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X Seminário ALAIC 2019

Diálogos desde el sur:


comunicación + comunidad + alternatividad
24 e 25 de outubro de 2019 - Universidade Federal Fluminense (UFF)
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A arte da performance latinoamericana: O lugar do corpo na era dos


automatismos digitais1

Vanessa Guimarães Lauria Callado


Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias e Linguagens da Comunicação da
ECO/UFRJ, participante do Grupo de Estudos do Centro Coreográfico RJ/ Grupo de Pesquisa
em Dramaturgias do Corpo, docente (estágio de docência) do curso de Rádio e TV da
ECO/UFRJ

Resumo
Este trabalho investiga o artista performático contemporâneo em sua busca existencial no
contexto da dinâmica cultural latino-americana dirigida pelas tecnologias digitais. Trata-se de
uma reflexão teórica que faz parte de uma investigação de mestrado cuja metodologia se
estrutura com base na pesquisa bibliográfica e pesquisa na internet (Desk research) que
proporciona acesso as obras e pensamentos de diversos artistas contemporâneos. Pensando
nas sociedades e nos estudos da teoria cultural latino-americana, observa-se que as
tecnologias, no decorrer do tempo, afetam a percepção social/pessoal da humanidade e
influenciam em como o ser humano se relaciona com o mundo sensível. O artistas cubano
Carlos Martiel, que utiliza como elemento inicial seu próprio corpo em grande parte de seus
trabalhos, apresenta o corpo alterado, como material de especulação estética e política e
questiona a versão hegemônica da história latino-americana. Em sua proposta emancipatória
fica claro o questionamento político e sua dimensão antropológica. Pode-se dizer que a
prática do corpo expandido é a interface que legitimiza o próprio trabalho do artista. O início
do modernismo, com o crescimento da importância das máquinas nos meios de produção,
possibilitou que artistas e seus públicos materializassem seus fascínios pela tecnologia. Nesse
sentido, pode-se dizer que Revolução Digital está para a contemporaneidade assim com a
Revolução Industrial esteve para a modernidade e representa uma mudança de paradigma tão
significativa quanto o processo de substituição da manufatura por máquinas representou.
Estamos diante de mudanças profundas nas estruturas de produção, do cuidado de si, nos
modos de pensar, agir e existir, levando filósofos, cientistas e artistas a afirmarem que as
sociedades humanas estão entrando em uma nova era. Como diz Paula Sibilia (2015), no
mundo ocidental, regido pelo capitalismo industrial, ocorreu um acelerado estreitamento da
relação do homem com a técnica e se consolidou o papel da tecnologia para a moldagem de
corpos e subjetividades. Levando em consideração a importância desta constatação questiona-
se quais são os novos caminhos na arte, frente aos processos de informatização da cultura e a
chamada tecnociência que sugerem uma inexorável obsolescência do corpo. Junto a esse
questionamento, surge outro: pode a natureza humana humanizar as tecnologias? Diana

1
Trabalho apresentado no GI4 Práticas hegemônicas, culturais e alternativas na América Latina do X
Seminário ALAIC 2019, de 24 e 25 de outubro de 2019, na Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ.
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24 e 25 de outubro de 2019 - Universidade Federal Fluminense (UFF)
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Domingues (1997) responde que sim a essa última pergunta e, a despeito dos idealismos
exagerados, aponta a arte, por meio de artistas e teóricos, como geradora de reflexões que dão
conta de humanizar as tecnologias. O trabalho do artista Carlos Martiel, serve para balizar a
análise acerca da problematização do corpo latino-americano, numa era pós-orgânica. Martiel
critica as práticas culturais dominantes e com viés político utiliza seu corpo para falar sobre
censura, opressão e imigração, trazendo na performance uma alternativa de um outro lugar
para a arte. Antes restrita às paredes dos museus, às galerias e aos mecenas, a arte
performática dilui barreiras e liberta-se de um formato pré-determinado. Ao falar desse
complexo mantenedor da vida, que é o corpo, como um esquema obsoleto, que carrega um
emaranhado de significações que estão para além dos órgãos, espera-se contribuir para uma
discussão acerca dos novos modos de existir na contemporaneidade.

Palavras-chave
Corpo latino-americano; Arte performática; Contemporaneidade; Artista pós-orgânico;
Tecnociência.

Referências bibliográficas

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Outras referências:
CARLOS MARTIEL. Disponível em: <http://www.carlosmartiel.net/ > Acesso em: <04/08/2019>

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