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parte, por quaisquer meios, sem o devido consentimento por escrito.

Originalmente publicado em inglês com o título:


Concise Introduction to the Bible
Copyright © 1993, 2004 by Howard F. Vos
All Rights Reserved

This edition is published by special arrangement with AMG Publishers


6815 Shallowford Rd. Chattanooga, Tenessee 37421.

Editor Responsável: Claudio Rodrigues


Coeditor: Thiago Rodrigues
Adaptação: Guil
Tradução: Marco Antonio Coelho
Revisão de texto: Christiano Titoneli Santana
Ariana Fátima C. Baptista

Revisão Teológica: Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha

ISBN 978-85-61411-36-7
1ª edição – Março/2011
Impressão: Promove
Classificação: Moral Cristã e Teologia Devocional

As passagens bíblicas utilizadas ao longo deste livro foram retiradas das


seguintes versões: João Ferreira de Almeida e Nova Versão Internacional.

Design da capa: Market Street Design, Chattanooga, Tennessee


Design Interior e Fotocomposição: Reider Publishing Services, West
Hollywood, California
Scanning e Formatação do texto: Scribe, Inc., Philadelphia, Pennsylvania
Edição e Revisão Gráfica: Gloria Penwell, Dan Pewell e Warren Baker

Impresso no Brasil
Conteúdo
INTRODUÇÃO
1 Algumas Questões Para Começar

PARTE I
A HISTÓRIA PRIMITIVA DO POVO DE DEUS
2 No Começo
Gênesis 1 – 11

3 Pais em Israel: Abraão, Isaque, Jacó e José


Gênesis 11 – 50

4 Terminada a Escravidão: Moisés e o Êxodo


Êxodo 1 – 15

5 O Poder no Deserto: A Vastidão das Andanças


Êxodo 15 – Deuteronômio 34

6 “O Senhor Deus é contigo”: A Conquista da Terra Prometida


Josué 1 – 24

7 “Todos Fizeram O Que Era Justo Aos Seus Próprios Olhos”: Os Juízes
Juízes, Rute, 1 Samuel 1-8

8 O Clamor Por Um Rei: Saul, Davi e Salomão


1 & 2 Samuel, 1 Reis 1 – 11,
1 Crônicas, 2 Crônicas 1 – 9

9 O Caos Aos Pés dos Reis: O Reino Dividido


1 Reis 12 – 22, 2 Reis, 2 Crônicas 10 – 36

10 Deus Lembra-se de Seu Povo: Cativeiro e Restauração


2 Crônicas 36, Esdras, Ester, Neemias

PARTE II
OS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO
11 “Assim diz o Senhor”: Uma Visão Geral
Sobre os Profetas e as Profecias

12 Profetas do Período Assírio


Obadias, Joel, Jonas, Amós, Oséias,
Miquéias, Isaías, Naum, Sofonias

13 Profetas do Período Babilônico


Habacuque, Ezequiel, Jeremias, Daniel

14 Profetas do Período Persa


Ageu, Zacarias, Malaquias

PARTE III
OS CANTORES E OS SÁBIOS DO ANTIGO TESTAMENTO
15 A arte do Viver Para Deus: Verdade em Poesia
Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares de Salomão, Lamentações.

PARTE IV
ENTRE OS TESTAMENTOS
16 Quando Não Houve Palavras do Senhor:
Os Quatrocentos Anos de Silêncio

PARTE V
A VIDA DE JESUS
17 A “Plenitude dos Tempos”: A Retomada da Revelação

18 “Dai a César...”: O Mundo de Jesus e da Igreja Primitiva

19 O Messias Prometido Vem: Os Evangelhos


Mateus, Marcos, Lucas e João

PARTE VI
O CRESCIMENTO DA JOVEM IGREJA
20 “Poder do Alto”: Os Atos do Senhor Ressurreto
Atos

21 “Graça e Paz Para Vocês”: As Cartas de Paulo Para as Jovens Igrejas


Gálatas, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios,
Romanos, Colossenses, Filemon, Efésios,
Filipenses, 1 e 2 Timóteo, Tito

22 Um Caminho Melhor: A Carta Aos Hebreus


Hebreus

23 Para Todas as Igrejas: As Epístolas Gerais


Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas

PARTE VII
O FIM DE TODAS AS COISAS
24 “Um Novo Céu e Uma Nova Terra”:
A Revelação de Jesus Cristo
Apocalipse

Apêndice 1: Uma Técnica Simples para o Aprendizado da História do


Antigo Testamento

Sobre o Autor
Introdução
CAPÍTULO

Algumas Questões para Começar

A maioria das pessoas tem muito interesse nas respostas para as grandes
perguntas da vida. De onde viemos? Por que estamos aqui? Qual é a
natureza da humanidade? Como chegamos em uma situação difícil? Qual é
o nosso futuro? Nós lemos avidamente todo tipo de literatura sobre o
começo da humanidade, sobre o modo psicológico do ser humano, o
presente estado dos assuntos humanos e sobre seu destino. Consideramos
qualquer literatura que fale destes assuntos como sendo relevante e atual.
Antes de toda literatura sobre as grandes questões da vida está o Antigo
Testamento. Ele não só reporta opiniões humanas, mas também dá ideias
divinas sobre todos os problemas da vida. Deste modo, ele nos dá
perspectivas e respostas que não estão disponíveis em nenhum outro lugar.
Visto deste prisma, o Antigo Testamento não é um livro somente para os
interessados em assuntos antigos com uma pequena tendência nostálgica;
mas tem uma relevância vital, contemporânea.

O que é o Antigo Testamento?

O Antigo Testamento é a primeira parte da Bíblia e é uma coleção de


trinta e nove documentos escritos por profetas, sacerdotes, reis e outros
líderes de Israel. Todas as evidências pontuam para o fato de que os autores
eram hebreus. Originalmente escritos em hebraico e aramaico, estes livros
foram amplamente traduzidos para várias línguas. Embora fragmentos do
Antigo Testamento tenham aparecido em inglês antes disso, o Antigo
Testamento não estava disponível por completo para os leitores de língua
inglesa até a tradução de John Wyclif em 1388; e não foi impresso até a
edição de Miles Coverdale em 1535.
Mesmo depois da coleção do Antigo Testamento estar completa, ainda
não havia trinta e nove livros nela. Por exemplo, Josefo, o historiador judeu
do século primeiro d.C., falava de vinte e dois livros em seus dias.[Nota 1]
Isto não significa, entretanto, que o conteúdo da coleção ficou diferente
depois disso. Os doze Profetas Menores apareciam em um único livro,
assim como 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas, e outros livros agora
divididos. A tradução grega do Antigo Testamento (Septuaginta), foi
produzida em Alexandria durante os séculos terceiro e segundo a.C., e por
Jerônimo no século quarto d.C. A tradução para o latim foi muito
importante na influência da atual divisão e ordem no Antigo Testamento.
As divisões de capítulos e versículos que parecem ser familiares aos
leitores modernos também não apareciam no texto. O costume de dividir
partes do Antigo Testamento hebreu em versos ocorreu em 200d.C., ou até
mesmo antes. Mas a divisão dos versos variava consideravelmente até o
século décimo, quando o grande sábio judeu Ben Asher editou o texto
hebreu com as atuais divisões em versos. A divisão em capítulos no texto
hebraico foi adotada da Bíblia em latim, no século XIII. Provavelmente foi
Stephen Langton (morto em 1228), arcebispo de Canterbury, que trabalhou
na divisão destes capítulos. A primeira Bíblia em inglês com a atual divisão
de capítulos e versículos foi a Bíblia de Genebra, de 1560.
Obviamente não havia Antigo e Novo Testamentos antes da vinda de
Cristo. Havia somente uma coleção de escritos sagrados. Mas depois dos
apóstolos e seus associados produzirem outro corpo de literatura sagrada, a
Igreja começou a se referir ao Antigo e Novo Testamentos. Na verdade
Testamento é a tradução da palavra diatheke, que pode ser traduzida como
declaração. Ela denota uma aliança feita por Deus para o benefício e
direção espiritual dos seres humanos. Esta aliança é inalterável; os seres
humanos podem aceitá-la ou rejeitá-la, mas de forma alguma podem mudá-
la. Aliança é uma palavra comum no Antigo Testamento, e muitas alianças
são descritas nele, sendo a mais proeminente a Mosaica. Quando Israel
falhou com a aliança mosaica, Deus prometeu a eles uma “nova aliança”
(Jeremias 31:31).
O termo nova aliança aparece muitas vezes no Novo Testamento. Jesus
usou-a pela primeira vez quando instituiu a ordenança que chamamos de
Ceia do Senhor; através dela, Ele buscou chamar atenção para uma nova
forma de comunhão com Deus, que Ele pretendia estabelecer através de Sua
morte (Lucas 22:20; 1 Coríntios 11:25). O apóstolo Paulo falou sobre a
nova aliança (2 Coríntios 3:6, 14), assim como o escritor aos hebreus
(Hebreus 8:8; 9:11 – 15). A descrição detalhada do novo modelo de Deus
para lidar com a humanidade (baseando o que foi finalizado com a obra da
cruz) é o assunto dos vinte e sete livros do Novo Testamento. O lidar de
Deus com as pessoas de forma a antecipar a vinda de Cristo é o principal
tema dos trinta e nove livros do Antigo Testamento embora,
reconhecidamente, o Antigo Testamento diga respeito a muito mais do que
isso. Talvez deva ser notado que a Igreja latina definiu a palavra grega
diatheke por testamentum, e depois disso, começou a usar em inglês; então
as antiga e nova alianças tornaram-se Antigo e Novo Testamentos.
Daquilo que já foi dito, deveria estar claro que o Antigo Testamento não
é só uma coleção de composições religiosas que prendem a atenção dos que
se interessam por antiguidades. É um livro que responde muitas das
questões da vida – de onde a terra e a humanidade vieram, qual o pecado
cometido pela raça humana, e especialmente, como o problema do pecado
tem sido encarado. É um registro da revelação do próprio Deus para a
humanidade, e sendo assim, é uma revelação da natureza de Deus. Ele
revela o plano divino para o futuro da humanidade (veja especialmente as
profecias de Daniel e Isaías). Ele detalha muitas facetas do plano de
salvação de Deus e provê exemplos do comportamento de Deus para com
os incrédulos e também com aqueles que creem, que são relevantes para nós
hoje. Ao falar dos muitos eventos e personalidades do Antigo Testamento, o
apóstolo Paulo diz: “Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão
escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1
Coríntios 10:11).

Como o Antigo Testamento Faz Sentido para o


Leitor?

No seu todo, o Antigo Testamento segue uma disposição de fácil


entendimento. Na verdade, os primeiros dezesseis livros aparecem em uma
ordem cronológica. Gênesis documenta a criação do universo e da
humanidade, a queda da raça humana no pecado, o começo das civilizações
e a decisão de Deus de chamar de uma sociedade imoral, Abraão, que foi o
pai do povo especialmente destinado a permanecer pela verdade. Através de
Abraão um Messias viria. O resto de Gênesis diz respeito às atividades dos
patriarcas na Palestina e, finalmente, no Egito, para onde imigraram para
escapar da fome. O livro de Êxodo conta como os hebreus se tornaram
escravos no Egito, dramaticamente escapando do êxodo debaixo da
liderança de Moisés, e como começaram suas vastas andanças. No caminho,
eles receberam a lei e o plano para o tabernáculo no Monte Sinai. Levítico,
Números e Deuteronômio detalham o sacerdócio e o sistema legal, a
contínua andança do povo e a conquista da terra a leste do Rio Jordão. Ao
final de Deuteronômio, Moisés sai de cena e Josué assume a liderança dos
hebreus.
O livro de Josué narra a conquista da Palestina pelos hebreus. O livro de
Juízes descreve eventos durante um longo e subsequente período de tempo
quando “todo homem fazia o que era correto aos seus olhos” e não havia rei
em Israel. A história de Rute acontece durante essa fase (Rute 1:1) e dá
notas da genealogia de Davi, o ancestral do Messias.
Ao final do período de Juízes, os hebreus precisavam de um rei assim
como as nações que os rodeavam. Em resposta a isso, Samuel, o profeta,
debaixo da direção de Deus, ungiu Saul como rei. Quando Saul falhou com
Deus e foi deposto, Samuel ungiu Davi. Os livros de Samuel contam dessas
duas unções, o conflito entre Saul e Davi e a edificação do reino hebreu. Os
livros de 1 e 2 Reis descrevem as glórias do reino de Salomão, a divisão do
reino nos reinos de Israel e Judá, a queda de Israel para os assírios e a queda
de Judá para os babilônios.
Depois, 1 e 2 Crônicas recapitulam muito dessa história, começando com
o reinado de Davi e concluindo com não somente a destruição dos reinos do
Norte e do Sul, mas também uma breve nota sobre o retorno do cativeiro
sob Ciro, o grande Rei da Pérsia. [Nota 2] Esdras, Neemias e Ester detalham
aspectos da reabilitação hebreia para a Palestina sob a proteção da Pérsia.
Depois, segue um grupo de livros poéticos (Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cantares de Salomão) escritos em sua maioria por Davi e
Salomão, mas algumas das autorias são incertas.
O Antigo Testamento se encerra com uma coleção de obras proféticas
divididas em escritos dos chamados Profetas Maiores e Menores.
Estes profetas escritores datam das eras da monarquia dividida e da
restauração, mas não estão organizados cronologicamente. Nove
escreveram durante os dias do Império assírico (900 – 612 a.C.): Obadias,
Joel, Jonas, Amós, Oséias, Miquéias, Isaías, Naum e Sofonias. Quatro
escreveram durante o Império babilônico ou caldeu (612 – 539 a.C.):
Habacuque, Ezequiel, Jeremias e Daniel. E três escreveram durante os
séculos sexto e quinto quando os persas governavam o Oriente Médio:
Ageu, Zacarias e Malaquias. Falando de uma forma geral, os profetas
pregavam a moral e a conduta ética no presente e alertavam os hebreus e
seus vizinhos sobre o julgamento iminente por sua perversidade. Mas às
vezes eles prediziam o futuro em termos gerais ou específicos.

O Que Significa Inspiração?

O conceito de inspiração é especialmente relatado em 2 Timóteo 3:16


que deveria ser traduzido por “Toda escritura é assoprada por Deus.”
Quando Paulo se refere à “escritura” aqui, ele tem em mente primeiramente
o Antigo Testamento, porque muitos livros do Novo Testamento ainda não
tinham sido escritos e muitos daqueles que haviam sido, ainda não tinham
alcançado grande circulação. Se toda Escritura é soprada por Deus, ela é
exatamente o que Ele queria dizer. Se isso é exatamente o que ele queria
dizer, nada está faltando que Ele quisesse incluir e nada é incluído, por Ele
ter deixado de fora. Além disso, cada palavra que Ele quis usar está nela
registrada, com todas as intimações, insinuações e implicações. Acima de
tudo, se a Escritura é um sopro dado por Deus, ela é exatamente precisa;
pois Deus é o Deus de toda verdade e não comete erros.
Ao dizer que aquelas são as exatas palavras que Deus quis usar, nós
devemos compreender que Ele simplesmente as ditou para um escritor. O
fato de haver tanta variedade de estilo e vocabulário nos livros do Antigo
Testamento e da personalidade dos escritores brilhar em meio aos estilos
deveria ser evidência suficiente para o fato de Deus não destruir a
individualidade deles. Desta forma, o Antigo Testamento é um livro divino
e humano; a verdade divina é passada pela personalidade e experiência dos
autores das Escrituras. Então, devemos pensar na inspiração como um
trabalho de Deus no qual Ele guiou os autores dos livros a escreverem
aquilo que Ele queria que fosse escrito. Esta direção não viola a
personalidade desses escritores; e ainda garante precisão na doutrina,
julgamento e fatos históricos e científicos.
Esta visão de inspiração é a única que reconhece todas as declarações das
muitas referências bíblicas sobre o assunto. Nós deveríamos rejeitar todas
as outras teorias de inspiração, se essas forem inadequadas. Por exemplo,
não é o bastante dizer que os autores das Escrituras possuíam algum talento
ou ideia especial, tal como demonstrada por um Milton, um Bunyan ou um
Shakespeare. Muito do que aparece nas Escrituras é infinitamente além da
compreensão e imaginação do homem mais brilhante ou até mesmo do
homem mais espiritual. Nada disso é suficiente para dizer que a inspiração é
parcial – aplicada somente a verdades não conhecidas pelos humanos e não
à seção histórica do Antigo Testamento. Como podemos confiar
verdadeiramente na Bíblia se tais porções são permeadas pelo erro? Como
podemos saber se as seções doutrinais também não são suspeitas? Nós
podemos estar satisfeitos com o fato da inspiração ser meramente um
conceito extensivo às ideias, mas não às palavras. Palavras estranhas podem
calar a força de um conceito, mudar a natureza de seu impacto ou alterar a
direção inteira de seu argumento. Não podemos concordar com menos do
que algum tipo de controle sobre cada palavra da Escritura e a garantia da
veracidade delas.

O Testemunho dos Autores


Este é um fator para reafirmar a inspiração do Antigo Testamento; há
algo que a demonstra. Embora não haja uma reivindicação compreensiva da
inspiração no Antigo Testamento, em toda parte, ela é presumida e até
mesmo declarada. É dito para Moisés que ele escreva o que Deus revelou
para ele: “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor”(Êxodo 24:4;
Deuteronômio 27:8, JFA). Isaías (Isaías 30:8) e Jeremias (Jeremias 30:2)
foram ordenados a fazerem o mesmo. Muitos escritores tinham muita
certeza de que pronunciavam as palavras de Deus.
Moisés declarou: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem
diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus,
que eu vos mando” (Deuteronômio 4:2).
Jeremias afirmou, “E estendeu o Senhor a sua mão, e tocou-me na boca;
e disseme o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca”
(Jeremias 1:9). Davi declarou, “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua
palavra está na minha boca” (2 Samuel 23:2). Tais expressões como “o
Senhor falou” e “a Palavra do Senhor veio” estão espalhadas em grande
número ao longo do Antigo Testamento. Na verdade, é afirmado que tais
expressões aparecem 3.808 vezes no Antigo Testamento. Estes exemplos do
Antigo Testamento afirmam que sua própria inspiração deve ser adicionada
a referências que indicam que Deus ocasionalmente escreveu por Suas
próprias mãos o que Ele quis dizer (veja, por exemplo, Êxodo 24:12; 31:18;
32:16; 1 Crônicas 28:19).

O Testemunho da Profecia
Um dos testemunhos mais notáveis da inspiração do Antigo Testamento é
o cumprimento das profecias. Na maioria dos casos, centenas de anos antes
dos eventos, os profetas predisseram acontecimentos específicos. Detalhes a
respeito de nascimento, vida, morte e ressurreição de Cristo, o cativeiro e
restauração de Israel, e o julgamento de um número de cidades e impérios
em volta de Israel estão todos incluídos em uma extensa lista de
pronunciamentos proféticos que se cumpriram. O efeito cumulativo desses
fatos preditos é tremendo. Eles vieram por inspiração divina; nenhum
profeta com fontes puramente humanas poderia olhar especialmente com
tanta percepção e perfeição para o futuro.

O Testemunho de Jesus
O testemunho de Jesus Cristo é um outro poderoso testemunho da
inspiração do Antigo Testamento. Uma de suas frases mais diretas aparece
em Mateus 5:17, 18: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não
vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu
e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja
cumprido.” No amplo contexto do capítulo 5, fica claro que Ele estava se
referindo ao Antigo Testamento como uma origem divina e obrigatória para
os judeus para quem Ele estava falando. Aparentemente, aqui Ele estava
usando “a lei” para sustentar todo o Antigo Testamento. No verso 17, Ele
mencionou “a lei e os profetas”, mas no verso 18, aparentemente achou
necessária a repetição de “profetas”. Em outro lugar, Ele usou “lei” para
referir-se às passagens fora dos cinco primeiros livros do Antigo
Testamento (chamados de Lei ou Torá). Veja, por exemplo, João 10:34,
onde Ele cita o salmo 82:6.
A referência de Mateus 5:17, 18 é especialmente significante porque
aparece no Sermão do Monte, o qual mesmo os críticos mais severos
reconhecem como um relato verdadeiro de Jesus Cristo. Esta passagem não
é uma indicação isolada, entretanto, porque Jesus Cristo sempre apoiou a
total veracidade das Escrituras em Suas parábolas, milagres e comentários
sobre elas, e em Suas muitas conversas. Centenas de passagens no Novo
Testamento atestam o fato. Certa vez Ele falou diretamente sobre inspiração
divina de porções individuais do Antigo Testamento, como por exemplo,
em Marcos 12:36, onde Ele se refere ao salmo 110:1. Três vezes, durante
Sua grande experiência ao ser tentado, Ele fez uso da autoridade do Antigo
Testamento para afugentar o tentador (Mateus 4:4, 7, 10). E Ele destacou
que “a lei não pode ser anulada” (João 10:35); o que significa que ela não
pode ser anulada ou ab-rogada. Até mesmo os inimigos de Jesus, fariseus e
saduceus, nunca O acusaram de desrespeitar ou questionar suas sagradas
Escrituras.

O Testemunho do Novo Testamento


O testemunho de Jesus para a divina inspiração do Antigo Testamento é
corroborado e suplementado ao longo de todo o Novo Testamento. Seria
esperado de Paulo, como um bom fariseu, que desse suporte à veracidade e
validade do Antigo Testamento em todo tempo.
O escritor aos hebreus subscreveu da mesma forma o envolvimento de
Deus no processo de revelação e inspiração: “Havendo Deus antiga-mente
falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós
falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hebreus 1:1, JFA).
Uma das mais significantes passagens do Novo Testamento inspirada
pelo Antigo Testamento é 2 Pedro 1:20, 21, “Sabendo primeiramente isto:
que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.
Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum,
mas homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.”
(JFA). O ensinamento claro desta passagem é que a revelação de Deus
não vem quando líderes religiosos do passado buscavam fazer algum
pronunciamento religioso, mas quando certos homens santos, instrumentos
escolhidos, falavam enquanto eram guiados pelo Espírito Santo.

O Testemunho no Judaísmo
O que o Antigo Testamento fala de sua própria inspiração e o que Jesus e
os escritores do Novo Testamento suportam a respeito disso foi atestado
mais à frente no judaísmo. A mais alta honra do judeus para o Antigo
Testamento é evidente em muitas passagens no Talmud (uma espécie de
enciclopédia da tradição judaica), mas é especialmente esclarecida no
discurso sem rodeios do historiador do século primeiro Flávio Josefo:

A firmeza com que damos crédito a esses livros de nossa própria nação
é evidente naquilo que fazemos; por muitas eras que se passaram,
ninguém foi corajoso o bastante para incluir nada nelas, ou tirar algo
delas, ou para fazer alguma mudança; mas isso se tornou natural para
todos os judeus, imediatamente e logo após o nascimento deles, para
estimar que esse livro tenha uma doutrina divina, e para persistir neles,
e se necessário for, morrer por eles.[Nota 3]

Antes de finalizar este assunto, é necessário distinguir “inspiração” de


outros dois temas. “Inspiração” tem a ver com recepção fiel e documentar a
verdade de Deus. “Revelação” envolve comunicar a mensagem de Deus, e
“iluminação” diz respeito ao ministério do Espírito Santo de dar
entendimento à verdade que já foi revelada (João 14:26).

O Texto e a História do Antigo Testamento São


Confiáveis?

Alguns debatem que não importa se o Antigo Testamento foi inspirado


nos escritos originais. Eles observam que esses escritos não existem mais e
que aqueles que os copiaram fizeram centenas de erros à medida que
reproduziam os livros do Antigo Testamento durante quase trezentos anos
(em alguns casos) antes do advento da impressão.
Como se pode verificar, uma edição e avaliação dos textos hebraicos é
uma tarefa exaustiva e técnica. É quase impossível até mesmo prover uma
introdução para este assunto. Temos que generalizar e extrair a conclusão de
outros.
Até depois da II Guerra Mundial, o único texto hebraico do Antigo
Testamento conhecido era o único padronizado entre 500 e 900d.C pelos
mestres judeus chamados Massoretas. As cópias mais antigas deste texto
que temos posse não são mais antigas que 900 d.C. Comparando este texto
com as traduções do grego, do latim e outras traduções do Antigo
Testamento, vemos que elas datam de antes disso, e que poderiam mostrar
que a cópia do texto hebraico foi fielmente feita ao menos desde cerca de
200 – 300 d.C. Todas as nossas cópias do texto hebraico vindas de 900 d.C.
e depois disso, estão em um destacável acordo próximo. A respeito disso,
Wil iam Henry Green, de Princeton comentou, “Os manuscritos hebraicos
não podem ser comparados com aqueles do Novo Testamento, seja em
antiguidade ou número, mas eles foram escritos com um cuidado maior e
tinham menos leitores.” [Nota 4] Robert Dick Wilson, da mesma geração em
Princeton, suplementou a declaração de Green: “Um exame dos
manuscritos hebraicos existentes hoje mostra que em todo o Antigo
Testamento dificilmente existem quaisquer variantes sutentadas por mais de
um manuscrito entre 200 a 400 nos quais cada livro foi achado.... Os
Massoretas nos deixaram as versões diferentes que juntaram, e nós
descobrimos que eles juntaram, no geral, quase 1.200, menos de um para
cada página da Bíblia Hebraica impressa.”[Nota 5] Além disso, “As várias
leituras são, em sua maior parte, banais, não afetando materialmente o
sentido.”
Apesar de ser significante o fato de que há algumas variações nos
manuscritos do Antigo Testamento datados desde 900 d.C., precisamos
refletir o que aconteceu durante os dois ou três mil anos anteriores da
transmissão do texto. Uma resposta para tal pergunta é dada pelos
Pergaminhos do Mar Morto, o primeiro dos quais foram achados em 1947.
Estes manuscritos contêm muito mais do que os textos bíblicos, mas os
manuscritos bíblicos incluem partes de todos os livros do Antigo
Testamento, com exceção de Ester. Especialmente longas partes consistem
um Isaías completo, Levítico quase que por inteiro e Salmos, e um
manuscrito de Isaías que inclui a maior parte dos capítulos 35 a 66 e parte
dos capítulos anteriores. Os pergaminhos datam entre 250 a.C. e 70 d.C.,
recuando assim a história do texto do Antigo Testamento por quase um
milênio.
Consideravelmente, há algumas poucas diferenças de significado entre os
Pergaminhos do Mar Morto e os textos massoréticos que já existiam. O
pergaminho incompleto de Isaías é quase letra a letra do Isaías massorético.
Por exemplo, em Isaías 53 há diferença de somente 17 letras, a maioria das
quais são meramente variações de ortografia; três letras introduzem uma
palavra na cópia do pergaminho do verso 11 que não aparece no texto
massorético; entretanto, isto não muda o sentido da passagem. No
fundamento do pergaminho de Isaías, treze pequenas mudanças foram feitas
na versão padrão revisada da Bíblia; mas muitas dessas foram, mais tarde,
julgadas desnecessárias. Reconhecidamente há passagens (notadas em 1
Samuel) onde algumas corrupções no texto parecem ter ocorrido, mas em
geral, pode-se dizer que o texto dos Pergaminhos do Mar Morto é
essencialmente o que temos desde então. Nenhuma doutrina foi afetada
pelas mudanças de copiadores negligentes ou outra coisa. R. Laird Harris
conclui, “Realmente, seria um ceticismo imprudente não negar que o nosso
Antigo Testamento está bem próximo daquele usado por Esdras quando
ensinou a lei para aqueles que retornaram do cativeiro babilônico.” [Nota 7]
Harris vai além para mostrar que a arqueologia tende a confirmar a
veracidade do texto de séculos antes de os pergaminhos serem produzidos,
por exemplo, nas transmissões fiéis de nomes de pessoas e povos. Ele
também nota que há uma evidência de cópias fiéis nos textos paralelos no
Antigo Testamento. Por exemplo, grandes partes de Crônicas são achadas
em Samuel e Reis e em outros lugares e muitos salmos ocorrem duas vezes
naquele livro; tais passagens podem ser conferidas entre elas para
demonstrar veracidade na transmissão.[Nota 8]

Veracidade Histórica do Texto

Mas, de modo concebível, até mesmo informações incorretas podem ser


fielmente copiadas por um longo período de tempo. Perguntas são muitas
vezes feitas a respeito da veracidade histórica do conteúdo do Antigo
Testamento. Muitas dessas perguntas surgiram durante o século dezenove,
quando existia um pequeno conhecimento específico sobre o Antigo
Oriente. À medida que os críticos racionalistas progressivamente criticavam
a Bíblia, eles concluíram que ela estava cheia de erros históricos porque os
livros históricos não tinham nada a dizer sobre a maioria dos povos e
eventos da Bíblia.
Mas ao passar do século XX, o Antigo Oriente e arqueólogos clássicos
rapidamente expandiram seus esforços. Livrarias, palácios, fortes, casas e
fábricas foram criados em grandes números. Cidades como Ur, Nínive,
Hazor e Jericó, que foram tiradas de vista, foram desveladas parcialmente
por escavadores. A existência de tais povos antigos como os hititas ou os
horitas, uma vez duvidada, foi confirmada. Da mesma forma, registros de
personagens bíblicos e seus atos individuais foram comprovados pelas pás e
enxadas dos escavadores. O rei Acabe reinou em Israel com sua esposa
Jezabel; pessoas passaram sobre as ruínas do palácio dele em Samaria.
Sargão II da Assíria (Isaías 20:1) não foi uma peça da imaginação dos
profetas como declarado uma vez; ele governou a Assíria de 722-705 a.C.,
construiu uma nova capital em Khorsabad, e levantou um magnífico palácio
lá. Sisaque I do Egito invadiu Judá por volta de 925 a.C. (1 Reis 14:25-28)
assim como suas inscrições na parede de um templo em Luxor, Egito,
atestam. Documentos babilônios demonstram que Belsazar estava a cargo
da Babilônia quando esta foi derrotada pelos persas (Daniel 5), mesmo que
críticos declarem que a explicação está errada. Ciro, o Grande da Pérsia,
estabeleceu um decreto permitindo os judeus a retornarem para a Palestina
vindos do cativeiro da Babilônia, assim como Esdras 1 diz. Qualquer
visitante do Museu Britânico, em Londres, pode ver a inscrição nas salas do
manuscrito. Além disso, a sala do manuscrito também abriga a inscrição de
Sargão II na qual ele fala sobre sua invasão a Judá (Isaías 36).
Evidentemente, o testemunho da arqueologia é incompleto. Milhares de
cidades do mundo antigo ainda estão debaixo das areias do Antigo Oriente.
Com a nova informação, chegaram novos problemas de interpretação
porque no estado fragmentado do nosso conhecimento, as novas
descobertas nem sempre parecem estar em harmonia com os relatos
bíblicos. Mas até hoje, as descobertas arqueológicas não provaram que a
Bíblia está no erro. Novas investigações históricas e arqueológicas estão
constantemente provendo um suporte maior para a veracidade histórica do
Antigo Testamento.

Quais Livros Pertencem Ao Antigo Testamento?

Questionar quais livros pertencem ao Antigo Testamento não é uma


pergunta puramente acadêmica. Nenhum fiel pode decidir o que é um
ensinamento religioso correto ou determinar as instruções de Deus para a
vida diária exceto sobre os fundamentos confiáveis das Escrituras. Ele deve
saber como o Antigo Testamento foi compilado e se todos os livros devem
ou não ser vistos como uma verdade obrigatória.
O que faremos com os conflitos entre Protestantes e Católicos Romanos a
respeito dos chamados Apócrifos?
As origens específicas e detalhadas do Antigo Testamento estão perdidas
na antiguidade, mas parece haver ao menos quatro padrões envolvidos no
processo de formação do Antigo Testamento: inspiração, a posição oficial
do escritor, recepção humana e a coleção ou ratificação oficial.
Aparentemente, o Antigo Testamento foi formado de uma forma muito
simples e natural. Deus comunicou Sua verdade para e através dos homens
a quem ele designou o dom profético. Os destinatários das mensagens os
reconheciam como homens de Deus com uma mensagem do Altíssimo.
Suas mensagens escritas eram recebidas como obrigatórias para o povo e
eram oficialmente aceitas pela população como um todo e pelos líderes
religiosos mais especificamente.
Para começar, as duas Tábuas da Lei (escritas pelo próprio Deus) foram
colocadas na arca da aliança (Êxodo 25:21), a posse mais inestimável de
Israel; e todas as Leis de Moisés (os primeiros cinco livros do Antigo
Testamento, um quarto do total) foram escritos em um livro (rolo) e foram
colocados ao lado da arca (Deuteronômio 31: 24-26).
Os mandamentos da Lei estavam juntos a Josué, sucessor de Moisés
(Josué 1:7, 8); e eles foram dados a todo o povo de Israel em uma grande
cerimônia nos arredores de Siquém logo após Josué levá-los para a terra
(Josué 8:30-35). No futuro, quando Israel estabelecesse um reino, o rei teria
uma cópia pessoal da Lei para viver sob os preceitos desta (Deuteronômio
17:18-20). Reis eram julgados de acordo com a obediência à Lei (ex.: 2
Reis 18:6). Ambos Israel e Judá foram levados ao cativeiro por causa da
falha em obedecê-la (2 Reis 17:7-23; 18:11, 12; Daniel 9:11-13). Judeus
que retornaram do cativeiro, reconheceram totalmente a Lei de Moisés
como sendo obrigatória para eles (Esdras 3:1, 2; Neemias 8:1 – 8; 10:28,
29). Os padrões notados acima são claramente evidentes aqui. Deus falou a
Moisés no monte e até escreveu em duas tábuas de pedra. Os sacerdotes e o
povo como um todo receberam os cinco livros de Deus como sendo a
Palavra de Deus. Uma cópia dos livros foi mantida perto da arca e era para
ser colocada perto do rei. Moisés foi o porta-voz de Deus, credenciado por
milagres na corte de Faraó e a vastidão e justificado contra aqueles que
disputavam sua liderança divinamente apontada por julgamento direto da
mão de Deus (veja Números 16 e 12:6-8). Tudo isso é acrescentado a uma
adoção pública e oficial dos cinco livros de Moisés como sendo a sagrada
Escritura.
Deus prometeu a Moisés que Ele levantaria uma linha inteira de profetas
depois dele em Israel, culminando na pessoa e na obra de Jesus Cristo
(Deuteronômio 18: 15-22). A função primária desses homens era proclamar
a verdade de Deus; e claro, também predizer o futuro.
Josué pode ser qualificado como um sucessor profético de Moisés. A
primeira obra judia, Eclesiástico (escrita por volta de 180 a.C.) chama Josué
de “o sucessor de Moisés nas profecias”. Sua liderança em Israel foi
atestada por milagres (travessia do Jordão e queda das muralhas de Jericó),
e ele previu pelo menos um evento que se tornou realidade (Josué 6:26; 1
Reis 16:34). Em qualquer caso, Josué 24:26 diz que ele “escreveu as
palavras no Livro da Lei de Deus”, presumidamente referindo-se ao nosso
livro de Josué. Tendo ele escrito “o Livro da Lei de Deus,” aparentaria que
ele simplesmente adicionou aos escritos de Moisés já reconhecidos
oficialmente. Possivelmente Samuel, o profeta, escreveu Juízes e 1 Samuel
até 25:1, quando morreu. Presumidamente, os profetas Natan e Gade
começaram o trabalho daqui (1 Crônicas 29:29), e os profetas Abias e Ido
continuaram a narrativa mais tarde (2 Crônicas 9:29). Outros profetas
aparentemente contribuíram para a escrita de Reis e Crônicas. Atualmente,
a Bíblia chama Josué, Juízes, Samuel e Reis de “os primeiros profetas”.
Claro que escritores das profecias de muitos livros do Antigo Testamento
eram homens reconhecidos como sendo enviados de Deus. Sabemos menos
sobre os livros poéticos. Davi (um profeta de acordo com Atos 2:30)
escreveu metade de Salmos. Outros escritores de Salmos – Hemã, Jedutum
e Asafe – também são chamados de profetas (1 Crônicas 25:1 – 5).
Presumidamente, Salomão escreveu Provérbios, Cantares de Salomão e
Eclesiastes; e Deus falou para ele em visões e sonhos, assim como os outros
profetas.
Embora nós não tenhamos informações de como todos os livros do
Antigo Testamento foram aceitos pelos hebreus para sua sagrada coleção (e
não há espaço para suposições), sabemos que à época do Novo Testamento,
os hebreus reconheciam o Antigo Testamento como sendo somente os
nossos trinta e nove livros. A ordem na qual eles foram colocados,
entretanto, eram um pouco diferente da nossa. Depois da Lei e dos profetas,
eles listaram um grupo de escritos que começava com os Salmos e
terminava com 2 Crônicas. Lucas 24:44 parece referir-se a todo o Antigo
Testamento nesta acomodação quando fala de lei, profetas e salmos (que
encabeçam a última seção da Bíblia Hebraica).

Corroboração e Debates

Uma frase especialmente valiosa dos conteúdos do Antigo Testamento


aparece nos escritos de Flávio Josefo por volta de 90 d.C. Depois de referir-
se aos conteúdos da sagrada coleção (os trinta e nove livros que agora
temos), ele diz que ninguém se atreveu a adicionar nada a eles desde os dias
do rei Artaxerxes I, da Pérsia (465-425 d.C.)[Nota 9]
Em outras palavras, nada foi incluído desde os escritos de Malaquias por
volta da era final do reinado de Artaxerxes. O testemunho deste sábio judeu
é importante não somente para a data do fechamento do Antigo Testamento,
mas também para responder a última data, motivos de críticas a livros como
Eclesiastes e Daniel.
Não deveria ser suposto, pelo que foi dito, que não houve uma discussão
entre os hebreus a respeito dos livros que deveriam ou não ser incluídos no
Antigo Testamento. Entretanto, esta discussão não refletiu nenhuma
oposição geral para nenhum dos livros e não atrasou a aceitação deles à
Escritura. Alguns mestres judeus e seus seguidores expressaram suas
dúvidas. Perguntas surgiam particularmente a respeito de Ester, Cantares de
Salomão e Eclesiastes. Embora questionado por não mencionar o nome de
Deus, o livro de Ester foi visto para refletir para todos a mão provedora de
Deus nos assuntos do homem. Cantares de Salomão obteve rejeição por
algumas passagens se aproximarem do erótico, se interpretadas
literalmente. Quando interpretado de forma alegórica para se referir ao
amor de Deus por Israel, não foi mais questionado. A inclusão de
Eclesiastes causou uma disputa por conta do suposto pessimismo e
epicurismo; mas à medida que a técnica especial do autor e o seu propósito
se tornaram mais compreendidos, a oposição declinou.
Nos séculos mais recentes, houve um debate contínuo entre Protestantes
e Católicos Romanos a respeito dos livros apócrifos fazerem parte do
Antigo Testamento. Os quatorze livros em questão são 1 e 2 Esdras, Tobias,
Judite, Adições em Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruc,
Cântico das Três Crianças, Casta Susana, Bel e o Dragão, A Prece de
Manassés, e 1 e 2 Macabeus. Apesar destes livros realmente ajudarem a
preencher o vácuo entre o Antigo e o Novo Testamento, especialmente
quando refletem pontos de vista religiosos e provêm algum conhecimento
da história dos tempos (em especial 1 Macabeus), eles não têm
verdadeiramente o direito de serem parte confiável das Escrituras. Eles não
são Escrituras, não foram assim considerados por Jerônimo, que traduziu a
Vulgata, e não foram nem ao menos reconhecidos pela Igreja Romana até o
Concílio de Trento (1545-63). O Antigo Testamento hebraico nunca os
incluiu, nem Josefo ou o grande Fílon de Alexandria (que viveu na época de
Cristo). As primeiras listas dos Apócrifos discordavam consideravelmente
em seus conteúdos, e nenhuma delas tinha a lista exata aprovada pela Igreja
Romana. Além disso, elas eram cheias de imperfeições históricas,
geográficas e cronológicas, ensinavam doutrinas variadas com inspiração
nas Escrituras, e continham folclore, mitos, lendas e ficção. [Nota 10]

Como o Antigo Testamento se Relaciona com o


Novo Testameto?

O Antigo e o Novo Testamento são simplesmente partes componentes da


divina revelação. O Antigo Testamento descreve os seres humanos no
primeiro paraíso na Terra antiga; o Novo Testamento é concluído com uma
visão deles em um novo céu e nova terra. O Antigo Testamento vê as
pessoas como caídas de uma condição de pecado e separadas de Deus; o
Novo Testamento as vê como restauradas pelo favor do sacrifício de Cristo.
O Antigo Testamento prediz a vinda do Redentor que está por vir a resgatar
a humanidade da condenação; o Novo Testamento revela Cristo, que torna a
salvação possível. Em grande parte do Antigo Testamento, o foco está em
um sistema sacrificial no qual o sangue de animais provê uma solução
temporária para o problema do pecado; no Novo, Cristo aparece como o
único que veio para colocar um fim para todo sacrifício – para ser Ele
mesmo o supremo sacrifício. No Antigo Testamento, muitas previsões
falam de um Messias que está por vir e que salvará Seu povo; no Novo,
muitas passagens detalham como aquelas profecias foram cumpridas uma a
uma na pessoa de Jesus Cristo, o filho de Abraão e filho de Davi. Assim
como Sto. Agostinho disse há mais de 1500 anos passados:
O Novo está escondido no Antigo;
O Antigo é revelado no Novo;
O Novo está contido no Antigo;
O Antigo está explicado no Novo;
O Novo está envolvido no Antigo;
O Antigo está descoberto no Novo.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Josefo Contra Apionem 1.8. [Voltar]


Nota 2 - Embora alguns materiais de Reis e Crônicas sejam similares, as diferenças são
consideráveis. Reis, escrito antes do exílio, apresenta uma descrição da história de Israel
dos dias de Davi até a conquista de Nabucodonosor e entrelaça a história dos reinos do
Norte e do Sul. Crônicas, completado após o exílio, descreve a autoridade divinamente
autorizada de Davi e nos conta sobre Davi, Salomão e a história do Reino do Sul, cujos reis
descenderam de Davi. Enfatiza a fundação espiritual de Israel como povo declarado de
Deus. [Voltar]
Nota 3 - Josefo Contra Apionem 1.8. [Voltar]
Nota 4 - William Henry Green, General Introduction to the Old Testament: The Text [Introdução
Geral ao Antigo Testamento] (New York: Scribner, 1926), p. 179. [Voltar]
Nota 5 - Robert Dick Wilson, Scientific Investigation of The Old Testament [Investigação Científica
do Antigo Testamento], com revisões de E.J. Young (Chicago: Moody, 1959), páginas 61-
62. [Voltar]
Nota 7 - R. Laird Harris, “How Reliable Is The Old Testament Text?” [Quão Confiável é o Texto do
Antigo Testamento] em Can I Trust the Bible? [Eu posso confiar na Bíblia?] ed. Howard F.
Vos (Chicago: Moody Press, 1963), pág. 130. [Voltar]
Nota 8 - Ibid, páginas 130-131. [Voltar]
Nota 9 - Josefo Contra Apionem 1.8 [Voltar]
Nota 10 - Para uma discussão proveitosa sobre o assunto, veja o Introductory Guide to the Old
Testament [Guia de Introdução ao Antigo Testamento] de Merril F. Unget (Grand Rapids:
Zondervan, 1952), capítulo 4. [Voltar]
PARTE

A História Primitiva
do Povo de Deus
CAPÍTULO

No Começo
Gênesis 1-11

D EUS não deixa os seres humanos especularem a respeito da origem do


mundo ou deles mesmos. Ele também não os deixa no escuro quanto às
razões pelas quais eles têm uma tendência a fazer o mal e por que eles
morrem. Além disso, Ele escolheu mostrar-lhes o que está além do túmulo e
se há qualquer esperança para eles quanto ao mundo futuro. De mais a mais,
Ele dá uma explicação a respeito da batalha entre as forças do bem e do mal
ao longo dos séculos e sobre Seu maravilhoso cuidado e provisão para
aqueles que colocam sua confiança nEle. A maioria dessas coisas começa a
ser revelada nos primeiros capítulos do Antigo Testamento.
Aqueles que escrevem sobre o Antigo Testamento comumente dividem
sua discussão em unidades que constituem em livros individuais ou grupos
de livros como lei, história, poesia e profecia. O foco aqui é primariamente
lidar com os períodos de tempo na história de Israel, prolongada por alguma
discussão dos primórdios, e dividir o tratamento do texto com
concordância. Então, este capítulo fala de Gênesis 1 -11; o capítulo 3 fala
dos patriarcas de Gênesis 12-50 e assim por diante. Desta forma, o leitor
pode descobrir como os livros do Antigo Testamento referem-se ao fluxo da
história ou ao desenvolvimento hebraico.

Autoria e Data do Pentateuco

Ainda que a discussão sobre o Pentateuco (os primeiros cinco livros do


Antigo Testamento) esteja dividida em três capítulos, as mesmas questões
sobre a fonte e data dizem respeito a todos os cinco livros.
Até o século XIX quase todos acreditavam que Moisés escreveu os cinco
primeiros livros do Antigo Testamento. Mas com o aumento da crítica
literária e o dogma da evolução, isto mudou. Assim como os estudiosos
duvidaram que Shakespeare escreveu dramas tradicionalmente atribuídos a
ele e que Homero escreveu Ilíada e a Odisseia, também duvidavam que
Moisés escreveu o Pentateuco. E quando os ensinamentos da evolução
começaram a ter seu impacto durante a última parte do século XIX, o
conceito do lento desenvolvimento foi aplicado à Escritura. Então, pensou-
se que o Pentateuco foi desenvolvido gradualmente; documentos e fontes
foram coletados e editados até finalmente chegarem à sua forma atual
durante o quinto século depois de Cristo.
Entretanto, há abundante suporte para a autoria mosaica. O próprio
Pentateuco alega que partes importantes foram escritas por Moisés (ex.:
Êxodo 24:4, 7; Deuteronômio 31:9, 24-26). Passagem após passagem em
Levítico e Números especificamente dizem que Deus comunicou
informações de acompanhamento a Moisés (Levítico 1:1; 4:1, 6:1, etc.;
Números 1:1; 2:1, 4:1, etc.) Evidências internas mostram que uma
testemunha ocular escreveu o Pentateuco. Aquelas partes do Pentateuco que
envolvem o Egito contêm muitas referências que mostram a familiaridade
do autor com o Egito e contêm informações difíceis de serem obtidas em
Canaã muitos séculos depois de Moisés, quando liberais defendem que foi
desta forma escrito. Nomes egípcios, palavras egípcias empregadas pelo
autor, costumes egípcios e geografia indicam que o autor conhecia bem o
Egito.
Evidências internas mostram também que o Pentateuco foi escrito no
deserto do ponto de vista de um povo com o Egito para trás e Canaã, diante
deles. Eles adoravam no tabernáculo, não em um templo (veja Levítico
14:8, 34; 16:21; Números 2:2, Deuteronômio 11:10; 12:9, 15:4, 7; 17:14). A
primeira imagem não mostra um povo agricultor estabelecido na Palestina
por mais de mil anos. Uma visão liberal comum é que Deuteronômio foi
composto por sacerdotes hebreus durante a época do rei Josias em 621 a.C.,
mas muitas condições indicadas em Deuteronômio não eram verdadeiras no
século sétimo a.C. Instruções a respeito da exterminação dos canaanitas e a
forma de lidar com as cidades da terra (Deuteronômio 20:1-20), fazem uma
alusão ao recente cativeiro no Egito (Deuteronômio 23:7), e regras a
respeito da escolha de um rei e suas obrigações (Deuteronômio 17:14 – 20)
dificilmente têm significado para os palestinos de 621 a.C.

Suporte de Outras Partes


As reivindicações do Pentateuco indicam que as revelações de Deus a
Moisés são frequentemente apoiadas no resto do Antigo Testamento, na
literatura intertestamentária e nas declarações de Cristo. Muitas vezes a Lei
de Moisés é citada em Josué (ex.: Josué 1:7, 8, 8:32, 34; 22:5). Alguns
exemplos são suficientes para demonstrar que o resto do Antigo Testamento
segue o exemplo de Josué e refere-se à “lei” ou ao “livro” de Moisés: 1 Reis
2:3; 2 Crônicas 23:18 e 34:14; Esdras 3:2 e 6:18; Neemias 8:1-8; Daniel
9:11, 13. O testemunho continua durante o período notável em Eclesiástico
45:3, 5 (escrito por volta de 180a.C.) e em Filo ( Vida de Moisés 3.30), com
data próxima ao nascimento de Cristo. Estes são apoiados pelo eminente
Josefo ( Antiguidades 4. 8.48) que escreveu por volta de 90 d.C. Todos os
três declararam a autoria de Moisés para o Pentateuco.
Cristo, em várias ocasiões, falou da Lei de Moisés, às vezes do “livro de
Moisés” (Marcos 12:26), e duas vezes de “Moisés e os profetas” (Lucas
16:31) ou Moisés, os profetas, e os salmos (Lucas 24:44), obviamente
fazendo de Moisés o autor da primeira parte do Antigo Testamento ao lado
de outras grandes partes. Claro, a igreja primitiva, a igreja dos antigos
séculos, e os judeus unanimemente aceitaram tal visão até o aparecimento
de uma crítica maior e destrutiva. A evidência é muito irrefutável para ser
jogada fora levianamente por um grupo de racionalistas.
A data exata de quando Moisés escreveu cada livro do Pentateuco nunca
será sabida, mas a última data possível para a finalização de todos os cinco
livros do Pentateuco é a época da morte de Moisés logo antes dos hebreus
cruzarem o Jordão e atacarem Jericó. A época determinada para sua
composição é relacionada a todo o problema da data do Êxodo, o qual
discutiremos mais adiante. O escritor conclui que a morte de Moisés foi por
volta de 1400 a.C., ou seja, a última data possível para a escrita do
Pentateuco.

A Criação (Gênesis 1-2)


Em uma linguagem simples, concisa e não técnica, Moisés responde uma
das grandes questões da vida: “De onde veio a terra?”. Diz Moisés: “No
começo Deus criou os céus e a terra.” Depois, com amplas pinceladas de
caneta, ele prossegue a descrever seis dias de criação que culminam com
uma descrição da origem do primeiro casal humano, respondendo então
outra das grandes questões da vida: “De onde vieram os seres humanos?”
Estes dois capítulos são realmente uma obra-prima, propícios para o povo
simples de seus dias e de todos os séculos subsequentes, ainda que não
fechem a porta das investigações científicas e filosóficas, pois descrevem
somente o que Deus criou, mas não descrevem como.
Nem Moisés diz quando a criação aconteceu. “No começo,” no processo
de Seu trabalho criativo, Deus chamou à existência os céus e a terra; no
final do processo Ele criou os seres humanos. Se Deus não estabeleceu
datas, nós também não precisamos. Até mesmo um estudioso
ultraconservador da Bíblia como C.I. Scofield, editor da Referência Bíblica
Scofield, diz na página 3 de sua Bíblia (1909), “O primeiro ato criativo
refere-se a um passado sem data e tem como alvo todas as eras geológicas.”
De acordo com Gênesis, o trabalho de Deus foi feito em seis dias e teve
os seguintes resultados:
Dia 1 A luz apareceu. Algum tipo de luz cósmica ou o sol, lua e estrelas
estão envolvidas. É possível, claro, que a criação da terra tenha vindo
subsequente à criação de outras partes deste sistema solar e outros
sistemas solares. Sendo assim, a luz do sol e das estrelas existiriam
antes da terra.
Dia 2 O firmamento veio à existência. Esta é uma tradução errada de
uma palavra que significa “extensão”, e provavelmente se refere à
atmosfera ao redor da terra.
Dia 3 A terra seca apareceu. Deus agrupou as águas em lagos e mares,
talvez afundando parte da crosta da terra e levantando outras partes. As
plantas apareceram.
Dia 4 O sol, a lua e as estrelas foram criadas ou se tornaram visíveis e
começaram a ter as suas conhecidas funções. É importante notar que a
palavra em hebraico para “criar”, usada anteriormente no capítulo, não
ocorre no verso 16. Então, a implicação é que o sol, luz, e estrelas não
vieram à existência desta vez, mas suas funções foram delegadas para
estabilizar os dias, estações e anos.
Dia 5 A vida marinha e as aves apareceram.
Dia 6 Animais terrestres e humanos coroaram o processo criativo. Três
classificações da vida terrestre são listadas: gado (animais capazes de
serem domesticados), coisas rastejantes (répteis ou uma variedade de
criaturas de patas curtas que parecem rastejar) e as bestas da terra
(animais verdadeiramente selvagens que não podem ser domesticados).

O Desafio da Teoria da Evolução


Até o impacto de Charles Darwin ( A Origem das Espécies, 1859; A
Origem do Homem, 1871) quase todos do mundo ocidental cristão
aceitavam a explicação bíblica. Até aquela época a hipótese evolucionária
tinha sido fortemente endossada e hoje é apoiada como fato por muitos. Em
resumo, esta posição crê no início da espécie através de químicas
autoreprodutoras e células unicelulares, que se desenvolveram por um
período muito longo de tempo através dos estágios das plantas e dos
animais até que a raça humana finalmente aparecesse em cena. Pensa-se
que o projeto trabalha por mutação e seleção natural.
Isto é, organismos vivos mudam (mutação) e podem passar dessas
mutações para formas geradas por eles. Aquelas formas são mais capazes
de se ajustarem ao seu meio ambiente (“compatível”), sobreviver e se
reproduzirem; outros simplesmente morreram. A natureza por si só
determina o que se encaixa melhor (seleção natural). É popular negar que
houve alguma influência divina neste processo.
Literários bíblicos são rápidos em pontuar que o dogma da evolução é só
uma hipótese de trabalho que não foi provada. Ela deixa uma grande
quantidade de perguntas não respondidas ou há muitos buracos em seus
argumentos, alguns dos quais a seguir:

1. Não explica satisfatoriamente a origem da vida simples no universo


mais usualmente assume a geração espontânea da vida por causa da
química.
2. Falha em explicar satisfatoriamente a origem da natureza espiritual da
humanidade.
3. O argumento da sobrevivência dos compatíveis não considera os
talentos artísticos do ser humano.
4. Não há evidência para a passagem das plantas para a vida animal ou da
mudança de uma espécie para a outra, embora muitos biólogos
considerem a última coisa aceitável. Para colocar o problema de uma
outra forma, há uma falta de formas intermediárias suficientes, e os
cientistas não são capazes de provar geneticamente a continuidade dos
vários organismos vivos e extintos.
5. A evidência antropológica é composta naturalmente. Isto é, devemos
pular de continente a continente para reconstruir a história do
desenvolvimento humano. Por exemplo, para um segmento da história
antropológica, um deve pular de Java (homem Java) para China
(homem de Pequim) para a Europa (homem de Neandertal). A
evidência foi exposta de forma comum de acordo com a teoria do
desenvolvimento do simples para o complexo.
6. Grande parte das provas é muito parcial – partes de esqueletos e
descoberta de esqueletos sem ferramentas, ou ferramentas primitivas
sem esqueletos. A reconstrução do esqueleto é conjetural e às vezes
abre-se a questões consideráveis.
7. Os chamados vestígios permanecem, órgãos supostamente deixados de
um estágio prévio de desenvolvimento da evolução (ex.: apêndice,
amídalas) muitas vezes provam sua falta de serventia, e ainda não há
uma evidência firme de evolução.

Chegando a um acordo com a Ciência Moderna


Embora esta e muitas outras perguntas técnicas possam ser levantadas a
respeito da teoria da evolução, nenhum estudante inteligente e informado da
Bíblia descartaria as evidências que se acumulam a respeito das evidências
das eras nos campos da geologia, antropologia, biologia e outras ciências.
Uma simples necessidade deve ser relevada com essa informação. Para
fazer tal coisa, alguns adotaram a teoria do “vácuo”. Isto é, houve uma boa
criação original, assim como descrita em Gênesis 1:1 mas entre Gênesis 1:1
e 1:2 uma catástrofe ocorreu, e eras ocorreram, seguidas pela recriação de
Deus descrita nos capítulos 1 e 2. Em resposta a esta visão, deve ser notado
que não há frase específica em nenhum lugar das Escrituras que fale de um
julgamento ou catástrofe entre Gênesis 1:1 e 1:2, e não há justificativa para
traduzir “e a terra tornou-se desolada (v.2; o verbo é normalmente colocado
no passado em todo o Antigo Testamento). Aparentemente, o verso 2
meramente descreve o mundo como “desolado e inabitado”, como em um
estágio impróprio para ocupação humana.
Outros adotaram a teoria do “dia-era”, de acordo com a qual os dias de
Gênesis 1 – 2 não foram como as vinte e quatro horas, mas períodos
expandidos de tempo que correspondem de certa forma às eras geológicas.
Uma variação desta teoria garante que houve dias criativos separados por
períodos de tempo.
Um importante meio de chegar a um acordo com os estudiosos
contemporâneos diz respeito principalmente ao termo “forma” de Gênesis
1. Toda natureza é ordenada que se reproduza “de acordo com esta forma”,
não para cruzar algum limite estabelecido divinamente. Ninguém sabe
exatamente que “forma” deve ser equacionada em nossa classificação
biológica – gênero? Famílias? Algo mais? Em outras palavras, aí parece
que há lugar para a mutação (ou mudança) e até mesmo seleção natural (ou
sobrenatural). Por exemplo, podemos observar que há muitas variedades de
cachorros, gatos e vacas e essas devem ter descendido de uma “forma”
similar que existiu no Éden ou na Arca de Noé.
Então, pode ter havido mutação do cachorro e seleção para produzir as
muitas variedades agora conhecidas, mas cachorros sempre produzem
cachorros - “de acordo com sua forma”. Da mesma forma, a Bíblia se refere
a somente um único casal humano, mas há muitas raças e sub-raças no
mundo hoje. Obviamente, tiveram que haver mudanças para produzir estas
diferenças antropológicas, mas a raça humana não pode cruzar raças ou
cruzar com quaisquer animais e só pode produzir seres humanos - “de
acordo com sua forma”. Tudo isso ganha um acréscimo ao dizer que
aqueles que acreditam na Bíblia podem aceitar uma certa quantidade de
variações na natureza e, desta forma, alcançar algum grau de encontro de
ideias com a ciência moderna. Mas o tamanho desta mudança ou
diversificação aparece em limites fixos (dentro das “formas”) de acordo
com a Escritura e a ciência. Na verdade, as “ligações perdidas” são
numerosas.
Antes de deixar o assunto da criação, é importante dizer algo sobre o fato
de que seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26, 27; 1
Coríntios 11:7). Aparentemente, esta semelhança com Deus envolveu
semelhança moral e natural. Por natureza, homem e mulher eram como
Deus em seu intelecto, emoções e vontade. Sua semelhança moral consistia
na falta de pecado. Baseados tanto na semelhança moral quanto na natural,
o homem e a mulher poderiam ter comunhão com Deus. Quando eles
pecaram, a semelhança moral foi perdida, e a comunhão com Deus foi
rompida. Mas o homem e a mulher ainda possuem uma semelhança natural
com Deus (Tiago 3:9).
Faria diferença nas relações humanas se reconhecêssemos que todos
aqueles que nós temos contato são seres humanos verdadeiramente criados
por Deus?
A essência desta semelhança natural não é descrita claramente em
nenhum lugar, mas pode ser deduzida dos primeiros capítulos de Gênesis.
Lá, vemos que os seres humanos são diferentes dos animais e que
receberam domínio sobre eles e todo o resto da criação (Gênesis 1:26).
Para exercer este domínio nós devemos exercitar a inteligência e o poder
do raciocínio; temos uma mente. Além disso, temos habilidade de nos
comunicarmos uns com os outros e com Deus em uma linguagem
significativa. Por último, como Deus, nós como seres humanos temos o
poder de criar em muitas formas. Em todas essas e sem dúvidas, em muitas
outras formas, homens e mulheres podem dizer que possuem a imagem de
Deus.

A Queda e o Início da Civilização

(Gênesis 3-5)

Quando Deus criou Adão, Ele o colocou no lindo Jardim do Éden,


localizado aos arredores de quatro rios. Dois desses não são conhecidos,
mas os outros dois (Tigre, o bíblico Hidequel; e o Eufrates) estão no Iraque
dos dias de hoje ou na antiga Mesopotâmia. Presumidamente, então, o
jardim estava situado em algum lugar ou perto da Mesopotâmia.
Aparentemente o Éden era um lugar incrivelmente magnífico, dificilmente
o ambiente para a queda da humanidade. Este fato sustenta de forma
convincente a visão de que melhorar o ambiente moral e social não
necessariamente faria as pessoas boas.
Gênesis 3 nos dá uma resposta para uma outra grande questão da vida:
Como nós explicamos a origem do pecado e o mal no mundo?
A documentação de Gênesis deixa extremamente claro que o pecado não
foi parte da criação original de Deus, mas veio como um resultado da
tentação do primeiro homem e mulher, quem Deus criou com o poder da
escolha. Eles livremente escolheram se rebelarem contra Deus, sugeridos
por um espírito maligno estranho. Este espírito não é meramente uma força
impessoal, mas sim uma personalidade sobrenatural poderosa em conflito
com Deus. Seu poder é tão tremendo que até o arcanjo Miguel não ousou
trazer um julgamento contra ele (Judas 9). Presume-se que a rebelião do
próprio Satanás contra Deus ocorreu antes da criação da terra ou no
máximo antes da criação da humanidade.[Nota 1]
Uma Simples Escolha com Consequências Desastrosas Satanás usou
como seu instrumento na tentação a serpente, aparentemente uma criatura
maravilhosa em seu estado puro. Sua primeira abordagem foi
primeiramente perguntar se Deus não havia permitido que Eva comesse de
toda árvore do jardim. Talvez ele tenha ido a Eva com essa dúvida porque
ela foi proibida indiretamente. Adão ouviu a ordem diretamente de Deus e
sabia todos os seus detalhes. Eva recebeu as palavras de Adão e deve-se ter
perguntado se ouviu direito.
De qualquer forma, Satanás foi capaz de se concentrar na proibição e
fazê-la esquecer todos os privilégios que ela tinha no jardim. Até mesmo a
implicação da resposta dela; note que ela omite “todas” ou “cada” em 3:2 e
inclui “nem nele tocareis” em 3:3. No último caso, ela parece dizer: “Nós
não podemos somente não comer do fruto da árvore do conhecimento do
bem e do mal, nós nem ao menos podemos tocá-la!”
Satanás agora prossegue para declarar categoricamente que Deus estava
errado, que ela não morreria se comesse. E finalmente ele assegura que se
ela comesse, ela seria como Deus. O primeiro grande erro de Eva foi dar
ouvidos a Satanás. Seu segundo erro foi consentir hesitar e olhar para aquilo
que foi proibido. E ela “viu que a árvore era boa para se comer”, ou
recorreu ao apetite (desejo da carne, 1 João 2:16), “e era agradável aos
olhos” (desejo dos olhos, 1 João 2:16), “e desejável para dar entendimento”
(o orgulho ou altivez da vida, 1 João 2:16).
Então, a tentação dela estava no mesmo patamar com o qual Satanás
confronta a raça humana hoje e com o qual ele confrontou a Cristo no
deserto (Mateus 4:1-11). Ambos Eva e Adão comeram do fruto da árvore e
seus olhos foram abertos – mas somente para ver sua vergonha e culpa. Eva
foi ludibriada, mas Adão pecou conscientemente (1 Timóteo 2:14); a causa
dele para isso, nós só podemos especular. Às vezes questões são levantadas
a respeito do porquê da queda da humanidade basear-se somente no ato de
comer uma simples frutinha. Na verdade, o pecado, que realmente ocorreu
antes que a primeira parte do fruto fosse retirada, não foi comer, mas sim
desobedecer e se rebelar, antes mesmo do ato em si. Eles escolheram
acreditar na palavra de Satanás mais do que na palavra de Deus e pensaram
em elevar a vontade da humanidade além da vontade de Deus. Eles
desejavam quebrar os limites impostos e se tornarem como Deus.
Os resultados da queda chegaram rápido. A culpa moral ocorreu e a
comunhão com Deus foi quebrada; eles não podiam ter parte com Ele no
jardim como antes. De fato, Ele os expulsou do lindo lar que eles tinham.
Depois Ele os condenou a um trabalho exaustivo para sobreviverem; este
trabalho foi dificultado por uma maldição na natureza que continuará até o
final dos tempos (Romanos 8:20-23). A necessidade de trabalhar é muitas
vezes olhada como um resultado da queda, mas este não é o caso; Adão
estava muito ocupado antes da queda, com suas responsabilidades de
“cultivar” e “cuidar” do jardim. As mulheres foram condenadas a sofrerem
no parto. O julgamento veio, também, para a serpente, por ter sido
instrumento de Satanás e talvez por quebrar os limites divinos para o
mundo animal e “falar” com o homem, o que demonstra que ela queria ser
como ele.
Satanás disse uma meia verdade quando falou para Eva que ela não iria
morrer. Deus realmente não a matou imediatamente, mas ela morreu mesmo
assim. E nos capítulos subsequentes de Gênesis, os efeitos do pecado são
vivamente retratados nos eventos do assassinato de Abel (capítulo 4), e no
“necrotério” do capítulo 5, onde a frase “e ele morreu” aparece
constantemente; e na ocasião do dilúvio (capítulo 6).
Por todo resto da Bíblia, a capa do pecado se mostra pesada. Paulo
observou, no discurso de Adão, que “por um homem o pecado entrou no
mundo, e pelo pecado, a morte” (Romanos 5:12). Claro que o que Paulo
tinha em mente era a morte física e a morte espitirual. Embora a morte
física do primeiro casal tenha sido adiada por um tempo, a morte espiritual
(separação de Deus) não foi. A comunhão com Deus foi quebrada e Adão e
Eva foram prontamente banidos do jardim.
A introdução de Romanos 5 levanta toda a questão histórica da queda, e
este assunto aparece também nos outros primeiros capítulos de Gênesis. O
apóstolo Paulo, por inspiração, aceitou a queda como um fato e
desenvolveu uma tese centrada em duas lideranças: aqueles que por uma
geração natural estão debaixo da liderança de Adão com suas condenações
do pecado e morte, e aqueles que pela redenção sobrenatural (novo
nascimento) estão debaixo da liderança de Cristo com sua companhia de
vida espiritual e física. Não somente Paulo trata a narrativa de Gênesis 3
como uma história em Romanos e em 2 Coríntios 11:3, mas Cristo também
faz isso em João 8:44. Além disso, os primeiros capítulos de Gênesis não
aparecem como um mito poético, mas como uma prosa factual conectada
com a narrativa histórica que tem sido corroborada em muitos pontos por
investigações arqueológicas e históricas.
Gênesis 3 não é só trevas. O verso 15 promete uma “semente da mulher”
que vai esmagar a cabeça da serpente, ou seja, destruí-la. Isto é, então, o
primeiro anúncio do Antigo Testamento da vinda do Messias, que
eventualmente julgaria Satanás na cruz.[Nota 2]

Os primódios das civilizações


Gênesis 4 apresenta uma explicação muito curta para o aumento da
população humana na terra e o começo das civilizações. A narrativa tem
como foco principalmente os filhos de Adão (Abel, Caim e Sete), mas há
pistas de uma prole numerosa de Adão e Eva e seus filhos. Caim e Sete
tinham que ter esposas de algum lugar e certamente casaram-se com suas
irmãs. Provavelmente, outros filhos não citados de Adão e Eva fizeram o
mesmo (veja Gênesis 5:4). Enoque construiu uma cidade (4:17), implicando
assim o fato de haver população. Aparentemente na juventude da história da
humanidade, o casamento de parentes próximos não criava os problemas
que causariam hoje depois que a degradante influência do pecado foi
exercida ao longo dos milênios. Aparentemente também, as mulheres eram
capazes de dar à luz a mais crianças ao longo de um período de tempo, e a
mortalidade infantil era provavelmente mínima.
A civilização, pelo menos em termos de vida em sociedade, metalurgia,
desenvolvimento musical entre outros, iniciou-se na linha de Caim (Gênesis
4:16-22). Mas não há indício de cronologia em Gênesis 4.
Aproximadamente 9500 a.C., em Abu Hureya no Eufrates, Síria[Nota 3] ou
nos primeiros oito milênios a.C. em Jericó é tão longe quanto podemos ir
agora em se tratando de vida em civilização. Mas se alguém concorda com
a extrema força de destruição do dilúvio, talvez todas as civilizações que
não foram inundadas foram destruídas, e as conhecidas primeiras
civilizações datam do período pós-Noé.
Entretanto, há muitas indicações cronológicas nos capítulos 5 e 11 e
baseados em tal informação muitos têm buscado desenvolver uma
cronologia indo de volta ao tempo da criação (uma visão cronológica forte,
que defende que não há lacunas nas genealogias bíblicas). Mas a tendência
entre os estudiosos da Bíblia hoje é concluir que as genealogias bíblicas não
são feitas para serem completas, mas para incluir somente nomes
representativos na linha do Redentor. Eles defendem que há lacunas na
cronologia bíblica, então nós não podemos garantir datas para nossos
ancestrais dos primeiros capítulos de Gênesis.[Nota 4] Isto pareceria que a
existência de tais lacunas não garantiria o recuo para as origens da
humanidade, assim como os antropólogos comumente fazem. Mesmo que
haja lacunas na cronologia bíblica, ainda não é fácil estabelecer uma data
para a criação da raça humana. Há muitas variáveis nesta evidência, e
alguns dos 200 sistemas de cronologia baseados na forte visão cronológica
difere muitos milênios em suas conclusões sobre a data da criação de Adão
e Eva.

O Dilúvio

(Gênesis 6-10)

Com a passagem do tempo, a humanidade se tornou tão depravada que


Deus determinou destruir a todos, exceto um remanescente justo e dar
prosseguimento ao Seu programa de povoar a terra. Para cumprir este
plano, Ele escolheu Noé, seus três filhos e suas esposas. Noé, um “pregador
da justiça” (2 Pedro 2:5), teve a responsabilidade de construir um grande
barco para proteger a si mesmo, sua família e os animais da extinção por
conta do dilúvio predito. Embora não fique muito claro quanto tempo a arca
demorou para ser construída (Gênesis 6:3 pode indicar que durou mais de
120 anos), houve tempo para que as pessoas se arrependessem de seus
pecados e fossem salvas da ira de Deus. Aparentemente até os trabalhadores
envolvidos na construção da arca não tinham muita simpatia pela
mensagem de Noé.
Não é possível ser dogmático a respeito das medidas da arca.
Elas são dadas em côvados, e nós não sabemos quanto valia um côvado
naqueles dias. Mas durante a monarquia dos hebreus, um côvado era mais
ou menos dezoito polegadas. Desta forma, podemos determinar que a arca
tinha 300 côvados (450 pés) de comprimento, 50 côvados (75 pés) de
largura e 30 côvados (45 pés) de altura, e tinha um deslocamento de 43.000
toneladas – muito maior que muitos navios modernos. Várias computações
concluíram que havia espaço suficiente nos três pavimentos da arca para
Noé, sua família, os animais e os mantimentos. Um único par de animais
impuros e sete pares de cada animal puro eram colocados a bordo.
(Evidentemente a distinção entre puro e impuro precedia a aliança
mosaica).
É difícil determinar com o que a arca se parecia através das Escrituras.
Há um debate até por causa da natureza e da localização da janela, mas
parece melhor concluir que ela consistia em uma abertura de dezoito pés
que ia por toda a extensão da arca debaixo do teto.
Um estudo do texto revela que a vida humana e a animal foram colocadas
na arca por mais de um ano (exatamente 371 dias, Gênesis 7:11, 8:13, 14).
Uma leitura casual da explicação bíblica pode levar à conclusão de que o
dilúvio veio simplesmente como resultado de uma chuva que durou
quarenta dias e quarenta noites. Mas não é dito em lugar nenhum que a
chuva cessou ao final de quarenta dias. Evidentemente ela continuou
interminavelmente por outros 110 dias (Gênesis 7:24, 8:2, 4). Além disso,
Gênesis 7:11 diz que “romperam todas as fontes do grande abismo”. O que
exatamente isso significa não está claro. Muitas vezes é interpretado como
uma forma de dizer que alguma convulsão da crosta terrestre criou
depósitos de águas subterrâneas. Mas até hoje, os geólogos não foram
capazes de achar evidências de tais reservas subterrâneas ou de qualquer
alteração geral e cataclismática da crosta terrestre que possa ter eliminado
tais reservas pelo colapso de estruturas geológicas acima delas.

Até que ponto e de que altura?


O nível do dilúvio também é muitas vezes debatido. Aqueles que apoiam
um dilúvio local observam que toda a Escritura supõe o dilúvio da terra
inabitada e que as passagens que falam de terra podem ser traduzidas como
“território”, então eliminando algumas intimações de universalidade. Eles
também debatem que, para cobrir as maiores montanhas, seria necessário
muitas vezes mais da quantidade de água que há no planeta hoje. Além
disso, eles concluem que a maioria da vida vegetal teria sido destruída pela
submersão à água salgada por um ano. Aparentemente a maioria da vida
marinha teria sido morta pelo dilúvio, como resultado do enfraquecimento
das águas salgadas do oceano ou morte provocada pelo distúrbio dos solos
que nutriam.
Aqueles que discutem sobre um dilúvio universal notam que Gênesis
7:19 indica uma universalidade ao se referir a “toda a terra”. Além disso,
eles concluem que se o dilúvio fosse local, a área afetada por ele poderia
rapidamente ter a vida de volta com vida animal e vegetal de regiões
adjacentes e uma grande arca e cuidados com os animais seriam
desnecessários. Mais ainda, a maior montanha da cadeia do Ararate alcança
uma altura de quase 17.000 pés; então, uma tremenda quantidade de água
seria necessária para cobri-la. Esta água certamente não ficaria em um
depósito qualquer, mas se espalharia sobre toda a terra porque as águas
buscam seu próprio nível.[Nota 5] E claro, um dilúvio local não cumpriria o
propósito de julgar a iniquidade de toda população pré-diluviana, a menos
que, claro, todos os seres humanos vivessem naquele mesmo local. O fato
de haver mais de 270 descrições para o dilúvio de todas as partes do mundo
é significante para dar suporte à ideia de dilúvio universal.
A data em que o dilúvio aconteceu deve permanecer inteiramente aberta
para questionamentos. A data cronológica de aproximadamente 2250 a.C. é
apoiada pelo fato de não poder ser em uma geração anterior, pois não
existem indícios de grandes inundações no mundo antes disso. Além disso,
os chamados reservatórios de dilúvio escavados na Mesopotâmia podem
não ter nada a ver com o dilúvio de Noé porque os períodos são bem
separados na história. Até hoje não parece existir uma certeza quanto ao
período em que o dilúvio aconteceu. Esta ideia é fortalecida por Pedro (2
Pedro 2:5; 3:6) e pelo próprio Cristo (Mateus 24:37-39).

A Maldição de Noé e a Quadro das Nações


Antes de terminar com a discussão desse capítulo, devemos falar algo
sobre a maldição de Noé (Gênesis 9:25, 26). Esta é uma passagem muito
difícil e um pequeno detalhe aparece. Entretanto, uma coisa é clara: a
maldição estava em Canaã, não em Cam. Sabemos histórica e
arqueologicamente quem eram os cananeus e algo sobre sua degradante
condição moral. Eles não eram um povo negro, e desapareceram da história.
Então, obviamente esta maldição não tem nada a ver com uma suposta
inferioridade de pessoas negras. Visto que os cananeus tinham sido extintos
há muito tempo, e nós concluímos que a maldição foi completa; então, não
temos direito de aplicá-la a nenhum povo moderno. Além disso, a maldição
não parece estar envolvida com uma inferioridade biológica ou intelectual,
mas diz respeito primeiramente a uma degradação religiosa ou moral.
Após o dilúvio, os filhos de Noé tiveram a responsabilidade de povoar a
terra. O capítulo 10 resume a distribuição geográfica dos descendentes
deles. Esta é muitas vezes chamada de Quadro das Nações.
Certamente o capítulo faz uma alusão a uma grande passagem de tempo e
sugere áreas para as quais famílias migraram. Jafé e seus filhos se
acomodaram em uma área ao longo da Eurásia do mares Negro e Cáspio
para a Espanha. Os hamitas desceram para a África e depois se espalharam
por toda a terra da costa do Mediterrâneo. Sem e seus descendentes
ocuparam a área norte do Golfo Pérsico. Naturalmente, aconteceu uma
mistura considerável de etnias, línguas e cultura entre os povos.

A Confusão de Línguas

(Gênesis 11)

O evolucionista assegura que as línguas do mundo foram originadas por


um processo de desenvolvimento, assim como as línguas rômanicas foram
desenvolvidas do latim. A Escritura declara, entretanto, que em um tempo
específico da história e um ato de julgamento, propositalmente um número
de línguas foi originado.
Um estudioso reverente e inteligente da Bíblia pode muito bem acreditar
que ambos os pontos de vista bíblico e de desenvolvimento sobre a origem
da linguagem são verdadeiros. Em Babel, Deus estabeleceu as línguas
primitivas da terra, das quais foram desenvolvidas as línguas hoje
conhecidas. Ninguém pode negar que novas línguas vieram à existência em
tempos históricos. Certamente o latim não tem uma história tão antiga como
o egípcio, nem o espanhol e o francês têm uma história tão antiga quanto o
acadiano.

Uma tentativa de explicação mítica


Como resultado da análise destrutiva do último século, criou-se uma forte
visão de que a Bíblia está cheia de mitos e folclore. A história da torre de
Babel é classificada como mito – uma história que deve ter sido inventada
em alguma época na história dos hebreus para explicar a diversidade das
línguas. De acordo com aqueles que apoiam tal visão, este mito foi
desenvolvido em conexão com o zigurate ou torres na Mesopotâmia. Sabe-
se que existiram mais de trinta zigurates que eram compostos de sucessivas
plataformas menores, ou histórias de tijolos queimados ou secos pelo sol, e
onde, no topo, era construído um templo. O zigurate mais frequentemente
associado com a origem do mito hebreu foi o da Babilônia, a 295 pés de
altura e originalmente constituído de sete andares. A visão seria então, que
alguém viu este zigurate e criou o mito a respeito da origem das línguas;
finalmente, este mito achou um caminho no livro de Gênesis.
Nós devemos perguntar, entretanto, se a explicação em Gênesis 11 pode
ser considerada tão simples. Em Gênesis 9:1, Deus disse especificamente a
Noé e seus filhos: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (JFA). Em
uma desobediência direta, seus descendentes estavam preocupados,
temendo ser espalhados ao redor da terra. Orgulhosos, buscaram construir
uma cidade e uma torre como um ponto de reunião e como um símbolo ou
memorial à grandeza deles. Deus não podia tolerar isso. Gênesis não diz
que eles tentaram entrar no céu através desta torre ou que eles quiseram
usá-la para propósitos de adoração. O hebraico simplesmente a chama de
migdal (“torre”), que poderia ser usada para defesa ou para muitos outros
propósitos; não há indicações de que construtores planejaram levantar um
templo nela, então a estrutura serviria como uma “ligação entre os céus e a
terra”, assim como os zigurates. Além disso, a narrativa de Gênesis
emprega que tais torres não foram construídas antes e que isto seria, então,
algo único na experiência da humanidade.
Os zigurates da Mesopotâmia, por outro lado, foram construídos para
expressar o propósito de adorar uma divindade local, não em desobediência
a ela. Além disso, os grandes zigurates vieram como um resultado do lento
desenvolvimento de um período de milênios.
O primeiro consistia em somente uma plataforma de tijolo com um
templo nela; uma torre com vários andares não apareceu até o terceiro
milênio a.C., muito depois da difusão das línguas.[Nota 6] Então, se nós
atribuirmos algum crédito à narrativa de Gênesis, pode dificilmente haver
uma conexão entre a Torre de Babel e o zigurate da Babilônia ou de
qualquer outro lugar. Além disso, devemos levar em consideração o fato de
que os habitantes da Mesopotâmia vieram das montanhas do oriente e os
zigurates podem ter sido meramente um esforço da parte dessas pessoas
para construir uma montanha feita por mãos humanas nos planos para que
eles pudessem estar perto de seus deuses. Em seus lares originais, eles
construíram altos lugares nas montanhas. Tendo os planos mudados, eles
foram forçados a construir montanhas antes que pudessem estabelecer seus
altos lugares nelas.
Em 1876, George Smith, do Museu Britânico, lançou um quadro assírio
mutilado que parece refletir a explicação de Gênesis 11.
Este quadro indica que os corações de algumas pessoas eram maus e
durante a noite os deuses destruíram o trabalho no zigurate que os homens
tinham feito ao longo do dia. A explicação também menciona confusões
divinas de discurso e disseminação de pessoas no exterior.[Nota 7]
Possivelmente, nós temos aqui a evidência de uma tradição da origem das
línguas na literatura mesopotâmica, uma tradição que remete a um evento
histórico real. Sendo assim, não há uma boa razão para negar que em
Gênesis 11 temos uma outra forma de tal tradição; nós devemos acreditar
respeitosamente que em Gênesis 11 nós temos uma forma mais pura,
preservada pelo próprio Deus.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Não há conflito necessário entre este relato e Gênesis 1:31. No último, o foco de atenção
está na terra; nenhuma referência é feita para a condição de seres angelicais naquele tempo.
[Voltar]
Nota 2 - Para uma discussão detalhada deste verso, veja Exposition of Genesis [Exposição de
Gênesis], de H.C. Leupold (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), páginas 163-70.
[Voltar]
Nota 3 - A.N.T. Moore, et al. Village on the Euphrates (Oxford: Oxford University Press, 2000),
página 104. [Voltar]
Nota 4 - Para uma discussão sobre esse assunto, veja Oswald T. Allis, The five books of Moses [Os
Cinco Livros de Moisés] (Philadelphia: Presbiterian & Reformed, 1943), páginas 261-64;
Gleason Archer, Survey of Old Testament Introduction [Análise da Introdução do Antigo
Testamento], 2nd rev. ed. (Chicago: Moody, 1973), páginas 185-189; Merril F. Unger,
Introductory Guide to the Old Testement [Guia Introdutório do Antigo Testamento] (Grand
Rapids: Zondervan, 1951), páginas 192-194; e B.B. Warfield, Studies in Theology
[Estudos sobre Teologia] (New York: Oxford U. Press, 1932), páginas 235-58. [Voltar]
Nota 5 - Deve-se notar que para um dilúvio cobrir a terra à altura do Ararate, seria necessário três
vezes a quantidade de água que existe na terra hoje. Para cobrir a terra até o alto do
Himalaia, seria necessário oito vezes a quantidade hoje existente. No atual estado das
investigações científicas, é impossível dizer de onde veio tanta água e para onde ela foi
depois do dilúvio. Claro, Deus pode ter derramado-a e levado-a embora, mas não há relatos
de uma ação miraculosa deste tipo na narrativa de Gênesis. [Voltar]
Nota 6 - Andre Parrot, The Tower Of Babel [A Torre de Babel] (New York: Philosophical Library,
1995), páginas 22, 26-43. [Voltar]
Nota 7 - George Smith, The Chaldean Accounts of Genesis [O Relato Caldeu de Gênesis] (London:
Sampson, Lew, Marston, Searle e Rivington, 1876), páginas 160ff. [Voltar]
CAPÍTULO

Pais em Israel: Abraão, Isaque, Jacó e José


Gênesis 11-50

O Sfilhos)
patriarcas eram um grupo de homens (Abraão, Isaque, Jacó e seus
que fundaram a etnia e o desenvolvimento religioso hebreu e
controlaram os interesses hebreus por dois séculos. Eles são chamados de
patriarcas porque foram pais não só em suas famílias, mas também da
extensa família dos hebreus, sobre a qual exercitaram um tipo de controle
paterno. Como tal, eles regularam e julgaram os hebreus, cuidaram de seus
próprios interesses e os levaram para a adoração.
Abraão, como o primeiro deste grupo e antecessor do resto, tem um lugar
especial nas três maiores religiões monoteístas do mundo. Ele é, claro,
progenitor dos judeus através de Sara e dos árabes (predominantemente
muçulmanos) através de Agar. E ele tem um lugar especial no cristianismo
como um exemplo de justificação pela fé e como ancestral de Cristo, por
quem todos os cristãos obtêm sua salvação.

Abraão

(Gênesis 11:10 – 25:10)

Deus chamou Abraão para fora de Ur, um centro pagão próspero,


populoso e sofisticado do sul da Mesopotâmia (o Iraque de hoje em dia),
para segui-lo onde quer que Ele direcionasse. O caminho levava a Canaã ou
Palestina, que era naquele tempo uma periferia cultural.
Mesmo antes de Abraão deixar a Mesopotâmia, Deus fez com ele a
famosa aliança abraâmica, prometendo-o uma terra, uma posteridade e um
favor divino especial (“Eu abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei
os que te amaldiçoarem”), e que prometia que ele seria um canal de bênçãos
para todo o mundo (“... e em ti serão benditas todas as famílias da terra.”
Veja Gênesis 12:1-3). Em Gênesis 13:14-18, Deus confirmou sua aliança
incondicional, prometendo a ele esta nova terra para sempre, junto com
inumeráveis descendentes. Subsequentemente, em Gênesis 15:1-21, Deus
mais uma vez confirmou a aliança abraâmica, mas acrescentou a
significante predição que a garantia perpétua de Canaã não significava que
eles ocupariam a terra por todas as gerações. Ele também explicitou os
limites da Terra Prometida (do rio do Egito até o Eufrates, de 500 a 600
milhas de extensão), um território bem longe de Canaã ou Palestina (cerca
de 150 milhas de Dã a Berseba).
Uma confirmação final da aliança de Abraão aparece em Gênesis 17:6-8.
Ela garante novamente a terra de Canaã para a posteridade de Abraão e
acrescenta a promessa de que reis (predição da linha davídica) seriam
levantados em sua linhagem. (É importante adicionar a aliança davídica à
aliança abraâmica. Veja discussão sobre DAVI no capítulo 8, notando 2
Samuel 7.) Passagens que falam sobre a aliança abraâmica são algumas das
mais importantes no Antigo Testamento, pois são as bases para a última
posse dos judeus do fim oriental do Mediterrâneo, a garantia de Deus de
favor especial e proteção dos judeus através do milênio (o que preveniu a
extinção deles apesar de seus pecados e da oposição violenta de seus
inimigos), e a aparição do Messias para prover bênçãos espirituais para toda
a humanidade.

Um Homem de Generosidade e Fraqueza


A Escritura geralmente retrata Abraão como um homem de fé e
magnanimidade. Depois de entrar em Canaã, ele achou que aquele pedaço
de terra não suportaria os muitos gados e rebanhos dele e de seu sobrinho
Ló; então ele ofereceu a Ló as melhores terras da área, e se mudou para um
território mais à margem. Depois disso, ele resgatou Ló depois deste ter
sido levado numa invasão de Canaã e intercedendo junto a Deus, quando o
Senhor determinou destruir Sodoma e as cidades da planície (não é difícil
de acreditar na explicação até mesmo, por um ponto de vista naturalístico,
sabendo algo dos materiais da natureza inflamável desta área). A fé de
Abraão e sua maturidade espiritual são frequentemente expressadas em suas
construções de altares e sacrifícios nestes, e especialmente em sua
obediência à direção de Deus de sacrificar seu único filho no Monte Moriá
(veja Gênesis 22). Ao comentar esse evento, a epístola aos Hebreus fala que
a fé de Abraão era tão grande que ele até mesmo creu que Deus
ressuscitaria seu filho (Hebreus 11:19).
Embora a Escritura eleve Abraão a uma posição extremamente alta, ela
não esconde sua fraqueza: sua fraqueza de fé quando desceu para o Egito
(Gênesis 12:10-13:1), e suas dúvidas sobre Deus prover para ele um
herdeiro natural , o que o levou a tomar a moça escrava Agar como esposa,
seguido pelo nascimento de Ismael, progenitor dos árabes (Gênesis 16).[Nota
1] A Bíblia é sempre cuidadosa em apresentar uma verdade sem retoques
sobre até mesmo o maior dos gigantes da fé.
Mas os lapsos de Abraão devem ser vistos tendo como pano de fundo sua
disposição de sacrificar seu único e amado filho, demonstrando sua
suprema fé e devoção a Deus e retratando o ato de Deus, o Pai, em
sacrificar Seu único Filho pelos pecados do mundo.

Isaque

(Gênesis 25:11-28:5, 35:27-29)

Isaque é, de certa forma, ofuscado pelas vidas mais movimentadas que


seu pai e seu filho tiveram. Ele cresceu à sombra de um pai devoto e com a
memória de sua oferta no Monte Moriá. Ele parece ter sido um homem
muito devoto, e Deus confirmou para ele a aliança feita com Abraão
(Gênesis 26:3-5). Isaque e Rebeca tiveram dois filhos ( Jacó e Esaú), e o
evento mais dramático de seus últimos dias foi seu erro ao identificar seus
filhos e conceder sua bênção para o mais novo deles (Gênesis 27). Para um
ocidental dos dias de hoje, essa passagem é incompreensível. Por que o erro
não foi retificado, nós perguntamos? A resposta é que o que Isaque estava
fazendo envolvia algo que hoje em dia equivale a expressar a sua vontade.
A Escritura indica e descobertas arqueológicas confirmam que as bênçãos
faladas (vontades) eram irrevogáveis na sociedade patriarcal. Esaú
reconheceu este fato e não pediu para Isaque mudar sua vontade,
simplesmente pediu por um pouco de outras bênçãos (veja as bênçãos de
Jacó em Gênesis 48-49).

Jacó

(Gênesis 28:5-36)

Jacó (significa “usurpador”) verdadeiramente viveu o significado de seu


nome, primeiramente quando persuadiu seu irmão Esaú a vender seu direito
de progenitura e depois enganar seu pai e roubar a bênção.
Mas quando Jacó foi para casa do irmão de sua mãe, Labão, em busca de
uma esposa, ele encontrou mais do que buscava em sua astúcia. No final
das contas, ele estava trabalhando para Labão por quatorze anos para suas
esposas Lia e Raquel e seis anos para os gados e rebanho obtidos de Labão.
Frequentemente, os estudiosos da Bíblia perguntam como ou porque
Deus deve abençoar um patife como Jacó, parecendo até premiar seus maus
caminhos. Para responder, primeiro devemos reconhecer o fato de que Deus
chama os seguidores não por aquilo que eles são, mas por aquilo que eles
podem se tornar mediante Sua graça. Ninguém merece as bênçãos de Deus.
Segundo, Deus tinha feito uma aliança irrevogável com Abraão e a
confirmou com Isaque; isto envolvia trabalhar através dos descendentes
naturais de Isaque, isto é, Jacó. Terceiro, mas não menos importante, Jacó
aparentemente tinha algum apreço pelas bênçãos espirituais da aliança de
Deus. No caminho para a casa de Labão no norte da Mesopotâmia, ele
parou em Betel, sagrada como o túmulo de seu avô Abraão. Lá Deus se
revelou a Jacó e confirmou a aliança abraâmica a ele, sem nenhuma
indicação de que Ele aprovava todas as suas ações (Gênesis 28). Quarto,
Jacó foi exilado de casa por enganar Isaque e sofreu muitas situações de
amadurecimento durante os vinte anos no exílio. Quinto, homem
repreendido, ele conheceu a Deus de uma forma espiritualmente
revolucionária junto às marges do Rio Jaboque em seu caminho para casa
(Gênesis 32). Depois Deus mudou seu nome para Israel (“lutador de
Deus”). Então Deus não premiou o mau com o bom, mas perseguiu Jacó ao
longo dos anos até que ele chegou ao seu fim e reconheceu a proeminência
de Deus em sua vida.
Os filhos de Jacó ou de Israel se tornaram ancestrais das doze tribos de
Israel. Os nomes desses filhos e as predições inspiradas de Jacó a respeito
do futuro deles aparecem em Gênesis 49. Desde que Jacó adotou os dois
filhos de José (Efraim e Manassés) como igual aos seus dois filhos (Gênesis
48:5), houve tecnicamente treze tribos, mas somente doze são formalmente
conhecidas (ex.: Êxodo 24:4; Josué 4:2).
Em tais cálculos, Efraim e Manassés são incluídas juntas como a tribo de
José (Números 26:28; Josué 17:14-18). Levi, a tribo sacerdotal, foi pretensa
para ser suportada pelas outras quando os israelitas se estabeleceram em
Canaã depois da conquista e então não recebeu um pedaço de terra. José,
cujos filhos Efraim e Manassés receberam posses separadas na Terra
Prometida, tomou o lugar de Levi.

José

(Gênesis 37-50)

Filho da esposa favorita de Jacó (Raquel), José despertou a ira e os


ciúmes de seus irmãos por causa de seus sonhos e do favoritismo de seu pai.
A “túnica de muitas cores” ou “túnica ricamente ornamentada” não era
somente um pano bonito, mas era o tipo de veste longa que poderia ser
usada por um administrador ou um superior, e expressava os pensamentos
do pai de que José deveria ter uma importância maior que seus irmãos e que
um dia seria seu principal herdeiro. O ódio deles os levou à decisão de
matar José, mas uma mudança de planos resultou em sua venda como
escravo no Egito. Lá, como escravo na casa de Potifar, ele foi levantado a
um lugar de reconhecida confiança, mas foi jogado na prisão sob uma falsa
acusação da mulher de Potifar. E por causa de sua sábia interpretação dos
sonhos do rei, ele foi elevado ao equivalente a primeiro-ministro. Neste
ofício ele tinha a capacidade de fazer uma provisão especial para seus
irmãos, quando eles vieram para o Egito durante os tempos de fome para
comprar grãos e pôde influenciar o rei a convidá-los para viverem naquela
terra. A área determinada para eles era a de Gósen, um pasto bom para o
pastoreio de ovelhas na região do Delta. É claro que José viu a residência
israelita no Egito como sendo temporária, pois antes de morrer ele fez seus
descendentes prometerem levar seu corpo quando saíssem do Egito, e
retornassem à Terra Prometida.
Notas do Capítulo

Nota 1 - As últimas respostas das grandes questões do século XX: Qual é a origem e explicação do
conflito entre árabes e judeus? E, claro, a aliança abraâmica certifica quem vai controlar a
Palestina. [Voltar]
CAPÍTULO

Terminada a Escravidão: Moisés e o Êxodo


(Êxodo 1-15)

H Ácomcerca de 350 anos de silêncio entre Gênesis e Êxodo. Gênesis termina


os israelitas tendo recentemente chegado ao Egito. Êxodo começa
com os eventos que anteciparam a sua partida. A permanência total foi de
430 anos (Êxodo 12:40, 41). As Escrituras dizem pouco sobre aqueles
séculos, exceto que os hebreus se multiplicaram grandemente, e isto implica
que eles eram prósperos.
Na verdade, eles fizeram isso tão bem que os egípcios ficaram com
ciúmes e temerosos por causa do poder e da riqueza deles e ficaram
determinados a desacelerar as expansões futuras. Isto eles buscaram fazer,
primeiro, tentando matar os hebreus. Quando a abordagem falhou, o rei
egípcio ordenou que todos os meninos hebreus fossem mortos ao nascerem.
É claro que Deus não podia permitir a extinção do povo a quem Ele tinha
prometido abençoar e proteger; então Ele começou a levantar um libertador
na pessoa de Moisés. Resgatando-o da morte nas águas do Nilo, Deus o
levou a ser adotado pela família governante, que deu a Moisés acesso ao
conhecimento e à cultura do Egito. Aos quarenta anos, Moisés escolheu se
identificar com seu povo e a causa deles e escapou para a Península do
Sinai (Atos 7:23). Lá ele se conjugou ou aparentou com uma das tribos
descendentes de Abraão onde passou mais de quarenta anos (Atos 7:30).
Aqueles não eram anos de falta de progresso, porque ele estava se
familiarizando com uma área onde por quarenta anos tinha liderado os
filhos de Israel. Na solidão do deserto ele veio a conhecer a Deus com uma
intimidade que fez dele o grande líder de seu povo nos dias que se
seguiram.
Em seu “ardente” encontro com Deus (Êxodo 3-4), Moisés tinha uma
compreensível relutância em retornar ao Egito para lutar com o Faraó e
ganhar a libertação dos judeus. Não somente ele estava muito incerto de que
os hebreus o aceitariam como líder, mas também ele tinha um respeito
saudável pelo poder do Faraó e do Império Egípcio. Moisés tinha um
conhecimento original daquele poder, que era o maior do mundo naquela
época (com a possível exceção da Dinastia Shang, da China – um império
que ele pôde ter conhecido). Deus proveu Moisés com três milagres, para
assegurá-lo de Sua ajuda e chamado, para dar crédito a ele ante os anciões
hebreus, e para persuadir Faraó a aceitar o pedido de Moisés. Foram eles, a
vara que virou serpente, a mão leprosa e a água que se tornou sangue. Deus
também proveu Moisés com Arão como seu porta-voz e companheiro.

Respostas para Questões Complicadas

Há duas questões de moral ou ética nesta conversa entre Moisés e Deus


que vez ou outra incomoda os estudiosos da Bíblia. Primeiro, em Êxodo
3:22 (veja também 11:2), a versão King James infelizmente faz referência
ao “empréstimo” de ouro e prata dos egípcios quando, claro, eles nunca
esperavam recebê-los de volta. Como Deus poderia abençoar uma tática
dessas? O problema é solucionado quando descobrimos que a tradução
deveria ser literalmente “pedir”, aparentemente como um presente.
O segundo problema aparece em Êxodo 4:21 quando Deus disse que
endureceria o coração de Faraó, e então ele se recusaria deixar que os
hebreus saíssem. Muitas vezes é falado que não é justo para Deus endurecer
o coração de um homem e depois puni-lo por sua rebelião.
Além disso, este endurecimento é muitas vezes conectado com salvação;
e insiste-se em que não é justo que Deus mande uma pessoa para a
destruição se Ele endurece o coração daquela pessoa contra a verdade.
Para responder a isso, deve-se deixar claro que o problema aqui é de
política pública – os hebreus serem libertos ou não – e não a salvação em si.
Além do mais, um estudo de Êxodo 4-14 mostrará que Faraó, como um
homem mau, endureceu seu próprio coração sete vezes antes de ser dito que
Deus endureceu uma vez e no final das contas, Faraó endureceu seu próprio
coração em um total de dez vezes, e Deus o endureceu dez vezes. Talvez
isto ilustre a verdade de que quando as pessoas se voltam obstinadamente
contra Deus, ao final de tudo Ele pode, ao julgá-los, confirmá-los em seu
estado de rebeldia (veja Romanos 1:24, 26-28).
No protesto de Moisés a Faraó, direcionado por Deus, ele proferiu dez
pragas para Egito:
1. Águas se transformando em sangue
2. Rãs
3. Piolhos (palavra incerta, talvez mosquitos ou outros insetos)
4. Moscas (“moscas” é falado no texto em inglês; a referência a enxames
pode ser a uma mistura de insetos irritantes)
5. Praga nos Animais (uma epidemia forte e que causava morte nunca
identificada em outros contextos)
6. Úlcera e tumores nos homens e nos animais (tumores inflamados e que
causavam dor ou abcessos)
7. Saraiva
8. Gafanhotos
9. Escuridão
10. A morte dos primogênitos
Muitas vezes é argumentado que essas pragas aconteciam de acordo com
catástrofes naturais terríveis que acometeram o antigo Egito periodicamente
e devem, então, não ser vistas especialmente como algo miraculoso.
Embora muitas delas sigam parcialmente a ordem natural das leis da
natureza, elas eram muito mais que isso. Houve uma intensidade nunca
antes vista dessas calamidades. Elas ocorreram em uma ordem ascendente
de intensidade e efeito. De muitas delas, os hebreus e a terra de Gósen
estavam imunes. As pragas aconteceram e cessaram de acordo com o
preciso tempo divino (Êxodo 8:23).
Finalmente, eles tinham conseguido o seu propósito de dar descrédito aos
deuses do Egito e exaltar o mais alto Deus dos céus (Êxodo 12:12). As
pragas deram claramente descrédito a deuses específicos do Egito (por
exemplo, o Nilo era adorado como Hapi, praga 1; as rãs, adoradas como
Heqt, praga 2; o touro, adorado como Ptah, praga 5; o sol, adorado como
Amon-Rá, Aton, etc., praga 9). Embora não possamos ter certeza, toda a
sequência de pragas deve ter durado mais que um ano.
Logo antes da última praga, na mesma noite que o anjo da morte invadiu
lares de todo o Egito, os israelitas fizeram o sacrifício da Passagem, de
acordo com as divinas instruções. Isto consistia em matar um cordeiro para
cada familiar, a menos que este fosse muito pequeno.
Este cordeiro sem mácula representa a pessoa e sacrifício de Cristo, cujo
sangue foi derramado pelo pecado de todos. O fato do sangue ter que ser
colocado nas ombreiras das portas de cada casa ilustra a verdade do sangue
de Cristo ser apropriado para que alguém seja livre da penalidade do
pecado. Qualquer um que não tivesse cuidado ao aplicar o sangue à
ombreira da porta ou se opusesse a esta provisão divina estava debaixo do
julgamento de Deus.
Depois da morte dos primogênitos em todo o Egito, o Faraó e seu povo
imploraram aos hebreus para que os deixassem antes que todos eles
morressem. Os hebreus estavam se preparando para há algum tempo
deixarem o Egito e estavam agora prontos mesmo a carga sendo imensa.
Havia mais de 600.000 homens com mais de vinte anos de idade, mais
mulheres e crianças, que somavam um total de cerca de 2.500.000. Além
disso, havia gado e pertences pessoais.

Localizando o Êxodo no Tempo e no Espaço

Quando ocorreu o Êxodo ocasionou um debate considerável. O lugar


mais simples para começar com este argumento é 1 Reis 6:1. Este verso diz
que o Êxodo aconteceu 480 anos antes da edificação do templo por
Salomão, o que aconteceu no quarto ano de seu reinado. Se levada em conta
a cronologia de E.R. Thiele,[Nota 1] que traz o reino de Salomão em 970
a.C., a edificação do templo teria ocorrido em 967 a.C.(seu quarto ano).
Adicionando 480 anos àquela data, chegamos a 1447 a.C. como sendo a
data do Êxodo. Outros estudiosos apontam datas levemente diferentes para
o reinado de Salomão. Uma data de 1440a.C. para o Êxodo e uma data de
1400 a.C. para a conquista sobre Josué seriam bons números para sugestão.
Alguns, por razões variadas, preferem considerar a data do Êxodo como
sendo por volta de 1275 a.C.
Não parece haver nenhum objeção insuperável para uma data anterior,
entretanto.[Nota 2]
Muitas questões também foram levantadas sobre a rota do Êxodo.
Não há uma discussão sobre o fato dos hebreus terem tomado uma rota
circular pela Península do Sinai ao invés da rota direta ao longo do
Mediterrâneo para a Palestina. Embora eles talvez atravessassem a última
em duas semanas, Deus observou que eles poderiam não estar capacitados
para lidarem com as exigências militares desta rota (Êxodo 13:17).
Exatamente onde eles estiveram enquanto viajavam do leste de Gósen é
uma questão de discussão considerável. Parte do problema se relaciona ao
significado do termo yam sûph (traduzido como “Mar Vermelho” na versão
King James e em outras versões) e parte à dificuldade ou impossibilidade
de identificar muitos dos lugares ligados com a narrativa de Êxodo (por
exemplo, os nomes de três lugares de Êxodo 14:2 não podem ser
identificados com nenhum grau de certeza). Alguns argumentaram que yam
sûph deveria ser traduzido como “Mar das Canas” e buscam relacioná-lo
com o lago ou lagos que agora fazem parte do sistema do Canal de Suez.
Entretanto, tal posição não pode ser suportada. A tradução grega do Antigo
Testamento, de Atos 7:36 e Hebreus 11:29 entendem que yam sûph refere-
se ao Mar Vermelho. Além do mais, em Êxodo 14:27 e 15:5, 8, 10 parecem
requerer algo mais que um dos lagos de Suez. Além disso, foi observado
que yam sûph em Êxodo 10:19 parece aparentemente ter mais do que a
região alagadiça de Suez; o Golfo de Suez é grande o suficiente para
destruir as multidões de gafanhotos e é propriamente acometido por um
vento ocidental que sopra os gafanhotos para suas águas. Certamente em
Números 14:25, yam sûph é o Mar Vermelho. Talvez seja melhor, então,
concluir que os hebreus viajaram em direção ao sul para o oeste do sistema
do canal conhecido hoje e cruzou o Mar Vermelho, a sul do atual porto de
Suez.
Nos últimos anos, Doron Nof, professor de oceanografia da Florida State
University, e Nathan Paldor, um especialista em ciências atmosféricas na
Hebrew University of Jerusalem produziram um estudo que mostra como os
fortes ventos na região a norte do fim do Mar Vermelho (veja Êxodo 14:21)
poderia ter baixado o nível da água e permitido que os israelitas passassem.
[Nota 3] Esses professores não estavam tentando “provar” a veracidade da
narrativa do Êxodo, mas somente buscaram descobrir se esta passagem era
cientificamente plausível.
Notas do Capítulo

Nota 1 - E.R. Thiele, The Misterious Numbers of Hebrew Kings [Os Misteriosos Números dos Reis
Hebreus], ed. rev. (Grand Rapids: Zondervan, 1983). [Voltar]
Nota 2 - Veja Howard F. Vos, An Introduction to Bible Archaelogy [Uma Introdução à Arqueologia
Bíblica] (Chicago: Moody, 1983), páginas 55-60 para uma discussão mais aprofundada do
assunto. [Voltar]
Nota 3 - Veja John N. Wilford, “Oceanographers Say Winds May Have Parted the Waters,”
[Oceanógrafos Dizem Que os Ventos Podem Ter Separado as Águas] New York Times, 15
de março de 1992, página 12; Doron Nof e Nathan Paldore, “Are There Oceanographic
Explanations for the Israelites’ Crossing of the Red Sea?” Boletim da Sociedade
Americana de Metereologia, Março, 1992, páginas 305-14. [Voltar]
CAPÍTULO

O Poder no Deserto: A Vastidão das Andanças


(Êxodo 15 – Deuteronômio 34

P ARA os habitantes do mundo moderno, acostumados com as rápidas


situações da Guerra dos Seis Dias (1967), da Invasão de Granada
(1983), da Operação Tempestade no Deserto (1991), ou da estonteante
corrida para a unificação da Alemanha (1990), as vastas andanças de Israel
podem parecer dolorosamente lentas, desnecessárias e ineficientes. Mas
aquelas andanças não foram meramente um interlúdio sem importância na
história de Israel; Deus estava moldando uma nação fora de uma multidão
de escravos egípcios, e Ele estava dando àquelas pessoas as instruções
religiosas básicas criadas para moldá-las e caracterizá-las. No Sinai, Moisés
entregou para Israel a Lei, o modelo do tabernáculo (que mais tarde se
tornou o modelo do templo) e ordens para sua execução, instruções
detalhadas para o sacerdócio e o sistema sacrificial, e alguns mandamentos
a respeito do desenvolvimento da realeza. Além disso, milagre após
milagre, Deus demonstrou Seu poder e preparou Seu povo para o desafio da
conquista e povoamento de Canaã. Se aceitarmos a primeira data do Êxodo,
o período das andanças (1440-1400) se prolongou até o controle egípcio de
Canaã para a terrível falha (durante a Era Amarna) que os israelitas não
seriam forçados a batalhar com seus mestres durante a conquista.

Jornada para o Sinai

(Êxodo 15:22 – 19:1)


O período das andanças foi verdadeiramente uma época memorável.
Deus demonstrou Sua presença com os hebreus através de um pilar de
nuvem que pairava sobre eles dia após dia e por um pilar de fogo à noite.
Ele proveu comida suficiente para todos, em forma de maná por quarenta
anos (Êxodo 16:35), uma substância que parecia com uma geada no chão,
seis manhãs por semana. (No sexto dia, eles recebiam uma porção dobrada,
então teriam algo para o Sábado.) Periodicamente, Deus provia água através
de meios miraculosos; e Ele arranjou roupas que não se desgastavam,
aparentemente até crescendo à medida que a pessoa amadurecia.
Infelizmente, diante da presença e do poder de Deus, o povo não buscou
a inspiração para que a fé fosse suficiente afim de ajudá-los a encararem
cada nova prova. Depois da maravilhosa libertação das pragas e abertura do
Mar Vermelho, eles murmuraram em Mara pela falta de água (Êxodo
15:24). Depois do milagre da água doce, eles reclamaram pela falta de
comida (Êxodo 16:2). Depois de provisões de água e comida, a
congregação ainda murmurou quando a necessidade por água se tornou
crítica. De fato, eles ficaram tão furiosos com Moisés que eles estavam a
ponto de apedrejá-lo (Êxodo 17:3,4). E houve várias outras situações de
murmuração ao continuar das andanças (Números 14:2; 16:41;
Deuteronômio 1:27). No período final de seis semanas, a companhia dos
hebreus alcançou o Monte Sinai. Ao longo do caminho, eles derrotaram os
amalequitas em uma batalha e conheceram o padastro de Moisés, Jetro, que
deu alguns conselhos sobre administração.

No Sinai

(Êxodo 19:2 – Números 10:10) A Lei (Êxodo 19:2 – 24:18)

Por um ano os israelitas acamparam nos arredores do Monte Sinai, na


extremidade sul da Península do Sinai. Logo após terem chegado, Deus deu
a eles o Decálogo ou os Dez Mandamentos. Ele fez isso de forma audível,
em uma voz como som de trombetas (Êxodo 19:16; 20:18, 22) para que
toda a companhia pudesse ouvir e então não ter dúvidas sobre os Seus
mandamentos para eles. A Lei foi dada não como meio de uma vida
espiritual para o povo “chamado”, mas como meio pelo qual eles se
tornariam um “tesouro peculiar” e “reino sacerdotal” (Êxodo 19:5, 6). Os
mandamentos são repetidos com somente algumas poucas variações de
Deuteronômio 5:16-18.

• O primeiro mandamento proíbe adoração a nada que não seja Deus.


• O segundo declara a espiritualidade de Deus e proíbe que se faça
qualquer semelhança material dEle.
• O terceiro guarda o nome de Deus e Sua divindade.
• O quarto ordena que o Sábado seja observado como um dia separado
para Deus.
• O quinto ordena crianças a honrarem seus pais assim como fazem com
Deus e assumir responsabilidades por eles.
• O sexto proíbe o assassinato e deveria ser traduzido como “Não
assassinarás” ao invés de “Não matarás”. As Escrituras autorizam a
punição em passagens como Êxodo 21 e provavelmente Romanos 13; e
enquanto ela encoraja paz, não declara a guerra ilegal.
• O sétimo requer a pureza sexual. Sendo criado para proteger a santidade
do casamento, foi aplicado por Jesus à toda imoralidade sexual –
também pensada como obra (Mateus 5:27, 28).
• O oitavo fala sobre os direitos de propriedade.
• O nono proíbe a mentira e informações sem evidências em geral.
• O décimo proíbe abrigar um desejo mau por aquilo que pertence ao
nosso vizinho.

Depois de enunciar os princípios do Decálogo, Deus procedeu nos três


capítulos seguintes falando entre as relações de senhores e servos, danos a
pessoas, direitos de propriedade, crimes contra a humanidade, a terra e o
sábado, as instituições das festas do pão sem fermento, da colheita e dos
primeiros frutos, e instruções a respeito da conquista da terra. Depois de
receber a Lei, o povo respondeu com comprometimento: “Todas as palavras
que o Senhor tem falado, faremos.”(Êxodo 24:3).

O Tabernáculo (Êxodo 24-27, 30-31, 35-40)


Não somente a narrativa do Êxodo declara que Deus comunicou
instruções a Moisés a respeito da construção do tabernáculo, mas Atos 7:44
e Hebreus 8:5 suprem o Novo Testamento de confirmações deste fato. O
tabernáculo ou tenda era para ser um santuário onde Deus habitaria (Êxodo
25:8). Isto não significa, claro, que Deus não iria mais estar presente em
todos os lugares; significa somente que as pessoas poderiam adorá-lo ali.
As medidas do tabernáculo são dadas em côvados, aproximadamente
dezoito pés de comprimento. Cercando o tabernáculo havia um pátio com o
perímetro de 450 pés (150 pés por 75 pés), delimitado por uma cortina de
linho em colunas de bronze (7 ½ pés de altura, com espaço de 7 ½ pés entre
elas) com ganchos de prata. Só poderiam entrar neste pátio pelo leste. A
metade oriental do pátio era para os adoradores, nela estava o altar de
bronze (7 ½ pés quadrados e 41/2 pés de altura) feito de acácia e cobertos
com bronze. Além do altar havia uma pia de bronze na qual os sacerdotes se
lavavam como preparação para ministrar no altar ou no tabernáculo. Na
parte oeste do pátio ficava o tabernáculo – 45 pés de comprimento e 15 pés
de largura. Foi dividido em duas partes; o santo lugar no leste (30 pés de
comprimento) que podia ser frequentado pelos sacerdotes, mas o santo dos
santos (15 por 15 pés) era acessível somente ao mais alto sacerdote do Dia
da Expiação. O tabernáculo era feito de quarenta e oito tábuas (20 de um
lado e 8 no final oeste) de madeira de acácia coberta com ouro e fixadas
juntas com barras inseridas em encaixes de prata. A estrutura foi coberta
com uma cortina de linho azul, púrpura e carmesim. Protegendo isto estava
primeiramente uma camada de pelo de cabra, uma outra de pele de carneiro
e uma terceira, de pele de cabra. Véus de linho fechavam as entradas para o
santo lugar e o santo dos santos.
Três móveis ficavam no santo lugar: a mesa do Pão da Presença ao lado
norte, o candelabro de ouro, no lado sul, o altar do incenso antes do véu que
separava o santo lugar do santo dos santos. A mesa (cerca de 36 polegadas
de comprimento por 18 polegadas de largura e 27 polegadas de altura) era
feita de acácia e coberta com ouro, e tinha sob ela pães sem fermento,
representando as doze tribos de Israel. O candelabro era feito de ouro puro e
tinha sete ramos. Suas sete lâmpadas deveriam ser preenchidas pelos
sacerdotes a cada noite com óleo. O altar do incenso era feito de acácia
coberta com ouro e tinha três pés de altura. No santo dos santos estava
localizada a arca da aliança. Esta era coberta com ouro por dentro e por fora
e media três pés, nove polegadas de comprimento; com uma largura interna
de dois pés, três polegadas. Nela eram mantidas as duas tábuas escritas com
os Dez Mandamentos , um pote de maná, e a vara de Arão que floresceu.
Sua coberta era chamada de lugar de misericórdia e representava a presença
de Deus. Havia dois querubins de Deus que ficavam na tampa olhando um
para o outro, com as asas estendidas sobre o propiciatório. A mobília era
feita com argolas e varais para que os sacerdotes pudessem carregá-la.

O Simbolismo das Coisas Que Estão Por Vir


Há um tremendo simbolismo no Tabernáculo. As pessoas teriam
construído cada detalhe da estrutura para ser simbólico. Embora seja difícil
defender tal posição extrema, até mesmo um mínimo simbolismo é
impressionante. Para apreciar o simbolismo, é necessário olhar primeiro
para a adoração no santuário. O tabernáculo ou presença de Deus foi
aproximado depois de sacrifícios no altar do sacrifício, o qual exigia
derramamento de sangue. Um sacerdote tinha que ser limpo na pia antes de
ministrar. O incenso no altar do incenso era acendido com uma brasa do
altar de sacrifício. O mais alto sacerdote no Dia da Expiação borrifava
sangue do altar no propiciatório, pelos pecados da nação de Israel.
Ofertas no altar de bronze apontam para a morte de Cristo, que ofereceu
a si mesmo sem mácula para Deus (Hebreus 9:14). O altar do incenso
retrata Deus como o Intercessor daquele que crê, que intercede baseado em
Seu sangue derramado (Hebreus 7:25). A pia de bronze é um simbolismo de
limpeza espiritual ou limpeza de águas, pela Palavra acessível àqueles que
creem (Hebreus 10:25; 1 João 1:9).
Os adoradores precisam ser limpos da contaminação constantemente. O
candelabro pode ser uma figura de Cristo como sendo a luz do mundo (João
8:12; 9:5). O pão na mesa (o Pão da Presença), dá-nos a visão de Cristo
como o Pão da Vida, nutridor para aquele que crê (João 6:35-58), e
aparentemente denotava a presença de Deus sendo um sustentador para Seu
povo. O véu que bloqueava o acesso direto dos adoradores a Deus no santo
dos santos foi rasgado de cima a baixo quando Cristo morreu (Mateus
27:51), e agora por Ele, todos podemos ir diretamente para Deus. Aquele
que crê tem acesso a Deus pela virtude da redenção de Cristo; Ele mesmo
disse: “Eu sou a porta. Se alguém entra por mim, será salvo” (João 10:9
NKJV).
A grande quantidade de ouro, prata, cobre e tecidos necessários para
construir o tabernáculo foi generosamente ofertada pelos hebreus (Êxodo
35:21-36:7) e dá alguma indicação da riqueza que eles foram capazes de
acumular enquanto cativos ou que tinham recebido dos egípcios quando
libertos. A grandeza do tabernáculo demonstra a qualidade da arte dos
hebreus. Aparentemente eles tinham conhecimentos metalúrgicos e de
muitas outras artes, passados pelos egípcios.
Reconhecidamente, a explicação bíblica ainda fala da ajuda divina em
fazer o trabalho de construção (Êxodo 31:1-6; 35:25, 26), mas isto
provavelmente envolveu um aprimoramento de dons naturais e habilidades
adquiridas. Esta geração de trabalhadores habilidosos morreu no deserto, e
aparentemente eles não estavam capacitados a treinarem seus filhos e filhas
para fazer o mesmo, pois as escavações na Palestina do período dos judeus
e da monarquia não revelam um nível muito alto de habilidades artísticas
entre os hebreus. Uma vez construído, o tabernáculo continuou sendo por
cerca de cem anos o centro da adoração de Israel. Ele permaneceu em uso
até a construção do templo de Salomão; o que aconteceu com ele depois, as
Escrituras não indicam.

O Sacerdócio (Êxodo 28-29)


Para uma adoração e ministração ordenada, Deus agora estabeleceu uma
classe sacerdotal. (Nos primeiros séculos um cabeça de uma família
aparentemente representava sua família diante de Deus.) Arão serviu como
sumo sacerdote, e os seus filhos o assistiam. A principal função do
sacerdote era representar os seres humanos diante de Deus.
Eles atuavam especialmente ao fazer as ofertas para Deus, as quais
tinham a função de encontrar temporariamente a justiça de Deus pelo
sacrifício pelo pecado (tais sacrifícios repetidos anteciparam o completo e
perfeito sacrifício de Cristo na cruz, Hebreus 7:27; 9:11-28).
Eles também tinham a responsabilidade de instruir a laicidade na lei de
Deus e o trabalho de cuidar do tabernáculo.
Os sacerdotes vestiam uma longa sobrepeliz de linho branco com um
cinturão que tinha as cores azul, roxo e carmesim. Eles vestiam calções de
linho debaixo da sobrepeliz.
As vestes do sumo sacerdote consistiam de uma estola, uma sobrepeliz,
uma éfode, um cinturão, um peitoral e um turbante. Em cima de uma túnica
de linho branco ele vestia uma sobrepeliz azul que ia até abaixo dos joelhos.
Ao redor da parte de cima dela, estavam afixadas romãs e campainhas de
ouro. Em cima da sobrepeliz ele vestia uma éfode, que consistia em duas
peças de linho e preso às ombreiras da estola, em cada qual estava gravada
os nomes das tribos de Israel. Um cinturão era preso à cintura. O peitoral
era suspenso por correntes de ouro das ombreiras do éfode e era preso ao
cinto com um cadarço azul.
Tinha doze pedras preciosas esculpidas com os nomes das doze tribos.
O Urim e o Tumim (significando “luzes” e “perfeições”) eram colocados
dentro do peitoral. Não é falado exatamente o que eles eram ou como eles
costumavam ser usados em determinar a vontade de Deus.
Na testa ou no turbante do sumo sacerdote havia uma placa de ouro onde
se lia “Santidade ao Senhor”, o que servia como um lembrete da absoluta
natureza pura de Deus.

A Aliança Quebrada (Êxodo 32-34)


É provado nos eventos do capítulo 32 que os hebreus aceitaram
levianamente a aliança legal (Êxodo 24:3). Impaciente com a extensa
ausência de Moisés, o povo queria novos deuses, que eles pudessem ver.
Até mesmo Arão, sumo sacerdote, que tinha testemunhado com a maior
intimidade as poderosas obras de Deus nos egípcios, ficou entusiasmado
com o pedido do povo e supervisionou a moldagem de um bezerro de ouro
e a construção de um altar diante dele. A adoração bovina do Egito
claramente tinha um forte apoio entre os hebreus. O fato deles se voltarem
tão prontamente para o padrão de adoração dos egípcios nesta ocasião
indica que o paganismo deve ter alcançado progresso entre eles durante o
cativeiro. Toda esta cena demonstra a inabilidade da lei em fazer as pessoas
boas e a inabilidade delas em manter a lei em sua própria força.
Moisés recebeu o pronunciamento de Deus em relação à destruição dos
israelitas por causa da apostasia deles com uma oração intercessória
baseada na aliança abraâmica. Por isso, Deus mudou Seu curso de ação e
determinou executar o julgamento naqueles que aparentemente eram os que
mais desrespeitavam a lei. O fato simbólico é que as pessoas já tinham
quebrado a lei, e Moisés destruiu as tábuas onde os Dez Mandamentos
tinham sido escritos. Logo depois, Deus deu o Decálogo a Moisés
novamente e mais uma vez impôs o Sábado e as festas em Israel. O grau de
arrependimento de Israel é visto na generosidade de suas ofertas para a
construção do tabernáculo (Êxodo 35:21 – 36:7).

Ordenanças Legais e Sacerdotais (Levítico 1:1-27:34)


O leitor casual de Levítico tem sua leitura muitas vezes desestimulada
pela imensa quantidade de detalhes acerca das festas e sacrifícios e
regulamentações da vida no Antigo Israel. Mas quando se trata da Escritura,
é importante parar de olhar somente de forma casual e começar a
“enxergar”. Uma verdadeira visão ou percepção envolverá às vezes o uso de
um lápis e algumas anotações. Logo se torna evidente que a palavra-chave
de Levítico é “santo”, que aparece pelo menos oitenta e sete vezes; e uma
segunda palavra-chave é “reparação”, que aparece no mínimo quarenta e
cinco vezes. Parece claro, então, que o que Levítico está tentando dizer é
que Deus é um Deus infinitamente santo e que os seres humanos pecadores
podem se aproximar do Deus infinitamente santo do universo somente
baseados nos sacrifícios de derramamento de sangue. Este é um livro para o
povo de Deus, que mostra como Deus deve ser adorado e como se
aproximar dele. O livro insiste na santidade do corpo, assim como da alma.
Fica claro que deve haver ordem e decência na adoração a Deus, pois Ele é
um ser majestoso, soberano e santo. Por ser soberano, santo e inacessível
pelos seres humanos pecaminosos, Deus deve ter a iniciativa em estabelecer
qualquer tipo de contato com eles; e Ele tem o direito de prescrever a
natureza de tal contato. Então, não é surpreendente que nenhum outro livro
da Bíblia contenha tantas mensagens diretas de Deus como este.

• “O Senhor falou,” “disse” ou “ordenou” ocorrem cinquenta e seis


vezes.
• “Eu sou o Senhor,” ocorre vinte e uma vezes.
• “Eu sou o Senhor teu Deus,” ocorre vinte e uma vezes.

É fácil achar no Antigo Testamento aplicações para o fiel moderno


negligenciar o significado básico que o Antigo Testamento teve para os
adoradores da época pré-cristã. O sistema sacrifical (Levítico 1:1-7:38) era,
para eles, um meio de aproximação a Deus. Por ser um sistema dado por
Deus, eles podiam se achegar a Deus por este meio com a certeza de que
seriam recebidos. O sistema de ofertas envolvia muitos princípios
significativos. Por exemplo, ofertas eram frequentemente substitutivas, no
lugar de alguém (ex.: Levítico 1:4; 3:2; 4:4); as ofertas tinham que ser da
mais alta qualidade – o melhor que se tinha para oferecer (ex.: Levítico 1:3;
2:1), os sacrifícios deveriam ser acompanhados por uma penitência
verdadeira e sinceridade (veja Isaías 1:11-24).
Para aqueles que creem hoje em dia, cada uma das cinco ofertas
apresentadas representavam um aspecto distinto da oferta de Jesus Cristo. A
oferta queimada significava a total consagração do sacrificador a Deus, até
que todo o sacrifício fosse consumido. Esta oferta pode ser vista no apelo
de Romanos 12:1. A oferta queimada retrata Cristo oferecendo a si mesmo
sem mácula para Deus (Hebreus 9:11-14; 10:5-10). A oferta de paz
envolvia o sustento da comunhão entre o adorador e Deus; poderia ser uma
oferta de gratidão, o pagamento de um voto ou uma expressão de amor a
Deus. Como nossa oferta de paz, Cristo tornou possível para o pecador se
reconciliar com Deus; Ele fez a paz (Colossenses 1:20). A oferta do pecado
era para os pecados da ignorância, atos justos omitidos inadvertidamente,
ou por pecados específicos do tipo que não representavam um desacato
aberto a Deus (Levítico 5:1-13; Números 15:27-31). Esta oferta retrata
Cristo como portador do pecado do Seu povo (“se fez pecador por nós”, 2
Coríntios 5:21). Violações sobre o direito de uma pessoa ou sua propriedade
ou falha em fazer ofertas pedidas para Deus precisavam da oferta das
transgressões. Estas ofertas pareciam enfatizar o preço do pecado ou os
efeitos nocivos e vieram antes de Cristo como Aquele que quebrou o dano
do pecado. (Isaías 53:10 deve ser traduzido como “Você deve fazer para a
alma dele uma oferta de transgressão” e fala claramente de Cristo.) A oferta
de carnes ou de grãos é a única oferta que não envolvia derramamento de
sangue. Ela consistia em produtos da soja, significando a dedicação do
sustento e da riqueza de alguém a Deus.
Alguns consideram que esta oferta se refere à perfeita humanidade de
Cristo, e quando envolvia a oferta dos primeiros frutos (Levítico 2:14),
pensa-se que essa é um pré-figura da ressurreição de Cristo (1Coríntios
15:20-23).
Levítico 8 – 10 descreve a posse do sacerdócio e envolve seu chamado
(8:1 – 5), limpeza (8:6), vestimenta (8:7-13), expiação (8:14-29), unção
(8:30), comida (8:31 – 36), ministério (9:1-24) e falha (10:1-20).

Um Chamado e Orientações Para a Santidade


Se a palavra-chave de Levítico é “santo” ou “santidade”, então o livro
deve ser olhado como um manual de santidade, e como um estatuto da
santidade requerida por Deus a seu povo. Um povo santo deve ter comida
pura (11:1-47), corpos puros (12:1 – 14:32), lares puros (14:33-57), hábitos
puros (15:1-33), adoração pura (17:1-9), moral pura (18:1-30) e costumes
puros (19:1-22:33). A falha em seguir as santas exigências de Deus
resultariam no cativeiro e na dispersão entre as nações, mas a incondicional
aliança abraâmica permanecia forte e garantiu bênçãos futuras para os
israelitas na Terra Prometida (capítulo 26).
Dentre as instruções descritas divinamente ou lembradas em Levítico
estão dias especiais ou festas ou estações. Estas podem ser achadas
primeiramente nos capítulos 16 e 23 até o 26.

1. Sábado – o sétimo dia, um dia de descanso e devoto a Deus.


2. Festa da Páscoa e dos pães asmos – o décimo quarto dia do primeiro
mês do mês do ano religioso (aproximadamente abril), recordava os
israelitas da intervenção miraculosa de Deus em lembrá-los do
cativeiro no Egito. O décimo quinto e vigésimo primeiro dias eram
seguidos por dias de santa convocação.
Durante a semana entre esses dias, os israelitas comiam pães asmos
(Festa dos Pães Asmos). O cordeiro morto é uma representação de
“Cristo, nossa páscoa, sacrificado por nós” (1 Coríntios 5:7).
3. Colheita ou primeiros frutos – provavelmente o dia depois do
primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, ou seja, o décimo sexto dia do
mês. A oferta dos primeiros frutos da terra (da colheita da cevada) era
pra ser trazida ao sacerdote. Isto representa previamente a ressurreição
de Cristo como primeiros frutos dos mortos (1 Coríntios 15:23;
Romanos 8:29).
4. Pentecoste ou Festa das Semanas – cinquenta dias após a festa dos
primeiros frutos, sendo assim, depois da colheita do trigo. Era um dia
de descanso, no qual uma oferta de carne especial era apresentada,
talvez significando que a comida de cada dia vinha das mãos de Deus.
Representa previamente a formação da Igreja no Pentecoste (Atos 2),
que aconteceu cinquenta dias após a Ressurreição.
5. Festa das Trombetas – o primeiro dia do sétimo mês
(aproximadamente Outubro), conduzido no ano civil. Era um dia de
descanso e santa convocação com ofertas especiais feitas a Deus.
6. Dia da Expiação – décimo dia do sétimo mês, o dia mais solene em
todo ano. Era um dia de jejum e santa convocação, quando o sumo
sacerdote entrava no santo dos santos para pedir reparação pelos
pecados do povo. Representa previamente o sacrifício de Deus por
todos (Hebreus 9:12).
7. Festa dos Tabernáculos – um período de sete dias, ao final da estação
da colheita (décimo quinto dia de Tishri, aproximadamente outubro)
quando os israelitas viviam em tendas. Diariamente, ofertas diárias
eram feitas, e o primeiro e oitavo dias (dia após sua conclusão) eram
dias de descanso e de convocação santa.
8. Ano Sabático – todo sétimo ano, designado como um ano de descanso
da terra. Campos não eram semeados e vinhas não eram podadas.
9. Ano do Jubileu – o quinquagésimo ano após sete cumprimentos da lei
do Ano Sabático. Novamente a terra deveria permanecer intocada. Os
escravos hebreus eram libertos e heranças de família eram devolvidas
para aqueles que as tinham perdido.

Preparação para a Continuação da Jornada a Canaã (Números


1:1 – 10:10)
Os primeiros capítulos de Números descrevem preparações para a
deixada do Monte Sinai e a marcha para Canaã. Os hebreus tinham
acampado por quase um ano. Provavelmente a organização para a marcha
desenvolvida anteriormente foi esquecida. Além disso, um novo elemento
fora agora apresentado: um centro de adoração, o tabernáculo. E eles
enfrentariam pessoas hostis; eles tinham que estar prontos para a guerra.
Para aquele fim, Deus ordenou um censo militar para descobrir que poder
humano estava disponível e para organizar as forças sob comandantes
especificamente nomeados. O número de guerreiros acima de vinte anos era
de 603.550 (Números 1:46), dando um total de 2.500,000 israelitas. Muitos
estudiosos levantaram questões sobre a corrupção do texto hebreu neste
ponto e sugeriram uma redução drástica das figuras do censo, mas parece
melhor usar o cálculo em valor nominal. Outras passagens indicam o
mesmo total (Êxodo 12:37; Números 11:21). Até um pequeno contingente
de, digamos, 50.000 israelitas teria exigindo as fontes do Sinai além de seus
limites; então a necessidade de uma provisão sobrenatural não pôde ser
eliminada por completo, como muitos gostariam de fazer. Além disso, um
poucos milhares de hebreus não seriam um desafio para o Faraó. Seu
discurso era, “O povo de Israel é numeroso e mais forte que nós.” (Êxodo
1:9).
Embora não seja necessário levar esse discurso ao pé da letra, ele deve
indicar centenas de milhares ou até milhões de hebreus.[Nota 1]
Tal grande número de pessoas demandaria instruções detalhadas para
acampar e levantar acampamento, para marchar, e para precauções
higiênicas. As necessidades específicas não nos detêm aqui, exceto em
dizer que no centro do acampamento ficava o tabernáculo, flanqueado a
leste de Judá, Isaacar e Zebulom; ao norte em Dã, Aser e Naftali; a oeste em
Efraim, Manassés e Benjamim; ao sul por Ruben, Semeão e Gade. O sinal
para marchar era soprado em trombetas de prata e uma nuvem significando
a presença divina se movia à frente deles em rota.
À medida que marchavam, seis vagões, levados por doze bois,
perfuravam cortinas e quadros no tabernáculo. A mobília estava equipada
com argolas e varais para que os levitas pudessem carregá-la. Antes de os
israelitas terem deixado o Sinai, eles celebraram a Páscoa, marcando o
primeiro aniversário da partida do Egito.

Jornada para Canaã

(Números 10:11 – Deuteronômio 34:12)

A Geração Perdida (Números 10:11 – 22:1)


Logo após os hebreus deixarem o Monte Sinai, um espírito de rebelião se
instituiu no acampamento. Até mesmo os companheiros mais próximos de
Moisés foram afetados. Primeiro, o povo queixou-se da falta de variedade
de comida e pediu carne. Deus prometeu carne a eles por um mês inteiro
(Números 11:20). Números 11:31-55 tem muitas traduções infelizes. O que
devemos analisar é que codornizes foram espalhadas por cerca de dois
côvados sobre a terra para que os hebreus pudessem recolhê-las. Então eles
as espalharam ao longo do acampamento – um modo de conservar a comida
através da secagem ao sol. E antes de ter terminado de comer a ave
(versículo 33), isto é, antes do mês acabar, uma praga os atingiu. Embora
isto seja visto como uma punição divina pela rebelião deles, a praga poderia
ter vindo da carne estragada.
Segundo, Miriã (irmã de Moisés) e Arão se rebelaram contra a liderança
de Moisés e sofreram punição divina (capítulo 12). Terceiro, toda a
companhia de israelitas se rebelou contra o Senhor. À medida que as tribos
chegaram à fronteira próxima de Cades-Barnéia próxima à margem sul de
Canaã, eles enviaram doze homens para espiar a terra, sob um comando
divino. Os espias trouxeram de volta um relato animado da terra, mas
encontraram medo no coração das pessoas com sua descrição da
impossibilidade de encontrar os habitantes. No entanto, Josué e Calebe
registraram um relatório da minoria e encorajaram a confiança em Deus
para entregar a terra para eles. Mas o povo ignorou a colocação deles, se
rebelou contra Deus, e pediu por um novo capitão para liderá-los de volta
para o Egito. Em julgamento, Deus declarou que esta geração vaguearia no
deserto por quarenta anos até que todos os adultos morressem, exceto Josué
e Calebe, que tinham sido fiéis a Ele. Quarto, os israelitas foram para a
batalha contra os amalequitas e os cananeus em desobediência aos
mandamentos de Deus e foram derrotados (Números 14:41-45).
Quinto, Corá, Datã e Abirão convenceram os levitas e outros a se
rebelarem contra a direção divina da liderança de Moisés e Arão.
Datã e Abirão, descendentes de Ruben, filho mais velho de Jacó,
buscaram desordenar a liderança política de Moisés. Corá, com apoio dos
levitas, contestou a liderança sacerdotal de Arão e sua família.
No ápice da rebelião, a terra abriu e engoliu os três líderes e seus
familiares, e o fogo destruiu os 250 falsos sacerdotes (capítulo 16). Em
Números 16:32, “todos os homens” poderia ser melhor traduzido para
“tudo”. Que os filhos de Corá não pereceram com ele fica claro em
Números 26:11. Aparentemente, eles eram filhos adultos que não
compartilhavam da ambição do pai deles. Descendentes importantes de
Corá incluíram Samuel, o maior profeta e juíz. Muitos em Israel
violentamente se opuseram a Moisés pela destruição dos rebeldes,
culpando-o pelas mortes deles. Deus então enviou uma praga ao povo que
ceifou 14.700 vidas (Números 16:49). É perigoso desobedecer aos
propósitos e as vontades claramente reveladas de Deus.
Logo depois de trinta e oito anos de andança pelo deserto, provavelmente
não muito longe de Cades-Barnéia, os hebreus retornaram ao seu lugar. Lá
Miriã morreu (Números 20:1), e Moisés, em um ato de raiva e
desobediência, golpeou uma rocha duas vezes para trazer água para os
hebreus. Seu pecado envolveu especialmente recusa em esquecer-se de si
mesmo e reconhecer o poder de Deus em encontrar as necessidades do
povo. Como punição, foi negada a ele permissão para entrar na Terra
Prometida. Após um longo tempo, preparações foram feitas para a jornada
para Canaã. Quando os edomitas recusaram a permissão dos hebreus para
entrar no território deles, eles foram do Éden para o sul. Antes disso,
entretanto, sofreram a perda de Arão, e Eleazar, seu filho se tornou sumo
sacerdote. No caminho eles desafiaram os cananeus sob a liderança de
Arade e se rebelaram uma vez mais contra Deus. Desta vez, Ele enviou
serpentes venenosas para o meio deles, causando a morte de muitos. O
alívio divinamente ordenado veio em forma de uma serpente de bronze.
Aqueles que obedeceram à Palavra de Deus e olharam em fé foram curados.
Jesus mais tarde viu isso como um símbolo da morte dEle na cruz; qualquer
um que se achegasse em fé a Ele seria salvo (João 3:14).
Subsequentemente, Deus deu vitórias sobre os amonitas e sobre Basã.
Ao longo desta discussão, a atenção foi focada na absoluta santidade e
absoluta obediência que Deus ordena a Seu povo, e o julgamento que pode
ser esperado pela queda na desobediência. Assim como uma punição
pública severa veio sobre os rebeldes no começo da existência corporativa
de Israel, então se sente na igreja durante os primeiros dias (Atos 5:1-11).
Tais atos públicos de condenação divina do pecado devem dar pausa para a
igreja do século XXI, presa na lascívia moral da civilização ocidental. O
mandamento de Deus a respeito da santidade não mudou.

Preparação Para a Entrada em Canaã (Números 22:1-36:13)


Detalhadamente, os filhos de Israel estabeleceram o acampamento em
Moabe, prontos para entrarem na Terra Prometida. Apavorado, Balaque, o
rei de Moabe, se juntou ao profeta da Mesopotâmia chamado Balaão para
amaldiçoar Israel. Isto ele se recusou a fazer e, ao invés disso, concedeu
bênção. Finalmente, de qualquer forma, ele deu conselhos maus que
resultaram em muitos israelitas sendo levados à imoralidade e idolatria.
Então, um outro julgamento purificador veio de Deus. Isto foi seguido por
um censo, com o intuito de determinar as capacidades militares de Israel.
Então, somente os homens adultos eram contados, em um total de 601.730
(Números 26:51), um pouco menos que o total de 603.550 (veja Números
1:46). A redução pode ser considerada pelas frequentes rebeliões e
massivos julgamentos de Deus durante as andanças no deserto. O novo
censo também proveu meios para divisões mais justas da terra onde eles
estavam prestes a entrar (Números 26:52-65).
A iminência da morte de Moisés e a razão dela foram mais tarde
anunciadas, e orientações foram dadas para a escolha de Josué como o
próximo líder. Não somente ele era um homem de habilidades naturais, mas
ele também recebeu dons divinos (capítulo 27). Números 28 e 29
descrevem todo o ritual anual com suas festas e festivais e adicionaram
detalhes sobre quantidade nas ofertas. Ruben, Gade, e metade da tribo de
Manassés requereram permissão para se estabelecer nas ricas terras
Transjordânicas e relutantemente foram autorizados a fazer isso sob a
condição de ter que se juntar ao resto dos israelitas na conquista de Canaã
antes de se estabilizarem. Não sendo os levitas nomeados a nenhuma
herança tribal, foi concedido a eles quarenta e oito cidades entre a herança
das outras tribos e seis das cidades deles foram separadas como cidades de
refúgio ou esconderijos para homicidas para prevenir o começo das
contendas de sangue.

A Despedida de Moisés (Deuteronômio 1:1-34:12)


De certa forma, o livro de Deuteronômio é o discurso de despedida de
Moisés. Ele em pouco tempo iria ser “graduado”. Um novo líder estava
prestes a tomar o comando. Com uma ávida expectativa, os israelitas
permaneceram à margem da Terra Prometida, a qual tinham esperado por
tanto tempo. De sua parte, Moisés ansiou pelo bem-estar do povo da aliança
propagado antes dele. Esta geração não tinha que ser apresentada no Mar
Vermelho ou no Sinai, e precisava ser lembrada do poder de Deus e dos
requerimentos. Deuteronômio significa “segunda lei”, e pode ser visto
como uma reformulação da lei, mas não é somente isso. Consiste
primariamente na partilha dos discursos de Moisés, no qual ele busca
encorajar o povo de Deus a seguir os ditos divinos. Gleason Archer
encontra ao menos cinco ênfases no ensinamento de Moisés.

1. Deus é um, é único, e é um ser espiritual.


2. O relacionamento de Deus com Seus aliançados é mais de amor do que
legalismo, e para aquele que crê, o requerimento básico é o amor a
Deus.
3. O maior risco de Israel é visto como idolatria, a qual eles devem
resistir decididamente.
4. Os israelitas devem viver como povo santo.
5. A fidelidade à aliança resultará em recompensas materiais.[Nota 2]

O segundo ponto é especialmente crucial para o leitor moderno.


Muitos tropeçam nos extensivos requerimentos legais do código mosaico
e erroneamente concluem que a salvação durante grande parte do Antigo
Testamento era por obras (veja especialmente 6:5; 10:12; 11:1, 13, 22, 13:3;
19:9; 30:6, 16, 20).
Aparentemente, as deferências no livro de Deuteronômio foram
primeiramente entregues oralmente e depois escritas (compare
Deuteronômio 1:3 com 31:24-26).
Os capítulos 1:1-4:43 são uma revisão da queda e do sucesso de Israel.
Moisés concentrou a atenção na queda em Cades-Barnéia e nos trinta e oito
anos ainda restantes de andanças, mas também fez alusão a um novo
período de fé e avanço que os levaram à entrada da Terra Prometida. O
capítulo 4 é um intenso pedido por obediência a Deus e prevenção contra os
erros do passado. Os capítulos 4:43 até 28:68 reveem a lei moral, civil e
cerimonial. No capítulo 5, há uma reformulação dos Dez Mandamentos. O
capítulo 7 contém um mandamento para separá-los do pecado e destruir a
idolatria e os idólatras da terra de Canaã. Este tema aparece novamente no
capítulo 12. Evidências de descobertas arqueológicas de como a idolatria
era degradada na Palestina indicam que ela era causa da destruição tanto
causada quanto sofrida por eles. Concluindo este longo discurso, há
instrução para fazer um cerimonial nos Montes Ebal e Gerizim, olhando
para a cidade de Siquém, na Palestina central. Este evento, atrelado à
entrada na terra, era para dramatizar as responsabilidades da aliança de
Israel (veja Deuteronômio 27-28). Os capítulos 29 e 30 introduzem a
aliança palestina.
Esta aliança governa a vida da nação na Palestina e relata obediência a
Deus como uma condição da terra em dada geração. De fato, ela prediz a
expulsão da terra para a futura apostasia de Israel, uma restauração que
depois aconteceu, a subsequente conversão nacional de Israel.
Esta aliança não é para ser confundida com a aliança de Abraão, que é
incondicional e garante a posse da Terra Prometida perpetuamente.
Como Moisés estava prestes a passar o reino para Josué, ele entregou
suas últimas palavras de aviso para todo Israel, Josué, os sacerdotes e os
levitas no capítulo 31. Depois cantou uma incrível canção de louvor para
Deus pelo Seu cuidado com Seu povo escolhido e deu uma bênção profética
que especificamente distinguiu cada uma das tribos de Israel pelo nome
(Deuteronômio 32-33). Finalmente, no topo do Monte Nebo, ele teve
permissão de ver a Terra Prometida da qual fora excluído por seu pecado.
Embora tivesse 120 anos de idade, sua força física estava inabalável e seus
olhos ainda brilhavam (34:7). Deus o enterrou em algum lugar nas
montanhas, e seu túmulo permaneceu desconhecido para que as pessoas não
pudessem fazer dele um santuário.
Mas ele estava destinado a entrar na Terra Prometida, porque depois de
cerca de 1400 anos ele apareceu no Monte da Transfiguração com o Senhor
da glória (Mateus 17:1-8; Marcos 9:2-8; Lucas 9:27-36)!
Notas do Capítulo

Nota 1 - Para um resumo útil das questões, veja A Survey of Old Testament Introduction [Uma
Análise da Introdução ao Antigo Testamento], rev. ed. de Gleason Archer (Chicago:
Moody, 1973), páginas 234-37. [Voltar]
Nota 2 - Ibid, páginas 252-53. [Voltar]
CAPÍTULO

“O Senhor Deus é contigo”: A Conquista da Terra


Prometida
Josué 1 – 24

F IEL, Josué teve o privilégio de liderar os hebreus na Terra Prometida.


Por esta razão, ele tinha uma preparação espiritual em tais experiências
como acompanhante de Moisés no Monte Sinai (Êxodo 24:13), preparação
militar na luta contra os amalequitas (Êxodo 17:8-16) e tinha servido como
um dos doze que espiou a terra (Números 13:8, 16, 17), e se envolveu na
preparação geral de liderança com Moisés durante as andanças no deserto.
Alguns concluíram que Josué tinha por volta de oitenta anos quando se
tornou capitão dos israelitas, e que os comandou por cerca de trinta anos.
De qualquer modo, ele morreu aos 110 anos (Josué 24:29). Sem dúvidas,
ele é o personagem principal do livro que leva o seu nome. Também se crê
que ele escreveu a maior parte do livro. Pensa-se que pequenas porções, tais
como a descrição da morte de Moisés, foram escritas por Eleazar o
sacerdote, ou seu filho, Finéias.
Sem dúvidas, quase que imediatamente depois da morte de Moisés, Deus
ordenou que Josué tomasse o comando do povo israelita. Depois Deus
colocou a cargo dele cruzar o Jordão, ser forte, dividir a terra da Palestina
entre o povo, e ser fiel à Lei ( Josué 1:1-8). Estas eram ordenanças com
promessas, “porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que
andares” (1:9 JFA). E o povo prontamente aceitou a liderança de Josué
(1:16-18).

Entrada na Terra Prometida


(Josué 2:1-5:15)

Preparando-se para entrar na Terra Prometida, Josué mandou espias para


Jericó. Protegido por Raabe, a prostituta,[Nota 1] eles voltaram com um
relatório muito diferente do recebido em Cades-Barnéia. Naquele momento,
ao invés dos hebreus estarem temerosos, eram os ocupantes da terra que
tremiam. O terror os atacou à medida que relatos da ajuda de Deus ao
hebreus vinham do deserto.
Aparentemente, no dia seguinte após o retorno dos espias, Josué moveu o
povo para a margem do Jordão e os preparou para atravessá-lo. Deus agora
prometeu dividir as águas do Jordão à frente deles assim como Ele fez ao
Mar Vermelho. O Jordão é um rio não muito grande oposto a Jericó, mas na
primavera (quando os hebreus atravessaram, 3:15) poderia estar formidável.
Isto era especialmente verdade muitos dias antes do sistema das águas do
Rio Jordão ser usado para irrigação. Quando os sacerdotes carregaram a
arca para as margens da água, o fundo do riacho secou. De fato, as águas
foram paradas tão longe quanto Adão e Zerede, algumas vinte milhas norte
de onde o Jordão flui para o Mar Morto. Possivelmente um terremoto
provocou um deslizamento que bloqueou as águas do Jordão (Juízes 5:4;
Salmos 114:3, 4). Obstruções similares de águas resultantes de
deslizamentos são conhecidas por terem ocorrido em 1267 e 1927 d.C., mas
na verdade são muito raros. Deus muitas vezes usa meios naturais para
cumprir seus propósitos; em tal caso, o milagre consistiria não em método,
mas no tempo do parar das águas. Quando os israelitas atravessaram o rio e
acamparam na terra, comida humanamente produzida se tornou disponível
para eles; e o maná parou de aparecer.

A Conquista da Terra

(Josué 6:1-12:24)
O propósito da Escritura não é prover uma história completa do nada.
Mas, até onde vai a Escritura, este é um registro preciso do que aconteceu.
Certamente o relato da luta de Josué está incompleto. Ele descreve um
golpe em uma direção do sul para derrotar a liga dos amorreus, e uma
campanha no norte contra Hazor e outras cidades. Não há uma dica de nada
a respeito da pacificação da área de Siquém onde os hebreus se juntaram
para ouvir a leitura da Lei (Josué 8:30-35). Não somente a história de Josué
está incompleta, mas também está muito resumida. A maior ação militar
dever ter sido requerida por seis anos.
Calebe tinha cerca de setenta e nove anos quando a conquista começou e
oitenta e cinco após a última grande batalha com Jabim, rei de Hazor (14:7,
10). Além disso, quando a conquista principal estava completa, muita coisa
ainda ficou sem ser conquistada. Notável entre as cidades ainda nas mãos
inimigas estava Jerusalém. Tribos individuais foram deixadas com a
responsabilidade de exterminar a resistência nas áreas designadas por eles.

Deus Intervém e Também Julga o Pecado


O relato de Josué é muito mais do que somente uma mera história de
guerra. Ele é, mais do que tudo, um relato de fidelidade de Deus e Sua
intervenção no cuidado de Seu povo. Em Jericó, eles não atacaram; eles
meramente seguiram ordens divinas e assistiram o colapso da defesa. Em
Gibeão, o granizo matou mais amorreus do que mataram os soldados
israelitas, e Deus concedeu um único dia para apoiá-los na batalha (Josué
10). Muitos assumiram no passado que o sol brilhou por um dia inteiro e
que a terra parou de girar em seu eixo por aquele mesmo tempo; então Deus
colocou as leis da natureza fora de ordem.
Tal visão parece inteiramente desnecessária. Josué levou seu exército em
uma marcha forçada pela noite de Gilgal para Gibeão, umas penosas vinte e
cinco milhas. Depois, ele aparentemente fez um ataque surpresa enquanto a
lua ainda estava visível e o sol estava se estabelecendo. Josué encarou a
possibilidade de seus homens próximos cansados tendo que lutar debaixo
de um céu quente e sem nuvens e buscando libertação para eles. Deus
poderia ter provido uma escuridão local (e aparentemente o fez em conexão
com a violenta tempestade de granizo) sem interferir o movimento natural
da Terra. A expressão traduzida como “detém-te” (10:12 JFA), poderia ser
melhor traduzida como “fique quieto” ou “desista”, isto é, “escureça”.
Parece fazer muito mais sentido falar sobre “a longa noite de Josué” do que
“o longo dia de Josué”. E não há necessidade de insistir no cuidado de Deus
com as leis naturais do universo. Deus também interviu no cuidado de Seu
povo na campanha do norte (Josué 11), dando uma vitória magnífica sobre
o rei Jabim de Hazor.
A declaração de Josué é, segundo, uma severa acusação contra o pecado.
Sucessivamente Deus ordena a total exterminação do povo pagão por conta
de seu pecado. Ninguém deveria se assentar em julgamento em Israel por
causa de seus caminhos sangrentos e vingativos; eles agiam sob ordens
divinas. A razão da condenação de Deus é explícita e implícita: explícita em
Deuteronômio 7:15; implícita em passagens como Gênesis 15:16 e
Deuteronômio 20:17. Alguém pode perguntar se esses antigos inimigos de
Israel eram tão maus quanto a Bíblia fala que eles eram. Mas até mesmo
uma olhada superficial somente na religião cananeia habilmente demonstra
a iniquidade deste povo. Adoração baseada no sexo era predominante e a
prostituição religiosa era até mesmo imposta; sacrifícios humanos eram
comuns; e era uma prática frequente entre eles – em um esforço para
tranquilizar os deuses deles – matar pequenas crianças e enterrá-las nas
fundações de uma casa ou prédio público que estava sendo construído. Os
versos seguintes podem se referir a um fato mais tardio: “Em seus dias Hiel,
o betelita, edificou a Jericó; em Abirão, seu primogênito, a fundou, e em
Segube, seu filho menor, pôs as suas portas; conforme a palavra do Senhor,
que falara pelo ministério de Josué, filho de Num” (1 Reis 16:34 JFA; cf.
Josué 6:26). Estudos arqueológicos e históricos relativos a essas pessoas
demonstram a justiça de Deus ao lidar com eles. Aparentemente, era o caso
de destruírem essas tribos corruptas ou de serem destruídas por elas.
Deus não somente condena o pecado na vida dos pagãos. Ele também o
julga entre aqueles que creem. Quando o pecado de Acã infectou o campo
israelita (Josué 7), ocorreu a derrota, e toda a campanha parou morta em
seus caminhos até que o pecado fosse dizimado.
A descrição de Josué é ilustrativa, em terceiro lugar, na batalha espiritual.
Hebreus 3 e 4 indicam que assim como os hebreus falharam ao entrar na
Terra Prometida e descansar de suas andanças por causa da sua fraqueza de
fé, assim hoje aqueles que permanecem nesta fraqueza de fé falham em
entrar na promessa espiritual de Deus e no descanso psicológico. Além
disso, a vida cristã é uma batalha e só se tem sucesso com a armadura
própria e vigilância (veja Efésios 6:11-17; 2 Timóteo 2:3, 4).
Divisão da Terra

(Josué 13:1-22:34)

Apesar do fato de Israel estar lutando contra o povo palestino por muitos
anos e ter conquistado muito, havia áreas importantes ainda a serem
ocupadas – notáveis entre o território filisteu ao longo da costa do
Mediterrâneo (Josué 13:1-7). Falando de uma forma geral, os hebreus
foram destinados por um longo tempo a estarem confinados na região rural
da Galileia, Samaria e Judeia e então tornarem-se fazendeiros e pastores de
ovelhas. Além disso, embora a terra já estivesse subju-gada, as fortalezas
dos cananeus ou dos amorreus resistiram (exemplo: Jerusalém). Ainda para
todos os propósitos práticos a conquista estava completa, e Deus ordenou
que Josué dividisse a terra a oeste entre as nove tribos e à meia tribo (13:7).
Moisés já tinha designado a terra a leste do Jordão (Números 32-33): a parte
norte da metade da tribo de Manassés, a parte central de Gade, ao norte de
Ruben.
As muitas referências geográficas detalhadas nestes capítulos se reduzem
a isso. Simeão ocupou o território oeste do Mar Morto. A margem norte de
Judá está aproximadamente numa linha extensa a oeste da margem norte do
Mar Morto. Logo acima disso, Benjamim ocupava uma faixa de terra ao
longo do Jordão em direção ao centro da Palestina, e Dã estava a oeste de
Benjamim. Efraim tinha a parte sul de Samaria; e a meia tribo de Manassés,
a parte do norte. Da extremidade sudoeste do Mar da Galileia prolongou o
território de Isaacar, e a oeste deles, estava Zebulum. A oeste e norte do
Mar da Galileia, Naftali tinha suas propriedades; e a oeste deles, Aser
ocupava o Carmelo e aponta para o norte. Logo após os danitas foram para
o norte do Mar da Galiléia e subjugaram aquela região. Certamente, os
levitas não tinham distribuição tribal, mas receberam cidades distribuídas
por toda as propriedades das outras tribos. Siló (cerca de 30 milhas norte de
Jerusalém) estava estabelecida como centro religioso de Israel, e o
tabernáculo estava localizado lá (Josué 18:1).
O Endereço da Despedida de Josué (Josué 23-24) Antes de Josué morrer,
ele reuniu Israel em Siquém e implorou que eles continuassem leais a Deus
e a Sua aliança e os exortou a completar a conquista da terra.
Aparentemente até este ponto (talvez quinze ou mais anos após a divisão da
terra), eles não foram tão zelosos como deveriam ter sido em sua atividade
militar. Os líderes asseguraram a Josué que serviriam a Deus com
fidelidade, e o povo aparentemente o fez até que a geração mais velha
morresse, e uma nova geração que sabia pouco dos atos milagrosos de Deus
no cuidado de Seu povo se levantasse.
Notas do Capítulo

Nota 1 - É interessante que Raabe fora destinada a estar na linhagem do


Senhor Jesus (Mateus 1:5), demonstrando o quanto Ele humilhou a si
mesmo enquanto encarnado e o quanto a graça de Deus pode superar o
pecado e dignificar o pecador. Além disso, a inclusão do sangue gentio de
Raabe e mais tarde o de Rute, a Moabita (Rute 4:13-21; cf. Mateus 1:5) na
linhagem do Messias implica a universalidade de Sua redenção. [Voltar]
CAPÍTULO

“Todos Fizeram O Que Era Justo Aos Seus Próprios


Olhos”: Os Juízes
Juízes, Rute, 1 Samuel 1-8

O período dos juízes parece ser um período especialmente confuso, tanto


para o povo da antiga história dos hebreus quanto para os atuais
estudantes dos tempos bíblicos. De qualquer modo, foi um período quando
não havia unidade política; e a guerra aconteceu enquanto os hebreus
tentavam completar a ocupação da terra ou enquanto os cananeus tentavam
se reafirmar. Duas vezes, o inspirado autor disse: “Naqueles dias não havia
rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Juízes 17:6;
21:25, JFA). Não há uma certeza quanto à identidade deste autor.
Evidentemente, ele escreveu após a monarquia ter sido estabelecida e
aparentemente no início do período monárquico. O profeta Samuel é um
bom candidato, mas não podemos estar certos de sua autoridade.
Os juízes eram líderes divinamente alistados que governavam Israel
quando a nação era uma confederação perdida. Eles eram ao mesmo tempo
juízes, funcionários civis e líderes militares. O livro de Juízes é um livro
triste que conta a tendência humana de se desviar de Deus, e os resultados
do declínio espiritual. Na verdade, ele retrata uma série de ciclos
recorrentes: apostasia, punição em forma de opressão por tribos vizinhas,
clamor a Deus por libertação, redenção ou libertação do cativeiro, e um
período de descanso da opressão. Entretanto, ninguém deve concluir que o
livro descreve somente tristezas. Dos 410 anos referidos no livro, é dito que
o povo ficou em pecado durante somente 100 anos. Então, ele é um livro
sobre a fidelidade de Deus, e é um livro da graça de Deus em cuidado e
restauração.
Cronologia dos Juízes

A cronologia dos juízes apresenta alguns problemas muito reais.


Somando todos os anos de opressão e descanso documentados no livro,
temos um total de 410 anos. O livro dos Atos dá um total de 450 anos dos
dias de Josué até Samuel (Atos 13:20). Aparentemente, a diferença é contar
os quarenta anos do ministério de Eli (1 Samuel 4:18). Mesmo se alguém
colocar a data do Êxodo por volta de 1440 a.C., não há lugar na cronologia
para um período de 410 anos dos juízes; é mais que cem anos. Temos essa
conclusão da seguinte forma: Saul aparentemente começou a governar por
volta de 1050 d.C. Nesta data deve ser adicionados 40 anos do juizado de
Eli, 410 anos de história documentados no livro de Juízes, 30 anos da
liderança de Josué e 40 anos das andanças no deserto, mais um número não
conhecido de anos para a liderança de Samuel. O total empurraria a data
para antes de 1570a.C. - muito antes do que um Êxodo de 1440 a.C. A
conclusão mais comum, então, é que alguns dos juízes governavam ao
mesmo tempo, o que era possível porque eles nem sempre governavam toda
a terra. Por exemplo, Débora e Baraque exerceram poder no norte da
Palestina; Sansão, no sul e Jefté, na fronteira a leste.
Merrill F. Unger desenvolveu uma cronologia dos juízes como a seguir
(todas as datas aproximadas): opressão pela Mesopotâmia (1361-1353
a.C.); libertação por Otniel e quarenta anos de descanso (1353-1313);
opressão pelos moabitas (1313-1295); liberação por Eúde e oitenta anos de
descanso (1295-1215); opressão pelos cananeus (1215-1195); libertação por
Débora e Baraque e quarenta anos de descanso (1195-1155); opressão pelos
midianitas (1155-1148); libertação por Gideão e quarenta anos de descanso
(1148-1108); Abimeleque em Siquém (1108-1105); opressão pelos
amonitas (embora sendo por oito anos localmente, isto aparentemente
afligiu todo Israel por somente um ano, 1105 a.C.); libertação por Jefté
(1105-1099); opressão filisteia (1099-1059); julgamento de Sansão (1085-
1065).[Nota 1]
Será notado que Unger omitiu o juizado de Tola e Jair, que
aparentemente tiveram somente influência local e sobrepuseram a opressão
dos amoneus e filisteus. Ele também omitiu o juizado de Ibzã, Elon, Abdom
que, da mesma forma, aparentemente tiveram significância local e
sobrepuseram parcialmente o período da dominação dos filisteus.
Nenhuma cronologia dos juízes pode ser aceita com qualquer grau
definitivo, mas talvez a tentativa de Unger será uma aproximação que irá
lhe ajudar muito.
Valor do Livro de Juízes

O livro de juízes estabelece uma importante ligação histórica entre a


conquista da Palestina e o começo da monarquia. Sem isto, nosso
entendimento dos desenvolvimentos futuros dos hebreus seriam muito
menos claros. O livro demonstra, através de muitos exemplos, o princípio
registrado nos livros anteriores do Antigo Testamento, em que a obediência
à lei significava paz e amor, enquanto a desobediência resultava em
opressão e morte. Adiante, o livro mostra que Deus estava sempre pronto
para perdoar Seu povo arrependido, e isto indica o grau no qual os hebreus
já tinham se afastado das altas exigências morais e éticas da lei. Neste
retrato vivo da fraqueza e da confusão de um período quando todo homem
fazia aquilo o que era certo aos seus próprios olhos, o livro prepara o
caminho para a única autoridade superior no reinado.

Os Principais Juízes
Otniel: Um Libertador de Judá
Uma filosofia muito definida da história aparece em Juízes: os israelitas
sofreram uma opressão nacional não porque experimentaram uma fraqueza
econômica, política ou militar, mas porque voltaram-se contra Deus e
serviram a ídolos. A primeira opressão veio nas mãos de Cusã-Risataim,
que aparentemente governava um principado ao norte da Mesopotâmia. Se
ele era um príncipe hitita ou aramaico não é importante. O fato é que ele
exercia poder sobre os israelitas de uma distância considerável por um
período de oito anos. Otniel, sobrinho de Calebe, que tinha se reconhecido
como um guerreiro durante a conquista e que, por seu valor, ganhou a mão
da filha de Calebe, reuniu seu povo e derrotou e expulsou os invasores,
dando a descanso a terra por oito anos. Aparentemente, a opressão foi
extensiva (embora talvez não incluísse todas as tribos dos hebreus), porque
Otniel era de Judá no sul. É dito a respeito de Otniel, assim como sobre
outros juízes, “O Senhor levantou-lhes um libertador... e veio sobre ele o
Espírito do Senhor.” (Juízes 3:9, 10, JFA).

Eúde: Um Libertador para Benjamim


Novamente a filosofia bíblica da história fica clara. Deus fortaleceu os
moabitas contra Israel por causa do pecado deles (Juízes 3:12). Então, os
moabitas, unificados com os amonitas e amalequitas, movera-se para o
oeste do Jordão e estabeleceram um quartel-general nos arredores de Jericó,
oprimindo os israelitas por dezoito anos. Enfim, em resposta à petição dos
hebreus, Deus levantou Eúde, um benjamita, para libertar seu povo. Um
ano, quando Eúde trouxe o tributo anual para o rei Eglom de Moabe, ele
ganhou uma audiência privada com o rei e o assassinou. Rapidamente, Eúde
soou o clamor de guerra nos montes próximos de Efraim e reuniu uma força
de israelitas. A ocupação sem líder decidiu se isolar a caminho do Jordão.
Quando eles chegaram ao lugar de passagem do Jordão, entretanto, eles
acharam os israelitas esperando por eles, e um massacre se sucedeu, dando
um descanso de oito anos para os hebreus, como prêmio pela vitória.
Provavelmente contribuindo para a paz na área da Palestina está o fato do
século XIII ter sido a era do grande Ramsés II e outros fortes reis da
Décima Nona Dinastia do Egito. Durante aqueles dias não era sábio para as
tribos da Palestina e da Síria construírem seu poder e assim atrair uma
retaliação egípcia.

Débora e Baraque: Libertação por uma mulher


O próximo foco está ao norte da Palestina onde um segundo rei, Jabim de
Hazor, (não confundir com aquele que Josué derrotou) liderou uma
confederação cananeia. Evidentemente, a vitória anterior dos hebreus sobre
Jabim I não havia sido completa, e Hazor tinha recuperado poder suficiente
para oprimir as tribos do norte de Israel por vinte anos. Desta vez, o
libertador foi uma mulher, aparentemente uma pessoa muito importante,
porque o oeste da Ásia no segundo milênio antes de Cristo era
verdadeiramente um mundo de homens. Débora não somente levou Israel à
vitória militar com a ajuda de Baraque, mas também serviu como profetisa
e juíza muito tempo antes de suas aventuras militares. Baraque juntou um
exército de dez mil das tribos do norte de Zebulom e Naftali e conheceu os
famosos corpos de novecentos carros de guerra no Vale do Megido,
próximo ao Rio Quison. Deus trouxe uma tempestade repentina sobre a
área, e raios miraram os carros, destruindo a excelente vantagem dos
cananeus e dando a vitória aos hebreus. Sísera, capitão do exército de
Hazor, fugiu e finalmente conheceu sua morte nas mãos de uma mulher,
Jael, enquanto dormia na tenda dela. Depois disso, Israel gozou de quarenta
anos de paz.

Gideão: Um Libertador Que Assegurou que Deus tem


Recebido a Glória
A quarta opressão ocorreu nas mãos dos midianitas, amalequitas e outros
povos que andavam com seus muitos camelos do Leste. Aparentemente,
eles faziam incursões anuais através do Jordão para dentro das áreas férteis
de Israel, especialmente a planície de Esdrelom. Enquanto o povo se
encolhia em cavernas e fortificações e clamavam por libertação, Deus
enviou um libertador na pessoa de Gideão. Quando as forças inimigas se
reuniram no Vale de Esdrelom, Gideão reuniu um exército de 32.000
homens de Manassés, Aser, Zebulom e Naftali (tribos do norte afetadas pela
incursão) para batalharem com um inimigo estimado em 135.000 homens.
As tribos envolvidas provavelmente não poderiam ter colocado tão grande
exército em campo; tudo indica que os 135.000 eram gangues de
saqueadores que invadiram por causa da expedição de saqueamento anual.
Usando uma porção de lã duas vezes expostas, Gideão determinou que
Deus tinha, verdadeiramente, chamado-o para libertar Israel (Juízes 6:36-
40). Mas Deus reservou para Ele mesmo a glória da vitória. Então,
primeiramente Ele reduziu o número, ordenando que todos aqueles que
tinham medo fossem devolvidos para suas casas; 22.000 foram, mostrando
a falta de coragem de Israel. Depois eliminou outros 9.700, testando sua
prontidão para a batalha na primavera de Harode, ao pé norte do Monte
Gilboa.
Somente 300 foram aprovados no teste, mantendo em uma mão suas
espadas enquanto bebia água com a outra. Estes, Gideão dividiu em três
companhias e fez um ataque surpresa na escuridão de uma noite palestina
sem luar. À medida que os 300 corriam as ladeiras do Monte Moré abaixo,
próximo ao final a leste da planície do Megido, eles tocavam trombetas,
quebraram jarros revelando tochas, e soavam um grito de guerra, “A espada
do Senhor e de Gideão”. O inimigo escapou em pânico ao longo do Jordão,
pensando que uma grande multidão os perseguia. Provavelmente cada um
dos 300 foi pensado para ser um comandante do pelotão, que carregava uma
tocha para dar direção para seus homens e para prover um ponto de apoio
em comum para eles.
Gideão chamou o povo de Efraim para organizar forças e interromper o
escape do inimigo para o Jordão. Os israelitas conquistaram uma vitória
preliminar no Jordão e uma vitória completa a leste do Jordão. Os israelitas
então imploraram a Gideão para que ele se tornasse o rei deles, o que foi
recusado por ele. “Não governarei sobre vocês... o Senhor governará sobre
vocês.” Enquanto Gideão viveu, o país teve descanso por quarenta anos.
Após sua morte, o povo começou a adorar a Baal abertamente.

Abimeleque: Um Renegado Que Reivindicou a Realeza


Abimeleque, filho de Gideão com uma concubina de Siquém, não foi tão
reticente quanto seu pai em relação a reivindicar a majestade.
Um renegado de primeira ordem, ele teve sucesso em ter se proclama-do
rei em Siquém, mas quanto apoio ele teve a Israel não fica claro. Ele matou
todos os seus setenta irmãos pois estes eram rivais em potencial.
Finalmente, após três anos de traição e derramamento de sangue, até os
semitas estavam cansados dele. Embora ele tenha feito uma revolta lá, não
obteve tanto sucesso na cidade vizinha de Tébes, onde uma mulher jogou
uma pedra em sua cabeça. Para evitar a vergonha de ser morto por uma
mulher, ele pediu para que seus guerreiros o matassem.
Assim terminou a guerra civil.

Jefté e um voto de tolo


Na fronteira oriental, os amonitas agora se afirmaram, oprimindo Israel
por dezoito anos. Para o resgate, veio Jefté, filho de uma prostituta e um
gileadita chamado Gileade. Por causa de sua ilegitimidade, seus meio-
irmãos o lançaram para fora da família, e ele teve que viver em uma área ao
norte de Gileade, onde demonstrou sua habilidade militar.
Quando a família de Jefté estava passando por sérios problemas, eles o
enviaram para que ele os liderasse na guerra contra os amonitas. Isto ele
prometeu fazer se pudesse conservar sua liderança após o término da
guerra. Depois, permitido por Deus, ele procedeu para levantar um exército
de Manassés e Gileade e para ter uma vitória sobre os amonitas.
Mas antes de ir para a batalha, ele fez um voto a Deus dizendo que se
fosse vitorioso, ofereceria como sacrifício qualquer coisa que passasse
primeiro pela porta de sua casa para encontrá-lo após seu retorno.
Depois de sua vitória, sua única filha correu à porta para encontrá-lo
assim que ele voltou para casa. Há uma interminável discussão na literatura
bíblica sobre este voto inadequado. Uns argumentam que Jefté era um
homem muito bronco, que vivia na extremidade da influência religiosa
israelita em uma área onde os pagãos praticavam sacrifício humano. Ele
tinha feito um voto, e ninguém esperaria que ele cumprisse.
Outros argumentam de forma convincente que o sacrifício humano era
abominado por Deus, e é inconcebível que qualquer pessoa temente a Deus
cometesse tal crime. Eles dizem que sua filha foi permitida dois meses a
lamentar sua virgindade, não a perda de sua vida (Juízes 11:37, 38); e a
implicação é que ela se tornou uma virgem devota à obra de Deus no
santuário central (cf. Êxodo 38:8; 1 Samuel 2:22, Lucas 2:36, 37). A real
dor de Jefté, então, era o fim de sua linhagem.
Leon Wood observa que se ele tivesse realmente sacrificado sua filha, o
lugar de sacrifício teria sido o tabernáculo, e nenhum sacerdote iria querer
oficializar. Ele também nota que a última parte de Juízes 11:31
pode ser traduzida como “sempre certamente será do Senhor, ou eu
oferecerei em holocausto” - a primeira parte, indicando que Jefté faria se
fosse um ser humano que se achegasse a ele, e a segunda para o caso de ser
um animal.[Nota 2]

Sansão: Libertador de Grande Força e Fraqueza


Os filisteus, que a Escritura diz terem oprimido os israelitas por quarenta
anos antes de Sansão começar a libertá-los do cativeiro, provocaram a
última grande opressão. Na verdade, o cativeiro não cessaria até que as
conquistas de Davi estabilizassem o reino ou império hebreu. O juizado de
Sansão é diferente dos outros por causa de como seu nascimento foi
anunciado, seu modo de viver nazireu, e sua libertação para Israel não
resultarem da liderança de exércitos de cidadãos da mesma terra. Ele nasceu
de uma parentela danita e viveu na margem entre a Filisteia e Israel. Como
parte de seu voto nazireu, seu cabelo nunca poderia ser cortado. É comum
retratar Sansão como um grande homem com grandes músculos, mas não
há nada nas Escrituras que denuncie algo de incomum em seu físico. De
fato, sua força era uma incógnita para os filisteus e eles tentavam de todo
modo descobrir seu segredo. Se ele tivesse um fenômeno físico
descomunal, eles não teriam nenhuma dúvida sobre o assunto. A verdade é,
Sansão era um ser humano que foi um exemplo para ambos israelitas e
filisteus a respeito da habilidade de Deus em outorgar poder a um
indivíduo.
Provavelmente as histórias a respeito da força de Sansão são somente
algumas descrições de seus muitos atos de proeza física. E pode ser
argumentado que muitas destas ações (ex.: libertação de trezentas raposas
com tições para destruírem a colheita filisteia) não foram meramente um
resultado de ataques de fúria, mas calcularam esforços para destruir o poder
dos filisteus. Por vinte anos, ele julgou Israel, talvez em Hebrom; e durante
esses anos sua vida era aparentemente exemplar.
Tudo indica que foi próximo ao fim do seu ministério que ele se
envolveu com a prostituta em Gaza e com Dalila. Ele pagou caro por seu
pecado – primeiro com a perda de sua visão e mais tarde com sua vida.
Mas o momento de sua morte estava destinado para ser seu grande
triunfo. Sua oração por restauração do poder de Deus foi respondida, e ele
destruiu o templo de Dagom com tremenda perda de vidas filisteias e da sua
própria. Tendo ele falhado em libertar Israel dos filisteus, ele os parou
temporariamente e protegeu seu povo de ser completamente desarraigado
ou escravizado. Apesar de sua fraqueza, ele ganhou um lugar entre os
heróis da fé (Hebreus 11:32). A graça de Deus aparece na vida de Sansão
assim como na de Davi mais tarde. Depois de uma queda vem a restauração
pelo favor divino, embora o pecado não venha sem suas próprias
consequências.

Eli: Uma Pausa na Linhagem dos Libertadores Guerreiros


Evidentemente, a opressão amonita no leste e os juizados de Jefté e seus
sucessores eram pelo menos parcialmente contemporâneos da dominação
filisteia no oeste e as atividades de Sansão. Evidentemente, também, as
vidas e ministérios de Eli e Samuel se sobrepuseram ao de Sansão; e todos
os três estavam preocupados com a ameaça filisteia.
Eli era o sumo sacerdote que presidia no tabernáculo de Siló. Nesta
capacidade, ele liderou e governou os hebreus por quarenta anos. As
Escrituras também o chamam de juiz (1 Samuel 4:18); assim como listado
aqui. Ele não era realmente um guerreiro e libertador assim como os outros
juízes eram. Eli era devoto e patriota, mas sua grande falha acontece em seu
tratamento com seus filhos. Eles eram tão maus que trouxeram acusação
contra Deus, contra seu pai, e contra eles mesmos.
No final das contas, eles morreram debaixo do julgamento de Deus.
Condições foram destinadas para a situação de Israel piorar antes que
melhorassem. Os israelitas lutaram uma primeira batalha contra os filisteus
em Afec (no Novo Testamento, Antipatris, Atos 23:31; logo ao norte da
atual Tel Aviv) com a perda de quatrocentos homens. Temerosos que sua
causa seria completamente perdida, eles trouxeram a arca de Siló e
buscaram usá-la como um tipo de “amuleto da sorte”; eles evidentemente
tinham uma pequena apreciação pela presença e pelo poder de Deus com
eles. Os filisteus determinaram-se a lutar com mais esforço do que nunca e
varreram o campo completamente, matando trinta mil israelitas (incluindo
os dois filhos de Eli) e capturando a arca. Quando Eli ouviu essa notícia,
caiu, quebrou o pescoço e morreu.

Samuel: Dedicado a Deus


Samuel então tonou-se o líder espiritual. Ele estava se preparando para
este momento por toda sua vida. Dedicado a Deus desde o nascimento por
uma mãe devota, ele viveu no santuário em Siló desde pequeno. Antes da
catástrofe de Afec, sua reputação foi firmemente estabelecida em todo
Israel de Dã até Berseba (1 Samuel 3:20). Na verdade, Samuel é chamado
de profeta (1 Samuel 3:20) e juiz (1 Samuel 7:15-17), e atuou como
sacerdote (1 Samuel 9:12, 13; 13:8-13).
Ele assumiu o comando em um tempo muito difícil da história de Israel
pós Afec; os filisteus entraram no território palestino, destruindo a própria
Siló e eliminando o que existia ainda na pequena indústria metaleira de
Israel. O objetivo deles era fazer os hebreus totalmente dependentes deles.
Há um silêncio de cerca de vinte anos na narrativa bíblica (exceto pela
explicação dos desvios da arca), com quase nada dito sobre Samuel ou as
dificuldades dos hebreus (1 Samuel 7:2). Quando a cortina sobe novamente
(talvez por volta 1060 a.C.), Samuel está em Mispá, chamando o povo ao
arrependimento e ao avivamento. A restauração espiritual é seguida pela
restauração militar e política. Os israelitas tiveram uma grande vitória sobre
os filisteus em Mispá e restabeleceram o território perdido para os filisteus
anteriormente. Um novo nível de estabilidade emocional é alcançado (1
Samuel 7:13-17). Claro, toda essa melhora não aconteceu de um dia para o
outro. Sem dúvidas, Samuel tinha estado extremamente ocupado tentando
organizar as coisas, encarando probabilidades insuperáveis. Evidentemente,
ele moveu o tabernáculo para Nobe, onde apareceu mais tarde (veja 1
Samuel 21:1-9). Aparentemente, também, ele tinha estabelecido escolas de
treinamento para jovens profetas (1 Samuel 10:5-12; 19:19-24) em um
esforço para expandir a influência espiritual no reino. E certamente algumas
das atividade judiciais e religiosas mencionadas em 1 Samuel 7:16, 17
devem ter acontecido durante os anos de silêncio.[Nota 3]
Infelizmente, os filhos de Samuel não eram muito melhores que os filhos
de Eli; e à medida que Samuel envelhecia, o povo ficava inquieto a respeito
do futuro. Além disso, eles queriam um rei como as outras nações para que
pudessem estabilizar um tipo de poder central necessário para conhecer tais
emergências nacionais, como a ameaça dos filisteus. Samuel encarou o
pedido como uma falta de apreciação por todo seu árduo trabalho, um tipo
de “voto de desconfiança”. Mas Deus deixou claro que a oposição era
realmente ao plano divino de teocracia.
Deus atendeu o desejo dos hebreus, mas os alertou sobre as desvantagens
de um reinado (1 Samuel 8:9-21). O conceito de reinado não era novo para
Israel. Há uma insinuação sobre isso em Gênesis 49:10 e Números 24:17 e
Moisés tinha falado algumas coisas bem claras sobre isso em Deuteronômio
17:14-20. Além disso, o povo tinha implorado que Gideão se tornasse um
rei, e alguns tinham, na verdade, seguido o usurpador rei Abimeleque de
Siquém por um tempo.

Histórias que Representam o Período dos Juízes


(Juízes 17-21)

Narrativas representativas do período dos juízes ocorrem nos últimos


capítulos e no livro de Rute e dão alguma ideia de como era a vida neste
período difícil. A primeira história (Juízes 17-18) conta como Mica, um
efraimita, estabilizou seu próprio santuário, completo com imagens
gravadas, e empregou um levita itinerante para ser seu sacerdote. Também
conta como a maioria dos danitas, abandonou o território designado para
eles e se mudou para o norte do Mar da Galileia, roubando o santuário e o
sacerdote de Mica no caminho. Esta narrativa é reportada para ilustrar que
durante o período “todos faziam o que era certo aos seus próprios olhos”
(Juízes 17:6). O quanto isso era verdade: um santuário privado foi
estabelecido em competição com o santuário principal de Siló; imagens
gravadas foram usadas na adoração, em uma clara violação da Lei de
Moisés; um levita entrou ilegalmente em uma organização religiosa; os
danitas foram para um lugar o qual não pertenciam e instituíram uma falsa
tribo de adoração.
A primeira história revela uma confusão política e religiosa durante o
período dos juízes. A segunda (Juízes 19-21) revela um declínio moral. Um
levita e sua concubina tinham uma experiência em Gibeá de Benjamim, de
certa forma remanescente de Sodoma nos dias de Ló (Gênesis 19).
Aparentemente, toda a tribo foi infectada com a sodomia e outras
depravações sexuais, porque se recusaram a se render aos transgressores.
Então seguiu-se uma guerra civil, que quase destruiu a tribo de Benjamim.

Uma promessa de Esperança em Um Tempo de Desolação


A história de Rute é feita de personagens diferentes. Rute 1:1 diz que os
eventos narrados no livro aconteceram durante os dias dos juízes. Detalhes
dos últimos versos de Rute 4 indicam que Rute foi bisavó de Davi, e este
livro deve ter sido escrito durante o reino dele, possivelmente por Samuel.
Se Davi começou a governar em 1010 a.C. aos trinta anos de idade, seu
nascimento deve ser localizado por volta de 1040a.C., e a história de Rute
ocorreu durante a última parte do século XII.
A narrativa provê uma visão de eventos verdadeiros nas vidas de pessoas
comuns durante os dias dos juízes. Uma família israelita – Elimeleque,
Noemi e seus dois filhos – foram para Moabe durante um tempo de fome
em Judá. Lá o pai e seus filhos morreram, deixando a mãe e as duas noras
moabitas, Rute e Orfa, para trás. Noemi ficou determinada a voltar para
Belém em Israel e levou Rute com ela. Em Belém, Rute juntou trigos nos
campos de um parente rico de Elimeleque, Boaz, que depois casou-se com
ela. Desta união nasceu Obede; de Obede, Jessé; de Jessé, Davi.
Este pequeno livro, então, provê uma linhagem parcial de Davi e então
de Cristo, que estava na linhagem de Davi. Ele mostra que houve sangue
gentio nesta linhagem, um fato que tem profundas implicações quando
consideramos que Ele foi criado para ser um Salvador para toda
humanidade. O livro mostra também, que os gentios podiam ser unificados
à riqueza comum de Israel em condições de fé em Deus; a verdadeira fé não
conhece limites de nação ou raça. O ensino especial neste livro, entretanto,
diz respeito ao parente-redentor, que remete a Levítico 25:25-48 e prevê o
ministério de Cristo. O parente-redentor teve o privilégio de redimir até a
herança de uma pessoa. A ideia era restaurar a herança para uma família
que a tinha perdido e também levantar um herdeiro para aproveitar a
herança. Neste caso, Boaz não ganharia posse da terra para ele mesmo, mas
tomaria conta para o filho de Rute, que depois herdaria o estado de Malom.
Para que alguém fosse um redentor, esse teria que ter um sangue relativo,
tinha que ter riquezas ou meios de redimir, e ter vontade disso. Todas essas
coisas são verdades de Cristo, nosso Redentor. Ao assumir forma humana
na encarnação, Ele se tornou relacionado à raça humana; Ele tinha
santidade infinita para que pudesse ser avaliado por culpa (o significado de
redimir); e Ele veio com o desejo de pagar nossa dívida de pecado
oferecendo-se como o cordeiro imolado de Deus pelos pecados do mundo.
Então Ele se tornou nosso Parente-Redentor.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Merrill F. Unger, Archaeology and The Old Testament [Arqueologia e o Antigo
Testamento](Grand Rapids: Zondervan, 1954, páginas 182-87. Leon Wood parece acreditar
em datas similares em Leon Wood, A Survey of Israel’s History [Uma Análise da História
de Israel] (Grand Rapids: Zondervan, 1970), páginas 212-29. [Voltar]
Nota 2 - Wood, páginas 223-24. [Voltar]
Nota 3 - Não se sabe quem exatamente escreveu 1 Samuel. Possivelmente, Samuel escreveu a
primeira parte até sua morte no capítulo 25, e Gade ou Natan podem ter trazido o livro à
sua forma atual próximo ao final do reino de Davi. Possivelmente, também, Natan e Gade
são responsáveis por escreverem 2 Samuel. [Voltar]
CAPÍTULO

O Clamor por Um Rei: Saul, Davi e Salomão


1 & 2 Samuel, 1 Reis1-11,
1 Crônicas, 2 Crônicas 1-9

I SRAEL pediu por um rei e recebeu um. O primeiro rei foi Saul, que
governou por quarenta anos (Atos 13:21); o segundo foi Davi, que
também governou por quarenta anos (2 Samuel 5:5); o terceiro foi Salomão
que, da mesma forma, governou por quarenta anos (1 Reis 11:42). Esta
duração de 120 anos é comumente chamada de monarquia unida porque
esses homens governaram todo Israel.
Esta é seguida pelo período da monarquia dividida quando havia dois
reinos, Israel e Judá. É difícil traçar uma cronologia exata, mas um dos mais
excelentes exercícios de memorização já feitos em um segmento das
Escrituras é o The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings [Os
Misteriosos Números dos Reis Hebreus]. Thiele coloca a divisão do reino
em 931 a.C. Olhando para trás, então, as datas de Salomão seriam de 970-
931; Davi 1010-970; e Saul, 1050-1010 a.C. Esta é a cronologia que se
segue aqui.

Saul

(1 Samuel 9-31; Crônicas 10)

O povo pediu por um rei como as outras nações próximas a eles.


Deus concedeu um rei a eles, mas não como as nações que os rodeavam.
O rei hebreu deveria ser um homem escolhido pelo próprio Deus. Em sua
vida pública e privada, ele deveria seguir as orientações de Deus, e não era
para ele interferir nos negócios do sacerdócio; Deus tinha seus próprios
líderes por Ele levantados. Acima de tudo, os líderes não deveriam cair nos
caminhos da idolatria, mas particularmente, tinham que exercer toda a
influência de seu ofício para manter seu povo nos caminhos de honra a
Deus. Se um rei hebreu falhasse em um ou mais desses aspectos, ele corria
o risco de ser deposto por Deus, ou ter sua linhagem terminada, ou até
mesmo ter seu povo levado ao cativeiro sob um poder estrangeiro. Tudo
isso deve ser lembrado quando estudamos o reino de Saul, Davi, Salomão
ou os reis da monarquia dividida.
Saul começou bem. Ele tinha uma aparência de rei e era para cima do
ombro mais alto do que quase qualquer outro israelita (1 Samuel 10:23). Ele
veio da pequena tribo de Benjamim e então não era um motivo para o
ciúme das tribos, como seria o caso se ele fosse das tribos líderes, Efraim
ou Judá. Ele era escolhido de Deus e tinha sinais de confirmação, entre os
quais estava o Espírito de Deus vindo sobre ele quando se juntou à
companhia dos profetas (1 Samuel 10:1-10).
Quando Samuel se apresentou para as pessoas em Mispá, eles o
receberam, e uma espécie de “guarda do palácio”se juntou a ele (10:26).
Mas Saul ainda era um desconhecido para o povo; não havia uma capital;
e tendências separatistas fortes existiam entre as tribos. Entretanto, uma
oportunidade logo se apresentou para que Saul pudesse ganhar a aprovação
pública. Os amonitas avançaram a fronteira oriental e ameaçaram Jabes-
Gileade, que pediu ajuda a Saul. Ele respondeu à chamada deles enviando
um apelo para as tribos. Um total de 30.000 homens vieram de Judá e
300.000 de outras tribos. Dos muitos que apareceram, Saul selecionou a
uma força de luta e obteve uma grande vitória.
Os israelitas agora o aceitavam como rei, e Samuel o coroou em Gilgal.
Subsequentemente, ele tinha bom senso para evitar cargas tributárias
pesadas ou mudanças radicais no estilo de vida dos hebreus. Ele estabeleceu
sua capital em sua cidade natal, Gibeá, três milhas a norte de Jerusalém e
construiu um forte lá.

Os Primeiros Erros
Mas Saul tinha governado por somente dois anos quando começou a
mostrar sinais de que estava se desviando do caminho de Deus. Em Gilgal
ele ficou impaciente esperando Samuel chegar para oferecer os sacrifícios, e
o fez ele mesmo. Logo depois disso, Samuel apareceu e repreendeu Saul,
declarando que Deus no final das contas tiraria o reinado dele por causa do
seu pecado de interferir em assuntos sacerdotais (13:13, 14). Entretanto,
Deus não tinha usado tudo o que queria da administração de Saul. Logo
após isso, Ele deu a Saul uma grande vitória sobre os filisteus e,
subsequentemente, sobre os moabitas, amonitas e edomitas a leste do
Jordão e Zobá para o norte de Damasco.
Esses acontecimentos mostram Saul sendo um líder militar muito mais
efetivo do que é comumente reconhecido; e eles não estavam em dúvidas
quanto ao estabelecimento do império de Davi. Aparentemente, por uns
vinte anos, Saul teve razoavelmente um bom comportamento.[Nota 1]
Então Samuel o designou para completar a maldição de Deus contra os
amalequitas (Êxodo 17:14; Deuteronômio 25:17-19) e os destruir
completamente. Quando Saul obedeceu somente de modo parcial, Samuel
rompeu com ele e nunca mais o viu enquanto viveu. Logo após, Deus
ordenou Samuel secretamente para ungir Davi como rei. Desprovido de
aprovação divina em sua administração e de suporte de Samuel, Saul
começou a mostrar sinais de depressão. Em um esforço de levantá-lo desta
situação, seus conselheiros buscaram por um músico e decidiram por Davi,
filho de Jessé.
A lira de Davi foi efetiva em melhorar o estado de espírito de Saul, mas o
rei passava por crescentes estados de depressão, raiva e normalidade.
Aparentemente, este estado de condição mental foi trazido por uma
frustração: Deus estava contra ele; a estrela de Davi brilhava, enquanto a de
Saul se apagava. Jônatas, filho de Saul, ficou do lado de Davi; Saul viveu
debaixo da realização de que seus dias foram contados; e o conselho de
Samuel não estava mais disponível.

Um rival se ergue
O surgimento da eminência de Davi foi tremendamente estimulada por
sua vitória sobre Golias e a derrota dos filisteus. O rei fez de Davi o
comandante do exército, e com seu sucesso contínuo, o jovem edificou uma
grande reputação por toda a terra, maior do que a do próprio Saul.
Logo, o rei tomado de fúria começou a planejar contra a vida de Davi.
Davi deixou as lanças que Saul lançou contra ele no palácio. Depois ele
experimentou a libertação em Gibeá com a ajuda de sua esposa (filha de
Saul), Mical (1 Samuel 19:1-17); em Ramá com a ajuda do Espírito (19:18-
24); em Gibeá com a ajuda de Jônatas (20:1-42); em Queila com a ajuda de
Abitar (23:7-13); em Maon com a ajuda dos filisteus (23:15-29); em Engedi
(24:1-22); em Hachilá (26:1-25); e finalmente, pela morte de Saul nas mãos
dos filisteus.
Os filisteus eram uma ameaça para os hebreus por todo reino de Saul.
Declinavam na habilidade em gerenciamento do reino e eram incapazes de
levantar um substituto igualmente capacitado para Davi como comandante
das forças, o rei achou possível impedir que os filisteus entrassem no
território hebreu. Enquanto eles se moviam em força pelo Vale de Esdrelom
e acamparam em Sunem, há poucas milhas ao sul do qual, no Monte
Gilboa, os israelitas tomaram as estações de batalha. Atemorizado com os
resultados e incapazes de ter conselho de Deus (1 Samuel 28:6), Saul
buscou uma médium espírita como em um esforço para se comunicar com o
falecido Samuel (1 Samuel 28:7-25).
Este ato não somente violava uma proibição mosaica, mas um
mandamento anterior do próprio Saul (Levítico 20:27; 1 Samuel 28:9). O
que aconteceu com a médium causou sua completa perda de compostura.
Ao invés de algum tipo de contato com um demônio encarnado, ela
experimentou uma aparição sobrenatural do próprio profeta Samuel, que
passou por ela e falou diretamente com Saul, predizendo a derrota para
Israel e a morte de Saul e seus filhos. A previsão tornou-se verdade no dia
seguinte. Derrotados, os israelitas fugiram de muitas de suas cidades para
escapar dos filisteus vitoriosos, que então foram forçados a se moverem
para o território israelita.

A Queda de Saul e a Batalha de Davi


Desta forma, ele que começou bem, terminou de uma forma desastrosa.
Saul deixou sua terra em uma condição pior do que a encontrou – pelo
menos até o relacionado à ameaça dos filisteus. Provavelmente, os efeitos
de suas primeiras vitórias a leste do Jordão foram amplamente
desperdiçados. O país estava tão desunido quanto esteve quarenta anos
antes. O povo quis um rei como as outras nações, e recebeu um tão parecido
quanto um das outras nações. Deus quis que o rei fosse diferente. Por este
não ter sido diferente, Deus o destituiu e buscou por outro “segundo o Seu
coração”.
Este homem foi Davi, ungido por Samuel, mas fugindo dos desígnios de
Saul para sua vida. Mais de uma vez toda a sua causa pareceu perdida, mas
ele continuou diligentemente; mais de uma vez ele teve a oportunidade de
tirar a vida de seu inimigo, mas ele estava determinado em não fazer isso.
Em duas ocasiões, entretanto, as dificuldades de Davi provaram muito a ele
e, frustrado, ele buscou refúgio entre os inimigos de Israel. A primeira
dessas ocorrências aconteceu logo após seu escape da corte de Saul.
Naquela situação parecia que o lugar de refúgio que ele poderia achar mais
rápido seria o palácio de Aquis, rei de Gate. Quando ele chegou lá, o rei
chamou a atenção para as vitórias dos guerreiros hebreus sobre os filisteus,
e Davi, temeroso, fingiu-se de louco (1 Samuel 21). A segunda ocasião do
escape de Davi para Gate veio após ele ter sido perseguido por Saul por um
extenso período de tempo, e sua vontade de resistir estava sendo vencida
pelo cansaço. Nesta situação as circunstâncias eram diferentes. Ele tinha
muitas centenas de homens com suas famílias debaixo de sua liderança e
provisão para eles era verdadeiramente difícil. Aparentemente, ele e seus
homens aceitaram um status mercenário nas forças armadas dos filisteus,
um fato que os obrigou a participar na grande batalha que destruiu Saul e
seu filho.
Naquela ocasião, o contingente de Davi foi salvo de disputar com os
israelitas pelo medo por causa de alguns filisteus que eles teriam que
derrotar. Enquanto Davi viveu em Ziclague, ao sul do território filisteu (por
cerca de dezoito meses), ele assumiu o controle de ações militares contra
tribos tradicionalmente inimigas de Israel e compartilhou o despojo com
cidades da Judeia, então mantendo suas cercas políticas estruturadas como
uma preparação para o dia em que fosse rei.

Davi

(2 Samuel 1-24; 1 Reis 1:1-38; 1 Crônicas 11-29)


Tal dia não demorou muito para chegar. Quando Davi e seus homens
retornaram do conclave que prepararam para a batalha do Monte Gilboa
para Ziclague, eles descobriram que suas casas foram queimadas e suas
famílias, destruídas. Uma expedição punitiva contra os amalequitas, que
foram responsáveis, recuperou tudo, com muitos despojos. Logo após Davi
e seus homens retornarem para Ziclague, veio a palavra da derrota de Israel
e da morte de Saul. Seguindo um período de lamentação, Davi sendo
guiado divinamente, levou toda sua companhia para Hebrom, onde foi
declarado rei sobre Judá (2 Samuel 2:14).
Era natural que a tribo de Judá devesse dar tal passo porque a casa de
Davi estava em Belém de Judá; sua campanha como capitão do exército de
Saul foi bem à margem de Judá, então ele era mais conhecido no norte; e
ele esteve mandando presentes para as cidades de Judá por certo tempo.
As outras tribos elevaram um filho de Saul, Isbosete, para o trono na
nova capital, Maanaim. Esta cidade, a leste do Jordão, estava segura dos
filisteus, que agora controlavam muito da parte oeste do Jordão. Ao passar
do tempo, disputas armadas aconteciam periodicamente entre Israel e Judá.
Essa foi a causa do enfraquecimento gradual de Isbosete, e por último, o
comandante em exercício e o rei foram assassinados.
Então, contingentes armados, ou seus representantes de todo Israel
vieram de Hebrom implorar para Davi ser o rei deles (veja 1 Crônicas
12:23-40). Aparentemente, algumas fortes negociações aconteceram, e
entendimentos foram alcançados levando-os a estabelecer um estado mais
integrado do que Saul governou. Então, “Davi fez uma aliança com eles” e
“eles ungiram Davi rei sobre Israel” (2 Samuel 5:3). Ele tinha começado a
reinar em Hebrom sete anos e meio atrás, aos trinta anos, e foi destinado a
reinar outros trinta e três anos sobre todo Israel e Jerusalém (2 Samuel 5:4,
5).

Jerusalém Torna-se a Capital


Aparentemente, os filisteus não interferiram no governo de Davi em
Judá; eles deviam até considerá-lo um vassalo. O resto de Israel a oeste do
Jordão estava debaixo do controle dele. Mas quando Davi se tornou rei de
todo Israel, eles claramente reconheceram sua crescente ameaça e
montaram um ataque. Apesar de ser difícil ordenar exatamente os fatos das
Escrituras, eles provavelmente atacaram antes dele capturar Jerusalém. De
qualquer maneira, próximo ao começo de seu reinado, ele esteve em duas
pelejas com os filisteus e então os derrotou completamente, tanto que eles
nunca mais representaram uma grande ameaça para Israel. Também
próximo do começo de seu reinado, ele buscou uma capital nova, mais
central. Jerusalém era, de muitas formas, ideal. Sua localização era
justamente central, seu abastecimento de água era adequado, e sua
capacidade de defesa, excelente. Além disso, ela não estava nem em Judá
nem em Efraim e então não provocaria ciúmes entre as tribos maiores.
Finalmente, sua captura removeu uma fortaleza cananeia do meio do
território israelita. Joabe foi outorgado comandante das forças armadas por
seu sucesso em tomar Jerusalém dos jebuseus.
Depois Davi buscou fazer de Jerusalém a capital religiosa, assim como a
política. Por muitas décadas, a arca tinha sido separada do tabernáculo.
Davi fez uma estrutura para trazer a arca para Jerusalém, e a instalou lá no
tabernáculo, em meio a muita alegria e oferta de sacrifícios. Embora ele
tenha planejado construir uma casa adequada para Deus na capital mais
tarde em seu reino, Deus deixou claro que o filho de Davi, que seria um
homem de paz, deveria construí-la ao invés dele (1 Crônicas 28:2-6).
Embora Davi falasse sobre construir uma casa para Deus, Deus declarou
que Ele estabilizaria a casa de Davi. De fato, Ele prometeu
incondicionalmente a Davi uma casa ou linhagem eterna, um trono eterno,
um reino eterno (2 Samuel 7; 1 Crônicas 17).
Esta predição pôde ser cumprida somente na pessoa do maior filho de
Davi, o Senhor Jesus Cristo, que reinará no Monte Sião durante o reinado
milenar e para sempre na Nova Jerusalém. Davi submeteu-se humildemente
aos desejos de Deus e ajuntou uma grande quantidade de materiais para a
futura construção do templo. Embora Davi não pudesse construir o templo,
ele deu uma atenção especial para a organização do sacerdócio, liturgia, e
música do tabernáculo, e assim, do templo de adoração (1 Crônicas 24-25).
Dos salmos, setenta e três são relacionados como sendo de autoria de Davi.
Desde sua juventude, ele era um músico e uma pessoa temente a Deus. Davi
era, de coração, um poeta, um poeta universal. Seus hinos de louvor e
confissão incluem a totalidade das experiências humanas e são amados e
cantados em palácios e cabanas em toda parte da terra. As Escrituras o
chamam de “o suave em salmos de Israel” (2 Samuel 23:1).

O Império de Davi
Em 2 Samuel 8, 10-12, e 1 Crônicas 18-20, a referência é feita às muitas
guerras de Davi e sua construção de um império. Não há evidência de que
ele fosse um imperialista consciente, mas aparentemente, ele respondeu as
situações militares à medida que elas apareciam. Primeiro, ele lutou com
Moabe pelo leste do Mar Morto e agiu rigidamente nesta situação, fazendo
deste um estado escravizado. As Escrituras não indicam qual era a
provocação. Em uma ocasião, ele deixou seu pai e mãe sobre proteção do
rei do Moabe (1 Samuel 22:3, 4), e há uma tradição judaica de que eles
foram cruelmente escravizados lá, mas não há evidências existentes de
qualquer conexão entre tal tragédia e esta conquista. Em seguida, ele fez de
Edom um estado escravo, e nesta forma controlaram o território a caminho
do Golfo de Aqaba. Ele também lutou contra Damasco, Zobá e Hamá. Zobá
e Damasco; também se tornaram aparentemente estados escravos; Davi
posicionou tropas em Damasco. Não há uma certeza sobre quanto controle
ele tinha sobre Hamá (que se estendia ao Eufrates). Seguindo uma guerra
com Amom para o sul e leste de Gileade, ele incorporou aquele território ao
seu reino. Em uma data inicial, ele estabeleceu boas relações e
possivelmente uma aliança com Tiro. Então seu território e/ou esfera de
influência se estendeu por todo lado da fronteira do Egito (cerca de
cinquenta milhas a sul de Gaza) e o Golfo de Aqaba, no sul, para um ponto
próximo ao Eufrates ao norte e do Mediterrâneo para o deserto árabe.
Davi deve ter sido o governante mais forte no mundo contemporâneo. A
essa época os poderes minoanos, messênios, hititas, da Antiga Babilônia e
egípcios estavam por baixo ou totalmente destruídos. Um vácuo de poder
no Meio Leste teria permitido um império ainda maior se Davi quisesse
construí-lo. Os únicos lugares que podiam rivalizar com o poder de Davi
eram Índia e China. O primeiro, em seu Período Védico, não era unido e
tinha uma multiplicidade de estados governados por príncipes relativamente
independentes. O último foi no período Chou, quando os imperadores
estavam tremendamente fracos e derrotados por muitos senhores feudais,
tanto quanto os reis da Europa Ocidental foram durante a Idade Média.

Os Pecados de Davi
A Escritura documenta dois pecados principais de Davi. O primeiro foi
cometer adultério com Bate-Seba e o subsequente assassinato de Urias,
marido dela (2 Samuel 11-12). Deus reprimiu Davi severamente usando
Natã, o profeta, que previu que o filho do adultério morreria e que a espada
nunca mais sairia de sua casa. A criança morreu logo depois do nascimento.
O cumprimento da profecia sobre o conflito na família de Davi é bem
evidente nas confusões dos últimos anos de sua vida.
O segundo grande pecado de Davi envolveu um censo (2 Samuel 24; 1
Crônicas 21). O que faz o ato ser tão pecaminoso, a Escritura não revela,
mas deve ter sido sério. Wood observa: “Até mesmo Joabe, que tinha o
coração frio, encorajou o rei a se abster na ação, e o grau de
descontentamento de Deus é indicado pela severidade da punição infligida
como resultado. O real pecado deve ter sido relacionado com a imposição
às altas taxas, e até possivelmente recrutamento para trabalho.”[Nota 2] De
qualquer forma, Gade, o profeta, deu a Davi três tipos de punição divina,
das quais ele deveria escolher uma. Davi escolheu “três dias de peste”, que
resultou na morte de setenta mil pessoas. A praga parou somente a norte de
Jerusalém, na trilha de Ornã, o jebuseu. Em gratidão e arrependimento,
Davi comprou o solo e os bois de Ornã e ofereceu sacrifícios a Deus. Este
campo tinha um significado especial por ter sido um ponto especial no
Monte Moriá onde Abraão ofereceu Isaque e, mais tarde, Salomão
construiu o templo.

O Problema da Sucessão
Como outros monarcas orientais, Davi caiu na prática de manter um
harém. A Escritura nomeia oito esposas e vinte e oito filhos e faz referência
a outras esposas e concubinas. Tal situação abriu a porta para toda sorte de
maldições, sendo a menor delas a inabilidade de um rei exercitar a sua
própria supervisão paterna, a confusão ao erguer um harém, e a questão da
sucessão do trono. Ao tempo do nascimento de Salomão, Bate-Seba, a mãe
da criança, era a favorita de Davi; e Salomão era, mesmo que secretamente,
designado a herdar o trono; mas ele estava bem atrás na lista de herdeiros.
Enquanto Davi era rei em Hebrom, seis filhos nasceram. O primeiro foi
Amom, morto por Absalão; o segundo foi Quileabe, sabe-se pouco sobre
sua vida, provavelmente morreu jovem; o terceiro foi Absalão, e o quarto,
Adonias (veja 2 Samuel 3:2-5). O terceiro e o quarto filho particularmente
simbolizam a disputa pela sucessão.
Absalão, um jovem muito bonito e esperto, com uma considerável
habilidade de liderança e talento para relações públicas, decidiu tentar o
trono (2 Samuel 15:18). Fazendo um esforço especial para ganhar o coração
do povo e realizar seus planos, ele reuniu uma tropa em Hebrom e se ungiu
rei. Depois ele marchou em Jerusalém. Davi não tinha escolha a não ser
escapar. Ele foi para Maanaim, que serviu como capital de Israel enquanto
Davi governou em Hebrom. Em uma batalha árdua, os homens de Davi
tiveram uma vitória decisiva, e Joabe matou Absalão, contrário às ordens,
trazendo um fim à rebelião. Imediatamente após a revolta de Absalão, um
benjamita de nome Seba, liderou um movimento de afastamento das tribos
do Norte. Isto foi rapidamente reprimido (2 Samuel 19-20).
Provavelmente dois ou três anos depois, o quarto filho de Davi, Adonias,
fez uma tentativa de chegar ao trono. Se a lei da primogenitura tivesse sido
estritamente seguida, ele herdaria o trono. O apoio a Adonias era
formidável, e incluía Joabe e o sumo sacerdote Abiatar.
Planos de uma cerimônia de unção foram feitas na primavera em En-
Rogel, a sudeste de Jerusalém. Novidades sobre o assunto vieram a público
e o profeta Natã e Bate-Seba tomaram a liderança em relatar a situação e
persuadir Davi a anunciar Salomão. Ele fez isto e os planos procederam
imediatamente para a unção de Salomão na primavera de Giom, leste de
Jerusalém. A animação na cerimônia de Salomão podia ser ouvida na
reunião de Adonias, além de uma pequena cadeia de montanhas, a cerca de
dois quintos de uma milha. Os seguidores de Adonias se foram, e ele se
submeteu a Salomão, evitando uma guerra civil (1 Reis 1:1-2:9; 1 Crônicas
22:6-23:1; 28-29).

Davi em Retrospecto
Sem dúvidas, Davi foi o maior rei de Israel. Jerusalém se tornou
conhecida como a cidade de Davi. Cristo nasceu na linhagem de Davi e um
dia reinará do trono de Davi. De fato, Davi é chamado de “homem segundo
o coração de Deus” (1 Samuel 13:14; Atos 13:22; veja também 2 Crônicas
8:14, “homem de Deus”), talvez a palavra de aprovação mais forte já falada
por Deus para um homem. O significado exato disto está aberto para
interpretação. Certamente não quer dizer que ele era perfeito, nem que ele
nunca tinha cometido um grande pecado. Ele era uma homem com telhado
de vidro e quebrou muitos dos mandamentos, sendo culpado de, entre
outras coisas, adultério e assassinato. (Deve ser observado que um dos
argumentos mais fortes para a inspiração da Escritura é a forma na qual a
fraqueza e as tolices de seus melhores homens são documentadas com uma
franqueza extrema.)
Se a vida particular de Davi não foi sempre exemplar, como ele pode ser
descrito como um “homem segundo o coração de Deus”? Possivelmente, a
resposta é uma resposta dupla: em sua atitude para com o pecado e em sua
política pública. Embora Davi tenha pecado, quando ele foi confrontado
com o erro de seu caminho, seu coração se quebrantou em penitência.
Observe como ele expôs seu coração para Deus no salmo 51: “Tem
misericórdia de mim, ó Deus... Lava-me completamente da minha
iniquidade... Lava-me, e ficarei mais branco do que a neve...
Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito
reto... Torna a dar-me a alegria da tua salvação... A um coração quebrantado
e contrito não desprezarás, ó Deus...”. De uma forma geral, a política
pública de Davi honrou a Deus. Por exemplo, ele se recusou tirar a vida de
Saul ou recompensar aqueles que o fizeram, pois Saul era “um ungido de
Deus,” e Deus o puniria no tempo certo. Ele deu honra própria ao santuário
de Deus e organizou a adoração e o culto dos levitas e buscou construir o
templo. Em geral, os princípios pelos quais ele viveu deixam claro o seu
débito para Salomão antes de sua morte: andar nos caminhos de Deus,
manter os mandamentos de Deus, servir a Deus com um coração perfeito e
uma mente desejosa (1 Reis 2:3-4; 1 Crônicas 28:9).

Salomão

(1 Reis 1:39-11:43; 2 Crônicas 1-9)

Davi foi um homem de guerra e um construtor de império. Salomão foi


um homem de paz e construtor de palácios e cidades, fortificações e o
templo. Mas antes que ele pudesse começar suas atividades de construção,
ele teve que consolidar seu poder. A intensidade da oposição que ele teve é
questionável, mas houve problemas remanescentes dos últimos dias do
reino de Davi. Adonias ainda era aparentemente uma ameaça para a coroa e
foi liquidado junto com o inescrupuloso Joabe e Simei, oponente de Davi.
Abiatar, o sumo sacerdote, foi expulso de seu ofício por causa da
cumplicidade na coroação de Adonias. Depois desta ação mínima, Salomão
parece ter sido bem estabelecido como cabeça do Estado.

A Fundação da Glória de Salomão


Aparentemente muito impressionado pelo testemunho espiritual deixado
por Davi e com muito desejo de que Deus abençoasse seu governo,
Salomão, perto do começo de seu reinado, fez um grande sacrifício a Deus
em Gibeão. Deus o encontrou lá e disse: “Faça um pedido que se tornará
verdade.” Ao invés de pedir por coisas que os poderosos geralmente pedem
(riquezas, poder, fama, etc.), Salomão pediu por sabedoria. Deus se agradou
tanto com o pedido dele que Ele garantiu isso e também prometeu riquezas
e honra. Visto que a sabedoria de Salomão é tão proverbial, pode ser útil
notar o que foi.
Salomão pediu: “A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a
teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque
quem poderia julgar a este teu tão grande povo” (1 Reis 3:9), e o escritor de
1 Reis relata uma situação onde duas mulheres argumentam sobre quem
seria a mãe de um recém-nascido (3:16-28).[Nota 3]
Evidentemente, a sabedoria buscou e garantiu primeiramente o que dizia
respeito a decisões administrativas e judiciais, e nós não devemos concluir
que isto necessariamente se estendeu a todas as coisas.
Por exemplo, pode ser seriamente questionado se um homem
verdadeiramente sábio tentaria manter um harém de setecentas esposas e
três mil concubinas (1 Reis 11:3), pois isto seria impossível fisicamente e
financeiramente. Além disso, seus muitos filhos não teriam desfrutado de
uma atenção paterna; e as muitas divindades estrangeiras trazidas por essas
mulheres ao centro dos negócios israelitas ameaçavam minar a verdadeira
fé. Talvez sua sabedoria não incluísse um completo entendimento de
assuntos físicos, pois ele tentou fazer mais do que a economia permite e
deixou o Estado em uma séria situação financeira.
Mas Salomão, assim como nós, pode ter tido uma sabedoria maior do que
às vezes mostrada. Muitas vezes nós permitimos que nossa ambição ou
orgulho subvertam nossa sabedoria. Ser sábio não significa necessariamente
que teremos a coragem, contenção ou perseverança para buscar uma direção
sábia de ação. Tendo dito isto, porém, nós temos que concluir que o livro de
Provérbios e outras referências, bíblicas ou não, indicam que a sabedoria de
Salomão era extensa. Primeiro Reis é um relato realmente importante sobre
este assunto. Ele descreve suas habilidades administrativas e seu poder
intelectual. São creditados a ele três mil provérbios, mil e quinhentas
canções e muitos estudos científicos, tal como classificações botânicas e
zoológicas (versículos 29-34). A fama de sua sabedoria foi longe e muitos
estrangeiros vieram ouvir pessoalmente sua sabedoria. A visita da Rainha
de Sabá é um caso apropriado (1 Reis 10).
Provavelmente logo após consolidar sua posição na corte, Salomão
começou a fortificar seu reino: Hazor no norte; Megido, com vista para o
Vale de Esdrelom; Gezer, Bete-Horom e Baalá, guardando Jerusalém a
oeste; e Tadmor, tanto Palmira, 175 milhas a nordeste de Damasco, ou um
lugar a sul do Mar Morto (1 Reis 9:15, 17, 18) a leste. Mas aquele foi só o
começo das construções de Salomão. Ele equipou cidades para suas
corporações de carruagens (quatorze mil carruagens) e cavalaria (doze mil
cavalos; 1 Reis 9:19, 10:26). Além disso, com a ajuda dos fenícios, ele
construiu um porto em Ezion-Geber, adjacente à moderna Eilate no Golfo
de Aqaba (um braço do Mar Vermelho) e construiu uma frota para usar o
porto. Ele ampliou grandemente Jerusalém ao confinar a área do templo ao
norte da cidade de Davi e no monte a sudoeste conhecido como Sião.

A Glória do Templo de Salomão


Mas o maior projeto construído por Salomão foi o templo. A construção
teve início no quarto ano dele (967 a.C.), e foi feita no terreno da eira de
Araúna e levou sete anos para ser concluída. Somente duas vezes o tamanho
do tabernáculo, ele foi construído no mesmo plano básico. Ele media 60
côvados de comprimento, 20 côvados de largura e 30 côvados de altura. O
santo lugar ocupava dois terços do interior e o santo dos santos, o resto.
Sendo assim, o santo dos santos era um cubo de 20 côvados de lado. Nele,
claro, estava a arca feita no Sinai. Ela era flanqueada por um grande
querubim com asas que mediam quinze pés. As paredes do templo e o chão
eram de pedra, o chão era coberto de cipreste e as paredes, cobertas com
cedro e revestidas de ouro. Diante do santo lugar, havia um pórtico, de 20
côvados de comprimento, 10 de largura e 120 de altura, no qual estavam
dois pilares de bronze de dezoito côvados de altura. Ao redor do templo,
nos dois lados e atrás, foram construídas duas câmaras para fins de
armazenamento.
No santo lugar estavam o altar do incenso, dez castiçais de ouro e dez
mesas para os pães da Presença. Em frente ao santo lugar ficava o átrio dos
sacerdotes - 100 côvados de largura e, de comprimento, 2 quadrados de 100
côvados de lado. Aqui ficava o altar de bronze para os sacrifícios (20
côvados de largura por 10 de altura) e uma grande pia em forma de vaso
(71/2 pés de altura e 15 pés de diâmetro). Esta ficava sobre doze bois de
bronze, três colocados em cada direção. Além disso, havia dez pias menores
para que fossem lavadas várias partes dos sacrifícios. Ao lado do átrio dos
sacerdotes, ficava o grande átrio, trezentos pés de altura e seiscentos pés de
largura.
Trinta mil israelitas trabalharam durante um mês preparando a madeira
para o templo nas florestas do Líbano, e 150.000 outros estrangeiros
moradores de Israel trabalhavam como carregadores e pedreiros. Artesãos
fenícios supriam a habilidade técnica para esta e para a maioria das outras
construções de Salomão, incluindo portos e frotas de guerra. A celebração
da inauguração durou duas semanas e envolveu o sacrifício de 22.000 bois e
120.000 ovelhas (2 Crônicas 7:4-10).
Ela foi acompanhada pelo descer da “nuvem” de glória de Deus sobre a
estrutura e uma segunda aparição de Deus a Salomão. Desta forma,
auspiciosamente começou a história da famosa estrutura que durou até que
destruída pelos babilônios em 586 a.C.

A Magnificência da Riqueza e o Declínio Espiritual


Além do templo, Salomão também construiu um palácio em Jerusalém.
No lugar, estavam os gabinetes governamentais, quartos para moradia da
filha de Faraó e a residência privada de Salomão. É difícil saber como
interpretar o hebraico de 1 Reis 7:1-12, seja para considerar esta construção
como um grande edifício ou prédios distintos, porém próximos. Talvez a
última seja melhor, e o complexo incluiria a Casa dos Cedros do Líbano
(aparentemente um arsenal, 1 Reis 10:16, 17; Isaías 22:8), conectado por
uma colunata de setenta e cinco pés de comprimento e trinta pés de altura, a
uma sala do trono que continha um trono de ouro de aproximadamente seis
pés (1 Reis 10:18, 19).
Adjacente à sala do trono, ficava a residência privativa de Salomão,
próximo dali estava uma casa separada para a filha de Faraó do Egito, com
quem Salomão fez uma aliança (1 Reis 3:1).
As Escrituras estão repletas de referências para a riqueza e ostentação de
Salomão. Parte disto foi possível pelo fato dele dominar os hebreus com um
fardo pesado de taxas, parte por presentes e tributos de povos estrangeiros
(1 Reis 10:24, 25), e parte por negociações. Salomão tinha uma aliança com
Hirão, rei de Tiro, que envolveu muito mais do que o suprimento de cedro
das florestas do Líbano. Navegadores fenícios serviam regularmente na
frota de Salomão, que alcançou o Mar Vermelho e provavelmente o Oceano
Índico. Bens luxuosos não eram trazidos do norte de Ezion-Geber para os
portos fenícios e do leste de Damasco para os portos fenícios, assim como
do sul para Israel.
Os fenícios transportavam muitas dessas mercadorias por todo mundo
mediterrâneo. Supoem-se que a Rainha de Sabá (Sabá, na Arábia do Sul,
área do atual Iêmen) não tenha viajado doze mil milhas nas costas de um
camelo, passando por um território perigoso com presentes caros para
Salomão simplesmente para se deleitar em sua sabedoria; talvez ele
estivesse efetivamente se movendo na esfera de influência econômica dela
(1 Reis 10:1-13; 2 Crônicas 9:1-12), ou possivelmente ela buscou uma
aliança comercial com ele.
Há evidências dos declínios nos últimos dias de Salomão. Suas esposas
estrangeiras começaram a voltar seus corações contra Deus, e ele até
construiu lugares de adoração para muitas divindades estrangeiras (1 Reis
11:7-8), o que despertou a ira de Deus. Jeroboão, o filho de Nebate, depois
de se tornar Jeroboão I do Reino do Norte, começou a entreter ideias de
revolta e foi para o Egito para escapar da ira de Salomão (1 Reis 11:26-40).
Enquanto isso, Hadade de Edom (1 Reis 11:14-22) e Rezon de Damasco (1
Reis 11:23-25) estavam aparentemente perdendo seu domínio no império e
alcançando uma considerável independência em suas áreas. Salomão
começou bem e buscou poderosamente honrar a Deus, especialmente na
construção do magnífico templo. Mas as esposas estrangeiras e sua idolatria
provaram ser sua queda, e antes de sua morte, Deus disse para ele que por
esta razão, Ele renderia o reino a sua morte e daria a maior parte de seu
reino para alguém que não fosse seu filho. Mas pelo bem de Davi, Deus
manteria Judá e Jerusalém na linha davídica (1 Reis 11:9-13).
Notas do Capítulo

Nota 1 - O lapso de tempo é concluído desta forma: o primeiro grande pecado de Saul ocorreu dois
anos dentro de seu reino, por volta de 1048-1047 a.C. Logo depois, aconteceu o seu
segundo grande pecado, após Davi ter sido ungido rei. Davi tinha trinta anos à época da
morte de Saul em 1010 a.C. Se ele tinha 15-20 anos à época de sua unção, a data da batalha
contra os amalequitas deve ter sido entre 1030-1025 a.C. Então, cerca de vinte anos se
passaram entre seus dois grandes pecados (1048-1027 a.C.). [Voltar]
Nota 2 - Leon Wood, A Survey of Israel History [Uma Análise da História de Israel], p. 278.
[Voltar]
Nota 3 - Não se sabe ao certo quem escreveu 1 e 2 Reis, mas a tradição dos judeus conclui que foi
Jeremias. [Voltar]
CAPÍTULO

O Caos Aos Pés dos Reis: O Reino Dividido


1 Reis 12 – 22, 2 Reis, 2 Crônicas 10 – 36

D EPOIS da morte de Salomão, a Ásia Oriental e o Mediterrâneo foram


destinados a serem muito diferentes do que tinham sido no período
anterior. Durante os dias de Saul, Davi e Salomão, havia um vácuo político
nesta área na qual os hebreus e fenícios poderiam se mudar. Por volta de
900 a.C. o reino hebreu estava dividido em dois segmentos de combate. O
Egito e a Assíria estavam emergindo. Durante os séculos subsequentes, os
assírios alcançariam seu ápice e declínio, o poder neo-babilônio ou caldeu
faria o mesmo, e os persas estabeleceriam seu império. No leste, uma nova
disposição de cidades estado aconteceria na Grécia, um movimento político
ocorreria em Roma e os fenícios plantariam inúmeras colônias na Europa e
no norte da África.
Os vinte governantes de Israel e os vinte de Judá presentes nos livros de
Reis e 2 Crônicas envolvem uma confusão de detalhes que deixa
extremamente difícil de se manter uma coerência. Talvez a melhor forma de
lidar com o material é primeiramente apresentar uma tabela de governantes
e depois discutir os desenvolvimentos nos reinos de Israel e Judá olhando
de maneira breve e individual, para as administrações reais. A seguinte
tabela é adaptada do The Mysterious Numbers of Hebrew Kings [Os
Misteriosos Números dos Reis Hebreus]. Ocasionalmente, as datas se
sobrepõem; em tais casos, houve um período de regência partilhada.
O Reino do Norte
(1 Reis 12-22; 2 Reis 1-17)

A existência separada de Israel ou Reino do Norte não foi um novo


desenvolvimento. Depois da morte de Saul, o norte seguiu seu próprio
caminho enquanto Davi governava em Hebrom, e estendeu seu governo
para as tribos do norte somente depois de sérias negociações (2
Samuel 5:1-3). Uns trinta anos mais tarde, Israel deu um breve suporte a
Sabá em uma revolta contra Davi. Mas agora, sob a liderança de Jeroboão,
a divisão estava para se tornar permanente. Aías tinha previsto e Deus tinha
dito a Salomão que isso aconteceria por causa da sua idolatria. Com a morte
de Salomão, Jeroboão retornou a Israel do exílio no Egito; e quando
Roboão foi para Siquém ser coroado por todas as tribos, Jeroboão deixou as
forças querendo uma redução de taxas. Frente à recusa de Roboão em
exercitar a indulgência, as tribos do norte se dividiram e coroaram Jeroboão
rei. Quando Roboão reuniu um exército de 180.000 homens para forçar uma
reunificação, um profeta de Deus o parou e a ruptura se tornou final.

Jeroboão e Nadabe (1 Reis 12:25 – 14:20)


Jeroboão teve a responsabilidade de edificar o governo do Reino do
Norte. Ele estabeleceu sua capital primeiramente em Siquém e mais tarde
em Tirza. Com o intuito de prevenir os contatos contínuos com Judá e uma
reunificação dos dois estados, ele sentiu que tinha que instituir uma nova
adoração; então, ele construiu santuários em Dã ao norte e em Betel ao sul
para a nova adoração a bezerros. Presumidamente, ele sabia que não
poderia ter sucesso em persuadir o povo a adorar bezerros como deuses e
pôde ter pensado que Deus seria lembrado como se estivesse andando no
bezerro. Muitas pessoas na Ásia Oriental representaram suas divindades
como se elas tivessem de pé ou sentadas nas costas de animais. Em
qualquer circunstância, Deus condena a falsa adoração e informou a
Jeroboão que seu filho seria assassinado em ofício e sua linhagem
desapareceria. Jeroboão sofreu a perda de território também; Damasco e
Moabe se tornaram independentes. Seu filho, Nadabe (1 Reis 15:25-31),
governou por somente dois anos antes de Baasa matá-lo e a outros membros
da família de Jeroboão. É dito que Nadabe continuou o pecado de seu pai
(em manter a adoração a bezerros), assim como fizeram todos os
governantes de Israel que o seguiram.

Baasa e Elá (1 Reis 15:32 – 16:20; 2 Crônicas 16:1-6)


Baasa sucedeu Nadabe. A administração de Baasa, que durou vinte e
quatro anos, foi caracterizada pela batalha contra Judá. Quando ele
começou a aproveitar algum grau de sucesso nas aventuras contra o reino
do sul, Asa de Judá persuadiu a Síria para invadir Israel. Por Baasa ter
continuado no caminho da religiosidade de Jeroboão, sua linhagem também
foi condenada, e seu filho Elá governou somente dois anos antes de ser
assassinado.

Zinri e Tibni, Onri (1 Reis 16:11-38)


Zinri assassinou Elá e durante seus sete anos de governo se encarregou
de destruir a casa de Baasa. Onri, governante das forças armadas sobre Elá,
então declarou-se rei e matou Zinri, mas tinha que competir com um outro
candidato ao trono, Tibni, que gerenciou uma parte do Reino do Norte por
quatro anos.
Onri estabeleceu uma dinastia que durou por mais três reis (Acabe,
Acazias e Jeorão). Ele foi um governante poderoso, e por algum tempo os
governantes assírios chamaram Israel de “a terra de Onri”. Ele edificou a
capital permanente do Reino do Norte na excelente terra da Samaria, um
monte facilmente defendido que tinha de três a quatro pés de altura, cercado
por uma região agrícola próspera. Depois de ter alcançado uma estabilidade
interna, Onri começou a olhar para fora, conquistando Moabe e
provavelmente fazendo uma aliança com o rei Et-Baal de Tiro. Pelo menos,
ele casou seu filho Acabe com Jezabel, filha de Et-Baal.

Acabe, o Mais Pecador de Todos (1 Reis 16:28-22:40)


O rei Acabe é uma das figuras mais conhecidas do Antigo Testamento.
Isto é verdade em parte porque sua esposa foi Jezabel e em parte porque o
profeta Elias se opôs dramaticamente a ele. Sendo a Escritura sempre
primariamente interessada em assuntos morais e espirituais, a atenção
durante o reinado de Acabe é focada na introdução da adoração a Baal. A
adoração a Baal não era nova para Israel. Começou no norte, durante os
últimos dias dos juízes, e Samuel a combateu; mas durante o governo de
Davi e Salomão ela praticamente desapareceu.
Entretanto, agora Acabe e Jezabel promoviam adoração a este ídolo e até
mesmo perseguiam os seguidores de Deus. Pior que adoração ao bezerro de
Jeroboão, era o politeísmo escancarado, rude como sua licença para
adoração e, inclusive, prostituição religiosa. Desta forma, Acabe ganhou a
reputação de ser o mais pecador dos reis de Israel. O maior oponente de
Acabe e Jezabel foi o profeta Elias, que apareceu repentinamente de
Gileade e previu uma aridez, que durou por mais de três anos. Depois disto,
ele organizou a famosa competição com os profetas de Baal.
Subsequentemente, Elias previu a destruição da linhagem de Acabe por
causa da morte de Nabote e o ataque à vinha de Nabote (1 Reis 21:1-29).
As Escrituras apresentam Acabe como mais do que um mero rei que não
tinha o favor de Deus; ele era um militar poderoso. Em duas grandes
campanhas ele derrotou os sírios, mostrando complacência por causa da
ameaça do crescente poder assírio. Entretanto, as Escrituras não fazem
lembrar a maior batalha de Acabe – a participação em uma unificação que
buscou parar Salmanasar III da Assíria (no Qarqar) em sua tentativa de
expandir seu império entre a Síria e a Palestina. Para a maior batalha de
Qarqar em 853 a.C., Acabe providenciou duas mil carruagens e dez mil
soldados, de acordo com os registros assírios. Aparentemente a unificação
parou os assírios por um momento. A habilidade de Acabe em colocar em
campo duas mil carruagens mostra algo a respeito do poder e da riqueza do
Reino do Norte. Deve-se lembrar que Salomão manteve somente mil e
quatrocentas carruagens. A atividade de edificação de Acabe é também
ignorada nas Escrituras. Quão abrangente ela era nós não podemos dizer,
mas escavações nos mostram que ela se estendia pelo menos até a Samaria,
Hazor e Megido.

Acazias (2 Reis 1:2-18)


O filho de Acabe, Acazias, sucedeu seu pai no trono quando este foi
morto em uma terceira guerra contra os sírios. Durante seu curto reinado de
um ano ou dois, Acazias foi incapaz de subjugar novamente os moabitas,
visto que sua expedição naval em conjunto com Judá pelo Golfo de Aqaba
acabou em derrota (2 Crônicas 20:35-37), sofreu com a condenação de
Elias, e finalmente, morreu em uma queda. Por volta desta época, o
ministério de Elias chegou ao fim, e Deus o levou para o céu em um
redemoinho de vento. Eliseu continuou o ministério de seu pai espiritual.

Jeorão (2 Reis 3:1-9:26)


Um segundo filho de Acabe e Jezabel, Jeorão, agora tomou o trono por
doze anos. No começo do seu reinado ele lutou numa grande guerra com
Moabe; apesar do sucesso inicial, ele falhou ao final, ao tentar exercer
domínio sobre os moabitas. O reinado de Jeorão foi marcado por frequentes
relações (a maioria não amigável) com o reinado ara-meu de Damasco.
Eliseu estava no auge de seu ministério durante o reinado de Jeorão e
operou muitos milagres. Por exemplo, ele proveu água quando os exércitos
combinados de Israel, Judá e Edom estavam prestes a morrer de sede
durante o ataque em Moabe; ele curou Naamã, capitão das forças da Síria,
de sua lepra; e temporariamente cegou os soldados sírios que vieram
capturá-lo.
Jeorão encarou muitos ataques da Síria, um dos quais teve sucesso ao
cercar Samaria, e um segundo resultou no ferimento de Jeorão. Enquanto
ele se recuperava em Jezreel, o usurpador Jeú (ungido ao comando de
Eliseu) atacou, matando não somente o rei de Israel, mas também o rei
visitante de Judá (Acazias).

Jeú (2 Reis 9:11-10:36)


Jeú se tornou um agente de Deus por punir a casa de Onri e destruir a
adoração a Baal em Israel. Na verdade, Jeú não era amigo de Deus e parecia
ter exterminado o baalismo em grande escala por conta da forte ligação
entre religião e Estado. Isto é, se ele eliminasse a dinastia de Onri, ele
deveria destruir o sistema religioso que formou uma de suas importantes
bases de suporte. A purificação do sangue da dinastia que estava de saída
foi rápida e completa e começou com Jezabel e se estendeu, de maneira
compreensiva, a setenta “filhos” ou “descendentes” homens da casa de
Acabe em quarenta e dois parentes de Acazias, toda a corte de oficiais de
Jezreel e Samaria, e os profetas e sacerdotes de Baal. Jeú foi maldito por
um reinado muito conturbado. Aparentemente, ele não teve total apoio dos
populares e sem dúvidas, sofreu porque teve que matar muitos dos
indivíduos que conheciam como fazer o maquinário do governo funcionar.
De acordo com uma inscrição assíria, Salmanasar III de Assíria o forçou a
pagar tributo. Hazael de Damasco o defendeu e tomou Basã e Gileade. Ele
não teve ajuda da Fenícia ou de Judá por causa de seus ataques à casa de
Acabe e ao baalismo. Os fenícios eram devotos de Baal. Jezabel foi uma
princesa tíria, e uma filha de Acabe e Jezabel (Atalia) se tornou rainha de
Judá e continuou a governar depois da morte de seu marido.

Jeoacaz e Jeoás (2 Reis 13:1-14:6)


O filho de Jeú, Jeoacaz, capitulou para a força armada de Hazael da Síria,
e no final das contas, encontrou sua força armada reduzida a dez mil
soldados a pé, dez carruagens e cinquenta subdivisões em cavalarias.
Finalmente, em desespero, Jeoacaz se voltou para Deus para pedir ajuda e
em seus últimos dias experimentou algum alívio por causa da morte de
Hazael e da pressão assíria aos sírios. Seu filho Jeoás começou a
restauração do poder de Israel. Ao receber a promessa de vitória, através de
Eliseu, sobre os sírios em seu leito de morte, Jeoás continuou a restabelecer
todo o território perdido para Hazael anteriormente e também para
aproveitar uma vitória decisiva sobre Judá, até mesmo derrubando uma
parte da muralha de Jerusalém.

Jeroboão II (2 Reis 14:23-29)


Jeroboão II (filho de Joás) foi o primeiro rei considerável do Reino do
Norte. As Escrituras focam-se em seus caminhos maus, mas observam que
apesar desses, Deus trouxe alívio a Israel e expandiu os limites em seus
dias. Na verdade, Israel sob sua liderança foi capaz de expandir seus limites
a norte, quase tanto quanto Davi e Salomão tinham feito, e gozar de uma
prosperidade econômica. Tudo isto foi possível em parte porque os assírios
enfraqueceram muito a Síria e depois se tornaram tão preocupados com
seus próprios problemas internos por algumas décadas que não eram mais
uma ameaça para a terra do ocidente. O filho de Jeroboão, Zacarias (2 Reis
15:8-12), provou ser incompetente e ter muitos inimigos. De qualquer
forma, ele foi assassinado depois de apenas seis meses. Mas Salum (2 Reis
15:13-15), seu assassino, durou apenas um mês e foi morto por Menaém.

Menaém e Pecaías (2 Reis 15:16-26)


Menaém teve mais sucesso, mas agora o Império Assírio estava
novamente se expandindo. Pul (2 Reis 15:19), também conhecido como
Tiglate-Pileser III (744-727 a.C), fez campanha na Síria e na Palestina nos
últimos dias de Menaém e colocou a nação para pagar tributos.
Estabelecendo uma taxa pesada para este povo, para que pudesse pagar
aquilo que foi demandado por Pul, Menaém reteve seu trono e os assírios
deixaram Israel em paz. O filho de Menaém, Pecaías (2 Reis 15:23-26)
continuou as políticas de seu pai, mas aparentemente foi oposto por aqueles
que favoreceram a revolta contra a Assíria. Depois de dois anos de governo,
Pecaías foi assassinado por Peca, que começou a governar.

Peca (2 Reis 15:27-31)


Peca aparentemente governou por muitos anos uma parte da
Transjordânia antes do golpe que deu a ele o controle sobre todo Estado.
Durante oito anos, quando governou todo Israel, ele cooperou com a Síria
em um esforço para estabilizar uma aliança contra a Assíria. Acaz de Judá
se recusou a compactuar com isto. Obviamente, não havia poder suficiente
no leste para se colocar contra a Assíria, a qual avançou e colocou um fim
no reino de Damasco em 732 a.C. Uma revolta colocou Oséias no trono
neste mesmo ano.

Oséias (2 Reis 17:1-6)


Chegando ao trono com a aprovação de Tiglate-Pileser da Assíria, Oséias
teve menos poder para mudar o status tributário de Israel. Quando o
governador da Assíria morreu em 727 a.C., Oséias teve ideias precipitadas
de revolta, esperando que o novo rei, Salmanasar V, não fosse capaz de
manter o poder de seu predecessor. Ele estava errado. Salmanasar começou
um cerco de três anos de Samaria em 725 a.C., e o exército assírio tomou a
cidade tanto nos últimos dias de Salmanasar ou nos primeiros dias de seu
sucessor, Sargon I. De qualquer forma, Sargon (721-705) reivindicou vitória
e certamente começou o extermínio após a batalha. Seus escritos dizem que
ele levou 27.290 cativos para a Assíria. Muitos não-judeus foram
recolonizados no Reino do Norte, comandando uma população mestiça e
uma situação religiosa mista que existiu lá no período pós-exílio e nos
tempos do Novo Testamento. Por dois séculos, os profetas fiéis a Deus
alertaram aos reis e ao povo de Israel que a sua idolatria e outros pecados
trariam julgamento pelas mãos de Deus. Eles se recusaram a ouvir.

O Reino do Sul

(1 Reis 14:21-15:24; 22:41-50; 2 Reis 8:16-29; 11-25; 2 Crônicas 10-36)

A história do Reino do Sul, ou Judá, foi destinada a ser bem diferente da


história do Reino do Norte. O templo estava lá, então havia muitos levitas.
Logo após a divisão do reino, muitos levitas e outros que se recusaram a
compactuar com o paganismo do Norte vieram para o Sul, fortalecendo a
esfera espiritual do lugar. A união de Judá e Benjamim criou o Reino do
Sul, que viveu uma unidade política muito maior do que a vivida no norte.
Todos os reis eram da dinastia davídica ao invés de serem de muitas
dinastias. Oito dos seus reis podem ser considerados bons ou excelentes,
enquanto nenhum dos reis no norte foram classificados como bons. Por
causa desta imagem melhor, Deus permitiu ao reino do sul mais cem anos
de existência do que o do norte teve.
Mas, mesmo com todas essas vantagens, Judá também escorregou na
idolatria e finalmente, foi levado ao cativeiro por seus pecados.

Roboão (1 Reis 14:21-31; 2 Crônicas 10-12)


Roboão começou bem. Durante os primeiros três anos de seu governo,
ele liderou seu reino nos caminhos da justiça. Mas então um rápido declínio
aconteceu, e lugares altos e alamedas começaram a aparecer em todos os
lugares. Como punição, Deus enviou uma massiva invasão egípcia a esta
terra, liderada por Sisaque (Shoshenk I, 945-924 a.C). Tendo acontecido
provavelmente em 926 a.C., esta invasão não somente trouxe destruição a
Judá, mas também envolveu o reino do Norte, como mostram as inscrições
de Sisaque. Quando Deus deixou claro para Roboão que esta punição tinha
acontecido por causa da idolatria (2 Crônicas 12:5), o rei e muitos líderes
do país confessaram seus pecados e Deus moderou o ataque.
Subsequentemente, Roboão fortificou pelo menos cinquenta cidades a sul e
leste de Jerusalém para prevenir uma nova invasão egípcia. Roboão também
se envolveu em uma batalha com Jeroboão durante todo seu reinado, mas a
luta deve ter sido mais uma questão de limites do que uma grande batalha,
porque no começo do reino, Deus impediu um esforço maior para subjugar
Israel (2 Crônicas 11:1-4), e Roboão obedeceu.

Abias (1 Reis 15:1-8; 2 Crônicas 13)


Durante seu breve reinado de três anos, Abias (ou Abijam) continuou
com a política de guerra do seu pai e teve considerável sucesso em tomar
cidades fronteiras de Israel. Também, assim como seu pai tinha feito, ele
caiu em idolatria. De fato, as condições eram tão ruins que Deus teria
colocado um fim na linhagem de Abias se são fosse por sua aliança com
Davi.

Asa (1 Reis 15:9-24; 2 Crônicas 14-16)


O filho de Abias, Asa, começou bem seu reinado de quarenta anos.
Ele desenvolveu um programa de reforma e destruiu muitos dos altares
estrangeiros e ídolos que infestaram a terra durante os dias de seu pai. Além
disso, Asa edificou seu exército e suas defesas. Todos os seus esforços não
foram suficientes, entretanto, para ir de encontro ao poderoso ataque
egípcio que aconteceu durante o décimo quarto e décimo quinto ano (896
a.C.). Quando o etíope Zera, aparentemente sob o comando de Osorkon I
(924-889 a.C.), invadiu a terra, suas forças eram tão devastadoras que Asa
buscou a Deus por socorro. Tendo uma grande vitória, ele ouviu aos apelos
do profeta Azarias e estabeleceu uma grande reforma religiosa por toda
Judá. Mas estranhamente, logo após isto, ele teve recaída espiritual. Diante
de um ataque de Baasa do reino do Norte, ele roubou os tesouros do templo
e os enviou como um presente para Ben-Hadade na Síria, com um apelo por
um ataque ao Reino do Norte. Embora este passo tenha obtido sucesso, o
profeta Hanâni criticou o rei por falhar em depender de Deus e por fazer
uma aliança não sagrada. Com raiva, o rei jogou Hanâni na prisão e daí em
diante Asa não aparentou ter sido muito fiel em Deus. Quando foi
acometido por uma doença perto de sua morte, ele colocou sua confiança
em médicos e não buscou ajuda de Deus.

Josafá (1 Reis 22:41-50; 2 Crônicas 17-20)


Aparentemente, a doença de Asa o deixou tão debilitado que ele colocou
seu filho Josafá como “rei adjunto” durante seus três últimos anos. Josafá
continuou a governar por mais vinte e dois anos após a morte de seu pai.
Um bom rei, como seu pai fora antes dele, ele instituiu reformas próximo ao
começo de seu reinado e deu ordens aos levitas para ensinarem a lei, uma
indicação de que eles tinham se cansado de suas tarefas. Quando Josafá
encarou um ataque conjunto de Moabe, Amom e Edom (2 Crônicas 20:1-
30), ele separou um tempo de jejum e oração e foi recompensado com uma
grande vitória. Apesar de seus pontos positivos, Josafá falhou
miseravelmente ao fazer uma aliança com a casa de Onri. Isto envolveu um
casamento com o então príncipe, Jeorão, com a filha de Acabe, Atalia, e
subsequentemente introduziu a adoração a Baal em Judá. Além disso, isto
levou Josafá a se aventurar com três reis israelitas. Quando ele se juntou a
Acabe em uma guerra contra a Síria, Acabe perdeu sua vida na batalha e
Josafá quase teve o mesmo fim. Ele construiu uma frota de comércio no
porto de Judá em Ezion-Geber com a ajuda de Acazias de Israel, e a frota
foi arruinada.
Então Josafá se aliou com outro filho de Acabe, Jeorão, em uma guerra
contra Moabe, e quase pereceu pela falta de água durante a batalha, a qual
se transformou em uma derrota para Israel.

Jeorão (2 Reis 8:16-24; 2 Crônicas 21)


Jeorão governou por quatro anos com seu pai, e depois governou sozinho
por oito anos. Seu reino contrastou-se bastante ao de seu pai.
Sem dúvidas, isto se deu pela forte influência de sua esposa, Atalia, filha
de Acabe e Jezabel. Ele restaurou a idolatria que Josafá tinha destruído e
também assassinou seus seis irmãos, sofreu duas revoltas de sucesso por
Edom e Libna, e viveu uma humilhante invasão dos filisteus e árabes, que
levaram até mesmo sua esposa e seus filhos, exceto Acazias (2 Crônicas
21:14). Atalia não estava entre as esposas levadas ou foi resgatada, porque
serviu como conselheira para seu filho Acazias e depois disso governou por
sua própria força. Quando Jeorão morreu com uma terrível doença
intestinal, ele era tão rejeitado que ninguém sentiu pesar por sua morte.

Acazias (2 Reis 8:25-29; 9:27-29; 2 Crônicas 22:1-9)


O único filho remanescente de Jeorão, Acazias, governou Judá por
menos de um ano. Sob o domínio de sua mãe (Atalia) e influenciado pelo
exemplo de seu pai, ele promoveu a adoração a Baal e se aliou com a mãe
de seu irmão, Jeorão de Israel, em uma guerra contra a Síria. Jeorão foi
ferido na batalha; e quando Acazias foi visitar Jeorão em Jezreel, Jeú
usurpou o trono e matou ambos Jeorão e Acazias.

Atalia (2 Reis 11:1-16; 2 Crônicas 22:10-23:15)


Atalia era cruel e ambiciosa como Jezabel, sua mãe. Depois da morte de
seu filho, ela decidiu tomar o trono por si mesma e matou seu neto para que
não pudessem haver pretendentes ao trono. Mas ela não foi completamente
bem sucedida. Um dos filhos de Acazias, o pequeno Joás, foi resgatado e
escondido por seis anos. Então, Joiada, o sumo sacerdote, desenhou planos
cuidadosos para coroar Joás. Quando ele fez isto, Atalia fugiu e foi
executada.

Joás (2 Reis 12; 2 Crônicas 23:16-24:27)


Temos bons relatos de Joás em seus primeiros anos, graças aos grandes
conselhos de Joiada, o sumo sacerdote. Ele destruiu o templo de Baal em
Jerusalém, e reinstituiu totalmente as ofertas mosaicas no templo. Um
avivamento religioso aconteceu naquela terra e reparos necessários foram
feitos no templo. Mas após a morte de Joiada, Joás caiu em idolatria. Ele
caiu tão profundo neste pecado que até mesmo o filho de Joiada, Zacarias,
foi apedrejado até a morte por repreender suas atitudes pecaminosas (2
Crônicas 24:20-22). Mas para Deus não existe pecado grande ou pequeno;
mais tarde, naquele mesmo ano, Hazael de Damasco marchou pelo país em
uma campanha devastadora e só teve misericórdia de Jerusalém após Joás
pagar como tributo, cada pedaço do tesouro que ele achasse. Finalmente, as
políticas de Joás ficaram tão impopulares que ele foi assassinado.

Amazias (2 Reis 14:1-20; 2 Crônicas 25)


O filho de Joás, Amazias, governou por vinte e nove anos, embora
somente por cinco anos tenha governado sozinho (o resto ele governou em
conjunto com seu filho, Uzias). Como Joás, seu pai, Amazias começou bem
e gozou das bênçãos de Deus. Muito interessado em reaver o uso do porto
de Ezion-Geber, ele começou uma guerra de muito sucesso contra Edom.
Mas cometeu um grande erro ao trazer de volta os falsos deuses de Edom e
adorá-los. Por isto, um profeta de Deus previu a destruição do rei. A derrota
veio para ele pelas mãos de Israel,e aparentemente Amazias foi tomado
prisioneiro de guerra e permaneceu no cativeiro até a morte do rei israelita
Jeoás (2 Reis 14:13, 17).
Finalmente, ele foi liberto e finalmente morreu nas mãos de um
assassino. Esta ação não afetou a continuidade da linhagem davídica porque
Uzias (Azarias) já tinha sido governante de Judá por alguns anos.

Uzias (2 Reis 14:21-22; 15:1-7; 2 Crônicas 26)


Uzias, também conhecido como Azarias, era um rei muito bom cujo
sucesso estava relacionado diretamente a sua dependência de Deus (2
Crônicas 26:5, 7). Ele governou por um total de cinquenta e dois anos e
desta forma foi o segundo na escala dos reis que lideraram por mais tempo
em Israel e Judá, perdendo somente para Manassés. Ele governou sozinho
por dezessete anos, mas serviu com Amazias no começo de seu reinado e
com Jotão, no final do seu reinado. Quando Uzias chegou ao trono, Judá
estava quase esmagada pelo poder de Israel. Mas gradualmente ele afirmou
seu poder independente e construiu as paredes de Jerusalém, aprimorou as
fortificações da cidade, reagrupou o exército, e o equipou com armas de
qualidade superior. À medida que ficava mais forte em casa, ele ficava em
posição de se expandir. Ele submeteu os filisteus para o leste, fortalecendo
seu domínio em Edom para o sul, e estendendo suas regras sobre os
amonitas. Aparentemente, havia um bom relacionamento com Jeroboão II
em Israel, que também era poderoso, rico e expansionista. Entre eles, os
dois reis hebreus controlavam aproximadamente o equivalente ao império
de Davi. Isto era possível porque a Assíria estava em declínio naquele
tempo. Infelizmente, no auge de seu poder, Uzias se esqueceu da real fonte
de seu poder, e em face da oposição de oitenta sacerdotes, insistiu em
prosseguir ao santo lugar e queimar incenso. Por este ato de sacrilégio,
Deus acometeu Uzias com lepra, e ele não pôde mais entrar no templo e
nem aproveitar seus muitos privilégios sociais. Seu filho, Jotão, tornou-se
corregente durante os anos de 750-740 a.C.

Jotão (2 Reis 15:32-38; 2 Crônicas 27)


Durante a maior parte de seu reinado, Jotão meramente deu continuidade
às políticas de Uzias, incluindo a construção das fortificações.
Ele é classificado como um bom rei, e teve o favor de Deus. Ele instituiu
uma revolta amonita, a única ameaça séria à realeza. O poder da Assíria
estava novamente se fortalecendo, mas Jotão se recusou a juntar-se a Rezim
de Damasco e Peca de Israel em uma aliança que se oporia ao grande
Tiglate-Pileser III da Assíria. Isaías e Miquéias profetizaram em Judá
durante este tempo, e como é evidenciado em suas palavras, havia uma
prosperidade contínua. Judá entrou em um tipo complacente de
secularismo, com sacrifícios contínuos no templo, mas não havia uma
vitalidade religiosa verdadeira.

Acaz (2 Reis 16; 2 Crônicas 28)


Acaz permaneceu com a ira combinada de Rezim e Peca, que tentaram
forçá-lo a abandonar sua política favorável a Assíria e juntar-se a eles
contra Tiglate-Pileser III. Incapaz de lidar com este ataque combinado, ele
mandou um presente para o governante assírio e implorou por sua ajuda.
Tiglate-Pileser estava muito grato para responder. Mas antes de Rezim e
Peca serem forçados a voltar para casa, eles infligiram uma grande
destruição em Judá e mataram cerca de 120.000 pessoas.
Entretanto, seus 200.000 cativos foram logo libertos. Logo após isso,
Acaz caiu em uma apostasia religiosa: ele fez imagens de Baal e adorou em
altares. Por seus pecados, ele começou a viver derrotas militares nas mãos
dos edomitas e filisteus. Enquanto isso, Tiglate-Pileser tinha sucesso contra
os inimigos de Judá; ele destruiu o reino da Síria e a incorporou como parte
do reino de Israel (732 a.C.).

Ezequias (2 Reis 18-20; 2 Crônicas 29-32; Isaías 36-39)


Ezequias foi um dos maiores reis de Judá. Ele trabalhou duro para
destruir os ídolos, altares e outras armadilhas idólatras. É dito que ele teve
uma conduta similar a de Davi, seu pai (2 Crônicas 29:2). Havia uma plena
necessidade por uma reforma após a má influência de Acaz. Ezequias era
contra os assírios em sua política estrangeira, mas isto não se tornou tão
evidente enquanto o poderoso Sargon II viveu.
Quando Sargon morreu em 705 a.C., Ezequias aparentemente decidiu que
o filho de Senaqueribe seria um alvo mais fácil. Ezequias juntou-se a uma
unificação dos poderes do leste da Ásia contra a Assíria. Mas, por outro
lado, por quase quatro anos, Senaqueribe não montou uma grande ofensiva
do leste até 701 a.C. Naquele tempo, ele entrou em choque com o poder de
Tiro, moveu-se para o sul contra os filisteus e os derrotou, e invadiu Judá.
Por volta deste tempo, um exército egípcio veio do norte contra a Assíria e
Senaqueribe teve que dispor isto antes que ele pudesse proceder com sua
campanha da judeia. Também neste mesmo tempo, ou possivelmente um
pouco mais cedo, Ezequias estava aflito com muitas doenças que pareciam
ser terminais. Preocupado não somente consigo mesmo, mas também com
as pessoas que poderiam ficar sem líder em um momento tão crucial,
Ezequias orou por cura e recebeu uma garantia de mais quinze anos de vida.
Senaqueribe marchou quase que irresistivelmente para Judá e tomou Laquis
após uma batalha. (Toda uma parede de inscrições pitorescas no palácio
dele descreve este evento; este é agora um museu em Londres.) Depois de
conquistar quarenta e seis cidades de Judá, ele acampou ao redor de
Jerusalém. Deus deu uma segurança de Sua ajuda através de Isaías, o
profeta da corte, e colocou um fim na invasão de Senaqueribe ao destruir a
maior parte de seu exército com um certo tipo de praga.
De maneira previsível, Senaqueribe não menciona a derrota em seus
escritos; o melhor que ele podia fazer era clamar para prender Ezequias
como “um pássaro em uma gaiola” na capital da cidade, Jerusalém. (A
insrição do British Museum em Londres.) Sendo Jerusalém o maior
objetivo, ele teria alcançado muitas de suas conquistas se a tivesse
conquistado. Depois que Senaqueribe retornou para Assíria, Ezequias
estava evidentemente muito próspero e muito bem sucedido em sua
administração (2 Crônicas 32:27-29) e, sem dúvidas, fazendo muito para
reabilitar o Estado.

Manassés (2 Reis 21:1-18; 2 Crônicas 33:1-20)


Manassés não seguiu os passos de seu pai, mas se tornou um dos piores
reis de Judá. Durante os onze primeiros anos de seu reinado de cinquenta e
cinco anos (maior do que qualquer outro rei de Israel ou Judá), ele era um
corregente com Ezequias e deve ter sido mantido em rédeas curtas. Mas
após a morte de Ezequias, Manassés estabeleceu altares de Baal por toda a
terra e até mesmo colocou uma imagem de uma divindade cananeia no
templo. Ele matou muitos que se opuseram à sua idolatria, talvez até
mesmo o profeta Isaías, como indica a tradição.
Os profetas alertaram Manassés sobre seus caminhos maus, mas ele não
prestou atenção. Finalmente, os assírios invadiram Judá e levaram
Manassés cativo a Babilônia. Lá, o povo de Judá teve uma verdadeira
mudança de coração e mais tarde, foram permitidos a voltar para Jerusalém.
Os assírios até mesmo permitiram que ele reconstruísse suas fortalezas para
proteger a realeza contra o Egito. Ao retornar para casa, Manassés buscou
abolir a idolatria a qual tinha sido responsável de instituir, mas
evidentemente, ele não foi extremamente bem sucedido.

Amom (2 Reis 21:19-26; 2 Crônicas 33:21-25)


Amom governou somente por dois anos e reverteu a idolatria dos dias de
seu pai. Alguns de seus servos se reuniram e o assassinaram.

Josias (2 Reis 22:1-23:30; 2 Crônicas 34-35)


O filho de Amom, Josias, logo se tornou rei, aos oito anos de idade. Ele
deve ter tido excelentes conselheiros em seu começo. Quando completou
dezesseis anos, ele começou seu próprio acordo para “buscar o Deus de
Davi” (2 Crônicas 34:3). Logo após, ele instituiu um grande programa para
limpar todo o reino da idolatria e também estendeu seus esforços para o
Reino do Norte, agora somente perdendo para o controle assírio. A Assíria
estava rapidamente declinando e prestes a ruir, então Judá não tinha mais
nada a temer em relação a isso.
A Babilônia estava se levantando. Finalmente em 609 a.C., depois da
queda de Nínive (612), o faraó Neco do Egito marchou a norte pela
Palestina para reunir mais forças assírias. Josias, que era contra a Assíria,
tentou parar Neco em Megido e perdeu sua vida neste processo.
Durante o reinado de Josias, Jeremias começou seu ministério. Sofonias,
certamente, e Naum e Habacuque, provavelmente, também profetizaram
durante seu reinado.

Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim, Zedequias (2 Reis 23:31-25:21; 2


Crônicas 36:1-21)
Os três filhos de Josias reinaram subsequentemente em Judá. Joacaz (2
Reis 23:31-33; 2 Crônicas 36:1-3) durou somente por três meses,
aparentemente porque Neco (que agora dominava a Palestina) não achava
que ele era suficientemente cooperativo. Neco então apontou um segundo,
Jeoaquim (2 Reis 23:34-24:7; 2 Crônicas 36:4-8), rei no final de 609 a.C.,
mas ele não era capaz de controlar a situação por muito tempo. Em 605,
Nabucodonosor enviou Neco fugido de volta para o Egito e foi para a Síria
e Palestina, onde teve muitos reféns – incluindo Daniel e seus amigos –
para garantir a submissão dos hebreus. Em 597, Nabucodonosor entrou
novamente em Judá, desta vez para instaurar uma revolta liderada por
Jeoaquim. Antes de Nabucodonosor chegar, Jeoaquim morreu e seu filho,
Joaquim (2 Reis 24:8-16; 2 Crônicas 36:9, 10) foi deixado para encarar os
babilônicos. Vitoriosos, o povo da Babilônia levou muitos despojos e
milhares de cidadãos de liderança, incluindo Ezequiel e o rei.
Nabucodonosor colocou Zedequias (2 Reis 24:17-25:21; 2 Crônicas 36:11-
21; Jeremias 39:1-10), tio de Joaquim e terceiro filho de Josias, no trono.
Zedequias parece ter sido incompetente, e nunca foi bem-recebido por seu
povo. Constantemente quis se rebelar contra a Babilônia, até que finalmente
o fez. Nabucodonosor declarou guerra a Jerusalém em Janeiro de 588.
Durante o ano seguinte; quando o Faraó Hofra do Egito invadiu a Palestina
para ajudar os hebreus, ele forçou um aumento na batalha. Mas
Nabucodonosor matou Hofra e declarou novamente a batalha, tomando
novamente a cidade em Julho de 586. Cerca de um mês mais tarde, ele
destruiu a cidade e o templo e retirou as classes mais altas da capital e de
seu ambiente. O julgamento de Deus finalmente caiu sobre os judeus por
causa de seus caminhos idólatras.
CAPÍTULO

10

Deus Lembra-se de Seu Povo: Cativeiro e


Restauração
2 Crônicas 36, Esdras, Ester, Neemias

D EUS é Deus da segunda chance, da terceira, da quarta, da quinta e de


mais chances. Embora nós sempre falhemos com Ele por sucessivas
vezes, Ele nos dá novas oportunidades de voltar para Ele e servi-lo mais
uma vez. Além disso, nós podemos nos alegrar com o salmista que diz que
“o Senhor é meu pastor” (Salmo 23:1). Isto significa que Ele tem Seus
olhos em mim quando eu estou andando distraído pelo pasto. Se eu estou
ferido ou preso em arbustos, Ele cobrirá minha ferida ou me libertará da
minha prisão. Tal como conosco, foi com os hebreus; na ira, Deus se lembra
da misericórdia. Embora Ele tenha punido os hebreus, e por sua idolatria os
mandado para o cativeiro na Mesopotâmia, Ele os guiou com Suas mãos de
proteção e bênção. E por fim, Ele os dirigiu mais uma vez para Canaã. Em
Sua providência, Ele também retirou Daniel da escravidão para um ofício
equivalente ao primeiro ministro da Babilônia. Aparentemente, Daniel
estava em uma posição de fazer as coisas mais fáceis para um segundo
grupo de exilados, quando Nabucodonosor levou Ezequiel e outros em 597
a.C. Provavelmente ele também foi capaz de amortecer os sofrimentos
daqueles que foram escravizados pela Babilônia na queda de Jerusalém em
586 a.C. Daniel teve um grande cargo sobre os persas também, e
possivelmente tinha condições em facilitar o retorno dos exilados nos
primeiros dias do reinado de Ciro sobre a Babilônia. Daniel ainda crescia
com força ao terceiro ano de Ciro (Daniel 1:21; 10:1).

Os Remanescentes Retornam
Assim como Jeremias tinha predito (Jeremias 25:11), o período do
cativeiro teve duração de cerca de setenta anos. Ao final deste tempo, Deus
fez com que Ciro fizesse um decreto para que os judeus pudessem retornar
para sua terra natal. Ele também enviou com eles um número de objetos
valiosos que Nabucodonosor tinha tirado do templo.
O decreto veio no primeiro ano de Ciro (em seu governo sobre a
Babilônia, Esdras 1:1). Tendo Ciro entrado na Babilônia ao final de outubro
de 539 a.C., o decreto foi provavelmente emitido durante 538, e os cativos
puderam ter feito a jornada para Jerusalém em 537. Obviamente o período
entre 586 a 537 a.C. não é de setenta anos. Várias formas de computar este
número são sugestivas. Por exemplo, alguém pode calculá-la da primeira
deportação dos cativos hebreus em 605 a 537 ou 536, quase setenta anos.
Ou alguém pode calcular pelo tempo que o templo foi destruído em 586 até
o tempo que foi rededicado em 515, um total de setenta anos.
Embora Ciro tenha beneficiado os judeus ao ajudá-los a retornar para
casa e embora Isaías tenha o chamado de “ungido” de Deus (evidentemente
para fazer cumprir propósitos divinos, Isaías 45:1), ele não era adorador do
Deus dos céus. Aparentemente, ele era um homem muito humano e um
administrador muito sábio. Ele permitiu que todas as pessoas fossem
capturadas e deportadas pelos assírios e babilônios para retornarem a seus
lares. Desta forma, ele eliminou muitas fontes de desafeição e ganhou uma
grande parcela do favor de Deus. De nenhuma forma todos os judeus
aceitaram a oferta de Ciro.
Cerca de cinquenta mil formaram o primeiro contingente sobre a
liderança de Sesbazar, que evidentemente saiu de cena rapidamente e foi
substituído por Zorobabel. Este como governador e Josué como sumo
sacerdote (Esdras 2 – 3) carregava o fardo real de liderar os repatriados de
volta a Jerusalém e projetar as fundações do segundo templo.
Quando o povo da terra (samaritanos e outros) desejaram se juntar com
os judeus na reconstrução do templo, os judeus recusaram a oferta, não
desejando se misturar com nenhuma falsa religião. Depois disso, os
samaritanos se tornaram abertamente hostis, primeiramente engajados em
táticas de guerrilhas e então requerendo os serviços de intermediários na
corte contra os interesses dos judeus. Aparentemente, isto era possível
porque Daniel não estava vivendo mais. Estes homens eram capazes de
frustrar o progresso da reconstrução da cidade de Jerusalém e do templo por
alguns quinze anos. A oposição daqueles na terra é compreensível porque
aqueles que chegavam depois ameaçavam seu controle da terra e sua
posição econômica.
Mas finalmente, no segundo ano do rei persa Dário I (520 a.C.), os
profetas Ageu e Zacarias começaram seu ministério e encorajaram a
finalização do templo (Esdras 5:1; Ageu 1:1; Zacarias 1:1). À medida que a
construção progredia, novamente os habitantes não-judeus da Judeia se
opunham ao trabalho. Desta vez os construtores se referiam ao decreto de
Ciro autorizando a reconstrução do templo, e uma cópia do decreto foi
encontrada. O templo foi finalmente completo na primavera de 515 a.C.
(sexto ano de Dário, Esdras 6:15). Esdras 6 termina em 515 a.C., e o
capítulo 7 se refere a eventos no sétimo ano de Artaxerxes (458 a.C.);
então, há um vácuo de cinquenta e sete anos entre os dois. Durante este
período de silêncio, ocorre a história de Ester.

Ester: Para um momento próprio

A história de Ester começa no terceiro ano de Assuero (Xerxes), em 483


a.C. (Ester 1:3), e conta o capítulo mais dramático na história dos judeus da
Pérsia. O impetuoso Xerxes, que estava bebendo muito durante uma festa
em seu palácio de inverno em Susã (antiga Susa, cerca de 150 milhas norte
do Golfo Pérsico), ordenou que a rainha Vasti se achegasse. O motivo pelo
qual ele queria que ela aparecesse não é claro. Aparentemente não era para
fazer nada libertino, como muitas vezes é dito; aparentemente ela deveria
vir totalmente vestida, “usando sua coroa real” (Ester 1:11). Quando Vasti
se recusou a ir ao banquete (por razões não explicadas), Assuero, em um
rompante de raiva, decidiu depor a rainha e procurar uma nova mulher para
ocupar seu lugar.
A busca terminou em Ester, uma linda judia. Mas o rei não fez sua
seleção final até seu sétimo ano (479-78), provavelmente logo após a
desastrosa derrota nas mãos dos gregos. Nos primeiros dias do reinado de
Ester, seu primo Mordecai descobriu um plano contra Xerxes e o contou
para o rei, mas este não o recompensou de imediato.
Os principais eventos do livro de Ester ocorrem durante o décimo
segundo ano de Xerxes (Ester 3:7; provavelmente 474 a.C.). Naquele
tempo, Hamã era o comandante do palácio do rei e Mardoqueu se recusou a
prostrar-se a ele como o rei tinha ordenado. Ele explicou que tomou esta
iniciativa por ser um judeu (3:4); o que esta razão envolvia não pode agora
ser determinada com certeza. Hamã reconheceu a natureza religiosa da
posição de Mardoqueu e persuadiu Xerxes a emitir ordens para matar todos
os judeus. Ouvindo esta ordem, Mardoqueu prevaleceu sobre Ester para se
aproximar do rei a fim de obter proteção para seu povo. Ao conseguir uma
audiência com Xerxes, Ester convidou ele e Hamã para um banquete no
qual o rei prometeu garantir qualquer pedido que Ester fizesse. Ela pediu
somente que os dois jantassem com ela no dia seguinte.
Muita coisa aconteceu antes do próximo banquete. Nas primeiras horas
da manhã, em seu próprio jardim, Hamã construiu forcas, nas quais queria
enforcar Mardoqueu. O rei não dormiu a noite e esteve em alguns dos
pátios do palácio, quando descobriu que nunca tinha recompensado
Mardoqueu por salvar sua vida. Então ele ordenou que Hamã trouxesse
grande honra a seu inimigo Mardoqueu, ao levá-lo pelas ruas da cidade em
uma espécie de desfile. Aqueles que eram próximos de Hamã consideraram
isto um mau presságio. No segundo banquete, Ester revelou a fraqueza de
Hamã, e ele foi colocado em sua própria forca e sua posição foi dada a
Mardoqueu. Por causa das leis persas proibirem uma mudança em uma
ordem previamente dada, os judeus agora tinham permissão de se
defenderem no dia marcado para sua destruição. Então os judeus foram
salvos, e o dia de sua libertação foi, depois disto, celebrado como a Festa do
Purim. Sem a proteção divina, todos os judeus teriam morrido, porque
naquele tempo os persas governavam todas as áreas habitadas pelos judeus.
Isto era o que acontecia nesta época do mundo mediterrâneo: na batalha
que acontecia entre os gregos e persas, os gregos tinham alcançado uma
significativa vitória sobre os persas na Batalha de Maratona (490 a.C.) nos
dias de Dario I. Dario não teve sucesso em um outro ataque contra os
gregos e deixou seu filho Xerxes (Assuero) para derrotar os gregos. No
terceiro ano de Xerxes (483 a.C., Ester 1:3), ele organizou um planejamento
para invadir a Grécia. E ao final deste, ele deu um banquete para os
participantes. Durante este banquete, ele desposou a rainha Vasti e começou
a busca por uma nova rainha. Enquanto Xerxes continuava com a guerra
contra os gregos e foi derrotado em 480-79 a.C., ele decidiu afundar suas
mágoas em seu harém e concluiu a escolha da nova rainha, ou seja, Ester.
Esdras Busca a Renovação Social e Espiritual Como notado
anteriormente, a história de Esdras volta à cena após a narrativa de Ester, no
sétimo ano de Artaxerxes (458 a.C.). Esdras 7 a 10 descreve o retorno de
Esdras a Jerusalém debaixo do favor de Artaxerxes e armado com seu
decreto. Ele tinha permissão de levar com ele os judeus que queriam ir,
gerar fundos entre a comunidade judia na Pérsia, e usar o tesouro real para
pagamento de suprimentos.
Sua primeira preocupação era o crescimento social e espiritual da
comunidade na Judeia. Cerca de quinze mil homens, mais suas famílias,
juntaram-se a Esdras, o sacerdote, no retorno a Jerusalém. Quando Esdras
chegou na Judeia, o principal problema enfrentado por ele foi o casamento
entre judeus e gentios, o que no final certamente destruiria sua verdadeira
fé. o principal problema enfrentado por ele foi o casamento entre judeus e
gentios, o que no final certamente destruiria Na verdade, já houve deslize
evidente para as formas religiosas e sociais de povos pagãos da Palestina. A
decisão então tomada foi a de que aqueles que tivessem tomado esposas
pagãs deveriam se separar delas. O problema não foi resolvido com pressa.
Três meses foram necessários para ouvir e decidir os casos problemáticos.

Neemias Reconstrói o Muro

Neemias completou o trabalho de restauração do principado da Judeia.


Provavelmente, a área governada pelo governador de Jerusalém não se
estendia para muito mais do que trinta milhas norte e sul e uma distância
igual do leste ao oeste. Obviamente, esta era somente uma província dentro
do Império Persa, e os judeus não estavam destinados a terem sua liberdade
política novamente por outros trezentos anos.
Neemias era copeiro do rei Artaxerxes (464-424 a.C.), e como tal tinha a
responsabilidade de provar o vinho do rei para ver se não estava
envenenado. Ele era, então, um servo de muita confiança; muitas vezes nas
cortes persas, os copeiros se tornavam poderosos conselheiros. No vigésimo
ano do governo de Artaxerxes (445 a.C.), o irmão de Neemias, Hanani, e
alguns outros judeus vieram de Jerusalém com um relato da condição
arruinada da província judia. Muito triste, Neemias orou por cerca de quatro
meses para obter o favor do rei; e quando o tempo oportuno chegou, ele
colocou seu pedido diante do rei, com resultados positivos. O rei garantiu
permissão a Neemias para reconstruir os muros, forneceu a ele requisições
para suprimentos de materiais de construção dos armazéns do rei na
Palestina e enviou um contingente militar para prover segurança.
Neemias sabia que encararia uma oposição cruel; então, ao chegar em
Jerusalém, ele trabalhou secreta e rapidamente. Três dias depois de sua
chegada, ele fez uma inspeção noturna dos muros, então prontamente
chamou os líderes de Jerusalém e apresentou seus planos. Ele então
recrutou trabalhadores e a obra começou. A oposição apareceu quase que
imediatamente sobre a liderança de Sambalate, governador da Samaria.
Tobias, possível governador de Amon; e Gesém, um príncipe árabe. As
táticas deles eram primeiro zombar e depois planejar um ataque frontal.
Quando Neemias ignorou o primeiro e preparou-se para defender o povo do
segundo, seus inimigos mudaram sua estratégia. À medida que o trabalho
progredia, eles tentaram por quatro vezes ludibriá-lo para longe de
Jerusalém para uma conferência sobre o projeto. Quando, de fato, ele disse
que estava muito ocupado, eles então ameaçaram enviar para o rei persa um
relato sobre a deslealdade de Neemias. Ele não se importou com isto
também. Finalmente eles contrataram um falso profeta para levar Neemias à
rejeição de seu povo.
Neemias não caiu nesta armadilha também e os muros foram completos
em cinquenta e dois dias de esforço intenso.
Depois, Neemias chamou o povo para a leitura da lei. Esta função
religiosa foi presidida por Esdras; ele ainda estava ativo trinta anos após seu
retorno em 458-57 a.C. Neemias e muitos representantes do povo
responderam fazendo uma aliança para manter, de forma fiel, a lei, e perto
do final daquele ano, eles formalmente dedicaram os muros.
Provavelmente, Neemias permaneceu em Judá por somente um ano e então
retornou à Pérsia, guardando o exercício governamental à revelia.

Uma Purificação Final dos Repatriados


Doze anos mais tarde, no trigésimo segundo ano de Artaxerxes (Neemias
13:6), Neemias retornou a Judá para encontrar aquele declínio que
rapidamente acontecera. Havia negligência com a lei, falta de cuidado em
manter o Sábado, e casamentos mistos estavam novamente ameaçando a
pureza da fé. Neemias tomou atitudes vigorosas contra estas três situações;
mas ele não exigiu o divórcio de judeus e não-judeus, somente mandando
que cessasse a prática dos casamentos mistos.
Dois eventos chocaram Neemias. Tobias, o amonita, estava atual-mente
vivendo em uma área de armazenamento do templo, e um neto do sumo
sacerdote tinha casado com uma filha do seu antigo inimigo Sambalate. O
primeiro ele expulsou do templo e o segundo, de Judá.
A restauração estava relativamente completa. O maior retorno dos
repatriados ocorreu sob a administração de Ciro e liderança de Zorobabel.
O templo foi reconstruído durante o governo de Dario I e sob a vista de
Ageu e Zacarias. Os muros foram reconstruídos e a cidade repopulada com
permissão de Artaxerxes I sobre efetiva liderança de Neemias.
Notas do Capítulo

Nota 1 - A tradição conclui que Esdras e Neemias escreveram os livros que levam seus nomes,
respectivamente. O autor de Ester é completamente desconhecido, mas o livro deve ter sido
escrito por volta de 400 a.C. [Voltar]
PARTE

II

Os Profetas do Antigo Testamento


CAPÍTULO

11

“Assim diz o Senhor”: Uma Visão Geral Sobre os


Profetas e as Profecias

P ARA muitos, um profeta do Antigo Testamento era um místico com


olhar aterrorizante que se ocupava em ficar olhando para os corredores
do tempo prevendo o futuro. Para outros, ele era até mesmo uma pessoa
desordenada que entrava em transe e murmurava umas coisas que eram
escritas e depois preservadas como a Palavra de Deus. Tais visões são
produto de um entendimento completamente errado do que era o profeta ou
do que ele tentava fazer. Ninguém pode usar o conceito moderno de
“profecia” no Antigo e nem mesmo no Novo Testamento. A palavra usada
no Antigo Testamento para traduzir “profeta” parece vir da mesma raiz que
significa “intimar, anunciar ou chamar”. Então Gleason Archer conclui que
a palavra profeta “significaria alguém que foi chamado ou escolhido para
proclamar como um anunciador a mensagem do próprio Deus”. [Nota 1] Às
vezes ele era chamado de “homem de Deus” (alguém devoto à causa de
Deus) e por vezes um “vidente” (alguém que podia ver coisas
verdadeiramente do ponto de vista de Deus e alguém que poderia ser capaz,
ocasionalmente, de olhar o futuro).
Muitos dos profetas do Antigo Testamento foram profetas orais, cujas
mensagens não parecem ter sido escritas porque elas lidavam com os
assuntos contemporâneos da vida de Israel (por exemplo, Natan e Gade nos
dias de Davi ou Elias e Eliseu durante o reinado de Acabe e outros reis de
Israel). Alguns, entretanto, tinham uma mensagem de valor contínuo para as
gerações vindouras, e Deus permitiu que eles escrevessem as suas palavras.
Mas mesmo os profetas que escreviam estavam primeiramente preocupados
com o presente. Eles eram, geralmente, pessoas muito práticas, com os pés
no chão, preocupadas com o aqui e o agora. Por exemplo, Isaías, como
profeta da corte, encorajou o bom rei Ezequias durante o ataque assírio a
Judá. Amós se voltou contra a vida de luxúria, corrupção moral e outros
pecados do Reino do Norte. Ageu e Zacarias encorajaram a reconstrução do
templo em Jerusalém. Especialmente, todos eles tinham a responsabilidade
de alertar contra a apostasia e idolatria e chamar os hebreus para a
fidelidade à lei de Deus e à dependência do poder dele para protegê-los
contra seus inimigos.
Normalmente os profetas faziam previsões sobre o futuro somente em
relação ao presente. Por exemplo, eles alertaram que a idolatria presente
levaria à punição divina na forma de cativeiro pelos assírios e babilônios.
Entretanto, os profetas também deixaram claro que Deus não destruiria os
hebreus; Ele os restauraria para sua terra e permitiria que eles gozassem de
uma utopia futura debaixo do governo do Messias. Os profetas não falavam
somente sobre um Messias que governaria, mas também sobre Aquele que
viria como um servo sofredor para prover a salvação do homem de seus
pecados. Tais previsões de bênçãos futuras eram uma garantia de
sobrevivência naquele presente e uma segurança de remover a mancha do
pecado que estava presente na raiz das dificuldades que eles passavam.
Mais à frente, os profetas enfatizaram os princípios ditos anteriormente na
aliança de Abraão (Gênesis 12:3) que Deus julgaria as nações ao redor de
Israel nas bases de tratamento dos judeus; por isso, muitas previsões
anunciadas, especificamente puniam certas nações que oprimiam Israel.

Pessoas Comuns com uma Mensagem


Extraordinária

Em resposta à visão de que um profeta bíblico muitas vezes parecia ser


um místico com olhar aterrorizante, alguém pode concluir que, num todo,
ele parece ter sido somente uma pessoa de sorte. Autenticamente, Jeremias
usou algumas lições objetivas bem particulares, mas somente sob instruções
divinas e para capturar a atenção de um pouco com uma sensibilidade
aparentemente entorpecida. As visões de Ezequiel são difíceis de se
apreciar por completo, mas seu principal propósito era fortalecer a fé dos
exilados na Babilônia através de previsões de restauração e glória nacional
sob a monarquia davídica. Uma pessoa estritamente ética parecerá ser um
pequeno “estranho” no meio de uma sociedade degenerativa. Alguém
tomado pela glória e excitação da revelação divina nunca será entendido por
pessoas que têm uma mente que não acredita no sobrenatural.
A forma que os livros destes profetas aparece no Antigo Testamento é,
aproximadamente, cronológica. Dos chamados Grandes Profetas, Isaías
data do período assírio (por volta de 900-612 a.C.) e Jeremias, Ezequiel e
Daniel datam do período babilônico (612-539 a.C.). Dos chamados Profetas
Menores, os primeiros pertencem ao período assírio: Oséias, Joel, Amós,
Obadias, Jonas, Miquéias, Naum e Sofonias; Habacuque pertence ao
período babilônico e os últimos três restantes pertencem ao período persa
(depois de 539 a.C.): Ageu, Zacarias e Malaquias. A discussão dos profetas
escritores é, a grosso modo, a ordem na qual escreveram.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Gleason Archer, A Survey of Old Testament Introduction [Uma Análise da Introdução do
Antigo Testamento], rev. ed., p. 296. [Voltar]
CAPÍTULO

12

Profetas do Período Assírio


Obadias, Joel, Jonas, Amós, Oséias,
Miquéias, Isaías, Naum, Sofonias

Obadias

P ROFESSORES evangélicos geralmente tendem a localizar a profecia de


Obadias durante o reino de Jeorão de Judá (853-841 a.C.), em uma
época quando houve uma revolta edomita contra Judá e saqueadores
filisteus e árabes invadiram Jerusalém (2Reis 8:20; 2 Crônicas 21:16, 17).
Se esta conclusão está correta, este é o primeiro dos profetas escritores. A
mensagem deste, que é o menor livro da Bíblia (tem um capítulo) é que por
causa de sua violência contra Jacó e seu orgulho, Edom será destruída. Ela
será expulsa da fortaleza que pensou ser forte, saqueada e abandonada. O
julgamento virá sobre Edom e outras nações devotas a Deus no dia da ira
divina. Israel será libertada e restaurada e será um instrumento da
destruição de Edom. Os versículos 20 e 21 falam sobre o restabelecimento
do reino hebreu e do dia que Deus governará o mundo do Monte Sião.

Joel

Conclui-se geralmente que Joel escreveu por volta de 835 a.C. nos dias
do jovem rei Joás que estava debaixo da regência dos sacerdotes.
(Não há referência de um rei no poder em Judá.) Naquela época, os
inimigos eram filisteus, egípcios e edomitas (Joel 3:4) “regiões da Filístia”,
( Joel 3:19), assim como os sírios, assírios, babilônios dos tempos que
vieram depois. A ocasião da profecia de Joel parece ter sido uma aridez
severa e praga de gafanhotos em seus dias. Joel pregou que a razão para
esta calamidade foi o pecado do povo, e encorajou o arrependimento
nacional para evitar punições futuras. Ele também pontuou a invasão dos
gafanhotos como um simbolismo da incursão humana, tanto na forma de
atividades de roubo ou atividades militares. Sem dúvidas, esta profecia teve
parte de seu cumprimento nos enxames de pessoas vizinhas que invadiam
em seu próprio tempo ou pouco tempo depois, mas alguns detalhes não
foram cumpridos e esclarecidos até aquela época. A expressão “o dia do
Senhor”[Nota 1] (1:15, 2:1, 11, 31; 3:14) é para ser especialmente entendida,
e parece incluir o período da tribulação, a segunda vinda de Cristo, e o
Milênio e envolve julgamento dos ímpios e salvação dos justos.
Joel e outros profetas previam um tempo de confusão[Nota 2] ou tribulação
ou julgamento (durante sete anos) a vir sobre Israel e as nações no fim dos
tempos. Assim como as pragas de gafanhotos devoraram a terra antes disso,
então durante a Tribulação um exército do norte trará uma grande
destruição; mas Deus irá intervir para salvar Seu povo com Sua própria
força. Este grande tempo de tribulação alcançará um clímax com a volta do
próprio Cristo, que irá julgar as nações. Ao Seu retorno haverá grandes
sinais nos céus e na terra e “o sol se tornará em trevas, e a lua em sangue”
(Joel 2:30, 31).
Quando Deus voltar para salvar Seu povo, Ele derramará Seu Espírito em
grande poder e bênção (Joel 2:28-32). O que aconteceu no dia de Pentecoste
(Atos 2:15-21) foi somente uma prévia, parte do cumprimento ou uma
amostra do que Joel prometeu. O cumprimento completo virá na era do
reino. Por último, o descrente Israel receberá seu Messias e a lei será escrita
em seus corações.

Jonas

O livro de Jonas é um dos campos de batalhas dos destrutivos críticos


modernos. Ele é frequentemente considerado como sendo mais uma
alegoria do que um livro de relatos reais dos eventos da vida de uma pessoa.
De acordo com esta teoria, o livro foi escrito por volta de 430 a.C. para agir
contra o exclusivismo de Esdras e Neemias, e prega a necessidade dos
judeus em testemunharem para os gentios mais do que se separarem deles.
Aparentemente, Jonas representa a desobediência de Israel; o mar
representa os gentios; o grande peixe, a Babilônia; e os três dias na barriga
do peixe, o cativeiro do povo judeu na Babilônia.
Mas de acordo com 2 Reis 14:25-27, Jonas não foi somente uma pessoa
de verdade, mas também um profeta credenciado. Sua casa era em Gate-
Hefer, próximo de Nazaré da Galileia. Além disso, Jesus Cristo Se referiu à
experiência de Jonas na barriga do grande peixe como fato (Mateus 12:39-
41). E o livro de Jonas se lê como um relato histórico.
A passagem de 2 Reis o conecta com o reino de Jeroboão II de Israel
(793-753a.C.).
De maneira breve, esta é a história de Jonas. Deus o mandou pregar
salvação em Nínive, mas Jonas se recusou a ir e então fugiu para a direção
oposta, rumo a Társis (possivelmente uma pequena colônia semita, vizinha
a Gibraltar). Enquanto ele estava no mar, aconteceu uma tempestade, e
depois foi-se determinado que Deus causou a tempestade como punição a
Jonas. Ele finalmente se voluntariou para a tripulação lançá-lo ao mar e
salvar o navio. Quando eles lançaram Jonas na água, um grande peixe o
engoliu. Uma vez na barriga do peixe por três dias, ele orou a Deus e
renovou sua dedicação a Ele. Então o peixe vomitou o profeta em terra
seca, e Deus renovou Seu ordem para que ele fosse para Nínive pregar o
arrependimento para seus habitantes. Quando Jonas obedeceu a ordem, os
ninivitas se arrependeram; e Deus teve misericórdia deles. Isto entristeceu
muito Jonas, e ele agora declara a sua real razão para negar-se em fazer a
vontade de Deus anteriormente.
Não foi por covardia, mas porque a Assíria era inimiga de Israel. Jonas
sabia quão gracioso Deus era e que Ele teria misericórdia dos assírios, o que
Jonas queria impedir (4:12). Claro que ele era culpado por ter um falso
patriotismo. Toda a história serve para nos mostrar que Deus era Deus dos
gentios assim como dos judeus e que Ele estava interessado na salvação dos
gentios.
Há muitas questões interessantes sobre o livro de Jonas. Uma diz respeito
ao tempo em que este avivamento irrompeu. Alguns sugerem que ele veio
durante o reinado de Adade-Nirari III (810-783 a.C.), quando houve uma
aproximação do monoteísmo no reino. Outros o colocam nos dias de
Ashurdan III (771-754 a.C.) depois veio a praga de 765, o eclipse do sol em
763, e uma segunda praga em 759. Estes eventos estratégicos poderiam bem
ter preparado os assírios para reagirem favoravelmente à pregação de
julgamento sobre o pecado deles.

Amós

Amós, Oséias, Miquéias e Isaías foram todos contemporâneos durante a


última metade do oitavo século antes de Cristo. Além disso, Amós também
foi em parte contemporâneo de Jonas. Certamente esta foi uma época de
ouro da profecia dos hebreus. O próprio Amós foi um pastor de Tecoa,
cerca de cinco milhas a sudeste de Belém. Sendo assim, ele era nativo da
Judeia, mas ele ministrava no reino do Norte (Amós 1:1). Ele começou seu
ministério dois anos antes do terremoto (1:1) e predisse uma grande
catástrofe (6:11; 8:8; 9:5). Esta teria sido uma grande calamidade, porque
Zacarias se referiu a isto duzentos anos mais tarde (Zacarias 14:5).
Embora Amós fosse um profeta de Israel, ele começou suas pregações
com um anúncio de julgamento das nações vizinhas: Damasco (Síria), Gaza
(Filístia), Tiro (Fenícia), Edom, Amom e Moabe (1:3-2:3). Desta forma, ele
revelou que as outras nações seriam punidas por seus pecados, e os judeus
não poderiam escapar. A condenação deles poderia ser maior porque eles
gozavam de uma exposição maior à verdade. Certamente, Deus não respeita
as pessoas, onde o pecado está em causa. Depois de mostradas as culpas de
ambos Judá e Israel por negligenciarem a palavra de Deus e então serem
conduzidas à destruição (2:4-16), Amós se voltou mais particularmente para
Israel. Ele concluiu que o julgamento de Israel era inevitável por causa de
sua depravação e dissipou a ideia que Israel poderia estar segura da
destruição e do cativeiro (4:2). O profeta denunciou a adoração que estava
fora da conduta certa (5:21-24), violência e opressão, indolência, luxúria,
libertinagem, glutonaria, bebedeira e falsa segurança (6:1-6). Em 7:1-9:10,
Amós teve cinco visões a respeito do futuro julgamento de Israel:

1. Gafanhotos devoradores (7:1-3),


2. Fogo consumidor (7:4-6),
3. Linha de prumo, simbolizando que Israel não media os padrões divinos
de integridade e seria destruída (7:7-9),
4. Um cesto de frutos do verão, retratando Israel madura em seus pecados
e próxima do fim (8:1-14),
5. O Senhor executando julgamento (9:1-10).

Mas como a maioria dos outros profetas, Amós não levou seus ouvintes
ao desespero. Ele previu uma restauração futura de Israel com o
restabelecimento do trono de Davi. Claro, ele se referiu a algo maior que
uma mera restauração da terra, pois naquele tempo (538 a.C.) o trono e a
soberania independente não estavam restauradas. Esta recuperação política
é para ser acompanhada pela magnífica fertilidade e permanente posse da
terra (9:11-15). Certamente, tudo isto prevê o glorioso dia do milênio no
final dos tempos quando o Messias governará no trono de Davi.

Oséias

A profecia de Oséias é um poderoso ataque contra a apostasia e a


corrupção em Israel (o reino do Norte) e um chamado para retornar em
penitência ao seu Deus de amor. Oséias pregou para seu povo por um tempo
muito grande, talvez maior que todos os outros profetas escritores. Seu
ministério começou em algum tempo durante o reinado de Uzias de Judá
(791-740 a.C.) e continuou no reinado de Ezequias (716-687 a.C.); então,
provavelmente, ele começou a pregar pelo menos por volta de 760 a.C. e
continuou até 710 ou mais tarde. Sem dúvida, o livro contém extratos de
mensagens entregues durante sua longa carreira.
Um dos maiores problemas no livro diz respeito a como as pessoas
deveriam ver Gomer, esposa de Oséias, descrita como uma “esposa de
prostituição”. Para evitar o problema de um homem de Deus se casar com
uma prostituta, o que seria condenado pela lei mosaica, alguns tentaram
interpretar a experiência de Oséias como uma parábola. Mas a narrativa é
direta, e não há indicações que ela deve ser interpretada desta forma. Não
há razão para não se concluir que Gomer era uma esposa aceitável quando
Oséias se casou com ela e que ela, mais tarde, se tornou uma mulher sem
valores morais. Deus sabia no que ela se tornaria; o profeta a descreveu em
retrospecto. De qualquer modo, a experiência de vida de Oséias tinha a
intenção de ser um simbolismo da relação de Deus com Israel. A
infidelidade da esposa de Oséias era uma imagem da infidelidade de Israel,
e seus dois filhos e sua filha tiveram nomes simbólicos das principais
profecias de Oséias: Jezrael, a dinastia de Jeú a ser destruída; Lo-Ruhamá,
“não compadecida”, uma profecia do cativeiro assírio; e Lo-Amni, “não
meu povo”, rejeição temporária de Deus a Seu povo. O tema central da
profecia de Oséias aparece em 3:1-3, onde o profeta trouxe de volta sua
esposa infiel, disciplinou-a e expressou seu amor por ela, tudo como Deus
faria por Israel.
Oséias capítulo 4 até 13 detalha a denúncia profética contra Israel.
Ela era viciada em idolatria, culpa e depravação moral, e poluída pela
contaminação idólatra e desta forma permaneceu condenada. Então Deus
retirou seu favor de Israel, mas ficou de luto por Efraim e Judá e as buscou
com seu interminável amor assim como Oséias buscou sua esposa infiel. O
profeta conclui com a promessa de uma restauração completa de Israel para
os caminhos da obediência espiritual e favor divino (14:1-9).

Miquéias

Enquanto Oséias estava ministrando para Israel e Isaías para a corte em


Jerusalém, Miquéias pregava para as pessoas comuns em Judá,
concentrando-se na religião pessoal e na moral da sociedade. Seus anos de
atividades devem ter sido entre 735-700 a.C.; e seu livro, escrito por volta
de 700. Como um crítico da sociedade, Miquéias desprezava o rico ocioso
pela exploração de pessoas pobres e indefesas (2:1-13), os príncipes por
devorarem seus subalternos ao invés de tratá-los com justiça (3:1-4), os
falsos profetas por levarem as pessoas para fora do caminho (3:5-8), e as
pessoas por sua ingratidão e pecado (6:1-7:6).
Por todos os seus pecados, o reino de Judá seria destruído e Jerusalém se
tornaria “montões de pedras” (3:12). Anteriormente, Miquéias já tinha
previsto a destruição de Samaria (1:2-7).
Mas Deus não tinha desfeito Sua aliança com o povo. Miquéias dá um
dos relatos mais exaltados da glória futura de Israel (capítulo 4).
Jerusalém será o centro religioso e político da terra. Nela, o reino
davídico será restaurado, assim como a justiça, paz e segurança. O povo
será reunido na terra. Depois deste relato geral sobre a era do reino, o
profeta volta para dizer sobre a primeira vinda do Messias que nasceria em
Belém (5:2), e eventos com Sua segunda vinda, quando o Messias irá
derrubar os invasores do reino do Norte, purificar Seu povo e trazer
julgamento aos gentios (capítulo 5).
Há citações significantes de Miquéias nas Escrituras:

• pelos anciãos da terra que, em um apelo a Miquéias, salvaram a vida de


Jeremias (Jeremias 26:18, citando Miquéias 3:12).
• pelos sacerdotes e escribas em resposta às perguntas de Herodes sobre
onde o Messias nasceria (Mateus 2:56, citando Miquéias 5:2).
• pelo Senhor quando enviou os doze (Mateus 10:35, 36, citando
Miquéias 7:6).

Uma das passagens mais citadas de Miquéias hoje é 6:8, na qual ele
expõe três necessidades para os cristãos: “Praticar justiça, ser
misericordioso e andar em humildade com seu Deus”.

Isaías

Isaías sempre tem sido considerado o maior dos profetas hebreus.


Este é o maior dos livros proféticos. Ele ministrou para a corte dos judeus
quando a nação estava ameaçada com exterminação pelas mãos dos
assírios, e entregou a mensagem de Deus sobre a preservação. Ele tem mais
a dizer sobre a vinda do Messias do que qualquer outro profeta e também
sobre como Ele salvaria as pessoas de seus pecados. Estudiosos da Bíblia
muitas vezes falam sobre o “evangelho segundo Isaías”. Ele tem muito a
dizer também sobre a era de ouro do futuro, quando haverá paz e
prosperidade e um respeito próprio pela moral e valores espirituais.
Algo foi dito no começo deste livro a respeito da contínua relevância do
Antigo Testamento; ele provê respostas para as grandes questões da vida.
Isaías especialmente joga luz nas questões de como ser justo diante de Deus
e sobre como o futuro do mundo será. Ele diz que a salvação vem através
da provisão do Messias em Sua morte substitutiva e a fé nele deve ser
edificada na determinação daquele que crê em viver de maneira reta diante
de Deus. A respeito da segunda questão, ele prediz que o futuro detém uma
experiência utópica para o mundo quando, através da intervenção de Deus,
a humanidade e natureza estarão em paz e o Messias governará em justiça
de Seu monte santo, o Monte Sião.
Isaías ministrou primeiramente para Judá durante as cruciais quatro
últimas décadas do século oitavo a.C., nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e
Ezequias (1:1). Sua grande experiência espiritual referida em 6:1 ocorreu no
ano em que o rei Uzias morreu (740 a.C.). Muitas vezes, esta é considerada
como sendo uma comissão profética, mas ele pode ter estado em ofício
antes desta época. De qualquer forma, o ministério dele começou pelo
menos em 740 e continuou pelo século. A tradição diz que o malvado rei
Manassés o martirizou depois de 700, então seu livro provavelmente data
de cerca da virada do século.[Nota 3] Ele evidentemente foi o profeta da corte
nos dias do bom rei Ezequias e sustentou o rei em apuros que encarava o
ataque devastador do rei Senaqueribe da Assíria em 701 a.C. O reino do
Norte já tinha caído para a Assíria em 723-22.
De acordo com Isaías 7:3 e 8:3, o profeta estava casado e tinha um filho,
Maer-Salal-Hás-Baz, que significava “apressando-se ao despojo,
apressurou-se à presa.” e significava o cativeiro de Israel; e Sear-Jasube,
que significava “um remanescente retornará” e significando o retorno do
cativeiro.

A Vinda do Messias e o Milênio


O livro de Isaías é especialmente rico em previsões a respeito do
Messias, no qual claramente se relacionam à pessoa e obra de Jesus Cristo.
O profeta prediz:

1. Seu nascimento de uma virgem (7:14, Mateus 1:23): Enquanto alguns


argumentam que a palavra traduzida como “virgem” aqui significa
“uma jovem mulher com idade para casar-se”, a palavra é regularmente
usada no Antigo Testamento para se referir a virgem.
2. Sua divindade: Emanuel, que significa “Deus conosco” (7:14, Mateus
1:22,23 e Isaías 9:6).
3. Sua humanidade: um ramo da raiz de Jessé (11:1).
4. Seu precursor: João Batista (40:3, 4; Mateus 3:1-3).
5. Seu ministério (61:1, 2a; Lucas 4:18, Isaías 42:1, 6, 7).
6. Seu sofrimento e morte em favor de toda humanidade (52:13-53:12).
Sete vezes nos é dito em Isaías 53 que Ele sofreu por nossos pecados.
Algumas referências do Novo Testamento demonstrarão claramente
como Cristo em Sua morte cumpriu essa previsão feita sobre Ele. “Ele
foi ferido pelas nossas transgressões” (53:5; 1 Pedro 3:18). “Ele foi
moído por nossas iniquidades” (53:5; 1 Pedro 2:21-23; 4:1). “Mas o
Senhor fez cair sobre Ele as iniquidades de todos nós” (53:6; 2
Coríntios 5:21). “Pela transgressão do meu povo ele foi atingido”
(53:8; João 11:51, 52). “Quando sua alma se puser como expiação pelo
pecado”(53:10; Romanos 8:32). “Porque as iniquidades deles levará
sobre si” (53:11; 1 Pedro 2:24). “Mas Ele levou sobre si o pecado de
muitos” (53:12; Hebreus 9:28).

Outro tema principal do livro é a era de ouro no futuro ou milênio que


virá ao fim dos tempos. Note, por exemplo, o seguinte: Isaías 2:1-5,
Jerusalém sendo o centro da terra religiosa e politicamente e a paz universal
sendo estabelecida à medida que espadas batem no arado; Isaías 11, o rei
Emanuel e Seu reino viverão em paz, incluindo os gentios e envolvendo
uma reunião de judeus; Isaías 35, as milagrosas mudanças físicas e
climáticas durante o reino; Isaías 59:20-66:24, o retorno do Messias em
glória e vingança, estabelecendo o reino, restaurando e exaltando os
remanescentes justos de Israel, mas trazendo julgamento na apóstata Israel e
cercando os gentios em Seu glorioso reino.

Breve Esboço
O livro de Isaías pode ser resumido de maneira conveniente em três
partes: capítulos 1-35, com o tema principal do julgamento; capítulos 36-
39, com um interlúdio histórico no ataque de Senaqueribe; capítulos 40-66,
com o principal tema da redenção. Os primeiros doze capítulos contêm
profecias a respeito de Judá e Jerusalém, começando com uma lastimante
denúncia do formalismo e pecado de Israel, e continuando com uma mistura
de ameaças de julgamento e cativeiro com promessas do reino glorioso do
milênio. Aconchegada nesta seção, está a magnífica visão do capítulo 6. Em
uma palavra, a mensagem deste capítulo é que com uma visão da santidade
de Deus, nós possamos perceber a nossa natureza pecaminosa. Uma vez
limpos do pecado e da culpa, então serviremos a Deus com gratidão. Os
capítulos 13-23 detalham as profecias contra as nações: Babilônia, Assíria,
Filístia, Moabe, Damasco, Etiópia, Egito, Arábia, Edom, Jerusalém e Tiro.
Um estudo da história e da arqueologia revela como estas profecias foram
cumpridas. Os capítulos 24-27 descrevem que a Grande Tribulação e o
estabelecimento do reino, são seguidos por avisos proféticos a respeito da
Samaria e de Judá nos capítulos 28-35.
Depois de um interlúdio histórico a respeito do ataque do rei Senaqueribe
da Assíria em Judá (capítulos 36-39) aparece uma seção de conforto aos
exilados na promessa de restauração (40-48). Mesmo Deus tendo avisado
que Ele enviaria os israelitas ao cativeiro na Babilônia por causa do pecado
deles, Ele não tinha a intenção de deixá-los lá para sempre. Ele levantaria
Ciro um dia para livrá-los e destruiria a Babilônia e seus ídolos neste
processo. Demais a mais, Deus enviaria o Messias para julgar os opressores
de Israel, para redimir e restaurar Israel, e para prover salvação para todo o
mundo (49-57). Nos capítulos finais do livro (58-66), o profeta estende o
conforto para os exilados em previsões de glória futura no fim dos tempos.
O capítulo 55 contém alguns dos mais graciosos convites do Antigo
Testamento: “O vós todos que têm sede” (v.1); “Buscai ao Senhor enquanto
pode ser achado” (v.6); “Deixe o ímpio o seu caminho...e se converta ao
Senhor que se compadecerá dele” (v.7).

Naum

O que mais aflige nas profecias de Naum é a execução do julgamento de


Deus em Nínive, capital da Assíria, “a cidade de sangue” (3:1).
Esta é uma mensagem de conforto para os perturbados hebreus que
viviam em constante medo por causa da destruição nas mãos dos cruéis
assírios. Mas esta é uma mensagem de alerta para o fato de Deus destruir
uma nação apóstata. Judá poderia se alegrar na destruição da idólatra
Assíria, mas a apóstata Judá tinha alguma chance de escapar deste mesmo
julgamento? Obviamente, Naum escreveu sua profecia antes da queda de
Nínive em 612 a.C., e quando ele a escreveu depois de o rei Assurbanípal
da Assíria capturar e saquear No (antiga Tebas, atual Luxor), a grande
capital do Egito, em 663 a.C. (Naum 3:8). Provavelmente ele escreveu por
volta de 650 a.C.
O arrependimento nos dias de Jonas aparentemente tinha tido somente
um efeito temporário. Os assírios tinham voltado rapidamente para seus
antigos caminhos, transformando-se particularmente em agressivos aos
hebreus na destruição da Samaria em 723-22 a.C. e na seguinte destruição
de Jerusalém em 701 a.C. Tendo como base somente a aliança abraâmica,
os assírios poderiam esperar julgamento (Gênesis 12:3), mas Naum nota
causas especiais para a destruição de Nínive: violência, falsidade, roubo,
impiedade, crueldade e sujeição das nações (3:14). Além disso, ele enraíza
o julgamento na santidade de Deus e na oposição aos idólatras (Naum 1:1-
11); qualquer nação culpada do tipo de coisas que assírios tinham dito antes
dos muros de Jerusalém em 701 a.C. é, no final das contas, atada à confusão
(veja, por exemplo, Isaías 36:18-20).
Como notado acima, Naum está primeiramente preocupado com a
destruição de Nínive; quase todos os versos de 1:12 até 3:19 estão
relacionados com esta catástrofe. Nínive tinha que ser sitiada. O ataque
furioso na capital é descrito, como sendo o voo de seus defensores e o
roubo da cidade. Nínive estava para se tornar uma habitação de animais, e
ninguém poderia lamentar sua agonia. Em grande parte, a previsão foi
cumprida em 612 a.C. quando os babilônios, medos, e citas tomaram Nínive
e a destruíram. Diferente de outras capitais conquistadas, ela não continuou
em um crepúsculo prolongado de declínio depois que o centro de poder foi
transferido para outro lugar. Simplesmente deixou de existir.

Sofonias

Sofonias trata do tema do Dia do Senhor e o julgamento que virá com


ele. Ele endereça seu prenúncio de maldição primeiro a Judá e Jerusalém
(1:1-2:3) e depois volta sua atenção para as nações a sua volta: Filístia,
Moabe, Amom, Etiópia e Assíria (2:4-15). O profeta desempenhou seu
ministério durante o reinado do bom rei Josias de Judá (640-608 a.C., veja
Sofonias 1:1) e aparentemente escreveu seu pequeno livro por volta de 625.
Isto pode se concluir do fato de que em 621 a.C. um avivamento irrompeu
em Jerusalém, durante o qual muitos dos males que Sofonias desprezou
foram removidos ou, pelo menos, em grande parte reduzidos. O Ezequias
mencionado em Sofonias 1:1 como o grande avô do profeta era
aparentemente o bom rei Ezequias.
O Dia do Senhor é descrito como iminente e sem dúvida refere-se, em
um primeiro exemplo, a um ataque babilônio por Nabucodonosor (1:14-18).
Mas a invasão de Nabucodonosor prefigura o Dia do Senhor no final dos
tempos quando haverá um julgamento universal e salvação de um
remanescente. O julgamento vindouro em Judá estava para vir por causa da
desobediência, oposição à correção, injustiça dos juízes, ateísmo dos
profetas e sacerdotes (3:1-4), e idolatria (1:4-6).
Estas condições vieram especialmente por causa da influência maligna
dos reis Manassés e Amon. Sofonias conclui sua profecia com a previsão de
um remanescente no fim dos tempos, aproveitando totalmente a bênção do
reino (3:9-20).
Notas do Capítulo

Nota 1 - Alguns comentaristas aplicam “o dia do Senhor” à tribulação; outros, à Tribulação e à


Segunda Vinda; e ainda há outros, que o aplicam à Tribulação, à Segunda Vinda e ao
Milênio. Se alguém aceita a última visão, o dia refere-se a todo o processo do fim dos
tempos durante o qual Deus intervirá em julgamento e colocará tudo em ordem. [Voltar]
Nota 2 - Jeremias chama este de “o tempo da tribulação de Jacó” (Jeremias 30:7). Este é designado
para purificar Israel pelos meios da adversidade (veja Zacarias 13:8-9; Daniel 12:1).
[Voltar]
Nota 3 - Não há espaço aqui para discutir a questão envolvida a respeito da unidade de Isaías. Basta
dizer que ninguém jamais viu esses supostos livros “separados” de Isaías. Quanto mais
longe podemos ir – os Pergaminhos do Mar Morto, do século segundo a.C. - Isaías sempre
foi único. [Voltar]
CAPÍTULO

13

Profetas do Período Babilônico


Habacuque, Ezequiel, Jeremias, Daniel

C OMO os profetas anteriores tinham predito, Nínive caiu em 612 a.C.


Mas o final do Império Assírio não significou alívio para Judá. Cerca de
três anos depois, o faraó Neco do Egito criou para si mesmo um império na
Palestina e na Síria. Enquanto a Babilônia consolidava seu poder no vale de
Tigre e Eufrates. Quando Nabucodonosor da Babilônia derrotou Neco em
605 a.C., ele permaneceu na entrada do reino de Judá e estava em uma
posição de expressar a destruição que os profetas haviam predito que
aconteceria. O julgamento de Deus estava prestes a acontecer.

Habacuque

Naqueles dias quando o poder da Babilônia estava se aproximando do


horizonte, o profeta Habacuque teve uma conversa com Deus sobre as
condições em Judá e o iminente cativeiro. Ele alguma vezes fora chamado
de “o livre pensador dentre os profetas”, porque não podia enquadrar sua
crença em um Deus justo somente com as condições que podia enxergar.
Ele tinha o temor para perguntar a Deus Por quê?
Primeiro ele perguntava por que Deus não respondia suas orações e por
que Ele aparentemente permitiu que os maus de Judá ficassem impunes
(1:1-4). Deus respondeu que Ele estava para trazer punição a Judá por seus
pecados o que significava a invasão dos caldeus e depois deu um rascunho
desenhado dos caldeus (1:5-11)[Nota 1]. Então Habacuque tinha um outro
problema: como poderia um Deus santo e justo usar um povo mais pecador
que os judeus para trazer julgamento para eles (1:12-2:1)? Desta vez Deus
respondeu que estava certamente ciente da maldição dos babilônios e que
também iria puni-los em breve (2:2-20). Nesta seção estão duas passagens
significantes. A primeira diz que “o justo pela sua fé viverá” (2:4). Citada
pelo apóstolo Paulo em Romanos 1:17 e Gálatas 3:11 e pelo escritor de
Hebreus (10:38), ela se tornou o grande tema da pregação de Martinho
Lutero. Desta forma, em um sentido muito real, Habacuque se tornou o avô
da Reforma, o que enfatizou o fato de que o indivíduo é feito justo diante de
Deus nas bases da fé na obra consumada de Cristo na cruz, não nas bases de
obras. Habacuque 2:18-20 mostra efetivamente a tolice que é fazer de um
ídolo o deus de alguém, ao invés do soberano Deus do universo.
Enquanto Habacuque é chamado de “o livre pensador”, ele também foi
chamado de o profeta da fé, não somente por esta passagem em 2:4, mas
também por causa de sua atitude no capítulo 3. Encontrar suas dificuldades
resolvidas e lembrar do cuidado de Deus por Israel no passado, ele vai além
em um emocionante hino de louvor e confiança em Deus.

Ezequiel

No tempo de Ezequiel, o cativeiro antecipado por Habacuque tinha


começado. Daniel e outros foram tomados como reféns em 605 a.C., e
Ezequiel foi morto em 597 com um segundo contingente de cativos
(somando dez mil, de acordo com 2 Reis 24:14). Na Babilônia, ele foi
colocado em uma comunidade de cativos hebreus ao sul da cidade de
Babilônia no “rio Chebar”, evidentemente um canal de maior irrigação.
Membro da família sacerdotal, ele aparentemente tinha um grau de
liberdade e independência econômica, pois tinha uma casa própria, onde
dava instrução religiosa (possivelmente os primórdios da sinagoga), e nada
é dito a respeito de suas necessidades financeiras (8:1, 14:1, 33:30-33). Seu
ministério começou com um chamado para o ofício profético no quinto ano
do cativeiro do rei Joaquim (593 a.C., Ezequiel 1:1-3) e continuou pelo
menos até o vigésimo sétimo ano do cativeiro de Joaquim (571, Ezequiel
29:17). Desta forma, ele foi contemporâneo do ministério de Jeremias aos
judeus em Jerusalém.
A maioria das profecias de Ezequiel são precisamente datadas e estão
geralmente colocadas em ordem cronológica. Os capítulos 1-24, passando o
período de 593-588 a.C., lidam primeiramente com a iminente destruição de
Jerusalém. Os capítulos 25-32 foram revelados ao profeta durante os anos
de 587-586 a.C. (com exceção do 29:1), e dizem respeito às profecias
contra as nações ao redor de Israel. Os capítulos 33-48 foram revelações do
profeta durante 585-573 a.C. e nos dizem sobre a restauração futura de
Israel.

A Exclusividade de Ezequiel
Há muitos pensamentos e ênfases ou peculiaridades de Ezequiel que
merecem uma atenção especial. Mais de seis vezes, o profeta usou a
expressão “eles saberão que eu sou o Senhor” em conexão com as razões do
julgamento de Israel e possibilidade para sua futura salvação.
Pelo menos por vinte e cinco vezes, Ezequiel se refere ao ministério do
Espírito Santo, especialmente ao falar sobre a inspiração profética (por
exemplo: 2:2; 3:12, 14, 24). Por quatorze vezes o profeta fala da “glória do
Senhor”. Esta é a luz visível que brilhava entre os querubins no Santo dos
Santos no templo e simbolizava a presença de Deus. Antes da destruição do
templo, Ezequiel teve uma visão desta glória deixando o templo (9:3).
Sobre a arca, Ezequiel viu algo semelhante ao trono de Deus com asas e
era, então, uma espécie de carruagem real (10:1).
A glória do Senhor foi removida para a soleira da porta (10:4), então para
o portão oeste do templo (10:18,19), e então para a cidade a leste do Monte
das Oliveiras (11:22, 23). Nos tempos finais, ela retornará do leste da
cidade (43:2).
Somente neste livro aparecem detalhes de um templo a ser construído em
Jerusalém (capítulos 40-42). Somente em Ezequiel alguém pode aprender
sobre a idolatria de Israel enquanto ainda no Egito (20:1-9).
Se alguém garante que 28:11-19 se refere a Satanás, como muitos
estudiosos da Bíblia concluem, somente aqui nós temos tal informação; esta
passagem deve ser ligada com Isaías 14 por datas complementares sobre o
assunto. Sendo assim, há uma riqueza de simbolismo, semelhança, ou
metáfora por todo o livro. Por exemplo, Nabucodonosor era uma grande
águia (17:3); Tiro, o grandioso navio que seria afunda-do (27:5); e o Egito
um grande monstro do mar que Deus destruiria (32:1).
O livro de Ezequiel começa com um extenso relato sobre a função dos
profetas (capítulos 1-3). Assim como Moisés (Êxodo3:1-10), Isaías (Isaías
6:1-10), Daniel (Daniel 10:5-14), e João (Apocalipse 1:12-19), ele começa
com uma revelação da glória de Deus; mas inclui também uma unção
especial com o Espírito Santo e uma ênfase na necessidade pela palavra de
Deus para permear todo o ser do profeta. (Ezequiel comeu o registro ou
pergaminho no qual as Escrituras estavam escritas, 3:1-4).
A mensagem é, em grande escala, uma mensagem de morte. Os capítulos
4-7 dizem respeito à iminente destruição de Jerusalém, descrevendo seu
cerco pelos babilônios em termos de muitas ações simbólicas do profeta
(capítulo 45) e incluindo a destruição dos altares usados para adoração pagã
(capítulo 6). Esta destruição estava para vir por causa do pecado
incorrigível de Judá (capítulos 8-24). Alguns dos pecados especialmente
apontados são idolatria (capítulos 8-9), maldade de líderes políticos (11:1-
13), atividades proféticas falsas (capítulo 13), esterilidade espiritual
(capítulo 15), violência e promiscuidade sexual (capítulo 22), e
contaminação política e religiosa resultantes de alianças com nações
vizinhas (capítulo 23). Tendo pronunciado maldição contra Judá, Ezequiel
agora se move contra as nações ao redor de Israel (capítulo 25-32). A
atenção primeiramente é focada em Amom e depois em Moabe, Edom,
Filístia, Tiro, Sidom e Egito. Deus estava contra estes povos por causa de
sua idolatria e mau tratamento para com Israel.

A Reunificação de Israel
Ezequiel não era meramente o profeta da morte. Referências ocasionais
para a preservação e restauração gloriosa em um dia futuro, espalhadas
pelos primeiros capítulos do livro, expandem-se para uma enxurrada nos
últimos capítulos. Eventos que precedem a restauração de Israel aparecem
nos capítulos 33-39; o registro da restauração está nos capítulos 40-48.
Deus, como o bom Pastor, irá reunir o rebanho (34:11-16) e mandará para
eles um verdadeiro pastor, evidentemente se referindo ao Messias (“meu
servo Davi”, 34:24). Em ligação com esta restauração haverá um
julgamento em Edom por sua invasão, ao sul, em Judá (capítulo 35). A
restauração envolverá não somente uma reunificação entre todas as nações,
mas também uma regeneração espiritual (capítulo 36). O alvo desta
reunificação é muito maior que a restauração do período persa e ainda é
futura. A visão de Ezequiel do vale de ossos secos (capítulo 37) retrata o
poder divino operante na restauração da vida nacional de Israel. Os exilados
(ossos) são reunificados do vale da dispersão e recebem uma vida nacional.
Todas as doze tribos estão envolvidas, mostrando que Judá e Israel serão
novamente uma. Depois de Israel ser reunida na terra, uma grande
confederação do norte, chamada Gogue e Magogue, irá descender na
Palestina. Nesta hora de provação, Deus pessoalmente intervirá e destruirá
os invasores (capítulos 38 e 39).
Os capítulos 40-43 descrevem em detalhes a construção de um novo
templo e sistema sacrificial, e nos capítulos a seguir, contam sobre a divisão
da terra em tribos territoriais. Muitos têm tentado espiritualizar os últimos
capítulos de Ezequiel e aplicá-los à era da igreja.
Alguns veem a profecia como sendo cumprida na nova terra. Pode-se
pontuar que há muitos capítulos que asseguram aos exilados que Deus tem
um plano definitivo para a Palestina, Jerusalém e para o templo.
Se levados literalmente em conta, eles podem não ter nada a ver com a
igreja. Entretanto, se eles são cumpridos na igreja, não provêm
encorajamento para Israel, o que estão designados a fazer. Na Nova
Jerusalém de Apocalipse 21, também não há templo; então esta profecia
não pode acontecer na nova terra. É melhor encarar esta passagem como
sendo aplicada ao Milênio, quando Israel habitará a terra e seu Messias
governará no Monte Sião. Não há nenhum problema especial crescendo a
respeito da reinstituição do sistema sacrificial porque ele pode ser visto
como tendo a função de memória, assim como a Santa Ceia do Senhor na
igreja cristã. Certamente, o sacrifício não poderia edificar um mérito para
um povo evidentemente regenerado pela fé no Messias e em Sua obra de
sacrifício em favor deles.

Jeremias

Mesmo tendo Ezequiel completado seu ministério depois de Jeremias, ele


é colocado antes neste livro porque por causa de Ezequiel, o cativeiro tinha
começado antes da destruição de Jerusalém. Jeremias era o maior profeta do
cativeiro e especialmente da destruição de Jerusalém. Ele começou seu
ministério no décimo nono ano do rei Josias, que era bom, em 627 a.C.
(Jeremias 1:2) e continuou a pregar na capital até sua destruição pelos
babilônios em 586 a.C. Desde então, os babilônios permitiram que ele
ficasse na Palestina durante os dias governados por Gedalia. Depois da
morte de Gedalia, um grupo de judeus o forçou a acompanhá-los ao Egito;
provavelmente ele morreu lá.
Aparentemente, ele completou sua profecia no Egito, por volta de 585.
Jeremias começou suas atividades proféticas em um tempo onde o
império assírio estava desintegrado e havia uma relativa paz na Ásia
Oriental. Embora os babilônios debaixo de Nabopolassar planejassem se
libertar da Assíria em 626 a.C., eles possuíam somente uma ameaça remota
do povo de Judá. Foi então difícil para Jeremias persuadir o povo que Deus
estava próximo de destruí-los por seu pecado pelas mãos dos babilônios.
Isto foi especialmente verdade quando falsos profetas continuamente
pregavam paz e segurança. Mas Jeremias permaneceu verdadeiro ao seu
chamado profético. Apesar de sua juventude (talvez ele tivesse somente
vinte anos quando fora chamado) e de uma tendência natural de reticência e
gentileza, ele proclamou mensagens severas de obscuridade irreversível que
trouxeram intensa oposição de todas as classes da sociedade corrupta de
seus dias. Assim como alguém disse, é necessário um coração bondoso para
entregar uma mensagem severa de julgamento com força e emoção.
Enquanto o bom rei Josias estava vivo (ele morreu em 609 a.C.), Jeremias
estava protegido, mas então ele sofreu uma crescente oposição e derrota, e
foi preso (veja 11:18-23; 12:6, 18:18; 20:1-3; 26; 37:11-38:28). O livro de
Jeremias é o mais autobiográfico dentre os profetas. Além dos relatos sobre
o chamado de Jeremias e seu nascimento no capítulo 1, referências pessoais
aparecem ao longo do livro, indicando suas atitudes, sua percepção de vida,
relações com outros, sofrimentos e proibição de casar-se (16:2).

Foco em Judá e Jerusalém


A grandeza de Jeremias (capítulo 2-39) consiste nas profecias contra
Judá e Jerusalém. A primeira metade da seção é dedicada para uma série de
seis sermões ou discursos entregues, a maioria, durante os dias de Josias
(capítulos 2-20). Estes podem ser resumidos como:

1. A apostasia de Judá (2:1-3:5)


2. A invasão ameaçadora ao norte de Judá e desastre evitado (3:6-6:30)
3. O exílio da Babilônia e a punição pela idolatria (7:1-10:25)
4. A rejeição de Judá por quebrar a aliança com Deus (11:1-13:27)
5. A inabilidade da oração dos profetas para prevenir o julgamento (14:1-
17:27)
6. Os sinais do oleiro e do vaso quebrado, previsões do exílio que estava
por vir (18:1-20:18)

A segunda metade da maior porção de Jeremias (21-39) consiste em


profecias a acontecerem mais tarde contra reis, profetas e o povo de Judá.
Jeremias fez previsões muito pontuais contra os reis que reinavam em Judá,
dizendo a Zedequias que os babilônios o derrotariam e queimariam
Jerusalém (capítulo 21) e da mesma forma pronunciando julgamento a
Jeoaquim (capítulo 22:13-19) e Joaquim (22:20-30), que foi deportado para
a Babilônia. (Joaquim é chamado de Conias nesta passagem e em 37:1). A
visão de dois cestos de figo (capítulo 24) também diz respeito a Zedequias.
Os figos ruins representavam os judeus remanescentes em Israel para
suportar o mau Zedequias, e os bons figos são as pessoas boas levadas para
a Babilônia com Joaquim (aqui chamado de Jeconias; Mateus 1:11) em 597
a.C. Depois, Jeremias fez uma previsão específica de que o cativeiro na
Babilônia duraria setenta anos (capítulo 25) e que o templo seria destruído
(capítulo 26). Por último, ele foi ameaçado com a morte, mas foi resgatado
por alguns dos anciãos.
A Conquista da Babilônia é descrita de uma outra forma nos capítulos 27
e 28, quando o profeta simbolicamente selou-se com uma canga de boi para
indicar que o jugo da Babilônia viria sobre eles. Depois disso, quando
Jeremias tentou provocar um novo espírito de avivamento, o rei Zedequias
queimou o livro da profecia de Jeremias, mas o profeta o escreveu de novo
(capítulo 36). Finalmente, em cumprimento da profecia, o anunciado cerco
de Jerusalém ocorreu. Jeremias foi aconselhado a se render e foi preso. A
cidade caiu e foi queimada, mas Jeremias recebeu um bom tratamento nas
mãos dos babilônios, sendo dado a chance de escolha de ficar na terra ou ir
para a Babilônia (37-39).

O Retorno do Messias
O livro de Jeremias não é uma previsão mais suave da morte. Em 23:3-6,
vemos uma gloriosa previsão de reunificação no fim dos tempos e do
governo do Messias. Os capítulos 30-33 indicam uma predição estendida do
futuro distante. Depois de uma grande tribulação (chamada “tempo de
tribulação de Jacó”), durante a qual Israel será purificado, Cristo retornará e
estabelecerá Seu reino. A restauração para a bênção está baseada na nova
aliança (Jeremias 31:31-34), fundado no sacrifício de Cristo. Israel
aproveitará a paz do reino e a prosperidade quando “o Ramo da Justiça”
sentar no trono de Davi para sempre.
As duas seções menores remanescentes de Jeremias dizem respeito às
séries de eventos depois da queda de Jerusalém (40-45) e profecias contra
as nações estrangeiras (46-51). Jeremias preferiu ficar em Judá e dar
suporte ao governador Gedalias, apontado pelos babilônios. Pouco tempo
depois, entretanto, um plano amonita contra Gedalias obteve sucesso. Um
grupo de judeus temerosos então decidiu fugir para o Egito para escapar de
possíveis represálias dos babilônios. Jeremias os encorajou a não irem, mas
eles rejeitaram a orientação de Deus e foram mesmo assim, forçando
Jeremias a ir junto com eles. Uma vez lá, ele tentou persuadir os grupos
judeus no Egito a renunciar a adoração a falsos deuses, mas sem sucesso. A
última seção do livro detalha as profecias contra várias nações pagãs: Egito,
Filístia, Moabe, Amom, Edom, Damasco, Quedar e o reino de Hazor, Elam
e Babilônia. Algumas das razões dadas para o julgamento delas foram o
orgulho, idolatria e o tratamento deles a Israel.

Daniel

O livro de Daniel é muitas vezes chamado de chave para a profecia


bíblica porque dá meios de desvendar muitos segredos da profecia. Ele não
somente dá a perspectiva necessária para os grandes temas proféticos
(como, por exemplo, a Tribulação, o Anticristo e o tempos dos gentios),
mas também nos dá meios de interpretar muitas passagens das Escrituras
(por exemplo: Mateus 24-25, 2 Tessalonicenses 2 e o livro de Apocalipse).
Colocado de outra forma, o livro nos dá um tipo de moldura na qual
podemos apoiar muito do plano profético da Escritura.
Enquanto Daniel, então, tem tido um significado contínuo para os que
creem na Bíblia em todas as gerações, ele tem uma dupla mensagem para os
contemporâneos do profeta: julgamento dos poderes gentios que
atormentavam os judeus e esperança de libertação para as nações de Israel.
Às vezes os estudantes da Bíblia ficam tão empolgados sobre a mensagem
das Escrituras para os seus próprios dias que se esquecem que ela foi escrita
há milhares de anos atrás e tinha uma mensagem especial para as
necessidades particulares daqueles dias. O livro de Daniel cai logicamente
em duas partes: os primeiros seis capítulos são geralmente históricos por
natureza e são relacionados a eventos na vida do profeta; os últimos seis
capítulos contêm profecias sobre eventos futuros.
Daniel foi um dos reféns que Nabucodonosor levou para a Babilônia no
terceiro ano de Joaquim de Judá (605 a.C.). Um jovem de talvez quinze ou
dezesseis anos, ele aparentava ter sangue real (Daniel 1:1-6).
Erguendo-se para o poder na Babilônia, ele ocupou uma posição de
liderança pela maioria dos dias do império neo-babilônico (612-539) e no
período persa. De acordo com Daniel 1:21, ele continuou no primeiro ano
de Ciro (539 a.C.); e de acordo com Daniel 10:1, ele ainda estava forte em
537. Essas referências cronológicas significam que ele era contemporâneo a
Ezequiel na Babilônia, Jeremias em Jerusalém e ao retorno dos judeus,
documentados nos primeiros capítulos de Esdras. A composição do livro
que leva seu nome deve ser datada por volta de 535 a.C.
Mas o problema da autoridade não é tão simples assim. Sempre, desde o
terceiro século a.C., quando o neoplatonista Porfírio declarou que o livro foi
uma falsificação escrita no período macabeu (165a.C.), oponentes da visão
tradicional se multiplicaram. Eles têm baseado sua posição primeiramente
na negação da habilidade sobrenatural em profetizar ao mesmo tempo de
supostas imperfeições históricas e problemas textuais do livro. Claro, é
impossível em última análise provar o sobrenatural, mas a profecia tem
ganhado um suporte considerável através do cumprimento de muitas
profecias em Isaías, Jeremias, Ezequiel e em outros livros do Antigo
Testamento. Além disso, um por um, os supostos erros históricos e
dificuldades em Daniel foram desaparecendo. Por exemplo, como resultado
de descobertas arqueológicas, Belsazar é agora conhecido como tendo sido
atuante como corregente com seu pai Nabonido quando a Babilônia caiu, e
ele estava aparentemente imperando na monarquia na cidade quando ela foi
derrotada pelos persas. Isto elimina o antigo ponto de vista de que a história
secular nomeou Nabonido rei da Babilônia em sua queda, e Daniel nomeou
Belsazar. Novamente, Daniel muitas vezes tem sido datado mais tardio por
causa de certa palavra grega no texto. Novos estudos não falam mais que
algumas dessas palavras são originadas do grego. Algumas, as quais não há
dúvidas de sua origem grega, não causam problemas por causa da
informação da influência dos gregos no Oriente Próximo, mesmo antes dos
dias de Daniel. Muitos serviam como mercenários, mesmo nas forças
armadas persas. Além disso, o autor de Daniel mostra a sabedoria dos
eventos do século sexto que um segundo escritor não poderia ter tido.
Claro, todo este assunto é muito técnico e detalhado para discutir aqui.[Nota
2]

A História Pessoal de Daniel


A absoluta devoção a Deus sobressai no começo desta profecia.
Quando colocado em um programa de treinamento especial que oferecia
uma considerável oportunidade de progresso, Daniel e seus amigos
determinaram que não iriam se contaminar com as comidas e o vinho do
rei. Talvez estes alimentos tenham sido consagrados a ídolos; certamente
eles não foram preparados de acordo com as leis levíticas. Deus os honrou
em sua decisão de comer somente vegetais (e possivelmente alguns grãos) e
água (capítulo 1). Por toda sua longa vida no pátio da pagã Babilônia,
Daniel manteve sua vida santa. Ezequiel se referiu a ele como um modelo
de justiça (Ezequiel 14:14-20;28:3).
Ao que parece, perto do final do período especial de treinamento de
Daniel, uma crise emergiu na corte. Nabucodonosor tinha tido um sonho
complicado, o qual ele havia esquecido. Querendo saber do que se tratava,
ele pediu aos sábios e adivinhadores do reino para reproduzirem o sonho e
interpretá-lo. Embora pudessem até oferecer uma interpretação se
soubessem qual era o sonho, eles não podiam reproduzi-lo. No momento
crucial, Daniel, que também seria executado caso falhasse, foi à frente e
pediu por um tempo para realizar o desejo do rei.
Em resposta a uma oração, Deus revelou o sonho e a interpretação. Ele
dizia respeito a uma grande imagem que retratava a história mundial.
A cabeça de ouro (Babilônia) estava para ser substituída por um corpo
superior de prata (Medo-Pérsia) e partes de bronze (Macedônia) e ferro
(Roma). Os dedos dos pés representavam panoramicamente um
desenvolvimento político no Império Romano de uma federação de dez reis,
a qual seria destruída por Cristo, quando Ele estabelecesse seu reinado. Por
esta excelente performance, Daniel foi recompensado com o exercício
governamental sobre a província da Babilônia (capítulo 2).

Aumenta a Influência de Daniel


Possivelmente impressionado com o sonho que o mostrou como cabeça
de ouro, Nabucodonosor ergueu uma grande imagem de ouro de sessenta
côvados de altura e seis côvados de largura (capítulo 3).
A época exata não pode ser determinada pelo texto. Deve ter sido um
tipo de obelisco com uma figura humana no topo. De qualquer forma,
envolvia idolatria, e os três amigos de Daniel se recusaram a adorar a
imagem. Por causa disso, eles foram jogados na fornalha, onde se juntaram
a alguém que parecia ser o Filho de Deus, a qual pode ter sido uma aparição
prévia de Cristo. Muito impressionado pelo fato de que os hebreus não
sofreram nada no fogo, Nabucodonosor ordenou que todos deveriam
respeitar o Deus dos hebreus e que aqueles três hebreus deveriam ser
promovidos. Onde Daniel estava naquela época não é falado, mas talvez
estivesse longe, em algum negócio oficial.
Mais tarde, Nabucodonosor teve uma visão ou sonho que Daniel
interpretou como uma previsão de uma insanidade temporária que o rei
sofreria por sete anos até que ele propriamente reconhecesse o Deus dos
céus (capítulo 4). Neste ponto, a narrativa histórica é interrompi-da. Os
últimos dias de Nabucodonosor e o breve reinado de seus sucessores estão
terminados. O capítulo 5 escava a história com o último rei do Império
Neobabilônico, Belsazar. Aparentemente, Daniel não tinha mais o mesmo
acesso ao pátio como tivera nos dias de Nabucodonosor. Em um outro
momento de crise, quando inscrições apareceram nas paredes do palácio
durante uma grande festa, a rainha recomendou que Daniel fosse chamado
para interpretá-las. Mesmo a interpretação significando maldição para o rei,
ele o recompensou e o elevou a uma posição equivalente a primeiro-
ministro. Naquela noite (12 de Outubro, 539 a.C.), as forças armadas persas
atacaram a Babilônia sem que houvesse uma luta.
O novo governante fez de Daniel um chefe da administração.
Aparentemente ele se sentia confortável com a liderança de Daniel, em par-
te porque Daniel foi um dos que tinham pronunciado julgamento sobre
Belsazar e os caldeus. A identidade de Dario, superior imediato de Daniel,
não pode ser determinada com certeza. Críticos muitas vezes fazem
confusão com Dario, o Grande (521-486 a.C.) ou o conquistador Ciro como
sendo o suposto escritor do século segundo do livro de Daniel. Deve-se
notar, entretanto, que Daniel 5:31 o chama de Dario, o Medo (Ciro e Dario,
o Grande, eram persas) e diz que ele tomou (também pode ser traduzido
como “recebeu”, como sendo indicado para o posto) a Babilônia. Além
disso, este Dario, o Medo, tinha sessenta e dois anos à época da conquista
enquanto Dario, o Grande era consideravelmente jovem quando se tornou
rei. Também, se alguém verificar realmente o que diz Daniel 6:28, poderia
parecer que Dario era um subordinado de Ciro e 9:1 diz que ele “foi
constituído rei sobre o reino dos caldeus”, como se por um superior no
império. Muitos compara-riam este Dario com Gubaru, governador da
Babilônia naquela época.[Nota 3]
Quem quer que Dario tenha sido, ele foi pressionado por oficiais
ciumentos a tomar certas ações que, no final das contas, levou Daniel para a
cova dos leões por causa de sua fé. É significante que Dario teve muito
respeito por Daniel e seu Deus e esperou que Deus libertasse Daniel.
Quando Daniel saiu da cova dos leões, ele foi recolocado em sua alta
posição na realeza.[Nota 4] Nesta passagem, também vale citar que Daniel era
equivalente ao primeiro ministro na Babilônia quando os exilados
retornaram a Judá (Esdras 1; Daniel 1:21; 10:1) e quando ele estava então
em uma posição de facilitar o retorno deles.

Visões do Futuro
Como foi indicado anteriormente, a última metade de Daniel é uma série
de visões proféticas de acordo com o futuro. O capítulo 7 apresenta uma
visão em muito similar a do capítulo 2. No capítulo 2, acontecimentos
externos dos reinos do mundo aparecem ligados com a imagem humana. No
capítulo 7, quatro bestas devoradoras retratam a personalidade interna
destes reinos gentios, e detalhes adicionais são dados. O leão é a Babilônia;
o urso, a Medo-Pérsia; o leopardo com quatro asas e quatro cabeças, o
império de Alexandre e suas quatro divisões subsequentes; a quarta besta
com dentes de ferro, Roma. Os dez chifres da quarta besta representam um
estágio futuro e final do Império Romano nos últimos dias. O “pequeno
chifre” é o Anticristo ou besta de Apocalipse 13:4-10, que será destruída
pelo Messias em Sua segunda vinda (Apocalipse 19:20; 20:10). Dando um
fim ao poder das nações dos gentios, o Messias instituirá Seu reino.
O capítulo 8 é uma continuação do capítulo 7. Um carneiro com dois
chifres (Medo-Pérsia) é destruído por um bode (Alexandre, o grande).
O primeiro chifre do bode seria quebrado e se transformaria em quatro
pequenos chifres (os sucessores de Alexandre). Do lado de fora de um
destes chifres (o reino de Selêucida ou Síria), apareceria um “Pequeno
chifre” (Antíoco Epifânio) que aboliria o templo de adoração em Jerusalém
e traria a reforma dos Macabeus em 167 a.C. Evidentemente, entretanto,
Antíoco somente era uma pré-imagem do Anticristo dos últimos dias (veja
Daniel 8:23), o qual o Messias destruirá quando vier no final da Tribulação
(Daniel 7:11; 8:25).
Uma das profecias mais significantes de toda a Escritura é a profecia das
setenta semanas de Daniel (9:20-27).[Nota 5] A maioria dos intérpretes
concordam que estas representam setenta semanas de anos (70 X 7 ou 490
anos). Este período é dividido em três unidades: sete semanas (49 anos), da
emissão do comando para restaurar Jerusalém ao término da obra; sessenta
e duas semanas (434 anos), do término da obra “até o Messias, o príncipe”
(depois deste período o Messias seria afastado); uma semana (7 anos) de
grande tribulação. A profecia diz que levaria 49 anos para que a reforma de
Jerusalém fosse completa e mais 434 anos se passariam antes da
crucificação do Messias (o “afastamento”).
Depois disso, um lapso de tempo aconteceria, durante o qual Jerusalém
seria destruída (9:26). Então, em algum momento indefinido no futuro, uma
septuagésima semana aconteceria. No começo desta semana, o Anticristo
faria uma aliança com os judeus, e no meio desta semana quebraria esta
aliança, pararia os sacrifícios e profanaria o templo (9:27; 11:31; 12:11).
Então, ele perseguiria os judeus cruelmente por “um tempo, dois tempos e
metade de um tempo” (Daniel 7:25; 12:7) ou três anos e meio, igual aos
quarenta e dois meses de Apocalipse 13:5, os 1260 dias de Apocalipse 11:3
e o equivalente aos 1290 dias[Nota 6] de Daniel 12:11. Em seu grande
discurso no Monte das Oliveiras, Cristo se referiu à abominação da
desolação que Daniel disse que introduziria a Grande Tribulação, e disse
que Ele retornaria novamente no final da tribulação (Mateus 24:15, 29-31).
Daniel 10-12 constitui uma visão panorâmica a respeito de Israel, dos
dias de Daniel até a segunda vinda de Cristo. Depois de passada a grandeza
do poder persa (11:2), Alexandre, o Grande, estabeleceria um império
grego, o qual seria quebrado em quatro partes (11:3, 4). Então, um conflito
aconteceria entre duas das partes: Egito (os ptolomeus) e Síria (os
selêucidas), sobre a Palestina (11:5-20). A Síria ganharia, e Antíoco
Epifânio da Síria logo receberia atenção, como uma espécie de Anticristo
(11:21-35). Então, a profecia claramente foi focada no Anticristo e o tempo
da tribulação de Jacó, ou a Grande Tribulação de Israel, seguida pela
libertação (11:36-12:1). Depois da Tribulação e da segunda vinda de Cristo,
haverá uma ressurreição de Israel (12:2, 3).
Notas do Capítulo

Nota 1 - Os caldeus foram um povo semítico que invadiu a Babilônia (1000 a.C.) e se tornaram o
elemento de governo do Império Neo-Babilônico (612-539 a.C.). [Voltar]
Nota 2 - Tratamentos úteis sobre a composição escrita e as datas podem ser especialmente
encontrados nos livros de Gleason Archer, A Survey of Old Testament Introduction [Uma
Análise do Antigo Testamento], capítulos 28, 29; Hobart Freeman, An Introduction to the
Old Testament Prophets [Uma Introduçao Aos Profetas do Antigo Testamento] (Chicago:
Moody, 1968), páginas 264-72; R.K. Harrison, Introduction to the Old Testament [
Introdução ao Antigo Testamento](Grand Rapids: Eerdmans, 1969), páginas 1105-1134;
Merrill F. Unger, Introductory Guide To The Old Testament [Guia Introdutório ao Antigo
Testamento], páginas 396-99. [Voltar]
Nota 3 - Para discussão, veja Freeman, páginas 267-68; e Darius the Mede [Dario, o Medo], de John
C. Whitcomb (Grand Rapids: Eerdmans, 1959). [Voltar]
Nota 4 - Este episódio ocorreu quando Daniel tinha mais de oitenta anos. O evento aconteceu em
539 ou 538 a.C., e Daniel foi levado para a Babilônia em 605, sessenta e seis anos antes. Se
Daniel tinha só quinze anos à época do cativeiro, ele teria oitenta e um em 538. A
experiência que ele teve enquanto jovem (capítulo 1) o preparou para a experiência que ele
foi forçado a ter quando mais velho. [Voltar]
Nota 5 - Para o desenvolvimento veja o livro de Robert D. Culver, Daniel and the Latter Days
[Daniel e os Últimos Dias] (Chicago: Moody, 1954), páginas 135-60. [Voltar]
Nota 6 - Talvez os trinta dias adicionais aqui incluem um período de julgamento das nações e
ajustamento antes do começo do Milênio. [Voltar]
CAPÍTULO

14

Profetas do Período Persa


Ageu, Zacarias, Malaquias

D EUS protegeu Seu povo durante os dias difíceis do cativeiro da


Babilônia. Além disso, com a destruição persa do Império Babilônio,
Ele trouxe a restauração dos judeus para Judá debaixo de Ciro, o Grande. O
primeiro contingente de exilados deixou a fundação do novo templo por
volta de 536-35 a.C., mas deixou a estrutura incompleta. Ageu e Zacarias
juntaram suas vozes em encorajamento para completar o projeto. Ambos
começaram seus ministérios no segundo ano de Dario, o Grande (520 a.C.),
e o templo foi completo em 515 a.C. O templo era de grande significado
como ponto de foco da vida religiosa de Israel e como casa de Deus. A falta
de progresso na construção demonstrou a baixa prioridade que os
repatriados designavam às coisas de Deus.

Ageu

Ageu apareceu em cena repentinamente em 520 a.C., pregando quatro


mensagens em um período de quatro meses, e desapareceu da história.
Esdras reconheceu sua contribuição (Esdras 5:1; 6:14). Alguns concluem
que Ageu foi um dos poucos que retornaram do exílio que se lembrava do
templo de Salomão. Sendo assim, ele teria pelo menos oitenta anos à época
da escrita. A primeira mensagem de Ageu (1:1-11) foi entregue no primeiro
dia do sexto mês (agosto-setembro).
Foi um encorajamento para a construção do templo com a explanação de
que a negligência do santuário central era a razão para os problemas
econômicos de Israel. Os governantes parecem ter concordado
primeiramente; em pouco tempo mais tarde, o povo também concordou.
Dentro de vinte e quatro dias, a obra tinha sido terminada.
Cerca de sete semanas depois de sua primeira mensagem, Ageu entregou
uma segunda (2:1-9). Os construtores foram desencorajados frente à
insignificância comparativa do segundo templo; então, Ageu os encorajou
com a promessa de que “a glória da segunda casa será maior que a
primeira” e que Deus “agitaria todas as nações”. O ponto de referência de
toda essa passagem evidentemente é relativo ao milênio.
Zorobabel estava na linhagem de Davi e na linhagem de Cristo (Lucas
3:27). Esta linhagem eleita algum dia alcançaria uma real grandeza na
pessoa de Seu “maior Filho” (Jesus Cristo), e a linhagem permaneceria
enquanto outras dinastias e reinados cairiam.
Dois meses depois da segunda mensagem, Ageu entregou mais duas
mensagens no mesmo dia (2:10-19; 2:20-23). O assunto do terceiro discurso
era essencialmente que, embora os repatriados tenham oferecido sacrifícios
a Deus, a falha em completar o templo constituiu uma obediência limitada.
Deste modo, os sacrifícios não poderiam limpá-los se sua obediência estava
incompleta. Render uma completa obediência na forma da construção do
templo levantaria o peso dos votos econômicos que eles carregavam. A
quarta mensagem foi uma profecia do triunfo de Deus sobre as nações
derrubadas no fim dos tempos.

Zacarias

Como foi tratado anteriormente, Ageu e Zacarias trabalharam juntos em


seus esforços para reconstruir o templo em Jerusalém. Embora os dois
tenham começado seus ministérios em 520 a.C., Zacarias começou o dele
dois meses depois de Ageu em outubro-novembro (1:1).
Embora Ageu possa ter sido um homem mais velho naquele tempo,
Zacarias era definitivamente jovem (Zacarias 2:4). Não temos uma certeza
quanto a duração de sua atividade profética. A última referência às datas no
livro é 518 a.C (7:1), mas muitos concluem que os últimos capítulos do
livro foram escritos muito tempo depois.[Nota 1] Nesta ligação é
argumentado, por exemplo, que a referência aos gregos em 9:13 pode
indicar uma composição algum tempo depois dos gregos terem se tornado
significativos no Oriente Próximo (depois de 490 a.C.).
De descendência sacerdotal, Zacarias foi o filho de Berequias, o filho de
Ido (1:1; veja também Esdras 5:1; 6:14; Neemias 12:16), e deve ser
diferenciado de outros mais de vinte Zacarias no Antigo Testamento.
Embora Ageu em seu ministério tenha enfatizado a situação histórica
local, Zacarias em larga escala, buscou encorajar o desanimado ao
profetizar em termos inflamados a história de Israel em épocas distantes.
Após um chamado inicial ao arrependimento (1:1-6), o profeta relata oito
visões, todas dadas em uma noite e projetadas para o encorajamento (1:7-
6:15). Os capítulos 7 e 8 constituem uma resposta para as questões criadas
por uma delegação de Betel. O resto do livro descreve o futuro de Israel
tanto em ligação com a primeira vinda de Cristo quanto o estabelecimento
do reino do Milênio em Sua segunda vinda.

A Grandeza Começa Com o Arrependimento


Em sua mensagem introdutória (1:1-6), Zacarias estende um chamado ao
arrependimento, lembrando as pessoas do pecado de seus pais e do
resultado deste, o cativeiro. À medida que eles lamentavam pelas gerações
passadas, não esqueceriam as razões para isto.
Juntas, as oito visões de 1:7-6:15 falam da libertação futura de Israel e o
estabelecimento do reino. Embora não seja possível aqui nem entrar em
detalhes de interpretação nem defender as interpretações já feitas, relatos
generalizados farão possível um entendimento da mensagem do profeta. A
visão do homem entre as murtas (1:7-17) indica que embora Israel esteja
oprimido, é grande a preocupação de Deus com o Seu povo; Ele ainda irá
restaurá-lo. Os quatro chifres e quatro carpinteiros (1:18-21) representam o
império que oprimiu os judeus e estão prestes a serem destruídos. O homem
com o cordel de medir (2:1-13) retrata o fato de que com seus inimigos
inteiramente derrotados, Jerusalém gozará de uma prosperidade gloriosa
durante o Milênio. Josué, símbolo da nação sacerdotal (3:1-10) retrata a
poluição nacional, a limpeza e a restauração da nação para o serviço
sacerdotal.
O castiçal de ouro e as duas oliveiras (4:1-14) representam a verdade que
Israel será no futuro, a lâmpada de Deus das testemunhas debaixo do
Messias como rei-sacerdote. O pergaminho que voava (5:1-4) simboliza o
julgamento de Deus contra os pecadores. A remoção do efa [Nota 2]da
Babilônia (5:5-11) é difícil de interpretar, mas certamente indica a remoção
do mal da Palestina. A visão dos quatro carros (6:1-8) representa o
julgamento divino nas nações que se preparam para o reinado do Messias.
Em 518 a.C. uma delegação veio de Betel a Zacarias, com perguntas
sobre observar certos jejuns, especialmente comemorando a destruição de
Jerusalém (Zacarias 7-8). Em resposta, o profeta repreendeu o ritualismo
sem sentido e profetizou que o jejum seria algum dia troca-do por festas
quando houvesse uma restauração completa de Jerusalém e quando a cidade
vivenciasse a glória do Milênio.
Profecias da libertação futura de Israel (capítulos 9-14) começam com
julgamento das nações ao redor de Israel, agora amplamente cumprida (9:1-
8), continua com um anúncio da primeira vinda de Cristo (9:9), e é
desenvolvida com uma descrição do programa do Rei em Sua segunda
vinda (9:10-10:12). Neste tempo, Ele punirá as nações opressoras e trará
uma restauração nacional e a reunificação da terra da Palestina. As
profecias da última parte do livro não estão em ordem cronológica. O
capítulo 11 profetiza sobre a rejeição do bom Pastor (Cristo em Sua
primeira vinda), punição por causa disso, e a aceitação do pastor mau (o
Anticristo durante a Tribulação). Ao final dos tempos da Tribulação quando
há o maior ataque em Judá e Jerusalém, Deus protegerá os judeus e
confundirá seus inimigos (12:1-9). Então Ele trará sobre Israel uma
conversão nacional (12:10-13:9). O Messias retornará em corpo à Terra e
estabilizará o Seu Reino.
Um dos aspectos mais significativos do livro de Zacarias é seu
ensinamento sobre o Messias. Ele é o Ramo (3:8; 6:12, 13), significando
que Cristo seria a semente de Davi; Ele entraria em Jerusalém em um
jumentinho (9:9), seria traído por trinta peças de prata (11:12, 13), seria
perfurado (12:10), retornaria ao Monte das Oliveiras (14:3-8), e reinaria por
toda a terra (14:9).

Malaquias

Malaquias é o último livro dos profetas do Antigo Testamento. Depois da


profecia ter parado por mais de quatrocentos anos, até os dias do início da
vida terrena de Cristo e da igreja primitiva. A data certa do ministério dele é
incerta. As duas sugestões mais comuns são por volta de 460 a.C. ou por
vota de 435, quando Neemias retornou ao pátio persa. Provavelmente a
última deve ser preferida. É argumentado que os pecados que Malaquias
denunciou foram aqueles que Neemias repreendeu durante seu segundo
mandato como governador: fraqueza sacerdotal, negligência de títulos e
casamentos com mulheres estrangeiras. Cem anos se passaram desde o
retorno da Babilônia e oito anos desde a finalização do templo.
Evidentemente havia uma religião geral e um declínio moral que chamou
alguns para uma pregação direta.
Algumas indicações da natureza e os graus do lapso espiritual de Israel
são providos pelas onze citações que Malaquias atribui ao povo.
Note a expressão “vós dizeis” em 1:2, 6, 7, 12, 13; 2:14, 17; 3:7, 8, 13,
14.
Malaquias começou seu livro com uma declaração do amor de Deus para
Israel demonstrado em Sua escolha por ela, mas Israel questionou tal amor
(1:1-5). O profeta então condenou os sacerdotes por não dar a Deus a honra
devida a Ele, por oferecer a Ele o que eles não ofereciam ao governador,
por serem preguiçosos e mercenários e por liderarem muitos desviados e
fazer com que eles perdessem o respeito a Deus e Sua Palavra (1:6-2:9).
Em seguida, Malaquias se voltou para os pecados de laicidade. Primeiro
ele os repreendeu pelo ensinamento contra outros homens e por se
divorciarem de suas esposas e casarem-se com mulheres pagãs (2:10-16).
Então quando eles expressaram a descrença no julgamento divino, ele
profetizou sobre a vinda do Senhor em julgamento (2:17-3:6). Esta vinda
seria precedida pela mensagem do Messias ou por seu predecessor (João
Batista, Mateus 11:10). O Messias é aqui visto particularmente em ligação
com Sua segunda vinda, quando Ele irá purificar e julgar o seu povo. Em
seguida, o profeta os condena por seu pecado de roubar a Deus (por
exemplo, reter seus dízimos, 3:7-12). Por último, Malaquias se voltou para
aqueles que argumentaram que não servir a Deus não servia para nada e que
os maus pareciam prosperar.
A resposta dele foi condenar os devotos, profetizar a recompensa deles e
focar novamente na segunda vinda de Cristo quando Ele punirá os maus
(3:13-4:3). O livro termina com uma exortação futura aos fiéis e uma
profecia sobre o retorno de Elias antes do dia do Senhor (4:4-6).
Notas do Capítulo

Nota 1 - Críticos geralmente argumentam que Zacarias 9-14 não foi originalmente parte do livro e
que o profeta não foi o autor. Para uma resposta conservadora, veja A Survey of Old
Testament Introduction [Uma Análise da Introdução do Novo Testamento], de Gleason
Archer, páginas 411-415 e An Introduction to the Old Testament Prophets [Uma
Introdução aos Profetas do Antigo Testamento], de Hobart Freeman, páginas 337-44.
[Voltar]
Nota 2 - Um efa é uma medida um pouco maior que um alqueire. [Voltar]
PARTE

III

Os Cantores e os Sábios do Antigo Testamento


CAPÍTULO

15

A arte do Viver Para Deus: Verdade em Poesia


Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão, Lamentações

A Natureza da Poesia Hebraica

T ALVEZ o aluno da Escola Bíblica que aprendeu que Jó, Salmos,


Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Lamentações são
poesias esteja um pouco confuso e cético, porque estes livros não parecem
conter nada parecido com a poesia que ele está acostumado. Esta é uma
reação compreensível; a versão King James de forma bastante eficaz
obscurece as formas literárias da Bíblia, e muitas outras versões não fazem
nada muito melhor. Algumas das mais recentes versões têm buscado
corrigir esta dificuldade ao colocarem as porções poéticas em versos. Há
algumas versões como a Nova Versão Internacional que já usam este
sistema.
Mas até mesmo uma Bíblia que dá uma atenção adequada à forma
literária não pode fazer a poesia dos hebreus parecer uma poesia oriental.
Os poetas hebreus não empregavam rima ou métrica até o século sétimo
d.C.[Nota 1] Nós devemos aprender a apreciar a poesia bíblica em seus
próprios termos.

Características da Poesia do Antigo Testamento


Um dos princípios básicos do Antigo Testamento é paralelismo de
pensamento. Provavelmente o tipo mais comum de paralelismo é
sinonímico, no qual a segunda linha essencialmente repete o pensamento da
primeira. Três versos de Salmos ilustram bem esta forma:
Aquele que habita nos céus se rirá;
o Senhor zombará deles. (2:4, JFA)
Voltaram atrás, e tentaram a Deus,
e limitaram o Santo de Israel. (78:41, JFA)
Como operou os seus sinais no Egito,
e as suas maravilhas no campo de Zoã. (78:43, JFA)

O paralelismo antitético, por outro lado, apresenta na segunda linha uma


ideia oposta àquela da primeira linha. Salmos 1:6 nos dá um bom exemplo:

Porque o Senhor conhece o caminho dos justos;


porém o caminho dos ímpios perecerá.

No paralelismo sintético, a segunda linha ou as sucessivas acrescentam


ou desenvolvem o pensamento da primeira linha do versículo. Isto é
habilmente demonstrado nos primeiros dois versos do Salmo 1:

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos


ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
nem se assenta na roda dos escarnecedores.

Antes tem o seu prazer na lei do Senhor,


e na sua lei medita de dia e de noite.

O paralelismo emblemático é um tipo no qual a segunda linha ou as


demais dão uma ilustração figurativa da primeira, assim como no primeiro
verso de Salmos 42:

Assim como o cervo brama pelas correntes das águas,


assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!

Muitos outros tipos de paralelismo podem ser enumerados, mas eles não
são muito comuns. Talvez deve ser observado que a poesia dos hebreus não
é limitada a duetos, mas pode se estender a tercetos, quartetos, sextetos e
octetos. Além disso, o paralelismo não é somente restrito a linhas, mas pode
se estender a estrofes e versos. Isto pode ser devido em parte ao fato de ser
característico da música dos hebreus e de seu discurso cantar ou recitar em
antífona; isto é, o líder fala uma frase ou canta um pedaço do texto e é
respondido por um grupo que está liderando. O salmo 136 foi
provavelmente repetido desta forma.
Às vezes, dois corais estão envolvidos neste procedimento.
Um segundo princípio da poesia dos hebreus é o ritmo, mas ele não é
estritamente métrico no sentindo de aderir a regras estritas de números de
balanço ou sílabas acentuadas ou desacentuadas. Claro que é impossível
demonstrar esta qualidade da original totalmente na tradução. É possível,
então, observar a natureza figurativa da poesia bíblica na tradução. Muitos
dispositivos retóricos são utilizados com grande efeito. Semelhança,
metáfora, hipérbole e metonímia estão entre as muitas figuras de discurso
usadas.
Uma terceira característica da poesia dos hebreus é o acróstico alfabético.
Um acróstico pode ser definido como um grupo de cartas – como as letras
ou palavras do início, do meio ou do fim – que quando colocadas em
ordem, vertical ou horizontalmente formam uma palavra ou palavras. Por
exemplo, em inglês:

Forsaking
All
I
Trust
Him
[N.T.: Na vertical: Renunciando a tudo, eu creio nele; na horizontal: fé]

Pode ser lido tanto na vertical quanto na horizontal, e em ambas as


formas faz sentido. No alfabeto acróstico, cada letra do alfabeto dos hebreus
(22 letras) é usada para começar com um verso, ao ler verticalmente o
alfabeto é formado; ao ler horizontalmente, a letra se torna parte da primeira
palavra do verso. Este princípio é lindamente ilustrado no livro de
Lamentações, onde os capítulos 1, 2 e 4 são perfeitos acrósticos simples;
em todos os três capítulos há vinte e dois versos e cada um começa com
uma letra diferente do alfabeto hebraico, em ordem alfabética. O capítulo 3
tem sessenta e seis versos, um múltiplo de vinte e dois e cada quatro versos
começam com uma letra do alfabeto hebreu. O capítulo 5 continua o padrão
do verso vinte e dois, mas a disposição não é acróstica. O salmo 119 é uma
outra excelente ilustração desta disposição; cada nove versos começa com a
próxima letra do alfabeto hebreu, e cada verso na seção abaixo deste nome
começa com a letra listada na cabeça da seção. Outros salmos são acrósticos
por natureza, mas não são perfeitos.

Tipos de Poesias

Embora os princípios da poesia do Antigo Testamento tenham sido


delineados, eles permanecem definindo os tipos de poesia. O épico é um
tipo de narrativa poética que lida com a ação heroica e é escrito em um
estilo elevado; o drama é a poesia atuada; o lírico é a poesia cantada e é
reflexivo por natureza. Na Bíblia não há verso narrativo (épico) como tal,
mas deve-se notar que os versos hebreus e o sistema de prosa se destacam.
Quando isto é levado em consideração, fica evidente que incidentes épicos
estão espalhados pelos livros históricos. Além disso, as Escrituras contêm
épicos misturados, como por exemplo, a história de Balaão (Números 22-
24).
Provavelmente o melhor exemplo de drama do Antigo Testamento esteja
no livro de Jó; é encontrada uma considerável quantidade de diálogo
dramático colocada em ciclos de desenvolvimento. Logo ao começo, é
permitido ao leitor olhar os bastidores e descobrir que tudo aquilo pelo que
Jó passa é causado por uma tentação satânica. Pequenos relances do vilão
são percebidos na primeira parte da história.
Então o enredo fica mais denso à medida que os mensageiros vêm com
uma rapidez quase telegráfica informar a Jó dos infortúnios que o
acometeram. Logo depois, sua esposa se volta contra ele, e ele fica aflito
com o sofrimento físico. A próxima cena retrata o outrora próspero
patriarca sentado nos armazéns da cidade. Durante a maior parte da história,
ele se engaja em uma luta consigo mesmo sobre as questões do porquê ele
foi o escolhido para sofrer; enquanto isso, os denominados amigos
oferecem uma variedade de sugestões. As tensões da situação aparecem à
medida que o leitor se pergunta se Jó será capaz de vencer a si mesmo. O
clímax ocorre enquanto ele recoloca sua fé em Deus, e a história se conclui
com um pronunciamento da aprovação divina, bênção e restauração dos
bens materiais de Jó.
Lírico é uma classificação que inclui muitos tipos de poesia. Há o lírico
idílio, que é um poema narrativo ou descritivo e tem uma natureza pastoral.
Aqueles que creem que Salomão se disfarça como um pastor para ganhar a
mão da serva Sulamita classificam Cantares de Salomão nesta categoria.
Um outro tipo de lírico é a ode, que é especialmente difícil de definir; mas
esta pode ser diferenciada de outros tipos por uma grande elaboração e
ciência estrutural. Ela também é caracteriza-do pela notabilidade de
sentimentos e dignidade de estilo. Dois exemplos muito excelentes de ode
são achados na Canção de Débora em Juízes 5 e na Canção de Miriã e
Moisés em Êxodo 15. Sem dúvidas ambas essas foram recitadas de maneira
antífona. Um terceiro tipo de lírico existente é a elegia, que é usada
primordialmente em casos de luto.
Bons exemplos de elegia são encontrados na classe lírica que abunda em
Lamentações, Salmos 74,80,137 e 2 Samuel 1:19-27. As canções de classe
lírica abundam nos Salmos, onde os autores lidam com temas como
libertação, provisão, natureza, julgamento, confiança e consagração. Da
mesma forma, meditações e orações aparecem frequentemente na poesia
dos hebreus e são bem representadas em Salmos. [Nota 2]

O livro de Jó é um dos poemas dramáticos mais significativos de toda a


literatura. O tema elevado (o mistério do sofrimento humano) está
relacionado a tragédias que sobrevêm à riqueza, ao habitante temente a
Deus do norte da Arábia e ao esforço de seus amigos e dele próprio para
descobrir a razão de suas aflições. Aquele Jó foi um personagem histórico
que não foi meramente inventado para ensinar uma verdade suportada por
Ezequiel 14:14, 20 e Tiago 5:11. A ambientação do drama está claramente
em uma sociedade patriarcal; então, alguns concluem que ela deve ter
ocorrido no início do segundo milênio a.C., não imediatamente depois dos
dias de Abraão. Outros argumentam que tendo Jó vivido na corte da Arábia,
ele pode ter tido ou não contato com as instituições políticas e religiosas
mais formais de Israel e que pode ser datado mais tarde, talvez sendo
contemporâneo a Davi e Salomão. Caso afirmativo, o livro de Jó seria
contemporâneo a Provérbios, Eclesiastes e alguns dos salmos, e dataria da
era de ouro da sábia literatura dos hebreus.
Mostrando o livro uma ignorância dos hebreus ou da história dos hebreus
em geral e da lei mosaica em particular, pareceria que ele foi escrito em um
contexto não hebreu e antes de Israel ter sido estabelecida em Canaã. A
terra de Uz provavelmente era localizada ao norte da Arábia. O próprio Jó
provavelmente escreveu o livro, ou Eliú pode ter escrito, sendo ajudado
bem de perto por Jó. Em qualquer uma das hipóteses, alguém que observou
bem os diálogos deve os ter documentado.[Nota 3] O livro pode ser o mais
antigo do Antigo Testamento.
A forma do livro consiste em um prólogo, três ciclos de discursos dos
amigos de Jó[Nota 4]com as respostas do patriarca, uma série de quatro
discursos por um quarto observador, dois discursos de Deus e um epílogo.
Quando as cortinas se abrem para o drama, Jó aparece como um homem
próspero e de conduta e caráter reto. Então, rapidamente, uma série de
calamidades se abate sobre seus filhos e posses, e finalmente, até mesmo a
saúde de Jó é comprometida. A sua própria esposa diz para ele amaldiçoar a
Deus e morrer.

Os Três Ciclos dos Discursos


Mas Jó acreditava verdadeiramente em Deus e se recusou a fazer aquilo.
Quando seus três amigos, Elifaz, Bildade e Zofar lamentam com ele as suas
perdas ele, no entanto, amaldiçoa o dia que nasceu.
O primeiro ciclo de discursos ocupa os capítulos 3-14. Em essência, o
que estes “confortadores” dizem nesta seção, assim como em suas últimas
frases, é que o sofrimento é resultado de um pecado pessoal.
Eles terminam seu discurso com um apelo para que Jó se arrependa de
seu pecado, para que a prosperidade retorne. Elifaz apoia seus argumentos
em lições recebidas em um sonho ou visão; Bildade, em velhos provérbios e
Zofar, apela para a razão e a experiência. Em todas estas discussões, Jó
protesta sua inocência de qualquer grande delito (embora admita que é um
pecador) e eleva a questão fundamental do livro: “Por que Deus
constantemente traz sofrimento a mim? Por que Ele não perdoa os meus
pecados?” (6:11-21). Jó, como um homem de fé do Antigo Testamento,
desejava um “mediador” ou árbitro que “pudesse repousar sua mão sobre
nós” e trazer uma reconciliação entre Deus e ele (9:32-33). Os fiéis do
Novo Testamento se alegram em Jesus Cristo como o único mediador entre
Deus e a humanidade (1 Timóteo 2:5). Pela obra consumada na cruz, Ele
fez o perfeito sacrifício pelo pecado e, deste modo, separou Deus e a
humanidade.
No segundo ciclo de discursos (capítulos 15-21), a discussão cresce e fica
mais calorosa. Os “confortadores” lidam com o terrível sofrimento e o fim
do fraco e duramente reprovado, Jó. Triste e confuso por tudo o que ele
estava passando, Jó não perdeu sua fé. De fato, em 19:25-27, ele afirma
uma das mais sublimes declarações de fé de todo o Antigo Testamento:
“Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a
terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne
verei a Deus, vê-lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros o
contemplarão; e por isso os meus rins se consomem no meu interior.”
Embora Jó compartilhasse da mesma visão que seus amigos (e é por isso
que ele está tão estarrecido com seu próprio sofrimento), no capítulo 21 ele
argumenta que os maus muitas vezes passam suas vidas em prosperidade.
O terceiro ciclo de discursos (capítulos 22-31) repete muitos dos mesmos
argumentos dos dois primeiros ciclos. Os amigos de Jó continuam a insistir
em seu pecado, e Jó alega sua inocência e integridade. À medida que a
discussão parece terminar, sem que nenhum novo fundamento esteja sendo
colocado, um outro orador entra em cena. Eliú, em suas quatro declarações
(capítulos 32-37) insere um novo fundamento, dizendo que Deus ensina as
pessoas através da aflição, que Deus é um Deus justo, que enquanto os
maus parecem prosperar temporariamente, Deus quer que os homens e
mulheres sejam justos, e que Deus tem um propósito na aflição enfrentada
por aqueles que são devotos a Ele: mostrar Sua graça e amor que
disciplinam. Ele termina com uma observação de que os caminhos de Deus
são mais altos que o entendimento humano.
Eliú prepara o caminho para Deus falar. Nos capítulos 38-41, Deus
demonstra Seu próprio grande poder e o contrasta com a fragilidade
humana. Jó é forçado a parar de achar defeitos em Deus. Percebem-se, em
especial, as palavras de Deus em 40:8: “Porventura também tornarás tu vão
o meu juízo, ou tu me condenarás, para te justificares?” Finalmente, Jó tem
uma verdadeira visão de Deus (42:1-6). Talvez sua experiência foi um
pouco parecida com a de Isaías em Isaías 6. Quando uma pessoa vê Deus
como Ele realmente é, todo sentimento de superioridade moral e colocações
de bondade vão embora. Jó agora confessa seu pecado diante de Deus; e
Deus justifica o patriarca, repreende seus “amigos”, e restaura sua saúde e
prosperidade, dando a ele até mesmo uma nova família.

A Eterna Questão do Sofrimento


Para concluir, nós devemos talvez parar de perguntar por que Jó sofreu?
Pelo menos uma resposta parcial pode ser dada: para julgar o pecado, para
revelar a personalidade de Jó, para dar um motivo para o aprendizado de
outras pessoas, para levar embora toda falsa moral, e para levar Jó a confiar
totalmente em Deus. Mas por trás das provações de Jó, e de todos os
devotos dos dias de hoje, há algo mais sinistro do que estas sugestões
apontam. Comentaristas geralmente ignoram a inteira significância das
aparições de Satanás em 1:6-2:10. Ele fará o que puder para destruir a obra
de Deus e o testemunho e a efetividade dos fiéis neste mundo. Ele é o deus
deste mundo (2 Coríntios 4:4; João 12:31; 16:11), o príncipe do poder do ar
(Efésios 2:2), e especialmente o acusador do povo de Deus. Nesta geração,
ele aparentemente também tem acesso a Deus nesta capacidade. De fato, ele
não será proibido de apresentar suas acusações até o fim dos tempos
(Apocalipse 12:10).
Entretanto, os devotos de hoje têm um consolo maravilhoso, sempre que
qualquer carga contra eles é trazida ante o Pai; Cristo está lá, à direita do
Pai para interceder. Cristo não somente pleiteia indulgência, mas apresenta
o fato de que todos os nossos pecados foram levados por Sua morte e
ressurreição (Romanos 8:33-34).

Salmos

O Livro dos Salmos é uma coleção de 150 canções espirituais ou poemas,


muitos dos quais foram criados para a adoração no templo.
Ele tem sido chamado de “um inspirado hinário e livro de oração” e é
muitas vezes visto como um livro devocional para o fiel. Calvino disse que
era “uma anatomia das partes da alma” por causa de sua grande gama de
emoções. Certamente ele expressa a experiência espiritual de um indivíduo
e nos dá algo parecido com um manual de como orar e louvar melhor. Dos
tempos mais antigos, os salmos foram divididos em cinco livros (Salmos 1-
41; 42-72; 73-89; 90-106;107-150) que pensam ser correspondentes aos
cinco livros da Lei de Moisés. Embora muitos dos salmos na versão King
James sejam bem reconhecidos dentre os maiores poemas já escritos, e
muitos desses são muito amados por multidões de cristãos, as traduções
aparentes nas versões New American Standard, Nova Versão Internacional
e New King James têm algumas passagens magníficas e são bem aceitas.
A única indicação real de autoria de certos salmos são dadas nos títulos
(datados aos primeiros tempos), mas nem todos os estudiosos estão muito
certos sobre esta evidência. Se aceita, ela conclui que Davi escreveu setenta
e três salmos; Asafe, doze; os descendentes de Korá, dez; Salomão, um ou
dois; Moisés, um; Hemã, um; Etan, um. Em alguns casos pelo menos,
referências entre os salmos suportam a autoria através dos títulos;
entretanto, alguns dos salmos sem títulos parecem ser davídicos, por suas
características. Além da autoria, os títulos dos salmos muitas vezes têm
notas musicais que aparentemente intencionam para que certos salmos
sejam cantados com o acompanhamento de instrumentos de cordas,
instrumentos de sopro, algum outro específico (por exemplo, o alaúde) ou
ainda, alguma melodia específica.

Um Livro de Louvor
Por causa da limitação de espaço, que torna impossível o comentário
sobre cada um dos 150 capítulos de Salmos, parece que a melhor forma de
descrever o livro é notar algumas coisas dos tópicos maiores ou temas
evidentes nele. O louvor é um tema preeminente. De fato, o título hebreu do
livro é “Canções de Louvor”. Mais de vinte salmos têm “louvor” como sua
palavra-chave, e em muitos outros, há explosões de louvor. Note
especialmente os salmos 47, 66, 67, 96, 98, 100, 103, 107, 113, 117, 118,
134-136, 138, 145-150. Contêm um rico vocabulário e grande variedade de
poetas enaltecendo a bondade e glória de Deus.
Se devemos pensar em Salmos como o livro devocional daquele que é
devoto a Deus, então ele deve expressar a alma daquele que é sedento de
Deus. Este tema aparece especialmente nos salmos 42, 43 e 63. (Note
particularmente o 42:1). Claro, alguém virá especialmente para encontrar
Deus e aprender mais sobre Ele em Sua Palavra. Os dois maiores salmos da
Palavra são o 19 e o 119. Este último é o discurso mais extenso da Palavra
de Deus nas Escrituras. Deus pode ter sido visto de fato. Salmos 19, 29 e
104 especialmente, são centrados neste tema. Quando alguém encontra a
Deus, ele ou ela se alegra na comunhão amorosa com Deus, o Pastor e
Protetor (23, 91), encontra uma grande bênção em estar na casa de Deus
(84,122) e encontra Deus como sendo um grande refúgio e fortaleza (46,
61, 62).
Conforme alguém gasta tempo na Palavra e aproveita a presença de Deus
ou sofre uma quebra de comunhão com Deus, esse alguém se torna
grandemente impressionado com um pecado pessoal e cai em uma profunda
contrição pelo pecado cometido. Estão entre os grandes salmos de
arrependimento o 6, 25, 32, 38-40, 51, 102, 130, 143. Deste grupo, o salmo
51 é o maior.
À medida que os fiéis aprendem a andar com Deus e o servirem mais
profundamente, eles sofrerão perseguição. Muitos salmos (normalmente
classificados como salmos imprecatórios) referem-se tanto a inimigos
pessoais ou inimigos do povo de Deus e rogam maldições contra eles. Não
há dificuldade básica em reconciliar esses pronunciamentos de ira com o
pensamento cristão. A única forma que um justo do Antigo Testamento teve
de saber a tangível verdade da Palavra de Deus, Sua santidade e Seu
soberano poder estava em meio ao julgamento que caía sobre os maus e a
libertação garantida aos seguidores de Deus. Se os inimigos da verdade e os
inimigos de Israel constantemente triunfassem, não havia dúvidas da
validade de servir a Deus. Nesta categoria, note Salmos 7, 35, 52, 55, 56,
58, 59, 68, 69, 79, 83, 109, 137, 140.
Alguns desses salmos foram usados na adoração coletiva. Um grupo
especial desses está em 120-134, os chamados salmos ascendentes.
Estes eram aparentemente recitados ou cantados pelos peregrinos no
caminho para Jerusalém para a comemoração das festas anuais.

Profetizando a vinda do Messias


Um último e maior grupo de salmos falam do futuro e predizem aspectos
tanto da primeira quanto da segunda vinda de Cristo. Estes são chamados de
salmos messiânicos. Alguns se referem especificamente ao Novo
Testamento e podem, então, ser certamente identificados como messiânicos.
Outros aparentemente têm uma intenção messiânica. Temos exemplos
excelentes de salmos messiânicos no Salmo 2, que retrata o Cristo rejeitado
e vindo novamente para julgar o injusto e estabilizar Seu reino (veja Mateus
3:17, Atos 13:33; Hebreus 1:5; 5:5; 7:28; 2 Pedro 1:17); Salmo 8, que
retrata Cristo vindo em humilhação, um pouco mais baixo que os anjos,
para provar a morte por cada ser humano (veja Hebreus 2:6-9; Mateus
21:15, 16); Salmo 16:10, que prevê a ressurreição de Cristo (veja Atos
2:25-28); Salmo 22:1, que Jesus citou enquanto estava na cruz (Mateus
27:46); Salmo 45, que fala da futura glória de Cristo (veja Hebreus 1:8, 9);
Salmo 69:4, 9, que faz referência aos aspectos da vida terrena de Cristo
(veja João 15:25; João 2:17); Salmo 110:1, que se refere ao futuro governo
de Cristo (veja Mateus 22:44; Marcos 12:36; Lucas 20:42, 43; Atos 2:34;
Hebreus 1:13); e Salmo 118:22, 23, que profetiza acerca tanto da rejeição
quanto do triunfo final de Cristo (veja Mateus 21:42). Acredita-se que os
salmos 40, 41, 45, 68, 72, 102, 110 e 132 também sejam messiânicos.

Provérbios

O livro de Provérbios é uma biblioteca de sabedoria que dá aos fiéis


princípios morais e éticos para esta vida e os lembra da recompensa na vida
que há de vir. A palavra hebraica para provérbio é uma tradução que
significa uma máxima na vida presente ou uma parábola que é um relato de
princípio. Mais que uma coleção de sabedoria humana, os Provérbios
contêm sabedoria divina com a intenção de ordenar a nossa vida diária e
nos ensinar o quão práticas são as direções de Deus.
Claro, estas instruções orientadoras de conduta não foram criadas para
prover um meio pelo qual os indivíduos poderiam fazer boas obras que
acumulariam méritos e levariam à salvação. O padrão, em ambos Antigo e
Novo Testamentos, é que a salvação vem pela fé em Deus e em Sua
graciosa provisão por nossa salvação.
Aparentemente, Salomão escreveu a maioria da coleção de Provérbios:
1:1-9:18, de acordo com 1:1; 10:1-22:16, de acordo com 10:1; 25:1-29:27,
de acordo com 25:1, embora este último tenha sido selecionado da coleção
de Salomão na livraria real pelo comitê do rei Ezequias. De acordo com 1
Reis 4:32, Salomão escreveu/falou 3000 provérbios e 1005 canções. Os
provérbios de sabedoria (22:17-24:34) foram pensados para serem
provérbios selecionados pelo próprio Salomão de uma coleção que existia
em seus dias. Não se sabe quem foram Agur e Lemuel, compositores dos
capítulos 30 e 31.
A primeira seção de Provérbios (1:1-9:18) pode ser descrita como um
livro de sabedoria. Nele, um pai dá instruções a seu filho o que o torna um
livro de admoestação à juventude. Logo de início, é importante reconhecer
que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria e do conhecimento (1:7;
9:10). A pessoa sábia, então, é aquela que anda nos caminhos retos de Deus
e recebe bênçãos por tal conduta sábia. A sabedoria e instrução inculcadas
nesta seção esclarecem alertas contra a violência, dão conselhos práticos
sobre relacionamentos com o seu vizinho, admoesta a fidelidade no
casamento e nos alerta contra o adultério, descreve a tolice da preguiça e
nos leva à diligência, condena o mal do criador de caso, e nos sugerem atos
que promovem harmonia na sociedade.
A segunda seção de Provérbios (10:1-22:16) é uma coleção de cerca de
375 provérbios curtos (cada verso contém um provérbio completo) quase
que exclusivamente disposto em dísticos antitéticos. O tom, desta seção é
mais feliz do que a da anterior; nesta, a virtude está uniformemente
recompensada. Pelo fato de existirem tantos provérbios individuais, fica
difícil de classificá-los. Além disso, a descrição é complicada porque após
um provérbio ser dado, ele é frequentemente repetido em outros lugares,
com outras variações. Falando geralmente, esses provérbios contrastam
justiça e maldade, bondade e perversidade. O mau uso da língua acontece
no compartilhar da crítica.
As declarações do sábio (22:17-24:34) são como a primeira seção
endereçada ao “meu filho”. Novamente o assunto muda frequentemente e
os tópicos são factíveis por si só. Admoestações dizem respeito a tais
assuntos como: ser um convidado, ter disciplina paterna, inveja, sabedoria e
preguiça. Os Provérbios de Salomão escolhidos pelo comitê de Ezequias
(25-29) lidam com a sábia conduta ante o rei, na fala, ao lidar com os
inimigos; e eles condenam o tolo, o preguiçoso, o mentiroso, o contencioso
e outros tipos de indivíduos. Ponto auge dos últimos dois capítulos, e
provavelmente a mais conhecida passagem em Provérbios, é o poema em
honra à mulher virtuosa em 31:1-31. Pelos padrões indicados lá, uma
mulher devota pode avaliar sua vida.

Eclesiastes
Em muitos aspectos, o livro de Eclesiastes parece estar fora da harmonia
com o resto do Antigo Testamento. Aparentemente, ele parece glorificar os
valores humanos; parece ter mais um ponto de vista material do que
espiritual; parece ter um pequeno lugar para Deus. Uma das frases-chave é
“debaixo do sol” (que aparece vinte e nove vezes); então, alguns chamam
Eclesiastes de “o livro do homem natural”, pois ele descreve a vida na terra
longe de uma perspectiva divina. Mas tal vida é declarada como sendo
“vaidade” (a palavra aparece trinta e sete vezes). Então, o propósito real do
livro parece ser demonstrar a inutilidade de viver uma vida de mero
aproveitamento humano; a vida completa é aquela que dá o reconhecimento
próprio a Deus e que é vivida para Seu serviço. Se alguém garante que
Salomão é o autor [Nota 5], este livro provavelmente não é meramente uma
discussão teórica, mas sim uma autobiografia de um grande rei à medida
que se aparta de Deus e tenta vários métodos de assegurar a felicidade.
O rei achou que esta grande sabedoria, boa como é, não poderia trazer a
felicidade verdadeira (1:12-18), nem o prazer e a riqueza (2:1-11; 5:8-6:12),
nem o aproveitamento que vem com o trabalho bem feito (2:17-3:15), nem
a popularidade que é passageira (4:13-16), nem uma grande família ou uma
vida longa (6:1-6). O rei estava muito frustrado como se ele reconhecesse
que a maldade e a opressão prevalecessem na Terra (3:16-4:6); que não
parecia haver desvantagem em ser justo (7:13-21); que a vida é cheia de
incertezas sobre o que pode ser absolutamente sabido e que a morte é uma
confusão (8:1-9:18).
O narrador não desiste da vida natural do homem por completo. Ele
pontua o valor da sabedoria e dá sugestões de como viver uma “vida
melhor” na terra. Mas preeminentemente Ele busca ir a um nível mais alto.
Por exemplo, em 2:24-26; 5:18-20; 8:15 e 9:7-9, Deus é conhecido como a
fonte de todas as coisas boas que podem ser aproveitadas na vida.
Finalmente, afirmando a futilidade de uma vida longe de Deus, o narrador
continua e chega a uma grande conclusão: reverenciar a Deus, mantendo
Seus preceitos, e viver à luz da eternidade. E isto deve ser guardado como o
tema e propósito de todo o livro (3:14, 5:7, 7:18, 8:12, 13). Quando o ser
humano vive desta maneira, toda a vida começa a se encaixar em um
padrão significativo e recebe um novo significado. Um relacionamento
próprio é estabelecido entre Cristo e a cultura, e o indivíduo evitará
soluções pagãs para a questão da felicidade.[Nota 6]
Cantares de Salomão

A construção natural do primeiro verso de Cantares de Salomão é aquela


que mais pertence a Salomão mais do que ser sobre ou a respeito de
Salomão. Então, é afirmado que o livro é de autoria de Salomão.
Muitas evidências internas são organizadas por estudiosos para apoiarem
a afirmação do primeiro verso. O livro é um poema lírico em forma de
diálogo, descrevendo o amor do rei Salomão pela jovem Sulamita (uma
moça de Suném), que ele tinha conhecido em algum lugar em Samaria. O
rei foi disfarçado à vinha da família dela, onde ela trabalhava muito. Lá, ele
ganhou o coração dela e prometeu voltar por ela. Ele realmente fez isso e
fez dela sua noiva.
Há uma considerável discussão a respeito de como este livro deve ser
interpretado. Alguns o veem literalmente e alegam que ele ensina a
dignidade do amor humano. Outros o interpretam alegoricamente – os
judeus dizem que ele representa o amor de Deus por Israel; os cristãos, que
ele representa o amor de Cristo pela Igreja – e não o veem com senso
histórico. Ainda que outros o interpretem tipicamente, aceitando a natureza
histórica dos eventos, encontram nele uma relação típica do amor de Deus
por Seu povo, antecipando o amor mútuo de Cristo e Sua Igreja.
Embora seja difícil analisar este livro, o que segue dará alguma ideia a
respeito do conteúdo. Os amantes cantam sua afeição mútua em 1:1-2:7.
Depois, a Sulamita fala a respeito do seu amor e reconta seu primeiro sonho
com ele (2:8-3:5). À medida que o drama cresce, Salomão vem em toda sua
glória de Jerusalém para levar sua noiva de volta ao palácio e mais uma vez
elogia sua beleza (3:6-5:1). Alguns aplicam esta vinda ao retorno do
Messias em glória por Israel; outros, à vinda de Cristo pela Sua Igreja. A
noiva tem um sonho de ser separada de seu noivo; isto somente aumenta a
realização dela pelo amor dele (5:2-6:3). O livro termina com a noiva e o
noivo expressando seu amor ardente um pelo outro (6:4-8:14).

Lamentações
Lamentações é um livro de luto pela destruição de Jerusalém. Embora o
livro não inclua uma reivindicação por autoridade, a tradição diz que
Jeremias o escreveu logo após a destruição da cidade (talvez em 585 a.C.).
Então, ele se tornou conhecido como o “profeta que chora”. A forma
poética do livro já foi indicada.
O lamento começa com Jerusalém representada como uma viúva privada
de seu filho, sentada e chorando, com nenhum conforto. Ela reconhece que
Deus está somente punindo-a por seu pecado, mas faz um apelo ao Senhor
por defesa contra seus inimigos (capítulo 1).
O capítulo 2 dá uma descrição do cerco e da ruína de Jerusalém e do
escárnio e do sarcasmo dos caminhantes, enfatizando Deus como o
infligidor desses castigos. No capítulo 3 o profeta se identifica com a
aflição do seu povo, mas ele também derrama seu coração para Deus em fé
e esperança. (Os versos 22 e 23 inspiraram o hino “Grande é Tua
Fidelidade”.) A última parte do capítulo contém primeiro um apelo ao
arrependimento dos judeus, e depois um apelo a Deus para punir os
opressores de Israel. A quarta lamentação descreve os horrores do cerco,
fazendo alusão à fome, ao canibalismo, e à carnificina e justifica as ações
de Deus em trazer julgamento. O livro termina com um longo e sério apelo
a Deus com as nações arrependidas se colocando em Sua misericórdia.
Notas do Capítulo

Nota 1 - F. Delitzsch, Commentary on the Psalms [Comentário Sobre Salmos] (Grand Rapids:
Eerdmans, 1949), p. 28. [Voltar]
Nota 2 - Esta discussão sobre Hebreus é amplamente reproduzida em Effective Bible Studies
[Estudos Bíblicos Efetivos] de Howard F. Vos (Grand Rapids: Zondervan, 1956), páginas
90-94. [Voltar]
Nota 3 - Para um resumo útil sobre as questões de autoria, data e lugar de escrita, veja The Book of
Job [O Livro de Jó], de Gleason L. Archer (Grand Rapids: Baker Book House, 1982),
páginas 12-16. [Voltar]
Nota 4 - Deve-se notar que o livro de Jó não é sistemático, nem uma resposta completa das questões
sobre porque o justo sofre. Esta breve discussão do livro não faz qualquer tentativa de ser
completa neste assunto. [Voltar]
Nota 5 - Eclesiastes 1:1; 1:12 indica que Salomão é o autor, e a tradução dos judeus e dos cristãos
suportavam tradicionalmente esta visão até o surgimento de críticas nos séculos recentes.
Por uma discussão bem detalhada do problema e a data de sua autoria, veja A Survey of
Old Testament Introduction [Uma Análise da Introdução do Antigo Testamento], de
Gleason Archer, capítulo 35. [Voltar]
Nota 6 - Uma discussão renovadora e satisfatória da mensagem de Eclesiastes aparece em
Ecclesiastes: Total Life [Eclesiastes: Vida Total], de Walter C. Kaiser (Chicago: Moody,
1979). [Voltar]
PARTE

IV

Entre os Testamentos
CAPÍTULO

16

Quando Não Houve Palavras do Senhor: Os


Quatrocentos Anos de Silêncio

O Antigo Testamento termina com os persas no controle da Palestina e


todas as outras terras habitadas pelos judeus. O Novo Testamento
começa com os Romanos no comando da Palestina e do resto da margem do
Mediterrâneo. O Império Persa Sassânida governava as regiões orientais
onde alguns descendentes dos exilados judeus permaneciam. O período
entre o Antigo e o Novo Testamentos é muitas vezes chamado de
“quatrocentos anos de silêncio”- apropriadamente denominado pois, de
acordo com a revelação bíblica, nenhum escritor inspirado usou a caneta
entre os dias de Malaquias (435 a.C.) e a fundação da Igreja cristã. Mas
para os historiadores, estes não foram séculos silenciosos, e o estudioso do
Novo Testamento precisa saber o que aconteceu para entender melhor a
abertura da história do Novo Testamento.

Preservação no Cativeiro

O fato dos judeus terem sobrevivido como povo separado durante o


cativeiro da Babilônia não é nada menos que um milagre. Povo escravizado
arrancado ou retirado de sua terra natal, eles poderiam ter pensado que o
seu Deus tinha os abandonado. Tentados pela atração da brilhante
civilização da Babilônia, eles poderiam ter facilmente sucumbido a um
processo de assimilação. Militando contra tais assimilações, no entanto, foi,
primeiro, o fato de que a maior parte dos judeus estava em grupos coesos.
Segundo, muitos sacerdotes e levitas tinham sido deportados de Canaã. Eles
conheciam a lei e grande parte deles lia e escrevia. Sem dúvidas, eles
reuniam seu povo com uma mensagem profética de esperança;
provavelmente eles também os lembravam que eles tinham ido para o
cativeiro como uma punição pela idolatria e que eles agora não deveriam
sucumbir à adoração de deuses pagãos santifica-dos em seus templos
imponentes. Além disso, aparentemente a maioria dos judeus que foram
levados ao cativeiro vieram de classes mais altas, e eles eram mais
conservadores com as instituições religiosas de Israel e com as declarações
de Deus do que as massas nas áreas rurais.
Uma importante nova instituição que evidentemente se originou na
Babilônia durante o cativeiro foi a sinagoga (derivado do significado grego
“juntar ou reunir”). Inicialmente referente à reunião por qualquer propósito,
mas especialmente para adoração, ela também veio a incluir o prédio no
qual tais reuniões aconteciam. A origem da sinagoga parece especialmente
ter sido ligada com o evento mencionado em Ezequiel 14:1: “Agora alguns
dos anciãos de Israel vieram a mim e se sentaram diante de mim” (cf.
Ezequiel 20:1), aparentemente por instrução e inspiração. Como se
desenvolveu, a sinagoga tinha uma função tripla: adoração, educação e
algum papel governamental na comunidade. Desta forma, ela provia um
elemento coeso e imortal para o povo aliançado. O próprio judaísmo
tornou-se menos preso a instituições físicas e rituais e mais espiritual e
abstrato.

Proteção Persa

Como é deixado claro pela discussão de Esdras, Neemias e Ester


anteriormente neste livro, a restauração dos judeus para a Palestina depois
do cativeiro babilônio ocorreu debaixo da proteção persa. Ciro, o Grande,
autorizou o retorno do primeiro contingente de judeus durante o primeiro
ano de seu governo na Babilônia (539-38 a.C.). Outros grupos retornaram
mais tarde, mas evidentemente uma fração daqueles que viviam no exílio
foram levados de volta para a Palestina. Aqueles exilados, que foram os
mais ricos em recursos e as classes altas mais bem educadas, pela força do
trabalho árduo e prosperidade debaixo de uma bênção divina logo
aproveitaram para viverem na Mesopotâmia, padrões superiores daqueles
que eles conheciam na Palestina. Depois de duas gerações de sucesso
material na Mesopotâmia, eles não tinham o desejo de se submeterem às
dificuldades de se recolocarem em sua terra natal. Mas é claro que muitos
voltaram, e eles terminaram o templo nos dias de Dario I (515 a.C.) e os
muros de Jerusalém durante o reinado do rei Artaxerxes I (444 a.C.).
À época da morte de Artaxerxes em 424 a.C., o governo de Neemias e o
ministério profético de Malaquias quase que certamente terminaram a
história e o Antigo Testamento tinha que chegar ao fim. Judá era uma
pequena unidade na quinta satrapia ou província do Império Persa, capaz de
desenvolver suas características únicas em uma segurança relativa. No
geral, os persas parecem ter tido um interesse maior na prosperidade
relacionada aos seus assuntos do que outros governadores do Oriente
Próximo, e os judeus parecem ter se aproveitado de uma considerável
administração durante o século seguinte.
Embora os judeus tenham aprimorado sua posição em Judá, eles nunca
foram capazes de dominar toda a Palestina. Na parte central do país, os
samaritanos ali permaneceram. Este povo era uma mistura de judeus e
colonos gentios que os assírios tinham trazido após terem conquistado o
Reino do Norte (723-22 a.C.; 2 Reis 17:24-29). Eles não eram somente
misturados racialmente, mas também combinavam elementos do paganismo
com as crenças e práticas dos hebreus. Durante o cativeiro, eles foram
capazes de impor uma dominação política e econômica justa em Judá.
Naturalmente eles sentiam-se mal por um retorno dos judeus para a
Babilônia, e a antipatia entre judeus e samaritanos que foi desenvolvida
durante a restauração de Judá (veja especialmente Neemias) continuou pelo
período do Novo Testamento (veja João 4). Os samaritanos construíram seu
próprio templo no Monte Gerizim, cerca de trinta e uma milhas a norte de
Jerusalém.
O espaço não permite uma discussão a respeito de todas as colônias dos
hebreus espalhadas pelo Egito e pela Pérsia durante o período entre os
testamentos e não é importante para esta análise tentar fazer isto.
Mas um grupo é interessante. Localizado na ilha de Elefantina, no rio
Nilo em Assuão, estes judeus construíram um templo que os egípcios locais
levaram ao chão, e os judeus então buscaram ajuda do governador persa de
Judá e dos samaritanos (em uma carta datada de 407 a.C.) ao reconstruí-lo.
Aqueles judeus não tiveram somente seu próprio templo, mas eles também
pareciam adorar outras entidades que não Yahweh. É possível, entretanto,
que eles meramente adorassem aspectos da natureza de Deus nos títulos que
eles empregavam para divindade. Não é claro quando esta colônia se
estabeleceu no Egito, mas uma teoria é que Assurbanípal os levou do Reino
do Norte depois da destruição assíria da Samaria e os deixou como fortaleza
depois da conquista do Egito em 667 a.C.[Nota 1] Um estudo desta colônia é
interessante do ponto de vista de uma possível mistura de elementos pagãos
na adoração onde o espírito separatista de um Esdra ou Neemias não estava
presente.

Alexandre, o Grande
As conquistas de Alexandre
Desde que Dario I da Pérsia cruzou o Helesponto e invadiu a Grécia em
512 a.C., gregos e persas estiveram em guerra, ou pelo menos examinando
seus ombros para verem o que o outro lado estava preparando. Finalmente
Filipe I da Macedônia planejou uma guerra panelênica contra os persas em
um esforço de removê-los da esfera grega de operações de uma vez por
todas. Quando Filipe foi atingido por uma adaga mortal em 336, ele foi
incapaz de realizar o sonho de sua vida e seu manto caiu sobre seu jovem
filho, Alexandre. Depois de se estabelecer como cabeça do Estado,
Alexandre começou um ataque que há muito fora prevenido na Pérsia em
334 a.C. O tamanho desse exército foi estimado em 48.000 homens com
16.000 outras pessoas e cerca de 6.000 cavalos.[Nota 2] Mas Alexandre tinha
mais do que interesses militares.
Educado aos pés de Aristóteles, ele estava impressionado com a cultura
superior de Atenas e buscou internacionalizar tal cultura. Tornando-se algo
como um apóstolo do helenismo, ele levou em seu exército historiadores,
cientistas e geógrafos.
Alexandre conquistou o império persa com uma rapidez muito grande.
Cruzando o Helesponto em 334, ele logo venceu uma batalha próxima ao
Rio Granico, o que abriu toda a Ásia Menor para ele. No ano seguinte ele
derrotou os persas em Isso, no leste da Ásia Menor.
Durante 332, após a persistente resistência em Tiro e Gaza, ele assegurou
o fim a leste do Mediterrâneo e continuou em 331 para tomar o Egito e
então conseguir uma única vitória sobre Dario III em Gaugamela, norte da
Mesopotâmia. Antes disso, Dario tinha oferecido dar a Alexandre a parte
ocidental do império, mas o conquistador recusou.
Não fica totalmente claro o que Alexandre tinha em mente quando atacou
a Pérsia, além do desejo de remover os persas do acesso ao mundo grego;
mas ele logo descobriu que poderia tomar todo o império persa se
perseverasse. Durante o ano depois de Gaugamela, Alexandre perseguiu
Dario em direção ao leste, finalmente encontrando seu cadáver depois dos
atentados que o assassinaram.
Não é um grande mistério como Alexandre foi capaz de tomar este, que
era o maior império da parte oriental da Ásia nos tempos antigos.
Ele era um comandante de liderança superior, com armas um pouco
superiores e armadura. A moral de suas forças era alta. O próprio império
persa estava em uma condição moribunda, mas mesmo em tempos bons os
persas enfrentavam sérios problemas em manter seu controle. Eles eram
talvez somente um sexto da população de seu império, o que consistia em
uma grande variedade de pessoas. O que os levou ao poder em primeiro
lugar foi o fato de que o espírito independente do povo do Oriente Próximo
foi quebrado por gerações de imperialismo, e os persas precisavam somente
derrotar as minorias comuns, cujos exércitos consistiam em grandes
mercenários. Agora era vez dos macedônios, com seu feroz espírito
nacionalista, destronarem uma minoria persa.
Assim que Alexandre, o Grande, cumpriu seu compromisso na Palestina
em 332, Jerusalém se rendeu a ele sem nenhuma batalha, e as cidades
afastadas aparentemente também o receberam com doçura.
Josefo conta um relato dramático de como o sumo sacerdote, Jadua, saiu
em procissão com os sacerdotes e muitos populares para receber Alexandre.
O conquistador então ofereceu, como reportado, sacrifício no templo e
prometeu permitir aos judeus em Judá nas províncias a leste praticarem sua
religião sem interferência.[Nota 3] Embora esse relato seja frequentemente
considerado como não sendo histórico, pelo menos ele reflete a boa relação
entre Alexandre e os judeus.

O Legado de Alexandre
Muitos veem Alexandre somente como um grande conquistador.
Ele realmente o foi, e se sua única realização fosse destruir o Império
Persa em quatro ou cinco anos, ele seria lembrado como “o grande”
somente por esta razão. Mas o legado de Alexandre à civilização do
mundo foi muito mais significativo que isto. Ele universalizou a cultura
helênica de Atenas e a língua desta cultura, contribuindo para o crescimento
do koiné, grego comum dos séculos subsequentes. Quando os romanos mais
tarde se incluíram nesta cultura helenística, todo o mundo mediterrâneo
tinha uma só cultura e uma única língua. Então, durante o primeiro século
cristão, Paulo e os outros que buscaram alcançar o vale Mediterrâneo com o
evangelho de Cristo não tiveram que aprender novas línguas ou passar por
estágios de choque cultural.
Eles sabiam instintivamente como evangelizar aquele mundo. A abertura
e tolerância de Alexandre para com as culturas nativas também
contribuíram para a absorção da cultura grega pela cultura oriental. Então,
um internacionalismo e cosmopolitismo foram desenvolvidos no mundo
helenístico que foi talvez até maior durante o período romano.
A fundação das cidades gregas em pontos estratégicos por Alexandre foi
também destinada a mudar seu mundo. Suas cidades serviam como centros
de administração política, controle militar (porque eles eram centros de
guarnição), e difusão cultural, pois esses eram locais de onde um evangelho
(“boas-novas”) do helenismo poderia se expandir para os locais ao redor,
supostamente uma zona rural “não iluminada”.
O uso das fundações da cidade para pressionar toda uma região e criar
uma cultura comum para aquela região foi tomada pelos sucessores de
Alexandre no leste e por Roma, séculos mais tarde. Usando esta
contribuição de Alexandre, o apóstolo Paulo desenvolveu uma estratégia
urbana para o avanço do evangelho da salvação. Sua estadia de dezoito
meses em Corinto e seu cargo por dois ou três anos em Éfeso são casos
apropriados. Na verdade, os sucessores de Alexandre encontraram mais
cidades do que ele; ele viveu o suficiente para estabilizar somente uma
dezena delas. A rainha destas fundações era a Alexandria do Egito, que
dominava a parte oriental do mundo Mediterrâneo politica, cultural e
economicamente por uns 650 anos. Alexandre também foi significativo por
seu tratamento favorável aos judeus, uma prática seguida por seus
sucessores no Egito e Síria.

Sucessores de Alexandre:
Ptolomeus e Selêucidas
Ptolomeus
Depois que Alexandre morreu na Babilônia em 323 a.C., membros de seu
círculo interno lutaram para tomar seu império. Logo ficou claro que
nenhum deles poderia sucedê-lo fazendo isto. Detalhes desta concorrência
não são importantes para nós agora. É suficiente dizer que, do grupo, os
selêucidas que controlavam a Síria e pontos do Oriente, e os ptolomeus que
dominaram o Egito, lutaram muito pelo controle da região divisora da
Palestina. De 323 a 301 a.C., esta ponte terrestre estratégica passava por
trás e adiante deles , mas finalmente Ptolomeu ganhou o controle em 301
a.C. e seus descendentes o mantiveram por um século.
Embora a história do período não esteja bem documentada,
aparentemente os ptolomeus eram geralmente amigáveis com os judeus e
permitiam a eles uma considerável liberdade religiosa e cultural. Uma
grande comunidade de judeus se reuniu na Alexandria e aquelas pessoas
gradualmente esqueceram dos seus hebreus. Por ter se tornado a sua língua-
mãe, eles começaram a traduzir o Antigo Testamento para o grego. Esta
versão, chamada de Septuaginta, gradualmente começou a tomar forma
entre 250 e 150 a.C. e foi destinada a servir como a Bíblia da Igreja
primitiva. No entanto, era mais do que a língua dos gregos pulverizada nos
judeus. Alguns deles também levaram para os padrões de pensamento
helenístico e viraram-se contra os aspectos da sua fé sobrenatural. Claro que
o impacto cultural do helenismo causou uma invasão entre os judeus da
Palestina assim como aqueles do Egito.

Selêucidas
Quando Ptolomeu IV do Egito morreu em 203 a.C., a terra estava
despedaçada por causa da rebelião e intranquilidade. A acensão de
Ptolomeu V ao trono, enquanto um jovem menino, também não ajudou
muito. Antíoco III da Síria tomou vantagem da situação e conseguiu
vitórias importantes contra as forças egípcias em Gaza em 200 e Banias em
198 a.C. Como esta última, a Palestina ficou sobre o controle dos sírios e
selêucidas. Quando Antíoco aparentemente veio para Jerusalém, os
habitantes deram a ele cordiais boas-vindas, aparentemente esperando
explorar este novo relacionamento para tomar sua vantagem.
No entanto, desenvolvimentos no Oriente estavam destinados a
complicar e até mesmo destruir este novo relacionamento. Os romanos
tinham vencido Cartago na Segunda Guerra Púnica; e depois da batalha
final em Zama (202 a.C.), Aníbal, o famoso general cartaginês, escapou
para a corte de Antíoco. Lá ele buscou provocar confusão para Roma e
persuadiu Antíoco a invadir a Grécia. As forças romanas repeliram o
avanço de Antíoco, o mandaram de volta para a Ásia Menor e o derrotaram
decisivamente na batalha da Magnésia em 190 a.C. Esta derrota custou-lhe
muito território na Ásia Menor, a rendição de sua frota de guerra e uma
grande indenização. Como parte da garantia de pagamento, o filho mais
novo de Antíoco, o futuro Antíoco IV, foi leva-do para Roma como refém.
Durante seus doze anos ele ganhou grande respeito pelo poder romano e
pelos caminhos romanos (ou seja, helenístico). Uma coleção de fundos para
pagar indenizações a Roma dependia inteiramente dos judeus, junto com
outros povos do reino dos selêucidas. E, como soberanos, os reis selêucidas
agora reservavam-se ao direito de indicar os sumos sacerdotes dos judeus e
através deles, manter a soberania selêucida sobre o povo deles. Ambas
ações foram destinadas a criar um sério atrito entre os judeus e a monarquia
síria.
Entretanto, este atrito não acabaria em uma revolta dos judeus, se estes
tivessem permanecido unidos. A verdade é que eles não permaneceram, e as
divisões não somente davam uma oportunidade para os selêucidas
explorarem as diferenças, mas também pareciam requerer que eles tomaram
a ação para manter a ordem. Quando os selêucidas ocuparam a Palestina,
eles inicialmente sustentaram os costumes judaicos e eximiram o templo
das taxas. Onias III, um judeu ortodoxo, serviu como sumo sacerdote. Nesta
época, Antíoco IV (175-163 a.C.) chegou ao trono selêucida. No entanto,
muitos judeus se tornaram tão helenizados, que queriam uma mudança no
sistema religioso. Aparentemente, alguns acusaram Onias de ter tendências
ptolemaicas e seu irmão Josué pagou um grande suborno pela nomeação de
sumo sacerdote e o direito de construir um ginásio em Jerusalém (2
Macabeus 4:8-10). [Nota 4] Com o nome grego de Jasão, ele continuou para
construir o ginásio, para introduzir competições atléticas, onde os
praticantes ficavam nus, e para encorajar outras ações totalmente
repugnantes aos judeus ortodoxos. Os ortodoxos se organizaram com o
nome de hasídico, um movimento do qual eventualmente surgiram os
fariseus.
Depois de três anos no ofício (175-172 a.C.), Jasão foi deposto por um
aliado próximo, Menelaus, que ofereceu uma quantia mais alta que ele no
jogo do suborno (2 Macabeus 4:23-26), e Jasão foi para a Transjordânia.
Menelaus provou ter um pensamento ainda mais helenístico que Jasão, e
também ter menos escrúpulos que ele. Ele ajudou a si mesmo, ao usar o
patrimônio do templo para pagar suas dívidas a Antíoco. Jasão esperou
impacientemente na Transjordânia por uma chance de reaver sua posição
perdida. Finalmente, em 168 a.C., quando Antíoco estava ocupado com
uma campanha militar no Egito, Jasão organizou uma tropa e atacou
Jerusalém. A desordem que se seguiu eram confrontos primários entre
aqueles que eram leais a Jasão e Menelaus e entre as facções favoráveis ao
Egito e aquelas favoráveis a Síria, mas Antíoco escolheu encará-los como
sendo uma rebelião aberta contra seu governo. Ele mandou uma tropa para
Jerusalém que derrubou os muros, destruiu muitas casas, assassinaram
inúmeros habitantes e construíram uma cidadela fortificada para uma
guarnição militar síria.
Então, em 167 a.C., percebendo que a oposição dos judeus contra ele era,
essencialmente, uma situação religiosa, Antíoco decidiu destruir o
judaísmo. Ele proibiu a circuncisão e o sábado, e a posse de uma cópia da
Lei, acarretava uma punição de morte. O templo foi dedicado ao Olímpo
Zeus, e foi profanado com o sacrifício de um porco no altar.
A adoração de deuses pagãos se tornou frequente.

A Revolta dos Macabeus

A resposta para estas medidas severas era previsível. Alguns capitularam;


alguns ofereceram uma resistência passiva; e alguns decidiram lutar pela
sua fé. A faísca que colocou fogo na revolta foi acesa na vila de Modin,
oeste de Jerusalém. Lá, um sacerdote chamado Matatias vivia com seus
cinco filhos. Quando um oficial real veio para a cidade para impor o decreto
que requeria que os judeus fizessem sacrifícios pagãos, Matatias matou um
judeu que estava prestes a fazer isto, assim como o oficial. Então ele fugiu
para os montes com seus filhos, para conduzir de lá a guerrilha. Os rebeldes
tomaram as cidades e vilas, matando oficiais sírios e judeus helenizados que
os suportavam. Poucos meses depois do começo da batalha, Matatias
morreu, mas antes, ele viu o manto da liderança cair em seu terceiro filho,
Judas, o “macabeu” (interpretado como “o martelo”).
Sujeito a Judas
Judas recebeu números crescentes de recrutas de cidades e vilas.
Pelo fato dos sírios subestimarem o valor de Judas e o poder dos
macabeus, e porque eles tinham que lidar com uma revolta em Pártia para o
leste, eles se sentiam bastante pequenos e com exércitos inferiores aos
judeus. Quando Judas os derrotou, os sírios enviaram exércitos mais fortes.
Uma vitória particularmente importante em Emaús permitiu que Judas
marchasse para Jerusalém. À medida que ele entrava na cidade, Menelaus e
seus defensores fugiram e Judas tomou tudo, exceto a cidadela fortificada.
Ele limpou o templo, onde por três anos, sacrifícios tinham sido oferecidos
ao Zeus Olímpo, no vigésimo quinto mês do quisleu (Dezembro), 165 a.C.
O dia foi celebrado desde então como a festa do Chanucá (ou Hanucá), ou
Festival das Luzes. [Nota 5]
No entanto, nem tudo ia bem para os judeus. Lísias, comandante das
forças sírias, que agora descendia de Judá, derrotou Judas próximo de
Jerusalém, e então sitiou a capital. Mas no pior momento dos macabeus,
uma súbita reversão aconteceu. Com notícias de uma força inimiga
marchando na capital síria de Antíoco, Lísias agora ofereceu paz,
cancelamento das leis proibindo o judaísmo, remoção de Menelaus do posto
de sumo sacerdote, e anistia para Judas e seus seguidores.
Os hasídicos aceitaram os termos porque o objetivo deles de liberdade
religiosa tinha sido alcançado. Judas, insatisfeito com nada menos do que a
total liberdade política, deixou a cidade com uma pequena tropa.
Logo o novo sacerdote, Almácio, prendeu e executou alguns hasídicos, e
Judas renovou a guerra. Com suas tropas grandemente reduzidas, ele foi
derrotado e morto na batalha em 161 a.C. Para colocar o conflito macabeu
em uma perspectiva própria, é necessário reconhecer que os judeus não
eram unidos. Grande parte do apoio dos macabeus vinha dos camponeses e
encarava a hostilidade dos prósperos sacerdotes helenísticos de Jerusalém.
Estes persuadiram muitos dos sacerdotes de Judas, então ele encarou os
sírios em uma posição muito mais fraca e sofreu uma derrota nas mãos
deles.

Sujeito a Jônatas
Jônatas, irmão mais novo de Judas, agora se tornou líder do bando dos
macabeus, que os manteve verdadeiramente como corsários na imensidão
de Tecoa, assim como Davi tinha feito, e na Transjordânia. Jônatas
constantemente multiplicava sua força. O general sírio, Báquides, achou
impossível destruir Jônatas e instituiu a paz com ele em 158 a.C. Então,
durante os cinco anos seguintes, Jônatas foi capaz de consolidar seu poder.
Nesse meio tempo, os selêucidas, através de suas lutas dinásticas,
procederam para cometer suicídio nacional e deram a Jônatas a chance de
ganhar pela diplomacia o que Judas não tinha sido capaz de alcançar com as
forças armadas.
Na batalha entre o impostor Alexandre Balas e Demétrio I (depois de 153
a.C.), Jônatas recebeu ofertas generosas de ambos os lados. O último retirou
quase todas as guarnições militares da Judeia, e o anterior o indicou como
governador militar e civil da Judeia. Jônatas lançou sua sorte com Balas,
que matou Demétrio I em 150 a.C. Quando Balas foi assassinado cinco
anos depois, Jônatas foi forte o suficiente para enfrentar o sírio Demétrio II.
Seu irmão, Simão se tornou o governador militar da costa da Palestina de
Tiro para a margem egípcia.
Embora um general de Balas tenha matado Jônatas em 143 a.C., a causa
dos macabeus estava muito bem estabelecida para ser destruída. Simão foi
para Jerusalém e tomou a liderança do movimento nacionalista e ganhou a
independência dos judeus da Síria no ano seguinte.

Os Asmoneus

Com Simão, a linha asmonita tomou o governo dos judeus e permaneceu


forte até a conquista romana em 63 a.C. Pensa-se que o nome asmoneu seja
derivado de um ancestral dos macabeus chamado Asmoneus. Em 141 a.C.,
os judeus concederam a Simão e seus descendentes uma autoridade
permanente como sumos sacerdotes governantes (1
Macabeus 14:25-49), e o Senado romano o reconheceu como um
governador independente aliado (1 Macabeus 14:16-19, 24; 15:15-24).
Em relações internacionais, pelos próximos oito anos que os romanos
deram valor à dinastia dos asmoneus como um contrapeso ao Estado
selêucido. Dentro do círculo familiar, os asmoneus dependiam do
aristocrático partido saduceu com sua base de poder no Templo.
Parcialmente helenizado, este grupo foi concorrente dos fariseus – com sua
base de poder especialmente na sinagoga – pelo controle do público de
forma geral. Os asmoneus gradualmente aumentaram sua força militar,
expandiram suas margens em todas as direções, e transformaram seu corpo
político de uma comunidade religiosa em um estado secular na linhagem
grega.

Simão
Simão (142-135 a.C.), como notado, ganhou para si mesmo e sua
posteridade, a autoridade permanente como sumo sacerdote governante e
reconhecimento de Roma. Além disso, ele assegurou Jaffa, como um abrigo
judeu e conquistou Gazara (Gezer), Betsur e Acra ou o forte em Jerusalém,
onde os selêucidas continuavam resistindo. Quando em 138 a.C., Simão
rejeitou as exigências de Antíoco VII para o retorno dessas conquistas para
a Síria, Antíoco atacou o Estado judaico. Os filhos de Simão repeliram a
Síria, e ele não renovou o ataque durante a sua vida. Assim como os outros
filhos de Matatias, no entanto, Simão também teve uma morte violenta. O
governador de Jericó assassinou a ele e seus dois filhos em 135 a.C. Mas
João Hircano, seu terceiro filho, estava em Gezer nesta época e escapou de
se tornar o próximo sumo sacerdote (1 Macabeus 16:18)

João Hircano
João Hircano (135-104 a.C.) começou seu reinado lutando por sua vida e
seu reino, mas o findou com o Estado judaico no máximo do seu poder.
Antíoco VII da Síria atacou Hircano no começo de seu reinado, devastando
a Judeia, forçando os redimidos de Israel e o pagamento de uma grande
identidade, e depois forçou Hircano e um exército judeu a acompanhar os
sírios em uma guerra renovada contra os pártios em sua fronteira oriental.
Mas lá, Antíoco encontrou mais do que ele podia suportar e cometeu
suicídio para evitar ser capturado (129 a.C.). O fato de uma mão tão forte
quanto a de Antíoco se levantar em relação aos sírios foi muito benéfico
para Hircano; pois nas próximas décadas a Síria foi chocada pelas batalhas
dinásticas.
Hircano era abertamente expansionista. Primeiro, ele restabeleceu o
controle das cidades costeiras da Palestina e promoveu o desenvolvimento
do comércio judaico. Então, ele conquistou o oriente do Jordão e a seguir,
capturou Siquém e a destruição do templo samaritano no Monte Gerizim.
Depois ele subjulgou os edomitas no sul e os forçou a aceitar o judaísmo e
serem circuncisos.
Internamente, o Estado judaico também mudou significantemente.
Ele se transformou de uma comunidade religiosa em um estado
secular. Embora o bando helenístico tenha desaparecido como grupo com a
interferência em casos judaicos, os saduceus perpetuaram sua visão, assim
como os fariseus perpetuaram as visões hasídicas. Aqueles dois grupos, tão
importantes do Novo Testamento, primeiramente apareceram
repentinamente durante o reino de Hircano. Hircano alinhou-se
publicamente com os saduceus, mas ele era seguramente judeu (ele refletia
sua história hasídica), tendo submetido ambos os samaritanos e edomitas.
Assim, ele não se perturbou indevidamente com os elementos mais
conservadores do reino. Mas seus filhos receberam uma educação na
cultura grega e tinham uma tendência a repudiar os fariseus.

Aristóbulo
Aristóbulo (104-103 a.C.), o mais velho daqueles filhos, emergiu
vencedor na batalha dinástica que irrompeu depois da morte de Hircano.
Então ele prendeu seus irmãos e sua mãe para garantir sua posição como
chefe de estado. É dito que sua mãe morreu de fome na prisão, e ele
executou injustamente o seu irmão Antígono por um suposto envolvimento
em um plano contra ele. Apesar dessas tragédias familiares, ele
aparentemente governou bem. Ele continuou com as políticas
expansionistas de seu pai e estendeu o governo judaico para a Galileia.
Ele também continuou com a tendência dos asmoneus de transformar a
comunidade religiosa em um estado secular, adotando o título de
Filelenismo (“amor pelas coisas gregas”), tomando o título de rei.

Alexandre Janeu
Quando Aristóbulo morreu por conta da bebida e doença, sua viúva
Salomé Alexandra, libertou seus irmãos da prisão e casou-se com o mais
velho, Alexandre Janeu (103-76 a.C.). Janeu continuou as políticas
expansionistas de seus predecessores, e à época de sua morte, ele tinha
estendido as margens do Estado judaico para incluir quase todo o território
que Salomão tinha governado. Janeu estava quase que constantemente em
guerra, e mais de uma vez, sofreu quase um desastre total. Derrotado por
Ptolemeu Latiro, ele foi salvo pelas forças de Cleópatra III, que conduziu
uma outra facção no governo egípcio (100a.C). Sofrendo uma completa
destruição de seu exército nas mãos de Obada, o rei de Nabateia (94 a.C.),
ele encarou uma violenta rebelião quando retornou a Jerusalém sem seu
exército. Esta rebelião também foi ocasionada pela violação de Janeu do
ritual do templo da Festa dos Tabernáculos. Naquela época a multidão tinha
o atacado por causa da sua impiedade e ele tinha chamado as tropas para
restaurar a ordem, com o resultado da morte de um grande número (Josefo
disse 6.000) de pessoas indefesas. Os rebeldes declararam Demétrio III da
Síria para defender a causa deles. Às vezes, é declarado categoricamente
que os fariseus, geralmente pacifistas, foram responsáveis pela rebelião e a
aliança síria, mas não há certeza no fato de que os fariseus tenham instigado
a violência. De qualquer forma, uma rebelião aconteceu e o rei sírio
derrotou Janeu decisivamente, forçando-o a fugir para os montes da Judeia.
Neste ponto, aparentemente muitos judeus começaram a temer as anexações
da Palestina e 6000 judeus transferiram sua lealdade para Janeu,
capacitando-o para recuperar o trono. Depois de restabelecer seu controle,
Janeu perseguiu e capturou seus inimigos e crucificou quase que oitocentos
deles.[Nota 6] Aparentemente, Janeu sofreu uma derrota pelas mãos do rei
nabateu Aretas, mas novamente conseguiu restaurar seu poder pessoal e
nacional.

Salomé Alexandra
Quando Janeu morreu, sua viúva Salomé Alexandra (76-67 a.C.) o
sucedeu no trono, assim como fez quando Aristóbulo, seu primeiro marido,
morreu. Porque era uma mulher, ela não podia exercer o sacerdócio. Seu
filho mais velho, Hircano II, ocupou esta posição. O segundo filho dela,
Aristóbulo II, mais capacitado, recebeu o comando do exército. Os fariseus,
que se aproveitavam de uma pequena influência sobre os primeiros
governantes asmoneus, agora desempenhavam um importante papel no
governo e pela primeira vez foram admitidos para o Sinédrio. Esta mudança
em suas fortunas parece em parte, devido ao fato de que o irmão de
Alexandra era o famoso fariseu, Simão ben Shetach. Em geral, o reino de
Alexandra foi pacífico e próspero. A úni-ca ação militar de seu reino, contra
Damasco, foi mal-sucedida. Ela foi salva de uma invasão potencialmente
desastrosa pelo rei da Armênia, ao suborná-lo e especialmente de ataques
romanos em seu domínio.
Quando ela morreu, aos setenta e três anos de idade, os dias da
independência dos judeus estavam próximos do fim. Embora Janeu tenha
estabelecido o controle sobre um território estendido, sua influência sobre
ele foi um pouco frágil (assim como dito acima), e o poder romano crescia
no horizonte.
Na verdade, foi uma luta entre os dois filhos de Alexandra que deu aos
romanos uma chance de incluir a Palestina ao seu império. Hircano II, o
filho mais velho e legítimo sucessor, era fraco e incompetente.
Aristóbulo II, o filho mais novo, era mais agressivo e tinha controle das
tropas veteranas de seu pai. Três meses depois da morte de Alexandra,
Aristóbulo conseguiu vencer as forças de Hircano em Jericó, e o último
abriu mão de todos os direitos do sacerdócio e da coroa e se retirou para
uma vida privada.
Tudo ia bem para Aristóbulo, não fosse pela ambição de Antípatro,
governante militar de Idumeia e pai de Herodes, o Grande. Antípatro viu
que ele poderia manipular o fraco Hircano mas não tinha futuro frente a um
líder forte como Aristóbulo. Então ele se organizou com Aretas, rei dos
nabateus(com sua capital em Petra), para colocar Hircano no trono em troca
de algumas cidades na fronteira dos nabateus.
Por enquanto, o general romano Pompeu tinha se tornado envolvido em
conquistas no Oriente, em Ponto e Armênia. Em 66 a.C. um dos seus
tenentes visitou a Judeia, onde ouviu os apelos dos representantes de ambos
irmãos e fez algumas decisões temporárias, pendentes à última decisão de
Pompeu. Quando Pompeu foi para Damasco em 63a.C., ele ouviu apelos de
Hircano e Aristóbulo e do povo judeu, que quis a abolição da monarquia e o
retorno do governo sacerdotal. Ele prometeu uma decisão depois de uma
campanha contra os nabateus.
Quando o general de Pompeu, Gabínio, retornou, descobriu que
Aristóbulo tinha trancado os portões de Jerusalém contra ele. Gabínio então
emitiu uma ordem de prisão para Aristóbulo. Logo em seguida, os
seguidores de Hircano abriram os portões da cidade, e Pompeu iniciou um
cerco das forças de Aristóbulo resistindo no monte do Templo. Quando a
batalha terminou, a Palestina passou para o comando romano. Todas as
áreas que não eram judaicas (as áreas costeiras do Mediterrâneo,
Transjordânia e Samaria) foram afastadas do Estado judaico, e o que foi
deixado ficou sobre o governo de Hircano II como sumo sacerdote. Embora
a majestade tenha sido abolida, como os representantes dos judeus tenham
pedido, e Hircano (com Antípatro muito perto dele) controlava o Estado
judaico, ao prazer dos romanos.
Aristóbulo foi levado para Roma, onde marchou pelo triunfo de Pompeu,
junto com muitos judeus que foram vendidos como escravos para a capital.
Nos últimos dias, quando ganharam sua liberdade, eles se tornaram os
núcleos da comunidade judaica naquele lugar. [Nota 7]

O Governo Romano na Palestina

Depois que a Palestina passou a ser governada por Roma em 63 a.C., ela
se tornou confundida nas políticas romanas. Então, ao longo das seguintes
décadas, existiram facções leais a Hircano, Aristóbulo, Pompeu, Júlio
César, Marco Antônio, Augusto, Herodes o Grande, e outros.
É muito difícil até mesmo para o mais bem informado mestre seguir
primorosamente a história deste período, e a tarefa se torna confusa e quase
impossível pelo estudante em geral. Entretanto, alguns detalhes se tornam
claros. Primeiro, Hircano II continuou como sumo sacerdote e governante
dos judeus durante o confuso período de 63 a 40 a.C.
Durante quase todos aqueles anos, Antípatro era o verdadeiro poder no
Estado e realizou dedicadamente as políticas romanas. Segundo, a facção de
Aristóbulo não desistiu tão facilmente de ter novamente o poder. Alexandre,
filho de Aristóbulo, provocou rebeliões em 57, 56 e 55 a.C. e ambos
Aristóbulo e Alexandre foram assassinados por Pompeu ou seus defensores
quando eles tentaram ajudar Júlio César em 49a.C. Terceiro, depois da
derrota de Pompeu nas mãos de Júlio César em 48 a.C., Hircano e Antípatro
se tornaram defensores leais de César.
Ele confirmou a posição política deles em Judá, acrescentou algumas das
terras costeiras do Mediterrâneo na Palestina para a província dos judeus, e
mostrou muitos favores aos judeus da Disperção, muitos dos quais
continuaram debaixo de governos subsequentes. Quarto, depois do
assassinato de Júlio César (44 a.C.), Hircano e Herodes deram sua lealdade
a Marco Antônio, que indicou Herodes e seu irmão Fasael, governante da
Judeia (41 a.C.), com a aprovação de Hircano.
Quinto, naquele ponto, os pártios na fronteira oriental de Roma, tomaram
vantagem da fraqueza política e militar dela e invadiram a Síria e a
Palestina. Eles fizeram de Antígono, filho de Arístóbulo II, rei e sumo
sacerdote dos judeus (40-37). Os judeus saudaram os partos como
libertadores dos romanos, e todas as classes suportavam o governo de
Arístóbulo. Quando Hircano e Fasael foram negociar com o rei parto, ele os
jogou na prisão, onde Fasael cometeu suicídio; Hircano foi levado para fora
da Babilônia. Herodes colocou sua família na fortaleza da Massada para
que fossem protegidos e foram para Roma para ter ajuda de Antônio. Ele
foi indicado para ser rei dos judeus em 40 a.C.
É claro que os romanos contra-atacaram. Herodes cuidou de resgatar sua
família e com a ajuda dos romanos tomou parte da Palestina. Depois da
queda de Jerusalém (37 a.C), Antônio ordenou a execução de Antígono.

Herodes, o Grande
Agora Herodes poderia se tornar rei de fato e governou até sua morte em
4 a.C.[Nota 8] Ele permaneceu leal a Antônio até que Otaviano (Augusto) o
derrotou (31 a.C.). Então Herodes ofereceu sua total lealdade a Augusto,
assim como ele tinha dado a Antônio, e o imperador romano aceitou.[Nota 9]
Augusto deu a Herodes mais territórios ao longo da costa mediterrânea e
Jericó, todas as quais tinham pertencido a Cleópatra, e mais tarde regiões
desertas a leste do Jordão. Herodes teve o apoio de um rei aliado, com
autonomia local, mas sujeito a Roma em negócios estrangeiros. Roma o
usou como outros reis aliados para pacificar uma província rebelde da
fronteira e prepará-la para um estágio em que Roma podia apontar
diretamente os governantes. Essas indicações diretas regiam na Judeia nos
dias de Jesus e Paulo, quando governadores como Pilatos, Félix e Festo
tinham o comando. Sua pacificação do território a leste do Jordão também
tornou possível a organização da província romana da Arábia.
Herodes também serviu aos romanos como um agente para a
disseminação do helenismo, que tinha sua grande admiração. Roma buscou
trazer unidade ao império através da proposta de uma simples cultura greco-
romana e através do estabelecimento do culto do imperador. As excelentes
construções de Herodes na Palestina foram Samaria e Cesareia. Ele
renomeou Samaria de Sebaste, em honra a Augusto (grego, Sebastos) e
construiu lá um templo para Augusto, uma assembleia política com uma
basílica romana, uma rua principal colonizada ao estilo romano, e mais. Por
volta de vinte e cinco milhas a sul da moderna cidade de Haifa, ele
construiu a Cesareia (22-9 a.C.), com quase que metade do tamanho da ilha
de Manhattan, novamente nomeada para a honra de Augusto César. Esta foi
perfeitamente uma cidade greco-romana na costa da Palestina. Seu templo
para Augusto, estádio, teatro, um magnífico porto artificial e facilidades
portuárias, e outros equipamentos a qualificaram para ser uma capital de
primeira classe para a Palestina. Em Jerusalém, ele construiu um teatro e
um anfiteatro.
Uma lista completa das atividades de construção de Herodes cansaria até
mesmo o leitor mais paciente. Exemplos incluem suas reconstruções de
Antipátrida, a nordeste da atual Tel Aviv; a fortaleza de Macaeros, na
Transjordânia, de Massada, no Mar Morto, Herodeion, sul de Belém; e o
complexo do palácio em Jericó e seu grande palácio na parte ocidental de
Jerusalém. Seu zelo pelo helenismo também o envolveu em muitos projetos
de construções por toda parte oriental do Mediterrâneo – em Rodes, Grécia,
Líbano e Síria. A glória de Antioquia quando Paulo começou suas três
jornadas missionárias a partir de lá foram em parte para a beneficência de
Herodes.
Mas, claro, o lugar de honra de todas essas construções vai para o templo
de Jerusalém. A reconstrução começou em 20 a.C. e continuou por quarenta
e seis anos, até os dias do ministério de Jesus na terra (João 2:20), mas não
foi na verdade completada até 64 d.C. - somente uns poucos anos antes de
ser destruída em 70 d.C. Este foi especialmente um esforço de propaganda
para ganhar apoio dos populares judeus, mas também refletiu o amor de
Herodes pela grandeza. A obra aconteceu de uma forma para não atrapalhar
os rituais no templo, e os sacerdotes e levitas faziam grande parte do
trabalho. Uma estrutura magnífica foi organizada nos terraços, com o
próprio templo no ponto mais alto. O pátio externo e mais baixo era o pátio
dos gentios, depois vinham os pátios das mulheres e o dos israelitas, e
finalmente, os pátios do templo.
Embora os romanos considerassem Herodes como sendo um rei vassalo
capaz, os judeus nunca aceitaram ou respeitaram este idumeu “semi-judeu”
e o consideraram um tirano, um opressor sedento por sangue que extorquia
tudo o que ele podia das pessoas. Ele era vingativo, ciumento e suspeito de
intriga ou conspiração. Estes defeitos em sua personalidade o levaram a
executar uma das suas esposas (Mariana) e três dos seus filhos. A
insegurança também o levou a matar os meninos de Belém à época do
nascimento de Cristo, em um esforço para destruir o “rei dos judeus”, para
que este não pudesse usurpar o trono.

Os outros Herodes
A revisão final de Herodes dividirá seu reino entre os seus três filhos:
Arquelau foi rei da Judeia, Antipas, o tetrarca da Galileia e Pereia, e Filipe,
tetrarca de Traconites, Bataneia e Golã (a área nordeste do Mar da Galileia).
Depois de alguma consideração, Augusto aprovou a divisão, mas fez
Arquelau etnarca, ao invés de rei. Arquelau provou ser totalmente
inaceitável aos judeus, então Augusto o exilou em Gália e a Judeia se
tornou uma província romana (6-41 d.C.). Antípas (4 a.C. - 39 d.C.) era
uma pessoa muito sagaz e vaidosa; Jesus o chamou de raposa (Lucas
13:32). Ele executou muitas construções, incluindo Tibérias no Mar da
Galileia, em homenagem a Tibério César. Ele é especialmente notado nas
Escrituras por ter executado João Batista. Ele estava finalmente exilado
para um suposto plano contra Calígula. Filipe (4 a.C. - 34 d.C.)
aparentemente governou de uma maneira justa e boa. Ele construiu como
sua capital Cesareia de Filipe (Mateus 16:13; Marcos 8:27). Herodes Agripa
1, neto de Mariana, a esposa asmoneia de Herodes o Grande, recebeu de
Calígula a tetrarquia de Filipe em 37 d.C., com o título de rei.
Aparentemente, ele recebeu as propriedades dos outros dois filhos de
Herodes e de 41 a 44 d.C. governou todos os territórios que eram
controlados por Herodes. Ele parece ter sido bem recebido pelos fariseus,
mas perseguiu os cristãos (Atos 12). Quando ele morreu em 44, o
imperador Cláudio converteu o reino judeu em uma província romana,
governado por procuradores. A relação entre os judeus e romanos se
deteriorou gradualmente até a explosão da hostilidade aberta em 66 d.C.,
que resultou na destruição de Jerusalém e do templo (70 d.c.).

Grupos Judaicos

Uma palavra conclusiva sobre grupos ou facções na sociedade judaica


durante os tempos do Novo Testamento ajudarão a colocar luz em seu texto.
Fariseus
Um dos grupos mais importantes era o grupo composto pelos fariseus,
aparentemente sucessores dos hasídicos (os Religiosos), que foi originado
quando Antíoco Epífanes proibiu o judaísmo (168 a.C.).
Zeloso com a observância da Lei, o judaísmo hasídico lutou nas forças de
Judas Macabeus. Os nomes dos fariseus apareceram pela primeira vez na
literatura histórica nos dias de Jônatas (161-143).[Nota 10] Fariseu vem de
uma palavra que significa “separado” e pode indicar que a separação era
para as pessoas comuns, mas parece mais significar separação das
influências do helenismo.
Os fariseus eram observadores persistentes da lei e davam muita atenção
à cerimônia da purificação, ao jejum, ao cumprimento do sábado.
Preocupados com a lei escrita e falada, eles contribuíam para a
canonicidade de todas as escrituras do Antigo Testamento e continuaram a
refinar e acrescentar à interpretação da Escritura. À época de Cristo, eles
pareciam interessados em pouco mais que detalhes do cumprimento da lei,
e desenvolveram um orgulho exagerado no cuidado da lei. Jesus os
desprezou por causa da falta de amor verdadeiro a Deus e disse a eles que
se eles desejassem ser conhecidos pela sua exibição pública de
religiosidade, “eles teriam sua recompensa” (Mateus 6:2, 5, 16). No papiro
grego, a construção usada aqui é um termo econômico ou legal,
significando “recibo total”. Em outras palavras, por todos os seus esforços,
eles seriam recompensados totalmente pela estima pública, e não poderiam
esperar mais nenhum reconhecimento dali em diante. Os fariseus foram
progressivos em sua constante reinterpretação da Lei e na busca de
prosélitos para o judaísmo, batizando-os, mas eles eram conservadores na
teologia, se agarrando estritamente a uma fé sobrenatural. Eles também
mantiveram viva a esperança messiânica.
A esfera de influência era centrada primeiramente na sinagoga.

Saduceus
Enquanto os fariseus eram progressivos em relação à Lei, os saduceus
eram conservadores. Eles reconheciam somente o Pentateuco como
obrigatório para os judeus e o interpretavam mais literalmente do que os
fariseus. Eles não aceitavam a lei oral. Na teologia, eles eram contra o
sobrenatural e não acreditavam em ressurreição, espíritos ou anjos (Marcos
12:18; Lucas 20:27). Os saduceus pertenciam à rica aristocracia sacerdotal e
estavam primeiramente preocupados com a administração do templo e seu
ritual. Eles fizeram acordos de paz com os governantes romanos e tinham
uma tendência a serem influenciados pelo helenismo. Separando-se das
massas, eles se tornavam cada vez mais impopulares. Por causa da sua
posição teológica e social, os saduceus geralmente estavam em disputas
com os fariseus. Entretanto, ocasionalmente ambos os grupos poderiam se
juntar em sua oposição a Jesus. Por os saduceus serem tão identificados
com os negócios do templo, eles deixaram de existir logo após sua
destruição em 70 d.C.

Herodianos
Os herodianos são um terceiro grupo ou parte aparente nos Evangelhos
(Mateus 22:16; Marcos 3:6; 12:13) e Josefo ( Antiguidades, XIV.15.10).
Evidentemente, não era uma parte política organizada. Eles eram
meramente partidários ou guerrilheiros de Herodes e sua família.
Nas referências dos Evangelhos, eles parecem ser homens influentes que
deram suporte a Herodes Antipas e evidentemente eram leais ao governo
romano que dava apoio à dinastia.

Zelotas
Outro grupo ativo durante o período do Novo Testamento era o grupo
composto pelos zelotas. Eles eram uma parte extremista que seguia a Judá
(Judas), o galileu, que se opunha ao recenseamento romano quando Judá se
tornou uma província romana em 6 d.C. Ele negou o direito de Roma
coletar taxas dos judeus e considerava um pecado reconhecer lealdade a
César. Um dos discípulos de Jesus, Simão, o zelota, evidentemente teria
sido um dia parte deste grupo. Eles ganharam popularidade durante o
primeiro século cristão e tiveram grande influência durante a revolta dos
judeus em 66 d.C. e seguinte.

Essênios
Um grupo que não aparece no Novo Testamento, mas que ocupou um
lugar importante em sua história foi os essênios. Um grupo ascético, eles
não somente buscavam separação da impureza (assim como faziam os
fariseus), mas também separação do judaísmo institucional.
Essas pessoas tendiam a viver em comunidades monásticas, a praticarem
a comunidade dos bens e a viverem uma vida simples. As comunidades
deles eram autônomas. É geralmente assumido que a comunidade de
Qumran era essênia, mas tal visão não deve ser abraçada de forma
dogmática.
É altamente duvidoso que Jesus e Seus seguidores tivessem alguma coisa
em comum com os essênios. Não há evidências de que o cristianismo fosse
uma divisão do essenismo ou que Jesus foi iniciado em seus ensinamentos,
assim como alguns dizem. Jesus se opôs ao legalismo e aceticismo da
comunidade, não repudiou os serviços do templo, não se opôs ao
casamento, e tinha uma atividade ministerial para as pessoas comuns que
“tinham prazer em ouvi-lo”. A fé de Jesus era uma fé vibrante para toda a
sociedade. Ela não era exclusivista, nem defendia as boas obras ou o estilo
de vida ascético como um meio de ganhar o favor de Deus. Ela encontrava
pessoas em suas dores e alegrias na vida. E Jesus aparentemente se divertia
com as pessoas em seus momentos de felicidade.
Notas do Capítulo

Nota 1 -Charles F. Pfeiffer, Between the Testaments [Entre os Testamentos](Grand Rapids: Baker
Book House, 1959), página 57. [Voltar]
Nota 2 - Donald W. Engels, Alexander the Great and the Logistics of the Macedonian Army
[Alexandre, o Grande e as Logísticas do Exército Macedônio] (Berkely: University of
California Press, 1978), página 18. [Voltar]
Nota 3 - Josefo, Antiguidade, XI 8.4-6 [Voltar]
Nota 4 - Novas traduções de livros intertestamentais dos Macabeus podem ser achadas em The
Revised English Bible with the Apocrypha [A Bíbilia Revisada em Inglês com os
Apócrifos] (Oxford: Oxford University Press, 1989) e em New Revised Standard Version
(New York: Oxford University Press, 1989). [N.T.: ambos em inglês] [Voltar]
Nota 5 - 1 Macabeus 4:52-59; João 10:22; Josefo, Antiguidades, XI.7.7. [Voltar]
Nota 6 - Josefo, Antiguidades dos Judeus, VIII. 13.5-14.2. [Voltar]
Nota 7 - A alforria era fácil em Roma e no império, e no tempo certo, o número de escravos libertos
de uma variedade de nacionalidades se tornou maior que a população nativa de Roma e de
alguns outros lugares. [Voltar]
Nota 8 - Sabe-se que o calendário está, de certa forma, errado. Cristo nasceu dois anos antes da
morte de Herodes, talvez em 6 a.C. [Voltar]
Nota 9 - A biografia de Herodes aparece em Antiguidades, de Josefo, livros XV-XVII e Guerras
1:18-33. Para outras listagens veja a Bibliografia. [Voltar]
Nota 10 - Josefo, Antiguidades, XIII.5.9. [Voltar]
PARTE

A Vida de Jesus
CAPÍTULO

17

A “Plenitude dos Tempos”: A Retomada da


Revelação

D EUS ficou em silêncio por mais de quatrocentos anos. Eu não tenho


dúvidas que Ele se comunicou com indivíduos que o buscaram. E Ele
devia ter muito a dizer aos anjos e aos santos do Antigo Testamento sobre
quem estava com Ele no céu. Mas Ele não entregou nenhum discurso
público documentado através de um profeta ou qualquer outra figura
religiosa pública. Para o mundo, de uma forma geral, e até mesmo para os
judeus devotos e praticantes parecia que não vinha nada dos céus.
Então, finalmente, nos últimos dias de Herodes, o Grande, Deus começou
a falar novamente. Primeiro Ele foi a Zacarias, de maneira calma e privada,
para dizer sobre o nascimento de João Batista e seu ministério estratégico
de preparação para a vinda do Messias (Lucas 1:5-23). Então Ele se revelou
à Virgem Maria (Lucas 1:26-38) e ao pai legal de Jesus, José (Mateus 1:20-
24) para anunciar o nascimento vindouro de Cristo. Aparentemente, um
pequeno grupo de amigos de Zacarias e Isabel ouviram uma palavra de
Deus no nascimento de João (Lucas 1:57-80), e um grande público
experimentou a comunicação com Deus no nascimento de Cristo (Lucas
2:8-20, 25-38 – pastores, Simão, Ana, e os magos do oriente; Mateus 2:1-
12). Então, em uma comunicação crescente, João Batista falou em altos
tons para proclamar a vinda do Messias e o arrependimento e perdão dos
pecados (Marcos 1:2-11; Lucas 3:1-20). Finalmente, o próprio Jesus
começou Seu ministério como a total revelação do Pai. Embora Deus tenha
falado, no milênio anterior, através dos profetas e de outros, de muitas
formas, no Filho, aconteceu a completa revelação: “O qual, sendo o
resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa” (Hebreus
1:3).
O Novo Testamento é um registro da renovação da revelação para o
mundo e especialmente da completa revelação de Deus em Seu filho.
Ele conta sobre a vinda do Filho à terra, sobre Seus ensinamentos, de Sua
morte na cruz para pagar pelas penalidades do pecado humano, da Sua
ressurreição e ascensão aos céus, da fundação de Sua Igreja e do disseminar
da Sua mensagem por todo o mundo através das pregações dos apóstolos, e
do Seu profetizado retorno à terra para julgar e governar.

O que é o Novo Testamento?

Novo Testamento é o nome dado para a segunda parte da Bíblia, uma


coleção de vinte e sete documentos escritos pelos discípulos de Cristo ou
seus contemporâneos. Aparentemente, todos os autores eram judeus, com
exceção de Lucas.
Testamento é a tradução da palavra grega diatheke que pode ser melhor
substituída por aliança. Ela denota um acordo feito por Deus por benefício e
direção espiritual e humana. Este acordo é inalterável; homens e mulheres
podem aceitá-lo ou não, mas não podem mudá-lo.
Aliança é uma palavra comum no Antigo Testamento, e muitas alianças
são descritas nele, sendo a mais importante a mosaica. Enquanto Israel
falhou em relação à Aliança Mosaica, Deus prometeu a eles uma “nova
aliança” (Jeremias 31:31).
O termo nova aliança aparece muitas vezes no Novo Testamento.
Jesus a usou primeiramente quando instituiu o que chamamos de Ceia do
Senhor; através dela, Ele buscou chamar a atenção para a nova base da
comunhão com Deus que Ele procurou estabelecer através da Sua morte
(Lucas 22:20; 1 Coríntios 11:25). O apóstolo Paulo também falou sobre esta
nova aliança e ensinou que a antiga aliança já tinha acabado, pela obra de
Cristo na cruz (2 Coríntios 3:6, 14). O escritor dos hebreus chamou a
atenção para a promessa de Deus de fazer uma nova aliança (Hebreus 8:8).
Ele declarou que a nova aliança cumpria e substituía a antiga, porque ela
fazia provisão do sacrifício adequado para remover todo pecado através do
sangue de Cristo, que era o Mediador da nova aliança (Hebreus 9:11-15). A
descrição detalhada deste novo método de relacionamento com a
humanidade é o assunto dos vinte e sete livros do Novo Testamento. Talvez
deve-se notar que os escritores da igreja latina trocaram a palavra grega
diatheke por testamentum, e a partir daí se passou a fazer uso; então antiga e
nova alianças se tornaram Antigo e Novo Testamentos.

Como um leitor pode entender o Novo


Testamento?

De um modo geral, o Novo Testamento segue um entendimento muito


lógico e fácil de ser compreendido. Ele começa com os quatro evangelhos,
que descrevem o nascimento, a vida e a ressurreição de Cristo. Esses quatro
evangelhos nos dão relances a respeito do Seu ensinamento, nos dão
evidências de Sua divindade e humanidade, detalham o treinamento de Seus
discípulos, e geralmente tornam possível para o leitor ter discernimento de
uma natureza profunda de Deus – pois Cristo veio para revelar o Pai.
O livro dos Atos continua a narrativa histórica onde terminam os
evangelhos. Ele conta sobre o retorno de Cristo aos céus e Sua comissão a
Seus seguidores para que esses continuassem Sua obra. Então ele segue
para descrever a fundação da Igreja e sua disseminação pela Palestina e
Síria. Neste ponto, o apóstolo Paulo assume uma liderança especial no
movimento de expansão da igreja, fundando congregações em Chipre, Ásia
Menor e Grécia. O livro dos Atos termina com Paulo na prisão e seu
ministério amplamente completo.
Depois vêm as epístolas que surgiram do ministério de Paulo e são
simplesmente cartas enviadas para as igrejas que ele fundou ou para jovens
ministros que ele tentou encorajar e discipular. Essas cartas provêm de um
duradouro corpo de instruções a respeito das muitas facetas de doutrinas,
ordem da igreja e conduta cristã. Seguindo as epístolas paulinas, temos um
grupo comumente chamado de epístolas gerais. Tiago, Pedro ou João
escreveram a maioria destas para pessoas ou igrejas que lidavam com
problemas que tinham aparecido entre as primeiras congregações.
O último livro, Apocalipse, é uma obra profética que detalha eventos dos
fins dos tempos. Nele, o apóstolo João descreve a tribulação, o estado
utópico, o julgamento de Satanás, uma ressurreição final e julgamento, e o
estabelecimento de um novo céu e uma nova terra com o cordeiro triunfante
como governador de tudo. O Novo Testamento começa com um bebê
indefeso em uma manjedoura de Belém e termina com Cristo como o
conhecido Rei dos reis e Senhor dos senhores.

O que significa a inspiração do Novo


Testamento?

A inspiração da Escritura (em particular, do Antigo Testamento) é


discutida anteriormente neste livro (veja as páginas 9-13). A respeito
especificamente da inspiração do Novo Testamento, ela permanece com ou
conclui aquilo que estava no Antigo Testamento, justificado pelo Novo
Testamento se basear na suposição do Antigo Testamento ser um livro de
Deus. Os escritores do Antigo Testamento insistiram em milhares de
passagens que expressavam a palavra de Deus. O Antigo Testamento foi
aceito como Palavra de Deus para o judaísmo, por Cristo e pela igreja
primitiva. Suas profecias foram cumpridas, assim como é atestado pela
história do Novo Testamento. Estudos históricos e arqueológicos
confirmaram sua veracidade histórica em inúmeros pontos.
O Novo Testamento vai além para construir um conceito ou fundamento
de inspiração. A conexão é clara, assim como passagens como 2Pedro 2:3:
“Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos
santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e
Salvador.” Obviamente, Pedro está colocando os seus próprios escritos e os
de outros apóstolos no mesmo nível dos do Antigo Testamento e declarando
a autoridade deles. Ele estendeu o mesmo reconhecimento para os escritos
de Paulo: “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como
também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que
lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais
há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e
igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição.” (2 Pedro 3:15,
16). Judas declarou que “as palavras as quais foram faladas antes pelos
apóstolos do nosso Senhor Jesus Cristo” foram absolutamente confiáveis
(v.17).
Em muitas ocasiões, o apóstolo Paulo afirmou que suas palavras eram
divinamente inspiradas e consagradas. Por exemplo, ele disse aos coríntios,
“as coisas que escrevo para vós são os mandamentos do Senhor” (1
Coríntios 14:37). Ele escreveu para os gálatas que ele tinha recebido seu
evangelho pela revelação de Cristo (Gálatas 1:11, 12). Ele ordenou para
Timóteo “conservar o modelo das sãs palavras”, o que o jovem pregador
ouviu do apóstolo como se fosse expressado divinamente (2 Timóteo 1:13,
tradução do autor). O apóstolo João alertou contra adicionar ou subtrair
algo das palavras do livro de Apocalipse, sob pena de ser excluído do livro
da vida (Apocalipse 22:18,19).
Os ouvintes deles aceitaram as declarações dos escritores do Novo
Testamento para sua inspiração. Porções históricas do Novo Testamento são
completamente confiáveis como Sir Wil iam Ramsay e muitos outros
arqueólogos e historiadores mostraram. E especialmente a verdade da
mensagem do Novo Testamento tem sido verificada como verdade e
libertado homens e mulheres (João 8:32); as vidas mudadas dos cristãos são
o melhor testemunho de todos da origem e poder divino do Novo
Testamento.
Antes de deixar este assunto, é necessário distinguir a inspiração de dois
outros termos. A inspiração tem que lidar com a precisa recepção e registro
da verdade de Deus. A revelação envolve a comunicação da mensagem de
Deus, e iluminação referente ao ministério do Espírito Santo de dar
entendimento da verdade já revelada (João 14:26).

O texto e a história do Novo Testamento são


confiáveis?

Alguns argumentam que não importa se o Novo Testamento foi inspirado


nas escrituras originais. Aquelas escrituras não existem mais e os copistas
fizeram milhares de erros ao reproduzir os livros da Escritura durante os mil
e quinhentos anos antes do advento da impressão. Notas de críticas textuais,
muitas delas antipáticas ao cristianismo evangélico, foram arduamente
comparadas a aproximadamente 2900 manuscritos bíblicos, aos muitos
fragmentos do papiro bíblico, e às citações da Escritura pelos pais da Igreja.
Suas conclusões foram essas: (1) embora muitas leituras variantes ocorram
nos manuscritos do Novo Testamento, a maioria delas aparece em
manuscritos considerados de valor inferior ao determinar um texto
verdadeiro e então não importante; (2) leituras variantes não destroem ou
pervertem um artigo de fé; (3) não mais que uma palavra em mil é ao
menos sujeita a questões sérias; (4) o Novo Testamento veio a nós
substancialmente assim como foi escrito originalmente. (Para uma
discussão mais completa veja An Introduction to Bible Archeology rev. ed.
[Uma Introdução à Arqueologia Bíblica], de Howard F. Vos (Chicago:
Moody, 1983), páginas 45-51).
Uma coisa é verificar o texto do Novo Testamento; outra, é confirmar sua
precisão histórica. Sir Wil iam Ramsay (1851-1939) especialmente liderou
o caminho de explorações das áreas onde os eventos do Novo Testamento
aconteceram. Começando com uma visão altamente cética da veracidade de
Lucas em seu livro de Atos, ele se tornou convencido da absoluta
autenticidade deste discurso por Lucas (veja Sir William Ramsay:
Archeologist and New Testament Scholar [Sr. Wil iam Ramsay: Arqueólogo
e Estudioso do Novo Testamento]
Grand Rapids: Baker Book House, 1966). Muitos outros têm seguido a
trilha de Ramsay (e alguns o precederam), investigando minuciosamente
lugares bíblicos na Palestina, Síria, Ásia Menor, Chipre, Grécia e Itália –
sempre com os mesmos resultados. As investigações têm uma tendência a
suportar a narrativa do Novo Testamento; a data pelo menos eles não
provaram como estando errada. Ainda há muitos pontos nos quais os
estudiosos encontram problemas com itens históricos ou geográficos no
Novo Testamento, mas investigações de sucesso já feitas, nos dão fé para
acreditar que as dificuldades ainda existentes serão resolvidas.

Como o Novo Testamento foi compilado?

Algumas pessoas parecem ter a impressão que um grupo de líderes de


igrejas se encontraram em uma quente tarde de verão há muitos séculos
para decidir que livros deveriam ser incluídos no Novo Testamento. Por
estarem com pressa de terminar logo esse trabalho, eles concordaram em
tudo e saíram com os vinte e sete livros que nós agora conhecemos. Sendo
homens imperfeitos, eles poderiam facilmente cometer erros.
Nenhuma ideia está além da razão. O processo na verdade foi longo e
complexo. Atrás do conceito de um corpo da Escritura do Novo Testamento
permaneceu ainda uma conhecida coleção da Escritura do Antigo
Testamento. Gradualmente uma nova compilação de literatura apostólica
veio a existir. Algumas das epístolas de Paulo foram provavelmente as
primeiras porções escritas do Novo Testamento. Seus destinatários,
provavelmente, aceitaram estas de modo imediato como inspiradas e
repletas de autoridade. O próprio Paulo em sua primeira epístola disse aos
Tessalonicenses para que aquela epístola fosse lida a todos os santos irmãos
(1 Tessalonicenses 5:27). Aos colossenses ele deu instruções a fim de ter a
carta lida também na igreja de Laodiceia, e ele encarregou os colossenses
de conseguir uma cópia da carta escrita para aqueles da igreja de Laodiceia
(Colossenses 4:16). Com o passar do tempo, outras igrejas diferentes
daquelas as quais as epístolas foram originalmente escritas buscaram cópias
das cartas de Paulo para sua edificação e as aceitaram como sendo a palavra
de Deus obrigatória para eles. Desta forma, os escritos de Paulo se tornaram
uma coleção e circularam como um grupo durante o segundo século.
Nesse meio tempo, os apóstolos ou pessoas próximas deles estavam
escrevendo os evangelhos, e encontrando aceitação na igreja primitiva.
Nós lemos na literatura da igreja daquela época que a “memória dos
apóstolos” (os evangelhos) começou a ser lida nos cultos das igrejas junto
com porções do Antigo Testamento como sendo a Santa Palavra de Deus. A
aceitação de Lucas continuou sendo a mesma de Atos.
Primeira João e 1 Pedro gozaram de uma origem apostólica e então, de
uma autoridade apostólica.
Por outro lado, alguns livros não trilharam um caminho fácil para a
aceitação. Apocalipse, embora sendo escrito por João, tinha uma linguagem
difícil; havia uma questão sobre a autoria de Hebreus, mas certamente não
sobre a natureza inspirada de seu conteúdo; e questões apareceram sobre a
autoria de 2 João, 3 João, 2 Pedro, Tiago e Judas.
Mas havia forças trabalhando para exigir uma decisão sobre o que
deveria ser levado em consideração das Escrituras. Por volta de 140 d.C., o
herético Marcião expôs sua própria coleção de escrituras sagradas. Sua
afirmação tinha que ser colocada à prova. Heréticos começaram a
promulgar uma variedade de ensinamentos; os líderes da igreja buscaram
condená-los por serem falsos ou “não bíblicos”. Foi necessário, então, que
todos concordassem com aquilo que pertencia à Bíblia a fim de considerar
tais mudanças como heresia. Também, alguns poucos, tais como os
montanistas, estavam se movimentando para rei-vindicarem que tinham um
dom de revelação contínua. Novamente os líderes da igreja ortodoxa
fizeram pronunciamentos de que, desta vez a revelação tinha cessado e que
Deus tinha dado aos cristãos toda a Escritura que Ele queria para eles. Além
disso, evangelhos, atos e epístolas tentando preencher as lacunas nas
narrativas da vida de Cristo e dos apóstolos e refinar as mensagens
teológicas da Igreja apareceram em profusão. Então, como a perseguição do
grande Diocleciano emergiu no início do quarto século e indivíduos
poderiam ser martirizados pela posse da Escritura, eles certamente queriam
estar certos do que realmente estaria no Novo Testamento. Estes e outros
fatores demandavam uma decisão sobre quais livros deveriam ser aceitos.
Incertezas crescentes sobre os disputados livros foram superadas e eles se
tornaram universalmente aceitos. Questões feitas por sacerdotes ao longo
dos séculos à medida que eles buscavam estabelecer o conteúdo do Novo
Testamento eram:

1. O livro foi inspirado?


2. A autoria é apostólica ou de alguma pessoa do círculo apostólico?
3. O livro tem reconhecimento universal?

Se um livro passasse por todos estes testes, ele se tornava um candidato


para a adoção oficial em um conselho da igreja. Um encontro do conselho
local em Cartago na África do Norte em 397 declarou os atuais vinte e sete
livros, com a condição de que nenhum outro livro poderia ser usado nas
igrejas como tendo autoridade de Escritura. Quando o Sexto Concílio de
Cartago (419) reafirmou a primeira decisão na constituição da igreja, foi
direcionado que este relato fosse enviado para o Bispo de Roma e outros
bispos. Daquele tempo em diante não houve mais nenhum debate mais
longo sobre este assunto no Ocidente. O exemplo do Ocidente e a influência
de muitos grandes teólogos no Oriente finalmente deram uma solução para
o problema lá. Desde o quinto século não houve nenhuma controvérsia séria
a respeito do conteúdo da constituição do Novo Testamento. O processo de
canonização foi longo e a decisão não foi fácil em alguns casos. Mas
quando ela chegou, houve uma grande unidade e certeza de que o que os
fiéis tinham em suas mãos era a verdadeira Palavra de Deus.

Como o Novo Testamento se relaciona com o


Antigo Testamento?
O Antigo e o Novo Testamentos são simplesmente partes componentes
de uma relação divina. O Antigo Testamento descreve homem e mulher no
primeiro paraíso na terra antiga; o Novo Testamento termina com uma visão
de um novo céu e uma nova terra. O Antigo Testamento vê o ser humano
como caído em uma condição pecadora e separado de Deus; o Novo
Testamento o vê como restaurado a um favor através do sacrifício de Cristo.
O Antigo Testamento prevê a vinda de um Redentor que resgatará a
humanidade do poço da condenação; o Novo Testamento revela o Cristo
que faz a salvação possível. Na maior parte do Antigo Testamento, o foco
está em um sistema sacrificial no qual o sangue de animais dá um
tratamento temporário para o problema do pecado; no Novo, Cristo aparece
como Aquele que veio para colocar um fim em todo sacrifício – Ele mesmo
era o supremo sacrifício. No Antigo Testamento muitas previsões
profetizam uma vinda do Messias que salvará Seu povo; no Novo, muitas
passagens detalham como estas profecias foram minuciosamente cumpridas
na pessoa de Jesus Cristo, o filho de Abraão e o filho de Davi.
No Antigo Testamento, na maior parte do tempo, os hebreus estão no
estágio central e Deus trabalha para fazer deles verdadeiramente um povo
de Deus. Há indícios ocasionais, entretanto, que Deus planejou alcançar um
vasto público. De fato, próximo ao começo da história dos hebreus, Deus
disse a Abraão que nele ou por ele todas as pessoas da terra seriam
abençoadas (Gênesis 12:3). No Novo Testamento, Jesus Cristo, como um
descendente de Abraão, faz a salvação disponível para todas as pessoas.
Judeus como Filipe que pregou para o eunuco etíope, Barnabé que
evangelizou em Chipre, e Paulo que se tornou o maior apóstolo para os
gentios, deixaram claro que as boas-novas – salvação através de Cristo –
eram para todas as pessoas. Desta forma, através de Jesus Cristo e dos
judeus evangelistas que descenderam de Abraão, todas as pessoas da terra
têm sido, verdadeiramente, abençoadas. Quanto mais olhamos os dois
testamentos, mais reconhecemos como eles estão totalmente interligados.
Assim como Agostinho disse há mais de quinze mil anos: “O Novo está
contido no Antigo; o Antigo está explicado no Novo”.
CAPÍTULO

18

“Dai a César ...”: O Mundo de Jesus e da Igreja


Primitiva.

N Oquemeio da história do Natal está a asserção: “E aconteceu naqueles dias


saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo
se alistasse” (Lucas 2:1). Claro que a referência aqui é o mundo romano, o
mundo do povo com o qual os judeus e cristãos (nos primeiros dias da
igreja) estariam lidando.
O mundo era essencialmente o mundo mediterrâneo, pois o mar era o
caminho principal usado por mercadores, oficiais e soldados para ligar o
mundo. As áreas de terra adjacentes ao Mediterrâneo eram as únicas
controladas por Roma: África do Norte, Palestina, Síria, Ásia Menor,
Europa Meridional (Grécia, Iugoslávia, Itália, França e Espanha) e as ilhas
do mar. Durante os anos de maturidade de Paulo, o imperador Cláudio foi
destinado a conquistar a Grã-Bretanha, e os romanos subjugaram Dácia
(Romênia) e o vale do Tigre-Eufrates (atual Iraque).
Mas para todos os propósitos, o império foi delimitado por desertos da
África do Norte e do Oriente Próximo, e Mar Morto, o Danúbio e o Reno. É
claro que os romanos dependiam de mais do que vielas perto do mar
Mediterrâneo para manter seu mundo em ordem. Eles construíram um
maravilhoso sistema de avenidas o qual, à época da morte do apóstolo João,
consistia em 250.000 milhas de estradas aperfeiçoadas – uma distância que
circundaria o globo, equivalente a dez vezes.
Os romanos estavam bem cientes de que seu mundo não consistia no
mundo inteiro. Eles tinham falhado em dominar as tribos germânicas a leste
do Reno, os pártios na fronteira da Síria, e os pictos e os escotos no norte da
Grã-Bretanha. Os bárbaros da região do Danúbio eram uma contínua
ameaça à segurança do Império, e o imperador Adriano (117-138 d.C.)
construiu extensas defesas assim como um muro de setenta e três milhas
[N.T.: equivalente a cerca de 118 quilômetros] de lado a lado da Grã-
Bretanha. Além disso, os romanos ficariam ainda mais impressionados com
a existência de outros mundos através dos contatos com a Índia e a dinastia
Han na China, o que cresceu gradualmente durante o primeiro século depois
de Cristo e à medida que a Rota da Seda foi desenvolvida com o Extremo
Oriente.
Pelo fato do mundo mediterrâneo ser um mundo romano, suas fortunas
estavam proximamente ligadas aos desenvolvimentos romanos.
Infelizmente, durante a maior parte da época de 133-31 a.C. a revolução
atormentou os romanos. As ambições pessoais de tais líderes como Mário,
Sula, Pompeu, Júlio César, Marco Antônio e Otaviano chocavam a Itália e o
império periodicamente em batalhas militares. Finalmente em 31 a.C.,
Otaviano (Augusto César) se tornou governante do Império e introduziu a
Pax Romana, dois séculos de paz contínua e domínio efetivo de Roma no
mundo mediterrâneo. A prosperidade que desapareceu durante os anos da
revolução retornava gradualmente.

Augusto reordena seu mundo

Um povo grato ao longo do mundo mediterrâneo colocou Augusto como


“salvador” e muitos buscaram adorá-lo. Sendo assim, eles criaram um culto
ao imperador e à deusa Roma. Conforme este culto progredia, aqueles que
se recusavam a participar sofriam grande pressão e, no final, perseguição.
Quando Domiciano voltou sua ira contra os judeus no final do primeiro
século, a igreja também foi envolvida porque não era ainda vista como
separada do judaísmo. Entre os cristãos que sofreram naquela época estava
o apóstolo João, que foi exilado na ilha de Patmos onde ele recebeu o
Apocalipse. Esta parece ter sido a primeira perseguição difundida, embora
Nero tenha instituído uma perseguição local contra os cristãos de Roma
depois do fogo devastador de 64 d.C.
Depois que Augusto se tornou governante do Império, ele procurou
colocar ordem no caos. Ao invés de se tornar um militar tirano, ele
restabeleceu a natureza civil do Estado. Ele compartilhou a administração
com o senado em Roma e no Império. O Império foi organizado em
províncias senatoriais e imperiais e reinos clientes. As primeiras eram
províncias tipicamente romanas (tais como a Sicília) e então precisavam de
somente um pouco de policiamento local para manter a ordem.
Províncias imperiais, por outro lado, requeriam legiões romanas sob
direções diretas do imperador para manter a paz.
Reis clientes em lugares como a Galácia e a Judeia governavam
corretamente de maneira autônoma debaixo da bênção de Roma. Em tais
áreas, governantes nativos serviam para pacificar o campo e se preparar
para a suprema decisão do controle romano. Na Judeia, depois do governo
transicional de Herodes, o Grande e seu filho Arquelau, Roma instituiu o
governo dos procuradores – diretamente indicados pela realeza. O mais
conhecido desses foi Pôncio Pilatos, que sentenciou Jesus Cristo à morte
durante o reino do sucessor de Augusto, Tibério.
Em seu esforço para colocar ordem no império, Augusto também criou
um censo no império não somente para numerar a população, mas para
coletar o imposto por cabeça. Este censo fez com que as pessoas
retornassem a seu lar hereditário para que fossem registradas (pelo menos
na parte oriental do Mediterrâneo); José e Maria tinham que voltar para
Belém, onde Jesus nasceu. Não se pode saber com certeza de que área dada
do mundo mediterrâneo essas pessoas estavam vindo. Provavelmente, a
Itália tinha cerca de quatorze milhões de pessoas nos dias de Augusto e
umas vinte milhões em 70 d.C. A população do império possivelmente
alcançava oito milhões de pessoas, durante o primeiro século cristão.

Os valores e a resistência romana

À medida que a prosperidade crescia por todo o mundo romano e a


cidadania e seus benefícios eram estendidos, números crescentes de pessoas
adotavam os sistemas romanos. A romanização trouxe pacificação e
gradualmente se desenvolveu uma nação italiana do império. Até mesmo a
sorte dos escravos não era tão ruim quanto poderia ter sido. A alforria era
comum e relativamente fácil, e escravos libertos muitas vezes alcançavam
cidadania.
Debaixo dessas circunstâncias, muitos provincianos tendiam a calcular
segurança e prosperidade e preferência pessoal acima da liberdade.
Rebeliões nas províncias se tornaram extremamente raras. Embora seja
verdade que houve uma rebelião e uma eferverscência militar em 68-69
d.C. quando Nero foi deposto, os levantes não foram dos provincianos
buscando liberdade, mas de soldados ambiciosos em sentinela por
benefícios e comandantes militares rivalizando pela cadeira do imperador.
Claro que uma exceção a isso foi a província da Judeia. Lá, o problema não
foi meramente um nacionalismo contínuo, mas exclusivista, uma religião
monoteísta que recusava a ser escondida no mar do politeísmo. A revolução
irrompeu em 66 e culminou na destruição de Jerusalém e do templo em 70
d.C.
Na verdade, a mesma coisa aconteceu entre outros povos do império
conforme entre os judeus. Muitos do grupo do alto sacerdócio e seus
associados foram influenciados pela aproximação contrária ao sobrenatural
da sociedade pagã. Esses saduceus vieram para negar a ressurreição e se
tornaram teólogos “liberais” dos tempos do Novo Testamento.
Aparentemente, este elemento da sociedade dos judeus buscou uma
promoção social e econômica nas mãos dos romanos assim como fizeram
seus congêneres em outras províncias.
Mas os fariseus pregavam uma estrita aderência à lei e aos aspectos
sobrenaturais do judaísmo, junto com a esperança messiânica. Estes líderes
falavam sem parar nas sinagogas daquela terra. Geralmente eles suportavam
o nacionalismo judeu, mas eles não iam muito longe, como iam os zelotas,
em defender uma ação militar para obter independência política.
As sinagogas serviam como treinamento e centros de adoração para os
judeus fiéis, não somente na Palestina, mas por todo o império. As
comunidades foram estabelecidas na Síria, Ásia Menor, Grécia, Itália,
Egito, dentre outros lugares. Em toda cidade onde eles eram
suficientemente numerosos, eles construíam uma sinagoga. Essas sinagogas
se tornaram faróis do monoteísmo em uma sociedade greco-romana
politeísta, e o Antigo Testamento traduzido para o grego (a Septuaginta) era
uma Bíblia que poderia ser lida em qualquer lugar do mundo greco-romano.
Assim, muitos gentios se tornaram tementes a Deus ou convertidos ao
judaísmo (Atos 2:10; 13:43), espiritualmente preparados para a vinda do
evangelho cristão. Foi uma estratégia do apóstolo Paulo em seus esforços
missionários sempre ir primeiro às sinagogas, porque ele podia esperar
encontrar corações preparados para receberem o evangelho de Cristo.
O mundo romano da era do Novo Testamento era fundamental-mente
diferente do mundo mediterrâneo de hoje em dia. Havia uma unidade
cultural: a cultura greco-romana dominava toda a região, e as pessoas
tinham que se mover na linguagem grega para fazer com que a economia, a
política e a cultura se movessem. Qualquer um que buscasse disseminar o
evangelho não tinha que aprender uma nova linguagem primeiro ou sofrer
um choque cultural. Então lá havia uma unidade política. Passaportes e
vistos eram desconhecidos. O poder romano calou a pirataria no mar e o
roubo em terra. A prosperidade romana e burocracia mantiveram a
infraestrutura, especialmente um magnífico sistema rodoviário. Se alguém
fosse tão afortunado em possuir a cidadania romana, provavelmente tinha
direitos especiais e proteção que facilitariam seus esforços evangelistas (por
exemplo, o apóstolo Paulo). Os judeus, assim como tratado anteriormente,
através das sinagogas (alguns 150 se espalharam pelo império) proviam um
testemunho para o monoteísmo e uma expectativa sobre o Messias que
estava por vir. Além disso, eles tinham completado a tradução da sua Bíblia
para o grego (a Septuaginta) em Alexandria, Egito, antes do fim do segundo
século antes de Cristo. O mundo mediterrâneo estava preparado cultural,
política e religiosamente para a vinda de Cristo e da igreja, durante o
primeiro século cristão. Pode-se argumentar que não houve outra situação
na história do mundo em que as condições fossem justas para Deus fazer
algo novo na terra. A “plenitude dos tempos” havia chegado (Gálatas 4:4).
CAPÍTULO

19

O Messias Prometido Vem: Os Evangelhos


Mateus, Marcos, Lucas e João

O Novo Testamento é organizado de uma forma lógica. Primeiro


aparecem a documentação da vida e obra de Jesus na terra, nos
evangelhos. Depois o livro de Atos descreve a história da igreja primitiva
que Cristo deixou para continuar Sua obra.
Este livro conta especialmente sobre a fundação das igrejas através do
ministério do apóstolo Paulo e seus companheiros. Depois aparecem cartas
que Paulo e outros escreveram para as igrejas e seus líderes, para instrui-los
na verdade. Finalmente, em Apocalipse, há uma descrição do retorno de
Cristo à terra, julgando todas as pessoas e instituindo o novo céu e a nova
terra.
Os livros no Novo Testamento não necessariamente aparecem na ordem
em que foram escritos. Paulo escreveu algumas de suas cartas antes dos
evangelhos serem compostos, e João escreveu seu evangelho quase depois
de todo o Novo Testamento já existir. Quando a coleção estava completa,
por volta de 100 d.C., esta forneceu um adequado registro da fundação da
igreja – a instituição a quem Ele deu a tarefa de evangelizar o mundo – e da
doutrina, prática e missão que constituíam nas ordens para a igreja. Desta
forma, os cristãos de hoje em dia têm um corpo de literatura manejável e
compreensível, que diz tudo o que eles precisam saber sobre a vida e obra
de Cristo, seus privilégios e responsabilidades no mundo, e as fontes
divinas disponíveis para fazer com que eles cumpram suas obrigações.

Problema Sinóptico e Autoria dos Evangelhos


Os primeiros três evangelhos – Mateus, Marcos e Lucas – são
frequentemente chamados de evangelhos sinópticos (um termo que
significa “ver junto”) porque eles veem de uma maneira bem próxima, os
muitos eventos da vida de Cristo. Resumindo, o problema sinóptico é:
“Como nós consideramos a extrema similaridade entre tantas partes desses
três evangelhos?” Para ilustrar, mais de noventa por cento do material de
Marcos aparece em ambos Mateus e Lucas, abrangendo quase metade de
cada um desses evangelhos. Dos outros cinquenta por cento restantes do
conteúdo de Mateus e Lucas, quase metade é achado em ambos; o restante
aparece somente em um evangelho. Por outro lado, menos do que dez por
cento de João é achado em todas os três sinópticos.

Uma Questão de Fontes


Estudiosos atuais fizeram um grande esforço para relatar este fenômeno
literário. Das soluções que eles ofereceram, a maioria geralmente aceita é a
teoria de dois (ou quatro) documentos. Esta ensina que Marcos (até mesmo
um primitivo Marcos ou o Marcos que temos hoje) foi escrito
primeiramente, e os outros evangelhos pediram a narrativa histórica
emprestada dele. Porém, a dissertação material foi tirada de um suposto
documento “Q”. O assunto era peculiar para Mateus ou Lucas que vieram,
respectivamente, das fontes M ou L.
Para responder, deve-se pontuar que não há evidência objetiva para
existência de Q , L ou M. Além disso, não é necessário reduzir Mateus à
posição de plagiário, porque ele foi um apóstolo e acompanhou Cristo
durante a ocorrência de quase tudo o que aparecia em seu evangelho. Se
João fosse levado em consideração, o mesmo pode ser falado sobre ele.
Pela tradição, dizer que Marcos (que não foi um apóstolo) escreveu sob
influência de Pedro, nós podemos esperar que ele achou necessário pegar
emprestado parte do material de Mateus ou alguém mais, em lugar de atuar
como uma fonte para Mateus e Lucas. Somente Lucas teve que pesquisar
para escrever seu evangelho. Ele aparentemente teve acesso a vários relatos
breves da obra de Cristo na terra (Lucas 1:2), assim como uma tradição
apostólica com respeito ao ministério de Cristo (1:1). É claro que ele
chegou muito próximo ao círculo apostólico. Mas uma pesquisa nunca
implica em copiar a maior parte do material de uma única fonte, como seria
o caso se Lucas tivesse copiado somente de Marcos.
Também devemos notar que somente quando a Bíblia começou a perder
seu prestígio como um produto divino, o problema sinóptico atormentou
seriamente os estudiosos da Bíblia (um pensamento mais crítico e
evolucionário do século XIX contribuiu para este declínio de prestígio).
Entre os cristãos reverentes durante as gerações, sempre é dito que Deus,
com seu Espírito Santo, desejava nos quatro evangelhos, enfatizar várias
fases da pessoa de Cristo, a totalidade da qual formaria uma completa
imagem de Sua pessoa. Ao apresentar esses quatro aspectos da pessoa de
Cristo, haveria naturalmente uma certa quantidade de repetições e
divergências.

Uma Semelhança Extraordinária


Mas ao dizer tudo isso, nós ainda não relatamos a similaridade, mesmo
em porções verbais, dos três primeiros evangelhos. Esta similaridade pode
ser explicada em pelo menos três formas. Primeiro, talvez não haja
pequenos relatos históricos dos aspectos das obras e ensinamentos de Jesus
nos quais todos os três poderiam tracejar. A existência de tais relatos
escritos parece certa (Lucas 1:1). Mas se o escritor dos evangelhos
canônicos faz menção sobre eles, nós deveríamos esperar uma
correspondência mais verbal em certos pontos do que nós acha-mos nos
sinópticos. Segundo, Mateus, Marcos e Lucas podem ter se conhecido em
Jerusalém e/ou em Antioquia da Síria e terem discutido o começo do
ministério de Cristo em várias ocasiões. Isto merece uma investigação
futura. Uma similaridade próxima em fraseologia indica uma forte
evidência de interdependência.
Terceiro, aparentemente havia uma tradição oral a respeito da vida e
ensinamentos de Jesus Cristo que circulavam na igreja primitiva. Se os
seguidores de Jesus iam apresentar a Jesus propriamente, eles tinham que
contar uma história consistente sobre Sua carreira. Por ser contada
constantemente, esta história poderia ter adquirido um padrão particular.
Havia uma verdadeira aceitação, que é indicada em passagens como Lucas
1:1, 2 (“fatos... entre nós se realizaram... conforme nos foram transmitidos”)
e 1 Coríntios 15:2,3 (“se tiverdes a palavra tal como vo-la preguei... vos
entreguei... o que também recebi”). Se a tradição apostólica fosse oral,
haveria alguma flexibilidade na ordem das frases e palavras em ênfase,
assim como ocorre nos evangelhos sinópticos. Então Mateus, Marcos e
Lucas entraram no corpo do ensinamento apostólico oral à medida que
satisfaziam seus propósitos e até mesmo tenham mudado a fraseologia ou
ênfase à medida que eles foram levados a assim fazer sob a liderança do
Espírito Santo. A pesquisa pessoal deles e as diferenças de perspectiva e
propósito explicariam os materiais peculiares para cada um; as muitas
diferenças nos evangelhos indicam sua independência. As similaridades
derivam do assunto em comum, fontes comuns de informação e inspiração
divina comum. De qualquer forma, nós devemos acreditar com reverência
que aquilo que aparece em cada evangelho sinóptico é exatamente o que o
Espírito Santo quis que lá estivesse.
Há uma forte tradição de que Mateus, Marcos, Lucas e João escreveram
cada um o evangelho que leva seu nome. No caso de Mateus e João,
evidências internas consideráveis suportam esta tradição. Evidências
internas da autoria de Lucas se tornam igualmente grandes quando ligadas à
informação dos Atos, outra posição canônica de Lucas. Evidências internas
da autoria de Marcos são mais fracas, mas não há razão válida para negar
que ele ou qualquer outro escritor dos evangelhos não tenha escrito os
livros atribuídos aos mesmos.

Ocasião e Data

Na opinião do autor, a data dos evangelhos depende de pelo menos,


quatro considerações: a ordem dos evangelhos nas listas da igreja primitiva,
a situação histórica dando lugar aos evangelhos, evidências internas e a data
de Atos.
Nas listas dos evangelhos que ficaram para nós dos primeiros dias da
igreja, Mateus e João aparecem primeiro, nunca Marcos ou Lucas.
Sabendo que João escreveu o último, a primazia de seu evangelho deve
ter sido dada por causa do grande significado espiritual de sua mensagem.
Algumas pessoas pensam que Mateus foi listado primeiro porque ele
escreveu primeiro, e esta é uma possibilidade. Pelo fato de Mateus ter sido
discreto entre os discípulos, nós devemos achar boas razões para colocar
seu evangelho primeiro em muitas listas. Talvez a data de composição seja
tão boa quanto qualquer outra.
Historicamente, havia uma necessidade por um evangelho para os judeus;
Mateus é claramente este evangelho. Depois, houve uma necessidade de um
evangelho para aqueles que falavam grego; Lucas se qualifica. À medida
que a mensagem de redenção viajou para o oriente, houve a necessidade do
terceiro evangelho – escrito particularmente para a mente romana. Marcos
se encaixa. Então, à medida que começava a haver uma tradição da igreja
primitiva, João atentou-se para produzir um evangelho universal, que seria
uma interpretação espiritual da narrativa sinóptica.
Evidências internas indicam que Mateus, Marcos e Lucas foram todos
escritos antes da queda de Jerusalém em 70 d.C., e João depois de todo esse
tempo. Além disso, parece que Mateus e Lucas foram escritos antes do livro
de Atos. Pelo menos Lucas foi, porque a introdução de Atos diz isto. Para
que a ocasião histórica da escrita dos evangelhos e indicações das primeiras
listas dos evangelhos sejam levadas em consideração, devemos concluir que
Mateus também foi escrito antes de Atos.
Atos 28:30 indica que Atos foi escrito logo antes do fim do primeiro ano
em que Paulo esteve preso. Duas das cronologias mais aceitas da vida de
Paulo dizem que sua prisão aconteceu em 58-60 ou 59-61. Então, Atos foi
provavelmente escrito em 60 ou 61. Muitos pensam que Lucas fez a
pesquisa para seu evangelho durante a prisão de Paulo em Cesareia (que de
acordo com alguns foi em 56-58 e outros, 57-59). Se isto é verdade, Lucas
deve ter escrito por volta de 58-61. Pelo menos ele compôs seu evangelho
não muito tempo antes de Atos. Assumindo que Mateus foi escrito antes de
Lucas, nós podemos garantir o período de 50-60 para sua composição.
Possivelmente ele foi escrito em Antioquia. Várias considerações parecem
requerer que Marcos escreveu depois da morte de Pedro nas mãos de Nero.
Se o evangelho foi escrito antes da queda de Jerusalém, nós podemos datá-
lo por volta de 66-69.
A história diz que Roma foi o lugar da publicação. Pensa-se geralmente
que João escreveu seu evangelho em Eféso entre 85 e 95.
Carsen Thiede e Matthew D’Ancona no livro Ey ewitness to Je sus
[Testemunha Ocular de Jesus] (New York: Doubleday, 1996) argumentam
que fragmentos do papiro do evangelho de Mateus localizados no Magdalen
College (Oxford) datam de cerca de 60 d.C. A aceitação de tal data faria do
escritor uma testemunha ocular de Jesus e faria do seu evangelho o primeiro
dos quatro evangelhos.
Mateus: Foco no Messias

Ao escrever um evangelho destinado particularmente aos judeus, Mateus


enfatiza a messianidade de Cristo. Ele demonstra isto pela referência à
linhagem de Cristo, Seus feitos, Seus ensinamentos e o constante
cumprimento da profecia em Sua vida. Além disso, ele enfatiza o reinado
do Messias e o termo reino dos céus aparece trinta e três vezes.
A referência ao Antigo Testamento é mais frequente aqui do que em
qualquer outro evangelho; em todos há cerca de cinquenta e três citações do
Antigo Testamento e setenta e seis alusões a ele. Estas foram tiradas de
vinte e cinco livros do Antigo Testamento.
No começo da nação hebreia, Deus disse a Abraão: “... e em ti serão
benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3). Ele assegurou a Davi
que seu reino e trono seriam estabelecidos para sempre (2 Samuel 7). Tais
promessas de alianças tremendas poderiam ser cumpridas somente por uma
pessoa infinita, ou seja, Cristo. É lógico, então, na apresentação do
evangelho do Messias que Mateus começasse pela demonstração de que
Cristo estava na linhagem de Abraão e Davi. Entretanto, ninguém pode
passar por cima desta lista particularmente desinteressante de nomes não
familiares. É impressionante a compreensão que a linhagem de Jeconias
(Jeconiah ou Joaquim, Mateus 1:11) era amaldiçoada (Jeremias 22:30;
36:30); e então Cristo não poderia ter nascido em sua linhagem; embora ele
tenha sido descendente de Davi.
Por esta razão, dentre outras, muitos estudiosos da Bíblia concluem que
aqui está documentada a real linhagem de Cristo, a genealogia de José. Se é
assim, este constitui um dos mais poderosos argumentos para o nascimento
através da virgem. Com a linha de José amaldiçoada, foi necessário para
Cristo nascer de Maria, também descendente de Davi.
Nesta conexão, deveria ser apontado que o “da qual” em Mateus 1:16 é
feminino singular no grego.
O resto do capítulo 1 comenta sobre o nascimento pela virgem como o
cumprimento da profecia. É de extrema importância que nos lembremos
que se Cristo tivesse nascido na linhagem amaldiçoada de José ao invés do
nascimento pela virgem, o plano profético de Deus para as gerações teria
dado errado! Todas as famílias da terra nunca poderiam ter sido abençoadas
nele, como prometido para Abraão; nem Ele poderia reinar perpetuamente
no trono de Davi. Por outro lado, Maria, de acordo com a genealogia de
Lucas (Lucas 3:31), descendeu de Davi através de Natã – uma linhagem
que não foi maldita.
Mas Mateus não é um evangelho somente para os judeus; os gentios
também estão à vista neste evangelho. Os magos vieram de um país distante
para compartilhar na adoração do recém-nascido bebê em Belém (2:1-12).
Duas mulheres não-judias aparecem em Sua genealogia (1:5). Mateus é um
evangelho que menciona a igreja (16:18; 18:17), e fica claro através da
Grande Comissão que mais judeus estavam para ser incluídos na igreja
(28:19). Além disso, Jesus declara especificamente que o reino será tomado
de Israel e dado a um povo que dê seus frutos (21:43) e que as nações
entrarão na herança de Israel (8:11,12).
No capítulo 2, o Messias foi reconhecido e adorado pela realeza oriental;
e em 3:1-4:11, Ele foi preparado para Seu ministério público de uma forma
tripla: pelo ministério de João Batista, pelo batismo e pela tentação. A obra
de João aconteceu meramente para introduzir o ministério de nosso Senhor.
Por ser cheio do Espírito de nascimento, João tinha percepção para
reconhecer seu papel na vida e humildade para dar o lugar justo para seu
Senhor (veja Isaías 40 para a profecia do ministério de João). Muita tinta foi
gasta na discussão da importância do batismo de Cristo. Não importa o que
estava envolvido, parece seguro dizer que o evento marcou a inauguração
do ministério público do Senhor. No batismo, os outros membros da
Trindade expressaram seu prazer na missão divina da salvação que a Ele
agora estava garantida. No entanto, a aprovação divina não deixou Cristo
imune à oposição satânica. Não somente era o desejo de Satanás frustrar o
plano de Deus para a redenção, mas também estava no plano de Deus que
Cristo passasse pela tentação. (Note que o Espírito Santo O levou ao deserto
para que fosse tentado, Mateus 4:1.) Talvez por isto, em parte, Cristo foi
tentado em todos os pontos assim como nós e então é um perfeito sumo
sacerdote (Hebreus 4:15). O objetivo da referência de Hebreus é mostrar
que Ele viveu tentações em uma variedade de categorias assim como nós
vivemos. À medida que encaramos a tentação, nós podemos ter em mente o
que Ele em Sua humanidade fez, pelo recurso da Palavra de Deus.

O Ministério na Galileia
Geralmente, a vasta seção de Mateus de 4:12 a 18:35 descreve o
ministério galileu. Em 4:12, Ele entra na Galileia; em 19:1, Ele deixa a
Galiléia e vai para a Judeia. Entre essas duas referências, acontecem
eventos tremendos. Na última parte do capítulo 4, Jesus chama Seus
discípulos; quatro são mencionados neste ponto. Então Ele continua a
instrui-los através do grande sermão do monte (capítulos 5-7). Esta
passagem muitas vezes tem sido chamada de proclamação do Rei; aqui está
exposta a natureza do reino. As bem-aventuranças, descrevendo o caráter
dos membros do reino, começam o discurso. Então Jesus discute e
interpreta a lei, mostrando que a lei do Antigo Testamento não é um
negócio externo, mas sim, do coração. Fé e abertura para o reino constituem
os tópicos de conclusão do sermão. O sermão da montanha sofreu muito nas
mãos de pessoas bem intencionadas que tentaram fazer dele um meio de
salvação. Elas dizem: “Se vivermos de acordo com o sermão da montanha
nós faremos tudo o que Deus espera de nós.
Então nós podemos estar seguros da salvação.” Mas tais ensinamentos
constituem um evangelho de obras e entra em contrariedade com os
ensinamentos de Cristo e Paulo a respeito da graça (João 3; Efésios 2:8, 9;
Tito 3:5, 6). Que pessoa pecadora poderia esperar viver pelas bem-
aventuranças, por exemplo? O único capaz de viver é o fiel capacitado pelo
Espírito Santo.

Poder através dos milagres


As obras miraculosas de Cristo dominam os capítulos 8-12. Sua
messianidade é atestada por uma demonstração de poder. O capítulo 13 lida
com a grande parábola do reino, que descreve o curso da geração.
Resumindo, o significado dessas histórias terrenas com um significado
celeste podem ser notados a seguir. A parábola do semeador descreve
diversos resultados que podem ser esperados quando a semente do
evangelho é semeada (13:1-23). A mistura do trigo e do joio no campo
demonstram o fato de que durante esta era, a cristandade consistirá em uma
mistura de verdadeiros cristãos com aqueles que têm uma religião vazia
(13:24-30). A parábola do grão de mostarda ensina o começo insignificante
do reino e o crescimento raro e inesperado (13:31, 32), enquanto fermento
ou levedo no alimento acentua o fato de que como o levedo produz um
fermento ou um processo dinâmico ou irresistível, então a semeadura da
Palavra produzirá um novo reino através de um trabalho quieto e cativante
vindo de dentro (13:33-35). O tesouro escondido e a pérola provavelmente
se referem ao valor dos cristãos para o qual Cristo fez o supremo sacrifício
(13:44-46). Alguns relatam o primeiro a Israel e o último à Igreja. A
parábola da rede de pesca claramente descreve o julgamento a ocorrer no
fim dos tempos (13:47-50).
Quatro desenvolvimentos se sobressaem nos capítulos remanescentes da
seção galileia: milagres, a grande confissão, anúncios da paixão e a
Transfiguração. Entre os grandes milagres estão alimentar os cinco mil, a
caminhada de Jesus sobre as águas e alimentar os quatro mil.
Na grande confissão (16:13-20), Pedro, possivelmente falando para os
discípulos, reconheceu Jesus como o Cristo, o Messias. Tendo obtido esta
confissão, Jesus seguiu e profetizou Sua morte e ressurreição. Mas entre
esses dois anúncios da paixão (16:21, 17:22, 23), a Transfiguração ocorreu.
Talvez o propósito deste evento fosse prover força para ambos os discípulos
e Cristo durante os dias difíceis que se aproximavam. Deus muitas vezes
prefacia os vales com experiências do monte.
Note-se que eles desceram do monte, e Jesus novamente Se preocupou
com o Seu sofrimento que estava por vir (17:9,12).

A Oposição Crescente
Depois do ministério galileu, Jesus fez a jornada para Jerusalém; os
capítulos 19 e 20 descrevem eventos acontecidos pelo caminho. O resto da
narrativa do evangelho está encenada em e ao redor de Jerusalém.
Os capítulos 21-23 descrevem a rejeição de Israel ao Messias. Apesar do
fato de eles terem inicialmente O exaltado como rei quando entrou em
Jerusalém, a oposição cresceu rapidamente até que se solidificou.
Seguidores de Herodes, fariseus, saduceus e escribas O confrontavam.
Mateus 23:37, 38 deixa claro que esta oposição não era restrita aos
líderes do povo: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas
os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a
galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a
vossa casa vai ficar-vos deserta!”
As previsões do Messias sobre o final dos tempos consomem o capítulo
24 e 25. Esta passagem, conhecida como o sermão do Monte das Oliveiras,
conta sobre a Grande Tribulação, e a segunda vinda de Cristo ao final dela,
e o julgamento das nações que irá ocorrer quando Ele voltar. A
subsequência de eventos é claramente vista ao pular as parábolas
ilustrativas depois de 24:31 e uma leitura de 25:31. É evidente que o
julgamento mencionado em 25:31-46 ocorre antes do Milênio, pelo fato de
que a ovelha é recompensada ao entrar no reino. A base do julgamento é
tratamento dos “meus irmãos”, aparentemente os judeus do período da
Tribulação. Entretanto, não se deve sentir que a salvação referida aqui é
alcançada pelas obras. Em primeiro lugar, isto seria inconsistente ao claro
ensinamento das Escrituras. Em segundo lugar, isto sugeriria que somente
os cristãos arriscariam sua vida em proteção aos judeus durante a
Tribulação. Então, ajudar os judeus se torna uma evidência de salvação e
não um meio de recebê-la.

Reconhecimento de Jesus como Filho de Deus


A Paixão de Cristo, a ressurreição e a Grande Comissão ocupam os três
últimos capítulos do livro. O intenso sofrimento de Cristo começa com a
traição de Judas, o descanso dos discípulos no jardim, a zombaria de Seus
acusadores e a negação de Pedro. Mas até mesmo em Sua morte, o
elemento messiânico está presente. Em meio à zombaria, os soldados
romanos O saudaram como rei dos judeus; lia-se sobrescrito na cruz: ESTE
É JESUS, O REI DOS JUDEUS. O centurião que O viu morrer testificou:
“Verdadeiramente este era o Filho de Deus.” Como evidência de que Sua
obra de redenção estava completa, o véu do templo foi rasgado ao meio – o
acesso à presença de Deus agora estava disponível a todo aquele que
acreditasse através de Cristo, nosso sumo sacerdote. Mais adiante, atestando
Sua divindade, Cristo levantou-Se dos mortos. Por agora, Sua obra na terra
estava terminada; então Seus seguidores teriam que continuar a tarefa que
Ele tinha começado. Então, antes de ir, Jesus deu a eles uma tremenda
responsabilidade: “Ide e fazei discípulos por todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, os ensinando a observar tudo
o que eu ordenei a vocês” (Mateus 28:19, 20). Mas esta foi uma ordem com
uma promessa: “Eis que estou convosco todos os dias” (Mateus 28:20).
A seguir, um breve esboço de Mateus, focando no Messias:

1. A Vinda e Preparação do Messias: 1:1-4:11


2. O Ministério do Messias na Galileia: 4:12-18:35
3. O Ministério do Messias em Jerusalém: 19:1-28:20
Marcos

No começo do século segundo, os líderes da igreja primitiva eram


unânimes em dizer que Marcos era o autor do segundo evangelho, sobre a
influência de Pedro ou como seu intérprete. Deste modo, o livro ganhou
autoridade apostólica ou aprovação. Entretanto, eles discordam se Marcos
escreveu durante a vida de Pedro ou em Roma, após sua morte. Talvez a
verdade é que ele tenha começado a escrever enquanto Pedro ainda estava
vivo e lançou o evangelho após sua morte.
Ninguém esperaria uma tradição da autoria de Marcos para desenvolver
se isto era ou não verdade; ele era, apesar de tudo, uma figura menor. É
significante que nenhuma proposta alternativa a respeito da autoria foi feita.
Os poucos críticos modernos que têm buscado descartar a autoria de
Marcos, não têm sido muito seguidos.
Uma interna evidência para a autoria ou composição de Marcos em
Roma é mínima. Como origem romana, muitas vezes é notado que Marcos
15:21 nomeia Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo, como portador da
cruz de Cristo e que Rufo e sua mãe estavam vivendo em Roma à época que
a epístola aos Romanos foi escrita (Romanos 16:13). Se alguém aceita a
identificação de Marcos 15:21 e Romanos 16:13, assim como muitos, a
inclusão de Marcos a este detalhe teria significado para a igreja romana.
Além disso, latinismos em Marcos são constantemente apontados.
Transliterações de palavras latinas para o grego são mais frequentes aqui do
que em outros evangelhos. Certamente, os conteúdos do evangelho refletem
uma testemunha ocular dos eventos; se ela não fosse Pedro, teria que ser um
dos outros apóstolos. Comentaristas frequentemente sugerem que o jovem
homem que fugiu quando Jesus foi preso era Marcos (Marcos 14:51, 52),
mas ninguém pode ter certeza desta identificação.
Na biografia de Marcos, sabe-se que ele tinha um lar em Jerusalém.
Também é sugerido que o andar de cima de sua casa foi usado para a
Última Ceia e também para a reunião no Pentecoste. João Marcos, um
primo de Barnabé (Colossenses 4:10), juntou-se a Barnabé e Saulo na
primeira viagem missionária e ministrou com eles em Chipre (Atos 13:5),
mas deixou Perge e voltou para Jerusalém (Atos 13:13). À época de sua
segunda jornada, Paulo recusou-se a levar João Marcos novamente
(aparentemente sentindo que ele era muito indigno de confiança). Barnabé
levou Marcos em uma outra missão a Chipre e Paulo levou Silas e foi para a
Ásia Menor e Grécia. Marcos apareceu em Roma durante a prisão de Paulo
lá e enviou cumprimentos aos Colossenses e a Filemon (Colossenses 4:10;
Filemon 24). Em 1 Pedro 5:13, Pedro se refere a Marcos como “meu filho”;
talvez ele fosse o substituto de Pedro, assim como Timóteo foi de Paulo. De
qualquer forma, Paulo falou bem de Marcos em 2 Timóteo 4:11 e desejou
sua companhia durante seus últimos dias na terra. Não importam quais
foram as falhas iniciais de Marcos em sua vida, ele mais tarde provou quem
era.

Jesus como Servo


Enquanto Mateus enfatiza o aspecto real da messianidade de Jesus,
Marcos O apresenta como o Servo de Jeová. Estes dois conceitos não são
incompatíveis; a descrição profética de Isaías inclui ambas. Alinhado com o
ensinamento de Isaías a respeito do ministério do Servo de Jeová, Marcos
se divide em duas partes iguais; a primeira, focando as obras de Jesus na
Galileia e a segunda em Sua paixão em Jerusalém.
O verso-chave, Marcos 10:45, resume admiravelmente essas duas
porções: “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.” A seguir, um resumo
simplificado baseado no conteúdo e nos versículos-chave:

1. Preparação do Servo: 1:1-13


2. Proclamação do Servo: 1:14-8:30
3. Paixão do Servo: 8:31-16:20

O evangelho de Marcos não provém somente uma ênfase na obra do


Messias – um elemento minimizado em Mateus – mas é particularmente
desenhado com um evangelho para leitores romanos. Este fato é afirmado
por muitos pais da igreja e suportado por evidências internas. Marcos tem
menos referências ao Antigo Testamento que os outros evangelhos; palavras
aramaicas são interpretadas por aqueles que não conheciam a linguagem
(por exemplo, 5:41, 15:34); os costumes judaicos são explicados; e muitas
palavras latinas aparecem somente aqui nos evangelhos. Além disso, ação e
poder, ambos grandemente admirados pelos romanos, são enfatizados no
livro. A narrativa é rápida. Demonstrações milagrosas de poder estão
presentes em todos os lugares; em todas, dezoito milagres são
documentados.
Agora vamos retornar brevemente a uma reflexão sobre o esboço de
Marcos apresentado acima. A preparação é rapidamente descrita. A
preparação para Cristo é vista no ministério de João Batista. A preparação
de Cristo é marcada pelo batismo e a tentação.

Ministério Concentrado
Com a exceção de breves excursões para regiões como Tiro, Sidom e
Decápolis, toda a seção das proclamações acontece na Galileia. À medida
que passamos por estes capítulos, eventos se desenvolvem na velocidade da
luz. Jesus chama Seus primeiros discípulos e começa Seu ministério em
1:14-45; em 2:1-3:6 a oposição a Ele começa quando Ele cura o paralítico
no sábado e o homem com a mão doente. Em 3:7-35 Ele ordena os doze e
declara uma nova relação de discipulado: “Porquanto, qualquer que fizer a
vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe” (3:35). No
capítulo 4, Ele instrui a multidão por meio de parábolas, que tem seu tema
central no começo e crescimento do reino. O capítulo é similar a Mateus 13
(veja comentários sobre este capítulo em Mateus). Ambos Marcos 4 e
Mateus 13 explicam a parábola do semeador. Uma nota adicionada aqui é o
propósito do ensinamento parabólico (Marcos 4:11, 12). Aparentemente,
esses versos ensinam que as parábolas foram usadas para prevenir que Seus
inimigos tomassem a verdade e para evitar grandes multidões somente com
um interesse superficial pelo reino. Certamente, Ele não estava tentando
esconder Sua mensagem; Ele veio para buscar e salvar aquele que estava
perdido. Além disso, Ele falava claramente para que todos pudessem
entender, e constantemente defendia que homens e mulheres recebessem a
verdade. Pelo contraste, 4:35-5:43 introduz uma grande exibição de poder –
algo que todos deveriam entender. Ele calou o mar; libertou o geraseno
endemoniado, curou uma mulher com um incurável fluxo de sangue; e
trouxe uma criança de volta à vida.
Aqui é demonstrado o poder de Jesus acima da natureza, das forças
satânicas, das doenças e da morte.

O Chamado dos Trabalhadores


Quando entramos no capítulo 6, uma nova fase da obra de nosso Senhor
aparece: Ele associa Seus discípulos com Ele em Seu ministério.
Anteriormente, eles tinham sido grandes observadores; agora eles se
tornam colegas de trabalho. Em 6:7, Ele os envia para pregar, dando a eles
até mesmo poder sobre os demônios. O relato da morte de João Batista é
introduzido para demonstrar os riscos da disciplina. Os discípulos servem
no episódio da alimentação dos cinco mil e dos quatro mil.
Algo mais fica claro nesta última parte da seção da proclamação:
conflitos e oposições crescentes. Em Nazaré, Cristo encontrou incre-
dulidade (6:6), de Herodes veio uma crescente pressão política (6:14 e
seguintes); Seus discípulos não O entenderam claramente (6:52); os fariseus
se opuseram a Ele (7:11 e seguintes; 8:10 e seguintes).
Ao longo dos capítulos 1-8, Jesus permanece como o servo perfeito, um
verdadeiro padrão para aquele que crê. Ele era um ministro carinhoso,
amoroso e misericordioso (6:34; 8:2). Ele era um servo ativo, que negava
suas vontades (3:20; 6:31), um servo incompreendido (3:21), e com um
trabalho custoso – um trabalho com temor a Deus e que eventualmente
acabaria em morte.

Foco na Semana da Paixão


Talvez seja mais arbitrário começar a seção da paixão do evangelho com
8:31; muito desta seção começaria mais tarde no livro. E ainda, o primeiro
anúncio da paixão ocorre em 8:31. Daí em diante, este tema cresce. Em 9:9,
Sua morte é mencionada. Em 9:31 Ele fez o segundo anúncio da paixão; e
em 10:32-34, Ele faz o terceiro. A Transfiguração é documentada (9:1-13);
e como mencionado na discussão de Mateus, uma provável razão para a
Transfiguração foi a preparação de ambos Jesus e os discípulos para os dias
difíceis que se aproximavam. Depois da jornada para Jerusalém no capítulo
10, com o propósito de oferecer um resgate para Sua vida, o Servo começou
o período principal da paixão.
É interessante que esta seção, começada em 11:1, constitui cerca de três
oitavos do evangelho e que a maioria disto acontece em uma semana. Os
primeiros cinco oitavos ocupam aproximadamente três anos. Apesar disso
tudo, a vida de Cristo sem pecado, não poderia sozinha nos salvar (embora
Ele tivesse que ser sem pecado para ser nosso Redentor); então, é adequado
colocar grande ênfase em Sua morte e ressurreição.
Geralmente, esta porção se divide em três seções: ministério em
Jerusalém (11-13); submissão à morte (14-15); e ressurreição e ascensão
(16). No capítulo 11, Jesus faz Sua aparição oficial como rei e purifica o
templo; no capítulo 12, Ele tem uma vitória sobre os líderes dos judeus; no
capítulo 13, Ele apresenta a revelação do futuro, a qual inclui a Tribulação e
a Segunda Vinda. Os destaques dos capítulos 14 e 15 em ordem são a
conspiração do chefe dos sacerdotes e escribas, a unção de Jesus, o plano de
traição de Judas, a Ceia do Senhor, a agonia no jardim, a prisão de Jesus,
Jesus diante do sumo sacerdote e o Sinédrio, a negação de Pedro, Jesus
diante de Pilatos, e a crucificação e sepultamento. O livro termina com o
triunfo do Servo sofredor sobre a morte e Sua ascensão ao Pai – Sua
servidão tendo sido consumada.
A questão do término de Marcos é uma das mais espinhosas de todo
estudo do Novo Testamento. Os melhores manuscritos param no capítulo
16, no verso 8. O grande estudioso Eusébio de Cesareia, tendo escrito no
século quarto, disse que quase todas as cópias do evangelho terminam com
o verso 8. Jerônimo, tradutor da Vulgata, disse quase a mesma coisa logo
depois de 400 d.C. Além disso, muitos argumentam que os versos 9-20 não
têm o mesmo estilo do resto do livro. Então, a tendência dos estudiosos
atuais é omitir estes versos. Mais ninguém deve ser tão apressado em jogar
Marcos 16:9-20 fora. Justino Mártir, Ireneu e Taciano testemunharam sua
inclusão no segundo século, e as primeiras traduções – o latim, o siríaco e o
cóptico – os incluem. Esperamos que novos manuscritos tragam luz às
questões.

Lucas

A autoria de Lucas está associada a de Atos. O escritor endereça ambos a


Teófilo. Como é notado na discussão de Atos: a chamada seção “nós” neste
livro ajuda a estabilizar Lucas como autor de tais passagens. Uma análise
do grego mostra que o estilo e o vocabulário do resto dos Atos são o mesmo
da seção “nós”. Além disso, um estudo do vocabulário e do estilo dos Atos
demonstra acordo próximo com a narrativa do evangelho. A ênfase no
ministério do Espírito Santo é da mesma forma, uma característica de
ambos os livros (veja, por exemplo, Lucas 1:35, 3:22, 4:1; 4:18; 10:21; e
Atos 10:38). O apoio na tradição da igreja para a autoria de Lucas é
precoce, amplo e de poucas perguntas.
Pensa-se que Lucas foi um gentio de Antioquia, convertido lá, poucos
anos depois do Pentecoste. Ele se juntou a Paulo em Trôade em sua segunda
viagem missionária (Atos 16:10) e então o acompanhou para a Grécia. Ele
permaneceu em Filipos como pastor enquanto Paulo foi para Tessalônica e
eventualmente para Atenas e Corinto. Na terceira viagem de Paulo, Lucas
se juntou a ele novamente e o acompanhou a Jerusalém. O que Lucas estava
fazendo durante a prisão de Paulo em Cesareia não se sabe, mas alguns
pensam que ele estava engajado em pesquisas para seu evangelho.
Aparentemente, ele acompanhou Paulo a Roma e estava presente quando o
apóstolo escreveu Colossenses (4:14) e Filemon (24). Durante a segunda
prisão de Paulo, em Roma, Lucas foi o único que permaneceu com ele (2
Timóteo 4:11).
Evidentemente, Lucas não se satisfez com os relatos da vida de Cristo
existentes naqueles dias (1:1). Sem dúvidas, alguns eram inexatos e outros,
fragmentários. Se o relato de Mateus tivesse sido composto naquele tempo,
teria sido escrito em grande parte para consumo judaico e não para
satisfazer a necessidade de um evangelho para os gentios (gregos). Marcos
e João devem ter escrito seus evangelhos depois. Evidentemente também,
Lucas não foi uma testemunha ocular dos eventos que narrou, portanto, ele
teve que se engajar na pesquisa. E isto ele fez meticulosamente: “Eu mesmo
investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um
relato em ordem...” (Lucas 1:3, NIV). Ele entrevistou as “testemunhas
oculares” disponíveis a ele durante sua estada na Palestina (v.2).

O Evangelho Para os Gentios


Que Lucas escreveu seu evangelho para os gentios e mais
particularmente, para os gentios gregos da área oriental do mediterrâneo,
era uma convicção da igreja primitiva. Evidências internas corroboram sua
posição. Por exemplo, Lucas dá explicações de localidades e costumes
judeus (por exemplo, “Cafarnaum, uma cidade da Galileia”, 4:31; “a festa
dos pães asmos, que é chamada de páscoa”, 22:1; “Arimateia, uma cidade
dos judeus”, 23:51). Em todo lugar, o ar da universalidade é preservado. A
genealogia de Lucas faz de Cristo um filho de Adão, mais do que
meramente um filho de Abraão; o nascimento de Cristo era boa-nova para
“todo o povo” (2:10); Ele era “luz para revelação aos gentios” (2:32);
somente Lucas cita Isaías 40:5: “toda carne verá a salvação de Deus” (3:6);
somente Lucas fala sobre os “tempos dos gentios” (21:24); os relatos de
Lucas sobre a Grande Comissão dizem que “arrependimento e remissão de
pecados devem ser pregados em seu nome sobre todas as nações” (24:47).
Além disso, o estilo grego é mais literário do que os outros quatro
evangelhos; e o autor substitui muitos nomes gregos por nomes hebreus
(por exemplo: “Caveira” para “Gólgota”, 23:33; consulte Mateus 27:33).
Ao prover um evangelho para os gregos, Lucas enfatizou a humanidade
de Cristo. O pensamento grego era centrado no homem; ele coloca muita
ênfase no indivíduo. Ele tinha muita estima pelo gênio, pelo herói, o
homem ideal. Cristo era tudo aquilo que os gregos podiam desejar – e mais;
pois os gregos nunca conheceram um homem perfeito, um que estava acima
das imperfeições morais e espirituais dos seus deuses. Ele é o homem por
excelência.
Nos quatro primeiros versos do evangelho, duas coisas se sobressaem.
Primeiro, o livro é endereçado a Teófilo, que também foi o destinatário dos
Atos. Muitas vezes é sugerido que Lucas possa ter escrito debaixo de apoio
literário. Segundo, como notado, Lucas não foi uma testemunha ocular da
narrativa que ele documenta e teve que pesquisar para produzir seu
evangelho.
Por serem usados com tantos detalhes nos programas cristãos na
televisão, no rádio, e nas igrejas, os primeiros capítulos de Lucas são
porções das Escrituras muito conhecidas tanto por cristãos quanto por não-
cristãos. A profecia do nascimento de João Batista, a anunciação à Maria, o
cântico de Maria, o nascimento de João e Jesus, a adoração dos pastores e
de Simão e Ana, a descrição de Jesus visitando o templo aos doze anos, e o
ministério de João têm se tornado quase trivial para muitos. Isto é infeliz,
pois aqui está um drama da espécie mais intensa.
Mais do que isto, aqui estão eventos que são de extremo significado para
o bem-estar espiritual da humanidade: “Pois... vos nasceu hoje o Salvador,
que é Cristo, o Senhor” (2:11). Possivelmente, Lucas ouviu dos próprios
lábios de Maria os eventos a respeito do nascimento de Cristo.
No final do capítulo 3 está a genealogia de Jesus. Comparando-a
cuidadosamente com aquela de Mateus, o estudante pode ficar confuso,
pois de Davi a Jesus há uma grande divergência de nomes. Quando todos os
fatos são levados em consideração, parece que aqui nós temos a genealogia
de Maria. Ela descendeu de Davi por uma linhagem diferente da de José,
uma linhagem que não era amaldiçoada. Então, Cristo poderia um dia
governar do trono de Davi (veja a discussão em Mateus). Os primeiros três
capítulos falam sobre a preparação para o Filho do Homem. Em 3:21, 22 e
4:1-13, nós temos a preparação do Filho do Homem pelo batismo e
tentação.

O Ministério de Jesus na Galileia e Judá


O ministério de Cristo na Galileia ocupa 4:14-9:50. Depois de Sua
tentação no deserto judaico, Jesus retornou à Galileia, onde Ele
imediatamente se tornou famoso. Mas Sua mensagem não foi bem recebida
em Sua cidade natal, Nazaré. De fato, Ele achou necessário escapar da
cidade porque Seus ouvintes da sinagoga tramavam contra Sua vida. Foi na
sinagoga em Nazaré que Jesus anunciou o propósito do Seu ministério:
“pregar o evangelho para os pobres” (4:18).[Nota 1] Então, Jesus foi para
Cafarnaum com o fim de estabilizar Suas matrizes. Eventos descritos nesta
seção não se diferem grandemente daqueles mencionados em ligação com o
ministério de Jesus na Galileia em Mateus ou Marcos. Tais ocorrências são
familiares ao leitor, como o chamado dos discípulos, a cura da sogra de
Pedro, o paralítico carregado por quatro homens, o homem com a mão
atrofiada, a alimentação dos cinco mil, o acalmar da tempestade, a parábola
do semeador, e a cura do gesareno endemoniado. Dois milagres aparecem
nesta seção e em nenhum outro lugar nos evangelhos que são a pesca
maravilhosa (5:1-11) e o levantar do filho da viúva (7:11-17).
A situação é um pouco diferente com a próxima seção, que fala do
ministério entre os judeus (9:51-18:30). A maior parte do material é
peculiar a Lucas. Lá aparecem nove parábolas que não são mencionadas em
nenhum outro evangelho: o bom samaritano, o tolo rico, a figueira, os
lugares na festa de casamento, a grande ceia, a dracma perdida, o filho
pródigo, o administrador injusto, e o fariseu e o publicano. Há três milagres
peculiares a esta seção: a cura de uma mulher encurvada (13:10-17), um
homem hidrópico (14:1-6) e a cura de dez leprosos (17:11-19). Da lista das
parábolas acima, fica evidente que muitos sermões aparecem nesta seção.
Jesus discute orações, denuncia a formalidade religiosa e a hipocrisia,
exorta ao arrependimento, alerta contra o falso discipulado, e profere
parábolas a respeito da salvação e o uso da riqueza.
As Parábolas
Embora seja impossível de comentar detalhadamente tudo o que acontece
nesta parte de Lucas, pode ser bom parar por um momento nas parábolas do
capítulo 15 (a ovelha perdida, a dracma perdida e o filho pródigo), pois a
interpretação delas sofreu muito nas mãos dos estudiosos bem-
intencionados. Em primeiro lugar, nota-se a ocasião para expressar essas
parábolas. Os fariseus e escribas estavam reclamando, pois Jesus ministrou
aos publicanos e pecadores. Jesus deixou claro por repetidas vezes que Ele
veio para salvar a humanidade; os escribas e os fariseus não queriam
admitir que precisavam de salvação. Depois disso tudo, eles mantiveram a
lei; eles não estavam de todo certo? Então Jesus direcionou essas três
parábolas para eles. As noventa e nove ovelhas, as nove moedas e o irmão
mais velho representam os fariseus, que não queriam a salvação de Deus. A
ovelha perdida, a moeda perdida e o filho pródigo representavam os
publicanos e os pecadores – aqueles que, aos padrões de todo mundo,
precisavam de regeneração espiritual. O ponto ilustrado aqui é que Jesus
não se concentra naqueles que não querem ou acham que não precisam ser
salvos; aos invés disso, Ele poderia passar Seu tempo com aqueles que
precisavam dele e O queriam. O fato de que em cada parábola alguns eram
considerados religiosamente seguros não significa que eles eram. Eles
meramente se consideravam seguros (veja-se, a respeito disso, Lucas 16:14,
15). Cristo poderia ir ao encontro somente daqueles que assumissem que
estavam perdidos.
O administrador injusto (16:1-3) é outra parábola que requer um breve
comentário. Estudiosos da Palavra são constantemente confundidos por ela,
pensando que Cristo sugere a desonestidade por parte de Seus seguidores.
Mas este não é o caso. O administrador não foi exaltado por sua
desonestidade, mas por sua sabedoria e perspicácia.
O ponto é que ele reconheceu que o dia da prestação de contas da sua
administração estava chegando; ele quis estar pronto para isto. Foi dito para
que os discípulos aprendessem e fossem diligentes em suas vidas como
cristãos porque o dia da prestação de contas chegaria para eles também.

A Ênfase Única de Lucas


No relato de Lucas sobre a paixão do nosso Senhor (18:31-23:56), não há
grande divergência do padrão geral de Mateus e Marcos. A ordem inclui a
entrada de Jesus em Jerusalém, debate com líderes, uma discussão sobre o
futuro, a última Páscoa, a traição, a tentação ante o sumo sacerdote e
Pilatos, a crucificação e o sepultamento.
A discussão de Lucas sobre a ressurreição difere bem dos outros
sinópticos. Aqui ele desenvolve uma certeza da ressurreição de Cristo. Os
dois no caminho de Emaús experimentam a viva presença de Cristo e vem
para entender, debaixo de Sua tutela, o significado das Escrituras do Antigo
Testamento no que dizia respeito a Ele próprio.
Ele apareceu para os onze e comeu com eles, então confirmando Sua
ressurreição e humanidade. Pedro viu as vestes no túmulo vazio; se Seu
corpo tivesse sido roubado, essas vestes certamente também seriam.
Além disso, Cristo lembrou a Seus discípulos que Seu sofrimento e
ressurreição eram o cumprimento da profecia e que eles eram funda-
mentais para uma mensagem universal. E por último, Ele prometeu a Seus
seguidores poder do alto para o futuro ministério deles em nome daquele
que foi elevado. Tendo feito esta promessa, e tendo dado uma ordem a eles
para esperar em Jerusalém pela concessão deste poder, Ele subiu ao céu.

João

De acordo com Clemente de Alexandria (cerca de 200 d.C.), o apóstolo


João foi encorajado por amigos e movido pelo Espírito Santo para escrever
um evangelho espiritual. Em tal atividade, ele tentou suplementar os outros
evangelhos que colocavam mais ênfase na humanidade de Cristo (Eusébio,
Eclesiastical History [História Eclesiástica], 6.14). Orígens, Tertuliano e
muitos outros pais da Igreja primitiva apoiam o testemunho de Clemente.
Corroborando evidências externas para João, o filho de Zebedeu, ser
autor do evangelho, estão as próprias indicações do evangelho. O autor era
um palestino judeu, testemunha ocular dos eventos que narrou. Ele também
é identificado como o “discípulo amado”, que era próximo de Pedro e que
descansou no peito de Jesus na última ceia (13:23). Ele estava presente na
tentação de Jesus (18:15, 16) e na cruz (19:26, 27).
O autor frequentemente se refere a Pedro, Tomás e Filipe na terceira
pessoa, de maneira que nenhum deles pode ser o autor. Seu irmão Tiago foi
morto no começo da história da igreja, e portanto não é levado em
consideração. João, o filho de Zebedeu, é o melhor candidato.

A abordagem única de João


Embora o propósito de João não tenha sido necessariamente prover
material para aquilo que faltava nos outros evangelhos, este certamente era
o seu desejo ao escrever um evangelho espiritual. Ao fazer isto, ele
enfatizou a divindade de Cristo e a fé nesta pessoa divina para a salvação.
(Várias formas da palavra acreditar aparecem cerca de cem vezes em João.)
O próprio evangelho declara: “Jesus, pois, operou também em presença de
seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:30, 31).
Esta passagem particularmente enfatiza os sinais ou milagres que Cristo
fez para demonstrar Sua divindade (veja 2:23; 5:36; 10:22, etc.).
Mas muitas são outras evidências para o mesmo efeito, o que é afirmado
pelo autor nos primeiros versos do livro. João Batista (1:15-35; 3:25-36),
Deus Pai (5:37-39), e os discípulos (6:69) igualmente dão luz à divindade
dele. O próprio Jesus declarou isto (8:46 e seguintes, especialmente os
versículos 58; 9:35 e seguintes; 14:6 e seguintes. Nota-se também tais
declarações como “eu sou a videira” e “eu sou a luz do mundo”).
Sendo Cristo apresentado como uma divindade neste evangelho, um
número de características que aparecem nos sinópticos é omitido: Seu
nascimento, genealogia, juventude, batismo, tentação e transfiguração. Para
uma divindade, estes fatores não têm tanta importância.
Antes de fazer o esboço da mensagem de João, vamos colocar alguns
comentários sobre a cronologia do livro em ordem. Em primeiro lugar, o
autor narra os eventos em sequência histórica, mais do que tópica.
Segundo, o livro fornece as bases para a cronologia da vida de Cristo.
Colocando juntas as indicações de Mateus, Marcos e Lucas, nós devemos
supor que o ministério terreno do Senhor durou mais de três anos. Nós
sabemos isto em parte por causa da menção das três Páscoas (2:12, 13; 6:4,
12:1). Terceiro, o próprio João não narra os eventos que ocorreram mais de
vinte dias do ministério de Cristo. Os capítulos 13-19, cerca de um terço do
evangelho, cobrem somente um dia.
Verdade Apresentada em Simplicidade
O evangelho de João é sublime em sua simplicidade. Através dos vinte e
um capítulos, verdades profundas são expressas em uma linguagem
suficiente para que todos entendam. Certamente esta é uma lição para nós
como trabalhadores cristãos. Nós tentamos impressionar nossos ouvintes
com uma fraseologia de alto nível. Nós desenvolvemos nossas ideias em
termos filosóficos para impressionar o intelectual.
Mas João, o evangelista, evita tudo isto. Especialmente impressionante é
o seu tratamento à pré-encarnada glória do Filho de Deus nos primeiros
quatro versos. Nota-se o quão simples e concisamente ele introduz a
eternidade de Cristo, Seu relacionamento com o Pai, Sua divindade, Sua
onipotência (como evidenciada por Seu ato criador) e Sua posição exaltada
como fonte da vida.
No prólogo do evangelho (1:1-18), aparecem frases a respeito do Filho
pré-encarnado de Deus, Sua encarnação, Sua recepção por alguns e rejeição
por outros e o anúncio de Seu ministério por João Batista.
Alguém pode ser incentivado a comentar detalhadamente a respeito desta
tremenda passagem. Cada frase daria material para um capítulo inteiro do
livro, e então as profundidades não seriam medidas. Entretanto, é
interessante que o verso 14 é tudo o que João tem a contribuir com a
mensagem do Natal: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
O Filho de Deus revela-se a Israel nos primeiros doze capítulos do livro.
Em 1:19-4:54, Seu ministério começa à medida que João O apresenta, e Ele
faz Seu primeiro milagre em Caná, discute o novo nascimento com
Nicodemos, conhece a mulher no poço de Jacó e cura o filho de um oficial
do rei. Uma tremenda quantidade de fundamentos é coberta nesta breve
seção – geográfica e teologicamente. Os discípulos foram chamados e a
água foi transformada em vinho na Galileia; o questionamento de
Nicodemos aconteceu em Jerusalém à época da Páscoa; a cena aconteceu
em Samaria (território proibido para um judeu); e um segundo milagre foi
feito em Caná da Galileia, assim como o primeiro. Teologicamente, nós
observamos no primeiro anúncio da paixão em 2:19, uma das exposições
mais claras do Novo Testamento a respeito da salvação e resultados da falta
de fé em Cristo no capítulo 3, contribuições à doutrina do Espírito Santo em
3:34 e 4:14, 15 (compare com João 7:37-39), um relato a respeito da
natureza de Deus e à verdadeira adoração em 4:23, 24, e uma observação
sobre as missões e evangelismo pessoal em 4:35-38.
À medida que esta divisão progride (capítulos 5-12), os conflitos
aumentam entre Jesus e vários elementos do povo judeu. A batalha começa
no capítulo 5, quando os judeus buscam matá-lo por violar o sábado e Se
igualar a Deus (v.18), e continua com uma crescente intensidade.
Todo o processo culmina em um plano do chefe dos sacerdotes e dos
fariseus para levá-lo prisioneiro (11:57). Como parte deste mesmo plano ou
como desenvolvimento de um outro, o chefe dos sacerdotes tomou algumas
providências para matar ambos Cristo e Lázaro (12:10,11).
Mas como um contraste, há também um desenvolvimento da fé nos
capítulos 5-12. Depois de alimentar os cinco mil, a multidão aparentemente
demonstrou uma grande aprovação ao Seu ministério (6:15).
Pedro O confessou como o Cristo (6:69); o homem que nasceu cego o
adorou (9:38); muitos criam nele pela ressurreição de Lázaro (11:45); e as
multidões O saudavam como “Rei de Israel” em Sua entrada em Jerusalém
(12:13).

A Revelação de Jesus é Intensificada


Nos capítulos 13-17, muitas vezes o chamado discurso do Cenáculo, o
Filho de Deus se revela a Seus discípulos. Isto Ele faz ao mostrar Sua
verdadeira humildade ao lavar os pés dos discípulos, ao demonstrar Sua
onisciência na profecia da traição de Judas e da negação de Pedro, e ao
lembrá-los de Sua missão na reiteração de Sua morte iminente. Jesus
também diz a eles que Ele deveria deixá-los para retornar novamente depois
de preparar um lugar no céu para eles. Ele também diz a eles a respeito de
Sua unidade essencial com o Pai e que logo após Sua partida, o Espírito
Santo viria para confortá-los e ensiná-los. Não somente Ele demonstra a
eles Sua unidade com o Pai, mas também Sua unidade com aquele que crê;
este Ele descreve sobre a figura da videira e dos ramos (capítulos 15).
No capítulo 17, nos é permitida uma visão ao mais íntimo dos conselhos
da relação da Trindade. Aqui Cristo ora ao Pai por nossa proteção espiritual,
preservação e progresso. Esta é, de verdade, a oração do Senhor. Uma das
verdades mais negligenciadas do Novo Testamento aparece neste discurso
de nosso Senhor com Seus discípulos; ela diz respeito ao ministério de
ensino do Espírito Santo (14:26; 16:12-15).
Nós temos uma tendência de depender muito de nosso próprio intelecto,
guias de estudo bíblico e interpretações de líderes cristãos para o nosso
conhecimento da Palavra. Mas as verdades da Bíblia estão disponíveis para
todos – até mesmo para aqueles que têm uma habilidade mental pobre, e
para aqueles que têm poucas oportunidades de receberem o benefício dos
livros de estudo bíblico ou o ministério de trabalhadores cristãos. O próprio
Deus coloca luz nas páginas sagradas, que foram inspiradas por Ele.
Os capítulos 18 e 19 revelam a paixão do Filho de Deus. Aqui está
apresentado o ponto culminante da descrença. Pedro O nega. Líderes judeus
O condenam e ordenam Sua morte. As multidões gritam “Cruxifica-o”. O
poder romano cede à pressão deles. Jesus aparece muito sozinho na
passagem da crucificação (mas veja João 19:25-27). Isto é, sem dúvida,
devido ao fato de que Ele estava passando em Jerusalém, e a maioria dos
Seus seguidores vivia na Galileia. Os eventos aconteceram muito rápido
durante a última parte da Semana da Paixão, pois ninguém chegou em
Jerusalém para dar apoio a Ele.
Mas os capítulos 20 e 21 mostram o ápice da fé em Cristo (lembrar do
propósito para o qual o evangelho foi escrito, 20:30, 31) e a confirmação
final da divindade de Cristo. Que prova maior de Sua divindade poderia ser
oferecida além de Sua ressurreição? Este foi o maior dos milagres, básico
para a mensagem cristã, que reacendeu a fé dos discípulos. Ele apareceu a
Maria, aos dez, aos onze, e para um grupo de discípulos que tinha ido
pescar no Mar da Galileia. Ele adequadamente tirou de Pedro uma
confissão renovada de fé.
Pelo fato da divindade de Cristo aparecer tão grande em João, um fato
que é criado para dar margem à fé, pode ser bom concluir nosso estudo com
uma lista das declarações de Cristo que aparecem no livro.
Mestres bíblicos mencionam comumente que os sete grandes “Eu sou”
que Jesus disse de si mesmo: o pão da vida (6:35), a luz do mundo (8:12,
9:5), a porta (10:7), o bom pastor (10:11, 14), a ressurreição e a vida
(11:25), o caminho, a verdade e a vida (14:6), e a videira (15:1). A estes
podem-se acrescentar sua afirmação de ser o Messias (4:25, 26), de ter
existido antes de Abraão (8:58) e de ser um com o Pai (10:30).

Narrativa da Vida de Cristo Como Documentada


nos Evangelhos
Como notado acima, o evangelho de João é especialmente útil ao se
construir uma cronologia da vida de Cristo. A seguir, um resumo de Sua
vida na Terra:

1. Os Trinta Anos de Preparação: Mateus 1:1-4:11; Marcos 1:1-13; Lucas


1:1-4:13; João 1:19-2:12
2. Começo do Ministério na Judeia (cerca de um ano): João 2:13-4:54
3. O Ministério na Galileia: Período Inicial (da prisão de João Batista à
escolha dos doze, cerca de quatro meses): Mateus 4:12-17; 9:1-17;
12:1-21; Marcos 1:14-3:12; Lucas 4:14-6:11
4. O Ministério na Galileia: Período Intermediário (da escolha dos doze
até retirar-se para o norte da Galileia; cerca de dez meses): Mateus
4:18-8:34; 9:18-11:30; 13:1-15:20; Marcos 3:13-7:23; Lucas 6:12-
9:17; João 6:1-70
5. O Ministério na Galileia: Período Final (da jornada para o norte da
Galileia à partida para Jerusalém; cerca de seis meses): Mateus 15:21-
18:35; Marcos 7:24-9:50; Lucas 9:18-50; João 7:1-9
6. O ministério depois da Judeia (cerca de três meses): Mateus 19:1, 2;
Lucas 9:51-13:21; João 7:10-10:42
7. O Ministério na Pereia (cerca de três meses): Mateus 19:3-20:34;
Marcos 10:1-52; Lucas 13:22-19:28; João 11:1-12:11
8. A Semana da Paixão: Mateus 21:1-27:66; Marcos 11:1-15:47; Lucas
19:29-23:56; João 12:12-19:42
9. O Ministério da Ressurreição e da Pós-Ressurreição: Mateus 28:1-20;
Marcos 16:1-20; Lucas 24:1-53; João 20:1-21:25

Milagres de Cristo

Embora os evangelhos refiram-se a muitos grupos de milagres que Jesus


fez, eles descrevem trinta e cinco milagres específicos.
Estes são listados abaixo, aproximadamente, na ordem em que
aconteceram.

1. Transforma água em vinho: João 2:1-11


2. Cura o filho de um nobre em Caná: João 4:46-54
3. Cura um coxo no tanque de Betesda: João 5:1-9
4. Provê a primeira pesca milagrosa de peixe: Lucas 5:1-11
5. Liberta um endemoniado na sinagoga: Marcos 1:23-28; Lucas 4:31-36
6. Cura a sogra de Pedro: Mateus 8:14-17; Marcos 1:29-31; Lucas 4:38,
39
7. Cura um leproso: Mateus 8:2-4; Marcos 1:40-45; Lucas 5:12-16
8. Cura de um paralítico: Mateus 9:2-8; Marcos 2:3-12; Lucas 5:18-26
9. Cura de um homem com uma mão ressequida: Mateus 12:9-14;
Marcos 3:1-5; Lucas 6:6-11
10. Cura o servo de um centurião: Mateus 8:5-13; Lucas 7:1-10
11. Levanta o filho de uma viúva: Lucas 7:11-17
12. Cura um cego e mudo endemoniado: Mateus 12:22; Lucas 11:14
13. Acalma uma tempestade: Mateus 8:18, 23-27; Marcos 4:35-41; Lucas
8:22-25
14. Liberta o gesareno endemoniado: Mateus 8:28-34; Marcos 5:1-20;
Lucas 8; 26-39
15. Cura da mulher com o fluxo de sangue: Mateus 9:20-22; Marcos
5:25-34; Lucas 8:43-48
16. Levanta a filha de Jairo: Mateus 9:18, 19, 23-26; Marcos 5:22-24, 35-
43; Lucas 8:41, 42, 49-56
17. Cura de dois homens cegos: Mateus 9:27-31
18. Liberta um mudo endemoniado: Mateus 9:32, 33
19. Alimenta os cinco mil: Mateus 14:14-21; Marcos 6:35-44; Lucas
9:12-17; João 6:4-13
20. Anda sobre as águas: Mateus 14:24-33; Marcos 6:45-52; João 6:16-
21
21. Liberta a filha de uma mulher siro-fenícia: Mateus 15:21-28; Marcos
7:24-30
22. Cura um surdo e gago em Decápolis: Marcos 7:31-37
23. Alimenta os quatro mil: Mateus 15:32-39; Marcos 8:1-9
24. Cura um homem cego em Betsaida: Marcos 8:22-26
25. Liberta um jovem possuído por demônios: Mateus 17:14-18; Marcos
9:14-29; Lucas 9:38-43
26. O tributo monetário: Mateus 17:24-27
27. Cura um homem que nasceu cego: João 9:1-7
28. Cura de uma mulher enferma, no sábado: Lucas 13:10-17
29. Cura de um homem hidrópico: Lucas 14:1-6
30. Ressurreição de Lázaro: João 11:17-44
31. Cura de dez leprosos: Lucas 17:11-19
32. Cura do cego Bartimeu: Mateus 20:29-34; Marcos 10:46-52; Lucas
18:35-43
33. Amaldiçoa a figueira: Mateus 21:18, 19; Marcos 11:12-14
34. Restaura a orelha de Malco: Lucas 22:49-51; João 18:10
35. Uma nova pesca milagrosa: João 21:1-14

Parábolas de Jesus Cristo

Estudiosos variam bem em relação ao número de parábolas que


encontram nos evangelhos. Suas listas abrangem de trinta a oitenta,
dependendo se incluem aquelas que não estão descritas com o termo
“parábola”, entre estas incluem as parábolas mais curtas e ilustrações
parabólicas. Aqui, temos listadas um total de cinquenta e duas. Estas estão
organizadas em nove categorias; em poucos casos a missão de uma
parábola para alguém dessas categorias é um pouco arbitrária.
I. A Mensagem de Deus na Palavra
A . Natureza da Mensagem
O remendo de pano e o odre de vinho (Mateus 9:16, 17; Marcos 2:21, 22;
Lucas 5:36-38)
B. Proclamação da Mensagem
O semeador (Mateus 13:3-9, 18-23; Marcos 4:1-9, 13-20; Lucas 8:4-15)
C. Crescimento da verdade (reino) no mundo
1. A semente crescendo secretamente (Marcos 4:26-29)
2. A semente de mostarda (Mateus 13:31, 32; Marcos 4:30-32; Lucas
13:18, 19)
3. A levedura (Mateus 13:33; Lucas 13:20, 21)
D. A corrupção da mensagem e da obra de Deus
O joio e o trigo (Mateus 13:24-30, 36-43)
II. Salvação e Perdão dos Pecados
1, 2 & 3. A ovelha perdida, a dracma perdida e o filho pródigo (Lucas
15)
4. O fariseu e o publicano (Lucas 18:9-14)
5. Filhos chamados para o trabalho (Mateus 21:28-32)
6 & 7. O tesouro escondido e a pérola de grande valor (Mateus 13:44-46)
8. O casamento do filho do rei (Mateus 22:1-14)
9. A grande ceia (Lucas 14:16-24)
10. A figueira infrutífera (Lucas 13:6-9)
11. A porta estreita (Lucas 13:23-30)
12. A porta no aprisco das ovelhas (João 10:1-10)
13. O bom pastor (João 10:11-18, 25-30)
14 & 15. Impureza de fora e de dentro (Mateus 12:43-45; Lucas 11:24-
26)
16. Luz interior (Mateus 6:22, 23; Lucas 11:34-36)
17. As duas estradas (Mateus 7:13, 14)
18. Os fundamentos (Mateus 7:24-27; Lucas 6:46-49)
III. Tratamento de Cristo
1. Os lavradores maus (Mateus 21:33-41; Marcos 12:1-9; Lucas 20:9-16)
2. A pedra rejeitada (Mateus 21:42-46; Marcos 12:10, 11; Lucas 20:17-
19)
IV. Relacionamento com Deus
A . Oração
1. O amigo importuno (Lucas 11:5-8)
2. O juiz iníquo (Lucas 18:1-8)
B. Gratidão
Os dois devedores (Lucas 7:41-43)
C. O relacionamento de Cristo com Seus discípulos A noiva e o noivo
(Marcos 2:19, 20; Lucas 5:34-35)
D. Relacionamento e alimento espiritual A videira e os ramos (João 15:1-
11)
E. Suprimento para tempos de necessidade O rico tolo (Lucas 12:16-21)
V. Testemunho ou Discipulado
1. Preparação para construir uma torre (Lucas 14:28-30)
2. Preparação para a guerra (Lucas 14:31, 32)
3. Sal (Mateus 5:13; Marcos 9:50; Lucas 14:33-35)
4. A lâmpada acesa (Mateus 5:14-16; Marcos 4:21; Lucas 8:16, 17;
11:33)
5. Ofender membros do corpo (Mateus 5:29-30; Marcos 9:43, 45, 47)
VI. Relações com os outros
A . Um espírito perdoador
O servo impiedoso (Mateus 18:23-35)
B. Amizade
O bom samaritano (Lucas 10:30-37)
VII. Recompensas
1. Trabalhadores na vinha (Mateus 20:1-16)
2. Serviço (Lucas 17:7-10)
VIII. O Retorno de Cristo
1. O retorno da festa de casamento (Lucas 12:35-38)
2. O ladrão entra às escondidas (Mateus 24:43, 44; Lucas 12:39, 40)
3. Um servo esperando pelo retorno do seu senhor (Mateus 24:45-51;
Lucas 12:42-46)
4. O chefe de família e o porteiro (Marcos 13:34-37)
5. O administrador infiel (Lucas 16:1-13)
6. A figueira que floresce (Mateus 24:32-35; Marcos 13:28-31; Lucas
21:29-33
IX. Julgamento
1. A rede de peixes (Mateus 13:47-50)
2. As dez moedas (Lucas 19:11-27)
3. Os dez talentos (Mateus 25:14-30)
4. As dez virgens (Mateus 25:1-13)
5. O homem rico e Lázaro (Lucas 16:19-31)[Nota 2]
Notas do Capítulo

Nota 1 - Nos dias de hoje, na ênfase do cristianismo social, há uma tendência em assumir que em
ambos o Novo e o Antigo Testamentos, “o pobre” se refere sempre ou quase sempre ao
pobre materialmente. Na verdade, em uma grande porcentagem de casos, a referência é a
pobreza espiritual. [Voltar]
Nota 2 - Alguns preferem chamar isto de um incidente histórico. [Voltar]
PARTE

VI

O Crescimento da Jovem Igreja


CAPÍTULO

20

“Poder do Alto”: Os Atos do Senhor Ressurreto


Atos

O que há em um nome?

E MBORA geralmente chamado de “Atos dos Apóstolos”, este livro lida


principalmente com somente dois dos apóstolos: Pedro e Paulo. Então, o
nome poderia parecer inapropriado.
Alguns o têm denominado de “Atos do Espírito Santo”. Certamente, a
terceira Pessoa da Trindade aparece bastante no livro, mas nós podemos
descobrir um nome mais apropriado através do estudo dos primeiros versos.
Lá, nós aprendemos que no evangelho de Lucas, o autor descreve o que
Jesus começou a fazer e ensinar até a Sua ascensão. O livro tem a intenção
de continuar o relato. Depois da ascensão, nosso Senhor direcionou os
apóstolos para a instrumentalidade do Espírito Santo. Portanto, “Atos do
Senhor Ressurreto, Glorificado e Ascendido Realizados Pelo Espírito
Santo” poderia ser um título mais apropriado, embora, admite-se, muito
longo para um uso comum.

O Autor

A tradição declara a autoria de Lucas. Evidências internas suportam esta


visão. De importância particular a respeito disto estão as chamadas seções
“nós” (16:10-17; 20:5-21:18; 27:1-28:16). O ponto é que o autor estava
com Paulo durante os eventos destas passagens. Talvez, então, nós
possamos determinar pelo processo de eliminação quem era.
Muitos indivíduos são diferenciados do autor em 20:4, 5; por isso estão
automaticamente eliminados de considerações futuras. Além daqueles
mencionados em Atos 20:4.5, Tito é uma possibilidade. Mas nem na
tradição ou no livro há alguma evidência para sua autoria. Lucas parece ser
o único outro forte candidato, e nós sabemos que ele estava com Paulo em
Roma à época da escrita de Colossenses (Colossenses 4:14).
O que é mais lógico para suspeitar que Lucas acompanhou Paulo em sua
viagem a Roma (notam-se as ocorrências da palavra “nós” em Atos 27:1-
28:16)? O resto do livro é do mesmo autor das passagens com “nós”,
informação que pode ser atestada por um cuidadoso estudo do estilo grego.
Pelo fato de em Colossenses 4:14 Lucas ser diferenciado daqueles “da
circuncisão”, nós devemos concluir que ele era um gentio – o único autor
gentio, no Novo e no Antigo Testamentos. Provavelmente, ele era originário
de Antioquia da Síria, embora alguns argumentem que ele veio de Filipos.
Ele acompanhou Paulo por pouco tempo na segunda viagem missionária,
mas permaneceu em Filipos até que Paulo retornasse a Jerusalém no final
da terceira viagem missionária. Daí em diante, ele esteve com Paulo quase
que constantemente até o fim da vida do apóstolo, possivelmente como
conselheiro médico, pois Lucas é conhecido como o “médico amado”.

O Ambiente

Sem Atos o resto do Novo Testamento seria mal compreendido. Na


verdade, sem ele, nós não teríamos um documento autêntico da história
apostólica. Aqui, a unidade de todo movimento cristão se torna evidente. A
narrativa envolve todo o movimento de eventos da ascensão de Cristo
através da experiência do Pentecoste, a instituição das igrejas na Palestina e
do mundo mediterrâneo oriental, e a prisão de Paulo em Roma. Paulo,
Pedro e Tiago são apresentados e seus ministérios autenticados. Por meio
dos capítulos 13-20, nós aprendemos como as epístolas paulinas se
encaixam na moldura histórica da igreja primitiva. Atos relata a fundação
das igrejas destinatárias das cartas.
A data da escrita é indicada por Atos 28:30. Lá nós temos a aparente
suposição de que o livro foi terminado próximo ao fim da prisão de Paulo
em Roma, que durou dois anos. Certamente, Lucas teria mencionado a
morte de Paulo ou sua libertação se estas tivessem ocorrido naquela época.
Cronologias bem aceitas deste período da vida de Paulo variam um pouco.
Alguns concluem que os dois anos em Roma aconteceram em 58-60, outros
em 59-61 e ainda outros pensam que foi em 60-62. Levando em
consideração tudo isso, concluímos que o livro foi provavelmente escrito
em Roma, entre 60 e 62.

A Mensagem

O verso-chave de Atos é 1:8: “Mas receberão poder quando o Espírito


Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em
toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”. Lá o tema é declarado: o
testemunho da igreja. Muitas questões a respeito do testemunho são
respondidas.

• Quem deveria testemunhar? Os apóstolos e outros cristãos.


• Como eles deveriam testemunhar? Pelo Espírito de Deus vindo sobre
eles.
• De quem eles testemunhariam? A pessoa de Cristo.
• Onde eles testemunhariam? Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins
da Terra.

A resposta para a última questão nos dá um simples resumo do livro:

1. Preparação dos discípulos para o testemunho: 1:1-2:47


2. Testemunho em Jerusalém: 3:1-7:60
3. Testemunho na Judeia e Samaria: 8: 1-9:43
4. Testemunho para as partes remotas: 10: 1-28:31

Durante o período de preparação, os discípulos, de acordo com a ordem


do Senhor, recolheram-se em Jerusalém por dez dias, esperando pela vinda
do Espírito Santo. Durante este tempo a vaga entre os doze, resultante da
deserção de Judas, foi ocupada pela indicação de Matias. Quando o dia de
Pentecoste chegou, o Espírito Santo veio sobre eles e os encheu, dando-os
poder para o ministério. Então Pedro estava pronto para pregar seu grande
sermão o qual, combinado com esforços de outros discípulos, foi
instrumental em levar três mil almas para o reino de Deus.
Assim como grandes sinais e maravilhas autenticavam a mensagem de
nosso Senhor, Ele também transmitiu poder para os discípulos por esta
mesma razão. No começo do ministério deles na Judeia, eles curaram o
mendigo coxo no templo. Mas não se deve acreditar que o servo está imune
da reprovação de seu Senhor. Logo, os saduceus e mais tarde o Sinédrio os
questionaram a respeito de seus ensinamentos e ações. À medida que
cresceu a oposição, o sumo sacerdote e os saduceus mandaram muitos
apóstolos para a prisão. Quando eles escaparam pela intervenção do anjo do
Senhor, o sumo sacerdote e os chefes dos sacerdotes os levaram novamente,
bateram neles e os deixaram ir.
Finalmente, os líderes judeus concentraram seu ataque em Estevão, que
se tornou o primeiro mártir cristão. Por enquanto, entretanto, a perseguição
tinha um efeito saudável para os cristãos; muitas referências nesta seção
pontuam a pureza e o poder de suas vidas.
Nos capítulos 8 e 9, o testemunho dos seguidores do Senhor se amplia
para incluir a Judeia e a Samaria. Assim como muitas vezes tem sido
verdade na história da igreja desde aquele tempo, a perseguição dispersou
os membros da Igreja para o exterior, então o seu testemunho poderia ser
mais expandido (8:1). O capítulo 8 conta sobre o ministério de sucesso de
Filipe na Samaria e seu testemunho para o eunuco etíope, enquanto o
capítulo 9 descreve os esforços de Paulo para estender a perseguição dos
santos em Damasco. Mas o Senhor o parou e regenerou seu coração e sua
vida (os capítulos 22 e 26 também recontam sua experiência no caminho de
Damasco).
A maioria dos Atos é dedicada ao testemunho “até os confins da Terra”.
Muito contra seus próprios desejos, Pedro foi para a Cesareia, o centro
governamental de Roma na Palestina, para levar o centurião romano
Cornélio ao conhecimento da verdade. Por enquanto, outros cristãos
pregavam na Fenícia, Chipre e Antioquia e, nesta última, os discípulos
foram chamados cristãos (11:26). Logo, a perseguição emergiu novamente,
desta vez por uma ordem de Herodes (Herodes Agripa 1, que governou a
Palestina 41-44 d.C.). Ele matou Tiago, ir-mão de João, e jogou Pedro na
prisão. Mas Deus libertou Pedro em resposta à oração e acometeu Herodes
com uma doença fatal.
As grandes viagens missionárias de Paulo começam no capítulo 13.
Na primeira viagem, Barnabé e Paulo eram companheiros de viagem; o
itinerário deles incluía Antioquia da Síria, Chipre, Antália, Perge, Antioquia
da Pisídia, Icônio, Listra, Derbe (atual Turquia) e voltaram pelo mesmo
caminho. Durante esta viagem a oposição dos judeus constantemente se
manifestava, e uma multidão apedrejou Paulo em Listra até à morte.
Quando os missionários voltaram para Jerusalém, a questão que surgiu foi
se os gentios viriam para salvação pelo caminho da lei. Isto é, eles deveriam
se comprometer com as práticas dos judeus e observar os requerimentos da
lei mosaica em acréscimo a colocar sua fé em Cristo? A decisão do
Concílio de Jerusalém (capítulo 15) foi negativa. Concluiu-se que os
cristãos gentios deveriam somente se abster de comer carnes cruas ou
oferecidas a ídolos e manter altos padrões morais para evitar a ofensa aos
seus irmãos judeus.
A segunda viagem missionária é detalhada em 15:36-18:22. Desta vez
Paulo e Silas viajaram juntos; Barnabé deixou a companhia de Paulo por
causa do desacordo entre João Marcos e levou Marcos para fazer uma série
de pregações em Chipre. Na segunda viagem, Paulo e Silas revisitaram
igrejas estabelecidas na primeira viagem e então atravessaram para Europa,
onde encontraram igrejas em Filipos (capítulo 16) e Tessalônica (capítulo
17). Então Paulo foi ministrar em Atenas (capítulo 17) e Corinto (capítulo
18), onde permaneceu por dezoito meses.
A terceira viagem é descrita em 18:22-21:17. Novamente Paulo visitou
igrejas estabelecidas na primeira viagem. Então ele foi para Éfeso, onde
passou o maior período de seu ministério (mais dois anos).
Em Éfeso, seu grande sucesso provocou a ira dos ourives, que tentaram
liquidá-lo. Logo após, Paulo fez outra viagem para Macedônia e então
retornou para Jerusalém.
Em todo o seu ministério, Paulo seguiu uma estratégia dupla. Primeiro,
ele pregou para os judeus. Isto era natural e lógico. Ele era um judeu e
estava preocupado com a salvação de seu próprio povo. Além disso, os
judeus eram monoteístas, tinham uma promessa de nova aliança, e a
esperança de um Messias que viria libertá-los. De alguma forma, eles
estavam prontos para ouvir a mensagem dele. Fora isso, todas as sinagogas
dos judeus tinham convertidos ou “tementes a Deus”, gentios que estavam
impressionados com o judaísmo e que, em maior ou menor escala, tinham
se tornado judeus. Muitos desses eram talvez tão preparados quanto os
judeus para a pregação do evangelho. No berço da sinagoga, a igreja
nasceu.
Segundo, a estratégia de Paulo era uma estratégia urbana. Ele não ia
somente de um lugar para o outro testemunhando a respeito de Cristo.
Ele passou períodos consideráveis de tempo em grandes cidades, onde
ele podia alcançar massas de pessoas que levariam essa mensagem para as
terras do interior e além. Como os casos pontuados, ele passou dezoito
meses em Corinto (Atos 18:11), através do qual afluiram multidões de todo
o mundo mediterrâneo; e mais de dois anos em Éfeso (Atos 19:8, 10;
20:31), o eixo de toda província da Ásia, a mais rica e populosa do Império.
A urbanização foi um objetivo de Alexandre , o Grande, e seus
sucessores selêucidas e ptolemaicos. Os romanos tinham trazido o conceito
e buscaram urbanizar todo o império. Então, um centro urbano foi um lugar
onde os oficiais do governo, forças militares, atividades econômicas e
desenvolvimento cultural poderiam ser concentrados.
Isto poderia restringir o campo (ou suas terras do interior) e permeá-lo
com um desejo de programa cultural e político. No auge do ministério de
Paulo, Roma estava bem em sua forma de urbanizar todo o império.
Poderia-se esperar de Paulo, como um astuto estrategista e cidadão romano,
usar todas as suas maiores formas de evangelizar o império.
De um lugar como Éfeso, por exemplo, ele poderia alcançar todos os
tipos de indivíduos da província da Ásia que voltariam para casa para
fundar igrejas. O fato de que ele poderia ter escrito uma epístola para a
igreja em Colossos, a qual ele provavelmente nunca visitou, é um caso a se
pensar. Evidentemente, ele passou semanas em tais centros como
Tessalônica ou Icônio (veja Atos 14:3), pregando com grande sucesso.
Enquanto estava em Jerusalém ao final de sua terceira viagem
missionária, Paulo foi atacado no templo pelos judeus porque estes
pensaram que ele tinha levado Trófimo, um gentio, para a corte dos judeus.
Soldados romanos o resgataram e, ao descobrirem que ele era um
cidadão romano, cuidaram especialmente bem dele. Eles o conduziram para
a Cesareia durante a noite para protegê-lo de uma armadilha dos judeus
contra sua vida. Lá, Paulo apareceu diante de Félix (um procurador, que o
manteve na prisão com a esperança de conseguir um resgate). Quando
Festo, o novo procurador, ouviu seu caso dois anos depois, ele chamou o rei
Agripa (Herodes Agripa II que governou um território ao norte do Mar da
Galileia) para ajudar a decidir o caso.
Agripa sentiu que Paulo deveria ser liberto, porque Paulo apelou a César
por justiça – o direito da cidadania romana – as autoridades palestinas eram
obrigadas a enviá-lo para Roma. Talvez Paulo tenha tomado este caminho
para chegar na Itália a fim de fazer um trabalho evangelístico. Depois de
uma viajem difícil(uma das jornadas marítimas mais dramáticas que se tem
notícia), ele chegou a Roma, onde passou dois anos sob um tipo de prisão
domiciliar (28:30). Evidentemente, ele foi mantido no campo da famosa
Guarda Pretoriana na margem de Roma.
Pode-se supor que ao final deste tempo, César chegou à mesma
conclusão que Agripa e o libertou (para evidências desta libertação e da
quarta jornada missionária, veja a discussão em 1 Timóteo). Apesar de tudo,
o fogo de Roma ainda não tinha ocorrido, e Nero não tinha pretexto para
executar um cristão.
Sem dúvidas, os detalhes históricos e geográficos de Atos têm recebido
uma análise mais cuidadosa que qualquer outro livro do Novo Testamento.
O estudioso que fez mais do que qualquer outro para verificar a veracidade
de Lucas foi Sir Wil iam M. Ramsay, arqueólogo escocês, que começou sua
carreira sendo um cético. Ainda é possível encontrar quase todas as muitas
obras de Sir Wil iam em versão impressa. São especialmente notáveis: The
Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New Testament
[O Nascimento da Recente Descoberta Confiável do Novo Testamento] e
St. Paul the Traveller and Roman Citizen [Paulo, o Viajante e Cidadão
Romano]. Mas Ramsay fez somente o início. Desde que ele aposentou sua
caneta em 1939, outros mestres têm jogado luz na narrativa de Lucas e
confirmado sua veracidade, e o dia dos retornos reduzidos ainda não foi
estabelecido.
CAPÍTULO

21

“Graça e Paz Para Vocês”: As Cartas de Paulo Para


as Jovens Igrejas
Gálatas, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Romanos, Colossenses,
Filemon, Efésios, Filipenses, 1 e 2 Timóteo, Tito

A AS cartas do Novo Testamento têm mais do que somente um interesse


literário para os cristãos contemporâneos. Elas foram escritas mediante
a inspiração divina para lidar com os problemas diários de cristãos comuns.
Elas discutem todas as sortes de problemas, tais como relacionamentos
entre membros da família, patrões e empregados, o Estado e seus negócios.
Elas contêm ensinamentos a respeito do sexo, divórcio e falhas éticas de
vários tipos. Elas têm muito a dizer, também, a respeito da vida corporativa
da igreja: sobre o governo da igreja, os oficiais e suas qualificações, as
ordenanças e a conduta nos cultos de adoração. Mas elas estão
especialmente cheias de doutrina, com ensinamentos sobre a Bíblia, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, a salvação, os anjos e Satanás, a humanidade e o
futuro.
Para que não pensemos que estas cartas foram escritas para outra geração
muito diferente da nossa, o que faria delas irrelevantes para nosso tempo,
vamos nos lembrar de fatos importantes. Primeiro, a natureza humana não
mudou basicamente nos últimos dois mil anos; as pessoas têm muito dos
mesmos impulsos, preocupações e pecados como tinham nos tempos do
Novo Testamento. Segundo, o Novo Testamento foi escrito para um povo
que vivia debaixo de um governo totalitário; se os princípios anunciados
nessas cartas funcionaram para este povo, eles certamente podem funcionar
para os povos que vivem nas democracias ocidentais ou sobre a ditadura
moderna. Terceiro, o Novo Testamento foi escrito para pessoas que viviam
em uma sociedade pagã, permissiva, de orientação sexual amplamente
organizada por situações éticas. As condições sociais e religiosas eram
piores do que as de hoje em dia; se o cristianismo pôde triunfar tão
gloriosamente sobre tais condições, ele é capaz de fazer o mesmo hoje. O
mesmo Espírito Santo que fortaleceu os cristãos do primeiro século pode
fortalecer os cristãos do século XXI a viverem vitoriosamente.

Quando e Onde Paulo Escreveu Suas Cartas

A seguinte tabela não é oferecida com nenhum grau de finalidade.


Ela representa as opiniões de uma grande porcentagem de estudiosos do
Novo Testamento, que alcançaram suas conclusões com base nas indicações
e tradições bíblicas. Muitos são os problemas não resolvidos a respeito da
cronologia da vida de Paulo, e as novas informações podem mudar as
sugestões dadas aqui. Onde há muita incerteza, um ponto de interrogação
aparece depois da escrituração. A disposição é mais cronológica do que
bíblica.
Talvez o Novo Testamento fará muito mais sentido se nós discutir-mos as
cartas de Paulo em ordem de composição, encaixando-as na narrativa
paulina.
Gálatas: O Ataque de um Falso Evangelho

Provavelmente no ano 45 d.C., Barnabé e Paulo começaram sua primeira


viagem missionária (Atos 13). Depois de pregarem por toda a ilha de
Chipre (casa de Barnabé), eles atacaram a terra firme da Ásia Menor. Lá,
eles tiveram um sucesso considerável evangelizando na província da
Galácia, que ocupava a faixa norte-sul do território central da Ásia Menor
(atual Turquia). Eles pregaram primeiro em Antioquia de Pisídia, levando
muitos convertidos para o reino de Deus. Quando os judeus causaram
problemas para eles, logo foram para Listra onde tiveram uma tumultuada
recepção: a população identificou os apóstolos com Júpter e Mercúrio.
Depois de deixarem claro que eles não concordavam, os apóstolos
novamente tiveram muitos convertidos e novamente sofreram oposição dos
judeus. Desta vez, Paulo foi apedrejado e levado à morte, entretanto, ele se
recuperou, foi para Derbe, e lá evangelizou. Então Barnabé e Paulo
voltaram pela mesma rota que vieram, organizando as igrejas que fundaram.
Logo após terem chegado em Antioquia, eles ficaram confusos num
debate a respeito de os gentios manterem ou não a Lei Mosaica em adição à
fé em Cristo para alcançar a salvação. Pedro, e até mesmo Barnabé (Gálatas
2:11-13), apoiaram momentaneamente os judaizantes.
O mesmo tipo de controvérsia acontecia na Galácia. Lutando para
proteger a pureza do evangelho e suas igrejas recém-fundadas, Paulo
escreveu aos gálatas da Antioquia, possivelmente em 48 d.C. A posição
paulina foi justificada no Concílio de Jerusalém no ano seguinte, quando
toda a igreja concordou que os gentios não precisavam manter a Lei para
serem salvos (Atos 15). Outra interpretação coloca a escrita de Gálatas
depois do Concílio de Jerusalém, em 55 ou 56.
A ocasião para a escrita desta carta aparece em 1:6, 7, a qual pode ser
traduzida mais fielmente da seguinte forma: “Admiro-me de que vocês
estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de
Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho.
O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo
perverter o evangelho de Cristo.”
Depois do evangelismo desta área, o elemento judaizante começou a
pregar um evangelho de legalismo. O procedimento deles era um
procedimento lógico. Eles atacaram o trabalho de Paulo, agredindo o seu
direito de falar. A resposta de Paulo também foi lógica. Primeiramente,
Paulo defendeu seu apostolado; depois, sua mensagem; e por último,
mostrou as implicações práticas de sua mensagem. Seguindo este
desenvolvimento, a epístola aos Gálatas se divide em três seções de dois
capítulos cada.

A Defesa da Justificativa pela Fé


Ao defender seu apostolado e o direito de falar, Paulo indica seu
chamado divino (1:1), a fonte divina desta mensagem (1:11, 12), a
impossibilidade de obter esta mensagem de outros apóstolos (1:15-17); sua
independência das igrejas da Judeia (1:18-24); e ainda a aprovação de sua
mensagem pelos outros apóstolos (2:9, 10). Ao concluir a seção biográfica
da epístola, Paulo introduz o fato mais importante do cristianismo: a
justificação pela fé e como isto é alcançado. O argumento funciona
essencialmente assim: a lei condena os pecadores por seus pecados; isto
levou Cristo à cruz como uma representação dos infratores. Nós, pela fé,
somos vistos como crucificados com Cristo e participantes da vida divina.
Se nós somos crucificados com Cristo, a lei não tem mais domínio sobre
nós, e não podemos mais ser condenados por ela. A lei não pode exigir uma
penalidade duas vezes; Cristo já pagou por aquilo que devíamos. Esta
passagem deve ser colocada ao lado de 3:10-16 e Romanos 6 para uma
exposição completa da doutrina.
À medida que o apóstolo lida com o argumento teológico da epístola, ele
aponta que depois de tudo, Abraão foi justificado pela fé. A lei, que surgiu
depois do tempo de Abraão, não anulava este acordo de fé. Na verdade, foi
um acordo temporário entre a época de Moisés e a morte de Cristo, com o
propósito de preparar o caminho para Cristo.
Toda a implicação de 3:24, 25 não é obviamente para um leitor do século
XXI. A palavra traduzida como “aio” vem do grego paidagogos. Um
paidagogos era um escravo que supervisionava a criança, levava para a
escola de manhã e a deixava lá. Uma vez que o menino voltava da escola,
seu trabalho estava finalizado. Da mesma forma, uma vez que a lei (como
um paidagogos) demostrou a falta de habilidade do homem em
corresponder aos padrões de justiça de Deus, e uma vez que a provisão para
alcançar este padrão estava em Cristo, não havia mais necessidade para a
lei. Além disso, o ponto dos próximos muitos versos é que agora, em Cristo,
nós nos tornamos filhos adultos. Nós não somos mais como crianças que
precisam ser direcionadas por um paidagogos (a lei). Para concluir esta
seção, Paulo vem para dar luz a um argumento da vida de Abraão. É algo
como: “Vocês, judaizantes, que dizem ser filhos de Abraão, lembrem-se de
que Abraão tinha dois filhos, Ismael e Isaque.
Ismael era o filho da escrava e foi expulso com sua mãe para que não
tivesse participação na herança com Isaque, filho da mulher livre. Da
mesma forma, vocês gálatas, que se colocam debaixo da lei não podem ser
herdeiros ou filhos da promessa, mas serão expulsos, assim como foram
Agar e seu filho.”
Nos últimos dois capítulos, Paulo faz a aplicação prática da doutrina da
justificação pela fé. Depois de um alerta temendo que a liberdade de alguém
fortalecesse o retorno ao sistema da lei, o apóstolo mais à frente admoesta
novamente permitindo que a liberdade se tornasse uma licença. Então ele
prossegue para enfatizar a importância de andar pelo Espírito.
Anteriormente (3:1-5) ele diz que aqueles que creem recebem o Espírito
como um poder para viver a vida cristã quando colocam sua fé em Cristo.
Agora, as implicações individuais e sociais de se viver no Espírito são
apresentadas. Haverá uma manifestação particular do fruto do Espírito.
Entre o corpo dos cristãos, haverá uma restauração de irmãos e irmãs que
caíram no pecado, o sustentar do fardo um do outro, e uma vida que
beneficia a todos. As boas obras não são meios de salvação, mas elas
certamente serão o produto de uma vida de fé.
Gálatas era o livro favorito de Martinho Lutero, e sua mensagem de
justificação pela fé se tornou o fundamento da Reforma.

Primeira Tessalonicenses: Vida de Confusão e


Desordem

Depois do Concílio de Jerusalém, Paulo deu início a sua segunda viagem


missionária, desta vez na companhia de Silas. Indo por terra, os dois
revisitaram as igrejas fundadas na primeira viagem. Mas então eles
entraram em um período de incerteza a respeito de onde ir. Então a visão do
“varão da Macedônia” (Atos 16:9, 10) deixou claro que Deus queria que
eles pregassem na Europa. Depois de fundar com sucesso uma igreja em
Filipos, Paulo e Silas foram para Tessalônica, a capital e grande porto da
província da Macedônia. Lá, também, eles tiveram um grande número de
convertidos. Mas a oposição dos judeus era tão violenta que Paulo
determinou ir primeiro para Bereia e depois para Atenas a fim de esperar
que esta tempestade passasse. No entanto, a tempestade não se abateu logo
para o apóstolo, e ele foi para Corinto, onde ministrou por dezoito meses
(Atos 18:11).
Quando Paulo saiu de Bereia para Atenas, ele enviou Silas e Timóteo
(Timóteo tinha se juntado a eles em Listra, Atos 16:1) para assistir os
irmãos tessalonicenses que haviam acabado de se converter. Depois Silas e
Timóteo se juntaram a ele em Corinto, e as notícias recebidas da igreja
tessalonicense deram ocasião a escrita de 1 Tessalonicenses (1
Tessalonicenses 3:1-6). Os capítulos 1-3 contam do regozijo de Paulo em
relação aos fiéis de Tessalônica; os capítulos 4 e 5 dão instruções a eles a
respeito da vinda do Senhor por Seus santos.
Em 1 Tessalonicenses 1-3 nós aprendemos que havia muito para
recomendar aos fiéis de Tessalônica. Eles receberam o evangelho com
prazer, serviram com fidelidade ao Senhor, e com paciência, passaram por
cima da perseguição que se abateu sobre eles. Na realidade, o testemunho
deles tinha sido tão exemplar, que foi comentado por toda a Grécia.
Mas, infelizmente, tudo não estava indo tão bem em Tessalônica.
Aparentemente, alguns caíram no relaxamento moral do paganismo (4:1-
7), e outros foram culpados por viverem em desordem (5:14).
O assunto da segunda vinda de Cristo perturbava a muitos.
Aparentemente, alguns até pararam de trabalhar pois esperavam que o
Senhor voltasse imediatamente (4:11; compare com 2 Tessalonicenses 3:10-
12). No entanto, o maior problema estava centrado na morte em Cristo.
Alguns tinham corações pesados porque os seus amados tinham morrido e
não estariam no arrebatamento dos santos (a palavra arrebatamento vem de
um verbo latino que significa “apanhar, levar embora pela força”. É um
termo comumente usado para o evento da volta de Cristo para reunir Sua
Igreja). A mensagem de Paulo para estas pessoas foi que no Arrebatamento,
fiéis já mortos, na verdade, precederiam os vivos; então, os vivos seriam
levados para se juntar a eles (4:13-18). O apóstolo prosseguiu dizendo que
sendo o tempo da vinda de Cristo incerto, os cristãos nascidos de novo
como filhos da luz deveriam se abster de toda a aparência do mal e
esperarem Sua vinda momentânea.
A preparação para Sua vinda é mais do que uma consciência mental;
envolve uma santidade de vida caracterizada pela obediência às orientações
detalhadas ao fim da epístola.

Segunda Tessalonicenses: Assuntos dos Últimos


Dias

Segunda Tessalonicenses continua com o tema geral do retorno do


Senhor, lidando ainda mais exclusivamente com isto do que 1
Tessalonicenses. Nesta segunda epístola, Paulo revela um conhecimento
detalhado e original das condições em Tessalônica. Aparentemente, ele
recebeu a informação de Silas e Timóteo quando eles retornaram para
Corinto para lançar a primeira epístola aos tessalonicenses.
Os problemas tratados nesta epístola diferem um pouco daqueles
mencionados na primeira epístola. A preocupação a respeito dos amados
que haviam morrido antes do Arrebatamento parece não existir mais. A
grande questão agora é se os fiéis tessalonicenses estão no meio da
Tribulação e prestes a experimentarem o dia do Senhor (capítulo 2).
Embora tenha havido definitivamente um crescimento espiritual da igreja
como um todo, alguns pareciam ter se tornado ainda mais preguiçosos
quando souberam da volta de Cristo. Sem dúvidas, a atitude deles era: “Se
Cristo está para voltar, por que vou trabalhar?” (3:10-12). A perseguição
evidente em 1 Tessalonicenses continua a abater a igreja à época da escrita
desta segunda carta.
O esboço de 2 Tessalonicenses segue a divisão de capítulos. No capítulo
1, Paulo oferece ação de graças e encorajamento. Houve um crescimento
espiritual entre o povo, e por isto ele é grato. À medida que eles enfrentam
uma perseguição contínua, Paulo os lembra que no dia do Senhor, Deus
julgará aqueles que não O conhecem.
No capítulo 2, o apóstolo lida com o problema central agora enfrentado
pelos tessalonicenses. Através de uma carta falsificada, su-
postamente paulina, ou um ensinamento falsamente atribuído a Paulo, ou
uma interpretação errada de algo que o apóstolo tinha dito a eles, eles
tinham concluído que o Arrebatamento já tinha ocorrido, que agora eles
estavam em meio à Tribulação e que o dia do Senhor estava sobre eles.
Infelizmente, na versão em inglês King James, fala-se do “dia de Cristo”.
As versões New American Standard e Nova Versão Internacional
corretamente referem-se ao “dia do Senhor”. O ponto é este: o dia de Cristo
se refere ao Arrebatamento dos santos antes da Tribulação, enquanto o dia
do Senhor se aplica à vinda de Cristo em julgamento ao final da Tribulação.
A Escritura apresenta o Arrebatamento ocorrendo há qualquer hora;
nenhum evento específico deve acontecer antes do retorno de Cristo pelos
santos. Entretanto, antes do dia do Senhor, uma ordem definitiva de eventos
irá ocorrer, como Paulo agora prossegue em enumerar: a grande apostasia, a
retirada do Detentor, a revelação do Anticristo (2:3-12, homem do pecado).
Então, ao final da tribulação, durante a qual o homem do pecado governará
desenfreadamente, Cristo retornará para julgar a ele e as forças do mal (2:8,
9). Muito tem sido dito a respeito da identificação do Detentor. Junto a
muitos estudiosos da Bíblia do passado e do presente, o escritor acredita
que ele é ninguém mais que o Espírito Santo.
Ele eleva Sua grande moderação, agora operante no mundo, no tempo do
arrebatamento da igreja. Entretanto, a posição de pré-tribulação do
arrebatamento não permanecerá ou cairá com esta identificação.
Enquanto o capítulo 2 busca corrigir erros na doutrina, o capítulo 3 se
esforça em parar com erros praticados. Paulo reprova veemente-mente
aqueles que, à luz do retorno de Cristo, pararam de trabalhar e se tornaram
criadores de caso para os esforçados, mesmo que consumindo os frutos do
trabalho desses laboriosos. Sua avaliação: sem trabalho, sem comida. Ele
exorta os fiéis a evitarem todos que andam desordenadamente, mas que
façam isto para alertá-los como irmãos e não como inimigos da vida.

Primeira Coríntios: O Evangelho em Uma


Geração Perversa

Depois do extenso e bem sucedido ministério de Paulo em Corinto em


sua segunda viagem missionária, ele retornou a Jerusalém e dali a
Antioquia da Síria. Depois de uma breve estada na metrópole, ele ficou em
terra por toda a Ásia Menor novamente, parando nas igrejas fundadas na
primeira viagem. Finalmente ele se estabeleceu em Éfeso, ficando lá por
mais de dois anos. Uma vez lá, ele mantinha contato com as igrejas
fundadas na Grécia durante sua segunda viagem. A igreja em Corinto deu
uma grande dor de cabeça a Paulo devido a sua instabilidade. Ela foi
abatida pela fraqueza moral e pelo facciosismo. Em relação a este último,
Apolo tinha ministrado efetivamente em especial entre os judeus de Corinto
subsequente ao ministério de Paulo neste lugar (Atos 18:27, 28).
Aparentemente, Pedro também foi para a cidade e deu sequência ao
trabalho. Como resultado, os fiéis se dividiram em facções, alguns seguindo
a Paulo, outros seguindo a Apolo, e ainda outros a Pedro; enquanto alguns
diziam que seguiam a Cristo.
Além dos rumores que alcançaram Paulo em Éfeso a respeito das
condições de Corinto, a igreja tinha mandado um presente e tinha escrito
para ele uma carta de inquérito, entregando ambas nas mãos de Estéfanas,
Fortunato e Acaico (1 Coríntios 16:17). Primeira Coríntios é uma resposta
para esta carta assim como para assuntos reportados a ele oralmente; aqui
ele lida com muito mais questões do que as tratadas em sua última carta.
Se o evangelho teve sucesso em Corinto, poderia ter sucesso em qualquer
outro lugar. O comércio que havia em seus portos era fundamental para a
economia de Corinto. Mas com este comércio, veio um breve elemento
populacional que jogou a descrição moral aos ventos.
É ruim o bastante quando, em nossos dias, pessoas tendo alguma
familiaridade com os princípios cristãos sejam livres das proibições da vida
em comunidade; mas imagine essas mesmas pessoas em uma sociedade que
desconhece totalmente a moral cristã! Durante o período do Novo
Testamento, havia pelo menos cinco templos em Corinto para Afrodite,
deusa do amor erótico e deusa do mar. Embora a prostituição religiosa em
conexão com a adoração a Afrodite aparentemente não fosse praticada em
Corinto durante a época do Novo Testamento (assim como tinha sido na
antiga Corinto), sua adoração tinha uma influência forte na mentalidade e
nas práticas daquela região e da população. Acrescido a isto os efeitos de
uma grande abundância material conseguida pelas condições prósperas da
cidade. “Moral coríntia” se tornou um provérbio no mundo mediterrâneo. A
figura da degradação dos gentios retratada por Paulo em Romanos pode
bem ter sido inspirada pelas condições que ele testemunhou em Corinto. É
evidente que a igreja de Corinto foi grandemente afetada pelo contexto da
natureza dos problemas com os quais Paulo lida na epístola.
Em geral, 1 Coríntios tem duas seções: capítulos 1-6, problemas
relatados a Paulo oralmente, talvez por membros da casa de Cloe (1:11) e
Estéfanas, Fortunato e Acaico (16:17); capítulos 7-16, problemas
questionados por carta. A primeira parte lida com as rixas, moralidade
sexual e litígio diante dos pagãos. A segunda toca nos assuntos do
casamento, virgens, coisas sacrificadas a ídolos, adoração pública, exercício
dos dons espirituais, a ressurreição do corpo e a coleta. Agora vamos
considerar essas divisões com mais detalhes.

Facções e Imoralidade Grosseira


Ao iniciar a epístola, Paulo ataca o espírito de facção na igreja de
Corinto. Embora quatro partes sejam nomeadas em 1:12, as duas mais
importantes declaram seguir Paulo e Apolo. Revelando seu ponto de vista
grego, muitos desses cristãos aparentemente ficaram impressionados com a
grande eloquência e abordagem mais filosófica deste último. Os apóstolos
pontuam primeiro a falta de valor da sabedoria humana em chegar à
verdade de Deus quando ela está desassistida pelo Espírito de Deus. O
homem “natural” ou pecador não pode entender conceitos espirituais (2:14).
Então ele mostra que nem ele nem Apolo têm uma importância maior no
ministério espiritual; Deus é aquele que traz o crescimento espiritual. Para
concluir este assunto, ele defende seu ministério apostólico. A propósito,
deve-se notar que não havia hostilidade entre Paulo e Apolo (1 Coríntios
16:12; Tito 3:13).
Os capítulos 5 e 6 falam primeiramente da imoralidade, com uma breve
seção sobre litígios. No primeiro, Paulo recomenda a disciplina da igreja até
que o mau seja removido e lembra que seus corpos são templos do Espírito
Santo (6:19). Em coneccção a isso, ele aponta o mau testemunho dos fiéis
indo para a lei diante dos ímpios e os diz para resolverem suas próprias
diferenças. A mensagem de 1 Coríntios 6:19, 20 revoluciona toda a conduta
cristã. Tópicos são claramente introduzidos pelas expressões: “Quanto...”
ou “Com respeito...” (7:1; 7:25; 8:1; 8:4; 12:1; 16:1; 16:12). O capítulo 7
contém algumas passagens que são interpretadas com grande dificuldade.
Aparentemente, alguns em Corinto ensinaram que era errado casar. Paulo
deixa claro que, se por um lado o casamento não é pecado, por outro
também não é obrigatório. Aqueles que estavam casados com ímpios
deveriam continuar com seus cônjuges e fazer um esforço para ganhá-los.
Os capítulos 8-10 falam de comer carne oferecida a ídolos e a
participação em festas pagãs. Aqui o apóstolo pontua o privilégio da
liberdade cristã, mas lembra aos fiéis da responsabilidade deles com os
irmãos e irmãs mais fracos. Ele diz também que o cristão não deve
participar de festas pagãs ao mesmo tempo em que ceia com o Senhor.

Dons Espirituais
Os capítulos 12-14 são a maior passagem do Novo Testamento a respeito
de dons espirituais. Aqui está demonstrado que o Espírito Santo concede
dons espirituais para cada cristão de acordo com Sua vontade, que os
mesmos dons não são dados a todos, mas cada um tem um dom e um lugar
para ocupar na igreja, os dons espirituais devem devem ser exercidos em
amor, e certas regras são para controlar suas manifestações. Duas
observações funcionam aqui. Primeiro, a posse de dons espirituais não é
necessariamente uma evidência de espiritualidade porque os coríntios são
descritos como cristãos carnais. Segundo, se as regras do capítulo 14
fossem observadas cuidadosamente hoje, o excesso de certos grupos
desapareceria imediatamente. Alguns que declaram ter dons espirituais
hoje, dão abertura para o questionamento de suas posições de exclusividade
ao violarem, em seus ensinamentos e práticas, as claras instruções dos
capítulos 12-14.
Embora este livro faça uma contribuição única a respeito dos dons
espirituais, ele também tem bastante a oferecer a respeito da ressurreição
(capítulo 15). Como de costume, o argumento de Paulo é lógico.
Ele começa defendendo o fato da ressurreição. Depois ele indica o valor
das bases da nossa fé; um Cristo morto não seria um Salvador. Ele mostra,
também, que a nossa ressurreição é baseada na ressurreição de Cristo.
Depois ele vai além para discutir a natureza do corpo ressurreto, cujo fator
mais importante é ser incorruptível. O capítulo termina com uma nota de
triunfo e com uma exortação. Estando certo da ressurreição e então certo da
nossa fé e de nosso futuro, nós devemos ser “firmes e constantes, sempre
abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no
Senhor” (15:58).
A mensagem do último capítulo não é incompatível com o tema da
ressurreição. Ser “abundantes na obra do Senhor” (15:58) e manter o
testemunho da igreja requer um suporte financeiro para os pobres santos de
Jerusalém. As instruções são claras a respeito do tempo e dos princípios
envolvidos em coletar as taxas, os métodos de envio e seu destino.
Agora veja a maneira com que Paulo fecha esta epístola: “O meu amor
seja com todos vós”. Embora as facções tenham causado uma oposição
entre eles, ele ainda era capaz de expressar seu amor por eles.
A magnanimidade deste apóstolo era grande!

Segunda Coríntios: Um pedido de


arrependimento

Aparentemente, os coríntios não responderam positivamente à primeira


carta de Paulo, nem aos esforços pessoais de Timóteo, que a entregou.
Então, com um grande pesar em seu coração, Paulo fez uma segunda visita
apressada a Corinto para negociar esta situação. Isto é deduzido das
referências como 2 Coríntios 2:1; 12:14, 21; e 13:1, 2, onde ele diz ter ido
vê-los uma terceira vez. Além disso, parece que ele foi recebido friamente
nesta segunda visita (note especialmente 2:5-8) e logo após ter escrito uma
epístola abrasadora (agora perdida para nós), pela qual ele mais tarde se
desculpou (2:34, 9; 7:8-12). Mas também parece que esta epístola teve
sucesso em alcançar seu objetivo e que agora havia uma atitude de
arrependimento entre a maioria dos cristãos de Corinto. Pelo menos foi isso
que Tito relatou quando voltou de uma missão em Corinto, enviado por
Paulo (veja 7:6-16). A ação de graças de Paulo por este bom relato, junto
com uma necessidade de lidar com contínuas atividades dos judaizantes da
igreja de Corinto, levou o apóstolo a escrever a segunda epístola canônica à
igreja de Corinto.
Pelo fato da pessoa e do apostolado de Paulo terem sido tão atacados, ele
escreveu de um ponto de vista mais pessoal nesta epístola do que em
qualquer outra. Aqui nós aprendemos, por exemplo, a respeito de seus
sofrimentos (1:4, 5, 8; 4:8; 11:23-33), suas fraquezas de corpo (10:10) e seu
discurso repulsivo (10:10; 11:6). Partindo do princípio de que os assuntos
têm a ver com a doutrina ou ordem da igreja e por serem tão fracos em
defender o apostolado e a pessoa de Paulo, pode-se perguntar qual o valor
desta carta. Ela fala principalmente na descrição do ministério do evangelho
(seus motivos, problemas, sofrimentos e recompensas futuras) e seus
ensinamentos sobre a entrega nos capítulos 8 e 9.
A natureza não sistemática do tratamento de Paulo faz delimitar a
epístola uma tarefa difícil. Mas no geral, três divisões aparecem: capítulos
1-7, 8-9 e 10-13. A primeira divisão descreve o interesse pela igreja de
Corinto, suas dificuldades, alegrias e motivações no ministério, sua
mensagem, seus conselhos de como lidar com os infratores da igreja, seu
apelo para se separarem dos incrédulos e para a reconciliação com ele, e a
explicação de sua mudança de planos para ir visitá-los. Por último, ele
aponta que não foi devido à inconstância, mas para poupá-los de sua
angústia de coração.
Os capítulos 8 e 9 tratam em detalhes sobre a coleta para a igreja de
Jerusalem. Além de seu significado histórico, esta passagem nos dá alguns
princípios importantes sobre o ato de doar:
1. Nossa doação não deve ficar por trás de outras demonstrações do
cristianismo, tal como fé, conhecimento da verdade e testemunho do
Senhor (8:7).
2. Dar é uma prova de nosso amor e gratidão a Cristo (8:8, 9).
3. Devemos dar com vontade e alegria (8:12; 9:7).
4. Há um princípio de retorno quando você dá: você colhe o que você
planta (9:6).
5. A doação glorifica a Deus (9:13).
6. Por meio da doação nós asseguramos o amor dos outros (9:14)

Embora os nove primeiros capítulos da epístola tenham um tom


conciliador, os outros quatro são cheios de comparações. Este fato tem
colocado questões na mente de muitos, com alguns até mesmo sugerindo
que esta seção deveria ser considerada a epístola “perdida” mencionada
acima. Entretanto, não há qualquer evidência que esta porção tenha sido
desprendida do resto do livro. Além disso, não é tão óbvio que Paulo esteja
tentando derrotar falsos mestres aqui; pelos quais ele nunca teve nenhuma
simpatia. Embora seja admitido que não se deve responder a este tipo de
abordagem do inimigo, deve-se pontuar que Paulo estava tentando tirá-los
da igreja. Embora a linguagem forte tenha a intenção de ser um ataque
frontal ao seus oponentes, ela também é designada para ser um lembrete à
igreja do seu papel para com falsos mestres. Ao ler esta seção, notam-se por
um lado a humildade de Paulo quando as acusações são pessoais, e por
outro sua defesa apaixonada quando essas acusações envolvem seu
trabalho, autoridade ou mensagem como apóstolo.

Romanos: os princípios básicos da fé

A mais profunda de todas as epístolas paulinas, Romanos foi escrita para


instruir uma igreja que o grande apóstolo não tinha fundado e para preparar
o caminho de sua visita que estava para acontecer (Romanos 15:24-32).
Possivelmente, Paulo escreve Romanos próximo ao fim de sua terceira
viagem missionária a Corinto. Existe algo da finalidade de Romanos 15:19:
ele tinha “pregado totalmente” o evangelho de Jerusalém a Ilíria (a moderna
Iugoslávia), o que significa que ele tinha evangelizado na Síria, Chipre,
Ásia Menor e Grécia. Ele tinha coletado uma oferta para os pobres em
Jerusalém e estava prestes a ir entregá-la (Romanos 15:25, 26). Agora ele
pensava a respeito de novas áreas em que poderia batalhar pelo Salvador.
Ele tinha Roma em sua mente como um local para futuros cultos.
Aparentemente, ele enviou esta carta para a igreja pelas mãos de Febe,
diaconisa de Cencreia (porto oriental de Corinto), que estava a caminho de
Roma (Romanos 16:1).
Há uma incerteza a respeito de como a igreja surgiu lá. Os judeus
romanos estavam presentes em Jerusalém no dia do Pentecoste (Atos 2:10)
e devem ter retornado à capital para fundar uma igreja. Mas talvez os
núcleos desta irmandade consistissem nos convertidos de Paulo em outras
esferas de atividades missionárias, tais como Corinto e Éfeso. Nesta
ligação, nota-se o grande número de indivíduos que ele é capaz de chamar
pelo nome no capítulo 16. Em outras epístolas, isto seria uma prática
perigosa, porque omissões poderiam ferir sentimentos. Aqui, ele estabelece
contato com uma congregação até então desconhecida para ele.
Ao desenvolver o tema da justiça de Deus, Paulo buscou instruir uma
igreja nova nos princípios básicos da fé. Sem dúvidas, o Espírito Santo
tinha o objetivo maior de instruir os jovens fiéis que buscavam a verdade
através das eras. Pelo menos Romanos provou ser fundamental ao guiar
Martinho Lutero em uma experiência de regeneração. Através de seu
ministério, as comportas da misericórdia foram amplamente abertas em
uma Europa espiritualmente árida.

A História do Pecado e da Salvação


Depois de uma saudação de dezessete versos, o escritor começa
imediatamente com o tema da epístola: salvação pelos meios da justiça
divina. Na primeira parte principal, a humanidade permanece necessitada da
justiça divina (1:18-3:20). Lá é vista a inexprimível degradação dos gentios,
as bases nas quais Deus julga as pessoas da terra (os gentios, de acordo com
a lei espiritual da consciência e os judeus de acordo com a Lei Mosaica), e a
falha de ambos judeus e gentios em viver na luz dada a eles. Resumindo,
todos são pecadores e então permanecem condenados (veja 3:23).
De qualquer forma, Deus não deixa a humanidade neste dilema. Ele nos
dá uma justiça divina em Jesus Cristo, que se torna nossa à medida que
exercitamos nossa fé nEle. Este é o tema da segunda parte principal do livro
(3:21-8:39). A seção começa mostrando que a justiça divina está disponível
pela fé e que a oferta está aberta para ambos judeus e gentios. Além disso, a
justificação pela fé não é uma ideia nova, porque Abraão (antes da
instituição da Lei Mosaica) e Davi (que viveu sob a Lei Mosaica) foram
justificados independentemente das obras.
Deduz-se que outros santos do Antigo Testamento também foram. Então
Paulo mostra que há duas famílias na terra: a de Adão e a de Cristo.
Todos, por nascimento físico, fazem parte da primeira e estão, então,
condenados; pela fé em Cristo, uma pessoa pode se tornar um membro da
segunda família e receber justificação e vida. Como a mensagem do livro se
desenvolve, logo se torna evidente que a justificação não é o fim das
aspirações espirituais humanas. É preciso chegar a uma maturidade
espiritual na qual diariamente a experiência cristã do recém-convertido o
colocará bem próximo de Deus. O apóstolo suplica: “Portanto, não
permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais... E não
ofereçam os membros do corpo de vocês ao pecado, como instrumentos de
injustiça” (6:12, 13, NVI). No entanto, aqueles que buscam esta vida de
santificação podem ter certeza das grandes batalhas internas similares
àquelas do apóstolo. Paulo exclama que as coisas que ele quer fazer, muitas
vezes não consegue, porém ele não tem poder para evitar as coisas que não
quer fazer. Esta seção termina com um lindo capítulo sobre as bênçãos da
vida no Espírito; é a terceira pessoa da Trindade que provê o poder
necessário para a vitória na vida cristã.
Ao discutir os capítulos 3-8, dois termos que requerem uma definição
foram usados: justificação e santificação. O primeiro é o ato judicial de
Deus pelo qual Ele declara ou nos considera justos; isto se dá pelo
fundamento da nossa fé em Cristo e pela justiça de Cristo sendo colocada
em nossa responsabilidade. O segundo significa simplesmente “separar” e
como usado aqui, se refere ao fato de que o indivíduo é progressivamente
separado por Deus do mundo, sendo capacitado pelo Espírito Santo.

Justiça Também Para Israel


Os capítulos 9-11 são muitas vezes considerados como parenéticos, mas
na verdade, eles promovem grandemente o argumento. Eles dizem respeito
à relação de Israel com a justiça de Deus e a aliança de Deus.
A questão que aparece é sobre a concentração na justificação dos gentios
nesta época ser uma indicação de que Deus tinha abandonado os judeus. O
apóstolo explica que Israel, por causa de sua descrença, é abandonado
temporariamente em favor dos gentios. Ao final daquela era, Deus
novamente voltaria Sua atenção para o povo de Israel, e muitos deles seriam
salvos. Entretanto, alguns judeus estavam sendo convertidos; Deus não
tinha se voltado completamente contra os judeus.

Prática da Justiça
A última seção do livro diz respeito à prática da justiça – a aplicação da
justiça de Deus à vida diária dos cristãos. Paulo os exorta a primeiramente
se dedicarem a Deus sem reservas (12:1, 2), então ele apresenta suas
responsabilidades nos vários relacionamentos da vida. Especialmente, eles
têm que exercitar seus dons na igreja, evitarem se vingar de seus inimigos,
serem submissos ao Estado, e serem um apoio para seus irmãos e irmãs
mais fracos quanto a coisas que oferecem dúvidas.
Em ligação com esta última, Paulo nota o fato da liberdade cristã. Mas
este exercício de liberdade não deve ser para o sofrimento próprio de
alguém, para o prejuízo de outro cristão, ou servir de obstáculo para a obra
de Deus.

Efésios: Foco no Corpo de Cristo

Paulo estava indo para Roma, mas provavelmente não da maneira que ele
tinha originalmente planejado. Em seu retorno para Jerusalém, no final de
sua terceira viagem missionária, os judeus no templo buscaram matá-lo, por
causa de sua pregação do evangelho e pelo suposto fato de ele ter
introduzido os gentios ao pátio dos judeus (Atos 21:27-31). Os soldados
romanos o resgataram, permitiram que ele se defendesse em Jerusalém e
mais tarde o levaram para Cesareia (capital romana da Palestina) quando
um plano contra sua vida foi descoberto. Depois de audiências em Cesareia
durante dois anos de prisão lá, Paulo apelou a César como a “corte
suprema” do império. Levado para Roma e enfrentando um naufrágio no
caminho, ele esperou na capital por dois anos para que seu caso fosse
ouvido (para tudo isso, veja Atos 21:32-28:31).
Imagina-se Paulo sentado na prisão romana pensando em suas viagens
missionárias no mundo mediterrâneo oriental. Enquanto estava assim, uma
responsabilidade particular dos santos da Ásia Menor caiu sobre ele.
Onésimo, um escravo fugitivo, estava com ele e deveria retornar a seu
mestre, Filemon. Erros de doutrina foram enfrentados pelos Colossenses. A
igreja de Éfeso e as redondezas precisavam ser fortalecidas na fé. Então,
sob a direção do Espírito Santo, o grande apóstolo escreve três cartas
(Efésios, Colossenses e Filemon) e as envia por Tíquico e Onésimo (Efésios
6:21, 22; Colossenses 4:7-9).
Possivelmente, a carta aos Efésios foi enviada a mais igrejas do que a de
Éfeso. Pelo fato das palavras “em Éfeso” não estarem nos melhores
manuscritos e por muitos elementos impessoais aparecerem na carta
(embora Paulo passe cerca de três anos em Éfeso, Atos 20:31), parece ser
melhor considerá-la como uma carta para um número de igrejas do leste da
Ásia Menor. Talvez o apóstolo tenha em mente muitas das sete igrejas que
João menciona no Apocalipse.
O tema central de Efésios é a igreja, que é definida como corpo de Cristo
(1:22, 23): o corpo universal e indivisível de fiéis. A igreja local, descrita
em outro lugar do Novo Testamento, não está à vista aqui. O
desenvolvimento da carta se divide em duas seções de três capítulos cada, a
primeira doutrinal e a segunda, prática. Declarada brevemente, a mensagem
da seção doutrinal é que a igreja é uma realidade nova.
Nela, ambos judeus e gentios estão unidos para formar um organismo.
A entrada neste corpo é baseada na obra de Cristo e se dá somente pela
fé. Este novo corpo é um mistério que não foi conhecido nas gerações
anteriores, e a revelação deste mistério estava, de uma maneira especial,
reservada a Paulo. Os membros do corpo de Cristo já estão posicionados no
céu, e muitas outras bênçãos espirituais estão presentes em sua caminhada
diária.
Nos últimos três capítulos de Efésios, a conduta da igreja está em estudo.
Paulo exorta os membros do corpo de Cristo a andarem de forma que
dignifiquem sua posição exaltada (veja 4:1, 17; 5:2, 8, 15), e dá instruções
para guiá-los para uma vida mais semelhante a de Cristo (4:17-5:18). Como
os cristãos são um em Cristo, eles devem experimentar uma unidade na
irmandade e maturidade espiritual. Para que esta unidade seja alcançada,
homens com dons (tais como pastores, evangelistas e mestres, 4:11-13) são
usados na igreja. Paulo institui um padrão para a vida doméstica (5:22-6:4)
e relações trabalhistas (6:5-9) para os cristãos. Ele também descreve a
armadura disponível para eles na luta cristã (6:10-18). Esta é uma batalha
claramente espiritual e deve ser lutada com armas espirituais. Ao longo da
carta, o apóstolo enfatiza a obra do Espírito Santo como capacitador para
viver a vida cristã. Aquele que é selado pelo Espírito Santo (1:14; 4:30),
deve orar no Espírito (6:18), não deve entristecer o Espírito (4:30), deve se
fortalecer no Espírito (3:16) e deve se encher do Espírito (5:18).
A analogia usada em 5:18 é extremamente importante para o
entendimento do conceito de ser cheio do Espírito, tão mal entendido pela
igreja moderna. Este conceito envolve o controle pelo Espírito assim como
alguém é conduzido pelo vinho em um estado de embriaguez.
Ninguém é um recipiente vazio para ser preenchido pelo Espírito. O
Espírito Santo habita em todos que creem (Romanos 8:9; 1 Coríntios
6:19, 20; Gálatas 4:6) e recebem o Espírito por completo. O problema no
encher não é quanto do Espírito nós teremos, mas quanto de nós o Espírito
terá. Nós permitiremos que Ele nos controle?
Efésios provê um antídoto efetivo para muito do que está errado com a
igreja do século XXI. Se suas admoestações fossem levadas em
consideração, as brigas entre os irmãos e irmãs acabariam. Nós estaríamos
em uma irmandade, assim como os membros de um corpo. Se isto fosse
entendido, a igreja seria uma força muito mais poderosa de evangelismo no
mundo hoje em dia.

Colossenses: A Liderança de Cristo

Colossenses e Efésios são epístolas gêmeas, escritas ao mesmo tempo.


Ambas lidam com a igreja, mas Efésios enfatiza sua natureza como corpo
de Cristo e Colossenses enfatiza a liderança na pessoa de Cristo.
Ambas têm direções para maridos e esposas, pais e filhos, e servos e
patrões. Por descrever assuntos similares, muito da fraseologia é similar.
Em Colossenses, Paulo se apoia em três erros que estavam perturbando a
igreja colossense: a filosofia grega, o legalismo judaico e as práticas de
religiões orientais. Esses ensinamentos errados centrados na pessoa e obra
de Cristo na verdade destruíam a mensagem do cristianismo. Para responder
a eles, Paulo não faz um discurso prolongado. Para aquele que busca
conhecimento pela filosofia humana ele diz que em Cristo “estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (2:3). Para
os legalistas, ele destaca que as práticas da lei foram abolidas na cruz
(2:14), e que os cristãos morrem com Cristo (2:20).
Para os envolvidos com religiões orientais na prática de adoração a anjos
ou poderes espirituais, ele atesta a superioridade de Cristo (2:19).
Para fazer mais referências específicas aos três erros mencionados, Paulo
tinha muito a dizer geralmente sobre a preeminência de Cristo.
Ele é o Filho de Deus (1: 3, 13); a imagem do Deus invisível (1:15); o
criador (1:16); o sustentador (1:17); o primogênito de Deus (1:18); o
Salvador (1:14, 20, 22, 2:13, 14); o cabeça dos principados e poderes
(2:10); o objeto de fé daqueles que creem (1:4; 2:5); habitante corporal de
toda plenitude de Deus (2:9); e o agente na oração do fiel (3:17). Além
disso, Ele está agora sentado à direita de Deus Pai (3:1), de onde Ele virá
novamente (3:4).
Enquanto os capítulos 1 e 2 são essencialmente sobre doutrinas, os
capítulos 3 e 4 aplicam estas grandes verdades da doutrina para a vida
diária. Novamente se torna óbvio que nossas crenças determinam nossas
ações. Como cristãos nós morremos e ressuscitamos com Ele (3:1).
Nossa posição é exaltada, e nós não precisamos nos rebaixar a crenças e
práticas inferiores, mas devemos colocar nossa mente nas coisas do alto
(3:2). Devemos evitar o pecado da carne e seguir a santidade, o que inclui
verdadeiras relações cristãs entre maridos e esposas, pais e filhos, e servos e
senhores. Em suma, levar uma vida santa envolve todas as relações em
harmonia e sob a liderança de Cristo.

Filemon: O Evangelho da Reconciliação

Onésimo, um escravo colossense culpado por um crime, fugiu de seu


senhor, Filemon, e eventualmente, encontrou seu caminho para Roma. Lá,
ele teve contato com Paulo e se converteu. Então, por gratidão, Onésimo
acompanhou Paulo; mas esta situação não podia continuar. O honesto
apóstolo encarou diretamente sua obrigação de fazer o fugitivo voltar. Sem
dúvidas, Onésimo quis voltar e reparar o erro que havia cometido. Pelo fato
da lei romana não oferecer proteção para escravos rebeldes, Paulo escreve a
Filemon num esforço de reconciliar servo e senhor, agora irmãos em Cristo.
Aprendemos que Filemon viveu em Colossos na passagem de Colossenses
4:9, 17. Provavelmente Áfia era sua esposa e Arquipo, seu filho (v. 2). Pelo
menos isto sustentou um relacionamento próximo a Filemon.
É evidente que Paulo escreveu esta carta de Roma na mesma época que
escreveu Efésios e Colossenses. Tíquico era o “carteiro” que entregou
Colossenses (Colossenses 4:7) e Efésios (Efésios 6:21). Onésimo (portador
desta epístola) o acompanhou (Colossenses 4:9). E a data foi provavelmente
60 ou 61 d.C.
A sabedoria e o tato de Paulo são claramente revelados nesta breve
epístola. Ao invés de exercitar a autoridade apostólica e pedir que Filemon
recebesse Onésimo, Paulo apela a ele como amigo, apontando que Filemon
tem uma dívida com ele, por tê-lo levado ao Senhor. Segundo, o apóstolo
coloca este assunto nas mãos da igreja “para a igreja em sua casa”. Então,
se Filemon estivesse relutante em atender ao pedido de Paulo, a pressão da
igreja iria forçá-lo a ceder. Terceiro, Paulo oferece pagar pelos erros de
Onésimo. Por último, Paulo antecipa uma visita a Colossos; certamente,
Filemon não ousaria encarar Paulo se recusasse este pedido.
A epístola demonstra também como problemas sociais são tratados pelo
evangelho: não por força, mas por amor. O apóstolo não defende a
instituição da escravidão; ele meramente a aceita. Ele não teria alcançado
nada se colocando contra ela, mas em essência, ele a destruiu, colocando
ambos Filemon e Onésimo – senhor e escravo – em um mesmo nível
perante o Senhor.
O entusiasmo do amor cristão em vigor, derreteu as correntes da
escravidão e transformou escravo e mestre em amados irmãos da família de
Deus (1 Coríntios 12:13; Gálatas 3:28). Paulo não concedeu justiça à
instituição da escravidão, nem fez campanha para aboli-la. Aqui ele tentou
anular seus efeitos; em outro lugar ele buscou regularizar as relações
existentes apontando as responsabilidades dos senhores e escravos cristãos
uns para com os outros (Efesios 6:5, 6, 9; Colossenses 3:22-24; 4:1).
A carta a Filemon ilustra bem a mensagem do evangelho. O pecado viola
a comunhão e escraviza; a terceira parte (Cristo), relatada de alguma forma
para ambos o ofensor e o ofendido surge para efeito de uma reconciliação.
Paulo pede que os pecados do ofensor sejam avaliados sobre seu
julgamento (assim como Cristo faz), e ele coloca seu bom nome e reputação
à disposição do ofensor (note que a justiça de Cristo é disponível ao
pecador). A comunhão é, então, restaurada.
Filipenses: Um apelo para a unidade cristã

Filipenses foi aparentemente a última das cartas da prisão, escrita


próxima ao fim dos dois anos de confinamento de Paulo em Roma.
Foi necessário tempo para que os filipenses ouvissem que Paulo estava
prisioneiro em Roma, para Epafrodito chegar, para eles ouvirem sobre a
doença de Epafrodito em Roma e para sua recuperação acontecer
(Filipenses 2:25-28), para as facções desenvolverem o que Paulo se referia
em Filipenses 1:14-18, para a reputação de Paulo se espalhar entre a Guarda
Pretoriana (tropas excelentes do império, 1:13), e para o evangelho penetrar
na casa de César (4:22). Finalmente, supondo que Paulo fosse libertado do
cativeiro romano (veja discussão em 1 Timóteo), ele deve ter escrito a carta
logo antes daquela liberação, pois ele esperava ver os filipenses
“brevemente” (Filipenses 2:24).
Para muitos que leem esta carta “alegria” ou “regozijo” parece ser o tema
central (veja 1:4, 18, 25, 26, 2:2, 16, 18, 3:1, 3; 4:1, 4, 10). Outros acharão
que o tema é o evangelho (veja 1:5 [texto grego], 7, 12, 16, 27; 2:22 [texto
grego]; 4:3, 15). Ainda outros consideram ser Jesus Cristo o tema central da
mensagem da carta. Entretanto, o autor acredita que a mensagem desta carta
é dupla: para agradecer aos fiéis filipenses por seu presente generoso e para
lidar com a dissenção que tinha se abatido entre os fiéis filipenses.
Possivelmente, Epafrodito trouxe esta palavra quando apresentou o presente
a Paulo. O apóstolo não lida abertamente com o problema da unidade, mas
o leitor pode encontrar alusões ao problema ao longo da carta. Muitos
versos incluem as palavras “todos vós” ou “todos” e indicam que o apóstolo
quer que eles entendam que ele está falando para toda a igreja de Filipos e
não para muitas facções (1:1,4, 7, 8, 25; 2:17, 26). Considere também as
referências para o seu desejo por unidade, como expressado nas palavras
“um” ou “mesmo” (1:27; 2:2; 3:16; 4:2) e suas exortações em 2:14: “Façam
tudo sem murmurações nem contendas”. Uma passagem que provavelmente
mais do que qualquer outra, expressa o pensamento de toda a carta e por
isso serve como chave é 2:1-5. Lá, podemos achar a base para a unidade –
as bênçãos da vida cristã; a exortação; a unidade – a humildade e a
consideração das necessidades dos outros.
Paulo começa a carta com uma saudação “a todos os santos em Cristo
Jesus que vivem em Filipos”. Ele então continua a enfatizar o tema ao orar
por “todos vós” (1:4); em acreditar que o Senhor guardaria “vós todos vós”
até o dia de Cristo (1:6,7); em declarar sua preocupação por “todos vós”
(1:8); em declarar que é necessário para ele habitar com “todos vós” (1:25);
ao exortá-los a permanecerem seguros em um espírito, aspirando pela fé no
evangelho (1:27), e a viver com a simplicidade do propósito e amar sem
divisões (2:2). Sua alegria com “todos vós”( 2:17) e a preocupação de Paulo
compartilhada com Epafrodito por “todos vós” (2:26). Uma próxima ênfase
sobre determinação é achada em 3:15, 16; e em 4:2 onde Paulo exorta duas
mulheres que parecem ser líderes de uma facção a colocarem de lado suas
diferenças.
A maior passagem no livro está em 2:1-11. Embora seja centrada na
pessoa de Cristo, ela deve ser vista em conexão com a verdade que toda a
divisão cessa e a harmonia é restaurada quando os fiéis têm a mente de
Cristo. Esta atitude de total humildade (que O levou a Se despojar da visível
glória do céu e assumir forma humana) não permitirá transgressões nos
direitos dos outros, e então a completa comunhão entre os irmãos será
restaurada.
Seguindo o tema da unidade, os principais títulos do resumo de
Filipenses são:

1. Introdução, 1:1-11
2. Prisão de Paulo relacionada à questão da unidade, 1:12-30
3. A mente de Cristo: a fonte de toda unidade, 2:1-30
4. A aparição biográfica da unidade: respostas das experiências de Paulo
a problemas que causam desunião, 3:1-21
5. Exortações que levarão à unidade, 4:1-9
6. Ação de graças pelo dom deles: uma representação da sua ação
unificada, 4:10-20
7. Conclusão, 4:21-23

Em conjunto com o tema geral da unidade, dois problemas principais


aparecem, os quais causaram pelo menos uma parte da desunião.
O primeiro destes relata o judaísmo e os judaizantes; isto é abordado em
3:1-7. O segundo problema diz respeito à perfeição cristã e ganha ênfase em
muitas passagens. Em resposta, Paulo ensina claramente que a perfeição
nesta vida não é absoluta, mas progressiva. O capítulo 3 dá o tratamento
mais extenso deste assunto (versículos 7-15).
Primeira Timóteo: Para Todos os Jovens
Pregadores

Durante a história, sabe-se que as instruções de Paulo para os jovens


pregadores aparecem em 1 e 2 Timóteo e Tito; por esta razão, elas são
chamadas de epístolas pastorais. No entanto, não se pode fazer uma
declaração dogmática ou sem reservas sobre a autoria de Paulo hoje, porque
muitos estudiosos são convencidos de que Paulo não escreveu estas
epístolas. Eles são unânimes em admitir o testemunho da igreja em relação
a autoria paulina do segundo século ao século XIX, mas a negam com base
nas provas internas. O único líder na igreja primitiva que rejeitou a autoria
paulina para as três epístolas foi Marcião, um herege que as excluiu de seu
cânon por volta de 140 d.C. Seu apelo é insignificante, pois ele também
rejeitou Mateus, Marcos, João e rescreveu Lucas para que este se
encaixasse em seus propósitos; ninguém rejeita estes livros ou sua autoria
por causa das conclusões de Marcião.
Argumentos internos com os quais os racionalistas avançaram contra a
autoria paulina no século XIX podem ser agrupados nas categorias de
questões de cunho histórico, linguístico, doutrinal e eclesiástico.
Historicamente, o ponto é que estes livros não se encaixam no relato do
ministério de Paulo como apresentado em Atos. A simples resposta é que
Atos termina com os dois anos da prisão de Paulo e estas epístolas se
encaixam em um período posterior a este tempo.
Linguisticamente, a linguagem dessas epístolas é presumida para ser bem
diferente das outras dez epístolas de Paulo para permitir a autoria dele.
Quatro formas de respostas são possíveis. Primeiro, Paulo estava
fisicamente e mentalmente velho, senão cronologicamente velho,
aparentemente alguma coisa também havia mudado em seu pensamento.
Seria permitido a qualquer escritor mudar seu vocabulário e seus temas
no final de sua vida. Segundo, tem-se desenvolvido uma tese que Lucas foi
seu escrevente ou escriba quando relatou esses livros; há afinidades entre o
grego desses livros com o evangelho de Lucas. Terceiro, alguns
argumentam que durante a prisão de Paulo em Roma, ele teve influência
dos padrões da língua latina em expectativa por causa de sua viagem à
Espanha e a áreas a oeste. Há uma similaridade declarada entre o estilo
destas obras e a de Cícero, por exemplo. Quarto, do argumento da
gramática histórica, pode-se dizer que as pastorais foram escritas no
primeiro século grego e então não se encaixa nas hipóteses de composição
do segundo século.
De acordo com a doutrina, há também evidências entre esses três livros e
as outras dez epístolas reconhecidas de Paulo; mas ele está lidando com
problemas mais práticos desta vez, e existem semelhanças entre estes três
livros e os outros dez.
Na visão eclesiástica, há supostamente um estágio no século segundo do
governo da igreja nessas epístolas, onde falam de bispos e presbíteros e
outros. Mas Paulo usa os termos “bispo” e “presbítero”alternadamente em
Tito 1:5-7, enquanto eles são diferenciados no segundo século. Em Atos
14:23, Paulo designou presbíteros nas igrejas.
Em Filipenses 1:1, ele se dirige a bispos e diáconos. Nos primeiros dias
da igreja, os apóstolos estabeleceram uma ordem separada para líderes,
provavelmente diáconos (Atos 6).
Concluindo, todos os argumentos contra Paulo sendo o autor das
epístolas pastorais são refutáveis, e a visão tradicional pode ser aceita com
confiança.[Nota 1] Seguindo esta visão, nós concluímos que provavelmente o
apóstolo enviou estes dois jovens (Timóteo para Éfeso e Tito para Creta)
depois de sua libertação da prisão em Roma citada em Atos. Que Paulo foi
liberto da prisão e que ele teve uma quarta viagem missionária está evidente
por muitos fatores, quatro dos quais apresentados a seguir.
Primeiro, Eusébio de Cesareia em sua história do século quarto relatou
que Paulo foi liberto de sua primeira prisão, após a qual ele resumiu suas
viagens de pregação. Preso em Roma uma segunda vez, ele escreveu 2
Timóteo e foi mais tarde martirizado ( Ecclesiastical History [História
Eclesiástica 2.22]).
Segundo, Filemon 22 e Filipenses 1:25, 26; 2:23, 24 evidenciam uma
confiança da parte de Paulo que ele seria liberto da prisão, retornaria a
Filipos e visitaria Colossos. Se nós acreditamos na inspiração verbal,
devemos provavelmente assumir que estes não eram desejos sem propósitos
do autor. Além disso, Romanos 15: 24, 28 descreve uma viagem futura para
a Espanha, a qual vários pais da igreja primitiva dizem que ele realizou. Em
ligação com estas referências, nós devemos levar 2 Timóteo 4:7 em
consideração: “Acabei a carreira”. Isto implica-ria no cumprimento dos
planos e esperanças de Paulo.
Terceiro, em 2 Timóteo 4:20, Paulo menciona deixar Trófimo em Mileto.
Se isto se refere ao livro dos Atos (20:4; 21: 29), contradiz Atos; lá Trófimo
não é deixado para trás. A referência de 2 Timóteo pressupõe uma nova
viagem.
Quarto, Clemente de Roma, por volta de 95 d.C., disse que Paulo foi para
a “extremidade do ocidente” ( 1 Clement V). Embora ele não tenha
especificamente mencionado a Espanha, isto fica implícito. Roma, para os
romanos, não era extremidade do ocidente, como alguns alegam; era o
centro do império.
Em um breve encontro com os presbíteros de Éfeso em Mileto, Paulo
tinha admoestado: “Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes
penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês
mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os
discípulos.” (Atos 20:29, 30). Agora, anos depois, esta profecia foi
cumprida; e Paulo achou necessário enviar Timóteo a Éfeso para lidar com
as infiltrações de erros de doutrina entre os fiéis de Éfeso. Primeira Timóteo
1 claramente indica a seriedade desta situação. Alguns se desviaram da “fé
verdadeira”; para estes Paulo encorajou a prática da piedade (1:5, 6). Outros
estavam abusando da lei; para estes, Paulo destacou que a lei tinha um uso
permitido (1:7). Ainda tiveram outros que caíram em profunda apostasia;
aparentemente, Himeneu e Alexandre lideraram o grupo (1:19, 20). Para
eles foi dirigida uma disciplina mais severa. Para lidar com os erros dos
efésios e instruir a igreja em sua adoração comunitária e administrativa,
Paulo ordenou que Timóteo fosse para Éfeso. Mas ao dar instruções a
respeito das responsabilidades oficiais, o grande apóstolo achou necessário
incluir algumas advertências pessoais. O esboço do livro, então, se dá
nestas três divisões:

1. O problema dos efésios, 1:1-17


2. Instruções a respeito das responsabilidades oficiais, 1:18-4:5
3. Admoestações a respeito do comportamento pessoal, 4:6-6:21

Ninguém pode estar certo se os capítulos 2 e 3 foram escritos para cuidar


de problemas específicos em Éfeso; em parte eles foram. Pelo menos, as
instruções que eles têm foram necessárias para a organização efetiva da
igreja. Paulo fala sobre oração pública, o lugar da mulher na igreja, as
qualificações dos bispos (provavelmente sinônimo de presbíteros) e
diáconos. Recomendações espirituais para inspecionar o rebanho incluíam
ser irrepreensível nos casos familiares, na caminhada pessoal, nas relações
sociais e nos princípios doutrinais.
Não se questiona o fato de Timóteo ser relativamente jovem quando
Paulo enviou estas instruções (4:12). Mas se Timóteo tinha cerca de vinte
anos (para se ter uma imagem visando esta discussão) quando se juntou a
Paulo, ele então tinha pelo menos trinta e cinco anos quando Paulo o enviou
para Éfeso. Talvez 1 Timóteo 4:12 seja mais destinado a sua inexperiência
ao lidar com as funções de liderança do que a própria idade cronológica.
Parece igualmente certo que ele não tinha força em sua personalidade para
lidar com alguns problemas. Talvez ele estivesse apavorado diante da
gigante tarefa que se apresentava a ele. Na última metade do livro, Paulo
parece conhecer as necessidades na vida do jovem ministro. Além disso, ele
dá conselhos sobre como tratar vários tipos de indivíduos à medida que
cuida de suas atividades ministeriais (veja o capítulo 5). Os capítulos 4-6
dão conselhos atemporais sobre a natureza mais prática para o jovem
trabalhador cristão.
Entre outras coisas, estes capítulos o exortam a ser um exemplo em todos
os seus relacionamentos, ser diligente no serviço, ser sábio ao lidar com a
proclamação da verdade, fugir das tentações do mundo e lutar o bom
combate pela fé.
Timóteo provavelmente nasceu em Listra, de pai grego e mãe judia (Atos
16:1, 3), que o conduziram à fé judaica, e pela qual ele aprendeu as
“Sagradas Escrituras” desde criança (2 Timóteo 3:14, 15). Parece que ele
foi um dos convertidos por Paulo em sua primeira viagem para Listra. O
jovem homem se juntou a Paulo em Listra em sua segunda viagem
missionária (Atos 16:1) e permaneceu com ele depois disto; ele ainda tinha
um testemunho excelente. Ele compartilhou com Paulo o evangelismo de
Éfeso e, por isto, estava bem familiarizado com a situação de lá. Logo
depois, ele esteve com Paulo em Roma durante sua primeira prisão na
capital (Colossenses 1:1; Filemon 1). Como “verdadeiro filho de Paulo na
fé” (1 Timóteo 1:2), Timóteo então se situou em Éfeso para conhecer
algumas das necessidades mais urgen-tes da igreja (1 Timóteo 1:3). Depois
de terminar seus compromissos em Éfeso (assim como falado em 1
Timóteo), ele se juntou a Paulo em Roma durante a segunda vez em que
esteve preso lá (2 Timóteo 4:11, 21) e também foi preso e, mais tarde, solto
(Hebreus 13:23).
Tito: A importância da boa liderança

Ao que tudo indica, enquanto estava em sua quarta viagem missionária,


Paulo deixou Tito na ilha de Creta para organizar a igreja lá e para
esclarecer alguns dos problemas éticos e doutrinais que tinham aparecido.
Fica claro que esta não era uma tarefa fácil por causa da avaliação de Paulo
do caráter dos nativos de Creta e as condições que apareceram por causa
desta característica (veja 1:9-16). A tarefa foi complicada pelo fato de que a
igreja de Creta não tinha até então recebido atenção apostólica. Talvez os
visitantes de Jerusalém a encontraram no dia de Pentecoste (Atos 2:11). O
trabalho de Tito era mais difícil do que o de Timóteo em Éfeso, porque a
igreja efésia tinha sido bem organizada e fortalecida na doutrina verdadeira
por Paulo. Mas Tito era mais velho e mais experiente que Timóteo; ele tinha
acompanhado Paulo logo no começo das atividades missionárias
apostólicas (possivelmente como um grego convertido da Antioquia,
Gálatas 2:1-3), tendo sido enviado por Paulo a Corinto para vencer a
turbulenta situação que acontecia lá (2 Coríntios 7:6-16; 8:16-24), e tinha
trabalhado extensivamente na Macedônia para coletar fundos que Paulo
estava levantando para os santos pobres em Jerusalém. Para estar certo,
Paulo sentiu uma necessidade de aconselhar Tito, mas não evidenciou a
grande ansiedade por ele, assim como fez com Timóteo. A instrução na
carta a Tito está mais ligada à situação de Creta do que aos problemas
pessoais de Tito.
A mensagem para Tito é rapidamente resumida. Depois da saudação
(1:1-4), aparece a instrução para os oficiais da igreja. Sua posição de
liderança demanda um bom testemunho (na vida em família, temperança
pessoal, humildade, julgamento e caráter imaculado, 1:5-8) e habilidade
para se manter e defender a doutrina quando encarar os erros doutrinais e
irregularidades éticas (1:9-16). O capítulo 2 dá instruções para vários
grupos de membros na igreja: homens e mulheres mais velhos, homens e
mulheres jovens e servos. Todos esses devem viver em uma sábia doutrina.
O capítulo 3 descreve a responsabilidade dos membros cristãos da
sociedade em relação à heresia. Ao dar essas instruções, Paulo escreve duas
das maiores passagens do Novo Testamento (2:11-14; 3:4-7). A última diz
respeito à salvação pela graça e a primeira fala da vida cristã à luz da
aparição de Cristo.
Segunda Timóteo: A Despedida de Paulo

É com lamento de fato, que o grande apóstolo dos gentios escreve a sua
mensagem de despedida. Preso uma segunda vez na prisão de Roma (talvez
a Mamertina, onde os políticos prisioneiros eram mantidos), ele esperou a
sentença final e o martírio (4:6, 7). Sozinho (com a exceção da companhia
de Lucas) ele clama por comunhão: “Procura vir ter comigo depressa... Só
Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo” (4:9, 11). Exaurido
intelectualmente, ele pede seus livros e pergaminhos (4:13). Temendo o
inverno frio que tinha pela frente, ele pede que seja trazido seu agasalho.
(4:13). Mas Paulo se preocupa muito mais do que consigo mesmo nesta
epístola. A igreja de Éfeso aparentemente enfrentava graves perigos, e
Timóteo precisaria de encorajamento contínuo para lidar com os problemas.
Paulo foi provavelmente detido na Ásia e de lá foi levado para Roma.
Parece que alguns de seus inimigos o denunciaram para as autoridades
romanas, o que ocasionou a sua detenção. Agora que os cristãos eram
inimigos políticos (depois do incêndio em Roma em 64 d.C.), foi possível
liquidá-los no caminho (Nota: A Ásia se voltou contra ele; Figelo e
Hermogenes particularmente se opuseram a ele, 1:15; Alexandre, o latoeiro,
lhe causou muitos males, 4:14).
Ao longo desta carta há uma ligação das reflexões de Paulo sobre sua
própria vida de serviço e exortações para que Timóteo continue fiel no
serviço ao Senhor. Por esta razão, é difícil fazer um esboço da epístola.
Entretanto, ela parece ter três divisões: 1:1-18; 2:1-4:5; 4:6-22. O tema
predominante no capítulo 1 é a lealdade ao Senhor apesar do sofrimento.
Paulo declara sua própria lealdade e encoraja Timóteo a continuar leal na
obra. A segunda seção descreve a responsabilidade de Timóteo.
A tarefa deixada por seu pai na fé é árdua. O fardo de Paulo inclui essas
exortações: ensinar aos outros, ser um bom soldado de Cristo e evitar as
armadilhas da vida, expandir a verdadeira doutrina e a Palavra inspirada
apesar da apostasia, ter maturidade nos assuntos espirituais, realizar a
pregação da Palavra, resistir às aflições; resumindo, buscar ser um obreiro
aprovado (2:15). Um dos pontos altos desta seção é o grande texto sobre a
inspiração da Escritura: 3:16, 17. Cada estudante ministerial e jovem
pregador fará bem em considerar cuidadosamente as admoestações desta
seção. Aqui está um manual pastoral inspirado.
Paulo se despede no capítulo que conclui este livro. Sua despedida não
tem mágoas: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”
(4:7). Isto é expressado na solidão e na tristeza, enquanto ele relata a
apostasia de alguns, mas também é falado com confiança na contínua
presença e proteção do Senhor.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Tratamentos extensos deste assunto complicado (todos argumentam com a visão
tradicional) estão em New Testament Introduction, 3rd ed [Introdução do Novo
Testamento, 3a ed], de Donald Guthrie, páginas 584-622; Introduction to the New
Testament [Introdução ao Novo Testamento], de Everett F. Harrison (Grand Rapids:
Eerdmans, 1971), páginas 351-66; e Exposition of the Pastoral Epistles [Exposição das
Epístolas Pastorais], de William Hendriksen (Grand Rapids: Baker Book House, 1957),
páginas 4-33. [Voltar]
CAPÍTULO

22

Um Caminho Melhor: A Carta Aos Hebreus


Hebreus

Quem, Quando, Onde, Por quê?

O SA ESTUDIOSOS sabiamente desistiram de buscar o autor de Hebreus.


atitude de hoje é quase a mesma daquela original (século terceiro)
que diz que “somente Deus sabe com certeza quem escreveu a epístola”
(citado por Eusébio, Ecclesiastical History [História Eclesiástica] 6.25).
Além de Paulo; Lucas, Barnabé e Apolo são apontados como autores. Mas
as evidências para cada um deles é inconclusiva. Entretanto, a indecisão
acerca da autoria não afeta a inspiração. A mensagem de Hebreus é uma das
mais elevadas da Bíblia. Como muitas vezes tem sido dito, aqui nós temos o
Santo dos Santos da verdade cristã.
A data de Hebreus é bem presa à questão de sua autoria, mas nós temos
informações um pouco mais definitivas neste caso. Ela não pode ter sido
escrita após o final do século primeiro, porque Clemente de Roma em sua
epístola aos Coríntios cita Hebreus extensivamente (Clemente escreveu por
volta 95 d.C.). Em referências presentes em 8:4, 13; 10:11; 13:10, 11, dar a
entender que o templo ainda existia (ele foi destruído em 70 d.C.). Embora
o autor admita que estava mais preocupado com o ritual do tabernáculo pré-
salomânico do que com o templo, há uma falta de referências para a
destruição do templo e o fim do sistema sacrificial do Antigo Testamento.
Além disso, Timóteo ainda estava vivo e fora recentemente liberto da prisão
(veja 13:23). Possivelmente, esta prisão resultou da viagem de Timóteo para
Roma em resposta ao pedido de Paulo em 2 Timóteo 4:9. Sendo assim, a
epístola provavelmente data de 65-70 d.C. É claro que Hebreus não foi
escrita no começo da igreja do Novo Testamento porque evidências internas
indicam que ela é uma igreja da segunda geração de fiéis.
Da mesma forma, o destino da epístola aos Hebreus é incerto. Muitos
dizem que ela foi enviada a Jerusalém e Judeia para encorajar os cristãos de
lá a permanecerem firmes na fé ao invés de voltarem para o judaísmo.
Outra possibilidade é Roma. Hebreus 13:24 diz que “os da Itália lhe enviam
saudações”. O escritor neste verso pode estar enviando para os cristãos
romanos, cumprimentos de alguns dos seus amigos que agora estão com
ele, em algum lugar da Itália. Ligado a isso, Clemente de Roma é o
primeiro escritor a evidenciar o conhecimento da epístola. Além disso, em
oposição a uma destinação palestina, alguns argumentam que o
conhecimento que os leitores tinham do ritual judaico parece ter vindo da
versão Septuaginta do Antigo Testamento mais do que por experiências
originais do comparecimento aos cultos no templo em Jerusalém. E, de
acordo com 2:3, eles não tinham visto ou ouvido Jesus durante Seu
ministério na Terra, assim como muitos cristãos palestinos.

Mensagem: A Superioridade de Cristo

Embora o lugar para onde a epístola aos Hebreus foi enviada seja incerto,
as pessoas para as quais esta epístola foi enviada não é. Eles eram cristãos
judeus que tinham sofrido grande perseguição (veja por exemplo, 10:32-
39). Tendo se ocupado com seus sofrimentos, eles começaram a se
perguntar se a crença cristã deles valia a pena. Além disso, eles não tinham
mais a exterioridade religiosa como um altar, um sacerdócio e sacrifícios.
Para eles o perigo da apostasia ao judaísmo era real. Para fazer frente a esta
situação, o autor descreve a superioridade de Cristo e a fé cristã.
Ele começa mostrando a superioridade de Cristo aos profetas (1:1-3).
Nota-se nestes versos a finalidade do caminho cristão. Depois, o autor
apresenta a superioridade de Cristo aos anjos (1:4-2:18). À medida que o
argumento progride, verdades tremendas a respeito da posição de Cristo e
Sua relação com o Pai são introduzidas. É verdade, Cristo Se tornou um
pouco menor que os anjos à época da encarnação, mas isto foi pelo
propósito de redimir a humanidade e foi temporário. Agora Ele está
coroado de glória e honra mais uma vez. A terceira seção do livro apresenta
a superioridade de Cristo a Moisés e Josué (3:1-4:13).
Embora Moisés fosse um servo na casa, Cristo é o senhor da casa.
Embora Josué tenha levado Israel para um descanso imperfeito na terra,
Cristo leva os fiéis para um descanso espiritual perfeito.
Depois, a superioridade do ministério sacerdotal de Cristo ao sacerdócio
aarônico é apresentada (4:14-8:5). Cristo não pecou; Ele é um sacerdote de
uma ordem maior – aquela de Melquisedeque; e Ele ainda vive para
interceder, enquanto sacerdotes da velha ordem morreram. A quinta unidade
do argumento diz respeito à superioridade da aliança que Cristo introduziu
(8:6-10:39). No Antigo Testamento, Deus prometeu uma nova aliança; esta
Cristo agora proveu. A antiga aliança precisou de um sacrifício de sangue; a
nova envolve sacrifício também. O próprio Cristo Se tornou o supremo
sacrifício e com tal, apagou os pecados da humanidade. Embora na Antiga
Aliança o sacrifício contínuo fosse necessário, Cristo ofereceu um sacrifício
perfeito, trazendo um fim ao sistema de sacrifícios do Antigo Testamento.
O
sacerdócio do Antigo Testamento e a Antiga Aliança com seu sistema
sacrificial eram meramente tipos que apontavam ao caminho em Cristo,
novo e melhor. Elas eram meramente sombras da realidade. Agora que o
véu do templo está rasgado (Mateus 27:51; Hebreus 10:20), o caminho para
o Santo dos Santos da comunhão com Deus está constantemente disponível
para o sacerdote fiel.

Uma Forma Superior de Fé

No restante do livro, uma fé nova e superior é descrita. Para o


encorajamento deles, exemplos de fé aparecem no capítulo 11, e o exemplo
considerável da paciência de Cristo em Seu sofrimento estão no capítulo 12.
O livro termina com uma exortação prática a respeito das relações sociais e
espirituais. Estas incluem o amor pelos outros cristãos, a hospitalidade, o
uso apropriado do sexo dentro do casamento, evitar a avareza, aceitar a
perseguição, a obediência aos líderes da igreja e oração. A forma superior
da fé envolve um estilo de vida impecável.
Ao descrever a superioridade da nova e melhor forma de fé em Cristo, o
autor de Hebreus lança, de forma parenética, muitas advertências fortes
para esses fiéis judeus que caíram em uma condição de apostasia ou estão
tentados a retornar para o judaísmo (2:1-4; 3:7-19; 4:11-13; 5:11-6:12;
10:19-31; 12:25-29). Algumas dessas passagens apresentam uma grande e
desnecessária dificuldade para os estudiosos bíblicos porque estes muitas
vezes falham em notar o propósito desses avisos: dissuadir a apostasia e
corrigir os desviados.
Estes alertas não servem para preocupar os cristãos fiéis, mas para que os
cristãos negligentes ou vacilantes se cuidem para que não deixem de ser
cristãos. Aqueles que fizeram um grau de confissão cristã podem, se não
forem cuidadosos, “negligenciar” ou “ignorar” “tão grande salvação”
(Hebreus 2:3), “desviar” (Hebreus 2:1), e finalmente, por uma negação
voluntária final, cair em um julgamento irreversível.
Entretanto, os pontos precisam ser estabelecidos. Embora os alertas aos
hebreus censurem a desatenção, eles dizem primeiramente mais respeito à
apostasia voluntária do que ao declínio inconsciente. Eles envolvem o
abandono da posição da fé, uma rejeição intencional de Cristo; para tal não
pode haver restauração (6:6; 10:26). Os seguidores inconstantes nos dias de
Jesus, assim como os de hoje, podem um dia se impressionarem com Seus
poderes miraculosos e ensinamentos elevados e no outro dia gritarem
“crucifiquem-o”.
A carta aos Hebreus tem muitas instruções para os cristãos
contemporâneos que talvez não venham a enfrentar o problema de querer
voltar para o judaísmo. É sempre difícil para os devotos “adorarem ao Pai
em Espírito e em Verdade” (João 4:23). Eles ficam facilmente tensos com
as circunstâncias ou ajudas externas para adorarem assim como esses
judeus faziam. Este livro concede um antídoto com ênfase na forma
superior de fé e confiança somente em Cristo. Além disso, há uma tentação
ou tendência para os cristãos não crescerem na fé – permanecerem bebês
espirituais. Hebreus, com uma série de treze exortações, intima aquele que
crê a alcançar estágios mais altos de perfeição espiritual. Embora isto esteja
especialmente marcado nos textos gregos, fica evidente na versão King
James e na maioria das outras versões, cada uma começando com uma
exortação na primeira pessoa do plural (veja 4:1; 4:11; 4:14; 4:16; 6:1;
10:22; 10:23; 10:24; 12:1; 12:28; 13:13; 13:15). Esses culminam em 13:13:
“Portanto, saiamos até ele, fora do acampamento, suportando a desonra que
ele suportou” (NVI).
Este é o teste final de devoção a Cristo e Sua cruz.
CAPÍTULO

23

Para Todas as Igrejas: As Epístolas Gerais


Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas

A Sepístolas
sete cartas discutidas neste capítulo têm sido conhecidas como
católicas ou gerais, pelo menos desde os dias de Orígenes de
Alexandria, no começo do século terceiro. O termo as distinguia das
epístolas paulinas, as quais foram endereçadas individualmente a igrejas ou
pessoas. Embora 2 e 3 João não sejam cartas gerais, elas se tornaram parte
desta coleção porque estavam associadas de maneira muito próxima a 1
João. Diferente das epístolas paulinas, as epístolas gerais têm uma
variedade de autores, como indica a discussão a seguir.

Tiago: O Complemento da Graça

Para remar por um curso reto de águas em um barco, deve-se ter dois
bons remos e aplicar uma força igual em cada um. Os remos necessários
para remar por um caminho reto na vida cristã são encontrados em Gálatas
e Tiago. O primeiro enfatiza a justificação pela fé e o último, as obras como
evidência da fé. Essas verdades são suplementares, não contraditórias; e a
negligência de cada uma pode atolar alguém no banco de areia da catástrofe
espiritual. Alguns têm a ideia de que os princípios da graça permitem que
eles vivam da maneira que desejam; Tiago é o antídoto para tal pensamento
descuidado. Certamente, a graça tem suas obrigações para a vida cristã. E
não foi o próprio Jesus que disse “pelos frutos vos conhecereis” (Mateus
7:20)?
A mensagem e o propósito de Tiago nem sempre foram apreciados pela
igreja. Um excelente exemplo deste fato foi a oposição de Martinho Lutero
ao livro. Obcecado pela mensagem da justificação pela fé, ele reagiu
rigorosamente contra qualquer coisa que aconselhava a justificação pelas
obras. No começo de seu ministério, ele chamou Tiago de uma “epístola de
palha”, porém mais tarde veio a entender corretamente o que Tiago buscou
administrar e retirou sua objeção a ela.
A Igreja tem tradicionalmente atribuído essas cartas a Tiago, o irmão do
nosso Senhor. Mas se Tiago era filho de José de um casamento anterior ou
se era um filho que José e Maria tiveram depois do nascimento de Jesus
ainda é uma dúvida. A última parece mais plausível. De qualquer forma,
Tiago aparentemente veio a acreditar em Cristo próximo ao fim de Sua
estada na terra. Cristo o recompensou com uma aparição na ressurreição (1
Coríntios 15:7); ele estava presente com sua mãe e irmãos na reunião de
oração (Atos 1:14); e Tiago foi levantado a uma posição importante entre os
apóstolos (Gálatas 1:19; 2:9), ao tomar o comando da igreja de Jerusalém
após Pedro ter deixado a cidade (Atos 12:17), e até presidir o grande
conselho em Jerusalém (Atos 15). Fica evidente que o autor não poderia ser
Tiago, o irmão de João, pois Tiago conheceu a morte pelas mãos de
Herodes Agripa I em 43 ou 44 d.C.(veja Atos 12:2). Não há nenhuma ideia
tradicional de suporte que Tiago Menor (outro dos doze discípulos) tenha
escrito a carta.
Uma vez que a carta retrata o cristianismo em seus primeiros estágios de
desenvolvimento, quando ainda estava preso às cordas do judaísmo; é
geralmente datado por volta de 45-49 e seria então provavelmente o
primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito. Depois de 49, o conselho
de Jerusalém se reuniu para discutir toda a questão das obrigações legais
dos judeus sobre os cristãos; a distinção entre o judaísmo e o cristianismo se
tornou mais pronunciada. Como é deixado claro em Tiago 1:1 e no
conteúdo geral, a carta é endereçada aos judeus cristãos da Dispersão. É
bem entendido em Atos 2:9-11 que aqueles judeus estavam espalhados
sobre e além do Império Romano.
Alguns desses judeus que foram a Jerusalém para a festa do Pentecoste se
converteram nos tumultuosos eventos documentados em Atos 2 e
retornaram a seus lares para pregarem sobre Cristo. O evangelho também
alcançou judeus dispersos através da pregação de cristãos judeus que
estavam espalhados no exterior por causa das perseguições relatadas em
Atos (Atos 8:4).

A Vida Cristã Prática


A mensagem de Tiago é mais prática do que doutrinal. Ele provê
instruções para enfrentar os desafios diários. Embora o desenvolvimento
não seja estritamente sistemático, uma certa disposição tópica é clara:

1. O cristão que enfrenta tentação, 1:1-18. A tentação é uma


oportunidade de provar a fé de alguém, e no meio dela, Deus dará
sabedoria para saber o que fazer. Há uma recompensa para o vencedor.
Tentação para fazer o mal não é de Deus.
2. Um cristão como o agente da Palavra e não somente como mero
ouvinte dela, 1:19-27.
3. O cristão em relação aos outros, 2:1-13. Evite parcialidade; ame seu
próximo como a você mesmo.
4. A fé cristã mostrada pelas obras, 2:14-26. Esta é a essência da epístola.
Sua mensagem é que aquele que viveu um novo nascimento o
evidenciará pelas boas obras. A chave para o argumento de Tiago está
no verso 14, o qual a NVI traduz como: “De que adianta, meus irmãos,
alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Esse tipo de fé poderia
salvá-lo?” Em outras palavras, uma fé meramente professada não
acompanhada por evidências que demonstrem esta fé, não vale de
nada. Tiago não contradiz a insistência de Paulo na necessidade
somente da fé verdadeira, somente em Cristo como meio ou base da
salvação de alguém.
5. O cristão e o uso da língua – o perigo mortal do discurso indomado,
3:1-18.
6. O cristão pecador e a vitória sobre o seu pecado, 4:1-5:6. Aqui o autor
lida com um número de assuntos relacionados à vida vitoriosa. Uma
pessoa não espera respostas a orações quando elas são oferecidas pelo
mero propósito do benefício próprio. Resista ao diabo. Tome cuidado
com o espírito da inveja. Evite colocar confiança nos ricos e opressão
nos menos afortunados.
7. O cristão e o retorno de Cristo, 5: 7-10.
8. Outras instruções para o cristão, 5:11-20.

Primeira Pedro: Conforto no Sofrimento


Pedro, em sua primeira carta escreveu para os “eleitos, que são
forasteiros da Dispersão” (1:1; judeus espalhados nas terras além das
fronteiras da Palestina). Isto seria para designar um público judeu, mas
muitas referências não podem se referir aos judeus. Por exemplo, 2:9, 10
fala que os leitores “não eram povo”; os judeus eram o povo da aliança.
Além disso, o comportamento gentio parece claro na lista dos vícios em
4:3, 4. Também, “vã maneira de viver” (1:18) e “viviam na ignorância”
(1:14) parecem se aplicar mais a gentios do que a um público judeu.
Provavelmente estas congregações tinham características mistas. Embora
um núcleo tenha sido considerado judeu, havia muitos gentios entre eles.
Além disso, alguns dos judeus provavelmente estavam ligados somente de
maneira superficial ao judaísmo.
A locação geográfica para estes fiéis era a Ásia Menor (atual Turquia,
1:1). Onde Pedro estava quando escreveu (provavelmente em 65 d.C.)
também é um caso para certa discussão; 5:13 dá a Babilônia como locação.
Havia uma Babilônia no Egito, a famosa Babilônia no Eufrates, e o nome
foi usado figurativamente para a cidade de Roma. Babilônia no Egito era
um lugar insignificante e não há nenhuma tradição que diga que Pedro ao
menos esteve lá. A Babilônia no Eufrates estava em profundo declínio no
meio do primeiro século depois de Cristo, e não há nenhum relato de
alguma igreja da época que comprove que Pedro esteve lá.
A tradição indica que Pedro morreu em Roma e as Escrituras dizem que
João Marcos estava em Roma durante a prisão de Paulo (Colossenses 4:10)
e então ele podia facilmente estar ligado com Pedro (1 Pedro 5:13). Além
disso, é argumentado que a ordem das províncias no endereço (1:1) indica
que o autor da epístola veio do oeste e então foi primeiro para Ponto.
Babilônia é usada figurativa ou simbolicamente para Roma em Apocalipse
17, e os pais da igreja acreditavam que a “Babilônia” em 1 Pedro se referia
a Roma.
A autoria de Pedro para esta epístola já foi assumida. O autor se descreve
como “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo” (1:1) e “presbítero e testemunha
dos sofrimentos de Cristo” (5:1). Frases em 1 Pedro são similares à
fraseologia dos sermões de Pedro em Atos. Referências aos ditos de Jesus
nos evangelhos vêm de incidentes aos quais Pedro participou, e as
referências ao Pastor e cuidado do rebanho nos lembram da conversa pós-
ressurreição de Jesus com Pedro (João 21:15-18). Há evidências na igreja
primitiva e também há um entendimento geral hoje que Pedro escreveu a
primeira epístola que leva seu nome.
O “estenógrafo” de Pedro como ele escreveu nesta epístola foi Silvano
(5:12), que é às vezes considerado responsável pelo grego desta epístola
como comparada com aquela de 2 Pedro. Silvano é aparentemente uma
outra forma (talvez em latim) do nome “Silas”, provavelmente o Silas que
viajou com Paulo em sua segunda viagem missionária (veja 1
Tessalonicenses 1:1; 2 Tessalonicenses 1:1; 2 Coríntios 1:19; Atos 15:40-
18:5).
O propósito da carta era confortar os cristãos que estavam passando por
provações e perseguições (o sofrimento é mencionado muitas vezes nesta
carta). Embora alguns pensem que essas perseguições se originaram com o
Estado, a própria epístola parece indicar que vizinhos não convertidos
desses destinatários as iniciaram. Neste aspecto, nota-se especialmente o
capítulo 4. Por exemplo, 4:4 diz que os vizinhos desses fiéis falavam mal
deles para recusar a participar em pecados sociais predominantes. Em
nenhum lugar da carta, há evidência de martírio ou prisão, a qual era
geralmente ligada a um estado de perseguição. A mensagem de 1 Pedro
pode ser esboçada desta forma:

1. A salvação em Cristo e a esperança de eterna comunhão com Ele como


um encorajador no meio do sofrimento, 1:1-12.
2. O imperativo da vida santa é que devemos sofrer inocentemente; veja
por que as provações da vida não são fruto da sua própria loucura,
1:13-3:17.
3. O sofrimento de Cristo e o privilégio dos cristãos em partilhar dos
Seus sofrimentos, 3:18-4:19
4. A glória de seguir os sofrimentos, 5:1-4
5. Sofrimento comum a todos os fiéis durante a estada terrena, 5:5-14

À medida que os fiéis encaram o sofrimento, eles têm que tolerar


pacientemente, pelo bem de Cristo, como Ele sofreu por nós (2:20-24); para
reconhecer que isso tem um efeito de maturidade espiritual (5:10); e para
vê-lo à luz da Segunda Vinda (1:7; 4:13).

Segunda Pedro: Alerta Contra o Erro


Ambos mestres liberais e conservadores têm questionado a autoria de
Pedro para 2 Pedro por muitas razões. Esta dúvida aparece primeiro por
causa das diferenças de vocabulário e estilo entre 1 e 2 Pedro; o grego de 2
Pedro não é tão polido como o da primeira epístola. A resposta comum para
o problema é que Pedro usou um escrevente ou estenógrafo diferente para a
segunda epístola ou talvez a escreveu sozinho. Segundo, a referência das
epístolas de Paulo em 2 Pedro 3:15, 16 não supõe uma data de composição
depois da morte de Pedro e Paulo. Ela se aplica somente àquelas outras
epístolas de Paulo escritas e propagadas naquela época; a coleção não
precisava ter sido completa. Terceiro, alguns argumentam que um homem
da estatura de Pedro não teria tomado emprestado de Judas e alguém mais
deveria, então, ter escrito a epístola. Mas claramente 2 Pedro 2 usa o tempo
futuro ao alertar sobre a apostasia; Judas descreve a apostasia depois desta
se tornar uma realidade. Quarto, alguns mestres enfatizam a indecisão da
igreja primitiva em aceitar a autoria de Pedro para o livro ou sua
canonicidade. Mas a igreja primitiva finalmente o aceitou como sendo de
autoria de Pedro e os conselhos de Laodiceia (363) e Cartago (397) são
importantes testemunhas oficiais para este fato.
A evidência interna para a autoria de Pedro é forte. Sua afirmação por ter
escrito a epístola (1:1) é apoiada por muitas marcas de legitimidade; um
forjador não teria se atrevido a variar seu estilo de forma tão marcante da
primeira epístola como o escritor de 2 Pedro fez. Apesar das diferenças, há
muitas similaridades entre 2 Pedro e 1 Pedro e entre as epístolas e os
discursos de Pedro em Atos. Não há nada na epístola que Pedro não possa
ter escrito; falta uma prova conclusiva de falsificação. Ela é destinada,
segundo 3:1, ao mesmo grupo de cristãos da Ásia Menor descrito em 1
Pedro 1:1. Pedro escreveu sua segunda epístola logo antes de sua morte (2
Pedro 1:14), provavelmente em 66 ou 67 d.C. Tendo provavelmente a
confiável tradição dito que ele e Paulo foram martirizados em Roma nas
mãos de Nero, nós devemos sugerir que a epístola foi escrita lá.
O problema da perseguição, que a igreja enfrentou na época que Pedro
escreveu sua primeira carta, não era mais uma ameaça tão grande.
A confusão agora aparecia entre os cristãos na forma de heresia. Então
Pedro enviou esta carta como antídoto. Segunda Pedro antecipa o erro (2:1)
sobre o qual Judas, provavelmente escreveu depois, vendo-o como uma
realidade atual. Como em Judas, o erro aqui parece envolver um repúdio a
Cristo como Senhor, e uma irregularidade moral (veja o capítulo 2). Muitos
têm sugerido que Pedro e Judas estavam falando da filosofia conhecida
como gnosticismo. Isto ensina, entre outras coisas, um dualismo entre a
matéria e o espírito, o primeiro mau e o segundo, bom. Sendo a carne
considerada má, alguns tomaram o caminho do asceticismo e puniam seus
corpos. Outros, tais como os destinatários de 2 Pedro, achavam que se
render aos desejos da carne não violaria a pureza de seus espíritos. Este
dualismo também afetou a visão deles sobre Cristo; para eles a encarnação
era uma ideia degradante. Além disso, os gnósticos afirmavam ter um
conhecimento da verdade divina, não disponível para os outros fiéis. A
abordagem de Pedro nesta carta é encarar o erro com a verdade, encarar o
falso conhecimento com o verdadeiro conhecimento. As palavras “saber e
conhecimento” aparecem muitas vezes (1:2, 3, 5, 6, 8, 12, 14, 16, 20; 2:9,
20, 21, 3:3, 17, 18).
Junto com o problema do ensinamento herético e conduta, Pedro lidou
com a questão da segunda vinda de Cristo no capítulo 3. Alguns tinham
provavelmente se cansado de esperar em ver a vinda dele. Outros
zombavam da ideia do retorno de Cristo. Pedro afirma o fato da vinda de
Cristo ser uma esperança purificadora para a presente vida e um condutor
para a felicidade eterna. Mas para aquele que não crer, este será o dia do
julgamento.
Resumidamente, a mensagem da carta pode ser esboçada desta forma:

1. Conhecimento verdadeiro, 2 Pedro 1


2. Alerta contra o abandono do verdadeiro conhecimento, 2 Pedro 2
3. A esperança no verdadeiro conhecimento, 2 Pedro 3.

Primeira João: Segurança da Salvação

O fato de João ter escrito 1, 2 e 3 João não gera muita controvérsia.


O testemunho externo para este efeito é bastante forte, especialmente
para a primeira epístola. A personalidade do escritor, a linguagem, estilo e
pensamentos expressos nas epístolas são similares àqueles do evangelho de
João. Provavelmente as epístolas foram escritas em Éfeso por volta de 85-
90 d.C. e foram enviadas para uma igreja (ou igrejas) da Ásia Menor
localizada próxima a Éfeso.
João diz que a razão para escrever a primeira epístola é que “saibais que
tendes a vida eterna” (5:13). Este é um adiantamento do propósito de
escrever o evangelho (“que vocês possam crer que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus; e crendo que vocês terão uma vida eterna através do nome dele”,
João 20:31). O evangelho provê um relato histórico da boa-nova da vinda
de Cristo e Sua oferta de salvação; a epístola se foca na concretização da
salvação na experiência de Cristo. Ao alcançar seu objetivo, o apóstolo faz
algumas perguntas para determinar a certeza da salvação de alguém:

1. Nós guardamos os mandamentos dele (2:3, 5)?


2. Nós praticamos a justiça (2:29)?
3. Nós amamos nossos irmãos (3:14, 16, 19)?
4. Nós temos testemunhos internos vindos do Espírito de que somos
salvos (3:24; 4:13)?
5. Nós evitamos uma vida de pecado (5:18)?

Dois propósitos secundários para a escrita desta carta também aparecem:


para lidar com uma forma de filosofia conhecida como gnosticismo (veja
comentários em 2 Pedro) e para corrigir falsas visões a respeito do pecado.
O ensinamento básico do gnosticismo era a antipatia entre o espírito e a
matéria. E, dizem os gnósticos: “Como um Deus bom, espiritual por
natureza, poderia ter algo a ver com um corpo material?” Obviamente, toda
a doutrina da salvação, a qual exigiu que o Filho de Deus tomasse forma
humana para que fosse penalizado pelos pecados dos homens está em jogo.
João responde a este erro declarando a realidade da humanidade de Jesus
(ele ouviu, viu e tocou nEle, 1:1; 1:1-3) e classificou aqueles que negaram
Sua humanidade como “anticristos” (2:22; 4:2-3) e como não sendo do
círculo apostólico (2:19).
João também sentiu um chamado para confrontar a falsa visão do pecado.
Evidentemente, alguns estavam tomando vantagem do ensinamento da
graça e vivendo desregradamente. O apóstolo deixou claro que aqueles que
são nascidos de novo não praticam o pecado ou pecam desregradamente (1
João 3:9, tradução literal). O ponto de 3:1-9 é que aqueles que são
verdadeiramente conhecidos de Deus não desejam viver no pecado. Mais do
que isso, eles buscam honrar seu Salvador.
Além disso, se os fiéis declarados demonstram um grande amor pelo
mundo, eles mostram que o amor do Pai não está neles (2:17). Entretanto,
João não ensina uma perfeição sem pecados. Ocasionalmente, todos
pecarão (1:8), mas para eles o meio do perdão está disponível (1:9). O
próprio Jesus Cristo é o nosso advogado junto ao Pai (2:1); Ele já pagou a
recompensa (propiciação) pelos nossos pecados – tanto pelo fiel quanto por
aquele que não crê (2:2).

Segunda João: Do amor e da verdade

Há uma incerteza com relação a quem João endereçou esta epístola.


Alguns acham que ele escreveu para uma senhora cristã em cuja casa
havia uma igreja e então traduziu o endereço: “para a senhora eleita”.
Outros interpretam como “senhora eleita e seus filhos” figurativamente
para se referir a uma igreja e seus membros. Não podemos dizer qual dessas
visões, ou alguma outra, é a correta. Todos os esforços dos estudiosos
modernos não têm trazido nenhuma novidade sobre este assunto. Parece,
entretanto, que a carta é uma correspondência pessoal destinada para algum
fiel ou grupo de fiéis vivendo próximo a Éfeso.
Como 1 João, esta epístola tem muito a dizer sobre o amor; os versos 4
até 6 encorajam o leitor a continuar no amor. Mas o propósito real da carta
parece ser para alertar contra o erro e contra pregadores que o propagam.
Possivelmente, alguns professores itinerantes na área onde os leitores
viveram ensinaram uma doutrina herética da pessoa de Cristo, negando Sua
verdadeira humanidade (v.7, compare 1 João 4:2). Esses verdadeiros fiéis
não cogitavam isso, pois se fizessem, se tornariam participantes neste crime
herético (v. 7-11). O alerta era aplicável tanto a uma mulher conhecida
quanto à Igreja como um todo. O fardo do apóstolo em não ter nada a ver
com esses falsos mestres pode parecer adverso e hostil, mas devemos
lembrar que esses pregadores itinerantes estavam minando os fundamentos
da fé cristã. “Verdade” é a palavra-chave da epístola, aparecendo cinco
vezes (v.1 duas vezes, 2, 3, 4). A mensagem é que a verdade deve ser
recebida, obedecida e apreciada em todos os custos.

Terceira João: A Importância da Hospitalidade


Terceira João foi escrita para alertar contra a liderança dominante na
igreja e para enfatizar o dever de mostrar hospitalidade aos trabalhadores
cristãos. Historicamente, a situação era essa: muitos cristãos primitivos se
tornaram evangelistas itinerantes, recebendo suporte de cristãos
hospitaleiros em lugares onde iam ministrar. Na cidade para qual esta carta
foi endereçada, um certo Diótrefes garantiu um considerável controle sobre
a igreja. Ele se opôs fortemente a estes evangelistas andarilhos, até mesmo
indo longe para excomungar aqueles que ousassem recepcioná-los (v. 10).
João protestou contra esta situação em uma carta anterior (verso 9), mas
Diótrefes se recusou a reconhecer a autoridade do apóstolo e até mesmo fez
comentários sem sentido sobre o apóstolo (“proferindo contra mim palavras
maliciosas” v.10).
Agora João escreve para recomendar um certo fiel, Gaio, por receber
esses missionários evangelistas apesar de Diótrefes e para ameaçar um
tratamento drástico de Diótrefes durante uma futura visita apostólica.
Se o Gaio a quem João enviou esta epístola (v. 1) pode ser identificado
como qualquer outro pelo mesmo nome referido no Novo Testamento (Atos
19:29; 20:4; Romanos 16:23); isso ainda é uma questão em aberto. Gaio era
um nome comum. Muitos trabalhadores itinerantes referidos nesta epístola
eram homens que o próprio João enviou.
Quando eles retornaram e apresentaram seus relatórios a João, eles
falaram muito do hospitaleiro Gaio e criticaram o domínio de Diótrefes.
Receber ou rejeitar os emissários do apóstolo era, de certa forma, receber
ou rejeitar Aquele que os tinha enviado.
Refletindo a autoria comum de 2 e 3 João, ambas colocam muita ênfase
na verdade, ambas são endereçadas ao problema da hospitalidade para ser
mostrado a trabalhadores cristãos, em ambas o escritor se alegra sobre
outros que andavam na verdade, em ambas o escritor relata sua intenção de
visitar os receptores, e em ambas ele indica sua relutância em escrever
detalhadamente com papel e tinta.

Judas: Apostasia, Licenciosidade e Batalha


Espiritual
Enquanto Judas aparentemente desejou escrever sobre nossa salvação em
Cristo, condições na igreja o forçaram a lançar um alerta contra a apostasia
e uma exortação para sustentar a fé (v. 3). É interessante que no
desenvolvimento de sua mensagem, ele fornece uma história de apostasia; a
queda dos anjos, Caim, os corruptos sodomitas, a rebelde Israel, o arrogante
Corá, o egoísta Balaão, e a apostasia dos dias de Judas e dos últimos
tempos. Estes casos são introduzidos para ilustrar o destino dos apóstatas:
julgamento divino severo. O caminho de Caim (Gênesis 4) é o caminho do
sacrifício sem sangue; o erro de Balaão (Números 22) está exercendo a
teimosia e buscando vantagem própria; a rebelião de Corá (Números 16) é
oposição à liderança apontada divinamente na obra de Deus e buscar
comunhão com Deus em seus próprios termos.
Da descrição dada no verso 4 (“homens ímpios, que convertem em
dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor,
nosso Senhor, Jesus Cristo”), pareceria que o erro particular que a igreja
encarava nos dias de Judas estava mudando a graça de Deus para uma
licença de imoralidade e rejeição ao senhorio de Cristo. Isto era o oposto da
heresia gálata (salvação pelas obras). A igreja que Judas descreveu foi
caracterizada por falhas morais (v.18-19), pensamentos corruptos (v.8, 10),
oposição ao controle (v. 8, 16), linguagem prepotente (v. 18), e religião
simulada (v. 12, 13, 19).
Quando cristãos contemporâneos ficam mais deslumbrados com a igreja
do Novo Testamento e expressam um desejo de retornar para o suposto alto
nível de maturidade espiritual alcançado então, eles precisam lembrar tais
livros do Novo Testamento como Gálatas com sua censura ao legalismo,
Colossenses com sua exposição de falsas filosofias, e Judas com sua
condenação de todo um catálogo de perversidades espirituais. Falsos
mestres (v.4) fizeram consideráveis invasões na igreja. S. Maxwell Coder
escreveu um comentário sobre este livro com o intrigante título: Judas: Atos
dos Apóstatas.
Um princípio importante para a vida cristã deriva do verso 9. Lá até
mesmo o santo arcanjo Miguel reconheceu que suas próprias fontes não
seriam suficientes para brigar com Satanás. Este inimigo de Deus é tão
formidável que só pode ser desafiado pelo poder de Deus. O povo de Deus
comumente falha em reconhecer o poder deste que é o deus deste mundo e
inimigo chefe do Deus dos céus (2 Coríntios 4:4). Em subestimar seu
enorme tamanho e seus ataques ferozes, astutos e rígidos (Efésios 6:16; 1
Pedro 5:8), os cristãos tendem a contar mais com armas carnais e naturais
(2 Coríntios 10:4) do que com fontes sobrenaturais (Efésios 6:10-18). Por
conseguinte, há uma alta taxa de infortúnios entre os soldados de Deus.

Questões das Datas e dos Apócrifos


É bem certo que a epístola foi escrita por Judas, o irmão de Tiago e meio
irmão de Cristo. Isto é um testemunho da Escritura. O escritor se define
como “um servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago” (v.1).
Mateus diz que ambos Tiago e Judas eram irmãos do nosso Senhor
(13:55; Marcos 6:3) e Gálatas 1:19 diz que Tiago, o líder da igreja de
Jerusalém, era o irmão de Cristo. Incidentemente, Judas, como o resto dos
irmãos de Jesus, era um descrente durante o Seu ministério terreno (João
7:5), e sua conversão deve ter sido seguida da ressurreição porque ele
estava presente com Maria e Seus irmãos no encontro de oração no
cenáculo (Atos 1:14). A tradição confirma o testemunho bíblico da autoria
de João. Mas quando ou para quem ele foi escrito é uma questão em aberto.
Por os versos 17 e 18 parecerem citar 2 Pedro 3:2-3, nós podemos concluir
que Judas foi escrito depois de 67 d.C. (data aproximada da composição de
2 Pedro). Alguns datam o livro por volta de 80. Se a carta foi escrita antes
da queda de Jerusalém (70 d.C.), ela pode bem ter sido escrita aos judeus
palestinos.
Um problema especial na epístola de Judas é o seu uso dos livros
apócrifos. No verso 14 ele cita o Livro de Enoque e no verso 9, se refere a
uma disputa documentada na Assunção de Moisés. Os escritores judeus
produziram ambos esses livros no começo do século primeiro.
A questão que aparece é, como o uso dos apócrifos daria uma autoridade
canônica? Provavelmente a melhor solução para o problema é que essas
referências devem ser colocadas no mesmo nível das citações de Paulo em
discursos no Areópago (Atos 17:28). O escritor das alusões teria um peso
com seu público e ajudaria a ilustrar um ponto para aqueles que tinham uma
familiaridade com ou uma consideração por essas obras. Tal uso não atesta
necessariamente a inspiração ou canonicidade da obra citada como um todo.
PARTE

VII

O Fim de Todas as Coisas


CAPÍTULO

24

“Um Novo Céu e Uma Nova Terra”: A Revelação de


Jesus Cristo
Apocalipse

O Significado do Livro

S EM o livro de Apocalipse, os leitores do Novo Testamento [Nota 1]

estariam fora de foco ou indecisos. Eles saberiam que Cristo tinha vindo
uma vez e tinha provido uma completa salvação para a humanidade. Eles
saberiam de passagens isoladas que Ele retornará algum dia e que um
tempo de grande tribulação irá afligir a terra. Mas nenhum esquema ou
padrão de eventos se desenvolve para descrever como as coisas
eventualmente terminarão. Além disso, os leitores ficariam deprimidos
quando completassem as epístolas com suas previsões de uma apostasia
vindoura e o espalhar do mal por todo o mundo (por exemplo, 2 Timóteo, 2
Pedro, Judas). Na experiência humana, o mal parece triunfar a maior parte
do tempo, e o bem é derrotado ou pelo menos está na defensiva.
O Apocalipse dá uma resposta para essas questões. Ele mostra como os
tempos terminarão. De fato, ele descreve a vinda de um novo céu e de uma
nova terra e uma ordem perfeita. O livro prevê a derrota de Satanás e sua
tropa e a queda das instituições malignas e sistemas do mundo; o mal nem
sempre triunfará. Cristo, ao vir em julgamento, irá esmagar totalmente todas
as formas de mal e se tornará Rei dos reis e Senhor dos senhores. O
apocalipse é eminentemente o livro para o fim dos tempos. Para o homem
que tem caminhado em direção à destruição como a ameaça nuclear,
poluição do ar e da água, superpopulação e fome em massa, e um possível
colapso do sistema econômico internacional, há uma mensagem de que
Deus está no controle e trabalhará em Seus propósitos soberanos.

Livro negligenciado

Apesar de tudo o que Apocalipse contribui para a integridade do Novo


Testamento e o entendimento do nosso mundo e do futuro, ele é, talvez, o
livro mais negligenciado do Novo Testamento. Esta negligência se dá em
grande parte ao seu extensivo uso de símbolos, imagens e expressões
veladas. Mas há uma razão mais sinistra para ignorar Apocalipse. Os dois
livros bíblicos que descrevem mais completamente as atividades de Satanás
e predizem seu julgamento e destruição são Gênesis e Apocalipse, e estes
são precisamente dois livros para os quais os inimigos sobrenaturais do
cristianismo têm apontado suas armas.
Estudiosos liberais tentaram destruir a historicidade dos primeiros
capítulos de Gênesis e até mesmo a narrativa patriarcal e têm despedaça-do
o respeito pela integridade do texto com suas hipóteses documentárias. A
abordagem do Apocalipse parecer ser: “O livro é tão impossível de entender
e os comentaristas concordam tão pouco acerca do seu significado que nem
há razão de lê-lo.”

Foco do Livro

Na realidade, o título do livro, “A Revelação de Jesus Cristo” (1:1),


afirma que é uma verdade desvelada ou revelada, mais do que uma verdade
oculta a respeito de Jesus Cristo. Se o “de” Jesus Cristo é entendido para
significar que Jesus é a fonte da revelação ou o objeto dela, Ele é o centro
do livro. No começo do livro, Cristo é Aquele glorificado, Senhor da vida e
morte, digno de toda honra e adoração (1:9-20). Nos capítulos 2 e 3, Ele
está andando entre as sete igrejas. No corpo do texto Ele abre os selos e
desata julgamentos terríveis na terra. Nos últimos capítulos Ele desce dos
céus como Rei dos reis e Senhor dos senhores para vencer Seus inimigos. O
livro termina com Cristo entronizado como Alfa e Ômega no novo céu e na
nova Terra.
Fonte Apostólica

O autor se autodenomina João (1:1, 4, 9; 22:8) e evidentemente ele era


bem conhecido de seus leitores e reconhecido por eles como uma figura de
autoridade. Seus atos como bispo nas igrejas destinatárias de Apocalipse 2 e
3 implicam um nível apostólico. A descoberta de um manuscrito na
biblioteca gnóstica em Chenoboskion no Egito datando de cerca de 150 d.C.
parece apoiar a visão que este João era o apóstolo.
As testemunhas da igreja primitiva para autoria apostólica do livro
incluem Justino, Ireneu, Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano e
Hipólito. De fato, a crença de que este João era o filho de Zebedeu era
unânime até Dionísio de Alexandria atribuir, no século terceiro, o livro a
um João, o Presbítero, com base em algumas considerações internas e a
suposta existência de um segundo João em Éfeso. João, o Presbítero, é uma
figura quase transparente e todas as referências a ele desapareceram no
início da história da igreja.
Uma análise cuidadosa do vocabulário e da gramática de Apocalipse e do
evangelho mostra algumas diferenças, mas também demonstra muitas
afinidades. As construções iniciais do Apocalipse poderiam ter sido feitas
por João, sem nenhum escriba pessoal, enquanto ele estava no exílio na ilha
de Patmos (Apocalipse 1:9). Ele pode ter tido tal escriba ao compor o
evangelho e as epístolas. O fato de ele usar uma gramática inferior no
Apocalipse não é necessariamente válida.
Algumas das construções suspeitas foram achadas em papiros
contemporâneos onde foram claramente aceitas em um uso comum. A
gramática do Novo Testamento não deveria ser julgada pelos padrões do
grego clássico. Não parece haver razão convincente para negar que o autor
de Apocalipse foi João, o filho de Zebedeu, o grande apóstolo. Como data
da composição, Irineu diz que ela está próxima do término do reinado do
imperador Domiciano, por volta de 96 d.C. [Nota 2]

Propósito e Destinação: As Sete Igrejas e Seu


Sofrimento
O Apocalipse é destinado às sete igrejas da província romana da Ásia
(1:4, 11): Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.
O livro pode bem ser descrito como uma carta circular. O motivo de João
escolher essas igrejas quando o evangelho tinha certamente alcançado
outros lugares da Ásia merece alguns comentários.
Elas estavam localizadas em uma grande estrada circular que juntava os
dirigentes da província. Éfeso era a mais importante. A ordem na qual elas
são mencionadas correspondem à rota que uma mensagem trilha-ria ao
distribuir o livro. Provavelmente, também, essas eram as igrejas que João
tinha especialmente sob o seu cuidado enquanto ministrava residindo em
Éfeso. Embora o autor tenha em mente primariamente as necessidades
dessas igrejas, ele previu a distribuição do livro para um público cristão
muito maior.
O propósito do autor é acima de tudo para lidar com as condições
internas nas sete igrejas. Ele alerta contra ou condena a deterioração
espiritual, ambientes imorais, falso ensinamento e os efeitos da
prosperidade material. Mas ele também tem muito a recomendar, e termina
cada mensagem com uma promessa. Segundo, ele busca fortificar as
igrejas, consolá-las, e encorajá-las a serem pacientes quando enfrentarem a
perseguição. O tempo era o reino do imperador Domiciano (81-96 d.C.) que
exigia adoração a si mesmo como “Senhor e Deus”. João foi exilado por
razões que nós não conhecemos e se qualificou como “companhia na
tribulação” (1:9). Esmirna estava “prestes a sofrer” e “ter uma tribulação de
dez dias” (2:10). Antipas sofreu martírio por sua fé em Pérgamo (2:13).
Tiatira foi alertada contra uma “grande tribulação” (2:22).
Filadélfia estava sendo eximida da “hora da provação” (3:10). O
encorajamento daqueles que creem vem na forma de um panorama do final
dos tempos o qual envolve o julgamento da queda de Satanás e todas as
forças do mal e o triunfo final de Cristo e a igreja cristã. O livro é uma luz
de esperança para aquelas severas tribulações que estavam acontecendo ou
que estavam para acontecer, bem como um encorajamento a todos os
cristãos nos séculos de sofrimento pela causa do Mestre.

As Várias Interpretações do Apocalipse


Quatro métodos de interpretação do Apocalipse são comuns na igreja
hoje.

1. A escola Preterista sustenta que os conflitos descritos no livro estão


presos entre o início da igreja e o império romano e que essas
previsões foram cumpridas durante o primeiro século cristão. Então,
nós não precisamos procurar pelo cumprimento da profecia. Embora
esta abordagem tenha uma relevância para a igreja primitiva, ela
enfrenta uma dificuldade pelo fato de que muitas das profecias não
foram cumpridas naquela época. O império romano não caiu, Jesus não
voltou rapidamente, e não houve nenhum tirano no mundo para que
Ele pudesse destruir. Com esta visão, não somente o livro revela-se
errado, mas também não há provisão para elementos da profecia. A
maioria dos estudiosos liberais têm seguido esta interpretação. Eles
veem no livro uma expressão da indignação do escritor quando ele fala
sobre o julgamento futuro dos perseguidores pagãos dos cristãos, e eles
de-]duzem seu uso da mitologia pagã.
2. A escola Idealista vê o livro como um retrato, de uma forma geral, da
batalha entre as forças do bem e do mal – entre ideais – e o eventual
triunfo do cristianismo. Ela despe Apocalipse de todo valor profético e
o desagrega dos eventos históricos do passado ou futuro. O livro então
tem valor somente como uma promessa de vitória derradeira da causa
dos justos.
3. A visão Historicista defende que Apocalipse descreve simbolicamente
a história da igreja de Pentecoste até o retorno de Cristo e o julgamento
final. Dessa forma, alguns ensinam que a abertura dos selos retrata a
destruição do império romano, os gafanhotos do inferno retratam a
multidão de muçulmanos conquistando o Oriente Médio e o mundo
mediterrâneo, as bestas representam o papado, etc. Muitos dos
Reformadores e uma maioria dos antigos comentários apoiam esta
visão. Esses interpretadores tendem a ser pós-milenistas (creem que
Cristo retornaria depois de uma época de ouro ou milênio, causado
pela pregação do evangelho) ou amilenistas (negam um milênio literal
na Terra). Contra a posição historicista está o fato de que ela tem tantas
interpretações quanto comentaristas. Isto subjetivamente faz surgir
uma suspeita de que não há validade real para a abordagem como um
todo. Além disso, é duvidoso que Deus retrataria tão especificamente
uma história do mundo o qual teve pouca atitude na consumação das
coisas.
4. A visão Futurista defende que a parte principal de Apocalipse lida
com a Grande Tribulação, seguido pelo retorno de Cristo, o reino
milenar, o julgamento dos mortos iníquos e a instituição do estado
eterno. O livro é interpretado tão literalmente como possível. Alguns
futuristas acreditam que as sete igrejas da Ásia nos capítulos 2 e 3
representam as eras da história da igreja, o que é defendido pelos
historicistas. Outros pensam que os primeiros três capítulos dizem
respeito à era na qual o livro foi escrito.

Este autor crê que os eventos profetizados em Apocalipse 4-22 ainda são
futuros. Embora seja verdade que a linguagem simbólica apareça nesses
capítulos, os eventos descritos são de uma magnitude muito maior do que
tudo o que o mundo já viu. Então, parece melhor se referir a eles ao período
da Grande Tribulação no final dos tempos.
Talvez deva ser destacado que os últimos três capítulos do Apocalipse
são relativamente livres do simbolismo empregado no resto do livro. O
capítulo 20 fala da era do milênio, a batalha de Gogue e Magogue após este
período e o julgamento do grande trono branco. O capítulos 21 e 22
descrevem a destruição do antigo céu e da antiga terra e a aparição do novo
céu e nova terra. Antes dessa sequência de eventos, a segunda vinda de
Cristo e a vingança sobre Seus inimigos estão descritas no capítulo 19 (veja
os versículos 11, 12). Precedendo a segunda vinda está a Grande
Tribulação. Esta ordem de eventos concorda com Mateus 24 e 25 (onde a
Tribulação é seguida pela Segunda Vinda, um julgamento das nações e a era
do reino) e 2 Tessalonicenses 2 (onde a Tribulação é seguida pelo retorno de
Cristo e o julgamento do mundo ateísta do período da tribulação).

Mensagem do Apocalipse: O Que Em Breve Há de


Acontecer

Como descrito acima, o livro do Apocalipse claramente declara que é


uma revelação de Jesus Cristo a respeito do “que em breve há de acontecer”
(1:1). Uma forma de esboçar o livro é focar nas quatro vezes que o autor
fala de estar “em espírito”, quando introduz as principais divisões de sua
obra (1:10; 4:2; 17:1-3; 21:9, 10). Seguindo esta abordagem, há um prólogo
(1:1-8), quatro divisões principais (1:9-3:22; 4:1-16:21; 17:1-21:8; 21:9-
22:5) e um epílogo (22:6-21).
Embora cada frase no prólogo solicite um comentário, duas observações
são especialmente convincentes. Primeiro, “o que em breve há de
acontecer” (1:1) não quer dizer realmente o que o português parece dizer.
“Em breve” (N.T: ou em outras traduções, “brevemente”) traduz uma
palavra que indica a rapidez da ação, não importa quando aconteça, não
necessariamente a urgência dela. Esta passagem não ensina a igreja
primitiva que tudo aquilo que se segue irá acontecer logo em seguida.
Segundo, há uma bênção para aqueles que leem e respondem a mensagem
do livro (1:3). Este não é um livro meramente para satisfazer a curiosidade
de seus leitores a respeito do futuro, mas é uma lição prática para encorajar
aqueles que sofrem com a fé e alertar aqueles que se opõem a ela.

A Primeira Visão: O Cristo Onipotente


Na primeira visão (1:9-3:22), João está na ilha de Patmos e tem uma
visão de Cristo entre as sete igrejas. Ele é verdadeiramente incrível, Aquele
que impressionou o autor com a glória de Sua pessoa, levando-o a cair
como morto (1:17). Um relance desta infinita glória sempre tem o mesmo
efeito (Paulo em Atos 9:4 e Isaías, em Isaías 6).
As descrições de Cristo vêm de Daniel e Ezequiel e dão uma impressão
fantástica da onipotência dele. Ele fala com autoridade, com uma voz de
trovão (v. 15), soberanamente segura em Sua mão direita os mensageiros
das sete igrejas (v. 20), e atua como juiz Todo-poderoso, simbolizado com
olhos como chamas de fogo, pés semelhantes ao bronze polido, e uma
espada afiada em sua boca com uma ação cortante de condenação. Sua face
brilhando com o brilho do sol, fala da glória de Sua divindade.
Os capítulos 2 e 3 contêm mensagens para as sete igrejas da Ásia (a
província romana da Ásia). Cada um começa com uma referência ao Cristo
exaltado que dirigi-se à igreja, procede com recomendações (exceto para
Laodiceia e Sardes), continua com detalhes sobre a condição da igreja
levando ao arrependimento e à advertência (exceto Filadélfia e Esmirna), e
conclui com uma promessa para os fiéis que perseverarem.
As mensagens para essas congregações locais dão instruções para outras
igrejas do século primeiro e para todas as outras igrejas ao longo da
história. Alguns acreditam que as igrejas representam estágios ou eras na
história da igreja, da igreja apostólica (Éfeso) à igreja contemporânea
reduzida a uma condição morna pela afluência e apostasia (Laodiceia).

A Segunda Visão: Da Grande Tribulação


Na segunda visão (4:1-16:21), João é levado ao céu, onde contempla o
trono de Deus, o símbolo do governo e do poder, e um anfitrião das
criaturas celestes; adorando-O. Em Sua mão direita Deus tem um livro (não
é claro se é um pergaminho ou um códice) com sete selos nele. Uma
pequena emergência ocorre quando ninguém parece ser hábil a abrir os
selos. Mas o cordeiro imolado de Deus, o Redentor, o Eterno, aproxima-se
para abri-los. Quando Ele faz isso, Ele derrama na terra três séries de sete
pragas cada, descritas como selos (6:1-8:5), trombetas (8:6-11:19) e taças
(12:1-16:21). Embora seja natural tratar essas como sequenciais, alguns as
consideram consecutivas. Com essas pragas, começa a Grande Tribulação.

Os Sete Selos
Os quatro primeiros selos formam um grupo, os chamados quatro
cavaleiros do Apocalipse (6:1-8). O cavalo branco provavelmente
representa o governador deste mundo ou anticristo, que domina o período
da tribulação; o cavalo vermelho, a batalha; o cavalo negro, a fome; o
amarelo, a morte. O quinto selo (6:9-11) envolve a perseguição e o martírio
dos santos, possivelmente como bodes expiatórios da tribulação causada
pelos quatro cavaleiros. O sexto selo (6:12-17) visita a ira de Deus na terra
na forma de pertubações sísmicas e celestiais (compare com Mateus 24:29,
30; Marcos 13:24-26; Lucas 21:25-27).
O sétimo selo (8: 1, 2) envolve um silêncio no céu como preparação para
o soar das sete trombetas e trovões, relâmpagos e terremotos na terra como
precursores simbólicos do julgamento que estava para se estabelecer na
terra. Entre o sexto e o sétimo selo há uma passagem sobre selar os 144 mil
(7:1-17), israelitas de toda tribo de Israel, que serão protegidos da tribulação
prestes a ocorrer.

As Sete Trombetas
As trombetas do julgamento são mais severas que os selos. Com a
primeira trombeta (8:7), granizo e fogo ou relâmpagos descendem à Terra,
consumindo um terço da flora. Ao soar da segunda trombeta (8:8, 9) um
monte em chamas ou vulcão em erupção é lançado ao mar, transformando-o
em sangue e destruindo um terço das criaturas do mar e das embarcações.
Ao soar da terceira trombeta (8:10, 11), uma estrela em chamas ou
meteorito descende sobre as fontes de água da terra, envenenando um terço
delas e causando a perda de muitas vidas.
Com a quarta trombeta (8:12, 13), distúrbios celestes resultam em
eclipses que diminuem a luz dos corpos celestes a um terço (compare com
Amós 8:9). O soar da quinta trombeta (9:1-12) traz a abertura do inferno
por uma estrela (provavelmente Satanás) que caiu do céu para a Terra. Os
demônios liberados como gafanhotos com caudas como escorpiões
atormentam os seres humanos por cinco meses, então eles procuram a
morte para escapar, mas não são permitidos morrer. A sexta trombeta (9:13-
21) introduz uma região geográfica específica, o curso do Rio Eufrates,
onde quatro cavaleiros demoníacos lideram um exército que massacra um
terço da humanidade. Então é dito que a humanidade está em todo seu mal,
e que essas tribulações não as levará ao arrependimento (9:20, 21). A
trombeta final (11:15-19) envolve a mudança dos reinos deste mundo para o
reino de Cristo. Entre a sexta e sétima trombeta, o autor interpõe uma seção
parenética (10:1-11:14), a primeira parte da qual é designada a preparar
para efusão final do julgamento de Deus, e a última parte para documentar
o ministério de duas testemunhas não identificadas mais tarde na tribulação.

Personagens-Chave do Apocalipse
Antes das sete taças, João introduz muitos personagens importantes. No
capítulo 12, uma mulher (aparentemente representando Israel) dá a luz a
uma criança (Jesus). Um dragão (representando Satanás) com seus anjos
procuraram destruir a criança, que é levada ao céu (Ascenção). Então a
mulher é protegida da perseguição satânica por 1260 dias no deserto
durante a última parte da Tribulação (provavelmente uma referência à
proteção dos 144 mil). No capítulo 13 duas bestas aparecem. A primeira,
aparentemente, é a cabeça política do renovado império romano e a segunda
(falso profeta) é a cabeça religiosa ou anticristo. Há uma breve descrição
sobre o governo delas. Mais à frente, em 19:20, ambas são jogadas no lago
de fogo.

As Sete Taças
As sete taças da ira de Deus (15:1-16:21) representam pragas que
provavelmente vêm em uma rápida sucessão próxima ao final da
Tribulação:

1. Adoradores da besta na Terra


2. O mar se torna em sangue e a morte da vida marinha
3. Os rios e fontes se tornam sangue
4. O sol queima os homens com fogo
5. O reino da besta se torna em trevas
6. O Eufrates seca e a preparação para o Armagedom
7. Relâmpagos, vozes, trovões e terremotos trazem a ira de Deus.

A Terceira Visão: Cristo Triunfante

Na terceira visão (17:1-21:8), João é levado para o deserto para observar


Cristo na conquista. Os capítulos 17 e 18 celebram a destruição da
Babilônia, o que aparentemente é uma representação de Roma. Então, a
destruição do império romano está à vista. O capítulo 17 anuncia o
julgamento da Grande Prostituta, uma força pseudoespiritual ou religião
oficial do Estado. Mesmo este sistema religioso tendo suportado a armadura
política, Deus a colocou em mente das forças proféticas para destruir o
sistema religioso apóstata (17:17). Então o capítulo 18 foca na destruição
do comércio e da política da Babilônia-Roma.
A cena agora está preparada para o retorno de Cristo com poder e
julgamento para cumprir aquilo que fora antevisto. A imagem de Cristo em
toda Sua majestade e poder desafia as descrições, mas três detalhes
merecem uma atenção especial. Primeiro, Suas vestes foram imergidas em
sangue, simbolizando Sua obra redentora. Segundo, Seu nome é chamado
de “Palavra de Deus”, o Eterno que criou os céus e a terra e que se encarnou
para tirar o pecado da humanidade (João 1:1-14).
Terceiro, Ele tem o título de “Rei dos reis e Senhor dos senhores”,
simbolizando Sua supremacia e vitória sobre todos os Seus inimigos. Na
guerra (e não “batalha”) do Armagedom, na grande planície do norte de
Israel, Ele devastará as forças que se voltaram contra Ele e jogará a besta e
o falso profeta no lago de fogo (19:20) e amarrará Satanás no inferno
durante o Milênio (20:2). Neste ponto há a ressurreição dos justos mortos,
que reinarão com Cristo por milhares de anos do Milênio.
Pessoas de vida justa (como “ovelhas” ou “irmãos”) continuarão pelo
Milênio, como demonstrado em passagens como Mateus 25:31-46.
O Milênio, claro, significa “mil anos” e a passagem, tomada literalmente,
ensina que Cristo reinará por mil anos. Muitos argumentam que ninguém
deve ser tão literal em interpretar um livro cheio de simbolismos; eles
apontam que este é o único lugar na Bíblia em que o Milênio é mencionado.
Mas o Antigo Testamento prediz, consecutivamente, uma era de glória
quando o Messias reinará em justiça; especialmente Isaías faz uma alusão a
tal tempo (por exemplo, Isaías 9:6, 7; 11; 30:15-33; 35). Além disso, como
notado, em Mateus 25 é mencionado um reino na terra para seguir uma
segunda vinda. Se alguém entende que mil anos é um simbolismo para
muito tempo, o poder da profecia de um reino na terra quando o Messias
reinar não está embotado.
Nem todo mundo nascido durante o Milênio voluntariamente irá se
prostrar a Cristo. O número crescerá suficientemente que, ao final do
período, quando Satanás estiver derrotado, ele será capaz de juntar um
grandioso exército que como Gogue e Magogue, lutarão com os santos.
Deus destruirá este exército e jogará Satanás no lago de fogo, onde a besta e
o falso profeta já estarão (20:10). Seguindo esse triunfo final ocorre o
julgamento do Grande Trono Branco dos mortos iníquos e a dissolução dos
atuais céus e terra e a criação do novo céu e nova terra.

A Quarta Visão: Uma Cidade Iluminada Pela


Glória de Deus

Na quarta visão (21:9-22:5), João é levado a uma alta montanha onde ele
tem a chance de ver a cidade de Deus e o Cordeiro como o centro dela.
Aqui Cristo é revelado no estado eterno. A nova Jerusalém desce “do céu” e
assim não é idêntica a ele. Ela é uma cidade santa porque todos nela são
santos. Sua beleza desafia a descrição. O mais próximo que a linguagem
humana pode chegar é comparar a composição de seus muros com o jaspe,
os portões com pérolas, a própria cidade com o ouro. A cidade será
brilhantemente iluminada pela glória de Deus, sem necessidade da luz do
sol ou da lua. No estado eterno, os fiéis servirão a Deus (22:3), verão Sua
face (v.4) e reinarão com Ele para sempre (v.5).
O epílogo (22: 6-21) fecha o livro com uma ordem para manter as
palavras da profecia deste livro (para prestar atenção às suas implicações
éticas, v.7), um convite para a vida eterna (v.17), uma maldição sobre
qualquer um que adulterar o texto ou a mensagem (versículos 18, 19), e
uma promessa e uma oração sobre o retorno de Jesus.
A promessa de Jesus de vir “em breve” (versículo 12, 20) não significa
que Jesus virá em breve, mas sim subitamente – os eventos acontecerão tão
rápido que surpreenderão a muitos.
Devemos reconhecer que a interpretação do Apocalipse é carrega-da de
problemas. Mas um fato é claro – algo que é importante para nós nestes dias
de aflições internacionais: Deus ainda está no soberano controle do mundo,
e algum dia Cristo retornará, julgará as forças do mal e iniciará Seu governo
como um imperador caridoso.
Além disso, embora nos séculos passados o livro possa ter parecido
imaginário ou impossível, avanços tecnológicos em armamentos, e um
controle pensado agora fazem possível ou até mesmo provável a destruição
em massa, de um governo mundial, ou mesmo da religião substituta que o
livro prediz. O livro do Apocalipse é muito relevante ao homem
contemporâneo.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Everett F. Harrison, Introduction to the New Testament rev. ed. [Introdução ao Novo
Testamento ed. Rev.], (Grand Rapids: Eerdmans, 1971), página 467. [Voltar]
Nota 2 - Irineu, Contra as Heresias, V. Xxx.iii [Voltar]
APÊNDICE

Uma Técnica Simples para o Aprendizado da


História do Antigo Testamento

E Ua história
CHEGUEI a uma simples forma de ajudar meus alunos a aprenderem
do Antigo Testamento – uma forma deles encontrarem seu
próprio caminho pelo Antigo Testamento. Primeiro, eu peço para que eles
aprendam os nomes dos dezesseis primeiros livros em sua ordem. Então eu
continuo a fazer perguntas sobre os nomes dos livros (algo parecido com o
que está a seguir). A fim de evitar a repetição cansativa das palavras –
pergunta e resposta – as perguntas são meramente colocadas aqui e as
respostas antecipadas aparecem em itálico.
Qual é o primeiro livro? Gênesis. O que significa Gênesis? Começo.
Começo de quê? Do céu, da terra e da humanidade. Quais os principais
personagens em cena? Abraão, Isaque e Jacó (os patriarcas).
Qual é o próximo livro? Êxodo. O que significa êxodo ? Sair. Sair de
onde? Egito. Como eles chegaram no Egito? Eles deixaram Canaã por
causa da fome. Para onde eles foram quando deixaram o Egito? Para o
deserto. Qual foi o principal acontecimento no deserto? Eles foram para o
Monte Sinai e receberam a Lei.
Qual é o terceiro livro? Levítico. Quem eram os levitas? Sacerdotes.
O que faziam os sacerdotes? Faziam sacrifícios e lideravam o povo na
adoração. Onde? No tabernáculo. De acordo com o quê? A Lei. Então,
agora temos o sacerdócio, o tabernáculo e a Lei – as instituições básicas de
Israel.
Qual é o próximo livro? Números. Onde eles estavam? Ainda no deserto,
onde foi feito um censo.
Qual é o próximo livro? Deuteronômio. E o que significa esta palavra?
A segunda Lei. Onde eles estavam naquela época? Ainda no deserto.
Qual é o próximo livro? Josué. Em que tipo de atividades Josué estava
engajado? Conquista. Conquista de quê? Canaã.
Qual é o próximo livro? Juízes. O que faziam os juízes? Julgavam ou
governavam o povo. Quem foi o último dos juízes? Samuel. Quando
Samuel saiu de cena, como ele arranjou um sucessor? Ele indicou um rei.
Qual é o próximo livro? Rute. Quando a história aconteceu? Nos dias de
Juízes (veja Rute 1:1). Qual o significado especial na história de Rute? Ela
dá a ancestralidade de Davi, o grande rei de Israel. Ele foi um ancestral de
Jesus Cristo.
Qual o próximo livro? 1 Reis. Quem foi o primeiro rei? Saul. Quem foi o
segundo rei? Davi. Quem foi o terceiro rei? Salomão. Qual livro vem
depois de 1 Reis? 2 Reis. Sobre o que 2 Reis fala? Reis, muitos reis.
Então, depois do rei Salomão, o que aconteceu? O reino, que era único,
foi dividido em dois reinos: Israel (o Reino do Norte) e Judá (o Reino do
Sul). Os profetas eram ativos naqueles dias. Sobre o que eles alertavam?
Idolatria.
Quais são os próximos livros? 1 e 2 Crônicas. Sobre o que eles falam?
Uma repetição de muito o que aconteceu em 1 e 2 Reis. De acordo com
Reis e Crônicas, o que aconteceu com Israel e Judá? Eles foram levados ao
cativeiro. Para onde Israel foi levado em cativeiro? Assíria. Para onde Judá
foi levado em cativeiro? Babilônia. Então Deus simplesmente la-vou Suas
mãos em relação aos hebreus? Não, Ele prometeu um retorno a terra.
Qual é o próximo livro? Esdras. Sobre o que fala este livro? O retorno da
terra da Babilônia. O que eles fizeram depois de retornar? A reconstrução
do templo. Qual é o próximo livro? Neemias. Sobre o que fala este livro?
Reconstrução dos muros de Jerusalém.
Agora os hebreus voltaram para a terra e seu templo e a cidade capital de
Jerusalém está reconstruída. Ao longo do caminho, profetas ministraram e
seus livros aparecem na última parte do Antigo Testamento. O último
profeta escritor foi Malaquias, por volta de 435 a.C. E
Malaquias é o último livro do Antigo Testamento.
Sobre o Autor

H OWARD F. VOS é Professor Emérito de História e Arqueologia no The


King’s College, na cidade de Nova York. Ele é doutor em Teologia pelo
Dallas Theological Seminary e doutor em Filosofia pela Northwestern
University e é autor de 25 livros. Dr. Vos e sua esposa vivem na Filadéfia,
Pensilvânia.

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