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 –  Sociedade  Brasileira  de  Estudos  Interdisciplinares  da  Comunicação  


  XXXVIII  Congresso  Brasileiro  de  Ciências  da  Comunicação  –  Rio  de  Janeiro,  RJ  –  4  a  7/9/2015  
 
As Mulheres Seriadas: Uma Breve Análise Sobre as Protagonistas Femininas nas
Séries Brasileiras de Comédia 1

Fernanda FRIEDRICH2
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC

RESUMO

O presente artigo traz um levantamento que mostra a presença quantitativa e


qualitativa da mulher no audiovisual brasileiro seriado. A pesquisa foca na
investigação das ficções seriadas nacionais desde 2005, mirando nas protagonistas das
séries brasileiras de comédia. Com o objetivo de revelar quem são as personagens, o
estudo vai de encontro com pesquisas maiores feitas por universidades e institutos
estadunidenses sobre a presença de personagens mulheres no cinema e na televisão. O
artigo revela a discrepância na representação de personagens mulheres em
comparação com os homens, expondo um campo com grande potencial de estudo.

PALAVRAS-CHAVE: ficção seriada brasileira; mulheres; protagonistas; comédia;


televisão paga.

TEXTO DO TRABALHO

INTRODUÇÃO
Se hoje temos uma população dividida quase igualmente entre mulheres e homens, a
representação de ambos os gêneros toma uma proporção bem diferente quando é
refletida nas telas e telonas. Frequentemente estudos divulgam que as personagens
mulheres no cinema e na televisão são mais raras do que as personagens do sexo
masculino. Na San Diego State University há um centro específico de pesquisa sobre
a presença de mulheres nos filmes e na televisão, o Center of Study of Women in
Television and Film. Lá pesquisas sobre a divisão entre personagens nas telas foram
realizadas nos últimos 18 anos e o último estudo divulgado, intitulado “É um mundo
de homens”3 expõe que nos filmes com maior bilheteria de 2014 apenas 12% foram

                                                                                                               
1
Trabalho apresentado no DT 4 Comunicação Audiovisual GP Ficção Seriada no XXXVIII Congresso Brasileiro
de Ciências da Comunicação, no Rio de Janeiro, RJ de 4 a 7/9/2015
2
Professora Substituta no curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutoranda em
Literatura na mesma instituição. Email: fernanda.friedrich@ufsc.br
3
Em livre tradução de “It’s a mans world”
1  
 
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protagonizados por mulheres.4 Dentre todos os filmes catalogados pelo centro, apenas
29% possuíam protagonistas mulheres.
As investigações não param no quesito protagonismo: apenas 30% de todos os
personagens com fala na tela nos filmes de 2014 eram mulheres.5 Os números
refletem diretamente na forma com que a representação do sexo feminino na tela é
feita. Enquanto 58% delas são identificadas por papéis sociais (mãe, esposa, amante),
61% dos homens são identificados pela sua profissão. Uma pesquisa do site
Fivethirtyeight revelou que o audiovisual consegue ser mais sexista que a própria
força de trabalho norte-americana, deixando atividades consideradas como complexas
ao cargo de homens. Enquanto 32% dos médicos, 33% dos advogados, 14% dos
engenheiros e 16% do exército é formado por mulheres, na ficção os números caem
para 10%, 11%, 5% e 3% respectivamente.6
Investigações particulares sobre televisão apenas reafirmam os dados
coletados há tantos anos sobre o cinema. Na década de 1980 pesquisas já apontavam a
clara desvantagem entre personagens mulheres nas telas. Mesmo com a atual maior
complexidade das tramas e uma política social mais favorável às mulheres, os
números ainda confirmam um disparate entre os gêneros. O artigo “Primetime TV
Still Mostly A Boys Club – And it’s getting taugher for women”7 aponta que o
percentual de mulheres à frente das câmeras (com papéis em que falam alguma
coisa8) caiu em 2.3% na última temporada pesquisada (2013-14)9. Um dado que
exemplifica ainda mais o diferencial que as séries que possuem entre os gêneros é de
que apenas 44% das séries no ar tinham de uma a quatro mulheres no elenco,
enquanto em contrapartida 1% dos programas possuíam quatro ou menos homens no
elenco.
O questionamento sobre a presença das mulheres nos filmes e na televisão no

                                                                                                               
4
Pesquisa disponível em http://womenintvfilm.sdsu.edu/files/2014_Its_a_Mans_World_Report.pdf
5
Idem à nota de rodapé 2
6
Pesquisa disponível em http://fivethirtyeight.com/datalab/government-jobs-data-agrees-hollywood-is-even-more-
sexist-than-the-real-workforce/ O estudo analisou filmes de 1995 a 2015.
7
Tradução Livre “O Horário Nobre ainda é um clube de meninos – e está ficando cada vez mais difícil para as
mulheres http://deadline.com/2014/09/women-in-primetime-tv-losing-ground-boxed-in-study-834920/
8
O Teste Bechdel é um exame que avalia se o filme/série possui uma presença mínima de personagens femininos.
O teste avalia se o audiovisual possuí 1)no mínimo duas mulheres com nome; 2)que conversam uma com a outra;
3) A conversa precisa ser sobre algo diferente de um homem. O teste se popularizou através de um tira dos
quadrinhos “Dykes to Watch Out For” (Lésbicas para ficar de olho. em tradução livre) de Alison Bechdel's, em
1985, que propunha o mesmo.
9
As temporadas de sitcom geralmente possuem de 20 a 25 episódios, começando em setembro e terminando entre
abril e junho. A exibição é semanal, com intervalos em que episódios antigos geralmente são reprisados no horário
reservado para o seriado.
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Brasil ainda é escassa. É raro encontrar alguma análise quantitativa sobre o assunto. O
livro As Maravilhosas Mulheres das Séries de TV, da jornalista brasileira Fernanda
Furquim, funciona como um almanaque listando séries com personagens femininos,
mas não estabelece um índice com a porcentagem de mulheres nas telinhas
brasileiras. O trabalho de Furquim é o que mais se aproxima de catalogar a presença
do sexo feminino nos seriados, tanto nacionais como internacionais. No entanto, trata-
se de um trabalho de cunho histórico, não há uma problematização maior. Falta um
questionamento mais profundo sobre a presença das mulheres que e as suas
relevâncias dentro da ficção seriada. É importante enfatizar que eu não encontrei um
estudo quantitativo com números gerais equivalente aos realizados pela San Diego
State University ou mesmo pelo site Fivethirtyeight. Coloco aqui a importância de um
levantamento neste quesito, porém grifo que este trabalho apenas faz um
levantamento raso neste setor, com muito mais a ser levantado e investigado sobre a
temática.
Análises qualitativas sobre personagens mulheres, verificando como as
mesmas são representadas no audiovisual, são mais comuns no mundo acadêmico.
Em termos nacionais, as pesquisas quase sempre são relacionadas à novela e ao
cinema. Destaco que a maioria dos autores que realizam estas investigações focam em
diagnósticos específicos sobre algum tema inserido no audiovisual, como no Trabalho
de Conclusão de Curso O Questionamento Sobre a Presença das Mulheres Negras nos
Filmes e na Televisão10 onde há uma avaliação da quantidade de mulheres negras ou
no artigo A Mulher Subalterna no Cinema Brasileiro11 que examina a forma como
elas são apresentadas em papéis subordinados. Em ambos os casos, os estudos não são
mais aprofundados. Como parte da minha tese de doutorado, resolvi focar meu
trabalho na análise das protagonistas nas séries de televisão, chegando ao presente
artigo como um dos resultados da minha pesquisa inicial.
Para definir o protagonista, utilizei conceitos de Robert Mckee e Sônia
Rodrigues. Ambos autores concordam que o mais normal é que a história tenha

                                                                                                               
10
Monografia das estudantes Francijane Lima dos Santos e Marcia Ramos da Silva, graduandas em em História
pela Universidade Estadual do Pernambuco, disponível em
http://www.anpuhpb.org/anais_xiii_eeph/textos/ST%2016%20-
%20Francijane%20Lima%20dos%20Santos%20e%20Marcia%20Ramos%20da%20Silva%20TC.PDF
11
Artigo do Doutor Wesley Pereira Grijó, publicada na revista Vozes & Diálogos, disponível em
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&cad=rja&uact=8&ved=0CDEQFjA
C&url=http%3A%2F%2Fwww6.univali.br%2Fseer%2Findex.php%2Fvd%2Farticle%2Fview%2F4275&ei=DdJp
VZfWGoWegwS--oC4DA&usg=AFQjCNFkE7twAvcmUvtt8iiRt8jRri0bNA&sig2=JwQdZFcxo2mgpIyrfLzfdQ
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apenas um protagonista, o que mais tarde reafirmo com os dados recolhidos neste
levantamento apresentado. Rodrigues destaca que geralmente os protagonistas são
heróis, mas nem sempre. Constante é o fato que os protagonistas sempre têm um
objetivo e um obstáculo. (RODRIGUES, 2014). Mckee vai de encontro com
Rodrigues e destaca que o protagonista tem desejos e a capacidade de buscá-los. Para
o autor, o ponto principal que diferencia o protagonista dos outros personagens é o
fato dele ser um ser voluntarioso (MCKEE, 2013), Ou seja, a história acaba sendo
costurada ao redor deste protagonista, afinal, é ele que faz a história acontecer. Assim,
para definir os protagonistas das séries brasileiras busquei os personagens centrais,
aqueles que guiam com as suas ações o storyline principal do seriado.

MULHERES EM ESTEREÓTIPOS NA COMÉDIA


Resumi meu objeto de estudo neste artigo em séries de comédia, assim como na
minha tese de doutorado. Considerando que o gênero de possui como cânone a
utilização de estereótipos para a narrativa12, encontrei aqui um gancho com o que
procuro nesta pesquisa. Portanto, para facilitar a análise das protagonistas verificarei a
utilização de estereótipos para a construção das mesmas. Acredito que através deste
processo a pesquisa será mais clara em mostrar a forma com que o retrato das
personagens é feito, facilitando a conexão com a representação real – ou não - das
mulheres nas telas.
A investigação de personagens através de estereótipos é bem utilizada na
análise de gênero no audiovisual. No livro O Corpo no Cinema, de Ana Mery Shbe de
Carli, a autora utiliza uma ficha específica para a análise de personagens onde a
categoria sobre estereótipos tem destaque (CARLI, 2009). Carli coloca a identificação
dos estereótipos como essencial para a observação das personagens. Em pesquisas
divulgadas pelo instituto Women in Film as mulheres na televisão são identificadas
com uma série de estereótipos: elas são mais novas que seus companheiros – a maior
parte das personagens estão na casa dos 20 anos-; elas possuem uma ligação mais
forte com tarefas domésticas; possuem uma papel de liderança inferior ao dos
homens; são menos cultas que os homens, entre tantas outras premissas. Além disso, a
                                                                                                               
12
Aristóteles ao falar de comédia destacava que o gênero se refere ao pior de nós e que a partir das nossas
fragilidades temos um gancho para o cômico. Assim, através dos exageros e do zelo por alcançar o público de
uma forma intrínseca o sitcom aparece com um bom objeto de estudo na hora de avaliar representações da
sociedade. Luís Nogueira defende que “a comédia tende a fazer ressaltar as fragilidades do ser humano: o vício, a
negligência, a pompa, a presunção ou a insensatez” (NOGUEIRA, 2010, p.20).
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maioria das personagens são brancas, heterossexuais, cristãs e magras. Enfim, se
encaixam em um padrão de maioria social além dos padrões estéticos impostos pela
sociedade. 13
Utilizei o conceito de Ligia Maria Prezia Lemos defendido no artigo TV paga
e Ficção Televisiva Brasileira: Dados de 2007 a 201314 onde a autora explica a
efetividade da Lei da TV Paga e a reclassificação de Gêneros pelo Observatório
Ibero-americano da Ficção Televisiva – OBITEL. Lemos coloca que com o
crescimento do setor “alguns títulos – poucos – foram reclassificados eliminados ou
acrescentados, como as séries compostas de quadros, ou esquetes, que não se
consideram mais como ficção televisiva stricto sensu” (LEMOS, 2015, p.8). Assim,
desconsidero as séries no estilo esquetes produzidas no último ano (Porta dos Fundos
da FOX, entre outras) quando analiso a representação e a estereotipagem das
personagens femininas.
A partir do foco na comédia, o artigo ganha também um fôlego já que se trata
de um recorte menor. Pelo mesmo motivo, optei por focar a análise em séries exibidas
na televisão paga na última década, afim de apresentar por vez uma leitura mais
detalhada do que um diagnóstico mais genérico faria.

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER EM SÉRIES DE TELEVISÃO


Crescente no Brasil e no mundo, as ficções seriadas foram ganhando espaço
nacionalmente nas últimas décadas, especialmente após a medida governamental Lei
da TV Paga.15 Considerando se tratar de um fenômeno mundial e uma tendência
futura para a televisão brasileira é apropriado iniciar um questionamento mais
profundo sobre a representação das mulheres na ficção seriada exibida no país. Nos
Estados Unidos há muitas pesquisas direcionadas para séries ficcionais na televisão
que podemos replicar no Brasil. Um estudo liderado pela socióloga Stacy Smith da

                                                                                                               
13
Idem à nota de rodapé 2  
14
Artigo apresentado no XIV Congresso Internacional IBERCOM 2015, disponível em
https://www.academia.edu/12101399/TV_PAGA_E_FIC%C3%87%C3%83O_TELEVISIVA_BRASILEIRA_Da
dos_de_2007_a_2013
15
Lei da TV Paga além de abrir a concorrência entre empresas fornecedores do serviço de televisão paga para
baixar os custos da mesma, instaura um Espaço Qualificado na programação dos canais de televisão paga, onde há
a obrigação de veiculação de conteúdo nacional em 3h30 por semana nos canais fechados onde passem
predominantemente filmes, séries, documentários, animação. (fonte: http://www.ancine.gov.br, acessado em 5 de
novembro de 2013)
5  
 
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Universidade da California16, revelou que em 2012 para cada personagem forte
feminina17 há seis mulheres retratadas como artificiais, dependentes e fracas. Das
11.927 personagens da televisão com falas analisadas, a maioria não tinha um
emprego satisfatório e não possuía destaque intelectual/de poder ou voz de comando.
Em sua maioria, o estudo mais uma vez mostra que as mulheres ainda são retratadas
por estereótipos do patriarcado (donas de casa, mães, fúteis, etc) e sexualizadadas
mais do que como mulheres independentes e relevantes para a sociedade.
As pesquisas sobre séries norte-americanas possuem uma significância
importante para nós brasileiros. Dentro do Brasil a maioria dos seriados que são
exibidos nas televisões abertas e pagas são seriados realizados nos Estados Unidos.
Mesmo com uma produção crescente nacional, a industria de seriados norte-
americanas é amplamente difundida pelo mundo desde o começo da televisão. Aqui
no Brasil, o primeiro seriado norte-americano exibido foi I Love Lucy em 1960.
Ironicamente, a primeira série originalmente desenvolvida em 1953, Alô Doçura!, foi
inspirada em I Love Lucy. O seriado estadunidense não chegou mais cedo por causa
de problemas tecnológicos do início da televisão, o que fez com que produtores
brasileiros tentassem reproduzi-lo no Brasil através de uma versão nacional.
Como a investigação pretende analisar a construção das protagonistas nas
séries de televisão, é importante destacar a relevância do meio na vida dos brasileiros.
A pesquisa brasileira de mídia 201518, divulgada pela Secretaria de Comunicação
Social da Presidência da República (SECOM), revelou que 95% dos brasileiros
assistem televisão e que em media assistem mais de quatro horas por dia. As mulheres
consomem mais televisão do que os homens, assistido cerca de 4h50 minutos diários
contra 4h15 respectivos. A presença do meio na vida dos brasileiros é inegável e
assim se legitimiza a importância que o conteúdo difundido através da televisão seja
criticamente analisado.
Ainda sobre a relevância das representações feitas no audiovisual, em
entrevista ao jornal International Business Times, a psicoterapeuta Silvia Dutchevici,
mestre em psicologia e em assistência social, fez comentários importantes para a
                                                                                                               
16
O estudo entitulado “Gender Role and Ocupations: A look at Characters Attributes and Job-related aspirations
in Film and Television” em tradução livre Papéis de Gênero e ocupações: Uma visão de atributos de personagens
e aspirações relacionadas ao trabalho em Filme e Televisão, foi publicado pelo Geena Davis Institute on Gender in
Media.
17
Personagens com poder opinativo, geralmente protagonistas.
18
Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-
contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf
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compreensão da influência do retrato das personagens da televisão na sociedade. Para
ela as jovens não vêem com a frequência que deveriam personagens mulheres fortes,
independentes com vidas e carreiras de sucesso.
“Cada vez mais elas vêem mulheres sendo descritas como objetos sexuais, ou
pior, se sexualizando. Na maioria dos casos, mesmo quando a mulher é colocada
com uma carreira de sucesso, o foco principal de destaque da personagem
continua sendo a sua sexualidade. Assim aprendemos, assistindo televisão, que o
valor de uma mulher é atrelado ao seu preço como propriedade (sexualidade) ou
objeto mais do que como um sujeito (com personalidade, sentimentos, vontades)”
(DUTCHEVICI, 2012) 19

Dutchevici aponta a importância na representação da mulher na ficção, identificando


padrões estereotipados neste retrato e relatando as conseqüências de tal.

SÉRIES DE COMÉDIA BRASILEIRA EM TELEVISÃO PAGA


Com a Lei da TV paga, a produção para canais de televisão pagos aumentou muito ao
longo da última década. Lemos evidência que em 2005, de acordo com dados da
OBITEL, houve apenas duas produções de séries para canais fechados no Brasil,
sendo que uma delas era comédia: Cilada, produzida pelo Multishow, protagonizada e
escrita por Bruno Mazzeo. O número se manteve o mesmo até 2007. (LEMOS, 2015).
Em 2008 o número dobra, Com quatro séries produzidas, sendo duas de
comédia. Destas, Dilemas de Irene, da GNT, passa a ter uma protagonista mulher. Em
2009, cinco séries são produzidas, três delas comédias. Uma, Cilada, em sua última
temporada, ainda é protagonizada por um homem. As outras duas Quase Anônimos
(GNT) e Beijo me Liga (Multishow), são séries com o protagonismo divido entre os
sexos: uma com um casal de primos e a outras com um grupo de amigos,
respectivamente.
Em 2010, Lemos aponta o crescimento significativo da produção no Brasil
(LEMOS, 2015). Há um evidente crescimento também na comédia como gênero das
séries nacionais, se consolidando como o estilo mais produzido no país. Das 15
produzidas em 2010, 13 são comédia20 (LEMOS, 2015). Destas, quatro são

                                                                                                               
19
Tradução livre de: "Increasingly they see women depicted either as sex objects, or worse, sexualizing
themselves. In most cases, even when women are depicted as successful career women (for example 'Sex and the
City'), their sexuality is still the focal point of their being. Therefore we learn, by watching TV, that women's
worth is tied to her price as a commodity/object (sexy) rather than a subject (personality, feelings, agency)."
20
A série Quando a noite Cai do Canal Brasil foi retirada da contagem por se tratar se uma série com cinco curtas
metragem de ficção se aproximando mais do conceito de uma minissérie do que de uma série. Luis Carlos Rondini
coloca como um dos fatores determinantes para saber se a produção é uma minissérie o fato de ser uma trama
fechada, com menos capítulos que uma novela (RONDINI, 2013). A série já trabalham com tramas que são
convidativas para outras temporadas (RODRIGUES, 2014).
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protagonizadas por homens: Morando Sozinho (Multishow); Os Gozadores
(Multishow); Tô Frito (MTV/Band)21; e O Vampiro Carioca (Canal Brasil). Seis
possuem personagens principais de ambos os sexos: Quase Anônimos (GNT); Open
Bar (Multishow); Na Fama e na Lama (Multishow); Amoral da História (Multishow);
Bicicleta e Melancia (Multishow); e Vendemos Cadeiras (Multishow). Três séries
foram protagonizadas por mulheres: Adorável psicose (Multishow), estrelada e escrita
por Natalia Klein; Desprogramado, criada e protagonizadas por Luiza Micheletti; e
Elvirão ou como vovó já dizia (Canal Brasil) sobre a relação entre vó e neta.
No ano seguinte, em 2011, 18 séries foram registradas (LEMOS, 2015).
Destas, 15 foram de comédia, reafirmando a consolidação do gênero. Com o
personagem principal homem foram seis séries: Barata Flamejante (Multishow);
Desenrola aí (Multishow); Ed Mort (Multishow); Morando Sozinho (Multishow); Os
gozadores (Multishow); e O vampiro Carioca (Multishow). Quatro tiveram o
protagonismo divido: Bicicleta e Melancia (Multishow); Mais X Favela (Multishow);
Na Fama e na Lama (Multishow); Os Figuras (Multishow). Séries com mulheres no
protagonismo somaram cinco, novamente Adorável psicose e Desprogramado, com as
adições Cara Metade (Multishow) sobre uma mulher que decepcionada com o
casamento que não deu certo começa a trabalhar em uma agência de encontros; De
cabelo em pé (Multishow) sobre duas amigas que abrem um salão de beleza; Mulher
de Fases (HBO).
Em 2012 foram 17 séries, destas 10 foram comédias.22 (LEMOS, 2015)
Protagonizadas por homens são seis séries: Morando Sozinho (Multishow); Ed Mort
(Multishow); A vida de Rafinha Bastos (FX); Elmiro Miranda Show (TBS); Os
Buchas (Multishow); e Preamar (HBO). Com protagonismo divido foram duas: Meu
passado me Condena (Multishow); e Open Bar (Multishow). Apenas duas tiveram
mulheres no papel principal, mais uma vez Adorável Psicose e a novidade Quero Ser
Solteira (Multishow), sobre uma garota que quer aproveitar a vida sem um interesse
amoroso fixo.

                                                                                                               
21
Série em parceira entre a MTV e a Band. Como a Band não tem variedades de séries, ela não entrou neste artigo
como um canal em destaque, como a Rede Globo. Assim, a série que foi exibida simultaneamente pelos canais foi
encaixada na televisão paga.
22
No levantamento de Lemos a série Do Amor, da Multishow, entra pela primeira vez em 2012 e em seguida em
2013. Porém, como a série foi exibida em 2013 e 2014, conto aqui a exibição da mesma, e não a produção, já que
por hora tenho um propósito mais de avaliação do conteúdo exibido do que da produção.
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Em 2013, das 22 séries foram produzidas23, 15 comédias. (LEMOS, 2015)
Com homens como personagens principais foram sete séries: Copa Hotel (GNT);
Elmiro Miranda Show (TBS); Agora Sim (Sony); Vida de Estagiário (Sony); A vida
de Rafinha Bastos (FX); Vai que Cola (Multishow); e Sai de Baixo24 (VIVA/Globo).
Com protagonistas de ambos os sexos, foram quatro: Do Amor (Multishow); Meu
Passado me Condena (Multishow); Se Eu Fosse Você (FOX); Beleza S/A (GNT);
Quatro séries tiveram mulheres no papel principal: Adorável psicose, De volta pra
pista (Multishow) sobre uma mulher que quer retomar relacionamentos; As canalhas
(GNT) inspirado no livro de Martha Medeiros “Canalha, substantivo feminino”
mostra uma mulher diferente a cada episódio falando sobre as maldades que comete
contra outras pessoas; Surtadas na Yoga (GNT), escrita por Fernanda Young e
estrelada por ela fala sobre um grupo de amigas nas aulas de yoga.
Em 2014, o levantamento25 para este artigo concluiu que foram exibidas
temporadas inéditas de 26 séries brasileiras, sendo 13 comédia. Destaco aqui o
crescimento das séries dramáticas. Dos seriados cômicos, duas possuem o
personagem principal homem: Copa do Caos (MTV) e Vai que cola (Multishow). No
quesito protagonismo dividido, há cinco séries: Amor Veríssimo (GNT); Do Amor
(Multishow) Fred & Lucy (Multishow); Mais X Favela (Multishow); e Desencontros
(Sony). As personagens principais mulheres estão em seis séries, Surtadas na Yoga;
As Canalhas; e as novas Lili, a Ex (GNT) sobre uma mulher obcecada pelo seu ex-
marido; Os Homens são de Marte e é pra lá que eu vou (GNT) sobre uma mulher atrás
de um relacionamento; Trair e coçar é só começar (Multishow) onde uma empregada
doméstica tenta reunir seus patrões; e Por isso eu sou vingativa (Multishow) sobre
uma mulher que se vinga de seus ex.

                                                                                                               
23
O levantamento feito neste artigo se difere do apresentado por Lemos ao considerar a série Vida de Estagiário,
produzida pela Glatz e exibida em 2013 na Warner Channel Brasil. A série foi exibida primeiramente na TV Brasil
(Canal Aberto) em 2011, mas como o canal não possui um histórico de produções ficcionais e a exibição recebeu
mais atenção apenas na reexibição, considerei que valeria mais a pena considerá-la como uma série de 2013 na
categoria que exponho aqui como séries de televisão paga.
24
Novamente o artigo traz uma série que não está na lista de Lemos. Saí de Baixo foi um seriado exibido entre
1996 e 2002 pela Rede Globo e teve uma série de quatro episódios inéditos produzidos em 2013 para comemorar
os 10 anos do encerramento do programa. Os episódios novos foram exibidos primeiramente no canal VIVA para
a comemoração de três anos do canal, fato que me faz considerar a série dentro das limitações propostas neste
artigo.
25
Fora as listadas, no levantamento para este artigo considerei as seguintes séries dramáticas: Três Teresas
(GNT); Animal (GNT); Questão de Família (GNT); Sessão de terapia (GNT); O Negócio (HBO); A segunda Vez
(Multishow); Acerto de Contas (Multishow); Uma rua sem vergonha (Multishow); Na mira do crime (FOX); PSI
(HBO); Força de elite (MGM); Muito Além do Medo (MGM); Motel (MAX/HBO);
 
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Como o ano de 2015 ainda não terminou, trabalho com as séries que estão
confirmadas com novas temporadas para esse ano e as que já foram – e estão sendo -
exibidas. Por enquanto, o calculo é que há 14 séries exibidas com ineditismo26, destas,
dez são comédias. Com homens nos papéis principais são cinco: #partiushopping
(Multishow); Acredita na Peruca (Multishow); Os Suburbanos (Multishow); Vai que
Cola (Multishow); Refém (FOX). As séries que dividem o protagonismo são quatro:
Amor Veríssimo (GNT); Vizinhos (GNT); Fred & Lucy (Multishow); e Se eu Fosse
Você (FOX). A única série exibida com protagonista mulher é Trair e coçar é só
começar (Multishow).

AS MULHERES NAS SÉRIES BRASILEIRAS


Ao analisar os números resgatados neste artigo, podemos constatar que a presença da
protagonista feminina é bem inferior a do homem conforme os gráficos abaixo:

Comédia com
protagonismo Total de Total de séries
Comédia dividido entre Comédia séries de de todos os
protagonizada homens e protagonizada comédia gêneros
por Homens mulheres por mulheres (temporadas) (temporadas)
2005 1 0 0 1 2
2006 1 0 0 1 2
2007 1 0 0 1 2
2008 1 0 1 2 4
2009 1 2 0 3 5
2010 4 6 3 13 15
2011 6 4 5 15 18
2012 6 2 2 10 17
2013 7 4 4 15 22
2014 2 5 6 13 26
2015 5 4 1 10 14
TOTAL 35 27 22 84 127

                                                                                                               
26
Fora as listadas, no levantamento para este artigo considerei as seguintes séries dramáticas exibidas/e, exibição:
Questão de Família (GNT) e Magnífica 70 (HBO). Além das programadas: Rua Augusta (TNT) e O grampo
(TNT);

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Protagonistas  das  Séries  de  Comédia  


da  Televisão  Paga  ao  longo  de  2005-­  
2015  

Ambos    
32%   Homem  
42%  
Homem  
Mulher   Mulher  
26%  
Ambos    

Analisando o protagonismo feminino nas séries do Brasil podemos observar


que ele representa 62% do protagonismo masculino, sendo inferior inclusive ao
protagonismo por ambos os sexos. As mulheres começaram a aparecer mais como
personagens principais a partir de 2010, mas mesmo assim o número só superou o dos
protagonistas homens em um ano, em 2014. Neste ano é possível notar um aumento
considerável no número das séries dramáticas. Estas, apesar de não listadas aqui,
possuem em sua maioria protagonistas masculinos, em um número ainda maior do
que nas séries de comédia. Com os dados, contatamos que a representatividade da
mulher nas séries brasileiras, assim como nas estadunidenses, é inferior à dos homens.
Quando analisamos as séries protagonizadas pelo sexo feminino podemos
observar mais discrepâncias. É bem mais comum encontrar séries relacionadas a
imagem da mulher buscando relacionamentos amorosos – ou fugindo deles, mas
acabando envolvidas com homens. A mulher retratada como forte, sem vínculos
amorosos é rara. Fazendo uma ponte com os estudos estadunidenses publicados,
dificilmente há mulheres caracterizadas pela profissão na comédia brasileira. Quando
consideramos dados gerais baseados nas temporadas, chegamos aos seguintes valores:

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Protagonistas  Mulheres  (temporadas)  


Outros   Focada  em  
32%   relacionamentos   Focada  em  relacionamentos  
(7)   amorosos   amorosos  
41%  (9)   Focada  em  relacionamentos  de  
trabalho  
Focada  em  relacionamentos  de  
Focada  em   Focada  em   amizade  apenas  
relacionamentos   relacionamentos   Outros  
de  amizade  apenas   de  trabalho  
13,5%  (3)   13,5%  (3)  

Quando consideramos números absolutos, somente as séries, sem considerar as


temporadas como unidades, chegamos a números ainda mais evidentes, com oito
séries focadas em relacionamentos amorosos contra cinco séries com outros focos.

Protagonistas  mulheres  (séries)  


Focada  em  
Otros   relacionamentos   Focada  em  relacionamentos  
15%  (3)   amorosos   amorosos  
Focada  em   62%  (8)   Focada  em  relações  de  trabalho  
relações  de  
amizade  apenas  
8%  (1)   Focada  em  relações  de  amizade  
Focada  em   apenas  
relações  de   Otros  
trabalho  
15%  (2)  

Na categoria das séries focadas em relacionamentos amorosos, Lili, a Ex e Por


Isso Eu Sou Vingativa caracterizam uma mulher dependente de relacionamentos
amorosos com homens, focando em aspectos neuróticos e histéricos. Já Os Homens
são de Marte e é Pra Lá Que Eu Vou; Cara Metade; De Volta Pra Pista e Mulher de
Fases ainda idealizam a imagem da mulher sempre buscando um companheiro,
dependente de um relacionamento. Por último, Trair e Coçar é Só Começar e Quero
Ser Solteira acabam reforçando estereótipos mesmo ao terem ideais mais diferentes
sobre relacionamentos. Em ambos os casos, há novamente a busca da mulher por uma
companhia amorosa.
As série Desprogramado e De Cabelo em Pé possuem premissas de abordarem
o ambiente do trabalho, se diferenciando das outras. No quesito amizade, Elvirão Ou
Como Vovó Já Dizia foca na relação familiar entre duas mulheres. Grifo que mesmo
nestes casos há a busca por um relacionamento dentro da temática, quase sempre não
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como conseqüência, mas quase sempre como uma espécie de fixação da mulher por
um relacionamento amoroso. As séries As Canalhas; Dilemas de Irene e Adorável
Psicose se encaixaram na categoria outros por não se enquadrarem em nenhum dos
perfis citados – elas tratam de todas as temáticas, com enfoques diferenciados por
episódios. Novamente, nas duas o amor também é abordado de formas distintas,
diversas vezes.
Na comparação com as séries protagonizadas por homens o papel fica ainda
mais ressaltado, tanto nos números que contabilizam as temporadas como unidades,
assim como os que contabilizam somente as séries, como visto nos respectivos
gráficos.

Protagonismo  dos  Homens  (temporadas)  


Focada  em  
Outros   relacionamentos   Focada  em  relacionamentos  
25%   amorosos   amorosos  
(9)   3%  
Focada  em  relações  de  trabalho  
(1)  

Focada  em  relações  de  amizade  


Focada  em   Focada  em   apenas  
relações  de   relações  de  
amizade  apenas   trabalho   Outros  
30%  (11)   42%  (14)  

Focada  em  
relacionamentos   Protagonismo  Homens  (série)  
amorosos   Outros  
5%   14%  
(3)   Focada  em  relacionamentos  
(1)  
amorosos  
Focada  em  relações  de  trabalho  

Focada  em   Focada  em  


relações  de   Focada  em  relações  de  amizade  
relações  de  
amizade  apenas   apenas  
trabalho  
36%   45%   Outros  
(8)   (10)  

Apenas uma das séries listadas com protagonismo por homens foca em
aspectos de relacionamento com mulheres: Refém. A série trata de um homem que
comete adultério e para justificar sua ausência diz para a parceira que está em um
ônibus que foi sequestrado. No mais, a maioria trata de tramas que envolvem a
profissão do homem, indo diretamente na direção oposta das séries protagonizadas
por mulheres.

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Até mesmo as séries de trabalho como Preamar e Barata Flamejante, que
envolvem família, giram em torno do trabalho do protagonista. Tô frito; Morando
Sozinho; Agora Sim e Vida de Estagiário focam em um protagonista mais jovem, que
investem na sua carreira. Ed Mort, Elmiro Miranda Show; Copa Hotel;
#partiushopping; giram totalmente em torno do trabalho do personagem. Ou seja, a
única série com envolvimento romântico, na verdade é baseada em uma comédia com
tema principal a traição, e não com base em um relacionamento amoroso, como no
caso das séries protagonizadas por mulheres.
As séries com protagonista homem que focam em amizade ou relacionamento
com a família como Vai que Cola; Os Suburbanos e Sai de Baixo até possuem
mulheres como co-protagonistas, porém, ambas as séries possuem um foco evidente
em personagens homens como os provedores e gerenciadores das situações. Em Os
Gozadores; Desenrola Aí; Os Buchas e Copa do Caos há claramente a formação de
grupos de amigos homens, com poucas interferências femininas. Acredita na Peruca é
um caso aparte – é um homem que atua como mulher e uma série que renderia uma
exame individual facilmente. Listados como outro casos, aparece a série Cilada; O
Vampiro Carioca e A Vida de Rafinha Bastos, todas se caracterizam por mesclar os
itens acima e não possuem uma constante temática.

CONCLUSÕES
É possível observar que há sérias discrepâncias nas representações dos sexos. Mesmo
com a audiência feminina sendo superior à masculina, o tempo de tela não segue este
padrão, dando mais espaço aos homens do que às mulheres. Notamos ainda que na
representação do sexo masculino e do sexo feminino nas séries brasileiras de comédia
listadas neste estudo há uma notável diferença, com o homem mais independente e a
mulher mais subordinada à relacionamentos amorosos. Fica evidente que na ficção
seriada o regular é que o relacionamento seja uma consequência dos eventos dá série
para o protagonista homem, enquanto para a mulher ele é geralmente o motivo dos
acontecimentos do seriado.
Com os dados recolhidos para este artigo, pretendo realizar análises mais
complexas e de diferentes ângulos que não couberam neste espaço. Para este trabalho
específico, podemos notar que o estudo de personagens é imprescindível já que a
representação através de protagonistas de um meio tão visado como a televisão

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possuiu um grande alcance entre telespectadores e em termos de análise de gênero
pode gerar consequências indesejáveis ao apresentar uma representação falha da
mulher na sociedade.

REFERÊNCIAS:

CARLI, Ana Mery Shbe de. O corpo no cinema: variações do feminino. Caxias do Sul:
Educs, 2009.
FUQUIM, Fernanda. As maravilhosas mulheres das séries de TV. São Paulo: Panda Books,
2008.
MCKEE, Robert. Story. São Paulo; Arte e Letra, 2013.
SEGER, Linda. Como criar personagens inesquecíveis. São Paulo: Bossa Nova Editora,
2006.
LEMOS, Ligia Maria Prezia. TV paga e Ficção Televisiva Brasileira: Dados de 2007 a
2013. XIV Congresso Internacional IBERCOM. São Paulo, 29 de março a 2 de abril
de 2015. Anais. Disponível em:
https://www.academia.edu/12101399/TV_PAGA_E_FIC%C3%87%C3%83O_TELE
VISIVA_BRASILEIRA_Dados_de_2007_a_2013
LOPES, M. I. V. de; et al. (2014) BRASIL: Trânsito de formas e conteúdos na ficção
televisiva. In: LOPES, M. I. V. de; OROZCO GÓMEZ, G. (Org.). ANUÁRIO
OBITEL 2014 - Estratégias de produção transmídia na ficção televisiva. Porto
Alegre: Sulina.
MULVEY, Laura. Prazer Visual e cinema narrativo. In: XAVIER, Ismail (org). A
Experiência do Cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal; Embrafilme,
1983. p. 437-453.
RONDINI, Luiz Carlos. As minisséries da Globo e a grade de programação. In: XXX
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2007, Santos. Trabalhos... Santos:
INTERCOM, 2007, p. 1-15. Disponível em
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1416-1.pdf>.
RODRIGUES, Sônia. Como escrever séries: Roteiro a partir dos maiores sucessos da TV.
São Paulo: Aleph, 2014.

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