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por nenhuma forma ou meio eletrônico, mecânico ou outros, sem a prévia
autorização por escrito do editor.
Tradução
RAFAEL MANTOVANI
Acompanhamento editorial
Fabiana Werneck
Preparação de texto
Ana Alvares
Revisões
Richard Sanches
Marisa Rosa Teixeira
Paginação
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
Bond, Michael
2,746 KB ; ePub
1. Paddington se prepara
ETIRENÁRIO DO PADINGTUN
e então vinha
8 oras – Sair De Casa (Jardins De Windsor 32)
9 oras – Lanxe
11 oras – Chocolate Das Onze
– –PAh,
addington está elegante hoje – disse a sra. Bird.
puxa – falou a sra. Brown –, é mesmo? Espero que não esteja
aprontando nada.
Ela foi para junto da sra. Bird na janela e seguiu a direção do olhar dela
pela rua, até ver uma pequena figura com um casaco azul andando depressa
pela calçada.
Agora que a sra. Bird havia mencionado, Paddington realmente parecia
ter algo de especial. Mesmo de longe, seus pelos pareciam muito limpos e
recém-penteados, e seu chapéu velho, em vez de estar enterrado cobrindo
as orelhas, estava colocado num ângulo elegante, com a aba levantada, o que
era bastante incomum. Até sua velha maleta parecia ter sido lustrada.
– Ele nem está indo na direção de sempre – disse a sra. Brown quando
Paddington, chegando ao fim da rua, olhou com cuidado por cima do
ombro e então virou à direita, rapidamente sumindo de vista. – Ele sempre
vira para a esquerda.
– Se você quer saber – disse a sra. Bird –, esse urso está tramando
alguma coisa. Ele estava agindo de maneira estranha no café da manhã. Nem
repetiu a comida, e ficou espiando o jornal por cima do ombro do senhor
Brown, com uma cara muito esquisita.
– Não me surpreende que ele tenha feito uma cara esquisita, se era o
jornal do Henry – disse a sra. Brown. – Eu mesma não entendo patavina do
que está escrito lá.
O sr. Brown trabalhava no centro de Londres, e sempre lia um jornal
muito importante no café da manhã, cheio de notícias sobre a bolsa de
valores e outros assuntos relacionados a dinheiro que o resto da família
Brown achava chatíssimos.
– Mesmo assim – ela continuou, andando até a cozinha – é muito
estranho. Espero que ele não esteja tendo mais uma daquelas ideias. Ele
passou a noite de ontem fazendo contas, e isso geralmente é um mau sinal.
A sra. Brown e a sra. Bird estavam muito ocupadas preparando a viagem
de férias – faltando apenas alguns dias, ainda havia mil e uma coisas para
fazer. Se elas não estivessem correndo tanto, talvez tivessem juntado uma
coisa com a outra, mas, na pressa para deixar tudo pronto, a questão do
comportamento estranho de Paddington logo foi esquecida.
Sem saber do interesse que havia despertado, Paddington foi andando
por uma rua não muito longe do mercado de Portobello, até chegar a um
prédio imponente, que se destacava um pouco do resto. Tinha portas
enormes de bronze, firmemente trancadas, e acima da entrada, em grandes
letras douradas, estava escrito BANCO FLOYD LTDA.
Depois de garantir que não havia ninguém olhando, Paddington tirou de
debaixo do chapéu uma caderneta de capa dura e então sentou na sua
maleta em frente ao banco, enquanto esperava as portas se abrirem.
Assim como o prédio, a caderneta tinha as palavras BANCO FLOYD
impressas na capa e, dentro dela, o nome P. BROWN estava escrito a tinta.
Tirando a família Brown e o sr. Gruber, poucas pessoas sabiam que
Paddington tinha uma conta bancária, pois era um segredo muito bem
guardado. Tudo começara alguns meses antes, quando Paddington
encontrou um anúncio num dos velhos jornais do sr. Brown, que ele
recortou e guardou. Nesse anúncio havia um homem de aspecto paternal
fumando um cachimbo, dizendo que era um tal de sr. Floyd e explicando
que qualquer dinheiro que você deixasse com ele geraria o que ele chamava
de “juros” e que, quanto mais tempo ele guardasse, mais o dinheiro valeria.
Paddington tinha faro para bons negócios, e fazer o dinheiro aumentar
só por deixá-lo em outro lugar parecia de fato um ótimo negócio.
Os Brown tinham ficado tão contentes com aquela ideia que o sr. Brown
lhe dera cinquenta centavos1 a mais para ele juntar com seu dinheiro de
Natal e aniversário, e, depois de pensar muito, o próprio Paddington
acrescentara mais dez centavos, que guardara com todo o cuidado de sua
mesada semanal para comprar pãezinhos. Quando todas essas quantias
foram somadas, chegaram a um total de cinco libras e vinte e cinco
centavos, e um dia a sra. Bird levou Paddington ao banco para abrir uma
conta.
Após esse dia, Paddington passara uma semana vigiando o banco pela
porta de uma loja em frente, lançando olhares desconfiados a qualquer
pessoa que entrava ou saía. Mas, depois que um policial o mandou circular,
ele teve de parar de se preocupar com aquilo.
Desde então, embora tivesse várias vezes conferido cuidadosamente a
quantia anotada na sua caderneta, Paddington não tinha entrado no banco
de fato. Secretamente, ele ficava bastante intimidado com todas aquelas
paredes de mármore e madeira grossa brilhante; por isso ficou contente
quando finalmente soaram dez horas no sino de uma igreja ali perto e ele
ainda era o único em frente ao banco.
Quando cessou a última badalada, veio o som de trancas sendo retiradas
do outro lado da porta, e Paddington, ansioso, correu para a frente dela para
espiar pela caixa de correio, uma fresta estreita por onde passavam a
correspondência.
– Arre, arre! – exclamou o porteiro, avistando o chapéu de Paddington
pela caixa de correio. – Não queremos vendedores ambulantes, meu jovem
camarada. Aqui é um banco, não é uma pensão. Não aceitamos vagabundos
na frente da nossa porta.
– Vagabundos? – repetiu Paddington, soltando a tampa da caixa de
correio de tanta surpresa.
– Foi isso que eu disse – resmungou o porteiro enquanto abria a porta.
– Bafejando nas maçanetas. Sou eu que tenho que polir esse latão, pois é.
– Não sou um vagabundo! – exclamou Paddington, parecendo muito
ofendido enquanto sacudia no ar sua caderneta bancária. – Sou um urso e
vim aqui falar com o sr. Floyd sobre a minha poupança.
– Ah, puxa! – disse o porteiro, examinando Paddington mais de perto. –
Peço perdão, senhor. Quando vi seu bigode espiando pela caixa de correio,
pensei que fosse um daqueles senhores barbudos que perambulam pelas
ruas.
– Tudo bem – disse Paddington, tristonho. – As pessoas sempre me
confundem.
E, enquanto o homem segurava a porta aberta para ele, Paddington
ergueu o chapéu num gesto educado e entrou depressa no banco.
Em vários momentos, a sra. Bird tinha insistido com Paddington sobre a
importância de ter dinheiro no banco para um caso de emergência, e como
talvez um dia ele ficasse feliz de ter uma reserva para uma ocasião especial.
Matutando na cama na noite anterior, Paddington decidira que viajar para o
exterior era certamente uma ocasião especial e, após estudar o anúncio mais
uma vez, pensara numa ótima ideia para ter o melhor dos dois mundos. No
entanto, como muitas ideias que ele tinha à noite, embaixo do cobertor, essa
já não parecia tão boa à luz do dia.
Agora que estava de fato dentro do banco, Paddington começou a sentir
certa culpa e se arrependeu de não ter consultado o sr. Gruber sobre o
assunto, pois não tinha certeza nenhuma de que a sra. Bird aprovaria se
soubesse que ele ia tirar dinheiro sem perguntar para ela primeiro.
Andando rapidamente até um dos guichês, Paddington subiu na sua
maleta e espiou por cima do balcão. O homem do outro lado levou um susto
quando o chapéu de Paddington surgiu do nada e, num gesto nervoso,
procurou um alarme para tocar.
– Eu gostaria de retirar toda a minha poupança para uma ocasião
especial, por favor – disse Paddington num tom importante, entregando a
caderneta para o homem.
Parecendo bastante aliviado, o homem pegou a caderneta de Paddington
e então levantou uma sobrancelha enquanto a examinava sob a luz. Havia
uma série de cálculos em tinta vermelha por toda a capa, sem falar em
alguns borrões e uma ou duas manchas de geleia.
– Infelizmente tive um acidente com um dos meus potes de geleia
embaixo do cobertor ontem à noite – explicou Paddington depressa, vendo
o olhar do homem.
– Um dos seus potes? – repetiu o homem. – Embaixo do cobertor?
– Isso mesmo – disse Paddington. – Eu estava calculando meus juros e
mergulhei a caneta no pote de geleia por engano. É meio difícil fazer isso
embaixo do cobertor.
– Deve ser – disse o homem, com certo desgosto. – Manchas de geleia,
ora, ora! E numa caderneta bancária do Floyd!
Ele trabalhava naquela agência fazia pouco tempo, e, embora o gerente
tivesse lhe dito que às vezes eles tinham de lidar com clientes muito
estranhos, não lhe fora dito nada sobre contas bancárias para ursos.
– O que o senhor gostaria que eu fizesse com sua conta?
– Gostaria de deixar todos os meus juros nela, por favor – explicou
Paddington. – Para um caso de emergência.
– Bom – disse o homem num tom superior, enquanto fazia algumas
contas num pedaço de papel –, espero que essa emergência não seja muito
grave. Os juros da sua poupança são apenas dez centavos.
– O quê?! – exclamou Paddington, quase não acreditando no que ouvia.
– Dez centavos! Se era para me dar tão pouco dinheiro, vocês nem
precisavam jurar.
– “Juros” não tem nada a ver com “juramento” – disse o homem. – Nada
a ver.
Ele pensou muito num jeito de explicar aquilo, pois não estava
acostumado a lidar com ursos e tinha a sensação de que Paddington seria
um dos seus clientes mais difíceis.
– É… é uma coisa que nós damos ao senhor por nos emprestar seu
dinheiro – ele disse. – Quanto mais tempo você deixa, mais você recebe.
– Bom, eu pus o dinheiro na conta logo depois do Natal! – exclamou
Paddington. – São quase seis meses.
– Dez centavos – disse o homem num tom firme.
Paddington ficou observando atônito enquanto o homem anotava
alguma coisa no seu livro e depois colocava no balcão uma nota de cinco
libras e algumas moedas.
– Aqui está – ele falou. – Cinco libras e vinte e cinco centavos.
Paddington olhou com desconfiança para a nota de dinheiro e então
consultou um pedaço de papel que segurava na pata. Foi arregalando os
olhos enquanto comparava o papel com a nota.
– Acho que deve haver um engano! – ele exclamou. – Esta nota não é
minha.
– Um engano? – disse o homem, empertigando-se. – Nunca cometemos
enganos no Floyd.
– Mas o número da nota é diferente – falou Paddington, aflito.
– O número é diferente? – repetiu o homem.
– Sim – disse Paddington. – E a minha estava muito mais suja, e tinha
umas manchinhas brancas na ponta.
– É porque ela era antiga – disse o funcionário. – Era uma nota velha.
Você não recebe de volta a mesma nota que depositou. Sua nota já deve
estar a quilômetros de distância, isso se ainda existir. Se era mesmo velha,
talvez até tenha sido queimada. É comum eles queimarem notas antigas
quando estão gastas demais.
– Queimada? – repetiu Paddington, atordoado. – Vocês queimaram
minha nota?
– Eu não disse que foi queimada – disse o homem, parecendo cada vez
mais confuso. – Só disse que talvez tenha sido.
Paddington respirou fundo e encarou o funcionário com um olhar
zangado. Era um dos olhares duros extraespeciais que sua tia Lucy lhe
ensinara e que ele guardava para casos extremos.
– Eu gostaria de falar com o senhor Floyd! – ele exclamou.
– O senhor Floyd? – perguntou o funcionário. Ele enxugou a testa num
gesto nervoso, enquanto olhava angustiado por cima do ombro de
Paddington, vendo a fila que já começava a se formar. No fim da fila havia
umas pessoas murmurando e aquilo não parecia nada bom. – Infelizmente,
não existe um senhor Floyd – ele disse. – Temos um senhor Trimble – ele
logo acrescentou, quando o olhar de Paddington ficou ainda mais zangado.
– É o gerente. Acho melhor eu ir buscá-lo… ele vai saber o que fazer.
Paddington ficou olhando indignado para as costas do funcionário
enquanto ele andava até uma porta onde estava escrito GERENTE. Quanto
mais absurdos ele via, menos gostava de tudo aquilo. Não só a nota dele
tinha outro número, como ele também acabara de ver as datas nas moedas,
e elas eram bem diferentes das moedas que ele tinha deixado. Além disso, as
moedas dele estavam muito bem lustradas, e estas eram velhas e sem
nenhum brilho.
Paddington desceu da maleta e abriu caminho entre a multidão com
uma expressão decidida no rosto. Embora ainda fosse pequeno, ele era um
urso com uma forte noção do que é certo e do que é errado, principalmente
quando o assunto era dinheiro, e ele achou que já estava mais do que na
hora de resolver aquilo com as próprias patas.
Depois de sair do banco, Paddington desceu a rua correndo em direção a
uma cabine telefônica vermelha. Guardado no compartimento secreto da
sua maleta havia um papel com algumas instruções especiais que a sra. Bird
escrevera para ele em caso de emergência, junto com uma moeda de dez
centavos. Pensando naquela situação enquanto andava, Paddington decidiu
que era certamente uma emergência – na verdade, ele mal se lembrava de já
ter tido uma emergência maior – e ficou feliz quando finalmente chegou à
cabine telefônica e viu que estava desocupada.
– Não sei o que está acontecendo no banco hoje – disse a sra. Brown,
fechando a porta da frente. – Tinha um montão de gente do lado de fora
quando eu passei por lá.
– Quem sabe foi algum roubo – falou a sra. Bird. – Hoje em dia, essas
coisas horríveis acontecem.
– Não acho que foi um roubo – disse a sra. Brown vagamente. – Era
mais algum tipo de emergência. Tinha polícia, uma ambulância e também
um carro de bombeiros.
– Hum! – disse a sra. Bird. – Bom, espero, para o nosso bem, que não
seja nada sério. Todo o dinheiro do Paddington está nesse banco, e, se tiver
acontecido alguma coisa, ele vai nos infernizar para sempre.
A sra. Bird interrompeu o que estava falando e ficou com uma expressão
pensativa no rosto.
– Por falar em Paddington, você o viu desde que ele saiu? – ela
perguntou.
– Não – respondeu a sra. Brown. – Minha Nossa Senhora! – ela
exclamou. – Você não acha que…
– Vou buscar meu chapéu – disse a sra. Bird. – Aposto que o
Paddington está por trás disso tudo, ou eu não me chamo senhora Bird!
A sra. Brown e a sra. Bird demoraram algum tempo para abrir caminho
na multidão e conseguir entrar no banco, e, quando finalmente entraram,
suas piores suspeitas se concretizaram, pois ali mesmo, sentado em cima da
maleta, no meio de uma grande aglomeração de oficiais, estava a pequena
figura de Paddington.
– Que diabos está acontecendo? – gritou a sra. Brown, enquanto elas
avançavam entre as pessoas.
Paddington pareceu muito aliviado por ver as duas. As coisas estavam
indo de mal a pior desde que ele voltara para o banco.
– Acho que misturei meus números por engano, senhora Brown – ele
explicou.
– Estão tentando tomar o dinheiro que esse jovem urso guardou a vida
inteira, é isso que está acontecendo – gritou alguém no fundo.
– Botaram fogo nas notas dele – gritou outra pessoa.
– Centenas de libras carbonizadas, estão dizendo! – berrou um
vendedor ambulante que conhecia Paddington de vista e tinha entrado no
banco para ver que confusão era aquela.
– Minha nossa – disse a sra. Brown, nervosa. – Certamente deve haver
algum engano. Não acho que o banco faria uma coisa dessas de propósito.
– Realmente não faríamos, senhora! – exclamou o gerente, dando um
passo à frente. – Sou o senhor Trimble. A senhora é responsável por esse
jovem urso?
– Se sou responsável por ele? – disse a sra. Bird. – Ora, fui eu quem o
trouxe aqui da primeira vez. Ele é um membro muito respeitável da família,
cumpridor da lei.
– Respeitável ele talvez seja – disse um policial corpulento, lambendo a
ponta de seu lápis –, mas se é cumpridor da lei, isso eu já não sei. Ligou para
o 999, o número da emergência, sem um motivo real. Chamou a polícia e,
além disso, os bombeiros e uma ambulância. Isso terá de ser devidamente
averiguado.
Todos pararam de falar e olharam para Paddington.
– Eu só estava tentando telefonar para a senhora Bird – disse
Paddington.
– Tentando telefonar para a senhora Bird? – repetiu o policial
lentamente, anotando aquilo em seu caderno.
– Isso mesmo – explicou Paddington. – Infelizmente minha pata ficou
presa no número nove, e, toda vez que eu tentava tirar, alguém perguntava o
que eu queria, por isso eu pedia ajuda.
O sr. Trimble tossiu.
– Acho que seria melhor nós entrarmos na minha sala – ele disse. –
Parece uma situação complicada, e ali dentro é muito mais tranquilo.
Com isso todos concordaram plenamente. E Paddington, enquanto
pegava a maleta e entrava atrás dos outros na sala do gerente, concordava
mais do que todos. Ter uma conta bancária era uma das coisas mais
complicadas que ele já tinha visto.
Demorou um tempo até Paddington finalmente terminar suas
explicações, mas, quando terminou, todos ficaram muito aliviados por não
ser um problema mais grave. Até o policial parecia bastante satisfeito.
– É uma pena que não haja mais ursos com essa noção de cidadania –
ele disse, apertando a pata de Paddington para cumprimentá-lo. – Se todos
telefonassem para pedir ajuda quando vissem algo suspeito, no fim das
contas teríamos muito menos trabalho a fazer.
Depois que todos os outros foram embora, o sr. Trimble levou a sra.
Brown, a sra. Bird e Paddington para dar um passeio na caixa-forte e
mostrar onde todo o dinheiro ficava guardado, e até deu a Paddington um
livro de instruções para que soubesse exatamente o que fazer da próxima
vez que viesse ao banco.
– Espero que o senhor não queira fechar sua conta, senhor Brown – ele
disse. – Aqui no Floyd, nunca gostamos de sentir que estamos perdendo um
valioso cliente. Se o senhor quiser deixar seus vinte e cinco centavos para
nós guardarmos, posso lhe dar uma nota de cinco libras novinha em folha
para levar nas suas férias.
Paddington agradeceu muito ao sr. Trimble pela gentileza, e então
refletiu sobre o assunto.
– Se o senhor não se importa – ele disse por fim –, acho que prefiro
uma nota usada.
Paddington não era o tipo de urso que acreditava em se arriscar à toa e,
embora aquela nota limpinha na mão do gerente parecesse muito tentadora,
ele preferia uma que já tivesse sido testada antes.
1 Não é tão pouco dinheiro quanto parece. Na época em que se passa a história, um pão
custava cerca de dois centavos. (N. do T.)
3
PROBLEMAS NO
AEROPORTO
– Parece uma ótima ideia – disse o sr. Brown num tom de aprovação,
quando Paddington mostrou a lista para ele. – Nada me deixa mais faminto
do que um pequeno alvoroço sobre a procedência de um jovem urso.
4
PADDINGTON
SALVA O DIA
– Sabem de uma coisa? – disse o sr. Brown naquela noite, muitas horas
depois, enquanto estavam todos sentados na frente do hotel no vilarejo
encontrado por Paddington, fazendo um lanche antes de dormir. – Isto eu
preciso admitir sobre o Paddington: as coisas se complicam de vez em
quando, mas costumam dar certo no final.
– Os ursos sempre acabam dando um jeito – falou a sra. Bird em tom
sério. – Já disse isso uma vez e repito.
– Eu sugiro ficarmos aqui – propôs o sr. Brown. – Não estava no
itinerário, mas acho impossível encontrarmos um lugar mais simpático.
– Apoiado! – disse a sra. Bird.
Depois daquela tarde agitada, tudo parecia especialmente tranquilo e
silencioso. As estrelas brilhavam num céu sem nuvens, a música alegre de
um café ali perto preenchia o ar e, no fim da rua que dava no porto, eles
enxergavam as luzes dos barcos de pesca balançando na água.
Na verdade, tirando a música, o único som que cortava o ar noturno era
o constante arranhar da velha caneta de Paddington no papel e de vez em
quando um suspiro, quando ele mergulhava a pata em seu pote de geleia.
Quando os Brown descobriram onde Paddington comprara as lesmas,
de repente sentiram-se muito melhor. Era uma padaria com aspecto
bastante respeitável, e o monsieur Dupont garantiu que eles eram famosos
por suas lesmas. Portanto, por voto popular, Paddington recebera o prêmio
de melhor prato do dia.
Depois de refletir muito e espiar vitrines de lojas, ele usara o dinheiro
para comprar alguns selos e dois cartões-postais, um para sua tia Lucy no
Peru e o outro para o sr. Gruber.
Eram cartões-postais bem grandes – dos maiores que ele já vira. Além
de ter um espaço para escrever no verso, cada um tinha na frente onze fotos
diferentes, mostrando cenas do vilarejo e do campo em volta. Uma das fotos
mostrava a padaria do monsieur Dupont, e, olhando com bastante atenção,
Paddington enxergou alguns pãezinhos na vitrine, que imaginou que o sr.
Gruber acharia muito interessantes.
Havia até uma foto do hotel, e ele cuidadosamente fez um grande X em
uma das janelas e escreveu as palavras MEU QUARTO do lado.
Olhando para os cartões, Paddington decidiu que valiam muito seu
preço e teve certeza de que a tia Lucy ficaria surpresa ao receber um cartão-
postal de um lugar tão longe como a França.
Mesmo assim, tantas coisas tinham acontecido naquele dia, e algumas
eram tão difíceis de explicar, que ele sentiu que daria certo trabalho incluir
todas elas – ainda que num cartão-postal extragrande.
MADAME ZAZA
Vidente internacional
LEITURA DE MÃOS
BOLA DE CRISTAL
SATISFAÇÃO GARANTIDA
– Quemanhã.
tal sairmos para pescar hoje? – perguntou o sr. Brown no café da
Ele tentou puxar com força uma das cordas, mas isso só pareceu piorar
tudo; quanto mais forte ele puxava, mais o almirante berrava.
– Paddington! – exclamou a sra. Brown quando eles chegaram ali, bem a
tempo de serem recebidos por um urro especialmente alto do almirante. –
Que diabos está acontecendo?
– Não sei, senhora Brown – disse Paddington. – Acho que devo ter
cruzado as cordas. É meio difícil fazer isso com patas.
– Puxa! – falou Jonathan admirado, debruçando-se para examinar a
barraca. – E olha que cruzou mesmo. Nunca vi alguém dar nós desse jeito.
Nem os escoteiros-
-mirins.
– Ai, minha nossa! – disse a sra. Bird. – É melhor a gente fazer alguma
coisa depressa. Ele vai sufocar.
Os Brown se agacharam e examinaram as cordas uma por uma, mas,
quanto mais eles puxavam, mais apertados ficavam os nós, e mais abafados
soavam os gemidos do almirante.
Foi quando eles estavam perdendo a esperança de conseguir libertá-lo
que aconteceu uma interrupção totalmente inesperada. Os Brown estavam
tão concentrados no problema de desamarrar os nós de Paddington que não
tinham percebido toda a movimentação que estava acontecendo na praia.
Só se deram conta quando ouviram vozes bem próximas e, ao erguer o
olhar, viram um grupo de pescadores do vilarejo vindo na direção deles.
– Nós vimos seu pedido de socorro, monsieur – disse o líder do grupo
em um inglês rudimentar.
– Nosso pedido de socorro? – repetiu o sr. Brown.
– Isso mesmo, monsieur – disse o pescador. – Vimos a muitos
quilômetros de distância. O jovem urso do hotel sacudindo um pano branco
em sinal de perigo. E então achamos o barco do monsieur almirante à
deriva, por isso viemos resgatá-los.
O sr. Brown deu um passo para trás e deixou os pescadores se
aproximarem da barraca para inspecionar os nós.
– Será que é só o Paddington? – ele perguntou. – Ou todos os ursos
nascem com essa sorte toda?
– Grrrrr! – rosnou o almirante pela enésima vez, quando lhe repetiram a
história do resgate.
Mesmo os pescadores tinham demorado algum tempo para desfazer os
nós de Paddington, e, quando finalmente conseguiram libertar o almirante,
o rosto deste estava da cor de uma lagosta recém-cozida. Mas, quando ouviu
a notícia de que seu iate tinha sido encontrado e estava ancorado em
segurança na baía, ele logo se acalmou de novo. Com o passar do dia, foi
ficando mais alegre e até participou de algumas brincadeiras na praia.
– Acho que preciso agradecer a você, urso – ele disse em sua voz grossa
na viagem de volta, estendendo a mão. – Queria ter tido mais tripulantes do
seu quilate a bordo do meu navio, nos bons e velhos tempos. Nunca me
diverti tanto.
– Não há de quê, senhor Grundy – disse Paddington, oferecendo a pata
para cumprimentá-lo. Ainda não entendia direito por que todo mundo
estava lhe agradecendo, principalmente porque achava que iam ficar
zangados com ele, mas ele não era o tipo de urso que questionava a sorte.
– Imagino que você goste de chocolate quente – disse de repente o
almirante.
Paddington arregalou os olhos.
– Sim, por favor! – ele exclamou. E até os Brown ficaram muito
surpresos de o almirante saber uma informação dessas.
– Não atravessei os sete mares sem aprender uma coisa ou outra sobre
os hábitos dos ursos – disse o almirante.
Ele protegeu os olhos com a mão enquanto eles entravam no porto, e o
sol poente tremeluziu por um instante atrás das casas.
– Duvido que vocês já tenham experimentado um verdadeiro chocolate
de navio – ele disse. – Sou eu mesmo que preparo num balde. Que tal virem
tomar uma xícara na minha cabine antes de irem deitar?
A família Brown respondeu com um “Sim! Sim!” entusiasmado, e até
Paddington teve permissão de levantar ambas as patas para mostrar seu
apoio. Tinha sido um dia muito emocionante e divertido, e, embora
nenhum deles tivesse visto nem a sombra de uma sardinha, muito menos
pescado uma, todos concordaram que não havia nada como uma xícara de
um verdadeiro chocolate de navio para terminar o dia no melhor estilo
marinheiro.
7
PADDINGTON
PÕE O PÉ NA
ESTRADA