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UMA ANÁLISE DO USO DE DIFERENTES LINGUAGENS NA PROVA


DE CIÊNCIAS HUMANAS DO EXAME NACIONAL DO ENSINO
MÉDIO

ACREDITO QUE NO TÍTULO PRECISA ESPECIFACAR O PERÍODO

SUGESTÃO:

UMA ANÁLISE DO USO DE DIFERENTES LINGUAGENS NA PROVA


DE CIÊNCIAS HUMANAS DO ENEM NO PERÍDO DE XXXX A XXXX

Retirar o nome CONTATO.

Luis Eduardo Rodrigues Rebouças

Graduando em Geografia na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN,


Campus Central

Contato: luisrodrigues@alu.uern.br

Maria José Costa Fernandes

Professora de Geografia na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN,


Campus Central

Contato:mariacosta@uern.br

Mônica Raquel de Andrade Brito

Professora supervisora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID)

Contato: monica_andrade1989@hotmail.com
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LUÍS, NO MODELO DO EVENTO NÃO TEM RESUMO. MINHA SUGESTÃO É QUE


VOCÊ COLOQUE ESSE TEXTO DO RESUMO PARA INICIAR A INTRODUÇÃO.

RESUMO:

Este trabalho discorre sobre o uso de diferentes linguagens na prova de ciências humanas do ENEM.
Ao ponto de partida, começa-se expondo uma noção básica do que são esses elementos e a
importância do estudo deles para o exame. Em seguida, é disposto o modo de operação que
possibilitou a coleta dos dados e a subsequente base teórica necessária para discutir o conceito de
múltiplas linguagens, que ao final foi definido, marco fundamental para o próprio levantamento, uma
vez necessário definir uma categoria para só então enquadrar algo nela. Ao final, foram discutidos os
resultados da pesquisa, de acordo com os objetivos estabelecidos de início, isto é, buscando
compreender o significado desses dados na determinação de como o ENEM utiliza-se das diferentes
linguagens. Isto sob o ponto de vista qualitativo e quantitativo, com ênfase particular na geografia.

Palavras Chave: Ciências humanas, múltiplas/diferentes linguagens, geografia, ENEM.

INTRODUÇÃO

As vezes, parar ensinar sobre certos temas, os professores se utilizam de meios de


compreensão que vão além da explicação falada. A exposição de um espaço visualizado em
uma fotografia é um exemplo deles. A esses intermediadores, que podem ser usados por
docentes ou em distintas situações, dá-se o nome de diferentes linguagens ou múltiplas
linguagens. As possíveis aplicações podem ser muito variadas dependendo do contexto e do
assunto, mas em sua gama não é incomum se deparar com o uso de poemas, letras de músicas,
charges, mapas e afins.

RETITAR OS ESPAÇOS ENTRE UM PARÁGRAFO E OUTRO....

Um dos espaços no qual esse recurso está presente é o Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM), e é essa combinação que será alvo de inquirição no presente estudo.
Analisar-se-á, portanto, quanto e a maneira como as diferentes linguagens são utilizadas nos
exames do ENEM em sua história no modelo atual, com enfoque sobre a prova de ciências
humanas e suas tecnologias. Nesse sentido, a pretensão central aqui almejada é compreender,
qualitativa e quantitativamente, o processo de utilização acima descrito, da última série
histórica de quinze anos do já citado exame.
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Para tal, intencionamos, em âmbito mais estrito, quantificar o uso de múltiplas


linguagens nas últimas quinze provas em questão. Isso possibilitará a construção de uma
noção de quanto das provas é composto pelo recurso aqui analisado, fundamental para
entender a evolução ou involução constatada sobre a utilização de múltiplas linguagens nas
provas especificadas, durante a mencionada série histórica, algo que configura-se, também,
como uma finalidade deste trabalho. Acompanhada desta, está outra, que é a de avaliar o uso
dos tipos de linguagem identificados no mesmo objeto de análise, entendendo a maneira como
são empregadas. E, como último propósito, desejamos estabelecer comparação entre o uso do
já citado recurso nas questões de geografia e nas demais presentes na prova de ciências
humanas.

Cada uma dessas pretensões corresponde à resultados importantes no que diz respeito
à própria qualidade da prova de ciências humanas do ENEM, uma vez que o uso de diferentes
linguagens não é somente um recurso de apoio ao ensino, mas também um importante meio
de comunicação e leitura de certas esferas da realidade. Desse modo, sem elas, o exame perde
não só uma forma linguisticamente mais complexa de comunicação, mas também deixa de
avaliar aspectos importantes da aprendizagem, como é o caso da leitura de gráficos.

Analisar o uso de diferentes linguagens no ENEM, é outra forma de falar em analisar


sua qualificação como avaliação. Essa afirmação só pode ser falsa se, e somente se
considerarmos que não há importância no uso de diferentes linguagens pelo referido exame,
uma vez que há escassez de estudos que busquem a coleta de dados e informações nesse
sentido. Aqui partimos da premissa de que não, não se trata de uma afirmação falsa, por
motivos melhor explicados mais adiante.

1. PROCEDIMENTO DE PESQUISA

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é, como o próprio nome deixa claro,
uma grande prova que encontra finalidade na avaliação da aprendizagem dos alunos do ensino
médio, sua utilização, no entanto, vai além, servindo como o maior vestibular do país. Na
tentativa, por muitos questionada, de contemplar todas as áreas do saber, o exame subdivide-
se em quatro provas diferentes, sendo elas: a de ciências da natureza e suas tecnologias; a de
linguagens, códigos e suas tecnologias; a de matemática e suas tecnologias; e a de ciências
humanas e suas tecnologias. Nosso foco, como já ficou claro, está na última delas, e foi onde
centrou-se o primeiro esforço de preparação para a presente pesquisa.
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FORAM 15 ANOS DE ESTUDO, E QUANTAS PROVAS ANALISADAS?

A prova de ciências humanas compreende conhecimentos das disciplinas de geografia,


história, sociologia e filosofia, repartidos entre quarenta e cinco questões de múltipla escolha.
Mas tal divisão, estruturada desta maneira, passou a assim sê-lo somente a partir do ENEM de
2009. Entender ambos os fatos foi o pontapé inicial para definir um ponto de partida para a
análise, que ficou estabelecido então no ano supracitado, garantindo uma série histórica de 15
anos de observação para o estudo. Isto posto, para realizar a pesquisa, restou antes
compreender o que deveria ser enquadrado como "múltipla linguagem" ou "diferente
linguagem", discussão que será melhor aprofundada na seção seguinte.

O trabalho consistiu, em primeira etapa, na contagem de questões enquadradas no uso


de diferentes linguagens, isto é, que, para a compreensão de seu sentimento ou para a
comunicação de parte das informações, utilizasse alguma das diferentes linguagens. Esse
processo repetiu-se para cada ano de ENEM do espaço de tempo estabelecido. À essa
contabilização, foram utilizadas normas de consideração. A primeira delas, visando uma
maior objetividade e rigor informacional, foi a de considerar a contagem por questão, não por
uso, mesmo que uma mesma questão utilize duas das múltiplas linguagens. Pode parecer
redundância, mas frisar tal conduta é importante para algo que vira mais adiante. A segunda
diretriz foi a de não considerar a referência à textos verbais acadêmicos, técnicos ou
jornalísticos na contagem, por não se tratar de uma das múltiplas linguagens, algo explicado
na próxima seção.

Simultaneamente ao processo de contabilização, se dava outra etapa do estudo, que era


a de identificação das questões de geografia usuárias de múltiplas linguagens, isto é, que
abordam conteúdos ensinados na disciplina de geografia ou que, pelo menos, a forma de
resolução passa por um conhecimento geográfico, distinguível daqueles sociológicos ou
históricos. Para tal, foi realizada a devida marcação nas questões que fossem enquadradas
nesta categoria, sem as excluir, no entanto, da contagem total que envolve todo o campo de
conhecimento das ciências humanas, como está estabelecido no ENEM. Tal atitude servirá
para a comparação do uso de múltiplas linguagens entre a disciplina de geografia e as demais,
acreditadas aqui como menos afeitas a este recurso do que a especificada.

A fase final do levantamento deu-se com a distinção de cada tipo de múltipla


linguagem registrado na contagem anteriormente feita, possibilitando desta forma uma
abordagem qualitativa a respeito de quais das diferentes linguagens estão sendo utilizadas nas
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provas do ENEM, em sua maioria. Para essa definição em específico, foram consideradas as
linguagens identificadas nas questões, não a quantidade de questões em si. Isso quer dizer
que, por exemplo, se uma questão estiver utilizando mais que uma linguagem, todas serão
classificadas no levantamento.

Após essa coleta, os dados foram organizados baseado na síntese de suas ocorrências.
Ou seja, dados dispersos e abertos em seus respectivos anos foram esquematizados em
quadros lógicos passíveis de inferência, como é o caso da comparação linear a respeito da
quantidade anual dos usos de múltiplas linguagens, ou a classificação das linguagens mais
utilizadas em um ranking do mais frequente para o mais ausente. Vale salientar, mesmo a
demonstrar alguma semelhança com a parte expositiva da produção, não é disso que se trata.
A organização dos dados é o que a antecede, recurso utilizado para a apreensão dos
conhecimentos desenvolvidos, que só então servirão para a finalidade agora diferida.

Sendo assim, o estudo deu-se em âmbito qualiquantitativo, de modo que os dados


levantados podem servir para obter informações tanto sobre a quantidade de questões
empregadoras das múltiplas linguagens quanto sobre aspectos que envolvem a análise mais
minuciosa da forma como esse uso é efetuado. Um exemplo desse segundo caso é a inquirição
sobre o tipo de linguagem, cuja está sendo feita em cada uma das questões da série histórica
das provas de ciências humanas do ENEM.

2. LINGUAGENS DIFERENTES DO QUÊ?

Múltiplas linguagens encontram-se como recurso de fundamental importância no


século XI, especialmente no que diz respeito ao ensino das distintas disciplinas presentes no
campo das ciências humanas. Tal fato pode justificar a ênfase existente sobre elas. Mas,
então, o que são? São "diferentes" porque diferem de um padrão estabelecido ou porque são
distintas entre si? Apesar de ter uma satisfação possível, a última pergunta não nos faz
sentido, afinal não procuramos uma resposta etimológica ou semântica, mas uma definição
ontológica.

Então, como definir diferentes linguagens? Em uma possível tentativa nesse sentido,
Oliveira e Girardi (2011, p. 1) estabelecem que "O termo 'diferentes linguagens' aponta para
uma necessidade de versatilização e diversificação dos materiais utilizados no ambiente
escolar. E nesta esteira aponta, também, para a superação da supremacia da linguagem verbal
(oral e escrita) no ambiente da sala de aula". Tais palavras, no entanto, não definem o que são
diferentes linguagens, apenas lhe apontam uma tendência relacionada ou, no máximo, um
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viés. Ora, se múltiplas linguagens podem ser qualquer coisa, elas não são, objetivamente,
nada. Mas esse felizmente não é o caso.

Cícera Alves, apesar de trazer apenas exemplos que, por si mesmos, não configuram
objetivamente uma definição, ajuda-nos melhor a compreender a noção de diferentes
linguagens:

COLOCAR TODAS AS CITAÇÕES EM ESPAÇO SIMPLES.....

A busca pela qualidade do ensino deve ser uma constante na vida do geógrafo-
educador, quando se coloca o uso das diferentes linguagens, tais como:
documentários, filmes, músicas, cartilhas educativas, cordéis, mapas temáticos,
imagens de satélites e outros. Evidencia-se que estas linguagens, com o uso do livro
didático, propiciam ao professor adotar/experienciar uma metodologia mais
participativa. (ALVES, 2015, p. 30)

A ler a menção, é possível observar que a autora difere as citadas linguagens da que o
livro didático representa. Sendo assim, propomos aqui definir as diferentes linguagens não
partindo do que são, mas daquilo que não são, isto é, diferentes linguagens definem-se como
aquelas que não são representadas pelos textos verbais expositivos dos livros didáticos ou
pelas exposições orais diretas do conteúdo programático pelos professores. Para que nossa
delimitação faça sentido, é importante que o livro didático não seja excluído em seu todo,
afinal, nele pode-se encontrar outras modalidades textuais não verbais, mistas ou até verbais,
que não sejam as típicas descrições e explicações diretas do conteúdo.

Essas formas de linguagem não convencionais encontram uso necessário


especialmente quando estamos falando do ensino de geografia, dada a natureza do objeto de
estudo desta disciplina. O espaço, segundo Milton Santos (2002, p. 12) é composto por "um
conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações", esses objetos são munidos
de forma, a qual dá origem à paisagem, conceito que apenas pode ser compreendido quando
edificado a partir da observação. Não apenas a paisagem, mas compreender o que é o espaço e
suas respectivas categorias de análise pela mera descrição abstrata é como aprender o conceito
de azedo sem nunca ter sentido o sabor.

A formação de conceitos não acontece em uma transferência puramente teórica, isto é,


ausente de vínculo material. Pelo contrário, ela acontece com fundamento na apreensão
empírica, em interação com o meio, onde:
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Na sua relação cognitiva com o mundo, o homem exerce uma atividade por
instrumentos e signos; com estes, então, o homem "opera" materialmente e
racionalmente o mundo. Nessa operação, Vigotsky (1984) destaca o processo de
internalização como uma reconstrução interna, intersubjetiva, de uma operação
externa com objetos em interação. A internalização consiste nas seguintes
transformações: de uma atividade externa para uma atividade interna e de um
processo interpessoal para um processo intrapessoal. Essas transformações são
fundamentais para o processo de desenvolvimento de funções psicológicas
superiores e interessa particularmente ao contexto escolar. (CAVALCANTI, 2013,
p. 141, apud VIGOTSKY)

É a partir dessa interação social e espacial, com intermédios dos signos, que o homem
percebe a realidade e só depois usa o próprio raciocínio para a criação de conceitos, que
voltam-se novamente para o real, mas desta vez como ferramentas de leitura complexificada
do mundo. Como sugere a autora ao falar de "signos" — dentre os quais está o campo
linguístico —, o uso de diferentes linguagens na geografia deve estar pautado pela edificação
desse processo, onde, por necessidade, os conteúdos devem ser trabalhados com uso da
linguagem que for mais apropriada para intermediar não só a construção do conceito, mas o
próprio processamento da informação. Isso extrapola o campo do ensino e pode entrar,
inclusive, no campo da comunicação.

Ora, em muitos casos, encontra-se como muito mais apropriado o uso de uma
produção cartográfica, ao se falar sobre determinado território, do que descrever cada ponto
de suas fronteiras, mesmo que o objetivo não seja ensinar o conceito de território. O mesmo
vale para o uso de fotografias em uma discussão sobre paisagem, dentre outros exemplos
possíveis. Nesses casos, não só a comunicação da informação geográfica é bem-sucedida,
como isso é feito de maneira muito mais eficiente e adequada, provando que a linguagem
própria do espaço nem sempre é representada pelo texto verbal e formal.

É a partir daí que podemos constatar o uso de diferentes linguagens como um recurso
válido e até necessário mesmo quando o objetivo não está centrado — diretamente — no
ensino e na aprendizagem, como é o exemplo de uma avaliação. Não à toa, é comum
observar-se o uso de múltiplas linguagens nas provas do Enem, com imagens retratando os
povos escravizados no Brasil ou mapas apresentando continentes e regiões do globo. De fato,
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há razão de ser nesta prática, tendo em vista o aporte na compreensão do sentido e dos dados
necessários a questão, por motivo já exposto no caso da geografia.

Além disso, saber ler as formas de linguagem necessárias à melhor compreensão do


conteúdo geográfico também nos parece algo de interesse à formação dos alunos, sendo,
portanto, algo não somente digno, mas indispensável de ser avaliado por parte dos exames.
Tal constatação surge principalmente da noção de alfabetização geográfica, que pode ser
definida da seguinte maneira:

Alfabetizar em Geografia é desenvolver uma estrutura de pensamento por meio das


competências sobre conhecimento geográfico, com as quais será possível tornar-se
hábil, isto é, desenvolver capacidades como a de descrever, observar, fazer leituras
cartográficas, relacionar, compreender diferentes níveis de escalas, entre muitas
outras que são necessárias para a estruturação do ensino de Geografia desde as séries
iniciais (Marques; 2009). A Geografia tem linguagem própria, conceitos,
vocabulário e raciocínios específicos. Ela possui, portanto, uma cultura própria,
passível de ser ensinada e aprendida no processo de alfabetização. (RODRIGUES,
2018, p. 33)

Em vista dos fatos já expostos, é sensato considerar o uso de diferentes linguagens


como algo necessário de se estar presente, com ainda mais ênfase, tanto no cenário do ensino,
quanto nas diversas formas de comunicação e avaliação de alunos, como é o caso do Enem.
Torna-se, portanto, plausível assumir como hipótese inicial o possível aumento da ocorrência
de diferentes linguagens dentre as questões do Enem de 2009 até 2023, no que diz respeito às
provas de ciências humanas e sociais aplicadas. Isto pois, é onde está enquadrada a disciplina
de geografia, a que possivelmente terá o maior número, já que é acreditada aqui como caso
particular quanto a necessidade de uso de múltiplas linguagens, como evidenciado.

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O emprego das diferentes linguagens nas ciências humanas, como já aqui mencionado
por algumas vezes, tem um caráter de indispensabilidade que apenas cresce com o tempo e o
desenvolvimento das tecnologias que influenciam cada vez mais a maneira de agir e
comunicar dos jovens. A pensar nisso, podemos imaginar então que a tendência de adesão a
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este recurso também é crescente. Faz sentido que seja, principalmente quando estamos
falando da conduta de instrumentos e políticas públicas, que em alguma medida tem relação
com a educação. No caso do ENEM, que convenientemente citamos aqui como exemplo, essa
relação não é nem tão distante, visto seu vínculo com o Ministério da Educação (MEC).

Sendo assim, o ENEM certamente ampliou, ao longo dos últimos anos, o seu uso de
diferentes linguagens nas provas de ciências humanas, correto? Respondendo simples e
diretamente: não. Na verdade, a resposta pode ainda ser mais frustrante que esta. Não apenas
esse aumento não foi observado, como a tendência captada foi de queda na frequência anual
de questões em que esse instrumento didático — e nesse caso comunicativo — é utilizado.
Esse fato pode ser observado com clareza nos dados demonstrados no gráfico 1.

Gráfico 1 – Quantidade de questões da prova de ciências humanas do ENEM que utilizaram


diferentes linguagens.
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Fonte: 1. Elaborado pelos autores com base nas provas do ENEM.

Para fins explicativos, podemos fundir os quinze anos demonstrados, em três médias
seguindo a sequência linear da utilização por ano. No primeiro quinquênio, a média de
questões por ano é de nove (9), depois dez (10) e por último seis (6). Isso significa que até
houve um leve aumento dos primeiros cinco anos da série para os segundos, mas um
decrescimento enorme dos segundos para os anos restantes, até 2023. Além disso, se
pegarmos cada ano de forma individual e avaliar minuciosamente a diferença dele para o
seguinte, do primeiro ao último da série histórica, perceberemos que, apesar da tendência de
queda e da queda factual que já aconteceu, não a linearidade no padrão. Por exemplo, após
2016, iniciasse a série de episódios de queda que constroem a atual tendência, mas nesse
caminho até 2023, há mais de uma situação de aumento em relação ao ano anterior,
principalmente em 2022, com um aumento de mais de cem por cento (5 questões).

Isso significa, basicamente, que pode não haver intencionalidade nessa redução
gradual que a prova de ciências humanas vem sofrendo em sua quantidade de questões com
múltiplas linguagens. Não estamos dizendo que essa intencionalidade não existe ou que ela
está descartada, mas que ela não pode ser provada com esses dados, justamente pelo fator há
pouco explicado. Entretanto, de forma alguma representa algo bom. Esses dados provam, isso
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sim, uma falta de intencionalidade em promover as múltiplas linguagens na prova de ciências


humanas.

O uso delas acaba sendo quase que "aleatório", sem que haja um pensamento ou
planejamento ativo nesse sentido. É como se a urgência em ampliar o uso das diferentes
linguagens, por mais evidente que já esteja, não fosse algo de conhecimento ou de interesse
no processo de elaboração da prova do ENEM. Percebe-se o recurso como algo negligenciado
pelo exame dentro do campo das ciências humanas, mesmo apesar das muitas vozes que
ecoam em defesa dele.

Se o mito dos cientistas como uma elite social em uma "torre de marfim" é verdadeiro,
por que eles não são levados em conta em uma constatação tão simples? Autores como
Rosselvelt Santos, Cláudia Costa e Marli Kinn (2010, p. 44) nos citam que "A utilização de
outras linguagens, que não apenas a verbal, escrita e não escrita, e/ou de outros recursos
técnicos, diferentes do papel e quadro-negro, é hoje inevitável e necessária na educação,
porque a sociedade já está vivendo no meio técnico-científico informacional desde os anos de
1970". Corroborando esse pensamento e voltando-se para a geografia, Cícera Alves (2015, p.
30) enfatiza que "os conteúdos geográficos com o apoio do livro didático devem ser pensados
e trabalhados com imagens, figuras, jogos, mapas, maquetes, filmes que complementem
respectivos conteúdos".

Esta última disciplina mencionada, contudo, ganha caráter especial dentro da


representação de diferentes linguagens nas ciências humanas trabalhadas nas questões do
ENEM. Como previsto na nossa hipótese inicial, geografia é a disciplina que, dentre as quatro
humanas, possui a maior quantidade de usos de múltiplas linguagens. Não apenas isso, mas
ela sozinha, concentra a maioria dos usos desse recurso na prova de ciências humanas, com
sessenta e um por cento (61%) das observações registradas da série histórica de quinze anos.
Tal fato pode ser analisado com mais detalhes no gráfico 2.

Gráfico 2 – Separação das questões de múltiplas linguagens da prova de ciências humanas do


ENEM entre geografia e o restante das outras disciplinas humanas.
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Fonte: 2. Elaborado pelos autores com base nas provas do ENEM.

Como acima observado, apenas em cinco dos anos pesquisados a geografia não obteve
a maioria dos usos de diferentes linguagens em suas questões, onde duas situações apresentam
resultados abaixo da metade (2021 e 2023). No restante dos dez anos, sempre alcançou a
maioria das questões, apesar de ser só uma dentre quatro disciplinas. Em um dos anos (2020),
inclusive, foi a única na categoria a apresentar questões com o citado recurso. Tal constatação
reforça o que já havia sido enfatizado sobre a afinidade particular da geografia com as
múltiplas linguagens, graças ao seu objeto de estudo que cobra uma abordagem
linguisticamente mais complexa.

Mesmo com isso tudo, as diferentes linguagens na geografia, no que diz respeito a
prova do ENEM, seguem um caminho semelhante à prova de humanas como um todo. Apesar
da queda quinquenal ser proporcionalmente mais baixa nos últimos dois (média de 6 e 4
respectivamente) quinquênios, no que diz respeito a geografia, sua tendência de queda acaba
sendo maior, graças aos último e antepenúltimo (2021 e 2023) anos, que apresentaram as
menores quantidades do recorde histórico para a disciplina. Essas inferências podem ser
percebidas no que demonstra o gráfico 3.
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Gráfico 3 – Questões de geografia da prova de ciências humanas do ENEM que apresentaram


diferentes linguagens.

Fonte: 3. Elaborado pelos autores com base nas provas do ENEM.

Isso só prova que a geografia sofre com o mesmo problema há pouco discutido sobre o
campo das ciências humanas como um todo. Na verdade, o caso dessa disciplina em
específico se torna ainda mais preocupante, vista a já evidente afinidade particular que ela
possui com as diferentes linguagens. A queda dramática apresentada nos últimos anos, caso se
mantenha, representa um potencial risco para uma significativa perda de qualidade do ENEM,
especialmente quanto às questões de ciências humanas. Mesmo tendo sua relevância
negligenciada, o uso de uma projeção cartográfica em uma questão que aborde o conceito de
território, por exemplo, pode ser fundamental não só para a compreensão da questão, como no
sentido de testar a habilidade do aluno em extrair informações de um recurso que pode ser útil
para sua vida em sociedade.

Apesar disso, mapas e cartas não se mantêm como um recurso de utilização abundante
e constante na prova de ciências humanas do ENEM. Embora seja o exemplo de múltipla
linguagem mais utilizado da referida categoria, em 2021, por exemplo, não fora utilizado
nenhum e em 2023 apenas um, como pode ser observado no gráfico 4. Isso indica, mais uma
vez, que não há um viés de uso necessário para tal instrumento, algo especialmente dramático
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para a geografia, já que é seu principal e mais importante exemplar dentre as múltiplas
linguagens. Na verdade, nenhum dos cinco tipos principais, isto é, que foram mais frequentes,
parece ter seu uso como regra, já que a ausência em algumas provas foi detectada para todos.
Isso serve para reforçar ainda mais a aleatoriedade das utilizações, sem que haja um rigor
metodológico em algum sentido, nem mesmo mera aproximação.

SUGESTÃO:

TROCAR ILUSTRAÇÕES POR IMAGENS;

COLOQUE MAPAS AO INVÉS DE PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS

Gráfico 4 – Proporção da utilização de cada uma das cinco múltiplas linguagens mais
frequentes nas provas de ciências humanas do ENEM.
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Fonte: 4. Elaborado pelos autores a partir das provas do ENEM.

Como pode ser visto, as duas principais diferentes linguagens utilizadas nas provas de
ciências humanas do ENEM foram fotografias e projeções cartográficas. É interessante citar
que elas foram, de certa forma, antagônicas em seus respectivos usos. Isto é, enquanto a
maioria das fotografias foram usadas em questões que não eram de geografia, principalmente
nos anos mais recentes, os mapas e cartas foram usados somente nas questões desta disciplina.
Isso pode indicar um padrão ou uma certa concepção que predomina no processo de
confecção dessas questões, onde projeções cartográficas são associadas somente à geografia
— nesse caso, de forma mais explícita — e fotografias são dissociadas. Caso exista, essa
concepção é deveras questionável, vista a ligação das fotografias com os conceitos de
paisagem e lugar, por exemplo.

Outra associação que pode ser feita, é entre o uso de gráficos e as questões de
geografia. Dos doze gráficos usados na prova de ciências humanas do ENEM, nove foram
utilizados em questões de geografia, o que também pode indicar uma relação que vai muito
além dos horizontes da coincidência. As tabelas, apesar de não aparecerem no gráfico, bem
como as ilustrações técnicas, também estão associadas, no ENEM, à geografia em uma
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proporção acima da sua respectiva porcentagem de questões com múltiplas linguagens, ao


passo que tais como charges e pinturas estão abaixo.

Essa série de "pequenas" evidências, juntas, formam uma prova mais sólida que nos
leva a crer que a geografia está parcialmente associada, no ENEM, à uma visão mais técnica e
objetivista, influenciada, talvez, por um neopositivismo oriundo da tradição fundada no que se
entende por New geography. Não estamos dizendo que todas as questões de geografia o são,
ou mesmo que essa tendência é hegemônica dentro do exame, mas que ela existe e em alguma
medida é determinante no uso das diferentes linguagens. É o que pode explicar a associação
de linguagens mais subjetivas e reflexivas com questões de outras disciplinas, e as mais
técnicas, numéricas e expositivas com as de geografia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do trabalho, fez-se possível perceber uma parcial validação da hipótese


inicialmente estabelecida. Isto porque, apesar da disciplina geográfica ter o maior destaque no
uso de múltiplas linguagens dentre as ciências humanas, como previsto, o uso desse recurso,
nessa categoria do ENEM, não aumentou. Tal situação classificasse como um bom exemplo
de que, o mais adequado nem sempre é sinônimo do que deve ser aguardado. Inclusive, pode
ser justamente o contrário, como pôde ser observado na pesquisa apresentada. Esse não é, no
entanto, motivo de lamento, visto que uma importante condição para mudar a realidade é
conhecê-la.

Portanto, estaríamos felizes se esse estudo pudesse servir como uma pequena peça em
um sistema capaz de operar na construção e/ou transformação de um viés; um que tornasse as
diferentes linguagens em um elemento de fundamental importância nas questões de ciências
humanas e suas tecnologias. Isto é, importância ao ponto de ganhar não só reconhecimento,
mas um compromisso adequado e claro de aplicação, que garantisse parâmetros mínimos e
fizesse conhecer os pressupostos existem de utilização para certos tipos de linguagens.
Pressuposições que aparentam ser obscuras, mas ainda assim existem e têm suas devidas
implicações.

REFERÊNCIAS
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Luis, reveja algumas questões das referências....como por exemplo:

NÃO PRECISA O TÍTULO DO ARTIGO FICAR MAIÚSCULO.

É PRECISO DESTACAR O TÍTULO DO LIVRO E NÃO A EDITORA....EM


ALGUNS CASOS, ESTÁ DIFERENTE.

ALVES, C. C. E. ENSINO DE GEOGRAFIA E SUAS DIFERENTES LINGUAGENS NO


PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO
BÁSICA E GEOGRÁFICA. Geosaberes: Fortaleza (CE), 2015.

CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Papirus Editora:


Campinas (SP), 18ª ed., 2013.

HEIDRICH, A. R. et all. Geografia. UNIFESP: Brasília, vol. 22, 2010.

MORETTIN, P. A.; BUSSAB, W. O. Estatística Básica. Editora Saraiva: São Paulo


(SP), ed. 6, 2010.

OLIVEIRA, W. M.; GIRARD, G. Diferentes linguagens no ensino de geografia. Disponível


em: https://docplayer.com.br/61141500-Diferentes-linguagens-no-ensino-de-geografia.html.
Acesso em: 05 de maio de 2024.

RODRIGUES, P. B. CATEGORIAS DO RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO E NÍVEIS DE


CONHECIMENTO: O USO DE INDICADORES DE ALFABETIZAÇÃO GEOGRÁFICA
NO ENSINO MÉDIO. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações: Guarulhos
(SP), 2018.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço; Técnica e Tempo. Razão e Emoção. Editora da


Universidade de São Paulo (EDUSP): São Paulo (SP), 4. Ed., 2002.

SANTOS, M. Por Uma Geografia Nova. Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP):
São Paulo (SP), 2008.

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