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Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 3:69-84, 1999.

ARQUEOLOGIA DA IMAGEM:
ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
NA ICONOGRAFIA DE HÉSTIA

Haiganuch Sarian*

aQ'Eoríaç dpXeo1at
começar a partir de Héstia

A Arqueologia Clássica tem merecido reflexões culturais das sociedades em foco, por outro lado a
de caráter teórico nestes últimos vinte anos. Antes Arqueologia Clássica, através da experiência de um
disso, a teoria arqueológica passava por 'þretensão" século de pesquisas, contribuiria, e muito, paraafu-
e "inutilidade" (Ginouvès 1988:1 12), e os classicistas gar os horizontes da Arqueologia Americana. Na
se dedicavam, no dizer do mesmo Ginouvès (iåid.): mesma linha de reflexão, A.M. Snodgrass (1985)
"com tanta paixão, e às vezes com sucesso, à busca apontava para uma colaboração mútua entre as Ar-
dos objetos e à sua interpretação, mas quase sem se queologias do Velho e do Novo Mundos. A teoria
interessar, no geral, a uma reflexão de segundo ní- arqueológica caminhou de modo inovador e enri-
vel, referindo-se aos problemas que suscita sua ma- quecedor (vale lembrar as profícuas produções da
nei¡a de colocar os problemas". Arqueologia Social e da Arqueologia Pós-Proces-
Na esteira do movimento da New Archaeology, sual), alimentando a Arqueologia Clássica num as-
iniciada nos Estados Unidos nos anos 60 em diante pecto que progrediu sobremaneira, isto é, no tocante
(Binford & Binford (eds.) 1968), alguns arqueólo- à Arqueologia da Religião e de processos simbóli-
gos clássicos (Renfrew 1980, 1982; Snodgrass 1985; cos. O exemplo de C. Renfrew é esclarecedor a este
Dyson 1981, 1993; Ginovès 1982, 1988) puseram- respeito, quando em 1985 publica The Archaeology
se a questionar sua própria disciplina, proclamada ofCuIt: The sanctuary at Phylakopi à luz da moder-
pela Nova Arqueologia como uma "disciplina sem na teoria arqueológica (p. 2): "A arqueologia proces-
disciplina". Em vez de adotar inteiramente as novas sual contemporânea rejeita o otimismo fácil das últi-
propostås, uma atitude salutar intermediava as posi- mas abordagens, nas quais não se permite nenhuma
ções metodológicas dos arqueólogos clássicos, a sa- fantasia do comentador moderno sobre as socieda-
ber: "tenta-se transpor no âmbito da nossa Arqueo- des antigas em pauta, e nas quais comportamento ri-
logia Clássica a abordagem seguida em outras disci- tual e crenças religiosas são inventados gratuitamen-
plinas, submetendo a uma reflexão crítica o conjun- te como se ditados pela imaginação. A abordagem
to de nossas operações, da descobefa à descrição e à oposta, uma posição exhemamente pessimista, ê, t^rn-
interpretação: acredito que é neste sentido que se pode bém rejeitada pela arqueologia contemporânea (...):
busca¡ as perspectivas atuais da Arqueologia Clássi- é uma estratégia improdutiva repelir tudo, desde o
ca..." (Ginouvès 1988: 1 l2). início, como se fosse por princípio incognicível, sem
As preocupações de R. Ginouvès não são iso- uma séria consideração de abordagens possíveis. Em
ladas. Nos anos 80, dois importantes arqueólogos vez disso, há muita discussão na bibliografia recen-
clássicos pretendem estabelecer a ponte entre a te sobre arqueologia cognitiva, e inúmeras referên-
Arqueologia Tradicional e a New Archaeology. Em cias a subsistemas simbólicos ou projetivos do sis-
um artigo brilhante, C. Renfrew (1980) pondera- tema cultural. Porém, na realidade, poucos dos re-
va que se de um lado a Nova Arqueologia abria ais problemas metodológicos têm sido delineados
caminho para uma perspectiva antropológica da de modo sistemático". Suas posições críticas e lú-
reflexão arqueológica, num estudo dos processos cidas abrem caminho para importantes abordagens
no campo da religião e do culto a partir de vestígios
materiais.
(*) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Como reagiu a Arqueologia da Imagem, a Ico-
de São Paulo. nograha e a Iconologia? Os estudos sobre as expres-

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SARIAN, H. Arqueologia da Imagem: aspectos teóricos e metodológicos na iconografia de Héstia. Rev. do Museu de
Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 3:69-84, 1999.

sões figuradas do mito e da religião têm um longo ferente da produção de textos, compreendendo-se
passado e a sua história, desde meados do séc. XIX aqui tanto as obras liter¡árias em seu sentido amplo
revela um grande avanço teórico e metodológico quanto as obras documentais. Vale dizer, não se
(Metzger 1984). Nas origens, alguns princípios pode de antemão comparar e equiparar tradição
básicos balizavam a pesquisa iconográfica: 1) por textual com tradição imagética porque se trata de
um lado via-se a necessária adequação da imagem produtos originados de práticas intelectuais e téc-
ao texto, criando-se uma disciplina que recebeu o nicas, de contextos e grupos sociais bastante dife-
nome de Filologia Arqueológica, com seus adep- renciados (Sarian 1993) em relação ao meio soci-
tos sobretudo na 2'metade do século XIX e pri- al da produção escrita. Neste sentido, o estudo da
meira metade do séc. XX; 2) por outro lado, os imagem deve levar rigorosamente em conta os vá-
arqueólogos da imagem viam um papel deter- rios tipos de objetos que serviram de suportes des-
minante nos atributos de que eram dotadas as re- sas imagens ou que eram eles próprios imagens tal
presentações; 3) em terceiro lugar, via-se uma uni- como os exemplares da estatuária. Finalmente, se
dade na iconografia clássica, desde os mais anti- a escrita está na origem da transmissão das ver-
gos documentos até os mais recentes, justificando sões do mito e da religião dos produtos textuais, a
assim os estudos de filiação nas figurações; 4) fi- produção imagética, articulada e se unindo ao ob-
nalmente, exagerava-se a influência da grande arte jeto, era transmitida por tradição oral - em alguns
sobre as artes menores. casos através de uma operação visual de grande
H. Metzger (1984) estabelece marcos impor- impacto, como o espetáculo teatral. Os diferentes
tantes nas várias abordagens seguidas no estudo ofícios praticados só podiam funcionar através de
das imagens: técnicas e saberes que revelam a existência de uma
1) Um deles refere-se à importância de Charles verdadeira memória do artista-artesão, (Sarian
Clermont-Ganneau, o qual questionava já nos fins 1989, 1993) criador dos artefatos imbuídos, atra-
do séc. XIX os princípios acima referidos. Em seus vés das imagens, de representação simbólica. Esta
atigos publicados em 1878 e 1880 no Joumal Asia- é a grande especificidade da maioria dos documen-
tique, apregoava a proeminência da imagem e cria- tos de cultura material da Antigüidade Clássica:
va a expressão "mitologia iconológica". Ao mesmo não são objetos arqueológicos como quaisquer ou-
tempo e aparentemente sem conhecer Ch. Clermont- tros; eles são portadores de.imagens. (cf. Sarian
Ganneau, Georg Loeschke, no Archciologische Zei- 1987).
tung de 1876 e nos Bönner Studien de 1880 fazia-se Estas reflexões orientam um estudo de caso
o defensor de uma "bildliche Tradition". Mais re- que apresentarei a seguir referente à iconografia
centemente, Cha¡les Dugas, no I'Antiquité Classique divina, através de uma discussão sobre os proble-
de1931, opunha "tradição literária" a"tradição grâ- mas de interpretação das imagens de Héstia em
fica" no tocante à iconografia dos vasos áticos (ver objetos gregos que resultaram de investigações
Dugas, Recreil 1960). mais amplas, algumas jápublicadas (Sarian 1990),
2) Nos últimos vinte anos, e sobretudo a par- que exemplificam sobremaneira a relação comple-
tir de 1980, há uma grande mudança sob a influência xa e por vezes contraditória entre tradição imagé-
dos historiadores da arte, dos lingüistas e dos an- tica e tradição textual.
tropólogos. Estas posições novas não constituem O repertório iconográfico de Héstia não é nu-
um corpo de doutrina, são na verdade novas pers- meroso, mas a identificação de cada imagem acar-
pectivas. Vale lembrar que a década de 80 assistiu reta mais de um problema de interpretação. Héstia
a uma verdadeira explosão de estudos sobre ico- não teve expressão plástica e grílica privilegiada
nograf,ra, com publicações de congressos e simpósios entre os gregos, faltam-lhe atributos distintivos e
e um léxico da iconografia mitológica clássica, re- outros sinais para uma leitura segura, a não ser nos
novando os nossos estudos e apontando para a im- casos excepcionais em que sua figura é acompa-
portância da imagem na compreensão das socie- nhada de uma inscrição com o seu nome. Daí a ne-
dades antigas. cessidade de questionar a cada passo as represen-
Nesta linha de reflexão, a teoria arqueológica tações dessa divindade, aproximando as imagens
moderna oferece um instrumental de valor inesti- seguidas de inscrição com as outras em que as ins-
mável e inovador, particularmente no tocante ao crições estão ausentes; daí também a relevância
estudo dos anefatos. suporl.es de imagens. e à es-
de aproximações com textos literários e epigráficos
pecilicidade da produção destes objeros
muito di- para identificar Héstia no contexto imagético grego.

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Héstia, em grego Ëoríc (ou nas formas dórica alusão à prática constante de ungir as imagens com
e jônicaiorío, iorí¡)é ao mesmo tempo divindade ungüentos perfumados.
do lar, da lareira doméstica ou dos edifícios públi- Dentre os cultos de Héstia, destaca-se o culto
cos, e ainda nome comum que designa esse altar- no Pritaneu, o Prytaneîon, edifício cívico onde os
lareira. Se em Homero este termo significa apenas magistrados faziam suas refeições comuns junto à
a lareira invocada por três vezes junto a Zeus em lareira sagrada da cidade. Píndaro, naXI Neméia,
importante juramento (Odisséia, XIV, 159; XV[, dedicada ao Prítane Aristágoras de Tenedos, men-
156; XX, 231), em Hesíodo (Teogonia,453-454) ciona o local de culto de Héstia, em seu 0cÍÀc¡-roç,
passa a designar uma deusa, Héstia, a primogênita o recinto religioso do Pritaneu; refere-se também
nascida de Cronos e Rea, e, como tal, irmã de ao "cetro esplêndido" dessa deusa, uma alusão, sem
Deméter, Hera, Zeus, Posidão, Hades. Nada há, dúvida, à estátua de Héstia tendo um cetro como
entretanto, nessa passagem, que a caracterize do atributo. Também no Pritaneu de Atenas havia uma
ponto de vista da representação figurada. Sabemos, estátua (äyoÀ¡ro) dessa divindade, de acordo com o
em todo caso, que ela se situa, por sua filiação, testemunho de Pausâirias (I, 1S, 3). É ainda Pausâ-
entre os deuses olímpicos, e com lugar de desta- nias quem nos lomece dados sob¡e o culto de Héstia
que, sendo a primeira a ter nascido dentre as di- em Olímpia: em v, 26. 2. tlatalse de uma estátua
vindades dessa geração. votiva oferecida por Míquitos, em que Héstia é fi-
Três elementos importantes são ressaltados gurada ao lado de Anfitrite e Posêidon; em v, 11, 8
nos Hinos Homéricos a Héstia: no primeiro, ela é descreve a base do trono de Zeus Olímpio, obra de
mencionada como divindade da lareira imutável, Fídias, onde a associação Héstia-Hermes é mais uma
associada ao deus Hermes. Essa ligação íntima, vez confirmada. Essas fontes, que enriquecem a pre-
transparente em alguns monumentos figurados, foi sença do culto de Héstia em Olímpia, conjugam-se
brilhantemente comentada por Vernant em seu es- aos resultados de escavações recentes que permi-
tudo sobre a expressão do espaço e do movimento tem localizar nesse grande santuário panhelênico o
entre os gregos (Vernant 1990). Contudo, além da Pritaneu e o têmenos de Héstia (Mallwitz 1982).
menção desse primeiro Hino Homérico a Héstia, As estátuas de Héstia eram certamente fre-
dispomos de duas outras fontes relevantes quanto qüentes em seus locais de culto: em Hermione, a
a essa aproximação entre a deusa do espaço fixo e leste do Peloponeso, Pausânias descreve um san-
centrado e o deus da mobilidade: trata-se, em pri- tuário consagrado a essa divindade, mas acrescen-
meiro lugar, de uma inscrição da cidade de Tasos ta ctycÀpc ¡rèv Êorrv oúôÉv, isto é, verifica que
(Daux 1926), de meados do séc. III a.C., onde Héstia não existe estátua de Héstia, observação que impli-
e Hermes são invocados com uma terceira divin- ca, na verdade, ser mais comum a presença dessas
dade, Afrodite; em segundo lugar temos uma pas- imagens nesses locais sagrados. Sagrado era tam-
sagem de Pausânias (I,34,3) mencionando um bém o local próximo à lareira nas habitações, onde
culto a Héstia e Hermes no santuário de Anfiareu, se pintava a imagem de Héstia, conforme um
o Anfiareion de Oropos. escólio a Aristófanes, Pluto,395 (Farnell 1909).
O segundo Hino Homérico a Héstia define Dessas imagens, estátuas e pinturas, nada se
essa deusa como intendente de Apolo em Delfos. conservou. Como veremos a seguir, das repre-
Tal aproximação com Apolo é posta em relevo no sentações de Héstia que subsistiram, não temos
hino a Héstia de Aristonoos de Corinto, do período elementos para caracterizar a stua imagem de cul-
helenístico, conservada em uma longa inscrição to. Na ilha de Paros havia uma estátua de Héstia,
lapidar reutilizada no tesouro dos atenienses em obra do escultor Scopas (Picard, 1948:667-670):
Delfos (Audiat 1932). Ela j ustifica, como veremos uma importante inscrição dessa ilha (Despinis
mais adiante, a ligação de Héstia como omphalós 1965), fragmento de um decreto em honra de
délhco, numa inscrição de Delos e em algumas re- Aglaos, filho de Téocles de Cós, menciona que
presentações figuradas. Finalmente, é nesse segun- Aglaos dedicou um diadema de ouro para a está-
do Hino Homérico a Héstia, de data difícil de ser tua de Héstia, certamente a mesma esculpida por
definida, mas em todo caso antigo (alguns autores Scopas (J. Robert e L. Robert 1968). Segundo o tes-
o situam entre o final do séc. VI e o início do séc. temunho de Díon Cássio 55, 9, 6 (Farnell 1909),
Va.C.), que se depreende a lembrança de alguma essa estátua de Héstia foi transportada para o tem-
estátua da deusa: o texto refere-se a "óleo fluido que plo da Concórdia em Roma, quando Tibério, no
escoffe sempre de seus cabelos trançados", numa ano 6 a.C., forçou os habitantes de Paros a vendê-

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la; é sem dúvida a Héstia de Scopas dos jaldins de vemos Héstia ao lado de Deméter, logo após Her-
Servilius, "horti Serviliani", de que fala Plínio na mes e seguidas por outro par de deusas, Leto e Ca-
História Natural36,25: uma "Héstia sentada", es- riclô (mulher do Centauro Quíron). Ricamente ves-
quema iconográfico que talvez Scopas tenha cria- tida, de aspecto jovem, nada a distingue das outras
do e que deixou traços no repertório imagético des- deusas, não fosse a inscrição que a identifica ple-
sa divindade. namente (Sarian 1990, n" 3). Numa cratera do tipo
de dinos (sobre um pedestal), muito bem conser-
A mais antiga representação de Héstia de que vada e hoje no Museu Britânico (Fig. 2), o mesmo
dispomos se situa por volta de 580 a.C. e é obra pintor Sofilos representou o mesmo cortejo nupcial
do pintor Sofilos, o primeiro que conhecemos den- com algumas variantes: as figuras são igualmente
tre os pintores que assinaram vasos áticos. Desse designadas por inscrições o que assegura a iden-
artista, conservaram-se fragmentos de uma crate- tificação de Héstia; à direita, vemos Peleu com um
ra, provenientes da Acrópole, hoje no Museu Na- cântaro, defronte um edifício, o palácio; Íris (reconhe-
cional de Atenas (Fig. 1), com cenas figurando cida na lacuna pelas asas) é a mensageira que diri-
jogos fúnebres numa face e, noutra, as núpcias em ge o coftejo, encabeçado pelo par Héstia e Deméter
honra de Peleu e Tétis. Nesse cortejo nupcial es- como no fragmento anterior; seguem Cariclô e Leto,
tão os deuses do Olimpo e no fragmento à direita Dioniso; Hebe, o centauro Quíron; Têmis e Ninfas;
o carro conduzindo Zeus e Hera
é acompanhado pelas Horas
(Sarian 1990,n" 4).
Sofilos foi o precursor de
Clítias (1" quartel do séc. VI), o
célebre pintor da cratera Fran-
j
çois, decorado com várias zonas
,.. l1' figuradas (Fig. 3): no registro cen-
,'l tral destaca-se o cortejo nupcial
em honra de Peleu e Tétis e Hés-
tia, identificada por inscrição,
forma par com Cariclô, à frente de
Dioniso (Sarian 1990, n'5).
Nos três exemplares que vi-
mos, Héstia é figurada de pé, com
vestes semelhantes às das outras
deusas, sem atributo particular,
mas distinguida por uma inscrição.
Numa taça do pintor de Só-
sias (Sarian 1990, n" 8) do Mu-
seu de Berlim e datado de 500 a.C.,
a cena se refere ao ingresso de
Héracles no Olimpo (Fig.4): Hés-
tia, mais uma vez identificada por
inscrição, é representada senta-
da ao lado de An[itrite, associa-
ção que nos remete à dedicatória
de Míquitos em Olímpia, onde
Héstia é figurada ao lado de An-
fitrite e Posidão. A deusa, dessa
vez velada, segura na mão direita
a taça da libaçáo; atrás de Héstia,
Hermes dirige o cortejo, onde se
Fig. I- Fragmentos de cratera dtica. Museu Nacional de Atenas, percebe Apolo com alira,Héra-
580 a.C. cles e Hebe. Também sentada, na

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Fig. 2 - Dinos ótico. Londres, British Museum, 580 a.C.


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Fig. 3 - Cratera ótica, pormenor. Florença, Museo Archeologico,


575 a.C.

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Fig. 4 - Taça dtica. Museu de Berlim, 500 a.C.

frente de Zeus servido por Ganimedes, igualmen- habitação dos deuses, numa transposição divina
te identificada por inscrição, é a Héstia da taça do da sua função na morada dos homens. Assim se
pintor Oltos (Fig. 5) do último quartel do séc. VI expressa o poeta do primeiro Hino Hornérico a
a.C.; vestida com o quíton e o himátion, tem a cabe- Héstia: "... que entre todos recebeu a honra e o pri-
ça descoberta mas sobre ela vê-se uma coroa; na vilégio de sediar para sempre nas altas moradas dos
mão direita, segura um grande ramo com flores e deuses imortais e dos homens mortais que andam
frutas; na mão esquerda, uma única flor (Sarian sobre a terra".
1990, n" 7). Ainda na esfera dos deuses olímpicos, mere-
As duas cenas que vimos, situam Héstia, sem- ce posição de relevo a imagem de Héstia nas escul-
pre sentada num trono, no mesmo contexto olím- turas do Tesouro de Sifnos, em Delfos. Datado de
pico: é que a deusa consagra e protege também a 530-525 a.C., este edifício, consagrado no santuá-

Fig. 5 - Taça ótica. Tarquínia, Museo Archeologico, tiltimo quartel do séc. VI a.C.

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rio de Apolo pelos habitantes de Sifnos, era deco- maquia, distinguem-se três figuras agrupadas (Fig.
rado com frontões e frisas jônicas, dos quais sub- 6: Sarian 1990, n'9), uma das quais, já conhecida
sistem elementos importantes remontados recen- anteriormente, é Hefesto, caracterizado pelo fole
temente no Museu de Delfos. A identificação dos ao seu lado, um utensílio típico para o deus ferrei-
episódios, conhecida desde os anos 30 pelos estu- ro. A segunda divindade, feminina, é identificada
dos de P. De La Coste-Messelière, foi em grande pela inscrição como sendo Héstia (temos três le-
parte corrigida em 1985, quando Brinkmann pu- tras, facilmente reconstituídas em ['Eo] ríc). A
blicou um novo estudo que surpreendeu os espe- terceira divindade oferece dificuldade de identifi-
cialistas. Com o auxflio de um foco de luz altamen- cação, sendo possível apenas a leitura da letra M:
te dirigido, uma técnica fotográfica denominada não me parece improvável tratar-se de Deméter,
fotofluorescência, foi possível detectar e desenhar uma vez que a sua associação com Héstia é garan-
os restos de 36 nomes nas frisas leste e norte. As tida nas obras do pintor Sofilos do Museu Britâni-
inscrições que se encontram ora sobre as placas de co e do Museu Nacional de Atenas, acima comen-
miírmore da frisa, ora sobre o plinto que suporta a tadas. Essa proximidade de Héstia, ao lado de
frisa, apresentam grande homogeneidade e utili- Hefesto, é rara no conjunto das fontes disponíveis,
zam o mesmo alfabeto do noroeste da Grécia. Es- tanto textuais quanto figuradas; mas ela não é in-
sas inscrições e as observações complementares compreensível. Vernant ( 1 990: 1 55- I 56), seguin-
de Brinkmann permitem uma reconstituição mais do a trilha tragada por Louis Deroy (1950), o qual
adequada da cena da frisa leste: sobre ela, ressaltam vira na palavra nop0Évoç virgem, uma denomina-
as figuras do frontão leste, principal, onde Zeus ção funcional designando "aquela que cuida do
no centro interfere na disputa de Apolo e Héracles fogo", relacionou Héstia com Hefesto, na medida
pelo trípode délfico; a frisa, concebida como um em que ambos encarnam o fogo: de um lado, o
díptico, reúne divindades sentadas no lado esquer- fogo da forja, assimilado ao deus metalúrgico; de
do e heróis em combate, no lado direito, conjunto outro, o fogo da lareira, doméstica ou cívica, pri-
anteriormente interpretado como representando ce- vilégio de Héstia.
nas dallíada e agora, através das fotografias espe- Em outra série de documentos figurados, des-
ciais, resulta numa figuração de um episódio do sa vez sem as inscrições, é possível reconhecer a
poemaÛtiopida (Etíopes e Mêmnon contra Tróia), figura de Héstia na companhia dos deuses olímpi-
conhecido pela tradição mas que se perdeu. No lado cos e na proximidade deZeus, num deles, e asso-
direito, os heróis combatendo são Aquiles e Mêm- ciada a Hermes, em três monumentos. Trata-se, em
non, no lado esquerdo reúnem-se os deuses em as- primeiro lugar, do frontão leste do Partenon, obra
sembléia, para a pesagem das almas, momento con- de Fídias e edificada entre 447 e 432 a.C: a cena
comitante ao combate. A frisa oeste teve identifica- principal refere-se ao nascimento milagroso de
ção confirmada pela nova leitura: trata-se do jul- Atena, saída diretamente da cabeça de Zeus, assis-
gamento de Paris pelas três deusas, Hera, Atena e tida pelos deuses. As esculturas conservadas per-
Afrodite, cada uma delas com sua camragem. A mitem a identificação, no lado esquerdo, de Dioniso,
frisa sul é uma cena de rapto, uma esplêndida ca- Deméter e Core, em seguida Íris. Segue-se uma gran-
valgada, infelizmente não definida. A frisa norte, de lacuna, e reencontramos a continuação da seqüên-
que mais nos interessa no que respeita à iconografia cia, com Leto, Dione, Afrodite. A descrição que nos
de Héstia, já havia sido interpretada como uma Gi- deixou Pausânias no Iivro I orientou uma reconstitui-
gantomaquia (o combate mítico entre os Gigantes e ção da lacuna existente atualmente: ainda que os
os deuses olímpicos), mas as figuras que partici- poÍnenores da imagem de Héstia nos escapem, sa-
pam desse combate foram em grande parte iden- bemos que essa deusa figurava nesse frontão, sen-
tificadas pelas inscrições que a nova leitura possi- tada, entre Posidão e Hermes (Fig. 7, Sarian 1990,
bilitou: essa identificação permite entender a as- no 10, Londres, British Museum).
sociação entre as divindades; dentre os Gigantes, O altar dos doze deuses de Óstia, obra neo-
parte dos nomes segue a antiga tradição mítica, áttica da segunda metade do séc. I a.C. (Fig. 8),
outra parte compreende nomes expressivos, de so- contém a simples inscrição AO^EKAOEON; a
noridade retumbante, que pa.rece corresponder a imagem de Héstia sentada sobre um altar circular
uma tradição épica contemporânea às esculturas. é identificação muito verossímil (Sarian 1990, n"
Na extremidade esquerda da frisa da Giganto- 16): sua proximidade com Hermes segue a tradi-

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Fig. 6 - Pormenor da frisa norte do Tesouro de Sifnos e inscrições. Museu de Delþs, 530-525 a.C

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t0 ì i,rio 4 5 ló

at

Níke
Hefesto Hera Zeus Atena Posêidon Héstia

Fig.7 - Frontão leste do Partenon (reconstituição). Londres, British Mu'


seum, 447-432 a.C.

Fig. 8 - Altar neo-dtico. Óstia, séc. I a.C.

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SARIAN, H. Arqueologia da Imagem: aspectos teóricos e metodológicos na iconografia de Héstia. Rev. do Museu de
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ção mais de uma vez conhecida através das fontes se para um altar-lareira, alareira doméstica, diante
de que dispomos e a deusa se apresenta velada tal da qual situa-se de pé Héstia, em toda majestade,
como na taça do pintor de Sósias; por outro lado, segurando o cetro na mão esquerda e uma fruta na
sua ligação com Hefesto (representado à esquerda direita; atrás dos noivos, outra figura divina, tam-
de Hermes) nos remete ao tesouro de Sifnos. Vale bém com o cetro na mão, é identificada com a deu-
mencionar também o altar de estilo arcaizante, igual- sa Hera. Nesse episódio, estão configurados os atri-
mente do séc. I a.C., conservado em Roma, no butos cetro e altarlareira bem como o sentido geral
Museu do Capitólio (Fig. 9): temos aqui Héstia de da representação para confirmar a identificação de
pé, segurando o cetro, em companhia de Hermes, Héstia (Sarian 1990, fig. 26).
num cortejo divino que segue Hefesto em seu in- Na esfera cívica, da vida pública e política,
gresso no Olimpo (Sarian, 1990, n' 17). não faltam também as figurações dessa divindade.
Deixando a esfera olímpica e nos voltando pa- É assim que num relevo votivo proveniente de
ra o mundo dos homens, a esfera doméstica, depa- Farsalos (Tessália) e conservado no Museu de Vo-
ramos com a cena representada numa píxide do los (Sarian 1990, n' 19), encontramos Héstia sen-
Museu Britânico, datada do final do séc. IV a.C. tada num trono e diante dela o herói Sjmmakhos
(Fig. l0): forma e função desse vaso, relacionado ao lado de fiéis (Fig. 1l). O relevo é datado do
com a cerimônia do casamento, estão intimamente séc. IV a.C. e porta inscrições identificando as figu-
ligados com o episódio figurado; trata-se de um ras principais: ['Eo] río. Iú¡4-ro¡oç... @pcouôciÌoç
momento da celebração de núpcias, e vemos um civé0r¡x[e ] = "Héstia, S1ímmakhos (lacuna)
cortejo nupcial acompanhando os noivos para sua Thrasydaîos ofertou ...". É possível que a deusa se-
nova morada. Moças portadoras de tochas (pois a gurasse um cetro na mão esquerda como mostram
cerimônia se passa à noite) e um flautista dirigem- seu gesto e um orifício existente no lado esquerdo do

,'k,
\_\

Fig. 9 - Altar arcaizante. Roma, Museu do CapitóIio, séc. I a.C.

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SARIAN, H. Arqueologia da Imagem: aspectos teóricos e metodológicos na iconografia de Héstia. Rev. do Museu de
Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 3:69-84,1999.

Fig. l0 - Píxide ótica. Londres, British Museum, final do séc. IV a.C.

.-

Fig. I I - Relevo votivo. Museu de Volos, séc. IV a.C.

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SARIAN, H. Arqueologia da Imagem: aspectos teóricos e metodológicos na iconografia de Héstia. Rev. do Museu de
Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 3: 69-84,1999'

frono. S-jmmakhos é certamente um herói divini- Essas esláfuas não se conservaram e os comentadores
zado, nativo da cidade de Farsalos. Qual o signifi- desses documentos epigráficos (Roussel, Marcadé,
cado dessa associação entre Héstia e um herói lo- Bruneau) preferem ver duas estátuas, uma, em que a
cal divinizado? Alguns textos apontam para o espa- deusa é f,rgurada sobre o ônfalo, outra em que ela
está sentada sobre o altar. Dessa forma, não definem
ço político do Pritaneu, onde são inúmeras as sepul-
ttras otherôa de heróis da cidade: temos exemplos o tipo estatuiäo único e oficial, objeto do culto no
no Pritaneîon de Mégara (Paus. I, 34, 2), de Delfos Pritaneu de Delos. Parece-nos, entretanto, ser possí-
(SEGXXIII, 319,7-9),de Sicione (Heródoto 5, 67), vel ir além nessa identihcação.
de Olímpia (Paus. v, 15, l2), de modo que no relevo Em primeiro lugar, deve-se enfatizar o atribu-
votivo de Farsalos é Héstia exercendo sua função to do ônfalo a Héstia: símbolo apolíneo, o altar dél-
de divindade do Pritaneu que preside à homena- fico, de forma circular, tinha o valor de centro (o
gem dos fiéis juntamente com S'jmmakhos. "umbigo do mundo") como também Héstia era
Héstia flpurcvîrtç (protetora do Pritaneu), vista sempre no centro (do Pritaneu ou da casa,
mas também Héstia BouÀclo (protetora do Bou- conforme a expressão ¡rÉot¡ oixqr, que aparece já
leutérion), tal como encontramos em inúmeras ins- no Hino Homérico aAfrodite - 630- 610 a.C., refe-
crições de cidades gregas. Não é de se surpreender rindo-se a Héstia). Sua aproximação com Apolo
o fato de a encontrarmos como efígie de uma moe- foi assinalada, não só no segundo Hino Homérico
da. Assim é em duas emissões monetifuìas de bron- a Héstia, como também no poema de Aristonoos
ze, uma sob Volusiano, outra sob Valeriano, por- de Corinto dedicado a essa deusa e consagrado em
tanto ambas do período romano imperial. São séri- Delfos (Audiat 1932).
es monetárias da cidade de Nicópolis, no Epiro, fun- Em segundo lugar, se os textos literários e as
dada por Otávio, mas conservando sempre em suas inscrições em pedra não evidenciam a identidade
emissões legendas em grego. Na série de Volusiano dos termos omphalós e pt-r¡-roç uma inscrição num
(2s3-260 d c - Fig t r, vaso arcaico torna possível esta identificação.
i:î;;:.""å:ff: :.iïi: Numa ânfora ática do séc. VI a.C. (Fig. 13),
a figura de Héstia sentada do Museu de Munique e representando o combate
de face em um trono, com entre Aquiles e Heitor ao lado do cadáver de Troilos,
a cabeça laureada ligeira- vemos entre os dois guerreiros a figura do ônfalo
mente voltada para a direi designado po¡rog por uma inscrição. Dessa forma,
ta: a inscrição [E]CTIIAI o Bo¡-ríoxoç da inscrição de Delos pode referir-se
BOY^Hlcl não permite a um pequeno ônfalo e assim sendo acreditamos
dúvida quanto à identifi- que se possa restaurar o tipo estatuário de Héstia,
cação e essa imagem de do Pritaneu de Delos, como uma figura feminina
Héstia poderia inclusive sentada sobre o ônfalo, dando uma significação
particular à sua imagem num santuário - como o
de Delos, em que Apolo é o deus soberano.
Ora, Héstia sentada sobre o ônfalo é identi-
ficável em um monumento figurado: trata-se do
relevo votivo proveniente do Anfiareion de Oro-
pos, do séc. IV a.C. (Fig. 14), onde Anfiareu é re-
presentado ao lado da deusa sentada sobre um ôn-
n" 24). falo (Sarian 1990, n' l8).
Nessa atmosfera da vida pública merece ainda Em conclusão, como captar, através das fon-
destaque um tipo iconográhco de Héstia dos mais tes comentadas, a expressão imagética de Héstia?
relevantes. Pa¡a defini-lo, contamos mais uma vez l. Em primeiro lugar, temos uma figura de pé,
com a aproximação dos textos aos monumen-tos fi- ricamente vestida, de aspecto jovem, semelhante
gurados. As inscrições do Pritaneu de Delos regis- às outras deusas do Olimpo: o elemento determi-
tram, por duas vezes, uma estátua de Héstia. Datadas nante para uma identificação é a inscrição com o
do período que vai de 166 a69 a.C., elas mencionam seu nome.
ora uma Héstia sentada sobre o omphalós ora uma 2. Ainda no espaço olímpico, a deusa érepre-
Héstia sentada sobre o po¡ríoroç (pequeno altar). sentada sentada no trono, em um altar (normal-

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SARIAN, H' Arqueologia da Imagem: aspectos teóricos e metodológicos na iconografia de Héstia. Rev. do Museu de
Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 3:69-84,1999,

Fig. 13 - Ânfora dtica. Museu d,e Munique, séc. VI a.C.

*
tL

Fig. 14 - Relevo votivo. Museu de Oropos. Primeira metade do séc. N a.C.

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SARIAN'H.Arqueologiadalmagem:aspectosteóricosemetodológicosnaiconografiadeHéstia.Rev.doMuseude
Àrqueoloigia e Elnologia, São Paulo, Suplemento 3: 69-84'
1999'

mente circular) ou'em um ônfalo, velada ou com a sobretudo Hermes, mas ainda Zeus, Posidão, Apolo
cabeça enfeitada por um diadema ou uma coroa e Hefesto, e muitos outros. Se a sua aproximação
de louros e segurando em suas mãos flores ou fru- com Hermes é bem conhecida, dispomos agora de
tos ou ainda a taça de libação' uma melhor compreensão de suas associações com
3. Em alguns monumentos, sentada ou de pé, outras divindades: no que concerne a Hefesto,
ela tem outro atributo determinante, o cetro, tal Posidão, Apolo e Zeus, pu.demos apresentar algu-
como mencionado na Neméia XI de Píndaro. mas interpretações, mas a questão é muito mais
4. O altar-lareira e as tochas podem também complexa em relação a Deméter, Afrodite, Cariclô
caracteirzar a imagem de Héstia. e Anfitrite. A resposta a todas estas interrogações,
5. Finalmente, a deusa tinha sua imagem no contudo, mereceria um outro estudo que ultrapas-
Pritaneu de Delos, na qual estava representada sen- sa estas reflexões sobre a iconografia de Héstia
tada em um ônfalo, do mesmo modo que no rele- para inaugurar, sem dúvida, uma nova página de
vo votivo do santuário de Anfiareu. história da religião: para tanto, não devemos nos
A imagística de Héstia leva-nos também a re- esquecer do papel relevante que exerce a pesquisa
conhecer suas associações com outras divindades: iconográfica.

Fontes documentais

Fontes iconográftcas

Fig. 1 - CHARBONNEAUX, J., MARTIN, R., VILLARD, F. Grèce Archaïque,Êig.58.


Fi!s. 2, 3, 4, 5,8, 10, 11, 12 - SARIAN, H. HESTIA, figs' 4, 5, 8, 7, 16,26' 19' 24'
Fig. 6 - SIMON, E. Die Götter der Griechen,fig. 202 combinada com BRINKMANN, V. Die aufgemalten
Nãmensbeischriften an Nord-und Ostfries des Siphinierschatzhauses, figs.27 a3l e fig' 93'
Fig. 7 - BERGER, E. Die Geburt der Athena in ostgiebel des Parthenon, fig. 1lc.
Fig. 9 - BERGER-DOER, G. DODEKATHEOI,fl|g.25'
Fig. 13 - SCHEFOLD, K' Frühgriechische Søgenbilder, fig' 1 3'
Fig. 14 - KRAUSKOPF,I. AMPHIARAOS'fig.64.

Fontes ePigróftcøs

As inscrições foram consultada s em SEG (Supplementum Epigraphicurn Graecum); DAIX, G'; ROBERT' J'

- ROBERT, L.

Fontes literárias

HoMERo, msÍoDo, HINOS HOMÉRICOS, pÑDARo, HERÓDOTO são citados conforme as edi-
cões da coleção Budé, Paris, "Les Belles Lettres".
ËnUSÂNf¡.S, pLÍNIO foram consultados na edição da coleção Loeb Classical Library, London e

Cambridge, Mass.
O escólio a Aristófanes (Pluto) e a passagem de Díon Cássio são mencionados em FARNELL e JONES'

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