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por
Anthony Hoekema
Tricotomia ou Dicotomia?
Unidade PsicosomÁtica
O Estado IntermediÁrio
ImplicaÇÕes PrÁticas
O entendimento do homem como uma pessoa total, como foi
desenvolvido neste capítulo, tem importantes implicações
práticas.
Primeira, a igreja deve estar preocupada com a pessoa total.
Em sua pregação e em seu ensino a igreja deve dirigir-se não
somente às mentes daqueles a quem ela serve, mas também
às suas emoções e suas vontades. A pregação que meramente
comunica informação intelectual a respeito de Deus ou da
Bíblia está seriamente inadequada; os ouvintes devem ser
despertados em seus corações e movidos a louvar a Deus. Os
professores na escola dominical devem fazer mais do que
simplesmente dar aos alunos uma rota de “conhecimento”
versos da Bíblia ou das afirmações doutrinárias; seu ensino
deve exigir uma resposta que envolva todos os aspectos da
pessoa. Os programas da igreja para a juventude não deveria
negligenciar o corpo; os esportes e as atividades externas
deveriam ser encorajadas como um aspecto da vida cristã
globalizada.
Em sua tarefa evangelista e missionária, a igreja deveria
lembrar-se também que ela está tratando com pessoas
completas. Embora o propósito principal de missões seja
confrontar as pessoas com o evangelho, de forma que elas
possam se arrepender de seus pecados e serem salvas através
da fé em Cristo, todavia a igreja nunca deve se esquecer que
os objetos de sua empreitada missionária têm necessidades
tanto físicas quanto espirituais. Com isto em mente, o fato de
que o homem é um ser unitário, deveríamos evitar expressões
como “salvar a alma” quando descrevendo a tarefa do
missionário, e deveríamos optar por uma abordagem holística
ou abrangente em missões. Esta abordagem, que algumas
vezes é conhecida como “o ministério da palavra e das ações”,
direciona o missionário a estar preocupado não somente a
respeito de ganhar convertidos para Cristo, mas também em
melhorar as condições de vida desses convertidos e seus
vizinhos, trabalhando em áreas como agricultura, dietética e
saúde. O estabelecimento de escolas para a educação cristã
dos nacionais e a manutenção de clínicas e hospitais tanto
para o cuidado da saúde rotineira como da emergencial,
entretanto, não deve ser considerado como estranho à
província da atividade missionária da igreja, mas como um
aspecto essencial dela. Arthur F. Glasser, ex-deão da Escola
de Missões Mundiais do Seminário Teológico Fuller
(California), diz que na tarefa como missionários cristãos,
O desenvolvimento da fé individual e interior deve ser
acompanhado por uma obediência solidária e exterior ao
mandato cultural extensamente detalhado na Santa Escritura.
O mundo deve ser servido, não evitado. A justiça social deve
ser promovida, e as questões de guerra, racismo, pobreza e
desequilíbrio econômico devem se tornar uma preocupação
ativa e participativa daqueles que professam crer em Jesus
Cristo. Não é suficiente que a missão cristã seja redentora; ela
também deve ser profética. [77]
A escola deveria também estar preocupada a respeito da
pessoa total. Embora um dos principais propósitos da escola
seja a instrução intelectual, o professor nunca deveria
esquecer que o aluno que está ensinando é uma pessoa total.
A escola, portanto, não deveria treinar apenas a mente, mas
deveria apelar para as emoções e vontade, visto que o ensino
eficaz deve produzir no aluno tanto o amor pela matéria como
um desejo de aprender mais a respeito dela. Além disso, as
escolas deveriam evidenciar uma preocupação pelo corpo
assim como pela mente. Os esportes de espectadores, no qual
poucos jogam e muitos meramente observam, têm o seu lugar,
mas muito mais importante para o corpo discente como um
todo é um bom programa de educação física, com uma ênfase
nos esportes de jogos internos que envolvam todos os
estudantes.
O conceito da pessoa total tem também implicações para a
vida de família. Os pais crentes ficarão preocupados em
ensinar a seus filhos a respeito de Deus, em treiná-los na vida
cristã, e a discipliná-los em amor quando carecem disto. Mas
os pais devem também estar preocupados a respeito de
assuntos como uma dieta saudável e própria para o cuidado
do corpo. Está sendo cada vez mais reconhecido hoje que um
programa regular de exercício físico é essencial para uma boa
saúde; os pais, portanto, deveriam tentar ensinar a seus filhos
o cuidado do corpo, não somente por preceito mas também
pelo exemplo.
Além disso, o conceito da pessoa total tem implicações para a
medicina. Em reconhecimento do fato de que o homem é uma
unidade psico-somática, a ciência médica desenvolveu
recentemente uma abordagem chamada medicina holística.
[78] A medicina holística tem sido definida como “um sistema
de saúde que enfatiza a responsabilidade pessoal para a
própria saúde e empenha-se por um relacionamento
cooperativo entre todos os envolvidos em proporcionar
cuidados de saúde.” [79] Os praticantes da saúde holística
“enfatizam a necessidade da busca pela pessoa total,
incluindo condição física, nutrição, maquiagem emocional,
estado espiritual, valores de estilo de vida e ambiente.” [80]
Num livro fascinante entitulado Anatomy of an Illness
(“Anatomia de uma Doença”) Norman Cousins faz um
comentário de que um dos aspectos mais importantes na
recuperação de uma doença está na “vontade de viver”: “A
vontade de viver não é uma abstração teórica, mas uma
realidade fisiológica com características terapêuticas.” [81]
Cousins relata que centenas de médicos lhe têm dito que
“nenhum remédio que eles podem dar aos pacientes foi tão
potente como o estado de alma que um paciente traz para sua
própria doença.” [82] Segundo Cousins, nos exercícios de
graduação da Escola de Medicina da Universidade John
Hopkins em 1975, o Dr. Jerome D. Frank disse aos
graduandos “que qualquer tratamento de uma doença que não
ministre também ao espírito humano é grosseiramente
deficiente.” [83] A Conclusão é clara: A cura e a manutenção
da saúde física envolve a pessoa total. Médicos, enfermeiras,
pastores e pacientes devem sempre ter isto em mente. [84]
Finalmente, o conceito da pessoa total tem implicações
importantes para a psicologia e para o aconselhamento.
Estudos recentes de psicologia têm levado a uma nova ênfase
na totalidade do homem — uma ênfase que é chamada
algumas vezes de “teoria organísmica”. [85] Hall and Lindzey
afirmam que a nova ênfase em psicologia sobre a pessoa total
é uma reação contra o dualismo mente-corpo, a psicologia das
faculdade, e o behaviorismo (comportamentalismo). Esta nova
ênfase, eles dizem, tem sido grandemente aceita:
Quem há em psicologia hoje que não seja um proponente dos
principais princípios da teoria organísmica que o total é algo
além da soma de suas partes, que o que acontece a uma parte
acontece ao todo, e que não há nenhum compartimento
separado dentro do organismo? [86]
Os conselheiros devem lembrar-se também do fato de que o
homem é uma pessoa total. Eles deveriam ser treinados a
reconhecer os problemas que requerem a especialidade de
outros além de si mesmos, e deveriam encaminhar seus
aconselhandos, quando necessário, a médicos e psiquiatras.
Os problemas mentais não deveriam ser tidos como
totalmente distintos dos problemas físicos, porque nenhum
tipo de problema está sempre separado do outro. Visto drogas
anti-depressivas podem curar certos tipos de depressão, um
conselheiro sábio fará uso desses meios. Pacientes que
possuem problemas muito profundos, de fato, podem mais
eficazmente ser curados através de esforços combinados de
uma equipe terapêutica, consistindo, talvez, de um psicólogo,
um assistente social, um médico e um psiquiatra. [87]
O conselheiro não deveria pensar de uma saúde mental e
espiritual como coisas totalmente separadas. Visto que o
homem é uma pessoa total, o espiritual e o mental são
aspectos de uma totalidade, de forma que cada aspecto
influencia e é influenciado pelo outro. Howard Clinebell diz o
seguinte: “A saúde espiritual é um aspecto indispensável da
saúde mental. Os dois podem estar separados somente numa
base teórica. Nos seres humanos vivos, a saúde espiritual e
mental estão inseparavelmente entrelaçadas.” [88]
Algumas vezes o conselheiro pastoral pode pensar que a mera
citação dos versos da Bíblia pode ser tudo o de que necessita
para ajudar o membro da igreja a resolver um difícil problema
espiritual. Mas um entendimento do homem como uma
pessoa total conduz-nos a perceber que tal abordagem pode
ser totalmente inadequada. David G. Benner, num artigo no
qual ele desafia a opinião comum de que a personalidade
humana pode ser dividida em duas partes, uma “parte”
espiritual e uma psicológica, ilustra seu ponto da seguinte
maneira:
A tentação, portanto, de rotular a dificuldade de uma pessoa
em aceitar o perdão de Deus de seus pecados como um
problema espiritual deve ser resistido a fim de deixar o
conselheiro muitíssimo aberto para tratar com ambos os
aspectos, psicológico e espiritual, daquele problema. Assumir
natureza espiritual essencial e proceder por meio de uma
apresentação explícita de certas verdades bíblicas é esquecer
que o perdão, esteja ele sendo dado ou recebido, é mediado
por processos psico-espirituais da personalidade e, portanto,
esses outros fatores psicológicos podem também estar
envolvidos e outras técnicas sejam apropriadas. [89]
O conselheiro cristão, portanto, deveria ver os problemas de
seus aconselhandos como problemas da pessoa total. Ele
deveria não somente tratar com o aconselhando como uma
pessoa total, mas deveria também tentar restaurá-lo à sua
totalidade, que é a marca de uma vida saudável e piedosa. [90]
NOTAS:
G. C. Berkouwer, De Mens het Beeld Gods (Kampen: Kok,
[1]
1957), p. 211. Cf. Ray S. Anderson, On Being Human (Grand
Rapids: Eerdmans, 1982), p. 213.
[2]John A. T. Robinson, The Body (London: SCM Press, 1952),
p. 16.
A System of Biblical Psychology, (Edinburgh: T & T Clark,
[3]
1867), p. 16.
[4]Bijbelsche en Religieuze Psychologie (Kampen: Kok, 1920),
p. 13.
[5] Man, p. 195.
[6] Ver acima, p. 75-82 (texto em inglês)
[7] Ver acima, p. 34-35 (texto em inglês).
[8]Ver Louis Berkhof, History of Christian Doctrines (Grand
Rapids: Eerdmans, 1937), p. 106-107; J. L. Neve, A History of
Christian Thought (Philadelphia: United Lutheran Publication
House, 1943), p. 126; Anderson, On Being Human, p. 207-8.
[9] Man, p. 209. Ver também o comentário de A. Grillmeier
citado em n.20. Dichotomy é a idéia de que o homem deve ser
entendido como consistindo de duas “partes”, corpo e alma.
J. N. D. Kelly, Early Christian Doctrines (London: Black,
[10]
1958), p. 292.
[11] System of Biblical Psychology, pp. Vii, 247-66.
The Tripartite Nature of Man (Edinburgh: T & T Clark,
[12]
1866).
Outlines of Biblical Psychology, (Edinburgh: T & T Clark,
[13]
1877), p. 38.
[14]Theology of the Old Testament, edit. G. E. Day (1873;
Grand Rapids: Zondervan), 149-51.
The Release of the Spirit (Indianapolis: Sure Foundation,
[15]
1956), 6.
[16]The Handbook of Happiness (Denver: Heritage House
Publications, 1971), 28; ver também p. 27-58.
[17]Wilfred Brockelman, Gothard, The Man and his Ministry:
An Evaluation (Santa Barbara: Quill Publications, 1976), 85-
96.
[18]The Scofield Reference Bible (New York: Oxford University
Press, 1909), no texto de 1 Ts 5.23; The New Scofield
Reference Bible (New York: Oxford University Press, 1967) no
texto de 1 Ts 5.23.
[19] Bijbelsche en Religieuze Psychologie, 53. Cf. TDNT, 6:395.
[20]Sobre a interpretação de Hb 4.12 e 1 Ts 5.23, ver Bavinck,
Bijbelsche Psychologie, 58-59; Louis Berkhof, Teologia
Sistemática (Campinas: Luz Para o Caminho, 199....), p.......;
Berkouwer, Man, 210; Sobre Hb 4.12 ver também F. F. Bruce,
The Epistle to the Hebrews, in the New International
Commentary sobre a série do Novo Testamento (Grand
Rapids: Eerdmans, 1964), 80-83; Para uma defesa do
pensamento tricotômico, ver F. Delitzsch, The Epistle to the
Hebrews, (Edinburgh: T. & T. Clark, 202-14, especialmente
212-14.
[21]Teologia Sistemática, p..........; cf ª H. Strong, Systematic
Theology, vol. 2 (Philadelphia: Griffith and Rowland, 1907),
483-88; J. T. Mueller, Christian Dogmatics, (St. Louis:
Concordia, 1934), 184; H. C. thiessen, Introductory Lectures
in Systematic Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1949), 225-
26; Gordon H. Clark, The Biblical Doctrine of Man (Jefferson,
MD: The Trinity Foundation, 1984), 33-45.
[22]Cf o meu livro A Bíblia e o Futuro, (pp 86-87 edição em
inglês). Sobre este ponto ver também Berkouwer, Man, 212-
22.
[23] The Body, 16.
[24]G. E. Ladd, A Theology of the New Testament (Grand
Rapids: Eerdmans, 1974), 457.
[25]Francis Brown, S. R. Driver, e Charle Briggs, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament (New York: Houghton
Mifflin, 1907).
[26]Provavelmente o exemplo mais conhecido do uso dessa
palavra se referindo ao homem seja Gn 2.7 – “Então formou o
Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas
narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma
vivente (nephesh chayyah)”.
[27] “Psyche”, TDNT, 9:620.
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