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Edita: Pill Lusohitro Extra Edições 1
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1
MESMER
rentes que desenvolveram ciências e doutrinas
com pesquisa
experimental, mas não assumiram os pres
supostos do mate-
rialismo, que se tornou a imposição ideológica
a partir de
meados do século XIX. Os que iniciaram a
medicina experi-
mental e fugiram dos horrores da sangria e das
que se constituía a prática médica do sécul
purgações - de
o XVIII - foram A CIÊNCIA NEGADA E Os
os médicos Mesmer e Hahnemann, com
homeopatia, propostas médicas vitalistas.
o magnestismo e a
Mesmer, poré m,
TEXTOS ESCONDIDOS
foi caluniado historicamente como charlatão
e Hahnemann é
quase desconhecido por aqueles que vão
estudar medicina.
Quem propôs primeiro a constituição
de uma ciência peda- Esta obra contém íntegra dos mais
gógica foi Pestalozzi e, depois, seu discípulo importantes livros
Rivail, no virar escritos por Mesmer e perdidos
do século XVIII e XIX, Mas quem leva o mérit por mais de dois séculos.
o são os que a
desenvolveram sob a ótica cognitivista e bioló
gica, deixando
de lado a dimensão espiritual do educando,
O evolucionismo
biológico foi uma teoria proposta por dois pesq
uisadores que
trabalharam paralelamente e a apresentaram
no mesmo dia
às sociedades científicas de Londres: Charles
Darwin e Rus-
sel Wallace, Hoje estudamos Darwin na
escola, mas Russel Tradução dos textos de Mesmer
jamais é mencionado. É que o evolucionismo darwi
nista dis-
pensa Deus e a alma e Russel Wallace era espir
itualista. ÁLVARO GLEREAN
O7
A série Conspiração do Silêncio é um proje
to que pre-
tende resgatar esses grandes silenciados, que
teriam conduzi-
do a ciência a um conhecimento menos frag
dogmático. Eles foram esquecidos proposit
mentado e menos N
almente. Neste
momento histórico de tantas perplexidades,
eles poderão in- publicações So Rd
dicar caminhos que deixamos de trilhar, apena
s para não ferir
interesses de pessoas e grupos, que impusera %&
m o materialis-
| mo como única verdade.
€2005 Paulo Henrique de Figueiredo
Editora Lachâtre Ltda.
Rua José Emílio, 207, Jd. América
CEP 12902-090 Bragança Paulista SP
Tel (011) 4033-3999 / Fax (011) 4032-3106
Página nia internet: http://www.lachatre.com.br :
Correio eletrônico: lachatre(Dlachatre.com.br .
CAPA
Andrei Polessi
TRADUÇÃO DO FRANCÊS DOS TEXTOS DE MESMER
Alvaro Glerean
COPIDESQUE
Renato Bittencourt
GERENTE DE PRODUÇÃO
Isabel Valle
Nasci em tempos rudes
1º edição — Maio de 2005 Aceitei contradições
Iº aa 3.000º exemplar
Impresso na Yangraf Gráfica e Editora Ltda, lutas e pedras
como lições de vida
A reprodução parcial ou total desta obra, por qualquer meio, e delas me sirvo
somente será permitida com a autorização por escrito da Editora.
(Lei nº 9.610 de 19.02.1998) Aprendi a viver.
CORA CORALINA
Impresso no Brasil
Presita en Brazilo
ÁLVARO GLEREAN
Nascido em São Paulo, capital, a 21 de maio de 1930,
o dr. Álvaro Gle-
rean formou-se em medicina pela Escola Paulista de Medicin
a (atual Uni- Considerações iniciais
fesp) em 1956. Monitor da cadeira de histologia da Escola No Brasil, existe uma escassez de fontes para
Paulista de Medi-
cina. Docente da disciplina de histologia da Faculda pesquisa so-
de de Odontologia de bre o mesmerismo. As traduções, praticamente
São José dos Campos. Doutor em ciências pela Univers
idade de São Paulo, inexistentes
1969. Docente da disciplina de histologia e embriologia em língua portuguesa, resumem-se a uma única
geral do e rarís
sima
de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, Docente Instituto publicação contendo extratos de um dos livro
da discipli- s de Mesmer,
na de histologia do departamento de Morfologia da Univers
idade Federal de suas memórias de 1779 e 1799.1 A obra foi edita
São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Tradutor de da em 1862,2
livros científicos da lín-
gua francesa, Autor do Manual de histologia (Athene ———
u, São Paulo, 2002).
1 “A primeira tradução para língua inglesa de
Mémoire sur la decouverte du
Mmagnetisme animal foi publicada somente
em 1948: Mesmerism by doc-
tor Mesmer (1779), acrescida de uma monog
rafia de Gilbert Frankau e
traduzida por V. R. Myers. London, Macdo
nald.
2 As memórias do doutor Mesmer, de 1779€
1 799, foram publicadas em
cadernos mensais de 32 páginas e distribuídas
gratuitamente, em 1862,
aos assinantes do jornal Propaganda da
magnetotherapia, do doutor
Eduardo A. Monteggia.
1
12 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 13
Como bem disse Allan Kardec, para compreender As teses do magnetismo animal foram fundamentadas por
o mag-
netismo animal é preciso estudar, com paciê uma sólida teoria, constituindo uma ciência baseada em fenô-
ncia e perseveran-
ça, todos os seus fatos. Mas também mergulhar menos naturais exaustivamente experimentados. A exposição
nas obras de
Mesmer para conhecer seus argumentos, o desen essencial desta ciência não está nas vinte e sete proposições
volvimento
de suas idéias, as descrições de suas descobertas, publicadas nas primeiras memórias escritas por Mesmer em
os verdadei-
ros fatos por ele relatados. Para isso é necessário 1779, como se pensava. A sua obra máxima, embora pouco
voltar ao pas-
sado, relembrando a ciência, a situação política, conhecida, foi elaborada cuidadosamente e oferecida ao pú-
os costumes e
a consciência de sua época e decifrar o significad
o dos termos
vigentes em sua cultura. Enfim, é preciso estud
ar também os
antecedentes e precursores de sua doutrina.
4 Veja a obra na íntegra, na terceira parte deste livro.
-
18 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E
05 TEXTOS ESCONDIDOS
ig
blico somente em 1799: Memória de F. A. Mesm
er, doutor em
medicina, sobre suas descobertas.s Uma educação especial
Após seus estudos denominados de
humanidades, con-
A medicina heróica não curava cluídos antes da idade comum, Mes
mer completou os de teo-
logia, filosofia, medicina e, em parte
É importante destacar que todas as teorias , de direito. No entanto,
sobre o meca- sua formação médica não foi comum.
nismo da doença (como a milenar teoria galênica dos Ele fez seu terceiro dou-
humores torado na Universidade de Viena, refo
— bile amarela, bile negra, fleuma e bílis) e as práticas rmulada por van Swie-
terapêu- ten e de Haen, discípulos do famoso
ticas da medicina oficial antes de 1800 eram completa Boerhaave, o maior pro-
falsas. As perniciosas terapias, mantidas por tradi
mente fessor de medicina de seu tempo. Este médi
ção e empi- criador da clínica moderna, propôs co visionário,
rismo — como sangrias, vomitórios, vesicatóri
os, doses de ópio uma retomada dos princí-
e outras fórmulas perigosas -, prejudicavam pios da medicina científica, fruto da
os pacientes e observação junto aos pa-
muitas vezes antecipavam sua morte. As cirurgias, cientes e do uso da razão, recuperando
procuradas os princípios do pai da
somente pelos pacientes já sem esperança, medicina, q grego Hipócrates. Sua proposta reno
eram feitas sem cluía, no currículo de medicina, o estu vadora in-
anestesia. Os cirurgiões haviam desenvolvido a habil do das ciências naturais,
idade de da física e da química, e as então recentes
decepar tumores a sangue frio, cauterizando-os rapi descober tas fisioló-
damente gicas. Para Boerhaave, uma vis vitae,
com um ferro em brasa. A experiência era traum ou força vital, era respon-
ática e pou- sável pela manutenção da saúde orgâ
cos sobreviviam, mesmo porque não havia assep nica. Esta era uma con-
sia alguma. vicção de todos os vitalistas cient
Ironicamente, esta medicina era conhecida como íficos, que estavam se
heróica. Pa- contrapondo ao materialismo mecanici
rece-nos, hoje, que o único herói mesmo era o sta da medicina oficial.
paciente, quan-
do sobrevivia ao tratamento. Entretanto, apesar dos conhecimentos
renovadores, ainda
Disse Mesmer, em suas memórias de 1 779, sobre não havia uma terapêutica que correspo
a insufi- ndesse a eles, supe-
ciência científica da medicina de sua época: rando a milenar medicina heróica
€ suas práticas.
crita em latim: Dissertatio physico-medica de planetarum in- te. Um tratamento metódico, em sessões regulares, permite
fluxu in corpus humanum (em suas obras para um público que o ciclo da doença se complete rapidamente, invertendo a
maior, Mesmer traduziu e simplificou este título como Da in- ação desagregadora e funesta provocada pelo desequilíbrio
fluência dos planetas sobre o corpo humano). Todos estes fato- instaurado. Atingido o estado crítico, o estado doentio está su-
res conjugaram-se na figura do doutor Franz Anton Mesmer. perado. Finalmente o equilíbrio orgânico se restabelece e o pa-
Em 1813, o mais famoso discípulo direto de Mesiner, ciente volta ao seu estado saudável.
Armand Marc Jacques de Chastenet, o marquês de Puységur À terapia descoberta por Mesmer é, assim, muito diferente
(1751-1825), escreveu: c'o--supressão dos sintomas empregada pela alopatia. Os sintomas
Cumpria que se encontrasse um observador que, somen-
são fenômenos naturais fisiológicos que denunciam o desequili-
te mais atento que outro aos perpétuos eflúvios do fluido, ou brio presente na economia orgânica. A ação do medicamento
princípio vital dos corpos organizados, reparasse enfim na in- alopático, suprimindo os efeitos observáveis, mascara a verda-
fluência dos seus sobre o princípio ou fluido vital de seus se- deira causa da doença. No entanto, apesar dos sintomas esta-
melhantes; cumpria que aquele homem fosse douto na fisi- rem omitidos, o estado mórbido ainda permanece no corpo
ca, na química e na fisiologia, para que pudesse dirigir as suas
observações sobre causas pertencentes àquelas ciências; e
doente. Como consegiência, se — por sorte — a própria nature-
ademais cumpria ainda que fosse médico, para logo aplicá-lo za não restaurar sozinha a saúde, surgirão novos sintomas e o
ao tratamento e ao alívio dos males da humanidade, Esse ho- estado de desequilíbrio orgânico se agravará. Além de muitos
mem, em quem se achou reunido tanto mérito e tantas qua- remédios e tratamentos da medicina da época de Mesmer sê-
lidades, é o senhor doutor Mesmer, ancião hoje retirado e rem intoxicantes, venenosos e exaustivos, sua fundamentação
quase ignorado em uma pequena aldeia da Suíça, porém cuja
imagem e nome transmitir-se-ão com glória à posteridade re- científico-filosófica estava equivocada,
conhecida. (MONTEGGIA, 186], p. 81) Neste sentido, seguindo os mesmos princípios de Mes-
mer, Hahnemann, fundador da medicina homeopática, de-
Dois anos depois, Mesmer desencarnaria, curando seus nunciava como ilógico e prejudicial o fato de que
semelhantes por meio do magnetismo animal até seus últimos
dias, em Meesburg, na Alemanha. À antiga escola acreditava [...] extinguir doenças através da
remoção das [supostas] causas morbíficas materiais [...], pois
para a escola médica comum era quase impossível desfazer-se
dessa idéia material e reconhecer a natureza físico-mental do
O materialismo limita a medicina organismo como uma essência tão altamente potencializada
O mesmerismo é uma visão espiritualista e positiva da na- que as modificações vitais nas sensações e funções, as quais
tureza, e absolutamente incompatível com o materialismo ou são chamadas doenças, pudessem principal e quase que exclu-
mesmo com a visão religiosa dogmática e sobrenatural da Igre- sivamente ser causadas e provocadas através de uma influén-
cia dinâmica não material. (HAHNEMANN, 1842, p. 27)
ja. Assim como para Hipócrates, a arte de curar, segundo Mes-
mer, concentra-se em recuperar e manter a saúde, considera- A medicina alopática mantinha uma orientação materia-
da como um estado de equilíbrio. Identificado o desequilíbrio lista sem solução de continuidade desde Galeno. E ainda hoje
presente no organismo do doente, o magnetizador, por meio insiste nesse equívoco, afastando da humanidade os benefícios
de passes, imposição, insuflação, massagens, exerce uma ação dos meios naturais da cura.
dinâmica pelo magnetismo animal (ou fluido vital) no pacien-
22 ” PAULO HENRIQUE DE FIG UEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS
TEXTOS ESCONDIDOS 23
Algumas décadas depois, Hahnemann
recomendaria q
mesmerismo na sua obra máxima, o com respeito ao que é o corpo; todo
Organon da arte de curar, s os dois direcionam sua
e faria uso do magnetismo animal no tratamen pontaria para nossa destruição”, (Pur
prios pacientes, com uma intensidade
to de seus pró- séGur, 1784) Ainda
relevante (ver apêndice hoje o materialismo limita a eficácia
da medicina oficial.
1: “Magnetismo animal e homeopatia”)
.
Centena de vezes, Mesmer reproduziu
terapia para o exame dos médicos e sábi os efeitos de sua O corporativismo dos médicos parisien
os de seu tempo, mas ses
quo Emei
seus esforços foram em vão. Sendo a medicina daqu Para divulgar e apresentar aos médicos
ela época suas descobertas,
influenciada pelo empirismo, pelo mate Mesmer enfrentou o corporativismo
rialismo, pelo dogma- da classe médica de Pa-
tismo da Igreja e pelo autoritarismo abso tis, empenhada em centralizar em suas
luto da real
eza, era de mãos o poder político,
se esperar uma reação violenta à sua acadêmico e financeiro de sua classe
nova visão da arte de cu- e controlar as universida-
rar. Nos tempos de Mesmer, já dizia des, criando as academias sob o domí
o padre Hervier, doutor nio absoluto desses mé-
da Sorbonne, bibliotecário dos Grandes dicos e da realeza. Tal movimento, cara
Augustinos e discípu- cterístico da medicina
lo de Mesmer, em Carta sobre a desc iluminista, enfrentava a oposição dos médicos vital
oberta do magnetismo universidade francesa de Montpellier e istas da
«animal ao senhor Court de Gebelin: da escola científica de
Boerhaave, van Swieten e seus outros disc
ípulos, que retoma-
Seu saber e sua modéstia lhe deram
partidários. Mas a in- vam os princípios hipocráticos originais.
veja não tardou a lhe suscitar inimi O período do ilumi-
gos poderosos. Cobri- nismo é muito mais complexo e diverso
ram-no de calúnias e de ridículos; sua em suas implicações
fortu
vida e seu nôme foram expostos a grandes na, sua própria do que normalmente se pensa. O vita
perigos; ele sofreu lismo, como ciência ilu-
a sorte do famoso Galileu perseguido minista, a clínica científica de Boerhaav
pelo fanatismo do seu e e O corporativismo
século por haver sustentado o moviment
o da terra; foi trata-
dos médicos pari sienses defendendo uma tendência mec
do de visionário como o célebre Harv cista são fatores distintos e determin ani-
ey que ensinava a circu- antes no contexto em
lação do sangue; perseguiram-no como
a Cristóvão Colombo que Mesmer esteve envolvido durante
que descobriu o novo mundo; enfim, foi a defesa do magnetis-
como Sócrates para fazê-lo odiado
imitado no teatro mo animal, nota damente no período vivido em Paris
do povo. À maior parte
sódios relacionados com esta luta . Os epi-
das corporações encarregadas da instr foram relatados em seus
ução pública possuém
o poder de nada admitir que lhe
seja estranho, apesar de pormenores no Resumo histórico dos
quanto vantajoso lhe possa ser; é uma mercadoria
fatos relativos ao magne-
proibida tismo animal. Publicado por Mesmer
que eles bloqueiam nas barreiras do seu em 1781, é a mais im-
reino. E o destino portante obra de referência sobre os fatos
dos grandes homens serem perseguido
s. históricos ligados ao
surgimento do mesmerismo.?
Para Puységur, o magnetismo tornou-s
e o centro de uma
disputa de natureza filosófica, desde
que se trata de defender As luzes do espiritismo
a filosofia contra o materialismo e
até mesmo defender con-
ceitos como a liberdade de pensamen É
por isso que os princípios da ciência do
materialismo é inseparável, para Puys
to. Esta luta contra o mal só poderiam ser compreendidos em toda magnetismo ani-
égur, de uma luta cientí- século segu
sua totalidade no
fica contraa medicina oficial: “a luta se dá contra o inte, sob as luzes do espiritismo, dese
nvolvido por
mo no que concerne à alma, e contra materialis-
a postura da medicina
7 Esta obra encontra-se incluída na terce
ira parte deste livro.
24 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
25
pesquisadores e cientistas como Allan Kardec, Léon
Denis, Ca-
mille Flammarion, Gabriel Dellane, Charles Riche Esse sentido íntimo não se encerra no âmbito do corpo f-
t, Albert de
Rochas, Robert Hare, Oxon, Robert Dale Owen sico, mas permite o contato com todos os outros seres, não
, Willian Ja-
mes, Willian Crookes, Alfred Russell Wallace, Olive importando a distância. A comunicação do pensamento esten-
r Lodge,
Frederic Myers, James H, Hyslop, Henri Bergs de-se mesmo por todo o universo.
on, , Hans
Driesh, Richard Hogdson, Willian Barret, Frederich
Zôllner, Estes mesmos movimentos assim modificados pelo pensa-
Gustav Fechner, Edward Weber, barão von Schre
nck-Notking, mento no cérebro e na substância dos nervos são comunicados
Hans Reichenbach, Karl du Prel, Boutleroff, Alex
ander Aksa- ao mesmo tempo à série de um fluido sutil com a qual esta
koff, Ernesto Bozzano, Cezar Lombroso, Ângel substância dos nervos está em continuidade, podendo, inde-
o Broffêrio,
Enrico Morselli, Luigi Luciani, Giovanni Schiaparelli pendentemente e sem o concurso do ar e do éter, estender-se
e outros.
Isto porque a doutrina espírita, fundada nos mesmos a distâncias indefinidas e comunicar-se imediatamente com o
princípios senso íntimo de um outro indivíduo. (MESMER, 1781)
básicos do magnetismo animal, acrescenta à ciênci
a o elemento
espiritual. Comentou Kardec, em 1859:
Podemos inferir, de toda sua obra, entre outros, alguns
Não é avançar muito dizer que a metade dos conceitos básicos científicos e filosóficos, como a existência do
médicos
reconhece e admite o magnetismo, e que três quartas hoje fluido vital diferenciando os seres vivos da matéria inorgânica; a
partes
dos magnetizadores são médicos. Dá-se o mesm vontade como causa externa ao corpo físico, evidenciando a
o com o es-
piritismo, que conta entre as fileiras muitos médic
mens de ciência, Que importa, pois, a opinião
os e ho- existência objetiva da alma; o livre-arbítrio, que relativisa o de-
sistemática ou terminismo orgânico da saúde e da doença. Por causa da ação
mais ou menos interessada de alguns? [...] A
verdade pode
ser discutida, mas não destruída [...] Se o magnetismo material do pensamento e do sentimento sobre um fluido su-
fosse
uma utopia há muito dele não mais cogitariam,
ao passo que, til, Mesmer os define como fenômenos naturais e concretos —
como o seu irmão, o espiritismo, lança raízes por portanto, positivos.
todos os la- ,
dos. (Revista Espírita, 1859, p. 290)
MESMER - A CIÊNCIA
NEGADA E OS TEXTOS
Mesmer não era fl ESCONDIDOS
33
uidista
E um engano imagin acordo com o fundador da hom
ar ser de Mesmer eop atia, a ação dinâmica não
segundo a qual uma a teoria Auidista, dá pela “comunicação de se
energia material eman Partes materiais”, mas por
netizador e atinge o a das mãos do mag- uma fun-
Paciente. O simples ção de onda de uma força
afasta este erro histór exame de suas teoria vital do tipo não-material,
ico. Alertou O pesq s plicar o que é uma ação din Para ex-
lian Ochorowicz: “C uisador polonês Ju- âmica — que para ele ocorre
onsiderá-lo Fluidista no mesmerismo quanto na tanto
do por aqueles que é um erro, Propaga- ação medicamentosa do
não leram Mesmer homeopático - Hahneman rem édio
enderam,” (OcHorow ou que não o compre- n fez uso, em sua doutri
ICz, 1903, p. 208) mesma comparação ant na, da
es empregada por Mesmer
A doutrina do magnet fluxo e o refluxo das marés , ou seja, o
ismo animal consider e a ação do magnetismo min
do fluido universal, a a existência Por sua vez, o fluidismo foi obr eral.
fonte Primária de to
tada
+ toda a matéria. O dos os fluidos e de
da segunda geração, durant a de alg uns mag netizadores
fluído vital Ou magnet e o século 19. Para criar est
i gundo Mesmer, um ismo animal seria,
dei
estado particular de vi se- Os magnetizadores fluidista a teoria,
movimento, em suas bração (ou ton de s basearam-se nas descriçõe
ia e minar
palavrasdo) fluido Uni pelos sonâmbulos, que enx s feitas
versal. “Nem a luz, ergavam, pela lucidez sonamb
um fluido sendo emanado úlica,
das mãos dos magnetizador
do aplicavam passes em seu es quan-
s pacientes.
ma
O magnetismo é um atribu
to da alma
Concordam a doutrina espírita e o magnetismo
que O magnetizador, fazendo animal
uso racional da vontade, que
sediada na alma, direciona
e pro é
duz o efeito curativo do flu
vital no paciente. Esclarece ido
u Puységur:
O homem apenas Possui esta
sensibilidade tão desejável:
se, longe de buscar sufocar
em si, ele se deixasse cond
pelos seus doces impulsos, uzir
ele se reconheceria sem cess
poder de reforçar seu Princípi ar o
exemplo, nos fenôme o vital à sua vontade, e de
Far, por sua ação, o dos seus repa-
nos de telepatia, de semelhantes. É aqui que é
€ espiritismo, Magnetismo animal so parar sobre as explicações preci-
físicas do poder dos homens
Qual é a natureza dessa vont .
Também Hahnemann ade, único agente da ação
artifi-
losofia da homeopatia partilhou do mesmo
: “Todos os tipos de conceito na fi-
| rismo baseiam-se nu
força vital no pacien
m afluxo dinâmico
te.” (HAHNEMANN,
prática do mesme-
de maior ou menor
1842, p. 244) De
34 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
ea
com um fim humanitário e não como meio de adquirir, sem de Rivail iria se alterar bruscamente. Ele sofria de uma amauro-
trabalho, saber e riqueza”. (KARDEC, 1862, p. 391)
se. Conforme seu diagnóstico, ele logo ficaria completamente
Allan Kardec esclareceu, também, que-o médico-médium, cego. À única coisa a fazer era se conformar com a nova situação.
diferente do médium curador, não deve se constranger ao co- Mas Rivail não se deu por vencido. Procurou uma sonâm-
brar seus honorários: bula, Em transe, ela pôde afirmar que não se tratava de ceguei-
ra, mas de uma apoplexia, um pequeno derrame sanguíneo em
Porque um médico tornou-se médium e é assistido por seus olhos. Entretanto, se não recebesse um cuidado adequado,
espíritos no tratamento de seus doentes, não se segue que
deva renunciar a toda remuneração, o que o obrigaria a pro-
aquilo poderia cegá-lo. A sonâmbula afirmou que poderia cu-
curar os meios de subsistência fora da medicina e, assim, re- rá-lo. E disse mais, previu que uma pequena melhora otorreria
nunciar a sua profissão. Mas se for animado do sentimento em quinze dias. Um mês depois, começaria a enxergar nova-
das obrigações que lhe impõe o favor que lhe é concedido, mente. E a cura completa ocorreria em dois ou três meses. Pois
saberá conciliar seus interesses com os deveres da humanida- tudo ocorreu exatamente segundo a previsão. Com o diagnósti-
de. (Revista Espírita, 1867, p. 306)
co por meio do sonambulismo, e pelo mesmerismo, Denizard
Enfim, o Codificador do espiritismo declarou que “se terá Rivail ficou completamente curado. É importante observar, no
mais confiança nos médicos quando forem médiuns, e mais entanto, que se Kardec simplesmente deixasse o tempo passar,
confiança nos médiuns [curadores] quando forem médicos”. como recomendou o médico, teria desenvolvido a cegueira.
Combinando medicina comum, homeopatia, magnetis- “Ah como a gente sabida é boba!”, disse em 1862 o doutor
mo animal, magnetismo espiritual, desobsessão, mediunidade Armand Trousseau (1801-1867), professor da Faculdade de Medi-
e educação moral, os médicos terão em suas mãos todos os re- cina de Paris e membro da Academia Francesa de Medicina, numa
cursos para conquistar uma saúde integral e definitiva para a conferência que chamou a atenção de Rivail. Disse Trousseau:
humanidade. Como vedes, senhores, as pessoas inteligentes são as que
caem primeiro [...] lembrai-vos do que se passava no fim do sé-
culo passado. Um empírico alemão, submetendo as mulheres à
Allan Kardec ficou quase cego ação de um fluido que ele dizia emanar de si mesmo, lançou
Em 1850, Hippolyte Leon Denizard Rivail, mais conheci- uma teoria bizarra, na época chamada de mesmerismo. Vem a
Paris, instala-se na praça Vendôme, no grande centro de Paris.
do por seu pseudônimo de Allan Kardec, por quase trinta anos Aí as pessoas mais ricas, as camadas mais altas da sociedade da
vinha estudando o sonambulismo provocado e todas as suas capital, vêm postar-se em torno da varinha de Mesmer. Eu não
fases. Seus afazeres, no entanto, foram interrompidos por um saberia atribuir quantas curas foram atribuídas a Mesmer, que,
grave problema. Rivail quase ficou cego. Não podia ler ou es- aliás, é o inventor e o importador, entre nós, dessa maravilha
N, que se chama sonambulismo, isto é, uma das mais vergonhosas
crever, condição grave para suas atividades como pedagogo,
,1 chagas do empirismo. (Revista Espírita, 1862, p. 227)
escritor e também professor do Lycée Polymathique. Mal dis-
tinguia as pessoas que lhe estendiam a mão. E Trousseau, que em 1852 assumira a cátedra de clínica
Preocupado, Rivail percorreu as clínicas dos mais notáveis médica do hospital L'Hotel Dieu, continua:
médicos de Paris. Entre elas a do doutor L. (seu nome foi pre-
Com efeito, que dizer do sonambulismo? Moças histéri-
servado por Kardec), professor de oftalmologia. O doutor fez cas, geralmente perdidas, juntam-se a qualquer charlatão fa-
um exame atento e meticuloso. Sua declaração é de que a vida minto e ei-los simulando o êxtase, a catalepsia, o song, e
44 PAULO HENRIQUE DE FIG UEIR
EDO
MESMER- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 45
+
cátedras do ensino,
com Kardec, as grandes idéias são antecipadas, como o cristia-
Kardec, homem de profundo bom nismo teve Sócrates e Platão como precursores:
indignação diante das ofensas grat
sens o, demonstra sua
uitas do catedrático doutor,
claramente desinformado ou mal Há um século tinham preparado seu aparecimento. Swe-
intencionado. Cabe destacar denborg, [...] Sem esquecer Mesmer, que deu a conhecer a
que, nos tempos de Kardec, o
mesmerismo era amplamente força fluídica, de Puységur [...] Todos levantaram uma ponta
utilizado, pesquisado e divulgado.
Afirmou o codificador: do véu da vida espiritual; todos giraram em torno da verda-
“Quanto a Mesmer, é preciso esta deira luz e dela se aproximaram mais ou menos; todos prepa-
r muito pouco ao corrente
do que se passa para ignorar que raram os caminhos e dispuseram os espíritos, de sorte que,
o magnetismo está mais espa-
lhado do que nunca, é que é hoje por assim dizer, o espiritismo apenas teve que completar o
professado por notabilidades que havia sido esboçado. (Revista Espírita, 1865, p. 264)
científicas.” (Revista Espírit + 1863, p. 338)
O espiritismo não seria completo sem as descobertas do
Kardec estudou o magnetismo por mesmerismo. “Se tivermos que ficar fora da ciência do magne-
décadas tismo, nosso quadro ficará incompleto e poderemos ser compê:
Quando assistiu Aquela conferência,
blicara O livro dos espíritos, obra
Allan Kardec já pu- rados a um professor de física que se abstivesse de falar da luz.
queesclarece com detalhes o (Revista Espírita, 1858, p. 96). Kardec, no entanto, não repro-
sonambulismo como fenômeno natu
ral, podendo ser provoca- duziu em sua obra os textos doutrinários do magnetismo. Em
do pelo magnetismo. Tendo estuda
do a ciência do magnetis- sua época, diversas instituições de pesquisa, clínicas, periódicos
mo animal por trinta e cinco anos,
logo constatou que as duas e grupos científicos frequentados por médicos e pesquisadores
eram ciên cias irmãs. “O magnetismo e o
espiritismo se dão as cuidavam do assunto com profundidade eexperiência. Por isso
mãos. São duas partes de um mesmo
todo, dois ramos de uma Kardec, em sua Revista Espírita, não se referiu diretamente às
mesma ciência, que se completam
e se explicam um pelo ou- doutrinas do magnetismo animal, “senão acessoriamente, mas
tro. Acreditar no magnetismo é abri
r caminho ao espiritismo, de maneira suficiente para mostrar asrelações íntimas das duas
€ reciprocamente.” (Revista Espírita
, 1867, p. 347) ciências que, na verdade, não passam de uma”.
im
47
mma nam ai
Marquês de Puységur defendeu o Mesmerismo do diácono Paris, que assembléias civis e religiosas haviam
condenado sem haver podido explicá-los nem concebê-los.
Em 1813, dois anos antes do desencame de Mesmer, o mar-
Em luta com doutores indignados com razão contra as exage-
quês de Puységur teceu as seguintes considerações num artigo: rações místicas e metafísicas a que esses prestígios haviam
dado causa, e sob um governo vacilante, do qual a ideologia
Às sonâmbulas magnéticas não guardam nenhuma lem- republicana e o filosofismo mais absurdo haviam desde mui-
brança, no seu despertar, das experiências de que participa to tempo solapado os alicerces, tudo concorria para não fazer
ram. Nada lhes fica gravado na memória. encarar Mesmer, à sua chegada à França, senão como um
À esta obscuridade, que em todos os tempos deveu envol- taumaturgo empreendedor e audacioso, que, para atrapalhar
ver os fenômenos magnéticos, é que cumpre atribuir a igno- a marcha de uma revolução salutar, vinha renovar antigos er-
rância em que os homens estiveram até aqui da existência de Tos e remoçar velhas prevenções. Apesar de alguns médicos
uma das suas mais belas faculdades. Assim como o acaso, ou franceses muito afamados haverem altamente reconhecido a
antes a observação, fizera Newton descobrir a perpétua gra- existência e a utilidade da descoberta de seu douto colega,
vitação dos corpos, que todos os seus conhecimentos mate- ela não deixou de ser proscrita pela desfavorável decisão que
máticos antecedentes não lhe puderam fazer presumir; da sobre ela deram, à exceção de um só, todos os sábios comis-
mesma maneira cumpria que se encontrasse um observador sários encarregados de julgá-la, e a verdade de fato mais ad-
que, somente mais atento que outro aos perpétuos eflúvios mirável que talvez jamais se haja manifestado às ciências fisi-
do fluido, ou princípio vital dos corpos organizados, reparas- cas e fisiológicas, não foi mais, desde esse momento, do que
se enfim na influência dos seus sobre o princípio ou fluido vi- um objeto de zombaria aos olhos dos seus profanadores.
tal de seus semelhantes. Cumpria que aquele homem fosse Demais, quaisquer que fossem os motivos que levaram a
douto na física, na química, na fisiologia, para que pudesse opinião a declarar-se tão fortemente contra 0 magnetismo
dirigir as suas observações sobre causas pertencentes àquelas animal,.o certo é que não podem mais servir de desculpa ao
ciências e, dernais, cumpria ainda que fosse médico, para silêncio que os sábios atuais guardassem hoje a seu respeito.
logo aplicá-lo ao tratamento e ao alívio dos males da humani- A evidência e a regularidade das suas manifestações, os resul-
dade. Esse homem, em quem se achou reunido tanto mérito tados constantemente salutares da sua aplicação no trata-
e tantas qualidades, é o senhor doutor Mesmer, ancião hoje mento das moléstias, atestados por trinta anos de experiên-
retirado, e quase ignorado, numa pequena aldeia da Suíça, cia e de observação, tudo enfim serve para provar a esses
porém cuja imagem e nome transmitir-se-ão com glória à doutos que o magnetismo do homem é uma verdade incon-
posteridade reconhecida. [...] Infelizmente para Mesmer, testável, (MONTEGGIA, 1861)
não se dava com a sua descoberta o mesmo que com todas as
que se fizeram antes dele sobre à natureza morta e inanima-
da, de cuja realidade cada um pode, a cada instante, certifi-
car-se com o auxílio dos mesmos instrumentos ou dos mes- Fazendo um apelo à razão
mos processos que as fizeram alcançar por seus primeiros
observadores. Para que os fenômenos do magnetismo animal Sábios da França inteira, faço o último apelo ao vosso dis-
se manifestem, Mesmer era o único investigador. Sendo só, cernimento. Tudo quanto anteriormente se acreditou ou de-
esse homem reproduzirá esse fenômeno milhares de vezes às cidiu do magnetismo animal não influa, porém, sobre a opi-
vistas de seus contemporâneos, Para os menos esclarecidos, nião que deveis ter dele, pois não haveria mais razão para
iabi a uiç
serão milagres; para os doutores, ilusões; e sob esses dois as- negardes a sua existência, porque o ceticismo filosófico do sé-
pectos, igualmente enganadores, ninguém são e consciente- culo 18 o tratou de quimera, do que o credes prestígio rmági-
mente poderá julgar. co ou obra do demônio, porque a ideologia mística dos sécu-
los 16 e 17 o prescreveu e condenou como tais. Não,
Tal, com efeito, aconteceu com a descoberta de Mesmer:
aparecendo no meio de uma geração ainda imbuída das lem- senhores, os fatos devem ser para os sábios do século 19 o
branças dos pretendidos milagres praticados sobre o túmulo único catecismo de sua razão, E sob um governo cujo chefe
declarou-se inimigo de toda a espécie de ideologia, porque
48 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 49
51
52 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 53
para examinar d'Eslon, desautorizado para agir em 1796 Vai a Wagenhausen, no cantão de Thurgau, Suíça,
seu nome, e à impropriedade do método adotado.
onde permanece por três anos, até 1798.
O rei da França nomeia uma comissão de sábios da
Retorna à Paris, onde vive no número 206 da rua
Academia de Ciências de Paris - Bailly, Darcet,
Vendôme.
Franklin, Lavoisier —, que em quatro meses concluiu |
que as proposições de Mesmer não passavam de ima-
1799 Publica Memória de F. A. Mesmer, doutor em me-
dicina, sobre suas descobertas, sua principal obra,
a a estoria
ginação, além de redigir um relatório secreto alegan-
do implicações sexuais: Uma outra comissão forma- contendo o modelo teórico da terapia do magnetis-
da por médicos da Sociedade Real de Medicina mo animal, sonambulismo provocado e lucidez so-
também rejeitou a existência do magnetismo animal. nambáúlica. Foi seu primeiro trabalho publicado de-
pois de dezoito anos.
ra iriam
Porém, um de seus membros, Jussieu, divergiu dos
colegas e admitiu as curas. 1801 Muda-se para Versalhes em fevereiro.
Troca cartas com George Washington, primeiro pre- 1802 Decidido a deixar a França, passa a residir em Me-
o ei
sidente dos Estados Unidos da América. ersburg, no sul da Alemanha.
1785 Desautoriza a divulgação de Aforismos de Mesmer, 1809 Muda-se para a cidade suíça de Frauenfeld. Muitos
anotações de suas aulas, divididas em 344 proposi- achavam que ele já havia morrido. Um grupo de mé-
ções, Entretanto, alguns de seus discípulos não o res- dicos da Academia de Berlim redescobre o seu para-
peitam, publicando o livro. deiro, mas, já com setenta e cinco anos, ele não acei-
1787 Encontra-se, em Zurique, com o pastor Johann Cas- ta acompanhá-los.
par Lavater (1741-1801) um entusiasta do magne- 1812 Recebe um emissário de Berlim, doutor Karl Chris-
tismo animal na Suíça. tian Wolfart, encarregado de solicitar “a comunica-
1788 Viaja para Kalsruhe. Depois, percorre a região do ção de todos os fatos, retificações e esclarecimentos
Lago de Constança. desse importante tema”.
1790 É homenageado por Mozart, em sua ópera Cosi fan 1814 Mesmerismo ou sistema das interações, teoria e apli-
tutte. No final do primeiro ato, a personagem Despina, cação do magnetismo animal como a medicina geral
fantasiada de médico, imita Mesmer e seu tratamento. para a preservação da saúde do homem é publicado
em Berlim. Segundo seu editor, doutor Wolfart, é
Sua esposa, von Posh, morre de câncer no seio, em
uma organização de artigos, anotações e pensamen-
15 de maio.
tos de Mesmer sobre ciência, filosofia, educação
1793 Retorna a Viena em 14 de setembro. Dois meses de- etc., constituindo as suas reminiscências.
pois, é preso pela polícia, pois estava sendo investiga-
Deixa este mundo no dia cinco de março, lúcido até
do por questões políticas, suspeito de ser favorável
os últimos dias de seus oitenta e um anos, na cidade
aos jacobinos. Liberado, ficou sob custódia até cinco
de dezembro. Continuaria, porém, sendo observado
de Meesburg, Suábia, nas proximidades do lago de
Constança, atual Alemanha,
pelas autoridades.
1821 Realizam-se notáveis experiências de magnetismo
,”
registradas em relatórios, os magnetizadores du Po-
1
,
56 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
dando iní-
cio ao espiritismo. Na questão 555, revel
a a ligação
íntima entre as duas ciências:
O espiritismo e o magnetismo [animal] nos dão
a chave de
uma imensidade de fenômenos [...] em que
os fatos se apre-
sentam exagerados pela imaginação. OQ conhecimen
to lúcido
dessas duas ciências que, a bem dizer, form
am uma única,
mostrando a realidade das coisas e suas
verdadeiras causas,
constitui o melhor preservativo contra as idéias
supersticiosas.
1863 Mesmer dá sua primeira comunicação por
meio de
um médium da Sociedade Parisiense de
Estudos
Espíritas, presidida por Allan Kardec. Fala
sobre o
“magnetismo animal” e espiritual, também
afirma ser
a prece um magnetismo sublime.
UMA CUIDADOSA FORMAÇÃO
59
60 PAULO HENRIQUE DE F IGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 61
nascentes. Sua vontade firme marcaria uma formação eclética deis escutar a prodigiosa harmonia do universo inteiro no seu
e extensa, culminando com a apresentação de sua tese de dou- giro rápido, e não podeis contemplar o Sol de frente, sem que
torado em medicina. seu esplendor deslumbre vossa vista.
Seus primeiros anos na escola monástica foram dedicados à Quase todos os compositores de gênio, como Beethoven e
temas mais amenos. O amor dos monges pela música marcaria Mozart, declararam que percebiam harmonias impossíveis de
a vida de Mesmer. Experimentando o magnetismo animal, ele serem descritas.
percebeu uma ligação entre as harmonias musicais, o equilíbrio
Mesmer encontrou a inspiração para suas idéias na grande
do corpo humano e o universo inteiro. É intuitiva a noção de música das esferas. Compreendeu a uniformidade das leis que
que a música eleva o espírito. Existe uma conexão entre as três regem tanto a formação e o equilíbrio dos astros quanto as vi-
percepções da alma: harmonia, ciência e virtude. “A harmonia, brações criadoras do som, da luz, do calor, e do magnetismo
a ciência e a virtude são as três grandes concepções do Espírito: animal. Completa o espírito de Rossini:
a primeira o arrebata, a segunda o esclarece, a terceira o eleva,
Possuídas em toda a plenitude, elas se confundem e constituem O homem que gosta das delícias da harmonia é mais ele-
a pureza.” (espírito Rossini, in KARDEC, 1890, p. 181) vado, mais depurado, do que aquele que ela não pode pene-
trar. À sua alma está mais apta a sentir. Liberta-se mais facil-
No sonho de Cipião, uma das mais belas páginas da Anti- mente, e a harmonia a ajuda a libertar-se. Ela à transporta e
giidade, obra-prima de Cícero, o sonhador conversava com a lhe permite ver melhor o mundo moral. De onde é necessá-
alma de seu pai, Paulo Emílio, e de seu avô, Cipião, o africano. rio concluir que a música é essencialmente moralizadora,
Contemplava as maravilhas dos astros, viajando pelo céu, uma vez que leva a harmonia às almas, e que a harmonia as
quando perguntou: eleva e as engrandece. (Ibidem, p. 184)
— Que som doce e intenso é esse que chega aos meus ouvidos?
— É a harmonia que, a intervalos desiguais, mas sabiamente Teologia, filosofia e direito
combinados, produz a impulsão e o movimento das esferas em A educação primeira de Franz Anton Mesmer foi contí-
que, misturando-se os tons agudos com os graves, produzem-se nua e bem fundada. Aos quinze anos, ele recebeu uma bolsa
acordes e diversos conceitos; não se pode realizar em silêncio de estudos para ingressar na famosa universidade fundada em
tamanho movimento, e a natureza quis que, quando as notas 1551 pelos jesuítas de Dillingen (antigo Colégio de São Jerô-
agudas vibram num lado, as graves ressoem em outro. Os ho- nimo), na Bavária. Mesmer ficou quatro anos estudando filo-
mens inspirados que, com instrumentos diversos ou com a voz, sofia nessa cidade atravessada pelo rio Danúbio, até que, em
imitam esses cantos, abrem caminho e procuram ingresso neste 1754, foi levado para a Universidade de Ingolstadt, outra es-
lugar, do mesmo modo que os outros, que, mediante seu enge- cola jesuítica da mesma região. Nos nove anos que passou nes-
nho na vida humana, cultivaram os estudos divinos. Essa har- sas universidades, Mesmer alcançou o título de emeritus stu-
monia, ressoando nos ouvidos dos homens, ensurdeceu-os sem diosus em teologia. Também foi promovido ao que na época
que chegassem a compreendê-la, e vós, por outra parte, tendes era designado como doctor autoritate, et consensu illustrissi-
esse sentido pouco desenvolvido. Assim como o Nilo, nos luga- morum, perillustrium, magnificorum, spectabilium, clarissi-
res chamados cataratas, precipita-se de montes altíssimos e en- morum Professorum em filosofia.
surdece as pessoas que se encontram perto daquele lugar com o O conhecimento da filosofia, desde Sócrates até Descartes
ruído estridente com que se despenha, assim também não po- e Leibiniz, e ciências, com Galileu e Newton, foi essencial para
64. PAULO HENRIQUE DE FIGU
EIREDO
MESMER — A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 65
a descoberta do magnetismo anim
al. Como veremos, a medici-
na de Mesmer está baseada no E Sócrates, antes de chegar a essa conclusão pelo exame
retorno às raízes fundamentais.
À filosofia socrática e a medicina .da razão, afirmou:
científica foram esforços con-
temporâneos de Sócrates e Hip — Pois ele tem razão, meu amigo!
ócrates, cuja influência mútua
participa da própria geração de
suas doutrinas. “A, criação da A medicina científica de Mesmer iria associar todos esses
medicina hipocrática marca o ingr
esso de nova ciênigia na área conceitos com as recentes descobertas científicas de sua épo-
do saber científico e, como Sócr
ates e Platão foram amplamen- ca, numa síntese prática: a terapia do magnetismo animal, ela-
te influenciados pela medicina,
estimulou por sua vez a especu- borada por meio da observação científica. Seu testemunho
lação filosófica”, concluíram Gio fundamental foram as inumeráveis curas condicionadas à ação
vanni Reale e Dario Antiseri
(REALE, 1997, p. 123). A esse resp
eito, W. Jaeger!3 escreve: de sua descoberta.
Não exageramos quando dizemo
s que a ciência ética de Sócra- Por outro lado, a leitura de reformadores, como Descar-
tes, que ocupa o centro da disputa
nos diálogos platônicos, não tes, foi fundamental na educação de Mesmer. O filósofo, no
teria sido pensável sem o modelo
de medicina”. e Discurso do método, havia condenado os programas e os pro-
Tanto Sócrates quanto Hipócrate cessos da antiga educação. Comenta René Hubert em sua His-
s foram fundamentais
para o surgimento da ciência do
magnetismo animal. Podemos tória da pedagogia geral:
afirmar que a medicina de Mesmer
é um renascimento, ilumi-
nado pela ciência, dos fundam Trazia, ele próprio, nova filosofia, nova física, novo méto-
entos filosóficos e científicos
desses luminares gregos. Para Sócr do. Condenada pela realeza, pelo Papado, pelas faculdades de
ates, o homem é a sua alma teologia, pela congregação dos jesuítas, sua doutrina se infil-
€ é preciso despojá-la, submetê-l
a à prova para curá-la. Em sua trava, sobretudo, no espírito publico e, pois, não podia deixar
filosofia, a cura da alma está em
aprimorá-la, a fim de que o de repercutir ao menos nas teorias e nos planos de educação,
homem se realize em seu just quando não na própria educação. (HUBERT, 1949, p. 55)
o valor. Para Hipócrates, que
fundou a medicina científica, a saú
de e o corpo não são reali-
dades isoladas, mas partes de um No século 18, ainda pairava a sombra da perseguição àque-
amplo conjunto de fatores
desde o ambiente até questões soci les que ameaçavam a hegemonia do poder da Igreja, apesar de
ais. A palavra fundamental
para representar a saúde, Portan terem se tornado mais escassas as labaredas do fanatismo inqui-
to, é harmonia. A cura é obti
da auxiliando os esforços da natureza. Hipócrate - sitorial, agora queimando livros, não mais pessoas vivas. Mas o
va a seus alunos um estudo dedica s recomenda- Renascimento foi, acima de tudo, um ressurgimento da digni-
do da filosofia.
Na obra Fedro (PLATÃO. 2003), dade do indivíduo, na mais livre busca da verdade, representan-
Sócrates perguntou: do um rompimento dos grilhões da ignorância dogmática,
— Acreditas que seja possível con
heçer a natureza da alma
sem conhecer o universo? Mesmer anotou em suas memórias:
E Fedro respondeu: A filosofia conseguiu neste século triunfar sobre os precon-
— Se dermos crédito a Hipócrate ceitos e a superstição: foi pelo ridículo, sobretudo, que ela foi
s, que é um Asclepíades,
nem sequer o corpo se pode bem-sucedida na extinção das fogueiras que o fanatismo, mui-
conhecer sem tal método. to crédulo, havia acendido, porque o ridículo é a arma à qualo
- 1 amor-próprio pode menos resistir. (MESMER, 1799)
13 noiv
W. aJaegTeer. Paid
aéa, La formazione dell' uomo grec
o. Vol. 2. Florença: : La A conquista do saber foi sempre um terreno de lutas e he-
roísmo. À própria história do magnetismo animal está impreg-
-
66 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
67
68 PAULO HENRIQUE DE F IGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 69
resignação e cuja vontade amo e venero corno a nada mais”. ramente, essas anotações comporiam os cinco volumes da Com-
Protestante, Boerhaave primava por sua religiosidade. mentaria in Hermann Boerhaave aphorismos, renomada obra
nr
É surpreendente a profundidade de seus aforismos, elaborada sob uma inspiração claramente hipocrática.
como, por exemplo, sua afirmação quanto à origem psicosso- No entanto, van Swieten sabia que, sendo católico, não
mática das doenças: teria chances de assumir o posto máximo em Leyden, uma pe-
quena cidade protestante. Viajou para Viena e, em 1744, logo
Sentimentos violentos ou de longa duração atacam e cor- em sua chegada, foi chamado para curar a enfermidade da
rompem o cérebro, nervos, temperamento e músculos, de
maneira tão extraordinária e concreta. E, consequentemen-
irmã da imperatriz Maria Thereza. Empressionada com os
te, em acordo com suas diversidades e duração, são capazes bons resultados do tratamento, a monarca convidou-o para ser
de produzir e criar praticamente todo tipo de doença. seu médico particular. Pouco depois, em 1748, van Swieten
(WINGAARDEN, 2002, p. 38) recebeu o encargo de reorganizar a faculdade de medicina de
Viena, assumindo o cargo de presidente. Desde que assumiu o
Em sua obra, Mesmer retomou a relação entre emoção,
trono, em 1/40, a imperatriz Maria Teresa empreendeu uma
paixões e a patologia. grande reforma universitária.
Muitos alunos seguiram o gênio do mestre Boerhaave e o Além de um clínico destacado, van Swieten possuí a uma
auxiliaram na reformulação da ciência médica. Um célebre ampla visão administrativa. Construiu novos prédios, organi-
discípulo da escola vienense foi Leopold Auenbrugger, que zou laboratórios, estabeleceu novos cursos e fundou uma clíni-
desenvolveu o método da percussão para o diagnóstico, funda-
ca similar à criada por Boerhaave em Leyden.
mental técnica clínica usada até hoje. Outro foi Albrecht von
Haller (1708-1777), que ensinou todos os ramos da medicina, Anton Mesmer já se encontrava na Universidade de Vie-
na, dedicando-se ao estudo das leis. No entanto, por não ser
desenvolveu esplendidamente a anatomia e a fisiologia. Sua
cidadão austríaco, concluiu que esta carreira não previa
obra sobre fisiologia iniciou a era moderna. Uma de suas maio- para
ele um futuro ideal. Por isso, em 1860, depois de um ano de
res contribuições foi superar a afirmação de Galeno de que a
estudo, encaminhou-se para o estimulante e inovador curso
sensibilidade restringia-se ao sistema nervoso. Haller, pela ob-
de medicina de Gerard van Swieten.
servação experimental, definiu a irritabilidade como caracte-
rística dos músculos e a sensibilidade, dos nervos. Outros importantes professores de Mesmer foram Anton
Estas recentes teorias, e a linha de pensamento de Boerhaave, de Haen (1704-1776), também discípulo de Boerhaave, e o
causariam uma clara influência na doutrina de Mesmer, formando
barão Anton von Stõerck (1731-1 803), que estava à frente
a base médico-científica da terapia do magnetismo animal. das instruções clínicas nas enfermarias e foi o grande reforma-
dor dos hospitais de Viena. Além de ser um jovem professor,
era amigo de Mesmer. Stôerck assumiu a presidência da facul-
A excelente faculdade de medicina de Viena dade depois da morte de van Swieten, em 1772.
Outro destacado aluno de Boerhaave, o que mais nos inte- Mesmer, em seu quarto curso superior, teve à sua disposi
-
ressa, foi o holandês Gerard van Swieten (1700-1772) - Discípu- ção uma das melhores estruturas de ensino médico da Europa.
lo predileto, foi cuidadosamente preparado para assumir O posto Totalmente renovada, a faculdade de medicina havia incorpo-
de seu mestre. Enquanto exercia a função de assistente, anotava rado as recentíssimas inovações criadas por Boerhaave, co-
diariamente os comentários de Boerhaave sobre cada caso. Futu- mandadas por seu primoroso discípulo, van Swieten. A anato-
72
PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 73
mesmo, e não pelos outros. Sua opinião lhe é própria. É vo- magnetismo, da luz, da eletricidade e de tudo que existe no
luntariamente adotada em virtude do exercício do julgamen- universo. Todas as forças têm uma origem comum no fluido
to pessoal. (Revista Espírita, 1807, p. 38) universal, em diferentes estados de vibração (ou, nas palavras
de Mesmer: ton de movimento). Esta teoria seria posterior-
Imerso nessa atmosfera que privilegiava o livre exame,
mente confirmada pela doutrina espírita, em 1857, em O li-
Mesmer pôde despertar em seu espírito a emancipação inte-
vro dos espíritos, de Allan Kardec.
lectual e a independência moral, bases para a descoberta da te-
rapia do magnetismo animal. Ãos trinta e dois anos, o doutor Franz Anton Mesmer es-
tava preparado pelo conhecimento de línguas, artes, filosofia,
teologia e medicina. Estudioso e observador, conhecia a física,
O doutorado em medicina: De planetarum influxu a química, a biologia, a-botânica e outras disciplinas. Tendo
Mesmer recebeu seu grau de doutor em medicina no dia 27 aperfeiçoado seus dotes musicais durante seus estudos supe-
de maio de 1766 com uma dissertação de quarenta e oito pági- riores, tocava com talesito violoncelo e clavicórdio, instru-
nas, intitulada: Dissertario physico-medica de planeiarum influ- mento antecessor do piano. ,
xu. Na primeira folha, abaixo de seu nome, pode-se ler as pala- Estava apenas iniciada a luta de toda uma vida para revelar
vras: Marisburgensis Acron. Suev. AA.L.L. & Phil. Doct. (suábio a ciência do magnetismo animal. Mesmer denunciou:
de Meesburg, do lago de Constança, doutor em artes e filosofia).
O seu trabalho, bastante influenciado pelas teorias de Meu objetivo então era apenas o de fixar a atenção dôs
médicos. Mas, longe de ter obtido êxito, percebi que me ta-
Isaac Newton e, talvez, Paracelso, foi recebido, e seu diploma xaram de singularidade, que me trataram de homem de sis-
assinado pelos seus mestres van Swieten e Stóerk. Anton tema e que taxaram de crime a minha propensão de mudar a
Mesmer contou em suas Memórias: rota ordinária da medicina.
Fiz, em Viena, em 1766, uma dissertação sobre a influên-
A nova ciência está destinada'a promover uína revolução
cia dos planetas sobre o corpo humano. [...] Nomeei a pro-
priedade do corpo animal, que o torna suscetível à ação dos na medicina, superando o dogma materialista mecanicista, €
corpos celestes e da terra, magnetismo animal. |] Meu pri- seu descobridor não mediu esfseços para tanto.
meiro objetivo foi o de meditar sobre o que poderia ter leva- Muito se especulou sobre quando Mesmer teve as primei-
do a opiniões absurdas segundo as quais os destinos dos ho-
mens, assim como os eventos da natureza, pudessem ser
ras idéias sobre o magnetismo animal. Alguns pesquisadores
chegaram até a imaginar que a descoberta tivesse ocorrido por
CRU
77
78 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 79
tizie Diverse, do cremonense Lorenzo Manini, era favorável às Enquanto acusava e denegria Mesmer, a elite acadêmica e
curas mesméricas. As discussões também tomavam as páginas científica parisiense elaborava a fundação da Academia de
de jornal, franceses, alemães e ingleses. À polêmica se espa- Ciências, respeitando uma divisão de classes de inspiração
lhou por toda a Europa, e “não abrangeu apenas os mais popu- feudal e nada democrática, No topo estavam os honoraires, re-
lares e incrédulos, mas também, e sobretudo, cientistas ilus- presentantes fiéis do alto clero, da nobreza e do governo. Se-
tres, letrados famosos, cortes, academias, iluministas de todas guiam os pensionnaires, verdadeiros donos da Academia, rece-
as nações”. (VOVELLE, 1997, p. 175) | bedores de pagamentos anuais e jetons pela presença nas
No entanto, enfrentando uma oposição sistemática e pre- reuniões. Além disso, muitos eram nomeados para a adminis-
concebida do meio científico parisiense, em determinado mo- tração pública e para outros cargos. Os privilégios e honras se-
mento Mesmer viu seus esforços desperdiçados: guiam o costume do Ancien Régime. Mesmer criticou dura-
mente esta prática:
Resumindo minha situação, desejo apenas falar de meus
trabalhos, de minhas complacências e de minhas penas; irá O título de membro da Sociedade Real de Londres deve-
me restar o testemunho de minha consciência. E apenas isso. ria ser considerado pouco importante, É o mesmo tanto na
Eu havia multiplicado as experiências para provar à ação do Inglaterra quanto na França. A falsa aplicação, e a prodigali-
magnetismo anirnal, e, no entanto, não pude fazer reconhe- dade das distinções literárias são distribuídas incessante-
cer esta ação. mente a tal ponto que todo homem de mérito verdadeiro
não mais as quer. (MESMER, 1779)
Sua determinação não se perdia em devaneios, mas sua
Os novos membros da Academia eram escolhidos pelos
postura científica era clara e esclarecida:
próprios honoraires e pensionnaires. As comissões, como a
Eu havia imaginado um número muito considerável de que julgou Mesmer em 1784, seguiam uma lógica corporativa,
tratamentos para provar que o magnetismo animal era um e eram formadas respeitando hierarquia, antigiiidade e etique-
meio de cura das doenças as mais inveteradas, e, no entanto,
ta. Entre suas incumbências estava examinar as novidades ci-
não consegui fazer reconhecer que o magnetismo animal era
um meio de cura, entíficas, controlar as pesquisas e decidir a aplicação dos re-
cursos financeiros.
Determinado, Mesmer chegou a abrir mão de suas con- Deste modo, o poder dos acadêmicos ganhava uma di-
fortáveis posições profissionais e sociais para despertar Os sá- mensão política e econômica que impedia a necessária liber-
bios de sua época: dade de pensamento, conceito fundamental da verdadeira
ciência. À pesquisa científica nascia em Paris atrelada ao po-
Minha profissão de médico me havia dado outrora em Vie-
na alguma consideração, minha descoberta me havia posto no der. À vigilância ideológica e a arbitrariedade excluíam todos
maior descrédito. Na França, tornei-me objeto de risos entre- os que não se coadunavam com os acadêmicos.
gue à turba acadêmica, Só no restante da Europa meu nome Mesmo diante de tantos obstáculos, a privilegiada situa-
chegou a tocar algumas vezes a abóbada dos templos elevados
às ciências, porém o foi só para ser repelido com desprezo.
ção econômica e social de Mesmer permitiu que ele mantives-
se a isenção em suas pesquisas:
Seu digno e sincero empenho na divulgação de suas des-
Felizmente, não passo necessidades. A fortuna, secun-
cobertas enfrentou cobiça, orgulho, ambição e inveja de repre- dando meu coração ativo, impede que dependam da huma-
sentantes da ciência e da medicina. nidade minha fone e minha sede, Foi justa a fortuna, porque
80 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 81
que ele recebeu foi um gélido desprezo meios suaves e consoladores. Por outro lado, os médicos práti-
: . cos e de mente aberta e dedicados à saúde popular se interes-
| Mais isolado em Paris do que saram pelas novas práticas vitalistas, como o mesmerismo e a
se não conhecesse ninguém,
ancei os olhos em torno de mim
tia me apoiar em algum homem
para descobrir se não pode- homeopatia. Eles já estavam cansados de aplicar as sangrias e
nascido para a verdade, sanguessugas, os vomitivos, as bolhas provocadas tirando as
Céus! Que vasta solidão! Que dese
rto povoado por seres ina-
nimados para o bem! Caf numa
insegurança excessiva. Vi
forças e levando à morte prematura de seus pacientes. Muitos
bem que não devia mais fazer o que havia feito até entã deles não desejavam mais sair de suas casas.
mas qual partido tomar? Eu não o via. o
, Esses médicos, mais conscientes, viviam uma luta interior
E conclui, afirmando que, apesar entre seu ideal de proporcionar o alento e uma prática que con-
de tudo, denava os doentes à morte antecipada ou a danos irreparáveis.
[...] a medicina é livre na França.
Ela se mantém nesse es- Ser um cirurgião, nos anos 1870, significava ser compe-
tado malgrado os assaltos Frequent
es que desde há dois sécu- tente em fazer sangria: o doutor se atormentava diante da vi-
los lhe tem sido desferidos pelos
primeiros médicos do rei são do paciente ingênuo, abrindo seus braços para sua faca,
Na França, onde tudo respira à prot
eção e crédito, a prote- prestes a retirar, de seu organismo já debilitado, o precioso
ção e o crédito dos primeiros médi
cos do rei, não puderam líquido vital. (PORTER, 1996, p. 321)
franquear as barreiras opostas às
vias ilegítimas de domina-
ção. Eles são respeitados na medi
cina, mas eis tudo: eles não
são seus senhores, Seria algo para
rim que, desejoso de sua O ceticismo médico do século 19 pode ser resumido pela
benevolência, não desejaria sua prot declaração do médico norte-americano Arthur Hertzler:
eção.
Enquanto os acadêmicos conden Em alguns casos eu sabia, desde o início, que meus esfor-
avam e perseguiam Mes-
mer, os doentes desenganados pela ços seriam inúteis no tocante a prestar serviços aos outros...
medicina oficial corriam
para aeficaz terapia mesmérica, pela qual a senten Frequentemente eu sabia, antes de atrelar os cavalos, que a
era substituída pela cura consolad ça de morte viagem seria inútil... Estava certo de que eu colocava alguns
ora. remédios na minha maleta apenas visando a evitar proble-
e Vale observar que o despotismo aca mas; alguém tinha de pagar pela graxa do eixo da roda da
dêm
ico, de inspiração
eudal, manobrado pelas instâncias do charrete, e somente conselho e advertências não justifica-
poder político, econô- vam proventos, a menos que fortalecidos por alguns compri-
82 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
83
84
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 85
rima o sua paixão pela música, con
viviam em sua casa os grande
poentes da música da época, s ex
como Franz Haydn, um Paixão pela música
amigo de Mesmer, Christoph ande
eg
Gluck (1714-178 7), o genial re- A música era uma paixão antiga de Mesmer. Admirado
novador da ópera; e a famíli
a de Mozart, Durante o séc musicista, além do clavicórdio e do violoncelo, também toca-
Viena foi uma cidade em que ulo 18
a música desempenhou um va esplendidamente a harmônica de vidro. Esse curioso instru-
pel de destaque. O imperador a-
José II tocava instrumentos mento foi inventado por Benjamim Franklin. Para se conhecer
no
o seu som peculiar, basta passar levemente o dedo sobre a bor-
da molhada de um copo de cristal. Com alguma habilidade,
poder-se-á ouvir um silvo longo, penetrante e bastante singu-
lar. O instrumento, aperfeiçoado por Mesmer, tinha a forma
aproximada de-um cravo. Consistia em diversos copos ladea-
mão de alta estatura não era dos e semi-imersos na água, que eram girados em um fuso, por
um homem comum. Sua fro
larga e seu porte imponente nte meio de um pedal. As diversas notas eram produzidas ao se to-
destacavam sua figura em
quer salão que entrasse. Um qual: car as beiradas dos copos de diferentes tamanhos.
cartão de identidade datado
1798 (KERNER, 1956, p. 6), de Leopald Mozart, ao escrever para sua esposa em 1773,
quando ele já contava sessen
quatro anos, relata a altura 1,76 ta e comentou:
metro cabelos castanho
to cheio e uma testa larga.
vos Não te escrevi pelo correio anterior porque celebramos um
grande sarau musical na casa do nosso amigo Mesmer, em seu
jardim da Landstrasse, Mesmer toca esplendidamente a harmô-
nica de vidro. É em Viena o único que aprendeu e possuí um ins-
trumento muito mais bonito
que o da senhorita Dewis.
Wolfgang também o tocou!”
Entre os mais destacados saraus musicais de Viena esta- aldeia. O velho e experiente mago a aconselha a fingir desinte-
vam o de van Swieten, o professor de medicina, com sua pe- resse também. Em seguida, vai dizer a Bastien que a moça já
quena câmara em Tiefen Graven, e o teatro da residência de não o ama como antes, mas o adverte que as suas artes mágicas
Anton Mesmer. Naquelas concorridas noites culturais em poderão reacender o amor da amada. É o que basta para que o
Landstrasse, além das costumeiras palestras científicas, podi- pastor se sentisse inflamado de paixão. Os dois, enfim, agra-
am-se ouvir as mais belas composições executadas pelos gran- decem a Colas por tê-los unido tão habilmente.
des mestres, muitas escritas especialmente para aquelas oca- = À estréia de Mozart foi um grande evento no teatro do
siões. O próprio Mesmer, Haydn, Gluck, Leopold e Wolfgang jardim de Mesmer.!º Após o sucesso da apresentação, Mozart
Mozart, e outros músicos, revezavam-se ao piano, violinos, e seu pai voltaram agradecidos para Salzburg.
violoncelos, proporcionando momentos inesquecíveis em Esse gesto de amizade jamais seria esquecido por Wolfgang
meio aos jardins. Podemos imaginar quantos improvisos ine- Mozart, que, a partir de então, seria um habitual freguentador
briantes dos grandes músicos teriam se perdido nos tempos, da casa de Mesmer, tanto em Viena quanto em Paris. Curiosa-
deixando Mesmer e seus convidados com o privilégio de se- mente, a primeira paciente tratada pela terapia do magnetismo
rem os únicos a aplaudi-los. animal, durantes os anos de 1773 e 1774, foi uma parenta da
Mozart, um menino de doze anos, estreou nos jardins da esposa de Mesmer e amiga da família Mozart, Franziska Esterli-
casa de Mesmer, em outubro de 1768, seu primeiro singspiel na, uma senhorita de vinte e nove anos bastante debilitada. Vá-
em alemão. Leopold Mozart ficaria eternamente reconhecido rias cartas de Leopold à sua esposa comentamo estado de saú-
por esta iniciativa de seu amigo. de dessa moça. O tratamento surtiu efeito, como confirma uma
Alguns meses antes, tudo se encaminhava para se exibir das mensagens de Wolfgang Mozart para seu pai:
em Viena La finta simplice, que seria a primeira ópera de Mo-
decepcionan- De onde você imagina que eu estou escrevendo esta car-
zart a ser apresentada fora de Salzburg. Foi uma
ta? Pois é do jardim de Mesmer, em Landstrasse. Neste mo-
te notícia quando o diretor da Ópera Real de Viena, senhor mento a sua senhora não está em casa. Mas quem está aqui é
Aflígio, ludibriando as ordens imperiais, recusou-se a apresen- a senhora Esterlina. Ela se casou e agora é uma von Bosch
tar a obra de quem, para ele, era apenas um jovem. [desposara o enteado de Anton Mesmer]. Mas, para minha
surpresa eu mai a reconheci! Ela ganhou peso e está bastante
Anton Mesmer, ao ser informado do caso, rapidamente mo- vigorosa. Agora tem três crianças, e todas são fortes e robus-
bilizou-se para auxiliar o amigo, oferecendo sua mansão. O ambi- tas. (MOZART, 2004)
ente, no entanto, era inadequado para a apresentação completa
daquela ópera, e Mozart escreveu rapidamente outro tema. À es-
tréia de Mozart em Viena foi com uma comédia popular alemã, Mesmer homenageado em Cosi fan tutte -
com canções e diálogos falados: Bastien et Bastienne. O texto do | Mozart, alguns anos depois, homenageou Mesmer, inse-
libreto foi inspirado em Le Devin du village, escrito pelo compo- rindo, numa de suas mais famosas obras, um papel em alusão
sitor e filósofo, Jean-Jacques Rousseau, em Paris. ao magnetismo animal e seu descobridor.
Com um texto coloquial e melodias simples, Bastien foi a
terceira ópera composta pelo gênio da música. Na peça de um
18 Alguns autores afirmam que o jardim da casa de Mesmer ainda não ti-
ato, preocupada com a indiferença de Bastien, seu pretenden- nha sido construído em 1768. A apresentação teria sido, então, em ou-
te, a pastora Bastienne consulta Colas, que era o feiticeiro da tro ambiente de sua residência.
88 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 89
(O autor da ópera revela o processo histórico do surgimen- Despina e don Alfonso: Em algumas horas vocês vão ver,
to do magnetismo animal. Mesmer fez suas pesquisas iniciais pela ciência do magnetismo, os paroxismos cessarão, e eles vol-
com o uso conjunto do magnetismo mineral, o que depois foi tarão ao seu estado normal.
abandonado, como podemos acompanhar em suas Memórias. (Paroxismo é o momento mais agudo de um ataque re-
No entanto, por razões que o pudor da época exigia, manteve o pentino.) [...]
uso, em determinadas ocasiões, de um bastão de metal, evitan- Cena final do segundo ato
do o toque direto nos pacientes femininos. Mesmo assim, Mes-
Guglielmo: (para Dorabella) Este pequeno retrato em tro-
mer foi alvo de um relatório secreto enviado ao rei em 1784 pe-
ca de um coração, veja, estou oferecendo-o a você, minha se-
los ditos sábios, acusando seu método de estar envolvido com
nhora!
implicações graves de cunho sexual. Utilizado como instru-
mento de difamação, na época, milhares de cópias do relatório Ferrando e Guglielmo: (para Despina) E ao doutor mag-
circularam na Europa. É interessante lembrar que o tema desta nético nós oferecemos a honra que ele merece.
ópera satírica está relacionado com essas mesmas questões so- E, após mais um breve diálogo, a ópera termina com a or-
ciais, ou seja, o pudor excessivo, a infidelidade e o moralismo.) questra triunfante. Sobem os aplausos, e assim Mozart home-
Fiordiligi, Dorabella e don Alfonso: Como eles estão se nageou seu caro amigo Franz Anton Mesmer.
movendo, torcendo, tremendo! Eles vão acabar batendo suas
cabeças no chão.
(Aqui o autor brinca com as reações físicas dos doentes,
descrevendo as manifestações sintornáticas das crises dos pa-
cientes de Mesmer em seus tratamentos.)
Médico: Ah! Sustentem-no por suas testas!
Fiordiligi e Dorabella: Nós estamos prontos, nós estamos
prontos.
Médico: Segure firmemente, segure firmemente, seja va-
lente! Agora eles estão livres da morte.
Fiordiligi, Dorabella e don Alfonso: Eles estão olhando ao
redor, e estão recuperando suas forças. Ah este doutor vale seu
peso em ouro! [...]
(Os moços, já despertos, começam a galantear e pedir
beijos às donzelas.) [...]
Despina e don Alfonso: É o efeito do veneno, não tenham
medo.
Fiordiligi e Dorabella: Isso pode ser verdade, mas o com-
portamento impróprio deles está comprometendo nossa honra.
Fiordiligi e Dorabella: Eu não posso resistir por mais tempo!
spa
V
93
94 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER- A CIÊNCIA NEGADAE OS TEXTOS ESCONDIDOS 95
Os primeiros efeitos do sonambulismo provocado em doen- Quando visitavam Mesmer, os médicos alopatas ficavam
tes do magnetizador de Busancy foram por meio dessa árvore, confusos porque não encontravam qualquer tipo de remédio
junto à qual ele passava duas horas diárias, dedicando-se às curas.
14 a
ou prática invasiva no tratamento dos doentes:
Já o instrumento mais utilizado por Mesmer, principal- À esperança próxima de ver o magnetismo animal como
mente enquanto permaneceu em Paris, foi a tina mesmérica se vê uma poção fortificante através das paredes de um vidro
ou baquet. Descreveu Puységur: branca inflamou os senhores Bertrand, Malloét e Sollier pelo
interesse de minha descoberta, mas eles caíram em si quan-
O fundo da tina do senhor Mesmer do se aperceberam de uma espécie de tina montada sobre
é composto de garrafas arranjadas en- três pés, recoberta, e de onde saíam algumas varas de ferro
tre si de maneira particular. Acima recurvadas de maneira a aplicar as extremidades, seja na ca-
dessas garrafas, coloca-se água até beça, seja no peito, seja no estômago, seja no ventre; que se
uma certa altura; varas de ferro, cujas aplicava ao mesmo tenpo em pessoas sentadas em torno da
extremidades tocam a água, saem des- tina. (MESMER, 1799)
sa tina; é a outra extremidade, termi-
nada em ponta, se aplica sobre os do- Limitados por um raciocínio mecanicista, os doutores
entes. Uma corda, em comunicação acreditavam que somente uma substância palpável teria o po-
com o reservatório magnético e o re- der de provocar alterações orgânicas.
servatório comum, liga todos os doen-
tes uns aos outros; de modo que existe Mesmer, no entanto, considerava transitório, e até irrele-
uma circulação de fluido ou de movi- vante, o uso de instrumentos em sua terapia. Ele esclareceu a
mento que serve para estabelecer o questão numa nota de suas Memórias:
equilíbrio entre eles. [...] Se desejar,
utiliza-se uma vara de ferro, termina- Os pretensos imitadores do meu método estabeleceram em
Tina de Mesmer. Museu de História
da em ponta, apoiada no meio da tina, suas residências tinas semelhantes àquelas que viram na sala de
da Medicina e da Farmácia de Lyon.
que se pode tocar de tempo em tem- meus tratamentos. Se souberem apenas isso, estão pouco avan-
po, ou de uma recarga que se pode gados. É de se presumir que, se eu tivesse um estabelecimento
operar à vontade, mantendo este movimento na direção cômodo, suprimiria as tinas. Em geral, uso apenas pequenos
dada; e por intermédio da corda que serve para ligar todos os meios, e isso quando necessários. (MESMER, 1799)
doentes entre si, chega, como já disse acima, um combate,
em cada indivíduo, pelo restabelecimento do equilíbrio, do Ou seja, a tina remediava o problema causado pelo peque-
fluido ou movimento elétrico animal. (PUYSÉGUR, 1784) no espaço disponível no apartamento da praça Vendôme, sua
clínica em Paris.
Os objetos eram utilizados apenas condutores ou inter-
mediários da ação do magnetizador: « Puységur concorda com a opinião de seu mestre:
À tina, sem a ajuda do magnetizador, não deve ser vista
Toca-se cada uma das garrafas que entram no reservatório senão como um acessório do tratamento magnético, pois que
magnético, e se lhe comunica então uma impulsão elétrica seu efeito, muito secundário, é primeiramente o de manter
animal; carrega-se também a água que recobre as garrafas, e, um movimento já impresso do que imprimir um por si mes-
por esta operação, determinam-se as correntes de movimen- ma. (PUYSÉGUR, 1784)
tos que serão levadas para os pontos necessários dos doentes,
(PUYSÉGUR, 1784) Mesmer estava preocupado unicamente com a o conteú-
do de sua descoberta, e não com a forma de aplicá-la. Em ne-
56
PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER -- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 97
nhuma parte de sua obra ele
estabeleceu um método de
que pudesse ser ensinado ou cura tanto na Université de France quanto em seu curso da Escola
seguido pelos médicos
al De acordo com Mesmer, Prática de Magnetismo, afirmou:
um médico, conhecedor da
sio Ogia, da patologia e das fi-
teorias do magnetismo ani Du Potet não se preocupou em fazer uma descrição mi-
eria encontrar em sua prátic mal po-
a os meios mais adequados nuciosa dos procedimentos de aplicação nas suas obras. Seu
natureza e a de seus pacien à sua método de trabalho consistia preferencialmente na aplicação
tes: EN de passes, porém dava pouca importância aos gestos em si,
Esperam-se sem dúvida explicaç pois, conforme seu entendimento, a vontade de fazer o bem
aplicar o magnetismo animal, ões sobre a maneira de se seria O principal motor que impulsiona o fluido magnético
e de torná-lo um meio curati
eficaz; mas como, independe vo beneficiando o enfermo. (DURVILLE, 1903, p. 112)
ntemente da teoria, este novo
método de curar exige indisp
ensavelmente uma instrução
prática e seguida, não creio
ser possível dar aqui a descriçã Os instrumentos como a tina foram importantes durante
nem desta prática, nem do o o período experimental da ciência do magnetismo animal. O
aparelho e das máquinas de
rentes espécies, nem dos dife-
Com sucesso, porque cada
procedimentos de que me
servi mesmo papel foi desempenhado pelas mesas girantes, cestas
um, em Consegiiência da sua
trução, se aplicará em estudá-l ins- de bico e outros instrumentos, quando do surgimento da ciên-
os, e aprenderá por si mesmo
variá-los e a acomodá-los às
circunstâncias e às diversas situ
a cia espírita. As mesas girantes surgiram no período inicial da
ções da doença. (MESME a- comunicação com os espíritos e foram utilizadas como instru-
R, 1799)
. O magnetizador deveria des mento rústico de comunicação por tiptologia.20
envolver
seus métodos tera-
pêuticos pelo livre exercí
cio da experimentação, res
uma condição essencial peitando
da ciência. A câmara de crises
Quando alguns discípulos de Um elemento controverso da prática terapêutica de Mes-
Mesmer quiseram publicar
as anotações de seu curso, que mer era a câmara de crises. Puységur explicou que:
continham a descrição de al-
guns instrumentos, foram exp
ressamente desautorizados
ele. Porém, agindo, contra por [...] as câmaras das crises, a que se deveria chamar antes de
a vontade de seu mestre lev
ao público seus 344 Aforismos aram inferno para convulsões, não deveriam jamais existir. O se-
!º anotados durante as aulas, nhor Mesmer jamais as teria feito. Não foi senão quando a
Com o passar das décadas, os multidão dos doentes veio superlotar sua casa em seu novo
magnetizadores abandona-
ram os grandes instrumentos. alojamento, que o obrigou então a dividir seus cuidados. Ele
A segunda geração — du Pot
Charpignon, Aubin Gautier, et imaginou ter um local onde pudesse ao menos, ao abandonar
F. oissac, Lafontaine e outros
tringiu os recursos terapêuti — res- seus doentes, não mais deixá-los expostos a serem tocados por
cos aos Passes, imposições todo o mundo, o que ele sabia lhes ser totalmente contrário.
massagens, sopros magnetização de mãos
da água e o sonambulismo pro- É preciso lamentar-se verdadeiramente de todo o mal que
vocado. O magnetizador Hector resultou de um tal estabelecimento, que só o sentimento de
Durville (1848-] 923), que foi
O sucessor do barão em seu Jou humanidade lhe havia ditado. Tanto que, se apenas ele pudes-
mal du magnétisme e ensinava
se entrar nesta câmara fatal, o mal não teria sido assim tão
grande. Mas, uma vez obrigado a cuidar tanto de sua doutrina
=. como de seus meios, cada iniciado se acreditava no direito de
19 ittênse de Aforismos de Mes
mer. Paris: Quinquet, 1785
desmer ter rejeitado e desautor . Apesar de
izado essa obra, oferecemos
ção como apêndice, por seu valo a sua tradu- 20 Comunicação dos espíritos por meio de pancadas (raps), utilizando um
r como fonte histórica para a
pesquisa
código alfabético.
98 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
99
seguir o que se chamava de crise, Então, disso resultou uma À crisis hipocrática
grande desordem nos indivíduos submetidos às experiências
públicas. A decência, a saúde, tudo estava comprometido, e Vejamos como Puységur, o magnetizador de Busancy,
nenhuma cura satisfatória veio amenizar as tristezas do homem apresenta a crise, um importante conceito da terapia do mag-
honesto forçado a deixar profanarem assim os seus meios. netismo animal:
Todos os médicos que, saídos da escola do senhor Mesmer,
dirigiram-se às províncias para aí estabelecerem tratamentos Quando se toca a um doente com disposição imediata para
magnéticos, começaram seu estabelecimento por fazer arran- curar-se, o fluido animal não demora a juntar seus esforços
jar uma sala de crises. Ninguém pode ser repreendido por àqueles da natureza; e muitas vezes, desde a primeira vez, oca-
uma precaução tão bárbara, porque o fizeram visando o bem, siona-lhe uma crise, a qual, segundo os fenômenos que ela apre-
e que todos seguramente tiveram muito que sofrer com O senta, deve se chamar crise magnética. (PUYSÉGUR, 1784)
quadro horrível que apresentaram as convulsões muito reite-
radas. Mas é tempo de as desabusar, assim como o público. Sobre a crise, Mesmer afirmou:
Tudo o que se chama de convulsões não deve ser senão uma
passagem efêmera nas mãos do magnetizador. E o estado de Qualquer doença não pode ser curada sem uma crise.
crise, ao contrário, é um estado calmo e tranquilo que oferece Esta lei é tão verdadeira e tão geral que após a experiência e a
aos olhos sensíveis apenas um quadro de felicidade e do traba- observação, a mais simples pústula, a menor bolha na pele
lho pacífico da natureza para atingir a saúde, É apenas neste não se cura senão após uma crise. (MESMER, 1799)
estado que os indivíduos doentes sofrem algumas vezes de
raaneira inaudita. Digo mais, sua cura não pode ser obtida sem Este conceito fisiológico, abandonado pela medicina alo-
sofrimentos. Mas então poder-se-ia dizer que, sob o império
benfazejo da natureza, apenas seu corpo sofre, sem que sua pática, remonta à Antigitidade. Segundo Hipócrates, o pai da
alma seja alterada. À percepção que eles adquirem neste esta- medicina, toda enfernidade apresenta um começo (arché);
do lhes faz encarar seus sofrimentos como necessários e apre- uma fase de crescimento (eptdosis); um ápice (akmé), em que
sentam com antecedência sua cura como termo destes mes- ela alcança seu ponto máximo; e um final (télos). Os médicos
mos sofrimentos; eles têm tma coragem e uma paciência que
os tranquúilizam sobre seu estado. (PUYSÉGUR, 1784) hipocráticos designam com o nome de crisis o momento deci-
sivo em que a enfermidade pode sofrer uma mudança súbita
Os pacientes, colocados em uma fase sonambúlica mais para 0 bem ou para o mal: a partir daí, ela pode decrescer, ex-
profunda, despertavam a lucidez sonambúlica. Nesse estado, tinguindo o desequilíbrio, ou, no caso contrário, agravar € con-
podiam prever, entre outras coisas, o tratamento mais ade- duzir o doente para a morte. O bom médico tem o dever de
quado para sua enfermidade e, inclusive, o momento exato da identificar o momento da doença, prevendo os passos seguin-
sua cura. Esse conhecimento antecipado do fim de seus sofri- tes de seu desenvolvimento.
mentos despertava confiança e esperança nos pacientes. Mesmer esclareceu:
Nessa época, o tempo médio de vida não passava de vinte e
Hipócrates parece ter sido o primeiro e talvez 0 único que
cinco a trinta anos. Os remédios e tratamentos heróicos da me-
compreendeu o fenômeno das crises nas doenças agudas,
dicina ordinária não traziam lenitivo algum — pelo contrário, es- Seu gênio observador o levou a reconhecer que os diversos
palhavam pavor pelo sofrimento que causavam. O mesmerismo sintomas nada mais são do que modificações dos esforços
e o sonambulismo foram uma grande bálsamo, principalmente que a natureza faz contra as doenças. (MESMER, 1799)
para os casos considerados incuráveis. Nesse sentido, o magne-
tismo animal estava antecipando o papel consolador e as conse- - Ou seja, os sintomas são sinais aparentes do esforço do
quências morais da doutrina espírita. corpo para combater o desequilíbrio instaurado em sua fisiolo-
100 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 101
O ressurgimento da medicina científica tão absurdas quanto ridículas, às quais será impossível atribuir
fé. Determinados e prescritos de modo DOSvo tommaao so
A ação do magnetizador — aplicando passes, imposições sob uma observação muito escrupulosa, motivo de superstição;
de mãos, sopros — dependia dos objetivos que ele pretende € eu ousaria dizer que uma grande parte das cerimônias religio-
atingir, a partir do diagnóstico da doença e da fase em que ela sas da Antiguidade parece conseguência desse empirismo. Por
outro lado, todos aqueles que quiseram se assegurar por sua
se encontrava. O médico, conhecendo a fisiologia, a patologia
própria experiência da realidade do magnetismo, praticando-o
e o histórico de seu paciente, pode induzir, pelo magnetismo sem conhecer seus princípios, viram-se privados de obter o su-
animal, a cura. cesso que pretendiam; imaginando que os efeitos deveriam ser
Para tanto, ensina Mesmer, ele deve compreender que: o resultado imediato dos procedimentos como aqueles da ele-
tricidade ou das operações químicas. (Ibidem, 1799)
As diferentes formas segundo as quais o esforço da natu-
reza se manifesta dependem da diversidade da estrutura das Isso explica os insucessos dos imitadores e charlatães, e as fra-
partes orgânicas ou das vísceras que sofrem esse esforço, de cassadas tentativas de testar a veracidade do magnetismo animal
suas correspondências e relações, segundo os diversos graus e por pessoas despreparadas, que desconheciam seus princípios.
modos da resistência, e do período do seu desenvolvimento.
(Ibidem, 1799) Ou seja, aquele que apenas imita os movimentos de um
magnetizador, agindo mecanicamente, não obtém resultado al-
Fazendo uso experimental desses princípios, Mesmer es- gum. Sua ação não passa de uma gesticulação inútil ou encena-
tabeleceu seus métodos de cura e criou a primeira terapia mé- ção supersticiosa. Fica clara a importância, na ciência do mag-
dica científica baseada na descoberta do magnetismo animal. netismo animal, da prévia compreensão dos seus princípios
Segundo este raciocínio, a ciência do magnetismo animal científicos e filosóficos, do conhecimento das ciências naturais
representou o ressurgimento da medicina científica, desde e de ma prática metódica e estudada para alcançar resultados
Hipócrates. Ela foi criada a partir da observação positiva dos Positivos, ou seja, a cura dos pacientes. Explicou Kardec, ex-
fenômenos naturais, sem se condicionar pelo dogmatismo ma- perimentado magnetizador: “A magnetização comum é um
terialista. O magnetismo animal é científico e ao mesmo tem- verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; [...] To-
po vitalista, porque sua experimentação comprova a hipótese | dos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde
de existência da força vital. Ela é positiva porque considera que saibam conduzir-se convenientemente.” (KARDEC, 1862
apenas os fenômenos observados pelos sentidos. Entretanto, é p. 217) | o
espiritualista, porque evidencia que o homem não tem apenas — Aterapia do magnetismo animal deve ser seguida com re-
cinco sentidos, e lhe acrescenta um sexto: o sentido espiritual. gularidade e periodicidade, suas sessões devem ser renovadas
até que a cura tenha sido conquistada.
A postura científica de Mesmer afasta qualquer sombra
de explicação sobrenatural ou mesmo suposições pessoais em- Além disso, segundo Mesmer, apesar de o magnetismo
píricas. E ele vai ainda mais longe quando denuncia os efeitos animal ser útil para a cura de todas as doenças, não é apto para
da má compreensão de sua teoria: «curar todos os doentes. De acordo com o princípio da cura pelo
- Magnetismo animal, a ação do magnetizador dá condições
e
É o empirismo ou a aplicação às cegas dos meus procedi- orças para O organismo do doente reagir ao estado de dese-
mentos que deram lugar às prevenções e às críticas indiscretas uilíbrio e recuperar-se. Se o corpo do doente não estiver em
que se fizeram contra esse novo método [...] Estes procedi-
mentos, se não forem razoáveis, irão se assemelhar a afetações
ondições de reagir, ou nos casos de degeneração orgânica, o
médico precisa recorrer a outros meios. ,
104 PAULO HENRIQUE DE F IGUE
IREDO - : MESMER— A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
105
TE
éticos de Albert de Rochas e outr
magnetizadores, consultar a os é sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente
excelente Obra: de Rochas, Albert.
sucessivas. Bragança Paulista: Lach As vidas terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e
atre, 2002.
a circunstâncias especiais. (KARDEC, 1868, p. 295)
mm
-
106 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER
- A CIÊNCIA NEGADAE OS TEXTOS ESCONDIDOS 107
As diferenças, portanto, estão relacionadas com a quali- Em sua doutrina, Allan Kardec distinguiu com clareza o
dade do fluido e as circunstâncias especiais, e determinam di- magnetismo animal e a mediunidade de cura, do ponto de vis-
ferentes efeitos, como veremos. ta do magnetizador:
A terapia do magnetismo animal é um tratamento medi- Médiuns curadores [...] este gênero de mediunidade con-
cinal, útil mais especialmente aos médicos homeopatas, que siste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas
compartilham sua filosofia vitalista. Seu processo compreen- de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um ges-
de um diagnóstico do quadro do paciente e o acompanhamen- to, sem o concurso de qualquer medicação. Dir-se-á, sem
dúvida, que isso mais não é do que magnetismo. Evidente-
to durante o tratamento, normalmente lento e metódico: mente, o fluido magnético desempenha aí importante papel;
porém, quem examina cuidadosamente o fenômeno sem di-
Em geral, ele deve levar a bom termo a cura de todas as
ficuldade reconhece que há mais alguma coisa. A magnetiza-
doenças, contanto que os reforços da natureza não estejam
ção comum é um verdadeiro tratamento seguido, regular e
inteiramente esgotados, e que a paciência esteja ao lado do
metódico; no caso que apreciamos, as coisas se passam de
remédio; porque está a cargo da natureza restabelecer lenta-
modo inteiramente diverso. Todos os magnetizadores são
mente o que foi minado lentamente. Não importa o que o
mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se
homem deseje ou faça na sua impaciência: poucas são as
convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a
doenças de um ano que se curam num dia. (MESMER, 1781)
faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais
terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma '
Já o tratamento espírita, segundo Allan Kardec, trata-se da potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, faz-se
mediunidade de cura. Quando uma pessoa tem uma forte vonta- manifesta, em certas circunstâncias, sobretudo se conside-
de de aliviar o sofrimento de seus semelhantes, um simples gesto rarmos que a maioria das pessoas que podem, com razão, ser
de imposição de mãos pode regenerar os seres fracos ou doentes. qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é
uma verdadeira evocação. (KARDEC, 1862, p. 217)
Para tanto, é preciso unir uma fé ardente, a vontade dirigida, a
prece e a evocação dos poderes superiores que vão ampará-lo e O magnetismo animal é sempre um processo racional de
multiplicar as propriedades curativas de seu fluido magnético. cura. No caso da mediunidade de cura, o fenômeno não é con-
Nessa situação, o operador recebe o auxílio do magnetismo espi- trolado pelo médium, mas sim pelos espíritos superiores, que
ritual, emanado dos espíritos moralmente elevados. representam a “potência oculta” a que Kardec se refere.
Para ocorrer, o fenômeno da mediunidade de cura inde- Quanto ao método de aplicação, na terapia do magnetis-
pende do conhecimento médico do médium e, em alguns ca- mo animal, os magnetizadores precisam saber conduzir-se
sos, pode curar instantaneamente. Todavia, não se pode assegu- convenientemente, segundo as ciências médicas, como reco-
rar sua regularidade, nem garantir o sucesso da cura. À partir mendou Mesmer, Habnemann?? e Kardec. Já a cura pela im-
destas observações, Kardec desconsiderou a possibilidade de a posição de mãos, que é o método espírita ou mediunidade de
mediunidade de cura substituir as técnicas médicas: cura; não exige técnica por parte do operador. Esclareceu
Eis, também, porque as curas instantâneas, que ocorrem Herculano Pires:
nos casos em que a predominância fluídica é, por assim dizer,
exclusiva, jamais poderão tornar-se um meio curativo uni-
versal. Não são, consequentemente, chamadas à suplantar
22 O fundador da homeopatia recomendou o mesmerismo nos parágrafos
nem a medicina, nem a homeopatia, nem o magnetismo co-
mum. (Revista Espírita, 1868, p.89) 288 e seguintes do Organon da arte de curar e chegou a prescrever apli-
cações do magnetismo animal para seus próprios pacientes.
108 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
109
no PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS ni
midade familiar com qualquer um de seus discípulos, sem- dualista, espiritualista e deísta. Uma alternativa racional à tradi-
pre o ouvimos dizer: "A melhor obra que eu conheço sobre a ção materialista da medicina ordinária ou galênica.
existência de Deus é aquela de Fénelon."2 Sobre Jean-
Jacques Rousseau,* Mesmer disse que “Se esse grande ho- Mesmer ensinava que a sua terapia dependia diretamente
mem permanecesse entre os vivos, ele ambicionaria o favor do sentimento do magnetizador. Era preciso desejar a cura
de ser seu valet de chambre; e, se fosse possível, gostaria de
com
sinceridade para obter sucesso, o que exigia um esforço moral:
ter sido seu médico para lhe prolongar a vida, que foi tão pre-
ciosa para a felicidade do gênero humano neste mundo e no Contentemo-nos em fazer, à exemplo do senhor Mesmer
outro.” ,
esforços sobre nós mesmos: e certos de muito fazer,
por não
se exaltar ao extremo, vendo todos os efeitos surpreendentes
O resultado das meditações e pesquisas de Mesmer foi e
salutares que um homem, com o coração reto e amor ao
bem
“um vasto sistema de influências ou de relações que ligam to- pode operar pelo magnetismo animal. (PUYSÉGUR, 1784)
dos os seres, as leis mecânicas e mesmo o mecanismo das leis da
natureza”. E então ele completou: “Ver-se-á, ouso crer, que es- Era esse o 'segredo' do magnetismo animal descoberto
tas descobertas não são produtos do acaso, mas sim o resultado por Mesmer, e tão especulado em sua época.
do estudo e da observação das leis da natureza. Que a prática Mesmer já tinha observado o prejuízo do orgulho e do
que eu ensino não é um empirismo cego, mas um método racio- preconceito, inimigos da popularização de suas descobertas:
nal.” Ou seja, o magnetismo animal foi uma proposta científica
Na França, a cura de uma pessoa pobre nada é; quatro cu-
iluminista que surgiu a partir de um modelo filosófico holístico, ras burguesas não valem a de um marquês ou a de um conde;
quatro curas de um marquês equivalem apenas à de um du-
que, e quatro curas de um duque nada serão diante daquela
de um príncipe, Que contraste com as minhas idéias, eu que
acreditei merecer a atenção do mundo inteiro, quando
23 Fénelon é o nome literário de François de Salignac de la Mothe, prelado na
verdade não consegui curar senão cães. (MESMER, 1781)
e escritor francês nascido no castelo de Fénelon, em Périgord, a 6 de
agosto de 1651. Escreveu admiráveis livros sobre Deus e a alma. “Em
François Deleuze, discípulo direto de Mesmer afirmo
suas obras, a profundidade dos pensamentos é realçada por uma lingua- u,
gem admirável e nunca o espírito francês ostentou maior clareza, elegân- em 1819, em suas Instruções práticas:
cia e força como nesses livros imortais.” (DENIS, 1937, p. 13)
24 Jean Jacques Rousseau, em Emílio ou da Educação, escreveu a respeito No magnetismo, para um indivíduo agir sobre outro, é ne-
de Deus: “Esse Ser que quer e que pode, esse Ser, ativo por si mesmo, cessário haver uma simpatia moral e física entre ambos,
A
vontade é a primeira condição para magnetizar. À segunda
esse Ser, enfim qualquer que seja, que move o universo e ordena todas as
coisas, eu o chamo Deus. Acrescento a esse nome as idéias reunidas de in-
condição é a fé do magnetizador na sua capacidade, A tercei-
R ra é o desejo de fazer o bem. (DELEUZE, 1819)
teligência, de poder, de vontade e a de bondade, que é uma consegiiência
necessária; apesar disto não conheço melhor o Ser que assim classifico; ele
se furta, tanto aos meus sentidos como ao meu entendimento; quanto -Mesmer constatou, também, a importância da vontade
do
mais penso nele, mais me confundo; sei com muita certeza que ele existe, paciente:
e que existe por si mesmo; sei que minha existência é subordinada à sua e
que todas as coisas que conheço se encontram absolutamente no mesmo O magnetismo animal não curará certamente aquele
que
caso. Percebo Deus por toda parte em suas obras; sinto-o em mim, vejo-o sentirá o retorno de suas forças apenas para se voltar
para no-
à minha volta; mas tão logo quero contemplá-lo em si mesmo, tão logo vos excessos. Antes de todas as coisas, é indispensável que
o
quero procurar onde está, o que é, qual a sua substância, ele me escapa, e doente deseje ser curado. (MESMER, 1781)
meu espírito perturbado não percebe mais nada. (p. 390)"
112 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
: MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 113
À importância das causas primárias E então um ardor vivo se apoderou dos meus sentidos. Eu
não procurava mais a verdade com amor. Eu a procurava com
A medicina, entregue ao materialismo desde Galeno inquietude. O campo, as florestas, as solidões as mais retira-
ti-
nha abandonado a natureza e a alma como agent das eram os únicos atrativos para mim. Eu me sentia mais
es da cura. Por perto da natureza. Violentamente agitado, parecia-me algu-
outro lado, a ciência do magnetismo animal teve
bases sólidas mas vezes que, ao coração cansado dos inúteis convites da
na filosofia espiritualista. Puységur, pesquisando o
fenômeno natureza, parecia que iria recusá-la com furor. Ó natureza,
do sonambulismo provocado, pôde estudar a eu gritava nesses acessos, que pretende de mim? Em outros
alma e encon-
trou, a partir da ciência, o Criador. Senão, vejam momentos, ao contrário, eu me imaginava estreitando-a em
os:
meus braços com ternura ou apertando-a com impaciência e
Digo que todos os efeitos produzidos com o concur sapateando fortemente, desejando-a render-se aos meus de-
so ape-
nas da vontade são físicos. Mas o que é a vontade? sejos. Felizmente meus gritos perdiam-se no silêncio dos
Esta ques-
tão impenetrável até o presente à luz da física e da bosques, havia somente árvores para testemunhar sua vee-
fisiologia
talvez seja respondida com a ajuda do magnetismo mência. Eu tinha certamente o aspecto de um frenético.
animal, É
por ele, e pelos seus efeitos prodigiosos, que se
aprenderá a
(MESMER, 1781)
conhecer a energia e o poder da vontade. A descoberta
do mag-
netismo animal pelo senhor Mesmer nos conduzirá
a esclare- Segundo Puységur, realmente “a floresta não é somente
cer tanto sobre nossa existência espiritual quanto maravilhoso espetáculo; é ainda perpétuo ensinamento. Ela
sobre nossa
existência física? Que duplo reconhecimento nós lhe devere
mos! Eu nada decido,
- nos fala, sem cessar, das regras fortes, dos princípios augustos
mas me inclino a crer que foram as
idéias do materialismo com respeito à alma que levaram a
que regem toda a vida, e presidem à renovação dos seres e es-
mascarar a perturbação que causa em nós a desordem de nos- tações”. (PUYSÉGUR, 1784) À floresta faz refletir, consola, re-
sas paixões e, por outro lado, as idéias da medicina ordinária pousa, desperta recursos ilimitados a quem procura suas virtu-
com respeito ao corpo, que tendem a mascarar nossos des ocultas.
males
físicos, Mas podemos concluir que todos os dois tende
m Em todos os tempos, as paisagens naturais, com as gran-
igualmente à nossa destruição. Quase nada ocorre de
suicídio
sem a influência do materialismo, e poucas mortes premat
u- des florestas, foram um abrigo da meditação e do pensamento
ras não se devem aos médicos, Remontando às causas dos sonhadores, conforme Léon Denis:
primei-
ras de nossa existência, Deus e à natureza, quais
vantagens
morais e físicas devemos tirar! (PUYSÉGUR, 1784) Quantas obras delicadas e fortes têm sido meditadas em
sua sombra fresca e mutável, na paz de suas potentes e fra-
Por sua vez, Mesmer procurou inspiração na natureza ternais ramadas! Quem quer que possua alma de artista, de
para retirar a essência de suas experiment escritor, de poeta, saberá haurir nessa fonte viva e transbor-
ações e curas. Num
esforço socrático, procurou suas respostas no dante a inspiração fecunda. (DENIS, 1919)
que há de mais
sublime em seu íntimo. Para tanto, fugiu do burburinho
da so-
4 * PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
115
No passado, as florestas serviram de modelo para as tradi- que adquiri a faculdade de submeter à experiência a teoria
ções filosóficas e religiosas. Nas florestas foram elaboradas as imitativa, que havia pressentido, e que é hoje a verdade física
mais autenticamente demonstrada pelos fatos.
tradições celtas. A solidão desse abismo verde foi o palco para
Vercingetórix e Joana d'Arc ouvirem as vozes. Fenômenos como este ocorreram na vida dos visionários
e
grandes reformadores da humanidade. Paulo de Tarso, depois
de despertar no caminho de Damasco, viveu um período de
Uma experiência singular preparação junto à natureza antes de empreender sua
No período de elaboração de suas teorias, Mesmer empre- missão.
Jesus meditou nos desertos da Palestina, Francisco de Assis
endeu esforços para compreender as relações entre O homem e despertou os potenciais de sua alma pelas forças naturais
os princípios universais. E, num momento crucial, quando suas dos
bosques de Pádua. A natureza também inspirou Descartes,
pesquisas nos mais diversos ramos do conhecimento convergi- Newton, Pestalozzi e incontáveis outros homens de gênio.
ram para um princípio único, nasceu uma nova ciência.
Jean-Jacques Rousseau vivenciou uma experiência seme-
Mergulhado nas dúvidas e atormentado pelas incompreen- lhante, a qual marcou a sua vida, Para escrever4 origem das
sões e ataques gratuitos de seus detratores, Mesmer viveu, num desigualdades entre os homens, o filósofo viajou a Saint-Ger-
apogeu, uma experiência singular descrita por ele como um en- main por uma semana. Lá, na floresta, empreendeu uma me-
contro com a verdade: “Todas as outras ocupações tornaram-se ditação solitária sobre o homem e sua história. Rousseau assim
inoportunas.” Num esforço para desprender-se da forma, em descreveu aqueles momentos:
proveito do conteúdo, ele lamentou o tempo que dedicava à
pesquisa de expressões com as quais redigia seus pensamentos: Embrenhado na floresta, aí procurava, aí achava a imagem
dos primeiros tempos, cuja história orgulhosamente traçava;
Percebi que, todas as vezes que temos uma idéia, nós a abatia as pequenas mentiras dos homens; ousava pôranuasua
traduzimos imediatamente e sem reflexão para a língua que natureza, seguir 0 progresso dos tempos e das coisas
que o
nos é mais familiar. Tomei o desígnio bizarro de me libertar desfiguraram, e, comparando o homem do homem com o ho-
dessa escravidão. Tal era o esforço de minha imaginação, mem natural, ousava mostrar-lhe no seu pretenso aperfeiçoa-
com que eu idealizava essa idéia árbitrária. Pensei três meses mento a verdadeira origem das suas misérias. A minha alma,
sem um idioma. Ao sair desse acesso profundo de devaneio, na exaltação destas sublimes contemplações, elevava-se até
olhei com espanto em torno de mim, meus sentidos não me junto da Divindade, e vendo daí os meus semelhantes segui-
enganam mais da mesma maneira que no passado: os objetos rem, na cega estrada dos seus preconceitos, a dos seus erros,
tomaram novas formas; as combinações mais comuns me pa- das suas desgraças, dos seus crimes, gritava-lhes com uma voz
receram sujeitas à revisão; os homens me pareceram de tal fraca que eles não podiam ouvir: — Insensatos, que
vos quei-
modo entregues 20 erro que eu sentia um deslumbramento Xais permanentemente da natureza, sabei que todos os vossos
desconhecido quando encontrava, entre as opiniões acredi- x males provêm de vós mesmos. (ROUSSEAU, 1781)
tadas, uma verdade inconteste, porque era para mim uma
prova tão rara que não há incompatibilidade decidida entre a À inspiração nascida do despertar do conhecimento inato
verdade e a natureza humana, Insensivelmente, a calma vol. dos pesquisadores sinceros é um auxiliar legítimo da ciência
tou ao meu espírito. À verdade que eu havia perseguido tão ,
ardorosamente, não me deixou mais dúvidas quanto à sua na medida em que fortalece os modelos oferecidos à compro-
existência. Ela se mantinha ainda a distância: ela estava ainda vação experimental. O esquema seguinte explica a
experiên-
obscurecida por uma ligeira névoa; mas eu via distintamente cia vivida por Mesmer e Rousseau:
o rasto que conduzia a ela, e não mais me afastei, Foi assim
No PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
17
us PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 119
Em determinado dia, ao receber os jornais, encontrou mais sentia. Outras ações se seguiram, e todas as declarações
num deles a noctícia de que Mesmer provocava convulsões tinham uma perfeita correlação. Não só com os movimentos e
em pacientes epiléticos enquanto eles permaneciam desavisa- os intervalos, mas ainda com o caráter das sensações que Mes-
dos e isolados num quarto próximo. Tendo a parede impedin- mer queria provocar.? O astrônomo francês Camille Flamma-
do que o vissem, Mesmer influenciava seus enfermos moven- rion comentou o fato:
do apenas um dedo em sua direção.
Vi realizar as mesmas experiências [de Mesmer] pelo
Seifert chegou, sem demora, ao castelo do barão, ainda meu saudoso amigo, o coronel de Rochas, na Escola Politéc-
trazendo q jornal em suas mãos. Anunciado, encontrou Mes- nica de Paris, pelo doutor Barety, em Nice, e por outros in-
mer cercado por diversos cavalheiros. Perguntou então se era vestigadores.A ação da vontade à distância não é duvidosa,
verdade o que afirmava a gazeta, e Mesmer confirmou. Então, como o sabem os que estudaram o assunto. (FLAMMARION,
muito nervoso, Seifert exigiu, ou pouco menos que isso, uma 1920, p. 137)
prova experimental do fenômeno. Com a experiência empreendida por Mesmer, deixam de
Atendendo à insistência do visitante, Mesmer conser- ser desconhecidas certas características do sonambulismo
vou-se de pé, a três passos da parede, enquanto Seifert se co- provocado. As circunstâncias do fenômeno remetem a uma
locou à entrada da porta entreaberta, a fim de poder observar atuação à distância por meios não materiais: ausência de con-
o magnetizador e o magnetizado ao mesmo tempo.
tato inclusive visual entre o paciente e Mesmer, distância en-
Anton Mesmer, com naturalidade, fez diversos movimen- tre eles, situação inesperada, movimentos aleatórios e desco-
tos retilíneos dum lado para o outro, com o dedo indicador da nhecidos do paciente, variação e repetição dos fenômenos,
mão esquerda, na direção presumida do enfermo, que come- todos com resultados positivos. A experiência, se repetida em
çou logo a queixar-se, apalpando as costas e parecendo sofrer condições controladas e registradas, e apuradas estatistica-
um incômodo. mente, comprovariam cientificamente a atuação à distância,
Seifert então lhe perguntou: por meios não materiais, da influência do magnetizador sobre
— Que sente? o magnetizado.
— Não estou me sentindo bem.
Seifert, insatisfeito com a resposta, pediu uma descrição .
mais clara de seus males. A ferramenta para examinar a alma
— Parece-me — disse o paciente — que tudo oscila em mim, O discípulo de Mesmer, J. L. Picher Grandchamp, reve-
de um lado a outro. lou que:
Para evitar novas perguntas, afastando a possibilidade de
N [...] o doutor Mesmer, por uma destas comparações felizes
influenciar o doente, Seifert o orienta para que declare qual- que lhe eram abundantes, dizia a seus discípulos, sobre o sono
quer mudança em seu corpo, sem esperar um comando. Alguns
minutos depois, Mesmer fez movimentos ovais com o dedo.
— Agora estou sentindo que tudo dá voltas em mim, como 25 Esta experiência foi relatada pelo doutor J. Kermer em Franz Anton
num círculo — disse o doente. Mesmer. Frankfurt: 1856. Também por Julian Ochorowicz. Sugestão
mental. São Paulo: Ibrasa, 1982, pp. 160-61; e Camille Flammarion. A
Mesmer cessa os movimentos, e o paciente declara no morte e seus mistérios: Volume I — Antes da morie. Rio de janeiro: FEB,
mesmo instante que as sensações haviam terminado e nada pp. 105-106.
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PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO
sonambulismo.
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PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS
TEXTOS ESCONDIDOS 125
palmente Adele Maginot, registrando em sua obra mais de . Louis Alphose Cabagnet morreu aos sete
cento e cinquenta atas assinadas por testemunhas que reco- nta e seis anos de
idade, no dia 10 de abril de 1885, em
nheceram a identidade dos espíritos comunicantes. Cahagnet Argenteuil, França. A
Revista Espírita, fundada por Kardec,
antecipou em mais de dez anos esse instrumento de pesquisa em sua edição de maio
de 1885, publicou um transcrição do artig
da ciência espírita. Para Gabriel Delanne, “Era um lutador so- o necrológico:
berbo esse trabalhador, que teve a glória de se fazer o que foi: Cahagnet é um exemplo raro do que
pode uma firme von-
um dos pioneiros da verdade.” (DELLANE, 1899) tade aliada a uma vasta inteligência.
Ele se tornara, à força de
trabalho e perseverança, um erudito,
Em janeiro de 1848, Cahagnet publicou o primeiro dos co, e adquirira, no mund
um profundo metafísi-
o que se ocupa do magnetismo ani-
três volumes de sua obra Arcanes de la vie future dévoilés2? mal e do espiritismo, distinguido lugar
como publicista. Suas
com mais de mil páginas, na qual apresentou... diversas obras - e o núme
ro é grande —, traduzidas para o in-
glês e o alemão, valeram-lhe numeroso
s testemunhos de es-
[...] para a humanidade desorientada uma nova pátria, tima e simpatia. Nada mais curioso e mais interessan
te a esse
cheia devida, de atividade, onde moram os nossos mortos. Tespeito que a sua volumosa correspo
ndência com sumida-
Esta obra vos oferecerá a prova de um mundo melhor que o des científica
s e literárias de todos os países.
nosso, onde vivereis após deixardes aqui o vosso corpo e onde
um Deus infinitamente bom vos recompensará em cêntuplo . N o entanto, alguns magnetizador
es preferiram manter si-
as aflições que vos eram proveitosas nesta terra de dor. lêncio sobre a comunicação com espí
ritos. O barão du Potet
numa carta de sua correspondência
No final do mesmo ano, Cahagnet fundou a Sociedade dos particular com Alphonse
Cahagnet, publicada nos Arcanes, afir
Magnetizadores Espiritualistas e um jornal, Le magnétiseur spi- mou: “Tratais, com uma
antecipação de vinte anos, destas ques
ritualiste, por sugestão do espírito Emmanuel Swedenborg tões, a humanidade não
está preparada para compreendê-las.”
(1688-1772), sábio, cientista, filósofo e médium sueco do sé- E Cahagnet replicou:
culo 18 que também era mentor do norte-americano Andrew Ah! Respondemos então, por que o vemos banhar com
Jackson Davis. Futuramente, esta sociedade aproximou-se do suas lágrimas as cinzas daqueles que julga
haver perdido para
. sempre? Em
espiritismo, sendo uma importante contribuição para a união que momento da existência podemos
chegar
mais a propósito para dizer a esse home
das duas ciências, magnetismo e espiritismo, e de seus pesqui- aquele que presumes separado de ti,
m: consola-te, irmão
sadores. Cahagnet e Jackson Davis foram os primeiros a reco- para sempre, acha-se so
teu lado, a te asseverar, por meu inter
médio, que ele vive
lher material para formar a base do espiritismo moderno, soli- que é mais feliz do que na Terra e que te aguarda nas
esferas
damente estabelecido pelas obras de Allan Kardec. próximas para continuar o convívio
contigo.
Posteriormente, du Potet se rendeu
às evidências e pas-
27 CAHAGNET, Louis Alphose. Arcanes de la vie future dévoilês. Paris: Li- sou a pesquisar os fenômenos espíritas,
publicando suas con-
brairie Vigot, 1848, três volumes In-12, 323-396-391 páginas. Ele es- clusões em suas
obras e cursos. Em 1863, dedicou-se ao
creveu também: Guide du magnétiseur ou procédés magnétiques d'aprês ritualismo, explicando seus princípios espi-
Mesmer, Puységur et Deleuze. (1849), e muitas outras obras. Às duas e fenômenos na terceira
parte de seu Thérapeutique magnétique: rêgles de
obras nominadas foram inseridas no Index Livrorum Prohibitorum, da
du magnétisme à Vexpérimentation "application
Igreja Católica, em 1851: “Julgou sem nos ouvir e condenou sem outro bure et au traitement des
motivo que o de prazerosamente arremessar três de nossas obras, num maladies, spiritualisme, son principe
et ses Lhénomênes (Paris:
só dia, no fogo”, declarou Cahagnet. As obras de Allan Kardec também Dentu, Truchy, G. Bailliêre, 1863).
seriam proibidas pela Igreja, em 1864, e inseridas no Index. |
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PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS
TEXTOS ESCONDIDOS 129
Kardec magnetizador
Hippolyte Léon Deniza À Sociedade de Magnetismo de Paris, citada por
rd Rivail, que adotaria Blackwell,
o pseudôni- era dirigida pelo barão du Potet, que teria
sido, segundo ela, o
orientador de Kardec em seu estudo do magn
etismo animal.
O doutor du Potet, Jules Denis du Potet
de Senevoy
(179 6-1881), nasceu em La Chapelle, perto de Senn
faleceu em Paris. Excelente médico, com
evoy , e
grande habilidade
para o diagnóstico, dedicou-se ao magnetis
mo animal e, como
um verdadeiro apóstolo, ensinou essa ciência
que para ele era
“a medicina da natureza” (DURVILLE, 1903). Em
sua forma-
qsrante o discurso pr ção,
foi influenciado tanto por Deleuze quanto
onunciado sobre o tú pelo marquês
eec, que que seu desencarne mulo de Allan Kar-
+
de Puységur.
Veioi surpreendê-l
Ê o no momento em Du Potet foi editor do Journal du Magnétisme
que, em sua atividade e publicou
infatigável, trabalhava por mais de vinte anos os Annaes do Magnetis
numa obra sobre mo, estabeleceu
cursos regulares de magnetismo; foi dirigente
E Kardec, conhecen da Sociedade
do profundamente Mesmeriana, presídia o Júri Magnético de Paris
alirmou, na Revista as duas ciências e foi presidente
Espírita, que honorário da nova Sociedade de Magnetismo de
: Paris (desde
1860). Além disso, escreveu importantes obras
- [..] dos fenômeno como Traité
s magnéticos, do so complet de magnétisme animal, Manuel de Vétudiant
“xtase às manifestaçõe nambulismo e do magnéti-
s
Conexão é tal que, por espíritas há apenas um passo. Sua seur, Le magnétisme animal opposé à la medicine,
assim dizer, é impossíve e outros.
sem falar de outro. l falar de um Se a ciência do magnetismo animal não estiv
Setivermos de ficar for esse bastante
magnetismo animal, a da ciência do difundida na sociedade européia e suas obras
resse de fato parado
nosso quadro ficará
incompleto e pode- amplamente dis-
s à um professor de fís poníveis, Allan Kardec teria a necessidade de divul
ica que se absti. gar e
escla-
recer todos os fundamentos daquela doutrina
para tornar a co-
dificação espírita compreensível. No entanto, isso não foi ams de paio dia do aniversário de Mes
necessário, pois o magnetismo já possuia órgãos especiais jus- ais S dois mer,
realiza-
banquetes anuais que reu
tamente acreditados. niam os magnetizado
e Paris e adeptos estrangeiros
Todavia, o tempo passou e hoje esse grande volume de in- . A Sociedade do Mesmeris
mo, do doutor
Magnética marquêsLéger
do doutor du PI
formações e recursos científicos e filosóficos não está mais anty, e a Sociedade Filantrópica
disponível para pesquisa. Destacamos, assim, a necessidade e tenr
Karadec c fo! foiconvidi ado para
atual de os espíritas empreenderem a tradução e o estudo das os doisi eventos concomita
escolher um deles para com ntes
obras fundamentais do magnetismo anirnal para uma compre- parecer.
ensão, com maior clareza, da própria doutrina dos espíritos. de Sscobre temos Perguntado
Por que motivo esta solenida-
Conhecendo as dificuldades enfrentadas pelo magnetis- tiv cele
mo, Allan Kardec fez uma justa homenagem aos... Eae uma cisão entre homenspor dois banquetes rivai vais [...
pum uia de cão culto da que se dedicam ao bem %
rr Estão divididos quanto a
[...] homens de convicção que, enfrentando o ridículo, o a Ciência? [...] Absolutamente.
sarcasmo e os dissabores, dedicaram-se corajosamente à de- ms grenças € O mesino mestre: « Tê Têm as mes-
Mesmer. Se este mestre
fesa de uma causa tão humanitária. Seja qual for a opinião a evocam, atende a esse
deverot pelo, como o c
apel :
dos contemporâneos sobre o seu proveito pessoal, opinião ao ver a desunião entre os discípulos.
que é sempre mais ou menos o reflexo das paixões vivazes, a o, & rdec propôs: Gostaríamos [ TE em
pnido s por um mesmo sentimento de ver os homens de bem
posteridade far-lhes-á justiça. Ela colocará os nomes do ba- de confraternização
rão du Potet, diretor do Journal du Magnétisme, do senhor com Ju a Ciência magnética lucraria
sideração, (Revista Espírita, em progresso e em
Millet, diretor da Union Magnétique,*º ao lado de seus ilus- 1858, p. 182)
tres pioneiros, o marques de Puységur e o sábio Deleuze.
Graças ao seus esforços perseverantes, o magnetismo, popu-
larizado, fincou pé na ciência oficial, na qual já se fala dele
aos cochichos. Este vocábulo passou à linguagem comum: já
não afugenta e, quando alguém se diz magnetizador, já não
lhe riem no rosto. (Revista Espírita, 1858, p. 96)
Depois de homenagear os desbravadores que lutaram - Sociedade do Magnet gneitismo de Parisj (MONTE
Presidentes honorários for GG
contra a ignorância, permitindo uma recepção mais ponderada am os médios marquês du
: varão a Potet; O president Pl
da nascente ciência espírita, Kardec concluiu o seu artigo oti- e, doutor E. Léger; o gerent e
mista pelo futuro de sua doutrina: al, doutor Miller. Entre os e do
trabalhos semanais da Soc
o havia uma sessão experime : n ma ns ied a-
[...] tudo prova, no rápido desenvolvimento do espiritis- “tes, curso de fisiologi : tal, magnetização dos doen-
mo, que em breve este terá foros de cidade. E, enquanto es- ogla e magnetismo, e discussões,
pera, aplaude com toda a sua força a posição que acaba de
conquistar o magnetismo animal, como um sinal inconteste
do progresso das idéias. (Revista Espírita, 1858, p. 96)
31 O dia exat: O do
nascimento
30 A União Magnética, cujo diretor era o senhor Millet, foi um órgão de di- grafado equi V ocadament
de Mes mer é 23 de maio, , e não 26 4 como foi
e
vulgação da Sociedade Filantrópica Magnética de Paris. (MONTEGGIA, no artigo
-- Spírise).
Espírita de junho de e 18
Banquetes ma gn é ticos 4 da
1861).
R evisia
1858 (o engano é do texto original francês da Revue
VINI
MAGNETISMO E ESPIRITISMO
Às ciências solidárias
Allan Kardec definiu o magnetismo e o espiritismo como
ciências irmãs no primeiro número de sua Revista Espírita:
133
134 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
Q MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 135
seu complemento sem se apoiar na sua congênere; isoladas cosprecido Pa opinião púb
uma da outra, detêm-se num impasse; são reciprocamente lica. Na época do nasciment
como a física e a química, a anatomia e a fisiologia. A maioria tando tum mo, ug
a ciênci
nciaa do magnetism O anii mal o do
dos magnetistas compreende de tal medo por intuição a rela- estava conquis-
estaque. Segundo Charles
ção íntima que deve existir entre as duas coisas que geral- Seu: s cursos ministrados Lafontai
mente se prevalecem de seus conhecimentos em magnetis- em G enebra, em 1854,4,
quentados Por pastores, “er
“ am fo
o mo, como meio de introdução junto aos espíritas. [...] todos » minmini
istros, médicos, engenh
qutctos, artistas, estudante em eir
e e
os espíritas, sem exceção, admitem o magnetismo. Em todas s de teologia etc. Gente
! as circunstâncias, fizeram-se seus defensores e baluartes. - (MONTEGGIA, 1861, p. 186 tod a o
(Revista Esptrita, 1869, p. 11)
) e
À nova posição da ciência
do magnetismo animal foi
crita pelo barão du Potet ny i : do em des
Destaca-se do comentário de Kardec um alerta: o risco de zembro de 1861, em anpoa artigo publica 10 de de-
se perder a compreensão exata do espiritismo sem o apoio da
ciência do magnetismo animal e vice-versa. de Ê magnetismo teve aind
a Contra si o ignóbil charla
A terapia do magnetismo animal estava reabilitada na de mens sem consistência, que tanismo
verdade a fim de tirarem
arrastaram na lama a augus
época de Allan Kardec. Em 1858, Allan Kardec, na edição de dela um pouco de ouro. Tev
e
a & 9 Confessional, todo c.on-
outubro de sua Revista Espírita, relatou uma notícia do Jour- ass
partido sacerdotal, tudo o
opiniões antes das verdades [...] que faz
nal des Débats, de Estolcomo: o rei Oscar, seguindo o conse- po Em, CA OrSOs empreg «-] prodigig iosos foram
ados para combater tant
lho de seus médicos, fez uso dos serviços de um mapgnetizador, strui «1 or toda a parte estabeleceu- os elemen-
mos-lhe novos ;defensores se a |
o senhor Klugenstiern, para curar-se. Comentando o fato, ; €c NÃO somos os únicnÍcOosS àa pop egar
pena. Outras tribunas que
Kardec perguntava se há vinte e cinco anos os médicos teriam não a nossa se levantaram:
A Unido
ousado prescrever publicamente tal meio. “Como mudaram
as coisas neste curto período!”, exclamou Kardec.
Antes disso, porém, Kardec comenta que “todas as facul-
dades e todos os jornais não contavam com sarcasmos sufici-
entes para denegrir o magnetismo e seus partidários”. qua parte a tornar a opinneião
de mais, em mais tavorável,
Décadas depois, chegavam tempos novos e, segundo Kardec: ado m agnetismo está gan e a cau-
h a, Seu incomparável arro
da, + T um Porvir próxim jo anun-
o, o seu completo triunfo,
[...] não só não riem do magnetismo, mas ei-lo oficial- dev pesa tar o progresso donde
da humanidade. O magnet
mente reconhecido como agente terapéutico [...] Que lição ma oa Par com as ciências físi ism o
dia, pois nele encontram-se cas, deve excedê-las um
para os que se riem das idéias novas! Apressamo-nos em de-. reunidas todas as forças da
clarar que não são os médicos suecos os únicos a retornarem: ea. ! e deve , Pois, servir à filosofia, alar natu
, gar o dom
ínio da me-
a essa idéia estreita: por toda parte, na França como no es siologia e dar ao pobre e ao
rico os meios de escla-
trangeiro, a opinião mudou completamente, a tal respeito
(Revista Espírita, 1869, p. 11)
hipóteses... Aqueles outros [os materialistas alemães), po- tialistas fizeram escola, Sucederam
suas cátedras: Georg Hegel
rém, dizem: afirmo, nego, isto é, aquilo não é, a ciência julgou,
(1770-1831), Auguste
(1818-1883), Friedrich Com te (1798-1857), Kal Mis
decidiu, condenou, posto que no que dizem não beja sombra
de argumento científico. (FLAMMARION, 1867, p. 38)
Freud (1 856-19
Nie tzs che (1844-1900), Sigmund
39), Martin Heidegger (1889-1976), Jean-Paul
Em sua natureza essencial, a ciência não afirma nem nega, Sartre (1 905-1980). Suas doutrinas
apenas procura. = terialismo sem o apoio das conclu tam bém optaram pelo ma-
sões racionais da ciência pura.
ca Luiz Blclaer um dos primeiros materialistas da ciência, À doutora em pedagogia e escr
em seu Força e matéria (1855), deixa evidente sua pastura in itora Dora Incontri, anali-
materialistas, destaca a atitude
gênua e preconceituosa quando analisa o fenômeno (O sonia científica: anti-
bulismo provocado, ou sono mesmérico: O sonambulismo
um fenômeno a propósito do qual temos infelizmente poucas Outra característica própria
de muitos pensadores deste
observações precisas e positivas, o que é muito amentáve”, visto século [..Jéo dogmatismo,
que indica as doutrinas de cada
qual como a verdade final que o
o interesse científico desta questão.” Vemos que o pensa à atingir. As próprias personal
progresso histórico poderia
mão começa bem o tema e coloca a experimentação cent ca idades em questão têm gran
tendência ao autoritarismo: de
Hegel foi o filósofo oficial do
como a base fundamental para estudá-lo. Mas em segui a com Estado Prussiano, pregando
um absolutismo estatal ; Comte
clui precipitadamente: “Todavia, e se bem que datem su dci a se estabelece como sumo-sacerdo
te da religião positivista;
tes dados, podem-se relegar para O domínio das fá Marx condena inapelavelmente
las o os queixas dos anarquistas); Freu
os opositores (vejam-se as
fatos maravilhosos e extraordinários que dos sonâm o | pulos que criam autonomia de
d considera inimigos os discí
-
pensamento, Assim, os siste-
contam.” Autoritariamente, Búckner julgou e condenou idéias mas inflados, dogmáticos, fech
ados e excludentes de outras
e fenômenos que desconhecia, que não examinou. verdades são reflexo dos homens
que os criaram, fundadores
de escolas, chefes de correntes,
Frente a isto, denuncia Flammarion: láveis. Todos eles foram críticos
profetas de verdades inape-
da religião dogmática, inqui-
sitorial do passado, mas resvalar
Mas, é assim que os senhores alemães raciocinam, bem am para o mesmo comporta-
mento: dogmatizaram a filosofia,
como os seus clarividentes imitadores, positivistas nossa alegando serem científicos,
negaram a divindade absoluta,
moderna França [...] Certo, pesa dizê-lo, mas é a essa puerili- tornando suas idéias absolu-
tas. (INCONTRI, 2004, p. 52-53)
dade, ou melhor, perversão da faculdade de raciocinar - ne
se reduz o movimento materialista dos nossos tempos. [..
“O mundo está num período de
Todo o fundamento desta grande querela, toda a base deste
tamente por hábitos obsoletos, transição, solicitado violen-
edifício heterogêneo, cujo desmoronamento pode esmagar crenças precárias do passado e
muitos cérebros sob os escombros, toda a força deste sistema verdades novas, que lhe são pro
gressivamente desvendadas.
que pretende dominar o mundo presente e futuro, todo o seu E «Mesmo que timidamente, o
valor e potência repousam nessa assertiva fantasiosa, arbitrária dogmatismo materialista
vem sendo questionado e bombar
e jamais demonstrada. (FLAMMARION, 1867, p. 41) deado por fundamentadas
Pesquisas, livros, estudos acadêmico
s e a própria opinião pú-
Como bem previu Flammarion, muitos cérebros foram es- blica, É possível que ainda nest
e século vejamos o espírito
magados pelo desmoronamento do edifício materialista. A gran- imortal ocupar, definitivamente,
o seu lugar na ciência, Quan-
ira do nada foi levantada pelos sistemas do ateísmo e do .
. . £ do 3
do isto ocorrer, estará restabelecida a união fun
Pa re a ciência, a filosofia e suas damental en-
uma descrença absoluta, Os ingênuos mate- consequências morais.
IX
141
|
|
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142 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 143
brir novos fatos e tomar, por suas concepções, e seus traba-
lhos, minhas descobertas ainda mais interessantes: em uma Montaigne, por meio de um
médium em Paris, em 1865,
palavra, eu devo desejar que se faça melhor do que eu. (MES- afirmou que:
MER, 1799)
[ +] a humanidade não é má Por
Conforme previra, passou os seus últimos dias a “consagrar e, por 150 mesrno, mais
natu reza, mas é ignorante
apta a se deixar Bovernar
o que me resta de existência à única prática de um meio que re- xões. E progressiva e deve progredi por suas pai.
r para atingir seusdestinos.
conheço como eminentemente útil à conservação de meus se- Esclarecei-a, mostrai-lhe Seus
inimigos ocultos na sombra,
Desenvolv
melhantes”. Deixou este mundo a poucos quilômetros de onde ei sua essência moral, nela
inata, e apenas entorpe-
cida sob a influência dos mau
nascera, mas as pesquisas prosseguiram em muitos lugares, s instintos e reanimareis a
com lha da eterna verdade, da eter cente-
incontáveis estudiosos, pesquisadores e práticos, como Chaste- na presciência do infinito, do
belo e do bom, que reside para
sempre no coração do homem
net, Puységur, Deleuze, du Potet e Allan Kardec. mesmo o mais perverso. (Rev
ista Espírita, 1868, p. 5 1)
Entre os espíritos comandados pelo espírito de Verdade,
no advento do espiritismo, estava o próprio Mesmer!
- São novos tempos e, se quiser
cios, façamos então Por mer
mos
usufriuir dos benefí-
Por meio da mediunidade do senhor Alexandre Delanne, ecer, como recomendou
ne, concluindo: “Filhos de Montaig-
na Sociedade de Paris, em 14 de outubro de 1864, Mesmer uma dou trina nova, reuni as vossas
forças, que o sopro divinô € O
conta o que encontrou depois da morte: socorro dos bons espíritos vos
sustentem, e fareis grandes
coisas. Tereis a glória de hav
[...] o mundo dos invisíveis é como o vosso. Em vez de ser posto as bases dos Princípio er
s imperecíveis, cujos frutos
material e grosseiro, é fluídico, etéreo, da natureza do peris- descendentes recolherão,” vossos
pírito, que é o verdadeiro corpo do espírito, tirado desses
meios moleculares, como o vosso se forma de coisas mais
palpáveis, tangíveis, materiais. [E fez uma nova previsão:]
Quando compreenderdes as leis das relações entre os seres
fluídicos e os que conheceis, a lei de Deus estará próxima de
ser posta em execução. Porque cada encarnado compreen-
derá sua imortalidade e de então ele se tornará não só um ar-
dente trabalhador da grande causa, mas ainda um digno ser-
vidor de suas obras. (Revista Espírita, 165, p. 155)
BIBLIOGRAFIA COMPLETA DE
FRANZ ANTON MESMER
145
146 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
147
BREVE HISTÓRIA
DA MEDICINA
A MEDICINA OF ICIAL
NOS TEMPOS DE MESM
ER
- 33 Esta carta, de 25 de
novembro de 1784 encontra
- Hale, E. E, Jr. (1888) Frankl -se em: Hale, E. E. &
in in Fra
nce (vol. 2). Boston. p. 309. O
dou-
151
152
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 153
fi Fpquanto eram trocadas tais
cartas, os médicos tradicion
as franceses combat iam Mesmer e suas des a- Enquanto o médico não chegava, Washington pediu que
cobertas.
Apenas Os pacientes de classes Rawlins, o capataz que costumava cuidar de escravos doentes,
superiores ou com poder aqui-
fizesse uma sangria: arregaçou a manga da camisa e Rawlins
fez um corte. Washington queixou-se de que a incisão não era
suficientemente grande. “Mais”, ordenou.
Quando o doutor Craik chegou, aplicou um vesicatório de
cantárida?* à garganta de Washington, de modo que atraísse
sangue para uma vesícula, e lhe fez nova sangria. Deram chá de
artemísia e vinagre ao paciente, para gargarejar, e ele quase se
hington estava morrendo
nas mãos de seus médicos sufocou. Craik pediu que chamassem outro médico e subme-
oficiais
teu o presidente a outra sangria.
passeio diário em Mount Vem À tarde, entre 15 e 16 horas, dois outros médicos, Gusta-
on, Era um cavaleiro obs vus Brown e Elisha Cullen Dick, chegaram. Craik e Brown
€ nem mesmo o mau tempo tinado
podia mantê-lo longe da sela diagnosticaram o problema como amigdalite aguda -— aquilo
voltar para casa, seu sobretudo , Ao
belos brancos havia neve. estava ensopado e em seus que os médicos de hoje chamam de faringite estreptocócica
Ele não tirou as roupas mol aguda. E concluíram que eram necessárias mais sangrias, vesi-
hadas
cantes e purgações com laxante.
Dick, mais jovem que os colegas, assumiu uma atitude
médio Lear, Seu mais flexível, pedindo que não fizessem nova sangria em Wa-
secretário, sugeriu que tom
édio. Washington discordou: “Não. asse um re- shington: “Ele precisa de todas as suas forças — outra sangria as
Você sabe que jamais esgotará.” Porém, Craik e Brown obtiveram a permissão do
doente para lhe fazerem a quarta sangria. Washington foi sub-
metido a um breve hiato de recobro de forças, o bastante para
que Craik lhe ministrasse calomelano% e outros purgantes.
Logo depois, o presidente pediu que a esposa ficasse ao
seu lado na cama, para logo em seguida fazer um novo pedido:
que ela trouxesse os dois testamentos dele e queimasse o anti-
go, o que Martha Washington tratou de fazer.
Nas primeiras horas do dia, George Washington estava Porque ficavam totalmente à mer
convencido de que iria morrer. “Acho que estou partindo. Mi- cê de um dos maiores riscos
. à saúde daquele tempo: a pro
nha respiração não durará muito tempo”, disse a Lear, a quem fis são médica.
deu instruções para que cuidasse de todos os seus documentos Para compreendermos melhor
a situação da saúde naque-
la época, apenas duzentos ano
militares e de suas contas. Em seguida, sorriu e disse com ple- s atrás, vejamos alguns fato
Qualquer pessoa nascida nos Est s,
na resignação que a morte “é a dívida que todos nós devemos ados Unidos antes da segunda
metade do século 19 tinha men
pagar”. À Craik disse, pouco depois: “Doutor, sou duro de os de cingienta por cento de
morrer, mas não tenho medo de partir. Minha respiração não
durará muito tempo.” Ele não se queixava, embora certamen-
te estivesse sentindo dores terríveis.
“Está tudo bem”, disse, por fim, sussurrando. Estas foram
suas últimas palavras. Cinco horas depois, com a amada Mar-
tha ao seu lado, George Washington morreu.
Washington era muito resistente. Robusto, com 1,90 me-
tro de altura, era considerado um gigante para a época. Sua
compleição férrea permitiu que sobrevivesse a uma série de de uma em quatro. Na campes
tre região da Virgínia, onde
doenças que teriam matado outros homens — disenteria, gripe, Mount Vernon, Exatamente fica
onde Washington viveu era
malária, caxumba, pleurísia, pneumonia, raquitismo, varíola, fregúentes os surtos de cólera, febre amarela e m
varíola.
tuberculose e febre tifóide -, sem falar em todos os tiros que o As pessoas daquele tempo fic
sensação de dúvida, vulnerabilid ava m dominadas por uma
atingiram. É irônico o fato de ele ter morrido vítima do trata- ade, medo constante e resig-
mento do que, atualmente, é considerado apenas um simples nação — pela certez
a de que “é assim que as cois
pre foram”. E as Pessoas estavam as são e sem-
incômodo: infecção da garganta.
EIA
MEDICINA CIENTÍFICA
E FILOSOFIA
167
168 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 169
Erê “polocado a
virtude real acima
s formas. Por hav da hipocrisia e do
er, numa simu-
Preconceit os religiosos. (KAR
DEC, 1863, p. 43)
das moléstias, é qu
e tratam do Corpo,
Ora, não se achando sem tratakem da
alma
uma parte dele passe 9 bem,
todo” em bom estado, Impo
; ssívf el é que
HI
CRISTIANISMO E CURA
l é hoje. (Revista
”
esstr
tradui o
Espírita, 1 866, p.
385)
Struir
Su
Surge aqui um impo À maior revolução do conhecimento humano
das idéias filosófic
rtante Paralelo, De ocorreu du-
as de Sócrates um lado está a uniã rante três anos, durante os quais Jesus vivencio
e Platão sobre a u e apresentou
saúde da alma, ao mundo a sua doutrina. Ele a sintetizou na
fórmula: “Sou o
caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao
pai senão por
mim.” Estes princípios podem ser represen
tados pela trinda-
de ciência, filosofia e religião. Isto quando perc
ebemos que a
compreensão da verdade é a motivação da
ciência, o caminho
da sabedoria é à definição da filosofia e, por
fim, a essência da
vida é a religião natural.
Portanto, a humanidade recebia de seu irmã
o maior uma
doutrina que unificava toda a filosofia, a ciênc
ia e a religião até
então espalhadas por toda a humanidade.
173
174 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCI
A NEGADA E OS TEX
TOS ESCONDIDOS
175
A Verdade mais pura e mais substancial ao espírit
o é a Ver-
dade que pode ser imediatamente sentida pelo coraçã Jesus não fazia milagres.
diatamente compreendida pela inteligência e imedi o, ime- ca estava numa profunda
À origem de sua habilidad
e terapêuti-
atamente
aplicadana vida prática, Justamente por isso é que, apesar compreensão das leis nat
centelhas de Verdade, difundidas várias vezes das urais.
na História, o seu Até ao presente, a fé
foco mais poderoso e iluminado foi o acendido por Jesus. não
outros profetas e legisladores do bem tiveram missõe Se lado religioso, Porque o Cri foi compreendida senão pelo
s parciais, Yanca e porque o têm sto a exaltou como podero
em relação a agrupamentos e povos específicos,
reveladores de considerado apenas como sa ala-
partes da Verdade, Jesus é o ponto de unificação de uma religião, Entretant
o, o Cristo, que operou chefe de
toda a hu- teriais, mostrou, por ess milagres ma-
manidade, pois ele exemplificou a fraternidade es ilagres mesmos, o
universal e é ele que pode o
que ainda zela pela totalidade da evolução planet
ária! Meditai
sempre nisso e ligai vosso pensamento ao mestre
dos
pois apenas integrados em suas falanges é que estaremestres, apóstolos não operaram
fato,
mos, de milagres, seguindo-lhe o exempl
contribuindo lucidamente para o progresso da Ora, que eram estes o?
humanida- milagres, senão efeito
de! (LÉON DENIS apud INCONTRI, 1997, pp. 48-49) Causas os homens de ent s naturais, cujas
ão
desconheciam, mas que
grande Parte se explic , hoje, em
am e que pelo estudo do
Jesus esclareceu e desenvolveu as leis naturais, espiritismo e
com o au-
xílio da razão.
Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, [Jesus] Com as curas, Jesus não
,
ao pretendia provocar curios
contrário, modificou-as profundamente, quer nem mesmo demonstrar idade
na substância, prodígios, mas, explica
quer na forma. Combatendo constantemente o
abuso das Kardec:
práticas exteriores e as falsas interpretações, por [ e] queria ele provar que
mais radical o verdadeiro poder é o
reforma não podia fazê-las passar do que as que faz o bem; que o seu daquele
reduzindo a esta objetivo era ser útil e não
única prescrição: Amar a Deus acima dê todas à curiosidade dos indiferen satisfazer
as coisas e o tes
próximo como a si mesmo, e acrescentando:
aí estão a lei
toda e os profetas. (KARDEC, 1863, p. 55)
IV
177
178 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E 08 TEXTOS ESCOND
IDOS No
tema que se pode qualificar de misto, que traz o seu nome e
que, por perto de quinze séculos, foi o único que o mundo ci- Entretant o, durante centenas de anos a filo
vilizado adotou, Segundo o sistema de Ptolomeu, a Terra é docles foi interpretada diferente sofia de Empé-
mente de seu sentido original,
uma esfera posta no centro do universo e composta de qua- a partir de alguns poucos fragme
tro elementos: terra, água, ar e fogo. (KARDEC, 1868, p. 99) ntos dos seus textos. Apesar
das poucas fontes, sua influência foi muito
história da filosofia. Muitos fiz grande em toda a
Voltando aos gregos, observamos que foi Empédocles de eram uso de sua doutrina para
Agrigento o primeiro dos pluralistas, quem definiu nascer e
elaborar teses materialistas inexistentes no
pensamento oriei-
morrer como sendo agregar-se e desagregar-se dos princípios
(arché) originários, ar, água, terra e fogo. Eles, porém, seriam
movidos por outros dois elementos, as forças cósmicas antagô-
nicas do amor (philta) e ódio (neikos). Claro que as palavras moderna, que nasceu de uma resposta radi
religioso. Não encontra, porém, cal ao dogmatismo
amor e ódio não estão fazendo aqui referência aos sentimentos eco nas filosofias naturalistas e
Pluralistas. Quanto a esse impasse, esclar
humanos, mas representando forças naturais de união e dis- eceu Kardec:
persão. O amor é responsável por toda aproximação ou comu- A história do homem, consider
nhão, enquanto o ódio gera diferença e dissipação entre as ado como ser espiritual se
prende a uma ordem especial
de idéias, que não são do domí-
quatro raízes. Tais forças promovem, assim, um movimento nio da ciência propriamente
dita e das quais, por este moti-
constante na realidade observável. Podemos dizer que são
seis, e não quatro, os elementos de Empédocles.
Segundo o filósofo e médico, no princípio, haveria a com- questão, sisternas contradi
tórios, quevão desde a mais pura
pleta unidade dos quatro elementos, presidida por uma har- espiritualidade, até a negação
do princípio espiritual e mes-
mo de Deus, sem outras base
monia. A tal unidade primordial, Empédocles denomina esfe- seus autores. Tem, pois, deix
s, afora as idéias pessoais de
ado sem decisão o assunto,
ro (em grego, sphairos), por ela possuir as características de falta de verificação suficiente. (KARDEC, por
1868, p. 90)
uma esfera: um ser simples, indivisível, sem princípio ou fim,
de todos os lados igual a si mesmo. Contudo, por ação de ódio, * À extensão dos conceitos de
este teria se dividido, configurando a origem à quádrupla par- invadiu os séculos futuros. Mesmer Empédocles sobre a gênese
, na doutrina do magnetis-
mo animal, fez uso do conceito
tição da unidade primordial. o de forças antagônicas, agindo
alternadamente na manutenção de todas as coisas:
Tempos depois, desenvolvendo o tema da criação (archê),
Platão afirmaria, em Timeu e Crítias, que os termos terra, água, Parti dos Princípios conhecid
os da atração universal,
ar e fogo indicam diferenças de qualidades e não da substância: constatada pelas observações
que nos ensinam que os plane-
tas se afetam mutuamente nas
suas órbitas, e que a lya e o sol
[...] o que percebemos como se transformando incessan- * causam e dirigem sobre o
nosso globo o fluxo e o refluxo
temente, ora nisso, ora naquilo, o fogo, por exemplo, nunca mar, assim como na atmosfera. no
Parti, disse eu, do fato de es-
devemos chamá-lo isto, coisa determinada, mas dizer: o que sas esferas exercerem também uma ação
as partes constitutivas dos corp direta sobre todas
apresenta tal qualidade. Pois essas coisas são fugazes e não os animados, particularmen-
podem ser definidas como realidades permanentes. (PLA- te sobre o sistema nervoso, por meio
penetra, Eu determinei essa ação de um fluido que a tudo
TÃO, 2002, p. 193) pela intenção e à remissão das
propriedades da matéria e dos
corpos organizados, tais como
a gravidade, a coesão, a elastici
dade, a irritabilidade, a ele-
tricidade. (ME SMER, 1799)
18 0 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
|
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 181
Ou seja, intenção e remi
aos conceitos de amor ssão de Me smer são eq
(philta) e ódio (n eikos) uivalentes tornam-se coisas diversas, tão grandes modificações traz a
Entretanto, a chave par de Em pé docles. sua mistura. (Ibidem)
fias pré-socráticas sur
a co mp re e nd er as distantes filoso-
giria no
século 1 8, por meio da Este mesmo conceito foi assim desenvolvido em À gênese,
espirita, iniciada em filosofia
1857 com a publicaçã por Allan Kardec:
bíritos. Para evidenci o de O livro dos es-
armos essa questão,
fragmento de Empédo vamos fecorrer aum
cles: Todas essas forças são eternas e universais, tal corno é a
criação; sendo inerentes ao fluido cósmico, elas agem necessa-
riamente em tudo e em toda parte, modificando sua ação pela
sua simultaneidade ou sucessão; predominando aqui, atenu-
ando-se ali; possantes e ativas em certos pontos, latentes ou
, GO má secretas em outros; mas, finalmente, preparando, dirigindo,
di outras, ao contrário,
U conservando e destruindo os mundos em seus diversos perío-
espírito, e não Perman Contempla-os- c om
eças sentado, com olh teu dos de vida, governando os trabalhos maravilhosos da natureza
(Os filósofos Pré-socrá os pasmos. em qualquer lugar que eles atuern, assegurando para sempre o
ricos. São Paulo: Cul
trix, 2001)”
eterno esplendor da criação. (KARDEC, 1868, p. 111)
A medicina de sua época era muito primitiva. Galeno acu- Claudius Galenus, de Pérgamo, fund
sou os médicos de serem ignorantes e corruptos e de se dividi- O porta-voz da terapêutica geral, ador de escola, o facho,
Galeno, mais preocupado em
rem em seitas. Segundo Galeno eles eram ignorantes por que
não conheciam o corpo humano, não sabiam distinguir as
doenças e, desconhecendo as noções de lógica, não sabiam fa-
zer diagnósticos. “Ignorando-se estas coisas, a arte médica tor
na-se pura prática empírica.” Galeno acusava-os também Para superar estes excessos,
e Corrigir seus erros e continuar
seus sucessores precisariam
serem corruptos, porque eram insaciáveis por dinheiro, e pre- suas pesquisas científicas e de-
guiçosos, abandonando a virtude aconselhada por Hipócrates duções lógicas, numa evolução
constante. Mas, como vere-
mos, isso não ocorreu.
e Sócrates. Muitos desses problemas seriam sanados se a me-
dicina retomasse sua união com a filosofia, e Galeno se empe- A imensa obra de Galeno foi uma
enciclopédia dos conhe-
nhou em retomá-la. (ANTISERI, 1997, p. 379) cimentos médicos. Ele reuniu tod
o o material disponível em
sua époc a, enriquecendo
-o Com suas observações pess
A divisão de seitas na medicina já havia acontecido há al- Elaborou quase quinhentos escr oais,
gum tempo. Os 'dogmáticos' consideravam a razão como mes- itos. Até os nossos dias, po-
rém, permaneceram apenas
tra dos conhecimentos da saúde e da doença. Os empíricos oitenta e três dos seus tratad
médicos. os
colocavam a experiência acima de tudo. Os 'metódicos' esco-
Galeno imaginava ser fiel ao mestre
lhiam noções esquemáticas para resolver todas as doenças. Re- Porém, em vez de auxiliar à nat de Cós, Hipócrates.
jeitando sumariamente os metódicos, Galeno acreditava num ureza em seu curso natural,
como fariam Mesmer e Hahnem
enlace da razão com a experiência, considerando isto como à ann no futuro, concentrou
seus esforços em tentar combat
base de seu método. no er as doenças por meio de
substâncias, compostos e tratam
Os estudos experimentais de Galeno foram pioneiros e entos baseados no princípio
de contraria contrariis, a terapia
verdadeiramente revolucionários para a época. Algumas de suas dos opostos. Para ele, o mais
importante era conquistar o equi
líbrio das substâncias orgâni-
descobertas de anatomia e fisiologia são importantes até hoje. cas: Dar calor quando a doença
causava o frio; purgativos
Entretanto, muitas de suas conclusões eram equivocadas. Era quando o doente estava carregado
, mesmo que este método
proibido dissecar corpos humanos, pois os romanos considera- agredisse o paciente. Era o sacr
ifício em função do resultado.
vam os corpos sagrados e invioláveis. Os estudos anatômicos de Surgiu daí o uso das sangrias, para
curar um hipotético excesso
Galeno foram feitos dissecando animais como porcos e maca- de sangue no organismo. Esta teor
ia da cura pelo contrário se-
cos. Depois, ele transferia suas observações para os seres huma- ria o fundamento principal do
método alopático e empirista
nos. Evidentemente, cometeu inúmeros enganos. que perdura até hoje na medicina
tradicional.
Entretanto, ansiava por explicar todos os fenômenos com | Osesciitos de Galeno , à part
ir da sistematização das dou-
que se deparava. Orgulhoso e dogmático, Galeno atribuía a si trinas da Antigtiidade, iriam for
mar
mesmo grande superioridade sobre todos Os outros médicos, e mento médico dos mil e quinhento a estrutura do conheci-
s anos seguintes. Os pontí-
acreditava poder diagnosticar qualquer queixa dos enfermos, fices e eruditos da Europa med
ieval afirmavam que Galeno
como se fosse onipotente. Esse foi o seu maior erro. Fez desco- havia dito tudo que pod ia ser dito.
bertas fundamentais, mas também criou teorias sem fundamen-
Já em pleno ano de 1559 da era cristã, o
to, que defendia enfaticamente. Afirmou o médico Hahnemann: giões, em Londres, condenou Colégio de Cirur-
um dos seus membros, o dou-
188 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRED
O
MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 189
tor John Geynes, e obrigou-o
a Fetratar-se, quando ousou
T950 gs su- É preciso atribuir a incurabilidade desses males aos vícios
continham erros. (CALDER,
de nossas instituições políticas, ao nosso gênero de vida tão
distante do que é o estado da natureza e às consequências fu-
Não foram as imperfeições nestas dos privilégios reproduzidos de mil diferentes formas:
dos livros de Galeno que en-
gessaram a medicina por séc assim fica fácil justificar a impotência da medicina nesses ca-
ulos, mas sim a adoção, de
dogmática e irracional, de seu forma sos. (FIAHNEMANN, 1990)
s princípios. Houváuma imp
São que rejeita a liberdade osi-
de pensamento, Este equívo Os médicos preferiram evitar o progresso da arte de cu-
má à causa primária do sofrim co se-
ento de milhões de pessoas rar, que pediria um reconhecimento de sua ignorância e uma
séculos, vitimadas pela ignorâ por
ncia irresponsável daqueles submissão à sabedoria divina. Assim, optaram, então, por
orgulhosamente, autoprocl que
amavam-se grandes sábios. ocultar os vazios e contradições de sua pretensa ciência,
Hahnemann discorreu, em ,
1809, em seus Escritos meno- amontoando sistemas sobre sistemas a partir de conjecturas,
res, sobre os equívocos milenares da medicina tra
dicional: hipóteses e definições falsas, deixando aos doentes a conta de
Em nenhum lugar é mais evidente
seus enganos.
do que nas antigas doenças a nulidade da ic
físicas de que quase não há
em que alguns de pari
seus membros
tem ensaiado em vão uma pretensa sofram, e contra os quais se
habilidade de todos os mé-
O sangue, a fleuma, a bile amarela e a negra
dicos atuais e anteriores. Os infe Deve-se lembrar que lamentavelmente a medi-
lizes sofrem em silêncios a pe-
sada carga de seus males, cons cina ainda ignora o desenvolvimento natural e neces-
iderados incuráveis, Abandona-
dos pelas mãos do homem, sário da maior parte das doenças crônicas: opõem
não têm outro recurso senão
consolo nos domínios da relig buscar este desenvolvimento com seus remédios que per-
ião, (HAHNEMANN, 1838,
p. 88) turbam o progresso da doença, interrompendo seu
curso e muito frequentemente o fim vem antes de
seu tempo, com uma morte prematura.
MESMER
À MEDICINA DOGMÁTICA
195
I96
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 197
sentidos: para indicar qualquer ser subsistente ou então para Sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte,
indicar qualquer ser subsistente que é completo na natureza há, na matéria orgânica, um princípio especial, inapreensível
de dada espécie. Tomado no primeiro modo, exclui a inerên- e que ainda não pode ser definido: o princípio vital. Ativo no
cia, própria do acidente e da forma material: no segundo, ex- ser vivente, esse princípio se acha extinto no ser morto; mas
clui ainda a imperfeição que tem a parte em relação ao todo. nem por isso deixa de dar à substância propriedades que h
no distinguem das substâncias inorgânicas. À química, que de-
Portanto a mão, por exemplo, se poderá dizer hoc aliquid
no segundo. Ora, sendo a alma uma compõe e recompõe a maior parte dos corpos inorgânicos
primeiro modo, mas não
também conseguiu decompor os corpos orgânicos, porém ja-
parte da espécie humana, poder-se-á denominar hoc aliquid mais chegou a reconstituir, sequer, uma folha morta, prova
no primeiro modo sendo dotada de uma subsistência, mas evidente de que há nestes últimos o que quer que seja, ine-
não no segundo modo. Neste sentido, apenas o composto de xistente nos outros. (KARDEC, 1868, p. 197)
alma e de corpo se diz hoc aliquid (ser concreto). [...) para
,
que o intelecto aja requer-se o corpo. (apude REALE, 2003)
Quando virou as costas para o conhecimento puro e se de-
dicou exclusivamente à observação, a medicina abriu mão do
Não é preciso ir mais longe para perceber que a filosofia
principal atributo do homem: o intelecto. E se dedicou a um
de Tomás de Aquino impede o desenvolvimento da idéia de empirismo que não oferece conclusões e o mantém na igno-
santo Agostinho. Seu pensamento, derivado de Aristóteles, rância. Vários homens iriam lutar para restituir a aliança entre
mas impregnado de posições dogmáticas, caía como uma luva
a medicina ea filosofia. Eis alguns: Jan Huss, Lutero, Paracel-
para a manutenção da doutrina da Igreja. so, Giordano Bruno, Galileu, Descartes, Newton Franklin
A subsistência inerente ao corpo é um subterfúgio para Mesmer, Hahbnemman, Allan Kardec. ,
manter o pensamento materialista numa conciliação forçada
com os fundamentos da religião. A posição de Platão e Agosti-
nho permitem um desenvolvimento da filosofia e da ciência A Igreja abandona a medicina
conciliados com os princípios morais. À partir deles, uma ob- o Na virada do milênio, depois de séculos mantendo a me-
servação positiva da alma revela sua substância independente, dicina sob o seu domínio, certas seitas cristãs fundamentalis-
que depois recebeu o nome de perispírito, na doutrina espíri- tas passaram a condenar a medicina como algo herege. Se a
ta, mas já era conhecido desde as civilizações antigas. origem da impureza do corpo estava no pecado, diziam, então
O galenismo apresentava uma posição semelhante. Seu a Igreja deveria cuidar apenas do espírito. Ocupando nova-
“método era o da fragmentação da unidade, priorizando a parte mente o espaço deixado, como aconteceu na Grécia antiga
em detrimento do todo. Uma posição oposta à de Hipócrates. ressurgia a figura do médico leigo.
Galeno também materializou a alma, numa interpretação À visão do espírito habitando um corpo impuro dividiu o
equivocada de Aristóteles, como vimos em Tomás de Aquino. trabalho de cuidar dos homens entre a Igreja e os médicos. O
De acordo com este pensador, a alma “não passa de um sim- quarto conçílio de Latrão (1215), em Roma, proibiu os cléri-
ples arranjo de elementos do corpo, de sua harmonia e tempe- “gos de fazerem cirurgias. Médicos e pregadores delimitaram
ramento”. E então iguala a alma “à natureza do corpo material, entre si as suas funções. . A alma seria tratad a pela Igreja e
já que representa a capacidade especifica de agir — dinamys corpo, pelos médicos. ME ESA CO
vegetativa ou animal — estimulada por um agente: pneuma ou O dogma da Igreja afirmava que, apesar de o espírito ser
spiritus vegetativo”. Aqui Galeno confunde a alma, princípio imortal, a carne era fraca e corruptível. Em decorrência do pe-
intelectivo, com a vitalidade do organismo. Novamente a dou- cado original, também era considerada depravada. Segundo
trina espírita esclarece: esta doutrina, foi pela desobediência de Adão e Eva no jardim
«
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 209
senão
a mesma causa e que não deve ser levada em conta
como sendo modifi cações do estado chamad o sonamb ulis-
mo. (MESMER, 1799)
211
212 P AULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 213
riando a orientação da Igreja,
afirmava que a Terra não era
centro do universo, confir o No entanto, a violência imposta à liberdade acaba fortale-
mando as afirmações de Cop
Não se pode conter impune érn ico . cendo as idéias que combate:
mente a liberdade por mui
tempo, pois as leis universai to
s logo vêm oferecer as con Os autos-de-fé aproveitam mais à idéia que se quer des-
cias e cobrar res ponsabilidades, segiên-
truir do que a prejudicam. Eis a grande e profunda verdade
q
constatada pela experiência. [...]. Como amar um Deus que
É chegads a hora em que
a faz queimar seus filhos? Como crer em sua bondade, se a fu-
depósito que lhe foi confiado,2 Igrejaj deverá á f prestar conta do maça das vítimas é um incenso que lhe é agradável? Como
Os ensinamentos do Cristo,
da maneira pels qual praticou
do uso que fez de sua autori crer em seu poder infinito, se necessita do braço do homem
enfim, do estado de incred dade
uli para fazer prevalecer a sua autoridade pela destruição? (Re-
ritos; é chegada a hora em que dade ao qual conduziu os espf-
ela deverá dar a César o que vista Espírita, 1866, p. 249)
é
Quando as idéias
de mudança e liberdade sur
espiritual. Não seria senão não dependem de impulsos individuais, mas ganhamgemuma
, elas
di-
por uma transformação abso mensão coletiva, impossível de conter:
que poderia viver; ela, porém luta
se resignará a essa transfotm
ção? Não, porque então não seria mais a-
a Igreja; para se assi-
milar as verdades e as descob E de notar que nove décimos de trezentas e sessenta e tan-
ertas da ciência, seria nece tas seitas que dividiram o cristianismo desde a sua origem ti-
ssário
veram por objetivo aproximar-se dos princípios evangélicos.
De onde é racional concluir que, se não tivessem dele se afas-
o fausto e a púrpura pela sim tado, essas seitas não se teriam formado. E com que armas as
plicidade e a humildade apas combateram? Sempre a ferro e fogo, proscrições e persegui-
licas, Está entre duas alte tó-
rnativas; se ela se transfor ções. Tristes e pobres meios de convencer! Foi no sangue que
suicida; se permanece esta ma, se
cionária, sucumbe sob a opre quiseram abafar. Em falta de raciocínio, a força pode triunfar
do progresso. (KARDEC, ssão
1890, p. 310) dos indivíduos, destruí-los, dispersá-los, mas não pode aniqui-
lar a idéia. É por isso que, com algumas variantes, nós as vemos
Às reformas protestantes reaparecer incessantemente, sob outros nomes ou sob novos
chefes. (Revista Espírita, 1866, pp. 249-250)
A intolerância religiosa for
? sas, e ainda hoje espalha jou a febre das guerras reli
medo e violência, quando gio- Portanto, os momentos de grandes mudanças, espalhados
ade já deveria agir com a cal a humani- pela história da humanidade, são o efeito das leis naturais que
ma da razão. Ponderou Kar
num artigo publicado na Rev dec regem os grupos sociais:
ista Espírita: +
, Calvino,
forma e modificada nalguns detalhes por Lutero tivessem Média pelos religiosos que as cultivavam cuidadosamente nos
ir que, se
Zwinglio etc. De onde é permi tido conclu
mesmo
jardins de seus mosteiros. Eles as utilizavam em suas curas por
servido e nem
queimado Lutero, isto para nada teria
reforma não es- meio de pesquisas em algumas poucas e centenárias obras ma-
dado um século de espera, porque a idéia da
de Lutero, mas na de
tava só na cabeça milhar es de outras de nuscritas guardadas nas suas raras bibliotecas. Essa prática
onde deveriam sair homens capazes de a sustentar.
Não teria permitiu que esses conhecimentos fossem preservados e che-
to para a causaque 0
sido senão um crime a mais, sem provei gassem até nós.
o uma corrente
tivesse provocado. Tanto é certo que, quand (Re- Paracelso foi um médico revolucionário e enfrentou os dog-
detê-la.
de idéias novas atravessa o mundo, nada poderá
vista Espíriza, 1866, p. 251)
mas que engessavam a medicina. Ele retomou a simplicidade de
Hipócrates, aprendendo, sem orgulho, com a medicina popu-
A rejeição das concepções dogmáticas da medi
cina tam- lar. Acreditava no poder da natureza em curar o corpo e a
maiores ex- mente, e conhecia a integração do homem com o universo. À
bém teve seus sintomas precursores. Um de seus
poentes foi o médico que adotou o nome de Parac
elso. verdadeira arte de curar começava seu despertar.
A alquimia Paracelso aprendeu com o bispo Eberhard Baumn-
cina gatner, um dos mais notáveis alquimistas. Aprendeu práticas ci-
Paracelso e a grande renovação da s medi
uma ciência, mas tam- rúrgicas com os melhores mestres. E rejeitou o ensino pedante
A medicina não é apena
bém uma arte. Ela não consis te em compo r pílulas, dos escolásticos da universidade, como esclareceu em suas
trata, ao
emplastros e drogas de todas as espécies; memórias:
contrário, dos processos da vida, que devem ser com-
de
preendidos antes de ser orientados. Uma vonta Ponderei comigo mesmo que, se não existissem professo-
poderosa pode curar, num caso em que
à hesitação res de medicina neste mundo, como faria eu para aprender
ou a dúvida pode desem bocar em fracas so. O caráter essa arte? Seria o caso de estudar no grande livro aberto da
o pode atuar mais poder osame nte sobre o natureza, escrito pelo dedo de Deus. Sou acusado e conde-
do médic
enfermo do que todas as drogas empregadas. nado por não ter entrado pela porta correta da arte. Mas qual
PARACELSO, 1490-1541 éa porta correta? Galeno, Avicena, Mesua, Rhazes ou a natu-
reza honesta? Acredito ser esta última. Por esta porta eu en-
trei, pela luz da natureza, e nenhuma lâmpada de boticário
von Hohe-
Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus me iluminou no meu caminho. (PARACELSO, 1563, p. 59)
próximo de
nheim Paracelsus nasceu em Einsideln, povoado
Zurique, Suíça, no dia 10 de novembro de
1493, recebendo o Divergindo da postura dos médicos de sua época, Paracel-
a
pai deu a ele so percebeu a riqueza de aprender com açougueiros e barbei-
nome de Teofrasto. Existe a opinião de que o seu
m ele era mais “ros, que eram os cirurgiões práticos da época, dialogando inte-
alcunha de Paracelso, acreditando que ainda jove
sábio que Celso, o célebre médico do imperado
r Augusto. ressadamente com quem quer que pudesse enriquecer sua
s com seu : compreensão do corpo humano e das patologias. Grande ex-
Desde jovem, Paracelso fez muitas excursõe
do os nomes,
pai, doutor Wilhelm von Hohenheim, aprenden inais. Foi - perimentador, fez muitas descobertas tratando dos pacientes,
as virtudes e as aplicações das ervas e plant
as medic acompanhando seus hábitos, o desenvolvimento de suas doen-
cia seria reco nhecidamente re- ças, o efeito dos medicamentos.
apenas nessa época que a farmá
no Egito, na “Quando se tornou professor de medicina na Universidade
tomada na Europa, desde os tempos primitivos
anos antes da era cris- - de Basiléia, Paracelso rompeu com a tradição que seguia os en-
Índia, na China e na Grécia, milhares de
ecid as na Idade
tá. Até então, as ervas medicinais eram conh sinsmentos clássicos cegamente. Passou a ensinar em alemão
«
216 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
217
no lugar do latim, para facilitar
a compreensão. Também quei-
mou os livros de Galeno e outr Adeptos de Paracelso também se alinhavam com as idéias de
os mestres da Antigúidade,
simbolizando um rompimento seu seguidor dos Países Baixos, Johannes Baptiste van Helmont.
com a medicina tradicional,
Porém van Helmont criou muitas teses pessoais. Ele rejei-
Paracelso pertence a um segu
Renascimento. Não ao dos huma
ndo momento dentro do tava, por exemplo, a noção de Paracelso de um único espírito
nistas, que devoravam ere- habitante no organismo (archeus), desenvolvendo a idéia de
produzia m ipsis literis o original das auto
mas, precisamente, ao momento çidades clássicas, que cada órgão tem seu espírito específico que regula esse ór-
em que, de posse desses co-
nhecimentos, o renascentista gão. Quando Allan Kardec questionou os espíritos na doutrina
adapta-os à sua realidade coti-
diana, rebelando-se, por isso,
estabelecida e contra seus
contra a autoridade escolástica espírita, essa diferença foi esclarecida a favor de Paracelso:
clamores à universalidade,
(GOLDFARB, 1987, p. 158) — Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em
tantas partes quantos são os músculos e presidindo assim a
Paracelso era defensor de uma
med icina baseada em con- cada uma das funções do corpo? - Ainda isto depende do
ceitos retirados das leis naturais, sentido que se empreste à palavra alma. Se se entende por
diversos das falsas diretrizes
dos médicos galênicos. Sua doutri alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se enten-
na oferecia uma nova visão
do que mantém a vida, as causas de por alma o espírito encarnado, é errônea, Já dissemos que
das doenças, das relações en- o espírito é indivisível. Ele imprime movimento aos órgãos,
tre o homem, seu corpoe o universo
. Baseando-se nessas apre- servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se di-
ciações, ele desenvolveu inúmer
os preparados farmacêuticos, vida. (KARDEC, 1857, p. 106)
por meio da observação e da exp
eriência, optando por fórmu-
las mais simples e com ingredien Foi com uma ardente fé que Paracelso enfrentou todas as
tes provenientes da natureza.
O grande reformador da medici perseguições, difamações e calúnias dos homens de sua época,
inúmeras substâncias min
na fez uso, também, de que não o compreenderam. Diz ele:
erais, como enxofre, mer
chumbo, cobre, ferro e antimônio cúrio,
. O emprego dos remédios A fé é uma estrela luminosa que guia o investigador atra-
era fundamentado na teoria dos
semelhantes — iguais curam vés dos segredos da natureza. É preciso que busqueis vosso
iguais — e nos conceitos de saúde
como equilíbrio do fluido vi- ponto de apoio em Deus e que coloqueis a vossa confiança
tal pelo espírito (archeus) que num credo divino, forte e puro; aproximai-vos d'Ele de todo
habita o corpo, retomando a
corrente hipocrática, O trabal o coração, cheios de amor e desinteressadamente. Se pos-
ho do médico é oferecer condi- suirdes esta fé, Deus não vos esconderá a verdade, mas, pelo
çõespara que o archeus realize os proces
Paracelso desenvolveu sos naturais da cura. contrário, vos revelará suas obras de maneira visível e conso-
muitos indícios do que futura ladora. (PARACELSO, 1563, p. 129)
seria a arte da homeopatia, Esta mente
doutrina surgiria com todo
seu esplendor dois séculos depois, Às doutrinas que iriam revolucionar a medicina no Ilumi-
com a obra do médico ale-
nismo, O magnetismo animal e a homeopatia, tiveram como
animal como meio de cura tinham precursor o Lutero da arte de curar: Teofrasto Paracelso.
também um paralelo com
suas teorias fisiológicas. Porém,
o difícil entendimento dos
textos originais de Paracelso, em
virtude de sua escrita cifrada E o fanatismo científico reagiu
e os termos desconhecidos da
Idade Média dificultam uma
pesquisa que resgate seus valores. Parece que a funesta preocupação principal Es
velha medicina é tornar, se não mortal, pelo menos in-
curável a maioria das doenças crônicas, por meio de
constantes enfraquecimentos e martírios do doente
218 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
219
220
2
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 221
Descartes rompeu com os equívocos de Tomás de Aquino Ora, não a alma, mas o composto de alma e corpo é um
ser
e o galenismo, sedimentados pela escolástica. Se não concor- concreto. Portanto a alma não é subsistente.” Ou seja, a alma
e
damos com os princípios que nos são apresentados, não deve- o corpo são uma só substância. Para o pensamento da Igreja, o
mos nos conformar com eles — para Descartes, isto é um dever corpo vivo é condição essencial para a alma agir. Isso faz com
de consciência: que ela se aproxime do pensamento materialista, que diz: “A
consciência é uma excreção do cérebro.” Ou seja, sua existên-
Não aprovo que tentemos enganar a nós mesmos, sacian- cia é um produto virtual do funcionamento do corpo.
do-nos de falsas imaginações; pois todo o prazer que advém
disso pode tocar apenas a superfície da alma, a qual, no en- Por outro lado, a conclusão de Descartes é oposta: a alma é
tanto, sente uma amargura interior ao perceber que eles são um ser concreto, sua substância é independente da substância do
falsos. (Carta a Elisabeth, 6 de outubro de 1645) corpo. Alma e corpo são independentes, conclui, invalidando
a
hipótese dogmática e também a materialista. Afirma Descartes:
Cansado dos enganos e absurdos impostos pela educação
escolástica de sua formação, Descartes busca as verdades em À alma racional não pode ser de maneira alguma tirada do
si mesmo. É importante destacar que Descartes era médico e poder da matéria, e como não é suficiente que esteja alojada
no corpo humano, assim como um piloto em seu navio, salvo
filosofo, como Empédocles, Hipócrates, Aristóteles e tantos talvez para mover seus membros, mas que é necessário que
outros. À união da medicina e da filosofia deu condições para es-
teja junta e unida estreitamente com ele para ter, além disso,
o surgimentos das ciências médicas, nascidas da corrente de sentimentos e desejos parecidos com os nossos e assim com-
pensamento vitalista. por um verdadeiro homem. Afinal de contas, eu me estendi
um pouco aqui sobre o tema da alma por ele ser um dos mais
À interpretação materialista que muitos fazem do pensa- importantes; pois, após o erro dos que negam Deus, não
existe
mento de Descartes está completamente equivocada. Quan- outro que desvie mais os espíritos fracos do caminho reto da
do separa a alma do corpo, ele retoma o conceito da existência virtude do que imaginar que a alma dos animais seja da mesma
de uma substância independente do corpo, tornando-a um ser natureza que a nossa, e que, portanto, nada temos a
recear,
nem a esperar, depois dessa vida, não mais do que as moscas
concreto. É uma volta aos conceitos dos primórdios da filoso- as formigas; ao mesmo tempo em que, sabendo-se quanto di-
e
fia grega, explicada racionalmente por Sócrates e Platão. Este ferem, compreende-se muito mais as razões que provam que
conceito havia sido escondido da humanidade pela escolásti- a nossa é de uma natureza inteiramente independente do cor-
ca, numa interpretação equivocada de Aristóteles por Galeno Po e, consequentemente, que não está de maneira alguma su-
jeita a morrer com ele; depois, como não se notam outras cau-
e Tomás de Aquino. Explica Descartes:
sas que a destruam, somos naturalmente impelidos a supor
Afinal, se ainda há homens que não estejam totalmente con- por isso que ela é imortal, (DESCARTES, 1950, pp. 77-78)
vencidos da existência de Deus e da alma, com as razões que
apresentei, quero que saibam que todas as outras coisas, a res- Para Descartes, o calor do corpo e a vida orgânica não são
peito das quais se consideram talvez certificados, como a de mantidos pela alma:
possuírem um corpo, existirem astros e a Terra, e coisas pare-
cidas, são ainda menos certas. (DESCARTES, 1950, p. 51) Há no homem apenas uma única alma, ou seja, a racional;
pois só devem ser contadas como ações humanas as que de-
A filosofia de Descartes retomou a discussão sobre a alma pendem da razão. Com relação à força vegetativa e motora
anterior à escolástica. Para Tomás de Aquino, do corpo a que se dá o nome de alma vegetativa e sensitiva
subsistente,
nas plantas e animais brutos, elas também existem no ho-
“Aquilo que é subsistente é um ser concreto (hoc aliquid). mem; mas nele não devem ser chamadas de almas, porque
224 PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 225
não sa Ú Primeiro prin
cípio de suas ações e são
O totalmente difere
nte da alma
de um gêne-.
que essa parte seja o cérebro, ou talvez o coração [...] mas
maio de 1641, tradução francesa racional, (Carta a Regius, ? ' examinando a coisa com cuidado, parece-me ter reconheci-
de F. Alquié)
do de maneira evidente que a parte do corpo na qual a alma
exerce diretamente suas funções não é em absolutamente 0
coração; nem tampouco o cérebro, mas apenas a mais interna
de suas partes, que é uma certa glândula muito pequena, si-
menta-se a teoria do mag tuada no meio de suas substância.
netismo animai. Isto por
do Kardec: “Os corpos org que, segun- |
ânicos são, uma espécie de Descartes se refere à glândula pineal, que, segundo Gale-
parelhos elétricos, nos quais a atividade pilhas ou
do fluido determina no (Ouvres medicales, VIII, XIV), recebeu esse nome porque
tem a forma de uma pinha. Mas Descartes completa afirman-
do que esta glândula situa-se...
em maior porção pode dá-lo [...] de uma forma tal que menores movimentos que
a um que o tenha de menos
certos casos prolongar a vid e em acontecem nela muito podem para mudar o curso dos espíri-
a Prestes a extinguir-se.” tos, e reciprocamente os menores mudanças que ocorrem no
À filosofia de Descartes, nas
cida do método racional, pos curso desses espíritos muito podem para mudar os movi-
sibilita o surgimento de uma - .-
ciência que questione a vitali 3
mentos dessa glândula.
de do Organismo como tendo da-
um Princípio que o difere da ma-
téria inorgâ
nica e estude à essência Descartes definiu que esses espíritos eram substâncias
agora um ser concreto (hoc da substância da alma
aliquid) independente do cor corpóreas, instrumentos de transmissão de informações para
com características próprias po, comandar todos os movimentos do organismo. Se interpretar-
e diferentes das orgânicas
Assim, Descartes dá uma vo mos os espíritos animais como sendo fenômenos físico-quí-
bas e fil osó fic a par a a ciência do
2, a
É
micos, como os hormônios e os impulsos elétricos nervosos, a
teoria de Descartes esclarece o comando da alma, ser concre-
to, sobre um corpo animal movido pelo fluido vital.
Méditations).
À questão subseguentent
te e seriaseri como a alma controla
Po, que tem sua própria vita o cor-
lidade.
"
Embora a alma esteja unida
& todo o corpo, no entanto
uma parte na qual ela exerce há
suas funções mais especifica-
mente que em todas as outr
as. E habitualmente se acre
dita
VII
“O ILUMINISMO E
A MEDICINA VITALISTA
227
228 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 229
pão, e na era moderna
por Descartes. Os vitali
omem como um todo,
Corpo e alma, integrado
stas analisaram o À ciência vitalista
com a natureza Mas foi na Faculdade de Medicina de Montpellier, uma
das grandes seivas do Iluminismo, que o vitalismo recebeu uma
produção acadêmica e a sustentação de teses sólidas, caracteri-
zando uma verdadeira revolução. Seria de uma importância
momento certo, em que fundamental para a ciência o resgate dos trabalhos acadêmicos
a razão estava preparad
um grande número de in a para absorver e das obras publicadas pelos médicos, físicos, químicos, biólo-
form ações novas.
, O principio vital Surgiu gos, fisiologistas e até botânicos vitalistas dos séculos 18 e
19,
primeiramente na filosofia
absorvido pela Ciência,
em opo , sendo para resgatar a rica disciplina desenvolvida antes que o dogma
ta da medicina alopát sição ao empirismo red materialista reducionista a marginalizasse.
ica materialista e ao ucionis-
lástico da Igreja, “Força dogmatismo esco- A importante figura de François Boissier de Sauvages
análoga à alma, mas dif
entanto também difere erente dela, no (1707-1767), autor de Motuum Vitalium Causa, de 1741,
nte dos fenômenos fís
pela qual se explicavam ico-qu
os fenômenos da vida - es ímricos afirmou que Deus adotou o corpo de um princípio vital dire-
cação adotada por Cuv
illier ” (ROSEMBAUM,
saéae le tor para a execução de suas funções. Theóphile de Bordeu
c Um dos primeiros 199 6, p. 50) , (1722-1776) aproximou-se de Haller no estudo das funções
e dos mais destacados
peorge E. Stahl (1660- vitalistas foi dos nervos, e era um importante médico vitalista de Montpel-
1734), médico e químic
escontente com a medi o alemão lier. Henri Fouquet (1727-1806) estudou as relações entre a
cina de sua época, ele
afirmou: sensibilidade e os fenômenos vitais. Willian Harvey (1578-
A regra admitida em medici
nade tratar as moléstias pelos
1657) afirmou sobre o organismo humano que “o todo parece
remédios contrários ou se referir a uma vis - à perfeição da natureza — entre cujas
opostos é completament
e absurda.
obras não se encontra nada feito em vão”.
O vitalista Albrecht von Haller (1708-] 777) fundamen-
tou sua teoria sobre a ação das fibras, para mostrar sua noção
€m casos que inutilmente sobre a irritabilidade e a sensibilidade teciduais. O primeiro
já haviam administrad ,
tidão de pós absorventes.
(HAHNEMANN, 2001,
p. 68) ou tratado consistente sobre fisiologia foi escrito por esse médico
Como se vê, Stahl anteci da escola de Boerhaave. Superando a noção primitiva de Gale-
pava a homeopatia. Em out no, ele descobriu que os músculos respondem com contração
seus trabalhos, surge a
teoriTia fis ro de
Anton Mesmer: fis iol
iológi
ógica que seria 11 aos estímulos, e a sensibilidade é propriedade específica do
: fada por sistema nervoso. Esta sua tese seria utilizada como base fisio-
É pelo movimento que
a lógica para a teoria do magnetismo animal, desenvolvida por
dentro e sobre o corpo -.] alma humana cumpre sua obra Mesmer em suas Memórias de 1799.
vimento é a vida, dentro do neste sentido lhes digo que o mo-
verdadeiro sentido desta Um dos mais produtivos pesquisadores de Montpellier
É ainda pelo movimento palavra
circulatório dos hum
tureza opera o fenômeno ores que a na- teria sido Paul-Joseph Barthez. Suas principais obras foram
da vida; mas isto não é
afirmar que a circulaçã motivo para Discours académique sur le principe vital de Vhomme (Mont-
o dos humores é vida,
passa de um simples ins já que ela não
trumento. A natureza anim
al, enfim
pellier, 1773), Discours sur le génie d' Hippocrate (Montpel-
preside a existência. (RO
SEMBAUM, 1996, p. 56)
, lier, Tournel, am IX, 1801), Nouvelle méchanique des mouve-
,
230 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
231
ments de "homme et des animaux (Carcassonne, Pierre Polere, Realmente, uma oposição ao dog
matismo imposto pela
1798). Ele assim se refere ao princípio vital, diferente da Igreja nos séculos anteriores
foi um posicionamento comum
alma: “EÉ ativo,
ati natural e unitário
itári e manifesta sua ividade en-
ativida entre os iluministas. Mas, com
o alternativa ao materialismo,
tre outras formas na sensibilidade, na contração, no tônus etc. espiritu alismo raci o
onal foi uma posição adotada por
e se acha unido à matéria orgânica”. Estas teses do vitalismo pensadores, filósofos e pesquisadore muitos
s do Século das Luzes.
seriam confirmadas pela doutrina espírita: Eles se opuser am ao pensamento dogmático e
sem, no entanto, abandonar as noçõ sobrenatural,
Os corpos orgânicos seriam verdadeiras pilhas elétricas, es espiritualistas. Sem dei-
xar de serem científicos, combat
que funcionam enquanto os elementos dessas pilhas se iam o materialismo e o ateís-
acham em condições de produzir eletricidade: é a vida; que mo, mantinham a crença num
Deus criador e impessoal, na
deixam de funcionar quando tais condições desaparecem: éa alma espiritual e imortal, e numa lei mora
morte. Segundo essa maneira de ver, o princípio vital não se- l universal.
O Huminismo francês teve os
ria mais do que uma espécie particular de eletricidade, eno- seus representantes mate-
minada eletricidade animal, que durante a vida se desprende rialistas, como Julião Offrai de La Mettrie (17
do famoso livro L'homme mach 09-1751), autor
pela ação dos órgãos e cuja produção cessa, quando da morte, ine, e o barão Teodorico
por se extinguir tal ação. (KARDEC, 1868, p. 199) d'Holbach (1 723-1789), um ale
mão que viveu em Paris, au-
tor deSystême de la nature, no qual o mat
Os cientistas vitalistas uniam a filosofia com a ciência, erialismo se revela
completamente.
oferecendo uma base experimental para o modelo teórico
Por sua vez, a obra de Rousseau
construído por Sócrates, Platão, Hipócrates, Paracelso, Des- (1712- 1778) é um exem-
“Plo, na filosofia, de uma Teação espi
cartes e outros, ritualista em oposição à fi-
losofia materialista nas luzes. O pos
icionamento de Rousseau
está representado por seu romanc
e A nova Heloísa (176 1) e
O que foi o Iluminismo | na Profissão de fé do vigário sabo
iano, peça mestra do Emílio
O século 18, tempo do advento do magnetismo animal, é (1762). A filosofia de Rousseau susc
itou a rejeição tanto dos
costumeiramente designado como o Século das Luzes. O Ilu- máterialistas quanto dos poderes
públicos e das igrejas consti-
minismo é um período caracterizado pelo combate ao obscu- tuídas, Sua obra Emílio foi queima
da, um mês apenas após sua
rantismo filosófico, religioso, moral e político dos séculos an- publicação, em Paris eem Genebr
a. O arcebispo de Paris con-
teriores. Um esforço dos educadores, filósofos e cientistas denou Rousseau, que fugiu para a Ingl
aterra, Ele foi censurado
inflamados pela perspectiva de superar uma situação de tenard “Por escolher a religião natural e Tejeitar os dog
revelada. mas da religião
cia, preconceito e dogmatismo. Kant descreveu esta am ição
como “a saída do homem de sua imaturidade auto-imposta”. Rousseau afirmava serem os crentes capazes de congui
(KANT, 1784, p. 54) tara salvação Por si mesmos, Essa s-
idéia era contrária à posição
Os acadêmicos de história dos anos 1960 e 70 criaram da igreja católica e das igrejas protestantes. Era lei
: “fora da Igreja não há salvação”. 0 axioma
uma visão serena e sem conflitos acerca dos participantes do Em Profissão de fé do vigário
Iluminismo. Ainda hoje, é um lugar-comum imaginar esse Pe “saboiano, Rousseau afirmou:
ríodo como sendo uma concepção materialista dos seres hu
Não tiro das regras os princípios de
manos. Mas a compreensão dessa época não pode ser tão sim- as encontro no fundo do meu Coração, uma alta filosofia, mas
plesmente reduzida. em caracter
escritas pela natureza
es indeléveis. Basta-me consulta
r-me sobre o
232 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 233
E
a
dicos. Mas,
.
minorias. Vários estudos históricos influentes localizaram na cos galênicos sediados nas
ciência, desde seu nascimento, as modalidades de exclusão e capitais, dominando as rec
Corporações científicas, preocu entes
dominação, estabelecendo o caráter opressivo da atividade ci- pados com a manutenção de
seu
status e de seus rendimentos.
entífica. Em parte pela influência penetrante de Michel Fou- De acordo com J. L. Picher Gra
cault, numa revisão do próprio modernismo, as ciências médi- Mesmer e testemunha dos ndchamp, discípulo de
cas foram duramente questionadas quanto a esse aspecto. fatos, , na edicãção anotada d
mórias de 1799 publicada 182 -
Como Peter Gay observou décadas atrás, o Iluminismo 6, sendo... * das Me
havia proclamado a medicina como a “a mais sensível causa [...] vítima do ciúme em Vien
a pela s suas descobertas,
para a confiança” (GAY, 1966, p. 2). As ciências médicas sur- Mesmer encontrou a França
para as apreciar e as divulgar
giram então como o elo fundamental que permitiria à ciência Seu saber e sua modéstia Ihe .
deram partidários. Mas a inve
ja
dar uma resposta quanto às ligações fundamentais entre o físi-
co e a moral, sem sair dos domínios aceitos pela tradição. Foi o poder de nada admitir que
lhe seja estranho, apesar de
na medicina que surgiu o discurso do pensamento científico quanto vantajoso lhe possa
ser. É uma mercadoria proi
iluminista como sendo o caminho ideal para alcançar a perfei- bida
ção moral e social da humanidade. Esta obsessão por uma per-
fectibilidade permitiu uma intervenção ilimitada nos hábitos e Na Revista Espírita de 1860,
um espírito ilustrou:
no modo de vida dos indivíduos da sociedade iluminista. Tal Meu amigo, não sabes que tod
o ho mem que caminha na
intervenção e administração eram a causa da proliferação de Tota do Progresso tem sem
pre contra sia ignorância
A inveja é a poeira que os e a inveja?
discursos científicos, pedagógicos e políticos. vossos passos levantam. Vos
idéias revoltam certos homens, sas
A medicina foi chamada para classificar, analisar e concei- porque não compreendem, ou
tuar minuciosamente as particularidades do corpo, da psique e bem abafam pelo orgulho a
voz da consciência que lhes
“Aquilo que rejeitas, teu juiz o grita:
do comportamento de todo cidadão do reino. Se os médicos lembrará a ti um dia; é uma mão
do Iluminismo foram divididos em questões relativas às suas que Deus te estende para te
retirar do lamaçal onde tuas
xões te lançaram. (Revista pai-
teorias e práticas, no entanto estavam unidos quanto à utilida- Espírita, p. 131)
de da medicina para transformar e controlar a sociedade. As Trabalho excelente sobre a med
investigações de Foucault dinamitam as fundações de uma ro- empreendido em recentes década icina do Iluminismo foi
s, aumentando a literatura
manceada historiografia do Iluminismo, considerando seus lí- biográfica dos filóso fos-médicos e estendendo nos
deres como os “guardiões do conhecimento”. A tradicional ensão sobre as instituições, sa compre-
a organização social e a econom
historiografia do Iluminismo foi virada de ponta-cabeça. O “dos séculos 18 e 19. Mas o ia
problema central do revisioni
que tinha sido um triunfo do desenvolvimento humano, fruto do Iluminismo —as pot smo
encialidades
de uma suposta união, passou a ser vista apenas como disfarça- . cia —ainda Não empolgou os his da desumanização na ciên-
toriadores médicos.
da estratégia para manter na cúpula a elite médica vigente. , Elizabeth A. Williams recome
nda a leitura das seguintes
Numa análise mais profunda, vamos perceber que os mé- obras, todas em inglês: Martin
S. Staum, Cabanis — Enlighten
dicos representantes do establishment científico eram exata- ment and medical Philosophy in -
the french revolution (Prince-
mente os alopatas de tradição galênica, com suas sangrias e vo- on: Princeton University Press,
1980); Kathleen Wellman
mitórios e toda sua parafernália mortal. A corrente científica La| Mettrie - Medicicine
ne, philosoph 'y, and the enligh
vitalista e suas terapias enfrentaram a perseguição dos médi- (Durham: Duke University tenment
Press, 1992); Antoineite Emeho
2 36
PauLO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO o
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 237
Pera erician of the enlighte
,
nment (Nova York:
Pl, Gill—is Sci
pienc “Segundo a visão de alguns historiadores da ciência, a me-
e a the end of the old reg ee and polim .
ime (Princeton: Princeto dicina do Iluminismo foi uma radical opção pelo empirismo e
ç y ress, 1980) ; Matt s Uni “pelo materialismo e centrada numa reação à atitude repressiva
hew Ramsey — Professional and popu-
” medicine in France, “e ortodoxa da Igreja Católica. A historiadora da medicina Eli-
1770.1 830: The social
medical practice (Cambr world of zabeth Williams mergulhou profundamente no contexto his-
idge: Cambridge Uni
1988); Toby Gelfand versity Press tórico e sociocultural da medicina iluminista e, em seu traba-
- Professionalizing mo
dem medicine: . lho sobre o vitalismo de Montpellier, concluiu que “o discurso
que eles criaram era uma variante amplamente influente de
uma ciência do Iluminismo que era mais complicada, diversa e
ambígua em impacto que as representações existentes geral-
mente admitem.” (WILLIAMS, 2003, p. 247)
À pesquisa da professora Elizabeth evidenciou que os mé-
dicos vitalistas franceses não desenvolveram uma teoria abs-
trata ou um jogo de conceitos metafísicos mirabolantes: sua
medicina surgiu em contextos específicos de conversação, de-
bate, publicação e trabalhos institucionais contínuos e ativida-
des científicas sérias e reconhecidas. Os médicos estudados
eram, na maioria, ao mesmo tempo médicos e professores sé-
rios e nenhum deles era diletante. Os médicos vitalistas não
ias inertes, Segundo ele foram aventureiros, mas estavam inseridos na comunidade
s, o fenômeno da vida
'e uma força, Princípio deve-se à ação acadêmica, científica e social. Seu dia-a-dia era o atendimento
ou poder cuja origem e
Bico eram, todavia, des estado ontoló a seus pacientes e a instrução aos alunos, a administração de
conhecidos,
instituições e a publicação de suas pesquisas.
Elizabeth situa o vitalismo de Montpellier como um raro
exemplo de uma cidade provinciana agraciada com uma tradição
científica distintita da tradição da capital. Os vitalistas criaram
uma alternativa a um modelo de ciência que julgaram extraviado.
Emn lugar dos procedimentos universalizados da ciência mecanicis-
ta, acentuaram a variabilidade e a espontaneidade. Em lugar de
individuais formadas uma unidade espúria das ciências, insistiram em autonomia mé-
por idade, sexo, temper
outras influências podero amento, região e dica. Em lugar da submissão a uma autoridade cosmopolita, ofe-
sas na economia vital,
dica ind segundo Eli zabeth A. Williams, a histor
receram conhecimento local autônomo e criativo. Contestaram
a aos vitalistas de Montpe iografia de- a confiança dos médicos tradicionalistas nos métodos uniforme-
llier oferece fortes evi mente aceitos e o projeto dos empiristas de criar uma unidade
dências
inabalável. O vitalismo de Montpellier estava situado no centro
não só da aprendizagem, mas de toda a atividade pública que en-
carnou e promoveu estas reivindicações.
238 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA
NEGADA E OS TEXTOS
ESCONDIDOS
239
Algumas décadas atrás, quando Robert Damton avaliou a
significação do mesmerismo, uma ciência médica que compar- !
tilhou certas afinidades com o vitalismo de Montpellier, con-
cluiu que a descoberta de Mesmer indicou o “fim do Iluminis-
mo na França” (DARNTON, 1988). Todavia, de acordo com a Eu ouso dizer que aqueles
blica por meio de seus con
que têm domin. iniã
atual releitura da história, afirma Elizabeth, devemos discutir a hecimentos têmocr
gar essas antigas verdades mino pur
para livrá-las da escuridão
respeito do vitalismo de Montpellier considerando que ele não conceito que ainda as env e do pre-
olvem, em vez de reduzir
representou o fim do Iluminismo ou mesmo foi algum lado in- da ciência a uma desastrosa incredulidade, (ME o progresso
ferior ou escuro, mas sim um das potencialidades do novo pen- SMER, 1799)
samento científico. Os vitalistas de Montpellier se situaram re-
À ciência do magnetismo
solutamente entre o lumiêres. Eles abraçaram, promoveram e animal
ajudaram a configurar o que definiam como sendo uma “revolu- Os postulados da ciência
do magnetismo animal
ção” em medicina. Invariavelmente empregaram a linguagem e apare-
os métodos associados com a ciência do Iluminismo.
Assim afirmo aqui que o vitalismo de Montpellier estava
completamente inserido no contexto do Iluminismo — foi As descobertas de Mesmer
que exigiam do interessado foram de tal complexidad
uma ciência iluminista — cujo desenvolvimento e caracteris- em conhecê-las uma sólida cul
ticas indicam que o próprio Iluminismo era mais complicado ra, rara em seu tempo, for t
mada por diferentes sabere
e diverso em suas implicações do que até agora se pensou. filosofia, “economia orgânica” s como
(WILLIAMS, 2003, p. 139) , as ainda incipientes descob
er-
É nesse contexto que surgiu o magnetismo animal como ciên-
cia. “O que se condena hoje como racionalismo não é propriamen-
te a razão, mas o absolutismo racional.” (PIRES, 1991, p. 78)
Mesmer estava ciente das peculiares características do
pensamento científico de seu tempo. No esforço de rejeitar a
superstição, combatia-se tudo que escapava da constatação
imediata pelos sentidos. Do passado foram rejeitadas as pes-
quisas que remetiam a causas desconhecidas. A análise atenta - Em uma frase, Mesmer
definiu o seu interesse
de Mesmer denunciava o preconceito: - quanto à descoberta do ma pessoal
gnetismo animal, ao mesm
esclarecendo a missão para o tem
Também precisamos considerar que algumas verdades des- qual destinou sua vida: “Em
, aguçar a curigsidade, eu
estava interessado em tor
vez de
cobertas no passado foram de tal maneira mal compreendidas e
ER 1996) nar úteis es.
desfiguradas que perderam o seu valor e muitas vezes até foram nvencer por meioi de fatos.”
confundidas com os erros rais absurdos. Mesrno assim tais º (MEs-
verdades não perderam por isso o direito de reaparecer no.
grande dia para a felicidade dos homens. (MESMER, 1799)
ESPIRITUALISMO
E MATERIALISMO
A MEDICINA INTEGRAL
249
250 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
251
formar em assunto de meditação, porque não estudais com o -Perceber seus efeitos a partir do
magnetismo animal.
mesmo cuidado esses fenômenos estranhos, que, com razão, . Se Mesmer chegou a conhecer
podem ser qualificados de patologia moral! Porque não bus- a existência do corpo espi-
fitual, não deixou uma descrição
cais deles vos dar conta, descobrir-lhes a fonte! Com isto a explicita em suas obras.
Entretanto, em suas Memórias
humanidade ganharia tanto quanto ganhou pela descoberta de 1799, ele descreve uma
do filete nervoso. Infelizmente a maioria dos que não desde- . teoria para os fenômenos do sonambuli
smo magnético e a lu-
nham ocupar-se com essas questões o fazem partindo de ; dez. sonambúlica em que as proprieda
uma idéia preconcebida, à qual tudo querem sujeitar: o ma- des do segundo corpo
ão anunciad as. O perispírito não nasceu de um
terialista às leis exclusivas da matéria, o espiritualista à idéia
co ou de uma simples dedução. Foi sistema filosó-
que faz da natureza da alma, conforme suas crenças. Antes pela experimentação por
de concluir, o mais sábio é estudar todos os sistemas, todas as meio do sonambulismo magnético
que ele foi constatado. Os
teorias, com imparcialidade e ver o que resolve melhor e Pesquisadores do magnetismo anim
mais logicamente o maior número de dificuldades. (Revista
al da primeira metade do
éculo 19, Lafontaine, du Potet, Del
Esptrita, 1866, p. 173) euze e outros, constata-
ram a exteriorização do corpo espi
ritual e seus fenômenos.
Segundo o espiritismo, o homem é composto de três prin- N,
O homem é formado de alma e corpo,
cípios que lhe são essenciais: o corpo, o perispírito e o espírito. ele Exerce emana das propriedades e a influência que
de ambos, O fluido mag-
Eles reagem um sobre o outro e, conforme haja harmonia per- nético é o elemento de comunicação. Consequentemente
feita ou uma parcial discordância entre eles, acontecerá a saú- verificam-se três ações no magnetismo;
ação física, ação espi-
ritual, ação mista. (DELEUZE, 1813, p.165)
de ou a doença. '
: Mas qual é a natureza desse à gente mag
Se a doença ou a desordem orgânica, como se queira cha
nde é o barão du Potet:
i ?
nético Quem res-
mar, procede do corpo, os medicamento materiais, sabi
Q
252
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 253
mento estava reservado à nossa época, como o das leis da maté- Para proclamar tão grande sabe
ria foi obra dos dois últimos séculos. Até o presente, o estudo doria não seria suficiente a
dedicação e o conhecimento de um
do princípio espiritual, compreendido na metafísica, tem sido só homem. No entanto, uma
puramente especulativo e teórico; no espiritismo é inteiramen- grandiosa falange de sábios reuniu-se com
eco de suas vozes repercutiu em todo
o mestre de todos eo
te experimental. (PIRES, 1971)
o universo. Moisés, Sócra-
tes, Platão, Hipócrates, Franklin,
Swendenhorg, Hahnemann eo
Com o advento do espiritismo, reuniam-se em um só cor-
po as bases fundamentais da sabedoria; a ciência, a filosofia e
suas consegiiências morais finalmente estavam juntas — sem
misticismo, sem superstições, sem os desencontros da metafí-
sica empírica.
O temperamento é um efeito e não
Estando o mundo espiritual e o mundo material em inces- uma causa
A teoria dos temperamentos da
derivada da antiga medicina galênica personalidade humana
sante contacto, os dois são solidários; ambos têm a sua parce-
la de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que re- humoral, ainda era usada
gem o primeiro, tão impossível seria constituir-se uma na medicina na época de Kardec
. A psicologia moderna só te-
Gênese completa, quanto a um estatuário dar vida a uma es- tia início no século seguinte. Muitos
tátua, Somente agora, conquanto médicos acreditavam que
nem a ciência material, a personalidade era determinada
nem a ciência espiritual hajam dito a última palavra, possui c pelo tipo orgânico do indiví-
“duo: O “po sanguíneo, identificado
homem os dois elementos próprios a lançar luz sobre esse pelo rosto rosado corpo
imenso problema. Eram-lhe absolutamente indispensáveis grande, gestos largos, teri
a um comportamento exp
essas duas chaves para chegar a uma solução, embora aproxi- alegre, bonachão. O fleumático ansivo
mativa. (KARDEC, 1868, pp. 92-93) seria melancólico, fechado,
| triste. E assim por diante. Com
outra roupagem, essa idéia
: ainda permanece na medicina alop
E o filósofo espírita Herculano Pires conclui: ática atual.
Os geneticistas, secundados pelo
s neurologistas e psicólo-
Precisamos meditar para buscarmos a forma que nos falta g0s materialistas, elaboraram a
de oferecer ao mundo a solução espiritual do problema social.
teoria de que os genes são os
“Tes
; pons
áveis pelos temperamento
De fazermos, enfim, que o espiritismo cumpra a sua missão s e o utras característi i
personalidade.
histórica, vencendo a crise que o reduz, no momento, a uma cas da
luz bruxuleante em meio de densas trevas, a uma espécie de Steven Pinker é professor de Psic
ologia da Universidade
simples refúgio individual para as decepções e para as aflições de Harvard. Para os norte-americ
humanas. Pois o seu destino, como assinalou sir Oliver Lodge, anos, ele é um dos mais res-
eitados nomes da ciência
não é apenas o de consolar corações desalentados, mas o de
asa (2004) para, entre outras coisas,
rasgar para o mundo as perspectivas de uma nova era, Se a fé combater diretamente a
dogmática determinou o fanatismo religioso da Idade Média, déia de uma alma imateria l, dotada de livre-arbítrio res
com suas fogueiras sinistras, a fé raciocinada criará o positivis- Sável pelas ações do indivíduo. pon-
O seu principal argumento éo
mo religioso do terceiro milênio, com as piras da fraternidade ue ele chama primeira lei da gené
acesas em todos os quadrantes do planeta. Porque, corno já o. tica comportamental.
dissera Kardec, a tarefa do espiritismo é a de elevar a Terra na.: A primeira lei da genética comporta
escala dos mundos, transferindo-a da categoria expiatória para : racterísticas de comportament
ment
al é: todas as ca-
a de mundo regenerador. (PIRES, 1971) o humano são hereditárias
L.JO pobre coitado que é intr
overtido, neurótico, tacanho
egoista e não confiável provavel
mente é desse jeito em parte
256 “PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 257
vit
Ou atraEsp
tamiic to
stã
ento,o méd
To ico,ep pela
5 só moralizaç
i ão do obsessor. (Re-
As curas instantâneas são uma variedade da ação magnéti-
ca. Como se vê, elas repousam num princípio essencialmen-
te fisiológico e nada têm de mais miraculoso que os outros
a Ppa a vez a prece, co
mpreendida como uma aç fenômenos espíritas. Compreende-se desde logo porque es-
e eida eia vont
ade e o firme Propósósiito de ão fluídi sas espécies de curas não são aplicáveis a todas as doenças.
& curso terapêutic im po cu ra r, é tam- Sua obtenção se deve, ao mesmo tempo, à causa primeira do
prece dita em voz alta o rtante para a medicicin:na mal, que não é a mesma em todos os indivíduos, e às quanti-
tem a sua razão de ser qu , À
conpagar aque ando se deseja dades especiais do fluido que se lhe opõem. Disso resulta
les qu
e se reúnem com um que tal pessoa que produz efeitos rápidos nem sempre é indi-
a Concentrá-los em uma só propósito de
força coesa, A prece dita cada para um tratamento magnético regular, e que excelen-
j tes magnetizadores são impróprios para curas instantâneas.
Às curas instantâneas, que ocorrem nos casos em que a
predominância fluídica é, por assim dizer, exclusiva, jamais
poderão tornar-se um meio curativo universal. Não são, con-
266 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
267
seguentemente, chamadas a suplantar nem a medicina, nem e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo
a homeopatia, nem o magnetismo comum. e do injusto. Esta lei explica o insucesso da medicina em cer-
A cura instantânea radical e definitiva pode ser considera- tos casos. Isto prova ainda uma vez a necessidade, para a arte
da como um caso excepcional, visto que é raro: primeiro, de curar, de levar em conta a influência espiritual sobre
os
que a expulsão do mau fluido seja completa no primeiro gol- organismos. (Revista Espírita, 1869, p. 65)
pe; segundo, que a causa fluídica não seja acompanhada de
alguma alteração orgânica, o que obriga, num caso como no A educação é, enfim, o mais eficaz instrumento à disposi-
outro, a olhar várias vezes, ção da medicina para a cura do homem. Liberta-o das amarras
Enfim, não podendo os maus fluidos provir senão de maus da animalidade e descobre as potencialidades de sua própria
espíritos, sua introdução na economia orgânica se liga muitas essência espiritual.
vezes à obsessão, Daí resulta que, para obter a cura, é preciso
tratar, ao mesmo tempo, o doente e o espírito obsessor. Uma ligação íntima entre a medicina, a psicologia e a pe-
Estas considerações mostram quantas coisas há que levar dagogia é o elo essencial para se alcançar a cura definitiva do
em conta no tratamento das moléstias e quanto ainda resta a homem integral. E isso não é uma novidade: “Em verdade, no
aprender a tal respeito. Além disso, vêm confirmar um fato
- que tange à saúde ou à doença, à virtude ou ao vício, não
capital, que ressalta da obraA gênese, é a aliança do espiritis- há
mo e da ciência. O espiritismo marcha no mesmo terreno medida regular ou falta de medida que sejam de maior conse-
que a ciência, até os limites da matéria tangível. Mas, ao pas- qlência que as da alma em relação ao corpo”, afirmou Platão
so que a ciência se detém nesse ponto, o espiritismo continua em Timeu e Crítias.
seu caminho e procede a suas investigações nos fenômenos
da natureza com o auxílio dos elementos que colhe no mun- Ou seja, a verdadeira medicina é uma harmônica associa-
do extramaterial, Só aí está a solução das dificuldades contra ção das terapias de ordem material, vitalista, mental e espiri-
as quais se choca a ciência. (Revista Espírita, 1868, p. 89) tual — para atingir o único e primordial objetivo da medicina,
como afirmaram Hipócrates, Paracelso, Descartes, Mesme
r,
Hahnemann e Claude Bernard: “conservar a saúde e curar
A cura definitiva e integral doentes”,
os
Em última instância, a verdadeira e definitiva cura física e e
psicológica passa pelo domínio consciente dos instintos mate-
riais e pela formação de uma personalidade sadia por meio da
ação efetiva da vontade no sentido de sua educação moral e in-
telectual, num despertar das forças latentes da alma.
O espírito é quem dá à carne as qualidades corresponden-
tes ao seu instinto, tal como o artista que imprime à obra ma-
terial o cunho do seu gênio. Libertado dos instintos da bes-
tialidade, elabora um corpo que não é mais um tirano de sua
aspiração, para espiritualidade do seu ser, e é quando o ho-
mem passa a comer para viver e não mais vive para comer. À
responsabilidade moral dos atos da vida fica, portanto, intac-
ta; mas a razão nos diz que as consequências dessa responsa-
bilidade devem ser proporcionais ao desenvolvimento inte-
lectual do espírito. Assim, quanto mais esclarecido for este,
menos desculpável se torna, uma vez que com a inteligência
TERCEIRA PARTE
OBRAS ORIGINAIS
DE MESMER
SUMÁRIO HISTÓRICO DAS
ÓBRAS DE MESMER
271
272
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 273
pe-eleitor da Baviera. E tam
bém o próprio diretor da Aca
mia, o senhor Osterwald, de- me dedicado em meus estudos a estabelecer que o uso do
que escreveu: ímã, apesar de útil, era sempre imperfeito sem o apoio de
O que conseguiu aqui em dive teoria do magnetismo animal. Os físicos e médicos com os
rsas enfermidades faz supo quais estive me correspondendo ou que buscaram se intro-
que arrebatou à natureza um r
de Seus mais misteriosos segr meter para usurpar essa descoberta pretenderam e presumi-
os. [...] Daqui por diante não e-
pedirei a nenhum médico do ram divulgar, uns que o ímã era o único agente que eu em-
mundo outra medicina sen
ão a quela que ma persuada firme- pregava, os outros que eu utilizava a eletricidade. E assim por
mente de que estou são, (Ibidem) bi ê diante, porque sabiam que eu havia feito uso desses dois
. A fama de Mesmer se esp meios, (MESMER, 1779)
alhou. Muitos médicos se
essaram em reproduzir inte-
as experiências e compro Isso explica o insucesso dos médicos que imitavam o mé-
vá-
las.
Muitos doutores e físicos,
inclusive representantes da todo mesmérico sem conhecer seus verdadeiros mecanismos:
Aca-
A maior parte deles se desiludiu pela sua própria expe-
merismo somente ao magnetism riência. Mas em lugar de reconhecer a verdade que eu anun-
o mineral ou a eletricidade. ciava, concluíram que, como não obtinham sucesso com O
| Mes mer compreendia, desde
re ações intimas entre o flu sua tese de doutorado, as uso desses dois agentes, as curas anunciadas por mim eram
ido magnético animal, a ele suposições. E que minha teoria era ilusória. O desejo de me
e e O magnetismo mineral, tricida- descartar para sempre de semelhantes erros, e de trazer à luz
pois todos eles são tirados
O universal. Porém, conhec do flui- a verdade me determinaram a não mais fazer uso da eletrici-
ia também suas diferenças: dade nem do imã após 1776. (MESMER, 1779)
O ímã, Seja natural, Seja arti
ficial, é, assim como os outr Foi assim que Mesmer abandonou suas pesquisas para a
Sorpos, suscetível do magnet os
ismo animal, e mesmo da
€ oposta, sem que, nem num
nem noutro caso, sua ação
virtu- aplicação conjunta, com finalidade terapêutica, do magnetis-
so- mo mineral e da eletricidade aliados a sua descoberta, o mag-
netismo animal.
O fundador da homeopatia, Samuel Hahnemann, reto-
No entanto, a maioria dos maria esses estudos, pesquisando sua ação homeopática:
médicos não conhecia essa
Ta, € Os poucos que conhec teo-
iam não a compreendiam À força dinâmica do magneto mineral, da eletricidade e
Num primeiro momento,
6 doutor Mesmer chegou do galvanismo não age menos poderosamente sobre nosso
zer experiências associand a fa- princípio vital e não é menos homeopática do que os medica-
o ímãs, magnetos ou ele
como condutores do magnet tricidade mentos propriamente ditos [...] Quando muito se empregou
ismo animal: até agora a eletricidade e galvanismo somente de modo palia-
Essa academia não apenas tivo, para grande prejuízo dos doentes. Os efeitos positivos e
caiu no erro de confundir puras de ambos no corpo humano sadio foram, até hoje, ain-
magnetismo animal com o o
mineral, apesar de sempre
eu ter
=".
42 A doutrina espírita iria confir 43 Algumas biografias e relatos sobre Mesmer, principalmente do século
mar essa hipótese, Na questão 427
vro os espíritos, Allan Kardec
Questi
de O li- 20, mencionam uma confusão entre o magnetismo animal e o mineral
ona os espíritos: “De que natu
se e que se chama Auido reza é inexistente na elaboração do mesmerismo. Para isso, desconsideram os
magnético?”, e eles responder
tal, eletricidade animalizada, am: “Fluido vi- registros do próprio descobridor e não citam qualquer outra fonte da
que são modificações do Fui
do universal.” época. Ver ZWEIG, 1930, p. 42 e ss.; WOLFE, 1948, p. 22.
274 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - À CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESC
ONDIDOS 275
da pouco testados [...] Pode-se fazer uso das forças do
mag- tismo animal, » queque r por meio de
neto para fins de cura. (HAHNEMANN, 200], Pp. 243-244) escr
pena de ser eliminado do quadro itos, , quer pelpael prática,
i sob
dos doutores (BUE, 1934).
Nos parágrafos seguintes, Hahnemann analisa os benefí- Diante das Primeiras recusa
s em receber as asserções
cios do mesmerismo, “esse maravilhoso e inestimável do
presen-
te com que Deus agraciou o homem”.
Apesar do sucesso prático de seu método, Mesmer sabia
da importância do reconhecimento de seu modelo
teórico
pela comunidade científica. Para esclarecer a opinião públic
a,
que estava sendo confundida por controvérsias e falsas
decla- Paris. Depois de descrever
rações, publicou nos jornais e em panfleto, a Carta de 5 de os fatos, controvérsias e con
ja- na última parte desta obra, flitos
neiro de 1775, a um médico estrangeiro, na qual dava atendendo aos pedidos de
uma amigos, ofereceu seus
idéia precisa da sua teoria, dos sucessos que havia
obtido e a famosa síntese de sua teor
suas perspectivas futuras. O médico a quem a carta se destin em vinte e sete proposiçõ ia, organizada
a- es.
va era Johann Christoph Unzer, de Altona, editor Nesse resumo, a teoria do
do Neuer mag netismo animal foi muito
Gelehteer Merkurius. Pela primeira vez a expressão reduzida, como alertou seu des
gravita- cobridor: a Memória “é apenas
ção animal, usada em sua tese de doutorado, foi substituída um adiantamento de uma teo
ria que darei, desde que as
por magnetismo animal, Cunstânci as me permitam indicar as cir-
que anuncio”. ” regras práticas do método
Entretanto, poucos Compreend
À primeira memória sobre o magnetismo anim eriam suas idéias.
al Mesmer fazia uso de concei
tos bastante recentes para
Rapidamente, a fama das curas do mesmerismo se espa- época, principalmente sob a
re físi
lhou. E não tardou uma investida geral, em Viena,
para desa- universal) e medicina, acrescido ca (como a teoria do fluido
creditá-lo. A saga dessa campanha culminou com a viagem tais próprias do magnetism
s de descobertas experimen-
de o animal. Sua complexidade
Mesmer a Paris, em fevereiro de 1778, é um
A doutrina de Mesmer causou uma verdadeira revol
ução *:
na França. E, ao mesmo tempo em que as curas se
multiplica-
vam, as hostilidades tomavam vulto. Mesmer
esclareceu:
“Tanto as inconsegtiências espalhadas contra mim foram
ab- mitam dar a meus Pri
sorvidas com rapidez quanto minhas produções ou minha ncípios a evidência de
s de- “suscetíveis”. Mesmo atualm que são
fesas foram negligenciadas com afinco, o que me forço
Eu A tab
L'Académie édeci
dedicado a um Profa Medecine, 1 4) Esse relatório: 01d res Sallin, J. d'Arcet, Guillotin, Majault. A segunda foi com-
Os três, porém, eram membros da Ac a de ad Gerdy ta pelos médicos Mauduyt, Andry, Caillé e Poissonnier.
migos declarados do magnetismo animal ec -À predisposição da maioria desses doutores parisienses
O barão du Potet, num relatórios sobre , pode ser conhecida pela leitura do Resumo histórico de 1781.
magnetismo, indicou o posicionamento desse E iMesmer desejava uma apreciação de todas as academias e fa-
cos: “O magnetismo animal teve os seus ren q tuldades sobre as curas do magnetismo animal, pelo exame
das [...] e também os seus insultadores bla os os seus Ju- comparativo das terapias, usando um grupo de controle. No
os Vireys, os Dubois d'Amiens os Certo ce os Burdins, entanto, os sábios queriam observar empiricamente a existên-
Esca História acadêmico cd À ys, os Velpeaus etc. ia do fluido magnético, o que um conhecimento da teoria do
uma campanha antimesmerista fo orada às pressas, depois de . agnetismo animal demonstra ser impossível, pois o magne-
nitivamente que a Academia volta e retendia impedir defi- | tismo animal é um estado de vibração do fluido universal, com
: Sse à examinar
, 0 magnetismo - úência maior que a da luz (DU PoTET, 1856).
uma freguên
animal e o so :
vel da Academia aprano Provocado ESP ois do qtório favorá- No entanto, o objeto de exame da comissão não foi a teoria
são, doutor Husson, como fruto de cinco anos de de à Comis- | “de Mesmer, e nem mesmo sua prática. Isto porque os comissá-
e pesquisa. rios ouviram apenas o doutor d'Eslon, um ex-aluno desautori-
zado por Mesmer. D'Eslon havia contrariado os acordos feitos
com seu mestre.
mento. No entanto, como Antes do pronunciamento das comissões, Mesmer de-
ocorreu com Mackay, o livro servi
como fonte biográfica para obr nunciou os equívocos a Benjamin Franklin, numa carta escrita
as sobre o tema + rincipal
te na segunda metade do séc o em seu nome por seu discípulo Nicolas Bergasse, publicada
ulo 19. FRA men
Hds Fcusações de insinuaçã pelo Jornal de Paris.
o sexual, como de Mackay
ra do tique, não foram, todavi e da Preâmbulo:
a, espontâneas: nasce-
EN , ormpanha difamatória, Pla
l nejada, iniciada em Os senhores autores do Jornal de Paris, não tendo podi-
TD ' no, no dia 1 2 de março, qua
aculdade de Medicina, cinco tro componentes da do, devido a considerações particulares, admitir em suas fo-
sócios da Academia de Ciênci lhas a carta seguinte, que lhes foi endereçada pelo senhor
de Paris — a mesma que repeli as Mesmer. Acreditaram, no entanto, que, nas circunstâncias
u o pára-raios de Franklineav
cina de Jenne — e a Sociedade atuais, importava torná-la pública; e, em consegtiência, foi
Real de Medicina foram co
cados pelo rei Luís 16, da Fra o determinado fazê-la imprimir.
nça, para dar um parecer sobr
magnetism o animal. e o
eo Carta do senhor Mesmer aos senhores doutores do Jornal
o A primeira comissão foi com
posta pelos acadêmicos Ben- de Paris:
Jamin Franklin, Le Roi, Bailly,
de Bory e Lavoisier e pelos dou-
Senhores, fui informado que os senhores comissários en-
viados ao senhor d'Eslon, para constatar a eficácia da minha
44 Barão du Potet , Breve relatório do presidente descoberta dispõem-se a dar incessantemente satisfações
ris, sobre o progresso atual da Prop do Juri Magnético de Pa-
aganda públicas de sua opinião sobre o que o senhor d'Eslon lhes
dezembro de 1860 i
, in MONTEGGIA. 1861 "E MtiiSmo. Paris, 10 i pôde informar ou lhes mostrar, Como não era ao senhor
de dEslon que cabia lhes esclarecer sobre uma doutrina da qual
282 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 283
sou o inventor, e que a mim importa, ou talvez importa mais O governo acreditou, seguramente, que o senhor d'Eslon
à humanidade, que esta doutrina não seja apreciada segundo é o autor da descoberta do magnetismo animal é que ele pos-
o que possa dizer ou fazer um homem totalmente desaprova- sui o sistema de conhecimentos, em toda sua extensão. Os
do como meu intérprete, que fique claro, senhores, que no comissários que o governo escolheu para ir fazer-se instruir
entanto eu discuto expressamente o relatório que os senho- junto ao senhor Deslon em relação à ciência do magnetismo
res comissários vão publicar, quero fazer seu Jornal ciente da animal seguramente acreditaram na mesma coisa,
declaração que aqui vou fazer, que, se eles pretendem julgar
[...] Em consequência, senhor, peço-lhe para ler com a
o sistema de meus conhecimentos segundo o senhor d Eslon, maior atenção a Memória que junto a esta carta; o senhor en-
não os reconhecerei como meus juízes; e para dar à minha tenderá uma parte dos delitos que imputo ao senhor Deslon,
declaração todo o respaldo que ela possa ter, e provar que e não tardará a conhecer quanto podem se tornar embaraço-
não é o efeito das circunstâncias, permitam-me juntar aqui à sas para O governo e para o senhor, as falácias que, no desejo
cópia de uma carta que enviei ao senhor Franklin, no mo único de me prejudicar, ele utilizou na arte de relacionar O
mento em que soube que uma comissão havia sido nomea: governo e o senhor, de uma parte, e ele e os colaboradores
para examinar alhures a importância e a eficácia do magne- de
outra.
tismo animal. [...] Minha descoberta interessa à todas as nações, e é para
Sendo minha demanda de direito público, ouso esperar que todas as nações que desejo fazer a minha história e minha
julguem por bem acolhê-la. Espero ter a honra de merecer com apologia. Pode-se então aqui, como se fez até o presente,
sideração tão distinta, senhores, seu muito humilde e muito abafar minha voz: não se fará nada mais do que postergar mi-
obediente servidor, Mesmer. Paris, a 20 de agosto de 1784. nha reclamação e torná-la mais potente e mais terrível. Eu
estou como o senhor, entre o número de homens que não se
Cópia da carta escrita pelo senhor Mesmer ao senhor pode oprimir sem perigo; no número desses homens que,
porque fizeram grandes coisas, dispõem da vergonha, como
Franklin: os homens poderosos dispõem da autoridade. Embora
se
ouse tentar, meu senhor, como o senhor, eu tenho o mundo
O senhor está à frente dos comissários que o governo en-
por juiz: e se puder esquecer o bem que fiz, e impedir o bem
viou ao senhor d'Eslon para obter a revelação de minha des-
| que eu gostaria de fazer, terei a posteridade para me vingar.
coberta e constatar sua eficácia.
Sou com respeito, senhor, seu muito humilde e muito obe-
Quando o senhor d'Eslon aproximou-se de mim e quando
a diente servidor, Mesmer.
considerei válido deixá-lo entrever algurnas partes de minha
teoria, exigi dele a palavra de honra de que jamais tornaria Franklin, com setenta e oito anos, não compareceu às
público, sem ter meu aval antecipadamente, as poucas idéias reu-
novas que lhe poderia confiar. [...] niões em Paris. Nesses encontros, os outros comissários
ouvi-
Entretanto, a despeito de seus juramentos e do ato que ' Tam e fizeram experiências com o doutor d'Eslon. Como era
subscreveu, o senhor d'Eslon não só ousou dispor de minha é: de se esperar, e Mesmer havia previsto, eles se viram frustra
como também encontrou ho-
-
propriedade para si próprio E dos na tentativa de observar, por meio dos cinco sentidos,
mens que não hesitaram em dividir com ele meus despojos. a
existência
de um fluido. Apesar de terem observado altera-
Trinta e seis médicos, segundo me asseguraram, vieram bus-
ções fisiológicas e as crises nos pacientes, durante o tempo
+
ca imaginação. E concluíra
m por fim « Serem os método apresentou à Academia um longo parecer em separado, diver-
Osos e prejudici
| ais, e que o emprego d s peri. 3
poderia trazer consegiiências i i giu dos outros comissários e, concluindo que a terapia do mag-
fatais * C9mmagacéismo ani netismo animal apresentava curas inexplicáveis, afirmou:
Depois de a penas cin mal
i co meses, | as comisss ô
seus paleceres desfavoráveis [...] vários fatos bem verificados, independentes da ima-
à existência do magnetismo
Paraa a ú academiai em 11 de ar ginação e para ele fora de dúvida, bastavam para lhe fazer ad-
agosto de 1784 e a Sociedade
pois. O relator À Real mitir a existência ou a possibilidade de um fluido ou agente
da Academia de Ciências conclu que aflui do homem para seu semelhante [...] algumas vezes
iu:
ns O fluido
fui
nagriáticods ,
não existe, e os meios empreg
até mesmo por uma simples aproximação à distância.
ados para (JUSSIEU, 1784)
ação são perigosos. Os comissários rec
onhece-
or
do . a
ndium. dos sentidos físicos, Um dos casos que o famoso naturalista considerou mais
que não teve nenhuma
dão, nele
s, nem nos pacientes que a
ele foram
intrigantes foi quando um jovem, ao ser magnetizado, entrou
submeti
os; tendo assegurado que as
pressõôes e toques rarras
arhhen
em crise, ficou em silencio e, em seguida, levantou-se e passou,
enttee
a caminhar pelo corredor tocando e magnetizando habilmente
os outros pacientes. Entretanto, quando ele voltou ao estado |
normal não lembrou nada do que havia acontecido e, questio-
nado por Jussieu, já não sabia mais magnetizar. (JUSSIEU,
1784, p. 15) O fato relatado descreve o estado de sonambulis-
mo provocado, que depois seria amplamente experimentado
e estudado pelos magnetizadores.
Jussieu, observador cuidadoso e crítico, interessou-se pe-
las magnetizações realizadas à distância, evidenciando, por-
tanto, uma ação independente da imaginação do paciente. Em
sem
senem
tem- do o Coriitação de
acrescentar que os toques, e
várias ocasiões ele declarou que obteve sucesso provocando ou
dicas euo Prod ? Ugumas crises, podem ser
a controlando o curso da crise, apontando seu dedo, ou uma pe-
preju-
entes caueà co emplação destas crises pelo
s outros paci- quena vara de ferro, sem que os pacientes tivessem conheci-
code apo
dia ns
é Perigosa, Por causa desta atit
ude de imita- mento de seu gesto. Um caso de destaque foi de um paciente
Parece ter nos feito uma lei;
atamento público onde forem e que, então cego que entrou em crise depois de o magnetizador apontar
. usad
À os os métodos do “para ele, que estava a dois metros de distância.
ani
1887, p. smo
magneti 12) animal podem ocasionar efeitos fatais. (BINET,
O Museu Nacional da França possui uma carta de Jussieu
Assim que o relatório foi pub (12 de abril de 1785) para Claret de La Tourette, secretário
questionados em panfletos e per li issári perpétuo da Academia de Ciências de Lyons. Nesta carta, Jus-
iódicos: “ano mário ia sieu defende sua crença na existência de um fluido ainda des-
> Cria não existir e ao mes
mo tempo ser perigoso e fatal” conhecido que explicaria as curas do magnetismo animal, sen-
dic Sr membros da comissão da Soc
1 O botânico Antoine Laurent iedade Real de Me- do, assim, um precursor da teoria fluidista, que iria ser
de Jussieu (1748-1836), adotada por alguns magnetizadores das gerações seguintes.
286 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXT
OS ESCONDIDOS 287
.
seu copo de cristal, assim "MAGNETISMO ANIMAL
como alguns artigos e cartas,
foram oferecidos ao doutor Wolfart, depois de Mesmer dei-
xar este mundo, em 5 de março de 1815, aos oitenta e
um
anos, encerrando um período de coma decorrente de um
aneurisma cerebral.
SUR LA DÉCOUVERTE
DU
NOTA À EDIÇÃO BRASILEIRA
MA GNÉTISME
ANIMAL;
A presente tradução foi feita da primeira edição do original
Par M. MESMER » Dod
leur em Midecine francês, publicado por Mesmer em 1779, intitulada Mémoire
de la Faculsé de Fienne sur la découverte du magnétisme animal; par M. Mesmer, Doc-
,
tour en Médicine de la Faculté de Vienne [Memória sobre a des-
coberta do magnetismo animal pelo senhor Mesmer, doutor
em medicina pela Faculdade de Viena] (A Geneve et se trouve
a Paris, Ches P. Fr. Didot le jeune, Libraire-Imprimeur de
Et fe tmive Mounsieur), a partir do exemplar pertencente à Biblioteca Na-
Né 4 , és
A PARIS, Cias
cional da França.
Chez P. Fr. Uma segunda edição foi publicada em 1781, e no mesmo
DiDor le jeune; Libraire-
Imprimeur de MONSIEUR ano traduzida para o alemão: Abhandlung iiber die Entdeckung
, quai des thierischen Magnetismus. (Túbingen: Michael Macklot,
des Anguítins,
1781, reeditada em 1985).
a DO Em português, a Memória foi primeiramente publicada
M. DCC, LXXIX, em cadernos mensais de trinta e duas páginas, distribuídos
gratuitamente, em 1862, aos assinantes do jornal Propaganda
da Magnetotherapia, pelo divulgador do mesmerismo, doutor
Eduardo A. Monteggia. Um exemplar encontra-se na nossa
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
A primeira versão para o inglês surgiu somente em 1948,
com uma introdução por Gilbert Frankau, e tradução de V. R.
297
298 FRANZ ANTON MESMER
299
30 O
FRANZ ANTON MESMER
301
302 FRANZ ANTON MESMER
de reconhecer a ação da natureza, e de penetrá-la fundo para ras, todos os sintomas do acesso, O estado
prever e anunciar sem dúvidas as diferentes revoluções da da doente me fez
supor que no dia seguinte, ao repetir a mesma
doença. Encorajado por esse primeiro sucesso, não mais duvi- prova, obteria o
mesmo sucesso. Minha observação sobre
dei da possibilidade de levá-lo à perfeição, se tivesse êxito em esses efeitos, combi-
nados com minhas idéias sobre o sistema
descobrir que existe, entre corpos que compõem nosso globo, geral, deu-me novo
alento: confirmando minhas idéias prec
uma ação igualmente recíproca e semelhante àquela dos cor- edentes sobre a in-
fluência do AGENTE GERAL, abriu-me então
pos celestes, mediante a qual eu poderia imitar artificialmente um outro princí-
pio, sugerindo que o imã seria incapaz de
por simesmo agir so-
as revoluções periódicas do fluxo e do refluxo de que já falei. bre os nervos. Isso me fez ver que eu teria apena
s de dar alguns
Eu tinha sobre o ímã os conhecimentos comuns. Sua ação passos a mais para chegar à TEORIA IMITATIV
A que seria objeto
sobre o ferro, a aptidão de nossos humores para receber este de minhas pesquisas.
mineral e os diferentes efeitos obtidos tanto na França quanto Alguns dias depois, tendo Teencontrado o
na Alemanha e na Inglaterra para os males do estômago e as padre Hell, eu o
informei numa conversa sobre o melhor estad
dores de dentes me eram conhecidos. Estas razões, acrescidas o da doente e os
bons efeitos do meu procedimento. Disse-lhe
à analogia das propriedades dessa matéria com o sistema geral, sobre a esperan-
ça que eu tinha, após esta operação, de logo
fizeram-me considerá-la como a mais apropriada a este gênero encontrar o meio
de curar as doenças dos nervos.
de prova. Para me assegurar do sucesso desta experiência, pre- Todavia, pouco tempo mais tarde, tomei
parei a doente, no intervalo dos acessos, para um uso contínuo conhecimento,
publicamente e pelos jornais, de que esse relig
dos materiais. ioso, abusando
de sua celebridade em astronomia, e querendo
Minhas relações de sociedade com o padre Hell'º jesuíta, apropriar-se de
uma descoberta da qual ignorava completa
professor de anatomia em Viena, forneceram-me em seguida mente a natureza e
suas vantagens, permitiu-se publicar que estav
a ocasião de pedir-lhe que me deixasse executar pelo seu artis- a seguro de ter
desco berto os meios de curar doenças dos nervos,
ta várias peças imantadas com forma cômoda para aplicação. mesmo as
mais graves, apenas com as peças iman
tadas às quais ele supu-
Ele se encarregou disso e de remetê-las. nha haver uma virtude específica dependente
de sua forma.
À doente experimentando, a 28 de julho de 1774, uma Para dar crédito a essa opinião, ele endereçou
a várias acade-
volta de seus acessos usuais, eu lhe fiz a aplicação sobre o estô- mias guarnições compostas de peças iman
tadas de todas as
mago e nas duas pernas de três peças imantadas. Resultaram, formas, indicando por meio de figuras a analo
gia que elas ti-
pouco tempo depois, sensações extraordinárias. Ela sentiu in- nham com as diferentes doenças. Eis como
ele se expressava:
teriormente correntes dolorosas de uma matéria sutil, que, “Eu descobri, nestas figuras de acordo com o
turbilhão magné-
após diferentes esforços para tomarem sua direção, dirigi- tico, uma perfeição da qual depende a virtu
de específica con-
Tam-se para a parte inferior, e fizeram cessar, durante seis ho- “tra as doenças. Foi pela falta dessa perfeiçã
o que as provas fei-
tas na Inglaterra e na França não tiveram
nenhum sucesso.” E,
culminando por confundir a fabricação das
figuras imantadas
50 Maximilian Hell ou Maximilian Hll (1720-1792) foi um conhecido as- com a descoberta que eu lhe havia confiado,
ele terminava por
trônomo da corte, e também um padre jesuíta. Na Hungria, era conheci- dizer “que ele havia comunicado aos médicos, e
do como Hell Miksa Rudolf. Nasceu em Banska Stiavnica, uma cidade mente a mim, que continuaria a delas se
parti cular-
no centro da Eslováquia. Posteriormente assumiu o cargo de diretor do servir para realizar
Observatório Imperial de Viena. Suas provas”.
308 E
RANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 309
transmitiram ao público, sempre ávido d ; As prevenções do público e suas incertezas sobre a natu-
€ um específico con eza de meus meios me determinaram a publicar uma
Carta
e 5 de janeiro de 1775, a um médico estrangeiro, na qual eu
a existência d va uma idéia precisa da minha teoria, dos sucessos que havia
O magnetismo animal, que é essencialm F E: obtido até então e daqueles que tinha chance de esperar. Eu
Ncialmente dis E: anunciava a natureza e a ação do MAGNETISMO ANIMAL
e à ana-
tado, persistiu no seu
erro. logia de suas propriedades com aquelas do fmã e da eletricida-
Todavia, continuei a produzir minh E de. Eu acrescentava que “todos os corpos eram, assim como 0
tentes doenças a fim de generalizar m as provas sobre dife: É. imã, suscetíveis da comunicação deste princípio magnético;
eus conhecimentos é “d que esse fluido penetrava tudo; que podia ser acumulado e
E do Pera i
& dente : - concentrado como o fluido elétrico; que ele continuava a agir
Particularmente o senhor barão Stogrk pre-
co de sua ma dade de Medicina de Viena, com o afastamento; que os corpos animados eram divisíveis
e primeiro médi-
Fora bem fa ecia e! Ele estava, “em duas classes, da qual uma era suscetível deste magnetismo,
descoberta E
aliás, convencido de que e a outra de uma virtude oposta que suprime a ação”. Enfim,
o sobre a natureza e afinalidade
"48 COnsegtiência, pus sob seus de minha mostrava a razão das diferentes sensações, e apoiava essas as-
olhos os detalhes serções em experiências que me haviam permitido prevê-las.
Poucos dias antes da publicação desta Carta, notei que o
senhor Ingenhousz, membro da Academia Real de Londres e
inoculador em Viena,* que, entretendo a nobreza e as pessoas
distintas com experiências de eletricidade, e com artifícios
com os quais ele variava os efeitos do ímã, havia adquirido a
reputação de ser físico. Eu notei então que esse médico, pre-
tendendo falar de minhas operações, tratava-as como quime-
ras, chegando até a dizer “que o gênio inglês era o único capaz
dessa descoberta, se ela fosse possível”. Ele se dirigiu à minha
doença. Meus trabalhos foram seguidos dos mais felizes suces- eu utilizava a eletricidade. E assim por diant
sos, e o senhor Bauer teve a honestidade de dar ele mesmo ao e, porque sabiam
que eu havia feito uso desses dois meios. A maior
público uma relação detalhada de sua cura. Entretanto, o pre- parte deles se
desiludiu com sua própria experiência. Mas em
conceito havia levado a melhor. Tive, no entanto, a satisfação lugar de reco-
-nhecer a verdade que eu anunciava, concluír
de ser muito bem conhecido de um grande ministro, de um am que, como não
obtinham sucesso com o uso desses dois agentes,
conselheiro privado e de um conselheiro áulico,* amigos da as curas anun-
ciadas por mim eram suposições. E que minha
humanidade, que tinham muitas vezes reconhecido a verdade teoria era ilusó-
ria. O desejo de me descartar para sempre de
por si mesmos. Para sustentar e proteger a verdade, eles fize- semelhantes er-
ros, e de trazer à luz a verdade, determinaram
ram várias tentativas para afastar as trevas que a tentavam obs- -me a não mais
fazer uso da eletricidade nem do ímã após 1776.
curecer. Todavia, as opiniões desses senhores foram cons-
"A pouca acolhida dada âminha descoberta
tantemente desconsideradas, em lhes opondo que apenas o , e a débil espe-
rança que ela me oferecia para o futuro, dete
aval dos médicos seria capaz de determinar. Sua boa vontade rminaram-me a
“nada mais empreender publicamente em Viena
se reduziu assim a me oferecerem dar a meus escritos a publi- . Fiz uma via-
gem a Souabe e à Suíça, para ampliar minha
cidade que me seria necessária nos países estrangeiros. experiência, e me
levar à verdade pelos fatos. Tive efetivamente a
Foi por esta via que minha carta explicativa de 5 de janei- satisfação de
obter várias curas relevantes em Souabe. E operar
ro de 1775 foi comunicada à maior parte das academias de nos hospi-
tais, sob os olhos de médicos de Berna e de
ciências, e a alguns sábios. Entre todas, apenas a Academia de Zurique, efeitos
que, não deixando nenhuma dúvida quanto à exist
Berlim, a 24 de março desse ano, deu uma resposta por escri- ência do
magnetismo animal e sobre a utilidade da minh
to, pela qual, confundindo as propriedades do magnetismo a teoria, dissi-
param o erro no qual meus contraditores a havi
animal que eu anunciava com aquelas do ímã, do qual eu falava am lançado,
Foi do ano de 1774 ao de 1775 que um ecles
apenas como condutor, ela caiu em diferentes erros. E sua opi- iástico,” ho-
mem de boa-fé, mas de um zelo excessivo, oper
nião era a de que eu estava iludido. ou na diocese
de Ratisbonne, sobre diferentes doentes do tipo
Essa academia não apenas caiu no erro de confundir o mag- nervoso, efei-
tos que pareceram sobrenaturais aos olhos
netismo animal com o mineral, apesar de sempre eu ter me de- de homens menos
prevenidos e os mais esclarecidos desse lugar.
dicado em meus estudos a estabelecer que o emprego do imã, Sua reputação
atingiu Viena, onde a sociedade estava divid
apesar de útil, era sempre imperfeito sem o apoio da teoria do ida em dois parti-
dos: um tratava esses efeitos como imposturas
magnetismo animal. Os físicos e médicos com os quais estive e embuste, en-
quanto o outro os julgava como maravilhas opera
me correspondendo, ou que buscaram se intrometer para usur- das pelo poder
divino. Um e outro, entretanto, estavam errad
par esta descoberta, pretenderam e presumiram divulgar, uns os. Minha expe-
riência me havia prevenido desde então que esse
que o ímã era o único agente que eu empregava, os outros que homem não
era senãoum instrumento da natureza. Sua profissão,
secun da-
da pelo acaso, determinava ao seu lado certas comb
inações na-
55 Conselheiro áulico é um assessor de confiança. “turais, e ele renovava os sintomas periódicos das
doenças, sem
56 Naquela época, muitos médicos experimentavam o emprego do magne- “conhecer a causa. O fim desses paroxismos asse
melhava-se às
tismo mineral e da eletricidade na cura das doenças. Benjamin Franklin, Curas reais. Só o tempo pôde desenganar o
que descobriu a eletricidade, era um deles. Anos depois, Hahnemann público.
estudou a ação homeopática do magnetismo mineral, recomendando . Retirando-me para Viena, lá pelos fins do
ano de 1775,
sua aplicação em seu livro Organon. Passei por Munique, onde sua alteza, o eleitor
da Baviera, hou-
316
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 317
ve por bem me consul
tar sobre esse assunto,
e me pedir se
ídia explicar-lhe essas pretensas maravilhas. Fiz sob seus
——— DD o lhos experiências que afastaram os prejulgamentos de sua
57 Trata-se
- do padre J ohann Joseph
2,
1727, na cidade de Bratz, Gassner, que nasceu ssoa, não lhe deixando nenhuma dúvida sobre a verdade
perto de Bludens (Suábia), h em. 20 de agosto ds
e eu anunciava. Isso foi pouco tempo após a Academia de
e do em Insbruck e em Prag À - . -
Pois, em 1758, foi pro a, em 1750 foi orde nado . iências dessa capital ter-me honrado ao admitir-me no seio
movido do cur Algu ns no n
ato de Kloesferte
“no cantão de G eus membros.
Fiz, no ano de 1776, uma segunda viagem à Baviera. Lá ob-
p Ta
E is cEspantosamente, tive os mesmos sucessos com doenças de diferentes gêneros.
Curou suas próprias enferm
der todos os que o Procuravam em idades € passou a Operei particularmente a cura de uma gota serena imperfeita,
ças pela simples aposiç sua paróquia. . Curava todas com paralisia dos membros, de que estava atacado o senhor
ão de mãos, sem empregar rem as d ben-
en:
mi Interação.
à . I O go obteve centenas
édios, nem exigir re Osterwald, diretor da Academia de Ciências de Munique. Ele
de curas + Sua fama como exorcista
teve a honestidade de prestar contas ao público, assim como de
rador se espalhou e cu.=
por toda
sucessivamente a Wolfegg, Europa. Gassner solicitor-permi
Wei ngarten, Ravensperg, Det ssão e foi .
“outros efeitos que ele testemunhou.*º
M orspurg e Constança.
Enquanto os doentes land Kirchberg,
q Cortejavam, os médico De retorno a Viena, persisti até o fim do mesmo ano, a
s er. |
nada empreender; e eu não teria mudado de resolução se
meus amigos não se tivessem reunido para combatê-la: suas
€ onfere a todos os padres -- instâncias, aliadas ao desejo que eu tinha de fazer triunfar a
de exorcizar, em
nome de Jesus Cristo ,
osd emô-ô verdade, fizeram-me conceber a esperança de um porvir com
novos sucessos, e sobretudo por alguma cura retumbante. Eu
“atendi, sob esse ponto de vista, entre outros doentes, a senho-
super!
o perior dança da obs = rita Paradis,ºº com a idade de 18 anos, nascida de pais bastante
essão. O bis- po não fico
se car O Daio careta, mas u convencido e ordenou
pouco depois o autorizou a
endes r . a continuar
pressou-se em aprproove
veii tar a autoriizaç
cade o habitantes de zaçãoã 58 O príncipe-eleitor, Max José da Baviera estabeleceu uma comissão de
Elwangen, Sulzbach éRat -
a Seu renome atraía da Suíç isbonne, pela imenso inquérito da Academia de Ciências. Mesmer foi convidado a dar sua opi-
a, da ul
da Tr erE declarou-se Alemanha e da
abertamente seu adrmir ado França, O di nião e concluiu que Gassner era sincero nas suas convicções, mas escla-
ans lhe am poderosos adv r e protetor Seus receu que as sua curas eram naturais, devidas a um alto grau de magne-
ersários, Sterzingen e
Com perseverança e pai o célebre Há tismo animal.
xão. Vários bispos Presta
ram apoio ao 59 Nota de Mesmer: Foi publicada, no começo de 1778, uma Compilação das
curas operadas pelo magnetismo, impressa em Leipzig. Esta Compilação in-
formativa, da qual ignoro o autor, tem o mérito de ter reunido fielmente, e
sem parcialidade, as relações e os escritos pró e contra meu sistema.
60 A famosa cantora e pianista Maria Theresa von Paradis (1759-1824) foi
uma menina-prodígio nascida em Viena. Era filha do secretário imperial
Joseph von Paradis. Ficou parcialmente cega aos três anos, e completa-
mente depois dos quatro. Somente com sete anos seus pais descobriram
seu ardente amor pela música e sua natural aptidão para sua aprendiza-
gem. Aos 12 anos, ela já tocava na igreja de Viena. Foi chamada a tocar
para a imperatriz, que concedeu uma pensão vitalícia para assegurar sua
318 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAG
NETISMO ANIMAL 319
conhecidos. Ela mesma particularmente conhecida de sua ma- apôs submeter a doente aum gên
ero de prova, retirava-se com
jestade, a imperatriz-rainha, recebia de sua beneficência uma tação, e me dizendo coisas as mais
lisonjeiras.
pensão a que fazia jus como absolutamente cega desde os qua- a o dois presidentes da Faculd
ade, à testa de uma comis-
tro anos. Era uma amaurose completa, com convulsões nos
olhos. Ela estava ainda atacada por melancolia, acompanhada do senhor Parais, ,foram arniaho casaps a. FepetdÓ as instânciasi
de uma obstrução no baço e no fígado, que a levava muitas ve- ado ate am juntaram seu testemunho
Aquele do público.
zes a acessos de delírio e de furor, próprios para convencer or Stoêrk, um desses senhores, qu icu-
que ele era uma doida consumada. larmente essa jovem, e a havia tra
tado durante do Dar sem
Eu atendi ainda a chamada Zwelferine, com idade de 19 sucesso algu m,*! expressou-me sua satisfaç
ão por uma cura
anos, cega desde a idade de dois anos por uma amaurose, eressante, e seus agradecimentos
por poder ressaltar
acompanhada de uma catarata rugosa e muito espessa, com por seu aval a importância dessa
descoberta. Vários médicos
atrofia do globo. Apresentava também escarro de sangue pe- c da um em particular, seguiram 9 exemplo
de nossos chefes,
riódico. Eu avaliei essa moça na casa dos Orfelinos em Viena. ram a mesma homenagem à verdad
e.
Sua cegueira foi atestada pelos administradores. Após esses acontecimentos tão
autênticos, o senhor Par
Atendi, no mesmo tempo, a senhorita Ossine, com 18 anos a achou dever expressar seu reconhecimento
transmitio.
de idade, pensionista de sua majestade como filha de um oficial S0-0, por seus escritos, a toda
à Europa. Foi ele que, com
de seus exércitos. Sua doença consistia de uma tuberculose pu- :+ tempo, consagrou nos s jornais
j . o
os detalhes? in
cura de sua filha. teressantes da
rulenta e uma melancolia atrabiliária, acompanhada de convul-
sões, furor, vômitos, escarros de sangue, e síncopes. Estas três 3, Entre médicos que estavam vind
doentes estavam, assim como os outros, alojadas em minha -+8zer sua curiosidade, estava o sen o à minha casa para satis-
hor Barth, professor de ana-
casa, para poderem seguir meu tratamento sem interrupção. Eu
estava muito contente por poder curá-las todas as três.
O pai e a mãe da senhorita Paradis, testemunhas da sua
cura, e dos progressos que ela fazia com o uso de seus olhos, .
apressaram-se a divulgar este evento e sua satisfação. Acorreu :
à minha casa uma multidão para disso se assegurar; e cada um,
Durante O tratamento médico, Mari
a Theresa von Paradis foi sujeitad
a “rosas sangrias, purgações, Caut a
erizações e dolorosas aplicações
três mil choques ao seu globo ocula d
educação musical. Maria Theresa von Paradis sabia tocar mais de 6 r, Pimsdesde
concertos de memória. Foi amiga de Mozart. Compositora, escreve pra de Mesmer: Eis, para a
satisfação do leitor, o resumo
a a angular. Ele foi fielmente extr histórico
mais de 30 peças para piano. Dedicava-se à formação de jovens músicos. aído do relatório escrito em
e à educação de crianças e jovens deficientes visuais. Mozart escreve, de Api e o próprio pai Foi ele que me Temeteu, no mês de març
especialmente para ela, o “Concerto em si bemol maior nº 18”, que es nal da Moo A, para à torná torná
-lo-lo públ
públiico. [O texto está como apên
o
para Luís e Maria Antonieta. Mesmer estav
dice, no
treou em Paris, em 1784, 63::20 pont
presente. Ainda em Paris, ela encontrou-se com Valentin Haiy (precur: os popenare Joseph Barth (1745-18
1 8) foi professor da Facul-
sor da educação especial para cegos). Theresa von Paradis influenciou e cina, tamoso por suas operaçõe
igua is s de catarata, Antes de
trabalho de Hatiy tanto na fundação de sua escola quanto na seleção esme condda,-la,Bar
desm r tratá Bartth
h e examino ua senhoritia Paradisis e
materiais para a educação de cegos. di nosticou
e diag i sua
320 FRANZ N MESMER
ANTO
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAG
NETISMO ANIMAL 321
guro disso; ele apoiava ess
a asserção no fato de que
ou confundia o nome ela ignorava 4 bruscamente, tirou a filha com furor das mãos da pessoa que a
dos objetos que lhe eram
apresentados, socorria, dizendo: “Infeliz, você mostra tanta inteligência com
“as pessoas desta casa!” E jogou com raiva sua cabeça contra a
muralha. Todos os acidentes desta infortunada se renovaram.
Corri em direção a ela para socorrê-ja. A mãe sempre furiosa
jogou-se contra mim, para impedir-me, cobrindo-me de injú-
rias. Afastei-me pela mediação de algumas pessoas de minha
família, e me aproximei da jovem para lhe dar minha ajuda.
Ele apenas sustentava a neg Durante o tempo em que dela me ocupava, ouvi de novo as
ativa, associando-se assim
ao senhor crises de furor, e os esforços repetidos para abrir e fechar, al-
ternadamente, a porta do cômodo onde eu estava. Era o se-
nhor Paradis, que, avisado por um criado da sua mulher, havia
se introduzido em minha casa com a espada à mão e queria en-
trar nesse apartamento, enquanto meu criado procurava afas-
tá-lo segurando a porta. Uma vez desarmado este furioso, ele '
saiu de minha casa, após ter vomitado milhares de impreca-
ções contra mim e minha família. Sua mulher, por outro lado,
jazia desmaiada, Eu lhe fiz dar os socorros de que necessitava,
e ela retirou-se algumas horas após. Mas sua infeliz filha sofreu
vômitos, convulsões e furores ao menor ruído, e sobretudo ao
som dos sinos, tudo era repetido em excesso. Ela estava mes-
mo recaída na sua primitiva cegueira pela violência do golpe
que sua mãe lhe havia ocasionado, o que me levou a temer
pelo estado do seu cérebro.
vaa usá-los perfeitament Tais foram para ela e para mim os funestos efeitos desta
e. O Paí, vendo-a melhor
animado pela conspiração, , e sem re cena aflitiva. Ter-me-ia sido fácil fazer constatar juridicamente
renovou seus pedidos; recl
filha calorosamente e for amou a os excessos, pelo testemunho do senhor conde de Pellegrini, e o
çou sua mulher a exi ia,
sistiu, pelos mesmos mot A filha re- de oito pessoas que estavam em minha casa, sem falar de outros
ivos precedentes. A mãe, que
até en- tantos vizinhos que estavam em condição de depor sobre a ver-
dade. Mas unicamente ocupado em salvar, se fosse possível, a
senhorita Paradis, negligenciei todos os meios que a justiça me
oferecia. Meus amigos reuniram-se em vão para me fazer en-
tender a ingratidão demonstrada por essa família, e as sequiên-
cias infrutuosas dos meus trabalhos. Insisti na minha primeira
resolução. Eu deveria me felicitar se pudesse vencer, pelos bene-
fícios deste caso, os inimigos da verdade e do meu repouso.
322 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGN
ETISMO ANIMAL 323
Tomei ciência, no dia seguinte, que o senhor Paradis, ten- Pediquei ainda I5 dias a
instru
tando acobertar seus excessos, divulgou publicamente as mais anutenção da saúde. O púb ções para o aperfeiçoamento e
atrozes imputações contra mim. Sempre com a intenção de lico veio então se assegu
seu restabelecimento, e cada um em rar do
retirar sua filha, e de provar, pelo seu estado, o perigo dos particular me deu, mes
meus meios. Recebi, com efeito, pelo senhor Ost, médico da
corte, uma ordem por escrito do senhor Stoérk, na sua quali-
dade de primeiro médico, datado de Schoenbrunn, 2 de maio
de 1777, que me ordenava a terminar a “fraude” — foi esta sua
expressão — “e entregar a senhorita Paradis à sua família, se jul-
gar que ela está fora de perigo”.
Quem poderia crer que o senhor Stoérk, que estava bem
instruído pelo mesmo médico de tudo que havia se passado
em minha casa e que, após sua primeira visita, havia vindo
duas vezes para se convencer por ele mesmo do progresso da
doente e da utilidade dos meus meios, viesse a se permitir a
empregar a meu respeito a expressão ofensiva e de desprezo?
Eu tinha tomado a posição de pensar o contrário, que, estando
ele numa condição privilegiada para reconhecer uma verdade
deste gênero, deveria tê-la defendido. Ouso mesmo dizer que,
como presidente da Faculdade, mais ainda como depositário
da confiança de sua majestade, seria o primeiro de seus deve-
res o de proteger, nesta circunstância, um membro da Facul-
dade que ele sabia ser irreprochável, e que ele havia por cem
vezes assegurado sua proximidade e sua estima. Eu respondi
então, a essa ordem irrefletida, que a doente estava fora do es-
tado de ser transportada sem se expor a perecer.
O perigo de morte a que estava exposta a senhorita Paradis conselheiros de suas majestades; de Molitor: d
se impôs sem dúvida a seu pai, e lhe provocou algumas refle- E. dico de suas majestades; de Bo ul: er de H e Umlauer, mé-
xões. Ele empregou junto a mim a mediação de duas pessoas re- barão de Colnbach e de Web anger, de Heufeld; e do senhor
comendáveis, para que eu continuasse a dedicar meus cuidados º i CL, OS quais, independentemente
à sua filha. Eu lhes fiz dizer que o faria, com a condição
ele nem sua mulher que nem | meus procedimentos seus efe;
apareceriam em minha casa. Meu trata- ivamente não tem encontrado e suc ud assimi que suces-
mento, com efeito, superou minhas esperanças, e nove dias fo- erança e meus trabalhos, a colo Esso, malgrado minha perse-
ram suficientes para acalmar inteiramente as convulsões e fazer ções ou pelo menos no das cação nem no campo das supo-
ceder os acidentes. Mas a cegueira estava na mesma. ais autenticamente demonstrado, mais incertas, a verdade
Quinze dias de tratamento a fizeram ceder, e restabelece-
ram o órgão ao estado em que se encontrava antes do acident
dea
324
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 325
pela ingratidão de uma fam
ília que eu havia coberto
cios. Entretanto, contin de be n.por oito meses após minha partida de Viena, e saíram ape-
uei, durante os seis últ
ano de 177?,a aperfeiçoar imo s mes de
a cura da senhorita Ossine. s-por ordem superior.
nominada Zwelferine, que E dad
chamava atenção pelo estado Chegando a Paris,6 no mês de fevereiro de 1778, comecei
olhos, que era ainda mais
grave que aquele da senhor
dos gozar das doçuras do repouso, e a me aproveitar inteiramente
ita Pará:
da interessante relação com os sábios e os médicos desta capi-
due me restaram, partic
ularmente o da senhorita
Wipior, co tal, onde, para responder às amabilidades e à sinceridade com
idade de nove anos, que tem sobre o olho uma exc
rescência da úe eles me cumularam, fui levado a satisfazer sua curiosida-
córnea, conhecida sob o
nome de estafiloma,S* e ess
a elevaçã E de, falando-lhes de meu sistema. Surpresos com sua natureza
de natureza cartilaginosa,
que era de três a quatro lin
has ri
e com seus efeitos, eles me pediram a explicação. Eu lhes dei
vava-a da faculdade de ver
desse olho. Estou feliz por minhas asserções sumárias em 19 artigos. Eles lhes parece-
do êxito em Re essa ter obti
excrescência, a ponto de ram sem nenhuma relação com os conhecimentos estabeleci-
ade de ler de lado. Restou lhe res tituir
-lhe apen dos. Senti, com efeito, como era difícil de persuadir, apenas
no centro da córnea, e não igei
duvido que 0 Faria desapa
ra sir pela razão, sobre a existência de um princípio do qual não
existe ainda nenhuma idéia. E me sujeitei, por esse fato, ao pe-
“dido que me foi feito de demonstrar a realidade e a utilidade
anos consecutivos, mais
ainda da animosidade con “da minha teoria, pelo tratamento de alguns doentes graves.
meus adversários, sem ter stante de
colhido de minhas pesqui
minhas penas outra satisf sas e das
ação senão aquela que a adv
ersidade 66 Nota de Mesmer: Meus adversários, sempre ocupados em me perturbar,
apressaram-se a divulgar, quando da minha chegada à França, prevenções
sobre minha conduta. Eles, inclusive, comprometeram a Faculdade de
Viena, fazendo inserir uma carta anônima no Jornal Enciclopédico do mês
de procurar o passatemp de março de 1778, página 506; e os senhores Hell, Bailio d'Hirsingen e
o que estava precisand
O quanto estava em mim, o. Mas para ir de Lundzer não foram temerosos em emprestar seus nomes a este escri-
diante do prejulgamento
Putações, dispus as coisas e das im. to difamatório. Eu não era, entretanto, conhecido; e não os vi senão em
de maneira a deixar em min Paris, depois dessa época, para receber suas desculpas. A perfídia, as in-
durante minha ausência, ha asa,
a senhorita Ossine e a consequências e a malignidade dessa carta não merecem nada mais do
Zwelferine. Tomei depois chamado
a precaução de dizer ao púb que desprezo: basta lê-la para convencer-se.
motivo deste arranjo, anu lico ;
nciando-lhe que estas pes 67 Nota de Mesmer: Estas mesmas asserções foram transmitidas, em
vam na minha casa porque soa s esta: 1776, à Sociedade Real de Londres pelo senhor Elliot, enviado da Ingla-
seu estado podia ser consta
cada instante e servir de tado a terra à Dieta de Ratisbonne. Eu as havia comunicado a esse ministro, 2
apoio à verdade. Elas aí per
manece- seu pedido, após ter feito sob suas vistas experiências múltiplas em Mu-
"00 nique e em Ratisbonne.
64 o alilomas o alteraçõ 68 Segundo o discípulo de Mesmer, J. L. Picher Grandchamp: “Vítima do
es de espessura da esclera, ciúme em Viena pelas suas descobertas, Mesmer encontrou a França
ra du cama que é a parte branca
xterna do olho, conhecida para as apreciar e as divulgar. À reputação que ele adquiriu pelos seus su-
popularmente como
65 Ena] ealterações pao cessos nas ciências fez com que recebesse a acolhida favorável que a na-
Curas de Mesmer, demons ção tem costume de dedicar aos estrangeiros. Seu saber e sua modéstia
tram que sua terapia
como afirmam contestadores do magsnio
naAPENAS psicológicas
lhe deram partidários. Mas a inveja não tardou a lhe suscitar inimigos po-
derosos. Cobriram-no de calúnias e de ridículos. Sua fortuna, sua pró-
pria vida e seu nome foram expostos a grandes perigos. Ele sofreu a sorte
326 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGN
ETISMO ANIMAL 327
Vários doentes me cederam sua confiança. À maior parte do de marasmo, sobre uma caquexia escroful
estava num estado tão desesperador que abalou todo meu de- osa? e, enfim
sobre uma degeneração geral dos órgãos da tran
sejo de Ihes ser útil, e me decidir a satisfazê-los. Entretanto, spiração,
Estes doentes, cujo estado era conhecido e cons
obtive a cura de uma melancolia vaporosa*º com vômitos es- los médicos da Faculdade de Paris, todos tatado pe-
pasmódicos, de várias obstruções inveteradas do baço, fígado sofreram crises e eva-
cuações sensíveis e análogas à natureza de
e mesentério. De uma amaurose incompleta, ao grau de impe- suas doenças, sem ter
feito uso de qualquer medicamento. E,
dir a doente de se conduzir por si mesma. De uma paralisia ge- após terem terminado
seu tratamento, deixaram-me uma declaração detal
ral com tremores, que dava ao doente, com 40 anos de idade, hada.
Eis que tudo isso serve para demonstrar sem
toda a aparência da velhice e da embriaguez: esta doença era dúvida as van-
tagens do meu método, e eu tinha esperanç
consequência de um congelamento, e havia sido agravada pe- a de que a convicção
iria acontecer em seguida. Mas as pessoas
los efeitos de uma febre pútrida e maligna de que esse doente que me haviam de-
terminado a encetar esse tratamento não
havia sido atacado há seis anos, na América. Obtive ainda o foram levadas a reco-
nhecer seus efeitos. Em relação a isso,
mesmo sucesso numa paralisia absoluta das pernas com atro- as considerações e os
motivos em detalhes serão conhecidos nesta
fia. Sobre um vômito habitual que reduzia a doente a um esta- tou
Memória. Resul-
que as curas, contra minhas expectativas, não
comunicadas às insituições das quais só sua podendo ser
consideração po-
do famoso Galileu, perseguido pelo fanatismo do seu século por haver deria fixar a opinião pública, não preenche
ram senão imper-
sustentado o movimento da terra. Ele foi tratado de visionário como q feitamente o objetivo que me havia proposto
e que eu espera-
célebre Harvey, que ensinava a circulação do sangue. Perseguiram-no va. O que me leva hoje a fazer um novo
esforço para o triunfo
como a Cristóvão Colombo, que descobriu o Novo Mundo. Enfim, foi da verdade, dando mais extensão às minhas
imitado no teatro como Sócrates, para fazê-lo odiado do povo. À maior primeiras asser-
ções, e uma publ icidade que lhe faltou até agora.
parte das corporações encarregadas da instrução pública possui o poder
de nada admitir que lhe seja estranho, apesar de quanto vantajoso lhe
possa ser. É uma mercadoria proibida que eles bloqueiam nas barreiras
do seu reino. É o destino dos grandes homens serem perseguidos.”
69 A origem da expressão melancolia vaporosa remonta ao século 17, quan-
do os médicos tentavam explicar, a partir de novas descobertas como a
dos vapores, os casos considerados pela Igreja como possessão demoníaca.
Um médico da época escreveu: "Os médicos, nesse caso, têm grandes
prerrogativas sobre os eclesiásticos, pois eles sabem que, se o humor me-
lancólico se estagna nos mitocôncrios, daí se elevam vapores e ventos de
qualidade assaz maligna para produzir todos esses efeitos estranhos e ex-
traordinários." (apud por R. Mandrou, Magistrais et sorciers em France
au XVII siécie. Paris: Plon, 1968, p. 170) A patologia vaporosa servia para
explicar os casos de histeria, epilepsia, transes sonambúlicos. No início do-
século 18, a teoria dos vapores tornou-se moda. Porém, com os primeiros
estudos da neurologia por médicos como Sydenham, Willis e Whytt, os
vapores foram abandonados. Apesar disso, por força do hábito, a expres-
são melancolia vaporosa permaneceu no vocabulário médico, o que expli-
ca o seu uso por Mesmer. O magnetismo animal foi a primeira hipótese
científica da modernidade para explicar os casos de histeria, loucura e así Estad
Estadoo dede desm desnutrição profunda produzida
chamadas doenças dos nervos. i por escrófula, uma localiza- |
São primária de infecção tuberculosa em
gânglios linfáticos do pescoço.
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 329
gada pelo som, o que constitui não somente uma privação, vá-lo das doenças às quais poderá estar
mas uma virtude oposta positiva. exposto. A arte de cu-
Tar atingirá assim a derradeira perfeiçã
o.
20. O ímã, seja natural, seja artificial, é, assim como os Se qualquer uma destas asserções
outros corpos, suscetível do magnetismo animal, e mesmo da — sobre as quais dedi-
quei minh a observação constante por 12 anos —
virtude oposta, sem que, nem em um nem em outro caso, stta dúvida, eu entendo claramente. Isso
deix ar alguma
ação sobre o ferro e a agulha sofra alguma alteração, o que pro- porque meu sistema deve
parecer, à primeira vista, sustentar a
va que o princípio do magnetismo animal difere essencialmen-. ilusão e não a pura verda-
de,frente aos princípios expostos e aos con
te daquele do mineral. hecime
ntos esta-
belecidos. Mas eu rogo às pessoas escl
arecidas que afastem os
21, Este sistema fornecerá novos esclarecimentos sobre a prejulgamentos, e que suspendam tem
porariamente seu julga-
natureza do Fogo e da Luz, assim como da teoria da atração, mento, até que as circunstancias me per
mitam dar a meus
do fluxo e refluxo, do ímã e da eletricidade. | Princípios a evidência de que são
suscetíveis. Em relação aos
22. Será revelado que o fmã e a eletricidade artificial têm, homens que gemem nos sofrimentos
e na desgraça, apenas
em relação às doenças, propriedades comuns a vários outros pela insuficiência dos meios conhecid
os, é bem natural que se
agentes que a natureza nos oferece e que, se resultarem alguns “lhes inspire o desejo, e mesmo a esperanç
a de um reconheci-
efeitos úteis da administração deles, serão devidos ao magne- mento dos mais úteis.
tismo animal. Os médicos, como depositários da
confiança pública no
23. Reconhecer-se-á pelos fatos, após as regras práticas que tange mais de perto à conservação
e à felicidade dos ho-
que estabelecerei, que este princípio pode curar imediata- - mens, são os únicos capazes, pelos con
hecimentos inerentes à
mente as doenças dos nervos, e indiretamente as demais. sua condição, de bem julgar a importân
cia da descoberta que
24. Que apenas com sua ajuda o médico é esclarecido so- venho anunciar e apresentar os frutos.
Apenas eles, numa pa-
bre o uso dos medicamentos, que sua ação é aperfeiçoada, e lavra, são capa
zes de pô-los em prática.
que ele provoca e direciona as crises salutares, de maneira a se À Vantagem que tenho de partilha
r a dignidade de sua
tornar o seu dirigente. profissão não me permite duvidar de que eles irão
fundir princípios que tendem ao maio adotar e di-
25. Comunicando meu método, demonstrarei, por uma r alívio da humanidade
nova teoria das doenças, a utilidade universal do princípio que desde que tenham sido fixados por esta Memória, que lhe
lhes proponho. essencialmente destinada, sobre a é
verdade ideada pelo MAG-
26. Com este conhecimento, o médico julgará com segu- NETISMO ANIMAL.
rança a origem, a natureza, e o progresso das doenças, mesmo FIM
das mais complicadas. Ele impedirá seu desenvolvimento, e
levará à sua cura, jamais expondo o doente a efeitos perigosos .
ou a incômodos seguidos, qualquer que seja sua idade, tempe
ramento ou sexo. Às mulheres mesmo no estado de gravidez
e quando do parto, usufruirão da mesma vantagem.
27. Esta doutrina, enfim, colocará o médico em condições
de bem julgar o grau de saúde de cada indivíduo, e de prese
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 333
atenção particular todas as vezes que tinha ocasião de encon- beça, e aumentava insinuando-se para frente, Quando parecia
trá-la. Ele se informava das circunstâncias que haviam acompa- que atingia onde se unem os nervos ópticos, pareceu-lhe
nhado essa doença, e dos meios de que se havia servido para tra- duran-
te dois dias que sua cabeça se dividia em duas partes. Esta dor
tá-la até então. O que ele julgava o mais contrário, e que parecia seguia os nervos ópticos, dividindo-se como eles. Ela se definia
inquietá-lo, foi a maneira com que se fez uso da eletricidade. como picada de ponta de agulha, que, avançando sucessiva-
Não obstante o grau a que essa doença havia atingido, ele mente para os globos, parecia penetrá-los e aí se multiplicava
m
fez a família ter a esperança de que colocaria os olhos na sua po- espalhando-se pela retina. Estas sensações eram muitas vezes
sição natural, diminuiria as convulsões e acalmaria as dores. E acompanhadas por sacudidelas. O olfato da doente estava alte-
fosse o que fosse feito em seguida, ele tinha desde então a espe- rado há vários anos, e a secreção do muco não mais se fazia. Seu
rança de lhe retornar a visão. Ele insistiu com os pais, aos quais tratamento lhe fez provar um inchaço interior do nariz e das
uma experiência infeliz e as contrariedades seguidas haviam fei- partes vizinhas, que desapareceu em oito dias por uma evaçua-
to com que tomassem a resolução de não fazer mais nenhuma ção copiosa de um material verde e viscoso. Ela teve ao mesmo
tentativa para obter uma cura que eles acreditavam impossível. tempo uma diarréia de abundância extraordinária. As dores
de
O senhor Mesmer começou seu tratamento a 20 de janei- seus olhos aumentaram, e ela apresentou vertigens. O senhor
ro: seus primeiros efeitos foram o calor e a cor róseana cabeça. Mesmer julgou que eram efeitos das primeiras impressões
da
Cuidou em seguida dos tremores das pernas e dos braços. Ele luz. Ele fez então com que a doente ficasse em sua casa, a fim
provocou na nuca um repuxão, que levava a cabeça para trás, e de assegurar as necessárias precauções.
que, aumentando sucessivamente, ajustava-se ao abalo con- A sensibilidade desse órgão se tornou tal que, após terem
vulsivo dos olhos. sido cobertos seus olhos por uma tripla bandagem, ele foi for-
No segundo dia do tratamento, o senhor Mesmer produ- çado a mantê-la numa câmara escura, de tal modo que a me-
ziu um efeito que surpreendeu muito as pessoas que foram nor impressão da luz, sobre todas as partes do corpo, indife-
testemunhas: estando sentado ao lado da doente, ele dirigia rentemente, agitava-a a ponto de fazê-la cair. A dor que ela
seu bastão para a figura representada por um vidro, e ao mes- provava nos seus olhos mudava sucessivamente de natureza:
mo tempo em que ele agitava esse bastão, a cabeça da doente ela era em primeiro lugar geral e aguda, o que provocava em
seguia seus movimentos. Essa sensação era tão forte que ela seguida uma viva comichão, que terminava numa sensação se-
mesma anunciava as diferentes variações do movimento do melhante àquela que produziria um pincel passado ligeira-
bastão. Percebeu-se então que a agitação dos olhos aumentava mente sobre a retina.
e diminuía alternadamente, de uma maneira muito sensível. Estes efeitos progressivos deram lugar a que o senhor Mes-
Seus movimentos multiplicados para trás e para frente eram mer pensasse que a cura estava suficientemente avançada para
algumas vezes seguidos de uma total tranquilidade, que foi ab- dar à doenteuma primeira idéia da luz e de suas modificações.
soluta desde o quarto dia, e os olhos adquiriram sua situação Ele retirou a bandagem, deixando-a na câmara escura, e a con-
natural, o que deu lugar a se perceber que o esquerdo era me- vidou a prestar atenção ao que sentiam seus olhos diante dos
nor do que o direito. Mas, continuando o tratamento, eles se quais ele colocava alternadamente objetos brancos e negros. Ela
igualaram perfeitamente. explicava a sensação que lhe ocasionavam os primeiros,
como se
Os tremores dos membros cessaram poucos dias depois, no globo se insinuassen pontos sutis, cujo efeito doloroso to-
porém ela apresentava no occipital uma dor que penetrava a ca- mava a direção do cérebro. Esta dor e as diferentes sensações
que a acompanhavam aumentavam e diminuiam em razão do
336 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 337
4U
A LONDRES.
CEE
M. DCC. LXXXI
NOTA À EDIÇÃO BRASILEI
RA ' LISTA DAS CORPORAÇÕES
DE SÁBIOS
À presente tradução é a pri Às quais este escrito foi endereçado
meira em português, e foi feit
a partir da primeira edição, a
publicada em francês por Mes
em 1781, intitulada Précis mer
historique dês faits relatifs
nétisme-anim al jusque en avril 1 781. au mag-
en medicine de la Faculte de Parm. Mesmer, docteur N.B. - Sendo este escrito destinado à instrução tanto de
Vienne, Londres, 1781. O exe sábios como do público, o Autor destinou um número deter
plarencontra-se na Biblioteca Nac m-
ional da França, minado aos primeiros. O restante da edição será vendido ao
Os manuscritos originais for
am redigidos em alemão por público do modo costumeiro.
Mesmer, e depois traduz
idos pelo seu discípulo
d'Eslon (o que explica a ins doutor
crição no original: ouvrage
traduit
RÚSSIA
de L'allemand). Entretanto,
a edição alemã precisou ser tra- À Academia de Ciências de Petersburgo
duzida do francês, pois Os
manuscritos originais haviam
dido. A primeira edição ale se per- DINAMARCA
mã foi publicada em 1783: À Sociedade Real de Medicina de Copenhague
mer, F. À, Kurze geschichte Mes-
des thierischen magnetismus
april 1781, Carlsruhe : Michael Macklot, 1783. bis SUÉCIA
Esta obra de Mesmer ainda não À Academia de Ciências de Estocolmo
inglesa, apesar de ter sido uti
foi traduzida para a língua
lizada como texto de referê Ao arcebispo de Upsala, para a Universidade desta cidade o
fundamental para as biografias ncia N.B. —- Um destes sete exemplares para ele, rogando que o aceite.
sobre Mesmer escritas no sécu-
lo passado. À Sociedade Real Patriótica de Estocolmo
340
341
342 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 343
SUÍÇA INGLATERRA
. À Sociedade Real de Londres
À Sociedade Helvética de Basiléia
À Sociedade Econômica e de Emulação de Berna A Sociedade Real de Medicina em Londres
Ão chanceler da Universidade de Oxford, para a Unive
rsidade
FRANÇA N.B. - Um dos sete exemplares, para ele, rogando que
o aceite.
Ão senhor reitor da Universidade de Paris, para a Universidade Ao chanceler da Universidade de Cambridge, para a Universida
N.B. “Um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite. de
N.B. - Um dos sete exemplares para ele, rogando que
Ao senhor Philip, deão da Faculdade de Medicina de Paris, para a o aceite.
Faculdade ESCÓCIA
” - A Sociedade Real de Edimburgo
N.B. - Um dos sete exemplares, para ele, rogando que o aceite.
Ao senhor De Martiniere, presidente da Academia de Cirurgia, A Sociedade de Medicina de Edimburgo
para a Academia IRLANDA
N.B. - Um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite. " Ao chanceler da Universidade de Dublin, para a Univer
sidade
Ao senhor Lassonne, presidente da Sociedade Real de Medicina N.B. - Um dos sete exemplares para ele, rogando
que o aceite.
N.B.- Um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
À Academia de Ciências de Paris
- À Sociedade de Filosofia da Filadélfia
À Acadernia de Ciências e Belas Letras de Rouen
À Academia de Ciências de Massashussets-Day
À Academia de Ciências de Bordeaux N.B. — Esses 12 exemplares remetidos a Paris, ao senhor
À Academia de Ciências e Arranjos Florais de Toulouse Franklin,
Ministro dos ditos Estados, com um 13º exemplar para ele,
Ao deão da Faculdade de Medicina de Montpellier rogan-
do que o aceite.
N.B. — um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite.
À Academia de Ciências e Belas Letras de Marselha
À Academia de Ciências e Belas Letras de Besançon
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 345
Subsequentemente, três médicos conhecidos se juntaram ao - em Paris um rumor geral e uma censura
universal, mas após
nhor d'Eslon, para seguir as experiências do magnetismo animal. este primeiro momento não mais se torno
u a considerar q
Como resultado dessas experiências, o senhor d'Eslon deu ao magnetismo animal como objeto de conversaçã
o. Cada um
público suas observações relativasa elas.?3 Ra acreditando prevaslecer seu espírito trata
hoje este assunto
Finalmente, quando os espíritos nos pareciam suficiente- em Paris não segu ndo a razão, mas segundo o lugar em que
se
mente preparados, eu pedi ao senhor d'Eslon para que ele po encontra, as pessoas diante das quais fala, o
tipo de espírito de
pusesse à Faculdade de Medicina de Paris meios apropriados cada uma das sociedades onde se encontra.
para tirar todas as dúvidas sobre a importante questão que eu Não será indigno de um observador esclarecid
j meter às suas luzes. o examinar
em que grau o domínio subterrâneo dos médi
a penca eu lhe enviei um escrito assinado por cos se tornou,
em tão pouco tempo, capaz de prender as língu
mim no qual eu propunha à Faculdade de Medicina de Paris as que no prin-
“Cípio se manifestavam mais abertamente.
tratar um dado número de doentes concomitantemente, de É entre as pessoas de nível que este fenômeno de
modo a poderem ser constatados os efeitos do meu método mo é mais evidenciado. O ponto essencial
servil
is-
por comparação com os efeitos dos métodos antigos. entre elas parece
ser o de não choca
r o médico que frequentam. Elas têm medo.
A franqueza deste procedimento é justa. Eu tenho certeza Dir-se-á de bom grado que não está reservada
de que no estilo e na forma nada se encontrará que possa ter a pena de morte
-à não ser para aquilo que a mim concerne.
racionalmente ofendido a corporação à qual me dirigi. O grosso da nação menos atemorizada age a seu
A 18 de setembro de 1780, por requisição do senhor modo. Pro-
-tetores, partidários, antagonistas, médicos,
d'Eslon, houve uma assembléia geral da faculdade. Este médico sábios de todas as
ordens, o senhor d'Eslon, o magnetismo anima
fez a leitura de minhas proposições e as apoiou num discurso l, meus doentes
- eeu somos alternadamente ou ao mesmo tempo
preparado para este fim e colocou os originais sobre asecretária. , o alvo dos gra-
: Cejos de que os desocupados parisienses se
No mesmo dia e na mesma assembléia, o senhor d Eslon alimentam.
- Os estrangeiros que não conhecem Paris e seus
foi excluído do quadro dos médicos da faculdade por ter feito indefini-
: dos habitantes, a não ser pelos livros ou por relat
Ses sobre o magnetismo animal, os truncados,
talvez possam concluir do que eu disse que aqui
ira proposições foram rejeitadas com desdém existe a mais
- medíocre opinião sobre a minha descoberta,
e animosidade. Eles muito se en-
anarão. Porque ela impressiona demais, exige
No primeiro instante os procedimentos da faculdade, fos- um raciocínio
Onstante e toca em tantos campos do conhecim
sem contra o senhor d'Eslon, fossem contra mim, causaram ento, que
“muito se fala sem nada concluir. Mas, se ela
fosse considerada
enos importante, há muito tempo ter-se-ia toma
do um par-
: Memória sobre a descoberta do magnetismo animal: tido definitivo € já se estaria falando de uma outra
coisa.
a sebo oa Mesmer, doutor em medicina da Faculdade de Viena. Cas Os franceses que pretendem conhecer melh
or sua
P. Fr. Didot, o jovem, Paris. mal pelo ha seguram que lhes é impossível acolher uma boa razão nação
: Observações sobre o magnetismo ani enh “que ela sofra as mais severas críticas. Se assim for, antes
” SEnos dure re sono da Faculdade de Medicina de Paris, e primei eles não es-
ão dando a atenção necessária ao que eu digo,
ro-médico regular do monsenhor o conde de Artois, Casa P. Fr. Didot, pois é inacr edi-
tável a quantidade de afirmativas insensatas às quais
jovem, C.M. Saugrain, o jovem e Clousier, Paris. . dei lugar.
74 Nota de Mesmer: Essas proposições se encontram ao longo deste escri “No entanto, a grande questão de que trato não
é nem indivi-
to, podendo ser consultados. , alnem nacional: é universal. É à humanidade inteir
a e não ape-
348
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 349
351
352
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 353
próprios olhos. Este médico era muito tímido para o lugar que
ocupava.??
fora o cultou desse debate que as imaginações do padre Held E Jamais tomou partido decisivo. Sempre vacilou segundo
— et, experiência, reconhecidas como tais, e tod s circunstâncias: ogo ele evitou se comprometer, ou então
: ! avi "que eu comprometesse a Faculdade. De pronto, ele aquiesceu
para que eu demonstrasse as utilidades dos meus princípios
» pretende-se ainda (e existem pesso num hospital; depois, ele não ousou tomar tento dos efeitos
à Crer sem outra exame) que eu ajo com A ud dp pensas que eu produzia. Constantemente me recusou uma comissão
meios separadamente ou combinados 76 juda desses do E da Faculdade, que eu solicitara, e colocou-se ele mesmo àtes-
Ao padre Hell juntou-se o senh r K | ta de uma deputação que eu não solicitara. Nessa ocasião, ele
Sociedade Real de Lon dres é inoe bd ngenhousz, membro da juntou com firmeza sua opinião à do público, apoiando-me
a meios pueris a reputação de físi u Sr em Viena, que devia sem rodeios, e em presença de testemunhas disse seus pesares
Eu lamento tod co. por ter discordado em favorecer pelo seu aval a importância
Os Os aadias a
acredita t nesse homem da minha descoberta.
À Entretanto, jamais
er ousou nem avalizar
fútil. De má-fé usou de todo seu ta- nem defendê-la nos momentos decisivos. Enfim, possuo car-
tas suas pelas quais confessa sua persuasão, possuo uma ordem
sua pela qual me taxa de trapaceiro.
Fiz com que fosse enviado à maior parte das academias de
ciências da Europa o resumo de meu sistema, notadamente à
Sociedade Real de Londres, à Academia de Ciências de Paris e
à Academia de Berlim. Apenas a última me respondeu. Ela de-
cidiu que eu estava iludido. Decidiu mal, mas me ouviu.
Interrompi duas vezes o curso destes debates pela neces-
sidade de me ausentar de Viena. Fiz viagens à Baviera, à Suá-
76 ta de Mesmer: Quando se bia e à Suíça, procurando por todos os sábios e tentando im-
etism an
estiver familiarizado com a exp
le alguém fizer alguma des ressã pressioná-los, porém despertando pouco interesse.
: à desco ecidos, não coberta surpreendente
se fur
Timal, como me dizem hoje tarão de dizer ao autor: é do Quando retornei de vez a Viena, estava bem convencido,
que é do ima. Decisões mui por experiência própria, que os homens eram os mesmos em
part
todos os lugares, facilmente inflamados pela vaidade, porém
dificilmente entusiasmados pela verdade.
Persisti algum tempo na resolução de nada mais empreen-
der. Às insistências de meus amigos e, sem dúvida, o fogo mal
extinto da esperança me fizeram conceber o projeto de algu-
verdadeiro não mais as mas curas brilhantes. Cito três na minha Memória sobre a des-
quer.
78 Rainha-imperatriz Mari
em 1740, aria Teresa (1 717-1780),o que inic
iou seu reinado
79 Nota de Mesmer: Um primeiro-médico em Viena é tira espécie de mi-
nistro à frente do Departamento de Medicina.
354 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
355
coberta do magnetismo animal. Aqui falarei apenas de uma: va o que ele supunha, ou seja, que a senhorita ignorava ou con-
aquela da senhorita Paradis. ' fundia o nome dos objetos que lhe eram apresentados — coisa
Esta senhorita estava com dezoito anos de idade, Seus bem simples de entender e mesmo inevitável numa pessoa
pais eram conhecidos, ela era particularmente conhecida de cega de nascença ou com pouca idade.%0
sua majestade, a imperatriz-rainha: recebia de sua beneficên- Este membro, além da associação do senhor Ingenhousz e
cia uma pensão, que começou a ser paga após ela ter ficado to- do padre Hell, pouco me alarmava. À verdade provaria os dis-
talmente cega com a idade de quatro anos, o fundo de sua parates com clareza. Como eu conhecia pouco os recursos da
doença era uma amaurose perfeita. Ela apresentava os olhos inveja!
salientes, saindo das órbitas e convulsivos. Além disso, estava
Tramou-se o ardil de retirar de meus cuidados a senhorita
atacada por uma melancolia acompanhada de obstruções do
Paradis, no estado de imperfeição em que estavam seus olhos
baço e do fígado que promovia muitas vezes acessos de delírio
e impedir que ela fosse mostrada a sua majestade, que acredi-
e de furor que lembravam ser ela uma consumada demente.
taria assim definitivamente na impostura deslavada.
Ela havia se submetido a remédios de toda espécie — havia so-
frido imprudentemente mais de três mil choques de eletrici- Para atingir esse fim odioso, foi preciso induzir o senhor
“dade -, tendo sido tratada durante dez anos pelo senhor Paradis. Fez-se com que ele acreditasse na suspensão da pen-
“Stoêrck, sem sucesso. Enfim, foi declarada incurável pelo se- - são dependente da cegueira de sua filha — persuadiram-no de
nhor barão de Wenzel, médico oculista residente em Paris que retirá-la de minhas mãos. Ele a reclamou primeiramente ape-
numa de suas viagens a Viena a examinou por ordem de sua nas por sua vontade, mas depois de comum acordo com a mãe.
majestade a rainha-imperatriz. Porém, a resistência da senhorita atraiu para si maus tratos: o
Se alguma vez a cegueira foi constatada, foi sem dúvida pai quis levá-la à força. Ele entrou em minha casa com a espa-
aquela da senhorita Paradis. Eu lhe restitui a visão. Milhares da em punho como um arrebatado. Esse furioso foi desarma-
de testemunhas, dentre as quais vários médicos, inclusive o do, mas a mãe e a filha cafram desmaiadas a meus pés. A pri-
senhor Stoérck, acompanhado do segundo presidente da Fa- “meira de raiva, a segunda por ter a cabeça batida contra a
culdade e à testa de uma deputação dessa entidade, vieram muralha pela bárbara mãe. Livrei-me deles algumas horas de-
usufruir desse espetáculo e render homenagem à verdade. pois, mas fiquei muito inquieto pela sorte da senhorita Para-
O pai da senhorita Paradis comprometeu-se a transmitir dis. As convulsões, os vômitos e os furores se renovariam a
seu reconhecimento a toda a Europa, consignando publica- cada instante: ela retornou à sua primitiva cegueira. Eu temia
mente em jornais os detalhes mais interessantes dessa cura. por sua vida ou pelo menos pelo estado do cérebro. Eu não
Pode-se ler seu relatório, traduzido do alemão, na minha Me- pensava em vingança, recurso que a lei me oferecia, eu não
mória sobre a descoberta do magnetismo animal. ”
Pareceria impossível contestar um fato tão inusitado. No
entanto, o senhor Barth, professor de anatomia dos olhos e ci- 80 Nota de Mesmer: Não é suficiente restabelecer 0 órgão dos cegos
de
rurgião de catarata, encarregou-se com sucesso de fazê-lo pas- “nascença e cuidar de sua sensibilidade: é preciso ainda familiarizá-los
com a idéia que a causa de sua sensação é externa, com a ausência,
sar por uma suposição. Após haver reconhecido por duas vezes a pre-
“sença e a gradação da luz, com a diferença das cores e das formas, o afas-
perante mim que a senhorita Paradis gozava da faculdade de “tamento e a aproximação dos objetos, a estreita aliança da vista cem o
ver, ele não ousou atestar perante o público que ela enxergava. tato etc. Todas essas aquisições nós as fazemos automaticamente todas
Ele falava atrevidamente sem estar seguro de si e deu por pro”; “na infância, o que nos impede de refletir, c omo consequênêcia,
nci sobre su:
excessivas dificuldades. q ' º
256 PRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 357
20,54 cadeia cofre um declino de atividade e influência, mas cont Eirendida aos meus desejos. Felizmente meus gritos perdiam-se
o Soto atividades, com outras missões, até hoje.
358
360 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 36 1
dos epLos e
a
guei estranho sua indiferença por uma questão que tratava da xar a coisa para um outro dia. “Os espíritos, senhor, pare-
saúde do Povo. cem-me indispostos hoje”, eu lhe disse. “Faltou atenção
para
O senhor Le Roi me ofereceu sua mediação frente à sua cor com 9 senhor, e não é difícil presumir que faltará ainda mais
poração se eu me sujeitasse a fazer uma segunda tentativa. Eu lhe para um estrangeiro como eu. De qualquer modo, desejo
não
remeti as asserções relativas ao meu sistema, e combinamos estar presente nessa leitura.” Eu teria saído se o senhor Le
Roi
quanto ao dia em que iria à Academia para dar meu testemunho. não houvesse insistido.
Fui pontual e cheguei em boa hora para ver se formar uma. A assembléia terminou como havia começado: os mem-
assembléia da Academia de Ciências de Paris. bros desfilaram sucessivamente. Não restou mais do que uma
À medida que os acadêmicos chegavam, estabeleciam se dúzia de pessoas das quais o senhor Le Roi despertou suficie
n-
os comitês particulares, nos quais, sem dúvida, eram tratadas temente a curiosidade, e para as quais me pressionou para
fa-
questões sábias. Eu supunha com convicção que quando a e zer experiências,
sembléia fosse suficientemente numerosa para ser considera Que infantilidade a de me pedir experiências antes de se
completa, a atenção, esparsa até aquele momento, iria se fixar pôr a par do assunto. Eu teria providenciado o necessário se
num único assunto. Enganei-me: cada um continuou sua cr soubesse antecipadamente. Desculpei-me habilmente, dizen-
versação. Quando o senhor Le Roi quis falar, reclamou int Hr do que o local não era conveniente. Mas, não tão habilmente,
mente por atenção e por silêncio, que não lhe conce eram deixei-me levar, sem saber me defender, à casa do senhor Le
perseverança neste pedido foi mesmo energicamente solici ada Roi, onde o senhor A***, sujeito a ataques de asma, queria
se
por um seu confrade, impaciente, que lhe assegurou que não prestar aos meus ensaios.
seriam atendidos nem um nem o outro, acrescentando que fez O senhor A*** estava numa poltrona. Eu estava em pé
bem o mestre em deixar a memória que ele leria sobre a secre- diante dele, e o segurava pelas mãos. À alguma distância, atrás
tária, onde dela poderia tomar conhecimento quem odesejas de mim, postava-se desatento o restante do grupo.
se. O senhor Le Roi não ficou feliz com o anuncio de um segundo Interroguei o senhor A*** sobre a natureza das sensações
assunto. Um segundo confrade lhe sugeriu cavalheirescamente que eu lhe causava. Ele não teve nenhuma dificuldade em me
passar para um assunto menos controvertido pela razão Pe responder que sentia repuxões nos seus pulsos e corren
tes de
remptória de que este o enfadava. Enfim, um terceiro assunto matéria sutil nos braços, mas, quando os confrades lhe fizeram
foi bruscamente taxado de charlatanismo por um terceiro com ironicamente a mesma pergunta, ele não ousou responder
a
frade, que achou melhor suspender a conversação particular, não ser balbuciando, e de modo equívoco. Eu não via mais pro-
rapidamente, para dar essa decisão circunspeta. pósito em estar ali. Voltei-me para o senhor A*** durante
um
Felizmente não fui questionado em tudo isso. Perdi o fio - dos seus ataque
q s de asma: a tosse foi violenta. O q que você tem
da ciência, e refletindo sobre a espécie de veneração que sem- então, perguntaram os confrades com ar de pouco caso? Não
é
pre tive pela Academia de Ciências de Paris, conclui que seria nada, replicou o senhor A***, é que tusso, é minha asma, te-
essencial para certas coisas só serem vistas apenas em perspec-
tiva. Basta reverenciá-las de longe, pois que são pouca coisa
quando vistas de perto! | 90 Nota de Mesmer: Anunciei que enumeraria cada um por seu nome,
mas
a cena que descrevo é muito bizarra - não tenho como nomear
O senhor Le Roi tirou-me do devaneio ao anunciar que Será suficiente saber que estávamos em 10 ou 12 pessoas
os atores.
reunidas na
iria falar de mim. Opus-me vivamente, implorando para dei- casa do senhor Le Roi, todos acadêmicos, ou aspirantes a acadêmi
co.
Tendo me encontrado, na casa desse cavalheiro, com o se-
nhor Le Roi, lamentei-me amargamente da frieza com a qual
ste último me expôs, eu estrangeiro e sem apoio, à incivilida-
mid Peredite perceber de de seus confrades. Na minha justa indignação, eu iria a pon-
que o senhor A**++
após a saída de várias estava menos opri- “to de dizer que acreditava dever depositar pouca fé num ho-
t estemunhas, - Não: Não est
cais do que cinco, áestávamos mem que, após ter abraçado por sua própria vontade a causa
incluindo a senhora
: ciis a esses senhores
ó ere A**t Te Roi e eu da verdade, sustentou-a tão mal na ocasião.
uma prova de que no
stá Sujeito a pólos, as SSO OrganiÀsm :
A urbanidade francesa amenizou a amargura dessa con-
sim como eu havia ad
iantado Eles con
versa. Graças ao senhor Maillebois, fomos conduzidos, insen-
sivelmente, a não mais falar sobre o ocorrido. Quanto às ques-
tões relativas ao gênero, os efeitos e as consequências de
minha descoberta, ele lamentou não estar presente e poder
“amenizar os dissabores de que me queixava, e expôs o desejo
de ver as experiências que os confrades haviam desprezado.
Estas experiênci as tend Eu consenti em lhe dar essa satisfação.
munho formal e Tep j o bem con Statadas
o sid
etido do senhor A pelo teste- No dia indicado, os senhores de Maillebois e Le Roi foram
satisfeito, , podem crer ** * eume retirei bo
: da
da companhia co to à minha casa. O último estava acompanhado de sua mulher e
gradavelme nte perdido meu temp Í de um amigo. Eu tive o cuidado de reunir alguns doentes. Um
o, "7 4 qual havia desa
ca oPo :
es dias o. deles inchou e desinchou sob minhas mãos. Estas poucas pala-
depois la prestar meus deveres
à Sua excelên vras devem ser suficientes para fazer pensar que minhas expe-
, T Le Merci, do
Prevenido contra a solid. embaixa r . do Império.
éri E .
pério. Eu o havihavia riências foram satisfatórias.
instruíezo das experiênci as que acabei de ci-
tar. Ele havia sido instruíd O senhor Maillebois não achou subterfúgios. Ele se refe-
ã
não tendo sido teste munha, pelo senho r abade Font
falava segund 00se ntana, que riu com candura ao seu espanto, mas ao mesmo tempo decla-
que achei : pelo menos singular. nhor Le Roi, o ! rou que não prestaria contas à Academia sobre aquilo que viu,
kem TivDR oraçãoiã de enviar minhinh com a crença de que iriam fazer troça dele. O senhor Le Roi,
: asa asserções ao senh
» tenente-g
e-geieneral dos exéérc or conde tendo a mesma opinião, propôs-me pôr a verdade em evidên-
ro da Academia de Ciê rciitos do rei i e mem-
ncias. Elas faziam par cia pelo tratamento e pela cura de várias doenças.
te de uma me
Eu rejeitei esse meio como sendo inútil para convencer
pessoas a quem a ciência não dá a faculdade de apreciar pelo
raciocínio o mérito de experiências como as minhas. Comple-
- mentei ao excesso que, quando eu estava determinado a sair
———
91 Jean Baptiste FrançoSois
do local do meu nascimento em razão dos desgostos que me fi-
; Desmarets (] 682 zeram provar O tratamento feliz de doenças muito graves, não
De o -1762), cond
França, fio de Nicola i
s De
De; + Marquês de Maillebois, smaneto ambéo, pá foi para me expor alhures a desgostos da mesma espécie. Se
últimos sete anos de min i alguma vez as circunstâncias exigiriam de novo o sacrifício de
reinado (1643-] 5) de tao í q
Curante os meu repouso, eu o deveria à minha pátria de preferência a
370 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELAT
IVOS AO MAGNETISMO 37
qualquer outro país. Que estava nos meus projetos conhecer à Mas quando, por exemplo, desloco sob meu
dedo uma
França, a Inglaterra, a Holanda etc. e estabelecer re ões = dor fixa ocasionada por um incômodo qualq
uer, quando a
os sábios desses diversos lugares, de lhes provar a existência levo, segundo a minha vontade, do céreb
ro ao estômago, do
uma verdade física desconhecida e mesmo de apresentar aos estômago ao baixo ventre e reciprocamente do
ventre ao estô-
seus olhos a utilidade das experiências sem aparelho. Mas que mago e do estômago ao cérebro, nada mais há do
que a demên-
não me convinha me fixar, sem objetivo determinado, em p S cia consumada ou a má-fé mais insigne que
são atribuídas ao
estrangeiro, travar disputas inúteis, levantar os mé ss con autor de sensações semelhantes.
tra minha descoberta, até contra mim mesmo, mé cos que Transformo então em axioma incontestável
que todo sá-
desejam, em uma palavra, fazer-me conhecer nafísica e não na bio deve no prazo de uma hora estar tão
convencido da exis-
medicina, que eu deveria agir na física, até que as circunstã tência da minha descoberta quanto um
camponês das monta-
cias me permitissem fazer melhor. o nhas suíças possa estar após tratamentos
de vários meses.
Pretendi, várias vezes, atribuir vagamente à imaginação aque- Entretanto, ver-se-á que eu me engajei
em trat amentos
les meus efeitos que se desejava negar, mas para mim seria soa seguidos para convencer os sábios. Ficou esta
belecido que eu
dade pretender atribuir a ela os efeitos tal como oshavia Pro u- cuidaria apenas de doentes que previamente tives
se sua con-
zido. Essa lastimável objeção saiu da boca do senhor e Roi, dição constatada pelos médicos da Faculdad
e de Paris, a fim
Eu estava armado contra os arrazoados especiais da Per de que pudesse ser julgado o sucesso pela inspeção
das pes-
dência comum. As declarações tão repetidas em favor a u- soas, quando seus tratamentos tivessem
sido consumados.
manidade haviam perdido o direito de me seduzir: eu ava - Fielmente, segui esses acordos. Retirei-
me no mês de
mesmo resistido às solicitações da amizade, bem convencir o maio de 1778, com alguns doentes, para a
cidade de Creteil, a
"de que deveria ser mudo apenas para as considerações inde- duas léguas de Paris. Em 22 de agosto,
escrevi ao senhor Le
pendentes de todo interesse particular. No entanto, eu Roi uma carta.
soube me guardar contra um arrazoado pueril. Pego espreve.
nido, fui picado: perdi meus pontos de vista,e me eng je “Senhor Mesmer ao senhor le roi, diretor
como por desafio, e contra toda a espécie de razão, a empre da Academia de
Ciências de Paris
der o tratamento de um certo número de doentes.
“Creteil, 22 de Agosto de 1778.
Esta espécie de prova parecia ser inatacável; é um EO “Tive a honra, senhor, de informá-lo vária
Nada prova demonstrativamente que o médico ou a medicin s vezes em Pa-
tis, na sua qualidade de diretor da Academia
curam as doenças. Ver-se-á na sequência deste escrito com tismo animal. Alguns de seus confrades
, sobre o magne-
qual serenidade se fez uso deste arrazoado contra mim. Rapi- participaram comigo
“de conferências sobre esse princípio.
damente fui acusado de paradoxo.º? Sua existência pare-
ceu-lhe possível pelas provas que apresent
ei a seus olhos e aos
- deles. Eu lhe solicitei que minhas proposiç
ões sumárias fos-
-Sem comunicadas à Academia. Deixei
também com o senhor
“conde de Maillebois uma memória relat
92 Nota de Mesmer; De curandeiro me acusavam de todos os tados, e você | iva. Os senhores me
acreditará — nada é mais falso. Muito seguramente fiz curas em Paris. No ;
solicitaram, pareceu-me, um e outro, prova
s da sua existência
entanto, 3 ainda mais grave do que me acusar de curandeiro é supor qu é
que eu reunisse aquelas de utilidade. Realizei,
nenhuma cura existiu.
em conse-
3 72 FRANZ ANTON MES
MER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 373
quência, tratamentos de
vários doentes, que foram
cabo, para tanto, como con levados
senso na cidade de Cretei eza, ele não deveria ser perdido de vista, pois que caminha
moro já há quatro meses, l, em ques
para a posteridade com passo firme ao lado do senhor De Buf-
mb ora eu ignore ain
“E
A
:
i da, senhor, o modo de
,
on, para estar sentado num trono de maravilhas inconcebí-
cademia sobre min, has Pro ca pensar da: eis. Eu espero um momento no qual possa lhe perguntar com
posiçõ es, em pe nh o- me
dá-la, por sua mediação em convi “que direito ele disse à natureza que os limites do seu poder es-
e ao senhor também, par
', à constatar a utilidade ticularmen- “tão colocados aquém da carreira que eu afirmo vê-lo percorrer.
do magnetismo animal apl
denças mais inveteradas. icado às:
Seus tratamentos devem Acabei de relatar de modo exato e verdadeiro minhas re-
neste mês. Ouso esperar que ter minar
o senhor se digne a me transm lações com a Academia de Ciências de Paris. Entendo que
às intenções da Academia, ind itir acreditaram na impostura. Todas as vozes estão interessadas
icando-me o dia e a hora em
seus deputados irão me lou
var com sua visita, a fim
que -em depor contra mim. Não se levantou nenhum testemunho a
Poa preparar para rec de que me
ebê-los. É com sentim
entos e a mais
meu favor. Entretanto, só, contra todos, mesmo assim compa-
perteita consideração que receria com segurança diante de meus juizes. É ao público que
tenho à honra de ser ,
“Senho -
r apelo. Julgo que ele preferirá, acima de tudo, minha carta ao
“Vosso... etc.” senhor Le Roi. Ela certamente não foi escrita apenas porque
havia convenções anteriores. Resolvido este ponto, é evidente
o: Á Academia não julgou — que procurei a Academia de Ciências de Paris;
oportuno responder a ess
clato que se seguirá sob a carta. — que fiz experiências e tratei dos doentes para trabalhar
re minhas relações com a Soc
ieda- sua convicção;
- que ela não fez esforço para se convencer.
Nada mais peço.
de de apresentar minha car
ta à Academia, tendo sido a
interrompida pelos senhor leitu
es Auberton e Vicg d'Azyr
estavam formalmente con 3 e
tra se ocuparem de minha des
berta. Estes dois senhores eo.
são membros da Sociedade Rea
l de
| ferdadeiro ou falso, este
procedimento não me sur
eude parte do senhor Vicg dºA preen-
zyr. Mas não se passa o mes
-
cocitos e à glória de um ho
mem imortal, fiel companhei
canto elogiente, em que ro do
se honram à porfia a França
o
e a natu-
.
93 pato E dica BA ( e Sa), anatomista 94 Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon (1707-1788), naturalista fran-
lências em 1774. Médico francês. Eleito
de vári
cudê do reí 178 cês, com estudos em medicina e direito, Escreveu a Historie Naturelle
s ve
os trab
raalho
o s, [esp
espee cial
a mente em neurologia,a, foi
fói umum plo
Pionneo
eiro qo em 44 volumes e Les Epoques de la Nature. Por seus trabalhos, ficaria
de es-
conhecido como precursor da teoria da evolução do homem, antecipan-
do Darwin em um século.
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AQ MAGNETISMO 375
374
376 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 377
missários sob o pretexto de que eu não apresentava ando tratei com ela.º? Naquele momento, ela estava apenas
nem pó
nem licor, nem frasco, nem pacote. Ê endo concebida. Eu, por assim dizer, assisti à criação. O tra-
Não há necessidade nem de dissimular nem de olvidar: as: alho foi laborioso e o berço que a recebeu resistiu com sofri-
dificuldades entre eu e os sábios provieram do fato de eu m ento às tempestades que a assolaram. À Facudade de Medi-
contentar em invocar seu testemunho, pedindo-lhes aperias cina de Paris, que monopolizava a teoria, a prática e o ensino
que constatassem e confessassem a existência e à realidade da medicina, opôs-se vivamente a que se dividissem essas suas
dê
minha descoberta. Mas eles desejavam ser os árbitros, os juízes; funções, sustentando que, eram feitas para se ampararem e se
os dispensadores. Seu tribunal é tudo, e a verdade não lhes enobrecerem mutuamente. Ela entendia que seria inútil ou,
é:
nada se não podem obter vantagens para sua glória ou sua fortu melhor dizendo, até perigoso criar na medicina uma Academia
na. Que pereça a humanidade antes de suas pretensões. de palavras e de escritos sem a necessária ação prática. O efei-
Eles devem reconhecer que no fundo eu não tenho outrô to infalível seria o de aviltar progressivamente a prática e ainda
alvo senão aquele que eles próprios propõem. A qualquer go- . mais O ensinamento, levando, além disso, os encorajamentos,
verno que eu remeta minha descoberta, não a guardará certa: as distinções, as recompensas e as prerrogativas. Tal era o ful-
mente para si apenas: ele a divulgará — mas este rumo não lhes cro da discussão que, aliás, não mais me compete. O processo
convém. Eles me tratam com desprezo porque eu desejo que foi julgado em favor da Sociedade: ela adquiriu autoridade, e
se exija deles alguma sabedoria na administração da verdade hoje está evidente que a Faculdade não se reerguerá jamais do
Dir-se-á, segundo seu ponto de vista, que a ordem e
a ciência
golpe que deve em seguida lançá-la a uma depreciação absolu-
não podem conviver juntas. E verdadeiramente, no estado ta. Ela, os seus membros, suas escolas e seus alunos.
atual das coisas, é tentador acreditar que eles têm razão. Entretanto, tratava-se de por a opinião pública do seu
Aos olhos da Sociedade, a pretensa recusa de que me acu- lado: era necessário fazer um nome no mundo, porque, não
sam não é meu único crime. Porém, não tenho culpa das cir- menosprezando o público, poderia tê-lo ao seu lado. A Socie-
cunstâncias. Não somente recusei uma comissão, mas
o fiz
dade Real de Medicina apóia integralmente toda divulgação
num momento inoportuno, num momento em que estão
com
que possa favorecê-la.
as vistas sobre mim. É preciso que eu entre em detalhes sobre Pressionada a estar pronta a se pronunciar diante de qual-
esse assunto para que se possa perceber a maneira com que quer espécie de novidade, a Sociedade resolveu lançar seus
essa corporação se conduziu em todo esse caso. olhos sobre mim. Ela me apresentou para que eu beijasse o ce-
À Sociedade Real de Medicina de Paris não era apenas um tro que estava estendido para o charlatanismo. Mas eu não me
estabelecimento novo, na verdade, não era nem nascida inclinei: esta foi minha desgraça. Pode ser, entretanto, que as
coisas fossem arranjadas amigavelmente se o categórico secre-
tário perpétuo dessa corporação não houvesse rompido sem
96 Em 29 de abril de 1776, uma reunião do Conselho de Estado criou
“uma comissão de medicina em Paris para corresponder-se com
cuidado as medidas protetoras dos seus confrades flexíveis.
os mé-
dicos de província, para tudo o que pode ser relativo às doenças
epidê-
micas”. Nesse mesmo ano, a comissão, por iniciativa de Lassone
e Vicq
de Azyr, e com o apoio do rei, tornou-se a Socideda Real de Medicina 97 Nota de Mesmer: Havia já quatro meses que eu tratava com a Socieda-
.
Ela começou a funcionar provisoriamente, até seu registro oficial de quando ela obteve as cartas patentes do mês de agosto de 1778, título
pelo
Parlamento, de acordo com cartas patentes de agosto, publicadas de sua criação. Seria longo e inútil dizer que espécie de existência ela ex-
em se-
tembro de 1778. preimentou anteriormente,
378 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 379
é
A seguência dos fatos vai mostrar se minha presunção um remédio do que constatar a existência de uma verdade fí-
ou não é verossímil. sica; em segundo lugar, que estando ligado pela palavra a ela
eu estaria agindo mal faltando aos meus compromissos. Além
Ainda quando eu me encontrava em Viena, fui informado
efeitos do mais, não percebendo na concorrência da Sociedade nada
pelos jornais e os folhetins a respeito dos maravilhosos
da eletricidade administrada pelo senhor Mauduyt* sobre as
de desagradável para a Academia, eu propunha a esses senho-
doenças reconhecidas como graves. Desde minha chegada a
res seguir e constatar as mesmas experiências.
Paris, apressei-me em fazer uma visita a este médico. Às ins- Aceito o oferecimento, esses senhores me propuseram de
peções de seus doentes reunidos até aquele momento, e por sua parte uma de suas comissões. Eu perguntei do que se tratava
ele
meio de seu próprio relato, desiludiram-me. Soube por e, quando me foi explicado, não mais quis ouvir falar. Eu me
mesmo que não havia podido citar nenhuma cura. Por outro expressei várias vezes sobre isso tão claramente, e com tanta
lado, ele me testemunhou o desejo de ver a ação do magnetis- precisão, que para atingir os meios de superar este obstáculo fo-
mo animal sobre alguns de seus doentes. Assim aproximei-me ram feitas duas assembléias particulares, às quais assisti.
de uma mulher paralítica dos braços e de um homem que ha- Concordamos enfim que seguiríamos os mesmos trâmites
via perdido o tato em ambas as mãos. Eles provaram por seus - que a Academia de Ciências, isto é, que me engajaria à Socie-
e
testemunhos as sensações extraordinárias experimentadas, dade, assim que estivesse engajado à Academia, cuidando de
que lhes eram desconhecidas por meio da eletricidade. O se- doentes cujo estado tenha sido previamente constatado pelos
nhor Mauduyt testemunhou sua admiração, e eu me retirei médicos da Faculdade de Paris, de modo a julgar os sucessos
após haver recebido dele honestas particularidades. “porinspeção das pessoas após o término de seus tratamentos.
Depois desse dia, recebi sucessivamente a visita dos se- e Ficou bem estabelecido que não seria envolvido direta ou
to-
nhores Mauduyt, Andry e Desperrieres e o abade Teffier, indiretamente nenhum médico da Faculdade neste caso. Mas
dos membros da Sociedade Real de Medici na. esta cláusula, após um debate adequado, tendo sido conside-
cor- rada inadmissível, eu prometi apresentar sucessivamente à
Como eu ignorava a existência e a constituição dessa
poração, esses senhores se propuseram a me esclarecer. Sociedade cada doente de que deveria tratar a fim de que ela
Instruídos de que eu estava comprometido com a Academia pudesse se assegurar da solidez e da veracidade das consultas.
de Ciências para tratar de doentes, eles me objetaram que a Consenti ainda em remeter antes os relatórios, consultas
inspeção dos remédios novos era atribuição da Sociedade Real e atestados dos médicos da Faculdade para a Sociedade.
e que eu deveria me associar a ela. De acordo com essas convenções, fiz apresentar a senho-
Não argumentei contra essa pretensão, mas observei, em rita L***, por sua mãe, aos senhores Mauduyt e Andry. Essa
a" nar sz
primeiro lugar, que o testemunho da Academia era suficiente jovem era epiléptica e seus acessos repetiam-se tão freguente-
para a questão proposta, e que se tratava menos de conhece inente que ela teve vários na presença desses dois médicos.
Entretanto, eles não julgaram seus conhecimentos suficientes
ara constatar essa doença. Apenas o senhor Mauduyt preten-
98 O médico Pierre Jean Claude Mauduyt de la Varenne (1732-1792) f que com sua eletricidade poderia constatar se a jovem de-
finali
um dos primeiros franceses a pesquisar O uso da eletricidade com E sempenhava um papel fictício. Ele achava melhor constatar o
dades terapêuticas. Criou diversos instrum entos para aplicação . Escr
stre to do que apenas dizer. À proposta pareceu dura e aflitiva à
veu a obra Memoire sur les differentes manieres d'admini
Velectricite. Paris: Impr. Royale, 1786. jãe. Ela ofereceu as consultas feitas a vários médicos e cirur-
380 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 381
Eiões € mesmo o testemunh
o do Carrasco, a quem, no
spero, havia confiado a saú seu de penas 12 dias com alguns doentes na cidade de Creteil quan-
de de sua filha. Tudo foi
igual do tomei conhecimento por uma via muito deturpada sobre a
chegada próxima de uma comissão da Sociedade Real. Isso foi
o denhor fordeu não mais podia ter espalhado rumorosamente pela minha casa por um lacaio que
: o.
autoridade: ele estava havia ouvido de um dos comissários nomeados. Ele veio até a
o senhor Varnier, médico
de Vitri-le-François não
passava de um desconhecido. mim e, embora a coisa me parecesse inconcebível por si mes-
Os senhores Didier pai
e ima, os detalhes estavam tão evidentes que encarreguei a pes-
rouu-m
- e em lág
ápririmas. Eu a console i enc soa com quem me correspondia em Paris de lembrar a esses
lha, sem me preocupar arregando-me de sua fi. | : senhores os nossos acordos mútuos, assim como minha recusa
com os incômodos que
eu previa muito formal e insistente quanto à presença de uma comissão.
Meus desejos aceitos, dirigi-me a Paris e testermunhei aos
senhores Andry e Desperrieres minha surpresa sobre seu pro-
“cedimento irregular. Este último respondeu-me que a comissão
99 ora de Opamer: A mãe da “havia sido determinada por causa de uma demanda feita em
senh
meqicas OI ietar-seá, sem dúvi orita L*** Ocupa-se com prendas do-
da, que um testemunho desta ord - meu nome. Disse-lhe a meu turno que se eu tivesse mudado de
do erssível. U respondo a isso dizendo que em não
pão éun é precisamente porque ela idéia não teria confiado a ninguém para instruir a Sociedade,
io que suas palavras São prov
à Simplesmente o que não sabe as em favor das ciências. Ela
con- que de minha parte eu não daria fé a uma mudança tão súbita,
ria inventar. Por outro lado, ainda mais de parte dele, que conhecia perfeitamente bem mi-
as informa-
nhas intenções. Enfim, para fechar a questão, eu desautorizei
car essa parcativa em dúvi formalmente todas as conversações feitas em meu nome.100
da. O senhor d'Eslon faz
aa E na pigina 2 de menção à cura da se-
suas Observações sobre o magnetism Esta linguagem perturbou o senhor Desperrieres, e o fez
. Publicação de seu livro, haviam-nos ass egu
o ani
havia recafdo num estado pior rado
que a j jovem sair de sua moderação habitual. Ele pôs fim à conversação, as-
do que o anterior. Isso seria
possível enós segurando-me que não havia interesse nem nos meus trata-
mentos nem na minha descoberta, nem em mim e que, além
una quando, ao entrar em minh do mais, eu encontraria em minha casa a resposta da Socieda-
gu tem po Rpenhorita a casa, vi que lá me esperava já há
a si companhia de sua al. de. Efetivamente, de volta ao campo, recebi a seguinte carta à
mãe? O ar saudável e 3
a mé confundiram: cus
guns instantes. Finalmen a acrec
te litarie ficiuei qual junto minha resposta.
te explique
queii as causas do meu p
sabendo que a mãe, a proveita espaint a i
j ndo sua estada no cam:
filha num convento. Crises po, havi
a ai col
oro
muito vivas alarmaram as relig
iosas Eu
- “Senhor Vic d'Azyr, secretário perpétuo da Sociedade
Era mente, a doença foi se exti
Real de Medicina de Paris, ao senhor Mesmer
nguindo, não restando senão “Paris, 6 de Maio de 1778
sa do mal e o sentimento de um uma lem-
reconhecimento que amãe ea
filha
lha para constatar sua doença, que eles viram bem que a jové
t,
executava movimentos convulsivos; mas que esses sinais. Fipétuo da Sociedade Real de Medicina de Po
Rd.
secretário
rentes eram insuficientes para motivar sua atenção. Tomei
384 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 385
101 Nota de Mesmer: Não vim para a França para me erigir em Áristarco
[crítico severo] da legislação. No entanto, não escrevo unicamente para
os franceses. Posso dizer como vejo com pesar que já está estabelecido,
em alguns Estados vizinhos, sociedades de medicina à semelhança da de
Paris. Só posso exortar as pessoas que tenham o mesmo projeto para ou-
tros lugares, a bem refletir antes da execução.
386 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 387
que falo ela não es- farsa para me ajudar a enganar o público em matéria tão deli
Já citei a senhorita L*** . Na época de a surpreen- cada. Veja-se o início do relatório que me deixou o senhor cão
tava curada. No entanto, estava aliviada de modo
exame desta importâm valheiro de Haussay: A justiça que eu devo à verdade me faz
der todo examinador digno de um
a três outros de pessoas tornar público em detalhe circunstanciado etc. Aquele que se
cia 102 A este exemplo eu acrescentari
s as três em Creteil de expressa assim, contra sua consciência, não seria
mais conhecidas!º3 de que tratei, toda um homem bem educado?
pel E
maio até agosto de 1778. PES menos
minha casa, im-
A senhora Malmaison apresentou-se em
des Tedita-se poder invalidar as conseguências iminentes
reti rou-se andando curas argumentando contra sua solidez. Chega-se a di-
potente das partes inferiores do corpo. Ela , zer que os três doentes que acabei de citar estão no mesmo es-
livremente. tado, e mesmo num estado pior do que no passado.
conseguir condu-
A senhora de Berny via apenas para
n Se admitíssemos os fatos como verdadeiros"04
zir-se. Ela me deixou lendo e escrevendo. , existiria
ve siva e contradição nessa maneira de raciocinar: evasiva por
ado em todas
O senhor cavalheiro de Haussay estava atac ocar-se em dúvida a solidez das curas apenas para evitar um
rfeita. Na idade de
as partes do corpo por uma paralisia impe
embriaguez. Eu O - tratamento sério da questão de sua existência; e contradição
40 anos, tinha a aparência da velhice e da quando se observa que a disputa sobre a solidez supõe neces-
cidade.
pus a andar direito, sem apoio e com viva - Sariamente a existência das curas que se lhe nega
dessas doen-
Para se fazer uma justa idéia da complicação Enquanto os sábios fizerem voto de uma tal incoerência
detalhes nos relatórios que
ças e das suas curas, é preciso ler os das
Os sintomas | de idéias, será impossível entendê-los ou segui-los
me deixaram os três doentes, e comparar s tomariam : - Reportemo-nos a arrazoados mais sólidos, atribuindo por
doenças com os sintomas das curas. Estas peça
a seguir a estes escritos alguns instantes às cabeças acadêmicas e societárias um pou
muito espaço aqui. Serão encontradas
ros 1,2€e3. menos de agilidade e um pouco mais de amor do que eles éêm
sob a forma de peças justificativas núme
ados dentre outros.. é Da a ponhamos que, em consequência de nossa
Foram impressos apenas estes certific , as corporações se tivessem mudado para a
as e sem exame!
Qual! Sempre o odioso julgamento sem prov cidade
cid; de Creteil1 para se comportarem com a digni
aque les que lhes de- dignidad. e
Sempre esse desonesto ataque gra ito verdade das quais deveriam ser zelosas.
Que pensar dos se- ce
ram dedicação ao menos tanto quanto EU.
lheiro du Haussay Os deputados, pessoas bem elevadas, não teriam certa-
nhores de la Malmaison, de Berny e do cava mente aderido à pretensão de dizer ou de fazer gentilezas.
hum interesse, uma
se todos os três tivessem feito, sem nen
104 —
Nota de Mesmer: Como se vê, passo por cima dessa alegação. Entretan-
me fez suprimir o nome das
102 Nota de Mesmer: O gênero da doença o não estou convencido da sua veracidade. No ano passado, entendi po
ce segurar muito positivamente que a senhora Malmaison não anda
.. ,
nhorita L***.
”
394
396 FRANZ ANTON Mi ESMI
ER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS ADO MAGNETISMO 397
406 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
407
lhes pareceu, segundo as regras da medicina, mais impressio- nasse de uma ou de outra maneira. Por seu lado, ele me pres-
nante do que aqueles do pé, mas só isso. sionou a agir para com seus confrades tão abertamente quanto
Uma senhorita jovem estava quase cega, tendo também eu agia com ele. Eis do que se tratava.
glândulas no seio. Seis semanas após sua entrada em minha A entrada ao salão onde estão os meus doentes é interdita
casa, ela via perfeitamente. O que disseram os doutores?: a toda pessoa inútil. Tanto eles quanto eu não devemos sofrer
Convenhamos que ela via, mas não era tão evidente que ela nem com incômodo pedante, nem com curiosos indiscretos,
não havia nunca enxergado. Ninguém se encontrava nos seus. nem com gargalhadas incivis.
olhos para assegurar que não se tratava de uma farsa. Essa im- O convívio do senhor d'Eslon conosco era natural: todos
pertinência me foi dita quase que dessa maneira. os dias ele me dava testemunhos inequívocos de sua obriga-
Um militar obstruído a ponto de não pensar senão na ção. Além de ser o médico de alguns de meus doentes, era
morte, segundo sua expressão, e então não pensava senão na também amigo de muitos. Trouxe para tratamento o maior
vida após um mês. O que os médicos concluíram?: Na realida- número de pacientes para a clínica, depois de mim, e não ces-
de, foi vista uma mudança real, e as evacuações pareceram es- sava de se comportar frente a todos com a familiaridade
pantosas, mas não seria preciso, para operar tais efeitos, mais
ho-
- nesta e graduada da verdadeira civilidade.
do que uma revolução da qual a natureza por si só seria capaz. Não se passava o mesmo com os senhores Bertrand, Mal-
Uma jovem dessecada pelas escrófulas já havia perdido um - Joêt e Sollier: não havia ditos agradáveis que os não irritas
se e
olho, o outro estava atacado por uma hérnia e coberto de úlceras. desagradasse. Sua importante gravidade era ridícula, e suas
Seis semanas após, essa pessoa havia adquirido carne, via perfei- suspeitas injuriosas, do mesmo modo que seus questionamen-
tamente de seu olho claro e os tumores escrofulosos haviam di- tos, eram chocantes, e seus olhares incomodativos. Juntando
minuído consideravelmente.: Onde está a prova que a natureza à
essas considerações sumárias a prevista inutilidade de seus
foi ajudada em tudo isso pelo magnetismo animal? Existem tan- - exames, será que vários doentes deviam achar desagradável
tos recursos na idade desta jovem, concluíram os doutores. sujeitar-se a eles. !22
Eu poderia citar uma série de casos parecidos, mas cada
exemplo me obrigaria a atribuir aos meus trêsAristarcos!20 as cé-
lebres palavras do salmista: Oculos habent et non videbunt."1 - 122 Nota de Mesmer: O senhor conde de La-Touche Treville, tenen-
te-general das armadas do rei, e comandante da Ordem Militar
Estas fatigantes cenas foram repetidas a cada 15 dias duran- de São
Luís, tendo-me autorizado várias vezes citá-lo quando eu achasse
te sete meses consecutivos. Neste longo intervalo, eu fui muitas conve-
niente, agora farei uso de sua permissão para dar um exempl
o das com-
vezes testemunha dos inúteis incômodos a que se submeteu o se- placências com as quais meus doentes têm se submetido para conven
cer
nhor d'Eslon para fazer com que seus confrades compreendes- os senhores Bertrand, Malloêt e Sollier. O senhor d'Eslon referiu
-se à
sem que deviam à verdade uma homenagem desinteressada. doença desse'oficial nas suas Observações sobre o magnetismo animal,
p.
83 e seguintes, sob o título Contragolpe à cabeça. Pode-se recorre
Eu não estava satisfeito: pedi seriamente ao senhor: r ao
seu livro para os detalhes. É suficiente referir-se aqui que o golpe
era iá
e AmtBo, Que Os remédios utilizados não
|. 4 4 s1 . a
doutor na Faculdade de Medicina de Paris para saber julgar Terceira Experiência - feita na senhorita de Berla
tais coisas. ncourt
de Beauvais, 24 anos de idade, paralítica da meta
de do corpo.
Além dos três doentes que serviram às experiências, Um de seus olhos havia perdido a faculdade de ver,
0 outro es-
tomo por testemunhas da cena que vou descrever vários de tava muito dolorido. Ela tornava-se totalmente cega
meus doentes comuns: senhor Didier, filho, cirurgião conhe- por aces-
sos. As articulações da língua estavam tão comprome
tidas que
cido nesta capital; senhor Demanne, seu aluno; e senhor cava- somente as pessoas acostumadas a seu serviço
podiam adivi-
lheiro de Crussol, capitão das guardas do conde d'Artois, ir- nhar algumas de suas intenções: ela estava muda
mão do rei. para o resto
do mundo, ninguém a entendia. Esta situação era
excessiva-
mente agravada por uma dor na fronte tão terrív
Primeira Experiência — feita no senhor barão D' Andelau, el que essa in-
feliz senhorita esteve algumas vezes por 10 a 12
coronel comandante do Regimento de Nassau-Sarbruck. Ele é dias inteiros
num estado de infelicidade inexprimível. Algumas
frequentemente atormentado por ataques de asma. Eu anun- vezes os
acentos lamentosos de sua voz fizeram com que saíss
ciei que não o tocaria, a fim de provar que o tato imediato não em lágri-
mas dos olhos de vários de meus doentes, test
é necessário à ação do magnetismo anirnal. Fiquei distante de emunhas de
seus sofrimentos. Dirigi meu ferro para sua fronte
quatro a cinco passos, dirigi a vara de ferro!?4 que tinha em . A dor que
ela sentiu foi imediata: eu a deixei acalmar-se. No
mãos para seu peito e assim lhe fiz cessar a respiração. Ele te- intervalo,
ofereci-me para provar que o foco do mal não estav
ria caído desfalecido se eu não o tivesse amparado. Em acrés- a na cabe-
ça, mas sim nos hipocôndrios.!28 Em consegiiência,
cimo, ele assegurou sentir tão distintamente as correntes dirigi meu
“ferro para o hipocôndrio direito: a dor foi mais
opostas que operaram em si que começou a desenhar, com os súbita e mais
viva do que da primeira vez. Deixei que a doente
olhos fechados, cada movimento do meu ferro. Esta última se acalmasse
e, prognosticando que o verdadeiro princípio do
experiência de fato aconteceu, mas se lhe deu pouca atenção. | mal está no
baço, anunciei que se iria perceber a diferença dos
efeitos da
Segunda Experiência -- feita no senhor Verdun, homem minha ação. Apenas dirigi meu ferro para a víscera,
a senhorita
de negócios da senhora de Petineau, residindo em Paris, rua; de Berlancourt oscilou e caiu, com seus membros
palpitantes,
Richelieu, e no palácio real. Sua sorte é assaz deplorável. Ele é e dores excessivas. Eu a fiz transportar em segui
da, julgando
não ser oportuno levar mais longe a experiênci
sujeito a doenças nervosas, que começam por inflamação e. a, já que mais
terminam apenas com evacuações tardias. Estava saindo de. de um leitor me acusaria, talvez, de barbárie12?
.
uma dessas doenças. A direção do meu ferro lhe ocasionou :
tremores, calor no rosto, sufocação, suor e desfalecimento 126 Hipocôndrios é um termo da anatomia humana
que compreende cada
Em seguida caiu sobre um canapé.!25 uma das partes laterais do abdome, logo abaixo das falsas
costelas.
127 Nota de Mesmer: A senhorita de Berlancourt
me havia sido enviada
pelo senhor Didier, filho, sob o patrocínio do senhor
d'Eslon, que eu dis-
se ter estado presente em minhas experiências.
124 Mesmer fazia uso de uma vareta de ferro para direcionar a intenção Após essa época, à se.
Torta ce -BEriMCONNE SER ii meus tratamentos. Nada lembra hoje a
E ALT a D
ação do magnetismo animal. Esse instrumento tinha o mesmo significa:
do que a baquet (tina). Cumpria também a função de evitar o toque « pessoa infeliz que conheci: ela vê, fala e age com uma
vivacidade que vai
algumas vezes a ponto de nos alarmar, e que pensei
reto das mãos do magnetizador nos pacientes, mais especificamente as mesmo lhe ser fu-
nesta. Querida de todos nós, eu não a vejo senão como
mulheres, devido ao pudor da época. a uma pessoa à
“qualtive o prazer inexprimível de haver dado a vida
125 Espécie de sofá com a estrutura de madeira aparente. (guso me servir des-
sa expressão), cujo objetivo é o mais digno. Se as
circunstâncias me per-
+12 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 413
por nada dizer a mais. Tenho destreza, tenho artifício, montei O senhor Paulet possui mais celebridade do que o senhor
d'Horne em medicina. Sabe-se, por tradição, que ele é autor
um teatro, faço meus exercícios, saio-me maravilhosamente
de um livro sobre a pequena varíola, e, além disso, é gazeteiro.
neste tipo de esgrima, sou um taumaturgo, meu vôo é auda-
cioso, sou um Prometeu, sou, enfim o operador Mesmer. Ele tomou conhecimento na sua gazeta da carta do senhor
d'Horne, e do livro do senhor d'Eslon. Ele censurou o primei-
Às pessoas que asseguram ter sentido por meus procedi-
ro por sua pretensão a arrazoar, evita cuidadosamente esta crí-
mentos impressões remarcáveis, o senhor d'Horne opõe habil- tica, faz historietas, cita versos, refere-se a canções. É a isto
mente às pessoas que asseguram nada terem sentido, donde
que o senhor Paulet chama ser gracioso.
ele conclui que ninguém nada sentiu.
No entanto, como não dissimula que sua gazeta só pode
No seu modo de ver, eu tenho o grande defeito de insi-
ser lida pelos estudantes, ele retirou aquilo que se refere a
nuar (não sei onde) que o princípio pelo qual opero prodígios
mim, fez imprimi-lo à parte e distribuiu exemplares de porta
reside em mim, como se fosse possível, diz o senhor d'Horne,
em porta, e por esse meio, algumas pessoas honestas foram
que emanasse continuamente de mim um princípio tão peri-
forçadas a lê-lo.
goso e que, se assim fosse, seria evidente que eu já estaria des-
truído, evaporado, morto. Se o senhor Paulet é gazeteiro, o senhor bacher é Jornalis-
ta. Ele tomou conhecimento, pelo seu triste jornal, do livro de
Não seria demais repetir: é sempre o senhor d'Horne que
senhor d'Eslon e de mim. O caminho que ele seguiu não dife-
fala — toda minha arte, toda minha charlatanice consiste talvez
riu daquele do senhor Paulet em que o senhor Paulet simula o
em aproveitar habilmente meios que me proporcionam uma
gracejo, e o senhor Bacher a gravidade. Por outro lado, ambos
imaginação exaltada, afoita e iludida. Donde resulta, por uma
são adeptos de tornar nossas expressões ridículas aproximan-
consequência sensível, que a influência dos astros nada faz
do o que deve ser afastado, dividindo o que deve estar num
para o meu princípio, e que peço emprestado a virtude de cor-
conjunto, truncando o que deve ser lido por inteiro etc.
pos estranhos.
Entretanto, como seria inoportuno se minha descoberta
não passasse de uma quimera, o senhor d'Horne encarrega-se 132 Doutor Jean Jacques Paulet (1740-1826), diretor da Faculdade de Me-
dicina de Paris. Diretor da Gazette de Santé, Journal des sciences médi-
de consolar o mundo, predizendo ao universo a vinda muito cales, periódico sobre medicina que em 1784 teria a sua direção assumi-
próxima de um grande homem, senhor Thouvenel.!3! Grande da pelo doutor Philippe Pinel (1745-1826), médico pioneiro no
médico, grande químico, e, sobretudo grande alquimista, la- tratamento dos doentes mentais. As obras de Paulet contestavam o
borioso e instruído. O senhor Thouvenel vai descobrir não só magnetismo animal: "Les miracles de Mesmer”, extraits de la Gazette de
um magnetismo animal mas ainda um magnetismo vegetal. santé, suivi de Réponse d'un médecin de Paris sur le prétendu magnétis-
me animal; Réponse à l'auteur des "Doutes d'un provincial" [Servan],
“Tendo comentado muito sobre o senhor d'Horne, serei * proposés A“MM. les Médecins-commissaires, chargés par le roi de
breve em relação ao senhor Paulet.!32 - Vexamen du magnérisme animal. Londres, 1785. Obras anônimas atri-
: buidas ao autor: L'Antimagnétisme, ou Origine, progrês, décadence, re-
E nouvellement et réfutation du mapnétisme animal. Londre 84:.e
Mesmer justifié. Constance, et se trouve à Paris, chez les Libraires qui
131 Pierre Thouvenel (1747-1815), médico de Luís 16, foi autor de uma
vendent les nouveautés, 1784. Suas obras foram utilizadas, principal-
tese que desacreditava a descoberta de Mesmer afirmando que o mente no século 19, por muitos pesquisadores de Mesmer e do magne-
magnetismo animal seria um fenômeno originário da eletricidade e do - tismo animal, sem levar em consideração sua posição de inimigo declara-
magnetismo mineral, do do mesmerismo.
416 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 417
iênc
eriência muito comp licada.
i agradeço, se nhor Ba-.
Eu apr o efeitos que ele, fenômenos
menos surpreendentes aind
cher! Jamais eu poderia obter esses avais diretamente dos duma circunstância em que
se tenha estabelecido a cormuni-
a,
nhores Bertrand, Malloêt e Sollier. . eve às im cabilidade do princípio. É, Port
anto, presunção não absurda
is im 24 médicos fazendo cada um
A rapariga da província, esta jovem, tão susc com o senhor Mesmer, e a 480 Por sua vez parceria
as pe reprises diferentes, travessu-
essões do magnetismo animal, não é outra a “ras sob o nariz de uma pessoa
da qual fossem tapados os
Berlancourt da qual já falei. Não lhe peço desc pas :Po s olhos, encontrar-se-á alguém que operaria efeitos sufi
para que o senhor Mesmer não cientes
vel que apenas citando as expressões da má compa diatamente; o que seria sufi
pudesse ser reconhecido ime-
teja muito longe de delas me apropriar Ie Berianoute os riência, ou o que seria 0 mes
ciente para fazer falhar a expe
-
mo, para torná-la improvável
experiên cias feitas
jênci j com a senhorita de Ss inadmissívei. e
sentoçes Andelau, de Crussol e Verdun o aum é
co
çãoã dos doutores acontec eu naà terça-fei - ra sé Parecia que o sen
hor Malloét não tinha como
bado. A delibera
i responder a
teve lug esses argumentos tão positi
guininte. A assembl éia dos qua tro médicos teve l u g a : ndo vos. No entanto ele resistiu
assaltos.Salvando-se à sua a esses
senhor Malloêt e ele propôs a bela experiência cujos de maneira por meio de se, mas
que. O senhor d'Eslon pediu que e por-
estão acima. O senhor d'Eslon respondeu | Já sobre se votasse. O senhor Ber-
trand escusou-se, por seu lado
— que uma tal demanda nãoão p podia ser fundada sen sobre , protestando que estava sati
feito. O senhor Sollier, ao contrá s-
suspeitas as mais injuriosas para ele, para mim, pará o enter rio, Pôs-se ao lado do senhor
Malloêt, unicamente para estar
Didier, filho, para os doentes que haviam see o en com a mesma opinião do se-
nhorMalloêt, pois não dissimulava
restar às experiências; suspeitas desprovidas de sado resp sua convicção.
Após ter exposto todos os Seus
to e notadamente que havia cabido apenas aos senho determinou a agradecer
meios, o senhor d'Eslon se
trand , Mallogt e Sollier trazer cada um doentes dos qu ais se : à estes senhores de minha par
“São, sem dúvida, agradeciment te.
sentissem seguros; os com toda a veracidade da
expressão, disse o sen
hor Mallo&t muito surpreso.
ue supondo na senhorita Berlancourt a força necessária ria de outro modo, respondeu Eu não agi-
para se submeter ao lastimável papel que pretenciam qa o senhor d'Eslon, e saiu.”
Eis a versão que o senhor Bacher anu
desempenhasse, nãoã estava nada aparente e q qu dizendo que os três doutores se nciou em seu jornal,
outra pessoa sensível quisesse se submeter, retiraram. Eis a versão que eu
anunciei, afirmando que os três
ú nte dirigir-se
— que seria inútil e inconsegie irigi a doente s me- doutores foram despedidos
sem formalidade.
Í
nos sensíveis ou mercenários, porque eles iam
seram necessari
eres
ao se nhor Malloét, ele que
* Quem pôde ditar aos senhores
i
mente suspeitos Bertrand, Mallo&t e Sollier
sua inocência, sua inconcebível
cos nos senhores Andelau, de Crussol etc. conduta? Que interesse os
onduziu à minha casa unicament
Enfim, o senhor d'Eslon fez ao senhor Malloêt uma obje: e para fazer o voto de silên-
E mais ofensivo a mim e o mais nocivo à
ção sem réplica: a os£: GET, POT verdade? Se eles vi-
QUE não concordaram? Não
Não somente, ele lhe disse, sua experiência pão de por qual crença indigna eles imagi-
desiludiram o público ameu
o senhor sabe que não ão p pode e . O O se se espeito. Que não se alegue que
Mesmer
Mesmer ali
afirma, O sen hor or não
n ã o ignora,
i o r a , que q ue a
a exstêne
existênci | , na ocasião, eles me despreza-
à cabeceira de seus doentes,
agnetismo
i animal
í nos c orpos animadoso p mas isso só aconteceu perto
s grandes colegas, nas suas soc
indivíduos a capacidade momentânea de operar os me iedades particulares, nas as-
420 FRANZ ANTON MESMER
421
2? FRANZ ANTON MESMER
o A descoberta do ? magnmagne
eti tismo anim
i al deu lugar à publica-
ção de uma Memória, na qual é dito que a
natureza oferece
- um meieio universal de cura e de preserva
r os homens; que com
e c onhecime
esse j nto o médico
ico julga
j rá á seguramente sobre a ori-
Eeim, A tureza € Os progressos das doenças, mesmo as mais
plicadas; que ele impedirá o desenvolvimento, e proverá
sua cur a, sem jamai
j si expor o doente a efeitos perigosos ou
“quências
A
sequê ncias incô a
i modas, qualquer que sejaj sua idade, tempera-
ificam o
Ê
E
R
t
423
424 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 425
testemunho que dão seus confrades), ele começou a provo- . leito de um rio
a sensação di a Corpo treme, Sua respiração se torna
car o espanto do povo fazendo uso da eletricidade. Que, dia Falo do o estar com febre. Pierre ofegante e ele tem
Thouvenel, médico de Luís 16,0
aliás, dirigia mal. À seguir, fez uso de placas imantadas. Um mo animal é e eo escolheu para testar
as sua teorias sobre magnetis.
cirurgião de Viena, chamado Leroux, declarou-se seu desta- eram der o o jeou uma obra (Mmpire
Physique et médicinal mon-
cado discípulo sobre essas práticas extravagantes. E do mes- o, :
mo modo que o senhor d'Eslon, escreveu para anunciar as . ens entre
-di vVinatoire, du magnétisme les Phéromênes
phén de la ,
et de Vélectricité, avec des éclair.
sur d'autres objects non moins mei importa Paguetto
maravilhas do senhor Mesmer. Declarou que em primeiro
Paris: a u : , cissements
lugar Mesmer eliminou apenas algumas doenças como as dei: Didot Didot le jeune, portants, qui
11781). Neste livro, , Thouve y sont relazifs. Londres e
| quea dudição da medicina nelel def
afecções vaporosas e epilépticas. Em breve, seu império se magnética e a eletricidadeexp ende a
expandiu. Segundo o mesmo Leroux, Mesmer estava dispos- paes da Deo mência. Ele licariam Pd
conclui então, em sua obra
to a curar a metade dos males que afligem a humanidade. O Por Ba or gem nessa tradição e não , que o magnetis-
senhor d'Eslon enfim, para aumentar, publicou ousadamen- - , on
nas descobertas de Mesmer
arou que a vara não possuía nenhum pod
te que ele curaria todas as doenças. Mesmo aquelas que são -: er em gi
incuráveis.
uma assembléia de sábios, uma Faculdade de Medicina, escuté nhor d'Eslon, atesto aqui E i
que nem o A
friamente e com ar de aprovação, um tal conjunto de absurdo outra Paixão me impeli
ram a citá-lo ao seu tri
contraditórios, é preciso, acima de tudo, ficar de sobreaviso. mesmo dizer que não sou bunal Posso
seu único acusador, Se eu
vesse elevado à voz, mui
tos out
não ti-
ros de meus confrades
cumprido esse dever. E teriam
mesmo o senhor Pajou Dem
oncets já
436
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 437
“Sivamente às corporações.
E que os convidou a seguir
agente, que enfim ele recebeu s Com efeito, a Faculdade está muito atenta ao bem público,
a acolhida que sempre receh
ram os autores de qualquer desc por acreditar que jamais ela se prestará a favorecer essa de-
pete ainda à mesma
oberta. O senhor d'Esl e
Coisa, pápina manda. A que tem levado até o presente tudo que se tem fei-
Tentiicaram nenhuma dess 14] Esta, cenioorem
as corporações de sábios [O para Veríticar
pretens
às as panacéias de todos os chariatães
no mundo não se deixa de Mas e impostores? As infelizes experiências feitas com todos os
incluir a Faculdade. Porque
pare: remédios anunciados como específicos não provam que ao
menos durante o tempo dessas experiências se deve acredi-
Posições do senhor Mesmer tar nos charlatães que se dizem autores dessas composições
. O senhor d
que é preciso parar de visar
ao senhor Mesmer, miseráveis? Eles divulgam então que médicos sábios experi-
sário cativá-lo, 8 que cada mentaram seus remédios, mas, longe de dizerem que esses
dia se multiplicam nossos
contra a humanidade. Ele crimes médicos reconheceram sua insuficiência, eles divulgam ar-
também nos disse prima mens
que nós não sabemos o que is dilmente o contrário. E impossível desenganar o público nes-
perderemos se o senhor Mes
nos abandonar, Que ele, o mer. se momento.
senhor d'Eslon, estava enca
do de fazer de sua parte adi rrega- Além disso, a tentativa que fez o senhor d'Eslon é conse-
antamentos à Faculdade ã
ele desejava devotar todos val quência do que ele escreveu à pág. 145 onde faz com que o
os seus segredos. Mas dir sés
senhor d'Eslon: Per que o ao senhor Mesmer assim fale: seria absurdo querer me dar jut-
seu homem não deu parte
bela descoberta à Faculdade de su zes que nada entendem daquilo que pretendem julgar. É de
de Viena da qual era membro
Parece-me que é melhor enr ? discípulos e não de juízes o que necessito. Por esta frase, se-
iquecer sua pátria do que a
uma nhores, podem ver que ele exclui absolutamente os seus co-
missários, ou que tema pretensão audaciosa de querer fazer
discípulos.
sua fronte. Ao cabo de um mês, por virtude do magnetismo, so ler o relato do senhor d'Eslon: relato tão simples quanto o
as profecias mesmerianas se cumpriram e nada deixou a de-
do senhor de Vauzesmes é miserável.
sejar, nem mesmo a fronte descascada.
Reflexão do senhor d'Eslon, páginas 87 e 88. O senhor Observação, página 75: Paralisia com atrofia da coxa e da
Mesmer faz pouco caso de suas curas, ele se preocupa muito perna. À cura desta paralisia é sem dúvida das mais surpreen-
com sua satisfação. Agrada-lhe, como diz Moliere, tempera- dentes. Não havia calor natural nem movimento da coxa: as
mentos bem arruinados, massas de sangue bem viciadas. cadeiras estavam dessecadas e endurecidas: os ossos estavam
Para satisfazer seu coração e seu gênio, moribundos a aliviar, mais curtos e mais delgados do que aqueles do outro lado do
vitimas a arrancar do túmulo. corpo; e esta doente havia sido declarado incurável pelas es-
Eu creio, com efeito, que o senhor d'Eslon se apoderou “colas de cirurgia. Muito bem! Disse o senhor d'Eslon, as ca-
bastante dos gracejos de Moliere. Ele próprio os sentiu, por- deiras foram recompostas, os ossos engrossaram, os movi-
que se apresenta da graça ao ridículo que se lhe pode atri- mentos são livres, e o que há de mais singular, o pé esquerdo,
buir. Esta observação não precisa de outra resposta. antes mais curto, é atualmente o mais longo. O observador
concorda que o fato é incompreensível. Eu estou inteirmen-
Nota do senhor Mesmer: Esta observação que não precisa te de acordo. Para que se possa ter fé no senhor d'Eslon,
de resposta é o relato da cura do senhor conde de la Tou- creio ser indispensável que a Academia de Cirurgia, que se-
che-Treville, que já citei, mas creio ter feito pelo menos o su- gundo ele reconheceu essa doença como incurável, consta-
te-a hoje de novo, tal qual ela lhe fora apresentada, quando a
ficiente colocando-o frente a frente com os senhores Ber- julgou, e que ela ateste que a cura subsequente e os fenôme-
trand, Malloêt e Sollier. Não vejo mais a necessidade de nos que a acompanharam não são pontos equívocos e não
confrontá-lo com o Senhor de Vauzesmes. Ademais, se quise- possam ser contestados.
rem ter alguma idéia sobre esta cura, basta recorrer ao livro do
senhor d'Eslon, porque quando o senhor de Vauzesmes copia, Nota do senhor Mesmer: Nada mais desejo do que dar
ele o faz da imaginação. essa satisfação ao senhor de Vauzesmes, mas espero que pelo
seu lado ele possa esclarecer o caso dos quatro grandes rios da
Observação, página 57: Catarata no olho com úlcera e França, do Volga, do Niger, do Gânges e do Amazonas.
hérnia. A citada... tinha o olho esquerdo profundamente
afundado na órbita. O olho direito, ao contrário, estava caído Observação, página 47: Doença convulsiva. Uma jovem
na mesma proporção, e recoberto por uma catarata cinza é inconsciente, e em estado convulsivo desde há cinco dias, es-
espessa, À doente estava absolutamente cega. Após o exame, tava deitada de costas, e apoiava sobre seu leito apenas a ca-
o senhor Mesmer prometeu reacomodar os dois olhos e colo- beça e os calcanhares. O senhor d'Eslon, confessando, disse
cá-los em seus lugares, e o senhor d'Eslon assegura que ele ele, sua incapacidade, chamou o senhor Mesmer. Infeliz-
cumpriu a palavra, e que fez a doente ver claramente. mente, eram dez horas da noite. O senhor Mesmer disse que
Reflexão do senhor d'Eslon. Ouve cura? Não houve? necessitava de três a quatro horas para fazê-la sair desse esta-
Olhos são alguma coisa ou nada? do. Ele anunciou que o sentimento de humanidade cedeu à
Os olhos são sem dúvida, muito preciosos; mas quando necessidade, e adiou a operação para o dia seguinte. Enquan-
estão fundidos, como diz o senhor d'Eslon, há uma impossi- to isso, a doente, em cerca de dez horas, foi deixada a si mes-
bilidade física para seu restabelecimento, a menos que haja ma. Daf passou para a casa do senhor Mesmer, ande, segun-
OVA CIAÇÃO, É O SCAhOT Mesmer não chegou ainda a tal do O sénhor d Eslon, seu tratamento foi dos mais singulares,
ponto! dos mais aparentes e dos mais instrutivos.
Reflexão dolorosa do senhor d'Eslon, página 49. Se a na-
Nota do senhor Mesmer: Para sentir tudo o que há de las- tureza postergada para o dia seguinte pela necessidade teve a
timoso no que acaba de dizer o senhor de Vauzesmes, é preci- bondade de ficar à disposição do senhor Mesmer, é preciso
448
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 449
rurgião escreveu bem diferente do senhor dEslon pad sobre Outra contradição não menos
Britante, Na página 35 se lê:
t q
ue ele fez, ordem, clareza, se m pretensão no estilo Assim como a medicina é uma,
o remédio é um, e este remédio
: qem baixo nem gigantesco, Ele é sempre conseqiiente. Seas É o magnetismo animal. No enta
nto, à página 95 o senhor
Isa
curas que ele exaltou sãão falsas, como aquelas doo d'Eslon nos diz: O senhor Mesmer
admite a sangria e os vo-
d'Eslon, não são pelo menos ridículas e inverossímeis
Nota do senhor Mesmer: Não tenho o espárioo para com- rtaro quando
p lagiário do senhor Leroux, visa a obter uma evacuação, que
o o senhor d'Eslon,'
necessita de águas minerais, tam
crê necessária. Quando ele
senão
di a on
ão disse
ão ã o coisas
c o i ri idí culas e i
inveross ímeis,É , enquanto quec D'Eslon nos assegura sempre
bém as emprega, E o senhor
que a sangria, os banhos, gs vo-
este mesmo senhor Leroux é sempre consegúente, apesar g mitivos, os purgativos, as água
s minerais das quais se serv
dizer coisas falsas. A Faculdade de Medicina de Paris comp diariamente o senhor Mesmer,
não são remédios,
e
d'Eslon visa a enganar delicadamente todos os doentes, fazen- da medicina conhecida. Como
o senhor d'Eslon ousa falar dess
a maneira dos médicos?
do impor seu modo de pensar. Onde nesse momento ele Prov
a sua mais completa ignorân-
cia, ou ele nos insulta supondo-
nos a todos ignorantes do
mesmo modo!
456 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 457
que o Jornal de Paris, fazendo voto de imparcialidade a meu res- dade de Racine e Despreaux,
em que todo culpado, segund
peito, publicou a favor e contra mim. Para agradar ao senhor de certas regras, era condenado a o
ler os versos de Chapelain.
Vauzesmes, ele teria de aprovar apenas o que me é injurioso.
Estou engajado a dar alguns esc
Os senhores Mesmer e d'Eslon asseguram sempre que larecimentos sobre o trata-
mento do dito P***, citado
eles tiram o mal como com a mão — essa é sua expressão —; pelo senhor d'Eslon página
seguintes, e negado pelo senhor 62 e
que os remédios utilizados na medicina comum, se não são de Vauzesmes,
inúteis, ao menos são perigosos; que o magnetismo animal, O citado Charles Lecat, dito
Picard, criado do senhor ca-
quando bem empregado, em um único mês, por exemplo, valheiro de Servan, residente nas
por seu meio se obteriam 400 ou 500 evacuações; que o mag- Tulherias, pátio da Comédia
Francesa, era-me totalmente
netismo, disse, em lugar de enfraquecer dá forças e vigor. desconhecido. Cego, a ponto
não poder se conduzir, de
Não é essa a linguagem do charlatanismo e da sedução? Além foi levado à minha casa por um
do mais, se o tempo não lhe permite fazer na casa do senhor no, e me foi apresentado pelo sen saboia-
hor d'Eslon. Eu o toquei por
Mesmer um tratamento seguido, não há razão para se inquie- cinco ou seis minutos: saiu de
tar. Pode-se fazer apenas uma metade, ou apenas um terço seus olhos um humor seroso
quantidade considerável; o que em
ou um quarto, e finalmente, não importa o intervalo que se lhe restituiu subitamente a fa.
coloque entre estas partes do tratamento, sempre se obtém culdade de ver a ponto d € estar capacitad
casa sem condutor.
j o de volt
cura total. O autor da Gazera da Saúde (senhor Paulet) não º
teve razão de empregar apenas gracejos quando se deu conta pera sua
Este homem voltou no dia segu
de uma obra tão cheia de coisas tão ridículas? Seria necessá- inte, implorando para que
eu me dedicasse a empreende
rio um grosso volume para analisar seriamente todas as con- r sua cura, essa espécie de
tradições, os absurdos contidos nessa pequena brochura. quência que a miséria e a elo-
desgraça fazem tornar per
Cumpri a missão que me foi imposta se pude, senhores, bem melhor do que todas as regr sua siv a
as da arte. Não é do meu cará
provar as manobras do senhor Mesmer, a associação escan- ter repelir o pobre com dureza, -
dalosa do senhor d'Eslon com os charlatães. Se lhes fiz ver Eu buscava desculpas e eu as
nha, que podiam seguramente ti-
que ele havia injuriado as corporações literárias, e especial- passar por razões: eu estava so-
brecarregado de doentes, e minha
mente esta Faculdade. Enfim, se demonstrei o ridículo, a casa não oferecia um recanto
falsidade de seus princípios, o absurdo, a impossibilidade, a qualquer para alojar um infeliz
cuja indigência o teria deixado
falsidade das curas que ele lhes apresentou para examinar. sem pousada próxima à minha
casa.
Eu ataco somente sua ridícula e muito perigosa doutrina, que esta última dificuldade, encarrega O senhor d'Eslon assumiu
considero como inimiga do bem público, e que compromete ndo-se do alojamento: eu tive
esta corporação, porque é como doutor regente desta Facul-
apenas O mérito de me encarregar da alimentação.
dade que ele apóia essa doutrina, À cura radical de Picard não
era coisa fácil nem coisa de
Deixo a seu julgamento, senhores, decidir sobre a obra do pouco alento. Já tive ocasião
de observar que os males agrava
senhor d'Eston, porque, repito, não viso à sua pessoa. dos pela arte eram bem mais -
(Fim da Memória do senhor de Vauzesmes e das Notas e cruéis do que os males devido
apenas à natureza. Picard havia s
acréscimos.) tido a inf
elicidade de passar por
tratamentos mercuriais, admini
strados com a máxima indise
Diota-dosenhHor-Mesmetr-isãe-tenkoe-cersct
e Ee crrer ão Vb 1 mitranta sua
ssa astro
ri
ELA CI INICIA Casa,
tudo o que me
tar a peroração do senhor de Vauzesmes. Eu felicito o leitor e podia prometer razoavelmente,
ou seja, que após lhe haver pro-
a mim por termos conseguido chegar ao fim de sua memória. Porcionado a faculdade de ver
eu a conservei e a reafirmei
E um terrível dever o de transcrever e comentar o senhor de ponto de ele andar e ver por tod a
a Paris, e ajudar no serviço de
Vauzesmes. Isto lembra bem a penitência imposta pela Socie- minha casa com a maior liberdade
. Aquele que maneja com vi-
460 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 461
.
Creio dever aproveitar as circunstâncias para, no que d Esta asserção, tão extraordinária quanto é, parece-me
pende de mim, fixar a atenção pública sobre este assunto. E uma indução justa, e mesmo necessária, dos fatos numerosos
publiquei minhas observações sobre o magnetismo animal; dos quais fui testemunha. No entanto, por não se abalançar
Te gado de ro ter inteiramente perdido meu tempo, po 4; e +,
que essa descoberta é hoje objeto dos acontecimentos m eu me restrinjo a pôr como princípio invariável: QUE A NA-
vivos e mais repetidos. TUREZA OFERECE NO MAGNETISMO ANIMAL UM MEIO GE-
Não me restava mais então, senhores, que lhes apresentar RALMENTE ÚTIL PARA A CURA DAS DOENÇAS.
as proposições que o senhor Mesmer me remeteu para lhes. A proposição assim reduzida, seria supérfluo examiná-la
serem comunicadas, mas tendo logo me convencido de que ntma assembléia tal qual esta, e ainda por estar em oposição
minha conduta daria lugar a murmúrios na minha corpora- a todos os nossos conhecimentos anteriores. Quanto esta
ção, acreditei ser útil suspender minha tentativa, na crença descoberta era inesperada, e quanto seria de desejar que ela
de que sua indisposição contra mim não imputa erro à missão” viesse prontamente em socorro da nossa insuficiência diária.
de que eu estava incumbido. Eu estava certo dessa opinião: Não é o momento para exarninar se eu estou errado ou não,
por conta do conhecimento de várias reuniões secretas em. mas é muito importante observar que se os senhores Bertrand,
que estava vivamente deliberado sobre a maneira como eu Mallo&t e Sollier, que seguiram comigo as experiências do mag-
deveria ser tratado. Enfim, um de meus confrades justificou netismo animal, fecharam-se num silêncio circunspeto. No en-
minha suspeita, denunciando-me formalmente numa de tanto, nunca negaram a existência da verdade que eu afirmo.
suas assembléias.4 Eu diria mais: se não devia deixar-lhes o dever de fazerem valer
Eu não tomaria a iniciativa, senhores de lhes dizer 0 quan- sua opinião até quando fossem formalmente convidados como
to estou convencido da acolhida que tiveram por bem fazera - eles esperam, ou como desejam após muito tempo.
esta denúncia, Sem dúvida pensaram que meu envolvimento Não se deve então concluir de sua circunspeção que estou so-
com os senhores era inviolável. Quso assegurar-lhes que ele ' zinho, mas, bem ao contrário, que existem necessariamente qua-
sempre será. tro de seus membros que desejam com ardor que se preste &
Este testemunho expressivo de sua confiança, senhores, atenção mais séria a tudo o que conceme ao magnetismo animal.
leva-me a suprimir, como inúteis, todos os artigos da minha Que força deve ter nossas vozes reunidas, se é verdade,
justificativa que não tratam diretamente da história do mag- senhores, assim como nos orgulhamos, que não nos julguem
netismo animal. Não era minha primeira intenção. Eu dese- indignos de sua estima! .
java repelir a censura de não ter respeitado muito seu status. À voz dos seus confrades juntam-se aquelas da nação. Após
Se algumas pessoas concluíram pelo meu silêncio que es- séculos, ela nos faz depositários de seus interesses mais caros.
tou satisfeito de evitar um esclarecimento delicado, caindo Olhos fixos sobre nós, ela exige hoje o prêmio de sua confian-
voluntariamente em erro, estou e sempre estarei pronto a res- ça. Nos recusaremos aos seus desejos, nós que em todos os
ponder não somente às perguntas de minha corporação como tempos asseguramos-lhe um devotamento a toda prova?
também àquelas de todos meus confrades, sem exceção. Enfim, a crença na honra nos pressiona a não deixar em
Eu lhes direi humildemente que gostaria de me sujeitar a outras mãos o desejo de uma ação generosa e útil,
tratar seriamente um assunto sério, Com efeito, nada de - Também, senhores, a possibilidade da descoberta admite,
mais sério senhores do que a descoberta do magnetismo ani- eu colocaria no número das suposições criminosas, o único
mal. Dignem-se, eu lhes peço, prestar-me toda sua atenção. pensamento de sua negligência,
O senhor Mesmer afirma na sua memória sobre essa des- Estas altas considerações não me permitem nenhuma dú-
coberta que a natureza oferece um meio universal de curar é vida sobre o partido que irão tomar hoje. Devo-lhes anunciar
de preservar os homens. que as proposições do senhor Mesmer são estranhas aos seus
costumes e que outrossim me inclino muito a pensar que elas
deveriam ser aceitas sem restrição.
144 Nota de Mesmer. Vê-se que o senhor d'Eslon fala aqui da primeira Eu me explico, senhores.
de-: .
núncia do senhor de Vauzesmes de que a Faculdade não queria ouvir.
474 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
475
f
Faz parte dos projetos do senhor Mesmer depositar a sua 1. injunção de ser mais circunspeto no futuro;
descoberta nas mãos do governo. Quaisquer que sejam os
motivos, esta disposição deve ser ao menos respeitada. 2. suspensão por um ano da voz deliberativa nas assem-
Ele pensa que apenas o governo pode razoavelmente esta- bléias da Faculdade;
tuir em tal matéria, com a ajuda dos verdadeiros sábios. 3. cancelamento, ao término do ano, do quadro dos médi-
Menos estranho às nossas instituições do que quando che- cos da Faculdade, se não houver nesse tempo rejeit
gou à França, ele reconhece que a Faculdade de Medicina de ado suas
Paris é o único mediador digno de uma negociação tão im-
observações sobre o magnetismo animal;
ortante. 4. as proposições do senhor Mesmer foram rejeitadas.!45
ê Ele acredita que se é de sua honra secundar as vistas do Eu deixo de julgar o por que esse decreto é desonroso:
governo, ainda mais glorioso lhe seria provocar sua atenção. pelo
Como consegiiência, ele pensa deixar-lhes toda a honra das
senhor d'Eslon insultado, ou pela Faculdade insuitante.
Toda-
primeiras negociações. o via, tanto citei o senhor d'Eslon que creio dever juntar
algumas
Essas negociações consistiriam em solicitar 0 apoio do e palavras sobre as sequências que este caso pode ter para
do ele.
verno e a presença dos seus delegados nas experiências A Faculdade de Medicina de Paris não pode excluir do
magnetismo animal. =
seu seio um de seus membros, senão após três deliberações
O senhor Mesmer deseja estabelecer as experiências por ,
um exame comparativo dos métodos ordinários com o méto- tomadas em três diferentes assembléias. Os resultados
da pri-
do particular, isto é, senhores, ele lhes propõe tomar à sua meira e da segunda não têm valor nem força, nem efeito.
escolha um certo número de doentes. Os senhores tratariam
A
terceira assembléia, só, faz lei, seja ela anulando, seja
metade sob seus cuidados, ele trataria a outra metade segun- ela con-
firmando o que se passou nas duas outras. Como só aconte
do o seu método, e a comparação dos efeitos salutares ditaria ce-
ram duas assembléias no caso do senhor d'Eslon, o que foi
a decisão adequada para orientar o governo sob suas vistas de-
aternas. liberado é como que considerado nulo, próximo do insulto
.
º Tais são em resumo as proposições do senhor Mesmer. Eu Ele não está suspenso, ele não está riscado, ele não está
priva-
nada vejo, senhores, que possa ferir sua sensibilidade, mes do de nenhum de seus direitos. Ele não contradisse suas
vejo o meio mais seguro de juntar ao brilho de sua glória a ob-
servações sobre o magnetismo animal. Ele jamais irá contra
do à geração presente e às gerações futuras provas de seu zelo -
pela verdade, do seu amor pela humanidade e do seu reco-
dize-lo. E, além disso, ele está muito inclinado a presu
mir que
nhecimento quanto à nação que lhes dá o sentido precioso de
sua conservação.
145 Nota de Mesmer: Eu li uma prévia informal deste
Eu vou, senhores, proceder à leitura detalhada das propo- decreto. Não era
questão do quarto artigo, isto é, de minhas proposições.
sições do senhor Mesmer. Após o que deixarei sobre àescri- Seria inútil se
ocupar dessas variantes. Que a Faculdade rejeitou minhas
vaninha uma cópia assinada pelo autor. Juntarei, senhores, proposições
por um pronunciamento positivo ou por um silêncio
cópia do que tive a honra de ler. | absoluto, isto resul-
tará exatamente no mesmo. No primeiro artigo do
(Fim do discurso do senhor d'Esion.) decreto está: injun-
ção de ser inais circunspeto. Ter-se-ia juntado estas palavras:
nos seus
escritos concernentes à Faculdade. Como o senhor d'Eslon
O senhor d'Eslon leu efetivamente minhas proposições, jamais pro-
duziu escritos concernentes à Faculdade, não se sabe 9 que isso
quer di-
GiCXUU=a CE) E Cão T U, TOCO U=G SOD à ra t&, &5- zer. Estas alterações du correções de Peças originais e, por
assim dizer,
sinado por ele, e saiu para deixar que deliberassem. Quando sagradas, não devem surpreender. A Faculdade é tão
bem organizada
que ela simplesmente não possui registros. Todas as
voltou, o deão lhe fez a leitura de um decreto trazendo a se- coisas deste gênero
são escritas em papéis avulsos, que se guardam sob
guinte deliberação: a chave do deão da
época. Por pouco que esta chave seja confiada, são possíve
is, facilmente,
falsificações.
476 FRANZ ANTON MESMER
146 Nota de Mesmer. O Jornal de Paris está nas mãos de todo o mundo, mas
nenhum jornalista acreditou dever examinar minhas proposições, de sor-
te que elas não interessaram, na França, a nenhuma outra publicação,
477
478 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 479
mer: ele não sabe manejá-la - é uma navalha nas mãos de uma curso, ela é talvez das poucas sociedades em Paris em estado
criança.” À partir do que esse fazedor de bons modos julga-se de sustentar o paralelo com o que se passa em minha casa.
entendido sobre meus conhecimentos numa ciência que ele Que parte das pessoas de alto padrão esteja chocada com a
não conhece? De onde ele tirou de que fiz uma descoberta, ele mistura de níveis e de condições que se encontram em minha
que jamais me viu? Como pode decidir se ela é bela ou feia, sa- casa, isto não me preocupa, disso eu nada sei. Minha humanida-
lutar ou perigosa? Existe entre mim e ele uma distância que de é de todos os padrões, e não está em mim despender alguns
sua agilidade jamais fará ultrapassar. Que ele mude as senho- de meus cuidados além daqueles que dispensei ag paralítico
ras de Paris em vassouras e em enceradeiras de apartamentos é que faz minhas comissões, ou daqueles pelos quais arranquei
o seu papel, mas para a felicidade do mundo e a honra da razão dos braços da morte meu fiel e afeiçoado empregado.
ele não serve. De todas as classes de homens, aquela dos grandes con-
Os médicos da Faculdade procuraram insinuar ao público vem menos ao meu gosto. Eles não sabem em geral saldar a
que a um particular não é admissível medir-se com uma cor- conta dos benefícios a não ser em dinheiro ou em falsos pro-
poração por proposições como as minhas. Sua pretensão teve testos, e não em reconhecimento ou em amizade. Algumas ex-
pouca repercussão porque foram abrigados a dizer sobre qual ceções particulares que acreditaria poder citar não destruiri-
princípio razoável eles se baseavam. am a solidez do princípio.
Eles têm sido mais felizes em caluniar do que em arrazoa- Depende só de mim admitir em meus tratamentos apenas
dos. A calúnia é muito cômoda, porque não exige nem bom pessoas de nome, mas se algumas vantagens se me fazem
entre-
senso, nem espírito, nem reflexão. ver nesse arranjo, não pude me entregar a essa triste escravidão.
Seria necessário, por exemplo, não mais do que uma re- Por todo lugar onde se encontram homens reunidos irão
flexão medíocre que não possui nem base, nem bom senso, se encontrar interesses diversos, pequenas divisões, intrigas
nem espírito para culpar minha casa de indecência de algum miseráveis, enfados. Como tais coisas não existiriam em mi-
tipo. À continência e os tipos de dor não são indecências, e nha casa? Os tronos estão cercados disso. Jamais julguei a pro-
existe imenso absurdo na suposição de que pessoas de todos pósito prestar mais séria atenção, bem persuadido de que nes-
os estados, de toda idade, de todo sexo se escarnecem cada dia sas ocasiões as puerilidades do dia seguinte fazem sempre
ao sinal da dor para chocar os costumes e a decência. esquecer as puerilidades antigas.
Em minha casa, como em todos os locais, o riso e os cho- E ainda possível que em grande número de pessoas que
ros contraem fatalmente os músculos da face. Pretender ridi- seguiram meus tratamentos se contem aquelas cujas condutas
cularizar estes efeitos designando-os por trejeitos ridículos é nem sempre foram isentas de reprovações. Eu não as conheço,
ser ridículo por si mesmo. não posso ser juiz das ações particulares. Os cuidados de um
médico não'podem depender de uma informação de vida e de
Se nas mais vivas dores não se ouve nenhuma dessas ex-
costumes: que respeitem minha casa e a sensibilidade das pes-
pressões grosseiras as quais as pessoas da mais alta classe su-
jam tão facilmente alhures sua soberba linguagem, se a alegria
não se expande com propósitos agradavelmente equívocos, a , Os nomes de Montmorency, De Nesle, Chevreuse, Puy-
não ser que por uma baixeza extrema se nada sacrificam, são ' segur etc. encontravam-se em minha casa em companhia de
bons apenas para indignar o pudor, se significam qualquer coi- oficiais gerais, de militares de todas as categorias, de pessoas
sa, se enfim a religião é inviolavelmente respeitada no seu dis- do local, de pessoas ligadas intimamente ao serviço do sangue
480 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 481
me proporcionar, certamente não teria nada ame tamentar go cio ao qual alguém se pode condenar no máximo
por dois ou
governo. Pode ser que não estivesse tão avançado a não se três meses.
relação à verdade que apresento. Além disso, as verdadeiras curas desse gênero
são raras, e
O desgosto que viria a me acontecer me foi eetremamen têm essa desvantagem: darem nascimento aos
contos mais ab-
te marcante. Após tantas contradições, após três anos de am surdos. Que pessoas sensatas, pelo menos por
tal, vieram me
bates públicos, não se avançou mais do que no primelso di e consultar com a certeza de que eu as devia curar
subitamente
isso me pareceu insuportável. Deixando-me cair no dese co ao dedo e ao olho, e saíram coléricas porque não
fiz aquilo que
rajamento, e não querendo nada mais do que o repouso, co esperavam!
muniquei ao senhor d'Eslon a resolução de deixar meus 0 " Não nego, entretanto, que as consultas são
coisas maravi-
tes no dia seguinte. Nossa conversa foi tão viva quanto onga. lhosas, e concordo que devam ser caras à medic
ina. É uma
Ela terminou por nos cedermos reciprocamente alguma coisa, mina de ouro: o dinheiro flui de todos os lados
e, do modo que
Consenti em conservar até a primavera os doentes de que es- as coisas vão, eu não saberia o que fazer do meu
dinheiro se ti-
tava encarregado, com a condição de não aumentar seu núme” vesse continuado nesse excelente negócio.
ro, e de renunciar às consultas. Eu devo pôr o leitor a par sobre No entanto, o senhor d'Eslon esforçou-se para
minha repugnância pelas consultas. no renovar
a
negociação. De um golpe, depreendi com certeza
que o se-
O senhor d'Eslon é de opinião que eu deveria sujeitar-me nhor de Lassone declarou de modo a não poder
mais se retra-
por dever, enquanto eu sempre o fiz por complacência Ele bar tar que estava convencido da existência e da utili
dade da mi-
seia sua opinião no fato de que minhas simples consu. ta ope nha descoberta. De outro lado, o senhor d'Eslon receb
raram algumas vezes curas interessantes. Sob seu ponto de vi ia por
resposta que seria justo dirigir-se ao senhor de Lasso
ne, e que
ta, essa consideração deve prevalecer sobre todas as outras. ele seria encarregado de endereçar e apresentar
o plano de
Eu creio pessoalmente que minhas consultas lembram aceitação a ser realizado sobre minha descoberta
.
muito o charlatanismo. Examinar doentes, tocá-los, não fa- Existia entre o senhor de Lassone e o senhor
d'Eslon anti-
zê-los nada provar, ou lhes ocasionar efeitos mais ou menos gas causas de afastamento. Ele não mais apareceu:
seja por es-
sensíveis, indicar-lhes por meus meios a sede do seu mal, e crito, seja de viva-voz, o senhor d'Eslon fez todas
es que as tentativas
terminar, se creio sua cura possível, por anunciar- necessárias, e certamente o senhor de Lassone
nada teve para
nada posso lhes oferecer por falta de local etc. — eis em rest se queixar. Eu mesmo, quando julguei a ocasião propícia,
mo o que se passa em minhas consultas, o que me parece mui uni-me a esse primeiro-médico.
to pouco satisfatório para os doentes e muito fatigante p j No início da negociação, o senhor de Lassone tinha
mim. Seria impossível suportar indiferentemente. E um suplí- difi-
culdades para traçar um plano. Isso não deve
surpreender: em
três anos, ele não tivera tempo de aprender uma
palavra do
148 Nota de Mesmer. Eu citei uma dessas curas no relatório do reverendo meu assunto e, o que me preocupava muito
, ele parecia não
padt Gérard, (senhora or, na página STc vas 4 ACOdes doSOU ter pressa para se instruir. O senhor d'Eslon propô
o magnetismo animal, cita uma outra sob o nome de reuma aca s várias ve-
zes, inutilmente, ao senhor de Lassone para tomar
beça. Esta última foi realizada no senhor Noverre, céle re comp or a iniciativa.
de balés de caracteres. Eu poderia falar de várias outras: mas à maior Para pôr este último a par, o senhor d'Eslon lhe deu
uma
parte delas só me é conhecida por citações das quais não tive o cui memória em que ele dizia:
nem o desejo de verificar a exatidão.
484 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 485
dência. Eu bem podia, sem disposição de ânimo, correr riscos o roubo ou o assassinato foram cometidos, e
depois enforca-se
parecidos nos momentos em que isso poderia levar a maior ou se põe à roda com consciência segura.
consegiência. com E entãoentão éé o mesmo comigo. Peço ser
gentilmente tratado
O senhor d'Eslon terminou sua memória indicando o gê- um homem a ser enforcado ou à espera da roda,
e que se
nero de interrogações que os comissários do rei poderiam fa- es ise seriamente e se
Pesqu estabeleça que curei, sem me man -
zer aos doentes. Como serei obrigado a disso falar depois, su- ç em curar de novo para provar que sabia na
ocasião como se
primo aqui o detalhe. az para curar.
Quando o senhor d'Eslon me comunicou esta Memória, Ná Eu acrescento que toda essa discussão era
no fundo inútil
eu o autorizei a dizer de viva-voz ao senhor de Lassone que pe- ão ajo mais, dizia eu, com humor, mas por
princípios que
las razões alegadas não me era possível me engajar formalmen- creio muito razoáveis: proponho minha desco
berta. Não po-
te a fazer experiências diante dos comissários do rei, mas que cem me arer passar por condições contr
árias às que acredito
não, duvidando que enfim se usaria em relação a mim de ho- j o € sobre o artigo que tratamos, é recus
ar ou aceitar.
nestidade, decência e boa-fé, eu me comprometia verbalmen- - senhor de Lassone reconheceu enfim que,
após ter sido
te a dar a esses senhores as satisfações desse gênero que pode- por tão ongo tempo paciente, minha repugnância
e minha re-
riam ser razoavelmente desejadas. sistência a novos adiamentos não estão desti
tuídas de funda-
Restava apenas debater a natureza do comissariado. O se- mento, e que as proposições feitas pelo senho
r d'Eslon eram
nhor de Lassone achou muito difícil transgredir as regras ordi- aceit veis. Convencionou-se escolher oito
comissários. Eis
nárias, regras que vêm dos comissários inspetores e não dos quais pessoas 0 senhor de Lassone indicou
comissários inguisidores. Senhor de Angevilliers, diretor e ordenador
de abasteci-
De minha parte, eu pretendia que uma comissão dada mento do rei; senhor de Saron, presidente e almof
ariz do Par-
pelo rei fosse honrada por si mesma e que, desde que estivesse fmento de Paris; senhor de Montigny, tesou
reiro de França;
regrada a forma, a forma seria conveniente. se o de Auberton, guarda e demonstrador
do gabinete de
Eu sustentava por outro lado que as pretensas regras que se stória natural do rei; e os senhores Bercher Grand
elas, L
opunham eram imaginárias, porque não eram conhecidas na e Mauduyt, médicos.
“OB
França nas ocasiões em que se tratava da vida dos cidadãos. Eis Os quatro primeiros são membros da Academia
de Ciên-
o que eu disse a esse respeito, falando ao senhor Lassone. Rogo clas e os quatro últimos, da Faculdade de Medi
cina de Pari
observar que meu arrazoado, embora bizarro à primeira vista, é com a observação de que os senhores Lory e Maud
uyt, ligados
no entanto muito sério e muito seriamente aplicável à questão. à Socie ade Real, são de algum modo representant
es dessa
Quando se está convencido de que um ladrão roubou, se o Poração, enquanto os senhores Barcher e Gran
delas são
enforca; quando se está convencido de que um assassino de igual
dão
g ge mente
n representantes da Fa culdad e, poisi que nunca
es-
fato matou, ele é levado ao suplicio da roda; mas para aplicar
essas terríveis pernas não se exige que o fadrão g «eUuando 0 senhor d Eslon me consultou
em nome do se-
fim de provar que ele roubou, não se exige que o assassino as- nhor Lassone sobre esses arranjos, observei que
não me cabia
sassine uma segunda vez a fim de provar que ele é assassino: Jutgar as pessoas em quem o governo depositava
confiança
constata-se pelas provas testemunhais e o corpo de delito que: mas que já que me consultava, que acreditava
poder dizer que
88 FRANZ ANTON Mi ESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 489
na França que terminaram por persuadir que eles são qualquer Quepara recompensar o senhor Mesmer
coisa, e que atentar contra sua jurisprudência imaginária é cri- e se engajar a es-
tabelecer a propagar sua doutrina na Fran
me de lesa-majestade. Não fiquei convencido, mas enfim des- ça o rei lhe dará com
toda a propriedade um local que lhe
filaram sob meus olhos as proposições que se vai ler. Ver-se-á possa ser conveniente
para trata r, 0 mais vantajosamente possível
sob que forma vaga elas são apresentadas. Quanto a mim, não , os
doentes, e co-
municar seus conhecimentos aos médi
posso dizer o quanto me custou para assiná-las, sempre sentin- cos.
N.B.-À margem destas proposições
do o ar de uma demanda. está escrito: O senhor
Mesmer preferiu o Castelo e Terra
Foi proposto: de *** a qualquer outro.
Que para fixar o senhor Mesmer na Fran
Que o governo nomeie cinco comissários, dos quais dois seus serviços lhe será dada uma pensão vital ça e reconhecer
somente médicos, os três demais pessoas instruídas, para ob- ícia de 20 mil libras.
Que sua majestade exige que o senhor
ter os últimos conhecimentos que se julguem necessários para
França até que esteja suficientemente Mesmer fique na
não deixar nenhuma dúvida sobre a existência e a utilidade da estabelecida sua doutri-
na € seus princípios e que ele não a pode
descoberta do magnetismo animal. deixar a não ser por
permissão do rei.
Que os comissários examinem um número determinado
Foi ainda proposto:
de doentes tratados pelo senhor Mesmer. Os doentes serão
indiferentemente escolhidos dentre aqueles que ainda se- Que o senhor Mesmer goze de vantagen
dada
s que lhe serão
guem os tratamentos pelo magnetismo animal ou dentre s desde o momento em que o governo
tenha reconhecido
a utilidade da descoberta.
aqueles que não os seguem mais.
Que este exame se faça a seguir aos procedimentos do se- Que o rei nomeie uma Pessoa para pres
idir e velar pelo es-
tabelecimento feito para o senhor Mesmer.
nhor Mesmer. Eis em resumo as perguntas que poderão fazer
os comissários aos doentes. Eu aceitei estas proposições pura
e simplesmente, mas
1. Qual era seu estado antes de se submeter aos tratamen- com a condição expressa de que elas
serão executadas para o
tos pelo magnetismo animal? — As consultas e atenções dos . 15º dia de abril próximo: época na qual
não mais estarei liga-
médicos de Paris ou outros poderão ser solicitadas como apoio. do a nada, se as proposições acima não
forem realizadas. Pa-
ris, 14 de março de 178]. Assinado Mesm
2. Quais efeitos sentiram durante seus tratamentos e qual er.
a marcha desses efeitos?— Se forem interrogados alguns lgnoroo que se passou nos dias seguinte
s. Some nte: acre-
doentes atualmente nas mãos do senhor Mesmer, serão exa- ditei entrever que talvez não estivesse
obrigado a narrar hoje o
minados os efeitos sensíveis tais como a gordura, evacuação, “ incômodo resultado de minhas negociaç
ões, se o senhor de
obstruções tornadas visíveis etc. Lassone, consultado sobre esse caso,
não estivesse se limitado
3. Se tomaram medicamentos durante o tratamento pelo a ver as dificuldades.
magnetismo animal. Fui chamado por um ministro de Estado,
e me apresentei
4. Em que estado estava sua saúde quando deixaram os mà ele a 28 de março, em companhi
pessoa pelas mãos da qual eu haviaa do cesher-Esloret
chatsododejo E a
nhor Mesmer.
Q a
assinado as proposições
Que se o relatório dos comissários for favorável à desco- que acabei de ler.
berta, o governo o reconhecerá por uma carta ministerial, O ministro Começou por me anunciar
que o rei, informa-
Que o senhor Mesmer tem uma descoberta útil. do da minha repugnância por ser exam
inado pelos comissá-
rios, achou por bem me dispensar dess
a formalidade, estabe-
492 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AO MAGNETISMO 493
er para mim uma pensão vitalíci
a a de 20 mil libras e à pagar
che adequa
Que as iniciativas do governo de me dispensar da formali-
a danar dicepadoo + cocos Pe casa que eu
no, € o número que me con
.
dade de um exame pelos comissários me pareceu tanto mais
EXPetierte POrquanto à ação dOmapnctismo
animal sobre o
vier para minha sati ção. corpo humano e sua utilidade em medicina são hoje verdades
tante das graças que eu podia pedi O res.
r, juntou o ministro, seria de notoriedade pública, e seria, por assim dizer, pueril pôr ar
proporcionado quando os dis
cípulos do goverio houvessem “de dúvida no que não deixa nenhuma.
reconh ecido a utilidade da minha des
coberta. Que após estar assim elevado acima das formalidades inú-
Respondi que eu lhe suplicava
que chegassem a sua majes- teis me parecia incompreensível, ou pelo menos contraditó-
tade os justos sentimentos
de sensibilidade e de reconheci rio, que me deixasse julgar pelos meus alunos.
mento com que eu estava ani -
mado, mas que eu não podia Que esta cláusula, aliás, era rigorosamente inadmissível,
aceitar as proposições de que
acabara de tomar conhecimento desde que não se podia prever quais interesses estariam ditan-
Sinto que revolto um grande .
número de meus leitores do seu julgamento. A quem se deveria, por exemplo, a verda-
mas já estou acostumado à imp
ressão que lhes causo. As acg- de, pergunto eu, se me fosse dada por discípulos, comissários
sações de vaidade, de importânc
ia, de teimosia, de falso desin- e juízes os senhores de Lassone, Malloét, Sollier?
teresse fizeram minhas orelhas
tremerem de todos os lados. Que se não se acreditava em minha descoberta, haveria
A essa precipitação no julgamento
eu oporei o exemplo evidentemente um grande erro em me oferecer 30 mil libras
do ministro de Estado diante do
qual eu compareci. Podem-se de renda.
tomar suas lições sem contesta
r. Não saiu de sua boca nenhu- Se ao contrário se acreditasse, a sorte da humanidade não
ma expressão dura. Trangúilo,
com doçura, sua voz exprimia deveria ser sacrificada nem ao amor-próprio de alguns sábios
pas sivamente as objeções, e seu ouvido esc
as minhas. À conversa durou dua utava atentamente em delírio, nem ao receio de algumas despesas indispensáveis.
s horas nesse tom. Que eu não concebia como a submissão dos espíritos mais
Não mais Procurarei entrar em
detalhes. Contentar-me-ei esclarecidos da nação às opiniões dos sábios podia ser tal que
Fi ce uipir minhas respostas,
Indicando a natureza das dificul- deixasse de modo tão evidente surgir por minha causa o receio
ades, elas lançarão luz suficien
te sobre a uestão. . E Eu - real de seu desgosto. Que importa o sentimento da Faculdade
presso então:
é a
de Medicina, da Sociedade Real, do senhor de Lassone se toda
Que os oferecimentos que me essa gente não se importa com a sorte da humanidade? É com-
foram feitos me pareciam
pecar por Visarem meu interesse pecuniário preensível que ela esteja descontente.
cia da minha descoberta como obj e não a importân-
eto principal. Que por estar exposto pacientemente à derrisão pública
Que a questão devia ser absolu durante 15 anos consecutivos, não significa que eu esteja mais
tamente vista em sentido
contrário, pois que, com efeito, disposto a assumir minha vergonha, que seria lembrada como
sem minha descoberta, minha
pessoa nada seria. excessivamente aviltante para mim se estivesse fundada a supo-
Que eu sempre havia agido de ,
conformidade com estes sição de que eu pudesse aceitar 20, 30, 40 e mesmo 100 mil li-
Princípios, solicitando constante bras de renda por uma verdade que no fundo do coração eu sa-
mente a importância da mi-
nha descobert a, jamais a da minha pessoa, bia não existir, que uma tal suposição jamais serviria de base a
qualquer tratado voluntário de minha parte, e que meu coração
494 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELA
TIVOS AO MAGNETISMO 495
De volta à minha casa, pensei no que deveria fazer quanto época com meus cuidados para com meus
doentes que conti-
a rainha. filha da minha primeira soberana, irmã do meu senhor nuarem a me dar sua confiança.
legítimo, esposa do monarca que mantém é às felizes nias
i leisis sob “Suplico ardorosamente a sua majestad
quais eu estive muito tempo em segurança fora ao que essa oferta deve estar ao abrigo de e que considere
| toda nova interpreta-
tria,ia, nãoná me era maisj possívível esquecer que ? ção. É a sua majestade que tenho a honra de
al o de mim. Eu lhe escrevi sem demora a carta que se segue pendentemente de
o fazer, mas inde-
toda
s as graças, de todos os favores, de
Ela terminará esta obra sem outras reflexões. Devo me com toda esperança outra do que aquela de
tentar em assegurar verdadeiramente que eu à escrevi com os
usufruir, ao abrigo do
poder de sua MAJEST ADE, da trangúilidade e da seguranç
sentimentos
i i o mais isento de 1todas
do respeito gera recidas que me foram acordadas nos a me-
e que nãoão m me faltaram razões, menos p estados após minha per-
ões i
õ ulteriores, manência. É enfim, senhora, declarando
sas que aquelas do dever e do reconhecimento, para sacrificar a SUA MAJESTADE que
Tenuncio a toda espera de arranjo com
seis meses dos quais o emprego me era extremamente caro o governo francês, que
eu lhe suplico para juntar o testemunh
por motivos que só eu posso apreciar. | Enfim, eu daro o da mais humilde, da
mais respeitosa e da mais desinteressa
colo co na ordem coisas moralm rente da das deferências.
como penso. Nãoã “Eu busco, senhora, um governo que
possíveis, senão que a cena se transforma na França pe a perceba a necessida-
de de não mais deixar de introduzir
minha razão, ei-la: os interesses que combati, ou m hor di facilmente no mundo uma
verdade que, por sua influência sobre
zendo, que se crê ter que defender, pertencem a pesso ui O físico dos homens,
pode operar modificações que, desde
o
to poderosas ou muito hábeis, para que se possa lutar c sabedoria e o poder devem conter e dirig seu nascimento, a
elas com alguma igualdade. ir para um curso e em
direção a uma meta salutar. As condições que
“Senhora, o Postas em nome de SUA MAJESTADE me foram pro-
pura satisfação ao saber não preenchendo essas
“Passei por momentos da mais condições, a austeridade dos meus
nim, princípios impediram-me
que sua majestade se dignou a projetar sua atenção sobre imperiosamente de aceitá-las.
e no entanto minha situação pesa dolorosamente bre meu - “Numa causa que interessa à humanidad
coração. Havia precedentemente exposto sua majes tade o gar, O dinheiro não deve passar de uma e em primeiro lu-
projeto que eu tinha de deixar a França como € trário à fu- consideração secundá-
ria. Aos olhos de sua majestade, 400
manidade, em que eu abandonaria os doentes a qu meus cui ou 500 mil francos mais
ou menos, empregados a propósito,
dados eram ainda necessários. Hoje não mais tenho úvida de nada são: à felicidade dos
povos é tudo. Minha descoberta
que se atribuiu a motivos interesseiros minha recusa cor deve ser acolhida, e eu,
recompensado com uma liberdade dign
ções que me foram oferecidas em nome de sua maje . a da grandeza do mo-
narca ao qual me ligarei. O que deve
me desculpar sem dúvi-
“Não agi, senhora, nem por desumanidade nem por vide. das de toda falsa interpretação a esse
as respeito, é que após mi-
Ouso esperar que SUA MAJESTADE me permita colocar asp nha estada em seus estados, eu não
tiranizei nenhum de seus
sob seus olhos, que antes de todas as coisas devo dizer o quan objetivos. Após três anos, eu recebia à
cada dia ofertas pe
E DO Mal dá para lê-las, e posso dize
minha respeitosa submissão a seus menores desejos. contar, tenho sido chamuscado por soma r que, sem
s consideráveis.
“Desse modo, unicamente por respeito por SUA MAJESTA- “Minha marcha pelos estados de sua
majestade tem sido
DE, eu lhe ofereço a esperança de prolongar minha estada na sempre uniforme. Não é seguramen
t e nem por cupidez, nem
França até 18 de setembro próximo e de continuar a | por amar a uma glória vã que me tenh
o exposto ao ridículo
500 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGN
ETISMO 501
pressentido com o qual sua Aca
demia de Ciências, sua Socieda::
de Real e sua Faculdade de Med for enquanto eu estiver vivo, ele honrará minha tumba com
icina de Paris pretenderam mé:3
cobr ir sempre. Quando o fiz foi porque cria sua pessoa. nn
dever tê-lo feito:
APOS SUA recusa, eu estava crente “Sem dúvida a época de 18 de setembro que indiquei a
que o governo devi
-sua majestade lhe parecerá extraordinária. Eu lhe suplico
“lembrar-se que num dia semelhante do ano passado, que não
ocorreu aos médicos de seus estados, a não ser a um dos seus
confrades, a quem tudo devo, não foi desonroso para comigo.
manidade, como se minha decisão
não tivesse sido forçada, Nesse
“No balanço da humanidade, 20 ou de Parisdia aconteceu a assembléia da Faculdade de Medicina
, em que foram rejeitadas as min
25 doentes, quaisquer has proposições, e
que sejam, nada pesam ao lado y
da humanidade inteira, e para que proposições! SUA MAJESTADE as conhece. Eu sempre acre-
fazer a aplicação deste prin .
cípio a uma Pessoa que SUA
MAJES- ditei, SENHORA, e creio ainda na persuasão que, após um estré-
TADE honra com sua ternura não
Poss
à senhora duquesa de Chasilnes à o eu dizer que dar apenas pito tão aviltante para os médicos da sua cidade de Paris, toda
preferência sobre a generali- pessoa esclarecida não poderá mais evitar fixar os olhos sobre
dade dos homens seria, no fund
o, também condenável a Inim minha descoberta, e que a proteção de toda pessoa poderosa a
apreciar minha descoberta apen
as por razão de meus interes- ela estará dirigida sem dificuldade. Seja como for, em 18 de
ses pessoais.
setembro próximo fará um ano que eu havia fundada minha
“Eu já me encontro, senhora, na
os doentes que me são caros e aos necessidade de abandonar única esperança nos cuidados vigilantes e paternais do gover-
quais meus cuidados são ain- no. Nessa época, espero que SUA MAJESTADE julgará meus
da indispensáveis. Isto foi nos tem
pos em que eu deixava os lo- muito longos sacrifícios, e aos quais não fixei um termo, nem
cais de nascimento de sua majest
ade. Eles são também minha por inconstância, nem por disposição de ânimo, nem por de-
pátria! Por que então não me
acusavam de desumanidade? Por sumanidade, nem por jactância. Ouso enfim acreditar que sua
que, senhora? Porque essa grave
acu
flua: porque ela surgiu por intrigas sação tornar-se-ia supér- proteção me seguirá nos lugares aonde meu destino me levará
mais simples, a me perder longe dela, e que, digna protetora da verdade, ela me dignará
frente ao espírito de sua augusta
mãe e do seu augusto irmão. usar de seu poder sobre o espírito de um IRMÃO e de um ESPO-
“Aquele, senhora, que sempre
terá como eu presente no SO para me lançar sua benevolência. |
espírito o julgamento das nações
e da posteridade, aquele que “Sou, de sua mejestade, com o mais profundo respeito,
se preparará sem cessar a prestar cont
a de
suas ações, suporta- senhora, o mais humilde e obediente servidor. Paris, 29 de
Tá, como tenho feito, sem orgu
lho mas com coragem, um re-
vés tão cruel, Porque ele saberá março de 1781, Mesmer.”
que, se existem muitas cir-
cCunstâncias em que os reis devem guia
ainda as há em grande número em r a opinião dos povos,
que a opinião pública pre- FIM
domina irresistivelmente sobre aque
las dos reis. Hoje, senho-
Ta, asseguraram-me em nome
de sua majestade que vosso au-
Busto irmão, tem desprezo por
mim. Que seja! Quando a
opinião pública tiver decidido, ele
me renderá justiça. Se não
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELAT
IVOS AO MAGNETISMO 503
502
504 "FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 505
sofria desde a infância, e que acre que ela para minha cura um método cujo princípio ignoro - que ce
ditava hereditário, aumenta tifico em Creteil neste 28 de agosto de 1778. Assinado Men
va todos os seus males. A cabeça
estava sem transpiração des jot de Berny.
O
Monvelie Góttion,
. AVEC DES
DE J, L. PICHER GRANDCHAMP, .
NOTES MEDICINA, SOBRE SUAS
do E
Gradaé, queico Chi em chef de
Tila, nombre de la Société de, dá, ii
Thôpital real de la
FE dis Corelo médical de
to DESCOBERTAS
PARIS.
MMAUMUS ET Cn, LIBRAIRES,
RUE BE Venxecea,
nº 18;
ET CHEZ LÉDITEPR, RUE DE JOUBERT, Nº ar.
1826.
MEMÓRIA DE F, A MESMER
sn
O Rs
rum ne
Memória de 1779, em 1862, pelo divulgador do mesmerismo,
doutor Eduardo A. Monteggia. Um exemplar original encon-
a-se na nossa Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro
À primeira tradução para o inglês surgiu somente em
1948, com introdução de Gilbert Frankau e tradução de V. R.
Myers: Dissertation by F. A.Mesmer, doctor of medicine, on
510
MEMÓRIA DE F. À MESMER 513
515
516
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A MESMER 517
errar pela intenção, mas, por um zelo exagerado para
gresso da filosofia, abusou-se o pr 7 omo absurdas, e resgatar delas o que poderia se tornar útil e
muitas vezes desse meio: as ve
dades mais úteis foram desconhecidas, erdadeiro. E acreditei poder adiantar que entre as opiniões
confundidas co
erros e sacrificadas com elaç
155 -
É vulde gartodos oses
tempos, quetêm
não seu princípio no. cora.
L
“Antigamente,
Os erros causados pelas sup
-ção humano, mesmo desfigurada s, algumas absurdas e mesmo
pediram a constatação de fato erstições não im extravagantes que possam parecer, que não existem as que não
s ext
falta de conhecimentos sobre eles raordinários, mesmo que: possam ser considerados como os resquícios de uma verdade
Suas
impedisse a compreensão d primitivamente reconhecida 156
causas. Não se hesitava em
constatar esses fatos com um.
atenção proporcional à sua importância, e se havia engano Meu primeiro objetivo foi o de meditar sobre o que pode-
quanto : ria ter levado a opiniões absurdas segundo as quais o destino
dos homens, assim como os eventos da natureza, pudesse ser
está reduzido a ignorar tanto os visto como submetidos às constelações e às diferentes posi-
efeitos quanto as causas.
Também precisamos considera ções dos astros entre si.157
r que algumas verdades
descobertas no passado foram
de tal maneira mal compreen-
didas e desfiguradas que per -
deram o seu valor e muitas 156 Allan Kardec fez a mesma constatação: "A coincidência entre o que hoje
vezes nos dizem [os espíritos] e as crenças das mais remotas eras é um fato sig-
assim tais verdades não per nificativo do mais elevado alcance. Quase por toda parte a ignorância e
deram por isso o direito de
tecer no grande dia para a fel reapa- os preconceitos desfiguraram esta doutrina, cujos princípios fundamen-
icidade dos homens. Eu ous tais se misturam às práticas supersticiosas de todos os tempos, explora-
Zer que aqueles que têm domina o E
do a opinião publica por mei das com o fim de abafar a razão. Entretanto, sob esse amontoado de ab-
de seus conhecimentos têm o
o dever de investigar esses anti surdos germinam as mais sublimes idéias, como sementes preciosas
gas ocultas sobre as sarças.” (KARDEC, Revista Espírita, 1858, abril, p. 95)
157 A astrologia foi introduzida na Europa, juntamente com a astronomia,
pelos árabes e os judeus, e o número de crentes nos seus prognósticos
era tão grande e a fé neles tão intensa que os médicos eram obrigados a
4 Nas
memórias que publiquei em
1 779, sobre a descoberta conhecê-la, ainda que não acreditassem nas suas predições, a fim de po-
O magnetismo animal, anunciei
após vários ano
as idéi as que havia formado der tirar todo o proveito material da sua profissão. A astrologia era estu-
s estudando a universalidade dada com profundidade nos cursos de medicina, pois se aceitava, de
populares, que, segundo acr de certas opiniões acordo com o que Cláudio Ptolomeu de Alexandria (séc. 2º d.C.) tinha
edito, são os resultados de
vações gerais e constantes,
obser- escrito e sistematizado no seu Tetrabiblos, que os astros tinham uma in-
fluência determinante sobre as doenças. No mesmo caso estavam os as-
O que eu queria dizer com trônomos. À astronomia e a astrologia eram estudadas em conjunto. Os
isso é que havia me propos
Como investigador, a examin
.
to homens que sabiam registrar e prever o movimento dos astros eram os
ar as crenças mais remotas,
.
Um vasto sistema de influências ou de relações que ligam que este movimento!! pode ser prop
agado, concentrado, re-
todos os seres, as leis mecânicas e mesmo 0 anão das fletido como a luz, e comunicado pelo
som; que enfim o prin-
leis da natureza, foi o resultado das minhas cípi
o desta ação, considerado como um
agente que opera so-
inhas pesquisas. bre a substância íntima dos nervos
do corpo animal, pode
ne me vangloriar de que as descobertas que fz, e que E MESMO DE SE PRESERVAR DAS
são o assunto desta obra, ampliação os imitcs ae a o saber MOLÉSTIAS.
ísica do mesmo modo que o
os e dos telescópios nos tempos que nos precede
e e due Fogisto (ou flogístico) designava o princ
ram.!58 Elas farão saber que a conservação da ípio da inflamabilidade, refor-
mulando cientificamente a teoria de Arist
como sua existência, é baseada nas leis gerais à natur a ue dos quatro elementos básicos da matéria
óteles do fogo como sendo um
(água, fogo, terra e ar). O flo-
o homem possui propriedades análogas aque e cmi À que ele gisto seria aquilo que um corpo perde
ao se inflamar. Todos os combus-
é dotado de uma sensibilidade, pela qual po e estar em reta tíveis conteriam flogisto, O carvão seria
rico em flogisto, pois arde quase
pi sem deixar resíduo, e poderia, então,
ção com os seres que estão à sua volta, mem ser usado como fonte de flogisto
esm ton de movi Para regenerá-lo num corpo que não o
dos; e que ele é suscetível de se carregar car que, quando um metal se oxida,
possua, No entanto, como expli-
mento 159 que ele pode, à semelhança que Contece como flogisto, sua massa deveria diminuir.
sua massa aumenta? Se ele perdesse
Lavoisier concluiu que a combus-
fogo,'º comunicar a outros corpos anima tão não implica perda de substância,
mas sim a incorporação de algo
àquilo que arde. Ele definiu o calor como
um fluido permeando toda a
natureza, e que penetra os corpos em
A a na influência das constelações, sobretudo das que consti- maior ou menor grau proporcio-
nalmente a sua temperatura e capacida
quer 2 nos do zodíaco, proveio da idéia ligada aos nomes qu celas de, o calórico. O calórico, hipóte-
se a que se refere Mesmer nesta obra,
Eras Ss à que se chama Leão fosse dada o nome de Asno ou eo e era considerado uma substância
simples, como também a luz. Entre os 33 elementos simples
lho, certamen te lhe teriam atribuído outra influência.” (KARDEC, À g de substâncias simples de Lavoisier, da tabela
nese, p. 100-101) n encontramos, ao lado do oxigênio e
do azoto (hidrogênio), a luz e o calórico,
referin- Um corpo a alta temperatura
158 Allia Kardec faria a mesma comparação entre as descobertas, £onteria muito calórico, ao passo que
outro a baixa temperatura conteria
do-se, contudo, ao descobrimento do mundo dos esp n e pouco. Assim, quando
E dois objetos nessas condições eram colo
jo lou um mundo dos infinitam ente pequenos q contato, o mais rico em calórico transferir cados em
bora estivesse sob nossos dedos; o telescópio nos revelou à
ia uma parte de si mesmo para
aos O outro. Tal teoria era
capaz de explicar satisfatoriamente
e de mundos celestes, que não supúnhamos mais; O espisitismo menos físicos, como por exemplo muitos fenô-
osso a condução do calor. A idéia de que
a sá bre o mundo dos espíritos que está por toda parte, a calor é uma substância não podia, cont o
udo, resistir às evidências em con-
lado como nos espaços; mundo real que reage incessantemente 5 trário que começaram a surgir apen
as no século 19, quando tal idéia
nós.” (KARDEC Revista Espírita, 1858, p. 340) ar e determinado substituída pela concepção de que o calor foi
é uma forma de energ ia,
159 Nota de Mesmer: Entendo por ton um no parti Ce 161 Na época em que Mesmer
escreveu este livro, o conceito
do movimento que existe entre si nas partículas qu iuem o fui da não tinha sido de energ ia ain-
no se refe- desenvolvido, Utilizava-se apen
as o conceito de movi-
o Nota do editor: podemos compreender o termo ton c mento, enquanto a idéia de energia
está apenas implícita nos raciocínio
no meio iui á va
cof de características de uma onda quey se! propaga
E esea com como o leitor observará na continui s,
. emos : dade desta obra Por
outro-lado,-g
conceito de fluido unive
rsal, adotado por Mesmer, foi abandona ---------—
i o itos atuais da física, poderíamos de ton à ciência. Mas está renascendo atualmente, do pela
o o co aim ação dinâmica produzida por uma função das. Pode
com as teorias das supercor-
mos observar, como Bachelard, que
. “não há desenvolvimento
de onda vital). das antigas doutrinas para as novas, mas
( , desenvol antes, pelo contrário, envolvi-
i isto surgiui com Johann Becher 1635-1682) mento dos antigos pensamentos Pelos
novos. As Berações espirituais pro-
dose aaa com Georg Stahl (1660-1734). A palavra cedem por encaixes sucessivos” (BAC
HELARD, 1985, p. 55).
520 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 521
não no esquecimento pelo menos no desprezo, as aberturas que estacionária em eletricidade e magnetismo? Procurariam ainda
realizei neste campo: divulgou-se por toda parte como impostura. se unir para fazer oposição a uma revolução que eu gostaria
de
realizar na arte de curar, que fez muito pouco progresso, e ofe-
Na França, nação mais esclarecida e menos indiferente
recer 0 que está sendo tão necessário à humanidade?
aos novos conhecimentos, não deixei de amargar contrarieda-
des de toda espécie, e perseguições que meus compatriotas Ver-se-á, ouso crer, que estas descobertas não são produ-
me haviam preparado há tempos, mas que, longe de me de tos do acaso, mas sim o resultado do estudo e da observação
sencorajarem, redobraram meus esforços para o triunfo das leis da natureza; que a prática que eu ensino não é um em-
verdades que acho essenciais à felicidade dos homens. pirismo cego, mas um método racional.
Um grande número de doenças, que durante 10212 anos Embora saiba muito bem que o princípio primordial de
consecutivos comprovaram os efeitos salutares deste métor o todo conhecimento humano é a experiência, 15 e que é por ela
e pessoas instruídas que se beneficiaram desta prática enfa- que se pode constatar a realidade das suposições, preocu-
zeja renderam-me total justiça. Mas alguns sábios este pais, pei-me em provar a priori por um encadeamento de noções
fazendo por profissão governar a opinião, estão, por assim simples e claras a possibilidade dos fatos que anunciei, dos
quais um grande número foi publicado sob diferentes formas
zer, mancomunados com os estrangeiros, colocaram no ve
por aqueles favoráveis à minha doutrina.
de ilusões tudo o que se apresenta em favor deste assunto: a
autoridade de seus nomes fortificou a prevenção. Os fenômenos que surpreendi na natureza me reportaram
à fonte comum de todas as coisas. Creio ter aberto uma rota
Um ministro do reino passado abusou de todo o seu poder
simples e reta para chegar à verdade, e ter livrado em grande
para destruir a opinião nascente. Após ter ordenado (malgrado
na parte o estudo da natureza das ilusões e das metafísicas.188
meus protestos) a formação de uma comissão para julgar
doutrina, e condená-la pela prática que dela fazia uma pes A linguagem da convenção, o único meio de que podemos
que eu havia desautorizado, fez celebrar seu triunfo na pa e- nos servir para comunicar nossas idéias, tem, em todas as épo-
mia de Ciências, na qual foi elogiado por ter protegido a uma cas, contribuído para desfigurar nossos conhecimentos. Nós ad-
nidade, como foi dito, de um grande erro que faria à desonra o quirimos todas as idéias pelos sentidos: os sentidos nos transmi-
século. Ele inundou toda a Europa com um relatório eito por tem apenas as propriedades, os caracteres, os acidentes, os
essa comissão, e terminou por expor minha doutrina e meu mé-
todo de cura ao escárnio público nos teatros. | 165 Mesmer revela seguir o método científico, mas sua ciência é espiritua-
Será que a grande nação à qual eu consagrei O fruto de me lista, pois reconhece uma realidade não observada diretamente pelos
sentidos, como também faz o espiritismo.
nhas descobertas continuará indiferente enquanto está sendo
166 Um claro .pbjetivo de Mesmer está em tratar suas pesquisas e sua doutri-
furtada, por desprezíveis intrigas, da confortante posição e na com um enfoque absolutamente científico. No mesmo sentido,
ter adquirido um novo meio de conservar e de resta ecer mou Kardec: “Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural,
afir-
saúde? Não, ela se apressará a corrigir-se de seu erro relativo a magnético, a Providência nos dá a prova irrecusável da existência e da
quer
in-
UI assu O TalÚ dt ACT dr-Ga - deperrcdêmcia da dim Eos faz assístir do sublime espetáculo da sua eman-
cipação. Abre-nos dessa maneira, o livro do nosso destino. [...] Enquant
Na realidade, é duro acreditar que 25 anos de esforço não homem se perde nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível,
o o
conseguiram tirar essas preciosas descobertas da incerteza nas em busca das causas da nossa existência moral, Deus cotidianamente
nos
quais foram envolvidas pelas circunstâncias. E possível que este põe sob os olhos e ao alcance da mão os mais simples e patentes meios de
século passará sem avançar um passo em física, permanecendo estudarmos a psicologia experimental.” (KARDEC, 1857, 455)
524 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER 525
isas. "Entre esses dois extremos, dão- Porém ico aa e energia como sendo uma mesma coisa
outro.” (KARDEC, 1868, p- 276) a que unifique todas as for
ou menos aproximadas de um € de fo s pu quisam , uma teori
dl ear
do pelo fluido universal, não oferecia onal, ss : topo
natuereza
ças da Entr forte a fraca, eletromagnét: ica e ºgravitaci
| 173 Q espaço, totalmente preenchi era pleno. A doutri- uma
-
como
nhuma propriedade, ele não é elástico enão tem peso, mas é o " Será demonstrado pela minha teoria das influências
mina o efei-
meio apropriado para determinar as propriedades de todas as | este fluido, esta matériaa. sutil, sem ter peso, deter
4 1
oceanos -sravidade:
U DJ ad Cao
aa
dU E tocpere-e a g como er Ser Piá Ca concorre ae
espaços, pro-
de próprio. Este fluido está em relação às propriedades que para a elasticidade. Como preenchendo todos os
o. Demonstra-
ele determina nos corpos orgânicos do mesmo modo que o voca a coesão, sem estar ela mesma nesse estad
de senti do. A atração, para
ar!76 está para o som e à harmonia, ou o éter para a luz, ou en- rei que atração é uma palavra vazia
um efeito aparente
fim a água para O moinho — isto é, ele recebe as impressões as dizer a verdade, não existe na natureza, é
à eletr icidade,
modificações do movimento, que lhes transfere, que lhes apli- de uma causa que não se percebe. Provarei que
combinado
ca, e insinua nos corpos orgânicos; e os efeitos assim produzi- o fogo, a luz, todas as propriedades são o resultado
o no qual es-
dos são o resultado combinado do movimento e da organiza- da organização dos corpos e do movimento do fluid
ção dos corpos. tão mergulhados.
impulsão
| É preciso considerar aqui que as diversas séries de que o Compreender-se-á primeiramente como uma
nvolvimento
fluido universal é composto, a partir-da matéria elementar até uma vez dada sobre a matéria basta para O dese
sos parti-
as que tocam nossos sentidos — como a água, o ar, o éter —, di- sucessivo de todas as possibilidades. Como os impul
m de novas
ferem entre si por uma espécie de organização íntima efeito culares, que são a continuidade, tornam-se a orige
repou so, e ore-
da combinação primitiva de suas partículas. Esta organização organizações; como o movimento é a causa do
ia fluida para
especial torna cada uma dessas séries suscetível de um movi- pouso, por sua vez acelera 0 movimento da matér
que é pela sim-
mento particular que lhe é próprio. operar outras combinações. Ver-se-á, enfim,
causas € os
à Nós observamos a gradação dessa suscetibilidade exclusi- plicidade da ordem, num circulo perpétuo entre as
poderemos ver a mais justa € a maior idéia da na-
Ve le movimentos nos três gêneros de fluidos. Nem a luz, nem efeitos, que
o fogo, nem a eletricidade, nem o magnetismo e nem o som
. “ , tureza e do seu autor.!””
são substâncias, mas sim efeitos do movimento nas diversas
ção do fluido em
séries do fluido universal.!77 secutivo aquele. O ponto intermédio é o da transforma , porquanto po-
ção brusca
matéria tangível. Mas, ainda af, não há transi
eis como termo médio
dem considerar-se os nossos fluidos imponderáv
EC, 1868, p. 273) O que Mesmer explicou
176 O conceito do fluido universal, adotado pela ciência do magnetismo, s entre os dois estados." (KARD
como forças: “O éter
ria um dos postulados fundamentais da doutrina espírita:“A substância como efeitos do movimento, os espíritos definiram
e ineren tes às forças que presi-
etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interpla- ou matéria cósmica primitiva [...] são-lh
imutáveis e necessárias que
netários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos raree diram às metamorfoses da matéria, as leis
indefinidamente variadas
ito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou regem o mundo. Essas múltiplas forças, massas, di-
do as
menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos segunda as combinações da matéria, localizadas segun as e os mei-
modos de ação, segun do as circun stânci
modificado por diversas combinações, de acordo com as localidades da versificadas em seus coesão, afinida-
gravidade,
extensão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as for- os, são conhecidas na Terra sob os nomes de
cidade ativa.” (KARDEC, 1868, p. 111)
TESS TIO) donde a natureza há tirado todas as coisas.” (KARDEC, de, atração, magnetismo, eletri
Deus. O espiritismo 0
177 Mesmer liga a harmonia da natureza ao seu autor: simples, primitiva,
como só há uma substâ ncia
177 Essa mesma teoria seria adotada pela doutrina espírita: “O fluido cósmi- acompanha: “Ora, assim
a em suas combinações,
co universal [...] assume dois estados distintos: o de eterização ou im geradora de todos os corpos, mas diversificad
dem de urna lei univer sal diversificada
ponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal e o também todas essas forças depen
s, foi soberanamente im-
de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, con- em seus efeitos e que, pelos desígnios eterno
530 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER
531
Podemos juntar a estas considerações que aimensidade Todas as propriedades dos Corpos
da matéria fluida permanecerá domogies, sem pro quer no . são, repito, o resultado
na Nasa o combinado de sua organização e do
nã determi
ações não
vos seres, se o acaso das p rimeiras combinações movimento do fluido no
qual elas se encontram.
«
nar correntes nas quaisis asas celeridades varia
variadas e S Se considerarmos a ação do flui
tornam-se uma fonte infinita de organizações e de efeitos as do assim definido, como
aplicado ao corpo animal, ela se
sim produzidos. | , torna então o Princípio do mo-
vimento e das sensações140.
Remontando assim de uma simples progressão até as É certo que a natureza e a qualidade
grandes operações da natureza, descobrimos que o ne mem dependem unicamente da dos humores do ho-
ênci mútua entre o fmã e o ferro
mo ou influência
i ão mais ação dos sólidos, do mecanis-
mo dos órgãos ou vísceras, e dos
à o m
imã nos o ferece o modelo para
universal e que o imã o vasos que contêm estes hu-
mores. São eles que os elabor
do universo.!'8 Nós descobrimos que esta ação é o necessári am, dirigindo e regulando os
movimentos, as misturas, as
efeito de movimento de toda a natureza. o al fizer proporções, as secreções, as ex-
creções etc. É fácil conceber que
Como todas as verdades se relacionam, éimpossíve fue é pela irregularidade de ação
dos sólidos sobre os líquidos, ou na
progressos no estudo da nstareza sem ter compreen ' oo en imperfeiç ão do mecanismo
ou da ação das vísceras e dos órgã
cadeamento desses prin:i cípios. E por issoi creio ser ne- -
que «eueu crei os, que está a causa primeira
de todas as aberrações. E que,
cessárioi expor todo esse sistema físico, do ç qual o à corp na conseguentemente, o remédio
comum e único deve ser encont
no faz parte, antes do p ropor métodos ! de cur a. Porque que deasleisle rado no restabelecimento da
ação dos órgãos, únicos capaze
é g governado são as mesmas q segema s de mudar e corrigir os vícios e
elas quaisi o universo é as alterações dos humores. É aqui
harmonia do corpo animal. A vida do mundo é uma só, e a o caso de examinar qual é o
princípio do movimento, e a forç
homem individual é apenas parte dela. 79 quinas que agem sobre os líquidos
a comum das diferentes má-
. 181
sofrem esse esfo rço, de após ele haar medicina observava assim, e que. outros
partes orgânicas ou das vísceras que não era =
senão o e
ndo os diversos graus €
EZA
e La Ko!
suas correspondências e relações, segu princípio
e cuja existência aaa º deste
desenvolvimento. que determina a copndeci
modos da resistência, do período do seu pio
intencã sobre nós essa espécie de flux e refluxo
o
à Pinel
ou
do mecanismo ção e remissão das propriedades
Os antigos tinham pouco conhecimento ainda
am menos
de funcionamento do corpo animal, e sabi ra É de se lam entar que a luz que
el ele lançou sob
à organização da
como esse mecanismo está relacionado com ro
o sse: restrita às doenças agudas: ele pod
eria ter cn
cionaram cada gêne cio due asc censas grônicas difere
natureza como um todo, então eles rela e o nas- m das outras apenas pela
ça. Desd
desses esforços como sendo espécies de doen Ei E om que os sintomas se
verd adeiro e único
cimento da medicina houve oposição ao causas que
a s agudas estão em relação às
crônicas da nes o
uir as que O curs a rica de am inseto que
meio empregado pela natureza para destr se chama efêmero está
perturbam a harmonia. para o ais: O primeiro sofi
talvez o único
Hipócrates!8t parece ter sido o primeiro e s as revoluções da idade, do sexo, , do
cresciment oed aa
ade-
doenças agudas.
que compreendeu o fenômeno das crises nas crepitude, enqu anto outras espéci
percorrer estas etapas. éc
pécies
:
animai s: levam anos para
que os diversos sin-
Seu gênio observador o levou à reconhecer
esforços que a
tomas nada mais são do que modificações dos caPorGino cado, deve-se lembrar que
lamentavelmente a me-
quando nas doen-
natureza faz contra as doenças. Depois dele, is pe E doencas co olvimento
natural e necessário da
omas mais afastados da
,
ças crônicas se observou os mesmos sint com ea ne doença TÔnicas: opõem este desenvolvimento
tantivaram-se estes
causa, isolados, sem febre contínua, subs Cod remdios q perturbam
o progresso da doença, inter
s tantas doenças, di-
acidentes eventuais como se fossem outra doa gerso e muito frequentemente o
Estudaram-se, anali- fim vem ant
ferenciando-se cada uma com um nome. , uma morte prematura18. A marcha
como coisas, avalia- e 0 de
saram-se estes acidentes e seus sintomas senvolvim ento da epilileps epsiia, por exemplo, assim como
s da doença. Eis então da mani a
ram-se mesmo por indicador as sensaçõe da melancolia, das doenças ditas
por tantos séculos.
a fonte de erros que assolam a humanidade glândulas e suas complicações, as afec
ções dos órgãos dos senti-
os, Hipócrates,
Pelos sintomas aparentemente mais opost
a cura. Sua se-
em lugar de ficar desconcertado, prognosticou
= —
185 À preocupação de Mesmer .
oderia
parecer excessiva
a
uidade, considerado o pai da.
em e
— a e : P os
meios em pregados pelos médic
184 Hipócrates é o médico mais notável da Antig da época, que eram no f Osserm os
verdadeiras tortu-
rates é precursora da ciência ras ineficazes,s. O esgotamento da
medicina. Veja-se que a doutrina de Hipóc força do paciente já debilitado pela
Mesmer recupera e desen- fermidade en
do magnetismo animal explicada neste livro. em
quase . sempre provoc ava a
germi nais da arte de curar hipocrática. nemann reforçaria esta crítica. morte. No século seguinte, Hah-
volve os princípios doutrinários
536 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE. F. A. MESMER 537
dos, são ainda desconhecidos, e é principalmen atribui vagamente à natureza, são regrados e determinados por
te nesses diversos
estad os que se confunde a crise com a doença. essa influência ou pelo que se chama de magnetismo natural.
Às causas imed jatas-de todes-as-deenersirre
erros OU EX- “O
ternas supõem o defeito ou irregularidade " pode tornar-se útil senão aos seres que são particularmente
da circulação dos
humo res ou obstruções de diferentes ordens dos recip suscetíveis, restou-me descobrir e reconhecer asleise o meca-
Send
ientes.
o este estado, como se salientou, o resultádo nismo íntimo dos processos da natureza, a fim de saber imi-
do defeito
da irritabilidade ou da
ação dos sólidos sobre os humores que - tá-los e fazer a aplicação reforçada e graduada nos casos indivi-
eles contêm, compreender-se-á enfim que duais, em todos os tempos e em todas as situações em que o
em vez de recorrer
a uma escolha vaga e incerta, aos específico homem sé encontra. no
s e às inumeráv
eis
drogas advindas da teoria dos humores,18º tem-s
e, em todos os Creio ter obtido da natureza este mecanismo de influências,
casos, apenas duas indicações, a saber:
que, como explicarei, consiste numa espécie de entrega recipro
1. restabelecer a irritabilidade ou a ação dos ca e alternativa das correntes que entram e saem, de um ie
sólidos sobre
os líquidos; sutil, preenchendo o espaço entre dois corpos. A necessidade
2. impedir e prevenir os obstáculos que pode dessa entrega é baseada na lei do pleno, o que significa que no
m se opor.
Está provado pelo sistema de influências, e está espaço cheio de matéria não pode ser feito um deslocamento
constatado
pela observação exata e assídua, que os grand sem recolocação, o que supõe que se um movimento da matéria
es corpos chama-
dos celestes governam os movimentos parciais do sutil é provocado num corpo, produz-se um movimento seme-
nosso globo.
Às alternativas de fluxo e refluxo (efeito comum a lhante num outro corpo suscetível de recebê-la, qualquer que
todas as par-
tes constitutivas da Terra), a vegetação, as fermenta seja a distância entre os corpos. Esta espécie de circulação é ca-
ções, as or-
ganizações, os ciclos gerais e particulares das
quais o globo é sus- paz de excitar e de reforçar neles as propriedades análogas sua
cetível, são naturalmente determinadas por
essa influência que, organização, o que se conceberá facilmente refletindo-se so re
por meio da continuidade de um fluido unive
rsal, produz au- a continuidade da matéria fluida, e sua extrema mobilidade: o
mento ou diminuição de todas as propried
ades dos corpos, ímã, a eletricidade, como também o fogo, oferecem-nos os mo-
como vemos distintamente no desenvol
vimento e decrésci delos e os exemplos desta lei universal.
mo
da vegetação. Reconheci que, embora exista uma influência geral entre
É assim e pelas mesmas causas que a irritabili os corpos, é todavia por modos, tons particulares e diversos
dade é natu-
ralmente aumentada ou diminuída do mesm movimentos que uma influência pode se efetuar.
o modo que o cur-
so, o desenvolvimento das doenças, e mesmo Como o fogo, por um movimento tônico? determinado,
sua cura, que se.
difere do calor, assim o magnetismo dito animal difere do
magnetismo natural: o calor está na natureza e, sem ser fogo,
188 Aqui também Mesmer esclarece aqueles que, não tendo lido ou com-
preendido suas idéias, pensam que ele confunde magnetismo animal
com o natural. O magnetismo natural, para ele, serve apenas como meio
de comparação entre os efeitos de um e outro.
189 A doutrina espírita confirma a hipótese de Mesmer: “Tanto quanto do
espírito errante, a vontade é igualmente atributo do espírito encarnado,
Daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da
força de vontade. Podendo o espírito encarnado atuar sobre a matéria
elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de
É EESC Ut pes PpTOMOV € a cura orgânica:
roânicas up “Esta 7 PST INEO O FRESNO Mecanismo que
imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau b teoria nos fornece
: à das pago . em magnet - a solução de um fato
mais ou menos elevado.” (KARDEC, 1862, p. 172) ismo, ms explicado
até hoje: o da mudan-
EN água, por obraadda vontade,
190 Paracelso foi um dos precursores de Mesmer e Hahnemann: “Se nós magnetizador, quase sem €, UO espíritoi atuante é
conseguirmos extrair o fogo da vida do coração e extrair da quintessên- pre assistido por outro
espírito, Ele opera
cia das substâncias e usá-la para alcançar nosso objetivo, poderemos vi- como atrás disse-
cósmica, ou ele-
540 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 541
método de curar exige doutrina das influências em geral quanto a dita propriedade
indispensavelmente uma instrução
prática e contínua, não
creio ser possível dar aqui a descrição, do corpo animal, assim como o remédio e o método de cura.
nem desta prática, nem
do aparelho e das máquinas de dife
rentes espécies, nem dos Isso é pouco suficiente para demonstrar que não se deve
procedimentos de que me servi com
sucesso, porque cada um, confundir o magnetismo com os fenômenos que puderam dar
em consegiiência da sua instrução, apli
car-se-á em estudá-los,
lugar ao que se chamou eletricidade animal. ==
e aprenderá por si mesmo a variá-los Vejo com pesar que se tem abusado desta denominação:
e a acomodá-los às cir-
cunstâncias e às diversas situações da desde que se está familiarizado com a palavra magnetismo, as
doença.132 É o empiris-
mo ou a aplicação às cegas dos meus pessoas julgam ter idéia da coisa, enquanto se tem apenas a
procedimentos, que de-
ram lugar às prevenções e às críticas indi idéia da palavra.
scretas que se fizeram
contra este novo método. Estes proc Enquanto muitas descobertas foram colocadas na fila das
edimentos, se não forem
razoáveis, serão semelhantes a afetaçõe quimeras, a incredulidade de certos sábios me deixava toda a
s tão absurdas quanto
ridículas, às quais será impossível atribuir fé. Determ glória da invenção. Mas depois, quando foram forçados a reco-
prescritos de modo positivo, tornar-s inados e
e-ão, sob uma observa- nhecer sua existência, começaram a me opor obras da Antigúi-
ção muito escrupulosa, motivo de supe dade nas quais se encontram as palavras fluido universal, mag-
rstição. E eu ousaria di-
zer que uma grande parte das cerimôni
as religiosas da Antigúi- netismo, influência etc. Mas não é uma questão de palavras e
dade parecem consequência desse empi sim da coisa, e sobretudo da utilidade de sua aplicação.
rismo. Por outro lado,
todos aqueles que quiseram se assegura
r por sua própria expe- Encontrar-se-á no corpo de minha doutrina que o ho-
riência da realidade do magnetismo,
praticando-o sem conhe- mem, como objeto principal de nossa contemplação na natu-
cer seus princípios, viram-se privados
de obter o sucesso que reza, pode ser considerado em razão dos pontos constitutivos
pretendiam, imaginando que os efeitos
deveriam ser o resulta- do seu mecanismo, e em razão de sua conservação. Sob a pri-
do imediato dos procedimentos com
o aqueles da eletricidade
ou das operações químicas.
Considerando que a influência recíproca 193 Sobre o tema, esclareceram os espíritos: “Considerado como joatéria
Corpos, que o fmã nos representa o mode
é geral entre os terapêutica, o fluido tem que atingir a matéria orgânica, a âm de repa-
lo dessa lei universal, rá-la. Pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou
atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra: pela fé é o-
ente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba
mento universal. Ora, desde que ele calcante e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é ne-
pode operar uma modificação nas
propriedades da água, pode também cessária a simultaneidade das duas ações; doutras, hasta uma só.
produzir um fenômeno análogo
com os fluidos do organismo, donde o (KARDEC, 1868, p. 316) Hahnemann também fez uso da comparação
efeito curativo da ação magnética,
convenientemente dirigida” (KARDEC, com o ímã para explicar a força vital e a cura na homeopatia: “aforças -
1862, p. 172)
192 O magnetismo animal, como meio nâmica dos medicamentos sobre o princípio vital, a fim de tornar o ho-
de cura, é uma terapia que precisa
ser aplicada com os conhecimentos e mem sadio, nada mais é do que o contágio, não sendo absolutamente
métodos da ciência médica, neces-
sita que o terapeuta conheça anatomia, fisiol material nem absolutamente mecânico, assemelhando-se à força do ím
ogia, e também tenha do- quando atrai poderosamente um pedaço de ferro ou aço que esteja pró-
mínio de práticas médicas como anamines
e e diagnóstico.
ximo”. (HAHNEMANN, Selected Writings, p. 99)
542 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER
e 543
meira se compreende os instrumentos do movimento e das Após as experi ências e as observações feit
sensações, que determinam as funções e as faculdades — daí, a tes razões para crer que som as, existem for-
esse respeito, minhas idéias sobre os nervos, a fibra muscular, os dotados de um sentido
que está em relação com interior
a irritabilidade, os sentidos etc. o conjunto do universo,
ma ser considerado uma e ue pod
Sob o ponto de vista da conservação, o homem é conside- extensão da visão ls
Se fosse Possível ser afetad dE po de
rado nos diversos estados em que percorre a carreira de sua o de maneira ater a idéia
ser auma distância infinita, de um
existência, como no estado de vigília, no qual faz uso dos seus assim como vemos às estrel
impressão nos é transmiti as cuia
sentidos, e continua a existir, em relação aos outros seres que da em linha reta, pela sen
sação ca
o cercam, e enfim no estado de saúde e de doença.
À vida de todos os seres no universo é uma só: ela consiste
no movimento da matéria mais sutil.14 A morte é o repouso ou a
conservação do movimento. Ver-se-á que a marcha natural e ine-
vitável é passar do estado de fluidez ao de solidez, que o termo
natural da vida do homem é determinado e fixado por sua orga-
hização e sua própria vida, que a doença pode aproximar este ter- dos eventos q ue se sucede
as
mo, impedindo o movimento e avançando a consolidação. Tra- m, compreender-se-jai a pos
Ç Pressentimentos e sibibil
ilii dade
de outros fenômenos,
ta-se aqui de conhecer os meios de retardar este termo fatal. ção, as profecias, os orácul tais co mo a predi
os das sibilas etç.197
O homem é dotado da faculdade de sentir, É pelas sensa-
ções e seus efeitos que ele existe em relação com outros mate-
riais e com os seres que se encontram fora dele. A diversidade
dos órgãos chamados os sentidos o toma suscetível de provar
os efeitos dos diferentes materiais que o cercam. O princípio
que o anima e que o torna ativo é determinado pelas sensa-
ções, e todas as ações são resultantes das sensações.
Independente dos órgãos conhecidos, temos ainda outros
órgãos próprios para receber sensações. Nós duvidamos de sua
existência pelo arraigado hábito de nos servirmos dos primei-
ros, de um modo mais aparente, e pelas impressões fortes às
quais estamos acostumados desde a primeira idade, absorvendo
as impressões mais delicadas e não nos permitindo percebê-las. de sentido espirisuado (Ro
* (Revista Espírita, 1867, p. 176)
194 Concordando com Mesmer, assim se expressaria Camille
Flamarion, no «& 197 Neste trecho Mesmer nã
século seguinte: "A grande lei de unidade e continuidade revela-se não :
- "mas suas observaçõ cem a nou explícita a existência do Perispítito
somente na forma plástica dos seres como também na força que os ani- $9es tece um paralelo perfeito com as
ma, desde o modesto vegetal ao homem superior.” (O homem primitivo,
teori
p. 89).
5 44
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. À MESMER 545
O que é certo é que esses fenômenos, tão antigos quanto várias Pess
pe oas, sejaj por um zelo imp
i rudente, seja por vaidade e
as enfermidades dos homens, sempre espantaram e muitas ve- ela ã
zes alucinaram o espírito humano. A disposição como se mani- necessáriasà , dera
retudo coppendações € precauções que eu julgo
pero publicidade prematura aos efeitos e, so
festam sem cessar, lembrando substâncias cujas modificações explicação desse sono crítico. Não ignoro que fora
têm mecanismos desconhecidos, levam-no igualmente a atri- retormarem a passa largos m
ejo com d or Os antiigos preconceitos
buir aos espíritos ou a princípios sobrenaturais os efeitos que
sua inexperiência o impede de atinar com as verdadeiras cau- mui Temos ainda presentes as
Buiç
persegui çõões que o fanati
sas. Segundo sejam felizes ou funestas, segundo as aparências, cao erédulo exerceu, nos sécu
los da ignorância sobre ao
seus princípios foram caracterizados como bons ou maus. E Pessos que tiveram a infelicidade de serem os person
segundo eles determinem a esperança ou a crença, à supersti- de des pro gios
ou que foram seus ministros. É de as
ção e a credulidade ignorantes os tornam por sua vez sagrados var a seiam se acre di
hoje vítimas do fanatismo da incr
edulidade não
ou criminosos.203 Estes fenômenos só serviram para provocar serão P inidos como idólatras ou
sacrílegos, mas serão tratados
frequentes revoluções, dispondo as fontes e meios para à char- impostores e perturbadores da ord
em pública 204
latanice política e religiosa de várias pessoas. cas Com
o Da
oa enorênci
ância é, em todas as suposições,
a fonte das injus-
Observando esses fenômenos, refletindo sobre a facilida- moral, crei
o ser necessário esclarecer sobre a natu
de com a qual esses erros nascem, multiplicam-se e suce- à O nos fascina, mas que foi
reza
dem-se, ninguém poderá desconhecer a fonte das opiniões so- te desconhecido, mesmo estando
diante de nossos olhos
bre os oráculos, as inspirações, as síbilas, as profecias, as one Sob
abre Ss efeitos do magnetism i o
divinações, os sortilégios, a magia, a demonologia dos antigos. do animal, notadamente
, que é um dos fenômenos
mais impressionantes
E nos nossos dias, as possessões e as convulsões. quanto à sua aplicação , à SOCIE: ot
em três classes, dade francesa pode ser dividida
Embora essas diferentes opiniões pareçam tão absurdas
quanto extravagantes, não passam de quimeras. São muitas Na rimei x .
vezes o resultado de observações de certos fenômenos da na- fatosrelativos a este fenómç o, ignoram absolutamente todos os
indiferer
tureza que por falta de luz ou boa-fé foram sucessivamente interesse mal-entendid, ; se Seja por indifere nça, seja por um
desfigurados, ocultos ou misteriosamente escondidos. Posso que a históri O) € sé obstinam a fechar os olhos a tudo o
provar hoje que tudo o que tem sido considerado verdadeiro qualquer coi a e a observação lhes apresenta. Tentar ensiná-los
isa seria explicar as cores aos nascidos cegos
nos fatos analisados deve ser relacionado com a mesma causa € emo Vejdoo naa argunca classe os que,
que não devem ser levadas em conta senão como sendo modi- após terem conhecimento
exato cípios, medita
À ram sob re eles, ou deles
ficações do estado chamado sonambulismo. usoe obtiveram a cada dia à fi-
confirmação por xpei
Depois de meus métodos de tratar e de observar as doen- es
=
ças serem postos em prática em diferentes partes da França, 204 Anton Mesmer refere-se aqui às
T o dos menos s Lis LOC!
+ 7
DElt o ELELUAT
203 A ignorância da origem natural dos fenômenos metafísicos alimenta a bruxos ou i die Provocavam, eram classificados como
superstição, a equivocada suposição do milagre e O charlatanismo. Mes- foi devido à a conoriados e condenados às fogueiras, Para Mesmer,
os sonâmbulos é e ti
isso
DO» apesar de extinta a condenação fatal
mer demonstra que uma reflexão positiva, deduzida da observação e da
experimentação, elimina as causas supersticiosas e remete o tema para credulidade materialista E denbos o acusados de charlatanismo pela in-
i 2 nam - da
Em ambos os casos,a causa meira
ime é sempre a.
âmbito da ciência. gnorânciae a submissão vontade pelo despo isa
548 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓR
| IA DE F. A. MESMER 549
cia própria: eu nada mais faço do que convidá-
los
rança, tenho confiança de que esta escritura acre à perseve- O universo é o conjunto de todas as partes co-existentes
scentará algo da matéria que preenche o espaço. Segundo esta idéia, existe
aos seus esclarecimentos.
tanta matéria quanto o espaço possa conter eestá num estado
Prraimente, incluo na terceira classe aqueles
que, por obs - igual de continuidade. Todas as partes da matéria estão em re-
servaçõe
s constantes e múltiplas, asseguraram-se
da realidade pouso ou em movimento entre si, e por consequência trata-se
dos fatos, mas que, não podendo explicar as
causas e querendo ou de fluidos ou de sólidos.
sair do estado penoso da perplexidade, em lugar
de terem re- A fluidez e a solidez devem ser consideradas como um es-
corrido aos meus princípios, preferiram as
ilusões da metafi- tado relativo do movimento e do repouso das partículas entre
sica. Foi para eles, essencialmente, que escre
vi: que me leiam: si, E nessas relações únicas se encontra a razão de todas as for-
sem prevenção e não tardarão a reconhecer que
tudo é explicável mas e propriedades possíveis. Os sólidos supõem uma forma,
pelas leis da mecânica encontradas na natur
eza, e que todos os: que contém interstícios preenchidos por matéria menos sólida
efeitos pertencem às modificações da matéria
e do movimento. ou mais sutil, que por sua vez consiste de pequenas massas
Penso que cumpri essa tarefa importante se troux
e, no com forma determinada, estando presentes ainda interstícios
curso desta memória, uma solução adequada
para as questões | com uma matéria mais fluida. Estas divisões entre os interstí-
que seguem e nas quais creio ter previsto
as dificuldades mais cios e os fluidos, como foi dito, sucedem-se por uma espécie
espinhosas.
de gradação, até a última das subdivisões da matéria, que cha-
1. Como o homem adormecido pode julga
r e prevenir mo de elementar, ou primordial, que é apenas de fluidez abso-
suas moléstias, e mesmo as dos outros?
luta, e os interstícios não são mais ocupados, pois que não
| 2. Como, sem qualquer instrução, pode
indicar os meios existe matéria mais sutil.
mais adequados à cura?
A mobilidade da matéria, estando na razão inversa da ausên-
3. Como pode ver objetos afastados e pressentir
os acon- cia da coesão, deve responder à sua sutileza. Consegientemente
tecimentos?
a mais fluida e a mais sutil devem ser devidas à mobilidade mais
4. Como o homem pode receber impressõ
es de uma ou- eminente. As três ordens de fluidez, que impressionam nossos
tra vontade que não a sua ?
sentidos — a água, o ar, e o éter -confirmam-nos esta progressão.
5. Por que o homem não é sempre dotado dessa
s faculdades? É necessário lembrar aqui que entre o éter e a matéria ele-
6. Como são passíveis de aperfeiçoamento? mentar existem séries de matérias de fluidez graduada, capa-
7. Por que este estado é mais frequente e pare zes de penetrar e preencher todos os interstícios.?05
ce ser mais
perfeito após o emprego do processo do magn
etismo animal? Cada um dos três fluidos conhecidos é suscetível de ser o
8. Quais têm sido os efeitos da ignorância deste
s fenôme- condutor de um movimento particular proporcional ao seu grau
nos e quais são eles ainda hoje? de fluidez. A água, por exemplo, pode sofrer as modificações
9. Quais são os inconvenientes resultantes
do abuso que
deles se faz? -
Para que eu possa responder a estas perguntas 205 A percepção de Mesmer quanto à rarefação dos fluidos até o seu grau má-
de uma manei- ximo como fluido universal nos remete à teoria espírita dos fluidos: “A
ta precisa, creio dever facilitar a inteligência e a
explicação
, por pureza absoluta, da qual nada nos pode dar idéia, é o ponto de partida do
meio de uma exposicação resumida dos princ fluido universal. O ponto oposto é o em que ele se transforma em matéria
ípios gerais propos-
tos na minha teoria, dos quais alguns já são conhecid tangível. Entre esses dois extremos, dão-se inúmeras transformações,
os do leitor. mais ou menos aproximadas de um e de outro." (KARDEC, 1868, p. 276)
50 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER
5 551
a m.
do Cê que- podem Esta variedade de disposições era nece
do calor. O ar, todos os movimentos imersos num oceano de fluidos, ssária para que,
i i mo . possamos não confundir, e
Suas modificações são determinadas mesmo distinguir com a maior just
a o eza, os efeitos das diferen-
tes matérias e os movimentos determ
o
ec os o
4 -
556
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 557
dO só é possível adquirir este
mediação gênero de sensação pela:
dos fluidos, que são tão sup dos músculos, dos membros, a palavra etc. Quando o homem
eriores em sutileza ao éter
5 está saudável, o sono é regular e periódico.
tan SFRes deseia
Presa
Kplicar às Cores pelos son »“as POr tia especie de repularidades na ECONOMIA ani-
sério complementar pelas ref s. 212 É neces-
lex mal, e por diferentes irritações interiores, pode acontecer que
Pré-sensações, constantes dos ões o que se pode fazer sobre as as funções denominadas animais não sejam inteiramente in-
homens e sobretudo dos ani
mais terrompidas, e que certos movimentos dos músculos, assim
como o uso da palavra, sejam conservados no homem adorme-
cido. Nos dois estados de sono, as impressões das matérias
ambientes não se fazem sobre os órgãos dos sentidos externos,
Mas por que, Perguntar-se mas diretamente e imediatamente sobre a própria substância
-á, o estado de sono do
homem dos nervos. O senso íntimo se torna assim o único órgão das
sensações “4 Estas impressões se encontram independentes
' O sono natural e perfeito do dos sentidos externos e se tornam então sensíveis pelo fato de
home
m é o estado em que as
ções dos sentidos estão serem únicas. Como a lei imutável das sensações é a de que a
suspensas, isto é, em que
nuidade do sensorium com a conti- mais forte sobrepuje a mais débil, isto pode ser sentido na au-
mune?l3 com os órgãos dos
a está interrompida: sen tidos sência de uma mais forte. Se a impressão das estrelas não é
cessam todas as funçõe
dia a ou imediatamente s que me- sensível à nossa vista durante o dia como o é durante a noite,
dependem dos sentidos
mo à imaginação, a mem externos apesar de sua ação ser a mesma, é que elas são ofuscadas pela
ória, os movimentos
“-
2 a
voluntários ,
impressão superior do sol.
Pode-se dizer que no estado do sono o homem sente suas
0-—— 0 relações com toda a natureza. Como não podemos ter qual-
21 | Curiosamente , Allan
Karde € grafou, em seuÀ quer idéia dos conhecimentos do homem mais instruído se ele
Para Deus, o passado e q gênese logo a:
futuro são o presente.” : não fala ou não se faz entendido, eu creio que seria difícil per-
212 Como pr 1 89 após otítulo:
Mesmer, me iensações dos
sonâmbulos (e também dos suadir quanto à existência desse fenômeno se não se encontrar
oO ind
Indeesc
scritíveis. Kardec esclareceu: : “Para c omp indivíduos que durante seu sono e por efeito de uma doença
êàs Coisas espirituais, isto reendermos
é, , para fazermos S delasdelas idéiaidéia
emos de Uma Paisagem tã clara como a ue
tão
que tenhamos ante os olho
pie um sentido, Exatament s, falta-nos em vero
e Como ao cego de nascen 214 O espiritismo veio confirmar a hipótese de Mesmer segundo a qual o
pa e compreender os efei ça falta um que lhe
tos da luz, das cores e da vist senso Íntimo (ou perispírito) é o único órgão das sensações: “A vida inte-
Se segue que somente por a, sem o contato
esforço da imaginação e por lectual está no espírito. O perispírito é o agente das sensações exterio-
meio de com-
res. No corpo, estas sensações estão localizadas em órgãos que lhe ser-
vem de canal, Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais.”
(Revista Espírita, 1858, p. 348) Em vida, essa propriedade explica os fe-
nômenos magnéticos e espíritas: “Cremos piamente — o que pode ser
provado pela experiência — que a privação de relações com o mundo ex-
O, Sensorium commune, util
sã
.
izad
fa
terior devido à falta de certos sentidos dé, em geral, maior poder à
te o espírito: “chegam ao sensor a por Mesmer, como sendo exatamen-
,
u de uma crise conservem a faculdade de nos dar a entender, der senso íntimo com exclusão dos outro:
O que se p como fundamentados na Proporção pode-se considerá-los
tanto por suas ações como por suas expressões, desta aproximação.
com eles. 215 à eme A perfeição deste sono crítico vari
às marcha e
a ainda em razão da
Suponhamos, por um momento, ump ovo q que,e seme do período da crise, como também
do caráter, do
lhança de alguns animais, dorme necessariamen Pé e temperamento e dos hábitos das
Pessoas. Mas singularmente,
solLo cara acordar apenas após o seu retorno no porosizonte: à e por uma espécie de educação que se lhe pod
e dar nesta esta-
ão teria nenhuma idéia do magnífico espetáculo da noi ee do, e pela maneira como se diri
gem suas faculdades, pode-se
creria apenas na existência das coisas limi(atas aos O jeto ai compará-los a esse respeito a um
telescópio cujo efeito varia
veisi durante o dia.i Se m essas condições
içõ disseesse
se issesse àa esse
€ Pora conforme a maneira como é ajustado
.216
i tre eles homens nos qu ais esta ordem i Embora no estado do sono crítico
a noi : a substância dos nervos
urbada p por doenças, e q ue foram reve lados durante
darturbada seja afetada imediatamente, de
modo que o homem age se-
a distâncias infinitas, corpos luminosos inumeráveis, e por gundo o senso íntimo, os efeitos das
diversas matérias estão re-
assim
s dizer, novos mundos, seriam
i sem dúvida
ávi trata o s Come
com lacionados com os órgãos dos sent
entre suas opinões. idos internos, que lhe são
visionários, pelas prodigiosas diferenças particularmente destinados. Assim,
quando o sonâmbulo diz
j aos olhos da muitidão,
sã entretanto, h oje,
aisis são, ENA que vê, não são seus olhos pro
priamente ditos que sentem
dos os que pretendem que no sono o homem tem a facul modificações do éter, mas se refere as
a ver as impressões que lhe
ender suas sensações. o Tepresentam os movimentos da luz, tais como as
formas, as fi-
e o estado de crise da qual falo, sendo intermediário entre, : guras, às cores, as situações. Quando
diz que ouve, não é pelos
igíli no perfeito, pode estar distante enos de ouvidos que recebe as modulaçõe
s do ar, mas se refere sim-
|
de outra, é suscetível de diversos graus de perfeição. Se plesmente a ouvir estes movimento
s relativos de onde tira a
este estado estiver mais próximo da vigília, ela p do E então de impressão. É o mesmo para os outros
órgãos, e faz assim uma
memória e da imaginação, prova osefeitos os Send pn espécie de tradução para Expressa
r suas idéias na língua for-
estas impressões se encontram então con as dao bodendo mada pelo senso íntimo. Segue-se
que como ele faz sempre
do senso íntimo a ponto de algumas vezes mind as podendo uso de uma língua que se pode dizer
emprestada, é fácil se en-
ser consideradas neste caso como sonhos. Mas qui ndo ese esta Banar, e é necessária a experiência
de um bom observador para
do é o mais próximo do sono, as asserções € os sonâmbui dor entender e bem interpretar.
então o resultado das impressões recebi e Devo dizer ainda que a perfeição dess
essencialmente de duas condições.
a
sensação depende
Uma é a suspensão total da
“a
APÊNDICE I
dem destruir, é eu verei com praz
er melhores gênios remonta-.
rem a princípios mais sólidos,
mais luminosos, talentos mais
amplos que os meus descobrirem -
Suas Concepções e seus trabalho
novos fatos e tomarem, por MAGNETISMO ANIMAL E
s, minhas descobertas aínda
mais interessantes. Em uma pala
vra, eu devo desejar que se HOMEOPATIA
faça melhor do que eu. Será sufi
ciente sempre à minha glória
ter podido abrir um vasto campo
aos cálculos da ciência, e de
ter de algum modo traçado a rota
desta nova carreira,
Como me resta a percorrer ape
nas um curto trecho do Em 1991, o pesquisador Thomas Genneper estava traba-
caminho da vida, dese jo consagrar o que me resta de exis
cia à única prática de um mei tên- lhando sobre a atividade clínica de Samuel Hahnemamn. Toda-
o que reconheço como eminen-
temente útil à conservação de meu via, Os testemunhos históricos eram parciais e muito escassos.
s semelhantes, a fim de que Seria necessário consultar os arquivos do próprio fundador da
não sejam de agora em diante
expostos às chances incalculá- homeopatia. Foi o que ele fez e, entre as obras de Hahne-
veis das drog as e de sua aplicação.
mann, encontrou duas dezenas de grandes livros numerados
em série, grafados com manuscritos em gótico, contendo, sob
FIM a forma de diário de atendimento, numerosos casos da prática
médica homeopática.
Desde 1799, Hahnemann começou a registrar sistematica-
mente em seus livros diários os diagnósticos dos pacientes e os
medicamentos ministrados. Minucioso e dedicado, elaborou
seus registros por 44 anos, em 54 volumes com suas anotações
de próprio punho. Entre todos os casos, Genneper encontrou a
descrição detalhada do caso do famoso professor de piano Frie-
drich Wieck (1785-1873), tratado nos anos 1815-16, -
Depois de um estudo dedicado, Genneper chegou a con-
clusões surpreendentes envolvendo o magnetismo animal:
565
566 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
irmão
mo merece ser chamada de mesmerismo negativo, pois age des cana rui velho lhe epli, casse um pass
e rápido negativo des-
de modo contrário. À essa categoria pertencem os passes que eça, sobre o corpo até os pés eiimedi
são empregados para despertar do sono sonambálico, bem te recobrou a consciência, são e salvo i -
. ? “témen
como todos os processos manuais que foram catalogados sob
o nome de acalmar e ventilar. Essa descarga, através do mes- Ati
a doutrina h omeopática,
merismo negativo da força vital acumulada em excesso, em mo Segundo
ds essa ação .
muito útil em algumas patologias: são magnética é
partes isoladas do organismo de pessoas não debilitadas,
faz-se de modo mais certo e mais simples, efetuando-se um posa
movimento rápido do alto da cabeça até a ponta dos pés com amém Um passe negativo suave, um
pouco me-
a palma da mão direita estendida paralelamente a uma dis- su tação e aà ins
quie
Pessoas muito sensíveis, suaviza
ivai
tância de cerca de uma polegada do corpo,?!! Quanto mais insônia com ansisiedade,le, , que que prov
provê
ee, da êem,
vêem , muit
muit ias
rápido for esse passe, tanto mais forte será a descarga. Assim, aplicação de um passe posit
por exemplo, por ocasião da morte aparente de uma senho-
por diante. (HAHNEMANN, 1842, $ ivo
289)
muito forte, e assim
seda, poderá transmitir sua força vital ao doente de modo mais comple- A médium era a senhorita Ja-
to do que se mantiver seus pés apenas no chão. phet. Essa
sa mé dium teve um papel fundame ntal
da obra inicial da doutrina espírita na elaboraçã
222 Nota de Hahnemman: Daí, um passe negativo, especialmente muito rá- , O livro dos espíritos, e ara
pido, ser sempre extremamente prejudicial a uma pessoa cronicamente t ambém, segundo Kardec,
uma excelente sonâmbula,
débil e de pouca vitalidade,
572 PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
APÊNDICE 1: MAGNETISMO ANIMAL E HOMEOPATIA 573
ao rio
D E
APÊNDICE II
M. MESMER,
DicrÊS al'afenhtte dejes Eleves,
& dans lefqueis on trouxe fes prine
cipes , fa ihdorie & tes moyens de ÁFORISMOS DE MESMER
magnetifer ; le tout formant um
corps de Doadrine developpé en
344 paragraphes , pour faciliter
happlicasion des Commentaires em
agnitifine anima! ;
- rage misau jour par M.C. de V.
Me=cin de la Maifon de MONSIEUR.
Seilicet ut pojfem curvo dignoftere
rertum ,
«dtque inter filvas Academi quarere
- O Verum,
cateLiv: IE. Ep, a.
52. Admitindo que tudo é pleno, não pode existir uma maram 9 primeiro grau de coe
são, uma infinidade de molécu
corrente saindo sem uma corrente entrando, e vice-versa. as mais grosseiras ficaram jun -
tas e aplicadas às primeiras mai
53. Existe no universo uma soma determinada, uniforme e con sideráveis, que estavam em repouso, s
e constituíram uma
constante de movimento, que no começo é impressa à matéria.
54. Essa impressão do movimento se faz então sobre uma
massa de fluido, de modo que todas as partes contíguas do + oo Duas partículas que est
ão em repouso formam um
fluido receberam as mesmas impressões. stáculo às duas fileiras das
correntes que lhes correspon
55. Resultam duas direções opostas, e todas as progres- -
sões dos outros movimentos compostos.
(A) (B) cios estão mais retraídos.
56. Tudo sendo pleno, se A se dirige a B, é preciso duas coi-
63. À aproximação de um c orpo
sas: que B seja deslocado por À e que A seja substituído por B. sólido, toda corrente é
57. Esta figura explica: acelerad
solid da e matéri
ez a, esta a,aceleraçção é devi Satibilid
vida à compatib i i ade eou à
1º todas as gradações e todas as direções do movimen- o 64. Ou estas fileiras passando gua
to; rdam sua primeira dire-
são, e suas partes obedecem a um
2º um movimento de rotação universal e particular; movimento confuso
é 5 - Se esta corrente atravessando
3º este movimento é propagado apenas a uma certa um corpo é modificada
em fileira
separada, e se
as fibras opostas, partindo de dois
distância da impressão primitiva; Corpos, insinuam-se mutuament
e nos interstícios uma da ou-
4º correntes universais e mais ou menos compostas. tra, sem perturbar seu movime nto, resulta a atraçã
58. 5º Mediando estas, correntes a soma do movimento é ou o fenômeno do ímã. ção aparente
distribuída e aplicada a todas as partes da matéria. . 66.Seas file
iras, em lugar de se insinuarem, anu
59. 6º Nas modificações das correntes, existe a fonte de ou se uma predomina sobre a outr lam-se
a, resulta a repulsão.
todas as combinações e de todos os movimentos possíveis, de- mu O equilíbrio exige que, quando uma
senvolvidos e a desenvolver. Assim, no número infinito das Corpo, uma outra saia igualmen
corrente entra
te.
No entanto, o movi-
combinações da matéria que o movimento de uma ou de outra mento dos raios que saem é mai
mais fraco, porque eles são diver-
espécie havia gerado, aquelas perfeitas — isto é, nas que não ha- gentes e esparsos. REM são diver
via ponto de contradição de movimento — subsistiram e estão nn A natureza das correntes universais e part
conservadas, aperfeiçoando-se, e são destinadas a formar nú- assim determinada, explica a ori
iculares, es-
cleos para a propagação das espécies. Poder-se-á fazer uma gem ea
corpos celestes.
marcha dos
69. 1º A molécula mal grosseira que.o-s.
éria 488
nou-se o centro de uma corrente TEIRAL TOOL
sutil. o particular.
a À
70. 2º A corrente, à medida
61. 8º Assim, por direções opostas, e celeridades desi- que penetrou a matéria flutu-
€ que a estava envolvendo, aumentou
guais, as partículas tocando-se e ficando sem movimento, for- corrente sendo acelerada, tornando-se esse corpo central, a
mais geral e se apode-
584
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER
585
tando da matéria mais gro
sseira. Esta ação estendeu-
stância em que ela é con se até a
trabalançada pela ação consequentemente ela se exerce sobre todas as partes consti-
dum outro corpo central, semelhante
tutivas e sobre suas propriedades.
713º Sepois : te-r ao
se Ta igu
i alment
e da periferia SU. Esta influência recíproca e as relações de todos os cor-
pos coexistentes formam o que se chama magnetismo.
Do fluxo e do refluxo
119. À causa da grav
idade de todos
também a de todas as propriedades dos os grandes corpos é
corpos organizados e
não organizados
mente cessa, 120. O movimento de rotação das
esferas e suas diferen-
tes distâncias são as causas da influênc
ia mútua aplicada suces-
sivamente e alternativamente às part
Do fogo tão em presença uns dos outros.
es destes globos que es-
112. Há duas direçõ
partes da matéria Se ap es do mo vimento. Segundo uma, as 121. A superfície do globo está coberta
da matéria líqui-
roximam; e segundo da, a atmosfera e a água, que se confor
tam. Uma é o Prin
cípio da combinaç
Outra, elas se afas- mam exatamente às leis
ão e a Outro provoca hidrostáticas,
solução. a dis-
122. À parte que se encontra à vista, tend
o perdido sua gra-
vidade, é comprimida e elevada pelas
partes laterais, até que ela
se encontre em equilíbrio com o rest
ante, À superfície da atmos-
“fera e aquela do mar tornam-se entã
o um esferóide, em que o
eixo mais longo está virado para a lua,
e a segue no seu curso. O
sol concorre com esta operação, embo
ra mais debilmente.
123. À este efeito alternativo dos Prin
cípios da gravidade
retina, dá a idéia da chama-se fluxo e refluxo.
do fogo, e, sendo reflet
ido por outros co rpos, chama ou clarão 124. Quando diferentes causas conc
115 «O mesmo movi dá a idéia da luz, orrem, seja relativa-
ment o propagado e apli mente a diversos astros, seja relativa
tes destinadas ao tat cado às par- mente à terra na qual essa
o, diminuindo ou enf ação torna-se comum a todas as part
menos a coesão, dá a ra quecendo mais es constitutiva
s, e a todos
idéia do calor. ou 08 seres que os ocupam, há então fluxo e
refluxo mais ou me-
nos gerais, mais ou menos compostos?
590 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 591
125. Os efeitos desta ação alternativa e recíproca, que au- 133. O excesso de movimento excitado pela fricção de
menta é diminui as propriedades dos corpos organizados, serão um corpo elástico, e que se acha exposto a um outro, de modo
denominados intenção e remissão. Assim, por esta ação se- a poder se descarregar, forma a eletricidade artificial.
rão aumentadas e diminuídas a coesão, a gravidade, a eletrici- 134. Em toda eletricidade se observam correntes que pe-
dade, o magnetismo, a irritabilidade. netram e que saem,
126. Em relação ao posicionamento respectivo da terra e
da lua, esta ação é mais forte nos equinócios.
Do homem
127. 1º Pelo fato de a tendência centrífuga sob o equador
ser mais considerável, a gravidade das águas e da atmosfera é a 135. O homem, em razão de sua conservação, é conside-
mais débil. rado no estado de sono, em estado de vigília, em estado de sa-
úde, em estado de doença. Do mesmo modo que para toda a
128. 2º Pelo fato de a ação do sol concorrer com a da lua,
natureza, no homem existem dois princípios: a matéria e o
esta ação é ainda mais forte quando a lua está nas linhas borea-
movimento.
is, quando está em oposição ou em conjunção com 0 sol.
129. Os diversos concursos destas causas modificam dife-
136. A massa da matéria que o constitu
itu i pod. -
tada ou diminuída.
rentemente a intenção do fluxo e refluxo. pets der dtmea
130. Como todos os corpos particulares sobre a superfície
17 A diminuição deve ser reparada: a matéria perdida é
então restaurada da massa geral por meio dos alimentos.
da terra têm sua influência ou tendência mútua e recíproca,
existe ainda uma causa especial do fluxo e refluxo. 138. A quantidade de movimento é reparada da soma do
movimento geral pelo sono.
131. Independentemente do fluxo e refluxo observado
até o presente, existem seculares, anuais, mensais e diários, e 139. Como o homem faz dois tipos de gastos, tem do
diferentes outros irregulares e acidentais. mesmo modo duas espécies de refeição: pelos alimentos e
«pelo sono.
140. No estado do sono, o homem age como máquina em
Da eletricidade que os princípios do movimento são internos.
132. Se duas massas, carregadas de quantidades desiguais | 141.0 estado de sono do homem existe quando o exercí-
de movimento se encontram, elas se comunicam o excesso para cio e as funções de uma parte considerável do seu ser estão
se porem em equilíbrio. A massa menos carregada recebe da suspensas por um tempo, durante o qual a quantidade de mo-
outra o que ela tem a mais. Esta carga se faz ou em quantidade vimento perdido durante a vigília é reparada pelas proprieda-
considerável de uma vez ou sucessivamente como por fileiras. des das torrentes universais nas quais ele está colocado.
O primeiro caso se manifesta por uma explosão capaz de 142. Existem dois tipos de correntes universais relativa-
produzir o fenômeno do fogo e do som. tmnêémn "9 A
168. Estas correntes, sempre conservando o caráter ton 178. Esta continuidade de afeições
constitui em conjun-
to, um todo que pode combinar-se,
co que haviam recebido, podem penetrar todos os corpos compor-se, comparar-se,
dos e líquidos. | modifica r-se, organizar-se. E o resultado diss
samento.
o tudo é um pen-
169. Estas correntes podem ser comunicadas e propaga
das para todos os meios em que existe continuidade, seja é 179. Todas as mudanças
nas proporções e nas relações das
afeições de nosso corpo produz
do, seja fluido, nos raios da luz, e pela continuidade das os em um pensamento que não
ções dos sons.
havia antes,
170. Estas correntes podem ser reforçadas. 180. Este pensamento represent
a a
diferença entre o es-
tado anterior e o estado modificado;
171. 1º por todas as causas do movimento comum * dois cepção da diferença. A sensação está
a sensação é então a per-
são todos os movimentos intestinos e locais, os sons, os in N na razão da diferença.
o vento, a fricção elétrica e outra qualquer — e pelos « cos 181. Existem tantas sensações poss
íveis quanto existem
p diferenças possíveis entre as propor
que já são dotados de um movimento, como o im ções.
imados; 182. Os instrumentos ou órgãos
que servem para perce-
> 2 por sua comunicação aos corpos duros nos que ber as diferenç as das afeições são chamados de sent
partes principais constitutivas dest idos. As
podem ser concentradas e armazenadas como numa re ev es órgãos, sobretudo nos
animais, são os
rio, para serem distribuídas a seguir em diversas direçõ a nervos que, em maior ou men
or quantidade,
são expostos a serem afetados pelas
173. 3º pela quantidade dos corpos à que estas core nes téri
a,
diferentes ordens da ma-
são comunicadas. Este princípio não sendo mais uma su ar
cia, mas uma modificação, seu efeito aumenta como aq 183. Além dos órgã
os conhecidos, temos ainda diferent
itecão órgãos próprios para receber a es
fogo à medida que é comunicado. impressão e de cuja existência
çà duvidamos em
decorrência do nosso hábito de nos ser
174. Se a corrente do magnetismo concorre na virmos
dos órgãos conhecidos de uma for
com a corrente geral ou com a corrente magnética é o mundo, pressões
ma Brosseira, e porque im-
fortes com as quais estamos aco
o efeito geral que resulta é o aumento de intensidade permitem nos apercebermos das imp
stu mados não nos
estas correntes. | ressões mais delicadas.
184. É provável, e existem fortes
175. Estas correntes podem ainda ser refletidas nos espe mos dotados de um sentido interno
razões q briori, que seja-
lhos, segundo as leis da luz. conjunto de todo o universo. Observ
que está em relação com o
ações exatas podem nos
assegurar. Daí pod er-se-á compreender a possibilidad
pressentimentos. e dos
Das sensações
176. Sentir é a matéria organizada, a faculdade de receber 185. Se é possível ser afetado de man
eira a ter a idéia de
impressões. “r-sera urna distância infinita, assi
m como vemos as estrelas,
177. Assim como o corpo se forma pela continuidade da cuja impressão nos é enviada em linha reta
uma matéria coexistente entre
pela sucessão de
matéria, a sensação resulta da continuidade das impressões o elas e nossos órgãos, por que
não seria possível ser afetado por
afeições de um corpo organizado. seres cujo movimento suces-
sivo é propagado até nós por linhas
curvas ou oblíquas, numa
596 PAULO HENRIQUE DE FIG UEIR
EDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 597
direção qualquer,por que não poderíamos ser afe
encadeamento dos seres que tados pelo 195. Um homem insensível ao instinto é o mesmo que
se sucedem?
186. Uma lei da sensação. um ângulo em relação aos objetos visíveis.
ção-é-que-enrto rdas que
ur aferções
estão nos nossos órgãos, tor
na-se sensível aquela que é 196. O homem que se serve apenas do que ele chama de
forte. A mais fort a mais razão é como aquele que se serve de uma luneta para ver tudo
e sensação suprime a mais débil.
187. Nós não sentimos o objeto tal que deseja olhar: ele está disposto por esse hábito a não ver com
a impressão, à nature
qual ele é, mas apenas seus próprios olhos e a jamais ver os objetos como um outro.
za e a disposição do órgão
as impressões que o precedera que a recebe e
m. 197. O instinto está na natureza, a razão está descontente,
pa Nossas sensações são Portanto o cada homem tem sua própria razão. O instinto é um efeito de-
Os eleitos que causam os obje
res
ultado de todos terminado invariável da ordem da natureza em cada indivíduo.
tos sobre os nossos órgãos.
189. Disso vemos
que nossos sentidos não nos 198. A vida do homem é a porção do movimento univer-
tam os objetos tais quais são. apresen- sal que na sua origem torna-se tônico e aplicado a uma parte
Pode-se apenas se aproximar
Mais ou menos do conhecimento da nat . da matéria, e foi destinado a formar os órgãos e as vísceras é
um uso e uma aplicação combin ureza dos objetos por em seguida a manter e retificar suas funções.
ada e refletida de diferentes
sentidos, mas jamais se pode con
hecer sua verdade 199. A morte é a abolição total do movimento tônico. A
vida do homem começa pelo movimento e termina pelo re-
pouso. Do mesmo modo que na natureza toda, o movimento é
Do instinto a fonte das combinações e do repouso, do mesmo modo no
. 190. A faculdade de sentir na har homem o princípio da vida torna-se causa da morte.
ção que Os seres e eventos
monia universal a reia-
têm com a conservação de
cada in-
200. Todo desenvolvimento e formação do corpo orgâni-
divíduo é o que se deve chamar
de instinto. co consiste nas relações diversas e sucessivas entre o movi-
191. Todos os animais são dot mento e o repouso. Sendo sua quantidade determinada, o nú-
ados desta faculdade que
está submetida às leis comuns mero das relações possíveis entre um e outro deve
das sensações. Esta sensação ser
mais forte em razão do maior é determinada. A distância entre dois termos ou pontos pode
interesse que os aconteciment
têm sobre nossa conservação. os ser considerada como representante da duração da vida.
É
192. A visão é um exemplo de 201. Se um destes termos é o movimento e o outro o re-
um sentido pelo qual nós
podemos perceber as relações pouso, a progressão sucessiva de diversas proporções de um e
que os seres coexistentes têm
entre si, assim como suas relaçõ do outro constitui a marcha e a revolução da vidá: passado este
es conosco antes que eles nos
toquem diretamente, ponto, começa-se a morrer.
193. Esta relação ou diferença 202. Esta progressão de diversas modificações entre o
de interesse está para o ins-
tinto assim como a grandeza movimento e o repouso pode ser exatamente proporcionada,
e a distância dos objetos estão
para a visão, ou esta proporção pode estar perturbada.
o 194. Como este instinto é um 203. Se o homem percorre esta progressão sem que as
efeito da ordem, da harmo-
nia, ele se torna uma Tegra segura proporções sejam perturbadas, ele existe em perfeita saúde e
das ações e das sensações; tra-
ta-se apenas de cultivar esta sens atinge seu último termo sem doença. Se estas proporções fo-
ibilidade diretriz e cuidar dela.
rem perturbadas, a doença começa. A doença não é portanto
598 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORIS
MOS DO SENHOR MES
MER 599
outra coisa que não uma perturbação
no progresso do movi-
mento da vida. Esta perturbação pode ser consider zem, por suas diferentes
ada como à aplicações, uma remissão
existente nos sólidos ou nos fluidos. Existind
o nos sólidos, ela bação mais ou Menos mar ou pertur-
cada nas propriedades da
desarranja a harmonia das propriedades das
partes orgânicas, dos órgãos. matéria e
diminuindo umas e aumentando as outras. 209. Para remediar os efe
Existindo nos flui- itos da remissão e da per
dos, ela perturba seu movimento local eintestino. Sdo, e para destruí-los, turba-
À aberração é Preciso então provocar
do movimento nos sólidos, alterando suas isto é, é preciso aument a intenção,
propriedades, per- ar a irritabilidade, a
turba as funções das vísceras, e as diferenç fluidez e o movimento. elasticidade, a
as que aí devem se
fazer. A aberração do movimento intestino dos
humores pro- 210. Um Corpo, estand
o em harmonia, é insens
duz sua degeneração. A aberração do moviment efeito do magnetismo, por ível ao
o local produz que
obstrução e febre: obstrução pela diminuiç a Proporção ou a harmonia
ão ou abolição do es-
movimento, febre pela aceleração. A perf
eição dos sólidos ou
das vísceras consiste na harmonia de todas
as suas proprieda-
des e nas suas funções. A qualidade dos fluidos,
-——
seu movimen-
to intestino e local são o resultado das funções
das vísceras.
204. É suficiente, portanto, para estabelecer
à harmonia
O
geral do corpo, restabelecer as funções
das vísceras, porque
suas funções, uma vez restabelecidas, assimila
rão o que pode
ser e afastarão tudo o que não pode ser assimilado rium da cura,
. Este efeito
da natureza sobre as vísceras chama-se crise.
212. Compreende-se ain
da que a aplicação do mag
Mo aumenta muitas vezes netis-
as dores.
Da doença 213. A ação do magnetismo
tado da harmonia, interrompe a aberração do
205. A doença sendo a aberração da harmonia, es-
ração pode ser mais ou menos considerável, esta aber-
e produzir efeitos 214. Segue-se dessa ação
aplicação do magnetismo. que os sintomas cessam pel
mais ou menos sensíveis. Estes efeitos são
chamados sintomas a
sintomáticos. 215. Disso segue-se ain
da que, pelo magnetismo,
206. Se estes efeitos são produzidos pela causa forços da natureza contra os es-
da doença
, são as causas das doenças são
chamados sintomas. Se, ao contrário, estes dos e, Por consegiiênci aumenta-
efeitos são esforços da a, os sintomas críticos são aum
natureza contra as causas da doença, e tende 216 - É por esses efeitos entados,
m a destruí-la, resta- diversos que é Possível dis
belecendo a harmonia, são chamados sintomas estes diferentes sintomas, tinguir
críticos.
207. Na prática, importa bem distinguí-los, a fim 217. O desenvolvimento
VEN UU barrar UNS é favorecer OS Outros.
de pre- das sintomas-se-faz a Ur
versa daquela em que a demi
doença se estabelece.
208. Todas as causas das doenças desnaturan 21 8. É preciso Tepresentar
tes ou que a doença como um novelo
desarranjam mais ou menos as proporções se divide exatamente co que
entre a matéria e o mo ele começa e cresce.
moviment o das vísceras entre os sólidos ou os 219. Nenhuma doença se
fluidos produ- cura sem uma crise.
600 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 601
| 220. Numa crise, devem ser observadas três épocas prin- 231. A criança, obedecendo unicamente ao princípio da na-
cipais: a perturbação, a cocção e a evacuação. tureza que formou seus órgãos, encontrará por si apenas as or-
dens nas quais convém instruir-se, desenvolver-se e formar-se.
232. O homem considerado em sociedade tem duas ma-
Da educação
neiras de ser em relação aos seus semelhantes:, por suas idéias
| 221, homem pode ser considerado como existindo indi- e por suas ações.
vidualmente, ou como constituindo uma parte da sociedade.
233. Para comunicar suas idéias aos outros homens, exis-
Sob estes dois pontos de vista, ele busca a harmonia universal.
tem dois meios, a língua e a escrita natural ou de convenção.
222.0 homem é entre os animais uma espécie destinada
234. A língua natural é a fisionomia, a voz e os gestos; a escrita
pela natureza a viver em sociedade.
natural é a faculdade de definir tudo o que pode falar aos olhos.
223. O desenvolvimento de suas faculdades, a formação
235. A língua de convenção consiste nas palavras; a escrita
de seus hábitos, sob estes dois aspectos, é o que se chama de
de convenção, nas letras.
educação.
. 224. A regra da educação é, portanto, primeiro, a perfei-
ção das primeiras faculdades e, segundo, a harmonia dos seus Teoria dos procedimentos
hábitos com a harmonia universal. 236. Foi exposto, na teoria do sistema geral, que as cor-
225. A educação do homem começa com sua existência. rentes universais são a causa da existência dos corpos, que
Desde este momento, a criança começa, primeiro, a expor os ór- tudo que é capaz de acelerar essas correntes produz a intenção
Ega
gãos de seus sentidos às impressões dos objetos externos e, se- ou o aumento das propriedades desses corpos. Segundo este
gundo, a desdobrar e exercer os movimentos dos seus membros. princípio, é fácil conceber que, se está em nosso poder acele-
226. À perfeição dos órgãos dos sentidos consiste, primei- rar estas correntes, nós podemos, aumentando a energia da
ro, na irritabilidade e, segundo, em todas as combinações pos- natureza, à nossa vontade estender a todos os corpos suas pro-
síveis de seus usos. priedades, e mesmo restabelecer aquelas que um acidente te-
227. A perfeição do movimento dos seus membros con- ria afetado, mas, do mesmo modo que as águas de um rio não
siste, primeiro, na facilidade; segundo, na justeza das direções; podem retornar para sua fonte para aumentar a rapidez da
terceiro, na força; e, quarto, no equilíbrio. corrente, as partes constituintes da terra, submetidas às leis
228. Sendo esse desenvolvimento um progresso da vege-
das correntes universais, não podem agir sobre a fonte primiti-
tação, a regra desse desenvolvimento deve ser oriunda da or- va de sua existência. Se não podemos agir imediatamente so-
bre as correntes universais, não existe para todos os corpos em
ganização de cada indivíduo, que se submete à ação do movi-
geral meios particulares de agir uns sobre os outros, aceleran-
mento universal, e da influência geral e particular.
do reciprocamente entre si as fileiras das correntes que atra-
229, 1º A primeira regrá é então a de afastar todos os obstá- vessam seus interstícios.
culos que poderiam perturbar e impedir este desenvolvimento.
237. Como existe uma gravitação geral e recíproca de to-
230. 2º De colocar sucessivamente a criança na possibili- dos os corpos celestes uns para os outros, do mesmo modo
dade ou inteira liberdade de fazer todos os movimentos e to- existe uma gravitação particular e recíproca das partes consti-
dos os ensaios possíveis. tutivas da terra para tudo e desse todo para cada uma das par-
A Rr te
602 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS
DO SENHOR MESMER
603
tes, e enfim de todas essas partes umas para as outras. Esta
no corpo humano. Estes
ação recíproca de todos os corpos se exerce pelas correntes pólos, como se verifica no
ímã, são
oposição um em relação ao outro: eles podem ser mud
que penetram e pelas que saem, de uma maneira mais ou me-
comunicados, destruídos, ados
nos direta, segundo a analogia dos corpos. Assim, de todos os reforçados.
corpos, aquele que pode agir com mais eficácia sobre o ho- der a Para conceber a
oposição dos pólos, é precis
ar O homem como dividido em o consi-
mem é seu semelhante. É suficiente que um homem esteja ao dois por uma linha traçada
lado de um outro homem para agir sobre ele, provocando a in-
tenção de suas propriedades.
238. A posição respectiva dos dois seres que agem um so-
bre o outro não é indiferente. Para julgar qual deve ser esta po-
sição, é preciso considerar cada ser como um todo composto
de diversas partes, possuindo cada um uma forma ou um mo-
ta e assim por diante. Consid
vimento tônico particular. Concebe-se, por esse meio, que erando em seguida estas mes
mas
extremidades como um tod
dois seres têm um sobre o outro a maior influência possível o, ou considerando ainda em
uma delas pólos Opostos, cada
quando estão colocados de maneira que suas partes análogas na mão o dedo mínimo será
o ólo
oposto do polegar, o segund
ajam umas sobre as outras na oposição mais exata. Para que o dedo participará davirtud
polegar, e o quarto daquela e do
dois homens ajam o mais fortemente possível um sobre o ou- do dedo mínimo e aquele
semelhante ao centro do meio
tro, é preciso então que estejam colocados face a face. Nesta ou equador do fmã estará des
provido de
posição, eles provocam a intenção de suas propriedades de
uma maneira harmônica e podem ser considerados como for-
mando um todo. Num homem isolado, quando uma parte so-
fre, toda a ação da vida se dirige para ela para destruir a causa
do sofrimento. Do mesmo modo, quando dois homens agem
um sobre o outro, a ação inteira dessa reunião age sobre a par-
te doente com uma força proporcional ao aumento da massa.
foi empregado, , e se refor ça o
Pode-se então dizer em geral que a ação do magnetismo cresce pólo jáj estabelecid
Pólo oposto com a outra mão.
em razão das massas. É possível dirigir a ação do magnetismo ? focando o
mais particularmente sobre tal ou qual parte, sendo suficiente 240. A ação do magnetismo ani
propagada Para os corpos mal pod e ser reforçada e
para isso estabelecer uma continuidade mais exata entre as ani mados e ina
nimados. Como esta
partes que se deve tocar, e o indivíduo que toca. Nossos bra- ação aumenta em razão
das massas, mais se juntar
magnéticos uns às extremida ão corpos
ços podem ser considerados como condutores próprios a esta- des dos outros de modo
belecer uma continuidade. É suficiente portanto, do que aca- pólos não sejam contrários, que os
isto é, quando eles se tocam
bamos-de-dizer sobre a posi Pólos opostos mais se-reforça x “açã pelos
mais vantajosa
çãode dois seres o dó magnetismoOs . cor-
agindo um sobre o outro que, para conseguir a harmonia do Pos mais apropriados para
Propagar e reforçar o magnet
todo, deve-se tocar a parte direita com o braço esquerdo, e re- animal.são os corpos animad ismo
os, os vegetais vêm em segu
ciprocamente. Desta necessidade resulta a oposição dos pólos nos corpos privados de vida ida, e
, o ferro e o vidro são aqueles
agem com maior intensidade. at
MHC SS que
604 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II; AFORISMOS DO SENHOR MESMER 605
Observações sobre as doenças nervosas e sobre 250. A faculdade de sentir com impressão é, no homem, o
a
extensão dos sentidos e das propriedades do resultado de duas condições principais, uma externa e outra
corpo humano interna. À primeira é o grau de intensidade com a qual um ob-
, 24 1 - À irritabilidade exagerada dos nervos produ jeto exterior age sobre nossos órgãos e a segunda é o grau de
pela zida suscetibilidade com a qual o órgão recebe a ação de um objeto
aberração da harmonia no corpo humano é o que
se chama
mais particularmente doenças nervosas. exterior.
*
. 22. Existem tantas variedades destas doenças 251. Se a ação de um objeto exterior sobre um de nossos
quantas as órgãos for como dois, e que este órgão seja suscetível de trans-
comombinações que se podem supor entre tod o S Os
ú ros
núme mitir a idéia de uma ação apenas como três, então é claro que
243. 1º A irritabilidade geral pode ser aumentada eu não devia ter nenhum conhecimento dos objetos cuja ação
ou di- é como dois. Mas se por um meio qualquer eu chegasse a tor-
minuída por nuanças infinitas.
nar meu órgão suscetível de apreciar as ações como dois, ou
244. . 2º Diferentes órpãgãos podem estar partic
afeta
] ula , bem que eu fizesse com que os objetos agissem naturalmente
dos, antes de outros. º rrtents como três, é claro que, nesses dois casos, a ação destes objetos
245. 3º Pode-se conceber uma infinidade de relaç me tornaria igualmente sensível do desconhecido que ela era.
ões re-
sultantes de diversos graus em que cada um deste
pode estar afetado particularmente.
s órgãos 252. Até o presente a inteligência humana ainda não foi
ê capaz de levar mais longe o exterior de nossos sentidos senão
246. Um observador cuidadoso e atento encontrará aumentando a condição das sensações, isto é, aumentando a
nes-
ses fenômenos
um sem-número que produz as doenças nervo- interioridade da ação que estes objetos exercem sobre nós. Êo
sas, uma fonte de instruções; é nestas doenças que que se fez para a visão com a invenção de lunetas, microscó-
se pode fa-
pios e telescópios. Por este meio, nós temos penetrado a noite
que nos ocultava um universo inteiro dos infinitamente pe-
247. É ainda nestas doenças que podemos persua quenos e dos infinitamente grandes.
dir, pe-
los fatos, de o quanto somos dependentes da ação 253. Quanto a filosofia ganhou com essa engenhosa des-
de todos os
Seres que nos cercam e de como alguma mudança neste coberta? Quantos absurdos ela demhonstrou nos antigos siste-
s seres
ou nas suas relações entre eles nunca nos será indif mas sobre a natureza dos corpos? E que novas verdades fez ela
erente,
248. A extensão das propriedades e das faculdades
de perceber ao olho atento de um observador!
nossos órgãos, estando consideravelmente aumentadas 254. O que produziriam gênios como Descartes, Galileu,
nestes
tipos de doença, deve mesmo recuar o termo de Newton, Kepler e Buffon sem a extensão do órgão da visão?
nossos conhe-
cimentos, dando-nos a conhecer uma multidão de impre Pode ser que grandes coisas, mas a astronomia e a história na-
ssões
das quais não tínhamos nenhuma idéia. tural estariam ainda no ponto onde eles as encontraram.
249. Para bem conceber tudo que se vai dizer e poder 255. Se a extensão de um sentido pôde produzir uma re-
apreciar, é preciso recorrer ao mecanismo volução considerável nos conhecimentos, que campo mais
das sensações se-
gundo meus princípios. vasto ainda vai se abrir à nossa observação se, como penso,a
extensão das faculdades de cada sentido, de cada órgão pode
ser levada tão longe e mesmo mais do que as unetas levaram a
CPU E O ug
606 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II. AFORISMOS
DO SENHOR MESMER
607
extensão da visão, se esta extensão pode nos coloc
ar em con- levadas a um certo ponto
dições de apreciar uma multidão de impressões que de extensão, tornamo-nos
permane- então sus-
cem desconhecidas, de comparar estas impressões
, de combi-
ná-las, e daí chegar a um conhecimento íntimo e parti
cular dos
objetos que os produzem, da forma destes objeto
s, de suas 260. Quantidade de impres
propriedades, de suas relações entre si, e das partí sões das quais eles têm ent
culas mes- a consciência são absolutam
mo que os constituem. ente novas para eles. Em pri ão
lugar, são surpreendentes, mei
256. No uso comum nós julgamos pelo concurso aterrorizantes, mas em seg ro
pressões combinadas de todos os nossos sentidos.
das im- pelo hábito, familiarizam-se uida
Poder-se-ia com elas, e passam algumas vez
a delas se servir pela sua uti es
dizer que nós estamos em relação aos objetos pela exten lidade de momento, como
são de nós nos
um sentido que nos faz percebê-los como um indiv
íduo priva-
do de todos os sentidos exceto o da visão estari
a em contato
com tudo aquilo que nos cerca. Certamente se um
ser sutil as-
sim desprovido pudesse existir a esfera de seus
conhecimen-
tos seria muito restrita, e podemos pensar que
ele não teria a
mesma idéia que nós acerca dos objetos sensíveis.
os torna sensíveis a uma
257. Suponhamos que se dê sucessivamente à este multidão de impressões
ser im- desconhecidas. que nos são
becil cada um dos sentidos que ele não possui, que -
multidão 261 O que há de moportuno
de descobertas que ele faria no mesmo instante! para a comodidade de nos
Cada impres- instrução é que essas Pessoas sujeit sa
são que um mesmo objeto lhe produziria num outro as às crises perdem qua
órgão lhe se
forneceria uma nova idéia desse objeto. Seria bem
difícil fa-
zê-lo
compreender que estas idéias diversas partiam
do mes-
mo objeto. Seria necessário antes que ele os
combinasse, que
ele verificasse os resultados por numerosas exper
iências. Na
infância de suas faculdades, este homem levaria
talvez mais de
um mês antes de poder apreciar o que é uma garraf
a, um can-
delabro etc. para ter a mesma idéia que nós.
258. Todas as impressões leves que produzem lato tão exato quanto aquele
sobre nós a que poderíamos nós mesmos
ação dos corpos que nos cercam são, em relaçã fazer
o ao nosso esta- de todos os objetos que nos
do habitual, muito menos conhecidas de nós afetam atualmente.
como não seria a 262 Sei que o que estou
garrafa para o homem de que acabamos de falar. As adiantando deve parecer exa
proprieda- do, impossível mesmo, às gera-
des de nossos órgãos na harmonia necessária para const pessoas que as circunstanci
ituir o deram por a ponto de fazer est as não pu- -
hotêm me para
m cada um deles um certo grau de extensão asobservações, mas eu lhes rog
além do qual nós não sabemos apreciar. o
259. Mas, quando por uma perda das faculdades
em quais-
quer partes as propriedades de um outro órgão
se encontram
É
274. Cada ponto dos cílios, dos supercílios e dos cabelos 279. Muitas vezes as Pessoas em
dão uma débil luz, o pescoço parece um pouco luminoso, o crise são atormentadas
por um ruído que as atordoa, que
peito um pouco aclarado. Se eu lhe apresento minhas mãos, o elas caracterizam tal qual é
realmente. Sem se aproximar muito
polegar aparece rapidamente marcado por uma luz viva; o mais do que elas das cau-
sas que produzem tal ruído, você
dedo mínimo, com uma metade menos; o segundo e o quarto poderia ter a consciência,
280. Tenho observado muito uma
aparecem aclarados por uma luz artificial, o dedo médio é obs- enças nervosas que não podia ouvi
pessoa afetada por do-
curo, a palma da mão é também luminosa. r o som de uma trombeta
sem catr em crises muito fort
es. Muitas vezes eu a vi quei
Xar-se de que ela a sentia e cair -
em convulsões sérias, dizendo
Passemos a outras observações. que ela se aproximava, e não era senã
o ao termo de um quarto
de hora que eu podia distingui-lo
275. Se a irritabilidade exagerada se leva a outros órgãos, .
eles tornam-se como a visão, suscetíveis de apreciar as impres- 28 Ô, Observar-se-á os mesmos fenôme
nos para o paladar. Em
sões mais leves, análogas à sua constituição, as quais lhe eram 20 iguarias que se fará com uma insi
pidez extrema, uma pessoa
totalmente desconhecidas antes. em crise, cuja irritabilidade estará
consideravelmente aumentada
na língua e no palato, perceberá uma
276. Eis o vasto campo de observações que nos é aberto, variedade de sabores.
mas muito difícil de ser explicado. Aqui a arte nos abandona, 282. Conheço uma pessoa vivaz
cujos nervos são muito ir-
ela não nos fornece nenhum meio de verificar pela compara- ritáveis e que, tendo unicamente
na língua esta irritação e con-
ção o que nos ensinam as pessoas em crise. servando sua lucidez, disse-me
várias vezes: “Comendo esta
Pequena cros ta de pão, do tamanho da cabeça
277. Temos apenas maus instrumentos para ampliar a au- de um alfinete
Parece-me que tenho um grande
dição; não temos nenhuma espécie para o olfato nem para o e saboroso pedaço. Mas o
que há de bem singular, não som
tato e ainda mais, não temos nenhum hábito para apreciar os re- ente sinto o sabor de um bom
pedaço de pão, como sinto separa
sultados provenientes da comparação de todos estes sentidos damente o gosto de todas as
Partículas que o compõem - a água
aperfeiçoados, resultados que devem ser variáveis ao infinito. , a farinha, tudo enfim me
produz uma multidão de sensações
€
278. Mas se a arte nos abandona, resta-nos a natureza: que não posso expressar e
que me dão idéias que se sucede
ela nos é suficiente. A criança que vem ao mundo com todos m com rapidez extrema, mas
que não são exprimíveis por pala
os seus órgãos ignora os recursos. Desenvolvendo sucessiva- vras,”
mente as faculdades, a natureza lhe mostra o uso. Esta edu- 283. O olfato pode ser ainda mais
suscetível que o paladar
à uma grande extensão de facu
cação se faz sem sistema: ela está submetida às circunstân- ldade. Eu vi sentir odores os
mais leves a distâncias muito grandes
cias. A instrução que eu proponho deve ser feita do mesmo e mesmo através de por-
tas de tabiques. Por outro lado
modo: renunciando a toda espécie de rotina, é preciso se , pessoas cujo odor é sensível
distinguem todos os diversos
abandonar à observação simples que as circunstâncias forne- odores primários que o perfu-
mista empregou para compor um perfume.
co, não distinguirão nada, mas pouco a pouco a luz se fará, e a 284. Mas, de todos os sentidos,
o que nos apresenta mais
esfera dos seus conhecimentos aumentará simultaneamente fenômenos para observar é aquele que mostra até o
menos conhecimentos: o tato. presente
à percepção dos objetos.
612 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 613
Procedimentos do magnetismo animal suas dependências. A causa de todas estas doenças ou aberra-
285. Foi visto pela doutrina que tudo se toca no universo, ções é um entupimento, uma obstrução, incômodo ou supres-
por meio de um fluido no qual todos os corpos estão mergu- são da circulação numa parte: comprimindo os vasos sangii-
ados. neos ou linfáticos, e sobretudo os ramos de nervos mais ou
286. Faz-se uma circulação contínua que estabelece a ne- menos consideráveis, eles ocasionam um espasmo ou uma
cessidade das correntes que penetram e que saem. * tensão nas partes que atingem, sobretudo naquelas em que as
287. Para estabelecê-las e as fortificar no homem, exis- fibras têm menos elasticidade natural, como no cérebro, pul-
tem vários meios. O mais seguro é o de se colocar em oposição mão etc. ou naquelas por onde circula um fluido com lentidão,
à pessoa que se vai tocar, isto é, face a face, de maneira que se como a sinóvia, destinada a facilitar o movimento das articula-
lhe apresenta o lado direito ao lado esquerdo do doente. Para ções. Se os ingurgitamentos comprimem um tronco de nervos
se pôr em harmonia com ele, é preciso primeiramente colocar ou um ramo considerável, o movimento e a sensibilidade das
as mãos sobre as espáduas, seguir todo o comprimento do bra- partes às quais ele corresponde são inteiramente suprimidos,
go até a extremidade dos dedos, prendendo o polegar do do- como na apoplexia, na paralisia etc.
ente por um momento. Recomeçar por duas ou três vezes, 290. Além dessa razão para tocar as vísceras, para desco-
após o que você estabilizará as correntes desde à cabeça até os brir a causa de uma doença, há ainda uma outra ainda mais de-
pés. Você deve procurar ainda a causa e o local da doença e da terminante: os nervos são os melhores condutores do magne-
dor. O doente lhe indicará o da dor e muitas vezes a causa, mas tismo que existem no corpo. Eles têm em si grande número
mais comumente é pelo toque e o arrazoado que você se asse- nas suas partes, que vários físicos aí colocaram a sede das sen-
gurará da sede e da causa da doença e da dor — que, na maior sações da alma. Os mais abundantes e os mais sensíveis são o
parte das doenças, reside no lado oposto ao da dor, sobretudo centro nervoso do diafragma, os plexos estomacal, umbilical
nas paralisias, reumatismos e outras dessa espécie. etc. Este feixe de uma infinidade de nervos se corresponde
288. Estando bem seguro dessa preliminar, você tocará com todas as partes do corpo.
constantemente a causa da doença e constatará as dores sinto- 291. Toca-se, na posição já indicada, com o polegar e o in-
máticas, até aquelas que você julgar críticas. Para tanto, você dicador ou com a palma da mão, ou com um dedo apenas re-
secundará o esforço da natureza contra a causa da doença, e le- forçado por outro, descrevendo uma linha sobre a parte que se
vará a uma crise salutar, único meio de curar radicalmente. visa tocar, e em seguida, o quanto possível, a direção dos ner-
Você acalmou as dores que se chamam sintomas sintomáticos e vos, ou enfim com os cinco dedos abertos e recurvados. O to-
que cedem ao toque sem que isso agisse sobre à causa da doen- que a uma pequena distância da parte é mais forte, porque
ça, O que distingue este tipo de dor daquelas que nós chamamos existe uma corrente entre a mão ou o condutor e o doente.
simplesmente de sintomáricas e que se irritam em primeiro lu- 292. Toca-se diretamente com vantagem, servindo-se de
gar pelo toque para terminarem numa crise, após a qual o doen- um condutor estranho. Serve-se mais comumente de uma pe-
te se encontra aliviado e a éause da doença, diminuída. quena vara, com comprimento de 10 a 15 polegadas, de forma
289. A sede de quase todas as doenças está comumente cônica e terminada por uma ponte truncada. A base é de três,
nas vísceras do baixo ventre; o estômago, o baço, o fígado, o cinco ou seis linhas, e a ponta, de uma a duas. Depois do vidro,
epíploon, o mesentério, os rins etc. Nas mulheres, na matriz e que é o melhor condutor, emprega-se o ferro, o aço, o ouro, a
r
prata, etc., dando preferência aos corpos mais densos, porque
614 PAULO FIENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENH
OR MESMER 615
as fileiras estão mais estreitadas e mais mult
iplicadas, dando
uma ação prop orcionad
a à menor largura dos interstícios. Se 296. Uma tina é uma espécie de cuba
vareta for imantada, ela tem mais a ou oval, com um diâmetro proporci
redo nda, quadrada
ação, mas é preciso observar onal ao número de doentes
que existem circunstâncias, como na inflamaç que vão se tratar. Aduelas espessas
ão dos olhos, o , reunidas, pintadas e uni-
maior eretismo etc. em que ela pode das de modo a conter água, profundas
prejudicar. É então pru- em torno de um pé, a
dente dispor de duas. Uma magnética parte superior mais larga do que o fund
com um bastão ou ou- o, de uma a duas pole-
tro condutor, atento que este gadas, recobertas
seja como um corpo estranho,
o com uma tampa em duas peças,
pólo é mudado, e que é Preciso tocar diferent junto é encaixado na cuba, e o bord cujo con-
da direita à direita e da esquerda à esquerda emente, isto é, sobre aquele da cuba à qual é suje
o apoiado imediatamente
, itado por grandes pregos. No
293. É bom também opor um pólo ao interior, são arranjadas garrafas
outro, ou seja, que em raios convergentes da cir-
se toque a cabeça, o peito, o ventre, etc., com cunferência ao centro, são colocada
preciso opor a esquerda na parte posterior,
a
mão direita, é s outras camadas em toda
sobretudo na linha a volta, o fundo apoiado contra
a cuba, uma só de altura, dei-
que divide o corpo em duas partes, ou xando entr e elas o espa
seja, ço necessário para receber o gargalo
fronte até o púbis, Porque o corpo represen desde o meio da uma outra. Feita esta primeira disp de
ta um ímã: se você osição, colocar no meio do
estabelecer o norte à direita, a esquerda vaso uma garrafa reta ou deitada, donde partem todo
torna-se o sul e o s os raios
meio, o equador, que é sem ação predominante. Você que serão formados primeiramente
belecerá os pólos, opondo uma mão à aí esta- com as meia garrafas, de-
outra, bois com as grandes, quando a dive
rgência permitir. O fundo
294. Reforça-se a ação do magnetismo mult da primeira está ao centro, seu pescoço
correntes sobre o doente. Existem vária
ipli cando as entre o fundo da se-
s vantagens em tocar guinte, de modo que o gargalo da
última termina na circunfe-
face a face do que de toda outra mane rência. Esta
s garrafas devem ser Cheias de água
ira, porque as correntes , tampadas e
emanadas de suas vísceras e de toda a magnetizadas do mesmo modo. É
extensão do corpo esta- de se desejar que isto seja
belecem uma circulação com o doente. pela mesma pessoa. Para dar mais
A mesma razão prova a atividade à tina, colocar
utilidade das árvores, das cordas, dos ferro uma segunda e uma terceira cam
s e das cadeias etc. ada de garrafas sobre a pri-
295. Uma bacia de magnetita do mes - Meira, mas comumente se faz
mo modo que um uma segunda que, partindo do
banho, mergulhando o bastão ou outro
condutor na água, para
centro, recobre o terço, a metade ou os três
aí estabelecer uma corrente, agitando em linha meiro. Em seguida, abastece-se quartos do pri-
reta, a pessoa a cuba com água a uma certa
altura, mas sempre o necessário para
que será mergulhada
sentirá o efeito. Se a bacia for grande, se- cobrir todas as garrafas.
rão estabelecidos quatro pontos, Pode-se juntar limalha de ferro, vidr
que serão os quatro pontos o pilado e outros corpos
cardeais, será
traçada uma linha na água, seguindo semelhantes, sobre os quais tenho
a borda da diferentes conceitos.
bacia do leste ao norte, e do oeste ao mes 297. Também são usadas tinas sem
mo ponto. Será feita água, preenchendo o
a mesma coisa para o sul. Várias pessoas poderão intervalo das garrafas com vidro, lima
ser colocadas lha, areia. Antes de colo-
em torno dessa bacia e tirar proveito dos car a água ou os outros corpos,
efeitos magnéticos. imprim e-se sobre a tampa as
Se são em grande número, serão traçados vári e Barcas onde devem ser feitos os
do a cada uma delas, após haver agitado
os ralos amngii. Grificios destinadosa receber
a massa de água tanto os ferros que devem ficar entre o fun
quanto possível. do das primeiras garrafas,
à quatro ou cinco polegadas da
parede da tina, Os ferros são
espécies de triângulos, feitos com
ferro amaciado, que entram
em linha reta quase até o fundo da tina
e são dobrados à sua
616 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 617
saída, de modo que Possam ter
minar numa ponta obtusa na
parte que se lhes vai tocar, com rafa, no pescoço da qual ele é selado e excede um potco a co-
o a fronte, a orelha, o olho, o
estômago etc. bertura da caixa que ele atravessa. O intervalo entre garrafas é
— preenchido tom vidro pilado ou seco ou úmudo. Uma corda
278. Do interior ou do exterior
da cuba sai, ligada a um enrolada em torno do gargalo de cada garrafa as faz comunica-
ferro, uma corda muito ampla,
que os doentes aplicam sobre q
parte que eles sofrem. Eles for rem-se em conjunto e sai da caixa por um buraco feito na sua
mam cadeias pegando esta cor-
da, e apóiam o polegar esquerdo parede. À tampa é colocada e fixada por um parafuso. Esta
sobre o direito, ou o direito
sobre o esquerdo do seu vizinho, de maneira que o inte caixa é colocada sobre o leito, e as cordas que saem da direita e
um polegar toca o outro. Aproxi rior de da esquerda são arrumadas sobre o leito ou entre os lençóis ou
mam-se o mais que podem
para se tocar pelas coxas, os joelhos, sobre as cobertas, ao lado do doente.
os pés, e formam por as-
sim dizer, um corpo contíguo, 300. As caixas que devem servir durante o dia com as gar-
no qual o fluido magnético cir-
cula continuamente, e é reforçado rafas cheias com água ou vidro, são preparadas e dispostas
por todos os diferentes
pontos de contato, aos quais se junta ainda a posição dos como nas grandes tinas: aí se pode colocar uma corda e ferros
tes, que estão face a face, uns doen- e fazer uma tina para a família.
diante dos outros. Tem-se tam-
bém os ferros bastante longos 301. Quanto mais densa for a matéria que preenche essas
para abranger aqueles da segun-
da fila pelo interval
o daqueles da primeira. garrafas, mais ela é ativa. Se fosse possível enchê-las com mêr-
o 299. Foram feitas pequenas cúrio, elas teriam muito mais ação.
tinas part
iculares, chamadas
caixinhas mágicas ou magnéticas, 302, Existem vários meios de aumentar o número e a ati-
para uso dos doentes que
não podem dirigir-se ao tratam vidade das correntes. Se você deseja tocar um doente com for-
ento, ou por que, pela natureza
de suas doenças, necessitam de ça, reúna no seu apartamento o maior número de pessoas pos-
um tratamento contínuo. Tais
tinas são mais ou menos compos sível. Estabeleça uma cadeia que parte do doente e atingé o
tas. As mais simples contêm
apenas uma garrafa tampada magnetizador, uma pessoa encostada a ele ou com a mão sobre
e cheia de água ou de vidro pila
do, colocada numa caixinha da - sua espádua aumenta sua ação. Existe uma infinidade de ou-
qual parte uma vara ou uma
corda. Uma simples garrafa isol tros meios impossíveis de serem detalhados, como a música, a
ada, e que se aplica sobre a
parte, vai ainda melhor, Podem visão, os vidros etc.
ser colocadas várias sobre um
leito, retas, contendo ferro e 303. À corrente magnética conserva seu efeito ainda al-
vedadas no gargalo, que produ-
zem um efeito muito sensível. gum tempo após ter saído do corpo, aproximadamente como
As caixinhas mais comuns são
cofrinhos com forma cubóide, o som de uma flauta que diminui com o afastamento. O mag-
com altura e comprimento em
proporção ao que devem conter. netismo a uma certa distância produz mais efeito do que
À altura não deve exceder or-
dinariamente aquela das caixinha quando está aplicado imediatamente.
s, que é de dez a doze polega-
das. Coloca-se quatro ou um núm
ero maior de garrafas à von- 304. Após o homem e os animais, os vegetais e sobretudo
as árvores são os mais suscetíveis ao magnetismo animal. Para
magnetizar uma árvore sob a qual você deseja estabelecer um
meias garrafas, cheias, metade
delas com água e a outra, com tratamento, escolha uma jovem, vigorosa, ramada, sem nós
vidio. As cheias de água são tampad
as, aquelas com vidro são tanto quanto possível e com fibras retas. Embora toda espécie
armadas com um pequeno con
dutor de ferro partindo da gar- de arbusto possa servir, os mais densos como o carvalho, o
olmo e a carpa são preferíveis. Feita sua escolha, postando-se a
618 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE Il: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 619
uma certa distância no lado sul, estabelecer-se-ão um lado di- Acredita-se que pode chegar até vários meses. O mais seguro é
reito e um esquerdo, que formam os dois pólos, e a linha de renovar de tempo em tempo.
demarcação do meio, o equador. Com o dedo, o ferro ou o 305. Para magnetizar uma garrafa, pegue-a pelas duas ex-
bastão, siga então as folhas, as ramificações e os ramos. Após tremidades, friccione-as com os dedos, levando o movimento
ter determinado várias destas linhas num ramo principal, con- ao bordo. Afaste a mão sucessivamente destas duas extremida-
duza as correntes ao ramo principal, conduza as correntes do des, por assim dizer comprimindo o fluido: tome de um copo
tronco até as raízes. Recomece até que esteja magnetizado ou de um vaso qualquer do mesmo modo, assim e magnetizará
todo um lado. Em seguida, magnetize o outro da mesma ma- o fluido que ele contém, cuidando de o apresentar àquele que o
neira e com a mesma mão, porque os raios saem do condutor deve beber. Segurando-o entre o polegar e o dedo mínimo, e fa-
em divergência, convergindo-se a uma certa distância, não zendo o doente beber nessa direção, ele experimentará um gos-
sendo sujeitos a repulsão. O norte se magnetiza pelos mesmos to que não existiria se bebesse no sentido oposto.
procedimentos. Esta operação feita, aproxime-se da árvore e 306. Uma flor, um corpo qualquer, é magnetizado pelo
após ter magnetizado as raízes, se as há visíveis, abrace-a e toque, feito com princípios e intenção.
apresente-lhe todos os pólos sucessivamente. À árvore possui-
307. Esfregando as duas extremidades de uma banheira
rá então todas as virtudes do magnetismo. As pessoas sadias,
com os dedos, a vareta ou o tubo, descendo-os até a água na
ficando algum tempo ao seu lado ou a tocando, poderão sentir qual se descreve uma linha, na mesma direção e repetindo vá-
o efeito, e os doentes, sobretudo os já magnetizados, sentirão rias vezes, magnetiza-se um banho. Pode-se ainda agitar a água
violentamente e sofrerão crises. Para estabelecer um trata- em diferentes sentidos, insistindo sempre sobre a linha deseri-
mento, amarre cordas a uma certa altura, ao tronco e aos prin- ta, em que a grande corrente reúne as pequenas que se avizi-
cipais ramos, mais ou menos numerosas e mais ou menos lon- nham e é reforçada. Se o doente, estando no banho, sente a
gas em proporção às pessoas que devem se beneficiar e que, água muito fria, mergulha-se uma haste, dirige-se uma corren-
com a face voltada para a árvore e colocados circularmente, te pela agitação. Esta adição faz com que o doente experimen-
seja sobre cadeiras, seja sobre a palha, irão coloca-las em volta te uma sensação de calor que ele atribui àquele da água. Nos
das partes sofredoras como na tina, e farão cadeias o mais fre- lugares onde existe uma tina ou árvores, coloca-se uma corda
quentemente possível, e aí terão as crises como na tina, mas que supre a todas as outras preparações. Se não se pode mag-
bem mais suaves. O efeito curativo é bem mais rápido e mais netizar por si mesmo, penso que várias garrafas cheias de água
ativo em proporção ao número dos doentes que aumentam a magnética, e colocadas no banho seguindo a direção do corpo,
energia, multiplicando as correntes, as forças e os contatos. O poderão produzir o mesmo efeito. Um pouco de sal marinho
vento, agitando os ramos da árvore, junta sua ação. É o mesmo juntado ao banho aumenta a tonicidade.
que um riacho ou uma cascata se tiver a felicidade de encon- 308. No centro da tina, poder-se-á colocar um vaso de vi-
trá-los no local que se terá escolhido. Se várias árvores se avizi- dro cilíndrico, ou com outra forma, que possuirá uma abertura
nham, elas serão magnetizadas e se as fará comunicar por cor- embaixo, próprio a receber um condutor que virá ou de fora do
apartamento ou do seu interior. Um triângulo de ferro, compri-
um odor que não podem definir, e que lhes é muito desagra- do proporcionalmente, da altura do soalho, cuja extremidade
dável, e que conservam por algum tempo após terem se retira- inferior terminaria em forma de funil ou com a extremidade ar-
do, e que voltam a sentir em aí voltando. Não se pode assegu- redondada, sairia por um buraco feito na abertura da tina,
rar por quanto tempo uma árvore conserva o magnetismo. onde seria selado àquele do vaso de vidro, cujo contorno seria
620 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE FI: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 621
NAN io
abelecer e manter, tais
quais Os purgativos violentos, o ernprego de dieta, mas se faz com que os doentes ate-
os diuréticos quentes, os a eriti
Vos, Os vesicatórios e todos os . nham-se à alimentação. Após o regime de que se virá a falar, os
epispáticos. Inúteis porque os
médios recebidos pelo estômago r alimentos que os doentes desejam são aqueles permitidos. É
e as primeiras vias sofrem 4
mesma elaboração que os alim raro que a natureza os perturbe.
entos, cujas partes análogas aos
nossos humores são assimilados 313. O vinho forte, os licores, o café, os alimentos muito
pela quilificação, e os heteró
nos são expulsos pelas excreções. quentes por si mesmos ou por seus ingredientes são proibidos,
310. O fluido magnético não age se
sobre os corpos estranhos assim como o tabaco cuja impressão irritante é propagada para
nem sobr
e aqueles que estão fora do sistem a membrana pituitária na garganta, peito, cabeça, e ocasiona
9 estômago contém saburra, pod a vascular, Quando
rid ão, superabundância ou está crepitações contrárias à harmonia. A bebida comum será o
viciado, recorre-se ao emétic bom vinho diluído em muita água, água pura ou acidulada, As
o ou aos purgativos.
31 1. Se o ácido domina, dá-se lavagens e os banhos são muitas vezes úteis se são usados co-
os absorventes, tais como o
magnésio. (1) Se é o álcali, prefer piosamente na inflamação ou disposição inflamatória ou na
e-se os ácidos, como o creme
de tártaro. (2) Se os deseja admini pletora verdadeira ou falsa.
strar como purgativos, é ne-
314. Não é o caso de se dar uma história geral das doenças
e de seus tratamentos: citar-se-á somente aquelas que se apre-
sentam mais comumente para serem tratadas pelo magnetis-
mo, e o modo de aplicá-lo, após observações feitas, sobretudo
o tratamento do senhor marquês de Tiffard, em Beaubourg.
622 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE IJ: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 623
315. Na epilepsia, toca-se a cabeça, seja na parte mais 319. Toca-se diretamente a tina, borrifando noite e dia
alta, seja sobre a raiz do nariz com uma mão, e a nuca com a com água magnética, a corda à cabeça.
outra. Procura-se nas vísceras a causa primeira, onde se encon- 320. Os tumores de toda espécie, os ingurgitamentos lin-
tra ordinariamente. Pelo toque duplo, reduz-se as obstruções fáticos e sangúíneos, as chagas, mesmo as úlceras provam ex-
nestas vísceras e o entupimento que se encontra no cérebro celentes efeitos. As loções com água magnética, os banhos lo-
dos epilépticos, do qual se faz a abertura, e se põe em ação cais com água fria ou tépida, o tratamento ordinário, têm um
quase todo o sistema nervoso. À catalepsia é tratada do mes- efeito surpreendente. Os doentes que sofrem dores vivas nas
mo modo. partes ulceradas ou feridas as vêem acalmadas subitamente
316. Na apoplexia, a pessoa que toca age sobre os princi- quando se as envolve com a corda.
pais órgãos, como o tórax, o estômago, sobretudo o local que 321. Por estes pequenos detalhes, fica evidente que o
se chama escavado, abaixo da cartilagem xifóide, local onde se magnetismo é útil nas doenças cutâneas e internas.
encontra o centro nervoso do diafragma, que reúne uma infi- 322. As dores de cabeça se tocam sobre a fronte, o cimo
nidade de nervos. Toca-se também por oposição a espinha da cabeça, os parietais, os seios frontais, e os supercílios, sobre
dorsal seguindo o grande intercostal situado a uma polegada o estômago e as outras vísceras que podem ocultar a causa.
ou duas da espinha, depois o colo, até abaixo do tronco. É pre- 323. As dores de dentes, sobre as articulações, dos maxi-
ciso insistir até que se obtenha uma crise, e reunir todos os lares e os buracos mentonianos.
meios para aumentar a intensidade do magnetismo, seja pelo
324. À lepra se trata como a tinha, pondo a corda nos lo-
ferro, seja pela cadeia que você forma com a maior quantidade
de pessoas que pode reunir. O doente submetido às impres-
cais afetados.
sões ordinárias, e obtida a crise, o estado das primeiras vias e a 325. Na dificuldade de falar, ou a negação total ocasiona-
causa da doença, ser-lhe-á indicado o que convirá fazer, e se os da sobretudo pela paralisia, magnetiza-se a boca com o ferro é
laxantes deverão ser empregados. o exterior dos motores deste órgão pelo toque.
317. Nas doenças dos ouvidos, o doente coloca a corda 326. Emprega-se o mesmo nos males da garganta, prínci-
em torno da cabeça, um ferro da tina na orelha, com o bastão palmente nos linfáticos. Magnetiza-se também a membrana
na boca, para a surdez como para os paralíticos em que a pala- pituitária, do mesmo modo que para o entupimento do nariz,
vra é impedida e para os mudos, e o contato se faz colocando a e as afecções das partes que se estendem para o tórax.
extremidade dos polegares na orelha, afastando os demais de- 327. Na enxaqueca, toca-se o estômago e o temporal,
dos, e os apresentando à corrente do fluido magnético, ou jun- onde se faz sentir a dor.
tando a uma certa distância as correntes, e as restabelecendo 328. A asma, a opressão e as outras afecções do peito se
com a palma da mão contra a cabeça, na qual se deixa a mão tocam sobre a própria parte, passando lentamente uma mão
aplicada durante algum tempo. na parte anterior do tórax, e a outra ao longo da espinha, dei-
Om xando- O to temno sobre narte nara ada ando
a ponta dos dedos, que se apresenta sobre a parte, e que se passa com lentidão até o estômago, onde é preciso insistir também,
sobre o globo e as pálpebras, e o bastão, sobretudo na catarata. É sobretudo na asma úmida.
preciso tocar muito levemente nos casos de inflamação. 329. A incubo se trata da mesma maneira, recomendando
não dormir sobre o dorso até a cura.
624 PAULO HENRIQUE DE FIG UEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 625
Aprovação
Li por ordem do monsenhor guarda dos selos um manus- APÊNDICE III
crito tendo por título Aforismos do senhor Mesmer. Eu o creio
interessante para ser impresso nas circunstâncias presentes.
Em Paris, a 10 de dezembro de 1784, de Machy. UMA FALSA PUBLICAÇÃO
627
628 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
629
630 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
631
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2002. ral,
Freud. R.
t
s—
MAO
MAURICE LACHÃTRE
(1814-1900)
OT
Em seu nome, a editora Lachâãtre homenageia
uma das figuras mais luminosas e corajosas da França,
no século XIX. Nascido em Issoudun, no departamento
Tm
de Indre, em 1814, Maurice Lachâtre mudou-se ainda
Jovem para Paris, atraído pela horbulhante vida intelectu-
al da capital francesa. Editor e escritor, foi em ambas as ati-
vidades o contestador por excelência, em choque permanente
OS
com oregime político e a religião católica dominante. Em 1857, foi condena-
do a um ano de prisão e a uma multa de seis mil francos, por ter editado o ro-
—
mance Os mistérios do povo, de Eugén Sue, que difundia os ideais socialistas. No
ano seguinte, sofreu nova condenação pelo regime de Napoleão III (que Vic-
tor Hugo chamou de Napoleão, o pequeno), pela publicação do Dicionário
universal ilustrado. A pena era duríssima: seis anos de prisão. Para escapar, La-
châtre refugiou-se na Espanha, estabelecendo-se como livreiro em Barcelo-
na. Homem inquieto, atento às novidades, acompanhava de perto o grande
movimento de renovação espiritual que surgia em seu país. Em 1861, escre-
veua Allan Kardec, solicitando-lhe a remessa de livros espíritas, que desejava
comercializar em sua livraria. Kardec enviou dois caixotes, contendo trezen-
tos livros. À remessa atendia a todos os requisitos legais da alfândega espa-
nhola, mas a sua liberação foi sustada, sob a alegação de ser indispensável a
aprovação do bispo de Barcelona, Antonio Palau y Termens. Lidas as obras, o
padre concluiú que se tratavam de livros perniciosos, que deviam ser lança-
dos ao fogo, “por serem imorais e contrários à fé católica”. A execução ocor-
reu no dia 9 de outubro de 1861, ficando conhecida entre os espíritas como o
Auto-de-fé de Barcelona.
A partir daí, os padres passaram a vigiar de perto as publicações de La-
châtre. O dedo da igreja encontra-se por trás da sentença da justiça, de 27
de janeiro de 1869, que condenava à destruição a História dos papas, que La-
chátre publicara em 1842-43, em dez volumes. Não foi o suficiente para
abatê-lo.
Em 1870, quando ocorre a Comuna, Lachãtre retorna a Paris, num
lance de ousadia, e passa a colaborar no jornal Vengeur, de Félix Pyar. A vitó-
ria do governo e a violentíssima repressão levaram-no de volta à Espanha,
onde manteve a sua intensa atividade intelectual. Em 1874, publicou dois li-
vros, a História do consulado e do império e a História da restauração. Seis anos
depois, saía a História da inquisição. Com a anistia, retornou à França, fun-
dou uma nova editora, em Paris, e entregou-se de corpo e alma à sua grande
obra, o Novo dicionário universal, considerada por seus contemporâneos a
maior enciclopédia de conhecimentos humanos até então publicada. Inclu-
fa, inclusive, todos os termos específicos do vocabulário espírita.
Maurice Lachátre morreu em Paris, em 1900.