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PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA

Pré-História Brasileira

A Pré-História, dividida em três fases, acompanha o surgimento dos primeiros hominídeos, bem como
o desenvolvimento humano e sua evolução, ao longo do tempo.

A Pré-História é o período que acompanha a evolução da Terra, do homem e todos os seres vivos. O
estudo da Pré-História permite-nos acompanhar o desenvolvimento e a evolução dos primeiros homi-
nídeos até o surgimento de ferramentas que possibilitaram o aperfeiçoamento no estilo de vida dos
seres humanos.

A Pré-História tem como ponto de partida o surgimento dos primeiros hominídeos e encerra-se quando
é desenvolvida a primeira forma de escrita pela humanidade — marco que aconteceu entre 3500 a.C.
e 3000 a.C. Esse período é dividido, basicamente, em Paleolítico, Mesolítico e Neolítico.

Um dos grandes marcos da Pré-História é o surgimento do homo sapiens sapiens, a nossa espécie
humana, que apareceu há 300 mil anos AP (Antes do Presente — unidade temporal definida pela Ar-
queologia tendo como base o ano de 1950 d.C.).

Divisão

A Pré-História é um período de tempo consideravelmente extenso e sua nomenclatura teve origem no


século XIX. Nessa última época, os estudiosos das ciências humanas tinham uma visão de que só era
possível existir História, enquanto ciência, caso houvesse escrita. E como esse século acompanha o
desenvolvimento humano em um momento que não havia escrita, tal momento foi nomeado de Pré-
História, isto é, foi considerado um período anterior à existência da História humana.

A Pré-História concentra um período que vai de 3 milhões de anos AP a 6500 anos AP (ou 3500 a.C.).

Os períodos da Pré-História são os seguintes:

Paleolítico

O Paleolítico é conhecido também como Idade da Pedra Lascada porque os objetos utilizados pelos
grupos humanos desse período, para sua sobrevivência cotidiana, eram produzidos desse material. O

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Paleolítico é um período que se estendeu de 3 milhões de anos atrás até 10000 a.C., sendo dividido
em três fases, que são: Paleolítico Inferior, Médio e Superior.

Obviamente, cada um desses períodos possui sua particularidade, e acompanharemos um resumo de


cada uma dessas fases:

O Paleolítico Inferior tem como ponto de partida o momento em que os hominídeos desenvolveram a
habilidade de produzir ferramentas para sua sobrevivência. Os primeiros hominídeos a desenvolverem
tais habilidades foram o homo habilis e o homo erectus (este conhecido também por ser o primeiro a
ficar em postura ereta). Essa fase teve extensão de 3 milhões de anos AP a 250 mil anos AP.

O Paleolítico Médio, por sua vez, estendeu-se de 250 mil anos AP até 40 mil anos AP, aproximada-
mente. A grande marca desse período é a presença do homem de neandertal (homo neanderthalensis),
hominídeo que viveu na Eurásia ainda no período do Paleolítico Inferior. O Neandertal ficou muito co-
nhecido por ser uma espécie de hominídeo com tamanho inferior a 1,70 m, por ter um corpo mais
robusto e uma capacidade maior de reter calor nele. Ele viveu no mesmo período que o homo sapiens,
já que este surgiu há 300 mil anos.

No Paleolítico Médio, os estudos arqueológicos apontam que o estilo de vida dos hominídeos tornou-
se mais sofisticado, pois novos tipos de ferramentas haviam sido desenvolvidos e o uso do fogo havia
sido amplamente difundido. Os especialistas apontam que o uso do fogo tornou-se comum no período
entre 100 mil e 50 mil anos atrás.

O Paleolítico Superior é a última fase do período Paleolítico e estendeu-se de 50000 a.C. até 10000
a.C. A quantidade de ferramentas utilizadas pelo ser humano era vasta, e foram encontrados macha-
dos, anzóis, agulhas, arpões, dardos etc. Além disso, a variedade de alimentos consumidos pelo ho-
mem aumentou e os grupamentos humanos foram tornando-se mais complexos.

Essa época também ficou marcada pelo desenvolvimento das primeiras formas de arte dos seres hu-
manos. A arte pré-histórica mais conhecida é a pintura rupestre, aquela realizada nas paredes de ca-
vernas.

De uma forma geral, podemos considerar, então, que o Paleolítico foi um período em que o ser humano
sobrevivia exclusivamente da coleta e da caça e, portanto, para garantir seu sustento, principalmente
no que se relaciona com a caça, era necessário a elaboração de ferramentas (armas) para ajudar na
obtenção do alimento.

O ser humano, portanto, era nômade, pois, uma vez esgotados os recursos de determinada área, mu-
dava-se para outra, a fim de poder coletar e caçar. As ferramentas produzidas eram feitas de ossos,
pedra lascada e também marfim. A temperatura da terra era mais fria e isso forçava o homem a morar
em cavernas para proteger-se do frio.

Na fase final do Paleolítico, os especialistas apontam que as primeiras experiências religiosas come-
çaram a ser desenvolvidas, e essa sofisticação da vida humana, aliada à possibilidade desse “senso
religioso”, levou o homem a desenvolver ritos funerários para enterrar seus mortos.

Mesolítico

O Mesolítico é uma fase intermediária e entendida pelos especialistas como uma fase de transição
entre Paleolítico e Neolítico. O Mesolítico, conforme apontam os especialistas da área, foi um período
reservado apenas às regiões nas quais aconteceram ciclos intensos de glaciação. Sendo assim,
aponta-se que a Eurásia foi um local no qual o Mesolítico aconteceu e estendeu-se, aproximadamente,
de 13000 a.C. a 9000 a.C.

Os grupos humanos que sobreviviam somente da caça entraram em decadência, uma vez que aqueles
que sobreviviam também da coleta começaram a sobressair-se. O fim desse período aconteceu com o
desenvolvimento da agricultura.

Neolítico

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O Neolítico ou Idade da Pedra Polida é o último período pré-histórico e estendeu-se de 10000 a.C. até
3000 a.C. Os marcos importantes do Neolítico são o desenvolvimento da agricultura e o desenvolvi-
mento da primeira forma de escrita. Lembrando que essas datas são aproximativas e o desenvolvi-
mento humano nunca foi uniforme, ou seja, existem grupos que só foram desenvolver uma forma es-
crita, por exemplo, séculos depois da primeira escrita que surgiu.

O desenvolvimento da agricultura permitiu que o estilo de vida da humanidade fosse transformado


radicalmente, pois, com ela, o ser humano era capaz de produzir seu próprio alimento e não era mais
dependente daquilo que caçava e do que coletava da natureza. O impacto disso foi que o ser humano
passou a desmatar florestas para criar seus campos de cultivo e tornou-se sedentário.

A sedentarização do homem proporcionada pelo desenvolvimento da agricultura também possibilitou-


lhe domesticar animais que poderiam, principalmente, servir de alimento, caso o cultivo agrícola não
fornecesse o sustento necessário. A domesticação dos animais também esteve relacionada com o
trabalho agrícola e com a locomoção e transporte de carga.

Com essa sedentarização, os grupos humanos foram reunindo-se em número cada vez maior, e o
crescimento desses grupamentos resultou no surgimento das primeiras cidades do mundo. O desen-
volvimento das cidades causou também o desenvolvimento da arquitetura, que permitiu a construção
de casas mais bem elaboradas e outras construções.

A olaria também surgiu durante esse período e, assim, começaram a ser desenvolvidos utensílios de
cerâmica. Durante o final do Neolítico, desenvolveu-se a metalurgia, e assim o ser humano tornou-se
capaz de produzir ferramentas de metal.

Nesse período, na medida em que os grupos de seres humanos cresceram, tornavam-se mais comple-
xos e mais desiguais, já que pessoas que ocupavam cargos de relevância na administração dos recur-
sos foram tornando-se mais influentes e poderosas.

Divisão do trabalho

Os grupamentos humanos foram sofisticando-se e, como consequência, a divisão do trabalho foi sendo
definida. Com isso, a convenção foi de que os homens foram responsabilizados pela caça, e as mulhe-
res, pela coleta e pelo trabalho agrícola, quando esse surgiu no Neolítico.

A respeito dessa divisão, a socióloga alemã Maria Mies afirma que a sobrevivência humana durante o
período pré-histórico era, em grande parte, responsabilidade do trabalho feminino. Isso porque estudos
realizados na área indicam que a porcentagem de alimentos consumidos por meio da coleta e da agri-
cultura (realizadas pela mulher) era superior à quantidade de alimentos oriundos da caça.

Arte

O estudo da Pré-História também inclui a análise das formas de arte que foram realizadas nesse perí-
odo. Os especialistas ainda não têm certeza dos motivos pelos quais os homens pré-históricos fizeram
tais registros, mas sugerem que eles poderiam ser apenas um registro da “arte pela arte”, bem como
poderiam ser um registro que realizasse uma conexão do homem com a natureza em um plano espiri-
tual.

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A principal forma de arte desse período são as pinturas rupestres, que eram realizadas nas paredes
das cavernas. Essas pinturas remontam a 40 mil anos atrás e representavam grupos de animais ou o
ser humano em meio a atividades cotidianas. Eram usados materiais como terra, carvão, sangue, entre
outros, nessas pinturas.

No período pré-histórico, também eram realizadas esculturas pequenas. As mais famosas são as es-
tatuetas de Vênus, isto é, pequenas estátuas de mulheres com formas corporais voluptuosas. A mais
famosa dessas estatuetas é a Vênus de Willendorf, que foi localizada na Áustria e remonta a 25 mil
anos atrás.

Por fim, vale destacar as construções megalíticas, que eram basicamente grandes construções feitas
em pedra. Os especialistas não sabem ao certo a razão pela qual esses monumentos eram construídos.
O monumento megalítico mais conhecido é o de Stonehenge, localizado na Inglaterra.

Pré-História brasileira

O que é referido aqui no texto como Pré-História brasileira é nomeado pelos especialistas como História
pré-cabralina do Brasil, isto é, a história dos povos indígenas que habitavam o Brasil antes da chegada
dos portugueses com a expedição de Pedro Álvares Cabral. Até a divisão dos períodos no estudo da
Pré-História brasileira é diferente porque aquela divisão tradicional em Paleolítico, Mesolítico e Neolítico
não é utilizada no país.

A divisão no estudo da história pré-cabralina utiliza as épocas geológicas como marco. Assim, a divisão
está em pleistoceno (mais de 12 mil anos atrás) e holoceno (de 12 mil anos atrás até a chegada dos
portugueses em 1500).

O grande debate que envolve a história pré-cabralina é o momento em que os primeiros grupos huma-
nos chegaram à América e penetraram o território brasileiro. Grande parte das evidências apontam que
o homem chegou à América por volta de 22000 anos atrás. No entanto, pesquisas recentes encontra-
ram sinais de presença humana que remontam a 43000 anos atrás. Isso tem gerado muito debate entre
os especialistas.

Outra questão importante, como aponta o geógrafo Aziz Nacib Ab’Sáber, é a inexistência de resquícios
de habitação humana no litoral em períodos anteriores a 6000 anos AP. De 6000 AP em diante, os
principais registros são os sambaquis, depósitos de materiais orgânicos feitos pelo ser humano. Para
isso, os especialistas apontam que, provavelmente, a ausência desses registros está relacionada com
o aumento do nível do mar que aconteceu por volta de 13000 AP.

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OS POVOS INDÍGENAS

Os Povos Indígenas

São designados como povos aborígenes, autóctones, nativos, ou indígenas aqueles que viviam numa
área geográfica antes da sua colonização por outro povo ou que, após a colonização, não se identifi-
cam com o povo que os coloniza.

A expressão povo indígena, literalmente "originário de determinado país, região ou localidade; nativo",
é muito ampla, abrange povos muito diferentes espalhados por todo o mundo. Em comum, têm o fato
de que cada um se identifica com uma comunidade própria, diferente acima de tudo da cultura do co-
lonizador.

A ONU definiu em nota técnica que:

“ As comunidades, os povos e as nações indígenas são aqueles que, contando com uma
continuidade histórica das sociedades anteriores à invasão e à colonização que foi desen-
volvida em seus territórios, consideram a si mesmos distintos de outros setores da socie-
dade, e estão decididos a conservar, a desenvolver e a transmitir às gerações futuras seus
territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada como
povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais e os
sistemas jurídicos. ”

Os povos são geralmente descritos como indígenas quando mantêm tradições ou outros aspectos de
uma cultura primitiva associada a uma determinada região. Nem todos os povos indígenas comparti-
lham essa característica, pois muitos adotaram elementos substanciais de uma cultura colonizadora,
como roupas, religião ou idioma.

Os povos indígenas podem ser assentados em uma determinada região (sedentários) ou exibir um
estilo de vida nômade em um grande território, mas geralmente estão historicamente associados a um
território específico do qual dependem. As sociedades indígenas são encontradas em todas as zonas
climáticas habitadas e continentes do mundo, exceto na Antártica.

Como os povos indígenas continuam a enfrentar ameaças à sua soberania, bem-estar econômico,
línguas, formas de conhecimento e acesso aos recursos dos quais dependem suas culturas, direitos
políticos foram estabelecidos no direito internacional pelas Nações Unidas, a Organização Internacio-
nal do Trabalho e o Banco Mundial.

Em 2007, as Nações Unidas emitiram uma Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UN-
DRIP) para orientar as políticas nacionais dos Estados membros em relação aos direitos coletivos dos
povos indígenas, incluindo cultura, identidade, idioma e acesso a emprego, saúde e qualidade. educa-
ção e recursos naturais. O Dia Internacional dos Povos Indígenas do Mundo é comemorado em 9 de
agosto de cada ano.

Na maior parte da Oceania, os povos indígenas superam os descendentes de colonos. As exceções


incluem Austrália, Nova Zelândia e Havaí. De acordo com o censo de 2013, os Maoris da Nova Zelân-
dia representam 14,9% da população da Nova Zelândia, e menos da metade (46,5%) de todos os
residentes Maoris se identificam apenas como Maoris.

Os Maori são indígenas da Polinésia e se estabeleceram na Nova Zelândia há relativamente pouco


tempo, com migrações que se acredita ter ocorrido no século XIII. Na Nova Zelândia, os grupos Maori
pré-contato não se viam necessariamente como um só povo, portanto, agrupar-se em arranjos tribais
(iwi) tornou-se um arranjo mais formal em tempos mais recentes. Muitos líderes nacionais Maori assi-
naram um tratado com os britânicos, o Tratado de Waitangi (1840), visto em alguns círculos como
formando a moderna entidade geopolítica que é a Nova Zelândia.

A maioria da população de Papua Nova Guiné (PNG) é indígena, com mais de 700 nacionalidades
diferentes reconhecidas em uma população total de 8 milhões.] A constituição e os principais estatutos
do país identificam as práticas tradicionais ou costumeiras e a posse da terra, e são explicitamente
estabelecidos para promover a viabilidade dessas sociedades tradicionais no estado moderno. No en-
tanto, conflitos e disputas sobre o uso da terra e os direitos aos recursos continuam entre os grupos
indígenas, o governo e entidades corporativas.

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OS POVOS INDÍGENAS

Austrália

Aborígenes australianos em foto de 1939

Na Austrália, as populações indígenas são os povos aborígenes australianos (compreendendo muitas


nações e tribos diferentes) e os povos das ilhas do Estreito de Torres (também com subgrupos). Esses
grupos costumam ser chamados de australianos indígenas.

Os aborígenes australianos formam uma população, assim como os grupos indígenas, que foi vítima
de massacres pelos colonizadores e discriminados por parte da população dita civilizada. Os coloniza-
dores ingleses foram os principais responsáveis pelos massacres das comunidades indígenas austra-
lianas.

Soldados ingleses aproximavam-se das aldeias e ofereciam agrados para a população local. Entre-
tanto, outros soldados envenenavam com arsênio a água e os alimentos dessa população. Vários abo-
rígenes morreram em consequência do envenenamento causado por esse elemento químico. Atual-
mente os aborígenes correspondem a 1% da população australiana.

América

Os povos indígenas do continente americano são amplamente reconhecidos como aqueles grupos e
seus descendentes que habitavam a região antes da chegada dos colonizadores europeus (ou seja,
pré-colombianos). Os povos indígenas que mantêm ou procuram manter modos de vida tradicionais
são encontrados desde o alto Ártico ao norte até os extremos meridionais da Terra do Fogo.

Quando os europeus chegaram ao continente americano no século XV o continente era habitado por
centenas de etnias nativas. Durante o processo de colonização, as populações nativas foram escravi-
zadas embora o impacto das doenças tenha implicado na diminuição significativa da população indí-
gena.

Os impactos da colonização europeia histórica e contínua das Américas sobre as comunidades indíge-
nas geralmente foram bastante severos, com muitas autoridades estimando faixas de declínio popula-
cional significativo principalmente devido a doenças, roubo de terras e violência. Vários povos foram
extintos ou quase extintos. Mas existem e existem muitas nações e comunidades indígenas prósperas
e resilientes.

O Caçador De Escravos De Jean-Baptiste Debret.

A presença dos índios no território brasileiro é de cerca de 12 000 anos anterior ao processo de ocu-
pação estabelecido pelos colonizadores que chegaram no território onde é o atual Brasil.

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OS POVOS INDÍGENAS

Segundo estimativas de alguns documentos feitos na atualidade, a população indígena brasileira vari-
ava entre três e cinco milhões de habitantes indígenas. Nessa vasta população, havia a presença de
etnias de diferentes filiações linguísticas, entre as quais podem-se citar os panos, caribes, tupi-guara-
nis, jês e outros.

Aponta-se para uma tendência do índio passar a viver em cidades para poder estudar e ter acesso a
outros recursos. Com isso há o risco de favelização diante das dificuldades para se manter no meio
urbano.

Reservas Indígenas No Brasil

Como o próprio nome diz, Reservas Indígenas no Brasil, são áreas federais reservadas para a utiliza-
ção dos indígenas brasileiros para servir-lhes como meio de subsistência. Essas áreas são importantes
para conservação cultural brasileira. Em 2008, as áreas de reservas destinadas a grupos de indígenas
no Brasil ocupavam cerca de 12,5% do território nacional.

Europa

Na Europa, a maioria dos grupos étnicos são nativos da região no sentido de tê-la ocupado por muitos
séculos ou milênios. No entanto, as populações indígenas atuais, conforme reconhecido pela definição
da ONU, são relativamente poucas e estão confinadas principalmente ao Norte e Extremo Oriente.

Populações de minorias indígenas notáveis na Europa que são reconhecidas pela ONU incluem os
povos fino-úgricas nenets, samoiedos e Komi do norte da Rússia; Circassianos do sul da Rússia e do
norte do Cáucaso; Tártaros da Crimeia na Ucrânia; e os povos Sámi do norte da Noruega, Suécia e
Finlândia e noroeste da Rússia (em uma área também conhecida como Sápmi).[18]

O impacto da conquista russa da Sibéria foi significativo. A conquista russa da Sibéria foi acompanhada
de massacres devido à resistência indígena à colonização pelos cossacos russos. Nas mãos de figuras
como Vasilii Poyarkov em 1645 e Yerofei Khabarov em 1650, alguns povos como os Daur foram mas-
sacrados pelos russos. 8 000 dos 20 000 habitantes de Kamchatka permaneceram após meio século
de massacre pelos cossacos.

Em 1864, o evento conhecido como Genocídio Circassiano ocorreu onde de 1 milhão a 1,5 milhão
de circassianos foram mortos e outro milhão foi deportado.

Durante o século XX, haveria vários episódios de genocídio contra as minorias indígenas como parte
das políticas de limpeza étnica. O Império Otomano cometeria genocídios contra as minorias armê-
nias, assírias e gregas em seu território.

Na Alemanha nazista, programas de extermínio seriam realizados contra judeus (Holocausto) e ciga-
nos (Porajmos), os poloneses eram considerados racialmente inferiores, então uma campanha de des-
truição da identidade cultural polonesa foi iniciada, além de substituir a população indígena polonesa
por colonizadores alemães.

Na União Soviética, foi feita uma tentativa de destruir a população indígena ucraniana por meio do ho-
lodomor, termo polêmico até hoje, e foram estabelecidos programas de transferência populacional que
afetaram as populações Vainakh (Operação Lentil, durante o qual nomes locais na Chechênia e na
Ingushetia foram substituídos por outros russos; mesquitas e cemitérios foram destruídos, e uma cam-
panha massiva queimou incontáveis manuscritos, livros e patrimônio inestimável no estilo histórico de
Nakh) e os povos bálticos (Operação Priboi)

África

No período pós-colonial, o conceito de povos indígenas específicos dentro do continente africano ga-
nhou maior aceitação, embora não sem controvérsia. Os diversos e numerosos grupos étnicos que
constituem a maioria dos Estados africanos independentes modernos contêm em si vários povos cujo
status, culturas e estilos de vida de pastoreio ou caçador-coletor são geralmente marginalizados e iso-
lados das estruturas políticas e econômicas. dominante da nação. Desde o final do século XX, esses
povos têm buscado cada vez mais o reconhecimento de seus direitos como povos indígenas distintos,
tanto em contextos nacionais como internacionais.

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OS POVOS INDÍGENAS

Ásia

O povo Nivkh é um grupo étnico indígena Sakhalin, que tem alguns falantes da língua Nivkh, mas sua
cultura pesqueira está em perigo devido ao desenvolvimento do campo de petróleo Sakhalin a partir
dos anos 1990.

Na Indonésia, existem entre 50 e 70 milhões de pessoas que são classificadas como povos indígenas.
No entanto, o governo indonésio não reconhece a existência de povos indígenas, classificando todos
os grupos étnicos indonésios nativos como "indígenas", apesar das claras distinções culturais de certos
grupos.

Nas Filipinas, existem 135 grupos etnolingüísticos, a maioria dos quais são considerados povos indí-
genas pelos principais grupos étnicos indígenas do país. Os povos indígenas da região administrativa
da Cordilheira e do Vale Cagayan nas Filipinas são os Igorot.

Os povos indígenas de Mindanau são os povos Lumad e Moro (Tausug, Maguindanao Maranao e ou-
tros) que também vivem no Arquipélago de Sulu. Existem também outros grupos de povos indígenas
em Palawan, Mindoro, Visayas e no resto do centro e sul de Luzon. O país possui uma das maiores
populações indígenas do mundo.

Em Mianmar, os povos indígenas incluem Shan, Karen, Rakhine, Karenni, Chin, Kachin e Mon. Porém,
há mais etnias consideradas indígenas, por exemplo, os Akha, Lisu, Lahu ou Mru, entre outros.

A Diversidade Cultural Dos Povos Indígenas

Estima-se a existência de cerca de 200 sociedades indígenas no Brasil. O número exato não pode ser
estabelecido, na medida em que existem grupos indígenas que vivem de forma autônoma, não man-
tendo contato regular com a sociedade nacional.

Os dados demográficos das sociedades indígenas de hoje devem ser interpretados à luz do processo
histórico, considerando as formas de contato que cada grupo tem mantido com a sociedade nacional,
os efeitos das epidemias e os confrontos que tiveram com as frentes de expansão.

A população dessas sociedades é muito variável, havendo grupos relativamente numerosos como os
Tikuna (20 mil), Guarani (30 mil ), Kaingaing (20 mil ), Yanomami (10 mil ) e outros como os Ava-
Canoeiros, cuja população atual é de apenas 14 pessoas, o que implica que essa sociedade se encon-
tra seriamente ameaçada de desaparecer.

As sociedades indígenas são muito diferenciadas entre si e, normalmente, essas diferenças não podem
ser explicadas apenas em decorrência de fatores ecológicos ou razões econômicas.
Na década de 50, numa tentativa pioneira de caracterizar as semelhanças e diferenças existentes entre
os diversos grupos indígenas brasileiros, o antropologo Eduardo Galvão desenvolveu o conceito de
áreas culturais.

Esse conceito procurou agrupar todas as culturas de uma mesma região geográfica que partilhavam
um certo número de elementos em comum.

Assim, os grupos indígenas do Brasil foram classificados em 11 áreas culturais: Norte-Amazônica; Ju-
ruá-Purus; Guaporé; Tapajós-Madeira; Alto-Xingu; Tocantins-Xingu; Pindaré-Gurupi; Paraná; Paraguai;
Nordeste e Tietê-Uruguai.

A área cultural do Alto-Xingu, por exemplo, adquiriu sua conformação geográfica a partir da observação
de certos costumes comuns e específicos à maioria dos grupos indígenas da região.

Entre esses costumes, destacam-se: a festa dos mortos, também conhecida como Kuarup; o uso ceri-
monial do propulsor de dardos; o uluri, acessório da indumentária feminina; as casas de projeção ova-
lada e tetos-parede em ogiva e o consumo da mandioca como base da alimentação desses grupos.

Decorridos quase 50 anos do estudo de Galvão, permanece a idéia, como recurso didático, de distribuir
as sociedades indígenas em áreas, chamando atenção para suas características específicas e, ao

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OS POVOS INDÍGENAS

Considerando o fato de que várias sociedades indígenas se situam em região de fronteira e que circu-
lam pelos países limítrofes ao Brasil- onde vivem parentes e outros grupos com os quais se relacionam,
uma nova configuração classificatória para as sociedades indígenas vem sendo proposta pelo antro-
pólogo Julio Cesar Melatti - as áreas etnográficas - que se estende para toda a América do Sul.

Para a definição das áreas etnográficas foram consideradas, sobretudo, as seguintes questões: a clas-
sificação lingüística, o meio ambiente e o contato das sociedades indígenas entre si e com as socieda-
des nacionais.

A classificação lingüística é importante na medida em que existe um fundo cultural comum às socieda-
des que falam línguas relacionadas, fazendo supor que sejam oriundas de uma única sociedade ante-
rior, mais remota no tempo. Por essa concepção foram estabelecidas 33 áreas etnográficas para toda
a América do Sul.

Atualmente, há cerca de 7 mil línguas faladas em todo o planeta!

A maior parte dessas línguas é falada pelos povos indígenas.

Você sabia que um número grande de idiomas está correndo risco de desaparecer?

Cerca de 2680 estão ameaçados! Se as línguas deixam de existir, desaparecem com elas os sistemas
de conhecimento que fazem parte do que chamamos de diversidade cultural. A língua é um dos ele-
mentos mais importantes da cultura de um povo.

A situação das línguas indígenas é um reflexo de como viveram e vivem os seus falantes. Se os idiomas
indígenas estão hoje ameaçados é porque a vida dos povos indígenas e os seus direitos não têm sido
respeitados pelos Estados e sociedades não indígenas.

Um dos direitos humanos mais fundamentais é o direito de falar em seu próprio idioma. Em muitas
regiões do mundo, esse direito não foi garantido aos povos indígenas.

No passado e no presente, muitos governos tentaram acabar com as línguas indígenas proibindo o seu
uso, como aconteceu nas Américas durante a colonização. Ainda hoje, há países não reconhecem a
existência de povos indígenas em seus territórios.

Isto quer dizer que não reconhecem os direitos humanos básicos destas populações, entre eles, o
direito de ser diferente e viver segundo suas próprias tradições culturais.

Infelizmente, ainda é muito comum que pessoas sejam discriminadas por falarem línguas indígenas.
Por causa disso, muitos pais estimulam seus filhos a falarem somente as línguas oficiais do país para
poupá-los de sofrimento e violência e, pouco a pouco, deixam de se expressar no idioma indígena,
desvalorizando-o.

Diversidade Linguística No Brasil

No Brasil, existem cerca de 180 línguas indígenas. Essa riqueza cultural e linguística é desconhecida
pela maior parte dos brasileiros que vê o Brasil como um país monolíngue, isto é, que fala somente
uma língua. Mas o Brasil é um dos dez países mais multilíngues do mundo!

Uma iniciativa importante para valorizar a riqueza linguística no país está sendo realizada pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O Instituto criou o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) que tem como objetivo identi-
ficar, documentar, reconhecer e valorizar as línguas faladas pelos diferentes povos que vivem no Brasil.

2019: Ano Internacional Das Línguas Indígenas

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) declarou 2019 Ano
Internacional das Línguas Indígenas.

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OS POVOS INDÍGENAS

A ideia é alertar os governantes e as sociedades em todo o mundo sobre a necessidade de valorizar


os idiomas falados pelos povos indígenas e para isso é preciso que os países conheçam essa diversi-
dade linguística e promovam os direitos linguísticos aos povos.

Diversidade Linguística na Terra Indígena Yanomami

Na maior Terra Indígena no Brasil, a Terra Indígena Yanomami, localizada nos estados do Amazonas
e Roraima, vive um dos grupos mais importantes para o patrimônio linguístico nacional: os Yanomami.

Lá são faladas seis línguas: yanomamɨ, sanöma, ninam, yanomam, ỹaroamë, yãnoma.

O Iphan apoiou um projeto do ISA em parceria com a Hutukara Associação Yanomami que teve como
objetivo fortalecer as línguas da família linguística faladas pelos Yanomami. Este projeto estudou a vi-
talidade desses idiomas e para descobrir isso buscou responder perguntas como:

As línguas estão sendo transmitidas entre as gerações?

Qual o número de falantes?

Em que momento são usadas?

São ensinadas na escola?

São usadas nos postos de saúde que existem nas aldeias?

Existem materiais escolares feitos nas línguas indígenas?

Este estudo sobre as línguas da família linguística yanomami revelou que quase todas as crianças
yanomami (99%) começam a aprender as suas línguas antes do português.

Outra boa notícia é que nas escolas da Terra Indígena Yanomami os professores são todos falantes
de línguas yanomami e fazem uso de sua língua de origem nas atividades escolares.

A língua yanomami mais falada no Brasil é o yanomam e tem cerca 11.700 falantes, número alto se
comparado com outras línguas indígenas faladas hoje no país.

O estudo também mostrou que as línguas yanomami mais ameaçadas são aquelas faladas por indíge-
nas que vivem muito próximos de vilas, projetos de assentamentos e acampamentos de garimpeiros.
A convivência mais intensa com os não indígenas está ameaçando a vitalidade de idiomas como o ni-
nam, ỹaroamë e yãnoma. Há muitas maneiras de fortalecer as línguas yanomami, uma delas é produzir
materiais didáticos nessas línguas e garantir que sejam ensinadas nas escolas.

Entre os fenômenos demográficos relacionados à população indígena que estão a exigir aprofunda-
mento e detalhamento de análise encontra-se a migração, especialmente a que se dá em direção às
cidades.

Os processos migratórios constituem fenômenos ainda pouco estudados, embora estejam se tornando
cada vez mais frequentes, como decorrência, entre outros fatores, da absorção do indígena nos mer-
cados regionais, dos conflitos por terra e da insuficiente infraestrutura e disponibilidade de serviços
essenciais (como os de saúde e educação) nas terras indígenas (Coimbra Jr.; Santos, 2000, p.3).

Ainda mais escassos são os estudos demográficos sobre o tema, com base, geralmente, em dados
censitários ou coletados em levantamentos específicos de campo, a maioria dos quais realizados a
partir do ano 2000. Enquadram-se nessa linha os trabalhos que tratam especificamente da migração
indígena ou que a abordam em contexto mais amplo (Coimbra Jr.; Santos, 2000; Pereira; Azevedo,
2004; Pereira et al., 2005; Teixeira, 2005; Brasil, 2006; Oliveira, 2008, Teixeira; Sena, 2008; Pinho;
Campos, 2008; Dias Júnior et al.; Mainbourg et al., 2008).

Embora constituam fonte obrigatória para o estudo da migração indígena, os dois últimos censos de-
mográficos brasileiros (1991 e 2000) apresentam limitações que devem ser tomadas em consideração
cada vez que se aborde o assunto. A principal delas é a dificuldade de se trabalhar com pequenos
números, especialmente para unidades menores de análise, como municípios ou bairros, áreas urba-
nas ou rurais, já que a população indígena representa somente 0,4% do total brasileiro.

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OS POVOS INDÍGENAS

O caráter amostral das informações levantadas restringe a análise de importantes variáveis apenas
aos agrupamentos indígenas mais significativos demograficamente, seja em área urbana ou rural. As-
sim, por exemplo, para as variáveis relacionadas à migração, a análise deve-se limitar aos dados es-
taduais, metropolitanos, macro ou microrregionais, ou aos referentes aos municípios com maior con-
centração de indígenas.

Alguns levantamentos demográficos e participativos de caráter censitário, com quesitos relacionados à


migração, têm sido realizados junto a populações indígenas específicas da Amazônia. No estado do
Amazonas, a Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) e o Instituto Sócio-
Ambiental (ISA) realizaram um recenseamento nas terras indígenas do Alto Rio Negro, em 1992, e
outro em 2006, na cidade de São Gabriel da Cachoeira, na mesma região (Azevedo, 1994, 2006).

Em 2003, um censo demográfico1 foi realizado nas comunidades de residência do povo Sateré-Mawé
(Terra Indígena Andirá-Marau) e em cidades próximas, todas no Amazonas, numa associação entre
instituições governamentais, organizações indígenas e agências das Nações Unidas (Teixeira, 2005).

Mais recentemente (2007), no âmbito de uma pesquisa amostral da FIOCRUZ sobre o acesso da po-
pulação indígena de Manaus ao Sistema Único de Saúde (SUS),2 alguns quesitos sobre migração
foram incluídos no formulário do levantamento (Mainbourg et al., 2008). Os Sateré-Mawé, povo indí-
gena ao qual se refere o presente estudo, constituem importante contingente dos imigrantes indígenas
de Manaus.

O objetivo do presente trabalho é estudar, sob o enfoque demográfico, a migração dos Sateré-Mawé
para as cidades próximas da Terra Indígena Andirá-Marau e para a capital amazonense, com base nas
informações obtidas nos dois últimos levantamentos mencionados.

Dois contextos migratórios que abrangem o povo indígena Sateré-Mawé serão enfocados, individual e
comparativamente, como forma de se procurar entender a migração indígena para curtas e longas
distâncias.

Num primeiro momento, serão estudadas algumas características dos fluxos migratórios que, a partir
das terras indígenas de origem desse povo, destinam-se a quatro cidades situadas nas proximidades
daquelas terras, nos mesmos municípios onde elas se situam O estudo utiliza informações quantitativas
a respeito da intensidade da migração, da distribuição por sexo e idade dos migrantes, das suas causas
e do tempo de residência na cidade de destino. Como tais fatores podem estar associados entre si, as
informações são cruzadas para a análise, quando necessário.

Para o estudo desse processo migratório com destino a cidades interioranas, serão utilizadas informa-
ções obtidas em levantamento censitário realizado em 2002 e 20033 (Teixeira, 2005), nas cidades de
Parintins, Barreirinha, Maués e Nova Olinda do Norte.

A pesquisa teve como entrevistadores professores e estudantes indígenas. Foi aplicada a técnica do
tipo "bola-de-neve", em que os próprios entrevistados indicavam outras pessoas e famílias a serem
visitadas. Acredita-se que, com algumas exceções, a totalidade dos Sateré-Mawé residentes nessas
cidades foi coberta pelo levantamento.

Quesitos sobre habitação, demografia, saúde, educação, idioma escrito e falado, emprego e renda
compuseram o formulário da pesquisa. Os quesitos do componente demográfico do formulário contem-
plavam vários aspectos do processo migratório, como local de nascimento, residências anteriores, con-
dição de nascimento ou não em terra indígena, município e estado de nascimento e de residência
anterior, tempo de residência na cidade de moradia atual e motivos da migração. Os quesitos sobre
migração destinaram-se a moradores com idade igual ou superior a 10 anos.

Um artigo publicado nos Anais do XVI Encontro Brasileiro de Estudos Populacionais, em 2008, com
base no Levantamento Sócio-Demográfico Participativo de 2002/2003, aborda os deslocamentos no
interior da Terra Indígena Andirá-Marau e para as cidades interioranas próximas (Teixeira, 2008).

É retomado aqui, com as modificações devidas, o capítulo do referido artigo que aborda a migração
para aquelas cidades.

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OS POVOS INDÍGENAS

Outro contexto migratório estudado refere-se à cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas.
Aqui, também, a migração é analisada segundo as características já abordadas nas cidades interiora-
nas, vizinhas das terras dos Sateré-Mawé. A análise será complementada com estudos comparativos,
de um lado, dos migrantes sateré-mawé com os pertencentes a outros povos indígenas moradores da
capital e, de outro, dos migrantes sateré-mawé de Manaus com os que se destinam àquelas outras
cidades.

A análise da migração dos Sateré-Mawé para a cidade de Manaus tem como base quantitativa uma
pesquisa amostral realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) em 2007 (Mainbourg et al.,
2008). Trata-se de um estudo que compara o atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) em Manaus às populações indígenas e não-indígenas.

A pesquisa baseia-se em levantamento amostral de 753 indígenas de 47 etnias quase todas originárias
do estado do Amazonas e 874 não-indígenas, tendo como entrevistadores professores e estudantes
indígenas do município de Manaus, indicados pelas correspondentes associações de moradores indí-
genas.

Como subsídio à análise dos dados a respeito do atendimento à saúde dos entrevistados, o formulário
da pesquisa de campo incluiu vários quesitos sobre a condição sociodemográfica dos moradores. Da
mesma forma que no levantamento sobre a migração em direção a cidades interioranas (Mainbourg et
al., 2008), foram entrevistados indígenas com 10 anos ou mais, e os quesitos sobre a migração levan-
taram informações sobre condição de naturalidade, município e estado de nascimento e de última mo-
radia, tempo de residência no município e motivo da migração.

Localização Geográfica Da População Sateré-Mawé

A quase totalidade do território dos Sateré-Mawé é composta pela Terra Indígena Andirá-Marau, que
está situada na divisa dos estados do Amazonas e Pará. O seu processo de demarcação foi iniciado
em 1978, sendo interrompido por dois anos, período caracterizado por várias ameaças de invasão.

Destaca-se, entre elas, o projeto de construção da estrada que liga Maués a Itaituba, que cortaria a
terra indígena ao meio, e a prospecção de petróleo protagonizada pela empresa petrolífera fran-
cesa Elf-Aquitaine.

A demarcação foi finalmente oficializada em 1982 e homologada em 1986 (Teixeira, 2005). Posterior-
mente, ocorreram penetrações esporádicas de garimpeiros e de posseiros moradores dos limites fron-
teiriços da Terra Indígena.

Atualmente, o risco de invasão do território Sateré-Mawé está de volta por conta de grileiros ligados ao
agronegócio no município de Itaituba (PA), onde se encontram várias aldeias da Terra Indígena Andirá-
Marau.

Uma parcela reduzida do povo Sateré-Mawé reside numa aldeia situada na Terra Indígena Koatá-La-
ranjal, do povo Munduruku, no município de Borba (AM), a uma centena de quilômetros do Andirá-
Marau. Três famílias de migrantes dessa aldeia moram na cidade de Nova Olinda do Norte, situada no
município de mesmo nome, e bastante próxima à referida comunidade.

Em 2003, por ocasião da pesquisa de campo referente ao Levantamento Sócio-Demográfico Participa-


tivo (Teixeira, 2005), a população Sateré-Mawé que residia em área indígena e nas cidades de Barrei-
rinha, Maués, Parintins Nova Olinda do Norte e Manaus chegava a, aproximadamente, 9.000 habitan-
tes.

No Andirá-Marau havia 91 aldeias distribuídas ao longo dos principais rios e igarapés que cortam a
terra dos Sateré-Mawé e onde viviam, em exatamente 1.500 domicílios, 7.375 habitantes. A área mais
povoada do Andirá-Marau localiza-se ao longo do Rio Andirá e seus principais tributários, no município
de Barreirinha, onde existem 50 aldeias.

Segunda área em população, a região banhada pelos rios Marau, Urupadi e Miriti, com 37 aldeias,
localiza-se nos municípios de Maués (AM) e Itaituba (PA).

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OS POVOS INDÍGENAS

Num patamar demográfico mais reduzido está a área do rio Uaicurapá, no município de Parintins, com
quatro aldeias. A aldeia situada na Terra Indígena Koatá-Laranjal possui 31 residências, com 127 mo-
radores (Tabela 1).

Dentre as cidades situadas na vizinhança da área indígena, a mais habitada pelos Sateré-Mawé é
Parintins, importante centro urbano do Amazonas e onde se concentram o comércio e os serviços mais
dinâmicos do leste do estado. Barreirinha vem em seguida, com pouco mais da metade da população
Sateré-Mawé de Parintins.

Por sua vez, apenas três domicílios são habitados pelos Sateré-Mawé na cidade de Nova Olinda do
Norte, próxima a uma aldeia desse povo situada em terra Munduruku. Essa reduzida população reflete
a exiguidade demográfica da aldeia em questão, que tem apenas 127 habitantes.

Em Manaus, capital do estado do Amazonas, vive uma expressiva quantidade de Sateré-Mawé, com-
posta por migrantes, seus filhos e netos. A chegada dos primeiros migrantes à cidade deu-se, prova-
velmente, como consequência da implantação da Zona Franca de Manaus, em 1967, conforme se verá
mais adiante.

Embora difícil de quantificar, observa-se um contingente não-negligenciável de Sateré-Mawé em áreas


rurais próximas à Terra Indígena Andirá-Marau. Trata-se de famílias que, apesar de manterem vínculos
culturais e sociais com a terra de origem, optaram por viver em suas proximidades.

Os dados disponibilizados do censo demográfico não permitem distinguir numericamente indígenas


moradores das terras indígenas dos que habitam na zona rural, razão pela qual o número de 300 resi-
dentes em áreas rurais, mostrados na Tabela 1, resulta de uma estimativa feita pelos autores, a qual
teve como parâmetro o total de migrantes residentes nas cidades próximas às terras indígenas e nas-
cidos nas áreas rurais vizinhas.

Os elementos básicos de determinação dos deslocamentos da população indígena para as cidades


amazônicas no Século XX devem ser procurados no contexto histórico em que se deram as transfor-
mações sociais e econômicas no Brasil, especialmente a partir dos anos cinquenta, com consequências
nas áreas rurais e indígenas da Amazônia.

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OS POVOS INDÍGENAS

Ocorrendo de forma simultânea ao processo de urbanização, o progresso técnico e o desenvolvimento


dos transportes facilitaram a comunicação entre as pessoas e as instituições, promovendo as condi-
ções econômicas, operacionais e ideológicas que permitiram a transferência de milhões de brasileiros
das áreas rurais para as cidades próximas e, dessas, para as aglomerações urbanas de grande porte,
ou diretamente da zona rural para as cidades de médio e grande porte.

Com o correr do tempo, as transformações que ocorriam no país passaram a ter reflexos no cotidiano
da população indígena. Grande parte dela, ou por não ter legalizada a terra em que vivia, não possuir
meios de nela sobreviver, não desfrutar condignamente de serviços sociais básicos, ou simplesmente
ser atraída pela vida urbana (especialmente os jovens), acabou por migrar para as cidades.

No censo demográfico brasileiro de 2000, mais da metade da população que se declarou indígena vivia
no meio urbano. Na Região Norte, a proporção correspondente era de 23% (IBGE, 2005).

A migração para as cidades próximas das terras indígenas dá-se no âmbito do processo de urbanização
no Brasil, o qual tem caído de intensidade nas áreas mais desenvolvidas, com tendência a reduzir-se
também na Região Norte.

A capital do Amazonas, Manaus, constitui o destino preferido dos migrantes interioranos desse estado,
quando se considera o conjunto da população (indígenas e não-indígenas). De uma maneira geral, a
primeira etapa do processo migratório inicia-se com a mudança da população rural para a área urbana
dos municípios próximos.

Esse fenômeno ocorre também com a migração indígena, mas há especificidades que diferenciam essa
última do processo migratório da população abrangente.

Várias situações podem determinar o movimento migratório dos indígenas em direção aos aglomerados
urbanos, as quais, segundo Baines (2001), vão desde aquelas em que os indígenas são expulsos das
suas terras, até outras situações em que optam pela vida na cidade em decorrência da falta de oportu-
nidades de educação e atendimento adequado de saúde nas suas aldeias. O processo ocorre de for-
mas diversas,

desde o traslado de grupos familiares para bairros onde já há um contingente grande de índios organi-
zados politicamente até casos de migração de indivíduos para a cidade em busca de empregos, trata-
mento de saúde, educação ou um novo estilo de vida (Baines, 2001).

Os condicionantes da migração indígena em direção às cidades têm como aliados importantes o pro-
gresso e a universalização dos meios de comunicação de massa, bem como as facilidades crescentes
de locomoção na área indígena e, dela, em direção à cidade, considerada, cada vez mais, como refe-
rência para a satisfação de necessidades antigas e novas.

A Migração Dos Sateré-Mawé - Da Terra Indígena Para As Cidades Próximas

Cerca de 20% dos Sateré-Mawé vivem fora das terras indígenas (Tabela 1), seja nas cidades e áreas
rurais vizinhas à Terra indígena Andirá-Marau ou em Manaus.

Os determinantes desse significativo deslocamento estão relacionados aos contatos cada vez mais
intensos com a população não-indígena, proporcionados, por sua vez, pelo acesso crescente aos meios
de informação e pela relativa facilidade de locomoção.

Esses fatores determinantes relacionam-se não apenas com as mudanças que ocorreram e ocorrem
na sociedade envolvente, como também com as transformações econômicas, sociais e culturais no
interior das comunidades indígenas, tendo como pano de fundo a degradação das condições de sub-
sistência nos territórios onde elas se situam.

Em dissertação de mestrado sobre as condições de vida dos Sateré-Mawé residentes em Manaus,


Romano afirma que a causa determinante da saída desse povo da área indígena foi a desestruturação
do seu modo de vida tradicional. O autor intenta "trazer elementos para a reflexão sobre os problemas
da etnicidade em áreas urbanas" (Romano, 1982, p.7). Com esse objetivo, procurava descrever as
peculiaridades do processo migratório e da qualidade de vida dos Sateré-Mawé, reconstruir a presença
simbólica do indígena e apreender os mecanismos de identificação étnica, buscando entender como
essa presença simbólica incide sobre sua situação.

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OS POVOS INDÍGENAS

Mensalmente, os assalariados e aposentados Sateré-Mawé, geralmente acompanhados da família, vão


às cidades próximas das aldeias para receber proventos, fazer compras, visitar parentes, consultar o
médico, etc. Os filhos que estudam nessas cidades mantêm vínculo permanente e intenso com suas
famílias, embora alguns acabem não retornando mais à aldeia de origem. Todavia, para todos eles, a
terra que deixam continua sendo sua referência principal, havendo sempre a perspectiva do retorno.

Nas quatro cidades próximas à área indígena, foram recenseados 998 Sateré-Mawé (478 homens e
525 mulheres), dos quais 678 com 10 anos ou mais de idade. Desses últimos, 570, que serão desig-
nados doravante como "migrantes", declararam não ser naturais das cidades em que residiam e cons-
tituirão a população a ser estudada.

Como se observa na Tabela 2, para quase 80% dos migrantes das cidades em foco, o local de nasci-
mento é a terra indígena, mas uma parcela significativa nasceu em áreas rurais próximas àquelas ter-
ras. Um contingente menor declarou ter nascido em outras cidades, especialmente Manaus (12 entre-
vistados).

Estrutura demográfica e motivo da migração

São os jovens e adolescentes especialmente os primeiros que constituem a maioria dos migrantes
Sateré-Mawé que residem nas cidades próximas da terra indígena (Figura 1). Mais de dois terços deles
(71%) têm menos de 25 anos de idade. Todavia, conforme mostra a figura, não obstante a queda
relativa nas faixas etárias a partir dos 25 anos, a proporção de migrantes nessas idades e, mesmo
entre os idosos, ainda é significativa. Isso ocorre porque, na realidade, quase todos os moradores Sa-
teré-Mawé com mais de 30 anos de idade daquelas cidades são migrantes: de 231 moradores nessa
faixa etária, apenas 11 eram naturais delas quando foi realizada a pesquisa entre 2002 e 2003.

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OS POVOS INDÍGENAS

As mulheres são pequena maioria, relativamente aos homens, entre os migrantes (51,4% do total), mas
essa superioridade numérica manifesta-se irregularmente entre os grupos etários (Figura 1). Até os 20
anos, os homens são ligeiramente mais numerosos. A partir daí, as mulheres passam a representar,
em média, 57% dos migrantes.

Não seria temerário deduzir, a partir da observação da figura, que a expressiva participação de adultos
e idosos na população Sateré-Mawé migrante, conforme visto no parágrafo anterior, pode estar relaci-
onada à supremacia feminina nessas idades, para esses efetivos populacionais.

Há uma relação entre a distribuição etária e por sexo dos migrantes Sateré-Mawé e os motivos de
migrar para as cidades próximas da terra indígena. Os dois motivos mais citados nas entrevistas, con-
forme se observa na Tabela 3, são a busca por melhores condições de educação (49% dos migrantes)
e o acompanhamento dos pais em sua mudança de residência (29%).

Uma parcela substancial dos migrantes indígenas costuma deslocar-se juntamente com a própria fa-
mília, e isso ocorre como entre os Sateré-Mawé para que os familiares mais jovens ingressem nas
escolas situadas em área urbana.

A migração familiar por motivos educacionais realça a importância que os pais dão à continuidade da
escolarização dos filhos, bastante reduzida na terra indígena (na época da pesquisa de campo, apenas
uma escola oferecia nível de ensino acima da Quarta Série do Fundamental).

Os resultados do Diagnóstico Sócio-demográfico Participativo (Teixeira, 2005) indicam que uma quan-
tidade significativa de adolescentes e jovens Sateré-Mawé que migram para estudar o fazem desacom-
panhados de suas famílias.

Ali, hospedam-se em residência de parentes ou, em alguns casos, na "Casa do Estudante Indígena",
como a que existe na cidade de Maués. Tal situação, para as famílias desses jovens, parece estar
relacionada à falta de condições financeiras, às dificuldades de instalação, adaptação e sobrevivência
do grupo familiar na cidade, ao apego à terra ancestral ou, ainda, à necessidade objetiva da família de
continuar morando na terra indígena, condicionada por fatores econômicos, sociais ou políticos.

Os dados deixam transparecer uma diferenciação entre os motivos de migrar dos homens e mulheres
Sateré-Mawé. A transferência de trabalho, por exemplo, mesmo sendo citada por poucas pessoas
como motivo da migração, é uma característica basicamente masculina.

Entre os 28 funcionários públicos indígenas residentes nessas cidades (em igual número de homens e
mulheres), há seis migrantes, todos homens, que se mudaram por motivo de transferência de trabalho.
Nenhuma mulher do serviço público o fez pelo mesmo motivo. Por outro lado, a migração motivada
pela procura de trabalho (citada por apenas 4% dos migrantes) constitui uma prerrogativa majoritária
das mulheres jovens (entre10 e 29 anos).

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OS POVOS INDÍGENAS

Entre as migrantes dessa faixa etária, 10 alegaram a procura de trabalho como motivo de migrar, o que
não foi citado por nenhum homem dessa mesma faixa. A partir de 30 anos de idade, há igualdade
numérica para homens e mulheres que migraram por esse motivo.5

É diferente quando se considera a migração motivada pela procura de melhores condições de educa-
ção. Até os 29 anos de idade, são os homens que constituem maioria dos que declararam essa causa.
Eles são 104, contra 78 mulheres nessa situação.

A partir da idade de 30 anos,6 quando cai sensivelmente o número de migrantes que se mudaram para
a cidade à procura de educação escolar, as mulheres que indicaram esse motivo para sua migração
passam a ser numericamente superiores aos homens, como mostra a Tabela 3.

Não existem evidências que expliquem satisfatoriamente esse comportamento da migração por sexo,
mas é provável que, na concepção da família, o rapaz adapte-se mais facilmente que a jovem a um
ambiente desconhecido e adverso, em muitos sentidos. Talvez, justamente por não terem a oportuni-
dade de se mudar para a cidade quando jovens, muitas mulheres o fazem mais tarde e em maior
número que os homens.

Os dados disponíveis mostram que as causas da migração dos Sateré-Mawé para as cidades, por
idade e sexo dos migrantes, não se modificaram substancialmente no decorrer do tempo. Nos 10 anos
antes pesquisa de campo, elas mantiveram-se praticamente as mesmas que as verificadas em perío-
dos anteriores.

Mesmo para os mais idosos (50 anos ou mais), os motivos da migração não parecem diferenciar-se
significativamente dos que foram declarados por os migrantes das demais faixas etárias. No entanto, a
quantidade reduzida de migrantes idosos não permite avançar hipóteses confiáveis dos motivos que
os levaram a procurar a vida urbana.

Em especial, os movimentos migratórios causados pela procura de melhores condições de ensino pa-
recem manter, no conjunto dos motivos de migrar dos Sateré-Mawé, a mesma relevância no decorrer
do tempo.

Tempo De Residência Nas Cidades

As cidades de Parintins e Barreirinha são os destinos da maior parte dos migrantes nascidos na Terra
Indígena Andirá-Marau e da quase totalidade dos nascidos especificamente na área do Andirá, um dos
três componentes daquela terra indígena (as outras áreas são o Marau e o Uaicurapá). Isso ocorre
devido à pouca distância que separa o Rio Andirá daquelas duas cidades. Já a cidade de Maués, sede
do município banhado pelo Rio Marau, constitui a referência geográfica urbana principal para os Sateré-
Mawé residentes na bacia desse rio.

Considerando-se os dados disponibilizados pelo Diagnóstico Sócio-Demográfico Participativo, é relati-


vamente recente a migração com destino às cidades próximas das terras habitadas pelos Sateré-Mawé.

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OS POVOS INDÍGENAS

De fato, em 2003, 67,2% dos migrantes moravam nessas cidades havia menos de 10 anos e, desses,
dois terços tinham menos de cinco anos de residência. Conforme as indicações fornecidas pelos dados
levantados, o destino anterior dos fluxos migratórios concentrava-se quase exclusivamente em Barrei-
rinha e Parintins, tendo sido depois redirecionado, em grande parte, para Maués.

Excetuando-se Nova Olinda do Norte (que tem um total de apenas 10 moradores Sateré-Mawé), Maués
é a cidade com a maior proporção (92%) de migrantes na população com 10 anos ou mais de idade,
isto é, a população Sateré-Mawé que ali reside com exceção das crianças – é constituída praticamente
por migrantes.

Com a devida cautela, pode-se inferir que a migração em maior escala dos Sateré-Mawé em direção
às cidades próximas às terras indígenas se tenha iniciado aproximadamente 30 anos antes da realiza-
ção do Diagnóstico Sócio-Demográfico Participativo (Teixeira, 2005).

Isso porque 90% dos naturais dessas cidades têm idade acima de 30 anos,8 isto é, nasceram a partir
dos primeiros anos da década de setenta, o que sugere que os migrantes (pais dos naturais) mais
antigos teriam, em sua grande maioria, pouco mais de 30 anos de moradia.

Além de indicar uma perda de população da área do Marau para a cidade de Maués, os dados dispo-
níveis (Tabela 5) mostram uma perda ainda maior da área do Andirá, devido à migração para Parintins
e Barreirinha, mas não apenas para essas duas cidades.

Os Sateré-Mawé do Andirá povoaram a área do Rio Uaicurapá e a aldeia Sateré-Mawé situada no


Koatá-Laranjal, além de se terem estabelecido, em grande número, em Manaus, capital do Amazonas.
Os moradores das cidades vizinhas e das áreas do Uaicurapá e do Koatá-Laranjal receberam 556
migrantes do Andirá e 291 do Marau.

Apenas de Ponta Alegre, aldeia do Andirá, saíram 69 dos 160 imigrantes de Barreirinha e 168 dos 296
de Parintins. A soma desses dois valores representava 60% dos 397 moradores da referida comuni-
dade em 2003. Caso se considere apenas a população com idades entre 10 a 49 anos, o número de
migrantes que deixou Ponta Alegre será bem superior à respectiva população (237 migrantes para 199
moradores na faixa etária).

Localizada no coração do estado do Amazonas, a cidade de Manaus constitui a principal referência


urbana para a maioria dos migrantes indígenas e não-indígenas desse estado e, inclusive, no caso
específico dos primeiros, por ter o estado de Amazonas o maior contingente de indígenas do país.

Cidade cuja população superou um milhão e seiscentos mil habitantes em 2007,9 Manaus tornou-se,
a partir de 1970, quando tinha menos de 300 mil habitantes, o destino escolhido por expressivos fluxos
de migrantes do interior e de outros estados da Federação, especialmente das regiões Norte e Nor-
deste. Contando com um parque industrial moderno e dinâmico, fruto dos subsídios da Zona Franca
de Manaus, apresenta intensa atividade no comércio e nos serviços, cujos empregos são disputados
por naturais e migrantes.

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OS POVOS INDÍGENAS

Sua população indígena, de quase oito mil habitantes em 2000 e estimada atualmente em pouco mais
de 10 mil,10 é composta, em grande maioria, por migrantes provenientes das terras indígenas do es-
tado do Amazonas e por seus filhos.

Foi nas décadas imediatamente anteriores a 1990 que chegou a Manaus a maioria dos migrantes da
cidade. Os anos setenta e oitenta presenciaram um crescimento populacional da cidade extraordinário
e inédito, com uma média anual de aproximadamente 6,5%. Remonta a vários séculos o movimento
migratório indígena em direção a Manaus, o qual se intensificou durante o ciclo da borracha (séculos
XIX e XX).

No entanto, foi a partir da criação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) que a
migração tornou-se um movimento contínuo. Segundo depoimento de um líder indígena do Alto Rio
Negro (estado do Amazonas), a propaganda governamental da época apregoava que os indígenas
poderiam ter uma vida melhor trabalhando na cidade (Barretto, 2002).

Os indígenas residentes em Manaus provêm de todo o interior do estado e representam a grande mai-
oria das etnias amazonenses. Não há dados globais confiáveis a respeito da repartição étnica dos
indígenas que migraram para Manaus, mas sabe-se que eles são originários das terras indígenas de
maior concentração populacional, entre as quais se sobressaem as que se situam no Alto Rio Negro e
no Alto Solimões.

O levantamento estatístico que doravante abordaremos indica que, entre as etnias mais presentes na
cidade, encontram-se os Ticuna e Cokama, do Alto Solimões, os Tucano, Baré, Dessana e Tariano, do
Alto Rio Negro e os Sateré-Mawé, do Médio Amazonas.

De uma forma geral, a dimensão e a intensidade dos fluxos migratórios de cada etnia para Manaus
dependem tanto de seu volume populacional nas áreas de origem como da quantidade de moradores
da mesma etnia que reside na capital amazonense. Não seria exagero afirmar que quanto maior a rede
social constituída por um determinado povo indígena na cidade, maior a propensão dos membros desse
povo nas áreas indígenas a migrar com destino a Manaus (Mainbourg et al., 2008).

Conforme mencionado, não há indicação segura da quantidade de Sateré-Mawé ou de membros de


outras etnias em Manaus. Sua estimação é dificultada pela falta de parâmetros confiáveis para os cál-
culos correspondentes.

Na elaboração de sua dissertação de mestrado, em 1982, Romano chegou a contabilizar 88 indígenas


pertencentes a esse povo na cidade.

De forma muito aproximada, estima-se que seu número possa ser situado entre 600 e 700 pessoas em
2008, admitindo-se a hipótese que os Sateré-Mawé têm, sobre a população indígena da cidade, o
mesmo peso que seus efetivos estaduais tinham em 2000 sobre o total de indígenas do estado do
Amazonas (aproximadamente nove mil Sateré-Mawé, num total de 113 mil indígenas no estado).11

A Tabela 6 mostra a distribuição da amostra da pesquisa realizada em 2007 em Manaus, segundo a


etnia dos entrevistados.

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OS POVOS INDÍGENAS

Com uma distribuição etária mais jovem que a da população indígena urbana do Brasil em 2000, os
indígenas de Manaus apresentam uma repartição por sexo marcadamente favorável às mulheres.

Essa característica é verificada em quase todos os grupos etários, principalmente nas idades econo-
micamente ativas, e está relacionada à maioria nitidamente feminina nos fluxos migratórios para a ci-
dade (Mainbourg et al., 2008). A repartição por sexo e idade dos Sateré-Mawé assemelha-se à dos
demais povos indígenas numericamente importantes na cidade.

Quanto à migração indígena, é necessário ressaltar inicialmente sua importância na composição da


população indígena de Manaus. Dois terços dos entrevistados com idade igual ou superior a 10 anos
não são naturais da cidade. Proporcionalmente, eles superam em muito os migrantes não-indígenas,
que correspondem à metade do total de entrevistados não-indígenas.

Quase 77% dos migrantes indígenas entrevistados nasceram em terra indígena. O restante nasceu em
áreas urbanas ou rurais situadas na proximidade das terras indígenas, ou – em poucos casos – em
outros locais (outros municípios amazonenses ou de outros estados). A proporção de migrantes na
população indígena entrevistada em Manaus varia segundo a etnia. Entre as mais representadas na
cidade, os Tukano e os Cokama constituem as maiores proporções de migrantes (80%).

Os Sateré-Mawé apresentam a menor proporção de migrantes (53%) no total de moradores da etnia,


correspondendo a 80 entre os 151 residentes entrevistados sobre migração. O presente estudo passa
a adotar esse total de migrantes como base para as considerações que se seguirão.

Apesar da pequena quantidade, poderão ser levantados elementos interessantes para a análise, espe-
cialmente na comparação de algumas características dos migrantes de Manaus, distante das terras
indígenas dos Sateré-Mawé, com os de cidades próximas àquelas terras.

Conforme visto em parágrafo anterior, há uma maioria feminina entre os indígenas de Manaus, o que
deve estar relacionado à maior imigração das mulheres indígenas. De fato, elas são mais numerosas
que os homens entre os migrantes indígenas, representando 261 dos 452 entrevistados (58%).

Como os não-migrantes indígenas repartem-se em proporções quase iguais de homens e mulheres, o


diferencial por sexo, no total da população, fica sendo determinado pela superioridade feminina entre
os migrantes.

Os migrantes Sateré-Mawé apresentam uma participação feminina ainda mais elevada (65%)12 que
para a população total indígena de Manaus. Assim como para o conjunto dos povos indígenas da ci-
dade, a diferença quantitativa a favor das mulheres entre os Sateré-Mawé migrantes é quase idêntica
à do total dos moradores dessa etnia.

Isto equivale a afirmar que homens e mulheres naturais de Manaus (não-migrantes) são quase iguais
em quantidade (34 e 30 pessoas, respectivamente). Em consequência, a maioria feminina na popula-
ção Sateré-Mawé em Manaus deve-se quase inteiramente à forte migração feminina para a cidade.

Quando se analisam conjuntamente o sexo e a idade dos migrantes Sateré-Mawé em Manaus, ob-
serva-se uma situação distinta da observada para as cidades próximas à Terra Indígena Andirá-Marau
e já retratada neste trabalho. De um lado, como já discutido, a proporção de mulheres entre os migran-
tes de Manaus é superior aos 51,4% encontrados nas cidades mencionadas. De outro, a superioridade
feminina não varia significativamente nos grandes grupos etários (0-14, 15-59, 60 anos e mais) na
capital amazonense, contrariamente ao observado nas demais cidades, onde a distribuição etária de-
sigual entre homens e mulheres estaria a indicar causas distintas para a migração de adolescentes,
jovens e adultos segundo o sexo.

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OS POVOS INDÍGENAS

Em média, os migrantes Sateré-Mawé de Manaus têm idade mais elevada do que os que se destinaram
às cidades interioranas estudadas. São 57,5% os de 30 anos e mais entre os primeiros e apenas 36%
entre os últimos.

Ao contrário do que ocorre naquelas outras cidades, em que um de cada cinco migrantes tem menos
de 15 anos de idade, a proporção em Manaus desses adolescentes é de apenas um para 12. Os mi-
grantes da capital amazonense com 10 a 19 anos de idade representam menos de 20% do total, ao
passo que as cidades próximas à área indígena têm mais que o dobro dessa cifra.

Provavelmente, a razão dessa diferença é que Manaus estaria a atrair menos migrantes Sateré-Mawé
adolescentes e jovens que desejam continuar os estudos, permanecendo a maioria dos migrantes des-
ses contingentes etários nas cidades próximas à terra indígena de nascimento, usufruindo, ali, da as-
sistência contínua dos pais que mensalmente vão receber salários e aposentadoria.

Essa relação "administrativa" da área indígena com as cidades vizinhas daria às famílias, em contra-
partida, a segurança de um contato permanente com os filhos. Tais condições, evidentemente, não se
repetem para Manaus, em que os migrantes Sateré-Mawé não mantêm tal tipo de relação com a terra
natal, pois o acesso dispendioso não permite viagens amiúde num ou noutro sentido.

Assim, diferentemente do que ocorre nas cidades vizinhas da Terra Indígena Andirá-Marau (Tabela 3),
já examinada, a migração por motivos educacionais parece ser irrisória em Manaus. Pouco mais de
10% dos imigrantes Sateré-Mawé da cidade declararam a busca de oportunidades educacionais como
motivo para migrar.

Naquelas outras cidades, esse motivo era citado por metade (49%) dos imigrantes. A procura de tra-
balho como causa da migração foi pouco mencionada pelos Sateré-Mawé nas referidas cidades (4%
dos migrantes), mas constitui a principal causa dos deslocamentos para Manaus, tendo sido referida
por 38% dos imigrantes da capital amazonense. É interessante mencionar que os 80 migrantes Tukano
da amostra de Manaus (mesmo quantidade dos Sateré-Mawé) declararam igualmente a procura de
trabalho e os motivos educacionais como causas da migração, citadas, cada uma, por 31% dos entre-
vistados.

De forma também diferente do que ocorre com os migrantes das cidades próximas da Terra Indígena
Andirá-Marau, não se observa, em Manaus, variabilidade significativa na repartição por sexo e idade
dos migrantes. Nessa última cidade, as mulheres migrantes Sateré-Mawé são numericamente superi-
ores aos homens em praticamente todas as faixas etárias, com pequenas exceções sem significância
estatística.

Uma forma de melhor compreender a distribuição etária dos migrantes Sateré-Mawé e algumas deter-
minações da migração é o exame do tempo de migração, indicado, no caso presente, pelos anos de
residência em Manaus.

Assim como o que ocorre para os não-indígenas, o tempo de residência de um migrante indígena no
local de destino depende de vários fatores, como a conjuntura econômica, social ou política à época
da migração, o motivo da migração, a idade e o sexo do migrante, a distância entre a área de origem e
a de destino, o alcance dos meios de comunicação, as condições de vida dos parentes no local de
destino e outros.

Conforme já comentado, as migrações indígenas com destino a Manaus, em seu período mais intenso
a partir dos anos setenta, ocorreram no âmbito dos intensos fluxos migratórios atraídos pelas oportuni-
dades de emprego criadas com a implantação da Zona Franca de Manaus (1967).

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OS POVOS INDÍGENAS

As informações levantadas na pesquisa da FIOCRUZ realizada em Manaus em 200713 indicam que


40% dos migrantes indígenas residiam na cidade desde pelo menos duas décadas antes do ano do
levantamento de campo. A proporção eleva-se a 70 % quando se consideram os migrantes com 10
anos ou mais de residência, isto é, que chegaram a Manaus antes de 1997. Os 30% restantes fizeram
a migração a partir desse último ano.

Não há diferença notável entre os Sateré-Mawé e o conjunto dos demais povos indígenas em relação
ao tempo de residência na cidade de Manaus. A quase equivalência mantém-se quando se incorporam
o sexo e a idade na análise.

Tais constatações estariam a indicar uma independência do processo migratório em relação à etnia
quando se consideram o sexo e a idade dos migrantes, ou seja, que os diferentes povos indígenaspelo
menos os mais representativos na amostra estudada – mostram comportamento comum (segundo
sexo e idade) em relação à tendência migratória nas últimas quatro décadas.

Há, no entanto, uma diferença marcante entre o tempo de migração dos Sateré-Mawé em Manaus e o
correspondente nas cidades que têm servido como referência para este estudo. Se, como afirmado,
cerca de 70% dos migrantes Sateré-Mawé de Manaus residiam na cidade antes de 1997, o mesmo não
ocorre com os residentes dessa etnia no interior do estado.

Conforme indicado no item referente à migração dos Sateré-Mawé em áreas urbanas próximas à sua
terra indígena, no ano de 2003,14 as cidades de Barreirinha, Parintins, Maués e Nova Olinda do Norte
apresentavam, em seu conjunto, apenas 31% de migrantes Sateré-Mawé com 10 anos ou mais de
residência. Em Maués, o percentual respectivo não passava dos 12%.

Há duas possibilidades de explicação para essa diferença expressiva de tempo entre as migrações
sateré-mawé de Manaus e o interior do estado. A primeira é de que a migração de Manaus á mais
antiga, pelo menos no que se refere ao volume migratório em cada época.

Como foi visto, o início da migração mais acentuada embora ainda reduzida para as cidades citadas
data de aproximadamente 30 anos antes de 2003, talvez um pouco mais recente que a referente a
Manaus.

Todavia, nessa última cidade, pode-se deduzir como será feito adiante que os fluxos migratórios dos
Sateré-Mawé nos anos setenta foram bem mais intensos que os verificados naquelas cidades do inte-
rior.

Outra forma de explicar a maior atualidade da migração para cidades próximas à terra dos Sateré-
Mawé estaria na elevada proporção de migrantes recentes (menos de 10 anos de moradia) naquelas
cidades. De fato, eles representavam 70% do total de migrantes em 2003, tendo um peso, portanto,
muito maior do que os 30% contabilizados em Manaus quatro anos depois.

Uma forma de procurar quando se iniciou ou se intensificou o processo migratório de um agrupamento


populacional um determinado local está na distribuição etária dos não-migrantes nesse local. Se um
morador não-migrante é filho de um pai migrante, o ano de mudança do pai para o local de moradia
atual é obrigatoriamente anterior ao do nascimento do filho.

A queda abrupta desses efetivos a partir de uma determinada idade indicaria uma redução também
abrupta da migração (dos pais) em épocas imediatamente anteriores às datas de nascimentos dos
filhos.15 É o que ocorreu, por exemplo, nas cidades vizinhas às terras dos Sateré-Mawé, onde foi visto
que a imigração em maior escala dos Sateré-Mawé teria começado aproximadamente 30 anos antes
da realização do Diagnóstico Sócio-Demográfico Participativo da População Sateré-Mawé (2003), isto
é, por volta do início dos anos setenta.

Isso porque praticamente não havia moradores naturais daquelas cidades com idade superior a 30
anos. No caso de Manaus, em 2007, para 221 indígenas não-migrantes (todas as etnias), havia 16 com
idade entre 30 e 39 anos e apenas dois com 40 ou mais anos de idade, indicando que, na amostra
estudada, havia um número irrisório de indígenas que tenham chegado a Manaus mais de 40 anos
antes de 2007. Não seria de se descartar, pois, a influência da implantação da Zona Franca de Manaus,
em 1967, sobre a intensificação da migração indígena para a cidade, confirmando o depoimento, já
citado, de um líder indígena do estado do Amazonas (Barretto, 2002).

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BRASIL COLÔNIA

Brasil Colônia

O Brasil Colônia, ou Brasil colonial, existiu entre o século XVI e o início do XIX, quando o atual territó-
rio brasileiro abrigava colônias do Reino de Portugal. A nação "Brasil" surgiu, como Estado soberano,
com a independência. O Brasil colonial é incluído em um conceito mais amplo: a América Portuguesa.

Os termos Brasil Colônia e Brasil colonial são categorias de análise historiográfica e se baseiam no Es-
tado do Brasil, referindo-se às colônias na América Portuguesa que passaram a integrar, em 1815,
o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

O processo de colonização durou da primeira metade do século XVI até a primeira metade do século
XIX, tendo variações geográficas ao longo de seus quase três séculos de existência, como a existência
do Estado do Maranhão, criado em 1621 a partir da repartição norte da América Portuguesa, que foi
incorporado ao Estado do Brasil em 1775.

Portanto, o termo "Brasil Colônia" é anacrônico e meramente indicativo do período histórico colonial.
Durante este período, nunca o atual território brasileiro teve o título ou designação oficial de "colônia".
Igualmente, nunca foram utilizadas outras designações hoje frequentemente usadas como referência
do "Brasil colonial", como "Principado do Brasil", "Vice-Reino do Brasil" ou "Vice-Reinado do Brasil".
Durante o processo de colonização, o atual Brasil teve apenas duas designações oficiais: "Estado do
Brasil" e "Reino do Brasil".

Antes de 1500 — ano da chegada dos europeus —, o território que hoje é chamado de Brasil era habi-
tado por indígenas. Em contraste com as fragmentadas possessões espanholas vizinhas, as posses-
sões portuguesas, construídas na América do Sul, mantiveram a sua unidade e integridade territorial e
linguística mesmo após a independência, dando origem ao maior país da região. A grandeza do atual
território brasileiro, construída desde o período colonial, foi resultado da interiorização da metrópole
portuguesa no território sul-americano, especialmente após o descobrimento de ouro nos sertões.

A economia do período colonial brasileiro foi caracterizada pelo tripé monocultura, latifúndio e mão de
obra escrava, e, apesar das grandes diferenças regionais, manteve-se, no período colonial, a uni-
dade linguística, tendo se formado, nessa época, o povo brasileiro, junção e miscigenação de euro-
peus, africanos e indígenas do Brasil, formando uma cultura autóctone característica.

História

O descobrimento da América (1492) e o Tratado de Tordesilhas (1494) consolidaram o domínio espa-


nhol no Atlântico Norte e restava a Portugal explorar o Atlântico Sul (além da costa africana) e encontrar
o caminho para as Índias pelo sul do Bojador. A viagem de Cabral às Índias de 1500 — depois do re-
torno de Vasco da Gama — tinha a missão de consolidar o domínio português naquela região e os
contatos comerciais iniciados por Vasco da Gama em Calecute. Como escreve C. R. Boxer:

É irrelevante saber se o Brasil foi descoberto acidental ou propositadamente, (…) mas a Terra de Vera
Cruz, como foi batizada pelos descobridores, não demorou a se chamar Brasil devido à lucrativa ma-
deira vermelha utilizada para tingir, assim chamada, que foi encontrada em quantidade razoável ao
longo do litoral. O empenho no comércio com a Índia, no ouro da Guiné (Mina) e nas guerras com
o Marrocos durante muitos anos impediu a Coroa portuguesa de dedicar atenção à região recente-
mente descoberta, que não parecia possuir nada melhor além da madeira para tingir, papagaios, ma-
cacos e selvagens nus, dos mais primitivos.

Em oposição a este pressuposto há historiadores que defendem a hipótese de que os conhecimentos


de Martin Behaim teriam sido decisivos para salvaguardar a "Terra Firma" (os territórios do Brasil) das
ambições espanholas, delineando uma estratégia astuciosa de despiste a fim de os dissuadir de tal
pretensão: abrindo-lhes as portas à exploração na América do Sul de espaços de menor interesse do
Estado. Estavam cientes de que os territórios do Brasil eram bem mais frutuosos. O negócio da tal
madeira vermelha não era, nem de perto nem de longe, o que maior interesse tinha.

De 1500 a 1530, o contato dos portugueses com o Brasil pareceu limitar-se a expedições rápidas para
coleta e transporte de pau-brasil e também de patrulha. Já devia ter ocorrido, no entanto, algumas ten-
tativas de colonização, pois em 15 de julho de 1526 o rei D. Manuel I autorizou Pero Capico, "capitão
de uma capitania do Brasil", a regressar a Portugal porque "lhe era acabado o tempo de sua capitania".

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BRASIL COLÔNIA

A Capico, que era técnico de administração colonial, tinha sido confiada a Feitoria de Itamaracá, no
atual estado de Pernambuco.

Em 1531, devido à ameaça francesa, o rei Dom João III designou o fidalgo Martim Afonso de
Sousa para comandar uma expedição ao Brasil. No ano seguinte, é fundada a vila de São Vicente.
Também em 1532, Bertrand d'Ornesan, o barão de Saint Blanchard, tentou estabelecer um posto de
comércio em Pernambuco. Com o navio A Peregrina, pertencente ao nobre francês, o capitão Jean
Duperet tomou a Feitoria de Igarassu e a fortificou com vários canhões, deixando-a sob o comando de
um certo senhor de La Motte.

Meses depois, na costa da Andaluzia na Espanha, os portugueses capturaram a embarcação francesa,


que estava atulhada com 15 mil toras de pau-brasil, três mil peles de onça, 600 papagaios e 1,8 tone-
lada de algodão, além de óleos medicinais, pimenta, sementes de algodão e amostras minerais. E no
exato instante em que A Peregrina era apreendida no mar Mediterrâneo, o capitão português Pero Lo-
pes de Sousa combatia os franceses em Pernambuco. Retomada a feitoria, os soldados franceses
foram presos e La Motte foi enforcado. Após ser informado da missão que A Peregrina realizara em
Pernambuco, Dom João III decidiu começar a colonização do Brasil, dividindo o seu território em capi-
tanias hereditárias.

Descobrimento e Exploração

O litoral norte brasileiro foi visitado por Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe em janeiro e fevereiro
do ano de 1500, respectivamente. Segundo algumas fontes, Pinzón, teria sido o primeiro europeu a
chegar ao território agora chamado Brasil, atingindo o Cabo de Santo Agostinho no litoral de Pernam-
buco em 26 de janeiro de 1500. Apesar das controvérsias acerca dos locais exatos de desembarque
dos navegadores espanhóis, os seus contatos com os índios potiguares foram violentos. Contudo, a
navegação de navios espanhóis ao longo da costa americana não produziu consequências. A chegada
de Pinzón pode ser vista como um simples incidente da expansão marítima espanhola.

A terra que hoje corresponde ao Brasil foi reivindicada pelo Império Português em 22 de abril de 1500,
com a chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro.

A primeira expedição com objetivo exclusivo de explorar o território descoberto oficialmente por Cabral
foi a frota de três caravelas comandadas por Gonçalo Coelho, que zarpou de Lisboa em 10 de maio de
1501, levando a bordo Américo Vespúcio (possivelmente por indicação do banqueiro florentino Barto-
lomeu Marchionni), autor do único relato conhecido dessa viagem e que até poucas semanas antes
servia os Reis Católicos da Espanha.

Legado do Período

Indiretamente, a concorrência entre franceses e portugueses deixou marcas na costa brasileira. Foram
construídas fortificações por ambas as facções nos trechos mais ricos e proveitosos para servir de
proteção em caso de ataque e para armazenamento do pau-brasil à espera do embarque. As fortifica-
ções não duravam muito, apenas alguns meses, o necessário para que se juntasse a madeira e em-
barcasse. Obrigados a trabalhar como escravos até a morte, os nômades eram feitos reféns de suas
próprias armas. A exploração do pau-brasil era uma atividade que tinha necessariamente de ser nô-
made, pois a floresta era explorada intensivamente e rapidamente se esgotava, não dando origem a
nenhum núcleo de povoamento regular e estável.

E foram justamente a instabilidade e a insegurança do domínio português sobre o atual Brasil que
estiveram na origem direta da expedição de Martim Afonso de Sousa, nobre militar lusitano, e a poste-
rior cessão dos direitos régios a doze donatários, sob o sistema das capitanias hereditárias.

As Capitanias

Colonização foi efetivamente iniciada em 1534, quando D. João III dividiu o território em quatorze capi-
tanias hereditárias, doadas a doze donatários, que podiam explorar os recursos da terra, mas ficavam
encarregados de povoar, proteger e estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar — os direitos e deveres
dos capitães-donatários eram regulamentados pelas cartas de foral, servindo o Foral da Capitania de
Pernambuco (ou Nova Lusitânia) de modelo aos forais das demais capitanias. No entanto esse arranjo
se mostrou problemático, uma vez que apenas as capitanias de Pernambuco e São Vicente prospera-
ram e entre 1534 e 1536 ocorreu o primeiro conflito entre portugueses e espanhóis na América Latina,

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BRASIL COLÔNIA

a Guerra de Iguape. Então, em 1549 o rei atribuiu um governador-geral para administrar toda a América
Portuguesa. Os portugueses assimilaram algumas das tribos nativas, enquanto outras foram escravi-
zadas ou exterminadas por doenças europeias para as quais não tinham imunidade, ou em longas
guerras travadas nos dois primeiros séculos de colonização, entre os grupos indígenas rivais e seus
aliados europeus.

O açúcar era um produto de grande aceitação na Europa, onde alcançava grande valor de venda. Após
as experiências positivas de cultivo na atual região Nordeste, com a cana adaptando-se bem ao clima
e ao solo, teve início o plantio em larga escala. Seria uma forma de Portugal lucrar com o comércio,
além de começar o povoamento de sua colônia americana. Em meados do século XVI, quando o açúcar
de cana tornou-se o mais importante produto de exportação da colônia, os portugueses deram início à
importação de escravos africanos, comprados nos mercados escravistas da África ocidental e trazidos,
inicialmente, para lidar com a crescente demanda internacional do produto, durante o chamado ciclo
do açúcar. No início do século XVII, Pernambuco, então a mais próspera das capitanias, era a maior e
mais rica área de produção de açúcar do mundo.

Corsários e Piratas

A costa brasileira, sem marca de presença portuguesa além de uma ou outra feitoria abandonada, era
terra aberta para os navios do corso (os corsários) de nações não contempladas na divisão do mundo
no Tratado de Tordesilhas. Há notícias de corsários holandeses e ingleses, mas foram os franceses os
mais ativos na costa brasileira. Para tentar evitar estes ataques, Portugal organizou e enviou ao atual
Brasil as chamadas expedições guarda-costas, em 1516 e 1526, com poucos resultados.

De qualquer forma, os franceses se incomodaram com as expedições de Cristóvão Jacques, encarre-


gado das expedições guarda-costas, achando-se prejudicados; e sem que suas reclamações fossem
atendidas, Francisco I (1515-1547), então Rei da França, deu a Jean Ango, um corsário, uma carta de
marca que o autorizava a atacar navios portugueses para se indenizar dos prejuízos sofridos. Isso fez
com que D. João III, rei de Portugal, enviasse a Paris António de Ataíde, o conselheiro de estado, para
obter a revogação da carta, o que foi feito, segundo muitos autores, à custa de presentes e subornos.

Logo recomeçaram as expedições francesas. O rei francês, em guerra contra o imperador Carlos V,
do Sacro Império Romano-Germânico podia moderar os súditos, pois sua burguesia tinha interesses
no comércio clandestino e porque o governo dele se beneficiava indiretamente, já que os bens apreen-
didos pelos corsários eram vendidos por conta da Coroa. As boas relações continuariam entre França
e Portugal, e da missão de Rui Fernandes em 1535 resultou a criação de um tribunal de presas franco-
português na cidade de Baiona, embora de curta duração, suspenso pelas divergências nele verifica-
das.

Henrique II, rei da França, filho de Francisco I, iria proibir em 1543 expedições a domínios de Portugal.
Até que se deixassem outra vez tentar e tenham pensado numa França Antártica, uma efêmera colônia
estabelecida no Rio de Janeiro, ou numa França Equinocial, quando fundaram no Maranhão o povoado
que deu origem à cidade de São Luís.

Expansão Territorial e Invasões Estrangeiras

Ignorando o Tratado de Tordesilhas de 1494, os portugueses, através de expedições conhecidas


como bandeiras, paulatinamente avançaram sua fronteira colonial na América do Sul para onde se si-
tua a maior parte das atuais fronteiras brasileiras, tendo passado os séculos XVI e XVII defendendo
tais conquistas contra potências rivais europeias.[32] Desse período destacam-se os conflitos que re-
chaçaram as incursões coloniais francesas (no Rio de Janeiro em 1567 e no Maranhão em 1615) e
expulsaram os holandeses do nordeste (ver Nova Holanda), sendo o conflito com os holandeses parte
integrante da Guerra Luso-Holandesa.

As invasões francesas do Brasil registram-se desde os primeiros tempos da colonização portuguesa,


chegando até ao ocaso do século XIX. Inicialmente dentro da contestação de Francisco I de
França ao Tratado de Tordesilhas, ao arguir o paradeiro do testamento de Adão e incentivar a prática
do corso para o escambo do pau-brasil (Cæsalpinia echinata), ainda no século XVI evoluiu para o apoio
às tentativas de colonização no litoral do Rio de Janeiro (1555) e na costa do Maranhão (1594).

Entre os anos de 1630 e 1654, o Nordeste brasileiro foi alvo de ataques e fixação de neerlandeses.
Interessados no comércio de açúcar, os neerlandeses implantaram um governo no território. Sob o

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BRASIL COLÔNIA

comando de Maurício de Nassau, permaneceram lá até serem expulsos em 1654. Nassau desenvolveu
diversas obras em Pernambuco, modernizando o território. Durante o seu governo, Recife foi a mais
cosmopolita cidade de toda a América.

Revoltas Coloniais e Conflitos

Em função da exploração exagerada da metrópole, ocorreram várias revoltas e conflitos neste período:

Guerra de Iguape: Ocorreu entre os anos de 1534 e 1536, na região de São Vicente, São Paulo. A
força portuguesa, liderados por Pero de Góis, ao desembarcar na barra de Icapara, em Iguape, foram
recebidos sob o fogo da artilharia, sendo desbaratada, em um local conhecido como entrincheiramento
de Iguape.

Na retirada, os sobreviventes foram surpreendidos pelas forças espanholas emboscadas na foz da


barra do Icapara, onde os remanescentes pereceram, sendo gravemente ferido o seu capitão Pero de
Góis, por um tiro de arcabuz. No dia seguinte, Ruy Garcia de Moschera e o "Bacharel de Cananeia",
aliados aos espanhóis, embarcaram em um navio francês, capturado em Cananeia e atacaram a vila
de São Vicente, que saquearam e incendiaram, deixando-a praticamente destruída, matando dois ter-
ços dos seus habitantes. Foi o primeiro confronto entre europeus portugueses e espanhóis na América
do Sul;

Insurreição Pernambucana: ocorreu no contexto da ocupação holandesa, culminando com a expulsão


dos holandeses da região Nordeste do país;

Guerra dos Emboabas: os bandeirantes paulistas queriam exclusividade na exploração do ouro nas
minas que encontraram; Entraram em choque com os imigrantes reinóis (ou seja, vindos da metrópole
portuguesa) que estavam explorando o ouro das minas;

Guerra dos Mascates: que se registrou de 1710 a 1711 na então Capitania de Pernambuco.

Guerra Guaranítica: espanhóis e portugueses (apoiados pelos ingleses) entram em conflito com os
índios guaranis catequizados pelos jesuítas, de 1751 a 1758;

Revolta de Filipe dos Santos: ocorrida em Vila Rica, representou a insatisfação dos donos de minas de
ouro com a cobrança do quinto e das Casas de Fundição. O líder Filipe dos Santos Freire foi preso e
condenado à morte pela coroa portuguesa;

Revolta de Beckman: Ocorreu em fevereiro de 1684, no Estado do Grão-Pará e Maranhão, liderado


pelos irmãos Manuel e Tomas Beckman, apenas reivindicando melhorias na administração colonial, o
governo português reprimiu violentamente o movimento;

Inconfidência Mineira (1789): liderada por Tiradentes, os inconfidentes mineiros eram contra a execu-
ção da Derrama e o domínio português. O movimento foi descoberto pelo Rainha de Portugal (na
época D.Maria I) e os líderes condenados;

Conjuração Baiana (1798): Também conhecida como "Revolta dos Alfaiates". Revolta de caráter eman-
cipacionista ocorrida na então Capitania da Bahia. Foi punida duramente pela Coroa de Portugal.

Administração Colonial

Prevendo a possível invasão do território por potências rivais, a Coroa portuguesa lança mão de um
instituto já utilizado no Arquipélago da Madeira: a capitania.

A instalação das primeiras capitanias no litoral brasileiro traz consigo uma consequência trágica: os
conflitos com os indígenas do litoral que, se até então foram aliados de trabalho, neste momento pas-
sam a ser um entrave, uma vez que disputavam com os recém-chegados o acesso às melhores terras.
Destes conflitos entre portugueses e ameríndios o saldo é a mortandade indígena causada por con-
frontos armados ou por epidemias diversas.

Após a tentativa fracassada de estabelecer as capitanias hereditárias, a coroa portuguesa estabeleceu


em suas possessões coloniais na América um Governo-Geral como forma de centralizar a administra-
ção, tendo mais controle da colônia.

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BRASIL COLÔNIA

O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que recebeu a missão de combater os indígenas re-
beldes, aumentar a produção agrícola na colônia, defender o território e procurar jazidas de ouro e
prata.

Também começavam a existir câmaras municipais, órgãos políticos compostos pelos "homens bons".
Estes eram os ricos proprietários que definiam os rumos políticos das vilas e cidades. O povo não podia
participar da vida pública nesta fase.

As instituições municipais eram compostas por um alcaide que tinha funções administrativas e judiciais,
juízes ordinários, vereadores, almotacés e os "homens bons". As juntas do povo decidiam sobre diver-
sos assuntos da Capitania.

Salvador, fundada em 1549, foi a primeira sede do Estado do Brasil. Situa-se na entrada da Baía de
Todos-os-Santos, uma região bastante acidentada do litoral. A escolha do local teve como objetivo criar
uma administração centralizada para o estado colonial português, em um ponto mais ou menos equi-
distante das extremidades do território e com favoráveis condições de assentamento e defesa; e teve
também relação com a economia açucareira, uma vez que a Capitania de Pernambuco era o principal
centro produtivo da colônia.

Salvador permaneceu capital colonial por mais de dois séculos, porém, durante a primeira das Invasões
holandesas no Brasil, o então Governador de Pernambuco Matias de Albuquerque foi nomeado Gover-
nador-Geral do Estado do Brasil, administrando a colônia a partir de Olinda entre 1624 e 1625. Em
1763, a sede do governo colonial foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro.

Ressalte-se que, com a ascensão de outras regiões econômicas, outros estados coloniais foram cria-
dos, como o Estado do Maranhão e Piauí e o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, com capitais respec-
tivamente em São Luís e Belém. Desta forma, administrativamente, o território colonial português no
atual Brasil dispôs de cinco sedes até 1775: Salvador, Olinda e Rio de Janeiro no Estado do Brasil; São
Luís no Estado do Maranhão e Piauí; e Belém no Estado do Grão-Pará e Rio Negro.

Evolução territorial do Brasil no período colonial

1534 (Capitanias hereditárias)

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BRASIL COLÔNIA

1621 (Dois estados)

1709 (Expansão além do Tratado de Tordesilhas)

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BRASIL COLÔNIA

1815 (Fim do período colonial)

Economia

Ciclo do Açúcar

A base da economia colonial era o engenho de açúcar. O senhor de engenho era um fazendeiro pro-
prietário da unidade de produção de açúcar. Utilizava a mão de obra africana escrava e tinha como
objetivo principal a venda do açúcar para o mercado europeu. Além do açúcar, destacou-se, também,
a produção de tabaco e de algodão. As plantações ocorriam no sistema de plantation, ou seja, eram
grandes fazendas produtoras de um único produto, utilizando mão de obra escrava e visando o comér-
cio exterior.

O Brasil se tornou o maior produtor mundial de açúcar nos séculos XVI e XVII. As principais regiões
açucareiras eram Pernambuco, Bahia e São Vicente (São Paulo). O Pacto Colonial imposto pelo Reino
de Portugal estabelecia que os estados coloniais localizados no atual Brasil só podiam fazer comércio
com a metrópole, não devendo concorrer com produtos produzidos lá. Logo, o Brasil não podia produzir
nada que a metrópole produzisse.

O monopólio comercial foi, de certa forma, imposto pelo governo da Inglaterra a Portugal, com o obje-
tivo de garantir mercado aos comerciantes ingleses. A Inglaterra havia feito uma aliança com Portugal,
oferecendo apoio militar em meio a uma guerra pela sucessão da Coroa Espanhola e ajuda diplomática
a Portugal e em troca os portugueses abriram seus portos a manufaturas britânicas, já que Portugal
não tinha grandes indústrias. Nessa época, Portugal e suas colônias, inclusive o Brasil, foram abaste-
cidas com tais produtos.

Portugal se beneficiava do monopólio, mas o país era dependente comercialmente da Inglaterra. O Tra-
tado de Methuen foi uma das alianças luso-britânicas. A colônia vendia metais, produtos tropicais e
subtropicais a preços baixos, estabelecidos pela metrópole, e comprava dela produtos manufaturados
e escravos a preços bem mais altos, garantindo assim o lucro de Portugal em qualquer das transações.

Ciclo do Ouro

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BRASIL COLÔNIA

Foram os bandeirantes os responsáveis pela ampliação do atual território brasileiro além do tratado de
Tordesilhas. Os bandeirantes penetravam além da linha fronteiriça imposta pelo tratado, procurando
índios para aprisionar e jazidas de ouro e diamantes. Foram os bandeirantes que encontraram as pri-
meiras minas de ouro nas regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

Ao final do século XVII, as exportações de açúcar brasileiro começaram a declinar, mas a descoberta
de ouro pelos bandeirantes na década de 1690, abriu um novo ciclo para a economia extrativista da
colônia, promovendo uma febre do ouro no Brasil, que atraiu milhares de novos colonos, vindos não só
de Portugal, mas também de outras colônias portuguesas ao redor do mundo, o que por sua vez acabou
gerando conflitos (como a Guerra dos Emboabas), entre os antigos colonos e os recém-chegados.

Após a descoberta das primeiras minas de ouro, o rei de Portugal tratou de organizar sua extração.
Interessado nesta nova fonte de lucros, já que o comércio de açúcar passava por uma fase de declínio,
ele começou a cobrar o quinto do ouro, imposto equivalente a um quinto (20%) de todo o ouro que
fosse encontrado no Brasil. Esse imposto era cobrado nas casas de fundição, responsáveis por fundir
o ouro; dessa forma, a cobrança dos impostos era mais rigorosa.

A descoberta de ouro e o início da exploração das minas nas regiões auríferas (Minas Gerais, Mato
Grosso e Goiás) provocaram uma verdadeira "corrida do ouro" para estas regiões. Procurando trabalho
na região, desempregados de várias regiões do Império Português partiram em busca do sonho de
ficar rico da noite para o dia. Cidades começaram a surgir e o desenvolvimento urbano e cultural au-
mentou muito nestas regiões. Foi neste contexto que apareceu um dos mais importantes artistas plás-
ticos do Brasil: o Aleijadinho. Vários empregos surgiram nestas regiões, diversificando o mercado de
trabalho na região aurífera. Para acompanhar o desenvolvimento da região sudeste da colônia, e im-
pedir a evasão fiscal e o contrabando de ouro, Portugal transferiu a capital do Estado do Brasil para
o Rio de Janeiro.

Para garantir a manutenção da ordem colonial interna, além da defesa do monopólio de exploração
econômica do Brasil, o foco da administração colonial portuguesa se concentrou em manter sob con-
trole e erradicar as principais formas de rebelião e resistência dos escravos (a exemplo do Quilombo
dos Palmares); e em reprimir todo movimento por autonomia ou independência política (como a Incon-
fidência Mineira).

No final de 1807, forças espanholas e francesas ameaçaram a segurança de Portugal Continental, fa-
zendo com que o Príncipe Regente D. João, em nome da rainha Maria I, transferisse a corte real de Lis-
boa para o Brasil. O estabelecimento da corte portuguesa trouxe o surgimento de algumas das primei-
ras instituições brasileiras, como bolsas de valores locais[50] e um banco nacional, e acabou com
o monopólio comercial que Portugal mantinha sob o Brasil, liberando as trocas comerciais com outras
nações, o que pôs fim ao período colonial brasileiro.

Cultura

Os naturais do Brasil eram portugueses; diferenciavam-se dos ameríndios e dos escravos que não
tinham direitos de cidadania. Nesta época o vocábulo "brasileiro" designava apenas o nome dos co-
merciantes de pau brasil. Só depois da independência do Brasil se pode diferenciar brasileiros e portu-
gueses, visto que é um anacronismo chamar brasileiro a quem morreu português antes da indepen-
dência.

Distinguia-se o cidadão português natural do Brasil dos outros portugueses da metrópole e províncias
ultramarinas (português de Angola, português de Macau, português de Goa, etc) designando-o de Por-
tuguês do Brasil, Luso Americano ou pelo nome da cidade de nascimento. A partir do século XVII o
termo "reinóis" era usado popularmente no Brasil para designar os portugueses nascidos em Portugal
e os distinguir daqueles nascidos no Brasil. Dentro do Brasil podiam-se diferenciar os cidadãos em
nível regional, por exemplo os pernambucanos dos baianos, no entanto a nível nacional e a nível inter-
nacional eram todos conhecidos como portugueses. Os escravos davam o nome de "mazombo" aos
filhos de portugueses nascidos no Brasil, e mais tarde a qualquer europeu.

A sociedade no período açúcar era marcada pela grande diferenciação social. No topo da sociedade,
com poderes políticos e econômicos, estavam os senhores de engenho. Abaixo, aparecia uma camada
média formada por pessoas livres (feitores, capatazes, padres, militares, comerciantes e artesãos) e
funcionários públicos. E na base da sociedade estavam os escravos, de origem africana, tratados como
simples mercadorias e responsáveis por quase todo trabalho desenvolvido na colônia.

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BRASIL COLÔNIA

Era uma sociedade patriarcal, pois o senhor de engenho exercia um grande poder social. As mulheres
tinham poucos poderes e nenhuma participação política, deviam apenas cuidar do lar e dos filhos.

A casa-grande era a residência da família do senhor de engenho. Nela moravam, além da família, al-
guns agregados. O conforto da casa grande contrastava com a miséria e péssimas condições de higi-
ene das senzalas (habitações dos escravos).

Alimentação

Os portugueses que vieram para o Brasil tiveram que alterar seus hábitos alimentares. O trigo, por
exemplo, foi substituído pela farinha de mandioca, o mais importante alimento da colônia. A mandioca,
de origem indígena, foi adotada no Brasil por africanos e portugueses, sendo usada para fazer bolos,
sopas, beijus ou simplesmente para se comer misturada ao açúcar. Além da farinha, no engenho tam-
bém se consumiam: carne-seca, milho, rapadura, arroz, feijão e condimentos como pimenta e azeite
de dendê. As verduras, as frutas, a manteiga e os queijos eram raros e só entravam na alimentação
dos ricos. Mas não faltavam doces, que eram consumidos em grande quantidade, tanto no campo como
nas cidades.

Alimentação diferente experimentaram os moradores de Recife e Olinda durante a invasão holan-


desa (1624-1625 e 1630-1654), uma vez que vinha da Holanda o toucinho, manteiga, azeite, vinho,
aguardente, peixe seco, bacalhau, trigo, carne salgada, fava, ervilha, cevada e feijão. Tanto nas casas
mais humildes como nas dos senhores de engenho, as refeições eram feitas utilizando a mão, devido
à ausência de garfo, este só começando a integrar o dia a dia a partir o século XIX. Outro costume de
todas as classes era o de comer sentado no chão.

As bebidas alcoólicas consumidas eram principalmente a bagaceira e o vinho, trazidos de Portugal.


Nos engenhos de açúcar logo foi descoberto o vinho de cana, ou seja, o caldo de cana fermentado,
muito apreciado pelos escravos. Na primeira metade do século XVII descobriu-se que os subprodutos
da produção do açúcar, o melaço e as espumas, misturados com água fermentavam e podiam ser des-
tilados obtendo-se a cachaça. Ela também podia ser fabricada com o vinho de cana. Devido ao baixo
preço e facilidade de produção, aos poucos foi caindo no gosto da população, ao menos entre os es-
cravos e as pessoas de baixo poder aquisitivo. Com o tempo, as classes abastadas foram paulatina-
mente também adotando a cachaça.

Demografia

Ocupação Pré-Cabralina

A tese mais aceita é que os povos indígenas do continente americano são descendentes de caçado-
res asiáticos que cruzaram o estreito de Bering passando da Sibéria para a América do Norte. Os mais
antigos povoadores do atual território brasileiro chegaram há aproximadamente 12 mil anos.

Contudo, foi encontrado em Lagoa Santa (Minas Gerais) o crânio de uma mulher de traços negroides,
batizada de Luzia, que viveu há 11 500 anos. Deste modo, alguns pesquisadores consideram provável
que populações negroides também tenham vivido na América, e que estas foram exterminadas ou
assimiladas pelos povos mongoloides muitos séculos antes da chegada dos europeus.

Estima-se que, no início da colonização portuguesa, cerca de quatro milhões de ameríndios viviam no
atual território brasileiro. Encontravam-se divididos em diversos grupos étnico-linguísticos: tupi-guara-
nis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas
(Amazônia).

A Colonização no Tempo

Século XVI

O território brasileiro não foi imediatamente ocupado pelos portugueses a partir do Descobrimento do
Brasil em 1500. A colonização começou somente a partir de 1532. Antes disso, havia apenas feito-
rias nas quais o pau-brasil era armazenado esperando os navios que vinham da Metrópole. Apenas
alguns degredados, desertores e náufragos haviam se estabelecido em definitivo no Brasil, vivendo e
se miscigenando com as tribos indígenas.

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BRASIL COLÔNIA

Ao contrário do que muitos pensam, os primeiros colonos não foram só ladrões, assassinos ou prosti-
tutas mandados para o Brasil. A maioria era composta por camponeses pobres, agregados de um pe-
queno nobre que vinha estabelecer engenhos e plantações de cana-de-açúcar no Brasil. Apenas al-
guns poucos eram "criminosos", em geral pessoas perseguidas pela Igreja por sua "falta de moral" ou
por cometerem pequenos delitos: judeus, cristãos-novos, bígamos, sodomitas, padres sedutores, feiti-
ceiras, visionários, blasfemadores, impostores de todas as espécies.

Século XVII

Nos primeiros dois séculos de colonização (XVI – XVII), relativamente poucos portugueses migraram
para o Brasil, não mais que cem mil. Em meados do século XVI, Portugal tinha uma população bastante
pequena, de somente 1,5 milhão de habitantes, e os portugueses estavam empenhados em povoar as
ilhas atlânticas e em se expandir da África à Ásia, havendo pouco excedente populacional exportável.
Ademais, a produção do açúcar no Brasil não era atrativa para os portugueses comuns, uma vez que
o estabelecimento de um engenho exigia altos investimentos, com os quais apenas os mais abastados
tinham condições de arcar. O Brasil era pouco atrativo para os portugueses mais pobres, pois não era
do interesse dos camponeses europeus se submeterem ao trabalho massacrante nos engenhos de
cana, trabalho este que acabou sendo exercido largamente por escravos.

Na década de 1690, bandeirantes paulistas finalmente encontraram ouro no atual estado de Minas Ge-
rais, ao longo de uma linha que se estende entre as atuais Ouro Preto e Diamantina. A notícia se es-
palhou e o povoamento de Minas deu-se muito rapidamente.

Século XVIII

Se por um lado a sociedade mineira transformou-se num importante fator de atração, Portugal passou
a ter um forte fator de expulsão, especialmente na província do Minho. No século XVIII, a produção
de milho espalhou-se no Norte de Portugal, melhorando significativamente a alimentação da população
e, consequentemente, gerou taxas de crescimento populacional relativamente elevadas.

Como a economia no Norte de Portugal era baseada na pequena propriedade rural, o crescimento da
população forçou muitos portugueses mais pobres do Minho a migrarem para o Brasil, de modo a não
sobrecarregar a economia local.

O surto migratório que se deu de portugueses do Minho em direção às áreas mineradoras da colônia
foi tão intenso que Portugal teve de baixar três leis proibindo a migração de pessoas do Noroeste
português para o Brasil, nos anos de 1709, 1711 e 1720. Em relação à lei editada em 1720, autoridades
portugueses afirmaram: "Tendo sido o mais povoado, o Minho hoje é um estado no qual não há pessoas
suficientes para cultivar a terra ou prover para os habitantes".

Segundo dados do IBGE, 600 mil portugueses migraram para o Brasil, entre 1701 e 1760. Celso Fur-
tado estimou, para todo o século XVIII, um número entre 300 e 500 mil portugueses. Maria Luiza Mar-
cilio apontou um número intermediário: 400 mil. C. R. Boxer considerou esses números exagerados,
que, para ele, seriam de 3 mil a 4 mil portugueses ao ano, no período mais movimentado da corrida do
ouro. Após 1720, a imigração não teria superado 2 mil pessoas ao ano, devido à introdução do passa-
porte. De qualquer maneira, nunca haviam chegado tantos portugueses ao Brasil, até então.

As ilhas dos Açores eram uma região mais pobre de Portugal e com excesso de habitantes. Em con-
sequência, várias vezes o governo português recrutou grupos de açorianos e os enviou para regiões
de fronteira. Entre 1748 e 1754, em torno de 6 mil açorianos foram enviados para Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, para garantirem a posse portuguesa da região, historicamente disputada com a Espa-
nha.

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CULTURA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL

Cultura, Economia e Sociedade no Brasil Colonial

O Brasil Colônia, na História do Brasil, é a época que compreende o período de 1530 a 1822.

Este período começou quando o governo português enviou ao Brasil a primeira expedição colonizadora
chefiada por Martim Afonso de Souza. Em 1532, ele fundou o primeiro núcleo de povoamento, a Vila
de São Vicente, no litoral do atual estado de São Paulo.

Período Pré-Colonial

Logo após a chegada dos portugueses à sua nova colônia, a primeira atividade econômica girava em
torno da exploração do pau-brasil, existente em grande quantidade na costa brasileira, principalmente
no nordeste do País. Esse período ficou conhecido como Ciclo do Pau-Brasil.

A exploração do pau-brasil foi meramente extrativista e não deu origem a uma ocupação efetiva.

O trabalho de derrubar árvores e preparar a madeira para embarque era feito pelos indígenas e uns
poucos europeus que permaneciam em feitorias na costa.

Explorado de forma predatória, as árvores próximas da costa desapareceram já na década de 1520.

O Início da Colonização

Mapa do Brasil no Período Colonial

Várias expedições foram enviadas por Portugal, visando reconhecer toda costa brasileira e combater
os piratas e comerciantes franceses.

As mais importantes foram as comandadas por Cristóvão Jacques (1516 e 1526), que combateu os
franceses.

Também Martim Afonso de Sousa (1532), combateu a pirataria francesa. Da mesma forma, ele instalou
em São Vicente, a primeira povoação dotada de um engenho para produção de açúcar.

Para colonizar o Brasil e garantir a posse da terra, em 1534, a Coroa dividiu o território em 15 capitanias
hereditárias. Estas eram imensos lotes de terra que se estendiam do litoral até o limite estabelecido
pelo Tratado de Tordesilhas.

Esses lotes foram doados a capitães (donatários), pertencentes à pequena nobreza lusitana que, por
sua conta promoviam a defesa local e a colonização.

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CULTURA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL

A empresa açucareira foi escolhida, porque apresentava possibilidade de vir a ser um empreendimento
altamente lucrativo, abastecendo o grande mercado de açúcar da Europa.

Foi no nordeste do país que a atividade açucareira atingiu seu maior grau de desenvolvimento, princi-
palmente nas capitanias de Pernambuco e da Bahia.

Nos séculos XVI e XVII, o Nordeste tornou-se o centro dinâmico da vida social, política e econômica
do Brasil.

Para saber mais, veja também o artigo: Ciclo da Cana-de-açúcar.

O Governo Geral

O sistema de Governo Geral foi criado em 1548, pela Coroa, com o objetivo de organizar a administra-
ção colonial.

O primeiro governador foi Tomé de Souza (1549 a 1553), que recebeu do governo português, um con-
junto de leis. Estas determinavam as funções administrativas, judicial, militar e tributária do Governo
Geral.

O segundo governador geral foi Duarte da Costa (1553 a 1558), e o terceiro foi Mem de Sá(1558 a
1572).

Em 1572, depois da morte de Mem de Sá e de seu sucessor Dom Luís de Vasconcelos, o governo
português dividiu o Brasil em dois governos cuja unificação só voltou em 1578:

• Governo do Norte, com sede em Salvador

• Governo do Sul, com sede no Rio de Janeiro

Em 1580, Portugal e todas as suas colônias, inclusive o Brasil, ficaram sob o domínio da Espanha,
situação que perdurou até 1640. Este período é conhecido como Unificação Ibérica.

Em 1621, ainda sob o domínio espanhol, o Brasil foi novamente dividido em dois estados: o Estado do
Maranhão e o Estado do Brasil. Essa divisão durou até 1774, quando o Marquês do Pombal decretou
a unificação.

A Formação Social do Brasil Colônia

Representação de uma aldeia no período colonial

Fundamentalmente três grandes grupos étnicos, o índio, negro africano e o branco europeu, principal-
mente o português, entraram na formação da sociedade colonial brasileira.

Os portugueses que vieram para o Brasil pertenciam a várias classes sociais em Portugal. A maioria
era formada por elementos da pequena nobreza e do povo.

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CULTURA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL

Também é preciso ter em conta que as tribos indígenas tinham línguas e culturas distintas. Algumas
eram inimigas entre si e isto era usado pelos europeus quando desejavam guerrear contra os portu-
gueses.

Da mesma forma, os negros trazidos como escravos da África possuíam crenças, idiomas e valores
que foram sendo absorvidos pelos portugueses e indígenas.

No Brasil Colônia, o engenho era o centro dinâmico de toda a vida social. Isso possibilitava o “senhor
da casa grande” concentrar em torno de si, grande quantidade de indivíduos e ter a autoridade máxima,
o prestígio e o poder local.

Saiba mais sobre o Engenho de Açúcar no Brasil Colonial.

Em torno do engenho viviam os mulatos, geralmente filhos dos senhores com escravas, o padre, os
negros escravos, o feitor, o mestre do açúcar, os trabalhadores livres, etc.

Ameaças ao Domínio Português

Nos primeiros anos logo depois da descoberta, a presença de piratas e comerciantes franceses no
litoral brasileiro foi constante.

A invasão francesa se deu em 1555, quando conquistaram o Rio de Janeiro, fundando ali a "França
Antártica", sendo expulsos em 1567.

Em 1612, os franceses invadiram o Maranhão, ali fundaram a "França Equinocial" e a povoação de São
Luís, onde permaneceram até 1615, quando foram novamente expulsos.

Os ataques ingleses no Brasil se limitaram a assaltos de piratas e corsários que saquearam alguns
portos. Invadiram as cidades de Santos e Recife e o litoral do Espírito Santo.

As duas invasões holandesas no Brasil se deram durante o período em que Portugal e o Brasil estavam
sob o domínio espanhol. A Bahia, sede do Governo Geral do estado do Brasil, foi invadida, mas a
presença holandesa durou pouco tempo (1624-1625).

Em 1630, a capitania de Pernambuco, o maior centro açucareiro da colônia, foi invadida por tropas
holandesas.

A conquista foi consolidada em 1637, com a chegada do governante holandês o conde Maurício de
Nassau. Ele conseguiu firmar o domínio holandês em Pernambuco e estendê-lo por quase todo o nor-
deste do Brasil.

A cidade do Recife, o centro administrativo, foi urbanizada, saneada, pavimentada, foram construídos
pontes, palácios e jardins. O governo de Maurício de Nassau chegou ao fim em 1644, mas os holan-
deses só foram expulsos em 1654.

O Século do Ouro e dos Diamantes

A procura de metais preciosos sempre constituiu o sonho dos colonizadores. As descobertas começa-
ram na década de 1690, na região de Minas Gerais.

A partir daí se espalhou em várias partes do território nacional. No século XVIII a mineração era a
grande fonte de riqueza da metrópole.

O Ciclo do Ouro e do Diamante foram responsáveis por profundas mudanças na vida do Brasil colônia,
com o crescimento urbano e do comércio.

A Crise do Sistema Colonial

Em 1640, Portugal contava apenas com as rendas do Brasil. Por isso passou a exercer um controle
mais rígido sobre a arrecadação de impostos e as atividades econômicas, chegando a proibir o comér-
cio com estrangeiros.

O descontentamento com a política econômica da metrópole fez surgir algumas revoltas, entre elas:

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CULTURA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL

• Revolta de Beckman (1684), no Maranhão

• Guerra dos Emboabas (1708-1709), em Minas Gerais

• Guerra dos Mascates (1710), em Pernambuco

Em fins do século XVIII, teve início os movimentos que tinham como objetivo libertar a colônia do do-
mínio português, entre elas:

• Inconfidência Mineira (1789)

• Conjuração Baiana (1798)

No início do século XIX, as condições para a emancipação brasileira estavam maduras. Contribuíram
também a conjuntura criada pelas Guerras Napoleônicas e pela Revolução Industrial Inglesa.

Com a invasão de Portugal, a sede do reino transferiu-se para o Brasil. Em 1822, deu-se o passo
decisivo para consolidar a Independência do Brasil.

Economia Colonial

A economia da época era comandada por Portugal, que mantinha a exclusividade nos negócios com a
colônia. O avanço econômico do Brasil estava ligado ao aumento do capitalismo mercantil. No período
colonial, foram desenvolvidas atividades de subsistência e de exportação. Portugal tinha um interesse
maior nos negócios que eram estabelecidos com o mercado externo.

O pau-brasil foi a primeira atividade econômica exercida no país, mas com o uso excessivo, a árvore
se tornou rara. Posteriormente, foram introduzidas as culturas de algodão, tabaco, cana-de-açúcar e a
mineração. Já a criação de gado ajudou o povoamento no interior do país. A economia colonial existia
no intuito de satisfazer a metrópole e tinha que comprar de Portugal tudo o que era necessário para
seu desenvolvimento.

Pau-Brasil

O Pau-Brasil é uma árvore nativa da Mata Atlântica e recebe esse nome por causa do Brasil. É uma
árvore dura e pontiaguda que tem no miolo a cor vermelha e flores amarelas. A exploração da árvore
já era feita pelos índios e foi intensificada com a chegada dos primeiros colonos ao país. Foi nesse
período que começaram os chamados escambos, que consistiam na troca do trabalho indígena por
materiais com pouco valor como pentes, espelhos e roupas.

A exploração do pau-brasil foi o principal meio econômico da colônia durante os primeiros anos e durou
até o século XIV. Devido à intensa retirada das árvores, ela foi quase extinta.

Ciclo da Cana-de-Açúcar

A sociedade que explorava o açúcar durante o período colonial eram divididos entre os donos de terra
e de escravos ou pessoas que plantavam cana de forma independente. Os poderes da sociedade que
dependia do açúcar estavam nas mãos do senhor de engenho. Ele oferecia proteção e auxílio em troca
dos serviços das pessoas. O açúcar foi escolhido para ser o principal produto produzido no Brasil,
porque os portugueses já conheciam o processo de plantio da cana e da produção do açúcar e esse
era um produto muito aceito pelos europeus. Com a intensa procura pelo produto, os holandeses tam-
bém investiram no país e instalaram engenhos.

Produção de Cana-de-Açúcar

A forma de plantio da cana era baseada no plantation e na monocultura escravista. O engenho era
composto por: canaviais, a fábrica de açúcar que continha uma moenda, plantações de subsistência,
casa da caldeira, casa do pulgar, casa-grande, senzala, capela, escola e residência dos trabalhadores
que não eram escravos.

A cana-de-açúcar era prensada na moenda para obter a garapa e nas caldeiras, era feita a purificação
desse caldo. Depois desse processo, o caldo era colocado em formas especiais e era observado até

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CULTURA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL

chegar ao ponto ideal. Com o açúcar pronto, ele era enviado para a metrópole e depois para a Holanda
para que fosse refinado. A Holanda não só participava do refino como também era a peça principal na
montagem do engenho e no transporte do açúcar.

Os trabalhadores utilizados eram os índios e os escravos africanos. Várias áreas de vegetação foram
destruídas para que fossem plantados os canaviais e para que o engenho fosse construído. O produto
de subsistência que era mais produzido em paralelo à cana, era a mandioca, pois ela era matéria-prima
da farinha, um item essencial para a alimentação dos brasileiros na época. Além disso, o algodão e o
fumo eram bastante importados do Brasil.

Muitos fazendeiros não possuíam engenhos e tinham que moer a cana no engenho de outra pessoa,
mediante o pagamento de um valor. Esses fazendeiros recebiam o nome de senhores obrigados.

Ciclo do Ouro

O Ciclo do Ouro começou no fim do século XVII, quando o açúcar já não era tão importante devido o
seu investimento que estava sendo feito na América Central. Sendo assim, era necessário buscar uma
outra forma de economia e descobriram as primeiras minas de ouro em solo brasileiro, nas regiões
onde ficam Minas Gerais e Goiás.

A exploração do ouro era tão importante que o governo português decidiu mudar a capital de Salvador
para o Rio de Janeiro, pois estava mais próximo das minas de ouro. Foram criadas as Casas de Fun-
dição, que cobravam altos impostos de quem extraía o minério. Os principais impostos eram: o quinto
(20% da produção do ouro deveriam ir para o rei de Portugal);

a Derrama (a colônia tinha que arrecadar 1.500kg de ouro por ano); e a Capitação (era cobrado imposto
sobre cada escravo que trabalhava nas minas). A exploração, e os diversos impostos e taxas cobradas
foram motivos para muitas revoltas que ocorreram nessa época. O Ciclo do Ouro permaneceu até o
ano de 1785.

Jesuítas

Os jesuítas faziam parte de uma ordem religiosa católica chamada Companhia de Jesus. Criados com
o objetivo de disseminar a fé católica pelo mundo, os padres jesuítas eram subordinados a um regime
de privações que os preparavam para viverem em locais distantes e se adaptarem às mais adversas
condições. No Brasil, eles chegaram em 1549 com o objetivo de cristianizar as populações indígenas
do território colonial.

Incumbidos dessa missão, promoveram a criação das missões, onde organizavam as populações indí-
genas em torno de um regime que combinava trabalho e religiosidade. Ao submeterem as populações
aos conjuntos de valor da Europa, minavam toda a diversidade cultural das populações nativas do
território. Além disso, submetiam os mesmos a uma rotina de trabalho que despertava a cobiça dos
bandeirantes, que praticavam a venda de escravos indígenas.

Ao mesmo tempo em que atuavam junto aos nativos, os jesuítas foram responsáveis pela fundação
das primeiras instituições de ensino do Brasil Colonial. Os principais centros de exploração colonial
contavam com colégios administrados dentro da colônia. Dessa forma, todo acesso ao conhecimento
laico da época era controlado pela Igreja. A ação da Igreja na educação foi de grande importância para
compreensão dos traços da nossa cultura: o grande respaldo dado às escolas comandadas por deno-
minações religiosas e a predominância da fé católica em nosso país.

Além de contar com o apoio financeiro da Igreja, os jesuítas também utilizavam da mão-de-obra indí-
gena no desenvolvimento de atividades agrícolas. Isso fez com que a Companhia de Jesus acumulasse
um expressivo montante de bens no Brasil. Fazendas de gado, olarias e engenhos eram administradas
pela ordem. Ao longo da colonização, os conflitos com os bandeirantes e a posterior redefinição das
diretrizes coloniais portuguesas deram fim à presença dos jesuítas no Brasil.

No ano de 1750, um acordo estabelecido entre Portugal e Espanha, dava direito de posse aos portu-
gueses sobre o aldeamento jesuíta de Sete Povos das Missões. Nesse mesmo tratado ficava acordado
que os jesuítas deveriam ceder as terras à administração colonial portuguesa e as populações indíge-
nas deveriam se transferir para o Vice-Reinado do Rio Prata. Os índios resistiram à ocupação, pois não

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CULTURA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL

queriam integrar a força de trabalho da colonização espanhola; e os jesuítas não admitiam perder as
terras por eles cultivadas.

O conflito de interesses abriu espaço para o início das Guerras Guaraníticas. Os espanhóis e portu-
gueses, contando com melhores condições, venceram os índios e jesuítas no conflito que se deflagrou
entre 1754 e 1760. Depois do incidente o ministro português Marques de Pombal ordenou a saída dos
jesuítas do Brasil. Tal ação fazia parte de um conjunto de medidas que visavam ampliar o controle da
Coroa Portuguesa sob suas posses.

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DA ESCRAVIDÃO A IMIGRAÇÃO

Da Escravidão A Imigração

O Brasil colônia abrange os anos de 1500, com a chegada dos portugueses, até 1822, ano da inde-
pendência do país.

A economia colonial brasileira foi formada, basicamente, por dois grandes ciclos econômicos: açúcar
(século XVI ao século XVIII) a e mineração (século XVIII e século XIX). Impende salientar que, nesse
período, também existiram outras atividades econômicas, mas que não tiveram muita importância.

Esses ciclos constituem-se em produção voltada, fundamentalmente, para a exportação, ou seja, mer-
cado externo. Tratam-se de economia primária exportadora. Assim, complementa Caio Prado Jr. (2011,
p.123):

Aquele ‘sentido’ é o de uma colônia destinada a fornecer ao comércio europeu alguns gêneros tropicais
ou minerais de grande importância (…). A nossa economia se subordina inteiramente a esse fim, isto
é, se organizará e funcionará para produzir e exportar aqueles gêneros. Tudo mais que nela existe, e
que é aliás de pouca monta, será subsidiário e destinado unicamente a amparar e tornar possível a
realização daquele fim essencial.

Essa economia colonial era formada pelas características da grande propriedade, monocultura e tra-
balho escravo, conforme citado por Caio Prado Jr. (2011). Concerne frisar, que a mesma estrutura
também pode ser empregada a mineração, observando suas particularidades técnicas.

A monocultura anda juntamente com o desenvolvimento de um único produto em grandes propriedades


(maneira mais atraente para o mercado europeu), pois como se trata de uma mercadoria altamente
lucrativa dirigida à exportação, não faz sentido desenvolver outros produtos, pois foge do sentido da
economia colonizadora.

A mão de obra escrava indígena foi a primeira a ser utilizada quando da implementação da economia
na lavoura colonial, pois os senhores de engenho necessitavam de mão de obra menos dispendiosa,
no entanto como os escravos indígenas eram em menor quantidade, não possuíam preparo suficiente
para o trabalho da lavoura, a forte oposição dos jesuítas ao trabalho escravo indígena e com o aumento
da lucratividade do tráfico de escravos africanos, logo que a economia se desenvolveu e houve grande
acúmulo de capital, foi necessário trazer a mão de obra escrava africana para o crescimento do negó-
cio.

Assim também entende Celso Furtado (2007, p.77): “A mão de obra africana chegou para a expansão
da empresa que já estava instalada”.

O trabalho formado todo por mão de obra livre era inviável nessa época, visto que, como o trabalho era
realizado em grandes propriedades, teriam que ser pagos salários altos e também daria margem para
a existência de produção em pequenas propriedades. Tudo isso, significava baixa produção para a
exportação e diminuição dos valores que eram enviados para a Europa.

Haviam pouquíssimos trabalhadores assalariados e estes ocupavam cargos de chefia e direção, como
mestres, feitores, caixeiros, entre outros Caio Prado Jr. (2011).

Complementa Celso Furtado (2007), que as despesas geradas, nos engenhos de açúcar, com trans-
porte e armazenamento não ultrapassavam cinco por cento, os custos com uma pequena mão de obra
assalariada, que era formada por alguns homens de diversos ofícios e gerenciadores do trabalho dos
escravos, alcançavam até dois por cento e a compra de gado para tração e lenha atingia três por cento
da renda gerada. Portanto, tudo isso configura a alta rentabilidade gerada na economia açucareira.

A renda monetária na era colonial pertencia, quase que sua totalidade, ao proprietário, garantindo a
continuidade da exploração, o que caracterizava a acumulação primitiva de capital, em que, segundo
Gremaud (1997) nessa economia colonial havia uma grande concentração de rendimentos nas mão
dos senhores a fim de assegurar a perpetuação do produto. Mas uma parte dessa renda voltava para
o exterior, ou seja, retornava para a Europa, através da importação de maquinário e mão de obra es-
crava.

O esquema colonial formado pelo trabalhador escravo ajuda na concentração de renda do senhor, visto
que o escravo é mantido em condições sub-humanas para que não aconteça progresso econômico e

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DA ESCRAVIDÃO A IMIGRAÇÃO

a renda é desviada para a Europa para que não aconteça investimento na colônia. Dessa forma, havia
pouquíssimo espaço para o desenvolvimento de um mercado interno, a não ser que fosse mais para o
autoconsumo.

No século XVIII, a economia do açúcar começa a cair, devido a queda no preço do açúcar (ocasionado
pela concorrência com o açúcar das antilhas pertencente aos holandeses), a alta no preço dos escravos
e com a descoberta do ouro, houve um grande deslocamento de mão de obra para esse novo ciclo
econômico, mas que também teve um grande declínio, no século XIX, passando a surgir o novo ciclo
econômico do café.

Portanto, totalizam as características primordiais existentes na economia colonial Brasileira: Monocul-


tura, a grande propriedade e o trabalho escravo. Vale acrescentar também a produção voltada para o
mercado externo.

A seguir, será apresentado o ciclo econômico do café, apresentando seu modo de produção, bem
como, sua mão de obra até o seu declínio.

A Economia Cafeeira Brasileira

A proclamação da república no Brasil, no século XIX, período no qual ocorreu a primeira república ou
república velha, foi caracterizada pelo ciclo econômico do café.

A economia mundial da época foi extremamente favorável para que ocorresse o cultivo do café no
Brasil, pois como a Europa estava vivendo a revolução industrial, exportando suas mercadorias produ-
zidas pelas indústrias, estava pouco interessada na exportação de produtos agrícolas.

Importante mencionar que, apesar da economia estar totalmente voltada para o café, também houve o
cultivo de outras atividades como: açúcar, cacau, fumo, borracha, couro, peles em outras regiões do
Brasil, conforme explana Gremaud et al (1997).

A primeira fase da economia cafeeira, momento de introdução do café, se deu no Rio de Janeiro, capital
do país, mais precisamente no Vale do Paraíba,. Lá havia bastante mão de obra escrava advinda do
declínio do ciclo da mineração, como também as mulas, utilizadas para o transporte do café até o porto.
O regime de latifúndio e monocultura continuaram a existir nessa etapa.

Nessa fase, gerou-se uma nova classe empresária de grande importância para o desenvolvimento do
país. Estes homens possuíam experiência comercial e sabiam as excelentes circunstâncias para o
comércio do café, Celso Furtado (2007, p. 172):

A nova classe dirigente formou-se numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras,
recrutamento de mão-de-obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização
nos portos, contatos oficiais, interferência na política financeira.

A segunda fase do café se dá no Oeste Paulista, pois como em São Paulo a oferta de terras para o
plantio de novas mudas de café era bem maior, houve a necessidade de mudança do cultivo que era
realizado no Rio de Janeiro.

Destarte, complemente Gremaud et. al. (1997, p. 46): ” os cafezais do Rio de Janeiro, em sua maior
parte com várias décadas de existência, apresentavam produtividade em declínio, não havendo razões
para novas platações em terras já cansadas (…)”.

Essa etapa se concentra no desenvolvimento e expansão do café, continuando a ser exercida em ca-
ráter de grandes propriedades, monocultura, mas com uma visão capitalista da economia. Também
começou a ser exercida através de trabalho escravo, mas devido o acontecimento de alguns fatores,
houve anecessidade de uma mudança para o trabalho livre.

Portanto, São Paulo se consolidou como principal produtor de café, pois como apresenta Gremaud et.
al. (1997), São Paulo era responsável por até 70% da produção do café até 1930, Minas Gerais repre-
sentava entre 15 e 20% e o Rio de Janeiro com 5 a 10%.

Como em todo ciclo econômico existe o seu momento de apogeu e declínio, com o mercado cafeeiro
não foi diferente. O final do século XIX foi considerado como super favorável para a expansão do café,

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DA ESCRAVIDÃO A IMIGRAÇÃO

visto que a produção da Ásia teve um forte prejuízo, que favoreceu ao Brasil um aumento considerável
na produção brasileira, abertura de crédito, vinda dos imigrantes e abundancia de terras.

Durante esse período os produtos brasileiros passaram a estocar parte da produção, aguardando a
exigência do mercado mundial, mas houve uma crise nos Estados Unidos (1893 – 1899) que influenciou
uma crise no mundo, fazendo com que ocorresse uma queda no preço do mercado mundial, não cor-
respondendo as esperanças do produtores de café.

Em meados de 1906 os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro reuniram-se na cidade
de Taubaté (SP) a fim de intervir na economia do café e evitar o declínio deste mercado. Essa interfe-
rência ficou mais conhecida como o Convênio de Taubaté. Esse convênio tomou algumas medidas,
conforme explanado por Celso Furtado (2007, p.253 e 254):

Em essência, essa política consistia no seguinte:

a) com o fim de restabelecer o equilíbrio entre oferta e procura de café, o governo interviria no mercado
para comprar os excedentes;

b) o financiamento dessas compras se faria com empréstimos estrangeiros;

c) o serviço desses empréstimos seria coberto com um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca
de café exportada;

d) a fim de solucionar o problema a mais longo prazo, os governos dos estados produtores deveriam
desencorajar a expansão das plantações.

Outro fator que colaborou para o declínio do café foi a crise também ocorrida nos Estados Unidos, no
ano de 1929. Se antes os preços já se encontravam em queda, com essa outra crise, a necessidade
internacional diminuiu ainda mais e fez com que os preços baixassem de vez, ocasionando a quebra
no ciclo cafeeiro.

Vale salientar outro fator importantíssimo que ocorreu no mercado do café, foi a questão da mão de
obra, visto que foi dentro dessa época em que houve a transição do trabalho escravo para o trabalho
assalariado.

Para o presente estudo, as considerações realizadas sobre os aspectos econômicos e históricos da


economia do café, servem como norte para entender como se deu a transição do trabalho escravo para
o assalariado dentro da economia agrária brasileira, pois foi no mercado cafeeiro que aconteceu a
inserção do trabalho assalariado pelos imigrantes.

Transição Do Trabalho Escravo Para O Trabalho Assalariado No Brasil: Imigração

Brasil e a economia mundial

A independência do Brasil possibilitou a abertura dos portos para a economia inglesa, lhe concedendo
diversos privilégios, apesar de não ter acontecido nenhuma mudança interna. Assim continua Celso
Furtado (2007, p. 142-143):

Vêm em seguida os tratados de 1810 que transformam a Inglaterra em potência privilegiada, com di-
reitos de extraterritorialidade e tarifas preferenciais extremamente baixas, tratados esses que constitui-
rão, em toda a primeira metade do século, uma séria limitação à autonomia do governo brasileiro no
setor econômico. A separação definitiva de Portugal em 1822 e o acordo pelo qual a Inglaterra conse-
gue consolidar sua posição em 1827 são outros dois marcos fundamentais nessa etapa de grandes
acontecimentos políticos.

A economia continua sendo primária exportadora, agora com o café, o número de mão de obra escrava
caiu de maneira drástica, pois sua taxa de mortalidade era bem maior que a de natalidade, devido as
suas condições precárias de vida, afirma Celso Furtado (2007).

Também o tráfico de escravos, nas primeiras décadas do século XIX, já se encontrava condenado
mundialmente.

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DA ESCRAVIDÃO A IMIGRAÇÃO

A seguir serão apresentados os fatores que contribuíram fortemente para a mudança de mão de obra
escrava para o trabalho assalariado no Brasil, tais como a oferta interna de trabalhadores, leis abolici-
onistas protelatórias, lei de terras e a entrada de imigrantes europeus no Brasil.

Mão de Obra Interna

A quantidade de escravos existentes na metade do século XIX estava diminuindo gradativamente de-
vido as suas péssimas condições de sobrevivência, trabalho e os altos preços destes.

Assim complementa Celso Furtado (2007, p.173): “Pela metade do século xix, a força de trabalho da
economia brasileira estava basicamente constituída por uma massa de escravos que talvez não alcan-
çasse 2 milhões de indivíduos”.

Importante salientar que havia uma oferta de mão de obra livre ligada a subsistência. Essas pessoas
produziam o que eles próprios consumiam. Em algumas situações eles se juntavam ao proprietário das
terras em um sistema de “roça”, em que o senhor da terra possui trabalhadores que se encontram a
sua disposição quando necessitasse e remunera o roceiro com o mínimo necessário para sobreviver.

Essa mão de obra se encontrava de maneira espalhada e desorganizada, o que dificultava bastante o
seu recrutamento. Celso Furtado (2007) complementa afirmando que para a existência do recrutamento
eram necessários muitos recursos e isso seria muito difícil de ser alcançado.

Existia também outra oferta interna de trabalhadores nas cidades que não se adaptava ao serviço nas
lavouras.

Com esse grave problema de oferta de mão de obra interna houve a necessidade de encontrar uma
solução urgente, para além de postergar mais um pouco a libertação total dos escravos, para que
ocorresse uma transição mais sólida para o trabalho livre assalariado.

Leis abolicionistas protelatórias

A poderosa Inglaterra do século XIX pressionou Portugal e com ela firmou vários acordos que influen-
ciaram o processo de abolição dos escravos no Brasil.

Em 1826, o Brasil assinou um tratado com os ingleses, no qual se prometeu a proibir o tráfico de es-
cravos em três anos após a trova de aprovações, o que ocorreu somente em 1827. Após esse prazo,
o tráfico negreiro iria ser considerado ilegal, conforme Caio Prado Jr. (1970).

Essa lei foi considerada a primeira medida abolicionista brasileira, porém ela não representou o fim da
escravidão.

A Lei nº de 7 de novembro de 1831 considerou livres os escravos advindos exteriormente ao império,


como também puniu aqueles que importavam esses escravos. Mas, infelizmente, essa lei não foi cum-
prida, como afirma Caio Prado Jr., (1970, p. 149): “Mas ninguém cuidava seriamente em aplica-la.
Guardar-se-á com relação ao assunto uma hipócrita reserva; e se ninguém se levanta para defender o
tráfico proibido e criticar a lei em vigor, deixa-se, contudo que ele continue como dantes”.

Os ingleses acabaram definitivamente com o tráfico negreiro em 1845, com a Lei Bill Aberdeen. Essa
lei considera unilateralmente ilícito o tráfico de escravos, tendo como punição a apreensão de qualquer
embarcação para esse fim e os infratores foram julgados por pirataria no Tribunais de Almirantado,
Caio Prado Jr. (1970). A lei recorria aos tratados firmados com Portugal e também com o Brasil.

Essa lei Bill Abdeen afrontou diretamente a soberania do Brasil, fazendo com que os brasileiros res-
pondessem com desprezo ou com a firmeza de acabar com o tráfico, como Caio Prado Jr. (1970).

Diante do impasse com a Inglaterra é promulgada a Lei nº 581 de 04 de setembro de 1850 (Lei Eusébio
de Queiroz), que finalmente acaba de vez com o tráfico negreiro no Brasil.

A lei Eusébio de Queiroz, segundo Caio Prado Jr. (1970, p.152):

Em 1850 adotam-se medidas efetivas de repressão ao tráfico: não só leis eficientes, mas uma ação
severa e continuada. Destaca-se entre as medidas a expulsão do país de traficantes notórios, portu-
gueses na maioria, o que contribui muito para desorganizar o negócio.

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DA ESCRAVIDÃO A IMIGRAÇÃO

Após a Lei Eusébio de Queiroz, começaram a surgir em 1860 alguns manifestos abolicionistas, como
livros, artigos, folhetos, entre outros. Parte dos advogados, bacharéis em direito e juristas realizaram
análises mais profundas acerca dos aspectos políticos, econômicos, sociais e políticos dos problemas
advindos da escravidão, segundo Caio Prado Jr. (1970).

No entanto, a matéria ficou paralisada por um período, devido a guerra do Paraguai, Porém, admite
Caio Prado Jr. (1970, p.178):

Encontraram-se as maiores dificuldades no recrutamento de tropas, e foi-se obrigado a recorrer a es-


cravos, desapropriando-os de seus senhores e concedendo-lhes alforria. Também em muitos lugares
foi impossível mobilizar em número suficiente os homens livres, pois isto seria desamparar tais lugares
deixando-os á mercê da massa escrava tão temida e perigosa. A escravidão revelava mais um dos
seus aspectos negativos. além disto o Brasil, embora vitorioso, saía da guerra humilhado, não somente
em face dos aliados, mas dos próprios vencidos, com suas tropas de recém-egressos da escravidão.

Viu-se que no século XIX aconteceram dois momentos referentes a legislações que protelavam a es-
cravidão: a primeira se dá na primeira metade do século XIX e diz respeito ao prolongamento do tráfico
negreiro, mesmo com a pressão da Inglaterra e o segundo momento acontece após a segunda metade
do século XIX, quando os abolicionistas pressionam o governo e este defende legislações paliativas
que diminuíam os conflitos internos, porém não acabavam totalmente com a escravidão no Brasil.

Em 1871, foi publicada a Lei nº 2.040, mais conhecida como Lei do Ventre Livre, declarando livres
todos aqueles filhos de escravos que nascessem após a decretação da lei. No entanto, esses filhos de
escravos tinham que ficar sob a tutela do senhores, até completarem a maioridade, fazendo com que
essas crianças vivessem em um regime de semiescravidão atém completarem 21 anos de idade. Essa
lei foi mais uma das que postergaram ao máximo o fim da escravidão.

O governo brasileiro, em 1885, decretou a Lei nº 3.270 ( Lei dos Sexagenários). Essa lei concedeu
liberdade aos escravos maiores de 60 anos. Ela amenizava as tensões internas do país, mas não
acabava com o trabalho escravo, como leciona Caio Prado Jr. (1970, p. 181): “uma estrondosa garga-
lhada repercutirá pelo país. Ninguém levou a sério o que a reação escravocrata pretendia apresentar
como uma larga e generosa concessão”.

Nesta oportunidade, o povo brasileiro se agita, especialmente a população escrava, ocasião em que
foram desencadeadas diversas fugas todos os dias, Caio Prado Jr.(1970).

Com o aumento das pressões abolicionistas, o governo imperial brasileiro, estatui em 13 de maio de
1888 a Lei Áurea (Lei nº 3.353). Dessas forma, ela extingue por completo a escravidão no Brasil: ” art.
1º – É declarada extinta a escravidão no Brasil”.

Lei de Terras

As sesmarias, no Brasil colonial, conviveram bem no Brasil com a mão de obra escrava, pois só tinha
terras quem possuía escravos e nessa época o escravo era como moeda, pois comprava escravo.

A terra era de propriedade da coroa, em que eram feitas doações aos senhores e estes tinham o direito
de fruição sobre essas terras.

Havia também os posseiros, que eram aquelas pessoas que desbravavam o interior do Brasil. Se eles
sobrevivessem na selva poderiam controlar um pedaço de terra que fosse suficiente à sua subsistência.

Em 17 de junho de 1822, José Bonifácio suspendeu a concessão de futuras sesmarias, visto que esse
assunto deveria ser tratado pela Constituinte do Porto. Após a independência do Brasil, com a Consti-
tuição Federal outorgada de 1824, a matéria não é mais abordada, conforme Smith (1990).

Entre os anos de 1822 e 1850, o assunto relacionado a terras permanece sem nenhuma apreciação e
é nesse momento, com o plantio do café que houve uma grande ocupação de terras pelos produtores
de café, beneficiando a expansão das lavouras cafeeiras. A questão da posse, que até o momento era
efetuada pelas classes periféricas, passou a fazer parte da expansão dos grandes latifundiários.

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DA ESCRAVIDÃO A IMIGRAÇÃO

Em 1842, o Conselho de Estado do Segundo Império formulou um projeto de lei nº 94, que foi apre-
sentado à Câmara dos Deputados em 1843. Esse projeto, já discutia a respeito da mão de obra nas
terras, conforme Emilia Viotti da Costa (1979, p.133):

O projeto baseava-se nas teorias Wakefield e inspirava-se na suposição de que, numa região onde o
acesso à terra fosse fácil, seria impossível obter pessoas para trabalhar nas fazendas, a não ser que
elas fossem compelidas pela escravidão. A única maneira de obter trabalho livre, nessas circunstân-
cias, seria criar obstáculos à propriedade rural, de modo que o trabalhador livre, incapaz de adquirir
terras, fosse forçado a trabalhar nas fazendas.

Esse projeto de lei nº 94, transformou-se, com algumas modificações, na Lei de terra, Lei nº 60, de 18
de setembro de 1850. Com essa lei, as sesmarias e posses ocorridas até a instituição da lei foram
legalizadas e toda terra só podia ser adquirida através de compra, exceto as terras das fronteiras que
seriam concedidas de forma gratuita pelo império.

Ao permitir o acesso a terras somente pela compra, impedia que o trabalhador livre recusasse o traba-
lho na grande propriedade cafeeira e partisse para a produção de subsistência, já que era inviável aos
senhores de terra oferecer elevados salários, fazendo com que acabasse com uma das causas do
trabalho escravo. Essa compra também impossibilitava a subsistência de futuros ex-escravos e dos
imigrantes que chegavam no Brasil.

Imigração

Como solução alternativa do problema da mão-de-obra sugeria-se fomentar uma corrente de imigração
européia. O espetáculo do enorme fluxo de população que espontaneamente se dirigia da Europa para
os EUA parecia indicar a direção que cabia tomar. E, com efeito, já antes da independência começara,
por iniciativa governamental, a instalação de “colônias” de imigrantes europeus.

No Brasil, criou-se uma colônia alemã no Rio Grande do Sul, com todo patrocínio do governo brasileiro
do transporte até a manutenção para povoamento. Mas essas colônias europeias não lograram êxito,
visto que, no momento em que o governo brasileiro parava de investir, a economia dessas colônias iam
reduzindo até se transformarem em subsistência, Celso Furtado (2007).

Como a política colonizadora não foi capaz de solucionar o problema de escassez de mão de obra nas
grandes lavouras cafeeiras, os proprietários dessas terras resolveram buscar soluções, como bem
apresenta Celso Furtado (2007, p.184-185):

Em 1852 um grande plantador de café, o senador Vergueiro, se decidiu a contratar diretamente traba-
lhadores na Europa.Conseguindo do governo o financiamento do transporte, transferiu oitenta famílias
de camponeses alemães para a sua fazenda em Limeira.

Os imigrantes europeus eram trazidos para trabalhar nas grandes plantações de café. O proprietário
da fazenda era quem financiava o transporte desse colono e também sua manutenção. Tornou-se um
regime de semi-escravidão (Celso furtado, 2007, p. 185):

Com efeito, o custo real da imigração corria totalmente por conta do imigrante, que era a parte finan-
ceiramente mais fraca. O Estado financiava a operação, o colono hipotecava o seu futuro e o de sua
família, e o fazendeiro ficava com todas as vantagens. O colono devia firmar um contrato pelo qual se
obrigava a não abandonar a fazenda antes de pagar a dívida em sua totalidade. É fácil perceber até
onde poderiam chegar os abusos de um sistema desse tipo nas condições de isolamento em que viviam
os colonos, sendo o fazendeiro praticamente a única fonte do poder político.

Com isso, o governo europeu interviu para reorganizar esse sistema para funcionar de maneira mais
harmônica, pois houve uma forte campanha desfavorável a imigração brasileira.

O sistema de parceria foi modificado, a partir de 1860, para um outro sistema em que o imigrante
trabalhador recebia sua remuneração principal através de um salário anual. Este salário era comple-
mentado em razão do volume obtido da colheita das plantações dos cafezais (Celso Furtado, 2007).

Em 1870 ocorreu a solução para o problema do pagamento da viagem dos imigrantes, pois o governo
passou a custear esses gastos. Dessa forma, os fazendeiros ficaram responsáveis somente pelos gas-
tos com o primeiro ano de estadia do imigrante.

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DA ESCRAVIDÃO A IMIGRAÇÃO

Contudo, cumpre destacar que esse novo sistema de trabalho teve outros dois aspectos relevantes,
conforme Caio Prado Jr. ( 1970, p. 190): “os proprietários, já com dificuldades muito maiores de mão-
de-obra, e contando cada vez menos com outros recursos além do imi-grante europeu, procurarão ter
com ele mais considerações e trata-lo de acordo com sua condição de homem livre”.

Todas essas medidas foram bastante benéficas para que houvesse um grande aumento no número de
imigrantes europeus trabalhando nas plantações de café brasileiras.

Os imigrantes italianos foram os que vieram em maior número para trabalhar no Brasil, devido a inú-
meros problemas econômicos advindos da unificação da Itália. Desta maneira, finaliza Celso Furtado
(2007, p. 187 e 188): “A pressão sobre a terra, do excedente de população agrícola, fez crescer a
intranqüilidade social. A solução migratória surgiu, assim, como verdadeira válvula de alívio. (…)O total
para o último quartel do século XIX foi 803 mil, sendo 577 mil provenientes da Itália”.

Contudo, o trabalho dos imigrantes foi substituindo gradativamente o trabalho escravo. Observando o
número de população escrava (gráfico 1) e o número de imigrantes europeus no Brasil (gráfico 2),
constata-se um decréscimo dos escravos e um aumento no número de imigrantes europeus.

População escrava

Entrada de imigrantes

Portanto, depreende-se dos gráficos que a Lei Eusébio de Queiroz constituiu um marco temporal im-
portantíssimo para a redução de escravos no Brasil e um aumento da entrada de imigrantes Europeus,
visto que com a proibição do tráfico negreiro restou bastante difícil conseguir novos escravos para
trabalhar nas lavouras cafeeiras.

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MOVIMENTO NEGRO

Movimento Negro

O movimento negro no Brasil corresponde a um conjunto de movimentos sociais, políticos e culturais


realizados pelos negros brasileiros, com a colaboração de aliados não negros, lutando contra o racismo
e por direitos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu primeiro artigo, diz que "todas as
pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos…".

Movimentos sociais expressivos envolvendo grupos negros perpassam toda a história do Brasil. Con-
tudo, até a abolição da escravatura em 1888, estes movimentos eram quase sempre clandestinos e de
caráter específico, posto que seu principal objetivo era a libertação dos negros cativos. Visto que os es-
cravos eram tratados como propriedade privada, fugas e insurreições, além de causarem prejuízos
econômicos, ameaçavam a ordem vigente e tornavam-se objeto de violência e repressão não somente
por parte da classe senhorial, mas também do próprio Estado e seus agentes.

Depois da abolição da escravatura o movimento negro continuou em suas ações reivindicatórias, sem-
pre enfrentando resistências, repúdio e incompreensão de vários setores da sociedade, ocorrendo fa-
ses de avanço e outras de recuo.

Muitos jornais e associações foram fundados em todo o país defendendo a igualdade e melhores con-
dições de vida para os negros, e em vários momentos foram formados grupos de destacada atuação
em diferentes linhas, como a Frente Negra Brasileira, a Associação Cultural do Negro, o Teatro Expe-
rimental do Negro, o Centro de Cultura e Arte Negra, o Quilombhoje e o Movimento Negro Unificado.

Esse ativismo conseguiu reforçar a identidade étnica e influir na criação de legislação, resgatou memó-
rias, valores e tradições, produziu expressiva literatura e iniciou um processo de revisão crítica da his-
tória, ressaltando a importância dos negros para a construção do país e sua cultura, assim como iniciou
a derrubada do mito da democracia racial e a desfolclorização da imagem do negro.

Apesar dessas importantes conquistas, o movimento negro está longe de ter alcançado todos os seus
objetivos. Uma grande parcela da população ainda é racista e resiste à ideia da igualdade, o precon-
ceito está amplamente disseminado na sociedade e todos os indicadores sociais, culturais e econômi-
cos mostram que o negro permanece discriminado e em significativa desvantagem em relação ao
branco.

Essa realidade se estende ao campo da educação, território que apesar de ser marcado por lutas e
avanços, ainda enfrenta muitos desafios, principalmente após a pandemia do novo coronavírus que
exigiu medidas de segurança de isolamento social e o ensino emergencial remoto, evidenciando ainda
mais as disparidades socioeconômicas, educacionais e raciais.

Monumento em Brasília homenageando Zumbi dos Palmares, líder quilombola e um dos maiores sím-
bolos da resistência negra.

Resistência negra pré-abolição

Quilombos

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MOVIMENTO NEGRO

A principal forma de exteriorização dos movimentos negros rebeldes contra a escravização foi a qui-
lombagem. Diz Clóvis Moura:

"Entendemos por quilombagem o movimento de rebeldia permanente organizado e dirigido pelos pró-
prios escravos que se verificou durante o escravismo brasileiro em todo o território nacional. Movimento
de mudança social provocado, ele foi uma força de desgaste significativa ao sistema escravista, sola-
pou as suas bases em diversos níveis – econômico, social e militar – e influiu poderosamente para que
esse tipo de trabalho entrasse em crise e fosse substituído pelo trabalho livre".

Embora, como assinale Moura, a quilombagem tenha por centro organizacional o quilombo, para onde
iam os escravos fugidos (e onde buscavam refúgio toda sorte de excluídos e marginalizados da socie-
dade da época), ela englobava "outras formas de protesto individuais ou coletivas", como as insurrei-
ções (cujo marco é a de 1835 em Salvador) e o bandoleirismo, forma de guerrilha na qual grupos de
escravos fugidos se organizavam para atacar povoados e viajantes nas estradas.

Na acepção de Moura, como movimento emancipacionista, a quilombagem "antecede em muito, o mo-


vimento liberal abolicionista" (romantizado em obras de ficção como o romance Sinhá-Moça, de 1950)
e, enquanto proposta política, somente começou a difundir-se após 1880, quando o escravismo já en-
trara em crise. Contudo, pela ausência de mediadores entre os escravos rebeldes e a classe senhorial,
a problemática quilombagem só podia ser solucionada através da violência e não do diálogo. Neste
aspecto, a maioria dos movimentos quilombolas não dispunha de meios para resistir longo tempo ao
aparelho repressor do Estado, embora tenham existido exceções, como o Quilombo dos Palmares, que
durou quase um século.

Das Inconfidências ao Isabelismo

Na Inconfidência Mineira, os negros estiveram praticamente ausentes, mas este não foi o caso na Con-
juração Baiana, de 1798. Os objetivos dos rebelados baianos eram, conforme indica Moura, "muito
mais radicais, e a proposta de libertação dos escravos estava no primeiro plano das suas cogitações".
Entre seus dirigentes e participantes, contavam-se "negros forros, negros escravos, pardos escravos,
pardos forros, artesãos, alfaiates, enfim componentes dos estratos mais oprimidos, e/ou discriminados
na sociedade colonial da Bahia da época".

Entre as mais notáveis manifestações de resistência negra no Brasil, encontra-se a Revolta dos Malês,
iniciada em janeiro de 1835 em Salvador. A revolta envolveu cerca de 1.500 negros, liderados por Ma-
nuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio e outros, objetivando libertar seus companheiros islâmicos e matar
brancos e mulatos considerados traidores, mas acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Naci-
onal, pela polícia e por civis armados. Duzentos sobreviventes foram julgados, condenados e torturados
ou mortos, e cerca de 500 foram devolvidos à África.

Nos últimos anos do regime escravista, destaca-se a atuação do ex-escravo Luís Gama, que, como rá-
bula, conseguiu, nos tribunais, libertar de 500 a mil cativos. As causas eram diversas: muitas envolviam
negros que podiam pagar cartas de alforria, mas eram impedidos pelos seus senhores de serem liber-
tos, ou que haviam entrado no território nacional após a proibição do tráfico negreiro em 1850. Luís
Gama também ganhou notoriedade por defender que "ao matar seu senhor, o escravo agia em legítima
defesa".

Após a abolição da escravatura, certa parcela dos grupos negros engajou-se na defesa do isabelismo,
espécie de culto à princesa Isabel que era por eles intitulada "A Redentora". Ainda segundo eles, a
abolição teria sido um "ato de bondade pessoal" da regente. Os mais destacados adeptos desse pen-
samento eram André Rebouças e José do Patrocínio, este último procurou mobilizar ex-escravos para
a defesa da monarquia, ameaçada por grupos que pretendiam implantar a república no Brasil. Este
movimento culminou na constituição da Guarda Negra, espécie de tropa de choque composta por "ca-
poeiras", cuja principal finalidade era dissolver comícios republicanos pelo uso da força.

Em 15 de novembro de 1889, o imperador Pedro II foi deposto por um golpe militar. Depois disso, es-
vaíram-se as oportunidades políticas para o isabelismo e para o monarquismo negro. No entanto, tal
matriz de mobilização popular - o monarquismo - sobreviveu no meio negro até os anos 1930 e inspirou
alguns líderes e porta-vozes como Arlindo Veiga dos Santos, que foi fundador e presidente da Frente
Negra Brasileira (1931-1937).

Da Revolta à Resistência Pacífica

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MOVIMENTO NEGRO

Com o fim do Império, os grupos negros se incorporaram a diversos movimentos populares, particular-
mente de base messiânica, como o de Canudos e o do Caldeirão. Tiveram ainda participação desta-
cada na Revolta da Chibata em 1910, capitaneada pelo marinheiro negro João Cândido. Através desta
revolta, Cândido conseguiu fazer com que a Marinha de Guerra do Brasil deixasse de aplicar a pena
de açoite aos marujos (negros, em sua maioria). Apesar da vitória e de uma promessa de anistia, a
liderança do movimento havia sido praticamente exterminada um ano depois, e o próprio João Cândido,
embora tenha sobrevivido ao expurgo, acabou seus dias esquecido e na miséria.

A Revolta da Chibata foi praticamente o último ato de rebelião negra organizado – e armado – ocorrido
no Brasil. Daí para frente, os grupos negros passaram a buscar formas alternativas de resistência,
"especialmente em grupos de lazer, culturais ou esportivos". Esta forma de resistência pacífica já existia
durante o período de escravidão, embora não fosse o único instrumento de contestação existente. Nas
palavras de Moura:

"Durante a escravidão o negro transformou não apenas a sua religião, mas todos os padrões das suas
culturas em uma cultura de resistência social. Essa cultura de resistência, que parece se amalgamar
no seio da cultura dominante, no entanto desempenhou durante a escravidão (como desempenha até
hoje) um papel de resistência social que muitas vezes escapa aos seus próprios agentes, uma função
de resguardo contra a cultura dos opressores.

Michael Hanchard também destaca esta forma de manifestação cultural, embora lhe atribua menor
importância como fator de contestação: "Historicamente, as práticas culturais (religião, música, dança
e outras formas) têm sido um dos poucos veículos de expressão relativamente acessíveis aos negros
(não apenas ativistas ou adeptos do movimento negro) na sociedade brasileira."

Como tais práticas não ocorrem num vácuo social, Hanchard alerta para o fato delas não mais conser-
varem sua pureza original, pois "sofrem a influência aculturativa (isto é, branqueadora) do aparelho
ideológico dominante. É uma luta ideológico-cultural que se trava em todos os níveis, ainda diante dos
nossos olhos". Ele exemplifica citando as escolas de samba do Rio de Janeiro, que, de manifestações
populares espontâneas nas primeiras décadas do século XX, converteram-se num negócio altamente
lucrativo para seus dirigentes, e contando com a proteção oficial do Estado.

O cenário pós-abolição revelou-se profundamente adverso para os negros. O governo não organizou
nenhum programa para integrar os libertos na sociedade e eles ficaram marginalizados e entregues à
própria sorte, abrindo-se um novo e longo ciclo de precarização das suas condições de vida e de lutas
por reconhecimento, direitos e ascensão.

Para muitos, a liberdade significou a perda da moradia e do trabalho nas antigas fazendas e engenhos,
causando uma grande onda de migração interna pelo Brasil à procura de novas colocações no campo,
que, quando obtidas, geralmente eram precárias. Muitos outros acabaram se movendo para as cidades,
onde moravam em pardieiros e sobreviviam fazendo biscates. Há inúmeros relatos de famílias que
caíram na extrema miséria ou se desagregaram neste período.

A cultura dominante branca permanecia impregnada de racismo, discriminando os negros em todos os


níveis, dificultando seu acesso à saúde, educação, emprego, infraestrutura, moradia, exercício da ci-
dadania, frequentação de certos espaços, etc. Desde meados do século XIX estava em voga a teoria
da democracia racial, alegando-se que durante a escravidão os negros teriam sido bem tratados, ha-
vendo uma harmonia entre senhores e escravos, o que não é verdade.

Alegava-se ainda que uma vez dotados de direitos civis, os negros teriam passado a desfrutar de todas
as vantagens gozadas pelos brancos, e se eles permaneciam em situação de inferioridade, era por sua
própria culpa.

Por isso ganhava mais força a teoria do branqueamento racial, com apoio nas teorias de racismo cien-
tífico e do Darwinismo social, considerando que os negros eram uma raça inferior, e que o Brasil se
beneficiaria de um programa de introdução de populações brancas para que a miscigenação com o
tempo reduzisse ou mesmo eliminasse os traços da etnia negra.

Essas teorias pseudocientíficas já haviam sido uma das bases dos projetos de imigração europeia
organizados pelo governo no século XIX. Esse discurso isentava os antigos senhores de escravos e o
Estado da responsabilidade pela situação dos negros e ganhou foros de oficialidade, e sua propaganda
foi tão eficiente que foi aceito até mesmo por parte da população negra e mestiça.

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MOVIMENTO NEGRO

Para reverter esse quadro discriminatório, no início da República começaram a ser fundados muitos
clubes e associações negras em vários pontos do país. Embora tivessem em geral um caráter assis-
tencialista, recreativo e/ou cultural, foram uma das bases da articulação efetiva da comunidade negra
em torno de necessidades e reivindicações comuns a todos. Em parte a partir da atividade desses
clubes, no início do século XX a consciência política e identitária dos negros iria se fortalecer. Ao
mesmo tempo, seguindo o exemplo de precursores de vida efêmera lançados em 1833, como O Ho-
mem de Cor e O Cabrito, começa a se desenvolver a imprensa negra, que ao longo do século XX
desempenharia um papel central no movimento negro como uma de suas expressões mais combativas
e transformadoras.

O Movimento Negro no Século XX

Gênese: 1915-1945

Tendo como principais centros de mobilização as cidades de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro,
os movimentos sociais afro-brasileiros começam a trilhar novos caminhos a partir de meados dos anos
1910, numa tentativa de lutar pela cidadania recém-adquirida e evoluir para organizações de âmbito
nacional. A primeira grande manifestação neste sentido é o fortalecimento da imprensa negra. Em Porto
Alegre, em 1892, surgiu o jornal O Exemplo, fundado por homens "de cor". Em 1907, na cidade de Pe-
lotas, um grupo de intelectuais negros fundou o jornal A Alvorada, pretendendo desde seu primeiro
número ser uma tribuna de defesa dos operários e dos negros de Pelotas.

Segundo Santos, "A Alvorada provavelmente seja o periódico de maior longevidade desta fase". Pos-
teriormente, em São Paulo, surgiu o jornal, O Menelick, que começou a circular em 1915. Seguem-
lhe A Rua (1916), O Alfinete (1918), A Liberdade (1919), A Sentinela (1920), O Getulino e O Clarim da
Alvorada (1924). Estes jornais possuíam como característica principal o fato de não se envolverem na
cobertura dos grandes acontecimentos nacionais, os quais, cautelosamente, evitavam. Conforme assi-
nala Moura, tratava-se de "uma imprensa altamente setorizada nas suas informações e dirigida a um
público específico".

Centravam-se principalmente na denúncia da discriminação e do racismo e dos vários problemas deri-


vados deles, debatendo alternativas concretas para a superação das dificuldades.

É também graças a esse caldo de cultura ideológico propiciado pela imprensa negra, que aparece entre
os anos 1920 e 1930 uma série de grupos mais politicamente engajados e combativos, como o Centro
Cívico Palmares, o Clube Negro de Cultura Social, a Frente Negra Socialista, a Sociedade Flor do Aba-
cate, entre outros. O mais importante deles, que teve uma abrangência nacional, foi a Frente Negra
Brasileira, grupo de orientação fascista.

Fundada em 16 de setembro de 1931, graças a uma forte organização centralizada na figura de um


"Grande Conselho" de 20 membros, presidida por um "Chefe", e contando com milhares de associados
e simpatizantes, a FNB teve uma atuação destacada na luta contra a discriminação racial, tendo sido,
por exemplo, responsável pela inclusão de negros na Força Pública de São Paulo. Depois dos êxitos
obtidos, a FNB resolveu constituir-se como partido político, e nesse sentido, deu entrada na Justiça
Eleitoral em 1936. Todavia, a vida da FNB enquanto partido foi curta.

Em 1937, com a decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas, todos os partidos políticos – inclusive
a Frente Negra – foram declarados ilegais e dissolvidos. A partir daí e praticamente até a redemocrati-
zação, em 1945, os movimentos negros foram reprimidos e tiveram de recuar para suas formas tradi-
cionais de resistência cultural.

Rearticulação

Em 1943 surgia em Porto Alegre a União dos Homens de Cor, um dos principais grupos do período,
objetivando "elevar o nível econômico, e intelectual das pessoas de cor em todo o território nacional,
para torná-las aptas a ingressarem na vida social e administrativa do país, em todos os setores de suas
atividades". A União destacou-se pelo seu rápido crescimento.

Na segunda metade da década de 1940 tinha filiais ou representantes em pelo menos dez estados, e
inspirou a criação de vários outros grupos, como a União Cultural dos Homens de Cor no Rio e a União
Catarinense dos Homens de Cor em Blumenau. Abdias do Nascimento em 1944, no Rio de Janeiro,

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MOVIMENTO NEGRO

fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), cujos ideias eram divulgados pelo jornal Quilombo. Nas-
cimento foi o responsável por expressiva produção teatral onde buscava dinamizar "a consciência
da negritude brasileira" e combater a discriminação racial. Conforme expressou o próprio Nascimento:

"Fundando o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944, pretendi organizar um tipo de ação que a
um tempo tivesse significação cultural, valor artístico e função social. De início havia a necessidade
urgente do resgate da cultura negra e seus valores, violentados, negados, oprimidos e desfigurados.
Depois de liquidada legalmente a escravidão, a herança cultural é que ofereceria a contraprova do
racismo, negador da identidade espiritual da raça negra, de sua cultura de milênios. O próprio negro
havia perdido a noção de seu passado.

Num contexto de redemocratização do Brasil, iam aparecendo outros grupos, como o Grêmio Literário
Cruz e Souza, a Associação José do Patrocínio, a Associação dos Negros Brasileiros, a Frente Negra
Trabalhista. Em 1950 foi fundado o Conselho Nacional das Mulheres Negras.

Em dezembro de 1954 era fundada em São Paulo a Associação Cultural do Negro, que entrou em
contato com organizações internacionais, atraiu colaboradores da imprensa e da intelectualidade pau-
listana, participou de diversos debates públicos e da organização de eventos de significativa repercus-
são, como a I Convenção Paulista do Negro, o Ano de Cruz e Souza, o II Congresso Mundial dos
Escritores e Artistas Negros, realizado em Roma, e o Congresso Mundial da Cultura Negra de São
Paulo, além de promover conferências, cursos e aulas de várias matérias, recuperar a memória de
figuras importantes como Luiz Gama e Carolina Maria de Jesus e estimular uma rica produção de lite-
ratura engajada.

A imprensa negra também tomava novo impulso, destacando-se os jornais Alvorada (1945), O Novo
Horizonte (1946), União (1947), Redenção (1950), A Voz da Negritude (1952), Notícias de Ébano
(1957), O Mutirão (1958), Níger (1960), entre outros.

Em 1958 realizou-se em Porto Alegre o primeiro Congresso Nacional do Negro. Por ocasião desse
acontecimento, a capital gaúcha recebeu delegações dos estados do Paraná, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, contando com a presença de estudiosos, pesquisadores, intelec-
tuais brancos e negros e a comunidade.

Repressão e Ressurgimento

A partir dos anos 1960, a ditadura militar brasileira inviabilizou novamente todas as manifestações de
cunho racial. Os militares transformaram o mito da "democracia racial" em peça-chave da sua propa-
ganda oficial, e tacharam os militantes (e mesmo artistas) que insistiam em levantar o tema da discri-
minação como "impatrióticos", "racistas" e "imitadores baratos" dos ativistas estadunidenses que luta-
vam pelos direitos civis.

Nas palavras de Hanchard, "durante as décadas de 1970 e 1980, os afro-brasileiros que impregnaram
suas atividades expressivas de um protesto e uma condenação explícitos da situação dos negros na
sociedade brasileira foram freqüentemente censurados, em termos formais ou informais, por elites que
viam tais acusações como uma afronta ao caráter nacional". Da parte do Estado, foi importante a assi-
natura pelo governo, em 1968, da Convenção nº 111 da Organização Internacional do Trabalho, refe-
rente à discriminação no emprego e nas profissões, e da Convenção Internacional sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação Racial.

O movimento negro, enquanto proposta política, sobreviveu principalmente na clandestinidade, fazendo


ocasionais aparições públicas. Neste período iniciam rearticulações importantes em São Paulo, Cam-
pinas, Rio de Janeiro e Bahia. A partir de 1971 o Centro de Cultura e Arte Negra de São Paulo se tornou
um polo agregador de militantes, jornalistas, escritores e estudantes e uma das primeiras organizações
paulistas a priorizar a ideia da negritude – isto é, a importância da consciência étnico-racial e da me-
mória africana. Deu origem a vários outros grupos.

Ainda em 1971 surgia em Porto Alegre o Grupo Palmares, considerado um dos símbolos da resistência
e um dos marcos da constituição dos movimentos sociais negros modernos. Embora centrado na dis-
cussão cultural e atuando dentro da esfera da legalidade permitida, evitando um confronto direto com
as instituições repressoras, sua existência criou um fato político novo que abriu uma brecha para a
formação de outros grupos.

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MOVIMENTO NEGRO

Também ele enfatizava a importância do resgate das raízes africanas para fortalecer a consciência da
identidade. Do Palmares brotou a ideia de transferir a data magna da população negra do dia 13 de
maio, data da promulgação da Lei Áurea, para o 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palma-
res, significando o abandono da perspectiva da liberdade concedida em prol da liberdade conquistada,
enquanto o 13 de maio para os negros se transformava em um dia nacional de denúncia do racismo.

A imprensa negra, por sua vez, ressurgia timidamente com os jornais Árvore das Palavras (1974), O
Quadro (1974), em São Paulo; Biluga (1974), em São Caetano/SP, e Nagô (1975), em São Carlos/SP.

No início da década de 1970, no Rio de Janeiro, o ator, diretor e dramaturgo maranhense Ubirajara
Fidalgo levava a militância negra aos palcos, através de uma série de montagens teatrais de temática
afro-brasileira com o seu Teatro Profissional do Negro (T.E.P.R.O.N) onde abordava, abertamente, o
racismo e o preconceito racial, trazendo à tona debates com o público sobre a questão racial brasileira.

A década de 1970 viu ainda a criação de vários núcleos de pesquisa acadêmica de significativa rele-
vância, como o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, o Centro de Estudos Afro-Asiáticos, a Soci-
edade de Intercâmbio Brasil/África, o Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas e o Grupo de Trabalho
André Rebouças.

Em 7 de julho de 1978 um ato público organizado em São Paulo contra a discriminação sofrida por
quatro jovens negros no Clube de Regatas Tietê, deu origem ao Movimento Negro Unificado (MNU),
que representou um importante marco na reorganização do movimento brasileiro e foi um polo de agre-
gação de várias lideranças. A data, posteriormente, ficaria conhecida como o Dia Nacional de Luta
Contra o Racismo. O MNU tinha uma proposta ampla e inovadora, almejando organizar politicamente
os negros em escala nacional e buscar apoios internacionais.

Com uma orientação de esquerda e núcleos em vários estados, entre suas várias pautas lutava contra
a ordem social vigente, a opressão, a violência policial, o desemprego, o subemprego e a marginaliza-
ção, procurava desfolclorizar a imagem do negro e desmistificar a teoria da democracia racial, e pleite-
ava a introdução da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares. O MNU contribuiu
para a construção de novas perspectivas teóricas e novas estratégias de mobilização e organização, e
identificou definitivamente as associações que existem no Brasil entre as questões de raça e classe,
um tópico que desde então se tornou central no discurso da militância negra.

A partir deste momento a bibliografia acadêmica sobre os movimentos negros começa a se expandir e
observa-se o início de um amplo processo de revisionismo crítico da história oficial, de desmonte de
mitos e de afirmação do resgate da memória, da cultura e da história africanas como elementos funda-
mentais no fortalecimento identitário da comunidade, na estética e nas formas de militância, rompendo
definitivamente com os projetos do início do século que ainda pregavam a assimilação do negro aos
valores da sociedade branca e burguesa como estratégia de integração, e que em sua maioria eram
influenciados por ideologias hegemônicas de direita. Em 1987 o Catálogo de Entidades de Movimento
Negro no Brasil listava 573 grupos ativistas em funcionamento.

A temática negra começou a ser trabalhada no âmbito dos partidos políticos, e entre 1979 e 1980 foi
criada a Frente Negra de Ação Política de Oposição, uma das primeiras entidades de ligação entre o
movimento negro e as estruturas partidárias.

Os debates sobre a discriminação racial refletiram-se na atitude do Estado em relação ao tema, culmi-
nando com a criação em 1984 do primeiro órgão público voltado para o apoio dos movimentos sociais
afro-brasileiros: o Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, no
governo paulista de Franco Montoro, uma iniciativa que foi imitada em outros estados — Bahia (1987),
Rio Grande do Sul (1988), Rio de Janeiro (1991). Foi ainda de Montoro a iniciativa de indicar um repre-
sentante dos negros para a chamada Comissão Arinos, que na Constituição brasileira de 1988 crimi-
nalizou a discriminação racial e incorporou várias demandas do movimento. A tipificação do racismo
como crime foi estabelecida pela Lei Caó, de autoria do deputado Carlos Alberto de Oliveira, promul-
gada em 1989 e aperfeiçoada mais tarde na Lei Paim de 1997.

Militância na Nova República

Os anos pós-Constituição de 1988 registraram avanços nas lutas institucionais dos movimentos afro-
brasileiros contra o racismo e mesmo numa maior aceitação, por parte da sociedade, da discussão

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MOVIMENTO NEGRO

desta temática. Num momento em que o país se redemocratizava, centenas de manifestações e mobi-
lizações passaram a ocorrer em todo o Brasil, colocando cada vez mais ênfase na afirmação da negri-
tude e com um perfil cada vez mais contestatório, ligando as lutas dos negros às lutas dos oprimidos
em geral.

Conforme indica Sant'ana, escrevendo em 1998, "parece realmente que o balanço do Movimento – tal
como é contabilizado pelos militantes – é o de que a campanha das últimas duas décadas redundou
na conquista da legitimidade de se colocar em pauta a questão do negro – sem excessivo risco de
serem taxados de 'divisionistas' ou de racistas ao contrário, ou ainda de 'equivocados'."

Embora esta nova atitude tenha significado uma maior participação da militância negra na política bra-
sileira, nem sempre os partidos de esquerda, como se poderia imaginar, foram os responsáveis pelos
avanços mais notáveis na luta antidiscriminação. Na verdade, impregnada de uma ideologia eurocên-
trica reducionista, que tinha como parâmetro um determinismo economicista, a esquerda brasileira his-
toricamente minimizou a questão das relações sociais, inserindo-as no âmbito do conflito Capital ×
Trabalho. O Partido dos Trabalhadores, por exemplo, apenas em 1995 criou um espaço para a discus-
são da luta racial, a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PT. Hanchard reconhece tais
avanços, porém faz um julgamento menos favorável de seu significado prático:

"As condições de contestação da ordem dominante também sofreram mudanças significativas. O mo-
vimento negro pôde passar de uma atividade política indireta e amiúde clandestina para uma contes-
tação e uma condenação francas dos legados de violência racial, discriminação e subjugação genera-
lizada dos negros em todos os níveis da sociedade brasileira. Embora a filiação a partidos políticos
tenha aumentado nos últimos dez anos, com a eleição de negros para cargos municipais e estatais, o
número de negros no Congresso Nacional não se alterou significativamente desde o fim da ditadura
militar".

De fato, na legislatura federal do período 1999-2003, dos 513 deputados, segundo o deputado Saulo
Pedrosa (PSDB-BA), apenas 11 se declaravam afro-brasileiros e concordaram em participar de uma
Frente Parlamentar Negra, de caráter informal.

A questão racial também entrou para a pauta de discussão das centrais sindicais. Em 1986 foi realizado
em São Paulo o I Encontro Estadual de Sindicalistas Negros. Pouco depois a Central Única dos Tra-
balhadores (CUT) criou uma a Comissão Nacional Contra a Discriminação Racial. Em 1990 a Confe-
deração Geral dos Trabalhadores (CGT) realizou o Seminário Nacional de Sindicalistas Antirracistas,
que teve como resultado a criação da Comissão Nacional Cegetista Contra a Discriminação Racial.
Na Força Sindical foi criada a Secretaria Nacional de Pesquisas e Desenvolvimento da Igualdade Ra-
cial. Em 1995 essas três centrais sindicais fundaram juntas o Instituto Interamericano pela Igualdade
Racial.

Em 1991 foi organizado o I Encontro de Nacional de Entidades Negras, que deu origem à Coordenação
Nacional de Entidades Negras. Outro importante marco foi a organização da Marcha Zumbi dos Pal-
mares em Brasília em 1995, reunindo cerca de 30 mil pessoas. De acordo com Trapp & Silva, "é con-
senso que a Marcha representou um momento decisivo para o movimento negro contemporâneo". Nas
palavras de Sueli Carneiro, "foi o fato político mais importante do movimento negro contemporâneo. [...]
Nós voltamos para as ruas com uma agenda crítica muito grande e com palavras de ordem muito
precisas que expressavam a nossa reivindicação de políticas públicas que fossem capazes de alterar
as condições de vida da nossa gente".

Segundo Luiza Bairros, o ano de 1995 fechou um ciclo da militância. A partir da experiência obtida no
Movimento Negro Unificado, muitos militantes teriam passado a considerar que a comunidade negra já
havia conquistado uma significativa conscientização, e que agora o Estado deveria assumir sua parcela
de responsabilidade no enfrentamento do racismo no Brasil. Isso levou a uma reorganização da mili-
tância em busca de outros caminhos e outras parcerias, como os partidos políticos, as instituições de
ensino e pesquisa, as organizações não-governamentais e os sindicatos, além de se fomentar a maior
participação política das mulheres e dos quilombolas.

Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, foi o primeiro presidente a admitir publi-
camente a existência de racismo e discriminação no Brasil, e respondendo às reivindicações expressas
na Marcha, criou o Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra, que, no
entanto, não rendeu frutos muito significativos.

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MOVIMENTO NEGRO

Também teve pouca repercussão o Seminário Internacional sobre Multiculturalismo e Racismo promo-
vido em 1996 pelo Ministério da Justiça. Mais efetivo foi o Programa Nacional de Direitos Humanos,
que se concentrou em ações de curto prazo de combate ao racismo e iniciativas de valorização e
promoção da igualdade racial.

Um reforço de grande importância para a inserção da questão negra na agenda política nacional veio
através da comissão criada para preparar a representação brasileira na 3ª Conferência Mundial contra
o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância convocada pela
ONU em 1997. A comissão organizou dezenas de reuniões e seminários e produziu um relatório sobre
as condições de vida dos negros brasileiros e das relações étnico-raciais no Brasil. Já a Conferência
reconheceu a escravidão como um crime contra a humanidade e estabeleceu uma série de compro-
missos a serem adotados pelos governos, contou com cerca de 600 participantes brasileiros e seu
relator oficial foi a ativista brasileira Edna Roland.

Teve grande repercussão no país e provocou um amplo debate nacional sobre o racismo, estimulou
mudanças nas estratégias desenvolvidas para combatê-lo, colocou a questão do negro numa perspec-
tiva transnacional, ampliou a colaboração entre entidades brasileiras e estrangeiras e favoreceu a po-
tencialização e diversificação do movimento. Entravam com força na pauta de reivindicações no Brasil
a criação de políticas de reconhecimento das diferenças sociais, de valorização da identidade e da
cidadania, e políticas redistributivas, com a defesa de ações afirmativas ou compensatórias.

Entre os resultados diretos da Conferência está a criação em 2002 do Programa Nacional de Ações
Afirmativas, de cujo plano de ação resultou a criação do Conselho Nacional de Combate à Discrimina-
ção, do programa Diversidade na Universidade, do programa Brasil, Gênero e Raça, e do programa
Bolsas-Prêmio de Vocação para a Diplomacia. Outras ações seguiram-se durante o governo Lula, com
destaque para o programa Brasil sem Racismo e a criação em 2003 da Secretaria de Políticas de Pro-
moção da Igualdade Racial. Ainda em 2003 foi aprovada uma lei que instituiu o ensino de História da
África e História Afro-brasileira nas escolas, que em sua preparação contou com a participação da pri-
meira pessoa negra no Conselho Nacional de Educação, Petronilha Gonçalves e Silva.

Em anos recentes a militância vem obtendo outros resultados notáveis. Vários governos municipais e
estaduais criaram secretarias especiais para tratar das questões negras. Em 1996 Zumbi dos Palmares
foi incluído no Livro dos Heróis da Pátria, em 2004 foi criado o Museu Afro Brasil, em 2007 o Dia Naci-
onal de Combate à Intolerância Religiosa, em homenagem à Mãe Gilda, do terreiro Ilê Abassá de Ogum
da Bahia, beneficiando as religiões de matriz africana, e em 2010 foi aprovado o Estatuto da Igualdade
Racial, dando mais garantias para a defesa dos direitos da população negra e o combate à discrimina-
ção. Em 2011 o Congresso oficializou o Dia da Consciência Negra através da Lei 12.519. Cotas raci-
ais foram aprovadas para o ensino superior em 2012 e para o funcionalismo público em 2014.

O negro tem conquistado um pouco mais de espaço na grande imprensa como repórteres, apresenta-
dores e formadores de opinião; propagandas e peças publicitárias adotam o negro como personagem
central; tendências de moda, estética e comportamento são influenciadas pela cultura negra; muitas
universidades mantêm núcleos de estudos especializados, fundando-se em 2000 a Associação Brasi-
leira de Pesquisadores Negros; mais de setenta instituições públicas de nível superior instituíram ações
afirmativas voltadas para negros e quilombolas. Seminários, encontros, conferências, plenárias, fóruns
e outros eventos também se multiplicam.

Entre 2007 e 2011 o número de deputados federais que se autodeclaravam negros saltou de 25 para
43, mas a representação negra no Congresso ainda era muito desproporcional em relação à composi-
ção étnica da população brasileira. Os 43 deputados perfaziam apenas 8,5% da Câmara. No Senado
em 2011 havia apenas 2 membros. Em contrapartida, em 2016, segundo o IBGE, 54,9% dos brasileiros
se autodeclaravam pretos ou pardos. Nas legislaturas mais recentes a situação melhorou, mas ainda
não foi alcançada uma paridade representativa. Dos deputados eleitos em 2018 apenas 24,3% se au-
todeclararam pretos ou pardos.

No século XXI a militância tem adquirido novos contornos, com um declínio da participação nos grupos
e associações que requerem filiação formal e crescimento rápido dos grupos e coletivos informais e
organizações não-governamentais, pluralizando e especializando as reivindicações e trazendo para o
debate uma série de outras questões por causa dos seus reflexos na população negra, como o femi-
nismo, machismo, sexismo, homofobia e outras, conquistando importantes avanços em educação, sa-
úde, assistência e inclusão. A partir da década de 2000 nota-se também uma decisiva virada em direção

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MOVIMENTO NEGRO

à comunicação online, que além de ser mais barata que a produção de imprensa em papel, possibilita
rápidos intercâmbios entre locais distantes, dentro e fora do país. As redes sociais, blogs, jornais e
portais na internet, desenvolvidos por indivíduos isolados ou por coletivos organizados, se tornaram
importantes espaços de autoexpressão, de debate e reivindicação sobre questões variadas, de divul-
gação de movimentos e atividades em geral, de circulação de informação e esclarecimento, e de de-
núncia de casos de racismo e discriminação.

Hoje o movimento está organizado em todos os estados brasileiros, com características que refletem
as especificidades locais, atuando nas mais diversas áreas, como educação, saúde, mercado de tra-
balho, direitos humanos, gênero, comunicação, quilombos, religiosidade, juventude, relações interna-
cionais e outras, desenvolvendo estratégias diversificadas nas lutas pela inclusão social e combate ao
racismo.

Polêmicas

O Movimento Negro encontra forte oposição em setores conservadores, em parte do empresariado,


nos ruralistas, em movimentos políticos de direita, em alguns grupos religiosos e outros.

Demétrio Magnoli fez críticas ao movimento. Para ele, o Movimento Negro estaria tentando racializar o
debate público no Brasil por meio da tentativa de importar conceitos criados nos Estados Unidos para
falar sobre a realidade das relações raciais específicas do país anglo-saxão para o Brasil, onde as
relações raciais teriam uma história e realidade diferentes. Critica ainda o patrocínio de institutos norte-
americanos, muitos deles ligados à Central Intelligence Agency, como a Fundação Ford.

De acordo com Antônio Risério, a racialização do debate público no Brasil, trazida pelo Movimento
Negro Unificado, está de acordo com a proposta da Fundação Ford de tentar configurar as relações
raciais brasileiras de acordo com o modelo binário norte americano, onde só existiriam o negro e o
branco. Além disso, a mesma fundação teria como escopo apagar a noção de mestiço presente na
mente coletiva brasileira e que alegadamente teria sido uma das características simbólicas da noção
de brasilidade. De acordo com Wanderson Chaves, a tentativa de obrigar o Brasil a aceitar classifica-
ções raciais próprias aos Estados Unidos seria uma forma de imperialismo cultural, pois "o relaciona-
mento estabelecido entre a Fundação Ford e o Departamento de Estado [Americano] e também com a
Agência Central de Inteligência (CIA) constituía-se como aspecto definidor e estruturante, ainda que
secreto ou sigiloso, de sua atuação internacional".

De acordo com Magnoli, um dos grandes problemas de movimentos e leis de cunho racial é que estes
"ensinam às pessoas que seus direitos estão ligados à sua cor da pele — e que seus interesses obje-
tivos solicitam a "solidariedade de raça". Além disso, segundo o autor:

"Não existe no Brasil um 'movimento negro' em nenhum sentido legítimo da palavra. As ONGs racialis-
tas quase nada representam, além dos interesses e ideologias de seus próprios ativistas. Mas elas
recebem, todos os anos, milhões de dólares da Fundação Ford e se incrustaram no interior do Estado,
dispondo do aparelho de uma secretaria especial da Presidência e do controle de postos-chave nos
Ministérios da Educação e da Saúde. Os dirigentes de tais grupos formam uma elite adventícia, estru-
turada em redes nas universidades e instituições internacionais, que se reclamam porta-vozes de uma
"raça". Eles usarão o termo "racista" como insulto destinado a marcar a ferro todos os que insistem em
defender o princípio da igualdade perante a lei"

Contudo, essas críticas foram contestadas. Segundo José Maria e Silva, do Observatório da Imprensa,
Magnoli faz algumas observações justas, mas também faz generalizações indevidas, mostra desco-
nhecer em profundidade alguns aspectos da problemática racial no país, usa argumentos pseudocien-
tíficos, e "sem perceber, flerta com o racismo científico do século 19, que ele tanto condena". Para Re-
ginaldo Bispo, coordenador nacional do Movimento Negro Unificado, "salta aos olhos o reacionarismo
assumido por quantos se desmancharam em elogios ao livro do intelectual-mercenário, que vai do
desconhecimento histórico; passando pela tentativa de reviver a 'democracia racial' sepultada pelo MN
nos anos 70, com dados e indicadores sociais fartamente encontrados nas publicações das instituições
em que atuam; até o mais ridículo conceito da recente descoberta desta nova 'inteligência', de que os
negros estão inventando o racismo as avessas, como nos EUA. [...] Dos argumentos recém surgidos
da 'moderna academia', é de pasmar o dramático apelo a manutenção dos privilégios e do poder nas

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MOVIMENTO NEGRO

mãos do status quo". Para Júlio & Strey, "diferente do que postula Magnoli em sua tese de que o mo-
vimento negro propõe uma racialização e uma bi-polarização no Brasil igualitário, falar sobre a questão
racial é trazer para a ordem do dia as injustiças pelas quais passa grande parte da população brasileira.

O movimento negro, assim como ONGs que tratam da questão da inclusão social de pessoas negras,
não querem bi-polarizar racialmente o Brasil. Querem sim, findar com a hegemonia branca, que carac-
teriza talvez a unipolarização racial do Brasil. [...] Fica um tanto evidente que, em verdade, ele desco-
nhece totalmente a realidade dos (as) negros (as) brasileiros e brasileiras, e que seu discurso tem sido,
no mínimo, teórico, apartado da realidade".

Embora possa haver algumas distorções pontuais, o movimento negro se legitima por múltiplos estudos
e por múltiplos depoimentos demonstrando que os negros e pardos de modo geral enfrentam condições
de vida e encontram oportunidades sistematicamente piores que os brancos, estando em jogo a ques-
tão de direitos sociais e humanos prejudicados, de possibilidades sociais restringidas e de acesso difi-
cultado aos bens materiais e imateriais.

Discursos que negam ou dissimulam a existência do racismo no Brasil não ajudam o resgate da digni-
dade negra nem a melhoria de sua situação socieconômica, mas tendem a perpetuar estereótipos dis-
criminatórios e o mito da democracia racial, ocultando ou minimizando os fatos de que uma grande
parte da população é racista e preconceituosa, e que os indicadores de saúde, educação, escolaridade,
renda média, riqueza, emprego, qualidade de vida, participação democrática, inclusividade, infraestru-
tura sanitária, segurança, habitação, acesso à justiça, à cultura, à energia e ao abastecimento de água,
mostram, todos eles, que os negros permanecem em condição de inferioridade.

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REVOLTAS COLONIAIS

Revoltas Coloniais

As Revoltas Coloniais, em suma, foram as seguintes:

ACLAMAÇÃO DE AMADOR BUENO (SÃO PAULO, 1641)

MOTIVO: PROIBIÇÃO DA ESCRAVIDÃO INDÍGENA

REVOLTA DE BECKMAN (MARANHÃO, 1684)

MOTIVOS: CONTRA O MONOPÓLIO DA CIA GERAL DO COMÉRCIO DO MARANHÃO E PROIBI-


ÇÃO DA ESCRAVIDÃO INDÍGENA

GUERRA DOS EMBOABAS (SÃO VICENTE, 1707 - 1710)

MOTIVO: DISPUTA PELO OURO

GUERRA DOS MASCATES (PERNAMBUCO, 1710)

MOTIVO: ENDIVIDAMENTO DOS SENHORES DE ENGENHO (OLINDA) COM OS COMERCIANTES


REINÓIS (RECIFE)

REVOLTA DE VILA RICA (OU FELIPE DOS SANTOS, 1720)

MOTIVO: CASAS DE FUNDIÇÃO

Revoltas Coloniais e Conflitos

Em função da exploração exagerada da metrópole ocorreram várias revoltas e conflitos no período


colonial do Brasil.

Dentre as principais revoltas e conflitos do período temos:

Guerra dos Emboabas – os bandeirantes queriam exclusividade na exploração do ouro nas minas que
encontraram. Entraram em choque com os paulistas que estavam explorando o ouro das minas.

Revolta de Filipe dos Santos – ocorrida em Vila Rica, representou a insatisfação dos donos de minas
de ouro com a cobrança do quinto e das Casas de Fundição. O líder Filipe dos Santos foi preso e
condenado a morte pela coroa portuguesa.

Inconfidência Mineira (1789) – liderada por Tiradentes, os inconfidentes mineiros queriam a libertação
do Brasil de Portugal. O movimento foi descoberto pelo rei de Portugal e os líderes foram condenados.

Revoltas Coloniais – Período Colonial

As revoltas ocorridas no Período Colonial costumam ser divididas didaticamente em Nativistas e Sepa-
ratistas.

Revoltas Nativistas

Foram movimentos de protesto contra o excesso de exploração por parte de Portugal, bem como, con-
flitos internos entre grupos rivais, mas sem qualquer pretensão de independência.

As principais foram:

A Aclamação de Amador Bueno da Ribeira - Vila de São Paulo (1641)

Foi um protesto contra o fim do comércio com a região do Rio da Prata, provocado pela Restauração
Portuguesa, bem como, contra repressão à escravidão indígena.

A população aclamou o comerciante Amador Bueno da Ribeira como rei da Vila de São Paulo, que se
recusou a participar do movimento. Dias depois, as autoridades pacificaram a população.

A Revolta de Nosso Pai – Pernambuco (1666)

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REVOLTAS COLONIAIS

Foi causada pelas dificuldades econômicas no período após a expulsão dos holandeses e pela nome-
ação de Jerônimo de Mendonça Furtado para governar Pernambuco. Um grupo, do qual faziam parte
senhores de engenho. padres, vereadores e até o Juiz de Olinda, organizou uma falsa procissão de
Nosso Pai, na qual foi preso o Governador. Mais tarde foi nomeado André Vidal de Negreiros como
novo Governador de Pernambuco, acalmando os ânimos.

Revolta de Beckman - Maranhão (1684)

Foi provocada pela proibição da escravidão indígena, graças aos jesuítas, e pela falta de negros, além,
é claro, pelos altos preços cobrados pela Companhia de Comércio do Estado do Maranhão. Os rebel-
des, liderados pelos fazendeiros Jorge Sampaio, Manuel Beckman e Tomás Beckman, expulsaram os
jesuítas, saquearam os armazéns da Companhia de Comércio, depuseram as autoridades locais e
formaram um novo governo. Tomás Beckman foi enviado a Portugal para informar ao rei quais eram
os motivos da revolta. Lá chegando, foi preso e reconduzido ao Maranhão, junto com Gomes Freire,
novo governador indicado por Portugal, que recolocou no poder as autoridades depostas e capturou os
rebeldes. Manuel Beckman e Jorge Sampaio foram enforcados e Tomás Beckman foi exilado na África.
Os jesuítas voltaram ao Maranhão e a Companhia de Comércio foi reativada.

Guerra dos Emboabas - Minas Gerais (1708 - 1709)

Foi provocada pela rivalidade entre os bandeirantes paulistas (descobridores das minas) e os “emboa-
bas” (pessoas que vieram de outros lugares em busca de metais preciosos). O Rei Dom João V deter-
minou que todos poderiam explorar as minas e separou a capitania de São Paulo e Minas de Ouro da
jurisdição do Rio de Janeiro. Muitos paulistas partiram para Goiás e Mato Grosso, onde acabaram
descobrindo novas jazidas de ouro.

Guerra dos Mascates - Pernambuco (1710 - 1711)

Com a decadência do açúcar, os outrora poderosos senhores de engenho, que moravam em Olinda,
foram se endividando com os portugueses que habitavam em Recife, que, aliás, dependia das leis
vindas da Câmara de Olinda. Os olindenses denominavam os recifenses de “mascates”, que, por sua
vez, chamavam os olindenses de “pés-rapados”. O conflito se agravou quando Recife obteve autono-
mia em relação a Olinda. Os olindenses, liderados por Bernardo Vieira de Melo, atacaram Recife, pro-
vocando a imediata reação dos “mascates”, liderados por João da Mota. O conflito só terminou com o
perdão de parte das dívidas dos senhores de engenho e com a ascensão de Recife como capital da
Capitania.

Revolta de Felipe dos Santos - Vila Rica (1720)

Foi provocada pelos elevados preços cobrados pelos comerciantes portugueses e, principalmente, pela
criação das Casas de Fundição. Os rebeldes entregaram uma lista ao governador Conde de Assumar,
contendo uma série de exigências, tais como, diminuição dos impostos (inclusive sobre o ouro), e o fim
do monopólio que os comerciantes portugueses possuíam sobre o sal, o fumo e a aguardente. Assumar
fingiu concordar com tudo, mas quando a situação se acalmou, mandou prender os líderes, entre eles,
Felipe dos Santos, que foi enforcado e esquartejado. Os demais foram enviados a Portugal e, logo
depois, foram perdoados.

Revoltas Separatistas

Buscavam a independência em relação a Portugal e suas causas gerais foram: influência do Ilumi-
nismo, o desejo do fim do monopólio, a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789).

As principais foram:

Inconfidência Mineira (1789)

Causas Locais: Os impostos exagerados sobre a mineração, assim como, o violento aumento da fisca-
lização e da repressão na região mineradora.

Líderes: Domingos Vidal Barbosa, José Álvares Maciel, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da
Costa, Alvarenga Peixoto, Joaquim José da Silva Xavier (o Tiradentes), etc.

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REVOLTAS COLONIAIS

Projetos: Implantação de uma República inspirada nos Estados Unidos, cuja capital seria São João Del
Rei e o primeiro presidente seria Tomás Antônio Gonzaga; criação do serviço militar obrigatório; fun-
dação de uma universidade em Vila Rica; instalação de fábricas por todo o país; amparo às famílias
numerosas; manutenção da escravidão.

O movimento deveria acontecer no dia da Derrama, mas os rebeldes foram delatados por Silvério dos
Reis, Brito Malheiros e Correia Pamplona. Foram todos presos e submetidos a processo (Os Autos da
Devassa), que durou três anos, e condenados à morte, mas apenas Tiradentes foi executado, pois
todos os outros reconheceram que eram “culpados de traição” e foram degredados para a África.

Conjuração do Rio de Janeiro (1794)

Em 1794, os membros da Sociedade Literária do Rio de Janeiro, liderados por Ildefonso Costa Abreu,
Silva Alvarenga, Mariano José Pereira da Fonseca e João Marques Pinto, foram presos por ordem do
vice-rei Conde de Resende, acusados de conspiração contra a Coroa Portuguesa. Dois anos depois,
foram libertados por falta de provas.

Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798)

Causas Locais: Decadência econômica, aumento dos preços das mercadorias, aumento dos impostos,
influência das duas revoltas populares de 1711, conhecidas como “Motins do Maneta” (João de Figuei-
redo Costa).

Líderes: Membros da Loja Maçônica Cavaleiros da Luz, Cipriano Barata, Lucas Dantas, Luiz Gonzaga
das Virgens, João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira. Foi um movimento com
grande participação popular e seus principais líderes eram pessoas pobres e negras (soldados, alfaia-
tes, escravos, ex-escravos, etc).

Projetos: Implantar a República Bahiense, inspirada na República Francesa; liberdade de comércio; fim
da escravidão e do preconceito.

A revolta foi duramente reprimida e seus líderes mais pobres foram enforcados e esquartejados. Os
demais líderes foram degredados ou presos e muito foram anistiados depois.

Revoltas Coloniais – Brasil

Ainda hoje, muitos historiadores pensam sobre como o Brasil conseguiu dar fim a dominação colonial
exercida pelos portugueses.

O interesse pelo assunto promove uma discussão complexa que interliga as transformações intelectu-
ais e políticas que tomaram conta do continente europeu e o comportamento das ideias que sustenta-
ram a luta pelo fim da ingerência lusitanadiretamente ligados ao poder.

Por fim, tivemos que alcançar nossa autonomia graças ao interesse de sujeitos metropolitano.

No século XVIII, podemos observar que algumas revoltas foram fruto da incompatibilidade de interes-
ses existente entre os colonos e os portugueses. Algumas vezes, a situação de conflito não motivou
uma ruptura radical com a ordem vigente, mas apenas a manifestação por simples reformas que se
adequassem melhor aos interesses locais. Usualmente, os livros de História costumam definir essas
primeiras revoltas como sendo de caráter nativista.

Outras rebeliões desenvolvidas no mesmo século XVIII tomaram outra feição. As chamadas rebeliões
separatistas pensavam um novo meio de se organizar a vida no espaço colonial a partir do banimento
definitivo da autoridade lusitana. Em geral, seus integrantes eram membros da elite que se influencia-
ram pelas manifestações liberais que engendraram a Independência das Treze Colônias, na América
no Norte, e a Revolução Francesa de 1789.

Mesmo preconizando os ideais iluministas e liberais, as revoltas acontecidas no Brasil eram cercadas
por uma série de limites. O mais visível deles se manifestava na conservação da ordem escravocrata
e a limitação do poder político aos membros da elite econômica local. Além disso, ao contrário do que
apregoavam muitos historiadores, essas revoltas nem mesmo tinham a intenção de formar uma nação
soberana ou atingir amplas parcelas do território colonial.

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REVOLTAS COLONIAIS

Entre os principais eventos que marcam a deflagração das revoltas nativistas, destacamos a Revolta
dos Beckman (1684, Maranhão); a Guerra dos Emboabas (1707, Minas Gerais); a Guerra dos Mascates
(1710, Pernambuco); e a Revolta de Filipe dos Santos (1720, Minas Gerais). As únicas revoltas sepa-
ratistas foram a Inconfidência Mineira, ocorrida em 1789, na região de Vila Rica, e a Conjuração Baiana,
deflagrada em 1798, na cidade de Salvador.

Rebeliões Nativistas

As pessoas aprendem ou interpretam as rebeliões coloniais em bloco, julgando, quase sempre, todos
os eventos como uma prova incontestável do desejo e da luta pela romântica e patriótica autonomia
política da nação.

De fato, várias revoltas, motins e conspirações marcaram o nosso passado colonial e revelavam a
insatisfação dos colonos e a dificuldade de controle por parte das forças metropolitanas. Contudo, dizer
que eles lutavam pela autonomia do nosso povo ou defendiam a construção de uma nação autônoma
incorre em um grande equívoco. Afinal de contas, as ideias de povo ou nação brasileira nem sequer
eram debatidos nos meios intelectuais da época.

Observando os primeiros conflitos ocorridos na colônia, observamos que a intenção fundamental era a
de promover algumas mudanças nas exigências e práticas impostas pela metrópole. Em nenhum mo-
mento, as primeiras grandes revoltas, acontecidas entre os séculos XVII e XVIII, pretendiam extinguir
o pacto colonial ou estabelecer a independência da América Portuguesa. Com isso, temos mais um
argumento que vai contra a tradicional interpretação dada aos levantes decorridos no período colonial.

Conhecidos como revoltas nativistas, esses movimentos tiveram início no século XVII, momento em
que diversas regiões da colônia enfrentavam sérias dificuldades econômicas provenientes da crise da
economia açucareira. Adentrando o século XVIII, vemos que essas rebeliões persistem com a rigorosa
fiscalização imposta por Portugal nessa mesma época. Entre as maiores rebeliões nativistas destaca-
mos a Revolta de Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1708), a Guerra dos Mascates (1710) e
a Revolta de Filipe dos Santos (1720).

Rebeliões Separatistas

A independência do Brasil, notamos que os desejos pela emancipação apareceram anteriormente ao


momento em que o príncipe regente, Dom Pedro I, realizou a proclamação de 1822. Ao longo do século
XVIII, em um contexto em que a mineração tinha grande visibilidade econômica, os colonos se mostra-
vam insatisfeitos com as exigências, cobranças e imposições estabelecidas pela Coroa Portuguesa.

Se por um lado contabilizamos a mudança política do governo português, também devemos destacar
que essa insatisfação veio acompanhada por uma base de sustentação ideológica. Nesse sentido,
surge a necessidade de salientarmos como o Iluminismo, a Revolução Francesa e a Independência
dos Estados Unidos tiveram grande peso para que uma parte dos colonos projetasse o fim do pacto
colonial. Já nessa época, alguns filhos de nossas elites se formavam em universidades europeias onde
essas transformações eram propagadas.

Ao identificarmos as rebeliões separatistas, observamos que esse conjunto de fatores atuou em favor
de levantes favoráveis à quebra do pacto colonial. Contudo, vale aqui frisar que esses movimentos não
podem ser erroneamente julgados como eventos que lutaram pela formação de uma nação autônoma.
No século XVIII, a emancipação de nosso extenso território ou o reconhecimento de uma pátria brasi-
leira não se evidenciou na pauta dos revoltosos dessa época.

Por meio dessa afirmativa, realizamos a construção de uma outra perspectiva com relação ao signifi-
cado da Inconfidência Mineira. Ocorrida em 1789, essa conspiração antimetropolitana não fez menção
a nenhum desejo de libertação do nosso território. Focado no desenvolvimento de uma pátria mineira,
a elite envolvida com esse movimento estabeleceu um projeto de emancipação que preservava o tra-
balho escravo em terras coloniais.

Tocada por essa mesma separação entre as elites e as camadas menos favorecidas, a Conjuração
Baiana, de 1798, foi impulsionada por uma elite ilustrada que se afastou do movimento ao perceber
que o mesmo passava a ser controlado por populares. Mesmo não tendo um projeto amplo de eman-
cipação, essa revolta teve grande importância ao tocar diretamente na questão da escravidão - um
dilema que ainda perduraria por um bom tempo em nossa história.

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REVOLTAS COLONIAIS

Por fim, em 1817, observamos uma última revolta que se desenvolveu na capitania de Pernambuco, já
conhecida pelo desenvolvimento de diversas situações de enfrentamento. Na chamada Revolução Per-
nambucana, temos o discurso iluminista e o socialismo utópico, fundamentando a fala de uma popula-
ção desgastada com os altos impostos a serem pagos e as oscilações econômicas que marcavam o
lugar. Mais uma vez, a reprimenda das cortes impediu o fortalecimento dessa situação de conflito.

Revoltas no Brasil Colonial

Do fim do século XVII até o começo do século XIX, o Brasil passou por diversas revoltas que podem
ser divididas, segundo suas características, em dois grupos: movimentos nativistas ou reformistas e
movimentos emancipacionistas.

Até a primeira metade do século XVIII, diversos movimentos nativistas realizaram-se no Brasil. O que
caracterizou esses movimentos foi a negação dos abusos portugueses sem, no entanto, contestar o
domínio luso. Baseavam-se, portanto, na defesa dos interesses locais e regionais, porém sem questi-
onar o pacto colonial.

Já os movimentos emancipacionistas, ocorridos da segunda metade do século XVIII ao primeiro quartel


do XIX, tratou-se de revoltas contra a subordinação da colônia ao poder da Coroa portuguesa. Diante
dos sinais de esgotamento do sistema colonial, estas tensões surgem lutando, principalmente, pela
independência política da região que representavam.

Neste espaço trataremos das principais rebeliões pertencentes às duas categorias acima descritas e
da ligação de cada uma destas com o contexto mundial da época.

Revoltas Nativistas

Ocorridas num intervalo de aproximadamente 30 anos, as revoltas nativistas têm muito em comum.
Nos links abaixo você poderá ler sobre a situação da Europa na época e um pouco mais sobre cada
uma dessas manifestações.

Contexto Internacional

Como já estudado, Portugal esteve sob domínio espanhol de 1580 a 1640.

Durante esse período, os portugueses foram obrigados a participar de guerras contra os inimigos da
Espanha: França, Holanda e Inglaterra. Isto acarretou-lhe a perda de diversas colônias na África e no
Oriente e invasões no território brasileiro, prejudicando a política mercantilista portuguesa. As principais
dessas invasões foram as holandesas ocorridas no Nordeste açucareiro na região da Bahia, de 1624
a 1625, e na de Pernambuco, de 1630 a 1654, e que fizeram com que os portugueses perdessem o
controle sobre uma importante área produtora de cana.

A situação portuguesa ainda só tendia a piorar. Na luta pela libertação da União das Coroas Ibéricas,
Portugal contou com ajuda financeira inglesa, tornando-se economicamente dependente e submisso a
essa potência. Além disso também tiveram de arcar com a perda do controle do tráfico negreiro para a
Holanda em 1641 e, treze anos mais tarde, com as despesas adquiridas na briga contra o domínio
holandês no Nordeste.

Os batavos, sem contar mais com o açúcar brasileiro, foram estabelecer-se nas Antilhas francesas e
inglesas onde foram bem-sucedidos na economia açucareira.

Em pouco tempo, a produção antilhana começou a concorrer com a brasileira, dando início a decadên-
cia do açúcar do Brasil.

Diante desse quadro tão desfavorável, só restava a Portugal intensificar a exploração de sua colônia
de maior importância econômica, o Brasil, que mesmo sofrendo com a crise da comercialização da
cana ainda era a base colonial do Reino. Essa intensificação consistia no arrocho colonial, determi-
nando menor autonomia para a colônia e maior controle e exploração da mesma através de várias
medidas como a implantação do Conselho Ultramarino , que resultou no aumento de poder dos gover-
nantes gerais (elevados a categoria de vice-reis em 1720), as Companhias de Comércio que assegu-
ravam o monopólio português no comércio brasileiro, e a interferência nas Câmaras Municipais através
de Juízes de Fora, nomeados pelo próprio rei, visando controlar a elite local.

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REVOLTAS COLONIAIS

Toda essa situação de enrijecimento do pacto colonial, a partir do fim do século XVII, gerou insatisfa-
ções, desencadeando os movimentos denominados nativistas ou reformistas.

Revolta dos Beckman (1684)

No Maranhão, por volta do século XVII, a situação econômica baseava-se na exploração das drogas
do sertão e nas lavouras dos colonos. A mão-de-obra usada nessas plantações não podia ser a escrava
negra, uma vez que a região maranhense era pobre e não tinha recursos para valer-se de tal mão-de-
obra escassa e cara, restando como opção a escravização de indígenas. Já as drogas do sertão eram
extraídas com mão-de-obra indígena, porém não escrava, uma vez que os índios, habitantes de mis-
sões jesuíticas, eram convencidos a fazê-lo por livre e espontânea vontade, a favor da comunidade
onde viviam. Um impasse, porém, estabeleceu-se nessa situação quando os jesuítas conseguiram de-
terminar junto a Portugal a proibição da escravização indígena, causando a insatisfação dos colonos e
opondo os dois grupos. Tendo como um dos motivos amenizar a tensão entre agricultores e religiosos,
o governo português estabeleceu, em 1682, uma Companhia de Comércio para o Estado do Maranhão,
que tinha como finalidade deter o monopólio do comércio da região, vendendo os produtos europeus e
comprando os locais, além de estabelecer um trato de fornecimento de escravos negros para a região.
Esta, contudo, não foi a solução do problema uma vez que a Companhia vendia produtos importados
a altos preços, oferecia pouco pelos artigos locais e não cumpria com o abastecimento de escravos,
sendo marcada pelo roubo e pela corrupção.

O descontentamento da população, diante deste quadro, aumentava cada vez mais. Assim, chefiados
por Manuel e Tomas Beckman, os colonos se rebelaram, expulsando os jesuítas do Maranhão, abolindo
o monopólio da Companhia e constituindo um novo governo, que durou quase um ano. Com a inter-
venção da Coroa Portuguesa, foi nomeado um novo governador para a região. Este puniu os revoltosos
com a condenação à prisão ou ao exílio dos mais envolvidos, a pena de morte para Manuel Beckman
e Jorge Sampaio e reintegrou os jesuítas no Maranhão. Dos objetivos da revolta o único que foi, de
fato, alcançado com sucesso foi a extinção da Companhia de Comércio local.

“Não resta outra coisa senão cada um defender-se por si mesmo; duas coisas são necessárias: revo-
gação dos monopólios e a expulsão dos jesuítas, a fim de se recuperar a mão livre no que diz respeito
ao comércio e aos índios.” Manuel Beckman (1684)

Guerra dos Emboabas (1708)

No fim do século XVII, os bandeirantes paulistas descobriram ouro na região das Minas Gerais, na
época, região pertencente à capitania de São Vicente. Este ouro seria uma riqueza muito importante
para Portugal e para todos os brasileiros, uma vez que, desde a crise da produção do açúcar, estes
vinham buscando uma nova fonte de lucro. Pelo fato dos paulistas terem sido pioneiros na descoberta
das jazidas de metais preciosos, julgavam-se no direito de possuir a exclusividade de extração destes,
não aceitando que forasteiros, em sua maioria baianos e portugueses, também se beneficiassem da
atividade.

O nome emboabas, palavra vinda da língua tupi e que se referia a um determinado tipo de ave com
pés emplumados, fora usado pelos paulistas, povo simples e rude, em menção pejorativa aos portu-
gueses, que usavam botas, acessório incomum dentre os primeiros.

Estas discrepâncias entre bandeirantes, colonos da Bahia e portugueses acabaram desencadeando


um conflito armado. Neste, os emboabas saíram vitoriosos, visto que estavam em maior número, pos-
suíam mais e melhores armamentos e tinham o apoio do Estado Português, para o qual interessava
que o maior número possível de mineradores explorasse a região, visto que quanto maior fosse a mi-
neração, mais ouro seria extraído e consequentemente mais lucro teria a metrópole.

Para melhor administrar a região e encerrar o conflito, o Governo Português criou a capitania de São
Paulo e das Minas. Voltando aos paulistas, derrotados, muitos abandonaram a região, dirigindo-se para
Mato Grosso e Goiás, fato que implicou não só na descoberta de novas minas de ouro, como também
na expansão territorial do domínio português na América.

Guerra dos Mascates (1710)

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REVOLTAS COLONIAIS

Em Pernambuco, por volta do século XVIII, podia-se destacar dois grupos sociais como os de maior
importância. O primeiro deles era a aristocracia rural olindense, que, produtora de açúcar, vinha empo-
brecendo com a crescente desvalorização deste produto devido à crise açucareira. O segundo era o
grupo de comerciantes recifenses, que estavam prosperando com o intenso comércio que se praticava
na região e com os empréstimos que faziam a altos juros aos olindenses falidos. À medida que os
mascates, apelido pejorativo dado pelos olindenses aos comerciantes do Recife, ganhavam importân-
cia econômica, mais se incomodavam com a condição de subordinação política a Olinda, estabelecida
pelo fato de ser apenas da segunda o título de Município, implicando que se localizasse e fosse co-
mandada por esta a Câmara Municipal, força política de ambas as regiões. Muito insatisfeito com a
condição de freguesia de Olinda e com as decisões políticas que barganhavam as crescentes dívidas
da elite rural, Recife busca a autonomia junto a Portugal. Inicialmente a Coroa pendeu para o lado dos
proprietários de terra, mas não deixando de ignorar a importância cada vez maior dos comerciantes, o
governo luso acabou por, em 1709, privilegiá-los, elevando a freguesia a categoria de município, com
sua própria Câmara Municipal.

Os olindenses, inconformados, invadem e dominam os recifenses, nomeando um governador. A reação


local gera um conflito armado que prossegue até a chegada de um novo governador enviado pelo
Reino. Este prende os principais envolvidos na revolta mantém a autonomia do Recife, que no ano
seguinte viria a ser elevado a categoria de sede administrativa de Pernambuco.

Revolta de Felipe dos Santos (1720)

A descoberta das jazidas de ouro e o início da extração aurífera na Brasil faziam surgir em Portugal a
necessidade de uma administração que assegurasse os privilégios da metrópole, facilitasse a política
fiscal e impusesse o absoluto controle sobre a mineração, impedindo o contrabando. A Revolta de
Felipe dos Santos ou Levante de Vila Rica, ocorreu como consequência destes crescentes tributos.
Visando impedir fraudes no transporte e no comércio do ouro em pó ou em pepitas, o governo real criou
as Casas de Fundição, nas quais todo ouro extraído seria fundido e teria o quinto cobrado. Também foi
estabelecida uma rigorosa legislação com penas severíssimas a todos aqueles que fossem surpreen-
didos circulando com ouro bruto. Insatisfeitos com as novas medidas e com a opressiva tributação
imposta à região, mais de 2000 mineradores, liderados por Felipe dos Santos, dirigiram-se ao gover-
nador de Minas Gerais. Sem soldados suficientes para reprimir a revolta, o governador estrategica-
mente decidiu receber alguns revoltosos fingindo aceitar a revogação da instalação das Casas de Fun-
dição e a diminuição das tributações. Deste modo ganhou tempo e quando conseguiu reunir forças
militares suficientes prendeu todos os revoltosos punindo-os com rigor e violência e condenando à forca
e ao esquartejamento o líder Felipe dos Santos.

Sendo totalmente frustrada em seus objetivos, esta rebelião ainda implicou na separação das capita-
nias de São Paulo e Minas Gerais, intensificando a autoridade real sobre a região.

Revoltas Emancipacionistas

Sendo influênciadas pelo ideal iluminista europeu, as revoltas emancipacionistas são o assunto desta
seção.

Abaixo estão detalhados cada um destes importantes movimentos ocorridos no Brasil colonial:

Contexto Internacional

O século XVIII, na Europa, foi um período de transição da velha ordem monárquica, absolutista, mer-
cantilista e estamental para uma ordem mais liberal burguesa. Essas transformações foram encabeça-
das por países como França e Inglaterra, berços de novas ideologias que vinham de encontro aos
princípios do Antigo Regime.

No plano filosófico, difundiram-se as idéias iluministas, que com o lema “liberdade, igualdade e frater-
nidade”, baseavam-se no princípio de que todo homem podia aprender e agir com sua própria consci-
ência, condenando a submissão total ao Estado e exaltando valores como o individulismo, o livre arbí-
trio, a liberdade de expressão e a propriedade privada. Influenciados por esta doutrina, muitos movi-
mentos eclodiram na Europa. O primeiro deles foi a Revolução Industrial que impulsionou a burguesia
e representou a transição do capitalismo mercantil para o capitalismo industrial, difundindo a doutrina
do liberalismo. Outro movimento de influências Iluministas foi a Revolução Francesa que, também com
bases liberalistas, fez a burguesia chegar ao poder. Toda essa movimentação na Europa, teve como

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REVOLTAS COLONIAIS

consequência inicial a Independência dos Estados Unidos, que foi o primeiro forte indício da decadên-
cia do sistema colonial e o ato responsável pela divulgação do Regime Republicano na América.

Todos estes acontecimentos e novos pensamentos circulantes chegavam ao Brasil através de um há-
bito da época que era o de jovens da elite colonial brasileira viajarem para a Europa para completar
seus estudos, em sua grande maioria na universidade de Coimbra. Lá, entravam em contato com todas
estas novas idéias e vinham divulgá-las na colônia ao retornarem. Em um Brasil sufocado pela intensa
exploração da Coroa Portuguesa, tais ideais foram muito bem aceitos, servindo como fonte de inspira-
ção para a ocorrência de algumas revoltas, cujas propostas revolucionárias foram estruturadas sobre
o desejo de emancipação política da sua área de ocorrência.

Inconfidência Mineira (1789)

Na segunda metade do século XVII, a mineração começou a entrar em decadência, surgindo os pri-
meiros sinais de esgotamento do ouro. Nessa época, a colônia já nem mais conseguia arrecadar com
a cobrança do quinto as cem arrobas de ouro anuais exigidas pela Coroa Portuguesa que, mesmo
diante deste quadro, no qual era quase impossível para os mineiradores pagar tantas taxas, não dimi-
nuia a alta tributação que aplicava sobre o metal extraído. Pelo contrário, o governo real, em 1765,
ainda criou a derrama, novo imposto que visava alcançar a meta anual de ouro através da apropriação
de pertences da população mineira. Inconformados, um grupo de colonos da elite de Vila Rica iniciou
reuniões secretas com o objetivo de conspirar contra Portugal e preparar uma revolta.

A proposta revolucionária do grupo era muito baseada nas idéias e acontecimentos de caráter iluminista
que vinham ocorrendo na Europa e englobavam medidas como a emancipação política entre Brasil e
Portugal, com a adoção de um sistema republicano; a obrigatoriedade do serviço militar; o apoio à
industrialização; a criação de uma universidade em Vila Rica…

Os inconfidentes haviam decidido que o movimento ocorreria no dia da derrama e pretendiam aprisio-
nar o representante do governo português da região.

Segundo o plano, Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, iria ao Rio de Janeiro para a divulgação
do movimento, porém, três conspiradores, sendo o mais famoso deles Joaquim Silvério dos Reis, de-
nunciaram a revolta a autoridades portuguesas que suspenderam a derrama, expediu ordem de prisão
aos conjurados e aprisionou Tiradentes, que estava a caminho do Rio. Este, foi o único dos envolvidos
que assumiu responsabilidade no movimento, recebendo como pena o enforcamento e o esquarteja-
mento. As partes do corpo de Tiradentes foram distribuídas pelas cidades onde este esteve pedindo
apoio e sua cabeça foi exposta em Vila Rica, na intenção de intimidar o acontecimento de novas rebe-
liões.

O fracasso da Inconfidência Mineira deveu-se principalmente à falta de apoio popular ao movimento,


organizado somente entre a elite, e à falta de organização militar. De qualquer forma, apesar de não
ter passado de uma conspiração, esta foi o principal movimento emancipacionista ocorrido no Brasil.

“Ouro branco! Ouro preto! Ouro podre!


De cada ribeirão trepidante e de cada recosto
De montanha o metal rolou na cascalhada
Para fausto d’ El-Rei: para a glória do imposto
Que restou do esplendor de outrora? Quase nada:
Pedras…Templos que são fantasmas ao sol-posto. “ Manoel Bandeira – Ouro Preto – Lira dos 50 anos

Conjuração Baiana (1798)

Após 1763, quando a capital brasileira foi transferida para o Rio de Janeiro, Salvador entrou em sérias
dificuldades econômicas. Lá, as diferenças sociais eram contrastantes, havendo por um lado ricos co-
merciantes portugueses e grandes proprietários, com a maioria da população, submetida à opressão
tributativa e preconceitos raciais e sociais. O descontentamento do povo havia ganhado força com as
informações que chegavam, principalmente, sobre a fase popular da Revolução Francesa e sobre a
independência do Haiti.

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REVOLTAS COLONIAIS

Foi fundada então em Salvador a “Academia dos Renascidos”, uma associação literária que discutia
os ideais do iluminismo e os problemas sociais que afetavam a população. A Conjuração Baiana surgiu
com as discussões promovidas por esta associação, que por contar com a participação de negros e
mulatos, artesãos, pequenos comerciantes, escravos, alfaiates e libertos ficou também conhecida como
Revolta dos Alfaiates. O movimento pretendia o fim da escravidão, a emancipação política de Portugal,
a proclamação de uma república democrática e a igualdade social.

Em 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador amanheceu com cartazes revolucionáris espalhados


por diversas igrejas, estabelecimentos comerciais e residências. A repressão contra o movimento foi
imediata. Houve a decretação da devassa pelo governador e a prisão e enforcamento dos principais
envolvidos.

Revolução Pernambucana (1817)

Em 1808, fugindo dos franceses, a família real portuguêsa veio abrigar-se no Brasil e, para manter os
luxos que a sua corte tinha em Portugal, foram ainda mais elevados os impostos cobrados sobre a
colônia. A população desta, que já se encontrava em uma situação difícil por não ter nenhum produto
em ascendência comercial, ficou revoltada com este aumento tributário. Então, grupos populares e de
classe média pernambucanos organizaram um movimento pró-independência e repúbica.

Os revoltosos chegaram a derrubar o governador e implantar um novo governo, acabando com a tribu-
tação, dando liberdade de imprensa e religião. Os envolvidos discordavam quanto ao tópico escravidão,
não tendo chegado a nenhuma conclusão. Esta e outras divergências internas enfraqueceram o movi-
mento, que sucumbiu quando foi cercado por mar e por terra por tropas portuguesas, que prenderam
ou executaram os envolvidos.

A Revolução Pernambucana de 1817 contribuiu decisivamente para a independência brasileira, ocor-


rida pouco mais tarde, em 1822.

Paralelo com a atualidade…

Mudam-se as épocas e os contextos, porém focos de insatisfação com características da sociedade,


da política ou da economia sempre se fazem presentes.

Do período colonial até hoje, em muitas ocasiões os brasileiros de várias regiões uniram-se na tentativa
de concretizar mudanças que julgavam necessárias. No entanto, o que mais diferencia estas mobiliza-
ções são os modos pelos quais elas ocorrem.

No Brasil-Colônia, em geral, as reivindicações realizavam-se de modo desorganizado, havendo con-


tradições de interesses entre os grupos envolvidos e a distinção entre revoltas das camadas populares
e da elite, visto que esta segunda temia pedir apoio aos primeiros para não ter que atender suas rei-
vindicações como terra, fim da escravidão, melhores condições de vida etc., as manifestações, quando
chegavam a acontecer, davam-se violentamente, buscando alcançar seus objetivos através da força
física. A opressão destas revoltas por parte da Coroa Portuguesa também era igualmente agressiva,
realizada de modo tirânico, sem dar espaço a eventuais negociações ou acordos.

Já atualmente, as contestações são feitas de modo muito mais organizado. Normalmente as pessoas
unem-se e protestam através de greves e passeatas. Buscam por meio da argumentação e negociação
atingir suas metas.

O governo, por sua vez, também modificou sua maneira de reagir a estas manifestações, passando a
tentar propor acordos ou fazer concessões que venham a beneficiar ambas as partes.

Mas o que levou de fato a essas diferentes maneiras de demonstrar descontentamento?

A resposta para esta pergunta também acaba evidenciando um outro fato, do qual, às vezes, não nos
damos conta: o de quanto é forte influência da política sobre nosso modo de viver e de agir. Quando
colônia, o Brasil era regido por um Estado Absolutista, no qual todo o poder concentrava-se na mão de
um só governante, determinado por hereditariedade. Para esse tipo de regime, não é importante a
vontade e a satisfação popular sendo, portanto, praticamente nulo o interesse da Coroa pela opinião e

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REVOLTAS COLONIAIS

sentimentos da população. Sem espaço e até mesmo sem outra opção para expor o que lhes desagra-
dava, só mesmo restava a eventuais grupos descontentes chamar atenção para suas causas através
de revoltas, lutas, invasões, etc.

E, diante dessas rebeliões, o governo, poder único e majoritário, tinha como único objetivo abafá-las
para assegurar sua autoridade, derramando para isto o sangue que fosse necessário e na maioria das
vezes não dando a mínima atenção ou importância às reclamações dos revoltosos. O grande trunfo do
regime atual, a república, para assegurar que haja respeito às idéias e à integridade do povo é o fato
de os governantes atuais dependerem do voto popular para serem eleitos. Atualmente, o governo, para
manter-se precisa preocupar-se com o bem-estar de todo seu povo, respeitando e ouvindo todas as
suas exigências e tentando solucionar eventuais mobilizações, não com represálias brutas, mas sim
com diplomacia e acordos, visando conservar sua popularidade.

Não se pode afirmar que hoje a população conquista todas as melhorias pelas quais protesta, nem
mesmo que têm seus desejos como prioridade governamental, porém, o progresso, assim como o
tempo, não pára e desejamos que com mais alguns anos o Brasil livre-se das falhas de sua política
(com um destaque para a vergonhosa corrupção), alcançando, consequentemente, o molde de uma
sociedade ideal.

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INCONFIDÊNCIAS E BRASIL JOANINO

Inconfidências E Brasil Joanino

O Período Joanino foi a época da história do Brasil colonial iniciada com a vinda de D. João VI e a corte
portuguesa em 1808.

Nesse período, o Brasil sofreu uma série de alterações para dar suporte ao abrigo da corte, que per-
maneceu na colônia até 1821, quando D. João VI, por pressão das cortes portuguesas, retornou para
Portugal.

Os historiadores afirmam que essa transferência da corte para o Rio de Janeiro contribuiu para adiantar
a independência do Brasil.

Antecedentes

A transferência da corte portuguesa para o Brasil estava relacionada com os eventos que aconteciam
na Europa durante o período napoleônico.

O imperador da França, Napoleão Bonaparte, determinou o Bloqueio Continental em 1806, que proibia
as nações europeias de comercializar com a Inglaterra.

Essa medida foi tomada como forma de sufocar a economia inglesa e forçar a derrota desse país, uma
vez que a França mostrava-se incapaz de invadir a Inglaterra.

Para impor o Bloqueio Continental, Napoleão ordenou a invasão da Espanha e de Portugal. As tropas
francesas invadiram Portugal oficialmente em 1807. Em razão disso, D. João VI ordenou a transferência
da corte portuguesa para o Brasil.

O embarque da corte portuguesa aconteceu entre os dias 25 e 27 de novembro de 1807. Estima-se


que de 10 a 15 mil pessoas tenham se mudado para o Brasil junto com o rei português.

Durante essa viagem, muitos desafios foram enfrentados, como tempestades, falta de alimentos e surto
de piolhos. D. João VI trouxe toda a estrutura de poder de Lisboa para o Rio de Janeiro, incluindo
importantes obras de arte e literárias e os recursos dos cofres reais etc.

D. João VI chegou à cidade de Salvador em janeiro de 1808 e em março do mesmo ano desembarcou
na cidade do Rio de Janeiro. A transferência da corte demandou que a cidade de Rio de Janeiro fosse
modernizada de forma a receber a estrutura administrativa do Reino. Com isso, mudanças profundas
aconteceram no Brasil.

Período Joanino

A primeira grande medida tomada por D. João VI, assim que chegou ao Brasil, foi promover a abertura
dos portos brasileiros para as “nações amigas”, o que na prática significava apenas a Inglaterra –
grande aliado e parceiro econômico de Portugal.

Com essa medida, Portugal colocava fim ao exclusivo colonial e dava permissão aos comerciantes e
grandes proprietários brasileiros para comercializar seus produtos diretamente com os ingleses.

D. João VI também revogou o decreto que proibia a instalação de manufaturas no país e incentivou a
importação de matérias-primas utilizadas nessa produção.

Além disso, o rei autorizou a construção de faculdades de medicina e de museus e bibliotecas na cidade
do Rio de Janeiro. Essas medidas possibilitaram um grande desenvolvimento intelectual na colônia.

A partir dessas ações, o Brasil passou a receber grandes nomes da ciência e das artes. O historiador
Boris Fausto afirma que John Mawe e Saint-Hilaire foram ao Rio de Janeiro durante o período joanino.

O Brasil também recebeu um grande número de imigrantes, e isso fez com que a população do Rio de
Janeiro dobrasse de 50 mil para 100 mil habitantes nessa época.

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INCONFIDÊNCIAS E BRASIL JOANINO

D. João VI permitiu ainda a criação de tipografias no Brasil, com isso, houve o surgimento dos primeiros
jornais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal fundado no Brasil. As publicações da im-
prensa, no entanto, sofriam censura, e notícias contra o governo e contra o catolicismo não eram per-
mitidas.

A transferência da corte também gerou insatisfação em muitos colonos. A presença de milhares de


pessoas da aristocracia portuguesa causou descontentamento entre parte desses colonos, principal-
mente porque D. João VI passou a distribuir cargos e privilégios para aristocratas portugueses em
detrimento das elites locais.

Além disso, para financiar os altos gastos da corte portuguesa, o rei impôs uma política de aumento de
impostos, o que desagradou a todos na colônia.

Um dos reflexos diretos desse descontentamento manifestou-se em Pernambuco, onde as elites locais,
insatisfeitas com a crise econômica, a alta de impostos, a distribuição de privilégios para portugueses
e influenciadas pelos ideais iluministas, iniciaram um movimento de caráter separatista e republicano,
que controlou a região de março a maio de 1817. Esse movimento, conhecido como Revolução Per-
nambucana, foi intensamente reprimido, e parte de seus líderes foi morta e martirizada como exemplo.

Na política externa, a Corou portuguesa meteu-se em duas disputas, e a primeira delas foi com a
França. Como represália pela invasão de Portugal, D. João VI, incentivado pela Inglaterra, ordenou a
invasão da Guiana Francesa em 1809, local que foi dominado pelos portugueses até 1817. Outra
grande disputa ocorreu no sul pela posse da Cisplatina, oficialmente invadida em 1811.

A partir de 1815, como resposta à pressão que sofria dos países membros do Congresso de Viena, D.
João VI elevou o Brasil para a condição de reino, assim, foi formado o Reino de Portugal, do Brasil e
Algarves. D. João VI sofria pressão ainda para retornar para Portugal, uma vez que as turbulências do
período napoleônico haviam sido finalizadas.

Por fim, o retorno do rei português para Portugal aconteceu como consequência dos eventos da Revo-
lução Liberal do Porto. As cortes portuguesas iniciaram uma série de mudanças de caráter liberal em
Portugal a partir de 1820 e exigiram o retorno imediato do rei D. João VI para Lisboa.

O rei, temendo perder o trono português, regressou para Lisboa, deixando seu filho, Pedro, como re-
gente do Brasil. As medidas tomadas pelas cortes portugueses e as pressões que foram realizadas
depois sobre Pedro de Alcântara levaram-no a conduzir o processo de independência do Brasil.

Movimentos De Contestação Da Relação Metrópole E Colônia

O Pacto Colonial, ou Exclusivo Comercial Metropolitano, era um sistema de leis e normas que as me-
trópoles impunham às suas colônias durante o período colonial,ou seja: as metrópoles eram os países
que se beneficiavam dos produtos e da atividade econômica de seus territórios coloniais.

As leis introduzidas no pacto tinham, como objetivo principal, garantir que as atividades econômicas
das colônias gerassem lucros para a metrópole, e que as colônias teriam que comprar e vender produ-
tos somente para a metrópole, significando, assim, que os lucros obtidos não fariam parte do mercado
internacional.

Este sistema do pacto não ordenava somente a economia entre metrópole e colônia, mas também
regulamentava a atividade política, militar e disposições jurídicas entre a metrópole e a colônia.

Exemplos de metrópoles e colônias conhecidas são Portugal (metrópole) e o Brasil (colônia) no período
colonial, e países da Europa (metrópole) que possuíam colônias na América.

O pacto colonial limitava as atividades econômicas da elite colonial. Por um lado, os colonos só podiam
vender sua produção a comerciantes legalizados pelas metrópoles, o que não garantia bons preços a
eles.

Por outro lado, a proibição de instalação de manufaturas nas colônias na América impedia a elite colo-
nial de investir em outro setor de produção que não fosse o agrário.

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INCONFIDÊNCIAS E BRASIL JOANINO

No Brasil, um exemplo de pacto colonial ocorre com a exploração do pau-brasil. Dom Sebastião, então
rei de Portugal, declarou a exploração do pau-brasil monopólio da Metrópole - Ninguém poderia retirar
pau-brasil sem permissão da coroa portuguesa e o pagamento de tributos.

O monopólio da coroa portuguesa no pau-brasil durou até à vinda da família real portuguesa para o
Brasil, em 1808. Logo depois de aportar, dom João, príncipe regente, fez a abertura dos portos, fran-
queando os portos brasileiros às nações amigas.

As Revoltas do Período Colonial Brasileiro se dividiram entre interesses nativistas e interesses separa-
tistas.

O Brasil foi colonizado por Portugal a partir de 1500, mas a efetiva exploração do território não começou
no mesmo ano. Inicialmente, os portugueses apenas extraíam das terras brasileiras o pau-brasil que
era trocado com os indígenas.

Na falta de metais preciosos, que demoraram ser encontrados, esse tipo de relação de troca, cha-
mada escambo, permaneceu por algumas décadas. A postura dos portugueses em relação ao Brasil
só se alterou quando a ameaça de perder a nova terra e seus benefícios para outras nacionalidades
aumentou.

Com o desenvolvimento da exploração do Brasil em sentido colonial, ou seja, tudo que era produzido
em território brasileiro iria para Portugal, a metrópole e detentora dos lucros finais. Esse tipo de relação
estava inserido na lógica do Mercantilismo que marcava as ligações de produção e lucro entre colônias
e suas respectivas metrópoles.

O modelo que possui essas características é chamado de Pacto Colonial, mas as recentes pesquisas
de historiadores estão demonstrando novas abrangências sobre a rigidez desse tipo de relação comer-
cial. Ao que parece, o Pacto Colonial não era tão rígido como se disse por muitos anos, a colônia tinha
certa autonomia para negociar seus produtos e apresentar seus interesses.

De toda forma, é certo que o tipo de relação entre metrópole e colônia envolveu a prática da exploração.
O objetivo das metrópoles era auferir o máximo de lucros possíveis com a produção das colônias. No
Brasil, antes do ouro ser encontrado e causar grande alvoroço, a cana-de-açúcar era o principal produto
produzido, na região Nordeste.

A exploração excessiva que era feita pela metrópole portuguesa teve seus reflexos de descontenta-
mento a partir do final do século XVII. Neste, ocorreu apenas um movimento de revolta, mas foi ao
longo do século XVIII que os casos se multiplicaram.

Entre todos esses movimentos, podem-se distinguir duas orientações nas revoltas: a de tipo nativista e
a de tipo separatista.

As revoltas que se encaixam no primeiro modelo são caracterizadas por conflitos ocorridos entre os
colonos ou defesa de interesses de membros da elite colonial. Somente as revoltas de tipo separatista
que pregavam uma independência em relação a Portugal.

Entre as revoltas nativistas mais importantes estão: Revolta de Beckman, Guerra dos Emboa-
bas, Guerra dos Mascates e a Revolta de Filipe dos Santos.

São revoltas separatistas: Inconfidência Mineira e Conjuração Baiana.

A Revolta dos Beckman ocorreu no ano de 1684 sob liderança dos irmãos Manuel e Tomas Beckman.
O evento que se passou no Maranhão reivindicava melhorias na administração colonial, o que foi visto
com maus olhos pelos portugueses que reprimiram os revoltosos violentamente.

Foi a única revolta do século XVII.

A Guerra dos Emboabas foi um conflito que ocorreu entre 1708 e 1709. O confronto em Minas Ge-
rais aconteceu porque os bandeirantes paulistas queriam ter exclusividade na exploração do ouro re-
cém descoberto no Brasil, mas levas e mais levas de portugueses chegavam à colônia para investir na
exploração. A tensão culminou em conflito entre as partes.

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INCONFIDÊNCIAS E BRASIL JOANINO

A Guerra dos Mascates aconteceu logo em seguida, entre 1710 e 1711. O confronto em Pernam-
buco envolveu senhores de engenho de Olinda e comerciantes portugueses de Recife. A elevação de
Recife à categoria de vila desagradou a aristocracia rural de Olinda, gerando um conflito. O embate
chegou ao fim com a intervenção de Portugal e equiparação entre Recife e Olinda.

A Revolta de Filipe dos Santos aconteceu em 1720. O líder Filipe dos Santos Freire representou a in-
satisfação dos donos de minas de ouro em Vila Rica com a cobrança do quinto e a instalação das Ca-
sas de Fundição. A Coroa Portuguesa condenou Filipe dos Santos à morte e encerrou o movimento
violentamente.

A Inconfidência Mineira, já com caráter de revolta separatista, aconteceu em 1789. A revolta dos mi-
neiros contra a exploração dos portugueses pretendia tornar Minas Gerais independente de Portugal,
mas o movimento foi descoberto antes de ser deflagrado e acabou sendo punido com rigidez pela
metrópole. Tiradentes foi morto e esquartejado em praça pública para servir de exemplo aos demais
do que aconteceria aos descontentes com Portugal.

A Conjuração Baiana, também separatista, ocorreu em 1798. O movimento ocorrido na Bahia pretendia
separar o Brasil de Portugal e acabar com o trabalho escravo. Foi severamente punida pela Coroa
Portuguesa.

Logo após a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, os portugueses perceberam que não havia
metais preciosos como ouro e prata, como ocorreu na América Espanhola. O que eles encontraram foi
somente o pau-brasil cuja madeira fornecia uma coloração vermelha muito usada na Europa para, por
exemplo, tingir os tecidos.

Deste modo, Portugal passou a extrair a matéria-prima, utilizando a mão de obra nativa, ou seja, dos
indígenas. Assim, a política econômica que foi implementada no Brasil era baseada no mercantilismo,
uma prática vigente nos países europeus nos séculos XV e XVI.

O mercantilismo possuía práticas que eram adotadas pelos Estados absolutistas na Idade Mo-
derna como o fato de que a riqueza de um país é medida pela quantidade de ouro e prata que ele
possuía e que não havia ganho para um Estado sem o prejuízo de outros, medida que explica muito as
consequências dessas práticas anos depois e, de certa forma, até os dias atuais.

As medidas protecionistas eram utilizadas para proteger o Estado como a proibição da entrada de ma-
nufaturados estrangeiros, estimulando a exportação e conseguindo atingir uma balança de comércio fa-
vorável, obtendo lucros.

“O comércio exclusivo pautava-se no estabelecimento de preços vantajosos na venda mais alta e a


compra mais barata pelos europeus, caracterizando um mecanismo de trocas lucrativo que contribuía
fortemente na balança comercial das potências.” (CARVALHO, p. 18)

Ainda de acordo com Carvalho, alguns historiadores questionam o termo muito utilizado “pacto colo-
nial”, pois dá a ideia de unilateralidade.

Na verdade, havia uma relação tanto metrópole-colônia e colônia-metrópole, onde poderia existir ne-
gociações em favor das colônias e não somente da metrópole.

Já se sabe que entre os anos de 1500 e 1530, os portugueses quase não efetivaram empreendimentos
na nova terra. Foram apenas feitas algumas missões de reconhecimento do pau-brasil e a construção
de algumas feitorias, onde ficava a madeira antes de ser enviada para Portugal.

Foi somente no ano de 1516 que se iniciou uma colonização com o envio dos primeiros colonos para
povoar as terras como a Vila de São Vicente, desenvolvendo-se, assim, a plantação de cana de açúcar,
se tornando rentável.

É interessante ressaltar também que entre os anos de 1580 e 1640 os espanhóis ficaram à frente das
ações administrativas no que dizia respeito ao Brasil.

Esse período foi caracterizado pelo “domínio” de Portugal pela Espanha, por conta da crise dinástica
iniciada com a morte do rei de Portugal, D. Sebastião, tendo um rei Espanhol, Felipe II, no trono portu-
guês (União Ibérica).

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INCONFIDÊNCIAS E BRASIL JOANINO

A economia portuguesa acabou ficando fragilizada, ainda mais depois da invasão pelos holandeses ao
nosso território, no nordeste.

No século XVIII, as primeiras minas de ouro são descobertas e há outra mudança na relação Brasil –
Portugal, aumentando a taxa de impostos e fiscalização por se tratar de uma atividade econômica
extremamente lucrativa.

Essas cobranças geraram revoltas, pois o governo português não auxiliava em nada os colonos, so-
mente cobrava impostos.

É somente no século XIX, em 1808, que o sistema colonial e essa relação metrópole-colônia começou
a se desmantelar, pois é o ano em que a família real portuguesa se transfere para o Brasil e houve
a abertura dos Portos às Nações Amigas, acabando com o exclusivismo português, mas Portugal ainda
tomando decisões importantes para o Brasil.

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PRIMEIRO REINADO

Primeiro Reinado

O Primeiro Reinado foi o período da história brasileira em que Pedro I do Brasil governou o Brasil como
Imperador, entre 7 de setembro de 1822, data em que proclamou a independência do Brasil, e 7 de
abril de 1831, quando abdicou do trono brasileiro.

Este período caracterizou-se por ser de transição, marcado por uma grande crise econômico-financeira,
social e política. A efetiva consolidação da independência do Brasil ocorreria a partir de 1831, com a
abdicação de D. Pedro I. É historicamente incorreto referir-se a este período como "primeiro império",
já que o Brasil teve um único período imperial contínuo, dividido em primeiro reinado, Período regen-
cial e segundo reinado.

Independência do Brasil

Após Napoleão Bonaparte declarar guerra aos países aliados da Inglaterra, ele mandou invadir Portu-
gal, que se recusou a atender às imposições francesas dito o desrespeito ao bloqueio continental, an-
tes do momento que decretava a não-relação comercial entre os países da Europa com a Inglaterra.
Por este motivo, a coroa britânica financiou a ida da Família Real Portuguesa para o Rio de Janeiro, no
ano de 1808.

Após alguns anos de vivência nos bastidores da capital colonial, D. João VI elevou-se a rei do país.
Assim, foi fundado, a 16 de dezembro de 1815 o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Rio de
Janeiro foi nomeada capital do Reino Unido.

Sob este novo status político, o Brasil gozou de algumas condições não vistas antes, como a instalação
de algumas pequenas indústrias no Rio de Janeiro e o comércio com outros países, fora Portugal -
principalmente a Inglaterra. A Inglaterra, aliás, teve grandes benefícios com a mudança política, pois
não precisaria esperar as mercadorias brasileiras (matérias-primas, ouro, minérios) passarem primeiro
por Portugal.

E, depois, por ter ajudado a coroa portuguesa, os ingleses tinham tarifas preferenciais de importação
de produtos brasileiros com a assinatura do Tratado de Comércio e Navegação (1810) e o Tratado de
Aliança e Amizade (1810), pagavam 15% de impostos, os portugueses pagavam 16%, e o resto dos
países europeus 24% de imposto.

Revolução do Porto

Porém, problemas surgiram em 1820, quando a população portuguesa exigiu o retorno de D. João VI
a Lisboa, pois Napoleão já havia sido deposto na França. A Revolução do Porto estourou em 24 de
agosto do mesmo ano, inicialmente na cidade de Porto e, em seguida, para o resto das metrópoles
portuguesas. Apesar de conseguir adiar por alguns meses da hora a insatisfação dos portugueses, D.
João VI se viu obrigado a voltar a Lisboa no ano de 1822.

Convenção de Beberibe

Pernambuco foi a primeira província brasileira a se separar do Reino de Portugal, onze meses antes
da proclamação da Independência do Brasil pelo Príncipe Dom Pedro de Orleans e Bragança. No
dia 29 de agosto de 1821, teve início um movimento armado contra o governo do capitão general Luís
do Rego Barreto — o algoz da Revolução Pernambucana —, culminando com a formação da Junta de
Goiana, tornando-se vitorioso com a rendição das tropas portuguesas em capitulação assinada a 5 de
outubro do mesmo ano, quando da Convenção de Beberibe, responsável pela expulsão dos exércitos
portugueses do território pernambucano. O Movimento Constitucionalista de 1821 é considerado o pri-
meiro episódio da Independência do Brasil.

Dia do Fico

Pedro de Bourbon e Bragança se negou a ir a Portugal, ficando no Brasil. "Se é para o bem de todos e
felicidade geral da nação, está declarado: diga ao povo que Fico", disse. A D. João VI foi obrigada a
realização do juramento à constituição e a reinstauração da situação de colônia para o Brasil. O povo
brasileiro, de todas as classes sociais, foi contra a perda da situação a que o Brasil ascendeu, ao
conseguirem cerca de 9000 assinaturas convenceram D. Pedro I a proclamar a Independência do Bra-
sil no dia de 7 de setembro de 1822.

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PRIMEIRO REINADO

Guerras da Independência

D. Pedro, agora Imperador Dom Pedro I, buscou retirar possíveis focos de resistência portuguesa den-
tro do território brasileiro. Encontrou ferrenha oposição nas províncias de Maranhão, Bahia, Pará e Pi-
auí sem contar tropas portuguesas que ainda estavam instaladas no Rio de Janeiro e em outras cidades
brasileiras. Assim, D. Pedro I contratou alguns militares europeus, a maioria ingleses e franceses. Co-
mandados pelo marechal britânico Thomas Cochrane, os soldados brasileiros e mercenários contrata-
dos conseguiram retirar a resistência. Thomas Cochrane chegou a dissipar a resistência maranhense
com apenas um navio de guerra.

Aclamado primeiro imperador do país em 12 de outubro de 1822, D. Pedro I enfrentou a resistência de


tropas portuguesas. Ao vencê-las, em meados de 1823, consolidou sua liderança. Seu primeiro grande
ato político foi a convocação da Assembleia Constituinte, eleita no início de 1823. Foi também seu
primeiro fracasso: dada a uma forte divergência entre os deputados e o soberano, que exigia poder
pessoal superior ao do Poder Legislativo e ao do Poder Judiciário, a assembleia foi dissolvida em no-
vembro.

Primeiro Reinado do Brasil

Bandeira do primeiro reinado do Brasil.

Constituição imperial

Dissensões levaram D. Pedro I a dissolver a Assembleia Geral Constituinte ainda em 1823, a que se
seguiu a outorga do texto constitucional de 1824.

Constituinte de 1823 a 1824

Em 3 de março de 1823, a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil iniciou sua
legislatura com o intuito de realizar a primeira constituição política do país. No mesmo dia, Dom Pedro
I discursou para os deputados reunidos, deixando clara a razão de ter afirmado durante sua coroação
no final do ano anterior que a constituição deveria ser digna do Brasil e de si (frase esta que fora ideia
de José Bonifácio e não do imperador):

Como imperador constitucional, e muito especialmente como Defensor Perpétuo deste Império, disse
ao povo no dia 1 de dezembro do ano próximo passado, em que fui coroado e sagrado – que com a
minha espada defenderia a Pátria, Nação e a Constituição, se fosse digna do Brasil e de mim…, uma
constituição em que os três poderes sejam bem divididos… uma constituição que, pondo barreiras
inacessíveis ao despotismo quer real, aristocrático, quer democrático, afugente a anarquia e plante a
árvore da liberdade a cuja sombra deve crescer a união, tranquilidade e independência deste Império,
que será o assombro do mundo novo e velho.

Todas as constituições, que à maneira de 1791 e 1792 têm estabelecido suas bases, e se têm querido
organizar, a experiência nos tem mostrado que são totalmente teóricas e metafísicas, e por isso inexe-
quíveis: assim o prova a França, a Espanha e, ultimamente, Portugal.

Elas não têm feito, como deviam, a felicidade geral, mas sim, depois de uma licenciosa liberdade,
vemos que em uns países já aparecem, e em outros ainda não tarda a aparecer, o despotismo em um,
depois de ter sido exercido por muitos, sendo consequência necessária ficarem os povos reduzidos à
triste situação de presenciarem e sofrerem todos os horrores da anarquia.

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PRIMEIRO REINADO

Dom Pedro lembrou aos deputados em seu discurso que a constituição deveria impedir eventuais abu-
sos não somente por parte do monarca, mas também por parte da classe política e da própria popula-
ção. Para tanto, seria necessário evitar implantar no país leis que na prática seriam desrespeitadas. A
assembleia num primeiro momento se prontificou a aceitar o pedido do imperador, mas alguns deputa-
dos se sentiram incomodados com o discurso de dom Pedro. Um deles, o deputado por Pernambuco
Andrade de Lima, manifestou claramente seu descontentamento, alegando que a frase do monarca
fora por demais ambígua. Os deputados que se encontravam na constituinte eram em sua grande mai-
oria liberais moderados, reunindo "o que havia de melhor e de mais representativo no Brasil". Foram
eleitos de maneira indireta e por voto censitário e não pertenciam a partidos, que ainda não existiam
no país.

Havia, contudo, facções entre os mesmos, sendo três discerníveis: os "bonifácios", que eram liderados
por José Bonifácio e defendiam a existência de uma monarquia forte, mas constitucional e centralizada,
para assim evitar a possibilidade de fragmentação do país, e pretendiam abolir o tráfico de escravos e
a escravidão, realizar uma reforma agrária e de desenvolver econômicamente o país livre de emprés-
timos estrangeiros. Os "portugueses absolutistas", que compreendiam não apenas lusitanos, mas tam-
bém brasileiros e defendiam uma monarquia absoluta e centralizada, além da manutenção de seus
privilégios econômicos e sociais. E por último, os "liberais federalistas", que contavam em seus quadros
com portugueses e brasileiros, e que pregavam uma monarquia meramente figurativa e descentrali-
zada, se possível federal, em conjunto com a manutenção da escravidão, além de combaterem com
veemência os projetos dos bonifácios.

Ideologicamente, o imperador se identificava com os bonifácios tanto em relação aos projetos sociais
e econômicos, quanto em relação aos políticos, pois não tinha interesse nem em atuar como um mo-
narca absoluto e muito menos em servir como "uma figura de papelão no governo".

O esboço da constituição de 1823 foi escrito por Andrada Machado, sob forte influência das constitui-
ções francesa e norueguesa. Em seguida foi remetido à constituinte, onde os deputados iniciaram os
trabalhos para a realização da carta. Existiam diversas diferenças entre o projeto de 1823 e a posterior
constituição de 1824.

Na questão do federalismo, era centralizadora, pois dividia o país em comarcas, que são divisões me-
ramente judiciais e não administrativas. As qualificações para eleitor eram muito mais restritivas que a
constituição de 1824. Definia também que seriam considerados cidadãos brasileiros somente os ho-
mens livres no Brasil, e não os escravos que eventualmente viessem a serem libertados, diferente-
mente da constituição de 1824. Era prevista a separação dos três poderes, sendo o executivo delegado
ao imperador, mas a responsabilidade por seus atos recairia sobre os ministros de Estado.

A constituinte optou também pela inclusão do veto suspensivo por parte do imperador (assim como a
de 1824), que poderia inclusive vetar se assim o desejasse o próprio projeto de constituição. Entretanto,
mudanças nos rumos políticos levaram os deputados a proporem tornar o monarca uma figura mera-
mente simbólica, completamente subordinado à assembleia.

Este fato, seguido pela aprovação de um projeto em 12 de junho de 1823 pelo qual as leis criadas pelo
órgão dispensariam a sanção do monarca levou dom Pedro I a entrar em choque com a constituinte.

Além da disputa entre o imperador e a assembleia, havia uma outra que concorreu para dissolução da
constituinte. Desde o início dos trabalhos legislativos os liberais federalistas tinham como principal in-
tuito derrubar o ministério presidido por José Bonifácio a qualquer custo e se vingar pelas perseguições
que sofreram durante a Bonifácia ocorrida no ano anterior.

Os portugueses absolutistas, por outro lado, viram seus interesses feridos quando José Bonifácio emitiu
os decretos de 12 de novembro de 1822 e 11 de dezembro de 1822, onde no primeiro eliminava os
privilégios dos lusitanos e no segundo sequestrava os bens, mercadorias e imóveis pertencentes aos
mesmos que tivessem apoiado Portugal durante a independência brasileira. Apesar das diferenças, os
portugueses e os liberais se aliaram com o objetivo de retirar do poder o inimigo comum. Os liberais e
portugueses aliciaram os:

[…]"desafetos dos Andradas, cujo valimento junto ao imperador açulava muitas invejas e cuja altaneira,
por vezes grosseira, suscetibilizava muitos melindres e feria muitas vaidades. Duros para com os ad-

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PRIMEIRO REINADO

versários, os Andradas tinham suscitado fartura de inimigos no prestígio conquistado pela sua superi-
oridade intelectual e pela sua honestidade. Os descontentes uniram-se para derrubá-los e na aliança
se confundiram moderados com exaltados".

Constituição de 1824. Documento sob guarda do Arquivo Nacional.

As duas facções aliadas arregimentaram os amigos íntimos do imperador para o seu lado, que logo
trataram de envenenar a amizade do monarca com o seu grande amigo, José Bonifácio. Vendo a maior
parte da assembleia abertamente descontente com o ministério Andrada e influenciado por seus ami-
gos, que se identificavam com os interesses dos portugueses, dom Pedro I demitiu os ministros de
Estado. Iniciou-se então uma guerra de ataques entre os jornais do país, que defendiam uma ou outra
facção política. A aliança entre os liberais e portugueses foi efêmera. Logo que o ministério Andrada foi
demitido, os dois grupos voltaram-se um contra o outro. Para o monarca qualquer relação com os
liberais seria inadmissível, pois sabia muito bem de suas intenções em transformá-lo numa figura me-
ramente decorativa. Os ataques contra os portugueses em geral e até mesmo contra dom Pedro por
parte dos jornais e deputados a favor dos Andradas levou o imperador a se aproximar dos portugueses.

A crise tornou-se ainda mais séria quando um episódio que normalmente seria completamente ignorado
acabou por ser utilizado para fins políticos. Um boticário nascido no Brasil, que também praticava o
jornalismo, sofreu agressões físicas por parte de dois oficiais lusitanos que erroneamente acreditavam
que ele tivesse sido o autor de artigo injurioso.

Os Andradas aproveitaram a oportunidade para alegar que a agressão sofrida pelo boticário fora na
realidade um atentado contra a honra do Brasil e do povo brasileiro. Antônio Carlos de Andrada e
Martim Francisco de Andrada foram levados sobre os ombros de uma multidão e seguiu-se uma onda
de xenofobia antilusitana que acirrou ainda mais os ânimos. A tudo dom Pedro assistiu da janela do
Paço Imperial que se encontrava ao lado da "Cadeia Velha", nome do local onde estava se realizando
a Constituinte. O imperador ordenou que o Exército se preparasse para um conflito. Dom Pedro I deti-
nha a fidelidade da oficialidade, que se sentira agredida pelos insultos direcionados a si e ao imperador
pelos jornais aliados aos Andradas e exigia uma punição aos mesmos.

Os deputados demonstraram apreensão e exigiram respostas sobre a razão da reunião de tropas em


São Cristóvão. O ministro do Império, Vilela Barbosa, representando o governo, dirigiu-se à assembleia
demandando que se processassem os irmãos Andradas pelos supostos abusos que cometeram. Os
deputados reunidos debateram sobre a proposta do governo e permaneceram em sessão durante a
madrugada. Mas no dia seguinte quando Vilela Barbosa retornou à assembleia para dar explicações
sobre a reunião das tropas, alguns deputados gritaram exigindo que dom Pedro I fosse declarado "fora-
da-lei". O imperador ao saber disto, antes mesmo que o ministro do império retornasse da assembleia,
assinou o decreto dissolvendo a constituinte. Sobre o episódio, Oliveira Lima afirmou que:

"A madrugada da ‘noite de agonia’ não iluminou, todavia, martírio algum. Os deputados que se tinham
declarado prontos a cair varados pelas baionetas imperiais, voltaram tranquilamente para suas habita-
ções, sem que os soldados os incomodassem. Seis tão-somente foram deportados para a França, entre
eles os três Andradas".

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PRIMEIRO REINADO

Os portugueses propuseram a dom Pedro I que enviasse os irmãos Andradas para Portugal pois lá
muito provavelmente seriam condenados à morte por suas participações na independência brasileira.
Pediram apenas o seu consentimento. "Não! Não consinto porque é uma perfídia [deslealdade]", res-
pondeu o monarca. Apreensivo quanto à possibilidade de se tornar uma figura nula no governo do país
e diante das disputas por parte dos deputados, Dom Pedro I tomou a decisão de dissolver a Consti-
tuinte.

Outorgarão Da Constituição Brasileira

Tendo dissolvido a Assembleia Constituinte, o imperador encarregou o Conselho de Estado criado em


13 de novembro de 1823 de redigir um novo projeto de Constituição que estaria finalizado em apenas
quinze dias. Era um "conselho de notáveis" formado por juristas renomados, sendo todos brasileiros
natos. O grupo incluía Carneiro de Campos, principal autor da nova constituição além de Villela Bar-
bosa, Maciel da Costa, Nogueira da Gama, Carvalho e Mello, dentre outros.

O Conselho de Estado utilizou como base o projeto da Constituinte e assim que terminou, enviou uma
cópia da nova constituição para todas as câmaras municipais. Esperava-se que a constituição servisse
como um projeto para uma nova Assembleia Constituinte. Contudo, as câmaras municipais sugeriram
ao imperador que se adotasse "imediatamente" o projeto como a constituição brasileira. Em seguida,
as câmaras municipais, compostas por vereadores eleitos pelo povo brasileiro como seus representan-
tes, votaram a favor por sua adoção como a Constituição do Brasil independente. Pouquíssimas câma-
ras fizeram qualquer tipo de observação à constituição e praticamente nenhuma fez alguma reserva. A
primeira constituição brasileira foi então outorgada por dom Pedro I e solenemente jurada na Catedral
do Império, no dia 25 de março de 1824.

A carta constitucional outorgada em 1824 foi influenciada pelas constituições francesa de 1791 e es-
panhola de 1812. Era um "belo documento de liberalismo do tipo francês", com um sistema represen-
tativo baseado na teoria da soberania nacional.

A forma de governo era a monárquica, hereditária, constitucional e representativa, sendo o país dividido
formalmente em províncias e o poder político estava dividido em quatro, conforme a filosofia liberal das
teorias da separação dos poderes e de Benjamin Constant. A constituição era uma das mais liberais
que existiam em sua época, até mesmo superando as europeias.

Fora mais liberal, em diversos pontos, e menos centralizadora que o projeto da constituinte, revelando
que os "constituintes do primeiro reinado que estavam perfeitamente atualizados com as ideias da
época". Apesar da constituição prever a possibilidade de liberdade religiosa somente em âmbito do-
méstico, na prática, ela era total. Tanto os protestantes, como judeus e seguidores de outras religiões
mantiveram seus templos religiosos e a mais completa liberdade de culto. Continha uma inovação, que
era o Poder Moderador, cujo surgimento na letra da lei fora atribuída a Martim Francisco de Andrada,
um grande admirador de Benjamin Constant. Este poder serviria para "resolver impasses e assegurar
o funcionamento do governo". A separação entre o Poder Executivo e Moderador surgiu a partir da
prática no sistema monárquico-parlamentarista britânico.

Havia na constituição "algumas das melhores possibilidades da revolução liberal que andava pelo oci-
dente – as que iriam frutificar, embora imperfeitamente, no reinado de D. Pedro II". Isabel Lustosa diz
que segundo [Neill] Macaulay, ele proporcionou uma Carta invulgar, sob a qual o Brasil salvaguardou
por mais de 65 anos os direitos básicos dos cidadãos de maneira melhor ‘do que qualquer outra nação
do hemisfério ocidental, com a possível exceção dos Estados Unidos’". De acordo com João de Scan-
timburgo:

"D. Pedro e os seus constituintes tiveram o bom senso de escolher o melhor regime para a nação
tropical, que se emancipava na América, sem copiar os Estados Unidos já consolidados, e as nações
hispano-americanas retaliadas por tropelias sem fim, pelo revezamento de breves períodos democrá-
ticos e ditaduras caudilhescas".

Estrutura político-eleitoral no império

Na constituição de 1824 foram definidas as primeiras regras do sistema eleitoral brasileiro. Foi criada
a Assembleia Geral, órgão máximo do poder Legislativo nacional, composta pelo Senado e pela Câ-
mara dos Deputados, cujos integrantes eram escolhidos pelo voto dos cidadãos.

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PRIMEIRO REINADO

As eleições no império, antes da reforma de 1881, eram indiretas, isto é, o pleito se dava em dois graus.
No primeiro grau, exercido pelos eleitores de paróquia, votavam os cidadãos de, no mínimo, 25 anos
de idade e 100 mil réis de renda anual, e eram escolhidos os eleitores de segundo grau. Esses, também
conhecidos como eleitores de província, elegiam os deputados. Os senadores eram eleitos pelo impe-
rador.

O voto não era obrigatório para os cidadãos, mas censitário. Isto é, o eleitor de primeiro grau era defi-
nido de acordo com suas posses econômicas, deveria possuir renda anual mínima de 100 mil réis.
Os trabalhadores assalariados em geral, os soldados, as mulheres, os índios e os menores de 25 anos
eram excluídos da vida política nacional.

Por isso, as eleições brasileiras tinham uma tendência concentradora, e o sufrágio ativo era um direito
limitado a poucos cidadãos, por causa da eleição censitária, que restringia o eleitorado aos cidadãos
mais ricos. E, no final do império, por exemplo, apenas 1,5% da população brasileira tinha direito ao
voto. Tal tendência concentradora acontecia tanto nas eleições federais como nas municipais.

Outra importante característica do sistema eleitoral brasileiro durante o império foi a proximidade entre
o estado e a religião, o chamado padroado. A Igreja Católica, declarada religião oficial do Brasil, tinha
elevada influência sobre as relações políticas nacionais. Tal influência se refletia na exigência legal,
por parte dos candidatos a cargos políticos, de seguir o catolicismo, assim como na realização das
eleições dentro das igrejas.

Além disso, uma boa porcentagem dos políticos eleitos no Brasil nessa época era de origem sacerdotal,
uma vez que eram os padres que faziam o recrutamento dos eleitores e a organização do pleito era
realizada por padres. Os clérigos receberiam renda do Império, equiparando-se a funcionários públicos.
Todas as decisões tomadas pela Igreja deveriam passar pelo crivo do imperador.

Declínio e Fim do Primeiro Reinado

Confederação do Equador e Guerra Cisplatina

As forças políticas das províncias do Nordeste, lideradas por Pernambuco, se rebelaram contra o go-
verno e a constituição, pois dava muitos poderes ao soberano. Pregavam uma república livre da coroa,
com capital Recife, que se chamaria Confederação do Equador. O movimento foi reprimido com ex-
trema violência pelas tropas imperiais. Apesar da constituição de 1824 determinar que o regime vigente
fosse liberal, D. Pedro I impunha sua vontade com firmeza, gerando um crescente conflito com os
liberais que começaram a identificá-lo como um governante ditatorial e autoritário.

Um dos mais graves problemas do primeiro reinado foi a Guerra da Cisplatina, quando uruguaios apoi-
ados pelo governo argentino ocuparam toda a Província Cisplatina e um governo provisório uruguaio
decidiu a incorporação da Cisplatina à República das Províncias Unidas do Rio da Prata.

Em razão da Guerra da Cisplatina (1825-1828), houve a perda da Província Cisplatina e a consequente


independência com o nome de República Oriental do Uruguai, agravando assim, e muito, os problemas
de D. Pedro I, pois, além das crises políticas, havia a crise econômica, gerada pela recuperação da
exportação e produção do açúcar pelas colônias espanholas com sua recente independência e norma-
lização da exportação.

Outro fato que gerou descontentamento geral foi a desenfreada emissão de papel-moeda por D. Pedro
visando sanar os déficits surgidos com a derrota na Guerra da Cisplatina. Em decorrência desta política
econômica desastrosa, surgiu a inflação, diminuindo o poder aquisitivo das camadas mais pobres da
população. Somado a isso, havia a saída das reservas monetárias, anteriormente depositadas no
Banco do Brasil, levadas para Portugal quando do retorno de D. João VI.

Abdicação do trono português

Seguindo a política da constituição portuguesa de então, e aproveitando-se da fragilidade do Brasil


após a Guerra da Cisplatina, D. João VI e a ala absolutista de seu ministério procuram reaver o território
brasileiro em meados de 1825. Na iminência de uma guerra, D. João VI decide por nomear Pedro seu
sucessor em Portugal, ignorando a deserção que ele mesmo impôs ao filho devido à sua rebeldia e aos
acontecimentos de 1822—negociação essa acompanhada à distância pelo governo inglês. Habilmente,
Pedro I aceita a proposta e retorna a Portugal para finalmente sagrar-se Pedro IV de Portugal em maio

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PRIMEIRO REINADO

de 1826, após a abdicação de seu pai. Contudo, vista a constituição brasileira recém-aprovada, era
proibido ao imperador brasileiro deter paralelamente o título de regente de Portugal.

Assim, apenas um mês depois de coroado rei português, Pedro abdica ao trono, todavia garantido a
sucessão à sua primogênita, D. Maria II, que momentaneamente não assumiria devido à sua idade, e
entregando a regência do reino português a D. Miguel I. Pedro retorna ao Brasil, onde enfrentaria uma
conjuntura política cada vez mais desfavorável a si.

Situação em Portugal

Entretanto, D. Miguel, irmão de D. Pedro I, fez-se proclamar rei em lugar da filha do imperador brasileiro.
Todos esses problemas, que ocasionaram uma sucessiva substituição de ministros e portugueses em
13 e 14 de março de 1831. Assim em 7 de abril, depois de uma grande manifestação popular no Rio
de Janeiro, ocorria a abdicação de D. Pedro I e o trono brasileiro passava a seu filho de cinco anos,
Pedro de Alcântara.

Crise

A opinião pública começou a reagir contra o imperador, entre outras razões pela morte de D. João VI
em 1826, sendo D. Pedro I o legítimo herdeiro do trono português. Após a morte do pai, Pedro envolveu-
se crescentemente na questão sucessória em Portugal. Para os portugueses, era o herdeiro da Coroa.
Para os brasileiros, o imperador não deveria ter vínculos com a antiga metrópole pois, ao proclamar a
Independência, havia renunciado à herança lusitana. Depois de muita discussão, o imperador formali-
zou sua renúncia e abdicou do trono de Portugal em favor de sua filha mais velha, Maria da Glória.

Apesar de ter renunciado ao trono de Portugal em favor da filha, a oposição liberal brasileira continuou
pressionando-o, principalmente diante do envolvimento do imperador, no plano externo, com os pro-
blemas advindos dessa sucessão. A situação agravou-se, no plano externo, com a perda da Província
Cisplatina (1828).

No plano interno, o imperador passou a enfrentar diversos problemas, tais como as dificuldades finan-
ceiras advindas da falência do primeiro Banco do Brasil (1829) e a inflação ocasionada pela elevação
dos preços dos alimentos, a situação familiar do imperador após o falecimento de sua primeira esposa,
Imperatriz Dª. Maria Leopoldina (1826), diante do envolvimento com a sua amante a Marquesa de San-
tos, o assassinato do jornalista Líbero Badaró em São Paulo (1830), executado por policiais ligados ao
império (Dom Pedro foi responsabilizado pela morte), e o constante apoio pedido pelo governante aos
burocratas e militares do setor português, gerando conflitos entre portugueses e brasileiros.

D. Pedro I procurou então apoio nos setores portugueses que instalara no Brasil na burocracia civil-
militar e no comércio das principais cidades. Com a sua imagem cada vez mais desgastada perante a
opinião pública brasileira, as manifestações de protesto eram reprimidas com violência.

Abdicação do trono brasileiro

Uma tentativa de recuperar prestígio político foi frustrada pela má recepção em uma visita a Minas
Gerais - foi a última. A intenção era obter um acordo com os políticos da província, mas foi recebido
com frieza já que havia setores da elite mineira que o ligavam ao assassinato do jornalista.

Numa tentativa de conciliar novamente o seu governo com a opinião pública, D. Pedro I nomeou um
novo ministério com pessoas aceitas pelos liberais. Porém, a oposição não aceitou a manobra, e con-
tinuou a pressioná-lo. O ministério assim formado foi destituído e constituído um novo com portugueses
de tendências absolutistas. Os soldados brasileiros aquartelados no bairro de São Cristóvão e o povo
reagiu formando uma oposição implacável, culminando com o cerco ao palácio imperial pela população.
Não houve resistência, pois poderia ocasionar uma guerra civil.

Revoltados, os portugueses instalados no Rio de Janeiro promoveram uma manifestação pública em


desagravo que desencadeou a retaliação dos setores antilusitanos, havendo tumultos e conflitos de
rua. Irado, o imperador prometeu castigos, mas lhe faltava sustentação política.

A 7 de abril de 1831, D. Pedro I renunciou ao império, deixando o país nas mãos de seu primogênito, D.
Pedro II, que na época tinha 5 anos. D. Pedro I nomeou José Bonifácio de Andrada e Silva como tutor
de seus filhos menores, e seguiu para Portugal.

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PRIMEIRO REINADO

D. Pedro I faleceu em Sintra em 1834, depois de ainda ter participado das Guerras Liberais portugue-
sas, onde lutou a favor de sua filha, D. Maria II, cujo trono português fora usurpado por seu tio, D.
Miguel I, o qual havia sido indicado regente português anteriormente.

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PERÍODO REGENCIAL

Período Regencial

Período Regencial foi o momento da História do Brasil entre o Primeiro e o Segundo Reinado. Teve
início depois que Dom Pedro I abdicou ao trono (1831) e se entendeu até o denominado Golpe da
Maioridade, quando D. Pedro II passou a governar o império.

O período é marcado por intensos conflitos político-sociais realizados em todo país e é dividido em Re-
gência Trina Provisória, Trina Permanente, Una do Padre Feijó e Una de Araújo Lima.

Conheça agora o contexto histórico que fez iniciar o período regencial, as principais características do
momento, além dos conflitos gerados.

Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil em 7 de Setembro de 1822 e tornou-se o primeiro


imperador do Brasil. No entanto, o Primeiro Reinado foi marcado por grandes conflitos políticos e soci-
ais internos e disputas com Uruguai e Portugal.

As tensões ganharam maiores proporções quando algumas províncias se rebelaram com os grandes
poderes dados aos soberanos pela constituição de 1824.

Movimentos surgiram principalmente na região Nordeste do país, mas foram reprimidos com uso de
violência pelas tropas imperais.

Somado a isso, o império ainda enfrentou conflitos com o Uruguai (Guerra da Cisplatina), além da crise
econômica que aumentou a inflação, diminuiu o poder aquisitivo da população e aumentou o número
de pobres.

A abdicação de Pedro I aconteceu depois que seu pai D. João VI o nomeou como sucessor do trono
português.

A partir desse momento, a população do império brasileiro começou a reagir contra o conflito de inte-
resses no qual o governo se encontrava.

Os brasileiros começaram, então, a argumentar que o imperador não poderia ter nenhum vínculo com
a antiga metrópole.

Após revoltas e pressão, D. Pedro I renunciou ao império, em sete de abril de 1831, e nomeou o fi-
lho Pedro de Alcântara.

Outro problema, no entanto, fora formado.

O sucessor não tinha idade suficiente para governar. Conforme a constituição de 1824, um período de
transição deveria ser implantado até que o imperador atingisse os 18 anos.

Era iniciado, assim, o Período Regencial do Brasil.

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PERÍODO REGENCIAL

Regência Trina Provisória

O período regencial brasileiro durou apenas quatro anos, mas por causa das tensões políticas e revol-
tas que aconteceram em diversas regiões, acabou promovendo quatro momentos diferentes.

O primeiro deles foi a Regência Trina Provisória (abril a julho de 1831).

Formado por Francisco de Lima e Silva, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e José Joaquim Car-
neiro de Campos a regência durou apenas dois meses, porém colaborou com a eleição da Trina Per-
manente.

Entre as medidas promovidas pelos regentes estavam:

• Restituição dos ministros demitidos por D Pedro I;

• Construção de assembleia para criação das Leis Regenciais;

• Anistia aos presos políticos;

• Tentativa de barrar as agitações.

Regência Trina Permanente

A Regência Trina Permanente ocorreu de 1831 a 1834 e foi composto por Francisco Lima e Silva, João
Bráulio Muniz e José da Costa Carvalho.

O governo foi marcado pela tentativa de conter os movimentos populares e para isso o padre Antônio
Feijó foi instituído como o ministro da Justiça.

Feijó criou, então, a Guarda Nacional, força controlada por fazendeiros com títulos de coronéis e com-
posta por homens de 21 a 60 anos que seriam responsáveis pela retaliação das revoltas.

Apesar da tentativa, as manifestações e conflitos continuaram a existir.

Essas revoltas mostravam a insatisfação das províncias devido a pouca participação que tinham nas
decisões políticas do poder central.

Além disso, elas detinham pouca autonomia para atender as próprias demandas.

Na tentativa de conter os ânimos foi criado o Ato Adicional de 1834. Entre as medidas do ato estavam:

• Fim do poder moderador;

• Formação das Assembleias Legislativas das províncias;

• Aumento do poder do presidente de província com nomeação do imperador;

• Criação da regência Una.

A criação do Ato Adicional permitiu que as eleições fossem realizadas para a definição do novo regente.
Padre Feijó tornou-se, então, o novo regente.

Regência Una Do Padre Feijó

A Regência Una do padre Antônio Diogo Feijó foi iniciada em 1835 e durou até 1837. Feijó foi eleito
por 1/3 dos votos e era apoiado pelos liberais.

Foi durante essa regência que eclodiram os maiores movimentos separatistas do Brasil, entre eles
a Revolta dos Cabanos e a Balaiada.

Essas revoltas fizeram com que o poder de Feijó enfraquecesse. Em 1836, após uma grande divergên-
cia política entre os liberais e conservadores, o regente dissolveu a Câmara dos Deputados e renunciou
ao cargo em 1837.

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PERÍODO REGENCIAL

Regência Una De Araújo Lima

Como Feijó não conseguiu controlar os rebeldes e por causa da grande pressão política que sofria,
uma nova eleição foi convocada e Araújo Lima subiu ao poder representando a ala regressista do
governo.

Durante o seu governo, a autonomia administrativa criada pelo Ato Adicional foi revogada e a centrali-
zação política fortalecida. Um grande montante de verba foi direcionado com o objetivo de sufocar as
rebeliões separatistas. Araújo Lima deixou a regência em 1840, após o Golpe da Maioridade.

Golpe Da Maioridade

Inconformados com as medidas adotadas pelas ações realizadas por Araújo Lima, o grupo liberal criou
o Clube da Maior Idade com o objetivo de encontrar apoiadores e antecipar a coroação do príncipe
Pedro de Alcântara.

Como a oposição seria considerada um ato contrário aos interesses do Império, D. Pedro II tornou-se
imperador aos 14 anos e deu-se início ao Segundo Reinado brasileiro.

Principais Conflitos

O período regencial foi marcado por instabilidades políticas e disputas internas. As más condições
sociais e a pouca contribuição do governo central com as regiões fizeram surgir conflitos em diver-
sos estados do Brasil. Os principais deles foram:

• Balaiada: realizada na província do Maranhão entre 1838 a 1841. Contou com a participação de es-
cravos e fazendeiros.

• Cabanagem: movimento realizado na província do Grão-Pará (Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e


Rondônia) e teve como objetivo a independência da região.

• Guerra dos Farrapos: também conhecida como Revolução Farroupilha, aconteceu na área que atual-
mente se encontra o Rio Grande do Sul entre 1835 e 1845. Foi liderada pela elite gaúcha e apenas
terminou no Segundo Reinado.

• Revolta dos Malês: realizada na Bahia em 1835, foi organizada por escravos de origem islâmica que
buscavam liberdade religiosa.

• Sabinada: outro movimento baiano realizado entre 1837 e 1838, tinha como objetivo construir uma
república separada do restante do país até a maioridade de D. Pedro II.

Política No Período Regencial

O Período Regencial ficou marcado pela intensa movimentação política que acontecia no país.

O debate político nesse período foi bastante acalorado e girava em torno de três grupos políticos, que
gradativamente se transformaram nos dois partidos políticos do Segundo Reinado. No caso do Período
Regencial, os principais grupos políticos eram:

Liberais moderados: em geral, eram monarquistas que defendiam a limitação do poder do imperador.
Defendiam uma monarquia constitucional no país e tinham no padre Feijó o seu maior representante.

Liberais exaltados: eram defensores abertos do federalismo, isto é, de ampliar a autonomia das pro-
víncias brasileiras. Alguns dos exaltados eram defensores da república, e o nome mais influente desse
grupo foi Cipriano Barata.

Restauradores: eram defensores do retorno de D. Pedro I ao trono brasileiro e tinham nos irmãos An-
drada (José Bonifácio era um deles) seus maiores expoentes.

Ao longo do Período Regencial, esses grupos foram convertendo-se nos dois partidos que centraliza-
ram a política durante o Segundo Reinado. O Partido Liberal surgiu da mescla dos liberais moderados
com os exaltados, e o Partido Conservador surgiu da mescla dos liberais moderados com os restaura-
dores.

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PERÍODO REGENCIAL

Revoltas

A grande marca do Período Regencial foram as revoltas provinciais, que aconteceram em diversos
locais do país. Essas revoltas envolviam insatisfações políticas com os rumos que o país tomava, além
das disputas políticas locais, insatisfação popular com a pobreza e a desigualdade etc.

Ao longo do Período Regencial, as principais revoltas que aconteceram foram:

Cabanagem: rebelião que aconteceu no Grão-Pará entre 1835 e 1840 em razão da insatisfação popular
com a pobreza e a desigualdade e por disputas políticas locais.

Balaiada: rebelião que aconteceu no Maranhão entre 1838 e 1841 e foi resultado de disputas políticas
locais.

Sabinada: foi uma rebelião de caráter separatista que desejava implantar uma república na Bahia.
Aconteceu entre 1837 e 1838.

Revolta dos Malês: foi uma rebelião de escravos que aconteceu em Salvador em 1835.

Revolta dos Farrapos: foi uma revolta motivada por insatisfações da elite local com o governo por ques-
tões políticas e econômicas. Estendeu-se de 1835 a 1845.

Como Terminou O Período Regencial

O fim do Período Regencial foi resultado da disputa política entre liberais e conservadores.

Os liberais insatisfeitos com a regência de Araújo Lima, um conservador, reagiram defendendo a ante-
cipação da maioridade do príncipe do Brasil, Pedro de Alcântara.

Os liberais conseguiram conquistar o apoio da maioria dos deputados e senadores e realizar o Golpe
da Maioridade em 1840.

Com esse golpe, Pedro de Alcântara teve a sua maioridade antecipada e tornou-se imperador do Brasil
com 14 anos de idade.

Esse ato iniciou o Segundo Reinado e deixou os liberais satisfeitos porque foi retirado o poder das
mãos dos conservadores.

Os liberais também esperavam que a coroação do imperador colocasse fim à série de revoltas provin-
ciais que aconteciam no país.

Fim Do Período Regencial

As consequências da instabilidade política são as revoltas regências ocorridas em vários pontos do


Brasil como vimos acima.

Com o objetivo de acabar com a desordem e agitação, que levaria à desintegração do território brasi-
leiro, o Partido Liberal propõe que a maioridade de D.

Pedro II seja antecipada. A ideia é levada à votação na Câmara, mas não é aprovada.

Desta maneira, os políticos tramam o Golpe da Maioridade, declarando D. Pedro II maior de idade aos
14 anos. Um ano depois, D. Pedro começa a governar o Brasil e tem início o Segundo Reinado.

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SEGUNDO REINADO

Segundo Reinado

As Regências e o Segundo Império no Brasil

A abdicação de D. Pedro I, em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho, o menor D. Pedro de Alcântara,
causou e foi causada por forte pressão, principalmente dos insatisfeitos, muitos das classes dominantes
– grandes proprietários dos latifúndios, portanto, donos de terra e escravos; aí deu-se a crise. Eles
davam como razão o fato de que as Regências não podiam dissolver o Legislativo.

No Brasil das Regências, os liberais eram uma das forças políticas e sociais que combateram os ex-
cessos de autoridade do Primeiro Reinado, opondo-se à Constituição de 1824. Os moderados torna-
ram-se muito importantes nesse período; de entre eles saíram membros da elite dirigente, reunidos em
torno da Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência Nacional, composta por grandes pro-
prietários de escravos de São Paulo e Minas Gerais que controlavam o abastecimento da Corte. Coe-
sos, dirigiam o Império com hegemonia política no Rio de Janeiro.

Ocorreram então lutas políticas entre os moderados e os exaltados. Os liberais moderados estavam no
poder, eram centralistas e queriam o modelo unitarista de governo do Sudeste; embora fossem adeptos
de relativa autonomia política para as províncias, defendiam a monarquia centralizada e buscavam o
equilíbrio entre Legislativo e Executivo.

Do outro lado estavam os exaltados: fora do poder, federalistas, sempre do Nordeste, ou seja, fora do
eixo das decisões econômicas. Heterogêneos, suas bases sociais, tanto no setor exportador quanto no
não-exportador, localizavam-se fora do eixo Rio/São Paulo/Minas Gerais.

Aceitavam a monarquia descentralizada e possuíam interesses diversificados no Império. Compartilha-


vam objetivos como a eliminação do Poder Moderador, do senado vitalício e do Conselho de Estado e
a concessão de maior poder para as províncias. Queriam uma república federalista, com direito de voto
e fim da escravidão. Sua base era maior no setor urbano, com pequenos e médios comerciantes, fun-
cionários públicos, profissionais liberais.

Também na oposição estavam os Caramurus, os chamados restauradores, que desejavam uma mo-
narquia centralista, nos moldes da Carta de 1824. Almejavam o retorno de D. Pedro I, sonho que per-
durou até 1834 (pela razão mais óbvia: o falecimento do primeiro imperador).

Reunidos em torno da Sociedade Conservadora, eram um grupo político mais coeso, com número
reduzido de adeptos, com base na burocracia e nos comerciantes, nos grandes negócios de exportação
e de importação – inclusive o tráfico africano; detinham privilégios no comércio de cabotagem que
abastecia as cidades da costa. Contavam com a simpatia de alguns cafeicultores do Vale do Paraíba.

A Regência estava, assim, marcada pelo agravamento de manifestações e revoltas, caracterizadas por
ampla diversidade social e política. Quarteladas lusófobas, confrontos entre facções locais ou regionais
da classe senhorial, rebeliões com envolvimento de pobres, libertos e escravos – inclusive os que es-
tavam em quilombos.

A ênfase no viés descentralizador das reformas reduziu erroneamente os embates à simples disputa
centralização X descentralização, que fazia o mundo do governo. A liberdade e a propriedade eram
atributos da cidadania ativa no Império.

Aconteceram no período várias movimentações nas províncias, especialmente motivadas pelos liberais
exaltados. No Rio de Janeiro, ocorreram vários choques de rua contra os chamados restauradores ou
Caramurus. A imprensa dos moderados era representada pelos periódicos Aurora Fluminense, de ori-
entação de Evaristo da Veiga; e O sete de abril, de Bernardo Pereira de Vasconcelos.

Na Regência Trina Provisória de 17 de junho de 1831, tivemos a lei que promoveu a privação dos
regentes a importantes atribuições do Poder Moderador, como dissolver a Câmara dos Deputados,
conceder títulos nobiliárquicos, suspender as garantias constitucionais e negociar tratados com gover-
nos estrangeiros.

Contudo, apesar de manter a monarquia centralizada, a lei pressupunha um Legislativo forte, assegu-
rando à Câmara dos Deputados o controle sobre o Poder Executivo. Foi criada a Guarda Nacional (em
agosto de 1831), mantida a ordem dos cidadãos ativos e a introdução do critério eletivo para a escolha

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SEGUNDO REINADO

de oficiais de baixa patente. No mesmo sentido, foi promulgado o Código de Processo Criminal de
1832, ampliadas as atribuições do cargo de juiz de paz e dos magistrados locais eleitos, assegurando
o controle jurídico-policial ao âmbito local.

Com o propósito de compatibilizar os poderes central e local, foi assegurada a unidade da ordem, com
medidas que atendiam às demandas de autonomia, o que representava interesse o local ou regional.

Fora dos espaços institucionalizados da política, a oposição ameaçava usando a imprensa, os pasquins
e os panfletos, os movimentos de rua e outros. As dificuldades multiplicaram-se, com o crescimento
das divisões no interior do grupo moderado.

O golpe de Estado parlamentar de junho de 1832 foi o resultado das práticas por moderados, sob a
liderança de Diogo Feijó, ministro da Justiça, que pretendia transformar a Câmara em assembleia cons-
tituinte, para aprovar uma nova constituição. Eram sinais da primeira cisão.

Pelas pressões dos liberais exaltados e das divisões moderadas, ocorreu a reforma do texto constitu-
cional, pelo Ato de 1834, que criou também o Município Neutro, dando novo status à cidade do Rio
Janeiro; esse Ato transformou os conselhos gerais das províncias em assembleias provinciais, mas
não feriu a centralização política.

Os presidentes de províncias foram nomeados e mantidos pelos moderados. No Senado Vitalício, ma-
joritário na Câmara, os liberais moderados tiveram que ceder às constantes pressões dos deputados e
senadores exaltados ou restauradores.

A Regência passou a ser una e eletiva, de 4 anos, com o fim do Conselho de Estado. Iniciou-se então
o embate entre Vasconcelos, do Partido Regressista, e o regente Feijó, do Partido Progressista, o que
levou a uma divisão entre os moderados.

Em 1835, ocorreram as eleições para o cargo de regente uno. Holanda Cavalcanti obteve 2.251 votos;
foi derrotado por Feijó, que teve 2.826 e tomou posse em 12 de outubro. Antes de concluir o mandato,
começou a crise, que eclodiu na Guerra dos Cabanos, no Grão-Pará; na Farroupilha, no Rio Grande
do Sul e Santa Catarina, entre 1835 a 1845; na Revolta dos Malês, em Salvador, em 1835; na Sabinada,
em Salvador, entre 1837 e 1838, determinando a divisão dos liberais em progressistas e regressistas.

Em novembro de 1837, Feijó renunciou ao poder; com a subida de Araújo Lima, em abril do ano se-
guinte, foram vitoriosos os defensores do restabelecimento da organização do Império nos moldes da
Carta de 1824. Estava inaugurado o regresso.

Os exaltados alinharam-se aos progressistas, futuros integrantes do Partido Liberal, antigos restaura-
dores, e consolidavam-se as bases sociais do Partido Conservador e a denominada Vitória Saquarema,
designação dada ao grupo de conservadores fluminenses, de setores da burocracia, de grandes nego-
ciantes, de importadores, exportadores e detentores de privilégios e de cafeicultores escravistas do
Vale do Paraíba. Araújo Lima venceu a Cabanagem e a Farroupilha; lutou contra a Sabinada na Bahia
e a Balaiada, no Maranhão.

Em 1840, D. Pedro II assumiu o Poder (Moderador), pela Lei Interpretativa do Ato Adicional de 12 de
maio daquele ano; essa lei anulava várias atribuições das assembleias, restringindo a autonomia das
províncias onde se notava a presença clara de federalismo, com o propósito de aplacar o insistente
localismo do poder provincial; ou seja, venceu o projeto centralizador.

Para isso, entrou também a Guarda Nacional (embrião da polícia), criada em 1831 graças ao poder
dos moderados (Feijó), com o propósito de manter a ordem interna. A construção do Estado foi, por-
tanto, consolidada em 1840, vencendo os outros projetos políticos que havia e reprimindo as revoltas
herdadas.

O período regencial representou um verdadeiro hiato em tudo, pois, em primeiro lugar, representava
uma experiência positiva, que interrompeu o autoritarismo centralizador do Primeiro Reinado e seria
recuperada pelo movimento republicano dos anos 1870.

Em segundo lugar, representava uma experiência anárquica, pois era um obstáculo ao andamento
natural da revolução, iniciada com a emancipação política de 1822, que seria resgatada com a vitória

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SEGUNDO REINADO

do regresso. Assim, esse período deve ser visto como parte do complicado processo de construção do
Brasil.

Da Maioridade de Pedro II em Diante

Com a decretação da maioridade de Pedro II, veio a consolidação da Monarquia e o fim da experiência
republicana (de eleições), que foi o período regencial. Em 24 de julho de 1840 surgiu um ministério de
liberais.

O Barão de Caxias pacificou o Maranhão. Aconteceram as chamadas Eleições do Cacete, por pressão
do governo. Em 1841, um ministério conservador assumiu o poder. Em 1842 deu-se a Revolta dos
Liberais, em São Paulo e Minas, lideradas por Diogo Feijó e Teófilo Otoni.

Já era de se verificar o grau de complexidade político-ideológica que o país vivenciava: o liberalismo


em crise, a antítese dele (o socialismo) ganhando espaço no mundo; tudo isso se chocando com nosso
modelo socioeconômico conservador, unitário e escravista; estávamos definitivamente na “contramão
da História”. Em 1847 houve a criação do cargo de presidente do Conselho de Ministros, do gabinete.
Foi a estruturação do regime parlamentar no Brasil.

De 1848 a 1850 ocorreu a Revolta Praieira, contra os conservadores que voltavam ao poder. Os per-
nambucanos, nativistas, ficaram contra os comerciantes portugueses, mas sua revolta foi sufocada. O
conturbado e esgotado modelo político apelou para o bipartidarismo com liberais e conservadores,
estes ex-regressistas.

Segundo os trabalhos que falam da evolução do Direito Político brasileiro, esse regime não constava
na Carta de 1824. De 1840 a 1889, praticou-se internamente o liberalismo econômico e o liberalismo
político, mas, contraditoriamente, o parlamentarismo expôs um Executivo forte, com o dever de garantir
a maioria na Câmara dos Deputados.

Nos tempos do Segundo Reinado, é fundamental destacar a figura de Irineu Evangelista de Souza,
Barão e depois Visconde de Mauá. Foi ele que tomou a iniciativa de tentar industrializar o Brasil entre
1846 e 1875, com experiências que foram abortadas para continuar a velha economia latifundiária,
escravista e monocultora.

Em 1844, surgiram as tarifas Alves Branco, todas de caráter protecionista e de fiscalização; a Lei 581,
de 4 de agosto de 1850, que extinguiu o tráfico de africanos, era sinal das pressões inglesas do Bill
Aberdeen; Mauá começa a vislumbrar nesse momento capital disponível para suas intenções, deslo-
cado das transações do latifúndio e do latifundiário com o comércio de africanos escravizados; era a
possibilidade de convertê-los para alimentar as forças produtivas do Brasil.

Foram feitos os Estaleiros da Ponta da Areia, a Companhia de Rebocadores a Vapor para o Rio Grande
do Sul; foi organizado o segundo Banco do Brasil, em 1851; criou-se a Companhia de Navegação a
Vapor do Amazonas, em 1852; surgiu o Banco Mauá e Cia.; foi construída a primeira estrada de ferro
brasileira, que se chamou Mauá, até Raiz da Serra, em 1854; nesse mesmo ano foi inaugurada a
iluminação a gás de um trecho do Canal do Mangue; o Brasil ligou-se à Europa pelo cabo submarino
que veiculava o telégrafo.

De fato, foram expressivas as conquistas no campo tecnológico, considerando que vivíamos a reboque
de interesses que queriam nos manter em condição de inferioridade e que enfrentávamos imensas
dificuldades socioculturais e econômicas para nos compararmos aos países mais desenvolvidos da
época.

Entretanto, é importante registrar também que pouco mudava, pois, o país continuava escravista, au-
toritário e segregacionista ao extremo, enquanto o mundo à sua volta fervia em mudanças significativas
no aspecto político-econômico. Nós estávamos insistentemente parados, ou quase; talvez houvesse
uma sensação de estarmos praticamente estagnados, aos olhares do mundo dito desenvolvido; em
que pesem as várias e louváveis tentativas, infelizmente não caminhávamos.

Talvez para não dizer certamente as mudanças afetassem nosso modo de vida profundamente, e o
que menos se desejava era que o status quo sofresse alterações, já que se espelhava no mundo de-
senvolvido.

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Nosso país insistia em uma convivência teimosa, na manutenção de uma velha mesmice, que era fruto
também de conjunções primordialmente internas, que reagiam para manter uma cansada e velha mi-
mese malfeita, porque já extemporânea, caso queiramos comparar com o movimento global e seus
reflexos na dança da nova relação localismo global vs. globalismo local (Cortezão, 2006) que se anun-
ciava: ensaiava seus tímidos primeiros passos também por aqui.

No Brasil, como em toda a América Latina, poderia ser notado o latejar de manifestações significativas,
que permitiam perceber que havia certa consonância – ou talvez ressonância – aqui no continente, na
qual os ares do movimento liberal, seguido de sua múltipla revolução socioeconômica, com tonalidades
variadas, se reverberavam, pululavam sempre. Eram maneiras novas de gerenciar o capital; havia che-
gado a hora da mudança. Mas a vagarosidade era de causar espanto.

Revolução Industrial

A Revolução Industrial foi um processo de grandes transformações econômico-sociais que começou


na Inglaterra no século XVIII.

A Revolução Industrial se espalhou por grande parte do hemisfério norte durante todo o século XIX e
início do século XX.

O processo histórico que levou à substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana
pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução In-
dustrial.

O advento da produção em larga escala mecanizada deu início às transformações dos países da Eu-
ropa e da América do Norte.

Estas nações se transformaram em predominantemente industriais, com suas populações cada vez
mais concentradas nas cidades.

Trabalhadores na Fábrica

Causas da Revolução Industrial

A expansão do comércio internacional dos séculos XVI e XVII trouxe um extraordinário aumento da
riqueza, permitindo a acumulação de capital capaz de financiar o progresso técnico e o alto custo da
instalação nas indústrias.

A burguesia europeia, fortalecida com o desenvolvimento dos seus negócios, passou a investir na ela-
boração de projetos para aperfeiçoamento das técnicas de produção e na criação de máquinas para a
indústria.

Logo, verificou-se que maior produtividade e maiores lucros para os empresários poderiam ser obtidos
acrescentando-se o emprego de máquinas em larga escala.

Consequências da Revolução Industrial

O longo caminho de descobertas e invenções foi uma forma de distanciar os países entre si, no que
diz respeito ao poder econômico e político.

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SEGUNDO REINADO

Afinal, nem todos se industrializaram, permanecendo na condição de fornecedores de matérias primas


e produtos agrícolas para os países industrializados.

Fases da Revolução Industrial

Foi na Inglaterra que tudo começou e por isso a Revolução Industrial Inglesa foi pioneira na Europa e
no mundo.

A Inglaterra, possuía capital, estabilidade política e equipamentos necessários para tomar a dianteira
do avanço da Indústria.

Também tinha colônias na África e na Ásia que garantiam fornecimento de matéria-prima com mão de
obra barata.

Primeira Revolução Industrial

A Primeira Revolução Industrial que ocorreu em meados do século XVIII e do século XIX teve como
principal característica o surgimento da mecanização que operou significativas transformações em
quase todos os setores da vida humana.

Na estrutura socieconômica, fez-se a separação definitiva entre o capital, representado pelos donos
dos meios de produção, e o trabalho, representado pelos assalariados. Isto eliminou a antiga organiza-
ção corporativa da produção utilizada pelos artesãos.

Devido à baixa remuneração, condições de trabalho e de vida sub-humanas, os operários se organi-


zam. Desta forma, os trabalhadores associaram-se em organizações trabalhistas como as trade uni-
ons (sindicatos) fomentando ideias diante do quadro social da nova ordem industrial.

Protesto Organizado pelo Sindicato de Trabalhadores Municipais

A Revolução Industrial estabeleceu a definitiva supremacia burguesa na ordem econômica, ao mesmo


tempo que acelerou o êxodo rural, o crescimento urbano e a formação da classe operária.

Era o início de uma nova época, onde a política, a ideologia e a cultura gravitavam em dois polos: a
burguesia industrial e financeira e o proletariado.

A mecanização se estendeu do setor têxtil para a metalurgia, para os transportes, para a agricultura e
para os outros setores da economia.

As fábricas empregavam grande número de trabalhadores. Todas essas inovações influenciaram a


aceleração do contato entre culturas e a própria reorganização do espaço e do capitalismo.

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Nessa fase o Estado passou a participar cada vez mais da economia, regulando crises econômicas e
o mercado e criando uma infra-estrutura em setores que exigiam muitos investimentos.

Segunda Revolução Industrial

A partir do final do século XIX, período conhecido como a fase da livre concorrência fica para trás e o
capitalismo se tornava cada vez menos competitivo e mais monopolista. Empresas ou países monopo-
lizavam o comércio. Era a fase do capitalismo financeiro ou monopolista, marcada pela Segunda Re-
volução Industrial.

Desde então se estabeleciam as bases do progresso tecnológico e científico, visando a invenção e o


constante aperfeiçoamento dos produtos e técnicas, para melhor desempenho industrial.

Abriam-se as condições para o imperialismo colonialista e a luta de classes, formando as bases do


mundo contemporâneo.

Terceira Revolução Industrial

O ponto culminante do desenvolvimento industrial, em termos de tecnologia, teve início em 1950 (me-
ados do século XX) com o desenvolvimento da eletrônica. Esta permitiu o desenvolvimento da informá-
tica e a automação das indústrias.

Essa fase de novas descobertas caracterizou a Terceira Revolução Industrial ou revolução científica e
tecnológica.

Revolução Industrial no Brasil

Enquanto na Europa acontecia a Revolução Industrial, o Brasil, ainda colônia portuguesa, estava longe
do processo de industrialização.

A industrialização no Brasil só começou verdadeiramente em 1930, cem anos após a Revolução Indus-
trial Inglesa.

Durante o governo de Getúlio Vargas, a centralização do poder no Estado Novo criou condições para
que se iniciasse o trabalho de coordenação e planejamento econômico, com enfase na industrialização
por substituição de importações.

A Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939, trouxe uma desaceleração para a industrialização no
Brasil, uma vez que interrompeu as importações de máquinas e equipamentos.

Mesmo assim, o Brasil através de acordos com os Estados Unidos, consegue fundar a Companhia
Siderúrgica Nacional (1941) e a Usiminas (1942).

Após o conflito, o Estado retornaria suas atividades de investidor e impulsionaria a criação de indústrias
como a Petrobras (1953).

Revoluções Burguesas

São chamados de Revoluções Burguesas os processos históricos protagonizados pela classe bur-
guesa, ligada ao comércio e às finanças, e que foram fundamentais para que várias sociedades euro-
peias superassem o sistema absolutista.

Ao abandonar o feudalismo, os países europeus passavam a se estruturar como estados nacionais,


governados por uma monarquia absolutista que detinha o controle sobre todas as suas fronteiras.

No século XVII, porém, este sistema de monarquia centralizadora começava a entrar em colapso, es-
pecialmente a partir do desenvolvimento de uma nova classe, a burguesia, responsável pelas trocas
monetárias. Os burgueses logo entraram em choque com o sistema absolutista e os seus maiores
beneficiados, a nobreza em torno do soberano.

São consideradas revoluções burguesas as revoluções inglesas do século XVII (Puritana e Gloriosa) e
a Revolução Francesa de 1789.

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SEGUNDO REINADO

As revoluções inglesas são uma série de mudanças experimentadas pela Inglaterra, onde está passa
de monarquia absolutista para república sob o governo de Oliver Cromwell, e finalmente se torna mo-
narquia constitucional, praticamente a mesma forma de governo atualmente em vigor no país.

A Revolução Francesa, mais famosa, aconteceu quase um século depois, e foi bem mais drástica.
O absolutismo francês estava mais fortemente instalado dentro da sociedade e das instituições. Prova
disso é o rei francês Luís XIV, frequentemente retratado como símbolo perfeito e acabado de monarca
absolutista.

Certamente, isso gerou um clima maior de revanchismo entre os mais humildes, que, no momento em
que derrubaram um regime tão opressor, realizaram uma mudança completa e mais profunda na orga-
nização do estado.

Apesar de estarem separadas por um período de tempo considerável, ambos movimentos guardam
várias características em comum:

Tanto França como a Inglaterra tinham um governo absolutista, onde o rei tinha todo o poder concen-
trado em suas mãos.

Em ambas ocasiões, porém, seus monarcas experimentavam uma séria crise e o enfraquecimento de
sua condição. O exército estava em crise, assim como as instituições que davam suporte ao monarca.
Isso gerava rendimentos financeiros pouco expressivos, o que levou a aumento dos impostos e conse-
quente descontentamento de uma população já bem empobrecida.

As escolhas religiosas e a vida luxuosa dos reis provocaram crises econômicas e levantes populares,
que levavam ao questionamento fundamental, ou seja, a quem o governo deveria servir, se ao rei ou à
nação. É assim que boa parte da população resolve pegar em armas para dar fim à dominação das
monarquias voltadas para a satisfação de seus desejos particulares.

O pensamento racional era defendido como um eficiente instrumento para a resolução dos problemas
humanos. A felicidade humana dependia do quanto a razão fosse utilizada pelas instituições.

Liberalismo Econômico

A teoria do liberalismo econômico surgiu no contexto do fim do mercantilismo, período em que era
necessário estabelecer novos paradigmas, já que o capitalismo estava se firmando cada vez mais. A
ideia central do liberalismo econômico é a defesa da emancipação da economia de qualquer dogma
externo a ela mesma, ou seja, a eliminação de interferências provenientes de qualquer meio na econo-
mia.

Tal teoria surgiu no final do século XVIII, tendo em François Quesnay um dos seus principais teóricos.
Quesnay afirmava que a verdadeira atividade produtiva estava inserida na agricultura.

Outro pensador que contribuiu para o desenvolvimento da teoria do liberalismo econômico foi Vincent
de Gournay, o qual dizia que as atividades comerciais e industriais deveriam usufruir de liberdade, para
assim se desenvolverem e alcançarem a acumulação de capitais.

No entanto, o principal teórico e pai da teoria do liberalismo econômico foi Adam Smith. O economista
escocês confrontou as ideias de Quesnay e Gournay, afirmando em seu livro “A Riqueza das Nações”
as principais ideias do liberalismo econômico: a prosperidade econômica e a acumulação de riquezas
não são concebidas através da atividade rural e nem comercial, mas sim através do trabalho livre, sem
nenhum agente regulador ou interventor.

Para Smith, não eram necessárias intervenções na economia, visto que o próprio mercado dispunha
de mecanismos próprios de regulação da mesma: a chamada “mão invisível”, que seria responsável
por trazer benefícios para toda a sociedade, além de promover a evolução generalizada. Os liberalistas
defendem a livre concorrência e a lei da oferta e da procura. Estes teóricos foram os primeiros a tratar
a economia como ciência.

Recebe o nome de liberalismo econômico a ideologia de que estado não deve intervir nas relações
econômicas que existem entre indivíduos, classes ou nações. O liberalismo defende o livre uso, da

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SEGUNDO REINADO

parte de cada indivíduo ou membro de uma sociedade, de sua propriedade, sendo partidário da livre-
empresa, em oposição ao socialismo e ao dirigismo.

Após a revolução burguesa ocorrida na Inglaterra entre 1640 e 1660, surge uma nova realidade na qual
a organização social é baseada na propriedade.

Esta nova ordem inspira uma ideologia que a justifique, ressaltando suas diferenças em relação à or-
dem anterior, a servidão. O nome utilizado para se referir a este conjunto de ideias deriva dos pilares
constitutivos da ordem capitalista, propriedade e liberdade. É exatamente esse último conceito que dá
nome ao novo ideário. A partir daí o liberalismo torna-se a ideologia da sociedade capitalista, ou bur-
guesa.

A proposta da nascente teoria é que todos podem alcançar o mais alto nível de prosperidade de acordo
com seu potencial, aplicando seus valores, atividades e conhecimentos, com o maior grau de liberdade
possível, em uma sociedade que reduza ao mínimo os inevitáveis conflitos sociais. Outros dois aspec-
tos vitais que dão forma à doutrina liberal são a tolerância e a confiança na força da razão.

A doutrina liberal defende ainda que os governos não costumam representar os interesses de toda a
sociedade, e que se concentram em favorecer seus eleitores ou determinados grupos de pressão. Os
liberais tradicionalmente desconfiam das intenções da classe política e não têm muitas ilusões a res-
peito da eficiência dos governos.

O liberal tradicional sempre se coloca na posição de crítico permanente das funções dos servidores
públicos, vendo com grande ceticismo a função do governo de redistribuidor da renda, eliminador de
injustiças ou “motor da economia”.

Um dos mais conhecidos entusiastas da doutrina liberal foi Adam Smith, que enaltecia as liberdades
individuais, mas não desqualificava o Estado como representante do bem comum, como ocorreria pos-
teriormente.

Para Smith, as ações individuais, influenciadas pelo interesse próprio seriam guiadas infalivelmente por
uma 'mão invisível' no sentido da realização do bem comum.

O liberalismo clássico, como descrito aqui, prevaleceu nas ações governamentais dos países mais
desenvolvidos durante todo o século XIX, estendendo-se até o início do século. Era a doutrina preferida
de todos os importantes economistas até a grande quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929. A partir
daí o liberalismo ficou em segundo plano, ofuscado pela social-democracia, para renascer no ocaso
desta no final do século como neo-liberalismo.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

A Resistência dos Escravos

No desenvolvimento do regime escravocrata no Brasil, observamos que os negros trazidos para o es-
paço colonial sofriam um grande número de abusos. A dura rotina de trabalho era geralmente marcada
por longas jornadas e a realização de tarefas que exigiam um grande esforço físico. Dessa forma,
principalmente nas grandes propriedades, observava-se que o tempo de vida de um escravo não ultra-
passava o prazo de uma década.

Quando não se submetiam às tarefas impostas, os escravos eram severamente punidos pelos feitores,
que organizavam o trabalho e evitavam a realização de fugas. Quando pegos infringindo alguma norma,
os escravos eram amarrados no tronco e açoitados com um chicote que abria feridas na pele. Em casos
mais severos, as punições poderiam incluir a mutilação, a castração ou a amputação de alguma parte
do corpo. De fato, a vida dos escravos negros no espaço colonial era cercada pelo signo do abuso e
do sofrimento.

Entretanto, não podemos deixar de salientar que a população negra também gerava formas de resis-
tência que iam contra o sistema escravista. Não raro, alguns escravos organizavam episódios de sa-
botagem que prejudicavam a produção de alguma fazenda. Em outros casos, tomados pelo chamado
“banzo”, os escravos adentravam um profundo estado de inapetência que poderia levá-los à morte.

Não suportando a dureza do trabalho ou a perda dos laços afetivos e culturais de sua terra natal, muitos
negros preferiam atentar contra a própria vida. Nesse mesmo tipo de ação de resistência, algumas
escravas grávidas buscavam o preparo de ervas com propriedades abortivas.

Além disso, podemos salientar que o planejamento de emboscadas para assassinar os feitores e se-
nhores de engenho também integrava esse corolário de ações contra a escravidão. Segundo a pers-
pectiva de alguns estudiosos, as manifestações culturais dos negros também indicavam outra prática
de resistência.

A associação dos orixás com santos católicos, a comida, as lutas (principalmente a capoeira) e as
atividades musicais eram outras formas de se preservar alguns dos vínculos e costumes de origem
africana. Com o passar do tempo, vários itens da cultura negra se consolidaram na formação cultural
do povo brasileiro.

Do ponto de vista histórico, os quilombos foram a estratégia de resistência que melhor representou a
luta contra a ordem escravocrata.

Ao organizarem suas fugas, os negros formaram comunidades no interior das matas conhecidas como
quilombos. Nesses espaços, organizavam uma produção agrícola autônoma e formas de organização
sociopolítica peculiares. Ao longo de quatro séculos, os quilombos representaram um significativo foco
de luta contra a lógica escravocrata.

Abolição da Escravatura

No ano de 1845, o parlamento inglês aprovou a Lei Bill Aberdeen, que permitia a apreensão de qualquer
navio envolvido no tráfico negreiro em qualquer parte do mundo. Em 1831, foi decretada a primeira lei
que proibia o tráfico de negros escravos para o Brasil.

No decorrer dos anos, outras leis foram promulgadas, como a Lei Eusébio de Queirós (1850), Lei do
Ventre Livre (1871) e Lei dos Sexagenários (1885). Finalmente, no dia 13 de maio de 1888, a escravi-
dão foi oficialmente abolida no Brasil pela Lei Áurea. O Brasil foi o último país a abolir este tipo de
sistema de trabalho desumano.

Trabalho dos Escravos No Brasil

O Trabalho dos Escravos Indígenas

Os índios foram usados no Brasil desde os primeiros anos da colonização até o século XVIII. Os colo-
nos portugueses escravizaram os índios para que eles trabalhassem, principalmente, na extração de
madeira. Os índios escravizados cortavam e transportavam a madeira até as embarcações.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

Os índios eram muito explorados e recebiam duros castigos físicos quando se recusavam a trabalhar
ou faziam algo errado. Muitos não aguentavam a situação e morriam.

O Trabalho dos Escravos Africanos No Brasil

Os portugueses que colonizaram o Brasil foram buscar na África a necessária para a cultura da cana-
de-açúcar. Os escravos trabalhavam em todas as etapas da produção do açúcar, desde o plantio até
a fabricação do açúcar nos engenhos. Trabalhavam de sol a sol e eram castigados com violência
quando não cumpriam ordens, erravam no trabalho ou tentavam fugir. Tinham que executar todos os
trabalhos solicitados por seu “dono”.

As mulheres escravas também trabalhavam muito, porém alguns tinham a “sorte” de realizarem servi-
ços domésticos (limpeza, culinária, cuidar das crianças). Essas tinham uma atividade menos penosa.

Os filhos dos escravos trabalhavam desde muito cedo. Por volta dos oito anos já eram obrigados a
executar trabalhos de adultos e praticamente perdiam sua infância.

A partir da metade do século XVIII, com a descoberta das minas de ouro, os escravos de origem afri-
cana passaram a trabalhar também na mineração. Faziam o trabalho mais pesado, ou seja, quebravam
pedras, carregavam cascalho e atuavam na busca de pepitas de ouro nos rios.

Nos séculos XVIII e XIX eram comuns, principalmente nas cidades maiores, os escravos de ganho.
Estes tinham a liberdade de executar serviços ou vender mercadorias (doces, por exemplo) nas ruas.

Porém, a maior parte dos lucros destas atividades deveriam ser entregues aos seus proprietários. Em-
bora ficassem com pouco, muitos escravos de ganho guardavam dinheiro durante anos para poder
comprar a carta de alforria, conquistando assim sua liberdade.

Os Portugueses e a Dominação do Território Brasileiro

Atualmente, várias pesquisas históricas manifestam expressa preocupação em colocar um fim aos si-
lêncios que permanecem com relação a determinados temas.

De fato, essa operação revisionista e inovadora empreende a valorosa tarefa de recontar o passado
por meio de referenciais que, por razões diversas, eram arbitrariamente descartados. Com o passar do
tempo, esse novo conhecimento rompe as barreiras do circuito acadêmico e ocupa espaço nos livros
didáticos e salas de aula.

Para que esse processo seja potencializado, é imprescindível que os professores tenham a oportuni-
dade de renovar seus instrumentos didáticos e ampliar o seu inestimável capital intelectual. Por fim, o
maior beneficiado nesse processo é o aluno, que passa a ter um novo tipo de relação com os conteúdos
históricos e passa a combater os velhos paradigmas e diretrizes que explicavam nossa realidade. Afinal
de contas, enxergar o passado com outros olhos abre novas possibilidades de lidar com o cotidiano.

Prestigiando esta gama de implicações, sugerimos neste texto um minucioso trabalho de desconstru-
ção do processo de colonização do nosso território. Geralmente, alguns livros didáticos com visão fan-
tasiosa e romântica sugerem que o contato entre os nativos e portugueses aconteceu de forma harmo-
niosa e descompromissada. Em outros casos, quando admitido o conflito, muitos professores tendem
a retratá-lo de forma unilateral, colocando os indígenas como presas fáceis dos portugueses.

Visando renovar esse tema para os alunos, sugerimos o trabalho com um trecho da obra “A manilha e
o libambo”, do pesquisador Alberto da Costa e Silva. Colocando em evidência esse mesmo tema, ele
ressalta as seguintes nuances do processo de colonização do território:

"Nem todos os brancos que chegavam do mar eram portugueses, e os povos que viviam nas cercanias
do litoral logo aprenderam a distingui-los. (...) Se os surpreendiam, os portugueses os atacavam, quei-
mavam e punham a pique. Mas às vezes, ocorria o oposto. (...) Os portugueses insistiam com os reis
e notáveis do litoral para que não transacionassem com os outros europeus, por eles qualificados de
piratas. E recomendavam que lhes dessem combate. (...) Por volta de 1560, os portugueses começa-
ram a usar galés para patrulhar as costas próximas ao forte da Mina. (...) Os entrepostos nas mãos de
portugueses fiéis à Coroa eram poucos e quase sempre dependentes da boa vontade dos chefes nati-
vos, até para seus alimentos."

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

Através dessas considerações, o professor tem a oportunidade de expor aos alunos que o processo de
colonização brasileiro teve uma dinâmica bem mais complexa. De fato, nesse contexto, observamos
que os portugueses entravam em conflito com os indígenas e conseguiam subordinar as populações.
Mas, em contrapartida, o mesmo pesquisador aponta que os indígenas também venciam os portugue-
ses e demonstravam seu poder de resistência contra a colonização.

Outro ponto que vale ser ressaltado também aponta que outros “brancos” (europeus) tinham o expresso
interesse em ocupar as terras brasileiras. Dessa forma, fica claro que, nas primeiras décadas do século
XVI, a dominação portuguesa sofria ameaças de outros povos que também ambicionavam colonizar
estas terras. Sob tal aspecto, sugerimos que o professor faça uma menção sobre as tentativas holan-
desas, britânicas e francesas de se ocupar o litoral brasileiro.

Por fim, destacando mais uma vez o comportamento nativo neste contexto, coloque em evidência as
tentativas dos colonizadores portugueses em contar com o auxílio dos indígenas. No pequeno trecho,
fica fácil destacar que os portugueses recorriam aos indígenas para evitar a dominação de outros eu-
ropeus e até para a obtenção de alimentos em um território ainda desconhecido.

Dependendo da série em que a documentação é exposta, sugerimos que o professor finalize essa
interessante discussão propondo a realização de um quadro em que portugueses, invasores europeus
e índios sejam representados de acordo com as informações fornecidas pelo texto. Assim, com o uso
do elemento criativo e lúdico, a história brasileira passa a ganhar outros olhos.

Período Pré-Colonial (resumo)

Embora os portugueses tenham chegado ao Brasil em 1500, o processo de colonização do nosso país
teve início somente em 1530. Nestes trinta primeiros anos, os portugueses enviaram para as terras
brasileiras algumas expedições com objetivos de reconhecimento territorial e construção de feitorais
para a exploração do pau-brasil.

Estes primeiros portugueses que vieram para cá circularam apenas em territórios litorâneos. Ficavam
alguns dias ou meses e logo retornavam para Portugal. Como não construíram residências, ou seja,
não se fixaram no território, não houve colonização nesta época.

Neste período também ocorreram os primeiros contatos com os indígenas que habitavam o território
brasileiro.

Os portugueses começaram a usar a mão de obra indígena na exploração do pau-brasil. Em troca,


ofereciam objetos de pequeno valor que fascinavam os nativos como, por exemplo, espelhos, apitos,
chocalhos, etc.

O Início da Colonização

Preocupado com a possibilidade real de invasão do Brasil por outras nações (holandeses, ingleses e
franceses), o rei de Portugal Dom João III, que ficou conhecido como “o Colonizador”, resolveu enviar
ao Brasil, em 1530, a primeira expedição com o objetivo de colonizar o litoral brasileiro.

Povoando, protegendo e desenvolvendo a colônia, seria mais difícil de perdê-la para outros países.
Assim, chegou ao Brasil a expedição chefiada por Martim Afonso de Sousa com as funções de estabe-
lecer núcleos de povoamento no litoral, explorar metais preciosos e proteger o território de invasores.
Teve início assim a efetiva colonização do Brasil.

Nomeado capitão-mor pelo rei, cabia também a Martim Afonso de Sousa nomear funcionários e distri-
buir sesmarias (lotes de terras) aos portugueses, que quisessem participar deste novo empreendimento
português.

Início da Colonização

A colonização do Brasil teve início em 1530 e passou por fases (ciclos) relacionadas à exploração,
produção e comercialização de um determinado produto.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

Vale ressaltar que a colonização do Brasil não foi pacífica, pois teve como características principais a
exploração territorial, uso de mão de obra escrava (indígena e africana), utilização de violência para
conter movimentos sociais e apropriação de terras indígenas.

Ciclo do Açúcar (séculos XVI e XVII)

Grandes quantidades de açúcar eram produzidas nos engenhos estabelecidos na região Nordeste. O
produto era exportado, principalmente para o mercado europeu, enriquecendo os senhores de engenho
e engordando os cofres da corte portuguesa. A mão de obra escrava africana foi usada em larga escala.

Nesta época, muitos portugueses com recursos econômicos vieram para o Brasil para administrar en-
genhos de açúcar ou ocupar cargos públicos.

Ciclo do Ouro (século XVIII)

Embora o processo de colonização tenha sido praticamente todo efetivado nos séculos XVI e XVII,
podemos considerar que ele foi finalizado no século XVIII com a descoberta de minas de ouro nas
regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. A “corrida do ouro” trouxe ao Brasil milhares de portu-
gueses em busca de um enriquecimento rápido. Nesta época muitas cidades foram fundadas e a região
central do Brasil começou a ser povoada.

Ocupação do Território Brasileiro

A Ocupação do Território Brasileiro e a Economia Colonial

No primeiro século de colonização as terras exploradas na América portuguesa se reduziam ao litoral


brasileiro, sendo o pau-brasil o produto que mais interessava aos colonizadores. No entanto, a partir
do século XVI ocorreu uma significativa mudança na configuração do território, já que ocorreu uma
maior interiorização da ocupação tendo em vista a conquista dos chamados sertões, regiões estas
distantes do litoral.

As mudanças ocorridas neste perfil de ocupação estiveram ligadas a fatores como a necessidade de
proteger o território, a busca pela mão de obra indígena, pela expansão da pecuária para o abasteci-
mento interno e também pela não necessidade do respeito ao Tratado de Tordesilhas no momento da
união entre Portugal e Espanha.

A Empresa Açucareira

O início da efetiva ocupação territorial da colônia, a partir de 1530, fez com que Portugal estabelecesse
sua primeira empresa colonial em terras brasileiras. Em conformidade com sua ação exploratória, Por-
tugal viu na produção do açúcar uma grande possibilidade de ganho comercial. A ausência de metais
preciosos e o anterior desenvolvimento de técnicas de plantio nas Ilhas do Atlântico ofereciam condi-
ções propícias para a adoção dessa atividade.

Mesmo possuindo tantas vantagens, o governo português ainda contou com o auxílio da burguesia
holandesa. Enquanto Portugal explorava economicamente as terras com a criação das plantações e
engenhos, os holandeses emprestavam dinheiro e realizavam a distribuição do açúcar no mercado
europeu. Tal acordo foi de grande importância para a Coroa Portuguesa, tendo em vista que a mesma
não contava com recursos suficientes para investir na atividade.

Para extrair lucro máximo na atividade açucareira, Portugal favoreceu a criação de plantations destina-
das ao cultivo de açúcar. Essas plantations consistiam em grandes expansões de terras (latifúndios)
controladas por um único proprietário (senhor de engenho). Esse modelo de economia agrícola, orien-
tado pelo interesse metropolitano, acabou impedindo a ascensão de outras atividades para fora dos
interesses da economia portuguesa.

Além de restringir a economia, a exploração do açúcar impediu a formação de outras classes sociais
intermediárias que não se vinculassem à produção agrícola e ao senhor de engenho. Na base desta
pirâmide social estariam os escravos africanos trazidos das possessões coloniais portuguesas na
África. Além de oferecerem mão de obra a um baixíssimo custo, o tráfico de escravos africanos consti-
tuía outra rentável atividade mercantil à Coroa Portuguesa.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

O engenho, centro da produção de açúcar, baseava-se em um modo de organização específica. A sede


administrativa do engenho fixava-se na casa-grande, local onde o senhor de engenho, sua família e
demais agregados moravam.

A senzala era local destinado ao precário abrigo da mão de obra escrava. As terras eram em grande
parte utilizadas na formação de plantations, tendo uma pequena parte destinada a uma restrita policul-
tura de subsistência e à extração de madeiras.

Separada do espaço do cultivo da cana, existiam outras instalações que davam conta do processa-
mento da cana-de-açúcar colhida.

Na moenda, na casa das caldeiras e na casa de purgar ocorria o beneficiamento de toda a produção
recolhida. Esse era um processo inicial para o transporte do açúcar que, ao chegar à Europa, ainda
sofreria outros processos de refinamento.

Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que um mero sistema de
exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos a instituição de toda uma
sociedade formada por hábitos e costumes próprios.

O engenho propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra
clássica Casa Grande & Senzala de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado de relações
específicas, o engenho e o açúcar trouxeram consigo muitos aspectos culturais da sociedade brasileira.

A Pecuária

Durante o período colonial, a empresa açucareira foi o grande investimento dos portugueses nas terras
brasileiras. Contudo, as necessidades de consumo das populações nativas serviram para o desenvol-
vimento de outras atividades econômicas destinadas à subsistência.

Tais empreendimentos econômicos ficaram comumente conhecidos como atividades acessórias ou


secundárias e costumava abranger o plantio de pequenas e médias culturas e produção de algodão,
rapadura, aguardente, tabaco e mandioca.

Nesse cenário a atividade pecuarista também começou a ganhar espaço com a importação de algumas
reses utilizadas para o trabalho nos engenhos de açúcar.

Com o passar do tempo, o crescimento do rebanho de gado acabou causando problemas no interior
das plantações de açúcar, que tinham parte de sua plantação destruída pela ação desses animais.
Com isso, o lucro a ser alcançado com a produção açucareira se incompatibilizava com a incômoda
presença do gado dentro das fazendas.

A questão chegou a ser tratada pelas autoridades metropolitanas, que estabeleceram um decreto que
proibia a realização de qualquer atividade pecuarista nas regiões litorâneas do Brasil.

À medida, apesar de seu caráter visivelmente restritivo, acabou impulsionando a criação de gado no
interior do território de forma extensiva com o uso de pastagens naturais. Segundo algumas estimativas,
no século XVII, a atividade alcançava várias regiões nordestinas e contava com mais de 600 mil cabe-
ças.

Além de se constituir enquanto uma atividade econômica alternativa aos projetos de exploração colo-
nial, a pecuária também instituiu novas relações de trabalho alheias ao uso da mão de obra escrava.
Geralmente, a pecuária necessitava de um pequeno número de trabalhadores e tinha sua mão de obra
composta por trabalhadores livres de origem branca, negra, indígena ou mestiça.

Além disso, o pagamento pelos serviços prestados era comumente realizado com o repasse de novos
animas que surgiam no rebanho.

Com o surgimento das atividades mineradoras nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a pecuária ampliou
seu mercado consumidor estabelecendo novas frentes de expansão no Nordeste e na região Sul do
território.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

Além de servir para o abastecimento da população, a atividade pecuarista também consolidou um prós-
pero comércio de equinos e muares usados para o transporte de pessoas e mercadorias. Geralmente,
eram organizadas feiras em alguns centros urbanos do interior onde esses animais eram negociados.

Além de ocupar uma importante posição no ambiente colonial, a expansão da pecuária foi de grande
importância no processo de ampliação do território.

Paralelamente, após a decadência da atividade mineradora no interior, a pecuária também se consoli-


dou como uma nova atividade que substituiria o vazio econômico deixado pelo escassamento das mi-
nas.

As Drogas do Sertão

Ao longo da colonização, observamos que a incursão pelo interior do nosso território abriu caminho não
apenas para o conhecimento de novos espaços, mas também para a existência de várias plantas, frutas
e raízes que compunham a nossa vegetação. Nesse processo, o contato com as populações indígenas
também foi de suma importância para que os colonizadores conhecessem as potencialidades curativas
e culinárias das chamadas drogas do sertão.

Antes que a nossa colonização se efetivasse, a partir de 1530, toda a Europa tinha grande interesse
nas especiarias vendidas nas Índias.

As ervas, frutos, raízes e sementes do mundo oriental serviam para a preparação de remédios, a fabri-
cação de manufaturas e o tempero da comida. No século XV, o advento das grandes navegações
lideradas pelas nações ibéricas objetivava a conquista de uma rota que ligasse a Europa aos comerci-
antes indianos, tamanho era o interesse por esses produtos.

Envolvidos em tal projeto, os portugueses acabaram conquistando uma rota de chegada ao Oriente por
meio da circunavegação da África.

Tal rota, apesar de cumprir o seu objetivo, acabou não sendo economicamente viável por conta do
grande tempo gasto na viagem e a concorrência de outros povos que já comercializavam com os indi-
anos. Dessa forma, a possibilidade de se vender e consumir as especiarias em Portugal acabou não
sendo concretizada.

Nos séculos XVI e XVII, a exploração da região amazônica acabou surgindo como uma solução para o
papel econômico anteriormente desempenhado pelas especiarias indianas.

Afinal, esse espaço do território colonial acabou se mostrando rico em frutas, sementes, raízes e outras
plantas que tinham finalidades medicinais e culinárias. Cacau, cravo, guaraná, urucum, poaia e bauni-
lha foram alguns dos produtos que ficaram conhecidos como as tais drogas do sertão.

Na maioria das vezes, a extração das drogas do sertão era feita pelas missões jesuítas que se locali-
zavam no interior do território e aproveitavam da mão de obra indígena disponível.

Paralelamente, os bandeirantes, em suas incursões pelo interior, também realizavam essa mesma ati-
vidade com o objetivo de vender esses produtos na região litorânea. De modo geral, a extração das
drogas do sertão atendia demandas provenientes tanto do mercando interno como do mercado externo.

O Mito dos Ciclos Econômicos

É interessante ressaltar que atualmente a historiografia não aceita mais a visão clássica dos ciclos
econômicos, ou seja, a ideia de que o período colonial teria sido economicamente conduzido por ciclos,
ou seja, sustentado sucessivamente pela exportação de produtos específicos, primeiramente o pau-
brasil, depois o açúcar, o ouro e o café.

Bandeirantes e Jesuítas: A definição dos limites geográficos e a mão de obra indígena.

Denominam-se bandeirantes os sertanistas do Brasil Colonial, que, a partir do início do século XVI,
penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais, sobretudo a prata, abundante na
América espanhola, indígenas para escravização ou extermínio de quilombos.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

Estes homens, que saiam de São Paulo e São Vicente, dirigiam-se para o interior do Brasil caminhando
através de florestas e também seguindo caminho por rios, o Rio Tietê foi um dos principais meios de
acesso para o interior de São Paulo. Estas explorações territoriais eram chamadas de Entradas ou
Bandeiras.

Enquanto as Entradas eram expedições oficiais organizadas pelo governo, as Bandeiras eram financi-
adas por particulares (senhores de engenho, donos de minas, comerciantes).

Estas expedições tinham como objetivo predominante capturar os índios e procurar por pedras e metais
preciosos. Contudo, estes homens ficaram historicamente conhecidos como os responsáveis pela con-
quista de grande parte do território brasileiro. Alguns chegaram até fora do território brasileiro, em locais
como a Bolívia e o Uruguai.

Do século XVII em diante, o interesse dos portugueses passou ser a procura por ouro e pedras preci-
osas. Então, os bandeirantes Fernão Dias Pais e seu genro Manuel Borba Gato, concentraram-se nes-
tas buscas desbravando Minas Gerais.

Depois outros bandeirantes foram para além da linha do Tratado de Tordesilhas e descobriram o ouro.
Muitos aventureiros os seguiram, e, estes, permaneceram em Goiás e Mato Grosso dando início a
formação das primeiras cidades.

Nessa ocasião destacaram-se: Antônio Pedroso, Alvarenga e Bartolomeu Bueno da Veiga, o Anhan-
guera.

Como conclusão, pode-se dizer que os bandeirantes foram responsáveis pela expansão do território
brasileiro, desbravando os sertões além do Tratado de Tordesilhas. Por outro lado, agiram de forma
violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do sistema
escravocrata que vigorava no Brasil Colônia.

Os jesuítas também tiveram grande importância na ocupação e delimitação do território colonial, já que
através dos aldeamentos e missões adentraram os sertões através da exploração de uma série de
produtos. Os mesmos eram padres da Igreja Católica que faziam parte da Companhia de Jesus. Esta
ordem religiosa foi fundada em 1534 por Inácio de Loiola.

A Companhia de Jesus foi criada logo após a Reforma Protestante (século XVI), como uma forma de
barrar o avanço do protestantismo no mundo. Portanto, esta ordem religiosa foi criada no contexto da

O que ocorreu de fato foi a preponderância de certos produtos em determinados momentos e não a
exclusividade dos mesmos, já que a economia colonial era bem mais complexa do que unicamente a
exportação de produtos, tendo em vista a montagem de um vigoroso mercado interno.

Contra-Reforma Católica. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549, com a expedição
de Tomé de Souza.

Objetivos dos jesuítas:

Levar o catolicismo para as regiões recém descobertas, no século XVI, principalmente à América

Catequizar os índios americanos, transmitindo-lhes as línguas portuguesa e espanhola, os costumes


europeus e a religião católica

Difundir o catolicismo na Índia, China e África, evitando o avanço do protestantismo nestas regiões

Nos aldeamentos jesuíticos os índios eram educados para viver como cristãos. Essa educação signifi-
cava uma imposição forçada de outra cultura, a cristã. Os jesuítas valiam-se de aspectos da cultura
nativa, especialmente a língua, para se fazerem compreender e se aproximarem mais dos indígenas.
Esta ação incrementava a destribalização e violentava aspectos fundamentais da vida e da mentalidade
dos nativos, como o trabalho na lavoura.

Do ponto de vista dos jesuítas, a destruição da cultura indígena simbolizava o sucesso dos aldeamentos
e da política metropolitana inspirada por eles.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

Os religiosos argumentavam que as aldeias não só protegiam os nativos da escravidão e facilitavam


sua conversão, mas também forneciam uma força militar auxiliar para ser usada contra tribos hostis,
intrusos estrangeiros e escravos bêbados.

Entretanto, os efeitos dessa política eram tão agressivos e aniquiladores da identidade nativa que, não
raro, os índios preferiam trabalhar com os colonos, apesar de serem atividades mais rigorosas, pois
estes pouco se envolviam com seus valores, deixando-os mais livres.

Em sua trajetória, as missões jesuíticas encamparam uma grande população de indígenas que ganhava
educação religiosa em troca de uma rotina de serviços voltados à manutenção desses próprios locais.

Com o passar do tempo, algumas dessas propriedades clericais passaram a integrar a economia in-
terna da colônia com o desenvolvimento da agropecuária e de outras atividades de extrativismo. Dessa
forma, conciliavam uma dupla função religiosa e econômica.

Enquanto essa situação próspera se desenhava no interior da colônia, os proprietários de terra do litoral
enfrentavam grandes dificuldades para ampliar a rentabilidade de suas posses. Um dos grandes pro-
blemas esteve ligado à falta de escravos africanos que nem sempre atendiam à demanda local e, ao
mesmo tempo, possuíam um elevado valor no mercado colonial. Foi daí então que os bandeirantes
começaram a adentrar as matas com objetivo de apresar e vender os índios que resolveriam a falta de
mão de obra.

De fato, essa atividade gerou um bom lucro aos bandeirantes que se dispunham a adentrar o interior à
procura de nativos. Contudo, a resistência destes e o risco de vida da própria atividade levaram muitos
bandeirantes a organizarem ataques contra as missões jesuíticas.

Afinal de contas, ali encontrariam uma boa quantidade de índios amansados que já estariam adaptados
aos valores da cultura europeia e valeriam mais por estarem acostumados a uma rotina de trabalho.

Com isso, a rivalidade entre bandeirantes e jesuítas marcou uma das mais acirradas disputas entre os
séculos XVII e XVIII. Vez após outra, ambos os lados recorriam à Coroa Portuguesa para resolver essa
rotineira contenda. Por um lado, os colonizadores reclamavam da falta de suporte da própria adminis-
tração colonial. Por outro, os jesuítas apelavam para a influência da Igreja junto ao Estado para denun-
ciarem as terríveis agressões dos bandeirantes.

O desgaste causado por essas disputas só foi resolvido com as ações impostas pelo marquês de Pom-
bal. Primeiramente, decidiu determinar a expulsão dos jesuítas do Brasil por estes imporem um modelo
de colonização alheio ao interesse da Coroa. E, logo em seguida, determinou o fim da escravidão
indígena e a formação de aldeamentos diretamente controlados por representantes da administração
metropolitana.

A Escravidão Africana

A substituição da mão de obra escrava indígena pela africana ocorreu, progressivamente, a partir de
1570. As principais formas de resistência indígena à escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa
ao trabalho, além da morte de uma parcela significativa deles. Segundo o historiador Boris Fausto,
morreram em torno de 60 mil índios, entre os anos de 1562 e 1563.

As causas eram doenças contraídas pelo contato com os brancos, especialmente os jesuítas: sarampo,
varíola e gripe, para as quais não tinham defesa biológica.

Outro fator bastante importante, se não o mais importante, na substituição de mão de obra indígena
pela africana, era a necessidade de uma melhor organização da produção açucareira, que assumia um
papel cada vez mais importante na economia colonial. Para conseguir dar conta dessa expansão e
demanda externa, tornou-se necessária uma mão de obra cada vez mais especializada, como a dos
africanos, que já lidavam com essa atividade nas propriedades dos portugueses, na Ilha da Madeira,
litoral da África.

Nessa época, a Coroa começou a tomar medidas contra a escravização dos A substituição da mão de
obra escrava indígena pela africana ocorreu, progressivamente, a partir de 1570. As principais formas
de resistência indígena à escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

de uma parcela significativa deles. Segundo o historiador Boris Fausto, morreram em torno de 60 mil
índios, entre os anos de 1562 e 1563.

As causas eram doenças contraídas pelo contato com os brancos, especialmente os jesuítas: sarampo,
varíola e gripe, para as quais não tinham defesa biológica.

Outro fator bastante importante, se não o mais importante, na substituição de mão de obra indígena
pela africana, era a necessidade de uma melhor organização da produção açucareira, que assumia um
papel cada vez mais importante na economia colonial.

Para conseguir dar conta dessa expansão e demanda externa, tornou-se necessária uma mão de obra
cada vez mais especializada, como a dos africanos, que já lidavam com essa atividade nas proprieda-
des dos portugueses, na Ilha da Madeira, litoral da África.

Nessa época, a Coroa começou a tomar medidas contra a escravização dos indígenas, restringindo as
situações em que isso poderia ocorrer, como: em “guerras justas”, isto é, conflitos considerados neces-
sários à defesa dos colonos, que assim, poderiam aprisionar e escravizar os indígenas, ou ainda a título
de punição pela prática da antropofagia. Podia-se escravizá-los, também, como forma de “resgate”, isto
é, comprando os indígenas aprisionados por tribos inimigas, que estavam prontas a devorá-los.

Ao longo desse processo os portugueses já tinham percebido a maior habilidade dos africanos, tanto
no trato com a agricultura em geral, quanto em atividades especializadas, como o fabrico do açúcar e
trabalhos com ferro e gado.

Além disso havia o fato de que, enquanto os portugueses utilizaram a mão de obra indígena, puderam
acumular os recursos necessários para comprar os africanos. Essa aquisição era considerada investi-
mento bastante lucrativo, pois os escravos negros tinham um excelente rendimento no trabalho.

Para o historiador Eduardo Silva, “a escravidão não funcionou e se reproduziu baseada apenas na
força. O combate à autonomia e indisciplina escrava, no trabalho e fora dele, se fez através de uma
combinação de violência com a negociação, do chicote com a recompensa. ”

Os escravos que trabalhavam na casa grande recebiam um tratamento melhor e, em alguns casos,
eram considerados pessoas da família. Esses escravos, chamados de “ladinos” (negros já aculturados),
entendiam e falavam o português e possuíam uma habilidade especial na realização das tarefas do-
mésticas.

Os escravos chamados “boçais”, recém-chegados da África, eram normalmente utilizados nos traba-
lhos da lavoura. Havia também aqueles que exerciam atividades especializadas, como os mestres de
açúcar, os ferreiros, e outros distinguidos pelo senhor de engenho. Chamava-se de crioulo o escravo
nascido no Brasil.

Geralmente dava-se preferência aos mulatos para as tarefas domésticas, artesanais e de supervisão,
deixando aos de cor mais escura, geralmente os africanos, os trabalhos mais pesados.

A convivência mais próxima entre senhores e escravos, na casa grande, abriu espaço para as negoci-
ações. Esta abertura era sempre maior para os ladinos, conhecedores da língua e das manhas para
“passar a vida”, e menor para os africanos recém-chegados, os boçais.

Na maioria das vezes, essas negociações não visavam à extinção pura e simples da condição de es-
cravo, e sim, obter melhores condições de vida, manutenção das famílias, liberdade de culto, permissão
para o cultivo em pedaço de terra do senhor, com a venda da produção, e condições de alimentação
mais satisfatórias.

Uma das formas da resistência negra era a organização dos quilombos- comunidades livres constituí-
das pelos negros que conseguiam fugir com sucesso.

O mais famoso deles, o Quilombo de Palmares, formou-se na Serra da Barriga, atual Alagoas, no início
do século XVII. Resistindo por mais de 60 anos, nele viveram cerca de 200 mil negros. Palmares so-
breviveu a vários ataques organizados pela Coroa portuguesa, pelos fazendeiros e até pelos holande-
ses.

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A RESISTÊNCIA DOS ESCRAVOS

Para o senhor de engenho a compra de escravos significava um gasto de dinheiro considerável e,


portanto, não desejava perdê-los, qualquer que fosse o motivo: fuga ou morte, inutilização, por algum
acidente ou por castigos aplicados pelos feitores. A perda afetava diretamente as atividades do enge-
nho.

Outro problema a evitar era que as revoltas se tornassem uma ameaça ao senhor e à sua família, ou à
realização das tarefas cotidianas. Dessa forma, se muitas vezes as relações entre senhores e escravos
eram marcadas pelos conflitos causados pelas tentativas dos senhores de preservar suas conquistas,
em muitos casos, a garantia dessas conquistas era justamente o que possibilitava uma convivência
mais harmoniosa entre os dois grupos.

É preciso fazer algumas pontuações com relação a escravidão. Primeiro é preciso abandonar a visão
clássica de escravos vivendo completamente a parte do mundo branco, trancafiados nas senzalas e
sendo vítimas de constantes castigos por parte dos seus senhores.

A prática da escravidão foi bem diversa na América Portuguesa, obviamente as relações entre senho-
res e escravos eram desiguais, sendo os escravos considerados como propriedades e em última ins-
tância podendo receber duros castigos, no entanto a privação não era absoluta, existia um convívio e
uma troca cultural entre ambos os lados, sendo que alguns senhores davam concessões aos escravos
que os permitia, por exemplo, frequentar festas e eventos fora de suas residências.

Tais constatações não amenizam o sofrimento daqueles homens e mulheres, mas relativizam a visão
de que os escravos eram privados absolutamente de qualquer vontade e que a relação era de completa
submissão e isolamento aos elementos culturais da elite branca.

Outro ponto que merece destaque e explica a não existência de revoltas de âmbito nacional que colo-
cassem em risco o sistema escravista, era a grande divisão existente entre os escravos, provenientes
de vários fatores, sendo o principal a diversidade de funções realizadas pelos mesmos, as quais davam
diferentes tratamentos e acessos privilegiados a bens simbólicos e materiais. Além de tais diferenças,
era comum por parte dos senhores acirrarem brigas e ciúmes entre sua escravaria através da conces-
são de benefícios a certos escravos.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Abolição da Escravatura

A abolição da escravatura aconteceu no Brasil, em 13 de maio de 1888, por meio da Lei Áurea, sendo
resultado da resistência dos escravos e da mobilização popular.

A abolição da escravatura no Brasil aconteceu em 13 de maio de 1888, por meio da Lei Áurea e ratifi-
cou a extinção do trabalho escravo dos negros em nosso país.

A abolição da escravatura foi o resultado de um processo de luta popular, que contou com a adesão
de parcelas consideráveis da sociedade brasileira, além de ter sido marcada pela resistência dos es-
cravos. O Brasil foi o último país das Américas a abolir com a escravidão.

Causas

A abolição do trabalho escravo do Brasil foi o resultado final de um processo longo, lento e difícil de
muitas lutas. O fim do uso da mão de obra escrava em nosso país não foi resultado do humanismo ou
da benevolência da família real brasileira, conforme muitos acreditam, mas aconteceu porque um
grande número de pessoas de nossa sociedade mobilizou-se para forçar o Império a pôr fim ao trabalho
escravo.

A abolição da escravatura no Brasil aconteceu por meio da:

Resistência realizada pelos próprios escravos ao longo do século XIX;

Adesão de parte da nossa sociedade à causa por meio de associações abolicionistas;

Mobilização política dos defensores do abolicionismo.

Além disso, havia a questão dos novos padrões civilizacionais que estavam surgindo e que condena-
vam a prática do trabalho escravo. Isso colocava o Brasil numa posição vexatória, internacionalmente,
uma vez que no continente americano o país foi o último a abolir a escravidão. Essa questão, porém,
é apenas secundária, e o processo de abolição só foi possível por conta da luta dos escravos.

Contexto Histórico

A abolição do trabalho escravo é um assunto que atravessou a história do nosso país e do mundo ao
longo do século XIX. Uma questão que estava diretamente ligada com a abolição da escravidão era a
proibição do tráfico negreiro. No caso do nosso país, esse era um assunto em evidência, antes mesmo
da independência.

Já no período joanino, havia negociações entre Portugal e Reino Unido para que o tráfico negreiro
fosse abolido em definitivo. Essas negociações estenderam-se depois que o Brasil conquistou sua in-
dependência, e o reconhecimento do Brasil, enquanto nação, só aconteceu por meio de um compro-
misso assumido por nosso país de que o tráfico ultramarino seria proibido, em 1830.

A partir desse compromisso, saiu uma lei, em 1831, que proibia o tráfico, mas as autoridades brasileiras
faziam vistas grossas e, apesar da proibição, os cativos africanos continuaram a chegar ao Brasil em
grande quantidade. O historiador Carlos Eduardo Moreira Araújo aponta que, entre 1831 e 1845, cerca
de 470 mil africanos chegaram ao Brasil por meio do tráfico ultramarino.

A negligência das autoridades brasileiras em não reprimir o tráfico negreiro fez a Inglaterra tomar uma
medida radical chamada Bill Aberdeen, que colocava em jogo a soberania das águas brasileiras, e que
quase levou Inglaterra e Brasil à guerra.

Para evitar um maior desastre, os políticos brasileiros optaram por aprovar uma nova lei proibindo
(novamente) o tráfico negreiro no Brasil. Essa foi a Lei Eusébio de Queirós, implantada no país, no ano
de 1850.

Essa lei teve aplicabilidade imediata e foi acompanhada de uma grande repressão governamental que
fez com que o tráfico negreiro se enfraquecesse e deixasse de existir rapidamente. Com a proibição do
tráfico ultramarino, foi intensificado, no Brasil, o tráfico interprovincial, isto é, a venda de escravos rea-
lizada internamente, entre províncias.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

O caminho para a abolição ainda foi muito longo e foram necessários 38 anos para que a escravidão
dos negros fosse abolida em nosso país. Nesse período, a resistência dos grandes proprietários escra-
vocratas foi intensa no meio político, o que fez com que o nosso processo de abolição da escravatura
acontecesse de maneira muito gradual.

O movimento abolicionista, por sua vez, só ganhou força a partir da década de 1870, e o fortalecimento
do abolicionismo fez com que algumas leis fossem aprovadas no Parlamento brasileiro: a Lei do Ventre
Livre e Lei dos Sexagenários. Veja o que cada uma dessas leis determinou:

Lei do Ventre Livre (1871): determinava que todo filho de escravo nascido após 1871 seria considerado
livre, cabendo ao dono do escravo dar sua liberdade com oito anos de idade (recebendo indenização),
ou aos 21 anos de idade (sem receber indenização).

Lei dos Sexagenários (1885): concedia alforria aos escravos que possuíssem idade superior a 60 anos.
Os escravos alforriados ficavam obrigados por lei a prestar “serviços indenizatórios” durante três anos.

Ambas as leis atendiam demandas importantes para os escravocratas: a demanda por indenização dos
cativos (seja por meio de trabalho compulsório, seja por meio de um valor específico) que garantiam
sua liberdade e o enfraquecimento temporário dos movimentos abolicionistas. A Lei dos Sexagenários,
por exemplo, foi encarada pelos abolicionistas da época como uma verdadeira derrota para a causa.

A década de 1880 foi um momento de grande agitação política e a abolição do trabalho escravo foi a
pauta que agitou a sociedade brasileira. O movimento abolicionista tinha ganhado uma força muito
grande e a causa foi abraçada por inúmeros grupos de nossa sociedade. As associações abolicionistas
espalhavam-se pelo país e atuavam em diversas frentes: legais e ilegais (à luz da legislação da época).

Um grupo notável de pessoas como Luís Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Aristides Lobo,
Manuel Quirino, entre outros, atuava firmemente na defesa da causa abolicionista. A mobilização de
parte da sociedade na defesa da abolição ocorreu de diversas formas, e os escravos eram muitas vezes
incentivados a se rebelar, eram abrigados por pessoas quando fugiam e defendidos nos tribunais por
advogados.

Houve casos de delegacias e portos que foram atacados por pessoas comuns, pois aprisionavam es-
cravos fugidos para devolvê-los a seus donos. Essas pessoas que atacavam esses locais resgatavam
os escravos e os libertavam. Além disso, a propaganda pelo abolicionismo ocupou espaços importan-
tes, e intelectuais, gozando de sua posição, faziam anúncios em jornais defendendo a causa.

Na década de 1880, a camélia branca tornou-se um grande símbolo da causa abolicionista.

A adesão ao abolicionismo e a propaganda da causa espalharam-se de tal forma pela sociedade bra-
sileira que, nos grandes centros do país, a camélia branca tornou-se um símbolo de adesão ao aboli-
cionismo. As pessoas que cultivavam a flor em sua casa ou portavam um broche de camélia branca
em sua roupa anunciava publicamente seu apoio ao abolicionismo.

A abolição da escravatura, porém, não aconteceu somente por meio da luta realizada pela parcela não
escravizada de nosso país. A resistência dos escravos foi fundamental, pois, como pontua o historiador
João José Reis, impôs limite aos horrores cometidos por seus opressores|2|. Os escravos revoltavam-
se de diversas maneiras.

A forma mais comum de resistência dos escravos era as fugas e, na década de 1880, surgiram vá-
rios quilombos que abrigavam os escravos fugidos. As cidades do Rio de Janeiro e de Santos ficaram
notabilizadas pela grande quantidade de quilombos que surgiram nos seus arredores. Esses quilombos
eram usados para organizar rotas de fuga, abrigar outros escravos e organizar outras formas de resis-
tência.

Houve casos em que os escravos rebelados tomavam o controle da propriedade na qual eram escra-
vizados e matavam seus senhores. Em muitos locais, os escravos organizavam-se para se rebelar nos
“dias santos”, isto é, dias de festas religiosas ou de missas.

Tudo isso reforça uma visão trazida pelos historiadores de que os escravos foram agentes ativos na
luta pela emancipação.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Assim, dentro desse contexto, a ação do Estado em manter a escravidão tornou-se ineficaz. O sinônimo
do enfraquecimento da escravidão no Brasil foi as ações tomadas no Amazonas e no Ceará, em 1884.
Esses dois estados decretaram a abolição da escravatura em seus territórios.

A defesa do abolicionismo havia ganhado força na sociedade brasileira e, além disso, a resistência dos
escravos africanos tornou a manutenção da escravidão impossível, porque as revoltas e fugas eram
tão frequentes que colocavam em “risco” a ordem interna do país. Assim, a mobilização dos escravos
e dos grupos abolicionistas forçou o Império a abolir com a escravidão, em 1888.

Dia da Abolição

Nesse contexto, foi levado para o Senado o projeto que defendia a extinção imediata e sem indenização
da escravidão no Brasil. Esse projeto foi proposto por João Alfredo, político do Partido Conservador. A
lei foi aprovada no Senado e, no dia 13 de maio de 1888, foi levada para a princesa Isabel para que
ela assinasse, colocando-a em vigor.

A princesa regente do Brasil assinou a Lei Áurea no dia mencionado, e a capital do Brasil – na época
o Rio de Janeiro – entrou em festa. Os relatos resgatados pelos historiadores contam que milhares de
pessoas reuniram-se nas ruas do Rio de Janeiro e as comemorações pela abolição estenderam-se na
capital durante dias.

Abolição da Escravatura no Mundo

Como mencionamos no começo do texto, a questão da abolição do trabalho escravo foi uma pauta que
atravessou o século XIX e foi um assunto relevante em diferentes partes do mundo. O avanço dos
ideais liberais e a defesa da liberdade e dos direitos dos homens deram reforço aos movimentos que
defendiam a abolição do trabalho escravo.

No continente americano, a primeira questão de destaque foi a proibição do tráfico negreiro. O primeiro
país a proibir o tráfico ultramarino de escravos foram os Estados Unidos, em 1808. Os britânicos fizeram
o mesmo em suas colônias, no mesmo ano, e os holandeses fizeram isso em seus territórios, em 1815.

Um caso de abolição do trabalho escravo de destaque na América foi o caso haitiano, que ocorreu em
1794. A agitação causada pela Revolução Francesa aliada a uma insatisfação reprimida durante anos
por um sistema de exploração escravocrata extremamente cruel levaram a uma rebelião de escravos
sem precedentes na história do continente. A revolta dos escravos haitianos conduziu o país à sua
independência, em 1804.

Em 1833, a Inglaterra aboliu a escravidão em suas colônias na América, mas a transição gradual dessa
abolição fez com que ela se estendesse até 1840. A abolição da escravatura nos Estados Unidos foi
dramática e aconteceu por meio de uma guerra entre os Estados do Norte e do Sul por conta da ques-
tão que envolvia a expansão do trabalho escravo para os territórios no Oeste.

A derrota dos Estados Confederados (sulistas) fez com que eles fossem obrigados a aceitar a abolição
da escravatura que aconteceu em 1865. Os países da América Espanhola realizaram a abolição da
escravatura em seus territórios, entre as décadas de 1820 e 1850. Em Porto Rico, a abolição aconteceu
em 1863 e em Cuba a abolição só aconteceu por conta da resistência dos escravos que a forçou acon-
tecer, em 1886.

A abolição do trabalho escravo no Brasil, realizado pelos negros, aconteceu em 13 de maio de 1888,
por meio da Lei Áurea.

A abolição da escravidão mobilizou milhares de pessoas a festejarem no Rio de Janeiro.

Desde o começo do século XIX, o Brasil era pressionado pela Inglaterra para proibir o tráfico negreiro,
e essas pressões resultaram na Lei Eusébio de Queirós, em 1850.

Com a proibição do tráfico, em 1850, o processo até a abolição foi realizado de maneira lenta e gradual.

As leis abolicionistas foram: Lei do Ventre Livre, de 1871, e Lei dos Sexagenários, de 1885.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

O movimento abolicionista ganhou força a partir da década de 1870, e parte considerável da sociedade
brasileira aderiu à causa.

As principais formas de resistência foram realizadas pelos escravos por meio de fugas e de revoltas
contra seus senhores.

O Brasil foi o último país da América a abolir o trabalho escravo.

Três Grandes Abolicionistas Negros Brasileiros

Os três grandes abolicionistas negros brasileiros que se destacaram na segunda metade do século XIX
foram André Rebouças, José do Patrocínio e Luiz Gama.

Sabemos que as principais tentativas de dar fim à escravidão no Brasil começaram, de fato, quando o
país tornou-se independente, em 1822, e o sistema político imperial foi instalado. Havia pressão (eco-
nômica, sobretudo) do principal apoiador da Independência do Brasil, a Inglaterra, para que a escravi-
dão fosse extinta entre nós. Todavia, as pressões internas vindas das elites agrárias brasileiras fizeram
com que os projetos possíveis de abolição fossem engavetados.

Desse modo, nas décadas que seguiram, a luta pela abolição da escravatura passou a ser travada por
grupos organizados em prol da causa (para mais informações, clique aqui). Nesses grupos, havia po-
líticos, nobres (como a própria Princesa Isabel, que assinaria a Lei Áurea), jornalistas, advogados e
toda sorte de profissionais liberais. Entre os grandes defensores da causa abolicionista, três eram ne-
gros. São eles: Luís Gama, José do Patrocínio e André Rebouças.

Luiz Gama (1830-1882)

Luiz Gonzaga Pinto da Gama, baiano de nascimento, era filho de uma negra livre e pai branco, lusitano.
No entanto, mesmo tendo nascido livre, foi feito escravo aos 10 anos de idade e assim permaneceu
até os 17, quando conseguiu provar que nascera de ventre livre. Só depois de ter passado pela expe-
riência da escravidão, Gama conseguiu alfabetizar-se. Como autodidata, tornou-se jornalista, advogado
e escritor literário.

Luiz Gama não chegou a ver a abolição dos escravos, pois morreu em 1882

Em São Paulo, onde residiu a maior parte de sua vida, exerceu com destaque a profissão de jornalista
e fundou, com o caricaturista Angelo Agostini, o jornal humorístico O Diabo Coxo, em 1864.

Foi nessa mesma época que entrou em contato com os ideais abolicionistas e republicanos por meio
da Loja Maçônica América, que era frequentada também por Ruy Barbosa e Joaquim Nabuco.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Como advogado, Gama chegou a defender muitos negros de graça e ajudou a conseguir a alforria para
centenas de outros. Ele faleceu em 24 de agosto de 1882 sem ver a abolição dos escravos, que só
aconteceria em 1888.

José do Patrocínio (1853-1905)

José do Patrocínio, além de abolicionista, também era propagandista do ideal republicano

José Carlos do Patrocínio era filho de um clérigo, o vigário Monteiro, com uma escrava chamada de
Mina, que servia ao vigário nos afazeres em sua paróquia, em Campos dos Goytacazes. Ao contrário
de Luiz Gama, Patrocínio, tendo nascido escravo, cresceu como liberto e protegido pelo pai, que,
mesmo não o reconhecendo formalmente como filho, preparou-o para a vida escolar e depois para
trabalhos modestos.

De Campo de Goytacazes, Patrocínio seguiu, ainda adolescente, para a cidade do Rio de Janeiro a fim
de trabalhar e estudar para se formar em Medicina. Conseguiu ingressar no curso de Farmácia, que
concluiu em 1874.

No tempo de estudante, entrou em contato com o republicanismo e o abolicionismo quando começou


a frequentar o Clube Republicano carioca. Nesse grupo conheceu personalidades como Lopes Tro-
vão, Quintino Bocaiuva e Pardal Mallet.

Em 1875, José do Patrocínio começou a atividade jornalística com o jornal satírico Os Ferrões, escrito
em conjunto com Dermeval da Fonseca. O jornalismo lhe abriu portas para a luta contundente contra
a escravidão, mas também para a propaganda pró-republicana, que incendiava o país na década de
1880.

No ano de 1880, fundou, com Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, um dos
principais órgãos abolicionistas do período.

André Rebouças (1838-1898)

André Rebouças era filho de um mestiço notório à época do Império, Antônio Pereira Rebouças, que
chegou a ser conselheiro de Dom Pedro II.

Formou-se, como seus irmãos, em engenharia e tornou-se notável ao exercer essa profissão em ao
menos três ocasiões: 1) ao resolver o problema do abastecimento de água na cidade do Rio de ja-
neiro; 2) ao desenvolver um tipo de torpedo para ser usado na Guerra do Paraguai; e 3) ao projetar
uma importante ferrovia do Paraná ao atual Mato Grosso do Sul.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

André Rebouças era engenheiro e político

Além das atividades de engenharia, André Rebouças, assim como os dois outros nomes aqui destaca-
dos, notabilizou-se pela atividade jornalística – principalmente por seu estilo refinado de quem conhecia
bem culturas alheias à sua, tanto da Europa quanto de outras regiões da América. Além disso, era
amigo do músico Carlos Gomes, que ajudou financeiramente algumas vezes.

Rebouças também foi sócio-fundador da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, mas participou
também de outras associações abolicionistas e amparadores de imigrantes, como a Sociedade Aboli-
cionista e a Sociedade Central de Imigração. Sua visão política ia além do simples anseio pelo fim da
escravidão.

Rebouças também pensava nas consequências desse fato, na necessidade de projetos para inserir os
negros libertos em novas formas de relações sociais e no universo do trabalho livre, sem deixar de lado
também a questão do imigrante europeu, que, se não tivesse plenos direitos como cidadão, sofreria
um processo de “reescravização” por parte dos donos das terras a eles concedidas.

O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão

Abolição da escravidão: a igualdade que não veio

No início de 1929, o periódico carioca O Jornal apresentava em suas páginas uma “preciosidade su-
burbana” de 114 anos: “Um preto velho, curvado sobre um cacete nodoso, typo impressionante, que
raramente se vê em nossa capital”.

O homem havia procurado aquela redação no intuito de pedir ajuda para comprar uma passagem para
a Barra do Piraí, onde iria visitar seu neto, mas, diante do olhar de espanto dos jornalistas, decidiu
sentar para conversar e contar suas histórias do tempo em que era escravo: “Eu nasci em São João
del Rey, quando ainda estava no Brasil o sr.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

dom João, pai do primeiro imperador. Era molecote e pertencia ao sr. capitão Manoel Lopes de Si-
queira”. Teria sido vendido para o coronel Ignácio Pereira Nunes, dono da fazenda da Cachoeira, em
Paraíba do Sul. Ali labutava quando estourou a Revolução Liberal de 1842 (ver glossário). Trabalhava
tanto na lavoura como nas tropas que cruzavam o vale do Paraíba despejando café no porto do Rio de
Janeiro.

O ex-escravo chamava-se Hipólito Xavier Ribeiro e era morador do morro da Cachoeirinha, na serra
dos Pretos Forros (localizada entre os atuais bairros de Lins de Vasconcelos e Cabuçu, na zona norte
do Rio de Janeiro).

Ao longo de sua vida testemunhou importantes acontecimentos da história do Brasil, entre os quais a
Guerra do Paraguai, da qual participou: “Quando o imperador mandou chamar os moços brancos para
servir na tropa de linha, nunca vi tanto rancho em biboca da serra, tanto rapaz fino barbudo que nem
bicho escondido no mato… O recrutamento esquentou a cada fazendeiro.

Para segurar o filho, agarrando a saia da mamãe, entregava os escravos. Entregava chorando porque
um negro naquele tempo dava dinheiro. Eu fui num corpo de voluntários quase no fim da guerra, mas
ainda entrei em combate em Mato Grosso”.

Terminado o conflito, Hipólito presenciaria outro fato marcante de nossa história: a abolição da escra-
vidão, com a assinatura da Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888. Ele ainda se lembrava bem dos
festejos – “um batuque barulhento, sapateado de pé no chão, um cateretê daqueles, correu de dia e de
noite” – mas a recapitulação do passado foi interrompida pela dura realidade do presente. Quando já
havia reunido uma platéia na redação que ouvia atentamente as suas histórias, o antigo escravo de-
cretou:

“Se eu fosse contar tudo o que sei… não acabava hoje”. Queria mesmo era ajuda para comprar a
passagem, pois “o tempo de hoje está pior do que o tempo do imposto do vintém (ver glossário)” e
“cadê dinheiro?”, e “a pé não chego lá, de trem não posso ir”.

E foi-se embora. Um dos jornalistas que ouviu o relato descreveu o velho negro em sua crônica: “Não
obstante a sua idade avançada, apresenta aspecto sadio. É um preto alto, espadaúdo, ainda com es-
forço consegue se empertigar com entusiasmo. Fala com pausa, como a inquirir o pensamento”.

Assim como Hipólito Ribeiro, muitos negros participaram da Guerra do Paraguai. Acima, a guarda do
Marquês de Caxias

O relato de Hipólito Xavier Ribeiro, registrado mais de 40 anos após a assinatura da Lei Áurea, é um
símbolo da memória construída no Brasil em torno da Abolição.

Para as elites, a escravidão deveria aparecer como resquício de um passado a ser derrotado, distante,
velho e quase nunca alcançado pela memória. Um passado, se não exótico, quase surreal, como o
próprio negro Hipólito.

Por que essa tentativa de apagar o passado? Por um lado, era preciso fazer vista grossa às promessas
não cumpridas de indenização pelos escravos libertos feitas aos fazendeiros; por outro, era necessário
colocar panos quentes nas expectativas de acesso à terra e autonomia nutridas pelos libertos e pela
população negra em geral nas cidades e no interior.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Numa carta enviada a familiares em Valença, em abril de 1889, uma tal Pequetita Barcelos já se referia
ao 13 de maio como o “malfadado dia”, afirmando que os libertos preparavam “balas para os republi-
canos” e que só pensavam em “política e raça”. O contexto era o temor da Guarda Negra, da propa-
ganda republicana e de uma suposta retaliação política.

Enquanto a população negra adulta podia ser apelidada como os “libertos do13 de maio”, fazendeiros
insatisfeitos eram chamados de “republicanos do 14 de maio”, ou seja, aqueles que aderiram à cam-
panha republicana e se tornaram críticos ferrenhos da monarquia justamente após a Abolição imediata
e sem indenização.

Hoje sabemos que o fim da escravidão em diversas partes das Américas foi acompanhado com inte-
resse mútuo e apreensão em vários países do mundo. Pela documentação diplomática é possível ava-
liar as expectativas de agentes consulares em Paris, Londres, Nova York, Caracas, Havana, Liverpool,
Baltimore, Washington, Buenos Aires, Serra Leoa, Lisboa e Madri.

Orientado pelas autoridades do Império, os agentes brasileiros consumiam e acompanhavam todos os


debates e todas as publicações. Freqüentemente eram enviadas cópias de leis sobre a melhoria do
tratamento dos escravos no Caribe, Cuba e EUA, assim como recortes de jornais e avaliações sobre o
que acontecia no estrangeiro. Olhar a situação do vizinho era fundamental.

Missa campal realizada em 1888 para festejar a Abolição, que contou com a presença da própria prin-
cesa Isabel

Memória Seletiva

O esforço para esquecer um passado incômodo foi acompanhado pela construção de uma memória
seletiva do processo de emancipação, que apresentava a Lei Áurea como uma dádiva concedida pela
romântica figura da princesa Isabel, amparada pela ação apenas dos abolicionistas brancos e dos par-
lamentares da época.

Essa imagem idealizada do 13 de maio produziu uma série de silêncios sobre as batalhas pela Aboli-
ção, marcada pela edição de jornais que reivindicavam o fim da escravidão, fugas coletivas, participa-
ção da classe trabalhadora organizada em associações, meetings abolicionistas, refregas nas ruas etc.

Tentava-se, assim, desmobilizar os cenários, desqualificar os personagens, enfraquecer a força política


e os desdobramentos da Abolição, remetendo a escravidão e os ex-escravos para um passado distante.

Foi assim que o 13 de maio entrou para o nosso calendário cívico. Em 1898, a comemoração dos
primeiros dez anos da Abolição já tinha o caráter de feriado nacional, com atos cívicos e religiosos e
com repartições públicas sem expediente. Em 1908, a data seria comemorada com salvas de tiros de
navios de guerra e fortalezas militares foram especialmente embandeiradas. Aconteceu até um quase
carnaval no Rio de Janeiro, organizado pelo Clube dos Fenianos.

Em 1938, quando foram comemorados os 50 anos da Abolição, o presidente Getúlio Vargas, em pleno
Estado Novo, oficializou os festejos em todo o território nacional.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Cenas do cotidiano dos escravos em 1860, em fotografias de Cristiano Jr

A comemoração da assinatura da Lei Áurea, porém, não ficou restrita às missas, manifestações públi-
cas, marchas escolares, execução de hinos, bandas musicais e paradas militares.

Os jornais do final do século XIX mostram que, após os primeiros aniversários, as celebrações oficiais
passaram a ser acompanhadas por protestos populares, homenagens póstumas a abolicionistas, críti-
cas às diretrizes republicanas e reivindicações da população negra.

O final do século XIX e o início do XX foram marcados por uma batalha pela memória das lutas popu-
lares abolicionistas e pelas demandas de integração e cidadania.

Em várias regiões do país surgiram associações, entidades e clubes formados por libertos e pela po-
pulação negra em geral, pertencentes tanto aos setores literários quanto aos meios operários ou recre-
ativos. O principal apelo organizativo era reunir-se para tratar de assuntos do interesse dos “homens
de cor” ou das “classes de cor”.

Nessa época, surgiu um vocabulário político próprio dos negros, por meio do qual avaliavam sua inser-
ção na sociedade, suas demandas, seus comportamentos, suas estratégias, suas formas de atuação
e suas denúncias e protestos contra a ordem social vigente.

A alfândega, de P. Bertichen: o trabalho negro no cais

Os ex-escravos e libertos reagiam, assim, à inexistência de políticas públicas no pós-1888 para incor-
porar milhares de pessoas a uma sociedade até então de cidadania restrita por meio do acesso à terra,
ao trabalho e à educação.

Pelo contrário: o silêncio sobre a integração dos ex-escravos e os limites da sua cidadania, misturado
à truculência contra a população pobre urbana, sugere mesmo a institucionalização de um modelo –
nem sempre explícito legalmente, mas vigente em práticas e políticas públicas adotadas – de intole-
rância racial que seria adotado no século XX pelas elites e pelo poder público do país “civilizado”.

Vigiar e punir

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Essa atitude se reflete na legislação punitiva e na constituição do sistema prisional para escravos e
africanos no Brasil do século XIX e sua redefinição no período pós-Abolição.

Alguns aspectos da legislação penal no Império, como o Código Criminal de 1830 e o Código de Pro-
cesso Criminal de 1832, já tratavam os negros, escravos ou libertos de modo diferenciado em relação
ao resto da sociedade. O castigo corporal se tornou sinônimo de punição para escravos e para a po-
pulação negra em geral.

Escravos e libertos atravessaram todo o século XIX estigmatizados como potenciais criminosos, com
as prisões do Império lotadas deles. A cidade do Rio de Janeiro possuía uma prisão destinada exclusi-
vamente à aplicação de penas impostas pelas autoridades judiciárias ou pelos senhores aos escravos,
o Calabouço, que funcionou a pleno vapor até o fim do século XIX.

Negros trabalham em um terreiro de café em 1895. Após a abolição, muitas fazendas continuaram a
usar mão-de-obra dos antigos escravos.

Uma análise dos processos criminais no pós-1888 com réus homens e mulheres aponta para o fato de
que mesmo com o fim oficial da escravidão, a cor continuou sendo uma marca indelével carregada por
milhares de homens e mulheres, fossem “libertos do 13 de maio” ou não.

A grande migração de famílias negras em direção aos centros urbanos no alvorecer do século XX
reforçou a associação da criminalidade à raça e à origem social.

Numa guinada ideológica, crimes diversos eram atribuídos a uma suposta natureza da população negra
e à sua herança da escravidão, ou seja, fruto de cidadãos incompletos (em termos raciais e sociais
para os cientistas da época) numa nova ordem burguesa, capitalista e urbana.

Esses mesmos que viam os negros como supostamente inclinados ao crime, no entanto, silenciavam
sobre as péssimas condições de vida nas cidades, marcada pelos problemas de saneamento e epide-
mias, pela falta de escolas e pelas políticas públicas discriminatórias de uma elite política que dese-
nhava uma nação que deveria apagar seu passado escravista e a memória dos descendentes do cati-
veiro.

Eliminava-se o escravo, mas inventava-se o negro/preto como uma marca social negativa. Libertava-
se o trabalhador e instituía-se legalmente a idéia de “vadiagem” para controlá-lo.

Essa visão estereotipada do pós-Abolição no Brasil, no entanto, vem sendo amplamente questionada
por parte da historiografia mais atual, fruto de pesquisas inéditas com testamentos, processos-crimes,
inventários, literatura, correspondência de autoridades e políticos, recenseamentos e mesmo depoi-
mentos de filhos e netos de ex-escravos.

Esses novos trabalhos vêm pensando o período pós-emancipação também do ponto de vista das ex-
pectativas dos libertos e de seus descendentes, analisando seu legado e as experiências urbanas e
rurais multifacetadas em várias partes do país.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Cenas do cotidiano dos escravos em 1860, em fotografias de Cristiano Jr

Um desafio mais recente tem sido conectar as experiências da escravidão e do pós-emancipação à


história do trabalho e à organização dos trabalhadores. Até o momento, na história do trabalho e da
classe operária no Brasil foi incluída somente a experiência dos imigrantes europeus no pós-1888.
Imigrantes estrangeiros chegaram muito antes de a escravidão ser abolida e foram trabalhar nas mes-
mas áreas que os trabalhadores escravos.

Há vários exemplos de fazendeiros com propriedades que utilizavam em algumas fazendas uma mai-
oria de trabalhadores imigrantes europeus e em outras um maior número de trabalhadores negros es-
cravizados. Na pós-emancipação, trabalhadores negros (muitos ex-escravos ou seus filhos) e imigran-
tes europeus passaram a trabalhar lado a lado nas fábricas, não sem tensões étnicas.

É assim que a historiografia recente tem tentado contribuir para uma avaliação crítica do que de fato
significou a Abolição e as primeiras décadas do pós-emancipação. Uma coisa, no entanto, é certa: o
legado da opressão e do racismo, não só no Brasil como em toda a América, foi um dos aspectos mais
importantes da trágica herança da escravidão.

Lei Áurea

A Lei Áurea, oficialmente Lei n.º 3 353 de 13 de maio de 1888, foi a lei que extinguiu a escravidão no
Brasil. O processo de abolição da escravidão no Brasil foi gradual, e a Lei Áurea foi precedida pela Lei
Eusébio de Queirós, de 1850, que proibiu a entrada de africanos escravizados no Brasil; pela Lei do
Ventre Livre, de 1871, que libertou todas as crianças nascidas de mães escravas a partir de então; e
pela Lei dos Sexagenários, de 1885, que tornou livre todos os escravos com sessenta anos de idade
ou mais.

O projeto de lei prevendo a extinção da escravidão no Brasil foi apresentado à Câmara Geral, atual Câ-
mara dos Deputados, pelo ministro da Agricultura da época, Rodrigo Augusto da Silva, em 8 de maio
de 1888. Foi votado e aprovado nos dias 9 e 10 de maio, na Câmara Geral. O projeto então foi enviado
ao Senado Imperial, em 11 de maio, onde foi debatido nas sessões dos dias 11, 12 e 13 daquele mês.
Ele foi votada e aprovado, em primeira votação, em 12 de maio, e então votado e aprovado, em defini-
tivo, um pouco antes das treze horas do dia 13 de maio de 1888.

No mesmo dia, foi levado à sanção da princesa imperial do Brasil Isabel de Bragança, que, pela terceira
e última vez, exercia a regência em nome de seu pai, o imperador Pedro II, que se encontrava em
viagem ao exterior. Às três horas da tarde do domingo de 13 de maio, dia comemorativo do nascimento
de João VI de Portugal, a lei que aboliu a escravatura no Brasil foi enfim assinada no Paço Imperial por
sua bisneta, Isabel, e pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva.

O Brasil foi o último país independente da América Latina e do Ocidente a abolir completamente a
escravidão.

Data Cívica

O dia 13 de maio é considerado data cívica no Brasil. O decreto n.º 155 B, de 14 de janeiro de 1890,
estabeleceu um feriado nacional em 13 de maio, declarando-o "consagrado à comemoração da frater-
nidade dos Brasileiros". Este feriado existiu até 15 de dezembro de 1930, quando Getúlio Vargas o
revogou através do decreto n.º 19 488.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A escravidão no Império do Brasil

Isabel do Brasil, regente do Império quando da assinatura da Lei Áurea, pela qual ficou conhecida como
"A Redentora"

A Constituição do Império, outorgada em 1824, não alterou a então política escravocrata. Nem a Carta
Magna de 1824, nem qualquer outra lei da época contemplava o escravo como cidadão brasileiro para
qualquer efeito na vida social, política ou pública. Apenas os "ingênuos" (filhos escravos nascidos livres)
e os libertos tinham alguns direitos políticos e poderiam ocupar determinados cargos públicos. No seu
artigo 92, a Constituição de 1824 diz:

‘’ Artigo 92: São excluidos de votar nas Assembléas Parochiaes: Alínea III. Os criados de servir, em
cuja classe não entram os Guardalivros, e primeiros caixeiros das casas de commercio, os Criados da
Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os administradores das fazendas ruraes, e fabricas.’’

Uma lei e um tratado internacional feitos no primeiro reinado e no período regencial proibindo o tráfego
internacional de escravos não foram cumpridas.

Em 19 de maio de 1826, Pedro I do Brasil ratificou a convenção de 23 de novembro de 1825 entre Bra-
sil e Inglaterra que declarava extinto o tráfico de escravos 3 anos após a troca das ratificações. Esta
troca de ratificações ocorreu em Londres em 17 de março de 1827, tornando ilegal o tráfico de escra-
vos, portanto, a partir de 17 de março de 1830.

A Lei Feijó de 7 de novembro de 1831, no período regencial, declarava livres os escravos importados
da África a partir daquela data, com duas exceções e prevendo penas para o tráfico internacional de
escravos:

‘’ Art. 1.º. Todos os escravos, que entrarem no território ou portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres.
Excetuam-se: 1.º Os escravos matriculados no serviço de embarcações pertencentes a país, onde a
escravidão é permitida, enquanto empregados no serviço das mesmas embarcações. 2.º Os que fugi-
rem do território, ou embarcação estrangeira, os quais serão entregues aos senhores que os reclama-
rem, e reexportados para fora do Brasil.’’

‘’ Art. 2.º Os importadores de escravos no Brasil incorrerão na pena corporal do art. 179 do Código
Criminal imposta aos que reduzem à escravidão pessoas livres, e na multa de 200$000 por cabeça de
cada um dos escravos importados.’’

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A lei de 27 de outubro de 1831, da época do período regencial, revogou as cartas régias de João VI de
Portugal que mandavam fazer guerra aos índios de São Paulo e de Minas Gerais que frequentemente
atacavam as fazendas, vilas e povoados daquelas províncias.

As cartas régias de João VI ordenavam que os índios capturados nestas guerras fossem reduzidos à
servidão. A carta régia de 13 de maio de 1808 falava de índios botocudos antropófagos que atacavam
portugueses e índios mansos na região do vale do rio Doce, em Minas Gerais. Esta lei de 1831 foi a
última e definitiva lei revogando a escravidão indígena no Brasil.

Vários projetos sobre abolição de escravos foram apresentados já no primeiro reinado: José Clemente
Pereira apresentou, em 19 de maio de 1826, à Câmara Geral, um projeto abolindo a escravatura a
partir de 31 de dezembro de 1840. Em 18 de maio de 1830, o deputado Antônio Ferreira França apre-
sentou, à Câmara Geral, um projeto de abolição gradual que extinguiria a escravidão em 25 de março
de 1881. Em 8 de junho de 1831, o mesmo deputado apresentou outro projeto declarando que o ventre
não transmitia a escravidão.

A Constituição da República Rio-Grandense, de 1843, por omissão, preservava a escravatura de modo


semelhante à Constituição Imperial. Apesar disso, ao término da Guerra dos Farrapos, foi concedida a
liberdade aos escravos que haviam servido nas fileiras republicanas, através do Tratado de Poncho
Verde.

O tráfico internacional de escravos foi abolido, em definitivo, em 1850, pela Lei Eusébio de Queirós.

A falta de mão de obra no sudeste do Brasil

Ainda antes do movimento abolicionista ganhar força, o problema da falta de mão de obra, chamada,
na época, de "falta de braços para a lavoura", já atrapalhava o crescimento de São Paulo e do Rio de
Janeiro.

Por este motivo, ocorreram diversas tentativas de atrair mão de obra estrangeira por meio da imigração.
Uma das primeiras tentativas ocorreu ainda no primeiro reinado, quando Pedro I tentou instalar uma
colônia alemã em São Paulo no ano de 1827, o que de fato ocorreu na vila de Santo Amaro (distrito de
São Paulo), porém não com o sucesso esperado.

Entre as autoridades que apoiaram a instalação da colônia alemã em Santo Amaro, estavam o sena-
dor Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e o sargento-mor José da Silva de Carvalho, comandante de
Santo Amaro e avô de Rodrigo Augusto da Silva.

Esta colônia alemã custou uma fortuna aos cofres da província de São Paulo, o que quase levou à
falência o governo provincial. Em São Paulo, a imigração alemã recebeu alguns ataques da população,
como demonstra o artigo escrito por um anônimo publicado no Farol Paulistano de 12 de julho de 1828:

Chineses na América do Norte. Antes da abolição da escravatura, o governo brasileiro procurou outras
formas de mão de obra para a lavoura. Em 1879, o governo tentou contratar coolies chineses, seguindo
o exemplo dos Estados Unidos e Canadá.

‘’ ... não havemos de chorar amargamente a quantia de 1:400$000 reis (um conto e quatrocentos mil
reis) para mais que mensalmente sai dos cofres nacionais da Província para sustentar os colonos?

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Não nos havemos de lembrar com dor que esse dinheiro é sangue dos nossos concidadãos, e que se
estes, por estas e outras ficarem reduzidos a mendicidade hão de mandá-los a taboa, ao mesmo passo
que se importa gente estranha, (si vera est fama) facinorosa, com inauditos sacrifícios, para colonizar
um país que não precisa, senão que o deixem prosperar, para crescer, para vir a ser uma nação formi-
dável’’

‘’ Havemos de sofrer que o Sr. José Olinto de Carvalho, Governador da Praça de Santos, engane a
Augusta pessoa de S.M. o Imperador, asseverando num oficio a Monsenhor Miranda, que os honrados
povos desta Província estão animados dos mais louváveis sentimentos a favor da colonização estran-
geira, quando pelo contrário os Paulistas, deploram se é que não detestam semelhante colonização?”

Outras tentativas foram feitas, incluindo as colônias de parceria promovidas pelo senador Vergueiro,
em 1847. Em 1879, o então ministro das Relações Exteriores, conselheiro Antônio Moreira de Barros,
tentou promover a imigração de chineses para o Brasil, o que já havia ocorrido em 1874, com a vinda
de mais de mil trabalhadores chineses para o Brasil.

O ministro Antônio Moreira de Barros, era contra a abolição da escravatura sem uma nova fonte
de mão-de-obra para a lavoura e indenização aos fazendeiros. Moreira de Barros mudou de idéia em
1888 quando passou a defender a abolição imediata. Em 1879, o Brasil enviou uma missão diplomática
à China.

Moreira de Barros obteve o apoio do influente visconde de Sinimbu, porém encontrou forte oposição
do deputado Joaquim Nabuco, na Câmara Geral (atual Câmara dos Deputados), e, também, da Ingla-
terra e de Portugal, que temiam a imigração de chineses. Em 1883, foi fundada, no Rio de Janeiro, a
Companhia Comércio e Imigração Chinesa, que também não obteve sucesso por diversas razões, in-
cluindo a censura da Anti-Slavery Society de Londres.

Havia duas formas de instalar os imigrantes. A primeira era organizando colônias onde os imigrantes
eram proprietários de terra, o que ocorreu principalmente no sul do país, com clima mais semelhante
ao da Europa, dando origem a cidades com características europeias.

A segunda modalidade era instalar os imigrantes em fazendas de café, onde trabalhavam como meiei-
ros. Muitos desses imigrantes se tornaram depois proprietários de terra e convidaram parentes que
ficaram na Europa para também virem para o Brasil.

Tanto o conselheiro Antônio Prado quanto Washington Luís, presidente de São Paulo entre 1920 e
1924, não aceitavam os imigrantes como desbravadores do sertão, assentando-os sempre em regiões
já povoadas, em fazendas já formadas, próximas aos centros de consumo, como denota Washington
Luís em sua mensagem à assembleia estadual paulista, em 1922:

‘’ Pretender, nas extremas terras cobertas ainda de mata-virgem, que só o machado do nosso cabo-
clo sabe desbastar, com homens de outros climas e afeiçoadas a outros hábitos, rompendo com tudo
que o senso prático tem fundado, no decurso de anos, estabelecer uma nova organização agrícola não
é descortino de estadista, senão sonho de visionário. O fracasso de tal inovação será fatal.’’

M. Paulo Filho no artigo "Centenário de Antônio Prado", publicado em livro homônimo, diz que, em
1920, 32 anos após a abolição da escravatura, ainda a "falta de braços para a lavoura" ainda era pro-
blema angustiante. O conselheiro Antônio Prado, veterano produtor de café e especialista na questão
do café, enviou uma histórica carta ao candidato a presidente Nilo Peçanha sobre essa questão.

Essa carta foi lida por Getúlio Vargas, em 1930, no lançamento de sua candidatura a presidente e
incluída na "Plataforma da Aliança Liberal". O conselheiro Antônio Prado também fundara, em 1920,
uma sociedade particular para introdução de trabalhadores agrícolas e fora negociar a imigração na
Europa.

Diz M. Paulo Filho: "Em 1920, a situação dos fazendeiros paulistas era aflitiva pela escassez de colo-
nos. Milhares de cafeeiros ficaram abandonados. Do estrangeiro não chegavam os trabalhadores. Os
que permaneciam nas fazendas, tratavam de desertar. Iam estabelecer-se no Noroeste de São Paulo.

Os caboclos baianos que surgiam das bandas de Pirapora eram insuficientes. Na maioria, camaradas
que se ofereciam para trabalhos temporários, como capina e limpeza de cafezais."

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Na reunião do Conselho de Estado de 31 de maio de 1889, o conselheiro Lafaiete Rodrigues Pereira faz
uma síntese dos problemas criados pela introdução em massa de imigrantes visando a substituição do
trabalho escravo, com grandes gastos para o Estado brasileiro, sem que, por outro lado, tenha sido
feito, pelo governo, investimentos na agricultura:

‘’ O corpo legislativo votou uma grande soma, enorme mesmo para o nosso orçamento, para a introdu-
ção e colocação de trabalhadores estrangeiros. Na execução deste pensamento o ministério houvesse
com um descaso que toca às raias da inépcia: celebrou contratos a esmo e à ventura, omitindo as
cautelas que a experiência nos tinha ensinado e violando a lei que marca o limite de tempo para tais
contratos.

As coisas a este respeito fizeram-se de uma maneira tão grossa que gerou-se no espírito público a
suspeita que esses contratos foram realizados antes na intenção de favorecer os contratantes que no
de atender aos interesses da nação. Não é só isso.

O ministério não cuidou absolutamente de tomar medidas práticas e acertadas para a colocação dos
imigrantes, parte a mais delicada do problema e da qual depende essencialmente o bom êxito deste
importantíssimo serviço.

Em consequência, os imigrantes, que começaram a chegar em grandes massas, se acumularam nas


hospedarias do governo e nos pontos para onde foram introduzidos, e não tendo obtido emprego aí
estão a refluir para as cidades do litoral, a esmolar pelas ruas e praças, regressando aos milhares para
as suas pátrias, e levando a desilusão e um ressentimento profundo contra o país que não soube
acolhê-los.

Estes erros e desazos preparam-nos um desastre, economicamente talvez mais fecundo em males do
que a própria abolição do elemento servil. A imigração era o remédio contra os efeitos da abolição. E a
política do Ministério a este respeito, se não a matou, levantou em torno do assunto dificuldades que
só tarde e com grandes e pesadíssimos sacrifícios poderão ser afinal vencidas. Da exposta série de
erros, faltas e desazos resultou que a lavoura, a principal, senão a única fonte de nossa riqueza, con-
tinua abandonada, privada de recursos e entregue a um desânimo que ameaça degenerar em deses-
pero.’’

Em São Paulo, Antônio da Silva Prado e o então deputado Rodrigo Augusto da Silva tomaram a dian-
teira na promoção da imigração europeia. Antônio da Silva Prado foi nomeado Inspetor especial de
terras e colonização da Província de São Paulo em 1878, e, no mesmo ano, Rodrigo Augusto da Silva
foi presidente da Associação Auxiliadora do Progresso da Província. Ambos eram contra a abolição da
escravatura enquanto não houvesse mão de obra para a lavoura, e representavam o movimento imi-
grantista, e não abolicionista. Em 1885, foi fundada, em São Paulo, a Sociedade Brasileira de Imigra-
ção, dirigida pelos cafeicultores Rafael de Aguiar Pais de Barros, Martinho Prado Júnior, conselheiro
Antônio Prado e Nicolau de Sousa Queiroz. Outras sociedades foram fundadas no mesmo ano como a
Sociedade Taubateana de Imigração, filial da Sociedade Central de Imigração.

Conjuntura política da época da abolição dos escravos

O projeto da Lei Áurea foi decorrência de pressões internas e externas: em 1888, o movimento abolici-
onista já possuía uma grande força e apoio popular no país e já havia conseguido a aprovação da Lei
Eusébio de Queirós, a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Camélias, símbolo do movimento abolicionista. Isabel foi presenteada diversas vezes com camélias
do Quilombo do Leblon.

O número de escravos havia diminuído muito nas décadas anteriores à abolição da escravatura devido
à abolição do tráfico de escravos, em 1850, pela Lei Eusébio de Queirós; às frequentes epidemias
de varíola ocorridas no século XIX; à Guerra do Paraguai, onde muitos escravos morreram ou foram
libertos; e à Lei do Ventre Livre, de 28 de Setembro de 1871, que libertou todas as crianças, filhas de
escravos, nascidas a partir daquela lei, os chamados "ingênuos", e que previa indenização aos fazen-
deiros, o que não foi cumprido.

Também houve redução do número de escravos devido à Lei dos Sexagenários, de autoria de Rui
Barbosa, que libertou, em 1885, todos os negros maiores de 65 anos de idade e que estabeleceu que
os escravos maiores de 60 anos e menores de 65 estariam livres mas sujeitos a prestação de serviços
por 3 anos; devido à abolição da escravidão, em 1886, no Ceará e no Amazonas; e devido às muitas
cartas de alforria dadas por proprietários de escravos.

Assim, na primeira matrícula de escravos encerrada em 1872, haviam sido registrados 1 600 000 es-
cravos e, na última matrícula geral de escravos encerrada em 30 de março de 1887, havia somente
720 000, uma queda de mais de 50% no total de escravos, em 15 anos.

Havia muita insegurança por parte dos fazendeiros, tendo, na reunião do Conselho de Estado,[25] de
27 de agosto de 1885, o conselheiro Paulino José Soares de Sousa assim se expressado:

‘’ Os produtores deste país vivem na incerteza do dia de amanhã, não sabem com que elementos de
trabalhos contém, nem até onde ser-lhes restringido o direito de uma propriedade, de que dimana a
riqueza única do Brasil, consideram-se desprotegidos dos poderes públicos, precisam, antes de tudo,
ter uma lei em que vivam para voltarem à segurança de ânimo indispensável a quem trabalha.’’

Ocorriam, também, frequentes fugas de negros e de mulatos das fazendas, ocasionando prejuízos
enormes aos fazendeiros, e o exército já se recusava, nos últimos anos da escravidão, a fazer o papel
de capitão do mato, ou seja: capturar e devolver os escravos a seus donos. Os Caifases, liderados
por Antônio Bento, que promoviam a fuga dos escravos, perseguiam os capitães-do-mato e ameaça-
vam os senhores escravistas. A polícia de São Paulo, nos últimos anos da escravidão, também não
mais recapturava escravos fugidos.

Essas fugas de escravos das fazendas aumentaram muito, a partir de 1886, quando foram proibidos,
pela Câmara Geral, a pena de açoite nos escravos. Os escravos, passaram, então, a fugir das fazendas
sem o medo de se recapturados, serem açoitados. A lei n.º 3 310, de 15 de outubro de 1886, revogou
o artigo n.º 60 do Código Criminal do Império, de 16 de dezembro de 1830, e revogou também a lei n.º
4, de 10 de junho de 1835, na parte em que impõem a pena de açoites, e determinou que: “ao réu
escravo serão impostas as mesmas penas decretadas pelo Código Criminal e mais legislação em vigor
para outros quaisquer delinquentes”.

Era permitido, pelo artigo 14 do Código Criminal do Império, apenas castigos moderados aos escravos,
castigos estes que passaram a ser proibidos pela citada lei n.º 3 310 de 1886:

"Art. 14. Será o crime justificável, e não terá lugar a punição dele: (...) 6.º Quando o mal consistir no
castigo moderado, que os pais derem a seus filhos, os senhores a seus escravos, e os mestres a seus
discípulos; ou desse castigo resultar, uma vez que a qualidade dele, não seja contraria às Leis em
vigor."

Além disso, estava se tornando, para os grandes fazendeiros produtores de café, economicamente
inviável manter o trabalho escravo, em face da concorrência da mão de obra fornecida pelos imigran-
tes europeus, barata e abundante, em contraste com os altos preços dos escravos, estes, cada vez
mais raros.

Essa vinda de mão de obra europeia para o Brasil deveu-se à iniciativa do senador Vergueiro e aos
conselheiros Rodrigo Augusto da Silva e Antônio da Silva Prado,[33] que conseguiu fundos do governo
paulista para as colônias de imigrantes europeus e que, quando ministro da Agricultura em 1885 no
gabinete do barão de Cotejipe e em 1888 no gabinete João Alfredo, incentivou a imigração e criou
várias colônias de imigrantes, entendendo o conselheiro Antônio Prado que a imigração era o único
meio de substituir o trabalho escravo quando se realizasse a abolição da escravatura.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Todos esses fatores conjugados e também os ataques e furtos constantes dos negros, muitos deles
refugiados em quilombos, às propriedades agrícolas, como mostrou Joaquim Manuel de Macedo em
seu livro As Vítimas-Algozes, tornavam inviável a manutenção da escravidão no Brasil. Macedo denun-
ciou a cumplicidade dos pequenos estabelecimentos comerciais, chamados de Venda, na receptação
dos bens furtados, nas fazendas, pelos escravos e quilombolas:

‘’ A "Venda" não dorme: às horas mortas da noite vêm os quilombolas, os escravos fugidos e acoutados
nas florestas, trazer o tributo de suas depredações nas roças vizinhas ou distantes ao vendelhão que
apura nelas segunda colheita do que não semeou, e, que tem, sempre de reserva, para os quilombolas,
recursos de alimentação de que eles não podem prescindir, e também, não raras vezes, a pólvora e o
chumbo para resistência no caso de ataques aos quilombos.’’

A Polêmica sobre a Abolição

Foi somente nos últimos anos da escravidão no Brasil que jornalistas, profissionais liberais e outros
grupos não ligados à agricultura lançaram a tese da "Abolição sem indenização". Desde os primeiros
debates, no parlamento brasileiro, sobre leis abolicionistas, como a Lei do Ventre Livre, em 1871, sem-
pre era colocado a questão da indenização dos fazendeiros e de como esta indenização se daria.

Durante o longo processo de discussão das leis abolicionistas, a opinião pública e a classe política se
dividiram entre os que eram totalmente favoráveis à abolição, os que eram contrários e um terceiro
grupo intermediário que queria uma "abolição gradativa" para não haver uma imediata crise na la-
voura por falta de mão de obra, chamada, na época, de "falta de braços para a lavoura" e para evitar
grandes prejuízos para os fazendeiros.

Esta última posição era defendida, entre outros, pelo deputado geral cearense, jornalista e escri-
tor, José de Alencar, que assim se expressou, na seção da Câmara Geral em 13 de julho de 1871,
como representante da ala do Partido Conservador que estava contra o projeto da Lei do Ventre Livre,
do gabinete do visconde do Rio Branco:

‘’ Apresentei um projeto (de lei) em que coligi algumas medidas (abolicionistas) indiretas, de uma apli-
cação mais suave e, entretanto, de resultados mais eficazes. Esse projeto também passou desperce-
bido.... Nos relatórios que leu (o ministro) acha-se o pensamento que todos partilhamos que ressumbra
do País inteiro; de extinguir pelo esforço comum, unânime e espontâneo da sociedade este mal que
herdamos dos nossos antepassados.... Mas entre essa extinção plácida e natural e a extinção violenta
por meios diretos como pretende o governo, há um abismo....Os retrógrados sois vós que pretendeis
recuar o progresso do País, ferindo-o no coração, matando a sua primeira indústria, a lavoura.’’

Joaquim Nabuco na sua obra "Um Estadista do Império", relata que, no Conselho de Estado, o abolici-
onismo entrou na pauta das discussões, pela primeira vez, nas sessões de 2 e 9 de abril de 1867, tendo
o conselheiro Marquês de Olinda advertido sobre as dificuldades que decorreriam da abolição e que as
ideias abolicionistas vinham de países que não tinham trabalho escravo:

‘’ Quando deve ter lugar a abolição?...quando o número de escravos se achar tão reduzido em conse-
quencia das alforrias e do curso natural das que mortes que se possa executar este ato sem maior
abalo na agricultura...Eu tremo com a publicação destes projetos, os quais, só por si, são capazes de
fazer acumular matérias que causem um tremendo terremoto na sociedade...Serviço de ingênuos até
20 ou 16 anos? Impostos para o resgate? Os publicistas e homens de estado da Europa não concebem
a situação dos países que têm escravidão. Para cá não servem suas ideias!’’

A Igreja Católica

Através do arcebispo José Pereira da Silva Barros, capelão-mor de Pedro II, conhecido como o “bispo
abolicionista”, a Igreja Católica passou a ser um dos elementos centrais que levaram à abolição da
escravatura.[36][37] Em 1887, José que foi abolicionista declarado a décadas e camareiro secreto dos
Papas Pio IX e Leão XIII, anunciou que a abolição da escravidão no Brasil seria um bom presente ao
Papa.[38] Depois deste anúncio, a Igreja Católica que evitava intervir em assuntos políticos desde a ex-
pulsão dos Jesuítas, excetuando-se seu envolvimento na questão religiosa, passou a defender publi-
camente o fim da escravidão.

José Pereira foi seguido na causa abolicionista pelos arcebispos da Bahia e de São Paulo. Pela sua
luta a favor da abolição foi uma das poucas figuras homenageadas publicamente por Pedro II e por

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Isabel, recebendo o título de conde de Santo Agostinho, o qual não teve dinheiro para retirar, segundo
ele, por ser um homem pobre.[39] José ficou conhecido em sua cidade natal por ter doado toda a
fortuna herdada de sua família para a caridade. Rodrigo Augusto da Silva, em sua defesa da Lei Áurea
na Câmara Geral, citou a Igreja Católica como uma das razões da abolição da escravatura.

O projeto de lei da Abolição no Parlamento

Sessão do Senado em que se aprovou a Lei Áurea, a 12 de maio de 1888.

O primeiro projeto de lei visando à libertação dos escravos no Brasil foi feito, em 1884, pelo gabinete
ministerial presidido pelo Conselheiro Sousa Dantas, e foi rejeitado pela Câmara Geral.

A Lei Áurea nasceu de um projeto de lei apresentado, por Rodrigo Augusto da Silva, ministro da agri-
cultura do Gabinete João Alfredo, à Câmara Geral, atual Câmara dos Deputados, em 8 de maio de
1888. Esse projeto de lei, segundo publicações do Senado Federal, era de autoria do próprio ministro
da Agricultura. Outras fontes mencionam o Conselheiro Antônio da Silva Prado, (ministro da agricultura
do Gabinete João Alfredo e que se afastara do cargo por motivo de saúde, passando a pasta da agri-
cultura para Rodrigo Augusto da Silva), Ferreira Viana e o presidente do Conselho de Ministros João
Alfredo Correia de Oliveira como colaboradores ou redatores da lei. Todos tiveram parte importante na
elaboração do projeto de lei de abolição da escravatura, juntamente com Isabel.

Na versão do historiador Pedro Calmon, o Conselheiro Antônio Prado, que se encontrava em São
Paulo, elaborou e enviou ao Presidente do Conselho de Ministros João Alfredo, através de seu cu-
nhado, Elias Chaves, em 20 de abril de 1888, um projeto de lei longo, sugerindo, porém, que se apro-
veitasse apenas o seu primeiro artigo ("Fica abolida a escravidão no Brasil") para que não acontecesse
que um texto extenso causasse longas discussões no parlamento.

Acrescenta o historiador Tobias Monteiro que o segundo artigo do projeto de lei proposto pelo Conse-
lheiro Antônio Prado obrigava os libertos a trabalharem para seus antigos senhores, mediante paga, e
a residirem durante dois anos onde se achassem na data da abolição. Pouco após a abolição dos
escravos, o Conselheiro Antônio Prado retornou ao ministério da agricultura.

O projeto foi apresentado no Parlamento pelo então Ministro da Agricultura e interino das Relações
Exteriores, Rodrigo Augusto da Silva, em 8 de maio de 1888, e segundo o Ministro: de ordem, de sua
Alteza a Princesa Imperial. Uma longa discussão ocorreu no parlamento no dia 9 de maio de 1888.
Rodrigo Augusto da Silva recebeu fortes ataques dos deputados Pedro Luiz, Andrade Figueira, Beza-
mat e Alfredo Chaves.

O projeto de lei foi debatido, votado e aprovado, na Câmara Geral, em tempo recorde: em apenas duas
seções na Câmara Geral, nos dias 9 e 10 de maio de 1888.

Rodrigo Augusto da Silva contou com a ajuda do deputado geral Joaquim Nabuco no debate com os
deputados escravocratas. A oposição escravagista não teve sucesso. O projeto de lei que abolia a
escravidão negra no Brasil, foi aprovado com expressiva votação favorável na Câmara Geral. Entre os
deputados que aprovaram a Lei Áurea estavam os futuros presidentes da república: Rodrigues Al-
ves e Afonso Pena.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A primeira votação da Lei Áurea ocorreu no mesmo dia: 9 de maio, em seção presidida por Henrique
Pereira de Lucena, barão de Lucena. 83 deputados gerais foram favoráveis à aprovação e apenas 9
deputados gerais: barão de Araçaji, Bulhões Carvalho, Castrioto, Pedro Luís, Bezamat, Alfredo Chaves,
Lacerda Werneck, Andrade Figueira e Cunha Leitão, votaram contra a Lei Áurea na Câmara Geral. O
barão de Cotejipe votou contra a Lei Áurea, no Senado do Império. A votação em segundo turno, na
Câmara Geral, no dia 10 de maio, foi feita por aclamação, sendo aprovado, em definitivo, na Câmara
Geral, a Lei Áurea. Em seguida, o projeto de abolição da escravatura, foi enviado ao Senado do Império.

O Projeto de Lei da Abolição na Câmara Geral

Ao chegar à Câmara Geral, o barão de Lucena anunciou que o Ministro da Agricultura estava na ante-
sala. Em meio a uma "atmosfera fortemente eletrizada", o presidente "o faz se introduzir no recinto e
sentar-se ao lado direito, de onde lê apenas o seguinte":

Isabel do Brasil, rodeada pelo conselheiro Rodrigo Augusto da Silva (que enviou o projeto de lei à
Câmara dos Deputados), conselheiro Antônio da Silva Prado e demais membros do gabinete de 10 de
março, 1888.

‘’ Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da Nação – Venho, de ordem de Sua Alteza Im-
perial, Regente em nome de sua Majestade o Imperador, apresentar-vos a seguinte proposta: Art. 1.º
É declarada extincta a escravidão no Brazil. Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário. Palácio
do Rio de Janeiro, 8 de Maio de 1888. Rodrigo A. da Silva’’

Rodrigo Augusto da Silva: Vejamos agora, senhores, o que se passou do lado oposto, e como elemen-
tos se desencadeavam contra a manutenção da escravidão, tornando impossível e impraticável a re-
sistência, tal como a deve empregar a autoridade publica. Não havia um só órgão respeitável, desses
que formam o sentimento de um povo e a opinião de uma nação, que não estivesse empenhado na
grande cruzada. Recordarei a intervenção de alguns, contra os quais a ação do governo, si não era
inútil era ineficaz. O episcopado com a sua palavra santa.. Rodrigo A. da Silva ainda mencionou a
mocidade das academias como influencia.

Rodrigo A. da Silva: E, Sr. Presidente, o que e mais extraordinário ainda, e que os próprios interessados
na manutenção da propriedade escrava, davam diariamente exemplos os mais admiráveis de abnega-
ção, libertando os seus escravos incondicionalmente.

Rodrigo A. da Silva: Não venho também fazer praça do abolicionismo…

Joaquim Nabuco: Vossa Excelência representa a tradição de Eusébio de Queiroz. (Rodrigo A. da Silva
era o herdeiro político e genro de Eusébio de Queiroz, autor da lei que proibiu o trafico negreiro.)

O ministro Rodrigo Augusto da Silva recebeu fortes críticas:

O deputado geral Andrade Figueira lembrou a necessidade de amparar os agricultores:

Andrade Figueira: O que fizeram as nações europeias que tiveram escravos em suas colônias quando
resolveram emancipá-los? Além da indenização votada, procuraram fundar estabelecimentos de cré-
dito que proporcionassem aos lavradores o capital suplementar sem o qual a transformação não é
possível. Se hoje o escravo representa para o proprietário, não só o braço, mas também o capital -

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

capital flutuante-, porque lhe custou dinheiro, aniquilando este duplo elemento de produção, qual é o
capital disponível, que resta á grande maioria de nossos lavradores, para assalariar o trabalho livre?
Quais são os estabelecimentos de crédito criados para vir-lhes em auxílio?

Andrade Figueira acusou também o Gabinete de 10 de Março de ser conivente com a fuga de escravos,
combinando com o governo de São Paulo a não deixar a polícia paulista recapturar os escravos fugidos,
o que teria levado a ocorrerem fugas em massa, violência e a necessidade de os proprietários de
escravos paulistas a libertarem seus escravos para evitar mais violência:

Andrade Figueira: Os escravos fugiram em massa, prejudicando não só os grandes interesses econô-
micos, mas também interesses de segurança pública: houve mortes, houve ferimentos, houve invasão
de localidades, houve o terror derramado por todas as famílias, e aquela importante província durante
muitos meses permaneceu no terror mais aflitivo. Felizmente os proprietários de São Paulo, compre-
enderam que, diante da inação da Força Pública, melhor seria capitularem perante a desordem, e de-
ram liberdade aos escravos.

O ministro Rodrigo da Silva respondeu às críticas e finalizou a defesa da lei com as seguintes palavras:

Rodrigo A. da Silva: Quaisquer que sejam os horrores das minhas contradições, quaisquer que sejam
as injustiças e dureza dos conceitos de que tenho sido alvo, dou tudo por bem compensado com o que
fiz por esta causa e hoje a causa do regojizo geral da nossa pátria. Aceitei a posição de ministro em
condições as mais excepcionais; dela me advieram todos os dissabores, preocupações e sacrifícios
que a política impõe bastar-me a esta convicção, que me coloca acima de quaisquer preconceitos ou
emulações do interesse individual, para deixar-me a doce compensação de que, hoje, como sempre,
serei bem julgado pelo meu país, como um operário obscuro que não cessou de trabalhar pela liberta-
ção de uma nação inteira, e portanto, por uma grande conquista em favor da liberdade na nossa pátria.

Assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial.

Os anais do Parlamento mencionam que a fala de Rodrigo Augusto da Silva recebeu muitos aplausos,
incluindo do público que ficava nas cadeiras destinadas que ficavam rente ao chão, bem próximos dos
deputados, na Câmara Geral, na Cadeia Velha, onde hoje está instalado o Palácio Tiradentes.

O deputado geral Zama pediu votação nominal para que os nomes dos deputados gerais que aprova-
ram a Lei Áurea pudesse ser do conhecimento das gerações futuras. O resultado da votação nominal
foi então 83 votos favoráveis e 9 contrários.

Esta proposta original, de 8 de Maio, sofreu apenas um pequeno acréscimo, no seu primeiro artigo, a
partir de uma emenda feita pelo deputado geral Inocêncio Marques de Araújo Góis Júnior, que acres-
centou ao projeto da Lei Áurea, a expressão "desde a data desta lei".[44]

No dia 10 de maio, houve segunda votação que não foi nominal, dando por aprovado, em segundo
turno, o projeto de Lei Áurea, na Câmara Geral, com a adição, em emenda, da frase "desde a data
desta lei".

O Projeto de Lei da Abolição no Senado do Império

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Em resposta à fala do Trono de 1888, que abria o ano legislativo, e ao projeto de lei de abolição da
escravatura no Brasil, introduzido na Câmara Geral, no mesmo dia, uma comissão do Senado do Im-
pério, composta por Manuel Francisco Correia, Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque e Antônio Mar-
celino Nunes Gonçalves, enviou uma mensagem do Senado do Império a Isabel. A mensagem dos
senadores finalizava da seguinte maneira:

‘’Acompanhando os patrióticos sentimentos de Vossa Alteza Imperial, o Senado apressar-se-á em re-


solver sobre a extinção do elemento servil, como o bem público exige; acreditando que, mediante pro-
videncias que acautelem a ordem na transformação do Trabalho, apressem pela imigração o povoa-
mento do país, facilitem as comunicações, utilizem as terras devolutas, desenvolvam o crédito agrícola
e aviventem a indústria nacional, a produção, sempre crescente, tornara forte impulso. Senhora – Si é
muito elevada a missão que as circunstâncias atuais assinalam a Assembleia Geral, o Senado não
poupara sacrifícios para corresponder no que o Brasil dele espera e auxiliar o empenho de Vossa Alteza
Imperial aos seus auspiciosos destinos.’’

O Senado do Império recebeu o projeto de lei de abolição da escravatura, no dia 11 de Maio, após o
mesmo ter sido aprovado na Câmara Geral. Na sessão do dia 11 foi criado uma comissão especial do
Senado para apreciar o projeto, não sendo apresentado nenhuma emenda e mantida a emenda da
Câmara Geral que acrescentava a frase "desde a data desta lei". Nos dias 12 e 13 de Maio de 1888
houve discussão e votação do projeto de lei. No dia 12, com a presença do ministro da agricultura que
chegara depois de iniciada a sessão, o projeto da Lei Áurea foi aprovado, em primeira votação, junto
com a emenda da Câmara Geral, por todos os senadores presentes com exceção do barão de Cotejipe,
embora seu nome não fosse registrado por não ter havido votação nominal. Em segunda e definitiva
votação, a Lei Áurea foi aprovada, no dia 13 de maio, e, neste mesmo dia, enviado à sanção imperial.

O barão de Cotejipe, fez considerações, no dia 12 de maio, semelhantes às que foram feitas na Câmara
Geral, sobre a fuga em massas de escravos, sobre a polícia paulista não mais ir atrás de escravos
fugidos, sobre as muitas alforrias de escravos, sobre a ameaça ao direito de propriedade, temendo que
futuramente se confiscasse terras sem indenização, e, concluiu afirmando que era inevitável a Lei Áu-
rea para parar com a anarquia reinante devido às fugas de escravos:

‘’ Portanto, a extinção da escravidão que ora vem neste projeto não é mais que o reconhecimento de
um fato já existente. Tem a grande razão, que reconheço de acabar com esta anarquia, não havendo
mais pretextos para tais movimentos, para ataques contra a propriedade e contra a ordem pública. Eis
como considero a vantagem do projeto.’’

No dia 13 de maio, o presidente do Conselho de Ministros João Alfredo participou dos debates. Fez um
longo discurso, o senador Paulino de Souza, que comparou a situação do país naquele momento com
a época dos debates em 1885, sobre a Lei do Sexagenários, quando o governo, naquela época, man-
teve a ordem, ao contrário do atual governo e o governo paulista que Paulino de Souza e Cotegipe os
tinham como culpados pelo caos em que se encontrava o país, do qual a única saída seria a abolição.

‘’ Se o honrado Senador, (Dantas – Presidente do Conselho em 1885), quisesse por em prática o pro-
cesso conservador atualmente empregado em São Paulo, e depois da ascensão do atual gabinete,
assestado como um morteiro de anarquia sobre a minha província (Rio de Janeiro), teria necessaria-
mente feito em poucos dias a abolição.’’

O conselheiro Antônio da Silva Prado foi registrado, nas atas do Senado do Império, entre os senadores
que não estavam presentes e não enviaram justificativa. Nem todos acreditaram na explicação posterior
de que Antônio da Silva Prado se afastou por motivos de saúde, alguns acreditavam que o real motivo
era político. Rui Barbosa ironizou sobre a constante ausência de Antônio da Silva Prado e sobre Ro-
drigo A. da Silva. Rui escreveu: “… O sr. Rodrigo Silva é o ministro que não sai nunca, ao contrário do
sr. Prado, o ministro que nunca fica”.

O Texto da Lei Áurea

A lei n.º 3 353, (cujo projeto de lei foi apresentado à Câmara dos Deputados por Rodrigo Augusto da
Silva, ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Es-
trangeiros, deputado e depois senador ) de 13 de maio de 1888, que não previa nenhuma forma de
indenização aos fazendeiros, dizia, na ortografia atual:

‘’Declara extinta a escravidão no Brasil:

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber
a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1.º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.

Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário.

Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer,
que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.

O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negó-
cios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o
faça imprimir, publicar e correr.

Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67.º da Independência e do Império.

Princesa Imperial Regente.

Rodrigo Augusto da Silva

Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembleia Geral, que
houve por bem sancionar, declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara. Para Vossa
Alteza Imperial ver. Chancelaria-mor do Império - Antônio Ferreira Viana.’’

Transitou em 13 de maio de 1888.- José Júlio de Albuquerque.

Aprovado com 85 votos favoráveis e 9 votos contrários na Câmara Geral (Câmara dos Deputados), e
um contrário no Senado do Império, foi à sanção da princesa regente Isabel, em 13 de maio. A única
alteração do projeto de lei do governo, feita pela Câmara Geral, foi introduzir no texto a expressão
"desde a data desta lei", para que a lei entrasse em vigor imediatamente, antes de ser publicada
nas províncias, o que costumava levar um mês, no mínimo.

Consequências da Abolição

Libertação dos Escravos, 1889, Pedro Américo.

Foram libertados, pela Lei Áurea, um total de escravos que não chegou a um milhão de pessoas, para
uma população total de quinze milhões de brasileiros. Na primeira matrícula de escravos, concluída em
1872, inscreveu 1 600 000 escravos e a última matrícula de escravos, concluída em 30 de março de
1887, registrou apenas 720 000 escravos, um ano antes da Lei Áurea.

A Lei do Ventre Livre e a Lei Áurea foram sancionadas por Isabel quando seu pai estava na Europa.
Pela Lei Áurea, ela foi premiada com a comenda Rosa de Ouro pelo Papa Leão XIII – autor de encícli-
cas favoráveis à abolição da escravatura, como Catholicae Ecclesiae e In Plurimis –, e Rodrigo Au-
gusto da Silva foi feito cavaleiro da Santa Sé, recebendo a Grã-cruz da Ordem de São Gregório
Magno de Roma.

João Maurício Wanderley, barão de Cotejipe, o único senador do império que votou contra o projeto de
abolição da escravatura, ao cumprimentar a princesa logo após esta ter assinado a Lei Áurea, profeti-
zou:

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

"A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono"

Lei Áurea do espanhol Miguel Navarro Cañizares.

A Lei áurea foi apoiada, para usar um termo atual, por todos os líderes afrodescendentes da época,
chamados então de "Pretos", como José do Patrocínio e André Rebouças, mas ainda não deixou de
provocar polêmicas. Críticos do projeto de lei da abolição afirmam que a Lei Áurea deu liberdade aos
negros e mulatos mas não lhes garantiu alguns direitos fundamentais, como acesso à terra e à mora-
dia, que os permitissem exercer uma cidadania de fato.[carece de fontes]

Ao contrário, a falta de uma legislação complementar que vislumbrasse tal problemática contribuiu por
condenar, usando termos políticos vigentes atualmente no Brasil, amplas camadas populares à exclu-
são social - problema que só se agravaria com o passar do tempo.

Faltaram também medidas complementares para minorar as dificuldades que os fazendeiros passaram
devido à abolição. O Conselheiro de Estado Lafaiete Rodrigues Pereira, na reunião do Conselho de
Estado de 31 de maio de 1889, lembrou que foram concedidos empréstimos vultosos para a imigração
de trabalhadores europeus, mas os empréstimos para a agricultura não se concretizaram:

‘’ A abolição do elemento servil desorganizou de golpe a lavoura do país, deixando-a a um tempo sem
tratadores e sem capitais. Era uma necessidade indeclinável acudi-la de pronto, fornecendo-lhe di-
nheiro por meio de crédito e braços pela imigração. O ministério ou desconheceu a urgência e extensão
destas necessidades, ou não soube adotar as medidas adaptadas a satisfazê-las!’’

De acordo com a análise de Everardo Valim Pereira de Souza, reportando-se às considerações do


Conselheiro Antônio Prado, as consequências da abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888,
deixando sem amparo os ex-escravos, foram das mais funestas:

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Cartaz de 1888, do acervo do Arquivo Nacional, comemorativo a Abolição da Escravidão no Brasil em


que a Lei Áurea está na flâmula da Bandeira do Império do Brasil.

‘’ Segundo a previsão do Conselheiro Antônio Prado, decretada de afogadilho a “Lei 13 de maio”, seus
efeitos foram os mais desastrosos. Os ex-escravos, habituados à tutela e curatela de seus ex-senhores,
debandaram em grande parte das fazendas e foram "tentar a vida" nas cidades; tentame aquele que
consistia em: aguardente aos litros, miséria, crimes, enfermidades e morte prematura. Dois anos depois
do decreto da lei, talvez metade do novo elemento livre havia já desaparecido! Os fazendeiros dificil-
mente encontravam "meieiros" que das lavouras quisessem cuidar. Todos os serviços desorganizaram-
se; tão grande foi o descalabro social. A parte única de São Paulo que menos sofreu foi a que, anteci-
padamente, havia já recebido alguma imigração estrangeira; O geral da Província perdeu quase toda
a safra de café por falta de colhedores!’’

O presidente da república Washington Luís, que também era historiador, na sua Mensagem ao Con-
gresso Nacional de 1927, também tece considerações, neste sentido, sobre a abolição da escravatura:

‘’ Extraordinário passo de grandeza moral incomparável, dado, porém, como quem receia ser obrigado
a voltar atrás, a abolição da escravidão foi feita sem que se tivesse preparado a sua substituição pelo
trabalho livre. Com ela (a abolição) houve a supressão de um enorme capital, plenamente desapare-
cido, e, principalmente, a desorganização completa do trabalho agrícola, base única, então, da vida
econômica do país!’’

Getúlio Vargas também lamentou a abolição feita sem adequada substituição da mão-de-obra escrava,
em discursos publicados em "A Nova Política do Brasil", volume 1, página 144 e no volume 2, página
20:

‘’ Com a ausência de uma política que, após a abolição, cogitasse de substituir o trabalho escravo pela
atividade livre, zonas outrora florescentes vieram a ser completamente abandonadas, e as populações
aí vegetam, sem raízes, jungidas à voracidade dos novos senhores, que as exploram!’’

A realeza brasileira, com a Princesa Isabel ao centro, durante missa campal celebrando a abolição da
escravatura, em 17 de maio de 1888.

Nos debates do dia 13 de maio no Senado do Império, o senador Paulino de Souza, chamou a atenção
para o abandono em que ficariam os mais desamparados dos libertos:

‘’ É desumana (a lei aprovada) porque deixa expostos à miséria e a morte, os inválidos, os enfermos e
os velhos, os órfãos e crianças abandonadas da raça que quer proteger, até hoje nas fazendas a cargos
dos proprietários, que hoje arruinados e abandonados pelos trabalhadores válidos, não poderão manter
aqueles infelizes, por maiores que sejam os impulsos de uma caridade que é conhecida e admirada
por todos os que frequentam o interior do país.’’

E mesmo se os escravos tivessem permanecido nas fazendas, era tida também como funesta a situa-
ção da agricultura brasileira, prevendo-se a queda da produtividade da agricultura e a queda da receita
dos estados produtores de café, tendo dito, citando o economista Molinaire, o deputado geral Pedro
Luís, na sessão de 10 de maio de 1888, da Câmara Geral, que:

‘’ Molinaire diz que, em geral, o trabalho do liberto é um terço menos produtivo que o trabalho do es-
cravo, sendo necessários dez libertos para os serviços que eram feitos por sete escravos. Dá as razões
deste fato e conclui que, na melhor das hipóteses, continuando os libertos todos nos estabelecimentos
rurais, teremos uma diferença de 1/3 para menos na produção!’’

Vale ressaltar que, apesar de a Lei Áurea ter posto fim à exploração da mão de obra escrava no Brasil,
persistem, ainda hoje, no país, algumas formas contemporâneas de escravidão, mantidas de forma
ilegal.

Projeto que o governo imperial tinha para amparo de libertos pós-Lei Áurea

Estudos mais recentes de historiadores e juristas, principalmente com a divulgação, pela Revista Nossa
História, de uma carta que a princesa Isabel endereçou ao Visconde de Santa Vitória, datada de 11 de
agosto de 1889, tem traçado um revisionismo na questão histórica da pós-escravatura dando conta

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

que, ao contrário do que de há anos a história oficial e a política têm propagado de que os afro-brasi-
leiros foram postos ao relento com a Lei Áurea, o governo Imperial tinha propostas de socorro e inser-
ção social dos indivíduos recém-libertos. Contudo, a monarquia caiu, em 1889, e, com a república, o
poder foi exatamente para a elite escravocrata que se opôs à libertação do trabalho servil e por anos, a
Primeira República, não deixou efetivar políticas de inserção dos ex-escravos e descendentes. No do-
cumento Isabel revela que as posições favoráveis aos ex-cativos precisariam ser tratadas com confi-
dencialidade para não afrontarem a elite escravocrata e os militares.

‘’ Com os fundos doados teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras
suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos.’’

Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual
governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil.

A questão da indenização dos fazendeiros

Do ponto de vista dos fazendeiros, a crítica feita à abolição dos escravos foi no sentido de que estes
não foram indenizados monetariamente, tendo eles imensos prejuízos, especialmente os pequenos
proprietários de terra, que não tinham acesso a mão de obra de imigrantes europeus. Porém, docu-
mentos recentemente descobertos revelam que Isabel analisou a hipótese de indenizar os ex-escravos
com recursos do extinto Banco Mauá e realizar, usando termos atuais, uma ampla reforma agrária.

Para inviabilizar essa pretendida indenização dos fazendeiros, e em nome da "fraternidade e solidarie-
dade com a grande massa de cidadãos que, pela abolição do elemento servil, entrava na comunhão
brasileira", Rui Barbosa, quando ministro da fazenda do governo Deodoro da Fonseca, ordenou a des-
truição de todos os livros de matrículas de escravos, os quais eram da guarda dos cartórios de ofício
dos municípios, em 14 de dezembro de 1890, e os documentos do Ministério da Fazenda referentes à
escravidão. Nestes livros de matrícula de escravos constavam os preços pelos quais os escravos ti-
nham sido adquiridos por seus donos, conforme as normas estabelecidas pela lei 3 270 de 1885 (Lei
dos Sexagenários) que ordenava nova matrícula de escravos e estabelecia seus valores máximos de
acordo com sua idade. Esta matrícula de escravos prevista pela Lei dos Sexagenários foi concluída em
30 de março de 1887.

Seis dias mais tarde, em 20 de dezembro de 1890, a decisão de Rui Barbosa foi aprovada no Con-
gresso Nacional com a seguinte moção: "O Congresso Nacional felicita o Governo Provisório por ter
ordenado a eliminação nos arquivos nacionais dos vestígios da escravatura no Brasil". Em 20 de janeiro
de 1891, Rui Barbosa deixou de ser ministro da Fazenda, mas a destruição dos documentos referentes
à escravidão prosseguiu.

De acordo com o historiador Américo Jacobina Lacombe, "Uma placa de bronze, existente nas oficinas
do Lloyde Brasileiro, contém, de fato, esta inscrição assaz lacônica: "13 de maio de 1891", aqui foram
incendiados os últimos documentos da escravidão no Brasil".

A Lei Áurea Perante a Historiografia

Monumento à Lei Áurea, em Pelotas.

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ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Durante muito tempo a Lei Áurea foi vista como um ato generoso de Isabel, que seguia os propósitos
abolicionistas de seu pai o Imperador Pedro II e também vista como o resultado de uma longa campa-
nha abolicionista, sendo bastante comemorada pela sociedade brasileira.

Porém, alguns pesquisadores recentes da historiografia brasileira têm outro ponto de vista sobre a
abolição da escravatura e sobre a Lei Áurea. Afirmam eles que a abolição teria sido fruto de um estado
semi-insurrecional que ameaçava a ordem imperial e escravista. Tal interpretação acentua o caráter
ativo, e não passivo, das populações escravizadas. Sílvia Hunold Lara e Sidney Chalhoub, ambos pro-
fessores doutores do departamento de História da Unicamp, afirmam que as rebeliões de escravos que
estavam se generalizando no País, na época da abolição, gerando quilombos por toda a parte, como
foi dito acima, após a abolição da pena de açoite, e a cumplicidade do exército brasileiro e da polícia
paulista, que não faziam mais a recaptura dos escravos fugidos, tornaram inviável, política e economi-
camente, a escravidão. Sílvia H. Lara e Sidney Chalhoub procuram, com esta tese, minimizar o papel
que Isabel, os clubes abolicionistas, a imprensa e a maçonaria brasileira tiveram na abolição da escra-
vatura no Brasil.

A ideia corrente de que somente ricos fazendeiros possuíam escravos e que a Lei Áurea atingiu e
prejudicou somente as elites econômicas também tem sido questionada atualmente. A respeito, o his-
toriador José Murilo de Carvalho escreveu:

“ Possuíam escravos não só os barões do açúcar e do café. Possuíam-nos também os pe-


quenos fazendeiros de Minas Gerais, os pequenos comerciantes e burocratas das cidades,
os padres seculares e as ordens religiosas. Mais ainda: possuíam-nos os libertos. Negros
e mulatos que escapavam da escravidão compravam seu próprio escravo se para tal dis-
pusessem de recursos. A penetração do escravismo ia ainda mais a fundo: há casos regis-
trados de escravos que possuíam escravos. ”

—José Murilo de Carvalho,

A pena dourada

Tendo sido editada em três vias, cada cópia da Lei Áurea foi assinada por três penas douradas idênti-
cas. Pedro Carlos de Orleães e Bragança vendeu, ao Museu Imperial de Petrópolis, a pena dourada
com a qual sua bisavó, a princesa Isabel do Brasil, assinou a primeira via da Lei Áurea, pela soma de
500 000 reais. A pena dourada havia sido mantida como herança entre os primogênitos do Ramo de
Petrópolis dos descendentes de Isabel do Brasil. As outras duas penas utilizadas encontram-se em
poder do Museu da Maçonaria, na sede do Grande Oriente do Brasil.

Caligrafia

De acordo o Jornal do Senado, o texto caligrafado e em adornos ornamentais foram trabalho do calí-
grafo Leopoldo Heck.

Manutenção e exposição

O original da Lei Áurea, que foi elaborado em um pergaminho produzido a partir do couro de ovelhas e
cabras, faz parte do acervo do Arquivo Nacional. Junto com o documento, existe um estojo original,
feito de couro com dourações de florões em folha de ouro. Sua exposição ao público ocorre somente
alguns dias do ano, devido a extremamente vulnerável a fatores climáticos do material.

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A CRISE DO BRASIL IMPÉRIO

A Crise do Brasil Império

O período do Brasil Império teve início com o processo de Independência do Brasil (1821-1825) e ter-
minou com a Proclamação da República (1889). Em 1822, o que era “Reino Unido de Portugal, Brasil
e Algarves” tornou-se, oficialmente, “Império do Brasil”, o qual estabeleceu como forma de governo
uma monarquia constitucional parlamentarista e D. Pedro I como primeiro imperador do Brasil. Tradici-
onalmente, dividimos o Brasil Império em três fases: Primeiro Reinado (1822-1831), Período Regencial
(1831-1840) e Segundo Reinado (1840-1889).

O que deu início ao Brasil Império?

Podemos compreender o processo de Independência do Brasil e, consequentemente, da constituição


do Brasil Império, a partir de três contextos que se inter-relacionam: transcontinental, americano e local.

→ Contexto transcontinental

Com a Revolução Francesa (1789), a Europa passou por uma série de transformações políticas, soci-
ais e econômicas, que se estenderam em diversos conflitos até o século XIX. Esses conflitos ocorriam
entre o movimento revolucionário, em grande medida representado pela França, e as forças reacioná-
rias, representadas, sobretudo, pelas monarquias do Império Britânico, Império da Rússia, Reino da
Prússia e Império Austríaco. Essas monarquias pretendiam a volta do Antigo Regime no continente
europeu.

À frente dos franceses, estava Napoleão Bonaparte, que, após se declarar Imperador da França em
1804, construiu também o exército mais poderoso já visto na Europa. A Grã-Bretanha, por outro lado,
já se destacava como principal potência econômica no século XIX e, desde o século XVII, mantinha
fortes relações diplomáticas com o Reino de Portugal.

Napoleão Bonaparte foi um grande líder político francês e conquistou um vasto território.

Nesse contexto, em 1806, Napoleão estabeleceu o Bloqueio Continental, decreto que impedia os paí-
ses europeus de manterem relações comerciais com a Inglaterra. Entre os países sob o bloqueio, es-
tava Portugal, que se recusou a aceitar as ordens do imperador francês.

No ano seguinte, após negociar secretamente com a Espanha, Napoleão decidiu invadir Portugal.

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A CRISE DO BRASIL IMPÉRIO

Portugal e Grã-Bretanha assinaram uma convenção secreta no mesmo ano, transferindo a sede da
monarquia da metrópole (Portugal) para a então capital da colônia portuguesa, o Rio de Janeiro. Em
janeiro de 1808, fugindo de Napoleão, a família real portuguesa desembarcou no Brasil, trazendo uma
estrutura institucional, hábitos da corte etc. Em 1815, o Estado do Brasil tornou-se oficialmente Reino
de Portugal, Brasil e Algarves, mesmo ano em que Napoleão foi derrotado na Batalha de Waterloo,
embora as tropas francesas já haviam desocupado Portugal em 1811.

→ Contexto nas Américas

É importante destacar também que, na segunda metade do século XVIII, iniciou-se um irreversível
processo de independência nas colônias no continente americano. O primeiro foi os Estados Unidos,
em 1776, que se tornou independente do Reino Unido; depois o Haiti, com a Revolução Haitiana, que
teve início em 1791 e culminou na independência do país em relação à França em 1804.

Dom João VI foi o príncipe regente do Brasil após a transferência da família real para o Rio de Janeiro.

→ Contexto no Brasil

Logo após a transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, Portugal, na figura de seu
príncipe regente Dom João de Bragança, assinou o “Decreto de Abertura dos Portos às Nações Ami-
gas”, em 1808, que, na prática, colocou fim ao “pacto colonial” ao permitir que colônias portuguesas
pudessem estabelecer relações comerciais com outras nações europeias. Esse teria sido um dos pri-
meiros movimentos em direção ao processo de independência do Brasil.

Criou-se, portanto, uma cisão entre a classe burguesa em Portugal – que, após a expulsão de Napo-
leão, começou a protestar a perda de seus privilégios coloniais em razão dos novos tratados – e a
classe burguesa instalada no Brasil, que detinha grande desejo de emancipação após os sucessivos
ganhos que esses mesmos tratados lhes proporcionaram.

Como resultado, surgiu, em 1820, a Revolução Liberal do Porto, em Portugal, que concentrava cama-
das amplamente insatisfeitas com as conquistas do outro lado do Atlântico, exigindo, inclusive, a volta
do rei de Portugal à antiga metrópole para a formação de uma Assembleia Constituinte que pudesse
organizar o novo governo após a expulsão das tropas francesas. Temendo perder o trono, D. João VI
retornou a Lisboa, em 1821, deixando seu filho, Pedro de Bourbon e Bragança, como regente do Brasil.

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A CRISE DO BRASIL IMPÉRIO

Pedro defendia ideais liberais e, após a volta de seu pai, passou a promulgar decretos que garantiam
direitos individuais, a redução de impostos, além de suas visões abolicionistas. As cortes portuguesas,
insatisfeitas com as posturas do regente do Brasil, promoveu uma série de retaliações, como a disso-
lução do governo central no Rio de Janeiro e a ordem imediata de que Pedro de Bourbon e Bragança
retornasse a Portugal.

Após o acolhimento de uma petição com mais de 8 mil assinaturas pela sua permanência no Brasil,
Pedro teria declarado, em 9 de janeiro de 1822:

"Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Digam ao povo que fico!"

Esse episódio ficou conhecido como “Dia do Fico”. Após conflitos e tentativas de manter unidade com
Portugal ao propor regulamentações próprias do Brasil, Pedro, no dia 7 de setembro de 1822, declarou
a Independência do Brasil. Em 12 de outubro, recebeu o título de Dom Pedro I do Brasil, com apenas
24 anos, tornando-se imperador do Brasil.

Portugal só reconheceu oficialmente a independência de sua antiga colônia em 1825, após o paga-
mento, por parte do Brasil, de uma indenização a Portugal, que, por sua vez, foi proveniente de recursos
emprestados pela Inglaterra.

Primeiro Reinado (1822-1831)

Mesmo após a permanência de D. Pedro I e a instauração de uma monarquia independente nos trópi-
cos, o início do período imperial foi bastante conturbado, acumulando diversas crises. O imperador,
apesar de ter proclamado a independência do Brasil, ainda buscava assegurar os interesses de Portu-
gal ao mesmo tempo em que precisava conter a fragmentação de seu território.

D. Pedro I declarou a Independência do Brasil.

Havia, no Brasil, grupos mais conservadores e outros de inclinação mais liberal. Temas como o aboli-
cionismo, mais liberdade para negociar produtos livremente, entre outros, despertavam reações calo-
rosas nos debates.

No início de 1823, D. Pedro I deu início à formação de uma Assembleia Constituinte para a elaboração
de uma Constituição para o país. A Assembleia chegou a ser dissolvida por D. Pedro I, em novembro
de 1823, por não concordar com os termos que limitavam seus poderes. Esse episódio ficou conhecido

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A CRISE DO BRASIL IMPÉRIO

como Noite da Agonia. A versão final da Constituição de 1824 foi outorgada no dia 24 de março e
possuía um caráter centralizador, dando, inclusive, poderes “sagrados” ao imperador.

Nesse contexto, no Nordeste do país, mais especificamente na Província de Pernambuco, iniciou-se


um movimento revoltoso exigindo mais autonomia em relação ao Império. A revolta acabou espa-
lhando-se por outras províncias da região, como Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, formando
a Confederação do Equador.

O movimento foi severamente reprimido pelo governo, e a Província de Pernambuco acabou, inclusive,
perdendo parte do seu território para a Província da Bahia. Os líderes da rebelião foram enforcados ou
fuzilados, como Frei Caneca (1779-1825), e outros foram aprisionados, como Cipriano Barata (1762-
1838). Com isso, no Nordeste, onde a popularidade de D. Pedro I já não era das melhores, sua figura
passou a ser questionada cada vez mais.

Logo em seguida, o Brasil envolveu-se em um conflito internacional, a Guerra da Cisplatina (1825-


1828), na tentativa de evitar a anexação da Cisplatina, atual Uruguai, às Províncias Unidas do Rio da
Prata, atual Argentina. Nessa guerra, o Império acumulou uma série de derrotas, além de contrair dívi-
das, minando ainda mais a popularidade do imperador. Como resolução do conflito, ambas as partes
concordaram em abrir mão do território, reconhecendo, então, em 1828, a independência da República
Oriental do Uruguai.

Durante as crises do Primeiro Reinado, o Partido Brasileiro (estabelecido informalmente após a vinda
da família real portuguesa para o Brasil e composto por comerciantes, latifundiários e proprietários de
escravos que lutavam pelos interesses do território americano) passou a ocupar um papel de oposição
a D. Pedro I, ao passo que o Partido Português ofereceu apoio ao imperador.

Após inúmeros desgastes, os portugueses organizaram uma recepção ao Imperador no dia 13 de


março de 1831, mas foram surpreendidos por pedras e garrafas arremessadas por brasileiros. Esse
episódio ficou conhecido como Noite das Garrafadas.

Nessa época, Portugal vivia também uma profunda crise após a morte de D. João VI, pai de D. Pedro
I, em razão da sucessão do trono português. Todo esse cenário resultou, em 7 de abril de 1831, na
abdicação de D. Pedro I ao trono brasileiro. O imperador decidiu voltar para Portugal, deixando seu
filho, de apenas 5 anos, como sucessor do Império do Brasil.

Período Regencial (1831-1840)

Embora não tenha completado uma década, o Período Regencial registrou uma série de eventos deci-
sivos e momentos de tensão política. Segundo a Constituição vigente de 1824, a maioridade para a
ocupação do cargo de imperador era 21 anos de idade. Como D. Pedro II tinha apenas 5 anos e 4
meses de idade quando seu pai, Pedro I, voltou para Portugal, a Constituição de 1824 determinava que
“Durante a sua menoridade, o Império será governado por uma Regência, a qual pertencerá ao parente
mais chegado ao Imperador, segundo a ordem de sucessão, e que seja maior de vinte e cinco anos”.

Assim, até D. Pedro II alcançar a maioridade para assumir o cargo, houve quatro regências, a saber:

• Trina Provisória (1831);

• Trina Permanente (1831-1835);

• Una de Feijó (1835-1837);

• Una de Araújo Lima (1837-1840).

O final desse período foi marcado pelo Golpe da Maioridade, quando o Senado declarou D. Pedro I,
com apenas 15 anos, maior de idade, podendo assumir, portanto, o cargo de imperador do Brasil.

Durante essa fase, houve diversas revoltas que ameaçaram a unidade territorial do Império, tais como
a Balaiada (1838-1841), a Sabinada (1837-1838), a Revolta dos Malês (1835), a Guerra dos Caba-
nos (1835-1840), a Guerra dos Farrapos (1835-1845), entre outras. Ao mesmo tempo, houve a estru-
turação das Forças Armadas para garantir a integridade do território nacional.

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A CRISE DO BRASIL IMPÉRIO

Durante a regência, dois partidos políticos centralizaram as discussões: o Partido Liberal, fundado em
1831, e o Partido Conservador, fundado em 1836. Ambos os partidos alternaram-se no poder durante
a regência, ditando seus interesses.

Segundo Reinado (1840-1889)

O Segundo Reinado foi o período de maior estabilidade política do Brasil durante o Império. D. Pedro
II conseguiu manter o equilíbrio entre liberais e conservadores, além de aparelhar as instituições públi-
cas com aliados políticos.

O Brasil começou a se modernizar, havendo a construção de estradas de ferro, a introdução dos telé-
grafos e de aparelhos telefônicos, o que, inclusive, deu certo protagonismo mundial ao Brasil. Foi tam-
bém o momento em que o Brasil começou a se industrializar, tendo como figura central o Barão de
Mauá (1813-1889).

Foi um momento também de florescimento das artes, como literatura, teatro, arquitetura, artes visuais
e, até mesmo, fotografia. Começou-se a pensar na imagem que o país queria criar de si mesmo. Nomes
ilustres, como Joaquim Nabuco, Alberto Salles, Sílvio Romero, Lopes Trovão, André Rebouças, entre
outros, compuseram um grupo que ficou historicamente conhecido como Geração de 1870.

Contudo, não tardaram também de surgir momentos de crise e instabilidades profundas, que, ao final
do século, provocaram o fim do Período Imperial, com a Proclamação da República, em 15 de novem-
bro de 1989. Três questões marcaram a crise do Império, a saber:

→ Questão escravocrata

Ainda no Período Regencial, uma lei, conhecida como Lei Feijó, promulgada em 1831, já tinha proibido
a importação de escravos no Brasil, sob pressão da Inglaterra. Uma vez em vigor, a lei era dificilmente
cumprida. Em grande parte do mundo, todavia, o trabalho escravo já havia sido abolido.

Novamente sob pressão da Inglaterra, o Brasil promulgou, em 1850, a Lei Eusébio de Queirós, proi-
bindo novamente a importação de escravos africanos e passava, dessa vez, a criminalizar quem infrin-
gisse a lei. A campanha abolicionista, que se estendeu por um longo período até chegar realmente à
abolição (em 1888), gerou descontamento nas elites econômicas, que se sustentavam por meio do
trabalho escravo.

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A CRISE DO BRASIL IMPÉRIO

Leia também: Limitações da Lei Áurea: como os ex-escravos ficaram após a abolição

→ Questão religiosa

Sobre a Questão Religiosa, é importante entender a relação específica que a Igreja matinha com os
Reinos de Portugal e Espanha. Existia a instituição do Padroado, que concedia uma série de privilégios
para esses dois reinos, ao mesmo tempo em que os reis ibéricos detinham o poder exclusivo de orga-
nizar e administrar as atividades religiosas nos domínios de suas terras descobertas. Assim, o monarca
possuía um forte poder sobre as instituições religiosas.

No Segundo Reinado, um acontecimento abalou as relações da Igreja com o Imperador: os bispos de


Olinda e Belém acataram as ordens do Papa Pio IX, sem a aprovação régia, que proibiam o casamento
de católicos e maçons e puniam os seguidores que frequentassem maçonarias ou as apoiassem.

D. Pedro II, embora não tenha sido maçom, possuía laços com nomes importantes da maçonaria, além
de possuir simpatia pela instituição. O episódio fez com que os dois bispos fossem condenados a quatro
anos de prisão. Logo depois, receberam o perdão imperial, contudo as relações entre o Império e a
Igreja estavam sensivelmente abaladas.

→ Questão militar

Os militares, após a Guerra do Paraguai (1864-1870), saíram fortalecidos e ocupando, cada vez mais,
espaços no debate político. Já o Império, além de ter-se desgastado bastante durante o conflito, saiu
extremamente endividado, sobretudo com a Inglaterra.

Após o término da guerra em 1870, os familiares dos militares mortos ou mutilados deveriam receber
assistência custeada pelo Império. Contudo, ainda em 1883, esse direito não havia sido pago. Isso
ocasionou uma série de embates entre o Exército e a monarquia.

O desfecho desse imbróglio ocorreu com militares influentes aderindo à campanha republicana, repre-
sentada por nomes civis de prestígio, como Benjamin Constant, Rui Barbosa, Quintino Bocaiuva, entre
outros. Assim, em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca depôs a monarquia e
proclamou a república no Brasil, colocando fim ao período imperial.

O Brasil Império (1822-1889) foi um período na história do Brasil de grandes transformações políticas
e econômicas. Dividido em três fases, o Primeiro Reinado (1822-1831), o Período Regencial (1831-
1840) e o Segundo Reinado (1840-1889), concentrou também a formação de instituições importantes,
que permanecem até os dias de hoje, como as Forças Armadas e o IHGB, além de projetos de infra-
estrutura fundamentais para o desenvolvimento econômico já no século XX e todo um imaginário polí-
tico e simbólico sobre o Brasil enquanto nação.

Ao contrário do que a historiografia tradicional apontou durante muitos anos, não se tratou de um perí-
odo “pacífico”, de poucos conflitos, em comparação com os processos de independência e crises polí-
ticas dos vizinhos sul-americanos. Toda a formação do Brasil, enquanto nação autônima, cercou-se de
um histórico de disputas violentas interna e externamente, sendo um dos exemplos mais mencionados
a Guerra do Paraguai (1864-1870), que deixou marcas profundas no Brasil e seus vizinhos envolvidos,
Paraguai, Argentina e Uruguai.

O período imperial teve fim em 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República no Brasil.

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A GUERRA DO PARAGUAI

A Guerra do Paraguai

Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América Latina. Foi travada
entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta pelo Império do Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra
estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870.

É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza), na Argentina e no Uruguai,
e de Guerra Grande, no Paraguai.

Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado no Uruguai, que pôs fim à Guerra do Uru-
guai ao depor o governo interino uruguaio de Atanasio Aguirre (sucessor de Bernardo Prudêncio
Berro), do Partido Blanco e aliado de Francisco Solano López. O ditador paraguaio se opôs à invasão
brasileira do Uruguai, porque contrariava seus interesses.

O conflito iniciou-se com o aprisionamento no porto de Assunção, em 11 de novembro de 1864, do


barco a vapor brasileiro Marquês de Olinda, que transportava o presidente da província de Mato
Grosso, Frederico Carneiro de Campos, que nunca chegou a Cuiabá, morrendo em uma prisão para-
guaia.

Seis semanas depois, o exército do Paraguai sob ordens de Francisco Solano López invadiu pelo sul
a província brasileira de Mato Grosso. Antes da intervenção brasileira no Uruguai, Solano López já
vinha produzindo material bélico moderno, em preparação para um futuro conflito com a Argentina
mitrista, e não com o Império.

Solano López alimentava o sonho expansionista e militarista de formar o Grande Paraguai, que abran-
geria as regiões argentinas de Corrientes e Entre Rios, o Uruguai, o Rio Grande do Sul, o Mato Grosso
e o próprio Paraguai.

Objetivando a expansão imperialista, Solano López instalou o serviço militar obrigatório, organizou um
exército de 80 000 homens, reaparelhou a Marinha e criou indústrias bélicas.

Em maio de 1865, o Paraguai também fez várias incursões armadas em território argentino, com obje-
tivo de conquistar o Rio Grande do Sul. Contra as pretensões do governo paraguaio, o Brasil, a Argen-
tina e o Uruguai reagiram, firmando o acordo militar chamado de Tríplice Aliança.

O Império do Brasil, Argentina mitrista e Uruguai florista, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de
cinco anos de lutas durante os quais o Império enviou em torno de 150 mil homens à guerra.

Cerca de 50 mil não voltaram — alguns autores asseveram que as mortes no caso do Brasil podem ter
alcançado 60 mil se forem incluídos civis, principalmente nas então províncias do Rio Grande do Sul e
de Mato Grosso.

Argentina e Uruguai sofreram perdas proporcionalmente pesadas — mais de 50% de suas tropas fale-
ceram durante a guerra — apesar de, em números absolutos, serem menos significativas.

Já as perdas humanas sofridas pelo Paraguai são calculadas em até 300 mil pessoas, entre civis e mi-
litares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra e da
fome.

A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais
atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez
anos, pagamento de pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial,
e perda de praticamente 40% do território em litígio para o Brasil e Argentina.

No pós-guerra, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.

Foi o último de quatro conflitos armados internacionais, na chamada Questão do Prata, em que o Im-
pério do Brasil lutou, no século XIX, pela supremacia sul-americana, tendo o primeiro sido a Guerra da
Cisplatina, o segundo a Guerra do Prata e o terceiro a Guerra do Uruguai.

Antecedentes

Disputas territoriais

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A GUERRA DO PARAGUAI

A região platina em 1864. As áreas sombreadas são territórios disputados.

Desde sua independência de Portugal e Espanha no início do século XIX, o Império do Brasil e os pa-
íses hispano-americanos da América do Sul foram atormentados por disputas territoriais. Todas as
nações da região tiveram conflitos de fronteira persistentes com vários vizinhos. A maioria tinha reivin-
dicações sobrepostas para os mesmos territórios.

As disputas territoriais pioraram quando o Vice-Reino do Rio da Prata entrou em colapso no início da
década de 1810, levando à ascensão da Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai. O historiador Pelham
Horton Box escreve: "A Espanha imperial legou às nações hispano-americanas emancipadas não ape-
nas suas próprias disputas de fronteira com o Brasil português, mas problemas que não a perturbaram,
relacionados com os limites exatos de seus próprios vice-reinos, capitanias gerais, audiências e pro-
víncias.

" Uma vez separados, Argentina, Paraguai e Bolívia brigaram por terras que eram em sua maioria des-
conhecidas e desabitadas. Elas eram escassamente povoadas ou colonizadas por tribos nativas que
não se identificam com nenhuma das partes envolvidas.

No caso do Paraguai com seu vizinho Brasil, o problema era definir se os rios Apa ou Branco deveriam
representar sua fronteira real, uma questão persistente que incomodou e confundiu Espanha e Portugal
no final do século XVIII. A região entre os dois rios era povoada apenas por algumas tribos indígenas
que vagavam pela área atacando assentamentos entre o Brasil e do Paraguai.

Situação Política Antes da Guerra

Existem várias teorias sobre as origens da guerra. A visão tradicional enfatiza as políticas do presidente
paraguaio Francisco Solano López, que usou a Guerra do Uruguai como pretexto para obter o controle
da bacia do rio da Prata. Isso provocou uma reação das hegemonias regionais, Brasil e Argentina, que
exerciam influência sobre as repúblicas muito menores do Uruguai e do Paraguai.

A guerra também foi atribuída ao rescaldo do colonialismo na América do Sul com conflitos de fronteira
entre os novos Estados, a luta pelo poder entre as nações vizinhas sobre a região estratégica do Rio
da Prata, a intromissão do Brasil e da Argentina na política interna do Uruguai (que já havia causado
a Guerra do Prata), os esforços de Solano López para ajudar seus aliados no Uruguai (derrotado pelos
brasileiros) e suas supostas ambições expansionistas.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Desde a independência do Brasil e da Argentina, a luta de ambos pela hegemonia na região do rio da
Prata marcou profundamente as relações diplomáticas e políticas entre os países da região.

Prelúdio uruguaio

Pedro II, Imperador do Brasil de 1831 a 1889

Bartolomé Mitre, Presidente da Argentina de 1862 a 1868

Venancio Flores, Presidente do Uruguai de 1865 a 1868

Francisco Solano López, Presidente do Paraguai de 1862 a 1870

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A GUERRA DO PARAGUAI

O Brasil havia realizado três intervenções políticas e militares no politicamente instável Uruguai: em
1851 contra Manuel Oribe para combater a influência argentina no país e acabar com o Grande Cerco
de Montevidéu; em 1855, a pedido do governo uruguaio e de Venâncio Flores, líder do Partido Colo-
rado, tradicionalmente apoiado pelo Império Brasileiro; e em 1864, contra Atanasio Aguirre. Esta última
intervenção levaria à Guerra do Paraguai.

Em 19 de abril de 1863, o general uruguaio Venancio Flores, então oficial do exército argentino e líder
do Partido Colorado do Uruguai, invadiu seu país, dando início à Cruzada Libertadora, com o apoio
aberto da Argentina que abastecia os rebeldes com armas, munições e dois mil homens. Flores queria
derrubar o governo do Partido Blanco do presidente Bernardo Berro, que era aliado do Paraguai.:

O presidente paraguaio López enviou uma nota ao governo argentino em 6 de setembro de 1863,
pedindo explicações, mas Buenos Aires negou qualquer envolvimento no Uruguai. A partir desse mo-
mento, o serviço militar obrigatório foi introduzido no Paraguai; em fevereiro de 1864, outros 64 mil0
homens foram convocados para o exército.:

Um ano após o início da Cruzada Libertadora, em abril de 1864, o ministro brasileiro José Antônio
Saraiva desembarcou em águas uruguaias com a Frota Imperial, para exigir o pagamento dos danos
causados a fazendeiros gaúchos em conflitos de fronteira com fazendeiros uruguaios. O presidente
uruguaio Atanasio Aguirre, do Partido Blanco, rejeitou as demandas brasileiras, apresentou suas pró-
prias demandas e pediu ajuda ao Paraguai. Para dirimir a crise crescente, Solano López se ofereceu
como mediador da crise uruguaia, pois era um aliado político e diplomático dos Blancos uruguaios, mas
a oferta foi recusada pelo Brasil.

Soldados brasileiros nas fronteiras ao norte do Uruguai começaram a ajudar as tropas de Flores e a
perseguir oficiais uruguaios, enquanto a Frota Imperial pressionava fortemente Montevidéu. Durante os
meses de junho a agosto de 1864, um Tratado de Cooperação foi assinado entre o Brasil e a Argentina
em Buenos Aires, para assistência mútua na Crise da Bacia do Prata.

O ministro brasileiro Saraiva enviou um ultimato ao governo uruguaio em 4 de agosto de 1864: ou


acatar as demandas brasileiras, ou o exército brasileiro retaliaria. O governo paraguaio foi informado
de tudo isso e enviou ao Brasil uma mensagem, na qual constava em parte:

O governo da República do Paraguai considerará qualquer ocupação do território oriental [ou seja,
Uruguai] como atentado ao equilíbrio dos Estados do Prata, que interessa à República do Paraguai
como garantia de sua segurança, paz e prosperidade; e que proteste da maneira mais solene contra o
ato, livrando-se para o futuro de todas as responsabilidades que possam surgir da presente declaração.

O governo brasileiro, provavelmente acreditando que a ameaça paraguaia seria apenas diplomática,
respondeu no dia 1º de setembro, afirmando que "jamais abandonará o dever de proteger a vida e os
interesses dos súditos brasileiros". Mas em sua resposta, dois dias depois, o governo paraguaio insistiu
que "se o Brasil tomar as medidas contra as quais protestou na nota de 30 de agosto de 1864, o Para-
guai terá a dolorosa necessidade de efetivar seu protesto".

No dia 12 de outubro, apesar das notas e ultimatos paraguaios, tropas brasileiras sob o comando do
general João Propício Mena Barreto invadiram o Uruguai, marcando assim o início das hostilidades. As
ações militares paraguaias contra o Brasil começaram em 12 de novembro, quando o navio para-
guaio Tacuarí capturou o navio brasileiro Marquês de Olinda, que navegava pelo rio Paraguai até a
província de Mato Grosso, com o recém-nomeado Presidente da Província a bordo. O Paraguai decla-
raria oficialmente guerra ao Brasil apenas em 13 de dezembro de 1864, na véspera da invasão para-
guaia na província brasileira de Mato Grosso.

O conflito entre Brasil e Uruguai foi resolvido em fevereiro de 1865. A notícia do fim da guerra foi trazida
por Pereira Pinto e foi recebida com alegria no Rio de Janeiro. Imperador dom Pedro II foi surpreendido
por uma multidão de milhares nas ruas em meio a aclamações.

No entanto, a opinião pública rapidamente mudou para pior quando os jornais começaram a publicar
histórias pintando a convenção de 20 de fevereiro como prejudicial aos interesses brasileiros, pelos
quais o gabinete foi responsabilizado. Os recém-erguidos viscondes de Tamandaré e Mena Barreto
(hoje Barão de São Gabriel) apoiaram o acordo de paz.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Tamandaré mudou de ideia logo depois e aceitou as acusações. Um membro do partido da oposi-
ção, José Paranhos, visconde do Rio Branco, foi usado como bode expiatório pelo imperador e pelo
governo e foi chamado em desgraça para a capital imperial.

A acusação de que a convenção não atendeu aos interesses brasileiros provou ser infundada. Para-
nhos não só conseguiu resolver todas as reivindicações brasileiras, mas ao evitar a morte de milhares,
ganhou um aliado uruguaio voluntário e grato em vez de um duvidoso e ressentido, o que forneceu ao
Brasil uma importante base de operações durante o agudo confronto com o Paraguai que logo se se-
guiu.

Forças opostas

Um cabo brasileiro do 1º Batalhão do Corpo de Voluntários da Pátria, infantaria pesada, 1865

Paraguai

Segundo alguns historiadores, o Paraguai iniciou a guerra com mais de 60 mil homens treinados - 38
mil dos quais já armados - 400 canhões, um esquadrão naval de 23 barcos a vapor e cinco navios
fluviais (entre eles a canhoneira Tacuarí).

As comunicações na bacia do rio da Prata eram mantidas exclusivamente por via fluvial, pois existiam
muito poucas estradas. Quem controlasse os rios venceria a guerra, então o Paraguai havia construído
fortificações nas margens da parte inferior do rio Paraguai.

No entanto, estudos recentes sugerem muitos problemas. Embora o exército paraguaio tivesse entre
70 mil e 100 mil homens no início do conflito, eles estavam mal equipados. A maioria dos armamentos
de infantaria consistia em mosquetes e carabinas de calibre lisos imprecisos, lentos para recarregar e
de curto alcance.

A artilharia era igualmente pobre. Os militares não tinham formação, nem experiência, nem sistema de
comando, pois todas as decisões eram tomadas pessoalmente por López. Alimentos, munições e ar-
mamentos eram escassos, com logística e atendimento hospitalar deficientes ou inexistentes. A nação
de cerca de 450 mil pessoas não poderia resistir à Tríplice Aliança de 11 milhões de pessoas.

Brasil e seus aliados

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A GUERRA DO PARAGUAI

Oficiais brasileiros

No início da guerra, as forças militares do Brasil, Argentina e Uruguai eram muito menores que as do
Paraguai. A Argentina tinha aproximadamente 8.500 tropas regulares e um esquadrão naval de qua-
tro vapores e um goleta.

O Uruguai entrou na guerra com menos de dois mil homens e nenhuma marinha. Muitos dos 16 mil
soldados brasileiros estavam localizados nas guarnições do sul. A vantagem brasileira, porém, estava
em sua marinha, composta por 45 navios com 239 canhões e cerca de quatro mil tripulantes bem trei-
nados. Grande parte da esquadra já se encontrava na bacia do Rio da Prata, onde atuou sob o co-
mando do Marquês de Tamandaré na intervenção contra o governo de Aguirre.

O Brasil, porém, estava despreparado para uma guerra. Seu exército estava desorganizado. As tropas
que utilizou no Uruguai eram em sua maioria contingentes armados de gaúchos e da Guarda Nacional.

Enquanto alguns relatos brasileiros da guerra descreveram sua infantaria como voluntária (Voluntários
da Pátria), outros relatos revisionistas argentinos e paraguaios depreciaram a infantaria brasileira como
recrutada principalmente de escravos e da classe baixa sem-terra (em sua maioria negros), que rece-
beram a promessa de terras gratuitas para o alistamento. A cavalaria foi formada a partir da Guarda
Nacional do Rio Grande do Sul.

No final das contas, um total de cerca de 146 mil brasileiros lutaram na guerra de 1864 a 1870, sendo
os 10.025 militares do exército estacionados em território uruguaio em 1864, 2.047 que estavam na
província de Mato Grosso, 55.985 voluntários da pátria, 60.009 guardas nacionais, 8.570 ex-escra-
vos que foram libertados para serem enviados para a guerra e 9.177 militares da marinha. Outros 18
mil soldados da Guarda Nacional ficaram para defender o território brasileiro.

Batalhas

Ofensiva paraguaia em Mato Grosso

Invasão paraguaia e contra-ataque aliado em 1865

O Paraguai tomou a iniciativa durante a primeira fase da guerra, lançando a Campanha de Mato
Grosso pela invasão da província brasileira de Mato Grosso em 14 de dezembro de 1864, seguida por
uma invasão da província do Rio Grande do Sul no sul em início de 1865 e a província argentina de Cor-
rientes.

Duas forças paraguaias separadas invadiram o Mato Grosso simultaneamente. Uma expedição de
3.248 soldados, comandada pelo coronel Vicente Barrios, foi transportada por uma esquadra naval sob
o comando do capitão Pedro Ignacio Meza pelo rio Paraguai até a cidade de Concepción. Lá eles ata-
caram o Forte de Nova Coimbra em 27 de dezembro de 1864.: A guarnição brasileira de 154 homens

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A GUERRA DO PARAGUAI

resistiu por três dias, sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero
(posteriormente Barão do Forte Coimbra).

Quando as munições se esgotaram, os defensores abandonaram o forte e retiraram-se rio acima em


direção a Corumbá a bordo do canhoneiro Anhambaí.: Após ocupar o forte, os paraguaios avançaram
mais ao norte, tomando as cidades de Albuquerque, Tage e Corumbá em janeiro de 1865.:

Solano López então enviou um destacamento para atacar o posto militar da fronteira de Dourados. Em
29 de dezembro de 1864, este destacamento, liderado por Martín Urbieta, encontrou forte resistência
do tenente Antonio João Ribeiro e seus 16 homens, que acabaram morrendo.

Os paraguaios seguiram para Nioaque e Miranda, derrotando as tropas do coronel José Dias da
Silva. Coxim foi tomada em abril de 1865. A segunda coluna paraguaia, formada por alguns dos 4.650
homens liderados pelo coronel Francisco Isidoro Resquín em Concepcion, invadiu o Mato Grosso com
1.500 soldados.

Expedição brasileira a Mato Grosso: Acampamento da Divisão Expedicionária nas matas virgens
de Goiás (L'Illustration, 1866)

Apesar dessas vitórias, as forças paraguaias não seguiram para Cuiabá, capital da província, onde
Augusto Leverger havia fortificado o acampamento de Melgaço. Seu objetivo principal era a captura
das minas de ouro e diamante, interrompendo o fluxo desses materiais para o Brasil até 1869.

O Brasil enviou uma expedição para combater os invasores em Mato Grosso. Uma coluna de 2.780
homens liderados pelo coronel Manuel Pedro Drago deixou Uberaba em Minas Gerais em abril de 1865
e chegou a Coxim em dezembro após uma difícil marcha de mais de dois mil quilômetros por meio de
quatro províncias. No entanto, o Paraguai já havia abandonado Coxim em dezembro. Drago chegou a
Miranda em setembro de 1866 e os paraguaios haviam partido novamente. O coronel Carlos de Morais
Camisão assumiu o comando da coluna em janeiro de 1867 - agora com apenas 1.680 homens - e
decidiu invadir o território paraguaio, que penetrou até Laguna onde a cavalaria paraguaia obrigou a
retirada da expedição.

Apesar dos esforços das tropas de Camisão e da resistência da região, que conseguiu libertar Corumbá
em junho de 1867, grande parte do Mato Grosso permaneceu sob controle paraguaio. Os brasileiros
retiraram-se da área em abril de 1868, deslocando suas tropas para o principal teatro de operações,
no sul do Paraguai.

Invasão paraguaia de Corrientes e Rio Grande do Sul

Chegada de reforços brasileiros em Corrientes

A Fragata Amazonas (1852-1897) da Marinha Imperial

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A GUERRA DO PARAGUAI

Navios a vapor brasileiros esmagando a Marinha do Paraguai na Batalha de Riachuelo

O Exército Imperial em Nova Palmira

Quando a guerra estourou entre o Paraguai e o Brasil, a Argentina permaneceu neutra. Solano López
duvidou da neutralidade argentina, pois eles permitiram aos navios brasileiros que navegassem pelos
rios argentinos da região do Prata, apesar do Paraguai estar em guerra com o Brasil.

A invasão das províncias de Corrientes e do Rio Grande do Sul foi a segunda fase da ofensiva para-
guaia. Para apoiar os blancos uruguaios, os paraguaios tiveram que percorrer o território argentino.

Em janeiro de 1865, Solano López pediu permissão à Argentina para um exército de 20 mil homens
(comandados pelo general Wenceslao Robles) para viajar pela província de Corrientes. O presidente
argentino, Bartolomé Mitre, recusou o pedido do Paraguai e outro semelhante do Brasil.:

Após essa recusa, o Congresso paraguaio reuniu-se em uma reunião de emergência em 5 de março
de 1865. Após vários dias de discussões, em 23 de março o Congresso decidiu declarar guerra à
Argentina por suas políticas, hostis ao Paraguai e favoráveis ao Brasil, e então conferiram a Francisco
Solano López Carrillo o posto de Marechal de Campo da República do Paraguai. A declaração de
guerra foi enviada em 29 de março de 1865 a Buenos Aires.

Após a invasão da província de Corrientes pelo Paraguai em 13 de abril de 1865, um grande alvoroço
agitou-se em Buenos Aires quando o público soube da declaração de guerra do Paraguai. O presidente
Bartolomé Mitre fez um famoso discurso às multidões em 4 de maio de 1865:

...Meus compatriotas, prometo-lhes: em três dias estaremos no quartel. Em três semanas, nas frontei-
ras. E em três meses em Assunção!

No mesmo dia, a Argentina declarou guerra ao Paraguai, mas dias antes disso, em 1 de maio de 1865,
Brasil, Argentina e Uruguai assinaram secretamente o Tratado da Tríplice Aliança em Buenos Aires.
Eles nomearam Bartolomé Mitre, presidente da Argentina, como comandante supremo das forças alia-
das. Os signatários do tratado foram Rufino de Elizalde (Argentina), Octaviano de Almeida (Brasil) e
Carlos de Castro (Uruguai).

O Tratado afirma que o "Paraguai deve ser responsabilizado por todas as consequências do conflito e
deve pagar todas as dívidas da guerra, o Paraguai deve ficar sem qualquer fortaleza e força militar".
Grandes porções dos territórios paraguaios seriam tomados pela Argentina e pelo Brasil no final do
conflito e a independência do Paraguai deveria ser respeitada apenas "por cinco anos". O tratado gerou
indignação internacional e vozes favoráveis ao Paraguai.

Em 13 de abril de 1865, um esquadrão paraguaio navegou pelo rio Paraná e atacou dois navios argen-
tinos no porto de Corrientes. Imediatamente as tropas do general Robles tomaram a cidade com três
mil homens e uma força de cavalaria de 800 chegou no mesmo dia. Deixando uma força de 1.500
homens na cidade, Robles avançou para o sul ao longo da margem oriental.

Junto com as tropas de Robles, uma força de 12 mil soldados sob o comando do coronel Antonio de la
Cruz Estigarriba cruzou a fronteira com a Argentina ao sul de Encarnación em maio de 1865, dirigindo
para o Rio Grande do Sul. Eles desceram o rio Uruguai e tomaram a cidade de São Borja no dia 12 de
junho. Uruguaiana, ao sul, foi tomada em 6 de agosto com pouca resistência.

Ao invadir Corrientes, Solano López esperava obter o apoio do poderoso caudilho argentino Justo José
de Urquiza, governador das províncias de Corrientes e Entre Ríos, conhecido por ser o principal fede-
ralista hostil a Mitre e ao governo central de Buenos Aires.

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A GUERRA DO PARAGUAI

No entanto, Urquiza deu seu total apoio a uma ofensiva argentina. As forças avançaram cerca de 200
km ao sul antes de terminar a ofensiva em fracasso.

Em 11 de junho de 1865, a Batalha Naval de Riachuelo, a frota brasileira comandada pelo almi-
rante Francisco Manoel Barroso da Silva, destruiu a poderosa marinha paraguaia e impediu os para-
guaios de ocupar permanentemente o território argentino.

Para todos os efeitos práticos, esta batalha decidiu o resultado da guerra em favor da Tríplice Aliança;
a partir daí, os Aliados passaram a controlar as águas da bacia do Rio da Prata até a entrada do
Paraguai.

Uma divisão paraguaia separada de 3.200 homens que continuou em direção ao Uruguai sob o co-
mando de Pedro Duarte foi derrotada pelas tropas aliadas sob o comando de Venancio Flores na san-
grenta Batalha de Yatay nas margens do rio Uruguai perto de Paso de los Libres.

Cerco de Uruguaiana

Rendição paraguaia em Uruguaiana

Enquanto Solano López ordenava a retirada das forças que ocuparam Corrientes, as tropas paraguaias
que invadiram São Borja avançaram, tomando Itaqui e Uruguaiana. A situação no Rio Grande do
Sul era caótica e os comandantes militares brasileiros locais foram incapazes de montar uma resistên-
cia efetiva aos paraguaios.

O barão de Porto Alegre partiu para Uruguaiana, uma pequena cidade no oeste da província, onde o
exército paraguaio foi cercado por uma força combinada de unidades brasileiras, argentinas e uru-
guaias.

Porto Alegre assumiu o comando do Exército Imperial Brasileiro em Uruguaiana em 21 de agosto de


1865. Em 18 de setembro, a guarnição paraguaia se rendeu sem mais derramamento de sangue.

Contra-ataque aliado

Invasão do Paraguai

O 26º Batalhão de Voluntários da Pátria da distante província do Ceará em ação guerrilheira, entre
1867 e 1868

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A GUERRA DO PARAGUAI

Tropas aliadas entrincheiradas na Batalha de Tuyutí

No final de 1864, o Paraguai obteve uma série de vitórias na guerra; em 11 de junho de 1865, entre-
tanto, sua derrota naval para o Brasil no rio Paraná começou a virar a maré. A Batalha Naval do Ria-
chuelo foi um ponto chave na Guerra do Paraguai, marcando o início da ofensiva dos Aliados.

Nos meses seguintes, os paraguaios foram expulsos das cidades de Corrientes e San Cosme, o único
território argentino ainda em posse do Paraguai.

No final de 1865, a Tríplice Aliança estava na ofensiva. Seus exércitos somavam 42 mil homens na
infantaria e 15 mil na cavalaria quando invadiram o Paraguai em abril. Os paraguaios obtiveram peque-
nas vitórias contra as principais forças nas batalhas de Corrales e Itati, mas isso não conseguiu impedir
a invasão.

Em 16 de abril de 1866, os exércitos Aliados invadiram o território paraguaio cruzando o rio Paraná.
López lançou contra-ataques, mas que foram repelidos pelo general Osorio, que obteve vitórias nas
batalhas de Itapirú e Isla Cabrita. No entanto, o avanço dos Aliados foi detido na primeira grande bata-
lha da guerra, em Estero Bellaco, em 2 de maio de 1866.

López, acreditando que poderia desferir um golpe fatal nos Aliados, lançou uma grande ofensiva com
25 mil homens contra 35 mil soldados Aliados na Batalha de Tuiuti em 24 de maio de 1866, a batalha
mais sangrenta da história latino-americana.

Apesar de ter chego muito perto da vitória em Tuiuti, o plano de López foi quebrado por uma feroz
resistência do exército dos Aliados e a ação decisiva da artilharia brasileira. Ambos os lados sofreram
pesadas perdas: mais de 12 mil vítimas para o Paraguai contra seis mil para os Aliados.

Artilharia uruguaia na Batalha de Sauce, 18 de julho de 1866

Em 18 de julho, os paraguaios se recuperaram, derrotando as forças comandadas por Mitre e Flores


na Batalha do Boqueirão, perdendo mais de dois mil homens contra as seis mil baixas dos Aliados. No
entanto, o general brasileiro Porto Alegre venceu a Batalha de Curuzu, colocando os paraguaios em
uma situação desesperadora.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Redutos da artilharia paraguaia na Batalha de Curuzu, de Cándido López

Em 12 de setembro de 1866, Solano López, após a derrota na Batalha de Curuzu, convidou Mitre e
Flores para uma conferência em Yatayty Cora, que resultou em uma "discussão acalorada" entre os
dois líderes. Lopez percebeu que a guerra estava perdida e estava pronto para assinar um tratado de
paz com os Aliados.

Porém, nenhum acordo foi alcançado, já que as condições de Mitre para assinar o tratado eram que
todos os artigos do Tratado da Tríplice Aliança fossem cumpridos, condição que Solano López recusou.
O artigo 6 do tratado tornava quase impossível a trégua ou a paz com López, pois estipulava que a
guerra continuaria até que o então governo cessasse, o que significava a destituição de Solano López.

Após a conferência, os Aliados marcharam em território paraguaio, alcançando a linha defensiva de Cu-
rupayty. Confiando na sua superioridade numérica e na possibilidade de atacar o flanco da linha defen-
siva pelo rio Paraguai utilizando os navios brasileiros, os Aliados realizaram um ataque frontal à linha
defensiva, apoiados pelo fogo de flanco dos encouraçados.

No entanto, os paraguaios, comandados pelo general José E. Díaz, manteve-se forte em suas posições
e se preparou para uma batalha defensiva, infligindo tremendo dano às tropas aliadas: mais de oito mil
baixas contra não mais que 250 perdas dos paraguaios. A Batalha de Curupaiti resultou em uma der-
rota quase catastrófica para as forças Aliadas, encerrando sua ofensiva por dez meses, até julho de
1867.

Os líderes Aliados culpavam-se uns aos outros pelo desastroso fracasso em Curupaiti. O general Flores
havia partido para o Uruguai em setembro de 1866 e ali foi assassinado em 1867.

Porto Alegre e Tamandaré encontraram terreno comum em sua repulsa pelo comandante brasileiro do
1º corpo, o marechal de campo Polidoro Jordão, visconde de Santa Teresa. O general Polidoro foi
condenado ao ostracismo por apoiar Mitre e ser membro do Partido Conservador, enquanto Porto Ale-
gre e Tamandaré eram progressistas.

Gen. Porto Alegre também culpou Mitre pela tremenda derrota, dizendo:

“Aqui está o resultado da falta de confiança do governo brasileiro em seus próprios generais e ao dar
seus exércitos a generais estrangeiros”.

Mitre tinha uma opinião dura sobre os brasileiros e disse que “Porto Alegre e Tamandaré, que são
primos, e primos mesmo sem juízo, fizeram um pacto de família para monopolizar, na prática, o co-
mando da guerra”.

Critica ainda Porto Alegre: “Impossível imaginar nulidade militar maior do que este general, a que se
soma a má influência dominadora de Tamandaré sobre ele e o espírito negativo de ambos em relação
aos Aliados, dono de paixões e mesquinharias."

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A GUERRA DO PARAGUAI

Caxias assume o comando

Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias

O governo brasileiro decidiu criar um comando unificado sobre as forças brasileiras que operavam no
Paraguai e escolheu Caxias, de 63 anos, como o novo líder no dia 10 de outubro de 1866. Osório foi
enviado para organizar um terceiro corpo de cinco mil homens do exército brasileiro no Rio Grande do
Sul. Caxias chegou a Itapiru no dia 17 de novembro. Sua primeira medida foi demitir o vice-almi-
rante Joaquim Marques Lisboa — mais tarde o marquês de Tamandaré e também membro da Liga
Progressista — o governo havia nomeado seu colega vice-almirante conservador Joaquim José Iná-
cio — depois visconde de Inhaúma — para liderar a marinha.

O Marquês de Caxias assumiu o comando no dia 19 de novembro. Ele teve que acabar com as disputas
sem fim e aumentar sua autonomia em relação ao governo brasileiro. Com a saída do Presidente Mitre
em fevereiro de 1867, Caxias assumiu o comando geral das forças Aliadas. Ele encontrou o exército
praticamente paralisado e devastado por doenças. Nesse período, Caxias treinou seus soldados, ree-
quipou o exército com novos canhões, melhorou a qualidade do corpo de oficiais e atualizou o corpo
de saúde e higiene geral das tropas, pondo fim às epidemias. A partir de outubro de 1866 até julho de
1867, todas as operações ofensivas foram suspensas. As operações militares se limitaram a escara-
muças com os paraguaios e ao bombardeio de Curupaiti. Solano López aproveitou a desorganização
do inimigo para reforçar a Fortaleza de Humaitá.:

Como o exército brasileiro estava pronto para o combate, Caxias procurou cercar Humaitá e forçar sua
capitulação através de um cerco. Para auxiliar no esforço de guerra, Caxias utilizou balões de obser-
vação para coletar informações das linhas inimigas. Com o 3.º Corpo pronto para o combate, o Exército
Aliado iniciou sua marcha de flanco ao redor de Humaitá no dia 22 de julho. A marcha para flanquear
a ala esquerda das fortificações paraguaias constituiu a base da tática de Caxias. Ele queria contornar
as fortalezas paraguaias, cortar as ligações entre Assunção e Humaitá e finalmente cercar os para-
guaios. O 2.º Corpo estava estacionado em Tuyutí, enquanto o 1.º Corpo e o recém-criado 3.º Corpo
foram usados por Caxias para cercar Humaitá. O presidente Mitre voltou da Argentina e reassumiu o
comando geral em 1 de agosto. Em 2 de novembro, com a captura pelas tropas brasileiras da posição
paraguaia de Tahí, às margens do rio, Humaitá ficaria isolado do resto do país, por terra.

Aliados ganham impulso

Queda do Humaitá

Mercado em Lambaré após ser capturado pelos Aliados

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A GUERRA DO PARAGUAI

Passagem naval brasileira de Humaitá

O exército combinado brasileiro-argentino-uruguaio continuou avançando para o norte através do terri-


tório hostil para cercar Humaitá. A força aliada avançou para San Solano no dia 29 e Tayi no dia 2 de
novembro, isolando Humaitá de Assunção. Antes do amanhecer de 3 de novembro, Solano López re-
agiu ordenando o ataque à retaguarda dos aliados na Segunda Batalha de Tuiuti.

Os paraguaios, comandados pelo general Bernardino Caballero, romperam as linhas argentinas, cau-
sando enormes danos ao acampamento Aliado e capturando com sucesso armas e suprimentos, muito
necessários a López para o esforço de guerra. Somente graças à intervenção de Porto Alegre e suas
tropas, o exército Aliado se recuperou.

Durante a Segunda Batalha de Tuiuti, Porto Alegre lutou com seu sabre em combate corpo a corpo e
perdeu dois cavalos. Nesta batalha, os paraguaios perderam mais de 2.500 homens, enquanto os ali-
ados tinham pouco mais de 500 vítimas.

Em 1867, o Paraguai havia perdido 60 mil homens na guerra, vítimas de ferimentos ou doenças. López
recrutou outros 60 mil soldados compostos por escravos e crianças. Todas as funções de apoio foram
confiadas às mulheres. Os soldados foram para a batalha sem sapatos ou uniformes. López aplicou a
mais rígida disciplina, executando até seus dois irmãos e dois cunhados por suposto derrotismo.

Em dezembro de 1867, havia 45.791 brasileiros, 6.000 argentinos e 500 uruguaios na frente. Após a
morte do vice-presidente argentino Marcos Paz, Mitre cedeu o cargo pela segunda e última vez no dia
14 de janeiro de 1868. Representantes Aliados em Buenos Aires aboliram a posição de comandante-
em-chefe aliado em 3 de outubro, embora o Marquês de Caxias continuasse a cumprir o papel de
comandante supremo brasileiro.

Em 19 de fevereiro, os couraçados brasileiros conseguiram subir o rio Paraguai sob fogo pesado, ga-
nhando o controle total do rio e isolando Humaitá do reabastecimento por água. Humaitá caiu no dia
25 de julho de 1868, após um longo cerco.

Ataque aos Encouraçados Cabral e Lima Barros

O ataque aos navios de guerra Lima Barros e Cabral foi uma ação naval que ocorreu na madrugada
de 2 de março de 1868, quando canoas paraguaias, unidas duas a duas, disfarçadas com ramos e
tripuladas por 50 soldados cada, abordaram os couraçados Lima Barros e Cabral. A Frota Imperial, que
já efetivara a Passagem de Humaitá, estava ancorada no rio Paraguai, antes do reduto Taji próximo a
Humaitá.

Aproveitando a densa escuridão da noite e dos camalotes e caibros que desciam pela corrente, um
esquadrão de canoas cobertas por galhos e folhagens, tripuladas por 1.500 paraguaios armados com
facões, machados e espadas que se aproximavam, foi para abordagem dos encouraçados. A luta con-
tinuou até de madrugada, quando os navios de guerra Brasil, Herval, Mariz e Barros e Silvado se apro-
ximaram e atiraram nos paraguaios, que desistiram do ataque, perdendo 400 homens e 14 canoas.

Primeira Batalha de Iasuií

A Primeira Batalha de Iasuií ocorreu em 2 de maio de 1868 entre brasileiros e paraguaios, na região
do Chaco, Paraguai. Na ocasião, o coronel Barros Falcão, à frente de uma guarnição de 2.500 militares,
repeliu um ataque paraguaio, sofrendo 137 baixas. Os atacantes perderam 105

Queda de Assunção

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A GUERRA DO PARAGUAI

Batalha de Avaí, dezembro de 1868

Prisioneiros paraguaios durante a ocupação Aliada de Assunção em 1869

Exército Imperial Brasileiro no Paraguai durante revisão do Conde d'Eu

Coronel Faria da Rocha em revista das tropas brasileiras em frente ao mercado de Tayi, c. 1868

A caminho de Assunção, o exército Aliado percorreu 200 km ao norte até Palmas, parando no rio Pi-
quissiri. Lá Solano López concentrou 12 mil paraguaios em uma linha fortificada que explorava o ter-
reno e apoiava os fortes de Angostura e Itá-Ibaté.

Renunciado ao combate frontal, Caxias ordenou a chamada manobra de Piquissiri. Enquanto um es-
quadrão atacava Angostura, Caxias fazia o exército cruzar para a margem oeste do rio. Ele ordenou a
construção de uma estrada nos pântanos do Gran Chaco ao longo da qual as tropas avançam para o
nordeste. Em Villeta, o exército voltou a cruzar o rio, entre Assunção e Piquissiri, atrás da linha fortifi-
cada do Paraguai.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Em vez de avançar para a capital, já evacuada e bombardeada, Caxias foi para o sul e atacou os
paraguaios pela retaguarda em dezembro de 1868, numa ofensiva que ficou conhecida como "Dezem-
brada" As tropas de Caxias foram emboscadas ao cruzar o Itororó durante um avanço inicial, durante
o qual os paraguaios infligiram graves danos aos exércitos brasileiros.

Mas, dias depois, os Aliados destruíram uma divisão paraguaia inteira na Batalha de Avaí.: Semanas
depois, Caxias obteve outra vitória decisiva na Batalha de Lomas Valentinas e capturou o último reduto
do exército paraguaio em Angostura.

Em 24 de dezembro, Caxias enviou uma nota a Solano López pedindo a rendição, mas Solano López
recusou e fugiu para Cerro León.:Ao lado do presidente paraguaio estava o ministro-embaixador esta-
dunidense, general Martin T. McMahon, que depois da guerra se tornou um ferrenho defensor da causa
de López.

Assunção foi ocupada em 1º de janeiro de 1869 pelo general brasileiro João de Souza da Fonseca
Costa, pai do futuro Marechal Hermes da Fonseca. No dia 5 de janeiro, Caxias entrou na cidade com
o resto do exército.

A maior parte do exército de Caxias se instalou em Assunção, onde também chegaram quatro mil
soldados argentinos e 200 uruguaios junto com cerca de 800 soldados e oficiais da Legião Paraguaia.
A essa altura, Caxias estava doente e cansado. Em 17 de janeiro, ele desmaiou durante uma missa;
renunciou ao comando no dia seguinte e, no dia seguinte, partiu para Montevidéu.

Muito em breve, a cidade hospedaria cerca de 30 mil soldados Aliados; nos meses seguintes, eles
saquearam quase todos os prédios, incluindo missões diplomáticas de nações europeias.

Governo provisório

Com Solano López em fuga, o país não tinha governo. D. Pedro II enviou seu chanceler José Para-
nhos a Assunção, onde chegou em 20 de fevereiro de 1869 e iniciou consultas com os políticos locais.
Paranhos teve que criar um governo provisório que pudesse assinar um acordo de paz e reconhecer a
fronteira reivindicada pelo Brasil entre as duas nações. Segundo o historiador Francisco Doratioto, Pa-
ranhos, "o então maior especialista brasileiro nos assuntos platinos", teve um papel "decisivo" na ins-
talação do governo provisório paraguaio.

O Conde d'Eu com o Visconde de Rio Branco entre oficiais brasileiros

Com o Paraguai devastado, o vácuo de poder resultante da queda de Solano López foi rapidamente
preenchido por facções domésticas emergentes que Paranhos teve de acomodar. Em 31 de março,
uma petição foi assinada por 335 cidadãos importantes pedindo aos Aliados um governo provisório.

Seguiram-se negociações entre os países Aliados, que puseram de lado alguns dos pontos mais polê-
micos do Tratado da Tríplice Aliança; em 11 de junho, chegou-se a um acordo com figuras da oposição
paraguaia de que um governo provisório de três homens seria estabelecido. Em 22 de julho, uma As-
sembleia Nacional reuniu-se no Teatro Nacional e elegeu a Junta Nacional de 21 homens, que então
selecionou um comitê de cinco homens para escolher três homens para o governo provisório.

Eles selecionaram Carlos Loizaga, Juan Francisco Decoud e Jose Diaz de Bedoya. Decoud era inacei-
tável para Paranhos, que o substituiu por Cirilo Antonio Rivarola. O governo foi finalmente instalado em
15 de agosto, mas foi apenas uma fachada para uma ocupação Aliada contínua.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Após a morte de Lopez, o governo provisório emitiu uma proclamação em 6 de março de 1870 na qual
prometia apoiar as liberdades políticas, proteger o comércio e promover a imigração.

O governo provisório não durou. Em maio de 1870, José Díaz de Bedoya renunciou; em 31 de agosto
de 1870, Carlos Loizaga também o fez. O membro remanescente, Antonio Rivarola, foi imediatamente
destituído de suas funções pela Assembleia Nacional, que instituiu a presidência provisória, para a qual
elegeu Facundo Machaín, que assumiu o cargo nesse mesmo dia. No entanto, no dia seguinte, 1º de
setembro, ele foi derrubado em um golpe que restaurou Rivarola ao poder.

Fim da guerra

Campanha da Cordilheira

O genro do imperador D. Pedro II, Luís Filipe Gastão de Orléans, o Conde d'Eu, foi nomeado em 1869
para dirigir a fase final das operações militares no Paraguai. À frente de 21 mil homens, o Conde d'Eu
liderou a campanha contra a resistência paraguaia, a Campanha da Cordilheira, que durou mais de um
ano.

As mais importantes foram a Batalha de Piribebuy e a Batalha de Campo Grande, nas quais mais de
cinco mil paraguaios morreram. Depois de um início bem sucedido que incluiu vitórias sobre os rema-
nescentes do exército de Solano López, o Conde caiu em depressão e Paranhos tornou-se coman-
dante-em-chefe de facto.

Morte de Solano López

Coronel Joca Tavares e seus assistentes imediatos, entre eles José Francisco Lacerda, responsável
pelo assassinato de Solano López

O presidente Solano López organizou a resistência na cordilheira do nordeste de Assunção. Ao final


da guerra, com o Paraguai sofrendo grave escassez de armas e suprimentos, Solano López reagiu
com tentativas draconianas de manter a ordem, ordenando às tropas que matassem qualquer um de
seus colegas, inclusive oficiais, que falavam em rendição.

A paranóia prevaleceu no exército e os soldados lutaram até o fim em um movimento de resistência,


resultando em mais destruição do país.

Dois destacamentos foram enviados em busca de Solano López, que estava acompanhado por 200
homens nas florestas do norte. Em 1 de março de 1870, as tropas do general José Antônio Correia da
Câmara surpreenderam o último acampamento paraguaio em Cerro Corá. Durante a batalha que se
seguiu, Solano López foi ferido e separado do restante de seu exército.

Fraco demais para andar, ele foi escoltado por seu ajudante e dois oficiais, que o conduziram até as
margens do rio Aquidaban-nigui. Os policiais deixaram Solano López e seu assessor ali enquanto pro-
curavam reforços.

Antes de voltarem, Câmara chegou com um pequeno número de soldados. Embora ele tenha oferecido
permissão a Solano López para se render e garantido sua vida, Solano López recusou. Gritando "Eu
morro com a minha pátria!", Ele tentou atacar Câmara com sua espada. Ele foi rapidamente morto pelos
homens de Câmara, pondo fim ao longo conflito em 1870.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Vítimas da guerra

Cadáveres paraguaios após a Batalha do Boqueirão, julho de 1866 (Bate & Co. W., impressão de al-
bumina, 11 x 18 cm, 1866; Museu Mitre, Buenos Aires)

O Paraguai sofreu muitas baixas e a interrupção da guerra e as doenças também custaram a vida de
civis. Alguns historiadores estimam que a nação perdeu a maioria de sua população. Os números es-
pecíficos são muito contestados e variam amplamente. Uma pesquisa de 14 estimativas da população
do Paraguai antes da guerra variou entre 300 mil e 1,33 milhão.

Trabalhos acadêmicos posteriores baseados em dados demográficos produziram uma ampla gama de
estimativas, de um possível mínimo de 21 mil0 (7% da população) (Reber, 1988) a até 69% da popu-
lação total antes da guerra (Whigham, Potthast, 1999). Devido à situação local, todos os números de
vítimas são uma estimativa muito aproximada; números precisos de vítimas nunca podem ser determi-
nados.

Após a guerra, um censo de 1871 registrou 221.079 habitantes, dos quais 106.254 mulheres, 28.746
homens e 86.079 crianças (sem indicação de sexo ou limite máximo de idade).

Os piores relatórios são de que até 90% da população masculina foi morta, embora esse número não
tenha sustentação.

Uma estimativa coloca as perdas totais do Paraguai - por guerra e doenças - em até 1,2 milhão de
pessoas, ou 90% de sua população antes da guerra, mas os estudos modernos mostraram que esse
número depende de um censo populacional de 1857 que foi uma invenção do governo. Uma estimativa
diferente coloca as mortes paraguaias em aproximadamente 300 mil pessoas de 500 mil a 525 mil
habitantes antes da guerra. Durante a guerra, muitos homens e meninos fugiram para o campo e as
florestas.

Na estimativa de Vera Blinn Reber, porém, “as evidências demonstram que as baixas da população
paraguaia devido à guerra foram enormemente exageradas”.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Um padre brasileiro com refugiados paraguaios vindos de San Pedro, 1869 ou 1870

Um estudo de 1999 por Thomas Whigham da Universidade da Geórgia e Barbara Potthast (publicado
na Latin American Research Review sob o título "A Pedra de Roseta do Paraguai: Novas Evidências
sobre a Demografia da Guerra do Paraguai, 1864-1870", e posteriormente expandido no ensaio de
2002 intitulado "Refinando os números: uma resposta a Reber e Kleinpenning") tem uma metodologia
para produzir números mais precisos.

Para estabelecer a população antes da guerra, Whigham usou um censo de 1846 e calculou, com base
em uma taxa de crescimento populacional de 1,7% a 2,5% ao ano (que era a taxa padrão na época),
que a população paraguaia imediatamente anterior à guerra em 1864 era de cerca de 420 mil e 450
mil.

Com base em um censo realizado após o fim da guerra, em 1870–1871, Whigham concluiu que entre
150 mil e 160 mil paraguaios sobreviveram, dos quais apenas 28 mil eram homens adultos. No total,
60-70% da população morreu como resultado da guerra, deixando uma proporção mulher/homem de 4
para 1 (tão alta quanto 20 para 1, nas áreas mais devastadas).

Famílias paraguaias sem teto durante a Guerra do Paraguai, 1867

Steven Pinker escreveu que, assumindo uma taxa de mortalidade de mais de 60% da população para-
guaia, essa guerra foi proporcionalmente uma das mais destrutivas dos tempos modernos em qual-
quer Estado-nação.

Perdas aliadas

Dos aproximadamente 123 mil brasileiros que lutaram na Guerra do Paraguai, as melhores estimativas
são de que cerca de 50 mil homens morreram. O Uruguai tinha cerca de 5.600 homens em armas
(incluindo alguns estrangeiros), dos quais cerca de 3.100 morreram. A Argentina perdeu cerca de 30
mil homens.

As altas taxas de mortalidade não foram todas devido ao combate. Como era comum antes do desen-
volvimento dos antibióticos, as doenças causavam mais mortes do que os ferimentos de guerra. Co-
mida ruim e falta de saneamento contribuíram para doenças entre soldados e civis.

Entre os brasileiros, dois terços dos mortos morreram em hospitais ou durante a marcha. No início do
conflito, a maioria dos soldados brasileiros vinha das regiões Norte e Nordeste; a mudança de um clima
quente para um mais frio, combinada com rações alimentares restritas, pode ter enfraquecido sua re-
sistência.

Batalhões inteiros de brasileiros morreram após beber água dos rios. Portanto, alguns historiadores
acreditam que a cólera, transmitida pela água, foi uma das principais causas de morte durante a guerra.

Aspectos de Gênero e Étnicos

Mulheres na Guerra do Paraguai

As mulheres paraguaias desempenharam um papel significativo na Guerra do Paraguai. Durante o


período imediatamente anterior ao início da guerra, muitas mulheres paraguaias eram chefes de famí-
lia, o que significa que ocupavam uma posição de poder e autoridade. Recebiam tais cargos por serem
viúvas, por terem filhos fora do casamento ou por seus maridos trabalharem como peões. Quando a
guerra começou, as mulheres começaram a sair de casa tornando-se enfermeiras, trabalhando como

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A GUERRA DO PARAGUAI

funcionárias do governo e estabelecendo-se na esfera pública. Quando The New York Times noticiou
a guerra em 1868, considerou as mulheres paraguaias iguais aos seus homólogos masculinos.

O apoio das mulheres paraguaias ao esforço de guerra pode ser dividido em duas etapas. A primeira
é da época em que a guerra começou em 1864 até a evacuação paraguaia de Assunção no final de
1868.

Durante este período de guerra, as mulheres camponesas tornaram-se as principais produtoras agrí-
colas. A segunda fase começa quando a guerra se transforma em uma forma mais guerrilheira; come-
çou quando a capital do Paraguai caiu e terminou com a morte do presidente Francisco Solano Ló-
pez em 1870. Nesta fase, o número de mulheres que se tornaram vítimas da guerra estava aumen-
tando.

As mulheres ajudaram a sustentar a sociedade paraguaia durante um período muito instável. Embora
o Paraguai tenha perdido a guerra, o resultado poderia ter sido ainda mais desastroso sem as mulheres
desempenhando tarefas específicas.

As mulheres trabalhavam como fazendeiras, soldados, enfermeiras e oficiais do governo. Elas se tor-
naram um símbolo da unificação nacional e, no final da guerra, as tradições que as mulheres manti-
nham eram parte do que mantinha a nação unida.

Um artigo de 2012 na The Economist argumentou que com a morte da maior parte da população mas-
culina do Paraguai, a Guerra do Paraguai distorceu a proporção de mulheres em número muito maior
do que os homens e tem impactado a cultura sexual do Paraguai até hoje.

Por causa do despovoamento, os homens foram encorajados após a guerra a ter vários filhos com
várias mulheres, até mesmo padres católicos supostamente celibatários. Um colunista relacionou essa
ideia cultural ao escândalo de paternidade do ex-presidente Fernando Lugo, que teve vários filhos
quando era um padre supostamente celibatário.

Povo Indígena Paraguaio

Antes da guerra, os indígenas ocupavam muito pouco espaço na mente da elite paraguaia. O presi-
dente paraguaio Carlos Antonio Lopez até modificou a constituição do país em 1844 para remover
qualquer menção ao caráter hispano-guarani do Paraguai.

Essa marginalização foi prejudicada pelo fato de que o Paraguai há muito valorizava seus militares
como sua única instituição nacional honrada e a maioria dos militares paraguaios eram indígenas e
falavam guarani. Porém, durante a guerra, os indígenas do Paraguai passaram a ocupar um papel
ainda maior na vida pública, principalmente após a Batalha de Estero Bellaco. Para esta batalha, o
Paraguai colocou seus "melhores" homens, que por acaso eram descendentes de espanhóis, na frente
e no centro. O Paraguai perdeu gravemente essa batalha, assim como "os homens de todas as melho-
res famílias do país".Os militares que agora restavam eram "velhos deixados em Humaitá, índios, es-
cravos e meninos".

A guerra também uniu os indígenas do Paraguai ao projeto de construção da nação paraguaia. Imedi-
atamente antes da guerra, eles foram confrontados com uma enxurrada de retórica nacionalista (em
espanhol e guarani) e sujeitos a juramentos e exercícios de lealdade.

O presidente paraguaio Francisco Solano Lopez, filho de Carlos Antonio Lopez, estava bem ciente de
que o povo de língua guarani do Paraguai tinha uma identidade de grupo independente da elite para-
guaia de língua espanhola. Ele sabia que teria que superar essa divisão ou arriscar que fosse explorado
pela Tríplice Aliança.

Até certo ponto, Lopez conseguiu fazer com que os indígenas expandissem sua identidade comunal
para incluir todo o Paraguai. Como resultado disso, qualquer ataque ao Paraguai foi considerado um
ataque à nação paraguaia, apesar da retórica do Brasil, Uruguai e Argentina dizendo o contrário.

Esse sentimento aumentou depois que os termos do Tratado da Tríplice Aliança vazaram, especial-
mente a cláusula que afirmava que o Paraguai pagaria por todos os danos sofridos pelo conflito.

Afro-brasileiros

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A GUERRA DO PARAGUAI

Retrato de Jovita Feitosa

Homens afro-brasileiros livres e escravos passaram a compor a maioria das forças brasileiras na
Guerra do Paraguai. A monarquia brasileira originalmente permitia unidades apenas crioulas ou 'zua-
vos' nas forças armadas no início da guerra, seguindo a insistência do crioulo brasileiro Ouirino Antonio
do Espírito Santo.

Ao longo da guerra, os zuavos se tornaram uma opção cada vez mais atraente para muitos escravos
afro-brasileiros não crioulos, especialmente devido à opinião negativa deles em relação à escravidão.
Depois que os zuavos os alistaram e/ou recrutaram à força, tornava-se difícil para seus senhores reto-
marem a posse deles, já que o governo estava desesperado por soldados.

Alguns dos recrutas anteriormente escravizados então desertaram dos zuavos para se juntar a comu-
nidades livres compostas por afro-brasileiros e indígenas. Em 1867, unidades exclusivamente negras
não eram mais permitidas, com todo o exército sendo integrado da mesma forma que antes da Guerra
da Tríplice Aliança.

Embora isso tivesse o efeito de reduzir a identificação dos negros com o estado, a lógica geral por trás
disso era que "o país precisava de recrutas para seus batalhões existentes, não de empresas organi-
zadas de forma independente".

Isso não significou o fim dos soldados negros nas Forças Armadas brasileiras. Ao contrário, "gente de
cor empobrecida constituía a maior parte dos soldados em cada batalhão de infantaria brasileiro".

As mulheres afro-brasileiras desempenharam um papel fundamental na sustentação dos militares bra-


sileiros como "vivandeiras", que eram mulheres pobres que viajavam com os militares para realizar
"tarefas logísticas como carregar barracas, preparar comida e lavar roupa".

Para a maioria dessas mulheres, o principal motivo pelo qual se tornaram vivandeiras foi porque seus
entes queridos se juntaram como soldados e elas queriam cuidar deles.

No entanto, o governo imperial brasileiro trabalhou ativamente para minimizar a importância de seu
trabalho rotulando-o de "serviço a seus parentes masculinos, não à nação" e considerando-o "natural"
e "habitual". A realidade era que o governo dependia muito dessas mulheres e exigia oficialmente sua
presença nos campos.

As mulheres afro-brasileiras pobres também serviram como enfermeiras, com a maioria delas sendo
treinadas ao entrar no exército para ajudar os médicos nos campos. Essas mulheres estavam "procu-
rando um emprego lucrativo para compensar a perda de renda de parentes do sexo masculino que
haviam sido convocados para a guerra".

Mudanças territoriais e tratados

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A GUERRA DO PARAGUAI

Paraguai depois da guerra

O Paraguai perdeu definitivamente a reivindicação de territórios que, antes da guerra, estavam em


disputa entre ele e o Brasil ou a Argentina, respectivamente. No total, cerca de 140 mil quilômetros
quadrados foram afetados. Essas disputas eram antigas e complexas.

Disputas com o Brasil

Na época colonial, certas terras situadas ao norte do rio Apa estavam em disputa entre o Império Por-
tuguês e o Império Espanhol. Após a independência, continuaram a ser disputados entre o Império do
Brasil e a República do Paraguai.

Após a guerra, o Brasil assinou o Tratado de Loizaga - Cotegipe em 9 de janeiro de 1872, em que
obteve liberdade de navegação no rio Paraguai. O Brasil também manteve as regiões do norte que
havia reivindicado antes da guerra. Essas regiões passaram a fazer parte do estado de Mato Grosso
do Sul.

Disputas com a Argentina

Misiones

Na época colonial, os missionários jesuítas estabeleceram várias aldeias em terras entre os rios Pa-
raná e Uruguai. Depois que os jesuítas foram expulsos do território espanhol em 1767, as autoridades
eclesiásticas de Assunção e de Buenos Aires reivindicaram a jurisdição religiosa nessas terras e o go-
verno espanhol às vezes a atribuía a um lado, às vezes ao outro; às vezes eles dividiam a diferença.

Após a independência, a República do Paraguai e a Confederação Argentina continuaram essas dis-


putas. Em 19 de julho de 1852, os governos da Confederação Argentina e do Paraguai assinaram um
tratado pelo qual o Paraguai renunciava às Misiones.

No entanto, este tratado não se tornou vinculativo, pois precisava ser ratificado pelo Congresso argen-
tino, que o recusou.[113] A reivindicação do Paraguai ainda estava viva na véspera da guerra. Após a
guerra, as terras em disputa tornaram-se definitivamente o território nacional argentino de Misiones,
hoje Província de Misiones.

Gran Chaco

O Gran Chaco é uma área situada a oeste do rio Paraguai. Antes da guerra, era "uma enorme planície
coberta por pântanos, chaparrais e florestas de espinhos ... lar de muitos grupos de temidos índios,
incluindo guaicurús, tobas e mocobís." Há muito tempo havia reivindicações sobrepostas de toda ou
parte desta área pela Confederação Argentina, Bolívia e Paraguai.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Com algumas exceções, tratava-se de reivindicações de papel, porque nenhum desses países estava
em ocupação efetiva da área: essencialmente, eram reivindicações de ser o verdadeiro sucessor do Im-
pério Espanhol, em uma área nunca foi efetivamente ocupada pela própria Espanha e na qual os es-
panhóis não tinham nenhum motivo particular para prescrever limites internos.

As exceções foram as seguintes. Em primeiro lugar, para se defender das incursões indígenas, tanto
na época colonial como depois, as autoridades de Assunção estabeleceram alguns fortes de fronteira
na margem oeste do rio Paraguai - uma faixa costeira dentro do Chaco.

Pelo mesmo tratado de 19 de julho de 1852, entre o Paraguai e a Confederação Argentina, uma área
indefinida no Chaco ao norte do rio Bermejo foi implicitamente admitida como pertencente ao Paraguai.

Como já foi dito, o Congresso argentino se recusou a ratificar este tratado; e foi protestado pelo governo
da Bolívia como hostil às suas próprias reivindicações. A segunda exceção foi que em 1854, o governo
de Carlos Antonio López estabeleceu uma colônia de imigrantes franceses na margem direita do rio
Paraguai em Nueva Burdeos; quando falhou, foi renomeado para Villa Occidental.

Depois de 1852, e mais especialmente depois que o Estado de Buenos Aires voltou à Confederação
Argentina, a reivindicação da Argentina ao Chaco endureceu; os argentinos passaram a reivindicar o
território até a fronteira com a Bolívia.

Pelo artigo XVI do Tratado da Tríplice Aliança a Argentina deveria receber este território integralmente.
No entanto, o governo brasileiro não gostou do que seu representante em Buenos Aires havia negoci-
ado a esse respeito e decidiu que a Argentina não deveria receber "um palmo de território" acima do rio
Pilcomayo. Ele teve como objetivo frustrar a reivindicação posterior da Argentina, com eventual su-
cesso.

A fronteira pós-guerra entre o Paraguai e a Argentina foi resolvida por meio de longas negociações,
concluídas 3 de fevereiro de 1876, com a assinatura do Tratado de Irigoyen - Machain. Esse tratado
concedeu à Argentina cerca de um terço da área originalmente desejada e o país se tornou a mais forte
das nações países do Rio da Prata.

Quando as duas partes não chegaram a um consenso sobre o destino da área do Chaco Boreal entre
o Río Verde e o braço principal do Río Pilcomayo, o Presidente dos Estados Unidos, Rutherford B.
Hayes, foi chamado para arbitrar. Seu argumento foi em favor do Paraguai. O departamento para-
guaio Presidente Hayes é nomeado em sua homenagem.

Consequências da guerra

Paraguai

Crianças-soldados paraguaias

Houve destruição do estado existente, perda de territórios vizinhos e ruína da economia paraguaia, de
forma que, mesmo décadas depois, o país não pôde se desenvolver da mesma forma que seus vizi-
nhos.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Estima-se que o Paraguai tenha perdido até 69% de sua população, a maioria por doenças, fome e
cansaço físico, dos quais 90% eram homens, e também mantinha uma alta dívida de guerra com os
países Aliados que não foi totalmente paga e acabou sendo perdoada em 1943 pelo presidente brasi-
leiro Getúlio Vargas.

Um novo governo pró-Brasil foi instalado em Assunção em 1869, enquanto o Paraguai permaneceu
ocupado pelas forças brasileiras até 1876, quando a Argentina reconheceu formalmente a independên-
cia daquele país, garantindo sua soberania e deixando-o um Estado-tampão entre seus vizinhos maio-
res.

Desde os tempos coloniais, a erva-mate tem sido uma cultura comercial importante para o Paraguai.
Até a guerra, gerava receitas significativas para o país. O conflito causou uma queda acentuada na
colheita de erva-mate no Paraguai, supostamente em até 95% entre 1865 e 1867. Soldados de todos
os lados usavam erva-mate para diminuir a dor de fome e aliviar a ansiedade de combate.

Grande parte dos 156.415 quilômetros quadrados perdidos pelo Paraguai para a Argentina e o Brasil
era rico em erva-mate, então, no final do século XIX, o Brasil se tornou o maior produtor dessa cultura
agrícola. Empresários estrangeiros entraram no mercado paraguaio e assumiram o controle do restante
da produção e indústria de erva-mate.

Brasil

Preparativos para a celebração da vitória do Brasil na guerra, 1870

A guerra ajudou o Império Brasileiro a atingir seu auge de influência política e militar, tornando-se
a Grande Potência da América do Sul e também ajudou a acabar com a escravidão no Brasil, transfe-
rindo os militares para um papel fundamental na esfera pública.

No entanto, o conflito causou um aumento ruinoso da dívida pública, que levou décadas para ser paga,
limitando severamente o crescimento do país. A dívida de guerra, ao lado de uma longa crise social
após o conflito são tidas como fatores cruciais para a queda do Império e a proclamação da Primeira
República Brasileira.

Durante a guerra, o exército brasileiro assumiu o controle total do território paraguaio e ocupou o país
por seis anos a partir de 1870. Em parte, isso impedia a anexação de ainda mais território pela Argen-
tina, que desejava apoderar-se de toda a região do Chaco. Durante esse período, Brasil e Argentina
tiveram fortes tensões, com a ameaça de um conflito armado entre eles.

Durante o saque de Assunção, soldados brasileiros levaram troféus de guerra. Entre os despojos leva-
dos estava uma arma de grande calibre chamada Cristiano, cujo nome foi dado por ter sido lançada a
partir de sinos de igreja de Assunção derretidos para a guerra.

No Brasil, a guerra expôs a fragilidade do Império e dissociou a monarquia do exército. O Exército


Brasileiro tornou-se uma nova e influente força na vida nacional. Desenvolveu-se como uma forte ins-
tituição nacional que, com a guerra, ganhou tradição e coesão interna. O Exército teria um papel signi-
ficativo no desenvolvimento posterior da história do país.

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A GUERRA DO PARAGUAI

A depressão econômica e o fortalecimento do exército tiveram um papel importante na deposição do


imperador Pedro II e na proclamação republicana em 1889. O marechal Deodoro da Fonseca tornou-
se o primeiro presidente brasileiro.

Herói da Guerra do Paraguai, pintura de Adrien Henri Vital van Emelen.

Como em outros países, "o recrutamento de escravos durante a guerra nas Américas raramente impli-
cava em uma rejeição completa da escravidão e geralmente reconhecia os direitos dos senhores sobre
suas propriedades". O Brasil indenizou proprietários que libertaram escravos para fins de luta na guerra,
com a condição de que os libertos se alistassem imediatamente.

Também capturava os escravos dos proprietários quando precisavam de mão de obra e pagava uma
compensação. Em áreas próximas ao conflito, os escravos aproveitaram as condições do tempo de
guerra para escapar e alguns escravos fugitivos se ofereceram para o exército. Juntos, esses efeitos
minaram a instituição da escravidão.

Mas os militares também defendiam os direitos de propriedade dos donos de escravos, uma vez que
devolveram pelo menos 36 escravos fugitivos aos proprietários para que pudessem cumprir sua exi-
gência de prova legal. Significativamente, a escravidão não terminou oficialmente até a década de
1880.

O Brasil gastou cerca de 614 mil réis (a moeda brasileira na época), que foram obtidos nas seguintes
fontes:

réis, milhares fonte


49 Empréstimos estrangeiros
27 Empréstimos domésticos
102 Emissão de papel
171 Emissão de título
265 Impostos
Devido à guerra, o Brasil teve um déficit entre 1870 e 1880, que finalmente foi pago. Na época, os
empréstimos externos não eram fontes significativas de recursos.

Argentina

Após a guerra, a Argentina enfrentou muitas revoltas federalistas contra o governo nacional. Economi-
camente, ela se beneficiou de ter vendido suprimentos para o Exército Brasileiro, mas a guerra em
geral diminuiu o tesouro nacional. A ação nacional contribuiu para a consolidação do governo centrali-
zado após o fim das revoluções e para o aumento da influência da liderança do Exército.

Argumentou-se que o conflito desempenhou um papel fundamental na consolidação da Argentina como


um Estado-nação. Esse país se tornou um dos mais ricos do mundo, no início do século XX. Foi a
última vez que Brasil e Argentina assumiram abertamente um papel tão intervencionista na política
interna do Uruguai.

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A GUERRA DO PARAGUAI

Uruguai

O Uruguai sofreu efeitos menores, embora quase cinco mil soldados tenham morrido. Como conse-
quência da guerra, os colorados ganharam o controle político do Uruguai e, apesar das rebeliões, man-
tiveram-se no poder até 1958.

Interpretações modernas da guerra

A interpretação das causas da guerra e suas consequências têm sido um tema polêmico na história
dos países participantes, especialmente no Paraguai. Lá, foi considerada uma luta destemida pelos
direitos de uma nação menor contra a agressão de vizinhos mais poderosos ou uma tentativa tola de
lutar em uma guerra invencível que quase destruiu a nação.

A Grande Enciclopédia Soviética, considerada a fonte enciclopédica oficial da URSS, apresentou uma
breve visão sobre a Guerra do Paraguai, em grande parte favorável aos paraguaios, alegando que o
conflito foi uma "guerra de agressão imperialista" planejado por proprietários de escravos e burgueses
capitalistas, travados por Brasil, Argentina e Uruguai sob instigação de Reino Unido, França e Estados
Unidos.

A mesma enciclopédia apresenta Francisco Solano López como um estadista que se tornou um grande
líder e organizador militar, que morreu heroicamente na batalha.

Em dezembro de 1975, depois que os presidentes Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner assinaram um
tratado de amizade e cooperação em Assunção, o governo brasileiro devolveu alguns de seus despojos
de guerra ao Paraguai, mas manteve outros. Em abril de 2013, o governo paraguaio renovou as de-
mandas para a devolução do canhão "cristão". O Brasil o manteve exposto na antiga guarnição militar,
hoje Museu de História Nacional, e diz que faz parte da sua história também.

Teorias sobre a influência britânica

John Russell, 1.º Conde Russell

Uma crença popular no Paraguai e no revisionismo argentino desde 1960, culpa a influência do Império
Britânico (embora o consenso acadêmico mostre pouca ou nenhuma evidência para esta teoria). No
Brasil, alguns acreditam que o Reino Unido financiou os Aliados contra o Paraguai e que o imperialismo
britânico foi o catalisador da guerra.

O consenso acadêmico é que nenhuma evidência apoia esta tese. De 1863 a 1865, o Brasil e o Reino
Unido tiveram uma longa crise diplomática e, cinco meses após o início da guerra, cortaram relações.

Em 1864, um diplomata britânico enviou uma carta a Solano López pedindo-lhe que evitasse as hosti-
lidades na região. Não há evidências de que os britânicos forçaram os Aliados a atacar o Paraguai.

Alguns historiadores de esquerda das décadas de 1960 e 1970 (mais notavelmente Eric Hobsbawn em
sua obra Era do Capital) afirmam que a Guerra do Paraguai foi causada pela influência pseudo-colonial

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A GUERRA DO PARAGUAI

dos britânicos, que precisava de uma nova fonte de algodão durante a Guerra Civil Americana (já que
os estados do Sul dos Estados Unidos estavam economicamente bloqueados e eram seu principal for-
necedor de algodão).

Historiadores de direita e mesmo de extrema-direita, especialmente da Argentina e do Paraguai, com-


partilham a opinião de que o Império Britânico teve muito a ver com a guerra.

Um documento que supostamente apoia essa afirmação é uma carta de Edward Thornton (Ministro da
Grã-Bretanha na Bacia do Prata) ao primeiro-ministro Lord John Russell, que diz:

O povo ignorante e bárbaro do Paraguai acredita que está sob a proteção do mais ilustre dos governos
(...) e somente com uma intervenção estrangeira, ou uma guerra, eles serão livrados de seu erro ...

Charles Washburn, que foi Ministro dos Estados Unidos para o Paraguai e Argentina, também afirma
que Thornton representou o Paraguai, meses antes da eclosão do conflito, como:

... Pior que Abissínia, e López (é) pior que Rei Tewodros II. A extinção (do Paraguai) como nação será
benéfica, para todo o mundo…

No entanto, foi a avaliação de E. N. Tate que

Seja qual for sua antipatia pelo Paraguai, Thornton parece não ter desejado que suas querelas com a
Argentina e o Brasil, que se agravavam rapidamente na época de sua visita a Assunção, se transfor-
massem em guerra. Sua influência em Buenos Aires parece ter sido usada consistentemente durante
os próximos meses no interesse da paz.

Outros historiadores contestam essa afirmação de influência britânica, apontando que não há nenhuma
evidência documental para isso. Eles observam que, embora a economia e os interesses comerciais
britânicos tenham se beneficiado com a guerra, o governo do Reino Unido se opôs a ela desde o início.
Acreditava que a guerra prejudicava o comércio internacional e desaprovava as cláusulas secretas
do Tratado da Tríplice Aliança. A Grã-Bretanha já estava aumentando as importações de algodão egíp-
cio e não precisava de produtos paraguaios.

William Doria (o Encarregado de Negócios do Reino Unido no Paraguai que atuou brevemente em
nome de Thornton) juntou-se aos diplomatas franceses e italianos na condenação do envolvimento do
presidente da Argentina, Bartolomé Mitre no Uruguai. Mas quando Thornton voltou ao trabalho em de-
zembro de 1863, ele deu todo o seu apoio a Mitre.

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BRASIL REPÚBLICA

Brasil República

Movimento Sociais da Primeira República

Proclamação Da República

Durante a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o Brasil vivenciou um dos eventos


mais fundamentais de sua História. O movimento liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca destituiu
do poder o último imperador do país, inaugurando um novo sistema de governo, a República. No en-
tanto, a despeito de sua relevância histórica, este acontecimento não alterou as estruturas socioeco-
nômicas brasileiras: as desigualdades continuavam profundas, a economia frágil e arcaica e a cidada-
nia não era experimentada em sua amplitude pela grande maioria da população.

Frente a este quadro de permanência de misérias e insatisfações, diversos setores da sociedade bra-
sileira vieram a se mobilizar, trazendo à tona todo o inconformismo que então se fazia presente. Neste
período, campos e cidades foram, então, tomados por inúmeras revoltas populares, demonstrando
como os parâmetros jurídicos que limitavam a participação política à época não impediram, na prática,
a atuação dos mais distintos grupos sociais.

Canudos, Contestado E Cangaço

Problema que ainda hoje nos aflige, a concentração de terras se apresentava como o principal ingredi-
ente motivador das rebeliões que ocorreram nos campos brasileiros na passagem do século XIX para
o XX. A exploração da mão de obra camponesa e as dificuldades de acesso à propriedade rural podem
ser encontrados, assim, nas origens da “Revolta de Canudos”, da “Guerra do Contestado” e do movi-
mento do “Cangaço”.

Ocorridos em locais distintos, a formação do arraial de Canudos (Bahia) e a Revolta do Contestado


(região fronteiriça entre Paraná e Santa Catarina) fizeram-se a partir da luta dos mesmos atores sociais,
ou seja, camponeses explorados em decorrência da expansão latifundiária. Do mesmo modo, possu-
íam a liderança de personagens entendidos por seus seguidores como verdadeiros “messias”. Antonio
Conselheiro e José Maria representavam, portanto, um comando que era ao mesmo tempo político e
religioso.

Os destinos dos dois movimentos foram igualmente semelhantes, com seus integrantes sendo feroz-
mente combatidos pelas tropas federais. E este foi o mesmo tratamento dado aos “cangaceiros”. Inter-
pretados pela historiografia ora como “heróis” que roubavam dos ricos para dar aos pobres, ora como
bandidos que corrompiam a ordem estabelecida, estes indivíduos se utilizavam de práticas não legais
como forma de resistência à miséria que os afligia. O enfrentamento a tais movimentos correspondia,
deste modo, tanto aos interesses das oligarquias latifundiárias, quanto aos de um governo que ainda
almejava se consolidar em âmbito nacional e que, portanto, não poderia admitir tamanhas convulsões
sociais.

Revolta Da Armada

Revolta da Armada (Foto: Reprodução/Colégio Qi)

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BRASIL REPÚBLICA

Embora tivesse uma população majoritariamente camponesa, a sociedade brasileira não se limitou ao
espaço rural para demonstrar suas insatisfações com a recém-proclamada república. Contrários ao
centralismo político que marcou as gestões de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, rebeldes se
levantaram no Rio de Janeiro e em cidades do sul através das “Revoltas da Armada”. Organizadas por
setores da marinha, foram severamente reprimidas pelo governo, fato que valeu a Floriano a alcunha
de “Marechal de Ferro”.

Revolta da Chibata

Em 1910, setores da marinha vieram novamente a se rebelar contra o governo. No entanto, dessa vez
a revolta se fez a partir de marinheiros inconformados com as punições físicas que sofriam através da
ação de seus superiores. A questão racial contribuiu igualmente à eclosão do movimento, já que a
grande maioria dos castigados era constituída por marinheiros negros, muitos dos quais ex-escravos.
Sob a liderança de João Cândido, o “Almirante Negro”, os revoltosos se confrontaram contra os milita-
res fiéis ao governo, sendo derrotados após sangrentos embates.

Revolta Da Vacina

A cidade do Rio de Janeiro apresentava grande centralidade nos movimentos sociais ocorridos durante
a República Oligárquica. Capital federal, foi palco de inúmeros levantes contra o governo, inclusive da
polêmica “Revolta da Vacina”. Tendo ocorrido durante a gestão do prefeito Pereira Passos, o movi-
mento se opôs à obrigatoriedade de vacinação contra a varíola imposta pelo poder público. O que se
contestava, na verdade, não era apenas o autoritarismo do projeto, mas as reais intenções do governo
em estabelecer tal medida.

A insatisfação da população carioca com a administração do prefeito “Bota Abaixo” também se relaci-
onava às reformas urbanísticas então desenvolvidas na capital. Marco fundamental do projeto “Paris
Tropical”, a avenida Central foi aberta após a demolição de boa parte do morro do Castelo, o que
acarretou a saída compulsória de diversas famílias que ali moravam. Muitas delas passaram a residir,
então, em cortiços e nas primeiras favelas formadas na cidade.

Avenida Central, no Rio de Janeiro

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Tenentismo

Ao longo da década de 1920 as críticas ao governo federal ficaram ainda mais vorazes. Diversas re-
voltas colocavam em xeque a legitimidade das oligarquias que então estavam no poder. Opunham-se,
deste modo, às estruturas arcaicas que perduravam no país, como a prática do voto de cabresto, as
elevadas taxas de analfabetismo e a debilidade de nossas incipientes indústrias.

Nesse contexto, e lutando contra tais mazelas, é que serão organizadas a Semana de Arte Moderna
(São Paulo) e o movimento “tenentista”. A “SAM”, além de sua grande importância em termos intelec-
tuais e artísticos, foi vanguardista ao criticar claramente os desmandos das elites políticas brasileiras.
O “Tenentismo”, idealizado por tenentes e outros jovens militares, uniu diversos setores das forças
armadas contra esses mesmos poderosos. A “Revolta dos Dezoito do Forte de Copacabana” e a “Co-
luna Prestes” são dois exemplos de eventos mobilizados a partir das concepções tenentistas.

Roberto Simonsen e a Modernização do Brasil na Primeira República

O “moderno” e a “modernidade” são conceitos amplos, utilizados em diversos contextos, nem sempre
com o mesmo sentido. Num sentido histórico-sociológico, o advento da modernidade está associado à
superação de estruturas sociais consideradas tradicionais, ou pré-modernas. Trata-se, de acordo com
Giddens (1990, p. 1-54), da passagem de um mundo rural, em que predomina a economia agrária de
subsistência, para um mundo urbano, no qual a produção industrial assume importância e a economia
passa a ser mediada pela troca e pelo dinheiro. A ideia de modernização que buscamos construir aqui
como eixo de interpretação desse ambiente em que atuou Roberto Simonsen se relaciona, em alguma
medida, com esse sentido geral do advento da modernidade, mas tem especificidades relacionadas
com o contexto em que ocorreu.

Se esse processo de modernização pode ser entendido de forma ampla, como superação do “arca-
ísmo” pré-industrial ou pré-capitalista, Gerschenkron (1966, p. 22) chamou a atenção para o fato de
que tal processo é dependente das condições econômicas e ideológicas específicas a cada contexto
histórico. No caso brasileiro, a modernização teve um caráter de superação de estruturas atrasadas,
sim, mas alguns intérpretes destacaram o caráter limitado e incompleto desse processo, condicionado
pelas estruturas herdadas pelo Brasil, com um passado colonial e inserindo-se no mundo capitalista de
forma periférica. Isso significa dizer que a ideia de modernidade tem um teor ideológico muito forte, de
reprodução de modelos mais avançados, mas nem sempre responde aos desafios que as sociedades
periféricas teriam que enfrentar. Na Primeira República brasileira, quando Roberto Simonsen escreveu
seus primeiros textos, o pensamento político dominante “manifesta-se na crença em um ideal de civili-
zação claramente eurocêntrico, no qual o desenvolvimento econômico aparece como etapas a serem
seguidas e que conduzirão à superação natural das ‘mazelas herdadas do colonialismo e da escravi-
dão’” (Oliveira, 2009, p. 316).

Por isso, como lembra Faoro, especialmente em economias periféricas, os conceitos de modernidade
e modernização não devem ser confundidos: a modernidade é o projeto coletivo, que compromete toda
a sociedade, expandindo e revitalizando o papel de todas as classes, enquanto a modernização possui
um toque voluntário, sendo construída por um grupo condutor, “que, privilegiando-se, privilegia os gru-
pos dominantes” (Faoro, 1992, p. 8).

Em suma, esse processo de modernização periférica não somente teria dificuldades para reproduzir
de maneira fiel o modelo de mundo moderno importado, como também, e ainda mais trágico para as
consequências dessa tentativa de mimetizar o padrão estrangeiro, recolocaria as contradições econô-
micas e sociais internas de forma mais violenta.

Na pena de Fernandes, “a economia brasileira ganhara, em poucas palavras, certos substratos mate-
riais ou morais e os dinamismos econômicos básicos para assimilar os modelos de organização eco-
nômica predominantes nas economias centrais” (Fernandes, 2005, p. 86). Mas, como continua o autor,
esse não era um processo natural de reprodução dos padrões estrangeiros, afinal dada sua própria
condição de economia periférica e dependente, não iria assimilar tais modelos reproduzindo, pura e
simplesmente, o desenvolvimento prévio daquelas economias. Ao contrário, os referidos modelos ten-
deriam a ser saturados, historicamente, de acordo com as possibilidades socioeconômicas e culturais
de expansão do mercado interno. (Fernandes, 2005, p. 86)

Esse fenômeno é o que Furtado (1972) define como as promessas não realizadas pela modernização,
que, por não ser modernidade, é manifestação oposta ao desenvolvimento.

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Afinal, mesmo que promovendo transformações econômicas, garantindo uma profunda imersão no pa-
drão de consumo “moderno”, a modernização não abalaria as estruturas socioeconômicas arcaicas,
sendo apenas a assimilação do processo tecnológico por meio dos padrões de consumo e não do
processo produtivo. Isso significa que, ao invés do desenvolvimento, como expressão da difusão dos
benefícios do excedente para toda a população, as elites das sociedades periféricas promoviam, com
a incorporação dos novos padrões de consumo, a concentração da renda e recolocavam a situação de
dependência em nova fase. Em outras palavras, em oposição ao desenvolvimento característico dos
países centrais, formava-se, de acordo com Furtado (1992, p. 41-42, 45), um novo caminho para inte-
gração na economia capitalista mundial: o subdesenvolvimento. Fruto do desequilíbrio na assimilação
de novas tecnologias produzidas no centro do capitalismo industrial, o subdesenvolvimento proporcio-
nava condições de ampliar a produtividade das economias periféricas, mas, ao incidir acima de tudo
no estilo de vida, nas inovações voltadas ao consumo, esse processo de modernização pouco contri-
buiu para reduzir a heterogeneidade social.

Oliveira, ao trabalhar com o mercado de consumo de luxo em São Paulo da belle époque, retoma essa
faceta da modernização presente em Furtado para reforçar as limitações presentes nesse processo de
assimilação dos padrões estrangeiros de consumo e estilo de vida: Primeiramente porque, aplicado a
uma estrutura eivada de contradições surgidas da condição de ex-colônia, o processo de modernização
engendra novas contradições que àquelas se sobrepõem, colocando novos dilemas a serem resolvidos
pela modernidade em constituição. O célere processo modernizador recria exclusões sociais e descon-
tinuidades. Em segundo lugar, quando aplicada a outros campos que não o econômico, a moderniza-
ção invade o domínio da modernidade, precipitando soluções não condizentes com os aspectos histó-
ricos que são constitutivos da última. O resultado é, assim, a formação de uma modernidade específica
que, no jogo com o processo modernizador, nem sempre consegue exercer a inclusão social. (Oliveira,
2009, p. 315)

O projeto modernizador, todavia, é tema controverso no sentido dos possíveis benefícios que poderia
acarretar ao país receptor. Entre Furtado e Fernandes, a modernização não deixa de recolocar a su-
bordinação do país à divisão econômica internacional, mas em certo sentido, enquanto Furtado enten-
dia que o caminho de uma modernização dos padrões de consumo ampliava a desigualdade e limitava
as condições de criar a nação – no sentido de autodeterminação e de um projeto voltado a toda popu-
lação –, Fernandes parece considerar que as etapas de modernização cumprem com saltos na traje-
tória de concretização da Revolução burguesa no Brasil.

Fernandes, por exemplo, considera que o período da Primeira República, que podemos considerar uma
fase de intensa modernização, foi favorável à disseminação da ordem social competitiva e de maior
aproximação com a estrutura econômica capitalista: ao menos um “capitalismo como estilo de vida”
(Fernandes, 2005, p. 175). No extremo do argumento estariam Cardoso e Faletto (1970), que viam o
caminho do desenvolvimento estreitamente ligado à dependência, defendendo que as condições de
controle do capital e da tecnologia são deficientes, dentro da condição particular dos países latino-
americanos, limitados por seu passado colonial e atrasados na empreitada de concluir sua industriali-
zação. Isso quer dizer, para os autores, que a oposição entre desenvolvimento e modernização, con-
forme apresentada por Furtado (1974, 1992), não era uma oposição realista.

Como podemos compreender, então, o ambiente em que Simonsen iniciaria sua atuação no debate
político e na elaboração de seus projetos empresariais? A passagem do século XIX para o século XX,
podemos dizer, é o momento em que o processo de modernização teve seu desencadeamento histórico
no Brasil. A modernização como mimese da cultura, do ideal de progresso e do padrão de consumo
europeu, se estendeu para as partes mais variadas do território nacional, cada região buscando repro-
duzir aquilo que lhe cabia e era possível por conta de sua realidade material e dos interesses de seus
grupos dominantes locais. O cenário para esse desencadeamento se mostrava favorável no período,
tanto internacionalmente como nacionalmente, e isso autorizava que as elites locais encontrassem
seus caminhos para garantir a modernização, personificada nas transformações do mundo urbano.

No plano internacional, a disseminação da Segunda Revolução Industrial na Europa Ocidental e nos


Estados Unidos impunha uma crescente competição entre os países industrializados, alcançando regi-
ões como a América Latina para atender seus mercados com inovações e produtos. No Brasil essa
expansão do capital estrangeiro para o mercado nacional seria observada em ao menos duas grandes
fases: uma primeira fase, de investimentos hegemonicamente ingleses, com abertura de estradas de
ferro e bancos entre as décadas de 1870 e 1890; e uma segunda fase, com investimentos voltados aos

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serviços públicos e com uma diversificação da origem do capital, concentrados nos anos iniciais do
século XX.

No que diz respeito às transformações ocorridas internamente, o país acabava de deixar seu passado
escravista imperial com a Abolição e a Proclamação da República entre 1888 e 1889. Se politicamente,
com a nova Constituição, eram dados ares de modernidade ao se estabelecer uma República federa-
tiva e liberal, economicamente o país vinha desfrutando de nova integração com o mercado internaci-
onal, com crescentes exportações de café que, ao mesmo tempo, permitiam que tanto o capital inter-
nacional como os transbordamentos do comércio cafeeiro criassem uma nova gama de negócios e
infraestrutura, como bancos, ferrovias e empresas de serviços públicos. É evidente que essa passagem
para a “modernidade” não se dava sem conflitos:

Da forma como estava disposto, o Estado – modernizado institucionalmente, mas fundamentado em


mecanismos arcaicos de monopolização de poder – contribuía cada vez mais para o agravamento das
clivagens e tensões regionais. De uma sociedade hierarquizada por pirâmides de parentela, de estru-
turas aristocráticas, para uma organizada segundo prestígios econômico-ocupacionais. (Oliveira, 2009,
p. 325)

Podemos dizer que a primeira década republicana foi o período de depuração das elites que emergiam
no novo sistema político-social, cujo projeto somente seria concretizado no início do século XX.

A nova era da “modernidade” brasileira aparecia já com o ambiente em que as elites locais tentavam
impor, por meio das posturas municipais, formas de estimular investimentos no intuito de fomentar
melhorias nos serviços públicos urbanos. É preciso destacar, conforme Saes (2010, 2013), que com a
promulgação da Constituição de 1891, de caráter federativo, as autoridades municipais detinham pleno
poder para regular e colocar em prática os projetos de reformas urbanas. No Rio de Janeiro, por exem-
plo, com a nova Constituição em vigor foi elaborada a Lei Orgânica do Distrito Federal n.

85, de 20 de setembro de 1892, em que se determinava a renovação de todos os contratos de serviços


públicos e exigia a necessidade de modernizá-los. Em Salvador, na Bahia, a Lei n. 330, de 4 de julho
de 1898, determinava, mais especificamente, a eletrificação dos bondes. Essa foi a mesma atitude
tomada pelo prefeito da cidade de São Paulo, Antônio da Silva Prado, que, por meio da unificação dos
contratos de transporte urbanos de 11 de maio de 1899, exigiu a eletrificação dos serviços de bondes
e iluminação. Em São Paulo, ainda nos primeiros anos do século XX, outra lei municipal determinaria
que os hotéis do centro da cidade deveriam introduzir elevadores em seus prédios, o que, na oportuni-
dade, se explica menos como uma facilidade de locomoção – afinal os elevadores elétricos eram uma
novidade em todo o mundo –, mas muito mais como uma expressão do avanço da capital do café.

Em comum, as determinações buscavam apagar a imagem do atraso dessas cidades, tornar o espaço
urbano muito mais do que ilhas de exportação, como foram as cidades coloniais. Era hora de superar
a oposição esplendor rural versus miséria urbana, na dicotomia de Holanda (1991, p. 91), ou o perfil de
centros urbanos como pequenos, pobres e sujos, nos dizeres de Prado Jr. (1969, p. 350). As cidades,
com a expansão da rede ferroviária, tornaram-se as moradas das elites nacionais não somente das
elites comerciais, como também agrárias. Com isso a preocupação com o mundo urbano cresceu e
acelerou-se a promoção dos melhoramentos urbanos, tais como a construção de hotéis, jardins, pas-
seios públicos, teatros e cafés. Como destaca Costa, “melhorou o sistema de calçamento, iluminação
e abastecimento de água. Aperfeiçoaram-se os transportes urbanos. O comércio urbano ganhou novas
dimensões, bem como o artesanato e a manufatura” (Costa, 1999, p. 256).

Ao substituir o transporte público movido à tração animal e a iluminação pública a gás pela energia
elétrica, tanto para a movimentação dos bondes como para a iluminação elétrica, as elites indicavam o
novo padrão de sociabilização interno e de se apresentar no exterior. Com isso, a modernização, ao
reproduzir determinado padrão de civilização, serve para posicionar e legitimar as elites periféricas em
relação às elites do centro do sistema capitalista. Portanto, os excessos que caracterizam o consumo
de elite e a própria falsificação encontram sua justificativa não somente na luta de classes internas,
mas também no posicionamento das elites nacionais em relação às elites europeias. (Oliveira, 2009,
p. 325)

Por isso é possível afirmar que a transição para o século XX foi o momento em que a urbanização se
tornou talvez o principal projeto político da elite brasileira5 . Antes dele, Rui Barbosa tinha se empe-
nhado em construir outro trajeto para a economia brasileira, com o incentivo à diversificação da

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produção e o desenvolvimento do setor industrial, mas que fracassou com a crise do encilhamento. Os
acordos financeiros entre o recém-eleito presidente Francisco de Campos Sales e os credores estran-
geiros do Brasil, em 1898, por outro lado, eram arranjos que, conforme Backes (2006, p. 171), garan-
tiam o saneamento financeiro e o reerguimento do crédito no mercado internacional, abrindo um projeto
de modernização do país. Modernização no sentido de uma rápida absorção dos padrões de consumo
internacionais, permitindo que nossa elite nacional desfrutasse dos mais modernos aparelhos urbanos
do momento, importando-os. Tais resultados foram vistos especialmente nas duas primeiras décadas
do século XX, quando o cenário econômico austero nacional e de abundância de capitais no exterior
auxiliaria os administradores municipais na realização dos projetos de modernização das cidades.

A modernização, é verdade, tornou-se, de acordo com Saes (2010), um projeto bastante amplo, que
atingia os países da América Latina concomitantemente quase que por completo. Entretanto, como
observa Romero (2009), o impacto desses efeitos foi desigual pelas cidades da região: capitais, cidades
portuárias ou sedes de atividades econômicas eram aquelas que mais claramente apresentariam suas
transformações urbanas. O Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires, a Cidade do México e Santiago
do Chile, centros comerciais e políticos, incorporaram mais rapidamente as ondas de transformação.
O Brasil, por sua vez, aproveitou-se das reformas econômicas promovidas em fins do século XIX,
quando, com o saneamento monetário e a renegociação das dívidas estrangeiras, entraria no circuito
dos investimentos dos países industrializados: era mais seguro investir no Brasil, e era mais barato
para o Brasil assimilar as inovações do mundo urbano. Beneficiava-se o país desse cenário internaci-
onal de abundância de recursos e da valorização da moeda nacional – culminando com o estabeleci-
mento do padrão- -ouro em 1906 –, que barateava o custo dos projetos de urbanização.

O acelerado processo de urbanização em que o Brasil se engajou – como um projeto político de trans-
formação econômica e social liderada pela nova e emergente elite urbana – valeria profundas distor-
ções na organização da sociedade brasileira. Se, por um lado, o acelerado processo de modernização
auxiliou na incorporação de fatores de produção e, inclusive, na constituição de um mercado de trabalho
assalariado no país, de outro lado, ao ser condicionado por elementos estranhos à realidade nacional,
esse processo de transformação não era liderado pelos grupos nacionais, assim como, não ocorrendo
de maneira minimamente homogênea, ampliava as disparidades sociais e regionais.

É nesse sentido que a ideia de modernização serve à compreensão da faceta da produção intelectual
de Simonsen com que trabalhamos neste artigo. O autor de História econômica do Brasil, ainda como
diretor da Companhia Construtora de Santos, como membro da Missão brasileira enviada à Inglaterra
ou como personagem nos debates sobre o asfaltamento da cidade de São Paulo, estava envolto no
ambiente de se pensar a modernização brasileira. Do período em que Simonsen era aluno da Escola
Politécnica até sua atuação nos anos 1920, o país passava por transformações em suas atividades
econômicas, bem como na organização de seu espaço urbano: oportunidades econômicas eram cria-
das com a urbanização das cidades, o crescimento do mercado interno permitia a formação das pri-
meiras indústrias no país, especialmente ligadas ao setor de bens de consumo não duráveis, e a política
econômica era regida no sentido de garantir as rendas de exportação de café e de manter um câmbio
estável e valorizado, no intuito de fazer prevalecerem as condições favoráveis para a importação de
bens e de capitais provenientes das economias centrais.

Dentro desse projeto de modernização, associado aos interesses de um capital que é mais mercantil
do que propriamente ligado à produção agrícola ou industrial, a atuação de Roberto Simonsen, ao longo
da República Velha, não pode ser associada à defesa de um projeto industrialista nem a um naciona-
lismo econômico sólido, mesmo que Simonsen fosse um ator importante no processo de construção
da consciência industrialista, já nesse momento. Isso ficará claro a partir da análise de seus textos
anteriores aos meados da década de 1920. Tanto a formação acadêmica de Simonsen quanto várias
atividades que exerceu no período eram relacionadas com esse processo de modernização.

O Autoritarismo Político Brasileiro

O pensamento político brasileiro já proporcionou muitas reflexões interessantes sobre o país. Entre os
muitos temas debatidos ao longo da história nacional, podemos destacar interpretações que se debru-
çaram sobre as dificuldades para o enraizamento da democracia no Brasil. Durante o Império e a Pri-
meira República, a preocupação com a construção da ordem política e os questionamentos sobre a
formação do povo brasileiro dominaram grande parte das reflexões. Após a Revolução de 1930, a
queda da Primeira República deu lugar à modernização autoritária liderada por Getúlio Vargas. O Es-
tado nacional se consolidou como uma das grandes obras do varguismo, mas, por outro lado, a questão

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BRASIL REPÚBLICA

democrática passou a ser vista com bastante pessimismo por diferentes setores da intelectualidade
brasileira. Havia a sensação de que o autoritarismo encontrava-se enraizado no país. Algo que pode-
mos observar em três diferentes momentos da reflexão do pensamento político e social brasileiro sobre
a questão democrática: 1) a análise feita por Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil", a partir
da sua segunda edição em 1948; 2) o ensaio "Os donos do poder", publicado por Raymundo Faoro em
1958; 3) e o livro "A revolução burguesa no Brasil", publicado pelo sociólogo Florestan Fernandes em
1975.

Na década de 1930, a publicação de três obras impactou grandemente o debate intelectual brasileiro.
No ano de 1933, Gilberto Freyre publicou "Casa-Grande e Senzala", uma obra na qual o pensador
pernambucano colocou a miscigenação como um aspecto positivo da formação do povo brasileiro. Em
1934, Caio Prado Jr. lançou a "Evolução Política do Brasil", um livro que utilizou o materialismo histórico
para compreender a formação do Brasil em um momento que os estudos sobre Marx ainda eram inci-
pientes no país. Dois anos depois, Sérgio Buarque publicou "Raízes do Brasil".

Para a finalidade desta coluna, a primeira edição de "Raízes do Brasil" não é a que mais interessa para
uma compreensão dos desafios da questão democrática no país. Em 1936, ano da primeira edição,
Sérgio Buarque ainda apresentava um olhar conservador-autoritário que seguia uma tendência política
muito forte na época. Nesse sentido, a questão democrática ainda não estava colocada como ponto
central de suas reflexões. A derrota do nazi-fascismo, o fim do Estado Novo e a redemocratização em
1945 modificaram o ângulo político de análise do autor. Após se afastar do autoritarismo, as edições
posteriores publicadas por Sérgio Buarque passaram a destacar a passionalidade do povo brasileiro
como um dos grandes entraves à instauração da racionalidade jurídica do Estado de Direito. Foi nesse
momento que Sérgio Buarque passou a afirmar que a democracia no Brasil sempre tinha sido um mal-
entendido. Não obstante as diversas críticas ao projeto intelectual de "Raízes do Brasil", que no caso
buscava compreender o caráter do povo brasileiro, presente, por exemplo, na tese do homem cordial;
o que interessa aqui é a percepção de Sérgio Buarque sobre como as elites estabeleceram o reino da
vontade dentro da coisa pública.

Diferentemente dos ventos autoritários que sopravam no ano da primeira edição de "Raízes do Brasil",
Raymundo Faoro publicou "Os donos do poder" em 1958, ano em que Juscelino Kubitschek era presi-
dente da República e o país era tomado por uma forte onda de otimismo político. Industrialização,
desenvolvimento econômico e um presidente bossa-nova prometiam levar o país a um rumo democrá-
tico. Na verdade as aparências enganavam. A República de 1946 sofreu ameaças autoritárias durante
toda a sua existência. Em 1947, o PCB teve seu registro cancelado pelo Tribunal Superior Eleitoral e
seus parlamentares tiveram seus mandatos extintos. Em 1954, a ameaça de um golpe civil-militar mo-
tivou o suicídio de Getúlio Vargas. Antes da posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956, um
movimento civil-militar tentou impedir que o presidente eleito assumisse o governo. A tentativa de golpe
naufragou graças à intervenção do marechal Henrique Teixeira Lott. Ainda durante o governo de Ku-
bitschek ocorreram dois pequenos levantes militares, um em Jacareacanga e outro em Aragarças.
Como é possível observar, a tensão política foi grande durante boa parte da década de 1950, mas o
pior ainda estava por vir em 1964.

O ensaio escrito por Faoro em 1958 não acompanhou o otimismo dos anos do governo Kubitschek.
Por meio de uma longa narrativa, que começa na crise dinástica instaurada entre os lusitanos no final
do século 14 e termina na revolução de 1930 no Brasil, Faoro apresentou a viagem redonda do patri-
monialismo ao estamento. A partir de uma posição liberal, no sentido político, Faoro sustentou que o
grande problema nacional se concentrava no caráter autoritário do Estado brasileiro, dominado por
uma elite que instrumentaliza o poder público para o seu próprio benefício. Apesar de todos os proble-
mas da tese de Faoro, que no caso aponta para uma linearidade nas transformações políticas do país,
o aspecto mais interessante da obra é a sua percepção sobre o enraizamento do autoritarismo no
Brasil. Algo que justifica a maneira pessimista como Faoro encerra "Os donos do poder".

O último dos nossos autores, o sociólogo Florestan Fernandes, também escreveu um ensaio pessimista
sobre as condições políticas do país. Em 1975, ano da publicação do livro "A revolução burguesa no
Brasil", o país encontrava-se sob uma ditadura militar que durou 21 anos. Tempos de perseguição,
tortura, prisão, assassinato e desaparecimentos forçados. No caso particular de Florestan, o autorita-
rismo o atingiu dentro da Universidade de São Paulo. Em 1969, Florestan teve sua carreira interrompida
dentro da USP por meio de sua aposentadoria compulsória. Foi esse ambiente inóspito ao livre pensa-
mento e à reflexão que gerou uma resposta de Florestan ao que se instalara no país a partir de 31 de
março de 1964. Para compreender o sentido político e social da ditadura imposta após a deposição do

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BRASIL REPÚBLICA

presidente João Goulart, Florestan chamou a atenção para o tipo de modernização capitalista que
ocorria no Brasil. Ao contrário do modelo clássico de revolução burguesa que aconteceu na França, e
que, devido ao radicalismo dos acontecimentos políticos do século 18, permitiu uma maior ampliação
da noção de cidadania; no Brasil, a revolução burguesa tomou rumos bem diferentes, de modo a favo-
recer a consolidação de uma ordem social competitiva, própria de uma sociedade capitalista, mas que,
por outro lado, não foi capaz de romper radicalmente com a dominação senhorial. Desse modo, a mo-
dernização capitalista brasileira mantinha em suas estruturas de poder a dominação política autocrá-
tica. Algo que pode ser observado até hoje na maneira como o Estado se relaciona com as massas
populares. Assim, por meio de outra chave de interpretação, Florestan também escancarou a maneira
como o autoritarismo político permanece enraizado no Brasil.

Após a promulgação da Constituição de 1988 e a realização de sete eleições presidenciais sem mani-
festações dos quartéis, a impressão que se tinha era que o país finalmente havia tomado o rumo da
democracia. Engano de todos nós. O autoritarismo político, analisado pelas diferentes chaves de inter-
pretação citadas acima, nos últimos anos deixou o subterrâneo para se manifestar na superfície. Em
tempos de extremismo político, messianismo judicial e grande exploração econômica, vimos que o
liberalismo professado por muitos que se autodenominam liberais não passa de um liberalismo econô-
mico, do tipo que mantém uma relação meramente contingencial com o Estado de Direito, mas que se
levanta de forma enérgica para defender a liberdade da "turma da Faria Lima". É esse caráter autocrá-
tico e estamental que domina as instituições. E para nós, que atuamos no Direito, a fonte da discricio-
nariedade judicial e do messianismo do Ministério Público — fenômenos autoritários analisados há
muito tempo por Lenio Streck — encontra-se no modelo autocrático de dominação política. Algo que
precisamos investigar melhor por meio de um diálogo com os clássicos dos pensamentos político e
social brasileiro.

Democracia no Brasil

A democracia no Brasil é ainda considerado um regime político que não atinge todo o país.

Sua instalação foi interrompida durante vários momentos da história do Brasil independente como o
Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Militar (1964-1984).

Resumo da Democracia no Brasil

Primeira República

No período chamado "Primeira República" ou "República Velha" não podemos afirmar que existia real-
mente democracia no país.

O direito ao voto era restrito aos homens e os eleitores só votavam no candidatos indicados pelos
coronéis de cada região, o chamado "voto de cabresto".

Era Vargas

Quando Getúlio Vargas assume o poder, através da Revolução de 30, a democracia brasileira sofre
um novo golpe, pois há suspensão de eleições e de partidos políticos.

Devido à pressão popular, em 1934 Vargas é obrigado a promulgar uma Constituição, que teria vida
curta: somente três anos. Inicia-se o Estado Novo onde as garantias democráticas são suspensas.

A democracia voltaria somente em 1945 com a deposição de Vargas e a eleição do general Gaspar
Dutra.

Intervalo democrático

Podemos mencionar a República Nova, instaurada em 1946, como a volta da democracia no Brasil,
que se estenderia até 1964.

Novamente, a democracia brasileira é interrompida por um golpe militar e uma ditadura que duraria
vinte anos.

A volta da democracia no Brasil

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BRASIL REPÚBLICA

Depois de 20 anos de Ditadura Militar no Brasil, o país passava por uma crise econômica, social e
política. A fim de acabar com este período foi preciso fazer uma nova Constituição para o Brasil e que
esta garantisse a liberdade de direitos e a igualdade social.

De tal modo, o processo de democratização do país tem início em 1984, com o movimento das “Diretas
Já” que reivindicava a realização de eleições diretas para eleger o presidente do país.

Entretanto, a lei não foi aprovada e o primeiro presidente, após a ditadura militar foi escolhido pelo
Colégio Eleitoral de forma indireta.

Mesmo assim, durante o mandato do presidente Sarney, foi convocada a Assembleia Constituinte que
elaborou a Constituição de 1988, Esta contemplava, dentre outras coisas, a liberdade de voto, de ex-
pressão, e ainda, apresentava um sistema de eleições livres.

Foi então em 1989 que o país pode eleger o presidente através das eleições diretas, quando foi
eleito Fernando Collor de Mello.

Ele sofreu o processo de Impeachment em 1992, uma vez que Collor esteve envolvido em diversos
processos de corrupção e fraudes financeiras. Afastado do cargo, Itamar Franco, seu vice, assume a
presidência do país.

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CONDIÇÃO FEMININA

Condição Feminina

No mundo ocidental, ocorreram significativas modificações nos papéis de gênero a partir do advento
da modernidade. A industrialização crescente, na Europa do século XIII, levou a uma reorganização
econômica e social. Foi então que surgiu a família burguesa, num distanciamento entre os espaços
público e privado – este, restrito ao lar. Data, também desta época, o surgimento de uma nova concep-
ção de infância.

Se, antes, a criança era inserida no meio adulto tão logo adquirisse condições físicas, passou a merecer
atenção específica, inclusive da medicina. E a mulher assumiu a responsabilidade pela educação dos
filhos, inclusive a transmissão de valores, numa função que atendia aos interesses do Estado e da
Igreja.

Pode-se dizer, portanto, que o mundo moderno atribuiu à mulher funções próprias do domínio privado,
como os cuidados da casa e dos filhos, na manutenção de uma estrutura que permitiu aos homens o
envolvimento com assuntos políticos e econômicos, próprios do domínio público.

Mulheres e crianças passaram, ainda, a serem consideradas como frágeis e necessitadas da proteção
masculina, numa divisão de papéis que tornou possível, segundo Rocha-Coutinho (1994), "o domínio
do homem sobre a mulher, disfarçando-o sob a capa de proteção." (p. 152)

No Brasil, até o final do Império, predominou a vida na zona rural. Portanto, os aspectos sociais próprios
da modernidade tornaram-se relevantes a partir do século XIX, quando ocorreram importantes mudan-
ças sociais, incluindo a organização familiar e as novas atribuições femininas. Foi assim, portanto, que
alguns valores e o modo de vida da burguesia européia passaram a compor a sociedade brasileira.

No final do século XIX surgiram algumas publicações femininas que expressavam os embates da época
a respeito do papel feminino. A primeira delas, ‘O Jornal das Senhoras', teve sua primeira edição pu-
blicada em primeiro de janeiro de 1852.

Este jornal questionava o tratamento conferido às mulheres pelos maridos, defendendo que fossem
mais valorizadas – o que, à época, significava um reconhecimento dos aspectos emocionais e espiri-
tuais da mulher, nos papéis de mãe e esposa, o que de fato ocorreria mais tarde.

Na década de 1860, a atividade filantrópica surgiu como uma oportunidade para as mulheres de classe
elevada se afastarem do tédio de uma existência limitada, sobretudo considerando que grande parte
do trabalho doméstico, incluindo os relativos aos filhos, era realizada pelos escravos. Hahner (1981:
46) menciona que também nesta década a defesa dos ideais abolicionistas passou a ser considerada
uma conduta elogiável, e muitas mulheres contribuíram com atividades para esses fins, embora "não
em posições políticas."

A atuação das mulheres no movimento abolicionista era dedicada a levantar fundos e não à participa-
ção nos debates públicos sobre emancipação, refletindo a condição de subordinação feminina em
nossa sociedade.

Com essa finalidade, apresentavam-se em concertos de pianos ou vendiam, por exemplo, flores e do-
ces às portas de igrejas e cemitérios.

A mesma autora diz (1981: 46): "embora essas atividades exigissem resolução e determinação para
suportar o desconforto físico, tal como permanecer na chuva durante todo o dia, também podiam refor-
çar a imagem feminina de nobreza e auto-sacrifício." Eram, porém, os homens os mantenedores das
próprias associações feministas de cunho abolicionista.

Verifica-se, assim, que o primeiro envolvimento das mulheres brasileiras com uma reivindicação por
direitos sociais, não especificamente os seus, reforça seu papel social – secundário, com característi-
cas de dedicação e esforço físico, numa reprodução de seu papel familiar.

Note-se, também, que na atividade político-partidária a atuação das mulheres muitas vezes limita-se,
ainda hoje, a ações que expressam esse mesmo papel secundário, isto é, atuar como "militante", o que
envolve abnegação e esforço físico.

A partir da década de 1870, foram fundados outros jornais feministas.

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CONDIÇÃO FEMININA

Ressaltavam a relevância da educação das mulheres, não apenas em seu benefício, mas principal-
mente voltada para o bem comum. Algumas editoras, como Da. Violante, do jornal ‘O Domingo', defen-
diam educação para as mulheres equivalente à dos homens, para que se tornassem boas esposas e
mães. Já a editora de "O Sexo Feminino", Da. Francisca defendia que a atividade de professora primá-
ria fosse atribuída às mulheres, como extensão das "funções maternais e de nutrição" (Hahner, 1981:
55), além de outras atividades que propunha fossem atribuídas exclusivamente aos homens, por en-
volver força física.

Defendia que as mulheres pudessem se inserir em outras carreiras, por não serem elas inferiores aos
homens, além da "idéia essencial de que a dependência econômica determinava a subjugação feminina
e de que uma educação melhor poderia ajudar a elevar o status [grifo do original] da mulher" (Hahner,
1981: 55). Outra editora, Josefina Azevedo, defendia não só o voto feminino, mas também o divórcio,
quando este representasse a intenção de ambos os cônjuges.

Ainda nessa época, travaram-se muitas discussões sobre a abertura das escolas de nível superior para
mulheres. Para isso contribuíram os jovens brasileiros que foram estudar no exterior e passaram a
defender o acesso das mulheres às Ciências. Somente em 1887 formouse, no Brasil, a primeira médica.
Outras duas brasileiras já haviam se formado em medicina nos Estados Unidos, na década anterior.

Nota-se, ao longo da leitura de Hahner, que diferentes publicações expressavam as diversas concep-
ções de um novo papel feminino na sociedade brasileira, entre o final do século XIX e início do século
XX, defendendo a emancipação feminina em diferentes aspectos e intensidades. Este período foi mar-
cado por muitas transformações sociais que, naturalmente, trouxeram questionamentos sobre um en-
volvimento adequado da mulher na nova estrutura social.

Observe-se, por exemplo, as discussões ocorridas durante a elaboração da primeira constituição repu-
blicana brasileira, em 1891. A assembléia constituinte debateu e vetou o sufrágio feminino. Os que
argumentavam contrariamente se referiam, por exemplo, à inferioridade feminina, tida por alguns como
"natural", o que, evidentemente, não era partilhado por todos os deputados. O Deputado Barbosa Lima
defendia que "a participação da mulher na vida pública abalaria os alicerces da família." (Machado
Neto, 2000: 6) Note-se que este argumento é utilizado ainda hoje, por alguns que não admitem a idéia
da gestão pública exercida por mulheres.

Hahner (1981) aponta o fundamento positivista dos argumentos que consideravam a mulher como "a
parte moral da sociedade, a base da família, que por sua vez era a pedra fundamental da nação." (p.
85) E para o fato de que "enquanto os homens podiam esperar ter uma variedade de ambições e
habilidades, as mulheres eram destinadas desde o nascimento a serem mães e esposas em tempo
integral" (p. 85), numa atitude que glorificava o lar e o casamento para as mulheres, mas não para os
homens.

Entre a minoria que defendia o voto feminino, estavam Nilo Peçanha, Epitácio Pessoa e Hermes da
Fonseca, que seriam futuros presidentes da república.

Esta constituição de 1891 manteve como eleitores os "cidadãos" acima de 21 (vinte e um) anos de
idade, excluídos os analfabetos, soldados, mendigos e religiosos. Curiosamente, a exclusão das mu-
lheres não foi explicitada, e o termo "cidadãos", no masculino, também não se referia a elas. Esse fato
permitiu a algumas tentar se alistar, durante o período em que esta constituição vigorou (até 1934).
Mas a idéia de voto feminino, como direito feminino, não foi mais abandonada, dando origem ao surgi-
mento do movimento sufragista, que já existia na Europa desde o final do século XIX.

É importante notar que, mesmo num clima de transformações sociais predominou, nessa época, uma
clara concepção social de diferentes papéis para cada gênero. Alguns dos argumentos de então, con-
trários à emancipação feminina, tendem a reaparecer em outros momentos históricos, quando novos
"direitos" femininos passam a ser discutidos. Como, por exemplo, a partir dos anos 60 (sessenta),
quando se defende enfaticamente o direito feminino de exercer uma atividade profissional, assumir
cargos de chefia ou escolher profissões com características específicas, como a atividade militar. Uma
vez vencido os argumentos que se opunham ao exercício de tais atividades pelas mulheres – ou, sim-
plesmente, ignorado por elas – passam a exercer essas funções. As previsões mais pessimistas, como
as de destruição do lar, não se concretizam.

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CONDIÇÃO FEMININA

Em 1910 duas mulheres, Leolinda Daltro e Gilka Machado, fundaram o Partido Republicano Feminino.
É curioso notar, como observa Pinto (2003), que um partido político tem como objetivo apresentar pro-
postas e eleger seus filiados para colocá-las em prática. No entanto, nenhuma delas era elegível, ou
sequer eleitora. Pretendiam, contudo, mobilizar a sociedade em torno dos direitos políticos das mulhe-
res, através de eventos como a marcha que organizaram em 1917 pelas ruas do Rio de Janeiro, reu-
nindo 90 (noventa) mulheres. Este partido desapareceu ao final da década de 1910.

Em 1918, Bertha Lutz, filha do cientista Adolpho Lutz e de uma enfermeira inglesa, retornou ao Brasil
após se formar em Biologia na Universidade de Sorbonne. Tornou-se bióloga do Museu Nacional, por
concurso público, representando, a partir daí, o Brasil em eventos internacionais. Em 1934, Bertha se
formou também em Direito, no Rio de Janeiro.

Bertha publicou em 1918 um artigo conclamando a se associarem, formando uma "liga", as mulheres
que entendessem que "a mulher não deve viver parasitariamente de seu sexo" antes, deve "[...] tornar-
se capaz de cumprir os deveres políticos que o futuro não pode deixar de repartir com ela." (Revista da
semana, 28 de dezembro de 1918, citado por Hahner, 1981: 101).

Em 1922 organizou a Federação Brasileira para o Progresso Feminino (F.B.P.F.), filiada à International
Woman Suffrage Aliance (citado por Avelar, 2002: 45). Defendia os direitos políticos das mulheres e
prioritariamente o sufrágio feminino. Embora o estatuto da F.B.P.F. previsse a defesa de outros aspec-
tos, o centro de sua luta foi o voto feminino, como reconhecimento dos direitos políticos e cidadania
das mulheres, o que, segundo Hahner (1981), "serviria como o instrumento necessário para o progresso
e não meramente como um fim em si mesmo." (p. 103) Além de Bertha, a maioria das mulheres da
Federação pertencia a uma elite intelectual e econômica, muitas vezes também profissional, o que lhes
permitia bom trânsito entre a elite política. Suas ações visavam "influenciar os líderes políticos e a
opinião pública culta" (Hahner, 1981: 112), fazendo uso da publicidade e das relações pessoais. Nem
por isso foram poupadas de críticas por parte da imprensa, sendo acusadas de pertencer "ao terceiro
sexo, carentes de charme feminino, histéricas, declassées." (Avelar, 2002: 45)

As mulheres da Federação defendiam-se dos argumentos contrários ao sufrágio feminino alegando,


por exemplo, que "o cumprimento das obrigações políticas por uma mulher não representariam uma
séria ameaça à vida doméstica nem mesmo tomar-lhe-ia muito tempo" (Hahner, 1981: 114). Coelho
(2006) avalia que a perspectiva defendida por essas mulheres "poderia se constituir numa posição
estratégica, evitando o confronto que elevaria a resistência, caso questionassem a organização fami-
liar." (p. 38) Ou, ainda, que "talvez percebessem que a conquista não viria se questionassem o papel
social feminino e não um direito pontual." (p. 38).

Esse mesmo período histórico, início do século XX, foi marcado no Brasil por um crescimento da in-
dustrialização e, conseqüentemente, o surgimento do movimento operário. Segundo Rago (1997), esse
movimento mantinha as mulheres numa condição de submissão, uma vez que elas se incluíam no
movimento como trabalhadoras, mas não como líderes. O movimento operário via, ainda, as mulheres
como frágeis para esse contexto e necessitadas da proteção dos companheiros homens. Talvez aqui
se iniciasse uma das primeiras "perdas" significativas de espaço de trabalho dos homens para as mu-
lheres, o que era em parte uma novidade e, em parte, uma ameaça ao papel social masculino, enquanto
provedor da família.

As mulheres que atuavam no movimento operário reivindicavam questões trabalhistas, de forma mais
ampla e geral do que a Federação. Chegavam a criticar o movimento liderado por Bertha, considerando
o voto insuficiente para a conquista de maior dignidade pelas mulheres que, na sua concepção, esta-
vam dominadas pelos homens. Mas a conquista mais sólida obtida pelas mulheres neste período foi o
direito de votar e ser votada, criando condições para novas conquistas.

Foi por influência da F.B.P.F. que a constituição de 1934 instituiu para as mulheres, finalmente, o direito
de votar e ser votada. O governo de Getúlio Vargas preparava a formação de uma nova assembléia
constituinte. Em agosto de 1931, o código eleitoral provisório permitia às mulheres o direito de votar,
limitado às "solteiras ou viúvas com renda própria, ou as mulheres casadas com a permissão do marido"
(Hahner, 1981: 119). A F.B.P.F. protestou e se uniu à Aliança Cívica das Brasileiras e à Aliança Naci-
onal de Mulheres, para retirar do código as restrições às mulheres, antes que entrasse em vigor. Re-
cebidas por Getúlio, viram seu anseio acatado. Por decreto, datado de 24 de fevereiro de 1932, as
brasileiras obtiveram o direito de votar e ser votada, em igualdade de condições com os homens. Os
analfabetos continuaram excluídos e a idade mínima foi reduzida para 18 (dezoito) anos. Destaque-se

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CONDIÇÃO FEMININA

que muitos países europeus reconheceram esse duplo direito (votar e ser votada) posteriormente ao
Brasil (como a França, em 1944, e a Itália, em 1945). Em todo o Ocidente, até então, apenas no Ca-
nadá, EUA e Equador era permitido às mulheres votar.

Com base neste código foi eleita a assembléia constituinte em 1933, que promulgou a nova Constitui-
ção em 16 de julho de 1934. A única mulher eleita para esta assembléia constituinte, num total de 214,
foi Carlota Pereira Queiroz. Bertha permaneceu como suplente até 1936, quando assumiu uma cadeira
após o falecimento de um deputado. Nessa época, a F.B.P.F. discutiu projetos para pressionar o Le-
gislativo no sentido de ampliar os direitos femininos.

Em novembro de 1937 ocorreu o golpe de Estado de Getúlio Vargas. O voto feminino, uma conquista
pela qual se lutou desde a elaboração da constituição de 1891, e de forma mais intensiva através das
ações da F.B.P.F., perdeu seu sentido, por um ato de força1. Após a redemocratização de 1945, a
F.B.P.F. não teve mais poder de atuação.

Nesse período, que coincidiu com o término da Segunda Guerra Mundial, voltou a prevalecer uma
valorização do papel feminino associado ao lar, em torno do triângulo mãe-esposadona-de-casa, en-
quanto do homem se esperava cumprir o papel de provedor da família. Numa época caracterizada pela
ascensão da classe média e incremento da vida urbana, com maiores possibilidades de lazer e popu-
larização dos carros particulares, Bassanezi afirma:

Na Ideologia dos Anos Dourados, maternidade, casamento e dedicação ao lar faziam parte da essência
feminina; sem história, sem possibilidades de contestação.

A vocação prioritária para a maternidade e a vida doméstica seriam marcas de feminilidade, enquanto
a iniciativa, a participação no mercado de trabalho, a força e o espírito de aventura definiriam a mascu-
linidade. (1997: 609)

Ampliava-se, contudo, a presença das mulheres em diferentes espaços públicos, tanto sociais como
profissionais, trazendo conflitos que, de certa forma, perduram até hoje, em função da necessidade de
conciliar essas novas atividades com seu papel familiar.

Em 1962, antes do início da ditadura militar, o Congresso Nacional aprovou o Estatuto da Mulher Ca-
sada (Lei 4.121), com o qual a mulher deixou de ser representada legalmente pelo marido e passou a
ser colaboradora dele, no seu papel de chefe de família. O consentimento mútuo passou a ser neces-
sário para alienar imóveis, hipotecar bens e dar fiança e ambos passaram a ter os mesmos impedimen-
tos legais. Tal proposta foi defendida pelo Conselho Nacional de Mulheres, fundado pela feminista
Romy Medeiros da Fonseca.

Nos anos 60, Estados Unidos e Europa viveram o surgimento de movimentos sociais, inclusive o Fe-
minismo. Um fato marcante para este movimento foi o surgimento da pílula anticoncepcional, que per-
mitiu o questionamento da identificação entre sexualidade e procriação – fundamento do papel social
feminino de mãe-esposa-dona-de-casa. O feminismo ocorreu segundo Oliveira (1999), em três fases.
Na primeira, as mulheres reivindicavam uma "igualdade" de direitos, ou

[...] o direito das mulheres de participar da vida pública em igualdade de condições com os homens.
Cabia às mulheres, a certas mulheres, as ‘mais aptas', as ‘mais competentes', abrir caminhos nesses
espaços. Para tanto, essas mulheres tentaram convencer os homens de que a condição de mulher não
era uma desvantagem insuperável: apesar de mulheres, [grifo nosso] elas poderiam corresponder
às expectativas do mundo do trabalho e da vida pública. (Oliveira, 1999: 59)

Esta reivindicação, além de tomar como referência o masculino, trazia como pressuposto uma desva-
lorização do feminino. Ao assumir papéis antes desempenhados pelos homens, as mulheres somaram
suas novas atividades às tarefas domésticas, no que passou a ser conhecido como "dupla jornada".
Tentavam, assim, provar que poderiam exercer o novo papel sem prejuízo de seu papel prioritário,
relativo ao ambiente familiar. Oliveira (1999) alerta que essa ambigüidade vivida pelas mulheres é uma
resposta inevitável "às mensagens diferentes e contraditórias que elas recebem – e acatam – da soci-
edade moderna." (p. 77)

A partir de 1968 teve início uma segunda fase do movimento feminista, conhecida como "diferença
radical". As mulheres defendiam a concepção de que "as mulheres não são inferiores aos homens,

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CONDIÇÃO FEMININA

mas, também não são iguais a eles e que essa diferença, longe de representar uma desvantagem,
contém um potencial enriquecedor de crítica da cultura." (Oliveira, 1999: 71).

No final dos anos 80, a terceira fase do feminismo enfatizou ainda mais a diferença, agora entendida
como direito das mulheres de diferirem dos homens. Alguns denominam esta fase de "elogio da dife-
rença." Oliveira (1999) entende que, a partir desta fase, "reconstruir o feminino é o destino do movi-
mento de mulheres." (p. 74).

Quando do início do feminismo nos outros países, o Brasil vivia novo período de exceção, e por isso
sua expressão foi aqui adiada. Em função desse adiamento foi chegando aqui com características de
mais de uma etapa ocorrendo simultaneamente. Portanto, não houve no Brasil uma distinção nítida
dessas três etapas; ao contrário, elas ocorreram concomitantemente, de modo especial as duas últi-
mas.

As reivindicações das mulheres brasileiras a partir dos anos 60 estavam relacionadas ao momento
político, voltadas para a luta pela abertura democrática e por demandas sociais como política salarial,
melhorias nos serviços públicos, etc. Assim, no ano de 1968 as mulheres participaram do "Movimento
Nacional contra a Carestia; em 1970, do Movimento de Luta por Creches; em 1974, do Movimento
Brasileiro pela Anistia; e, em 1975, criaram os Grupos Feministas e Centros de Mulheres." (Giuliani,
1997: 649).

Segundo essa mesma autora, as mulheres também atuaram em grupos que se constituíram dentro da
Igreja Católica, como, por exemplo, na Pastoral da Terra, embasado na Teologia da Libertação. Com
foco nos problemas da saúde e educação, os Clubes de Mães e Grupos de Mulheres Trabalhadoras
denunciaram a precariedade dos serviços públicos e reivindicaram melhorias.

Nos anos 70, também surgiram os grupos de reflexão de mulheres, que se reuniam nas casas de
algumas delas e, segundo Oliveira (1999: 58) "foi neles que se produziu o pensamento do feminismo
dos anos 70." (p. 58).

As mulheres brasileiras exiladas também se organizaram fora do país. As que passaram pelo Chile,
fundaram em 1975 na cidade de Paris o Círculo de Mulheres Brasileiras, que durou até 1979. Na
mesma cidade, um grupo organizado por Danda Prado, ao introduzir reivindicações feministas foi ame-
açado pelos homens, seus companheiros de luta e de exílio, de cessar o envio de ajuda financeira para
as famílias das participantes. Eles entendiam que este grupo era apolítico e que não contribuía com a
luta contra a ditadura. Pinto (2003) avalia que poderiam estar "politizando a vida dentro de casa." (p.
53).

Pode-se observar que, tanto no movimento operário, no início do século XX, quanto posteriormente,
em outros contextos, as mulheres se envolveram com reivindicações, defendendo mais intensamente
as necessidades sociais do que as questões de gênero. Mostraram-se capazes de defender demandas
mais amplas do que as suas próprias, mesmo que não tivessem sido nisto compreendidas. Inicialmente,
foram criticadas pelos homens que viam as demandas femininas como ameaça a seus postos de tra-
balho; mais tarde, nesse segundo momento histórico, a defesa dessas demandas femininas chega a
ser acusada de "um sério desvio pequenoburguês" (Pinto, 2003: 45) pelos que prefeririam focar esfor-
ços na luta contra a ditadura2.

Ainda na década de 70, as brasileiras tiveram importante atuação político-social. Em 1975, a ONU
(Organização das Nações Unidas) realizou uma Conferência3 no México, atribuindo a essa data o ca-
ráter de Ano Internacional da Mulher, além de primeiro da década da mulher. Com apoio da mesma
organização, realizou-se um evento no Rio de Janeiro que, reunindo mulheres de diferentes grupos,
permitiu a criação do Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira, que mais uma vez teve que lidar
com resistências tanto do regime militar quanto da esquerda. Em 1978, o Centro de Desenvolvimento
da Mulher Brasileira entregou a "Carta às Mulheres", contendo reivindicações aos candidatos das elei-
ções daquele ano.

Foi também em 1975 que se organizou o Movimento Feminino pela Anistia, que teve um papel de
grande relevância na anistia aos presos políticos. E, pela primeira vez, a reunião anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (S.B.P.C.) realizou um evento feminista que contribuiu, segundo
Pinto (2003) com "um tipo de atuação feminista que foi fundamental nas décadas que se seguiram: a
pesquisa científica sobre a condição da mulher no Brasil." (p. 62).

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CONDIÇÃO FEMININA

No ano de 1976, o Dia Internacional da Mulher voltou a ser comemorado no Brasil, na data de 8 de
março, o que estava proibido desde 1964. Neste ano, incluiu manifestações contra a ditadura e em
defesa da anistia. Teles (2003) avalia que a retomada dessas comemorações passou a ser um fator de
aglutinação e articulação de mulheres, unindo desde donas-de-casa a operárias e intelectuais, defen-
dendo interesses gerais e específicos.

Na redemocratização, as mulheres mantiveram uma atuação relevante, com características novas. Até
então, as feministas, embora ligadas a diferentes correntes, estavam vinculadas ao MDB (Movimento
Democrático Brasileiro), único partido de oposição ao governo. Com o fim do bipartidarismo, permitindo
a fundação de novos partidos, as feministas também se deslocaram para diferentes partidos. Com o
início do governo democrático, as reivindicações feministas começaram a ser levadas a órgãos públi-
cos, como as Delegacias das Mulheres e os Conselhos Estaduais da Condição Feminina. Havia, porém
uma discussão entre elas sobre a validade dessa institucionalização das reivindicações, como se esse
processo limitasse o poder de reivindicação.

Assim, após a eleição do Governador Franco Montoro no Estado de São Paulo, em 1983, foi criado o
Conselho Estadual da Condição Feminina, proposto por mulheres de seu partido, e questionado por
outros partidos e grupos. Nesse mesmo ano, foi criado o Movimento de Mulheres pelas Diretas-Já,
atuando na luta pelo retorno às eleições diretas para presidente da república, sem sucesso nesse mo-
mento. O primeiro presidente eleito, ainda de forma indireta, Tancredo Neves, assumiu o compromisso,
que foi honrado por seu sucessor, José Sarney (em decorrência do falecimento do primeiro), de criar o
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Após a eleição do presidente seguinte, Fernando Collor de
Mello, este órgão perdeu seu caráter e, mais tarde, acabou sendo extinto.

Em 1985 foi criada, em São Paulo, a primeira Delegacia da Mulher, que oferecia atendimento especia-
lizado à mulher vítima de violência, expandindo-se posteriormente para todo o país.

A Assembléia Nacional Constituinte, instalada na legislatura 1986-90, era composta por 26 (vinte e
seis) deputadas federais, apenas 5,7% do total, sendo que a maioria das eleitas não tinha inserção no
movimento feminista. Ainda assim, formaram a "bancada feminina", ou "bancada do batom", apresen-
tando 30 (trinta) emendas com reivindicações dos movimentos feministas, além de outras de origem
popular.

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher atuou de forma significativa durante a Constituinte. Pro-
moveu, por exemplo, a Carta das Mulheres, incluindo entre suas reivindicações a criação do SUS (Sis-
tema Único de Saúde). Como resultado, a constituição de 1988 é considerada "uma das mais avança-
das do mundo em relação à população feminina" (Conselho Estadual da Condição Feminina/SP, s/d:
7). Do ponto de vista legal, representou a conquista da cidadania para as brasileiras.

Pode-se dizer que os espaços de luta por demandas femininas têm proliferado nos últimos anos, atra-
vés de diferentes tipos de organizações, como as não-governamentais, tanto no Brasil como em outros
países, o que mostra, de certa forma, uma maior capilarização do movimento. Também é importante
lembrar que as mulheres conquistaram os mais diversos espaços, inserindo-se em todos os ramos de
atividade, inclusive o esportivo e militar. Comparado com o início do século XX, esse cenário representa
uma grande modificação na organização social brasileira. Contudo, não significa uma aceitação ampla
e irrestrita da escolha de cada mulher por uma atuação no espaço público, quer em termos profissio-
nais, ou em atividades políticas.

A Mulher Brasileira e o Cenário Político Atual

A trajetória anteriormente traçada da inserção das mulheres brasileiras nos espaços sociais, privados
ou públicos, é de grande relevância para a compreensão do papel desempenhado atualmente por elas
no cenário político. Nossa história priorizou o domínio do privado como próprio do feminino, mantendo
inicialmente as mulheres distantes tanto da discussão como da atuação social e política. Com grande
esforço, como demonstrado, alguns espaços públicos foram sendo conquistados, e a atuação das mu-
lheres foi decisiva na retomada da democracia, após vinte anos de ditadura militar.

Num novo tempo pós-feminismo, com transformações sociais ocorrendo no mundo todo, mulheres fo-
ram assumindo diferentes funções e papéis. As resistências atuais expressam parte das dificuldades
construídas historicamente. Ainda hoje, a inserção das mulheres na atividade política, em cargos eleti-
vos ou não, continua sendo bastante restrita.

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CONDIÇÃO FEMININA

Apesar de presentes na política partidária de forma expressiva a partir dos tempos da ditadura, há
apenas uma pequena parcela exercendo cargos políticos. Embora as mulheres constituam uma pe-
quena maioria da população brasileira (50,78% em 2000, segundo dados do IBGE), as eleitas para a
Câmara Federal em 2002 não atingiram 10% do total, o que mostra a sub-representação feminina
(IBAM, 2003).

Esse não é um problema apenas brasileiro, pois foi um dos temas discutidos pela ONU (Organização
das Nações Unidas) quando realizou, em 1995, a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Beijing,
China. Esse evento recomendou a adoção de cotas mínimas de mulheres nos cargos públicos, eletivos
ou não, inclusive no Judiciário. Após essa Conferência, foi realizada no Brasil a campanha "mulheres
sem medo do poder". No mesmo ano, foi aprovada a lei 9100, estabelecendo o mínimo de 20% de
candidaturas femininas para os cargos legislativos, nas eleições municipais de 1996. Em 1997, essa
lei foi substituída pela lei 9504, do Código Eleitoral Brasileiro, que estabeleceu o mínimo de 25% para
as candidaturas femininas nas eleições de 1998, elevado para 30% a partir das eleições municipais de
2000.

Blay (2002) lembra que houve pouco debate com a sociedade para implantação da "lei das cotas",
como ficou conhecida, "especialmente com o movimento de mulheres." (p. 59) Não ocorreram sequer
debates em plenário, além de serem rejeitadas propostas que criariam melhores condições de compe-
tição por parte das mulheres. A rejeição dessas propostas deixou lacunas, não contemplando as rei-
vindicações que poderiam fortalecer as mulheres para a competição política.

Tais lacunas fundamentaram a elaboração do Projeto de Lei 6216, que propõe a destinação de 30%
(trinta por cento) dos recursos do fundo partidário de cada partido para programas de promoção da
participação política das mulheres, além da destinação de parte do tempo de propaganda partidária
gratuita para as mulheres. O objetivo deste projeto é fortalecer a atuação feminina nos partidos, me-
lhorando as condições das mulheres para a disputa de vagas.

Ele ainda está em processo de tramitação na Câmara Federal e parte de suas propostas foram entre-
gues em audiência pública ao relator do projeto de reforma política que também está tramitando no
Congresso. Foram acolhidas por ele e constam neste projeto que, dos 30% (trinta por cento) do fundo
partidário destinados à formação política em cada partido, 20% (vinte por cento) devem ser destinados
à formação política das mulheres; e que 20% (vinte por cento) do tempo de propaganda partidária
devem ser destinados às instâncias femininas de cada partido (tais propostas podem sofrer alterações
em plenário).

Araújo (1999), analisando o impacto da lei das cotas no exercício da atividade política pelas mulheres,
refere-se a três aspectos estruturais que incidem na inserção feminina na atividade política: situação
conjugal e responsabilidades familiares, sobretudo com os filhos; a situação ocupacional e o nível de
escolaridade. Para efetuar essa análise usou dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre os elei-
tos para a Câmara Federal nos anos de 1994 e 1998.

O terceiro aspecto mencionado por ela, relativo à escolaridade, é considerado como irrelevante para a
análise da inserção das mulheres na atividade política, em comparação com os homens. Tais dados,
relativos aos eleitos em 1994 e 1998 para a Câmara Federal, indicam que a maioria dos eleitos apre-
senta nível superior completo, inclusive com uma ligeira tendência a favor das mulheres neste aspecto.

Quando à condição ocupacional, a autora analisa que as atividades mais comumente exercidas por
parlamentares, sejam eles homens ou mulheres, exigem "flexibilidade de tempo; certa autonomia pro-
fissional; algum nível de recursos financeiros; status profissional; redes públicas de contato; competên-
cia técnica útil na política; e experiência política." (Araújo, 1999: 188). Menciona as seguintes profissões
como as mais exercidas pelos homens: advogados, empresários, engenheiros, médicos e professores,
economistas, fazendeiros, jornalistas e pastores evangélicos. E, pelas mulheres: professoras, advoga-
das, empresárias, médicas e assistentes sociais. Na seqüência, a autora analisa que as mulheres, na
sociedade, concentram-se em profissões com as características de mal pagas e semi-qualificadas e,
portanto, "fora da rota tradicional de inserção política." (1999: 188). Ainda quanto a este aspecto, Avelar
(2002) avalia que, em decorrência de um status ocupacional feminino inferior ao masculino, as mulhe-
res também apresentam um status social inferior ao dos homens e, portanto, "a subrepresentação so-
cial e política das mulheres são faces de uma mesma moeda." (p. 48) Destaque-se, ainda, que, em
decorrência da desigualdade social, há mulheres nas diferentes camadas sócio-econômicas, o que faz
com que a disputa também se torne desigual entre as próprias mulheres.

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CONDIÇÃO FEMININA

O primeiro aspecto estrutural analisado por Araújo (situação conjugal e responsabilidades familiares),
deixado propositalmente para o final, implica na disponibilidade de tempo e deslocamento para as ati-
vidades inerentes à política. A autora compara o estado civil de homens e mulheres. Entre os homens,
há uma maioria significativa de casados. Entre as mulheres, embora as casadas sejam maioria em
relação às outras categorias, estas, somadas (solteiras, separadas, divorciadas e viúvas) superam o
total de casadas. Comenta, ainda, que dados municipais e estaduais indicam que esta é uma tendência
geral. Conclui que "a situação conjugal parece continuar funcionando como obstáculo ao ingresso das
mulheres na política. A dinâmica política requer um grau de envolvimento, ausência de rotina doméstica
e capacidade de articulação que implicam, na prática, um tipo de autonomia nem sempre aceitável para
os cônjuges, sobretudo quando pertencentes ao sexo masculino." (Araújo, 1999: 181).

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POLÍTICA DO BRASIL

Política do Brasil

A Política do Brasil funciona sob o modelo de República Federal Presidencialista, formada pela União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, o exercício do poder é atribuído a órgãos distintos e
independentes, submetidos a um sistema de controle para garantir o cumprimento das leis e da Cons-
tituição. O Brasil é uma República porque o chefe do Estado é eleito pelo povo e com mandato. É pre-
sidencialista porque o Presidente da República é chefe de Estado e também chefe de governo. É fede-
rativa porque os Estados têm autonomia política.

A União está dividida em três poderes, independentes e harmônicos entre si. São eles o legislativo, que
elabora leis; o executivo, que atua na execução de programas ou prestação de serviço público; e o ju-
diciário, que soluciona conflitos entre cidadãos, entidades e o Estado.

O Brasil tem um sistema pluripartidário, ou seja, admite a formação legal de vários partidos políticos.
Estes são associações voluntárias de pessoas que compartilham os mesmos ideais, interesses, obje-
tivos e doutrinas políticas, que tem como objetivo influenciar e fazer parte do poder político.

Em 1980, o cientista político Sérgio Abranches cunhou a expressão "presidencialismo de coalizão" para
definir o mecanismo de funcionamento do regime político-institucional brasileiro. O presidencialismo de
coalizão designa a realidade de um país presidencialista em que a fragmentação do poder parlamentar
entre vários partidos obriga o executivo a uma prática que costuma ser mais associada ao parlamen-
tarismo. Segundo Abranches, mesmo eleito diretamente, o presidente da República, torna-se refém
do Congresso.

Histórico

Em 1494, Portugal convenceu o Papa Alexandre VI a arbitrar entre as duas potências católicas, Espa-
nha e Portugal, no Tratado de Tordesilhas. Sob os termos do tratado, Portugal ficaria com toda a terra
no espaço de 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Seis anos depois, Pedro Álvares Ca-
bral chegou ao Brasil, que foi colonizado de forma gradual nos quatro séculos seguintes.

Rivais como os holandeses, que ocuparam brevemente o Nordeste no século XVII, foram derrotados e
escravos foram trazidos da África após os indígenas se mostrarem resistentes ao trabalho manual.
Houve surtos de riqueza causados pelo açúcar, ouro e algodão, mas Portugal demorou a encontrar
muitas vantagens econômicas em sua colônia sul-americana.

Enquanto uma sociedade semifeudal se consolidava na costa através das Capitanias do Brasil, uma
sociedade mais dinâmica e sem lei crescia em São Paulo, no Oeste, no Sul e acima dos afluentes
do Rio Amazonas, onde a miscigenação era comum. No começo do século XIX, o Brasil juntou-se ao
mundo europeu após a invasão de Portugal pelas forças napoleônicas em 1807. Escoltada pela mari-
nha britânica, a corte portuguesa permanecerá no Rio de Janeiro de 1808 a 1821.

Sobreveio uma onda de modernidade, mas a experiência também destacou as diferenças entre o Brasil
e o resto da América Latina. As ideias do Iluminismo e as Revoluções Americana e Francesa desenca-
dearam violentas rebeliões contra a coroa espanhola.

No Brasil, o filho mais novo do rei proclamou a independência em 1822, dando início ao conserva-
dor Império do Brasil, que fez do Brasil o último país do continente americano a abolir a escravidão. Em
1889, um golpe militar pôs fim ao período.

No início do século XX, a política brasileira era dominada pelo "café com leite". Os estados de São
Paulo, com sua vasta lavoura cafeeira e de Minas Gerais, com sua produção leiteira, dominavam a
política nacional.

O Nordeste era controlado por coronéis, reacionários donos de terra que podiam ou não ter sido outrora
oficiais militares. Ao Sul, uma terra sem lei, havia impaciência com a morosidade e a corrupção do
governo federal no Rio de Janeiro. A política era elitista, ardilosa e pessoal, e o hábito de conchavos e
troca de favores sobrevivia desde o período imperial. O Brasil era majoritariamente agrário, mas nas
grandes cidades do Sudeste havia um começo de capitalismo industrial.

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POLÍTICA DO BRASIL

Em 1904, Francisco Matarazzo abriu sua primeira fábrica têxtil e trinta anos depois as receitas de seus
negócios correspondiam a 87,5 % do PIB do estado. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado
em 1922 e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) seis anos depois.

A Revolução de 1930 elevou Getúlio Vargas ao poder. Vargas fora presidente da província do Rio
Grande do Sul e concorrera na eleição daquele ano pela Aliança Liberal. Recebeu apoio dos presiden-
tes das províncias de Minas Gerais e da Paraíba, mas o voto não era secreto e as eleições eram fixadas
por meio da divisão de espólios entre máquinas políticas estaduais.

O presidente Washington Luís declarou que seu candidato, Júlio Prestes, havia ganho a disputa com o
dobro de votos. Com a crise de 1929, a produção de café, principal produto de exportação do país,
entrou em crise. O capital estrangeiro fugiu do Brasil e as reservas em ouro do governo haviam caído
para zero no final de 1930. Além disso, a insatisfação de jovens oficiais do Exército causou o fenômeno
conhecido como tenentismo. Estava pronto o cenário para a revolução. A insurreição obteve sucesso
em menos de um mês.

Vargas foi a principal figura da política brasileira até seu suicídio em 1954. Ele derrotou uma rebelião
em São Paulo em 1932, uma tentativa de golpe comunista em 1935 e ficou aprisionado durante um
quase bem-sucedido golpe dos integralistas em 1938. Instaurou uma ditadura personalista de es-
tilo fascista em 1937 e levou o Brasil à Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados em 1942.

Na Europa, a ideologia fascista fizera pouco pelos trabalhadores além de destruir os sindicatos, mas
no Brasil foi reinterpretada pelo Estado Novo para dar aos operários sindicalizados uma participação
na sociedade. A abordagem era paternalista e clientelista, com muito poder investido ao Ministério do
Trabalho e pouca liberdade aos operários se organizarem. As greves foram proscritas pela Constituição
de 1937, mas com um salário mínimo em algumas categorias, os pobres que saíam do campo para a
sociedade industrial tinham alguma assistência.

Indicadores

De acordo com o Índice de Democracia de 2015, compilado pela revista britânica The Economist,
o Brasil possui uma nota geral de (nota 6,96), estando na categoria de "democracia imperfeita". O país
possui nota acima da média em relação ao resto do mundo, que tem nota média de (nota 5,55).

De acordo com dados de 2010, o desempenho do Brasil em participação política é comparável ao


de Malauí e Uganda, considerados "regimes híbridos", enquanto o desempenho em cultura política é
comparável ao de Cuba, considerado um regime autoritário.

No entanto, a média geral do país é inferior somente à do Uruguai (nota 8,17), do Chile (nota 7,84) e
da Argentina (nota 7,02) na América do Sul. Dentre os BRICS, a Índia (nota 7,74) e a África do
Sul (nota 7,56) possuem desempenho melhor. De fato, em relação aos BRICS, a revista já havia elogi-
ado a democracia do país anteriormente, afirmando que "em alguns aspectos, o Brasil é o mais estável
dos BRICS. Diferentemente da China (nota 3,14) e da Rússia (nota 3,31), é uma democracia genuína;
diferentemente da Índia, não possui nenhum conflito sério com seus vizinhos".

O Brasil é percebido como um país extremamente corrupto, ocupando o 79.° lugar no Índice de Per-
cepções de Corrupção de 2016, sendo o primeiro menor a Dinamarca. Perde para países africanos
como Botsuana (35.°), Namíbia (53.°) e Ruanda (50.°) e está relativamente distante do Chile (24.°), o
mais bem colocado na América do Sul. Porém encontra-se em posição melhor que alguns outros países
sul-americanos como Colômbia (90.°), Argentina (95.°), Bolívia (113.°) e Venezuela (166.°), está a pior
da América Latina. Em relação aos países do BRICS, o Brasil está empatado com a China e a Índia,
perde para a África do Sul, que está na 64.° posição, porém vence da Rússia, que está em 131.°.

Espectro Político

Segundo pesquisa do instituto Datafolha sobre as inclinações ideológicas da população brasileira, o


brasileiro médio possui valores comportamentais de direita, mas manifesta acentuadas tendências
de esquerda no campo econômico. Os entrevistados responderam a perguntas sobre 16 temas; 41%
deles deram respostas identificadas às ideias de esquerda, enquanto 39% deles deram respostas iden-
tificadas com os valores da direita.

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POLÍTICA DO BRASIL

Quase 70% dos brasileiros defendem que o governo deve ser o principal responsável pelo crescimento
econômico do país; 58% entendem que as instituições governamentais precisam atuar com força na
economia para evitar abusos das empresas; 57% dizem que o governo tem obrigação de salvar as
empresas nacionais que enfrentam risco de falência e 54% associam a CLT mais à defesa dos traba-
lhadores do que à ideia de empecilho ao crescimento das empresas. Todas essas visões coincidem
com a política econômica defendida por partidos historicamente ligados à esquerda.

Nas questões de comportamento, no entanto, o brasileiro mostra-se mais à direita do que à esquerda
(numa proporção de 49% à direita e 29% à esquerda): quase 90% acham que acreditar em Deus torna
alguém melhor e 83% são a favor da proibição das drogas, ideias essas historicamente defendidas por
partidários da direita.

O percentual de pessoas identificadas com a esquerda aumentou significativamente em dois meses —


de 4% para 10% na esquerda e de 26% para 31% na centro-esquerda — devido à inclusão de temas
econômicos na sondagem. Entre os 10% que são identificados com a esquerda a média de idade é de
35 anos. A idade aumenta conforme a ideologia se distancia da esquerda; os de centro-esquerda têm
média de 38 anos, os de centro têm média de 39, os de centro-direita têm média de 41 e os de direita
têm média de 46.

No quesito escolaridade, o grupo da esquerda é o único onde mais de 20% das pessoas possui forma-
ção superior e o que possui o menor número de pessoas com formação fundamental (30%). Na direita,
por sua vez, 52% têm formação fundamental.

Por outro lado, este grupo reúne a maior parcela de pessoas com renda familiar mensal acima de
6 780 reais na comparação com os outros quatro grupos. Ao mesmo tempo, reúne a maior parcela de
pessoas com renda de até 1 365 reais. A esquerda é um pouco mais intensa no Nordeste e um pouco
menos intensa no Sul; com a direita ocorre o oposto.

Segundo pesquisa anterior do mesmo instituto, a inclinação ideológica da população tem pouca influên-
cia na hora do voto, visto que a ex-presidente Dilma Rousseff do PT, de esquerda, lidera a intenção de
voto entre eleitores identificados com a direita e a centro-direita.

Organização política

O Estado brasileiro é dividido primordialmente em três esferas de poder: o Poder Executivo, o Legisla-
tivo e o Judiciário.

O chefe do Poder Executivo é o presidente da República, eleito pelo voto direto para um mandato de
quatro anos, renovável por mais quatro. Na esfera estadual o Executivo é exercido pelos governadores
dos estados; e na esfera municipal pelos prefeitos.

O Poder Legislativo é composto, em âmbito federal, pelo Congresso Nacional, sendo este bicameral:
dividido entre a Câmara dos Deputados e o Senado. Para a Câmara, são eleitos os deputados fede-
rais para dividirem as cadeiras em uma razão de modo a respeitar ao máximo as diferenças entre as
vinte e sete Unidades da Federação, para um período de quatro anos. Já no Senado, cada estado é
representado por três senadores para um mandato de oito anos cada.

Em âmbito estadual, o Legislativo é exercido pelas Assembleias Legislativas Estaduais pelos deputa-
dos estaduais; e em âmbito municipal, pelas Câmaras Municipais exercido pelos vereadores.

Sistema federativo

O Brasil possui vinte e seis estados e um Distrito Federal, indissolúveis, cada qual com um Governador
eleito pelo voto direto para um mandato de quatro anos renovável por mais quatro, assim como acon-
tece com os Prefeitos. Tanto os estados quanto os municípios têm apenas uma casa parlamentar: no
nível estadual os deputados estaduais são eleitos para quatro anos na Assembleia Legislativa e no
nível municipal, os vereadores são eleitos para a Câmara Municipal para igual período.

Sistema judiciário

O Poder Judiciário, cuja instância máxima é o Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por inter-
pretar a Constituição Federal e composto por onze ministros indicados pelo Presidente sob referendo

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POLÍTICA DO BRASIL

do Senado, dentre indivíduos de renomado saber jurídico. A composição dos ministros do STF não é
completamente renovada a cada mandato presidencial: o presidente somente indica um novo ministro
quando um deles se aposenta ou vem a falecer. A idade para a aposentadoria compulsória é de setenta
anos. No entanto, os ministros podem se aposentar antes disso, caso queiram. O salário recebido pelos
membros da corte (41 650,92 reais em 2023) é o mais alto do funcionalismo público.

Em geral, os órgãos judiciários brasileiros exercem dois papéis. O primeiro, sua função típica, é a fun-
ção jurisdicional, também chamada jurisdição. Trata-se do poder-dever e da prerrogativa de compor os
conflitos de interesses em cada caso concreto, através de um processo judicial, com a aplicação de
normas gerais e abstratas, transformando os resultados das ações em lei (fenômeno da coisa julgada
material).

Uma das manifestações ou espécies da jurisdição se dá no controle de constitucionalidade. Tendo em


vista que as normas jurídicas só são válidas se conformarem à Constituição Federal de 1988, a ordem
jurídica brasileira estabeleceu um método para evitar que atos legislativos e administrativos contrariem
regras ou princípios constitucionais.

A Constituição Federal adota, para o controle da constitucionalidade, dois sistemas: 1º difuso—todos


os órgãos do Poder Judiciário investidos de jurisdição (visto que o CNJ não possui jurisdição) podem
exercê-lo e suas decisões a esse respeito são válidas apenas para o caso concreto que apreciam; 2º
concentrado—em alguns casos, os ocupantes de certos cargos públicos detêm a prerrogativa de arguir
a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, federal ou estadual, perante o Supremo Tribunal Fede-
ral, por meio de ação direta de inconstitucionalidade. Nesse caso, a decisão favorável ataca a lei ou
ato normativo em tese. Analogamente, há outros agentes públicos legitimados à arguição de inconsti-
tucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal, em face de dispositivos da Constituição
Estadual, perante o respectivo Tribunal de Justiça.

Sistema eleitoral-partidário

Em 1980, voltou a existir o pluripartidarismo no país, sendo inicialmente criados 5 partidos políticos.
Atualmente, há mais de 30 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo dados do TSE, os dez maiores partidos do país são:

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), a antiga oposição permitida pelo regime militar, que desde
o fim dessa era participou de todos os governos (à exceção da breve presidência de Fernando Collor
de Mello entre 1990 e 1992) e que foi por muito tempo a força dominante no Congresso Nacional, antes
da fragmentação partidária em que este passou a partir da década de 2000.

Também é o sucessor legal do PSD de 1945 (legenda dos presidentes Eurico Gaspar Dutra e Juscelino
Kubitschek), que existiu de 1945 a 1964. O partido possui uma política centrista, sendo um dos grandes
"partidos pega-tudo" brasileiros, incluindo historicamente em seus quadros desde políticos conserva-
dores como Eduardo Cunha, a liberais convictos como Pedro Simon, além de nomes da esquerda pro-
gressista como Roberto Requião, populistas como Iris Rezende, nacionalistas/municipalistas
como Orestes Quércia, líderes empresariais como Paulo Skaf e Ibaneis Rocha. É a legenda dos ex-
presidentes José Sarney (1985-1990), Itamar Franco (1992-1994) e Michel Temer (2016–2018);

O Partido dos Trabalhadores (PT), partido fundado por militantes de oposição à Ditadura Militar, sindi-
calistas, intelectuais, artistas e católicos ligados à Teologia da Libertação, no ano de 1980. O partido
foi fruto da aproximação entre os movimentos sindicais da região do ABC, que organizaram grandes
greves entre 1978 e 1980, e militantes antigos da esquerda brasileira, entre eles ex-presos políti-
cos e exilados que tiveram seus direitos devolvidos pela lei da anistia. Desde a fundação, o partido as-
sumiu a defesa do socialismo democrático. É a legenda do atual presidente da República Luiz Inácio
Lula da Silva e da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016);

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), partido fundado por um grupo de dissidentes do
MDB capitaneados por políticos dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Embora primariamente so-
cial-democrata, o PSDB, segundo os críticos, é tido como "neoliberal" desde seus primórdios por ter
adotado medidas da Terceira via, mesmo tendo diferentes facções internas no partido, como a social-
democracia, liberais sociais, conservadores e democratas cristãos. É a legenda do ex-presidente Fer-
nando Henrique Cardoso (1995-2003);

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O Progressistas (PP), partido cujas origens mais remotas está relacionada com a ditadura militar,
quando surgiu a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), e com o processo de redemocratização do
país, quando a então ARENA foi renomeada Partido Democrático Social (PDS). Através da ARENA
também é sucessor da UDN (que existiu entre 1945-1965) e do PRP (1873-1937), dissidência do Par-
tido Liberal de 1831 (1831-1889), como também do PR (1945-1965) e através deste do PRM (1888-
1937) e do Partido Conservador (1836-1889). Em 1993, o PDS fundiu-se com o Partido Democrata
Cristão, surgindo o Partido Progressista Reformador (PPR). Em 1995, o PPR promoveu nova fusão,
agora com o Partido Progressista (PP). Nascia, então, o Partido Progressista Brasileiro (PPB), que
após processos de renomeações adotou o atual nome Progressistas.

Apesar de ter sido diversas vezes renomeado (incluindo aí as fusões) é o sucessor da antiga ARENA
e PDS, legendas dos presidentes Humberto de Alencar Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Pedro
Aleixo, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. É a legenda do atual presidente
da Câmara dos Deputados, Arthur Lira;

O Partido Democrático Trabalhista (PDT), fundado em 1979, logo após o início do processo de abertura
política do regime militar, e alinhado às ideologias trabalhista, socialista democrática e social-demo-
crata. Com a morte do presidente João Goulart durante o período ditatorial, Leonel Brizola surgiu natu-
ralmente como o principal líder do antigo PTB e, após sua chegada ao país, tentou reorganizar a le-
genda.

Porém, foi surpreendido pela ação concorrente de Ivete Vargas, que também reivindicou, para si, o
controle da legenda PTB. Após disputas judiciais, o TSE decidiu, finalmente, conceder a legenda ao
grupo liderado por Ivete Vargas. Inconformados com tal atitude, o grupo liderado por Leonel Brizola foi
obrigado a formar um novo partido, o Partido Democrático Trabalhista – PDT. Também é sucessor de
facto, somente no estado do Rio Grande do Sul, do PRR (1882-1937)

União Brasil (UNIÃO), partido político que foi fundado no ano de 2021, a partir da fusão do Partido So-
cial Liberal (PSL) e do Democratas (DEM). O Democratas (DEM), fora um partido fundado em 1985
como Partido da Frente Liberal (PFL), fruto de uma dissidência do Partido Democrático Social (PDS,
atual PP), por causa das articulações que ao fim elegeram Tancredo Neves à presidência da República
após vinte e um anos do Regime Militar. Com o apoio do PFL, Tancredo Neves foi eleito presidente da
república. Em 2007, o PFL mudou seu nome para Democratas. Já o PSL foi historicamente um partido
alinhado ao social-liberalismo O partido foi fundado pelo empresário pernambucano Luciano Bivar em
1994, tendo sido registrado oficialmente em 1998. O União Brasil segue as ideologia do Conservado-
rismo e do Liberalismo.

O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), partido fundado pelo presidente Getúlio Vargas , tendo existido
durante dois períodos: no período democrático de 1945 a 1965 e sendo recriado após a Aber-
tura do Regime Militar. É também sucessor legal, somente no estado do Rio Grande do Sul,
do PRR (1882-1937).

Houve então uma acirrada disputa pelo nome, pela sigla e pela legenda do PTB, entre o grupo de
Brizola e o grupo liderado pela ex-deputada Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas, tendo o Tribunal
Superior Eleitoral dado ganho de causa ao grupo de Ivete em 1980; Atualmente é considerado um
partido de Direita a Extrema-direita. Nas eleições gerais de 2022 o partido não conseguiu superar
a cláusula de barreira, elegendo apenas um único deputado federal para a 57ª Legislatura da Câmara
dos Deputados.

O Partido Liberal (PL), anteriormente conhecido como Partido da República (PR). O Partido Liberal
surgiu a partir da fusão de dois partidos: o Partido Liberal de 1985 (PL, fundado por Álvaro Valle) e
o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA, fundado por Enéas Carneiro). O partido segue
as ideologias do Conservadorismo e do Liberalismo econômico É a legenda do ex-presidente do Bra-
sil, Jair Bolsonaro.

O Partido Socialista Brasileiro (PSB), um partido que segue as ideologias socialista democrática e so-
cial-democrata. Foi fundado por João Mangabeira em 1947 a partir da Esquerda Democrática, até ser
extinto por força do Ato Institucional nº 2, de 1965. Em 1985, com a redemocratização no Brasil, foi
recriado. Duas lideranças do partido que se destacaram neste novo período histórico do Brasil fo-
ram Miguel Arraes e Eduardo Campos. O PSB utiliza, como símbolo, uma pomba carregando uma fo-
lha, e suas cores são o vermelho e o amarelo.

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O Republicanos. Fundado em 2003 por partidários de José Alencar, então presidente honorário do Par-
tido Liberal (PL) e vice-presidente da República. Dois anos depois, em 25 de agosto de 2005, foi reno-
meado como Partido Municipalista Renovador (PMR).

Em 2006, o partido mudou novamente de nome para Partido Republicano Brasileiro (PRB). Em 2019,
adotou o atual nome "Republicanos". O partido está ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, sendo
o seu presidente, Marcos Pereira, um bispo da igreja.

Além destes partidos, outros partidos que se destaca na preferência do eleitorado brasileiro é:

O Partido Social Democrático (PSD). O partido foi fundado por políticos dissidentes do DEM, PP,
PSDB, entre outros, encabeçados pelo então ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. A escolha do
nome do partido é uma homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek, filiado ao homônimo Partido
Social Democrático, que existiu entre 1945 e 1965.

Nas eleições municipais de 2020 foi a 3ª maior legenda em relação a candidatos eleitos nas prefeituras
e câmaras municipais dos municípios brasileiros É a legenda do atual presidente do Senado Fede-
ral, Rodrigo Pacheco.

Apesar de 65% dos brasileiros declararem não ter preferência partidária, 15,8% indicam preferência ao
PT, 5,5% ao PSL, 2,1% ao NOVO e 11% a outros partidos (PDT, PSOL, MDB, PSDB, PC do B, DEM,
PSB e outros).

Estado brasileiro

A organização do Estado brasileiro é baseada em três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciá-


rio, independentes e harmônicos entre si. Além disso, a organização político-administrativa do Es-
tado brasileiro compreende três esferas de governo: federal, representada pela União; os esta-
dos (e Distrito Federal); e os municípios. Todos são autônomos, nos termos da Constituição.

A Federação está definida em cinco princípios fundamentais: soberania, cidadania, dignidade da pes-
soa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Os ramos clás-
sicos tripartite de governo (executivo, legislativo e judiciário no âmbito do sistema de controle e equilí-
brios) são oficialmente criados pela Constituição. O executivo e o legislativo estão organizados de
forma independente em todas esferas de governo, enquanto o judiciário é organizado apenas a nível
federal e nas esferas estadual e do Distrito Federal.

Cada um desses Poderes tem sua atividade principal e outras secundárias. Por exemplo, ao Legisla-
tivo, cabe, principalmente, a função de produzir leis e fiscalizá-las, e administrar e julgar em segundo
plano.

Ao Judiciário, cabe a função de dizer o direito ao caso concreto, pacificando a sociedade, em face da
resolução dos conflitos, sendo, sua função atípica, as de administrar e legislar. Ao Executivo, cabe a
atividade administrativa do Estado, é dizer, a implementação de o que determina a lei, atendendo às
necessidades da população, como infraestrutura, saúde, educação, cultura. Sendo sua função secun-
dária as de legislar e julgar.

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