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O Mundial que não é “Mundial”:

A Insistência Pedante dos Jargões e Falácias Junto às Manobras Políticas da FIFA

Introdução

Nem mesmo faz-se necessário estar ligado ao futebol para ouvir frequentemente o velho jargão:
“Palmeiras não tem mundial!”. Chacota essa que iniciou-se contra o Corinthians, porém que virou-se contra
o Palmeiras após 2012, quando os corintianos conquistaram seu primeiro mundial considerado “legítimo”.
Ora, por qual motivo o Mundial do Corinthians em 2000 foi considerado por muitos (inclusive até alguns
corintianos) como ilegítimo? E por qual motivo tal chacota recai sobre o Palmeiras, sendo que esse é
considerado por muitos como o Primeiro Campeão Mundial, por vencer o primeiro torneio de futebol de
clubes à nível internacional em 1951? Muitos também são os próprios palmeirenses que não reconhecem tal
vitória com tal status. Então qual seria o critério de uma vitória ser consagrada um “mundial”?

Critério nº1 – A Chancela da FIFA

Em 1999 o Palmeiras conquistou sua primeira Taça Libertadores da América, título que representa o
campeão sul-americano, a costumeiramente disputar o título internacional/intercontinental com o campeão
europeu (costume esse em vigor desde 1960). Todavia, por pura manobra política, o Corinthians, mesmo
nunca tendo vencido uma Libertadores na época, fora convidado pela CBF/FIFA a participar do primeiro
“Mundial Interclubes” no ano 2000, por ter vencido o Campeonato Brasileiro em 1999 (que hoje, junto à Copa
do Brasil, dá acesso à Supercopa do Brasil e não ao Mundial). Tendo vencido o Vasco da Gama na final, o
Corinthians conquistou seu primeiro “mundial”, atrás de manobras políticas movidas à interesses, mais
articuladas nos bastidores do que em campo. A FIFA, como uma entidade internacional de motivações
muitas vezes escusas, não só dessa vez demonstrou um revisionismo que secundou o futebol em troca de
nomenclaturas para agradar aliados – uma notável e vexatória demonstração de que sua chancela é mais
política que esportiva.

A polêmica foi tamanha que o Mundial da FIFA de 2001, que seria sediado na Espanha, fora cancelado
e tão somente em 2005 esse voltou, adotando o formato tradicional da Copa Intercontinental, cujo acesso aos
times sul-americanos era conquistado através da vitória da Taça Libertadores da América e não do
Campeonato Brasileiro (o que excluiria os times sul-americanos da Argentina e do Uruguai, por exemplo).

Critério nº2 – O Nome “Mundial” de um Mundial

O Mundial de Clubes (Campeonato Mundial de Clubes ou Copa Mundial de Clubes) teve sua
primeira edição no mesmo ano de 2000, tendo sido vencida pelo Corinthians e movimentando toda polêmica
comentada anteriormente. Antes, de 1960 a 2004, o chamado “Campeão Mundial” era determinado pela
chamada Copa Intercontinental ou Copa Toyota (devido ao patrocínio dessa). Apenas em 2017 a FIFA
resolveu oficializar os campeões das copas intercontinentais como “campeões mundiais”, pois a entidade
havia criado o seu próprio torneio mundial em 2000 – sendo então cancelado em 2001 e reconfigurado tal
como a própria Copa Intercontinental em 2005. Entre os vencedores brasileiros do Mundial da FIFA estão
apenas o São Paulo, o Internacional e o Corinthians, tendo o Santos, Flamengo e o Grêmio conquistado
apenas os títulos intercontinentais, mas não mundiais tal como a FIFA chamou após 2000.

Em suma: um torneio cujo nome é “Intercontinental” viria a ser reconhecido como mais mundial que
um torneio que tem “Mundial” (adiante tratado) em seu próprio nome. A política é clara: agradar as maiores
torcidas e não o mérito dos clubes. Ora, não há necessidade de negar a extrema importância, relevância e
mérito das Copas Intercontinentais nem mesmo encostar um dedo na consideração dessas como torneios
legitimamente mundiais! Mas observando a quantidade de clubes e o tamanho das torcidas fica claro que as
decisões foram tomadas por interesses que vão além dos gramados...

Critério nº3 – A Pura e Simples Vitória

Em 1951 e 1952 houveram duas edições do Torneio Internacional de Clubes Campeões ou Torneio
Mundial de Clubes, esse apelidado de “Copa Rio”, pois além de grande parte dos jogos serem realizados na
cidade do Rio de Janeiro, era a Prefeitura dessa cidade, capital do Brasil na época, que patrocinou o evento.
Faz-se importante não confundir essa Copa Rio com outros torneios com nomenclaturas similar, sendo essa
frequentemente chamada “Copa Rio (Internacional)”, para diferenciar-se de outras competições, tendo
havido tão somente duas edições desse torneio apenas. Faz-se reconhecido não só pela FIFA como por muitas
outras entidades, times e até mídias especializadas que tal torneio trata-se da primeira competição de futebol
à nível internacional realizada na história, afinal, o Troféu Sir Thomas Lipton, de 1909 e 1911, fora disputado
apenas por clubes europeus.

Inspirada na Copa do Mundo de 1950, primeira Copa após a Segunda Guerra Mundial, a Copa Rio
(Internacional) evidentemente serviu de inspiração para a vindoura Copa Intercontinental que seria estreada
em 1960, sendo a precursora dos campeonatos mundiais entre clubes e cumprindo com um inegável papel
histórico do esporte no contexto pós-guerra.

Em 1950 o que viria a ser conhecido como “Campeonato Brasileiro” ainda era muito irregular e
desregrado: em 1937 houvera uma edição única do “Torneio dos Campeões”, que reunia os clubes campeões
de cada Estado. A “Taça Brasil”, futura substituta desse e projeto embrionário de um campeonato nacional
entre clubes viria a surgir tão somente em 1959 e a Copa Libertadores da América teve sua primeira edição
tão somente em 1960. A notabilidade do Palmeiras adveio desse ter ganho tanto o Campeonato Paulista de
1950 como o Torneio Rio-São Paulo de 1951 – tais vitórias garantiram sua participação na primeira edição da
Copa Rio (Internacional) de 1951. Então participado e vencido o maior campeão europeu da época, o italiano
Juventus, o Palmeiras foi o primeiro campeão da Copa Rio (Internacional), sendo aclamado pela mídia tanto
brasileira como internacional como “Campeão do Mundo”, tal como demonstrava a capa da Gazeta
Esportiva de 23 de julho de 1951, cuja edição fora reimpressa em 2021 como comemoração aos 70 anos do
título.

Porém a FIFA até hoje apresenta uma posição dúbia sobre o status de mundial do Torneio Mundial
de Clubes, chegando a reconhecer oficialmente tal torneio como a primeira edição do Mundial Interclubes
em 2007 e voltado atrás nessa decisão no final do mesmo ano. Em 2016, no aniversário de 65 anos da Copa
Rio (Internacional) a mesma FIFA parabenizou novamente o Palmeiras, chamando-o de “Primeiro Campeão
Intercontinental Mundial de Clubes”, todavia em 2017 ela havia de reconhecer oficialmente como mundiais tão
somente os títulos da Copa Intercontinental (Toyota). O ex-presidente da FIFA, Joseph Blatter, havia
declarado em 2014 que o Palmeiras sim, era campeão mundial devido à vitória de 1951, decisão essa revogada
posteriormente em 2019 por Gianni Infantino, que mencionou que a FIFA já concedeu o título de campeões
mundiais a todos os campeões da Copa Intercontinental após 1960 e não antes. Menções da própria FIFA
sobre o Palmeiras enquanto campeão mundial (“Global Champion” e/ou “Worldwide Champion”) foram
novamente trazidas à tona em 2021, para então a polêmica da chancelaria desse título ser pauta mais uma
vez em 2024, num evento ocorrido na sexta-feira do dia 01 de março, onde houve iniciativa de tradução para
o português da ata de 2014, onde o ex-presidente Blatter haveria reconhecido o mundial do Palmeiras.

Fax do então secretário-geral da FIFA, Urs Linsi ao então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, reconhecendo em 2007
a Copa Rio de 1951 como a primeira copa do mundo de clubes (esquerda). Fax do então secretário-geral da
FIFA, Jérôme Valcke ao então Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, reconhecendo em 2013 a Copa Rio de 1951 como a
primeira copa do mundo de clubes (direita).

Documento do Comitê Executivo da FIFA em São Paulo, no dia 07 de junho de 2014, decidiu em reunião: "Concessão
do pedido da CBF para reconhecer o torneio de 1951 entre clubes europeus e sul-americanos, vencido pelo Palmeiras,
como a primeira competição mundial de clubes."
Tradução em português, com fé pública do documento do Comitê Executivo da FIFA que foi realizado em São Paulo,
no dia 07 de junho de 2014 e que decidiu pelo reconhecimento da Copa Rio de 1951 como a primeira competição
mundial de clubes

Conclusão

O ingresso no Campeonato Mundial de Clubes da FIFA de 2000 do Corinthians deu-se pela vitória
desse do Campeonato Brasileiro em 1999. O ingresso no Torneio Mundial de Clubes de 1951 do Palmeiras
deu-se pela vitória desse do Campeonato Paulista de 1950 reforçado pela vitória também do Torneio Rio-São
Paulo em 1951. Ambos são considerados “inortodoxos”, pois ambos não venceram a Taça Libertadores da
América para ingresso no torneio mundial, tradição que perdurou de 1960 a 2004 na Copa Intercontinental
e continuada em 2005 até o presente dia pela Copa do Mundo de Clubes da FIFA.

A questão basilar que separa ambos é que em 1951 não havia Copa Libertadores da América (nem
mesmo Campeonato Brasileiro), diferentemente do cenário de 1999, onde o Corinthians não havia vencido
em nenhuma edição tal título. Ainda assim a chancela da FIFA reconhece o mundial corintiano de 2000, mas
não o palmeirense de 1951 e o motivo não é esportivo, senão político. O Palmeiras venceu tudo que estava
ao seu alcance em 1950 e 1951, ao passo que o Corinthians não, reforçando o fato de que os bastidores foram
mais relevantes que os campos para a entidade “mais importante do futebol mundial”.

O critério do “aval da FIFA” é tão falho e dúbio quanto sua posição, bem como tão arbitrário em sem
critérios como demonstrado na vergonha do ano 2000. Já o critério do “nome”, de precisar ser chamado de
“mundial” e ser disputado entre times da América e da Europa, esse o Palmeiras preenche juntamente ao
terceiro, e de longe mais importante critério: vencer outros campeões do mundo. O Palmeiras venceu o
campeonato estadual mais acirrado do país em 1950, o campeonato mais relevante entre estados em 1951 e
o primeiro campeonato internacional da história em 1951. Dizer que faz-se necessária a vitória de uma
Libertadores, ou similar, para consagrar um mundial como um verdadeiro mundial não pode ser
considerado um argumento minimamente plausível quando simplesmente não há sequer uma Libertadores,
ou algum torneio similar na época. Ainda: o que dá direito ao Corinthians “pular” essa etapa (quando ela
existe) e ser chancelado como campeão mundial? A arbitrariedade e a falta de critérios que envolvem mérito
na FIFA, pura e simplesmente.

É claro, os flamenguistas, são-paulinos e santistas, principalmente, regozijam tal arbitrariedade da


FIFA, afinal esses têm seus intercontinentais reconhecidos como mundiais e podem repetir seus jargões, tais
como o famigerado “sem-mundial” ad nauseam. Esses são os mesmos que reclamam da mesma FIFA,
denunciando-a ferozmente quando ela reconhece os quatro campeonatos/copas antigos como títulos do
Campeonato Brasileiro para o Palmeiras. Nesse caso o jargão muda para “títulos por fax”. Então o que deveria
ser feito em relação a esses títulos antigos tais como a Taça Brasil? Ignora-los completamente? Salta os olhos
tal hipocrisia, mas ainda pior se faz a tentativa de simplesmente esquecer-se um título por puro critério
arbitrário e sem sentido – ora a FIFA é a palavra final, ora essa nada vale de acordo com os interesses de cada
clube.

E aos Palmeirenses? Pouco deveria importar se tais títulos antigos (pré-1970, principalmente)
deveriam se equiparar ou não ao Campeonato Brasileiro de acordo com as determinações da FIFA – foram
títulos de enorme relevância para época e, como quaisquer outros, devem ser contabilizados independente
do jugo alheio de quem quer que seja. Ora, o jogo aconteceu! A vitória foi conquistada! O que mais precisa
ser dito sobre? Pois que inegável verdade atrás disso é que o Palmeiras é, matematicamente, concretamente
e materialmente o Maior Campeão do Brasil em número de títulos interestaduais, nacionais e
internacionais: são 29 troféus erguidos contra 23 do Flamengo, 22 do Santos, 21 do São Paulo e 20 do
Corinthians. Negar isso é negar a própria matemática. Tal como o que conta para a vitória de uma partida
não são as belas jogadas, mas o número de gols, o número de títulos ainda é o critério mais definitivo para
determinar a grandeza de um time. E ainda que fossem somados os campeonatos estaduais: seriam 54 títulos
do Palmeiras contra 50 do Corinthians, 44 do Santos e 43 do São Paulo. É claro (além de minimamente justo)
que ao serem somados os títulos estaduais, a comparação necessita ser feita com os times do mesmo Estado.

Em outras palavras: o aval da FIFA para chancelar sobre reconhecimento e o status de campeonatos
nacionais ou internacionais/mundiais é como um rei distribuindo títulos nobiliárquicos à nobreza de acordo
com seus interesses – eles simplesmente não valem nada perante uma República Democrática. A democracia
dos troféus vale algo que as canetas da FIFA jamais valerão. O Palmeiras venceu o Torneio Mundial de
Clubes de 1951 e esse, que também era chamado Torneio Internacional de Clubes Campeões, foi o primeiro
torneio à nível internacional/mundial entre clubes, como o próprio nome já diz e como a própria natureza
do torneio confirma. Isso é um fato incontornável que a repetição de jargões desprovidos de critérios jamais
vai alterar. Além desse, o Palmeiras também venceu outros 28 títulos entre Campeonatos Brasileiros, Copas
do Brasil, Libertadores, Supercopa, etc... São 29 títulos (até agora, 03/2024) interestaduais, nacionais e
internacionais simplesmente inegáveis que fazem propagar-se uma gigantesca inveja aos que não os
possuem e as chacotas sem respaldo na materialidade só comprovam isso. O lastro da inveja é o sarro.

“É bom se nós somos atacados pelo inimigo, uma vez que prova que traçamos uma linha de demarcação entre o
inimigo e nós. É ainda melhor se o inimigo nos atacar selvagemente e nos pintar como os maus e sem nenhuma
virtude; isto demonstra que não só traçamos uma linha de demarcação bem clara entre o inimigo e nós mas também
alcançamos muito em nosso trabalho.”

-Presidente Mao Zedong, 1939

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