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De acordo com a definição de cosmovisão, dada por James Sire, sabemos

que ela pode ser expressa na forma de uma estória.

No caso do cristianismo, sua narrativa mestre possui um padrão que


compreende quatro dimensões, sendo elas:

a criação, a queda, a redenção e a consumação ou glorificação.

A Criação trata-se da doutrina primária da narrativa mestre do cristianismo.


De acordo com Nancy Pearcey “a mensagem cristã não começa com ‘Aceita
a Jesus como Salvador’, mas com ‘No princípio, criou Deus os céus e a terra.

A cosmovisão cristã tem como um de seus pressupostos básicos a


autoridade das Escrituras. O que não implica no abandono da ontologia(é o
ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria
realidade.) como primeiro fator importante da cosmovisão. Isto porque,
como Schaeffer nos recorda, “A Bíblia é o que é porque o Deus que existe
a deixou em forma proposicional verbalizada.

E, “a Bíblia nos ensina que Deus é a fonte exclusiva de toda a ordem criada.”

Os capítulos 1 e 2 do livro de Gênesis apresentam a narrativa da Criação.


Tudo o que vem pela frente decorre deste relato histórico.
Deus criou todas as coisas sejam elas visíveis ou invisíveis (Cl 1.16). Ele criou
a natureza visível (natureza física e humana) e suas leis invisíveis (leis
naturais e morais). Quanto aos aspectos invisíveis Pearcey nos explica:

“A palavra criativa de Deus é a fonte das leis da natureza física que estudamos
nas ciências naturais. Também é a fonte das leis da natureza humana – os
princípios da moralidade (ética), da justiça (política), do empreendedorismo
criativo (economia), da estética (artes) e até do pensamento claro (lógica). É
por isso que Salmos 119.91 declara: “…tudo está a teu serviço” (NVI). Não há
assunto, tema, matéria que seja filosófica ou espiritualmente neutra.”
Percebe-se que, dentre as perguntas apresentadas na segunda parte da
definição de uma cosmovisão, feita por James Sire, a doutrina da Criação
responde a uma boa parcela delas. Como vimos, no ato criativo de Deus
encontramos a origem da realidade externa (Qual é a natureza da realidade
externa, isto é, do mundo à nossa volta?); a origem da possibilidade da
aquisição de conhecimento (Por que é possível conhecer de fato alguma
coisa?); a origem dos valores morais absolutos (Como sabemos o que é certo
e o que é errado?); a origem do ser humano, bem como do que o faz
diferente dos outros entes criados (Qual é o significado da história
humana?).

O pressuposto da Criação tem implicações importantes para o ser humano.


De acordo com Santos, “compreender toda a realidade tendo como
fundamento a Criação tem implicações bem práticas na vida das pessoas.”

Santos expõe três implicações sendo elas: o propósito, a dignidade e


a igualdade. A narrativa bíblica, exposta em Gênesis 1.26-28, demonstra de
onde vêm as três implicações da doutrina da Criação mencionadas por
Santos.

A partir da primeira dessas três implicações, o propósito, obtemos as bases


dos chamados mandatos criacionais, que carregam em si parte do
significado da história humana. No que se refere à dignidade, Santos nos
explica que,
“Essa passagem bíblica é paradigmática e estabelece o princípio segundo o qual
todas as pessoas devem ser tratadas com dignidade, uma vez que temos a
imagem de Deus, as suas ‘impressões’. A dignidade da pessoa humana não é
somente uma ideia cristã, como também um atributo universal próprio do ser
humano, de procedência transcendente, que gera uma pretensão universal de
reconhecimento, respeito e proteção tendo como destinatários todos os
indivíduos e todas as formas de poder político e social.”[8]
Sire também considera essa implicação da doutrina da Criação. E sua
contribuição, também, nos é valiosa, segundo ele,

“A dignidade humana, em certo sentido, não é nossa; contrariando


Protágoras, a humanidade não é a medida. A dignidade do homem deriva de
Deus, porém, embora derivada, as pessoas a possuem, mesmo se como um dom.
Helmut Thielicke afirma com propriedade: ‘Sua [da humanidade] grandeza
repousa apenas e tão somente no fato de que Deus, em sua incompreensível
bondade, concedeu seu amor ao homem. Deus não nos ama porque somos
valiosos; somos valiosos porque Deus nos ama’[9]” [10].

Quando consideramos a terceira implicação mencionada por Santos, a saber


a igualdade, temos que,
“Se todos partem do mesmo Criador, não há razão e muito menos justificativa
para [que] um ser humano seja considerado superior ou inferior ou outro, por
isso a premissa judaico-cristã que todos merecem ser tratados [de modo
igualitário] sem distinção, independente da cor, raça, sexo, etnia ou
religião.”[11]

Outro fator importante da doutrina da Criação é que, tudo o que foi criado,
incluindo os seres humanos, foram originalmente criados bons. “Como o
livro do Gênesis registra: ‘E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia
ficado bom’ (1.31)”[12]

Porém, como apresentado manifesta pelas discussões acerca da ética cristã,


vemos que o homem vive um dilema, cujo um dos problemas decorre do
contraste existente entre a nobreza e a crueldade humana. Se Deus criou
todas as coisas boas, inclusive o homem, de onde vem a crueldade humana?
A segunda dimensão da cosmovisão cristã, a queda, nos fornece a resposta
para essa pergunta.

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