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Edita: Pill Lusohitro Extra Edições 1
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A ci ÊNCIA OFICIAL está chegando ao fim. é


«dei ima estrada sem saída. pela qual vem trilhando MESMER
nos últimos. 150 anos. As evidências podem ser. vistas
na clara ameaça à própria sobrevivência humana:
7 . “em nosso planeta. Aquecimento global, descongela-
Fo mento das camadas polares com elevação do nível.
"do mar, destruição da camada de ozônio, Criação: de E
E superinsetos e superbactérias a partir da utilização
de inseticidas e antibióticos são alguns dos efeitos “o
da ação, de uma, ciência de base ateista e materialista.
Descobrir o momento em que: a ciência optou-por noi
esse caminho, abanidonando sua origem espiritualis sta,
éo objetivo dacoleção “Conspiração do S ilêncio”.
Se a Inquisição utilizou-se das fogueiras para silenciar -
.a verdade, os métodos utilizados pelosrepresentantes ofi-
COLEÇÃO
CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO PAULO HENRIQUE DE FI
GUEIREDO
Historiadores como Marc Ferro referem-se
à idéia de
uma história vigiada ou de uma história silen
ciada. Interesses
econômicos, políticos e ideológicos podem
interferir numa
narrativa histórica, fazendo com que conheçam
os apenas um
lado das coisas. Um dado ainda não conhecid
o pela maioria
nesse sentido é de que houve um forte sile
nciamento de cor-

MESMER
rentes que desenvolveram ciências e doutrinas
com pesquisa
experimental, mas não assumiram os pres
supostos do mate-
rialismo, que se tornou a imposição ideológica
a partir de
meados do século XIX. Os que iniciaram a
medicina experi-
mental e fugiram dos horrores da sangria e das
que se constituía a prática médica do sécul
purgações - de
o XVIII - foram A CIÊNCIA NEGADA E Os
os médicos Mesmer e Hahnemann, com
homeopatia, propostas médicas vitalistas.
o magnestismo e a
Mesmer, poré m,
TEXTOS ESCONDIDOS
foi caluniado historicamente como charlatão
e Hahnemann é
quase desconhecido por aqueles que vão
estudar medicina.
Quem propôs primeiro a constituição
de uma ciência peda- Esta obra contém íntegra dos mais
gógica foi Pestalozzi e, depois, seu discípulo importantes livros
Rivail, no virar escritos por Mesmer e perdidos
do século XVIII e XIX, Mas quem leva o mérit por mais de dois séculos.
o são os que a
desenvolveram sob a ótica cognitivista e bioló
gica, deixando
de lado a dimensão espiritual do educando,
O evolucionismo
biológico foi uma teoria proposta por dois pesq
uisadores que
trabalharam paralelamente e a apresentaram
no mesmo dia
às sociedades científicas de Londres: Charles
Darwin e Rus-
sel Wallace, Hoje estudamos Darwin na
escola, mas Russel Tradução dos textos de Mesmer
jamais é mencionado. É que o evolucionismo darwi
nista dis-
pensa Deus e a alma e Russel Wallace era espir
itualista. ÁLVARO GLEREAN

O7
A série Conspiração do Silêncio é um proje
to que pre-
tende resgatar esses grandes silenciados, que
teriam conduzi-
do a ciência a um conhecimento menos frag
dogmático. Eles foram esquecidos proposit
mentado e menos N
almente. Neste
momento histórico de tantas perplexidades,
eles poderão in- publicações So Rd
dicar caminhos que deixamos de trilhar, apena
s para não ferir
interesses de pessoas e grupos, que impusera %&
m o materialis-
| mo como única verdade.
€2005 Paulo Henrique de Figueiredo
Editora Lachâtre Ltda.
Rua José Emílio, 207, Jd. América
CEP 12902-090 Bragança Paulista SP
Tel (011) 4033-3999 / Fax (011) 4032-3106
Página nia internet: http://www.lachatre.com.br :
Correio eletrônico: lachatre(Dlachatre.com.br .

CAPA
Andrei Polessi
TRADUÇÃO DO FRANCÊS DOS TEXTOS DE MESMER
Alvaro Glerean
COPIDESQUE
Renato Bittencourt
GERENTE DE PRODUÇÃO
Isabel Valle
Nasci em tempos rudes
1º edição — Maio de 2005 Aceitei contradições
Iº aa 3.000º exemplar
Impresso na Yangraf Gráfica e Editora Ltda, lutas e pedras
como lições de vida
A reprodução parcial ou total desta obra, por qualquer meio, e delas me sirvo
somente será permitida com a autorização por escrito da Editora.
(Lei nº 9.610 de 19.02.1998) Aprendi a viver.
CORA CORALINA
Impresso no Brasil
Presita en Brazilo

CIP-Brasil. Catalogação na fonte Foi assim que viu a vida


F492m Figueiredo, Paulo Henrique de, 1966- Cora Coralina.
Mesmer, a ciêcia negada e os textos escondidos / Pau- Empresto esse poema
lo Henrique de Figueiredo. Tradução do francês dos tex-
tos de Mesmer de Álvaro Glerean. Bragança Paulista, SP:
para expressar minha gratidão
Lachatre, 2005. obrigado, Viviane, Juliana e Carolina.
Apêndice
Inclui bibliografia
640 p.
1. Magnetismo animal. 2.Medicina. 3.História da medici-
na. 4.Sistemas terapêuticos. 5.Mesmer, Franz Anton,
1734-1815. LTítulo. II. Bibliografia.
CDD 610.981 133.9
Prefácio do tradutor...
Introdução... 9
Cronologia... q
iii
O 5]
Primeira Parte: biografia de Franz
1 - Uma cuidadosa formação. ....
Anton Mesmer
e
cr 59
1 - Doutorado em medicina. Lili
HI - O magnetismo anim 67
al |. . O ce... T7
TV - Mozart nos jardins de Mesmer
..... dr 83
V-A baquete outrosmétodos ...
.... Par 93
VI" Mesmer eo espiritualismo
... li 109
VII- O sonambulismo Magnético...
VIII - Magnetismo 17
e espiritismo. ...li
LX - Mesmer Fesurgeentreos espír cc 133
itos. LL... 141
X - Bibliografia completa de Franz
Anton Mesmer. ...... 145
Segunda Parte: breve história da med
I- A medicina oficial nos tempos de
icina
Mesmer. ....
...., 151
[1 - Medicina científica e filosofia...
HI - Cristianismo ecura . l 167
ili 173
(= O galenismo eateoria dos humo
res... 000 177
Y -A medicina dogmática...
VI - Surgem contestaçõese refo 195
rmas ..,....l., 211
VII - O renascimento das ciências
médicas. ....cl. 219
VIII - O iluminismo e a medicina
vitalista .. .. 227
IX - Espiritu
alismo e materialismo. ....l
X-Amedicinaintegral ii 243
..... ar Do 249
Terceira Parte: obras originais de Mesmer
Sumário histórico das obras de Mesmer Vora ra va

Nota à edição brasileira.


Avao is públi
oco . a
Memória sobre a descoberta do magnetismo .
Proposições
Apêndice PREFÁCIO DO TRADUTOR
Resumo histórico dos fatos relativos ao magnetismo animal
. .,
Nota à edição brasileira. Conheci, certamente não por acaso, uma pessoa, o Paulo
Lista das corporações de sábios .
Henrique, que estava à procura de alguém que pudesse tradu-
zir do francês livros escritos por Mesmer e seus discípulos.
Resumo histórico dos fatos relativos ao Após relatar o seu projeto, ou seja, o de escrever sobre o mag-
magnetismo animal. ......cccl 344 netismo, relacionando-o com o espiritualismo e com a doutri-
:
Relações com a Faculdade de Medicina de Viena... 35] na espírita, perguntou se eu não conhecia alguém que pudesse
Relações com a Academia de Ciências de Paris... 358 fazer as traduções. Como eu havia feito já a tradução de um li-
Relações com a Sociedade Real de Medicina de Paris. 374
vro científico do francês e a supervisão de uma outra tradução,
Relações diversas de agosto respondi que poderia tentar, mesmo porque eu já estava quase
de 1778 a setembro de 1780. 394
Relações que totalmente envolvido com o tema, pela simples exposição
com a Faculdade de Medicina de Paris... 421 que ele havia feito.
Proposições do senhor Mesmerà Faculdade '
de Medicina de Paris...
Com o passar do tempo, vencendo todas as dificuldades
493 próprias de uma tradução, mais ainda por se tratar de assunto
Reflexões históricas servindo de conclusão a esta obra 477 ' que envolvia não só a parte médica, mas também a parte con-
Peças justificativas . err SO : ceitual da época (século 18), além do texto original com a grafia
Memória de F.A. Mesmer, doutor em medicina, sobre suas descobertass09 e os caracteres gráficos também da época, acabei me envolven-
Nota à edição brasileira. e 50 do profundamente com o assunto e adquirindo conhecimentos
Prefácio lc sp valiosos não sódo ponto de vista conceitual como também fi-
Memória de F. A. Mesmer, doutor em medicina losófico. Travei conhecimento íntimo com duas personalida-
b descob , ! des marcantes (Mesmer e o marquês de Puységur), ampla-
Apên dic Magnetismo antas homes ia Pot àpa mente cultas e que, com certeza, podem ser incluídos entre
Apêndice II: Aforismos do senhor Mesmos torrar es | aquelas pessoas que vieram para exercer uma missão aqui no
E RR nosso mundo. No momento em que percebi este fato, a tradu-
Nota à edição brasileira. . ..............576 ção passou a ser para mim como que uma obrigação que deve-
Aforismos do senhor Mesmer ........ 0. 577 ria ser cumprida da melhor maneira possível, pois que deveria
Apêndice II: Uma falsa publicação... 627 servir não só para divulgar o pensamento e as teorias de am-
Bibliografia . Lillian 629 ' bos, como também como tentativa para resgatá-los.
4
10 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

Esta experiência foi para mim extremamente gratifican-


te, porque pude conhecer mais a fundo essas personalidades
ímpares, além de entrar em contato com a época em
que eles
viveram, assim como com o conhecimento médico,
filosófico
e social, e também todas as dificuldades por eles enfrentada
s e
suas lutas inglórias para divulgar suas descobertas e impor
tan-
tes achados sobre o magnetismo animal e suas aplica
ções na
medicina. Em resumo, tive a dolorosa sensação de estar
convi- INTRODUÇÃO
vendo com toda aquela gente e seu modo de ser e de
agir, e es-
tar assistindo às manobras vis realizadas por puro intere
sse
contra os dois pioneiros - manobras que acabaram imped Aquele que deseja filosofar deve, antes de
tudo,
indo duvidar de todas as coisas. Não deve adotar
que eles impusessem seu modo de curar. Ao mesmo posição
tempo, num debate antes de ouvir as várias opiniõ
estive observando sua tenacidade e sua alta capacidade de es e consi-
tra- derar e comparar as razões pró e contra.
Jamais deve
balho visando à cura de seus pacientes, geralmente agindo julgar ou adotar posição com base no que
em ouviu, na
circunstâncias inadequadas. Enfim, creio que este trabal opinião da maioria, na idade, nos méritos ou no pres-
ho tígio do' orador em questão, mas deve proce
acrescentou algo positivo no meu modo de ser e de der de
pensar: ao acordo com a persuasão de uma doutrina
se tomar conhecimento de vidas como estas, bem como orgânica
das que seja fiel às coisas reais e a uma verdade que
possa
vidas de seus contemporâneos, não há como deixar de ser entendida à luz da razão.
apren-
der muito e de agradecer pela excelente oportunida
de de ser GIORDANO BRUNO
um pouco útil.

ÁLVARO GLEREAN
Nascido em São Paulo, capital, a 21 de maio de 1930,
o dr. Álvaro Gle-
rean formou-se em medicina pela Escola Paulista de Medicin
a (atual Uni- Considerações iniciais
fesp) em 1956. Monitor da cadeira de histologia da Escola No Brasil, existe uma escassez de fontes para
Paulista de Medi-
cina. Docente da disciplina de histologia da Faculda pesquisa so-
de de Odontologia de bre o mesmerismo. As traduções, praticamente
São José dos Campos. Doutor em ciências pela Univers
idade de São Paulo, inexistentes
1969. Docente da disciplina de histologia e embriologia em língua portuguesa, resumem-se a uma única
geral do e rarís
sima
de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, Docente Instituto publicação contendo extratos de um dos livro
da discipli- s de Mesmer,
na de histologia do departamento de Morfologia da Univers
idade Federal de suas memórias de 1779 e 1799.1 A obra foi edita
São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Tradutor de da em 1862,2
livros científicos da lín-
gua francesa, Autor do Manual de histologia (Athene ———
u, São Paulo, 2002).
1 “A primeira tradução para língua inglesa de
Mémoire sur la decouverte du
Mmagnetisme animal foi publicada somente
em 1948: Mesmerism by doc-
tor Mesmer (1779), acrescida de uma monog
rafia de Gilbert Frankau e
traduzida por V. R. Myers. London, Macdo
nald.
2 As memórias do doutor Mesmer, de 1779€
1 799, foram publicadas em
cadernos mensais de 32 páginas e distribuídas
gratuitamente, em 1862,
aos assinantes do jornal Propaganda da
magnetotherapia, do doutor
Eduardo A. Monteggia.

1
12 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 13

pelo magnetizador brasileiro doutor Edua


rdo Monteggia, que
foi um dos pioneiros da divulgação e da práti não é merecedor de maior atenção das pessoas cuja razão re-
ca do magnetismo
animal no Brasil e se correspondeu com pele tanto o misticismo quanto a futilidade.
o barão du Potet e ou-
tros pesquisadores franceses. À negligência tem impedido o mais básico direito de defe-
Um leitor interessado tem à sua disposição sa. Uma simples leitura dos escritos de Mesmer dá, ao menos,
apenas dimi-
nutas e escassas referências e citações em lugar à dúvida, pois em seu tempo ele denunciou a quem se in-
livros dedicados a
assuntos correlatos, como medicina, hipn teressasse:
otismo, psicologia,
Psiquiatria, espiritismo, enciclopédias e roma
nces da ciência. As primeiras curas obtidas de algumas doenças considera-
Todavia, ele irá se espantar ao constatar que
toda literatura a das incuráveis pela medicina suscitaram inveja e produziram
respeito do mesmerismo, em língua portugue
sa, tem se conten- mesmo ingratidão, que se somaram para ampliar as preven-
tado em reproduzir um descrédito ao seu fund ções contra meu método de cura. De sorte que muitos sábios
ador, Mesmer,
repe tindo um eco da campanha difamatória empr uniram-se para fazer cair, senão no esquecimento, pelo me-
eendida nas nos no desprezo, as aberturas que realizei neste campo: di-
capitais européias, especialmente Viena e
Paris, pela comuni- vulgou-se por toda parte como impostura. Na França, nação
dade médica e científica representada pelos pode
res polít icos mais esclarecida e menos indiferente aos novos conhecimen-
pretensamente classistas, sustentada, inclu tos, não deixei de amargar contrariedades de toda espécie e
sive economica- |
mente, pela realeza despótica do século perseguições que meus compatriotas me haviam preparado
18,
Muitos autores não se deram ao trabalho há tempos, mas que, longe de me desencorajar, redobraram
de pesquisar se- meus esforços para o triunfo das verdades que acho essen-
riamente, consultando referências originais,
contextualizando ciais à felicidade dos homens. (MESMER, 1799)
os fatos da época, estudando as biografias
das personalidades
envolvidas, Faltaria ainda compreender as Em janeiro de 1858, na introdução do número inaugural da
implicações especí-
ficas da história da medicina, da filosofia Revista espírita de estudos psicológicos, Allan Kardec afirmou:
e da ciência, e em-
preender uma checagem histórica dos fatos.
Mesmo sem in- O que não se fez e disse contra o magnetismo animal! F, to-
tenção de caluniar Mesmer, ao descrever cenas
distorcidas do davia, todos os raios que se lançaram contra ele, todas as armas
tratamento de seus pacientes, esses autores tornam-s
e
instru- com as quais o atingiram, mesmo o ridículo, enfraqueceram-se
mentos do preconceito e da infâmia. Outr diante da realidade, e não serviram senão para colocá-lo mais e
os escritores, bem
intencionados, foram traídos pela escassez mais em evidência. É que o magnetismo é uma força natural, e
de fontes à sua dis-
posição e se deixaram seduzir pelas caluniosas que, diante das forças da natureza, o homem é um pigmeu se-
descrições. melhante a esses cãezinhos que ladram, inutilmente, contra o
Com leviandade se tem julgado o caráter
de um homem. que os assusta. (Revista Espírita, 1858, p. 1)
O empenho tendencioso das obras sobre o
mesmerismo con-
centra-se em demonstrar Mesmer Já viramos o milênio e os ecos desses latidos desesperados
como tma figura
caricata,
dotada de uma personalidade mística e exibi ainda se fazem ouvir deste outro lado do Atlântico.
cionista. A versão
é repetidamente reproduzida de um livro Por outro lado, Kardec assegurou que, na pesquisa do espi-
a outro. As descri-
ções de seus métodos invariavelmente leva ritismo, “se devêssemos ficar fora da ciência magnética, nosso
m a crer num com-
port amento burlesco destituído de ética científica quadro estaria incompleto, e se poderia nos comparar a um pro-
e pesso
al.
À preconceituosa descrição de supostas atitu fessor de física que se abstivesse de falar da luz”. Todavia, ele
des teatrais de
Mesmer soa como uma implícita conclusão
de que o assunto
3 Revista espírita, 1858, p. 1.
14 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
MESMER -- A CIÊNCIA NEGADA E
OS TEXTOS ESCONDIDOS
15
decidiu que, no corpo de sua obra, dela
soriamente, mas suficientemente
não falaria “senão aces-
para mostrar as relações ínti- Um estudo franco desta ciência terá
muito a contribuir
mas das duas ciências que, na realidad para qualquer pessoa com sede de escl
e, não fazem senão uma”. arecimento. Certamen-
Isto porque, segundo ele, na França, o magnetismo dis te será útil aos profissionais que cuidam da alma
órgãos especiais devidamente auto punha de da medicina, da psicologia ou da educ , venham eles
rizados para tratar do assun- ação. As obras de Mes-
to com mais propriedade. Esta ciên mer tocam em assuntos tão diversos
cia estava reabilitada em seu quanto filosofia, física, fi-
tempo e os médicos não mais temiam prof siologia, sociologia e outros. O magnet
ções mantinham cursos regulares, emi essá-la. Suas institui-
ismo animal foi a base
para o surgimento da psicologia, da para
tiam certificados, publi- psicologia, da psicaná-
cavam, fartamente, livros, jornais e lise, da hipnose e aplainou caminhos
revistas. Portanto, conclui para o surgimento da
Kardec: “tornar-se-ia supérfluo cair ciência espírita. Para desenvolver este
sobre um assunto tratado resgate e ao mesmo
com a superioridade do talento e tempo fugir das falsas interpretações,
da experiência”. é necessário recorrer às
Ele só não poderia prever que o conj obras originais de Mesmer, do marquê
unto de sua obra seria s de Puységur, do barão
traduzido, pesquisado e estudado du Pottee dos outros teóricos da área.
intensamente em outra pátria
—0 Brasil —, mas que a ciência do mag Franz Anton Mesmer foi um homem
netismo animal seria aban- obst
donada, seus órgãos, extintos e suas
teorias, esquecidas, provo- bio e filósofo. Trocou uma vida que poderia inado, médico sá-
cando uma ter sido calma e hon-
lacuna e dificultando um completo entendimento
rada pela defesa determinada de sua
descoberta, considerando-a
doutrina espírita, como suas próp da uma questão humanitária. É uma ironia o
rias palavras denunciam. fato de Mesmer ter so-
Mesmo fora do contexto da pesq frido acusações de estar apenas em busc
uisa espírita, a falta de a de fortuna e prestígio,
conhecimento acerca das teorias pois, antes de tudo, suas posses eram
do magnetismo animal tem suficientes para mantê-lo
distanciado a cultura brasileira confortavelmente por toda sua vida. E
de um debate sério sobre as o seu prestígio, conquista-
questões envolvidas e dificultadas uma melhor do por uma brilhante carreira na medicina e na cultura em
da diversidade de opiniões Presente e compreensão foi completamente abalado depois de geral,
s na comunidade interna- ele se dedicar ao magnetis-
cional, quanto mais o interesse de uma pesquisa mo. Apesar da trajetória atribulada e permeada por pers
nacional sobre o assunto. Enquan acadêmica e sofrimentos, Mesmer manteve admiráve eguições
to atualmente, no Brasil, o is condições de saúde
assunto está sendo relegado ao esq e disposição. Desencarnou lúcido, e aind
uecimento, o caráter cienti- a curando seus conter-
fico, histórico e social do mesmer râneos, aos oitenta e um anos de idade.
ismo e da medicina vitalista
são temas de uma considerável lite A explicação de Mesmer sobre sua
ratura estrangeira. dedicação à descober-
Nas últimas décadas, teses e deba ta do magnetismo animal é ao mesmo
tes acadêmicos estão tempo um convite à lei-
sendo dedicados à questão, tanto tura de sua obra e uma revelação de
na Europa quantos nos Esta- seu verdadeiro caráter:
dos Unidos. No entanto, é curioso
constatar que importantes Superior a tantos obstáculos e contr
circunstâncias têm sido negligen adições, acreditei ser
ciadas. Pouco é dito sobre o N necessário ao progresso da ciência,
fato de o mesmerismo ter sido : mais ainda ao sucesso do
muito bem recebido nas pro- magnetismo, publicar minhas idéias sobre
víncias, em oposição à Perseguiç
ão da comunidade médica de influência respectiva do corpo. Abandono a organização e a
Paris, as íntimas relações entre a minh
voluntariamente
a teoria à crítica, declarando que não
ciência do magnetismo animal tenho nem tempo
e o vitalismo — importante ciência nem vontade de responder. Não teria
nada a dizer àqueles
do i uminismo —, é a inserção que, incapazes de me julgar com justi
do magnetismo animal como uma ça e com generosidade,
revolução da medicina. comprazem-se em me combater com
disposições puramente
hostis ou sem nada melhor para substituir aquilo que
dem destruir, e eu verei com prazer preten-
melhores gênios remon-
16 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
17

tarem a princípios mais sólidos, mais luminosos;


talentos
mais amplos que os meus descobrirem novos fatos
e tornar, Este estudo tem como finalidade contribuir para uma re-
Por suas concepções, e seus trabalhos, minhas paração desta lacuna: o desconhecimento, em nossos dias, da
descobertas
ainda mais interessantes: em uma palavra, eu devo
desejar
que se faça melhor do que eu. Será suficiente sempre
ciência do magnetismo animal e a biografia de seu descobridor.
à mi-
nha glória ter podido abrir um vasto campo aos
cálculos da
ciência e de ter de algum modo traçado a rota desta
reira. Como me resta a percorrer apenas um curto
nova car- O magnetismo é um método racional
trecho do
caminho da vida, desejo consagrar o que me resta
de existên-
Iniciado em 1766, o magnetismo animal foi a primeira
cia à única prática de um meio que reconheço como proposta terapêutica científica da era moderna, antes da tam-
eminen-
temente útil à conservação de meus semelhantes, bém vitalista homeopatia, descoberta por Hahnemann, e da
a fim de
que não sejam, de agora em diante, expostos
às chances
calculáveis das drogas e de sua aplicação”, (MESMER, in- pesquisa laboratorial iniciada por Claude Bernard. Foi pela
1799) metodologia científica que o doutor Mesmer fez sua desco-
Um crítico justo e coerente do magnetismo anima
l, res-
berta. E a eficácia do método foi comprovada pela observação
peitando o desejo manifestado por Mesmer, tem
o dever de sistematizada dos seus efeitos salutares sobre os pacientes.
agir com seriedade e rigor metódico, tudo estudando Nascido muito sensível e sendo grande observador por nature-
antes de
considerar-se em condições de elaborar conclusões za, Mesmer esclarece como estabeleceu sua doutrina:
. Basta
lembrar as recomendações de Allan Kardec, carregadas
do seu
peculiar bom senso: Ver-se-á, ouso crer, que estas descobertas não são produ-
tos do acaso, mas sim o resultado do estudo e da observação
Só se pode considerar como crítico sério aquele que houves das leis da natureza; que a prática que eu ensino não é um
- empirismo cego, mas um método racional. (MESMER, 1799)
se tudo visto, tudo estudado, com a paciência e a persev
erança
de um observador consciencioso; que soubesse sobre esse
as- E então completa, em sua proposição de número 27, em
sunto tanto quanto o mais esclarecido adepto; que não tivesse
extraído seus conhecimentos dos romances das
ciências; a
suas primeiras memórias (1779):
quem não poderia opor nenhum fato do seu descon
hecimento,
nenhum argumento que ele não tivesse meditado; que
refutas-
Esta doutrina, enfim, colocará o médico em condições de
se, não por negações, mas por meio de outros argumentos bem julgar o grau de saúde de cada indivíduo, e de preser-
mais
peremptérios; que pudesse, enfim, atribuir uma causa mais vá-lo das doenças às quais poderá estar exposto. A arte de cu-
I6-
gica aos fatos averiguados. (Revista Espírita, 1860,
p. 271) rar atingirá assim a derradeira perfeição.

Como bem disse Allan Kardec, para compreender As teses do magnetismo animal foram fundamentadas por
o mag-
netismo animal é preciso estudar, com paciê uma sólida teoria, constituindo uma ciência baseada em fenô-
ncia e perseveran-
ça, todos os seus fatos. Mas também mergulhar menos naturais exaustivamente experimentados. A exposição
nas obras de
Mesmer para conhecer seus argumentos, o desen essencial desta ciência não está nas vinte e sete proposições
volvimento
de suas idéias, as descrições de suas descobertas, publicadas nas primeiras memórias escritas por Mesmer em
os verdadei-
ros fatos por ele relatados. Para isso é necessário 1779, como se pensava. A sua obra máxima, embora pouco
voltar ao pas-
sado, relembrando a ciência, a situação política, conhecida, foi elaborada cuidadosamente e oferecida ao pú-
os costumes e
a consciência de sua época e decifrar o significad
o dos termos
vigentes em sua cultura. Enfim, é preciso estud
ar também os
antecedentes e precursores de sua doutrina.
4 Veja a obra na íntegra, na terceira parte deste livro.
-
18 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E
05 TEXTOS ESCONDIDOS
ig
blico somente em 1799: Memória de F. A. Mesm
er, doutor em
medicina, sobre suas descobertas.s Uma educação especial
Após seus estudos denominados de
humanidades, con-
A medicina heróica não curava cluídos antes da idade comum, Mes
mer completou os de teo-
logia, filosofia, medicina e, em parte
É importante destacar que todas as teorias , de direito. No entanto,
sobre o meca- sua formação médica não foi comum.
nismo da doença (como a milenar teoria galênica dos Ele fez seu terceiro dou-
humores torado na Universidade de Viena, refo
— bile amarela, bile negra, fleuma e bílis) e as práticas rmulada por van Swie-
terapêu- ten e de Haen, discípulos do famoso
ticas da medicina oficial antes de 1800 eram completa Boerhaave, o maior pro-
falsas. As perniciosas terapias, mantidas por tradi
mente fessor de medicina de seu tempo. Este médi
ção e empi- criador da clínica moderna, propôs co visionário,
rismo — como sangrias, vomitórios, vesicatóri
os, doses de ópio uma retomada dos princí-
e outras fórmulas perigosas -, prejudicavam pios da medicina científica, fruto da
os pacientes e observação junto aos pa-
muitas vezes antecipavam sua morte. As cirurgias, cientes e do uso da razão, recuperando
procuradas os princípios do pai da
somente pelos pacientes já sem esperança, medicina, q grego Hipócrates. Sua proposta reno
eram feitas sem cluía, no currículo de medicina, o estu vadora in-
anestesia. Os cirurgiões haviam desenvolvido a habil do das ciências naturais,
idade de da física e da química, e as então recentes
decepar tumores a sangue frio, cauterizando-os rapi descober tas fisioló-
damente gicas. Para Boerhaave, uma vis vitae,
com um ferro em brasa. A experiência era traum ou força vital, era respon-
ática e pou- sável pela manutenção da saúde orgâ
cos sobreviviam, mesmo porque não havia assep nica. Esta era uma con-
sia alguma. vicção de todos os vitalistas cient
Ironicamente, esta medicina era conhecida como íficos, que estavam se
heróica. Pa- contrapondo ao materialismo mecanici
rece-nos, hoje, que o único herói mesmo era o sta da medicina oficial.
paciente, quan-
do sobrevivia ao tratamento. Entretanto, apesar dos conhecimentos
renovadores, ainda
Disse Mesmer, em suas memórias de 1 779, sobre não havia uma terapêutica que correspo
a insufi- ndesse a eles, supe-
ciência científica da medicina de sua época: rando a milenar medicina heróica
€ suas práticas.

O conhecimento que adquirimos até hoje da nature


da ação dos nervos é tão imperfeito que não
za e A descoberta do magnetismo animal
nos deixa ne-
nhuma dúvida a esse respeito. Sabemos que eles Um organismo privilegiado quanto
cipais agentes das sensações e do movimento,
são os prin- à facilidade em mani-
sem, porém, pular o fluido vital, cultura e bom sens
sabermos restabelecê-los à ordem natural quand o excepcionais, a for-
o alterados. mação supe rior pela então recente medicina cien
É uma reprimenda que nos devemos fazer. A ignorâ
ncia dos sé- cola de Boerhaave — dando nova tífica da es-
culos precedentes sobre este assunto garantiu aos médico dimensão à vis medicatrix
s à con- naturae* proposta por Hipócrates —
fiança supersticiosa que eles possufam e que inspir
avam nos seus e uma personalidade de-
específicos e suas fórmulas, tornando-os déspotas e terminada e observadora foram fato
presunçosos. res fundamentais para
possibilitar a descoberta do magnet
ismo animal. Isto se ini-
ciou formal mente quando Mesmer recebeu seu
médico, no dia 27 de maio de 1766, doutorado
ao apresentar sua tese es-
0 n
5 Esta obra, finalmente traduzida para 0 portug
uês, encontra-se na tercei-
ra parte deste livro. 6 Hipócrates considerava que uma força curat
dicatrix naturae, promovia o equil
iva da natureza, a vis me-
íbrio orgânico,
20 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 21

crita em latim: Dissertatio physico-medica de planetarum in- te. Um tratamento metódico, em sessões regulares, permite
fluxu in corpus humanum (em suas obras para um público que o ciclo da doença se complete rapidamente, invertendo a
maior, Mesmer traduziu e simplificou este título como Da in- ação desagregadora e funesta provocada pelo desequilíbrio
fluência dos planetas sobre o corpo humano). Todos estes fato- instaurado. Atingido o estado crítico, o estado doentio está su-
res conjugaram-se na figura do doutor Franz Anton Mesmer. perado. Finalmente o equilíbrio orgânico se restabelece e o pa-
Em 1813, o mais famoso discípulo direto de Mesiner, ciente volta ao seu estado saudável.
Armand Marc Jacques de Chastenet, o marquês de Puységur À terapia descoberta por Mesmer é, assim, muito diferente
(1751-1825), escreveu: c'o--supressão dos sintomas empregada pela alopatia. Os sintomas
Cumpria que se encontrasse um observador que, somen-
são fenômenos naturais fisiológicos que denunciam o desequili-
te mais atento que outro aos perpétuos eflúvios do fluido, ou brio presente na economia orgânica. A ação do medicamento
princípio vital dos corpos organizados, reparasse enfim na in- alopático, suprimindo os efeitos observáveis, mascara a verda-
fluência dos seus sobre o princípio ou fluido vital de seus se- deira causa da doença. No entanto, apesar dos sintomas esta-
melhantes; cumpria que aquele homem fosse douto na fisi- rem omitidos, o estado mórbido ainda permanece no corpo
ca, na química e na fisiologia, para que pudesse dirigir as suas
observações sobre causas pertencentes àquelas ciências; e
doente. Como consegiência, se — por sorte — a própria nature-
ademais cumpria ainda que fosse médico, para logo aplicá-lo za não restaurar sozinha a saúde, surgirão novos sintomas e o
ao tratamento e ao alívio dos males da humanidade, Esse ho- estado de desequilíbrio orgânico se agravará. Além de muitos
mem, em quem se achou reunido tanto mérito e tantas qua- remédios e tratamentos da medicina da época de Mesmer sê-
lidades, é o senhor doutor Mesmer, ancião hoje retirado e rem intoxicantes, venenosos e exaustivos, sua fundamentação
quase ignorado em uma pequena aldeia da Suíça, porém cuja
imagem e nome transmitir-se-ão com glória à posteridade re- científico-filosófica estava equivocada,
conhecida. (MONTEGGIA, 186], p. 81) Neste sentido, seguindo os mesmos princípios de Mes-
mer, Hahnemann, fundador da medicina homeopática, de-
Dois anos depois, Mesmer desencarnaria, curando seus nunciava como ilógico e prejudicial o fato de que
semelhantes por meio do magnetismo animal até seus últimos
dias, em Meesburg, na Alemanha. À antiga escola acreditava [...] extinguir doenças através da
remoção das [supostas] causas morbíficas materiais [...], pois
para a escola médica comum era quase impossível desfazer-se
dessa idéia material e reconhecer a natureza físico-mental do
O materialismo limita a medicina organismo como uma essência tão altamente potencializada
O mesmerismo é uma visão espiritualista e positiva da na- que as modificações vitais nas sensações e funções, as quais
tureza, e absolutamente incompatível com o materialismo ou são chamadas doenças, pudessem principal e quase que exclu-
mesmo com a visão religiosa dogmática e sobrenatural da Igre- sivamente ser causadas e provocadas através de uma influén-
cia dinâmica não material. (HAHNEMANN, 1842, p. 27)
ja. Assim como para Hipócrates, a arte de curar, segundo Mes-
mer, concentra-se em recuperar e manter a saúde, considera- A medicina alopática mantinha uma orientação materia-
da como um estado de equilíbrio. Identificado o desequilíbrio lista sem solução de continuidade desde Galeno. E ainda hoje
presente no organismo do doente, o magnetizador, por meio insiste nesse equívoco, afastando da humanidade os benefícios
de passes, imposição, insuflação, massagens, exerce uma ação dos meios naturais da cura.
dinâmica pelo magnetismo animal (ou fluido vital) no pacien-
22 ” PAULO HENRIQUE DE FIG UEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS
TEXTOS ESCONDIDOS 23
Algumas décadas depois, Hahnemann
recomendaria q
mesmerismo na sua obra máxima, o com respeito ao que é o corpo; todo
Organon da arte de curar, s os dois direcionam sua
e faria uso do magnetismo animal no tratamen pontaria para nossa destruição”, (Pur
prios pacientes, com uma intensidade
to de seus pró- séGur, 1784) Ainda
relevante (ver apêndice hoje o materialismo limita a eficácia
da medicina oficial.
1: “Magnetismo animal e homeopatia”)
.
Centena de vezes, Mesmer reproduziu
terapia para o exame dos médicos e sábi os efeitos de sua O corporativismo dos médicos parisien
os de seu tempo, mas ses

quo Emei
seus esforços foram em vão. Sendo a medicina daqu Para divulgar e apresentar aos médicos
ela época suas descobertas,
influenciada pelo empirismo, pelo mate Mesmer enfrentou o corporativismo
rialismo, pelo dogma- da classe médica de Pa-
tismo da Igreja e pelo autoritarismo abso tis, empenhada em centralizar em suas
luto da real
eza, era de mãos o poder político,
se esperar uma reação violenta à sua acadêmico e financeiro de sua classe
nova visão da arte de cu- e controlar as universida-
rar. Nos tempos de Mesmer, já dizia des, criando as academias sob o domí
o padre Hervier, doutor nio absoluto desses mé-
da Sorbonne, bibliotecário dos Grandes dicos e da realeza. Tal movimento, cara
Augustinos e discípu- cterístico da medicina
lo de Mesmer, em Carta sobre a desc iluminista, enfrentava a oposição dos médicos vital
oberta do magnetismo universidade francesa de Montpellier e istas da
«animal ao senhor Court de Gebelin: da escola científica de
Boerhaave, van Swieten e seus outros disc
ípulos, que retoma-
Seu saber e sua modéstia lhe deram
partidários. Mas a in- vam os princípios hipocráticos originais.
veja não tardou a lhe suscitar inimi O período do ilumi-
gos poderosos. Cobri- nismo é muito mais complexo e diverso
ram-no de calúnias e de ridículos; sua em suas implicações
fortu
vida e seu nôme foram expostos a grandes na, sua própria do que normalmente se pensa. O vita
perigos; ele sofreu lismo, como ciência ilu-
a sorte do famoso Galileu perseguido minista, a clínica científica de Boerhaav
pelo fanatismo do seu e e O corporativismo
século por haver sustentado o moviment
o da terra; foi trata-
dos médicos pari sienses defendendo uma tendência mec
do de visionário como o célebre Harv cista são fatores distintos e determin ani-
ey que ensinava a circu- antes no contexto em
lação do sangue; perseguiram-no como
a Cristóvão Colombo que Mesmer esteve envolvido durante
que descobriu o novo mundo; enfim, foi a defesa do magnetis-
como Sócrates para fazê-lo odiado
imitado no teatro mo animal, nota damente no período vivido em Paris
do povo. À maior parte
sódios relacionados com esta luta . Os epi-
das corporações encarregadas da instr foram relatados em seus
ução pública possuém
o poder de nada admitir que lhe
seja estranho, apesar de pormenores no Resumo histórico dos
quanto vantajoso lhe possa ser; é uma mercadoria
fatos relativos ao magne-
proibida tismo animal. Publicado por Mesmer
que eles bloqueiam nas barreiras do seu em 1781, é a mais im-
reino. E o destino portante obra de referência sobre os fatos
dos grandes homens serem perseguido
s. históricos ligados ao
surgimento do mesmerismo.?
Para Puységur, o magnetismo tornou-s
e o centro de uma
disputa de natureza filosófica, desde
que se trata de defender As luzes do espiritismo
a filosofia contra o materialismo e
até mesmo defender con-
ceitos como a liberdade de pensamen É
por isso que os princípios da ciência do
materialismo é inseparável, para Puys
to. Esta luta contra o mal só poderiam ser compreendidos em toda magnetismo ani-
égur, de uma luta cientí- século segu
sua totalidade no
fica contraa medicina oficial: “a luta se dá contra o inte, sob as luzes do espiritismo, dese
nvolvido por
mo no que concerne à alma, e contra materialis-
a postura da medicina
7 Esta obra encontra-se incluída na terce
ira parte deste livro.
24 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
25
pesquisadores e cientistas como Allan Kardec, Léon
Denis, Ca-
mille Flammarion, Gabriel Dellane, Charles Riche Esse sentido íntimo não se encerra no âmbito do corpo f-
t, Albert de
Rochas, Robert Hare, Oxon, Robert Dale Owen sico, mas permite o contato com todos os outros seres, não
, Willian Ja-
mes, Willian Crookes, Alfred Russell Wallace, Olive importando a distância. A comunicação do pensamento esten-
r Lodge,
Frederic Myers, James H, Hyslop, Henri Bergs de-se mesmo por todo o universo.
on, , Hans
Driesh, Richard Hogdson, Willian Barret, Frederich
Zôllner, Estes mesmos movimentos assim modificados pelo pensa-
Gustav Fechner, Edward Weber, barão von Schre
nck-Notking, mento no cérebro e na substância dos nervos são comunicados
Hans Reichenbach, Karl du Prel, Boutleroff, Alex
ander Aksa- ao mesmo tempo à série de um fluido sutil com a qual esta
koff, Ernesto Bozzano, Cezar Lombroso, Ângel substância dos nervos está em continuidade, podendo, inde-
o Broffêrio,
Enrico Morselli, Luigi Luciani, Giovanni Schiaparelli pendentemente e sem o concurso do ar e do éter, estender-se
e outros.
Isto porque a doutrina espírita, fundada nos mesmos a distâncias indefinidas e comunicar-se imediatamente com o
princípios senso íntimo de um outro indivíduo. (MESMER, 1781)
básicos do magnetismo animal, acrescenta à ciênci
a o elemento
espiritual. Comentou Kardec, em 1859:
Podemos inferir, de toda sua obra, entre outros, alguns
Não é avançar muito dizer que a metade dos conceitos básicos científicos e filosóficos, como a existência do
médicos
reconhece e admite o magnetismo, e que três quartas hoje fluido vital diferenciando os seres vivos da matéria inorgânica; a
partes
dos magnetizadores são médicos. Dá-se o mesm vontade como causa externa ao corpo físico, evidenciando a
o com o es-
piritismo, que conta entre as fileiras muitos médic
mens de ciência, Que importa, pois, a opinião
os e ho- existência objetiva da alma; o livre-arbítrio, que relativisa o de-
sistemática ou terminismo orgânico da saúde e da doença. Por causa da ação
mais ou menos interessada de alguns? [...] A
verdade pode
ser discutida, mas não destruída [...] Se o magnetismo material do pensamento e do sentimento sobre um fluido su-
fosse
uma utopia há muito dele não mais cogitariam,
ao passo que, til, Mesmer os define como fenômenos naturais e concretos —
como o seu irmão, o espiritismo, lança raízes por portanto, positivos.
todos os la- ,
dos. (Revista Espírita, 1859, p. 290)

Às ciências irmãs e o sexto sentido Uma antecipação doutrinária


O magnetismo animal avançou, em sua base É manifesto que o doutor Franz Anton Mesmer e seu discí-
teórica, nos pulo Puységur anteciparam pontos fundamentais do espiritis-
pontos negados pelo materialismo mecanicista
da medicina mo, pela observação sistematizada dos fatos. Muitos conceitos,
tradicional. Ele demonstrou experimentalment
e, pelos efei- teorias, observações e conclusões constantes na doutrina espí-
tos do sonambulismo, que o homem possui um
sentido íntimo, rita foram anteriormente verificados pela ciência do magnetis-
que recebe as impressões dos sentidos orgânicos
e comanda o mo animal e eram temas correntes de um dos ramos da ciência
cérebro conforme a vontade da alma:
iluminista. Expressões como fluido vital, fluido universal, sex-
O magnetismo animal deve ser considerado nas
minhas to sentido, sonambulismo provocado etc.; teorias como da
mãos como um sexto sentido artificial. [...] presciência, da dupla vista, da telepatia e outras estavam pre-
Ele deve, em
primeiro lugar, transmitir-se pelo sentimento. O
sentimento
e apenas ele pode tornar a teoria inteligível. Por exempl sentes nos estudos de Mesmer. O que vem confirmar que
um dos meus doentes, acostumado a provar os
o, toda grande revolução do pensamento humano é antecipada
efeitos que
produzo, tem, para me compreender, uma disposição por movimentos precursores.
a mais
do que o restante dos homens. (MESMER, 1781)
26 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 27
Tendo estudado por mais de trin
ta e cinco anos esta ciên-
cia,8 Allan Kardec, o codificador refa fundamental de aplainar o cam
do espiritismo, com toda ra- inho para o surgimento da
zão afirmou que as duas ciências doutrina dos espíritos.
formam um só corpo, e uma Esclareceu Mesmer:
não poderia ser compreendida
sem as luzes da outra,
Esta proximidade evidente das Os preconceitos são inimigos da felicidade dos home
duas ciências constata-se sobre a verdade pode Tepousar ns. Só
pelo simples estudo de suas dout sua felicidade. Apresentar aos
rinas. Todavia, os livros bási-
cos do magnetismo animal não
tinham sido publicados em por- de prestígios e de embustes é,
pois, o dever mais caro ao ver-
tuguês e, assim, a maioria dos espí dadeiro Legislador: eis o que
ritas brasileiros até agora não eu proponho. (MESMER, 1781
)
puderam tomar conhecimento dess
a evidência. Por outro lado, Allan Kardec, décadas depois,
as calúnias e difamações dos per na obra inaugural do espiri-
seguidores, buscando manter tismo, O livro dos espíritos, que
uma orientação materialista para o stão 555, esclareceria:
conhecimento, foram longe
na extensão de seus prejuízos, det
urpando os fatos habilmente. O espiritismo e o magnetism
o nos
Entretanto, imensidade de fenômenos sobre dão a chave de uma
o tempo é senhor da razão, e uma os quais a ignorância teceu
consciente colocará em definitivo, Teparação um sem-número de fábulas, em
no seu devido lugar de hon- que os fatos se apresentam
ra, estes precursor exagerados pela imaginação. O
es: Franz Anton Mesmer e o mar conhecimento lúcido dessas
Puységur. E também seus destemido ques de duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, most
s continuadores: J oseph do a realidade das coisas € suas ran-
Philippe François Deleuze (17 verdadeiras causas, constitui
53-1835), Jules Denis (barão o melhor preserva tivo contra as idéias supersticiosas,
du Potet de Sennevoy, 1796-188 revela 0 que é possível e o que porque
1), Louis Joseph Jules Char- leis da natureza e o que não pass
é impossível, o que está nas
Pignon (1815-7), Charles Laf a de ridícula crendice,
ontaine ( 1803-1892), Eugêne
Aug uste Albert d'Aiglon de Rochas
1837-1914), Julian Ochorowicz (coronel de Rochas, Estas duas ciências aerescent
arão— neste terceiro milênio
(1850-1917), e tantos ou- — ao elemento material, estudado
tros. Em 1784, Puységur concluiu sua obra afi em seus detalhes pela ciên-
rmando que cia oficial, o elemento espiritual,
positivamente pesquisado,
O magnetismo está assegurado
dando início a uma nova era.
hoje por uma base tão sóli-
da que se Provará por si mes
mo, Por uma segiência inse
vel de fatos, amealhados natu nsi-
ralmente, e à evidência dos
quais os espíritos se renderão Mesmer descobriu o sonambul
cedo ou tarde. O tempo será
melhor do que todos os seus esfo ismo
rços em prová-lo. (Puvsé- Cabe aqui elucidar que o fen
GUR, 1784) ômeno do sonambulismo
provocado e a lucidez sonambúli
ca eram conhecidos por Mes-
mer desde as suas primeiras
experimentações em Viena.
O elemento espiritual na nova se gle: “Um dos meus doentes, Dis-
era acostumado a provar os efeitos
À ciência do magnetismo ani que-produzo, tem, para me
mal enfrentou diversas bar- compreender, uma disposição
reiras e preconceitos do pensam mais do que o restante dos hom a
ento ocidental, e exerceu a ta- ens.” Não corresponde à
verdade, portanto, afirmar
que tenha sido seu discípulo,
marques de Puységur, o modern o
8 “Não seremos nós quem conteste o poder do son o descobridor desse estado
ambulismo, cujos pro- terado de consciência, mas sim al-
dígios observamos, estudand
o-lhe todas as fases durante mais o Primeiro pesquisador do fe-
cinco anos.” (Kardec, 1857, p. de trinta e nômeno, tendo publicado à
43) primeira obra sobre suas exp
riências em 1784. “Advogando e-
a causa do magnetismo animal
,
28 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 29

estou simplesmente advogando aquela do


seu célebre inven- psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta
tor, o senhor Mesmer [...] É a ele apenas que devo
minhas fra- se mostra a descoberto.” (KARDEC, 1857, p. 240)
cas luzes e meus felizes ensaios. Possam
meus esforços acele- O sonambulismo é um instrumento experimental de fun-
rar o triunfo que lhe é devido!”. (PuvsÉGuR,
1784) damental importância para o estudo da fisiologia da alma, co-
No entanto, o marquês de Puységur não ousou
elaborar uma locando uma teoria psicológica da mente no terreno da obser-
teoria sobre as causas, fazendo uso das explicaçõe
s de seu mestre: vação positiva, e não de suposições sistemáticas e pessoais,
Não pretendo dar a teoria do magnetismo animal, comuns nas escolas psicológicas materialistas — behaviorismo,
nem en-
trar em algumas discussões sobre sua analogia
com tado o sis- gestalt e psicanálise —, que consideram a hipótese, não com-
tema do mundo: apenas o senhor Mesmer
pode empreender provada, de que a menteápenas um produto virtual do cére-
tão grande tarefa. A que me imponho é, simpl
como ajo para curar as doenças, e como se
esmente, dizer bro, e a alma uma abstração.
produzem sobre
muitos dos doentes os efeitos tão surpreende Neste sentido, uma pesquisa científica, resgatando o so-
ntes e inespera-
dos dos quais se entende poder falar. (PUYSÉGUR,
1874) nambulismo provocado, tem todas as condições para a elabo-
ração de uma psicologia genuinamente experimental, como
Talvez a confusão tenha surgido pelo fato de Mesm Allan Kardec já havia alertado, referindo-se ao sonambulismo:
er evita
r
a publicidade do sonambulismo para concentrar
-se no estabele-
cimento do novo meio de cura: “Em vez de aguça Enquanto o homem se perde nas sutilezas de uma metafísi-
r a curiosidade, ca abstrata e ininteligível, em busca das causas da nossa exis-
eu estava interessado em tornar úteis esses
fenômenos, e só tência moral, Deus cotidianamente nos põe sob os olhos e 0
quis convencer por meio de fatos”, afirmou
Mesmer. Outro alcance da mão os mais simples e patentes meios de estudar-
de seus discípulos, J. L. Picher Grandchamp, mos a psicologia experimental. (KARDEC, 1857, p. 240)
na edição co-
mentada das Memórias, revelou que:

[...] o doutor Mesmer por uma destas comparações


que lhe eram abundantes, dizia a seus discípulos [...]
felizes, Os irmãos Puységur e a lucidez sonambálica
que. nes- Puységur, além de fazer uso do mesmerismo como terapia,
se estado de sonambulismo [...], o indivíduo tornar-se
médico bem instruído sobre o magnetismo animal
para O difundiu o emprego do estado sonambúlico como instrumento
um teles-
cópio ou um microscópio com o qual poderia
se aperceber de para o diagnóstico, o acompanhamento e a previsão de cura de
todas as indisposições, todas as doenças e,
causas
sobretudo, suas seus pacientes, como havia sido antecipado pelo doutor Mes-
e curas, até as obscuras, veladas e não
apreciáveis, mer. Isso teve início com o atendimento de seu primeiro paci-
Em sua derradeira obra, publicada em 1799 ente, Victor Race, um jovem camponês, trabalhador de sua
, Mesmer ofe-
receu uma teoria completa sobre o sona - propriedade rural, um castelo em Busancy. O rapaz sofria de
mbulismo e as diver-
sas faces da lucidez sonambálica. uma moléstia dos pulmões. Ao ser magnetizado por Puységur,
No século seguinte, além de despertar entrou em estado sonambúlico. Nesse estado, o jovem apresen-
o interesse da co- tou as mais diversas modalidades de lucidez sonambálica: ob-
munidade científica, o tema tomaria uma
grande parte dos li- servava o interior dos organismos, atendia a ordens telepáticas
vros básicos da codificação do espiriti
smo, elaborados por de Puységur, previa a momento exato das curas, enxergava com
Allan Kardec: “Para o espiritismo, o sona
mbulismo é mais do os olhos completamente vendados e muito mais.
que um fenômeno psicológico, é uma luz
projetada sobre a
30 ” PAULO HENRIQUE DE FIG UEI La)
REDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
O marquês cComentaria, 3!
alguns anos depois, que o
bulo com a mais variada sonâm-
e intensa lucidez sonambúli
Passou por suas mãos ter ca que
ia sido, surpreendentemente
Ponês Victor, justamente , o cam-
seu Primeiro paciente.
Puység
ur escreveu a um de dos cidadãos: Du
seus seu irmãos, q vis droir du souverain sur les bie
Maxime, também magnet conde
et des moines, et de Pusage qu'i ns fonds du clergé
izador, para lhe contar sob
missão do pensamento: re a trans- l peu faire de ces biens pour
bonheur des citoyens. Mudou-
se para Portugal e atuou com
le
|
ronel do exército lusitano. Em o co-
É com este homem simple
s [Victor Race], este cam 1814, voltou para Bordéus. No
homem grande e robusto, ponês, mesmo ano foi promovido
com a idade de vinte e três a tenente-general e capitão
atualmente acabrunhado anos, das do dugue de Angoulême. dos guar-
pela doença, ou antes, pela Depois de permanecer por
e poristo mesmo mais pró
pria a ser removida pelo
tristeza, tro anos em Paris, faleceu em qua-
natureza [o magnetismo agente da 19 de março de 1820.
animal]; é com este hom
que me instruí, que me escl em, digo,
areci, Quando ele está no est
magnético, não é mais um
campônio tolo conseguindo
ado
Penas responder com uma a duras
- frase, é um ser que não sei
car; não tenho necessidade classifi-
de lhe falar; eu penso dian
e ele me entende, me res te dele,
ponde. Vem alguém à sua Duval d'Espremenil. Paris: Hez
Ele o vê, se eu quiser, ele
fala, ele cliz coisas que eu
câmara?
relatório das curas que ele
Prault, 1784). Olivro é um
ele diga, nem Sempre as quero que operou em Bayonne, e foi end
que eu lhe dito, mas aquela ere-
verdade exige. Quando ele s que a gado ao abade de Poulouza
quer dizer mais é eu não crei + conselheiro clerical do dep
dente que o faça, então int o pru- mento de Bordéus. Além diss arta-
meio de uma palavra, (Pu
errompo suas idéias, suas
frases no o, Maxime se correspondia
vsécur, 1784) to com seu irmão mais mui-
famoso, o marquês, e
Participava das experiências mui tas vez es
É importante destacar feitas por ele em Busancy.
que os Puységur descen
uma tradicional família de diam de O terceiro Puységur intere
nobres militares franceses ssa
François-Jacques de Cha . O casal ne Hyacinthe Anne de Cha do no mesmerismo foi Antoi-
stenet, conde de Puység
ur (1716-
stenet, conde de Chastenet
1782), mestre de acampa
mento geral dos dragões,
e a senhora

Muitas vezes confundido tada no Teatro Nacional


com O marquês de Puység da França, tendo como per
visconde Jacques Maxime Pau ur, o Mirabeau, La Fayette, Bail sonagens
l de Chastenet (1755-1820) ly, Montmorency, Mounie
seu irmão mais novo. Mest era TOuse, entre outros. r, La Pé-
re-de-campo do Segundo
to do Languedoc, infantari Regimen-
a, servia na guarnição de
cidade na qual residia, Eng Montauban,
ajado nos debates políti
cos de sua SA

I0 PuYSÉGUR, [Antoine Hya


.

cinthe A. de], Comte de CHA


.

Réduite de "Isle de St. Doming STE


ue levée dressée er publice par NET. Carte
9 Os dados genealógicos são
de GeneaNet - Extrait de
sous le ministôre de m. le mal ordre
de Castries, ministre er sécretai du roi
liale de BAUDARD de FON la généalogie fami-
TAINE Philippe en juin
2003. ayant le Département de la re d'etat
marine d'ap res les observations faites
Corvette le Vausour en 178 sur la
4 e: 1785.
32
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO

MESMER - A CIÊNCIA
NEGADA E OS TEXTOS
Mesmer não era fl ESCONDIDOS
33
uidista
E um engano imagin acordo com o fundador da hom
ar ser de Mesmer eop atia, a ação dinâmica não
segundo a qual uma a teoria Auidista, dá pela “comunicação de se
energia material eman Partes materiais”, mas por
netizador e atinge o a das mãos do mag- uma fun-
Paciente. O simples ção de onda de uma força
afasta este erro histór exame de suas teoria vital do tipo não-material,
ico. Alertou O pesq s plicar o que é uma ação din Para ex-
lian Ochorowicz: “C uisador polonês Ju- âmica — que para ele ocorre
onsiderá-lo Fluidista no mesmerismo quanto na tanto
do por aqueles que é um erro, Propaga- ação medicamentosa do
não leram Mesmer homeopático - Hahneman rem édio
enderam,” (OcHorow ou que não o compre- n fez uso, em sua doutri
ICz, 1903, p. 208) mesma comparação ant na, da
es empregada por Mesmer
A doutrina do magnet fluxo e o refluxo das marés , ou seja, o
ismo animal consider e a ação do magnetismo min
do fluido universal, a a existência Por sua vez, o fluidismo foi obr eral.
fonte Primária de to

tada
+ toda a matéria. O dos os fluidos e de
da segunda geração, durant a de alg uns mag netizadores
fluído vital Ou magnet e o século 19. Para criar est
i gundo Mesmer, um ismo animal seria,

dei
estado particular de vi se- Os magnetizadores fluidista a teoria,
movimento, em suas bração (ou ton de s basearam-se nas descriçõe

ia e minar
palavrasdo) fluido Uni pelos sonâmbulos, que enx s feitas
versal. “Nem a luz, ergavam, pela lucidez sonamb
um fluido sendo emanado úlica,
das mãos dos magnetizador
do aplicavam passes em seu es quan-
s pacientes.

ma
O magnetismo é um atribu
to da alma
Concordam a doutrina espírita e o magnetismo
que O magnetizador, fazendo animal
uso racional da vontade, que
sediada na alma, direciona
e pro é
duz o efeito curativo do flu
vital no paciente. Esclarece ido
u Puységur:
O homem apenas Possui esta
sensibilidade tão desejável:
se, longe de buscar sufocar
em si, ele se deixasse cond
pelos seus doces impulsos, uzir
ele se reconheceria sem cess
poder de reforçar seu Princípi ar o
exemplo, nos fenôme o vital à sua vontade, e de
Far, por sua ação, o dos seus repa-
nos de telepatia, de semelhantes. É aqui que é
€ espiritismo, Magnetismo animal so parar sobre as explicações preci-
físicas do poder dos homens
Qual é a natureza dessa vont .
Também Hahnemann ade, único agente da ação
artifi-
losofia da homeopatia partilhou do mesmo
: “Todos os tipos de conceito na fi-

| rismo baseiam-se nu
força vital no pacien
m afluxo dinâmico
te.” (HAHNEMANN,
prática do mesme-
de maior ou menor
1842, p. 244) De
34 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
ea

MESMER - À CIÊNCIA NEG


ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 35
Assim, Puységur identifica o mag
em me,

netismo animal como


sendo atributo da alma, sede imat falava do homem segundo
erial da vontade, criada por estes três prismas; mens, anima, e
Deus. Depois, concordou Kardec corpus, espírito, alma e
ao afirmar: “Pelos fenôme- corpo. Os egípcios acredi
tavam o mes-
nos do sonambulismo, seja natu mo homem dividido em três partes distintas, ent
ral, seja magnético, a Provi- endimento,
dência nos dá a prova irrecusável
da existência e da indepen-
dência da alma, e nos faz assistir
ao espetáculo sublime da sua
emancipação.” (KARDEC, 185
7, p. 242)
Afastando o sobrenatural, a ciên
cia do magnetismo ani-
mal enfrentou a ignorância que
dominou o Ocidente por sécu-
los, impedindo a conciliação entre
filosofia, ciência e religião.
Esclareceu Puységur:

A série de fenômenos verdadei


ramente maravilhosos que
o estado de sonambulismo magn
ético deve produzir, não se
pode, creio, calcular. As propried
ades de nossas sensações
são ainda apenas reconhecidas;
e o que pode limitar o termo
onde elas terminam ? As maravilhas da Antigúidade, os
da magia, a arte mentora da feitiçaria erros
e da adivinhação, o po-
der de dar visões às crianças como aos homens Outro destacado magnetiza
razoáveis,
cujo espírito está exaltado ou prev
enido; todas as coisas, digo Physiologie, medicine et mét dor, Charpignon, em sua obra
eu têm uma base de verdade aphysique do magnetisme,
crer. (PUYSÉGUR, 1785)
à qual é impossível hoje não da em Paris no ano de 1842 publica-
(quinze anos antes de O liv
espíritos), concluiu por uma ro
E Mesmer completa, referindo-se composição tríplice do home dos
a
essas mesmas práticas: m:
“São muitas vezes os resultados de
observações de certos fenô- As considerações psicológicas
a que acabamos de nos en-
menos da natureza, que por falta tregar tiveram como res
de luz ou boa-fé foram sucessi- ultado fixar-nos na necess
vamente desfiguradas, ocultas ou admitir, na composição idade de
misteriosamente escondidas”. verdadeira tríade, e acha
da individualidade humana
, uma
| mento de uma natureza
r neste composto trinário
essencialmente diferente
um ele-

| Os magnetizadores e o corpo outras partes, elemento das duas


perceptível, antes por suas
espiritual des fenomenais, que por suas propriedades faculda-
É surpreendente o fato de que constitutivas;
muito cedo o magnetismo
animal levou à constatação de um ii
intermediário entre o espíri- ii organismo de composição
to e 0 corpo, que receberia, poster dupla, a saber: combinaçã
iormente, a denominação mos forrnando os órgãos, o de áto-
de perispírito por Allan Kardec e um elemento de nature
. rial, mas indecomponível, 1.4 za mate-
A diferença entre espírito e alma dinâmica Por essência, numa
A

, difundida pela doutrina ; pala-


espírita, foi, em 1785, assim exp
licada por Puységur: um ser simples, intelige
nte, livr
Os antigos tinham a idéia de logos chamam alma. (CHARP e e voluntário, que os psicó-
duas essências no homem, IGNON, 1842, p. 355)
tma espiritual e outra material. À antiga teologia
dos hebreus
36
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO

MESMER - A CIÊNCIA NEGADA


E OS TEXTOS ESCONDIDOS
O sonâmbulo pode ver 3?
O passado e o futuro
Observan do o fato de 9 lhor como estamos afastados das leis
sonâmbulo, por meio da natu
conhecer os fatos passad
os e prever os futuros,
da lucidez abandono total de uma de nossas importan reza do que esse
tes faculdades. De-
sua obra de 1799, elabor Mesmer, em vem ter existido, outrossim, sociedad
es entre as quais o mag-
ou à teoria segundo a qua netismo animal,
l:. esta medicina tão fácil e tão natur
al, tenha
sido exercido, mas na simplicidade
[.lo homem, estando dos costumes antigos, de-
pelo senso íntimo em ci veria ser suficiente aos homens irem
tato com ao impulso de suas almas
compassivas para operar alívios pron
tos e seguros. A arte de
curar, longe de ser uma Ciência, era,
por assim dizer, uma ne-
cessidade, tanto que não deveriam exist
ir regras para esta ope-
ração, como para todas as outras
ações físicas e de primeira
necessidade que operamos sem cálcu
lo, Supõe-se, com efeito,
que exist iu uma sociedade de homens justos e bons, satisfei-
impera

tos, em toda a plenitude de seu ser,


os dons imanentes que
de que no universo tud lhes prodigalizou a natureza, unicamen
o está Presente, e que te ocupados em usu-
o passado e o fruir sua felicidade, sem outras necessid
futuro são apenas difere
ntes relações das partes render graças ao Criador; dotados por
ades que aquela de
entre si. outro lado de uma saú-
de inalterável, a qual algumas paix
ões desordenadas não vi-
nham perturbar a Pureza; concluir-s
e-á então que não deviam
então acontecer choques destrutivos
entre eles. Os impulsos
naturais existindo com toda sua força, deviam ser
cegamente e, depois do amor e da obedecidos
amizade, seria certamente a
caridade ativa, filha da sensibilidade,
que devia mais agitar e
O magnetismo e a carida afeta
r as almas. Ora, efeito, por assim dizer
, maguinal deste
de ativa último sentimento era precisamente o
- Outro ponto essencial do que nós chamamos
espiritismo para o qual hoje de magnetismo animal, e era suficiente
tramos equivalência na ciê por consegiiência
ncia do magnetismo animal encon- para remediar a todas as doenças
acidentais, inseparáveis da
naturais con segiiências morais,
são suas espécie humana. (PUYSÉGUR, 1785)
fundamentais tanto para o
Portanto, de acordo com a ciência do
magnetismo animal, o
esforço da vontade, motivado pela cari
; dade ativa, efetiva-se como
as para servir para a his um efeito material na ação da cura,
tabelecimento do magnet tória e o es- por meio do fluido vital.
ismo animal, é “Vonta
de ativa para o
À cura pela fé raciocinada
Por outro lado, o magnetismo e
o espiritismo dão uma
nova dimensão ao termo fé, separand
o a fé da superstição reli-
giosa. Com o auxílio da razão, ela
Todo homem crescendo adq deixa de ser cega e pode
uire a faculdade de cura operar prodígios antes denominad
semelhante, como adquire
a faculdade de reproduzir-se. r seu os milagres, mas que não
Estas passam de um exemplo concreto
da ação positiva da vontade
sobre a matéria. Antes disso:

[...] a fé não foicompreendida senão pelo lado religioso,


porque o Cristo a exaltou como pode
rosa alavanca e porque O
38 PAULO HENRIQUE DE FIGU
EIREDO
MESMER - A CIÊNCIA
NEGADA E QS TEXTOS
ESCONDIDOS
39
têm considerado apenas como chef
e
tanto, o Cristo, que operou milagres de uma religião. Entre- [...] ressalta de um fato material
esses milagres mesmos, o que pode materiais, mostrou, por radicais obtidas, nalguns cent : são as múltiplas curas
isto é, a vontade de querer e a o homem, quando tem fé, ros espíritas, pela só evocação
certeza de que essa vontade doutrinação dos espíritos obsessores, e
pode obter satisfação. Também os apóstolos não oper sem magnetização,
nem medicamentos e,
milagres, seguindo-lhe o exem aram muitas vezes, na ausência
do paciente
plo? Ora, que eram esses mila e a grande distância deste. (KARDE
gres, senão efeitos naturais, - C, 1868, PP. 329-330)
cujas causas os homens de entã
desconheciam, mas que, hoje, o
em grande parte se explicam .
que pelo estudo do espiritismo e E preciso destruir a Caus
completamente compreensíveis?
e do magnetismo se tornarão a da doença
(KARDEC, 1863, p. 306) Mesmer sabia que “Para curar
verdadeiramente uma doen-
Isto esclarece Kardec em O eva
ngelho segundo q espiritis-
mo, e então conclui: “O magnet
ismo é uma das maiores provas
do poder da
fé posta em ação, É pela fé que
esses fenômenos singulares, qua ele cura e produz
lificados outrora de milagres.”

Os três ramos da medicina


O magnetismo animal, como
meio de cura e de preserva-
ção da saúde do homem, é uma
das seções da medicina e, ao
lado das necessárias intervenç
ões convencionais e da homeo-
patia, con stitui
um dos três ramos, que, com
tuem a arte de curar. E, segund binados, consti-
o Kardec: [...] às causas físicas deve-se
morais. O orgulho, a inve
juntar a influência das causas
[...] todos os três estão igualmen ja, à avareza, a ambição,
te na natureza, e têm sua paixões aviltantes do espírito todas as
utilidade, conforme os casos humano são também caus
especiais, o que explica porque visíveis de doenças visíveis as in-
um tem êxito onde outro frac .
assa, porque seria parcialidade efeitos de causas sempre sub Como curar radicalmente os
negar os serviços prestados pela sistentes? [...] Fala-se tanto
sa opinião, são três ramos da
medicina ordinária, Em nos- reveses da fortuna, e das nos
arte de curar, destinados a se melancolias interiores tão
su- no mundo. O magnetismo comuns
plementar e se completar, con animal não cura a perda
forme as circunstâncias, mas de cem
das quais nenhuma tem o dire
t ito de se julgar a panacéia uni- nem de uma mulher rabuge
versal do gênero hum ano. nta ou inhel, nem de um pai ou
de uma mãe desnaturados
, nem de filhos ingratos
inclinações infelizes, de , nem de
À elas podemos acrescentar, para vocações forçadas.
na integral, os tratamentos des
o efeito de uma medici-
cobertos pelo espiritismo ao
velar a existência dos espíritos: re-
a mediunidade de cura, que é
auxílio ao doente pelos fluidos o
benéficos regeneradores dos
bons espíritos, derramados sob
re ele pelo médium, pela sim-
Ples imposição de mãos; os
efeitos salutares da prece e O espiritismo cura as do
ação fluídica; as técnicas da desobs sua
essão. A prova da participa- enças morais
ção de uma inteligência oculta À sol ução para isto, que Mesmer
em casos patológicos... reconheceu não estar no
alcançe da ciência do mag
netismo animal, encontra-
se plena-
40 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 41

mente atendida na doutrina espírita, quando declara:


contribuição para a a maior
saúde humana é à educação do espí O médico e a cura moral
aí que se encerra a rito, É
missão providencial do espiritismo. Quando a causa da doença estiver no espírito, a cura pro-
alma educada pelos Uma
Princípios da liberdade, da solidari vém da educação moral. Neste caso, deveria o médico fazer-se
da tolerância acorda em edade e
si mesma Os potenciais inatos, as moralizador de seus doentes? Kardec esclarece:
imensas faculdades depositadas em
seu íntimo. E, Pelo des-
pertar de sua própria vontade, ela [...] sim, sem dúvida, em certos limites; é mesmo um de-
adquire o poder de manter o
seu equilíbrio e conquista definitiv ver, que um bom médico jarnais negligencia, desde o instante
amente o controle sobre a que vê no estado da alma um obstáculo ao restabelecimento
saúde. A educação espírita é a chave
de um futuro sem doen- da saúde do corpo. O essencial é aplicar o remédio moral com
ças para a humanidade terrena. O
espiritismo... tato, prudência e a propósito, conforme as circunstâncias. [..]
É, pois, à educação, e, sobretudo, à primeira educação, que mo
[...] cura os males físicos, mas cura, sobr cubem os cuidados dessa natureza. Quando a educação, desde
morais e são esses os maiores
etudo,
as doenças
prodígios que lhe atestam a o berço, for dirigida nesse sentido; quando se aplicar em aba-
proc
edência. Seus mais sinceros adeptos far, em seus germes, as imperfeições morais, como faz com as
sentem tocados pela observação não são os que se
de fenômenos extraordiná- imperfeições físicas, o médico não mais encontrará no tempe-
rios, mas os que dele recebem a cons
olação para suas almas; ramento um obstáculo, contra o qual a sua ciência muitas ve-
Os a quem liberta das torturas da
dúvida; aqueles a quem le- zes é impotente. (Revista Espírita, 1869, p. 66)
vantou o ânimo na aflição, que haur
iram forças na certeza,
que lhes trouxe, acerca do futuro,
no conhecimento do seu
ser espiritual e de seus destinos. Esses
porque sentem e compreendem.
os de
fé inabalável, Medicina e mediunidade
(KARDEC, 1868, p. 327)
Completando os recursos da verdadeira arte de Cure,
O tratamento deve ser adequado à caus
ser uma perturbação apenas
a. A doença pode Allan Kardec propôs que a medicina se alie à mediunida e,
orgânica e estar circunscrita ao prestando mútuo apoio uma à outra, na figura do médi-
corpo. Como pode, também, prov
ir de uma natureza fluídica, co-médium, Este, em sua atividade profissional, concilia o seu
tendo sua causa no perispírito. Mas
se o desequilíbrio tiver a conhecimento científico com a assistência espiritual no trata-
Sua causa no espírito, então:
mento dos seus pacientes.
[...] o perispírito e o corpo, postos
sob sua dependência, Tanto os espíritos bons podem auxiliá-lo no trabalho da cura
serão entravados em suas funções, (por evocação ou inspiração), como também um diálogo com os
e nem é cuidando de um
nem do outro que se fará desapare
truirão o germe senão combatendo
cer a causa, [...] Não des- pacientes desencarnados pode auxiliar nos casos futuros. Kardec
par seus semelhantes, fa- enxergou essa possibilidade e perguntou aos espíritos
zendo homeopatia espiritual e fluidica
materialmente, dando ao doente,
mente, como se faz
pela prece, uma dose infi- — Poderia um médico, evocando os Espíritos de seus
nitesimal de paciência, de calma,
de resignação, conforme o clientes que morreram, obter esclarecimentos sobre o que
caso, como se lhe dá uma dose infinitesi mal de brucina, de lhes determinou a morte, sobre as faltas que haja porventura
digitalis ou de acônito. Para destruir
uma
que combatê-la em seu terreno. (Doutor causa mórbida, há cometido no tratamento deles e adquirir assim um acrésci-
pírito, in Revista Espír
Morel Lavaliêe, es- mo de experiência?
ita, 1867, p. 56)
— Pode e isso lhe seria muito útil, sobretudo se conseguis-
É preciso tratar, ao mesmo tempo, O corp se a assistência de Espíritos esclarecidos, que supririam a fal-
o e à alma, objetivan-
do as causas dos desequilíbrios, para alca ta de conhecimentos de certos doentes. Mas, para tal, fora
nçar a tão desejada saúde. mister que ele fizesse esse estudo de modo sério, assíduo,
42 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 43

com um fim humanitário e não como meio de adquirir, sem de Rivail iria se alterar bruscamente. Ele sofria de uma amauro-
trabalho, saber e riqueza”. (KARDEC, 1862, p. 391)
se. Conforme seu diagnóstico, ele logo ficaria completamente
Allan Kardec esclareceu, também, que-o médico-médium, cego. À única coisa a fazer era se conformar com a nova situação.
diferente do médium curador, não deve se constranger ao co- Mas Rivail não se deu por vencido. Procurou uma sonâm-
brar seus honorários: bula, Em transe, ela pôde afirmar que não se tratava de ceguei-
ra, mas de uma apoplexia, um pequeno derrame sanguíneo em
Porque um médico tornou-se médium e é assistido por seus olhos. Entretanto, se não recebesse um cuidado adequado,
espíritos no tratamento de seus doentes, não se segue que
deva renunciar a toda remuneração, o que o obrigaria a pro-
aquilo poderia cegá-lo. A sonâmbula afirmou que poderia cu-
curar os meios de subsistência fora da medicina e, assim, re- rá-lo. E disse mais, previu que uma pequena melhora otorreria
nunciar a sua profissão. Mas se for animado do sentimento em quinze dias. Um mês depois, começaria a enxergar nova-
das obrigações que lhe impõe o favor que lhe é concedido, mente. E a cura completa ocorreria em dois ou três meses. Pois
saberá conciliar seus interesses com os deveres da humanida- tudo ocorreu exatamente segundo a previsão. Com o diagnósti-
de. (Revista Espírita, 1867, p. 306)
co por meio do sonambulismo, e pelo mesmerismo, Denizard
Enfim, o Codificador do espiritismo declarou que “se terá Rivail ficou completamente curado. É importante observar, no
mais confiança nos médicos quando forem médiuns, e mais entanto, que se Kardec simplesmente deixasse o tempo passar,
confiança nos médiuns [curadores] quando forem médicos”. como recomendou o médico, teria desenvolvido a cegueira.
Combinando medicina comum, homeopatia, magnetis- “Ah como a gente sabida é boba!”, disse em 1862 o doutor
mo animal, magnetismo espiritual, desobsessão, mediunidade Armand Trousseau (1801-1867), professor da Faculdade de Medi-
e educação moral, os médicos terão em suas mãos todos os re- cina de Paris e membro da Academia Francesa de Medicina, numa
cursos para conquistar uma saúde integral e definitiva para a conferência que chamou a atenção de Rivail. Disse Trousseau:
humanidade. Como vedes, senhores, as pessoas inteligentes são as que
caem primeiro [...] lembrai-vos do que se passava no fim do sé-
culo passado. Um empírico alemão, submetendo as mulheres à
Allan Kardec ficou quase cego ação de um fluido que ele dizia emanar de si mesmo, lançou
Em 1850, Hippolyte Leon Denizard Rivail, mais conheci- uma teoria bizarra, na época chamada de mesmerismo. Vem a
Paris, instala-se na praça Vendôme, no grande centro de Paris.
do por seu pseudônimo de Allan Kardec, por quase trinta anos Aí as pessoas mais ricas, as camadas mais altas da sociedade da
vinha estudando o sonambulismo provocado e todas as suas capital, vêm postar-se em torno da varinha de Mesmer. Eu não
fases. Seus afazeres, no entanto, foram interrompidos por um saberia atribuir quantas curas foram atribuídas a Mesmer, que,
grave problema. Rivail quase ficou cego. Não podia ler ou es- aliás, é o inventor e o importador, entre nós, dessa maravilha
N, que se chama sonambulismo, isto é, uma das mais vergonhosas
crever, condição grave para suas atividades como pedagogo,
,1 chagas do empirismo. (Revista Espírita, 1862, p. 227)
escritor e também professor do Lycée Polymathique. Mal dis-
tinguia as pessoas que lhe estendiam a mão. E Trousseau, que em 1852 assumira a cátedra de clínica
Preocupado, Rivail percorreu as clínicas dos mais notáveis médica do hospital L'Hotel Dieu, continua:
médicos de Paris. Entre elas a do doutor L. (seu nome foi pre-
Com efeito, que dizer do sonambulismo? Moças histéri-
servado por Kardec), professor de oftalmologia. O doutor fez cas, geralmente perdidas, juntam-se a qualquer charlatão fa-
um exame atento e meticuloso. Sua declaração é de que a vida minto e ei-los simulando o êxtase, a catalepsia, o song, e
44 PAULO HENRIQUE DE FIG UEIR
EDO
MESMER- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 45

ei-los, com a mais falsa segurança,


exibindo mais ignorância
do que se podiam imaginar, ignorâncias bem O magnetismo, como ciência, sofreu violentos ataques da
aceitas, acreditadas com uma fé pagas, bem
lhos do clíni
mais robusta que os conse- comunidade médica tradicional desde quando Mesmer divulgou
co mais esclarecido.
seus primeiros resultados. Entretanto, esclareceu Kardec que o...
Todavia, Kardec não se preocupou
em provar para o se- [...] magnetismo preparou o caminho do espiritismo e os
nhor Trousseau a existência do
magnetismo e do sonambulis- rápidos progressos desta última doutrina são incontestavel-
mo. Seria tempo perdido. Disse, mente devidos à vulgarização das idéias sobre a primeira.
porém:
Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase às
[...] que, se o ataque e o sarcasmo são manifestações espíritas há apenas um passo. Sua cone é
da ciência, é ainda mais indigno que
armas pouco dignas
ela arraste na lama uma tal que, por assim dizer, é impossível falar de um sem falar
ciência hoje espalhada no mundo do outro. (Revista Espírita, 1858, p. 96)
inteiro, reconhecida e pra-
ticada pelos mais eminentes homens
€ atirar sobre os que a
professam os insultos mais gross
eiros que os possam encon- O codificador do espiritismo ainda afirmaria ter sido o
trar no vocabulário da injúria. É
para lamentar ouvir expres- aparecimento do espiritismo preparado por vários pesquisa-
sões tão triviais, feitas para inspirar
desgosto, descendo das dores como Swendenborg, Mesmer e Puységur. De acordo

+
cátedras do ensino,
com Kardec, as grandes idéias são antecipadas, como o cristia-
Kardec, homem de profundo bom nismo teve Sócrates e Platão como precursores:
indignação diante das ofensas grat
sens o, demonstra sua
uitas do catedrático doutor,
claramente desinformado ou mal Há um século tinham preparado seu aparecimento. Swe-
intencionado. Cabe destacar denborg, [...] Sem esquecer Mesmer, que deu a conhecer a
que, nos tempos de Kardec, o
mesmerismo era amplamente força fluídica, de Puységur [...] Todos levantaram uma ponta
utilizado, pesquisado e divulgado.
Afirmou o codificador: do véu da vida espiritual; todos giraram em torno da verda-
“Quanto a Mesmer, é preciso esta deira luz e dela se aproximaram mais ou menos; todos prepa-
r muito pouco ao corrente
do que se passa para ignorar que raram os caminhos e dispuseram os espíritos, de sorte que,
o magnetismo está mais espa-
lhado do que nunca, é que é hoje por assim dizer, o espiritismo apenas teve que completar o
professado por notabilidades que havia sido esboçado. (Revista Espírita, 1865, p. 264)
científicas.” (Revista Espírit + 1863, p. 338)
O espiritismo não seria completo sem as descobertas do
Kardec estudou o magnetismo por mesmerismo. “Se tivermos que ficar fora da ciência do magne-
décadas tismo, nosso quadro ficará incompleto e poderemos ser compê:
Quando assistiu Aquela conferência,
blicara O livro dos espíritos, obra
Allan Kardec já pu- rados a um professor de física que se abstivesse de falar da luz.
queesclarece com detalhes o (Revista Espírita, 1858, p. 96). Kardec, no entanto, não repro-
sonambulismo como fenômeno natu
ral, podendo ser provoca- duziu em sua obra os textos doutrinários do magnetismo. Em
do pelo magnetismo. Tendo estuda
do a ciência do magnetis- sua época, diversas instituições de pesquisa, clínicas, periódicos
mo animal por trinta e cinco anos,
logo constatou que as duas e grupos científicos frequentados por médicos e pesquisadores
eram ciên cias irmãs. “O magnetismo e o
espiritismo se dão as cuidavam do assunto com profundidade eexperiência. Por isso
mãos. São duas partes de um mesmo
todo, dois ramos de uma Kardec, em sua Revista Espírita, não se referiu diretamente às
mesma ciência, que se completam
e se explicam um pelo ou- doutrinas do magnetismo animal, “senão acessoriamente, mas
tro. Acreditar no magnetismo é abri
r caminho ao espiritismo, de maneira suficiente para mostrar asrelações íntimas das duas
€ reciprocamente.” (Revista Espírita
, 1867, p. 347) ciências que, na verdade, não passam de uma”.
im

PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS


rima

47
mma nam ai

Marquês de Puységur defendeu o Mesmerismo do diácono Paris, que assembléias civis e religiosas haviam
condenado sem haver podido explicá-los nem concebê-los.
Em 1813, dois anos antes do desencame de Mesmer, o mar-
Em luta com doutores indignados com razão contra as exage-
quês de Puységur teceu as seguintes considerações num artigo: rações místicas e metafísicas a que esses prestígios haviam
dado causa, e sob um governo vacilante, do qual a ideologia
Às sonâmbulas magnéticas não guardam nenhuma lem- republicana e o filosofismo mais absurdo haviam desde mui-
brança, no seu despertar, das experiências de que participa to tempo solapado os alicerces, tudo concorria para não fazer
ram. Nada lhes fica gravado na memória. encarar Mesmer, à sua chegada à França, senão como um
À esta obscuridade, que em todos os tempos deveu envol- taumaturgo empreendedor e audacioso, que, para atrapalhar
ver os fenômenos magnéticos, é que cumpre atribuir a igno- a marcha de uma revolução salutar, vinha renovar antigos er-
rância em que os homens estiveram até aqui da existência de Tos e remoçar velhas prevenções. Apesar de alguns médicos
uma das suas mais belas faculdades. Assim como o acaso, ou franceses muito afamados haverem altamente reconhecido a
antes a observação, fizera Newton descobrir a perpétua gra- existência e a utilidade da descoberta de seu douto colega,
vitação dos corpos, que todos os seus conhecimentos mate- ela não deixou de ser proscrita pela desfavorável decisão que
máticos antecedentes não lhe puderam fazer presumir; da sobre ela deram, à exceção de um só, todos os sábios comis-
mesma maneira cumpria que se encontrasse um observador sários encarregados de julgá-la, e a verdade de fato mais ad-
que, somente mais atento que outro aos perpétuos eflúvios mirável que talvez jamais se haja manifestado às ciências fisi-
do fluido, ou princípio vital dos corpos organizados, reparas- cas e fisiológicas, não foi mais, desde esse momento, do que
se enfim na influência dos seus sobre o princípio ou fluido vi- um objeto de zombaria aos olhos dos seus profanadores.
tal de seus semelhantes. Cumpria que aquele homem fosse Demais, quaisquer que fossem os motivos que levaram a
douto na física, na química, na fisiologia, para que pudesse opinião a declarar-se tão fortemente contra 0 magnetismo
dirigir as suas observações sobre causas pertencentes àquelas animal,.o certo é que não podem mais servir de desculpa ao
ciências e, dernais, cumpria ainda que fosse médico, para silêncio que os sábios atuais guardassem hoje a seu respeito.
logo aplicá-lo ao tratamento e ao alívio dos males da humani- A evidência e a regularidade das suas manifestações, os resul-
dade. Esse homem, em quem se achou reunido tanto mérito tados constantemente salutares da sua aplicação no trata-
e tantas qualidades, é o senhor doutor Mesmer, ancião hoje mento das moléstias, atestados por trinta anos de experiên-
retirado, e quase ignorado, numa pequena aldeia da Suíça, cia e de observação, tudo enfim serve para provar a esses
porém cuja imagem e nome transmitir-se-ão com glória à doutos que o magnetismo do homem é uma verdade incon-
posteridade reconhecida. [...] Infelizmente para Mesmer, testável, (MONTEGGIA, 1861)
não se dava com a sua descoberta o mesmo que com todas as
que se fizeram antes dele sobre à natureza morta e inanima-
da, de cuja realidade cada um pode, a cada instante, certifi-
car-se com o auxílio dos mesmos instrumentos ou dos mes- Fazendo um apelo à razão
mos processos que as fizeram alcançar por seus primeiros
observadores. Para que os fenômenos do magnetismo animal Sábios da França inteira, faço o último apelo ao vosso dis-
se manifestem, Mesmer era o único investigador. Sendo só, cernimento. Tudo quanto anteriormente se acreditou ou de-
esse homem reproduzirá esse fenômeno milhares de vezes às cidiu do magnetismo animal não influa, porém, sobre a opi-
vistas de seus contemporâneos, Para os menos esclarecidos, nião que deveis ter dele, pois não haveria mais razão para
iabi a uiç

serão milagres; para os doutores, ilusões; e sob esses dois as- negardes a sua existência, porque o ceticismo filosófico do sé-
pectos, igualmente enganadores, ninguém são e consciente- culo 18 o tratou de quimera, do que o credes prestígio rmági-
mente poderá julgar. co ou obra do demônio, porque a ideologia mística dos sécu-
los 16 e 17 o prescreveu e condenou como tais. Não,
Tal, com efeito, aconteceu com a descoberta de Mesmer:
aparecendo no meio de uma geração ainda imbuída das lem- senhores, os fatos devem ser para os sábios do século 19 o
branças dos pretendidos milagres praticados sobre o túmulo único catecismo de sua razão, E sob um governo cujo chefe
declarou-se inimigo de toda a espécie de ideologia, porque
48 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 49

está na altura de todas as ciências que


professais, não deve
haver para vós outras verdades além
dos fatos. E não É, pois, são uma continuidade do pensamento galenista (contraria
uma ordem tácita que ele vos dá, de lhe dizerdes contraribus curantur), na roupagem dos medicamentos no-
magnetismo é um fato, essa liberdade que enfim se o
publicar cada ano os seus fenômenos e de
me concede de vos, porém tão agressivos e prejudiciais quanto os empregados
convidar-vos para nos milênios anteriores. Por outro lado, as alternativas tera-
vir observá-los? Qual é o fim das ciências
senão descobrir a
verdade pela observação das leis da natureza? [...] Guso pêuticas criadas a partir das descobertas científicas dos pes-
dizer
que este magnetismo, quando o tempo tiver sanciônado
a
quisadores vitalistas foram combatidas, caluniadas, deturpa-
sua existência, obrigará os sábios físicos e das e finalmente silenciadas pela ciência oficial.
outro
Tem, ou mesmo mudarem as inúmeras noçõe s a retifica-
s que eles havi- Ás ciências médicas vão descobrir no espiritualismo o que
am adota do antes de o reconhecerem. (MONTEGG
IA, 1861)
lhe falta para superar os limites impostos pelo materialismo.
É imprescindível, nos dias de hoje, fazer Os casos hoje insolúveis, os sofrimentos desnecessários, as ra-
uma revisão da
doutrina de Mesmer e seus seguidores zões ocultas que desafiam os médicos serão resolvidos quando
— Puységur, Deleuze,
du Potet etc. E o espiritismo é a ferr as verdadeiras causas forem atacadas. Veja o que disse Kardec,
amenta necessária para
esta tarefa. em O evangelho segundo o espiritismo.
Puységur conta, em seguida, o que lhe
disse um homem Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte
sábio, mas incrédulo, que foi à sua casa
em 1811 e, vendo três das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma.
homens doentes entrarem em transe sona
mbúlico, confessou: Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que
“O maior esforço para mim, senhor, uma parte dele passe bem. O espiritismo fornece a chave das
não é o acreditar nas suas
experiências; pois não tenho, por certo relações existentes entre a alma € o corpo e prova que um reage
, a pretensão nem a incessantemente sobre o outro. Abre, assim, nova senda para a
presunção de tudo saber; mas é o ter muit
o que descrer, a ser ciência. Como lhe mostra a verdadeira causa de certas afec-
real tudo quanto vejo neste momento”. E, em
seu artig o, con- ções, faculta-lhe os meios de as combater. Quando aciência le-
clui revelando sua crença em Detis como var em conta a ação do elemento espiritual na economia, menos
causa primária de to-
das as coisas: fregientes serão os seus maus êxitos. (KARDEC, 1863, p. 51)

Ora, qual é a sua causa? Devo segurament


e conhecê-la, pois Três quartos da população mundial são pessoas pobres. Ja-
que está em mim, uso dela, e ponho-a mais a estrutura médica materialista atenderá, isolada, às necessi-
em jogo. Bem podem
outros pô-la em dúvida, mas para mim
hipótese: esta causa é o ato voluntário
não é certamente uma dades da humanidade. A população mundial precisa de um tra-
do meu pensamento. tamento eficaz, barato, sem efeitos colaterais e que ataque a
À causa, pois, de todos os fenômenos magné
ticos no univer- verdadeira causa das doenças, Uma revolução da medicina terá
so é um grande, eterno e soberano pensamento. É Deus,
enfim,
que está em tudo, abraça tudo, e que está
no homem como o um caráter social inevitável. E a fraternidade será a base dessa luta.
homem está nele, torna o nosso ser, ou, a
nossa alma, ainda en-
cerrada no tempo, suscetível de relações
imateriais com o seu
princípio e digna de poder reunir-se a Ele na
eternidade,

Uma revolução na medicina


Existe uma história praticamente oculta
nos livros de his-
tória da medicina. As terapias alopáticas,
atualmente em crise,
Cronologia de Mesmer
1734 Franz Anton Mesmer nasce em Iznang, aldeia próxi-
ma ao lago de Constança, na região da Suábia, hoje
Alemanha, no dia 23 de maio.
1743 E levado pelos pais para o monastério Reichenau, em
Constança, onde, durante seis anos, estudou línguas,
literatura clássica, literatura e música com os monges.
1750 ingressa na universidade jesuíta de Dillingen, na Ba-
vária, onde estudou filosofia por quatro anos, che-
gando ao doutorado. Passa a ler as obras de Galileu,
Descartes, Leibniz, Kepler, Newton etc.
1754 Inicia o curso de teologia na Universidade de Ingols-
tadt, também na Bavária.
1759 Ingressa na Universidade de Viena, Áustria, e no pri-
meiro ano estuda leis.
1760 Transfere-se, na mesma universidade, para o melhor
curso de medicina da Europa, totalmente reformula-
do por Gerhard van Swieten — discípulo de Boerhaa-
ve, O mais respeitado professor da época, conhecido
como o “Hipócrates holandês”.
1766 Depois de seis anos estudando medicina, no dia 27
de maio, conquista o doutorado com uma disserta-
ção, Dissertatio physico-medica de planetarum influ-
xu, sob a égide de Newton e talvez de Paracelso.
Neste texto, que trata da influência dos planetas so-
bre o corpo humano, usou pela primeira vez o con-
ceito de fluido universal.

51
52 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 53

1768 Casa-se com Maria Anna von Bosch, numa con-


corrida cerimônia, em 10 de janeiro, celebrada Publica Cartas sobre a cura magnética, esclarecendo
na ca- sua tese de doutorado, e as envia, como divulgação, a
tedral de Santo Estêvão pelo arcebispo de
Viena. alguns médicos.
Muda-se para uma mansão em Landstrasse,
onde 1777 Aceita como paciente a famosa pianista Maria
promovia saraus musicais com Mozart,
. Gluck, Theresa Paradis, desde 20 de janeiro, curando sua
Haydn e outros.
EN cegueira e gerando controvérsias.
1768 Estréia, em outubro, no teatro de seu jardim,
a pri- 1778 Chega a Paris, no mês de fevereiro, e começa a
meira apresentação em Viena de uma ópera
de Mo- apresentar suas descobertas para os sábios e os médi-
zart. Então apenas um menino de doze anos,
o com- cos desta capital. Nesse mesmo ano morrem Voltai-
positor apresentou seu primeiro singsp
iel em re e Rousseau.
alemão, uma comédia popular, Bastien et basti
enne.
1773 Inicia o primeiro tratamento pelo magnetismo Retira-se no mês de maio, com alguns doentes, para
ani- a cidade de Creteil. Requisita comissários da So- >
mal. À paciente foi uma parenta da esposa de Mesmer
e amiga da família Mozart, Franziska Esterlina, ciedade Real de Medicina de Paris para que eles fis- ;
uma calizem as curas, o que foi recusado.
- senhorita de vinte e nove anos bastante
debilitada.
1775 Com a pouca acolhida dada à sua descoberta, deter 1779 Depois de tentar em todas as universidades, sem
mi- sucesso, um exame de seu sistema, publica em Paris
na-se a nada mais realizar publicamente em Viena. Via-
ja para diversos países da Europa anunciando sua um relato analítico da nova ciência: Memória sobre a
des- descoberta do magnetismo animal.
coberta. Visita Suábia, Bavária, Suíça, Hungria
etc.
Publica uma Carta ao povo -de Frankfurt, que repre 1780 Propõe à Faculdade de Medicina de Paris um teste
- comparativo de seu método com a medicina tradi-
senta uma importante fase do desenvolvimento de
sua cional. Em 18 de setembro, houve uma assembléia
teoria. Pela primeira vez definiu o magnetismo
animal geral. Após uma leitura e um discurso, d'Eslon, seu
como sendo a capacidade de um indivíduo causar
efei- discípulo foi excluído do quadro dos médicos e as
tos similares ao magnetismo mineral em outra pesso
a. proposições de Mesmer foram rejeitadas com des-
Em 5 de janeiro, publica em jornais e panfletos uma
Carta a um médico estrangeiro, esclarecendo a dém e animosidade.
terapia 1781 Publica Resumo histórico dos fatos relativos ao mag-
do magnetismo animal. Foi primeiramente ender
eçada netismo animal, a mais importante descrição his-
ao medico Johann Christoph Unzer, de Altona,
Em Munique, a 28 de novembro, é aceito tórica da ciência do magnetismo animal.
como Em agosto, viaja para Spa, cidade famosa pelo uso me-
membro da Academia do Eleitorado da Baviera.
Deixa de fazer uso do fmã como simples condutor dicinal de sua água mineral, permanecendo ali por
do apenas duas semanas e então retornando para Paris.
magnetismo animal, para evitar mal-entendid
o por 1782 Faz uma segunda viagem a Spa para uma estada de
parte dos médicos e físicos. Continua a usar água,
garrafas, barras de ferro. três meses.
1784 Em 20 de agosto, envia uma carta a Benjamin Frank-
lin denunciando os equívocos da comissão nomeada
-
-
54 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 55

para examinar d'Eslon, desautorizado para agir em 1796 Vai a Wagenhausen, no cantão de Thurgau, Suíça,
seu nome, e à impropriedade do método adotado.
onde permanece por três anos, até 1798.
O rei da França nomeia uma comissão de sábios da
Retorna à Paris, onde vive no número 206 da rua
Academia de Ciências de Paris - Bailly, Darcet,
Vendôme.
Franklin, Lavoisier —, que em quatro meses concluiu |
que as proposições de Mesmer não passavam de ima-
1799 Publica Memória de F. A. Mesmer, doutor em me-
dicina, sobre suas descobertas, sua principal obra,

a a estoria
ginação, além de redigir um relatório secreto alegan-
do implicações sexuais: Uma outra comissão forma- contendo o modelo teórico da terapia do magnetis-
da por médicos da Sociedade Real de Medicina mo animal, sonambulismo provocado e lucidez so-
também rejeitou a existência do magnetismo animal. nambáúlica. Foi seu primeiro trabalho publicado de-
pois de dezoito anos.

ra iriam
Porém, um de seus membros, Jussieu, divergiu dos
colegas e admitiu as curas. 1801 Muda-se para Versalhes em fevereiro.
Troca cartas com George Washington, primeiro pre- 1802 Decidido a deixar a França, passa a residir em Me-

o ei
sidente dos Estados Unidos da América. ersburg, no sul da Alemanha.
1785 Desautoriza a divulgação de Aforismos de Mesmer, 1809 Muda-se para a cidade suíça de Frauenfeld. Muitos
anotações de suas aulas, divididas em 344 proposi- achavam que ele já havia morrido. Um grupo de mé-
ções, Entretanto, alguns de seus discípulos não o res- dicos da Academia de Berlim redescobre o seu para-
peitam, publicando o livro. deiro, mas, já com setenta e cinco anos, ele não acei-
1787 Encontra-se, em Zurique, com o pastor Johann Cas- ta acompanhá-los.
par Lavater (1741-1801) um entusiasta do magne- 1812 Recebe um emissário de Berlim, doutor Karl Chris-
tismo animal na Suíça. tian Wolfart, encarregado de solicitar “a comunica-
1788 Viaja para Kalsruhe. Depois, percorre a região do ção de todos os fatos, retificações e esclarecimentos
Lago de Constança. desse importante tema”.
1790 É homenageado por Mozart, em sua ópera Cosi fan 1814 Mesmerismo ou sistema das interações, teoria e apli-
tutte. No final do primeiro ato, a personagem Despina, cação do magnetismo animal como a medicina geral
fantasiada de médico, imita Mesmer e seu tratamento. para a preservação da saúde do homem é publicado
em Berlim. Segundo seu editor, doutor Wolfart, é
Sua esposa, von Posh, morre de câncer no seio, em
uma organização de artigos, anotações e pensamen-
15 de maio.
tos de Mesmer sobre ciência, filosofia, educação
1793 Retorna a Viena em 14 de setembro. Dois meses de- etc., constituindo as suas reminiscências.
pois, é preso pela polícia, pois estava sendo investiga-
Deixa este mundo no dia cinco de março, lúcido até
do por questões políticas, suspeito de ser favorável
os últimos dias de seus oitenta e um anos, na cidade
aos jacobinos. Liberado, ficou sob custódia até cinco
de dezembro. Continuaria, porém, sendo observado
de Meesburg, Suábia, nas proximidades do lago de
Constança, atual Alemanha,
pelas autoridades.
1821 Realizam-se notáveis experiências de magnetismo
,”
registradas em relatórios, os magnetizadores du Po-
1
,
56 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

tet e Robouam, sob a direção dos doutores


Bertrand,
Husson e Récamier, e na presença de
trinta outros
médicos.
1826 Nomeada, depois de calorosos debates,
nova comis-
são pela Academia de Medicina de Paris
para nova-
mente analisar o magnetismo animal,
com doze
membros, depois reduzida para nove: Bour
dois de la
Mothe, Foucquier, Guéneau de Mussy,
Guersant,
Itard, Husson, Leroux, Marc, Thillaye. PRIMEIRA PARTE
1831 Em sessões de 21 e 28 de junho, é lido
pelo relator,
doutor Husson, e aprovado, o relatório da
comissão
da Academia de Medicina favorável ao magn
animal, depois de cinco anos de pesquisa
sas experimentações registradas. No enta
etismo
s e numero- BIOGRAFIA DE
quivado na Academia.
nto, o rela-
tório não foi publicado, Depois de assinado
, foi ar- FRANZ ANTON MESMER
1857 Allan Kardec publica O livro dos espíritos,
Pa

dando iní-
cio ao espiritismo. Na questão 555, revel
a a ligação
íntima entre as duas ciências:
O espiritismo e o magnetismo [animal] nos dão
a chave de
uma imensidade de fenômenos [...] em que
os fatos se apre-
sentam exagerados pela imaginação. OQ conhecimen
to lúcido
dessas duas ciências que, a bem dizer, form
am uma única,
mostrando a realidade das coisas e suas
verdadeiras causas,
constitui o melhor preservativo contra as idéias
supersticiosas.
1863 Mesmer dá sua primeira comunicação por
meio de
um médium da Sociedade Parisiense de
Estudos
Espíritas, presidida por Allan Kardec. Fala
sobre o
“magnetismo animal” e espiritual, também
afirma ser
a prece um magnetismo sublime.
UMA CUIDADOSA FORMAÇÃO

Mesmer pertencia a uma grande família católica da Suá-


bia, região que hoje pertence à Alemanha. Foi o terceiro dos
nove filhos do casal Franciscus Antonius Mesmer e Maria
Ursula Michel. Seu pai, Anton Mesmer, era caçador episcopal
e couteiro do bispo de Constança. Esta antiga profissão era
respeitada e permitia uma vida confortável para sua família.
Mesmer nasceu em Iznang, perto de Radolfzell, no dia 23
de maio de 1734. Aquela pequena aldeia fica nas imediações
do grande lago de Constança, ou Bodensee, um dos maiores e
mais profundos da Europa. À maior parte de sua linha costeira
pertence hoje à Alemanha, mas suas águas banham também a
Suíça e a Áustria.
A espetacular paisagem dos Alpes suíços e o ambiente
agradável do lago marcaram a infância e mocidade de Mes-
A.MESMER mer. À região sempre foi agraciada pelo clima agradável e a ri-
queza de sua fauna e flora. A produção de vinho nas margens
do famoso rio Reno e a pesca de truta e salmão no lago de
Constança são características dessa província. Mesmer mante-
ria por toda sua vida o hábito de receber seus convidados com
uma mesa farta e alegre.

59
60 PAULO HENRIQUE DE F IGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 61

A grande extensão do lago reflete o calor no


verão, ofere- ver, que substituiu a escravidão e o jugo pela esperança da li-
cendo um clima ensolarado e moderado. berdade, esse está vivo em todos os corações. Ele não
No outono, a lumi-
nosidade torna as cores da paisagem mais procurou o seu bem estar e a sua glória, mas a felicidade e a
contrastantes e fo-
lhas de todas as cores se espalham pelo chão. glória para a Humanidade futura! (KARDEC, 1869, p. 196)
A neve cobre a
paisagem no inverno.
' Jean Huss, Mesmer e Kardec. São três vidas cujos atos
Curiosamente, depois de percorrer diversas gloriosos estão inscritos nas folhas esparsas do grande livro da
partes. da Eu-
ropa defendendo as suas descobertas, Mesm
er passou os últi- imortalidade, |
mos anos de sua vida com suas irmãs em Mees
burg, cidade na- Mesmer, lembrando a coragem dos mártires da liberdade
tal
de sua mãe, a poucos quilômetros de onde
nasceu. Ele perseguidos pela intolerância, lamentava a indolência e a fra-
deixou este mundo no dia 5 de março de 1815,
lúcido até os queza daqueles que o cercavam afirmando que:
últimos dias de seus oitenta e um anos.
Vale destacar que a meio caminho entre [...] a opinião elevava outrora a coragem até fazê-la desafi-
Iznang e Mees-
burg fica a famosa cidade de Constança. ar o martírio, ao passo que hoje não se pode suportar o menor
Foi nela que, em ridículo. É que o amor-próprio punha então toda a sua glória
1415, exatamente quatrocentos anos antes
da morte de Mes- na força da resistência, e que no presente ele temeria a humi-
mer, as chamas de uma fogueira da inquisição lhação de uma credulidade que se taxatia de fraqueza. O ri-
consumiram o
corpo do reformador Jean Huss, condenado pelo dículo seria, sem dúvida, o melhor meio de reformular as
papa, no opiniões, se todavia não houvesse de errar pela intenção.
concílio realizado nessa cidade.l? Em meio às
labaredas, Huss Mas, por um zelo exagerado para o progresso da filosofia,
permaneceu cantando enquanto pôde. Suas
últimas palavras abusou-se muitas vezes desse meio. As verdades mais úteis
foram: “Hoje queimarão um simples pato (Huss,
em alemão), foram desconhecidas, confundidas com os erros e sacrifica-
mas um dia virão as aves do céu em tão das com eles, (MESMER, 1799)
grande número que
não poderão ser alcançadas.” O. espírito de
Allan Kardec, co-
municando-se em Paris em setembro de 1869,
afirmou: Primeiros passos
Após quinhentos anos, Jean Huss vive na memór Em 1743, quando o pequeno Franz completou nove anos,
ia de to-
dos, ele que verteu apenas o seu próprio sangue
das liberdades que havia proclamado. (...)
para a defesa seus pais, considerando o interesse e a inteligência do menino,
O pensador, o fi- encaminharam-no para o monastério Reichenau, em Constan-
lósofo, o que primeiro despertou a idéia
do direito e do de-
ça, para com os monges aprender a ler o latim e iniciar-se na
música, preparandose para futuramente cursar a universida-
I2 Atualmente, faz parte do roteiro histórico da cidade de. Sua formação recebeu a proteção direta de von Schôn-
de Const ança uma
visita ao porto, onde fica a pitoresca estátua
Impéria, uma enorme prosti- bom, bispo de Constança.
tuta de cimento e ferro, carregando em suas
mãos um papa e um rei, am- Os seus primeiros estudos, conforme os costumes da épo-
bos nus. Depois da polêmica causada entre os morad
ores, a estátua, criada ca, compreendiam também seis anos de línguas, literatura
pelo escultor Peter Lenk em 1993, é um cartão-posta
l da cidade. A mu- clássica e teologia. Os colégios davam uma educação básica
lher provocante é uma referência ao Concílio de
Constança, ocorrido en-
tre 1414 e 1418, tendo como um de seus objetivos reunif
icar o poder da
formal, tornando os jovens aptos a prosseguirem seus estudos
Igreja Católica, que naquela época estava com profissionais ou a tomarem lugar na sociedade. Entretanto,
três papas, um na cidade
francesa de Avignon, e os outros em Pisa & Roma,
a conde
O papa que pronunciou Mesmer trazia em sua essência uma sede pelas ciências ainda
nação de Huss em Constança, no final do concílio,
renunciou.
62 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESME-RA CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
63

nascentes. Sua vontade firme marcaria uma formação eclética deis escutar a prodigiosa harmonia do universo inteiro no seu
e extensa, culminando com a apresentação de sua tese de dou- giro rápido, e não podeis contemplar o Sol de frente, sem que
torado em medicina. seu esplendor deslumbre vossa vista.
Seus primeiros anos na escola monástica foram dedicados à Quase todos os compositores de gênio, como Beethoven e
temas mais amenos. O amor dos monges pela música marcaria Mozart, declararam que percebiam harmonias impossíveis de
a vida de Mesmer. Experimentando o magnetismo animal, ele serem descritas.
percebeu uma ligação entre as harmonias musicais, o equilíbrio
Mesmer encontrou a inspiração para suas idéias na grande
do corpo humano e o universo inteiro. É intuitiva a noção de música das esferas. Compreendeu a uniformidade das leis que
que a música eleva o espírito. Existe uma conexão entre as três regem tanto a formação e o equilíbrio dos astros quanto as vi-
percepções da alma: harmonia, ciência e virtude. “A harmonia, brações criadoras do som, da luz, do calor, e do magnetismo
a ciência e a virtude são as três grandes concepções do Espírito: animal. Completa o espírito de Rossini:
a primeira o arrebata, a segunda o esclarece, a terceira o eleva,
Possuídas em toda a plenitude, elas se confundem e constituem O homem que gosta das delícias da harmonia é mais ele-
a pureza.” (espírito Rossini, in KARDEC, 1890, p. 181) vado, mais depurado, do que aquele que ela não pode pene-
trar. À sua alma está mais apta a sentir. Liberta-se mais facil-
No sonho de Cipião, uma das mais belas páginas da Anti- mente, e a harmonia a ajuda a libertar-se. Ela à transporta e
giidade, obra-prima de Cícero, o sonhador conversava com a lhe permite ver melhor o mundo moral. De onde é necessá-
alma de seu pai, Paulo Emílio, e de seu avô, Cipião, o africano. rio concluir que a música é essencialmente moralizadora,
Contemplava as maravilhas dos astros, viajando pelo céu, uma vez que leva a harmonia às almas, e que a harmonia as
quando perguntou: eleva e as engrandece. (Ibidem, p. 184)
— Que som doce e intenso é esse que chega aos meus ouvidos?
— É a harmonia que, a intervalos desiguais, mas sabiamente Teologia, filosofia e direito
combinados, produz a impulsão e o movimento das esferas em A educação primeira de Franz Anton Mesmer foi contí-
que, misturando-se os tons agudos com os graves, produzem-se nua e bem fundada. Aos quinze anos, ele recebeu uma bolsa
acordes e diversos conceitos; não se pode realizar em silêncio de estudos para ingressar na famosa universidade fundada em
tamanho movimento, e a natureza quis que, quando as notas 1551 pelos jesuítas de Dillingen (antigo Colégio de São Jerô-
agudas vibram num lado, as graves ressoem em outro. Os ho- nimo), na Bavária. Mesmer ficou quatro anos estudando filo-
mens inspirados que, com instrumentos diversos ou com a voz, sofia nessa cidade atravessada pelo rio Danúbio, até que, em
imitam esses cantos, abrem caminho e procuram ingresso neste 1754, foi levado para a Universidade de Ingolstadt, outra es-
lugar, do mesmo modo que os outros, que, mediante seu enge- cola jesuítica da mesma região. Nos nove anos que passou nes-
nho na vida humana, cultivaram os estudos divinos. Essa har- sas universidades, Mesmer alcançou o título de emeritus stu-
monia, ressoando nos ouvidos dos homens, ensurdeceu-os sem diosus em teologia. Também foi promovido ao que na época
que chegassem a compreendê-la, e vós, por outra parte, tendes era designado como doctor autoritate, et consensu illustrissi-
esse sentido pouco desenvolvido. Assim como o Nilo, nos luga- morum, perillustrium, magnificorum, spectabilium, clarissi-
res chamados cataratas, precipita-se de montes altíssimos e en- morum Professorum em filosofia.
surdece as pessoas que se encontram perto daquele lugar com o O conhecimento da filosofia, desde Sócrates até Descartes
ruído estridente com que se despenha, assim também não po- e Leibiniz, e ciências, com Galileu e Newton, foi essencial para
64. PAULO HENRIQUE DE FIGU
EIREDO
MESMER — A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 65
a descoberta do magnetismo anim
al. Como veremos, a medici-
na de Mesmer está baseada no E Sócrates, antes de chegar a essa conclusão pelo exame
retorno às raízes fundamentais.
À filosofia socrática e a medicina .da razão, afirmou:
científica foram esforços con-
temporâneos de Sócrates e Hip — Pois ele tem razão, meu amigo!
ócrates, cuja influência mútua
participa da própria geração de
suas doutrinas. “A, criação da A medicina científica de Mesmer iria associar todos esses
medicina hipocrática marca o ingr
esso de nova ciênigia na área conceitos com as recentes descobertas científicas de sua épo-
do saber científico e, como Sócr
ates e Platão foram amplamen- ca, numa síntese prática: a terapia do magnetismo animal, ela-
te influenciados pela medicina,
estimulou por sua vez a especu- borada por meio da observação científica. Seu testemunho
lação filosófica”, concluíram Gio fundamental foram as inumeráveis curas condicionadas à ação
vanni Reale e Dario Antiseri
(REALE, 1997, p. 123). A esse resp
eito, W. Jaeger!3 escreve: de sua descoberta.
Não exageramos quando dizemo
s que a ciência ética de Sócra- Por outro lado, a leitura de reformadores, como Descar-
tes, que ocupa o centro da disputa
nos diálogos platônicos, não tes, foi fundamental na educação de Mesmer. O filósofo, no
teria sido pensável sem o modelo
de medicina”. e Discurso do método, havia condenado os programas e os pro-
Tanto Sócrates quanto Hipócrate cessos da antiga educação. Comenta René Hubert em sua His-
s foram fundamentais
para o surgimento da ciência do
magnetismo animal. Podemos tória da pedagogia geral:
afirmar que a medicina de Mesmer
é um renascimento, ilumi-
nado pela ciência, dos fundam Trazia, ele próprio, nova filosofia, nova física, novo méto-
entos filosóficos e científicos
desses luminares gregos. Para Sócr do. Condenada pela realeza, pelo Papado, pelas faculdades de
ates, o homem é a sua alma teologia, pela congregação dos jesuítas, sua doutrina se infil-
€ é preciso despojá-la, submetê-l
a à prova para curá-la. Em sua trava, sobretudo, no espírito publico e, pois, não podia deixar
filosofia, a cura da alma está em
aprimorá-la, a fim de que o de repercutir ao menos nas teorias e nos planos de educação,
homem se realize em seu just quando não na própria educação. (HUBERT, 1949, p. 55)
o valor. Para Hipócrates, que
fundou a medicina científica, a saú
de e o corpo não são reali-
dades isoladas, mas partes de um No século 18, ainda pairava a sombra da perseguição àque-
amplo conjunto de fatores
desde o ambiente até questões soci les que ameaçavam a hegemonia do poder da Igreja, apesar de
ais. A palavra fundamental
para representar a saúde, Portan terem se tornado mais escassas as labaredas do fanatismo inqui-
to, é harmonia. A cura é obti
da auxiliando os esforços da natureza. Hipócrate - sitorial, agora queimando livros, não mais pessoas vivas. Mas o
va a seus alunos um estudo dedica s recomenda- Renascimento foi, acima de tudo, um ressurgimento da digni-
do da filosofia.
Na obra Fedro (PLATÃO. 2003), dade do indivíduo, na mais livre busca da verdade, representan-
Sócrates perguntou: do um rompimento dos grilhões da ignorância dogmática,
— Acreditas que seja possível con
heçer a natureza da alma
sem conhecer o universo? Mesmer anotou em suas memórias:
E Fedro respondeu: A filosofia conseguiu neste século triunfar sobre os precon-
— Se dermos crédito a Hipócrate ceitos e a superstição: foi pelo ridículo, sobretudo, que ela foi
s, que é um Asclepíades,
nem sequer o corpo se pode bem-sucedida na extinção das fogueiras que o fanatismo, mui-
conhecer sem tal método. to crédulo, havia acendido, porque o ridículo é a arma à qualo
- 1 amor-próprio pode menos resistir. (MESMER, 1799)
13 noiv
W. aJaegTeer. Paid
aéa, La formazione dell' uomo grec
o. Vol. 2. Florença: : La A conquista do saber foi sempre um terreno de lutas e he-
roísmo. À própria história do magnetismo animal está impreg-
-
66 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

nada dessas condições. Bacon dizia que “saber é poder”. Nas


suas obras, Franz Anton Mesmer deixa que ressaltem a profun-
didade e a lucidez dos seus conhecimentos filosóficos, cientifi-
cos e morais, em parte por sua formação, também por seu auto-
didatismo e principalmente pelos evidentes conhecimentos
inatos de sua alma. Ávido de conhecimento, ele se interessava
por todas as áreas do saber, e nunca parou de estudar. Em 1759,
aos vinte e cinco anos, Mesmer foi para Viena, Áustria. Primei-
ramente dedicou-se ao estudo das leis por apenas um ano, para
H
só então ingressar em sua quarta faculdade, a de medicina.
DOUTORADO EM MEDICINA

Mesmer recebeu a melhor educação disponível aos estu-


dantes de medicina em toda a Europa. Mas ele integrava uma
minoria. Naqueles tempos, a formação daqueles que se dedi-
cariam à arte de curar não se diferia, na grande maioria das
universidades, dos métodos empregados durante mais de um
milênio. Diante de um professor circunspecto, autoritário e
distante dos seus pupilos por sua superioridade eclesiástica, os
alunos acompanhavam a leitura monótona dos livros de Gale-
no e Aristóteles e os comentários da filosofia escolástica. Os
estudantes jamais estudavam o corpo humano para chegarem
a suas próprias conclusões; nem ao menos acompanhavam O
tratamento e a cura dos pacientes. Sua formação era teórica é
mecanicista. Tudo era determinado pela memorização dos li-
vros impostos. Este sistema vinha sendo arrastado por séculos,
entlausurando o raciocínio e a criatividade de gerações de mé-
dicos e criando uma gama de preconceitos acadêmicos que de-
terioraram a prática médica.
Por séculos, os estudantes de medicina foram condiciona-
dos a virar as costas para a realidade, debruçando-se sobre li-
vros escritos no século 2, quase exclusivamente por Galeno.
Era respeitada a autoridade absoluta da palavra escrita, em de-

67
68 PAULO HENRIQUE DE F IGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 69

trimento da observação da natureza. À


prática médica, além calma e dedicação. Quando um paciente morria, Boerhaave
de ter uma orientação materialista, era preju
dicial aos já debi- “levava seus alunos para acompanhar a autópsia. Todos os dias
litados e indefesos doentes. Sua terapia
fazia uso irracional e eles eram levados para seguir o exame clínico dos seus pacien-
indiscriminado das sangrias, purgantes, vomitóri
os, infusórios, tes, com os quais conversava regularmente, no pequeno hospi-
específico s e irracionais poções. Muitas dessas
práticas
teimo- tal de Leyden. Os futuros médicos aprendiam a decidir sobre
samente avançaram até o século 19, igno
rando as descobertas o tratamento depois de conhecerem meticulosamente os his-
de Mesmer e continuando a desgraçar suas
vítimas. tóricos clínicos de seus pacientes.
Entretanto, vivia-se uma época de transformaçõ
es e novas O médico holandês — professor de medicina, botânica e
idéias no Século das Luzes, Precursores, como
os médicos Pa- química — trazia novos conceitos para a medicina, indo muito
racelso, van Helmont, Willian Harvey, Andr
é Vesálio, Des- além das noções mecanicistas medievais. Para ele, influencia-
cartes e seus seguidores haviam aberto uma
passagem nas tre- do pelas teses de Newton, os sistemas físicos do organismo
vas, por onde a luz poderia finalmente surgi
r. E certamente compreendiam um todo equilibrado e integrado. Enquanto os
não foi por coincidência que Anton Mesmer
fez os seis anos dé médicos ainda seguiam esquemas superstíciosos e irracionais
seu curso de medicina na Universidade de
Viena, após a rees- (como a teoria dos humores, conhecida como humorismo),
truturação esclarecida de Gerard van Swie
ten. Para compre- Boerhaave estudava os fluxos que percorrem os tubos, vasos e
ender a relevância deste fato, precisamos segui
r o caminho do órgãos sólidos que controlam os humores corporais, criando
mest re de van Swieten, o médico considerado pelos
historia- uma nova teoria: o solidismo. Retomando Hipócrates, Boer-
dores da medicina como o maior professor
e clínico da medici- haave dizia que no estado de saúde tudo encontra seu próprio
na iluminista: Boerhaave.
equilíbrio, e a doença era um fator desequilibrante relaciona-
do com a obstrução ou a estagnação da vis naturae.
O surgimento da clínica médica Boerhaave ainda sofreu influências das únicas terapias dis-
O holandês Hermann Boerhaave (1688-1738), poníveis em sua época, mas concentrava-se nos recursos mais
mais influentes humanistas do século 18, criou
um dos
a clínica médi- amenos, oferecendo aos seus pacientes água pura, leite, re-
ca ão tecuperar os princípios originais de Hipó pouso e massagens. Ele escreveu sobre o sistema circulatório,
crates. Com sua
pedagogia renovadora, Boerhaave era conh
ecido como “pro- o sistema nervoso, as funções do cérebro e a possibilidade dos
fessor da Europa” e também “Hipócrates hola impulsos elétricos ou atrações magnéticas ativarem secreções
ndês”. Boerhaa-
ve permitia aos seus alunos a elaboração de glandulares.
suas próprias con-
clusões pela observação direta e a prática médi No entanto, Boerhaave dava como certa a presença da
ca junto ao leito
dos doentes, retomando o método científico alma separada do corpo. Afastava-se do dogma materialista da
. Para ele, a enfer-
maria não era um lugar apenas para tratamento, milenar medicina galênica, apesar de não ter levado o estudo
mas tamb ém
para a educação dos estudantes. da alma ao detalhamento da prática médica. Seria necessário
Em suas aulas, fregientadas por alunos de um estudo dedicado de suas obras para esclarecer o quanto se
toda Europa,
ele dizia que o objetivo da medicina era curar consagrou a tal tema. Nos últimos dias de sua vida, ele escre-
os pacientes e
que o médico devia permanecer 20 lado veu, já moribundo: “Como não posso sair desta situação agoni-
deles, deixando os
preconceitos acadêmicos de lado e avaliando zante, coloco-me nas mãos de Deus, cujos planos acolho com
a situação com
MES

70 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 7


rs sete

resignação e cuja vontade amo e venero corno a nada mais”. ramente, essas anotações comporiam os cinco volumes da Com-
Protestante, Boerhaave primava por sua religiosidade. mentaria in Hermann Boerhaave aphorismos, renomada obra
nr

É surpreendente a profundidade de seus aforismos, elaborada sob uma inspiração claramente hipocrática.
como, por exemplo, sua afirmação quanto à origem psicosso- No entanto, van Swieten sabia que, sendo católico, não
mática das doenças: teria chances de assumir o posto máximo em Leyden, uma pe-
quena cidade protestante. Viajou para Viena e, em 1744, logo
Sentimentos violentos ou de longa duração atacam e cor- em sua chegada, foi chamado para curar a enfermidade da
rompem o cérebro, nervos, temperamento e músculos, de
maneira tão extraordinária e concreta. E, consequentemen-
irmã da imperatriz Maria Thereza. Empressionada com os
te, em acordo com suas diversidades e duração, são capazes bons resultados do tratamento, a monarca convidou-o para ser
de produzir e criar praticamente todo tipo de doença. seu médico particular. Pouco depois, em 1748, van Swieten
(WINGAARDEN, 2002, p. 38) recebeu o encargo de reorganizar a faculdade de medicina de
Viena, assumindo o cargo de presidente. Desde que assumiu o
Em sua obra, Mesmer retomou a relação entre emoção,
trono, em 1/40, a imperatriz Maria Teresa empreendeu uma
paixões e a patologia. grande reforma universitária.
Muitos alunos seguiram o gênio do mestre Boerhaave e o Além de um clínico destacado, van Swieten possuí a uma
auxiliaram na reformulação da ciência médica. Um célebre ampla visão administrativa. Construiu novos prédios, organi-
discípulo da escola vienense foi Leopold Auenbrugger, que zou laboratórios, estabeleceu novos cursos e fundou uma clíni-
desenvolveu o método da percussão para o diagnóstico, funda-
ca similar à criada por Boerhaave em Leyden.
mental técnica clínica usada até hoje. Outro foi Albrecht von
Haller (1708-1777), que ensinou todos os ramos da medicina, Anton Mesmer já se encontrava na Universidade de Vie-
na, dedicando-se ao estudo das leis. No entanto, por não ser
desenvolveu esplendidamente a anatomia e a fisiologia. Sua
cidadão austríaco, concluiu que esta carreira não previa
obra sobre fisiologia iniciou a era moderna. Uma de suas maio- para
ele um futuro ideal. Por isso, em 1860, depois de um ano de
res contribuições foi superar a afirmação de Galeno de que a
estudo, encaminhou-se para o estimulante e inovador curso
sensibilidade restringia-se ao sistema nervoso. Haller, pela ob-
de medicina de Gerard van Swieten.
servação experimental, definiu a irritabilidade como caracte-
rística dos músculos e a sensibilidade, dos nervos. Outros importantes professores de Mesmer foram Anton
Estas recentes teorias, e a linha de pensamento de Boerhaave, de Haen (1704-1776), também discípulo de Boerhaave, e o
causariam uma clara influência na doutrina de Mesmer, formando
barão Anton von Stõerck (1731-1 803), que estava à frente
a base médico-científica da terapia do magnetismo animal. das instruções clínicas nas enfermarias e foi o grande reforma-
dor dos hospitais de Viena. Além de ser um jovem professor,
era amigo de Mesmer. Stôerck assumiu a presidência da facul-
A excelente faculdade de medicina de Viena dade depois da morte de van Swieten, em 1772.
Outro destacado aluno de Boerhaave, o que mais nos inte- Mesmer, em seu quarto curso superior, teve à sua disposi
-
ressa, foi o holandês Gerard van Swieten (1700-1772) - Discípu- ção uma das melhores estruturas de ensino médico da Europa.
lo predileto, foi cuidadosamente preparado para assumir O posto Totalmente renovada, a faculdade de medicina havia incorpo-
de seu mestre. Enquanto exercia a função de assistente, anotava rado as recentíssimas inovações criadas por Boerhaave, co-
diariamente os comentários de Boerhaave sobre cada caso. Futu- mandadas por seu primoroso discípulo, van Swieten. A anato-
72
PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 73

mia era estudada em separado


da cirt rgia. Mesmer e seus
colegas faziam uso do comple gens terapêuticas, os médicos da época seguiam empiricamente
to laboratório de química.
mer pôde dedicar-se a conhec Mes- às tradições milenares. Como não acompanhavam clinicamente
er as particularidades do org
nismo humano nas bem estrut a- seus pacientes, desconheciam as consegiiências funestas de seus
uradas dependências do dep
tamento de anatomia. Até ar- tratamentos. Poucos pacientes saravam; muitos tinham a morte
mesmo um jardim botânico
sido fundado por van Swieten. Esta esc tinha - precipitada; a maioria sofria danos irreparáveis.
aproximação entre a medici ola protioveu uma Apesar do desenvolvimento da teoria clínica e fisiológica,
na e as ciências naturais,
A fisiologia estudada na escola a prática médica permanecia estagnada. Os nos
nha sido renovada por Boerha
de medicina de Viena ti. poníveis eram os da medicina heróica, de tradição materialis-
ave e seus discípulos. Como
mos, a doutrina dos humores vi- ta. Foi exatamente nessa questão que o gênio de Mesmer viria
de Galeno, tão antiga quanto
equivocada, havia sido substi a atuar, avançando nas considerações metafísicas e no estudo
tuída pelo estudo dos sólidos
dos líquidos. A movimentação e objetivo da vitalidade humana, aos quais não tinham se ee -
equilibrada e integrada dos flu-
Xos e pressões dos líquidos Cor cado Boerhaave ou mesmo qualquer outro médico. De acordo
porais representa a saúde do
ganismo controlado pela alma. gr- com as pesquisas de Mesmer, o estado patológico ou o dese.
O desequilíbrio orgânico, evi- quilíbrio orgânico proposto por Boerhaave estava relacionado
denciado pela obstrução ou
a estagnação dos líquidos,
mesmo uma alteração da sub ou diretamente com a alma (que, para Mesmer, não era uma abs-
stância das partes sólidas, por
Vez, representa o estado sua tração, mas uma individualidade que interagia com todo o uni-
de doença.
As aulas de van Swieten, de verso e os seres que o habitam, recebendo impressões atem-
Haen e von Stôerck entu- porais e de tudo que existe, por meio do que ele denominou
siasmavam pela clareza, pela
lógica e pelas opiniões renova instinto e também pelo sexto sentido). E esse conhecimento
ras. Boerhaave Pesquisou, escrev do-
eu e ensinou sobre o sistema era a chave para o restabelecimento da saúde. Simbolicamen-
circulatório, o sistema nervoso,
as funções do cérebro e a pos- te, o segredo da arte de curar estava 'nas mãos'
sibilidade de os impulsos elét do médico.
ricos ou a atração magnética Mesmer escreveria sobre sua terapia em 1799:
Vocar as secreções glandulares. pro-
Seus discípulos descobriram
conceitos fundamentais, como
os da irritabilidade e da sensi- Eu apresentarei uma teoria tão simples quanto nova do
bilidade, por von Haller. A progresso e do desenvolvimento das doenças. Também subs-
clínica médica não era teórica,
como nas faculdades tradicio tituirei os princípios incertos que até agora têm servido de
nais, Mesmer aprendeu a exa
nar detidamente os doentes nas mi- regra à medicina, por uma prática igualmente simples, geral
enfermarias masculina e femi- e tomada da natureza.
nina do hospital de Viena, res
ervadas especialmente para o
sino da medicina clínica. Ele en-
Usava O termômetro, examinava As descobertas de Mesmer estavam relacionadas com uma
o paciente, escutava suas queixas. Hoje, estas prát terapia natural, fundamentada pela nascente medicina científica,
cas podem parecer óbvias, icas médi-
mas para a época eram ino e era fruto da observação e da experimentação científica. Seu es-
restritas a poucos profissionais. vações
forço nasceu do exercício da liberdade de pensamento e cons-
Por outro lado, a maioria dos méd ciência, contrariando a orientação dogmática de seu tempo.
icos seguia idéias tradicio-
nais completamente falsas, no
exercício da cura. “Todas as
rias sobre o mecanismo das doe teo- O livre pensamento eleva a dignidade do homem e faz
nças antes de 1800 eram com dele um ser ativo e inteligente. Para compreender é preciso
castelos de areia no ar.” (PORTER, o
1996, p. 123) Em suas aborda- fazer uso do discernimento, na experiência e na observação
dos fatos. [Portanto,] o livre pensador é o que pensa por si
-
74 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA Eos TEXTOS ESCONDIDOS 75

mesmo, e não pelos outros. Sua opinião lhe é própria. É vo- magnetismo, da luz, da eletricidade e de tudo que existe no
luntariamente adotada em virtude do exercício do julgamen- universo. Todas as forças têm uma origem comum no fluido
to pessoal. (Revista Espírita, 1807, p. 38) universal, em diferentes estados de vibração (ou, nas palavras
de Mesmer: ton de movimento). Esta teoria seria posterior-
Imerso nessa atmosfera que privilegiava o livre exame,
mente confirmada pela doutrina espírita, em 1857, em O li-
Mesmer pôde despertar em seu espírito a emancipação inte-
vro dos espíritos, de Allan Kardec.
lectual e a independência moral, bases para a descoberta da te-
rapia do magnetismo animal. Ãos trinta e dois anos, o doutor Franz Anton Mesmer es-
tava preparado pelo conhecimento de línguas, artes, filosofia,
teologia e medicina. Estudioso e observador, conhecia a física,
O doutorado em medicina: De planetarum influxu a química, a biologia, a-botânica e outras disciplinas. Tendo
Mesmer recebeu seu grau de doutor em medicina no dia 27 aperfeiçoado seus dotes musicais durante seus estudos supe-
de maio de 1766 com uma dissertação de quarenta e oito pági- riores, tocava com talesito violoncelo e clavicórdio, instru-
nas, intitulada: Dissertario physico-medica de planeiarum influ- mento antecessor do piano. ,
xu. Na primeira folha, abaixo de seu nome, pode-se ler as pala- Estava apenas iniciada a luta de toda uma vida para revelar
vras: Marisburgensis Acron. Suev. AA.L.L. & Phil. Doct. (suábio a ciência do magnetismo animal. Mesmer denunciou:
de Meesburg, do lago de Constança, doutor em artes e filosofia).
O seu trabalho, bastante influenciado pelas teorias de Meu objetivo então era apenas o de fixar a atenção dôs
médicos. Mas, longe de ter obtido êxito, percebi que me ta-
Isaac Newton e, talvez, Paracelso, foi recebido, e seu diploma xaram de singularidade, que me trataram de homem de sis-
assinado pelos seus mestres van Swieten e Stóerk. Anton tema e que taxaram de crime a minha propensão de mudar a
Mesmer contou em suas Memórias: rota ordinária da medicina.
Fiz, em Viena, em 1766, uma dissertação sobre a influên-
A nova ciência está destinada'a promover uína revolução
cia dos planetas sobre o corpo humano. [...] Nomeei a pro-
priedade do corpo animal, que o torna suscetível à ação dos na medicina, superando o dogma materialista mecanicista, €
corpos celestes e da terra, magnetismo animal. |] Meu pri- seu descobridor não mediu esfseços para tanto.
meiro objetivo foi o de meditar sobre o que poderia ter leva- Muito se especulou sobre quando Mesmer teve as primei-
do a opiniões absurdas segundo as quais os destinos dos ho-
mens, assim como os eventos da natureza, pudessem ser
ras idéias sobre o magnetismo animal. Alguns pesquisadores
chegaram até a imaginar que a descoberta tivesse ocorrido por
CRU

vistos como submetidos às constelações e às diferentes posi-


ções dos astros entre si. Um vasto sistema de influências ou acaso. Clareando a questão, um discípulo de Mesmer, J. L. Pi-
de relações que ligam todos os seres, as leis mecânicas e mes- cher Grandchamp,!* na edição anotada das Memórias,'S em
mo o mecanismo das leis da natureza foi o resultado das mi- 1826, contou um interessante fato narrado por Anton Mesmer:
nhas meditações e de minhas pesquisas.
Após seus estudos denominados de humanidade, e per-
Assim, ele retomou, sob as luzes da ciência, as idéias de feitamente feitos antes da idade ordinária, ele fez o de medi-
Hipócrates e Sócrates. cina. Formado na escola de van Swieten e de Haen, discípu-
Para Mesmer, a causa da gravidade é material, mas rare- los do famoso Boerhaave, ele não tardou a se impor uma nova
rota, e após ter por longo tempo combatido os pré-julgamen-
feita a tal ponto que é imperceptível para nossos sentidos. Ele tos, foi que ele se lançou nos conhecimentos dos verdadeiros
usa a expressão fluido universal para a origem da gravidade, do princípios da natureza. O profundo sistema que anunciou foi
76 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

resultado da combinação dos tempos novos


vações particulares. Diz-se que Newt
e das suas obser-
on teve sua primeira
idéia, tão sabiamente desenvolvida depoi
s como seu sistema
de gravitação, observando uma maçã caind
o da árvore. O
doutor Mesmer teve sua primeira idéia
do seu sistema obser-
vando que cada vez que à mesa ou noutr
o local um domésti-
€o ou otitra pessoa de seu conhecim
ento colocava-se atrás
dele, por uma sensação particular e sem
observá-D com a vis-
ta, ele anunciava que se tratava de tal
ou qual que lhe pedia
essa observação. Nascido muito sensí
dor por natureza, é destes primeiros
vel, e grande observa- HI
efeitos e destas primei-
ras causas que ele tirou e baseou seu
sistema, estabeleceu sua
doutrina e a aplicou para a cura das doenças. Ele
me repetiu
várias vezes esses acontecimentos.
O MAGNETISMO ANIMAL
Mesmer contou que, em determin
ada ocasião, ao se apro
ximar de um ferido de guerra, observou
que, ao dirigir sua
atenção para a ferida, a hemorragia se
estancava, Entretanto,
intrigou-se ao notar o sangue jorrando
novamente ao se afastar Não vamos descrever o surgimento do magnetismo animal,
do soldado e desviar sua atenção da chaga
. Repetindo algumas as dificuldades para divulgar seus benefícios e também os princí-
vezes os movimentos, certificou-se da relação
causal, ficando pios, consegiiências e regras desta ciência. Nada substituiria sa-
maravilhado com o acontecimento. Mesmer
conclui que exis- tisfatoriamente um estudo dos textos originais de Franz Anton
tia necessariamente um meio de comunica
ção entre a sua von- Mesmer. Para isto, transcrevemos as suas obras na íntegra.
tade e as funções orgânicas do soldado ferido.16
No entanto, cabe destacar a difícil situação vivida por
Mesmer não era místico. As suas idéias não
sistema imaginado: foram elaborados lenta
partiram de um Mesmer em Paris, lutando para convencer a elite acadêmica a
e progressivamente, à estudar, sem preconceitos e por meios científicos, as curas
partir da observação dos fatos, pelo método
científico. conquistadas pelo magnetismo animal. |
Sabedor da impossibilidade da observação direta do flui-
14
do vital, imperceptível para nós, Mesmer desejava comprovar
Grandchamp possuía os Seguintes título
s: antigo cirurgião chefe do hos- suas hipóteses pelo estudo dos resultados de sua terapia. Se-
pital-geral da Caridade de Lion, memb
ro do Colégio Real de Cirurgia
desta cidade, membro da Sociedade de guindo os passos formais do método científico, Mesmer dese-
Medicina e do Círculo Médico
de Paris, membro honorário da Acad
emia Real de Medicina, um dos java testar o seu modelo teórico a partir da análise controlada
médicos e cirurgiões dos pobres da prime dos efeitos benéficos da aplicação de sua terapia. Assim, espe-
ira circunscrição de Paris.
15 Memórias de F. À. Mesmer, doutor rava um debate sério da comunidade acadêmica e científica,
em medicina, sobre suas descober-
tas. Nova edição com notas de J. L, Piche
Maumus et Cie., 1826.
r Grandchamp. Paris: Pierre abrindo um novo campo para o conhecimento humano.
16 Mesmer relatou o fato numa carta publi Às opiniões estavam divididas entre os que o rejeitavam e
cada em Recueil des effects salu-
taires de 'aimant dans les maladies,
Geneva, 1782. Reproduzida em
aqueles que nele viam “um grande cientista incompreendido e
Mesm erism, a translation of the ariginal scien denegrido pelos arrogantes acadêmicos”. O jornal italiano No-
of F. A. Mesmer. California: William Kauf tific and medical wri tings
mann, Inc ,

77
78 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 79

tizie Diverse, do cremonense Lorenzo Manini, era favorável às Enquanto acusava e denegria Mesmer, a elite acadêmica e
curas mesméricas. As discussões também tomavam as páginas científica parisiense elaborava a fundação da Academia de
de jornal, franceses, alemães e ingleses. À polêmica se espa- Ciências, respeitando uma divisão de classes de inspiração
lhou por toda a Europa, e “não abrangeu apenas os mais popu- feudal e nada democrática, No topo estavam os honoraires, re-
lares e incrédulos, mas também, e sobretudo, cientistas ilus- presentantes fiéis do alto clero, da nobreza e do governo. Se-
tres, letrados famosos, cortes, academias, iluministas de todas guiam os pensionnaires, verdadeiros donos da Academia, rece-
as nações”. (VOVELLE, 1997, p. 175) | bedores de pagamentos anuais e jetons pela presença nas
No entanto, enfrentando uma oposição sistemática e pre- reuniões. Além disso, muitos eram nomeados para a adminis-
concebida do meio científico parisiense, em determinado mo- tração pública e para outros cargos. Os privilégios e honras se-
mento Mesmer viu seus esforços desperdiçados: guiam o costume do Ancien Régime. Mesmer criticou dura-
mente esta prática:
Resumindo minha situação, desejo apenas falar de meus
trabalhos, de minhas complacências e de minhas penas; irá O título de membro da Sociedade Real de Londres deve-
me restar o testemunho de minha consciência. E apenas isso. ria ser considerado pouco importante, É o mesmo tanto na
Eu havia multiplicado as experiências para provar à ação do Inglaterra quanto na França. A falsa aplicação, e a prodigali-
magnetismo anirnal, e, no entanto, não pude fazer reconhe- dade das distinções literárias são distribuídas incessante-
cer esta ação. mente a tal ponto que todo homem de mérito verdadeiro
não mais as quer. (MESMER, 1779)
Sua determinação não se perdia em devaneios, mas sua
Os novos membros da Academia eram escolhidos pelos
postura científica era clara e esclarecida:
próprios honoraires e pensionnaires. As comissões, como a
Eu havia imaginado um número muito considerável de que julgou Mesmer em 1784, seguiam uma lógica corporativa,
tratamentos para provar que o magnetismo animal era um e eram formadas respeitando hierarquia, antigiiidade e etique-
meio de cura das doenças as mais inveteradas, e, no entanto,
ta. Entre suas incumbências estava examinar as novidades ci-
não consegui fazer reconhecer que o magnetismo animal era
um meio de cura, entíficas, controlar as pesquisas e decidir a aplicação dos re-
cursos financeiros.
Determinado, Mesmer chegou a abrir mão de suas con- Deste modo, o poder dos acadêmicos ganhava uma di-
fortáveis posições profissionais e sociais para despertar Os sá- mensão política e econômica que impedia a necessária liber-
bios de sua época: dade de pensamento, conceito fundamental da verdadeira
ciência. À pesquisa científica nascia em Paris atrelada ao po-
Minha profissão de médico me havia dado outrora em Vie-
na alguma consideração, minha descoberta me havia posto no der. À vigilância ideológica e a arbitrariedade excluíam todos
maior descrédito. Na França, tornei-me objeto de risos entre- os que não se coadunavam com os acadêmicos.
gue à turba acadêmica, Só no restante da Europa meu nome Mesmo diante de tantos obstáculos, a privilegiada situa-
chegou a tocar algumas vezes a abóbada dos templos elevados
às ciências, porém o foi só para ser repelido com desprezo.
ção econômica e social de Mesmer permitiu que ele mantives-
se a isenção em suas pesquisas:
Seu digno e sincero empenho na divulgação de suas des-
Felizmente, não passo necessidades. A fortuna, secun-
cobertas enfrentou cobiça, orgulho, ambição e inveja de repre- dando meu coração ativo, impede que dependam da huma-
sentantes da ciência e da medicina. nidade minha fone e minha sede, Foi justa a fortuna, porque
80 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 81

se, por desgraça, o precioso segr


edo que me confiou a natu-
reza tivesse caído em mãos nece mico e ideológico da época de Mesmer, iria ganhar forças, de-
ssitadas, ele teria corrido
grandes perigos. Os ecos infiéis
das ciências falam sempre senvolver sutilezas e se aperfeiçoar até se transformar na atual
sobre tom do entusiasmo dos enco
rajamentos dados às ciên- e cruel ditadura capitalista da pesquisa acadêmica. O empiris-
Cias; mas nada dizem de que vil depe
ndência são os meios. mo mecanicista milenar da medicina heróica iria se transfor-
t
mar no dogma materialista positivista do século seguinte,
O despotismo acadêmico e o des numa passagem sem solução de continuidade.
ânimo
dos médicos Já as doutrinas e terapias vitalistas tomariam outro rumo.
aos poderosos acadêmicos não est Enquanto o materialismo se impunha na ciência, de cima para
avam interessados na
ver ade que as descobertas de Mes baixo, o vitalismo e o magnetismo seguiam o sentido inverso.
mer revelavam, pois elas
estruiriam as bases mecanicistas À aceitação da terapia de Mesmer nasceu dos doentes que en-
de suas práticas médicas
mantenedoras de seu poder cont contravam um alento na verdadeira cura proporcionada por
rolador. O primeiro ataque
4

que ele recebeu foi um gélido desprezo meios suaves e consoladores. Por outro lado, os médicos práti-
: . cos e de mente aberta e dedicados à saúde popular se interes-
| Mais isolado em Paris do que saram pelas novas práticas vitalistas, como o mesmerismo e a
se não conhecesse ninguém,
ancei os olhos em torno de mim
tia me apoiar em algum homem
para descobrir se não pode- homeopatia. Eles já estavam cansados de aplicar as sangrias e
nascido para a verdade, sanguessugas, os vomitivos, as bolhas provocadas tirando as
Céus! Que vasta solidão! Que dese
rto povoado por seres ina-
nimados para o bem! Caf numa
insegurança excessiva. Vi
forças e levando à morte prematura de seus pacientes. Muitos
bem que não devia mais fazer o que havia feito até entã deles não desejavam mais sair de suas casas.
mas qual partido tomar? Eu não o via. o
, Esses médicos, mais conscientes, viviam uma luta interior
E conclui, afirmando que, apesar entre seu ideal de proporcionar o alento e uma prática que con-
de tudo, denava os doentes à morte antecipada ou a danos irreparáveis.
[...] a medicina é livre na França.
Ela se mantém nesse es- Ser um cirurgião, nos anos 1870, significava ser compe-
tado malgrado os assaltos Frequent
es que desde há dois sécu- tente em fazer sangria: o doutor se atormentava diante da vi-
los lhe tem sido desferidos pelos
primeiros médicos do rei são do paciente ingênuo, abrindo seus braços para sua faca,
Na França, onde tudo respira à prot
eção e crédito, a prote- prestes a retirar, de seu organismo já debilitado, o precioso
ção e o crédito dos primeiros médi
cos do rei, não puderam líquido vital. (PORTER, 1996, p. 321)
franquear as barreiras opostas às
vias ilegítimas de domina-
ção. Eles são respeitados na medi
cina, mas eis tudo: eles não
são seus senhores, Seria algo para
rim que, desejoso de sua O ceticismo médico do século 19 pode ser resumido pela
benevolência, não desejaria sua prot declaração do médico norte-americano Arthur Hertzler:
eção.
Enquanto os acadêmicos conden Em alguns casos eu sabia, desde o início, que meus esfor-
avam e perseguiam Mes-
mer, os doentes desenganados pela ços seriam inúteis no tocante a prestar serviços aos outros...
medicina oficial corriam
para aeficaz terapia mesmérica, pela qual a senten Frequentemente eu sabia, antes de atrelar os cavalos, que a
era substituída pela cura consolad ça de morte viagem seria inútil... Estava certo de que eu colocava alguns
ora. remédios na minha maleta apenas visando a evitar proble-
e Vale observar que o despotismo aca mas; alguém tinha de pagar pela graxa do eixo da roda da
dêm
ico, de inspiração
eudal, manobrado pelas instâncias do charrete, e somente conselho e advertências não justifica-
poder político, econô- vam proventos, a menos que fortalecidos por alguns compri-
82 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

midos. Isto era tão importante quanto o amém dos sacristãos


durante os sermões do padre — não ofendia e era uma evidên-
cia de boa-fé. (HERTZLER, 1938, pp. 99-100)

Daniel Cathell, médico de Baltimore, num trabalho pu-


blicado em 1882 (final do século 19, mais de cem anos após a
descoberta do magnetismo animal), dirigido aos colegas médi-
cos, afirmou:
IV
É tão grande o pavor popular pelo que os médicos gradua-
dos são capazes de fazer que eles estão procurando os médicos
comuns e práticos, Noventa por cento desse grupo evita os
médicos de intervenção heróica, preferindo os métodos mais MOZART NOS
moderados, como os homeopatas. (CATHELL, 1882, p. 139)
JARDINS DE MESMER
As terapias vitalistas, como o magnetismo animal e depois
a homeopatia, eram bem recebidas pelos pacientes e médicos
práticos. Enquanto algumas dezenas de acadêmicos decidiam,
do alto de suas cátedras, o que devia existir ou não na nature-
za, milhares de doentes erguiam-se reanimados e preservados Enquanto exercia sua clínica nos hospitais de Viena, Mes-
mer morava numa bela mansão em Landstrasse, famoso bairro
pelas terapias baseadas nas leis naturais.
da.grande Viena. Ele passou a residir lá depois de seu casamento
Entretanto, a partir da segunda metade do século 19, a com Maria Anna von Bosch. Durante o inverno vienense, porém,
ciência oficial iria se entronizar no dogma materialista. O casal retirava-se para sua propriedade rural em Rothmule.
Mas, como a natureza sempre compensa os excessos, nes- Foi concorrida a cerimônia de casamento de Mesmer, ce-
sa mesma época surgiu o espiritismo. Os espíritos vieram con-
lebrada em 10 de janeiro de 1768, na catedral de santo Este-
firmar as teses vitalistas, valendo-se dos médiuns, no advento vão, pelo arcebispo de Viena. Sua noiva era viúva de um con-
da doutrina espírita, contagiando as mentes lúcidas é conso- selheiro da corte, Ferdinand Konrad von Bosch, e filha do
lando os sofredores. O futuro certamente aguarda uma conci- oficial médico das forças armadas Georg Friedrich von Eu-
liação, que podemos definir metaforicamente como sendo a
lenschenk. As duas famílias, Mesmer e Bosch, eram numero-
união da alma com o corpo. E Franz Anton Mesmer nada mais sas em Viena, Muitos parentes de Mesmer tinham vindo da
fez do que participar dessa revolução. Suábia para se estabelecer nessa capital,
Maria Anna fazia parte da aristocracia austríaca, tinha dez
anos a mais que seu marido, e trouxe um filho já com vinte
anos, Franz, para morar com eles.
A mansão passou a ser frequentada por muitos amigos,
embaixadores, príncipes e toda a alta sociedade. Mesmer,
além de músico hábil, era também um generoso patrono. Por

83
84
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 85
rima o sua paixão pela música, con
viviam em sua casa os grande
poentes da música da época, s ex
como Franz Haydn, um Paixão pela música
amigo de Mesmer, Christoph ande
eg

Gluck (1714-178 7), o genial re- A música era uma paixão antiga de Mesmer. Admirado
novador da ópera; e a famíli
a de Mozart, Durante o séc musicista, além do clavicórdio e do violoncelo, também toca-
Viena foi uma cidade em que ulo 18
a música desempenhou um va esplendidamente a harmônica de vidro. Esse curioso instru-
pel de destaque. O imperador a-
José II tocava instrumentos mento foi inventado por Benjamim Franklin. Para se conhecer
no
o seu som peculiar, basta passar levemente o dedo sobre a bor-
da molhada de um copo de cristal. Com alguma habilidade,
poder-se-á ouvir um silvo longo, penetrante e bastante singu-
lar. O instrumento, aperfeiçoado por Mesmer, tinha a forma
aproximada de-um cravo. Consistia em diversos copos ladea-
mão de alta estatura não era dos e semi-imersos na água, que eram girados em um fuso, por
um homem comum. Sua fro
larga e seu porte imponente nte meio de um pedal. As diversas notas eram produzidas ao se to-
destacavam sua figura em
quer salão que entrasse. Um qual: car as beiradas dos copos de diferentes tamanhos.
cartão de identidade datado
1798 (KERNER, 1956, p. 6), de Leopald Mozart, ao escrever para sua esposa em 1773,
quando ele já contava sessen
quatro anos, relata a altura 1,76 ta e comentou:
metro cabelos castanho
to cheio e uma testa larga.
vos Não te escrevi pelo correio anterior porque celebramos um
grande sarau musical na casa do nosso amigo Mesmer, em seu
jardim da Landstrasse, Mesmer toca esplendidamente a harmô-
nica de vidro. É em Viena o único que aprendeu e possuí um ins-
trumento muito mais bonito
que o da senhorita Dewis.
Wolfgang também o tocou!”

Em 1765, as irmãs Dewis ti-


nham levado o instrumento à Viena
e oferecido um concerto para a im-
peratriz. Mozart, entusiasmado
com o instrumento de Mesmer,
caça, que em 1866 tinham sido chegou a compor algumas peças
abertas ao público pel para serem tocadas pela harmônica
dor José II. Ao fundo, avista -
va-se o Danúbio. PE impera de vidro, como o Adágio para har-
O casarão, solidamente constr mônica, K 356 e o Adágio e rondó
uído, foi utilizado por mui-
tos anos como estabelecime
nto comercial, sendo dem para harmônica, flauta, oboé, viola Harmônica de cristal. Museu of
somente em 1920. (ULRICH, p. 149) olido e violoncelo, K 617. Electricity in Life, Minneapolis.

17 Mozart, Wolfgang Amadeus. Cartas Vienenses. São Paulo: Veredas.


2004.
86 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER — A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 87

Entre os mais destacados saraus musicais de Viena esta- aldeia. O velho e experiente mago a aconselha a fingir desinte-
vam o de van Swieten, o professor de medicina, com sua pe- resse também. Em seguida, vai dizer a Bastien que a moça já
quena câmara em Tiefen Graven, e o teatro da residência de não o ama como antes, mas o adverte que as suas artes mágicas
Anton Mesmer. Naquelas concorridas noites culturais em poderão reacender o amor da amada. É o que basta para que o
Landstrasse, além das costumeiras palestras científicas, podi- pastor se sentisse inflamado de paixão. Os dois, enfim, agra-
am-se ouvir as mais belas composições executadas pelos gran- decem a Colas por tê-los unido tão habilmente.
des mestres, muitas escritas especialmente para aquelas oca- = À estréia de Mozart foi um grande evento no teatro do
siões. O próprio Mesmer, Haydn, Gluck, Leopold e Wolfgang jardim de Mesmer.!º Após o sucesso da apresentação, Mozart
Mozart, e outros músicos, revezavam-se ao piano, violinos, e seu pai voltaram agradecidos para Salzburg.
violoncelos, proporcionando momentos inesquecíveis em Esse gesto de amizade jamais seria esquecido por Wolfgang
meio aos jardins. Podemos imaginar quantos improvisos ine- Mozart, que, a partir de então, seria um habitual freguentador
briantes dos grandes músicos teriam se perdido nos tempos, da casa de Mesmer, tanto em Viena quanto em Paris. Curiosa-
deixando Mesmer e seus convidados com o privilégio de se- mente, a primeira paciente tratada pela terapia do magnetismo
rem os únicos a aplaudi-los. animal, durantes os anos de 1773 e 1774, foi uma parenta da
Mozart, um menino de doze anos, estreou nos jardins da esposa de Mesmer e amiga da família Mozart, Franziska Esterli-
casa de Mesmer, em outubro de 1768, seu primeiro singspiel na, uma senhorita de vinte e nove anos bastante debilitada. Vá-
em alemão. Leopold Mozart ficaria eternamente reconhecido rias cartas de Leopold à sua esposa comentamo estado de saú-
por esta iniciativa de seu amigo. de dessa moça. O tratamento surtiu efeito, como confirma uma
Alguns meses antes, tudo se encaminhava para se exibir das mensagens de Wolfgang Mozart para seu pai:
em Viena La finta simplice, que seria a primeira ópera de Mo-
decepcionan- De onde você imagina que eu estou escrevendo esta car-
zart a ser apresentada fora de Salzburg. Foi uma
ta? Pois é do jardim de Mesmer, em Landstrasse. Neste mo-
te notícia quando o diretor da Ópera Real de Viena, senhor mento a sua senhora não está em casa. Mas quem está aqui é
Aflígio, ludibriando as ordens imperiais, recusou-se a apresen- a senhora Esterlina. Ela se casou e agora é uma von Bosch
tar a obra de quem, para ele, era apenas um jovem. [desposara o enteado de Anton Mesmer]. Mas, para minha
surpresa eu mai a reconheci! Ela ganhou peso e está bastante
Anton Mesmer, ao ser informado do caso, rapidamente mo- vigorosa. Agora tem três crianças, e todas são fortes e robus-
bilizou-se para auxiliar o amigo, oferecendo sua mansão. O ambi- tas. (MOZART, 2004)
ente, no entanto, era inadequado para a apresentação completa
daquela ópera, e Mozart escreveu rapidamente outro tema. À es-
tréia de Mozart em Viena foi com uma comédia popular alemã, Mesmer homenageado em Cosi fan tutte -
com canções e diálogos falados: Bastien et Bastienne. O texto do | Mozart, alguns anos depois, homenageou Mesmer, inse-
libreto foi inspirado em Le Devin du village, escrito pelo compo- rindo, numa de suas mais famosas obras, um papel em alusão
sitor e filósofo, Jean-Jacques Rousseau, em Paris. ao magnetismo animal e seu descobridor.
Com um texto coloquial e melodias simples, Bastien foi a
terceira ópera composta pelo gênio da música. Na peça de um
18 Alguns autores afirmam que o jardim da casa de Mesmer ainda não ti-
ato, preocupada com a indiferença de Bastien, seu pretenden- nha sido construído em 1768. A apresentação teria sido, então, em ou-
te, a pastora Bastienne consulta Colas, que era o feiticeiro da tro ambiente de sua residência.
88 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 89

Sempre que se representar sua céle


bre ópera bufa Cosi
fan tutte (1790), a homenagem será Fiordiligi e Dorabella: Ele está falando um idioma que nós
renovada. Última obra de
uma popular trilogia (as outras foram As desconhecemos.
bodas de Fígaro e
Don Giovanni) em parceria com o poet Médico: Mas é só pedir e eu falarei diversos idiomas: co-
a italiano Lorenzo da
caso real ocorrido em nheço o grego e o árabe, falo o turco e o vândalo. Também posso
Viena por volta de 1780. falar o dialeto da Suábia e o tártaro.
.N
O enredo é ambientado em Nápoles, (Mesmer, em virtude de seus estudos de filosofia e medi-
no século 18. Ferran-
do e Guglielmo, jovens oficiais do exército, cina conhecia bem o latim, o grego, e outras línguas mortas,
numa calorosa dis-
cussão sobre se as mulheres são ou com os quais ele pôde ler os textos originais de Platão, Hipó-
não fiéis, citaram suas namo-
radas como paradigmas da virtude feminina. crates, Galeno, Avicena. Mas que, na sátira de Mozart, não
don Alfonso
O velho solteirão
apostou cem cequins que as namoradas eram tão úteis quanto a língua vernácula.)
mãs Fiordiligi e Dorabella, passariam deles, as ir-
num teste de fidelidade. Don Alfonso: Mantenha todos esses idiomas consigo mes-
Seguindo seu plano, don Alfonso declara mo. Neste momento, examine estas miseráveis criaturas. Eles
que seus noivos foram chamados para
para as donzelas
se apresentarem ao tomaram veneno. O que pode ser feito?
exército. Eles voltam, então, disfarçados
de soldados albania- Fiordiligi e Dorabella: Doutor, o que pode ser feito?
nos, determinados a conquistar o coração delas. Como
sistiram, os rapazes fingem tomar elas re- Médico: Eu preciso saber primeiro a razão e a natureza da
veneno, num gesto desespe- poção bebida. Preciso saber se estava quente ou fria, se era pouca
rado. No final do primeiro ato, a criada das
irmãs, Despina, ou muita, se foi ingerida toda de uma vez ou em diversas doses.
convencida por don Alfonso, aparece
disfarçada como um (Mozart estava bem familiarizado com as práticas tera-
doutor chamado para salvar Ferrando e Guglielmo da morte.
O médico entra em cena falando um pêuticas do magnetismo animal. Aqui o autor faz uma referên-
sotaque alemão carrega-
do, parodiando Mesmer. cia espirituosa à meticulosa avaliação que o doutor Mesmer
O diálogo que se sucede revela algumas sempre fazia ao atender seus pacientes. Discípulo do mestre
particularidades holandês Boerhaave, seu tratamento era precedido por minu-
de Mesmer e sua descoberta do magnet
ismo animal, explora- ciosos exames clínicos nos pacientes, tomando o pulso e aus-
das de forma bem humorada por Moza
rt. Vamos analisar a cultando-os, o que era novidade em sua época.)
tradução do texto selecionado, acrescid
o de comentários so-
bre as referências a Mesmer. Fiordiligi, Dorabella e don Alfonso: Eles tomaram arsêni-
No primeiro ato, durante a cena 16, co, doutor. Eles beberam isto aqui, a causa foi o amor, e eles
todos os outros per- sorveram tudo de um só gole.
sonagens estão em cena, quando entr
a Despina disfarçada
como um médico, vestida com uma bela Médico: Não se inquiete, não se altere. Não se altere, não
casaca e usando uma
grande peruca branca. Começa o diál se inquiete. Veja agora uma prova de minha ciência.
ogo:
Don Alfonso: Aqui está o doutor, senh Fiordiligi e Dorabella: Ele está segurando um objeto de
oritas!
Médico: Salvete amabiles bonae puellae! metal em suas mãos.
(Com estas palavras estranhas, Mozart Médico: Esta é a famosa peça de tmã, a pedra de Mesmer, que
e da Ponte estão teve sua origem na Alemanha e que então se tornou tão famosa na
sati
rizando a fama de Mesmer em falar muit
o mal o francês, França. (O médico aplica a peça em Ferrando e Guglielmo.)
com seu sotaque germânico da Suábia.)
90 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 91

(O autor da ópera revela o processo histórico do surgimen- Despina e don Alfonso: Em algumas horas vocês vão ver,
to do magnetismo animal. Mesmer fez suas pesquisas iniciais pela ciência do magnetismo, os paroxismos cessarão, e eles vol-
com o uso conjunto do magnetismo mineral, o que depois foi tarão ao seu estado normal.
abandonado, como podemos acompanhar em suas Memórias. (Paroxismo é o momento mais agudo de um ataque re-
No entanto, por razões que o pudor da época exigia, manteve o pentino.) [...]
uso, em determinadas ocasiões, de um bastão de metal, evitan- Cena final do segundo ato
do o toque direto nos pacientes femininos. Mesmo assim, Mes-
Guglielmo: (para Dorabella) Este pequeno retrato em tro-
mer foi alvo de um relatório secreto enviado ao rei em 1784 pe-
ca de um coração, veja, estou oferecendo-o a você, minha se-
los ditos sábios, acusando seu método de estar envolvido com
nhora!
implicações graves de cunho sexual. Utilizado como instru-
mento de difamação, na época, milhares de cópias do relatório Ferrando e Guglielmo: (para Despina) E ao doutor mag-
circularam na Europa. É interessante lembrar que o tema desta nético nós oferecemos a honra que ele merece.
ópera satírica está relacionado com essas mesmas questões so- E, após mais um breve diálogo, a ópera termina com a or-
ciais, ou seja, o pudor excessivo, a infidelidade e o moralismo.) questra triunfante. Sobem os aplausos, e assim Mozart home-
Fiordiligi, Dorabella e don Alfonso: Como eles estão se nageou seu caro amigo Franz Anton Mesmer.
movendo, torcendo, tremendo! Eles vão acabar batendo suas
cabeças no chão.
(Aqui o autor brinca com as reações físicas dos doentes,
descrevendo as manifestações sintornáticas das crises dos pa-
cientes de Mesmer em seus tratamentos.)
Médico: Ah! Sustentem-no por suas testas!
Fiordiligi e Dorabella: Nós estamos prontos, nós estamos
prontos.
Médico: Segure firmemente, segure firmemente, seja va-
lente! Agora eles estão livres da morte.
Fiordiligi, Dorabella e don Alfonso: Eles estão olhando ao
redor, e estão recuperando suas forças. Ah este doutor vale seu
peso em ouro! [...]
(Os moços, já despertos, começam a galantear e pedir
beijos às donzelas.) [...]
Despina e don Alfonso: É o efeito do veneno, não tenham
medo.
Fiordiligi e Dorabella: Isso pode ser verdade, mas o com-
portamento impróprio deles está comprometendo nossa honra.
Fiordiligi e Dorabella: Eu não posso resistir por mais tempo!
spa
V

A BAQUET E OUTROS MÉTODOS

Nos primeiros tempos da descoberta do magnetismo,


Mesmer e os outros magnetizadores faziam uso de alguns ins-
trumentos, como a tina (ou baquet), a varinha de metal, a
magnetização de água, garrafas, e de árvores, para aplicação do
magnetismo animal.
Na casa do marquês de Puységur, em Busancy, havia uma
árvore muito grande e frondosa. Quando voltou de Paris, de-
pois de aprender os métodos de Mesmer, foi exatamente essa
árvore que ele utilizou para atender, ao mesmo tempo, um ná-
mero grande de doentes:
A fim então de poder operar sobre toda esta pobre gente
um efeito mais contínuo, e ao mesmo tempo me poupar de fa-
digas, tomei a iniciativa de magnetizar uma árvore, segundo os
procedimentos que nos indicou o senhor Mesmer. Depois de
haver nela atado uma corda, experimentei sua virtude sobre
meus doentes e alguns outros [...] opero bem os efeitos saluta-
res sobre todos os doentes da vizinhança; eles afluem em tor-
no de minha árvore. Eram, esta manhã, mais de cento e trinta.
E uma procissão perpétua no país; passo aí duas horas todas as
manhãs: minha árvore é a melhor tina possível. Não há uma
única folha que não comunique saúde; cada um, mais ou me-
nos, aí sente bons efeitos. (PUYSÉGUR, 1784)

93
94 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER- A CIÊNCIA NEGADAE OS TEXTOS ESCONDIDOS 95

Os primeiros efeitos do sonambulismo provocado em doen- Quando visitavam Mesmer, os médicos alopatas ficavam
tes do magnetizador de Busancy foram por meio dessa árvore, confusos porque não encontravam qualquer tipo de remédio
junto à qual ele passava duas horas diárias, dedicando-se às curas.
14 a
ou prática invasiva no tratamento dos doentes:
Já o instrumento mais utilizado por Mesmer, principal- À esperança próxima de ver o magnetismo animal como
mente enquanto permaneceu em Paris, foi a tina mesmérica se vê uma poção fortificante através das paredes de um vidro
ou baquet. Descreveu Puységur: branca inflamou os senhores Bertrand, Malloét e Sollier pelo
interesse de minha descoberta, mas eles caíram em si quan-
O fundo da tina do senhor Mesmer do se aperceberam de uma espécie de tina montada sobre
é composto de garrafas arranjadas en- três pés, recoberta, e de onde saíam algumas varas de ferro
tre si de maneira particular. Acima recurvadas de maneira a aplicar as extremidades, seja na ca-
dessas garrafas, coloca-se água até beça, seja no peito, seja no estômago, seja no ventre; que se
uma certa altura; varas de ferro, cujas aplicava ao mesmo tenpo em pessoas sentadas em torno da
extremidades tocam a água, saem des- tina. (MESMER, 1799)
sa tina; é a outra extremidade, termi-
nada em ponta, se aplica sobre os do- Limitados por um raciocínio mecanicista, os doutores
entes. Uma corda, em comunicação acreditavam que somente uma substância palpável teria o po-
com o reservatório magnético e o re- der de provocar alterações orgânicas.
servatório comum, liga todos os doen-
tes uns aos outros; de modo que existe Mesmer, no entanto, considerava transitório, e até irrele-
uma circulação de fluido ou de movi- vante, o uso de instrumentos em sua terapia. Ele esclareceu a
mento que serve para estabelecer o questão numa nota de suas Memórias:
equilíbrio entre eles. [...] Se desejar,
utiliza-se uma vara de ferro, termina- Os pretensos imitadores do meu método estabeleceram em
Tina de Mesmer. Museu de História
da em ponta, apoiada no meio da tina, suas residências tinas semelhantes àquelas que viram na sala de
da Medicina e da Farmácia de Lyon.
que se pode tocar de tempo em tem- meus tratamentos. Se souberem apenas isso, estão pouco avan-
po, ou de uma recarga que se pode gados. É de se presumir que, se eu tivesse um estabelecimento
operar à vontade, mantendo este movimento na direção cômodo, suprimiria as tinas. Em geral, uso apenas pequenos
dada; e por intermédio da corda que serve para ligar todos os meios, e isso quando necessários. (MESMER, 1799)
doentes entre si, chega, como já disse acima, um combate,
em cada indivíduo, pelo restabelecimento do equilíbrio, do Ou seja, a tina remediava o problema causado pelo peque-
fluido ou movimento elétrico animal. (PUYSÉGUR, 1784) no espaço disponível no apartamento da praça Vendôme, sua
clínica em Paris.
Os objetos eram utilizados apenas condutores ou inter-
mediários da ação do magnetizador: « Puységur concorda com a opinião de seu mestre:
À tina, sem a ajuda do magnetizador, não deve ser vista
Toca-se cada uma das garrafas que entram no reservatório senão como um acessório do tratamento magnético, pois que
magnético, e se lhe comunica então uma impulsão elétrica seu efeito, muito secundário, é primeiramente o de manter
animal; carrega-se também a água que recobre as garrafas, e, um movimento já impresso do que imprimir um por si mes-
por esta operação, determinam-se as correntes de movimen- ma. (PUYSÉGUR, 1784)
tos que serão levadas para os pontos necessários dos doentes,
(PUYSÉGUR, 1784) Mesmer estava preocupado unicamente com a o conteú-
do de sua descoberta, e não com a forma de aplicá-la. Em ne-
56
PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER -- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 97
nhuma parte de sua obra ele
estabeleceu um método de
que pudesse ser ensinado ou cura tanto na Université de France quanto em seu curso da Escola
seguido pelos médicos
al De acordo com Mesmer, Prática de Magnetismo, afirmou:
um médico, conhecedor da
sio Ogia, da patologia e das fi-
teorias do magnetismo ani Du Potet não se preocupou em fazer uma descrição mi-
eria encontrar em sua prátic mal po-
a os meios mais adequados nuciosa dos procedimentos de aplicação nas suas obras. Seu
natureza e a de seus pacien à sua método de trabalho consistia preferencialmente na aplicação
tes: EN de passes, porém dava pouca importância aos gestos em si,
Esperam-se sem dúvida explicaç pois, conforme seu entendimento, a vontade de fazer o bem
aplicar o magnetismo animal, ões sobre a maneira de se seria O principal motor que impulsiona o fluido magnético
e de torná-lo um meio curati
eficaz; mas como, independe vo beneficiando o enfermo. (DURVILLE, 1903, p. 112)
ntemente da teoria, este novo
método de curar exige indisp
ensavelmente uma instrução
prática e seguida, não creio
ser possível dar aqui a descriçã Os instrumentos como a tina foram importantes durante
nem desta prática, nem do o o período experimental da ciência do magnetismo animal. O
aparelho e das máquinas de
rentes espécies, nem dos dife-
Com sucesso, porque cada
procedimentos de que me
servi mesmo papel foi desempenhado pelas mesas girantes, cestas
um, em Consegiiência da sua
trução, se aplicará em estudá-l ins- de bico e outros instrumentos, quando do surgimento da ciên-
os, e aprenderá por si mesmo
variá-los e a acomodá-los às
circunstâncias e às diversas situ
a cia espírita. As mesas girantes surgiram no período inicial da
ções da doença. (MESME a- comunicação com os espíritos e foram utilizadas como instru-
R, 1799)
. O magnetizador deveria des mento rústico de comunicação por tiptologia.20
envolver
seus métodos tera-
pêuticos pelo livre exercí
cio da experimentação, res
uma condição essencial peitando
da ciência. A câmara de crises
Quando alguns discípulos de Um elemento controverso da prática terapêutica de Mes-
Mesmer quiseram publicar
as anotações de seu curso, que mer era a câmara de crises. Puységur explicou que:
continham a descrição de al-
guns instrumentos, foram exp
ressamente desautorizados
ele. Porém, agindo, contra por [...] as câmaras das crises, a que se deveria chamar antes de
a vontade de seu mestre lev
ao público seus 344 Aforismos aram inferno para convulsões, não deveriam jamais existir. O se-
!º anotados durante as aulas, nhor Mesmer jamais as teria feito. Não foi senão quando a
Com o passar das décadas, os multidão dos doentes veio superlotar sua casa em seu novo
magnetizadores abandona-
ram os grandes instrumentos. alojamento, que o obrigou então a dividir seus cuidados. Ele
A segunda geração — du Pot
Charpignon, Aubin Gautier, et imaginou ter um local onde pudesse ao menos, ao abandonar
F. oissac, Lafontaine e outros
tringiu os recursos terapêuti — res- seus doentes, não mais deixá-los expostos a serem tocados por
cos aos Passes, imposições todo o mundo, o que ele sabia lhes ser totalmente contrário.
massagens, sopros magnetização de mãos
da água e o sonambulismo pro- É preciso lamentar-se verdadeiramente de todo o mal que
vocado. O magnetizador Hector resultou de um tal estabelecimento, que só o sentimento de
Durville (1848-] 923), que foi
O sucessor do barão em seu Jou humanidade lhe havia ditado. Tanto que, se apenas ele pudes-
mal du magnétisme e ensinava
se entrar nesta câmara fatal, o mal não teria sido assim tão
grande. Mas, uma vez obrigado a cuidar tanto de sua doutrina
=. como de seus meios, cada iniciado se acreditava no direito de
19 ittênse de Aforismos de Mes
mer. Paris: Quinquet, 1785
desmer ter rejeitado e desautor . Apesar de
izado essa obra, oferecemos
ção como apêndice, por seu valo a sua tradu- 20 Comunicação dos espíritos por meio de pancadas (raps), utilizando um
r como fonte histórica para a
pesquisa
código alfabético.
98 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
99

seguir o que se chamava de crise, Então, disso resultou uma À crisis hipocrática
grande desordem nos indivíduos submetidos às experiências
públicas. A decência, a saúde, tudo estava comprometido, e Vejamos como Puységur, o magnetizador de Busancy,
nenhuma cura satisfatória veio amenizar as tristezas do homem apresenta a crise, um importante conceito da terapia do mag-
honesto forçado a deixar profanarem assim os seus meios. netismo animal:
Todos os médicos que, saídos da escola do senhor Mesmer,
dirigiram-se às províncias para aí estabelecerem tratamentos Quando se toca a um doente com disposição imediata para
magnéticos, começaram seu estabelecimento por fazer arran- curar-se, o fluido animal não demora a juntar seus esforços
jar uma sala de crises. Ninguém pode ser repreendido por àqueles da natureza; e muitas vezes, desde a primeira vez, oca-
uma precaução tão bárbara, porque o fizeram visando o bem, siona-lhe uma crise, a qual, segundo os fenômenos que ela apre-
e que todos seguramente tiveram muito que sofrer com O senta, deve se chamar crise magnética. (PUYSÉGUR, 1784)
quadro horrível que apresentaram as convulsões muito reite-
radas. Mas é tempo de as desabusar, assim como o público. Sobre a crise, Mesmer afirmou:
Tudo o que se chama de convulsões não deve ser senão uma
passagem efêmera nas mãos do magnetizador. E o estado de Qualquer doença não pode ser curada sem uma crise.
crise, ao contrário, é um estado calmo e tranquilo que oferece Esta lei é tão verdadeira e tão geral que após a experiência e a
aos olhos sensíveis apenas um quadro de felicidade e do traba- observação, a mais simples pústula, a menor bolha na pele
lho pacífico da natureza para atingir a saúde, É apenas neste não se cura senão após uma crise. (MESMER, 1799)
estado que os indivíduos doentes sofrem algumas vezes de
raaneira inaudita. Digo mais, sua cura não pode ser obtida sem Este conceito fisiológico, abandonado pela medicina alo-
sofrimentos. Mas então poder-se-ia dizer que, sob o império
benfazejo da natureza, apenas seu corpo sofre, sem que sua pática, remonta à Antigitidade. Segundo Hipócrates, o pai da
alma seja alterada. À percepção que eles adquirem neste esta- medicina, toda enfernidade apresenta um começo (arché);
do lhes faz encarar seus sofrimentos como necessários e apre- uma fase de crescimento (eptdosis); um ápice (akmé), em que
sentam com antecedência sua cura como termo destes mes- ela alcança seu ponto máximo; e um final (télos). Os médicos
mos sofrimentos; eles têm tma coragem e uma paciência que
os tranquúilizam sobre seu estado. (PUYSÉGUR, 1784) hipocráticos designam com o nome de crisis o momento deci-
sivo em que a enfermidade pode sofrer uma mudança súbita
Os pacientes, colocados em uma fase sonambúlica mais para 0 bem ou para o mal: a partir daí, ela pode decrescer, ex-
profunda, despertavam a lucidez sonambúlica. Nesse estado, tinguindo o desequilíbrio, ou, no caso contrário, agravar € con-
podiam prever, entre outras coisas, o tratamento mais ade- duzir o doente para a morte. O bom médico tem o dever de
quado para sua enfermidade e, inclusive, o momento exato da identificar o momento da doença, prevendo os passos seguin-
sua cura. Esse conhecimento antecipado do fim de seus sofri- tes de seu desenvolvimento.
mentos despertava confiança e esperança nos pacientes. Mesmer esclareceu:
Nessa época, o tempo médio de vida não passava de vinte e
Hipócrates parece ter sido o primeiro e talvez 0 único que
cinco a trinta anos. Os remédios e tratamentos heróicos da me-
compreendeu o fenômeno das crises nas doenças agudas,
dicina ordinária não traziam lenitivo algum — pelo contrário, es- Seu gênio observador o levou a reconhecer que os diversos
palhavam pavor pelo sofrimento que causavam. O mesmerismo sintomas nada mais são do que modificações dos esforços
e o sonambulismo foram uma grande bálsamo, principalmente que a natureza faz contra as doenças. (MESMER, 1799)
para os casos considerados incuráveis. Nesse sentido, o magne-
tismo animal estava antecipando o papel consolador e as conse- - Ou seja, os sintomas são sinais aparentes do esforço do
quências morais da doutrina espírita. corpo para combater o desequilíbrio instaurado em sua fisiolo-
100 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 101

gia. Segundo Mesmer, é um equivoco considerar o


dos sintomas como uma causa, tornando-a conjunto
Assim, de acordo com Mesmer, essa antiga definição da
algo em si. Ou seja,
os médicos, desconheciam a verdadeira teoria hipo vis medicatrix naturae estava absolutamente equivocada. Ele
crática e,
assim, conforme concluiu Mesmer, obse
rvaram-se...
propôs, enfim, que esse princípio hipocrático poderia ter o
curso de sua ação corrigido e controlado pela ação intencional
[...] os mesmos sintomas nas doenças crôni
cas,
tados da causa, isolados, sem febre contínuaNs mais afas- do médico conhecedor da teoria do magnetismo animal.
ubstantiva-
Tam-se estes acidentes eventuais como se
fossem outras tan-
tas doenças, diferenciando-se cada uma
com um nome; O médico deve auxiliar a natureza
estudaram-se, analisaram-se estes acidentes
e seus sintornas
como coisas: avaliaram-se mesmo por indic Hipócrates afirmou: Natura medicatrix, quo lucere opor-
ador as sensações
da doença. Eis então a fonte de erros que assolam
dade por tantos séculos.
a humani- tet, quoe máxime vergunt, o ducenda per loca convenientia. Ou
seja, a natureza cura, mas com a condição de que seus efeitos
Esclareceu Mesmer que, a partir da observaç sejam sustentados, auxiliados e dirigidos convenientemente.
ão de nume-
Fosos casos, no estudo de seus paci
entes, enquanto acompa-
(Bué, 1934, p. 214) A verdadeira arte de curar, portanto, resi-
nhava-os no pé de suas camas... de na pesquisa dos meios que podem sustentar, secundar, diri-
gir os esforços da natureza para reconquistar o equilíbrio per-
Hipócrates, pelos sintomas os mais aparenteme
tos, em lugar de ficar desconcertado, progn
nte opos- dido. Este procedimento é o único agente da cura.
osticou a cura;
sua segurança estava baseada na observação
da marcha perió- Mesmer concluiu:
dica dos dias, que ele chamou críticos. Ele
sentia, vagamen-
te, que existia um princípio externo e geral, O que o pai da medicina observava assim, e que outros
cuja ação era re-
gular; e que seria este Princípio que desenvolve após ele chamaram natureza, não era senão o efeito deste
ria e decidiria
a complicação das causas que formam a doença. princípio que eu reconheci e anunciei a existência, princípio
que determina sobre nós essa espécie de fluxo e refluxo ou
Divergin do dos médicos de sua época, Mesmer não intenção e remissão das propriedades. (Ibidem, 1799)
ditava na hipótese da ação do médico hipocrátic acre-
o como uma
simples espera ao lado do doente, aguardando Vemos, então, que Mesmer considera o magnetismo ani-
passivamente a
cura surgir pela ação espontânea da natureza. Nem mal e a vis medicatrix naturae uma só coisa: um ton de movi-
mesmo um
irracional combate dos sintomas (prática tanto mento presente no organismo humano (ou seja, tima ação dinã-
da medicina
heróica quanto da alopatia): isso, para Mesmer, mica produzida por uma função de onda vital). Esta ação,
é combater os
efeitos, abandonando a causa ao seu bel-prazer evocada habilmente pelo esforço da vontade do magnetizador,
, prejudicando
o paciente e jamais conquistando a cura. age dinamicamente no organismo do paciente, acelerando o ci-
clo natural da doença. Alcança-se, por esse meio, o ponto máxi-
Os antigos tinham pouco conhecimento do
mecanismo
de funcionamento do corpo animal, e sabiam menos mo (akmé), desencadeando o fenômeno da crise. 0 estado de
como
ainda desequilíbrio está então vencido. Em seguida, os sintomas en-
esse mecanismo está relacionado com a organi
zação da
natureza como um todo, então eles relacionar
am cada gêne-
tram em declínio e o ciclo da doença alcança o seu final (ou té-
ro desses esforços como sendo espécies de doença los, segundo os hipocráticos). Finalmente, a saúde está restabe-
s. Desde o
nascimento da medicina, houve oposição ao verdad lecida sem um desnecessário e prejudicial desgaste do enfermo.
eiro e
único meio empregado pela natureza para
destruir as causas
que perturbam a harmonia. (MESMER, 1799)
102 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER — A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
103

O ressurgimento da medicina científica tão absurdas quanto ridículas, às quais será impossível atribuir
fé. Determinados e prescritos de modo DOSvo tommaao so
A ação do magnetizador — aplicando passes, imposições sob uma observação muito escrupulosa, motivo de superstição;
de mãos, sopros — dependia dos objetivos que ele pretende € eu ousaria dizer que uma grande parte das cerimônias religio-
atingir, a partir do diagnóstico da doença e da fase em que ela sas da Antiguidade parece conseguência desse empirismo. Por
outro lado, todos aqueles que quiseram se assegurar por sua
se encontrava. O médico, conhecendo a fisiologia, a patologia
própria experiência da realidade do magnetismo, praticando-o
e o histórico de seu paciente, pode induzir, pelo magnetismo sem conhecer seus princípios, viram-se privados de obter o su-
animal, a cura. cesso que pretendiam; imaginando que os efeitos deveriam ser
Para tanto, ensina Mesmer, ele deve compreender que: o resultado imediato dos procedimentos como aqueles da ele-
tricidade ou das operações químicas. (Ibidem, 1799)
As diferentes formas segundo as quais o esforço da natu-
reza se manifesta dependem da diversidade da estrutura das Isso explica os insucessos dos imitadores e charlatães, e as fra-
partes orgânicas ou das vísceras que sofrem esse esforço, de cassadas tentativas de testar a veracidade do magnetismo animal
suas correspondências e relações, segundo os diversos graus e por pessoas despreparadas, que desconheciam seus princípios.
modos da resistência, e do período do seu desenvolvimento.
(Ibidem, 1799) Ou seja, aquele que apenas imita os movimentos de um
magnetizador, agindo mecanicamente, não obtém resultado al-
Fazendo uso experimental desses princípios, Mesmer es- gum. Sua ação não passa de uma gesticulação inútil ou encena-
tabeleceu seus métodos de cura e criou a primeira terapia mé- ção supersticiosa. Fica clara a importância, na ciência do mag-
dica científica baseada na descoberta do magnetismo animal. netismo animal, da prévia compreensão dos seus princípios
Segundo este raciocínio, a ciência do magnetismo animal científicos e filosóficos, do conhecimento das ciências naturais
representou o ressurgimento da medicina científica, desde e de ma prática metódica e estudada para alcançar resultados
Hipócrates. Ela foi criada a partir da observação positiva dos Positivos, ou seja, a cura dos pacientes. Explicou Kardec, ex-
fenômenos naturais, sem se condicionar pelo dogmatismo ma- perimentado magnetizador: “A magnetização comum é um
terialista. O magnetismo animal é científico e ao mesmo tem- verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; [...] To-
po vitalista, porque sua experimentação comprova a hipótese | dos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde
de existência da força vital. Ela é positiva porque considera que saibam conduzir-se convenientemente.” (KARDEC, 1862
apenas os fenômenos observados pelos sentidos. Entretanto, é p. 217) | o
espiritualista, porque evidencia que o homem não tem apenas — Aterapia do magnetismo animal deve ser seguida com re-
cinco sentidos, e lhe acrescenta um sexto: o sentido espiritual. gularidade e periodicidade, suas sessões devem ser renovadas
até que a cura tenha sido conquistada.
A postura científica de Mesmer afasta qualquer sombra
de explicação sobrenatural ou mesmo suposições pessoais em- Além disso, segundo Mesmer, apesar de o magnetismo
píricas. E ele vai ainda mais longe quando denuncia os efeitos animal ser útil para a cura de todas as doenças, não é apto para
da má compreensão de sua teoria: «curar todos os doentes. De acordo com o princípio da cura pelo
- Magnetismo animal, a ação do magnetizador dá condições
e
É o empirismo ou a aplicação às cegas dos meus procedi- orças para O organismo do doente reagir ao estado de dese-
mentos que deram lugar às prevenções e às críticas indiscretas uilíbrio e recuperar-se. Se o corpo do doente não estiver em
que se fizeram contra esse novo método [...] Estes procedi-
mentos, se não forem razoáveis, irão se assemelhar a afetações
ondições de reagir, ou nos casos de degeneração orgânica, o
médico precisa recorrer a outros meios. ,
104 PAULO HENRIQUE DE F IGUE
IREDO - : MESMER— A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
105

Além disso, no tratamento mes


mérico, o médico precisa
desempenhar suas práticas com uns, como diagnosticar, com
minui-se assim, à vontade, a profundeza do estado sonambú-
lico, que apenas deve ser produzida por ações graduais com
sua experiência, os casos adequados
ao tratamento, observar paciência e tato indefiníveis, e é assim que se chega, progres-
sua com posição e a evolução da recuperaç sivamente, a estabelecer entre magnetizador e magnetizado
ão, “Esta lei da natu-
reza é que torna indispensável esse estado de relação [rapport]. (BUÉ, 1934, p. 28)
para a prática do magnetismo,
uma teoria salutar da economia animal, e
que dão o estudo da medicina” o concursg das luzes Magnetizadores, como Puységur, e depois du Potet, fa-
(MESMER, 1799) Para ser ziam experimentações científicas para compreender sua práti-
magnetizador, é necessário conhecer as ciências
médicas. ca. Colocavam, por exemplo, um sensitivo em estado de luci-
O uso dos gestos (sopro; imposi
ção de mãos) e os passes dez sonambúlica e registravam as descrições narradas por ele
(rápidos ou lentos, longitudinai
s ou transversais), o tempo enquanto se desenrolava o tratamento magnético de um doen-
cessário, o local da aplicação e ne-
outras variáveis estavam rela- te. O sonâmbulo descrevia o movimento do fluido vital envol-
cionados com o efeito esperado
pelo diagnóstico do médico, vendo o paciente ou ele próprio, e assim por diante:
de acordo com a patologia de seu paci
ente e a fase identificada
de seu tratamento. Os sonâmbulos vêem, das extremidades dos dedos do
Conforme a vontade do magnet magnetizador, quando este vai lentamente descendo-os so
izador e o movimento longo de seu corpo, sem tocá-lo, jorrar longas agulhas bri-
empregado, diferentes resultados
eram obtidos. Os magneti- lhantes, que parecem envolvê-los em suas cintilações fosfo-
zadores da segunda geração,
como du Potet, usavam, por rescentes [...] os matizes brilhantes variam segundo os indi-
exemplo, o passe longitudinal para víduos. (BUÉ, 1934, p. 115)
saturar o paciente com o
fluido vital, e o pass
e transversal para dispersar a con
ção. Já Albert de Rochas?! fazia centra- Outras vezes, o próprio paciente, sonambulizado, dialogava
uso da saturação pelos passes com o magnetizador, dando explicações e instruções sobre seu
longitud inais para levar o paciente ao estado
búlico, e repetia continuamente de transe sonam- caso e o processo terapêutico. Com o tempo, os magnetizado-
o gesto para levá-lo aos esta- res foram criando, racionalmente, seus métodos terapêuticos.
dos mais profundos. Quando dese
java despertá-lo, aplicava os
passes transversais. Os gestos
eram adaptados às conveniên-
cias de seus métodos pessoais.
O passe espírita
O magnetizador Alphonse Bué Cabe aqui esclarecer a diferença entre o magnetismo te-
procedia desta maneira
para regular o sonâmbulo: rapêutico, proposto pela ciência do magnetismo animal, ea
mediunidade de cura, revelada pela doutrina espírita. Uma
Pelas imposições e os Passes acio
cérebro e o epigástrio e procura-
nam-se mais ou menos 0 pessoa bem intencionada pode curar com a imposição de mãos
se manter um justo equili- sem conhecer as técnicas do mesmerismo.
brio entre esses dois centros de
vida nervosa; pelos passes
longitudinais e imposições, carrega-
se; pelos passes transver- As duas modalidades, terapia do magnetismo animal e
sais € o sopro frio à distância, disp mediunidade de cura, agem a partir do fluido vital:
ersa-se; aumenta-se ou di-

0 Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e


21 Sobre os procedimentos magn só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O princípio

TE
éticos de Albert de Rochas e outr
magnetizadores, consultar a os é sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente
excelente Obra: de Rochas, Albert.
sucessivas. Bragança Paulista: Lach As vidas terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e
atre, 2002.
a circunstâncias especiais. (KARDEC, 1868, p. 295)

mm
-
106 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER
- A CIÊNCIA NEGADAE OS TEXTOS ESCONDIDOS 107

As diferenças, portanto, estão relacionadas com a quali- Em sua doutrina, Allan Kardec distinguiu com clareza o
dade do fluido e as circunstâncias especiais, e determinam di- magnetismo animal e a mediunidade de cura, do ponto de vis-
ferentes efeitos, como veremos. ta do magnetizador:
A terapia do magnetismo animal é um tratamento medi- Médiuns curadores [...] este gênero de mediunidade con-
cinal, útil mais especialmente aos médicos homeopatas, que siste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas
compartilham sua filosofia vitalista. Seu processo compreen- de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um ges-
de um diagnóstico do quadro do paciente e o acompanhamen- to, sem o concurso de qualquer medicação. Dir-se-á, sem
dúvida, que isso mais não é do que magnetismo. Evidente-
to durante o tratamento, normalmente lento e metódico: mente, o fluido magnético desempenha aí importante papel;
porém, quem examina cuidadosamente o fenômeno sem di-
Em geral, ele deve levar a bom termo a cura de todas as
ficuldade reconhece que há mais alguma coisa. A magnetiza-
doenças, contanto que os reforços da natureza não estejam
ção comum é um verdadeiro tratamento seguido, regular e
inteiramente esgotados, e que a paciência esteja ao lado do
metódico; no caso que apreciamos, as coisas se passam de
remédio; porque está a cargo da natureza restabelecer lenta-
modo inteiramente diverso. Todos os magnetizadores são
mente o que foi minado lentamente. Não importa o que o
mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se
homem deseje ou faça na sua impaciência: poucas são as
convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a
doenças de um ano que se curam num dia. (MESMER, 1781)
faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais
terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma '
Já o tratamento espírita, segundo Allan Kardec, trata-se da potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, faz-se
mediunidade de cura. Quando uma pessoa tem uma forte vonta- manifesta, em certas circunstâncias, sobretudo se conside-
de de aliviar o sofrimento de seus semelhantes, um simples gesto rarmos que a maioria das pessoas que podem, com razão, ser
de imposição de mãos pode regenerar os seres fracos ou doentes. qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é
uma verdadeira evocação. (KARDEC, 1862, p. 217)
Para tanto, é preciso unir uma fé ardente, a vontade dirigida, a
prece e a evocação dos poderes superiores que vão ampará-lo e O magnetismo animal é sempre um processo racional de
multiplicar as propriedades curativas de seu fluido magnético. cura. No caso da mediunidade de cura, o fenômeno não é con-
Nessa situação, o operador recebe o auxílio do magnetismo espi- trolado pelo médium, mas sim pelos espíritos superiores, que
ritual, emanado dos espíritos moralmente elevados. representam a “potência oculta” a que Kardec se refere.
Para ocorrer, o fenômeno da mediunidade de cura inde- Quanto ao método de aplicação, na terapia do magnetis-
pende do conhecimento médico do médium e, em alguns ca- mo animal, os magnetizadores precisam saber conduzir-se
sos, pode curar instantaneamente. Todavia, não se pode assegu- convenientemente, segundo as ciências médicas, como reco-
rar sua regularidade, nem garantir o sucesso da cura. À partir mendou Mesmer, Habnemann?? e Kardec. Já a cura pela im-
destas observações, Kardec desconsiderou a possibilidade de a posição de mãos, que é o método espírita ou mediunidade de
mediunidade de cura substituir as técnicas médicas: cura; não exige técnica por parte do operador. Esclareceu
Eis, também, porque as curas instantâneas, que ocorrem Herculano Pires:
nos casos em que a predominância fluídica é, por assim dizer,
exclusiva, jamais poderão tornar-se um meio curativo uni-
versal. Não são, consequentemente, chamadas à suplantar
22 O fundador da homeopatia recomendou o mesmerismo nos parágrafos
nem a medicina, nem a homeopatia, nem o magnetismo co-
mum. (Revista Espírita, 1868, p.89) 288 e seguintes do Organon da arte de curar e chegou a prescrever apli-
cações do magnetismo animal para seus próprios pacientes.
108 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO

o Passe espírita é simplesmente


mãos,
à imposição de
usada e ensina
da por Jesus, como se
Evangelhos [...] A técnica do pass vê nos
e não pertence a nós
mas exclusivamen te aos espíritos supe
riores. Só eles
conhecem à situação real do
paciente, as possibilidades
de ajudá-lo em face de SEUS
Compromissos nas provas
a natureza dos fluidos de que
o paciente necessita e as-
sim por diante. (PIRES, 1995)

o recurso da imposição de mão


s, segundo Léon Denis, é
um importante recurso terapê
utico popular e complementar A
:
Vem a ser a medicina dos humi
ldes e dos crentes, do pai
de família, da mãe para os seus MESMER
filho
dadeiramente amar. Sua aplicaçã s, de quantos sabem ver- EO ESPIRITUALIS
MO
o está ao alcance dos mais
simples. Não exige senã o a confiança em si, a fé no pode
finito que por toda a parte faz r in-
irradiar a vida e a força. Como
o Cristo e os apóstolo
s, Como os santos, os
gos, todos nós podemos profetas e os ma-
impor as mãos e curar, se
amor aos nossos semelhantes e o desej temos Entre tantas calúnias e difamações, Franz Anton Mesmer
o arde ted ivi r. foi acusado também de ser ateu e materialista. No entanto, a
(DENIS, 1919, p. 182) J nte de os alivia
ciência do magnetismo animal nasceu da tradição vitalista,
corrente científica de grande destaque em sua época. O vita-
lismo e a ciência do magnetismo animal chamaram a atenção
do pesquisador para as causas primárias, unindo as tradições
filosóficas espiritualistas à ciência.
J. L. Picher Grandchamp, expondo idéias íntimas de
Mesmer que apenas alguém tão próximo poderia revelar, co-
mentou que:

[...] O interesse, a inveja, o ciúme servem-se de todas as ar-


mas ofensivas para atacar o senhor doutor Mesmer pela calúnia.
Acusaram-no de ateísmo, de materialismo, últimos recursos da
perseguição, Ao se interrogar seus discípulos sobreviventes,
entre os quais um grande número de eclesiásticos respeitá-
veis de todos os graus de sua hierarquia, ter-se-á a convicção
bem estabelecida do contrário. Em suas memórias de 1799,
vê-se sua profissão de fé. E alhures, como já se disse várias
vezes, um sábio verossímil e o maior adorador da divindade.
Eu posso atestar, pelo meu lado, que, sempre e em todas as
ocasiões, ele nos fazia admirar as grandezas de Deus na natu-
reza e em todas suas maravilhas. Nesses momentos de inti-

109
no PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS ni

midade familiar com qualquer um de seus discípulos, sem- dualista, espiritualista e deísta. Uma alternativa racional à tradi-
pre o ouvimos dizer: "A melhor obra que eu conheço sobre a ção materialista da medicina ordinária ou galênica.
existência de Deus é aquela de Fénelon."2 Sobre Jean-
Jacques Rousseau,* Mesmer disse que “Se esse grande ho- Mesmer ensinava que a sua terapia dependia diretamente
mem permanecesse entre os vivos, ele ambicionaria o favor do sentimento do magnetizador. Era preciso desejar a cura
de ser seu valet de chambre; e, se fosse possível, gostaria de
com
sinceridade para obter sucesso, o que exigia um esforço moral:
ter sido seu médico para lhe prolongar a vida, que foi tão pre-
ciosa para a felicidade do gênero humano neste mundo e no Contentemo-nos em fazer, à exemplo do senhor Mesmer
outro.” ,
esforços sobre nós mesmos: e certos de muito fazer,
por não
se exaltar ao extremo, vendo todos os efeitos surpreendentes
O resultado das meditações e pesquisas de Mesmer foi e
salutares que um homem, com o coração reto e amor ao
bem
“um vasto sistema de influências ou de relações que ligam to- pode operar pelo magnetismo animal. (PUYSÉGUR, 1784)
dos os seres, as leis mecânicas e mesmo o mecanismo das leis da
natureza”. E então ele completou: “Ver-se-á, ouso crer, que es- Era esse o 'segredo' do magnetismo animal descoberto
tas descobertas não são produtos do acaso, mas sim o resultado por Mesmer, e tão especulado em sua época.
do estudo e da observação das leis da natureza. Que a prática Mesmer já tinha observado o prejuízo do orgulho e do
que eu ensino não é um empirismo cego, mas um método racio- preconceito, inimigos da popularização de suas descobertas:
nal.” Ou seja, o magnetismo animal foi uma proposta científica
Na França, a cura de uma pessoa pobre nada é; quatro cu-
iluminista que surgiu a partir de um modelo filosófico holístico, ras burguesas não valem a de um marquês ou a de um conde;
quatro curas de um marquês equivalem apenas à de um du-
que, e quatro curas de um duque nada serão diante daquela
de um príncipe, Que contraste com as minhas idéias, eu que
acreditei merecer a atenção do mundo inteiro, quando
23 Fénelon é o nome literário de François de Salignac de la Mothe, prelado na
verdade não consegui curar senão cães. (MESMER, 1781)
e escritor francês nascido no castelo de Fénelon, em Périgord, a 6 de
agosto de 1651. Escreveu admiráveis livros sobre Deus e a alma. “Em
François Deleuze, discípulo direto de Mesmer afirmo
suas obras, a profundidade dos pensamentos é realçada por uma lingua- u,
gem admirável e nunca o espírito francês ostentou maior clareza, elegân- em 1819, em suas Instruções práticas:
cia e força como nesses livros imortais.” (DENIS, 1937, p. 13)
24 Jean Jacques Rousseau, em Emílio ou da Educação, escreveu a respeito No magnetismo, para um indivíduo agir sobre outro, é ne-
de Deus: “Esse Ser que quer e que pode, esse Ser, ativo por si mesmo, cessário haver uma simpatia moral e física entre ambos,
A
vontade é a primeira condição para magnetizar. À segunda
esse Ser, enfim qualquer que seja, que move o universo e ordena todas as
coisas, eu o chamo Deus. Acrescento a esse nome as idéias reunidas de in-
condição é a fé do magnetizador na sua capacidade, A tercei-
R ra é o desejo de fazer o bem. (DELEUZE, 1819)
teligência, de poder, de vontade e a de bondade, que é uma consegiiência
necessária; apesar disto não conheço melhor o Ser que assim classifico; ele
se furta, tanto aos meus sentidos como ao meu entendimento; quanto -Mesmer constatou, também, a importância da vontade
do
mais penso nele, mais me confundo; sei com muita certeza que ele existe, paciente:
e que existe por si mesmo; sei que minha existência é subordinada à sua e
que todas as coisas que conheço se encontram absolutamente no mesmo O magnetismo animal não curará certamente aquele
que
caso. Percebo Deus por toda parte em suas obras; sinto-o em mim, vejo-o sentirá o retorno de suas forças apenas para se voltar
para no-
à minha volta; mas tão logo quero contemplá-lo em si mesmo, tão logo vos excessos. Antes de todas as coisas, é indispensável que
o
quero procurar onde está, o que é, qual a sua substância, ele me escapa, e doente deseje ser curado. (MESMER, 1781)
meu espírito perturbado não percebe mais nada. (p. 390)"
112 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
: MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 113

Como se vê, a ciência do magnetismo animal, no século


18 ciedade vienense e encontrou refúgio nos bosques e prados.
teve um desenvolvimento fundamental para a compr
eensão da Desde a sua infância, a beleza natural inspirava Mesmer, nas
doença e da cura, e todo este conhecimento foi
abandonado paisagens alpinas das margens do lago de Constança.
quando o materialismo dominou a medicina oficial
de forma Numa das mais belas passagens de sua obra, Mesmer des-
dogmática. Uma retomada das pesquisas científicas e Elosóf
icas creve seu emocionante contato com a natureza, sua busca pela
vitalistas representará um progresso absolutame
nte necessário. verdade e, por fim, confessa corajosamente:

À importância das causas primárias E então um ardor vivo se apoderou dos meus sentidos. Eu
não procurava mais a verdade com amor. Eu a procurava com
A medicina, entregue ao materialismo desde Galeno inquietude. O campo, as florestas, as solidões as mais retira-
ti-
nha abandonado a natureza e a alma como agent das eram os únicos atrativos para mim. Eu me sentia mais
es da cura. Por perto da natureza. Violentamente agitado, parecia-me algu-
outro lado, a ciência do magnetismo animal teve
bases sólidas mas vezes que, ao coração cansado dos inúteis convites da
na filosofia espiritualista. Puységur, pesquisando o
fenômeno natureza, parecia que iria recusá-la com furor. Ó natureza,
do sonambulismo provocado, pôde estudar a eu gritava nesses acessos, que pretende de mim? Em outros
alma e encon-
trou, a partir da ciência, o Criador. Senão, vejam momentos, ao contrário, eu me imaginava estreitando-a em
os:
meus braços com ternura ou apertando-a com impaciência e
Digo que todos os efeitos produzidos com o concur sapateando fortemente, desejando-a render-se aos meus de-
so ape-
nas da vontade são físicos. Mas o que é a vontade? sejos. Felizmente meus gritos perdiam-se no silêncio dos
Esta ques-
tão impenetrável até o presente à luz da física e da bosques, havia somente árvores para testemunhar sua vee-
fisiologia
talvez seja respondida com a ajuda do magnetismo mência. Eu tinha certamente o aspecto de um frenético.
animal, É
por ele, e pelos seus efeitos prodigiosos, que se
aprenderá a
(MESMER, 1781)
conhecer a energia e o poder da vontade. A descoberta
do mag-
netismo animal pelo senhor Mesmer nos conduzirá
a esclare- Segundo Puységur, realmente “a floresta não é somente
cer tanto sobre nossa existência espiritual quanto maravilhoso espetáculo; é ainda perpétuo ensinamento. Ela
sobre nossa
existência física? Que duplo reconhecimento nós lhe devere
mos! Eu nada decido,
- nos fala, sem cessar, das regras fortes, dos princípios augustos
mas me inclino a crer que foram as
idéias do materialismo com respeito à alma que levaram a
que regem toda a vida, e presidem à renovação dos seres e es-
mascarar a perturbação que causa em nós a desordem de nos- tações”. (PUYSÉGUR, 1784) À floresta faz refletir, consola, re-
sas paixões e, por outro lado, as idéias da medicina ordinária pousa, desperta recursos ilimitados a quem procura suas virtu-
com respeito ao corpo, que tendem a mascarar nossos des ocultas.
males
físicos, Mas podemos concluir que todos os dois tende
m Em todos os tempos, as paisagens naturais, com as gran-
igualmente à nossa destruição. Quase nada ocorre de
suicídio
sem a influência do materialismo, e poucas mortes premat
u- des florestas, foram um abrigo da meditação e do pensamento
ras não se devem aos médicos, Remontando às causas dos sonhadores, conforme Léon Denis:
primei-
ras de nossa existência, Deus e à natureza, quais
vantagens
morais e físicas devemos tirar! (PUYSÉGUR, 1784) Quantas obras delicadas e fortes têm sido meditadas em
sua sombra fresca e mutável, na paz de suas potentes e fra-
Por sua vez, Mesmer procurou inspiração na natureza ternais ramadas! Quem quer que possua alma de artista, de
para retirar a essência de suas experiment escritor, de poeta, saberá haurir nessa fonte viva e transbor-
ações e curas. Num
esforço socrático, procurou suas respostas no dante a inspiração fecunda. (DENIS, 1919)
que há de mais
sublime em seu íntimo. Para tanto, fugiu do burburinho
da so-
4 * PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
115

No passado, as florestas serviram de modelo para as tradi- que adquiri a faculdade de submeter à experiência a teoria
ções filosóficas e religiosas. Nas florestas foram elaboradas as imitativa, que havia pressentido, e que é hoje a verdade física
mais autenticamente demonstrada pelos fatos.
tradições celtas. A solidão desse abismo verde foi o palco para
Vercingetórix e Joana d'Arc ouvirem as vozes. Fenômenos como este ocorreram na vida dos visionários
e
grandes reformadores da humanidade. Paulo de Tarso, depois
de despertar no caminho de Damasco, viveu um período de
Uma experiência singular preparação junto à natureza antes de empreender sua
No período de elaboração de suas teorias, Mesmer empre- missão.
Jesus meditou nos desertos da Palestina, Francisco de Assis
endeu esforços para compreender as relações entre O homem e despertou os potenciais de sua alma pelas forças naturais
os princípios universais. E, num momento crucial, quando suas dos
bosques de Pádua. A natureza também inspirou Descartes,
pesquisas nos mais diversos ramos do conhecimento convergi- Newton, Pestalozzi e incontáveis outros homens de gênio.
ram para um princípio único, nasceu uma nova ciência.
Jean-Jacques Rousseau vivenciou uma experiência seme-
Mergulhado nas dúvidas e atormentado pelas incompreen- lhante, a qual marcou a sua vida, Para escrever4 origem das
sões e ataques gratuitos de seus detratores, Mesmer viveu, num desigualdades entre os homens, o filósofo viajou a Saint-Ger-
apogeu, uma experiência singular descrita por ele como um en- main por uma semana. Lá, na floresta, empreendeu uma me-
contro com a verdade: “Todas as outras ocupações tornaram-se ditação solitária sobre o homem e sua história. Rousseau assim
inoportunas.” Num esforço para desprender-se da forma, em descreveu aqueles momentos:
proveito do conteúdo, ele lamentou o tempo que dedicava à
pesquisa de expressões com as quais redigia seus pensamentos: Embrenhado na floresta, aí procurava, aí achava a imagem
dos primeiros tempos, cuja história orgulhosamente traçava;
Percebi que, todas as vezes que temos uma idéia, nós a abatia as pequenas mentiras dos homens; ousava pôranuasua
traduzimos imediatamente e sem reflexão para a língua que natureza, seguir 0 progresso dos tempos e das coisas
que o
nos é mais familiar. Tomei o desígnio bizarro de me libertar desfiguraram, e, comparando o homem do homem com o ho-
dessa escravidão. Tal era o esforço de minha imaginação, mem natural, ousava mostrar-lhe no seu pretenso aperfeiçoa-
com que eu idealizava essa idéia árbitrária. Pensei três meses mento a verdadeira origem das suas misérias. A minha alma,
sem um idioma. Ao sair desse acesso profundo de devaneio, na exaltação destas sublimes contemplações, elevava-se até
olhei com espanto em torno de mim, meus sentidos não me junto da Divindade, e vendo daí os meus semelhantes segui-
enganam mais da mesma maneira que no passado: os objetos rem, na cega estrada dos seus preconceitos, a dos seus erros,
tomaram novas formas; as combinações mais comuns me pa- das suas desgraças, dos seus crimes, gritava-lhes com uma voz
receram sujeitas à revisão; os homens me pareceram de tal fraca que eles não podiam ouvir: — Insensatos, que
vos quei-
modo entregues 20 erro que eu sentia um deslumbramento Xais permanentemente da natureza, sabei que todos os vossos
desconhecido quando encontrava, entre as opiniões acredi- x males provêm de vós mesmos. (ROUSSEAU, 1781)
tadas, uma verdade inconteste, porque era para mim uma
prova tão rara que não há incompatibilidade decidida entre a À inspiração nascida do despertar do conhecimento inato
verdade e a natureza humana, Insensivelmente, a calma vol. dos pesquisadores sinceros é um auxiliar legítimo da ciência
tou ao meu espírito. À verdade que eu havia perseguido tão ,
ardorosamente, não me deixou mais dúvidas quanto à sua na medida em que fortalece os modelos oferecidos à compro-
existência. Ela se mantinha ainda a distância: ela estava ainda vação experimental. O esquema seguinte explica a
experiên-
obscurecida por uma ligeira névoa; mas eu via distintamente cia vivida por Mesmer e Rousseau:
o rasto que conduzia a ela, e não mais me afastei, Foi assim
No PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO

Posso alinhar o caminho que vos


mostro, com i
cípios fundamentais: 1) a alma
tem
matéria; 2) de se elevar bem acim o poder de oesquiar à
a da inteligência; 3) esse
estado É superior à razão; 4)
ele pode colocar o homem em
relação com o que escapa às suas
pode provocá-lo pela prece
faculdades; 5) o homem
a Deus, por um esforço cons
te da vontade, reduzindo, por tan-
assim dizer, a alma ao estado
de pura essência, privada de
atividade sensível e exterior
pela abstração, em uma palavra,
de tudo o que há de diverso,
de múltiplo, de indeciso, de
na alma; 6) existe no eu conc
turbilhonante, de exterioridad
reto e complexo do homem
e VII
uma força completamente
ignorada até aqui: procurai-a
pais. (Mensagem “Filosofia”,
de 3 de fevereiro de 1860 mé-
dium senhor Colin, Revista Espí
rita, abr. 1860) O SONAMBULISMO MAGNÉTICO
, Neste estado de “pura essência
”, o homem pode ter acesso
Ama orça que o aproxima da verdade, supera
sões do pensamento aprisionado ndo as confu-
A na matéria. Tudo leva a crer
Os estados alterados da consciência, provocados pela ação
dinâmica do magnetismo animal, foram primeiramente obser-
vados por Mesmer como consegiiência de suas experimenta-
ções. Em sua Memória de 1799, ele desenvolveu um inédito
modelo teórico para explicar suas causas, suas condições e os
fenômenos envolvidos, como a presciência, dupla vista, visão
do interior do organismo, transposição dos sentidos e outros.
O sábio Seifert, antes irredutível difamador do magnetis-
mo animal, ficou convencido da realidade dos efeitos da lucidez
sonambúlica depois de seu encontro pessoal com Mesmer.
Em 1775, frente à pouca acolhida dada à sua descoberta, o
doutor Mesmer determinou-se a nada mais realizar publicamen-
te em Viena. Empreendeu, então, uma viagem a diversos países
da Europa para ampliar sua experiência e apresentar aos pesqui-
sadores a verdade a partir dos fatos. Mesmer operou seus méto-
dos nos hospitais, sob os olhos de médicos, e tratou muitos no-
bres e outros doentes, atendendo-os em castelos e residências.
Na Hungria, no velho castelo do barão Horetcky de Horka,
Mesmer, tratou o barão pelo magnetismo e, paralelamente, cui-
dou de cutros doentes que vinham consultá-lo. Seifert conhecia
os fatos de segunda mão, mas julgava tudo isso um simulacro.

17
us PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 119

Em determinado dia, ao receber os jornais, encontrou mais sentia. Outras ações se seguiram, e todas as declarações
num deles a noctícia de que Mesmer provocava convulsões tinham uma perfeita correlação. Não só com os movimentos e
em pacientes epiléticos enquanto eles permaneciam desavisa- os intervalos, mas ainda com o caráter das sensações que Mes-
dos e isolados num quarto próximo. Tendo a parede impedin- mer queria provocar.? O astrônomo francês Camille Flamma-
do que o vissem, Mesmer influenciava seus enfermos moven- rion comentou o fato:
do apenas um dedo em sua direção.
Vi realizar as mesmas experiências [de Mesmer] pelo
Seifert chegou, sem demora, ao castelo do barão, ainda meu saudoso amigo, o coronel de Rochas, na Escola Politéc-
trazendo q jornal em suas mãos. Anunciado, encontrou Mes- nica de Paris, pelo doutor Barety, em Nice, e por outros in-
mer cercado por diversos cavalheiros. Perguntou então se era vestigadores.A ação da vontade à distância não é duvidosa,
verdade o que afirmava a gazeta, e Mesmer confirmou. Então, como o sabem os que estudaram o assunto. (FLAMMARION,
muito nervoso, Seifert exigiu, ou pouco menos que isso, uma 1920, p. 137)
prova experimental do fenômeno. Com a experiência empreendida por Mesmer, deixam de
Atendendo à insistência do visitante, Mesmer conser- ser desconhecidas certas características do sonambulismo
vou-se de pé, a três passos da parede, enquanto Seifert se co- provocado. As circunstâncias do fenômeno remetem a uma
locou à entrada da porta entreaberta, a fim de poder observar atuação à distância por meios não materiais: ausência de con-
o magnetizador e o magnetizado ao mesmo tempo.
tato inclusive visual entre o paciente e Mesmer, distância en-
Anton Mesmer, com naturalidade, fez diversos movimen- tre eles, situação inesperada, movimentos aleatórios e desco-
tos retilíneos dum lado para o outro, com o dedo indicador da nhecidos do paciente, variação e repetição dos fenômenos,
mão esquerda, na direção presumida do enfermo, que come- todos com resultados positivos. A experiência, se repetida em
çou logo a queixar-se, apalpando as costas e parecendo sofrer condições controladas e registradas, e apuradas estatistica-
um incômodo. mente, comprovariam cientificamente a atuação à distância,
Seifert então lhe perguntou: por meios não materiais, da influência do magnetizador sobre
— Que sente? o magnetizado.
— Não estou me sentindo bem.
Seifert, insatisfeito com a resposta, pediu uma descrição .
mais clara de seus males. A ferramenta para examinar a alma
— Parece-me — disse o paciente — que tudo oscila em mim, O discípulo de Mesmer, J. L. Picher Grandchamp, reve-
de um lado a outro. lou que:
Para evitar novas perguntas, afastando a possibilidade de
N [...] o doutor Mesmer, por uma destas comparações felizes
influenciar o doente, Seifert o orienta para que declare qual- que lhe eram abundantes, dizia a seus discípulos, sobre o sono
quer mudança em seu corpo, sem esperar um comando. Alguns
minutos depois, Mesmer fez movimentos ovais com o dedo.
— Agora estou sentindo que tudo dá voltas em mim, como 25 Esta experiência foi relatada pelo doutor J. Kermer em Franz Anton
num círculo — disse o doente. Mesmer. Frankfurt: 1856. Também por Julian Ochorowicz. Sugestão
mental. São Paulo: Ibrasa, 1982, pp. 160-61; e Camille Flammarion. A
Mesmer cessa os movimentos, e o paciente declara no morte e seus mistérios: Volume I — Antes da morie. Rio de janeiro: FEB,
mesmo instante que as sensações haviam terminado e nada pp. 105-106.
120
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO

MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS


TEXTOS ESCONDIDOS 121
magnético, que nesse
estado de um sonamb
indivíduo no qual ulismo perfeito o
ele está desenvolvido
médico bem instruído tornar-se-ia, para o [...] quaisquer um desses fatos são conhecidos
sobre o magnetismo de todos os
animal, um teles. tempos sob diversas denominações, é particularmente
aquela sob
de sonambulismo. Algumas outras foram
completa-
mente negligenciadas. Outras foram cuidadosamente
ocul-
tadas. É certo que esses fenômenos, tão antigos como
Allan Kardec e os fermidades dos homens, sempre espantaram
as en-
espíritos da codifica e muitas vezes
ção contordariam alucinaram o espírito humano. (MESMER, 1799)

À crença no sobrenatural servia como instrumento


de do-
minação dos povos, mantendo-os submissos à vont
ade de uma
elite: “Servirão muitas vezes para provocar
grandes revolu-
ções; a charlatanice política e religiosa dos difer
entes povos, €
a adqui
rir seus recursos e seus meios”.
Explicando a origem natural dos fatos, Mesmer
concluiu que:
[...] são muitas vezes os resultados de obser
vações de cer-
tos fenômenos da natureza que, por falta
de luz ou por
boa-fé, foram sucessivamente desfigurados,
ocultados ou
misteriosamente escondidos. Posso provar
hoje que tudo o
que tem sido considerado verdadeiro nos fatos
analisados
deve ser relacionado com a mesma causa e que
não devem
ser levados em conta senão como sendo modificaçõ
es do es-
tado chamado sonambulismo.

Sobre o assunto, comentou J, L. Picher Gran


dchamp:
a Depois que meus
métodos de tratar Estas explicações do senhor doutor Mesmer são
pocnças foram Postos e de observar as tão jus-
em prática em difere tas, tão abalizadas pela experiência, que vi homen
Tança, várias pessoas, ntes partes da s distintos
Seja por um zelo imp oferecerem gordas somas para lhes ceder duas
rudente, Seja por ou três vezes
um indivíduo em sono magnético para procurar
descobrir,
por seus meios, o endereço onde havia sido
depositado um
roubo de quinhentos mil francos, produtos
de uma receita
geral. Nossa recusa obstinada tinha sua orige
m e sua justifi-
cação no abuso que poderia ser feito do sonam
bulismo.

Sonambulismo € ét E então, considerando a cautela de Mesmer quant


ica o à divul-
gação de sua doutrina, concluiu seu discípulo Gran
Segundo Mesmer, dchamp:
sente na história da hu O sonambulismo esteve sempre pre-
manidade. O que se [...] é um grande mal, dir-se-á, talvez, a facilidade
de po-
Sua Causa e a sua
natureza:
desconhecia era a der abusar desse estado. Ter-se-á razão; mas qual
é a profis-
são que não se possa servir neste sentido? A medic
ina deve
ser classificada na primeira linha nesta filiaçã
o do abuso,
Abusa-se de tudo, da própria verdade. E ejamo
s por que o
122 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - À CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 123

senhor doutor Mesmer exigia de seus discípulos uma grande


um só moment o. Enfim, acompanho todos
moralidade, e que sua doutrina não devia ser senão confiada os eventos, en-
quanto o senhor Mesmer,
a um pequeno número escolhido até que a administração pú- na mira de todas as vontades
um público que ele deve respeita de
blica, suficientemente esclarecida, tenha estabelecido as leis r, não tem nem um dia par
ser dono de si mesmo, Poss
relativas, igualmente úteis à humanidade e repressivas. o afirmar, sem ofendê-lo
Séria impossível operar uma ue lhe
cura semelhante àquelade
Porque, desde a primeira crise Jol
Foi somente em suas últimas Memórias que Anton Mesmer , que lhe foi ocasionada obri
gado talvez a abandoná-lo .
para correr à outra extremida
achou necessário produzir seus “pensamentos sobre a natureza Paris ou para fazer uma cons
ulta, ele teria abandonado
de de
de um fenômeno tão próprio para nos alucinar, e que, em qual- os frutos de seus sacrifícios, todos
perdendo o momento de
quer dia sob nossos olhos, foi constantemente desconhecido”. do doente uma indica ão s obter
d
(PUYsÉGUR, 1784) são segura da causa dos seus males,
Suas conclusões — reunindo assuntos diversos como a teoria da
presciência, visão à distância, fluido universal, transmissão do = À explicaçã
1çã o de Puy
sé gur é, ao mesmo tempo,
pensamento, lucidez sonambúlica — foram então uma antecipa- crição do cotidiano atribulad uma des-
ção e mesmo um desenvolvimento da apreciação dos fenômenos o e da vida requisitada de Mes
mer, no auge de sua fama em -
pela doutrina espírita, na codificação de Allan Kardec, mais de Paris26
cinguenta anos depois. E também, vale lembrar, antecipou as ba-
ses teóricas e experimentais da futura parapsicologia.
animal ter sido concluída
em 1784, ele respeitou as adv
cias de Mesmer, pedindo sigilo ao destinatário ertên-
A lucidez sonambálica de seu trabalho:
O marquês Chastenet de Puységur foi o primeiro experi- Tenho a honra de lhe enviar
todos os detalhes e os resulta-
mentador dos fenômenos do sonambulismo provocado como dos das experiências que
tive a satisfação de operar
instrumento para o diagnóstico das enfermidades, prescrição nha casa por meio do magnet em mi-
ismo animal do qual devemos
do tratamento e previsão da cura, por meio dos extraordinários conhecimento ao senhor Mes q
mer
ainda de publicar os fatos dos . Creio que não é a época
efeitos da lucidez sonambúlica. Aí está toda a originalidade e veria o interesse de neles crer
quais fui testemunha; não ha-
precedência de seu trabalho. O propósito de sua pesquisa era em, malgrado a quantidade
de
especificamente a cura dos seus semelhantes, e o seu tratamen-
to pelo magnetismo animal era o que aprendeu com Mesmer.
Chastenet de Puységur passou a obter crises mais suaves
em seus tratamentos, Ele explicou essa diferença:
E então prossegue, afirmando
Como pode, dirão, que um discípulo do senhor Mesmer que:
cite tantos fatos extraordinários, seguidos de resultados tão [-d pelo menos cinquenta
felizes, enquanto o próprio Mesmer nada publicou de pareci- magnetiza dores chegaram a
Ponto de poder repetir
com Sucesso as experiênc
do. Minha resposta é muito simples: eu tenho meu tempo ias que cita-
absolutamente livre em minha casa, Eu, pois, quanto é ne- "100000
cessário, posso seguir todos os períodos de uma cura. Segun- 26 Não caberia aqui um desenv
olvime
do as indicações que me são dadas pelos próprios doentes, mental para a ciência do magnet nto mais completo desta figura funda.
posso fazê-los se deitarem ao meu alcance, e não deixá-los ismo animal que foi o marquês
gur. Estamos Preparando,
entretanto, uma de Pu é
-—

cipais obras de Puységur e tradução comentada das din.


de outros pesquisadores do
= msm

sonambulismo.
124
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS
TEXTOS ESCONDIDOS 125

sonâmbulo passou a ser chamado de crisíaco


e o estado de so-
nambulismo provocado, de sono crítico.

de. Posso Me engaja


r a convencer meus Os sonâmbulos e os seres invisíveis
Missão não se estend amigos, mas minha
e até o público. Os magnetizadores comprovaram muito cedo
, as relações
Puység
ur reforça seu pedido dos sonâmbulos com seres invisíveis, Deleuze,
: “A confiança que discípulo de
senh| or, não me deixa tenho no Mesmer, em sua correspondência mantida com
dúvi
vidada sobre o uso dii o doutor G.P.
fará do meu envio.” screto Billot por mais de quatro anos, de março de
1829 até agosto
à Enységur não teve ne “9 que o senhor de 1833, inicialmente foi relutante, mas por fim
nhuma intenção de tir afirmou: “O
escoberta de Mesmer ar o mérito da magnetismo demonstra a espiritualidade da alma
. Inferimos isto de e à sua imor-
suas palavras: talidade; ele prova a possibilidade da comunica
ção das inteli-
"
gências separadas da matéria com as que lhes estão
ainda liga-
das.” (BILLOT, 1839)
Por sua vez, Deleuze afirmou: “Não vejo razão para
negar a
possibilidade da aparição de pessoas que, tendo
deixado esta
vida, ocupam-se daqueles que aqui amaram e a eles se
venham
manifestar, para lhes transmitir salutares conse
lhos. Acabo de ter
disto um exemplo.” (1 bidem) Foi com estas palavras que
Deleu-
ze introduziu a narração do caso de uma sonâmbula cujo
falecido
pai se manifestou por duas vezes a fim de aconselhá-la
sobre a es-
colha do futuro marido da jovem. Em sua História crític
a, ele já
havia escrito: "Todos os sonâmbulos, deixados livres
no transe,
dizem-se esclarecidos e assistidos por um ser que lhes
é desco-
nhecido.” (DELEUZE, 18 13) Por sua vez, Billot decla
rava receber
instruções dos espíritos superiores, por intermédio
dos magneti-
zados em transe sonambéúlico, em suas pesquisas.
O tema da comunicação com os espíritos passou
a fazer
parte das discussões dos magnetizadores e das págin
as de seus
periódicos. Um estudo das obras de Chardel, Char
pignon, Ri-
card, Teste e Aubin Gauthier revela diversas descr
ições de fe-
nômenos experimentais que revelam a comunica
ção entre vi-
vos e desencarnados.
Anos depois, o magnetizador Louis Alphonse Cahagnet
(1809-1885), com coragem e determinação, converso
u com
Os espíritos por meio de seus sonâmbulos em êxtase, prínc
i-
126 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA, NEGADA E
OS TEXTOS ESCONDIDOS
127

palmente Adele Maginot, registrando em sua obra mais de . Louis Alphose Cabagnet morreu aos sete
cento e cinquenta atas assinadas por testemunhas que reco- nta e seis anos de
idade, no dia 10 de abril de 1885, em
nheceram a identidade dos espíritos comunicantes. Cahagnet Argenteuil, França. A
Revista Espírita, fundada por Kardec,
antecipou em mais de dez anos esse instrumento de pesquisa em sua edição de maio
de 1885, publicou um transcrição do artig
da ciência espírita. Para Gabriel Delanne, “Era um lutador so- o necrológico:
berbo esse trabalhador, que teve a glória de se fazer o que foi: Cahagnet é um exemplo raro do que
pode uma firme von-
um dos pioneiros da verdade.” (DELLANE, 1899) tade aliada a uma vasta inteligência.
Ele se tornara, à força de
trabalho e perseverança, um erudito,
Em janeiro de 1848, Cahagnet publicou o primeiro dos co, e adquirira, no mund
um profundo metafísi-
o que se ocupa do magnetismo ani-
três volumes de sua obra Arcanes de la vie future dévoilés2? mal e do espiritismo, distinguido lugar
como publicista. Suas
com mais de mil páginas, na qual apresentou... diversas obras - e o núme
ro é grande —, traduzidas para o in-
glês e o alemão, valeram-lhe numeroso
s testemunhos de es-
[...] para a humanidade desorientada uma nova pátria, tima e simpatia. Nada mais curioso e mais interessan
te a esse
cheia devida, de atividade, onde moram os nossos mortos. Tespeito que a sua volumosa correspo
ndência com sumida-
Esta obra vos oferecerá a prova de um mundo melhor que o des científica
s e literárias de todos os países.
nosso, onde vivereis após deixardes aqui o vosso corpo e onde
um Deus infinitamente bom vos recompensará em cêntuplo . N o entanto, alguns magnetizador
es preferiram manter si-
as aflições que vos eram proveitosas nesta terra de dor. lêncio sobre a comunicação com espí
ritos. O barão du Potet
numa carta de sua correspondência
No final do mesmo ano, Cahagnet fundou a Sociedade dos particular com Alphonse
Cahagnet, publicada nos Arcanes, afir
Magnetizadores Espiritualistas e um jornal, Le magnétiseur spi- mou: “Tratais, com uma
antecipação de vinte anos, destas ques
ritualiste, por sugestão do espírito Emmanuel Swedenborg tões, a humanidade não
está preparada para compreendê-las.”
(1688-1772), sábio, cientista, filósofo e médium sueco do sé- E Cahagnet replicou:
culo 18 que também era mentor do norte-americano Andrew Ah! Respondemos então, por que o vemos banhar com
Jackson Davis. Futuramente, esta sociedade aproximou-se do suas lágrimas as cinzas daqueles que julga
haver perdido para
. sempre? Em
espiritismo, sendo uma importante contribuição para a união que momento da existência podemos
chegar
mais a propósito para dizer a esse home
das duas ciências, magnetismo e espiritismo, e de seus pesqui- aquele que presumes separado de ti,
m: consola-te, irmão
sadores. Cahagnet e Jackson Davis foram os primeiros a reco- para sempre, acha-se so
teu lado, a te asseverar, por meu inter
médio, que ele vive
lher material para formar a base do espiritismo moderno, soli- que é mais feliz do que na Terra e que te aguarda nas
esferas
damente estabelecido pelas obras de Allan Kardec. próximas para continuar o convívio
contigo.
Posteriormente, du Potet se rendeu
às evidências e pas-
27 CAHAGNET, Louis Alphose. Arcanes de la vie future dévoilês. Paris: Li- sou a pesquisar os fenômenos espíritas,
publicando suas con-
brairie Vigot, 1848, três volumes In-12, 323-396-391 páginas. Ele es- clusões em suas
obras e cursos. Em 1863, dedicou-se ao
creveu também: Guide du magnétiseur ou procédés magnétiques d'aprês ritualismo, explicando seus princípios espi-
Mesmer, Puységur et Deleuze. (1849), e muitas outras obras. Às duas e fenômenos na terceira
parte de seu Thérapeutique magnétique: rêgles de
obras nominadas foram inseridas no Index Livrorum Prohibitorum, da
du magnétisme à Vexpérimentation "application
Igreja Católica, em 1851: “Julgou sem nos ouvir e condenou sem outro bure et au traitement des
motivo que o de prazerosamente arremessar três de nossas obras, num maladies, spiritualisme, son principe
et ses Lhénomênes (Paris:
só dia, no fogo”, declarou Cahagnet. As obras de Allan Kardec também Dentu, Truchy, G. Bailliêre, 1863).
seriam proibidas pela Igreja, em 1864, e inseridas no Index. |
128
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS
TEXTOS ESCONDIDOS 129
Kardec magnetizador
Hippolyte Léon Deniza À Sociedade de Magnetismo de Paris, citada por
rd Rivail, que adotaria Blackwell,
o pseudôni- era dirigida pelo barão du Potet, que teria
sido, segundo ela, o
orientador de Kardec em seu estudo do magn
etismo animal.
O doutor du Potet, Jules Denis du Potet
de Senevoy
(179 6-1881), nasceu em La Chapelle, perto de Senn
faleceu em Paris. Excelente médico, com
evoy , e
grande habilidade
para o diagnóstico, dedicou-se ao magnetis
mo animal e, como
um verdadeiro apóstolo, ensinou essa ciência
que para ele era
“a medicina da natureza” (DURVILLE, 1903). Em
sua forma-
qsrante o discurso pr ção,
foi influenciado tanto por Deleuze quanto
onunciado sobre o tú pelo marquês
eec, que que seu desencarne mulo de Allan Kar-
+
de Puységur.
Veioi surpreendê-l
Ê o no momento em Du Potet foi editor do Journal du Magnétisme
que, em sua atividade e publicou
infatigável, trabalhava por mais de vinte anos os Annaes do Magnetis
numa obra sobre mo, estabeleceu
cursos regulares de magnetismo; foi dirigente
E Kardec, conhecen da Sociedade
do profundamente Mesmeriana, presídia o Júri Magnético de Paris
alirmou, na Revista as duas ciências e foi presidente
Espírita, que honorário da nova Sociedade de Magnetismo de
: Paris (desde
1860). Além disso, escreveu importantes obras
- [..] dos fenômeno como Traité
s magnéticos, do so complet de magnétisme animal, Manuel de Vétudiant
“xtase às manifestaçõe nambulismo e do magnéti-
s
Conexão é tal que, por espíritas há apenas um passo. Sua seur, Le magnétisme animal opposé à la medicine,
assim dizer, é impossíve e outros.
sem falar de outro. l falar de um Se a ciência do magnetismo animal não estiv
Setivermos de ficar for esse bastante
magnetismo animal, a da ciência do difundida na sociedade européia e suas obras
resse de fato parado
nosso quadro ficará
incompleto e pode- amplamente dis-
s à um professor de fís poníveis, Allan Kardec teria a necessidade de divul
ica que se absti. gar e
escla-
recer todos os fundamentos daquela doutrina
para tornar a co-

28 Em seu Catálogo racional, Kardec recomendou


a leitura das seguintes
obras sobre o magnetismo: “Anais do magne
tismo animal”, Revista
Magnética; Aubin Gautier. Tratado de sonam
bulismo; doutor Bertrand;
Correspondência com Deleuze, doutor Billot;
Esboço da natureza huma-
De acordo com a de na explicada pelo magnetismo animal, Chardel;
scriçãção da amigÀ a e tr Fisiologia, medicina e
de Kardec para o ing aduto d metafísica do magnetismo animal, doutor Charp
lês, Anna Blackwell: cas sobre o magnetismo animal, Deleuze; Trata
ignon; Instrução práti-
é das obras do de magnetismo em
Kardec foi membro de doze lições, barão du Potet; À arte de magnetizar,
diversas sociedades de Fontaine; Curso de
Ele tomou parte ati pesquisas magnetismo em doze lições, Millet; Memórias para servir à
va nos trabalhos da Sociedade estabelecimento do magnetismo animal, Puység história e ao
tismo de Paris, dedica de Magne- ur; Cartas ódico-mag-
ndo muito de seu te néticas, Reichenbach; Manual prático do magne
ção prática do sona mpo na investig a- tismo animal, Teste;
mbulismo, transe, cla Memórias e aforismos, Mesmer. Esta obra de
variedade de fenôme rividência e ua Mesmer, recomendada
nos relacionados ao por Kardec, é uma coletânea de três livros
mesmerismo. que se encontram integral-
mente publicados na terceira parte desta obra.
130 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA
NEGADA E OS TEXTOS
ESCONDIDOS
131

dificação espírita compreensível. No entanto, isso não foi ams de paio dia do aniversário de Mes
necessário, pois o magnetismo já possuia órgãos especiais jus- ais S dois mer,
realiza-
banquetes anuais que reu
tamente acreditados. niam os magnetizado
e Paris e adeptos estrangeiros
Todavia, o tempo passou e hoje esse grande volume de in- . A Sociedade do Mesmeris
mo, do doutor
Magnética marquêsLéger
do doutor du PI
formações e recursos científicos e filosóficos não está mais anty, e a Sociedade Filantrópica
disponível para pesquisa. Destacamos, assim, a necessidade e tenr
Karadec c fo! foiconvidi ado para
atual de os espíritas empreenderem a tradução e o estudo das os doisi eventos concomita
escolher um deles para com ntes
obras fundamentais do magnetismo anirnal para uma compre- parecer.
ensão, com maior clareza, da própria doutrina dos espíritos. de Sscobre temos Perguntado
Por que motivo esta solenida-
Conhecendo as dificuldades enfrentadas pelo magnetis- tiv cele
mo, Allan Kardec fez uma justa homenagem aos... Eae uma cisão entre homenspor dois banquetes rivai vais [...
pum uia de cão culto da que se dedicam ao bem %
rr Estão divididos quanto a
[...] homens de convicção que, enfrentando o ridículo, o a Ciência? [...] Absolutamente.
sarcasmo e os dissabores, dedicaram-se corajosamente à de- ms grenças € O mesino mestre: « Tê Têm as mes-
Mesmer. Se este mestre
fesa de uma causa tão humanitária. Seja qual for a opinião a evocam, atende a esse
deverot pelo, como o c
apel :
dos contemporâneos sobre o seu proveito pessoal, opinião ao ver a desunião entre os discípulos.
que é sempre mais ou menos o reflexo das paixões vivazes, a o, & rdec propôs: Gostaríamos [ TE em
pnido s por um mesmo sentimento de ver os homens de bem
posteridade far-lhes-á justiça. Ela colocará os nomes do ba- de confraternização
rão du Potet, diretor do Journal du Magnétisme, do senhor com Ju a Ciência magnética lucraria
sideração, (Revista Espírita, em progresso e em
Millet, diretor da Union Magnétique,*º ao lado de seus ilus- 1858, p. 182)
tres pioneiros, o marques de Puységur e o sábio Deleuze.
Graças ao seus esforços perseverantes, o magnetismo, popu-
larizado, fincou pé na ciência oficial, na qual já se fala dele
aos cochichos. Este vocábulo passou à linguagem comum: já
não afugenta e, quando alguém se diz magnetizador, já não
lhe riem no rosto. (Revista Espírita, 1858, p. 96)

Depois de homenagear os desbravadores que lutaram - Sociedade do Magnet gneitismo de Parisj (MONTE
Presidentes honorários for GG
contra a ignorância, permitindo uma recepção mais ponderada am os médios marquês du
: varão a Potet; O president Pl
da nascente ciência espírita, Kardec concluiu o seu artigo oti- e, doutor E. Léger; o gerent e
mista pelo futuro de sua doutrina: al, doutor Miller. Entre os e do
trabalhos semanais da Soc
o havia uma sessão experime : n ma ns ied a-
[...] tudo prova, no rápido desenvolvimento do espiritis- “tes, curso de fisiologi : tal, magnetização dos doen-
mo, que em breve este terá foros de cidade. E, enquanto es- ogla e magnetismo, e discussões,
pera, aplaude com toda a sua força a posição que acaba de
conquistar o magnetismo animal, como um sinal inconteste
do progresso das idéias. (Revista Espírita, 1858, p. 96)

31 O dia exat: O do
nascimento
30 A União Magnética, cujo diretor era o senhor Millet, foi um órgão de di- grafado equi V ocadament
de Mes mer é 23 de maio, , e não 26 4 como foi
e
vulgação da Sociedade Filantrópica Magnética de Paris. (MONTEGGIA, no artigo

-- Spírise).
Espírita de junho de e 18
Banquetes ma gn é ticos 4 da
1861).
R evisia
1858 (o engano é do texto original francês da Revue
VINI

MAGNETISMO E ESPIRITISMO

Às ciências solidárias
Allan Kardec definiu o magnetismo e o espiritismo como
ciências irmãs no primeiro número de sua Revista Espírita:

O espiritismo liga-se ao magnetismo por laços íntimos,


como ciências solidárias [...] Os espíritos sempre preconiza-
tam o magnetismo, quer como meio de cura, quer como cau-
sa primeira de uma porção de coisas; defendem a sua causa e
vêm prestar-lhe apoio contra os seus inimigos. Os fenôme-
nos espíritas têm aberto os olhos de muita gente, ao mesmo
passo aliando essas pessoas 20 magnetismo. [-..] Tudo prova,
no rápido desenvolvimento do espiritismo, que em breve
terá foros de cidade. E, enquanto espera, aplaude com toda a
sua força a posição que acaba de conquistar o magneti
smo,
como um sinal inconteste do progresso das idéias. (Revista
Espírita, 1858, p. 287)

O codificador do espiritismo manteve este pensamento


sobre a ligação íntima das duas ciências até o final de sua vida.
No último ano da Revista, em 1869, ele assegurou:
O magnetismo e o espiritismo são, com efeito, duas ciên-
É cias gêmeas, que se completam e explicam uma pela outra, e
É das duas, a que não quer imobilizar-se não pode chegar ao

133
134 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
Q MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 135
seu complemento sem se apoiar na sua congênere; isoladas cosprecido Pa opinião púb
uma da outra, detêm-se num impasse; são reciprocamente lica. Na época do nasciment
como a física e a química, a anatomia e a fisiologia. A maioria tando tum mo, ug
a ciênci
nciaa do magnetism O anii mal o do
dos magnetistas compreende de tal medo por intuição a rela- estava conquis-
estaque. Segundo Charles
ção íntima que deve existir entre as duas coisas que geral- Seu: s cursos ministrados Lafontai
mente se prevalecem de seus conhecimentos em magnetis- em G enebra, em 1854,4,
quentados Por pastores, “er
“ am fo
o mo, como meio de introdução junto aos espíritas. [...] todos » minmini
istros, médicos, engenh
qutctos, artistas, estudante em eir
e e
os espíritas, sem exceção, admitem o magnetismo. Em todas s de teologia etc. Gente
! as circunstâncias, fizeram-se seus defensores e baluartes. - (MONTEGGIA, 1861, p. 186 tod a o
(Revista Esptrita, 1869, p. 11)
) e
À nova posição da ciência
do magnetismo animal foi
crita pelo barão du Potet ny i : do em des
Destaca-se do comentário de Kardec um alerta: o risco de zembro de 1861, em anpoa artigo publica 10 de de-
se perder a compreensão exata do espiritismo sem o apoio da
ciência do magnetismo animal e vice-versa. de Ê magnetismo teve aind
a Contra si o ignóbil charla
A terapia do magnetismo animal estava reabilitada na de mens sem consistência, que tanismo
verdade a fim de tirarem
arrastaram na lama a augus
época de Allan Kardec. Em 1858, Allan Kardec, na edição de dela um pouco de ouro. Tev
e
a & 9 Confessional, todo c.on-
outubro de sua Revista Espírita, relatou uma notícia do Jour- ass
partido sacerdotal, tudo o
opiniões antes das verdades [...] que faz
nal des Débats, de Estolcomo: o rei Oscar, seguindo o conse- po Em, CA OrSOs empreg «-] prodigig iosos foram
ados para combater tant
lho de seus médicos, fez uso dos serviços de um mapgnetizador, strui «1 or toda a parte estabeleceu- os elemen-
mos-lhe novos ;defensores se a |
o senhor Klugenstiern, para curar-se. Comentando o fato, ; €c NÃO somos os únicnÍcOosS àa pop egar
pena. Outras tribunas que
Kardec perguntava se há vinte e cinco anos os médicos teriam não a nossa se levantaram:
A Unido
ousado prescrever publicamente tal meio. “Como mudaram
as coisas neste curto período!”, exclamou Kardec.
Antes disso, porém, Kardec comenta que “todas as facul-
dades e todos os jornais não contavam com sarcasmos sufici-
entes para denegrir o magnetismo e seus partidários”. qua parte a tornar a opinneião
de mais, em mais tavorável,
Décadas depois, chegavam tempos novos e, segundo Kardec: ado m agnetismo está gan e a cau-
h a, Seu incomparável arro
da, + T um Porvir próxim jo anun-
o, o seu completo triunfo,
[...] não só não riem do magnetismo, mas ei-lo oficial- dev pesa tar o progresso donde
da humanidade. O magnet
mente reconhecido como agente terapéutico [...] Que lição ma oa Par com as ciências físi ism o
dia, pois nele encontram-se cas, deve excedê-las um
para os que se riem das idéias novas! Apressamo-nos em de-. reunidas todas as forças da
clarar que não são os médicos suecos os únicos a retornarem: ea. ! e deve , Pois, servir à filosofia, alar natu
, gar o dom
ínio da me-
a essa idéia estreita: por toda parte, na França como no es siologia e dar ao pobre e ao
rico os meios de escla-
trangeiro, a opinião mudou completamente, a tal respeito
(Revista Espírita, 1869, p. 11)

As calúnias e difamações propagadas pelos detratores do


magnetismo animal no final do século anterior, por meio deã
peças teatrais, artigos nos jornais, declarações acadêmicas é Potet, » DO
no MESMO artiggo,
o, jáj haviai mencionado
aiis pub
CnlicadoadOSs por
por Puy outras obras como os
diversas obras, encontravam finalmente um julgamento mai Puységgur,
ur aa RevistRevi a de Magnetism
] o Animal, por
13 6
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
137

por descobertas. partir da publicação de O livro dos espír


(MONTEGGIA, 18
61, p. 56) itos, em 1857. Segun-
O Kardec, a divulgação dos pressupostos
básicos do magnetis-
ciência, Camille Elammaniopíni mo animal, confirmados pelo espiriti
o, ão do astrrôn
á omo e div
j ulgador da para uma aceitação rápida dos conc
smo preparou o terreno
eitos da ciência espírita.

Uma reação materialista


Mas a reabilitação da ciência do magn
etismo anitnal não
iria durar até os dias atuais. Ao mesmo
tempo em que o espiri-
tismo surgia nã França, prometen
do novos temp os para a hu-
manidade, uma articulada reação material
ista assolava as ciên-
cias, partindo principalmente da Alemanha
, retomando forças
e criando uma vala intransponível entr
e o “espírito! e a obser-
vação positiva dos fatos.
Jovens alunos do renomado fisiologis
ta alemão Johannes
Miiler (1801-1858), o mais destacad
o vitalista de seu país,
divergindo dos ensinamentos do mestre,
assinaram conjunta-
mente um artigo, em 1855, quando deci
diram explicar todos
os fenômenos naturais, inclusive a cons
ciência humana, como
sendo físico-químicos. Entretanto,
com essa atitude, Her-
mann von Helmholtz, Ernst Bricke, Carl
Ludwig, e Emil Du-
bois-Reymond , estavam desrespeitando perigosa
princípios epistemológicos. A parti mente os
r deste pacto, o ceticismo
se alastraria e o materialismo seria imposto
como dogma nos
meios acadêmicos.
Camille Flammarion (1842-1925), cient
ista, astrônomo
e filósofo, alertou, em 186 7, O caráter
anticientífico das nega-
tivas materialistas de sua época:

Um erro capital [...] é imaginarem-se


com direito de afir-
mar sem provas, a embalarem-se com a
doce ilusão de serem
peardec conclui os outros obrigados a acreditar sob palavr
com uma Esperanç a. Coisas que a ver-
em a: “O mesmo se dadeira ciência profundamente silencia, afirm
breve com a lucide dará ricos. Afirmam, como se houvessem assist
am-nas, categó-
z intuitiva.” ido aos conselhos
da Criaç
ão, ou como se fossem os próprios autor
es delas [..]
Os campeões da ciência, que pretendem
representá-la e falar
com e por ela, não se dignam de seguir
o método científico,
que é o de nada afirm
ar sem provas [...] Newton não se cansa-
va de repetir: parece-nos, e Kepler dizia:
submeto-vos estas
138 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA Eos TEXTOS ESCOND
IDOS 139

hipóteses... Aqueles outros [os materialistas alemães), po- tialistas fizeram escola, Sucederam
suas cátedras: Georg Hegel
rém, dizem: afirmo, nego, isto é, aquilo não é, a ciência julgou,
(1770-1831), Auguste
(1818-1883), Friedrich Com te (1798-1857), Kal Mis
decidiu, condenou, posto que no que dizem não beja sombra
de argumento científico. (FLAMMARION, 1867, p. 38)
Freud (1 856-19
Nie tzs che (1844-1900), Sigmund
39), Martin Heidegger (1889-1976), Jean-Paul
Em sua natureza essencial, a ciência não afirma nem nega, Sartre (1 905-1980). Suas doutrinas
apenas procura. = terialismo sem o apoio das conclu tam bém optaram pelo ma-
sões racionais da ciência pura.
ca Luiz Blclaer um dos primeiros materialistas da ciência, À doutora em pedagogia e escr
em seu Força e matéria (1855), deixa evidente sua pastura in itora Dora Incontri, anali-
materialistas, destaca a atitude
gênua e preconceituosa quando analisa o fenômeno (O sonia científica: anti-
bulismo provocado, ou sono mesmérico: O sonambulismo
um fenômeno a propósito do qual temos infelizmente poucas Outra característica própria
de muitos pensadores deste
observações precisas e positivas, o que é muito amentáve”, visto século [..Jéo dogmatismo,
que indica as doutrinas de cada
qual como a verdade final que o
o interesse científico desta questão.” Vemos que o pensa à atingir. As próprias personal
progresso histórico poderia
mão começa bem o tema e coloca a experimentação cent ca idades em questão têm gran
tendência ao autoritarismo: de
Hegel foi o filósofo oficial do
como a base fundamental para estudá-lo. Mas em segui a com Estado Prussiano, pregando
um absolutismo estatal ; Comte
clui precipitadamente: “Todavia, e se bem que datem su dci a se estabelece como sumo-sacerdo
te da religião positivista;
tes dados, podem-se relegar para O domínio das fá Marx condena inapelavelmente
las o os queixas dos anarquistas); Freu
os opositores (vejam-se as
fatos maravilhosos e extraordinários que dos sonâm o | pulos que criam autonomia de
d considera inimigos os discí
-
pensamento, Assim, os siste-
contam.” Autoritariamente, Búckner julgou e condenou idéias mas inflados, dogmáticos, fech
ados e excludentes de outras
e fenômenos que desconhecia, que não examinou. verdades são reflexo dos homens
que os criaram, fundadores
de escolas, chefes de correntes,
Frente a isto, denuncia Flammarion: láveis. Todos eles foram críticos
profetas de verdades inape-
da religião dogmática, inqui-
sitorial do passado, mas resvalar
Mas, é assim que os senhores alemães raciocinam, bem am para o mesmo comporta-
mento: dogmatizaram a filosofia,
como os seus clarividentes imitadores, positivistas nossa alegando serem científicos,
negaram a divindade absoluta,
moderna França [...] Certo, pesa dizê-lo, mas é a essa puerili- tornando suas idéias absolu-
tas. (INCONTRI, 2004, p. 52-53)
dade, ou melhor, perversão da faculdade de raciocinar - ne
se reduz o movimento materialista dos nossos tempos. [..
“O mundo está num período de
Todo o fundamento desta grande querela, toda a base deste
tamente por hábitos obsoletos, transição, solicitado violen-
edifício heterogêneo, cujo desmoronamento pode esmagar crenças precárias do passado e
muitos cérebros sob os escombros, toda a força deste sistema verdades novas, que lhe são pro
gressivamente desvendadas.
que pretende dominar o mundo presente e futuro, todo o seu E «Mesmo que timidamente, o
valor e potência repousam nessa assertiva fantasiosa, arbitrária dogmatismo materialista
vem sendo questionado e bombar
e jamais demonstrada. (FLAMMARION, 1867, p. 41) deado por fundamentadas
Pesquisas, livros, estudos acadêmico
s e a própria opinião pú-
Como bem previu Flammarion, muitos cérebros foram es- blica, É possível que ainda nest
e século vejamos o espírito
magados pelo desmoronamento do edifício materialista. A gran- imortal ocupar, definitivamente,
o seu lugar na ciência, Quan-
ira do nada foi levantada pelos sistemas do ateísmo e do .
. . £ do 3
do isto ocorrer, estará restabelecida a união fun
Pa re a ciência, a filosofia e suas damental en-
uma descrença absoluta, Os ingênuos mate- consequências morais.
IX

MESMER RESSURGE ENTRE


OS ESPÍRITOS

Depois da publicação de suas memórias, em 1799, Mes-


mer ainda foi procurado por sábios — o doutor Karl Christian
Wolfart, da Alemanha, e o doutor Johann Ferdinand Koreff,
da França -, sendo requisitado para defender suas teses, agora
aceitas por muitos médicos e em pleno desenvolvimento nes-
ses países. Mas ele estava resoluto: “Abandono voluntaria-
mente minha teoria à crítica, declarando que não tenho nem
tempo nem vontade de responder.” Recusando o convite, pas-
sou seus últimos dias dedicando-se à arte de curar os seus se-
melhantes, no exercício da terapia do magnetismo animal. Foi
um grande gênio e um homem virtuoso. Lutador incansável
quando o combate pediu coragem, enfrentou escárnio, perse-
guição, calúnias e o desprezo sem titubear, mantendo a cabeça
erguida e abrindo mão das questões da individualidade pela
propagação da verdade que antevia.
Mesmer soube parar no momento certo. Como ele mes-
mo disse, esperando que possam...
[...] melhores gênios remontar a princípios mais sólidos,
mais luminosos. Talentos mais amplos que os meus desco-

141
|

|
|
142 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 143
brir novos fatos e tomar, por suas concepções, e seus traba-
lhos, minhas descobertas ainda mais interessantes: em uma Montaigne, por meio de um
médium em Paris, em 1865,
palavra, eu devo desejar que se faça melhor do que eu. (MES- afirmou que:
MER, 1799)
[ +] a humanidade não é má Por
Conforme previra, passou os seus últimos dias a “consagrar e, por 150 mesrno, mais
natu reza, mas é ignorante
apta a se deixar Bovernar
o que me resta de existência à única prática de um meio que re- xões. E progressiva e deve progredi por suas pai.
r para atingir seusdestinos.
conheço como eminentemente útil à conservação de meus se- Esclarecei-a, mostrai-lhe Seus
inimigos ocultos na sombra,
Desenvolv
melhantes”. Deixou este mundo a poucos quilômetros de onde ei sua essência moral, nela
inata, e apenas entorpe-
cida sob a influência dos mau
nascera, mas as pesquisas prosseguiram em muitos lugares, s instintos e reanimareis a
com lha da eterna verdade, da eter cente-
incontáveis estudiosos, pesquisadores e práticos, como Chaste- na presciência do infinito, do
belo e do bom, que reside para
sempre no coração do homem
net, Puységur, Deleuze, du Potet e Allan Kardec. mesmo o mais perverso. (Rev
ista Espírita, 1868, p. 5 1)
Entre os espíritos comandados pelo espírito de Verdade,
no advento do espiritismo, estava o próprio Mesmer!
- São novos tempos e, se quiser
cios, façamos então Por mer
mos
usufriuir dos benefí-
Por meio da mediunidade do senhor Alexandre Delanne, ecer, como recomendou
ne, concluindo: “Filhos de Montaig-
na Sociedade de Paris, em 14 de outubro de 1864, Mesmer uma dou trina nova, reuni as vossas
forças, que o sopro divinô € O
conta o que encontrou depois da morte: socorro dos bons espíritos vos
sustentem, e fareis grandes
coisas. Tereis a glória de hav
[...] o mundo dos invisíveis é como o vosso. Em vez de ser posto as bases dos Princípio er
s imperecíveis, cujos frutos
material e grosseiro, é fluídico, etéreo, da natureza do peris- descendentes recolherão,” vossos
pírito, que é o verdadeiro corpo do espírito, tirado desses
meios moleculares, como o vosso se forma de coisas mais
palpáveis, tangíveis, materiais. [E fez uma nova previsão:]
Quando compreenderdes as leis das relações entre os seres
fluídicos e os que conheceis, a lei de Deus estará próxima de
ser posta em execução. Porque cada encarnado compreen-
derá sua imortalidade e de então ele se tornará não só um ar-
dente trabalhador da grande causa, mas ainda um digno ser-
vidor de suas obras. (Revista Espírita, 165, p. 155)

Em outra comunicação, em 18 de dezembro de 1863,


Mesmer destacou a importância da vontade para curar e des--
creveu todos os gêneros de magnetismo: o magnetismo ani-
mal, o espiritual, e outro, segundo ele, muito mais poderoso

a prece que uma alma pura e desinteressada dirige a Deus.
Outros médicos desencarnados participaram das obras da
codificação do espiritismo, como Hahnemann e Demeure.
Pelos estudos elaborados no plano espiritual, os espíritos con-
firmaram as bases filosóficas das terapias vitalistas, como
o
magnetismo animal e a homeopatia.
- X

BIBLIOGRAFIA COMPLETA DE
FRANZ ANTON MESMER

Dissertatio physico-medica de Planetarum influxu


in cor-
pus humanum, 1766. (Da influência dos planetas
sobre o corpo
humano) Tese de doutorado em medicina aprovada
pela Uni-
versidade de Viena.
Schreiben iúber die Magnetkur, 1766. (Cartas sobre a
cura magnética) Carta sobre a sua tese de douto
rado, enviada
como divulgação a alguns médicos.
Lettre sur la cure magnétique à un médecin
résident à
Vétranger, 1775. Publicada como: Sendschrei
ben iiber die
Magnetkur an einen auswirtigen Arzt. Vienna.
(Carta de 5 de
janeiro de 1775, a um médico estrangeiro) Carta
endereçada
ao médico Johann Christoph Unzer, de Altona,
esclarecendo
o uso medicinal do magnetismo. Teve diversas
reimpressões.
Drittes Schreiben an die Frankfurter, 1775.
Publicada
também como Zweites schreiben an das publi
kum, apêndice
do periódico Wien Diarium, n. 6, 21jan.1775
. Tradução em
francês no Journal Encyclopédique, 1776; 4, 2:
324. (Carta ao
povo de Frankfurt) Divulgação pública do cont
eúdo científico

145
146 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
147

da Carta de 5 de janeiro de 1775, a um médico estrangeiro. Timo) Um Tesumo das cartas


Enviada a todas as academias de ciência da Europa, requisitan- de Mesmer publicadas em 176
6
do comentários.
Aphorismes de m. Mesmer.
Mémoire sur la découverte du magnétisme animal par F. Estrasburgo, 1785. Foram fei-
tas várias edições, além de tra
A. Mesmer. Genebra e Paris, 1779. Uma segunda edição foi dução para o alemão, (Afori
de Mesmer) Apesar do smos
publicada em 1781. título, esta não é uma obra de
Tradução para o alemão, Karlsruhe, Os aforismos são anotações de Mesmer
1781. (Memória sobre a descoberta do magnetismo animal) alguns alunos (entre eles, Louis
Sua primeira obra descrevendo suas descobertas. Foi traduzi- dor do magnetism
da para o inglês somente em 1848, sendo a única obra de Mes- o animal. Sua publicação
desautorizada por Mesmer. O foi severamente
mer disponível em inglês até 1980, quando George Bloch pu- título original da obra era Afo
rismos de Mesmer ditados na
blicou uma tradução das obras de Mesmer, exceto Précis assembléia dos seus discípulos,
€ nos quais se encont ram seus princípios, sua tegr
historique... e as cartas, em Mesmerism — a translation of the ia e osmeios
Original Scientific and Medical Writings by F. A. Mesmer.
Précis historique des faits relatifs au magnétisme animal
jusqu'en avril 1781. Londres e Paris, 1781. Traduzido para o Mémoires de F. À, Mesmer,
alemão, Karlsruhe, 1783. (Resumo histórico dos fatos relativos doc teur édici
découvertes. Paris, 1799, Segund
ao magnetismo animal) A mais importante descrição histórica a edição Francesa pre “1826,
Tradução alemã, Jena, 1800. (Me
da ciência do magnetismo animal. mória de F. A. Mesmer dou-
tor em medicina, sobre suas
descobertas) Obra principal de
Copie d'une lettre écrit par m. Mesmer, à m. Franklin. A Mesmer, contendo o modelo
teórico da terapia do magnetism
messierur les auteurs du Journal de Paris, ce 20 Aont 1784, Pa- animal, do sonambulismo provoc o
ado e da lucidez sonambúlica,
ris, 1784. (Carta de Mesmer a Franklin) Reprodução, no jor- o Uber den Ursprung und die Wah
nal, da carta endereçada a Benjamin Franklin desautorizando re Natur
iwie Uber die Môglichkeit
antecipadamente o doutor Deslon como intérprete de sua dou- der Gánzlichen Tan arenanader So
die Einzig Richtige Verfahrensar
trina, diante da convocação da comissão de investigação insti- t bei der Geburt. Halle e Ber-
lim, 181 2. (Sobre a origem e a
tuída naquele ano e presidida pelo estadista norte-americano. verdadeira natureza da varíola
ea maneira de exterminar o
mal pelo único método correto
Discourse de m. Mesmer sur lê magnétisme. Genebra, de o nascimento) Pequeno folhet des.
o de divulgação.
1782. (Discursos de Mesmer sobre o magnetismo) Artigo pu- — Mesmerismus oder System
blicado em Recueil des Effects Salutaires de [' Aimant dans le der Wechselwirkungen, Theo-
a und “Anwendung des Thi
Maladies. Mesmer descreve algumas características do mag- erischen Magnetismus als die
4 Bemeine Heilkunde zur Erh
netismo animal, do fluido universal e da eletricidade. altung des Menschen. Berlim
814. (Mesmerismo ou sistema
das interações, teoria e aplica-
Sammlung der Neuesten Gedruckten und Geschriebenen ção do Magnetismo animal
como a medicina geral para
Nachrichten von Magnet-curen Vorziiglich der Mesmerischen. servação da saúde do homem) a pre-
Segundo seu editor, doutor
Leipzig, 1798. (Coleção da mais recente publicação e do noti- Christian Wolfart, é uma organi Karl
ciário sobre a cura magnética, mais especificamente, o Mesme-
zação de artigos, anotações e
Pensamentos de Mesmer
sobre ciência, filosofia, edu
etc., constituindo as suas rem cacã
iniscências.
so
SEGUNDA PARTE

BREVE HISTÓRIA
DA MEDICINA
A MEDICINA OF ICIAL
NOS TEMPOS DE MESM
ER

George Washington morreu


porque chamou o
médico
Lafayette (1757-1832), o mar
adolescente, general maior do quês que se tornou, ainda
exército da revolução norte-
americana, foi emissário dos
Estado
voltou para a América, em 178 s Unidos na França. Quando
4, levou uma carta de Mesmer
para o pre sidente George Washington.
muito impressionado com O doutor Mesmer ficou
à resposta que recebeu,
do-a trinta anos depois, quando esc mencionan-
reveu suas reminiscências.
O texto da carta de Washingto
n para Mesmer dizia:
O marquês de Lafayette fez
suas considerações, por meio a honra de me apresentar
N de uma carta datada de 16 de
junho de 1784, Ele, então, pass
o ou 2 explicar os poderes do
“magnetismo animal”, cuja descoberta, se
ser tão grandemente benéfica for possível provar
como se afirma que será, real-
mente deve ser venturosa para a humani
honra aquele gênio a quem dade, e cobrirá de
se deve seu nascimento33

- 33 Esta carta, de 25 de
novembro de 1784 encontra
- Hale, E. E, Jr. (1888) Frankl -se em: Hale, E. E. &
in in Fra
nce (vol. 2). Boston. p. 309. O
dou-

151
152
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 153
fi Fpquanto eram trocadas tais
cartas, os médicos tradicion
as franceses combat iam Mesmer e suas des a- Enquanto o médico não chegava, Washington pediu que
cobertas.
Apenas Os pacientes de classes Rawlins, o capataz que costumava cuidar de escravos doentes,
superiores ou com poder aqui-
fizesse uma sangria: arregaçou a manga da camisa e Rawlins
fez um corte. Washington queixou-se de que a incisão não era
suficientemente grande. “Mais”, ordenou.
Quando o doutor Craik chegou, aplicou um vesicatório de
cantárida?* à garganta de Washington, de modo que atraísse
sangue para uma vesícula, e lhe fez nova sangria. Deram chá de
artemísia e vinagre ao paciente, para gargarejar, e ele quase se
hington estava morrendo
nas mãos de seus médicos sufocou. Craik pediu que chamassem outro médico e subme-
oficiais
teu o presidente a outra sangria.
passeio diário em Mount Vem À tarde, entre 15 e 16 horas, dois outros médicos, Gusta-
on, Era um cavaleiro obs vus Brown e Elisha Cullen Dick, chegaram. Craik e Brown
€ nem mesmo o mau tempo tinado
podia mantê-lo longe da sela diagnosticaram o problema como amigdalite aguda -— aquilo
voltar para casa, seu sobretudo , Ao
belos brancos havia neve. estava ensopado e em seus que os médicos de hoje chamam de faringite estreptocócica
Ele não tirou as roupas mol aguda. E concluíram que eram necessárias mais sangrias, vesi-
hadas
cantes e purgações com laxante.
Dick, mais jovem que os colegas, assumiu uma atitude
médio Lear, Seu mais flexível, pedindo que não fizessem nova sangria em Wa-
secretário, sugeriu que tom
édio. Washington discordou: “Não. asse um re- shington: “Ele precisa de todas as suas forças — outra sangria as
Você sabe que jamais esgotará.” Porém, Craik e Brown obtiveram a permissão do
doente para lhe fazerem a quarta sangria. Washington foi sub-
metido a um breve hiato de recobro de forças, o bastante para
que Craik lhe ministrasse calomelano% e outros purgantes.
Logo depois, o presidente pediu que a esposa ficasse ao
seu lado na cama, para logo em seguida fazer um novo pedido:
que ela trouxesse os dois testamentos dele e queimasse o anti-
go, o que Martha Washington tratou de fazer.

34 O vesicatório de cantárida é feito a partir de uma gaze embebida em


óleo misturado com o pó de moscas espanholas de cantárida secas e tri-
turadas, Extremamente cáustica, o contato com a pele provocava gran-
des bolhas. Os médicos imaginavam estarem eliminando um suposto ex-
cesso de líquido seroso do organismo, furando e drenando as bolhas
regularmente.
35 Calomelano é uma substância química, o protocloreto de mercúrio, que
tem propriedades purgativas.
154 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 155

Nas primeiras horas do dia, George Washington estava Porque ficavam totalmente à mer
convencido de que iria morrer. “Acho que estou partindo. Mi- cê de um dos maiores riscos
. à saúde daquele tempo: a pro
nha respiração não durará muito tempo”, disse a Lear, a quem fis são médica.
deu instruções para que cuidasse de todos os seus documentos Para compreendermos melhor
a situação da saúde naque-
la época, apenas duzentos ano
militares e de suas contas. Em seguida, sorriu e disse com ple- s atrás, vejamos alguns fato
Qualquer pessoa nascida nos Est s,
na resignação que a morte “é a dívida que todos nós devemos ados Unidos antes da segunda
metade do século 19 tinha men
pagar”. À Craik disse, pouco depois: “Doutor, sou duro de os de cingienta por cento de
morrer, mas não tenho medo de partir. Minha respiração não
durará muito tempo.” Ele não se queixava, embora certamen-
te estivesse sentindo dores terríveis.
“Está tudo bem”, disse, por fim, sussurrando. Estas foram
suas últimas palavras. Cinco horas depois, com a amada Mar-
tha ao seu lado, George Washington morreu.
Washington era muito resistente. Robusto, com 1,90 me-
tro de altura, era considerado um gigante para a época. Sua
compleição férrea permitiu que sobrevivesse a uma série de de uma em quatro. Na campes
tre região da Virgínia, onde
doenças que teriam matado outros homens — disenteria, gripe, Mount Vernon, Exatamente fica
onde Washington viveu era
malária, caxumba, pleurísia, pneumonia, raquitismo, varíola, fregúentes os surtos de cólera, febre amarela e m
varíola.
tuberculose e febre tifóide -, sem falar em todos os tiros que o As pessoas daquele tempo fic
sensação de dúvida, vulnerabilid ava m dominadas por uma
atingiram. É irônico o fato de ele ter morrido vítima do trata- ade, medo constante e resig-
mento do que, atualmente, é considerado apenas um simples nação — pela certez
a de que “é assim que as cois
pre foram”. E as Pessoas estavam as são e sem-
incômodo: infecção da garganta.
EIA

certas em Pensar assim, pois,


até aquele moment o, os cerca de três milhões
É fácil identificar falhas na forma pela qual o primeiro de anos de exis-
“tÊência do homem não haviam
presidente norte-americano foi tratado em suas últimas horas apresentado muita mudança
padrão de mortalidade (CAIRN no
de vida, Mas os médicos de Washington fizeram o melhor que Mudariam muito na medicina
S, 1997, p. 3). E as coisas não
puderam com base no conhecimento absurdo e empírico em ocidental no século seguinte.
que foram educados.
Às terapias empregadas no leito de morte de Washington Sangrias, sanguessugas, queima
demonstram o lado sombrio da medicina - o qual predominou duras de ácido e
Qutros rem édios
durante a maior parte da história ocidental. As últimas horas
de vida do presidente revelam a impotência dos médicos: as 1 As nojentas sanguessugas ficavam
vitrine da barbearia do senhor Mour ostas i
técnicas usadas naquela época ou não funcionavam ou eram a. Os médicos pedi
e o senhor Moura enviava. Eram colo Ed
terrivelmente prejudiciais. No que toca ao início do século 19, cadas nos doentes, na par-
te onde deveria ser tirado o sangue,
os médicos eram verdadeiros fatores de perigo. Segundo cons- Agarrava-se à pele geral-
mente do braço, pernas, nádegas,
ou costas. Chupavam O san-
ta, nessa época, os reis e as rainhas da Europa viviam menos Bue e se intumesciam. Quando farta
s do Tepasto hemofágico
que os plebeus, apesar de terem melhores casas e alimentos, soltavamn-se, Se fosse
necessário, punharn-se outras
local, para tirar mais sangue. no mesmo
As Sanguessugas já cheias eram
156 PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 157
depositadas em água e soltav
am o sangue. E estavam pronti
nhas para novas aplicações.
Uns médicos Preferiam san - “cias que provocavam artificialmente o vômito (vomitivos),
la-
- SUgAS, Outros, ventosas sarj gues-
adas. (ANDRADE, 1982,
p. 233)
-xantes, salagogos, sudoríficos e diuréticos, vesicatórios - meios
Aqueles que possam “que favorecem a supuração, cautérios, aplicações de ácidos
estar
imaginando que esta so-
data de tempos Primitivo citação bre feridas, cauterizações por meio de mocha ou ferro ardent
s enganam-se, A referênci e
Horizonte, por volta de 1900, a é de Belo que queimavam até os ossos, banhos em que a água era mistura-
O senhor Moura foiym simpát
co barbeiro conhecido na
capital mineira que criava i- “da com substâncias as mais diversas em quantidades exorbitan-
as sangues- tes e muitos outros métodos que causavam dores e sofrimentos
terríveis para os doentes. Muitas vezes os médicos mistu
ravam
entes, aplicava as Sanguessu diversas substâncias; algumas misturas levavam até sessenta di-
gas que criava ou a
médicos, atividade paralela ferentes acreditando que entre tantos ingredientes, alguns
dosbarbeiros desde a Tae de-
Segundo os registros históricos, a para os les iriam promover a cura.
um seu adepto de 1830, san gri a era, co mo disse
"não apenas nosso remédi É intrigante como os nobres e ilustres senhores se deixa-
tente e importante, como o mais po- vam submeter sem questionamentos a esses tratamentos de-
o mais usado”, Desde
das obras do médico grego o surgim
Galeno, no século 2º, a san ento bilitantes. Talvez a força do hábito impedia a observação
das
gria tor- evidências. Essa aceitação também era motivada per questões
circunstanciais: o doente era tratado em sua própria casa,
sem
condições de higiene. Normalmente, o seu estado ia piorando
e inflamações, (ROOT-BERN dia após dia. O convívio com os familiares ia ficando insupor-
STEIN, 1997, p. 75-76)
Às pes
soas eram sangradas para tável na medida em que os berros, as secreções e os odores fi-
mas, como contusões, epi os mais diversos proble-
lepsia, demência, surdez cavam mais impressionantes. Finalmente, quando a presen
léia,lumbago e até mesmo falta gota, cefa- ça
de fôlego ou dor de garganta urgente do médico era solicitada e ele aplicava a sangria, na
Galeno havia aconselhado maioria das vezes o doente perdia as forças, ficava inerte e sem
a remoção de até 750 mil
ilitros,
reação, proporcionando alívio imediato aos presentes. Os gri-
tos só iriam recomeçar muito tempo depois de o médico játer
se retirado, se o doente sobrevivesse.
Numa atitude radical, o médico francês François Brous-
sais, no início do século 19, acreditava que a sangria era
o úni-
co remédio necessário para curar toda e qualquer doença.
sangue para que o doente Sem titubear, ele prescrevia: “noventa sanguessugas... e
se recuperasse, conti-
a Em outras Ocasiões, qua nue a dieta”. Não havia discussão.
ndo, Por exemplo, o doente Segundo Samuel Hahnemman, o médico criador da ho-
iva uma inflamação, ferida apresen-
ou doença de pele num bra meopatia e contemporâneo de Mesmer, os médicos alopatas
dico aplicava uma sangria ço, o mé-
no braço oposto, imaginand
dissipar a concentra
ção da materia peccans do me o desviar e de sua época aplicavam esses métodos...
Para Tetirar as substâncias mbro enfermo
mórbidas de outras partes [...] na suposição de poderem enfraquecer e suavizar ma-
corpo, a equivocada teoria
méd
do terialmente a doença, aumentando, contudo, os sofrimentos
ica propunha o uso de sub
stân- do doente, retirando, assim, do organismo, como também de
ai
158 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

seus medicamentos, as forças e os humores vitais indispensá-


veis à cura. Ela agride o corpo com grandes e, muitas vezes,
reiteradas doses de fortes medicamentos, cujos efeitos pro-
longados, não raro terríveis, ela desconhece e que ela, ao que
parece, aplica-se em tornar desconhecidos, por meio da mis-
tura de várias dessas substâncias desconhecidas em uma fór-
wik Fleck (1896-196 1) foi um
mula medicamentosa, provocando, assim, no corpo doente, dos pri
por meio de seu emprego prolongado, novas doenças medi- constatar a relatividade do pensam meiros epistemólogos a
ento científico e afirmou
camentosas, em parte ainda mais impossíveis de ser erradica- que a atenção médica é usualment
das. (HAHNEMMAN, 1842, p. 19) e dirigida somente para fe-
nômenos que ele foi treinado
para ver”,3 O conservadorismo
dos cientistas, Principalmente
Hahnemman, médico lúcido em meio à cegueira geral, da medicina, de acordo com
Fleck, existe por que
afirmava sobre as sangrias:
Não levando em consideração que talvez jamais houvesse
sequer uma gota de sangue a mais no corpo humano vivo, a ve-
forma, pego sistema alheio de con
lha escola, contudo, considera a suposta pletora de sangue hecimento sempre parece
contraditório, não provado
como causa material e principal das hemorragias e inflamações (FLECK, 1935,p.77 )
inaplicável, irreal ou míststico
i ,
que deve afastar e suprimir com
ou sanguessugas. [...] Assim, o
aberturas na veia com ventosas e
alopata, por meio de suas san-
grias, não subtrai ao doente afetado por uma febre aguda qual-
“O surgimento da arte de curar
quer excesso de sangue, já que o excesso não poderia existir, entre os povos
mas o priva da quantidade normal de sangue indispensável à “Primi tivos
vida e ao restabelecimento da saúde e, conseguentemente, das
Todavia, um mergulho no pas
forças — uma grande perda que o poder do médico não mais é sado dos povos revela uma
capaz de reparar! (HAHNEMMAN, 1842, pp. 31-32) medicina mais humana e eficaz
em seu nascimento. No Egito
na Babilônia, na Índia, na China e entr
Às fórmulas ancestrais eram mantidas sem contestação e, Extremo
e povos ancestrais do
Oriente, os médicos possuí
am conceitos, práticas e
o que é pior: “O médico da velha escola se vangloriava, em pa- meios relativamente complexos
e eficazes na tarefa de preve-
lavras e escritos, de ser um médico racional que pesquisa a nir e restabelecer a saú de.
causa da doença para curá-la sempre radicalmente; porém, . Heródoto, o grego pai da hist
vide: ele apenas cura um sintoma isolado e sempre com prejuí- ória, contou, no relato de sua
Viagem ao Egito:
zo para o doente”. (FIAHNEMMAN, 1842, p. 48) Mesmo os mé-
todos de tratamento mais contraditórios e absurdos eram Quanto à medicina egípcia,
exis
aceitos por uma fidelidade aos livros tradicionais e à autorida- N médico cuida de uma certa doen te esta organização: cada
ça e não de várias. O
de de antigos e prestigiados médicos da velha escola. Segundo todo 9 estã está chei cheio de médicos,
i c o s , poi paí
pois há médicos para os5 olhoolhos,
outros para à cabeça, outros para s,
a lenda, diante do fracasso, eles afirmavam: “Este paciente Corpo e
os dentes, outros para o
outros também para as doenças
morreu, mas morreu curado.” obscuras,..??

Foram estes arrogantes doutores alopáticos que condena- Ce—te


ram tanto Mesmer quanto Hahnemann, ladeados pelos boti- 6 KRAMSZTYK, Z.Is Medicine an
Art or a Science? (1 895). In: LOwy
cários, ávidos pelos lucros dos medicamentos, e pelos profes- me PubskSc
The Poli lishool
h eoof Phildoosop hoy
hy of f Medi
,
Medic
ciine. Dordrecht: : Kluwer Acad
e-
160
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 161

terras entre o Nilo e o Indo, além de navegadores corajosos,


formavam elos pelos quais as drogas da China e da Índia po-
diam chegar ao Nilo, como primeiros mensageiros da medi-
nha
S O texto dizia:im, “Começ cina asiática. (THOWALD, 1962, p. 69)
a aqui « o liva ro da prod
ução dos re-
Drogas e incenso da Índia, betume para enfaixamento de
fraturas. O comércio trazia também açafrão vindo de Creta,
tintura de ópio e até o arbusto-de-chipre, de cuja casca e de
cujas folhas se fazia a hena para receitas e também para enfei-
tar as egípcias. Atualmente, as moças repetem esse hábito, ta-
endente CLIO de Ebe tuando-se nas praias.
rs, os egípcios desc
nt e de curar, Eles prat reveram sua surpre-
eciam anatomia huma ic av am Cir urgias primitivas e
na. Sabiam como tra A ciência secreta dos sacerdotes
tar fraturas
No Egito antigo, a ciência das terapias ancestrais era co-
nhecida somente por um grupo seleto. Ela estava bem guarda-
da nos templos.
Esse povo dominava duas grandes artes: levantar exube-
rantes construções arquitetônicas e manter em absoluto se-
gredo seus conhecimentos. A medicina do Egito antigo era
exercida por médicos-sacerdotes que ensinavam sua arte para
discípulos criteriosamente selecionados. Escrita cifrada e ou-
tros artifícios conservavam as tradições ocultas.
Os escolhidos eram recebidos nos templos-escola onde
trabalhavam na cultura de ervas e se dedicavam ao aprendiza-
do por décadas, Os mais corajosos conseguiam superar terrí-
veis provações físicas, como longos jejuns e testes de coragem,
que, para muitos, terminavam em morte. Finalmente, os mais
resistentes e determinados eram iniciados nos ensinamentos
secretos. Os escolhidos por esse método estavam aptos a com-
Rm cjsca do sanamomo,
na China tinha o nom preender, e se calar.
segun experiência Chinesa e de Kuei e,
ncia estimulante aro € indiana, era uma
valiosa
Os sacerdotes egípcios eram guardiães da saúde dos faraós
mática, além de benéfi e de suas cortes, além de cuidarem das medidas sanitárias e
mago e à digestão [...] ca ao estã-
Os nômades que habita
vam as imensas profiláticas para manter, de forma coletiva é impessoal, a capa-
cidade produtiva dos milhares de escravos que serviam aos
37 HerÓDOTO ). História.
. Traduc
uçã
ã o port egípcios. O sigilo de suas técnicas estava diretamente relaciona-
2.ed., Brasília: Universid ári
ade de Brasília 1988
* Mário da Gama Sur do com a manutenção do poder e da supremacia das dinastias
162 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
163

egípcias sobre os outros povos, concentrando ê força nes ma ãos


dos sacerdotes e faraós. O conhecimento era a fonte do p a
Revelam os pergaminhos e as inscrições Eravaças na Pp e os deuses e crenças populares,
incentivados pelos próprios sa-
des milenares dos templos egípcios que os jacer otes faziam cerdotes! O culto às imagens,
superstições, oferendas e curan-
uso de profundos conh ecimentos científico stromoraia, , deirismos milagrosos eram 9 úni
co alento das grandes massas,
magnetismo iritualismo. Nos sonhos e no jos para diag.
e espiritu À hum
anidade ainda não estava prepar
áli
nambúlicos iúnicos
e mediúnicos p à dig
eles encontravam meios s para do avanço científico estendend ada para fazer uso
i
nosticar doenças e determininar oss remédios
Tem mais 5 o seus benefícios para todos
distintamente. Entretanto, in-
a arrogante supremacia egíp
para cada caso. Manipulando o fluido vital, os sacerdotes obti ria implacavelmente destruída cia se-
nham curas espantosas. o no . Sobraram apenas alguns papi
TOs e monumentos, A ciência -
do espírito e a verdadeira arte
Os iniciados conheciam o Deus único, a existência do | pe- curar ficariam escondidas sob de
o manto do sobrenatural e da
rispírito,
ispíri a reencarnaçã ão e a ciência da mediuni on
. ar1 superstição por milênios,
i
uso dos efeitos i
físicos, da clarividência ee de ou os psi Porém,
o destino do homem já estava tra
quicos. Allan Kardec dialogou com oespírito Meet ao dos foram revelados progressi çado. Os segre-
i
tigo i
paxá do Egito, em 16 de março de N palestra,à Par
. Na vamente por Moisés, por Jesus
pelo espiritismo. Atualmente, e
blicada na Revista Espírita, Kardec perguntou: Os sacerdote vivemos os embates finais con-
tra a ignorâ ncia. O
senso moral e o sentimento
do antigo Egito conheciam a doutrina espírita?” “1 rasa les, - únicas armas dos defensore de justiça são as
respondeu o paxá, que havia vivido Eme ?prindipe é oi tri s da verdade. Os inimigos
- egofsmo e o orgulho, que são o
construír
a irm que os
e, em outra vida, como sacerdote.. Ele tam aba aficmou de todos os tempos. O renascime am os benefícios das elites
sacerdotes recebiami mani ifestaçõese mediúnicas, nto das leis naturais, revelan-
do as relações entre a saúde do hom
alma e o Deus único, mas mantinham tudo isso oculto, cons- em e
a harmonia universal,
encontraria o seu apogeu nas
truindo crenças falsas para dominar o povo. Segun o é Os ciências vitalistas e espiritualis
. do magnetismo animal, da hom tas
sacerdotes conheciam os mistérios, mas não casinavam pr eopatia e do espiritismo, que,
oportunamente, tornar-se-ão alia
ceitos da moral. À sua finalidade era dominar e não instruir
uir dos dos avanços científicos
da medicina moderna, na futura
Contou que Moisés foi iniciado no Egito. Entretanto, ao in construção da saúde integral,
Na Revista Espírita, o espírito
de ocultar, Moisés queria revelar. demistics François de Sales elucidou:
Os tratamentos eram encobertos por um véu demistid O espiritismo está chamado a
esclarecer o mundo, mas lhe é
mo e superstição. Quando se dirigiam ao povo, Os sace dotes necessário um certo tempo para
progredir, Ele existiu desde a
davam explicações sobrenaturais. Diziam que a causa das do- Criação, mas não foi conh
ecido senão Por poucas pessoas,
, que a massa, em geral, pouco se por-
enças era um castigo
i dos deuses. À ignorância Ocupa em meditar sobre as
questões espíritas. Hoje, com
dovo conferia poder e prestígio aos sacerdotes, que, para isso, A far-se-á uma luz nova. Deus, que
a ajuda desta pura doutrina,
i
criaram ivi do faraó.
a origem divina no v não quer deixar a criatura na
ignorância, permite aos espíritos elevados virem em noss
A manutenção dos privilégios da elite egípcia tinham como para contrabalançar o espírito das a ajuda
trevas que tende a envolver o
custo a enorme desigualdade social e a escravidão de milhares mundo; o orgulho hum ano obscurece o julgamento e faz
ter muitas faltas neste mundo; são come-
de pessoas. Elas eram amontoadas em apertados alojamento nece
e dóceis para comunicar a luz e aten ssários espíritos simples
sofriam desgastes e privações. Despojados da avançada ciência uar todos os nossos males.
Coragem! Persisti nest a obra, que é agradável a Deus
médica que servia à corte, morriam prematuramente co ela é útil para sua maior glóri , porque
a e dela resultarão grandes bens
para a salvação das almas. (Revista Espírita, 1860
, p. 129)
164 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRED
O
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E TEXT IDOS 165
OS TEXTOS ESCOND
A medicina na Grécia an
tiga
Por volta de três mil anos arte de curar. Eles atendiam em barracas próximas aos tem-
ant
es de Cristo, a medicina l ou de mo do itinerante.
ga surgiu da magia Pri
mitiva, Acreditava-se gre- plos
que curar ou evitar — Com o tempo, entre as barracas Surgiram e scolas P para ra a a
preparação dos curadores. Estas escolas, ao aten remo cem
“tes,5, puderam estudar as diversas patologias. As mais E” |
“escolas foram as de Crotona, Cirene, Rodes, Cnido e ó
Entre os curadores, porém, havia muita contradição, am-
biçã
bição, charlatanismo
i i ância.
e ignorân no
Isso não impediu que em Cós a medicina viesse ase tornar
.
ciência pelos méritos de Hipócrates, que àR sua experiênci a o s0-
mou conhecimentos filosóficos, reunindo a sabedoria que
À religiosidade era Onipre então estava esparsa.
sente na sociedade grega.
Cos rejeitavam a Intervenç Pou-
ão divina e o auxílio dos
dos recorriam à medicina deu ses . To-
dos templos, onde os sac
praticavam ritos, exorcismo erdotes
s, oferendas e adivinhaç
fruto de tradições milena ões, tudo
res. Muitos tratamentos
eram indi-

mentos e previam curas.


À terapêutica consistia em
banhos, jejuns e preparado
ervas. Mas, apesar de os s de
Bregos reconhecerem a imp
do sangue, não conheciam ortância
suas verdadeiras funções.
prática da sangria também Assim, a
era empregada naquela épo
tando as veias ou aplicando ca, cor-
ventosas. Os médicos-sace
ordenavam aos pacientes rdotes
crer e Seguir à risca suas
Era costume afirmar que, se indicações.
0 pacien te morria, era porque não
tinha seguido corretamente
a orientação,
Com o culto a Esculápio,
OSgregos perceberam que
Peranças e a ansiedade do as es-
paciente eram fundamentais
sua recuperação. À cura dep para
endia dessa predisposição.
via, enquanto os sacerd Tod a-
otes de Esculápio mant
inham os
H

MEDICINA CIENTÍFICA
E FILOSOFIA

Hipócrates via o pacien


te como ser humano
O médico mais notável da
Antigiidade foi Hipócrates,

460 a.C., na ilha de Cós,


onde ensinou e exerceu
Tar como chefe da escola a arte de cu-
local.
Para Hipócrates, o objetivo da med
“« dor do paciente. Para alc icina é eliminar ou aliviar a
ançar isto, ele substituiu a
magia ritualísti-

paro moral a confiança do


paciente no terapeuta. Ori
entava o

enfermos, onde podia ac


“doença e as reações do org ompanhar o desenvolvimento da
anismo ao tratamento.
- Do ponto de vista exp
eri
“tantes da medicina hipocr mental, os aspectos mais impor-
ática eram a observação
atenta dos

167
168 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 169

sintomas, a abertura para idéias vindas


de todo s os lados e um que a doença que definhava o rei tinha uma causa emocional,
desejo de explicar as causas das doen
ças. Seguindo este méto- obteve a cura por meio de longos diálogos com o monarca, aju-
do, Hipócrates substituiu as Causas
mágicas e sobrenaturais da dando-o a afastar as preocupações que estavam atormentando
antiga medicina grega por explicaç
ões racionais enaturais, de- seu espírito. Hipócrates, mesmo diante de sintomas físicos,
duzidas pela observação, pela exp
erimentação e-pelo ensina- percebeu que a causa da doença era moral e a cura dependia
mento proporcionado com os erros.
Percebeu quaos hábitos, do soerguimento do espírito.
climas, alimentação, estados emociona
is e outros fatores po- Os seguidores de Hipócrates, depois de sua morte, por
diam ser modificados para favorecer a
preservação ou a recu- não terem a mesma capacidade, seguiram seus ensinamentos
peração da saúd e. Sua doutrina considera uma forç
dinâmica (vis medicatrix naturae) que a natural mecanicamente. Sem um natural aperfeiçoamento de seus es-
rege a harmonia do or- tudos e conclusões, a doutrina do mestre de Cós perdeu o ca-
ganismo. É por meio desta força que
o corpo tende a curar-se ráter evolutivo e não se atualizou. E, o que é pior, as práticas
por si mesmo, razão pela qual o méd
ico deve observar o curso médicas foram sendo desligadas de sua base filosófica socráti-
da enfermidade para ajudar a natu
reza — auxiliando, susten-
tando, secundando, dirigindo os seus ca, abandonando seu sentido original. Esses equívocos foram
esforços, posteriormente fossilizados nos dogmas da medicina.
Suas idéias são, ainda hoje, citadas em
inúmeros textos ci-
entíficos, como referência de acuidade
diagnóstica, de ética e
raciocínio clínico. Contudo, numa Sócrates, Platão e Hipócrates
análise mais detalhada, mos-
tram que, sob os aspectos filosóficos,
estratégicos e conceituais A medicina hipocrática e a filosofia socrática nasceram
da medicina, ainda são desconsideradas ou mal inte
“Hipócrates era um vital rpretadas. juntas. Houve uma influência mútua e fundamental entre
ista, ou seja, acreditava que a matéria eles. Disse W. Jaeger: “Não exageramos quando dizemos que
viva compreendia a energia vital
- que proporciona aos seres vi- a ciência ética de Sócrates, que ocupa o centro da disputa nos
VOs caracter
ísticas especiais.” (BOTSARIS, 2001
, p. 6 1) diálogos platônicos, não teria sido pensável sem o modelo da
Segundo Hipócrates, o corpo hum medicina, à qual Sócrates se remete tão frequentemente.
ano é parte de um
todo. Era preciso observar todos os (Apud ANTISERI, 1997. p. 127)
detalhes, como o sono, a
alimentação, o ambiente físico, o clim
a, os hábitos de vida, as Para Platão, Hipócrates era o paradigma do grande médi.
estações do ano — anotando todas
as circunstâncias. Sua dou- co, e foi pela mente brilhante desse homem sábio, hábil e ta-
trina ensinava que a saúde advinha
do estado de equilíbrio do lentoso que as ciências médicas foram fundadas. Por sua vez,
microcosm o com o macrocosmo. Não era um determinado os princípios filosóficos de Hipócrates secundavam a doutrina
órgão que adoecia, mas o indivíduo
como um todo entrava em “de Sócrates e Platão. O que estes pensavam sobre a saúde é
desequilíbrio vital. A origem da doen
ça poderia ser mental ou fundamental para compreender a medicina hipocrática. |
então espiritual, e apresentar, com
o efeito, os sintomas físi- À profilaxia do corpo pela alma é uma evidente influência
cos. Surge a fisiologia, ciência do hom
em com saúde, patolo- mútua entre a medicina de Hipócrates e a filosofia de Sócra-
gia, ou ciência do homem doente;
e finalmente a terapêutica, tes e Platão. Em As leis, Platão afirma que “quando uma alma
ou arte de tratar os enfermos.
e um corpo se associam para formar uma estrutura única, esta-
Conta-se que, seguindo este conceito mos certos em dizer, segundo a natureza, que se trata verda-
, Hipócrates alcan-
çou uma famosa cura para um rei deiramente de um ser vivo”. O ser é uma entidade composta.
da Macedônia. Percebendo
170 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 171
Corpo sem alma não pode ser um ser vivo. Só a união dos dois
elementos caracteriza o fenômeno da vida humana. E então À medicina hipocrática era vitali
sta
continua: “A alma, única coisa que poderia ser incorpórea ou Como vimos, foi pela experimen
tação metódica e pela ob-
absolutamente incolor. É o único ente naturalmente apto para servação dos fenômenos naturais
(tékhne iatriké) que Hipócra-
fabricar e criar, enquanto o corpo se presta a ser fabricado, a
ser transformado, a ser visto.” (PLATÃO, 1999, p. 525) um princípio vital, representado
por uma força inata presente
Segundo Platão, a alma é ativa, imperceptível, imutável e no homem em auxílio de seu
equilíbrio (vis medicatrix natu
imortal e o corpo, passivo, perceptível, sujeito à geração, à rae); as relações entre o microcosmo org -
da natureza, a physis promovend ânico e o macrocosmo
transformação e corruptível. São dois elementos distintos, o alterações orgânicas preventi-
com características particulares. Enquanto a alma rege e gera,
o corpo se submete. Mais à frente (p. 528), completa o racio- mento crucial, representado pela
crise (crisis). O magnetisrho e
cínio, afirmando que “a alma é superior ao corpo. Enquanto a homeopatia, iluminados pelo
s avanços científicos, seriam
aquela é inteligência, este é desprovido de inteligência; en- senvolvimento modern o de-
o desses conceitos hipocráticos.
quanto aquele comanda, este obedece: ela é a causa de tudo Poucos anos depois das descob
que existe”. E então concluiu que a “a alma é a causa univer- ertas de Mesmer Samuel
Hahnemann, fazend o considerações semelhantes
sal” (p. 534). Fantástica percepção! A matéria, como princípio dor do magnetismo animal, às do cria-
lançaria seu Organon, livro-
básico universal, sofre as transformações determinadas pela da medicina homeop ática. Seus med base
vontade da alma, surgindo as diferenciações, a diversidade. vital, retomariam outro conceito icamentos, além da força
fundamental de Hipócrates:
Mas como Platão justifica esta superioridade da alma so- o princípio da simili
a similibus curantur: os sem
bre o corpo? Ele esclareceu que “a alma é a mais anterior de curados pelos semelhantes. elhantes são
Por esse método, o princípio
todas as coisas que participam da geração, e que é imortal e Pêutico induzia no enfermo, tera-
por meio de uma ação dinâmi
comanda todos os corpos” (p. 509). Segundo estas palavras, a imater ial, reações análogas aos sintom ca
alma existe antes de sua união com o corpo e sobrevive depois as da enfermidade.
. Precursor dessa descoberta,
de sua desagregação. A partir daí, Platão fundamentou a reen- Hipócrates dizia:
carnação e a sobrevivência da alma depois da morte do corpo a A doença é produzida pelos
sem
material. Futuramente, a preexistência da alma seria abando- Sente retorna à saúde. Deste mod elhantes e, por estes, o
o, o que provoça a estran-
nada e combatida pelos chefes da Igreja, porque iria contrariar As
a doutrina do pecado original, criada por eles. estrangúria, é causada e curada pelo agente...
(HIPÓCRATES, 1987, p. 87) pelo mesmo
Mas foi em sua obra Timeu e Crítias que Platão referiu-se
diretamente à medicina, explicando “Por que meios a saúde O Princí
pio da similitude é também
do mesmerismo: q magnetizador um princípio básico
dos corpos e dos espíritos pode ser curada e conservada”. Ele faz uso de um meio univer-
afirma que, “em verdade, no que tange à saúde ou à doença, à sal, agente transmissor de uma
ação dinâmica do magnetismo
virtude ou ao vício, não há medida regular ou falta de medida animal do médico, auxiliando o
organismo do paciente a recu-
que sejam de maior consegiiência que as da alma em relação perar seu estado de equilíbrio.
ao corpo.” (PLATÃO, 2002, p. 177) É a partir da alma que deve Segundo Allan Kardec:
agir o terapeuta para recobrar o equilíbrio da saúde ou conser-
vá-la, ensina a doutrina de Sócrates e de Platão. Sócrates, como o Cristo, teve
a morte dos criminosos, ví-
tima do fanatismo, por haver
atacado as crenças que encon-
17 2
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO

Erê “polocado a
virtude real acima
s formas. Por hav da hipocrisia e do
er, numa simu-
Preconceit os religiosos. (KAR
DEC, 1863, p. 43)

das moléstias, é qu
e tratam do Corpo,
Ora, não se achando sem tratakem da
alma
uma parte dele passe 9 bem,
todo” em bom estado, Impo
; ssívf el é que
HI

CRISTIANISMO E CURA

Mesmer, Hahnem O magnetismo é uma das maiores provas do poder


ann e Kardec co
ram diversos princípi ordenara
em ciên
iêncicias
Pos que estavam espalhadosm e comp: leta- da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produ
fenômenos singulares, qualificados outrora de milagr
z esses
as irmã
irmas s. Segundo Kardec: r - es.
º ; Feunindo-os (Um espírito protetor em O evangelho
an e Tetnissem as segundo o espiritismo)
idéias que se acham
E os disseminadas na mai
filósofos àntigos
e modernos .
p anos, os pros inum , nos escritore
s sacros e
eráveis einfinita
Uzidos em todas mente variados, pro
às épocas, e que
mundo visível e do atestam as relações
mundo Invinvisí
isfvel, chegar-se-ja d
es do
9 espiritismo tal qua a con Às curas de Jesus
nu

l é hoje. (Revista

esstr
tradui o
Espírita, 1 866, p.
385)
Struir

Su
Surge aqui um impo À maior revolução do conhecimento humano
das idéias filosófic
rtante Paralelo, De ocorreu du-
as de Sócrates um lado está a uniã rante três anos, durante os quais Jesus vivencio
e Platão sobre a u e apresentou
saúde da alma, ao mundo a sua doutrina. Ele a sintetizou na
fórmula: “Sou o
caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao
pai senão por
mim.” Estes princípios podem ser represen
tados pela trinda-
de ciência, filosofia e religião. Isto quando perc
ebemos que a
compreensão da verdade é a motivação da
ciência, o caminho
da sabedoria é à definição da filosofia e, por
fim, a essência da
vida é a religião natural.
Portanto, a humanidade recebia de seu irmã
o maior uma
doutrina que unificava toda a filosofia, a ciênc
ia e a religião até
então espalhadas por toda a humanidade.

173
174 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCI
A NEGADA E OS TEX
TOS ESCONDIDOS
175
A Verdade mais pura e mais substancial ao espírit
o é a Ver-
dade que pode ser imediatamente sentida pelo coraçã Jesus não fazia milagres.
diatamente compreendida pela inteligência e imedi o, ime- ca estava numa profunda
À origem de sua habilidad
e terapêuti-
atamente
aplicadana vida prática, Justamente por isso é que, apesar compreensão das leis nat
centelhas de Verdade, difundidas várias vezes das urais.
na História, o seu Até ao presente, a fé
foco mais poderoso e iluminado foi o acendido por Jesus. não
outros profetas e legisladores do bem tiveram missõe Se lado religioso, Porque o Cri foi compreendida senão pelo
s parciais, Yanca e porque o têm sto a exaltou como podero
em relação a agrupamentos e povos específicos,
reveladores de considerado apenas como sa ala-
partes da Verdade, Jesus é o ponto de unificação de uma religião, Entretant
o, o Cristo, que operou chefe de
toda a hu- teriais, mostrou, por ess milagres ma-
manidade, pois ele exemplificou a fraternidade es ilagres mesmos, o
universal e é ele que pode o
que ainda zela pela totalidade da evolução planet
ária! Meditai
sempre nisso e ligai vosso pensamento ao mestre
dos
pois apenas integrados em suas falanges é que estaremestres, apóstolos não operaram
fato,
mos, de milagres, seguindo-lhe o exempl
contribuindo lucidamente para o progresso da Ora, que eram estes o?
humanida- milagres, senão efeito
de! (LÉON DENIS apud INCONTRI, 1997, pp. 48-49) Causas os homens de ent s naturais, cujas
ão
desconheciam, mas que
grande Parte se explic , hoje, em
am e que pelo estudo do
Jesus esclareceu e desenvolveu as leis naturais, espiritismo e
com o au-
xílio da razão.

Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, [Jesus] Com as curas, Jesus não
,
ao pretendia provocar curios
contrário, modificou-as profundamente, quer nem mesmo demonstrar idade
na substância, prodígios, mas, explica
quer na forma. Combatendo constantemente o
abuso das Kardec:
práticas exteriores e as falsas interpretações, por [ e] queria ele provar que
mais radical o verdadeiro poder é o
reforma não podia fazê-las passar do que as que faz o bem; que o seu daquele
reduzindo a esta objetivo era ser útil e não
única prescrição: Amar a Deus acima dê todas à curiosidade dos indiferen satisfazer
as coisas e o tes
próximo como a si mesmo, e acrescentando:
aí estão a lei
toda e os profetas. (KARDEC, 1863, p. 55)

À cura dos doentes, tanto do corpo quanto da


alma, foi uma
das mais surpreendentes consequências práticas
da sua doutrina.
fariseus Teclamavam,
à maiori
Jesus ia por toda a Galiléia, ensinando nas sinago
gas, pre- nele senão um feiticeiro ou a das pessoas não teria visto
um mágico hábil, que os
gando o Evangelho do reino e curando todos
os langores e to- pados iriam apreciar par
a se distraírem,
desocu-
das as enfermidades no meio do povo, - Tendo-se
a sua repu-
tação espalhada por toda a Síria; traziam-lhe os
que estavam
.Entretanto, Os tempos não tinham ainda
doentes e afligidos por dores e males divers
os, os possessos, lução das idéias Precis chegado. A evo-
os lunáticos, os paralíticos e ele a todos curava, a de tempo para produz
— Acompa- ir seus frutos.
nhava-o grande multidão de povo da Galiléia,
de Decápolis,
de Jerusalém, da Judéia e de além Jordão. (Mateus,
4,23-25)
Não há, porém, nada de místico, sobrenat
ural ou mágico
na prática terapêutica de Jesus e de seus discí
pulos. As causas
das doenças não estavam em substâncias do
mal ou influências
demoníacas. Suas curas não dependiam de
magias ou rituais.
176 PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
.

Antes disso, por centenas


de anos os dogmas da Igr
puseram a ilusão de uma eja im-
causa sobrenatural e mister
os fenômenos. A religião iosa para
oficial do Ocidente mantin
ha os me-

IV

grande número de encarn


ações O GALENISMO E
insensivelmente, e como por antes que possa, obedecendo
força, à lei inevitável do pro-
Bresso, chegar a esse começo
de vitalidade intelectual, A TEORIA DOS HUMORES
torna a diretora do seu ser que a
material, a que está unida,
isso que, mal grado os ens por
inamentos dados pelo Cris
to para

O princípio das coisas


Desde os povos primitivos, o homem deseja conhecer a
a E assim, depois de um cu gênese de todas as coisas. Mas foram os gregos que souberam
o período bem-sucedido, repensar e recriar o conhecimento, transformando-o em teo-
er de curar do cristianismo o po-
primitivo ficou abandonad rias. Anteriormente, o conhecimento era tradicional e prático.
o e es-
de supostos caprichos div Quanto à origem de todas as coisas (arché), no período
inos,
representantes da Igreja. Tev restritos à intermediação dos pré-socrático os filósofos definiam a criação de tudo a partir
e início um longo e obscuro de um só elemento. Mas os gregos não tinham uma dogmática
ríodo de trevas. pe-
fixa e imutável. Os filósofos naturalistas divergiam sobre qual
seria essa fonte primordial. Alguns achavam que era a água;
outros, o fogo, a terra ou o ar.
Pitágoras acreditava na união dos quatro elementos para
originar todo o universo e, séculos depois, Ptolomeu adotou
esta mesma hipótese, Kardec descreveu, em À gênese, a ado-
ção dos quatro elementos:
Cerca do ano 140 da era cristã, Ptolomeu, um dos ho-
mens mais ilustres da Escola de Alexandria, combinando
suas próprias idéias com as crenças vulgares e com algumas
das mais recentes descobertas astronômicas, compôs um sis-

177
178 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E 08 TEXTOS ESCOND
IDOS No
tema que se pode qualificar de misto, que traz o seu nome e
que, por perto de quinze séculos, foi o único que o mundo ci- Entretant o, durante centenas de anos a filo
vilizado adotou, Segundo o sistema de Ptolomeu, a Terra é docles foi interpretada diferente sofia de Empé-
mente de seu sentido original,
uma esfera posta no centro do universo e composta de qua- a partir de alguns poucos fragme
tro elementos: terra, água, ar e fogo. (KARDEC, 1868, p. 99) ntos dos seus textos. Apesar
das poucas fontes, sua influência foi muito
história da filosofia. Muitos fiz grande em toda a
Voltando aos gregos, observamos que foi Empédocles de eram uso de sua doutrina para
Agrigento o primeiro dos pluralistas, quem definiu nascer e
elaborar teses materialistas inexistentes no
pensamento oriei-
morrer como sendo agregar-se e desagregar-se dos princípios
(arché) originários, ar, água, terra e fogo. Eles, porém, seriam
movidos por outros dois elementos, as forças cósmicas antagô-
nicas do amor (philta) e ódio (neikos). Claro que as palavras moderna, que nasceu de uma resposta radi
religioso. Não encontra, porém, cal ao dogmatismo
amor e ódio não estão fazendo aqui referência aos sentimentos eco nas filosofias naturalistas e
Pluralistas. Quanto a esse impasse, esclar
humanos, mas representando forças naturais de união e dis- eceu Kardec:
persão. O amor é responsável por toda aproximação ou comu- A história do homem, consider
nhão, enquanto o ódio gera diferença e dissipação entre as ado como ser espiritual se
prende a uma ordem especial
de idéias, que não são do domí-
quatro raízes. Tais forças promovem, assim, um movimento nio da ciência propriamente
dita e das quais, por este moti-
constante na realidade observável. Podemos dizer que são
seis, e não quatro, os elementos de Empédocles.
Segundo o filósofo e médico, no princípio, haveria a com- questão, sisternas contradi
tórios, quevão desde a mais pura
pleta unidade dos quatro elementos, presidida por uma har- espiritualidade, até a negação
do princípio espiritual e mes-
mo de Deus, sem outras base
monia. A tal unidade primordial, Empédocles denomina esfe- seus autores. Tem, pois, deix
s, afora as idéias pessoais de
ado sem decisão o assunto,
ro (em grego, sphairos), por ela possuir as características de falta de verificação suficiente. (KARDEC, por
1868, p. 90)
uma esfera: um ser simples, indivisível, sem princípio ou fim,
de todos os lados igual a si mesmo. Contudo, por ação de ódio, * À extensão dos conceitos de
este teria se dividido, configurando a origem à quádrupla par- invadiu os séculos futuros. Mesmer Empédocles sobre a gênese
, na doutrina do magnetis-
mo animal, fez uso do conceito
tição da unidade primordial. o de forças antagônicas, agindo
alternadamente na manutenção de todas as coisas:
Tempos depois, desenvolvendo o tema da criação (archê),
Platão afirmaria, em Timeu e Crítias, que os termos terra, água, Parti dos Princípios conhecid
os da atração universal,
ar e fogo indicam diferenças de qualidades e não da substância: constatada pelas observações
que nos ensinam que os plane-
tas se afetam mutuamente nas
suas órbitas, e que a lya e o sol
[...] o que percebemos como se transformando incessan- * causam e dirigem sobre o
nosso globo o fluxo e o refluxo
temente, ora nisso, ora naquilo, o fogo, por exemplo, nunca mar, assim como na atmosfera. no
Parti, disse eu, do fato de es-
devemos chamá-lo isto, coisa determinada, mas dizer: o que sas esferas exercerem também uma ação
as partes constitutivas dos corp direta sobre todas
apresenta tal qualidade. Pois essas coisas são fugazes e não os animados, particularmen-
podem ser definidas como realidades permanentes. (PLA- te sobre o sistema nervoso, por meio
penetra, Eu determinei essa ação de um fluido que a tudo
TÃO, 2002, p. 193) pela intenção e à remissão das
propriedades da matéria e dos
corpos organizados, tais como
a gravidade, a coesão, a elastici
dade, a irritabilidade, a ele-
tricidade. (ME SMER, 1799)
18 0 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
|
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 181
Ou seja, intenção e remi
aos conceitos de amor ssão de Me smer são eq
(philta) e ódio (n eikos) uivalentes tornam-se coisas diversas, tão grandes modificações traz a
Entretanto, a chave par de Em pé docles. sua mistura. (Ibidem)
fias pré-socráticas sur
a co mp re e nd er as distantes filoso-
giria no
século 1 8, por meio da Este mesmo conceito foi assim desenvolvido em À gênese,
espirita, iniciada em filosofia
1857 com a publicaçã por Allan Kardec:
bíritos. Para evidenci o de O livro dos es-
armos essa questão,
fragmento de Empédo vamos fecorrer aum
cles: Todas essas forças são eternas e universais, tal corno é a
criação; sendo inerentes ao fluido cósmico, elas agem necessa-
riamente em tudo e em toda parte, modificando sua ação pela
sua simultaneidade ou sucessão; predominando aqui, atenu-
ando-se ali; possantes e ativas em certos pontos, latentes ou
, GO má secretas em outros; mas, finalmente, preparando, dirigindo,
di outras, ao contrário,
U conservando e destruindo os mundos em seus diversos perío-
espírito, e não Perman Contempla-os- c om
eças sentado, com olh teu dos de vida, governando os trabalhos maravilhosos da natureza
(Os filósofos Pré-socrá os pasmos. em qualquer lugar que eles atuern, assegurando para sempre o
ricos. São Paulo: Cul
trix, 2001)”
eterno esplendor da criação. (KARDEC, 1868, p. 111)

A filosofia espírita e também Mesmer na ciência do maghe-


tismo animal retomam os conceitos filosóficos sobre as causas
primárias e as origens das coisas, afastando, porém, os sistemas
pessoais. Desse modo, o saber filosófico ganha um inédito ca-
ps ag reza jamais
Se encontra em Oposiç
ão a si mesma:
ráter positivo ou racional.
À à divisa do universo:
tando à escala dos mundos É unidade e varied
i ade. Remon- O homem ocidental, por centenas de anos, foi impedido
, encontra-se a unidade de de elaborar uma compreensão racional do universo. Isto por
harmo-
que a violência do fanatismo religioso atacou o livre pensa-
mento, condição primordial da filosofia. Primeiramente, isto
mesmas, pode-se formar ocorreu com as imposições dogmáticas da Igreja. Principal-
com elas uma série, cuj mente com os horrores da Inquisição.
1868 ae com a geratriz,i a resultante
é a lei à univer
uni sal. (KARDEC Depois de um pequeno período de abertura, durante o
Iluminismo, teve início uma “idade média” da razão. Agindo
Empédocles ex licou a ac
dispersão) assim: Pp açãoã do amor e do ódio
..
(união e em oposição radical ao dogmatismo religioso, desde a segunda
metade do século 19, os ramos do saber foram limitados pelo
e o posidera o sol, que dogma materialista reducionista da ciência.
tudo ilumina e aquece,
OS, banhados no calor e todos os as Neste terceiro milênio, os véus que cobrem uma compre-
e na brilh ante claridi ade
chuva, , a terra . Tudo , consid ; ensão do universo em toda sua grandeza pedem nova postura
ist O é separado e toma
pela discórdia; mas une fo drma rma didiv
ve
i ers
rsa
Provieram todas as cois
m-s-Se pelo amor. Poisj
dos el
epistemológica para serem levantados. Isto porque o pensa-
as, + Oo QUÊ era e 6 que mento materialista dogmático impõe o limite dos cinco senti-
homens, mulheres, anir será, árv ivore
orsese
nais, pássaros e peixes dos para a observação dos fenômenos naturais. E, no entanto,
mesmo elementos, mas . São sempre
circulando Uns através
dos outros, segundo o magnetismo animal e o espiritismo, a maior parte
182 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 183

do universo ilimitado só está acessível ao homem por meio do


Um estudo da filosofia em
sexto sentido, ou sentido espiritual. seus textos originais revela
como São antigos os princípio
s da doutrina espírita e tam
De acordo com a doutrina espírita, agentes invisíveis po- O mag netismoanimal que a precedeu.
bém
voam o universo como uma das forças da natureza, conforme No entanto, não basta
constatar a anterioridade des
esclareceu Allan Kardec em A gênese: tas ciências, mas promover
inserção na tradição filosófica: sua
Esclarecendo-nos acerca dessa força, 0 espiritismo faculta
a elucidação de uma imensidade de coisas inexplicadas e A união do espiritismo com as
efeito, nos parece de alta necessid ciências filosóficas, com
inexplicáveis por qualquer outro meio e que, por isso, passa- ade para a felicidade hu-
mana e para o progress
ram por prodígios nos tempos idos. Do mesmo modo que o o moral, intelectual e religios
o da so-
magnetismo, ele revela uma lei, senão desconhecida, pelo ciedade moderna; porque não
estamos mais no tempo onde
menos mal compreendida; ou, melhor dizendo, conhe- se podia afastar a ciência hum
ana e lhe preferir a fé cega
ciam-se os efeitos, porque eles em todos os tempos se produ- (HERRENSCHNEIDE in
R Revista Esptrita, 1863, p. 261
e ss.)
ziram, porém não se conhecia a lei e foi o desconhecimento
Esse movimento é necessári
desta que gerou a superstição. Conhecida essa lei, desapare- o para que uma nova doutri
ce o maravilhoso e os fenômenos entram na ordem das coisas Possa erguer-se: - na
naturais. (KARDEC, 1868, p. 266)
Então, quando o espiritismo quer
estender seu domínio so-
Segundo as duas ciências, magnetismo animal e espiritis- bre todas as classes sociais, sobre
os homens superiores e inte-
mo, a individualidade é um dos elementos integrantes da na- ligentes, como sobre as almas deli
cadas e crentes, é preciso
tureza e não um produto virtual do funcionamento do cére- que, sem reservas, se lançe na
corrente do pensamento huma
no, e que, por sua superioridade -
bro, como prega o materialismo. Tanto a mediunidade quanto berba razão o respeito
filosófica, saiba impor à so-
de sua autoridade [.-.] a ciência
a lucidez sonambúlica são microscópios e lunetas positivando compreender que sua filosofia deve
primeira estava incompleta
a observação direta dos universos espirituais. que princípios primordiais lhe
haviam escapado. (Ibidem)
e
À matéria, portanto, como estado dinâmico do fluido cós-
. Por sua vez, a doutrina de
mico universal, está dividida em dois estados básicos: fluidez e Mesmer é uma união funda-
mehtal da medicina com à filosofi
tangibilidade. a espiritualista e as ciências;
repetindo -— no Ilumininiismo,
o que Hipócrates pretendia faze
Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente, a fe- Com a antiga medicina grega. r
nômenos especiais: ao segundo pertencem os do mundo visi- + Mas como um maior apr
ofunda
vel e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, os chamados objetivo, basta lembrar que Empédo mento está fora do nosso
fenômenos materiais, são da alçada da ciência propriamente cles definia a alma humana
como sendo uma entidade des
dita, os outros, qualificados de fenômenos espirituais ou psí- tinada a reencarnar-se divers
quicos, porque se ligam de modo especial à existência dos es- as
píritos, cabem nas atribuições do espiritismo. Como, porém,
a vida espiritual e a vida corporal se acham incessantemente Erega-se) é produzida por uma
. inteligência cósmica “ilimitada
em contacto, os fenômenos das duas categorias muitas vezes in lependente é não. mis. turada n
se produzem simultaneamente, No estado de encarnação, o ”, ou seja= , div
.
ergente das subs- ?
tâncias. Hipócrates e Anaxágora
homem somente pode perceber os fenômenos psíquicos que s
se prendem à vida corpórea; os do domínio espiritual esca-
pam aos sentidos materiais e só podem ser percebidos no es-
tado de espírito. (KARDEC, 1868, p. 274)
184 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 185

por pensamento semelhante ao homem. Ele


tudo vê, tudo pen-
sa, tudo ouve. Sem fadiga, com a força da ticas sistematizadas em suas obras iriam persistir até o século
mente faz tudo vi-
brar.” Mas foram Sócrates e Platão que pres 19. Durante a Idade Média, sua doutrina era mais importante
sentiram a idéia
cristã e em seus escritos também se nos depa que a de Hipócrates. Foi uma interpretação dogmática de sua
ram os princípios
fundamentais das ciências irmãs, magnetismo doutrina que deu origem à medicina alopática.
e espiritismo. E
estes são algun
s de seus princípios: o homem é a alma, a virtu Cláudio Galeno, homem soberbo e vaidoso, nasceu em
do homem se manifesta com a “cura da de
alma”, fazendo com Pérgamo, Ásia Menor, em 129 d.C. Seu pai, Nicon, era um
que ela se realize da melhor forma possível. rico arquiteto e se dedicou a dar uma excepcional educação a
Como o corpo é
instrumento da alma, os valores ligados ao corpo são a seu filho. Galeno estudou gramática, retórica, lógica e filoso-
bordinados. A liberdade é interior, e pode ela su-
mos defini-la como fia antes de investir na carreira médica. Aprendeu anatomia,
auto domínio. Como a alma é racional, ela alcança a sua cirurgia, drogas e medicina hipocrática por muitos anos — pelo
de quando se livra do que é irracional. À violê liberda-
ncia jamais vence menos quatro em Alexandria. É claro que todas estas matérias
o vencer verdadeiro é o convencer. Deus, que
a tudo provê, é a eram ensinadas por meio de conceitos primitivos, incomple-
causa primária da alma e da matéria,
. tos e muitas vezes equivocados.
Sem a filosofia, a ciência se imobiliza. Por
isso a recomen- Em 157, Galeno retornou a Pérgamo, onde exerceu a en-
dação do espírito são Luís, no final do sécul
o 19: tão ambicionada função de médico dos gladiadores. Além de
Mas nada, nada deve progredir mais momentan lhe trazer prestígio, sua avidez pelo saber permitiu que ele ad-
eamente
do que a filosofia; ela deve dar um passo
imenso, deixando quirisse conhecimentos de anatomia humana e experiência no
estacionar a ciência e as artes, mas para as tratamento cirúrgico de fraturas e ferimentos graves. Mas a
elevar tão alto
quando for tempo, que essa elevação será muito
vós hoje. (Revista Espírita, 1867, 0. 84)
súbita para ausência de anestesia e o desconhecimento da assepsia muito
limitavam o sucesso dessas primitivas operações.
E então houve uma reviravolta na vida de Galeno, que foi
Para ser médico era preciso decorar os chamado a Roma pelo imperador Marco Aurélio, que o desig-
livros de Galeno nou seu médico pessoal na campanha contra os germânicos.
Os antigos tinham pouco conhecimento do Logo Cláudio Galeno se tornou o médico preferido da corte
me-
Canismo de funcionamento do corpo animal
, e sa- imperial. Entre seus clientes estavam diversos senadores e ele
biam menos ainda como esse mecanismo está também seria o médico particular do imperador Lúcio Vero.
rela-
cionado com a organização da natureza como
um Sem problemas econômicos e com tempo disponível, Gale-
todo, Então eles relacionaram cada gênero desses
es-
forços como sendo espécies de doenças. Desde o
nas- no pôde fazer suas pesquisas e escrever centenas de livros. Metó-
cimento da medicina houve oposição ao verdadeiro dico e produtivo, ditava o texto para os escribas que o secretaria-
e
único meio empregado pela natureza para destru
ir as vam. Seus escritos eram divulgados em conferências públicas
causas que perturbam a harmonia.
sobre anatomia, fisiologia e quase todos os assuntos médicos.
MESMER
As práticas médicas da época de Galeno haviam se dissocia-
do dos princípios que as geraram e os médicos agiam repetindo
Galeno foi o médico que mais influenciou a medi procedimentos tradicionais. Ele empreendeu uma restauração
cina oci-
dental, Apesar de ter morrido no ano 21 6, as prati da dignidade do médico, considerando o exemplo de Hipócra-
cas terapêu-
tes, enquanto os médicos de seu tempo já o haviam esquecido.
186 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
187

A medicina de sua época era muito primitiva. Galeno acu- Claudius Galenus, de Pérgamo, fund
sou os médicos de serem ignorantes e corruptos e de se dividi- O porta-voz da terapêutica geral, ador de escola, o facho,
Galeno, mais preocupado em
rem em seitas. Segundo Galeno eles eram ignorantes por que
não conheciam o corpo humano, não sabiam distinguir as
doenças e, desconhecendo as noções de lógica, não sabiam fa-
zer diagnósticos. “Ignorando-se estas coisas, a arte médica tor
na-se pura prática empírica.” Galeno acusava-os também Para superar estes excessos,
e Corrigir seus erros e continuar
seus sucessores precisariam
serem corruptos, porque eram insaciáveis por dinheiro, e pre- suas pesquisas científicas e de-
guiçosos, abandonando a virtude aconselhada por Hipócrates duções lógicas, numa evolução
constante. Mas, como vere-
mos, isso não ocorreu.
e Sócrates. Muitos desses problemas seriam sanados se a me-
dicina retomasse sua união com a filosofia, e Galeno se empe- A imensa obra de Galeno foi uma
enciclopédia dos conhe-
nhou em retomá-la. (ANTISERI, 1997, p. 379) cimentos médicos. Ele reuniu tod
o o material disponível em
sua époc a, enriquecendo
-o Com suas observações pess
A divisão de seitas na medicina já havia acontecido há al- Elaborou quase quinhentos escr oais,
gum tempo. Os 'dogmáticos' consideravam a razão como mes- itos. Até os nossos dias, po-
rém, permaneceram apenas
tra dos conhecimentos da saúde e da doença. Os empíricos oitenta e três dos seus tratad
médicos. os
colocavam a experiência acima de tudo. Os 'metódicos' esco-
Galeno imaginava ser fiel ao mestre
lhiam noções esquemáticas para resolver todas as doenças. Re- Porém, em vez de auxiliar à nat de Cós, Hipócrates.
jeitando sumariamente os metódicos, Galeno acreditava num ureza em seu curso natural,
como fariam Mesmer e Hahnem
enlace da razão com a experiência, considerando isto como à ann no futuro, concentrou
seus esforços em tentar combat
base de seu método. no er as doenças por meio de
substâncias, compostos e tratam
Os estudos experimentais de Galeno foram pioneiros e entos baseados no princípio
de contraria contrariis, a terapia
verdadeiramente revolucionários para a época. Algumas de suas dos opostos. Para ele, o mais
importante era conquistar o equi
líbrio das substâncias orgâni-
descobertas de anatomia e fisiologia são importantes até hoje. cas: Dar calor quando a doença
causava o frio; purgativos
Entretanto, muitas de suas conclusões eram equivocadas. Era quando o doente estava carregado
, mesmo que este método
proibido dissecar corpos humanos, pois os romanos considera- agredisse o paciente. Era o sacr
ifício em função do resultado.
vam os corpos sagrados e invioláveis. Os estudos anatômicos de Surgiu daí o uso das sangrias, para
curar um hipotético excesso
Galeno foram feitos dissecando animais como porcos e maca- de sangue no organismo. Esta teor
ia da cura pelo contrário se-
cos. Depois, ele transferia suas observações para os seres huma- ria o fundamento principal do
método alopático e empirista
nos. Evidentemente, cometeu inúmeros enganos. que perdura até hoje na medicina
tradicional.
Entretanto, ansiava por explicar todos os fenômenos com | Osesciitos de Galeno , à part
ir da sistematização das dou-
que se deparava. Orgulhoso e dogmático, Galeno atribuía a si trinas da Antigtiidade, iriam for
mar
mesmo grande superioridade sobre todos Os outros médicos, e mento médico dos mil e quinhento a estrutura do conheci-
s anos seguintes. Os pontí-
acreditava poder diagnosticar qualquer queixa dos enfermos, fices e eruditos da Europa med
ieval afirmavam que Galeno
como se fosse onipotente. Esse foi o seu maior erro. Fez desco- havia dito tudo que pod ia ser dito.
bertas fundamentais, mas também criou teorias sem fundamen-
Já em pleno ano de 1559 da era cristã, o
to, que defendia enfaticamente. Afirmou o médico Hahnemann: giões, em Londres, condenou Colégio de Cirur-
um dos seus membros, o dou-
188 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRED
O
MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 189
tor John Geynes, e obrigou-o
a Fetratar-se, quando ousou
T950 gs su- É preciso atribuir a incurabilidade desses males aos vícios
continham erros. (CALDER,
de nossas instituições políticas, ao nosso gênero de vida tão
distante do que é o estado da natureza e às consequências fu-
Não foram as imperfeições nestas dos privilégios reproduzidos de mil diferentes formas:
dos livros de Galeno que en-
gessaram a medicina por séc assim fica fácil justificar a impotência da medicina nesses ca-
ulos, mas sim a adoção, de
dogmática e irracional, de seu forma sos. (FIAHNEMANN, 1990)
s princípios. Houváuma imp
São que rejeita a liberdade osi-
de pensamento, Este equívo Os médicos preferiram evitar o progresso da arte de cu-
má à causa primária do sofrim co se-
ento de milhões de pessoas rar, que pediria um reconhecimento de sua ignorância e uma
séculos, vitimadas pela ignorâ por
ncia irresponsável daqueles submissão à sabedoria divina. Assim, optaram, então, por
orgulhosamente, autoprocl que
amavam-se grandes sábios. ocultar os vazios e contradições de sua pretensa ciência,
Hahnemann discorreu, em ,
1809, em seus Escritos meno- amontoando sistemas sobre sistemas a partir de conjecturas,
res, sobre os equívocos milenares da medicina tra
dicional: hipóteses e definições falsas, deixando aos doentes a conta de
Em nenhum lugar é mais evidente
seus enganos.
do que nas antigas doenças a nulidade da ic
físicas de que quase não há
em que alguns de pari
seus membros
tem ensaiado em vão uma pretensa sofram, e contra os quais se
habilidade de todos os mé-
O sangue, a fleuma, a bile amarela e a negra
dicos atuais e anteriores. Os infe Deve-se lembrar que lamentavelmente a medi-
lizes sofrem em silêncios a pe-
sada carga de seus males, cons cina ainda ignora o desenvolvimento natural e neces-
iderados incuráveis, Abandona-
dos pelas mãos do homem, sário da maior parte das doenças crônicas: opõem
não têm outro recurso senão
consolo nos domínios da relig buscar este desenvolvimento com seus remédios que per-
ião, (HAHNEMANN, 1838,
p. 88) turbam o progresso da doença, interrompendo seu
curso e muito frequentemente o fim vem antes de
seu tempo, com uma morte prematura.
MESMER

Às escolas médicas italianas haviam absorvido da filosofia


os quatro elementos de Empédocles (água, ar, terra e fogo)
Como Se O ser que criou os
vesse criado também os mei
infelizes enfermos não hou- para explicar doença e saúde, vida e morte. Com o tempo, fo-
os de socorrê-los. Como se
fosse igualmente para eles não ram associando os quatro elementos aos líquidos ou humores
a fonte eterna de uma bon
sem limites, a respeito da qual dade do corpo humano, que inicialmente eram diversos, mas com o
o amor maternal mais cari-
nhoso parece apenas uma som tempo foram reduzidos a quatro: sangue, fleuma, bile amarela
bra ao lado do resplendor
sol. (HAHNEMANN, 1838, do
p. 89) e bile negra. Desta forma, caiu-se num sistema distanciado da
Para Hahnemann, a verdadeira medi experiência real. Este procedimento era considerado por Hi-
cina é um humild pócrates um grande engano. A doutrina hipocrática era uma
nhecimento da providência divina estendida a toda hum
i s a : a e
anidade, esclarecida e firme denúncia de qualquer dogmatismo: cada
escola entã o o fun
médica oficdad
ialor da h omeopatia
ti conc ;
lui, refe : rindo-se à caso deveria ser analisado em sua peculiaridade, sem generali-
zações que inibam o uso da observação e da razão. Escreveu
Hipócrates:
190 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
191

Estão profundamente em erro todos os que se puseram a


falar ou escrever sobre medicina, fundamentando o seu dis- equilibrada, e ocorre doença no
caso de falta ou excesso de
curso em um postulado, o quente e o frio, o úmido e o seco ou um deles, Cada um deles tem sua
natureza particular e suas
qualquer outro que tenha escolhido, simplificando em exces- propriedades. Os que defendem
que o homem é formado
so a causa original das doenças e da morte dos homens, atri- apenas por um desses humores
se baseiam em evidências
buindo a mesma causa a todos os casos, porque se baseiam em - equivocadas. Os humores variam
de acordo com a estação do
um ou dois postulados. (Hipócrates apud ANTISERI, 1997) ano, devido à infl
uência do calor, do
do. (POLÍBIO, Sobre a natureza dos frio, do seco e do úmi-
homens)
Afinal, raciocinava Hipócrates, não se diz que tudo está
Posteriormente, Galeno errou
em tudo? Segundo sua doutrina, é preciso estar atento a todas ao defender rigidamente a
teoria dos humores como uma aut
as particularidades de cada doença em especial. Existem fato- êntica doutrina de Hipócra-
tes. Ele divulgou e desenvolveu
res múltiplos que fazem de cada paciente, com suas circuns- essa teoria amplamente ao co-
mentar, de forma exaustiva, 0
tâncias e características, um caso especialmente tratado Sobre a natureza dos ho-
único. É pre- mens de Políbio. Segundo a interp
ciso observar, raciocinar, experimentar e acompanhar o.
retação de Galeno, a vida era
mantida pelo equilíbrio entre os
desenvolvimento de cada doença para que a cura seja estabe- quatro humores — sangue, fleu-
ma, bile amarela e bile negra, que eram procedentes, resp
lecida. É, conclui, uma falsa medicina a que estabelece regras ecti-
vamente, do coração, do cérebro,
gerais e dogmáticas que serão aplicadas, de forma mecânica, do fígado e do baço. O dese-
quilíbrio seria a doença. Segundo
sob a constatação de um certo número de sintomas. o predomínio natural de um
destes humores na constituição dos
Mas alguns fatos fizeram com que a medicina hipocrática indivíduos, teríamos os di-
ferentes tipos fisiológicos: o san
passasse erroneamente para a história como sendo a medicina guíneo, o Aeumático, o bilioso
ou colé rico e o melancólico3 Até hoje
dos quatro humores. Isto aconteceu porque Políbio, um genro alegre e bem disposto, dizemos
, quando alguém está
de Hipócrates, escreveu um tratado que codificava a doutrina que ele está com bom humor é
aquele que está irado, dizemos
dos humores de forma dogmática, Sobre a natureza dos ho- que está mal-humorado.
Para Galeno, as emoções e os
mens, que foi incluído equivocadamente na coleção de livros temperamentos se origina-
vam nos órgãos do Corpo, por
hippocraricus. tanto na matéria.
Hipócrates falava dos humores de forma geral, sem defi- O médico poderia dizer, logo à primeira olhada, o tempe-
ni-los sistematicamente. Falava também das influências am- ramento do doente que o proc
urava. Um indivíduo sanguí-
bientais da natureza, como as estações e climas, mas de uma neo, inclinado a engordar e pronto
para rir, tinha mais do que
a sua devida ração de sangue
forma geral. Políbio, porém, combinou a doutrina das quatro fleumática tinha de ser encorpad
quente e úmido. Uma pessoa
qualidades, proveniente dos médicos italianos, com os ensina- a, baixa, lenta e preguiçosa,
Por possuir excesso de fleuma
fria. O homem melancólico
mentos de Hipócrates. Assim, compôs um quadro: portador de excessiva quan tidade de bile negra, fria e seca,
“inclinava-se a ser Pensativo,
“ rabugento, apreciador da sua
[...] a teoria de que o homem se compõe de um só princi- Rrópria companhia. (CALDER,
1950, p. 86)
pio não tem consistência. Não é possível que o homem seja
uma unidade, como pensam alguns médicos, pois nesse caso
haveria uma só doença e um só medicamento; na realidade, o 38 Nos dicionários atuais, encontramos
homem é formado por diversas substâncias. O corpo do ho- - Sanguíneo: pessoa rica em sang
as definições abaixo,
mem se compõe de sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. ue e que se caracteriza pela robu
tez corada e a aparência de disp stez, a
Há saúde quando esses humores estão misturados de forma osição alegre; estuante; exub
- Fleumático: que tem fleuma; erante.
sereno; impassível; lento; pach
* Bilioso: que tem muita bile; orrento.
de mau gênio; irascível; colérica
,
192 — PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 193

Já o indivíduo colérico e de mau


gênio zangava-se rapida- pois que o fogo e outros elementos têm mais de uma varieda-
mente em virtude de seu temper
amento bilioso. Isso ocorria de, o fato de que cada um deles assuma propriedades que
porque ele tinha, em seu organism
o, um desequilíbrio da bile não lhes convêm, e todos os outros fenômenos do mesmo gê-
amarela em proporção aos outros nero, eis o que causa as desordens interiores e as doenças.
humores. À produção em
excesso da bile amarela pelo fígado det (PLATÃO, 2002, p. 114)
irascível. O tratamento para esse paci erminava seu caráter
ente furioso seria a pur- A saúde estaria então relacionada a um fluir das caracte-
gação da bile amarela, o que podia ser feito pela infestão
médios que pro de re- rísticas dos elementos segundo uma lei regular e uniforme. As
vocam vômitos, os vomitórios,
cas que ele deveria se submeter reg e outras práti- doenças representavam uma desordem, ou desequilíbrio. Se-
ularmente. Até hoje é gundo Platão, a doença era uma decomposição da formação
muito comum, quando uma pessoa está colérica, dizer que
comeu alguma coisa que não lhe ela dos tecidos, alterando os fluxos normais e regulares do sangue
fez bem. Ou seja a alimenta-
ção determinando o estado emociona — produzindo, assim, humores alterados.
l.
— A consegiência desta maneira Platão estudou as doenças e descreveu uma série de humo-
de pensar foi que Galeno res alterados, uns pela cor, outros pelo odor, pela espessura, O
instituiu uma materialização da alma
e da própria ciência médi- sabor, a viscosidade e assim por diante. Um exemplo da altera-
ca. Ele concluiu que a alma seria uma
função do cérebro, e a ção dos humores ocorre quando uma parte de tecido se lique-
personal idade do homem se originaria nas
características orgã- faz, enegrece e torna-se amarga. Esse líquido, ou humor, rece-
nicas, ou seja, uma teoria material
ista. Segundo Galeno, o tra-
tamento dos flui
dos do corpo podia mudar as condições beu o nome de bile. Outros humores, amarelos, verdes, foram
Na Idade Média, este pensamento morais designados pelo mesmo nome. Esta classificação foi apenas
permitiu que se concluísse
que é O corpo que corrom
pe o espírito. Ou seja, a Carne uma convenção, o nome não tinha importância. Platão explica
A medicina de Galeno era conven é fraca que o nome “foi-lhes dado seja por alguns médicos, seja sim-
iente para a Igreja por ve
fundamentari a todos os dogmas de sua doutrina. plesmente por um homem capaz de penetrar a natureza dos fa-
Mas, voltando alguns séculos ante Í tos dessemelhantes e de perceber em todos um mesmo e único
s de Galeno, na Grécia — gênero, digno de um só nome”. Cada um dos humores altera-
quando a medicina científica foi inic
iada por Hipócrates e auxi- dos foi sendo classificado pelos médicos para ser diferenciado e
liada pela filosofia de Sócrates e
Platão - podemos demonstrar identificado. Surgiram assim as biles negras e a pituita ácida.
que a teoria dos humores chegou a
ter fundamentos racionais
Quando a medicina hipocrática Para Platão, a terapia para esses desequilíbrios precisava
surgiu, as doenças eram considerar a alma, que controla o corpo: “Em verdade, no que
pesquisadas e analisadas por observaç
ão, inaugurando o método tange à saúde ou à doença, à virtude ou ao vício, não há medida
científico. No, entanto, as dificuld
ades eram muito grandes regular ou falta de medida que sejam de maior consegiiência que
Não se conheciam as funções corr
etas dos órgãos ou seus meca-
nismos funcionais. Quanto ao as da alma em relação ao corpo.” Segundo o filósofo, é a partir da
Corpo, imaginava-se que ele apre
sentava uma composição equilibr - alma, exceto quando os órgãos se degeneraram ou se acidenta-
ada dos quatro elementos ram, que deve agir o médico para recobrar o equilíbrio da saúde
(sempre lembrando que, nesse tem
po, os elementos eram qua-
lidades e não substâncias). A origem ou conservá-la. E então conclui: “Se os médicos são malsucedi-
das doenças era... dos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do cor-
[.] O excesso ou a falta antinaturais po, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom
então o fato de mudar-se para um
doselementos, ou
lugar estranho, ou ainda
F
estado, impossível é que uma parte dele passe bem.”
194 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

Com o passar do tempo, estas teorias foram sendo que.


cidas. Os médicos que vieram depois de Hipócrates e atão
teimaram em tomar os conceitos desenvolvidos pelos Eram es
pensadores e engessá-los em seus núcleos doutrinais os e
imutáveis. Foi assim que a doutrina da criação dos prsoceáo
ticos foi transformada na dogmática teoria materialista os
humores, falsamente atribuída a Hipócrates, mas adotada por
Galeno e transmitida à posteridade. v

À MEDICINA DOGMÁTICA

Quando a Igreja assumiu o sacerdócio da


medicina
Os primeiros cristãos, sob a inspiração diret
a dos discípulos
do Cristo, correram para aliviar os sofrimentos
dos homens. Foi
quando surg iram as primeiras casas de recuperação
e alívio para
as dores. Por uma evolução natural, os prim
eiros hospitais fo-
ram criados como casas para abrigar moribundos. Com o
po, porém, os médicos leigos começaram a tem-
escassear, e a Igreja
nascente encarava o cuidado com os doen
tes como uma obriga-
ção ou mesmo uma missão dos seus memb
ros.
Porém, já nos primeiros séculos, a dout
rina cristã estava
se afastando da filosofia grega. Ao mesmo
tempo em que os
fatos históricos criavam um caminho prop
ício para a ascensão
do cristianismo, também institufam uma
reação quase univer-
sal contra a abordagem científica e racio
nal para lidar com as
doenças. A ainda incipiente medicina racio
nal, ainda tão pou-
co compreendida na própria Grécia, sofreu
mais um golpe.
Os padres latinos, anteriores a santo
Agostinho, foram
pouco atraídos, quando não decisivamente
hostis, em relação
à filosofia grega. Ela foi considerada vã, abstr
ata e superficial,

195
I96
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 197

Estas são as doutrinas dos homens e dos demônios, nasci-


das do espírito da sabedoria terrena [...] O senhor chamou
do o conservadorismo pod estultice tal sabedoria, a fim de confundir também a filosofia
e aumentar ainda mais
Bmatismo estiver convencid quando o [...] as próprias heresias são subordinadas pela filosofia. (So-
o de que várias de suas opin
iões bre a prescrição contra os heréticos, 7,1)

De acordo com este pensamento, a cultura filosófica atra-


- palha a alma em sua busca por Deus.
Os platônicos consideraram Deus providência das coisas;
outros, ao contrário, ou seja, os epicuristas, designaram-no
Um advoga
do romano, Minúcio Félix, inerte e indiferente e, por assim dizer, ausente de todas as
segundo século de nossa ainda no final do
era, escreveu sobre Sócrat coisas humanas. [...] Nenhuma maravilha, portanto, se nos-
es: sas antigas tradições oficiais foram alteradas pelas elucubra-
| [...] que se vire, Portanto, ções dos filósofos. Da estirpe de tais filósofos pululam aque-
por sua conta, Sócrates o
naço de Atenas, com sua conf pa- les que deformaram e falsificaram com suas opiniões nosso
issão de não saber nada e
Blorie-se com o atestado van- próprio acervo documentário para acomodá-lo às opiniões
de um espírito (dáimon) men
tiroso dos filósofos. De um só caminho fizeram numerosas trilhas
sabemos muito bem que
são mestres de corrupção, oblíquas e inexplicáveis [...] Sem hesitações, contrapomos
tos eles próprios, prepotent corrup- aos adulteradores de nossa doutrina o argumento preliminar
es e, além do mais, tão des
dos que estão sempre cara. da prescrição, em nome do qual proclamamos como única
a clamar Contra aqueles
quais eles próprios se afu vícios nos regra de verdade aquela que nos foi transmitida por Cristo
ndaram. Não dissertamos
virtude, mas a praticamos, sobre a inediante seus apóstolos, dos quais é fácil constatar o quão
(Octávios)
tardios são esses discursos comentadores. (TERTULIANO,
Apologético, XVII)
crates e Platão foi julgada Pitágoras, Só-
por Minúcio como sendo
ração. Mas Minúcio não uma aber- Duas coisas podem ser percebidas nas entrelinhas do tex-
os contradisse racionalm
te os julgou com preconcei ent e somen- to de Tertuliano. À primeira é uma incompatibilidade pessoal
to: “Essa afirmação não par do padre da Igreja com o raciocínio lógico e a liberdade neces-
fato à tese de um filósofo, ece de
parecendo muito mais a tir
riosa de um cômico.” (Octáv ada ini sários para a construção do pensamento filosófico. S6 esta li-
ios) berdade permite a diversidade de opiniões, possibilitando ao
Entre os padres apologistas, re
ou aqueles que escreveram filósofo sintetizar sua própria visão das coisas. E a segunda coi-
para defender e louvar a
nascente teologia da Igreja sa é a intolerância e o autoritarismo que impunham idéias sem
Quintot

dar chance à argumentação. Quando Tertuliano diz contrapor


o “argumento inicial da prescrição”, qual seria a próxima ati-
tude, depois dessa invalidação da filosofia? A história mostrou
que, depois desse argumento “inicial” da prescrição, com o
(cristãos : que discutiam a veraci qual se impôs “a única regra da verdade”, vêm os argumentos
dade d os dogmas apr do banimento, da expulsão e por fim da eliminação dos oposi-
do preceitos alternativos): -
dID4S sPrEsentam tores pela morte. Entre os frutos da intolerância estão a igno-
rância da Idade Média e os absurdos da Inquisição.
198 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA
NEGADA E OS TEXTOS
ESCONDIDOS
199
Entretanto, este padre da Igreja não deixou de nova cultura. Durante as
asseverar
conceitos, segundo seu entendimento, sobre Deus, invasões bárbaras, as esc
o homem-e das às abadias e catedrais olas anexa-
o mundo. Para o pensamento dogmático de Tertu foram os únicos locais de
liano, Deus é elementar para as funções instrução
corpóreo. E o ser também é seu próprio corpo. Tertu eclesiásticas ou públicas.
liano pare- cimento foi adaptado para submeter-se à doutri O conhe-
cia não distinguir claramente o conceito do corpus da Igreja. Esse estado de na dogmática
da substan- coi
ria. Contudo, suas idéias contrariavam a base
da doutrina de com a formação das primei sas estendeu-se até o século 12
Sócrates — para quem o homem era a alma (o sujeito) ras universidades.
e o corpo As obras da Antigiiidade .
apenas instrumento. As teses de Tertuliano e de foram preservadas nos mostei
outros padres, católicos. Apenas os textos em latim foram tra ros
aceitas pela Igreja, formaram um corpo doutrinári duzidos e copia-
o estranho à
Tazão, imposto pela autoridade que eles mesmos
se concede-
ram, indiferentes às contradições filosóficas criadas
por suas in-
terpretações literais e deturpadas da Bíblia e de outras em 1453. Por isso, grande
obras. parte dos escritos clássicos
conhecidos a Oeste e OS eram des-
Vossos filósofos, tendo na consciência aquela carga
de er- monges católicos eram os
tos, permanecem no número e no decoro da sabedo únicos de-
ria. No
conjunto, que semelhança se pode captar entre
o filósofo e o
cristão, entre o discípulo da Grécia e o candidato
20 céu, en-
tre o traficante da fama terrena e aquele que faz questã
o da
vida, entre o vendedor de palavras e o realizador
de obras,
entre quem constrói sobre a rocha e quem destrói
, entre
quem altera e quem tutela a verdade, entre o ladrão
e guar-
dião da verdade? (TERTULIANO, Apologética,
XLVII)
A doutrina da Igreja se afastava da filosofia, cond
enando a
medicina, que estava sob seu domínio, a um
afastamento de
sua origem socrática e hipocrática por temp
o indefinido. A : Semaceitar as limitações do
arte de curar sedimentava uma ausência de seu seu entendimento, o tra
cunho científi- das doenças recebeu orient
co e racional, adotando uma orientação dogmática
e empir is- ações impostas como dogmas tamento
ta, aproximando-a da medicina antiga grega, com tíveis para preservar a dou
trina indiscu-
mágica e sobrenatural. Vejamos como isso
sua natureza medicina se distanciou da rea da Igreja, Como consegiiência, a
aconteceu. lidade natural. Sob o coma
Com o declínio do Império Romano e as const Igreja, a cura foi vista como ndo da
mil
sões bárbaras, a pobreza se alastrou pela Europ
antes inva- pendo as leis da natureza, A agre, uma intervenção divina roim-
a. Uma série de saúde e a doença dependia
epidemias varreu o império. A impotência da tade de Deus. Os rituais m da von-
ciência médica e magias dos templos pag
para aplacar a fúria das pestes favoreceu um declí Com Os nomes de água benta, ãos voltavam
exo
popular na eficácia da medicina. Ressurgiam
nio da crença doenças “ram castigos de Deu rcismo e bênção sacerdotal, As
as práticas supers-
tíciosas, as crenças nos rituais e magias dos templos sofrimento era uma bênção s por causa do pecado original, O
místicos. - porque castigava a maldade
O fechamento das últimas escolas gregas, no início da que tivesse que ser do corpo
do sé-- alivia
do pela medicina ea car
culo 6, marcou o fim da cultura pagã. À Igreja idade.
absorveu as an
tigas escolas e criou novas, iniciando a lenta
formação de um
200
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 201
não tem o encargo de
desdobrar a criação.” (D
Prophetes du Passé) 'AURÉVILLY, Les
rque os enganos de Galeno permaneceram
Esclarece Kardec:
or séculos
coroasas a religiões Por que, apesar de seus erros, Galeno não foi
são acordes quanto-ao
ma, sem, contudo, princípio da exis contestado durante mais de mil anos? Como explicar
Porém, nem quanto demonst rarem-no. que, após sua morte em 203, a pesquisa anatômica e
a sua origem, nem Não ,
: ao seu futuro, nem “gm relação ao ps fisiológica tenha estagnado, como se tudo o que havia
, princi palmente e para ser descoberto, já o tivesse feito por Galeno?
MARGOTTA, 1998, p. 43

Por que os enganos dos ensinamentos médicos de Galeno


- não foram identificados depois de sua morte? As suas propostas
dos conhecimentos. s. NãoN5 “filosóficas, apesar de ilógicas, eram lei na medicina. Seus textos
came podendo Pois, senã
ea discussão, as

religiões acham mai


Cel me - foram utilizados sem nenhum desenvolvimento, correção, es-
uma é outro, (KARDE s Simples proc
9 d

C, 1868, p. 91) o clarecimento ou aperfeiçoamento. A medicina era ensinada


Frasco.
com um rigoroso conservadorismo, sem debates ou discussões.
O ensino se resumia na leitura metódica e monótona das obras.
Uma das explicações era que, apesar de os notáveis ensi-
namentos de anatomia de Galeno estarem recheados de equí-
vocos, os estudiosos da Idade Média não podiam conferir suas
referências anatômicas porque a dissecação de cadáveres hu-
manos continuava proibida, agora pelo cristianismo e pelos
opinião do livro mantid
a. E tanto, : dci costumes árabes. Mas é preciso fazer justiça a essa destacada
dos por séculos. erros básicos foram manti- figura da medicina. Seu ideal era o de combater o empirismo
das práticas médicas. Porém, a sua determinação e entusiasmo
no cumprimento de sua tarefa foram mal interpretados. As
classes dominantes se aproveitaram da extensão de sua obra
como instrumento de sua dominação pelo dogma. Com a im-
posição pela Igreja, seus preceitos foram deturpados e mani-
pulados. Dario Antiseri afirma que:
[...] ocorreu com Galeno algo análogo ao que sucedeu
com Aristóteles: sua doutrina passou a ser tomada como
dogma e repetida ao pé da letra, tornando-se desvirtuada no
seu espírito. Muitos de seus erros foram transmitidos por
longo tempo, constituindo, como tais, um obstáculo ao pro-
gresso da medicina. Mas é preciso distinguir Galeno do gale-
nismo, da mesma forma como se deve distinguir Aristóteles
do aristotelismo. (ANTISERI, 1997, p. 379)
202 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - ACIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCONDIDO
S 203

A imposição de Galeno na medicina equivale à imposição se circunscreviam aos que


de Ptolomeu na astronomia. Esclarece Kardec, em4 gênese: se achavam em sua presen
alma podia libertar-se pela ça: sua
ação
Tio é se mandava como um pom magnética de seu empresá-
Cerca do ano 140 da era cristã, Ptolomeu, um dos ho- bo-correio, na certeza que re-
Bressaria com o informação
mens mais ilustres da Escola de Alexandria, combinando desejada, (DorrE, 1995,
p.61)
suas próprias idéias com as crenças vulgares e com algumas Segundo Conan Doyle, na tar
das mais recentes descobertas astronômicas, compôs um sis-
Davis foi tomado por uma for de de seis de março de 1844
tema que se pode qualificar de misto, que traz o seu nome e ça que o fez voar da pequena
que, por perto de 15 séculos, foi o único que o mundo civili- dade de Poughkeepsie, ond ci-
e vivia, na área rural de Nov
zado adotou. em semitranse. Voltando à a Yor k
consciência percebeu que est
entre montan has agrestes, e af, relata ava
Tal sistema só seria superado por Copérnico e Galileu. E Davis, encontrou dois
então Kardec comentou:
Quão grande é o universo em face das mesquinhas pro-
porções que nossos pais lhe assinavam! Quanto é sublime a
obra de Deus, desde que a vemos realizar-se conforme às
eternas leis da natureza! Mas, também, quanto tempo, que
de esforços do gênio, que de devotamentos se fizeram neces-
sários para descerrar os olhos às criaturas e arrancar-lhes, afi-
nal, a venda da ignorância! (KARDEC, 1868, p. 99)

À doutrina de Galeno passou a ser seguida pelos médicos,


que, ao repetirem suas práticas ao pé da letra, fizeram que mui-
tos de seus erros fossem transmitidos de geração em geração,
Escolástica substitui o Pl
criando um obstáculo para o progresso da arte de curar. Estava atonismo agostiniano
consolidado o galenismo, doutrina imóvel e repetitiva que do- pel
o aristotelismo tomista
minou a medicina, impondo dogmaticamente a alopatia, Os ig- o Para conciliar a filosofia
com a doutrina da Igreja, pre
norantes empiristas condenados por Galeno tomaram para si cia a escolástica. Tomás de vale-
Aquino (1221-1274), seu
sua doutrina, como instrumento de dominação e corrupção. sentante máximo, foi um repre-
pensador criativo que des
uma filosofia própria fortem envolveu
Um incidente uniu Galeno e o surgimento do espiritualis- ente sistemática, tratando
mo. Arthur Conan Doyle, que, além de ser o criador de Sher- dasàs questões da filosofia e da de to-
teologia. Ele tomou como bas
lock Holmes, era espiritualista e doutor em medicina, escre- e
veu a História do espiritualismo. Em seu relato sobre Andrew
Jackson Davis (1826-1910), o profeta da nova revelação, ele ideário deTomás de Aquino
seg
conta que a mediunidade de Davis era usada para diagnósticos ção pela Igrêja. Em 1313, Tom uiu uma trajetória de aceita-
ás de Aquino foi canonizad
médicos, em ações humanitárias de auxílio aos doentes po- durante a Contra-reforma, o e
no concílio de Trento, em
bres. Ele fazia isso em estado de transe: 1567,

Diz Hipócrates: A alma vê de olhos fechados as afecções


sofridas pelo corpo. Assim, ao que parece, Os antigos sabiam
algo a respeito de tais métodos. As observações de Davis não
204
PAULO HEN RIQUE
DE FIGUEIREDO
MESME-RA CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
205
Tomás marca o ápice da
escolástica medieval. E
bro da nobreza, pois per era mem- ram a unidade do ser humano. A alma, para Tomás, significava
tencia à família dos co
ndes de Aquino
o “ato do corpo”, Ela é uma substância definida como sendo à
| À doutrina sagrada é
uma ciência, E se prova “forma” do corpo.
p 9 Bênero de ciências. assim: há du.
Algumas delas procedem
conhecidos por lume nat
ural do intelecto, corno
de princípios Quando Aquino se defrontou com a questão de a alma
5 feometia; outras pro r à aritmética e humana ser algo subsistente, ou seja, se tem substância pró-
cedem de Princípios con
e uma Ciência superior: hecidos à luz
de aritmética. E de tal
a música se baseia'Sobre
princípios pria, ele se defrontou com duas questões.
modo » sagrada doutri
Cla, pois se apóia sobre
Princípios conhecidos
na é uma cê Uma delas é a objeção filosófica: “Aquilo que é subsisten-
Ciência superior, Isto é, por lume de . te é um ser concreto (hoc aliquid). Ora, não a alma, mas o
da ciência de Deus e dos
tanto, como a música beatos Por.
admite os Princípios que
a matemática
composto de alma e corpo é um ser concreto. Portanto a alma
lhe fornece, também a
revelados por Deus. (ap
doutrina sagrada aceita
Os princípi não é subsistente.”
ud REALE, 2003)
pútópios Por outro lado, ele encontra a solução de Agostinho:
cs Como vemos, a conces
são da Igreja em aceita
ação filosófica tem limites mu r a argumen- Quem vê a natureza da mente, isto é, como ela é uma subs-
ito claros: aqueles de tância, e além do mais não corpórea, vê também que aqueles,
termina-
Os quais opinam que ela é corpórea, enganam-se ao atri-
4 Ditia Tomás: “Há buir-lhe aquelas coisas sem as quais não podem conceber ne-
algumas verdades que
Po er da razão humana superam todo nhuma natureza, isto é, os semblantes dos “corpos”. Por isso,
. Outras verdades po
Peia razão natural,” Ou dem ser pensadas não só a natureza da mente humana é imaterial, mas é ainda
seja, segundo Tomás,
a fé corrige a ra- uma substância, isto é, algo que subsiste. (apud REALE, 2003)

À primeira posição levaria a concluir que a alma não é uma


substância e, portanto, seus atributos, como o pensamento,
são frutos do corpo. Esse argumento é o fundamento do mate-
rialismo,
vero sua Summa contra Por outro lado, o desenvolvimento do pensamento de
gentiles, Tomás de Aquino
ades que considerava expõe as Agostinho levaria a se admitir uma substância incorpórea, não
acessívei s à razão €, no quarto
livro + observável diretamente pelos sentidos, mas que subsiste in-
filosofia é então só ap dependentemente do corpo. Este caminho leva à posição filo-
arentemente respeitad
Pao própria e autôno a em sua configu- sófica espírita, que dá ao espírito um segundo corpo, na verda-
ma, Porque, para To
udo o que se pode dizer más, ela não exaure
ou conhecer. Para torná- de o principal, constituído de substância da mesma origem do
e perfeita É preciso integr la completa corpo físico. Este corpo espiritual lhe dá independência e é a
á-la a tudo o que está con
cra doctrina. Segundo tido a sa- sede do pensamento e da vontade.
Tomás, a fé, determinad
melhora a razão, assim a pela Igreja Mas Tomás de Aquino faz uma outra opção. Divergindo
como a teologia melhor
a a filosofia » de santo Agostinho, ele respondeu:
Devemos necessariamente afirmar que o princípio da
operação intelectiva, isto é, a alma do homem, é incorpóreo
e subsistente. [...] tem atividade própria, na qual o corpo não
entra [...] À expressão hoc aliquid pode ser tomada em dois
206 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 207

sentidos: para indicar qualquer ser subsistente ou então para Sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte,
indicar qualquer ser subsistente que é completo na natureza há, na matéria orgânica, um princípio especial, inapreensível
de dada espécie. Tomado no primeiro modo, exclui a inerên- e que ainda não pode ser definido: o princípio vital. Ativo no
cia, própria do acidente e da forma material: no segundo, ex- ser vivente, esse princípio se acha extinto no ser morto; mas
clui ainda a imperfeição que tem a parte em relação ao todo. nem por isso deixa de dar à substância propriedades que h
no distinguem das substâncias inorgânicas. À química, que de-
Portanto a mão, por exemplo, se poderá dizer hoc aliquid
no segundo. Ora, sendo a alma uma compõe e recompõe a maior parte dos corpos inorgânicos
primeiro modo, mas não
também conseguiu decompor os corpos orgânicos, porém ja-
parte da espécie humana, poder-se-á denominar hoc aliquid mais chegou a reconstituir, sequer, uma folha morta, prova
no primeiro modo sendo dotada de uma subsistência, mas evidente de que há nestes últimos o que quer que seja, ine-
não no segundo modo. Neste sentido, apenas o composto de xistente nos outros. (KARDEC, 1868, p. 197)
alma e de corpo se diz hoc aliquid (ser concreto). [...) para
,
que o intelecto aja requer-se o corpo. (apude REALE, 2003)
Quando virou as costas para o conhecimento puro e se de-
dicou exclusivamente à observação, a medicina abriu mão do
Não é preciso ir mais longe para perceber que a filosofia
principal atributo do homem: o intelecto. E se dedicou a um
de Tomás de Aquino impede o desenvolvimento da idéia de empirismo que não oferece conclusões e o mantém na igno-
santo Agostinho. Seu pensamento, derivado de Aristóteles, rância. Vários homens iriam lutar para restituir a aliança entre
mas impregnado de posições dogmáticas, caía como uma luva
a medicina ea filosofia. Eis alguns: Jan Huss, Lutero, Paracel-
para a manutenção da doutrina da Igreja. so, Giordano Bruno, Galileu, Descartes, Newton Franklin
A subsistência inerente ao corpo é um subterfúgio para Mesmer, Hahbnemman, Allan Kardec. ,
manter o pensamento materialista numa conciliação forçada
com os fundamentos da religião. A posição de Platão e Agosti-
nho permitem um desenvolvimento da filosofia e da ciência A Igreja abandona a medicina
conciliados com os princípios morais. À partir deles, uma ob- o Na virada do milênio, depois de séculos mantendo a me-
servação positiva da alma revela sua substância independente, dicina sob o seu domínio, certas seitas cristãs fundamentalis-
que depois recebeu o nome de perispírito, na doutrina espíri- tas passaram a condenar a medicina como algo herege. Se a
ta, mas já era conhecido desde as civilizações antigas. origem da impureza do corpo estava no pecado, diziam, então
O galenismo apresentava uma posição semelhante. Seu a Igreja deveria cuidar apenas do espírito. Ocupando nova-
“método era o da fragmentação da unidade, priorizando a parte mente o espaço deixado, como aconteceu na Grécia antiga
em detrimento do todo. Uma posição oposta à de Hipócrates. ressurgia a figura do médico leigo.
Galeno também materializou a alma, numa interpretação À visão do espírito habitando um corpo impuro dividiu o
equivocada de Aristóteles, como vimos em Tomás de Aquino. trabalho de cuidar dos homens entre a Igreja e os médicos. O
De acordo com este pensador, a alma “não passa de um sim- quarto conçílio de Latrão (1215), em Roma, proibiu os cléri-
ples arranjo de elementos do corpo, de sua harmonia e tempe- “gos de fazerem cirurgias. Médicos e pregadores delimitaram
ramento”. E então iguala a alma “à natureza do corpo material, entre si as suas funções. . A alma seria tratad a pela Igreja e
já que representa a capacidade especifica de agir — dinamys corpo, pelos médicos. ME ESA CO
vegetativa ou animal — estimulada por um agente: pneuma ou O dogma da Igreja afirmava que, apesar de o espírito ser
spiritus vegetativo”. Aqui Galeno confunde a alma, princípio imortal, a carne era fraca e corruptível. Em decorrência do pe-
intelectivo, com a vitalidade do organismo. Novamente a dou- cado original, também era considerada depravada. Segundo
trina espírita esclarece: esta doutrina, foi pela desobediência de Adão e Eva no jardim
«
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 209

Muitos médicos modernos fizeram o diagnóstico de histe-


ria ou de doença mental entre os casos investigados pelos
tri-
" bunais da Inquisição. Entre estes médicos estão Pinel, Esqui-
rol, Charcot, Zilborg e Franz Alexander. Este último, em sua
- História da psiquiatria, chega a dizer: “Os séculos 13 e
14 fo-
ram marcados por movimentos psicóticos de massa
que ater-
rorizavam a Igreja, pois não podiam ser controlados.” (SZASZ
,
1976, pp. 131-32)
Oferecendo uma nova visão, Anton Mesmer, ao explicar
Poor
os fatos decorrentes do sonambulismo, afirmou que:
rqqu
ue é a Fazãâo que nos une, Disc
i utin
i do com os judeus , po - [...] esses fenômenos, tão antigos quanto as enfermidades
dos homens, sempre espantaram é muitas vezes alucinaram o
espírito humano. A disposição corno se manifestam sem
ces-
sar, lembrando substâncias cujas modificações têm imecanis-
mos desconhecidos, levam-no igualmente a atribuir aos espíri-
tos ou a princípios sobrenaturais os efeitos com cujas
verdadeiras causas sua inexperiência o impede de atinar:
segundo sejam felizes ou funestas, segundo as aparências,
seus princípios foram caracterizados como bons ou maus, e
segundo que eles determinem a esperança ou a crença, a su-
perstição e a credulidade ignorantes os tornam, por sua vez,
sagrados ou criminosos. Estes fenômenos só serviram para
provocar frequentes revoluções: dispondo as fontes e meios
para a charlatanice política e religiosa de várias pessoas [...]
Observando esses fenômenos, refletindo sobre a facilidade
com que esses erros nascem, multiplicam-se e sucedem-se,
ninguém poderá desconhecer a fonte das opiniões sobre os
oráculos, as inspirações, as sibilas, as profecias, as divinações,
até então, »ESP os sortilégios, a magia, a demonologia dos antigos. E, nos nos-
esporádica . Foi em
papa Inocêncio VI 9 d e dezembro de sos dias, as possessões e as convulsões. (MESMER, 1799)
H Promulgou a fa 1484
aberta a temporada mosa bula que declar
de caça às bruxas: : Desde tempos remotos a ignorância sobre os fenômenos
e extra-sensoriais foi utilizada para dominar os povos, como
Realmente, no últ
que cert amente
imo tempos, ch
egou
a no Os ouvidoso
conclui Mesmer:
e nos afligi
guu com ama
e rga tristezaà que
que mui
a tas
s
Embora essas diferentes opiniões pareçam tão absurdas
quanto extravagantes, não passam de quimeras; são
muitas
vezes os resultados de observações de certos fenômenos da
natureza que, por falta de luz ou boa-fé, foram sucessiva-
mente desfigurados, ocultos ou misteriosamente escondi-
dos. Posso provar, hoje, que tudo o que tem sido considera-
do verdadeiro nos fatos analisados deve ser relacionado com
210 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

senão
a mesma causa e que não deve ser levada em conta
como sendo modifi cações do estado chamad o sonamb ulis-
mo. (MESMER, 1799)

As diferentes fases pelas quais a medicina passou expli-


.
cam seu aspecto multifacetário quando chegou à Renascença
tição,
A influência do dogmatismo, do empirismo, da supers
da astrologia e do misticismo estavam presentes na medicina VI
exem-
alopática dos tempos de Mesmer. À seguinte descrição
plifica como isso aconteceu:
SURGEM CONTESTAÇÕES
[...] na Inglaterra medieval, a medicina sofreu grande in-
fluência da Igreja; os primeiros médicos conhecidos, produto
das escolas monásticas, mantinham-se na qualidade de religio-
s
E REFORMAS
for-
sos. No fim do século 14, só os homens casados podiam se
Como os ca-
mar em medicina e assumif cargos universitários,
sos cirúrgicos e ginecológicos eram considerados impróprios
os
para religiosos, não podiam ser tratados por eles. Somente Os dogmas e a contestação
cirurgiões-barbeiros e as parteiras exerciam estas funções. A
uniformidade da educação médica impedia que novos textos Mas a imposição da filosofia escolástica não seria pacífica
mais
fossem escritos, ao mesmo tempo em que as aulas eram pois logo vieram contestações. A autoritária determinação dos
resultou na falta de médicos ; vi-
teóricas que práticas. Isso tudo dogmas teve um alto preço. Custou séculos de estagnação da
las e vilarejos só podiam contar com os curandeiros locais, pos- ciência, sofrimentos, doenças, fome e empobrecimento da popu-
da-
suidores de vasto conhecimento sobre ervas e suas proprie lação européia. As explicações supersticiosas e sobrenaturais inun-
des medicinais. Obras sobre vários aspectos da medicina foram
traduzidas do latim para o inglês. Na Idade Média, era comum davam as práticas terapêuticas, tornando a medicina irracional.
textos médicos acompanhados de referências astrológicas.
pla- Entre a Antiguidade espiritualista e o moderno espiritua-
Cada parte do corpo era determinado pela influência dos
lismo, deu-se, é verdade, um notável eclipse, devido à filoso-
netas e signos do zodíaco. O sol governava o lado direito do cor- fia de são Tomás, firmado nos princípios da Igreja romana
por
po; a lua, o esquerdo; Vênus, o pescoço e abdômen; e assim que levantou a fé pan-viva contra a razão: o condenado racio-
diante. (MARGOTTA, 1988, p.59)
nalismo. (MENEZES, 1939, p. 23)
O magnetismo animal seria uma alternativa científica | Grandes homens, mesmo isolados em suas lutas, enfren-
oposta ao misticismo, ao dogmatismo € ao empirismo da medi- - taram a autoridade pagando a ousadia com suas vidas. Giorda-
cina oficial, defendida pelos médicos opositores de Mesmer. no Bruno, retomando as tradições filosóficas de Sócrates e
Platão, foi uma luz que brilhou para ajudar a extinguir a escuri-
dão da Idade Média. Pregava a liberdade de pensamento e de
- expressão como um direito natural,
Giordano Bruno percebeu que o universo infinito abriga
uma diversidade de mundos, muitos deles habitados. Contra-

211
212 P AULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 213
riando a orientação da Igreja,
afirmava que a Terra não era
centro do universo, confir o No entanto, a violência imposta à liberdade acaba fortale-
mando as afirmações de Cop
Não se pode conter impune érn ico . cendo as idéias que combate:
mente a liberdade por mui
tempo, pois as leis universai to
s logo vêm oferecer as con Os autos-de-fé aproveitam mais à idéia que se quer des-
cias e cobrar res ponsabilidades, segiên-
truir do que a prejudicam. Eis a grande e profunda verdade
q
constatada pela experiência. [...]. Como amar um Deus que
É chegads a hora em que
a faz queimar seus filhos? Como crer em sua bondade, se a fu-
depósito que lhe foi confiado,2 Igrejaj deverá á f prestar conta do maça das vítimas é um incenso que lhe é agradável? Como
Os ensinamentos do Cristo,
da maneira pels qual praticou
do uso que fez de sua autori crer em seu poder infinito, se necessita do braço do homem
enfim, do estado de incred dade
uli para fazer prevalecer a sua autoridade pela destruição? (Re-
ritos; é chegada a hora em que dade ao qual conduziu os espf-
ela deverá dar a César o que vista Espírita, 1866, p. 249)
é
Quando as idéias
de mudança e liberdade sur
espiritual. Não seria senão não dependem de impulsos individuais, mas ganhamgemuma
, elas
di-
por uma transformação abso mensão coletiva, impossível de conter:
que poderia viver; ela, porém luta
se resignará a essa transfotm
ção? Não, porque então não seria mais a-
a Igreja; para se assi-
milar as verdades e as descob E de notar que nove décimos de trezentas e sessenta e tan-
ertas da ciência, seria nece tas seitas que dividiram o cristianismo desde a sua origem ti-
ssário
veram por objetivo aproximar-se dos princípios evangélicos.
De onde é racional concluir que, se não tivessem dele se afas-
o fausto e a púrpura pela sim tado, essas seitas não se teriam formado. E com que armas as
plicidade e a humildade apas combateram? Sempre a ferro e fogo, proscrições e persegui-
licas, Está entre duas alte tó-
rnativas; se ela se transfor ções. Tristes e pobres meios de convencer! Foi no sangue que
suicida; se permanece esta ma, se
cionária, sucumbe sob a opre quiseram abafar. Em falta de raciocínio, a força pode triunfar
do progresso. (KARDEC, ssão
1890, p. 310) dos indivíduos, destruí-los, dispersá-los, mas não pode aniqui-
lar a idéia. É por isso que, com algumas variantes, nós as vemos
Às reformas protestantes reaparecer incessantemente, sob outros nomes ou sob novos
chefes. (Revista Espírita, 1866, pp. 249-250)
A intolerância religiosa for
? sas, e ainda hoje espalha jou a febre das guerras reli
medo e violência, quando gio- Portanto, os momentos de grandes mudanças, espalhados
ade já deveria agir com a cal a humani- pela história da humanidade, são o efeito das leis naturais que
ma da razão. Ponderou Kar
num artigo publicado na Rev dec regem os grupos sociais:
ista Espírita: +

o Étriste parauma relig


eligiãião fund É nesses momentos que surgem os verdadeiros reforma-
bilidade em semelhantes expe ar sua autorida i de e sua esta-
dores, que assim se vêem como representantes, não de uma
dientes. É mostrar pouca con-
idéia individual, mas de uma idéia coletiva, vaga, à qual o re-
formador dá forma precisa e concreta e só triunfa porque en-
contra os espíritos prontos a recebê-la, Tal era a posição de
Lutero. Mas Lutero nem foi o primeiro, nem o único promo-
tor da Reforma. Antes dele houve apóstolos como Wyckliff,
E se um homem tivesse o pode João Huss, Jerônimo de Praga, Estes dois últimos foram
r de a derrubar, de duas, uma:
ou ela não seria obra de Deus queimados por ordem do concílio de Constança. Os hussi-
, ou este homem seria mais
co do que Deus, desde que lógi- tas, perseguidos tenazmente após uma guerra encarniçada,
seus argumentos prevaleçam
ira os de Deus. (Revista Espí con- foram vencidos e massacrados. Os homens foram destruí-
rita, 1866, pp. 248-249)
dos, mas não a idéia, que foi retomada mais tarde sob outra
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 215
214 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

, Calvino,
forma e modificada nalguns detalhes por Lutero tivessem Média pelos religiosos que as cultivavam cuidadosamente nos
ir que, se
Zwinglio etc. De onde é permi tido conclu
mesmo
jardins de seus mosteiros. Eles as utilizavam em suas curas por
servido e nem
queimado Lutero, isto para nada teria
reforma não es- meio de pesquisas em algumas poucas e centenárias obras ma-
dado um século de espera, porque a idéia da
de Lutero, mas na de
tava só na cabeça milhar es de outras de nuscritas guardadas nas suas raras bibliotecas. Essa prática
onde deveriam sair homens capazes de a sustentar.
Não teria permitiu que esses conhecimentos fossem preservados e che-
to para a causaque 0
sido senão um crime a mais, sem provei gassem até nós.
o uma corrente
tivesse provocado. Tanto é certo que, quand (Re- Paracelso foi um médico revolucionário e enfrentou os dog-
detê-la.
de idéias novas atravessa o mundo, nada poderá
vista Espíriza, 1866, p. 251)
mas que engessavam a medicina. Ele retomou a simplicidade de
Hipócrates, aprendendo, sem orgulho, com a medicina popu-
A rejeição das concepções dogmáticas da medi
cina tam- lar. Acreditava no poder da natureza em curar o corpo e a
maiores ex- mente, e conhecia a integração do homem com o universo. À
bém teve seus sintomas precursores. Um de seus
poentes foi o médico que adotou o nome de Parac
elso. verdadeira arte de curar começava seu despertar.
A alquimia Paracelso aprendeu com o bispo Eberhard Baumn-
cina gatner, um dos mais notáveis alquimistas. Aprendeu práticas ci-
Paracelso e a grande renovação da s medi
uma ciência, mas tam- rúrgicas com os melhores mestres. E rejeitou o ensino pedante
A medicina não é apena
bém uma arte. Ela não consis te em compo r pílulas, dos escolásticos da universidade, como esclareceu em suas
trata, ao
emplastros e drogas de todas as espécies; memórias:
contrário, dos processos da vida, que devem ser com-
de
preendidos antes de ser orientados. Uma vonta Ponderei comigo mesmo que, se não existissem professo-
poderosa pode curar, num caso em que
à hesitação res de medicina neste mundo, como faria eu para aprender
ou a dúvida pode desem bocar em fracas so. O caráter essa arte? Seria o caso de estudar no grande livro aberto da
o pode atuar mais poder osame nte sobre o natureza, escrito pelo dedo de Deus. Sou acusado e conde-
do médic
enfermo do que todas as drogas empregadas. nado por não ter entrado pela porta correta da arte. Mas qual
PARACELSO, 1490-1541 éa porta correta? Galeno, Avicena, Mesua, Rhazes ou a natu-
reza honesta? Acredito ser esta última. Por esta porta eu en-
trei, pela luz da natureza, e nenhuma lâmpada de boticário
von Hohe-
Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus me iluminou no meu caminho. (PARACELSO, 1563, p. 59)
próximo de
nheim Paracelsus nasceu em Einsideln, povoado
Zurique, Suíça, no dia 10 de novembro de
1493, recebendo o Divergindo da postura dos médicos de sua época, Paracel-
a
pai deu a ele so percebeu a riqueza de aprender com açougueiros e barbei-
nome de Teofrasto. Existe a opinião de que o seu
m ele era mais “ros, que eram os cirurgiões práticos da época, dialogando inte-
alcunha de Paracelso, acreditando que ainda jove
sábio que Celso, o célebre médico do imperado
r Augusto. ressadamente com quem quer que pudesse enriquecer sua
s com seu : compreensão do corpo humano e das patologias. Grande ex-
Desde jovem, Paracelso fez muitas excursõe
do os nomes,
pai, doutor Wilhelm von Hohenheim, aprenden inais. Foi - perimentador, fez muitas descobertas tratando dos pacientes,
as virtudes e as aplicações das ervas e plant
as medic acompanhando seus hábitos, o desenvolvimento de suas doen-
cia seria reco nhecidamente re- ças, o efeito dos medicamentos.
apenas nessa época que a farmá
no Egito, na “Quando se tornou professor de medicina na Universidade
tomada na Europa, desde os tempos primitivos
anos antes da era cris- - de Basiléia, Paracelso rompeu com a tradição que seguia os en-
Índia, na China e na Grécia, milhares de
ecid as na Idade
tá. Até então, as ervas medicinais eram conh sinsmentos clássicos cegamente. Passou a ensinar em alemão
«
216 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
217
no lugar do latim, para facilitar
a compreensão. Também quei-
mou os livros de Galeno e outr Adeptos de Paracelso também se alinhavam com as idéias de
os mestres da Antigúidade,
simbolizando um rompimento seu seguidor dos Países Baixos, Johannes Baptiste van Helmont.
com a medicina tradicional,
Porém van Helmont criou muitas teses pessoais. Ele rejei-
Paracelso pertence a um segu
Renascimento. Não ao dos huma
ndo momento dentro do tava, por exemplo, a noção de Paracelso de um único espírito
nistas, que devoravam ere- habitante no organismo (archeus), desenvolvendo a idéia de
produzia m ipsis literis o original das auto
mas, precisamente, ao momento çidades clássicas, que cada órgão tem seu espírito específico que regula esse ór-
em que, de posse desses co-
nhecimentos, o renascentista gão. Quando Allan Kardec questionou os espíritos na doutrina
adapta-os à sua realidade coti-
diana, rebelando-se, por isso,
estabelecida e contra seus
contra a autoridade escolástica espírita, essa diferença foi esclarecida a favor de Paracelso:
clamores à universalidade,
(GOLDFARB, 1987, p. 158) — Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em
tantas partes quantos são os músculos e presidindo assim a
Paracelso era defensor de uma
med icina baseada em con- cada uma das funções do corpo? - Ainda isto depende do
ceitos retirados das leis naturais, sentido que se empreste à palavra alma. Se se entende por
diversos das falsas diretrizes
dos médicos galênicos. Sua doutri alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se enten-
na oferecia uma nova visão
do que mantém a vida, as causas de por alma o espírito encarnado, é errônea, Já dissemos que
das doenças, das relações en- o espírito é indivisível. Ele imprime movimento aos órgãos,
tre o homem, seu corpoe o universo
. Baseando-se nessas apre- servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se di-
ciações, ele desenvolveu inúmer
os preparados farmacêuticos, vida. (KARDEC, 1857, p. 106)
por meio da observação e da exp
eriência, optando por fórmu-
las mais simples e com ingredien Foi com uma ardente fé que Paracelso enfrentou todas as
tes provenientes da natureza.
O grande reformador da medici perseguições, difamações e calúnias dos homens de sua época,
inúmeras substâncias min
na fez uso, também, de que não o compreenderam. Diz ele:
erais, como enxofre, mer
chumbo, cobre, ferro e antimônio cúrio,
. O emprego dos remédios A fé é uma estrela luminosa que guia o investigador atra-
era fundamentado na teoria dos
semelhantes — iguais curam vés dos segredos da natureza. É preciso que busqueis vosso
iguais — e nos conceitos de saúde
como equilíbrio do fluido vi- ponto de apoio em Deus e que coloqueis a vossa confiança
tal pelo espírito (archeus) que num credo divino, forte e puro; aproximai-vos d'Ele de todo
habita o corpo, retomando a
corrente hipocrática, O trabal o coração, cheios de amor e desinteressadamente. Se pos-
ho do médico é oferecer condi- suirdes esta fé, Deus não vos esconderá a verdade, mas, pelo
çõespara que o archeus realize os proces
Paracelso desenvolveu sos naturais da cura. contrário, vos revelará suas obras de maneira visível e conso-
muitos indícios do que futura ladora. (PARACELSO, 1563, p. 129)
seria a arte da homeopatia, Esta mente
doutrina surgiria com todo
seu esplendor dois séculos depois, Às doutrinas que iriam revolucionar a medicina no Ilumi-
com a obra do médico ale-
nismo, O magnetismo animal e a homeopatia, tiveram como
animal como meio de cura tinham precursor o Lutero da arte de curar: Teofrasto Paracelso.
também um paralelo com
suas teorias fisiológicas. Porém,
o difícil entendimento dos
textos originais de Paracelso, em
virtude de sua escrita cifrada E o fanatismo científico reagiu
e os termos desconhecidos da
Idade Média dificultam uma
pesquisa que resgate seus valores. Parece que a funesta preocupação principal Es
velha medicina é tornar, se não mortal, pelo menos in-
curável a maioria das doenças crônicas, por meio de
constantes enfraquecimentos e martírios do doente
218 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

debilitado e já bastante sofredor, acrescentando-lhe


novas doenças medicamentosas destruidoras e, quan-
do estivermos habituados a tal procedimento perni-
cioso e convenientemente insensíveis às advertências
da consciência, eis um negócio muito fácil!
HAHNEMANN

As doutrinas revolucionárias de Paracelso estavam muito


à frente de seu tempo. Suas idéias chocaram os médicos. Logo
VII
viria uma forte reação. Com medo do desconhecido, os dou-
tores agarram-se com fanatismo à doutrina de Galeno e consi-
deraram herética a doutrina de Paracelso.
O RENASCIMENTO DAS
É tão mais fácil sustentar a autoridade do que investigar CIÊNCIAS MÉDICAS
os fatos, e o tempo era de idéias originais, mas não ainda de
sua evolução experimental. Nem era tanto o entendimento
da saúde e doença suficientemente avançado para distinguir
o que hoje chamamos de uma doença da outra. O diagnósti-
co apurado das desordens internas não existia e tinha pouca
base para se desenvolver, uma vez que os elementos de fisio- O homem volta a observar a natureza na
logia e patologia foram estabelecidos nos séculos 17 e 18. Renascença
(PORTER, 2001, p. 252)
Durante a Renascença, novos pensamentos foram aos
As ciências naturais seguiam fazendo grandes descobertas poucos minando as barreiras insanas da ignorância médica. Em
1536, o rei da França enviou uma força expedicionária para
no século 17. Entretanto, um grande abismo se aprofundava
conquistar castelos e cidades de Turim. Ambroise Paré era en-
entre o progresso das outras ciências e a medicina, que parecia
tão um principiante, designado para auxiliar os cirurgiões que
regressar à época medieval. Os médicos eram avessos a mu-
atendiam os soldados feridos. Ele nunca tinha visto um feri
danças e novidades, e os remédios e tratamentos continuaram
mento à bala. Os livros determinavam que a pólvora envene-
a depender da autoridade, da tradição e da superstição, evi- nava os ferimentos, que precisavam ser cauterizados com óleo
tando a lógica e a observação. fervente misturado com melaço. Paré juntava coragem para
O sistema dos humores, o mais ilógico e cruel, foi, no en- seguir a instrução, quando observou que não havia óleo sufi-
tanto, o que mais resistiu ao tempo. Durante mais de quatorze ciente. Substituiu o tratamento por uma mistura de gema de
séculos, os doentes foram postos à tortura. Combatia-se o bi- “ovo, óleo de rosas e terebintina para aliviar a dor.
lioso pelos vomitivos; o mucoso, pelos purgativos; o nervoso, Durante aquela noite, o médico novato perdeu o sono
pelos antispasmódicos; o inflamatório, pelas sangrias. Aplica- pensando que havia matado os soldados. Quando foi exami-
vam-se queimaduras com ácido sobre pústulas, com o que se ná-los, constatou que os homens tratados com a mistura quase
imaginava estar purgando os males do corpo. A fonte das des- não tinham dor, e os ferimentos não tinham inflamado! Já
graças continuava jorrando. aqueles que receberam jatos de óleo fervente sobre os feri-

219
220
2
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 221

men tos tin


i ham dores terrívÍveis
eis i lamações e necros
dos. Paré transfo mmou-s no, ,ídoinf e dos teci- Porém, mais uma vez o mundo acadêmico mostrou sua
e lodos soldad R
esta terrível prática tradicional. os ao pôr tim a resistência às mudanças e, enfurecido, caiu sobre Vesalius.
O novato
viria a se tornar o Denunciado como charlatão por aquele que tinha sido seu
maior cirurg
rgi
iaão da Re professor e também por seus alunos, precisou empreender
ça. Honesto, cheio de -
compaixão
eligente
teli e observado to ro uma fuga. Um de seus companheiros de estudos, Miguel Ser-
; r, ele Fompeu
com os ensinâmentos clás- vetus, por afirmar que o sangue corria do coração para os pul-
mões, pondo em dúvida as autoridades médicas apoiadas pela
Igreja, precisou fugir da França católica. Na Genebra calvinis-
ta, foi queimado vivo juntamente com as suas obras.
Outro grande avanço aconteceu quando René Descartes
retomou a união entre a medicina e a filosofia, superando a es-
colástica e finalmente abrindo as portas da ciência.
Na Renascença, a observ
ação lutava Contra a esp
eculação Descartes devolve ao homem sua
dualidade natural
Paré É verdade que a medicina ora praticada contém
core esfirmou Sua convicçãoa poucas coisas cujo benefício seja tão notável; mas,
rmelen, professor de med em sua controvérsia com
icina em Paris: sem que alimente nenhum intuito de desprezá-la, es-
- Será que o senhor
pretende ensisinar- tou certo de que não há ninguém, mesmo entre os
nhor, que nunca saí irurgi que a professam, que não admita que tudo quanto
ria é coa OS nela se sabe é quase nada, em comparação com o que
resta por sabe; e que poderíamos livrar-nos de uma
infinidade de moléstias, quer do espírito, quer do
corpo, e talvez mesmo do definhamento da velhice,
mer code o Servação co hu se tivéssemos conhecimento bastante de suas causas
manismo de Paré permit
Se à Importância da asseps iram que ele e de todos os remédios que a natureza nos forneceu.
ia no atendimento médi RENÉ DESCARTES, Discurso do método
, co
tsentimentos e, o que
HZOU sua arte, a inter-rel ca racte-
ação do corpo com o esp
meio Poatomia foi a ea iri to ê
que mais avançou durant À filosofia do médico Descartes inaugura o pensamento
E + SNPerando a proibi e o Ren asci- moderno. Sua obra recebeu uma corrente de pensamento re-
ibição da IgrBrejeja
a da da di dissecaçãã o do cor
qamano. fo se deve pri po formista integrada pelos humanistas, pelas recentes concep-
ncipalmente ao médico fla
O, considerado o maior mengo Ande ções científicas e pelas reformas.
anatomista de todos os
Sua obra De humani corpor tempos Seu período é de grandes transformações e de ruptura do
is fabrica libri septem rev
olucionou o mundo anterior. Entretanto, a escolástica ainda estava forte e,
longe de ter desaparecido, sua autoridade nas universidades
ainda era grande. A Contra-reforma ainda injustiçava grandes
homens, como a queima de Giordano Bruno na fogueira e o si-
lenciamento do já idoso Galileu.
PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESME-RA CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCOND
222 IDOS 223

Descartes rompeu com os equívocos de Tomás de Aquino Ora, não a alma, mas o composto de alma e corpo é um
ser
e o galenismo, sedimentados pela escolástica. Se não concor- concreto. Portanto a alma não é subsistente.” Ou seja, a alma
e
damos com os princípios que nos são apresentados, não deve- o corpo são uma só substância. Para o pensamento da Igreja, o
mos nos conformar com eles — para Descartes, isto é um dever corpo vivo é condição essencial para a alma agir. Isso faz com
de consciência: que ela se aproxime do pensamento materialista, que diz: “A
consciência é uma excreção do cérebro.” Ou seja, sua existên-
Não aprovo que tentemos enganar a nós mesmos, sacian- cia é um produto virtual do funcionamento do corpo.
do-nos de falsas imaginações; pois todo o prazer que advém
disso pode tocar apenas a superfície da alma, a qual, no en- Por outro lado, a conclusão de Descartes é oposta: a alma é
tanto, sente uma amargura interior ao perceber que eles são um ser concreto, sua substância é independente da substância do
falsos. (Carta a Elisabeth, 6 de outubro de 1645) corpo. Alma e corpo são independentes, conclui, invalidando
a
hipótese dogmática e também a materialista. Afirma Descartes:
Cansado dos enganos e absurdos impostos pela educação
escolástica de sua formação, Descartes busca as verdades em À alma racional não pode ser de maneira alguma tirada do
si mesmo. É importante destacar que Descartes era médico e poder da matéria, e como não é suficiente que esteja alojada
no corpo humano, assim como um piloto em seu navio, salvo
filosofo, como Empédocles, Hipócrates, Aristóteles e tantos talvez para mover seus membros, mas que é necessário que
outros. À união da medicina e da filosofia deu condições para es-
teja junta e unida estreitamente com ele para ter, além disso,
o surgimentos das ciências médicas, nascidas da corrente de sentimentos e desejos parecidos com os nossos e assim com-
pensamento vitalista. por um verdadeiro homem. Afinal de contas, eu me estendi
um pouco aqui sobre o tema da alma por ele ser um dos mais
À interpretação materialista que muitos fazem do pensa- importantes; pois, após o erro dos que negam Deus, não
existe
mento de Descartes está completamente equivocada. Quan- outro que desvie mais os espíritos fracos do caminho reto da
do separa a alma do corpo, ele retoma o conceito da existência virtude do que imaginar que a alma dos animais seja da mesma
de uma substância independente do corpo, tornando-a um ser natureza que a nossa, e que, portanto, nada temos a
recear,
nem a esperar, depois dessa vida, não mais do que as moscas
concreto. É uma volta aos conceitos dos primórdios da filoso- as formigas; ao mesmo tempo em que, sabendo-se quanto di-
e
fia grega, explicada racionalmente por Sócrates e Platão. Este ferem, compreende-se muito mais as razões que provam que
conceito havia sido escondido da humanidade pela escolásti- a nossa é de uma natureza inteiramente independente do cor-
ca, numa interpretação equivocada de Aristóteles por Galeno Po e, consequentemente, que não está de maneira alguma su-
jeita a morrer com ele; depois, como não se notam outras cau-
e Tomás de Aquino. Explica Descartes:
sas que a destruam, somos naturalmente impelidos a supor
Afinal, se ainda há homens que não estejam totalmente con- por isso que ela é imortal, (DESCARTES, 1950, pp. 77-78)
vencidos da existência de Deus e da alma, com as razões que
apresentei, quero que saibam que todas as outras coisas, a res- Para Descartes, o calor do corpo e a vida orgânica não são
peito das quais se consideram talvez certificados, como a de mantidos pela alma:
possuírem um corpo, existirem astros e a Terra, e coisas pare-
cidas, são ainda menos certas. (DESCARTES, 1950, p. 51) Há no homem apenas uma única alma, ou seja, a racional;
pois só devem ser contadas como ações humanas as que de-
A filosofia de Descartes retomou a discussão sobre a alma pendem da razão. Com relação à força vegetativa e motora
anterior à escolástica. Para Tomás de Aquino, do corpo a que se dá o nome de alma vegetativa e sensitiva
subsistente,
nas plantas e animais brutos, elas também existem no ho-
“Aquilo que é subsistente é um ser concreto (hoc aliquid). mem; mas nele não devem ser chamadas de almas, porque
224 PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 225
não sa Ú Primeiro prin
cípio de suas ações e são
O totalmente difere
nte da alma
de um gêne-.
que essa parte seja o cérebro, ou talvez o coração [...] mas
maio de 1641, tradução francesa racional, (Carta a Regius, ? ' examinando a coisa com cuidado, parece-me ter reconheci-
de F. Alquié)
do de maneira evidente que a parte do corpo na qual a alma
exerce diretamente suas funções não é em absolutamente 0
coração; nem tampouco o cérebro, mas apenas a mais interna
de suas partes, que é uma certa glândula muito pequena, si-
menta-se a teoria do mag tuada no meio de suas substância.
netismo animai. Isto por
do Kardec: “Os corpos org que, segun- |
ânicos são, uma espécie de Descartes se refere à glândula pineal, que, segundo Gale-
parelhos elétricos, nos quais a atividade pilhas ou
do fluido determina no (Ouvres medicales, VIII, XIV), recebeu esse nome porque
tem a forma de uma pinha. Mas Descartes completa afirman-
do que esta glândula situa-se...
em maior porção pode dá-lo [...] de uma forma tal que menores movimentos que
a um que o tenha de menos
certos casos prolongar a vid e em acontecem nela muito podem para mudar o curso dos espíri-
a Prestes a extinguir-se.” tos, e reciprocamente os menores mudanças que ocorrem no
À filosofia de Descartes, nas
cida do método racional, pos curso desses espíritos muito podem para mudar os movi-
sibilita o surgimento de uma - .-
ciência que questione a vitali 3
mentos dessa glândula.
de do Organismo como tendo da-
um Princípio que o difere da ma-
téria inorgâ
nica e estude à essência Descartes definiu que esses espíritos eram substâncias
agora um ser concreto (hoc da substância da alma
aliquid) independente do cor corpóreas, instrumentos de transmissão de informações para
com características próprias po, comandar todos os movimentos do organismo. Se interpretar-
e diferentes das orgânicas
Assim, Descartes dá uma vo mos os espíritos animais como sendo fenômenos físico-quí-
bas e fil osó fic a par a a ciência do
2, a
É
micos, como os hormônios e os impulsos elétricos nervosos, a
teoria de Descartes esclarece o comando da alma, ser concre-
to, sobre um corpo animal movido pelo fluido vital.

Méditations).
À questão subseguentent
te e seriaseri como a alma controla
Po, que tem sua própria vita o cor-
lidade.
"
Embora a alma esteja unida
& todo o corpo, no entanto
uma parte na qual ela exerce há
suas funções mais especifica-
mente que em todas as outr
as. E habitualmente se acre
dita
VII

“O ILUMINISMO E
A MEDICINA VITALISTA

A ciência discute a origem das coisas


Os postulados de Descartes seriam demonstr
ados, nos sé-
culos seguintes, pelos pesquisadores vital
istas.
A primeira reação científica à medicina
alopática de tradi-
ção galênica foi elaborada justamente pelos
vitalistas de inspi-
- Tação hipocrática, originando a fisiologia
, o método científico
damedicina, a biologia e as terapias racionais,
sempre lutando
contra o senso comum:
Por encontrar-se alinhada à uma visão
reducionista, por-
tanto mais fácil de ser assimilada, a visão
galênica acabaria
predominando sobre a hipocrática, apesa
r de esta última ter
cativado defensores esporádicos espalhados
ao longo da cro-
* nologia do processo histórico; repre
sentantes do contrafluxo
daquilo que foi estabelecido pelos pensadores
como o senso comum para o conhecim precedentes
ento médico,
(ROSEMBAUM, 1996, p. 39)

característico do Iluminismo, este moviment


o não articula-
do foi lentamente elaborado sob a inspiração
natural da união en-
E; tre a ciência
e a filosofia, iniciada por Hipócrates, Sócr
ates e Pla-

227
228 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 229
pão, e na era moderna
por Descartes. Os vitali
omem como um todo,
Corpo e alma, integrado
stas analisaram o À ciência vitalista
com a natureza Mas foi na Faculdade de Medicina de Montpellier, uma
das grandes seivas do Iluminismo, que o vitalismo recebeu uma
produção acadêmica e a sustentação de teses sólidas, caracteri-
zando uma verdadeira revolução. Seria de uma importância
momento certo, em que fundamental para a ciência o resgate dos trabalhos acadêmicos
a razão estava preparad
um grande número de in a para absorver e das obras publicadas pelos médicos, físicos, químicos, biólo-
form ações novas.
, O principio vital Surgiu gos, fisiologistas e até botânicos vitalistas dos séculos 18 e
19,
primeiramente na filosofia
absorvido pela Ciência,
em opo , sendo para resgatar a rica disciplina desenvolvida antes que o dogma
ta da medicina alopát sição ao empirismo red materialista reducionista a marginalizasse.
ica materialista e ao ucionis-
lástico da Igreja, “Força dogmatismo esco- A importante figura de François Boissier de Sauvages
análoga à alma, mas dif
entanto também difere erente dela, no (1707-1767), autor de Motuum Vitalium Causa, de 1741,
nte dos fenômenos fís
pela qual se explicavam ico-qu
os fenômenos da vida - es ímricos afirmou que Deus adotou o corpo de um princípio vital dire-
cação adotada por Cuv
illier ” (ROSEMBAUM,
saéae le tor para a execução de suas funções. Theóphile de Bordeu
c Um dos primeiros 199 6, p. 50) , (1722-1776) aproximou-se de Haller no estudo das funções
e dos mais destacados
peorge E. Stahl (1660- vitalistas foi dos nervos, e era um importante médico vitalista de Montpel-
1734), médico e químic
escontente com a medi o alemão lier. Henri Fouquet (1727-1806) estudou as relações entre a
cina de sua época, ele
afirmou: sensibilidade e os fenômenos vitais. Willian Harvey (1578-
A regra admitida em medici
nade tratar as moléstias pelos
1657) afirmou sobre o organismo humano que “o todo parece
remédios contrários ou se referir a uma vis - à perfeição da natureza — entre cujas
opostos é completament
e absurda.
obras não se encontra nada feito em vão”.
O vitalista Albrecht von Haller (1708-] 777) fundamen-
tou sua teoria sobre a ação das fibras, para mostrar sua noção
€m casos que inutilmente sobre a irritabilidade e a sensibilidade teciduais. O primeiro
já haviam administrad ,
tidão de pós absorventes.
(HAHNEMANN, 2001,
p. 68) ou tratado consistente sobre fisiologia foi escrito por esse médico
Como se vê, Stahl anteci da escola de Boerhaave. Superando a noção primitiva de Gale-
pava a homeopatia. Em out no, ele descobriu que os músculos respondem com contração
seus trabalhos, surge a
teoriTia fis ro de
Anton Mesmer: fis iol
iológi
ógica que seria 11 aos estímulos, e a sensibilidade é propriedade específica do
: fada por sistema nervoso. Esta sua tese seria utilizada como base fisio-
É pelo movimento que
a lógica para a teoria do magnetismo animal, desenvolvida por
dentro e sobre o corpo -.] alma humana cumpre sua obra Mesmer em suas Memórias de 1799.
vimento é a vida, dentro do neste sentido lhes digo que o mo-
verdadeiro sentido desta Um dos mais produtivos pesquisadores de Montpellier
É ainda pelo movimento palavra
circulatório dos hum
tureza opera o fenômeno ores que a na- teria sido Paul-Joseph Barthez. Suas principais obras foram
da vida; mas isto não é
afirmar que a circulaçã motivo para Discours académique sur le principe vital de Vhomme (Mont-
o dos humores é vida,
passa de um simples ins já que ela não
trumento. A natureza anim
al, enfim
pellier, 1773), Discours sur le génie d' Hippocrate (Montpel-
preside a existência. (RO
SEMBAUM, 1996, p. 56)
, lier, Tournel, am IX, 1801), Nouvelle méchanique des mouve-
,
230 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
231

ments de "homme et des animaux (Carcassonne, Pierre Polere, Realmente, uma oposição ao dog
matismo imposto pela
1798). Ele assim se refere ao princípio vital, diferente da Igreja nos séculos anteriores
foi um posicionamento comum
alma: “EÉ ativo,
ati natural e unitário
itári e manifesta sua ividade en-
ativida entre os iluministas. Mas, com
o alternativa ao materialismo,
tre outras formas na sensibilidade, na contração, no tônus etc. espiritu alismo raci o
onal foi uma posição adotada por
e se acha unido à matéria orgânica”. Estas teses do vitalismo pensadores, filósofos e pesquisadore muitos
s do Século das Luzes.
seriam confirmadas pela doutrina espírita: Eles se opuser am ao pensamento dogmático e
sem, no entanto, abandonar as noçõ sobrenatural,
Os corpos orgânicos seriam verdadeiras pilhas elétricas, es espiritualistas. Sem dei-
xar de serem científicos, combat
que funcionam enquanto os elementos dessas pilhas se iam o materialismo e o ateís-
acham em condições de produzir eletricidade: é a vida; que mo, mantinham a crença num
Deus criador e impessoal, na
deixam de funcionar quando tais condições desaparecem: éa alma espiritual e imortal, e numa lei mora
morte. Segundo essa maneira de ver, o princípio vital não se- l universal.
O Huminismo francês teve os
ria mais do que uma espécie particular de eletricidade, eno- seus representantes mate-
minada eletricidade animal, que durante a vida se desprende rialistas, como Julião Offrai de La Mettrie (17
do famoso livro L'homme mach 09-1751), autor
pela ação dos órgãos e cuja produção cessa, quando da morte, ine, e o barão Teodorico
por se extinguir tal ação. (KARDEC, 1868, p. 199) d'Holbach (1 723-1789), um ale
mão que viveu em Paris, au-
tor deSystême de la nature, no qual o mat
Os cientistas vitalistas uniam a filosofia com a ciência, erialismo se revela
completamente.
oferecendo uma base experimental para o modelo teórico
Por sua vez, a obra de Rousseau
construído por Sócrates, Platão, Hipócrates, Paracelso, Des- (1712- 1778) é um exem-
“Plo, na filosofia, de uma Teação espi
cartes e outros, ritualista em oposição à fi-
losofia materialista nas luzes. O pos
icionamento de Rousseau
está representado por seu romanc
e A nova Heloísa (176 1) e
O que foi o Iluminismo | na Profissão de fé do vigário sabo
iano, peça mestra do Emílio
O século 18, tempo do advento do magnetismo animal, é (1762). A filosofia de Rousseau susc
itou a rejeição tanto dos
costumeiramente designado como o Século das Luzes. O Ilu- máterialistas quanto dos poderes
públicos e das igrejas consti-
minismo é um período caracterizado pelo combate ao obscu- tuídas, Sua obra Emílio foi queima
da, um mês apenas após sua
rantismo filosófico, religioso, moral e político dos séculos an- publicação, em Paris eem Genebr
a. O arcebispo de Paris con-
teriores. Um esforço dos educadores, filósofos e cientistas denou Rousseau, que fugiu para a Ingl
aterra, Ele foi censurado
inflamados pela perspectiva de superar uma situação de tenard “Por escolher a religião natural e Tejeitar os dog
revelada. mas da religião
cia, preconceito e dogmatismo. Kant descreveu esta am ição
como “a saída do homem de sua imaturidade auto-imposta”. Rousseau afirmava serem os crentes capazes de congui
(KANT, 1784, p. 54) tara salvação Por si mesmos, Essa s-
idéia era contrária à posição
Os acadêmicos de história dos anos 1960 e 70 criaram da igreja católica e das igrejas protestantes. Era lei
: “fora da Igreja não há salvação”. 0 axioma
uma visão serena e sem conflitos acerca dos participantes do Em Profissão de fé do vigário
Iluminismo. Ainda hoje, é um lugar-comum imaginar esse Pe “saboiano, Rousseau afirmou:
ríodo como sendo uma concepção materialista dos seres hu
Não tiro das regras os princípios de
manos. Mas a compreensão dessa época não pode ser tão sim- as encontro no fundo do meu Coração, uma alta filosofia, mas
plesmente reduzida. em caracter
escritas pela natureza
es indeléveis. Basta-me consulta
r-me sobre o
232 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 233

que quero fazer. Tudo o que sinto ser


que sinto ser mal é mal: o melhor
bem é bem etudoo Às atuais pesquisas, como o trabalho realizado pela pro-
de todos os casuístas é a
consciência, E só quando se comercia
com ela é que se recor-
fessora Elizabeth Ann Williams, do Departamento de História
re às sutilezas do raciocínio. À cons da Universidade do Estado de Oklahoma, Estados Unidos, re-
ciência é a voz da alma, as
Paixões são a voz do corpo. É espa
sas duas Dguagens se contradigam?
ntoso que muitas vezes es “velam uma nova visão da medicina iluminista. Em seuÀ cultu-
A qual delas se deve ou- ral history of medical vitalism in enlightenment Montpellier
vir? A razão frequentemente nos
engana, não temos senão o
direito de recusá-la; mas a consciên
cia nuncdengana; é over.
(2003), a pesquisadora afirma que, nas recentes décadas, as
dade
dadeiro guia do homem: : ela está
para a alma assi características familiares do Iluminismo foram questionadas
instinto está para o corpo,3? por revisionistas inspirados por pesquisas teóricas diversas, li-
? da esmo o
º Mesmer deradas principalmente pelos trabalhos da Escola de Frank-
criou uma ciência experi
tação filosófica espiritualista. Seu discmental com uma orien- furt e do denominado pós-moderno Michel Foucault. Segun-
Grandchamp, reve
ípulo, o médico Picher do Elizabeth, a revisão do Iluminismo ganhou impulso no
lou a admiração de Mesmer por famoso livro de Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, Dia-
Rousseau. “Ele nos fazia admirar Fénelon e
as grandezas de Deus na na- lética do Iluminismo, escrito em 1944.
tureza e em todas suas maravilhas”,
afirmou Grandchamp. Nesse contexto surge a mais importante questão, ou seja,
Evidenciando outra questão controve
rsa na interpretação do o quanto a natureza do Iluminismo contribuiu para a situação
Iluminismo, pode-se afirmar que nãohou
cífica quanto a um posicionamento mate ve uma Convivência pa- atual da ciência. Até os anos 1960, o Iluminismo era visto
rialista da ciência. como integrado ao positivismo do século 19. Uma simples
Mes
mer, sobre a divulgação da des continuídade das revoluções científicas, acumulando provi-
magnetismo animal, afirmou que seu. coberta da terapia do
.. sões e métodos para um desabrochar científico, considerando
[...] objetivo então era a enasod. . as ciências como o caminho para o aperfeiçoamento moral e
fixar a atenção dos mé social da humanidade. Augusto Comte (1798-1857), “pai do
.

E
a

dicos. Mas,
.

positivismo”, foi o responsável pela circulação do termo como


a expressão da confiança dupla nas ciências como fontes sobe-
rota ordinária da medicina, (MESMER,
1781) ranas de conhecimento e como nossa maior esperança de pro-
Os médicos de sua época usavam gresso moral (COOPER, 1996, p. 371). Ingenuamente, alguns
terapias centenárias su- historiadores da ciência analisam como uma pacífica e unâni-
persticiosas, sem fundamento cien
tífico. Mas eram os re re- me associação dos iluministas pela renúncia às causas iniciais
sentantes, na medicina da época,
do materialismo reducionis. dos fatos, numa opção pelos sentidos físicos como meios ex-
ta. Eles rejeitaram a terapia do
magnetismo animal mesmo clusivos para a explicação de todos os fenômenos.
sem compreendê-la. “A ignorânc
ia dos séculos precedentes
sobre este assunto garantiu aos Mas uma análise mais recente, baseada nas pesquisas da
médicos a confiança supersti-
ciosa que eles possuíam e que
inspiravam nos seus específicos
Escola de Frankfurt, revela uma ciência que exclui, marginaliza
e oprime os indivíduos e grupos que desenvolviam conheci-
,
mentos considerados além dos limites do 'normal”. De acordo
com esta perspectiva, a ciência iluminista trabalhou em conspi-
ração ao lado dos políticos, do governo, do exército e do poder
—.. "——
39 Jean -Jac
o
econômico para reforçar relações de domínio e desigualdade
can-J acqques Rousseau. . Emílio ou da Ed
Milliet, São Paulo: Difusão Européia ucação, T i entre ricos e nações pobres, homens e mulheres, dominantes e
do Livro, 1 ea sto de Sérgio
234 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESCOND
IDOS 235

minorias. Vários estudos históricos influentes localizaram na cos galênicos sediados nas
ciência, desde seu nascimento, as modalidades de exclusão e capitais, dominando as rec
Corporações científicas, preocu entes
dominação, estabelecendo o caráter opressivo da atividade ci- pados com a manutenção de
seu
status e de seus rendimentos.
entífica. Em parte pela influência penetrante de Michel Fou- De acordo com J. L. Picher Gra
cault, numa revisão do próprio modernismo, as ciências médi- Mesmer e testemunha dos ndchamp, discípulo de
cas foram duramente questionadas quanto a esse aspecto. fatos, , na edicãção anotada d
mórias de 1799 publicada 182 -
Como Peter Gay observou décadas atrás, o Iluminismo 6, sendo... * das Me
havia proclamado a medicina como a “a mais sensível causa [...] vítima do ciúme em Vien
a pela s suas descobertas,
para a confiança” (GAY, 1966, p. 2). As ciências médicas sur- Mesmer encontrou a França
para as apreciar e as divulgar
giram então como o elo fundamental que permitiria à ciência Seu saber e sua modéstia Ihe .
deram partidários. Mas a inve
ja
dar uma resposta quanto às ligações fundamentais entre o físi-
co e a moral, sem sair dos domínios aceitos pela tradição. Foi o poder de nada admitir que
lhe seja estranho, apesar de
na medicina que surgiu o discurso do pensamento científico quanto vantajoso lhe possa
ser. É uma mercadoria proi
iluminista como sendo o caminho ideal para alcançar a perfei- bida
ção moral e social da humanidade. Esta obsessão por uma per-
fectibilidade permitiu uma intervenção ilimitada nos hábitos e Na Revista Espírita de 1860,
um espírito ilustrou:
no modo de vida dos indivíduos da sociedade iluminista. Tal Meu amigo, não sabes que tod
o ho mem que caminha na
intervenção e administração eram a causa da proliferação de Tota do Progresso tem sem
pre contra sia ignorância
A inveja é a poeira que os e a inveja?
discursos científicos, pedagógicos e políticos. vossos passos levantam. Vos
idéias revoltam certos homens, sas
A medicina foi chamada para classificar, analisar e concei- porque não compreendem, ou
tuar minuciosamente as particularidades do corpo, da psique e bem abafam pelo orgulho a
voz da consciência que lhes
“Aquilo que rejeitas, teu juiz o grita:
do comportamento de todo cidadão do reino. Se os médicos lembrará a ti um dia; é uma mão
do Iluminismo foram divididos em questões relativas às suas que Deus te estende para te
retirar do lamaçal onde tuas
xões te lançaram. (Revista pai-
teorias e práticas, no entanto estavam unidos quanto à utilida- Espírita, p. 131)
de da medicina para transformar e controlar a sociedade. As Trabalho excelente sobre a med
investigações de Foucault dinamitam as fundações de uma ro- empreendido em recentes década icina do Iluminismo foi
s, aumentando a literatura
manceada historiografia do Iluminismo, considerando seus lí- biográfica dos filóso fos-médicos e estendendo nos
deres como os “guardiões do conhecimento”. A tradicional ensão sobre as instituições, sa compre-
a organização social e a econom
historiografia do Iluminismo foi virada de ponta-cabeça. O “dos séculos 18 e 19. Mas o ia
problema central do revisioni
que tinha sido um triunfo do desenvolvimento humano, fruto do Iluminismo —as pot smo
encialidades
de uma suposta união, passou a ser vista apenas como disfarça- . cia —ainda Não empolgou os his da desumanização na ciên-
toriadores médicos.
da estratégia para manter na cúpula a elite médica vigente. , Elizabeth A. Williams recome
nda a leitura das seguintes
Numa análise mais profunda, vamos perceber que os mé- obras, todas em inglês: Martin
S. Staum, Cabanis — Enlighten
dicos representantes do establishment científico eram exata- ment and medical Philosophy in -
the french revolution (Prince-
mente os alopatas de tradição galênica, com suas sangrias e vo- on: Princeton University Press,
1980); Kathleen Wellman
mitórios e toda sua parafernália mortal. A corrente científica La| Mettrie - Medicicine
ne, philosoph 'y, and the enligh
vitalista e suas terapias enfrentaram a perseguição dos médi- (Durham: Duke University tenment
Press, 1992); Antoineite Emeho
2 36
PauLO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO o
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 237
Pera erician of the enlighte
,
nment (Nova York:
Pl, Gill—is Sci
pienc “Segundo a visão de alguns historiadores da ciência, a me-
e a the end of the old reg ee and polim .
ime (Princeton: Princeto dicina do Iluminismo foi uma radical opção pelo empirismo e
ç y ress, 1980) ; Matt s Uni “pelo materialismo e centrada numa reação à atitude repressiva
hew Ramsey — Professional and popu-
” medicine in France, “e ortodoxa da Igreja Católica. A historiadora da medicina Eli-
1770.1 830: The social
medical practice (Cambr world of zabeth Williams mergulhou profundamente no contexto his-
idge: Cambridge Uni
1988); Toby Gelfand versity Press tórico e sociocultural da medicina iluminista e, em seu traba-
- Professionalizing mo
dem medicine: . lho sobre o vitalismo de Montpellier, concluiu que “o discurso
que eles criaram era uma variante amplamente influente de
uma ciência do Iluminismo que era mais complicada, diversa e
ambígua em impacto que as representações existentes geral-
mente admitem.” (WILLIAMS, 2003, p. 247)
À pesquisa da professora Elizabeth evidenciou que os mé-
dicos vitalistas franceses não desenvolveram uma teoria abs-
trata ou um jogo de conceitos metafísicos mirabolantes: sua
medicina surgiu em contextos específicos de conversação, de-
bate, publicação e trabalhos institucionais contínuos e ativida-
des científicas sérias e reconhecidas. Os médicos estudados
eram, na maioria, ao mesmo tempo médicos e professores sé-
rios e nenhum deles era diletante. Os médicos vitalistas não
ias inertes, Segundo ele foram aventureiros, mas estavam inseridos na comunidade
s, o fenômeno da vida
'e uma força, Princípio deve-se à ação acadêmica, científica e social. Seu dia-a-dia era o atendimento
ou poder cuja origem e
Bico eram, todavia, des estado ontoló a seus pacientes e a instrução aos alunos, a administração de
conhecidos,
instituições e a publicação de suas pesquisas.
Elizabeth situa o vitalismo de Montpellier como um raro
exemplo de uma cidade provinciana agraciada com uma tradição
científica distintita da tradição da capital. Os vitalistas criaram
uma alternativa a um modelo de ciência que julgaram extraviado.
Emn lugar dos procedimentos universalizados da ciência mecanicis-
ta, acentuaram a variabilidade e a espontaneidade. Em lugar de
individuais formadas uma unidade espúria das ciências, insistiram em autonomia mé-
por idade, sexo, temper
outras influências podero amento, região e dica. Em lugar da submissão a uma autoridade cosmopolita, ofe-
sas na economia vital,
dica ind segundo Eli zabeth A. Williams, a histor
receram conhecimento local autônomo e criativo. Contestaram
a aos vitalistas de Montpe iografia de- a confiança dos médicos tradicionalistas nos métodos uniforme-
llier oferece fortes evi mente aceitos e o projeto dos empiristas de criar uma unidade
dências
inabalável. O vitalismo de Montpellier estava situado no centro
não só da aprendizagem, mas de toda a atividade pública que en-
carnou e promoveu estas reivindicações.
238 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA
NEGADA E OS TEXTOS
ESCONDIDOS
239
Algumas décadas atrás, quando Robert Damton avaliou a
significação do mesmerismo, uma ciência médica que compar- !
tilhou certas afinidades com o vitalismo de Montpellier, con-
cluiu que a descoberta de Mesmer indicou o “fim do Iluminis-
mo na França” (DARNTON, 1988). Todavia, de acordo com a Eu ouso dizer que aqueles
blica por meio de seus con
que têm domin. iniã
atual releitura da história, afirma Elizabeth, devemos discutir a hecimentos têmocr
gar essas antigas verdades mino pur
para livrá-las da escuridão
respeito do vitalismo de Montpellier considerando que ele não conceito que ainda as env e do pre-
olvem, em vez de reduzir
representou o fim do Iluminismo ou mesmo foi algum lado in- da ciência a uma desastrosa incredulidade, (ME o progresso
ferior ou escuro, mas sim um das potencialidades do novo pen- SMER, 1799)
samento científico. Os vitalistas de Montpellier se situaram re-
À ciência do magnetismo
solutamente entre o lumiêres. Eles abraçaram, promoveram e animal
ajudaram a configurar o que definiam como sendo uma “revolu- Os postulados da ciência
do magnetismo animal
ção” em medicina. Invariavelmente empregaram a linguagem e apare-
os métodos associados com a ciência do Iluminismo.
Assim afirmo aqui que o vitalismo de Montpellier estava
completamente inserido no contexto do Iluminismo — foi As descobertas de Mesmer
que exigiam do interessado foram de tal complexidad
uma ciência iluminista — cujo desenvolvimento e caracteris- em conhecê-las uma sólida cul
ticas indicam que o próprio Iluminismo era mais complicado ra, rara em seu tempo, for t
mada por diferentes sabere
e diverso em suas implicações do que até agora se pensou. filosofia, “economia orgânica” s como
(WILLIAMS, 2003, p. 139) , as ainda incipientes descob
er-
É nesse contexto que surgiu o magnetismo animal como ciên-
cia. “O que se condena hoje como racionalismo não é propriamen-
te a razão, mas o absolutismo racional.” (PIRES, 1991, p. 78)
Mesmer estava ciente das peculiares características do
pensamento científico de seu tempo. No esforço de rejeitar a
superstição, combatia-se tudo que escapava da constatação
imediata pelos sentidos. Do passado foram rejeitadas as pes-
quisas que remetiam a causas desconhecidas. A análise atenta - Em uma frase, Mesmer
definiu o seu interesse
de Mesmer denunciava o preconceito: - quanto à descoberta do ma pessoal
gnetismo animal, ao mesm
esclarecendo a missão para o tem
Também precisamos considerar que algumas verdades des- qual destinou sua vida: “Em
, aguçar a curigsidade, eu
estava interessado em tor
vez de
cobertas no passado foram de tal maneira mal compreendidas e
ER 1996) nar úteis es.
desfiguradas que perderam o seu valor e muitas vezes até foram nvencer por meioi de fatos.”
confundidas com os erros rais absurdos. Mesrno assim tais º (MEs-
verdades não perderam por isso o direito de reaparecer no.
grande dia para a felicidade dos homens. (MESMER, 1799)

E então, constatando o convencionalismo materialista da


classe científica nascente, previu as funestas e inevitáveis con
240 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 241

dade de eleger esta meta como O prim


eiro passo imprescindí- óbitos foi galhardamente defendida pelos médicos e mantida
vel para que as outras implicações
do magnetismo animal ti- inalterada até cem anos depois do anúncio da descoberta das
vessem lugar no momento adequado.
Por isso sua advertência: terapias derivadas do vitalismo. O atual conhecimento permi-
Os imitadores de meu método de curar
, por tê-lo exposto te afirmar que os doentes atendidos pela medicina alopática
muito frugalmente à curiosidade e à contr nesses dois milênios tinham maiores chances de sobrevivência
adição, deram lugar 2
mutitas prevenções contra ele, Além disso,
sonambulismo com o magnetismo e, por
terq-se confundido o se ficassem simplesmente em casa, aguardando uma regressão
tm zelo irrefletido, por natural de seu estado doentio.
um entusiasmo exagerado, pretendeu-se constatar a reali
dade de
um pelos efeitos surpreendentes do
outro. (MESMER, 1781) À teoria de Mesmer explicava enfim os fenômenos sobre-
naturais superando tanto o dogmatismo escolástico, que os
A dout
rina espírita permite compreender definia como obras do demônio, quanto o materialismo redu-
tentou explicar vencendo as limitações o que Mesmer
de sua época. Na res- cionista, que os negava. Como terapia médica, o magnetismo
posta à pergunta 627 de O livro dos espíritos, afirma animal oferecia a cura nas instâncias em que a medicina meca-
ritos que os sistemas filosóficos enc m os espí-
erram os germes de gran- nicista se omitia ou mesmo condenava suas vítimas ao trata-
des verdades que podem ser libertad mento reservado aos alienados.
os graças à chave que o
espiritismo oferece. Não foi Por acas
o que, na Revista Espíri- Em sua derradeira obra, em 1799, Mesmer esperava que a
ta, Kardec se referiu ao magnetismo
animal como ciência irmã sua teoria evitasse, a partir de então...
do espiritismo. Para Kardec, não se
poderia falar da doutrina
espírita sem o magnetismo e vice-versa. As duas [...] estas interpretações que produzem e alimentam a e
ciências “se
completam e se explicam mutuament perstição e o fanatismo e que, acima de tudo, impeça aqueles
e” (Kar
dec, Revista gue tenham a infelicidade de entrar no estado de sonambu-
Espírita, 1858, p. 95). As relações
íntimas entre as duas ciên- lismo, por um acidente ou por doenças graves, sejam aban-
cias são tais que, segundo Kardec,
elas não passam de uma. donados pela medicina e afastados da sociedade como incu-
ráveis; porque tenho a certeza que os estados mais horríveis,
tais como a loucura, a epilepsia e a maior parte das convul-
As terapias derivadas do vitalismo sões são, na maioria das vezes, efeitos funestos da ignorância
As terapias do magnetismo animal e do sonambulismo, e da ineficácia dos meios empregados pela
respostas da teoria vitalista da medicina da homeopatia são medicina. (MESMER, 1799)
iluminista, constituin-
do uma revolução da arte de curar. Elas
substituem completa-
mente a terapia alopática criada pela
tradição mecanicista.
A terapia derivada da descoberta de Mes
netismo animal foi fruto de suas inúmer mer sobre o mag-
as experiências a par-
tir das quais deduziu suas asserções. Sua terapia méd
lista enfrentou a oposição dos médico ica vita-
s defensores da prática
médica alopática, uma tradição com
posta de sistemas, súposi-
ções e empirismos formando uma
complexa estrutura ilógica
Tegiamente mantida por dois mil
anos. Parece incrível, mas
uma prática que prejudicava os paci
entes e mesmo provocava
IX

ESPIRITUALISMO
E MATERIALISMO

“Os dois rumos da


ciência no século 19
Johannes Peter Miille
em Koblenz. Morreu em r nasceu em I4 de julho de 1801,
1858. Foi um fisiologista
ta comparativo alemão, o mais impo e anatomis-
“vitalismo da Alemanha rtante representant
de seu tempo. Estudo e do
u nas universida-

ologia, a anatomia comp


arada etc.
Em 1849, 0 cientista
su íço-alemão Emil Hein
- Reymond (1818-1 896), rich du Bois-
professor de fisiologia em
cípulo e sucessor de Jo
hann Berlim, dis-
es Miiller, e Herman
n von Helm-
MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 245

que a matéria organizada do cérebro, que manifesta fenômenos


de sensibilidade e de inteligência próprios ao ser vivo, não tem,
do pensamento e dos fenômenos que ela manifesta, mais cons-
ciência do que a matéria bruta teria de uma máquina inerte, de
ur relógio, por exemplo, que não possui consciência dos movi-
mentos que manifesta ou da hora que indica. Assim também os
caracteres de impressão e o papel não têm consciência das
idéias que produzem. Assegurar que o cérebro secreta o pensa-
mento seria o mesmo que dizer que o relógio secreta a hora ou a
idéia do tempo [...] Não é preciso supor que foi a matéria quem
criou a lei de ordem e de sucessão; seria isso cair no erro gros-
seiro dos materialistas. (BERNARD, 1952)

Claude Bernard era vitalista e advertiu que os pesquisado-


res da medicina iriam cair em erro se assumissem uma postura
. senão!
efeito as físico-químicas” uma o utra força tem qualquer materialista reducionista. A literatura médica tem citado Clau-
de Bernard, inadvertidamente, como iniciador do materialismo
científico na medicina. É um erro histórico. Um simples exame
de seus escritos afasta absolutamente essa hipótese.
Nessa mesma época, Helmholtz fez uma surpreendente
declaração, um alerta que se tornou uma profecia:
Nossa geração tem sido obrigada a sofrer a tirania da me-
tafísica espiritualista; provavelmente a geração mais nova terá
que evitar a metafísica materialista [...] Por favor, não esque-
çamos que o materialismo é uma hipótese metafísica. Se isto
for esquecido, o materialismo se converterá num dogma que
irá entorpecer o progresso da ciência e irá conduzir, como to-
dos os dogmas, a uma intolerância violenta.“
e seus quuulos, influenciando as ciências médicas E Helmholtz rejeitou, por suas convicções pessoais, tanto
iCOlogia, a Ésica o surgi o vitalismo como o espiritualismo, mas também o materialis-
base materialista cla i imer
medicina fia , mo dogmático.
São de Claude Bernar * Sedimentano s
d (1831-1878), fisiologi À opção materialista na ciência suscitou o seguinte co-
considerado o pai da sta francês mentário de Allan Kardec:
. moderna : :
Buintes palavras: fisiolog exp
ia erimental, as se-

40 Transcrito por LEAKE, CHAUNCEY D. [1964]. Perspectives of Adaptati-


on: Historical Backgrounds in Handbook of Physiology, vol. IV, ed. D. B.
Dill er al., Amer. Physiological Soc., 1964.
246 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
. MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
247

[...] pessoas há que só vêem nos seres orgânicos a ação da


matéria e a esta atribuem todos os nossos atos. No corpo hu- micos. Teve início a entronização
do materialismo, substituin-
mano apenas vêem a máquina elétrica; somente pelo funcio- do a anterior dominação pela Igrej
namento dos órgãos estudaram o mecanismo da vida, cuja re-
a. Mas não foi esse o único
fenômeno social do século 19.
petida extinção observaram, por efeito da ruptura de um fio,
e nada mais enxergaram além desse fio. Procuraram saber se Ao mesmo tempo surgia, na Fran
ça, a ciência espírita, mo-
alguma coisa restava e, como nada acharam senão matéria, Yimento espiritual articulado e pre
meditado pelos espíritos
que se tornara inerte, como não viram a alma escapar-se, anunciadores da regeneração da hum
como não a puderam apanhar, concluíram que tudo se conti- anidade. N: o ambiente físi-
Co, Surgia no momento certo, em
nha nas propriedades da matéria e que, portanto, à morte se virtude do desenvolvimento
da razão humana e como conseguência
seguia a aniquilação do pensamento. Triste consequência, se natu ral de ciências
fora real, porque então o bem e o mal nada significariam, o como o vitalismo, o magnetismo anim
al, o sonambulismo pro-
homem teria razão para só pensar em si e para colocar acima vocado. Sua doutrina confirmou as
bases filosóficas e científicas
de tudo a satisfação de seus apetites materiais; quebrados es- de todas essas ciências, permitindo
tariam os laços sociais e as mais santas afeições se romperiam que se conhecesse a verda-
deira fisiologia humana, em toda a sua complexidade.
para sempre. Felizmente, longe estão de ser gerais semelhan-
tes idéias, que se podem mesmo ter por muito circunscritas,
Foram fecundos em milagres os
constituindo apenas opiniões individuais, pois que em parte Porque se considerava sobrenatural
séculos de ignorância,
alguma ainda formaram doutrina. Uma sociedade que se tudo aquilo cuja causa
não se conhe cia. À prop orção que a ciência revelou
fundasse sobre tais bases traria em si o gérmen de sua disso- leis, o círculo do maravilhoso se novas
lução e seus membros se entredevorariam como animais fe- foi restringindo; mas, como
à ciência ainda não explorara todo o vasto campo
rozes. (KARDEC, 1857, p. 109) da nature-
za, larga parte dele ficou reservada
para o maravilhoso.
Expulso do domínio da materialidade pela
E assim a medicina do século 19 decidiu consolidar-se lhoso se encastelou no domínio da
ciência, o maravi-
numa posição dogmática, levando em consideração apenas os espiritualidade, onde en-
controu o seu último refúgio. Demonstr
ando que o elemen-
fenômenos físico-químicos para explicar uma natureza que to espiritual é uma das forças vivas da
natureza, força que
transcende esses limites. Foi influenciada também pelo empi- incessantemente atua em concorrê
ncia com a força material
O espiritismo faz que voltem ao rol dos
rismo, pela filosofia positivista e pelo nascente materialismo que dele haviam saído, porque, como
efeitos naturais os
filosófico, que não era novo na medicina, mas insistia em do- os outros, também tais
efeitos se acham sujeitos a leis. Se
for expulso da espirituali-
miná-la, mesmo depois de dois milênios de desprezo pela dade, o maravilhoso já não terá razão
de ser e só então se po-
vida, tirando o sangue, queimando, dilacerando e purgando as derá
1868, dizer
psique passou o tempPoo dos dos
mil milagres. (KARDEC,
carnes. Com esse movimento, ela relegava à sua margem as te-
rapias derivadas da ciência vitalista. o Argúidos por Allan Kardec sobre
Renunciando às causas primeiras, a ciência abandonou este assunto, os espíritos
assim responderam:
voluntariamente o espírito. O universo passou a ser considera-
do um desabitado e inerte amontoado de substâncias observá- o fisiologista refere tudo ao que vê,
Orgulho dos homens
veis. Contaminando todos os ramos do saber, uma nova estru- que julgam saber tudo e não admitem
que haja coisa alguma
tura de poder e dominação, comparável à Igreja em seus que lhes esteja acima do entendimento. A
que cultivam os enche de presunçã própria ciência
tempos de glória terrena, surge na ciência, monopolizando, g o. Pensam que a natureza
nada lhes pode conservar oculto,
(KARDEC, 1857, p. 109)
renciando e mantendo dentro dos limites materialistas quase
totalidade dos recursos sociais, econômicos, políticos e acadê-
X

A MEDICINA INTEGRAL

- Allan Kardec tinha um posicionamento bastante crítico


em relação aos exageros da medicina alopática de seu tempo, e
denunciou suas contradições. Num artigo da Revista Espírita,
fez uso de uma comparação para esclarecer suas idéias. Nela,
um grupo de médicos estava sendo interrogado para verificar
se eles eram contraditórios ou não:
Interroguemos o grupo de doutores: Um deles, médico
da Faculdade de Paris, centro de luzes, diz que todas as mo-
léstias têm por princípio um sangue viciado é que, por isso, é
preciso renovar o sangue, sangrando, seja qual for o caso.
Errais, meu caro confrade, replica um segundo, o homem
nunca tem sangue demais; se o tirais, tirais-lhe a vida; con-
cordo que o sangue possa estar viciado; mas 0 que é que se
faz quando um vaso está sujo? Ninguém o quebra, procura-se
lavá-lo; então, daí purgantes, purgantes até limpar.
Um terceiro toma a palavra e diz: senhores, com as vossas
sangrias matais os doentes e com Os vossos purgantes os en-
venenais; a natureza É mais sábia que nós todos; deixemo-la
atuar; esperemos.
- É isto, replicam os dois primeiro, se matamos os nossos
doentes, vós os deixais morrer.
Os ânimos se alteram, quando um quarto diz: - Não os
ouça: são todos uns ignorantes. Eu nem sei por que eles per-

249
250 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
251

tencem á Academia! Acompanha o meu raciocínio: todo


doente é fraco; há, portanto, um enfraquecimento dos ór- mente empregados, bastarão para
restabelecer a harmonia
gãos. Isto é lógica pura, ou eu não me conheço mais. Há, pois, geral. Se a perturbação vier do peris
pírito, se for uma modif-
que lhe dar tônus. Mas para isto só há um remédio: água fria! cação do princípio fluídico que o comp
õe, que se acha altera-
Daí não me afasto. (Revista Espírita, 1858, p. 221) do, será preciso uma modificação
em relação com a natureza
do órgão perturbado, para que as funç
ões poss am retomar
seu estado normal, Se a doença proc
Na época de Kardec, os médicos, sem fazer uso do modo poder
eder do espírito, não se
ia empregar, para a combater
experimental científico, lutavam entre si para instituir as mais medicação espiritual. Se, enfim, como
, outra coisa senão uma
diversas panacéias, sonhando encontrar, no acaso de suas ima- é o caso mais geral, é
pode mesmo dizer-se, que se apresent
a exclusivamente se a
ginações, uma teoria exclusiva para a cura de toda e qualquer doença procede do corpo, do peris
pírito e do espírito “será
doença. Tudo isso estava acontecendo cinquenta anos depois Preciso que a medicação combata
simultaneamente todas as
causas da desordem por meios diver
do surgimento do magnetismo animal. PE SS
sos, para obter a cura.
OE Morel Lavallée in Revista Esptr
Os especialistas materialistas, negando a existência do isa, 1867,
princípio espiritual preexistente ao nascimento, fazem do or-
ganismo a única fonte das faculdades e das inclinações, como
uma máquina movida fatalmente por uma força irresistível.
: O conhecimento do perispírito remont
Ó vós todos, médicos e sábios que pesquisais com tanta mas foi relegado para as Ciências
a à Antigúidade
ocultas. A ciência voltou a
ra -

avidez os menores casos patológicos insólitos para os trans- ,

formar em assunto de meditação, porque não estudais com o -Perceber seus efeitos a partir do
magnetismo animal.
mesmo cuidado esses fenômenos estranhos, que, com razão, . Se Mesmer chegou a conhecer
podem ser qualificados de patologia moral! Porque não bus- a existência do corpo espi-
fitual, não deixou uma descrição
cais deles vos dar conta, descobrir-lhes a fonte! Com isto a explicita em suas obras.
Entretanto, em suas Memórias
humanidade ganharia tanto quanto ganhou pela descoberta de 1799, ele descreve uma
do filete nervoso. Infelizmente a maioria dos que não desde- . teoria para os fenômenos do sonambuli
smo magnético e a lu-
nham ocupar-se com essas questões o fazem partindo de ; dez. sonambúlica em que as proprieda
uma idéia preconcebida, à qual tudo querem sujeitar: o ma- des do segundo corpo
ão anunciad as. O perispírito não nasceu de um
terialista às leis exclusivas da matéria, o espiritualista à idéia
co ou de uma simples dedução. Foi sistema filosó-
que faz da natureza da alma, conforme suas crenças. Antes pela experimentação por
de concluir, o mais sábio é estudar todos os sistemas, todas as meio do sonambulismo magnético
que ele foi constatado. Os
teorias, com imparcialidade e ver o que resolve melhor e Pesquisadores do magnetismo anim
mais logicamente o maior número de dificuldades. (Revista
al da primeira metade do
éculo 19, Lafontaine, du Potet, Del
Esptrita, 1866, p. 173) euze e outros, constata-
ram a exteriorização do corpo espi
ritual e seus fenômenos.
Segundo o espiritismo, o homem é composto de três prin- N,
O homem é formado de alma e corpo,
cípios que lhe são essenciais: o corpo, o perispírito e o espírito. ele Exerce emana das propriedades e a influência que
de ambos, O fluido mag-
Eles reagem um sobre o outro e, conforme haja harmonia per- nético é o elemento de comunicação. Consequentemente
feita ou uma parcial discordância entre eles, acontecerá a saú- verificam-se três ações no magnetismo;
ação física, ação espi-
ritual, ação mista. (DELEUZE, 1813, p.165)
de ou a doença. '
: Mas qual é a natureza desse à gente mag
Se a doença ou a desordem orgânica, como se queira cha
nde é o barão du Potet:
i ?
nético Quem res-
mar, procede do corpo, os medicamento materiais, sabi
Q
252
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 253

papel na economia orgânica e que ainda não se leva muito em


conta nos fenômenos fisiológicos e patológicos.
O perispírito não constitui uma dessas hipóteses de que a
ciência costuma valer-se para a explicação de um fato. Sua
afetado. Esse fluido, existência não foi apenas revelada pelos espíritos, resulta de
tamb
co, explica todos os fenômeém d: esignado de fluido magnéti: observações, como teremos ocasião de demonstrar. [...]
nos provoc ddos pelo pen
to. Os fenômenos físicos same; Quer durante a sua união com o corpo, quer depois de sepa-
pro
prichosos e incertos, Qua duzid rar-se deste, a alma nunca está desligada do seu perispírito.
o nto à virtude ou eficácia
pode ora ser tônico e
sedativo, agir sobre a (KARDEC, 1862, p. 78)
sobre o corpo físico. (DU sensibilidade ou
POTET, 1840)
* O corpo fluídico é o órgão cuja radiação transporta a per-
Mas quem com pleta o a ) cepção além dos sentidos materiais. Esta faculdade, segundo
Charpignon, que afirmou, em 842 é outro magnetizador ardec, caracteriza o sexto sentido, ou sentido espiritual,
constituindo a causa de dois efeitos semelhantes: o sonambu-
smo e a mediunidade. À importância de seu reconhecimento
para a fisiologia da alma é de capital importância para uma me-
licinal integral.
Outras partes, elemento perceptível
Tomando em consideração apenas o elemento material
antes por
des fenomenais
que por s
Suas faculda-
ponderável, a medicina, na apreciação dos fatos, se priva de
uma causa incessante de ação. [...] Somente faremos notar
meios de investigação que no conhecimento do perispírito está a chave de inúme-
o. (O homem é, + Poispoi, um ser mis
cre ns mo de composiçã
o
to,
u ros problemas até hoje insolúveis. (KARDEC, 1862, p. 78)
dupla, a saber: combinaçã
e Pmando Os órgãos o de áto.
e um elemento de nat
, mas indecomponível, ureza
dinâmica p ê O perispírito abre um novo campo de estudos para a fisio-
alo.
logia. Oliver Lodge classificou o espiritismo de “nova revolução
copérnica”. Assim como Copérnico rompeu de vez o equívoco
do geocentrismo, a revolução espírita desloca dos organismos
materiais o conceito de vida, rompe o organocentrismo da bio-
e nisDe o advento da doutrina
espírita, Kardec criou o logia moderna e reduz a uma simples confusão do efeito pela
rio e, por meio da medi termo
uni ; OS espíritos revelaram causa o chamado materialismo psicológico.
detalhes sobre ele:
tidade
Se a questão do homem espiritual permaneceu até os nossos
dias em forma de teoria, é que nos faltaram os meios diretos de
observação que tivemos para constatar o estado do mundo ma-
terial, e o campo ficou aberto às concepções do espírito huma-
no. Enquanto o homem não conheceu as leis que regem a maté-
ria e não pôde aplicar o método experimental, errou de sistema
em sistema, no tocante ao mecanismo do universo e à formação
da Terra. Deu-se na ordem moral o mesmo que na ordem físi-
ca; para determinar as idéias faitou-nos o elemento essencial: o
conhecimento das leis do princípio espiritual. Esse conheci-
254 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - À CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
255

mento estava reservado à nossa época, como o das leis da maté- Para proclamar tão grande sabe
ria foi obra dos dois últimos séculos. Até o presente, o estudo doria não seria suficiente a
dedicação e o conhecimento de um
do princípio espiritual, compreendido na metafísica, tem sido só homem. No entanto, uma
puramente especulativo e teórico; no espiritismo é inteiramen- grandiosa falange de sábios reuniu-se com
eco de suas vozes repercutiu em todo
o mestre de todos eo
te experimental. (PIRES, 1971)
o universo. Moisés, Sócra-
tes, Platão, Hipócrates, Franklin,
Swendenhorg, Hahnemann eo
Com o advento do espiritismo, reuniam-se em um só cor-
po as bases fundamentais da sabedoria; a ciência, a filosofia e
suas consegiiências morais finalmente estavam juntas — sem
misticismo, sem superstições, sem os desencontros da metafí-
sica empírica.
O temperamento é um efeito e não
Estando o mundo espiritual e o mundo material em inces- uma causa
A teoria dos temperamentos da
derivada da antiga medicina galênica personalidade humana
sante contacto, os dois são solidários; ambos têm a sua parce-
la de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que re- humoral, ainda era usada
gem o primeiro, tão impossível seria constituir-se uma na medicina na época de Kardec
. A psicologia moderna só te-
Gênese completa, quanto a um estatuário dar vida a uma es- tia início no século seguinte. Muitos
tátua, Somente agora, conquanto médicos acreditavam que
nem a ciência material, a personalidade era determinada
nem a ciência espiritual hajam dito a última palavra, possui c pelo tipo orgânico do indiví-
“duo: O “po sanguíneo, identificado
homem os dois elementos próprios a lançar luz sobre esse pelo rosto rosado corpo
imenso problema. Eram-lhe absolutamente indispensáveis grande, gestos largos, teri
a um comportamento exp
essas duas chaves para chegar a uma solução, embora aproxi- alegre, bonachão. O fleumático ansivo
mativa. (KARDEC, 1868, pp. 92-93) seria melancólico, fechado,
| triste. E assim por diante. Com
outra roupagem, essa idéia
: ainda permanece na medicina alop
E o filósofo espírita Herculano Pires conclui: ática atual.
Os geneticistas, secundados pelo
s neurologistas e psicólo-
Precisamos meditar para buscarmos a forma que nos falta g0s materialistas, elaboraram a
de oferecer ao mundo a solução espiritual do problema social.
teoria de que os genes são os
“Tes
; pons
áveis pelos temperamento
De fazermos, enfim, que o espiritismo cumpra a sua missão s e o utras característi i
personalidade.
histórica, vencendo a crise que o reduz, no momento, a uma cas da
luz bruxuleante em meio de densas trevas, a uma espécie de Steven Pinker é professor de Psic
ologia da Universidade
simples refúgio individual para as decepções e para as aflições de Harvard. Para os norte-americ
humanas. Pois o seu destino, como assinalou sir Oliver Lodge, anos, ele é um dos mais res-
eitados nomes da ciência
não é apenas o de consolar corações desalentados, mas o de
asa (2004) para, entre outras coisas,
rasgar para o mundo as perspectivas de uma nova era, Se a fé combater diretamente a
dogmática determinou o fanatismo religioso da Idade Média, déia de uma alma imateria l, dotada de livre-arbítrio res
com suas fogueiras sinistras, a fé raciocinada criará o positivis- Sável pelas ações do indivíduo. pon-
O seu principal argumento éo
mo religioso do terceiro milênio, com as piras da fraternidade ue ele chama primeira lei da gené
acesas em todos os quadrantes do planeta. Porque, corno já o. tica comportamental.
dissera Kardec, a tarefa do espiritismo é a de elevar a Terra na.: A primeira lei da genética comporta
escala dos mundos, transferindo-a da categoria expiatória para : racterísticas de comportament
ment
al é: todas as ca-
a de mundo regenerador. (PIRES, 1971) o humano são hereditárias
L.JO pobre coitado que é intr
overtido, neurótico, tacanho
egoista e não confiável provavel
mente é desse jeito em parte
256 “PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
MESMER - À CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 257

devido aos seus genes, e


assim , muito provavelment
resto de nós que tem ten e, é q:
dências em quaisquer dess
ções. (PINKER, 2004) as dire.
“Por uma consequência natural deste princípio, as disposições morais do
Ou seja, da mesma forma espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou me-
que os médicos alopatas acr
taram desde Galeno no edi- nor atividade, provocar uma secreção mais ou menos abundante de bílis
século 2º | OS partidários ou de quaisquer outros fluidos. É assim, por exemplo, que ao glutão en-
comportamental imaginam da genética
que o corpo é ao rigem dos che-se-lhe a boca de saliva diante dum prato apetitoso.
ramentos. tempe- “Certo é que a iguaria não pode excitar o órgão do paladar, uma vez que
, me qo O céu eoinferno, Allan com ele não tem contato; é, pois, o espírito, cuja sensibilidade é desper-
espa qo e Kardec fez um estudo sobre tada, que atua sobre aquele órgão pelo pensamento, enquanto outra pes-
ormentos orgânicos que
resp vale também com soa permanecerá indiferente à vista do mesmo acepipe. É ainda por este
hipótese origem genética das caracterí o motivo que a pessoa sensível facilmente verte lágrimas. Não é, porém, a
portamentais. Usando o Per sticas abundância destas que dá sensibilidade ao espírito, mas precisamente a
ispírito e outros conceitos
cobertos pela ciência espírita, des- sensibilidade deste que provoca a secreção abundante das lágrimas.
ele esclareceu que o con
trole sobre
às emoções está nas condiç “Sob o império da sensibilidade, o organismo condiciona-se à disposição nor-
ões morais do espírito que
cco
orpo. rpo Mesmo que o te habita o mal do espírito, do mesmo modo por que se condiciona à disposição do
mperamento desse corpo “espírito glutão.
inclinações para determina ofe recesse
das reações, o espíri “Seguindo esta ordem de idéias, compreende-se que um espírito irasci-
vel deve encaminhar-se para estimular um temperamento bilioso, do
que resulta não ser um homem colérico por bilioso, mas bilioso por colé-
rico. O mesmo se dá em relação a todas as outras disposições instintivas:
que transforma hábitos. um espírito indolente e fraco deixará o organismo em estado de atonia
relativo ao seu caráter, ao passo que, ativo e enérgico, dará ao sangue
Kardec conclui que: como aos nervos qualidades perfeitamente opostas. A ação do espírito
sobre o físico é tão evidente que não raro vemos graves desordens orgã-
La esta lei explica o insucesso da med nicas sobrevirem a violentas comoções morais.
sos. Desde que o temperame icina em certos ca- “A expressão vulgar 'a emoção transtornou-lhe o sangue” não é tão desti-
nto é um efeito e nã
sa, todo o esforço para mod tuída de sentido quanto se poderia supor. Ora, que poderia transtornar o
ificá-lo se nulifica ante as
disposi- sangue senão as disposições morais do espírito?.
“Pode admitir-se, por conseguinte, ao menos em parte, que o tempera-
guinte, sobre a causa primor mento é determinado pela natureza do espírito, que é causa e não efeito.
dial é que se deve atuar,
puderdes, Coragem ao polt Dai se “E nós dizemos em parte, porque há casos em que o físico influi evi-
rão e vereis para logo cess
efeitos fisiológicos do med ados os dentemente sobre o moral, tais como quando um estado mórbido ou
o. Isto prova ainda uma
cessidade, Para a arte de cura veza anormal é determinado por causa externa, acidental, independente do
r, de levar em conta ainfluê
espiritual sobre os organi cia espírito, como sejam a temperatura, o clima, os defeitos físicos congêni-
smos.“ (KARDEC, 1867
Pp Bo tos, uma doença passageira etc.
o “O moral do espírito pode, nesses casos, ser afetado em suas manifesta-
41 Reproduzimos o texto na
í ntegra para uma melhor ções pelo estado patológico, sem que a sua natureza intrínseca seja mo-
desenvolvimento. do raci co ã
ocínio de Allan Kardec: dificada. Escusar-se de seus erros por fraqueza da carne não passa de
modo, o artista do próprio “O espícito é O
corpo, por ele talhado, por sofisma para escapar a responsabilidades.
assim dizer à fei
“A carne só é fraca porque o espírito é fraco, o que inverte a questão
deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos. À carne, desti-
ações distintas para ser o resultad tuída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o es-
o invólucro material à medida o do trabalho espiritual pírito, que é o ser pensante e de vontade própria.
que as faculdade
“OQ espírito é quem dá à carne as qualidades correspondentes ao seu ins-
258 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTO
S ESCONDIDOS 259
Diferente do que imaginam os médicos materialistas, a
vida, Nos últimos quatrocentos anos, adot
medicina é irmã da psicologia e da filosofia espiritualista com te a crença de que a ciência só pode
amos gradualmen-
suas consegiiências morais. Apenas com a união das três faces ser construída sobre a
idéia de que tudo é feito de matéria — os
de uma só sabedoria a humanidade irá dominar a dor e o sofri- denominados áto-
mos, em um espaço vazio, Viemos
a aceitar o materialismo
mento para sempre. como dogma, a despeito de sua incapacidade
experiências mais simples de nossa vida diária de explicar as
A medicina precisava voltar para as suas origens filosófi- mos uma visão de mundo incoerente. As tribu
. Em suma, te-
cas, sem perder o necessário caráter científico. O espiritismo lações em que
vivemos alimentaram a exigência de um
novo paradigma —
e o magnetismo animal são as ciências que examinam as ques- uma visão unificadora do mundo que integ
re mente e espíri-
tões metafísicas pelo método experimental. A pesquisa da fi- to na ciência. (GOSWAMI, 1993, p. 19)
siologia da alma abre novo campo de estudo médico. A medi-
cina, em sua real dimensão, deve estar assentada sobre os Paris, fundada
por Kardec
recebeu uma comunicação coletiva, em
firmes pilares da ciência evolutiva, da filosofia espiritualista e 1º de novembro de
1866. A mensagem se constituía de uma
de suas consequências morais. Esses recursos teóricos e cientí- série de pensamentos
que vão se completando, cada um assi
ficos são os recursos imprescindíveis para a compreensão das nado por um nome dife-
rente. Entre os espíritos comunicantes
causas e dos mecanismos das doenças. está Mesmer, que ha-
via desencarnado cingienta e um
O físico teórico e escritor indiano Amit Goswami esclarece: anos antes. À mensagem
ilustra com muit
a clareza a necessária união da ciência médi
com o progresso do magnetismo e do ca
Um nível crítico de confusão satura o mundo contempo- espiritismo. Dela desta-
râneo. Nossa fé nos componentes espirituais da vida — na rea- camos os pensamentos abaixo.
lidade vital da consciência, dos valores, e de Deus — está sen-
do corroída sob o ataque implacável do materialismo A medicina faz o que fazem os caran
ejos e spantados.
científico. Por um lado, recebemos de braços abertos os be- (Doutor Demeure)
ua º õ
nefícios gerados por uma ciência que assume a visão mundial Porque 9 magnetismo progride e, progr
edindo, esmaga a
materialista. Por outro, essa visão, predominante, não conse- medicina atual, para a substituir prox
imamente. (Mesmer)
gue corresponder às nossas intuições sobre o significado da . A ciência é o progresso da inteligência.
(Newton)
Mas o que lhe é preferível é o progresso moral
naud) . (Jean Rey-
tinto, tal como o artista que imprime à obra material o cunho do seu gê- À ciência ficará
estacionária até que a moral a tenha atin-
nio. Libertado dos instintos da bestialidade, elabora um corpo que não é gido. (François Arago)
mais um tirano de sua aspiração, para espiritualidade do seu ser, e é | Para desenvolver a moral é antes preciso
quando o homem passa a comer para viver e não mais vive para comer. cio. (Béranger) desarraigar o ví-
“A responsabilidade moral dos atos da vída fica, portanto, intacta; mas a a Para desarraigar o vício é preciso
razão nos diz que as consegiuências dessa responsabilidade devem ser desmascará-lo, (Eugene
ue
proporcionais ao desenvolvimento intelectual do espírito. Assim, quan- + É o que todos os espíritos fortes e super
to mais esclarecido for este, menos desculpável se torna, uma vez que iores procuram fa-
zer. (Jacques Arago)
com a inteligência e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, Mas nada, nada deve progredir mais mome
do justo e do injusto. ntaneamente
do que a filosofia; ela deve dar um passo
“Esta lei explica o insucesso da medicina em certos casos. Desde que o - imenso, deixando
estacionar a ciência e as artes, mas
temperamento é um efeito e não uma causa, todo o esforço para modifi- para as elevar tão alto,
quando for tempo, que essa elevação será
cá-lo se nulifica ante as disposições morais do espírito, opondo-lhe uma vos
muito súbita para
hoje. Em nome de todos, são Luís. (Revista Espírit
resistência inconsciente que neutraliza a ação terapêutica. Por conse- 1867, pp. 82-84) Wma,
guinte, sobre a causa primordial é que se deve atuar.
260 . PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 261

As diversas causas das doenças


Segundo Allan Kardec: Sendo assim,
i algumas doenças têm
ê causa exclu: sivamente
material:
Na medicação terapêutica são necessário
priados ao mal. Não podendo o mesmo remés remédios apro- Certas doenças têm sua causa original na alteração mesma
contrárias: ser, ao mesmo
dio ter virtudes dos tecidos orgânicos. É a única admitida pela ciência até
tempo, estimulante e calmante,
aquecer e esfriar, não pode convir a todos hoje. Em resumo, trata-se de reparar uma desordem orgâni-
ob casos. É por isto ca pela introdução, na economia orgânica, de materiais sãos,
que não existe um remédio universal.
(Revista Espírita, substituindo materiais deteriorados [Nesses casos, o único
1867, pp. 55-56)
recurso é a mediciha comum:] Se a doença ou a desordem
Por isso, ele considerou a combinação orgânica, como se queira chamar, procede do corpo, os me-
dos três tratamentos dicamentos materiais, sabiamente empregados, astarão
terapêuticos da medicina - medicina
comum, homeopatia e para restabelecer a harmonia geral, (espírito doutor More
magnetismo animal — para atacar toda
s as causas das doenças. Lavallée in Revista Esptrita, 1867, pp. 55-56)
Esses materiais sãos podem ser fornecidos
mentos comuns in natura, por esses mesm pelos medica- O outro extremo é quando a causa é exclusivamente fluí-
os medicamentos
em estado de divisão homeopática e, enfim
, pelo fluido mag- dica. Nesses casos, a medicina comum não funciona:
nético, que não é senão a matéria espir
itualizada. São três
modos de reparação, ou melhor, de introdução Tal é o caso de grande número de doenças, cuja origem é
ção dos elementos reparadores. Todos as e de assimila-
devida aos fluidos perniciosos, dos quais é penetrado o orga-
três estão igual.
mente na natureza, e têm sua utili
dade, conforme
nismo. Para obter a cura, não são moléculas deterioradas que
- especiais, o que explica porque um tem os casos
devem ser substituídas, mas um corpo estranho que se deve
êxito onde outro fra-
cassa, porque seria parcialidade negar
os serviços prestados
expulsar. Desaparecida a causa do mal, o equilíbrio se resta-
pela medicina ordinária. Em nossa opini
ão, são três ramos da belece é as funções retomam o seu curso. Concebe-se que
arte de curar, destinados a se suplemen em semelhantes casos os medicamentos terapêuticos, por
tar e se completar,
conforme as circunstâncias, mas das sua natureza destinados a agir sobre a matéria, não tenham
quais nenhuma tem o
direito de se julgar a panacéia universal
do gênero humano, eficácia sobre um agente fluídico. Assim, a medicina ordiná-
(Revi sta Espírita, 1867, pp. 55-56) ria é inoperante em todas as doenças causadas por fluidos É
ciados, e elas são numerosas. À matéria pode opor-se àma -
De acordo com uma teoria espírita pato ria, mas à um fluido mau há que opor um fuido. melhor e
lógica, apresenta-
da por Kardec no artigo “Ensaio teórico das mais poderoso. (Revista Espírita, 1867, pp. 55-56)
curas instantá-
neas”, do ponto de vista fisiológico, as
causas das doenças po- Nos casos de afecções de causa fluídica, a terapia indicada
dem ser duas: ou se originam da matéria
ou do fluido. é o magnetismo. Porém:
Duas afecções que apresentam,
na aparência,
sintomas À medicina terapêutica naturalmente falha contra os
idênticos, podem ter causas diferentes.
Uma pode ser deter. ' agentes fluídicos. Pela mesma razão, a medicina fuídica fa-
minada pela alteração das moléculas orgân
icas e, neste caso, lha onde há que opor matéria a matéria. A medicina homeo-
é necessário reparar, substituir, como me
disseram, as molé- pática nos parece ser o intermediário, o traço de união entre
culas deterioradas por outras sãs, operação que só
zer gradualmente. A outra, por infilt
se
pode fa- esses dois extremos, e deve particularmente ter êxito nas
ração, nos órgãos sãos, afecções que poderiam chamar-se mistas. (Revista Espírita,
de um fluido mau, que perturba as funções.
Neste caso não 1867, pp. 55-56)
se trata de reparar, mas expulsar. Esses
dois casos requerem,
no fluido curador, qualidades diferentes
. (Revista Esptrita,
1867, pp. 55-56) No entanto, como entre os três casos citados existem inúme-
ras variações em que as causas materiais e fluídicas se combinam, a
262 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
263

espiritual e de seus destinos, Esses os de fé inabalável, por-


medicina comum, a homeopatia e o magnetismo precisam conju- que sentem e compreendem. (KARDEC, 1868, p. 327)
-
gar seus esforços, de acordo com a predominância da causa:
Os espíritos esclareceram a doença da alma:
Se for a do mau fluido, após a expulsão é preciso a repara-
ção. Se for a desordem orgânica, após a reparação é necessá-
Se, enfim, a doença proceder da mente, do espírito; o pe-
ria a expulsão. À cura só é completa após a destruição das
rispírito e o corpo, postos sob sua dependência, serão entra-
duas causas, É o caso mais comum. Eis porque os tratamen-
vados em suas funções, e nem é cuidando de um nem do ou-
tos terapêuticos muitas vezes necessitam ser completados
por tratamento fluídico e reciprocamente. (Revista Espírita, tro que se fará desaparecer a causa. Não é, pois, vestindo a
camisa-de-força num louco, ou lhe dando pílulas ou duchas,
1867, pp. 55-56)
que se conseguirá repô-lo no estado normal. Apenas acalma-
rão seus sentidos revoltados; acalmarão os seus acessos, mas
Portanto, nenhum dos três meios de cura — medicina co- não destruirão o germe senão combatendo por seus seme-
mum, homeopatia e magnetismo animal — está destinado, isolada- lhantes, fazendo homeopatia espiritual e fluidicamente,
mente, a atender todas as causas. Uma combinação dos tratamen- como se faz materialmente, dando ao doente, pela prece,
tos, adequando-os a cada caso pelo exame das causas, é funda- uma dose infinitesimal de paciência, de calma, de resigna-
ção, conforme o caso, como se lhe dá uma dose infinitesimal
mental para o sucesso da medicina. Assim, Kardec concluiu: de brucina, de digitalis ou de acônito. Para destruir uma cau-
sa mórbida, há que combatê-la em seu terreno. (Espírito
Seja qual for a pretensão de cada um destes sistemas à su-
premacia, o que há de positivo é que, cada um de seu lado, ob-
doutor Morel Lavallée in Revista Esptrita, 1867, p. 56)
tém incontestáveis sucessos, mas que, até agora, nenhum jus-
tificou estar na posse exclusiva da verdade. De onde há que O espiritismo oferece alguns recursos complementares,
concluir que todas têm sua utilidade e que o essencial é as deduzidos de sua doutrina, imprescindíveis para completar o
aplicar adequadamente. (Revista Espírita, 1867, pp. 55-56) quadro da terapêutica, como a desobsessão, o magnetismo es-
- piritual — que é a ação direta dos espíritos, quando evocados,
para restabelecer a saúde — e a prece.
Revendo os conceitos dogmáticos
Revelada pelo espiritismo, a cura da obsessão é um recur-
A medicina comum, o magnetismo animal e a homeopa- “so imprescindível para uma medicina integral. Desde a revela-
tia, combinados, têm os recursos para sanar os desequilíbrios ' ção da doutrina espírita, a cura das obsessões veio provar uma
de origem fisiológica, tanto do corpo, quanto do espírito. Por nova causa da loucura:
outro lado, às duas causas fisiológicas é preciso acrescentar a, |
causa moral. Os casos de obsessão são tão fregiientes que não é exage-
ro dizer que nos hospícios de alienados mais da metade ape-
Nesse caso, o espiritismo veio oferecer uma terapia adequada: qas têm a aparência de loucura e que, por isso mesmo,
a me-
dicação vulgar não tem efeito. Eis todo O segredo dessas
O espiritismo [...] cura, sobretudo, as doenças morais e
curas, para as quais nem há palavras sacramentais, nem fór-
são esses os maiores prodígios que lhe atestam a procedên-
mulas cabalísticas: conversa-se com o espírito desencarnado,
cia. Seus mais sinceros adeptos não são os que se sentem to-
moraliza-se, educa-se-o, como se teria feito em sua vida. A
cados pela observação de fenômenos extraordinários, mas os
habilidade consiste em saber tomá-lo pelo seu caráter, dirigir
que dele recebem a consolação para suas almas; aqueles a
com tato as instruções que lhes são dadas, como o faria um
quem liberta das torturas da dúvida; aqueles a quem levan-
instrutor experimentado. (Revista Esptrita, 1866, p. 47)
tou o ânimo na aflição, que hauriram forças na certeza, que
lhes trouxe, acerca do futuro, no conhecimento do seu ser -
mem
264
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 265

Em al guns casos, a cura


pode ocorrer exclusiv
amente pela À prece é o veículo dos fluidos espirituais mais poderosos,
e é como um bálsamo salutar para as feridas da alma e do cor-
po. Atrai todos os seres para Deus e, de certo modo, faz a
A prova alma sair da espécie de letargia em que se acha mergulhada,
da participação de uma inte
ca aso, ressalta de um fato ligência oculta, emtal “À quando esquece os deveres para com o seu Criador. Dita
materiali : são a! múltiplas com fé, provoca nos que a ouvem o desejo de imitar os que
curas ra-
doutrinação oram, porque o exemplo e a palavra também levam fluidos
dos espíritos obsessores, magnéticos de grande força. [...] a prece de várias pessoas
sem
magnetização
cammen
enttoos e, muitas vezes na
e a grande distância dest ausêncicia d i
forma um feixe que sustenta e fortifica a alma pela qual é fei-
e, (KARDEC, 1868, p 229); ta; dá-lhe força e resignação. (Espírito são Bento in Revista
Espírita, 1866, p. 50)
Quem esclareceu o poder fluídico da prece foi o espírito
de Franz Anton Mesmer, em comunicação de 18 de dezembro
de 1863:
A vontade tanto desenvolve o fluido animal quanto o es-
piritual, porque, todos sabeis agora, há vários gêneros de
magnetismo, em cujo número estão o magnetismo animal e o
magnetismo espiritual, que, conforme a ocorrência, pode
pedir apoio 20 primeiro. Um outro gênero de magnetismo,
.
muito mais poderoso ainda, é a prece que uma alma pura e
desinteressada dirige a Deus. (Revista Espírita, 1864, p. 7)
atol
Pat óei
ológica, € ante a qual a ao
Eeoram negar O elemento
ciência falhará enquanto
se obsti- As curas mediúnicas são obtidas por uma simples imposi-
espiritual e sua influência ção de mãos, ou mesmo uma ação à distância. Ela ocorre quan-
econa a Aqui y caso
é hem evidente: uma jov
sobre à
ando os caracteres da louc em, de tal do os bons espíritos são evocados pela prece para prestarem o
enganarem os médicos ura, a ponto d
e que seu auxílio:
Por pessoas que jamais a vir é curada a léguasas de do distânci
am, sem nenhum medicamendela
» . ,

vit
Ou atraEsp
tamiic to
stã

ento,o méd
To ico,ep pela
5 só moralizaç
i ão do obsessor. (Re-
As curas instantâneas são uma variedade da ação magnéti-
ca. Como se vê, elas repousam num princípio essencialmen-
te fisiológico e nada têm de mais miraculoso que os outros
a Ppa a vez a prece, co
mpreendida como uma aç fenômenos espíritas. Compreende-se desde logo porque es-
e eida eia vont
ade e o firme Propósósiito de ão fluídi sas espécies de curas não são aplicáveis a todas as doenças.
& curso terapêutic im po cu ra r, é tam- Sua obtenção se deve, ao mesmo tempo, à causa primeira do
prece dita em voz alta o rtante para a medicicin:na mal, que não é a mesma em todos os indivíduos, e às quanti-
tem a sua razão de ser qu , À
conpagar aque ando se deseja dades especiais do fluido que se lhe opõem. Disso resulta
les qu
e se reúnem com um que tal pessoa que produz efeitos rápidos nem sempre é indi-
a Concentrá-los em uma só propósito de
força coesa, A prece dita cada para um tratamento magnético regular, e que excelen-
j tes magnetizadores são impróprios para curas instantâneas.
Às curas instantâneas, que ocorrem nos casos em que a
predominância fluídica é, por assim dizer, exclusiva, jamais
poderão tornar-se um meio curativo universal. Não são, con-
266 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
267

seguentemente, chamadas a suplantar nem a medicina, nem e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo
a homeopatia, nem o magnetismo comum. e do injusto. Esta lei explica o insucesso da medicina em cer-
A cura instantânea radical e definitiva pode ser considera- tos casos. Isto prova ainda uma vez a necessidade, para a arte
da como um caso excepcional, visto que é raro: primeiro, de curar, de levar em conta a influência espiritual sobre
os
que a expulsão do mau fluido seja completa no primeiro gol- organismos. (Revista Espírita, 1869, p. 65)
pe; segundo, que a causa fluídica não seja acompanhada de
alguma alteração orgânica, o que obriga, num caso como no A educação é, enfim, o mais eficaz instrumento à disposi-
outro, a olhar várias vezes, ção da medicina para a cura do homem. Liberta-o das amarras
Enfim, não podendo os maus fluidos provir senão de maus da animalidade e descobre as potencialidades de sua própria
espíritos, sua introdução na economia orgânica se liga muitas essência espiritual.
vezes à obsessão, Daí resulta que, para obter a cura, é preciso
tratar, ao mesmo tempo, o doente e o espírito obsessor. Uma ligação íntima entre a medicina, a psicologia e a pe-
Estas considerações mostram quantas coisas há que levar dagogia é o elo essencial para se alcançar a cura definitiva do
em conta no tratamento das moléstias e quanto ainda resta a homem integral. E isso não é uma novidade: “Em verdade, no
aprender a tal respeito. Além disso, vêm confirmar um fato
- que tange à saúde ou à doença, à virtude ou ao vício, não
capital, que ressalta da obraA gênese, é a aliança do espiritis- há
mo e da ciência. O espiritismo marcha no mesmo terreno medida regular ou falta de medida que sejam de maior conse-
que a ciência, até os limites da matéria tangível. Mas, ao pas- qlência que as da alma em relação ao corpo”, afirmou Platão
so que a ciência se detém nesse ponto, o espiritismo continua em Timeu e Crítias.
seu caminho e procede a suas investigações nos fenômenos
da natureza com o auxílio dos elementos que colhe no mun- Ou seja, a verdadeira medicina é uma harmônica associa-
do extramaterial, Só aí está a solução das dificuldades contra ção das terapias de ordem material, vitalista, mental e espiri-
as quais se choca a ciência. (Revista Espírita, 1868, p. 89) tual — para atingir o único e primordial objetivo da medicina,
como afirmaram Hipócrates, Paracelso, Descartes, Mesme
r,
Hahnemann e Claude Bernard: “conservar a saúde e curar
A cura definitiva e integral doentes”,
os
Em última instância, a verdadeira e definitiva cura física e e
psicológica passa pelo domínio consciente dos instintos mate-
riais e pela formação de uma personalidade sadia por meio da
ação efetiva da vontade no sentido de sua educação moral e in-
telectual, num despertar das forças latentes da alma.
O espírito é quem dá à carne as qualidades corresponden-
tes ao seu instinto, tal como o artista que imprime à obra ma-
terial o cunho do seu gênio. Libertado dos instintos da bes-
tialidade, elabora um corpo que não é mais um tirano de sua
aspiração, para espiritualidade do seu ser, e é quando o ho-
mem passa a comer para viver e não mais vive para comer. À
responsabilidade moral dos atos da vida fica, portanto, intac-
ta; mas a razão nos diz que as consequências dessa responsa-
bilidade devem ser proporcionais ao desenvolvimento inte-
lectual do espírito. Assim, quanto mais esclarecido for este,
menos desculpável se torna, uma vez que com a inteligência
TERCEIRA PARTE

OBRAS ORIGINAIS
DE MESMER
SUMÁRIO HISTÓRICO DAS
ÓBRAS DE MESMER

À primeira apre sentação pública das idéias de


feita na Universidade de Viena, com Mesmer foi
a sua tese de doutorado,
Da influência dos planetas sobre
o corpo humano. Seguindo o
costume da época,o trabalho foi originalmente
latim: Dissertatio physico-medi redigido em
ca de planetarum influxu in
“corpus humanum.
- Depoisdas primeiras experiências em
Mesmer viajou para a região da Suábia Viena (1 773),
e para a Suíça, onde vi-
sitou os hosp
itais de Berna e de Zurique, obtend
curas comprovadas por onde pass o centenas de
ava.
: Em Munique, no dia 28 de novembro
de 1775, ele foi in-

O responsável pela cura de mui-


tos enfermos ilustres, entre eles sua
alteza Max José, o prínci-

271
272
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 273
pe-eleitor da Baviera. E tam
bém o próprio diretor da Aca
mia, o senhor Osterwald, de- me dedicado em meus estudos a estabelecer que o uso do
que escreveu: ímã, apesar de útil, era sempre imperfeito sem o apoio de
O que conseguiu aqui em dive teoria do magnetismo animal. Os físicos e médicos com os
rsas enfermidades faz supo quais estive me correspondendo ou que buscaram se intro-
que arrebatou à natureza um r
de Seus mais misteriosos segr meter para usurpar essa descoberta pretenderam e presumi-
os. [...] Daqui por diante não e-
pedirei a nenhum médico do ram divulgar, uns que o ímã era o único agente que eu em-
mundo outra medicina sen
ão a quela que ma persuada firme- pregava, os outros que eu utilizava a eletricidade. E assim por
mente de que estou são, (Ibidem) bi ê diante, porque sabiam que eu havia feito uso desses dois
. A fama de Mesmer se esp meios, (MESMER, 1779)
alhou. Muitos médicos se
essaram em reproduzir inte-
as experiências e compro Isso explica o insucesso dos médicos que imitavam o mé-
vá-
las.
Muitos doutores e físicos,
inclusive representantes da todo mesmérico sem conhecer seus verdadeiros mecanismos:
Aca-
A maior parte deles se desiludiu pela sua própria expe-
merismo somente ao magnetism riência. Mas em lugar de reconhecer a verdade que eu anun-
o mineral ou a eletricidade. ciava, concluíram que, como não obtinham sucesso com O
| Mes mer compreendia, desde
re ações intimas entre o flu sua tese de doutorado, as uso desses dois agentes, as curas anunciadas por mim eram
ido magnético animal, a ele suposições. E que minha teoria era ilusória. O desejo de me
e e O magnetismo mineral, tricida- descartar para sempre de semelhantes erros, e de trazer à luz
pois todos eles são tirados
O universal. Porém, conhec do flui- a verdade me determinaram a não mais fazer uso da eletrici-
ia também suas diferenças: dade nem do imã após 1776. (MESMER, 1779)
O ímã, Seja natural, Seja arti
ficial, é, assim como os outr Foi assim que Mesmer abandonou suas pesquisas para a
Sorpos, suscetível do magnet os
ismo animal, e mesmo da
€ oposta, sem que, nem num
nem noutro caso, sua ação
virtu- aplicação conjunta, com finalidade terapêutica, do magnetis-
so- mo mineral e da eletricidade aliados a sua descoberta, o mag-
netismo animal.
O fundador da homeopatia, Samuel Hahnemann, reto-
No entanto, a maioria dos maria esses estudos, pesquisando sua ação homeopática:
médicos não conhecia essa
Ta, € Os poucos que conhec teo-
iam não a compreendiam À força dinâmica do magneto mineral, da eletricidade e
Num primeiro momento,
6 doutor Mesmer chegou do galvanismo não age menos poderosamente sobre nosso
zer experiências associand a fa- princípio vital e não é menos homeopática do que os medica-
o ímãs, magnetos ou ele
como condutores do magnet tricidade mentos propriamente ditos [...] Quando muito se empregou
ismo animal: até agora a eletricidade e galvanismo somente de modo palia-
Essa academia não apenas tivo, para grande prejuízo dos doentes. Os efeitos positivos e
caiu no erro de confundir puras de ambos no corpo humano sadio foram, até hoje, ain-
magnetismo animal com o o
mineral, apesar de sempre
eu ter
=".
42 A doutrina espírita iria confir 43 Algumas biografias e relatos sobre Mesmer, principalmente do século
mar essa hipótese, Na questão 427
vro os espíritos, Allan Kardec
Questi
de O li- 20, mencionam uma confusão entre o magnetismo animal e o mineral
ona os espíritos: “De que natu
se e que se chama Auido reza é inexistente na elaboração do mesmerismo. Para isso, desconsideram os
magnético?”, e eles responder
tal, eletricidade animalizada, am: “Fluido vi- registros do próprio descobridor e não citam qualquer outra fonte da
que são modificações do Fui
do universal.” época. Ver ZWEIG, 1930, p. 42 e ss.; WOLFE, 1948, p. 22.
274 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - À CIÊNCIA NEG
ADA E OS TEXTOS ESC
ONDIDOS 275
da pouco testados [...] Pode-se fazer uso das forças do
mag- tismo animal, » queque r por meio de
neto para fins de cura. (HAHNEMANN, 200], Pp. 243-244) escr
pena de ser eliminado do quadro itos, , quer pelpael prática,
i sob
dos doutores (BUE, 1934).
Nos parágrafos seguintes, Hahnemann analisa os benefí- Diante das Primeiras recusa
s em receber as asserções
cios do mesmerismo, “esse maravilhoso e inestimável do
presen-
te com que Deus agraciou o homem”.
Apesar do sucesso prático de seu método, Mesmer sabia
da importância do reconhecimento de seu modelo
teórico
pela comunidade científica. Para esclarecer a opinião públic
a,
que estava sendo confundida por controvérsias e falsas
decla- Paris. Depois de descrever
rações, publicou nos jornais e em panfleto, a Carta de 5 de os fatos, controvérsias e con
ja- na última parte desta obra, flitos
neiro de 1775, a um médico estrangeiro, na qual dava atendendo aos pedidos de
uma amigos, ofereceu seus
idéia precisa da sua teoria, dos sucessos que havia
obtido e a famosa síntese de sua teor
suas perspectivas futuras. O médico a quem a carta se destin em vinte e sete proposiçõ ia, organizada
a- es.
va era Johann Christoph Unzer, de Altona, editor Nesse resumo, a teoria do
do Neuer mag netismo animal foi muito
Gelehteer Merkurius. Pela primeira vez a expressão reduzida, como alertou seu des
gravita- cobridor: a Memória “é apenas
ção animal, usada em sua tese de doutorado, foi substituída um adiantamento de uma teo
ria que darei, desde que as
por magnetismo animal, Cunstânci as me permitam indicar as cir-
que anuncio”. ” regras práticas do método
Entretanto, poucos Compreend
À primeira memória sobre o magnetismo anim eriam suas idéias.
al Mesmer fazia uso de concei
tos bastante recentes para
Rapidamente, a fama das curas do mesmerismo se espa- época, principalmente sob a
re físi
lhou. E não tardou uma investida geral, em Viena,
para desa- universal) e medicina, acrescido ca (como a teoria do fluido
creditá-lo. A saga dessa campanha culminou com a viagem tais próprias do magnetism
s de descobertas experimen-
de o animal. Sua complexidade
Mesmer a Paris, em fevereiro de 1778, é um
A doutrina de Mesmer causou uma verdadeira revol
ução *:
na França. E, ao mesmo tempo em que as curas se
multiplica-
vam, as hostilidades tomavam vulto. Mesmer
esclareceu:
“Tanto as inconsegtiências espalhadas contra mim foram
ab- mitam dar a meus Pri
sorvidas com rapidez quanto minhas produções ou minha ncípios a evidência de
s de- “suscetíveis”. Mesmo atualm que são
fesas foram negligenciadas com afinco, o que me forço
Eu A tab

u a re- ente, mais de duzentos ano


correr a outras medidas e escrever livros.” No Pois de sua publicação, só é s de-
entanto, as possível decifrar a ciência do
oposições se intensificaram, justamente com a publicação etismo animal com mag-
de : o auxílio da base
filosófico-científica da
sua primeira Memória, em 1779. outrina espírita.
Em 27 de agosto de 1784, depois de uma escalada Ciente de estar desenvolv
de hosti endo um modelo teórico
lidades, a Faculdade de Medicina de Paris publicaria fico, ele continuou suas pes cientí-
um arresto quisas e experimentos até
proibindo a qualquer médico declarar-se partidário con dições de apresentá-lo com reunir
do magne- o desejava. Quinze anos dep
ois
276 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 277

de geiar Paris, pôde finalmente cumprir


sua promessa, com a trina espírita. O que é incompreensível a partir de um paradig-
publicação de sua principal obra: Memó
rias de Mesmer dou- ma reducionista materialista.
tor em medicina, sobre suas descobertas,
em 1799, O Resumo histórico de Mesmer serviu como informação
para a maioria das biografias sobre ele escritas nos dois séculos
O Resumo histórico - seguintes. Apesar disso, a maioria dos autores não o citou
Em 1 781, Mesmer publicou seu Resumo hist como fonte de pesquisa. E, o que ainda é muito pior, alguns
ros relativos ao
órico dos fa- deles, opositores sistemáticos e declarados do mesmerismo,
magnetismo animal até abril de 1781.
ria completa do magnetismo animal Ahisto- deturparam as descrições de Mesmer conforme lhes convi-
foi contada em detalhes
acrescentando-se documentos, cartas nha, desnaturando os escritos e corrompendo os fatos. O que
oficiais, descrições de
encontros e reuniões, as relações com fica ainda mais grave quando constatamos que o Resumo histó-
as academias
e universi-
dades, não deixando nenhum nome ou
fato de lado.
rico de Mesmer ainda não foi traduzido para o inglês. A tradu-
BO também fez em sua primeira obra, Mesm ção para O português, aqui apresentada, é a primeira.
a Eu uma teoria de sua doutrina, er. não Outro artifício equivocado cometido pelos autores das
apesar de ter sido acusa-
o quivocado
de estar equi por isso.
i Desta vez, ele explicou obras sobre o magnetismo é o uso indiscriminado de fontes
À que: contemporâneas de Mesmer, ora citando depoimentos e obras
a [...] desejaria muito poder estabelece de partidários, ora de opositores ou detratores, não identifi-
r provas com or-
em, clareza € precisão, mas 0 assunto de que trato escap
expressão positiva. Não me resta, para a da cando suas origens. Portanto, as obras elaboradas sem uma
me fazer entender pesquisa organizada e critérios preestabelecidos não passam
senão migens, Comparações, aproxima
ções. Qualquer pre-
ão que eu coloque nesta linguagem vai semp de romances com roupagem de ciência, servindo como instru-
re apr
lados imperfeitos. mentos de difamação e deturpação da realidade.
VE dprsseatar
do Isto porque, esclarece Mesmer, para perc Outros autores foram traídos pela escassez de fontes ori-
eber os fenômenos ginais e pela dificuldade de acesso a tais fontes, e tomaram
magnetismo animal é preciso fazer uso
de um novo sentido: como baliza tais romances mal elaborados, servindo de eco
O magnetismo animal deve ser consi
derado nas minhas
para o equívoco alheio. No entanto, um estudo comparativo
mãos como um sexto sentido artificial.
Os sentidos não se do Resumo histórico de 1781 e de outras fontes originais, com
definem nem se descrevem: eles sente os diversos textos produzidos nas últimas décadas, permitirá
m. Seria em vão ensi-
nara um cego de nascença a teoria das cores. É necessário fa-
zêlo Ver, ou seja, sentir [...] Ele deve que o leitor tire suas próprias conclusões.
em primeiro lugar se
transmitir pelo sentimento. O sentimen
to e apenas ele pode
torna
r a teoria inteli
gível. Por exemplo, um dos meus doen-
tes, acostumado a provar os efeitos que
produzo, tem, para
A falsa descrição do tratamento
me comp reender, uma disposição a mais A história universal foi sendo permeada de preconceitos es-
do que o restante
dos homens. (MESMER, 1781)
tabelecidos e erros consagrados. Com o magnetismo animal não
De acordo com a teoria do magnetismo anim foi diferente. A postura determinada e o potencial reformador
perceptível apen
al, o fluido é de sua doutrina despertaram o ódio de alguns, assim como a in-
as pelo sexto sentido, ou sentido espir
como foi definido posteriormente por Alla itual veja e o ciúme dé outros. O magnetismo sofreu a saga dos pre-
n Kardec, na dou- cursores de novas idéias: sua teoria foi desprezada, e Mesmer en-
278 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADAE
OS TEXTOS ESCONDIDOS - 279

frentou a agressão de detratores, a má-fé, a hipocrisia, as


manobras malévolas, as resistências inconscientes ou simuladas, ordinary popular delusions and the madn
ess of Crowds. (Lon-
a exploração do charlatanismo, a fúria do fanatismo, o desprezo don: Office of the National Illustrated
Library, 1841). pm
da incredulidade, os ataques objetivando semear o descrédito e o de uma rápida pesquisa, encontramos
no capítulo sete desse li-
ridículo, e ainda sofreu com desertores e falsos amigos. vro, “The magnetizers”, a descrição da tina
(ou baquet):
O famoso divulgador científico norte-americano Carl Sa- No centro do salão foi colocado um recip
iente oval, onde fo-
gan (1934-1996) escreveu sobre o assunto: ram colocadas várias garrafas arrolhadas
, cheias de água magne-
tizada. Foi vertida então só água no recip
A história é em geral escrita pelos vencedores para justifi- iente para cobrir as
garrafas. O recipiente estava então tapad
car as suas ações e para eliminar as reivindicações legítimas o corn uma cobertura
de ferro, perfurada por buracos, e foi
dos vencidos [...] O perigo da subjetividade e do preconceito chamada baquet.
tem sido perceptível desde o começo da história. Cícero es- A descrição da tina por Mackay conf
creveu: À primeira lei é que o historiador jamais deve se ere com a de Mes-
mer, Puységur e outros. Todavia,
atrever a registrar o que é falso; a segunda, que jamais deve se quando reproduzida por
atrever a ocultar a verdade; a terceira, que não deve haver sus- Carl Sagan, foi alterada de uma forma inteiramente
“a simples água magnetizada da tina foi subjetiva:
peitas de favoritismo ou preconceito na sua obra. (SAGAN, substituída por um ab-
1996, p. 251) - surdo conteúdo - ácido sulfúrico dilu
ído.
Ironicamente, Carl Sagan daria um clamoroso exemplo Em seguida, no mesmo capítulo de
Popular delusions,
Mackay imaginou uma descrição exagerad
de subjetividade e preconceito no mesmo livro acima citado, a e fantasiosa:
quando deu sua descrição de Mesmer: Os ajudantes, homens jovens geralmente
fortes, bonitos
abraçaram os pacientes entre os joelh
Eu tinha compreendido vagamente a palavra mesmerismo os, esfregando a espi-
nha, enquanto press ionavam suavemente os peitos das se-
como algo semelhante a hipnotismo, Mas meu primeiro reco- nhoras, fitando fixamente seus olhos!
nhecimento real de Mesmer foi por meio de Mackay. Mesmer No meio disto, surge o
atorprincipal, vestido em um roupão longo de
prestava seus serviços à nobreza francesa decadente às véspe- camente bordada com flores de ouro, segur seda lilás, ri-
ras da Revolução. Todos se apinhavam num quarto escureci: magnética branca.
ando uma vara
do. Coberto por um manto de seda com flores douradas e
brandindo uma varinha de marfim, Mesmer fazia suas vítimas O trecho não tem bases factuais, muit
se sentarem ao redor de uma cuba de ácido sulfúrico diluído. o menos referência
“documental. Não difere dos panfleto
O Magnetizador e seus jovens assistentes examinavam pro s difamatórios, versos
fundamente os olhos de seus pacientes e esfregavam os seus -burlescos, casos falsos, espalhados pela
Europa desde que o
corpos. Esses agarravam barras de ferro que saíam da solução -mesmerismo despertou o interesse
público. Mesmo assim
ou ficavam de mãos dadas. Num frenesi contagioso, os aristo- E essa descrição falsa, de abril de 1841,
cratas — especialmente as jovens mulheres — eram curados à | foi sendo reproduzida
“de um livro à outro, como se, repetida
direita e à esquerda. (SAGAN, 1996, p. 78) mil vezes, pudesse pas-
“Sar a ser verdade.
Sagan, ele mesmo o diz, nada sabia sobre o mesmerismo, é :
ainda assim reproduziu em seu livro a primeira e única fonte :
Uma campanha difamatória duradoura
que consultou, um relato de 1841 de Mackay. Sagan estava sê
referindo a Charles Mackay (1814-1889), romancista pseudo- Outra obra do mesmo ano de 184] ;
Histoire académique
du magnétisme animal, foi escrita por
científico, autor do livro publicado em 1841: Memoirs of extra: Burdin Jeune e Fréderic
Dubois d'Amiens (Paris: Chez J. N. Baill
iére, Libraire de
memso
280 PAI
ULO HENRIQUE DE' F;
º IGUEIREDO MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 281

L'Académie édeci
dedicado a um Profa Medecine, 1 4) Esse relatório: 01d res Sallin, J. d'Arcet, Guillotin, Majault. A segunda foi com-
Os três, porém, eram membros da Ac a de ad Gerdy ta pelos médicos Mauduyt, Andry, Caillé e Poissonnier.
migos declarados do magnetismo animal ec -À predisposição da maioria desses doutores parisienses
O barão du Potet, num relatórios sobre , pode ser conhecida pela leitura do Resumo histórico de 1781.
magnetismo, indicou o posicionamento desse E iMesmer desejava uma apreciação de todas as academias e fa-
cos: “O magnetismo animal teve os seus ren q tuldades sobre as curas do magnetismo animal, pelo exame
das [...] e também os seus insultadores bla os os seus Ju- comparativo das terapias, usando um grupo de controle. No
os Vireys, os Dubois d'Amiens os Certo ce os Burdins, entanto, os sábios queriam observar empiricamente a existên-
Esca História acadêmico cd À ys, os Velpeaus etc. ia do fluido magnético, o que um conhecimento da teoria do
uma campanha antimesmerista fo orada às pressas, depois de . agnetismo animal demonstra ser impossível, pois o magne-
nitivamente que a Academia volta e retendia impedir defi- | tismo animal é um estado de vibração do fluido universal, com
: Sse à examinar
, 0 magnetismo - úência maior que a da luz (DU PoTET, 1856).
uma freguên
animal e o so :
vel da Academia aprano Provocado ESP ois do qtório favorá- No entanto, o objeto de exame da comissão não foi a teoria
são, doutor Husson, como fruto de cinco anos de de à Comis- | “de Mesmer, e nem mesmo sua prática. Isto porque os comissá-
e pesquisa. rios ouviram apenas o doutor d'Eslon, um ex-aluno desautori-
zado por Mesmer. D'Eslon havia contrariado os acordos feitos
com seu mestre.
mento. No entanto, como Antes do pronunciamento das comissões, Mesmer de-
ocorreu com Mackay, o livro servi
como fonte biográfica para obr nunciou os equívocos a Benjamin Franklin, numa carta escrita
as sobre o tema + rincipal
te na segunda metade do séc o em seu nome por seu discípulo Nicolas Bergasse, publicada
ulo 19. FRA men
Hds Fcusações de insinuaçã pelo Jornal de Paris.
o sexual, como de Mackay
ra do tique, não foram, todavi e da Preâmbulo:
a, espontâneas: nasce-
EN , ormpanha difamatória, Pla
l nejada, iniciada em Os senhores autores do Jornal de Paris, não tendo podi-
TD ' no, no dia 1 2 de março, qua
aculdade de Medicina, cinco tro componentes da do, devido a considerações particulares, admitir em suas fo-
sócios da Academia de Ciênci lhas a carta seguinte, que lhes foi endereçada pelo senhor
de Paris — a mesma que repeli as Mesmer. Acreditaram, no entanto, que, nas circunstâncias
u o pára-raios de Franklineav
cina de Jenne — e a Sociedade atuais, importava torná-la pública; e, em consegtiência, foi
Real de Medicina foram co
cados pelo rei Luís 16, da Fra o determinado fazê-la imprimir.
nça, para dar um parecer sobr
magnetism o animal. e o
eo Carta do senhor Mesmer aos senhores doutores do Jornal
o A primeira comissão foi com
posta pelos acadêmicos Ben- de Paris:
Jamin Franklin, Le Roi, Bailly,
de Bory e Lavoisier e pelos dou-
Senhores, fui informado que os senhores comissários en-
viados ao senhor d'Eslon, para constatar a eficácia da minha
44 Barão du Potet , Breve relatório do presidente descoberta dispõem-se a dar incessantemente satisfações
ris, sobre o progresso atual da Prop do Juri Magnético de Pa-
aganda públicas de sua opinião sobre o que o senhor d'Eslon lhes
dezembro de 1860 i
, in MONTEGGIA. 1861 "E MtiiSmo. Paris, 10 i pôde informar ou lhes mostrar, Como não era ao senhor
de dEslon que cabia lhes esclarecer sobre uma doutrina da qual
282 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER
- A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 283
sou o inventor, e que a mim importa, ou talvez importa mais O governo acreditou, seguramente, que o senhor d'Eslon
à humanidade, que esta doutrina não seja apreciada segundo é o autor da descoberta do magnetismo animal é que ele pos-
o que possa dizer ou fazer um homem totalmente desaprova- sui o sistema de conhecimentos, em toda sua extensão. Os
do como meu intérprete, que fique claro, senhores, que no comissários que o governo escolheu para ir fazer-se instruir
entanto eu discuto expressamente o relatório que os senho- junto ao senhor Deslon em relação à ciência do magnetismo
res comissários vão publicar, quero fazer seu Jornal ciente da animal seguramente acreditaram na mesma coisa,
declaração que aqui vou fazer, que, se eles pretendem julgar
[...] Em consequência, senhor, peço-lhe para ler com a
o sistema de meus conhecimentos segundo o senhor d Eslon, maior atenção a Memória que junto a esta carta; o senhor en-
não os reconhecerei como meus juízes; e para dar à minha tenderá uma parte dos delitos que imputo ao senhor Deslon,
declaração todo o respaldo que ela possa ter, e provar que e não tardará a conhecer quanto podem se tornar embaraço-
não é o efeito das circunstâncias, permitam-me juntar aqui à sas para O governo e para o senhor, as falácias que, no desejo
cópia de uma carta que enviei ao senhor Franklin, no mo único de me prejudicar, ele utilizou na arte de relacionar O
mento em que soube que uma comissão havia sido nomea: governo e o senhor, de uma parte, e ele e os colaboradores
para examinar alhures a importância e a eficácia do magne- de
outra.
tismo animal. [...] Minha descoberta interessa à todas as nações, e é para
Sendo minha demanda de direito público, ouso esperar que todas as nações que desejo fazer a minha história e minha
julguem por bem acolhê-la. Espero ter a honra de merecer com apologia. Pode-se então aqui, como se fez até o presente,
sideração tão distinta, senhores, seu muito humilde e muito abafar minha voz: não se fará nada mais do que postergar mi-
obediente servidor, Mesmer. Paris, a 20 de agosto de 1784. nha reclamação e torná-la mais potente e mais terrível. Eu
estou como o senhor, entre o número de homens que não se
Cópia da carta escrita pelo senhor Mesmer ao senhor pode oprimir sem perigo; no número desses homens que,
porque fizeram grandes coisas, dispõem da vergonha, como
Franklin: os homens poderosos dispõem da autoridade. Embora
se
ouse tentar, meu senhor, como o senhor, eu tenho o mundo
O senhor está à frente dos comissários que o governo en-
por juiz: e se puder esquecer o bem que fiz, e impedir o bem
viou ao senhor d'Eslon para obter a revelação de minha des-
| que eu gostaria de fazer, terei a posteridade para me vingar.
coberta e constatar sua eficácia.
Sou com respeito, senhor, seu muito humilde e muito obe-
Quando o senhor d'Eslon aproximou-se de mim e quando
a diente servidor, Mesmer.
considerei válido deixá-lo entrever algurnas partes de minha
teoria, exigi dele a palavra de honra de que jamais tornaria Franklin, com setenta e oito anos, não compareceu às
público, sem ter meu aval antecipadamente, as poucas idéias reu-
novas que lhe poderia confiar. [...] niões em Paris. Nesses encontros, os outros comissários
ouvi-
Entretanto, a despeito de seus juramentos e do ato que ' Tam e fizeram experiências com o doutor d'Eslon. Como era
subscreveu, o senhor d'Eslon não só ousou dispor de minha é: de se esperar, e Mesmer havia previsto, eles se viram frustra
como também encontrou ho-
-
propriedade para si próprio E dos na tentativa de observar, por meio dos cinco sentidos,
mens que não hesitaram em dividir com ele meus despojos. a
existência
de um fluido. Apesar de terem observado altera-
Trinta e seis médicos, segundo me asseguraram, vieram bus-
ções fisiológicas e as crises nos pacientes, durante o tempo
+

car com ele um sistema de conhecimento do qual ele deveria


cuidar, e que não podia revelar-lhes sem faltar com as leis da -empregado por d'Eslon, eles consideraram que tudo era fruto
honra, O senhor D'Eslon, ainda mais, ousou pedir ao governo
comissários para fazer constatar como sendo dele uma des
coberta que não lhe pertence, uma descoberta que roubou 45 Nota de Mesmer; A Memória de que aqui se trata, obra de
mais de cen-
daquele que é seu inventor, da qual não pode fazer senão um to e cinquenta páginas, não pode aparecer atualmente. Mas
todos os fa-
uso condenável. “tos que ela contém, e todas as peças sobre as quais está
apoiada, serão
“conhecidas quando do tempo adequado. Se fiz uma grande descobe
rta,
quero provar que não era indigno de a ter feito.
284 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 285

ca imaginação. E concluíra
m por fim « Serem os método apresentou à Academia um longo parecer em separado, diver-
Osos e prejudici
| ais, e que o emprego d s peri. 3
poderia trazer consegiiências i i giu dos outros comissários e, concluindo que a terapia do mag-
fatais * C9mmagacéismo ani netismo animal apresentava curas inexplicáveis, afirmou:
Depois de a penas cin mal
i co meses, | as comisss ô
seus paleceres desfavoráveis [...] vários fatos bem verificados, independentes da ima-
à existência do magnetismo
Paraa a ú academiai em 11 de ar ginação e para ele fora de dúvida, bastavam para lhe fazer ad-
agosto de 1784 e a Sociedade
pois. O relator À Real mitir a existência ou a possibilidade de um fluido ou agente
da Academia de Ciências conclu que aflui do homem para seu semelhante [...] algumas vezes
iu:
ns O fluido
fui
nagriáticods ,
não existe, e os meios empreg
até mesmo por uma simples aproximação à distância.
ados para (JUSSIEU, 1784)
ação são perigosos. Os comissários rec
onhece-
or
do . a
ndium. dos sentidos físicos, Um dos casos que o famoso naturalista considerou mais
que não teve nenhuma
dão, nele
s, nem nos pacientes que a
ele foram
intrigantes foi quando um jovem, ao ser magnetizado, entrou
submeti
os; tendo assegurado que as
pressõôes e toques rarras
arhhen
em crise, ficou em silencio e, em seguida, levantou-se e passou,
enttee
a caminhar pelo corredor tocando e magnetizando habilmente
os outros pacientes. Entretanto, quando ele voltou ao estado |
normal não lembrou nada do que havia acontecido e, questio-
nado por Jussieu, já não sabia mais magnetizar. (JUSSIEU,
1784, p. 15) O fato relatado descreve o estado de sonambulis-
mo provocado, que depois seria amplamente experimentado
e estudado pelos magnetizadores.
Jussieu, observador cuidadoso e crítico, interessou-se pe-
las magnetizações realizadas à distância, evidenciando, por-
tanto, uma ação independente da imaginação do paciente. Em
sem
senem
tem- do o Coriitação de
acrescentar que os toques, e
várias ocasiões ele declarou que obteve sucesso provocando ou
dicas euo Prod ? Ugumas crises, podem ser
a controlando o curso da crise, apontando seu dedo, ou uma pe-
preju-
entes caueà co emplação destas crises pelo
s outros paci- quena vara de ferro, sem que os pacientes tivessem conheci-
code apo
dia ns
é Perigosa, Por causa desta atit
ude de imita- mento de seu gesto. Um caso de destaque foi de um paciente
Parece ter nos feito uma lei;
atamento público onde forem e que, então cego que entrou em crise depois de o magnetizador apontar
. usad
À os os métodos do “para ele, que estava a dois metros de distância.
ani
1887, p. smo
magneti 12) animal podem ocasionar efeitos fatais. (BINET,
O Museu Nacional da França possui uma carta de Jussieu
Assim que o relatório foi pub (12 de abril de 1785) para Claret de La Tourette, secretário
questionados em panfletos e per li issári perpétuo da Academia de Ciências de Lyons. Nesta carta, Jus-
iódicos: “ano mário ia sieu defende sua crença na existência de um fluido ainda des-
> Cria não existir e ao mes
mo tempo ser perigoso e fatal” conhecido que explicaria as curas do magnetismo animal, sen-
dic Sr membros da comissão da Soc
1 O botânico Antoine Laurent iedade Real de Me- do, assim, um precursor da teoria fluidista, que iria ser
de Jussieu (1748-1836), adotada por alguns magnetizadores das gerações seguintes.
286 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXT
OS ESCONDIDOS 287

Um relatório secreto Estas decisões eivadas de prevençã


o e este
arrestos extre-
mamente injustos, visando
Junto ao relatório oficial da Faculdade de Medicina, o Te- àqueles que procuravam estu
os fenômenos, longe de desa dar
creditarem Mesmer e sua dou-
lator Bailly acrescentou um outro, secreto, para ser lido so- trina, contribuíram, ao Contrári
o, para aumentar o número
mente pelo rei. Nele, usando uma linguagem capciosa, o rela- de seus partidár
ios. (BUÊ, 1934-II, p. 142)
tor disse que havia um aspecto do magnetismo tão perigoso
Grande parte dos médicos vitalist
que sua prática deveria ser impedida imediatamente. Acusava as, numerosos na época,
defendeu o mesmerismo. Um dos
injustamente o magnetismo animal de implicações sesuais, mais dedicados foi Jean
Emmanuel Gilbert, formado em med
* perigos para os bons costumes e promiscuidade. Segundo eles, icina em Montpellier, pro-
fessor de anatomia e cirurgia da Fac
a atração entre o magnetizador e o paciente poderia ser tão uldade de Medicina de Lyon
e de outras universidades européia
grande que as seduções seriam inevitáveis. Num trecho do re- s, e médico do Hôtel-Dieu,
Gilbert escreveu um livro: Aperçu
latório, Bailly descreve suas impressões subjetivas: sur lê magnétisme animal
(1784), depois da publicação dos
relatórios em Paris. Testemu-
São normalmente os homens que magnetizam as mulhe- nhando as curas efetuadas pelos disc
ípulos de Mesmer, ele con-
res. Então as relações entre eles não são, provavelmente, as cluiu que o magnetismo animal é uma consegiência natu
estabelecidas normalmente entre um paciente e seu médico. Pesquisas dos médicos Hipócrates, ral das
Além disso, a maioria das mulheres que procuram a terapia van Helmont, Stahl, Bordeu
e Barthez. Ele mesmo vinha desenv
do magnetismo animal não está realmente doente, mas vai lá olvendo métodos semelhan-
- tes ao mesmerismo como alternativa
por ociosidade e falta de propósito. Algumas podem até ter à irracional medicina herói-
ca, e registrou dezenas de curas por
um ou outro desconforto, mas mantêm todo seu frescor e ele testemunhadas em Lyon.
força, Os seus sentidos estão presentes com todo vigor e sua (GiLBERT, 1784)
juventude está no auge de sua sensibilidade. Elas têm muito Diversos discípulos de Mesmer
charme para oferecer aos médicos, e eles, por sua vez, bas- espalharam-se pelas pro-
víncias, onde foram propagar as
tante saúde; então o perigo é recíproco. Eles ficam próximos curas do magnetismo, produ-
zindo relatórios, como Bercasse
por muito tempo, forçosamente se tocando, transmitindo o e Bonnefo + € acumulando
calor pessoal, trocando olhares, inevitavelmente, os meios evidências registradas nos cartório
s. Sociedades de médicos
empregados provocam a troca de sensações e afetos por todo magnetizadores foram fundadas por
o tempo. (BINET, 1887) toda a França e se esten-
deram a outros países. O marquês
de Puységur, em sua casa de
atrafa cada vez mais doentes e inte
Bailly não se atém aos fatos, o que se deveria esperar de ressados. “Nunca
- disse du Potet — a medicina comum
um trabalho científico, mas levanta suspeitas desonrosas e car- ofereceu ao público o
exemplo de semelhantes garantias.”
regadas de calúnia. Além disso, inadvertidamente, o relator (BUÉ, 1934, p. 144)
“- Alguns meses depois, o marquê
acrescentou em seu relatório secreto o nome de Mesmer, as- . s de Puységur publicou
suas Memórias para contribuir com
sociando-o às suas críticas endereçadas ao doutor d'Eslon, es- a história e a instituição
do magnetismo animal e, um ano depois, sua continuação,
tendendo ao descobridor do magnetismo animal, de forma latando os fenômenos decorrentes re-
gratuita, suas acusações e condenações. do sonambulismo provoca-
do, como dupla vista, visão à distânci
Apesar de ser privativo, o relatório foi impresso por or- a, exteriorização da sensi-
bilidade, previsão do futuro, tele
dem do rei e milhares de cópias foram distribuídas por toda a patia e muitos outros.
: A partir da divulgação dessas nova
Europa. Concluiu Alphonso Bué: s descobertas, cada vez
mais as academias foram questiona
das para se pronunciarem,
agor
a sem prevenção e preconceito.
Como explicou Puységur:
288 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO , , TEXT 289
MESMBR - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS
Os acadêmicos decidiram que somente recon
magnetismo animal, se ele pudesse ser perce
heceriam o: Os sábios estudavam, os médicos empregavam a medicina
bido por meio
das sensações físicas. Essa é uma triste decisã
o, servindo so-
magnética e as curas se multiplicavam, provocando o interesse
mente para atender à vaidade de certas
pessoas. Das duas, público. Todavia, a academia voltou a examinar o magnetism
uma só acontecerá: ou os comissários,
acadêmicos e outros animal somente em 1826, depois das diversas experiências
concordarão hoje que estavam totalmente
gamento que tiveram sobre o magnetismo
enganados no jul- conduzidas pelo doutor du Potet, no Hotel d Dieu de Paris c
ágimal, do qual se outros hospitais. Mais de trinta médicos, entre eles Huss me
acham enfim forçados a reconhecer a existê
ncia e, finalmen-
te, darão à posteridade a prova mais convi
ncente da preven-
Récamier, Mitivie e Foucquier, acompanharam as cpetém
ção que ditou seu primeiro relatório; ou então,
se recusam cias. O barão du Potet, na linha de frente dos magnetizad es
novamente, é com o mesmo desleixo,
de se convencerem de sua época, reuniu as numerosas curas num relat rio e -
desta importante verdade. Se optarem por
conhecimento, eles ficarão expostos,
negligenciar o re- lhado e documentado, depois publicadas em sua obra: E=p er
necessariamente, à
censura futura, e demonstrarão que os seus ences publiques sur le magnérisme animal, faites à Ho
conhecimentos
de física não eram os mais corretos, (PUYSÉGU
R, 1785) Dieu de Paris (DU POTET, 1826).
A comissão foi composta por Bourdois de la Motte, Fouequier,
No mesmo sentido, afirmou o astrônomo franc eye
ês François Guéneau de Mussy, Guersant, Itard, J.J. Leroux, Marc,
Arago (1786-1853), no Annuaire du bureau -
des longitudes: e Husson, que foi designado como relator. Os comissários pro
A maior parte dos fenômenos, agrupados deram a diversas experiências, bem averiguadas, registradas
hoje em torno
do magnetismo anirmal, não eram nem testemunhadas, durante cinco anos. Entre eles, registraram a
conhecidos, nem
anunciados em 1784 [...] Os sábios que
hoje se entregam a clarividência por meio da lucidez sonambúlica:
experiências de sonambulismo penetram
num mundo todo
novo, de cuja existência os Lavoisiers, os Vimos dois sonâmbulos que, com os olhos dem vendados,
Franklins, os Baillys
não suspeitavam sequer. enxergaram objetos colocados em sua presença, esigean o,
sem nelas tocar, a cor e o valor das cartas de jogar, ion o pe
vras escritas e, mesmo, muitas linhas de livros. Esse enômeno
Uma nova geração de magnetizadores ocorreu mesmo quando as pálpebras eramperfeitamente se
radas pela imposição dos dedos. (SARGENT, 1880, p. 2 4)
Apenas quando a paz se restabeleceu
na Europa, depois
da Revolução Francesa e do Primeiro Impé Entre os relatos de curas e previsões, uma sonâmbula des
rio, o magnetismo
animal voltou a aparecer. Na França, cura creveu os sintomas da doença de uma pessoa que esteve e
vam e pesquisavam
Os irmãos marquês de Puységur e Máxime contato com ela:
de Puységur, o sá-
bio naturalista Joseph Philippe François Dele
uze (conhecido A comissão — diz o texto - encontrou entre seusmembros
como o Hipócrates do magnetismo), o barão Jules
Denis du alguém que quisesse submeter-se à exploração da son o
Potet de Sennevoy, Charles Lafontaine, Dura la: foi o senhor Marc. A senhorita Celina foi solicitad a exa
nd de Gros, Au-
bin Gauthier, Charpignon, Ricard Despine, minar com atenção o estado de saúde de nosso co ga. Pla
Geraud, Bruno,
Billot. De acordo com Frank Podmore, na aplicou a mão sobre a fronte e a região do coração e, 2 ! rês
Inglaterra, o mes- minutos, disse que o sangue ia à cabeça; que atualmen cos
merismo estava sendo pesquisado por
Elliotson, Gregory, nhor Marc tinha um mal no lado esquerdo dessa cavi y
Haddock, o escocês James Esdaile e Spencer tinha muitas vezes opressão, sobretudo após haver cet
T. Hall, e na Ale- que
manha por Gmelin, Wienholt, Fischer, do; que ele devia ter muitas vezes uma pequena tosse =]
Kluge e Kieser.
Não tardamos a perguntar ao senhor Marc se ele aprovav: o
que a sonâmbula havia dito; ele nos disse que realmente
290 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA
E OS TEXTOS ESCONDIDOS
291
nha opressão quando caminhava ao sair da mesa; muitas ve-
zes tinha tosse e que antes da experiência tinha dor no lado tomia descritiva da Faculdade
esquerdo da cabeça. Ficamos espantados com essa analogia, de Medicina do Rio de Janeiro
trata, em 1853, do magnetism
(ROCHAS, 1893, pp. 42-44) o animal no seu trabalho Estu
dos sobre a fotografia fisiológ -
ica. Seguiram-se outros.
Sobre as sessões de 21 e 28 de junho de 1831, o relatório Em 1861, o doutor Joaquim
dos Remédios Monteiro
detalhado, listando um grande número de fatos, confirmou a aprese ntou a sua História do magnetism
de Medicina. E, no mesmo ano, o à Academia Imperial
veracidade dos fenômenos sonambúlicos e curas por meio do o doutor Eduardo Monteggia
mesmerismo: “É somente pelo mais extenso exame, severo, fundou seu Jornal Científico de
Propaganda da Magnetothe-
cuidadoso, e numerosas e variadas experiências, que se pode rapia, no qual publicou, incl
usive, textos de Allan Kardec
fugir à ilusão.” (SARGENT, 1880, p. 224) Apesar disso, depois Monteggia, correspondente do .
barão du Potet, também fun-
da aprovado e assinado, por pressões de alguns acadêmicos, o dou, no Rio de Janeiro,
a Sociedade de Propaganda do
resultado do trabalho foi arquivado pela Academia. Não hou- tismo e o Júri Magnético do Magne-
Rio de J aneiro, sob inspiração
ve divulgação pública. instituições parisienses equiva das
lentes, ambas dedicadas à pes-
No entanto, mesmo enfrentando a oposição sistemática
quisa e tratamento por meio do magnetismo animal
tidades foram autorizadas a fun . Estas en-
dos alopatas, a reabilitação do magnetismo animal já era um cionar pelo governo imperial
fato. Nas décadas seguintes, durante o surgimento da doutrina do Brasil, desde que as práticas
curativas fossem conduzidas
espírita, na segunda metade do século 19, grande parte dos exclusivamente por médicos+
médicos utilizavam o mesmerismo, normalmente associado à
homeopatia. As memórias de 1799
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, o magnetismo che-
Depois da divulgação do relatóri
gou no começo do século 18. Como na Europa, os médicos o de 1784, muitos magne-
tizadores pediram a Mesmer que
progressistas associavam as duas medicinas vitalistas e científi- tornasse públicas as teorias de
sua descoberta, No entanto, ele
cas — magnetismo animal e homeopatia — abandonando a me- alegou a necessidade de elabo-
rar com cuidado e precisão este
dicina heróica e suas sangrias. Em 1823, o médico João Lopes trabalho, para não deixar dúvi-
das. Para empreender esta tare
Cardoso Machado fala pela primeira vez do magnetismo ani- fa, precisaria de tempo e dedi
São — e, segundo ele, ainda não ca-
mai em seu Dicionário médico-prático, em Pernambuco. era o momento certo,
Alguns dos alunos do curso de
O doutor Leopoldo Gamard, todavia, enfrentou resistên- - trado por Mesmer desejavam
magnetismo animal minis-
cias preconceituosas e teve sua monografia sobre o magneti publicar as anotações das aula
s- Todavia, eles foram expressam s.
mo animal rejeitada em 1832, na Sociedade de Medicina do ente desautorizados por seu
- mestre, que não revisou
Rio de Janeiro. O relatório final concluiu: “O magnetismo ain- o texto. Mesmo assim, o mat
“editado e publicado por seu erial foi
da dorme no Brasil, cuidai em o não acordar.” Para contribuir discípulo Caullet de Veaumorel
-em 1785, como título Aforis
com a pesquisa teórica em terras brasileiras, o doutor Guilher- mos de Mesmer. Às anotações
do
me Henrique Briggs, em 1853, traduziu para o português o li- —
vro de du Potet, Prática elementar do magnetismo. - 46 Todos estes fatos ocorridos
no Brasil estão descritos em:
Hypnotismo. Rio de Janeiro: Fajardo, F.
À medicina mesmérica também esteve presente no meio Tratado de hypnotismo. Rio
Typ. Laemmert & C., 1889;
Fajardo, F.
acadêmico. O doutor José Maurício Garcia, professor de ana- de Janeiro: Typ. Laemmert
GP ARC. “A história & C,, 1896;
da hipnose no Brasil”, Rev. Bras
. H ipnose,
292 PAULO HENRIQUE DE PIG UZIREDO
MESMER - A CIÊNCIA NEGADA E OS TEXTOS ESCONDIDOS 293

curso foram divididas em 344 prop


osições. Apesar de ser uma | Todas as minhas expectativas foram superadas quando,
obra refutada por Mesmer, e não
revisada por ele, oferecemos pela primeira vez, encontrei-me com o descobridor do mag-
a sua tradução no Apêndice, como
fonte de pesquisa histórica, netismo animal. Quando nos reunimos, ele estava dedican-
Depois disso, Mesmer decidiu do-se a curar os enfermos de um hospital local. Sua idade
deixar a França e empre- avançada deixava uma impressão bela e admirável de sua cla-
endeu uma série de viagens pela
Europa, De atordo com seu reza, da profundidade de sua alma. Explicava com vigor e de-
discípulo Bergasse, ele teria viaj
ado primeiramente para a dicação as suas teorias, com um jeito todo seu, colorindo os
Inglaterra (BERGASSE, 1785). quadros de suas comparações. Agia com delicadeza de movi-
Seguramente, Mesmer foi
para a Suíça, depois para a região mentos, no ambiente agradável em que me acolheu. A isso
do lago de Constança, em se-
guida voltando para Viena. Qua podemos acrescentar uma extensa gama de conhecimentos
ndo retornou a Paris em sólidos sobre todas as ciências, comparável somente aos
1798, passou a residir no número
206 da rua Vendôme. grandes sábios. Ele demonstrava um grande poder de persua-
No ano seguinte, dezoito anos depo são sobre seus doentes, aos quais oferecia toda sua atenção.
is da edição de seu li.
vro anterior, Mesmer publicou a Os gestos largos de suas mãos causavam uma sombra larga e
sua última e mais importante
obra: Memória de F. À, Mesmer, dout infundiam respeito à todos. Com estas descrições simples
or em medicina, sobre acredito ter reportado a figura e as impressões que Mesmer
suas descobertas. Foi quando fin
almente apresentou às suas me causaram em nosso encontro.
teorias sobre o magnetismo animal, divu
lgando, inclusive, uma
inédita teoria sobre o sonambulismo Depois desse primeiro encontro, Wolfart teve acesso a di-
provocado e os fenôme-
nos da lucidez sonambúlica. Muitas versos escritos e documentos guardados por Mesmer em sua
de suas observações e hi-
póteses foram pos teriormente confirmadas pelo espi residência na pequena cidade histórica de Meesburg, nas costas
Podemos afirmar, com seguranç ritismo.
a, que a associação destas do lago de Constança. Alguns textos foram traduzidos do fran-
duas ciências é fundamental, pois cês e juntados a outros em alemão, acabando por formar a últi-
as teses do magnetismo ani-
mal são realmente compreendida ma obra, publicada em 1814, com 430 páginas, Mesmerismus
s somente quando submeti-
das às luzes da filosofia espírita. oder Systeme der Wechselwirkungen: Theorie und Anwendung
Quando Mesmer, decidido a abandonar des thierischen Magnetismus als die allgemeine Heilkunde zur
França, mudou para a cidade suíça definitivamente a
de Frauenfeld, em 1809 Erhaltung des Menschen (Mesmerismo ou sistema das intera-
muitos pensavam que ele já havia mor ções, teoria e aplicação do magnetismo animal como a medicina
rido. Entretanto um
grupo de médicos da Academia de Ber geral para a preservação da saúde do homem).
lim descobriu o seu pa-
radeiro. Ele foi entã
o convidado oficialmente pela Aca O livro está dividido em duas partes: física e moral. Antes
de Berlim e pelo imperador para demia
apresentar suas teorias. Mas dos textos de Mesmer, há uma introdução elaborada por Wol-
Já com setenta e cinco anos, seri fart. O capítulo sobre moral havia sido escrito vinte anos an-
a muito desgastante a viagem,
e Mes mer não aceitou acompanhá-los. tes, em francês, para ser submetido à apreciação da Conven-
Entretanto, recebeu
em sua casa 0 emissário alemão, dou ção Nacional, que controlou a França entre 1792 e 1795 e foi
tor Karl Christian Wol-
fart, encarregado de solicitar “a com publicado no Journal du Magnétisme, volumes 3 a 8 (1846 a
unicação de todos os fa-
CR SM TS esclarecimentos desse importante
tema”.
Wiolfart contou as suas primeiras impressõ
es sobre Mesmer:
47 Texto introdutório de WOLFART, von K. C. in MESMER, 1814 (reim-
presso por E.J, Bonset, Amsterdã, 1966).
294 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

1849) pelo barão du Potet,


como uma novidade apresen-
tada aos magnetizadores.
Nos seus últimos meses,
Mesmer ainda promovia, oca-
sionalmente, concertos na re-
sidência do bispo von Dalberg,
depois de atender seus pacien- FRANZ ANTON MESMER
tes no hospital. Nesses mo-
mentos, cercado de amigos,
ele tocava a sua antiga harmô-
nica de cristal, que o acompa-
nhou por toda sua vida, desde MEMÓRIA SOBRE
os encontros com Mozart e
outros músicos, em Viena. - A DESCOBERTA DO
Esse instrumento, sua caneta e
Túmulo de Mesmer, Meesburg.

.
seu copo de cristal, assim "MAGNETISMO ANIMAL
como alguns artigos e cartas,
foram oferecidos ao doutor Wolfart, depois de Mesmer dei-
xar este mundo, em 5 de março de 1815, aos oitenta e
um
anos, encerrando um período de coma decorrente de um
aneurisma cerebral.
SUR LA DÉCOUVERTE
DU
NOTA À EDIÇÃO BRASILEIRA
MA GNÉTISME
ANIMAL;
A presente tradução foi feita da primeira edição do original
Par M. MESMER » Dod
leur em Midecine francês, publicado por Mesmer em 1779, intitulada Mémoire
de la Faculsé de Fienne sur la découverte du magnétisme animal; par M. Mesmer, Doc-
,
tour en Médicine de la Faculté de Vienne [Memória sobre a des-
coberta do magnetismo animal pelo senhor Mesmer, doutor
em medicina pela Faculdade de Viena] (A Geneve et se trouve
a Paris, Ches P. Fr. Didot le jeune, Libraire-Imprimeur de
Et fe tmive Mounsieur), a partir do exemplar pertencente à Biblioteca Na-
Né 4 , és
A PARIS, Cias
cional da França.
Chez P. Fr. Uma segunda edição foi publicada em 1781, e no mesmo
DiDor le jeune; Libraire-
Imprimeur de MONSIEUR ano traduzida para o alemão: Abhandlung iiber die Entdeckung
, quai des thierischen Magnetismus. (Túbingen: Michael Macklot,
des Anguítins,
1781, reeditada em 1985).
a DO Em português, a Memória foi primeiramente publicada
M. DCC, LXXIX, em cadernos mensais de trinta e duas páginas, distribuídos
gratuitamente, em 1862, aos assinantes do jornal Propaganda
da Magnetotherapia, pelo divulgador do mesmerismo, doutor
Eduardo A. Monteggia. Um exemplar encontra-se na nossa
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
A primeira versão para o inglês surgiu somente em 1948,
com uma introdução por Gilbert Frankau, e tradução de V. R.

297
298 FRANZ ANTON MESMER

Myers: Mesmerism by doctor Mesmer, 1779. (Macdonald:


London. 1948. Frontis). Em 1980, George Bloch publicou em
inglês: Mesmerism: a translation of the original medical and
scientific writings of F. A. Mesmer (Los Altos, CA: Kaufman,
c1980.). No entanto, em que pese o título, a tradução não foi
dos textos originais do mestre, mas de uma edição moderna
das obras de Mesmer, com algumas alterações do original, pu-
blicada por Robert Amadou, em 1971: Magnetisme animale.
(Com comentários e notas de Frank A. Pattie et Jean Vin-
chon. Paris, Payot, 1971. Bibliotheque scientifique. Collec-
tion science de [homme). Uma nova edição em inglês, tradu- AVISO AO PÚBLICO
zida do original por Joseph Bouleur, foi publicada em 1997:
Mesmerism — the discovery of animal magnetism (Holmes Pub.
Group Lic. 1997).
PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
A descoberta tanto tempo desejada de um
princípio que
agisse sobre os nervos deve interessar a todos os home
ns: ela
tem o duplo objetivo de se acrescentar a seus conhecim
entos e
de torná-los mais felizes, oferecendo-lhes um meio de
curar as
doenças que até o presente têm sido tratadas com pouc
cesso. À vantagem o su-
e a singularidade deste sistema determina-
ram, já há alguns anos, a diligência do públ
ico em aguardar avi-
damente as primeiras esperanças que eu lhes dava. É Ihes
deturpando que a inveja, a presunção ea
incredulidade chega-
têm, em pouco tempo, a colocá-las na fila das ilusõ
zê-las cair no esquecimento.
es e a fa-
Eu me esforcei, em vão, por fazê-las reviver pela
cidade dos fatos: os prejulgamentos prevaleceram multipli-
, e a verdade
foi sacrificada. Mas, diz-se hoje, Em que
consiste essa desco-
erta?Comowocê teve êxito? Quais idéias se podem fazer
as vantagens? E por que não enriqueceu seus des-
concidadãos?
ais são as questões que me foram apresent
adas após minh a
ermanência em Paris, pelas pessoas mais
capazes de aprofun-
lar uma questão nova,
4
- E para responder de uma maneira satisfatór
ia, dar uma
déia geral do sistema que proponho, de
livrá-lo dos erros em

299
30 O
FRANZ ANTON MESMER

método que anuncio. É


sob este ponto
tor considerar esta pequen
a obra. Eu não dissimulo
ecer. culdades, mas é preciso sab que ela.
er que elas não são de
con Aa
curso da experiênc ia. Ela apenas dissipo ará
locará à luz esta importante as nuvens e co-
verdade: que a natureza ofe
um meio universal de cur
ar e de preservar os home
rece 4
ns MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA
DO MAGNETISMO ANIMAL

O homem é naturalmente observador. Desde o nasci-


mento, sua única ocupação é observar, para aprender a fazer
uso dos órgãos. O olho, por exemplo, ser-lhe-ia inútil se a na-
tureza não lhe propiciasse primeiramente prestar atenção às
menores variações do qual ele é suscetível. É pelos efeitos al-
ternativos do prazer e da privação que ele aprende a conhecer
a existência da luz e das diferentes gradações, mas ele perma-
neceria na ignorância da distância, da grandeza e da forma dos
objetos se, comparando e combinando as impressões dos ou-
tros órgãos, não aprendesse a retificá-las uma pela outra. A
maior parte de suas sensações são, pois, o resultado de suas re-
flexões sobre as impressões reunidas nos seus órgãos.
É assim que o homem passa seus primeiros anos a adquirir
o uso pronto e justo de seus sentidos: inclinado a observar é
que ele se liga à natureza e é posto no estado de formar-se a si
mesmo — e a perfeição de suas faculdades depende de sua apli-
cação mais ou menos constante.
No número infinito de objetos que se oferecem sucessiva-
mente a ele, sua atenção se volta essencialmente para aqueles
que o interessam por relações mais particulares.

301
302 FRANZ ANTON MESMER

À observação dos efeitos que a natureza opera universal-


mente e constantemente sobre cada indivíduo não é apanágio |
exclusivo dos filósofos: o interesse universal faz quase todos os refle “o.
-
indivíduos muito observadores. As observações multiplicadas ciência“aviltada
, pole am à Pesquisar nos escaninhos desta
ela ignorânci : e
de todos os tempos e de todos os lugares não nos deixam nada de verdadeiro. 5 à, O que ela poderia ter de útil e
Se : » 12:
a desejar sobre sua realidade.
em 1766. do minhas idéias sobre esta matéria, fiz em Viena
À atividade do espírito humano, junto à ambição do saber,
que jamais é satisfeita, buscando aperfeiçoar os conhecimen- corpo fria
versal pissertação da influência dos Planetas sobre o
constatada peles Princípios conhecidos da atração uni-
tos precedentemente adquiridos, abandona a observação e a Janet S Observações i
ções que nos
substitui por especulações vagas e muitas vezes frívolas. Ela a ne cas se afetam mutuamente nas suas órbitas,ensinam ue q
ar dirigem sobre e que a aa e 5
forma e acumula sistemas que têm apenas o mérito da sua o nosso globo o fluxo e o refluxo
misteriosa abstração, ela se afasta insensivelmente da verdade, no
esfer
tes “n Como na atmosfera, Parti, disse eu, do fato de es
tita
a ponto de perdê-la de vista, e de substituí-la pela ignorância e também uma ação direta sobre
2 ,

às dos Corpos animados, todas as par.


a superstição. sist ema nervoso, Particularmente sobre o
Os conhecimentos humanos assim deturpados nada mais por meioj de um fluido
que a tudo penetra.
Eu
oferecem da realidade que os caracterizava no princípio.
À filosofia fez, algumas vezes, esforços para se livrar de er-
ros e de prejulgamentos, mas, demolindo esses edifícios com
muito calor, ela recobriu as cinzas com desprezo, sem fixar sua
atenção sobre o que elas possuíam de precioso.
Vemos nos diferentes povos as mesmas opiniões, conser-
vadas sob uma forma tão pouco vantajosa e tão pouco honrosa
para o espírito humano que não é verossímil elas terem sido
estabelecidas dessa maneira.
À impostura e o desvairamento da razão haviam em vão
tentado conciliar as nações, para fazê-las de modo corriqueiro:
adotarem sistemas tão evidentemente absurdos e ridículo
como os vemos hoje. Só a verdade e o interesse geral puderam
dar a estas opiniões sua universalidade.
Poder-se-á então adiantar que entre as opiniões vulgares
de todos os tempos, que não têm seus princípios no coraçããa
humano, que apesar de quão ridículas e mesmo quão extravai Os países observaram
nas doenças.
gantes possam parecer, não podem ser consideradas como ai ppetivo então
era apenas o de fix
resultado de uma verdade primitivamente reconhecida. s 1 as, longe de ar a atenção dos
. ter obtido êxito, perc
ebi que me taxa-
Roe si ngularidade, que
Tais são as reflexões que fiz sobre os conhecimentos e; me trataram de homem
geral, e mais particularmente sobre o tipo de doutrina de ue eia
ts da ef € ati
crime a minha Propen de sistema
sãoã de mudar a rota
304
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 305

Nunca dissimulei minha ten


dência de pensar desse modo
Uma agulha não imantada, posta em movimento, tomará
ma determinada direção ao acaso, enquanto que a que esti-
ver imantada, tendo recebido o mesmo impulso, após diferen-
es oscilações proporcionais à impulsão e ao magnetismo que
“recebeu, ao contrário daquela, voltará à sua primitiva posição
“eaí se fixará. É assim que a harmonia dos corpos organizados,
uma vez perturbada, deve sofrer as incertezas da minha pri-
“meira suposição, se ela não for denominada e determinada
pelo agente geral de que reconheci a existência. Apenas ele
cê-los à ordem natural quando “pode restabelecer essa harmonia ao estado natural.
alt
que nos devemos fazer, À ignorâ erados. Tem-se visto em todos os tempos doenças se agravarem e
ncia dos s
se curarem com ou sem a ajuda da medicina, segundo diferen-
tes sistemas e os métodos mais opostos. Estas considerações
não me permitiram duvidar que existe na natureza um princí-
pio agindo universalmente, independente de nós, e que opera
o que nós atribuímos vagamente à arte e à natureza,
Estas reflexões insensivelmente me afastaram do cami-
nho traçado. Tenho submetido minhas idéias a experiência
durante 12 anos, os quais tenho consagrado às mais exatas ob-
indo qutureza dem perfeitam
ente provido de tudo para a
servações sobre todos os gêneros de doenças. E tenho encon-
coma do víduo. Se a ger exis- trado a satisfação de ver as máximas que havia pressentido se
ação do homem se faz sem
cor m sem artifício, como a Conservaç sis tem a comprovarem constantemente.
sma vantagem? A das bestas ão seria privada da
é uma prova do contrário. Isso foi, sobretudo, durante os anos de 1773 e 1774, quan-
do encetei em minha casa o tratamento de uma senhorita de

000.
48 aeOs médicos Prescreviam 29 anos de idade, chamada Esterlina. Por vários anos, ela foi
tratamentos milenares emp atacada por uma doença convulsiva e cujo sintoma mais incô-
conheciam os efeitos e mesmo iricamente noi
a ação dos medicamentos. As modo era o sangue se lançar com impetuosidade para a cabe-
fóriau.
ça, causando dores cruéis nos dentes e nas orelhas, ao que se
seguiam delírio, furor, vômitos e síncope. Foi para mim a oca-
uma finalidade Unica
sião mais favorável para observar com exatidão este gênero de
eram os d enom
nó in: a do S esp e
J t os:
Ctiic tn, fluxo e refluxo que o MAGNETISMO ANIMAL provoca no corpo
humano. À doente apresentava algumas vezes crises salutares,
e um alívio acentuado se seguia. Mas não passava de um inter-
valo momentâneo e sempre imperfeito.
O desejo de penetrar na causa dessa imperfeição e minhas
observações ininterruptas me levaram sucessivamente a ponto
306 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO
MAGNETISMO ANIMAL 307

de reconhecer a ação da natureza, e de penetrá-la fundo para ras, todos os sintomas do acesso, O estado
prever e anunciar sem dúvidas as diferentes revoluções da da doente me fez
supor que no dia seguinte, ao repetir a mesma
doença. Encorajado por esse primeiro sucesso, não mais duvi- prova, obteria o
mesmo sucesso. Minha observação sobre
dei da possibilidade de levá-lo à perfeição, se tivesse êxito em esses efeitos, combi-
nados com minhas idéias sobre o sistema
descobrir que existe, entre corpos que compõem nosso globo, geral, deu-me novo
alento: confirmando minhas idéias prec
uma ação igualmente recíproca e semelhante àquela dos cor- edentes sobre a in-
fluência do AGENTE GERAL, abriu-me então
pos celestes, mediante a qual eu poderia imitar artificialmente um outro princí-
pio, sugerindo que o imã seria incapaz de
por simesmo agir so-
as revoluções periódicas do fluxo e do refluxo de que já falei. bre os nervos. Isso me fez ver que eu teria apena
s de dar alguns
Eu tinha sobre o ímã os conhecimentos comuns. Sua ação passos a mais para chegar à TEORIA IMITATIV
A que seria objeto
sobre o ferro, a aptidão de nossos humores para receber este de minhas pesquisas.
mineral e os diferentes efeitos obtidos tanto na França quanto Alguns dias depois, tendo Teencontrado o
na Alemanha e na Inglaterra para os males do estômago e as padre Hell, eu o
informei numa conversa sobre o melhor estad
dores de dentes me eram conhecidos. Estas razões, acrescidas o da doente e os
bons efeitos do meu procedimento. Disse-lhe
à analogia das propriedades dessa matéria com o sistema geral, sobre a esperan-
ça que eu tinha, após esta operação, de logo
fizeram-me considerá-la como a mais apropriada a este gênero encontrar o meio
de curar as doenças dos nervos.
de prova. Para me assegurar do sucesso desta experiência, pre- Todavia, pouco tempo mais tarde, tomei
parei a doente, no intervalo dos acessos, para um uso contínuo conhecimento,
publicamente e pelos jornais, de que esse relig
dos materiais. ioso, abusando
de sua celebridade em astronomia, e querendo
Minhas relações de sociedade com o padre Hell'º jesuíta, apropriar-se de
uma descoberta da qual ignorava completa
professor de anatomia em Viena, forneceram-me em seguida mente a natureza e
suas vantagens, permitiu-se publicar que estav
a ocasião de pedir-lhe que me deixasse executar pelo seu artis- a seguro de ter
desco berto os meios de curar doenças dos nervos,
ta várias peças imantadas com forma cômoda para aplicação. mesmo as
mais graves, apenas com as peças iman
tadas às quais ele supu-
Ele se encarregou disso e de remetê-las. nha haver uma virtude específica dependente
de sua forma.
À doente experimentando, a 28 de julho de 1774, uma Para dar crédito a essa opinião, ele endereçou
a várias acade-
volta de seus acessos usuais, eu lhe fiz a aplicação sobre o estô- mias guarnições compostas de peças iman
tadas de todas as
mago e nas duas pernas de três peças imantadas. Resultaram, formas, indicando por meio de figuras a analo
gia que elas ti-
pouco tempo depois, sensações extraordinárias. Ela sentiu in- nham com as diferentes doenças. Eis como
ele se expressava:
teriormente correntes dolorosas de uma matéria sutil, que, “Eu descobri, nestas figuras de acordo com o
turbilhão magné-
após diferentes esforços para tomarem sua direção, dirigi- tico, uma perfeição da qual depende a virtu
de específica con-
Tam-se para a parte inferior, e fizeram cessar, durante seis ho- “tra as doenças. Foi pela falta dessa perfeiçã
o que as provas fei-
tas na Inglaterra e na França não tiveram
nenhum sucesso.” E,
culminando por confundir a fabricação das
figuras imantadas
50 Maximilian Hell ou Maximilian Hll (1720-1792) foi um conhecido as- com a descoberta que eu lhe havia confiado,
ele terminava por
trônomo da corte, e também um padre jesuíta. Na Hungria, era conheci- dizer “que ele havia comunicado aos médicos, e
do como Hell Miksa Rudolf. Nasceu em Banska Stiavnica, uma cidade mente a mim, que continuaria a delas se
parti cular-
no centro da Eslováquia. Posteriormente assumiu o cargo de diretor do servir para realizar
Observatório Imperial de Viena. Suas provas”.
308 E
RANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 309

transmitiram ao público, sempre ávido d ; As prevenções do público e suas incertezas sobre a natu-
€ um específico con eza de meus meios me determinaram a publicar uma
Carta
e 5 de janeiro de 1775, a um médico estrangeiro, na qual eu
a existência d va uma idéia precisa da minha teoria, dos sucessos que havia
O magnetismo animal, que é essencialm F E: obtido até então e daqueles que tinha chance de esperar. Eu
Ncialmente dis E: anunciava a natureza e a ação do MAGNETISMO ANIMAL
e à ana-
tado, persistiu no seu
erro. logia de suas propriedades com aquelas do fmã e da eletricida-
Todavia, continuei a produzir minh E de. Eu acrescentava que “todos os corpos eram, assim como 0
tentes doenças a fim de generalizar m as provas sobre dife: É. imã, suscetíveis da comunicação deste princípio magnético;
eus conhecimentos é “d que esse fluido penetrava tudo; que podia ser acumulado e
E do Pera i
& dente : - concentrado como o fluido elétrico; que ele continuava a agir
Particularmente o senhor barão Stogrk pre-
co de sua ma dade de Medicina de Viena, com o afastamento; que os corpos animados eram divisíveis
e primeiro médi-
Fora bem fa ecia e! Ele estava, “em duas classes, da qual uma era suscetível deste magnetismo,
descoberta E
aliás, convencido de que e a outra de uma virtude oposta que suprime a ação”. Enfim,
o sobre a natureza e afinalidade
"48 COnsegtiência, pus sob seus de minha mostrava a razão das diferentes sensações, e apoiava essas as-
olhos os detalhes serções em experiências que me haviam permitido prevê-las.
Poucos dias antes da publicação desta Carta, notei que o
senhor Ingenhousz, membro da Academia Real de Londres e
inoculador em Viena,* que, entretendo a nobreza e as pessoas
distintas com experiências de eletricidade, e com artifícios
com os quais ele variava os efeitos do ímã, havia adquirido a
reputação de ser físico. Eu notei então que esse médico, pre-
tendendo falar de minhas operações, tratava-as como quime-
ras, chegando até a dizer “que o gênio inglês era o único capaz
dessa descoberta, se ela fosse possível”. Ele se dirigiu à minha

52 Esta carta de 1775 foi a primeira exposição pública de Mesmer sobre


suas descobertas.
53 Um homem de interesses científicos variados, o fisiologista e médico
holandês Jan Ingenhousz (1730-1799) ficou famoso por ser um dos pri-
———" 000000 meiros cientistas a investigar o processo da fotossíntese. Em Londres,
.
51 po
Doutor Anton von de foi um dos pioneiros da inoculação contra varíola pelo uso de pequenas
é FreFret
i her
herrr StoStogr
grkk (1731-1803 , barã quantidades do vírus vivo retirado de pacientes com casos moderados da
médico pessoal da
peratr iz Maria Teresa da Ás doença. Em 1768, viajou a Viena para inocular a família da imperatriz
ia Cr
Maria Teresa, inclusive a jovem Maria Antonieta, que seria a última rai-
nha da França, Depois, atuou como médico oficial da corte austríaca du-
rante mais de dez anos. Futuramente, a inoculação seria substituída pela
vacinação.
310 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA
DO MAGNETISMO ANIMAL 31

casa, não para melhor se instruir, mas unicamente para me


Fiz com que fossem levadas as seis taças para
persuadir de que eu me expunha a cair em erro, e devia supri- haviam sido apanhadas. Após um certo
o local onde
mir toda publicidade para evitar o ridículo que daí adviria. | intervalo, pegando o
senhor Ingenhousz por uma mão, disse-lhe
Eu lhe respondi que ele não tinha suficientes conheci- para tocar, com a
outra, à taça que ele quisesse. Pois quan
do essas taças foram
mentos para me dar este conselho, e que, além disso, para aproximadas da doente, como preceden
mim seria um prazer convencê-lo do contrário na primeira temente, provocaram
o mesmo efeito.
ocasião. Ele se apresentou dois dias depois. Em determinado À comunicabilidade do princípio estando
momento, a senhorita Esterlina demonstrou um terror e um aos olhos
bem fundada
do senhor Ingenhousz, eu lhe propus
resfriamento que lhes ocasionaram uma súbita supressão e ela uma terceira
experiência para lhe fazer conhecer sua
cai com suas primeiras convulsões. Convidei, então, o senhor ação sobre o afasta-
mento e sua virtude penetrante. Dirigi meu dedo
Ingenhousz para vir à minha casa. Ele veio acompanhado de te à distância de oito passos. Após um para a doen-
um jovem médico. A doente estava então em síncope e com instante, seu corpo en-
trou em convulsão a ponto de deitar-se
convulsões. Eu o preveni de que essa era a ocasião mais favorá- sobre seu leito com as
aparências da dor. Mantendo minha posiç
vel para se convencer por si mesmo do princípio que eu anuo ão, continuei a diri-
gir meu dedo para a doente, colocando agora
ciava, e da propriedade que ele haveria de comunicar. Eu o fiz o senh or Inge-
nhousz entre eu e a doente. Ela experime
ntou as mesmas sen-
se aproximar da doente, enquanto me afastava, dizendo que a sações. Estas provas tendo sido repetidas
à vontade do senhor
tocasse. Ela não fez nenhum movimento. Eu o chamei para Ingenhousz, perguntei-lhe se estava satis
feito e se estava con-
perto de mim, e lhe comuniquei o magnetismo animal toman- vencido das propriedades maravilhosas que
do-o pelas mãos. Fiz em seguida com que se aproximasse da
eu lhe havia anun-
ciado. Oferecendo-lhe, caso contrário, repetir
doente, mantendo-me sempre afastado, e lhe disse para to-
nossos procedi-
mentos. Sua resposta foi que nada mais
havia para desejar e
cá-la uma segunda vez. Desta vez resultaram movimentos que estava convencido. Mas que me conv
idava, pela conside-
convulsivos. Fiz com que repetisse várias vezes esse toque, o ração que tinha por mim, a nada comunica
r ao público sobre
que ele fazia com a extremidade do dedo e variava a direção a - esta matéria, a fim de não me expor à sua
incredulidade. De-
cada vez. E então, para sua grande surpresa, ele sempre opera- pois de sua saída, aproximei-me da doente
para continuar
va um efeito convulsivo na parte que tocava. Terminada esta meu tratamento. Ele teve o mais feliz suces
so. Ocupei-me no
operação, ele me disse estar convencido. Propus-lhe então - mesmo dia a restabelecer o curso normal da
natureza e a fazer
uma segunda prova. Nós nos afastamos da doente de maneira - Cessar todos os acidentes que haviam ocasiona
do a supressão.
a não sermos percebidos, mesmo quando ela estava conscien- - Dois dias depois eu vi, surpreso, que o senh
te. Ofereci ao senhor Ingenhousz seis taças de porcelana, e lhe or Ingenhousz
dirigiu ao público afirmativas totalmente opos
pedi para me indicar aquela à qual ele desejava que eu comu- tas àquelas que
-sustentara era minha casa. Publicamente, ele desm
nicasse a virtude magnética. Após sua escolha, toquei a taça entia o su-
-Cesso das diferentes experiências de que
havia sido testemu-
indicada. Fiz em seguida a doente segurar em sua mão, suces- nha. Dizia que-aceitava confundir o magnetis
mo animal com o
sivamente, as seis taças. Quando chegou a vez daquela que eu - “imã. E, por fim, afirmou estar determinado
a ofuscar minha
havia tocado, sua mão fez um movimento e deu sinais de do -Teputação dizendo que “com o concurso de
várias peças iman-
res. O senhor Ingenhousz, tendo feito por sua vez repassar as adas, de quese serviria, ele estava seguro de me desmasca
seis taças, obteve o mesmo efeito. ede dar a conhecer que isto não passava de rar
uma fraude ridícu-
e orquestrada”.
3
12 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 313
?

em breve que se havia dado novas impressões a este primeiro


médico. Eu o via quase todos os dias, para insistir sobre a neces-
sidade de uma comissão, e lhe lembrar as coisas interessantes
So pa im putações,e o fato de ele destruir que eu havia realizado. Mas não via de sua parte senão indife-
Janeiro de minha Carta de 5
5, não mais me penmit
ir.
rença, frieza e afastamento em relação a tudo que se relacionava
senhor Ingenhousz fos avi
se culpado. com esse assunto. Nada podendo obter, e tendo o senhor Rein-
ispus-me a formalizar uma Rua d m de que o
que ixa , qu lein cessado de me dar satisfações, e tendo sido informado de
na, informada dos proc an do a sen horita Esterl;-
edimentos do senhor In que essa mudança de conduta era fruto de interferências do se-
genhousz qa nhor Ingenhousz, senti minha insuficiência para deter os pro-
cessos da intriga, e me condenei ao silêncio.
O senhor Ingenhousz, impulsionado pelos sucessos de sua
conduta, adquiriu novas forças. Ele fez de sua incredulidade
um mérito, e passou em pouco tempo a fazer classificar de es-
pírito fraco qualquer um que não concordasse com seu julga-
mento, ou que não estivesse do seu lado. É fácil compreender
que não via senão vantagem em afastar a multidão, e me fazer
lembrado no mínimo como um visionário, de tal modo que a
indiferença da Faculdade parecia apoiar essa opinião. Q que
me pareceu muito estranho foi vê-la acolher, no ano seguinte,
cem pesvelar a conduta o senhor Klinkosch, professor de medicina de Praga, que, sem
do senhor Ingenhousz, 2
s Crk, e lhe pedi para instruí o senhor me conhecer e sem ter a mínima idéia da questão, teve a bai-
tomar as ordens da Corte,
missão da Faculdade fos para que uma xeza, para nada mais dizer, de apoiar em escritos públicos** o
se encarregada dos fatos,
para cons- singular detalhe das imposturas que o senhor Ingenhousz ha-
via adiantado em relação a mim.
Qualquer que tenha sido a opinião pública, creio que a
verdade não pode ser mais bem apoiada do que por fatos. Le-
vei a cabo o tratamento de diferentes doenças, tais, entre ou-
tras, como uma hemiplegia, seguida de uma apoplexia. Su-
pressões, vômitos de sangue, cólicas fregiientes e um sono
quanto feria vantajoso convulsivo desde a infância, com escarros sanguinolentos e of-
para a humanidade adotar
deO nOs hospitais, e lhe em seguida
pedi para most rar nesse talmias habituais. O senhor Bauer, professor de matemáticas
mento 2 Utilidade naquel mo-
e Hospital dos Espanhóis em Viena, de renomado mérito, estava atacado desta última
ou e deu a ordem Necess . Ele concor-
ária ao senhor Reinlein,
o casa Pote TO foi testemunha dur médico da-
u ant e oit o dias dos 54 Nota de Mesmer: Carta sobre o magnetismo animal e o eletróforo, ende-
e das minhas visitas. . Demo reçada ao senhor conde de Kinszky. Ela foi inserida nos Atos dos Sábios
Zes sua surpresa e deu con nst rou váráriias ve-
ta ao senhor Stogrk. Mas “da Boêmia, no ano de 1776, Tomo II. Ela foi também impressa separa-
me apercebi
damente, e distribuída em Viena no ano seguinte.
314 “ FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNE
TISMO ANIMAL 315

doença. Meus trabalhos foram seguidos dos mais felizes suces- eu utilizava a eletricidade. E assim por diant
sos, e o senhor Bauer teve a honestidade de dar ele mesmo ao e, porque sabiam
que eu havia feito uso desses dois meios. A maior
público uma relação detalhada de sua cura. Entretanto, o pre- parte deles se
desiludiu com sua própria experiência. Mas em
conceito havia levado a melhor. Tive, no entanto, a satisfação lugar de reco-
-nhecer a verdade que eu anunciava, concluír
de ser muito bem conhecido de um grande ministro, de um am que, como não
obtinham sucesso com o uso desses dois agentes,
conselheiro privado e de um conselheiro áulico,* amigos da as curas anun-
ciadas por mim eram suposições. E que minha
humanidade, que tinham muitas vezes reconhecido a verdade teoria era ilusó-
ria. O desejo de me descartar para sempre de
por si mesmos. Para sustentar e proteger a verdade, eles fize- semelhantes er-
ros, e de trazer à luz a verdade, determinaram
ram várias tentativas para afastar as trevas que a tentavam obs- -me a não mais
fazer uso da eletricidade nem do ímã após 1776.
curecer. Todavia, as opiniões desses senhores foram cons-
"A pouca acolhida dada âminha descoberta
tantemente desconsideradas, em lhes opondo que apenas o , e a débil espe-
rança que ela me oferecia para o futuro, dete
aval dos médicos seria capaz de determinar. Sua boa vontade rminaram-me a
“nada mais empreender publicamente em Viena
se reduziu assim a me oferecerem dar a meus escritos a publi- . Fiz uma via-
gem a Souabe e à Suíça, para ampliar minha
cidade que me seria necessária nos países estrangeiros. experiência, e me
levar à verdade pelos fatos. Tive efetivamente a
Foi por esta via que minha carta explicativa de 5 de janei- satisfação de
obter várias curas relevantes em Souabe. E operar
ro de 1775 foi comunicada à maior parte das academias de nos hospi-
tais, sob os olhos de médicos de Berna e de
ciências, e a alguns sábios. Entre todas, apenas a Academia de Zurique, efeitos
que, não deixando nenhuma dúvida quanto à exist
Berlim, a 24 de março desse ano, deu uma resposta por escri- ência do
magnetismo animal e sobre a utilidade da minh
to, pela qual, confundindo as propriedades do magnetismo a teoria, dissi-
param o erro no qual meus contraditores a havi
animal que eu anunciava com aquelas do ímã, do qual eu falava am lançado,
Foi do ano de 1774 ao de 1775 que um ecles
apenas como condutor, ela caiu em diferentes erros. E sua opi- iástico,” ho-
mem de boa-fé, mas de um zelo excessivo, oper
nião era a de que eu estava iludido. ou na diocese
de Ratisbonne, sobre diferentes doentes do tipo
Essa academia não apenas caiu no erro de confundir o mag- nervoso, efei-
tos que pareceram sobrenaturais aos olhos
netismo animal com o mineral, apesar de sempre eu ter me de- de homens menos
prevenidos e os mais esclarecidos desse lugar.
dicado em meus estudos a estabelecer que o emprego do imã, Sua reputação
atingiu Viena, onde a sociedade estava divid
apesar de útil, era sempre imperfeito sem o apoio da teoria do ida em dois parti-
dos: um tratava esses efeitos como imposturas
magnetismo animal. Os físicos e médicos com os quais estive e embuste, en-
quanto o outro os julgava como maravilhas opera
me correspondendo, ou que buscaram se intrometer para usur- das pelo poder
divino. Um e outro, entretanto, estavam errad
par esta descoberta, pretenderam e presumiram divulgar, uns os. Minha expe-
riência me havia prevenido desde então que esse
que o ímã era o único agente que eu empregava, os outros que homem não
era senãoum instrumento da natureza. Sua profissão,
secun da-
da pelo acaso, determinava ao seu lado certas comb
inações na-
55 Conselheiro áulico é um assessor de confiança. “turais, e ele renovava os sintomas periódicos das
doenças, sem
56 Naquela época, muitos médicos experimentavam o emprego do magne- “conhecer a causa. O fim desses paroxismos asse
melhava-se às
tismo mineral e da eletricidade na cura das doenças. Benjamin Franklin, Curas reais. Só o tempo pôde desenganar o
que descobriu a eletricidade, era um deles. Anos depois, Hahnemann público.
estudou a ação homeopática do magnetismo mineral, recomendando . Retirando-me para Viena, lá pelos fins do
ano de 1775,
sua aplicação em seu livro Organon. Passei por Munique, onde sua alteza, o eleitor
da Baviera, hou-
316
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 317
ve por bem me consul
tar sobre esse assunto,
e me pedir se
ídia explicar-lhe essas pretensas maravilhas. Fiz sob seus
——— DD o lhos experiências que afastaram os prejulgamentos de sua
57 Trata-se
- do padre J ohann Joseph
2,
1727, na cidade de Bratz, Gassner, que nasceu ssoa, não lhe deixando nenhuma dúvida sobre a verdade
perto de Bludens (Suábia), h em. 20 de agosto ds
e eu anunciava. Isso foi pouco tempo após a Academia de
e do em Insbruck e em Prag À - . -

Pois, em 1758, foi pro a, em 1750 foi orde nado . iências dessa capital ter-me honrado ao admitir-me no seio
movido do cur Algu ns no n
ato de Kloesferte
“no cantão de G eus membros.
Fiz, no ano de 1776, uma segunda viagem à Baviera. Lá ob-
p Ta
E is cEspantosamente, tive os mesmos sucessos com doenças de diferentes gêneros.
Curou suas próprias enferm
der todos os que o Procuravam em idades € passou a Operei particularmente a cura de uma gota serena imperfeita,
ças pela simples aposiç sua paróquia. . Curava todas com paralisia dos membros, de que estava atacado o senhor
ão de mãos, sem empregar rem as d ben-
en:
mi Interação.
à . I O go obteve centenas
édios, nem exigir re Osterwald, diretor da Academia de Ciências de Munique. Ele
de curas + Sua fama como exorcista
teve a honestidade de prestar contas ao público, assim como de
rador se espalhou e cu.=
por toda
sucessivamente a Wolfegg, Europa. Gassner solicitor-permi
Wei ngarten, Ravensperg, Det ssão e foi .
“outros efeitos que ele testemunhou.*º
M orspurg e Constança.
Enquanto os doentes land Kirchberg,
q Cortejavam, os médico De retorno a Viena, persisti até o fim do mesmo ano, a
s er. |
nada empreender; e eu não teria mudado de resolução se
meus amigos não se tivessem reunido para combatê-la: suas
€ onfere a todos os padres -- instâncias, aliadas ao desejo que eu tinha de fazer triunfar a
de exorcizar, em
nome de Jesus Cristo ,
osd emô-ô verdade, fizeram-me conceber a esperança de um porvir com
novos sucessos, e sobretudo por alguma cura retumbante. Eu
“atendi, sob esse ponto de vista, entre outros doentes, a senho-
super!
o perior dança da obs = rita Paradis,ºº com a idade de 18 anos, nascida de pais bastante
essão. O bis- po não fico
se car O Daio careta, mas u convencido e ordenou
pouco depois o autorizou a
endes r . a continuar
pressou-se em aprproove
veii tar a autoriizaç
cade o habitantes de zaçãoã 58 O príncipe-eleitor, Max José da Baviera estabeleceu uma comissão de
Elwangen, Sulzbach éRat -
a Seu renome atraía da Suíç isbonne, pela imenso inquérito da Academia de Ciências. Mesmer foi convidado a dar sua opi-
a, da ul
da Tr erE declarou-se Alemanha e da
abertamente seu adrmir ado França, O di nião e concluiu que Gassner era sincero nas suas convicções, mas escla-
ans lhe am poderosos adv r e protetor Seus receu que as sua curas eram naturais, devidas a um alto grau de magne-
ersários, Sterzingen e
Com perseverança e pai o célebre Há tismo animal.
xão. Vários bispos Presta
ram apoio ao 59 Nota de Mesmer: Foi publicada, no começo de 1778, uma Compilação das
curas operadas pelo magnetismo, impressa em Leipzig. Esta Compilação in-
formativa, da qual ignoro o autor, tem o mérito de ter reunido fielmente, e
sem parcialidade, as relações e os escritos pró e contra meu sistema.
60 A famosa cantora e pianista Maria Theresa von Paradis (1759-1824) foi
uma menina-prodígio nascida em Viena. Era filha do secretário imperial
Joseph von Paradis. Ficou parcialmente cega aos três anos, e completa-
mente depois dos quatro. Somente com sete anos seus pais descobriram
seu ardente amor pela música e sua natural aptidão para sua aprendiza-
gem. Aos 12 anos, ela já tocava na igreja de Viena. Foi chamada a tocar
para a imperatriz, que concedeu uma pensão vitalícia para assegurar sua
318 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAG
NETISMO ANIMAL 319

conhecidos. Ela mesma particularmente conhecida de sua ma- apôs submeter a doente aum gên
ero de prova, retirava-se com
jestade, a imperatriz-rainha, recebia de sua beneficência uma tação, e me dizendo coisas as mais
lisonjeiras.
pensão a que fazia jus como absolutamente cega desde os qua- a o dois presidentes da Faculd
ade, à testa de uma comis-
tro anos. Era uma amaurose completa, com convulsões nos
olhos. Ela estava ainda atacada por melancolia, acompanhada do senhor Parais, ,foram arniaho casaps a. FepetdÓ as instânciasi
de uma obstrução no baço e no fígado, que a levava muitas ve- ado ate am juntaram seu testemunho
Aquele do público.
zes a acessos de delírio e de furor, próprios para convencer or Stoêrk, um desses senhores, qu icu-
que ele era uma doida consumada. larmente essa jovem, e a havia tra
tado durante do Dar sem
Eu atendi ainda a chamada Zwelferine, com idade de 19 sucesso algu m,*! expressou-me sua satisfaç
ão por uma cura
anos, cega desde a idade de dois anos por uma amaurose, eressante, e seus agradecimentos
por poder ressaltar
acompanhada de uma catarata rugosa e muito espessa, com por seu aval a importância dessa
descoberta. Vários médicos
atrofia do globo. Apresentava também escarro de sangue pe- c da um em particular, seguiram 9 exemplo
de nossos chefes,
riódico. Eu avaliei essa moça na casa dos Orfelinos em Viena. ram a mesma homenagem à verdad
e.
Sua cegueira foi atestada pelos administradores. Após esses acontecimentos tão
autênticos, o senhor Par
Atendi, no mesmo tempo, a senhorita Ossine, com 18 anos a achou dever expressar seu reconhecimento
transmitio.
de idade, pensionista de sua majestade como filha de um oficial S0-0, por seus escritos, a toda
à Europa. Foi ele que, com
de seus exércitos. Sua doença consistia de uma tuberculose pu- :+ tempo, consagrou nos s jornais
j . o
os detalhes? in
cura de sua filha. teressantes da
rulenta e uma melancolia atrabiliária, acompanhada de convul-
sões, furor, vômitos, escarros de sangue, e síncopes. Estas três 3, Entre médicos que estavam vind
doentes estavam, assim como os outros, alojadas em minha -+8zer sua curiosidade, estava o sen o à minha casa para satis-
hor Barth, professor de ana-
casa, para poderem seguir meu tratamento sem interrupção. Eu
estava muito contente por poder curá-las todas as três.
O pai e a mãe da senhorita Paradis, testemunhas da sua
cura, e dos progressos que ela fazia com o uso de seus olhos, .
apressaram-se a divulgar este evento e sua satisfação. Acorreu :
à minha casa uma multidão para disso se assegurar; e cada um,
Durante O tratamento médico, Mari
a Theresa von Paradis foi sujeitad
a “rosas sangrias, purgações, Caut a
erizações e dolorosas aplicações
três mil choques ao seu globo ocula d
educação musical. Maria Theresa von Paradis sabia tocar mais de 6 r, Pimsdesde
concertos de memória. Foi amiga de Mozart. Compositora, escreve pra de Mesmer: Eis, para a
satisfação do leitor, o resumo
a a angular. Ele foi fielmente extr histórico
mais de 30 peças para piano. Dedicava-se à formação de jovens músicos. aído do relatório escrito em
e à educação de crianças e jovens deficientes visuais. Mozart escreve, de Api e o próprio pai Foi ele que me Temeteu, no mês de març
especialmente para ela, o “Concerto em si bemol maior nº 18”, que es nal da Moo A, para à torná torná
-lo-lo públ
públiico. [O texto está como apên
o
para Luís e Maria Antonieta. Mesmer estav
dice, no
treou em Paris, em 1784, 63::20 pont
presente. Ainda em Paris, ela encontrou-se com Valentin Haiy (precur: os popenare Joseph Barth (1745-18
1 8) foi professor da Facul-
sor da educação especial para cegos). Theresa von Paradis influenciou e cina, tamoso por suas operaçõe
igua is s de catarata, Antes de
trabalho de Hatiy tanto na fundação de sua escola quanto na seleção esme condda,-la,Bar
desm r tratá Bartth
h e examino ua senhoritia Paradisis e
materiais para a educação de cegos. di nosticou
e diag i sua
320 FRANZ N MESMER
ANTO
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAG
NETISMO ANIMAL 321
guro disso; ele apoiava ess
a asserção no fato de que
ou confundia o nome ela ignorava 4 bruscamente, tirou a filha com furor das mãos da pessoa que a
dos objetos que lhe eram
apresentados, socorria, dizendo: “Infeliz, você mostra tanta inteligência com
“as pessoas desta casa!” E jogou com raiva sua cabeça contra a
muralha. Todos os acidentes desta infortunada se renovaram.
Corri em direção a ela para socorrê-ja. A mãe sempre furiosa
jogou-se contra mim, para impedir-me, cobrindo-me de injú-
rias. Afastei-me pela mediação de algumas pessoas de minha
família, e me aproximei da jovem para lhe dar minha ajuda.
Ele apenas sustentava a neg Durante o tempo em que dela me ocupava, ouvi de novo as
ativa, associando-se assim
ao senhor crises de furor, e os esforços repetidos para abrir e fechar, al-
ternadamente, a porta do cômodo onde eu estava. Era o se-
nhor Paradis, que, avisado por um criado da sua mulher, havia
se introduzido em minha casa com a espada à mão e queria en-
trar nesse apartamento, enquanto meu criado procurava afas-
tá-lo segurando a porta. Uma vez desarmado este furioso, ele '
saiu de minha casa, após ter vomitado milhares de impreca-
ções contra mim e minha família. Sua mulher, por outro lado,
jazia desmaiada, Eu lhe fiz dar os socorros de que necessitava,
e ela retirou-se algumas horas após. Mas sua infeliz filha sofreu
vômitos, convulsões e furores ao menor ruído, e sobretudo ao
som dos sinos, tudo era repetido em excesso. Ela estava mes-
mo recaída na sua primitiva cegueira pela violência do golpe
que sua mãe lhe havia ocasionado, o que me levou a temer
pelo estado do seu cérebro.
vaa usá-los perfeitament Tais foram para ela e para mim os funestos efeitos desta
e. O Paí, vendo-a melhor
animado pela conspiração, , e sem re cena aflitiva. Ter-me-ia sido fácil fazer constatar juridicamente
renovou seus pedidos; recl
filha calorosamente e for amou a os excessos, pelo testemunho do senhor conde de Pellegrini, e o
çou sua mulher a exi ia,
sistiu, pelos mesmos mot A filha re- de oito pessoas que estavam em minha casa, sem falar de outros
ivos precedentes. A mãe, que
até en- tantos vizinhos que estavam em condição de depor sobre a ver-
dade. Mas unicamente ocupado em salvar, se fosse possível, a
senhorita Paradis, negligenciei todos os meios que a justiça me
oferecia. Meus amigos reuniram-se em vão para me fazer en-
tender a ingratidão demonstrada por essa família, e as sequiên-
cias infrutuosas dos meus trabalhos. Insisti na minha primeira
resolução. Eu deveria me felicitar se pudesse vencer, pelos bene-
fícios deste caso, os inimigos da verdade e do meu repouso.
322 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGN
ETISMO ANIMAL 323

Tomei ciência, no dia seguinte, que o senhor Paradis, ten- Pediquei ainda I5 dias a
instru
tando acobertar seus excessos, divulgou publicamente as mais anutenção da saúde. O púb ções para o aperfeiçoamento e
atrozes imputações contra mim. Sempre com a intenção de lico veio então se assegu
seu restabelecimento, e cada um em rar do
retirar sua filha, e de provar, pelo seu estado, o perigo dos particular me deu, mes
meus meios. Recebi, com efeito, pelo senhor Ost, médico da
corte, uma ordem por escrito do senhor Stoérk, na sua quali-
dade de primeiro médico, datado de Schoenbrunn, 2 de maio
de 1777, que me ordenava a terminar a “fraude” — foi esta sua
expressão — “e entregar a senhorita Paradis à sua família, se jul-
gar que ela está fora de perigo”.
Quem poderia crer que o senhor Stoérk, que estava bem
instruído pelo mesmo médico de tudo que havia se passado
em minha casa e que, após sua primeira visita, havia vindo
duas vezes para se convencer por ele mesmo do progresso da
doente e da utilidade dos meus meios, viesse a se permitir a
empregar a meu respeito a expressão ofensiva e de desprezo?
Eu tinha tomado a posição de pensar o contrário, que, estando
ele numa condição privilegiada para reconhecer uma verdade
deste gênero, deveria tê-la defendido. Ouso mesmo dizer que,
como presidente da Faculdade, mais ainda como depositário
da confiança de sua majestade, seria o primeiro de seus deve-
res o de proteger, nesta circunstância, um membro da Facul-
dade que ele sabia ser irreprochável, e que ele havia por cem
vezes assegurado sua proximidade e sua estima. Eu respondi
então, a essa ordem irrefletida, que a doente estava fora do es-
tado de ser transportada sem se expor a perecer.
O perigo de morte a que estava exposta a senhorita Paradis conselheiros de suas majestades; de Molitor: d
se impôs sem dúvida a seu pai, e lhe provocou algumas refle- E. dico de suas majestades; de Bo ul: er de H e Umlauer, mé-
xões. Ele empregou junto a mim a mediação de duas pessoas re- barão de Colnbach e de Web anger, de Heufeld; e do senhor
comendáveis, para que eu continuasse a dedicar meus cuidados º i CL, OS quais, independentemente
à sua filha. Eu lhes fiz dizer que o faria, com a condição
ele nem sua mulher que nem | meus procedimentos seus efe;
apareceriam em minha casa. Meu trata- ivamente não tem encontrado e suc ud assimi que suces-
mento, com efeito, superou minhas esperanças, e nove dias fo- erança e meus trabalhos, a colo Esso, malgrado minha perse-
ram suficientes para acalmar inteiramente as convulsões e fazer ções ou pelo menos no das cação nem no campo das supo-
ceder os acidentes. Mas a cegueira estava na mesma. ais autenticamente demonstrado, mais incertas, a verdade
Quinze dias de tratamento a fizeram ceder, e restabelece-
ram o órgão ao estado em que se encontrava antes do acident
dea
324
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 325
pela ingratidão de uma fam
ília que eu havia coberto
cios. Entretanto, contin de be n.por oito meses após minha partida de Viena, e saíram ape-
uei, durante os seis últ
ano de 177?,a aperfeiçoar imo s mes de
a cura da senhorita Ossine. s-por ordem superior.
nominada Zwelferine, que E dad
chamava atenção pelo estado Chegando a Paris,6 no mês de fevereiro de 1778, comecei
olhos, que era ainda mais
grave que aquele da senhor
dos gozar das doçuras do repouso, e a me aproveitar inteiramente
ita Pará:
da interessante relação com os sábios e os médicos desta capi-
due me restaram, partic
ularmente o da senhorita
Wipior, co tal, onde, para responder às amabilidades e à sinceridade com
idade de nove anos, que tem sobre o olho uma exc
rescência da úe eles me cumularam, fui levado a satisfazer sua curiosida-
córnea, conhecida sob o
nome de estafiloma,S* e ess
a elevaçã E de, falando-lhes de meu sistema. Surpresos com sua natureza
de natureza cartilaginosa,
que era de três a quatro lin
has ri
e com seus efeitos, eles me pediram a explicação. Eu lhes dei
vava-a da faculdade de ver
desse olho. Estou feliz por minhas asserções sumárias em 19 artigos. Eles lhes parece-
do êxito em Re essa ter obti
excrescência, a ponto de ram sem nenhuma relação com os conhecimentos estabeleci-
ade de ler de lado. Restou lhe res tituir
-lhe apen dos. Senti, com efeito, como era difícil de persuadir, apenas
no centro da córnea, e não igei
duvido que 0 Faria desapa
ra sir pela razão, sobre a existência de um princípio do qual não
existe ainda nenhuma idéia. E me sujeitei, por esse fato, ao pe-
“dido que me foi feito de demonstrar a realidade e a utilidade
anos consecutivos, mais
ainda da animosidade con “da minha teoria, pelo tratamento de alguns doentes graves.
meus adversários, sem ter stante de
colhido de minhas pesqui
minhas penas outra satisf sas e das
ação senão aquela que a adv
ersidade 66 Nota de Mesmer: Meus adversários, sempre ocupados em me perturbar,
apressaram-se a divulgar, quando da minha chegada à França, prevenções
sobre minha conduta. Eles, inclusive, comprometeram a Faculdade de
Viena, fazendo inserir uma carta anônima no Jornal Enciclopédico do mês
de procurar o passatemp de março de 1778, página 506; e os senhores Hell, Bailio d'Hirsingen e
o que estava precisand
O quanto estava em mim, o. Mas para ir de Lundzer não foram temerosos em emprestar seus nomes a este escri-
diante do prejulgamento
Putações, dispus as coisas e das im. to difamatório. Eu não era, entretanto, conhecido; e não os vi senão em
de maneira a deixar em min Paris, depois dessa época, para receber suas desculpas. A perfídia, as in-
durante minha ausência, ha asa,
a senhorita Ossine e a consequências e a malignidade dessa carta não merecem nada mais do
Zwelferine. Tomei depois chamado
a precaução de dizer ao púb que desprezo: basta lê-la para convencer-se.
motivo deste arranjo, anu lico ;
nciando-lhe que estas pes 67 Nota de Mesmer: Estas mesmas asserções foram transmitidas, em
vam na minha casa porque soa s esta: 1776, à Sociedade Real de Londres pelo senhor Elliot, enviado da Ingla-
seu estado podia ser consta
cada instante e servir de tado a terra à Dieta de Ratisbonne. Eu as havia comunicado a esse ministro, 2
apoio à verdade. Elas aí per
manece- seu pedido, após ter feito sob suas vistas experiências múltiplas em Mu-
"00 nique e em Ratisbonne.
64 o alilomas o alteraçõ 68 Segundo o discípulo de Mesmer, J. L. Picher Grandchamp: “Vítima do
es de espessura da esclera, ciúme em Viena pelas suas descobertas, Mesmer encontrou a França
ra du cama que é a parte branca
xterna do olho, conhecida para as apreciar e as divulgar. À reputação que ele adquiriu pelos seus su-
popularmente como
65 Ena] ealterações pao cessos nas ciências fez com que recebesse a acolhida favorável que a na-
Curas de Mesmer, demons ção tem costume de dedicar aos estrangeiros. Seu saber e sua modéstia
tram que sua terapia
como afirmam contestadores do magsnio
naAPENAS psicológicas
lhe deram partidários. Mas a inveja não tardou a lhe suscitar inimigos po-
derosos. Cobriram-no de calúnias e de ridículos. Sua fortuna, sua pró-
pria vida e seu nome foram expostos a grandes perigos. Ele sofreu a sorte
326 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGN
ETISMO ANIMAL 327

Vários doentes me cederam sua confiança. À maior parte do de marasmo, sobre uma caquexia escroful
estava num estado tão desesperador que abalou todo meu de- osa? e, enfim
sobre uma degeneração geral dos órgãos da tran
sejo de Ihes ser útil, e me decidir a satisfazê-los. Entretanto, spiração,
Estes doentes, cujo estado era conhecido e cons
obtive a cura de uma melancolia vaporosa*º com vômitos es- los médicos da Faculdade de Paris, todos tatado pe-
pasmódicos, de várias obstruções inveteradas do baço, fígado sofreram crises e eva-
cuações sensíveis e análogas à natureza de
e mesentério. De uma amaurose incompleta, ao grau de impe- suas doenças, sem ter
feito uso de qualquer medicamento. E,
dir a doente de se conduzir por si mesma. De uma paralisia ge- após terem terminado
seu tratamento, deixaram-me uma declaração detal
ral com tremores, que dava ao doente, com 40 anos de idade, hada.
Eis que tudo isso serve para demonstrar sem
toda a aparência da velhice e da embriaguez: esta doença era dúvida as van-
tagens do meu método, e eu tinha esperanç
consequência de um congelamento, e havia sido agravada pe- a de que a convicção
iria acontecer em seguida. Mas as pessoas
los efeitos de uma febre pútrida e maligna de que esse doente que me haviam de-
terminado a encetar esse tratamento não
havia sido atacado há seis anos, na América. Obtive ainda o foram levadas a reco-
nhecer seus efeitos. Em relação a isso,
mesmo sucesso numa paralisia absoluta das pernas com atro- as considerações e os
motivos em detalhes serão conhecidos nesta
fia. Sobre um vômito habitual que reduzia a doente a um esta- tou
Memória. Resul-
que as curas, contra minhas expectativas, não
comunicadas às insituições das quais só sua podendo ser
consideração po-
do famoso Galileu, perseguido pelo fanatismo do seu século por haver deria fixar a opinião pública, não preenche
ram senão imper-
sustentado o movimento da terra. Ele foi tratado de visionário como q feitamente o objetivo que me havia proposto
e que eu espera-
célebre Harvey, que ensinava a circulação do sangue. Perseguiram-no va. O que me leva hoje a fazer um novo
esforço para o triunfo
como a Cristóvão Colombo, que descobriu o Novo Mundo. Enfim, foi da verdade, dando mais extensão às minhas
imitado no teatro como Sócrates, para fazê-lo odiado do povo. À maior primeiras asser-
ções, e uma publ icidade que lhe faltou até agora.
parte das corporações encarregadas da instrução pública possui o poder
de nada admitir que lhe seja estranho, apesar de quanto vantajoso lhe
possa ser. É uma mercadoria proibida que eles bloqueiam nas barreiras
do seu reino. É o destino dos grandes homens serem perseguidos.”
69 A origem da expressão melancolia vaporosa remonta ao século 17, quan-
do os médicos tentavam explicar, a partir de novas descobertas como a
dos vapores, os casos considerados pela Igreja como possessão demoníaca.
Um médico da época escreveu: "Os médicos, nesse caso, têm grandes
prerrogativas sobre os eclesiásticos, pois eles sabem que, se o humor me-
lancólico se estagna nos mitocôncrios, daí se elevam vapores e ventos de
qualidade assaz maligna para produzir todos esses efeitos estranhos e ex-
traordinários." (apud por R. Mandrou, Magistrais et sorciers em France
au XVII siécie. Paris: Plon, 1968, p. 170) A patologia vaporosa servia para
explicar os casos de histeria, epilepsia, transes sonambúlicos. No início do-
século 18, a teoria dos vapores tornou-se moda. Porém, com os primeiros
estudos da neurologia por médicos como Sydenham, Willis e Whytt, os
vapores foram abandonados. Apesar disso, por força do hábito, a expres-
são melancolia vaporosa permaneceu no vocabulário médico, o que expli-
ca o seu uso por Mesmer. O magnetismo animal foi a primeira hipótese
científica da modernidade para explicar os casos de histeria, loucura e así Estad
Estadoo dede desm desnutrição profunda produzida
chamadas doenças dos nervos. i por escrófula, uma localiza- |
São primária de infecção tuberculosa em
gânglios linfáticos do pescoço.
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 329

- 8. O corpo animal sofre os efeitos alternativos desse agen-


te, e é se insinuando na substância dos nervos que ele os afeta
imediatamente.
9. Manifestam-se particularmente no corpo humano pro-
priedades análogas àquelas do ímã, distinguindo-se pólos
igualmente diversos e opostos, que podem ser comunicados,
- mudados, destruídos e reforçados. O fenômeno da inclinação
ambém pode ser observado.
10. A propriedade do corpo animal que o torna suscetível
PROPOSIÇÕES “ à influência dos corpos celestes e da ação recíproca daqueles
- que o cercam, manifestada por sua analogia com o ímã, le-
. vou-me a nomeá-la MAGNETISMO ANIMAL.
11. A ação e a virtude do magnetismo animal, assim carac-
terizadas, podem ser comunicadas a outros corpos animados e
r 1, Existe uma influência mút inanimados. Uns e outros são, no entanto, mais ou menos sus-
ua entre o S corpos celestes,
erra € os corpos animados. a cetíveis.
2. Um fluido uni versalmente 12. Esta ação e esta virtude podem ser reforçadas e pro-
expandido e contínuo de
nh pagadas para estes mesmos corpos.
13. Observa-se na experiência o escoamento de uma ma-
téria cuja sutileza penetra todos os corpos sem perder notavel-
mento, é o meio dessa inf
luência, mente sua atividade.
a 3, Esta ação recíproca est 14. Sua ação tem lugar a uma distância afastada,
esconhecidas até o presente. á sub metida a leis mecânicas, sem O au-
xílio de qualquer corpo intermediário.
4. Resultam desta ação
considerados como um flu efeitos altern ativos que podem ser 15. Ela é aumentada e refletida pelos vidros, como o é a luz.
xo e refluxo 16. Ela é comunicada, propagada e aumentada pelo som.
5. Este fluxo e refluxo é
nos particular, mais ou men mais ou menos geral , Mais ou me- 17. Esta virtude magnética pode ser acumulada, concen-
os composto ; Segundo a trada e transportada.
das causas que o determ natureza
inam.
6. E por esta operação (a 18. Eu tenho dito que os corpos animados não são igual-
mais universal mente suscetíveis: é mesmo possível, se bem que muito raro,
que tenham uma propriedade tão oposta e que sua simples
presença destrua todos os efeitos deste magnetismo noutros
7. corpos.
pendemAs desta
propriedade s da
operac matériai e do corpo organizado
;
de-
ão.
19, Esta virtude oposta penetra também todos os corpos:
ela pode ser igualmente comunicada, propagada, acumulada,
concentrada e transportada, refletida pelos espelhos e propa-
328
330 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA
DO MAGNETISMO ANIMAL
331

gada pelo som, o que constitui não somente uma privação, vá-lo das doenças às quais poderá estar
mas uma virtude oposta positiva. exposto. A arte de cu-
Tar atingirá assim a derradeira perfeiçã
o.
20. O ímã, seja natural, seja artificial, é, assim como os Se qualquer uma destas asserções
outros corpos, suscetível do magnetismo animal, e mesmo da — sobre as quais dedi-
quei minh a observação constante por 12 anos —
virtude oposta, sem que, nem em um nem em outro caso, stta dúvida, eu entendo claramente. Isso
deix ar alguma
ação sobre o ferro e a agulha sofra alguma alteração, o que pro- porque meu sistema deve
parecer, à primeira vista, sustentar a
va que o princípio do magnetismo animal difere essencialmen-. ilusão e não a pura verda-
de,frente aos princípios expostos e aos con
te daquele do mineral. hecime
ntos esta-
belecidos. Mas eu rogo às pessoas escl
arecidas que afastem os
21, Este sistema fornecerá novos esclarecimentos sobre a prejulgamentos, e que suspendam tem
porariamente seu julga-
natureza do Fogo e da Luz, assim como da teoria da atração, mento, até que as circunstancias me per
mitam dar a meus
do fluxo e refluxo, do ímã e da eletricidade. | Princípios a evidência de que são
suscetíveis. Em relação aos
22. Será revelado que o fmã e a eletricidade artificial têm, homens que gemem nos sofrimentos
e na desgraça, apenas
em relação às doenças, propriedades comuns a vários outros pela insuficiência dos meios conhecid
os, é bem natural que se
agentes que a natureza nos oferece e que, se resultarem alguns “lhes inspire o desejo, e mesmo a esperanç
a de um reconheci-
efeitos úteis da administração deles, serão devidos ao magne- mento dos mais úteis.
tismo animal. Os médicos, como depositários da
confiança pública no
23. Reconhecer-se-á pelos fatos, após as regras práticas que tange mais de perto à conservação
e à felicidade dos ho-
que estabelecerei, que este princípio pode curar imediata- - mens, são os únicos capazes, pelos con
hecimentos inerentes à
mente as doenças dos nervos, e indiretamente as demais. sua condição, de bem julgar a importân
cia da descoberta que
24. Que apenas com sua ajuda o médico é esclarecido so- venho anunciar e apresentar os frutos.
Apenas eles, numa pa-
bre o uso dos medicamentos, que sua ação é aperfeiçoada, e lavra, são capa
zes de pô-los em prática.
que ele provoca e direciona as crises salutares, de maneira a se À Vantagem que tenho de partilha
r a dignidade de sua
tornar o seu dirigente. profissão não me permite duvidar de que eles irão
fundir princípios que tendem ao maio adotar e di-
25. Comunicando meu método, demonstrarei, por uma r alívio da humanidade
nova teoria das doenças, a utilidade universal do princípio que desde que tenham sido fixados por esta Memória, que lhe
lhes proponho. essencialmente destinada, sobre a é
verdade ideada pelo MAG-
26. Com este conhecimento, o médico julgará com segu- NETISMO ANIMAL.
rança a origem, a natureza, e o progresso das doenças, mesmo FIM
das mais complicadas. Ele impedirá seu desenvolvimento, e
levará à sua cura, jamais expondo o doente a efeitos perigosos .
ou a incômodos seguidos, qualquer que seja sua idade, tempe
ramento ou sexo. Às mulheres mesmo no estado de gravidez
e quando do parto, usufruirão da mesma vantagem.
27. Esta doutrina, enfim, colocará o médico em condições
de bem julgar o grau de saúde de cada indivíduo, e de prese
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 333

Os pais, desolados, empregaram em seguida todos os


meios julgados próprios para remediar esse acidente, tais
omo vesicatórios, sanguessugas, e os cautérios.
O primeiro desses meios foi mesmo levado muito longe
porque durante mais de dois meses a cabeça estava coberta
-por um emplastro, que continha uma supuração contínua. Fo-
ram utilizados por vários anos os purgativos e aperitivos, o em-
prego da planta pulsátil e da raiz valeriana, Estes diferentes
meios não trouxeram nenhum sucesso, seu estado foi mesmo
agravado por convulsões nos olhos e nas pálpebras e, condu-
-zindo em direção ao cérebro, deu lugar a transportes que fa-
ziam acreditar na alienação do espírito. Seus olhos torna-
ram-se caídos, estavam de tal modo deslocados que não se
percebia senão o branco — o que, acrescido à convulsão, torna-
va seu aspecto desagradável, e penoso de suportar. Recor-
reu-se no último ano à eletricidade, que lhe foi administrada
nos olhos por mais de três mil abalos — ela chegou a receber até
cu
cura po mgu
si lar Ele foi i fielme cem por sessão. Este último meio lhe foi funesto, e foi de tal
nte extraído do relatório modo acrescido à sua irritabilidade e às suas convulsões que
e rua anã pelo
própri escrito
o pai. Foi ele que o não foi possível preservá-la de um acidente senão por sangrias
, março do ano de 1777, remeteu a
O resumo está agora sob para torná-lo néti: reiteradas.
meus olhos: PER fom O senhor barão de Wenzel, em sua última estada em Vie-
Maria Teresa vo mn Paradi árl o púb lico
s,i filha única d o se na, foi encarregado de parte de sua majestade de examiná-la e
secretário de suas majest i
ades, o rei e rainha prestar-lhe socorros, desde que possível. Ele disse, após exa-
AO de dee uno od,
759 e tinha os olhos perfei
tos.
miná-la, que a acreditava incurável.
que ela são aecind o:
e 1762, percebeu-se no Malgrado este estado e as dores que a acompanhavam, os
atos eo vi seu despertar
s eus pais ficaram tão pais não negligenciaram nada para sua educação e distraí-la
mada o mais surpresos e
aci ente súbito Po dos seus sofrimentos: ela havia feito grandes progressos na
rque após o nascim
avia anunciado a altera ento
ção naquele órgão. música; e seu talento ao órgão e ao cravo proporcionou-lhe a
Re conheceu-se que se feliz vantagem de ser conhecida da imperatriz-rainha. Sua ma-
tratava de uma amau
ta, x c uja causa poderi rose comple
aÍ ser um humor rep
ercutido, ou uma es
jestade, tocada pelo seu desgraçado estado, achou por bem lhe
dar uma pensão.
O doutor Mesmer, médico, conhecido desde há alguns anos
pela descoberta do magnetismo animal, e que havia sido teste-
munha dos primeiros tratamentos que haviam sido feitos na sua
infância, observava após algum tempo essa doente com uma
332
334 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL
335

atenção particular todas as vezes que tinha ocasião de encon- beça, e aumentava insinuando-se para frente, Quando parecia
trá-la. Ele se informava das circunstâncias que haviam acompa- que atingia onde se unem os nervos ópticos, pareceu-lhe
nhado essa doença, e dos meios de que se havia servido para tra- duran-
te dois dias que sua cabeça se dividia em duas partes. Esta dor
tá-la até então. O que ele julgava o mais contrário, e que parecia seguia os nervos ópticos, dividindo-se como eles. Ela se definia
inquietá-lo, foi a maneira com que se fez uso da eletricidade. como picada de ponta de agulha, que, avançando sucessiva-
Não obstante o grau a que essa doença havia atingido, ele mente para os globos, parecia penetrá-los e aí se multiplicava
m
fez a família ter a esperança de que colocaria os olhos na sua po- espalhando-se pela retina. Estas sensações eram muitas vezes
sição natural, diminuiria as convulsões e acalmaria as dores. E acompanhadas por sacudidelas. O olfato da doente estava alte-
fosse o que fosse feito em seguida, ele tinha desde então a espe- rado há vários anos, e a secreção do muco não mais se fazia. Seu
rança de lhe retornar a visão. Ele insistiu com os pais, aos quais tratamento lhe fez provar um inchaço interior do nariz e das
uma experiência infeliz e as contrariedades seguidas haviam fei- partes vizinhas, que desapareceu em oito dias por uma evaçua-
to com que tomassem a resolução de não fazer mais nenhuma ção copiosa de um material verde e viscoso. Ela teve ao mesmo
tentativa para obter uma cura que eles acreditavam impossível. tempo uma diarréia de abundância extraordinária. As dores
de
O senhor Mesmer começou seu tratamento a 20 de janei- seus olhos aumentaram, e ela apresentou vertigens. O senhor
ro: seus primeiros efeitos foram o calor e a cor róseana cabeça. Mesmer julgou que eram efeitos das primeiras impressões
da
Cuidou em seguida dos tremores das pernas e dos braços. Ele luz. Ele fez então com que a doente ficasse em sua casa, a fim
provocou na nuca um repuxão, que levava a cabeça para trás, e de assegurar as necessárias precauções.
que, aumentando sucessivamente, ajustava-se ao abalo con- A sensibilidade desse órgão se tornou tal que, após terem
vulsivo dos olhos. sido cobertos seus olhos por uma tripla bandagem, ele foi for-
No segundo dia do tratamento, o senhor Mesmer produ- çado a mantê-la numa câmara escura, de tal modo que a me-
ziu um efeito que surpreendeu muito as pessoas que foram nor impressão da luz, sobre todas as partes do corpo, indife-
testemunhas: estando sentado ao lado da doente, ele dirigia rentemente, agitava-a a ponto de fazê-la cair. A dor que ela
seu bastão para a figura representada por um vidro, e ao mes- provava nos seus olhos mudava sucessivamente de natureza:
mo tempo em que ele agitava esse bastão, a cabeça da doente ela era em primeiro lugar geral e aguda, o que provocava em
seguia seus movimentos. Essa sensação era tão forte que ela seguida uma viva comichão, que terminava numa sensação se-
mesma anunciava as diferentes variações do movimento do melhante àquela que produziria um pincel passado ligeira-
bastão. Percebeu-se então que a agitação dos olhos aumentava mente sobre a retina.
e diminuía alternadamente, de uma maneira muito sensível. Estes efeitos progressivos deram lugar a que o senhor Mes-
Seus movimentos multiplicados para trás e para frente eram mer pensasse que a cura estava suficientemente avançada para
algumas vezes seguidos de uma total tranquilidade, que foi ab- dar à doenteuma primeira idéia da luz e de suas modificações.
soluta desde o quarto dia, e os olhos adquiriram sua situação Ele retirou a bandagem, deixando-a na câmara escura, e a con-
natural, o que deu lugar a se perceber que o esquerdo era me- vidou a prestar atenção ao que sentiam seus olhos diante dos
nor do que o direito. Mas, continuando o tratamento, eles se quais ele colocava alternadamente objetos brancos e negros. Ela
igualaram perfeitamente. explicava a sensação que lhe ocasionavam os primeiros,
como se
Os tremores dos membros cessaram poucos dias depois, no globo se insinuassen pontos sutis, cujo efeito doloroso to-
porém ela apresentava no occipital uma dor que penetrava a ca- mava a direção do cérebro. Esta dor e as diferentes sensações
que a acompanhavam aumentavam e diminuiam em razão do
336 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL 337

grau da brancura dos obj


etos que eram apresentados,
Mesmer as fazia cessar de vez e o senhor : edo. Um ponto de instrução dos mais difíceis foi o de lhe en-
substituindo-os pelos negros
Por essesefeitos sucessivos e opostos, sinar a tocar aquilo que via e combinar essas duas faculdades.
Poente que a causa destas sen ele fez conhecer à Não tendo nenhuma idéia da distância, tudo lhe parecia perto,
sações era externa, e que elas
eram em Tesão daquelas que de qualquer que fosse o afastamento, e os objetos pareciam-lhe
ela havia tido até.então. Ele
Gia assim lhe fazer conceber a pre- “aumentar à medida que se aproximavam.
diferença da lixz e da sua pri-
Vação, como também da sua — O exercício contínuo que ela estava obrigada a fazer para
gradação. Para continuar sua
combater sua pouca habilidade e o grande número de coisas
que tinha que aprender a desanimavam algumas vezes, a ponto
de regressar ao seu estado precedente, pois, quando era cega,
eram admiradas sua habilidade e sua inteligência. Mas sua ale-
mória muito boa. Em relação ao negro, ela dizi gria natural a fazia superar essas fases, e os cuidados contínuos
que nada mais via, a tristement
e que isso a lembrava de sua
cegueira. .
do senhor Mesmer lhe permitiam fazer novos progressos. Ela
Nos primeiros ê foi insensivelmente levada a atingir o grande dia, e a distinguir
dias, a impressão de um obj
durava um minuto eto na retina perfeitamente os objetos a qualquer distância: nada lhe esca-
após havê-lo visto, de maneir
tinguir um outro, e não con a que para dis-
fundi-lo com o primeiro, pava, mesmo as figuras pintadas em miniaturas, em que ela in-
forçada a cobrir seus olhos ela terpretava os traços e a atitude. Ela possuía mesmo o talento
durante o tempo que dura
primeira impressão. sua singular de julgar, pela fisionomia, com uma exatidão surpre-
| Ela distinguia numa obscurida sm endente, o caráter das pessoas que via. Na primeira vez em
de em que as outras pessoas
dificilmente viam, mas ela - que viu o céu estrelado, ela experimentou o encanto, a emo-
perdeu paulatinamente esta
dade quando seus olhos pud facul ção e a admiração, e, após esse momento, todos os objetos que
eram admitir mais luz
| Os músculos motores de e lhe são apresentados, mesmo belos e agradáveis, parecem-lhe
seus olhos não lhe puderam muito inferiores ao aspecto das estrelas, pelas quais ela teste-
vir até aí, ela desaprendeu s
como usá-los para dirigir os
mentos deste órgão, buscar mov munha uma preferência e uma diligência decididas.
os objetos, vê-los, fixá-los dir
mente, e indicar sua situação, eta . O grande número de pessoas de todos os estados que a vie-
Essa instrução da qual se ode
depreender dificuldades múl
tiplas, era ainda mais penosa
. ram ver fizeram crer ao senhor Mesmer que ela estava excessiva-
que muitas vezes era interr ; or “mente fatigada, e a sua prudência fez com que tomasse precau-
ompida pelos acessos de mel
lia que eram uma sequela da an ções a esse respeito. Seus contraditores disso se prevaleceram,
doença.
A 9 de fevereiro, o senhor Mes o do mesmo modo que da ingenuidade e da incapacidade da jo-
mer ensaiou pela primeira vem, para atacarem a realidade da cura. Mas o senhor Mesmer
vez, fazê-la ver figuras e mov
imentos. Ele próprio se apr
tou diante dela na câmara esc es assegura que o órgão está perfeito, e que facilitará o uso exerci-
ura. Ela ficou assustada ão ver tando-o com aplicação e perseverança.
figura humana: O nariz parece a
u-lhe ridículo, e durante vários
dias ela não podia vê-lo sem
morrer de rir. Ela pediu para
um cão, que acariciou várias ver
vezes. O aspecto desse animal
Pareceu mais agradável do que lhe
o do homem. Não se lembra
do do nome das figuras, ela n-
desenhava suas formas com
o
PRÉECIS À
HISTORIQUE :
DES FAITS RELATIFS FRANZ ANTON MESMER

4U

MAGNÉTISME-ANIMAL E RESUMO HISTÓRICO DOS


JusQUES EN ÁVRIL 1781, EE FartosReistIVOSAO
Par M. MESMER, Dofteur en Méde-
cine de la Faculté de Vienne.
MAGNETISMO ANIMAL
dice ea e peer mp
QUYRAGE TRADUIT DE L'ÁLLEMAND.

A LONDRES.
CEE
M. DCC. LXXXI
NOTA À EDIÇÃO BRASILEI
RA ' LISTA DAS CORPORAÇÕES
DE SÁBIOS
À presente tradução é a pri Às quais este escrito foi endereçado
meira em português, e foi feit
a partir da primeira edição, a
publicada em francês por Mes
em 1781, intitulada Précis mer
historique dês faits relatifs
nétisme-anim al jusque en avril 1 781. au mag-
en medicine de la Faculte de Parm. Mesmer, docteur N.B. - Sendo este escrito destinado à instrução tanto de
Vienne, Londres, 1781. O exe sábios como do público, o Autor destinou um número deter
plarencontra-se na Biblioteca Nac m-
ional da França, minado aos primeiros. O restante da edição será vendido ao
Os manuscritos originais for
am redigidos em alemão por público do modo costumeiro.
Mesmer, e depois traduz
idos pelo seu discípulo
d'Eslon (o que explica a ins doutor
crição no original: ouvrage
traduit
RÚSSIA
de L'allemand). Entretanto,
a edição alemã precisou ser tra- À Academia de Ciências de Petersburgo
duzida do francês, pois Os
manuscritos originais haviam
dido. A primeira edição ale se per- DINAMARCA
mã foi publicada em 1783: À Sociedade Real de Medicina de Copenhague
mer, F. À, Kurze geschichte Mes-
des thierischen magnetismus
april 1781, Carlsruhe : Michael Macklot, 1783. bis SUÉCIA
Esta obra de Mesmer ainda não À Academia de Ciências de Estocolmo
inglesa, apesar de ter sido uti
foi traduzida para a língua
lizada como texto de referê Ao arcebispo de Upsala, para a Universidade desta cidade o
fundamental para as biografias ncia N.B. —- Um destes sete exemplares para ele, rogando que o aceite.
sobre Mesmer escritas no sécu-
lo passado. À Sociedade Real Patriótica de Estocolmo

PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRED PRÚSSIA


O À Academia de Ciências de Berlim

340
341
342 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 343

POLÔNIA À Academia de Ciências e Belas Letras de Dijon


Ao arcebispo de Cracóvia, para a Universidade desta cidade
N.B. — Um destes sete exemplares para ele, rogando que o aceite. . ESPANHA
À Academia Real de Ciências de Madri
HOLANDA À Sociedade Real de Medicina de Madri
Ao Colégio de Medicina de Amsterdã
. PORTUGAL
À Academia de Harlem
À Sociedade de Medicina de Haia
A Academia Real de Portugal, em Lisboa
. ITALIA
ALEMANHA
À Faculdade de Medicina de Viena A Academia di Humanisti, em Roma
À Academia de Ciências da Baviera, em Munique A Academia del Cimento, em Florença
À Academia Imperial e Eleitoral de Munique Ao Instituto de Bolonha, em Bolonha
À Acadernia di Adormentati, em Gênova
À Sociedade Real de Gottingen
Ao Colégio dos Médicos de Liêge À Academia di Ardenti, em Nápoles

SUÍÇA INGLATERRA
. À Sociedade Real de Londres
À Sociedade Helvética de Basiléia
À Sociedade Econômica e de Emulação de Berna A Sociedade Real de Medicina em Londres
Ão chanceler da Universidade de Oxford, para a Unive
rsidade
FRANÇA N.B. - Um dos sete exemplares, para ele, rogando que
o aceite.
Ão senhor reitor da Universidade de Paris, para a Universidade Ao chanceler da Universidade de Cambridge, para a Universida
N.B. “Um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite. de
N.B. - Um dos sete exemplares para ele, rogando que
Ao senhor Philip, deão da Faculdade de Medicina de Paris, para a o aceite.
Faculdade ESCÓCIA
” - A Sociedade Real de Edimburgo
N.B. - Um dos sete exemplares, para ele, rogando que o aceite.
Ao senhor De Martiniere, presidente da Academia de Cirurgia, A Sociedade de Medicina de Edimburgo
para a Academia IRLANDA
N.B. - Um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite. " Ao chanceler da Universidade de Dublin, para a Univer
sidade
Ao senhor Lassonne, presidente da Sociedade Real de Medicina N.B. - Um dos sete exemplares para ele, rogando
que o aceite.
N.B.- Um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
À Academia de Ciências de Paris
- À Sociedade de Filosofia da Filadélfia
À Acadernia de Ciências e Belas Letras de Rouen
À Academia de Ciências de Massashussets-Day
À Academia de Ciências de Bordeaux N.B. — Esses 12 exemplares remetidos a Paris, ao senhor
À Academia de Ciências e Arranjos Florais de Toulouse Franklin,
Ministro dos ditos Estados, com um 13º exemplar para ele,
Ao deão da Faculdade de Medicina de Montpellier rogan-
do que o aceite.
N.B. — um dos sete exemplares para ele, rogando que o aceite.
À Academia de Ciências e Belas Letras de Marselha
À Academia de Ciências e Belas Letras de Besançon
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 345

: Por esta expressão, magnetismo animal," eu designo en-


ão uma dessas operações universais da natureza, cuja ação
determinada nos nossos nervos oferece à arte um meio univer-
al de curar e de preservar os homens.
Único possuidor da verdade mais preciosa para o gênero
» humano, devo a primeira homenagem e a primeira satisfação à
“minha pátria.
Resumo Histórico dos Fatos A Faculdade de Medicina de Viena, na Áustria, da qual
Relativos ao Magnetismo Animal sou membro, estava essencialmente indicada para apreciar, fa-
-zer valer e pôr em evidência as vantagens que eu anunciava. Eu
teria ficado lisonjeado se ela tivesse se interessado em consta-
Até abril de 178] tar sua realidade e promulgar sua utilidade, mas quando me
Pelo senhor Mesmer dirigi a ela com tal esperança acabei frustrado em meus dese-
Doutor em Medicina pela Faculdade jos e minha perseverança.
de Viena Cansado pela inveja, intriga e calúnia, talvez mesmo pela
exaltação do espírito necessária ao homem que persegue a ver-
dade sem desvios, eu senti necessidade de repouso. Algumas
Faz quatorze anos que anunciei pela viagens me pareceram adequadas para me recuperar de traba-
primeira vez ao mun-
do sábio a existência do magnetismo animal. lhos tão longos quanto penosos.
Quando em 1766 fiz minha dissertação Cheguei a Paris sem objetivo determinado, no mês de fe-
Planetas sobre o corpo humano, apoiava
Da influência dos
aminha teoria sobre os vereiro de 1778. A esperança de ser mais feliz do que na minha
princípios das ciências e sobre exemplos pátria me fez consentir em apresentar à Academia de Ciências
dos. Mas as induções particulares que geralmente conheci- desta capital as asserções relativas ao meu sistema. Porém, elas
obtive de uns e de ou-
tros não eram sustentados por expe foram desfavoravelmente acolhidas. O mesmo se deu na Socie-
riências imediatament
aplicáveis à questão, Não perceberam dade Real de Medicina, estabelecida nesta cidade.
tratar-se de um do ari
na científica, e não de um sistema pess Finalmente, o senhor d'Eslon, primeiro-médico regular do
oal. Ne
Após a constância de meus trabalhos
e a exatidão de mi-
conde de Artois, irmão do rei e membro da Faculdade de Medici- -
nhas observações, estabeleci a evidênci
a de meus princí io na de Paris, convenceu-me a fazer diligências em sua companhia.
baseada em provas continuamente reno Aquilo que se passou na Academia de Ciências e na Socieda-
vadas. Deve-se reco
nhecer que se os fatos se apresentam de Real de Medicina ditou a necessidade de me precaver contra
hoje numerosos em
apoio da razão, a razão veio antes ao apoi os efeitos do preconceito. Dois anos inteiros foram dedicados a
o dos fatos, ocorrên-
ci q ne premente se deu em favor das descober este trabalho. Nos primeiros meses, procuramos nos conciliar
tas mais úteis
com o espírito de diferentes médicos ou outros sábios e a não ne-
| O magnetismo animal é uma consegii gligenciar nenhuma ocasião decente de me aproximar deles. Em
ência de duas ciên-
cias conhecidas, a astronomia e à medicina 1779, fiz imprimir uma memória analítica do meu método.”
. É menos uma des
coberta nova do que uma aplicação de fatos
conhecidos desde
há muito tempo a necessidades sentidas
em todos os tempos. 71 A expressão, “magnetismo animal”, de acordo com Mesmer, tem três
significados: o agente natural, a ciência, e a terapia ou meio de cura.
344
E ON MESMER
346 RANZ ANT RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AO MAGNETISMO 347
,

Subsequentemente, três médicos conhecidos se juntaram ao - em Paris um rumor geral e uma censura
universal, mas após
nhor d'Eslon, para seguir as experiências do magnetismo animal. este primeiro momento não mais se torno
u a considerar q
Como resultado dessas experiências, o senhor d'Eslon deu ao magnetismo animal como objeto de conversaçã
o. Cada um
público suas observações relativasa elas.?3 Ra acreditando prevaslecer seu espírito trata
hoje este assunto
Finalmente, quando os espíritos nos pareciam suficiente- em Paris não segu ndo a razão, mas segundo o lugar em que
se
mente preparados, eu pedi ao senhor d'Eslon para que ele po encontra, as pessoas diante das quais fala, o
tipo de espírito de
pusesse à Faculdade de Medicina de Paris meios apropriados cada uma das sociedades onde se encontra.
para tirar todas as dúvidas sobre a importante questão que eu Não será indigno de um observador esclarecid
j meter às suas luzes. o examinar
em que grau o domínio subterrâneo dos médi
a penca eu lhe enviei um escrito assinado por cos se tornou,
em tão pouco tempo, capaz de prender as língu
mim no qual eu propunha à Faculdade de Medicina de Paris as que no prin-
“Cípio se manifestavam mais abertamente.
tratar um dado número de doentes concomitantemente, de É entre as pessoas de nível que este fenômeno de
modo a poderem ser constatados os efeitos do meu método mo é mais evidenciado. O ponto essencial
servil
is-
por comparação com os efeitos dos métodos antigos. entre elas parece
ser o de não choca
r o médico que frequentam. Elas têm medo.
A franqueza deste procedimento é justa. Eu tenho certeza Dir-se-á de bom grado que não está reservada
de que no estilo e na forma nada se encontrará que possa ter a pena de morte
-à não ser para aquilo que a mim concerne.
racionalmente ofendido a corporação à qual me dirigi. O grosso da nação menos atemorizada age a seu
A 18 de setembro de 1780, por requisição do senhor modo. Pro-
-tetores, partidários, antagonistas, médicos,
d'Eslon, houve uma assembléia geral da faculdade. Este médico sábios de todas as
ordens, o senhor d'Eslon, o magnetismo anima
fez a leitura de minhas proposições e as apoiou num discurso l, meus doentes
- eeu somos alternadamente ou ao mesmo tempo
preparado para este fim e colocou os originais sobre asecretária. , o alvo dos gra-
: Cejos de que os desocupados parisienses se
No mesmo dia e na mesma assembléia, o senhor d Eslon alimentam.
- Os estrangeiros que não conhecem Paris e seus
foi excluído do quadro dos médicos da faculdade por ter feito indefini-
: dos habitantes, a não ser pelos livros ou por relat
Ses sobre o magnetismo animal, os truncados,
talvez possam concluir do que eu disse que aqui
ira proposições foram rejeitadas com desdém existe a mais
- medíocre opinião sobre a minha descoberta,
e animosidade. Eles muito se en-
anarão. Porque ela impressiona demais, exige
No primeiro instante os procedimentos da faculdade, fos- um raciocínio
Onstante e toca em tantos campos do conhecim
sem contra o senhor d'Eslon, fossem contra mim, causaram ento, que
“muito se fala sem nada concluir. Mas, se ela
fosse considerada
enos importante, há muito tempo ter-se-ia toma
do um par-
: Memória sobre a descoberta do magnetismo animal: tido definitivo € já se estaria falando de uma outra
coisa.
a sebo oa Mesmer, doutor em medicina da Faculdade de Viena. Cas Os franceses que pretendem conhecer melh
or sua
P. Fr. Didot, o jovem, Paris. mal pelo ha seguram que lhes é impossível acolher uma boa razão nação
: Observações sobre o magnetismo ani enh “que ela sofra as mais severas críticas. Se assim for, antes
” SEnos dure re sono da Faculdade de Medicina de Paris, e primei eles não es-
ão dando a atenção necessária ao que eu digo,
ro-médico regular do monsenhor o conde de Artois, Casa P. Fr. Didot, pois é inacr edi-
tável a quantidade de afirmativas insensatas às quais
jovem, C.M. Saugrain, o jovem e Clousier, Paris. . dei lugar.
74 Nota de Mesmer: Essas proposições se encontram ao longo deste escri “No entanto, a grande questão de que trato não
é nem indivi-
to, podendo ser consultados. , alnem nacional: é universal. É à humanidade inteir
a e não ape-
348
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 349

nas a Paris, à França ou à Aleman


ha que devo dar conta dem
esforços para fazer prosperar a
consciente verdade que prome
E a todos os povos do mundo
que devo dirigir apalavra
No estado atual das c lências, | 15.. Nota de Mesmer: O humor não ditou estas linhas, eu poderia lhes pro-
o homem afortunado que
descob re uma verdade útil deverá “var com vários exemplos. Um único me será suficiente. Ocorreu na
encontrar tanto mediadore: França, porque este escrito é principalmente destinado a prestar conta
entre ele eo resto dos homens quanto
de todos OS ciúmes, faz com sábios.A% vaidade, mãe de minha estada na França. Um médico de província, chamado, creio,
que muitas vezes os mediadore 4 : Thouvenel, obteve um prêmio de química de uma das academias meri-
e tornem rivais, inimigos ou det s dionais da França. Este esforço de gênio lhe pareceu merecer, pelo me-
ratores.
Malgrado estes escolhos, que nos, cumprimentos do governo. Foi a Paris para solicitar e receber as gra-
me são muito ças, e fogo citou meu nome, o gênero de minha descoberta, e as
mantive-me com uma opiniã
o constante , circunstâncias de minha discussão anterior com a Scciedade Real de
ções de sábios me foram coloca
das para Medicina. O sucesso de seu projeto dependia dos chefes ou dos proteto-
pretes perante as nações. Há
muito tempo que lhes presto - res desse estabelecimento. Meu tympanifer [instrumento cirúrgico] lhe
menagem dos primeiros resumo ho- -pareceu um título válido perante eles. Ele se introduziu em minha casa e
s de meu sistema. Hoje lhes
presto conta de minha conduta foi recebido polidamente, e tomou-se por um grande desejo de teste-
subsegiiente - Encontrar-se-s.
no início deste escrito a lista das munhar algumas de minhas operações. Logo se apressou em parodiá-las.
corpora ções às quais o enviei. Um livro escrito em português lhe forneceu a composição de uma fór-
bo Es sábios de todas as nações e
pio ico de todas as nações: juíz
eute mos por juiz comum o. mula com a qual pretendia conseguir os efeitos que eu atribuía ao mag-
o não recusável, pois que os co- netismo animal, Os pregadores postos em ação espalharam em breve,
cimentos são de tod
as as classes e de todos os lugare por Paris, as maravilhas da fórmula e pessoas benquistas não des-
Os numerosos jornais espalhado s denharam em aparecer à testa dessas momices,
s pela Europa procuraram. A menor reflexão teria feito sentir a Sociedade Real de Medicina como
Ossrmeios de fazer conhecer com brevidi ade,
tidão os detalhes necess ário facilii foi absurdo acolher a falsificação do meu método, ela, que fez profissão de
s para a instrução do da públ
i ico,
E mas . negar sua existência. O que não pode o espírito de facção? Esta corpora-
este porto não é de acesso fácil para igualmente todo ção aceitou os princípios do senhor Thouvenel e com entusiasmo delibe-
do, Tanto as inconsegiências o m rou que a receita imitativa fosse impressa às custas e em nome da corpora-
espalhadas contra mim foram
absorvidas com rapidez quanto ção, e que, todavia, toda a honra seria rendida ao verdadeiro autor.
minhas produções ou minhas O senhor Thouvenel sentiu então a imprudência do seu ato, Se nada lhe
defesas foram negligenciadas
com afinco:'s o que me fo custou para fazer, em seu proveito, uma ação pouco honesta, cus-
recorrer a outras medidas e esc a
rever livros. som tar-lhe-ia muito me dar os meios de fazer recair sobre ele parte do ridí-
si história do magnetismo ani culo, daí seu desejo de gratificar-me por inteiro. Ele se opôs, pois, à deli-
mal apresenta cinco épocas
principais que servirão de divisão a este beração e declarou a dependência que ele tinha do livro português,
escrito, ofereceu-se para remetê-lo a fim de que a tradução pudesse ser feita e
1, Relações com a Faculdade
de Medicina de Viena tornada pública, pedindo, por favor, que seu nome não aparecesse nesse
2. Relações com a Academia de Ciê
ncias de Paris. | processo. Elevemos ao céu o “desinteresse” e a “modéstia” do senhor
3. Relações com a Sociedade Real Thouvenel, enquanto o senhor Carrere, um dos membros da Sociedade,
de Medicina de Paris encarregou-se de provar como seria importante não me poupar. A dis-
4. Relações diversas durante os
dois anos seguintes puta que surgiu nessa ocasião abriu enfim os olhos de alguns membros
3. Relações com a Faculdade de Med mais circunspetos. Eles viram bem mais longe, como poderiam se com-
icina de Paris, prometer desagradavelmente perante o público e julgaram prudente
Por meio de algumas reflexões
muito curtas que juntarei a abafar esse acontecimento. Visando o êxito, decidiram empreender ou
esta crônica, restará pouca
coisa a desejar para aqueles ordenar a tradução do português, deixaram ao senhor Carrere a liberda-
quiserem conhecer os detalhes que
deste caso. de de fazer imprimir às custas da receita da corporação e fizeram obter
para o senhor Thouvenel as recompensas devidas a seu mérito. O acerto
350 FRANZ ANTON MESMER

Fui acolhido com indecência pelas corporações de sábios


que citarei. Direi sem cautela como as coisas se passaram en-
tre mim e eles.
Tratarei todos os sábios de igual para igual. Porque decla-
ro que não sei de um qualquer que seja que deva vacilar ao tra-
tar de igual para igual comigo. Poderá haver mais gênio, mas
eu serei mais útil.
Deixarei entregues ao desprezo as pessoas que acredita-
Tam fazer nome alardeando desprezo por mim.
Chamarei cada um por seu nome. Cada um me chamará
pelo meu. Por dura que poderá parecer minha veracidade, que-
ro as atenções que não tiveram para comigo. Jamais caluniarei. RELAÇÕES COM A FACULDADE
DE MEDICINA DE VIENA
assim feito teve a satisfação de todas as partes, esperava-se que o públi-
co, muito acostumado a essas intrigas miseráveis, e ser a muito tempo
enganado, não tardaria a esquecer o que havia desprezado.
O evento já havia provado a fragilidade destas atitudes: o senhor Thou- A narração das numerosas e insuperáveis dificuldades que
venel não estava mais em questão em Paris, mesmo porque ele-havia se me opuseram em Viena ocupa uma grande parte da memór
ia
retirado para a província. Mas, como se não bastasse, os repórteres do
. que fiz em 1779, Sobre a descoberta do magnetismo animal
“jornal Le Mercure de France resolveram inserir no seu jornal a pretensa .
Como seria fatigante para as pessoas que já têm conhe
falsificação desse médico, precedida de um preâmbulo descortês contra cimento
mim, no qual, fazendo profissão de imparcialidade, decidiram com des- repeti-la aqui, remeto meus novos leitores âquela memór
ia, e
vantagem minha e com sua própria autoridade, pelo menos três ou qua- lhes apresentarei hoje apenas um extrato da minha
narrativa.
tro questões muito complicadas (ver Mercure do sábado, 9 de setembro Em 1773, confiei ao padre Hell, jesuíta e professor
de 1780, parte política, Paris). de
- anatomia em Viena, alguns ensaios necessariamente
Devo dizer em favor das pessoas estranhas às letras francesas, que
o informes
de meu sistema para os quais me utilizei peças imant
Mercure é o mais antigo dos jornais conhecidos. Após ter mudado várias adas. Este
vezes de forma, ele tornou-se alvo do governo: é seu protegido e de al- religioso, querendo usurpar minha descoberta, espalhou
por
gum modo seu advogado - os autores que o redigem hoje têm pretensão “toda a Europa que com peças imantadas, às quais atribu
à estima pública e ficam irritados quando se os julga capazes apenas de iu uma
virtude específica dependente de sua forma, ele havia assegu
serem os melhores na redação de um jornal. -
tado os meios de curar as mais graves doenças dos nervos
Que me permitam inquiri-los por qual espécie de combinação eles deram . Ele
importância às loucuras do senhor Thouvyenel, enquanto que não toma- se serviu de mim, disse, para as provas.
ram conhecimento de minha dissertação sobre a descoberta do magnetis- Eu não estava ainda afeito a esse tipo de audácia. Essa
ro animal, enquanto deram apenas um extrato informe e insuficiente das do
“padre Hell era tão mal intencionada que me alegrei ao destru
observações do senhor d'Eslon, por que, enfim, nada disseram das minhas ir
“rapidamente suas pretensões e os erros consegúent
proposições à Faculdade de Medicina de Paris, proposições que, sob qual- es que po-
quer aspecto que se as considere, são muito certamente, nas eriam advir. Eu publiquei a existência do magnetismo
ciências, um animal
evento mais importante do que a poção Thouvenel. «como essencialmente distinto do mineral, enunciando
com

351
352
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 353

próprios olhos. Este médico era muito tímido para o lugar que
ocupava.??
fora o cultou desse debate que as imaginações do padre Held E Jamais tomou partido decisivo. Sempre vacilou segundo
— et, experiência, reconhecidas como tais, e tod s circunstâncias: ogo ele evitou se comprometer, ou então
: ! avi "que eu comprometesse a Faculdade. De pronto, ele aquiesceu
para que eu demonstrasse as utilidades dos meus princípios
» pretende-se ainda (e existem pesso num hospital; depois, ele não ousou tomar tento dos efeitos
à Crer sem outra exame) que eu ajo com A ud dp pensas que eu produzia. Constantemente me recusou uma comissão
meios separadamente ou combinados 76 juda desses do E da Faculdade, que eu solicitara, e colocou-se ele mesmo àtes-
Ao padre Hell juntou-se o senh r K | ta de uma deputação que eu não solicitara. Nessa ocasião, ele
Sociedade Real de Lon dres é inoe bd ngenhousz, membro da juntou com firmeza sua opinião à do público, apoiando-me
a meios pueris a reputação de físi u Sr em Viena, que devia sem rodeios, e em presença de testemunhas disse seus pesares
Eu lamento tod co. por ter discordado em favorecer pelo seu aval a importância
Os Os aadias a
acredita t nesse homem da minha descoberta.
À Entretanto, jamais
er ousou nem avalizar
fútil. De má-fé usou de todo seu ta- nem defendê-la nos momentos decisivos. Enfim, possuo car-
tas suas pelas quais confessa sua persuasão, possuo uma ordem
sua pela qual me taxa de trapaceiro.
Fiz com que fosse enviado à maior parte das academias de
ciências da Europa o resumo de meu sistema, notadamente à
Sociedade Real de Londres, à Academia de Ciências de Paris e
à Academia de Berlim. Apenas a última me respondeu. Ela de-
cidiu que eu estava iludido. Decidiu mal, mas me ouviu.
Interrompi duas vezes o curso destes debates pela neces-
sidade de me ausentar de Viena. Fiz viagens à Baviera, à Suá-
76 ta de Mesmer: Quando se bia e à Suíça, procurando por todos os sábios e tentando im-
etism an
estiver familiarizado com a exp
le alguém fizer alguma des ressã pressioná-los, porém despertando pouco interesse.
: à desco ecidos, não coberta surpreendente
se fur
Timal, como me dizem hoje tarão de dizer ao autor: é do Quando retornei de vez a Viena, estava bem convencido,
que é do ima. Decisões mui por experiência própria, que os homens eram os mesmos em
part
todos os lugares, facilmente inflamados pela vaidade, porém
dificilmente entusiasmados pela verdade.
Persisti algum tempo na resolução de nada mais empreen-
der. Às insistências de meus amigos e, sem dúvida, o fogo mal
extinto da esperança me fizeram conceber o projeto de algu-
verdadeiro não mais as mas curas brilhantes. Cito três na minha Memória sobre a des-
quer.
78 Rainha-imperatriz Mari
em 1740, aria Teresa (1 717-1780),o que inic
iou seu reinado
79 Nota de Mesmer: Um primeiro-médico em Viena é tira espécie de mi-
nistro à frente do Departamento de Medicina.
354 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
355

coberta do magnetismo animal. Aqui falarei apenas de uma: va o que ele supunha, ou seja, que a senhorita ignorava ou con-
aquela da senhorita Paradis. ' fundia o nome dos objetos que lhe eram apresentados — coisa
Esta senhorita estava com dezoito anos de idade, Seus bem simples de entender e mesmo inevitável numa pessoa
pais eram conhecidos, ela era particularmente conhecida de cega de nascença ou com pouca idade.%0
sua majestade, a imperatriz-rainha: recebia de sua beneficên- Este membro, além da associação do senhor Ingenhousz e
cia uma pensão, que começou a ser paga após ela ter ficado to- do padre Hell, pouco me alarmava. À verdade provaria os dis-
talmente cega com a idade de quatro anos, o fundo de sua parates com clareza. Como eu conhecia pouco os recursos da
doença era uma amaurose perfeita. Ela apresentava os olhos inveja!
salientes, saindo das órbitas e convulsivos. Além disso, estava
Tramou-se o ardil de retirar de meus cuidados a senhorita
atacada por uma melancolia acompanhada de obstruções do
Paradis, no estado de imperfeição em que estavam seus olhos
baço e do fígado que promovia muitas vezes acessos de delírio
e impedir que ela fosse mostrada a sua majestade, que acredi-
e de furor que lembravam ser ela uma consumada demente.
taria assim definitivamente na impostura deslavada.
Ela havia se submetido a remédios de toda espécie — havia so-
frido imprudentemente mais de três mil choques de eletrici- Para atingir esse fim odioso, foi preciso induzir o senhor
“dade -, tendo sido tratada durante dez anos pelo senhor Paradis. Fez-se com que ele acreditasse na suspensão da pen-
“Stoêrck, sem sucesso. Enfim, foi declarada incurável pelo se- - são dependente da cegueira de sua filha — persuadiram-no de
nhor barão de Wenzel, médico oculista residente em Paris que retirá-la de minhas mãos. Ele a reclamou primeiramente ape-
numa de suas viagens a Viena a examinou por ordem de sua nas por sua vontade, mas depois de comum acordo com a mãe.
majestade a rainha-imperatriz. Porém, a resistência da senhorita atraiu para si maus tratos: o
Se alguma vez a cegueira foi constatada, foi sem dúvida pai quis levá-la à força. Ele entrou em minha casa com a espa-
aquela da senhorita Paradis. Eu lhe restitui a visão. Milhares da em punho como um arrebatado. Esse furioso foi desarma-
de testemunhas, dentre as quais vários médicos, inclusive o do, mas a mãe e a filha cafram desmaiadas a meus pés. A pri-
senhor Stoérck, acompanhado do segundo presidente da Fa- “meira de raiva, a segunda por ter a cabeça batida contra a
culdade e à testa de uma deputação dessa entidade, vieram muralha pela bárbara mãe. Livrei-me deles algumas horas de-
usufruir desse espetáculo e render homenagem à verdade. pois, mas fiquei muito inquieto pela sorte da senhorita Para-
O pai da senhorita Paradis comprometeu-se a transmitir dis. As convulsões, os vômitos e os furores se renovariam a
seu reconhecimento a toda a Europa, consignando publica- cada instante: ela retornou à sua primitiva cegueira. Eu temia
mente em jornais os detalhes mais interessantes dessa cura. por sua vida ou pelo menos pelo estado do cérebro. Eu não
Pode-se ler seu relatório, traduzido do alemão, na minha Me- pensava em vingança, recurso que a lei me oferecia, eu não
mória sobre a descoberta do magnetismo animal. ”
Pareceria impossível contestar um fato tão inusitado. No
entanto, o senhor Barth, professor de anatomia dos olhos e ci- 80 Nota de Mesmer: Não é suficiente restabelecer 0 órgão dos cegos
de
rurgião de catarata, encarregou-se com sucesso de fazê-lo pas- “nascença e cuidar de sua sensibilidade: é preciso ainda familiarizá-los
com a idéia que a causa de sua sensação é externa, com a ausência,
sar por uma suposição. Após haver reconhecido por duas vezes a pre-
“sença e a gradação da luz, com a diferença das cores e das formas, o afas-
perante mim que a senhorita Paradis gozava da faculdade de “tamento e a aproximação dos objetos, a estreita aliança da vista cem o
ver, ele não ousou atestar perante o público que ela enxergava. tato etc. Todas essas aquisições nós as fazemos automaticamente todas
Ele falava atrevidamente sem estar seguro de si e deu por pro”; “na infância, o que nos impede de refletir, c omo consequênêcia,
nci sobre su:
excessivas dificuldades. q ' º
256 PRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 357

pensava senão na saúde da inf


ortunada que esteve colocaé
em minhas mãos. - Este acontecimento fez com que me tornasse determina-
O senhor Paradis, apoiado “Fiz meus preparativos para deixar Viena € executei essa
por pessoas que o manipíil Eesolução seis meses depois, deixando em minha casa, e pos
vam, inundou Viena com seus
clamores. Tornei-me objeto dá tiidados de minha esposa, duas senhoritas cuja cura po cri
calúnias mais insensatas, Ess
e estado de coisas convenceu ser constatada a qualquer momento e servir de prova à ver a
cilmente o muito impotente fi
senhor Stoérck ame ordenar de. Esses arranjos dos quais tive o cuidado de indicar os mo ú
viar a senhorita Paradis aos seu ei
s pais. sao público cessaram apenas oito meses após minha parti
Ela não estava em condições
de ser transportada e eu à por crdem superior. e
Quando da minha chegada à França, meus adversários se
ipressaram em divulgar prevenções contra mim. Entre qutras
inculpações desonestas diziam eles que foi a autori ade q te
iné ordenou deixar Viena. Esta calúnia inútil estava ma ande
teçada, porque eu estava recomendado ao sen o e , di
“embaixador do império na França, pelo ministro dos Negóci
Os aparece Dr ans sobre o Pas - Estrangeiros de Viena, e sua excelência jamais me desfavore-
“ceu. Nada fiz para combater essa maledicência. Contentei-me
mentiras, mas, seduzido pela “em desmentir nas ocasiões propícias, mas sem Contar van a
s aparências da boa-fé, consen gens. Mas a quem interessam as calúnias contra mi pesso
que a senhorita Paradis foss ti -
e respirar o ar do campo. Não se trata de atingir a mim, mas sim à minha descoberta.
mais a vi em minha casa, Era Nun ca
essencial no esquema dos seus
aparentasse. Foi a isto que os crué
is gen
itores dedicaram todos
Os seus cuidados.
Assim triunfaram o senhor Ing
enhousz e seus associados!
Sempre que me recordo dess
as cenas
aflitivas jamais deixam
de se manifestar em mim sen
timentos involuntários de indign
ção contra a natureza humana. Cad a-
a vez nec essito de alguns ins-
tantes de calma para retorn
ar a sentimentos mais razo
áveis.
==] 0000
81 Nota de Mesmer: Se fosse poss
ível pretender razão na má-fé,
da senhorita Paradis teria apre o estado
sentado um fata bem convince
nte. Era de
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AQ MAGNETISMO 359

À fria acolhida que tiveram as primeiras noçõ


es que expus
à publicidade me atingiu como se eu não à
tivesse previsto. O
escárnio, sobretudo, pareceu-me excessiv
amente descabido
por parte dos sábios, e mais particularme
nte por parte dos
médicos, pois que meu sistema, destituído
de todas as provas,
teria ainda assim sido razoável quanto a maio
r parte daqueles
“que eles honram todos os dias em nome de
princípios.
Este insucesso me levou a rediscutir minh
as opiniões.
Mas, longe de as perder, com este exame
elas tiveram suas co-
res realçadas. Com efeito, tudo me dizia
que, além dos princí-
RELAÇÕES COM A ACADEMIA DE pios que já admitíamos nas ciências, nece
ssariamente exis
- Outros sendo negligenciados ou não percebid tiam
os.
CIÊNCIAS DE PARIS*2 Cada vez que percebo quanto os princípios
das ciências
podem ser falsos ou incertos, mais consider
o os esforços dos
mais belos gênios instrutivos para a felicidade
ou a instrução
“dos seus semelhantes.
O sistema que me conduziu à descoberta do magnetismo É acrescento também que os sábios cuidam
com zelo da
animal não foi obra de um dia. Às reflexões foram sucessiva” grande árvore das ciências, mas, estando
sempre ocupados
mente acumuladas no meu espírito, assim como as horas e e “com as extremidades dos ramos, acabam
por negligenciar o
minha cabeça. Eu tinha apenas a confiança e a coragem nec sé cultivo do tronco.
rias para atacar os prejulgamentos da razão e da osoá a Comparo os médicos aos viajantes que se
ser, conforme meu entendimento, culpado de temeri . encontram fora
“de seu caminho correto e continuam cami
nhando, cada vez
imais se afastando de seu Tumo, em vez de voltarem
Sos para trás, reconhecendo o engano. seus pas-
82 A Academia de Ciências de Paris deve sua origem o Projeto de Colbert
E então um ardor vivo se apoderou dos
as de aca a Écusteados por um patrocinador. Col- Eu meus senti
- dos.
À Eu
bert escolheu um pequeno grupo de cientistas, reunidos em 22 de e Ê inquietude. O campo, as florestas, as solidões mai a
zembro de 1666 na biblioteca do rei, garantindo a publicação de: eram os únicos atrativos para mim Eu po Sentia cs retiradas
relatórios científicos a partir de então. Em seus primeiros o anos, ass natureza, Violentamente Seita paras penta maisperto da

des primero regulemento


À academi recebeu 0 título de Academi eo coração, cansado dos inúteis convites da natureza, recusa-
Res E orinsalada em Ciaabóia, Composta de 70 sócios, passou a exe Ya-a com furor. -Oh, natureza! Prendendo-me nesses acessos
cr papel de conselho
invenções. Porém, em 8 do
de poder
agosto e
de a julgar
1793,a descobertas,
Convenção pesquis
(durante à EE He pretende
Elnava de mim?!em Demeus
estreitando-a feita, co
outrabraços ra
ao contrário, me ima
aeu me ima-
volução Francesa) viria a suprimir todas O No Erincipio a Ed Bidb-a com impaciência e sapateando fortemente dear

20,54 cadeia cofre um declino de atividade e influência, mas cont Eirendida aos meus desejos. Felizmente meus gritos perdiam-se
o Soto atividades, com outras missões, até hoje.

358
360 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 36 1

a veemência, eu tinha certamente o


aspecto de um frenético 3H Ência a TEORIA IMITATIVA, que havia pressentido, e que é hoje
Todas as outras ocupações se me torn srerdade física mais autenticamente demonstrada pelos fa os.
aram inoportunas. O: Restava-me uma longa e penosa carreira a percorrer na
momentos que lhes concedi me par
eceram furtos feitos à ver
dade. Vim a lamentar os tempos que inião dos homens. Ela se apresentava a meus ol os em toca
as me dedicava à pesquisa dá gua extensão. Longe de me desencorajar, senti a pa o
e aumentar meus obstáculos, contraindo estreita obrigaç
ia, nós a tra
duzimos imé? “de transmitir à humanidade, em toda a pureza que recebi do
diatamente e sem reflexão para a líng
ua que nos é mais familiar. ício inapreciável
gino natural, o benefício 1 i que tinha
i em m aos.
Tomei o desígnio bizarro de me libe
rtar dessa escravidão, Tal Examinava cuidadosamente quais seriam as pr
era o esforço de minha imaginação
com que eu idealizava essa to dq
ar para preservá-la de qualquer alteração no trajeto -
idéia arbitrária. Pensei três meses sem um idio
ma.$3 nha dinda à percorrer para chegar à verdadeira destinação.
Ao sair desse acesso profundo de deva
neio, olhei com es- Estas precauções encontraram desaprovadores em grande
panto em torno de mim, meus sent
idos não me enganam mais número. Fui i taxado de uma condduta equivocada | porque não
da mes ma maneira que no passado: os objetos
tom
aram novas publiquei a teoria de minha doutrina. Respondo a isso dizendo
formas, as combinações mais comuns .
me pareceram sujeitas à ue não pude,
revisão: os homens me pareceram
de tal modo entregues ao É Como é por convicção, e não por amor próprio, que sou
erro que eu sentia um deslumbramento e mesmo o perigo deamo E .
desconhecido quando levado a reconhecer a inutilidade
. s
encontrava entre as opiniões acreditadas uma verd jari mui to poder estabelecer prova om or
ade incon- i eu desejaria
tentativa,
teste, porque era para mim uma isã mas o assunto de que trato escap escapa da
prova tão rara que não há in- dem, clareza e precisão,
compatibilidade decidida entre a verd it
expressãoã positiva. m resta, r para 1me fazer enten
Nãoão me , e
ade e a natureza humana,
Insensivelmente, a calma voltou ao meu não imagens, comparações, aproximações. Qualquer Precisão
espírito. A verda-
de que eu havia perseguido tão ardo
rosamente não me deixou ue eu coloque nesta lingu inguagem, sempre vai; ap
mais dúvidas quanto à sua existência. imperfeitos. Endereço, portanto, asreflexões seguintes a casa
Ela se mantinha ainda à
distância: estava ainda obscurecida por ã i res que se esforçam por entende : ]
uma ligeira névoa, mas
eu via distintamente o rasto que cond 6 de m odo a encontrar
torcer asdeexpressões
porção t eo
o qu e não está aí. Na
uzia a ela, e não mais me -
afastei. Foi assim que adquiri a faculdade de submeter à expe confiança de que pesam minhas : razões com imparci nparcialicade, ,
- nãoã lhes peço nada além de atenção. O restante de m do
res tem a opção de não ler o que se segue ou me julgarem s
cuidado após me ter lido. | |
83 Nota de Mesmer: Leitores suscetívei
s de entusiasmo, só vocês me en- O magnetismo animal deve ser considerado nas minhas
tenderão sem dúvida. S6 vocês aprec
iarão as provas pelas quais tive de mãos como um sexto sentido artificial. O sentidos não sede
Passar para ser útil, aquele que, pode
ser, vocês condenaram várias vezes em.
finem nem se descrevem: : eles se sentem. Seria em v: ão ensh
com leviandade. Ensaiem, eu os convi
pensamento - mas que isso seja apena
do, a pensarem sem traduzir seu a um cego de nascença a teoria das cores. É necessário fazê-los
s um passatempo, Se lhes falar so- ver, ou seja, sentir. | o
bre o homem que se aproxima do gênio
, se me responderem que existe
apenas uma nuança imperceptível entre
o último grau de entusiasmo e a
É o mesmo para o magnetismo animal. Ele deve em pri
loucura, creio dever informá-los que
em medicina se entregar a tais ex- meiro lugar se transmitir pelo sentimento. O sentimen o
cessos é expor órgãos do cérebro a apenas ele pode tornar a teoria inteligível.
perigos iminentes.
362 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNET
ISMO 363

| Seria inadmissível se ele adi antasse que a definição deste


Por exemplo, um dos meus doentes, acostumado a provar instrumento só pode ser inteligível para aqueles que
os efeitos que produzo, tem, para me compreender, uma dis- idéia nítida do que seja um vidro lenticular.
já têm
posição a mais do que o restante dos homens.
. Com a ajuda de obreiros inteligentes, o microscópio tor-
A suposição de um sexto sentido artificial não deve cho- nou-se tão comum quanto é hoje, e não por sua simplicidade
car: toda pessoa que se serve de um microscópio faz, no rigor a setanto, isso serve para o observador digno da grandiosida-
.
da expressão, uso de um sexto sentido artificial.8s
natureza, e não para observadores limit i
Se o microscópio não fosse conhecido, e se um espírito impertinentes!
. .

dos epLos e
a

ativo pressentisse e predissesse a invenção e os seus efeitos


| o inventor desse aparelho admirável teria agido muito
maravilhosos, não seria ouvido: na melhor das hipóteses, pas-
Srapioriamente se o tivesse prodigalizado sem outros
saria por sonhador engenhoso. os.
cuida-
Pois o mundo despreza os objetos de curiosidade e, mes-
Inutilmente, estabeleceria a possibilidade do seu sistema, mo deles abusando, , até um certo
por cálculos profundos, tomados do mecanismo do olho e dos j
ponto o inconv eni i
desprezível. º
fenômenos da luz. Sua linguagem, necessariamente abstrata, cuiente seria
Mas ele teria cometido a mais alta imprudência se a des-
seria taxada de obscura. coberta interessasse à segurança, à saúde, à vida ou à morte
Se ele anunciasse subsegiientemente a esperança próxi- seus semelhantes — assuntos sagrados com os quais são
de
ma de realizar o que ele não havia feito a não ser pressentir até tidas tantas horríveis leviandades.
permi
então, sua confiança seria qualificada de presunção. é Pode-se aplicar ao magnetismo animal as consideraçõe
PE
Se pela constância de seus trabalhos ele chegasse enfim a s
que apresentei, e extrair duas consegiiências principais. A pri-
ser possuidor de um microscópio, e se ele convidasse sábios meira é que eu tentaria em vão fornecer a teoria da
para que se convencessem por seus próprios olhos da verdade minha
outrina sem outra prévia: eu não seria nem ouvido nem
e das vantagens da descoberta, não teriam eles a má idéia de en-
“tendido. A segunda é que quando ela for universalmente esta-
recusar pelo motivo de não lhes ter sido fornecidos previa- belecida, apresentará, na prática, uma uniformidade dos exa-
mente a descrição do instrumento e a teoria de seus efeitos? .mes superficiais, enquanto absorverá todas as faculdades
Deveríamos acusar o autor de má-fé se ele pretendesse - intelectuais das pessoas dignas de a compreender.
que a descrição de um microscópio não pode substituir em os Admitidas estas duas consegiiências, deve-se conceb
nada a posse de um microscópio? er
om quais cuidados deverei fazer discípulos pelos quais possa
- ser entendido, aos quais possa transmitir sem perigo os frutos
84 Mesmer faz aqui o primeiro registro da telepatia, decorrente do sono ez
mesmérico ou sonambulismo provocado. Ele elaborou sua teoria sobre :
esse fenômeno na sua Memória de 1799. Alguns anos depois, eles foram Á intenção de trabalhar para sua instrução somente às vis-
pesquisados e descritos, com riqueza de detalhes, pelo marquês de Puy-
ségur, discípulo de Mesmer.
as do governo deveria fechar a boca de todos aqueles que ou-
85 Nota de Mesmer: O ouvido, a vista, o olfato e o paladar são extensões
am me atribuir intenções estranhas à felicidade dos povos.8
do tato; de sorte que existe apenas um sentido. Entretanto, contam-sê
cinço associando-os às diferenças sensíveis. Deve-se convir que o mi+
6 Nota de Mesmer: Taxam-me como visando apenas a fortuna.
croscópio está para o olho como o olho está para o tato: uma extensão do:; rata vez e outro modo esta objeção. Observo aqui 1) que ela
Eu avalia-
órgão. Esta idéia pode ser muito arbitrária para as pessoas pouco familia- está mui-
slocada na boca da maior parte das pessoas de letras ou
rizadas com a linguagem das ciências. de ciência,
364 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 365

particulares. Estas circunstâncias, acrescidas à singularidade e


ao mérito real de minha descoberta, persuadiram-me de que
que satisfaça, sem me perturbar poderia ser questão de eu estar num país estrangeiro. Mas eu
com ataques do governo. ; não tinha nenhuma pretensão a uma celebridade adquirida.
Esta advertência tem seus lado
s especiais, e a sua execu- Sentia-me surpreso de me ver procurado em Paris com algu-
ção me seria fácil. Mas, após refl
exão madura, senti que meus ma solicitude. Apenas escolhida uma pousada, vi-me assaltado
esforços culminariam em fundar
uma seita que teria que ven- : por pessoas que vinham me consultar.
cer tanto ou mais obstáculos do
que eu. Isolado, faço pouca Este início me lisonjeou, mas desde logo percebi que a curio-
sombra: satisfeito em sentir praz
er e em censurar. Todavia, se sidade superficial era o gosto dominante nesta capital. Julguei
houver apenas mais cinco ou
seis médicos como eu, espalha- - então conveniente romper sem afetação todo liame capaz de me
dos pelos países, a avareza temero
sa por seus ganhos habituais conduzir por um caminho tão contrário aos meus desejos.
veria neles inimigos perigosos
e prestes a tudo “usurpar sem
partilha. Fariam de tudo para levantar suspeitas No entanto, eu tinha dentre o número de meus conheci-
truir sua doutrina: seus efeitos mar e para des- dos o senhor Le Roi, diretor da Academia de Ciências de Pa-
avilhosos ajudariam a fazer ris. Ele havia assistido a várias de minhas experiências, tinha
com que o alarme fosse soado. Pod
e ser até que a imprudência
das pessoas depositárias de meus reconhecido a realidade de minha descoberta, parecia apreciar
Princípios desse lugar a falsas
int
erpretações. Evidente que posso as conseguências, e tomar interesse pelo sucesso. Não dissi-
e devo responder por mulei o quanto havia ficado decepcionado com o pouco caso
mim, mas não posso fazê-lo pelo
s outros. Não seria então sur-
preendente que a verdade fosse con dado pela corporação às minhas comunicações, e o quanto jul-
strangida a se ocultar no
envilecimento. Creio que seria mel
hor, qualquer que fosse o
custo, adiar seu triunfo com prudência do que compromet
por precipitação. ê-la 88 Nota de Mesmer: Um dia em que muita gente estava em minha casa,
anunciararn-se um presidente de uma corte suprema. Vi entrar uma
Tais são, em substância, os prin pessoa vestida com uma toga. Sem dar atenção aos demais, esta pessoa
cípios que serviram de re-
gra à minha conduta, seja em Vien apoderou-se de mim e me consultou sobre suas doenças, inundou-me de
a, seja na França. perguntas, falando exageradamente e com uma familiaridade que achei
Quando cheguei a Paris, foi div
ulgado publicamente que fora de propósito para um homem de sua classe. Era o senhor Portal,
eu havia deixado a Alemanha com médico de Paris. Muito satisfeito de sua posição, ele se apressou a dar
o desejo de submeter mi-
nha causa ao julgamento dos sábi publicidade do seguinte fato: estava provado, segundo ele, que eu não ti-
os franceses. Havia sido di-
vulgada ao público uma série de nha nenhum dos talentos de que me gabava, porque só por sua palavra
escritos nos quais minha re- eu o acreditei doente quando ele nada sofria, porque eu havia dado fé à
: putação fora aviltada e minha
descoberta, jogada ao ridículo: segurança com que ele me relatava sintornas, que de fato não possuía e
eu não estava sendo mais bem
tratado nos relacionamentos porque enfim fui enganado pelo hábito — eu não havia sabido fazer dis-
tinção entre as calças e o presidente,
89 Jean Baptiste Le Roi (1720-1800). Foi sócio das Academias das Ciênci-
pois tais pessoas visam apenas à as e da Marinha, da Sociedade Real, da Sociedade Filosófica Americana
fortuna: : 2)
é) que nãoã preciso
i de nenhum
governo para ganhar dinheiro à saciedade. e do Instituto de França. Autor de cerca de cem artigos nas artes mecã-
87 Nota de Mesmer: Quem não last nicas para a Enciclopédia. Desenvolveu pesquisas pará determinar a me-
imou mortalidades que estes últimos lhor maneira de iluminar as ruas de Paris e a higienização dos hospitais.
anos têm atingido tantosmarinheiros nos portos da França?
tivesse perecido nenhum se eu tives Talvez não Amigo próximo de Benjamim Franklin e divulgador, na França, de suas
se sido ouvido dois anos antes, idéias sobre eletricidade.
366 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNET
ISMO 367

guei estranho sua indiferença por uma questão que tratava da xar a coisa para um outro dia. “Os espíritos, senhor, pare-
saúde do Povo. cem-me indispostos hoje”, eu lhe disse. “Faltou atenção
para
O senhor Le Roi me ofereceu sua mediação frente à sua cor com 9 senhor, e não é difícil presumir que faltará ainda mais
poração se eu me sujeitasse a fazer uma segunda tentativa. Eu lhe para um estrangeiro como eu. De qualquer modo, desejo
não
remeti as asserções relativas ao meu sistema, e combinamos estar presente nessa leitura.” Eu teria saído se o senhor Le
Roi
quanto ao dia em que iria à Academia para dar meu testemunho. não houvesse insistido.
Fui pontual e cheguei em boa hora para ver se formar uma. A assembléia terminou como havia começado: os mem-
assembléia da Academia de Ciências de Paris. bros desfilaram sucessivamente. Não restou mais do que uma
À medida que os acadêmicos chegavam, estabeleciam se dúzia de pessoas das quais o senhor Le Roi despertou suficie
n-
os comitês particulares, nos quais, sem dúvida, eram tratadas temente a curiosidade, e para as quais me pressionou para
fa-
questões sábias. Eu supunha com convicção que quando a e zer experiências,
sembléia fosse suficientemente numerosa para ser considera Que infantilidade a de me pedir experiências antes de se
completa, a atenção, esparsa até aquele momento, iria se fixar pôr a par do assunto. Eu teria providenciado o necessário se
num único assunto. Enganei-me: cada um continuou sua cr soubesse antecipadamente. Desculpei-me habilmente, dizen-
versação. Quando o senhor Le Roi quis falar, reclamou int Hr do que o local não era conveniente. Mas, não tão habilmente,
mente por atenção e por silêncio, que não lhe conce eram deixei-me levar, sem saber me defender, à casa do senhor Le
perseverança neste pedido foi mesmo energicamente solici ada Roi, onde o senhor A***, sujeito a ataques de asma, queria
se
por um seu confrade, impaciente, que lhe assegurou que não prestar aos meus ensaios.
seriam atendidos nem um nem o outro, acrescentando que fez O senhor A*** estava numa poltrona. Eu estava em pé
bem o mestre em deixar a memória que ele leria sobre a secre- diante dele, e o segurava pelas mãos. À alguma distância, atrás
tária, onde dela poderia tomar conhecimento quem odesejas de mim, postava-se desatento o restante do grupo.
se. O senhor Le Roi não ficou feliz com o anuncio de um segundo Interroguei o senhor A*** sobre a natureza das sensações
assunto. Um segundo confrade lhe sugeriu cavalheirescamente que eu lhe causava. Ele não teve nenhuma dificuldade em me
passar para um assunto menos controvertido pela razão Pe responder que sentia repuxões nos seus pulsos e corren
tes de
remptória de que este o enfadava. Enfim, um terceiro assunto matéria sutil nos braços, mas, quando os confrades lhe fizeram
foi bruscamente taxado de charlatanismo por um terceiro com ironicamente a mesma pergunta, ele não ousou responder
a
frade, que achou melhor suspender a conversação particular, não ser balbuciando, e de modo equívoco. Eu não via mais pro-
rapidamente, para dar essa decisão circunspeta. pósito em estar ali. Voltei-me para o senhor A*** durante
um
Felizmente não fui questionado em tudo isso. Perdi o fio - dos seus ataque
q s de asma: a tosse foi violenta. O q que você tem
da ciência, e refletindo sobre a espécie de veneração que sem- então, perguntaram os confrades com ar de pouco caso? Não
é
pre tive pela Academia de Ciências de Paris, conclui que seria nada, replicou o senhor A***, é que tusso, é minha asma, te-
essencial para certas coisas só serem vistas apenas em perspec-
tiva. Basta reverenciá-las de longe, pois que são pouca coisa
quando vistas de perto! | 90 Nota de Mesmer: Anunciei que enumeraria cada um por seu nome,
mas
a cena que descrevo é muito bizarra - não tenho como nomear
O senhor Le Roi tirou-me do devaneio ao anunciar que Será suficiente saber que estávamos em 10 ou 12 pessoas
os atores.
reunidas na
iria falar de mim. Opus-me vivamente, implorando para dei- casa do senhor Le Roi, todos acadêmicos, ou aspirantes a acadêmi
co.
Tendo me encontrado, na casa desse cavalheiro, com o se-
nhor Le Roi, lamentei-me amargamente da frieza com a qual
ste último me expôs, eu estrangeiro e sem apoio, à incivilida-
mid Peredite perceber de de seus confrades. Na minha justa indignação, eu iria a pon-
que o senhor A**++
após a saída de várias estava menos opri- “to de dizer que acreditava dever depositar pouca fé num ho-
t estemunhas, - Não: Não est
cais do que cinco, áestávamos mem que, após ter abraçado por sua própria vontade a causa
incluindo a senhora
: ciis a esses senhores
ó ere A**t Te Roi e eu da verdade, sustentou-a tão mal na ocasião.
uma prova de que no
stá Sujeito a pólos, as SSO OrganiÀsm :
A urbanidade francesa amenizou a amargura dessa con-
sim como eu havia ad
iantado Eles con
versa. Graças ao senhor Maillebois, fomos conduzidos, insen-
sivelmente, a não mais falar sobre o ocorrido. Quanto às ques-
tões relativas ao gênero, os efeitos e as consequências de
minha descoberta, ele lamentou não estar presente e poder
“amenizar os dissabores de que me queixava, e expôs o desejo
de ver as experiências que os confrades haviam desprezado.
Estas experiênci as tend Eu consenti em lhe dar essa satisfação.
munho formal e Tep j o bem con Statadas
o sid
etido do senhor A pelo teste- No dia indicado, os senhores de Maillebois e Le Roi foram
satisfeito, , podem crer ** * eume retirei bo
: da
da companhia co to à minha casa. O último estava acompanhado de sua mulher e
gradavelme nte perdido meu temp Í de um amigo. Eu tive o cuidado de reunir alguns doentes. Um
o, "7 4 qual havia desa
ca oPo :
es dias o. deles inchou e desinchou sob minhas mãos. Estas poucas pala-
depois la prestar meus deveres
à Sua excelên vras devem ser suficientes para fazer pensar que minhas expe-
, T Le Merci, do
Prevenido contra a solid. embaixa r . do Império.
éri E .
pério. Eu o havihavia riências foram satisfatórias.
instruíezo das experiênci as que acabei de ci-
tar. Ele havia sido instruíd O senhor Maillebois não achou subterfúgios. Ele se refe-
ã
não tendo sido teste munha, pelo senho r abade Font
falava segund 00se ntana, que riu com candura ao seu espanto, mas ao mesmo tempo decla-
que achei : pelo menos singular. nhor Le Roi, o ! rou que não prestaria contas à Academia sobre aquilo que viu,
kem TivDR oraçãoiã de enviar minhinh com a crença de que iriam fazer troça dele. O senhor Le Roi,
: asa asserções ao senh
» tenente-g
e-geieneral dos exéérc or conde tendo a mesma opinião, propôs-me pôr a verdade em evidên-
ro da Academia de Ciê rciitos do rei i e mem-
ncias. Elas faziam par cia pelo tratamento e pela cura de várias doenças.
te de uma me
Eu rejeitei esse meio como sendo inútil para convencer
pessoas a quem a ciência não dá a faculdade de apreciar pelo
raciocínio o mérito de experiências como as minhas. Comple-
- mentei ao excesso que, quando eu estava determinado a sair
———
91 Jean Baptiste FrançoSois
do local do meu nascimento em razão dos desgostos que me fi-
; Desmarets (] 682 zeram provar O tratamento feliz de doenças muito graves, não
De o -1762), cond
França, fio de Nicola i
s De
De; + Marquês de Maillebois, smaneto ambéo, pá foi para me expor alhures a desgostos da mesma espécie. Se
últimos sete anos de min i alguma vez as circunstâncias exigiriam de novo o sacrifício de
reinado (1643-] 5) de tao í q
Curante os meu repouso, eu o deveria à minha pátria de preferência a
370 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELAT
IVOS AO MAGNETISMO 37

qualquer outro país. Que estava nos meus projetos conhecer à Mas quando, por exemplo, desloco sob meu
dedo uma
França, a Inglaterra, a Holanda etc. e estabelecer re ões = dor fixa ocasionada por um incômodo qualq
uer, quando a
os sábios desses diversos lugares, de lhes provar a existência levo, segundo a minha vontade, do céreb
ro ao estômago, do
uma verdade física desconhecida e mesmo de apresentar aos estômago ao baixo ventre e reciprocamente do
ventre ao estô-
seus olhos a utilidade das experiências sem aparelho. Mas que mago e do estômago ao cérebro, nada mais há do
que a demên-
não me convinha me fixar, sem objetivo determinado, em p S cia consumada ou a má-fé mais insigne que
são atribuídas ao
estrangeiro, travar disputas inúteis, levantar os mé ss con autor de sensações semelhantes.
tra minha descoberta, até contra mim mesmo, mé cos que Transformo então em axioma incontestável
que todo sá-
desejam, em uma palavra, fazer-me conhecer nafísica e não na bio deve no prazo de uma hora estar tão
convencido da exis-
medicina, que eu deveria agir na física, até que as circunstã tência da minha descoberta quanto um
camponês das monta-
cias me permitissem fazer melhor. o nhas suíças possa estar após tratamentos
de vários meses.
Pretendi, várias vezes, atribuir vagamente à imaginação aque- Entretanto, ver-se-á que eu me engajei
em trat amentos
les meus efeitos que se desejava negar, mas para mim seria soa seguidos para convencer os sábios. Ficou esta
belecido que eu
dade pretender atribuir a ela os efeitos tal como oshavia Pro u- cuidaria apenas de doentes que previamente tives
se sua con-
zido. Essa lastimável objeção saiu da boca do senhor e Roi, dição constatada pelos médicos da Faculdad
e de Paris, a fim
Eu estava armado contra os arrazoados especiais da Per de que pudesse ser julgado o sucesso pela inspeção
das pes-
dência comum. As declarações tão repetidas em favor a u- soas, quando seus tratamentos tivessem
sido consumados.
manidade haviam perdido o direito de me seduzir: eu ava - Fielmente, segui esses acordos. Retirei-
me no mês de
mesmo resistido às solicitações da amizade, bem convencir o maio de 1778, com alguns doentes, para a
cidade de Creteil, a
"de que deveria ser mudo apenas para as considerações inde- duas léguas de Paris. Em 22 de agosto,
escrevi ao senhor Le
pendentes de todo interesse particular. No entanto, eu Roi uma carta.
soube me guardar contra um arrazoado pueril. Pego espreve.
nido, fui picado: perdi meus pontos de vista,e me eng je “Senhor Mesmer ao senhor le roi, diretor
como por desafio, e contra toda a espécie de razão, a empre da Academia de
Ciências de Paris
der o tratamento de um certo número de doentes.
“Creteil, 22 de Agosto de 1778.
Esta espécie de prova parecia ser inatacável; é um EO “Tive a honra, senhor, de informá-lo vária
Nada prova demonstrativamente que o médico ou a medicin s vezes em Pa-
tis, na sua qualidade de diretor da Academia
curam as doenças. Ver-se-á na sequência deste escrito com tismo animal. Alguns de seus confrades
, sobre o magne-
qual serenidade se fez uso deste arrazoado contra mim. Rapi- participaram comigo
“de conferências sobre esse princípio.
damente fui acusado de paradoxo.º? Sua existência pare-
ceu-lhe possível pelas provas que apresent
ei a seus olhos e aos
- deles. Eu lhe solicitei que minhas proposiç
ões sumárias fos-
-Sem comunicadas à Academia. Deixei
também com o senhor
“conde de Maillebois uma memória relat
92 Nota de Mesmer; De curandeiro me acusavam de todos os tados, e você | iva. Os senhores me
acreditará — nada é mais falso. Muito seguramente fiz curas em Paris. No ;
solicitaram, pareceu-me, um e outro, prova
s da sua existência
entanto, 3 ainda mais grave do que me acusar de curandeiro é supor qu é
que eu reunisse aquelas de utilidade. Realizei,
nenhuma cura existiu.
em conse-
3 72 FRANZ ANTON MES
MER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 373
quência, tratamentos de
vários doentes, que foram
cabo, para tanto, como con levados
senso na cidade de Cretei eza, ele não deveria ser perdido de vista, pois que caminha
moro já há quatro meses, l, em ques
para a posteridade com passo firme ao lado do senhor De Buf-
mb ora eu ignore ain
“E

A
:
i da, senhor, o modo de
,
on, para estar sentado num trono de maravilhas inconcebí-
cademia sobre min, has Pro ca pensar da: eis. Eu espero um momento no qual possa lhe perguntar com
posiçõ es, em pe nh o- me
dá-la, por sua mediação em convi “que direito ele disse à natureza que os limites do seu poder es-
e ao senhor também, par
', à constatar a utilidade ticularmen- “tão colocados aquém da carreira que eu afirmo vê-lo percorrer.
do magnetismo animal apl
denças mais inveteradas. icado às:
Seus tratamentos devem Acabei de relatar de modo exato e verdadeiro minhas re-
neste mês. Ouso esperar que ter minar
o senhor se digne a me transm lações com a Academia de Ciências de Paris. Entendo que
às intenções da Academia, ind itir acreditaram na impostura. Todas as vozes estão interessadas
icando-me o dia e a hora em
seus deputados irão me lou
var com sua visita, a fim
que -em depor contra mim. Não se levantou nenhum testemunho a
Poa preparar para rec de que me
ebê-los. É com sentim
entos e a mais
meu favor. Entretanto, só, contra todos, mesmo assim compa-
perteita consideração que receria com segurança diante de meus juizes. É ao público que
tenho à honra de ser ,
“Senho -
r apelo. Julgo que ele preferirá, acima de tudo, minha carta ao
“Vosso... etc.” senhor Le Roi. Ela certamente não foi escrita apenas porque
havia convenções anteriores. Resolvido este ponto, é evidente
o: Á Academia não julgou — que procurei a Academia de Ciências de Paris;
oportuno responder a ess
clato que se seguirá sob a carta. — que fiz experiências e tratei dos doentes para trabalhar
re minhas relações com a Soc
ieda- sua convicção;
- que ela não fez esforço para se convencer.
Nada mais peço.
de de apresentar minha car
ta à Academia, tendo sido a
interrompida pelos senhor leitu
es Auberton e Vicg d'Azyr
estavam formalmente con 3 e
tra se ocuparem de minha des
berta. Estes dois senhores eo.
são membros da Sociedade Rea
l de
| ferdadeiro ou falso, este
procedimento não me sur
eude parte do senhor Vicg dºA preen-
zyr. Mas não se passa o mes
-
cocitos e à glória de um ho
mem imortal, fiel companhei
canto elogiente, em que ro do
se honram à porfia a França
o
e a natu-
.
93 pato E dica BA ( e Sa), anatomista 94 Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon (1707-1788), naturalista fran-
lências em 1774. Médico francês. Eleito
de vári
cudê do reí 178 cês, com estudos em medicina e direito, Escreveu a Historie Naturelle
s ve
os trab
raalho
o s, [esp
espee cial
a mente em neurologia,a, foi
fói umum plo
Pionneo
eiro qo em 44 volumes e Les Epoques de la Nature. Por seus trabalhos, ficaria
de es-
conhecido como precursor da teoria da evolução do homem, antecipan-
do Darwin em um século.
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AQ MAGNETISMO 375

cretário perpétuo da corporação. À corporação autor


iza ao cu-
plicante que deposite um frasco do licor ou um pacot
e do pó,
tudo selado para evitar indiscrições. Comissário
s nomeados
são convidados a guardar o segredo e são as únicas pesso
as com
direito a abrir os selos na ocasião devida. Eles fazem
a anális
e
química se for o caso, assistem aos tratamentos reali
zados pe-
los autores ou processadores dos remédios, e const
atam seus
bons ou maus resultados. Sobre seu relatório se
forma a opi-
nião da corporação. Todas essas formalidades, e
mais rigorosas
ainda, são observadas com a mais escrupulosa
exatidão. E,
RELAÇÕES COM A SOCIEDADE mesmo com todas as prevenções, é assim que
ou privilegiados todos os comerciantes de venen
são brevetados

REAL DE MEDICINA DE PARIS


os que, sob o
nome genérico de charlatães devastam à vontade
as cidades e
os campos deste belo reino.
Sem dúvida, meus leitores já se aperceberam
do motivo
de minha não-aceitação de uma tal comissão: eu não
possuo
Circula amiúde por Paris que eu fui e cgracecido po nem pó nem licor para depositar, também não tenho
nem bre-
recusar uma comissão nomeada pela Sociedade Rea vet nem privilege a solicitar. Meu desejo não é o
de me estabe-
cina para o exame de minha descoberta. eo asim colocada lecer na França, e certamente não desejo fazer
nenhum co-
- mércio de drogas. Enfim, se minha doutrina
De fato recusei essa comissão? À questão pudesse ser
ten ente sim - colocada dentro de um frasco ou num pacote, eu só
soa tão mal que eu poderia responder indiferen confiaria o
ou não. De fato, eu recusei uma comissão, mas
eitei comis- “frasco ou o pacote a indivíduos cuja sabedoria fosse
SO se queira do meu
sários — espécie de enigma que exige explicação c conhecimento de longo tempo e não a comissários
escolhidos
der. - 4 esmo e nomeados por ordem de tabela.
Vo
e que é uma comissão da Sociedade Real de Medicina de Eis como e por que eu recusei uma comissão.
Porém, ve-
-ja-se na segúência como e por que exigi

Quando o ossos de um pó, de um Her ou de uma


Paris? Vejamos. comissários.

composição qualquer, das quais se de ser perturbado, deve:


deseja comerciá-la sem al de Medicina dos homens: é ainda necessário que eles aceitem o benefício.
para obter, nas for-' Antes de tudo é preciso que eles creiam. Com este
dirigir-se à Sociedade Real de o ne se chama brevet ou:sã fim, procu-
mas estabelecidas, uma permissão ei as pessoas cuja opinião tem alguma preponderância frente
q ele o apresenta ao se- 4 ao público. Eu lhes propus serem testemunhas dos efeitos sa.
também privilege.º* Em consequência,
utares de minha descoberta, fazer valer a verdade renedo-lhe
omenagem, e de merecer, por Esse meio simples,
o reconhe-
i ntes atuaisj são o regisistro d
j equivale
95 Brevet e privilége são direitos cujos Cimento das nações. A Sociedade Real de Medicina
de Paris
patente de invenção e as concessões de exploração. ão achou que este papel fosse digno dela. Recusou-me
os co-

374
376 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 377

missários sob o pretexto de que eu não apresentava ando tratei com ela.º? Naquele momento, ela estava apenas
nem pó
nem licor, nem frasco, nem pacote. Ê endo concebida. Eu, por assim dizer, assisti à criação. O tra-
Não há necessidade nem de dissimular nem de olvidar: as: alho foi laborioso e o berço que a recebeu resistiu com sofri-
dificuldades entre eu e os sábios provieram do fato de eu m ento às tempestades que a assolaram. À Facudade de Medi-
contentar em invocar seu testemunho, pedindo-lhes aperias cina de Paris, que monopolizava a teoria, a prática e o ensino
que constatassem e confessassem a existência e à realidade da medicina, opôs-se vivamente a que se dividissem essas suas

minha descoberta. Mas eles desejavam ser os árbitros, os juízes; funções, sustentando que, eram feitas para se ampararem e se
os dispensadores. Seu tribunal é tudo, e a verdade não lhes enobrecerem mutuamente. Ela entendia que seria inútil ou,
é:
nada se não podem obter vantagens para sua glória ou sua fortu melhor dizendo, até perigoso criar na medicina uma Academia
na. Que pereça a humanidade antes de suas pretensões. de palavras e de escritos sem a necessária ação prática. O efei-
Eles devem reconhecer que no fundo eu não tenho outrô to infalível seria o de aviltar progressivamente a prática e ainda
alvo senão aquele que eles próprios propõem. A qualquer go- . mais O ensinamento, levando, além disso, os encorajamentos,
verno que eu remeta minha descoberta, não a guardará certa: as distinções, as recompensas e as prerrogativas. Tal era o ful-
mente para si apenas: ele a divulgará — mas este rumo não lhes cro da discussão que, aliás, não mais me compete. O processo
convém. Eles me tratam com desprezo porque eu desejo que foi julgado em favor da Sociedade: ela adquiriu autoridade, e
se exija deles alguma sabedoria na administração da verdade hoje está evidente que a Faculdade não se reerguerá jamais do
Dir-se-á, segundo seu ponto de vista, que a ordem e
a ciência
golpe que deve em seguida lançá-la a uma depreciação absolu-
não podem conviver juntas. E verdadeiramente, no estado ta. Ela, os seus membros, suas escolas e seus alunos.
atual das coisas, é tentador acreditar que eles têm razão. Entretanto, tratava-se de por a opinião pública do seu
Aos olhos da Sociedade, a pretensa recusa de que me acu- lado: era necessário fazer um nome no mundo, porque, não
sam não é meu único crime. Porém, não tenho culpa das cir- menosprezando o público, poderia tê-lo ao seu lado. A Socie-
cunstâncias. Não somente recusei uma comissão, mas
o fiz
dade Real de Medicina apóia integralmente toda divulgação
num momento inoportuno, num momento em que estão
com
que possa favorecê-la.
as vistas sobre mim. É preciso que eu entre em detalhes sobre Pressionada a estar pronta a se pronunciar diante de qual-
esse assunto para que se possa perceber a maneira com que quer espécie de novidade, a Sociedade resolveu lançar seus
essa corporação se conduziu em todo esse caso. olhos sobre mim. Ela me apresentou para que eu beijasse o ce-
À Sociedade Real de Medicina de Paris não era apenas um tro que estava estendido para o charlatanismo. Mas eu não me
estabelecimento novo, na verdade, não era nem nascida inclinei: esta foi minha desgraça. Pode ser, entretanto, que as
coisas fossem arranjadas amigavelmente se o categórico secre-
tário perpétuo dessa corporação não houvesse rompido sem
96 Em 29 de abril de 1776, uma reunião do Conselho de Estado criou
“uma comissão de medicina em Paris para corresponder-se com
cuidado as medidas protetoras dos seus confrades flexíveis.
os mé-
dicos de província, para tudo o que pode ser relativo às doenças
epidê-
micas”. Nesse mesmo ano, a comissão, por iniciativa de Lassone
e Vicq
de Azyr, e com o apoio do rei, tornou-se a Socideda Real de Medicina 97 Nota de Mesmer: Havia já quatro meses que eu tratava com a Socieda-
.
Ela começou a funcionar provisoriamente, até seu registro oficial de quando ela obteve as cartas patentes do mês de agosto de 1778, título
pelo
Parlamento, de acordo com cartas patentes de agosto, publicadas de sua criação. Seria longo e inútil dizer que espécie de existência ela ex-
em se-
tembro de 1778. preimentou anteriormente,
378 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 379

é
A seguência dos fatos vai mostrar se minha presunção um remédio do que constatar a existência de uma verdade fí-
ou não é verossímil. sica; em segundo lugar, que estando ligado pela palavra a ela
eu estaria agindo mal faltando aos meus compromissos. Além
Ainda quando eu me encontrava em Viena, fui informado
efeitos do mais, não percebendo na concorrência da Sociedade nada
pelos jornais e os folhetins a respeito dos maravilhosos
da eletricidade administrada pelo senhor Mauduyt* sobre as
de desagradável para a Academia, eu propunha a esses senho-
doenças reconhecidas como graves. Desde minha chegada a
res seguir e constatar as mesmas experiências.
Paris, apressei-me em fazer uma visita a este médico. Às ins- Aceito o oferecimento, esses senhores me propuseram de
peções de seus doentes reunidos até aquele momento, e por sua parte uma de suas comissões. Eu perguntei do que se tratava
ele
meio de seu próprio relato, desiludiram-me. Soube por e, quando me foi explicado, não mais quis ouvir falar. Eu me
mesmo que não havia podido citar nenhuma cura. Por outro expressei várias vezes sobre isso tão claramente, e com tanta
lado, ele me testemunhou o desejo de ver a ação do magnetis- precisão, que para atingir os meios de superar este obstáculo fo-
mo animal sobre alguns de seus doentes. Assim aproximei-me ram feitas duas assembléias particulares, às quais assisti.
de uma mulher paralítica dos braços e de um homem que ha- Concordamos enfim que seguiríamos os mesmos trâmites
via perdido o tato em ambas as mãos. Eles provaram por seus - que a Academia de Ciências, isto é, que me engajaria à Socie-
e
testemunhos as sensações extraordinárias experimentadas, dade, assim que estivesse engajado à Academia, cuidando de
que lhes eram desconhecidas por meio da eletricidade. O se- doentes cujo estado tenha sido previamente constatado pelos
nhor Mauduyt testemunhou sua admiração, e eu me retirei médicos da Faculdade de Paris, de modo a julgar os sucessos
após haver recebido dele honestas particularidades. “porinspeção das pessoas após o término de seus tratamentos.
Depois desse dia, recebi sucessivamente a visita dos se- e Ficou bem estabelecido que não seria envolvido direta ou
to-
nhores Mauduyt, Andry e Desperrieres e o abade Teffier, indiretamente nenhum médico da Faculdade neste caso. Mas
dos membros da Sociedade Real de Medici na. esta cláusula, após um debate adequado, tendo sido conside-
cor- rada inadmissível, eu prometi apresentar sucessivamente à
Como eu ignorava a existência e a constituição dessa
poração, esses senhores se propuseram a me esclarecer. Sociedade cada doente de que deveria tratar a fim de que ela
Instruídos de que eu estava comprometido com a Academia pudesse se assegurar da solidez e da veracidade das consultas.
de Ciências para tratar de doentes, eles me objetaram que a Consenti ainda em remeter antes os relatórios, consultas
inspeção dos remédios novos era atribuição da Sociedade Real e atestados dos médicos da Faculdade para a Sociedade.
e que eu deveria me associar a ela. De acordo com essas convenções, fiz apresentar a senho-
Não argumentei contra essa pretensão, mas observei, em rita L***, por sua mãe, aos senhores Mauduyt e Andry. Essa
a" nar sz

primeiro lugar, que o testemunho da Academia era suficiente jovem era epiléptica e seus acessos repetiam-se tão freguente-
para a questão proposta, e que se tratava menos de conhece inente que ela teve vários na presença desses dois médicos.
Entretanto, eles não julgaram seus conhecimentos suficientes
ara constatar essa doença. Apenas o senhor Mauduyt preten-
98 O médico Pierre Jean Claude Mauduyt de la Varenne (1732-1792) f que com sua eletricidade poderia constatar se a jovem de-
finali
um dos primeiros franceses a pesquisar O uso da eletricidade com E sempenhava um papel fictício. Ele achava melhor constatar o
dades terapêuticas. Criou diversos instrum entos para aplicação . Escr
stre to do que apenas dizer. À proposta pareceu dura e aflitiva à
veu a obra Memoire sur les differentes manieres d'admini
Velectricite. Paris: Impr. Royale, 1786. jãe. Ela ofereceu as consultas feitas a vários médicos e cirur-
380 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 381
Eiões € mesmo o testemunh
o do Carrasco, a quem, no
spero, havia confiado a saú seu de penas 12 dias com alguns doentes na cidade de Creteil quan-
de de sua filha. Tudo foi
igual do tomei conhecimento por uma via muito deturpada sobre a
chegada próxima de uma comissão da Sociedade Real. Isso foi
o denhor fordeu não mais podia ter espalhado rumorosamente pela minha casa por um lacaio que
: o.
autoridade: ele estava havia ouvido de um dos comissários nomeados. Ele veio até a
o senhor Varnier, médico
de Vitri-le-François não
passava de um desconhecido. mim e, embora a coisa me parecesse inconcebível por si mes-
Os senhores Didier pai
e ima, os detalhes estavam tão evidentes que encarreguei a pes-
rouu-m
- e em lág
ápririmas. Eu a console i enc soa com quem me correspondia em Paris de lembrar a esses
lha, sem me preocupar arregando-me de sua fi. | : senhores os nossos acordos mútuos, assim como minha recusa
com os incômodos que
eu previa muito formal e insistente quanto à presença de uma comissão.
Meus desejos aceitos, dirigi-me a Paris e testermunhei aos
senhores Andry e Desperrieres minha surpresa sobre seu pro-
“cedimento irregular. Este último respondeu-me que a comissão
99 ora de Opamer: A mãe da “havia sido determinada por causa de uma demanda feita em
senh
meqicas OI ietar-seá, sem dúvi orita L*** Ocupa-se com prendas do-
da, que um testemunho desta ord - meu nome. Disse-lhe a meu turno que se eu tivesse mudado de
do erssível. U respondo a isso dizendo que em não
pão éun é precisamente porque ela idéia não teria confiado a ninguém para instruir a Sociedade,
io que suas palavras São prov
à Simplesmente o que não sabe as em favor das ciências. Ela
con- que de minha parte eu não daria fé a uma mudança tão súbita,
ria inventar. Por outro lado, ainda mais de parte dele, que conhecia perfeitamente bem mi-
as informa-
nhas intenções. Enfim, para fechar a questão, eu desautorizei
car essa parcativa em dúvi formalmente todas as conversações feitas em meu nome.100
da. O senhor d'Eslon faz
aa E na pigina 2 de menção à cura da se-
suas Observações sobre o magnetism Esta linguagem perturbou o senhor Desperrieres, e o fez
. Publicação de seu livro, haviam-nos ass egu
o ani
havia recafdo num estado pior rado
que a j jovem sair de sua moderação habitual. Ele pôs fim à conversação, as-
do que o anterior. Isso seria
possível enós segurando-me que não havia interesse nem nos meus trata-
mentos nem na minha descoberta, nem em mim e que, além
una quando, ao entrar em minh do mais, eu encontraria em minha casa a resposta da Socieda-
gu tem po Rpenhorita a casa, vi que lá me esperava já há
a si companhia de sua al. de. Efetivamente, de volta ao campo, recebi a seguinte carta à
mãe? O ar saudável e 3
a mé confundiram: cus
guns instantes. Finalmen a acrec
te litarie ficiuei qual junto minha resposta.
te explique
queii as causas do meu p
sabendo que a mãe, a proveita espaint a i
j ndo sua estada no cam:
filha num convento. Crises po, havi
a ai col
oro
muito vivas alarmaram as relig
iosas Eu
- “Senhor Vic d'Azyr, secretário perpétuo da Sociedade
Era mente, a doença foi se exti
Real de Medicina de Paris, ao senhor Mesmer
nguindo, não restando senão “Paris, 6 de Maio de 1778
sa do mal e o sentimento de um uma lem-
reconhecimento que amãe ea
filha

ta L*** e de outros tivessem


cor i corrido sob os auspícios e 100 Nota de Mesmer: Era verdade que a demanda havia sido feita, mas com
governo, nada restaria a obje “ observaçõ
tar contra as provas deste gêne quem a pessoa que abusou do meu nome estava em acordo? Não era co-
.

rença hoje ! Digo: mal prestam a atenção. ro reto 9

migo. Sempre pensei que alguns membros da Sociedade Real estavam


e mais bem instruídos do que eu a esse respeito.
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
382 FRANZ ANTON MESMER 383

tão, senhor, de todos os partidos, aquele que parecia mais se-


«A Sociedade Real de Medicina me encarregou, senhor,
guro, € ao mesmo tempo o mais conforme com as intenções da
dado o conhecimento que ela teve ontem, de reenviar-lhe cer- Sociedade Real, reclamando doentes que de fato pudessem
tificados que foram remetidos de sua parte, no mesmo envelo- me outorgar sua confiança de acordo com as atenções ou con-
pe, o qual não foi aberto. Os comissários que ela nomeou, se- sultas feitas e assinadas pelos médicos da Faculdade, e eu po-
gundo seu pedido, para acompanharem suas experiências não ria essas peças sob os olhos da Sociedade Real, a fim de colo.
podem e nem devem dar qualquer parecer sem terem previa- cá-las em condições de julgar sobre o mérito das curas quando
mente constatado o estado dos pacientes por um cuidadoso o tempo e as circunstancias me permitissem lhes oferecer.
exame. Sua carta denunciando que este exame e as visitas ne-
cessárias não entram no seu projeto e para substituí-los nos “Após essas reflexões, senhor, que poderá comunicar à
basta, segundo o senhor, ter a palavra de honra de seus doen- Sociedade Real, em resposta à carta que ela o encarregou de
tes e atestados, a corporação remetendo-os, declara-lhe que me escrever, ela julgará facilmente que o pedido deuma co-
ela afastou a comissão da qual havia encarregado alguns de “missão, e todas as tentativas análogas foram feitos sem o meu
seus membros conforme seu pedido. É de seu dever não fazer aval. Tenho a confiança que ela não irá duvidar após a seguran-
nenhum julgamento acerca de assuntos sobre os quais não haja ça que demonstrei, em me conceder para o futuro os mesmos
pleno e inteiro conhecimento, sobretudo quando se trata de benefícios que ela me concedeu durante minha estada em Pa-
justificar novas asserções. Deve-se a ela mesma essa circuns
- Fis, e crer que me empenharei sempre em deferir à superiori-
peção que sempre teve e da qual sempre fará uma lei. dade de suas luzes. Ouso rogar lhe oferecer estas crédulas ex-
pressões de meus respeitosos sentimentos. Não duvide da
“Sou perfeitamente,
perfeita consideração com a qual tenho a honra de ser
“Senhor etc.” “ “Senhor etc,” :
“Senhor Mesmer ao senhor Vicq d'Azyr, secretário. .
| A carta acima, do senhor Vicq d'Azyr, deve parecer
perpétuo da Sociedade Real de Medicina de Paris pouco
: efletida ou insidiosa. Ficaria mal para ele referir-se à uína de
“Creteil, 12 de Maio de 1778 minhas cartas que não existia, de minha solicitação de uma co-
“Minha intenção, senhor, sendo sempre a de demonstrar missão que ele sabia muito bem que eu desaprovaria, recu-
a existência e a utilidade do princípio do qual tenho a honra de ar-se a constatar o estado de meus doentes pelos quais ela não
manter a atenção dos senhores da Sociedade Real de Medici: norava que eu havia feito solicitações inúteis etc.
na, eu mesmo teria pressa em solicitar da comissão citada ' Seria difícil relevar essas faltas de atenção ou estes peque-
carta que me fizeram a honra de me escrever no dia 6 deste s ardis. Visando apenas à reconciliação, eu evitava cuidado.
mês, se eu houvesse pensado que as doenças tão graves quant amente na minha resposta qualquer recriminação,
aquelas que iniciei o tratamento fossem suscetíveis de sere Içava, assim que pude me aperceber, a não comprometer
e me es-
caracterizadas à simples inspeção e ao simples relato do: guém. Cuidados inúteis! As leituras das cartas seguintes
doentes. Os senhores Mauduyt e Andry, membros da Socie;
dade Real, pensaram como eu nesse assunto, no momento em
que responderam à senhora L*** quando lhes apresentou a
Senhor Mesmer ao senhor Vicq d' .
.

lha para constatar sua doença, que eles viram bem que a jové
t,

executava movimentos convulsivos; mas que esses sinais. Fipétuo da Sociedade Real de Medicina de Po
Rd.
secretário
rentes eram insuficientes para motivar sua atenção. Tomei
384 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 385

“Creteil, 20 de Agosto de 1778


Rel Não duvidando, senhor A Sociedade Real teve suas razões para agir assim: ela se
, que os senhores da Soc escreveu regras, nada a faria desviar. Mas estas regras não
“al não tendo tomado conhec iedad
imento da resposta que tive jodiam autorizá-la a divulgar publicamente, sem outra expli-
:
+ cação, que eu havia recusado uma de suas comissões para o
mes, eu me apresso a convidar esses senhores q virem se asse
E" exame de minha descoberta.
Por quais motivos essa corporação prescrevia-se regras con-
qual anunciei a existência, Se o trárias às finalidades de toda instituição respeitável? Por quais
ncia. Se 0-senhor tiver a bondade de mé “motivos ela se permite não constatar para o bem do povo o que
sita, estarei disposto a rec “lhe dão para constatar para o bem do povo, sob o pretexto de que
ebê-los e lhes repetir os
meus respeitosos sentimentos. votos ela deve examinar aquilo que não lhe dão para examinar?
“Tenho a honra de ser
etc.” As regras da Sociedade Real são calcadas nas regras da
Academia de Ciências. A cada dia ela derroga as suas, salvo
| penhor
“e
Vieg d'Azyr, secretário perpét
” , para modificar seus interesses segundo as circunstâncias.
real de medicina de paris, ao sen uo da sociedade,
Viu-se que isso não foi difícil para a Academia em relação a
hor Mesmer mim. À Academia não opôs suas regras para mim em nada.
“Paris, 27 de Agosto de 177
8
den Cprnuniquei, senhor, No momento em que a Sociedade Real de Medicina de
a carta que me escreveu à Soc Paris agia assim em relação a um fato dos mais interessantes
é cal de Medicina. Esta Cor ieda-
poração, que não teve nen - para a humanidade, ela solicitava e obtinha cartas patentes (do
conhecimento do estado ant hum
erior dos doentes submetido
eira atamento, não pode faz s ao mês de agosto de 1778), donde fazia inferir que ela refletiria
er nenhum julgamento a ess
Ito. e res- “dignamente as esperanças que nela foram depositadas. Colo-
“Tenho a honra de ser etc.” caram nas mesmas cartas que todos os membros da Sociedade
Real são pessoas sábias, recomendáveis, plenas de zelo, de ex-
Sociadaa periência e de capacidade... A pena me cai das mãos.10!
É esta resposta, nada mais
nha ted me restava esperar da Vou tratar de uma questão mais interessante. Que teriam
Fa ade
ma Real e eu deveria cessar todas
as t entativas
i que vi-i visto os deputados da Academia de Ciências e da Sociedade
Não se, como deveriam, tivessem aceitado meus convites para a ci-
duvido que a versão dessa cor
n a ada mais cômodo do poração difira da mi- dade de Creteil? Teriam visto curas e alívios remarcáveis. A
que contestar fatos baseados voz do público está aqui contra mim: assim deve ser, eles de-
Palavras. Mas não é tão fácil em
desmentir aquilo que está escr terminaram.
Vê-se nas cartas do secret ito.
ário perpétuo da Sociedade

101 Nota de Mesmer: Não vim para a França para me erigir em Áristarco
[crítico severo] da legislação. No entanto, não escrevo unicamente para
os franceses. Posso dizer como vejo com pesar que já está estabelecido,
em alguns Estados vizinhos, sociedades de medicina à semelhança da de
Paris. Só posso exortar as pessoas que tenham o mesmo projeto para ou-
tros lugares, a bem refletir antes da execução.
386 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 387

que falo ela não es- farsa para me ajudar a enganar o público em matéria tão deli
Já citei a senhorita L*** . Na época de a surpreen- cada. Veja-se o início do relatório que me deixou o senhor cão
tava curada. No entanto, estava aliviada de modo
exame desta importâm valheiro de Haussay: A justiça que eu devo à verdade me faz
der todo examinador digno de um
a três outros de pessoas tornar público em detalhe circunstanciado etc. Aquele que se
cia 102 A este exemplo eu acrescentari
s as três em Creteil de expressa assim, contra sua consciência, não seria
mais conhecidas!º3 de que tratei, toda um homem bem educado?
pel E
maio até agosto de 1778. PES menos
minha casa, im-
A senhora Malmaison apresentou-se em
des Tedita-se poder invalidar as conseguências iminentes
reti rou-se andando curas argumentando contra sua solidez. Chega-se a di-
potente das partes inferiores do corpo. Ela , zer que os três doentes que acabei de citar estão no mesmo es-
livremente. tado, e mesmo num estado pior do que no passado.
conseguir condu-
A senhora de Berny via apenas para
n Se admitíssemos os fatos como verdadeiros"04
zir-se. Ela me deixou lendo e escrevendo. , existiria
ve siva e contradição nessa maneira de raciocinar: evasiva por
ado em todas
O senhor cavalheiro de Haussay estava atac ocar-se em dúvida a solidez das curas apenas para evitar um
rfeita. Na idade de
as partes do corpo por uma paralisia impe
embriaguez. Eu O - tratamento sério da questão de sua existência; e contradição
40 anos, tinha a aparência da velhice e da quando se observa que a disputa sobre a solidez supõe neces-
cidade.
pus a andar direito, sem apoio e com viva - Sariamente a existência das curas que se lhe nega
dessas doen-
Para se fazer uma justa idéia da complicação Enquanto os sábios fizerem voto de uma tal incoerência
detalhes nos relatórios que
ças e das suas curas, é preciso ler os das
Os sintomas | de idéias, será impossível entendê-los ou segui-los
me deixaram os três doentes, e comparar s tomariam : - Reportemo-nos a arrazoados mais sólidos, atribuindo por
doenças com os sintomas das curas. Estas peça
a seguir a estes escritos alguns instantes às cabeças acadêmicas e societárias um pou
muito espaço aqui. Serão encontradas
ros 1,2€e3. menos de agilidade e um pouco mais de amor do que eles éêm
sob a forma de peças justificativas núme
ados dentre outros.. é Da a ponhamos que, em consequência de nossa
Foram impressos apenas estes certific , as corporações se tivessem mudado para a
as e sem exame!
Qual! Sempre o odioso julgamento sem prov cidade
cid; de Creteil1 para se comportarem com a digni
aque les que lhes de- dignidad. e
Sempre esse desonesto ataque gra ito verdade das quais deveriam ser zelosas.
Que pensar dos se- ce
ram dedicação ao menos tanto quanto EU.
lheiro du Haussay Os deputados, pessoas bem elevadas, não teriam certa-
nhores de la Malmaison, de Berny e do cava mente aderido à pretensão de dizer ou de fazer gentilezas.
hum interesse, uma
se todos os três tivessem feito, sem nen
104 —
Nota de Mesmer: Como se vê, passo por cima dessa alegação. Entretan-
me fez suprimir o nome das
102 Nota de Mesmer: O gênero da doença o não estou convencido da sua veracidade. No ano passado, entendi po
ce segurar muito positivamente que a senhora Malmaison não anda
.. ,

nhorita L***.

uma pessoa pobre nada é. Quat -Tia


E mais, Na véspera, o senhor d'Eslon lhe havia
avia da dado o braço em
103 Nota de Mesmer: Na França, a cura de conde: quatro. )
em Paris.
senhora Berny tornaria a ficar cega, mas compreendi
ês ou a de um
curas burguesas não valem a de um marqu “que see atribuía
uês equiv alem apena s à de um duque. E quatro curas atr aos efeitos do m eu tratamento os incômodos
inc surgidos
surgi
ras de um marq
de um príncipe. Que contra depois, não sem o aval dos maiores médicos da capital. Quanto ecos
um duque nada serão diante daquela
acred itei mere cer à atenção do mundo 3
--uhor cavalheiro du Haus say, assegurou-me que havia
com as minhas idéias, eu que . grande número de médicos depois de eu não vê-lo
curar senão cães. o 7 ocurado a
teiro quando na verdade não consegui
388 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO
MAGNETISMO 389
Podemos supor que eles teriam
interrogado os doenté
com decência e discrição: o que Nós reconhecemos, podemos dizer-lhe, que seu agente
não impede que o médico
aprofunde no conhecimento dos tem sobre o corpo animal uma ação sensível, e que essa ação é
detalhes essenciais. :
Eles teriam encorajado e não insu meio de cura e de alívio equivalentes. Seus efeitos são da
ltado o reduzido núm mais alta importância. Nós temos o dever de reconhecer, e
ro de meus doentes que, por infe
rioridade de posição, teri entiremos uma verdadeira satisfação em publicá-lo. Entre-
ficado intimidados diante deles.
' E anto, restam ainda algumas dúvidas.
Examinando com atenção e imparc
ialidade o estado dos A que grau está seguro da eficácia de seu agente? Onde ela
doentes sob seus olhos, eles teriam
por objetivo comparar, con é omeça? Onde ela termina?
uma igual atenção e uma igual imp
arcialidade, o estado das
mesmas doenças anteriormente " Não acredita que suas curas são apenas aparentes ou mo-
constatadas pelos médicos.
Ponderados diálogos com os doe “mentâneas?
ntes teriam servido para
estabelecer a derradeira opinião - Pressionando a natureza a usar todos os seus recúrsos,
sobre a eficácia dos meus pro:
cedimentos. como parece acontecer, não poderá ser que disto resulte a
Os arrazoados aprofundados, os destruição da adaptabilidade de seus recursos a ponto de pro-
simples pareceres, a inge: porcionar só a total destruição em face da perspectiva da me-
nuidade, o próprio entusiasmo das
pessoas questionadas teriam nor recaída, do menor incômodo?
fornecido muitos pontos de comparação adequados
belecer um julgamento definitivo sobr para esta Eis o que eu teria achado dever responder:
e a questão proposta.
À uniformidade e a simplicidade Se eu tivesse obtido de minha descoberta apenas uma
dos testemunhos teria
dado a certeza de que os alívios obti ação sensível sobre os corpos animados, ela ofereceria à física
dos não seriam devidos à
quaisquer dos medicamentos conhec um de seus fenômenos curiosos e extraordinários e necessita
idos até o presente.
Então os deputados, bem conven ria atenção muito séria, pelo menos até que fosse reconhecida
cidos da existência de por experiências exatas, multiplicadas, e refeitas em todos os
uma verdade mui to importante, não teriam colocado
quer dificuldade em lhe render uma qual- sentidos, mesmo que não houvesse nenhuma vantagem real a '
correta homenagem. se esperar. o.
Retornando às suas corporações,
eles teriam feito, sem Hoje, esta última suposição seria
exageros, mas com exatidão, o inadmissível, porque
relatório daquilo que teriam - está provado que a ação do magnetismo
visto e entendido. animal é um meio de
Eles teriam concluído pelo fato de que - alívio e de cura das doenças. Apenas a indiferença sobre um
gligenciadas nenhuma
não hav iam sido ne- - fato dessa natureza seria um fenômeno mais inconcebível do
das medidas apropriadas para segu que própria descoberta.
prontamente fazer fruir para a humani ra e
dade vantagens evidentes, Os dados que tenho obtido sobre a
, Às duas corporações teriam ado eficácia do magnetis-
tado esses pontos de vista, mo animal são muito satisfatórios. Em geral, ele deve levar a
não só por palavras
, mas também por fatos.
bom termo a cura de todas as doenças, contanto que os refor-
A confiança assim estabelecida entr
e as duas corporações ços da natureza não estejam inteiramente esgotados, e que a
pressões sobre a paciência esteja ao lado do remédio, porque está a cargo da na-
natureza da descoberta.
tureza restabelecer lentamente o que foi minado lentamente.
390 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO
DOS FATOS RELATIVOS
AO MAGNETISMO - 391
Não importa o que o homem deseje ou faça
na sua impaciên- vísceras não
cia: poucas são as doenças de um ano que se curam será verdadeira
num dia.!os
Os efeitos que eu produzi indicam-me muito prontament a obstrução que a ocasio mente curada se não for removida
nou,
e muito seguramente os sucessos que devo esper e Uma tal cura será Segu
ar. Entretanto, ramente perfeita. Entret
não desejo a infalibilidade. Pode me acontecer poderia não parecer na anto tal
de calcular mal seglência se a doença
as forças da natureza. Eu posso esperar muito e não de acordo com a inclin se dissimulasse
esperar q ação que a natureza
suficiente. O melhor é ensaiar sempre, porque, tempo, ou talvez pelo tivesse por algum
quando não ob- testo da vida, em direçã
tenho êxito, provo pelo menos a consolação de o ao curso ino-
tornar o apare-
lho da morte menos horrível e menos intolerável.
O magnetismo animal não curará certamente aquel saparecidos de novo
e que voltarem sucessivamen
sentiráo retorno de suas forças apenas para se voltar cura não ter parecido me te e, entretanto a
para no- nos real.
vos excessos. Antes de todas as coisas, é indis O Conhecimento deste
pensável que o último Perigo sempre me
doente deseje ser curado. 108 levou a
Uma cura sólida depõe mais em favor da solidez
das curas
pelo magnetismo animal do que dez recaídas poderiam para Provar sua saúde,
depor seja para a manutenção
contra; porque uma recaída não prova que a doenç má-la, se fosse o caso. , seja para reafir-
a não tenha
sido curada, mas deve sempre restar a suspeita de Ás cau
que a doen- sas físicas deve-se
ça favoreceu ou provocou a recaída. morais. O orgulho, a inv juntar a influência
das causas
eja, a avareza, a ambiçã
Para curar verdadeiramente uma doença não o, todas as pai-
é suficiente
fazer desaparecer os sintomas visíveis: é preciso veis de doenças visíveis.
destruir a cau- Como curar radicalmen
sa.107 Por exemplo, a cegueira que provém do de causas sempre subsis te os efeitos
embaraço nas tenteg2108

105 Kardec corrobora a afirmação de Mesme


r afirmando que, quando a de-
generação material causada pela doença é mais terminada em suprimir
intensa, o tratamento os sintomas. Agindo ass
im, a medicina alopática
1
magnético é mais lento: “São extremamente ão contrário do que pre
variados os efeitos da ação: tende, torna a doença
fluídica sobre os doentes, de acordo com as Bi ao verdadeiro agente incurável por não se dir
circunstâncias. Algumas ve- . Allan Kardec esclar i-
zes é lenta e reclama tratamento prolongado Sua Causa original na ece: “Certas doenças
.” (KARDEC, A gênese, p alteração mesma dos têm
295) admitida pela ciência tecidos orgânicos. É a
até única
- Conhece as substâncias med hoje. E Como, para a remediar, até hoje só se
: ende a ação de um flu
ica mentosas tangíveis, a ciê
ido impalpável, tendo ncia não compre.
Entretanto, dí estão os a vontade como propul
curadores magnéticos, sor
rigido sobre o mal pela vontade do curador, ilusão.” (Revista Espíri para provar que não é
ou atraído pelo desejo ar. ta, 1862) uma
dente, pela confiança, numa palavra: pela 08 Com esta adrhirável e
fé do doente.” (KARDEC, 4 afirmação, Mesmer revelo
gênese, p. 316) E também: “A ação fluídica meraosas doenças, e seu u a causa moral de nu-
é poderosamente secundadá caráter Psicossomático.
pela confiança do enfermo, e Deus recompensa - este Conceito quando O espiritismo retoma
, frequentemente, a sú afirma: “Os males mai
fé pelo sucesso.” (KARDEC, Obras Póstumas). Atual homem cria pelos seus s numerosos são Os que
mente, o resgate: vícios, os que provêm o
desse conceito é de fundamental importância para ísmo, da sua ambição, da do seu orgulho, do seu
todo aquele que i sua cupidez, de ego-
Usa [...] da maior parte seus excess
com a saúde. das enfermidades.” (KA os em tudo. Aí a ca-
Entretanto, Mesmer não entontrou RDEC, A gênese p. 71)
, no magnetismo animal,
recursos
392 . FRANZ
ANTON ON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISM
O 393

Essas diversas considerações devem indicar suficiente-


: mente que a questão da solidez ou da não solidez das curas
brutal ou ciumento, nem de pelo magnetismo animal é mais complicada do que parece à
uma mulher rabugenta ou infiel,
nem de um pai ou de uma mãe
desnaturados, nem de filhos in- . primeira vista.
gratos, nem de inclinações infe
lizes, de vocações forçadas etc. Em que se baseia a crença de que o magnetismo animal
O funesto hábito dos .
- esgota os recursos da natureza? Não é mais do que presunção.
oporá obstáculos aos progresso Presunção por presunção, será mais razoável e mais consola-
s do magnetismo animal. Os
les aos quais nos entrega a sev ma-
era natureza não são nem tão dor pensar que a imitação da natureza, trabalhando para nossa
muns, nem tão longos nem tão co-
devastadores, nem tão resisten conservação, deve se orgulhar da sua benignidade.
tes quanto os males acumulado -
s sobre nossas cabeças por essa Embora minha experiência tenha provado para mim que
dependência, Um dia esta ver
dade será demonstrada, e a o magnetismo animal, nas mãos de um homem prudente, não
manidade me deverá a obriga hu-
ção. No entanto, é justo obs exporá jamais o doente a consegiências desagradáveis,
que se o magnetismo animal erv ar
cura algumas vezes de médica concordo que esta questão existe de fato, e só posso estar con-
mentos já tomados, ele não -
cura jamais daqueles tomados victo com conhecimento de causa por meio de experiências
seguida. As pessoas que, sai em
ndo de minha casa, lançam-se tão constantes quanto refletidas. Mas é precisamente por esta
impaciência ou superstiç por
ão aos remédios em uso, razão que só minha opinião pode ter algum peso a este respei-
duvidar que a eles são devidos não devem
os acidentes provocados. 09 to, até que a comunicação e o estudo aprofundado de minha
—"00 00 doutrina dê [a alguém] o direito de se crer tanto ou mais es-
para curar as doenças mora
is. Somente no século segu clarecido do que eu.
tismo, a educação seria inte, como espiri-
revelada como providencial na cura moral: * Se alguns leitores, após terem lido o que acabei de trans-
espiritismo, igualmente, pelo
bem que faz é que prova a sua mitir, imbuídos de uma atitude capaz de me objetar -- por mo-
videncial. Ele cura os males missão pro-
físicos, mas cura, sobretudo,
Tais e são esses os maiores
prodígios que lhe atestam
as doenças mo- tivo determinante e com a ajuda da sua incredulidade - que
(KARDEC, 1868, p. 327) E assi a procedência.” não curei algum de seus conhecidos, ou ainda que tal outro
m “À educação, convenientem
tendida, constitui a chave do ente en-
Progresso moral. Quando se
conhecer a
caiu doente ou morto após haver utilizado meus tratamentos,
qe de manejar Os caracteres,
como se conhece a de manejar eu me acharei no direito de lhe fazer sentir que nem o máagne-
as inteli-
plants novas.
,
” (KARDEC, 1857igi-, pesg GJgao MOdO que se aprumam
COnseguir-se-á
tismo animal nem eu curamos a raiva de falar sem reflexão so-
109 Diferentes causas exigem
diferentes processo
bre assuntos que a exigem ao máximo. |
clui práticas médicas perniciosas. s terapêuticos, mas isso ex-
tão gro
“Os defe nsor es da substância mórbida
sseiramente aceita deveriam
envergonhar-se de ter negligen
desconhecido tão irrefletidam ciado e
ente a natureza não material
[...] assim se rebaixando de nossa vida
à categoria de médicos-limpadores
, que, pelo seu

práticas médicas irracionais e


prejudiciais ao homem, porém
um futuro melhor; “A medicina profetizando
não pode compreender estas coisa al; donde os erros frequentemente funestos. A história descreverá um dia
não admitir, entre as causas que s, por
as determinam, senão o elemento certos tratamentos em uso no século 19, como se narram hoje certos proces-
materi-
sos de cura da Idade Média.” (KARDEC, 1862, p. 110)
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS
RELATIVOS AO MAGNET
ISMO 395

Na França, tornei-me obj


eto de risos entregue à tur
acadêmica. ba
Só no restante da Europa meu
mas vezes a abóbada dos tem nome chegou a tocar algu-
plos elevados às ciências, por
o foi só para serrepelido com desprezo. ém
Felizmente, não passo necess
idades. A fortuna, secundan-
do meu coração ativo, impede
que dependam da humanidad
minha fome e minha sede, e
Foi justa a fortuna, porque
desgraça, o precioso segredo se, por
que me confiou a natureza
se caído em mãos necessita tives-
RELAÇÕES DIVERSAS DE AGOSTO das, ela teria corrido grande
gos. Os ecos infiéis das ciê
ncias falam sempre sobre
s peri-
entusiasmo dos encorajament tom de
DE 1778 A SETEMBRO DE 1780 dizem de que vil dependênc
os dados às ciências. Mas
nada
ia são os meios 110

Na época de minha ruptura com a Academia de Ciências


ea Sociedade Real, sai de Creteil e fui a Paris. Continuei atra mas eu não o serei jam
ais, nem desejo jamais sê-lo ,
tar de quatro de meus pacientes, tanto por consi leração às de pequenos importantes, de uma corja
que conhecem o valor da
suas pessoas quanto por humanidade eo desejo de não rom apenas pelo pre ço infame que lhe custou par proteção
inteiramente o fio de minhas atividades, mas evitei cuidadosa | a adquiri-la,
Porém, mais isolado em Par
mente a grande publicidade desses tratamentos. is do que se não conhecess
ninguém, lancei os olhos em e
torno de mim para descobrir
Resumindo minha situação, desejo apenas falar de meus não poderia me apoiar em algum homem nascido para a se
trabalhos, de minhas complacências e de minhas penas. Res- de. Céus! Que vasta solidão! verda-
Que deserto Povoado por ser
tarme-á o testemunho de minha consciência. E apenas isso. | inanimados para o bem! es
Eu havia multiplicado as experiências para provar aação
do magnetismo animal, e no entanto não pude fazer Teco e-
cer a ação do magnetismo animal. = 100 poder econômico agir
ia de forma mais perniciosa
seguintes, principalmente ainda nos séculos
Eu havia imaginado um número muito considerável de a no sécu
degradação dh homem de ciên lo 20. Em seu artigo “A respeito da
tamentos para provar que o magnetismo animal é um meio de, cia”, afirmou Einstein: “A con
centração
cura das doenças mais inveteradas, e no entanto não consegui;
fazer reconhecer que o magnetismo animal é um meio de cura.
- foi a ação de impérios financei
Minha profissão de médico me havia dado outrora e “ 20, O magnata do petróleo
ros norte-americanos no iníc
io do século
Viena alguma consideração. Minha descoberta me havia pos John D. Rockefeller II investiu
indústria farmacêutica. O ensi na criação da
no maior descrédito. no da medicina alopática foi pad
ronizado,

394
396 FRANZ ANTON Mi ESMI
ER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS ADO MAGNETISMO 397

ai numa insegurança exc


C 4
4

essiva, Vi bem que não



,

devia Este título comum de presidente da Sociedade Real era


E: desdenhado abertamente pelo senhor Lieutaud, e respeitado
A medicina é livre na França Elas E politicamente pelo senhor De Lassonne. Segue-se que minha
malgrado os assaltos frequentes pu u e du ptém nesse estado discussão com a Sociedade Real era objeto de alegria para o
tem sido desferidos pelos primeiros nad á gos séculos lhe “primeiro e devia ser um pecado grave aos olhos do segundo.
ça, onde tudo respira a prote ção e crédit Cos do rei. Na Fran- - Osenhor Lieutaud me recebeu com a afabilidade devida
dito dos primeiros médicos do rei nã º E proteção e o cré- ao seu caráter terno, o que sempre conservou a meu respeito.
barreiras Opostas às vias ilegítimas de á Pu eram franquear as SM Pois eu o vi várias vezes depois, mas senti grande decepção ao
peitados na medicina, mas eis tudo: leo NAÇÃO Eles são res- É. reconhecer que ele era muito inclinado a não mais confiar no
res. Seria algo para mim, que d * eles não são seus senho- que havia acreditado anteriormente e, por outro lado, a se dei-
» Que, desejoso de sua benevolência, xar convencer daquilo que jamais havia acreditado.
nho co de Primeiro-médico Duas visitas ao senhor de Lassonne me convenceram
do rei era ocupado pelo
A eutau + morto depois. O senhor se- plenamente de que ele não levava em consideração minha pes-
aeb tuto, Possuía outro tít Las son ne 3
ulo honorífico de primeiro-méd seu soa e minha descoberta, a não ser quando circunstâncias, para
a. Os eram membros da Academ ico mim impossíveis de calcular, libertavam-no de julgamentos
os dois, presidentes da Soc ; de Ciêi nci
mia preestabelecidos.
iedade Real de Medicina
esse Eu não direi quanto vi, pesquisei ou colhi dos sábios de to-
0
-—" DD.
das as ordens durante minha permanência na França: o núme-
Hg | pinsteim, o renomado
cientista, retomou o tema: ro é bastante considerável.
Cam à ciência, mas não todo
s o fazem por amor
Dizem que as mulheres são superficiais. Pois eu enumera-
ria facilmente mulheres que me espantaram com perguntas
cheias de justeza e de razão, e teria dificuldade em citar um
número elevado de sábios cuja conversação tenha correspon-
dido ao que eu esperava de suas luzes.
pertencem às categorias mencionadas Anteciparei a ordem cronológica desta narrativa para que
quase vazio, Poucos fiéis restariam, se possa ver que me levanto contra a frivolidade, o desleixo, a
alpy
dao» (cf. prólogo em Max , alguns dos velhos t
nossos dias, Planck. Adonde va a Ci
nos Aires: Editora Losada, 1941)
> arrogância e a má-fé dos sábios, mas estou pronto também a
iência? Bue- reconhecer o mérito verdadeiro onde quer que se encontre.
112Joseph Lieutaud
tau nasceu e m 1703. Sobrinho do botânic
Pi Lá pelo mês de agosto ou de setembro último (1780),
da go-se
public qeiasprimeiro-
73), médico do rei Luís 16 em 1774, Sóciode Ane!
Presidente da Sociedade amigos comuns me fizeram encontrar o senhor Bailly. Todos
Real de Medicina (1
776),
OS trabalhos propondo uma medici i : diziam como na sua História da astronomia e em suas pesqui-
6caz,de Fez important i Jnedicina mais prática e efi- '
dezembro de es BO, em anatomia. Morreu em Versalhes, em sas sobre os atlantes esse sábio falou às ciências com a lingua-
113 Joseph Marie Francois de
gem do gênio e com dignidade, profundidade e amabilidade.
)
çois de Lassonne (1717-1788) foi ctaal:
e e também presidente da Sociedade Real de et Acreditava-se entender o senhor Buffon falando dos céus
a idealizado-
Azyr era secretário perpétuo. « da qual Vicg como ele falou da terra.
398 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HisTÓRICO DOS FATO
S RELATIVOS AQ MAGNETISM
O | 399
Eu vi no senhor Bailly um homem honesto e amável, sim-
ples e solícito, mais pronto a escutar o que não sabia são do senhor Bailly muito:
do que a vivamente, até o ponto em
fazer valer o que sabia. Eu não estava acostumado a essa aquele achou melhor ficar em que
ma- silêncio. Eu não pretendo reba
neira. Em lugar de falar da sua convicção pessoal como da Xar os talentos do senhor Lal i-
coi- ande, nem questionar o quanto
sa mais importante, em lugar de fazer depender de seu opinião pública considera o a
aval a seu mérito, mas espero que
convicção do mundo inteiro, ele falou modestamente dos con-
seus necessariamente mal quando
conhecimentos, do temor que sentia de não ter apreen se chega a dispensar o respeito
dido em relação a um confrade com
bem o sentido ou o fão de minhas idéias, e da esperança de o o senhor Bailly.us
me-
lhor se instruir quando as circunstâncias permitissem, Remetamos o leitor aos tempos que se
de bus- seguiram à minha
car mais amplas luzes. O senhor Bailly, quem o creria! ruptura com a Academia de
O se- Ciências e a Sociedade Real
nhor Bailly não exigiu que eu o convencesse, por experi Medicina de Paris. de
ências,
que a natureza pudesse saber mais do que ele.
Não foi apenas diante de mim que o senhor Bailly
se ex- [00
=
plicou com sabedoria sobre o que me concerne. Falou
um dia balhos estão Traité d'astronomie
(1764); Histoire céleste français
de mim na Academia de Ciências num tom pouco convincen- (1801), inclusive um catálogo de
te. O senhor Bailly acreditou poder fazê-lo um tanto mais de 47 mil estrelas; Bibliogr e
astronomique (1802). aphie
mais con-
venientemente dizendo que ele não havia seguido por si
pró-
prio nenhuma de minhas atuações, mas que ele acreditava
ser
certo que uma senhora conhecida havia encontrado por
meus
tratamentos o calor de que uma de suas pernas estava
privada
desde há muito tempo a ponto de exigir em pleno
inverno
grandes precauções para aquecê-la. Este fato não provav
a, se- não seria na França. Eu tenho a
gundo o senhor Bailly, que o magnetismo animal minha pátria. A senhora C*** cheg
seria um re- minha casa paralítica das partes ou à
médio universal, mas provava a existência de uma inferiores do corpo, em seguida
descoberta Bo depósito leitoso. Sobre o €xpo
sto, eu me recusei a cuidar
a um anti-
qualquer à qual era importante prestar atençã sei me defender de solicitações dela, mas
o. que pressionam. Apliquei pronta não
Este sábio tem na Academia de Ciências um confra calor natural às partes que esta mente
vam
astronomia, que fez, sem dúvida, profissão em não
de em tratamento não responderam com dele privadas, mas as sequências do
acreditar o no começa, e suspeitei de que
viam me contado tudo. Obtive não ha-
facilmente. O senhor Lalande!!4 levantou-se contra algumas informações, e me asse
a preten- senhora C*** havia sentido desd
e a tenra infância uma grande
gurei que a
nas partes tornadas impotentes, fraqueza
de sorte que eu trabalhava não
mal inveterado, mas sim sobre um mal de nascença sobre um
1 4 Joseph Jérôme le François Lalande (1732-1807) é o anos de vida) Reconheci então que meu , e que já contava 40
mais famoso astrô- s cuid ados deve riam operar pouca
nomo francês em sua época. Nascido em Bourg-en-Bre eficácia. No entanto, continue
sse (cidade em ia dá-l
que Allan Kardec viveu sua infância), foi, por causa de
uma pesquisa, “eu poderia fazer-lhe bem, ena espe os à senhora C*** na certeza de que
com apenas 19 anos, admitido na Academia de Ciências rança de que o governo, vindo em
de Berlim. Em' meu
1760, tornou-se o professor de astronomia no Collêg
e de France, per-
manecendo no posto durante 46 anos. Em 1768
tornou-se diretor do
Observatório de Paris. O Lalande Prix, estabelecido
por ele em 1802,
oferecido todo ano ao mais útil trabalho em astronomia.
Entre seus tra
400 FRÁNZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNE
TISMO 401
No mês de setembro de
tirado, denegrido, di 1778, eu estava abando
famado por tudo que nado, A ncias prometi a mim mesmo não mais dar espetáculo
se referi dessa
aneira. Foi assim que realizei tratamentos de doenç
das minhas primseiras-rol: qutao—————+—s2EMenie aqu as para
VERNCiFICHTO Ce PESSOAS QUê Não Querem ser conve
Eu disse que o senhor TEslon ncidas,
é membro da Faculdade. ibora minhas relações com a Academia de Ciências
Medicina de Paris, e a So-
e primeiro-médico Ciedade Real me tenham feito conhecer desgostos
regular do conde d ligados a
este gênero de complacência. Enfim, foi assim que, após
ter
renunciado a todo engajamento muito formal com
as compa-
Nhias de sábios, fiz todavia grandes esforços para me
ligar pelo
ngajamento mais formal à Faculdade de Medicina
de Paris.
Passarem-se alguns meses antes que o senhor d'Eslon
firmez
Ê a, publica sem cal e eu
or € sem ostentação... -ficássemos perfeitamente de acordo sobre nossos
não: tenho sacrificado Eu me conte- | fatos. Nesse
minha vida para a fel ínterim, ele falou diversas vezes sobre minha desco
nidade, e não adquiri icidade da huma- berta nas
ainda o direito de lhe assembléias da Faculdade, procurando acostumar
meu amigo. fazer o elogio de : seus confra-
des a tratar seriamente uma questão que os clamores
,
O senhor d'Eslon referi. da Aca-
demia de Ciências e da Sociedade Real haviam
bre o magnetismo animal u-se em seu livro Observações so. - ridicularizado.
De meu lado, eu preparava minha Memória sobre a
à ocasião, ao começo e descoberta
de nossa ligação. A ve às segiências do magnetismo animal. No momento correto, acredi
rdade que eu transmit tei dever
em meus relatos, ele te o de
m a arte de apresentá-la forma bruta. autorizar o senhor d'Eslon a livremente fazer as negociaçõe
s
mais fiel aos pendores de uma forma que o plano convencionado entre nós exigia. Eis
de seu coração. a carta osten-
* Seria inútil insistir sobre as dif siva que lhe escrevi:
existem entre o senhor erenças de opinião que
d'Eslon eeu. Fui contra
que ele achava Tazoáveis as Proposições
, mas também me esc “Senhor Mesmer ao senhor d'Eslon
tar outras que ele inut usei de conside-
ilmente me havia sol “Paris, 30 de março de 1779
É assim que estou ain icitado,
da na França, eu que “O senhor me fez acreditar, após a leitura da Memó
permanecer senão
poucos meses; é ass não pretendia ria
para os sábios, eu que im que fiz experiênci que lhe apresentei, desejar saber quais eram minhas
após minha aventura as intenções
na Academia de subsequentes. Eu já lhe disse, mas como elas podem
ter-lhe
= escapado na rapidez de uma breve conversação, permi
ti-me
116Charles Nicolas d'Eslon (1750-1786), Primei
transmiti-las aqui com mais precisão.
d'Artois, E da princesa de ro-médico
do conde
Lam bal le, 1 do dO Priprínnci
ci pe de “Eu tornarei esta Memória pública em Paris e em
Bou
rbon e de Lafayette.
Escreveu Observação
Condé, do d todos os
mal (Paris: Didor, sobre omagnetismo ai locais onde o erro e os prejulgamentos foram divulgados
1780). D'Eslon adquir sobre
magnetismo animal com iu convicção da eficác minha doutrina e minha pessoa. Mas, antes de assim
o tratamento por ter
sido ele mesmo curado
ia do proceder,
por desejo fazer uma homenagem particular à Faculdade
7 2 Conde d'Artois (15
de Medi-
35-1 855) era oirmão mai cina de Paris pela mediação de vários de seus membr
uís 17. Nasceu no pal s velho dos reis Luís 16e os. Estes
ácio de Versalhes: Foi
coroado rei de França
senhores reconheceram facilmente, à simples leitura da
1824, como Carlos 10º, em
na catedral de Reims, Memória, que meus Princípios nada têm em
e reinou até 1830. comum com os
402 RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 403
FRANZ ANTON MESMER

específicos rotineiros e as produções Extrato da Memória sobre a descoberta do Magnetismo


do empirismo.!is
Animal
como não duvido, tão imbuídos eles estão, como o senhor [Mesmer incluiu um resumo de sua primeira obra, inclusi-
parece-estar, do desejo de ver o desenvolvimento de minha te. ve as vinte e sete proposições. Como a reprodução foi textual,
ria, e de serem os seus propagadores, acredito que eles gost ele pode ser lido em Memória sobré d descoberta do magne-
riam de me indicar os meios que lhes parecem os mais própri tismo animal. Em seguida, ele concluiu:]
para atingir este importante objetivo, para lhes testemun “Se qualquer uma dessas asserções, sobre as quais mante-
nho minha observação constante, após 12 anos, deixar alguma
meu zelo em secundar suas opiniões. Assegure-lhes antecipas:
dúvida, eu entendo facilmente, frente aos princípios expostos
damente, eu lhe peço, das minhas disposições no que me p ó e aos conhecimentos estabelecidos, que meu sistema deve pa-
ponho a fazer, e tenha certeza dos sentimentos com os qu: recer, à primeira vista, sustentar a ilusão e não a pura verdade.
tenho a honra de ser etc.” Mas eu rogo às pessoas esclarecidas que afastem os prejulga-
mentos, e que suspendam temporariamente seu julgamento,
Quando esta Memória surgiu, os sábios a declararam i até que as circunstancias me permitam dar a meus princípios a
teligível. evidência de que são suscetíveis. Em relação aos homens que
Se fosse apenas a minha reputação de autor, eu cederi gemem nos sofrimentos e na desgraça, apenas pela insuficiên-
sem pesar essa débil vitória aos meus antagonistas, mas o inté cia dos meios conhecidos, é bem natural que se lhes inspire o
resse de minha descoberta se opõe a isso. Eu devo defender desejo e mesmo a espera de um reconhecimento dos mais
úteis.
meu livro porque os princípios verdadeiros que ele contém,
“Os médicos, como depositários da confiança pública no
embora profundos e mesmo abstratos, são apresentados com que tange mais de perto à conservação e à felicidade dos ho-
clareza e precisão. mens, são os únicos capazes, pelos conhecimentos essenciais
Meu livro é, concordo, ininteligível para aquele que pre- a seu estado, de bem julgar a importância da descoberta que
tende adivinhar o que não é, mas eu mantenho que nada há de venho anunciar e apresentar os frutos. Apenas eles, numa pa-
lavra, são capazes de pô-los em prática. Se esta pequena obra
obscuro para aquele que se contenta com aquilo que é. oferece dificuldades, deve-lhes ficar claro que elas são de na-
o Este escrito consiste em 88 páginas de impressão pe- tureza a serem aplainadas por um arrazoado com concurso da
ti-in-12. A narração das dificuldades que sofri na Alemanha, e experiência. Só ela dissipará as nuvens e colocará em dia esta
da qual já dei acima um resumo, ocupa três quartos do livro. o importante verdade: que a natureza oferece um meio univer-
sal de curar e de preservar os homens.”
quarto restante é consagrado à exposição da minha doutrina.
(Fim do extrato da Memória sobre a descoberta do mag-
Eu acreditaria ser difícil dizer mais coisa em menos pala- netismo animal.)
vras, e com essa crença espero não abusar da paciência dos
meus leitores colocando uma segunda vez meus princípios sob
suas vistas. Às pessoas que conhecem essa parte poderão, à sua Tal é o trecho que os sábios de Paris declararam ininteligí-
escolha, ou ignorá-la ou fazer uma segunda leitura. Aqueles que vel. Porém o senhor d'Eslon havia julgado diferentemente
não a conhecem, serão dispensados de recorrer ao original. quando convidou 12 de seus confrades para um jantar a fim de
eles presenciarem a leitura do meu manuscrito. Chegou o dia
convencionado. A leitura foi realizada antes do jantar. Eu pro-
pus fazer as experiências adequadas para provar a parte da mi-
118 Específicos eram os remédios empregados pelos médicos alopatas, uma nha doutrina suscetível a esse gênero de provas, num hospital.
mistura sem sentido de ingredientes, muitas vezes prejudiciais e, em al-
guns casos, causadores de efeitos letais.
Deixei esses senhores pouco após o repasto. No momento em
404 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AO MAGNETISMO 405

Ettansmitindo minha homenagem à sua corporação


; a outra
ontra a mais ordinária honestidade, não se digna
ndo a me dar
Te Estava por vir. In
utilmente, o senhor A inutilidade das minhas primeiras tentativas de
que seus colegas se di d'Eslon tentou impe contato
spersassem, emulti Com os médicos fez o senhor d'Eslon pensar que
Sos para provar
essa injustiça, O
plicou seus esfor seria indis-
mais fácil reunir os evento demonstr
médicos da Faculdad ou que é
e de Medicina de Pa.

mpreender tratamentos segundo sua convicção.


Porém, ele estava me pedindo aquilo com que eu
a carta Felativa, não acredi-
deixou Escapar a op tava ser impossível concordar. A lembrança dos
meter duas faltas ortuna Ocasião par
a co- acontecimen-
de uma só vez: um tos passados me desencorajava totalmente. O senhor
a Contra seu dever, d'Eslon
, não Dão. pretendia, ao contrário, que agir às claras era o único
meio de
destruir as interpretações errôneas acerca de traba
19 Nota de Mesmer
: :OOs doze médic Os lhos muito
ram os senhores Maj convidi ados pelo senhor pouco conhecidos.
ault, Borie, Bertrand, d”
dAreet Phelip, Lepreu Grandolas, Mal, A este modo de ver o caso, não faltava solidez. Eu
y, Sollier dela Romitt ET estava
senhores Sallin e d'A ais, Bacher e de Vill - preocupado por outro lado pela desconfiança sobre os
rcet não se apresenta iers. Os:
dendo Jantar Conosco, ram e o senhor Borie médi-
assistiu apenas à leitur não po- “TOS que se juntaram ao senhor d'Eslon, e eu não podia ter
ação. Minha proposição não a e esteve pre
foi acolhida sem dificu sente na delibe-
ne-
d'Eslon foi o único de ldades. O senhor -nhuma desconfiança. Porém, eu cedi.
opinião de que ela era
Grandelas, juntando- importante, até que Os senhores Bertrand, Mallo&t, e Sollier de la Romitt
se a ele, fez prevalece o senhor ais fo-
r Seu sentimento, enq
uanto o ram os médicos amigos da verdade que o senhor d'Eslo
n escolheu,
Foi-lhes apresentado um paralítico que havia perdi
do
toda a sensibilidade e todo o calor nas partes inferiores
do cor-
po. Em oito horas de tratamento, o calor e a sensibilid
e me propor juntos ade re-
fazê-la valorizar. Tra tornaram, e não foram perdidos depois. — “Calor e
deguir ema casa e aíÉ peatar Pacientes tava-se de a ele confiá-la de con- sensibili-
com gastos e ganhos dade não são curas, e podem ser devidos à natureza
cimento ao senhor comuns Em apenas”
ofereci para lhe tornar Bacher por sua bo; a vontade para comi disse, contudo, o senhor Mallo&t, prontamente repet
ido pelos
claro que ele se eng
coa gonna em “so
com a mesma facilidad
na anava se acr
E editavaa po deerr pôrÔ
pod seus dois ecos.
| uer. Não é o mesmo, e que teria com a um Um segundo paralítico de todo o lado direito chego
dis se-lhe usar o magnet espe
uma caii xa de pílulas. isi mo animal o , u à
. Eu insistia Nisniso so vivviu.
ame
” nte sem exitar Eui minha casa no dia 20 de janeiro, numa maca, lá permanec
até então que o senhor
Ba cher haviaia sese ini a endo
can
a te e negoci iniccia
i do em Pararis
i como até o dia 20 de março seguinte, tendo progressivament
ante de pílulas, e que
ele havia vendido sem
mo umumFabi
fabr,i- e reco-
remorsos ao go- brado o uso dos membros de modo a agir sem precisar
de qual-
quer auxílio. Este exemplo que causou na época grand
e im-
pressão no público, não causou nenhuma sobre os senho
res
Bertrand, Mallo&t e Sollier. Entretanto, o progresso
das mãos
r

406 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
407

lhes pareceu, segundo as regras da medicina, mais impressio- nasse de uma ou de outra maneira. Por seu lado, ele me pres-
nante do que aqueles do pé, mas só isso. sionou a agir para com seus confrades tão abertamente quanto
Uma senhorita jovem estava quase cega, tendo também eu agia com ele. Eis do que se tratava.
glândulas no seio. Seis semanas após sua entrada em minha A entrada ao salão onde estão os meus doentes é interdita
casa, ela via perfeitamente. O que disseram os doutores?: a toda pessoa inútil. Tanto eles quanto eu não devemos sofrer
Convenhamos que ela via, mas não era tão evidente que ela nem com incômodo pedante, nem com curiosos indiscretos,
não havia nunca enxergado. Ninguém se encontrava nos seus. nem com gargalhadas incivis.
olhos para assegurar que não se tratava de uma farsa. Essa im- O convívio do senhor d'Eslon conosco era natural: todos
pertinência me foi dita quase que dessa maneira. os dias ele me dava testemunhos inequívocos de sua obriga-
Um militar obstruído a ponto de não pensar senão na ção. Além de ser o médico de alguns de meus doentes, era
morte, segundo sua expressão, e então não pensava senão na também amigo de muitos. Trouxe para tratamento o maior
vida após um mês. O que os médicos concluíram?: Na realida- número de pacientes para a clínica, depois de mim, e não ces-
de, foi vista uma mudança real, e as evacuações pareceram es- sava de se comportar frente a todos com a familiaridade
pantosas, mas não seria preciso, para operar tais efeitos, mais
ho-
- nesta e graduada da verdadeira civilidade.
do que uma revolução da qual a natureza por si só seria capaz. Não se passava o mesmo com os senhores Bertrand, Mal-
Uma jovem dessecada pelas escrófulas já havia perdido um - Joêt e Sollier: não havia ditos agradáveis que os não irritas
se e
olho, o outro estava atacado por uma hérnia e coberto de úlceras. desagradasse. Sua importante gravidade era ridícula, e suas
Seis semanas após, essa pessoa havia adquirido carne, via perfei- suspeitas injuriosas, do mesmo modo que seus questionamen-
tamente de seu olho claro e os tumores escrofulosos haviam di- tos, eram chocantes, e seus olhares incomodativos. Juntando
minuído consideravelmente.: Onde está a prova que a natureza à
essas considerações sumárias a prevista inutilidade de seus
foi ajudada em tudo isso pelo magnetismo animal? Existem tan- - exames, será que vários doentes deviam achar desagradável
tos recursos na idade desta jovem, concluíram os doutores. sujeitar-se a eles. !22
Eu poderia citar uma série de casos parecidos, mas cada
exemplo me obrigaria a atribuir aos meus trêsAristarcos!20 as cé-
lebres palavras do salmista: Oculos habent et non videbunt."1 - 122 Nota de Mesmer: O senhor conde de La-Touche Treville, tenen-
te-general das armadas do rei, e comandante da Ordem Militar
Estas fatigantes cenas foram repetidas a cada 15 dias duran- de São
Luís, tendo-me autorizado várias vezes citá-lo quando eu achasse
te sete meses consecutivos. Neste longo intervalo, eu fui muitas conve-
niente, agora farei uso de sua permissão para dar um exempl
o das com-
vezes testemunha dos inúteis incômodos a que se submeteu o se- placências com as quais meus doentes têm se submetido para conven
cer
nhor d'Eslon para fazer com que seus confrades compreendes- os senhores Bertrand, Malloêt e Sollier. O senhor d'Eslon referiu
-se à
sem que deviam à verdade uma homenagem desinteressada. doença desse'oficial nas suas Observações sobre o magnetismo animal,
p.
83 e seguintes, sob o título Contragolpe à cabeça. Pode-se recorre
Eu não estava satisfeito: pedi seriamente ao senhor: r ao
seu livro para os detalhes. É suficiente referir-se aqui que o golpe
era iá
e AmtBo, Que Os remédios utilizados não
|. 4 4 s1 . a

haviam produzido nenhum alívio,


que eu procurei até a cura total o escoamento pelo nariz do
depósito fi-
xado atrás da cabeça, e que o doente não rnais se ressentiu
deste aciden-
te. Quando os senhores Bertrand, Malloêt e Sollier chegaram à
120 Chama-se de Aristarco aquele que é um crítico severo, censor. minha
- casa, o senhor de Treville tivera, assim como os demais
doentes, a com-
121 Mesmer se refere ao Salmo 135,16: “têm olhos, e não vêem”. placência de deixar por sua vez seu tratamento para prestar
contas dos
408 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
409

senhores entrassem ou nãoas entr


assem na sala de meus trata
mentos, mas me é custoso ter
essa deferência para com pe tem dificuldades nz a decidir
6d capazesTE TEpatEar Tão indignamente a verdade
em qual caso as-euras- são-dess
as à medicina, e em quais casos elas são devidas à natureza,
dermandaram experiências feitas a partir daquele momento, e
des não se queixassem de pretensas com muito pouco tempo de preparação, a fim de que a ação
predileções, eu o deixei li: do magnetismo animal pudesse ser reconhecida ou invalidada.
vre para agir à sua vontade, após ter-
lhe assegurado, todavia, Médicos sábios fazerem surgir tais dificuldades após sete
que eu não acreditava de modo algu
m que pudesse esperar meses de exames! À coisa estava muito ridícula para ser consi-
bons efeitos dessa minha concordância.
érada como ofensiva, porém não me fiz pressionar. Não con-
Vinha ao senhor d'Eslon e a mim ficarmos furiosos, por que se
ficante através das paredes de um vidr esses senhores não se decidissem depois disso, nós poderia-
o branço inflamou'os se- : mos dispensá-los sem nenhuma formalidade.
nhores Bertrand, Malloét e Sollier
pelo interesse de minha Escolhido o dia para as experiências, determinou-se de
descoberta, mas eles caíram em si quan
do se aperceberam de “Comum acordo que, para evitar qualquer idéia de conluio,
uma espécie de tina!23 montada sobre
três pés, recoberta, e de “Cada médico trataria dos doentes em número de três, totali-
onde saiam algumas varas de ferro
recurvadas de maneira a “zando 12,
aplicar as extremidades, Seja na cabeça,
seja no peito, seja no.
estômago, seja no ventre e que se apli Os senhores Bertrand, Malloét e Sollier não faltaram ao er
cava ao mesmo tempo
em pessoas sentadas em torno da tina. contro, mas, fiéis a seus princípios, reservaram-se o direito de
Os senhores Bertrand, Malloêt e Solli trazerem os seus doentes. Fomos reduzidos àqueles que o senhor
er haviam reconhe- d'Eslon procurou assim que estava engajado nessa tarefa.
cido muito recentemente a obrigação
de um aval claro e preci-
so sobre a verdade para não sentir algu Os senhores Bertrand, Malloet e Sollier têm constante-
m embaraço e não pas-.
mente agido da mesma maneira. Cada vez que o senhor
d'Eslon os pressionava para que me dessem doentes cujo esta-
efeitos seguidos que ele proporcionou, do lhes eram anteriormente conhecido, eles concordavam que
e seu lenço, cheio de pus e de
sangue, veio em apoio à sua declaração
concordou plenamente que ele havia
. O senhor de La Touche-Treville de fato esse era um meio inequívoco de se assegurar que as
sido curado por mim, na presença | doenças não eram supostas. No entanto, jamais me deram di-
dos senhores Bertrand, Mallo&t e Sollie
r. Estes negam, calam-se, atenu-
ando ou dando o fato como suspeito. retamente algum doente. Assim, acreditavam-se dispensados
De qual lado, crêem, está a
lealdade, leitores? É a vocês que dirijo
a questão, de se explicar com precisão sobre os efeitos curativos de meu
123 Aqui se descreve a baquet, que é método, e se reservaram o direito de pôr em dúvida a necessi-
uma pequena tina de madeira, com
água em seu interior, um artifício criad dade de doenças mais graves.
o por Mesmer para atender al-
guns pacientes ao mesmo tempo. Ele
tinha um grande número de paci- Não sei que vantagem eles esperam tirar destas precau-
entes para atender e encontrava-se sozin
ho. Mesmer sempre deixou cla-
ro a necessidade apenas circunstancial
de qualquer instrumento como o
ções, mas deverão concordar, espero, que eu conceda aos
descrito. O fundamental era que o médico conh doentes a capacidade necessária para decidir se sofrem ou não
filosófica de sua descoberta, poiso método ecesse a base cientifica e sofrem mais, se eles emagreceram, se engordaram, se estão
de aplicação seria fruto do
estudo e da pesquisa individual de cada
rnagnetizador, curados ou ainda doentes. É certo que não é necessário ser
410 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNE
TISMO 4

doutor na Faculdade de Medicina de Paris para saber julgar Terceira Experiência - feita na senhorita de Berla
tais coisas. ncourt
de Beauvais, 24 anos de idade, paralítica da meta
de do corpo.
Além dos três doentes que serviram às experiências, Um de seus olhos havia perdido a faculdade de ver,
0 outro es-
tomo por testemunhas da cena que vou descrever vários de tava muito dolorido. Ela tornava-se totalmente cega
meus doentes comuns: senhor Didier, filho, cirurgião conhe- por aces-
sos. As articulações da língua estavam tão comprome
tidas que
cido nesta capital; senhor Demanne, seu aluno; e senhor cava- somente as pessoas acostumadas a seu serviço
podiam adivi-
lheiro de Crussol, capitão das guardas do conde d'Artois, ir- nhar algumas de suas intenções: ela estava muda
mão do rei. para o resto
do mundo, ninguém a entendia. Esta situação era
excessiva-
mente agravada por uma dor na fronte tão terrív
Primeira Experiência — feita no senhor barão D' Andelau, el que essa in-
feliz senhorita esteve algumas vezes por 10 a 12
coronel comandante do Regimento de Nassau-Sarbruck. Ele é dias inteiros
num estado de infelicidade inexprimível. Algumas
frequentemente atormentado por ataques de asma. Eu anun- vezes os
acentos lamentosos de sua voz fizeram com que saíss
ciei que não o tocaria, a fim de provar que o tato imediato não em lágri-
mas dos olhos de vários de meus doentes, test
é necessário à ação do magnetismo anirnal. Fiquei distante de emunhas de
seus sofrimentos. Dirigi meu ferro para sua fronte
quatro a cinco passos, dirigi a vara de ferro!?4 que tinha em . A dor que
ela sentiu foi imediata: eu a deixei acalmar-se. No
mãos para seu peito e assim lhe fiz cessar a respiração. Ele te- intervalo,
ofereci-me para provar que o foco do mal não estav
ria caído desfalecido se eu não o tivesse amparado. Em acrés- a na cabe-
ça, mas sim nos hipocôndrios.!28 Em consegiiência,
cimo, ele assegurou sentir tão distintamente as correntes dirigi meu
“ferro para o hipocôndrio direito: a dor foi mais
opostas que operaram em si que começou a desenhar, com os súbita e mais
viva do que da primeira vez. Deixei que a doente
olhos fechados, cada movimento do meu ferro. Esta última se acalmasse
e, prognosticando que o verdadeiro princípio do
experiência de fato aconteceu, mas se lhe deu pouca atenção. | mal está no
baço, anunciei que se iria perceber a diferença dos
efeitos da
Segunda Experiência -- feita no senhor Verdun, homem minha ação. Apenas dirigi meu ferro para a víscera,
a senhorita
de negócios da senhora de Petineau, residindo em Paris, rua; de Berlancourt oscilou e caiu, com seus membros
palpitantes,
Richelieu, e no palácio real. Sua sorte é assaz deplorável. Ele é e dores excessivas. Eu a fiz transportar em segui
da, julgando
não ser oportuno levar mais longe a experiênci
sujeito a doenças nervosas, que começam por inflamação e. a, já que mais
terminam apenas com evacuações tardias. Estava saindo de. de um leitor me acusaria, talvez, de barbárie12?
.
uma dessas doenças. A direção do meu ferro lhe ocasionou :
tremores, calor no rosto, sufocação, suor e desfalecimento 126 Hipocôndrios é um termo da anatomia humana
que compreende cada
Em seguida caiu sobre um canapé.!25 uma das partes laterais do abdome, logo abaixo das falsas
costelas.
127 Nota de Mesmer: A senhorita de Berlancourt
me havia sido enviada
pelo senhor Didier, filho, sob o patrocínio do senhor
d'Eslon, que eu dis-
se ter estado presente em minhas experiências.
124 Mesmer fazia uso de uma vareta de ferro para direcionar a intenção Após essa época, à se.
Torta ce -BEriMCONNE SER ii meus tratamentos. Nada lembra hoje a
E ALT a D
ação do magnetismo animal. Esse instrumento tinha o mesmo significa:
do que a baquet (tina). Cumpria também a função de evitar o toque « pessoa infeliz que conheci: ela vê, fala e age com uma
vivacidade que vai
algumas vezes a ponto de nos alarmar, e que pensei
reto das mãos do magnetizador nos pacientes, mais especificamente as mesmo lhe ser fu-
nesta. Querida de todos nós, eu não a vejo senão como
mulheres, devido ao pudor da época. a uma pessoa à
“qualtive o prazer inexprimível de haver dado a vida
125 Espécie de sofá com a estrutura de madeira aparente. (guso me servir des-
sa expressão), cujo objetivo é o mais digno. Se as
circunstâncias me per-
+12 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 413

Quarta Experiência — feita no senhor cavalheiro


de Crus “Logo depois de nos livrarmos dos senhores Bertrand, Mal-
sol, vindo como testemunha, mas sujeito a incômodos
habi loét e Sollier, o senhor d'Eslon pôs mãos à obra nas suas
tuaís, às vezes manifestados por acessos de dores de ca Eca: hi UA caes-sebro-p-s4arnetisHo-strpual—
. sobra magnetismo-anima' l-E+ tet--settesz
+ is 1 pone e
bçe gitea
ia 15 dias. O senhor cavalheiro de Crussol havia me pedido desse livro: não está em mim julgá-lo, cumpre tal ta
tocasse, e eu lhe havia ocasionado no toque migos da humanidade que o lerem.
uma dor acompa - Esta obra serviu de elucidação aos críticos. Se eu escre-
nhada de calor
tão sensível que ele havia se engajado na
panhia para assegurar-se de poder ser atendido cons: Yesse apenas para Paris, ou mesmo para a França, teria a honra
. Essa dor nãô de entreter as pessoas às quais se recusa talentos e considera-
lhe era desconhecida. Ela ocorria muito freq
uentemente antes ção; mas, escrevendo indistintamente para todos os países, di-
de aparecer a dor de cabeça da qual já falei.
O senhor de Crus: rei apenas a pessoas estrangeiras o que se passa em Paris, po-
sol, desejando servir de paciente para uma
última experiência; : dendo imaginar que lhes oculto objeções valiosas.
fez-me ignorar essas particularidades e perg
untou se eu não '— É de se presumir que o senhor d'Horne estivesse instruí-
poderia experimentar fazer com que ele sentisse
as dores ha-
bituais sem estar prevenido do seu gênero. Pres do sobre a publicação próxima do livro do senhor d'Eslon, pois
tei-me a fazer
O ensaio: o resultado foi bom, isto é, no lançou, poucos dias antes, uma brochura contra mim sob o tá
sentido de que o se:
nhor de Crussol ganhou uma violenta dor de cabeça. tulo Resposta de um médico de Paris a um médico da provin-
concluiu que eu lhe havia feito um gran
Entã
o ele cia, sobre o pretenso magnetismo animal do senhor Mesmer.
de mal, e pediu-me
para retirá-la, se a coisa fosse possível. E era: - Este opúsculo é maravilhoso a meu ver, pois que em 16 pági-
achei justo Ii-
vrá-lo de seu mal antes que deixasse minha “nas in-12 contém absurdos e contradições suficientes para um
in-folio,130 | ,
Tais foram as experiências que não Repreende-me futilmente por ter deixado Viena, na Aus-
convenceram os se-
nhores Bertrand, Mallogt e Sollier. Eu me tria, em razão de desgostos que tive. De sua parte, o senhor
consolei ao saber
que o senhor d'Eslon me havia sustentado d'Horne não crê, sem dúvida, que se lhe possa perguntar se
sua palavra e que
esses senhores não teriam mais acesso à minh por acaso ele não deixou Metz, nos três bispados, em razão de
a casa.!28
desgostos que tenha sofrido.
mitem concluir sua cura, acreditar-me-ei no Segundo ele, meus doentes são pessoas crédulas, com
direito ao reconhecimento
da sociedade por lhe haver dado uma pessoa
coração e de espírito ao mais elevado grau.
que possui as qualidades de imaginações exaltadas, vaporosas, com espírito crédulo, tími-
Possa essa muito singela ho- das, e dignas de piedade. Ele não dispensa mínimos favores
menagem me fazer perdoar, pelas pessoas austeras, a
tomo de chamar como testemunha pública
liberd ade que aos partidários do meu método. Quanto a mim, sou pouco de-
uma senhorita cuja delicade-
za deveria poder ser preservada deste incôm
odo. licado, por nada dizer de mais, tenho o cúmulo de segurança,
128 Nota de Mesmer: Em seguida a essas experi
ências, eu tive a penosa con-
descendência de tratar do senhor Crussol em
sua casa. Seu nível e suas
qualidades pessoa
is o tornaram muito agradável à corte,
ele é muito bem esmer: O título desta obra diz: médico de Paris, porém não se
conhecido a fim de que cada um possa compa
rar o estado antigo da sua a desta palavra que o senhor d'Horne fosse médico de Paris.
saúde com aquela que possui depois de eu
ter começado a cuidar dele. Ele é médico não sei de onde,
Faço menção a essa circunstância para dar alguma satisf
petem sem cessar que meu método não pode
açãoaos que re- 130 In-12 designa as dobras de página de uma publicação de pequeno for-
operar curas sem se darem mato, um livro de bolso. Já in-folio é um grande formato, como um ál-
o menor trabalho de verificar se elas existem
ou não à sua volta. bum.
414 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AQ MAGNETISMO 415

por nada dizer a mais. Tenho destreza, tenho artifício, montei O senhor Paulet possui mais celebridade do que o senhor
d'Horne em medicina. Sabe-se, por tradição, que ele é autor
um teatro, faço meus exercícios, saio-me maravilhosamente
de um livro sobre a pequena varíola, e, além disso, é gazeteiro.
neste tipo de esgrima, sou um taumaturgo, meu vôo é auda-
cioso, sou um Prometeu, sou, enfim o operador Mesmer. Ele tomou conhecimento na sua gazeta da carta do senhor
d'Horne, e do livro do senhor d'Eslon. Ele censurou o primei-
Às pessoas que asseguram ter sentido por meus procedi-
ro por sua pretensão a arrazoar, evita cuidadosamente esta crí-
mentos impressões remarcáveis, o senhor d'Horne opõe habil- tica, faz historietas, cita versos, refere-se a canções. É a isto
mente às pessoas que asseguram nada terem sentido, donde
que o senhor Paulet chama ser gracioso.
ele conclui que ninguém nada sentiu.
No entanto, como não dissimula que sua gazeta só pode
No seu modo de ver, eu tenho o grande defeito de insi-
ser lida pelos estudantes, ele retirou aquilo que se refere a
nuar (não sei onde) que o princípio pelo qual opero prodígios
mim, fez imprimi-lo à parte e distribuiu exemplares de porta
reside em mim, como se fosse possível, diz o senhor d'Horne,
em porta, e por esse meio, algumas pessoas honestas foram
que emanasse continuamente de mim um princípio tão peri-
forçadas a lê-lo.
goso e que, se assim fosse, seria evidente que eu já estaria des-
truído, evaporado, morto. Se o senhor Paulet é gazeteiro, o senhor bacher é Jornalis-
ta. Ele tomou conhecimento, pelo seu triste jornal, do livro de
Não seria demais repetir: é sempre o senhor d'Horne que
senhor d'Eslon e de mim. O caminho que ele seguiu não dife-
fala — toda minha arte, toda minha charlatanice consiste talvez
riu daquele do senhor Paulet em que o senhor Paulet simula o
em aproveitar habilmente meios que me proporcionam uma
gracejo, e o senhor Bacher a gravidade. Por outro lado, ambos
imaginação exaltada, afoita e iludida. Donde resulta, por uma
são adeptos de tornar nossas expressões ridículas aproximan-
consequência sensível, que a influência dos astros nada faz
do o que deve ser afastado, dividindo o que deve estar num
para o meu princípio, e que peço emprestado a virtude de cor-
conjunto, truncando o que deve ser lido por inteiro etc.
pos estranhos.
Entretanto, como seria inoportuno se minha descoberta
não passasse de uma quimera, o senhor d'Horne encarrega-se 132 Doutor Jean Jacques Paulet (1740-1826), diretor da Faculdade de Me-
dicina de Paris. Diretor da Gazette de Santé, Journal des sciences médi-
de consolar o mundo, predizendo ao universo a vinda muito cales, periódico sobre medicina que em 1784 teria a sua direção assumi-
próxima de um grande homem, senhor Thouvenel.!3! Grande da pelo doutor Philippe Pinel (1745-1826), médico pioneiro no
médico, grande químico, e, sobretudo grande alquimista, la- tratamento dos doentes mentais. As obras de Paulet contestavam o
borioso e instruído. O senhor Thouvenel vai descobrir não só magnetismo animal: "Les miracles de Mesmer”, extraits de la Gazette de
um magnetismo animal mas ainda um magnetismo vegetal. santé, suivi de Réponse d'un médecin de Paris sur le prétendu magnétis-
me animal; Réponse à l'auteur des "Doutes d'un provincial" [Servan],
“Tendo comentado muito sobre o senhor d'Horne, serei * proposés A“MM. les Médecins-commissaires, chargés par le roi de
breve em relação ao senhor Paulet.!32 - Vexamen du magnérisme animal. Londres, 1785. Obras anônimas atri-
: buidas ao autor: L'Antimagnétisme, ou Origine, progrês, décadence, re-
E nouvellement et réfutation du mapnétisme animal. Londre 84:.e
Mesmer justifié. Constance, et se trouve à Paris, chez les Libraires qui
131 Pierre Thouvenel (1747-1815), médico de Luís 16, foi autor de uma
vendent les nouveautés, 1784. Suas obras foram utilizadas, principal-
tese que desacreditava a descoberta de Mesmer afirmando que o mente no século 19, por muitos pesquisadores de Mesmer e do magne-
magnetismo animal seria um fenômeno originário da eletricidade e do - tismo animal, sem levar em consideração sua posição de inimigo declara-
magnetismo mineral, do do mesmerismo.
416 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 417

Existem, todavia, três páginas úteis no


jornal do senho
Bacher. São elas, creio eu, as únicas desde sua nada dizer, identificando as pessoas somente por sua cor. Se,
fundação. Ei a cada procissão, a presença do senhor Mesmer produzisse
como ele aí revela grosseiramente o segr
edo do sistema. sensações dignas de nota, dores, movimentos e que a presen-
6 Eae e
ça dos Gutros assistentes não produzisse nenhum efeito,
como esse médico é o único que conhece o magnetismo ani-
O senhor d'Eslon confessou implicitamente mal, o único que sabe como agir, seríamos convencidos, com
médicos que foram admitidos para ver doênt que os três efeito, que ele possui a arte de agir sobre os corpos animados
es do senhó
Mesmer em sua casa, e que necessariamente sem tocá-los, sem que a imaginação dos doentes possa ser
os viram em di
erentes mome ntos, em diferentes circunstâncias, o suspeita de ser a causa de todos esses fenômenos; que numa
não acre:
palavra, fez agir um fluido qualquer, conhecido ou desconhe-
eles viram alguma Coisa, e que após seis cido, que existe em todos os animais, uma direção, um movi-
meses
incrédulos, não sobre os movimentos singu estavam ainda mento que ele dirige a seu gosto.
lares, bizarros é
violentos que executavam os doentes, nem Essa proposta pareceu desgostar, pelo menos não foi de
sobre as lamenta-
ções que eles sabiam provir das dores pronto aceita; em conseguência, os três doutores se retira-
agudas, é mesmo insu-
portáveis, mas sobre a causa desses movim ram, e deixaram o senhor d'Eslon como único espectador
entos, destas do- .
tes que o senhor Mesmer dizia serem das operações do senhor Mesmer. Eles não retornaram após
efeitos do seu
princípio. Após terem visto ser imposta esse momento. Nós conhecemos todos os três e somos teste-
uma prova das mais |
fortes a uma jovem da província, um deles propôs ao munhas de que se eles tivessem visto quaisquer curas verda-
d'Eslon fazer com que esta jovem servisse senhor
para dissipar todas deiramente operadas pelo magnetismo animal, não hesita-
suas dúvidas, riam em atestar. Mas guardaram silêncio.
Eis o meio que ele indicou. Que o senho
r Mesmer reunis-
se em sua sala, ou em outra que quises Ah! senhor Bacher! Que lhes fizeram os senhores Bertrand,
se, 24 pessoas, médi-
Cos € outros; que esta jovem tão suscet
ível às impressões do Malloêt e Sollier? Eles estão, por sua causa, cruelmente decaí-
magnetismo animal, fosse colocada num
todo mundo, que tivesse os olhos cober
ângulo isolada de dos na opinião pública, porque o senhor os acreditou capazes de
tos por uma banda, aceitar sua garantia sem protestar. Sua garantia! O senhor sonha
de sorte que nada pudesse ver, fosse o que fosse; que
se ob-
servasse o mais absoluto silêncio, que todos
os
então? Tenho certamente que me condoer desses senhores,
fossem diferenciados por uma fita ou outra sinal assistentes mas me reservo o direito de pedir ao Céu que jamais os insulte!
diferente para cada um; todos passariam,
ização de cor
parariam diante da jovem, fazendo ou não
um após outro, e. A ponto de exigir para eles a garantia do senhor Bacher!
os mesmos gestos,
ou gestos semelhantes àqueles que vimos
o senhor Mesmer
Eu juntaria algo à exposição do senhor Bacher, mas nada
fazer. Esta procissão se repetiria sempre
em silêncio, 18, 20 suprimiria. Eu afirmo sem dúvida que os fatos relatados são
ou 24 vezes; e o senhor Mesmer passaria por seu turno, verdadeiros, e não me sinto embaraçado em conciliar sua publi-
uma vez, por exemplo, na 5.*, na 2.º vez, mais
nem os demais tocariam na jovem, porque o
na 12.tetc, Nem ele cidade com o silêncio religioso que se atribui aos senhores Ber-
senhor Mesm er trand, Mallogt e Sollier, e do qual estão realmente afetados.
não a tocou para operar o que se passou
sob nossos olhos 133
Um dos assistentes, colocado num local No presente, deve haver plena convicção de que os senho-
de onde pudesse ver
tudo, faria um registro exato de tudo o
que aconteceu sem res Bertrand, Malloêt e Sollier viram algo na minha casa, que
viram meus doentes em diferentes ocasiões e em diferentes
133 Nota de Mesmer: Espero que o leitor
saiba observar bem o testemunho circunstâncias; que sua incredulidade não cedeu aos efeitos,
positivo,
que não somente se passou alguma coisa sob mas sim à causa; que uma jovem da província submeteu-se
nhores Bertrand, Mallo&t é Sollier; mas ainda os olhos dos se-
teceu sem que eu tocasse a jovem.
que o que eu operei acon- diante deles a uma prova das mais severas e que um dos médi-
cos (senhor Mallo&t) propôs fazer esta jovem submeter-se a
418 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HistTÓRICO DOS FATO
S RELATIVOS AQ MAGNETISM
O 419

iênc
eriência muito comp licada.
i agradeço, se nhor Ba-.
Eu apr o efeitos que ele, fenômenos
menos surpreendentes aind
cher! Jamais eu poderia obter esses avais diretamente dos duma circunstância em que
se tenha estabelecido a cormuni-
a,
nhores Bertrand, Malloêt e Sollier. . eve às im cabilidade do princípio. É, Port
anto, presunção não absurda
is im 24 médicos fazendo cada um
A rapariga da província, esta jovem, tão susc com o senhor Mesmer, e a 480 Por sua vez parceria
as pe reprises diferentes, travessu-
essões do magnetismo animal, não é outra a “ras sob o nariz de uma pessoa
da qual fossem tapados os
Berlancourt da qual já falei. Não lhe peço desc pas :Po s olhos, encontrar-se-á alguém que operaria efeitos sufi
para que o senhor Mesmer não cientes
vel que apenas citando as expressões da má compa diatamente; o que seria sufi
pudesse ser reconhecido ime-
teja muito longe de delas me apropriar Ie Berianoute os riência, ou o que seria 0 mes
ciente para fazer falhar a expe
-
mo, para torná-la improvável
experiên cias feitas
jênci j com a senhorita de Ss inadmissívei. e
sentoçes Andelau, de Crussol e Verdun o aum é
co
çãoã dos doutores acontec eu naà terça-fei - ra sé Parecia que o sen
hor Malloét não tinha como
bado. A delibera
i responder a
teve lug esses argumentos tão positi
guininte. A assembl éia dos qua tro médicos teve l u g a : ndo vos. No entanto ele resistiu
assaltos.Salvando-se à sua a esses
senhor Malloêt e ele propôs a bela experiência cujos de maneira por meio de se, mas
que. O senhor d'Eslon pediu que e por-
estão acima. O senhor d'Eslon respondeu | Já sobre se votasse. O senhor Ber-
trand escusou-se, por seu lado
— que uma tal demanda nãoão p podia ser fundada sen sobre , protestando que estava sati
feito. O senhor Sollier, ao contrá s-
suspeitas as mais injuriosas para ele, para mim, pará o enter rio, Pôs-se ao lado do senhor
Malloêt, unicamente para estar
Didier, filho, para os doentes que haviam see o en com a mesma opinião do se-
nhorMalloêt, pois não dissimulava
restar às experiências; suspeitas desprovidas de sado resp sua convicção.
Após ter exposto todos os Seus
to e notadamente que havia cabido apenas aos senho determinou a agradecer
meios, o senhor d'Eslon se
trand , Mallogt e Sollier trazer cada um doentes dos qu ais se : à estes senhores de minha par
“São, sem dúvida, agradeciment te.
sentissem seguros; os com toda a veracidade da
expressão, disse o sen
hor Mallo&t muito surpreso.
ue supondo na senhorita Berlancourt a força necessária ria de outro modo, respondeu Eu não agi-
para se submeter ao lastimável papel que pretenciam qa o senhor d'Eslon, e saiu.”
Eis a versão que o senhor Bacher anu
desempenhasse, nãoã estava nada aparente e q qu dizendo que os três doutores se nciou em seu jornal,
outra pessoa sensível quisesse se submeter, retiraram. Eis a versão que eu
anunciei, afirmando que os três
ú nte dirigir-se
— que seria inútil e inconsegie irigi a doente s me- doutores foram despedidos
sem formalidade.
Í
nos sensíveis ou mercenários, porque eles iam
seram necessari
eres
ao se nhor Malloét, ele que
* Quem pôde ditar aos senhores
i
mente suspeitos Bertrand, Mallo&t e Sollier
sua inocência, sua inconcebível
cos nos senhores Andelau, de Crussol etc. conduta? Que interesse os
onduziu à minha casa unicament
Enfim, o senhor d'Eslon fez ao senhor Malloêt uma obje: e para fazer o voto de silên-
E mais ofensivo a mim e o mais nocivo à
ção sem réplica: a os£: GET, POT verdade? Se eles vi-
QUE não concordaram? Não
Não somente, ele lhe disse, sua experiência pão de por qual crença indigna eles imagi-
desiludiram o público ameu
o senhor sabe que não ão p pode e . O O se se espeito. Que não se alegue que
Mesmer
Mesmer ali
afirma, O sen hor or não
n ã o ignora,
i o r a , que q ue a
a exstêne
existênci | , na ocasião, eles me despreza-
à cabeceira de seus doentes,
agnetismo
i animal
í nos c orpos animadoso p mas isso só aconteceu perto
s grandes colegas, nas suas soc
indivíduos a capacidade momentânea de operar os me iedades particulares, nas as-
420 FRANZ ANTON MESMER

sembléias de sua Faculdade. Num assunto importante:


como este, silêncio é crime, destratar pesadamente é infâmi
Por outro lado, eu diria a estes senhores, não estamos só
verdade e eu. Um de seus confrades, pelo qual muito certa
mente os senhores têm muito respeito, está junto a nós. O qui
responderam os senhores às interpelações do senhor d'Eslon
que se pode encontrar nas páginas 29, 30, 31 de suas Observa
ções sobre o magnetismo animal? Suas precauções por sua re
putação fizeram com que fechassem os olhos com a seguranç
com a qual ela os isenta de toda complacência? Recordam o
senhores que a 18 de setembro de 1780, na desonrosa assem
bléia de sua Faculdade, ele os colocou entre sua companhia'e
“RELAÇÕES COM A FACULDADE
ele com tanta dignidade quanto firmeza. Os senhores o-d DE MEDICINA DE PARIS
mentiram formalmente? Os senhores o abandonaram negli
gentemente! Digam: não havia outro meio. (ver o discurso dô
senhor d'Eslon à Faculdade de Medicina de Paris)
Estando morto o senhor Bertrand, restam Malloêt e Sol.
lier para me responder e me desmentir. Eu os convidei, mas Minha discussão com a Faculdade de Medicina de Paris
prevenindo-os de que reconheceria apenas a eles como adver- : teve algo de agradável, não durou mais do que um dia, e além
sários. Campeões tais como os senhores d'Horne, Paulet e Ba: do mais tudo se passou por escrito entre nós.
cher não podem nem representá-los nem me provocar. Ape- Vou causar em meus leitores o mais mortal tédio. Se qui-
nas eles podem me comprometer a dizer tudo o que tenho serem estar a par do que se passou, basta ler.
calado por respeito aos desejos do conciliador e pacífico se-
nhor d'Eslon.!3t 1. Minhas proposições à Faculdade de Medicina de Paris.
Creio ser sua leitura mais instrutiva do que recreativa.
2. Uma longa memória do senhor Roussel de Vauzesmes,
que na assembléia da Faculdade, em 18 de setembro de 1780,
134 Nota de Mesmer: Tenho falado coletivamente dos senhores Bertrand, conduziu a palavra contra o senhor d'Eslon e a mim. Eu a in-
Mallogt e Sollier. Eu devia assim agir, para evitar as personalidades mar- terromperei para reflexões explicativas, porque a discussão
cadas. Têm, entretanto, existido gradações na conduta desses três se- em si termina ao mesmo tempo em que a leitura, mas este co-
nhores. Por exemplo, o senhor Bertrand declarou-se várias vezes diante
mentário deve associar-se ao tédio do texto, infinitamente in-
de seus confrades, pela verdade, mas não teve 0 vigor necessário para
censurá-los de frente por sua conduta dando publicidade constante à sua digesto. E isto não deve espantar: o senhor Vauzesmes é um
opinião. Se o senhor Bertrand não estivesse morto, eu teria entrado nes- jovem médico de última licença — é, com toda a força do ter-
sa discussão, e não estaria temeroso de deixar transparecer minha liga- mo, um estudante cuja educação não terminou, se de fato ela
ção com ele ao mesmo tempo em que teria censurado profundamente . começou seriamente.
sua convicção. Mas não é mais a ocasião de me desmentir ou de me con-
fessar. Devo me calar.

421
2? FRANZ ANTON MESMER

3. O discurso do senhor d'Eslon na mesma assembléia,


“bem-feito, pronunciado para amenizar a leitura de minhas
proposições, fez aceitar e apresentar com rapidez a história do
magnetismo animal na França. Todavia não acreditei que o se-
nhor d'Eslon tivesse por pretensão fazer algo jocoso.
4. O decreto da Faculdade trazendo decisão sobre o se-
nhor d'Eslon e eu, resultante das peças precedentes. O frag-
mento é curto. Não pode ser fatigante.

Percebo a necessidade de classificar como proveitosa a


sensação que o livro do senhor d"Eslon havia causado nos espí-
PROPOSIÇÕES DO SENHOR
ritos, e tornar o público juiz da minha conduta quanto à Facul- MESMER À FACULDADE
dade de Medicina de Paris, enquanto os fatos passados eram
ainda farniliares. DE MEDICINA DE PARIS
Remeti ao senhor d'Eslon as proposições que lhe roguei
fazer à companhia. Ei-las:

o A descoberta do ? magnmagne
eti tismo anim
i al deu lugar à publica-
ção de uma Memória, na qual é dito que a
natureza oferece
- um meieio universal de cura e de preserva
r os homens; que com
e c onhecime
esse j nto o médico
ico julga
j rá á seguramente sobre a ori-
Eeim, A tureza € Os progressos das doenças, mesmo as mais
plicadas; que ele impedirá o desenvolvimento, e proverá
sua cur a, sem jamai
j si expor o doente a efeitos perigosos ou
“quências
A
sequê ncias incô a
i modas, qualquer que sejaj sua idade, tempera-

ii sistema, diferente de tudo que já se


viu, foi tomado
o sendo uma ilusão. O autor da descoberta
aguardou, mas
no momento correto, as razões que just
copas icua ato)

ificam o

Ê
E
R
t

423
424 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 425

Outrossim, é preciso observar que as expe


riên
cias feita ter mais peso do que a de um particular, seria a propósito que an-
até o presente têm dependido tanto de vont
ades diversas que À o,
a maior parte não pôde ser levada ao. pont
o-de. : : Sd EStUlIa de 24 CUCIILES, GUS QUA Estaria
qual elas são suscetíveis; porque se
alguns doen tes seguiram:
seus tratamentos com a constância reservados pela Faculdade para serem tratados pelos métodos
e à assiduidade necessá-: . en.
rias, um grande número deles se sacrificou - comuns. Os outros 12 seriam enviados ao autor, que os trata
por conveniências: tia segundo seu método particular.
estranhas. ,
Se O autor visasse apenas a celebridade, 3. O autor excluiu de sua escolha todas as doenças venéreas.
seguiria seu pró - 4, Seria previamente realizado um protocolo do estado de
prio caminho sem se preocupar, mas o
desejo de ser mais am- - cada doente. Cada protocolo seria assinado tanto pelos comis-
plamente útil lhe fez buscar outras direções
. : sários da Faculdade como pelo autor e pelas pessoas propostas
Ele procurou convence
r o governo, mas 0 governo não pôde .
resolver razoavelmente uma tal matéria - pelo governo.
sem a ajuda dos sábios. 5. A escolha dos doentes seria feita pela Faculdade, ou
Se existe na
Europa uma corporação que, sem
possa se gabar de uma preponderância indi
presunção, pela Faculdade e o autor em conjunto. |
scutível no caso em - 6. Para evitar todas as discussões ulteriores e todas as ex-
questão é sem dúvida a FACULDADE DE MEDICINA
DE Paris. ceções que poderiam acontecer segundo as diferenças de ida-
Dirigir-se por seu intermédio ao gove de, de temperamentos, de doenças, de seus sintomas etc., a
rno é, pois, a prova
mais formal da sinceridade do autor , e da honestidade dos “divisão dos doentes se faria por meio de um sorteio.
seus propósitos.
7. A forma de cada exame comparativo das doenças e suas
Como consegiiência, ele propôs à Faculdad épocas seria fixada por antecipação a fim de que na sequência
e conseguir, de
comum acordo, e sob o patrocínio formal não se pudesse travar qualquer discussão razoável sobre os
do governo, os mais
decisivos meios de constatar a utilidade progressos obtidos por um ou por outro dos métodos.
de gua descoberta.
Nada parecia atingir mais diretamente 8. O método do autor exigiria pouco gasto, não demanda-
este objetivo do
que um ensaio comparativo do novo méto ria nenhuma recompensa de suas necessidades, mas seria na-
do de cura com os
métodos antigos. tural que o governo bancasse as despesas relativas à manuten-
A administração de remédios não pode ção dos 24 doentes. ==
ria estar em me-
lhores mãos do que aquelas da Faculdad 9. As pessoas propostas pelo governo assistiriam a cada exa-
e, e é evidente que se
o método novo obtivesse vantagem sobre me comparativo dos doentes e assinariam os protocolos, mas
o antigo, as provas a
seu favor seriam as mais positivas. como é essencial evitar da parte do público toda censura quanto
Eis alguns dos arranjos que poderiam ter à inteligência ou conivência, seria indispensável que os prepostos
sido feitos com
esta finalidade. É inútil dizer que, de uma do governo não fossem ligados a alguma corporação médica.
parte e de outra, de-
ver-se-ia conservar a maior liberdade de
opiniões, e uma auto-
ridade igual sobre os doentes submetidos O autor espera que a Faculdade de Medicina de Paris veja
a cada tratamento.
nessas proposições acima apenas uma justa homenagem aos
1. Solicitar a intervenção do governo. Mas seus luminares e o desejo de fazer prosperar, por intermédio
como é fácil per- de uma corporação querida da nação, a verdade que pode
ceber que a demanda de uma corporação como a Facu
ldade deve ser-lhe a mais vantajosa.
426 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS
FATOS RELATIVOS AO MAGNET
ISMO 427

Segundo os estatutos e regulamentos da Faculdade de Me lharam a dar ao senhor d'Eslon caos eu


denunciador apenas a
dicina de Paris, o senhor d'Eslon só poderia apresentar essas pro mesma assembléia, tal faria com que
se aproximassem demais
osições à sua companhia numa assembléia geral convoca la p temas de discórdia e que se avivaria
um fogo que ele não seria
tal Ao deão em exercício pertence o direito da convocação. capaz de extinguir ou de dirigi-lo
à sua vontade. 136
O senhor Le Vacher de la Feutrie! era o deão. le tinha 2 Nesse ínterim, passou-se um fato
que eu cito por duas ra-
grau todas as qualida
reputaçãoã de possuir em maisis a alto grau zões: a primeira é que o senhor
d'Eslon fez alusão a esse fato
homem honesto. Infelizmente, não são suficientes para um no seu discurso à Faculdade, e que
esta passagem ficaria inin-
deãoã de faculdade. O senhor Le Vacher não tardou il teligível se não fosse previamente
explicada; a segunda é que
£
esta verdade. Convencido que lhelhe faltava a firmeza neces ; estabelecia com provas o grau de
consideração que gozava 0
à testa de uma corporação indisciplinada, ele tomou o prudem- senhor d'Eslon na corporação ante
s de ter ligações comigo.
te partido de se demitir voluntariamente do seu cargo em A Faculdade só se revelou sobre as
guida às discussões nas quais eu fiz o relato, e de algumas im:
consegii
ências desta li-
gação do senhor d'Eslon comigo
após o sucesso que fez o seu
õ feitas
ortunações Í contra e le. , | livro sobre minha descoberta. Até
esse momento, a conduta
º Ele tinha amizade com o senhor d Eston e ficou vivamente equívoca dos senhores Bertrand, Mallog
mantido entorpecida. Quando do t e Sollier a havia
eocupado por seu amigo pe la demanda de uma assembléi: aparecimento do livro do
da Faculdade. Não concebia que ele e Do por senhor d'Eslon, acreditava-se dever
sonhar com o partido que
desconhecido
i desce
como eu, e por uma escoberta im tomariam: aconteceram assembléi
as secretas. À frente dessas
como a minha. É fácil pressentir quão difícil nesses issuntos mal-intencionadas assembléias secr
etas estavam os mais fa-
devem ser os conselhos de um coração amigo a outro quando mosos componentes da Faculdade
. Pretendia-se que disso
se julga que este está agindo com insegurança. tudo resultasse um compromisso
entre eles. Entretanto, os se-
O senhor d'Eslon respondeu a isso dizendo que já estava: nhores, muito prudentes para
se revelarem publicamente,
totalmente compromissado; que acreditava
i ser por uma boa acreditaram dever colocar como
cabeça algum homem jovem,
tar de . ardênte, pouco avisado, consegien
causa; 3 que, em todo caso, OS
-
conselhos i
vinham
: :
i
muito
temente menos arguto ob-
para serem úteis; e, enfim, que ele não precisava de aviso, ma servador das conveniências. O
senhor Roussel de Vauzesmes
sim de uma assembléia da Faculdade. parecia talhado para e ste papel:
ele foi pesquisado, acarinha-
Ele chegou a se irritar. Após múltiplas demoras, à essem do, bajulado, consultado, admitido
às assembléias - que gló-
bléia foi marcada, mas com condições sujeitas a consequê ncias entro em pouco lançou fogo e cha
mas
contra o senhor d'Eslon e, numa das assembléi
muito opostas, sem dúvida, às vias conciliatórias do se as ordinárias da
Vacher de la Feutrie. Ele não percebeu que quando o acons Faculdade, solicitou uma assembléi
a geral para denunciar o
senhor d'Eslon, sua conduta e o seu livro.

" Le Vacher de la Feutre (i 7158-1790], médio TE


O fIANÇÕS € at
fe trabalhos em medicina e higiene. Foi o primeiro beneficiário af [36 Nota de Mesmer: O senhor Le
Vacher de la F eutrie, desconfiado
culdade de Medicina de Paris, recebendouma bolsa de estu co is suas próprias forças nas circunstânci de
as em que as discussões com a
por um médico rico para estudantes de medicina pobres, E edade Real tornavam-se espinhosas para um deão, Soci-
-reitor (deão) em 1779. Era um dos indadore agir apenas após os conselhos de algu tomou a decisão de
ns membros. Fiquei irritado ao en-
a Com betição de Paris (Société Médicale d' Emulation). contrar o nome do senhor Malloêt entre
eles,
428 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AQ MAGNET
ISMO 429

sembléia foi indicada, efoi realizada no dia 18 de setembro


que não estava de acordo de
com o senhor d'Eslo E 1780. O senhor Roussel de Vauzesmes foi o primeiro a falar
For sem À deiidade-s SA
erserramigo. Feche
acta -

q um membro da Faculd um elogio. Disse


ade Memória do senhor Roussel de Vauzesmes
(Lida por ele numa assembléia geral da Faculdade de Me-
dicina de Paris, a 18 de setembro de 1780)
Em todos os tempos, existiram pessoas com segredo, pos-
suidoras de receitas miraculosas para a cura de doenças, e o
| dendo o senhor de Va público, ignorante em medicina, sempre tem sido enganado
uzesmes insistido, o deã
2 intimá-lo a redigir sua o foi forçado pelas vãs promessas desses aventureiros. Não se estabelecem
demanda Por escrito nos em nenhuma parte numa residência fixa, porque suas mano-
gulamento. O senhor de termos do re-
Vauzesmes não se fez esp bras são em breve descobertas, e esse mesmo público, enver-
de uma pena, tinta, papel. erar, tomou . gonhado de ter sido grosseiramente seduzido, trata-os com a
Mas, durante o tempo
,
em que escre- indignação que justamente merecem, mas por uma crença
arraigada na humanidade, que não cessa de correr atrás do
erro, se ainda voltar a aparecer em cena um novo charlatão,
ele atrairá para si toda a atenção da multidão. Assim, O se-
nhor Mesmer, após ter feito, durante um longo tempo, mui-
ta sensação em Viena, na Austria, após ter sido, como de cos-
tume, desmascarado e ridicularizado, veio estabelecer seu
teatro nesta capital, após quase três anos, dá as representa-
ções mais tranquilas do mundo. Todos os médicos que exer-
cem aqui nobremente sua profissão contentaram-se em des-
prezá-lo e certamente seu reino teria sido de curta duração
se o senhor d'Eslon, um dos nossos confrades, não se estabe-
lecesse abertamente como seu procurador, promotor e seu
satélite, e o título de doutor regente desta Faculdade, do
qual o senhor d'Eslon está revestido, não pode contribuir
para dar ao malabarista alemão uma espécie de celebridade
O senhor de Vauzzesmes momentânea, à qual ele não devia ter direito. Como a casa
ps ele ainda se trangiiil ficou s em dúváviida desconce do senhor d'Eslon está intimamente ligada àquela do senhor
izará. Ele se descomporá rtado
novamente, se Mesmer, peço-lhes que me permitam expor stcintamente o
entará, bradará Contra
a injustiça etc, O senhor que é necessário que saibam em relação a este último.
sistindo com a der radeira firmeza na resolução d'Eslon per-
de apresentar di- Nota do senhor Mesmer: Com a intenção de não mais
recordar as injúrias e insultos de que esta Memória já está re-
pleta, peço ao leitor observar:
1. que ele leu essa introdução na presença do senhor
d'Eslon;
2. que a Faculdade de Medicina de Paris, sendo composta
de 150 a 160 membros, cuja importância exige uma grande di-
430 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS
FATOS RELATIVOS AO MAG
NETISMO 431
vulgação de suas resoluções para as sociedades de todo o gêne-
ro, concluo que poucos foram os insultos que se tornaram
mais públicos contra o senhor d'Eslon e contra mim;
3. que os senhores Bertrand, Malloêt e Sollier, presentes, caísse no esquecimento. Do
não se levantaram contra o senhor de Vauzesmes; mesmo modo, um hábil astrôn
mo e lena fsenhor Heu
zer) seguiu de perto o sen o-
4. que a Faculdade, longe de se voltar contra este último, o * QUE havia feito todos os esfo
r ços para cha
hor Mes
escutou-o com ar de aprovação, enquanto o senhor d'Eslon foi ção,oiomas eueste
Dep honroso sábi o desmasc arou mar s
a hor .
] darl
o char atãoo.
latã ã,
vaiado ao ler o discurso que se seguiu àquele do senhor de rigado a abandonar sua pátr
mais poderia ficar decent ia,i onde nã
Vauzesmes. emente, Seu charlatanismo
foi logo
Quando se tiver feito todas essas observações, peço que
sejam comparadas aos clamores que se elevaram de todas as
partes contra a pretensa audácia com a qual falo contra quais-
quer sábios, ou que se dizem tais. Às boas pessoas! Quando me
achincalharam de todas as maneiras, acreditavam-se ao abrigo
das represálias!
Em 1776, o senhor Mesmer recebeu o título de doutor da
Faculdade de Viena. Desejando sair da obscuridade à qual
lhe condenaram os débeis talentos em medicina (e é este o 4

testemunho que dão seus confrades), ele começou a provo- . leito de um rio
a sensação di a Corpo treme, Sua respiração se torna
car o espanto do povo fazendo uso da eletricidade. Que, dia Falo do o estar com febre. Pierre ofegante e ele tem
Thouvenel, médico de Luís 16,0
aliás, dirigia mal. À seguir, fez uso de placas imantadas. Um mo animal é e eo escolheu para testar
as sua teorias sobre magnetis.
cirurgião de Viena, chamado Leroux, declarou-se seu desta- eram der o o jeou uma obra (Mmpire
Physique et médicinal mon-
cado discípulo sobre essas práticas extravagantes. E do mes- o, :
mo modo que o senhor d'Eslon, escreveu para anunciar as . ens entre
-di vVinatoire, du magnétisme les Phéromênes
phén de la ,
et de Vélectricité, avec des éclair.
sur d'autres objects non moins mei importa Paguetto
maravilhas do senhor Mesmer. Declarou que em primeiro
Paris: a u : , cissements
lugar Mesmer eliminou apenas algumas doenças como as dei: Didot Didot le jeune, portants, qui
11781). Neste livro, , Thouve y sont relazifs. Londres e
| quea dudição da medicina nelel def
afecções vaporosas e epilépticas. Em breve, seu império se magnética e a eletricidadeexp ende a
expandiu. Segundo o mesmo Leroux, Mesmer estava dispos- paes da Deo mência. Ele licariam Pd
conclui então, em sua obra
to a curar a metade dos males que afligem a humanidade. O Por Ba or gem nessa tradição e não , que o magnetis-
senhor d'Eslon enfim, para aumentar, publicou ousadamen- - , on
nas descobertas de Mesmer
arou que a vara não possuía nenhum pod
te que ele curaria todas as doenças. Mesmo aquelas que são -: er em gi
incuráveis.

Nota do senhor Mesmer: É verdade que o senhor Leroux;;


= A
es
Experimentais.
da época, no Diário de Paris, informa Uma notícia
espectadores, , ele seguiu um que
operados pelo magnetismo animal. Nós nos separamos depoi a queduto subterrãâncoo jard
burgo pela extensão de
15 «000 jardas jardimi pes de
mas por motivos estranhos à minha descoberta, e nos quai: Sem uno 0 O era petem
ninguém tem o direito de se meter. : + Os passos de Bleton teri os
Pesquisa completa para os substituir, SHBm constituído uma
43 2 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 433
à seguir revelado por
uma carta escriTita ao sen
bre físico alemão, da hor Hell
qual vou lhes dar um ext seguir, ele vai tateando. Varia no emprego de sua cura pata
rato. É lhe dar um ar de verdade. E se a sorte o ajudar, ou sea imagi-
Nota do senhor Mesmer: eg nação do doente lhe atrib: nm Esso Que não existe.
como o senhor Gassner, o faz gabar-se e encher as gazetas e
Os jornais, para adquirir uma reputação que não mereçe,
Eis, meu caro amigo, o que os membros da Faculdade de
Viena pensam sobre o senhor Mesmer. E como são pessoas
de honra e de probidade, não creio que a paixão os leve a de-
sacreditar de um remédio cujo emprego influenciaria tanto
sobre a felicidade da humanidade. De resto, eles acreditam
que um médico hábil e físico profundo que quisesse cultivar
como homem prudente este ramo da física, e considerar a
analogia que o ímã possa ter com o corpo humano, tentaria
com prudência algumas experiências, enriqueceria sua arte
Extrato de uma carta
sobre as curas do senhor com experimentos que o senhor Mesmer tentou inutilmen-
(Escrita de Viena, , na Mesmer.
áustria + em 21 de dez te. Porque, para resumir, seria necessário reunir todas as
yu 2 aos pcohores heil emb
, baili de hersinger qualidades que faltam a ele. Isto é, conhecimento perfeito da
aoros d at das en
Soci de Econômômi e de Tendo
icas e de Emulaçãoã de coisa, um estudo infatigável, longo e penoso das doenças
Ber. contra as quais este remédio possa ser útil, Enfim as faculda-
Em minha última carta Cartes
, esqueci-me de satisfaçê-! des e os desinteresses necessários quando se quer trabalhar
o o Ae tenho à dizer - para a felicidade dos homens.
a respeito do senhor Mesm
ol-he pes
esccul
ulppas. para reparar minÍ ha falta es Pe Eu sou muito mais levado a crer nesses senhores do que
vou contar-lhlhe e qo
numa cura do senhor Mesmer feita numa senhorita cega, que
À reputação que ele alc eu conhecia de nome, e que teve os mais funestos efeitos.
ançou neste
Ihor do que a quela do
muito
í reverendo abade G Nos primeiros dias, persuadiu a pobre moça de que ela via.
senhor conheceu. Enquan 5 Ela identificou perfeitamente uma cor quando ele havia dito
to o abade Gassn
retendo soe
baixinho seu nome. Todo mundo se esforçou por observá-la
e saiu persuadido de sua cegueira como antes, Ninguém
acreditava no fazedor de milagres, a não ser os pais e a jovem,
Boduzi-los, Perfeitament que não ousavam ser incrédulos. Enfim, após alguns dias,
e ignoranteme física (em
cia convenha aos seus bora esta essa infortunada teve convulsões horríveis e dores insuportá-
pro pósitos mais do
veis, que 0 socorro de outro médico amenizou, Mas me asse-
gurou que ela se encontra ntma situação pior do que nunca.
Enfim, meu cara amigo, as leituras que fiz sobre a analogia
do magnetismo mineral e da eletricidade me fazem presumir
que existem tanto curas magnéticas quanto pela eletricidade
médica. Vários médicos, tanto na França como na Suíça, na
Itália e em outros países da Europa, têm-se ocupado desta
última com sucessos diversos. Ela decaiu desde que o empi-
rismo foi agregado, que nenhum sábio teve paciência de se
interessar como convinha, Voltou atualmente em Paris e em
Genebra. E se acontecer de o sucesso se firmar, nós podere-
mos, certamente, após a perfeita relação existente entre os
dois fluidos, esperar o mesmo sucesso do magnetismo.
434 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS
FATOS RELATIVOS AO MAG
NETISMO 435
Extraia disto, meu caro amigo, o que crê devia determinar 2
Cas ses num de meus escritos,
pessoa cuja saúde lhe é tão cara. Em seu lugar eu não me ex- citando o senhor abade
poria à despesa inútil de uma longa viagem, e ao perigo do ner, que ele operava efeito
eu o repito aqui.
s rea is mas ign
] ora
acaso. À reputação do senhor Mesmer faz sucesso fora, mas
em Viena ela fala tão baixo que ninguém o entende. ê
vt cansa. É
a to ao senhor Osterw
ald, não sei como cuidou
que e dei. Ele casou-se da saúde
Esta carta, senhores, encontra-se no seu todo no Jornal logo depois. Ásseguraram-
a morto ao sair da mesa, me que esta-
Enciclopédico do ano de 1778, primeira quinzena de junho. seja por
Encontra-se também um outro cencludente num jornal, inti- angue. Estou aborrecido Por indigestão, seja por um golpe
não tê-lo tornado imortal.
tulado: A natureza considerada sob seus diferentes aspectos, ko De resto, todo leitor
imparcial deve reconhece
ano de 1780, Nº 4. Vou colocá-lo sob suas vistas. senhor le Volter, que ess r, no estilo
e pretenso apostador não
Nos imparcial no que me é ao me-
concerne,
Extrato de uma carta de senhor de Volter, doutor em
medicina, conselheiro-áulico, médico do eleitor e diretor da O que esses senhores Aos apresentaram sobre
academia real de ciências da baviera, ao senhor higlemann, Mesmer nos foi Plenamens o senhor
e confirmado Por todos
doutor em medicina que acompanharam suas aqueles
operações na França. Mas
Fico muito agradecido por ter sido comunicado sobre seu dúvida, nada melhor do se restar
que ler as observações que
sentimento sincero sobre o magnetismo animal do senhor d Eston não teve confiança o senhor
de publicar, por estar con
Mesmer. Trata-se de um homem bem ousado, a exemplo de de sua inutilidade, porque vencido
elas nada acrescentam ao
todos os charlatães, ao citar as pessoas de Viena e de Muni- magne-
que que ele pretende ter curado. Notadamente o senhor
Osterwald, que acreditou na verdade apoiada na sequência
de sua cura, mas que, após pouco tempo, tornou-se mais do- Malloet e Sollier são as úni
cas pessoas capacitadas
ente do que jamais esteve, e cuja prostração de forças au- que assisti-
mentava todos os dias, até que finalmente sentiu-se exauri-
do. Quanto às suas curas realizadas em Viena, tiveram tão
pouco sucesso que esta prática foi-lhe negada, embora o se-
nhor Stõerck, nascido na Suábia, fosse seu compatriota. O
bom homem Mesmer acreditava serem seus inimigos todos
ueles que não participavam de seu sistema quimérico. Eu arecer muito i i
dei e vi o quanto sua operação é capaz de afetar o sistema ner- P to
a
extraordinário que eles não tenham feito tal
voso, geralmente em detrimento e jamais vantajosamente
em relação aos doentes. Foi por isso que lhe propus cem du
cados contra dez se ele curasse aqui uma só pessoa vaporosa
hipocondrfaca. E desse modo eu me tornaria seu defensor.

Nota do senhor Mesmer: Que o senhor Vauzesmes encon


tre munição para si nas duas cartas acima, tudo bem Mas qu! Vasaptes-
dehesEntcier ID
314

uma assembléia de sábios, uma Faculdade de Medicina, escuté nhor d'Eslon, atesto aqui E i
que nem o A
friamente e com ar de aprovação, um tal conjunto de absurdo outra Paixão me impeli
ram a citá-lo ao seu tri
contraditórios, é preciso, acima de tudo, ficar de sobreaviso. mesmo dizer que não sou bunal Posso
seu único acusador, Se eu
vesse elevado à voz, mui
tos out
não ti-
ros de meus confrades
cumprido esse dever. E teriam
mesmo o senhor Pajou Dem
oncets já
436
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 437

deão. Atesto ainda, senhores,


Pugnância que os senhores que é com uma extrem
a
: Nota do senhor Mesmer: A crítica do senhor de Vauzes-
me vêm hoje lhes fazer esta mes é tão mais admirável por o senhor d'Eslon não morar nem
núncia. É sempre desagrad
áve dk.
ben ná-opi sbre E , 1
dá-las àqueles que ainda d UU TU U TEMPpIS TIdU U VIZI-
a ign ora m, Mas o amo
em público, a honra da min
ha Corporação, àho à rua Montmartre. Não pude recusar esta nota aos leito-
fazer com que esse confra ão, aa espe
é ranca di
de s, embora ela não se refira a mim em nada. Estas bagatelas
garrou — totodos esses motivo volte ao caminho do q al e
s poderosos me'têm enc
encora dizem mais do que as críticas mais graves.
meimovido, apesar de
mim. arajadao
E vou falar-lhes neste
om a; lor moderação de que momento
não seja suscetível de ass sou capa z, embora Eu disse que ele defendia os charlatães. Vou citar dois
im ser tratado, , exemplos.
om catrendo pela pri + feito
meira vez a obra intitula Todo mundo sabe que o senhor d'Eslon apresenta a seus
sões so Te ê mamnetimo animal pelo sen da Observa
esta Fa hor d'Eslom, doutor clientes e consulta publicamente com o charlatão Gondran,
e, percebi qu e o tom que vende um remédio para a gota, embora o senhor d'Eslon
autor, o testemunho que afirmativoti d
ele afirmaa prestar a si não conheça a virtude desse remédio.
sua boa consciência « dede sua probidi ade, de sua O, de
(porque estas palavras, da hon
honest
esti idad Ele acolhe do mesmo medo o charlatão Mesmer e com
honra, honestidade, verdad ida dee
ele estabeleceu ligação mais íntima. Ouçamos o que diz o se-
q
ua encontram-se em quanti e fran.
ppduzá dade em todas aslinhas)
me nhor d'Eslon, p. 26. Tomei o partido de passar por cima das
num Primeiro momento.
a € UM exame mais refl Porém, uma segunda considerações ordinárias, vencer algumas repugnâncias pes-
etido me abriram os olho soais e me aproximar do senhor Mesmer. Nós vamos juntos
ooo ou então lhes aprese s.
ntar o senhor d'Eslon, bater às portas.
dr se comportando de um mod em pri meiro
idade O seu estado, fav o pouco conforme a Submeto totalmente estas últimas palavras, tão indecen-
ore
i a, insultando todas as cendo o ch arlataniismo, E
seguguid “tes quanto extraordinárias, à sua reflexão.
Corporações sábias, e espec
mente esta Faculdade. veci
ial al + .
ma verão como ele abandonou das Nota do senhor Mesmer: À exclamação do senhor de
nciando princípios contrá a doutrina das escolas Vauzesmes, dir-se-ia que nós fomos bater às portas para pedir
rios à verdadeira medici
na 4 e esmola? Foi às portas dos sábios que fomos bater inutilmente.
|
Sua sociedade se estende até à província, aonde vão jun-
reflexões. tos, ou separadamente, desencavar doentes. Foram recente-
mente até Orleans para trazer aqui uma senhora vaporosa
Conduta do senhor d'E muito rica. Na Alemanha, o anteriormente citado Leroux
slon, charlatanismo ace
Sloquemos antes sua condut ito percorreu também as províncias com o senhor Mesmer. Fo-
e . a em oposição àquilo que
quando. É assim que ram distribuídos em Orleans folhetos. Isto é, Observações
ele se Expressa, pág. 116:
O homem que se respeita, evita,
Acredito sobre o magnetismo animal e Memórias sobre o magnetismo
. o quanto está em si animal, Também aqui em Paris estas duas obras foram dis-
,

tribuídas em profusão. E com uma habilidade capaz de se


impor aos crédulos. Porque foi o senhor d'Eslon que distri-
buiu a Memória do senhor Mesmer e foi este último que dis-
du dele, publicou pelo tribuiu o livro do senhor d'Eslon.
Jornal de Paris
Onsultas graFatu tuitas no templo,Plo, que em certas horas
iva con:
maneira indireta, e indign f. fazendo uso de um
a de um verdadeiro méd Nota do senhor Mesmer: O charlatão Gondran! O char-
ar seu endereço. i de
oo latão Mesmer! Sua sociedade! Desencavar os doentes! Uma
co ds
senhora vaporosa! Uma senhora muito rica! O citado Leroux!
438 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS
RELATIVOS AQ MAGNETISMO
439
, ,
Cartazes para expressar o livro do senhor d'Eslon |
e o meu! nir os sábios de Paris para julgar de
boa-fé uma questão fora
Quanto este tom é malvado! de seus princípios.
Eu parti de Paris para Orleans com uma senhora que pode
Nota do senhor Mesmer: O senhor
ser classificada como rica, mas esta não é minha opinião. Por d'Eslon está errado.
Estou persuadido que ele deveria refa
outro lado, o senhor d'Eslon não saiu de Paris. Eu também não zer seu livro. Ele devia
ter evit ado falar dos quat
ro grandes rios da França, e no lugar
distribui memórias em Orleans, e assim por diante... Não se deles citar o Volga, o Niger, o Gânges
pode estar mais distante da honradez e da verdade do que o e o rio Amazonas,
Gostaria de chamar a atenção para o
senhor de Vauzesmes. quando o senhor de Vauzesmes adia seguinte detalhe:
Quanto ao resto, o senhor d'Eslon assegura haver entendi- nta que eu me dirigi a
duas corporações de sábios, ele acre
do o senhor de Vauzesmes, pronunciando seu discurso, dizer scenta: diz-se. Mas quan-
do diz que lhes fiz propostas que não eram nem honestas
que eu vendi os livros do senhor d'Eslon e que este vendeu os admissíveis, ele não mais disse diz-se. O nem
meus. De fato a palavra vender soa melhor do que a palavra fato torna-se positivo.
Pretendo fazer observações sobre apen
as
distribuir no gosto do senhor Vauzesmes, e no da corporação a tradições, porque o senhor de Vauzesmes algumas dessas con-
é
que ele endereça a palavra. Eu não diria que nós temos, o se- las que é impossível que escapem aos leit tão abundante ne-
-nhor d'Eslon e eu, a habilidade de se impor aos crédulos, mas
ores.
duvido que fizéssemos fortuna no comércio de livros. Ele afirma em seguida, à página 135,
que as corporações
literárias são muito culpáveis, não
havendo um ponto claro
quanto ao alvo de sua instituição no que
O que há ainda de mais singular, e que espanta a todo concerne ao magne-
tismo animal. E ele afirma até que quan
mundo, é que o senhor d'Eslon, preconizando com entusias- do o senhor Mesmer
mo o magnetismo animal, do qual ignora absolutamente a teria recusado os meios para uma reconciliação
as academias, elas deveriam ainda decente com
natureza, e que ele ousa mesmo evitar, procurá-lo, mesmo quan-
do ele tivesse faltado para com esta
corporação.
Corporações de sábios insultadas
Nota do senhor Mesmer: Analisando
Pode-se dizer em honra de todos os sábios franceses, sem as citações que o se-
nhorde Vauzesmes faz do senhor d'Es
a crença de ser desmentido, que eles sempre receberam os lon aqui e nas páginas
sábios estrangeiros da maneira mais afável e mais atraente. seguintes, constatamos que o senhor
de Vauzesmes o desfigu-
Quando o senhor Mesmer chegou a Paris, não somente foi ra inteiramente, Ele acaba por o colo
acolhido e festejado pelos médicos, mas eles ficaram às suas
car lado a lado com os di-
minutos Paulet e Bacher. Aqueles
ordens. Porém, o senhor Mesmer, vendo suas atenções cor- que quiserem conhecer o
sentido original vão precisar necessar
respondidas, tratou logo de explorá-las, no que foi iamente ler o livro do se-
bem-sucedido. A maneira ultrajante com que ele começou a “nhor d'Eslon.
falar da medicina e dos médicos, o véu sob o qual se acober
tou, o alarde da reputação que ele adquiriu na Alemanha « O senhor Cadet, apotecário! da
rua Santo Antonio,
teve o efeito muito breve de fazer com que se mudasse de novo eco dos senhores Mesmer e
d'Eslon no Jornal de Paris,
opinião em relação a ele. Mesmer se dirigiu a duas corpora número 266, faz saber que o senhor
Mesmer se dirigiu suçes-
cões-de=sébrosdP
B EM ú g 7 ES 1 TZ PRODU Õ [ão erdi
0
nem honestas nem admissíveis. O senhor d'Eslon aprovei- 139 Nos fins do século X Surgiu nos conve
tou-se da ocasião para insultar essas corporações e dizer, à ntos da França e Espanha o apote-
:. , Cário, que desempenhava o papel de
página 20; Eu não sei se não seria mais fácil fazer correr os; médico e farmacêutico. Eles culti-
vavam asplantas que eram utilizadas na prepa
quatro grandes rios da França num mesmo leito do que reu- ração dos medicamentos.
“Surgiram depois as apotecas ou botic
as, que foram as precursoras das
farmácias.
440
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 441

“Sivamente às corporações.
E que os convidou a seguir
agente, que enfim ele recebeu s Com efeito, a Faculdade está muito atenta ao bem público,
a acolhida que sempre receh
ram os autores de qualquer desc por acreditar que jamais ela se prestará a favorecer essa de-
pete ainda à mesma
oberta. O senhor d'Esl e
Coisa, pápina manda. A que tem levado até o presente tudo que se tem fei-
Tentiicaram nenhuma dess 14] Esta, cenioorem
as corporações de sábios [O para Veríticar
pretens
às as panacéias de todos os chariatães
no mundo não se deixa de Mas e impostores? As infelizes experiências feitas com todos os
incluir a Faculdade. Porque
pare: remédios anunciados como específicos não provam que ao
menos durante o tempo dessas experiências se deve acredi-
Posições do senhor Mesmer tar nos charlatães que se dizem autores dessas composições
. O senhor d
que é preciso parar de visar
ao senhor Mesmer, miseráveis? Eles divulgam então que médicos sábios experi-
sário cativá-lo, 8 que cada mentaram seus remédios, mas, longe de dizerem que esses
dia se multiplicam nossos
contra a humanidade. Ele crimes médicos reconheceram sua insuficiência, eles divulgam ar-
também nos disse prima mens
que nós não sabemos o que is dilmente o contrário. E impossível desenganar o público nes-
perderemos se o senhor Mes
nos abandonar, Que ele, o mer. se momento.
senhor d'Eslon, estava enca
do de fazer de sua parte adi rrega- Além disso, a tentativa que fez o senhor d'Eslon é conse-
antamentos à Faculdade ã
ele desejava devotar todos val quência do que ele escreveu à pág. 145 onde faz com que o
os seus segredos. Mas dir sés
senhor d'Eslon: Per que o ao senhor Mesmer assim fale: seria absurdo querer me dar jut-
seu homem não deu parte
bela descoberta à Faculdade de su zes que nada entendem daquilo que pretendem julgar. É de
de Viena da qual era membro
Parece-me que é melhor enr ? discípulos e não de juízes o que necessito. Por esta frase, se-
iquecer sua pátria do que a
uma nhores, podem ver que ele exclui absolutamente os seus co-
missários, ou que tema pretensão audaciosa de querer fazer
discípulos.

Nota do senhor Mesmer: Não vejo audácia em mostrar às


pessoas o que elas não sabem. Se minha descoberta apresenta
uma doutrina desconhecida, nada mais simples do que fazer
discípulos. Outrossim, se o termo desagrada, que me indi-
existem, com efeito, Corpos animados
totalmente opostos aq
quem um outro. Eu dele me servirei com prazer.
magnetismo, que apenas sua
Presença destrói todos os
tos. Não se poderia daí concluir que, efei- Não mais do que jamais, o senhor Mesmer revelará o seu
meou-lhe comissários, eles se a Faculdade no-
também tivessem a proprieda segredo, nem a razão pela qual o guardará, página 147: Será
tão singular de destruir o de de outra maneira que chegará o dia em que o magnetismo
magnetismo. O que é um
seguro e reto de previamen meio animal será tratado como moda, Cada um desejará brilhar e
te evitar astuciosamente qual
quer espécie de verificação. - encontrar mais ou menos aquilo que não tem, Abusar-se-á.
Malgrado este inconvenient
compreende-se, contudo, que e Sua utilidade tornar-se-á um problema cuja solução não terá
0 senhor Mesmer desejava que
Faculdade lhe nomeasse comi a lugar a não ser após séculos. Os senhores vêem, então clara-
ssários, mas isso não pass
de um novo expediente para aria mente, que o senhor Mesmer escarnece da Academia de Ciên-
ganhar tempo, e de fazer que
falasse de si de um mod o mais marcante. se cias, da Sociedade Real, e que deseja igualmente impor-lhes,
í se fosse possível, comprometê-los.
N ota do senhor Mesmer: Estas
tes estão em letras itálicas, últimas linhas e as seguin-
não
Para que fique claro que o se- Nota do senhor Mesmer: Lendo o senhor d'Eslon no ori-
or de Vauzesmes as pronuncio ginal, verão quanto o senhor Vauzesmes faz críticas a Paulet,
u, mas sim para se observar
que a Faculdade as ouviu e Bacher e d'Horne.
as aprovou.
442 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
443
Enfim, senhores, estarão talvez bem informados para en-
contrar aqui uma reflexão sensata, análoga a tudo que lhes ças, Os efeitos são inumeráveis, mas
a causa é única, O que
vim anunciar, realizada pelos autores do Mercure de France se segue é mais surp reendente: Assim como a medi
uma, o remédio é um; e todos os cina é
do dia 26 de agosto. A oferta que faz o senhor Mesmer de ini- remédios usados na medicina
ciar algumas elucidações quanto aos segredos de sua arte, nos comum, não têm jamais obtido
sucessos vantajosos, a não ser
parece indigna de um verdadeiro médico. Todo mistério deve em combinações felizes, mas devi
das ao acaso, servem de con-
ser para sempre banido do santuário das Ciências... Supondo dutores ao magnetismo animal.
Seguramente sentindo-se
que o senhor Mesmer seja realmente possuidor de uma desco- ainda com alguma dúvida, o senh
or d'Eslon acrescentou a se-
berta importante, deve-se convir que ele entende bem mal de guir: esta conclusão não agradará univ
ersalmente.
seus interesses. Como é possível se entender que seja qualifi- Páginas 36 e 37. Lê-se: O magnetis
acelerando-as. Por exemplo, se o mo cura pelas crises
cado de visionário e de impostor, quando poderia obter os - senhor Mesmer realiza a
tulos de homem de gênio e de benfeitor da humanidade. cura de um louco, ele o curará ocas j
ionando acessos de loucu-
ra; Os vaporosos terão acessos
de vapores; os epilépticos, de
Nota do senhor Mesmer: Os títulos de homem de gênio e epilepsia. Uma crise operada em nove dias será obti
nove horas pelo magnetismo animal. da em
de benfeitor da humanidade já me são certos, e o que mais vier sente com os pais da medicina: Medi
Tem-se dito até o pre-
eu aguardo com paciência. Não basta a aprovação do senhor de cus naturas minister.
Atualmente, tudo mudou: será
preciso dizer com o senhor
Vauzesmes para que possa ser considerada melhor a reflexão d'Eslon: Medicus naturas magister.
dos autores do Mercure. Tomo a liberdade de observar que Página 92. O senhor Mesmer é
todo magnetismo, porque
falta solidez a ela. Eles confundem meus interesses pessoais O magnetismo lhe sai continuament
e das mãos, dos pés, dos
olhos e por todos os poros.
com os interesses da descoberta em si. Se o interesse da des- O senhor Mesmer, longe de estar
coberta exigir que se faça algum tempo de mistério no santuá- eflúvio continuado desta matéria
enfraquecido por esse
magnética, torna-se ainda
rio das ciências, não se conclui que o mistério deve ser proscri mais forte e vigoroso. Ele dirige
- como quer esse fluido, e ad-
to do santuário das ciências. Donde se segue que os autores do quiriu pelas suas mãos a perfeiçã
o necessária para a cura de
Mercure poderiam economizar a citação que fizeram das pala- todas as doenças.
Os princípios que lhes venho expo
vras visionário e impostor que vêm mal empregada depois do r, € que estão contidos
no livro do senhor d'Eslon, parece
uso de santuário, palavras indevidas na boca de pessoas hones- ram-me tão singulares e in-
verossímeis que acre ditei que seria supérfluo lhos demo
tas, e ainda mais sob a pena de um eclesiástico. Digo isto por- trar. Uma simples exposição nest ns-
e caso é mais do que sufi-
que é ao senhor abade Remy, autor da Reflexão, que se ende- ciente, Mas como as observações
que lhe estão anexadas e
reça esta última frase. que dela dependem seriam muit
o perigosas se não se pudes-
se provar sua falsidade, eu me rest
ringirei apenas a essa par-
te, que me parece a de maior consequência
Princípios do senhor Mesmer apresentados e adotados , e que poderia ter
em medicina resultados funestos,
pelo Senhor d'Eslon se o público pudesse crer
que Os senhores as aprovassem ao
Observações, página 33. Do mesmo modo que há apenas. menos por seu silêncio.
Vou sucessivamente expô-las e resp
uma natureza, uma vida, una saúde, há apenas uma doença; ondê-las.
um remédio, uma cura. Este remédio é o magnetismo anima Observação primeira — Um menino
cessivamente mal de estômago, mov
de dez anos tem su-
É assim que falam os senhores Aillaud e Molenier imento febril. ircitacia
que COS RENOS, TEDTE INÍNAr, caí
com seu pó, o outro com a sua tisana, 14 curam todos os malês num marasm e num
oa letargia
sem exceção.
que ordinariamente
Página 35. Lê-se estas palavras estranhas: Os médicos 1
dado a cada um dos acidentes de uma mesma doença ur
nome particular, e os têm definido como outras tantas doen: 140 Tisana é um medicamento líqu
ido que constitui a bebida comum
enfermo. de um
444
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 445

45º dia do mal. O senhor d'Eslon, desesperado,


nhor Mesmer que toca as mãos e elas se cobr chama o se- Uma senhorita passou treze dias no mesmo estado que a se-
em de uma ma-
téria viscos a. Ele toca a língua e isso ocasiona um calor
inte-
-nhora de quem falei. Nos últimos nove dias, ela não havia engoli-
nior a Sta 2 O sanhord'E Hrp
ele acoes
Sã O SERHOr
mer- MÍCs
Array ds Ce rrretre-pertotrtha<s errIve: Faoea
para acabar q que tinha começado. O
senhor Mesmer recu- nada
nada podi
podia pedir.
ir Mandei i buscar doisi ovos frescos, e a fiz comer
Sa-se; porque imaginava o menino morto
. O senhor d'Eslon comfitas de pão. Com as fatias de pão, senhores da faculdade!
insiste e reafirma que o senhor Mesmer
havia feito um mila-
gre. Com efeito, o menino, que tinha o olhar fixo, Um terceiro doente ainda me inquietou cruelmente oito
e terrosa, a palavra expirante nos lábios
a pele
baça
, ao cabo de cinco . dias seguidos, mas havia intervalos. Eu os aproveitei sempre
quartos de hora portava-se bem, e pelo fato de
do pão, lagostim e bebido uma taça de cham ele ter comi- para fazê-lo comer.
panhe,
Como é possível que um menino num Eu poderia oferecer à crítica do senhor Vauzesmes vários
estado de marasmo
e agonizante, qual tenha sido o meio
empregado possa ali- outros exemplos desse gênero, mas que seja suficiente que ela
viá-lo para em cinco quartos de hora provo
car uma mudança saiba que em geral meus doentes, quaisquer que sejam seus
que lhe permitiu comer pão, um lagostim e beber
nhe? Ou a narrativa da doença é excessiv champa- estados, uma ou duas horas antes, retiram-se de manhã para ir
amente exagerada, almoçar, e à noite para ir tomar sopa.
ou se tomou por agonia um acesso vaporoso
, OU à Cura que se
diz miraculosa é falsa. É ao menos permitido Esta medicina nutritiva parece uma fábula aos olhos dos
duvidar, porque
o senhor d'Eslon não dá nem o norne nem
a morada do doen- médicos acostumados a fazer com que seus doentes morram de
te para que se possa verificar. Esta cura deve então
da na classificação das que são impossíveis. ser inseri- fome, quando nãoã podem se alimentar
i a nãoã ser com mig as.
Entretanto, deveriam refletir que a nutrição é uma necessidade
Nota do senhor Mesmer: Após ter observad ingente da natureza. Prejulgamentos à parte, o senso comum
da vez que é preciso ler no livro do senhor o uma segun-
d'Eslon o que lá está está do meu lado. Eu tinha forte desejo de reencontrar a Facul-
citado,caso se deseje conhecer o real sentido, darei dade de Medicina de Paris, mas o exame dos fatos os assusta, e
de Vauzesmes as satisfação que ele pare ao senhor
ce desejar. A cura que a palavra discípulos lhes parece audaciosa.
ele acabou de citar é aquela do senhor Pelle
t, filho, na Escola Observação, páginas 66 e 67: O senhor d'Eslon cita uma
Real Militar. Acrescentarei alguns fatos
da mesma natureza, cura de icterícia e de cores pálidas, e ele assegura bem positi-
unicamente para provar que, fazendo com
que o senhor Pellet vamente que em Paris não se cura estas doenças. Os senho-
comesse, fiz uma coisa que me é muit res sabem, melhor do que o senhor d'Eslon, que se cura e
o comum.
Uma senhora passou três dias em minha dos os dias em Paris as icterícias e as cores pálidas.
casa sem comer, incômodo sem dúvida que essas doenças resistam aos remé-
surda, cega, muda, sem conhecimento
e em estado convulsi- dios do senhor d'Eslon.
vo. O primeiro ato que ela fez, por minha
ordem, reassumindo
seus sentidos, foi tomar uma boa sopa Nota do senhor Mesmer: O senhor d'Eslon realmente
com arroz.
não disse tal coisa. Se por infelicidade ele se adiantasse até
esse ponto, não sei se eu não estaria envolvido nessa rixa, mas,
como ele nada disse, é uma querela a menos.
141 Febre miliar é uma doença infecciosa
aguda que se manifesta de forma Observação, páginas 83 e 84: Contragolpe na cabeça no
epidêmica e pela qual o indivíduo apresenta
febre de instalação abrupta, copio: O senhor Mesmer prometeu a este doente que ele fa-
grande sudorese, Prostração, erupção cutân
ea papular e vesicular e, oca- ria deslocar sua dor de cabeça de baixo para cima, que cle
sionalmente, até manifestações hemorrágicas.
provocaria um escorrimento pelo nariz, e que lhe faria pelar
446 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
447

sua fronte. Ao cabo de um mês, por virtude do magnetismo, so ler o relato do senhor d'Eslon: relato tão simples quanto o
as profecias mesmerianas se cumpriram e nada deixou a de-
do senhor de Vauzesmes é miserável.
sejar, nem mesmo a fronte descascada.
Reflexão do senhor d'Eslon, páginas 87 e 88. O senhor Observação, página 75: Paralisia com atrofia da coxa e da
Mesmer faz pouco caso de suas curas, ele se preocupa muito perna. À cura desta paralisia é sem dúvida das mais surpreen-
com sua satisfação. Agrada-lhe, como diz Moliere, tempera- dentes. Não havia calor natural nem movimento da coxa: as
mentos bem arruinados, massas de sangue bem viciadas. cadeiras estavam dessecadas e endurecidas: os ossos estavam
Para satisfazer seu coração e seu gênio, moribundos a aliviar, mais curtos e mais delgados do que aqueles do outro lado do
vitimas a arrancar do túmulo. corpo; e esta doente havia sido declarado incurável pelas es-
Eu creio, com efeito, que o senhor d'Eslon se apoderou “colas de cirurgia. Muito bem! Disse o senhor d'Eslon, as ca-
bastante dos gracejos de Moliere. Ele próprio os sentiu, por- deiras foram recompostas, os ossos engrossaram, os movi-
que se apresenta da graça ao ridículo que se lhe pode atri- mentos são livres, e o que há de mais singular, o pé esquerdo,
buir. Esta observação não precisa de outra resposta. antes mais curto, é atualmente o mais longo. O observador
concorda que o fato é incompreensível. Eu estou inteirmen-
Nota do senhor Mesmer: Esta observação que não precisa te de acordo. Para que se possa ter fé no senhor d'Eslon,
de resposta é o relato da cura do senhor conde de la Tou- creio ser indispensável que a Academia de Cirurgia, que se-
che-Treville, que já citei, mas creio ter feito pelo menos o su- gundo ele reconheceu essa doença como incurável, consta-
te-a hoje de novo, tal qual ela lhe fora apresentada, quando a
ficiente colocando-o frente a frente com os senhores Ber- julgou, e que ela ateste que a cura subsequente e os fenôme-
trand, Malloêt e Sollier. Não vejo mais a necessidade de nos que a acompanharam não são pontos equívocos e não
confrontá-lo com o Senhor de Vauzesmes. Ademais, se quise- possam ser contestados.
rem ter alguma idéia sobre esta cura, basta recorrer ao livro do
senhor d'Eslon, porque quando o senhor de Vauzesmes copia, Nota do senhor Mesmer: Nada mais desejo do que dar
ele o faz da imaginação. essa satisfação ao senhor de Vauzesmes, mas espero que pelo
seu lado ele possa esclarecer o caso dos quatro grandes rios da
Observação, página 57: Catarata no olho com úlcera e França, do Volga, do Niger, do Gânges e do Amazonas.
hérnia. A citada... tinha o olho esquerdo profundamente
afundado na órbita. O olho direito, ao contrário, estava caído Observação, página 47: Doença convulsiva. Uma jovem
na mesma proporção, e recoberto por uma catarata cinza é inconsciente, e em estado convulsivo desde há cinco dias, es-
espessa, À doente estava absolutamente cega. Após o exame, tava deitada de costas, e apoiava sobre seu leito apenas a ca-
o senhor Mesmer prometeu reacomodar os dois olhos e colo- beça e os calcanhares. O senhor d'Eslon, confessando, disse
cá-los em seus lugares, e o senhor d'Eslon assegura que ele ele, sua incapacidade, chamou o senhor Mesmer. Infeliz-
cumpriu a palavra, e que fez a doente ver claramente. mente, eram dez horas da noite. O senhor Mesmer disse que
Reflexão do senhor d'Eslon. Ouve cura? Não houve? necessitava de três a quatro horas para fazê-la sair desse esta-
Olhos são alguma coisa ou nada? do. Ele anunciou que o sentimento de humanidade cedeu à
Os olhos são sem dúvida, muito preciosos; mas quando necessidade, e adiou a operação para o dia seguinte. Enquan-
estão fundidos, como diz o senhor d'Eslon, há uma impossi- to isso, a doente, em cerca de dez horas, foi deixada a si mes-
bilidade física para seu restabelecimento, a menos que haja ma. Daf passou para a casa do senhor Mesmer, ande, segun-
OVA CIAÇÃO, É O SCAhOT Mesmer não chegou ainda a tal do O sénhor d Eslon, seu tratamento foi dos mais singulares,
ponto! dos mais aparentes e dos mais instrutivos.
Reflexão dolorosa do senhor d'Eslon, página 49. Se a na-
Nota do senhor Mesmer: Para sentir tudo o que há de las- tureza postergada para o dia seguinte pela necessidade teve a
timoso no que acaba de dizer o senhor de Vauzesmes, é preci- bondade de ficar à disposição do senhor Mesmer, é preciso
448
FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 449

Observação, página 62: cegueira consequente a inflama-


ção dos olhos. Em seguida a uma doença e aos remédios que
Ê fez-me co* ela exigiu, os olhos do citado***, lacaio, inflamaram-se e
nhecer uma pessoa ligada aos paren
tes dessa maca. Ei ipa E
no PRERVTA tira Dilhete que recebi recent sefeseoreestrass TE
esse assunto: a senhorita P*** emente sobr um saboiano. O senhor Mesmer tocou os olhos por alguns
ficou seis meses na casa do se-:
nhor Mesmer, onde foi tratada minutos, o cego voltou a enxergar, e na alegria do seu cora-
de uma doença nervosa. De-
pos de ela ter voltado para a casa de ção, desceu, pagou o saboiano, dispensou-o e voltou para
seus pais, o senhor: casa sem condutor.
son veio vê-la , e assegurou que ela estava radi
curada. Mas, atualmente, ela calmente” Após essa exposição tem-se o direito de dizer: ou os olhos
voltou à ter suas convulsões
ainda mais sérias. Conseguiu-se não estavam atrofiados; porque a atrofia é uma espécie de
que os guardas franceses não.
essem ruídos na rua ao passar diante emurchessimento, de dessecamento, que destrói, em alguma
Além do mais, esta moça passou da porta de sua casa, - intensidade, a organização; ou, se estavam, o senhor Mesmer,
a mesma doença a uma d qualquer que fosse o seu método, não poderia restabelecer o
suas irmãs mais nóvas e ao cãozinho que
dormia com ela órgão em alguns minutos. Há então nessa observação um erro
Nota do senhor Mesmer: Eu gast de cálculo: eis aqui. Este doente é ainda mais um dos que eu
o oito dias na viagem a : conheci, infelizmente para o senhor d'Eslon. Não é verdade
Orleans citada pelo senhor de Vau
zesmes. Durante minha au- que tinha os olhos atrofiados. Foi verificado que uma grande
sência, ; àa senhoriti a P***
tea, estando só, teve a fantasia abundância de humor seroso se encontrava nos seus olhos;
Por que cargas d'água, , não sei .
de subir tão alto. Ela colocou una que ele tinha sobre a córnea várias manchas que a obscure-
trona sobre uma mesa, e sobre pol- ciam. Ele ficou por longo tempo na casa do senhor Mesmer,
a poltrona uma cadeira m
essa edificaç ão caiu sobre ela, a queda foi
rita P*** caiu sobre o assoalho, desastrosa, A. senho.
sem consciência e sem movi. que ele é copiado palavra por palavra. Seja o que for, veja-se esta Carta
mentos. O senhor Didier e suc ou Nota. Não desejo que me acusem de alterar em nada a produção do
essivamente o senhor d'Eslon
foram cha mados. À lembrança de que eu já senhor de Vauzesmes: “A senhorita P***, primogênita, que esteve por
essa senhorita inspirou-lhes a havia atuado sobre. mais de seis meses nas mãos do senhor Mesmer, devido a violentos ata-
resolução de me chamar, sem ques de nervos, está atualmente mais atacada do que antes. Ela transmi-
adininistrarem nenhum remédio:
mas a demora foimais além tiu mesmo esta doença a uma de suas irmãs mais jovens, que está nesse
O que eu poderia prever, por
que cheguei vários dias após momento em grande perigo. Além do mais, um cão que dormia com ela
acidente. Apresentei-me no mes o mostrou os mesmos sintomas. Essas moças são filhas de um inspetor ge-
mo instante junto à doente à
qual fiz retornar a si, mas as con ral das... e moram na rua... Elas pediram e obtiveram, nestes dias, que os
segiiências dessa queda me in- guardas franceses não batessem a caixa por ocasião da retreta, porque
quietaram por longo tempo: acre
ditei, durante quatro meses e isso lhes causava dores intoleráveis. Foi q senhor Didier, cirurgião, rua
meio, que não restaria nenhum
mal a essa senhorita. Não me nova de Santo Eustáquio, que viu as senhoritas. O senhor D'Eslon foi
desesperei a ponto de fazer adm
inistrar-lhe os últimos sacra- vê-las também e as disse curadas.” Posso assegurar que o senhor de Vau-
mentos. Felizmente, a natureza zesmes errou ao denunciar o cãozinho à Faculdade. Jamais Azor teve
reparou os defeitos. No mo
mento em que escrevo, a senhorit ataques de nervos. Ele por longo tempo acompanhou sua patroa aos
a P*** está no mesmo est o meus tratamentos, mas, longe de latir, como tantos outros animais, con-
do em que se achava antes do
acidente.42 o tra o magnetismo animal, tinha em mim uma grande confiança. Ele sabia '
muito bem distinguir, na minha ausência, quando sua patroa realmente
necessitava de minha ajuda. Então, vinha me procurar, e muitas vezes
142 Nota de Mesmer: A Memóri comprovei que ele não se enganava e que o instinto o fazia agir. Como
a do senhor de Vauzesmes está
pape intitulado Carta ou Nota no agregado adendo à leitura do decreto da Faculdade de Medicina de Paris, provarei
maria por Original do texto se
qual não vejo utilidade. Eu o to-
o senhor de Vauzesmes não asse que essa corporação não levou em consideração a queixa do senhor de
gurasse - Vauzesmes contra o cãozinho.
450 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELAT
IVOS AO MAGNETISMO 451

onde tomou muitos banhos, tisana, creme tártaro. Ele sentiu


uma espécie de alívio durante os quinze primeiros dias, mas Não se gosta de ser tratado publicamente
mesmo pelos
não saiu do estado parecido com aquele que tinha quando senhores d'Horne, Bacher e Paulet, de almas
pusilânimes, de
trou. Daí esse doente encontrou o senhor GrandkJean, que cabeças exaltadas, de visionários, de loucos
lhe deu um certificado para se apresentar aos incuráveis. O se- etc.
nhor Cadet, cirurgião, enviou-o ao senhor Chamferu, que o As senhoras sob meu tratamento acharam
muito ruim
fez passar ao Asilo de St. Sulpice, onde ele foi ter às mãos ie que o senhor de Horne se permitisse dizer
que eu emprego
nosso confrade, o senhor Doublet. Foi visto pelos se pres meios de sedução, que não são meios do arsen
Thierry, de Buffy, Tissot e outros médicos. Um tratamen o al da medicina.
tinha, Creio que o senhor Bacher terá tido poucos admi
tmais ativo desviou para cima o fluxo do humor que ele
no seu estilo no trecho que citei, e onde a senho radores
agora houve uma sensível melhora. ei rita de Berlan-
Eis duas pretensas curas, e mais fatos impostos, reco: eci court é designada sob a denominação de
a donzela. Creio ser
dos como absolutamente falsos. Não se pode ter 9mesmo j : bom não examinar passagens desse rude
gamento para com os demais? Por que o senhor d'Eslon, com dscritor, que, se sig-
nificam algo, são de uma grosseria abominável.
eu já disse, oculta os nomes, as qualidades, as residências de 5
pessoas que são objeto dessas observações! Do mesmo m do O padre Gerard, procurador geral da Orde
m da Carida-
com as observações. O senhor d'Eslon não crê que se as ver de, ficou muito chocado ao se ver indecent
ca? Nós podemos então rigorosamente exigir dele que um emente citado na
gazeta do senhor Paulet. O tom desse gazet
nome a cada uma de suas observações, se não quiser ue se eiro não mostra re-
confunda com as que publicam diariamente os charlatães.
almente nem o caráter nem a honestidade desse
religioso.
. Elas interessam essencialmente ao público, porque são as ca O mesmo senhor Paulet, fazendo alusão à parte
ras extraordinárias que se lhes apresenta numa circunstância do livro
do senhor d'Eslon, em que é dito que eu passei
muito importante e muito delicada. Além disso, as ença! a noite num ca-
que ele expõe não são nem vergonhosas nem ridículas.
tre de campanha ao lado de um dos meus doent
es em perigo,
acrescenta, decorosamente entre parênteses,
que eu durmo
Nota do senhor Mesmer: Se a circunstância é muito importan- com meus doentes. Peço perdão aos meus leito
res pela inso-
te e muito delicada, o senhor de Vauzesmes a escreveu com um lência do termo. Apenas o cito,
tom muito trigueiro e muito indecente. A Faculdade nãoé men É preciso que seja feito um elogio à discr
culpada por não lhe haver imposto silêncio com indignação. ição do senhor
d'Eslon, tanto que se sua corporação tivesse
tomado resoluções
O senhor de Vauzesmes, falando dos tratamentos do cita- dignas dela, ele teria disposto de tempo para
lhe dar todos os
do P***, lacaio, escreve: eis duas pretensascuras, émais fatos a esclarecimentos dessa espécie que ela tivesse
se or podido desejar.
serem impostos, reconhecidos absolutamente falsos.
d'Eslon não deu nem um nem outro por curas, mas por trata Tratamento do senhor Busson
mentos extraordinários. Eu já falei da senhorita P Na a E Isso é público, É um artigo, senhores, que
é muito
impor-
do citado *** porque essa gressã tante esclarecer. Na penúltima assembléia do
rei aqui sobre o tratamento & senhor d'Eslon lhes anunciou à muito
prima-mensis,
retalharia agora muito a Memória do senhor de auzesmes, alta voz, e com sua
conhecida segurança, que o nosso confrade,
mas eu o colocarei imediatamente a seguir à Memória. o senhor Busson,
tinha sido declarado canceroso é incurável, que
Quanto ao-scanho J A não a dada no a
:
TO pes
o senhor
z sea DEE TERIA ULIEMOSTCIÃO tra
su-
nome dos doentes, ele acreditou, sem dúvida, em não a puração com bom prognóstico e que ele
estava à véspera de
uma cura ridícula. O senhor d'Eslon e os partidários do
pô-los. Poucas pessoas gostam de serem citadas em público e netismo fizeram soar bem alto esta futura
mag-
nos livros, sobretudo para não serem alvos dos malditos escri senhores d'Horne, Moreau, Louis, Ferrand,
cura, Eis o fato: os
Lassus, Grand-
tores sem pudor, Jean foram as únicas pessoas da arte chama
das para ver 0 se-
452 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 453

nhor Busson. Eles o consultaram várias vezes em conjunt


4 qualquer, numa situação grave e que ele imagina desespera-
sobre seu estado. Todos decidiram que o pólipo não era car
ne dora, tenha fé num charlatão que assegura com audácia queo
ceroso, nem mesmo incurável. Como não se pôde determi
curará, sobretudo quando os socorros apresentados pelas
nar onde se implantavamo suas saízesp se sem ampastado pessoas dã arte não são muito disponíveis € muito eficazes?
cido, e que sempre havia um escorrimento linfático é
sanguinolento, acreditaram que extirpando ou atacando por.
cáusticos, sobreviveria uma hemorragia que seria talvez im. Nota do senhor Mesmer: O que está muito claro, no meu
possível de conter, ainda mais que o senhor Busson tinha : - modo de ver, na narração do senhor de Vauzesmes, é que, na
grande propensão a essas hemorragias. Todos convieram que: Faculdade de Medicina de Paris, vários membros recearam
só poderia ser feito com que uma fusão bem-sucedida se - que eu não tivesse êxito na cura do senhor Busson. É preciso
tabelecesse nessas partes e que o pólipo se autodestruiris
sem operação, experiência que já mostrou por mais de umá
assegurar-lhes: o senhor Busson morreu malgrado meus cuida-
vez que a natureza se desvencilha por este modo, mas que dos, ou por meus cuidados, como queiram. Eu reservo a expo-
não se poderia prever nem o tempo nem o modo. O senhor: sição dos fatos, para colocá-los após a memória do senhor de
Ferrand havia igualmente e particularmente sugerido este Vauzesmes.
.
prognóstico, e eu soube por ele que há cerca de dois meses :
surgiu uma pequena inflamação, uma supuração, enfim Que aflição deve ter se apoderado do senhor de Vauzes-
que
uma parte do pólipo se destacou. Então a senhora Busson, na mes por não poder alegar positivamente que eu fiz com que
vivacidade do seu reconhecimento, escreveu ao senhor Fer- caísse o pólipo de que o senhor Busson estava atacado! Seria à
rand que ele era o salvador de seu marido, e que ela lhe anun- única verdade importante para discutir e a única do tratamen-
ciava o cumprimento de sua profecia. Se a mesma supura-
ção, talvez mais completa, repetiu-se depois que o senhor
to do senhor Busson que o senhor d'Eslon fez valer na assem-
Mesmer e o senhor d'Eslon vieram e trataram do senhor Bus: bléia do prima-mensis.
son, não é uma razão para atribuí-la ao magnetismo, pois que Segundo o senhor de Vauzesmes (e a Faculdade está mui-
essa mesma supuração tinha sido predita como possível, que to contente com ele) eu não sou mais do que um charlatão,
ela já havia mesmo começado a se estabelecer, sem que se
possa determinar exatamente o que depois a interrompeu, Se por ter feito cair o pólipo do senhor Busson. Mas os senhores
outrossim, como eu creio, O magnetismo não produziu a d'Horne, Moreau, Louis, Ferrand, Laffus e Grand-Jean são
se-
guir nenhuma melhora sensível no estado de nosso confrade, e pessoas hábeis por terem pronunciado que isso não seria im-
como eu temo, este estado infeliz vier a piorar, os senhores possível para Deus.
-
Mesmer e d'Eslon portanto não cessarão de cantar vitória.
Um acidente ou uma imprudência qualquer terá, segundo Eles se reuniram, estas pessoas hábeis, eles consultaram,
eles, sido a causa de todo o desastre, O magnetismo terá sem- eles decidiram que não sabiam onde se implantavam as raízes
pre feito um milagre, e esta cura brilhará tanto mais quanto do mal! Eles veriam que o pólipo estava empastado e amoleci-
terá sido operada sobre um homem distinguido na sua arte, do! Eles reconheceram um escoamento linfático ou sanguino-
pois o charlatanismo sabe habilmente aproveitar-se de tudo.
lento! Acreditaram numa hemorragia! Enfim, não ousaram
Mas, pergunta-se, como é possível que o senhor Busson
tenha se entregado aos senhores Mesmer e d'Eslon? A isto eu o dar nenhum socorro ao doente, mas o consolaram com belas
respondo citando dois exemplos: já não vimos que o senhor palavras! Infeliz por ser louvado pelo senhor de Vauzesmes e
Baron, célebre químico, consentiu no tratamento de uma obter assim os sufrágios da Faculdade de Medicina de Paris!
hidropisia que terminou seus dias, por uma chusma de char-
latães dos quais ele tomou em confiança todas as drogas? O É bom assinalar aqui que tudo o que nos forneceu o senhor
senhor Ferrein não foi morto por um saquinho de Arnould, d"Eslon sobre o magnetismo animal e sobre as pretensões do
aplicado sobre seu peito? É extraordinário que um doente senhor Mesmer, é um contínuo plágio e que o citado Leroux
precisamente publicou as mesmas coisas em 1777, mas o ci-
asá FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELA
TIVOS AO MAGNETISMO
455

rurgião escreveu bem diferente do senhor dEslon pad sobre Outra contradição não menos
Britante, Na página 35 se lê:
t q
ue ele fez, ordem, clareza, se m pretensão no estilo Assim como a medicina é uma,
o remédio é um, e este remédio
: qem baixo nem gigantesco, Ele é sempre conseqiiente. Seas É o magnetismo animal. No enta
nto, à página 95 o senhor
Isa
curas que ele exaltou sãão falsas, como aquelas doo d'Eslon nos diz: O senhor Mesmer
admite a sangria e os vo-
d'Eslon, não são pelo menos ridículas e inverossímeis

Nota do senhor Mesmer: Não tenho o espárioo para com- rtaro quando
p lagiário do senhor Leroux, visa a obter uma evacuação, que
o o senhor d'Eslon,'
necessita de águas minerais, tam
crê necessária. Quando ele
senão
di a on
ão disse
ão ã o coisas
c o i ri idí culas e i
inveross ímeis,É , enquanto quec D'Eslon nos assegura sempre
bém as emprega, E o senhor
que a sangria, os banhos, gs vo-
este mesmo senhor Leroux é sempre consegúente, apesar g mitivos, os purgativos, as água
s minerais das quais se serv
dizer coisas falsas. A Faculdade de Medicina de Paris comp diariamente o senhor Mesmer,
não são remédios,
e

ende tudo isso!


Nota do senhor Mesmer: Esta
passagem me lembra que o
As contradições numerosas nas quaisi aui o Sta or senhor Paulet disse na sua gazeta
que eu tinha em minha casa
ã grosseiras
d'Eslon são i e rev oltantes. Os senhor é saberm, , por uma botica, com tuibarbo, sene
exemplo, e eu o i
disse ;
an: teriormente, que que o sen or Mesmer , creme de tártaro, xarope,
quina, e mesmo armonica etc,
ici
solicitou issári
comissários, aos q uais deveria
ve submeter de etc. Foi nessa botica que o se-
nhor de Vauzesmes encontrou
ta e seus tratamentos; depois, à página 1 47, ele quis gua os purgativos e as águas mine-
seu segredo, e rejeita toda espécie de juizes. rais as quais a Deus não agrada
de que me sirva.
Emprego fregientemente os banhos
quando tenho as co-
Nota do senhor Mesmer: Eu ki o livro do senhor d'Eslon, modidades, mas sou quanto a
isso tão pouco guiado pelas
mas eu não o havia analisado tão espiritualmente. idéias comuns que me serv e indiferentemente a água do
da fonte ou do poço. Demonstra rio,
içõ
contradições, i
página nhor
38: : Palavras do senhor rei um dia que a ciência quan-
SEO magnetismo animal tem seus dissabores. A assidui
to a tais dif
erenças é ignorante.
dade as dores muito fortes ocasionadas por esse agente, a 0 e Pelas razões alegadas pelo senhor
a ou d'Eslon, eu faço um uso
tinação do mal, as diversidades dos organismos muito moderado da Sangria e mui
j ue ele é bem positivo: muito bem! a pº
f “a. - + a to raro de vomitivos.
O creme de tártaro, a magnésia,
Om animal dá coragem, o remédio aii a a orchata, limonada, laran-
visisto a pouc ; jada, água de groselhas, são bebida
io, parece que nos toma maisj fortes, tenho s comuns para meus doentes.
o a aliar a constância. É um meio de responder a o
jeçõ
das as objeções iam
que poderiam fazer todos
€ osos doentes,
doentes, Antes não uso medicamentos. adequado, que
do tratamento se lhes promete que n ão mais sofrerão, € ap
se os faz crer que era necessário que o contrário acontecesse O senhor d'Eslon nos falou de febr
fluxos do peito, de obstruções, de e miliar maligna, de
disenteria, de paralisia ini-
Nota do senhor Mesmer: Leiam,i repito sempre, 9 senhor
ator cial, de cores pálidas,de reumatismos, de vapores, de
dores
d'Eslon no original se quiserem compreendê-lo. Senão, de cabeça. E ele nos assegura,
à página 101, que esses exen-
S FFoaR
F E ss E a rt lot Sia tipieae erga dosnT
CVAOS d
ERhorê Vaz e EO Bráves, que desde hã muito
tempo têm desafiado os efeitos
3

d'Eslon visa a enganar delicadamente todos os doentes, fazen- da medicina conhecida. Como
o senhor d'Eslon ousa falar dess
a maneira dos médicos?
do impor seu modo de pensar. Onde nesse momento ele Prov
a sua mais completa ignorân-
cia, ou ele nos insulta supondo-
nos a todos ignorantes do
mesmo modo!
456 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 457

— Nota do senhor Mes mer: Se o senhor de Vauzesmes se ir


fita, é uma infelicidade imprevista. mou ele É isto um tratament, E quando se trata de estabele-
Eu acreditava também que
as moléstias cita das pelo senhor d'Eslon fossem graves cer os efeitos maravilhosos do magnetismo, escutemos 0 que
ele disse pelo órgão do senhor Cadet: é preciso ao menos du-
. Enfim, senhores, eu poderia fazer vidar quando uma tal conclusão é tirada por um médico, &
aqui uma longa enuncia- por um médico da Faculdade de Paris que jamais cessou de
ção das doenças às quais o senhores
Mesmer e d'Eslon prome- usufruir a dupla reputação de homem de mérito e do mais
teram uma total cura, e cuja intenção
foi rompida. Não há nin bondoso homem. Eis pois o senhor Cadet que nos assegura
guém dentre Os senhores que não
conheça essas doenças. Eu “que o senhor d'Eslon é um homem hábil e honesto: essas as-
peço aqui aos senhores Bertrand,
Malloét e Sollier que, di- serções podem ser interpretadas de uma outra maneira.
Ba-se, seguiram vários tratamen
tos mesmerianos, se eles Vi-
ram algumas curas reais, operadas pelo magnetis
mo animal? Nota do senhor Mesmer: Deixemos de lado o mérito do
Nota do senhor Mesmer: Eu me junt “ senhor d'Eslon. É certo que ele goza de uma grande reputação
o ao senhor de Vau-
sesmes para interpelar os senhores de honestidade. Jamais na própria companhia foi levantada
Malloét e Sollier para que
gam a verdade por si mesmos. Eles
estão convidados à dar “uma dúvida a esse respeito. Como pôde ocorrer que o senhor
seu modo de pens ar público pelo Jornal de Paris. - de Vauzesmes tenha lançado um problema tão injurioso con-
“tra o senhor d'Eslon a propósito de um livro no qual ninguém é
MS, senhor de Se Lubin, paralítico, insultado ou mesmo nomeado?
não foi curado: o senhor
O enviou às águas de Bourbon, e é o
doente co
radic
,
al do qual tanto se falou, t
Não foi sem propósito que esses senhores assumiram uma
e
m

linguagem ambígua. Com efeito, o senhor Cadet, após ter


, Nota do senhor Mesmer: O senhor elogiado o conjunto da honestidade e da probidade dos se-
St. Lubi n foi para as
guas e Bourbon, mas contra o meu nhores Mesmer e d'Eslon, fala-nos, logo em seguida, da ani-
aval. Ele pagou essa im- mosidade de seus inimigos, de modo que não se sabe se os ini-
prudência muito caro para podê-la
censurar. migos são incitados contra o senhor d'Eslon. Ninguém
Que o senhor d'Eslon cita entre entretanto havia ainda inculpado este último quando surgiu a
alguns confrades estimá- carta do senhor Cadet. Registra-se a mesma ambiguidade
veis que atestam
a mesma coisa que ele. Existirá
Até aqui não há senão o senhor Cade um único? quando os senhores Cadet e d'Eslon nos falaram das corpo-
t, apotecário da rua San- rações de sábios, às quais se dirigiu o senhor Mesmer, e quan-
to Antônio, que pôde dizer: O senhor
Mesmer fez curas: elas do eles falam de pessoas da arte que dizem ter seguido seus
lhes foram negadas assim como o test emunho dos doentes
Esses doentes nunca foram conh tratamentos. Pessoas honestas, e amigas da verdade, escre-
ecidos. Ele continua assim: vem de um modo tão capcioso, tão equívoco?
Ele realizou novas curas sob os olhos
de vário
médicos, como já lhes disse, são os senh s médicos. Esses
ores Bertrand Mal- Nota do senhor Mesmer: Quanto eu possa me conhecer,
lo&t e Sollier. Eles viram as curas,
acrescenta o senhor Ca-
det. Depois ele termina desta maneira:
Via-se enfim, em tor os erros dos quais é acusado o senhor Cadet restringem-se
no da sua mesa mágica 30 vítimas
todas, Sem exceção, provando dos
das misérias humanas 1. em ter reconhecido no senhor d'Eslon um homem de
efeitos salutares do magre- mérito e um homem de probidade;
tismo, dos quais nenhum desmentirá
o que adianto. É preciso
ser tão confiante e tão pouco instr
uído como o senhor Cadet 2. em ter cometido uma falta de estilo — isso não me pare-
para ousar prev er tão ousadamente este futuro, ce tão grave.
- Para subjugar a confiança pública,
o
disse num tom confiante: Pesem o que senhor d'Eslon nos As palavras atribuídas ao senhor Cadet estão consignadas no
sou e o que posso ser.
Após haver descr ito uma observação: é isto uma cura Jornal de Paris. Não posso nem afirmar nem negar com seguran-
? Excla-
ça quais são e quais não são do senhor Cadet. O que há de certo é
458 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HisTÓRICO DOS
FATOS RELATIVOS AO MAGNET
ISMO 459

que o Jornal de Paris, fazendo voto de imparcialidade a meu res- dade de Racine e Despreaux,
em que todo culpado, segund
peito, publicou a favor e contra mim. Para agradar ao senhor de certas regras, era condenado a o
ler os versos de Chapelain.
Vauzesmes, ele teria de aprovar apenas o que me é injurioso.
Estou engajado a dar alguns esc
Os senhores Mesmer e d'Eslon asseguram sempre que larecimentos sobre o trata-
mento do dito P***, citado
eles tiram o mal como com a mão — essa é sua expressão —; pelo senhor d'Eslon página
seguintes, e negado pelo senhor 62 e
que os remédios utilizados na medicina comum, se não são de Vauzesmes,
inúteis, ao menos são perigosos; que o magnetismo animal, O citado Charles Lecat, dito
Picard, criado do senhor ca-
quando bem empregado, em um único mês, por exemplo, valheiro de Servan, residente nas
por seu meio se obteriam 400 ou 500 evacuações; que o mag- Tulherias, pátio da Comédia
Francesa, era-me totalmente
netismo, disse, em lugar de enfraquecer dá forças e vigor. desconhecido. Cego, a ponto
não poder se conduzir, de
Não é essa a linguagem do charlatanismo e da sedução? Além foi levado à minha casa por um
do mais, se o tempo não lhe permite fazer na casa do senhor no, e me foi apresentado pelo sen saboia-
hor d'Eslon. Eu o toquei por
Mesmer um tratamento seguido, não há razão para se inquie- cinco ou seis minutos: saiu de
tar. Pode-se fazer apenas uma metade, ou apenas um terço seus olhos um humor seroso
quantidade considerável; o que em
ou um quarto, e finalmente, não importa o intervalo que se lhe restituiu subitamente a fa.
coloque entre estas partes do tratamento, sempre se obtém culdade de ver a ponto d € estar capacitad
casa sem condutor.
j o de volt
cura total. O autor da Gazera da Saúde (senhor Paulet) não º
teve razão de empregar apenas gracejos quando se deu conta pera sua
Este homem voltou no dia segu
de uma obra tão cheia de coisas tão ridículas? Seria necessá- inte, implorando para que
eu me dedicasse a empreende
rio um grosso volume para analisar seriamente todas as con- r sua cura, essa espécie de
tradições, os absurdos contidos nessa pequena brochura. quência que a miséria e a elo-
desgraça fazem tornar per
Cumpri a missão que me foi imposta se pude, senhores, bem melhor do que todas as regr sua siv a
as da arte. Não é do meu cará
provar as manobras do senhor Mesmer, a associação escan- ter repelir o pobre com dureza, -
dalosa do senhor d'Eslon com os charlatães. Se lhes fiz ver Eu buscava desculpas e eu as
nha, que podiam seguramente ti-
que ele havia injuriado as corporações literárias, e especial- passar por razões: eu estava so-
brecarregado de doentes, e minha
mente esta Faculdade. Enfim, se demonstrei o ridículo, a casa não oferecia um recanto
falsidade de seus princípios, o absurdo, a impossibilidade, a qualquer para alojar um infeliz
cuja indigência o teria deixado
falsidade das curas que ele lhes apresentou para examinar. sem pousada próxima à minha
casa.
Eu ataco somente sua ridícula e muito perigosa doutrina, que esta última dificuldade, encarrega O senhor d'Eslon assumiu
considero como inimiga do bem público, e que compromete ndo-se do alojamento: eu tive
esta corporação, porque é como doutor regente desta Facul-
apenas O mérito de me encarregar da alimentação.
dade que ele apóia essa doutrina, À cura radical de Picard não
era coisa fácil nem coisa de
Deixo a seu julgamento, senhores, decidir sobre a obra do pouco alento. Já tive ocasião
de observar que os males agrava
senhor d'Eston, porque, repito, não viso à sua pessoa. dos pela arte eram bem mais -
(Fim da Memória do senhor de Vauzesmes e das Notas e cruéis do que os males devido
apenas à natureza. Picard havia s
acréscimos.) tido a inf
elicidade de passar por
tratamentos mercuriais, admini
strados com a máxima indise
Diota-dosenhHor-Mesmetr-isãe-tenkoe-cersct
e Ee crrer ão Vb 1 mitranta sua
ssa astro
ri
ELA CI INICIA Casa,
tudo o que me
tar a peroração do senhor de Vauzesmes. Eu felicito o leitor e podia prometer razoavelmente,
ou seja, que após lhe haver pro-
a mim por termos conseguido chegar ao fim de sua memória. Porcionado a faculdade de ver
eu a conservei e a reafirmei
E um terrível dever o de transcrever e comentar o senhor de ponto de ele andar e ver por tod a
a Paris, e ajudar no serviço de
Vauzesmes. Isto lembra bem a penitência imposta pela Socie- minha casa com a maior liberdade
. Aquele que maneja com vi-
460 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 461

dros e porcelanas, lava-os, limpa-os,


transporta-os, guarda-os & “Senhor Doublet ao senhor Roussel de Vauzesmes
entrega-os onde e a quem eles pertence
m, numa população nu- “17 de setembro, à noite (1780)
merosa e perturbada — este certamente não e à
— não tenho obse rvado minuciosamente os progressos “Você conhece sem dúvida, meu caro amigo, à triste cau-
olhos. Ele via e via bem: é tudo que tenho de seus $a que muito perturbou a minha cabeça a ponto de me fazer
feito.
Restavam duas grandes dificuldades esquecer sua carta e sua pergunta, Não pensei nisso senão on-
a relevar. Os olhos tem. Enquanto eu continuava esta manhã uma muito longa
estavam recobertos por catarata: eu esta
va persuadido de que história sobre o homem em questão, o acaso o trouxe à minha
com O tempo conseguiria dissipá-la.
Em segundo lugar, os casa. Para, disse-me ele, agradecer-me novamente, e para me
olhos estavam diminuídos, dessecados,
endurecidos - em tma pedir um certificado, assegurando-me de resto que se falava
palavra, atrofiados. Duvidei de que jama
is teria condições de pela cidade sobre sua entrada no Hospital, e que se dizia que
restabelecer o órgão à sua condição primi
tiva, mas esta ele havia sido tratado apenas para fazer pirraça a Mesmer.
vencido de que lhe seria útil.
eo Sem crer firmemente nisso tudo, e sempre tomando cuidado,
O senhor de Vauzesmes perora muito
inutilmente sobre a eu lhe dei um certificado nos seguintes termos:
expressão olhos atrofiados. Existem vário
s graus de atrofia, e à “Eu, abaixo assinado, doutor etc., certifico que o dito
língua francesa não possui um termo expresso para designar
um desses graus. A prova suplementar de cada Charles Lecat, criado, chegado ao Hospital a 20 de Junho com
que os olhos de Picard a visão tão obscurecida que ele via apenas seu condutor, saiu a
estavam atrofiados, baseia-se em que eles estão ainda
os cuidados eficazes e louváveis do nosso conf , mal do 25 de agosto, não perfeitamente curado, mas distinguindo
rade Doubler bem os objetos, e lendo mesmo num livro com caracteres me-
E baseado na palavra do confrade Doublet
Vauzesme
que o senhor de
s nos trata de charlatães ao senhor d'Eslon dianos. À catarata que ele tinha na córnea, inteiramente dissi-
Quem é o senhor Doublet? O senhor Doublet
e a mim pada no lado direito, e do lado esquerdo, quase que totalmen-
Ásilo de St. Sulpice em Paris. Além disso
é médi co do te. Examinado de novo a 17 de setembro, encontrei as coisas
, doutor da Faculda- quase da mesma maneira. Ele leu meia página do Dicionário
de, da mesma época, com a mesma
experiência quase da de história naturai de Bomare, última edição, in-4º, e como o
mesma idade que o senhor de Vauzesme
s. doente me disse ainda que não está sempre bem como hoje,
o Por que acaso, por qual fatalidade, por
qual vício da insti- que a fadiga e a atenção lhe causam transtornos, eu o creio ain-
tuição, deseja-se colocar à testa de hospitai
s médicos sem repu- da incapaz de fazer os trabalhos necessários para ganhar a vida.
tação ou sem mérito? Ou, o que apresenta o mesmo problema Em boa-fé eu assinei.
sob outro aspecto, por qual acasó, por
qual fatalidade por qual “Ele é certamente o homem com o saboiano, a pessoa da
vicio da instituição, o público rarament
e outorga confiança aos sexta cura citada no Jornal de Medicina de setembro, porque
médicos dos hospitais? Há certamente
nesta caminhada contra não conheço o original do senhor d'Eslon. Ele permaneceu vá-
a natureza um vicio radical, ao qual nunca
se deu muita atenção. rios meses na casa de Mesmer, e saiu vendo apenas ao seu
Volto ao senhor Doublet. É baseado em
sua palavra que o condutor, nos momentos de maior luminosidade. Ignoro em
senhor de Vauzesmes deu um desmenti
do formal ao senhor que estado ele estava quando se apresentou ao senhor d'Eslon,
d'Eslon. . Eis a carta do o senhor Doublet
na qual os mas assim estava ele quando veio à nossa casa, testemunharam
Vauzesmes se baseou.
é enhor de os senhores Chamferu, Cadet, o cirurgião, que o viram então.
Testemunharam 50 pessoas que o viram chegar ao Hospital,
462 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATO
S RELATIVOS AO MAGNETISM
O | 463
dentre as quais posso citar Thierri, de Bussy e Tissot, oito dias
após a saída da casa do senhor Mesmer. Testemunhas são tamo nicada à Faculdade. Se Thierry,
de Bussy, Tissot e Mesmer não
bém todos aqueles que vieram vê-lo hoje na casa do senhor merecerem a seus olhos algum
e respeito, parece que, por tes-
Moine, relojoeiro, rua Fauxbourg Montmartre, onde ele cou, peito a essa corporação, seria
bom banir dessa carta essa bai
e desgastada familiaridade, que xa
“Eis o resumo do fato que você me pediu, meu caro ami- não parece senão um hábito
crapuloso, embora muitas vezes ele não pareça, talvez,
go, e creio que você não precisa de outros detalhes. Se todas as inade-
outras curar citadas pelo senhor Mesmer não estão mais bem
de de Vauzesmes e dos dois
apoiadas que aquelas, sua causa é tão boa quanto dei meu inseparáveis.
amigo, e não havia outro modo de tratá-la do que estal e ecer a Do que se tratava? Provar que
o senhor d'Eslon havia se
comparação dos fatos. Não irei amanhã à Faculda e: meus imposto ao público. Ent ão, há duas coisas a demonstrar:
afazeres não me permitem. Além disso se você fizer uso do 1. que Picard não estava ceg
o ao entrar em minha casa
que o acaso me deu ocasião de lhe apresentar, eu não poderia 2. que estava cego ao sair de min ;
talvez conscientemente opinar. Reuna-se, à saída da assero- nhuma nem outra. Sobre O pri ha casa. Não se fez ne-
meiro ponto, o senhor Double
bléia, a nossos dois inseparáveis, e venha com eles me in or nada disse; sobre o segundo, t
seu certificado diz positivam
mar sobre o curso de um caso pelo qual me interesso de todos O contrário do que pretendia ente
provar. Picard, e ele disse,
os modos. Adeus, coragem e moderação: ataque o erro, des- apenas para se conduzir. Ver via
apenas para se conduzir é e
trua a opinião, mas poupe o homem e respeite-se a si mesmo mal, mas é ver. ver
no seu confrade. É verdade que Picard via ape
nas para se conduzir? É a ex-
“Sou todo seu. Seu amigo Doublet. » pressão do senhor Doublet.
Cingiienta testemunhas estã
prontas, diz ele, a atestar que ele o
O autor dessa carta não parece irrecusável quando nos chegou neste estado no Hos-
pital. Talvez seu testemunho
previne gratuitamente que tem a cabeça perturbada. Interes- fosse mais concludente se elas
afirmassem terem visto o senhor
sando-se, disse ele, de todos os modos pelo curso deste caso, Picard chegar sendo condu-
zido por um saboiano, assim
ele não se deu ao trabalho de ler os detalhes no livro original: como veio à mim pela primei
vez. Porque, segundo ra
ele se contenta com um resumo feito, com, desonra à razão, a declaração ulterior feita ao
d'Eslon por Picard, ele ia encont senhor
pelo senhor Bacher. Ele compôs uma longa história: essa longa rar uma senhora: esta senhora
história ele a deixou de todo para dar um certificado casual
mente. Este certificado dado e publicado por acaso só serve
para ser mantido, não se sabe o porquê, sob suas guardas,
como se essa peça não fosse absolutamente inútil: ele é basea- senhor de Vauzesmes, ela est
da naquela que se vê nas mãos desses infelizes que correm os ava indo encontrar os senhor
Grand-Jean, Cadet e Chamfe es
campos mendigando de cidade em cidade, de paróquia em pa- ru. Vejam bem os percursos
um homem que via abena de
==———p
deó
tupq
arsu
o Enri
inEa
ara
Para seconduzis-D e sei =IH
o: muitas vezes mais próvável,
a meu ver, que se em vez de
asA
Quando o senhor Doublet deixou ao senhor de Vauzes- ter sido apresentada a Histór lhe
ia Natural de Bonare in-4º,
mes a liberdade de fazer uso da carta, não podia deixar de sa- ma edição e que tivesse lido gáilti-
meia página, saber-se que na
ber que ela se tornaria pública, ou pelo menos que seria comu- “dade ele serviu na minha casa ver-
como copista durante quase
- Semanas a uma pessoa que três
tinha necessidade dele. Obj
etarão,
464 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AQ MAGNETISMO 465

não duvido, o relato do senhor Grand-J ean, que


segundo o se- Ainda uma palavra a propósito do senhor Doublet. Com
nhor de Vauzesmes, declarou incurável Picar
d ao sair de mi- qual intenção disse, sem necessidade, a Picard que sua entrada
nha casa. Mas este mesmo senhor de Vauzesmes não.ace: agupa-
que o doente teve uma melhora sensível depoi re Prospitaf- Tao TOT Teita SCHÃO Dara jazer PIFRAÇA À NIesmer:
s de um trata. De nada quero saber. Provei na França várias dessas infâmias;
mento ativo administrado pelo senhor Doublet?
Donde nas- mas tomei o partido de não mais me afetar ou me irritar. Passe-
ceu o dilema seguinte, que eu não resolvi? x o mos aos esclarecimentos que prometi sobre o senhor Busson.
Que o senhor Grand-Jean deu, diria eu, o certi
ficado de O reverendo padre Gerard, procurador geral da Ordem
ignorante declarando incurável um homem susce
tível de cura da Caridade, mandou-me um doente portador de um pólipo
nas regras da arte ordinária. Ou então o senho
r Doublet fez no nariz. Eu o toquei por alguns instantes com cuidado. Obti-
um ato bárbaro, submetendo a um tratamento
ativo um ho- ve efeitos tão felizes que alguns dias depois o padre Gerard re-
mem incurável, segundo as mesmas regras da
arte. latou-me a queda do pólipo e a cura do doente. Este fato, que
Foi verdadeiramente ativo 0 tratamento de que
fala o se- não pude verificar, porque a pessoa a que ele se refere dis-
nhor de Vauzesmes. Durante 53 dias consecutiv
os o infeliz Pi- se-me na ocasião apenas que provinha da vila de Ruel, distante
card sofreu a aplicação de vesicatórios, Horr
ivelmente ator. - duas léguas de Paris, onde estava retirado o senhor Busson,
mentado, sem melhoras, ele pedia por todas
as graças que o primeiro-médico da madame condessa d'Artois, e membro da
deixassem fora, favor que lhe foi recusado
por algum tempo, Faculdade de Paris.
com a promessa que lhe colocariam um sedenho
à noite. Não O pólipo do senhor Busson era enorme. O olho direito,
sei se tiveram tempo de executar essa ameaç
a. Picard em se- deslocado pelas raízes do mal, estava situado sobre a têmpora.
guida atemorizou-se, ou se fez expulsar poucos
dias após por Sua espessura havia alargado a narina do mesmo lado, a ponto
seus gemidos inoportunos.
que ele avançava até o osso da maçã do rosto. Vertia habitual-
O senhor Doublet pretende que, após 65 dias de tortu mente, há mais de seis meses, sangue decomposto. E um des-
em seu Hospital, restassem a Picard frequentes ra
deslumbra-. - vio da pior espécie indicava que a massa dos humores estava
mentos. Eu o creio. Ele pretende por outro lado
que a catarata inteiramente alterada.
do olho direito esteja dissipada, e que a do olho
esquerdo qua- A singularidade da cura que acabei de citar segundo o pa-
se que esmaecida. Eu não creio. Mas não faço
mais do que crer dre Gerard deu ao senhor Busson um desejo ardente de me co-
ou não crer quando o senhor Doublet, após ter
enaltecido os nhecer. Ele rogou ao seu velho amigo, o senhor d'Eslon, para
maravilhosos efeitos de seus tratamentos ativos, prom
ove um obter-lhe tal satisfação. Fui conduzido a Ruel sob pretextos
encontro para os curiosos na casa do senhor Lemoi
ne, relojoei- sem importância para detalhá-los. Fiquei muito tempo com o
ro, rua do Fauxbourg Montmartre, para convencer
que o se- senhor Busson, ouvi os detalhes de seus males, discuti sua opi-
nhor Picard não mais vê para se conduzir.
nião, os seus conselhos, a minha opinião, e dei-lhe meu aval.
Rogo ao leitor judicioso que creia que eu não tenho
nenhu- Anunciei que se estabeleceriam dois pontos de supuração que
ma pretensão de ter vaidade das vantagens que me
dão os se- necessitariam ser abertos, ciente de que o pus estagnante não
nhores de Vauzesmes e Doublet, mas na questão
de que trato é causaria a abertura ou a tornaria incurável. Durante todo esse
extremamente importante fazer ver por quais
relações, por tempo, eu o tratei, e operei nele efeitos satisfatórios.
quais razões, e por quais personagens foi seduzida a Facul
dade O senhor Busson pareceu estar satisfeito comigo, e sen-
de Medicina de Paris quando rejeitou minhas proposiçõe
s. tiu-se bem novamente. Depois da minha visita, ele sentiu um
466 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS
FATOS RELATIVOS AO MAG
NETISMO 467

bem-estar desconhecido há muito tempo. Ele recorreu à pro-


teção do senhor conde D'Artois, que achou por bem me dizer
“que ele desejava que eu tratasse do senhor Busson, porém,
desde que acreditasse que isso não iria comprometer minha
reputação”. Este testemunho tocante de interesse não me dei-
xou a liberdade de escolha: fiz dizer ao senhor Busson que
como a natureza do seu mal não me permitia tratá-lo com
meus outros doentes, ele poderia alojar-se em minhas vizi-
nhanças, onde eu lhe consagraria os momentos que pudesse
extrair de minhas ocupações ordinárias. Este arranjo foi con- crito nos momentos nos
quais a possibilidade da cen
“veniente ao senhor Busson. r a se passar não devia ser a que ve-
R presumida. Quanto à memó
ria do
Obtive o fim do escorrimento sanguinolento e da diarréia enhor de Vauzesmes, ele . conclui que ela foi colocada
coliquativa, o pólipo caiu, o nariz diminuiu, o olho voltou à ór- sobre a
bita e, ainda mais, o senhor Busson adquiriu forças suficientes
para passear pelas alamedas. Mas, no momento crítico, quan- acordado.143
do os pontos de supuração anunciados apareceram e as aber- Antes de transcrever o dis
curso do senhor d'Eslon,
turas neles foram feitas, perdi toda a esperança. Os humores dsonalar que é essencial d.
colocá-lo em comparação
que surgiram na ferida se organizavam à medida que elas apa- sen or de Vauzesmes. Por aquele do
que se o senhor d'Eslon dis
reciam: os progressos da esperada chaga surgiram a descober- ensatas enquanto o senhor se coisas
de Vauzesmes disse apenas
to, e eu não pude evitar o exaurimento ocasionado pela de- rias e abs urdos, é evidente que a Fac injú
composição do sangue e dos humores. uldade de Medicina de
Entretanto, não me afastei dos cuidados para com o senhor
Busson. Ele os amava, ele os desejava, ele os solicitava, eu acal- pessoa judiciosa.
mava suas dores. Foi assim que o acompanhando ao túmulo, o saio qgodor d'Eslon não
usa dé cautela no seu dis
que não pude evitar, vi-me cumulado por suas bênçãos: ameni- q edade Real de Medicina. curso à
Essa condut
a, em aparente opo-
zei as amarguras de seus últimos momentos e recebi da família - IÇão ao seu caráter,
é, entretanto, muito
lacrimosa o testemunho de uma sensibilidade insuspeitada. . consegiente. Sem-

Pode-se comparar esse relato com aquele do senhor de Va


zesmes. Refiro-me à narrativa do que se passou na assembléia dá
Faculdade de Medicina de Paris a 18 de setembro de 1780.
. nto
Pon tossen hor
. Ent
À satisfação com a qual a leitura do senhor de Vauzesmes'd re Bus sos
butr as E O isas . O senhor
o D Eslon pretendiaj, Quanto ao as -
aviastdo acolhida fez entenderao sao e O TIO
TU SSIOL O QUAnto US. tá ima gra da senhora E dEPos deveria
Busson ao senhor D'Home
espíritos estavam exaltados. Ele sentiu a inutilidade de se te: Va
. n O S meu
e s cuidad e ososmeus Tesuresul
na qual essa senho-
pa ltad tados. Esta carta o senhor
tar aguardar por tempo mais longo e a necessidade de se té Presentou, para provar T
que,
que, pelo
de
pelo £: fato de a senhora Busson
A e senhor Mesmer, esta
tringir ao seu próprio objetivo. : pao
va evidente que ela havi
a sido seduzida
ter slon. Não sei porque se reti
o senhor de Vauzesmes. rou essa caricatura da Mem
Ela não era assim tão má o-
468 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 469

pre contrário aos conluios inconsiderados de sua corpor


ação Se os senhores se dignarem a me dar alguns momentos de
neste caso, ele sempre professou que a Sociedade Real era
um atenção garanto que minha justificativa nada deixará a dese-
estabelecimento nocivo, Na sua corporação F em -público-di
5 am
Eres
jar,
À seguência e a ligação dos fatos lhes dirá que jamais esti-
te dos Fundadores, mantenedores, membros e protetores ve tão seriamente ocupado en lhes provar minha dedicação
des- e minha deferência.
te estabelecimento, ele sempre usou da mesma lingua
gem. O senhor Mesmer chegou a esta capital no mês de feve-
Nada a pode variar, e é assim que deu como exemplo
o que ele reiro de 1778. Eu o conheci apenas no mês de setembro se-
dava em princípio nas assembléias da Faculdade, Sejam
os fir- guinte. Por esta época, suas relações com a Academia de
mes, dizia ele, e sempre sediciosos. Nisso como no magnetis- Ciências e a Sociedade Real de Medicina não haviam ainda
mo animal, ele pregava no deserto. tido lugar. Havia descontentamento de uma parte e de outra
e, segundo o costume, atribuíam-se erros recíprocos.
De outro modo se verá o senhor d'Eslon no seu discurso.
Não entrarei nos detalhes dessas discussões: o histórico
Ele descreve melhor que tudo o que eu poderia dizer, Profes
- poderia parecer muito longo e inoportuno. Ser-me-á sufici-
sando a verdade sem desvio, mas não negligenciando ente fazê-los observar que, quando das minhas primeiras li-
nenhum
dos meios próprios de torná-los agradáveis às pessoas às quiais gações com o senhor Mesmer, o amor-próprio das duas cor-
ele fala, interpelando muito seus confrades, pressionando-os porações que acabei de citar estava interessado em
à desacreditar a descoberta do magnetismo animal. Seus ecos
renderem homenagem à verdade, prendendo-os, por assim
di- só repetiam o nome do senhor Mesmer ao público no tom de
zer, num torno, mas tratando com muito cuidad desprezo: a prevenção era geral, e pretender eu sozinho ven-
o seu
amor-próprio, e lhes dando mesmo chances para saírem cer tantos obstáculos seria o cúmulo da presunção.
com
honra do mau passo para o qual sua imprudência os levou. Teria sido menos indiscreto fazer com que o senhor Mes-
Esta mer se aproximasse dos senhores sem outras precauções,
sabedoria foi uma pura perda. Os senhores Bertrand, Malloê
t porque é preciso convir que suas infrutuosas tentativas junto
e Sallier acreditaram nada ter a dizer. às duas corporações ligadas ao Estado não seriam pontos fa-
voráveis a uma novidade por si mesma extraordinária.
Discurso do senhor d'Eslon
Entretanto, as prevenções não eram as únicas coisas a re-
(Pronunciado na assembléia da Facúldade de Medicina cear. Era preciso prevenir e evitar, se possível, as oposições
de
Paris, a 18 de setembro de 1780.) subsegientes da Sociedade de Medicina, porque seria a que
Senhor deão, senhores verdadeiramente atravessaria as vias do senhor Mesmer em
Eu solicitei a assembléia da Faculdade para lhes falar so- razão dos procedimentos que ela se havia permitido a seu
bre o magnetismo animal. O autor desta descoberta respeito.
desip-
nou-me para ser seu representante diante dos senhores, Com efeito, senhores, não se deve confundir a conduta da
e de
submeter às suas luzes os meios que ele crê serem Academia de Ciências com aquela da Sociedade de Medici-
os mais
próprios a fixar indelevelmente as opiniões sobre a na. Os erros da Academia são apenas erros de negligência: ela
impor-
tante verdade que ele anuncia. desdenhou o magnetismo animal por falta de reflexão sufici-
Por quase dois anos, senhores, tenho seguido as experiên- ente, e por não ter considerado o assunto como deveria. A
cias com o magnetismo animal. Por qual motivo tenho negli- - Sociedade de Medicina, ao contrário, buscando o senhor
genciado durante este longo intervalo de lhes dar conta Mesmer, ligou-se a ele com o desejo de pura vaidade. Se ela o
da
minha conduta? Tenho eu dissimulado meus deveres? rechaçou depois, foi por uma inconseguência indesculpável.
É por
vergonha de um empreendimento imprudente ou infeliz que Numa palavra, pode-se dizer que se envolveu com o magne-
parece que tenho fugido de suas vistas? Ou então tenho tismo animal muito rapidamente para ter tempo de tm erro
pre-
tendido enganá-los e me apropriar da glória de acolher refletido.
uma
descoberta útil à felicidade dos povos? Depois, ela procurou atenuar a imperfeição de sua condu-
ta condenando os erros de forma do senhor Mesmer, e simu-
FRANZ ANTON MESMER
RESUMG HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVO
S AO MAGNETISMO 4n

lando supor que essas imputações ficariam impunes. Esse


não é o ponto final, senhores, mas, quando for, não seria ne- Eis, senhores, os Princípios em que
me baseio para con-
vencer o senhor Mesmer a ligar-se
cessário pelo menos lhe provar com fundamento que ela sa- 30 público, ligando-se ao
mesmo tempo tão cerca dos senhores
crificou os mais caros interesses da nação por vás e miserá- quanto as circunstân-
veis pretensões? cias perm itirem, de modo a formar insensivelmente as liga-
ções pelas quais eu espero uni-los um
A vaidade não é o único móvel que pode animar a Sociedade dia.
contra o sucesso do magnetismo animal, Ver essa descoberta No primeiro objetivo, o senhor Mesm
er cercar-se-á de suas
ter êxito por suas qualidades lhe seria extremamente desagra-
obras. Os fatos falarão: cada dia se elevará alguma voz em favor
dável. Esta corporação não pode se dissimular como uma Aca- da verdade. A incredulidade foi banida e as dúvidas,
das. A persuasão ganhará de esclareci-
demia de oitiva, numa ciência prática tal como a medicina, não todos os modos. Enfim. senhores
pode adquirir consistência real na França com sua destruição ou
hoje não é mais tempo de se fazer servir a singularidade do sis-
seu inteiro aviltamento. Assim, pois, por princípio e pelo inte- tema para negar a possibilidade da
descoberta,
resse de sua própria conservação, a Sociedade de Medicina No segundo objetivo, isto é, senhores,
na intenção de lhes
deve se opor com ardor a toda negociação própria a lhe conci- aproximar o senhor Mesmer, reunirei em minha
seus membros casa 12 de
liar com o sufrágio do público e com a sua estima. (eles estão aqui, ou melhor, podem estar).
senhor Mesmer Lá o
Estas crenças, senhores, podem ser tratadas como imagi- fará, em suas pessoas, homenagem da
analítica do seu memória
názias, mas elas lhes recordam sem dúvida que no tempo de método, ainda manuscrito, Após a
ele fará passar impressão
que eu falo, a Sociedade não negligenciava em nada para apa- ao seu deão, quando no cargo, um
acompanhado de uma carta obsequiosa exemplar
gar da lista de seus direitos tudo que se tratava da verdadeira para a corporação.
teoria da medicina. E que para lhes obstar toda a esperança Não nos dedicaremos nesta assembléia
de resistência ela obtinha êxito por um culpável abuso de au- mória do senhor Mesmer. Melher do que à leitura da Me-
isso, achamos con-
toridade, a fornecer seus registros, e então repetir todos os veniente nos encontrarmos com ele num hospital
as experiências comprobatórias do seu para aí ver
de seus decretos que não mais lhe interessavam. método.
Tais eram, senhores, as circunstâncias quando eu sonhava, Infelizmente, é muito difícil nesta
capital
pela primeira vez, fazer passar por suas mãos a mais importan- terminado local um número tão consideráv reunir num de-
el de pessoas que
te descoberta que jamais havia atingido o espírito humano. o público não cesse de chamar de todos
de nossa resol
os lados. Os efeitos
Suponhamos, senhores, que eu lhes fosse apresentar o se- ução se arrastaram em extensão.
enfim que perdi meu tempo em vãos Apercebi-me
nhor Mesmer e que, desdenhando os clamores elevados, os desejos, e creio devo
senhores estivessem com sua atenção ligada no magnetismo mudar minhas medidas.
,
animal: seguramente ninguém duvida que os senhores não ti- Propus aos senhores Bertrand, Mall
oét e Sollier seguirem
vessem reconhecido ainda toda a importância da descoberta, comigo diversos tratamentos de doen
ças pelo magnetismo
mas crêem que a Sociedade de medicina humilhada teria vis- animal. Os senhores ignoram que este
arranjo teve lugar du-
to com olhos tranquilos suas negociações benfeitoras? Crê- rante sete meses e meio consecutivos,
após os quaisnos sepa-
em que ela não teria feito de tudo para os atravessar, e se isto ramos. Fiquei só com o senhor Mesm
er. º
tivesse falhado, para, displicente, abafar no nascimento uma Tem-se interpretado diferentemente
essa separação: por-
verdade? Crêem enfim que se ela não tivesse tido êxito em que se é levado sempre a supor moti
vos extraordinários para
nenhum desses projetos ela não teria procurado esvaziar a Os eventos mais simples. O fato é,
senhores que nossos três
ajuda que a nação teria destinado, segundo seus sentimentos confrades vira m o suficiente para adquirirem, sem
uma opinião definitiva, para pode dúvida
generosos? rem resnond e Es om conhe
Cada um pode a seu critério ter sua opinião particular. Eu ; er 9 de causa às pessoas com
direito de as interrogar.
penso que seria imprudente correr tais riscos e que antes de Seja como for, a lentidão de nossa marc
ha havia disposto
tudo seria necessário opor a opinião pública como barreira, favoravelmente os espíritos, e isto devia
de ser assim, porque
seja aos adversários do magnetismo animal, seja aos seus. um longo e sério exame supõe necessariamente uma
suscetível de ser exarninada. questão
472 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 473

.
Creio dever aproveitar as circunstâncias para, no que d Esta asserção, tão extraordinária quanto é, parece-me
pende de mim, fixar a atenção pública sobre este assunto. E uma indução justa, e mesmo necessária, dos fatos numerosos
publiquei minhas observações sobre o magnetismo animal; dos quais fui testemunha. No entanto, por não se abalançar
Te gado de ro ter inteiramente perdido meu tempo, po 4; e +,

que essa descoberta é hoje objeto dos acontecimentos m eu me restrinjo a pôr como princípio invariável: QUE A NA-
vivos e mais repetidos. TUREZA OFERECE NO MAGNETISMO ANIMAL UM MEIO GE-
Não me restava mais então, senhores, que lhes apresentar RALMENTE ÚTIL PARA A CURA DAS DOENÇAS.
as proposições que o senhor Mesmer me remeteu para lhes. A proposição assim reduzida, seria supérfluo examiná-la
serem comunicadas, mas tendo logo me convencido de que ntma assembléia tal qual esta, e ainda por estar em oposição
minha conduta daria lugar a murmúrios na minha corpora- a todos os nossos conhecimentos anteriores. Quanto esta
ção, acreditei ser útil suspender minha tentativa, na crença descoberta era inesperada, e quanto seria de desejar que ela
de que sua indisposição contra mim não imputa erro à missão” viesse prontamente em socorro da nossa insuficiência diária.
de que eu estava incumbido. Eu estava certo dessa opinião: Não é o momento para exarninar se eu estou errado ou não,
por conta do conhecimento de várias reuniões secretas em. mas é muito importante observar que se os senhores Bertrand,
que estava vivamente deliberado sobre a maneira como eu Mallo&t e Sollier, que seguiram comigo as experiências do mag-
deveria ser tratado. Enfim, um de meus confrades justificou netismo animal, fecharam-se num silêncio circunspeto. No en-
minha suspeita, denunciando-me formalmente numa de tanto, nunca negaram a existência da verdade que eu afirmo.
suas assembléias.4 Eu diria mais: se não devia deixar-lhes o dever de fazerem valer
Eu não tomaria a iniciativa, senhores de lhes dizer 0 quan- sua opinião até quando fossem formalmente convidados como
to estou convencido da acolhida que tiveram por bem fazera - eles esperam, ou como desejam após muito tempo.
esta denúncia, Sem dúvida pensaram que meu envolvimento Não se deve então concluir de sua circunspeção que estou so-
com os senhores era inviolável. Quso assegurar-lhes que ele ' zinho, mas, bem ao contrário, que existem necessariamente qua-
sempre será. tro de seus membros que desejam com ardor que se preste &
Este testemunho expressivo de sua confiança, senhores, atenção mais séria a tudo o que conceme ao magnetismo animal.
leva-me a suprimir, como inúteis, todos os artigos da minha Que força deve ter nossas vozes reunidas, se é verdade,
justificativa que não tratam diretamente da história do mag- senhores, assim como nos orgulhamos, que não nos julguem
netismo animal. Não era minha primeira intenção. Eu dese- indignos de sua estima! .
java repelir a censura de não ter respeitado muito seu status. À voz dos seus confrades juntam-se aquelas da nação. Após
Se algumas pessoas concluíram pelo meu silêncio que es- séculos, ela nos faz depositários de seus interesses mais caros.
tou satisfeito de evitar um esclarecimento delicado, caindo Olhos fixos sobre nós, ela exige hoje o prêmio de sua confian-
voluntariamente em erro, estou e sempre estarei pronto a res- ça. Nos recusaremos aos seus desejos, nós que em todos os
ponder não somente às perguntas de minha corporação como tempos asseguramos-lhe um devotamento a toda prova?
também àquelas de todos meus confrades, sem exceção. Enfim, a crença na honra nos pressiona a não deixar em
Eu lhes direi humildemente que gostaria de me sujeitar a outras mãos o desejo de uma ação generosa e útil,
tratar seriamente um assunto sério, Com efeito, nada de - Também, senhores, a possibilidade da descoberta admite,
mais sério senhores do que a descoberta do magnetismo ani- eu colocaria no número das suposições criminosas, o único
mal. Dignem-se, eu lhes peço, prestar-me toda sua atenção. pensamento de sua negligência,
O senhor Mesmer afirma na sua memória sobre essa des- Estas altas considerações não me permitem nenhuma dú-
coberta que a natureza oferece um meio universal de curar é vida sobre o partido que irão tomar hoje. Devo-lhes anunciar
de preservar os homens. que as proposições do senhor Mesmer são estranhas aos seus
costumes e que outrossim me inclino muito a pensar que elas
deveriam ser aceitas sem restrição.
144 Nota de Mesmer. Vê-se que o senhor d'Eslon fala aqui da primeira Eu me explico, senhores.
de-: .
núncia do senhor de Vauzesmes de que a Faculdade não queria ouvir.
474 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO
475
f

Faz parte dos projetos do senhor Mesmer depositar a sua 1. injunção de ser mais circunspeto no futuro;
descoberta nas mãos do governo. Quaisquer que sejam os
motivos, esta disposição deve ser ao menos respeitada. 2. suspensão por um ano da voz deliberativa nas assem-
Ele pensa que apenas o governo pode razoavelmente esta- bléias da Faculdade;
tuir em tal matéria, com a ajuda dos verdadeiros sábios. 3. cancelamento, ao término do ano, do quadro dos médi-
Menos estranho às nossas instituições do que quando che- cos da Faculdade, se não houver nesse tempo rejeit
gou à França, ele reconhece que a Faculdade de Medicina de ado suas
Paris é o único mediador digno de uma negociação tão im-
observações sobre o magnetismo animal;
ortante. 4. as proposições do senhor Mesmer foram rejeitadas.!45
ê Ele acredita que se é de sua honra secundar as vistas do Eu deixo de julgar o por que esse decreto é desonroso:
governo, ainda mais glorioso lhe seria provocar sua atenção. pelo
Como consegiiência, ele pensa deixar-lhes toda a honra das
senhor d'Eslon insultado, ou pela Faculdade insuitante.
Toda-
primeiras negociações. o via, tanto citei o senhor d'Eslon que creio dever juntar
algumas
Essas negociações consistiriam em solicitar 0 apoio do e palavras sobre as sequências que este caso pode ter para
do ele.
verno e a presença dos seus delegados nas experiências A Faculdade de Medicina de Paris não pode excluir do
magnetismo animal. =
seu seio um de seus membros, senão após três deliberações
O senhor Mesmer deseja estabelecer as experiências por ,
um exame comparativo dos métodos ordinários com o méto- tomadas em três diferentes assembléias. Os resultados
da pri-
do particular, isto é, senhores, ele lhes propõe tomar à sua meira e da segunda não têm valor nem força, nem efeito.
escolha um certo número de doentes. Os senhores tratariam
A
terceira assembléia, só, faz lei, seja ela anulando, seja
metade sob seus cuidados, ele trataria a outra metade segun- ela con-
firmando o que se passou nas duas outras. Como só aconte
do o seu método, e a comparação dos efeitos salutares ditaria ce-
ram duas assembléias no caso do senhor d'Eslon, o que foi
a decisão adequada para orientar o governo sob suas vistas de-
aternas. liberado é como que considerado nulo, próximo do insulto
.
º Tais são em resumo as proposições do senhor Mesmer. Eu Ele não está suspenso, ele não está riscado, ele não está
priva-
nada vejo, senhores, que possa ferir sua sensibilidade, mes do de nenhum de seus direitos. Ele não contradisse suas
vejo o meio mais seguro de juntar ao brilho de sua glória a ob-
servações sobre o magnetismo animal. Ele jamais irá contra
do à geração presente e às gerações futuras provas de seu zelo -
pela verdade, do seu amor pela humanidade e do seu reco-
dize-lo. E, além disso, ele está muito inclinado a presu
mir que
nhecimento quanto à nação que lhes dá o sentido precioso de
sua conservação.
145 Nota de Mesmer: Eu li uma prévia informal deste
Eu vou, senhores, proceder à leitura detalhada das propo- decreto. Não era
questão do quarto artigo, isto é, de minhas proposições.
sições do senhor Mesmer. Após o que deixarei sobre àescri- Seria inútil se
ocupar dessas variantes. Que a Faculdade rejeitou minhas
vaninha uma cópia assinada pelo autor. Juntarei, senhores, proposições
por um pronunciamento positivo ou por um silêncio
cópia do que tive a honra de ler. | absoluto, isto resul-
tará exatamente no mesmo. No primeiro artigo do
(Fim do discurso do senhor d'Esion.) decreto está: injun-
ção de ser inais circunspeto. Ter-se-ia juntado estas palavras:
nos seus
escritos concernentes à Faculdade. Como o senhor d'Eslon
O senhor d'Eslon leu efetivamente minhas proposições, jamais pro-
duziu escritos concernentes à Faculdade, não se sabe 9 que isso
quer di-
GiCXUU=a CE) E Cão T U, TOCO U=G SOD à ra t&, &5- zer. Estas alterações du correções de Peças originais e, por
assim dizer,
sinado por ele, e saiu para deixar que deliberassem. Quando sagradas, não devem surpreender. A Faculdade é tão
bem organizada
que ela simplesmente não possui registros. Todas as
voltou, o deão lhe fez a leitura de um decreto trazendo a se- coisas deste gênero
são escritas em papéis avulsos, que se guardam sob
guinte deliberação: a chave do deão da
época. Por pouco que esta chave seja confiada, são possíve
is, facilmente,
falsificações.
476 FRANZ ANTON MESMER

a Faculdade, esclarecida nos seus interesses pela censu


ra pá
blica, não irá querer submeter-se à sua própria desonr
a, impé-d
dindo a terceira assembléia. Se não acontecer desse
modo
tanto pior para ela. Tánto quanto posso conhecer, ela
sofreriá
todos os dissabores.
,
Viu-se quanto foi difícil obter a primeira assembléia
ú
senhor Le Vacher de la Feutrie. Ele recusou a segun
da é ape:
nas concordou devido à solicitação de um membro da
Facul-
dade que se dignou, disse ele, a convencer os confrades
a uma
conduta menos inconveniente. Como o acontecido
rompeii
essa esperança, o senhor Le Vaçher protestou
que sob né
nhum pretexto ele convocaria a terceira assembléia
REFLEXÕES HISTÓRICAS
. Mantevê
a palavra. O senhor Philip, seu sucessor, passa
por homem SERVINDO DE CONCLUSÃO
prudente. Ele acreditava que não se comprometeri
a apenasle
vemente num caso tão público. Qualquer que seja, não A ESTA OBRA
cabe
mim profetizar sobre sua conduta nem da do senho
r d'Eslon.

Não julgando conveniente deixar para a Faculdade de


Medicina de Paris a liberdade de publicar e “colorir” a seu
modo nossos procedimentos respectivos, fiz publicar minhas
proposições a essa corporação no Jornal de Paris, e acrescentei
uma carta indicativa sobre o que se passou.!46
Esta divulgação revolucionou as idéias. Até então, minhas
descobertas não passavam de uma quimera. De repente, elas
- adquiriram uma existência real aos olhos dos médicos de to-
dos os partidos, mas eles acreditaram como haviam negado:
sem exame e sem boa-fé.
Foi citada a palavra de um homem célebre da medicina,
mais do que médico célebre: “A descoberta do magnetismo
animal é bela, disse, mas é perigosa nas mãos do senhor Mes-

146 Nota de Mesmer. O Jornal de Paris está nas mãos de todo o mundo, mas
nenhum jornalista acreditou dever examinar minhas proposições, de sor-
te que elas não interessaram, na França, a nenhuma outra publicação,

477
478 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 479

mer: ele não sabe manejá-la - é uma navalha nas mãos de uma curso, ela é talvez das poucas sociedades em Paris em estado
criança.” À partir do que esse fazedor de bons modos julga-se de sustentar o paralelo com o que se passa em minha casa.
entendido sobre meus conhecimentos numa ciência que ele Que parte das pessoas de alto padrão esteja chocada com a
não conhece? De onde ele tirou de que fiz uma descoberta, ele mistura de níveis e de condições que se encontram em minha
que jamais me viu? Como pode decidir se ela é bela ou feia, sa- casa, isto não me preocupa, disso eu nada sei. Minha humanida-
lutar ou perigosa? Existe entre mim e ele uma distância que de é de todos os padrões, e não está em mim despender alguns
sua agilidade jamais fará ultrapassar. Que ele mude as senho- de meus cuidados além daqueles que dispensei ag paralítico
ras de Paris em vassouras e em enceradeiras de apartamentos é que faz minhas comissões, ou daqueles pelos quais arranquei
o seu papel, mas para a felicidade do mundo e a honra da razão dos braços da morte meu fiel e afeiçoado empregado.
ele não serve. De todas as classes de homens, aquela dos grandes con-
Os médicos da Faculdade procuraram insinuar ao público vem menos ao meu gosto. Eles não sabem em geral saldar a
que a um particular não é admissível medir-se com uma cor- conta dos benefícios a não ser em dinheiro ou em falsos pro-
poração por proposições como as minhas. Sua pretensão teve testos, e não em reconhecimento ou em amizade. Algumas ex-
pouca repercussão porque foram abrigados a dizer sobre qual ceções particulares que acreditaria poder citar não destruiri-
princípio razoável eles se baseavam. am a solidez do princípio.
Eles têm sido mais felizes em caluniar do que em arrazoa- Depende só de mim admitir em meus tratamentos apenas
dos. A calúnia é muito cômoda, porque não exige nem bom pessoas de nome, mas se algumas vantagens se me fazem
entre-
senso, nem espírito, nem reflexão. ver nesse arranjo, não pude me entregar a essa triste escravidão.
Seria necessário, por exemplo, não mais do que uma re- Por todo lugar onde se encontram homens reunidos irão
flexão medíocre que não possui nem base, nem bom senso, se encontrar interesses diversos, pequenas divisões, intrigas
nem espírito para culpar minha casa de indecência de algum miseráveis, enfados. Como tais coisas não existiriam em mi-
tipo. À continência e os tipos de dor não são indecências, e nha casa? Os tronos estão cercados disso. Jamais julguei a pro-
existe imenso absurdo na suposição de que pessoas de todos pósito prestar mais séria atenção, bem persuadido de que nes-
os estados, de toda idade, de todo sexo se escarnecem cada dia sas ocasiões as puerilidades do dia seguinte fazem sempre
ao sinal da dor para chocar os costumes e a decência. esquecer as puerilidades antigas.
Em minha casa, como em todos os locais, o riso e os cho- E ainda possível que em grande número de pessoas que
ros contraem fatalmente os músculos da face. Pretender ridi- seguiram meus tratamentos se contem aquelas cujas condutas
cularizar estes efeitos designando-os por trejeitos ridículos é nem sempre foram isentas de reprovações. Eu não as conheço,
ser ridículo por si mesmo. não posso ser juiz das ações particulares. Os cuidados de um
médico não'podem depender de uma informação de vida e de
Se nas mais vivas dores não se ouve nenhuma dessas ex-
costumes: que respeitem minha casa e a sensibilidade das pes-
pressões grosseiras as quais as pessoas da mais alta classe su-
jam tão facilmente alhures sua soberba linguagem, se a alegria
não se expande com propósitos agradavelmente equívocos, a , Os nomes de Montmorency, De Nesle, Chevreuse, Puy-
não ser que por uma baixeza extrema se nada sacrificam, são ' segur etc. encontravam-se em minha casa em companhia de
bons apenas para indignar o pudor, se significam qualquer coi- oficiais gerais, de militares de todas as categorias, de pessoas
sa, se enfim a religião é inviolavelmente respeitada no seu dis- do local, de pessoas ligadas intimamente ao serviço do sangue
480 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 481

real quando a nobreza de França não achava


ruim que os médi- Ninguém, sem dúvida, está mais interessado do que os
cos ousassem falar, em altos brados, de minh
a casa como um primeiros médicos do rei e em tirar proveito da minha desco-
mau lugar, e quando, pelo prazer de suas almas
estreitas, ela, -berta. Os deveres mais sagradas. o respeito -o-secon!
ECeCONBeCcFrEReB=. - ns
Suas maldades estudadas,
to, o amor, tudo se reúne para lhes dizer sem cessar que eles
4

Ó, cavalheiros franceses! Para onde foi sua antiga


altivez? “ têm em mãos a balança em que deve ser pesado um dia, talvez
Do tempo de sua soberba ignorância, não
teriam visto com j agora, o destino dos soberanos do mundo. Um só de seus er-
olhos indiferentes seu palácio mudar em ateliês tenebrosos
contrafações literárias. Não teriam visto tranquilamente de - ros, uma só de suas desatenções pode mudar a sorte de vários
princesa, pequena filha de um marechal de França, uma 34 impérios. Unicamente por sua falta, milhões de homens feli-
o chefe de “à zes hoje podem estar infelizes amanhã. Caso se reflita por um
uma de suas legiões, o companheiro dos trabalhos
e dos peri- momento, irá se reconhecer que um primeiro-médico do rei,
gos de um de seus admiráveis, ocupar-se com
alguns compar- indiferente sobre um novo meio de conservar o sangue de seus
sas menos conhecidos, a usurpar o fruto de minhas
vigílias, es- senhores, deve viver, na ignorância de seus benefícios, num
piar por si mesmos, ou por seus emissários
; O que se passa em entorpecimento inconcebível.
minha casa, interrogar a simplicidade dos meus valetes,
van- Já relatei a conduta que teve para comigo o senhor Stoérk
gloriar-se prematuramente do sucesso, anunciar
a leitura de na Alemanha. Falei do senhor de Lassone, primeiro-médico
suas memórias na Academia de Ciências, beber
por antecipa- de suas majestades na França.
ção a infâmia de uma derrota ridícula ou de um
triunfo revol-
tante. Ó, cavalheiros franceses! Recebam esta Pude entrever que, em 1778, eu não havia estado satisfei-
lição mortifi-
cante de um sábio obscuro, que apenas deseja to com o acolhimento do senhor de Lassone. Decidido a não
ser-lhes útil. É
ele que lhes grita. Ó, cavalheiros de França! mais procurá-lo, não fiquei de sobreaviso apenas em relação a
Que acontece
com sua antiga altivez? ele, porque a minha ruptura com a Faculdade de Medicina de
O que eu achei, um outro pode também ter achado, Paris me fez perceber a necessidade de buscar, enfim, direta-
tudo
sobre- mente o governo. O senhor d'Eslon não se ocupou mais do
depois de por algum modo eu ter trazido a públi
co, pro- que eu do senhor de Lassone e me prestou nessas circunstân-
vando a possibilidade de sucesso, mas não é
inconsegiente re- cias os mesmos serviços que no passado. As aparências indica-
jeitar uma verdade que ofereço inteira para
recebê-la em vam o sucesso, mas, quando eu quis me apresentar por mim
pedaços? Isso não pode ser perigoso? As pesso
as que buscam e mesmo, percebi que haviam dificultado os porvires de modo a
as pessoas que sofrem passivamente que se a
busque, elas pesa- me impedir de ir mais longe.
ram bem as consegiiências de sua conduta? Eu
lhes deixo a de-
cisão. Quanto a mim, não saberia dizer O Eu sei de qual circunspeção se deve usar quando se fala
quanto se me ternou
indiferente que chegue a me atingir pelo fato de dos governos. Felizmente, nada me força ao silêncio. O que
eu não poder tenho a dizer não pode servir senão para provar o quanto deve
ser acusado e mesmo deixar-me atingir pela indis
crição.147
ficar embaraçado o ministro de um Estado ordenado sobre
máximas usuais quando os agentes subalternos se julgam inte-
147 Nota de Mesmer. Os pretensos imitadores ressados em pôr entraves à sua marcha. Se eu não tivesse obti-
do meu método estabelece-
ram em suas residências
tinas semelhantes àquelas que viram na sala de do na França o sucesso que minha longa perseverança devia
meus tratamentos. Se sabem apenas isso, estão
pouco avançados. É de se
presumir que se eu tivesse um estabelecimento cômod
o, suprimiíria as tinas. Em geral, uso apenas pequenos meios e isso quando necessários.
as? FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AQ MAGNETISMO 483

me proporcionar, certamente não teria nada ame tamentar go cio ao qual alguém se pode condenar no máximo
por dois ou
governo. Pode ser que não estivesse tão avançado a não se três meses.
relação à verdade que apresento. Além disso, as verdadeiras curas desse gênero
são raras, e
O desgosto que viria a me acontecer me foi eetremamen têm essa desvantagem: darem nascimento aos
contos mais ab-
te marcante. Após tantas contradições, após três anos de am surdos. Que pessoas sensatas, pelo menos por
tal, vieram me
bates públicos, não se avançou mais do que no primelso di e consultar com a certeza de que eu as devia curar
subitamente
isso me pareceu insuportável. Deixando-me cair no dese co ao dedo e ao olho, e saíram coléricas porque não
fiz aquilo que
rajamento, e não querendo nada mais do que o repouso, co esperavam!
muniquei ao senhor d'Eslon a resolução de deixar meus 0 " Não nego, entretanto, que as consultas são
coisas maravi-
tes no dia seguinte. Nossa conversa foi tão viva quanto onga. lhosas, e concordo que devam ser caras à medic
ina. É uma
Ela terminou por nos cedermos reciprocamente alguma coisa, mina de ouro: o dinheiro flui de todos os lados
e, do modo que
Consenti em conservar até a primavera os doentes de que es- as coisas vão, eu não saberia o que fazer do meu
dinheiro se ti-
tava encarregado, com a condição de não aumentar seu núme” vesse continuado nesse excelente negócio.
ro, e de renunciar às consultas. Eu devo pôr o leitor a par sobre No entanto, o senhor d'Eslon esforçou-se para
minha repugnância pelas consultas. no renovar
a
negociação. De um golpe, depreendi com certeza
que o se-
O senhor d'Eslon é de opinião que eu deveria sujeitar-me nhor de Lassone declarou de modo a não poder
mais se retra-
por dever, enquanto eu sempre o fiz por complacência Ele bar tar que estava convencido da existência e da utili
dade da mi-
seia sua opinião no fato de que minhas simples consu. ta ope nha descoberta. De outro lado, o senhor d'Eslon receb
raram algumas vezes curas interessantes. Sob seu ponto de vi ia por
resposta que seria justo dirigir-se ao senhor de Lasso
ne, e que
ta, essa consideração deve prevalecer sobre todas as outras. ele seria encarregado de endereçar e apresentar
o plano de
Eu creio pessoalmente que minhas consultas lembram aceitação a ser realizado sobre minha descoberta
.
muito o charlatanismo. Examinar doentes, tocá-los, não fa- Existia entre o senhor de Lassone e o senhor
d'Eslon anti-
zê-los nada provar, ou lhes ocasionar efeitos mais ou menos gas causas de afastamento. Ele não mais apareceu:
seja por es-
sensíveis, indicar-lhes por meus meios a sede do seu mal, e crito, seja de viva-voz, o senhor d'Eslon fez todas
es que as tentativas
terminar, se creio sua cura possível, por anunciar- necessárias, e certamente o senhor de Lassone
nada teve para
nada posso lhes oferecer por falta de local etc. — eis em rest se queixar. Eu mesmo, quando julguei a ocasião propícia,
mo o que se passa em minhas consultas, o que me parece mui uni-me a esse primeiro-médico.
to pouco satisfatório para os doentes e muito fatigante p j No início da negociação, o senhor de Lassone tinha
mim. Seria impossível suportar indiferentemente. E um suplí- difi-
culdades para traçar um plano. Isso não deve
surpreender: em
três anos, ele não tivera tempo de aprender uma
palavra do
148 Nota de Mesmer. Eu citei uma dessas curas no relatório do reverendo meu assunto e, o que me preocupava muito
, ele parecia não
padt Gérard, (senhora or, na página STc vas 4 ACOdes doSOU ter pressa para se instruir. O senhor d'Eslon propô
o magnetismo animal, cita uma outra sob o nome de reuma aca s várias ve-
zes, inutilmente, ao senhor de Lassone para tomar
beça. Esta última foi realizada no senhor Noverre, céle re comp or a iniciativa.
de balés de caracteres. Eu poderia falar de várias outras: mas à maior Para pôr este último a par, o senhor d'Eslon lhe deu
uma
parte delas só me é conhecida por citações das quais não tive o cui memória em que ele dizia:
nem o desejo de verificar a exatidão.
484 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 485

Que, no começo de minha estada na França, eu


estava inte onestas devem encontrar necessariamente um retorno da
ressado em dirigir os eventos, mas que os ensai
os nesse gênero onestidade num homem que pensa.
não foram felizes, e eu havia perdido a esperança
e o desejo. Que se me recusasse, isso redundaria
Qure-r-perda-de-unr tempo precioso durante irás no mesmo, porque,
anos in- tom efeito, não importaria meu consentimento para saber a
teiros me havia determinado a negligenciar ou rejeit
ar toda jue se apegar, pois que eu não sou o senhor e que aquilo que
proposição que não fosse decisiva
a “havia feito não o foi.
Que eu não aceitaria do governo um engajament
o parcial. Que os comissários do governo poderiam escolher dentre
Que minha intenção era de me ligar por um contr os numerosos fatos aqueles que lhes parecessem mais impor-
dissolúvel
ato in:
até inteiro cumprimento das condições e acord tantes e que a verificação poderia ser feita por meios conside-
os,
ou de permanecer dono absoluto de minha rados razoáveis.
liberdade, de
modo a, por exemplo, poder sair da França da
noite ao dia se- Que se os préstimos relativos ao senhor d'Eslon forem jul.
guinte, se me agradasse, sem criar nenhum obstá
culo legítimo gados necessários, seja para encontrar as pessoas ou os papéis
ou repreensão fundamentada.
relacionados, seja para engajar os doentes a se apresentarem,
Que a frieza com a qual se viu na conduta da F aculd seja para acompanhar os mais tímidos etc., se o encontrará
ade de
Medi cina a meu respeito havia sido passada para sempre pronto.
mim.
Que depois disso tudo eu me contentaria que aprec Assim que os fatos forem constatados, o governo fará o que
ias-
sem minha descoberta, mas que eu não pretendia - for necessário, e poderá apreciar os meios de fazer a humanida-
mais influ-
enciar ninguém. - de usufruir as vantagens anunciadas fixando-me na França.
Que eu veria sem dúvida com satisfação que
se ocupavam Que quando eu me recusava constantemente a provar a
em verificar os fatos existentes, mas que não seria um ação do magnetismo animal por meio de experiências instantã-
caso es-
sencial para mim. “neas, eu parecia, após os trâmites necessários, agir não razoavel-
Que menos ainda eu me prestaria a fazer eclodir mente, mas que esse modo de pensar não é exato, porque o re-
novos fa-
tos — em resumo, que poderiam se convencer, mas - sultado dessas experiências, não podendo ser assegurado, seria
não que eu
desejasse convencer. pelo menos indiscreto não obter nenhuma conclusão em des-
Que as provas necessárias para constatar de forma vantagem da descoberta, Com efeito, o resultado depende do
autên-
tica a eficácia do magnetismo animal na cura das estado atual do doente sobre o qual se deu a experiência, de
doenças po-
deriam ser reunidas em quantidade suficiente. sorte que se o seu estado mudar da véspera para o dia seguinte,
Que se trata apenas de querer, e que seriam encon o resultado deverá ser diferente ou nulo. Pessoas que me viram
trados
Os meios adequados para afastar todas as dificuldad arriscar várias vezes alguns ensaios com pessoas não aprovadas
es, não poderiam, por consegiência, senão tirar perigosas induções
Que o governo poderia nomear comissários,
não para exa- “de resultados pouco concludentes, mas sim que o fruto dessas
ininarem meus procedimentos, não para se
conciliarem comi- complacências não havia tido encorajamento,
&o, mas para tomarem conhecimento dos fatos
notórios, le- Que haviam sido feitas nomeadamente experiências ex-
vando-os em conta.
Que em princípio existia a presunção de que traordinárias para a convicção de quatro médicos conhecidos
eu não me que seguiram meus tratamentos, e que haviam recusado a evi-
recusaria a qualquer complacência. Pessoas verda
deiramente
486 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETIS
MO 487

dência. Eu bem podia, sem disposição de ânimo, correr riscos o roubo ou o assassinato foram cometidos, e
depois enforca-se
parecidos nos momentos em que isso poderia levar a maior ou se põe à roda com consciência segura.
consegiência. com E entãoentão éé o mesmo comigo. Peço ser
gentilmente tratado
O senhor d'Eslon terminou sua memória indicando o gê- um homem a ser enforcado ou à espera da roda,
e que se
nero de interrogações que os comissários do rei poderiam fa- es ise seriamente e se
Pesqu estabeleça que curei, sem me man -
zer aos doentes. Como serei obrigado a disso falar depois, su- ç em curar de novo para provar que sabia na
ocasião como se
primo aqui o detalhe. az para curar.
Quando o senhor d'Eslon me comunicou esta Memória, Ná Eu acrescento que toda essa discussão era
no fundo inútil
eu o autorizei a dizer de viva-voz ao senhor de Lassone que pe- ão ajo mais, dizia eu, com humor, mas por
princípios que
las razões alegadas não me era possível me engajar formalmen- creio muito razoáveis: proponho minha desco
berta. Não po-
te a fazer experiências diante dos comissários do rei, mas que cem me arer passar por condições contr
árias às que acredito
não, duvidando que enfim se usaria em relação a mim de ho- j o € sobre o artigo que tratamos, é recus
ar ou aceitar.
nestidade, decência e boa-fé, eu me comprometia verbalmen- - senhor de Lassone reconheceu enfim que,
após ter sido
te a dar a esses senhores as satisfações desse gênero que pode- por tão ongo tempo paciente, minha repugnância
e minha re-
riam ser razoavelmente desejadas. sistência a novos adiamentos não estão desti
tuídas de funda-
Restava apenas debater a natureza do comissariado. O se- mento, e que as proposições feitas pelo senho
r d'Eslon eram
nhor de Lassone achou muito difícil transgredir as regras ordi- aceit veis. Convencionou-se escolher oito
comissários. Eis
nárias, regras que vêm dos comissários inspetores e não dos quais pessoas 0 senhor de Lassone indicou
comissários inguisidores. Senhor de Angevilliers, diretor e ordenador
de abasteci-
De minha parte, eu pretendia que uma comissão dada mento do rei; senhor de Saron, presidente e almof
ariz do Par-
pelo rei fosse honrada por si mesma e que, desde que estivesse fmento de Paris; senhor de Montigny, tesou
reiro de França;
regrada a forma, a forma seria conveniente. se o de Auberton, guarda e demonstrador
do gabinete de
Eu sustentava por outro lado que as pretensas regras que se stória natural do rei; e os senhores Bercher Grand
elas, L
opunham eram imaginárias, porque não eram conhecidas na e Mauduyt, médicos.
“OB
França nas ocasiões em que se tratava da vida dos cidadãos. Eis Os quatro primeiros são membros da Academia
de Ciên-
o que eu disse a esse respeito, falando ao senhor Lassone. Rogo clas e os quatro últimos, da Faculdade de Medi
cina de Pari
observar que meu arrazoado, embora bizarro à primeira vista, é com a observação de que os senhores Lory e Maud
uyt, ligados
no entanto muito sério e muito seriamente aplicável à questão. à Socie ade Real, são de algum modo representant
es dessa
Quando se está convencido de que um ladrão roubou, se o Poração, enquanto os senhores Barcher e Gran
delas são
enforca; quando se está convencido de que um assassino de igual
dão
g ge mente
n representantes da Fa culdad e, poisi que nunca
es-
fato matou, ele é levado ao suplicio da roda; mas para aplicar
essas terríveis pernas não se exige que o fadrão g «eUuando 0 senhor d Eslon me consultou
em nome do se-
fim de provar que ele roubou, não se exige que o assassino as- nhor Lassone sobre esses arranjos, observei que
não me cabia
sassine uma segunda vez a fim de provar que ele é assassino: Jutgar as pessoas em quem o governo depositava
confiança
constata-se pelas provas testemunhais e o corpo de delito que: mas que já que me consultava, que acreditava
poder dizer que
88 FRANZ ANTON Mi ESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 489

o número me parecia difícil de reun


ir em Paris no momentg
Preciso; que além disso a escolha pare com grande pesar eu não conseguia realizar há longo tempo;
cia lisonjeira a mim: que
prin cipalmente eu teria certo praz que além disso eu suplicava a sua majestade examinar que ela
er em me reencontraom
— SERHOT JSUDETLON, ha
esperança de fazê-lo
lembrar-se das
prev
enções que lhe tem sido atribuídas; que, - minação, se a necessidade de tomar uma já estava enfim reco-
Tecta-me que,
finalmente pas : nhecida.
após o que se passou entre eu eo senh
duyt, nosso relacionamento havia sido or Mau- Alguns dias depois, uma pessoa de nível, e suficientemen-
evitado. O senhor dé
- te autorizada, pediu-nos, ao senhor d'Eslon e a mim, que nos
assegurou que ele faria escolher uma outr | reuníssemos com ela. À reunião durou quatro horas. Parece
a pessoa em substi-
tuição ao senhor Mauduyt. que isto seria muito para um caso por mais complicado que
Como se vê, esse caso parecia caminhar fosse, mas não se saberia imaginar o quanto é difícil fazer com-
para um acordo comum. Infelizmente, quan a grandes passos preender quando existem prejulgamentos de toda espécie a
do o senhor d'Eslon combater. Meias-razões, falsas interpretações, fantasias in-
desejou apressar a conclusão, o senhor
de Lassone foi obrigado a ventadas por puro prazer, ridículos gracejos, receio de se com-
lhe anunciar que os comissários designados haviam acha
missão inadmissível, o que nos levou a outr do a co- prometer: tudo estava contra mim, exceto o sentimento de
os arranjos. uma verdade desconhecida que eu ainda ousava ter no rosto.
Tive a curiosidade de penetrar os verd
adeiros motivos dos Eu tive, por exemplo, muita dificuldade em fazer enten-
comissários. Empreguei pessoas de
confiança para descobri- der que se deveria estimar muito minha descoberta para po-
rem algo à esse respeito. Os pretensos
comissários aos quais se der desejá-la realmente, e que seria muito simples que se o
dirigiram não haviam, disseram eles, dissesse sem hesitar, nas condições desejadas:
ouvido falar de nada.
Então, não demorei em comunicar
aos meus doentes que
devendo deixar a França, meus trat — Jamais, senhor, disse eu à pessoa na casa em que estive-
amentos terminariam a 15 mos, eu nada pedi e nada tenho a pedir; e isto, não que eu
de abril seguinte (1 781). não pretenda ser recompensado, mas porque minha recom-
Esta novidade devia desagradar às pensa só pode vir após as condições necessárias ao estabeleci-
pessoas que haviam mento de minha descoberta, e que tudo deva ir junto e estar
perdido toda confiança na medicina
comum e acreditavam fundido num só e mesmo conjunto. Tenho a honra de lhes
apenas na minha. Seus alarmes chegar
am até os pés do trono. assegurar que, se eu perder essa resolução de vista, a primei-
Sua majestade, a rainha, encarregou ra coisa que aconteceria fatalmente seria eu negociar sobre as
uma pessoa de sua condições. Ora, eu não quero ser negociado. Se for obrigado
confiança para me dizer que ela acha
va o abandono dos meus a isso, prefiro, a todo custo, criar as dificuldades do que ter
doentes contrário à humanidade, e que lhe
parecia que eu não de resolvê-las.
devia deixar a França dessa maneira.
Eu respondi, em síntese, que minh
a longa estada na Fran-
De minha parte, cumpri fielmente o que me propus,
ça não podia deixar em sua majestad quando, após longos debates, pressionaram-me a assumir pro-
e nenhuma dúvida sobre
o desejo que eu tinha de preferir seus posições condicionais que me engajariam até 15 de abril, tem-
Estados a todos os de-
mais, exceto minha pátria, mas que,
desesperançado por to-
po no qual eu me encontraria livre se elas não houvessem sido
dos fortes motivos de ver na França uma postas em execução. Eu repetia continuamente que queria fa-
indefinição quanto ag
importante caso que para aí me havia conduzido, eu estava de- zer alguma proposição, e me respondiam do mesmo modo que
cidido a aproveitar a nova estação o governo estava no momento impossibilitado de agir mais
para fazer operações que
abertamente. Com efeito, os sábios têm de tal modo gritado
490 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVO
S AO MAGNETISMO 491

na França que terminaram por persuadir que eles são qualquer Quepara recompensar o senhor Mesmer
coisa, e que atentar contra sua jurisprudência imaginária é cri- e se engajar a es-
tabelecer a propagar sua doutrina na Fran
me de lesa-majestade. Não fiquei convencido, mas enfim des- ça o rei lhe dará com
toda a propriedade um local que lhe
filaram sob meus olhos as proposições que se vai ler. Ver-se-á possa ser conveniente
para trata r, 0 mais vantajosamente possível
sob que forma vaga elas são apresentadas. Quanto a mim, não , os
doentes, e co-
municar seus conhecimentos aos médi
posso dizer o quanto me custou para assiná-las, sempre sentin- cos.
N.B.-À margem destas proposições
do o ar de uma demanda. está escrito: O senhor
Mesmer preferiu o Castelo e Terra
Foi proposto: de *** a qualquer outro.
Que para fixar o senhor Mesmer na Fran
Que o governo nomeie cinco comissários, dos quais dois seus serviços lhe será dada uma pensão vital ça e reconhecer
somente médicos, os três demais pessoas instruídas, para ob- ícia de 20 mil libras.
Que sua majestade exige que o senhor
ter os últimos conhecimentos que se julguem necessários para
França até que esteja suficientemente Mesmer fique na
não deixar nenhuma dúvida sobre a existência e a utilidade da estabelecida sua doutri-
na € seus princípios e que ele não a pode
descoberta do magnetismo animal. deixar a não ser por
permissão do rei.
Que os comissários examinem um número determinado
Foi ainda proposto:
de doentes tratados pelo senhor Mesmer. Os doentes serão
indiferentemente escolhidos dentre aqueles que ainda se- Que o senhor Mesmer goze de vantagen
dada
s que lhe serão
guem os tratamentos pelo magnetismo animal ou dentre s desde o momento em que o governo
tenha reconhecido
a utilidade da descoberta.
aqueles que não os seguem mais.
Que este exame se faça a seguir aos procedimentos do se- Que o rei nomeie uma Pessoa para pres
idir e velar pelo es-
tabelecimento feito para o senhor Mesmer.
nhor Mesmer. Eis em resumo as perguntas que poderão fazer
os comissários aos doentes. Eu aceitei estas proposições pura
e simplesmente, mas
1. Qual era seu estado antes de se submeter aos tratamen- com a condição expressa de que elas
serão executadas para o
tos pelo magnetismo animal? — As consultas e atenções dos . 15º dia de abril próximo: época na qual
não mais estarei liga-
médicos de Paris ou outros poderão ser solicitadas como apoio. do a nada, se as proposições acima não
forem realizadas. Pa-
ris, 14 de março de 178]. Assinado Mesm
2. Quais efeitos sentiram durante seus tratamentos e qual er.
a marcha desses efeitos?— Se forem interrogados alguns lgnoroo que se passou nos dias seguinte
s. Some nte: acre-
doentes atualmente nas mãos do senhor Mesmer, serão exa- ditei entrever que talvez não estivesse
obrigado a narrar hoje o
minados os efeitos sensíveis tais como a gordura, evacuação, “ incômodo resultado de minhas negociaç
ões, se o senhor de
obstruções tornadas visíveis etc. Lassone, consultado sobre esse caso,
não estivesse se limitado
3. Se tomaram medicamentos durante o tratamento pelo a ver as dificuldades.
magnetismo animal. Fui chamado por um ministro de Estado,
e me apresentei
4. Em que estado estava sua saúde quando deixaram os mà ele a 28 de março, em companhi
pessoa pelas mãos da qual eu haviaa do cesher-Esloret
chatsododejo E a
nhor Mesmer.
Q a

assinado as proposições
Que se o relatório dos comissários for favorável à desco- que acabei de ler.
berta, o governo o reconhecerá por uma carta ministerial, O ministro Começou por me anunciar
que o rei, informa-
Que o senhor Mesmer tem uma descoberta útil. do da minha repugnância por ser exam
inado pelos comissá-
rios, achou por bem me dispensar dess
a formalidade, estabe-
492 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AO MAGNETISMO 493
er para mim uma pensão vitalíci
a a de 20 mil libras e à pagar
che adequa
Que as iniciativas do governo de me dispensar da formali-
a danar dicepadoo + cocos Pe casa que eu
no, € o número que me con
.
dade de um exame pelos comissários me pareceu tanto mais
EXPetierte POrquanto à ação dOmapnctismo
animal sobre o
vier para minha sati ção. corpo humano e sua utilidade em medicina são hoje verdades
tante das graças que eu podia pedi O res.
r, juntou o ministro, seria de notoriedade pública, e seria, por assim dizer, pueril pôr ar
proporcionado quando os dis
cípulos do goverio houvessem “de dúvida no que não deixa nenhuma.
reconh ecido a utilidade da minha des
coberta. Que após estar assim elevado acima das formalidades inú-
Respondi que eu lhe suplicava
que chegassem a sua majes- teis me parecia incompreensível, ou pelo menos contraditó-
tade os justos sentimentos
de sensibilidade e de reconheci rio, que me deixasse julgar pelos meus alunos.
mento com que eu estava ani -
mado, mas que eu não podia Que esta cláusula, aliás, era rigorosamente inadmissível,
aceitar as proposições de que
acabara de tomar conhecimento desde que não se podia prever quais interesses estariam ditan-
Sinto que revolto um grande .
número de meus leitores do seu julgamento. A quem se deveria, por exemplo, a verda-
mas já estou acostumado à imp
ressão que lhes causo. As acg- de, pergunto eu, se me fosse dada por discípulos, comissários
sações de vaidade, de importânc
ia, de teimosia, de falso desin- e juízes os senhores de Lassone, Malloét, Sollier?
teresse fizeram minhas orelhas
tremerem de todos os lados. Que se não se acreditava em minha descoberta, haveria
A essa precipitação no julgamento
eu oporei o exemplo evidentemente um grande erro em me oferecer 30 mil libras
do ministro de Estado diante do
qual eu compareci. Podem-se de renda.
tomar suas lições sem contesta
r. Não saiu de sua boca nenhu- Se ao contrário se acreditasse, a sorte da humanidade não
ma expressão dura. Trangúilo,
com doçura, sua voz exprimia deveria ser sacrificada nem ao amor-próprio de alguns sábios
pas sivamente as objeções, e seu ouvido esc
as minhas. À conversa durou dua utava atentamente em delírio, nem ao receio de algumas despesas indispensáveis.
s horas nesse tom. Que eu não concebia como a submissão dos espíritos mais
Não mais Procurarei entrar em
detalhes. Contentar-me-ei esclarecidos da nação às opiniões dos sábios podia ser tal que
Fi ce uipir minhas respostas,
Indicando a natureza das dificul- deixasse de modo tão evidente surgir por minha causa o receio
ades, elas lançarão luz suficien
te sobre a uestão. . E Eu - real de seu desgosto. Que importa o sentimento da Faculdade
presso então:
é a
de Medicina, da Sociedade Real, do senhor de Lassone se toda
Que os oferecimentos que me essa gente não se importa com a sorte da humanidade? É com-
foram feitos me pareciam
pecar por Visarem meu interesse pecuniário preensível que ela esteja descontente.
cia da minha descoberta como obj e não a importân-
eto principal. Que por estar exposto pacientemente à derrisão pública
Que a questão devia ser absolu durante 15 anos consecutivos, não significa que eu esteja mais
tamente vista em sentido
contrário, pois que, com efeito, disposto a assumir minha vergonha, que seria lembrada como
sem minha descoberta, minha
pessoa nada seria. excessivamente aviltante para mim se estivesse fundada a supo-
Que eu sempre havia agido de ,
conformidade com estes sição de que eu pudesse aceitar 20, 30, 40 e mesmo 100 mil li-
Princípios, solicitando constante bras de renda por uma verdade que no fundo do coração eu sa-
mente a importância da mi-
nha descobert a, jamais a da minha pessoa, bia não existir, que uma tal suposição jamais serviria de base a
qualquer tratado voluntário de minha parte, e que meu coração
494 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELA
TIVOS AO MAGNETISMO 495

se | revoltaria de tal modo a essa idéia ã psi ja se não


idéi que eu não Que entrava necessariamente
nos meus projetos o de ge-
seriai melhor perder um a descoberta do que aa -la a preso . rir estes estabelecimentos de modo que
pudessem servir de
deveria modelos a todos
e se taxasse essa condu ta de desumanidade, e u cveria aqueles deste gênero que a seguir se
julgaria
necessário fazer, seja na França, seja
sousa me preocupar, que o erro estaria na própria bumanid : alhures.
de ou nos seus representantes, que após tudo e n o veria à
Que eles deviam ser de natureza a desdobra
os meios de minha doutrina, de modo a r os recursos e
que título se exigiria que eu amasse a humanidade se poder praticá-la e en-
| . | " siná-la sem restrições.
ama a si própria.
Que, esses meios Postos em prática, não
Que resumindo os meus princípios, eu não podia decici nar que eu os transportaria de um lugar a é preciso imagi-
damente encetar algum tratado com o governo que Pr via outro por minha von-
e -

tade ou daquela de pessoas poderosas.


mente não reconheceu formal e autenticamente a existên Donde se seguirá que o estabelecimento
a utilidade da minha descoberta. ; | cera dig devi a estar num
local bastante vasto e bastante cômodo
ue alegar em resposta a crença E me
de compro end para receber conveni-
entemente as pessoas postas no mundo para
dade real seria admitir positivamente que não Estava conte - ras preferências sobre o restante da nação. obter as primei-
]
cido, donde, sem m e lamentar,r, eu € ap tudo o
ferir após
deviaja 1inferir Que seria impossível que as coisas se
feito que a convicção é uma
ue eu haviaja fei p. anha so passassem de outro
modo até que a multiplicação desse tipo
de estabelecimento
solo francês e que o melhor para mim é me ocupar em tivesse satisfeito as condições necessár
ias de parte do reino ou
algum terreno menos ingr
ingrato. o na sua generalidade,
ue não posso admitir razões econômicas. Toda despes a Que não seria razoável pedir ou exigir
5. Po- que eu contribuísse
necessária ao bem-estar dos povos é um dever rigoros EM com despesas consideráveis e inevitáv
eis num local que não
de-se adiar para tempos mais felizes a edificação de t 1 lá me pertencesse.
cio agradável, a construção de um local útil, a formação um Que enfim as contrariedades passadas muit
o me ensina-
caminho cômodo, mas não se pode adiar para o dia segui tam o quanto me importava ser livre, inde
| une minha cs pendente, ter minha
saúde e a conservação dos homens. casa para que euesquecesse facilmente a sua necessid
ade.
Que se eu tivesse severamente evitado duran e inha es Que esse amor pela liberdade não
estava, entretanto,
tada na França questionar meu tratamento pesso = ni nada menos do que desordenado. Eu
havia sempre reclamado
duvidado um só5 i instante qu e ele não devia ser dign a e reclamo ainda que o nome e à auto
ridade do rei apareçam à
francesa e da grandiosidade da monarq uia que a car testa do meu estabelecimento: a ele
só pertencem essencial-
Que pressionado mai j s do que desejar jariaia Pêpa para me icar mente a proteção e a propagação de uma verd
pende a felicidade dos homens. ade de que de-
iti amente sobre esse assunto eu eria,caes
maisi positiv ) por resp
Cinã
iniã dos demais,
ela opinião i e s e eu desejas e,
se, |
por , ssina-
assina Que por escrúpulo eu desejava usufruir
indi
do oroposições que eu jamais me permitiria, mas depo à munificência do governo a concessão que pedi retamente da
ier - aquele que me concedeu uma soma qual repugasate
teria mais tempo de me Tetrata GA UA am quer destinada a fazer
aceitaria as 20 mil libras de pensão vitalícia que me haviar ? esta aquisição assim que me conviesse,
E uma possessão terri-
cido
i com a condição acres
içã de que e acresceri a a dá torial e não dinheiro que eu peço.
ada de com uma extensão territorial própria aos estabe-. Que qualquer interpretação que se
dê a esta sutileza não
lecimentos que eu havia projetado. se poderá pelo menos evitar aí reconhec
er um ponto de segu-
496 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 497

tança para O governo. Que risco pode ele correr dando


uma Os preconceitos são inimigos da felicidade dos homens.
pensão a si mesmo e concedendo uma pensão territorial?
Tais
Coisas não podem nem se esvair nem se ecli psar num piscar de
OÍÃOS. São, por assim dizer, cauções de justiça e de fideli
dad os, de prestígios e de embustes é pois o dever mais caro ao
para cumprir os compromissos contratados.
Que eu sabia muito bem que o tratamento que se deseja- verdadeiro legislador: eis o que eu proponho.
va importava numa soma considerável. Mas que eu sabia É sob um monarca amigo de seus povos e sem dificuldade
mui- um dos melhores cidadãos de seu reino, é sob um ministério
to bem que minha descoberta não tem preço.
Que se considerar essa soma como imposto lançado sobre no qual todos os membros possuem uma reputação de virtu-
os povos, eles não seriam lesados, porque não teriam de, é enfim no momento de uma espécie de ressurreição para
tido se- a honra francesa que se rejeita na França a verdade mais amiga
não a mim para levar em mais alta consideração depois
de per- dos homens, e que esta nação, ciumenta de todas as suas gló-
manecer na França, e que, além disso, o dinheiro é feito
para rias, renuncia ao título precioso de benfeitora das gerações. E à
pagar as necessidades.
, -sólida honra de servir de modelo e de preceptora ao universo.
Que, visto como recompensa, esta soma me pareceria
tal- Ó, verdade! Verdade! Teu império é certo, mas teus primei-
vez fiel. O compromisso que assumi de não deixar a França
sem ros passos são difíceis!
permissão expressa do rei, 15 anos de trabalho jogados à
humi-
lhação, o que me restava a fazer, o desinteresse do qual Tal foi, ou ao menos tal deve ter sido a conversação de que
sempre
fiz profissão, o que particularmente usei na França, país
estra- me inteirei. Eu disse “tal deve ter sido” porque numa conferên-
nho para mim, e que pelas máximas ordinárias me teria permi- cia em que cada um toma da palavra com liberdade é impossível
tido espoliar sem escrúpulo, a agitação contínua de minha que os fatos sejam apresentados, seguidos, ouvidos e sentidos
vida,
a do meu espírito, aquela enfim do meu coração, não seriam como num livro. Pressionando-se uns aos outros, eles se enfra-
tal-
vez os únicos motivos que eu poderia fazer valer para justificar quecem, se obscurecem e se fazem esquecer reciprocamente.
tma recompensa, mais digna de fé que se pode dizer, Essas considerações são mais motivações para que eu deva
se ela for
comparada àquela que simulam pessoas que, totalmente aqui deduzir minhas razões tão sucintamente quanto posso.
inú-
teis, ficariam muito irritadas por serem prejudiciais a tudo. Sua enumeração deve, por toda razão, ser a justificação do go-
Que eu deixaria à sagacidade de sua majestade e a de seus verno francês. Se pelos eventos aos quais tudo me diz que não
ministros a decisão da utilidade ou do perigo que poderiam devo esperar ele mudar sua resolução ou aceitar a oferta de
re-
presentar as contrafações do meu método, e que eu lavaria
mi- minha descoberta, poderei indicar os principais motivos pelos
nhas mãos quanto aos inconvenientes resultantes, assim
que quais será fundada sua conduta. Se ele persistir na sua recusa,
eu tivesse com certeza adquirido o direito. o que é mais provável, poderei indicar igualmente os entraves
Que o porte de minha inteligência não seria suficiente para que devem embaraçar sua marcha, e incomodar sua afeição
compreender como de um lado se repeliu assim toda pelos povos aos quais ele serve de pai.
precau-
ção, enquanto de outro me objetaram a importância de Eu eximiria o ministro, imbuído de seus deveres e alijado
tomar
as maiores precauções antes de acolher uma descoberta que de um peso imenso. Meu caso havia terminado mal, mas esta-
pa-
recia bater de frente com preconceitos tanto quanto a minha.
va terminado, o que foi um imenso bem, melhor do que um
fim qualquer.
498 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS
RELATIVOS AO MAGNETISMO
499

De volta à minha casa, pensei no que deveria fazer quanto época com meus cuidados para com meus
doentes que conti-
a rainha. filha da minha primeira soberana, irmã do meu senhor nuarem a me dar sua confiança.
legítimo, esposa do monarca que mantém é às felizes nias
i leisis sob “Suplico ardorosamente a sua majestad
quais eu estive muito tempo em segurança fora ao que essa oferta deve estar ao abrigo de e que considere
| toda nova interpreta-
tria,ia, nãoná me era maisj possívível esquecer que ? ção. É a sua majestade que tenho a honra de
al o de mim. Eu lhe escrevi sem demora a carta que se segue pendentemente de
o fazer, mas inde-
toda
s as graças, de todos os favores, de
Ela terminará esta obra sem outras reflexões. Devo me com toda esperança outra do que aquela de
tentar em assegurar verdadeiramente que eu à escrevi com os
usufruir, ao abrigo do
poder de sua MAJEST ADE, da trangúilidade e da seguranç
sentimentos
i i o mais isento de 1todas
do respeito gera recidas que me foram acordadas nos a me-
e que nãoão m me faltaram razões, menos p estados após minha per-
ões i
õ ulteriores, manência. É enfim, senhora, declarando
sas que aquelas do dever e do reconhecimento, para sacrificar a SUA MAJESTADE que
Tenuncio a toda espera de arranjo com
seis meses dos quais o emprego me era extremamente caro o governo francês, que
eu lhe suplico para juntar o testemunh
por motivos que só eu posso apreciar. | Enfim, eu daro o da mais humilde, da
mais respeitosa e da mais desinteressa
colo co na ordem coisas moralm rente da das deferências.
como penso. Nãoã “Eu busco, senhora, um governo que
possíveis, senão que a cena se transforma na França pe a perceba a necessida-
de de não mais deixar de introduzir
minha razão, ei-la: os interesses que combati, ou m hor di facilmente no mundo uma
verdade que, por sua influência sobre
zendo, que se crê ter que defender, pertencem a pesso ui O físico dos homens,
pode operar modificações que, desde
o
to poderosas ou muito hábeis, para que se possa lutar c sabedoria e o poder devem conter e dirig seu nascimento, a
elas com alguma igualdade. ir para um curso e em
direção a uma meta salutar. As condições que
“Senhora, o Postas em nome de SUA MAJESTADE me foram pro-
pura satisfação ao saber não preenchendo essas
“Passei por momentos da mais condições, a austeridade dos meus
nim, princípios impediram-me
que sua majestade se dignou a projetar sua atenção sobre imperiosamente de aceitá-las.
e no entanto minha situação pesa dolorosamente bre meu - “Numa causa que interessa à humanidad
coração. Havia precedentemente exposto sua majes tade o gar, O dinheiro não deve passar de uma e em primeiro lu-
projeto que eu tinha de deixar a França como € trário à fu- consideração secundá-
ria. Aos olhos de sua majestade, 400
manidade, em que eu abandonaria os doentes a qu meus cui ou 500 mil francos mais
ou menos, empregados a propósito,
dados eram ainda necessários. Hoje não mais tenho úvida de nada são: à felicidade dos
povos é tudo. Minha descoberta
que se atribuiu a motivos interesseiros minha recusa cor deve ser acolhida, e eu,
recompensado com uma liberdade dign
ções que me foram oferecidas em nome de sua maje . a da grandeza do mo-
narca ao qual me ligarei. O que deve
me desculpar sem dúvi-
“Não agi, senhora, nem por desumanidade nem por vide. das de toda falsa interpretação a esse
as respeito, é que após mi-
Ouso esperar que SUA MAJESTADE me permita colocar asp nha estada em seus estados, eu não
tiranizei nenhum de seus
sob seus olhos, que antes de todas as coisas devo dizer o quan objetivos. Após três anos, eu recebia à
cada dia ofertas pe
E DO Mal dá para lê-las, e posso dize
minha respeitosa submissão a seus menores desejos. contar, tenho sido chamuscado por soma r que, sem
s consideráveis.
“Desse modo, unicamente por respeito por SUA MAJESTA- “Minha marcha pelos estados de sua
majestade tem sido
DE, eu lhe ofereço a esperança de prolongar minha estada na sempre uniforme. Não é seguramen
t e nem por cupidez, nem
França até 18 de setembro próximo e de continuar a | por amar a uma glória vã que me tenh
o exposto ao ridículo
500 FRANZ ANTON MESMER
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGN
ETISMO 501
pressentido com o qual sua Aca
demia de Ciências, sua Socieda::
de Real e sua Faculdade de Med for enquanto eu estiver vivo, ele honrará minha tumba com
icina de Paris pretenderam mé:3
cobr ir sempre. Quando o fiz foi porque cria sua pessoa. nn
dever tê-lo feito:
APOS SUA recusa, eu estava crente “Sem dúvida a época de 18 de setembro que indiquei a
que o governo devi
-sua majestade lhe parecerá extraordinária. Eu lhe suplico
“lembrar-se que num dia semelhante do ano passado, que não
ocorreu aos médicos de seus estados, a não ser a um dos seus
confrades, a quem tudo devo, não foi desonroso para comigo.
manidade, como se minha decisão
não tivesse sido forçada, Nesse
“No balanço da humanidade, 20 ou de Parisdia aconteceu a assembléia da Faculdade de Medicina
, em que foram rejeitadas as min
25 doentes, quaisquer has proposições, e
que sejam, nada pesam ao lado y

da humanidade inteira, e para que proposições! SUA MAJESTADE as conhece. Eu sempre acre-
fazer a aplicação deste prin .
cípio a uma Pessoa que SUA
MAJES- ditei, SENHORA, e creio ainda na persuasão que, após um estré-
TADE honra com sua ternura não
Poss
à senhora duquesa de Chasilnes à o eu dizer que dar apenas pito tão aviltante para os médicos da sua cidade de Paris, toda
preferência sobre a generali- pessoa esclarecida não poderá mais evitar fixar os olhos sobre
dade dos homens seria, no fund
o, também condenável a Inim minha descoberta, e que a proteção de toda pessoa poderosa a
apreciar minha descoberta apen
as por razão de meus interes- ela estará dirigida sem dificuldade. Seja como for, em 18 de
ses pessoais.
setembro próximo fará um ano que eu havia fundada minha
“Eu já me encontro, senhora, na
os doentes que me são caros e aos necessidade de abandonar única esperança nos cuidados vigilantes e paternais do gover-
quais meus cuidados são ain- no. Nessa época, espero que SUA MAJESTADE julgará meus
da indispensáveis. Isto foi nos tem
pos em que eu deixava os lo- muito longos sacrifícios, e aos quais não fixei um termo, nem
cais de nascimento de sua majest
ade. Eles são também minha por inconstância, nem por disposição de ânimo, nem por de-
pátria! Por que então não me
acusavam de desumanidade? Por sumanidade, nem por jactância. Ouso enfim acreditar que sua
que, senhora? Porque essa grave
acu
flua: porque ela surgiu por intrigas sação tornar-se-ia supér- proteção me seguirá nos lugares aonde meu destino me levará
mais simples, a me perder longe dela, e que, digna protetora da verdade, ela me dignará
frente ao espírito de sua augusta
mãe e do seu augusto irmão. usar de seu poder sobre o espírito de um IRMÃO e de um ESPO-
“Aquele, senhora, que sempre
terá como eu presente no SO para me lançar sua benevolência. |
espírito o julgamento das nações
e da posteridade, aquele que “Sou, de sua mejestade, com o mais profundo respeito,
se preparará sem cessar a prestar cont
a de
suas ações, suporta- senhora, o mais humilde e obediente servidor. Paris, 29 de
Tá, como tenho feito, sem orgu
lho mas com coragem, um re-
vés tão cruel, Porque ele saberá março de 1781, Mesmer.”
que, se existem muitas cir-
cCunstâncias em que os reis devem guia
ainda as há em grande número em r a opinião dos povos,
que a opinião pública pre- FIM
domina irresistivelmente sobre aque
las dos reis. Hoje, senho-
Ta, asseguraram-me em nome
de sua majestade que vosso au-
Busto irmão, tem desprezo por
mim. Que seja! Quando a
opinião pública tiver decidido, ele
me renderá justiça. Se não
RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELAT
IVOS AO MAGNETISMO 503

mentos. Em uma palavra, a paralisia


elevava-se até seus
quadris. Sua medicação teve sucesso
em acalmar o vômito, e
pô-la em condições de dirigir-se a Paris
no mês de fevereiro de
1778.
O senhor Le Roi, que lhe deu consulta,
e de quem vieram
os conselhos, concluiu o restabelecimento
do seu estômago e
acalmou os demais sofrimentos, mas a paral
isia permanecia na
mesma, e ela estava muito incomodada com
uma asma vaporo-
sa. À doente estava de partida para as águas
de Balaruc quando
soube que o senhor Mesmer tratava de doen
ças tão graves
quanto a sua na cidade de Creteil. Ela prefe
PEÇAS JUSTIFICATIVAS sultado e ter recebido esperanças, seguir
riu, após tê-lo con-
seu tratamento.
Após o acima exposto, que certifico como
verdade, decla-
To que tendo provado o tratamento do
senhor Mesmer e o
novo méto do, desde o mês de maio último até hoje, reco
faculdade de andar livremente e sem apoio brei a
de
Nº 1 - Exposição da doença e cura da senhora subir e descer sem dificuldade. Que minhas
, de modo a poder
pernas recupera-
almaison ram seus movimentos e calor. Que elas
estão, assi m como os
de 38 anos, em
A “ senhora de La Malmaison, com a idade ia tido
do
dedos dos pés, em estado natural. E que enfim,
estou perfeita-
ência, sco pe
bora com constituição forte na aparênci mente curada da paralisia, assim como de
outros incômodos
de que estava afligida.
foram
Sion o O dos recolhimentos. Estes acidentes - Creteil, 30 de Agosto de 1778. Assinado
desm aios , desg osto s o Douet de Vichy
dos é seguidos de vômitos, de la Malmaiso n.
, e esca rros ceng uio
lutos dores de cabeça, tosse convulsiva servia,
l s. Suas pernas enfim se recusaram to
e Nº 2 - Exposição da doença da senhora
eaco n uziram às águas de Plombiêres três anos cons
cond de Berny
ei té a chegada do inver
Í no, q ue a reme- A senhora de
antes
Berny, com 54 anos, estando em Bareges no
teu pouco ao
a a pouco ao mesmo estado em que estava mês de julho de 1776, sentiu subitamente
como uma nuvem
Estas variações tiveram lugar até o mês
de junho de 1777, nos olhos , que a impediu de ler e de escrever. Indo
vé lo lesou su as pernaass 8a pon-
Por a Auch al-
do um acidente com um m veícu guns dias depois, essa perturbação aumentou
. O médico do lo-
cruel renov ou e aum
to de expor os tendões. Este acidente cal julgou que se tratava de uma fluxão e lhe receitou
uma san
OU SUAS AfECÇÕES PIEC
co

BIZ TO Draço, purgações,


a e te
9

e muitas fumigações. O que não


tão violento que ela não po trouxe nenhum alívio.
Ela veio a Paris no fim de agosto e consulto
u quatro céle-
bres médicos, que lhe receitaram sucessivamen
te fumigações
de Karabé, vapor de café, vesicatórios nos braç
os e na cabeça,

502
504 "FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS AO MAGNETISMO 505

ipecacuanha e águas de Vichy.


Todos esses remédios agrava: A cabeça transpira. Os ouvidos estão úmidos e sem secreção.
ram seu estado. Ela tomou a deci
são de se banhar e sentiu-se -Os espasmos da garganta e do estômago não mais existem. Os
“tio MÓ melhor; foi tomar banhos de St. Sauv
eyr, nos Pirineus, es Ômitos cessaram após três mese à melanco E pone
achou inda Mel hor mas no mês de abril de 177
8 a nuvem as obstruções estão resolvidas, o que me foi reve a o po -
A Dante ida

mais opaca cobriu sua visão e


aumentou a ponto de impedir nas de tal modo carregadas que durante um mês y as ti ma
sua faculdade de se conduzir. O
olho esquerdo, sobretudo, aparência leitosa turva e se depositavam em gran: a parte, e
não lhe servia para mais nada, Um
humor aquoso a impedia de sim como pelas contínuas dores de cabeça, uma d are ja mo
pj

elevar as pálpebras. Junto à isso,


ela apresentava lassidões do- derada e ebulições sucessivas sobre toda a superfície do corpo.
A

lorosas em seus membros. O Sono


era raro, e comumente in- Todas esses diferentes efeitos foram operados sem o uso
terrompido por dores lancinantes nas
rp

têmporas e atrás da ca- de qualquer medicamento. E o senhor Mesmer grspregou


beça. Males dos rins, e um aperto habitual do ventre
a

sofria desde a infância, e que acre que ela para minha cura um método cujo princípio ignoro - que ce
ditava hereditário, aumenta tifico em Creteil neste 28 de agosto de 1778. Assinado Men
va todos os seus males. A cabeça
estava sem transpiração des jot de Berny.
O

de vários anos. Os ouvidos estava


m secos, e produziam um
ruído fatigante. Um dos piores
acidentes era uma contração
espasmódica na garganta, esôf
ago e estômago que provocava
' Nº 3 - Exposição da doença e cura do senhor
vômitos violentos várias vezes
ao dia. Ela estava sem apetite. cavalheiro du Houssay e |
Uma melancolia vaporosa piorava tudo ainda mais.
Foi neste estado que ela tomou a inic A justiça que devo à verdade me fez dar a público em de
iativa de cons ultar o talhe circunstanciado tanto de minha doença quanto os cfei-
senhor Mesmer, que lhe respon
deu de pronto que a doença tos seguintes que provei após os quatro meses em que
dos olhos era uma amaurose inc
ompleta, ocasionada, assim nas mãos do senhor doutor Mesmer. |
como os demais incômodos, ori
ginariamente por uma obstru- Na noite de 24 de dezembro de 1757, estando, assim
ção no baixo ventre que ele acredita
va suscetível de resolução. como toda a armada, acampado em Bivouac, junto. àci a e de
Esta opinião, apoiada por aquela
do senhor Petit, que dois Zell, no país de Hanover, o sono, acrescido da adiga. cem
anos antes lhe havia anunciado
o princípio dessa obstrução, dormir sobre a neve numa noite extraorcinariamente .
determinou que a senhora de Ber
ny se dirigisse a 27 de abril Pela manhã, foi necessário que dois granadeiros me evassem,
de 1778 a Creteil, lugar escolhid
o pelo senhor Mesmer para o estando tão congelado que não podia me sustentar. ç moi
tratamento de vários doentes.
mento e a ação, acrescidos da juventude e ainda da orça do
meu temperamento, impediram-me de sentir as conseqã
cias desse frio excessivo a que me havia submetido. ae nuei
nhor Mesmer, de 28 de abril últi
mo até hoje, meus olhos estão a guerra até a conclusão da paz, sem outro incômodo. Doi
restabelecidos a ponto não soment
e de me conduzir perfeita- anos depois da paz, fui atacado por uma forte doença do peito,
mente só e de distinguir todos os
mas também poder ler e escr
objetos de perto e de longe que se dissipou pelo uso do leite.
ever. O sono e o apetite estã Algum tempo depois, fui atacado por um dumor que E
restabelecidos. Não mais tenho o
dores nos membros, na cabe- lançava sobre minha face, e começava a se manifestar pes
ça, nos rins. Ando com força e facilidade. O ventre está
livre. ponta do nariz. Essa vermelhidão ganhava meu nariz por in
506 FRANZ ANTON MESMER RESUMO HISTÓRICO DOS FATOS RELATIVOS
AO MAGNETISMO 507

suor iétido, algumas vezes tão abundante que encha


ro, a fronte, os olhos e as bochechas. Os médicos fizeram o im- rcava meu
me , OS que se repet
possível, mas inutilmente, para me fazer melhorar. Eu ; iu durant, e quase um mês. . Atualm ente
, O cpcontro me perfeitamente curado de todos esses
apercebi em seguida de um pouco de fraqueza nas pernas males Te-
U corpo a prumo: minha cabeça é fixa e reta, minha
que não me impediu de viajar em 1772 para a Martinica. Con- lín-
- gua está liberada, articulo e falo bem como o fazia
traí nessa ocasião uma febre pútrida e maligna que me atingiu antes da do-
ença, a grossura do meu nariz diminuiu, meus olhos
toda extremidade, e que a seguir se declarou uma paralisia ge- meu rosto estao naturais, minha figura denuncia
e a cor d
neralizada, que me forçou a voltar à França para encontrar Os minha idade
de e, meu peito está reforçad o, eu me apóioi sob
recursos necessários para o meu estado. Após quatro anos
rins, tenho a respiraçã o forte e livre, e a espi
experiências em que a medicina empregou todos os remédios espinhaha dorsadorsal l nãonã
de banhos, tanto frios quanto mais
ais me
ro faz mal, , minha s espáduas são k retas,
conhecidos, grande número ret. a kh liberdade ca e a
dor . e aos! rasos e de minhas mãos estão restabelec
quentes, e vapores aromáticos, não havendo nenhuma melho- idas
ra, não hesitei em me colocar nas mãos do senhor Mesmer, eender que o mau hábit o ea inérci
inérc a prolon-
g ados impedem que minha
que me fez aguardar a cura por um processo novo € desconhe- i marcha pareça tão desembariracad
açad.a
como será com o tempo € Os exercícios
cido até esse dia. Quando cheguei a ele, eu tinha a cabeça con- íci necessári os pa -
feito uso das faculdades recém-recuperadas
tinuamente agitada de todos os lados: o pescoço pendia para tutto
frente, os olhos vermelhos, saindo das órbitas, a língua paralisa- EuÀ certifico o presente enunci unciado conforme
a verdad
da e espessa, causando grande dificuldades para eu falar, tinha a a dé je qualpo asno. Em Paris a 28 de
agosto de 1778.
respiração dificultada, dor habitual no dorso, um riso contínuo eiro du Haussay, major da 1 i
que anunciava uma alegria desarrazoada, o nariz inchado com lheiro da Ordem Real e Militar de São Luís.
nfantaria, cava
uma vermelhidão púrpura em toda a face, as espáduas relaxa-
- das, o peito entrado para o dorso, tremor por todo o corpo que FIM
agitava meus braços e minhas mãos, e que me fazia estrebuchar
de todos os lados ao andar. Esse estado me dava mais o ar de ve-
lho bêbado do que de um homem de 40 anos.
Eu não conhecia bem os meios pelos quais o senhor Mes-
é
mer se servia. O que posso assegurar com a maior verdade
que no decurso do tratamento nenhum remédio foi usado,
que por seu princípio dito magnetismo animal ele me fez pro-
var desde a raiz dos cabelos até a planta dos pés efeitos inacre-
ditáveis. Apercebi-me durante o tratamento que com exceção
das vísceras não havia um só ponto do meu corpo que não ha-
ia sido afetado pela doença. O cérebro, a medula e mesmo os
ossos não haviam sido poupados. Tive crises que começaram
por um mal-estar geral, e que eram seguidas por um frio ex-
cessivo, como se pedaços de gelo saíssem da cadeira. Depois
disso, um violento calor sem febre, que terminava por um
MEMOIRE |
FRANZ ANTON MESMER
DE F. A. MESMER,
DOCTEUR EN MÉDECINE,

SUR SES DÉCOUVEKRTES.


Mala renasent
que ur
jam óeciders, aademtque
MEMÓRIA DE F. A.
MESMER, DOUTOR EM
Que anne raat ju honere..
Reasr,

Monvelie Góttion,
. AVEC DES

DE J, L. PICHER GRANDCHAMP, .
NOTES MEDICINA, SOBRE SUAS
do E
Gradaé, queico Chi em chef de
Tila, nombre de la Société de, dá, ii
Thôpital real de la
FE dis Corelo médical de
to DESCOBERTAS

Multa renascentur quae jan cedicere, cadente


ue quae nunc sunt honoré...
é HORÁCIO

PARIS.
MMAUMUS ET Cn, LIBRAIRES,
RUE BE Venxecea,
nº 18;
ET CHEZ LÉDITEPR, RUE DE JOUBERT, Nº ar.

1826.
MEMÓRIA DE F, A MESMER
sn

his discoveries, 1799. (Macdonal


d: London. 1948. Fron-
tis,63,[1] p- illus., ports. 18 1/2 cm).
Em 1980, George Bloch
publicou em ingl ês: Mesmerism: a translation of the
medical and original
scientific writings of F. A. Mesmer
Altos/ CA: Kaufman, c1980. xxii, (Los
152 p.). No entanto apesar
do título, a trad
ução não foi dos textos originais de
mas de uma edição moderna das obra Mesmer
s de Mesmer, com algu-
mas alterações do original, publicad
a por Robert Amadou em
1971: Magnetisme animale (com
comentários e notas de
Frank À. Pattie e Jean Vinchon. Paris
, Payot, 1971. 407 p. Bi-
NOTA À EDIÇÃO BRASILEIRA bliotheque scie ntifique. Collection science de homme)
.
PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

À presente tradução foi feita a partir da edição original, em


francês, publicada por Mesmer em 1799, intitulada Mémoire
de F. A. Mesmer, docteur em medicine, sur sés découvertes
([Memória de F. A. Mesmer, doutor em medicina, sobre suas
descobertas] A Paris, Ches FUCHS, Libraire, rue des Mathurins,
Maison Cluny. De L'Imprimerie de Lesguilliez, frêres, rue de la
Harpe, no 151. An VII [1799] 129 p.). Foi utilizado exemplar
pertencente à Biblioteca Nacional da França.
Uma segunda edição francesa foi publicada em 1781, eno
mesmo ano foi o texto vertido para o alemão: Abhandlung
úber die entdeckung des thierischen magnetismus. Túbingen:
edition diskord. (1985, Túbingen: edition diskord: Michael
Macklot, 1781)
Em português, foi primeiramente publicada junto com a

O Rs
rum ne
Memória de 1779, em 1862, pelo divulgador do mesmerismo,
doutor Eduardo A. Monteggia. Um exemplar original encon-
a-se na nossa Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro
À primeira tradução para o inglês surgiu somente em
1948, com introdução de Gilbert Frankau e tradução de V. R.
Myers: Dissertation by F. A.Mesmer, doctor of medicine, on

510
MEMÓRIA DE F. À MESMER 513

Eu me ufano de haver lançado uma nova luz com a teoria


dos sentidos e do instinto. Por meio desta teoria, procurei ex-
.
o q na A A AACD Lo OSLãO-VAnaçgos-canto-surpreenaen

tes fenômenos derivados do estado chamado sonambulismo. 150


Demonstro que determinadas doenças são um desenvolvi-
mento crítico do estado sonambálico: a história da medicina
PREFÁCIO relata um tão grande número de exemplos que não se pode
duvidar que estes fenômenos sempre tenham sido motivo de
interessantes observações para as pessoas dedicadas à arte de
curar. Posso hoje afirmar que todas as gradações da alienação
À história oferece poucos exemplos de uma desco mental estão relacionadas a esta crise extraordinária.
berta
que, apesar de sua importância, tenha sofrido tantas É esta condição que produz as aparições maravilhosas, os
dificulda-
des para se estabelecer e ganhar credibilidade quanto êxtases, as visões inexplicáveis, fontes de tantos erros e opi-
a de um
agente que opera sobre os nervos, até agora desconheci niões absurdas. Não é difícil avaliar o quanto a obscuridade
do, a
que denomino magnetismo animal. que envolve tais fenômenos, acrescida da ignorância popular,
A obstinação com a qual foi feita oposição ao progr favoreceu o estabelecimento de preconceitos religiosos e polí-
esso da
apenas nascente opinião sobre este novo méto ticos em todos os povos.15
do de cura ine
fez empregar esforços para retificar essa atitude e para
juntar Espero que minha teoria evite, de agora em diante, estas
ao sistema uma grande parte de conhecimentos da física.
interpretações que produzem e alimentam a superstição e o
Antes de apresentar este sistema, no qual tentei reunir
encad
e fanatismo e, acima de tudo, impeça aqueles que tenham a in-
ear seus princípios, sinto-me obrigado a oferecer,
numa felicidade de entrar no estado de sonambulismo, por um aci-
dissertação preliminar, uma idéia justa e precisa do seu
objeti- dente ou por doenças graves, de serem abandonados pela me-
vo, da extensão da sua utilidade, e eliminar os
erros e os pre-
julgamentos que poderiam ocorrer.
Eu apresentarei uma teoria tão simples quant
o nova do pro- 150 Sonambulismo provocado, sono mesmérico ou sono crítico é o mesmo
gresso e do desenvolvimento das doenças. Também
substituirei os estado que o sonambulismo natural, mas provocado pela ação do magne-
princípios incertos que até agora têm servido de regra à tismo animal, por meio de passes longitudinais e imposição das mãos.
medicina
por uma prática igualmente simples, geral e tomacla 151 Para que a totalidade das aparições, êxtases e visões pudessem ser
da natureza.
A maior parte das propriedades da matéria organizada completamente esclarecidas, afastando as idéias supersticiosas, faltava,
, tais
como a coesão, !*º a elasticidade, gravidade, o fogo, a luz, a ele- além do magnetismo, outra ciência: o espiritismo, que, ao acrescentar a
tricidade, a irritabilidade animal, que até o prese intervenção dos espíritos, esclarece os casos relativos a atuação desses
nte têm sido seres: “O espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensida-
consideradas como qualidades ocultas ,serão explicadas
pelos de de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de
meus princípios e seus mecanismos, postos em fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O
evidência.
conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam
uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas,
149 Coesão é a propriedade resultante da ação das constitui o melhor preservativo contra as idéias supersticiosas, porque
forças atrativas existentes
entre as partículas (moléculas, átomos, íons) constit revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da nature-
utivas de um corpo.
za e o que não passa de ridícula crendice.” (KARDEC, 1857, p. 279)
512
514 FRANZ ANTON MESMER

dicina e afastados da sociedade como incuráveis, porque


tenho a certeza de que os estados mais horríveis, tais como a
loucura, a epilepsia e a maior parte das convulsões são, na maio-
ria das vezes, efeitos funestos da ignorância do sonambulismo,
e da ineficácia dos meios empregados pela medicina,!S2 que na
maioria dos casos essas doenças não são senão crises desconhe-
cidas e degradadas, que enfim são poucas as circunstâncias em MEMÓRIA DE F, A, MESMER,
que não se pode preveni-las e cura-las.
Tenho a confiança de que princípios dos quais as conse- DOUTOR EM MEDICINA, SOBRE
quiências são tão importantes não serão julgados nem sob pre-
venção nem sob julgamentos prematuros, nem baseados em SUAS DESCOBERTAS
fragmentos e falsificações que foram publicados sem meu
aval, menos ainda no relatório daqueles que obcecados por
preconceitos, deram suas próprias interpretações baseados
em conhecimentos duvidosos.'53 Aliás, se, malgrado todos os
A filosofia conseguiu neste século triunfar
s obre os pre-
conceitos e a superstição: foi pelo ridíc
meus esforços, não sou suficientemente feliz em esclarecer ulo, sobre tudo, que ela
Oi bem-sucedida na extinção das fogueiras que o fanati
meus contemporâneos sobre seus próprios interesses, terei ao
muito crédulo, havia acendido, porque
menos a satisfação íntima de haver cumprido minha tarefa o ridículo é à arma
qual o amor-próprio pode menos resistir 154 A
para com a sociedade. opinião eva :
outrora a Coragem até fazê-la desafiar o martírio ao passo
hoje não se pode suportar o menor ridíc 5 0 que
que
ulo: é a o amor-pró-
152 Por muitos séculos, os alucinados, sonâmbulos, médiuns e obsediados prio punha então toda a sua glória na força
da res stência, e no
foram considerados loucos e abandonados pela medicina. Ainda hoje presente ele temeria a humilhação de uma
isso ocorre. Muitos desses casos podem ser explicados pelo magnetismo
credul idade que se
taxaria de fraqueza. O ridículo seria, sem
animal. Outros, como os casos de obsessão, são explicados e tratados dúvi da, o melhor
meio de reformular as opiniões se, todavia, nã
pelo espiritismo: “Somos sabedores de que se tem pretendido curar, o houvesse de
como atacados de alucinações, alguns indivíduos, submetendo-os ao tra-
tamento a que se sujeitam os alienados, o que os torna realmente loucos. ai passado, a JE nisição da Igreja fez uso da
A medicina não pode compreender estas coisas, por não admitir, entre as da ver
fogueira para impedir a reve-
e A segunda arma da intolerância foi o ridícu
as causas que as determinam, senão o elemento material, donde, erros lo. O
espírito
: Da Revista Espírita de abril de 1860, conco
frequentemente funestos. A história descreverá um dia certos trata- oviniá .
pinião de Mesmer: “Outrora vos teriam
rda e desenvolve a
mentos em uso no século 19, como se narram hoje certos processos de do. O cadafalso está tombado; a fogueira
crucificado, queimado, , tortura. -
cura da idade Média.” (KARDEC, 1862, p. 110) t ortura estão
está extinta; os instrumentos de
quebrados; a arma terrível do ridículo, tão
153 Nota de Mesmer: Os imitadores de meu método de curar, por tê-lo ex- men a, Se entraqueceerÁ
poderosa contra a
posto muito frugalmente à curiosidade e à contradição, deram tugar à
entra
sa à YLIGRdE, SEUS mais
terríveis
inir nig
dão pocerrados num círculo intransp -
onível. (...) Não tendes, pois mada
muitas prevenções contra ele. Além disso, tem-se confundido o sonam- a à fazer que responder-lhes como responde
bulismo com o magnetismo, e por um zelo irrefletido, por um entusias- de cessores, quando, contra ele, form
u o Cristo aos se
ularam as mesmas acusações é
mo exagerado, pretendeu-se constatar a realidade de um pelos efeitos ele,
À pedir a Deus para perdoá-los ; porque
surpreendentes do outro. A dissertação que se vai ler tem, em parte, por (O ESPÍ nãoã sabem o
RITO DA VERDADE in Revista espírita, 1860, p. 125). faze m. »
objetivo, desfazer um tal erro. m.

515
516
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A MESMER 517
errar pela intenção, mas, por um zelo exagerado para
gresso da filosofia, abusou-se o pr 7 omo absurdas, e resgatar delas o que poderia se tornar útil e
muitas vezes desse meio: as ve
dades mais úteis foram desconhecidas, erdadeiro. E acreditei poder adiantar que entre as opiniões
confundidas co
erros e sacrificadas com elaç
155 -
É vulde gartodos oses
tempos, quetêm
não seu princípio no. cora.
L

“Antigamente,
Os erros causados pelas sup
-ção humano, mesmo desfigurada s, algumas absurdas e mesmo
pediram a constatação de fato erstições não im extravagantes que possam parecer, que não existem as que não
s ext
falta de conhecimentos sobre eles raordinários, mesmo que: possam ser considerados como os resquícios de uma verdade
Suas
impedisse a compreensão d primitivamente reconhecida 156
causas. Não se hesitava em
constatar esses fatos com um.
atenção proporcional à sua importância, e se havia engano Meu primeiro objetivo foi o de meditar sobre o que pode-
quanto : ria ter levado a opiniões absurdas segundo as quais o destino
dos homens, assim como os eventos da natureza, pudesse ser
está reduzido a ignorar tanto os visto como submetidos às constelações e às diferentes posi-
efeitos quanto as causas.
Também precisamos considera ções dos astros entre si.157
r que algumas verdades
descobertas no passado foram
de tal maneira mal compreen-
didas e desfiguradas que per -
deram o seu valor e muitas 156 Allan Kardec fez a mesma constatação: "A coincidência entre o que hoje
vezes nos dizem [os espíritos] e as crenças das mais remotas eras é um fato sig-
assim tais verdades não per nificativo do mais elevado alcance. Quase por toda parte a ignorância e
deram por isso o direito de
tecer no grande dia para a fel reapa- os preconceitos desfiguraram esta doutrina, cujos princípios fundamen-
icidade dos homens. Eu ous tais se misturam às práticas supersticiosas de todos os tempos, explora-
Zer que aqueles que têm domina o E
do a opinião publica por mei das com o fim de abafar a razão. Entretanto, sob esse amontoado de ab-
de seus conhecimentos têm o
o dever de investigar esses anti surdos germinam as mais sublimes idéias, como sementes preciosas
gas ocultas sobre as sarças.” (KARDEC, Revista Espírita, 1858, abril, p. 95)
157 A astrologia foi introduzida na Europa, juntamente com a astronomia,
pelos árabes e os judeus, e o número de crentes nos seus prognósticos
era tão grande e a fé neles tão intensa que os médicos eram obrigados a
4 Nas
memórias que publiquei em
1 779, sobre a descoberta conhecê-la, ainda que não acreditassem nas suas predições, a fim de po-
O magnetismo animal, anunciei
após vários ano
as idéi as que havia formado der tirar todo o proveito material da sua profissão. A astrologia era estu-
s estudando a universalidade dada com profundidade nos cursos de medicina, pois se aceitava, de
populares, que, segundo acr de certas opiniões acordo com o que Cláudio Ptolomeu de Alexandria (séc. 2º d.C.) tinha
edito, são os resultados de
vações gerais e constantes,
obser- escrito e sistematizado no seu Tetrabiblos, que os astros tinham uma in-
fluência determinante sobre as doenças. No mesmo caso estavam os as-
O que eu queria dizer com trônomos. À astronomia e a astrologia eram estudadas em conjunto. Os
isso é que havia me propos
Como investigador, a examin
.
to homens que sabiam registrar e prever o movimento dos astros eram os
ar as crenças mais remotas,
.

tidas mesmos que sabiam estabelecer horóscopos. Regiomontano e Kepler,


,

o por exemplo, escreveram obras sobre praticas astrológicas. Quanto à in-


155 peco
Mas,u entr
peloe ese
os lymi,
” teresvos Initer
nater fluência das constelações, esclarece Kardec: “Para se distinguirem as
mate iali
ialist
rial as,
istas, esse
es e “gel
zelo”
o”, descrito
i por Mesmer,
nro - XENSSO, rejeitando a investig constelações, deram-se-lhes nomes como estes: Leão, Touro, Gêmeos,
no aparições, visões etc.), com o ação de fatos então inexplicáveis Virgem, Balança, Capricórnio, Câncer, Órion, Hércules, Grande Ursa
exp ipações místicas de caus
intuito de eliminar as indesejáveis
as
sobrenaturais associadas àque ou Carro de David, Pequena Ursa, Lira etc., e, para representá-las, atri-
tualmente, o pensamento cien les fatos buiram-se-lhes as formas que esses nomes lembrám, fantasiosas em sua
tífico ainda sofre as consegiu
nestas do materialismo extr ências fu- maioria e, em nenhum caso, guardando qualquer relação com os grupos
emado.
de estrelas assim chamados. Fora, pois, inútil procurar no céu tais for-
518 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER
519

Um vasto sistema de influências ou de relações que ligam que este movimento!! pode ser prop
agado, concentrado, re-
todos os seres, as leis mecânicas e mesmo 0 anão das fletido como a luz, e comunicado pelo
som; que enfim o prin-
leis da natureza, foi o resultado das minhas cípi
o desta ação, considerado como um
agente que opera so-
inhas pesquisas. bre a substância íntima dos nervos
do corpo animal, pode
ne me vangloriar de que as descobertas que fz, e que E MESMO DE SE PRESERVAR DAS
são o assunto desta obra, ampliação os imitcs ae a o saber MOLÉSTIAS.
ísica do mesmo modo que o
os e dos telescópios nos tempos que nos precede
e e due Fogisto (ou flogístico) designava o princ
ram.!58 Elas farão saber que a conservação da ípio da inflamabilidade, refor-
mulando cientificamente a teoria de Arist
como sua existência, é baseada nas leis gerais à natur a ue dos quatro elementos básicos da matéria
óteles do fogo como sendo um
(água, fogo, terra e ar). O flo-
o homem possui propriedades análogas aque e cmi À que ele gisto seria aquilo que um corpo perde
ao se inflamar. Todos os combus-
é dotado de uma sensibilidade, pela qual po e estar em reta tíveis conteriam flogisto, O carvão seria
rico em flogisto, pois arde quase
pi sem deixar resíduo, e poderia, então,
ção com os seres que estão à sua volta, mem ser usado como fonte de flogisto
esm ton de movi Para regenerá-lo num corpo que não o
dos; e que ele é suscetível de se carregar car que, quando um metal se oxida,
possua, No entanto, como expli-
mento 159 que ele pode, à semelhança que Contece como flogisto, sua massa deveria diminuir.
sua massa aumenta? Se ele perdesse
Lavoisier concluiu que a combus-
fogo,'º comunicar a outros corpos anima tão não implica perda de substância,
mas sim a incorporação de algo
àquilo que arde. Ele definiu o calor como
um fluido permeando toda a
natureza, e que penetra os corpos em
A a na influência das constelações, sobretudo das que consti- maior ou menor grau proporcio-
nalmente a sua temperatura e capacida
quer 2 nos do zodíaco, proveio da idéia ligada aos nomes qu celas de, o calórico. O calórico, hipóte-
se a que se refere Mesmer nesta obra,
Eras Ss à que se chama Leão fosse dada o nome de Asno ou eo e era considerado uma substância
simples, como também a luz. Entre os 33 elementos simples
lho, certamen te lhe teriam atribuído outra influência.” (KARDEC, À g de substâncias simples de Lavoisier, da tabela
nese, p. 100-101) n encontramos, ao lado do oxigênio e
do azoto (hidrogênio), a luz e o calórico,
referin- Um corpo a alta temperatura
158 Allia Kardec faria a mesma comparação entre as descobertas, £onteria muito calórico, ao passo que
outro a baixa temperatura conteria
do-se, contudo, ao descobrimento do mundo dos esp n e pouco. Assim, quando
E dois objetos nessas condições eram colo
jo lou um mundo dos infinitam ente pequenos q contato, o mais rico em calórico transferir cados em
bora estivesse sob nossos dedos; o telescópio nos revelou à
ia uma parte de si mesmo para
aos O outro. Tal teoria era
capaz de explicar satisfatoriamente
e de mundos celestes, que não supúnhamos mais; O espisitismo menos físicos, como por exemplo muitos fenô-
osso a condução do calor. A idéia de que
a sá bre o mundo dos espíritos que está por toda parte, a calor é uma substância não podia, cont o
udo, resistir às evidências em con-
lado como nos espaços; mundo real que reage incessantemente 5 trário que começaram a surgir apen
as no século 19, quando tal idéia
nós.” (KARDEC Revista Espírita, 1858, p. 340) ar e determinado substituída pela concepção de que o calor foi
é uma forma de energ ia,
159 Nota de Mesmer: Entendo por ton um no parti Ce 161 Na época em que Mesmer
escreveu este livro, o conceito
do movimento que existe entre si nas partículas qu iuem o fui da não tinha sido de energ ia ain-
no se refe- desenvolvido, Utilizava-se apen
as o conceito de movi-
o Nota do editor: podemos compreender o termo ton c mento, enquanto a idéia de energia
está apenas implícita nos raciocínio
no meio iui á va
cof de características de uma onda quey se! propaga
E esea com como o leitor observará na continui s,
. emos : dade desta obra Por
outro-lado,-g
conceito de fluido unive
rsal, adotado por Mesmer, foi abandona ---------—
i o itos atuais da física, poderíamos de ton à ciência. Mas está renascendo atualmente, do pela
o o co aim ação dinâmica produzida por uma função das. Pode
com as teorias das supercor-
mos observar, como Bachelard, que
. “não há desenvolvimento
de onda vital). das antigas doutrinas para as novas, mas
( , desenvol antes, pelo contrário, envolvi-
i isto surgiui com Johann Becher 1635-1682) mento dos antigos pensamentos Pelos
novos. As Berações espirituais pro-
dose aaa com Georg Stahl (1660-1734). A palavra cedem por encaixes sucessivos” (BAC
HELARD, 1985, p. 55).
520 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 521

Tive êxito ao descobrir a causa imediata do importante


nômeno do movimento de alternância que nos fe- se limita a este elemento (a água), mas que se estende a todas as
oferece o Ocea-
no.1%? Estou convencido de que a ação desta mesm partes constitutivas do nosso globo; que esta ação, determinan
a causa não «SO GLS Ee-CchHATAQ LE ntençãoe remissão!S alternativas das pro- .
AA

priedades da matéria organizada, anima e vivifica tudo o que


162 Mesmer observou uma regularidade do movim existe; e que enfim esta ação mais universal é para o mundo o
ento de fluxo e refluxo.
dando-lhe q caráter de lei presente em toda a natureza Hahne
seu Organon da arte de curar, fez uso da mesma
mann, em que os atos da respiração são para a harmonia do animal,
comparação. No mes-
mo sentido concluiu o médico português Jacob Eis em essência as principais descobertas que há 28 anos
Sarmento, que conside-
rava “ofluxo e refluxo do mar, ainda que efeito tão comum
que
o obser- eu anunciei sob a denominação de magnetismo animal, 'Sº ex-
vamos cada dia, foi sempre um dos mais
pasmosos e inexplicáveis pressão plenamente justificada por sua natureza. io]
fenômenos da natureza”. Todas essas idéias
Newton. O médico português Jacob de Castro
foram inspiradas por Isaac A singularidade desta novidade indignou em primeiro te
Sarmento, refugiado em
Londres, publicou em 1737 uma obra com o título gar na Alemanha os físicos e os médicos, aqueles que mer -
Theorica Verdadeira
das Marés , conforme a philosophia do incomparável gam a eletricidade e as pessoas que manipulam ímãs. Aco
cavalheiro Isaac
Newton. Ele assim se expressou: “O haver o grande
Newton investigado ram desdenhosamente os primeiros anúncios feitos por um
e descoberto a verdadeira causa do fluxo e reflux
o das águas, e depois
disso o haver trazido a demonstração de que a força homem ainda desconhecido por eles. Classificaram a possil E
que causa as marés lidade dos fenômenos como sendo contrários aos princípios
retém também a aua no seu orbe, bastariam
para fazer imortal o nome
deste filósofo ilustre. Devo advertir-te que
o conhecimento das forças reconhecidos pela física. Em vez de aguçar a curiosidade, cu
do sol e da lua, que causam o Fluxo e refluxo
das águas, merece tanto a estava interessado em tornar úteis esses fenômenos, e só qui
consideração e contemplação do médico na
cura das doenças que se não convencer por meio de fatos. |
podem explicar bem e remediar alguns dos sintom
to e
as delas sem um exa-
verdadeiro conhecimento das mesmas forças. Nem As primeiras curas obtidas para algumas doenças considera”
se podem total.
mente conceber, sem o seu concurso, as epilep
sias e vertigens periódicas das incuráveis suscitaram inveja € produziram mesmo ingratidão,
que se repetem somente nas luas novas e
luas cheias, Aquela moça que se somaram para ampliar as prevenções contra meu mé do
epilética que tinha umas manchas na cara, que
vam conforme as fases da lua. As fúrias dos
na cor e grandeza varia- de cura, de sorte que muitos sábios uniram-se para fazer cair,
maníacos, que se repetem
com maior veemência na lua nova e na lua
cheia; donde nasceu e teve
origem o chamar aos loucos geralmente lunáti
cas que se tem observado seguir constantemente
cos, As paralisias periódi- ton, exerce diretamente uma influência de fluxo e o
xos de sangue que apareciam somente no tempo
o curso da lua. Os flu- do corpo humano. Observe que, por su a vez, 1 Mesmer adota à força gre -
da lua cheia. As chagas, vitacional
itaci apenas como exemplo em sua teoria. À aparente simila ade
cujo efluxo de matérias se achou por experiência
tos da lua. As dores nefríticas e supressões de
seguiram os movimen- das teorias dos doutores Mead e a de Mesmer levaram alguns pesquisa-
constantemente o movimento da lua e repeti
urina periódicas, seguindo dores (como Stephan Schwartz) & imaginar que Mesmer o teria pish ão
E finalm
ndo sempre quando cheia,
ente as crises das doenças agudas que se não podem em sua tese de doutorado De Planetarium Influccu ua estuc o cuidado
explicar ou i que eles lesenvo vem
s duas obras evidencia
1 te
entender sem a compreensão e concurso daquelas forças. Se
saber ou a curiosidade te moverem a examinar o gosto de o octao e chegam a conclusões distintas, afastando decididamente a
o como, peço-te que con- ipi
precipitada i
hipótese de imitação. . o e
sultes com toda a atenção e desvelo aquele peque
no, mas profundissimo 163 Nota de Mesmer. Entendo pelas palavras intenção e remissão o aumen
tratado do mais famoso médico do nosso
colégio, o doutor Richard i
iminuiçã da propriedade
e a diminuição ou a fa e,7 oque nã ; -
Mead, primeiro-médico de el-rei da Grã-Bretan
do magnífico
ha e no presente médico
Hospital de St. Thomas, De imperio solis, ac lunae fundido com : intensidade, que exprime o efeito desta propriedade ou
pora humana, et morbis inde oriundis”. Nessa in cor- faculdade. |
obra, o doutor Mead de-
fende a tese de que a força gravitacional, recém-desc 164 Referência ao livro Memórias sobre a descoberta do magnetismo animal,
oberta por New- por Franz Anton Mesmer, Paris, 1779.
522 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A, MESMER 523

não no esquecimento pelo menos no desprezo, as aberturas que estacionária em eletricidade e magnetismo? Procurariam ainda
realizei neste campo: divulgou-se por toda parte como impostura. se unir para fazer oposição a uma revolução que eu gostaria
de
realizar na arte de curar, que fez muito pouco progresso, e ofe-
Na França, nação mais esclarecida e menos indiferente
recer 0 que está sendo tão necessário à humanidade?
aos novos conhecimentos, não deixei de amargar contrarieda-
des de toda espécie, e perseguições que meus compatriotas Ver-se-á, ouso crer, que estas descobertas não são produ-
me haviam preparado há tempos, mas que, longe de me de tos do acaso, mas sim o resultado do estudo e da observação
sencorajarem, redobraram meus esforços para o triunfo das leis da natureza; que a prática que eu ensino não é um em-
verdades que acho essenciais à felicidade dos homens. pirismo cego, mas um método racional.
Um grande número de doenças, que durante 10212 anos Embora saiba muito bem que o princípio primordial de
consecutivos comprovaram os efeitos salutares deste métor o todo conhecimento humano é a experiência, 15 e que é por ela
e pessoas instruídas que se beneficiaram desta prática enfa- que se pode constatar a realidade das suposições, preocu-
zeja renderam-me total justiça. Mas alguns sábios este pais, pei-me em provar a priori por um encadeamento de noções
fazendo por profissão governar a opinião, estão, por assim simples e claras a possibilidade dos fatos que anunciei, dos
quais um grande número foi publicado sob diferentes formas
zer, mancomunados com os estrangeiros, colocaram no ve
por aqueles favoráveis à minha doutrina.
de ilusões tudo o que se apresenta em favor deste assunto: a
autoridade de seus nomes fortificou a prevenção. Os fenômenos que surpreendi na natureza me reportaram
à fonte comum de todas as coisas. Creio ter aberto uma rota
Um ministro do reino passado abusou de todo o seu poder
simples e reta para chegar à verdade, e ter livrado em grande
para destruir a opinião nascente. Após ter ordenado (malgrado
na parte o estudo da natureza das ilusões e das metafísicas.188
meus protestos) a formação de uma comissão para julgar
doutrina, e condená-la pela prática que dela fazia uma pes A linguagem da convenção, o único meio de que podemos
que eu havia desautorizado, fez celebrar seu triunfo na pa e- nos servir para comunicar nossas idéias, tem, em todas as épo-
mia de Ciências, na qual foi elogiado por ter protegido a uma cas, contribuído para desfigurar nossos conhecimentos. Nós ad-
nidade, como foi dito, de um grande erro que faria à desonra o quirimos todas as idéias pelos sentidos: os sentidos nos transmi-
século. Ele inundou toda a Europa com um relatório eito por tem apenas as propriedades, os caracteres, os acidentes, os
essa comissão, e terminou por expor minha doutrina e meu mé-
todo de cura ao escárnio público nos teatros. | 165 Mesmer revela seguir o método científico, mas sua ciência é espiritua-
Será que a grande nação à qual eu consagrei O fruto de me lista, pois reconhece uma realidade não observada diretamente pelos
sentidos, como também faz o espiritismo.
nhas descobertas continuará indiferente enquanto está sendo
166 Um claro .pbjetivo de Mesmer está em tratar suas pesquisas e sua doutri-
furtada, por desprezíveis intrigas, da confortante posição e na com um enfoque absolutamente científico. No mesmo sentido,
ter adquirido um novo meio de conservar e de resta ecer mou Kardec: “Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural,
afir-
saúde? Não, ela se apressará a corrigir-se de seu erro relativo a magnético, a Providência nos dá a prova irrecusável da existência e da
quer
in-
UI assu O TalÚ dt ACT dr-Ga - deperrcdêmcia da dim Eos faz assístir do sublime espetáculo da sua eman-
cipação. Abre-nos dessa maneira, o livro do nosso destino. [...] Enquant
Na realidade, é duro acreditar que 25 anos de esforço não homem se perde nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível,
o o
conseguiram tirar essas preciosas descobertas da incerteza nas em busca das causas da nossa existência moral, Deus cotidianamente
nos
quais foram envolvidas pelas circunstâncias. E possível que este põe sob os olhos e ao alcance da mão os mais simples e patentes meios de
século passará sem avançar um passo em física, permanecendo estudarmos a psicologia experimental.” (KARDEC, 1857, 455)
524 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER 525

atributos, as idéias de todas estas sensações se expressam


por “ção e aí se fixará: é assim que a harmonia dos corpos organiza-
um adjetivo ou epíteto, como quente, frio, fluido, sólido, pesa-
dos, uma vez perturbada, deve sofrer as incertezas da minha
do, leve, brilhante, sonoro, colo etc. ri
Substido
tuam-se “esse = erra -supostcal! Se — e n20-+Eo narmmsda determunnadss: Efe eme
epítetos, por comodidade da língua, por substantivos: logo se
pelo agente geral de que vou demonstrar a existência e que
substantivarão as propriedades - dir-se-á o calor, a gravidade,
a pode restabelecer essa harmonia ao estado natural.16º
luz, o som, a cor, e eis a origem das abstrações metafísicas.
Examinemos qual a natureza deste agente?
. Estas palavras produzem confusão na percepção de subs-
tâncias, isto é, quando se acredita estar percebendo a Existe um fluido universalmente distribuído, e contínuo
própria de modo a não sofrer nenhum vazio, cuja sutileza não permite
substância, na verdade se tinha apenas à percepção da palavr
a . nenhurna comparação, e cuja natureza é suscetível de receber,
substantiva.18? Estas qualidades ocultas de outrora hoje se cha-
mam propriedades dos corpos. À medida que se afastava a expe- propagar e comunicar todas as impressões do movimento."
riência, ou antes se afastavam os meios de obter êxito, não Sendo a fluidez da matéria um estado relativo entre o
so- movimento e o repouso, é evidente que, após se ter esgotado
mente se multiplicaram estas substâncias, mas ainda sê
as pela imaginação todas as nuances de fluidez possíveis, ser-se-á
personificaram. As substâncias preenchem todos os espaços
: forçado a atingir a um último grau de subdivisão, e este último
elas presidem e dirigem as operações da natureza. Daí os espíri-
tos, as divindades, os demônios, os gênios, etc. A filosofia expe- grau é este fluido que preenche todos os interstícios resultan-
rimental lhes diminuiu o número, mas ainda nos resta muito tes das formas das moléculas associadas. À areia, por exemplo,
a tem um grau de fluidez. À figura de seus grãos forma necessa-
fazer para chegar à pureza da verdade.18 Nós o conseguiremos
riamente interstícios que podem estar ocupados pela água; os
quando formos aptos a não reconhecer outra substância física
da água, pelo ar; os do ar, pelo que se chama éter,!”t os do éter,
que não o corpo, ou a matéria organizada e modificada de tal
ou
qual maneira. Trata-se então de conhecer e de determinar
o
mecanismo destas modificações, e as idéias que resultarão deste 169 Nota de Mesmer. Memória sobre a descoberta do magnetismo animal,
mecanismo conhecido serão as idéias físicas mais próximas da 1779.
verdade. É, em geral, o desígnio que me proponho atingir para 170 Nota de Mesmer. idem.
o
sistema de influências que aqui faço anunciar. 171 Além de Mesmer, naquela época, cientistas como Franklin, acredita-
vam na existência de um meio físico, ponderável, pelo qual a luz se pro-
Uma agulha não imantada posta em movimento não res: pagaria. As descobertas do século 20, porém, colocaram em dúvida a
ponderá a não ser por acaso a uma direção determinada en-. existência de um éter espacial, Neste início de século, a hipótese está
quanto, ao contrário, a imantada, tendo recebido a mesma sendo novamente considerada, até mesmo com localização temporal.
im- Einstein, em seuÀ evolução da física, com Infeld, esclareceu: “Essa pa-
pulsão, após diversas oscilações proporcionais a essa impulsão
lavra éter mudou de significado muitas vezes, com o desenvolvimento da
€ ao magnetismo que ela recebeu, voltará à sua primitiva dire- ciência. Sua história não chegou ao fim, é continuada com a teoria da re-
latividade.” (EINSTEIN, 1962) Pela própria interpretação de sua teoria
167 Afirmação sob inspiração do mundo das idéias de Sécrates € Platão. geral da relatividade, o grande cientista alemão concluiu que o éter exis-
tia, mas não poderia ser observado nem medido por quaisquer instru-
168 Tem razão Mesmer, pois, apesar do conflito entre o avanço
da ciência e mentos. Num texto apresentado por ele à Universidade de Leyden, en-
a religião prisioneira dos dogmas, característico do Iluminismo,
muitos contramos: “Nós podemos dizer que, de acordo com a teoria geral da
médicos ainda acreditavam em causas sobrenaturais, coma
na interven- relatividade, o espaço é dotado de qualidades físicas; neste sentido, exis-
ção demoníaca em casos de doenças mentais. Como era de
seu interes- te um éter no espaço. De acordo com a teoria geral da relatividade, espa-
se, a Igreja dogmática apoiava e incentivava essa distorção.
ço sem éter é inconcebível, pois a luz não teria como se propagar, nem
526 MEMÓRIA DE F. A. MESMER : 527
PRANZ ANTON MESMER

que se adam contra aquele dentre eles que lhes anunciaria


stância ainda mais
enfim, serão ocupados por uma sub que O eopaço ae, o amdo ea superfície do mar é preenchido
ão. E difícil determinar
de que ainda não fixamos à denominaç entanto, de uma des- Dione oa es a oitam. Que é nesse imeio que eles se re-
? É, no
onde essa divisibilidade termina.! pelo movimento inter-
tas séries de matérias, da mais dividida cadeiam. E que é o único meio de suas relações
relações rei
recíproc
brocas as.
no, que vou falar aqui. ea .
me expressar assim, a opi- Entretan
ecem a existência de
Poder-se-ia comparar, Se posso e um fluido ivo alem us físicos já reconh
nião de alguns sábios para rejeitar a idéia de um fluido universal meiro passo, a aros Mas, apenas tendo realizado este pri-
pleno!?3 àquela dos peixes, car os carai per próximos da verdade, pretenderam preci-
a possibilidade de um mo imento no EN eres este fluido, sobrecarregando-o de proprie
— tendência poa cas, atribuindo-lhe
1
existiria medida de espaço nem
de tempo, como também não exis
tiriam qualid pods,eres poderes
de ade
, aspectos, causas finais. Enfim, s
e tempo (réguas e reló gios ), e nem qual quer inte rvalo e am
padrões de espaço ones produtores, destruidores, reformadores
o. Mas este éter não pode ser imagi- conter
de distância ou tempo no meio físic el, consistindo de partes que À .
nado como sendo um meio
ponderáv ve
A idéia de movimento não é aplicáve
l a traiçada entr
uma linha inqu e os erros. ' O
a porsobr suae atividade inqu
possuam loca liza ção temp oral . O espírito á
assim que, segu ndo Eins tein , ieta, é como um cava-
ele.” (EINSTEIN, 1920) Depreende-se veis condi- E so:
lones fogo .,
? o: para eleÉ também é difícil calcular com precisão a
ço-tempo. Essas incompreensí
éter existe, mas fora do espa
m que o conceito de éter esta-
rpretare o
ções levaram muitos físicos a inte chegar a um déstino sem correr o risc
. A doutrina espírita tem à chave ultrap
de go para
Tapea e À teÉ riainq uieto, sente dificuldade em se conter por
va extinto pela teoria da relatividade os lon
matéria cósmica primitiva continha
para a solução desse mistério. “A dei- o, de modo a não avan çar e nem recuar seus passos.
É2 preci
univ erso s que esta na
elementos materiais, fluídicos
e vitais de todos os
mais o
am suas magn ific ênci as dian te da eternidade. A substância etérea, co co preciso admitir a existência de um fluido universal, que
[...]
nde pelos espaços interplanetários mento o A o e todas as séries da matéria dividida pelo movi
ou menos rarefeita, que se difu residem as forças univer-
nada mais édo que a substância primitiva onde 5) re iernO fo é, o movimento de suas partículas entre
s as coisas.” (KARDEC,À gênese, p-
sais, donde a natureza há tirado toda
que, segundo os espíritos, existe os interstícios de tod os os flui ,
115) Uma leitura cuidadosa revela dos, do mesmo 7mod“ao pec a
que . de todos os sólisóli dos cont
erável não é o único estado dessa t ontiidos no es-
mais de um universo! A matéria pond é o perispiritual estão fora do al- pasaço.o Por causa dele, o universo está fundido e reduzido aum
vital
matéria primitiva ou éter. O fluido
de medi da dos laboratórios da ciência, pois, asas.US À fluidez constitui sua essência. Não tendo ne
cance dos instrumentos do es-
dade, esses fluidos existem fora
como confirma a teoria da relativi dos são ob-
físico. Porém, os flui
paço-tempo relativo ao nosso universo meio de seu perispírito, o uni- a ando dapublicação
174Qu icaçã de O livro
serváveis para o espírito, que habi
ta, por ; dos médiuns (1861), uma matéria ele
por
itual . Esse s são conc eitos que a ciência ainda está entar Beratride
z e sas outras era mais geralmente aceita. Os espíri-
verso espir ea pipa as dncia de uma matéria elementar única está
compreender. ia de uma
com Mesmer e propõe à existênc
172 A doutrina espírita concorda rsas nuan ces até baa« de ver, co nfirmam-na
-na. Todos és io s de
da na
bruta e passa por dive Darareda masi ao dO se aca
escala que que começa na matéria do
que está representado pelo flui téria que, pelas transformações por que passa, também dosas diver.
iaohar ao grau máximo de dissolução SUDStENtiS & (KARDEC TROS
prim itiv a, Roscorpos
cósmico universal, a matéria
Pa e -
se inúmeras transformações, mais
Hoje a ciênci

isas. "Entre esses dois extremos, dão- Porém ico aa e energia como sendo uma mesma coisa
outro.” (KARDEC, 1868, p- 276) a que unifique todas as for
ou menos aproximadas de um € de fo s pu quisam , uma teori
dl ear
do pelo fluido universal, não oferecia onal, ss : topo
natuereza
ças da Entr forte a fraca, eletromagnét: ica e ºgravitaci
| 173 Q espaço, totalmente preenchi era pleno. A doutri- uma
-

qualquer lugar vazio. Assim, dizia-se


que o universo apresenta:
as, das promissoras é a teoria
o ição do universo. das supercordas.
na espírita considera real essa cond
-
529
- 528 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE E, A. MESMER

como
nhuma propriedade, ele não é elástico enão tem peso, mas é o " Será demonstrado pela minha teoria das influências
mina o efei-
meio apropriado para determinar as propriedades de todas as | este fluido, esta matériaa. sutil, sem ter peso, deter
4 1
oceanos -sravidade:
U DJ ad Cao
aa
dU E tocpere-e a g como er Ser Piá Ca concorre ae

espaços, pro-
de próprio. Este fluido está em relação às propriedades que para a elasticidade. Como preenchendo todos os
o. Demonstra-
ele determina nos corpos orgânicos do mesmo modo que o voca a coesão, sem estar ela mesma nesse estad
de senti do. A atração, para
ar!76 está para o som e à harmonia, ou o éter para a luz, ou en- rei que atração é uma palavra vazia
um efeito aparente
fim a água para O moinho — isto é, ele recebe as impressões as dizer a verdade, não existe na natureza, é
à eletr icidade,
modificações do movimento, que lhes transfere, que lhes apli- de uma causa que não se percebe. Provarei que
combinado
ca, e insinua nos corpos orgânicos; e os efeitos assim produzi- o fogo, a luz, todas as propriedades são o resultado
o no qual es-
dos são o resultado combinado do movimento e da organiza- da organização dos corpos e do movimento do fluid
ção dos corpos. tão mergulhados.
impulsão
| É preciso considerar aqui que as diversas séries de que o Compreender-se-á primeiramente como uma
nvolvimento
fluido universal é composto, a partir-da matéria elementar até uma vez dada sobre a matéria basta para O dese
sos parti-
as que tocam nossos sentidos — como a água, o ar, o éter —, di- sucessivo de todas as possibilidades. Como os impul
m de novas
ferem entre si por uma espécie de organização íntima efeito culares, que são a continuidade, tornam-se a orige
repou so, e ore-
da combinação primitiva de suas partículas. Esta organização organizações; como o movimento é a causa do
ia fluida para
especial torna cada uma dessas séries suscetível de um movi- pouso, por sua vez acelera 0 movimento da matér
que é pela sim-
mento particular que lhe é próprio. operar outras combinações. Ver-se-á, enfim,
causas € os
à Nós observamos a gradação dessa suscetibilidade exclusi- plicidade da ordem, num circulo perpétuo entre as
poderemos ver a mais justa € a maior idéia da na-
Ve le movimentos nos três gêneros de fluidos. Nem a luz, nem efeitos, que
o fogo, nem a eletricidade, nem o magnetismo e nem o som
. “ , tureza e do seu autor.!””
são substâncias, mas sim efeitos do movimento nas diversas
ção do fluido em
séries do fluido universal.!77 secutivo aquele. O ponto intermédio é o da transforma , porquanto po-
ção brusca
matéria tangível. Mas, ainda af, não há transi
eis como termo médio
dem considerar-se os nossos fluidos imponderáv
EC, 1868, p. 273) O que Mesmer explicou
176 O conceito do fluido universal, adotado pela ciência do magnetismo, s entre os dois estados." (KARD
como forças: “O éter
ria um dos postulados fundamentais da doutrina espírita:“A substância como efeitos do movimento, os espíritos definiram
e ineren tes às forças que presi-
etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interpla- ou matéria cósmica primitiva [...] são-lh
imutáveis e necessárias que
netários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos raree diram às metamorfoses da matéria, as leis
indefinidamente variadas
ito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou regem o mundo. Essas múltiplas forças, massas, di-
do as
menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos segunda as combinações da matéria, localizadas segun as e os mei-
modos de ação, segun do as circun stânci
modificado por diversas combinações, de acordo com as localidades da versificadas em seus coesão, afinida-
gravidade,
extensão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as for- os, são conhecidas na Terra sob os nomes de
cidade ativa.” (KARDEC, 1868, p. 111)
TESS TIO) donde a natureza há tirado todas as coisas.” (KARDEC, de, atração, magnetismo, eletri
Deus. O espiritismo 0
177 Mesmer liga a harmonia da natureza ao seu autor: simples, primitiva,
como só há uma substâ ncia
177 Essa mesma teoria seria adotada pela doutrina espírita: “O fluido cósmi- acompanha: “Ora, assim
a em suas combinações,
co universal [...] assume dois estados distintos: o de eterização ou im geradora de todos os corpos, mas diversificad
dem de urna lei univer sal diversificada
ponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal e o também todas essas forças depen
s, foi soberanamente im-
de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, con- em seus efeitos e que, pelos desígnios eterno
530 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER
531

Podemos juntar a estas considerações que aimensidade Todas as propriedades dos Corpos
da matéria fluida permanecerá domogies, sem pro quer no . são, repito, o resultado
na Nasa o combinado de sua organização e do
nã determi
ações não
vos seres, se o acaso das p rimeiras combinações movimento do fluido no
qual elas se encontram.
«
nar correntes nas quaisis asas celeridades varia
variadas e S Se considerarmos a ação do flui
tornam-se uma fonte infinita de organizações e de efeitos as do assim definido, como
aplicado ao corpo animal, ela se
sim produzidos. | , torna então o Princípio do mo-
vimento e das sensações140.
Remontando assim de uma simples progressão até as É certo que a natureza e a qualidade
grandes operações da natureza, descobrimos que o ne mem dependem unicamente da dos humores do ho-
ênci mútua entre o fmã e o ferro
mo ou influência
i ão mais ação dos sólidos, do mecanis-
mo dos órgãos ou vísceras, e dos
à o m
imã nos o ferece o modelo para
universal e que o imã o vasos que contêm estes hu-
mores. São eles que os elabor
do universo.!'8 Nós descobrimos que esta ação é o necessári am, dirigindo e regulando os
movimentos, as misturas, as
efeito de movimento de toda a natureza. o al fizer proporções, as secreções, as ex-
creções etc. É fácil conceber que
Como todas as verdades se relacionam, éimpossíve fue é pela irregularidade de ação
dos sólidos sobre os líquidos, ou na
progressos no estudo da nstareza sem ter compreen ' oo en imperfeiç ão do mecanismo
ou da ação das vísceras e dos órgã
cadeamento desses prin:i cípios. E por issoi creio ser ne- -
que «eueu crei os, que está a causa primeira
de todas as aberrações. E que,
cessárioi expor todo esse sistema físico, do ç qual o à corp na conseguentemente, o remédio
comum e único deve ser encont
no faz parte, antes do p ropor métodos ! de cur a. Porque que deasleisle rado no restabelecimento da
ação dos órgãos, únicos capaze
é g governado são as mesmas q segema s de mudar e corrigir os vícios e
elas quaisi o universo é as alterações dos humores. É aqui
harmonia do corpo animal. A vida do mundo é uma só, e a o caso de examinar qual é o
princípio do movimento, e a forç
homem individual é apenas parte dela. 79 quinas que agem sobre os líquidos
a comum das diferentes má-
. 181

posta à criação, para lhe imprimir harmonia e estabilidade.” (KARDEC,


1868, p. 112) |
1780 fluxo e refluxo é uma lei universal, e rege os universos. Segundo o e microcosmo, com também fizeram Hipó
Bruno e outros. Depois de Mesmer, crates, Paraceisa, Giordano
piritismo: “Todas essas forças são etemas |.) euniversais, comoae ai seguiriam o mesmo princípio Hah-
ã i tes ao fluído
í cósmico,
i elas a tuam nec nemann e a homeopatia, Kard
ec e o espiritismo. O espiriti
ou
te ou como um de seus fundamen smo tem
ooe em toda ificando suas ações pela simultaneidade
o parte, modificando nulta tos a harmonia universal, represen
divisa unidade/diversidade. Deus tada pela
is sucessividade, predominando aqui, apagando-se als pujantes e ati representa a unidade e a diversidade
as em certos pontos, latentes ou ocultas noutros, mas, ap pre P pl está representada pela totalidade dos
seres, desde o átomo até o mais
do, dirigindo, conservando e destruindo os mundos em seus divers spe evoluído espírito,
s de vida,
i governando os maravi ilhosos trabalhos da , c IS0A definição do magnetismo
animal como um fluido, aqui
doce que eles ce executem, assegurando para sempre o eterno esplenda mesma do fluido vital na doutrina exposta, é a
espírita: “Será o princípio vital
da criação.” ” (KARDEC, 1868, p. 112) O recur so do im 1 apenas um estado especial, uma das [...]
modificações A o Aluído-cósmi
É CTT fot DU pad ty Por Greece
val tu Ep
. AS CO US , seda FEL,
- SCUI
uido e se torne princípio de vida, como E y
se torna luz, fogo, calor,
efeitos podem observar-se como se observam os do fluidodo (mê, fuido ? E neste último sentido que as
duzidas resolvem a questão.” (KAR comunicações acima repro-
que jamais se viu, podendo-se adquirir sobre a natureza é teles do ai DEC, A gênese, p. 198)
os de al precisão.
isão. ÉÉ essencia j
cial esse estudo, p de à 181 Todo este parágrafo define a medi
exp cina da escola de Boerhaave, o solid
have de uma imensidade de fenômenos que não se qo mo, a mais avançada de sua époc is-
a, e na qual Mesmer se formou,
unicamente com as leis da matéria.” (KARDEC, 1868, p. 17 giu em oposição à medicina humo Ela sur-
ral galênica, predominante dura
nte
532 FRANZ ANTO N MEMÓRIA DE F. À. MESMER 533
MESMER
nãos Ea fibra muscular que por seu mecanismo particular tor
+ãos, as condições necessárias para Os movimentos alternativos
-se, como pude provar, , o instrum ento de todo mo vim
os vasos são contrariadas, e sua ação, bloqueada.
como o principio de toda acção do Slido abre o a mento

correntes do fluido universal estão dirigidas e aplicadas à orga


nização íntima da fibra muscular, precisamente como o vento ral e quase que a única nos corpos vivos, é fácil conceber, se-
ou a água, para o moinho, determinando suas funções. Estas” gundo uma lei geral, que a causa do movimento faz sempre
funções consistem na alternativa de se encurtar e se alongar, : gm esforço contra a resistência, e que deve ser proporcional
ou de
de se relaxar. . Seu encurtamento é proprii amente sua
ara vencê-la. Este esforço é chamado crise, e todos os efei-
positiva. Esta faculdade é chamada de irritabilidade.
açã tos que resultam diretamente desse esforço são chamados
ee sintomas críticos: são os verdadeiros meios de cura, ou o que
É a esta faculdade, aplicada ao mecanismo particular do * forma a cura da natureza, '8? enquanto, ao contrário, os efei-
coração, que devemos o movimento de sístole e de diástole
tos provenientes da resistência contra esse esforço da nature-
essa víscera hidráulica vital e de todas as artérias.
za são ditos sintomas sintomáticos e formam o que se deve
K o fenômeno da dilatação e da contração dos vasos sobre o - chamar de doença.!8
quido que eles contêm é a causa da circulação dos humores, e “ A crise é determinada pela irritação da fibra, seja pela in-
conseqiientemente da vida animal. O defeito numa dessas duas - tenção da irritabilidade, seja por um esforço aumentado sobre
ações ou da reação pára o curso. Logo que são privados do movi- a fibraA resistente, seja enfim pela reunião dessas duas causas.
mento local e intenso, os humores se espessam e se consolidam
É, pois, constante e conforme as leis do movimento que ne-
Este espessamento ou repouso se estende comunicando-se com : nhuma aberração no corpo animal possa se retificar sem ter pro-
uma parte mais ou menos considerável dos canais. Um outro
e cito o repouso dos humores é sua degenerescência: decom-
pondo-se, eles ficam nos canais cuja capacidade não é própria ento te-
182 Veja-se que para Mesmer o magnetismo animal, como instrum
co ou milagros o, mas evoca O processo
para contê-los. O estado dos vasos nos quais o curso dos hu- . rapêutic o, nada tem de metafísi
Segundo
mores é interrompido ou diminuído é chamado de obstrução. natural de cura, que então acelera. Nem mesmo é fluidista.
age
Mesmer, a ação dinâmica do magnetizador fortalece o paciente, que
eu A fibra muscular animada pelo princípio da irritabilidade no desequilíbrio gerador da doença, cumprindo seu ciclo até
a crise,
ainda suscetível de uma afecção externa, chamada irritação ecido. O espírito André
quando o equilíbrio, que é a saúde, é restabel
do passe magnétic o, fez uso desse
O efeito ordinário desta afecção é o encurtamento da Bibra Luiz, quando esclareceu o mecanis mo
notada-
mesmo conceito : “Por meio do passe magnétic o, no entanto,
Toda ação da fibra muscular pode ser considerada como vontade
mente naquele que se baseie no divino manancial da prece, a
dependente, seja da irritabilidade, seja da irritação, seja de fortalecida no bem pode soerguer a vontade enfraquecida de outrem
uma e de outra em conjunto. Existem, consegientemente ze natu-
para que essa vontade novamente ajustada à confiança magneti
microsc ópicos a seu serviço, a fim de
duas causas imediatas de obstrução: a primeira, quando um ralmente os milhões de agentes
orgânico , nessa ou naquela contingê ncia, recompo nha-se
vaso perdeu sua irritabilidade, o que o impede de contrair-se; que o estado
de Chi-
para o equilíbrio indispensável.” (André Luiz, pela mediunidade
a segunda, quando um vaso está num estado de irritação ou co Xavier, Evolução em dois mundos, p. 203)
que exista algum obstáculo à sua dilatação. Assim, nos dois ca- 1830 conceito de doença e cura fogem aqui de qualquer causa mágica, oculta
para
ou sobrenatural. A crise é o esforço natural e instintivo do organismo
contra a desarmo nia temporár ia que é a doença. O magneti smo au-
lutar
alopá-
xilia o doente nesse processo. Esse conceito supera a crença médica
mais de um milênio, teoria foi adotada por Hahnem ann na homeopa tia.
tica. Essa mesma
534 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F, A. MESMER
535

quer doença não pode gurança estava bas eada na ob


vado os efeitos deste esforço — isto é, qual a
Serv. ação da marcha Al:
verdadeira e tão geral .
ser curada sem uma crise. Esta lei é tão é q ue ele chamou críticos. Ele sentia
dias
Periódica exis-
dos
simples pústula, a + Vagamente, que
- que, após a experiência e à observação, a mais externo .
ta um princípio
ria este princípio a e geral cuja ação era regular, e ques
após uma crise.
menor bolha na pele não se cura senão que desenvolver compli
e decidiria aa complicaç e
As diferentes formas segundo as quais o esfo
rço da natu- das ca usas que formam a doença. ia ão
da estrutura das ,
reza se manifesta dependem da diversidade O que o pai
al ..

sofrem esse esfo rço, de após ele haar medicina observava assim, e que. outros
partes orgânicas ou das vísceras que não era =
senão o e
ndo os diversos graus €
EZA
e La Ko!
suas correspondências e relações, segu princípio
e cuja existência aaa º deste
desenvolvimento. que determina a copndeci
modos da resistência, do período do seu pio
intencã sobre nós essa espécie de flux e refluxo
o
à Pinel
ou
do mecanismo ção e remissão das propriedades
Os antigos tinham pouco conhecimento ainda
am menos
de funcionamento do corpo animal, e sabi ra É de se lam entar que a luz que
el ele lançou sob
à organização da
como esse mecanismo está relacionado com ro
o sse: restrita às doenças agudas: ele pod
eria ter cn
cionaram cada gêne cio due asc censas grônicas difere
natureza como um todo, então eles rela e o nas- m das outras apenas pela
ça. Desd
desses esforços como sendo espécies de doen Ei E om que os sintomas se
verd adeiro e único
cimento da medicina houve oposição ao causas que
a s agudas estão em relação às
crônicas da nes o
uir as que O curs a rica de am inseto que
meio empregado pela natureza para destr se chama efêmero está
perturbam a harmonia. para o ais: O primeiro sofi
talvez o único
Hipócrates!8t parece ter sido o primeiro e s as revoluções da idade, do sexo, , do
cresciment oed aa
ade-
doenças agudas.
que compreendeu o fenômeno das crises nas crepitude, enqu anto outras espéci
percorrer estas etapas. éc
pécies
:
animai s: levam anos para
que os diversos sin-
Seu gênio observador o levou à reconhecer
esforços que a
tomas nada mais são do que modificações dos caPorGino cado, deve-se lembrar que
lamentavelmente a me-
quando nas doen-
natureza faz contra as doenças. Depois dele, is pe E doencas co olvimento
natural e necessário da
omas mais afastados da
,
ças crônicas se observou os mesmos sint com ea ne doença TÔnicas: opõem este desenvolvimento
tantivaram-se estes
causa, isolados, sem febre contínua, subs Cod remdios q perturbam
o progresso da doença, inter
s tantas doenças, di-
acidentes eventuais como se fossem outra doa gerso e muito frequentemente o
Estudaram-se, anali- fim vem ant
ferenciando-se cada uma com um nome. , uma morte prematura18. A marcha
como coisas, avalia- e 0 de
saram-se estes acidentes e seus sintomas senvolvim ento da epilileps epsiia, por exemplo, assim como
s da doença. Eis então da mani a
ram-se mesmo por indicador as sensaçõe da melancolia, das doenças ditas
por tantos séculos.
a fonte de erros que assolam a humanidade glândulas e suas complicações, as afec
ções dos órgãos dos senti-
os, Hipócrates,
Pelos sintomas aparentemente mais opost
a cura. Sua se-
em lugar de ficar desconcertado, prognosticou
= —
185 À preocupação de Mesmer .
oderia
parecer excessiva
a
uidade, considerado o pai da.
em e
— a e : P os
meios em pregados pelos médic
184 Hipócrates é o médico mais notável da Antig da época, que eram no f Osserm os
verdadeiras tortu-
rates é precursora da ciência ras ineficazes,s. O esgotamento da
medicina. Veja-se que a doutrina de Hipóc força do paciente já debilitado pela
Mesmer recupera e desen- fermidade en
do magnetismo animal explicada neste livro. em
quase . sempre provoc ava a
germi nais da arte de curar hipocrática. nemann reforçaria esta crítica. morte. No século seguinte, Hah-
volve os princípios doutrinários
536 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE. F. A. MESMER 537

dos, são ainda desconhecidos, e é principalmen atribui vagamente à natureza, são regrados e determinados por
te nesses diversos
estad os que se confunde a crise com a doença. essa influência ou pelo que se chama de magnetismo natural.
Às causas imed jatas-de todes-as-deenersirre
erros OU EX- “O
ternas supõem o defeito ou irregularidade " pode tornar-se útil senão aos seres que são particularmente
da circulação dos
humo res ou obstruções de diferentes ordens dos recip suscetíveis, restou-me descobrir e reconhecer asleise o meca-
Send
ientes.
o este estado, como se salientou, o resultádo nismo íntimo dos processos da natureza, a fim de saber imi-
do defeito
da irritabilidade ou da
ação dos sólidos sobre os humores que - tá-los e fazer a aplicação reforçada e graduada nos casos indivi-
eles contêm, compreender-se-á enfim que duais, em todos os tempos e em todas as situações em que o
em vez de recorrer
a uma escolha vaga e incerta, aos específico homem sé encontra. no
s e às inumeráv
eis
drogas advindas da teoria dos humores,18º tem-s
e, em todos os Creio ter obtido da natureza este mecanismo de influências,
casos, apenas duas indicações, a saber:
que, como explicarei, consiste numa espécie de entrega recipro
1. restabelecer a irritabilidade ou a ação dos ca e alternativa das correntes que entram e saem, de um ie
sólidos sobre
os líquidos; sutil, preenchendo o espaço entre dois corpos. A necessidade
2. impedir e prevenir os obstáculos que pode dessa entrega é baseada na lei do pleno, o que significa que no
m se opor.
Está provado pelo sistema de influências, e está espaço cheio de matéria não pode ser feito um deslocamento
constatado
pela observação exata e assídua, que os grand sem recolocação, o que supõe que se um movimento da matéria
es corpos chama-
dos celestes governam os movimentos parciais do sutil é provocado num corpo, produz-se um movimento seme-
nosso globo.
Às alternativas de fluxo e refluxo (efeito comum a lhante num outro corpo suscetível de recebê-la, qualquer que
todas as par-
tes constitutivas da Terra), a vegetação, as fermenta seja a distância entre os corpos. Esta espécie de circulação é ca-
ções, as or-
ganizações, os ciclos gerais e particulares das
quais o globo é sus- paz de excitar e de reforçar neles as propriedades análogas sua
cetível, são naturalmente determinadas por
essa influência que, organização, o que se conceberá facilmente refletindo-se so re
por meio da continuidade de um fluido unive
rsal, produz au- a continuidade da matéria fluida, e sua extrema mobilidade: o
mento ou diminuição de todas as propried
ades dos corpos, ímã, a eletricidade, como também o fogo, oferecem-nos os mo-
como vemos distintamente no desenvol
vimento e decrésci delos e os exemplos desta lei universal.
mo
da vegetação. Reconheci que, embora exista uma influência geral entre
É assim e pelas mesmas causas que a irritabili os corpos, é todavia por modos, tons particulares e diversos
dade é natu-
ralmente aumentada ou diminuída do mesm movimentos que uma influência pode se efetuar.
o modo que o cur-
so, o desenvolvimento das doenças, e mesmo Como o fogo, por um movimento tônico? determinado,
sua cura, que se.
difere do calor, assim o magnetismo dito animal difere do
magnetismo natural: o calor está na natureza e, sem ser fogo,

186 A doutrina de Mesmer oferecia uma altern


ativa 20s ensinamentos da
medicina da época, que seguiam de forma ortod 187 Nota de Mesmer: Entendo por ton ou movimento tônico o ênero ou
oxa as teorias de Gale-
no. Entre eles, o princípio contraria contraris especial de movimento que possuem as Partículas pj um uido
e a teoria dos humores. modo
Segundo esta teoria, a vida era mantida pelo entre si. Assim de acordo com as partículas de alguns uh os o mov
equilíbrio entre os humo-
res: sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. mento é ondulatório cu oscilatório, em outros é vibratório, de rotação
Veja-se a Segunda Parte:
“Breve história da medicina",
etc.
538 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. À, MESMER
539
ele consiste no movimento interior de uma matéria sutil. Ele é a 1. de saber prov Ocar e
geral, enquanto o fogo é um produto do trabalho humano ou entreter por todos os mei
veis este fogo e fazer q apl Í
de certas condições. O fogo produz quase que instantanea- icação;
2. de conhecer e retirar os SE Pos si
mente, e na maior parte das circunstâncias, os mesmos efeitos obstáculos que podem per
bar ou impedir sua açãoacã, tur-
que se obtém com o calor, se bem que neste caso com tempo e o efeito
i gradati
ter no tra tamento;
mais longo e com o concurso de causas particulares. E eis ECHENO
que se busca ob-
mens de conhecer e de
como o magnetismo natural difere do magnetismo animal de prever a marcha do seu
Para regrá-lo e firmement desenvolvi-
que aqui se trata. As experiências e as sensações das doenças e manter O curso até a cur
confirmam de modo incontestável esta teoria.!88 Es a que se reduz geralm a
ente a descoberta do mag
À, ação mais imediata do magnetismo ou da influência animal, considerado como mei netismo
o de prevenir doenças e curá-l
deste fluido é o de reanimar e de reforçar a ação da fibra mus- as
onstatado pela experiência
cular por um movimento acelerado, tônico e análogo à parte tínua que este fogo pode c on-
é ser concentrado e conservad
orgânica à qual pertence.'8 Milhares de observações prova- gua, Os animais,o, as árvore o. Que a
s e todos os vegetais,
ram que a aplicação deste meio desenvolve o curso das doen- minerais, são suscetíveis de assim como os
serem carregados com ele,
ças, isto é, após um combate mais ou menos decisivo entre os 19!
esforços e a resistência, ele determina, regula e acelera a or-
dem e a marcha segundo as quais as causas e os efeitos se suce-
dem, a fim de operar o restabelecimento da saúde, provocan-
do, em todos os casos, de modo seguro, as crises e seus efeitos
relativos.
O magnetismo animal considerado como um agente, é
então efetivamente um fogo invisível.190 Trata-se:

188 Aqui também Mesmer esclarece aqueles que, não tendo lido ou com-
preendido suas idéias, pensam que ele confunde magnetismo animal
com o natural. O magnetismo natural, para ele, serve apenas como meio
de comparação entre os efeitos de um e outro.
189 A doutrina espírita confirma a hipótese de Mesmer: “Tanto quanto do
espírito errante, a vontade é igualmente atributo do espírito encarnado,
Daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da
força de vontade. Podendo o espírito encarnado atuar sobre a matéria
elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de
É EESC Ut pes PpTOMOV € a cura orgânica:
roânicas up “Esta 7 PST INEO O FRESNO Mecanismo que
imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau b teoria nos fornece
: à das pago . em magnet - a solução de um fato
mais ou menos elevado.” (KARDEC, 1862, p. 172) ismo, ms explicado
até hoje: o da mudan-
EN água, por obraadda vontade,
190 Paracelso foi um dos precursores de Mesmer e Hahnemann: “Se nós magnetizador, quase sem €, UO espíritoi atuante é
conseguirmos extrair o fogo da vida do coração e extrair da quintessên- pre assistido por outro
espírito, Ele opera
cia das substâncias e usá-la para alcançar nosso objetivo, poderemos vi- como atrás disse-
cósmica, ou ele-
540 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 541

Após tudo que tem sido dito aqui, sem


dúvida são espera- . e que o corpo animal é suscetível de propriedades análogas às
das explicações sobre a maneira de
se aplicar o magnetismo - do fmã,1S3 creio justificar plenamente a denominação de mag- |
animal, e de torná-lo um meio cura
tivo eficaz. Mas como, in- + a a
dependenterrenteda Teoria Este novo —MNETSTAU ANIDAA ) tato e

método de curar exige doutrina das influências em geral quanto a dita propriedade
indispensavelmente uma instrução
prática e contínua, não
creio ser possível dar aqui a descrição, do corpo animal, assim como o remédio e o método de cura.
nem desta prática, nem
do aparelho e das máquinas de dife
rentes espécies, nem dos Isso é pouco suficiente para demonstrar que não se deve
procedimentos de que me servi com
sucesso, porque cada um, confundir o magnetismo com os fenômenos que puderam dar
em consegiiência da sua instrução, apli
car-se-á em estudá-los,
lugar ao que se chamou eletricidade animal. ==
e aprenderá por si mesmo a variá-los Vejo com pesar que se tem abusado desta denominação:
e a acomodá-los às cir-
cunstâncias e às diversas situações da desde que se está familiarizado com a palavra magnetismo, as
doença.132 É o empiris-
mo ou a aplicação às cegas dos meus pessoas julgam ter idéia da coisa, enquanto se tem apenas a
procedimentos, que de-
ram lugar às prevenções e às críticas indi idéia da palavra.
scretas que se fizeram
contra este novo método. Estes proc Enquanto muitas descobertas foram colocadas na fila das
edimentos, se não forem
razoáveis, serão semelhantes a afetaçõe quimeras, a incredulidade de certos sábios me deixava toda a
s tão absurdas quanto
ridículas, às quais será impossível atribuir fé. Determ glória da invenção. Mas depois, quando foram forçados a reco-
prescritos de modo positivo, tornar-s inados e
e-ão, sob uma observa- nhecer sua existência, começaram a me opor obras da Antigúi-
ção muito escrupulosa, motivo de supe dade nas quais se encontram as palavras fluido universal, mag-
rstição. E eu ousaria di-
zer que uma grande parte das cerimôni
as religiosas da Antigúi- netismo, influência etc. Mas não é uma questão de palavras e
dade parecem consequência desse empi sim da coisa, e sobretudo da utilidade de sua aplicação.
rismo. Por outro lado,
todos aqueles que quiseram se assegura
r por sua própria expe- Encontrar-se-á no corpo de minha doutrina que o ho-
riência da realidade do magnetismo,
praticando-o sem conhe- mem, como objeto principal de nossa contemplação na natu-
cer seus princípios, viram-se privados
de obter o sucesso que reza, pode ser considerado em razão dos pontos constitutivos
pretendiam, imaginando que os efeitos
deveriam ser o resulta- do seu mecanismo, e em razão de sua conservação. Sob a pri-
do imediato dos procedimentos com
o aqueles da eletricidade
ou das operações químicas.
Considerando que a influência recíproca 193 Sobre o tema, esclareceram os espíritos: “Considerado como joatéria
Corpos, que o fmã nos representa o mode
é geral entre os terapêutica, o fluido tem que atingir a matéria orgânica, a âm de repa-
lo dessa lei universal, rá-la. Pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou
atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra: pela fé é o-
ente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba
mento universal. Ora, desde que ele calcante e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é ne-
pode operar uma modificação nas
propriedades da água, pode também cessária a simultaneidade das duas ações; doutras, hasta uma só.
produzir um fenômeno análogo
com os fluidos do organismo, donde o (KARDEC, 1868, p. 316) Hahnemann também fez uso da comparação
efeito curativo da ação magnética,
convenientemente dirigida” (KARDEC, com o ímã para explicar a força vital e a cura na homeopatia: “aforças -
1862, p. 172)
192 O magnetismo animal, como meio nâmica dos medicamentos sobre o princípio vital, a fim de tornar o ho-
de cura, é uma terapia que precisa
ser aplicada com os conhecimentos e mem sadio, nada mais é do que o contágio, não sendo absolutamente
métodos da ciência médica, neces-
sita que o terapeuta conheça anatomia, fisiol material nem absolutamente mecânico, assemelhando-se à força do ím
ogia, e também tenha do- quando atrai poderosamente um pedaço de ferro ou aço que esteja pró-
mínio de práticas médicas como anamines
e e diagnóstico.
ximo”. (HAHNEMANN, Selected Writings, p. 99)
542 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER
e 543
meira se compreende os instrumentos do movimento e das Após as experi ências e as observações feit
sensações, que determinam as funções e as faculdades — daí, a tes razões para crer que som as, existem for-
esse respeito, minhas idéias sobre os nervos, a fibra muscular, os dotados de um sentido
que está em relação com interior
a irritabilidade, os sentidos etc. o conjunto do universo,
ma ser considerado uma e ue pod
Sob o ponto de vista da conservação, o homem é conside- extensão da visão ls
Se fosse Possível ser afetad dE po de
rado nos diversos estados em que percorre a carreira de sua o de maneira ater a idéia
ser auma distância infinita, de um
existência, como no estado de vigília, no qual faz uso dos seus assim como vemos às estrel
impressão nos é transmiti as cuia
sentidos, e continua a existir, em relação aos outros seres que da em linha reta, pela sen
sação ca
o cercam, e enfim no estado de saúde e de doença.
À vida de todos os seres no universo é uma só: ela consiste
no movimento da matéria mais sutil.14 A morte é o repouso ou a
conservação do movimento. Ver-se-á que a marcha natural e ine-
vitável é passar do estado de fluidez ao de solidez, que o termo
natural da vida do homem é determinado e fixado por sua orga-
hização e sua própria vida, que a doença pode aproximar este ter- dos eventos q ue se sucede
as
mo, impedindo o movimento e avançando a consolidação. Tra- m, compreender-se-jai a pos
Ç Pressentimentos e sibibil
ilii dade
de outros fenômenos,
ta-se aqui de conhecer os meios de retardar este termo fatal. ção, as profecias, os orácul tais co mo a predi
os das sibilas etç.197
O homem é dotado da faculdade de sentir, É pelas sensa-
ções e seus efeitos que ele existe em relação com outros mate-
riais e com os seres que se encontram fora dele. A diversidade
dos órgãos chamados os sentidos o toma suscetível de provar
os efeitos dos diferentes materiais que o cercam. O princípio
que o anima e que o torna ativo é determinado pelas sensa-
ções, e todas as ações são resultantes das sensações.
Independente dos órgãos conhecidos, temos ainda outros
órgãos próprios para receber sensações. Nós duvidamos de sua
existência pelo arraigado hábito de nos servirmos dos primei-
ros, de um modo mais aparente, e pelas impressões fortes às
quais estamos acostumados desde a primeira idade, absorvendo
as impressões mais delicadas e não nos permitindo percebê-las. de sentido espirisuado (Ro
* (Revista Espírita, 1867, p. 176)
194 Concordando com Mesmer, assim se expressaria Camille
Flamarion, no «& 197 Neste trecho Mesmer nã
século seguinte: "A grande lei de unidade e continuidade revela-se não :
- "mas suas observaçõ cem a nou explícita a existência do Perispítito
somente na forma plástica dos seres como também na força que os ani- $9es tece um paralelo perfeito com as
ma, desde o modesto vegetal ao homem superior.” (O homem primitivo,
teori
p. 89).
5 44
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. À MESMER 545

stender a todas as distâncias e a todas as direções, sem qual-


quer obstáculo. Parece enfim que toda a natureza lhes está pre-
pente o QnTade - ge o a Ee
DESSO 4 -EHtrtrte
A ——

independentemente de todas os mei os convencionais


.?01 Estas
campo novo para as minhas ob ser faculdades variam para cada indivíduo. O fenômeno mais co-
priedades do homem, 188 õ da naturez.
vações
mum é o de ver o interior de seus corpos, e também os dos ou-
O sono do homem não trees e das pr tros, e o de julgar com grande exatidão as doenças, sua evolu-
é um estado negativo ou
ausência da vigília: modifi a simple -ção, os remédios necessários, e seus efeitos.2022 Mas é raro ver
cações deste estado me odas as faculdades reunidas num mesmo indivíduo.
que as faculdades no ho ensinaram
mem adormecido não
dio, COMO agem muitas vez só não estã Minha intenção não é a de entrar aqui nos detalhes dos
es com mais perfeição
Vigllia. Observa-se que certas Pes quen múltiplos fatos que a história apresenta, que uma longa expe-
soas adormecidas anda riência me forneceu pessoalmente, e que se renovam a cada dia
m
sob os olhos daqueles que fazem uso dos meus princípios. Pre-
tivessem acordadas, É ain tendo apenas dar uma idéia sumária e precisa dos fenômenos
da mais surpreendente
des chamadas intelectuais ver faculda. ' inumeráveis que a natureza do homem não cessa de oferecer ao
serem levadas a um tal
ultrapassam infinit amente observador atento. Qualquer desses fatos é conhecido de todos
aquelas no estado ordináoo rio18º
Neste estado de crise, ess , os tempos sob diversas denominações, e particularmente sob
es seres podem prever o aquela de sonambulismo. Algumas outras foram completamen-
tornar presente o passad futuro e:
o mais remoto. Seus sen t

te negligenciadas. Outras foram cuidadosamente ocultas.



tidos podem
=
0 DD .
demo gnimal € espiritis
mo — completam-se mut
uamente, e não se con-
198peace deste preto, peomer Cesenv 200 Segundo o espiritismo, o sonambulismo é um desprendimento da alma.
olve sua teoria do sonambuli Portanto, os sentidos ilimitados dos sonâmbulos, aqui descritos por
tes, n O este estado e feito exp
smo.
compreendê-l-o. No enttaant erimentos Mesmer, são inerentes aos dons do espírito: “No espírito, a faculdade de
o, concentrou seus esfor
oo revolução ir ços na div
i ulpaçã ão de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e reside em todoo seu
A partir de 1784, os fenôme
pa apa co pe a Pesquisa experimen nos on ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso, É uma
ar tal dos irmãos Puységur. espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simulta-
10 primeiro ensaio teóric
z sonambálica. o para explicar o sono crítico e neamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há tre-
199 a egundo o espiritismo, vas, nem obstáculos materiais." (KARDEC, 1857, 247)
a exaltação das faculdade
à Consciência (inclusive s nos estados alterados 201 É o fenômeno conhecido posteriormente como telepatia: “O sonâmbu-
o sonambulismo natural
Verse ao sexto sentid e o sono ordinário) d lo não precisa, portanto, que se lhe exprimam os pensamentos por meio
o, o sentido espiritu al.
ne Emo ve poste parágrafo e nos seg É a mesma hipótese de Mes. da palavra articulada. Ele os sente e adivinha.” (KARDEC, 1857, 45 5)
fon de porem uintes, Kardec retomou; “No 202 A geração seguinte dos magnetizadores definiu essa capacidade do so-
Gsmo natural ou magnét ico
a , de hipnotismo, de cata
aa a Ela, e êxtase e, mesmo, no - nâmbulo como lucidez sonambúlica, também adotada pelo espiritismo:
rp estando sono ordinário, Os sen
momentaneame
nte entorpecidos, o sentid tidos “A lucidez sonambúlica não é outra senão a faculdade que a alma possui
se desenvolve com mais
liberdade, Toda causa ext o espiritual de ver e sentir sem o socorro dos órgãos materiais. Essa faculdade é um
sorpecer os sentidos corpór erior tendente aen dos seus atributos, ela reside em todo o seu ser. Os órgãos do corpo são
eos, Provoca a expansão
tindo espiritual." (Revista Espí e a atividade do sen- Os canais restritos por onde lhe chegam certas percepções.” (KARDEC,
rita, 1864, p. 297)
1890, p. 53)
546 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A, MESMER
547

O que é certo é que esses fenômenos, tão antigos quanto várias Pess
pe oas, sejaj por um zelo imp
i rudente, seja por vaidade e
as enfermidades dos homens, sempre espantaram e muitas ve- ela ã
zes alucinaram o espírito humano. A disposição como se mani- necessáriasà , dera
retudo coppendações € precauções que eu julgo
pero publicidade prematura aos efeitos e, so
festam sem cessar, lembrando substâncias cujas modificações explicação desse sono crítico. Não ignoro que fora
têm mecanismos desconhecidos, levam-no igualmente a atri- retormarem a passa largos m
ejo com d or Os antiigos preconceitos
buir aos espíritos ou a princípios sobrenaturais os efeitos que
sua inexperiência o impede de atinar com as verdadeiras cau- mui Temos ainda presentes as
Buiç
persegui çõões que o fanati
sas. Segundo sejam felizes ou funestas, segundo as aparências, cao erédulo exerceu, nos sécu
los da ignorância sobre ao
seus princípios foram caracterizados como bons ou maus. E Pessos que tiveram a infelicidade de serem os person
segundo eles determinem a esperança ou a crença, à supersti- de des pro gios
ou que foram seus ministros. É de as
ção e a credulidade ignorantes os tornam por sua vez sagrados var a seiam se acre di
hoje vítimas do fanatismo da incr
edulidade não
ou criminosos.203 Estes fenômenos só serviram para provocar serão P inidos como idólatras ou
sacrílegos, mas serão tratados
frequentes revoluções, dispondo as fontes e meios para à char- impostores e perturbadores da ord
em pública 204
latanice política e religiosa de várias pessoas. cas Com
o Da
oa enorênci
ância é, em todas as suposições,
a fonte das injus-
Observando esses fenômenos, refletindo sobre a facilida- moral, crei
o ser necessário esclarecer sobre a natu
de com a qual esses erros nascem, multiplicam-se e suce- à O nos fascina, mas que foi
reza
dem-se, ninguém poderá desconhecer a fonte das opiniões so- te desconhecido, mesmo estando
diante de nossos olhos
bre os oráculos, as inspirações, as síbilas, as profecias, as one Sob
abre Ss efeitos do magnetism i o
divinações, os sortilégios, a magia, a demonologia dos antigos. do animal, notadamente
, que é um dos fenômenos
mais impressionantes
E nos nossos dias, as possessões e as convulsões. quanto à sua aplicação , à SOCIE: ot
em três classes, dade francesa pode ser dividida
Embora essas diferentes opiniões pareçam tão absurdas
quanto extravagantes, não passam de quimeras. São muitas Na rimei x .
vezes o resultado de observações de certos fenômenos da na- fatosrelativos a este fenómç o, ignoram absolutamente todos os
indiferer
tureza que por falta de luz ou boa-fé foram sucessivamente interesse mal-entendid, ; se Seja por indifere nça, seja por um
desfigurados, ocultos ou misteriosamente escondidos. Posso que a históri O) € sé obstinam a fechar os olhos a tudo o
provar hoje que tudo o que tem sido considerado verdadeiro qualquer coi a e a observação lhes apresenta. Tentar ensiná-los
isa seria explicar as cores aos nascidos cegos
nos fatos analisados deve ser relacionado com a mesma causa € emo Vejdoo naa argunca classe os que,
que não devem ser levadas em conta senão como sendo modi- após terem conhecimento
exato cípios, medita
À ram sob re eles, ou deles
ficações do estado chamado sonambulismo. usoe obtiveram a cada dia à fi-
confirmação por xpei
Depois de meus métodos de tratar e de observar as doen- es
=
ças serem postos em prática em diferentes partes da França, 204 Anton Mesmer refere-se aqui às
T o dos menos s Lis LOC!
+ 7
DElt o ELELUAT

203 A ignorância da origem natural dos fenômenos metafísicos alimenta a bruxos ou i die Provocavam, eram classificados como
superstição, a equivocada suposição do milagre e O charlatanismo. Mes- foi devido à a conoriados e condenados às fogueiras, Para Mesmer,
os sonâmbulos é e ti
isso
DO» apesar de extinta a condenação fatal
mer demonstra que uma reflexão positiva, deduzida da observação e da
experimentação, elimina as causas supersticiosas e remete o tema para credulidade materialista E denbos o acusados de charlatanismo pela in-
i 2 nam - da
Em ambos os casos,a causa meira
ime é sempre a.
âmbito da ciência. gnorânciae a submissão vontade pelo despo isa
548 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓR
| IA DE F. A. MESMER 549
cia própria: eu nada mais faço do que convidá-
los
rança, tenho confiança de que esta escritura acre à perseve- O universo é o conjunto de todas as partes co-existentes
scentará algo da matéria que preenche o espaço. Segundo esta idéia, existe
aos seus esclarecimentos.
tanta matéria quanto o espaço possa conter eestá num estado
Prraimente, incluo na terceira classe aqueles
que, por obs - igual de continuidade. Todas as partes da matéria estão em re-
servaçõe
s constantes e múltiplas, asseguraram-se
da realidade pouso ou em movimento entre si, e por consequência trata-se
dos fatos, mas que, não podendo explicar as
causas e querendo ou de fluidos ou de sólidos.
sair do estado penoso da perplexidade, em lugar
de terem re- A fluidez e a solidez devem ser consideradas como um es-
corrido aos meus princípios, preferiram as
ilusões da metafi- tado relativo do movimento e do repouso das partículas entre
sica. Foi para eles, essencialmente, que escre
vi: que me leiam: si, E nessas relações únicas se encontra a razão de todas as for-
sem prevenção e não tardarão a reconhecer que
tudo é explicável mas e propriedades possíveis. Os sólidos supõem uma forma,
pelas leis da mecânica encontradas na natur
eza, e que todos os: que contém interstícios preenchidos por matéria menos sólida
efeitos pertencem às modificações da matéria
e do movimento. ou mais sutil, que por sua vez consiste de pequenas massas
Penso que cumpri essa tarefa importante se troux
e, no com forma determinada, estando presentes ainda interstícios
curso desta memória, uma solução adequada
para as questões | com uma matéria mais fluida. Estas divisões entre os interstí-
que seguem e nas quais creio ter previsto
as dificuldades mais cios e os fluidos, como foi dito, sucedem-se por uma espécie
espinhosas.
de gradação, até a última das subdivisões da matéria, que cha-
1. Como o homem adormecido pode julga
r e prevenir mo de elementar, ou primordial, que é apenas de fluidez abso-
suas moléstias, e mesmo as dos outros?
luta, e os interstícios não são mais ocupados, pois que não
| 2. Como, sem qualquer instrução, pode
indicar os meios existe matéria mais sutil.
mais adequados à cura?
A mobilidade da matéria, estando na razão inversa da ausên-
3. Como pode ver objetos afastados e pressentir
os acon- cia da coesão, deve responder à sua sutileza. Consegientemente
tecimentos?
a mais fluida e a mais sutil devem ser devidas à mobilidade mais
4. Como o homem pode receber impressõ
es de uma ou- eminente. As três ordens de fluidez, que impressionam nossos
tra vontade que não a sua ?
sentidos — a água, o ar, e o éter -confirmam-nos esta progressão.
5. Por que o homem não é sempre dotado dessa
s faculdades? É necessário lembrar aqui que entre o éter e a matéria ele-
6. Como são passíveis de aperfeiçoamento? mentar existem séries de matérias de fluidez graduada, capa-
7. Por que este estado é mais frequente e pare zes de penetrar e preencher todos os interstícios.?05
ce ser mais
perfeito após o emprego do processo do magn
etismo animal? Cada um dos três fluidos conhecidos é suscetível de ser o
8. Quais têm sido os efeitos da ignorância deste
s fenôme- condutor de um movimento particular proporcional ao seu grau
nos e quais são eles ainda hoje? de fluidez. A água, por exemplo, pode sofrer as modificações
9. Quais são os inconvenientes resultantes
do abuso que
deles se faz? -
Para que eu possa responder a estas perguntas 205 A percepção de Mesmer quanto à rarefação dos fluidos até o seu grau má-
de uma manei- ximo como fluido universal nos remete à teoria espírita dos fluidos: “A
ta precisa, creio dever facilitar a inteligência e a
explicação
, por pureza absoluta, da qual nada nos pode dar idéia, é o ponto de partida do
meio de uma exposicação resumida dos princ fluido universal. O ponto oposto é o em que ele se transforma em matéria
ípios gerais propos-
tos na minha teoria, dos quais alguns já são conhecid tangível. Entre esses dois extremos, dão-se inúmeras transformações,
os do leitor. mais ou menos aproximadas de um e de outro." (KARDEC, 1868, p. 276)
50 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. A. MESMER
5 551

a m.
do Cê que- podem Esta variedade de disposições era nece
do calor. O ar, todos os movimentos imersos num oceano de fluidos, ssária para que,
i i mo . possamos não confundir, e
Suas modificações são determinadas mesmo distinguir com a maior just
a o eza, os efeitos das diferen-
tes matérias e os movimentos determ

o
ec os o

Pro do sea ce podem pda rs


las formas, as superfícies, as relações dasdistâncias jetos. À estrutura e o mecanismo part
inados pelos diversos ob-
icular de cada órgão tor-
na-0s suscetíveis a uma única função.
íci rtículas de u
ço sua con Nós somos, pois, pelo número e pela
omar-se assim veículos de corpúsculos, que, segun um dos nossos sentidos, delimita
propriedade de cada
O é
figuração, são capazes de produzir tais ou A dos a estarem em relação
com as únicas combin ações e subdivisões
mem é
Colocado no meio desses diferentes flui os o. ordem é relativa à nossa conservação.
da matéria, da qual a
deco ne Esta reflexão me leva a
dotado de órgãos que confinam com as extremi pensar que existem animais dotados
ior ou menor quantidade. Estes nervo Pi de órgãos diferentes dos
nossos, e cujas faculdades os pôem
de “ em relação com as maté-
do menos EXE ostos ao contato com diferentes ordens rias de uma ordem diferente daquelas que nos
Qualq uer um destes o afetam.
do os e sis recebem impressões. Eis o que eu pude dizer de mais suci
receb em e - nto, sobre a diversida-
dos dis co o os do tato, do paladar e do olfato, de dos efeitos produzidos na extremid
LmDe ssões or uma aplicação imediata da matéria ou. ade dos nervos.
o Trata-se de examinar atualmente O que
aierao os se opera na sua
e dimento. Os outros, como a visão e a audição, são substância íntima. Eu vejo apenas movi
] ja causa pode estar . mentos, tão variados
cela á quanto a ação das diferentes matérias
ura é ta que sobre os sentidos exter-
nm & oo chamados de sentidos. Sua estrut nos. Mas não temos palavras que poss
am expressar todas as nu-
o deles pode ser afetado por uma ordem de matérias, ances. Estes movimentos assim alterado
| são do s, recebidos primeira-
com exclusão das demais. menté na superfície, são propagad
os para um centro comum
do
O olho oferece ao movimento do éter, por exp nsão formado pela reunião e entrelaçamento
dos nervos, cujas extre-
re
óptico, uma superfície unida, capaz de rece rede midades, que chamamos de sentidos,
devem ser consideradas
das cores e d a s 5 como
Catar 0 comju to das formas, das figuras, prolongamentos. Por esta reunião,
várias vezes repetida
: dor sua estrutura composta de partes diáfan
as e opacas na organização animal, estes movime
des ntos mesclam-se, confun-
ncia
le 5 doe mi reender o acesso a qualquer outra substâ dem-se, modificam-se. É este conjunto
que constitui o órgão
na sua estrut ura partes distin tas e que eu chamo de senso íntimo, e o que
Er ã o o ouvido apresenta resulta é o que chama-
a todos os graus de mos sensações.208 Estes mesmos movi
disoctãs de tal modo que respondem mentos, assim comunica-
es das resisti dos aos músculos motores, determina
tensidade de tom e de som. m as ações.
O tato prova, ao contrário, todas a nua eos das rod Para bem conceber esse grande fen
ômeno das sensações,
importa refletir sobre a fidelidade e
cias e das impressões dos corpos que lhe sá a justeza com a qual se
aplicados O paladar é afetado pela forma das partíc
ulas que, '
as e nos noros que Ind anre- o
tits p V fpiicação, o espiritismo acrescen
ta a
distinção, em suas funções,
entre 0 corpo orgânico e a alma, com
seu p erispírito: “A lucidez sonam-
búlica não é outra senão a faculdade que
a alma possui de ver e de sentir
ú los q ue lhe são
maneira a impressão pela forma dos corpúscu
sem o socorro dos órgãos materiais. Essa
faculdade é um dos seus atribu-
tos, Ela reside em todo o seu ser, Os
trazidos e aplicados pelo ar. tos por onde lhe chegam certas perc
órgãos do corpo são os canais restri-
epções.” (KARDEC, 1890, p. 53)
552
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 553
propagam
r ese repetemo som e a luz, observar
S movimentos mais como seus raios
.
multiplicados
e mais combinados se: que tudo que tem uma existência pode ser sentido, e que os
Tuzam sem se destruire m e sem se confundirem,
de sort
corpos animados, encontrando-se em contato com toda a na-
o
£

o ouo ouvido recebem com contrem colocados o E


g AU LUdO

exatidão o detalhe e o conjunro ; Como aos eventos que se sucedem.


to dos efeitos mais complicad
os. e1 Independentemente das impressões que os objetos cau-
Eu disse que entre o étere sam sobre nossos sentidos, em razão de suas figuras e de seus
séries de matérias que se suc a matéria elementar exist
edem em fluidez e que movimentos, nós percebemos ainda a sensação de ordem e de
sutileza, podem penetrar e sua
preencher todos os interstíc proporções que aí se encontra. Esta sensação é expressa por di-
coma ios
estas matérias fluidas exi
ste uma essencialmente ferentes denominações, segundo os órgãos que percebem,
core Pon ente, em contin como a beleza pela visão, o harmonioso pelo ouvido, o doce
uidade com aquela que ani
aros do corpo animal, € ma os pelo paladar, o suave pelo olfato, o agradável pelo tato. A par-
que, encontrando-se mescla
conf com as diferentes ordens de flu da e tir destes pontos de comparação, existe uma multidão de nu-
deve ago mpanhá-los, penetr ido s de que já falei
á-los, € consegiientemente ances que se afastam mais ou menos da perfeição.
p e todos seus mov par ti-
imentos particulares, Ela se torna Nós somos dotados de uma faculdade de sentir na harmo-
nia universal as relações que os eventos e os seres têm com nos-
ressã sa conservação. Esta faculdade nos é comum com os outros
pressõ es sobre os sentidos externos,
e todos estes efeitos apli- animais, embora façamos menos uso dela do que eles, porque
cados à própria substâncincia dos nervos são levad as a a substituímos pelo que chamamos razão, que depende abso-
terno das sensações. ão i -
2 órgão in lutamente dos sentidos externos. Nós percebemos, pelo senso
íntimo, as proporções não somente das superfícies, mas mais
ainda da sua estrutura íntima, assim como de suas partes cons-
titutivas, e podemos discernir sobre seja o acordo, seja a disso-
nância que as substâncias têm com nossa organização. À esta
oscilações do ar; e enfim os faculdade devemos charnar instinto, e ela é tão mais perfeita
órgãos do tato, do paladar, do
tô aos movimentos produzi
í :
olfa- quanto independente dos sentidos externos que para fruírem
uzidos pelo contato
tmas, das figuras, P O imediato das for- têm necessidade de serem retificados, um pelo outro, por
er Refletindo ainda sobre causa das diferenças de seu mecanismo.
a tenuidade e a mobilidade
: a, € a exata contigiidade da ma-
com que preenche todo o esp É pela assim explicada extensão do instinto que o homem
que se pode conceber que não aço adormecido pode ter a intuição das doenças, e distinguir entre
chegue nenhum movimento
ou deslocamento nas suas m todas as substâncias as que convêm à sua conservação e cura.29”
enores partes que não respo
um certo grau, a toda extens nda, a
ão do universo. º
binação da matéri com-
mto não: cria que, pelas relações mantidas com o con- 207 Muitas vezes, a sensibilidade do sonâmbulo em reconhecer tanto a do-
Junto, não imprimam um efeito sobre ença quanto o medicamento ideal não se confunde com a orientação dos
dante, e sobre o meio no qual toda a matéria circun- espíritos, caracterizada pela mediunidade. São fenômenos distintos. No
estamos mergulhados, segue- primeiro caso, trata-se da lucidez sonambúlica: “Em cada uma de suas
se
existências corporais, o Espírito adquire um acréscimo de conhecimen-
554 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F. À. MESMER
555

Pude explicar da mesma maneira um fato que parecia fer Par


dare e sm divúviida maisis difí
di cil explicar como
mais extraordinário: a comunicação da vontade. Com efeito, o dos fatos que ainda nãonão é possível
e x i
esta comunicação só pode ter lugar entre dois indivíduos no tros entre os quais se escoar exis te ou de ou-
am longos intervalos”
estado ordinário, quando o movimento resultante de seus Ensaiaiemos em priime meiro lugar tornar
essa id éia sensível
pensamentos é propagado do centro aos órgãos da voz e às par-
tes que servem para expressar os sinais naturais ou de conven-
ção. Estes movimentos são então transmitidos pelo ar ou pelo. mesmo golpe a DARCO que seg
ue seu curso: ele percebe num
éter, como veículos intermediários, para serem recebidos e saulo qa de espaço já percorrido pelo bar
percebidos pelos órgãos dos sentidos externos. Tais movimen- ra due aindav Percorrer, co e
Estendamos essa débil imagem
tos assim modificados pelo pensamento no cérebro e na subs- Roma estimat a o passado e do futuro, lembra
tância dos nervos são comunicados ao mesmo tempo à série de pomer | Estando P O senso ínt ndo que o
imo em contato com toda à na-
um fluido sutil com a qual esta substância dos nervos está em dureca, en quero j sempre col
ocado de modo a sentir o enc
continuidade,208 podendo, independentemente e sem o con- o passado ds caus as e a-
os efeitos Compreender-se-á que
curso do ar e do éter, estenderem-se a distâncias indefinidas e que prereis 3 coisa
ver
o que sentir a causa pelo efei
comunicarem-se imediatamente com o senso fntimo de um uro é sentir o efeito pela caus to e
a, qua lquer dis-
outro indivíduo. Pode-se conceber como as vontades de duas Possamos supor entre -
a primeira causa e o último
pessoas podem se comunicar pelos seus sentidos internos. Por
consegiiência, pode existir uma reciprocidade, um acordo, meoPor Quito tado, tudo o que foi i deixou alguns
uma espécie de convenção entre duas vontades, o que se pode es a o fue será
traços. Do
já está determinado pelo conjunto
chamar estar em relação 2º universo ct E eve realizar. O que conduz à idéia de que
apenas dif
no
stá presente, e que o passado
p erentes relações das partes entre si e o futuro sã
211 o o
tos.e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando encarnado em
matéria por demais grosseira, porém deles se recorda como Espírito.
Assim é que certos sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau
da instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capaci- 209 adore
Pela ma
primei ves, qiesmer conceitua o estado de relação entre ma: ,
dades intelectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e científica do ciência d gnetizado, consagrado pelo termo francês rapport gneti-
sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir com relação aos co- O magnetismo anirnal quanto na hipnose Pport, tanto na
nhecimentos que porventura revele no estado de lucidez.” (KARDEC, 210
1857, p. 239) gra em f ue da elevação vê o bar CO tornou-se clássica entre
208 Esse mesmo mecanismo fisiológico foi descrito por Kardec, acrescido
os
rita, am fazia parte das aulas d e Mesmer. Na doutri
' idéiaes e Paso: :
"que mesma idéia foi utilizada por Kardec, em sua teoria da do ESPi-
do perispírito: “O fluído perispiritual constitui, pois, o traço de união mem [...] colocado sobre uma montanha perceba do for Sta;
nquanto aquele se acha unido 20 corpo no carninho Ana
ir dO longe,
« PETCEb DA
cendiar; ser-lhe-á fácil, » calcula
trona-inimo rindo Barros
serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às Calndo o espaço
culoand espaço
o e é aa velada to. e domo
diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua von- mento da chegada da tropa.
Se, descendo à aldei
quer] .
ado
tade e para fazer que repercutam no espírito as sensações que os agentes ta! hora a aldeia será incendiada” rever oimo-
exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos, como, passará, aos olhos da multidão ignor
ante
no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.” TO, ã0 passo que, muito simpl
e i
er, e disso deduziu as consequência
v

(KARDEC, 1868, p. 214)



.

s,” (KARDEC, 1890 p. 104)


4
á

4 -
556
FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 557
dO só é possível adquirir este
mediação gênero de sensação pela:
dos fluidos, que são tão sup dos músculos, dos membros, a palavra etc. Quando o homem
eriores em sutileza ao éter
5 está saudável, o sono é regular e periódico.
tan SFRes deseia
Presa
Kplicar às Cores pelos son »“as POr tia especie de repularidades na ECONOMIA ani-
sério complementar pelas ref s. 212 É neces-
lex mal, e por diferentes irritações interiores, pode acontecer que
Pré-sensações, constantes dos ões o que se pode fazer sobre as as funções denominadas animais não sejam inteiramente in-
homens e sobretudo dos ani
mais terrompidas, e que certos movimentos dos músculos, assim
como o uso da palavra, sejam conservados no homem adorme-
cido. Nos dois estados de sono, as impressões das matérias
ambientes não se fazem sobre os órgãos dos sentidos externos,
Mas por que, Perguntar-se mas diretamente e imediatamente sobre a própria substância
-á, o estado de sono do
homem dos nervos. O senso íntimo se torna assim o único órgão das
sensações “4 Estas impressões se encontram independentes
' O sono natural e perfeito do dos sentidos externos e se tornam então sensíveis pelo fato de
home
m é o estado em que as
ções dos sentidos estão serem únicas. Como a lei imutável das sensações é a de que a
suspensas, isto é, em que
nuidade do sensorium com a conti- mais forte sobrepuje a mais débil, isto pode ser sentido na au-
mune?l3 com os órgãos dos
a está interrompida: sen tidos sência de uma mais forte. Se a impressão das estrelas não é
cessam todas as funçõe
dia a ou imediatamente s que me- sensível à nossa vista durante o dia como o é durante a noite,
dependem dos sentidos
mo à imaginação, a mem externos apesar de sua ação ser a mesma, é que elas são ofuscadas pela
ória, os movimentos
“-
2 a

voluntários ,
impressão superior do sol.
Pode-se dizer que no estado do sono o homem sente suas
0-—— 0 relações com toda a natureza. Como não podemos ter qual-
21 | Curiosamente , Allan
Karde € grafou, em seuÀ quer idéia dos conhecimentos do homem mais instruído se ele
Para Deus, o passado e q gênese logo a:
futuro são o presente.” : não fala ou não se faz entendido, eu creio que seria difícil per-
212 Como pr 1 89 após otítulo:
Mesmer, me iensações dos
sonâmbulos (e também dos suadir quanto à existência desse fenômeno se não se encontrar
oO ind
Indeesc
scritíveis. Kardec esclareceu: : “Para c omp indivíduos que durante seu sono e por efeito de uma doença
êàs Coisas espirituais, isto reendermos
é, , para fazermos S delasdelas idéiaidéia
emos de Uma Paisagem tã clara como a ue
tão
que tenhamos ante os olho
pie um sentido, Exatament s, falta-nos em vero
e Como ao cego de nascen 214 O espiritismo veio confirmar a hipótese de Mesmer segundo a qual o
pa e compreender os efei ça falta um que lhe
tos da luz, das cores e da vist senso Íntimo (ou perispírito) é o único órgão das sensações: “A vida inte-
Se segue que somente por a, sem o contato
esforço da imaginação e por lectual está no espírito. O perispírito é o agente das sensações exterio-
meio de com-
res. No corpo, estas sensações estão localizadas em órgãos que lhe ser-
vem de canal, Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais.”
(Revista Espírita, 1858, p. 348) Em vida, essa propriedade explica os fe-
nômenos magnéticos e espíritas: “Cremos piamente — o que pode ser
provado pela experiência — que a privação de relações com o mundo ex-
O, Sensorium commune, util

.

izad
fa
terior devido à falta de certos sentidos dé, em geral, maior poder à
te o espírito: “chegam ao sensor a por Mesmer, como sendo exatamen-
,

ium commune faculdade de abstração da alma e, por conseguinte, maior desenvolvi-


(Revista Espírita, 1858, p. i írito” mento ao senso íntimo, pela qual ela se comunica com a esfera espiritu-
350). ; 986 É próprio espírito
al.” (KARDEC, 1890, p. 102) .
558 FRANZ ANTON MESMER MEMÓRIA DE F, A, MESMER
S59

u de uma crise conservem a faculdade de nos dar a entender, der senso íntimo com exclusão dos outro:
O que se p como fundamentados na Proporção pode-se considerá-los
tanto por suas ações como por suas expressões, desta aproximação.
com eles. 215 à eme A perfeição deste sono crítico vari
às marcha e
a ainda em razão da
Suponhamos, por um momento, ump ovo q que,e seme do período da crise, como também
do caráter, do
lhança de alguns animais, dorme necessariamen Pé e temperamento e dos hábitos das
Pessoas. Mas singularmente,
solLo cara acordar apenas após o seu retorno no porosizonte: à e por uma espécie de educação que se lhe pod
e dar nesta esta-
ão teria nenhuma idéia do magnífico espetáculo da noi ee do, e pela maneira como se diri
gem suas faculdades, pode-se
creria apenas na existência das coisas limi(atas aos O jeto ai compará-los a esse respeito a um
telescópio cujo efeito varia
veisi durante o dia.i Se m essas condições
içõ disseesse
se issesse àa esse
€ Pora conforme a maneira como é ajustado
.216
i tre eles homens nos qu ais esta ordem i Embora no estado do sono crítico
a noi : a substância dos nervos
urbada p por doenças, e q ue foram reve lados durante
darturbada seja afetada imediatamente, de
modo que o homem age se-
a distâncias infinitas, corpos luminosos inumeráveis, e por gundo o senso íntimo, os efeitos das
diversas matérias estão re-
assim
s dizer, novos mundos, seriam
i sem dúvida
ávi trata o s Come
com lacionados com os órgãos dos sent
entre suas opinões. idos internos, que lhe são
visionários, pelas prodigiosas diferenças particularmente destinados. Assim,
quando o sonâmbulo diz
j aos olhos da muitidão,
sã entretanto, h oje,
aisis são, ENA que vê, não são seus olhos pro
priamente ditos que sentem
dos os que pretendem que no sono o homem tem a facul modificações do éter, mas se refere as
a ver as impressões que lhe
ender suas sensações. o Tepresentam os movimentos da luz, tais como as
formas, as fi-
e o estado de crise da qual falo, sendo intermediário entre, : guras, às cores, as situações. Quando
diz que ouve, não é pelos
igíli no perfeito, pode estar distante enos de ouvidos que recebe as modulaçõe
s do ar, mas se refere sim-
|
de outra, é suscetível de diversos graus de perfeição. Se plesmente a ouvir estes movimento
s relativos de onde tira a
este estado estiver mais próximo da vigília, ela p do E então de impressão. É o mesmo para os outros
órgãos, e faz assim uma
memória e da imaginação, prova osefeitos os Send pn espécie de tradução para Expressa
r suas idéias na língua for-
estas impressões se encontram então con as dao bodendo mada pelo senso íntimo. Segue-se
que como ele faz sempre
do senso íntimo a ponto de algumas vezes mind as podendo uso de uma língua que se pode dizer
emprestada, é fácil se en-
ser consideradas neste caso como sonhos. Mas qui ndo ese esta Banar, e é necessária a experiência
de um bom observador para
do é o mais próximo do sono, as asserções € os sonâmbui dor entender e bem interpretar.
então o resultado das impressões recebi e Devo dizer ainda que a perfeição dess
essencialmente de duas condições.
a
sensação depende
Uma é a suspensão total da
“a

215 Kardec concorda com Mesmer quando afirma: 1 “O sonambulism: ismo é um


i ência i do Espirito, s .
i maisj completo do que no sonho, ees- 216 Os mag; etizado E abiam egSilas o
Gu-a
cmorc bo aquirem maior amplitude. À almã tem en- búlico para torná-lo mais apropriado justar-o-estadode TRANSE TOnARE
aos seus propósitos. O magnetizador
õ ão di sonho, que é um estado de sonam- Alphonse Bué assim proc edia: “Acionam-se rnais ou meno
od (KARD e 57 p. 231) 0s espíritos completaram: epigástrio e procura-se manter um s o cérebro e o
justo equilíbrio entre esses dois
LO afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo & dão tros de vida nervosa [...] aumenta- cen-
se ou diminui-se assim, à vontade,
recisando este então da sua presença, ele se lança pio es S e) profundeza do esta do sonambúlico, que apenas deve ser a
Pelação mais direta com os outros espíritos." (KARDEC, , ações graduais com paciência e tato produzida por
indefiníveis,” (BUÉ, 1934, p. 28)
560 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. A. MESMER 561
ação dos sentidos externos.
A outra é a disposição do órg
senso íntimo. ão do soporoso de modo que o sono necessário seja por assim dizer
Quando eu disse que este órgão consiste - transportado aos órgãos destinados às funções animais e âque-
trefaçameAto dos nervos, não de união-e-ene-ii 13.

tinha entendido que fosse um


Ponto ou centro único, nem
uma região circunscrita, mas sim
É importante distinguir entre as doenças o sono sintomá-
O sistema nervoso inteiro, tico € o sono crítico. |
ou seja, 0 conjunto compos
dos os pontos de reu to de to-
nião, tais como o cérebro, a Como segiiência a estas explicações e do que eu disse dos
nhal, os plexos e os gânglios. medula espi-
Estas diferentes partes, em rela antigos preconceitos, é fácil antever como erros e abusos se
ção às suas fun ções, podem ser consideradas, - expõem aos observadores deste estado quando se lhes conce-
separadamente
de uma confiança muito ampla.
harmonia depende do seu aco Resta-me ainda dizer porque o estado de sonambulismo é
rdo perfeito, ou ser compar
aos efeitos que produziria a ado
nossos olhos um vidro expost mais frequente e presente com mais perfeição depois que se
diferentes direções, cuja sup o em
erfície seria mais ou menos empregam meus princípios: a razão é que o magnetismo de-
da, descorada, envolvida Por poli-
vapores, ou mesmo partida. termina um movimento tônico que penetra todas as partes do
pude enfim me aproximar ain Eu
da mais da verdade e dar uma corpo, vivificando os nervos e reanimando todas as partes da
justa idéia da perfeição do máquina. Já comparei esta ação àquela da corrente de água ou
senso íntimo, considerar tod
pontos que o constituem com os os
o estando submetidos à mesma de ar dirigida para as partículas móveis de um moinho, Ç esta
lei, dependentes uns dos outros ação que provoca as crises necessárias à cura de todas O
e tentando igualmente formar
um todo bem ordenado. Eu pud ças. Estas crises participam na maioria das vezes do sonho de
e compará-los a um líquido
cujas partes, todas estando que tenho falado. E como a ação que os produziu tende ares-
em equilíbrio perfeito e oferec
do uma superfície unida, são en-
capazes de traçar fielmente tabelecer a harmonia em todos os órgãos e vísceras, produz tão
dos os objetos. É claro que tod to-
a mudança neste equilíbrio e necessariamente o efeito insuperável de aperfeiçoar as sensa-
nas suas proporções deve alte ções. Enfim, as faculdades do homem são manifestadas pelos
rar os efeitos. Do mesmo mod
a perfeição das sensações é sem o,
pre alterada na proporção das efeitos do magnetismo, assim como as propriedades dos ou-
perturbações que agitam o tros corpos são desenvolvidas pelos procedimentos do fogo
corpo animal nas doenças e
momentos de crise. nos
graduado empregado pela química. |
É essencial dizer aqui que tod Resulta desses princípios e destes desenvolvimentos que
os os gêneros de alienação
do espírito são nuances de um as antigas opiniões não devem ser desdenhadas só porque es-
sono imperfeito. A loucura, por
exemplo, existe quando divers
as vísceras estão tão obstruída
que suas funções são suspen s
sas, sendo por consegiiênci
zidas a um estado Soporoso a red u- 217 Até hoje, a medicina classifica como loucura fenômenos por pitamente
enquanto os órgãos naturais
sono estão numa ação contín do explicáveis pelo sonambulismo magnético e pela mediuni dade. ur S
ua e irregular, e que o sono casos explicados pelo espiritismo são causados pela obsessão, ema eo
deslocado ocupa as partes afet ass im
adas pela doença. A cura pod agente causador são espíritos: “Entre os que são tidos por louços, mui S
se operar então pela ação do e
magnetismo animal: as obstru há que apenas são subjugados; precisariam de um tratamento mor ,en
ções e os obstáculos que se - quanto com os tratamentos corporais os tomamos verdadeiros
opõem à harmonia do sensor loucos,
commune serão levados a esta ium Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer essa
s partes retiradas do seu est distinção e curarão mais doentes do que com as duchas.”
ado (KARDEC,
1862, p. 323)
562 FRANZ ANTON MESMER
MEMÓRIA DE F. À.
MESMER
563
tão associadas a alguns erros. Que os fenômenos do sonambu-
lismo foram percebidos em todos os tempos e desnaturados tada Por a qu e sta
descoberta anunci
mai estima ada após 20 anos,
segundo os preconceitos do século ao qual pertenceram. Que Ei autênticas, de susten-
o homem foi sempre imperfeitamente conhecido, sobretudo Dart Pra Pe Os fatos Os mais fendida Pelos ho
mens
cante por a sa; Po multip
no seu estado de doença. E que as faculdades extraordinárias r que, digo Cu, uma licados por todas as
dia urna de tã descoberta tão impor-
que nele se manifestam devem ser vistas apenas como a exten- o E ão Preciosapelos Seus efeitos, pr
são de suas sensações e do seu instinto.
Procedimentos € Os o-
Após tudo que tenho feito conhecer do magnetismo efeitos aparentes do
maga eiSô ni
nemal
como agente direto e imediato sobre os nervos e sobre a fibra
muscular, instrumentos das sensações e do movimento no
corpo animal; após as provas que estabeleci, que é sob a ação oiderou minha
descoberta senã
apenas da fibra, animada por esse mesmo agente, que reside a aproan ha
fmda pa Por Essa O sob este ponto de
causa geral da qualidade dos humores como também da sua s PrimRa
ei
s
ra s im vista:
corofund, a pr essões, negligen
circulação; que é enfim ele que, em todos os casos de doença, TOS, ex citados por motivo ciaram
que deve orPO São, sÓ viram na s Pessoais, pelo in-
determinando as crises salutares, retifica as aberrações nos flui- mi nh a Pe
am abater. Para ss oa um adversári
dos e nos sólidos, compreender-se-á que estou autorizado a mais potente, a do tanto muitas y
considerá-lo como um meio único e universal de prevenir as do- ridículo, e a nem me ama
odiosa que a da ca
enças e de obter a cura. Claro, quando ela não se torna absoluta- lúnia, e enfim a pu
pestário que será bli idade
mente impossível: quando as partes do corpo estão desorgani- para todo o
as aoRável para aque
les mo
zadas ou destruídas, ou que o indivíduo doente está privado que ousara
m assiná-lo,
1 € O número é 219 Outr
dos recursos essenciais para a ação da máquina e do mecanis- muito grande Co
nvencidas
mo da economia animal.
Só porque alguém pode afirmar que a aplicação do mag-.
netismo é suficiente para operar a cura de toda espécie de do-
ença, seria insensato pretender curar todos os indivíduos do-
entes. E necessário então encontrar no senso possível aquilo :
que chamo de a universalidade deste modo de curar.
Toda causa física supõe certas condições necessárias para
que o efeito possa ter lugar. No caso de que venho falando, como TN
qe
.
etc. É Peprecsa
i Sonhecer Os mec
obter êxito se existem obstáculos que impedem a ação da causa? anismo ,
i s biológicos que
Os para concorrer com serão manipula
ençGa,
a, alcançando a cura. Af qo desenvolvimento nat
Esta lei da natureza torna indispensável para a prática do ir mou Kardec: "A magnet ural da do-
um verdadeir O tratam ame en CSEEBudo-regularÉ ização comum é
arne E Ietódico [...] Todos
curso das luzes que dão o estudo da medicina.218 .
duzir-se
alores são
.
mais ou me
nos aptos
a curar, des
de
os
Com V entent que saibam
emente,” (KARDEC, 2 17 con
186 1 P P- 2 )

218 Para Mesmer, a prática terapêutica do magnetismo animal exige indis-:


pensáveis conhecimentos médicos, como biologia, fisiologia, anatomia
564
FRANZ ANTON MESMER

Superior a tantos obstáculos e


con
necessário ao progresso da ciência, tradições,
mais ainda ao sucessod
magnetismo, pub licar minhas idéias sobre a 0 gan
MUCTICIA izaçãoe.a
TESDECÊIVA do corpo. Abando
no voluntariamente ni
nha teoria à crítica, declarando que não ten
ho nem tempo

APÊNDICE I
dem destruir, é eu verei com praz
er melhores gênios remonta-.
rem a princípios mais sólidos,
mais luminosos, talentos mais
amplos que os meus descobrirem -
Suas Concepções e seus trabalho
novos fatos e tomarem, por MAGNETISMO ANIMAL E
s, minhas descobertas aínda
mais interessantes. Em uma pala
vra, eu devo desejar que se HOMEOPATIA
faça melhor do que eu. Será sufi
ciente sempre à minha glória
ter podido abrir um vasto campo
aos cálculos da ciência, e de
ter de algum modo traçado a rota
desta nova carreira,
Como me resta a percorrer ape
nas um curto trecho do Em 1991, o pesquisador Thomas Genneper estava traba-
caminho da vida, dese jo consagrar o que me resta de exis
cia à única prática de um mei tên- lhando sobre a atividade clínica de Samuel Hahnemamn. Toda-
o que reconheço como eminen-
temente útil à conservação de meu via, Os testemunhos históricos eram parciais e muito escassos.
s semelhantes, a fim de que Seria necessário consultar os arquivos do próprio fundador da
não sejam de agora em diante
expostos às chances incalculá- homeopatia. Foi o que ele fez e, entre as obras de Hahne-
veis das drog as e de sua aplicação.
mann, encontrou duas dezenas de grandes livros numerados
em série, grafados com manuscritos em gótico, contendo, sob
FIM a forma de diário de atendimento, numerosos casos da prática
médica homeopática.
Desde 1799, Hahnemann começou a registrar sistematica-
mente em seus livros diários os diagnósticos dos pacientes e os
medicamentos ministrados. Minucioso e dedicado, elaborou
seus registros por 44 anos, em 54 volumes com suas anotações
de próprio punho. Entre todos os casos, Genneper encontrou a
descrição detalhada do caso do famoso professor de piano Frie-
drich Wieck (1785-1873), tratado nos anos 1815-16, -
Depois de um estudo dedicado, Genneper chegou a con-
clusões surpreendentes envolvendo o magnetismo animal:

565
566 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

À enorme importância do magnetismo animal com uma


participação de pelo menos 33% no tratamento de Friedrich
Wieck é, certamente, uma das conclusões mais surpreen-
dentes de meu trabalho. Até então se partia do pressuposto
de que o mesmerismo somente ganhara maior importância
entre os grandes homeopatas na década de 20 do século 19,
desempenhando nos anos anteriores um papel secundário.
admiravelme harmôni
Hahnemann fazia uso fregiente do mesmerismo nos maneira que
servir-se É
o ênic O Nas Suas sensações e funções, de
O Espírito racional
tratamentos de seus pacientes. Contemporâneo de Mesmer, o Vremente deste instrumentoque nele habita possa
mais elevado objeti vivo € sadio para
fundador da homeopatia teve uma trajetória muito semelhan- - o
te à sua. Estudou medicina na Universidade de Leipzig, em
1842, 9) PINO de nossa existência. (HAHNEMAN,
Viena e em Erlangen, onde defendeu sua tese de doutorado
em 1779. Lecionava grego, latim, inglês, hebraico, italiano, sí-
rio, árabe, espanhol e alemão. Sua rotina contava com pesqui-
sas, escritos, tratamentos, traduções. Durante toda a sua vida,
trabalhou intensamente. Rapidamente, alcançou prestígio e
relativa prosperidade. No entanto, sempre manteve uma insa-
tisfação com sua profissão:
Para mim, foi uma agonia estar sempre no escuro quando
tinha que curar o doente e prescrever, de acordo com essa ou
aquela hipótese relacionada com as doenças, substâncias que
tinham o seu lugar na matéria médica, por uma decisão arbi-
trária! Logo depois de meu casamento, renunciei à prática da
medicina para não mais correr o risco de causar danos e me
dediquei exclusivamente à química e às ocupações literárias.
(BRADFORD, 1895)
Franço
is Guizot (17787
87--1874),
Mas foram nascendo seus filhos, e sua preocupações com a Orleans (1773-1850), intercede minminiistro de Luís Feli
u a seu favor junto à Arado
saúde dos rebentos começaram a atormentá-lo: “Onde, porém, mia de Medicina, que queria j o
: impedi-lo de e xercer à medicina
Pp
“encontrar os recursos certos? Em torno de mim só vejo trevas e vitalista:
desertos. Nenhum conforto para o meu coração oprimido.” *— Hahnemann é um sábio de grande mérito.
A ciência deve
Determinado dia, experimentando em si mesmo o efeito ser para todos. Se a homeopatia é uma quime
ra ou um siste-
de substâncias, descobriu os princípios da homeopatia, fruto ma sem valor próprio, ela cairá por si mesma,
Se for, ao con-
de muitos anos de pesquisa. Depois de ter adquirido bastante expandir-se-4 mai grado todas as medi.
5 PrOETES:

das de preservação, e a Academia deve desejá-lo antes


experiência e já conhecido por suas curas, Habnemann escre- qualquer outra, ela que tem por missão impulsiona
de
r a ciência
veu seu Organon: “As doenças nada mais são do que altera- e encorajar as descobertas. (CROLL-PICCARD, 1933)
ções do estado de saúde do indivíduo saudável, que se expres-
sam por meio de sinais mórbidos”.
568 PAULO HENRIQUE DE FIGUEI
REDO APÊNDICE I: MAGNETISMO ANIMALE HOMEOPATIA 569

a Academia, 50 anos dep


ois de ter atacado Mesmer agindo de diversas maneiras: enquanto substitui no doente a
suas descobertas sem permit e
ir defesa, tentava fazer o força vital deficientes em vários pontos de seu organismo, em
com Hahnemam. Porém, o bom mesmo outros, onde a força vital se acumulou em demasia, causando
senso"de Guizor impped:
edi e-mantendo-Indescritivets-adr Rene VS VITA,
Era nor a injustiça. a £
suavizando-a, distribuindo-a, equitativamente, extinguindo
o fundador da medicina hom
eop ática deixou este mundo principalmente o distúrbio mórbido do princípio vital do do-
no dia 2 de julho de 1843, ente e substituindo pela força vital normal do mesmerizador
Doze anos depois, emespírit
lendo-se dos médiuns. S, já; o, va- que age poderosamente sobre ele, por exemplo, velhas úlce-
estava orientando Allan ras, amatrose, paralisias parciais etc. Muitas curas rápidas
Surgimento do espiritismo.
Sardee no aparentes realizadas por magnetizadores animais de todos os
tempos dotados de grande força natural pertencem a essa ca-
O magnetismo animal no Or tegoria. Mas a ação da força humana comunidade a todo o orga-
ganon nismo se evidencia de modo mais brilhante na reanimação de
Como a terapia do magnet algumas pessoas que permaneceram algum tempo-em morte
ismo animal, a homeopati
a era aparente, mediante a vontade muito poderosa e muito acolhe-
dora de um indivíduo em pleno gozo de sua força vital, um tipo
de reanimação do qual a história aponta várias exemplos. Se o
A homeopatia jamais der mesmerista de um outro sexo-é capaz, ao mesmo tempo, de
rama uma gota de sangue; um benévolo entusiasmo (mesmo degenerado na beatice, fana-
ministra vomitivos, laxantes não
, purgativos ou sudoríferos. tismo, misticismo ou sentimentalismo altruísta), então, ele es-
suprime o mal externo por não
meio de tópicos nem prescr tará ainda mais em condições, mediante essa conduta filantró-
qualquer banho mineral que eve
nte ou desconhecido ou clis pica e abnegada de, não somente, dirigir a força de sua bondade
medicamentosos ou aplica teres
a mosca espanhola ou sinapi predominante exclusivamente ao objeto carente de sua ajuda,
smos
moxa, qu ferro ardente até mas também como que ali concentrá-la, assim operando, por
os ossos etc., mas ao invés vezes, aparentes milagres. (HAHNEMANN, 1842, $ 288)
+ turas, dá q medicamento simp de mis-
les, preparado por suas pró-
prias mãos e que ela conhece exatam
a dor com ópio e assim por dian ente; ela jamais acalma Mesmer definiu como sendo duas as ações básicas da tera-
te,
pia do magnetismo animal, decorrentes de um desequilíbrio:
No entanto, Hahnemann não suprir sua falta ou restabelecer o fluxo natural, Uma outra
só Pre screvia aplicações de
mesmerismo aos seus pacien ação, útil em alguns casos específicos, era a de equilibrar o ex-
tes como também incorp
dicina homeopática a sua ter orou à me-
apêutica. O texto dos parágr cesso de magnetismo animal, ou força vital, segundo a homeo-
288 a 290 do Organon fazem afos patia. Servia também, nos fenômenos do sonambulismo pro-
uma descrição bastante comple
ta: vocado, para decrescer as fases do transe sonambálico,
Neste ponto, acho ainda necessár
rmado magnetismo animal, io fazer menção ao cha- fazendo o magnetizado voltar ao estado desperto. Hahne-
ou melhor, ao mesmerismo mann definiu essa ação como mesmerismo negativo:
é veria ser chamado, graças a Mes (como
ere da natureza de todos os outr
mer, seu fundador), que di-
os medicamentos. Essa força Todos os tipos mencionados de prática do mesmerismo
curativa, muitas vezes tolame
nte negada e difamada ao baseiam-se num afluxo dinâmico de maior ou menor força
de um século inteiro, esse maravi lon o
lhoso e inestimável presente vital no paciente, sendo conhecidos, por isso, como mesme-
com que Deus agraciou o Hom
em, mediante o qual, por meio rismo positivo,?2? Contudo, uma prática oposta do mesmeris-

220 Nota de Hahnemman: Apresso-me em lembrar aqui que, quando me


referi à força curativa segura e enérgica do mesmerismo positivo, não me
S70 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE 1. MAGNETISMO ANIM
AL E HOMEOPATIA 5a

irmão
mo merece ser chamada de mesmerismo negativo, pois age des cana rui velho lhe epli, casse um pass
e rápido negativo des-
de modo contrário. À essa categoria pertencem os passes que eça, sobre o corpo até os pés eiimedi
são empregados para despertar do sono sonambálico, bem te recobrou a consciência, são e salvo i -
. ? “témen
como todos os processos manuais que foram catalogados sob
o nome de acalmar e ventilar. Essa descarga, através do mes- Ati
a doutrina h omeopática,
merismo negativo da força vital acumulada em excesso, em mo Segundo
ds essa ação .
muito útil em algumas patologias: são magnética é
partes isoladas do organismo de pessoas não debilitadas,
faz-se de modo mais certo e mais simples, efetuando-se um posa
movimento rápido do alto da cabeça até a ponta dos pés com amém Um passe negativo suave, um
pouco me-
a palma da mão direita estendida paralelamente a uma dis- su tação e aà ins
quie
Pessoas muito sensíveis, suaviza
ivai
tância de cerca de uma polegada do corpo,?!! Quanto mais insônia com ansisiedade,le, , que que prov
provê
ee, da êem,
vêem , muit
muit ias
rápido for esse passe, tanto mais forte será a descarga. Assim, aplicação de um passe posit
por exemplo, por ocasião da morte aparente de uma senho-
por diante. (HAHNEMANN, 1842, $ ivo
289)
muito forte, e assim

ra, até então sadia,22 ocasionada pela suspensão repentina da


menstruação, em virtude de um intenso abalo psíquico, a Além dos passes » IMPOSIÇÕES E sopr
os, no Organon reco-
força vital acumulada provavelmente na região precordial, menda-se a massa gem que utiliza
o magnetismo animal, ou
por meio de tais passes negativos rápidos, é descarregada e força vital:
retoma o equilíbrio em todo o organismo, resultando, ime-
diatamente, o restabelecimento. Um camponês, jovem e ro- ad essa categoria pertence também,
busto de dez anos de idade, por motivo de ligeira indisposi- em parte, a chamada
e ita pa uma pessoa vigorosa e bené
ção, recebeu de manhã, de uma magnetizadora, vários passes t
vola em um
oi doente crônico, que, , emb ora curad
muito fortes com as pontas de ambos os polegares do epigás- contre se em dente convalescença, sofr o, en-
trio até ao redor das costelas inferiores, ficando, no mesmo endo ainda de enfra
ecimento, digestão débil e insônnia.
i Ele segura separada- .
instante, pálido como se estivesse morto e caindo num tal es- monte os músculos dos membros do doente, peito e
tado de inconsciência e imobilidade que nada conseguiu des- poe rio 9-05 €, como que bate costas
pertá-lo, sendo quase dado por morto, Fiz com que seu ndo moderadamente á
pod , COM esse procedimento Fean
imar o princípio vital de
duo o que que ar
a reação desteé rest
resta
abelbeleç
é eçaa oo tônu
tó s dos músc úscul
ulos o e
guíneos e linfáticos, A influênci
reportava a seu abuso altamente reprovável em que, mediante passes naturalm à ente, elemento prinprincip ica é
desta espécie, repetidos a cada meia hora, de hora em hora, ou mesmo cipal nesse proc rocedi
edismano dde
quee ninão se deve abusar em pacipaente ci s ainda
diariamente, produz-se, em doentes de nervos débeis, esse monstruoso i portad res de um
Psiq uismo sensível. (HAHNEMANN, 1842
transtorno de toda personalidade humana que se chama sonambulismo ç 290). f “eum
e clarividência, no qual o homem, subtraído do mundo dos sentidos, pa-
rece pertencer mais ao mundo dos espíritos — um estado profundamen- O espírito de Hahnemann e Kardec
te antinatural e perigoso, por meio do qual muitas vezes se tentou, em
vã, curar doenças crônicas. casa No dai de maio de 1856, Alla
n Kardec encontrava-se na
221 Nota de Hahnemman: Que a uma pessoa a ser magnetizada positiva ou ustan, na rua Tiquetone, em Pari
negativamente não é permitido absolutamente vestir seda em qualquer suas pesquisas para a elaboração
parte do corpo é uma regra já conhecida; menos conhecido, entretanto,
de O livro dos esp ndo
logava com o esnírito da mádica -He
JO e, UDIUD Ú 5) PULEMÇIO e De
HrR-teCcrHdo- trenranm quedavia de
sincarnado há apenas 13 anos.
ly SLU U

seda, poderá transmitir sua força vital ao doente de modo mais comple- A médium era a senhorita Ja-
to do que se mantiver seus pés apenas no chão. phet. Essa
sa mé dium teve um papel fundame ntal
da obra inicial da doutrina espírita na elaboraçã
222 Nota de Hahnemman: Daí, um passe negativo, especialmente muito rá- , O livro dos espíritos, e ara
pido, ser sempre extremamente prejudicial a uma pessoa cronicamente t ambém, segundo Kardec,
uma excelente sonâmbula,
débil e de pouca vitalidade,
572 PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
APÊNDICE 1: MAGNETISMO ANIMAL E HOMEOPATIA 573

Kardec perguntou a Hahnemann 1


: “Outro dia, os espíritos profissões liberais, a de maior número era a de meo Romeo
me disseram que eu tinha uma
missão importante a cumprir,
me indicaram o seu objeto. Desejaria sabe e pata, seguida pelos magnetistas. De acordo com lan Kardec,
r se a confirmais ” , . .

O-espírito responda: “Sim, e se SC devVeEszoTIAO-LE-DST


e dos DAHBEDIOS
a e HR!negonatia conduz

interrogares as tuas aspi- rem naturalmente ao espiritualismo, e às propriedades fisiol6-


gicas do perispírito: 3
E
Pelo mesmo motivo os espíritas pudegam, melhor que os
outros, compreender os efeitos deise rodo de tratamento.
Sem serem exclusivos a respeito da homeopatia, sem rejeitar
Ao que ponderou Kardec: “Par a alopatia, compreenderam a sua raciogtalidade ea dostenta.
a cumprir essa missão, tal ram contra atâques injustos. (Revista Espírita, 1869, p. 16)
como a concebo, são necessári
os meios de execução que estã
ainda longe de mim.” o
As doutrinas do magnetismo animal, ca Domeopatia edo
E prontamente respondeu Hahnem iriti
espiritismo inti
ão intimamente
estão ligadas. AA base científico-filo-
dência fazer a sua obra e estarás ann: “Deixa a Proyi-
satisfeito.” sófica dessas três ciências vitalistas € espiritualistas éa mesma
For
am os primeiros momentos do Portanto, é fundamental uma contribuição mútua paradm E
Rivail na elaboração da doutrina trabalho do professor
dos espíritos. Hahnemann foi senvolvimento teórico e o fortalecimento histórico e cultur
um espírito participante da codifi de suas doutrinas.
cação, ao lado de Franz
Anton Mesmer, sob o comand
o do espírito de Verdade. Ele
ainda acompanhariam Kardec s
por muitos anos.
Em agosto de 1863, Kardec public
uma mensagem do espírito
ou, na Revista Espírita,
Hahnemann:
O magnetismo foi o Primeiro passo
da ação perispiritual, fonte de
para o conhecimento
todos os fenômenos espíritas.
O sonambulismo foi a primeira
mani festação isolada da
alma. [...] Provando o poder de
ação da matéria espiritualiza-
da, a homeopatia se liga ao pape
l importante que representa

porção de casos em que falha a


medi
esta, ela leva em conta o elemento cina comum: mais que
derante na economia,
espiritualista, tão prepon-
o que
explica a facilidade com que
médicos homeopatas acei os
tam o espiritismo e porque
ria dos médicos a maio-
espíritas Pertencem à escola de
Hahnemann,
Em 1869, Kardec tabulou uma
pesquisa feita com mais
de dez mil espíritas num uni
verso, estimado por ele, de
milhão de adeptos só na Eur um
opa. Na proporção relativa
das
mem a
icones me io
APHORISMES

ao rio
D E
APÊNDICE II
M. MESMER,
DicrÊS al'afenhtte dejes Eleves,
& dans lefqueis on trouxe fes prine
cipes , fa ihdorie & tes moyens de ÁFORISMOS DE MESMER
magnetifer ; le tout formant um
corps de Doadrine developpé en
344 paragraphes , pour faciliter
happlicasion des Commentaires em
agnitifine anima! ;
- rage misau jour par M.C. de V.
Me=cin de la Maifon de MONSIEUR.
Seilicet ut pojfem curvo dignoftere
rertum ,
«dtque inter filvas Academi quarere
- O Verum,
cateLiv: IE. Ep, a.

E; fe trouve ebez M: QUINQUET;


Jainé, Mattre em Vharmacie, me -
du marché tux Poirées, au coin:
de la porte de I'ancienne halle aga
bled. 1795, Ayer permifiona.
NOTA À EDIÇÃO BRASILEIRA
AFORISMOS DO SENHOR MESMER

A presente tradução foi feit


a a partir da edição origi
Apncesa [CAULLET DE VE Ditados na assembléia dos seus discípulos, e nos quais se
AUMOREL (Louis)]. Aphori
- Mesmer, dictés à 'assemblé sma do encontram seus princípios, sua teoria e os meios de magneti-
e de ses élêves, & dans les
On trouve ses principes, sa théori quels zar, ao todo formando um corpo de doutrina desenvolvido em
e & les moyens de magnétisor
mi formas um Corps a Dec |l 344 parágrafos, para facilitar a aplicação dos comentários ao
trine développé en 344 par
hes, acuiter 'application des agr a. magnetismo animal. Obra publicada por M. C. de V.
tsme animal. Ouvrape mis ) . [CAULLET DE VEAUMOREL, Louis], médico da Casa do Senhor.
au jour a Mean Vaio
quet, 1785. In-16.f. blanc, xxiv, 172 Quim.
Pp. (Df. edition o isinale |
Scilicet ut possem curvo dignoscere rectum,
Atque inter silvas Acadoemi quoerere verum.
(Horácio, livro II, epístola 2)

Aforismos do senhor Mesmer


1. Existe um princípio não criado: Deus. Existem na natu-
reza dois princípios criados: a matéria e o movimento.
2. À matéria elementar é aquela que foi empregada pelo
Criador para a formação de todos os seres.
3. O movimento opera o desenvolvimento de todas as
possibilidades.
576
577
578 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS
DO SENHOR MESMER
579
4. Não é possível ter uma idéia positiva da matéria ele-
rentes Ens agregados for
mentar: ela está colocada entre o ser simples e o começo do em formados de unidades de
cenes cies, , eles connst
sti itu
dife
ser composto, ela é como a unidade em relação às quantidades em um todo de matériai
hetero- .
aritméticas.
che 17. Destas diversas com
5. À impenetrabilidade constitui sua essência. A impene- binações, em que cada uma
a gar ao infinito, concebe-s pode
trabilidade faz com que uma parte não seja a outra. e a imensidade de todas
ina ções possíveis.
6. À matéria é indiferente estar em movimento ou em re- tm
18. A matéria Proprii amente
pouso. ente dita não tem, por si si mesm
nenhuma propriedade: ela
é indiferente a todo tipo de
a
7. À matéria em movimento constitui a fluidez. O repou- combi.
so da matéria faz a solidez.
19. O conjunto da quanti
8. Se duas ou várias partes da matéria estão em repouso, dad
e da matéria em estado
com
) binação, conside rada com de
desse estado resulta uma combinação. o formando
nós chamamos um corpo
9. O estado de combinação é um estado relativo do movi- VR todo, é o que
20. Se na combinação das Par
mento ou do repouso da matéria. tes constitutivas de um cor-
10. Apenas nestas relações consiste a fonte de todas as va-
riedades possíveis nas formas e nas propriedades. em um todo que chamamos
corpo orgânico.
11. Como a matéria é suscetível a diversas combinações, des -S eas partes damatéri
a estão combinadas numa tal
as idéias que nós temos delas, dos números ou das quantida- não resulta nenhum or
des aritméticas pode servir para nos fazer sentir a imensidade novo efeito d esta ordem
um todo que chamamos de ;
corpo inorgânico.
do desenvolvimento das possibilidades. 22. O que res ult a
nós chamamos de cor
po inorgânico é uma dis-
12. Considerando as partículas da matéria elementar titinç
nãoão puramente metafísicÍ
a Porque, se não resultas
como unidades, conceber-se-á facilmente que estas unidades e nenhum efeito de um corp se absolu-
podem se associar em duas, em três, em quatro, em cinco etc. o, ele não existiria
e que desta associação resultam somas ou agregados que po-
dem ser continuados ao infinito.
13. Esta maneira de reunir estas unidades, estes agrega- sos 2 se nós consideramos
dos, constitui a primeira espécie das combinações possíveis. as partes constitutivas dos
existentes uma fora da outra, cor-
14. Considerando em seguida estas primeiras combina- temos a idéia do lugar
25. Os lugar ã ,
ções como novas unidades, teremos tantas espécies de unida- no Es são pontos imaginários nos quais. s
q e encon -
tra ou u pode se encontrar matéri a.
des quantos números possíveis, e poderemos conceber ainda
26. A quantidade destes pontos
associações destas unidades entre si. idá: imaginários determina a
15. Se essas associações ou agregados são compostos de
a

27. Se a matéria muda de


unidades da mesma espécie, elas constituem um todo de ma- lugar, e Ocupa sucessivamente
diferente
nes s Pon
ontos, esta mu dança ou
téria homogênea. que nós chamamos movime este ato da matéria é o
nto.
.
28. O movime nto transforma a matéria,
580 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE Il: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 581

29. O primeiro movimento é um efeito


imed iato da cria- 41. As partes constitutivas da matéria fluida podem estar
ção, e este movimento dado à matéria
é à única causa de todas
as diferentes combinações, e de todas combinadas de todas as maneiras possíveis, e receber todos os
as formas que existem. gêneros de movimento possíveis entre elas
HE Este THOVÍMENto pAAEVO & univ
ersalmente e cons- 42. Todas as propriedades, seja dos corpos organizados, seja
tantemente realizado pelas partes mais
delicadas da matéria é
nós a chamamos fluido. dos corpos não organizados, dependem da maneira como suas par-
x tes estão combinadas, e do movimento de suas partes entre si.
31. Em todos os movimentos da maté
ria fluida, conside- 43. Se uma quantidade de fluido é posta em movimento
ramos três coisas: a direção, a celerida
de e o tom,
32. O tom é o gênero ou o modo de numa mesma direção, a isto se chama corrente.
movimento que pos- 44. Supondo-se uma corrente que, insinuando-se num
suem as partes envolvidas em estado,
33. Existem apenas duas forças, de dire corpo, divide-se em uma infinidade de pequenas correntes
ção frontalmente delgadas, em forma de linhas, estas subdivisões são chamadas
oposta uma à outra. Todas as demais são
compostas destas de fileiras. ==
duas: por uma dessas direções as part
es se aproximam, e pela
outra se afastam. Por uma se opera a combinaç 45, Quando a matéria elementar, por direções opostas, ou
ão; pela outra, a por celeridades desiguais, põe-se em repouso, e adquire algu-
desproporção.
34. A igualdade as forças nessas duas ma coesão, da maneira como as partículas estiverem combina-
que
direções faz com das resultam intervalos ou interstícios.
as partes não se afastem nem se apr
oximem. Pelo fato de
elas não estarem nem no estado de 46. Os interstícios das massas ficam permeáveis às cor-
coesão nem no de dissolu-
ção, isto constitui o estado de fluidez perfeita. rentes ou fileiras da matéria sutil. |
35. À medida que as direções se afas 47. Todo corpo lançado num fluido obedece a um movi-
tam deste estado de mento deste fluido.
igualdade, a fluidez diminui e a soli |
dez aumenta e vice-versa.
36. A combinação ou a coesão primitiv 48. Segue-se que, se um corpo é lançado numa corrente,
a é operada quando ele é envolvido por sua direção, o que não acontece a um cor-
as direções dos movimentos das partes
encontram-se opostas, po que obedece a várias direções confusas.
ou que sua celeridade, para a mesma
direção, é desigual.
37. Uma quantidade de matéria no Seja A—C—B.
estado de coesão ou
de repouso constitui a solidez ou a mass 49. Se À se move para B, e se a causa do movimento é B,
a do corpo.
38. A primeira impulsão do movimento acontece o que se chama atração. Se À se move em Be se a
que a matéria ti- causa desse movimento está em C, então isso nada mais será
nha reunido num espaço absolutament
e pleno era suficiente do que um arrebatamento ou o que se pode chamar de atração
para lhe dar todas as direções e todas
as gradações de celerida-
de possíveis. aparente. |
39. A matéria conserva a quantidade de 50. À causa da atração aparente e da repulsão está na dire-
reuniu no princípio.
mov imento que ção das correntes penetrantes ou que saem. |
40. Os diferentes gêneros de movime 51. Quando as fileiras das correntes opostas se intercalam
nto podem ser con- “uma na outra imediatamente, há atração. Quando elas se afas-
siderados ou nos Corpos inteiros ou
nas partes constitutivas.
tam em oposição, há repulsão.
582 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE Ii: AFORISMOS DO SENHOR
MESMER 583

52. Admitindo que tudo é pleno, não pode existir uma maram 9 primeiro grau de coe
são, uma infinidade de molécu
corrente saindo sem uma corrente entrando, e vice-versa. as mais grosseiras ficaram jun -
tas e aplicadas às primeiras mai
53. Existe no universo uma soma determinada, uniforme e con sideráveis, que estavam em repouso, s
e constituíram uma
constante de movimento, que no começo é impressa à matéria.
54. Essa impressão do movimento se faz então sobre uma
massa de fluido, de modo que todas as partes contíguas do + oo Duas partículas que est
ão em repouso formam um
fluido receberam as mesmas impressões. stáculo às duas fileiras das
correntes que lhes correspon
55. Resultam duas direções opostas, e todas as progres- -
sões dos outros movimentos compostos.
(A) (B) cios estão mais retraídos.
56. Tudo sendo pleno, se A se dirige a B, é preciso duas coi-
63. À aproximação de um c orpo
sas: que B seja deslocado por À e que A seja substituído por B. sólido, toda corrente é
57. Esta figura explica: acelerad
solid da e matéri
ez a, esta a,aceleraçção é devi Satibilid
vida à compatib i i ade eou à
1º todas as gradações e todas as direções do movimen- o 64. Ou estas fileiras passando gua
to; rdam sua primeira dire-
são, e suas partes obedecem a um
2º um movimento de rotação universal e particular; movimento confuso
é 5 - Se esta corrente atravessando
3º este movimento é propagado apenas a uma certa um corpo é modificada
em fileira
separada, e se
as fibras opostas, partindo de dois
distância da impressão primitiva; Corpos, insinuam-se mutuament
e nos interstícios uma da ou-
4º correntes universais e mais ou menos compostas. tra, sem perturbar seu movime nto, resulta a atraçã
58. 5º Mediando estas, correntes a soma do movimento é ou o fenômeno do ímã. ção aparente
distribuída e aplicada a todas as partes da matéria. . 66.Seas file
iras, em lugar de se insinuarem, anu
59. 6º Nas modificações das correntes, existe a fonte de ou se uma predomina sobre a outr lam-se
a, resulta a repulsão.
todas as combinações e de todos os movimentos possíveis, de- mu O equilíbrio exige que, quando uma
senvolvidos e a desenvolver. Assim, no número infinito das Corpo, uma outra saia igualmen
corrente entra
te.
No entanto, o movi-
combinações da matéria que o movimento de uma ou de outra mento dos raios que saem é mai
mais fraco, porque eles são diver-
espécie havia gerado, aquelas perfeitas — isto é, nas que não ha- gentes e esparsos. REM são diver
via ponto de contradição de movimento — subsistiram e estão nn A natureza das correntes universais e part
conservadas, aperfeiçoando-se, e são destinadas a formar nú- assim determinada, explica a ori
iculares, es-
cleos para a propagação das espécies. Poder-se-á fazer uma gem ea
corpos celestes.
marcha dos
69. 1º A molécula mal grosseira que.o-s.
éria 488
nou-se o centro de uma corrente TEIRAL TOOL

sutil. o particular.
a À
70. 2º A corrente, à medida
61. 8º Assim, por direções opostas, e celeridades desi- que penetrou a matéria flutu-
€ que a estava envolvendo, aumentou
guais, as partículas tocando-se e ficando sem movimento, for- corrente sendo acelerada, tornando-se esse corpo central, a
mais geral e se apode-
584
PAULO HENRIQUE DE
FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER
585
tando da matéria mais gro
sseira. Esta ação estendeu-
stância em que ela é con se até a
trabalançada pela ação consequentemente ela se exerce sobre todas as partes consti-
dum outro corpo central, semelhante
tutivas e sobre suas propriedades.
713º Sepois : te-r ao
se Ta igu
i alment
e da periferia SU. Esta influência recíproca e as relações de todos os cor-
pos coexistentes formam o que se chama magnetismo.

Dos espessura. Da coesão


: 73. 5º 0 AA dif
a
erença de sua massa cor 81. À Coesão é o estado da matéria em que suas partículas
O espaço que se encontra responde à extensão se encontra juntas, sem movimento local, e não podem se
entre eles.
74. 6º Como toda à mat afastar sem um esforço extemo.
éria recebeu um movime
rotação, disso resulta em nto de 82. A matéria pode estar reduzida a tal estado pelas dire-
cad a corpo central um
sobre seu eixo. movi ções opostas do movimento, ou pela desigualdade da força nas
75. 7º Como estes corpos Em, mesmas direções.
ao turbilhão no qual estão são excêntricos relativam
ente 83. Duas partículas que se tocam excluem no ponto de
mergul
hados, eles se afastam
centro até que o movi
mento centrífugo sej do contato a matéria sutil. A separação não pode se fazer
sem um
força da corrente que a proporcionado à esforço contra a matéria sutil que as envolve, e o esforço ne-
os leva para o centro,
76. 8º Todos os corpos cessário para operá-la será igual à resistência.
celestes têm uns para
tros uma tendência rec com os ou- 84. À resistência é igual à coluna inteira que corresponde
íproca que está em raz
da sua distância. Esta açã ão da sua massa é ao ponto de contato.
o se exerce mais direta
Os pontos de sua superfíci mente entre
e que se relacionam. 85. A resistência total é apenas um momento, e esse mo-
mento é aquele da separação.
86. A resistência ou a coesão estão portanto na razão com-
binada dos pontos de contato e da grandeza da coluna do flui-
do universal na qual o corpo está imerso, e que tem por base os
cada uma de suas esferas. pontos de contato.
87. A coluna da matéria resistente é invariável, e a coesão
está na razão direta dos pontos de contato.
88. Sendo a coesão o momento em que a continuidade do
fluido é interrompido pelo contato, quando a continuidade é
restabelecida, a coesão cessa.

A 79.11º Há então uma lei


constante na natureza: a
á uma influência mútua
sobre a totalidade desses
de que Da elasticidade
corpos, e y 89. Um corpo é elástico quando, comprimido, restabele-
ce-se ao seu primeiro estado.
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 587
586 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

95. NumA corp o elástico,


i as partes não odem
90. A elasticidade nos corpos é a propriedade de se resta- sem a solução da coesão.
. º “e deslocar
belecer no seu antigo estado após ter sido comprimido
96. As nuances de esforços contra a coesão e as nuances
91. Então um corpo é elástico,
apa-
1º quando as partes que o compõem podem, por sua tos da elasticidade.
” »
P , todos os efei
cadas
rência, ser aproximadas ou afastadas sem estarem deslo aire 97. Estes esforços dão às partes constitutivas uma outra
entre si; ção, sem as poder dissolver. Estas partes constitutivas des-
2º quando estas mesmas partículas sofrem um esforço locam-se em relaçãão à massa sem se d eslocarem en
suficiente
para descontinuar a coesão, sem que O esforço seja permanecendo sem deixar o local. ue elas,
para realizá-lo.
-
No primeiro caso, isto é, quando as moléculas se aproxi Da gravidade
sem estar em des-
mam, as fileiras da corrente ficam retraídas j
latera- 98. Há uma tendência recíproca entre todos os corpos coexis-
continuadas, e elas agem como ângulos sobre os pontos entes. Esta tendência está na razão das massas e das distâncias
aceleração
is das moléculas, com tanto mais força quanto sua
foi aumentada pelo estreitamento dos inters tícios . o 99. As causas desta tendência são as correntes nas quais os
mo- rpos encontram-se mergulhados, e em que a força e a quan-
No segundo caso, é feito um esforço para vencer o
que tidade de movime nto está á na razãoã com posta da sua m
mento da coesão sendo este esforço bastante sutil até grandeza e da sua celeridade.
aquele seja vencido e aniquilado pela causa da coesão . E
o 00. E a esta tendência que se chama de gravidade, em que
92. O corpo elástico comprimido sofre, no instante da odos os corpos coexistem gravitando uns em torno dos outros.
possa ser
compressão, a resistência da coesão, sem que ela
. - ,

vencida inteiramente. É o momento da resistência


ao maior 101. Uma corrente geral da matéria sutil elementar, diri-
cons- gida para o centro do nosso globo, leva na sua direção toda a
esforço da separação iniciada, que não é terminada, que
de de um corpo, Neste esta- matéria combinada que encontra, e que por sua composiçã
titui o mais alto grau da elasticida
seja, o esforç o reali- opõe uma resistência a este fluido.
do, ele sofre a ação da coluna do fluido, ou Meteo
zado para vencer a coesão é igual à ação da coluna de fluído 102. No princípio, fez-se para o centro uma precipitação
e que é
que faz pressão sobre as partes laterais das moléculas, de todas as partículas que se encontravam em toda a extensão
preciso elevar para vencê-la. da atividade desta corrente, na ordem da sua resistência de
93. Mais um corpo elástico é comprimido, mais a resis-
sorte que a matéria, sendo a mais grosseira, oferecia mais
tência aumenta. A causa da elasticidade sendo em parte aque-
sistência, precipitava-se primeiro. “
pon-
la da coesão, a resistência está em razão da quantidade de 103. Assim são formadas t éri
tos de contato sobre os quais os esforços se fazem , e que se compõem os diferentes obj nadas Pe ctemadas dk matéria que
opõem a esses esforços. (ça mmotriz sendo apli
104. À força plicada a cada uma das partí-
94. Os corpos não elásticos são aqueles em que as partes cuias da combinação primitiva, a quantidade do efeito da pi
cadas vi
comprimidas podem, por seus aspectos, serem deslo e ou peso está em razão da celeridade da matéria
sem ficarem descontinuadas entre si. 105. Como a celeridaÀ de das corr entes aumenta em se apro-
ximando da terra, a gravidade aumenta na mesma proporção :
588
PAULO HENRIQUE
DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENH
OR MESMER 589

116.0 estado do fogo é entãoum esta


to âquele da coesão. Por consegiiência, do da matéria opos-
equilíbrio, a gravidade-cessa. sge-da-rm artéria aproximando-
ele pode diminuir a co-
se mais ou menos.
108. A uma certa pr
ofundidade da massa da terra, a 117. A matéria flogística é aquela que,
dade cessa, gravi- nação, não resiste à ação do mov
pela débil combi-
| 109. As águas capaze
z
imento oposto.
s de mudar a compat 118. A combustibilidade está em razã
téria combinada, e aque ibilidade da ma- o da debilidade da
las que estão em esta matéria. As diferentes nuances
deste movimento e de sua
do de mudar a in-
aproximação em direção ao estado do
fogo produzem os di-
versos graus do calo r e dos seus efeitos,

Do fluxo e do refluxo
119. À causa da grav
idade de todos
também a de todas as propriedades dos os grandes corpos é
corpos organizados e
não organizados
mente cessa, 120. O movimento de rotação das
esferas e suas diferen-
tes distâncias são as causas da influênc
ia mútua aplicada suces-
sivamente e alternativamente às part
Do fogo tão em presença uns dos outros.
es destes globos que es-
112. Há duas direçõ
partes da matéria Se ap es do mo vimento. Segundo uma, as 121. A superfície do globo está coberta
da matéria líqui-
roximam; e segundo da, a atmosfera e a água, que se confor
tam. Uma é o Prin
cípio da combinaç
Outra, elas se afas- mam exatamente às leis
ão e a Outro provoca hidrostáticas,
solução. a dis-
122. À parte que se encontra à vista, tend
o perdido sua gra-
vidade, é comprimida e elevada pelas
partes laterais, até que ela
se encontre em equilíbrio com o rest
ante, À superfície da atmos-
“fera e aquela do mar tornam-se entã
o um esferóide, em que o
eixo mais longo está virado para a lua,
e a segue no seu curso. O
sol concorre com esta operação, embo
ra mais debilmente.
123. À este efeito alternativo dos Prin
cípios da gravidade
retina, dá a idéia da chama-se fluxo e refluxo.
do fogo, e, sendo reflet
ido por outros co rpos, chama ou clarão 124. Quando diferentes causas conc
115 «O mesmo movi dá a idéia da luz, orrem, seja relativa-
ment o propagado e apli mente a diversos astros, seja relativa
tes destinadas ao tat cado às par- mente à terra na qual essa
o, diminuindo ou enf ação torna-se comum a todas as part
menos a coesão, dá a ra quecendo mais es constitutiva
s, e a todos
idéia do calor. ou 08 seres que os ocupam, há então fluxo e
refluxo mais ou me-
nos gerais, mais ou menos compostos?
590 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 591

125. Os efeitos desta ação alternativa e recíproca, que au- 133. O excesso de movimento excitado pela fricção de
menta é diminui as propriedades dos corpos organizados, serão um corpo elástico, e que se acha exposto a um outro, de modo
denominados intenção e remissão. Assim, por esta ação se- a poder se descarregar, forma a eletricidade artificial.
rão aumentadas e diminuídas a coesão, a gravidade, a eletrici- 134. Em toda eletricidade se observam correntes que pe-
dade, o magnetismo, a irritabilidade. netram e que saem,
126. Em relação ao posicionamento respectivo da terra e
da lua, esta ação é mais forte nos equinócios.
Do homem
127. 1º Pelo fato de a tendência centrífuga sob o equador
ser mais considerável, a gravidade das águas e da atmosfera é a 135. O homem, em razão de sua conservação, é conside-
mais débil. rado no estado de sono, em estado de vigília, em estado de sa-
úde, em estado de doença. Do mesmo modo que para toda a
128. 2º Pelo fato de a ação do sol concorrer com a da lua,
natureza, no homem existem dois princípios: a matéria e o
esta ação é ainda mais forte quando a lua está nas linhas borea-
movimento.
is, quando está em oposição ou em conjunção com 0 sol.
129. Os diversos concursos destas causas modificam dife-
136. A massa da matéria que o constitu
itu i pod. -
tada ou diminuída.
rentemente a intenção do fluxo e refluxo. pets der dtmea
130. Como todos os corpos particulares sobre a superfície
17 A diminuição deve ser reparada: a matéria perdida é
então restaurada da massa geral por meio dos alimentos.
da terra têm sua influência ou tendência mútua e recíproca,
existe ainda uma causa especial do fluxo e refluxo. 138. A quantidade de movimento é reparada da soma do
movimento geral pelo sono.
131. Independentemente do fluxo e refluxo observado
até o presente, existem seculares, anuais, mensais e diários, e 139. Como o homem faz dois tipos de gastos, tem do
diferentes outros irregulares e acidentais. mesmo modo duas espécies de refeição: pelos alimentos e
«pelo sono.
140. No estado do sono, o homem age como máquina em
Da eletricidade que os princípios do movimento são internos.
132. Se duas massas, carregadas de quantidades desiguais | 141.0 estado de sono do homem existe quando o exercí-
de movimento se encontram, elas se comunicam o excesso para cio e as funções de uma parte considerável do seu ser estão
se porem em equilíbrio. A massa menos carregada recebe da suspensas por um tempo, durante o qual a quantidade de mo-
outra o que ela tem a mais. Esta carga se faz ou em quantidade vimento perdido durante a vigília é reparada pelas proprieda-
considerável de uma vez ou sucessivamente como por fileiras. des das torrentes universais nas quais ele está colocado.
O primeiro caso se manifesta por uma explosão capaz de 142. Existem dois tipos de correntes universais relativa-
produzir o fenômeno do fogo e do som. tmnêémn "9 A

O segundo caso produz os efeitos de atração e da repulsão


aparente; o produto desses efeitos chama-se eletricidade, que 143. O homem recebe e acumula uma certa quantidade
se manifesta nas nuvens com calor desigual ou mesmo entre as de movimento, como um reservatório. O excesso do movi-
“nuvens e a terra. mento ou a plenitude do reservatório determina a vigília.
- 592 — PAULO HENRIQUE DE FIG
UEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENH
OR MESMER 593

Neste estado, a porção


de movimento que ele
recebe propor- 158. Sendo uma parte do movimento universal e obed
cional à sua massa, é em cendo às leis comuns do fluido universa e-
pregada para a formação l, o princípio vital está
vimento dos.ru dimentes-de-sers ÓFEãOS. e o desenvol.
sebmet ido-tudasas mpressões da influência dos
145. Assim que a formaç lestes, da terra e dos corpos particulares
corp os ce-
ão está terminada, ele que o envolvem.
faz esforços sobre sua mãe se revela
, tão poderosos para faz 159, Esta faculdade ou propriedade
146. O homem está no ê-l o vir à luz. do homem, de ser
estado de saúde quando suscetível de todas estas relações, é que
partes de que é compos todas as se chama magnetismo.
to têm a faculdade de 160. O homem, estando constantemente
ções às quais são destin exercer as fun- colocadonas
adas. correntes universais e particulares, é por
147. Se em todas as suas fun elas penetrado. O
ções reina uma ordem per movimento do fluido, modificado pela
ta, a este fei- s diferentes organiza-
estado chama-se estado de harmonia, ções, torna-se tônico. Neste estado, ele
segue a continuidade
148. A doença é o estado opo do corpo, pelo maior tempo possível,
sto, ou Seja, aquele em ou seja, para as partes
harmonia está perturbada. que a ] mais emin entes.
a Como a harmonia é ape 161. Destas partes eminentes ou extr
nas uma, não há senão emidades, esgo-
saúde. uma tam-se e entram correntes quando um corp
o capaz de rece-
I50. A saúde é represent bê-las ou de cedê-las lhe é oposto. Nestes casos, as
ada pela linha reta. estão recolhidas num ponto, sua celerida
correntes
151. A doença é a aberra de está aumentada,
ção dessa linha. Esta abe
mais Ou menos considerável rração é 162. Estes pontos de escoamento ou de
entrada de cor-
. rentes tônicas são o que chamamos pólos.
152, O remédio é o mei Estes pólos são aná-
o que faz retornar a or logos àqueles que se observam no ímã.
harmonia que foi perturbad dem ou a
a.
153. O princípio que con 163. Existem então correntes que penetram
stitui, restabelece ou e que saem,
harmonia é q princípio mantém a pólos que se destroem, que se reforçam como
da Conservação e o princí no ímã. Sua co-
então necessariament pio da cura é municação é a mesma. É suficiente determin
e o mesm o. ar um para que o
outro, oposto, seja formado ao mesmo temp
o.
cebeu em partilha na Sua 164. Sobre uma linha imaginária entre os
origem e que, embora dois pólos, há
sua mola mestra, tornou modificado na um centro ou ponto de equilíbrio em que
-se tônico, determinou a ação é nula, ou
desenvolvimento das vís à formação e o seja, onde nenhuma direção predomina.
ceras e de todas as outras
nicas constitut ivas. partes orgã- 165. Estas correntes podem ser propagad
as e comunica-
155. Esta porção do mo das a uma distância considerável, seja por
vimento é o princípio uma continuidade
156. Este movimento da vida. ou encadeamento dos corpos, seja por aque
origina e retifica as fun la de um fluido,
das as vísceras. ções de to- como o ar e a água.
157. As vísceras são as 166. Todos os corpos cujo aspecto é dete
partes constitutivas org rminado em
Param, retificam e assimi ânicas pre- Ponto ou em ângulo servem para receber as
lam todos os seus humo correntes, tornan-
nando o movimento, as res, determi. do-se condutores.
secreções e as excreções 167, Pode-se considerar os condutores como
. aberturas de
orifícios ou de canais que servem para fazer esco
ar as correntes.
PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE Il: AFORISMOS DO
594 SENHOR MESMER
595
E

168. Estas correntes, sempre conservando o caráter ton 178. Esta continuidade de afeições
constitui em conjun-
to, um todo que pode combinar-se,
co que haviam recebido, podem penetrar todos os corpos compor-se, comparar-se,
dos e líquidos. | modifica r-se, organizar-se. E o resultado diss
samento.
o tudo é um pen-
169. Estas correntes podem ser comunicadas e propaga
das para todos os meios em que existe continuidade, seja é 179. Todas as mudanças
nas proporções e nas relações das
afeições de nosso corpo produz
do, seja fluido, nos raios da luz, e pela continuidade das os em um pensamento que não
ções dos sons.
havia antes,
170. Estas correntes podem ser reforçadas. 180. Este pensamento represent
a a
diferença entre o es-
tado anterior e o estado modificado;
171. 1º por todas as causas do movimento comum * dois cepção da diferença. A sensação está
a sensação é então a per-
são todos os movimentos intestinos e locais, os sons, os in N na razão da diferença.
o vento, a fricção elétrica e outra qualquer — e pelos « cos 181. Existem tantas sensações poss
íveis quanto existem
p diferenças possíveis entre as propor
que já são dotados de um movimento, como o im ções.
imados; 182. Os instrumentos ou órgãos
que servem para perce-
> 2 por sua comunicação aos corpos duros nos que ber as diferenç as das afeições são chamados de sent
partes principais constitutivas dest idos. As
podem ser concentradas e armazenadas como numa re ev es órgãos, sobretudo nos
animais, são os
rio, para serem distribuídas a seguir em diversas direçõ a nervos que, em maior ou men
or quantidade,
são expostos a serem afetados pelas
173. 3º pela quantidade dos corpos à que estas core nes téri
a,
diferentes ordens da ma-
são comunicadas. Este princípio não sendo mais uma su ar
cia, mas uma modificação, seu efeito aumenta como aq 183. Além dos órgã
os conhecidos, temos ainda diferent
itecão órgãos próprios para receber a es
fogo à medida que é comunicado. impressão e de cuja existência
çà duvidamos em
decorrência do nosso hábito de nos ser
174. Se a corrente do magnetismo concorre na virmos
dos órgãos conhecidos de uma for
com a corrente geral ou com a corrente magnética é o mundo, pressões
ma Brosseira, e porque im-
fortes com as quais estamos aco
o efeito geral que resulta é o aumento de intensidade permitem nos apercebermos das imp
stu mados não nos
estas correntes. | ressões mais delicadas.
184. É provável, e existem fortes
175. Estas correntes podem ainda ser refletidas nos espe mos dotados de um sentido interno
razões q briori, que seja-
lhos, segundo as leis da luz. conjunto de todo o universo. Observ
que está em relação com o
ações exatas podem nos
assegurar. Daí pod er-se-á compreender a possibilidad
pressentimentos. e dos
Das sensações
176. Sentir é a matéria organizada, a faculdade de receber 185. Se é possível ser afetado de man
eira a ter a idéia de
impressões. “r-sera urna distância infinita, assi
m como vemos as estrelas,
177. Assim como o corpo se forma pela continuidade da cuja impressão nos é enviada em linha reta
uma matéria coexistente entre
pela sucessão de
matéria, a sensação resulta da continuidade das impressões o elas e nossos órgãos, por que
não seria possível ser afetado por
afeições de um corpo organizado. seres cujo movimento suces-
sivo é propagado até nós por linhas
curvas ou oblíquas, numa
596 PAULO HENRIQUE DE FIG UEIR
EDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 597
direção qualquer,por que não poderíamos ser afe
encadeamento dos seres que tados pelo 195. Um homem insensível ao instinto é o mesmo que
se sucedem?
186. Uma lei da sensação. um ângulo em relação aos objetos visíveis.
ção-é-que-enrto rdas que
ur aferções
estão nos nossos órgãos, tor
na-se sensível aquela que é 196. O homem que se serve apenas do que ele chama de
forte. A mais fort a mais razão é como aquele que se serve de uma luneta para ver tudo
e sensação suprime a mais débil.
187. Nós não sentimos o objeto tal que deseja olhar: ele está disposto por esse hábito a não ver com
a impressão, à nature
qual ele é, mas apenas seus próprios olhos e a jamais ver os objetos como um outro.
za e a disposição do órgão
as impressões que o precedera que a recebe e
m. 197. O instinto está na natureza, a razão está descontente,
pa Nossas sensações são Portanto o cada homem tem sua própria razão. O instinto é um efeito de-
Os eleitos que causam os obje
res
ultado de todos terminado invariável da ordem da natureza em cada indivíduo.
tos sobre os nossos órgãos.
189. Disso vemos
que nossos sentidos não nos 198. A vida do homem é a porção do movimento univer-
tam os objetos tais quais são. apresen- sal que na sua origem torna-se tônico e aplicado a uma parte
Pode-se apenas se aproximar
Mais ou menos do conhecimento da nat . da matéria, e foi destinado a formar os órgãos e as vísceras é
um uso e uma aplicação combin ureza dos objetos por em seguida a manter e retificar suas funções.
ada e refletida de diferentes
sentidos, mas jamais se pode con
hecer sua verdade 199. A morte é a abolição total do movimento tônico. A
vida do homem começa pelo movimento e termina pelo re-
pouso. Do mesmo modo que na natureza toda, o movimento é
Do instinto a fonte das combinações e do repouso, do mesmo modo no
. 190. A faculdade de sentir na har homem o princípio da vida torna-se causa da morte.
ção que Os seres e eventos
monia universal a reia-
têm com a conservação de
cada in-
200. Todo desenvolvimento e formação do corpo orgâni-
divíduo é o que se deve chamar
de instinto. co consiste nas relações diversas e sucessivas entre o movi-
191. Todos os animais são dot mento e o repouso. Sendo sua quantidade determinada, o nú-
ados desta faculdade que
está submetida às leis comuns mero das relações possíveis entre um e outro deve
das sensações. Esta sensação ser
mais forte em razão do maior é determinada. A distância entre dois termos ou pontos pode
interesse que os aconteciment
têm sobre nossa conservação. os ser considerada como representante da duração da vida.
É
192. A visão é um exemplo de 201. Se um destes termos é o movimento e o outro o re-
um sentido pelo qual nós
podemos perceber as relações pouso, a progressão sucessiva de diversas proporções de um e
que os seres coexistentes têm
entre si, assim como suas relaçõ do outro constitui a marcha e a revolução da vidá: passado este
es conosco antes que eles nos
toquem diretamente, ponto, começa-se a morrer.
193. Esta relação ou diferença 202. Esta progressão de diversas modificações entre o
de interesse está para o ins-
tinto assim como a grandeza movimento e o repouso pode ser exatamente proporcionada,
e a distância dos objetos estão
para a visão, ou esta proporção pode estar perturbada.
o 194. Como este instinto é um 203. Se o homem percorre esta progressão sem que as
efeito da ordem, da harmo-
nia, ele se torna uma Tegra segura proporções sejam perturbadas, ele existe em perfeita saúde e
das ações e das sensações; tra-
ta-se apenas de cultivar esta sens atinge seu último termo sem doença. Se estas proporções fo-
ibilidade diretriz e cuidar dela.
rem perturbadas, a doença começa. A doença não é portanto
598 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORIS
MOS DO SENHOR MES
MER 599
outra coisa que não uma perturbação
no progresso do movi-
mento da vida. Esta perturbação pode ser consider zem, por suas diferentes
ada como à aplicações, uma remissão
existente nos sólidos ou nos fluidos. Existind
o nos sólidos, ela bação mais ou Menos mar ou pertur-
cada nas propriedades da
desarranja a harmonia das propriedades das
partes orgânicas, dos órgãos. matéria e
diminuindo umas e aumentando as outras. 209. Para remediar os efe
Existindo nos flui- itos da remissão e da per
dos, ela perturba seu movimento local eintestino. Sdo, e para destruí-los, turba-
À aberração é Preciso então provocar
do movimento nos sólidos, alterando suas isto é, é preciso aument a intenção,
propriedades, per- ar a irritabilidade, a
turba as funções das vísceras, e as diferenç fluidez e o movimento. elasticidade, a
as que aí devem se
fazer. A aberração do movimento intestino dos
humores pro- 210. Um Corpo, estand
o em harmonia, é insens
duz sua degeneração. A aberração do moviment efeito do magnetismo, por ível ao
o local produz que
obstrução e febre: obstrução pela diminuiç a Proporção ou a harmonia
ão ou abolição do es-
movimento, febre pela aceleração. A perf
eição dos sólidos ou
das vísceras consiste na harmonia de todas
as suas proprieda-
des e nas suas funções. A qualidade dos fluidos,

-——
seu movimen-
to intestino e local são o resultado das funções
das vísceras.
204. É suficiente, portanto, para estabelecer
à harmonia

O
geral do corpo, restabelecer as funções
das vísceras, porque
suas funções, uma vez restabelecidas, assimila
rão o que pode
ser e afastarão tudo o que não pode ser assimilado rium da cura,
. Este efeito
da natureza sobre as vísceras chama-se crise.
212. Compreende-se ain
da que a aplicação do mag
Mo aumenta muitas vezes netis-
as dores.
Da doença 213. A ação do magnetismo
tado da harmonia, interrompe a aberração do
205. A doença sendo a aberração da harmonia, es-
ração pode ser mais ou menos considerável, esta aber-
e produzir efeitos 214. Segue-se dessa ação
aplicação do magnetismo. que os sintomas cessam pel
mais ou menos sensíveis. Estes efeitos são
chamados sintomas a
sintomáticos. 215. Disso segue-se ain
da que, pelo magnetismo,
206. Se estes efeitos são produzidos pela causa forços da natureza contra os es-
da doença
, são as causas das doenças são
chamados sintomas. Se, ao contrário, estes dos e, Por consegiiênci aumenta-
efeitos são esforços da a, os sintomas críticos são aum
natureza contra as causas da doença, e tende 216 - É por esses efeitos entados,
m a destruí-la, resta- diversos que é Possível dis
belecendo a harmonia, são chamados sintomas estes diferentes sintomas, tinguir
críticos.
207. Na prática, importa bem distinguí-los, a fim 217. O desenvolvimento
VEN UU barrar UNS é favorecer OS Outros.
de pre- das sintomas-se-faz a Ur
versa daquela em que a demi
doença se estabelece.
208. Todas as causas das doenças desnaturan 21 8. É preciso Tepresentar
tes ou que a doença como um novelo
desarranjam mais ou menos as proporções se divide exatamente co que
entre a matéria e o mo ele começa e cresce.
moviment o das vísceras entre os sólidos ou os 219. Nenhuma doença se
fluidos produ- cura sem uma crise.
600 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 601

| 220. Numa crise, devem ser observadas três épocas prin- 231. A criança, obedecendo unicamente ao princípio da na-
cipais: a perturbação, a cocção e a evacuação. tureza que formou seus órgãos, encontrará por si apenas as or-
dens nas quais convém instruir-se, desenvolver-se e formar-se.
232. O homem considerado em sociedade tem duas ma-
Da educação
neiras de ser em relação aos seus semelhantes:, por suas idéias
| 221, homem pode ser considerado como existindo indi- e por suas ações.
vidualmente, ou como constituindo uma parte da sociedade.
233. Para comunicar suas idéias aos outros homens, exis-
Sob estes dois pontos de vista, ele busca a harmonia universal.
tem dois meios, a língua e a escrita natural ou de convenção.
222.0 homem é entre os animais uma espécie destinada
234. A língua natural é a fisionomia, a voz e os gestos; a escrita
pela natureza a viver em sociedade.
natural é a faculdade de definir tudo o que pode falar aos olhos.
223. O desenvolvimento de suas faculdades, a formação
235. A língua de convenção consiste nas palavras; a escrita
de seus hábitos, sob estes dois aspectos, é o que se chama de
de convenção, nas letras.
educação.
. 224. A regra da educação é, portanto, primeiro, a perfei-
ção das primeiras faculdades e, segundo, a harmonia dos seus Teoria dos procedimentos
hábitos com a harmonia universal. 236. Foi exposto, na teoria do sistema geral, que as cor-
225. A educação do homem começa com sua existência. rentes universais são a causa da existência dos corpos, que
Desde este momento, a criança começa, primeiro, a expor os ór- tudo que é capaz de acelerar essas correntes produz a intenção

Ega
gãos de seus sentidos às impressões dos objetos externos e, se- ou o aumento das propriedades desses corpos. Segundo este
gundo, a desdobrar e exercer os movimentos dos seus membros. princípio, é fácil conceber que, se está em nosso poder acele-
226. À perfeição dos órgãos dos sentidos consiste, primei- rar estas correntes, nós podemos, aumentando a energia da
ro, na irritabilidade e, segundo, em todas as combinações pos- natureza, à nossa vontade estender a todos os corpos suas pro-
síveis de seus usos. priedades, e mesmo restabelecer aquelas que um acidente te-
227. A perfeição do movimento dos seus membros con- ria afetado, mas, do mesmo modo que as águas de um rio não
siste, primeiro, na facilidade; segundo, na justeza das direções; podem retornar para sua fonte para aumentar a rapidez da
terceiro, na força; e, quarto, no equilíbrio. corrente, as partes constituintes da terra, submetidas às leis
228. Sendo esse desenvolvimento um progresso da vege-
das correntes universais, não podem agir sobre a fonte primiti-
tação, a regra desse desenvolvimento deve ser oriunda da or- va de sua existência. Se não podemos agir imediatamente so-
bre as correntes universais, não existe para todos os corpos em
ganização de cada indivíduo, que se submete à ação do movi-
geral meios particulares de agir uns sobre os outros, aceleran-
mento universal, e da influência geral e particular.
do reciprocamente entre si as fileiras das correntes que atra-
229, 1º A primeira regrá é então a de afastar todos os obstá- vessam seus interstícios.
culos que poderiam perturbar e impedir este desenvolvimento.
237. Como existe uma gravitação geral e recíproca de to-
230. 2º De colocar sucessivamente a criança na possibili- dos os corpos celestes uns para os outros, do mesmo modo
dade ou inteira liberdade de fazer todos os movimentos e to- existe uma gravitação particular e recíproca das partes consti-
dos os ensaios possíveis. tutivas da terra para tudo e desse todo para cada uma das par-

A Rr te
602 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS
DO SENHOR MESMER
603
tes, e enfim de todas essas partes umas para as outras. Esta
no corpo humano. Estes
ação recíproca de todos os corpos se exerce pelas correntes pólos, como se verifica no
ímã, são
oposição um em relação ao outro: eles podem ser mud
que penetram e pelas que saem, de uma maneira mais ou me-
comunicados, destruídos, ados
nos direta, segundo a analogia dos corpos. Assim, de todos os reforçados.
corpos, aquele que pode agir com mais eficácia sobre o ho- der a Para conceber a
oposição dos pólos, é precis
ar O homem como dividido em o consi-
mem é seu semelhante. É suficiente que um homem esteja ao dois por uma linha traçada
lado de um outro homem para agir sobre ele, provocando a in-
tenção de suas propriedades.
238. A posição respectiva dos dois seres que agem um so-
bre o outro não é indiferente. Para julgar qual deve ser esta po-
sição, é preciso considerar cada ser como um todo composto
de diversas partes, possuindo cada um uma forma ou um mo-
ta e assim por diante. Consid
vimento tônico particular. Concebe-se, por esse meio, que erando em seguida estas mes
mas
extremidades como um tod
dois seres têm um sobre o outro a maior influência possível o, ou considerando ainda em
uma delas pólos Opostos, cada
quando estão colocados de maneira que suas partes análogas na mão o dedo mínimo será
o ólo
oposto do polegar, o segund
ajam umas sobre as outras na oposição mais exata. Para que o dedo participará davirtud
polegar, e o quarto daquela e do
dois homens ajam o mais fortemente possível um sobre o ou- do dedo mínimo e aquele
semelhante ao centro do meio
tro, é preciso então que estejam colocados face a face. Nesta ou equador do fmã estará des
provido de
posição, eles provocam a intenção de suas propriedades de
uma maneira harmônica e podem ser considerados como for-
mando um todo. Num homem isolado, quando uma parte so-
fre, toda a ação da vida se dirige para ela para destruir a causa
do sofrimento. Do mesmo modo, quando dois homens agem
um sobre o outro, a ação inteira dessa reunião age sobre a par-
te doente com uma força proporcional ao aumento da massa.
foi empregado, , e se refor ça o
Pode-se então dizer em geral que a ação do magnetismo cresce pólo jáj estabelecid
Pólo oposto com a outra mão.
em razão das massas. É possível dirigir a ação do magnetismo ? focando o
mais particularmente sobre tal ou qual parte, sendo suficiente 240. A ação do magnetismo ani
propagada Para os corpos mal pod e ser reforçada e
para isso estabelecer uma continuidade mais exata entre as ani mados e ina
nimados. Como esta
partes que se deve tocar, e o indivíduo que toca. Nossos bra- ação aumenta em razão
das massas, mais se juntar
magnéticos uns às extremida ão corpos
ços podem ser considerados como condutores próprios a esta- des dos outros de modo
belecer uma continuidade. É suficiente portanto, do que aca- pólos não sejam contrários, que os
isto é, quando eles se tocam
bamos-de-dizer sobre a posi Pólos opostos mais se-reforça x “açã pelos
mais vantajosa
çãode dois seres o dó magnetismoOs . cor-
agindo um sobre o outro que, para conseguir a harmonia do Pos mais apropriados para
Propagar e reforçar o magnet
todo, deve-se tocar a parte direita com o braço esquerdo, e re- animal.são os corpos animad ismo
os, os vegetais vêm em segu
ciprocamente. Desta necessidade resulta a oposição dos pólos nos corpos privados de vida ida, e
, o ferro e o vidro são aqueles
agem com maior intensidade. at
MHC SS que
604 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II; AFORISMOS DO SENHOR MESMER 605

Observações sobre as doenças nervosas e sobre 250. A faculdade de sentir com impressão é, no homem, o
a
extensão dos sentidos e das propriedades do resultado de duas condições principais, uma externa e outra
corpo humano interna. À primeira é o grau de intensidade com a qual um ob-
, 24 1 - À irritabilidade exagerada dos nervos produ jeto exterior age sobre nossos órgãos e a segunda é o grau de
pela zida suscetibilidade com a qual o órgão recebe a ação de um objeto
aberração da harmonia no corpo humano é o que
se chama
mais particularmente doenças nervosas. exterior.
*
. 22. Existem tantas variedades destas doenças 251. Se a ação de um objeto exterior sobre um de nossos
quantas as órgãos for como dois, e que este órgão seja suscetível de trans-
comombinações que se podem supor entre tod o S Os
ú ros
núme mitir a idéia de uma ação apenas como três, então é claro que
243. 1º A irritabilidade geral pode ser aumentada eu não devia ter nenhum conhecimento dos objetos cuja ação
ou di- é como dois. Mas se por um meio qualquer eu chegasse a tor-
minuída por nuanças infinitas.
nar meu órgão suscetível de apreciar as ações como dois, ou
244. . 2º Diferentes órpãgãos podem estar partic
afeta
] ula , bem que eu fizesse com que os objetos agissem naturalmente
dos, antes de outros. º rrtents como três, é claro que, nesses dois casos, a ação destes objetos
245. 3º Pode-se conceber uma infinidade de relaç me tornaria igualmente sensível do desconhecido que ela era.
ões re-
sultantes de diversos graus em que cada um deste
pode estar afetado particularmente.
s órgãos 252. Até o presente a inteligência humana ainda não foi
ê capaz de levar mais longe o exterior de nossos sentidos senão
246. Um observador cuidadoso e atento encontrará aumentando a condição das sensações, isto é, aumentando a
nes-
ses fenômenos
um sem-número que produz as doenças nervo- interioridade da ação que estes objetos exercem sobre nós. Êo
sas, uma fonte de instruções; é nestas doenças que que se fez para a visão com a invenção de lunetas, microscó-
se pode fa-
pios e telescópios. Por este meio, nós temos penetrado a noite
que nos ocultava um universo inteiro dos infinitamente pe-
247. É ainda nestas doenças que podemos persua quenos e dos infinitamente grandes.
dir, pe-
los fatos, de o quanto somos dependentes da ação 253. Quanto a filosofia ganhou com essa engenhosa des-
de todos os
Seres que nos cercam e de como alguma mudança neste coberta? Quantos absurdos ela demhonstrou nos antigos siste-
s seres
ou nas suas relações entre eles nunca nos será indif mas sobre a natureza dos corpos? E que novas verdades fez ela
erente,
248. A extensão das propriedades e das faculdades
de perceber ao olho atento de um observador!
nossos órgãos, estando consideravelmente aumentadas 254. O que produziriam gênios como Descartes, Galileu,
nestes
tipos de doença, deve mesmo recuar o termo de Newton, Kepler e Buffon sem a extensão do órgão da visão?
nossos conhe-
cimentos, dando-nos a conhecer uma multidão de impre Pode ser que grandes coisas, mas a astronomia e a história na-
ssões
das quais não tínhamos nenhuma idéia. tural estariam ainda no ponto onde eles as encontraram.
249. Para bem conceber tudo que se vai dizer e poder 255. Se a extensão de um sentido pôde produzir uma re-
apreciar, é preciso recorrer ao mecanismo volução considerável nos conhecimentos, que campo mais
das sensações se-
gundo meus princípios. vasto ainda vai se abrir à nossa observação se, como penso,a
extensão das faculdades de cada sentido, de cada órgão pode
ser levada tão longe e mesmo mais do que as unetas levaram a

CPU E O ug
606 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II. AFORISMOS
DO SENHOR MESMER
607
extensão da visão, se esta extensão pode nos coloc
ar em con- levadas a um certo ponto
dições de apreciar uma multidão de impressões que de extensão, tornamo-nos
permane- então sus-
cem desconhecidas, de comparar estas impressões
, de combi-
ná-las, e daí chegar a um conhecimento íntimo e parti
cular dos
objetos que os produzem, da forma destes objeto
s, de suas 260. Quantidade de impres
propriedades, de suas relações entre si, e das partí sões das quais eles têm ent
culas mes- a consciência são absolutam
mo que os constituem. ente novas para eles. Em pri ão
lugar, são surpreendentes, mei
256. No uso comum nós julgamos pelo concurso aterrorizantes, mas em seg ro
pressões combinadas de todos os nossos sentidos.
das im- pelo hábito, familiarizam-se uida
Poder-se-ia com elas, e passam algumas vez
a delas se servir pela sua uti es
dizer que nós estamos em relação aos objetos pela exten lidade de momento, como
são de nós nos
um sentido que nos faz percebê-los como um indiv
íduo priva-
do de todos os sentidos exceto o da visão estari
a em contato
com tudo aquilo que nos cerca. Certamente se um
ser sutil as-
sim desprovido pudesse existir a esfera de seus
conhecimen-
tos seria muito restrita, e podemos pensar que
ele não teria a
mesma idéia que nós acerca dos objetos sensíveis.
os torna sensíveis a uma
257. Suponhamos que se dê sucessivamente à este multidão de impressões
ser im- desconhecidas. que nos são
becil cada um dos sentidos que ele não possui, que -
multidão 261 O que há de moportuno
de descobertas que ele faria no mesmo instante! para a comodidade de nos
Cada impres- instrução é que essas Pessoas sujeit sa
são que um mesmo objeto lhe produziria num outro as às crises perdem qua
órgão lhe se
forneceria uma nova idéia desse objeto. Seria bem
difícil fa-
zê-lo
compreender que estas idéias diversas partiam
do mes-
mo objeto. Seria necessário antes que ele os
combinasse, que
ele verificasse os resultados por numerosas exper
iências. Na
infância de suas faculdades, este homem levaria
talvez mais de
um mês antes de poder apreciar o que é uma garraf
a, um can-
delabro etc. para ter a mesma idéia que nós.
258. Todas as impressões leves que produzem lato tão exato quanto aquele
sobre nós a que poderíamos nós mesmos
ação dos corpos que nos cercam são, em relaçã fazer
o ao nosso esta- de todos os objetos que nos
do habitual, muito menos conhecidas de nós afetam atualmente.
como não seria a 262 Sei que o que estou
garrafa para o homem de que acabamos de falar. As adiantando deve parecer exa
proprieda- do, impossível mesmo, às gera-
des de nossos órgãos na harmonia necessária para const pessoas que as circunstanci
ituir o deram por a ponto de fazer est as não pu- -
hotêm me para
m cada um deles um certo grau de extensão asobservações, mas eu lhes rog
além do qual nós não sabemos apreciar. o
259. Mas, quando por uma perda das faculdades
em quais-
quer partes as propriedades de um outro órgão
se encontram
É

608 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO


APÊNDICE I]: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 609

263. Penso então que é possível, estudando as pessoas


nervosas, sujeitas às crises, torná-las por si mesmas cônscia
267. Uma delas percebia os poros da pele com uma gran-
s deza considerável: ela explicava a estrutura de acordo com
das sensações que elas provam. Digo mais: que é com cuidado
e com constância que se pode, exercendo nelas esta faculdade aquela que o microscópio nos fez conhecer. Mas ela ia mais
3
longe. Esta pele parecia-lhe uma peneira: ela distinguia através
de explicarem o que sentem, aperfeiçoar sua maneira de apre-
dela a textura dos músculos sobre as dobras carnosas e a jun-
Ciar estas novas sensações e, por assim dizer, proporcionar
educação por esse fato. É com pessoas assim treinadas que é
sua ção do osso nas dobras desprovidas de came. Ela explicava
tudo isso de uma maneira muito engenhosa, é algumas vezes
satisfatório trabalhar para se instruir de todos os fenômenos
se impacientava com a esterilidade e a insuficiência de nossas
que resultam da irritabilidade exagerada de nossos sentidos.
expressões para dar suas idéias. Um corpo opaco muito delga-
Ao fim de certo tempo, chega por outro lado que o observador
do não a impedia de distinguir os objetos: fazia apenas dimi-
atento torna-se suscetível de apreciar algumas das sensações
nuir sensivelmente a impressão que ela recebia, como um vi-
que estes indivíduos experimentam pela comparação muitas
dro faz para nós.
vezes repetidas de suas próprias impressões com aquelas
de. 268. Melhor do que eu ela via, mesmo tendo as pálpebras
sua pessoa em crise. O uso dessa propriedade, que está em
nós, pode ser considerada como uma arte verdadeiramente di- baixadas e mantidas assim neste estado. Para verificar a reali-
fícil, mas que é entretanto possível de se adquirir, como as ou- dade daquilo que elas me dizia, eu a fiz levar a mão sobre tal ou
tras, pelo estudo e a aplicação. qual objeto, sem que ela jamais se enganasse.
269. É essa mesma pessoa que na obscuridade percebia
264. Falarei com mais detalhe num outro tempo. Falemos
dos diversos fenômenos que constatei nas pessoas em crise. todos os pêlos do corpo humano, aclarados por um vapor lu-
minosos. Isto não era fogo, mas a impressão que isso dava a es-
Outro poderá verificá-los quando se encontrar em circunstân-
cias semelhantes àquelas em que me encontrava então.
ses órgãos dava uma idéia aproximada, que podia ser expressa
pela palavra luz. |
265. Nas doenças nervosas, quando num estado de crise,
270. Eu observava simplesmente que não é preciso consi-
a irritabilidade aparece em maior quantidade sobre a retina. O
derar tudo que ela dizia das variedades que observava, mas sim
olho torna-se suscetível de aperceber-se de objetos microscó-
como a impressão particular que estes pólos faziam sobre o ór-
picos. Tudo que a arte do óptico pôde imaginar não pode se
gão da visão e não como a idéia finita que se deve considerar.
aproximar do grau desta percepção. As trevas mais escuras
conservam ainda muita luz para que ele possa, recebendo uma 271. É neste estado que é infinitamente curioso verificar
quantidade suficiente de raios, distinguir as formas dos dife- todos os princípios que dei na minha teoria dos pólos do corpo.
rentes corpos, e determinar suas relações. Podem mesmo dis- 272. Se nada eu tivesse visto, e se o acaso me tivesse feito
tinguir objetos através dos corpos que nos parecem opacos, tentar esta experiência, esta senhora me a teria ensinado.
o
que prova que a opacidade nos corpos não é uma qualidade 273. De minha cabeça, ela percebia os olhos e o nariz. Os
particular, mas uma circtinstância relativa ao grau de irritabili- raios luminosos que partem dos olhos vão reunir-se ordinaria-
dade de nossos órgãos. mente àqueles do nariz para reforçá-los, e de lá tudo se dirige
266. Uma doente do qual tratei e vários outros que obser- para a ponta mais próxima que se lhe opõe. Entretanto, se eu
vei cuidadosamente forneceram-me numerosas experiências quiser considerar meus objetos de lado, sem voltar à cabeça,
neste assunto. então os dois raios dos olhos deixam o bordo de meu nariz
r para lançar-se na direção que eu comandar.
610 : PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENH
OR MESMER 611

274. Cada ponto dos cílios, dos supercílios e dos cabelos 279. Muitas vezes as Pessoas em
dão uma débil luz, o pescoço parece um pouco luminoso, o crise são atormentadas
por um ruído que as atordoa, que
peito um pouco aclarado. Se eu lhe apresento minhas mãos, o elas caracterizam tal qual é
realmente. Sem se aproximar muito
polegar aparece rapidamente marcado por uma luz viva; o mais do que elas das cau-
sas que produzem tal ruído, você
dedo mínimo, com uma metade menos; o segundo e o quarto poderia ter a consciência,
280. Tenho observado muito uma
aparecem aclarados por uma luz artificial, o dedo médio é obs- enças nervosas que não podia ouvi
pessoa afetada por do-
curo, a palma da mão é também luminosa. r o som de uma trombeta
sem catr em crises muito fort
es. Muitas vezes eu a vi quei
Xar-se de que ela a sentia e cair -
em convulsões sérias, dizendo
Passemos a outras observações. que ela se aproximava, e não era senã
o ao termo de um quarto
de hora que eu podia distingui-lo
275. Se a irritabilidade exagerada se leva a outros órgãos, .
eles tornam-se como a visão, suscetíveis de apreciar as impres- 28 Ô, Observar-se-á os mesmos fenôme
nos para o paladar. Em
sões mais leves, análogas à sua constituição, as quais lhe eram 20 iguarias que se fará com uma insi
pidez extrema, uma pessoa
totalmente desconhecidas antes. em crise, cuja irritabilidade estará
consideravelmente aumentada
na língua e no palato, perceberá uma
276. Eis o vasto campo de observações que nos é aberto, variedade de sabores.
mas muito difícil de ser explicado. Aqui a arte nos abandona, 282. Conheço uma pessoa vivaz
cujos nervos são muito ir-
ela não nos fornece nenhum meio de verificar pela compara- ritáveis e que, tendo unicamente
na língua esta irritação e con-
ção o que nos ensinam as pessoas em crise. servando sua lucidez, disse-me
várias vezes: “Comendo esta
Pequena cros ta de pão, do tamanho da cabeça
277. Temos apenas maus instrumentos para ampliar a au- de um alfinete
Parece-me que tenho um grande
dição; não temos nenhuma espécie para o olfato nem para o e saboroso pedaço. Mas o
que há de bem singular, não som
tato e ainda mais, não temos nenhum hábito para apreciar os re- ente sinto o sabor de um bom
pedaço de pão, como sinto separa
sultados provenientes da comparação de todos estes sentidos damente o gosto de todas as
Partículas que o compõem - a água
aperfeiçoados, resultados que devem ser variáveis ao infinito. , a farinha, tudo enfim me
produz uma multidão de sensações


278. Mas se a arte nos abandona, resta-nos a natureza: que não posso expressar e
que me dão idéias que se sucede
ela nos é suficiente. A criança que vem ao mundo com todos m com rapidez extrema, mas
que não são exprimíveis por pala
os seus órgãos ignora os recursos. Desenvolvendo sucessiva- vras,”
mente as faculdades, a natureza lhe mostra o uso. Esta edu- 283. O olfato pode ser ainda mais
suscetível que o paladar
à uma grande extensão de facu
cação se faz sem sistema: ela está submetida às circunstân- ldade. Eu vi sentir odores os
mais leves a distâncias muito grandes
cias. A instrução que eu proponho deve ser feita do mesmo e mesmo através de por-
tas de tabiques. Por outro lado
modo: renunciando a toda espécie de rotina, é preciso se , pessoas cujo odor é sensível
distinguem todos os diversos
abandonar à observação simples que as circunstâncias forne- odores primários que o perfu-
mista empregou para compor um perfume.
co, não distinguirão nada, mas pouco a pouco a luz se fará, e a 284. Mas, de todos os sentidos,
o que nos apresenta mais
esfera dos seus conhecimentos aumentará simultaneamente fenômenos para observar é aquele que mostra até o
menos conhecimentos: o tato. presente
à percepção dos objetos.
612 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 613

Procedimentos do magnetismo animal suas dependências. A causa de todas estas doenças ou aberra-
285. Foi visto pela doutrina que tudo se toca no universo, ções é um entupimento, uma obstrução, incômodo ou supres-
por meio de um fluido no qual todos os corpos estão mergu- são da circulação numa parte: comprimindo os vasos sangii-
ados. neos ou linfáticos, e sobretudo os ramos de nervos mais ou
286. Faz-se uma circulação contínua que estabelece a ne- menos consideráveis, eles ocasionam um espasmo ou uma
cessidade das correntes que penetram e que saem. * tensão nas partes que atingem, sobretudo naquelas em que as
287. Para estabelecê-las e as fortificar no homem, exis- fibras têm menos elasticidade natural, como no cérebro, pul-
tem vários meios. O mais seguro é o de se colocar em oposição mão etc. ou naquelas por onde circula um fluido com lentidão,
à pessoa que se vai tocar, isto é, face a face, de maneira que se como a sinóvia, destinada a facilitar o movimento das articula-
lhe apresenta o lado direito ao lado esquerdo do doente. Para ções. Se os ingurgitamentos comprimem um tronco de nervos
se pôr em harmonia com ele, é preciso primeiramente colocar ou um ramo considerável, o movimento e a sensibilidade das
as mãos sobre as espáduas, seguir todo o comprimento do bra- partes às quais ele corresponde são inteiramente suprimidos,
go até a extremidade dos dedos, prendendo o polegar do do- como na apoplexia, na paralisia etc.
ente por um momento. Recomeçar por duas ou três vezes, 290. Além dessa razão para tocar as vísceras, para desco-
após o que você estabilizará as correntes desde à cabeça até os brir a causa de uma doença, há ainda uma outra ainda mais de-
pés. Você deve procurar ainda a causa e o local da doença e da terminante: os nervos são os melhores condutores do magne-
dor. O doente lhe indicará o da dor e muitas vezes a causa, mas tismo que existem no corpo. Eles têm em si grande número
mais comumente é pelo toque e o arrazoado que você se asse- nas suas partes, que vários físicos aí colocaram a sede das sen-
gurará da sede e da causa da doença e da dor — que, na maior sações da alma. Os mais abundantes e os mais sensíveis são o
parte das doenças, reside no lado oposto ao da dor, sobretudo centro nervoso do diafragma, os plexos estomacal, umbilical
nas paralisias, reumatismos e outras dessa espécie. etc. Este feixe de uma infinidade de nervos se corresponde
288. Estando bem seguro dessa preliminar, você tocará com todas as partes do corpo.
constantemente a causa da doença e constatará as dores sinto- 291. Toca-se, na posição já indicada, com o polegar e o in-
máticas, até aquelas que você julgar críticas. Para tanto, você dicador ou com a palma da mão, ou com um dedo apenas re-
secundará o esforço da natureza contra a causa da doença, e le- forçado por outro, descrevendo uma linha sobre a parte que se
vará a uma crise salutar, único meio de curar radicalmente. visa tocar, e em seguida, o quanto possível, a direção dos ner-
Você acalmou as dores que se chamam sintomas sintomáticos e vos, ou enfim com os cinco dedos abertos e recurvados. O to-
que cedem ao toque sem que isso agisse sobre à causa da doen- que a uma pequena distância da parte é mais forte, porque
ça, O que distingue este tipo de dor daquelas que nós chamamos existe uma corrente entre a mão ou o condutor e o doente.
simplesmente de sintomáricas e que se irritam em primeiro lu- 292. Toca-se diretamente com vantagem, servindo-se de
gar pelo toque para terminarem numa crise, após a qual o doen- um condutor estranho. Serve-se mais comumente de uma pe-
te se encontra aliviado e a éause da doença, diminuída. quena vara, com comprimento de 10 a 15 polegadas, de forma
289. A sede de quase todas as doenças está comumente cônica e terminada por uma ponte truncada. A base é de três,
nas vísceras do baixo ventre; o estômago, o baço, o fígado, o cinco ou seis linhas, e a ponta, de uma a duas. Depois do vidro,
epíploon, o mesentério, os rins etc. Nas mulheres, na matriz e que é o melhor condutor, emprega-se o ferro, o aço, o ouro, a
r
prata, etc., dando preferência aos corpos mais densos, porque
614 PAULO FIENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENH
OR MESMER 615
as fileiras estão mais estreitadas e mais mult
iplicadas, dando
uma ação prop orcionad
a à menor largura dos interstícios. Se 296. Uma tina é uma espécie de cuba
vareta for imantada, ela tem mais a ou oval, com um diâmetro proporci
redo nda, quadrada
ação, mas é preciso observar onal ao número de doentes
que existem circunstâncias, como na inflamaç que vão se tratar. Aduelas espessas
ão dos olhos, o , reunidas, pintadas e uni-
maior eretismo etc. em que ela pode das de modo a conter água, profundas
prejudicar. É então pru- em torno de um pé, a
dente dispor de duas. Uma magnética parte superior mais larga do que o fund
com um bastão ou ou- o, de uma a duas pole-
tro condutor, atento que este gadas, recobertas
seja como um corpo estranho,
o com uma tampa em duas peças,
pólo é mudado, e que é Preciso tocar diferent junto é encaixado na cuba, e o bord cujo con-
da direita à direita e da esquerda à esquerda emente, isto é, sobre aquele da cuba à qual é suje
o apoiado imediatamente
, itado por grandes pregos. No
293. É bom também opor um pólo ao interior, são arranjadas garrafas
outro, ou seja, que em raios convergentes da cir-
se toque a cabeça, o peito, o ventre, etc., com cunferência ao centro, são colocada
preciso opor a esquerda na parte posterior,
a
mão direita, é s outras camadas em toda
sobretudo na linha a volta, o fundo apoiado contra
a cuba, uma só de altura, dei-
que divide o corpo em duas partes, ou xando entr e elas o espa
seja, ço necessário para receber o gargalo
fronte até o púbis, Porque o corpo represen desde o meio da uma outra. Feita esta primeira disp de
ta um ímã: se você osição, colocar no meio do
estabelecer o norte à direita, a esquerda vaso uma garrafa reta ou deitada, donde partem todo
torna-se o sul e o s os raios
meio, o equador, que é sem ação predominante. Você que serão formados primeiramente
belecerá os pólos, opondo uma mão à aí esta- com as meia garrafas, de-
outra, bois com as grandes, quando a dive
rgência permitir. O fundo
294. Reforça-se a ação do magnetismo mult da primeira está ao centro, seu pescoço
correntes sobre o doente. Existem vária
ipli cando as entre o fundo da se-
s vantagens em tocar guinte, de modo que o gargalo da
última termina na circunfe-
face a face do que de toda outra mane rência. Esta
s garrafas devem ser Cheias de água
ira, porque as correntes , tampadas e
emanadas de suas vísceras e de toda a magnetizadas do mesmo modo. É
extensão do corpo esta- de se desejar que isto seja
belecem uma circulação com o doente. pela mesma pessoa. Para dar mais
A mesma razão prova a atividade à tina, colocar
utilidade das árvores, das cordas, dos ferro uma segunda e uma terceira cam
s e das cadeias etc. ada de garrafas sobre a pri-
295. Uma bacia de magnetita do mes - Meira, mas comumente se faz
mo modo que um uma segunda que, partindo do
banho, mergulhando o bastão ou outro
condutor na água, para
centro, recobre o terço, a metade ou os três
aí estabelecer uma corrente, agitando em linha meiro. Em seguida, abastece-se quartos do pri-
reta, a pessoa a cuba com água a uma certa
altura, mas sempre o necessário para
que será mergulhada
sentirá o efeito. Se a bacia for grande, se- cobrir todas as garrafas.
rão estabelecidos quatro pontos, Pode-se juntar limalha de ferro, vidr
que serão os quatro pontos o pilado e outros corpos
cardeais, será
traçada uma linha na água, seguindo semelhantes, sobre os quais tenho
a borda da diferentes conceitos.
bacia do leste ao norte, e do oeste ao mes 297. Também são usadas tinas sem
mo ponto. Será feita água, preenchendo o
a mesma coisa para o sul. Várias pessoas poderão intervalo das garrafas com vidro, lima
ser colocadas lha, areia. Antes de colo-
em torno dessa bacia e tirar proveito dos car a água ou os outros corpos,
efeitos magnéticos. imprim e-se sobre a tampa as
Se são em grande número, serão traçados vári e Barcas onde devem ser feitos os
do a cada uma delas, após haver agitado
os ralos amngii. Grificios destinadosa receber
a massa de água tanto os ferros que devem ficar entre o fun
quanto possível. do das primeiras garrafas,
à quatro ou cinco polegadas da
parede da tina, Os ferros são
espécies de triângulos, feitos com
ferro amaciado, que entram
em linha reta quase até o fundo da tina
e são dobrados à sua
616 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIRE
DO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 617
saída, de modo que Possam ter
minar numa ponta obtusa na
parte que se lhes vai tocar, com rafa, no pescoço da qual ele é selado e excede um potco a co-
o a fronte, a orelha, o olho, o
estômago etc. bertura da caixa que ele atravessa. O intervalo entre garrafas é
— preenchido tom vidro pilado ou seco ou úmudo. Uma corda
278. Do interior ou do exterior
da cuba sai, ligada a um enrolada em torno do gargalo de cada garrafa as faz comunica-
ferro, uma corda muito ampla,
que os doentes aplicam sobre q
parte que eles sofrem. Eles for rem-se em conjunto e sai da caixa por um buraco feito na sua
mam cadeias pegando esta cor-
da, e apóiam o polegar esquerdo parede. À tampa é colocada e fixada por um parafuso. Esta
sobre o direito, ou o direito
sobre o esquerdo do seu vizinho, de maneira que o inte caixa é colocada sobre o leito, e as cordas que saem da direita e
um polegar toca o outro. Aproxi rior de da esquerda são arrumadas sobre o leito ou entre os lençóis ou
mam-se o mais que podem
para se tocar pelas coxas, os joelhos, sobre as cobertas, ao lado do doente.
os pés, e formam por as-
sim dizer, um corpo contíguo, 300. As caixas que devem servir durante o dia com as gar-
no qual o fluido magnético cir-
cula continuamente, e é reforçado rafas cheias com água ou vidro, são preparadas e dispostas
por todos os diferentes
pontos de contato, aos quais se junta ainda a posição dos como nas grandes tinas: aí se pode colocar uma corda e ferros
tes, que estão face a face, uns doen- e fazer uma tina para a família.
diante dos outros. Tem-se tam-
bém os ferros bastante longos 301. Quanto mais densa for a matéria que preenche essas
para abranger aqueles da segun-
da fila pelo interval
o daqueles da primeira. garrafas, mais ela é ativa. Se fosse possível enchê-las com mêr-
o 299. Foram feitas pequenas cúrio, elas teriam muito mais ação.
tinas part
iculares, chamadas
caixinhas mágicas ou magnéticas, 302, Existem vários meios de aumentar o número e a ati-
para uso dos doentes que
não podem dirigir-se ao tratam vidade das correntes. Se você deseja tocar um doente com for-
ento, ou por que, pela natureza
de suas doenças, necessitam de ça, reúna no seu apartamento o maior número de pessoas pos-
um tratamento contínuo. Tais
tinas são mais ou menos compos sível. Estabeleça uma cadeia que parte do doente e atingé o
tas. As mais simples contêm
apenas uma garrafa tampada magnetizador, uma pessoa encostada a ele ou com a mão sobre
e cheia de água ou de vidro pila
do, colocada numa caixinha da - sua espádua aumenta sua ação. Existe uma infinidade de ou-
qual parte uma vara ou uma
corda. Uma simples garrafa isol tros meios impossíveis de serem detalhados, como a música, a
ada, e que se aplica sobre a
parte, vai ainda melhor, Podem visão, os vidros etc.
ser colocadas várias sobre um
leito, retas, contendo ferro e 303. À corrente magnética conserva seu efeito ainda al-
vedadas no gargalo, que produ-
zem um efeito muito sensível. gum tempo após ter saído do corpo, aproximadamente como
As caixinhas mais comuns são
cofrinhos com forma cubóide, o som de uma flauta que diminui com o afastamento. O mag-
com altura e comprimento em
proporção ao que devem conter. netismo a uma certa distância produz mais efeito do que
À altura não deve exceder or-
dinariamente aquela das caixinha quando está aplicado imediatamente.
s, que é de dez a doze polega-
das. Coloca-se quatro ou um núm
ero maior de garrafas à von- 304. Após o homem e os animais, os vegetais e sobretudo
as árvores são os mais suscetíveis ao magnetismo animal. Para
magnetizar uma árvore sob a qual você deseja estabelecer um
meias garrafas, cheias, metade
delas com água e a outra, com tratamento, escolha uma jovem, vigorosa, ramada, sem nós
vidio. As cheias de água são tampad
as, aquelas com vidro são tanto quanto possível e com fibras retas. Embora toda espécie
armadas com um pequeno con
dutor de ferro partindo da gar- de arbusto possa servir, os mais densos como o carvalho, o
olmo e a carpa são preferíveis. Feita sua escolha, postando-se a
618 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE Il: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 619

uma certa distância no lado sul, estabelecer-se-ão um lado di- Acredita-se que pode chegar até vários meses. O mais seguro é
reito e um esquerdo, que formam os dois pólos, e a linha de renovar de tempo em tempo.
demarcação do meio, o equador. Com o dedo, o ferro ou o 305. Para magnetizar uma garrafa, pegue-a pelas duas ex-
bastão, siga então as folhas, as ramificações e os ramos. Após tremidades, friccione-as com os dedos, levando o movimento
ter determinado várias destas linhas num ramo principal, con- ao bordo. Afaste a mão sucessivamente destas duas extremida-
duza as correntes ao ramo principal, conduza as correntes do des, por assim dizer comprimindo o fluido: tome de um copo
tronco até as raízes. Recomece até que esteja magnetizado ou de um vaso qualquer do mesmo modo, assim e magnetizará
todo um lado. Em seguida, magnetize o outro da mesma ma- o fluido que ele contém, cuidando de o apresentar àquele que o
neira e com a mesma mão, porque os raios saem do condutor deve beber. Segurando-o entre o polegar e o dedo mínimo, e fa-
em divergência, convergindo-se a uma certa distância, não zendo o doente beber nessa direção, ele experimentará um gos-
sendo sujeitos a repulsão. O norte se magnetiza pelos mesmos to que não existiria se bebesse no sentido oposto.
procedimentos. Esta operação feita, aproxime-se da árvore e 306. Uma flor, um corpo qualquer, é magnetizado pelo
após ter magnetizado as raízes, se as há visíveis, abrace-a e toque, feito com princípios e intenção.
apresente-lhe todos os pólos sucessivamente. À árvore possui-
307. Esfregando as duas extremidades de uma banheira
rá então todas as virtudes do magnetismo. As pessoas sadias,
com os dedos, a vareta ou o tubo, descendo-os até a água na
ficando algum tempo ao seu lado ou a tocando, poderão sentir qual se descreve uma linha, na mesma direção e repetindo vá-
o efeito, e os doentes, sobretudo os já magnetizados, sentirão rias vezes, magnetiza-se um banho. Pode-se ainda agitar a água
violentamente e sofrerão crises. Para estabelecer um trata- em diferentes sentidos, insistindo sempre sobre a linha deseri-
mento, amarre cordas a uma certa altura, ao tronco e aos prin- ta, em que a grande corrente reúne as pequenas que se avizi-
cipais ramos, mais ou menos numerosas e mais ou menos lon- nham e é reforçada. Se o doente, estando no banho, sente a
gas em proporção às pessoas que devem se beneficiar e que, água muito fria, mergulha-se uma haste, dirige-se uma corren-
com a face voltada para a árvore e colocados circularmente, te pela agitação. Esta adição faz com que o doente experimen-
seja sobre cadeiras, seja sobre a palha, irão coloca-las em volta te uma sensação de calor que ele atribui àquele da água. Nos
das partes sofredoras como na tina, e farão cadeias o mais fre- lugares onde existe uma tina ou árvores, coloca-se uma corda
quentemente possível, e aí terão as crises como na tina, mas que supre a todas as outras preparações. Se não se pode mag-
bem mais suaves. O efeito curativo é bem mais rápido e mais netizar por si mesmo, penso que várias garrafas cheias de água
ativo em proporção ao número dos doentes que aumentam a magnética, e colocadas no banho seguindo a direção do corpo,
energia, multiplicando as correntes, as forças e os contatos. O poderão produzir o mesmo efeito. Um pouco de sal marinho
vento, agitando os ramos da árvore, junta sua ação. É o mesmo juntado ao banho aumenta a tonicidade.
que um riacho ou uma cascata se tiver a felicidade de encon- 308. No centro da tina, poder-se-á colocar um vaso de vi-
trá-los no local que se terá escolhido. Se várias árvores se avizi- dro cilíndrico, ou com outra forma, que possuirá uma abertura
nham, elas serão magnetizadas e se as fará comunicar por cor- embaixo, próprio a receber um condutor que virá ou de fora do
apartamento ou do seu interior. Um triângulo de ferro, compri-
um odor que não podem definir, e que lhes é muito desagra- do proporcionalmente, da altura do soalho, cuja extremidade
dável, e que conservam por algum tempo após terem se retira- inferior terminaria em forma de funil ou com a extremidade ar-
do, e que voltam a sentir em aí voltando. Não se pode assegu- redondada, sairia por um buraco feito na abertura da tina,
rar por quanto tempo uma árvore conserva o magnetismo. onde seria selado àquele do vaso de vidro, cujo contorno seria
620 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
APÊNDICE FI: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 621

provido de vários buracos laterais


que se comunicariam com
Os raios das garrafas. O condutor poderia ser de das vezes em relação ao ácido, prefere-se ordinariamente o re-
vidro. gime ácido. A salada, a groselha, a cereja, a limonada, os xaro-
Noções gerais sobre o tratament pesdácidos,o uxicrato deve eto
o magnético (1) - É essencial que ele seja calcinado para obter os efei-
309. Existe apenas uma doença
harmonia de todos nossos órgãos e e um só remédio. A perfeita tos que se deseja, sabendo que o ar que ele contém, quando
de suas funções constitui a sa- não se teve a precaução de assim prepará-lo, ocasiona repleção
úde. A doença nada mais é do que
a aberração dessa harmonia. À do estômago, que provém do ar que se desprende, pela combi-
cura consiste , portanto, em restabelecer a
O remédio geral é a aplicação do harmonia perturbada nação que sofre no estômago com os líquidos ácidos que aí se
magnetismo pelos meios desig- encontram.
nados, O movimento é aument
ado ou diminuído no corpo: é
dão necessário temperá-lo ou exer e. (2) — Esta substância age infinitamente melhor, de modo
citá-lo. É nos sólidos que se faz que me propus a usá-la quando ela é preparada para ser toma-
os alto do magnetismo. A ação
das vísceras sendo o meio de que
- Ive à natureza para preparar, da em dissolução, na dose de uma onça em quatro onças de
triturar, assimilar os humores
são as funções destes órgãos que água. Obtém-se então uma limonada “tartarada”, cujo gosto é
é preciso retificar, Sem proscre-
ver int eir
amente os remédios, seja inte agradável, e que não repugna tanto quando é em pó, e que faz
rnos, seja externos, é Te- com que seja necessário mastigá-la, sobretudo quando se de-
ciso empregá-los com muito
cuidado, porque ele são contrári
ou inúteis Contrários no sentido de que os seja tomar uma dose mais forte para ser purgada.
derides, e dies aumentam a irritaçã a maior parte tem muita
o, O espasmo e outros efeitos 312. A diminuição do movimento e das forças sendo a
trários harmonia que é preciso rest causa da maior parte das doenças, não somente não se ordena

NAN io
abelecer e manter, tais
quais Os purgativos violentos, o ernprego de dieta, mas se faz com que os doentes ate-
os diuréticos quentes, os a eriti
Vos, Os vesicatórios e todos os . nham-se à alimentação. Após o regime de que se virá a falar, os
epispáticos. Inúteis porque os
médios recebidos pelo estômago r alimentos que os doentes desejam são aqueles permitidos. É
e as primeiras vias sofrem 4
mesma elaboração que os alim raro que a natureza os perturbe.
entos, cujas partes análogas aos
nossos humores são assimilados 313. O vinho forte, os licores, o café, os alimentos muito
pela quilificação, e os heteró
nos são expulsos pelas excreções. quentes por si mesmos ou por seus ingredientes são proibidos,
310. O fluido magnético não age se
sobre os corpos estranhos assim como o tabaco cuja impressão irritante é propagada para
nem sobr
e aqueles que estão fora do sistem a membrana pituitária na garganta, peito, cabeça, e ocasiona
9 estômago contém saburra, pod a vascular, Quando
rid ão, superabundância ou está crepitações contrárias à harmonia. A bebida comum será o
viciado, recorre-se ao emétic bom vinho diluído em muita água, água pura ou acidulada, As
o ou aos purgativos.
31 1. Se o ácido domina, dá-se lavagens e os banhos são muitas vezes úteis se são usados co-
os absorventes, tais como o
magnésio. (1) Se é o álcali, prefer piosamente na inflamação ou disposição inflamatória ou na
e-se os ácidos, como o creme
de tártaro. (2) Se os deseja admini pletora verdadeira ou falsa.
strar como purgativos, é ne-
314. Não é o caso de se dar uma história geral das doenças
e de seus tratamentos: citar-se-á somente aquelas que se apre-
sentam mais comumente para serem tratadas pelo magnetis-
mo, e o modo de aplicá-lo, após observações feitas, sobretudo
o tratamento do senhor marquês de Tiffard, em Beaubourg.
622 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO APÊNDICE IJ: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 623

315. Na epilepsia, toca-se a cabeça, seja na parte mais 319. Toca-se diretamente a tina, borrifando noite e dia
alta, seja sobre a raiz do nariz com uma mão, e a nuca com a com água magnética, a corda à cabeça.
outra. Procura-se nas vísceras a causa primeira, onde se encon- 320. Os tumores de toda espécie, os ingurgitamentos lin-
tra ordinariamente. Pelo toque duplo, reduz-se as obstruções fáticos e sangúíneos, as chagas, mesmo as úlceras provam ex-
nestas vísceras e o entupimento que se encontra no cérebro celentes efeitos. As loções com água magnética, os banhos lo-
dos epilépticos, do qual se faz a abertura, e se põe em ação cais com água fria ou tépida, o tratamento ordinário, têm um
quase todo o sistema nervoso. À catalepsia é tratada do mes- efeito surpreendente. Os doentes que sofrem dores vivas nas
mo modo. partes ulceradas ou feridas as vêem acalmadas subitamente
316. Na apoplexia, a pessoa que toca age sobre os princi- quando se as envolve com a corda.
pais órgãos, como o tórax, o estômago, sobretudo o local que 321. Por estes pequenos detalhes, fica evidente que o
se chama escavado, abaixo da cartilagem xifóide, local onde se magnetismo é útil nas doenças cutâneas e internas.
encontra o centro nervoso do diafragma, que reúne uma infi- 322. As dores de cabeça se tocam sobre a fronte, o cimo
nidade de nervos. Toca-se também por oposição a espinha da cabeça, os parietais, os seios frontais, e os supercílios, sobre
dorsal seguindo o grande intercostal situado a uma polegada o estômago e as outras vísceras que podem ocultar a causa.
ou duas da espinha, depois o colo, até abaixo do tronco. É pre- 323. As dores de dentes, sobre as articulações, dos maxi-
ciso insistir até que se obtenha uma crise, e reunir todos os lares e os buracos mentonianos.
meios para aumentar a intensidade do magnetismo, seja pelo
324. À lepra se trata como a tinha, pondo a corda nos lo-
ferro, seja pela cadeia que você forma com a maior quantidade
de pessoas que pode reunir. O doente submetido às impres-
cais afetados.
sões ordinárias, e obtida a crise, o estado das primeiras vias e a 325. Na dificuldade de falar, ou a negação total ocasiona-
causa da doença, ser-lhe-á indicado o que convirá fazer, e se os da sobretudo pela paralisia, magnetiza-se a boca com o ferro é
laxantes deverão ser empregados. o exterior dos motores deste órgão pelo toque.
317. Nas doenças dos ouvidos, o doente coloca a corda 326. Emprega-se o mesmo nos males da garganta, prínci-
em torno da cabeça, um ferro da tina na orelha, com o bastão palmente nos linfáticos. Magnetiza-se também a membrana
na boca, para a surdez como para os paralíticos em que a pala- pituitária, do mesmo modo que para o entupimento do nariz,
vra é impedida e para os mudos, e o contato se faz colocando a e as afecções das partes que se estendem para o tórax.
extremidade dos polegares na orelha, afastando os demais de- 327. Na enxaqueca, toca-se o estômago e o temporal,
dos, e os apresentando à corrente do fluido magnético, ou jun- onde se faz sentir a dor.
tando a uma certa distância as correntes, e as restabelecendo 328. A asma, a opressão e as outras afecções do peito se
com a palma da mão contra a cabeça, na qual se deixa a mão tocam sobre a própria parte, passando lentamente uma mão
aplicada durante algum tempo. na parte anterior do tórax, e a outra ao longo da espinha, dei-
Om xando- O to temno sobre narte nara ada ando

a ponta dos dedos, que se apresenta sobre a parte, e que se passa com lentidão até o estômago, onde é preciso insistir também,
sobre o globo e as pálpebras, e o bastão, sobretudo na catarata. É sobretudo na asma úmida.
preciso tocar muito levemente nos casos de inflamação. 329. A incubo se trata da mesma maneira, recomendando
não dormir sobre o dorso até a cura.
624 PAULO HENRIQUE DE FIG UEIREDO
APÊNDICE II: AFORISMOS DO SENHOR MESMER 625

330. As dores, os ingurgitamentos, as obstruções


do estô- obstáculos que perturbam a circulação e os expulsa pela trans-
mago, do fígado, do baço e de outras vísce
ras se tocam local- piração insensível.
mente, exigindo mais-ou-smenos-constáreia
Cternipo à Propor
ção do volume, da Antiguidade e da duração 337. Quando a natureza é insuficiente para o estabeleci-
dos tumores.
331. Nas cólicas, no vômito, na irritação e nas mento das crises, se a ajuda pelo magnetismo, que, sendo pos-
dores intes- to em ação pelos meios indicados, opera conjuntamente com
tinais e de todas as partes do baixo ventre toca-
se c mal tom ela a revolução desejada. Ela é salutar quando, após a ter expe-
muita delicadeza se existe inflamação, ou dispo
sição inflama- rimentado, o doente percebe um bem e um alívio sensíveis, e
tória, circunstâncias nas quais é necessário evita
r as fricções e principalmente quando é seguida de evacuações avantajadas.
o toque em todos os sentidos.
332. Nas doenças da matriz, toca-se não somente 338. A tina, o ferro, a corda e a cadeia dão crises. Se elas
avísce- forem julgadas muito fracas para agirem vitoriosamente sobre
ra, mas também suas dependências, os ovários
e ligamentos a doença, aumenta-se-as tocando a sede da dor e da causa.
largos que estão situados na parte lateral e poste
rior, e os re- Quando se a julga ter atingido seu estado, o que é anunciado
dondos na virilha. Após observações, a palma
da mão aplicada pela calma, deixa-se-a terminar por si ou, quando se a crê sufi-
na vulva adianta o fluxo menstrual e remedeia
as perdas. Isso ciente, retira-se o doente do estado de sono e do estupor no
deve ser também útil no relaxamento e nas queda
s da matriz e qual está lançado.
da vagina.
339. É raro que uma crise natural não seja salutar.
340. Tanto umas como as outras lançam muitas vezes o
Das crises doente num estado de catalepsia que não deve atemorizar e
333. Uma doença não pode ser curada sem crise: que termina com a crise.
à crise é
um esforço da natureza contra à doença, tend 341. Num estado de eretismo, de irritabilidade e de muito
endo — por um
aumento do movimento, do tom e da intenção, grande suscetibilidade, é perigoso provocar e manter crises
da ação do
fluid
o magnético — a dissipar os obstáculos que se enco muito fortes, porque se aumenta a dificuldade que estas dispo-
na circulação para dissolver e evacuar as moléculas ntram
que os for- sições anunciam na economia animal, dado a intenção onde é
mam e a restabelecer a harmonia e o equilíbrio em preciso chegar da remissão, cresce a tendência à inflamação,
todas as
partes do corpo. suspende, suprime as evacuações que devem operar a cura, e se
334, As crises são mais ou menos evidentes, opõe diametralmente às intenções e aos esforços da natureza.
mais ou me-
nos salutares, naturais ou ocasionadas. 342. Quando se excitam crises violentas num indivíduo
335. As crises naturais devem ser imputadas apena que é disposto, aparece nos órgãos um estado de elasticidade
s à na-
tureza, que age eficazmente sobre a causa da doen forçada que diminui na fibra a faculdade de reagir sobre si
ça e dela se
desembaraça por diferentes excreções, como nas mesma, sobre os humores que ela contém, donde se segue
febres, ou a
natureza triunfa apenas sobre aquilo que lhe era nociv uma forte inércia que mantém um estado contra a natureza
o, e ex-
pulsa pelo vômito espontâneo, os suores, as urina que o ocasiona. Este estado habitual se opõe a todos os esfor-
s, o fluxo he-
morroidal etc. e ços da natureza contra a causa da doença, aumenta a aberração
336. Os meios evidentes são aqueles pelos quais e forma nos órgãos a prega, comparada tão engenhosamente à
a nature-
za age surdamente, sem violência, superando de um tecido, que se desfaz tão dificilmente.
lentamente os
626 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

343. Vê-se de um lado a vantagem e a necessidade das cri-


ses e, de outro, o abuso que delas se pode fazer. |
344, Um médico conhecedor da doutrina do magnetismo
animal, e fiel observador dos efeitos das crises, tirará tudo de
bom que elas apresentam e se garantirá do mal do seu abuso.

Aprovação
Li por ordem do monsenhor guarda dos selos um manus- APÊNDICE III
crito tendo por título Aforismos do senhor Mesmer. Eu o creio
interessante para ser impresso nas circunstâncias presentes.
Em Paris, a 10 de dezembro de 1784, de Machy. UMA FALSA PUBLICAÇÃO

Tivemos acesso a uma obra que não corr


esponde à clareza e
coerência de Mesmer, constando, porém,
o seu nome como au-
tor, segundo algumas fontes. Após uma pesq
uisa nos registros
oficiais da França constatamos que ela é apócr
ifa. Trata-se de:
Correspondance de M. M. [Mesmer], sur les
nouvelles dé-
couverte s du baquet octogone, de Vhomme-baque
t et du baquet
«moral, pouvant servir de suite aux “Aph
orismes” ou Corres-
pondências de M. SR. Mesmer sobre suas
novas descobertas: 0
baquet octogonal, o baquet humano e
do baquet moral, para
servir de complemento aos seus “Provérb
ios”.
Com exemplares existentes na Biblioteca Nacional da
França e na Biblioteca do Conservatório
Nacional de Artes e
Ofícios.
Segundo a obra Bibliographie francophone des
articles relatifs à I'electricité et au magn
ouvr ages et
étisme publiés avant
1820, publicada pela Biblioteca do Consen
atório Nacional
Artes e Ofícios (Conservatoire National des
Arts et
CNA M) — 292, rue Saint Martin 75141 Paris
cedex 03 - 01 40
27 2000 -www.cnam.fr, o livro, registrado
com o número 327:

627
628 PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

Correspondance de M, M. [Mesmer], sur les


nouvelles dé-
couvertes du baquet octogone, de Phomme-b
aquet et du baquet
moral, pouvant servir de sui
“Aphari da te
apocryphe, édité par le comte Alphonse
de Marseille, Pier-
re-Marie-Louis de Boisgelin de Kerdu et François
de Journiac
de Saint-Médar]. Libourne, Paris, chez les Marc
hands"de nou-
veautés, 1785.
Segundo o Conservatório Nacional da Franç
a, essa obra é
apócrifa, não constando, portanto, das obras
escritas por Mes-
mer. Entre as muitas formas empregadas para
difamá-lo, a pu-
blicação de falsas obras é a mais repugnante.
lógica é uma atitude ainda mais covarde que
À falsidade ideo- BIBLIOGRAFIA
a difamação sob a
sombra do anonimato.

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Freud. R.
t
s—
MAO
MAURICE LACHÃTRE
(1814-1900)

OT
Em seu nome, a editora Lachâãtre homenageia
uma das figuras mais luminosas e corajosas da França,
no século XIX. Nascido em Issoudun, no departamento

Tm
de Indre, em 1814, Maurice Lachâtre mudou-se ainda
Jovem para Paris, atraído pela horbulhante vida intelectu-
al da capital francesa. Editor e escritor, foi em ambas as ati-
vidades o contestador por excelência, em choque permanente

OS
com oregime político e a religião católica dominante. Em 1857, foi condena-
do a um ano de prisão e a uma multa de seis mil francos, por ter editado o ro-


mance Os mistérios do povo, de Eugén Sue, que difundia os ideais socialistas. No
ano seguinte, sofreu nova condenação pelo regime de Napoleão III (que Vic-
tor Hugo chamou de Napoleão, o pequeno), pela publicação do Dicionário
universal ilustrado. A pena era duríssima: seis anos de prisão. Para escapar, La-
châtre refugiou-se na Espanha, estabelecendo-se como livreiro em Barcelo-
na. Homem inquieto, atento às novidades, acompanhava de perto o grande
movimento de renovação espiritual que surgia em seu país. Em 1861, escre-
veua Allan Kardec, solicitando-lhe a remessa de livros espíritas, que desejava
comercializar em sua livraria. Kardec enviou dois caixotes, contendo trezen-
tos livros. À remessa atendia a todos os requisitos legais da alfândega espa-
nhola, mas a sua liberação foi sustada, sob a alegação de ser indispensável a
aprovação do bispo de Barcelona, Antonio Palau y Termens. Lidas as obras, o
padre concluiú que se tratavam de livros perniciosos, que deviam ser lança-
dos ao fogo, “por serem imorais e contrários à fé católica”. A execução ocor-
reu no dia 9 de outubro de 1861, ficando conhecida entre os espíritas como o
Auto-de-fé de Barcelona.
A partir daí, os padres passaram a vigiar de perto as publicações de La-
châtre. O dedo da igreja encontra-se por trás da sentença da justiça, de 27
de janeiro de 1869, que condenava à destruição a História dos papas, que La-
chátre publicara em 1842-43, em dez volumes. Não foi o suficiente para
abatê-lo.
Em 1870, quando ocorre a Comuna, Lachãtre retorna a Paris, num
lance de ousadia, e passa a colaborar no jornal Vengeur, de Félix Pyar. A vitó-
ria do governo e a violentíssima repressão levaram-no de volta à Espanha,
onde manteve a sua intensa atividade intelectual. Em 1874, publicou dois li-
vros, a História do consulado e do império e a História da restauração. Seis anos
depois, saía a História da inquisição. Com a anistia, retornou à França, fun-
dou uma nova editora, em Paris, e entregou-se de corpo e alma à sua grande
obra, o Novo dicionário universal, considerada por seus contemporâneos a
maior enciclopédia de conhecimentos humanos até então publicada. Inclu-
fa, inclusive, todos os termos específicos do vocabulário espírita.
Maurice Lachátre morreu em Paris, em 1900.

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