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ÍNDICE f
CAPA REVOLUÇÃO, de Ana Hatherly
CINEMATECA JÚNIOR 03
IR AO CINEMA EM 1974 04 f
AGRADECIMENTOS
A CINEMATECA COM A FESTA DO CINEMA ITALIANO: Camilo de Sousa, Celso Luccas, Inadelso Cossa, Isabel
O OUTRO 25 DE ABRIL 07 Noronha, J.J. Nota, Lara de Sousa, Licínio Azevedo, Mickey
DO CINEMA DE ESTADO AO CINEMA FORA DO ESTADO: Fonseca, Moira Forjaz, Nildo Essa, Pipas Forjaz, Salomé Lamas,
MOÇAMBIQUE 09 Sol de Carvalho, Yara Costa Pereira, Marina Ramos e Hilário
Lopes (RTP), Marta Lança, Inês Dias, Daniel Pereira, Alda
FILMar: CHEGADA A BOM PORTO 12
Costa, Ricardo Leite, Jessemusse Cacinda e Kitty Furtado,
ABRIL 50 - PROGRAMA ESPECIAL 14 Kajsa Hedström (Swedish Film Institute); Matthieu Grimault
INSTALAÇÃO 50 ANOS DO 25 DE ABRIL 17 (Cinémathèque Française); Annalisa Ciampi (RAI); Carmen
O QUE QUERO VER 18 Accaputo (Cineteca di Bologna); Germana Ruscio (Cinecittà
Luce): Maria Coletti (Cineteca Nazionale), José Zita (INICC);
SESSÃO ESPECIAL DE O OUTRO TEATRO 18
Kjell Runar Jenssen (Cinemateca Norueguesa)
INADJECTIVÁVEL 18
COM A LINHA DE SOMBRA 18 Cinemateca Portuguesa‑Museu do Cinema | Rua Barata Salgueiro, 39 – 1269‑059 Lisboa, Portugal
CALENDÁRIO 15 Tel. 213 596 200 | cinemateca@cinemateca.pt | www.cinemateca.pt
abril 2024 [3]
E m abril celebra-se meio século de vida sem censura, sem perseguição política, sem
colónias e sem guerra, sem paternalismos e moralismos bacocos e a Abril se deve a
liberdade de programar e realizar filmes como os deste mês. O PASSAGEIRO, a primeira
longa-metragem de Abbas Kiarostami, curiosamente estreada no ano da revolução,
oferece-nos a história dum jovem obstinado, o primeiro de muitos que Kiarostami e o
cinema iraniano têm oferecido ao mundo. O regime de antigamente não aprovaria tanta
desobediência e voluntarismo, também não aprovaria a comunidade anarco-infantil
que Inês T. Alves foi filmar na Amazónia equatoriana. ÁGUAS DO PASTAZA não passaria
nas malhas da censura, a proibição liminar seria o resultado mais provável. Por seu lado,
os filmes da sessão CRÓNICAS DE MOÇAMBIQUE simplesmente não existiriam sem Abril,
porque Moçambique não seria ainda um Estado independente. Fazendo um exercício de
história contrafactual, se Moçambique se mantivesse uma “província ultramarina” jamais
se mostraria a pobreza e o jogo puro da sobrevivência de forma tão desassombrada, com
tanto pé descalço, violência e esgoto a céu aberto. E se Moçambique fosse já independente,
mas Portugal ainda uma ditadura, O GRANDE BAZAR de Licínio Azevedo seria, quase de
certeza, proibido, e os outros dois filmes: GIANT LITTLE CHOPPERS e UM PRESENTE ESPECIAL
retalhados pela tesoura azul. Dia 27, em homenagem direta ao “dia inicial inteiro e limpo”, AMANHÃ
f Sábado [06] 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro “os pestinhas”, que, bem vistas as coisas, talvez sejam “gnomos de Natal”. Na curta
MOSSAFER documental GIANT LITTLE CHOPPERS, o jovem realizador, produtor e argumentista J.J.
“O Passageiro” Nota coloca na mira da sua câmara Luciano Armindo, um adolescente de 12 anos,
de Abbas Kiarostami fascinado pela engenharia e com um hobby notável: construir meticulosamente, em
com Hassan Darabi, Pare Gol Atashjameh, Masud Zandbegleh tamanho real, carros e helicópteros de papelão e metal. A fechar a sessão, O GRANDE
Irão, 1974 – 83 min / legendado eletronicamente em português | M/12
BAZAR, média metragem do veterano Licínio Azevedo, acompanha a vivência de duas
crianças num grande mercado africano. Uma procura trabalho para repor o que lhe
A primeira longa‑metragem de Kiarostami é desde logo uma das suas obras maiores.
foi roubado e poder voltar a casa, a outra não olha a meios para fugir da família. Os
Uma história preenchida de suspense e infinitamente encantadora sobre a determinação
filmes estão também programados numa sessão do Ciclo “Do Cinema de Estado ao
de um rapaz que quer viajar da sua pequena cidade para Teerão para assistir a um
Cinema Fora do Estado: Moçambique”.
jogo de futebol, que combina realismo com a economia e a precisão de um artista
visual como Kiarostami. Com brilhantes desempenhos de um elenco constituído por
não‑atores, este filme tem um dos mais inesquecíveis finais da História do cinema. No f Sábado [27] 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro
seminal filme de Kiarostami, CLOSE‑UP, o protagonista não só compara a sua vida à do
ZÉRO DE CONDUITE
rapaz deste filme, como reutiliza a banda sonora de MOSSAFER. A exibir em cópia digital.
Zero em Comportamento
Também programado numa sessão do Ciclo “Ir ao Cinema em 1974”.
de Jean Vigo
com Jean Dasté, Louis Lefebvre, Gilbert Pruchon
f Sábado [13] 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro França, 1933 – 45 min / legendado em português
IR AO CINEMA EM 1974
N aqueles dois anos, 1974 e 1975, em que Portugal esteve profundamente embrenhado
no processo revolucionário, que filmes estavam nas salas de cinema? Que entorno,
que moldura, que contexto, deu o cinema mundial aos anos da Revolução portuguesa?
A curiosidade perante as respostas a estas perguntas conduziu-nos a este par de
ciclos dedicados ao cinema desses anos – depois de irmos em abril ao cinema de
1974, vamos em maio ao cinema de 1975. Como uma viagem no tempo, a ideia é
que nos embrenhemos e tentemos viver (ou reviver, no caso de uma determinada
geração de espectadores) a experiência de ser um espectador de cinema em 1974.
Convém explicitar isto: um espectador não necessariamente português (muitos destes
filmes chegaram mais tarde a Portugal, outros nunca entraram no nosso circuito
comercial), mas um espectador ideal que navegasse por entre países e continentes.
O par de ciclos pode ser visto como uma proposta de seleção do melhor que se
fazia naqueles anos, sem distinção entre objetos oriundos da grande indústria e
artefactos produzidos num regime de produção a outra escala – até porque todos
eles dialogavam uns com os outros nas salas de cinema, numa época em que MOSSAFER
os rótulos (o cinema da "indústria", o cinema "de autor") ainda não ditavam uma
compartimentação, nem a uma condenação a nichos de mercado, com a mesma
força que se veio a manifestar mais tarde.
A ideia é que, para o espectador de 2024, o Ciclo ofereça um percurso livre e diverso, entre filmes
muito diferentes, portadores de propostas de cinema muito diferentes, mas unidas pela pertença
a esse oceano de diversidade que sempre foi o cinema. Entre as coisas únicas que o cinema de
meados dos anos 1970 oferecia, vale a pena registar o facto de se tratar de uma época (com
muito de único, de facto) em que muitos dos velhos e consagrados mestres ainda estavam ativos,
e a geração dos seus filhos ou netos começava a dar os primeiros passos – e um filme de Buñuel
coexistia com um filme de Chantal Akerman, um filme de Bresson com um filme de Steven Spielberg.
Era isto, o cinema em 1974.
f Segunda-feira [01] 16h30 | Sala M. Félix Ribeiro f Terça-feira [02] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro f Terça-feira [02] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
f Sábado [06] 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro f Sexta-feira [05] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro f Terça-feira [09] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
MOSSAFER LENNY A WOMAN UNDER THE INFLUENCE
“O Passageiro” Lenny Uma Mulher Sob Influência
de Abbas Kiarostami de Bob Fosse de John Cassavetes
com Hassan Darabi, Pare Gol Atashjameh, com Dustin Hoffman, Valerie Perrine, Jan Miner com Gena Rowlands, Peter Falk, Fred Draper,
Masud Zandbegleh Lady Rowlands, Katherine Cassavetes
Estados Unidos, 1974 - 111 min / legendado eletronicamente em
Irão, 1974 - 74 min / legendado eletronicamente em português | M/12 português | M/16 Estados Unidos, 1974 - 148 min
legendado eletronicamente em português | M/16
A primeira longa-metragem de Kiarostami é desde logo No auge da fama depois do sucesso de CABARET, Bob Fosse
uma das suas obras maiores. Uma história preenchida atirou-se aqui a um biopic, construído com procedimentos No quinto dos oito filmes de John Cassavetes com Gena
de suspense e infinitamente encantadora sobre a (entrevistas e depoimentos encenados) que se tornaram Rowlands, o autor propõe-se abordar a questão da
determinação de um rapaz que quer viajar da sua pequena típicos do “falso documentário”, do lendário cómico loucura e seus limites a partir da “normalidade” do seu
cidade para Teerão para assistir a um jogo de futebol, americano Lenny Bruce, conhecido pelo seu humor método e dos seus protagonistas. Mabel é uma mulher
que combina realismo com a economia e a precisão violento, depressivo e frequentemente atentatório dos sob a influência de uma família, da árdua tarefa de
de um artista visual como Kiarostami. Com brilhantes “bons costumes”. Dustin Hoffman tem um dos papéis da ser esposa e mãe e sobretudo sob a influência de um
desempenhos de um elenco constituído por não-atores, sua vida ao encarnar este homem neurótico e complexo, espaço doméstico claustrofóbico. Peter Falk interpreta a
este filme tem um dos mais inesquecíveis finais da História de hábitos excessivos e pouco católicos (morreu aos 40 personagem do marido. A exibir em cópia digital.
do cinema. No seminal filme de Kiarostami, CLOSE-UP, o anos, com uma overdose); e o preto e branco coçado e
protagonista não só compara a sua vida à do deste filme, fumarento da fotografia de Bruce Surtees, a captar na
f Quarta-feira [03] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
como reutiliza a banda sonora de MOSSAFER. A exibir em perfeição o ambiente dos night clubs onde Lenny se exibe,
f Quinta-feira [11] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
cópia digital. A sessão de dia 6 está programada também é absolutamente notável.
no âmbito da Cinemateca Júnior - Sábados em Família. CHINATOWN
Chinatown
f Terça-feira [02] 19h30 | Sala Luís de Pina de Roman Polanski
f Segunda-feira [01] 19h30 | Sala Luís de Pina f Quinta-feira [11] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro com Jack Nicholson, Faye Dunaway,
f Sexta-feira [05] 19h30 | Sala Luís de Pina John Huston, Perry Lopez
TAMAÑO NATURAL / GRANDEUR NATURE
FEMMES FEMMES Tamanho Natural
Estados Unidos, 1974 - 131 min
legendado eletronicamente em português | M/16
de Paul Vecchiali
de Luis García Berlanga
com Michel Delahaye, Hélène Surgère, Nomeado para sete Oscars, CHINATOWN conquistou
com M ichel Piccoli, Valentine Tessier,
Noël Simsolo, Sonia Saviange apenas um (mas com inteira justiça), para o argumento
Rada Rassimov, Michel Aumont
França, 1974 – 120 min / legendado eletronicamente em português | M/16 de Robert Towne, que aqui recuperou e renovou o clima,
Espanha, França, Itália, 1974 – 96 min
“Um realizador no desemprego e duas atrizes no desem- legendado eletronicamente em português | M/16 as situações e os estereótipos do filme negro, mas com
prego que fazem um filme, eis um ato revolucionário”, um olhar mais amargo que o passar do tempo trouxe.
Um dos títulos da dupla Berlanga-Azcona (último capítulo
disse Vecchiali sobre FEMMES FEMMES, um dos filmes mais Um olhar que constata a corrupção e a impossibilidade
de uma trilogia composta ainda por LA BOUTIQUE e VIVAN
celebrados e mais artesanais do realizador de quem de a vencer. Procurando avançar na sua investigação
LOS NOVIOS!), é um dos melhores filmes de Berlanga e o
François Truffaut disse, nos anos 60, ser “o único herdeiro sobre o assassinato de um funcionário da companhia
filme de uma notável interpretação de Michel Piccoli. É
de Jean Renoir”. FEMMES FEMMES é uma “comédia musical” das águas em Los Angeles, o detective J.J. Gittes acaba
também um novo caso de comédia negra de contornos
que reúne duas atrizes fracassadas num teatro muito por causar uma tragédia, com a morte daqueles que
cruéis no registo de uma sátira focada no erotismo
particular (um apartamento), num jogo entre o “teatro” procurou salvar. A exibir em cópia digital.
fetichista. A história é a de um homem apaixonado por
e a “vida” sobre fundo evocativo do cinema francês dos uma boneca insuflável, e de uma relação que passa por
anos 30. Em 1974 Pasolini foi um dos grandes admiradores todos os cambiantes (até o ciúme) das relações entre
do filme, tendo mostrado cenas dele aos atores de SALÓ, homens e mulheres de carne e osso. À época, foi um filme
que então preparava. A exibir em cópia digital. particularmente mal recebido. O tempo foi-lhe garantindo
a justa apreciação como uma terrível fábula sobre a
solidão e a incomunicabilidade. A exibir em cópia digital. f
f
abril 2024 [5]
f Quarta-feira [03] 19h30 | Sala Luís de Pina f Quinta-feira [04] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro f Terça-feira [09] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
f Segunda-feira [08] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro f Sábado [13] 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro
ALICE DOESN’T LIVE HERE ANYMORE
LES HAUTES SOLITUDES Alice Já Não Mora Aqui THE PARALLAX VIEW
de Philippe Garrel de Martin Scorsese A Última Testemunha
com Jean Seberg, Nico, Tina Aumont com E
llen Burstyn, Kris Kristofferson, de Alan J. Pakula
França, 1974 - 80 min / mudo | M/12 Harvey Keitel, Jodie Foster com Warren Beatty, Hume Cronyn, William Daniels
Estados Unidos, 1974 - 110 min Estados Unidos, 1974 - 102 min
É um filme da luz, como disse Garrel. LES HAUTES
legendado eletronicamente em português | M/12 legendado eletronicamente em português | M/12
SOLITUDES corresponde, na sua obra, ao encontro com
Jean Seberg. Rodado “pelo preço de um 2 cavalos”, é A quarta longa-metragem de Martin Scorsese encerra Um dos melhores exemplos do cinema “liberal”, levemente
mesmo, assumidamente, um retrato de Seberg, filmado o que pode ser considerado o “primeiro período” do seu paranoico, dos anos 70 americanos (Pakula realizaria
ao improviso. Quando Garrel mostrou a montagem à trabalho, quando as suas ambições de autor já eram a seguir ALL THE PRESIDENT’S MEN, sobre o Watergate).
atriz, ainda sem banda sonora, ela respondeu que “ficava inequívocas. Trata-se de um dos melhores exemplos do Aqui, Warren Beatty veste a pele dum jornalista que
contente se o filme acabasse assim”. E assim, mudo, o então novo cinema americano. ALICE DOESN’T LIVE HERE investiga a morte de um senador, num thriller político por
filme ficou. A exibir em cópia digital. ANYMORE é uma bela crónica sobre os frustrados do “sonho onde passam as sombras do assassinato de JFK e (já)
americano”, a história de uma mulher que ao enviuvar do Watergate, e que tem como alvo o corporate power.
resolve retomar a sua antiga carreira de cantora, antes
f Quarta-feira [03] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro de voltar a ter a tentação da vida doméstica. A realização
f Sexta-feira [26] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro é extremamente elegante e fluida. f Quarta-feira [10] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
f Segunda-feira [29] 16h30 | Sala M. Félix Ribeiro
LE FANTÔME DE LA LIBERTÉ
O Fantasma da Liberdade f Sábado [06] 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro STAVISKY
de Luis Buñuel f Sexta-feira [12] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro Stavisky
com Jean-Claude Brialy, Monica Vitti, Milena Vukotic, de Alain Resnais
Michel Piccoli, Adriana Asti, Adolfo Celi, THE CONVERSATION com Jean-Paul Belmondo, François Périer,
Paul Frankeur, Michel Londsdale O Vigilante Anny Duperey, Michel Lonsdale, Claude Rich,
França, 1974 – 91 min / legendado eletronicamente em português | M/12 de Francis Ford Coppola Charles Boyer
com G ene Hackman, John Cazale, Allen Garfield, França/Reino Unido, 1974 - 120 min
Penúltimo filme de Buñuel, LE FANTÔME DE LA LIBERTÉ faz – legendado eletronicamente em português | M/12
Frederic Forrest
tão admirável quanto subtilmente – uma síntese de toda a
Estados Unidos, 1974 - 113 min A história verdadeira de um homem que abalou o mundo
carreira deste cineasta único e ímpar. Paradoxalmente foi, legendado eletronicamente em português | M/12 político e financeiro da França na década de 30 do
e provavelmente ainda é, um dos filmes menos amados de
Francis Ford Coppola às voltas com a paranoia da século passado. Sedutor e manipulador, Serge Stavisky
Buñuel. A exibir em cópia digital. Na sessão de dia 26 o filme
perseguição, com a história de um especialista em foi-se infiltrando a pouco e pouco nas altas esferas
é antecedido da curta-metragem AS DESVENTURAS DO
vigilância eletrónica que é contratado pelo diretor de do poder, jogando com milhões até ser exposto num
DRÁCULA VON BARRETO NAS TERRAS DA REFORMA AGRÁRIA
uma grande companhia para fazer escutas a um casal processo de grande escândalo. Argumento de Jorge
(ver nota na pág. 15).
que ali trabalha. A pouco e pouco, descobre que talvez Semprún. A exibir em cópia digital.
isso vá provocar uma morte, como acontecera anos antes
f Quinta-feira [04] 19h30 | Sala Luís de Pina noutra operação.
f Quarta-feira [10] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
f Terça-feira [09] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
f Sexta-feira [12] 19h30 | Sala Luís de Pina
JE, TU, IL, ELLE f Segunda-feira [08] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
de Chantal Akerman f Quinta-feira [11] 19h30 | Sala Luís de Pina
LANCELOT DU LAC
com Chantal Akerman, Niels Arestrup, Claire Wauthion Lancelot do Lago
França, Bélgica, 1974 - 90 min THE SUGARLAND EXPRESS de Robert Bresson
legendado eletronicamente em português | M/12 Asfalto Quente com Luc Simon, Laura Duke-Condominas,
Uma mulher num momento de rutura amorosa. Durante de Steven Spielberg Humbert Balsan
com Goldie Hawn, Ben Johnson, Michael Sacks França, Itália, 1974 – 83 min / legendado em português | M/12
mais de um mês, sozinha no seu apartamento, em viagem
estrada fora e em Paris, onde se encontra com a antiga Estados Unidos, 1974 - 110 min Robert Bresson aproxima-se da mitologia da Idade
legendado eletronicamente em português | M/12
amante, a protagonista, interpretada pela própria Chantal Média com um olhar despojado e austero, quase
Akerman, lida com a perda e o desânimo. Filme pouco Spielberg antes dos blockbusters (a seguir veio JAWS). roçando a abstração, muito longe do som e fúria que
visto, é uma das primeiras obras da realizadora, verdadeira THE SUGARLAND EXPRESS podia ser um par para o caracterizam as incursões de Hollywood no mesmo
prova do seu estatuto “independente”, anúncio de muito BADLANDS de Malick: história de um casal em fuga, tema dos Cavaleiros da Távola Redonda e dos amores
do que estava por vir, a começar, e logo no ano seguinte, com a polícia à perna, pelo Texas adentro. De destacar adúlteros de Lancelot do Lago e Ginevra, mulher do Rei
por JEANNE DIELMAN. A exibir em cópia digital. a presença da muito jovem Goldie Hawn e do “fordiano” Artur. A aventura que interessa a Bresson é a interior.
Ben Johnson. A exibir em cópia digital. O filme que está para o cinema como as Batalhas de
Uccello estão para a pintura.
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[6] abril 2024
f Segunda-feira [15] 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro f Terça-feira [16] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
f Terça-feira [23] 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro f Sexta-feira [19] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
França, 1974 -192 min Itália, 1974 - 120 min / legendado eletronicamente em português | M/12
legendado eletronicamente em português | M/12
Burt Lancaster de novo com Visconti depois de IL
Viagem ao “outro lado do espelho” em que Julie é o
GATTOPARDO. Com argumento original de Visconti, f Quinta-feira [18] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Coelho Branco que leva Céline (Alice) para o seu mundo
GRUPPO DI FAMIGLIA… é uma obra com muitas referências
fantástico de magia e histórias rocambolescas. A frescura,
autobiográficas, em particular na filosofia de vida do
DAISY MILLER
a irreverência e o sonho (e a memória dos grandes Daisy Miller – Uma Mulher às Direitas
professor interpretado por Lancaster. Vivendo em reclusão
serials americanos) no mais acessível e divertido filme de Peter Bogdanovich
e isolado do mundo, o professor é, contra vontade, de novo
de Rivette. Acessibilidade e diversão que não são – nada com Cybil Shepherd, Barry Brown,
chamado à vida pela intrusão de um fascinante jovem e
– incompatíveis com o facto de CÉLINE ET JULIE VONT Cloris Leachman, Mildred Natwick
da sua família, que lhe invadem a mansão.
EN BATEAU ser uma das mais elaboradas e “abstratas” Estados Unidos, 1974 - 91 min
legendado eletronicamente em português | M/12
experiências narrativas do cineasta francês. A exibir em
cópia digital. f Terça-feira [16] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro Para esta adaptação da novela homónima de Henry
f Quarta-feira [24] 19h30 | Sala Luís de Pina James (sobre um par de americanos que se conhecem
durante uma viagem pela Europa), Bogdanovich tentou
f Segunda-feira [15] 21h45 | Sala M. Félix Ribeiro MES PETITES AMOUREUSES que fosse o seu amigo Orson Welles a encarregar-se da
f Quinta-feira [18] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro de Jean Eustache realização, ficando ele, Bogdanovich, como produtor e
com M artin Loeb, Jacqueline Dufranne, ator, a contracenar com a namorada Cybil Shepherd.
ALICE IN DEN STÄDTEN Jacques Romain, Ingrid Caven
Alice nas Cidades Como Welles recusou, foi Bogdanovich quem realizou.
França, 1974 - 123 min / legendado eletronicamente em português | M/16
de Wim Wenders Achincalhado pela crítica e ignorado pelo público, DAISY
Crónica terna e triste, MES PETITES AMOUREUSES (título MILLER foi um flop. A exibir em cópia digital.
com Rüdiger Vogler, Yella Rottländer, Lisa Kreuzer
extraído de Rimbaud, filmado em 35mm com uma
República Federal da Alemanha, 1974 - 110 min
legendado em português | M/12 extraordinária fotografia de Nestor Almendros) segue, de
forma tocante, a entrada de um miúdo na adolescência f Quarta-feira [24] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A terceira longa-metragem de Wim Wenders, então com f Segunda-feira [29] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
e o despertar da pulsão sexual, personagem solitária
28 anos, ilustra um género muito pouco europeu e muito
que o filme segue a todo o passo. Filme vincadamente FONTANE EFFI BRIEST
americano, o road movie, a que Wenders voltaria em IM
autobiográfico, escrito vários anos antes de LA MAMAN
LAUF DER ZEIT/AO CORRER DO TEMPO. E é um dos filmes Amor e Preconceito
ET LA PUTAIN, foi um projeto longamente acalentado e
mais típicos do realizador. Esta história de um jornalista de Rainer W. Fassbinder
um fracasso crítico e comercial à época. MES PETITES
que vai à deriva pela Alemanha com uma criança de nove com Hanna Schygulla, Wolfgang Schenck,
AMOUREUSES, obra construída à volta da questão do olhar, Karlheinz Böhm, Ulli Lomel
anos, que lhe foi confiada pela mãe, é uma das obras mais
é o filme de Eustache que contém mais alusões ao cinema, Alemanha, 1974 - 100 min
célebres do Novo Cinema Alemão, que revelou em inícios
inscritas sobretudo nos diálogos. legendado eletronicamente em português | M/12
dos anos 70 toda uma nova geração de realizadores de
envergadura. A exibir em cópia digital. Um dos projetos mais acarinhados de Fassbinder, esta
adaptação do romance de Theodor Fontane foi o seu
f Quarta-feira [17] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
maior êxito de público na Alemanha e tem um longo
f Segunda-feira [22] 16h30 | Sala M. Félix Ribeiro
f Terça-feira [16] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro subtítulo: “Ou os muitos que fazem uma ideia das suas
PROFUMO DI DONNA possibilidades e necessidades, porém, aceitam através
THUNDERBOLT AND LIGHTFOOT
Perfume de Mulher das suas ações a ordem dominante, ajudando, dessa
A Última Golpada
de Dino Risi forma, a sustentá-la e a fortalecê-la”. Pelo facto de
de Michael Cimino
com Vittorio Gassman, Alessandro Momo, Agostina Belli Fassbinder ter trabalhado na adaptação do romance
com Clint Eastwood, Jeff Bridges,
George Kennedy, Geoffrey Lewis
Itália, 1974 – 98 min / legendado eletronicamente em português | M/12 de modo ininterrupto entre 1969 e 1974, alguns críticos
Estados Unidos, 1974 - 114 min Um irascível oficial do exército italiano, aposentado são de opinião que FONTANE EFFI BRIEST influenciou todos
legendado eletronicamente em português | M/12 devido à cegueira provocada pela explosão de uma os filmes que Fassbinder realizara até então e todos os
Clint Eastwood apadrinhou (e ajudou a concretizar) a granada, viaja de Turim a Nápoles para encontrar um que faria depois. Trata-se de um dos seus filmes mais
estreia de Michael Cimino na realização, impressionado velho camarada de armas. Como guia leva um jovem complexos, do ponto de vista formal, com um trabalho
com o seu trabalho no argumento de MAGNUM FORCE estudante, e entre os dois nasce uma singular relação peculiar sobre a língua alemã.
(a sequela de DIRTY HARRY). Neste “western on the road” de respeito e amizade, assumindo-se o velho militar
Clint (Thunderbolt) interpreta o papel de um assaltante como “mestre” do rapaz para assuntos de educação
de bancos que, entusiasmado com o encontro com um sentimental. Em 1992, Martin Brest dirigiu nos EUA um
jovem ambicioso (Jeff Bridges, Ligthfoot), reúne o seu velho célebre remake desta obra (SCENT OF A WOMAN) que
gang para um regresso à atividade. Um retrato americano valeu a Al Pacino o Oscar de melhor ator. A apresentar
na época da ressaca da guerra do Vietname, de traços em cópia digital.
excêntricos. A exibir em cópia digital.
abril 2024 [7]
Itália em constante mutação, cada vez mais distantes nas suas crenças sociais e políticas. SESSÃO COM APRESENTAÇÃO
À medida que a História avança, a memória e o legado da Resistência revela-se cada vez mais Realizado imediatamente a seguir ao fim da Segunda
importante, inspirando novas gerações nos seus caminhos de luta e reivindicação. ALL’ARMI SIAM Guerra Mundial, ROMA, CITTÀ APERTA, uma das obras-
FASCISTI, documentário realizado na década de 1960, após uma onda de manifestações antifascistas, -primas absolutas de Rossellini, é o filme que lança aquilo
reconstrói, através de imagens de arquivo, a História e as origens do fascismo, questionando se este a que se convencionou chamar o “neorrealismo”. História
terá verdadeiramente terminado. Sessenta anos depois, Giulia Giapponesi procura responder a essa de resistência durante a ocupação nazi, com um padre e
um comunista aliados na causa comum e Anna Magnani
questão num documentário sobre a História e o legado do hino partigiano Bella Ciao, sublinhando
num dos seus papéis mais emblemáticos – a sequência da
como os vários movimentos de Resistência se cruzam, convergindo num objetivo comum: a conquista
sua morte é das mais prodigiosas na obra de Rossellini. No
da liberdade.
cinema italiano, recém-saído do “escapismo” do cinema
do período fascista, ROMA, CITTÀ APERTA teve o efeito de
uma bomba. O seu poder emocional continua intacto.
A apresentar em cópia digital. A sessão de dia 25 está
programada também no âmbito do programa especial
Abril 50 Anos e inclui a exibição de CRAVOS DE ABRIL, de
Ricardo Costa (ver nota na pág. 15).
[8] abril 2024
L’AGNESE VA A MORIRE
de Giuliano Montaldo
com Ingrid Thulin, Stefano Satta Flores, Michele Placido,
Aurore Clément, Ninetto Davoli
Itália, 1976 - 135 min / legendado eletronicamente em português | M/12
IL CONFORMISTA
O Conformista
de Bernardo Bertolucci
com Jean-Louis Trintignant, Dominique Sanda,
Stefania Sandrelli, Pierre Clémenti
Itália, 1970 – 112 min / legendado eletronicamente em português | M/16
IL CONFORMISTA
abril 2024 [9]
1976, foi criado o Instituto Nacional de Cinema (INC), após decidir-se que a
“geração da utopia” teria formação em cinema, no contexto do projeto revolucionário de combate f Quarta-feira [17] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
contra as injustiças e destruição das hierarquias herdadas da anterior situação colonial. O tempo era de
internacionalismo cinematográfico, documentado no KUXA KANEMA nº 36. Relações estreitas com países O PRETO
do Leste da Europa, China e Cuba tiveram impacto na formação de profissionais e na produção e exibição de Ivo Mabjaia
com André Chirrindzane, Mey-Fom- Ló, Karl Mogle
de cinema. O manifesto Hacia un Tercer Cine (1969), dos argentinos Fernando Solanas e Octavio Getino,
Moçambique, 2021 – 6 min
propusera uma nova categoria, a do cinema dedicado à descolonização, com impacto no cinema de
autor. Num desenvolvimento posterior das suas ideias, Solanas e Getino definiram cinema militante como MUEDA, MEMÓRIA E MASSACRE
de Ruy Guerra
a realização de filmes por coletivos articulados com organizações políticas revolucionárias. As propostas
com Filipe Gunoguacala, Romão Canapoquele,
de Getino e Solanas foram acolhidas pelos líderes dos movimentos de independência, e integradas Baltasar Nchilema, Maurício Machimbuco
em projetos nacionais de cinema questionadores do imperialismo e das normas históricas, culturais e Moçambique, 1979 – 75 min
ideológicas dominantes na sociedade e no cinema. A América Latina, Cuba, o Norte de África, a África duração total da projeção: 81 min | M/12
de línguas francesa e portuguesa – e especialmente Moçambique – tornaram-se laboratórios para o SESSÃO COM APRESENTAÇÃO
desenvolvimento teórico e prático do cinema, com a contribuição de técnicos e cineastas internacionais
Tendo participado na fundação do Instituto Nacional
que acorreram para participar e/ou filmar. Em Moçambique, além do envolvimento de Ruy Guerra, de Cinema de Moçambique, com MUEDA, MEMÓRIA E
convidado para participar na criação do INC e determinante na atração de cineastas brasileiros como MASSACRE, Ruy Guerra realiza a primeira longa-metragem
Licínio Azevedo, que se radicou no país, são notáveis as passagens e projetos, não isentos de polémica, produzida no país após a independência. Filmando a
de Jean-Luc Godard e Jean Rouch, além dos filmes feitos por Santiago Álvarez. reconstituição do massacre em Mueda, a 16 de junho de 1960,
Como afirma Ros Gray em Cinemas of the Mozambican Revolution, o cinema produzido e mostrado quando soldados portugueses abriram fogo sobre uma
manifestação popular, Guerra integrou os registos ficcional
nessa fase inicial apresentou-se como materialização das amizades socialistas e agente de mobilização
(a representação dos acontecimentos) e documental
política. Não se tratava apenas de levar imagens em movimento às pessoas, mas de criar ligações
(os depoimentos das suas testemunhas) num misto de
entre as revoluções a acontecer. Enfrentando enormes adversidades, durante mais de uma década o
improvisação e de cinéma vérité. O modo original como
INC centralizou a produção cinematográfica e fomentou uma prática e uma cultura cinematográfica o filme trabalha a dramatização e os depoimentos que a
revolucionária. Os cinemas ambulantes, mas também as equipas de produção que filmavam pelo país, acompanham para evocar um acontecimento traumático
atravessaram Moçambique projetando a sociedade em construção. As duas séries de KUXA KANEMA que foi um marco histórico da luta anticolonial, torna-a
(a primeira em 1978 e 1979, e depois, num formato mais curto, de 1981 a 1985) mostraram o povo, a sua uma obra fundamental da filmografia moçambicana. Em
história de luta e construção de uma sociedade socialista, ao povo: danças e música, locais históricos de complemento, exibe-se O PRETO, de Ivo Mabjaia, um dos
resistência, formação de novas competências profissionais, reorganização económica, visitas de chefes fundadores, com Jared Nota, do coletivo Afrocinemakers.
de Estado estrangeiros e, claro, os discursos de Samora Machel. Progressivamente, desvelam também Esta curta-metragem, distinguida em 2021 com o Prémio
a violência que se abate sobre o país quando o governo se afirmou anti-Apartheid. O apoio da Rodésia Novos Autores Moçambique, atribuído pelo Fórum de
Cinema de Moçambique – Kugoma, é uma metáfora
governada por uma minoria branca e da África do Sul à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo)
alusiva à corrupção numa sociedade adormecida.
fomentará uma das mais destrutivas guerras civis travadas no continente, a qual só terminou em 1992.
Entretanto, a morte de Machel num acidente de avião, em 1986, e o incêndio do INC em 1991, são marcos
do colapso da revolução marxista e do seu projeto cinematográfico. f Quarta-feira [17] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A privatização da indústria cinematográfica estava já em curso paralelamente à transição para uma XILUNGUINE, A TERRA PROMETIDA
economia de mercado livre e para a democracia multipartidária. O legado do “cinema de Estado” foi a Moçambique, 2011 – 30 min
formação de uma geração com grandes competências técnicas e preocupação com questões sociais. UMA MEMÓRIA QUIETA
Esse legado persiste. Não obstante as dificuldades do ‘nascimento (em imagens) de uma nação’, as Moçambique, 2014 – 14 min
preocupações sociais são uma linha de força nos filmes feitos em Moçambique ou por moçambicanos. UMA MEMÓRIA EM TRÊS ATOS, DOC
Porém, a cinematografia moçambicana é hoje também marcada por preocupações ecológicas, que Moçambique, 2017 – 64 min
passam pela revalorização dos saberes ancestrais, pelo tratamento de questões identitárias (incluindo filmes de Inadelso Cossa
de género e raciais), e, muito fortemente, relativas às articulações entre as memórias pessoais e duração total da projeção: 108 min | M/12
coletivas, tanto numa perspetiva de questionamento do que falhou na construção do país, como das
COM A PRESENÇA DE INADELSO COSSA
possibilidades de esperança e de superação dos traumas provocados pelo colonialismo e pela guerra
Da nova geração de cineastas moçambicanos, Inaldelso
civil.” (Maria do Carmo Piçarra)
Cossa – assistente de realização de Flora Gomes,
quando este filmou A REPÚBLICA DUS MININUS (2012) em
Moçambique – é aquele cuja obra tem ganho maior
projeção internacional. Realizada entre 2011 e 2016, a
[10] abril 2024
“trilogia da memória” centra-se na memória coletiva de duas séries produzidas. Com um texto de Luís Carlos dos seus realizadores emergentes mais relevantes
Moçambique, entretecida de sonhos e estórias individuais Patraquim contrastante, pela qualidade, com o estilo (Inadelso Cossa), a conversa percorrerá a história
de sujeição ao horror e tortura. Abriu com XILUNGUINE, superficial e monocórdico das narrações das atualidades desta cinematografia desde a independência até
A TERRA PROMETIDA, que documenta como Xilunguine cinematográficas em geral – e que veio a ser norma ao presente. Moderação por Maria do Carmo Piçarra.
– Maputo – é a terra dos sonhos de muitos pastores também na menos interessante, porque mais oficiosa, A abrir a conversa, exibe-se o número 36 do KUXA
“tsongas” que, há gerações, trocam o pastoreio pela segunda série de KK –, esta edição documenta e explica a KANEMA produzido em 1981.
cidade grande, para a qual trazem a sua linguagem e a sua música e danças tradicionais de Moçambique. A ligação
ENTRADA LIVRE MEDIANTE LEVANTAMENTO DE BILHETE
cultura. Seguiu-se a realização de UMA MEMÓRIA QUIETA, de José Fonseca e Costa a África é uma marca presente 30 MINUTOS ANTES DA MESA-REDONDA
de 2014, evocação de Kula, onde ex-prisioneiros políticos do seu cinema e da sua vida. Nascido em Angola, em 1933,
eram interrogados pela polícia política portuguesa, sendo vem para Portugal com 11 anos de idade e regressa, pelo
sujeitos a torturas brutais para revelar informações sobre cinema, com MÚSICA, MOÇAMBIQUE! um retrato da primeira f Segunda-feira [22] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
os movimentos de libertação. O drama, complexo, destes edição do Festival da Canção e da Música Tradicional
homens torturados, a quem a dor tornou delatores, ou de Moçambique, poucos anos depois de terminada a A TELEVISÃO NOS BAIRROS
de outros atirados para a clandestinidade, é retomado guerra de libertação, é uma celebração da identidade e de Moira Forjaz, Licínio Azevedo, Miguel Arraes
na longa-metragem documental UMA MEMÓRIA EM TRÊS da nova independência do povo moçambicano através Moçambique, 1980 – 20 min
ATOS, que mostra visitas de ex-prisioneiros aos locais de da riqueza da sua música. UM DIA NUMA ALDEIA COMUNAL
tortura como modo de exorcismo das memórias de horror de Moira Forjaz
e tratamento pós-traumático. Moçambique, 1981 – 29 min
f Sexta-feira [19] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
ESTAS SÃO AS ARMAS MINEIRO MOÇAMBICANO
f Quinta-feira [18] 19h30 | Sala Luís de Pina de Murillo Salles, Bernardo Honwana de Moira Forjaz
Moçambique, 1981 – 30 min
TLHUKA Moçambique, 1978 – 106 min | M/12
duração total da projeção: 79 min | M/12
de Gil D’Oliveira Filmado por um grupo de jovens do então recém-criado
Moçambique, 2022 – 5 min Instituto Nacional de Cinema, sob a supervisão do COM A PRESENÇA DE MOIRA FORJAZ
DEIXEM-ME AO MENOS SUBIR ÀS realizador brasileiro Murilo Salles e do escritor e político Luís Primeiro filme moçambicano realizado, ainda que em
PALMEIRAS ... Bernardo Honwana (então chefe de gabinete do presidente parceria, por uma mulher (Moira Forjaz, reconhecida
de Lopes Barbosa Samora Machel), o documentário mostra imagens dos sobretudo pela obra fotográfica), A TELEVISÃO NOS BAIRROS
com Gabriel Chiau, Malangatana Valente, ataques a civis moçambicanos durante a invasão do documenta o início das sessões experimentais da TV em
Maklin Corniche, Estevão Macunguel país por tropas da Rodésia (atual Zimbabué). Documenta Moçambique através de entrevistas a pessoas que, em
Moçambique, 1972 – 70 min os ataques aéreos que, na província de Tete, causaram vários bairros de Maputo, assistem pela primeira vez às
duração total da projeção: 75 min / legendados em português | M/12
enormes danos em zonas densamente habitadas. emissões. É um documento que remete para o entusiasmo
com que Godard chegou ao país, pensando nas condições
Em TLHUKA, de Gil D’Oliveira, uma árvore conta como
f Sábado [20] 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro únicas existentes para construir um projeto de “nascimento
três gerações da família de Nothisso partilham, contra o
(em imagens) da nação” moçambicana porque a maioria
modelo extrativista vigente, um legado de reconhecimento UM PRESENTE ESPECIAL do seu povo nunca vira imagens em movimento. Moira
à natureza. Recebeu o prémio do Centro Cultural de Nildo Essá
Forjaz deu grande atenção aos mineiros moçambicanos
Moçambicano-Alemão em 2022. DEIXEM-ME AO MENOS Moçambique, 2022 – 6 min
e sua migração em situação (pós-)colonial. MINEIRO
SUBIR ÀS PALMEIRAS…, única longa-metragem de Joaquim
Lopes Barbosa (1944-2021), foi rodada entre 1971 e 1972 nos GIANT LITTLE CHOPPERS: MOZAMBIQUE’S MOÇAMBICANO documenta o processo de acolhimento
arredores de Lourenço Marques (atual Maputo) e no norte HELICOPTER KID de mineiros provenientes das minas sul-africanas e a
de J.J. Nota reorganização dos serviços de receção no posto fronteiriço
de Moçambique, onde o realizador se radicara após uma
Moçambique, 2022 – 10 min de Ressano Garcia. UMA DIA NUMA ALDEIA COMUNAL,
estada em Angola. Inspirado no poema Monangamba,
O GRANDE BAZAR agraciado com o prémio para melhor documentário no
de António Jacinto, e no conto Dina, de Luís Bernardo
Festival de Cinema de Leipzig, regista o quotidiano na
Honwana, o filme denuncia a violência do colonialismo de Licínio Azevedo
com Manuel Adamo, Chico Antonio, Bento Castigo aldeia Vigilância quanto ao trabalho, educação, saúde e
e foi interpretado por atores negros empregados em
lazer, dando especial atenção à condição das mulheres.
repartições públicas, nos caminhos de ferro e em bancos. Moçambique, 2006 – 56 min
Falado em ronga, língua do sul de Moçambique, em duração total da projeção: 72 min | M/12
português e em inglês, DEIXEM-ME AO MENOS SUBIR ÀS Nildo Essá, o realizador que mais se tem destacado na f Segunda-feira [22] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
PALMEIRAS… foi proibido na íntegra pela censura. animação moçambicana, criou a série OS PESTINHAS,
protagonizada por Lili, Stretch e Zé Gordo. Com UM CANTA MEU IRMÃO, AJUDA-ME A CANTAR
de José Cardoso
PRESENTE ESPECIAL, o trio quer surpreender uma amiga,
f Quinta-feira [18] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro Moçambique, 1982 – 70 min
Rosita, preparando um jantar de Natal na escola do
25 bairro, decorada para o efeito, mas tem que lidar com IN BOX
de Celso Luccas, José Celso os ciúmes de Stinky. Produzido com apoio da Al-jazeera, de Ivan Barros, Pak Ndjamena
Moçambique, 1975 – 140 min | M/12 GIANT LITTLE CHOPPERS: MOZAMBIQUE’S HELICOPTER KID, Moçambique, 2021 – 25 min
COM A PRESENÇA DE CELSO LUCCAS (A CONFIRMAR) conta a história de Luciano Armindo, um miúdo de 12 duração total da projeção: 95 min | M/12
Realizado pelos realizadores brasileiros Celso Luccas e José anos, que, usando materiais reciclados, constrói modelos Em CANTA MEU IRMÃO, CANTA, AJUDA-ME A CANTAR, a
Celso, 25 fez parte de uma iniciativa do Instituto Nacional de helicópteros e carros em tamanho real. O GRANDE narração afirma, na abertura: “Nós, homens do cinema,
de Cinema de Moçambique para consolidar uma imagem BAZAR é um dos títulos de marca ficcional na obra de resolvemos ir ter contigo, com a nossa curiosidade e a
nacional do país após a sua independência. Este documen- Licínio Azevedo protagonizado por adolescentes. Fixa o nossa vontade de aprender”. De Inhambane a Mueda,
tário parte das comemorações da libertação na noite de encontro entre dois miúdos de proveniências sociais, passando pela Ilha de Moçambique, Zavala, Manhiça, Tete,
25 de junho de 1975 para construir um pensamento sobre temperamentos e pulsões diferentes no grande mercado etc., a equipa filma-se a escutar os músicos detentores
os conflituosos processos de libertação, através de uma africano de Maputo durante uma experiência que os faz do saber tradicional enquanto explicam a sua música, as
exploração que percorre toda a história da resistência do tornarem-se amigos enfrentando um inimigo comum. suas danças, e como são feitos e tocados os instrumentos.
povo moçambicano ao longo das diversas fases de colo- Os filmes estão programados numa sessão Cinemateca Se o filme mostra, logo ao início, o I Festival da Canção
nização, massacres e guerras contra o exército português. Júnior - Sábados em Família. e da Música Tradicional em Maputo, em 1980, é para
logo afastar-se do evento e investir numa abordagem
f Sábado [20] 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro mais compreensiva, dando a palavra ao povo, fixando
f Sexta-feira [19] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro o modo como se exprime, pela música e pela dança, no
MESA-REDONDA contexto humanizado, do seu quotidiano. Ivan Barros e
KUXA KANEMA Nº 3
Moçambique, 1978 – 18 min
“DO CINEMA DE ESTADO AO CINEMA FORA Pak Ndjamena têm mantido uma colaboração artística,
DO ESTADO: MOÇAMBIQUE” sustentada pela intermedialidade, em que cinema e dança
MÚSICA, MOÇAMBIQUE! Com a participação de três protagonistas da dialogam. Atualização contemporânea da importância
de José Fonseca e Costa “invenção do cinema” moçambicano - José Luís da dança como forma matricial na expressão cultural
Moçambique, Portugal, 1981 – 90 min em Moçambique, IN BOX é, literalmente, uma carta para a
Cabaço (Ministro da Informação de Moçambique a
duração total da projeção: 108 min | M/12 esperança. É também uma manifestação de resiliência às
partir de 1980, impulsionador da "Nova Estratégia para
KUXA KANEMA – “o nascimento do cinema” – foi um jornal a Imagem", no âmbito da qual se deu a restruturação crises sociais, políticas, e sanitárias – foi filmado quando
de atualidades cinematográficas produzido pelo Instituto do jornal de atualidades KUXA KANEMA), Luis Carlos a pandemia ensombrava o país – que perturbam a
Nacional de Cinema moçambicano cujo objetivo era Patraquim (escritor, autor de vários guiões do cinema sociedade moçambicana, num contexto global. O que
filmar a imagem do povo e devolvê-la ao povo. “Dança feito em Moçambique, integrou a redação do KUXA pode a imagem de Samora Machel, plano derradeiro na
é resistência” é o mote do número três da primeira das KANEMA), Camilo de Sousa (realizador) - e de um caixa de correio em que é deitada a carta?
abril 2024 [11]
Nacional de Cinema, O TEMPO DOS LEOPARDOS, longa- duração total da projeção: 77 min | M/12
-metragem de coprodução moçambicana-jugoslava, e KARINGANA. OS MORTOS NÃO CONTAM HISTÓRIAS, a mais DEIXEM-ME AO MENOS SUBIR ÀS PALMEIRAS ...
primeira obra inteiramente ficcional, foi realizada por Zdravko recente curta-metragem de Inadelso Cossa, é protagonizada
Velimirović, assistido por Camilo de Sousa. A partir de uma por Nkomba Yengo que, no regresso à sua aldeia, a encontra
ideia de Licínio Azevedo, argumento de Luís Carlos Patraquim engolida pelo silêncio, numa amnésia coletiva provocada
e Velimirović, dez anos após a independência e em plena pela Guerra Civil. Depois de, em 1971, o ativista político e que despeja substâncias tóxicas no mar. Longa-metragem
guerra civil, numa fase de enormes carências, retoma o advogado afro-americano Robert Van Lierop ter realizado independente, realizada por Mickey Fonseca (também
tema da luta pela libertação do jugo colonial. Em 1971, Pedro, A LUTA CONTINUA, sobre a luta de libertação moçambicana, argumentista), e com direção de fotografia e montagem
dirigente da FRELIMO, é procurado pelas forças coloniais por regressou imediatamente após a independência no novo de António Forjaz, RESGATE retrata dificuldades que afetam
manobras no nordeste do território. Usando informação país, procurando documentar a mudança social em curso, parte significativa da população moçambicana. Centra-
obtida pela tortura a prisioneiros, a PIDE executa-o, não e fixando, simultaneamente, as contradições inerentes à -se em Bruno, que, após sair da prisão, trabalha numa
obstante os esforços frustrados dos companheiros para tomada do poder por uma organização originalmente sucata, para garantir a sua subsistência, e da mulher
libertá-lo, o que mobiliza ainda mais o movimento de revolucionária. O POVO ORGANIZADO contextualiza e filha. Quando o banco, a que a mãe, recém-falecida,
libertação. É um marco no cinema moçambicano pela historicamente a luta travada, para evidenciar como a pedira um empréstimo para pagar despesas de saúde,
formação em ficção de profissionais moçambicanos de situação colonial e a sujeição ao imperialismo em que viveu ameaçar penhorar-lhe a casa, Bruno volta ao antigo
cinema e foi o motor para José Cardoso propor a realização o povo moçambicano afetou o mesmo, colocando graves gangue, que faz sequestros, e, com risco para si e para a
da primeira obra ficcional moçambicana. entraves à remodelação da economia. Van Lierop assumiu família, procura refrear a violência dos mesmos.
que, com esta obra, pretendia mobilizar apoios para as
lutas de libertação ainda em curso no Zimbabué, Namíbia
f Terça-feira [23] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro f Segunda-feira [29] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
e África do Sul.
O VENTO SOPRA DO NORTE AS RUÍNAS DO RIO
de José Cardoso de Yara Costa Pereira
f Sexta-feira [26] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
com Lucrécia Paco, Gilberto Mendes, Emídio de Oliveira Moçambique, 2021 – 34 min
Moçambique, 1987 – 100 min | M/12 FIM
José Cardoso, muitas vezes referido como o decano do
de Lara de Sousa MABATA BATA
Cuba, 2018 – 15 min de Sol de Carvalho
cinema moçambicano, realizou com este filme uma das
com Emilio Bila, Mário Mabjaia, Medianeira Massingue
primeiras incursões da produção local pós-independência SONHÁMOS UM PAÍS Moçambique, 2017 – 74 min
na longa-metragem de ficção. Na altura, a simples de Camilo de Sousa, Isabel Noronha
existência da obra era já um triunfo, mas esta reconstituição duração total da projeção: 108 min / legendados em português | M/12
Portugal, 2019 – 70 min
da última fase do colonialismo português tem ideias de duração total da projeção: 85 min | M/12 COM A PRESENÇA DE SOL DE CARVALHO (A CONFIRMAR)
cinema suficientes para que vejamos nele muito mais do COM AS PRESENÇAS DE CAMILO DE SOUSA E ISABEL NORONHA O filme AS RUÍNAS DO RIO, de Yara Costa Pereira, evoca a
que um marco histórico de produção. A cópia exibida é o importância do saber tradicional e documenta algumas
Em FIM, Lara de Sousa projeta-se numa varanda
produto do restauro feito no laboratório da Cinemateca histórias de superação de habitantes de Dombe, em
imaginária, no Índico, entre Cuba – onde estudou cinema
no âmbito do projeto de cooperação levado a cabo em Manica, uma das áreas mais afetadas pelo ciclone
– e Moçambique. Na iminência de uma possível morte
2008 e 2009 com o Instituto Nacional de Audiovisual e Idai que, em 2019, devastou Moçambique, provocando
do pai, Camilo, procura respostas. SONHÁMOS UM PAÍS
Cinema de Moçambique (INAC) e com o apoio do Instituto centenas de mortos e milhares de desalojados. Adaptação
é um documentário biográfico realizado por Camilo de
Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), visando a pelo realizador Sol de Carvalho do conto O Dia em que
Sousa e pela companheira, a cineasta Isabel Noronha. A
recuperação do precioso acervo daquele instituto. Explodiu Mabata Bata de Mia Couto, MABATA BATA tem
obra a quatro mãos conta também com a colaboração
da filha, Lara de Sousa que coloca as questões ao pai. como fundo a guerra civil que, desde 1977 e durante 16
Um filme-entrevista – ou “entrevistas”, dado que envolve anos, dilacerou Moçambique. Órfão e pastor de uma
f Quarta-feira [24] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
outros protagonistas –, que faz esta escolha inteligente, manada, o sonho de Azarias é ir à escola. A avó apoia-o,
KUXA KANEMA Nº 39 dada a extrema sensibilidade das questões abordadas e a mas, no dia em que, enquanto pasta, o boi Mabata Bata
Moçambique, 1982 – 10 min dificuldade da sua transmissão. Camilo de Sousa conta-nos pisa uma das minas espalhadas pelos combatentes, o
a sua história em paralelo com a história de uma luta pela seu desejo fica comprometido. A morte de Mabata Bata
VIRGEM MARGARIDA compromete o pagamento, pelo tio Rui, do “lobolo”, o
independência e dos primórdios da sua constituição de
de Licínio Azevedo dote que, tradicionalmente, deve pagar para casar-se.
Moçambique enquanto nova-nação. Não se trata de uma
com Iva Mugalela, Hermelinda Cimela, Com receio de que o tio o culpabilize pela morte do seu
Rosa Mário, Ana Maria Albino narrativa de feitos épicos, mas a história de uma desilusão,
e que por isso mesmo tem sido há muito silenciada. melhor boi, Azarias foge, com a manada, para a floresta,
Moçambique, Portugal, França, 2011 – 85 min
onde a avó e o tio irão em sua busca.
duração total da projeção: 95 min | M/12
A edição 39 da segunda série de KUXA KANEMA dá f Segunda-feira [29] 19h30 | Sala Luís de Pina
enfoque à luta contra o contrabando de alimentos,
ONTOGENESIS
sucedendo-se notícias da atualidade moçambicana,
de J.J. Nota
antes do encerramento com uma reportagem alargada
com Sara Bombi, Derson Chaincomo, Joaquim Fernando
sobre a antiga prisão política da ilha do Ibo, em Cabo
Moçambique, 2020 – 5 min
Delgado. Em finais de 1975, prostitutas moçambicanas
foram levadas para “centros de reeducação” onde lhes RESGATE
eram impostos trabalhos forçados e disciplina militar. Um de Mickey Fonseca
depoimento sobre como uma camponesa que estava na com G
il Alexandre, Arlete Guilhermina Bombe,
cidade para comprar o enxoval foi levada por engano Laquino Fonseca
pela polícia originou a longa-metragem de ficção VIRGEM Moçambique, 2019 – 101 min
MARGARIDA, inspirada em situações e personagens reais: duração total da projeção: 106 min | M/14
“É sobre os antagonismos da libertação [das mulheres]. As questões ecológicas e a corrupção são tema recorrente
Remete para a emancipação das mulheres africanas na produção independente moçambicana. ONTOGENESIS,
em situações distintas: alfabetizadas ou não, a mulher curta-metragem de Jared José Nota, aka J.J. Nota, da
colonizada e a mulher revolucionária, que percebe a Afrocinemakers, ficcionaliza a investigação de uma
disciplina imposta pelo homem. […] A reeducação de fotojornalista a uma empresa, gerida inescrupulosamente, MUEDA, MEMÓRIA E MASSACRE
[12] abril 2024
f Sábado [06] 19h30 | Sala Luís de Pina narrativo entre a ficção neorealista de A CANÇÃO DA TERRA, f Sábado [13] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
de Jorge Brum do Canto (1938), também digitalizado pelo
BRENT AV FROST FILMar, e o Portugal nos alvores da democracia. Depois
UM S MARGINAL
“Queimado pela Geada” de José de Sá Caetano
do 25 de Abril de 1974, Juvenal, um engenheiro agrónomo
de Knut Erik Jensen com Françoise Ariel, Eurico da Fonseca, Diogo Dória
de ideias liberais, volta a casa e vê-se envolvido pelas
com Stig Henrik Hoff, Bengt Altmann, Harald Andersen Portugal, 1980 - 91 min | M/12
perturbações sociais na ilha da Madeira, que antecederam
Noruega, 1997 - 97 min / legendado eletronicamente em português | M/12 Não existe uma tradição afirmada de um cinema português
a revolução, as quais são condenadas pelo seu irmão
BRENT AV FROST foi uma surpresa na história recente do Álvaro, industrial de bordados e acérrimo conservador. A de ficção científica e, no entanto, é possível construir linhas
cinema norueguês. Focando-se num período nem sempre defesa dos trabalhadores explorados e o novelo amoroso de leitura a partir de alguns filmes que ensaiam a distopia
abordado na memória contemporânea do país, traz-nos onde se vê envolvido, tornam a sua presença, e a leitura e, muito em particular no período imediatamente a seguir
a história de Simon, um jovem pescador que é recrutado histórica dos acontecimentos, um curioso exercício de à revolução, experimentam abordar a paisagem como um
como espião pelo KGB durante a Segunda Guerra Mundial, escrita e de realização. lugar de radical estranheza. UM S MARGINAL é um desses
numa Noruega ocupada. É um filme que olha de frente para filmes, apontado a um futuro próximo que hoje nos parece
as consequências das escolhas individuais e trabalha de o início do que agora vivemos, e onde a ideia de uma rede
modo muito certeiro as fronteiras da ética e da bravura, f Sábado [13] 19h30 | Sala Luís de Pina de centrais transformadoras de energia oceânica e solar
face a coletivos subjugados. ao longo da costa portuguesa nos surgirá banal. Em AS
KIMEN
RUÍNAS DO INTERIOR (1975), José de Sá Caetano já havia
“A Semente”
experimentado a proximidade do mar enquanto cenário
f Sábado [06] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro de Erik Solbakken
para o medo e o irracional, mas agora, fala-nos de um
Noruega, 1974 - 93 min / legendado eletronicamente em português | M/12
ETERNIDADE território onde a própria presença humana está ameaçada.
KIMEN adapta um romance de Tarjei Vesaas, escrito em Neste futuro próximo, onde o desequilíbrio ecológico fez
de Quirino Simões
1940, transformando o ambiente misterioso da ilha onde com que os animais domésticos desaparecessem das
com Denis Derkian, Virgilio Teixeira,
a ação decorre numa metáfora para conflitos sociais cidades e voltassem a uma vida selvagem, em zonas
Ana Maria Nascimento e Silva
Portugal, 1992 - 101 min | M/12
e tensões no interior da comunidade. Os rumores e a elevadas afastadas, cabe aos humanos saber onde se
falta de confiança no outro são o combustível para uma esconder. Os lugares de refúgio são, ao mesmo tempo,
Rodado na ilha da Madeira por um antigo oficial do exército
narrativa intemporal, e com a qual podemos estabelecer lugares de receio, e a confiança no outro vai estabelecer-
que havia realizado alguns documentários de apoio ao
relações com o Portugal da ditadura. Tanto o argumento -se a partir de duelos de objetivos.
esforço de guerra, e tentado a ficção em 1967 com A
como a realização operam no espectador uma sensação
CAÇADA DO MALHADEIRO, este ETERNIDADE é um objeto
de desconforto que em muito permite perceber o ponto
curioso e raro, poucas vezes visto e um dos títulos que
a partir do qual se começam a quebrar as cadeias de
contribui para uma reescrita de um cinema que se procura
solidariedade comunitária. Primeira apresentação na
aproximar do grande público, através de narrativas
Cinemateca.
identificáveis. É, ainda, um filme que propõe um arco
f Sábado [20] 19h00 | Sala Luís de Pina muda os seus negócios para Angola onde se envolve num f Terça-feira [30] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
obscuro ambiente social e político. Esta falsa comédia de
SWEETWATER costumes de fundo político e económico, é também um
EIN MÅ JO KOME SEG HEIM
de Lasse Glomm “Preciso Ir para Casa”
exemplo de como podemos olhar para o cinema enquanto
com Bentein Baardson, Petronella Barker, de Trygve Hagen
janela histórica.
Alphonsia Emmanuel Noruega, 2001 - 6 min / legendado eletronicamente em português
Noruega, 1988 - 115 min / legendado eletronicamente em português | M/12
AGOSTO
Filmado em Roma e Londres, este é, na verdade, um filme f Terça-feira [30] 15H30 | Sala M. Félix Ribeiro de Jorge Silva Melo
que se pretende ambientado numa Noruega distópica, com Christian Patey, Marie Carré, Olivier Cruveiller, Manuela
depois de um grande desastre mundial. A luta pela
ARIA de Freitas, Pedro Hestnes, Glicínia Quartin, Isabel Ruth,
de Pjotr Sapegin Luís Santos, Rita Blanco, José Mário Branco
sobrevivência e a reconstrução social são, neste filme
Noruega, Canadá, 2001 - 11 min
de Lasse Glomm, ampla oportunidade para analisar os Portugal, 1988 – 98 min
limites da conveniência e da ética. A busca de água, um O CONVENTO duração total da projeção: 133 min | M/12
bem escasso, é o caminho de uma família que procura um de Manoel de Oliveira Jorge Silva Melo adaptou muito livremente o romance
lugar e se vê confrontada com uma sociedade de riscos, com C
atherine Deneuve, John Malkovich, de Cesare Pavese A Praia, ao enveredar, em AGOSTO,
falsas oportunidades e traição. Primeira apresentação Leonor Silveira, Luis Miguel Cintra pelo cinema romanesco. A paisagem física é a serra da
na Cinemateca. Portugal, 1995 – 91 min Arrábida e as suas praias, de uma luz deslumbrante e
duração total da projeção: 102 min | M/12 dourada no verão. As pessoas singulares que aí habitam
Rodado no Convento de Nossa Senhora da Arrábida, este vivem um vazio “antonioniano” que Jorge Silva Melo
f Sábado [20] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
é um filme de sombras, fantasmas, medos expostos e uma transpôs para o cinema português. Quando o apresentou
MALTESES, BURGUESES E ÀS VEZES... tensão sexual que tornaram O CONVENTO num filme algo em ante-estreia na Cinemateca em 1988, escreveu um
de Artur Semedo mal-amado na longa filmografia de Manoel de Oliveira. A texto que começa assim: “‘Há um minuto da vida do mundo
com Artur Semedo, Nicolau Breyner, Vasco Rafael, partir de uma ideia de Agustina Bessa-Luís, o confronto, e que passa. Há que o pintar na sua realidade.’ Esta frase
Yola, Alda Rodrigues a expectativa de vitória, por personagens que parecem de Cézanne citada por Merleau-Ponty nesse livro a que
Portugal, 1974 - 105 min | M/12 tropeçar no seu destino, é levado a um extremo de há tantos anos recorro, Sens et Non-Sens. É isso o que
Estreado a 11 de abril de 1974, MALTESES, BURGUESES E perversidade num filme que usa o espaço como se fosse quero do cinema? Minuto-vida-mundo-pintar-realidade?”.
ÀS VEZES... é um filme que avança sobre os valores e os a derradeira hipótese de verdade. A sessão completa-se A sessão completa-se com a apresentação de uma curta-
paradoxos da burguesia lisboeta, desmontando-os com a com ARIA, uma curta-metragem de animação que adapta -metragem norueguesa que adapta uma novela de Jon
sagacidade e humor que o realizador Artur Semedo trouxe a ópera Madame Butterfly, feita com marionetas e um Fosse, autor que Jorge Silva Melo introduziu em Portugal e
a um cinema entre a resistência, primeiro, e a militância, sentido de perversidade que em muito acompanha a que encenou ou traduziu para a sua companhia Artistas
depois da revolução. Incompreendido, posto de lado e manipulação que Oliveira opera nas suas personagens. Unidos. A exibir em cópias digitais. A sessão assinala ainda
amplamente ignorado, é um objeto que regista o tempo Butterfly vive numa ilha, até que a chegada do marinheiro o lançamento do catálogo Jorge Silva Melo – Viver amanhã
nas suas contradições, falhas e potencial de derisão, como Pinkerton transformará a sua história. O mar é lugar de como hoje, preparado na sequência da retrospetiva da
só o tempo viria a poder demonstrar. Parcialmente rodado esperança tornada tragédia. sua obra no cinema.
em 1973 em Angola, a comédia de Artur Semedo retrata ENTRADA LIVRE MEDIANTE LEVANTAMENTO DE BILHETE ENTRADA LIVRE MEDIANTE LEVANTAMENTO DE BILHETE
mordazmente a burguesia colonial pondo em cena a 30 MINUTOS ANTES DO INÍCIO DA SESSÃO 30 MINUTOS ANTES DO INÍCIO DA SESSÃO
f Quinta-feira [25] 11h30 | Sala M. Félix Ribeiro f Quinta-feira [25] 18h30 | Sala Luís de Pina f Quinta-feira [25] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O PARTO
abril 2024 [15]
CRAVOS DE ABRIL
f Quinta-feira [25] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro f Sexta-feira [26] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
LE FANTÔME DE LA LIBERTÉ
[16] abril 2024
f Sexta-feira [26] 18h30 | Sala Luís de Pina f Sexta-feira [26] 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
preto e branco registadas a quente nos primeiros dias da Revolução (entre Duração total da projeção: 106 min | M/12
o 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974). São imagens filmadas por realizadores, “Ensaio sobre os militares e o poder”, frase que também pertence ao título de
diretores de fotografia ou operadores que acompanharam o despontar da GESTOS & FRAGMENTOS, resume o espírito do filme, assente em três pontos
Revolução, saindo para a rua com as suas próprias câmaras, ou reunindo de vista sobre o mesmo tema: os de Otelo Saraiva de Carvalho e de Eduardo
as câmaras e a película existente em vários pontos do país, com o intuito de Lourenço, nos seus próprios papéis, e o protagonizado por Robert Kramer,
captar a evolução dos importantes acontecimentos em curso. Entre aqueles como um jornalista americano embrenhado na procura de explicações
que participaram nesta aventura encontramos Fernando Matos Silva, Fernando para o processo tomado pela Revolução portuguesa. “Certeiro e mortífero”.
Lopes, João Matos Silva, António de Macedo, Ricardo Costa, Acácio de Almeida, Um dos mais impressionantes olhares cinematográficos sobre a Revolução
António da Cunha Telles, Henrique Espírito Santo, José de Sá Caetano, Moedas de Abril. O argumento é de Seixas Santos, que coassina o comentário do
Miguel, Glauber Rocha, Artur Semedo, Eduardo Geada, António Escudeiro, filme com Nuno Júdice, Eduardo Lourenço, Robert Kramer e Otelo Saraiva
Manuel Costa e Silva, Monique Rutler, Amílcar Lyra, Leonel Brito, Óscar Cruz, de Carvalho. Produzido e realizado pelo coletivo Grupo Zero, demonstrativo
Elso Roque, José Fonseca e Costa e Luís Galvão Teles. Trata-se de um cinema do desenvolvimento de uma produção cinematográfica que acompanhava
de urgência, que mostramos em cristalinas imagens em 35mm, sem som, de perto as lutas camponesas e operárias do período pós-revolucionário,
e não sujeitas a qualquer montagem. Serão os “restos” não utilizados no ASSIM COMEÇA UMA COOPERATIVA acompanha os esforços de um grupo de
filme coletivo AS ARMAS E O POVO. Imagens que fazem parte da coleção da pequenos agricultores de Barcouço, na zona de Coimbra, cuja ideia de formar
Cinemateca, conservando a rugosidade própria da sua qualidade de “brutos” uma cooperativa nasceu na banda de música que a maior parte integrava.
e um valor documental inestimável. A estas seguem-se outras imagens em
bruto da Revolução desta feita relacionadas com a história do Conservatório
de Cinema (que em setembro de 1973 tinha iniciado o primeiro ano enquanto f Sábado [27] 17h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Escola Piloto). De entre as várias dezenas de candidaturas formou-se uma O ACTO DO CINEMA
primeira turma onde se incluíam futuras figuras do cinema português como Homenagem ao Cinema Português anterior e posterior à fronteira de Abril
João Botelho, Monique Rutler, Jorge Alves da Silva, Paola Porru, Jorge Loureiro, Projeção non-stop de bobines e fragmentos de filmes
entre outros. Depois de um primeiro semestre experimental, os jovens cineastas
duração total prevista: 210 min | M/12
foram apanhados pela Revolução. Assim, na manhã de 25 de Abril, vários
deles entram nas instalações da Escola de Cinema, agarram nas câmaras Retomando e reinventando o dispositivo de uma “jornada especial de
de 16mm e na película que lá havia, e lançam-se para as ruas. Pouco depois homenagem ao Cinema Português” que aqui organizámos em novembro
o Conservatório entra numa fase de reestruturação, reabrindo só em 1975, já de 2018 por ocasião dos 70 anos da Cinemateca, nesta outra efeméride do
noutros moldes, e as imagens que os alunos filmaram ficaram esquecidas. No cinquentenário de Abril voltamos a prestar tributo ao cinema que aqui se
âmbito do recente depósito que a ESTC (Escola Superior de Teatro e Cinema) fez antes e após essa data, desta vez buscando particularmente o modo
fez dos seus arquivos analógicos, o ANIM identificou vários rolos de película não como este representou formas de estar e de sentir coletivas, mais ou menos
montada e sem som, num total de 108 minutos de material, que correspondem exteriorizadas, em torno dessa fronteira. De novo, trata-se duma montagem
à integralidade do que os estudantes filmaram naquele dia. 50 anos depois a livre de cenas de filmes de vários géneros, não necessariamente mostrados na
Cinemateca apresenta a totalidade desse material (agora em suporte digital). sua sequência cronológica, correspondentes a bobines inteiras ou fragmentos
de obras, sem interrupção.
ENTRADA LIVRE MEDIANTE LEVANTAMENTO DE BILHETE 30 MINUTOS ANTES DA SESSÃO
ENTRADA LIVRE MEDIANTE LEVANTAMENTO DE BILHETE 30 MINUTOS ANTES DA SESSÃO
TORRE BELA
de Thomas Harlan
Portugal, Itália, RFA, 1977 – 136 min | M/12
TORREBELA
abril 2024 [17]
SEMPRE
A palavra, o sonho e a poesia na rua
uma instalação de Luciana Fina para os 50 anos do 25 de Abril
“
No fundo era interessante que daqui a um ano a gente estivesse aqui a dizer que o que foi importante
em 74 foi o cinema português”. Numa entrevista para o programa televisivo Cinema 74, em janeiro,
expressando os desejos para o novo ano e idealizando as esperanças e o futuro do cinema português,
Fernando Lopes prefigurava também a realidade que poucos meses depois viria a concretizar-se.
Com o 25 de Abril, muitos realizadores e documentaristas entram em campo para observar e participar na
mudança do país. É graças a eles que nos ecrãs do cinema e da televisão começa a revelar-se tudo aquilo
que vivia na constrição da invisibilidade e da censura. A interlocução com a população, as suas vidas, a
cultura rural e operária assumem um papel central e formas diversas, oscilando entre um cinema de poesia,
o cinema-direto ou de inspiração neorealista. No processo de construção da nova sociedade, com o espírito
colaborativo das cooperativas de produção, ou ainda individualmente, torna-se imperativo intrometer-se na
História, documentar, mas sobretudo pensar e formular ideias para a emancipação no campo da educação,
da arte e da cultura, o trabalho, a emancipação da mulher, a descolonização, a reforma agrária, a habitação,
o próprio cinema e os média.
Em 2024, decorridos 50 anos da Revolução dos Cravos e da entrevista de Fernando Lopes, é graças ao cinema,
ao olhar e à poética destes cineastas, bem como dos radialistas e realizadores de televisão, que podemos
entrar na trama dos sonhos e das perspetivas da revolução que libertou o país do fascismo.
As imagens do passado olham para nós e pedem para comparecermos diante delas. Resgatar as imagens
destes arquivos é também interrogar o cinema, os seus gestos e uma ideia de futuro. Voltar a ver não diz
respeito ao passado, é uma exploração das possíveis deslocações entre o passado e o presente.
É no plano da arte combinatória da montagem, entendida aqui como uma maneira de produzir sentido
através da combinação de elementos e tempos heterogéneos, que procuro a tensão de um cinema reflexivo
e simultaneamente generativo, para que se abra o encontro entre o Outrora e o Agora.
O procedimento, próximo ao da memória, não é um retorno do idêntico, mas algo que restitui a possibilidade
daquilo que foi. O que parece estar em causa é a possibilidade de tornar o acabado novamente inacabado,
respigar a imagem suspensa, permitir ao que se passou de se reinventar, recolocando assim em campo a
hipótese, ou o direito, em cheque hoje, de imaginar o futuro.
Escrevia Walter Benjamin em As Passagens de Paris: “Cada facto histórico apresentado dialeticamente se
polariza e se torna um campo de forças onde se esvazia a querela entre a sua história anterior e a sua história
ulterior. Ele torna-se este campo de forças quando a atualidade penetra nele.” Outrora e Agora, entre o passado
e o presente poderá também acontecer uma ideia de futuro." (Luciana Fina)
Equipa Agradecimentos
Arquivos e documentalistas José Manuel Costa
CPMC Sara Moreira Fernando Pera, Catarina Santos
25 de Abril a 30 de Junho
RTP Inês Moreira e Silva
Assistente de realização Vítor Carvalho horário: segunda-feira a sábado das 14h às 21h30
Assistente de produção Tiago Leonardo
Mistura de som Marcelo Tavares - entrada livre -
Black out e iluminação André Calado
Costureira Aldina Jesus
Audiovisuais Balaclava Noir
[18] abril 2024
D
Os acontecimentos dos últimos dois anos mostraram de forma clara como a questão
das fronteiras dos territórios da antiga URSS estava muito longe de estar encerrada. Feito
entro do espírito das comemorações do 25 de Abril que atravessa toda a
quatro anos antes dessa trágica clarificação, EXTINÇÃO é um emaranhado eclético de
programação deste mês, voltamos a exibir o documentário que António materiais (ficção e não ficção) pelos quais nos guia Kolya, de nacionalidade moldava,
de Macedo realizou em 1976 sobre a realidade renovadora do teatro mas que se declara cidadão da Transnístria. Fragmentos levam o espectador para
português dos anos setenta, anteriores e posteriores ao 25 de Abril de o imaginário coletivo da União Soviética. O filme desenha um comentário abstrato
1974. A sessão é organizada em colaboração com o Centro de Estudos sobre as últimas posições políticas de Vladimir Putin, de “guerra sem guerra, ocupação
de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e integrada sem ocupação”.
no projeto Projecto Arthe - Arquivar o Teatro.
INADJECTIVÁVEL
“entre tantas, tantas outras coisas de beleza inadjectivável”
(João Bénard da Costa)
“O título deste filme reflete a minha convicção muito pessoal de que tudo aquilo que
exprimimos pela voz é o produto da nossa busca de uma aproximação mais intensa
com os outros, da nossa busca do amor, sob todas as formas possíveis”, explica o
realizador. Para ilustrar esta tese, Schroeter reuniu na abadia de Royaumont cantoras
líricas do passado e atrizes do presente, fazendo com que as cantoras trabalhassem
uma ária escolhida por ele. Neste filme, como em outras obras de Schroeter, o canto é
a expressão por excelência do amor. A exibir em cópia digital.