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Ciências Biológicas
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Desvendando o Mundo Invisível
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
da Microbiologia
mento das regiões do Ceará.
12
História
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Ciências Biológicas
História
2015
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Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
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zação, por escrito, dos autores.
Editora Filiada à
CDD 579
Os autores
Capítulo 1
História da Microbiologia
e classificação dos
microrganismos
Objetivos
• Introduzir o aluno no mundo da Microbiologia discutindo sobre suas princi-
pais constatações históricas;
• Apresentar e discutir os sistemas de classificação microbiana.
1. Introdução
Microbiologia é a ciência que estuda os organismos que somente podem ser
visualizados com o auxílio do microscópio. O termo deriva das palavras gre-
gas mikros (pequeno), bios (vida) e logos (ciência).
Com base neste conceito, a Microbiologia aborda um vasto e diversi- 1
As bactérias medem, em
ficado grupo de organismos unicelulares (bactérias1) e pluricelulares (fungos média, 1-10µm. A menor
filamentosos), de dimensões reduzidas, e que podem ser encontrados como bactéria conhecida é a
células isoladas ou agrupadas em diferentes arranjos. Assim, envolve o estu- Chlamydia com 0,2µm de
do de organismos procarióticos (bactérias (Figura 1) e archaeas), eucarióticos tamanho, enquanto que
Epulopiscium fishelsoni,
(fungos e algas (Figura 2 e 3), protozoários (Figura 4)), e também seres ace- encontrada no, intestino de
lulares (vírus) (Figura 5). peixes do mar vermelho
e costa da Austrália é
conhecida como a maior
bactéria descrita, medindo
600km de comprimento.
Saiba mais
Lixo gera moscas?
Uma idéia bastante antiga, dos tempos de Aristóteles, é a de que seres vivos podem surgir por
geração espontânea. Apesar de se conhecer o papel da reprodução, admitia-se que certos or-
ganismos vivos pudessem surgir espontaneamente da matéria bruta. Observações do cotidiano
mostravam, por exemplo, que larvas de moscas apareciam no meio do lixo e que poças de lama
podiam exibir pequenos animais. A conclusão a que se chegava era a de que o lixo e a lama ha-
viam gerado diretamente os organismos...
Fonte: http://ateus.net/artigos/ciencia/a-origem-da-vida/
16 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Galeria de estudiosos
2
3. Classificação2 dos microrganismos
que contribuíram para
a classificação dos Desde Aristóteles (384 - 322 a.C.), os naturalistas têm tentado classificar e
organismos. dar nomes às plantas, aos animais e aos microrganismos baseando-se na
sua aparência e comportamento. A ciência denominada de Taxonomia (do
grego, taxis: arranjo e nomos: lei, ordem) foi criada com base no sistema bi-
nomial desenvolvido no século XVIII pelo cientista sueco Carolus Linnaeus
(1707-1778). Nesse sistema, cada organismo recebe dois nomes (por exem-
plo, Escherichia coli, nome científico de uma bactéria muito conhecida por
sua presença em amostras fecais). O primeiro nome é referente ao gênero
(Escherichia) e o segundo é o termo específico (coli). O primeiro e segundo
nomes juntos formam o nome da espécie (Escherichia coli).
A Taxonomia fornece uma referência comum na identificação de mi-
Aristóteles (384 - 322 a.C.):
crorganismos já descobertos. Por exemplo, quando uma bactéria suspeita é
Filósofo grego, que trouxe isolada de um paciente, características daquele isolado são comparadas a
contribuição para diferentes uma lista de características de bactérias previamente classificadas. Por tanto
áreas, inclusive a biologia. a taxonomia para a Microbiologia é uma ferramenta básica e necessária pois
fornece uma linguagem universal de comunicação.
Novas técnicas de biologia molecular e genética vêm fornecendo sub-
sídios para a taxonomia moderna. Vários sistemas de classificação e testes
usados na identificação de microrganismos têm permitido sua classificação e
seu posicionamento filogenético.
Cada reino apresenta divisões ou ramos que, por sua vez, são dividi-
dos em classes, ordens, famílias, gêneros e espécies. Subgrupos adicionais
(como subespécies) são também usados na literatura.
Saiba mais
Robert Whittaker: vida e obra
Biólogo norte-americano, Robert Harding Whittaker nasceu a 27 de dezembro de 1920, no estado
do Cansas, e morreu a 20 de Outubro de 1980. Em 1942, formou-se em Biologia na Universida-
de Municipal de Washburn, em Topeka, Cansas. Ingressou, depois da sua licenciatura, na Força
Aérea, onde trabalhou como meteorologista até 1948. Neste ano doutorou-se em Zoologia na
Universidade de Illinois. Em 1969, classificou os seres vivos, baseado principalmente nos seus
nível de organização estrutural, tipo de nutrição e interação nos ecossistemas, organizando-os em
5 reinos: Monera, Protista, Fungi (ou Fungos), Plantae (ou Plantas) e Animalia (ou Animais)... cont.
Fonte: ROBERT WHITTAKER. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-
01-02]. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$robert-whittaker
Quadro 1
DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS ENTRE OS TRÊS DOMÍNIOS
Características Eubacteria Archaea Eucarya
Membrana nuclear Ausente Ausente Presente
Número de cromossomos 1 1 >1
Celulose (plantas);
Pseudo-peptideoglicano
Parede celular Peptideoglicano a mureína quitina (fungos) e
a pseudomureína
ausente (animais)
Glicerídeos ligados a
Glicerídeos ligados a éster, Isoprenóide; glicerol
Lipídios na parede éster, não ramificado,
não ramificado, saturado diéter ou di-glicerol
celular saturado ou
ou mono-insaturado tetraéter
poli-insaturado
Mitocôndrias
Ausente Ausente Presente
e cloroplastos
Ribossomo 70S 70S 80S
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 21
Síntese do capítulo
No presente capítulo foi introduzido o mundo da Microbiologia enfatizando al-
gumas constatações históricas através dos grandes feitos dos pioneiros da
Microbiologia, como Robert Hooke e Antony van Leeuwenhoek, que desen-
volveram os microscópios, tornando viável a observação dos microrganismos.
Em seguida com os trabalhos de Pasteur, houve uma explosão de des-
cobertas na área, período denominado a Idade de Ouro da Microbiologia, os
achados forneceram a base para as descobertas dos séculos XX e XXI.
Discutiu-se, também, as classificações microbianas, tanto o sistema em
cinco reinos, como o sistema de três domínios. Entretanto, deixou-se claro
que novos microrganismos vêm sendo descobertos diariamente, e os taxono-
mistas continuam a pesquisar um sistema de classificação natural que reflita
as relações filogenéticas.
Atividades de avaliação
1. Descreva a importância da Microbiologia e qual seu objeto de estudo.
2. Pesquise os principais feitos científicos de Louis Pasteur.
3. Qual é a finalidade de um sistema taxonômico?
4. Pesquise as técnicas atuais que permitem a classificação de um organismo
e seu posicionamento filogenético.
5. Descreva as regras para a classificação e nomeação dos organismos vivos
no sistema denominado nomenclatura binomial.
6. Por que a técnica de sequenciamento do RNA ribossômico (rRNA) ainda
é tida como o procedimento mais utilizado para determinar o “parentesco”
entre organismos?
7. Pesquise a vida e obra de Carl Woese Richard.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 23
Leituras
WOESE, C.; KANDLER, O.; WHEELIS, M. Towards a natural system of orga-
nisms: proposal for the domains Archaea, Bacteria, and Eucarya. Proc. Natl.
Acad. Sci. USA, v. 87, n. 12, p. 4.576–4.579, 1990.
PARKER, S. Pasteur e os microrganismos. São Paulo: Editora Scipione, 1999.
BRYSON, B. Breve história de quase tudo. São Paulo: Companhia das Le-
tras, 2005.
Sites
Instituto Pasteur: http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=JHZwMxmLHnk&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=3iZo6qy-Wyc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=RO_MuzLxjUE
Referências
BLACK, J. G. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 4. ed. Rio de Ja-
neiro: Guanabara Koogan, 2002.
BRYANT, D. A. Puzzles of chloroplast ancestry. Current Biology, v. 2, p. 240–
242, 1992.
BURTON, G. R. W.; ENGELKIRK, P. G. Microbiologia para as ciências da
saúde. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; PARKERT, J. Microbiologia de Brock.
12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2010.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHORN, S. E. Biologia vegetal. 6. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
24 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Célula procariótica
Objetivos
• Apresentar conceitos relacionados às diferentes formas e arranjos bacterianos.
1. Introdução
As bactérias são microrganismos procarióticos invisíveis a olho nu, que medem
cerca de 1µm de diâmetro. Apresentam grande superfície, por onde são absor-
vidos nutrientes em comparação com um pequeno volume celular a ser alimen-
tado, fato que explica a alta taxa de metabolismo e crescimento bacteriano.
Apresentam diversas formas, desde as convencionais (esféricas, cilín-
dricas e espiriladas) até as menos comuns, exemplificadas por formas qua-
dradas, estreladas, embainhadas e pedunculados, dentre outras. As bactérias
esféricas são chamadas cocos, podendo ser encontradas na forma ovoide
isolada ou ligadas a outras células. As bactérias cilíndricas são chamadas
bacilos ou bastonetes e variam em tamanho e espessura, podem ter extre-
midades quadradas, arredondadas, afiladas ou pontiagudas (Figura 14). As
bactérias espiraladas ou helicoidais assemelham-se a um saca-rolha, sendo
chamadas também de espirilos (Figura 15).
Além das formas bem definidas, algumas bactérias também podem
apresentar morfologias intermediárias ou “boderlines”, como os cocobacilos.
Este fenômeno é chamado pleomorfismo e pode confundir o microbiologista
fazendo-o pensar que existem duas ou mais espécies bacterianas diferentes
misturadas. Como exemplo temos o gênero Arthrobacter, cujas células mu-
dam de forma à medida que a colônia envelhece.
Além de diferentes formas, as bactérias podem também estar organi-
zadas em variados arranjos, exceto as bactérias espiraladas, que geralmen-
te aparecem como células únicas. As demais bactérias formam arranjos ou
padrões característicos, isso porque as células-filhas podem permanecer li-
gadas à célula de origem durante o processo de reprodução. Estes arranjos
28 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
são utilizados para identificação, pois são típicos para algumas espécies em
particular. Mas nem todas as células de uma determinada espécie estão ar-
ranjadas em um mesmo padrão e para identificação é preciso levar em consi-
deração o arranjo predominante.
Para os cocos os arranjos existentes são: diplococos, estreptococos,
estafilococos, tétrades e sarcinas. Nos diplococos duas células permanecem
unidas, como no o gênero Neisseria. Nos estreptococos vários cocos perma-
necem ligados formando uma cadeia (exemplo: gênero Streptococcus). Nos
estafilococos vários cocos ligam-se entre si formando estruturas semelhantes
a cachos de uva (exemplo: gênero Staphylococcus). Nas tétrades, quatro co-
cos formam um quadrado (exemplo: genêro Micrococcus) e nas sarcinas, oito
cocos formam um cubo (exemplo: gênero Sarcina) (Figura 14).
Para os bacilos, os arranjos que podem ser encontrados são: em paliça-
da, onde células permanecem alinhadas lado a lado (exemplo: gênero Cory-
nebacterium); rosetas (arranjo típico de bacilos aquáticos); estreptobacilos,
onde os bacilos formam cadeias (exemplo: Bacillus) e tricomas, onde os baci-
los formam cadeias mas com grande superfície de contato entre um bacilo e
outro (exemplo: Saprospira) (Figura 14).
A célula procariótica apresenta organização estrutural relativamente sim-
ples quando comparada às células eucarióticas. Seus componentes estruturais
mais comuns: flagelos, pelos ou fímbrias, cápsula, parede celular, membrana
celular, citoplasma, ribossomos, nucleoide, plasmídios e esporos (Figura 16).
Saiba mais
A linguagem das bactérias
Até o final dos anos 60 acreditava-se que as bactérias não passavam de células individuais, que
apenas buscavam nutrientes e se multiplicavam. Nas últimas décadas, porém, diversos estudos
mostraram que esses microrganismos podem se comunicar, tanto entre si quanto com células
eucarióticas (as que têm núcleo definido), como as do corpo humano. Verificou-se ainda que,
além de emitir e receber sinais, bactérias também os empregam para agir em grupo e em bene-
fício próprio com certa eficácia.
Esse fenômeno surpreendente foi descoberto em bactérias luminescentes que vivem em órgãos lu-
minosos e intestinos de lulas, peixes e outros animais marinhos. Nos anos 50, cientistas notaram que
a água do mar de praticamente qualquer parte da Terra continha bactérias que, quando cultivadas,
tinham a capacidade de emitir luz. O fenômeno chamou a atenção de diversos grupos de pesquisa
na época e levou ao surgimento de mais uma área da bioquímica, o estudo da bioluminescência... [...]
Fonte: http://vsites.unb.br/ib/cel/microbiologia/artigos/qs.pdf
2.1. Flagelo
Os flagelos são filamentos finos e helicoidais que se estendem da membrana
citoplasmática e atravessam a parede celular até o meio externo (Figura 17)
Medem cerca de 12 a 20 nm de diâmetro. Sua função está relacionada com a
motilidade da bactéria, mas nem todas as espécies bacterianas os possuem,
mas para as que os tem, estes são utilizados para auxiliar na classificação
taxonômica, levando-se em consideração o número e a disposição ao longo
da célula bacteriana.
30 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
2.3. Cápsula
Algumas bactérias podem apresentar uma camada de material viscoso que
a circunda, formada por grandes polímeros, chamada de cápsula ou camada
limosa (Figura 19) de acordo com suas características. Esta estrutura é invisí-
vel ao microscópio sendo visualizada apenas com a utilização de colorações
negativas ou contra-colorações como a tinta da china.
3. A parede celular
A parede celular é uma estrutura rígida que envolve as bactérias. É respon-
sável pela forma bacteriana e pela sua proteção, pois impede a expansão e
rompimento celular por entrada excessiva de água. A parede celular difere
entre as bactérias em espessura e composição e suas características estru-
turais ajudam a identificar e classificar as bactérias, bem como, explicam o
comportamento diante da coloração de Gram.
A parede celular é essencial para o crescimento e divisão da célula,
podendo corresponder a cerca de 10 a 40% do peso seco da célula. Quanto
às suas propriedades e composição química, as paredes celulares não são
estruturas homogêneas, elas variam de acordo com o tipo de bactéria.
Nas eubactérias e arqueobactérias Gram negativas a parede celular é
mais fina que nas Gram positivas. Nas eubactérias, o principal componente da
parede celular e que determina sua forma é o peptideoglicano (também cha-
mado mureína), que é um polímero poroso e insolúvel de grande resistência.
Trata-se de uma macromolécula simples, encontrada apenas em procariotos
e que forma uma rede em torno da célula. O peptideoglicano contém três
tipos de unidades estruturais básicas: 1) N-acetilglicosamina (NAG); 2) ácido
N-acetilmurâmico (NAM) e 3) um tetrapeptídeo contendo D-aminoácidos.
34 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
4.2. Citoplasma
Cerca de 80% do citoplasma é composto por água, contendo também pro-
teínas, carboidratos, lipídios, íons orgânicos e compostos de peso molecular
muito baixo. O citoplasma é espesso, aquoso, semitransparente e elástico. As
estruturas presentes no citoplasma são área nuclear, contendo DNA, ribosso-
mos e depósitos de reserva denominados inclusões. Diferente do citoplasma
de células eucarióticas, o citoplasma de células procarióticas não possui cito-
esqueleto e correntes citoplasmáticas.
4.3. Nucleoide
O nucleoide ou área nuclear de uma célula bacteriana é formado por uma
única molécula longa, contínua, arranjada de forma circular de DNA de dupla
fita, que é o cromossomo bacteriano. Esta molécula de DNA contém todas
as informações necessárias para a estrutura e as funções celulares. O cro-
38 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
mossomo bacteriano não é envolto por uma membrana nuclear e não possue
histonas mas esta fixado a membrana plasmática.
Além do cromossomo é possível encontrar pedaços de DNA circulares
livres no citoplasma da célula bacteriana denominados de plasmídios, os quais
não estão conectados ao cromossomo e se replicam de forma independente.
Podem conter de 5 a 100 genes que geralmente não são determinan-
tes para a sobrevivência da bactéria em ambientes normais, mas lhes confe-
rem características que permitem sobreviver em ambientes adversos como na
presença de antibióticos, pois podem transportar genes para atividades como
resistência aos antibióticos, tolerância a metais tóxicos, produção de toxinas e
síntese de enzimas. Os plasmídios podem ser ganhos ou perdidos sem causar
danos para as células, podendo ser transferidos de uma bactéria para outra.
4.4. Ribossomos
Os ribossomos estão presentes em células eucarióticas e procarióticas e em
ambas servem como local para síntese protéica. São compostos por duas
subunidades, cada qual contendo uma proteína e um tipo de RNA chamado
RNA ribossômico (RNAr).
Os ribossomos procarióticos diferem dos eucarióticos no número de
proteínas e moléculas de RNAr que eles contém, por isso os ribossomos pro-
carióticos são denominados 70S e os das células eucarióticas 80S. A letra
S refere-se às unidades Svedberg, que indicam a velocidade relativa de se-
dimentação durante a centrifugação em velocidade ultraelevada, velocidade
esta que é influenciada pelo tamanho, peso e forma de uma partícula. As su-
bunidades de um ribossomo 70S são uma pequena subunidade 30S, con-
tendo uma molécula de RNAr, e uma subunidade maior 50S, contendo duas
moléculas de RNAr (Figura 22)
4.6. Endósporos
Algumas espécies de bactérias produzem formas latentes chamadas de es-
poros que podem resistir a condições desfavoráveis, tais como dessecamen-
to e calor. Estas formas de repouso são metabolicamente inativas, mas não
inviáveis, pois em condições ambientais ideais eles podem germinar (voltar a
crescer) e tornar-se células vegetativas metabolicamente ativas, capazes de
crescer e se multiplicar novamente.
Os endósporos, que são esporos que se formam dentro da célula, são
exclusivos das bactérias. Eles possuem parede celular espessa e são alta-
mente refratáveis e resistentes as mudanças ambientais. Variam em forma e
localização dentro da célula, podendo ser classificados como terminais, sub-
terminais e centrais. São frequentes nos gêneros Clostridium e Bacillus.
As bactérias que produzem endósporos são um problema na indústria
alimentar e para saúde, pois como são resistentes ao calor e dessecamen-
to intensos, bem como a exposição a compostos químicos tóxicos, podem
sobreviver a procedimentos de processamento inadequados em alimentos,
podendo causar quadros clínicos como o botulismo.
40 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Síntese do capítulo
A leitura desse capítulo proporciona o conhecimento acerca das principais
formas das bactérias, bem como elas se agrupam, podendo formar arranjos
de células ou serem encontradas individualizadas.
Além disso, esse capítulo aborda a anatomia das bactérias, mostrando
as principais estruturas bacterianas relacionadas à locomoção, reprodução,
adesão aos tecidos do hospedeiro ou meio ambiente, proteção e outras fun-
ções fisiológicas.
A parede bacteriana também é discutida aqui, onde se diferenciam as
paredes das células Gram positivas e negativas, relacionando os principais
componentes moleculares às suas respectivas funções.
Atividades de avaliação
1. Descreva a estrutura geral de uma célula procariótica.
2. Diferencie os flagelos bacterianos dos flagelos das células eucarióticas.
3. Como se dá o processo de transferência de plasmídios entre bactérias e
como isso se relaciona com o aparecimento de resistência bacteriana aos
diversos antibióticos?
4. Cite as diferenças entre a parede celular de bactérias Gram positivas e
Gram negativas.
5. Endósporos bacterianos de Bacillus subtilis são comumente usados como
teste de eficácia de algum processo de esterilização, principalmente a au-
toclavação. Discorra sobre essa utilização e seu princípio.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 41
Leituras
KOCH, A. L. Bacterial Wall as Target for Attack: Past, Present and Future Re-
search. Clinical Microbiology Reviews. v. 16. n. 4. 2003, p. 673–687.
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=MgjYSJGAKBU
http://www.youtube.com/watch?v=lwzNOdF7L2c
Referências
BLACK, J. G. Microbiologia: Fundamentos e Perspectivas. 4. ed. Rio de Ja-
neiro: Guanabara Koogan, 2002.
KRIEG, N. R.; HOLT, J. G. Bergey’s manual of systematic bacteriology. 9
th. Baltimore: Williams & Wilkins, 1984.
PELCZAR, J. P., CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e
aplicações. 2. ed. São Paulo: MAKRON Books do Brasil, 1997. v. 1 e 2.
PINHEIRO, A. F. Nova bactéria revoluciona as bases da vida. Disponível
em: <http://www.biologando.com.br/?p=520>. Acesso em: 07 jan. 2010.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 8. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004. 920 p.
Capítulo 3
Métodos de diagnóstico
microbiológico
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 45
Objetivos
l Apresentar os conceitos relacionados à Biossegurança em laboratórios de
Microbiologia, descrevendo a postura e cuidados necessários para um tra-
balho seguro.
l Conhecer as principais colorações que permitem a visualização das células
bactérias e seu estudo por microscopia.
l Descrever os principais métodos de diagnósticos em Microbiologia e listar
os principais passos do processamento manual de amostras microbiológi-
cas na rotina do laboratório.
1. Introdução
Laboratórios são essenciais em institutos de pesquisa, hospitais, universida-
des, escolas e em vários outros locais. Nesses ambientes é preciso seguir
normas de segurança e conduta, visando evitar acidentes que comprometam
o funcionamento adequado das instalações do laboratório e a proteção das
pessoas que o frequentam.
Grande parte dos acidentes que envolvem profissionais de saúde e téc-
nicos laboratoristas acontece devido à não observância de um conjunto de
normas que visam manter a segurança, evitar acidentes e padronizar o fun-
cionamento de um laboratório. Esse conjunto de normas é chamado de BPL
(Boas Práticas Laboratoriais).
Saiba mais
Microscopia: A ciência do mundo-micro
Nem todos os seres são possíveis de serem visualizados a olho nu. Alguns de vocês conseguiriam
visualizar melhor com a ajuda de uma lupa, no entanto, outros ainda continuariam invisíveis aos
seus olhos. Por muito tempo os seres humanos ignoraram a existência de um mundo microscó-
pico e invisível.
Imagine a excitação sentida pelo holandês Antonyvan Leeuwenhoek em 1674, quando ele,
pela primeira vez, olhou cheio de curiosidade através das lentes de seu rudimentar microscópio
cuidadosamente posicionado sobre uma gota d’agua e descobriu um mundo com milhões de
pequenos “animáculos”- como ficou denominado por ele aqueles minúsculos seres...
Fonte: http://biointerativa.com/tag/Microbiologia/
46 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
3
Em 1995 foi estabelecida 2. Biossegurança
a Lei Brasileira de
Biossegurança - Lei 8.974/95 Biossegurança3 é o principal termo utilizado quando se fala em Boas Práticas
– relacionando o trabalho Laboratoriais. Na década de 1970, a Organização Mundial de Saúde definiu
com DNA recombinante no
biossegurança como sendo “práticas preventivas para o trabalho com agen-
Brasil à saúde do homem,
animais e meio ambiente e tes patogênicos para o homem”. Com o passar do tempo, à definição foram
em 2005 foi criado através da agregados termos que tratavam de ética em pesquisa, meio ambiente, pro-
Lei 11.10/2005, o Conselho cessos envolvendo DNA recombinante e até substâncias radioativas.
Nacional de Biossegurança
que estabelece normas de A definição de biossegurança pode ser adaptável à realidade e época
segurança e fiscalização onde está inserida, mas de uma maneira geral é “o conjunto de ações voltadas
de atividades que para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às ativida-
envolvam Microrganismos
des de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação
Geneticamente Modificados
(OGM) e seus derivados. de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, a preservação do meio
ambiente e a qualidade dos resultados” (TEIXEIRA; VALE, 1996).
5. Sinalização em laboratórios
Para auxiliar na segurança do laboratório, existem sinalizações padronizadas
(Figura 23) que devem ser seguidas por todos os trabalhadores. Desse modo,
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 49
Quadro 2
A B
Figura 25 A. – Protozoários (Trypanosoma cruzi) corados pelo Gimsa; B. Estrutura
fúngica corada com azul de metileno
Fonte: GOOGLE, 2010 e medmicro.wisc.edu.
● Coloração diferencial
Nas colorações diferenciais são empregados dois corantes contrastantes que
vão gerar colorações diferentes em grupos distintos de bactérias. As colo-
rações diferenciais visam separar grupos de bactérias e a visualização de
estruturas particulares de alguns grupos de bactérias. As duas técnicas de
colorações diferenciais mais utilizadas para classificação de bactérias são o
método de Gram e a coloração de Ziehl-Neelsen.
Para visualização de estruturas particulares existem a coloração de
endósporos conhecida como técnica de Schaeffer-Fulton, a coloração para
flagelos, cápsulas e material nuclear. Neste tipo de coloração, os corantes se
ligam apenas a determinadas porções da célula, facilitando sua visualização,
sendo consideradas especiais.
Devido a sua extensa utilização e importância para Microbiologia a co-
loração de Gram será detalhada a seguir.
● Coloração de Gram
A coloração de Gram foi desenvolvida em 1884, pelo bacteriologista dinamar-
quês Hans Christian Gram. Ele descreveu esta técnica enquanto pesquisava
uma maneira para mostrar a bactéria pneumococo em tecido pulmonar de pa-
cientes que morreram de pneumonia. Esta coloração separa as bactérias em
dois grandes grupos: as Gram positivas e as Gram negativas, com base nas
diferenças estruturais existentes na parede celular destes microrganismos.
Neste tipo de coloração são utilizados quatro reagentes: cristal violeta
como corante primário, lugol que é um mordente, álcool a 95% utilizado como
um descolorante/agente diferenciador e, por fim, a fucsina que é o contraco-
rante. Para realização da coloração de Gram inicialmente é colocado sobre
um esfregaço contendo os microrganismos e previamente fixado pelo calor, o
corante primário que é o cristal violeta.
Este corante irá corar todas as bactérias com a cor roxa. Em seguida, as
células são recobertas por uma solução de iodo/lugol que age como um mor-
dente que é qualquer substância que forma um complexo insolúvel quando se
liga ao corante primário, formando-se então um complexo cristal violeta-iodo no
interior dos microrganismos.
As lâminas contendo o esfregaço são então lavadas com etanol 95%,
que é um agente descolorante, que descora seletivamente alguns tipos de cé-
lulas. O álcool é então removido por lavagem em água e as bactérias descora-
das são coradas pela fucsina (contracorante). As bactérias Gram positivas se-
rão coradas pelo cristal violeta e adquirem a cor púrpura (roxo), já as bactérias
Gram negativas apresentaram coloração cor-de-rosa, pois serão coradas pela
fucsina. As etapas do procedimento estão resumidas na Figura 26.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 53
● Coloração de Ziehl-Neelsen
Também conhecida como coloração de resistência ao álcool-ácido. Esta co-
loração é a de escolha para identificação de bactérias do gênero Mycobacte-
rium, em especial Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium leprae e do
gênero Nocardia.
54 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
● Colorações especiais
As colorações especiais são utilizadas para visualização de partes específicas
da célula bacteriana como flagelos, endósporos, cápsulas e material nuclear.
Nestas colorações, os corantes se ligam apenas a determinadas porções de
uma célula, facilitando sua visualização. Dentre estas colorações estão colora-
ções para cápsulas, coloração para endósporos e coloração para flagelos.
(A) (B)
Figura 29 A. – Bactérias com endósporos destacados. B. Bactéria apresentando
flagelos
Fonte: GOOGLE, 2010.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 57
Saiba mais
Funcionamento da autoclave
O processo de autoclavagem ou autoclavação consiste em colo-
car o material a ser esterilizado em contato com o vapor úmido
sob pressão e a altas temperaturas (121ºC – 127ºC) em um auto-
clave, espécie de “panela de pressão gigante” com uma resistên-
cia interna que gera calor.
O autoclave é dotado de uma tampa, travas e válvulas. O
primeiro passo do seu funcionamento são as fases de pré-vá-
cuo e vácuo, que consiste na retirada de todo o ar do interior
do equipamento após fechado o autoclave, por meio de uma
válvula, aquecendo-se a água até cerca de 100ºC e criando-se
vácuo no interior.
Atingida a temperatura desejada, espera-se um tempo de-
terminado (15 min a 121ºC e 10 min a 127ºC) de modo que o
vapor penetre no material a ser esterilizado e atinja a letalidade mínima desejável. Após esse
período, é iniciado o processo de secagem, onde o vapor e parte da água condensada no material
são retirados.
Fonte: http://www.manufacturer.com
9. Cultivo de microrganismos
Após a etapa de microscopia, segue-se o processamento da amostra, ha-
vendo então a necessidade de se responder a quatro perguntas básicas:
● Qual o meio de cultura apropriado para a amostra?
● Qual a temperatura e a atmosfera de incubação ideais para o(s) microrganismo(s)
de interesse na amostra?
● Quais os microrganismos de interesse podem estar na amostra e quais de-
les precisam ser melhor caracterizados?
Há necessidade de serem feitos testes de sensibilidade antimicrobiana?
de acordo com a macromorfologia das colônias, uma vez que seu micélio se
apresenta na grande maioria de maneira bem vistosa, aliada à microscopia, já
que possuem estruturas bem particulares que as permitem ser identificadas.
Ainda em relação a bactérias e fungos, nos últimos anos estão sendo
utilizados meios cromogênicos para identificação laboratorial. Os meios cro-
mogênicos são meios diferenciais e não seletivos, utilizados para identificação
direta do agente, que contem em suas formulações substratos especiais que
liberam compostos de várias cores de acordo com a sequência da sua degra-
dação por enzimas microbianas específicas. Ou seja: em uma amostra mista,
os diversos microrganismos ali presentes irão crescer com uma determinada
cor, diferenciando-se assim dos outros, e sem a necessidade da realização de
outros testes para a confirmação.
Já os vírus, por serem parasitas celulares obrigatórios requerem outros
métodos de isolamento, a depender da sua quasiespécie7. As técnicas de diag-
7
Quasiespécie é o conjunto
de amostras constituídas
nóstico mais comum são a caracterização de antígenos e ácidos nucleicos,
por genomas virais muito
além do isolamento e identificação dos vírus através de sistemas vivos, onde relacionados. Ou seja,
os mesmos são propagados em culturas de células ou animais de laboratório. como os vírus não são
Outras técnicas bastante utilizadas são aquelas baseadas em testes considerados seres vivos,
não podemos dizer que
sorológicos, onde são utilizados métodos para identificação e detecção de
eles estão classificados em
anticorpos específicos que são produzidos pelo hospedeiro em resposta à espécies. Normalmente
infecção viral. Um exemplo destes métodos é o teste de ensaio imunoenzimá- os vírus recebem a
tico (ELISA), muito comum no diagnóstico da AIDS. denominação da doença
que eles causam, mas
nos últimos anos os
9.4. Testes de sensibilidade aos antimicrobianos pesquisadores têm se
referido aos vírus como
Em muitas doenças bacterianas há a necessidade de se determinar qual an- quasiespécies.
timicrobiano servirá para matar o agente causador, e qual a concentração
mais indicada da droga para tal. Assim, o teste de susceptibilidade a antimicro-
bianos ou TSA é frequentemente recomendado como orientador na terapia
de infecções bacterianas, uma vez que submete um microrganismo a vários
tipos de antibióticos e indica qual terá o melhor poder microbicida na menor
concentração possível.
É interessante saber que para algumas bactérias já se sabe o tipo e a
concentração de uso de cada antibacteriano. Entretanto, muitas podem não
possuirem um padrão específico. Um problema bastante incidente na atuali-
dade é o aumento da resistência bacteriana, uma vez que o uso indiscrimi-
nado de antibióticos favorece a seleção de cepas resistentes à determinadas
drogas, o que faz com que uma dose de um dado antibacteriano que antes
era eficaz em um tratamento para uma determinada bactéria passe a ser ine-
ficaz, havendo a necessidade de aumentar a sua dosagem ou até mesmo a
adoção de uma outra droga de classe diferente.
62 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
reação de PCR permite criar múltiplas cópias de uma dada sequência de áci-
dos nucléicos a partir uma única ou poucas cópias da amostra em interesse,
utilizando reagentes específicos.
Síntese do capítulo
Esse capítulo apresenta uma visão geral sobre biossegurança, descrevendo
os principais fatos que impulsionaram sua discussão no Brasil, além dos prin-
cipais conceitos relacionados, tais como as definições dos termos classes de
risco e níveis de biossegurança, explorando as características e exigências
atreladas a cada um.
É discutida também a importância da utilização de equipamentos de
proteção individuais e coletivos, conhecimentos da sinalização característica,
bem como as principais recomendações de postura e trabalho em laborató-
rios, denominadas de Boas Práticas Laboratoriais.
Em seguida, são contemplados os principais métodos de diagnóstico
microbiológico, tanto clássicos (colorações e cultivos) como os moleculares,
mais recentes e complexos. Nos itens que tratam dos métodos clássicos, é
mostrada a importância da microscopia e as principais colorações e das con-
dições de esterilidade para um correto diagnóstico, além dos métodos de aná-
lise e semeadura, seleção dos meios de cultura apropriados e a interpretação
dos resultados obtidos.
Atividades de avaliação
1. Conceitue bioaerossol e cite pelo menos quatro doenças que podem ser
transmitidas via aérea a partir de uma manipulação errada de material bio-
lógico em laboratórios de Microbiologia.
2. Observe a seguinte afirmativa: “Ao utilizar bico de Bunsen ou lamparina para
flambar uma alça bacteriológica, deve-se colocar a ponta da alça na região
onde a chama se mostra na cor vermelha, pois esta será a de maior calor.”
Julgue se esta afirmativa está correta, e não estando, justifique, corrigindo-a.
3. Pesquise sobre o tipo e a composição química dos extintores de incêndio
mais comuns, e cite qual deles se aplica ao combate ao fogo em laboratório
causado por combustão de álcool e ácidos fortes.
4. Cite os tipos de cabines de segurança biológica existentes e suas respecti-
64 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Sites
Centro de Controle de Doenças (CDC): http://www.cdc.gov/
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=6Gn_yOt8T8Y
http://www.biologando.com.br/videos
Referências
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GREGORI, F. Ocorrência e caracterização de genótipos de rotavírus a partir
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INMETRO. Norma NIE–DINQP-093/ Rev.00. Critérios para credenciamento
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RICHMOND, J. Y.; MCKINNE, R. W. Organizado por Ana Rosa dos Santos, Ma-
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TEIXEIRA, P.; VALLE, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996.
Capítulo 4
Nutrição e crescimento
microbiano
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 69
Objetivos 8
Biofilmes são compostos
por uma ou mais populações
l Apresentar os principais conceitos relacionados à cinética da curva de cres- microbianas, formando uma
comunidade complexa,
cimento bacteriano e suas características.
que interage entre si e com
l Discorrer sobre os principais fatores nutricionais e físicos que regulam o o meio, em superfícies
crescimento bacteriano. bióticas e até abióticas.
A dinâmica da formação
l Apresentar as características dos meios de cultura disponíveis no merca- de um biofilme é bastante
do, bem como suas classificações. complexa: um microrganismo
inicial (colonizador primário)
1. Introdução se fixa numa determinada
superfície rica em proteínas
Agora que você já conhece a morfologia das bactérias é hora de entender e outros compostos
como esses microrganismos crescem e se multiplicam. Quando o assunto é orgânicos, produzindo uma
matriz polissacarídica que
crescimento, temos que saber que embora as bactérias sejam unicelulares, servirá como substrato
estão sempre agrupadas formando colônias. para aderência de
A idéia de se estudar bactérias como seres individuais é uma solução outros microrganismos
(colonizadores secundários).
didática, uma vez que na natureza é praticamente impossível se encontrar O modo pelo qual os
uma única bactéria, vivendo isolada das outras. Normalmente elas formam microrganismos se fixam
“consórcios”8, seja de mesma espécie, grupos diferentes, ou até mesmo com uns aos outros produz
outros microrganismos, como algas e fungos. canais semelhantes a um
sistema circulatório primitivo,
Apesar das bactérias serem unicelulares, o termo crescimento não se promovendo a troca de
aplica individualmente. Quando falamos em procariotos, crescimento é sinô- nutrientes e metabólitos e
nimo de divisão, multiplicação, aumento do número de células ou ainda cres- a remoção de compostos
tóxicos. A placa dentária é um
cimento populacional. A típica linha do tempo dos seres vivos, que nascem, exemplo clássico de biofilme.
crescem, reproduzem-se e morrem, normalmente percorre muitos meses ou
anos. Em bactérias isso não ocorre. Na maioria das espécies, em condições
físicas, químicas e nutricionais adequadas, bastam apenas 20-30 minutos
para que um novo indivíduo seja gerado, originando rapidamente populações.
ambientes, não conseguem crescer em um meio que não lhe ofereça condi-
ções adequadas.
O número de indivíduos na população é fator determinante, princi-
palmente em condições in vitro. Quanto maior o número de indivíduos em
um dado de meio de cultura, por exemplo, maior a pressão seletiva e pro-
dução de metabólitos tóxicos nessa comunidade, e consequentemente me-
nor a quantidade de nutrientes disponíveis e condições favoráveis. Fatores
químicos e físicos como pH, temperatura, concentração de oxigênio, e
nutrientes disponíveis no meio são capazes de alterar toda a dinâmica do
crescimento bacteriano.
Saiba mais
Descoberta de bactéria pode revolucionar os conhecimentos sobre as
bases da vida
A NASA anunciou em dezembro de 2010 a descoberta de uma bactéria pela astrobióloga Felisa
Wolfe-Simon. A bactéria contém arsênio em sua composição no lugar de fósforo, o que é inédito
até agora na Ciência. O estudo divulgado na Revista Science abre novas possibilidades para estudo
da existência de novas formas de vida dentro e fora do planeta.
Segundo Felisa Wolfe-Simon, a presença de arsênio está restrita a uma parte das bactérias do
tipo GFAJ-1 da família Halomonadaceae. “Nós medimos as taxas de arsênio dentro das células e
descobrimos que o elemento estava associado a um gene no DNA do organismo”, disse a cientista
durante a entrevista coletiva promovida pela NASA. “Nós conseguimos notar experimentalmente
que esses organismos podem existir.”
Segundo estudiosos, a descoberta ainda é única e uma grande exceção, e precisa ser confron-
tada com todas as pesquisas anteriores que apontam para a presença de seis elementos como bá-
sicos para a vida: carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), oxigênio (O), fósforo (P) e enxofre (S).
Todo microrganismo precisa de uma fonte de energia para realizar seu cres-
cimento. O carbono é um elemento fundamental para que as bactérias con-
sigam sintetizar todos os compostos orgânicos necessários para seu de-
senvolvimento. Além disso, para sintetizar aminoácidos, proteínas e ácidos
nucleicos, elas necessitam de outros elementos, como nitrogênio, fósforo e
enxofre, oxigênio e gás carbônico. Esses seis macro-nutrientes, juntos, repre-
sentam aproximadamente 70% do peso seco de uma célula bacteriana.
Além de macronutrientes, as bactérias também necessitam de alguns
elementos minerais (elementos traços) como cobre, ferro e zinco, que estão
envolvidos em reações enzimáticas, funcionando como cofatores essenciais
para a ativação de algumas enzimas.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 71
2.2. Temperatura
No que se refere à temperatura de crescimento, as bactérias são classificadas
em: psicrófilas, mesófilas e termófilas. Ressaltamos que cada microrganismo
é capaz de crescer em uma determinada faixa de temperatura, possuindo
limites mínimo, máximo e um ponto de crescimento considerado ótimo, onde
a taxa de multiplicação é a maior possível para a espécie.
A temperatura mínima é dita como o menor valor térmico no qual as
bactérias conseguem crescer. A temperatura máxima é o limite térmico supor-
tável pela espécie, ou seja: a temperatura máxima que a espécie aguenta sem
morrer. Já a temperatura ótima é aquela na qual a espécie consegue crescer
mais rapidamente, gerando o maior número de novos indivíduos no menor
tempo possível, quando as condições nutricionais são adequadas.
Bactérias mesófilas são as mais comumente encontradas no ambien-
te. Elas são capazes de crescer na faixa de temperatura entre 15 ºC a 45 ºC,
e a grande maioria tem como ponto ótimo a faixa entre 25 ºC e 40 ºC. Note
que essa faixa de temperatura é a que predomina no nosso planeta, e con-
sequentemente onde mais bactérias concentram seu valor de crescimento
máximo. Entre os mesófilos estão grande parte das bactérias patogênicas,
das que fazem parte da microbiota normal humana e das que são capazes de
degradar alimentos, possuindo uma temperatura ótima de crescimento próxi-
mo de 37 ºC.
Bactérias psicrófilas são aquelas que crescem em baixas temperaturas,
características de ambientes profundos de oceanos e também nas regiões dos
pólos. Entretanto, a faixa de temperatura definida para esse grupo costuma ser
entre -10 ºC e 30 ºC. Vale ressaltar que algumas bactérias mesófilas também
são capazes de sobreviver nessa temperatura por um determinado tempo, re-
72 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
3. Meios de cultura
O cultivo dos microrganismos em condições laboratoriais é um pré-requisito
para seu estudo adequado. Para que isso possa ser realizado é necessário o
conhecimento de suas exigências nutricionais e dos fatores físicas e/ou am-
bientais requeridos. Assim, os meios de cultivo, também chamados meios de
cultura são utilizados com o propósito de fornecer as condições nutricionais
mínimas para o cultivo artificial de microrganismos.
Os meios de cultura devem conter todas as substâncias nutritivas exigi-
das pelos microrganismos para o seu crescimento e multiplicação. Para que
os microrganismos possam fazer a síntese de sua própria matéria nutritiva
devem dispor de fontes de carbono (proteínas, açúcares), fontes de nitrogênio
(peptonas) e outras fontes de energia. São também necessários alguns sais
inorgânicos, vitaminas e outras substâncias favorecedoras do crescimento.
Certos microrganismos crescem em qualquer meio de cultura (como a
Escherichia coli), outros necessitam de meios especiais, por isso são chama-
dos de fastidiosos (como as bactérias do gênero Streptococcus que neces-
sitam de meios especiais contendo sangue em sua composição) e existem
ainda aqueles que não são capazes de crescer em nenhum meio de cultura já
desenvolvido (como o Treponema pallidum).
74 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Saiba mais
O que é o ágar?
O ágar é um hidrocoloide extraído de algas marinhas largamente utilizado na indústria alimentícia e farmacêu-
tica. Dentre as suas principais propriedades apresentam temperaturas de fusão/gelificação bem definidas. O
ágar é obtido de diversos gêneros e espécies de algas marinhas vermelhas da classe Rodophyta (Figuras 32 e 33)
(Ahnfeltia spp, Gracilaria spp., Gelidium spp.).
O ágar funde a 94ºC e volta a se solidificar a 42ºC. Assim, o mesmo é adicionado ao meio de cultura líquido
para torná-lo sólido. Salienta-se que o ágar é apenas um agente solidificante, nunca sendo adicionado ao meio
de cultura como nutriente, pois, em geral, não consegue ser utilizado pelas bactérias.
Figura 32 – Algas vermelhas do gênero Ahnfeltia sp. Figura 33 – Algas vermelhas do gênero Gracilaria sp.
Fonte: www.marlin.ac.uk, 2010. Fonte: www.marlin.ac.uk, 2010.
● Quanto à função
Os meios podem ser utilizados com diversos propósitos, como por exemplo,
promover o crescimento e/ou o isolamento dos microrganismos, conhecer as
necessidades nutritivas dos mesmos, pesquisar características bioquímicas
e o perfil de susceptibilidade a antimicrobianos, entre outros. Eles podem ser
classificados em:
a) Seletivos: Favorecem o crescimento do organismo de interesse impedindo
o crescimento de outros microrganismos. Ex.: ágar Sabouraud dextrose,
ágar MacConkey.
b) Diferenciais: Possibilitam identificar a presença dos microrganismos de
interesse, pois provoca reações características nos mesmos, funcionan-
do, assim, como meios de identificação presuntiva. O ágar sangue, por
exemplo, é frequentemente utilizado para a identificação de bactérias com
padrões hemolíticos (que destroem células sanguíneas pela ação de he-
molisinas), como Streptococcus pyogenes.
76 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
● Quanto à natureza
a) Animados: São constituídos de células vivas, como, por exemplo, tecidos ou
ovos embrionários.
b) Inanimados: Possuem apenas moléculas inorgânicas em sua composição,
podendo ser classificados como naturais, ou seja, constituídos por substân-
cias provenientes da natureza, ou sintéticos, ou seja, formado por substân-
cias químicas produzidas em laboratório.
● Quanto ao pH
a) Tamponado: Para que não haja variação de pH, em consequência da eli-
minação de metabólitos pelas bactérias, alguns meios são acrescidos de
tampões. Um exemplo é o meio RPMI, que ao ser preparado apresenta pH
em torno de 7,9, sendo tamponado com MOPS (ácido 3-Nmorfolino propa-
no sulfônico), para atingir pH 7.
b) Não tamponado: Não são acrescidos de tampões, embora alguns consti-
tuintes como a peptona e os aminoácidos possam funcionar como tampões.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 77
l Distribuição do meio em tubos ou placas, caso este não tenha sido autocla-
vado nos mesmos.
l Armazenamento do meio em condições adequadas que permitam a manu-
tenção das suas propriedades nutricionais e a garantia da sua esterilidade
até o momento da utilização.
A seguir encontram-se listadas as etapas do preparo do meio de cultura
desidratado:
l Escolha do meio de cultura
l Pesagem do pó desidratado
l Diluição em água
l Esterilização
l Correção do pH
l Distribuição do meio
l Armazenamento do meio.
Inoculando um microrganismo em um meio de cultura que possua to-
dos os requisitos nutritivos necessários e fatores ambientais favorecidos, o mi-
crorganismo inicia seu desenvolvimento neste meio, passando pelas diversas
fases da curva de crescimento, desde a fase de latência, logarítmica, estacio-
nária, até a fase da morte.
78 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Saiba mais
Ágar: Hidrocolóide de algas vermelhas
Ágar foi o primeiro hidrocolóide descoberto e preparado como um extrato purificado.
De acordo com uma lenda japonesa o método de fabricação original do ágar foi descoberto
no meio do século 17, provavelmente em 1658, quando um oficial japonês, no inverno daquele
ano chegou a uma pequena estalagem. O dono da estalagem Minoya Tarozaemon cerimonio-
samente recebeu e ofereceu um prato tradicional de geléia de algas marinhas no jantar, que foi
preparada pelo cozimento Gelidium sp. com água.
Depois do jantar, o excedente de geléia foi jogado ao ar livre. A geléia foi congelada durante a
noite, e descongelada e seca ao sol, por vários dias, tornando-se uma substância branca, porosa e
seca. Tarozaemon encontrou essa substância mole e a cozinhou em água. Sendo assim o método
de fabricação de ágar foi descoberto acidentalmente... cont.
Fonte: http://www.fao.org/docrep/field/003/AB730E/AB730E03.htm
Síntese do capítulo
Nesse capítulo apresentou-se os principais conceitos relacionados ao cres-
cimento bacteriano isoladamente ou em comunidade, formando biofilmes e
como as bactérias se comportam em situações de pH, temperatura, condi-
ções de oxigênio, pressão, salinidade, entre outros.
Além disso, foram demonstradas as etapas da curva de crescimento
bacteriano e suas características, bem como o comportamento das células
frente a cada uma dessas etapas. Também se discutiu assuntos relacionados
aos meios de cultura, como suas classificações, aplicações e características.
Atividades de avaliação
1. Qual a diferença entre os meios de cultura Ágar sangue e Ágar chocolate?
Por que é preferível usar sangue de carneiro ao invés de sangue humano
em meio ágar sangue?
2. Por que o meio de cultura Mac Conkey é dito seletivo diferenciador e o Ágar
Sangue é dito enriquecedor diferenciador?
3. Observa a receita de um meio de cultura descrito por Dahmen em 1943:
“Cozinhar 500 gramas de carne sem tendões nem gordura em um litro de
água durante 2 horas e meia. Filtrar. Adicionar peptona e sal. Cozinhar du-
rante outras duas horas. “Distribuir em tubos ou balões e esterilizar por três
dias consecutivos”. A partir dessa descrição, classifique esse meio quanto
a composição, função, consistência e natureza.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 81
Leituras
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organism that reproduces by morphologically symmetric division. PLOS Bio-
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Sites
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TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C .L. Microbiologia. 8. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
Capítulo 5
Genética microbiana
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 85
Objetivos
l Apresentar os principais conceitos relacionados à maquinaria genética nas
células bacterianas.
l Descrever os processos genéticos de divisão celular e transferência de infor-
mações bacterianas. 10
Alguns antimicrobianos
l Apresentar informações sobre a ocorrência de resistência bacteriana à como as quinolonas
atuam inibindo a DNA das
antimicrobianos10.
bactérias, impedindo a sua
replicação, causando a morte
1. Introdução microbiana.
2. Replicação do DNA
Durante a replicação do DNA ocorre a cópia da molécula de DNA parenteral
de fita dupla em duas moléculas de DNA-filhas de fita dupla. Este processo é
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 87
complementar formados são juntos pela enzima DNA ligase formando uma
fita contínua.
4. Alterações genotípicas
Alterações genotípicas podem ocorrer em microrganismos através de diferen-
tes mecanismos, e essas alterações podem resultam em variabilidade geno-
típica e/ou fenotípica.
Alterações no DNA podem ocorrer como resultado dos processos de
mutação e recombinação.
4.1. Mutação
Mutação é a alteração na sequência de nucleotídeos de um gene. Se um
gene tem sua sequência de nucleotídeos alterada, a proteína que ele codifi-
ca poderá ter alteração na sequência de aminoácidos. As mutações podem
ocorrer em todos os organismos vivos, mas na natureza são eventos raros
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 89
que podem acontecer ao acaso, sem uma causa aparente ou por exposição
a agentes mutagênicos, como, por exemplo, a luz ultravioleta e os raios X.
As mutações podem ser classificadas em vários tipos. Dois tipos co-
muns são mutação pontual e mutação por deslocamento do quadro de
leitura (frameshift). Na mutação pontual ocorre a substituição de um nucle-
otídeo por outro em um gene, esta mutação pode não resultar em nenhuma
alteração proteica, mas pode resultar também na síntese incompleta de prote-
ínas ou na produção de proteínas alteradas. Um exemplo de mutação pontual
é a anemia falciforme em humanos, cuja substituição de uma base no códon
para sexto aminoácido da hemoglobina muda o aminoácido ácido glutâmico
para valina, o resultado é a síntese anormal da proteína hemoglobina.
A mutação por deslocamento do quadro de leitura ocorre por adição
ou perda de um ou mais nucleotídeos, sendo denominadas mutação por in-
serção e mutação por deleção, respectivamente. Em ambas as situações
ocorrem alterações na leitura dos códons no ribossomo, resultando na forma-
ção de proteínas não funcionais.
4.2. Recombinação
Recombinação é um processo que produz um novo genótipo por meio da tro-
ca de material genético entre dois cromossomos homólogos. Em organismos
eucarióticos a recombinação pode ocorrer durante a meiose onde os pares de
cromossomos podem cruzar, quebrar e rearranjar-se de maneira que resulte
em modificações no genótipo.
Em células procarióticas, há somente um cromossomo, de forma que
as trocas ocorrem por transferência de material de uma bactéria doadora para
uma receptora. Como a recombinação só acontece entre cromossomos ho-
mólogos, a bactéria receptora e a doadora pertencem a mesma espécie ou
à espécies relacionadas. Três são as maneiras pelas quais pode ocorrer a
transferência de material genético entre bactérias resultando em recombina-
ção, estas são: transformação, transdução e conjugação.
Na transformação ocorre absorção de moléculas de DNA dispersas no
ambiente, provenientes de bactérias mortas e decompostas. A bactéria recep-
tora é capaz de absorver os fragmentos de DNA e incorporá-los em seu pró-
prio cromossomo. As bactérias capazes de realizar este tipo de recombinação
são ditas bactérias competentes.
Transdução é o processo de recombinação no qual o DNA bacteriano
é transferido de uma bactéria para outra através dos vírus chamados bacteri-
ófagos ou fagos. Durante o processo de replicação viral, os bacteriófagos po-
dem eventualmente incorporar pedaços do DNA bacteriano ao invés de DNA
90 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
viral, e, após serem liberados, podem infectar outra bactéria e transmitir a ela
os genes bacterianos que transportavam. A bactéria infectada incorpora em
seu cromossomo os genes recebidos do fago e estes passam a fazer parte do
mesmo de forma permanente. Desta forma, o segundo hospedeiro bacteriano
do fago adquire um ou mais genes do primeiro hospedeiro (Figura 38). Genes
cromossômicos e plasmídios podem ser transferidos para célula receptora
por meio de fagos.
11
Escherichia coli O157:H7
foi isolada pela primeira
vez em 1975 na Califórnia,
de uma mulher com
diarreia sanguinolenta.
O microrganismo foi
reconhecido como causador
de doenças em humanos em
1982 quando foi associado
a dois surtos de colite A KPC, cepas de Klebsiella pneumoniae produtoras de carbapenemase
hemorrágica nos estados de foram apelidadas de “superbactérias”, devido ao seu amplo espectro de resis-
Oregon e Michigan. Ambos
tência. As “superbactérias”, de um modo bem generalista, são cepas bacteria-
os surtos foram relacionados
epidemiologicamente à nas de algumas espécies que apresentam multirresistência. Algumas cepas
ingestão de hambúrguer de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), Escherichia coli
contaminado em uma cadeia sorotipo O157 : H711 e a própria KPC podem ser vistas causando infecções
de “fast-food”. Na década hospitalares de gravidade importante.
de 1990 vários surtos de
Escherichia coli O157:H7
As comunidades médica e científica atribuem o aparecimento dessas
foram registrados nos bactérias multirresistentes ao uso inadequado de antibióticos e à facilidade
Estados Unidos, Canadá e com que as bactérias combatidas de modo inadequado adquiram algum me-
Grã-Bretanha. canismo de resistência e repasse-o às outras da colônia via plasmídio R.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 95
Saiba mais
Anvisa orienta estabelecimentos de saúde sobre a KPC
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nesta segunda-feira uma nota técnica
direcionada a hospitais, secretarias de saúde e comissões de controle de infecção hospitalar com di-
retrizes para identificação, prevenção e controle de infecções por microrganismos multirresistentes.
De acordo com o documento, é necessário “enfatizar a importância da higienização das mãos
para todos os profissionais de saúde, visitantes e acompanhantes”. Além disso, acrescenta que é
preciso “reforçar a aplicação de precauções de contato”. As medidas são decorrentes do surto da
superbactéria KPC.
Ainda segundo a nota da Anvisa, é recomendada a “implementação de medidas de pre-
cauções de contato para pacientes admitidos em hospitais brasileiros, oriundos de instituições
hospitalares no exterior, ou que tenham sido recentemente hospitalizados no exterior”. Essa re-
comendação ocorre por conta dos recentes relatos de disseminação de outras superbactérias
produtoras de carbapenemases em diversos países, como o tipo NDM, oriundo da Índia e do
Paquistão, relatado em hospitais da Europa...
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/anvisa-orienta-estabelecimentos-de-saude-sobre-kpc
Síntese do capítulo
Nesse capítulo apresentamos os principais conceitos relacionados à maquina-
ria genética na célula bacteriana, bem como as principais características do seu
material genético. Os processos de transformação, transferência e expressão
gênica foram abordados, com ênfase nos processos de origem plasmidial.
As principais estruturas envolvidas na transferência genética foram ci-
tadas, bem como foi discutido o histórico, processo e características da ocor-
rência de resistência bacteriana às drogas antimicrobianas. Relacionado à
isso, foi citado exemplos de infecções causadas por bactérias multirresisten-
tes e os últimos surtos de infecções hospitalares no Brasil.
96 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Atividades de avaliação
1. Cite e descreva os mecanismos que podem resultar em variabilidade gené-
tica nos microrganismos.
2. É possível que a informação de resistência bacteriana a drogas antimicro-
bianas seja inserida diretamente no cromossomo bacteriano e este por sua
vez repasse a informação para células filhas?
3. Cite duas classes de antibacterianos disponíveis comercialmente e infor-
me seus mecanismos de ação. Dica: utilize a bula dos medicamentos para
consultar a resposta.
4. Observe a seguinte situação: Roberta, 21 anos, técnica de Enfermagem,
apresentava constantemente infecções bacterianas de garganta. Como
tratamento, utilizava comprimidos de amoxilina segundo recomendação
médica. Tempos após, Roberta passou a exibir refratariedade ao tratamen-
to com amoxilina. De posse dos seus conhecimentos adquiridos nessa uni-
dade e por meio de pesquisas adicionais, responda o que significa o termo
“refratariedade” e indique as possíveis causas do acontecido levando em
conta que o ocorrido pode ter relação com a profissão de Roberta.
Leituras
ANGERT, E. R. Alternatives to binary fission in bacteria. Nature. v. 3. 2005.
p. 214-224.
BARKAY, T.; SMETS, B. F. Horizontal Gene Flow in Microbial Communities.
ASM News. v. 71, n. 9. 2005. p. 412-419.
Sites
http://www.youtube.com/watch?v=UertSvu68qg
http://www.youtube.com/watch?v=NHfK8Q4c8DQ&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=dCutzJJgcFM&feature=related
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 97
Referências
BLACK, J. G. Microbiologia: Fundamentos e Perspectivas. 4. ed. Rio de Ja-
neiro: Guanabara Koogan, 2002.
http://mundohoje.com.br/superbacteria-kpc-o-que-e-como-tratar-prevencao-
-e-sintomas.html
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI16760-15257-1,00-
O+ATAQUE+DAS+SUPERBACTERIAS.html
PELCZAR, J. P., CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e
aplicações. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1997. v. 1 e 2.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 8. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004. 920 p.
Capítulo 6
As bactérias
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 101
Objetivos
l Descrever as características gerais dos principais grupos de bactérias.
l Compreender as principais regras utilizadas no sistema de classificação do
manual de sistemática bacteriológica de Bergey.
1. Introdução
As bactérias (do latim, bacterium) são organismos unicelulares, relativamente
simples e muito pequenos (Figura 42), cujo material genético não está envolto
por uma membrana nuclear especial. Por essa razão, as bactérias são deno-
minadas seres procariotos, que em grego significa pré-núcleo.
a) b) c)
Figura 42 – Diversidade bacteriana. (a) Pseudomonas aeruginosa, em for-
ma de bacilo e com presença de flagelos. (b) Streptococcus, apresenta
cocos que se dividem e permanecem ligados em forma de cadeia. (c) Spi-
rillum volutans, forma espiralada com flagelos em arranjo anfitríquio.
Fonte: RAVEN; EVERT; EICHORN, 2001.
car as bactérias por suas características físicas, mas também podem ajudar
a estabelecer o grau de “parentesco” desses organismos ao se comparar a
composição de seu material genético e outras características celulares.
Muitas características das bactérias são examinadas para fornecer
dados para a identificação e classificação. Essas características incluem a
morfologia celular (forma), reações a corantes, motilidade, morfologia colo-
nial, exigências nutricionais, atividades bioquímicas e metabólicas, enzimas
específicas que o organismo produz, patogenicidade e composição genética.
3. Denominações bacterianas
Além dos pesquisadores proporem nomes científicos adequados para as bac-
térias, algumas vezes os nomes remetem à sua forma. Caso a palavra “co-
13
Sempre que você vir a
palavra Bacillus escrita com a
cos” apareça no nome de uma bactéria, automaticamente sabe-se a forma
inicial maiúscula e sublinhada
do microrganismo – esférica. Os exemplos incluem gêneros como Entero- ou escrita em itálico, refere-
coccus, Peptococcus, Peptostreptococcus, Staphylococcus e Streptococcus. se a um gênero particular
Entretanto, nem todos os “cocos” apresentam a palavra cocos no nome (por de bactérias em forma de
bastonete. Entretanto, se
exemplo, Neisseria spp.).
você vir a palavra bacilos,
O mesmo ocorre para a palavra “bacilo”, caso ela apareça no nome da sem estar escrito com
bactéria, já se sabe que a forma é bastão. Os exemplos incluem gêneros como a inicial maiúscula, nem
sublinhado ou escrita em
Actinobacillus, Bacillus13, Lactobacillus e Streptobacillus. Entretanto, nem todos
itálico, isto significa qualquer
os “bacilos” apresentam a palavra bacilo no nome (ex.: Escherichia coli14). bactéria em forma de
São também comumente usados termos como estafilococos (para es- bastonete.
pécies de Staphylococcus), estreptococos (para espécies de Streptococcus), 14
Escherichia coli O157 : H7
clostrídios (para espécies de Clostridium), riquétsias (para espécies de Ricket- foi isolada pela primeira
tsia), entre outros. Nos hospitais, são frequentemente utilizadas alcunhas e vez em 1975 na Califórnia,
de uma mulher com
abreviaturas como: gonococos (para Neisseria gonorrhoeae), pneumococos
diarreia sanguinolenta.
(para Streptococcus pneumoniae), entre outros. É comum ouvir alguns pro- O microrganismo foi
fissionais utilizarem expressões como: meningite meningocócica, pneumonia reconhecido como causador
pneumocócica, faringite estreptocócica etc. de doenças em humanos em
1982 quando foi associado
Com bastante frequência as bactérias são denominadas pelas doen- a dois surtos de colite
ças que causam, como antraz (causada pelo Bacillus anthracis), tuberculose hemorrágica nos estados de
(Mycobacterium tuberculosis), gonorreia (Neisseria gonorrhoeae), cólera (Vi- Oregon e Michigan. Ambos
os surtos foram relacionados
brio cholerae). Também existem casos que as mesmas recebem designações
epidemiologicamente à
errôneas, por exemplo, a Haemophilus influenzae não causa a influenza, que ingestão de hambúrguer
se trata de uma doença respiratória causada por vírus. contaminado em uma cadeia
E, por fim, algumas vezes os microrganismos, recebem nomes rela- de “fast-food”. Na década
de 1990 vários surtos de
cionados com o nome da pessoa que os descobriu, tais como Yersinia pestis Escherichia coli O157:H7
(Alexandre Yersin), Bordetella (Jules Bordet), Escherichia (Theodor Escheri- foram registrados nos
ch), Neisseria (Albert Neisser) e Salmonella (Daniel Salmon) (Figura 43). Estados Unidos, Canadá e
Grã-Bretanha.
104 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Saiba mais
Fleming: o acaso e a observação
Tem-se dito que muitas descobertas científicas são feitas ao acaso. O acaso, já dizia Pasteur, só
favorece aos espíritos preparados e não prescinde da observação. A descoberta da penicilina
constitui um exemplo típico.
Alexander Fleming, bacteriologista do St. Mary’s Hospital, de Londres, vinha já há algum
tempo pesquisando substâncias capazes de matar ou impedir o crescimento de bactérias nas fe-
ridas infectadas. Essa preocupação se justificava pela experiência adquirida na Primeira Grande
Guerra (1914-1918), na qual muitos combatentes morreram em consequência da infecção em
ferimentos profundos. Em 1922 Fleming descobrira uma substância antibacteriana na lágrima e
na saliva, a qual dera o nome de lisozima.
Em 1928 Fleming desenvolvia pesquisas sobre estafilococos, quando descobriu a penicilina.
A descoberta da penicilina deu-se em condições peculiaríssimas, graças a uma sequência de
acontecimentos imprevistos e surpreendentes. No mês de agosto daquele ano Fleming tirou
férias e, por esquecimento, deixou algumas placas com culturas de estafilococos sobre a mesa,
em lugar de guardá-las na geladeira ou inutilizá-las, como seria natural.
Quando retornou ao trabalho, em setembro, observou que algumas das placas estavam con-
taminadas com mofo, fato que é relativamente frequente. Colocou-as então, em uma bandeja
para limpeza e esterilização com lisol. Neste exato momento entrou no laboratório um seu cole-
ga, Dr. Pryce, e lhe perguntou como iam suas pesquisas. Fleming apanhou novamente as placas
para explicar alguns detalhes ao seu colega sobre as culturas de estafilococos que estava reali-
zando, quando notou que havia, em uma das placas, um halo transparente em torno do mofo
contaminante, o que parecia indicar que aquele fungo produzia uma substância bactericida. O
assunto foi discutido entre ambos e Fleming decidiu fazer algumas culturas do fungo para estudo
posterior... cont.
Fonte: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/penicilina.htm
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 105
4. Diversidade bacteriana 15
A diversidade patogênica de
E. coli chega a ser fantástica.
4.1. Bactérias Gram negativas A espécie compreende cinco
categorias que causam
Como visto nos capítulos anteriores, as bactérias denominadas de Gram- infecção intestinal por
-negativas apresentam essa denominação devido a sua típica parede celular, diferentes mecanismos e
mais fina e mais complexa que a parede celular das Gram-positivas. várias outras especificamente
associadas com infecções
Seus principais representantes são descritos dentro dos seguintes urinárias, meningites e
grupos: Bacilos Gram-negativos anaeróbios facultativos; Bacilos e Cocos provavelmente outras
Gram-negativos Aeróbios; Bacilos Gram-negativos, Aeróbios/Microaerófilos, infecções extraintestinais.
As categorias que causam
Móveis, Helicoidais/Vibrioides; Bacilos Gram-negativos, Anaeróbios, Retos,
infecção intestinal são
Curvos e Helicoidais e Bacilos Gram-negativos de taxonomia incerta. coletivamente chamadas
de E. coli diarreiogênicas e
4.2. Bacilos Gram negativos anaeróbios facultativos as associadas a infecções
extraintestinais de EXPEC
Os bacilos Gram-negativos anaeróbios facultativos constituem um grupo mui- (Extraintestinal Pathogenic
to importante de bactérias, das quais muitas causam doenças no trato gas- E. coli). Além de ser um
trointestinal e em outros órgãos. Três famílias merecem destaque: Enterobac- patógeno importante, E. coli
é membro da microbiota
teriaceae, Vibrionaceae e Pasteurellaceae. intestinal normal do homem,
Enterobacteriaceae: A mais conhecida família bacteriana. Pertence a ela o sendo encontrada nas fezes
ser vivo mais estudado (Escherichia coli15) e muitos dos patógenos mais im- de indivíduos normais. Esta
estreita associação com as
portantes para o homem e demais animais (Figura 44). Seus membros tem fezes do homem (e também
distribuição ubíqua16, sendo particularmente encontrados no trato intestinal de de outros animais) representa
seres humanos e outros animais. Muitas espécies são de considerável im- a base do teste para verificar
portância econômica devido a seus efeitos patogênicos na agricultura e em contaminação fecal da água
e dos alimentos.
animais. Os principais gêneros estão descritos na Quadro 3.
Microrganimos ubíquos:
16
Quadro 3
DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS GÊNEROS DE BACTÉRIAS ENTÉRICAS
Gênero Habitat Características especiais
Organismo mais familiar para a Microbiologia.
Trato intestinal
Sua presença na água e em alimentos é um importante
Escherichia 17
de animais de sangue
indicador de contaminação fecal.
quente
Algumas linhagens produzem enterotoxinas.
Potencialmente patogênicos e causam infecções alimentares
Trato intestinal de aves (salmoneloses).
Salmonella
E. coli diarreinogênicas:
17 e bovinos Nenhum dos métodos de nomenclatura descritos para o
São divididas em 5 categorias: gênero é satisfatório.
• E. coli enterotoxigênica Shigella Trato intestinal do homem Causam shigelose que pode evoluir para disenterias mortais.
• E.coli enterohemorrágica
• E. coli enteroagregativa Causam pneumonia.
Água, solo, trato intestinal
• E. coli enteroinvasora Klebsiella Sua patogenia está intimamente associada à composição
do homem, nasofaringe
• E. coli enteropatogênica química da cápsula polissacarídica.
19
Existem microrganismos quena, Gram negativa e imóvel, que provoca meningites e septicemias, geral-
resistentes a quase a mente em crianças menores de 5 anos de idade.
totalidade das classes de
antimicrobianos, incluindo
os de uso controlado e de Bacilos e cocos Gram negativos aeróbios
uso restrito pela Comissão Este grupo é formado por espécies de importância ambiental, industrial e mé-
de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH). As
dica. Um dos mais interessantes gêneros é Pseudomonas19 (Figura 46). São
espécies de P. aeruginosa bacilos com flagelo polar, que excretam pigmentos extracelulares (piocianina,
multirresistentes atacam piorubina, fluoresceína, pioverdina), solúveis em água que se difundem em
geralmente pessoas seu próprio meio e conferem colorações peculiares.
com quadros de saúde
complicados, agravado por
alguma doença. As vítimas
preferidas são pessoas
gravemente enfermas, ou que
estão internadas em UTIs,
submetidas a procedimentos
invasivos.
20
Um dos sucessos
mais promissores da
biorremediação na Figura 46 – Micrografia eletrônica da es-
degradação de poluentes pécie Pseudomonas aeruginosa.
Fonte: CARR (CDC), 2006.
ocorreu no Alaska, após
o vazamento do petroleiro
Exxon Valdez. Várias Também merece destaque sua atuação na biorremediação16 do petróleo,
bactérias de ocorrência visto que, a presença de derivados de petróleo no meio ambiente é de grande
natural do gênero interesse ecológico e sanitário, devido ao seu grande tempo de degradação,
Pseudomonas, existentes
toxicidade e habilidade de acumularem-se. Entre as tecnologias utilizadas para
no local do vazamento,
foram capazes de degradar recuperar os solos contaminados, a biorremediação, processo pelo qual mi-
lentamente o petróleo crorganismos, como Pseudomonas putida, transformam os contaminantes em
para suas necessidades compostos menos tóxicos, tem atraído grande interesse na área ambiental.
de carbono e energia.
Para acelerar o processo Na atualidade, a espécie P. aeruginosa se posiciona entre as principais
de degradação foram bactérias causadoras de infecções hospitalares. Relatos de redução da sensi-
derramados fertilizantes bilidade da P. aeruginosa aos antimicrobianos vêm sendo publicados no Brasil
vegetais ricos em nitrogênio
e em outros países20.
e fósforo aumentando o
número de bactérias e, por Recentemente, com base no RNA ribossomal, várias espécies de Pseu-
consequência, a taxa de domonas foram reclassificadas no gênero Burkholderia. A espécie Burkhol-
degradação, livrando as
deria pseudomallei causa uma doença denominada melioidose21, que possui
praias do óleo.
alta taxa de letalidade. A doença ocorre principalmente na Austrália e sudeste
da Ásia, Oceania e China continental. No Brasil, a melioidose foi diagnostica-
da pela primeira vez no Ceará, em 2003. A infecção se dá por meio do solo ou
da água contaminados, através da ingestão, inoculação cutânea ou inalação
do bacilo.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 109
24
Os principais métodos de
diagnóstico da gonorreia são
a bacterioscopia e a cultura.
A Organização Mundial
Figura 48 – Spirillum volutans. da Saúde (OMS) indica a
Fonte: http://www.eol.org/pages/975077
bacterioscopia como método
de escolha para o diagnóstico
Dentro do grupo de Bacilos Gram-negativos, Aeróbios/Microaerófilos, da gonorreia no homem, em
função de sua sensibilidade
Móveis, Helicoidais/Vibrioides, merece atenção para a agricultura23 o gênero
e especialidade. Já para as
Azospirillum e para a medicina os gêneros Helicobacter e Campylobacter. mulheres, devido o número
Azospirillum: Encontrada naturalmente no solo, essa bactéria consegue cres- de casos assintomáticos e a
presença de um ecossistema
cer em íntima associação com as raízes de diferentes plantas, melhorando a
vaginal, é indicada a cultura
fixação de nitrogênio e produzindo auxinas, substâncias responsáveis pelo es- de amostras do canal
tímulo ao crescimento das plantas, podendo reduzir a utilização de fertilizantes endocervical.
nitrogenados na cultura de diferentes vegetais, como por exemplo, o milho.
Helicobacter: Apontada como agente causador de gastrites e úlceras gás-
tricas, essa bactéria (Figura 49) vem sendo encontrada em todo o mundo,
infectando pessoas de todas as idades, sobretudo as de baixo nível sócio-
-econômico e pouca higiene, podendo ser transmitida das mães para os fi-
lhos. Na atualidade mostra resistência aos tratamentos com muita frequência
e pode permanecer em reserva nas placas dentárias, por exemplo, vindo à
re-infectar o indivíduo uma vez cessado o tratamento.
112 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Saiba mais
No dia 3/10/2005 a Nobel Assembly at Karolinska
Institutet decidiu que o prêmio Nobel de Fisiolo-
gia/Medicina em 2005 seria entregue aos cien-
tistas australianos Barry Marshall (1951) e Robin
Warren (1937) pelo trabalho sobre a bactéria He-
licobacter pylori e seu papel na gastrite e úlcera
péptica (Figura 50).
A aceitação pela comunidade científica não foi
fácil. Ainda na década de 1970, quando os estudos Figura 50 – À esquerda Robin Warren
começaram, achava-se que nada poderia crescer (1937) e à direita Barry Marshall (1951)
no estômago por causa do corrosivo suco gástrico.
Convencer a comunidade médica interna- ganhadores do prêmio Nobel de Fisiologia/
cional exigiu tempo e dedicação dos dois pes- Medicina em 2005, ao comprovarem que
quisadores, já que, por cerca de 100 anos, o pa- o H. pylori é o causador da úlcera péptica.
drão ensinado nas escolas de medicina indicava Fonte: http://www.isomed.com/english/helico-
que o estômago era estéril, e que, portanto, bacter.htm
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 113
nenhuma bactéria poderia viver ali. Quando os pesquisadores afirmaram que isso acontecia,
ninguém acreditou.
Para comprovar a sua tese, Warren consumiu, propositalmente, a bactéria, desenvolvendo
uma gastrite. Após esse trabalho e inúmeras outras pesquisas sabe-se que se trata de uma das
infecções mais frequentes no mundo, atingindo mais de 50% da população mundial. A maior parte
da população infectada com o H. pylori permanece saudável, sem sintomas e não necessita de
tratamento. Apenas uma minoria desenvolve doença clínica.
Saiba mais
Bioterrorismo: a ameaça no continente americano
O Bacilus anthracis vem sendo enviada por terroristas a meios de comunicação e autoridades
norte-americanas, na forma de cartas com um pó contendo esse agente de guerra biológica. Os
primeiros casos – incluindo uma morte – foram constatados em 10/2001 em Boca Raton (Florida/
EUA), em uma editora de tabloides que criticavam fortemente o principal suspeito dos ataques
que destruíram as torres do World Trade Center de New York e atingiram o Pentágono, além de
casos suspeitos ocorridos na Europa.
No dia 12/10/2001, foi reportado o primeiro caso de antraz em New York, com uma funcio-
nária da rede de televisão NBC. As autoridades já investigavam episódios no Departamento de
Estado em Washington/DC e no estado do Colorado e já um mês antes haviam sido colocadas em
alerta máximo, proibindo até mesmo o uso de aviões de fumigação agrícola, com receio de um
ataque de terrorismo biológico.
Na verdade, o antraz em si é até bastante comum em todo o mundo, principalmente nos re-
banhos bovino e ovino, registrando-se raros casos de contaminação humana. Grupos terroristas e
mesmo alguns países chegaram a fazer experimentos com diversos organismos (além do antraz,
também as bactérias da peste bubônica, da brucelose e da febre tifoide, a toxina do botulismo e
os vírus de varíola e ebola). A doença é considerada altamente endêmica no Peru, endêmica em
Chile, Argentina, e Bolívia, não ocorrente nas Guianas e no Suriname e esporádica nos demais
países... cont.
Fonte: Observatório Epidemiológico | 19ª Semana Epidemiológica
Probióticos: são
30
Micobactérias
Dentro da família Mycobacteriaceae, destaca-se o gênero Mycobacterium, 32
A tuberculose humana,
com cerca de 60 espécies, sendo a grande maioria saprófitas de solo e ape- causada principalmente
pelo M. tuberculosis, é uma
nas algumas patogênicas ao homem. Dentre as que merecem destaque estão doença com distribuição
as causadoras de tuberculose32, como Mycobacterium tuberculosis, M. bovis, universal. Segundo a
M. africanum, e causadores de hanseníase, como M. leprae. Os integrantes OMS, cerca de 8 milhões
deste grupo apresentam crescimento lento, levando semanas para formar co- de pessoas contraem
tuberculose no mundo a cada
lônias visíveis em meio sintético. Cabe salientar que M. leprae até o presente ano e 3 milhões morrem em
não pode ser cultivada em laboratórios. decorrência dela. A doença
As micobactérias produzem uma parede celular de estrutura extrema- afeta quase todos os órgãos
do corpo, sendo mais comum
mente singular, na qual o peptidioglicano contém ácido N-glicolilmurâmico em no pulmão.
vez de ácido N-acetilmurâmico, encontrado na maioria das outras bactérias.
Uma característica ainda mais distinta é que cerca de 60% da parede celular
de seus representantes se constitui de ácidos graxos de cadeia longa, com 60
a 90 átomos de carbono, denominados ácidos micólicos. Tal parede permite
que seus membros sobrevivam dentro de macrófagos, que normalmente ani-
quilam patógenos fagocitados.
Devido as particularidades de sua parede celular o gênero Mycobac-
terium não se cora pela técnica de Gram, sendo necessária uma importante
coloração diferencial, a coloração de resistência ao álcool-ácido, que se liga
fortemente apenas as bactérias que apresentam material céreo em suas pa-
redes celulares, também conhecida como técnica de Ziehl-Neelsen.
122 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
A) B) C)
Figura 58 – Diversidade morfológica das cianobactérias. (A) Chamaesiphon
sp.; (B) Gloeocapsa sp.; (C) Nodularia chucula.
Fonte: http://www.fortium.com.br – com adaptações.
Heterocitos: células
33
A fixação do nitrogênio é realizada em condições anóxicas, seja em cé-
especializadas que contêm
lulas especializadas (heterocitos33) dotadas de paredes espessadas e fotossis-
enzimas que fixam o gás
nitrogênio em amônia para o tema II (produtor de oxigênio) suprimido, seja através da separação temporal
crescimento da célula. entre respiração e fixação de nitrogênio.
A ausência de oxigênio é requisito para a atividade da nitrogenase, enzima
que reduz o nitrogênio atmosférico a amônia. Também apresentam os aeróto-
pos, vesículas gasosas delimitadas por membrana proteica reunidas no interior
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 123
Síntese do capítulo
O presente capítulo abordou as características inerentes as bactérias que são
organismos de uma única célula, relativamente simples e muito pequenos,
cujo material genético não está envolto por uma membrana nuclear especial.
Por essa razão, as bactérias são denominadas seres procariotos, que
em grego significa pré-núcleo. Bem como, foi possível descrever as carac-
terísticas gerais dos principais grupos bacterianos, a saber: os principais co-
cos Gram-positivos e Gram-negativos, os principais bacilos Gram-positivos e
Gram-negativos e por fim os grupos bacterianos ditos especiais, com desta-
que para suas atuações nas áreas médica, ambiental e industrial.
124 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Atividades de avaliação
1. Defina espécie bacteriana.
2. Pesquise sobre o tema: cepas versus sorotipos.
3. Como podemos classificar e diferenciar o iogurte e o leite fermentado?
4. Diferencie prebióticos dos probióticos.
5. Explique como os agentes tensoativos podem amenizar a barreira dos bio-
filmes facilitando a ação dos desinfetantes.
6. Pesquise os riscos à saúde oferecidos pelas bactérias Staphylococcus au-
reus e Salmonella choleraesuis, microrganismos comuns em ambientes
como cozinhas e banheiros.
7. Cite as razões por que a Escherichia coli é a bactéria mais utilizada como
indicador de contaminação de água e dos alimentos.
8. Pesquise sobre as cianobactérias e como estas podem tornar-se um risco à
saúde humana quando presentes em grandes quantidades nas águas dos
reservatórios de abastecimento.
9. Pesquise sobre os actinomicetos, levando em consideração o habitat, prin-
cipais gêneros e importância comercial.
Leituras
Breve história de quase tudo. Autor: Bill Bryson. Editora: Companhia das Letras.
Sites
Vídeo sobre a Escherichia coli:: http://www.youtube.com/watch?v=446i9s47
zqU&feature=related
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EI1432,00-Bacteria+rara+causa+doenca+e+morte+no+Ceara.html
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?Codigo=527309
H. pylori e Nobel:http://www.hpylori.com.au/
Bacillus anthracis e o bioterrorismo: http://www.acm.org.br/revista/pdf/arti-
gos/61.pdf
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Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 125
Referências
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Capítulo 7
Arqueobactérias
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 129
Objetivos
l Descrever as características gerais das arqueobactérias, abordando sua diver-
sidade e importância econômica.
1. Introdução
Os microrganismos do Domínio Archaea são considerados únicos, com pro-
priedades metabólicas extraordinárias e filogenia particular. Compreendem
os microrganismos anaeróbios mais sensíveis ao oxigênio, os termófilos mais
extremos e halófitos cujas enzimas são adaptadas às elevadas concentra-
ções salinas.
Apesar da organização celular procariótica, são organismos evoluti-
vamente distintos das demais bactérias do domínio Bacteria, em função de
características de organização do genoma, expressão gênica, composição
celular e filogenia.
As Archaea são divididas em quatro filos: Crenarchaeota, Euryarchae-
ota, Korarchaeota e Nanoarchaeota. O conhecimento da filogenia e taxono-
mia do domínio Archaea é fundamental na compreensão da ecologia micro-
biana de ecossistemas extremos. Os estudos taxonômicos ainda são raros,
com um notável direcionamento para as espécies anaeróbias produtoras do
gás metano, de ampla aplicação em tratamentos anaeróbios de resíduos e
geração de biogás.
2. Origem e evolução
Os recentes estudos sobre filogenia, baseados na análise de sequências do
ácido ribonucleico ribossomal (RNAr), revelaram que a vida na Terra é domina-
da pelos microrganismos. São três as divisões que definem a organização filo-
genética atual dos seres vivos, os domínios Bacteria, Archaea e Eukarya. Os
dois primeiros domínios compreendem os organismos constituídos por células
procarióticas e o último engloba aqueles formados por células eucarióticas.
O domínio Archaea inicialmente era formado por três filos, represen-
tadas por Crenarchaeota, que contém as Archaea redutoras de enxofre hi-
pertermófilas; Euryarchaeota, que compreende uma grande diversidade de
130 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Saiba mais
Bactéria suporta calor infernal
Elas conseguem sobreviver em ambientes escaldantes como a água em ebulição, salgados
como o Mar Morto, ácidos como os sucos gástricos. São as arqueobactérias, microrganismos
capazes de se adaptar a meios hostis e que constituem uma família genética à parte das demais
bactérias, como se descobriu há treze anos.
Ao estudar as arqueobactérias dos vulcões da Itália, que suportam até 110 graus - a maior
temperatura em que um ser vivo sobrevive -, pesquisadores alemães descobriram que, além de
passarem bem em tal inferno, os microrganismos ainda se reproduzem com mais entusiasmo
quando a temperatura ultrapassa 98 graus [...]
Fonte: Revista Superinteressante. 32 edição. http://super.abril.com.br/superarquivo/1990/con-
teudo_112078.shtml
Archaeas metanogênicas
As Archaeas metanogênicas são microrganismos anaeróbios obrigatórios,
que requerem condições anóxicas de crescimento, e altamente redutoras,
com potenciais de oxi-redução na ordem de –300 mV. Provavelmente, a
característica mais evidente das metanogênicas está relacionada com sua
especificidade de substratos para crescimento e produção de metano. São
conhecidos até o momento os seguintes substratos para a metanogênese:
formiato, monóxido de carbono, metanol, 2-propanol, aminas metiladas, dime-
tilsulfeto, metilmercaptanas e acetato, sendo universal o dióxido de carbono,
que necessita de hidrogênio como doador de elétrons.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 137
Número de espécies de
39
arqueobactérias no mundo:
108 Figura 64 – Hyperthermus butylicus, habita
No Brasil: não se sabe ao águas com temperatura em torno de 112°C,
certo.
sua descoberta ocorreu na ilha de São Mi-
Conhecidas no estado de
guel, Azores, no oceano Atlântico.
São Paulo: 04
Fonte: http://cmore.soest.hawaii.edu/
Estimadas no estado de São
Paulo: não se sabe ao certo.
4. Diversidade
40
No Brasil foram As Archaeas são estudadas e agrupadas de acordo com o seu metabolismo
desenvolvidos dois e fisiologia, sendo alocadas em diversos grupos, como: as metanogênicas, os
programas de formação
de recursos humanos
halófilos extremos (ou hiperhalófilos) e os termófilos extremos (ou hipertermó-
para estudo da biologia filos), como discutido anteriormente.
de microrganismos Sem dúvida, as espécies de Archaea mais conhecidas são as meta-
metanogênicos. Em 1982,
nogênicas, cuja classificação taxonômica molecular data de 1979. Provavel-
um projeto conduzido
pela Sociedade Brasileira mente, pela facilidade de estudos de ambientes anóxicos, ou mesmo pela
de Microbiologia na USP sua importância em saneamento ambiental, existem cerca de 66 espécies de
promoveu o treinamento de metanogênicas descritas39, em contraste com aproximadamente 24 espécies
cerca 50 profissionais sobre de hipertermófilas e 18 de halófilas extremas40.
microrganismos presentes
em processos biológicos Contudo, o número de novas espécies descritas nestes dois últimos
anaeróbios, destacando-se grupos vem aumentando, em razão do crescente interesse em estudos da
procedimentos práticos para diversidade de Archaea em novos ambientes, que empregam metodologias
o isolamento de organismos
anaeróbios estritos, como
moleculares para a identificação dos organismos através de DNA extraído
Archaea metanogênicas. Em diretamente das amostras.
1987, o projeto “Formação
de Recursos Humanos em
Microbiologia da Digestão 5. Euryarchaeota
Anaeróbia”, financiado pela
São organismos estritamente anaeróbios que vivem enterrados em sedimen-
FINEP e CNPq e conduzido
na CETESB, envolveu tos marinhos, no lodo de pântanos, no subsolo, no interior do tubo digestivo
essencialmente treinamento de animais (Figura 65) e, até, em estações de tratamento de lixos e esgotos.
de pessoal em técnicas Utilizam hidrogênio e dióxido de carbono como fontes de energia, produzindo
laboratoriais para isolamento
e liberando metano.
de microrganismos
anaeróbios estritos.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 139
As suas células podem ter formas muito variadas: cocos isolados (Me-
thanococcus) ou em cachos (Methanosarcina), bacilos (Methanobacterium,
Methanobrevibacter), espiraladas (Methanospirillum), filamentos (Methano-
saeta) e polígonos quadrangulares (Methanoplanus). A maioria das espécies
prefere temperaturas médias, mas algumas proliferam em altas temperaturas
(Methanothermus).
6. Crenarchaeota
São microrganismos procariontes com células de tamanhos variados, des-
de cocos com um diâmetro inferior a 1 µm até filamentos com mais de 100
µm (0,1 mm). A forma das células é também muito diversa: cocos (Staphylo-
thermus), células lobuladas (Sulfolobus), discos (Thermodiscus), filamentos
(Thermofilum) e bacilos (Thermoproteus, Pyrobaculum). A maioria das espé-
cies move-se com auxílio de flagelos.
Alguns são seres autotróficos, produzindo matéria orgânica a partir da
oxidação de substâncias inorgânicas como o enxofre. Outros são seres hete-
rotróficos que crescem sobre substratos orgânicos e os degradam na presen-
ça ou na ausência de oxigênio. Por exemplo, Sulfolobus, habitante comum de
nascentes hidrotermais, prospera aerobicamente à custa da degradação de
açúcares (Figura 66).
7. Korarchaeota
O Korarchaeota representa o que poderia ser uma das linhagens menos evoluí-
das da vida moderna. O primeiro representante deste filo foi descoberto um uma
fonte hidrotermal no Parque Nacional de Yellowstone há mais de uma década
atrás. O grupo foi posteriormente definido apenas pela análise do rRNA obtido a
partir de uma variedade de ambientes marinhos e terrestres hidrotermais.
Nos últimos anos, alguns pesquisadores tiveram a oportunidade única de
testar e comparar amostras de vários longínquos ambientes extremos: águas
termais na Islândia e Kamchatka, na Rússia e de fontes hidrotermais no fundo
do mar. Eles compararam a diversidade, distribuição e abundância de micróbios
Korarchaeota em suas amostras e constatou que havia uma separação clara na
sequência de DNA entre as populações obtidas em terra e no mar.
Curiosamente também havia uma separação dentro das sequências
terrestres, indicando uma distribuição biogeográfica. Outra característica inte-
ressante foi que os cientistas só acharam Korarchaeota nos filamentos e es-
teiras microbianas, isso pode indicar que o Korarchaeota tem a necessidade
de obter os nutrientes essenciais a partir de outros microrganismos.
Até o momento, não há representantes da Korarchaeota em cultura
pura, e nada se sabe sobre suas propriedades (Figura 67). No entanto, a análi-
se do material genético sugere que não pertence aos outros grupos principais,
Crenarchaeota e Euryarchaeota, sendo de origem mais antiga. Entretanto, ou-
tros cientistas acham ser possível que o Korarchaeota não seja um grupo
separado, mas simplesmente um organismo que tenha sofrido uma mutação
rápida ou não usual do gene rRNA 16S.
8. Nanoarchaeota
Filo criado em 2002 para abrigar a espécie hipertermófila Nanoarchaeum
equitans cujas relações de parentesco são incertas. Ao comparar a sequência
rRNA com as dos outros dois filos, são encontradas diferenças tão grandes
quantos a diferença entre ambos os filos.
Outros pesquisadores, no entanto, sugerem que esta Archaea seja re-
lacionada as Thermococcales, do filo Euryarchaeota. No momento existem
grandes discussões, mas sem conclusões pertinentes.
9. Importância econômica
Conforme as descrições feitas acima, comprova-se que os organismos
do domínio Archaea apresentam uma ampla diversidade metabólica e distribui-
ção em habitats considerados inóspitos aos demais seres vivos. Pouco se sabe,
porém, sobre sua importância funcional nestes ecossistemas e sobre a atuação
dos mesmos nos processos biogeoquímicos em ambientes não extremos.
Além disso, em termos tecnológicos, as descobertas de novos produtos
microbianos gerados em ambientes extremos (por exemplo, enzimas extre-
mófilas) realçam o potencial de exploração deste grupo de organismos como
fonte de novas alternativas para a Biotecnologia.
A tecnologia enzimática vem apresentando um considerável avanço
nos últimos anos, principalmente devido à utilização de extremoenzimas (en-
zimas provenientes de microrganismos extremófilos), sendo naturalmente es-
táveis em ambientes adversos, suprindo a demanda industrial, que sempre
esteve em desvantagem com a utilização de enzimas tradicionais.
Dentre as enzimas de grande aplicabilidade para a biotecnologia des-
tacam-se as termoenzimas, sendo que os principais processos de potencial
utilização dessas enzimas são o beneficiamento do amido, a manufatura e o
branqueamento da polpa para produção de papel e a bem estabelecida práti-
ca laboratorial da reação em cadeia da polimerase (PCR), entre outras.
Processamento do amido: o amido trata-se de um polímero abundante no
planeta, estando presente nos vegetais e servindo diretamente como alimento
na dieta animal. Esse amido pode ser hidrolisado, gerando glicose, maltose e
xapore de oligossacarídios, que podem ser utilizados como substrato de fer-
mentações. De modo geral, o processo de hidrólise do amido envolve liquefa-
ção e a sacarificação, as quais ocorrem em altas temperaturas. Na atualidade
é discutida a melhoria desse processo com a utilização de extremoenzimas,
por exemplo, a α-amilases hipertermofílicas com maior tempo de resistência,
barateando os custos do processo.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 143
Saiba mais
Pesquisadores italianos “acordaram” microrganismos adormecidos
num meteorito de 4,5 bilhões de anos
Pesquisadores italianos “acordaram” microrganismos adormecidos num meteorito de 4,5 bilhões
de anos. Mil vezes menor que um milímetro, microrganismo extraído de meteorito volta à vida.
Sente-se numa cadeira e preste muita atenção. Pode ser verdade, pode ser loucura, mas o fato
é que cientistas italianos da Universidade Federico II em Nápoles anunciaram ao jornal Corriere
della Sera haver ressuscitado bactérias extraterrestres que estavam dormentes há 4,5 bilhões de
anos. Seu berço era um meteorito encontrado em 1882 na Transilvânia, atual Romênia, e conser-
vado no Museu Mineralógico de Nápoles [...]
Fonte: http://griefkiller.blogspot.com/2010/10/pesquisadores-italianos-acordaram.html
144 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Síntese do capítulo
Os microrganismos do Domínio Archaea são considerados únicos, com pro-
priedades metabólicas extraordinárias e filogenia particular. Compreendem os
microrganismos anaeróbios mais sensíveis ao oxigênio, os termófilos mais ex-
tremos e halófitos cujas enzimas são adaptadas às elevadas concentrações sa-
linas.
Apesar da organização celular procariótica, são organismos evolutivamen-
te distintos das demais bactérias (domínio Bacteria), em função de características
de organização do genoma, expressão gênica, composição celular e filogenia.
Durante o capítulo houve a discussão da origem e evolução, dos as-
pectos morfológicos, bioquímicos e metabólicos, da diversidade, com ênfase
para os filos: Crenarchaeota, Euryarchaeota, Korarchaeota e Nanoarchaeota.
Finalizou-se com destaque para a importância econômica na atualida-
de. Por fim, destaca-se o pouco conhecimento do domínio Archaea, sendo
minimamente explorado frente a todos os ramos da Microbiologia.
Atividades de avaliação
1. Cite e explique três características que as Archaeas têm em comum.
2. Pesquise sobre a enzima DNA girase reversa e explique sua importância
para os hipertermofílicos.
3. Em termos de composição da parede celular, quais as principais diferen-
ças observadas entre os domínios “Eubacteria” e “Archea”?
4. Descreva três mecanismos bacterianos de adaptação à termofilia.
5. Explique porque as arqueobactérias do filo Korarcheota são consideradas
“relógios evolutivos”.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 145
Leituras
Breve história de quase tudo. Bill Bryson. Companhia das Letras.
Sites
http://www.msi.harvard.edu/downloads/teacherworkshop/Readings/Micro-
beWorld_archaea.pdf
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=lidGsTUyFSk
http://www.youtube.com/watch?v=3s4mmMO0zhw
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Acad. Sci. USA, v. 87, n. 12, p. 4576–9, 1990.
Capítulo 8
Fungos
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 149
Objetivos
l Descrever as características gerais dos principais grupos de fungos.
l Apresentar a classificação das principais doenças fúngicas, com destaque
para as micoses.
1. Introdução
Os fungos são encontrados em quase todos os lugares da Terra; fungos sa- 41
Saprófitas: O termo
relaciona-se ao modo
prófitas41 vivem na matéria orgânica, na água e no solo, enquanto que fungos
como um organismo obtém
parasitas habitam a superfície ou o interior de animais e vegetais. nutrientes; os saprófitas
Alguns são benéficos (usados na fabricação de queijos (Figura 68), iogur- absorvem nutrientes da
matéria orgânica morta ou
tes, cervejas, vinhos e outros alimentos, bem como certos antibióticos e quimiote-
em decomposição.
rápicos), outros são prejudiciais (causam deterioração do couro e plástico, podem
estragar alimentos e causar sérias infecções em animais e vegetais).
42
Decompositores: Relaciona- crobiano. Ao secretar suas enzimas digestivas sobre vegetais e animais mor-
se ao que um organismo tos, eles decompõem42 esses materiais em nutrientes que podem ser absorvi-
“faz para viver”, ou seja, os
decompositores degradam
dos por eles próprios, bem como por outros organismos vivos.
materiais.
2. O reino Fungi
Robert H. Whittaker (1920-1980), vislumbrando o equívoco que incluía os fun-
gos no reino vegetal, evidenciou três pontos-chaves: ausência de pigmento
fotossintético, ausência de celulose na parede e presença de glicogênio como
fonte de reserva energética, os quais justificavam a inclusão dos fungos em
um reino à parte, denominado de reino Fungi.
Durante muitos anos, a situação taxonômica dos fungos foi motivo de
controvérsia, em virtude do conceito clássico que os colocava no reino Vege-
tal. A partir da contribuição de Whittaker, a Micologia toma ares de ciência de
importância ímpar e experimenta grande evolução.
Desde então muitas classificações têm sido propostas, entretanto, ne-
nhuma é adequada a todos os propósitos. Na atualidade, grande parte dos
pesquisadores aceita que o reino Fungi está subdividido em dois grandes gru-
pos: o grupo Mycomycota (formado por fungos inferiores, sem parede celular
e não patogênico aos animais) e o grupo Eumycota (fungos verdadeiros, com
parede celular e patogênico aos animais e vegetais).
O agrupamento Eumycota é subdividido em cinco filos: Basidiomycoti-
na, Ascomycotina, Zigomycotina, Deuteromycotina e Mastigomycotina (Figura
69), de acordo com o tipo de reprodução apresentado.
Saiba mais
Múmia não assusta: fungo, sim, apavora
É uma sucessão de coincidências macabras que acabaram criando um mito. Tudo começou em
1923, com a abertura da tumba do faraó Tutankamon, no Vale dos Reis, uma região 500 quilô-
metros ao sul do Cairo, no Egito. A série de tragédias é assustadora: em seis anos, morreram 22
exploradores que participavam das escavações.
Uma das vítimas foi o lorde inglês George Edward Carnarvon (1866-1923), que financiava os
arqueólogos. Ele bateu as botas seis semanas após a violação da tumba. É claro que os cientistas
têm uma boa explicação para isso. “Como o local esteve fechado por três milênios, a hipótese
mais aceita é a de que houve uma contaminação por fungos”, diz o egiptólogo Antonio Branca-
glion, da Universidade de São Paulo. A propósito, o mito é uma invenção do ocidente. “No Egito
ninguém acredita nessa história de maldição”, ressalta.
Fonte: Revista Superinteressante. Edição 143. http://super.abril.com.br/superarquivo/1999/conteudo_94655.shtml
3.2. Nutrição
Os fungos são quimioheterotróficos, necessitando de componentes orgânicos
para energia e fonte de carbono, e assim como as bactérias, eles absorvem
nutrientes ao invés de ingeri-los, como fazem os animais. Todavia, os fungos
43
Os fungos são geralmente
adaptados a ambientes
diferem das bactérias em determinadas necessidades ambientais e nas ca-
que poderiam ser hostis
racterísticas nutricionais apresentadas abaixo: a maioria das bactérias.
● Crescem melhor em ambientes em que o pH é 5, os quais são muito ácidos Exatamente devido as suas
extraordinárias adaptações
para o crescimento da maioria das bactérias comuns43;
nutricionais eles podem se
● Quase são aeróbios. Destaca-se que algumas leveduras são anaeróbias desenvolver em substratos
facultativas; diversos como paredes de
banheiro, couro de sapato,
● O crescimento pode ocorrer sobre substâncias com baixo grau de umidade; jornais e revistas velhas etc.
● Necessitam de menos nitrogênio que a maioria das bactérias;
● São capazes de metabolizar carboidratos complexos, tais como lignina (ma-
3.3. Reprodução
Três tipos gerais de reprodução são comumente observados nas diferentes
espécies de fungos: esporulação vegetativa, esporulação aérea e esporula-
ção sexuada. O Quadro 5 contém explicações sobre cada esporulação.
Quadro 5
TIPOS GERAIS DE REPRODUÇÃO DOS FUNGOS
Reprodução Processo reprodutivo Exemplos
Blastoconídios –
Três tipos de esporos ou conídios podem se formar a partir
Leveduras em geral;
do micélio vegetativo: Blastoconídios (formas em brota-
Clamidoconídios – Candida
Esporulação mento), Clamidoconídios (surgem de células preexistentes
albicans;
vegetativa nas hifas, que se tornam espessas e aumentadas) e Artro-
Artroconídios –
conídios (semelhante aos clamidoconídios, exceto pelo fato,
Geotrichum sp.,
de serem liberados pela lise que ocorre no final da hifa)
Coccidioides sp.
Emanando das hifas estão os corpos de frutificação que
dão origem a vários esporos e conídios. Os corpos podem
Esporulação formar sacos fechados (esporângios), dentro dos quais são Esporângio – Mucor sp.;
aérea produzidos os esporos. Enquanto os conídios surgem do Conidióforo – Aspergillus sp.
conidióforo, este se ramifica em segmentos denominados
métulas, que produzem fiálides, produtoras de conídios.
Esporulação Exige a fusão e a recombinação nuclear de duas células
Saccharomyces.
sexuada férteis especializadas originadas nas hifas aéreas.
Saiba mais
“Formigas Zumbis” controladas por fungo parasita por 48 milhões de anos!
Cientistas descobrem recentemente evidências de um fungo que altera o comportamento de
formigas para seu próprio benefício. As últimas evidências revelam um fungo que transforma
formigas em zumbis e faz com que elas se rastejem para a própria morte.
As bizarras marcas do efeito do fungo foram encontradas nas folhas das plantas que cresciam
em Messel, próximo de Darmstadt (Alemanha) já há 48 milhões de anos, ou seja, essa descoberta
mostra que esses fungos evoluíram a habilidade de controlar o comportamento das criaturas que
elas infectam há muitos anos, antes mesmo do surgimento do Himalaia.
O tal fungo, que ainda está firme e forte nas florestas hoje em dia, trava na “formiga Carpin-
teira” enquanto ela transita pelo chão da floresta antes de voltarem para seus ninhos nos altos
das árvoras, então ele cresce dentro da formiga, liberando alguns químicos que afetam seu com-
portamento. Algumas saem em busca de folhas frescas sozinhas, já outras se jogam do topo das
árvores para as folhas próximas ao chão... cont.
Fonte: http://zumbl.org/2010/09/fungo-transforma-formigas-em-zumbis/
156 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
44
Hifa: estrutura multicelular 4.1. Fungos filamentosos
tubular, de paredes
paralelas, que podem ou A unidade microscópica fundamental de um fungo filamentoso é a estrutura
não apresentar septos. É a tubular denominada hifa. As hifas44 que são subdivididas em células individu-
unidade estrutural básica dos ais por paredes transversais ou septos são denominadas septadas (Figura
fungos filamentosos.
73A); aquelas sem septos são asseptadas ou cenocíticas (Figura 73B). O
conjunto de hifas septadas denomina-se micélio, enquanto que a reunião, em
um mesmo campo de observação de hifas não septadas é chamada de sifão.
45
As hifas podem crescer As hifas45 crescem por alongamento das extremidades. Cada parte de
até imensas proporções. uma hifa é capaz de crescer e quando um fragmento é quebrado, este pode
O maior organismo vivo já se alongar para formar uma nova hifa.
encontrado no planeta é o
fungo Armillaria astoyae, A porção do micélio que se estende para o substrato do meio de cultura,
o cogumelo do mel, cujas responsável pela absorção de água e de nutrientes, é o micélio vegetativo; a
hifas cobrem uma área de porção que se projeta acima do substrato é o micélio aéreo, também deno-
880 hectares e apresentam
peso estimado de mais 10
minado micélio reprodutor, porque esporos especiais ou corpos frutificantes
toneladas. ligados aos conídios são produzidos a partir dessa porção.
4.2. Leveduras
40
Blastoconídio: estrutura
unicelular, arredondada, As leveduras são fungos unicelulares, não filamentosos, caracteristicamente
de paredes refringentes. esféricas ou ovais, que apresenta como unidade estrutural os blastoconídios46
Unidade estrutural básica das
leveduras. (Figura 74).
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 157
Sua multiplicação pode ocorrer por fissão binária (a célula mãe se divi-
de em duas células-filhas idênticas), brotamento simples (a célula mãe origina
um broto que permanece fixado, algumas vezes esses brotos filhos formam
uma pequena cadeia de células chamada de pseudohifa47, seu conjunto é 47
A Candida albicans é a
única levedura até hoje
denominado de pseudo-micélio) e brotamento fissão (a célula mãe origina um
descrita que apresenta
broto que logo vai se destacar da célula original e aumentará de tamanho). pseudohifas, já que esse
As leveduras são capazes de crescimento anaeróbio facultativo. Po- fenômeno independe da
temperatura, o mesmo é
dem utilizar oxigênio ou um componente orgânico como aceptor final de elé-
denominado de pleomorfismo
trons; este é um atributo valioso porque permite que estes fungos sobrevivam fúngico.
em vários ambientes. Assim, se é dado acesso ao oxigênio, as leveduras res-
piram aerobicamente para metabolizar hidratos de carbono formando dióxido
de carbono e água; na ausência de oxigênio, elas fermentam os hidratos de
carbono formando e produzem etanol e dióxido de carbono. Esta fermentação
é usada na fabricação de cerveja, do vinho e nos processos de panificação
(Figura 75).
158 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
A) B)
Figura 76 – Histoplasma capsulatum, exemplo de fungo dimórfico. A. Forma filamen-
tosa. B. Forma leveduriforme.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 159
Micoses
Micoses são infecções produzidas por micromicetos (fungos microscópicos)
parasitos, geralmente do filo dos Deuteromicetos. A expressão foi utilizada
pela primeira vez em 1856 por Rudolf Virchow (1821-1902).
As micoses ocupam lugar de destaque nas patologias tropicais, não
existindo ramo da Medicina humana em que os fungos não sejam responsá-
veis por vários distúrbios, alguns dos quais graves e mesmo mortais. Anato-
micamente, classificamos as micoses em quatro grupos: micoses superficiais
(estritas e dermatofitoses), micoses subcutâneas, micoses profundas (ou sis-
têmicas) e micoses oportunistas.
Micoses superficiais estritas: são infecções fúngicas localizadas nas ca-
madas superficiais da pele. Fazem parte deste conjunto a pitiríase versicolor,
piedra negra (Piedraia hortae), piedra branca (Trichosporon sp.) e tinea nigra
(Phaeoannellomyces werneckii). Tais infecções prevalecem em zonas de cli-
ma tropical e subtropical dos continentes americano e africano, estando muito
relacionadas a condições sócio-econômicas pouco favoráveis. Além do mais,
estas entidades clínicas apresentam em comum o caráter contagioso bastan-
te fraco ou inexistente.
160 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
sulatum tem preferência por solos fofos, com pH levemente ácido e enrique-
cidos por matéria orgânica, como fezes de aves e morcegos. A aquisição da
infecção se deve a atividades como limpar ou demolir viveiros de pássaros,
penetrar em cavernas habitadas por morcegos, entre outros (Figura 79).
5.2. Micetismo
É uma intoxicação causada pelo consumo do corpo frutífero cru ou cozido de
cogumelos altamente tóxicos. O termo “toadstool”, em inglês, para designar
cogumelos venenosos, origina-se da palavra alemã – “todesstuhl” que signifi-
ca “fezes de mortos”, é o nome comumente dado a toxina do cogumelo.
Para indivíduos não especialistas é muito difícil diferenciar espécies de
macromicetos tóxicos dos não tóxicos. As toxinas dos cogumelos veneno-
sos são produzidas naturalmente por eles, e cada espécie tem sua própria
toxina. A maioria dos cogumelos que pode causar intoxicação em humanos
não perde seu efeito tóxico por cozimento, congelamento ou outro método
de processamento. A prevenção consiste em evitar o consumo de espécies
tóxicas. As intoxicações ocorrem quando indivíduos coletam cogumelos sel-
vagens confundindo-os com cogumelos comestíveis ou quando consomem
intencionalmente cogumelos com compostos psicoativos (Figura 81).
Síntese do capítulo
Os fungos são encontrados em quase todos os lugares da Terra; alguns são
benéficos (usados na fabricação de queijos, iogurtes, cervejas, vinhos e outros
alimentos, bem como certos antibióticos e quimioterápicos), outros são preju-
diciais (causam deterioração do couro e plástico, podem estragar alimentos e
causar sérias infecções em animais e vegetais).
Constituem um grupo diversificado de eucariontes que incluem seres ma-
croscópicos e microscópicos, macromicetos e micromicetos, respectivamente.
Durante o capítulo relatou-se a situação taxonômica dos fungos no passado e
na atualidade, descrevendo sua biologia, com enfoque nos aspectos morfoló-
gicos e bioquímicos, nutrição e reprodução. Os achados macromorfológicos
e micromorfológicos dos fungos filamentosos, leveduras e fungos dimórficos
foram descritos.
Por fim, houve o relato da classificação das principais doenças fúngicas,
com destaque para as micoses (micoses superficiais estritas, dermatofitoses,
micoses subcutâneas, micoses profundas e micoses oportunistas), micetismo
e micotoxicoses.
166 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Atividades de avaliação
1. Durante muito tempo, os fungos foram considerados vegetais e, somente a
partir de 1969, passaram a ser classificados em um reino à parte. Pesquise
quais as características utilizadas para classificá-los junto às plantas, e as
que levaram a essa divisão.
2. Diferencie as funções biológicas das estruturas de ornamentação e frutifi-
cação dos fungos micromicetos, citando, pelo menos, 1 exemplo de cada
uma dessas estruturas.
3. Algumas leveduras, como a Candida albicans, durante sua evolução na vida
vegetativa, isto é, quando os ciclos biológicos de nutrição e reprodução se
encontram ativos, podem apresentar uma forma filamentosa verdadeira,
independente da temperatura. Qual é o nome desse fenômeno? Explique
por que isso acontece.
4. Duas equipes de estudantes discutiam sobre a identificação de uma colônia
fúngica, a equipe A afirmou que ao analisar as características macroscópi-
cas dessa colônia conseguiriam sua identificação até espécie, enquanto a
equipe B afirmou que precisaria da análise conjunta das características mac-
ro e micromorfológicas. Qual equipe está correta? Justifique sua resposta.
5. Escolha uma espécie fúngica fitopatógena e discorra detalhadamente so-
bre suas características laboratoriais e principais patogenias ocasionadas
sobre seus hospedeiros.
6. Monte uma tabela comparativa entre as micoses superficiais estritas, dermatofi-
toses, micoses subcutâneas, micoses profundas e micoses oportunistas.
Leituras
AZEVEDO, J. L. Fungos: uma introdução à biologia, bioquímica e biotecnolo-
gia. 2. ed. Rio de Janeiro: EDUCS, 2010. 638 p.
Sites
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home
http://www.fcf.usp.br/Ensino/Graduacao/Disciplinas/Exclusivo/Inserir/Anexos/
LinkAnexos/esporo%20e%20cromo.PDF
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 167
http://www.icb.ufmg.br/mic/mic/material/agentesetiologicosdasmicosesoportu-
nistas.pdf
http://www.doctorfungus.org/
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=4FYN05Zt1kk
http://www.youtube.com/watch?v=pN0t_ws-2xM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=wixX922y3S0
Referências
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ro: Guanabara Koogan, 2002.
FISHER, F.; COOK, N. B. Micologia: fundamentos e diagnóstico. Rio de Ja-
neiro: Revinter, 2001. 337 p.
GÜRTLER, T. G. R.; DINIZ, L. M.; NICCHIO, L. Microepidemia de tinha do
couro cabeludo por Microsporum canis em creche de Vitória - Espírito Santo
(Brasil). Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 80, n. 3, 2005.
LACAZ, C. S.; PORTO, E.; MARTINS, J. E. C. Tratado de Micologia Médica.
9 ed. São Paulo: Editora Sarvier, 2002.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHORN, S. E. Biologia vegetal. 6. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
SIDRIM, J. J. C.; ROCHA, M.F.G. Micologia médica a luz de autores con-
temporâneos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
WINN Jr. W. C.; ALLEN, S. D.; JANDA, W. M.; KONEMAN, E. W.; PROCOP,
G. W.; SCHRECKENBERGER, P. C.; WOODS, G. L. Koneman, Diagnósti-
co Microbiológico: texto e atlas colorido. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008. 1.565 p.
Capítulo 9
Vírus
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 171
Objetivos
1. Histórico da Virologia
A palavra vírus é originária do latim e significa “toxina” ou “veneno”. As evi-
dências sobre a existência das infecções virais surgiram desde os primeiros
registros de atividades humanas, sendo empregados vários métodos para
combatê-las, mesmo antes do conhecimento da existência da partícula viral
como agente etiológico de doenças.
As doenças virais começaram a ser registradas nas civilizações egípcias
e greco-romanas. Hieróglifos egípcios mostram o faraó Ramsés V, com seque-
las de varíola em sua face (Figura 83). Outras doenças virais, conhecidas desde
os tempos ancestrais, são a caxumba, a influenza e a febre amarela.
Galeria de estudiosos Não somente os homens eram afetados pelas infecções virais, como
importantes para a virologia.
também as plantas. Em 1876, Adolf Meyer50 (1842-1942), químico alemão,
estudando doenças associadas ao tabaco, comprovou a natureza infecciosa
da doença do mosaico do fumo, inoculando plantas saudáveis com o sumo de
plantas doentes, reproduzindo a mesma sintomatologia.
Foi Dimitri Ivanowsky51 (1864-1920), cientista russo, ao reproduzir os
mesmos experimentos de Meyer com adição de uma etapa, filtrou o sumo
retirado de plantas doentes em filtros de porcelana, com os resultados desse
experimento providenciou a primeira definição de vírus: vírus são partículas
filtráveis. Esses achados e outros experimentos deram origem a um ciclo de
25 anos de debate sobre se essas partículas eram sólidas ou líquidas, que só
Adolf Meyer (1842-1942)
50 terminaram com os experimentos de d’Herelle e depois da primeira microgra-
Químico alemão, comprovou fia eletrônica do vírus do mosaico do tabaco.
a natureza infecciosa da
Em 1915, Felix d’Herelle52 (1873-1949), médico e bacteriologista cana-
doença do mosaico do fumo.
dense, determinou a primeira etapa do processo de infecção viral, que é a adsor-
ção mediada por receptor, e descreveu também a lise e liberação de partículas
infecciosas, sendo considerado o pai da Virologia moderna.
Na atualidade, com base nos estudos moleculares, sabe-se que os ví-
rus não têm a organização complexa das células; são estruturalmente sim-
ples, constituídos de uma pequena quantidade de ácido nucleico, DNA ou
RNA, cercado por uma espécie de cápsula protetora consistente formada
por proteínas ou por uma combinação de proteínas e lipídeos. Incapazes de
crescer independetemente em meios artificiais, eles somente podem replicar-
-se em células animais, vegetais ou microbianas. Assim sendo, os vírus são
considerados parasitas intracelulares obrigatórios e representam a máxima
51
Dimitri Ivanowsky (1864-
1920) – cientista russo que sofisticação em parasitismo.
forneceu a primeira definição Esses parasitas são entidades naturais muito simples que se encontram
do vírus
Fonte: Google, 2010.
em uma zona de classificação intermediária, existindo um acalorado e polê-
mico debate na comunidade científica sobre a sua classificação, se devem
ser considerados seres vivos ou não, e esse debate é resultado de diferentes
percepções sobre o que vem a ser vida, no conceito biológico. Aqueles que
defendem a ideia que os vírus não são vivos argumentam que organismos
vivos devem possuir características como a habilidade de importar nutrientes
e energia do ambiente, devem ter metabolismo próprio e, através da reprodu-
ção, gerar outros seres semelhantes.
Outra corrente, porém, não concorda com essa perspectiva, e argu-
menta que se vírus são capazes de reproduzir-se, são organismos vivos. Em-
bora eles dependam do maquinário metabólico da célula hospedeira, todos
os seres vivos também dependem de interações com outros seres vivos. Ou
seja, diferentes conceitos sobre vida formam o cerne dessa discussão, por
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 173
55
Capsômeros: São as
unidades morfológicas
observadas na superfície
das partículas virais e
representando agrupamentos
de unidades estruturais.
Síntese de macromoléculas:
5. As mutações
Durante a replicação, podem ocorrer erros ou alterações no genoma viral,
resultando em drifts antigênicos (mutações pontuais) ou shifts antigênicos
(quando há recombinação dos genes).
O material genético dos vírus pode sofrer várias mutações e gerar muitas
variedades a partir de um único tipo viral; um exemplo são as dezenas de dife-
rentes tipos de vírus da gripe humana, gerados por mutações ao longo dos anos.
Durante o processo de replicação viral podem ocorrem mutações, o
que vai originar no genoma uma informação nova e diferente. Se uma mu-
tação é prejudicial, a nova partícula viral pode não conseguir sucesso repro-
dutivo, perdendo capacidade infectante. Pelo simples fato de um vírus poder
originar muitas cópias dele próprio, 100.000 das novas partículas formadas
podem perder a capacidade infectante, mas basta que 100 partículas conti-
nuem “boas” para persistir a infecção no hospedeiro.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 179
Quadro 6
7. Infecções virais
São várias as vias de transmissão dos vírus. No Quadro 7 estão destacadas
as principais delas:
Quadro 7
MODOS DE TRANSMISSÃO PARA OS VÍRUS MAIS REPRESENTATIVOS
Via de transmissão Vírus
Rhinovírus, Adenovírus, Paramyxovírus,
Respiratória
Orthomyxovírus, Coronavírus
Fecal-Oral Picornavírus, Adenovírus, Reovírus
Sanguínea, transplante de órgãos Herpesvírus, Retrovírus, Hepadnavírus
Togavírus, Flavivírus, Bunyavírus, Arenavírus,
Picadas ou mordidas de animais
Rabdovírus, Reovírus
ção de modo que estes se tornaram alvos potenciais de ataque (Quadro 8). Al-
guns medicamentos desenvolvidos interferem em certas enzimas estratégicas
para a atividade viral, especialmente para o processo de replicação. O objetivo
da indústria farmacêutica é desenvolver inibidores específicos de enzimas para
cada tipo de vírus conhecido. Essa estratégia, no entanto, pode levar muito
tempo e ter um custo elevadíssimo.
Por exemplo, a literatura mostra que o primeiro agente antiviral eficaz
contra HIV (agente etiológico da AIDS) – zidovudina (também conhecido como
AZT) – foi introduzido em 1987. Durante a década de 1990, fsoram produzidos
inúmeros fármacos adicionais para o tratamento da infecção pelo HIV. Alguns
desses fármacos antivirais são administrados simultaneamente, em combina-
ções referidas como “coquetéis”. Infelizmente, tais coquetéis são muito caros e
algumas cepas de HIV tornaram-se resistentes a alguns desses fármacos.
Quadro 8
Quadro 8
60
Os príons são pequenas Devido à estratégia de ocupar as células dos seus hospedeiros, os ví-
proteínas infecciosas que
rus tornam-se difíceis de matar ou eliminar. As soluções médicas mais efica-
aparentemente causam
doenças neurológicas fatais zes para as doenças virais são, até agora, as vacinas que atuam prevenindo
em animais, como scrapie em as infecções, e drogas que tratam apenas os sintomas das infecções virais.
carneiros e cabras, encefalite As pessoas inadvertidas frequentemente fazem uso de antibióticos (subs-
espongiforme bovina,
tâncias que têm capacidade de interagir com microrganismos, matando-os
“doença da vaca louca”.
ou inibindo seu metabolismo e/ou sua reprodução) que são inúteis contra os
vírus, e seu abuso contra infecções virais é uma das causas de resistência
antibiótica em bactérias.
Saiba mais
AIDS e seus esquemas de tratamento
O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e o Comitê Assessor em
Terapia Antirretroviral em Adultos e Adolescentes buscaram, nos princípios da equidade e da
integralidade, fortalecer a resposta nacional a epidemia no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS). Em consonância com esses paradigmas, foi elaborado um protocolo mais integral e reno-
vado, capaz de indicar rotinas que qualifiquem e atualizem o enfrentamento da epidemia ante os
desafios contemporâneos e emergentes, preparando o sistema de saúde para a segunda década
de acesso universal ao tratamento antirretroviral [...]
Fonte: http://www.aids.gov.br/publicacao/consenso-recomendacoes-para-terapia-antirretroviral-em-adul-
tos-infectados-pelo-hiv-2008
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 183
em pequenos fragmentos
Nos últimos anos, os microrganismos vêm desenvolvendo resistência aos desnudos de RNA de
antimicrobianos tão rapidamente que os cientistas, estão começando a se fita simples que podem
interferir no metabolismo das
preocupar com a possibilidade da ciência estar perdendo a guerra contra os células vegetais e impedir
patógenos. Os trabalhos científicos apontam o surgimento de cepas de mi- o crescimento de plantas,
crorganismos patogênicos resistentes a todos os fármacos conhecidos. Para algumas vezes acarretando a
ganhar a guerra contra a resistência microbiana, é necessário mais prudência morte do vegetal.
na utilização dos fármacos atualmente disponíveis, a descoberta de novos
fármacos bem como o desenvolvimento de novas vacinas.
Nesse contexto, há uma tendência mundial crescente à utilização de
produtos naturais no tratamento e prevenção de doenças e outros problemas
de saúde. Essa tendência tem influenciado muitas companhias farmacêuticas
a desenvolver e produzir formulações extraídas de plantas e ervas.
A Organização Mundial da Saúde tem incentivado o uso de plantas
medicinais, principalmente nos países do terceiro mundo, o que estimulou o
aumento de pesquisa na área. A rica flora do Brasil, país detentor da maior
diversidade biológica do mundo, tem despertado interesses de comunidades
científicas internacionais para o estudo, conservação e utilização racional
destes recursos.
Hoje, há produtos fitoterápicos que substituem com vantagens determi-
nados medicamentos sintéticos. A proposta da utilização de fitoterápicos com
atividades antivirais específicas para a doença está centrada na disponibiliza-
ção de um tratamento eficaz, acessível e de baixo custo para a população.
Saiba mais
Ceará e a vacina tetravalente contra a dengue
O Ceará é o único Estado brasileiro a desenvolver uma vacina tetravalente à base de proteína
contra a dengue. Pesquisadores do Laboratório de Bioquímica Humana da Universidade Esta-
dual do Ceará (UECE) desenvolvem, desde 2003, uma vacina tetravalente contra a dengue. A
falta de recursos financeiros está impedindo o avanço das pesquisas, de acordo com a coor-
denadora dos Projetos do Vírus da Dengue da Uece, Maria Izabel Florindo Guedes. Ela calcula
que seriam necessários R$ 500 mil para equipar o laboratório e realizar as outras etapas da
pesquisa para obter a vacina.
Segundo a doutora em Bioquímica, os resultados obtidos até o momento são promissores
para a produção de uma vacina tetravalente contendo em sua estrutura uma proteína comum
aos quatro tipos do vírus da dengue. “Se recebêssemos apoio, poderíamos produzir a vacina em
cinco anos ou até em menos tempo”, argumenta Izabel Guedes [...]
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=531767
184 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Síntese do capítulo
A palavra vírus é originária do latim e significa “toxina” ou “veneno”. As evi-
dências sobre a existência das infecções virais surgiram desde os primeiros
registros de atividades humanas.
Durante o texto relatou-se sobre a história e origem dos vírus. Em seguida
foram abordados os componentes virais, morfologia, estrutura e replicação viral,
bem como se deu ênfase as mutações, classificação das viroses humanas.
Por fim, devido há uma tendência mundial crescente à utilização de pro-
dutos naturais no tratamento e prevenção de doenças, o que tem influenciado
muitas companhias farmacêuticas a desenvolver e produzir formulações ex-
traídas de plantas e ervas, com base nisso pode-se discutir sobre as viroses,
plantas medicinais e fitoterápicos.
Atividades de avaliação
1. Faça uma comparação entre os ciclos lítico e lisogênico dos vírus.
2. Crie um mapa de conceito sobre a “doença da vaca louca”.
3. Descreva a composição química do capsídio.
4. Crie um modelo didático para o vírus HIV, utilizando preferencialmente ma-
terial reciclável e de baixo custo.
4. Explique como se pode detectar um bacteriófago. Escolha uma téc-
nica e descreva.
5. Escreva um pequeno relato utilizando a linguagem de cordel sobre influ-
enza e pandemias.
Sites
http://www.aids.gov.br/
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/febreamarela/
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1534
http://pathmicro.med.sc.edu/portuguese/virol-port-chapter2.htm
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 185
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=P2CmZkjXBR8
http://www.youtube.com/watch?v=rfXy7MUC_60
Referências
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MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; PARKERT, J. Microbiologia de Brock.
12 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2010.
PELCZAR, J. P.; CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e
aplicações. 2 ed. São Paulo: Makron Books, 1997. v. 1 e 2.
SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à virologia
humana. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 254 p.
WINN Jr. W. C.; ALLEN, S. D.; JANDA, W. M.; KONEMAN, E. W.; PROCOP,
G. W.; SCHRECKENBERGER, P. C.; WOODS, G. L. Koneman, Diagnósti-
co Microbiológico: texto e atlas colorido. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008. 1.565 p.
Capítulo 10
Microbiologia
ambiental e aplicada
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 189
62
Fossas abissais e a
vida microbiana: As
fossas oceânicas, ou
abissais, são depressões
formadas abaixo do talude
continental (popularmente
conhecido como “fundo
Objetivos do mar”), nas regiões de
encontro de duas ou mais
l Apresentar conceitos relacionados ao Meio Ambiente e sua relação com placas tectônicas, sendo as
os microrganismos, descrevendo generalidades, funções e características regiões mais profundas dos
mais importantes que influenciam os diversos ecossistemas. oceanos. Nesses ambientes
estão presentes bactérias
l Descrever as principais utilizações dos microrganismos na indústria e como quimiossintetizantes,
o metabolismo microbiano é empregado para a produção de fármacos e heterotróficas, luminescentes
alimentos. e archaeobactérias vivendo
em condições de temperatura
e pressão demasiadamente
1. Introdução hostis. Graças às adaptações
no seu maquinário
Já dizia um ditado descontraído que barata e bactéria existem em todo lugar. protéico e genético esses
microrganismos conseguem
E em grande parte isso é verdadeiro. Excluindo as baratas, que não são alvos
sobreviver em ambientes
de estudo da Microbiologia, as bactérias englobam parte dos seres mais adap- inóspitos.
tados aos diferentes habitats do planeta. Os microrganismos são encontrados
em regiões desde as mais congeladas da Antártica até em fontes termais. 63
O que é um bioproduto?
Bactérias em especial são seres ubíquos, e têm sido encontradas em rochas,
Bioprodutos são os
fossas abissais62 e vulcões. Essa característica se deve à grande capacidade compostos produzidos por
e diversidade metabólica, onde diferentes fontes de carbono e energia podem diversos seres vivos, ou
ser utilizadas na sua sobrevivência. ainda aqueles que possuem
em sua composição
Nesse contexto, o estudo sistematizado da Microbiologia ambiental e microrganismos vivos. Em
aplicada é de extrema importância, uma vez que trata das interações dos mi- se tratando de Microbiologia,
crorganismos com o ambiente e de como o homem pode tirar proveito de bactérias, fungos e algas
seus produtos63. possuem potencial de
produção de diversos
Após a “Era de ouro” da Microbiologia, que foi de 1850 até meados de compostos utilizados pelo
1920, ficou claro que os microrganismos também eram capazes de integrar, homem em várias atividades,
interagir e causar transformações no meio ambiente. Com isso, a Microbio- seja nos setores médicos,
industriais ou de agricultura.
logia ambiental começou a se desenvolver, e atualmente é responsável por
Um exemplo clássico de
definir e caracterizar a composição e os aspectos fisiológicos das comunida- bioproduto são os leites
des microbianas em ambientes como solo, água, ar e sedimentos. Além disso, fermentados, compostos que
outros temas são preocupações da Microbiologia ambiental: contém em sua formulação
bactérias do grupo dos
● Desenvolvimento de estratégias de biorremediação e biodegradação; Lactobacilos, que supõe-se
● Utilização de microrganismos como inseticidas biológicos; gerar benefícios à microbiota
intestinal, equilibrando-a e
● Investigação do potencial dos metabólitos microbianos como bioprodutos57, ampliando as defesas do
entre outros. corpo.
190 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
2. Microbiologia da água
Três quartos da superfície do nosso planeta são constituídos por água, onde
oceanos, rios, lagos, lençóis subterrâneos e geleiras representam cerca de
1,6 bilhão de Km3 de reservas aqüíferas na Terra. Desse montante, apenas
algo em torno de 0,5% é própria para consumo humano.
Já as águas contaminadas e impróprias para uso humano são denomi-
nadas de águas residuais, e representam um grande desafio à humanidade. A
limpeza e o tratamento dessas águas residuais são atividades bastante com-
plexas, mas que ajudam a eliminar contaminantes, microrganismos patogêni-
cos e equilibram as populações microbianas já existentes.
A Microbiologia da água (e o termo mais adequado poderia ser Micro-
biologia aquática ou Microbiologia das águas) estuda os microrganismos e
sua relação com a água, seja esta oriunda de lagos, lagoas, rios e oceanos,
bem como resíduos domésticos e industriais que entram em contato com as
fontes naturais.
Em condições normais, o meio aquático possui uma quantidade variá-
vel de nutrientes diluídos, porém apresenta uma baixa diversidade de micror-
ganismos que constitui sua microbiota.
Essa população tende a ser reduzida, mas a disponibilidade de matéria
orgânica pode resultar em um aumento da atividade microbiana e conseqüen-
te elevação das comunidades microbiológicas presentes. Não são raros os
casos nos quais vemos contaminação de lagoas e espelhos de água por es-
goto doméstico, gerando um aumento no número de bactérias ali presentes.
Assim, podemos inferir que o aumento de matéria orgânica disponível
na água em perímetro urbano está quase sempre ligado à poluição. De um
modo geral, a presença dos microrganismos na água pode gerar mudanças
na composição química da mesma, pela produção de resíduos metabólicos
bacterianos, que podem servir de nutrição para outros seres vivos.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 191
Saiba mais
Análise revela corpos d´água comprometidos e poluídos em
Fortaleza, Ceará
Testes feitos pela Universidade Federal do Ceará, a pedido do Diário do Nordeste, mostram que
de 12 pontos analisados, só uma nascente é limpa. A cor turva, uma água que parece inerte cer-
cada de aguapés, as margens cobertas de resíduos sólidos.
O cenário dos rios Cocó, Ceará e Maranguapinho, em áreas urbanas da Região Metropolitana de
Fortaleza, não difere muito. O senso comum condena o mau uso e a poluição dos mananciais. A
Academia confirma e vai além [...]
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=940912
Quadro 9
Quadro 10
PRINCIPAIS AGENTES CAUSADORES DE DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA
Microrganismos Exemplos Algumas Doenças
Shigella dysenteriae, Disenteria Bacilar
Bactérias
Escherichia coli, Gastroenterites
Leptospira sp., Leptospirose
Salmonella typhy, Febre Tifóide
Vibrio cholerae. Cólera
Cianobactérias Microcystis sp., Dermatites
Anabaena sp.,
Cylindrospermopsis sp.
Fungos Candida Albicans Dermatites
C. tropicalis
Protozoários Entamoeba histolítica Disenteria amebiana
Helmintos Ascaris lumbicoides Ascaridiase
Schistosoma mansoni Esquistossomose
Vírus Poliomielite Poliomielite
Hepatitie (A) Hepatite infecciosa
Rotavirus Gastroenterites
Adenovirus
Saiba mais
Água x doenças
A água, após utilizada por nós para vários fins, é devolvida ao meio ambiente. Entretanto, essa
devolução acarreta poluição e aumenta o risco de doenças veiculadas pela água. Das doenças de
veiculação hídrica mais comuns, as causadas por protozoários, helmintos e bactérias são as mais co-
muns, e geralmente estão associadas à problemas de saneamento básico e destinação inadequada
de resíduos. O Quadro 11 traz um resumo das principais doenças bacterianas veiculadas pela água.
Quadro 11
PRINCIPAIS DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA
Doença Agente Caracterização
Doença intestinal aguda,
Cólera Vibrio cholerae caracterizada por forte diarreia aquosa, rápida desidratação,
câimbras e colapso respiratório.
Transmissão pela ingestão de água ou
alimentos contaminados, provocando febre alta constante, mal
Febre tifoide e
Salmonella typhi estar, comprometimento
Paratifoide
do sistema linfático e manchas de cor rosa no tronco. Na febre
paratifoide, a letalidade é menor em comparação à febre tifoide.
Shigelose Shigella sp., sendo
Infecção aguda no intestino grosso, causando
(disenteria S. dysenteriae a mais
diarreias, febre, náuseas, cólicas e dores na bexiga ou região anal
bacilar) frequente.
196 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
3. Microbiologia do solo
O solo é um sistema organizado e dinâmico, sendo o maior reservatório de mi-
crorganismos do planeta, com grande abundância e diversidade. A microbiota
presente no solo possui um papel fundamental na manutenção dos ecossis-
temas, participando diretamente da transformação de matéria orgânica em
substâncias nutritivas.
Além disso, os microrganismos presentes no solo também estão rela-
cionados com o intemperismo das rochas, atuando na gênese do solo, de-
composição de matéria orgânica, ciclagem dos elementos, transformações
bioquímicas específicas (como a nitrificação, desnitrificação, oxidação e re-
dução do enxofre, etc.), sendo assim uma fonte de nutrientes para as plantas
e outros seres presentes no mesmo.
Quadro 12
Biomassa: 50 g/m2
Grupo mais numeroso e diversificado. Corresponde de 3x106
Bactérias a 5x108 por grama de solo seco. Os gêneros mais frequentes
presentes são: Bacillus, Clostridium, Arthrobacter, Pseu-
domonas, Nocardia, Streptomyces, Micromonospora, além de
Rizóbios e Cianobactérias.
1010 a 1011 organismos 1010 a 1011 organismos
Biomassa: 100 g/m2
Representam 5x10 a 9x105 por g de solo seco. Estão limitados
3
64
A associação de uma Há bactérias fixadoras de nitrogênio vivendo em vida livre ou associa-
cianobactéria fixadora de das às raízes de plantas. Independente do modo de vida, elas são encontra-
nitrogênio (Anabaena sp.)
com uma samambaia do
das em grande quantidade na rizosfera. Muitas bactérias dos gêneros Azoto-
gênero Azolla traduz mais bacter, Beijerinckia e Clostridium, além de espécies de cianobacterias64 são
um exemplo de cooperação responsáveis pela fixação do nitrogênio no solo. Já aquelas que atuam em
entre microrganismos e associação com raízes são de extrema importância para a agricultura.
vegetais. Nesta associação,
a samambaia fornece Bactérias do gênero Rhizobium comumente infectam as raízes de legu-
proteção, carboidratos minosas (soja, feijão, alfafa, amendoim, ervilha, etc.), formando nódulos. Nes-
e nutrientes minerais à ses nódulos, cheios de bactérias, o nitrogênio é fixado em um processo simbió-
Anabaena, enquanto
esta lhe provê fixação do
tico entre a planta e os microrganismos. A planta fornece condições anaeróbias
nitrogênio necessário ao bom e nutrientes para promover o crescimento bacteriano. Estas, por sua vez, fixam
desenvolvimento da planta. o nitrogênio da atmosfera para incorporação nas proteínas vegetais.
4. Microbiologia do ar
O ar geralmente não oferece condições para o crescimento de microrga-
nismos, mas ele representa um excelente meio de dispersão. Podendo os
microrganismos permanecerem no ar por segundos ou até anos. Seu des-
locamento também é muito variado, podendo ocorrer variar de milímetros a
milhares de quilômetros.
A quantidade e qualidade de microrganismos no ar dependem das fon-
tes de contaminação. A poeira levantada pelas correntes de ar, vento, deslo-
camento de pessoas ou de veículos, depósitos de lixo, abatedouros, postos
de desembarque de pescados e os aerossóis produzidos nos mares, lagos e
rios são os principais responsáveis por suprir o ar com microrganismos.
Quando no ar, os microorganismos, são afetados pela umidade, tem-
peratura e radiação. Logo, cada região apresenta uma microbiota típica,
que pode variar em função das condições ambientais e atividades huma-
nas. Desta forma, visando uma avaliação da qualidade de determinado am-
biente, são necessários estudos prévios para se conhecer as populações
características de cada região. Esse tipo de conhecimento permite detec-
tar diferenças nessas populações e determinar as providências adequadas
para controlar eventuais problemas.
4.1. Aerobiologia
Em junho de 1968, uma epidemia caracterizada por febre, dores de cabeça e
musculares, afetou 114 pessoas, entre elas, 100 empregados de um edifício
do Departamento de saúde em Pontiac, Michigan (EUA). Um defeito no sis-
tema de condicionamento de ar foi considerado como a fonte da difusão do
agente patogênico. Assim foi batizada a febre de Pontiac.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 201
4.2. Bioaerossóis
São definidos como partículas de origem biológica suspensas no ar65, geradas 61
Vírus; Bactérias; Propágulos
natural ou artificialmente, que podem existir na forma de uma única célula, fúngicos; Cistos de
protozoários; Grãos de pólen;
aglomerados de microrganismos viáveis ou partículas não viáveis de vários
Fragmentos de plantas;
tamanhos (Figura 90). Fragmentos de insetos,
dentre outros.
Saiba mais
Produção de bioaerossóis
O uso incorreto de equipamento de laboratório como pipetas, alças de inoculação, agulhas, se-
ringas, centrífugas e homogeneizadores, pode produzir grandes quantidades de aerossóis poten-
cialmente infectantes.
Exemplos de procedimentos que produzem aerossóis:
• Destampar frascos que foram fechados com tampa de pressão;
• Esvaziar seringas ou eliminar o ar das seringas;
• Quebrar frascos que contenham cultura de microrganismos;
• Centrifugar tubos ou frascos sem tampa adequada, entre outros.
O tampão de algodão normalmente usado em laboratório para tampar os tubos de ensaio
que contem meios de cultura ou soluções estéreis trata-se de um exemplo de controle microbia-
no através da filtração.
Fontes geradoras de partículas capazes de carrear microrganismos causadores de infecção
hospitalar são classificadas em internas e externas. Dentre as fontes internas destacamos as pes-
soas, os ventiladores, os aparelhos de ar condicionado, os nebulizadores e umidificadores, os pi-
sos e vasos de plantas e certos tipos de alimentos. Quanto às fontes externas temos o solo, a água,
o material orgânico em decomposição, a poeira de construções e reformas.
Obs.: O volume do ar não pode ser avaliado, servindo essa técnica apenas
como um alerta microbiológico.
4.4. Legislação
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, por meio da Resolução nº
3, de junho de 1990, estabelece os padrões de qualidade do ar nos ambientes
externos que, ultrapassados, poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-
-estar da população (CONAMA, 1990). Porém para os níveis de contaminantes
biológicos do ar de interiores, que variam enormemente em função do tempo e
espaço, não existem métodos e padrões amplamente aceitos no país.
Ressalta-se ainda a publicação de uma Orientação Técnica elaborada
por Grupo Técnico Assessor, sobre Padrões Referenciais de Qualidade do Ar
Interior, em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo,
cujo valor máximo recomendável é < 750 ufc/m3, sendo inaceitável a presen-
ça de fungos patogênicos nesse tipo de ambiente (Resolução n. 176, 24 de
outubro de 2000).
Segundo a legislação em vigor, todas as fontes de poluição do ar devem
se adequar a determinadas condições, de forma a não ocasionarem danos ao
ambiente e à população. Desse modo, toda fonte de poluição existente que
não esteja adaptada à legislação pode se denunciada ao órgão competente
federal, estadual ou municipal, o qual estabelecerá um prazo viável para que
seja feita a adequação aos padrões estabelecidos. Assim, como pessoas e
cidadãos, membros da sociedade, a população tem parcela de responsabili-
dade no controle da poluição do ar.
Saiba mais
Síndrome do Edifício Doente
“Tratado há mais de 30 anos na Europa e Estados Unidos, o tema no Brasil é recente, pouco co-
mentado e até confuso.” Desta forma, Fábio Assumpção iniciou sua palestra sobre Síndrome do
Edifício Doente – termo que, segundo ele, passou a ser utilizado para definir o conjunto de sinto-
mas agudos que se manifestam em prédios contaminados. De acordo com a Organização Mun-
dial de Saúde (OMS), os sintomas mais comuns são dor de cabeça, irritação nos olhos, nariz ou
garganta, náusea, fadiga mental e física, que desaparecem tão logo as pessoas deixam o edifício.
Assumpção explicou que há um grupo de doenças que, de forma equivocada, tem sido tra-
tado como SED: a Doença Relacionada ao Edifício, ou DRE, cujos sintomas se mantêm por longos
períodos, são diagnosticáveis, crônicos e diretamente relacionados ao ar contaminado (tosse, dor
no peito, febre, calafrio e dor muscular). “Um dos exemplos mais conhecidos é a Legionella sp,
doença que matou o ex-ministro Sergio Mota.”
No caso da SED, as causas mais frequentes são ventilação inadequada (52%), contaminação
interior (17% - cigarro é o principal vilão), exterior (11%) e microbiológica (0,5%). A maioria dos
poluentes, conforme alertou o especialista, vem de fontes internas do prédio, como carpetes,
produtos de limpeza, de madeira, dentre outros.
Fonte: http://www.licitamais.com.br/noticias/Meio-Ambiente/2337.html
Saiba mais
O uso industrial de microrganismos está relacionado principalmente ao processo de fermenta-
ção. No início do século XX, a fermentação microbiana foi bastante utilizada na produção de com-
postos químicos como o glicerol, comumente utilizado na indústria bélica. Atualmente, os princi-
pais processos tecnológicos na indústria se dão pela utilização de microrganismos geneticamente
modificados, que permitem otimizar o processo de fermentação e produção de bioprodutos de
acordo com as necessidades do fabricante.
Com isso, grande parte dessas necessidades parte do princípio da fermentação industrial,
geralmente realizada em bioreatores, que são recipientes de tamanhos variados nos quais mi-
crorganismos são cultivados e produzem compostos. Um tanque de produção de álcool em uma
cervejaria é um exemplo de um bioreator.
Durante o processo de fermentação, os microrganismos produzem metabólitos primários e se-
cundários. Metabólitos primários são compostos produzidos pelas células e que são essenciais para
o seu crescimento e manutenção. Já os metabólitos secundários são produtos oriundos do meta-
bolismo microbiano, normalmente produzidos a partir dos metabólitos primários.
Síntese do capítulo
Esse capítulo apresentou conceitos gerais sobre a Microbiologia e sua relação
e inserção no Meio Ambiente, caracterizando e descrevendo as relações dos
microrganismos presentes na água, no solo e no ar, além de exemplificar as
principais utilizações dos microrganismos na indústria.
São discutidos os principais problemas relacionados às doenças de vei-
culação hídrica, bem como a microbiota característica dos corpos de água. Ao
tratar dos microrganismos presentes no solo, são mostrados os principais me-
canismos de atuação microbiana no solo e suas associações, bem como o
papel da microbiota nos principais ciclos biogeoquímicos.
Sobre a presença microbiana no ar, é mostrada a composição e os princi-
pais microrganismos presentes, bem como os métodos de identificação e con-
trole (incluindo as legislações pertinentes) dos mesmos.
Sobre a utilização industrial dos microrganismos, são citados os princi-
pais ramos industriais que se beneficiam da ação microbiana, bem como alguns
mecanismos de obtenção de produtos produzidos por bactérias e fungos volta-
dos à utilização nas indústrias farmacêutica e alimentícia.
Atividades de avaliação
1. Cite as razões pelas quais Escherichia coli é a bactéria mais utilizada como
indicador de contaminação de água.
2. Pesquise sobre as cianobactérias, destacando como elas podem tornar-se
um risco à saúde humana quando presentes em grandes quantidades nas
águas dos reservatórios de abastecimento.
212 PAIXÃO, G. C., PANTOJA , L. D. M., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I.
Leituras
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tal. São Paulo: Instituto Agronômico, 2007. 312 p.
Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual prático de análise de água. 2
ed. rev. – Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006. 146 p.
Sites
http://www.cetesb.sp.gov.br/Ar/ar_boletim.asp
http://www.saudepublica.web.pt/06-saudeambiental/
http://www.youtube.com/watch?v=7l2qjN8UYdk
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universitário. O Biológico, v. 69, p. 41-47, 2007.
Desvendando o Mundo Invisível da Microbiologia 215
Sobre os autores
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Desvendando o Mundo Invisível
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
da Microbiologia
mento das regiões do Ceará.
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