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SUGESTÃO:
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RESUMO:
Este trabalho discorre sobre o uso de diferentes linguagens na prova de ciências humanas do ENEM.
Ao ponto de partida, começa-se expondo uma noção básica do que são esses elementos e a
importância do estudo deles para o exame. Em seguida, é disposto o modo de operação que
possibilitou a coleta dos dados e a subsequente base teórica necessária para discutir o conceito de
múltiplas linguagens, que ao final foi definido, marco fundamental para o próprio levantamento, uma
vez necessário definir uma categoria para só então enquadrar algo nela. Ao final, foram discutidos os
resultados da pesquisa, de acordo com os objetivos estabelecidos de início, isto é, buscando
compreender o significado desses dados na determinação de como o ENEM utiliza-se das diferentes
linguagens. Isto sob o ponto de vista qualitativo e quantitativo, com ênfase particular na geografia.
INTRODUÇÃO
Um dos espaços no qual esse recurso está presente é o Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM), e é essa combinação que será alvo de inquirição no presente estudo.
Analisar-se-á, portanto, quanto e a maneira como as diferentes linguagens são utilizadas nos
exames do ENEM em sua história no modelo atual, com enfoque sobre a prova de ciências
humanas e suas tecnologias. Nesse sentido, a pretensão central aqui almejada é compreender,
qualitativa e quantitativamente, o processo de utilização acima descrito, da última série
histórica de quinze anos do já citado exame.
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Cada uma dessas pretensões corresponde à resultados importantes no que diz respeito
à própria qualidade da prova de ciências humanas do ENEM, uma vez que o uso de diferentes
linguagens não é somente um recurso de apoio ao ensino, mas também um importante meio
de comunicação e leitura de certas esferas da realidade. Desse modo, sem elas, o exame perde
não só uma forma linguisticamente mais complexa de comunicação, mas também deixa de
avaliar aspectos importantes da aprendizagem, como é o caso da leitura de gráficos.
1. PROCEDIMENTO DE PESQUISA
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é, como o próprio nome deixa claro,
uma grande prova que encontra finalidade na avaliação da aprendizagem dos alunos do ensino
médio, sua utilização, no entanto, vai além, servindo como o maior vestibular do país. Na
tentativa, por muitos questionada, de contemplar todas as áreas do saber, o exame subdivide-
se em quatro provas diferentes, sendo elas: a de ciências da natureza e suas tecnologias; a de
linguagens, códigos e suas tecnologias; a de matemática e suas tecnologias; e a de ciências
humanas e suas tecnologias. Nosso foco, como já ficou claro, está na última delas, e foi onde
centrou-se o primeiro esforço de preparação para a presente pesquisa.
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provas do ENEM, em sua maioria. Para essa definição em específico, foram consideradas as
linguagens identificadas nas questões, não a quantidade de questões em si. Isso quer dizer
que, por exemplo, se uma questão estiver utilizando mais que uma linguagem, todas serão
classificadas no levantamento.
Após essa coleta, os dados foram organizados baseado na síntese de suas ocorrências.
Ou seja, dados dispersos e abertos em seus respectivos anos foram esquematizados em
quadros lógicos passíveis de inferência, como é o caso da comparação linear a respeito da
quantidade anual dos usos de múltiplas linguagens, ou a classificação das linguagens mais
utilizadas em um ranking do mais frequente para o mais ausente. Vale salientar, mesmo a
demonstrar alguma semelhança com a parte expositiva da produção, não é disso que se trata.
A organização dos dados é o que a antecede, recurso utilizado para a apreensão dos
conhecimentos desenvolvidos, que só então servirão para a finalidade agora diferida.
Então, como definir diferentes linguagens? Em uma possível tentativa nesse sentido,
Oliveira e Girardi (2011, p. 1) estabelecem que "O termo 'diferentes linguagens' aponta para
uma necessidade de versatilização e diversificação dos materiais utilizados no ambiente
escolar. E nesta esteira aponta, também, para a superação da supremacia da linguagem verbal
(oral e escrita) no ambiente da sala de aula". Tais palavras, no entanto, não definem o que são
diferentes linguagens, apenas lhe apontam uma tendência relacionada ou, no máximo, um
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viés. Ora, se múltiplas linguagens podem ser qualquer coisa, elas não são, objetivamente,
nada. Mas esse felizmente não é o caso.
Cícera Alves, apesar de trazer apenas exemplos que, por si mesmos, não configuram
objetivamente uma definição, ajuda-nos melhor a compreender a noção de diferentes
linguagens:
A busca pela qualidade do ensino deve ser uma constante na vida do geógrafo-
educador, quando se coloca o uso das diferentes linguagens, tais como:
documentários, filmes, músicas, cartilhas educativas, cordéis, mapas temáticos,
imagens de satélites e outros. Evidencia-se que estas linguagens, com o uso do livro
didático, propiciam ao professor adotar/experienciar uma metodologia mais
participativa. (ALVES, 2015, p. 30)
A ler a menção, é possível observar que a autora difere as citadas linguagens da que o
livro didático representa. Sendo assim, propomos aqui definir as diferentes linguagens não
partindo do que são, mas daquilo que não são, isto é, diferentes linguagens definem-se como
aquelas que não são representadas pelos textos verbais expositivos dos livros didáticos ou
pelas exposições orais diretas do conteúdo programático pelos professores. Para que nossa
delimitação faça sentido, é importante que o livro didático não seja excluído em seu todo,
afinal, nele pode-se encontrar outras modalidades textuais não verbais, mistas ou até verbais,
que não sejam as típicas descrições e explicações diretas do conteúdo.
Na sua relação cognitiva com o mundo, o homem exerce uma atividade por
instrumentos e signos; com estes, então, o homem "opera" materialmente e
racionalmente o mundo. Nessa operação, Vigotsky (1984) destaca o processo de
internalização como uma reconstrução interna, intersubjetiva, de uma operação
externa com objetos em interação. A internalização consiste nas seguintes
transformações: de uma atividade externa para uma atividade interna e de um
processo interpessoal para um processo intrapessoal. Essas transformações são
fundamentais para o processo de desenvolvimento de funções psicológicas
superiores e interessa particularmente ao contexto escolar. (CAVALCANTI, 2013,
p. 141, apud VIGOTSKY)
É a partir dessa interação social e espacial, com intermédios dos signos, que o homem
percebe a realidade e só depois usa o próprio raciocínio para a criação de conceitos, que
voltam-se novamente para o real, mas desta vez como ferramentas de leitura complexificada
do mundo. Como sugere a autora ao falar de "signos" — dentre os quais está o campo
linguístico —, o uso de diferentes linguagens na geografia deve estar pautado pela edificação
desse processo, onde, por necessidade, os conteúdos devem ser trabalhados com uso da
linguagem que for mais apropriada para intermediar não só a construção do conceito, mas o
próprio processamento da informação. Isso extrapola o campo do ensino e pode entrar,
inclusive, no campo da comunicação.
Ora, em muitos casos, encontra-se como muito mais apropriado o uso de uma
produção cartográfica, ao se falar sobre determinado território, do que descrever cada ponto
de suas fronteiras, mesmo que o objetivo não seja ensinar o conceito de território. O mesmo
vale para o uso de fotografias em uma discussão sobre paisagem, dentre outros exemplos
possíveis. Nesses casos, não só a comunicação da informação geográfica é bem-sucedida,
como isso é feito de maneira muito mais eficiente e adequada, provando que a linguagem
própria do espaço nem sempre é representada pelo texto verbal e formal.
É a partir daí que podemos constatar o uso de diferentes linguagens como um recurso
válido e até necessário mesmo quando o objetivo não está centrado — diretamente — no
ensino e na aprendizagem, como é o exemplo de uma avaliação. Não à toa, é comum
observar-se o uso de múltiplas linguagens nas provas do Enem, com imagens retratando os
povos escravizados no Brasil ou mapas apresentando continentes e regiões do globo. De fato,
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há razão de ser nesta prática, tendo em vista o aporte na compreensão do sentido e dos dados
necessários a questão, por motivo já exposto no caso da geografia.
O emprego das diferentes linguagens nas ciências humanas, como já aqui mencionado
por algumas vezes, tem um caráter de indispensabilidade que apenas cresce com o tempo e o
desenvolvimento das tecnologias que influenciam cada vez mais a maneira de agir e
comunicar dos jovens. A pensar nisso, podemos imaginar então que a tendência de adesão a
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este recurso também é crescente. Faz sentido que seja, principalmente quando estamos
falando da conduta de instrumentos e políticas públicas, que em alguma medida tem relação
com a educação. No caso do ENEM, que convenientemente citamos aqui como exemplo, essa
relação não é nem tão distante, visto seu vínculo com o Ministério da Educação (MEC).
Sendo assim, o ENEM certamente ampliou, ao longo dos últimos anos, o seu uso de
diferentes linguagens nas provas de ciências humanas, correto? Respondendo simples e
diretamente: não. Na verdade, a resposta pode ainda ser mais frustrante que esta. Não apenas
esse aumento não foi observado, como a tendência captada foi de queda na frequência anual
de questões em que esse instrumento didático — e nesse caso comunicativo — é utilizado.
Esse fato pode ser observado com clareza nos dados demonstrados no gráfico 1.
Para fins explicativos, podemos fundir os quinze anos demonstrados, em três médias
seguindo a sequência linear da utilização por ano. No primeiro quinquênio, a média de
questões por ano é de nove (9), depois dez (10) e por último seis (6). Isso significa que até
houve um leve aumento dos primeiros cinco anos da série para os segundos, mas um
decrescimento enorme dos segundos para os anos restantes, até 2023. Além disso, se
pegarmos cada ano de forma individual e avaliar minuciosamente a diferença dele para o
seguinte, do primeiro ao último da série histórica, perceberemos que, apesar da tendência de
queda e da queda factual que já aconteceu, não a linearidade no padrão. Por exemplo, após
2016, iniciasse a série de episódios de queda que constroem a atual tendência, mas nesse
caminho até 2023, há mais de uma situação de aumento em relação ao ano anterior,
principalmente em 2022, com um aumento de mais de cem por cento (5 questões).
Isso significa, basicamente, que pode não haver intencionalidade nessa redução
gradual que a prova de ciências humanas vem sofrendo em sua quantidade de questões com
múltiplas linguagens. Não estamos dizendo que essa intencionalidade não existe ou que ela
está descartada, mas que ela não pode ser provada com esses dados, justamente pelo fator há
pouco explicado. Entretanto, de forma alguma representa algo bom. Esses dados provam, isso
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O uso delas acaba sendo quase que "aleatório", sem que haja um pensamento ou
planejamento ativo nesse sentido. É como se a urgência em ampliar o uso das diferentes
linguagens, por mais evidente que já esteja, não fosse algo de conhecimento ou de interesse
no processo de elaboração da prova do ENEM. Percebe-se o recurso como algo negligenciado
pelo exame dentro do campo das ciências humanas, mesmo apesar das muitas vozes que
ecoam em defesa dele.
Se o mito dos cientistas como uma elite social em uma "torre de marfim" é verdadeiro,
por que eles não são levados em conta em uma constatação tão simples? Autores como
Rosselvelt Santos, Cláudia Costa e Marli Kinn (2010, p. 44) nos citam que "A utilização de
outras linguagens, que não apenas a verbal, escrita e não escrita, e/ou de outros recursos
técnicos, diferentes do papel e quadro-negro, é hoje inevitável e necessária na educação,
porque a sociedade já está vivendo no meio técnico-científico informacional desde os anos de
1970". Corroborando esse pensamento e voltando-se para a geografia, Cícera Alves (2015, p.
30) enfatiza que "os conteúdos geográficos com o apoio do livro didático devem ser pensados
e trabalhados com imagens, figuras, jogos, mapas, maquetes, filmes que complementem
respectivos conteúdos".
Como acima observado, apenas em cinco dos anos pesquisados a geografia não obteve
a maioria dos usos de diferentes linguagens em suas questões, onde duas situações apresentam
resultados abaixo da metade (2021 e 2023). No restante dos dez anos, sempre alcançou a
maioria das questões, apesar de ser só uma dentre quatro disciplinas. Em um dos anos (2020),
inclusive, foi a única na categoria a apresentar questões com o citado recurso. Tal constatação
reforça o que já havia sido enfatizado sobre a afinidade particular da geografia com as
múltiplas linguagens, graças ao seu objeto de estudo que cobra uma abordagem
linguisticamente mais complexa.
Mesmo com isso tudo, as diferentes linguagens na geografia, no que diz respeito a
prova do ENEM, seguem um caminho semelhante à prova de humanas como um todo. Apesar
da queda quinquenal ser proporcionalmente mais baixa nos últimos dois (média de 6 e 4
respectivamente) quinquênios, no que diz respeito a geografia, sua tendência de queda acaba
sendo maior, graças aos último e antepenúltimo (2021 e 2023) anos, que apresentaram as
menores quantidades do recorde histórico para a disciplina. Essas inferências podem ser
percebidas no que demonstra o gráfico 3.
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Isso só prova que a geografia sofre com o mesmo problema há pouco discutido sobre o
campo das ciências humanas como um todo. Na verdade, o caso dessa disciplina em
específico se torna ainda mais preocupante, vista a já evidente afinidade particular que ela
possui com as diferentes linguagens. A queda dramática apresentada nos últimos anos, caso se
mantenha, representa um potencial risco para uma significativa perda de qualidade do ENEM,
especialmente quanto às questões de ciências humanas. Mesmo tendo sua relevância
negligenciada, o uso de uma projeção cartográfica em uma questão que aborde o conceito de
território, por exemplo, pode ser fundamental não só para a compreensão da questão, como no
sentido de testar a habilidade do aluno em extrair informações de um recurso que pode ser útil
para sua vida em sociedade.
Apesar disso, mapas e cartas não se mantêm como um recurso de utilização abundante
e constante na prova de ciências humanas do ENEM. Embora seja o exemplo de múltipla
linguagem mais utilizado da referida categoria, em 2021, por exemplo, não fora utilizado
nenhum e em 2023 apenas um, como pode ser observado no gráfico 4. Isso indica, mais uma
vez, que não há um viés de uso necessário para tal instrumento, algo especialmente dramático
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para a geografia, já que é seu principal e mais importante exemplar dentre as múltiplas
linguagens. Na verdade, nenhum dos cinco tipos principais, isto é, que foram mais frequentes,
parece ter seu uso como regra, já que a ausência em algumas provas foi detectada para todos.
Isso serve para reforçar ainda mais a aleatoriedade das utilizações, sem que haja um rigor
metodológico em algum sentido, nem mesmo mera aproximação.
SUGESTÃO:
Gráfico 4 – Proporção da utilização de cada uma das cinco múltiplas linguagens mais
frequentes nas provas de ciências humanas do ENEM.
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Como pode ser visto, as duas principais diferentes linguagens utilizadas nas provas de
ciências humanas do ENEM foram fotografias e projeções cartográficas. É interessante citar
que elas foram, de certa forma, antagônicas em seus respectivos usos. Isto é, enquanto a
maioria das fotografias foram usadas em questões que não eram de geografia, principalmente
nos anos mais recentes, os mapas e cartas foram usados somente nas questões desta disciplina.
Isso pode indicar um padrão ou uma certa concepção que predomina no processo de
confecção dessas questões, onde projeções cartográficas são associadas somente à geografia
— nesse caso, de forma mais explícita — e fotografias são dissociadas. Caso exista, essa
concepção é deveras questionável, vista a ligação das fotografias com os conceitos de
paisagem e lugar, por exemplo.
Outra associação que pode ser feita, é entre o uso de gráficos e as questões de
geografia. Dos doze gráficos usados na prova de ciências humanas do ENEM, nove foram
utilizados em questões de geografia, o que também pode indicar uma relação que vai muito
além dos horizontes da coincidência. As tabelas, apesar de não aparecerem no gráfico, bem
como as ilustrações técnicas, também estão associadas, no ENEM, à geografia em uma
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Essa série de "pequenas" evidências, juntas, formam uma prova mais sólida que nos
leva a crer que a geografia está parcialmente associada, no ENEM, à uma visão mais técnica e
objetivista, influenciada, talvez, por um neopositivismo oriundo da tradição fundada no que se
entende por New geography. Não estamos dizendo que todas as questões de geografia o são,
ou mesmo que essa tendência é hegemônica dentro do exame, mas que ela existe e em alguma
medida é determinante no uso das diferentes linguagens. É o que pode explicar a associação
de linguagens mais subjetivas e reflexivas com questões de outras disciplinas, e as mais
técnicas, numéricas e expositivas com as de geografia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, estaríamos felizes se esse estudo pudesse servir como uma pequena peça em
um sistema capaz de operar na construção e/ou transformação de um viés; um que tornasse as
diferentes linguagens em um elemento de fundamental importância nas questões de ciências
humanas e suas tecnologias. Isto é, importância ao ponto de ganhar não só reconhecimento,
mas um compromisso adequado e claro de aplicação, que garantisse parâmetros mínimos e
fizesse conhecer os pressupostos existem de utilização para certos tipos de linguagens.
Pressuposições que aparentam ser obscuras, mas ainda assim existem e têm suas devidas
implicações.
REFERÊNCIAS
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SANTOS, M. Por Uma Geografia Nova. Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP):
São Paulo (SP), 2008.