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Solidão e Isolamento no Idoso

A realidade na Região das Beiras

Curso de Licenciatura em Enfermagem

Carlos José Lopes Fragoso


Inês Carmona Martins

Orientador: Professor Doutor Carlos Maia

fevereiro 2022
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

Solidão e Isolamento no Idoso


A Realidade na Região das Beiras

Carlos José Lopes Fragoso nº 20190880


Inês Carmona Martins nº 20190878

Orientador
Professor Doutor Carlos Maia

Trabalho apresentado à Escola Superior Dr. Lopes Dias do Instituto Politécnico de Castelo Branco,
para obtenção de melhoria de classificação à unidade curricular Investigação II, inserida no 1º
Semestre do 3º Ano da Licenciatura de Enfermagem, realizada sob a orientação científica do
Professor Doutor Carlos Maia.

fevereiro 2022

I
Carlos Fragoso; Inês Martins

Pela Janela
Imerso na solidão do teu quarto
olhas pela janela fechada sobre a tua vida,
em busca de um rasgo de luz
que te traga à lembrança
a felicidade dos momentos que todos os dias recordas
com a raiva de quem já não sabe ser feliz!
O suspiro que não conténs
denuncia a desesperança,
e a janela que não abres,
por onde não permites que a vida entre,
deixa vislumbrar a vida que fervilha lá fora.
Talvez pudesses abrir essa janela...
Talvez pudesses sair desse quarto...
Talvez pudesses tomar nas tuas mãos
o que resta do teu tempo,
e deixar-te levar pela brisa que passa
suavemente pelos teus cabelos brancos;
pela luz que descobre os sulcos que vincam a tua face;
pelo sol que aquece as tuas mãos trémulas e inseguras;
sem teres pena de ti próprio
porque és velho!
(Luísa Pimentel, 2005)

II
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

III
Carlos Fragoso; Inês Martins

Resumo
Introdução: Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo, e com isso,
uma das maiores percentagens de idosos vítimas de solidão e isolamento.
A solidão e o isolamento traduzem uma das maiores problemáticas na
população idosa, visto que estão comprovados os efeitos nefastos que estas têm
nas suas vidas e na sua saúde.
Os indivíduos residentes em zonas rurais e do interior são aqueles que mais
facilmente serão vítimas destas problemáticas, facto justificável pela fraca rede de
serviços públicos e transportes disponíveis.
Objetivos: Identificar os fatores promotores da solidão e isolamento no idoso.
Métodos: Estudo Quantitativo, descritivo-correlacional e transversal, com uma
amostra probabilística, estratificada (com base nos seguintes critérios: idade
superior a 65 anos e residentes na região das Beiras), constituída por 383
indivíduos, aos quais foi solicitado o preenchimento de um questionário
disponibilizado em papel.
Resultados: Atendendo intervalo de tempo disponível para a elaboração do
projeto de investigação não nos foi possível a colheita de dados.
Discussão: Os idosos residentes nesta região são das maiores vítimas de
solidão e isolamento no país.
De acordo com a revisão da literatura, foi possível verificar que os fatores
promotores de solidão e isolamento é ser-se maior de 80 anos, viver sozinho, ter
um baixo nível educacional, estar insatisfeito com os seus rendimentos e ter uma
estrutura familiar disfuncional. Já como fatores protetores surgem ser-se casado
ou viver em união de facto e manter uma atividade profissional ou de lazer.
Deste modo, torna-se essencial a sensibilização da comunidade, em particular
dos autarcas dos municípios envolvidos, no sentido de desenvolver novos
programas e estratégias, de modo a prevenir e reverter estas situações.

Palavras-chave
Idosos; Solidão; Isolamento

IV
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

Abstract
Introduction: Portugal is one of the aging countries in the world, and because
of that, with higher percentages of victims plus loneliness and isolation.

Solitude and isolation are one of the biggest problems in the elderly population,
since the harmful effects they have on their lives and health are proven.

Residents in rural and up-country areas are those who will most easily be
affected by problems, fair facts by the network of services and public transport
available.

Goals: Identify the factors that promote loneliness and isolation in the elderly.

Methods: Quantitative, descriptive-correlational, and cross-sectional study,


with a stratified probabilistic sample (based on the following criteria: age over 65
years and residing in the Beiras region), consisting of 383 individuals, who were
asked to fill out a questionnaire provided on paper.
Results: Given the time available for the elaboration of the research project, it
was not possible to collect data.
Discussion: The elderly residing in this region are among the biggest victims of
loneliness and isolation in the country.

According to the literature review, it was possible to verify that the factors that
promote loneliness and isolation are being over 80 years old, living alone, having a
low educational level, being dissatisfied with their income, and having a
dysfunctional family structure. As protective factors, there are being married or
living in a de facto union and maintaining a professional or leisure activity.
In this way, it is essential to raise awareness among the community, in
particular the mayors of the municipalities involved, to develop new programs and
strategies, to prevent and reverse these situations.

Keywords
Elderly; Solitude; Isolation

V
Carlos Fragoso; Inês Martins

Índice
Índice de Figuras ……………………………………………………………………………………….VIII
Índice de Tabelas …………………………………………………………………………………………IX
Listas de Abreviaturas, Siglas e Acrónimos ...................................................................X
I. Nota introdutória ...........................................................................................................1
II. Enquadramento teórico ............................................................................................... 2
1. Idoso ........................................................................................................................................ 2
2. Solidão .................................................................................................................................... 2
3. Isolamento Social ................................................................................................................ 2
4. Região das Beiras ................................................................................................................ 3
5. Censos Sénior ....................................................................................................................... 3
6. Fatores de Risco para a Solidão e Isolamento .......................................................... 3
7. Resolução da Assembleia da República 61/2012, 4 de Maio.............................. 4
III. Fase conceptual ...............................................................................................................5
1. Questão de Investigação ................................................................................................... 5
2. Hipóteses.................................................................................................................................... 5
3. Revisão da Literatura ............................................................................................................ 6
4. Quadro Teórico de Referência ........................................................................................... 7
5. Objetivos de um Projeto de Investigação ....................................................................... 8
IV. Fase metodológica ..........................................................................................................9
1. Desenho da Investigação .................................................................................................. 9
2. Identificação e Operacionalização das Variáveis ........................................................ 9
2.1. População Alvo ........................................................................................................ 10
2.2. Amostra ................................................................................................................... 10
2.3. Variáveis .................................................................................................................. 11
3. Tipo de Estudo........................................................................................................................11
4. Instrumento de Colheita de Informação .......................................................................12
5. Tratamento e Análise de Dados .......................................................................................12
6. Obstáculos da Investigação ...............................................................................................13
V. Considerações éticas .................................................................................................. 14
VI. Considerações Finais .................................................................................................. 15
VII. Referências bibliográficas ........................................................................................ 16
APÊNDICES ............................................................................................................................. 17
Apêndice I - Cronograma ........................................................................................................18
Apêndice II – Constituição da Amostra ..............................................................................19

VI
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

Apêndice III Documento de Consentimento Informado ..............................................21


ANEXOS……………………………………………………………………………………………………………23
Anexo I - Escala de Solidão – UCLA – Daniel Russell Traduzida e adaptada
por Margarida Pocinho & Carlos Farate (2005)……………………………………….24

Anexo II - Versão Portuguesa da Escala Breve de Redes Sociais de Lubben


(LSNS-6)…………………………………………………………………………………………………25

VII
Carlos Fragoso; Inês Martins

Índice de Figuras

Figura 1 Quadro Teórico de Referência ……………………………………………………….….8

Figura 2 Cronograma Referente à Realização do Projeto ………………………….….18

VIII
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

Índice de Tabelas

Tabela 1: Estratificação da Amostra por Município…………………………………….….19

Tabela 2: Distribuição da Amostra por Região ……………………..…………………….….20 .

Tabela 3: Escala de Solidão – UCLA – Daniel Russell Traduzida e adaptada por


Margarida Pocinho & Carlos Farate (2005) ……………………………………………………24

Tabela 4: Interpretação dos resultados da Escala de Solidão – UCLA ….………..24

Tabela 5: Versão Portuguesa da Escala Breve de Redes Sociais de Lubben


(LSNS-6)………………………………………………………………………………………………………….25

Tabela 6: Interpretação dos resultados da Escala Breve de Redes Sociais de


Lubben …….........................................................................................................................................….25

IX
Carlos Fragoso; Inês Martins

Listas de Abreviaturas, Siglas e Acrónimos

AR – Assembleia da República
AVD – Atividades da Vida Diária
GNR – Guarda Nacional Republicana
INE – Instituto Nacional de Estatística
IPCB – Instituto Politécnico de Castelo Branco
NUTS - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos
SARS-Cov-2 – Doença do Coronavírus (COVID-19)
SNS – Serviço Nacional de Saúde
UE – União Europeia

X
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

I. Nota introdutória
No âmbito da Unidade Curricular de Investigação II, inserida no plano curricular
do 1ºsemestre do 3ºano do Curso de Licenciatura em Enfermagem, na Escola
Superior de Saúde Dr. Lopes Dias, sob orientação do Professor Doutor Carlos Maia,
foi-nos proposto a realização de um Projeto de Investigação com o intuito de aplicar
os conhecimentos adquiridos ao longo do último ano letivo. A elaboração do mesmo
teve a duração de, aproximadamente, 2 semanas, tendo decorrido durante o mês de
fevereiro.
Para realização deste projeto, escolheu-se como tema a solidão e o isolamento no
idoso. Deste modo, definiu-se que a população a estudar seria os indivíduos com
mais de 65 anos, de ambos os sexos, residentes nas regiões das Beiras e Serra da
Estrela e na Beira Baixa. A escolha do tema surge pela necessidade de dar a conhecer
a realidade de imensos idosos nestas regiões, que se encontram em situação de
isolamento e solidão, o que irá sem dúvida resultar num aumento de doenças físicas
e mentais, e em casos mais extremos, na morte.
Foram definidos objetivos. O objetivo geral: Identificar os fatores promotores da
solidão e isolamento no idoso.
Como objetivos específicos do nosso projeto, pretendemos:
- Caraterizar o idoso vítima de solidão e isolamento;
- Identificar as consequências da solidão e do isolamento nos idosos;
- Desenvolver estratégias de prevenção da solidão e isolamento;
Dividiu-se o projeto em cinco (5) partes. Em primeiro lugar, o enquadramento
teórico, onde se contextualiza a temática em estudo. De seguida, a fase conceptual,
onde se definiu a questão de investigação, se realizou a revisão da literatura, se
elaborou um quadro de referências e definiram-se os objetivos do projeto. Na
terceira parte, encontra-se a fase metodológica, na qual se desenhou a investigação,
se definiram as variáveis, o tipo de estudo, os instrumentos de colheita de dados e o
método de análise dos dados. Na quarta parte, apresentou-se o cronograma. Por fim,
na última parte, estabeleceram-se as considerações éticas.
De modo a alcançar os objetivos anteriormente definidos, procedeu-se à revisão
da literatura com base no tema escolhido. Realizou-se a pesquisa de informação nos
diversos recursos disponíveis, de modo a contextualizar a investigação e perceber o
que é que já se estudou sobre este assunto.

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Carlos Fragoso; Inês Martins

II. Enquadramento teórico


Portugal é dos países mais envelhecidos do mundo, ocupando a 4ª posição na
UE e a 5ª posição mundial, de acordo com os dados divulgados pela Euromonitor em
2019. A solidão e o isolamento nos idosos provocam um sofrimento colossal, com
grande impacto nas suas vidas e na sua saúde. De acordo com estudos realizados
pelo SNS, em 2019 91% dos idosos seguidos nos Cuidados de Saúde Primários
revelam sentir algum grau de solidão, sendo as regiões mais afetadas as do interior.
A solidão é comum na população geriátrica e interfere significativamente com os
cuidados de saúde, pelo que deve ser considerada uma determinante de saúde.
Muitas vezes, estar rodeado de gente não resolve os sentimentos de solidão, situação
observável por exemplo em lares ou centros de dia.

1. Idoso
Em Portugal, considera-se idoso o indivíduo com idade igual ou superior a 65
anos. De acordo com este critério, na região das beiras, de acordo com os censos
2021, residem 96405 idosos, dos quais 41949 são homens e 54911 são mulheres.

2. Solidão
A solidão pode ser definida como um “sentimento subjetivo relacionado com a
ausência de contacto, de sentimento de pertença ou com a sensação de se estar
isolado. Por outro lado, o sentimento de solidão pode interferir com a qualidade de
vida das pessoas” (SNS, 2021).
A solidão durante períodos extensos costuma ser considerada como algo que
causa dor e insatisfação, razão pela qual as pessoas tendem a procurar contato
social, seja em reuniões, passeios, saídas ou mesmo durante a realização de tarefas
quotidianas.
O sentimento de solidão pode desencadear outros problemas como a depressão
ou a hipertensão, resultantes de sentimentos como a insegurança, stresse, ansiedade
e a tristeza, gerando um impacto negativo na saúde emocional e física.

3. Isolamento Social
O isolamento social pode ser definido como “falta de contacto social,
principalmente pela falta ausência de contacto social ou familiar, de envolvimento
na comunidade ou com o mundo exterior ou pela dificuldade no acesso a serviços”
(SNS,2021).

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Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

O sofrimento dos mais idosos, provocado pelo sentimento de solidão, é


considerado como uma das experiências mais penosas e problemáticas a que se
torna urgente responder. Este sentimento não acontece só em casos de vivências
isoladas, mas também no seio das próprias famílias e em instituições, onde há,
frequentemente, falta de comunicação, participação social e afetiva. Solidão e
isolamento não são sinónimos, embora o isolamento possa influenciar o
aparecimento da solidão. O caráter multidimensional destes dois fenómenos, tem
criado alguma dificuldade na sua concetualização (Freitas, 2011).

4. Região das Beiras


De acordo com a divisão por critérios populacionais, administrativos e
geográficos atualizada pela lei 75/2013 de 12 de setembro, a região das Beiras é
constituída por duas NUTS III: Beiras e Serra da Estrela (15 municípios) e pela Beira
Baixa (6 municípios). De acordo com os últimos resultados dos CENSOS 2021, a zona
das beiras é daquelas em que mais se acentuaram os níveis de envelhecimento.
Destacam-se os concelhos de Penamacor, Oleiros, e Almeida, registando-se um
aumento “em mais 100 idosos por cada 100 jovens” (INE, 2021).

5. Censos Sénior
Consiste numa ação levada a cabo pela GNR, iniciada em 2011, com o objetivo de
patrulhar e sensibilizar a população mais idosa, principalmente aqueles que vivem
sozinhos ou isolados. Na edição de 2021 edição, a GNR realizou 172 ações em
sala e 3.431 ações porta a porta, abrangendo um total de 19.812 idosos.
Durante a operação, os militares desenvolvem ações de sensibilização para que
os idosos adotem comportamentos seguros que reduzam o risco de virem a ser
vítimas de crimes, nomeadamente violência, burla e até mesmo furtos. Esta
operação tem também como objetivo atualizar a sinalização geográfica,
proporcionando assim um apoio mais próximo à população idosa contribuindo para
o aumento do seu sentimento de segurança.
Atualmente, a GNR tem 44.484 idosos sinalizados. Estes vivem sozinhos e/ou
isolados, e por motivos de falta de condição física ou psicológica podem colocar em
causa a sua segurança, encontrando-se assim em situação de vulnerabilidade. No
ranking, o distrito da Guarda ocupa o 2ºlugar com 5012 idosos sinalizados.

6. Fatores de Risco para a Solidão e Isolamento

De acordo com dados do SNS, são fatores de risco para a solidão e o isolamento
a pobreza ou pressões financeiras, umas vez que podem impossibilitar a execução
de atividades de convívio ou lazer; a institucionalização, isto é, a entrada para

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Carlos Fragoso; Inês Martins

instituições como centros de reabilitação, centros de dia ou lares de idosos;


fragilidade do estado de saúde, como é exemplo a fraca mobilidade que condiciona
a acessibilidade, facilitando assim o isolamento social; arquitetura residencial, uma
vez que a organização das habitações pode levar ao isolamento físico das pessoas; a
ausência do cônjuge, amigos ou colegas têm um risco acrescido de isolamento; a
ocorrência de episódios súbitos negativos: são exemplos exemplo, a morte do
cônjuge, mudança de habitação; ocorrência de episódios de violência e por último,
ser portador de doença mental, como é exemplo a depressão.

7. Resolução da Assembleia da República 61/2012, 4 de Maio

Esta resolução surge para recomendar o governo a “incentivar o voluntariado de


vizinhança, coordenado pelos conselhos locais de ação social e em estreita
articulação com as forças de segurança e os serviços da segurança social, com o fim
de identificar pessoas idosas em situação de isolamento, abandono e violência” (AR,
2012)

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Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

III. Fase conceptual


A fase conceptual é a primeira de 3 fases pertencentes a um processo de
investigação. Desta forma, “A fase conceptual começa quando o investigador
trabalha uma ideia para orientar a sua investigação. A ideia pode resultar de uma
observação, da literatura, de uma irritação em relação com um domínio particular,
ou ainda de um conceito (Fortin, 1999).
Fazem parte desta fase, a revisão da literatura, em que se pesquisou estudos
relacionados com o tema, permitindo perceber qual a questão mais indicada a
colocar, de forma a contribuir para o conhecimento previamente existente.

1. Questão de Investigação

“A questão de investigação é um enunciado interrogativo, escrito no presente


que inclui habitualmente uma ou duas variáveis e a população a estudar.” Ou seja, a
questão de investigação acaba por ser a representação de uma premissa, que inclui
as variáveis em estudo e determina as respostas e a sua procura (Fortin, 1999).
De acordo com a informação anterior, coloca-se a seguinte questão: “Quais são
os fatores determinantes na origem de solidão e isolamento no idoso”.

2. Hipóteses
De acordo com Maia (2021), uma hipótese é uma tentativa de prever se existe
relação entre as variáveis na população de um determinado estudo. Logo, é uma
previsão experimental, ou uma explicação da relação entre duas ou mais variáveis.
Assim sendo, a hipótese relaciona-se com a questão em causa e com a intenção do
estudo, dando uma previsão acerca do que se deve esperar nos resultados.
Desta forma, são descritas de seguida, propostas de hipóteses que tem a
finalidade de responder quer à questão de investigação quer aos objetivos
previamente definidos, e se existe associação possível ou não entre as variáveis.
• Hipótese de Investigação (H1) - Não existem fatores determinantes na
origem da solidão e isolamento no idoso;
• Hipótese Nula (H0) - Existem fatores determinantes na origem da solidão e
isolamento no idoso.

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Carlos Fragoso; Inês Martins

3. Revisão da Literatura

Segundo Fortin (1999), esta etapa consiste em pesquisar e fazer uma seleção da
informação que já existe acerca de determinado tema. “(…) é um processo que
consiste em fazer o inventário e o exame crítico do conjunto de publicações
pertinentes sobre um domínio de investigação. Uma revisão da literatura mostra,
portanto, um conjunto de trabalhos sobre um mesmo tema, no qual ressaltam os
elementos comuns e os divergentes.” (Fortin, 1999).
Esta revisão é feita com vários objetivos: como delimitação do estudo ou para
perceber aquilo que já é conhecido pela comunidade. Permite conhecer os métodos
e ideias de outros autores, sendo desta forma, uma ajuda ao suporte do projeto. Para
isso recorreu-se a artigos científicos de vários repositórios.
De acordo com Paulo Santos (2019), investigador do SNS, as “estratégias para a
diminuição da solidão entre os idosos são a melhor forma de melhorar os
indicadores individuais de saúde e de diminuir o risco de sobre diagnóstico e
polimedicação”. Estes defendem ainda que estas medidas preventivas passam por
atos simples como “procurar companhia, participar na vida familiar e manter
rotinas diárias ativas”.
Um estudo realizado em 2021, levado a cabo pelo SNS, com mais de 1200
indivíduos entre os 65 e os 101 anos concluiu que o sexo feminino é aquele que
apresenta maiores taxas de sentimentos de solidão e isolamento (20.4%). Conclui
ainda que “as pessoas com menor escolaridade apresentam mais solidão (25,8%),
que o sentimento de solidão aumenta com a idade: 26,8% com 85 anos e que é mais
frequente nas pessoas viúvas (30,6%) e nas pessoas solteiras (15,8%) do que em
pessoas casadas (9,2%).
De acordo com Machado (2003), “O envelhecimento da população levanta
questões no que respeita aos seus efeitos sobre as relações familiares, a equidade
entre gerações, os estilos de vida e a economia das nações. Portugal apresenta um
perfil demográfico semelhante ao europeu, com uma proporção de idosos de 16,4%
em 2001, ou 1,7 milhões em valores absolutos. O perfil sociológico do idoso em
Portugal – marcado pelo isolamento, baixo consumo cultural e baixo nível de
rendimento – tenderá a sofrer uma evolução positiva ao longo do século XXI”. Os
resultados sugerem que “os idosos do século XXI serão em maior número e viverão
mais tempo, mas terão maior rendimento, mais saúde, mais instrução, melhores
condições habitacionais, serão mais ativos (profissionalmente e civicamente), mais
conscientes dos direitos, mais disponíveis para usufruir da cultura e do lazer”.

Para Carneiro et al (2012) “a solidão resulta de deficiências nas relações sociais


da pessoa sozinha, sendo vista como um fenómeno psicológico subjetivo e, por isso,
não é sinónimo de isolamento. O envelhecimento ativo e saudável está relacionado
com a promoção da autonomia e assenta em duas premissas: na prevenção do
isolamento social e da solidão das pessoas idosas”. Diz ainda que o isolamento “pode

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Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

comprometer o envelhecimento ativo, pelo que se procura através da prevenção e


da articulação a identificação de situações de vulnerabilidade nesta população.” De
acordo com os autores, Portugal encontra-se entre os países da UE (3º lugar) com
um dos melhores indicadores no que respeita à obtenção de ajuda por parte dos
idosos caso seja necessário, o que mostra a existência e a importância de redes
informais de solidariedade (familiares, amigos e vizinhos).
Para Patrícia Freitas (2011) “O interesse pela solidão sentida pelos idosos
aumentou nos últimos anos devido ao aumento do número de indivíduos com mais
de sessenta e cinco anos. A solidão tem sido vista como um dos maiores problemas
das pessoas de idade. No entanto, foram feitas investigações que demonstram que
não há uma relação direta entre solidão e pessoas idosas. Há, antes, fatores quer
pessoais, quer sociais, que contribuem para a solidão. Está verificada a maior
vulnerabilidade dos idosos para experimentarem solidão”. Com o seu estudo,
concluiu que “os solteiros têm uma rede social mais reduzida do que os casados/
união de facto e viúvos. Os idosos que vivem em “casa própria, mas sozinhos” têm
também uma rede social inferior aos que vivem em “casa própria, com familiares””.
Concluiu ainda que a perceção das mulheres de solidão é superior à dos homens.
Relativamente ao fator idade “o grupo dos 75-84 anos tem uma perceção de solidão
superior ao grupo dos 65-74 anos.” Relativamente ao nível de escolaridade “os
inquiridos sem qualquer escolaridade obtiveram (…) uma pontuação mais elevada
na escala da solidão do que aqueles que que têm mais do que quatro anos de
escolaridade”. Assim, a perceção de solidão é maior nos idosos sem qualquer
escolaridade. “Aqueles que têm casa própria, mas vivem sozinhos apresentam uma
perceção de solidão maior do que aqueles que vivem em instituição, casa própria
com familiares ou casa de familiares.”

4. Quadro Teórico de Referência


“O quadro de referência é o termo geral utilizado para designar o quadro
conceptual ou o quadro teórico que tem função de apoio e de lógica em relação ao
problema de investigação” (Fortin, 1999)Desenvolvida por Dorothea Orem, a Teoria
do Autocuidado refere-se à capacidade ou ao poder que o indivíduo possui para se
envolver no seu autocuidado. Esta parte do princípio de que toda a pessoa é capaz
de se autocuidar, uma vez que possui habilidades, conhecimentos e experiências que
foi adquirindo ao longo da vida. É dependente de “fatores internos ou externos aos
indivíduos que afetam a capacidade de envolver-se no seu autocuidado ou afetam o
tipo e a quantidade de autocuidado necessário” (Orem, 2001, p.245). Assim, o
autocuidado “é a capacidade adquirida, complexa, para atender às exigências de
continuar a cuidar de si próprio, reguladora dos processos de funcionamento
humano, bem como, do seu desenvolvimento e promoção do bem-estar” (Orem,
2001, p.254)

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Carlos Fragoso; Inês Martins

Figura 1 Quadro Teórico de Referência.

Fonte: Orem, D. (2001). Nursing: Concepts of practice (6th ed). St. Louis: Mosby

5. Objetivos de um Projeto de Investigação

Os objetivos de um determinado estudo mostram aquilo que o investigador quer


estudar e revelam a intenção pelo qual o quer realizar. “É um enunciado declarativo
que precisa a orientação da investigação segundo o nível dos conhecimentos
estabelecidos no domínio em questão” (Fortin, 1999).
Com os objetivos, justifica-se a escolha do tema, uma vez que mostram o
itinerário a seguir, orientando na procura de respostas. Deste modo, a investigação
dá-se porque existe necessidade de resolver ou explorar as causas de um problema.
Este projeto de investigação tem como objetivo geral identificar os fatores
promotores da solidão e isolamento no idoso. Após estabelecido este objetivo,
pretende-se que sejamos capazes de responder aos específicos: caraterizar o idoso
vítima de solidão e isolamento; identificar as consequências da solidão e do
isolamento nos idosos; desenvolver estratégias de prevenção da solidão e
isolamento;

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Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

IV. Fase metodológica


Na fase metodológica, são estabelecidos “os métodos que utilizará para obter
respostas às questões de investigação colocadas ou às hipóteses formuladas.”
(Fortin, 1999). Dentro desta fase, encontram-se várias etapas, como o desenho da
investigação, a definição de variáveis, amostra e população alvo, assim como a
recolha de dados e a sua análise e tratamento. De forma a organizar todo o projeto,
procedeu-se ainda à construção de um cronograma (Ponto VI - Cronograma).
Segundo Fortin (2003), “O método de investigação caracteriza-se por um
processo sistemático de colheita de dados observáveis e quantificáveis, tendo como
base a observação de acontecimentos, fenómenos e casos objetivos que existem
independentemente do investigador”. Desta forma a autora, refere que se torna
crucial esclarecer sobre o tipo de estudo, a população sobre a qual o mesmo irá
incidir, as variáveis, e o método da colheita de dados (Fortin, 2009).

1. Desenho da Investigação

O desenho de investigação consiste num plano definido pelo investigador, de


forma a dar resposta à questão de investigação estabelecida, assim como para
fundamentar as hipóteses colocadas. O desenho de investigação permite que seja
criada uma imagem do estudo bastante clara e pertinente, sendo diminuídas as
fontes de erro, e obtendo resultados mais corretos (Fortin, 1999).
Esta etapa é também relevante no que toca à organização das variáveis,
excluindo aquilo que não é importante. “(…) precisa a forma de colher e de analisar
os dados para assegurar um controlo sobre as variáveis em estudo. (…) permite
isolar as variáveis e medi-las com precisão a fim de assegurar a credibilidade dos
dados.” (Fortin, 1999).

2. Identificação e Operacionalização das Variáveis

A elaboração de um plano amostral é constituída por seis fases, de acordo com


uma ordem sequencial correta (Fortin, 1999):

➔ Delimitar a população alvo;


➔ Delimitar a população acessível;
➔ Especificar os critérios de seleção;
➔ Definir o plano de amostragem;
➔ Determinar o tamanho da amostra;
➔ Proceder à amostragem (selecionar os indivíduos)

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Carlos Fragoso; Inês Martins

2.1. População Alvo

“A população é o conjunto de elementos ou sujeitos que partilham caraterísticas


comuns definidas por um conjunto de critérios” (Fortin, 2003). Posto isto, em
concordância com a autora, a população pode ser constituída por um inúmero
número de pessoas, sendo que uma população-alvo é uma população específica que
é submetida a um determinado estudo, ou seja é o conjunto de elementos que
queremos abranger no nosso estudo, são os elementos para os quais desejamos que
as conclusões oriundas da pesquisa sejam válidas. De acordo com Fortin (1999), esta
corresponde àquilo que foi definido pelo investigador inicialmente. Especificando
ainda mais, identifica-se ainda a população acessível, ou seja, aquela que o
investigador consegue atingir dentro dos obstáculos dos estudos.
Assim sendo, a nossa população alvo é constituída pelos indivíduos que vivem
nos municípios pertencentes à região das Beiras e Serra da Estrela e aos
pertencentes à Beira Baixa, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 65
anos.

2.2. Amostra

“A amostra é um subconjunto de uma população ou de um grupo de sujeitos que


fazem parte de uma mesma população.” (Fortin, 2009). A amostra selecionada deve
ter em conta as características da população que devem estar presentes nela. Porém,
existem dois métodos de amostragem: o método de amostragem probabilística e o
método de amostragem não probabilística.
A amostra do projeto é probabilística porque, de acordo com Maia (2021), “todos
os elementos da população têm a mesma hipótese de virem a ser selecionados para
fazerem parte da amostra”. Na recolha de dados para o estudo em questão,
utilizaríamos o processo de amostragem aleatória estratificada. Aleatória, pelo que
foi referido anteriormente.
Para se determinar o tamanho da amostra é essencial ter em conta inúmeros
fatores, tendo em conta a finalidade do que se pretender obter do estudo. Em
concordância com o que a autora diz, aquilo que o investigador quer é que o
tamanho da amostra seja o suficiente para que sejam evidenciadas diferenças
estatísticas aquando da análise e tratamento dos resultados. No entanto, uma
amostra grande não significa necessariamente uma boa representatividade da
população (Fortin, 1999).
Posto isto, a amostra deste estudo engloba indivíduos com mais de 65 anos e de
ambos os sexos, residentes nos municípios pertencentes às regiões das Beiras e
Serra da Estrela, bem como aos da Beira Baixa.
De acordo com os dados disponíveis no INE (2021), existem 96405 indivíduos
que satisfazem as condições de acesso ao estudo, das quais 69342 residem na região

10
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

das Beiras e Serra da Estrela e 27063 na Beira Baixa, 41494 homens e 54911
mulheres. Para um estudo com um nível de confiança de 95% com uma margem de
erro de 5%, selecionou -se uma amostra1 de 383 indivíduos, que foram distribuídos
pelas diferentes regiões, de maneira a garantir a correta representatividade das
regiões, dos municípios bem como dos sexos. Deste modo, foram selecionados 275
indivíduos da região das Beiras e Serra da Estrela (157 mulheres e 118 homens
distribuídos pelos diferentes municípios de acordo com o seu peso populacional) e
108 indivíduos da região da Beira Baixa (61 mulheres e 47 homens distribuídos
pelos diferentes municípios de acordo com o seu peso populacional). Os indivíduos
inquiridos foram abordados nos centros de saúde dos municípios selecionados
(após se verificar se tinham idade ≥65anos), aos quais se disponibilizaram o
consentimento informado bem como 2 escalas para preenchimento.

2.3. Variáveis

Segundo Fortin (1999), “As variáveis são qualidades, propriedades ou


características de objetos, de pessoas ou de situações que são estudadas numa
investigação”. Existem diferentes tipos de variáveis, do qual se destacam duas: as
variáveis independentes e as dependentes.
Ainda de acordo com a autora, as variáveis independentes: de uma forma básica,
é a variável manipulável, ou seja, “aquela de que se quer medir os efeitos”. São estas
variáveis que permitem explicar a variável dependente. Por outro lado, as variáveis
dependentes são aquelas que sofrem o efeito esperado da variável independente, ou
seja, é observado o comportamento, a resposta ou o resultado adquirido que é
devido à presença da variável independente.” (Fortin, 1999).
No que toca ao projeto de investigação apresentado, são consideradas como
variáveis independentes fatores socioeconómicos e demográficos e as variáveis
dependentes são a solidão e o isolamento.

3. Tipo de Estudo

De acordo com Maia (2021), os estudos observacionais visam registar as


caraterísticas de interesse, mas sem manipular nem modificar elementos do estudo.
Um estudo descritivo permite estimar se uma previsão é de confiança e se com base
nos dados conhecidos podes saber descobertas tanto para explorar, como descrever
fenómenos/fatores, além de caracterizar a população e identificar relações.

O estudo em questão caracteriza-se carácter quantitativo. É observacional,


descritivo-correlacional e transversal. “Os estudos correlacionais têm por objetivo
descrever como uma variável se comporta perante a variabilidade de outra variável.
A correlação é positiva quando os fenómenos são diretamente proporcionais, ou

1
Consultar Apêndice II

11
Carlos Fragoso; Inês Martins

seja, variam na mesma direção ou é negativa quando os fenómenos são


inversamente proporcionais, ou seja, variam em direção oposta. Um grau de
correlação forte não significa causalidade, mas pode dar origem a estudos
experimentais, que são conduzidos com o objetivo de determinar relações causais.”
(Maia, 2021). No nosso projeto, apresentamos um estudo descritivo-correlacional
em que “o investigador explora a existência de relações entre as variáveis para as
descrever; são formuladas questões de investigação” (Maia, 2021).

4. Instrumento de Colheita de Informação

Segundo Fortin (2003), a natureza do problema de investigação delimita o tipo


de método de colheita de dados a usar. A escolha do método faz-se em função das
variáveis e da sua operacionalização e depende da estratégia de análise estatística
considerada. De modo a descrever os fatores ou variáveis e verificar relações entre
as mesmas, o investigador deverá escolher métodos de colheita de dados que
melhor se adequem.

A recolha de dados é elaborada de acordo com os objetivos do trabalho e com os


dados que pretendemos obter. Existem imensos métodos de recolha de dados,
tendo-se escolhido a aplicação de escalas direcionadas para a avaliação da solidão e
isolamento2 como método principal. Este tem por objetivo avaliar as relações sociais
do indivíduo bem como os seus sentimentos perante as relações e os papéis que
desempenha no seu dia a dia. A sua participação é de carácter voluntário, anónimo
e informado, por parte dos indivíduos.

Pode realizar-se ainda um pré-teste, a uma pequena amostra representativa da


população em estudo, apenas para verificação da compreensibilidade das questões
que são colocadas, sendo que o investigador fica com a noção daquilo que precisa de
ser alterado. “(…) tem por objetivo principal avaliar a eficácia e a pertinência do
questionário (…)” (Fortin, 1999).

5. Tratamento e Análise de Dados

O tratamento e análise de dados, não estão previstos neste trabalho. Esses fariam
parte da fase empírica do projeto de investigação. O objetivo passa exclusivamente
pela planificação projeto e de uma questão de investigação. Ainda assim, se se
procedesse ao tratamento dos dados, recorrer-se-ia ao programa (SPSS) Statistical
Package for the Social Science e complementar-se-ia com o do (INE) Instituto
Nacional de Estatística.

2
Consultar Anexos

12
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

6. Obstáculos da Investigação
A pesquisa é um processo sistemático e metódico através do qual uma pesquisa
é realizada com o objetivo de obter conhecimento sobre um determinado assunto.
Deste modo, surgem diferentes obstáculos que podem ser inerentes à condição
humana do pesquisador, estar associados ao seu ambiente ou até ao próprio tema
da pesquisa. Considerando a pandemia de SARS-Cov-2, previu-se a possibilidade de
que a amostra selecionada se recusasse a participar no estudo.

13
Carlos Fragoso; Inês Martins

V. Considerações éticas

“A ética, no seu sentido mais amplo, é a ciência a moral e a arte de dirigir a


conduta.”. Para que um projeto de investigação, tal como este apresentado, seja o
mais correto possível, há que ter em conta determinados aspetos éticos que, no
fundo, proporcionem um modo de proteção às pessoas envolventes, sendo isto, uma
segurança de que tal irá acontecer. Ou seja, a proteção dos direitos dos envolvidos
deve ser assegurada. Caso este cuidado não seja considerado, podem alegar-se
violações de direitos e de liberdades (Fortin, 1999).
De acordo com Fortin (2003), existem cinco princípios éticos que devemos ter
em conta quando realizamos um estudo: direito à autodeterminação, direito à
intimidade, direito ao anonimato e à confidencialidade, direito à proteção contra o
desconforto e o prejuízo e o direito a um tratamento justo e equitativo. Estes devem
sempre ser assegurados, de acordo com a sua aplicabilidade no estudo.
Uma vez que este trabalho consiste apenas na elaboração de um projeto de
investigação, não é necessário proceder à colocação de questões éticas rigorosas.
Visto que a colheita de dados seria feita com recurso a um questionário, seria
imperioso explicar a todos os intervenientes: o objetivo do estudo, a forma de
tratamento dos dados e o assegurar do anonimato. Dever-se-ia ainda informar que
a participação dos indivíduos é totalmente voluntária, e que, se em algum momento
quiserem desistir, podem fazê-lo sem qualquer tipo de consequência ou represália.
Deveria ainda existir um momento de esclarecimento de dúvidas onde seria
apresentado um documento para obtenção do consentimento informado3 formal do
indivíduo. Deste modo, seriam assegurados todos os requisitos legais, impedindo
complicações judiciais futuras. Refere-se ainda o consentimento livre e informado:
“O consentimento é livre se é dado sem que, nenhuma ameaça, promessa ou pressão
seja exercida sobre a pessoa e quando esta esteja na plena posse das suas faculdades
mentais. Para que o esclarecimento seja esclarecido, a lei estabelece o dever de
informação.” (Fortin, 1999).

3
Consultar Apêndice III

14
Solidão e isolamento no Idoso – Realidade na Região das Beiras

VI. Considerações Finais

Este projeto permitiu aprofundar os conhecimentos acerca dos sentimentos de


solidão e isolamento nos idosos residentes na região das beiras. Após discussão do
tema, foi possível construir um projeto conciso e estruturado que nos orientou na
pesquisa de dados, no método de recolha de dados bem como na sua forma de
tratamento. Uma vez que não houve esta recolha, não pudemos retirar conclusões.
Com a revisão da literatura, foi possível verificar que existem alguns estudos
relacionados com a temática deste projeto. Os estudos vão de encontro com as
hipóteses por nós formuladas, tendo sido elementos-chave na aquisição de mais
conhecimentos na área. Uma vez que a colheita de dados bem como a sua análise
não faziam parte dos objetivos deste projeto, não foi possível obter resultados,
contudo, se esta parte do projeto tivesse sido realizada, os estudos já realizados
aquando da construção deste projeto, teriam sido excelentes fontes para
comparação e confrontação de resultados.
Tendo em conta o anteriormente referido, pode considerar-se que os objetivos
foram alcançados. Além do mais, facilitou o alcance de competências na elaboração
de questionários. Enquanto futuros profissionais de saúde, permitiu-nos valorizar a
Investigação como contributo para o desenvolvimento da Enfermagem.
Ao longo da realização do projeto, fomos confrontados com as hipotéticas
dificuldades que poderíamos sentir no terreno, caso fôssemos colher dados,
nomeadamente no acesso aos indivíduos, visto que estes nem sempre consentem
em colaborar com os investigadores. Apesar disso, consideramos que, se
dispuséssemos de todos os recursos necessários à concretização da investigação,
esta seria uma mais-valia para a atualização do conhecimento nesta área e ajudar a
desenvolver medidas preventivas e incentivar os autarcas dos municípios
envolvidos a desenvolver novos projetos e apoios ao combate ao isolamento e à
solidão no idoso. De acordo com Fonseca et al (2005) “se por um lado é importante
remediar as privações e melhorar o bem-estar material dos idosos (sobretudo
daqueles que na comunidade vivem pior), é igualmente necessário e não menos
importante proporcionar oportunidades para que as pessoas idosas possam entrar
em relação com terceiros e encontrar outras pessoas em quem possam confiar. O
estabelecimento de relações de confiança surge, efetivamente, como o melhor
antídoto para combater o sentimento de solidão que, independentemente do
contexto onde se vive, espreita por detrás do isolamento físico ou geográfico, de um
estilo de vida solitário, de uma doença grave ou incapacitante, de uma perda, da
morte iminente ou, simplesmente, da dificuldade em exprimir sentimentos acerca
da respetiva condição de vida”

15
Carlos Fragoso; Inês Martins

VII. Referências bibliográficas

Barbosa de Freitas, P. d. C. (2011). Solidão em Idosos - Percepção em Função da Rede Social [Tese de
Mestrado, Universidade Católica Portuguesa].

Carneiro, R., Cbau, F., Soares, C., Fialho, J. d. S., & Sacadura, M. J. (n.d.). A População Idosa E A Situação De
Isolamento.

Diário da República Portuguesa (12 setembro 2013). Lei n.º 75/2013. (pp. 5688 - 5724)

Fortin, M. F. (1999). O processo da Investigação: Da conceção à realização. Loures: Lusociência.

Fortin, M. F. (2003). O Processo de Investigação: da Conceção à Realização. Loures: Lusodidacta.

Fortin, M. F. (2009). Fundamentos e etapas do processo de investigação. Lusodidacta.

INE. População residente (N.º) por Local de residência, Sexo e Grupo etário; Decenal. Consultado a 14 de
fevereiro de 2022. Disponível em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=in
e_indicadores&contecto=pi&indOcorrCod=0011166&selTab=tab0

Maia, Carlos. 2021. “Investigação I - Desenho de Investigação".

Orem, D. (2001). Nursing: Concepts of practice (6º edição). St. Louis: Mosby

Pocinho, M., Farate, C., & Dias, C. A. (2010). Validação psicométrica da escala UCLA-Loneliness para idosos
portugueses. Interações: Sociedade e as novas modernidades, (18).

Renascença. (2019). Portugal é o quinto país mais envelhecido do mundo. Consultado a 16 de feveiro de
2022. Disponível em: https://rr.sapo.pt/noticia/138781/portugal-e-o-quinto-pais-mais-
envelhecido-do-mundo

Ribeiro, O., Teixeira, L., Duarte, N., Azevedo, M. J., Araújo, L., Barbosa, S., & Paúl, C. (2012). Versão
portuguesa da escala breve de redes sociais de Lubben (LSNS-6). Revista Kairós-Gerontologia, 15,
217-234.

SNS. (2019). Estudo | Impacto da solidão em idosos. Consultado a 15 de fevereiro de 2022. Disponível em:
https://www.sns.gov.pt/noticias/2019/07/22/estudo-impacto-da-solidao-em-idosos/

SNS. (2021). A solidão e o isolamento social. Consultado a 15 de fevereiro de 2022. Disponível em:
https://www.sns24.gov.pt/guia/a-solidao-e-o-isolamento-social/

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Solidão e isolamento no Idoso – Realidade na Região das Beiras

APÊNDICES

17
Carlos Fragoso; Inês Martins

Apêndice I - Cronograma
Tempo
Ano 2022

fevereiro

10- 14- 21-


Atividade
13 20 24
Definição do problema e formulação da questão de
investigação
Definição dos objetivos do projeto
Enquadramento teórico
Elaboração de quadro concetual
Definir hipóteses/variáveis
Seleção da população/amostra
Seleção de um instrumento de colheita de dados
Colheita de dados
Prever as técnicas de análise e tratamento de dados
Redação final
Entrega do projeto

Figura 2 Cronograma referente à realização do projeto

18
Solidão e isolamento no Idoso – Realidade na Região das Beiras

Apêndice II – Constituição da Amostra


Estrato Género Município População Amostra
Beiras e Serra da Estrela
1 Masculino 1073 4
Almeida
2 Feminino 1525 6
3 Masculino 861 3
Belmonte
4 Feminino 1136 4
5 Masculino 1007 4
Celorico da Beira
6 Feminino 1304 5
7 Masculino 5916 23
Covilhã
8 Feminino 7925 31
9 Masculino Figueira de Castelo 846 3
10 Feminino Rodrigo 1110 4
11 Masculino 663 3
Fornos de Algodres
12 Feminino 935 4
13 Masculino 3721 15
Fundão
14 Feminino 4898 19
15 Masculino 1998 8
Gouveia
16 Feminino 2672 11
17 Masculino 4367 18
Guarda
18 Feminino 5771 23
19 Masculino 474 2
Manteigas
20 Feminino 626 3
21 Masculino 769 3
Mêda
22 Feminino 1010 4
23 Masculino 1357 5
Pinhel
24 Feminino 1767 7
25 Masculino 2159 9
Sabugal
26 Feminino 2914 12
27 Masculino 3284 13
Seia
28 Feminino 4219 17
29 Masculino 1276 5
Trancoso
30 Feminino 1759 7
Beira Baixa
31 Masculino 6501 26
Castelo Branco
32 Feminino 8381 33
33 Masculino 1521 6
Idanha-a-Nova
34 Feminino 2055 8
35 Masculino 954 4
Oleiros
36 Feminino 1285 5
37 Masculino 918 4
Penamacor
38 Feminino 1999 5
39 Masculino 1182 5
Proença-a-Nova
40 Feminino 1566 6
41 Masculino 647 2
Vila Velha de Ródão
42 Feminino 854 4
Tabela 1: Estratificação da Amostra por Municípios

19
Carlos Fragoso; Inês Martins

Fórmula para obtenção da amostra de cada município (por género):


𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐í𝑝𝑖𝑜 (𝑝𝑜𝑟 𝑔é𝑛𝑒𝑟𝑜) × 100
𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑑𝑎 𝑟𝑒𝑔𝑖ã𝑜 (𝑝𝑜𝑟 𝑔é𝑛𝑒𝑟𝑜)

Região Género População Total Amostra Total


Beiras e Masculino 29771 118
Serra da 69342 275
Estrela Feminino 39571 157

Masculino 11723 47
Beira Baixa 27063 108
Feminino 15340 61
Tabela 2: Distribuição da Amostra por Região

Fórmula para obtenção da amostra por região:


𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑑𝑎 𝑟𝑒𝑔𝑖ã𝑜 × 100
𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑎𝑚𝑏𝑎𝑠 𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑔𝑖õ𝑒𝑠

20
Solidão e Isolamento no Idoso – A realidade na Região das Beiras

Apêndice III Documento de Consentimento Informado

Consentimento Informado, Livre e Esclarecido Para Participação em Investigação


(de acordo com a Declaração de Helsínquia e a Convenção de Oviedo)

Por favor, leia com atenção a seguinte informação. Se achar que algo está incorreto ou que não
está claro, não hesite em solicitar mais informações. Se concorda com a proposta que lhe foi
feita, queira assinar este documento.

Título do estudo: Fatores Ambientais e Sociais nas Doenças Prevalentes na Cidade de


Castelo Branco em 2021
Enquadramento: Este projeto é realizado no âmbito académico, na Unidade
Curricular de Investigação II, sob orientação do professor doutor Carlos Maia. Insere-
se no Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes
Dias, do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Explicação do estudo: A colheita de dados realizou-se com recurso a um questionário.


Recolheram-se os dados numa população acessível, com recurso a critérios de inclusão.
Distribuíram-se os questionários em diferentes locais da cidade de Castelo Branco, no
sentido de conseguirmos reunir o maior número de indivíduos possível para a nossa
amostra. Foram selecionados indivíduos de ambos os sexos, com idade igual ou
superior a 18 anos, residentes em Castelo Branco.

Condições e financiamento: O estudo será financiado pelos investigadores. Não


existem benefícios diretos com a realização do mesmo. O utente tem o direito de não
participar na investigação.

Confidencialidade e anonimato: É garantida a confidencialidade e uso exclusivo dos


dados recolhidos para o presente estudo, bem como assegurado o anonimato dos
entrevistados.

Agradecemos a sua participação.

21
Carlos Fragoso; Inês Martins

Inês Carmona Martins, estudante de Enfermagem do 3ºano da Escola Superior de


Saúde Dr. Lopes Dias, do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Telemóvel: 96x xxx xxx

E-mail: xxxx@gmail.com

Carlos José Lopes Fragoso, estudante de Enfermagem do 3ºano da Escola Superior


de Saúde Dr. Lopes Dias, do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Telemóvel: 93x xxx xxx

E-mail: xxxx@gmail.com

Assinatura(s):

_____________________________________________________

Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações verbais
que me foram fornecidas pelas pessoas que acima assinam. Foi-me garantida a
possibilidade de, em qualquer altura, recusar participar neste estudo sem qualquer
tipo de consequências. Desta forma, aceito participar neste estudo e permito a
utilização dos dados que de forma voluntária forneço, confiando em que apenas
serão utilizados para esta investigação e nas garantias de confidencialidade e
anonimato que me são dadas pelos investigadores.

Nome: _____________________________________________________________________

Assinatura: _____________________________________________________________________

Data: ____/_____/______

22
Fatores Ambientais e Sociais nas Doenças Prevalentes na Cidade de Castelo Branco em 2021

Anexos

23
Carlos Fragoso; Inês Martins

Anexo I - Escala de Solidão – UCLA – Daniel Russell Traduzida e


adaptada por Margarida Pocinho & Carlos Farate (2005)

Frequentemente

Algumas Vezes

Raramente

Nunca
1 – Sente-se infeliz por fazer muitas coisas sozinho 4 3 2 1
2 – Sente que não tem alguém com quem falar 4 3 2 1
3 – Sente que tem falta de companhia 4 3 2 1
4 – Sente-se como se realmente ninguém o compreendesse 4 3 2 1
5 – Sente que não tem ninguém a quem possa recorrer 4 3 2 1
6 – Não se sente íntimo de qualquer pessoa 4 3 2 1
7 - Sente que os que o rodeiam já não compartilham dos seus
4 3 2 1
interesses
8 - Sente-se abandonado 4 3 2 1
9 - Sente-se completamente só 4 3 2 1
10 – É incapaz de estabelecer contactos e comunicar com os que
4 3 2 1
o rodeiam
11 – As suas relações sociais são superficiais 4 3 2 1
12 – Considera que na realidade ninguém o conhece bem 4 3 2 1
13 – Sente-se isolado das outras pessoas 4 3 2 1
14 – Sente-se infeliz de estar tão afastado dos outros 4 3 2 1
15 – É-lhe difícil fazer amigos 4 3 2 1
16 – Sente-se posto à margem e excluída das outras pessoas 4 3 2 1
Tabela 3: Escala de Solidão – UCLA – Daniel Russell Traduzida e adaptada por Margarida Pocinho & Carlos Farate (2005)

Interpretação dos Valores da Escala


Não indicativo de sentimentos negativos
≤ 32pontos de solidão.
Indicativo de sentimentos negativos de
> 32 pontos solidão.
Tabela 4: Interpretação dos resultados da Escala de Solidão – UCLA

24
Fatores Ambientais e Sociais nas Doenças Prevalentes na Cidade de Castelo Branco em 2021

Anexo II - Versão Portuguesa da Escala Breve de Redes Sociais


de Lubben (LSNS-6)

No que diz respeito à sua família e amigos, assinale para cada questão a opção que
mais se aplica à sua situação.

3 5
9 ou
0 1 2 ou a
mais
4 8

FAMÍLIA: Considerando as pessoas de quem é familiar por nascimento,


casamento, adoção, etc…
1. Quantos familiares vê ou fala pelo menos uma vez
por mês?
2. De quantos familiares se sente próximo de tal
forma que possa ligar-lhes para pedir ajuda?
3. Com quantos familiares se sente à vontade para
falar sobre assuntos pessoais?
AMIGOS: Considerando todos os seus amigos, incluindo aqueles que vivem na sua
vizinhança…
1. Quantos amigos vê ou fala pelo menos uma vez por
mês?
2. De quantos amigos se sente próximo de tal forma
que possa ligar-lhes a pedir ajuda?
3. Com quantos amigos se sente à vontade para falar
sobre assuntos pessoais?
Tabela 5: Versão Portuguesa da Escala Breve de Redes Sociais de Lubben (LSNS-6)

Interpretação dos Valores da Escala


< 12pontos Existe isolamento social.
≥ 12 pontos Não existe isolamento social.
Tabela 6: Interpretação dos resultados da Escala Breve de Redes Sociais de Lubben

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