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CRÔNICAS
Bariani Ortêncio
Crônicas do Bariani
2023
O sonhador do sertão
Clenon Ferreira
clenon.ferreira@opopular.com.br
3 Crônicas do Bariani
escritor, mas ele vai além. Em suas crônicas, faz uma imersão ao Cer-
rado, apresenta o cotidiano de goianas e goianos, destaca costumes,
paisagens e hábitos que apenas um autêntico "goiano do pé rachado"
saberia reconhecer.
"Quanto mais se vive, mais se aprende e... morre-se sabendo qua-
se nada. A vida é curta pra ser pequena", escreveu Bariani em uma de
suas crônicas. Os textos do autor reafirmam o seu caráter folclorista:
o sertão, o calor e o sol forte ajudam na condução das histórias que
discutem o valor do planalto central brasileiro no processo de ocu-
pação do País.
O escritor, que viveu o esplendor da criação da então nova capital
de Goiás em suas primeiras décadas, rompeu fronteiras musicais com
a criação do Bazar Paulistinha, que produzia e comercializa trabalhos
de artistas goianos para outros Estados. Foi também goleiro do Atlé-
tico Clube Goianiense, desafio dado pelo então prefeito de Goiânia
Venerando de Freitas Borges. Emprestou sua portentosa residência
modernista para eventos culturais e lançamentos literários.
"Existem dois tipos de bobos: os que empresta livros e os que de-
volve", brincou o autor em entrevista ao POPULAR em 2018. Bariani
hoje não escreve mais. A rotina é ocupada em ficar na sala de sua casa,
no primeiro andar, observando o corre-corre da calçada e da vista de
sua casa, a Praça Cívica. O Instituto, que leva seu nome, ainda tem li-
vros a serem editados e publicados. "Ser goiano é ser de paz, dar um
boi para não entrar na briga, mas uma boiada para não sair. Ser goia-
no é bom demais da conta", reitera.
Venha com a gente se deliciar com as crônicas que falam sobre o
que é ser goiano. Você vai rir e se emocionar.
Maktub!
4 Crônicas do Bariani
Cena de rua
18/08/2005
5 Crônicas do Bariani
so, acercou-se. A criança, inocente, se desapertou com os copinhos de
sorvetes catados na calçada e nas latas de lixo. A mulher é sempre
mais aguentadeira, pois a própria natureza se responsabiliza por isso.
O roceiro quando vem buscar o que de-comer na cidade é porque já
está nas últimas, que gente da roça é vergonhosa pra estar pedindo.
Os campineiros fizeram roda e quiseram tomar as devidas provi-
dências. Mas, onde levá-los? Citaram diversas siglas, como: LBA , SCM,
Iapi, IAPC, IAPTC, Sesi, Sesc, SVP e tantos outros ipepês que nem sei
se existem. Disseram que a Legião Brasileira de Assistência não pos-
suía ambulância; que a Santa Casa de Misericórdia estava na mesma
situação do homem desmaiado; que o Iapi só atende quem trabalha
na indústria; que o IAPC, idem, no comércio; que o IAPTC ampara so-
mente motoristas; que os Sesi e Sesc estavam fechados àquela hora e
que a Sociedade de São Vicente de Paulo só atende com cartão. Mas
acontece que a vítima não tinha tipo de operário de fábrica, nem de
empregado do comércio, nem de motorista e muito menos de mendi-
go. Resolveram apelar pela sigla que sempre funciona: Vaca, no caso,
a Vaquinha, ressuscitando a família da miséria. Primeiramente o João
Rassi animou o homem com uma aplicação de Coramina e, depois,
todos foram animados com os pastéis do Bar do Fiore.
Hoje não tem Macktub!
6 Crônicas do Bariani
Quiabo e jiló29/04/2015
7 Crônicas do Bariani
concha cheia de quiabo babento no meu prato, o que me assustou
muito, pois detestava quiabo. E como a minha mãe ensinou que na
casa dos outros não se deve deixar restos no prato, engoli aquela coi-
sa com os olhos fechados, esperando coisa melhor, quando a senhora,
mui gentil, falou, para o meu espanto:
“Como ele gosta de quiabo!”
E vai mais uma conchada!...
“Escorrega igual a quiabo”
“Quiabo cozido é baba de bobo”.
O quiabo, pra não babar, deve ser cozido inteiro, depois passar
caldo de limão. Se for cortado em tiras e frito, será um ótimo tira-gos-
to. Um prato tradicional dos goianos-mineiros é o frango ao molho
com quiabo, angu e açafrão. O jiló comum de agora é liso e comprido,
que o original, redondo e enrugadinho, não está fácil nas bancas, e é
bom pra muita gente que não entende quando alguém lhe manda “to-
mar no j...!”
Patê de jiló acompanhado de fatia de pão torrado aqui em casa
sempre faço e as mulheres, que não gostam “disso ou daquilo”, ado-
ram, e até levam pra casa. Como fazer: jilós bem cozidos batidos no
liquidificador com bastante alho, pouca cebola, sal, azeite, limão, vi-
nagre, orégano, pimenta-bode in natura e cheiro verde.
Também, vinagrete de jiló: pego uma porção dos menores e com
os cabinhos, dou apenas uma fervura, coloco em uma vasilha de vidro
e os mesmos temperos do patê, com menos alho e mais vinagre. Outro
vinagrete bom demais da conta, a palito: cortar os jilós em fatias finas
e temperar com sal, azeite e limão. Pode fritar, também. E uma farofa-
da de jilós picadinhos vai bem.
Portanto, pra tudo tem jeito, é só procurar saber fazer.
Macktub!
8 Crônicas do Bariani
Mãos de aço
e pés de ferro
13/05/2015
9 Crônicas do Bariani
cipais para que o folclore fosse mostrado nas devidas regiões. E como
a tendência era acabar, pois as pessoas envelhecem e morrem, a co-
missão recomendou que se colocassem nos grupos dançarinos jovens,
crianças e também mulheres, o que está acontecendo.
A catira, de procedência indígena, com o nome de cateretê, alas-
trou-se do interior do Estado de São Paulo para os Estados do Centro
e do Sul. Sabe-se que cateretê é de origem tupi, mas a etimologia do
nome catira não tem registro certo, supõe-se que seja pela troca dos
parceiros, uns pra lá e outros pra cá durante a dança, porque é comum
nesses Estados a troca de coisas pelos gambireiros, baldrogueiros,
chamados também de catireiros.
Segundo Couto de Magalhães, “catira, dança só de homens, conside-
rada versão do cateretê paulista, é a mais brasileira de todas as danças”.
No imaginário do povo, catira é troca, barganha, gambira. Catirar
é barganhar e dançar a catira. Catireiro é dançador de catira e gam-
bireiro, indivíduo que se vira, comprando e vendendo, fazendo trocas.
A catira é infalível nos pousos de folias de reis. E a dança é encerrada
com divertidos Recortados, que são versos fora das modas, como:
“A minha mulher é uma coitada/ Tenho confiança por ser honra-
da/ Ela chega em casa de madrugada/ Achando dinheiro pelas estra-
da/ Eu saio de dia e não acho nada”.
“Quem namora mulher casada é um atrevido/ Uma olhada pra
mulher e quatro ou cinco no marido/ Cuidado com a bala do 30 no pé
do ouvido”
Macktub!
10 Crônicas do Bariani
Escritores policiais
brasileiros
07/01/2015
11 Crônicas do Bariani
via internet, os membros do clube residiam em vários Estados e a comu-
nicação se tornou dificultosa, ocasionando a sua extinção. A associação
deverá ser presidida pelo mais fecundo e principal autor policial brasi-
leiro, o delegado Eurípedes III, autor de excelentes livros no gênero, ou
pelo Ivanor Florêncio (da Secult municipal), que lançou, recentemente,
o superpolicial O Troco, criando um invencível serial-killer.
Livros do Delegado: AR15 - A Nova Lei; Emboscada; Giovanna, uma
Cobrinha Muito Esperta (ilustrações por Júlia Franco); Noite Macabra
e Operação Avestruz; Dicas de Segurança - Violência Urbana e Um
Enigma de Onze Letras, fora outros ainda inéditos. São livros excelen-
tes, de muita trama e impacto.
Sobre o recente livro de Douglas Avanço, Sementes da Morte, bem
escrito e urdido, há um descuido: nos policiais sempre são mais de um
suspeito, caso contrário até o leitor comum descobre. No caso é Mar-
cos, velho mestre, amigo e orientador do ex-delegado Wild, que o fez
perder o cargo, pelo simples motivo de não querer ser seu cunhado. É
o que dá pra entender.
Em Quatros Vivos e um Morto, a trama é maior: um famoso cien-
tista mexicano está hospedado no apartamento 1037, o telefone está
fora do gancho e o hóspede, se saiu, ninguém viu e não deixou a chave
na portaria. No terceiro dia, o gerente do hotel, ao invés de chamar a
polícia, juntando-se com mais três funcionários, abre o apartamento,
dá com o hospede morto e, apavorados e desorientados, resolvem su-
mir com o cadáver, salvando a reputação do hotel, causando tremen-
da trapalhada e cadeia para os quatro. Bom tema para um filme com
Os Três Patetas. Mas no finalmente o autor põe a coisa a sério, que o
laudo do médico deu a causa-mortis como um adiantado tumor no
cérebro fulminando a vítima sem tempo de colocar o fone no gancho.
E o laudo médico, quase ilegível, “por precaução”, foi rasgado pelo ge-
rente e atirado no lixo.
Macktub!
12 Crônicas do Bariani
Pinceladas sobre o Natal
e ano-novo
26/12/2014
13 Crônicas do Bariani
de de Myra, no século 4. São Nicolau é padroeiro da Rússia imperial e
da Grécia. Vive em Lapônia, no Polo Norte e viaja no seu trenó à velo-
cidade da luz, ou seja, a 300 mil quilômetros por segundo. Para ajudar
um amigo, que precisava casar uma filha sem dote, São Nicolau atirou
do seu trenó um punhado de moedas de ouro pela chaminé, indo cair
dentro das botas que estavam secando na lareira do beneficiado.
Melchior, Gaspar e Baltazar não foram reis nem santos, apenas
magos. Presentearam o Menino Jesus com ouro (riqueza); incenso (di-
vindade) e mirra (longevidade).
Hoje o Natal tem função mais comercial do que religiosa. Mas,
com a crise atual, o bom velhinho está de saco vazio. Quem está de
saco cheio é o povo!
O primeiro dia do ano é o da confraternização universal. Devemos
entrar no ano com roupa nova e com as cores branca (paz e harmonia),
verde (esperança e confiança), azul (céu e o mar), rosa (amor, carinho),
amarelo (ouro, finanças) e vermelho (luta, pertinácia).
Perdoar as pessoas e não dever nada a ninguém. Ter algum di-
nheiro no bolso. Sapato novo para os primeiros passos, pois, segundo
os chineses, “uma grande caminhada começa com os primeiros passos”.
Comer lentilhas à meia-noite. Na tradição, Esaú vendeu a sua pri-
mogênita ao seu irmão Jacó, por um prato de lentilhas.
Simpatia: pegar nove sementes de romã e separar em três monti-
nhos, representando os Reis Magos. Engolir o de Melchior com um cá-
lice de vinho para ter alimento sempre; pegar o do rei Gaspar e jogar
por trás do ombro direito, para o passado; o do rei Baltazar, colocar na
carteira para ter dinheiro o ano todo.
E... pague a minha prenda!
Macktub!
14 Crônicas do Bariani
Outros perigos
do Araguaia
24/07/2003
15 Crônicas do Bariani
cardume deixa repousando suavemente, no fundo do rio, o esqueleto
branquinho de uma pessoa. Há um sistema telecomunicativo fabuloso
entre as piranhas. Devido à matança de jacarés as piranhas aumenta-
ram muito, infestando os rios e principalmente os lagos, que piranha é
o prato predileto de jacaré.
Agora vamos falar sobre a arraia. Arraia nunca matou ninguém,
mas já aleijou muita gente. A mais perigosa e mais comum é a arraia-
-de-fogo (pintas amarelas). A arraia-maçã não tem ferrão. As mais raras
são a bicuda, a borboleta, a elétrica e a pintada. O ferrão é em farpas
invertidas, como cauda de dragão; pisando na arraia o incauto recebe a
estocada, que ela arranca o ferrão dilacerando as carnes do indivíduo,
doendo doidamente por 24 horas. Não existe homem que não chore e
muitos soltam o barro; urinar, então, é regra sem exceção. A vítima não
deve tirar a parte ofendida fora da água, que o contato com o ar é que
faz doer mais. Deve enrolar um pano no ferimento ainda dentro d’água
ou mesmo colocar barro ou areia, contanto que vede o ar.
O veneno terrível está no próprio ferrão, devido ao lodo e demais
sujeiras. As arraias são mais frequentes nos rios do Norte, principal-
mente no vale araguaiano: o Araguaia, seus afluentes e inúmeros la-
gos. Portanto, cuidado nas águas paradas, sujas, lamacentas e folhas
podres acumuladas. A ferida é de cura difícil, prolongada, causando
entorpecimento, dormência, depois de 24 horas. Para evitar a estoca-
da, a terrível ferroada, é só entrar arrastando os pés no fundo d’água,
que a arraia, tocada, foge, só atacando, estocando, se pisar em cima.
Medicamentos contra ofensa de arraia há vários: anestesia de
dentista, permanganato de potássio, amoníaco e o principal, a xilocaí-
na (spray), que dá alívio imediato. A ferida deve ser preenchida com os
cristais do sal do permanganato. Tem aquela simpatia da mulher co-
locar a vagina no machucado, que traz alívio na hora. É só achar quem
se disponha a fazer a caridade, coisa muito difícil entre as sertanejas.
Se for aqui, na cidade...
Macktub!
16 Crônicas do Bariani
A bola
19/04/2014
17 Crônicas do Bariani
um gol para vencer o campeonato. Para o Atlético bastava o empate.
O tempo já estava esgotado, a torcida aguardando o apito do juiz, gri-
tando Campeão! Campeão!, quando surgiu um pênalti duvidoso con-
tra o Atlético. Os jogadores e os torcedores não concordaram e invadi-
ram o campo (Estádio Olímpico). Bate, não bate!
Os campinenses pressionaram a diretoria do clube: João de Brito
Guimarães, Edson Hermano, Moacyr Cícero de Sá, Calimério Machado,
Reinaldo Toni, mas a Federação Goiana de Futebol ordenou que o pê-
nalti fosse cobrado na quarta-feira, às 16 horas, com os portões fecha-
dos e os dois times completos, em campo. Mesmo com os portões fe-
chados, os campineiros estavam, desde após o almoço, empoleirados
nos muros, nas carrocerias dos caminhões, em cima dos ônibus, muitos
com escadas, todos na maior expectativa.
Os personagens principais da grande decisão eram apenas dois:
o goleiro, no caso, eu, e o batedor do pênalti, o Salsicha (Elso Rosa),
o maior chutador do Goiânia. As nossas pernas, minhas e do Salsicha,
tremiam como “varas verdes”. Se eu engolisse um frango, teria de me
mudar de Campinas. O juiz colocou a bola na marca do pênalti. Salsi-
cha pegou um afasto duns 10 passos. Eu o vi como um gigante pernal-
ta. Gingou o corpo pra lá e pra cá e veio firme! Foi aquela paulada! A
bola subiu, passou uns três metros acima do travessão e foi quebrar os
vidros do vitrô do vestiário junto ao muro da Avenida Paranaíba.
Os atleticanos, eufóricos, saltaram os muros. Fomos carregados
quase até Campinas. Não restou um só foguete nas lojas. O céu de
Campinas se enfumaçou. Virou tarde de agosto!
Macktub!
18 Crônicas do Bariani
Para-choques de
caminhões e seus saberes
02/03/2014
19 Crônicas do Bariani
tempo em viagem do que em suas casas, morando praticamente nas
cabines dos caminhões. Adquirem muita experiência de vida e levam
pelo Brasil inteiro, nas estradas e nas cidades, as suas filosofias.
Muito se escreveu sobre os para-choques dos caminhões, mas pen-
so que o mais completo trabalho no gênero está saindo agora, com a
folclorista Norma Simão Adad Mirandola, autora do excelente livro
sobre teares manuais: As Tecedeiras de Goiás, edição da UFG, 1993.
A autora pesquisou por 50 anos e registrou 1.308 ditados da filosofia
popular em ordem alfabética, todos em para-choques de caminhões
que viajam pelo Brasil afora, levando mensagens folclóricas, tal qual,
sem mudar ou acrescentar uma simples vírgula nas frases, muitas mu-
dando o sentido, como: “Bateu o pau quebra” (o pau quebra se bater).
Se colocar vírgula: “Bateu, o pau quebra” (Se bater, vai haver quebra).
Bom trabalho para colecionadores, pois há colecionador para tudo.
E aos que vão se casar, não se esquecerem do recado aqui do li-
vro: “Ter pai pobre é destino, ter sogro pobre é burrice”.
Vamos ver alguns dos mais conhecidos ditados, adágios ou pro-
vérbios, deste livro da Norma: “A mulher que se vende não vale o que
recebe”; “Boca que não merece beijo, pimenta nela”; “Correndo, só
Pelé ganhou dinheiro”; “Na estrada da vida não há retorno”; “Eu amo
a sogra da minha mulher”; “Frete e mulher feia eu não carrego”; “Fe-
liz foi Adão que não teve sogra nem caminhão”; “Gostoso 100 limi-
te”; “Hoje aqui, amanhã não sei onde”; “Inveja é falta de capacidade”;
“Jesus Cristo é o caminho”; “Lagoa que tem piranha, jacaré nada de
costa”; “Motorista é igual bezerro, só dorme apartado”; “Não aprendi
a dizer adeus”; “O sono indica o momento de parar”; “Papai, não corra,
não mata, não morra. Nós precisamos de você”; “Viúva é como lenha
verde: demora mas pega fogo”.
Com esse livro o folclore brasileiro fica enriquecido. Porque: Macktub!
20 Crônicas do Bariani
Contador de causos
25/03/2014
21 Crônicas do Bariani
O verdadeiro cômico é mesmo o palhaço de circo, que se apre-
senta caracterizado, sendo o ídolo das crianças, muitas vezes somente
fazendo graça, como os palhaços estrangeiros que não falam o por-
tuguês. Nas Folias de Reis há os palhaços que vão à frente, animando,
fazendo macaquices para a criançada e puxando os foliões. Nas cava-
lhadas os mascarados são verdadeiros palhaços a cavalo, exoticamen-
te caracterizados, alegrando e assustando o pessoal.
O lançamento do livro da Editora Kelps, Até Parece Mentira..., que
venho coletando e escrevendo há 20 anos, se dará no dia 27, quin-
ta-feira, às 20 horas, no nosso Instituto (Rua 82, nº 565, Setor Sul). A
capa é do cartunista do POPULAR, Jorge Braga; as ilustrações da ar-
tista plástica Maria Júlia Franco; o prefácio do jornalista Oscar Dias
e o comentarista, Jadir de Morais Pessoa, professor de Antropologia
da UFG. Serviremos pasteizinhos de pequi e de guariroba, paçoca da
Maura e amendoim-cavalo. Também, a cachaça Vale do Cedro (com o
degustador Gabriel Ortencio), chope do Glória e sucos naturais. Ainda,
apresentações musicais de Júlia Franco; Júlio Cesar, o mago da vio-
la, Marcus Biancardini e o garoto, violeiro-revelação Arthur Noronha.
Até Parece Mentira... contou com as participações de Batista Custódio
(personagem de Genésio David Amaral), Rogério Borges (O POPULAR),
Gil Perini, Celso Costa Ferreira, Doracino Naves, Lêda Selma, Hélio Mo-
reira, Ivany Ribeiro Machado, Renato Maurício, Ulisses Aesse (persona-
gem de Edson Costa), Odair Silva, Jeovah de Oliveira, compadre Cabral
e Eulício de Oliveira Lobo. O livro contém 325 páginas e custa R$ 30.
Contamos com as presenças dos amigos e dos que serão novos amigos.
Macktub!
22 Crônicas do Bariani
Sobre censo e fogões
23/05/2014
23 Crônicas do Bariani
E se não tivesse o gás, haveria lenha para tantos fogões? Teríamos de
transformar todas as lavouras e terras mais em reflorestamentos? E
São Paulo e o Rio de Janeiro? E a Cidade do México, Nova York, Tóquio
e Pequim? E o gás como combustível alternativo vai durar a vida toda?
“O Petróleo é nosso?”, quer dizer, é renovável?
A solução será a evolução científica e isso dependerá de pesquisas.
Somente com as pesquisas surgirão novas fontes de energia. O ideal
para o consumo dos fogões seriam as energias alternativas, como a
hidroelétrica, largamente usada nos países ricos, mas cara nos países
do Terceiro Mundo, tanto para quem constrói como para os usuários.
As construções das usinas hidroelétricas abalam os orçamentos dos
governos e ocasionam o desequilíbrio climático, como aconteceu com
Itaipu e Tucuruí, um verdadeiro descontrole entre enchentes e secas.
A situação se inverteu: secas prolongadas no Sul e enchentes destrui-
doras no Nordeste.
Mas vai chegar um tempo em que a mão da tecnologia irá empur-
rar as nuvens carregadas de um ponto a outro dos territórios, princi-
palmente no Brasil, de extensão continental. Acontece que é o aperto
que faz o sapo pular e aqui no Brasil nunca vai ter perigo de um fogão
ficar sem cozinhar feijão e mandioca, que o brasileiro é criativo, o País
é super-rico em matérias-primas e, com serragem de madeira ou com
carvão de casca de coco, ou, ainda, bagaço de cana, nenhum fogão
vai parar. O meu tio Pedro Bariani, durante a Revolução Constitucio-
nalista de São Paulo, adaptou o caminhão a gasolina da serraria para
queimar álcool e rodou que foi uma beleza.
Fogão também queima álcool e a cozinha fica até mais cheirosa.
Macktub!
24 Crônicas do Bariani
Meus 50 anos de
literatura
16/08/2006
25 Crônicas do Bariani
ram o salão apresentando a minha folia Senhora do Rosário, tendo eu
como alferes da bandeira.
Como teria de falar, além dos agradecimentos, constava que con-
tasse alguns causos. Apelei pelas informações humorísticas, para jus-
tificar o meu desespero numa área que não é a minha: a de ator. Co-
mecei dizendo que há muita diferença entre o escritor e o contador de
causos. Um escritor nem sempre é um bom contador de causos, como,
também, um bom contador de causos nem sempre é um bom escritor.
O bom contador já nasce com o dom, pode ser até analfabeto, e o su-
cesso depende do modo de ele contar. Foi o caso do Geraldinho No-
gueira. Há maus contadores de piadas e de causos que estragam uma
boa piada e um bom causo. E há os que fazem absoluto sucesso com
piadas velhas e causos ruins. Jô Soares sentencia: “Para um público
novo, piadas velhas, e para um público velho, piadas novas”.
Um conto ou um causo é um acontecimento contado ou escrito,
com desfecho que surpreende o leitor ou o ouvinte. Quando a histó-
ria é contada em linguagem coloquial, popular, é um causo. A mesma
história escrita em linguagem literária, já é um conto. Na decoração
do Spaço Ville, um banner enorme, com a minha foto, pelo Carlos Sen-
na, contendo o poema O Dono da Bola, impresso e lido pela autora
Bete Caldeiras Brito, secretária do Instituto Histórico e Geográfico de
Goiás: “Cedo chegou/ quis ficar/ fixar e ficou/ Lidou na lida/ madeira
esculpida/ costura cosida./ Menino moleque/ o dono da bola. / Rasga-
da... emendava/ como se nova fosse./ Consertava a jogada/ impondo
presença/ goleiro escalado/ só bola ausente./ A melodia o conquista:/
escreve, vende/ produz, diversifica./ Pesquisa, publica/ preserva a cul-
tura/ resguardando raízes./F olclore o fascina/ a arte o seduz/ a escrita
o domina./ – Conhece de tudo. De tudo um pouco./ – Um pouco, não!/
De tudo, um montão!”
Obrigado, gente! Macktub!
26 Crônicas do Bariani
Picolé
27/12/2002
27 Crônicas do Bariani
so, de chocolate que fiz, pela primeira vez, na minha terra, o Eskimó.
Havia picolé, aliás, pau-gelado somente de creme, de chocolate e de
groselha. Para o Eskimó o xarope era colocado superquente em uma
vasilha tipo coqueleteira e o pau-gelado introduzido e retirado rapi-
damente, que saía com a crosta de chocolate já seca, e era só enrolar
no papel-manteiga. Este era vendido a 200 réis.
Hoje, com o avanço vertiginoso da industrialização, os doces ge-
lados progrediram muito e não se acha mais um picolé redondo pra
matar saudade. Mas o tal avanço subiu, deu piruetas, diversificou e
chegou ao cerrado, divulgando a nossa cultura (em dois sentidos), pois,
dos primitivos apenas de creme, de chocolate e de groselha, chega-
mos, com a pergunta comuníssima, da criança e até nós, adultos, abrir
o carrinho do picolezeiro e perguntar: “Picolé do que que tem?”, que
além dos comuns, ele responde: “Tem de pequi, tem de murici, tem de
araticum, tem de jatobá, de araçá, de gabiroba, de fruta-de-ema, de
fruta-de-lobo, de mama-cadela, de marmelada-de-cachorro...” Daqui a
uns tempos vamos encontrar picolé de coco macaúba, de guariroba...
tudo bom demais da conta!...
Uma sorveteria no Setor Coimbra só trabalha com as frutas do
cerrado, que são delícias puras, valorizando e preservando o cerrado,
que é o nosso principal hábitat, aqui no Brasil Central.
Macktub!
28 Crônicas do Bariani
O tempo apaga tudo
12/01/2006
De fato, o tempo apaga tudo, mas não deveria ser assim, princi-
palmente as memórias dos reconhecidos valores que já se foram. O
ano começou com uma reportagem sobre o Bairro Feliz, por um jornal
diário. Registra que o bairro abriga muitos jornalistas, músicos, artistas
e escritores, nominando vários, os principais. Fiquei feliz e triste, ao
mesmo tempo, pois não li referência nenhuma sobre os maiores escri-
tores que residiram e morreram lá. Anatole Ramos e Yêda Schmaltz.
Mereciam, pelos menos, uma simples referência para a juventude to-
mar conhecimento que são conterrâneos de dois expoentes da litera-
tura em Goiás.
A reportagem biografa o nosso querido Juvenal de Barros, jorna-
lista e mestre cerimonial do Palácio das Esmeraldas e da Assembleia
Legislativa. Disserta, com ilustrações em cores, sobre a escritora Dirce
Leite, que usa o pseudônimo de Yaciara Nara e enumera os seus mui-
tos livros publicados; a querida professora Marta Machado. Também,
o escritor e compositor Humberto de Medeiros Noleto, com as suas
poesias e crônicas. O artista plástico que resume o seu grande nome
José César Teatini de Souza Clímaco em Zecésar, professor de gravu-
ras. O músico Diogo Ramos, trompetista da Banda Musical da Prefeitu-
ra. E até do homem mais belo do bairro, Pedro Henrique.
Tudo bem, há bons e ótimos profissionais da nossa cultura espa-
lhados por todos os mais de 600 bairros da capital. Mas e o Anatole
e a Yêda? O Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, pelo seu novo
presidente, o escritor Aidenor Aires, envia cartão de boas festas aos
membros, com um enunciado histórico da Yêda Oscarlina Schmaltz:
29 Crônicas do Bariani
“Goiás é um homem: Pedro e sobre esta pedra, se edificou sobre a ter-
ra vermelha, o princípio do futuro”. Ela é neta do grande poeta pionei-
ro do modernismo em Goiás, Demóstenes Cristino. Nasceu em Recife,
em 1941, mas veio ainda molequinha para cá. Yêda jogou em todas
as posições das letras e das artes, desde poesia, prosa e artes plásti-
cas. Professora de Letras e Artes nas Universidades Católica e Federal.
Premiada várias vezes em Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro. São 19 as
suas obras publicadas, como Caminhos de Mim; Tempos de Semear;
Secretária; O Peixenauta....
Também temos muito o que falar sobre o grande amigo e profissio-
nal das letras Anatole Ramos, que foi advogado, pracinha na 2ª Gran-
de Guerra, professor de Português e Literatura, firmou-se mais como
jornalista, desde o Cinco de Março, passando por todos os jornais que
foram surgindo. Crítico literário ferino e ganhador de muitos concur-
sos, criticava muito os concursos de “cartas marcadas”. Usava colocar
pingos de cola entre algumas páginas dos seus trabalhos concorrentes
para ver se a comissão julgadora lia todos os trabalhos. E constatou
que quase sempre não lia, caracterizando, aí, as famigeradas “cartas
marcadas”, que tanto apavoram os concorrentes (honestos). A sua ba-
gagem literária soma oito livros.
Seu hobby foi marcenaria. Ele praticava curiosidades numa oficina
improvisada nos fundos da sua residência. Anatole faleceu em 1994,
aos 70 anos. A Yêda recebeu uma régia homenagem da União Brasilei-
ra de Escritores (UBE), emprestando o seu nome ao auditório, o salão
nobre onde se encontra a galeria dos presidentes da entidade. O Ana-
tole é apenas patrono da cadeira do Valdenes Menezes na Academia
de Letras, Ciências e Artes de Inhumas (Alcai). Esperamos que seja justi-
çado. A palavra está com vocês, pioneiros e moradores do Bairro Feliz.
Macktub!
30 Crônicas do Bariani
Sua majestade, a cachaça
03/08/2006
31 Crônicas do Bariani
cachaça, agora, é a “bebida oficial do Brasil”. Nada de pinga e nada
de aguardente. Cachaça vem de cachaza (castelhano), que significa
vinho das borras (da uva). Há umas 30 mil marcas brasileiras. A brasi-
leiríssima cachaça artesanal, cuja produção anual atinge 400 milhões
de litros, da qual só é exportada 1%, tem muitas virtudes, pois sara
doenças, esquenta no frio, esfria no calor, desinibe e desperta, alegra
na tristeza e consola na paixão, faz mudo falar, é alívio na dor e força
na fraqueza, anima velório e sustenta pagode, anestesia e desinfeta e...
Tivemos ótimas cachaças goianas no final do século passado,
como a Estrela, de Trindade; de Quirinópolis e Bom Jardim, a Lajimei-
ra, a Pântano, a Gradação, a Cachoeirinha e a Bom Jardim; em Orizona,
a Fernandinha e a Orizonita, para citar apenas algumas. A Vale de Ce-
dro – Reserva Especial Ouro, safra de 1999, com embalagem de luxo,
teve lançamento festivo aos 19 deste mês, no município de Palestina
de Goiás, pelo 57º aniversário do seu proprietário, o empresário Carlos
Heitor de Morais. Pessoas ilustres que marcaram presenças no even-
to: de Jataí, Luiz Azeredo Coutinho, da Folha de Sudoeste, com vários
colegas, e o tenente-coronel Ricardo Evangelista, comandante do 41º
BIMTz; de Iporá, Adão Dias da Silva e Naildo, do jornal Espaço Livre;
o jornalista Valdecy, do oeste goiano; Valteir Santos, da Rádio Nova
Onda; o empresário Vilton Pereira, com os seus filhos Augusto, Túlio e
Vilton Jr., além de amigos e familiares. De Goiânia, nós, com a família,
e o antropólogo, professor da UFG, Jadir de Morais Pessoa, com a am-
bientalista dra. Cida, dentre outros. Vamos tomar uma “saideira”?
Macktub!
32 Crônicas do Bariani
Antônio Poteiro, oitentão!
05/11/2005
33 Crônicas do Bariani
nal de Milão. Na Serrinha trabalhava, junto ao Poteiro, o grande primi-
tivista e artista Caetano Somma, encarregado da pintura da produção
da indústria. Ele fazia pranchetas de argila com temas folclóricos.
Regina encomendou-lhe umas peças para enviar à Feira de Mi-
lão e perguntou ao Poteiro se ele não fazia também figuras. Ele disse
que sabia fazer figuras, mas eram coisas muito feias. Regina pediu-lhe
para que fizesse algumas, que quanto mais feias ele achasse, mais bo-
nitas ela achava. E assim a Gamela começou a comercializar os seus
primeiros trabalhos artísticos. Depois, a segunda oportunidade, a de
pintar, foi com o cavalo arreado do Siron, que sempre nos visitava.
Siron estava saindo daquela fase de retratar madames da socieda-
de goianiense. Viu as cerâmicas do Poteiro e ordenou: – Você vai pas-
sar essas coisas aí pra telas. Respondeu que não ia dar certo, porque
de tinta ele só conhecia as de caiar paredes e de tingir roupa. Siron
lhe levou telas, tintas e pincéis e transformou o ceramista artesanal
no famoso pintor primitivista que é ele hoje. Mas isso não foi rápido,
não. Aconteceu bem depois. Antônio Poteiro se mudou para Goiânia
e eu lhe trazia pastões de argila marombada (a vácuo), enrolados em
plásticos. Minha mãe lhe cedeu um cômodo em Campinas, onde ele
guardava a sua produção, levando de bicicleta às feiras.
Em abril de 1960, pela inauguração de Brasília, estava eu distri-
buindo, em vários pontos estratégicos de venda, caixas do meu disco
Brasília-21 de Abril, que se transformou em hino da Novacap, quan-
do deparei com o Poteiro em um gramado tentando vender os seus
produtos. Disse-me que não havia vendido nada. Deixei com ele uma
caixa com 25 discos e recomendei-lhe que dissesse em alto e bom som
que o presidente Juscelino dava uma mensagem no começo do disco,
sobre a construção de Brasília. Até hoje não sei se ele deu conta de
vender algum disco.
Macktub!
34 Crônicas do Bariani
Quanto mais se vive,
mais se aprende
11/10/2005
35 Crônicas do Bariani
corro, é uma índole que trazemos conosco. Foram 15 horas aprazíveis,
durante as quais aprendemos o que achávamos que sabíamos muito.
E quanto mais tempo temos de CNH, mais desleixados somos. Ape-
sar da gente “saber tudo”, se conscientiza de como socorrer, de como
não matar e de como não morrer. Em todos os itens vê-se a preocu-
pação do governo em preservar, em amparar a vida do cidadão, com
leis compatíveis que a maioria ignora ou passa por cima. Quando va-
mos viajar, por exemplo, a preocupação é de abastecer o carro, olhar
os óleos e a água, calibrar os pneus, mas nunca nos lembramos ou
ligamos para o estepe. E já pensou furar um pneu na estrada, retirar a
enorme bagagem do porta-malas, colocar a trenheira no acostamen-
to e ter a desagradável surpresa de pegar o pneu murcho? E a correia
dentada, a mangueira, os fusíveis, as lâmpadas sobressalentes? E a re-
gulagem dos faróis?
No curso, o que mais impressiona são os vídeos mostrando as im-
prudências, as irresponsabilidades dos condutores, com cenas que até
embrulham o estômago da gente. Mas há também burrices, principal-
mente em placas de estradas, como curva perigosa à frente. Ora, via-
jante não é Curupira, que tem os pés pra trás. Deveria ser curva peri-
gosa a 200 metros, ou à esquerda ou à direita. Também o crime infame
de erros de alguma placas indicativas: Rio Urú, Itauçú A 5 kms.
O interessante do curso é a presença marcada por um sistema
moderno de computação, pelas impressões digitais. Esse sistema de-
veria ser também empregado nos vestibulares, evitando fraudes, uns
fazendo provas em nomes de outros. No final chega-se à conclusão de
que todas as imprudências giram em torno da irresponsabilidade, a
falta de atenção e a velocidade descontrolada. E a moral da história é
a sabedoria popular: “Correr não é pressa!”
Macktub!
36 Crônicas do Bariani
Ecologicamente
correto e incorreto
11/08/2007
37 Crônicas do Bariani
pado, perdizes grandes, como galinhas de terreiro, a levantarem voos
quase em cima da Parati. Também, quati e tamanduá mortos, vítimas
da maldade dos motoristas, além de um gambá e uma saracura, que
jamais cantará os seus “três-potes”. Na casa da fazenda, ao lado da
indústria Vale do Cedro, show de plantas ornamentais, que a Suely
cuida com carinho maternal. São canteiros compridos de uma espécie
aqui, outros canteiros ali e, como o terreno permite degraus, tem-se a
impressão de um pequeno jardim suspenso de Babilônia. Inhambuzi-
nho chororó, das perninhas vermelhas, tentando adentrar a cozinha.
Um casal de seriemas, também ali na porta, comendo na bacia dos
cachorros, Sansão e Dalila.
Dois casais de pássaros pequenos, da família da gralha, comen-
do mamão no estaleiro próprio para alimentar pássaros soltos, livres;
além destes, sabiás, sanhaços, tejos e pássaros -pretos, que, em agra-
decimento à comida, saltam para os vasos de flores dependurados na
área de serviço, estalando os bicos em cantos agudos, com direito a
repiques e a volteios de voz.
Mas toda a graça, beleza e encanto acabam entre Israelândia e
Iporá, buracos e crateras rendando o asfalto. Aí tem início o bailado
lento, “cavalheiros e damas”, caminhões e jamantas, ônibus e gaiolas,
automóveis e peruas, furgões e caminhonetes, no vaivém, rodando em
passos sem compassos, procurando espaços, pares separados numa
dança marcada com a sinfonia dos buracos, pela batuta do maestro
governo. É lindo! Mas é uma pena!...
Macktub!
PS: Amigos do Araguaia – “Os lagos estão para o Araguaia assim
como os manguezais estão para o mar: são imprescindíveis para a re-
produção das espécies do rio. Por isso as áreas de grande concentra-
ção de lagos conectados ao rio, como a Fazenda Aricá, em Aruanã,
devem ser preservadas em forma de Reserva Particular do Patrimônio
Natural ou outra” (Jadir Pessoa, antropólogo).
38 Crônicas do Bariani
Também rezo, e muito!
22/04/2006
39 Crônicas do Bariani
vida. E, ao invés de serem julgados pelas CPIs corporativistas, o certo
seria ou é, pela Justiça comum, sentados nos bancos duros dos réus.
Em alusão a essa desumanidade, apelei para a Divindade, criando
uma Oração pelos Humildes, que está no meu livro à espera de edito-
ra, Shoppings de Cristo: “Piedade, Senhor! Para os que não têm onde
morar, e para tantos outros que não sabem onde moram. Para os que
não comem por não poderem comer, e para muitos outros por não
terem o que comer. Piedade, Senhor! Para os que não andam por não
poderem andar, e para tantos outros que andam sem ter para onde ir.
Para os que se contentam com um pedaço de pão, enquanto outros
não se satisfazem com a fartura. Piedade, Senhor! Para os que sorriem
com a dor na doença, enquanto outros clamam em plena saúde. Para
os que se alegram na tristeza, enquanto outros se entristecem na ale-
gria. Para a luta desigual entre os pobres de bens e os ricos, pobres
de espírito. Piedade, Senhor! Não para esse país que é muito rico, mas
para o seu povo que é muito pobre. Não para os que se sentam à fren-
te, mas aos que estão muito atrás. Piedade, Senhor! Os homens que
nos sustentam não têm o que comer, enquanto os que os escravizam
estão fartos. Os poderosos praticam a injustiça em nome da Justiça, e
estão cada vez mais poderosos e impunes. Piedade, Senhor! Crianças
morrem antes de nascer, e a maioria que nasce é marginalizada. Pie-
dade, Senhor! Não para mim, que me destes muito, mas para os humil-
des sem esperança...”
Maktub!
40 Crônicas do Bariani
Expediente
Texto: Clenon Almeida
Edição: Luiz Spada e Rodrigo Hirose
Edição-executiva: Silvana Bittencourt
Arte: André Rodrigues e Eric Damasceno Kaji