rapazes que estavam ocupados
trocando os pneus não entenderam direito o que estava
acontecendo. Mateus era o mais corajoso, foi criado em
fazenda, então não tinha medo. Ele subiu na árvore e
aquela luz de repente apagou, no desespero, passando
de galho em galho, foi sugado para dentro da árvore.
Em uma atitude desesperadora, os três gritavam,
mas ninguém ouvia, não passava nenhum carro pela
rodovia, pois era muito tarde. Aos prantos
Mônica gritava que era culpa dela, não deveria ter
ajudado a Taís. Porém, os amigos tiveram uma ideia, su-
bir na árvore e ver o que poderia acontecer, mas não
aconteceu nada.
Ficaram intrigados, andando ao redor da árvore,
pensando em como trazer o Mateus e a Taís de volta.
Pedro era o mais inteligente, só acreditava no que a ciên-
cia explicava, mas poderia confessar que isso era algo
fora da realidade. Raul era medroso, não demorou para
suas pernas ficassem bambas e ele que era gago, logo
começou a gaguejar:
-So-so-so-co-rooo-ro!
Do outro lado da atmosfera, Mateus e Taís estavam
dentro de uma casa da árvore. Chocados com o que
aconteceu, estranharam aquele lugar sujo, as paredes
cheias de raízes, o espaço apertado e um baú muito ve-
lho. Dentro dele havia um diário, contendo escrita de
uma criança assinado por Maria.

102
Taís, que mais uma vez foi vencida pela curiosidade, pe-
gou aquele diário e começou a ler. Nele estava registrada a
vida de Maria, uma menina de 10 anos que vivia com seus
avós na beira do lago, ao pé da montanha. Naquele diário
tinha todos os acontecimentos estranhos que ela via na
sua casinha da árvore.
Nesse momento, um vento sopra como um sussurro e
os dois amigos ficam arrepiados, logo se abraçam de medo.
As corujas cantavam bem alto e era possível ouvir os ani-
mais lá fora. Aline continua a leitura, onde consta a lenda
que a bisavó de Maria contava, que a cada 100 anos, as
cincos estrelas, às cinco horas da manhã se alinhavam, bem
em cima da casinha da árvore e que quando isso aconteces-
se, não haveria mais noite.
Tais e Mateus olham um para o outro aterrorizados,
desesperados para sair daquele lugar, eles tentam abrir
a porta, estão presos. As janelas, embora abertas, não
permitem que eles saiam. Mateus usa toda a sua força,
mas é em vão. Então, continuam a leitura.
“No ano dobrado, no dia 2, do mês igual, as cinco
estrelas se alinharão novamente, às cinco horas da ma-
nhã.” Os dois falaram ao mesmo: -É hoje!
Mas o que isso significaria? Como sairiam daquele
lugar? Como conseguiriam voltar?
E seguia aquele mistério:
“Aquelas que cortam em linha reta, a cor é branca,
tanto em cima quanto embaixo, faz um círculo, mas nada
muda, é o início do verão.”

103
Com a aflição que estavam sentindo, não conseguiam
pensar em uma boa resposta, pensaram na chuva, no terre-
moto, na lua, no sol, mas nada acontecia. Estavam ficando
esgotados, sem nenhuma ideia e as horas passando muito
rápido. O que aconteceria às cinco da manhã?
No céu, as estrelas se movimentavam, os amigos que
estavam no mundo real perceberam que alguma coisa
estranha estava acontecendo, o céu foi clareando, as
cinco estrelas mais brilhantes pareciam possuir imã,
estavam se aproximando. Um vento forte, cheio de
ira assustava os jovens. Aquela árvore, no início tão
majestosa, tornou-se terrivelmente furiosa com seus
galhos balançando muito.
Os três entram no carro, este começa a balançar,
gritos de medo podem ser ouvidos, mas o que era noite,
foi tornando-se claro como um dia, mas ainda era possível
observar aquelas cinco estrelas que agora brilhavam ainda
mais forte e pareciam estar se aproximando da terra.
Lá na árvore, Taís chora, pensando que é o fim e
Mateus continua a leitura.
“Se essa charada você não acertar, comigo nessa
árvore vai ficar, as estrelas vão se alinhar e nunca mais
a noite verão, pois comigo aqui será só solidão, é como
no começo do verão, seu coração vai gelar, porque onde
eu fico, a neve vai derramar.”
Então Mateus se lembrou do fenômeno que acontece
no Círculo Polar Ártico, a resposta só poderia ser o sol
da meia noite. Mas a charada dizia “aquelas”, então...

104
De repente, Taís escuta uma voz chamando por seu
nome, tão distante, tão fraca e suave.
-Taís, Taís... acorda, minha filha.
Quando ela abre os olhos, um pouco sonolenta e
confusa, com fortes dores de cabeça, debatendo-se e
gritando por seus amigos.
-Onde está o Mateus? Onde estão os meus amigos? A
luz, clareou, escureceu? - Mãe, estávamos presos dentro
de uma árvore, uma casa em cima de uma árvore, uma
luz na árvore.
Muito agitada, sua mãe tenta acalmá-la explicando
que eles sofreram um terrível acidente. Que os amigos
estão bem, porém, Mateus não resistiu aos ferimentos e
veio a falecer.
Daquele dia em diante, Taís não conseguia mais
distinguir o que era real com o que era fantástico, pois
em seus pensamentos, Mateus ficou preso dentro da-
quela árvore, assim como aquela menina de 10 anos e
acreditava que um dia, as cinco estrelas se alinhariam e
nunca mais haveria noite.

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PENSAMENTOS NA GAVETA

pensamentos
na gaveta
Paula Valéria Andrade

107
108
As pessoas
querem ver
você caber,
ENCRALACRADA
numa gaveta.

A gaveta
da VENETA,
delas.

Umas desbotadas
outras EMBOLORADAS

Elas criam
GAVETAS
para organizar
coisas,
ou escondê-las.

109
Gavetas,
não tem janelas.
ou SAÍDAS DE EMERGÊNCIA

Elas guardam
coisas,
POR CRITÉRIOS,

Fotos,
Toalhas,
Papéis,
Roupas íntimas,
Bugigangas,
Produtos de higiene,
Coisas infindáveis,
Coisas perenes.

Algumas,
trazem etiquetas
para lembrar
o que temos.
Outras são ZOADAS,
algumas organizadas.

110
Mas as que,
NINGUÉM
ABRE,
São as gavetas,
do seu pensamento.

As chaves
delas,
só quem
guarda,
(de verdade)
É o VENTO.

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BRASIL: A CONSTRUÇÃO DA

espacialidade
mulata
Carlos Santos

113
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Barrosamente lembrando: Brasil, meu mulato inzoneiro!!!
Brasil bom de samba, bom de bola, bom de folia... e também
bom de transgressão!!! Como dizia Dias Gomes: “Quem
não nasceu pra incomodar não deveria ter nascido”. Então,
esse é o sentido de se ser um mulato inzoneiro. Condição
que deve ser estendida ao Brasil como nação dentro do
concerto das demais: uma novidade incomodativa pela
força de sua mulaticidade. Inzoneiro enquanto criativa-
mente transgressor, posto que mulato, sendo síntese de
uma dialética étnica. Então, uma espacialidade natural
eivada de caudalosos rios e luxuriantes biomas, cuidados
por povos aborígenes, gentes priscamente migradas das
terras mongólicas asiáticas, às margens de um revoltoso
curso de massas líquidas salgadas que fluem de polo a
polo do planeta. Uma Pindorama tropical, que acabou por
ser encontrada pelos albinos europeus ávidos de metais
preciosos e de almas gentis para catequisar catolicamen-
te e mercantilitiscamente. Esse é o quadro de um berço
esplêndido que um povo miscigenado imberbe
habitaria, formatado na forja do escravismo, do
massacre e da predação. O que fazer com tanta terra?
Sem os metais de pronto, o jeito é plantar, fazer brotar do
massapê nordestino o adoçante para a fidalguia europeia.
Começa a transformação do local Brasil para o lugar Brasil,
com o uso dos insumos naturais disponíveis nessa porção
da crosta planetária. Mas, para tanto, braços em braça-
das seriam necessários. Já que não foi possível domar os
indígenas, vieram os melaninizados africanos. E sur-

115
giu a civilização da casa grande e senzala. A família
brasileira é então plasmada com base no patriarcado e no
trabalho escravo. Finalmente, no coração das Gerais, o
ambicionado metal foi encontrado. O metalismo da época era a
apologia ideológica da doutrina mercantilista: valor
equivalia a metais preciosos, ou seja, algo natural.
Portanto, riqueza significava entesourar ouro e prata. A
visão de valor como algo natural ao invés de fruto do
trabalho, ou seja, algo social, permeia a formação
socioeconômica brasileira e prejudicou seu salto para o
nível industrial. O nordeste perde centralidade
político-econômica e o sudeste surge como nova
espacialidade de poder e de riqueza. E, em breve, a
posição do sudeste se consolida com a cultura do café.
Monocultura que irá garantir a integridade nacional ao
propiciar recursos para financiar as campanhas de Caxias
para debelar os surtos regionais de secessão. Vem a
abolição, mas antes dela a Lei de Terras de 1850. Então,
ao vedar o acesso à terra aos libertos e mesmo
também aos brancos pobres, já que a terra teria que ser
comprada, as elites brasileiras fundaram o profundo fosso
social que persiste até hoje. Mas, para os membros da elite
brasileira, foi escancarado o apossamento das terras
públicas que depois eram legalizadas. Veio a república,
o jogo do poder jogado pelos coronéis rurais; tenentes se
insurgem e uma mentalidade urbana assume o país
com a era Vargas. Vem sessenta e quatro: o impulso
desenvolvimentista de JK é retomado e o país é

116
integrado por uma malha rodoviária. Instala-se a
Nova República e após alguns percalços aqui estamos
festejando mais uma vez a possibilidade de um
tempo progressista trazer bons ventos capazes de girar o
moinho social, triturando o racismo, as desigualdades,
a miséria, a fome, fomentando a educação, a saúde, o
emprego, e que possa fundar um Brasil mulato e, por que
não, de fato inzoneiro!!! Avante!!!

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HORTINHA DE TEMPEROS

hortinha de
temperos
Maurício Cintrão

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Eu escolhia feijões na cozinha de casa quando veio o
clarão intuitivo: “alcancei o outro lado da montanha”. É
algo parecido com aquela paisagem que surge repentina-
mente depois da curva da estrada. Ou como aquele olhar
de alguém que desperta a sensação de completude na gen-
te. Senti que estou próximo da descoberta de um caminho
que mudará minha vida.
Com os anos e as tantas experiências, essa sensação
não se repete mais com tanta frequência. Já foi comum,
muito comum, quando eu era mais jovem. Com o tempo,
parou de acontecer. Aprendemos por tentativa e erro e,
não raras vezes, com medo de errar, paramos de tentar.
Ou seja, posso ter relaxado em relação às novas
expectativas, ou me acostumado ao conforto da
previsibilidade. Afinal, o espanto é fruto do desafio. Na
cozinha de casa, sem a menor pretensão de promover
uma reflexão filosófica, desperto para o novo.
Isso dificilmente acontece com quem está
acomodado. Eu poderia ter aposentado a mim mesmo.
Não tenho mais os desafios de planos e metas da vida
corporativa. Até tentei me esconder da vida no sofá da
sala. Mas não consegui. Então decidi continuar os estudos.
Fui cursar Licenciatura em Artes Visuais. Ainda não
sei direito o que esperar deste curso que me encami-
nha para a docência. Não me enxergo como professor
em escolas públicas. Já estou no final do 3º ano (são 4,

121
ao todo) e não descobri de verdade o que vim fazer.
Sigo nos estudos porque aqui e ali acabo encontrando
estímulos para continuar.
Longe das comunicações corporativas, mergulhei na
vida alternativa de artista/artesão que gosta daquilo que
cria. Estou longe das galerias e da fama enriquecedora.
Às vezes nem encontro muito sentido para o que produ-
zo. Minhas artes e meus artesanatos operam em mim o
encanto de uma hortinha de temperos no quintal.
Lembro de minha avó paterna que plantava
hortelãs, oréganos, louros e manjericões. Talvez venha
dela minha atração pela arte de sonhar. Porque a horta
não faz a comida, mas dá encanto à arte de cozinhar.
O imaginário deste horticultor metafórico até sugere
mágicas gastronômicas (ou coloridas), mas a prática sem-
pre esteve bem longe disso. Nem cores, nem formas, nem
aromas me aproximaram até agora da arte transformadora
(de sabores, vidas e sonhos).
Mas surgiu uma imposição do curso de Licenciatura
que acabou criando uma inesperada oportunidade. Foi
isso que percebi entre feijões partidos, pedras e pensa-
mentos. Estou prestes a ingressar em uma nova fase da
minha vida. E isso foi surpreendente.
O estágio obrigatório da faculdade está me levando
a atuar em uma instituição de ensino para pessoas com
deficiência intelectual. Começo amanhã. Deu falta de
ar, deu alegria, deu sentido. Foi o desafio provocando
espanto de novo depois de tanto tempo.

122
Tudo o que reuni na minha horta de temperos
artísticos pode ser usado nesta experiência. Esse
talvez seja o maior objetivo de buscar a faculdade
depois de velho: devolver às comunidades aquilo que
pude aprender e adquirir ao longo dos anos.
Sou um privilegiado. Ainda tenho tempo para
aprender, crescer e plantar. Talvez por isso goste
tanto de escolher feijões. Além de evitar pedras no cozido,
separo o que merece participar da gastronomia dos meus
sonhos coloridos. E viva os desafios.

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MINHA PRIMEIRA BARBIE

minha primeira
barbie
Alessandra Ribeiro Lima

125
126
Eu tinha cerca de dez anos de idade, fim da década
de oitenta, minha mãe professora, com seu salário – de
professora, conseguiu comprar a minha primeira e única
boneca Barbie. Lembro-me como se agora fosse, estava
deitada, melhorando de um resfriado, febril, quando ela
colocou a boneca do meu lado. Melhorei como num pas-
se de mágica, estava feliz, era a tão sonhada Barbie.
Alice, minha coleguinha branca, já tinha várias: a
Barbie com carro, a Barbie com guarda-roupa, a Barbie
com óculos e várias outras que se pareciam todas com
ela, havia uma identificação. Comigo não se parecia, não
tinha meus traços, nem minha cor, na época eu não pen-
sava sobre isso, mas eu sentia! Sentia também a alegria
de ter ganhado a minha Barbie, eufórica e feliz durante
um bom tempo, mas durante esse mesmo tempo, eu as
via mais parecida com Alice do que comigo, só sentia!
Passado um tempo, a minha única Barbie que não
se parecia comigo, perdia-se nas tantas de Alice, que se
pareciam com ela. Além da não-identificação, havia a
quantificação: ela tinha mais Barbies que eu e isso pre-
cisava ser explicitado. Brincávamos mesmo assim, era
legal, brigávamos também, coisa boba, coisa de criança,
mas havia autoconfiança e firmeza de quem estava sem-
pre por cima e havia autoconfiança sem tanta firmeza
de quem, mesmo sem representatividade, queria só ser
criança e brincar de boneca.
Cada vez menos via Alice e suas bonecas, quanto à
minha, por um bom período voltava para a caixa, que

127
com o tempo se desfez, como também foi se desfazendo
a vontade de brincar com a minha Barbie branca e loira –
guardada por minha mãe até hoje ou até ontem, nem sei
onde foi parar. Nesse instante paro a pensar que quem
guardou por tanto tempo foi ela, não eu.
Hoje sou uma mulher preta com várias Barbies
Pretas que se parecem muito comigo, com minhas
irmãs, com minhas amigas e colegas de trabalho, que se
emocionam ao vê-las, que se veem nelas, que se
(re)pensam, repensam suas filhas e a nossa existência,
porque nunca foi sobre mim, sempre foi sobre todas nós,
meninas e mulheres, Pretas!

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SOBRE OS AUTORES

133
Alessandra Ribeiro Lima
Especialista em Educação, Pobreza e Desigualdade So-
cial pela Universidade Federal do Espírito Santo. Peda-
goga e Professora de Educação Infantil nas redes muni-
cipais de educação de Serra e de Vitória - Espírito Santo
- Brasil. Com 22 anos de vivências na Educação Pública.

Aléssio Coco de Andrade


Professor de Educação Física, camponês, dedica seus es-
tudos sobre a relação do currículo com as práticas de
Educação Física nas escolas do Campo, ama a natureza,
cuida da terra com zelo e apreço. Tem dois filhos é casa-
do e a cada aniversário dos filhos planta uma árvore e a
entrega de presente a eles. Acredita no poder do amor e
de amar.

Aurora Miranda Leão


Jornalista, atriz e documentarista, é doutoranda do PP-
GCom da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),
linha de pesquisa Competência Midiática, Estética e
Temporalidade. Mestra em Comunicação pela mesma
instituição com a dissertação “Meu pedacinho de chão:
sete movimentos à procura da narrativa”. Graduada pela
Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal
do Ceará (UFC), é também especialista em Audiovisual em
Meios Eletrônicos pela mesma Universidade. Trabalhou em
rádio, jornal e televisão em Fortaleza, sua cidade natal, e
lecionou por uma década como professora de teatro em es-
colas e centros culturais. Escreve contos, crônicas e poemas.
É roteirista e diretora 196 de diversos curtas-metragens, en-
tre esses “A casca avoa e o miolo fica” e “Resta um”, lança-
dos com apoio do programa BNB de Cultura. É autora dos

134
e-books “Telenovela: a ficção popular do Brasil”, “O cinema
que mora na minha saudade”, “Na televisão na palavra no
átimo no chão”, publicados em 2021, e “Teledramaturgia:
Meu Pedacinho de Chão e uma metodologia de análise”,
lançado neste 2023. Para saber mais, acesse https:// linktr.
ee/auroradecinema. Endereço eletrônico: auroraleao@hot-
mail.com

Carlos Santos
Professor Titular Aposentado do Departamento de Geo-
grafia da Universidade Federal de Rondônia, onde atuou
na Área de Geografia Humana. É autor de livros e arti-
gos pertinentes à sua área de atuação. Também navega
pelo campo literário, abordando temas do cotidiano.

Ivy Gobeti
Sou uma latina-americana, uma brasileira, o desenho da
minha alma é ser poeta e a minha impressão do mundo é
a poesia. As palavras dançam em mim desde que tenho
memória de ser humana. Meu ofício também é com as
palavras, com uma dança diferente, a da escrita cientí-
fica, em todas as áreas do conhecimento e da pesquisa.
Tenho 39 anos de jornada humana e sou uma mulher em
transição de carreira para o Serviço Social, em que tri-
lharei os caminhos para trabalhar com a emancipação de
meninas e mulheres cis e trans. Escrevo para satisfazer
a arte em mim e em nós, e para colocar a caretice em seu
devido lugar, bem longe.

Lilian Maria Custódio Toledo


Natural de Juiz de Fora, MG, sou uma professora de Lín-
gua Portuguesa e Literatura com 30 anos de experiência

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no Magistério. Desde a adolescência, a literatura foi mi-
nha aliada na busca por amizades, reais ou imaginárias,
proporcionando um refúgio nos personagens das histó-
rias que lia. Minha paixão pela literatura, especialmente
a de Machado de Assis, é evidente, sendo ele o foco de
minha Dissertação de Mestrado, onde defendi a superio-
ridade de “Dom Casmurro” em linguagem e enredo. A
influência desse bruxo do Cosme Velho vai além, explo-
rando mitologia, filosofia e psicanálise em minha bus-
ca por respostas. Durante quase 10 anos, fui diretora de
uma escola pública na periferia, promovendo rodas de
conversa sobre literatura, onde outros autores se junta-
vam a Machado de Assis. Mesmo não tendo filhos como
Brás Cubas, busco transmitir meu legado para sobrinhos
e alunos que, assim como eu, se apaixonam pela obra
de Machado. Atualmente, sou doutoranda em Estudos
Literários na Universidade Federal de Juiz de Fora, ex-
plorando os caminhos dos contos machadianos. Em mi-
nha escrita, misturo experiências reais com o imaginá-
rio, rememorando momentos da trajetória profissional
e pessoal. Acredito que cada pessoa que encontramos
deixa um pouco de si em nós, tecendo nossas histórias
em conjunto.

Luiz Felipe dos Santos


Alagoano, graduado em Letras pela UFAL, mestre e
doutorando em Letras – Escrita Criativa pela PUCRS.
Em 2019, publicou seu primeiro livro de poemas, “ama-
rela outra rosa”, pela Ofélia Edições. Além disso, possui
outros textos literários publicados em antologias, como
“Antologia Seis” (2022) e “dedos de nanquim” (2022),
vinculadas a PUCRS.

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Maria dos Remédios Andrade Ribeiro Barros
Amante das artes poéticas de cunho popular, começou
seu amor desde a adolescência pelo mundo da Literatu-
ra, em que escreveu a poesia intitulada de “Ilusão”, com-
posta num momento de muita melancolia e nostalgia.
Poetisa, também escreveu minicontos mas o mundo da
poesia é o que mais a encanta quando o assunto a litera-
tura popular. É licenciada em Letras, Português e Física,
além de ter Bacharelado em Direito, sendo Especialista
em Docência de Ensino Superior, Libras, Gestão Escolar
e Direito Constitucional Aplicado. O Mestrado foi alme-
jado e concretizado em meados de agosto de 2023 com
o PROFLETRAS/UEMS/UFRN, tendo como tema de sua
dissertação “Leitura e produção textual: uma proposta
de ensino com Literatura de Cordel em Sala de Aula”.

Maurício Cintrão
65 anos, nasceu em São Paulo, SP, e mora em Campo
Grande, MS, há oito anos. É jornalista, cronista e artista
visual, com especialização em Arte Educação e Cultu-
ra Regional pela Faculdade NOVOESTE (Campo Gran-
de, MS, 2021). Atualmente, cursa Licenciatura em Artes
Visuais pela UNIASSELVI. Integrou nove antologias de
crônicas e tem um livro publicado como cronista (“O
Gordinho e a Menina de Rosa” - Editora Protexto, 2004),
além de ter participado de publicações acadêmicas com
textos sobre Arte Educação.

Patrícia Bersch
Desistiu da carreira de atriz e decidiu fazer Letras. Gosta
de cinema e literatura, estuda crítica e teoria literária e
atualmente se dedica a pesquisa nesse campo do conhe-

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cimento por meio de sua atuação como doutoranda de
um programa de pós-graduação em letras. No momento
ganha a vida como professora da educação básica numa
escola pública no Brasil.

Paula Valéria Andrade


Poeta e escritora brasileira, possui uma carreira diver-
sificada que abrange mais de 20 livros em diversos gê-
neros, incluindo poesia, arte-educação e livros infantis.
Reconhecida internacionalmente, conquistou prêmios li-
terários em Portugal, Itália, Alemanha, EUA e no Brasil,
como Jabuti, UBE, PROAC e APCA. Destaques incluem
sua atuação como júri no Prêmio São Paulo de Litera-
tura, representação do Brasil no Festival Internacional
de Poesia de Quetzaltenango, e a idealização do cole-
tivo literário feminista em São Paulo. Seu engajamento
na promoção da literatura é evidenciado pelo lançamen-
to do livro “Feminino Infinito 120 Poetas, Escritoras e
Artistas Brasileiras” e sua presença em publicações in-
ternacionais. A partir de 2020, participou ativamente de
eventos literários, ganhou concursos internacionais e
recebeu reconhecimento por obras como “Iris Digital”
e “A Pandemia da Invisibilidade do Ser”. Em 2021, foi
premiada com o PROAC-SP por “O Novo no Ovo” e par-
ticipou do projeto “Dossiê Poetas Contemporâneas do
Brasil”. O ano de 2022 marcou o lançamento de “Cos-
mopolinaufragos” e do livro infantil “O Fuzuê no Man-
guezal”, consolidando seu destaque no cenário literário
contemporâneo. Homenageada em festivais literários e
membro da AILB desde 2021, Paula Valéria Andrade é
mencionada no livro “The Handbook of Latin American
Studies, Vol. 76”, reforçando sua influência na cena li-

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terária internacional. A premiação no PROAC LAB SP
2022 por seu conjunto de obras confirma sua relevância
e contribuição significativa para a literatura. Em 2023,
foi a Frankfurt no CREATIVE -SP; selecionada no “The
Wrong Biennale-Spain” e na II Jornada Internacional de
Poesia Visual.

Rainei Rodrigues Jadejiski


Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGE/
UFES). Mestre em Educação pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Licenciado em Geogra-
fia e em História pela Faculdade Castelo Branco (FCB),
em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional
(UNINTER) e em Educação do Campo com habilitação
em Ciências Humanas e Sociais pela UFES. Coordena-
dor pedagógico na Secretaria de Estado da Educação do
Espírito Santo.

Rita de Cássia A Pacheco Limberti


Graduada em Letras e mestre e doutora em Semiótica e
Linguística Geral pela USP. É docente do curso de Letras
na UEMS em Jardim. Publicou inúmeros artigos, capítu-
los, alguns livros. É curadora e crítica de arte.

Wanessa Rodovalho Melo Oliveira


Doutoranda em Linguística no PPGL (UNEMAT/Cáceres), li-
nha de pesquisa: Estudo de Processos de Variação e Mudança
e de Descrição. Pesquisa sobre crenças e atitudes linguísticas,
inclusive relacionando-as à Sociolinguística nas HQs e no en-
sino da língua portuguesa. Mestre em Letras pela UEMS, é
integrante do GEVALIN- Grupo de Estudo em Variação Lin-

139
guística, da Universidade Estadual de Londrina. É professora
efetiva da Rede Estadual de Ensino - SED/MS e apaixonada
pelas HQs, poesias e contos.

RENAN DALAGO tem bacharel em Comunicação Social com habi-


litação em Publicidade e Propaganda pela UniCesumar e Li-
cenciatura em Letras Português/Espanhol e suas respectivas
literaturas pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
Especialista em Comunicação, Semiótica e Linguagens Visuais
e Psicologia Analítica Junguiana - Perspectiva Multidisciplinar.
Mestre em Letras - Estudos Literários no Mestrado Acadêmico
da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul na linha de
pesquisa Poéticas da Modernidade, bolsista FUNDECT/CA-
PES. Atualmente é Doutorando em Comunicação pela Univer-
sidade Federal de Goiás. Atua como assistente de publicidade
e marketing para a empresa Solabia Group França/Brasil. Tem
experiência como professor, social mídia, diretor de arte, de-
signer, redator e roteirista audiovisual.

PEDRO HENRIQUE DA COSTA cursa artes visuais na Universidade


Federal de Mato Grosso do Sul, é artista visual, desenhista e
ilustrador digital. Leu cada texto aqui e fez de cada texto uma
ilustração digital única.

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Ilustrado em Photoshop
Diagramado em InDesign

Todos direitos reservados

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