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ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO E A INCLUSÃO: O

POTENCIAL DA PESQUISA NA DESCONSTRUÇÃO DE MITOS

Andréia Jaqueline Devalle Rech1 - UFSM


Priscila Fonseca Bulhões2 - UFSM
Cássia de Freitas Pereira3 - UFSM

Eixo – Psicopedagogia, Educação Especial e Inclusão


Agência Financiadora: Fundo de Incentivo à Pesquisa - FIPE

Resumo

A inclusão escolar tem gerado muitos debates entre os educadores quando estes recebem em
suas salas alunos público-alvo da educação especial, ou seja, alunos com deficiências,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (AH/SD). Contudo,
quando o foco é a inclusão escolar do aluno com AH/SD, grande parte dos professores,
afirmam desconhecer a existência desses alunos no espaço escolar. Tal fato reside, ainda, na
invisibilidade dos alunos com AH/SD, associada a concepções equivocadas decorrentes da
escassa discussão da temática das AH/SD nos cursos de formação de professores. Tendo em
vista as discussões acima elencadas, o presente texto irá apresentar um recorte da pesquisa
“Representações sociais sobre os estudantes com altas habilidades/superdotação e a inclusão
educacional: o olhar dos professores”, vinculada ao Departamento de Educação Especial –
Centro de Educação, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O objetivo que será
discutido consiste em “compreender as representações sociais dos professores sobre a
proposta de inclusão educacional dos estudantes com altas habilidades/superdotação”. Este
estudo caracterizou-se como uma pesquisa de cunho qualitativo, do tipo exploratório
(SEVERINO, 2007). A pesquisa contou com a participação de professores pertencentes a uma
escola pública estadual da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul (RS) e profissionais que
atuam em uma unidade vinculada ao Gabinete da Reitoria da UFSM. Contudo, para este texto,
selecionou-se as análises decorrentes da pesquisa desenvolvida na Unidade da UFSM. O
instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista aberta, realizada individualmente,
previamente agendada. As mesmas foram gravadas e posteriormente transcritas para serem

1 Doutora em Educação: Linha de pesquisa em Educação Especial, pela Universidade Federal de Santa
Maria- UFSM. Professora Adjunta do Departamento de Educação Especial da UFSM. Pesquisadora do Grupo de
Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social. E-mail: prof.andirech@gmail.com
2 Mestre em Educação: Linha de pesquisa em Educação Especial, pela UFSM. Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social. E-mail: priscilafonsecabulhoes@gmail.com
3 Graduanda em Educação Especial pela UFSM. Integrante do Grupo de Pesquisa Educação Especial:
Interação e Inclusão Social. E-mail: cassiafpereira@hotmail.com

ISSN 2176-1396
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analisadas. Os resultados demonstraram que o ensino superior carece de maiores discussões


acerca da temática das AH/SD, do mesmo modo que tem sido observado na educação básica.

Palavras-chave: Altas habilidades/superdotação. Representações Sociais. Educação


inclusiva. Políticas públicas.

Introdução

Este texto tem como finalidade debater acerca da inclusão escolar do aluno com altas
habilidades/superdotação. Para tanto, optou-se por apresentar um recorte da pesquisa
“Representações sociais sobre os estudantes com altas habilidades/superdotação e a inclusão
educacional: o olhar dos professores”, vinculada ao Departamento de Educação Especial –
Centro de Educação, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que conta com a
participação de acadêmicas de iniciação científica, mestres e doutoras em educação, além de
professoras do curso de Educação Especial.
A referida pesquisa vem sendo desenvolvida desde o ano de 2016 com o objetivo de
“investigar as representações sociais dos professores a respeito dos estudantes com altas
habilidades/superdotação e da inclusão educacional, compreendendo os efeitos destas nas
práticas inclusivas”. No entanto, cabe salientar que, neste momento, será debatido acerca de
um objetivo específico: “compreender as representações sociais dos professores sobre a
proposta de inclusão educacional dos estudantes com altas habilidades/superdotação”.
Conforme orienta e apregoa a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), os estudantes com altas habilidades/superdotação
(AH/SD) devem receber a atenção necessária em sala de aula assim como o atendimento
educacional especializado em sala de recursos multifuncional.
Os estudantes com AH/SD estão inseridos no público-alvo da Educação Especial e
como integrantes deste grupo de sujeitos têm direito de serem identificados e atendidos, para
isso podem ser organizadas diversas estratégias para a identificação, acompanhamento e
atendimento educacional na escola, a fim de reconhecê-los e oportunizar uma educação
qualificada aos mesmos.
No entanto, comumente estes alunos permanecem “invisíveis” no contexto
educacional, pois não são reconhecidos ou, mesmo sendo informalmente identificados, não
recebem, muitas vezes, o acompanhamento educacional necessário para o avanço em suas
potencialidades.
Para que estas ações inclusivas possam ser concretizadas na prática educacional,
acredita-se na necessidade de formação docente para tal, tanto para o professor da sala de aula
assim como ao professor da educação especial, visto que são estes profissionais que possuem
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o contato direto com o aluno e podem contribuir diretamente para o seu crescimento pessoal,
intelectual, emocional e demais aspectos de sua subjetividade.
Com isso, este artigo tem o intuito de discutir, a partir de alguns referenciais teóricos e
específicos da área das altas habilidades/superdotação, bem como documentos Legais da
Educação e Educação Especial, alguns resultados de pesquisa acerca das representações de
profissionais de uma Unidade da UFSM, a qual presta serviços e orientações voltadas a
acessibilidade e inclusão de estudantes público-alvo da Educação Especial, da referida
Instituição.

Referencial teórico

Quando falamos em Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), logo, vem em mente


sujeitos com um potencial elevado, sejam elas intelectuais, psicomotoras, lógico-matemática,
etc. Estes sujeitos, que também são público-alvo da Educação Especial, necessitam de
atendimento educacional especializado e orientações, principalmente no que se referem aos
comportamentos e necessidades específicas no âmbito escolar.
Assim, neste item, iremos abordar as questões e concepções de quem é este sujeito
com AH/SD, e a inclusão desses alunos no contexto escolar.

Os alunos com altas habilidades/superdotação sob o viés da Teoria de Renzulli

Alunos com AH/SD estão presentes nos espaços escolares, porém, nem sempre são
visualizados pelos professores e gestão das escolas, passando despercebidos e não
contemplando as necessidades para seus potenciais.
Segundo a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008), define os alunos com AH/SD, aqueles que:

[...] demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou
combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de
apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de
tarefas em áreas de seu interesse (BRASIL, 2008, p. 09).

Entretanto, esses alunos possuem diversas características próprias, que podem se


manifestar em diferentes espaços sejam eles, social, familiar ou no meio onde vivem.
Para Renzulli (2004), as AH/SD podem se apresentar por meio de dois diferentes tipos,
sendo estes a superdotação produtivo-criativa e a acadêmica. O autor caracteriza as pessoas
produtivo-criativa como aquelas que apresentam “o uso e a aplicação do conhecimento e dos
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processos de pensamentos de uma forma integrada, indutiva e orientada para um problema


real” (RENZULLI, 2004, p. 83).
Já o segundo tipo de AH/SD, é denominado pelo autor como acadêmica, “é o tipo mais
facilmente mensurado pelos testes padronizados de capacidade e, desta forma, o tipo mais
convenientemente utilizado para selecionar alunos para os programas especiais” (RENZULLI,
2004, p. 82). Os alunos que são superdotados academicamente apresentam um rendimento
acima da média, gosto por estar em contato com a aprendizagem e normalmente tiram notas
altas.
No entanto, sobre esse assunto, Renzulli (2004, p. 82) corrobora que: “[...] são
exatamente os tipos de capacidades mais valorizadas nas situações de aprendizagem escolar
tradicional, que focalizam as habilidades analíticas em lugar das habilidades criativas ou
práticas”. Desse modo, os conhecimentos a respeito do tema das AH/SD possibilita que estes
alunos possam ser identificados e diferenciados no espaço escolar, para que assim possam ser
pensadas estratégias de inclusão para favorecer suas habilidades e potencialidades, e
consequentemente um bom desenvolvimento.
Renzulli (2004) também desenvolveu a Teoria dos Três Anéis. Para o autor, a pessoa
com superdotação deverá apresentar três comportamentos, sendo eles: habilidades acima da
média, comprometimento com a tarefa e criatividade. A intersecção destes três anéis resultaria
nas AH/SD. Além disso, é importante mencionar que estes comportamentos devem aparecer,
mas não necessariamente na mesma intensidade em uma ou mais áreas, fazendo com que o
aluno tenha condições de se destacar na mesma.
Diante disso, é imprescindível que as escolas promovam formas de desenvolver e
incentivar os diversos potenciais desses alunos com AH/SD, com organizações e propostas
diferenciadas de aprendizagem para esses sujeitos.
Assim, é importante a organização dentro do contexto escolar para proporcionar
espaços que oportunizem experiências enriquecedoras, a fim de potencializar as habilidades
desses alunos com AH/SD, além de desafios compatíveis as suas capacidades.
Inclusão escolar e altas habilidades/superdotação: uma discussão necessária

O conceito de AH/SD para alguns pode parecer estranha e desconhecida, conforme


mencionado anteriormente, a falta de informação se faz presente na sociedade principalmente
dentro das escolas. Porém, essa falta de conhecimento não é justificada pela ausência das
políticas públicas que contextualizam os direitos desses alunos, não só os com AH/SD, mas de
todos.
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A inclusão escolar está cada vez mais à frente nos espaços educacionais, onde se
questiona os direitos para todos os alunos. Esses passam a ser reconhecidos como pessoas que
necessitam de respeito e educação de qualidade. Segundo a Declaração de Salamanca (1994),
o princípio fundamental das escolas inclusivas:

[...] consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível,


independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas
devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptandose
aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de
educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização
escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação
com as respectivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de
serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola.
(DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 11-12).

Além disso, as escolas que seguem os princípios da inclusão devem proporcionar uma
convivência mútua tanto com os alunos em geral como também os alunos com alguma
deficiência.

As escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições


físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher
crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que
trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias
linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas
ou marginalizadas (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 17-18).

Ao falar dos alunos com AH/SD, que também necessitam de uma educação
satisfatória, esses alunos devem ser incluídos respeitando suas necessidades específicas. As
escolas juntamente com os professores devem estar preparadas para receber e trabalhar com
esses alunos, a fim de proporcionar uma educação de qualidade. A Constituição Federal
(BRASIL, 1988) garante, em seu Art. 205, o direito à educação, e também, nos Art. 206,
inciso I e Art. 208, inciso III, a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola
e a garantia do atendimento educacional especializado (AEE), dos alunos público alvo da
Educação Especial, preferencialmente, na rede regular de ensino.
Conforme o Decreto nº 7.611 de 2011 (BRASIL, 2011), o AEE deve ser ofertado de
modo a suplementar à aprendizagem para os alunos com AH/SD recebam em sala de aula.
Desta forma, não somente em escolas, mas também nas universidades, os gestores
devem proporcionar para os alunos com AH/SD que recebam um atendimento adequado e
busque contemplar suas áreas de interesse dentro e fora de sala de aula.
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Metodologia

Os estudos abordados neste artigo caracterizam-se como uma pesquisa de cunho


qualitativo, uma vez que busca investigar aspectos que envolvem percepções e análises que
não se baseiam em números. De acordo com Minayo,

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas


Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes (2004, p. 21).

Desse modo, acredita-se que uma abordagem qualitativa pode contribuir para o que
esta pesquisa se propõe investigar. Ainda seguindo os pressupostos de Minayo,

Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade


social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que
faz e interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com
seus semelhantes (2004, p. 21).

Seguindo desta abordagem, a presente pesquisa caracterizou-se como exploratória,


sendo assim descrita por “levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando
assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto”.
(SEVERINO, 2007, p. 123)
Diante disso, a pesquisa foi desenvolvida na UFSM, em uma Unidade de ensino. O
público foi professores e demais profissionais da educação, envolvidos no processo
educacional. Ao serem informados sobre as etapas do projeto, os mesmos foram convidados a
participar do estudo, assinando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para
autorização do uso dos dados.
Como instrumento para coleta de dados, foi realizada uma entrevista aberta, individual
com cada um dos participantes, na qual foram indagados a respeito de quem são os sujeitos
com AH/SD, como sabem destas informações, quais os efeitos destas representações, como
pensam a inclusão dos estudantes com AH/SD, entre outros questionamentos relacionados aos
objetivos da pesquisa. As entrevistas foram gravadas como forma de registro das informações
obtidas e posteriormente transcritas.
Entende-se que a entrevista pode ser uma técnica interessante para a coleta dos dados,
visto que é:

Técnica de coleta de informações sobre um determinado assunto, diretamente


solicitadas aos sujeitos pesquisados. Trata-se, portanto, de uma interação entre
pesquisador e pesquisado. [...] O pesquisador visa apreender o que os sujeitos
pensam, sabem, representam, fazem e argumentam (SEVERINO, 2007, p. 124).
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Com estes dados, foram analisadas quais são as representações sociais dos
participantes sobre o tema das AH/SD, o que vai contribuir para pensar sobre a inclusão destes
alunos neste espaço.
Este mesmo grupo de profissionais envolvidos na pesquisa foi convidado para
participar de um grupo de discussão sobre o assunto, o qual foi organizado em módulos
temáticos de acordo com o calendário da instituição, inserindo-se leituras, debates, palestras,
entre outros trabalhos sobre o assunto das AH/SD, a fim de contribuir como o processo de
esclarecimento e na formação sobre o assunto, buscando maior conscientização sobre o tema.
Posteriormente a realização do grupo de discussão com os participantes envolvidos, e
para finalização da pesquisa, foi proposto um questionário individual, procurando
compreender possíveis mudanças ocorridas nas representações dos professores, em relação às
narrativas iniciais, e os efeitos delas nas práticas inclusivas junto aos estudantes com AH/SD.
Estes dados obtidos foram analisados pela equipe do projeto a partir da Análise de Conteúdo
(BARDIN, 2011), sendo sistematizados em categorias e discutidos de acordo com os objetivos
propostos para a pesquisa e os com referenciais teóricos estudados.

Resultados e discussões

Durante a análise dos dados emergiu a categoria “inclusão educacional”, e após a


leitura atenta do material a referida categoria foi desmembrada em duas subcategorias:
concepção de inclusão educacional e inclusão educacional do aluno com AH/SD.
A primeira subcategoria identificada foi a “concepção de inclusão educacional”. Nela
as participantes reconheceram que a inclusão deve ser compreendida como um processo e
articulada com toda a comunidade escolar.
“Aí quando a gente fala inclusão educacional quer dizer que né, como professores a
gente tem que pensar nas possibilidades de desenvolvimento desse sujeito [...]”
(Relato da Senhorita Einstein).

“Para mim a inclusão educacional ela passa, pelo aluno, pelo professor, com toda a
certeza pela a instituição também sabe, porque a gente não pode pensar na inclusão,
só como uma boa vontade sabe, a inclusão precisa ter sim frente atitudinal precisa,
porque são relações [...]” (Relato da Senhorita Holmes).

“Eu acredito que a inclusão só vai acontecer no momento em que todos que estão na
escola né, se comprometam né a fazer com que aquele sujeito se sinta inserido na
escola e isso não é simplesmente dizer, ah ele vai ser bem vindo e pode ficar aqui e
tal, que sejam feitas adaptações necessárias para que ele possa ficar ali e se
beneficiar daquele contexto [...]” (Relato da Senhorita Nash).

“A inclusão seria a criança poder aprender da forma que melhor ela consegue sendo
respeitada no tempo dela. Enfim, mas o que eu vejo é que mesmo com toda essa
campanha com todo o envolvimento de muitas pessoas pra que isso seja visto seja
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pensado como algo positivo não tem ocorrido por que a tendência é homogeneizar, é
padronizar [...]” (Relato da Senhorita Edwards).

Por meio dos fragmentos das entrevistadas, também foi possível verificar que a
concepção de inclusão vai além da simples matrícula dos alunos que constituem o públicoalvo
da educação especial, alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação, (BRASIL, 2008).
Portanto, com a inclusão educacional almeja-se ir além da garantia de matrícula,
atentando para estratégias pedagógicas que contribuam para uma efetiva aprendizagem e
desenvolvimento destes alunos.
Contudo, como referido pela Senhorita Edwards, algumas práticas educacionais
inclusivas não tem conseguido abarcar as especificidades apresentadas pelos alunos
públicoalvo da educação especial, tendo em vista que a escola ainda direciona seu ensino para
alunos considerados “homogêneos”. Em consequência disso, os alunos que fogem desse
padrão esperado pela escola acabam ficando a margem do sistema educacional e, com isso,
predispostos a exclusão.
A próxima subcategoria analisada foi à inclusão educacional do aluno com AH/SD.
Nesta subcategoria as participantes relataram não ter tido experiências na inclusão educacional
do aluno com AH/SD.

“Aí eu acho que depende... Depende, por exemplo, se a pessoa é identificada ou não,
quem é o profissional que tá trabalhando com ele né, por exemplo, eu não tenho
conhecimento assim pra dizer Ah! Eu vou desenvolver um trabalho assim muito
bom com altas habilidades/ superdotação... Não... Não vou. Eu estaria mentindo,
porque eu não tive nada na graduação e mesmo que tivesse tido talvez não teria
assim desenvolvido essa área [...]” (Relato da Senhorita Einstein).
“Nunca vivenciei assim alguma pessoa que tivesse assim, essa pessoa tem altas
habilidades. Como é que foi feito e eu ainda não tenho esse, é uma coisa muito firme
para te dizer, eu só acho que isso tah sendo muitas vezes até confundido assim sabe”
(Relato da Senhorita Holmes).

“Eu particularmente nunca tive essa experiência de trabalhar com alunos com
AH/SD eu acho que eu não saberia te dizer exatamente. Eu entendo, o que eu sei é a
teoria né, que tem que fazer as adaptações necessárias a complementação curricular
feitas nas escolas e tal, mas eu particularmente nunca presenciei assim esse tipo de
serviço [...]” (Relato da Senhorita Nash).

“Eu não conheço nenhum. Mas eu penso que não conheço porque a gente não tem
formação sobre, talvez se tivéssemos informação seria possível... Então não sei...
Mas penso que deve ser complicado também porque o professor entender que aquele
aluno pode ir além em algumas coisas e talvez não em outras também é complicado”
(Relato da Senhorita Edwards).

Por meio de alguns dos relatos evidenciou-se a necessidade da temática das AH/SD ser
melhor debatida e aprofundada nos cursos de formação de professores, tendo em vista que é
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preciso conhecer as especificidades desses estudantes com AH/SD para, posteriormente,


ofertar os atendimentos necessários.
Além disso, é necessário que o assunto das AH/SD seja discutido nos diferentes
espaços educacionais, independentemente da etapa escolar que o estudante estiver
matriculado. Desse modo, poderia ser sugerido as instituições de ensino que ofertassem cursos
de formação continuada, com intuito de aproximar a temática das AH/SD do fazer pedagógico
dos professores, contribuindo assim para sensibilizá-los acerca da importância da
identificação dos comportamentos superdotados, bem como da orientação do que pode ser
ofertado aos mesmos, visando sua plena participação escolar, ou seja, contribuindo para sua
inclusão educacional.
Quanto à categoria “práticas pedagógicas inclusivas no atendimento dos alunos
com AH/SD”, as participantes destacaram a necessidade de conhecer o aluno com AH/SD e
trabalhar de forma a despertar o seu interesse, assim inserindo projetos e trabalho em equipe
entre os professores a fim de atender as potencialidades deste.
Além disso, ressaltaram a relevância da busca de metodologias que atendam às
dificuldades e as potencialidades deste público, respeitando as individualidades do aluno,
sendo o professor um mediador do processo de aprendizagem.

“[...] eu acho que significativo tem que ser alguma coisa que motive, coisas do
interesse assim como para qualquer outra criança, né, se tu não for pelo lado do
interesse da criança tu não vai conseguir motivar ela para aprender, então penso que
seria isso... As áreas... As coisas do interesse do aluno” (Relato da Senhorita
Edwards).

“Eu acho que envolver toda a escola também seria muito bom pra uma prática
pedagógica né, de querendo tá sempre assim querendo aproveitar, fazer com que o
aluno aproveite isso né, por exemplo [...]” (Relato da Senhorita Einstein).

De acordo com as falas destacadas pode-se perceber que as participantes compreendem


a importância da realização de práticas articuladas para o atendimento dos estudantes com
AH/SD, independentemente do nível em que os mesmos se encontrem. Contudo,
mencionaram, também, que para que acontecer ainda existem alguns desafios, já que
envolvem vários profissionais, novos conhecimentos necessários, diferentes metodologias,
etc.
Quanto à categoria “atuação para a inclusão do sujeito com AH/SD no ensino
superior”, as participantes ressaltaram na maioria de suas falas que não possuem experiências
com alunos com AH/SD sendo atendidos pela educação especial no ensino superior. Além
disso, destacam que há ainda falta de conhecimento teórico mais específico, assim como
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experiência prática para trabalhar com alunos com AH/SD, a fim de desenvolver
metodologias diferenciadas que atendam suas necessidades.

Considerações finais

Este artigo teve o intuito possibilitar uma reflexão, a partir das discussões teóricas
despendidas, acerca da inclusão escolar do aluno com AH/SD. Para tanto, apresentou-se
algumas proposições, ações e resultados do projeto de pesquisa intitulado “Representações
sociais sobre os estudantes com altas habilidades/superdotação e a inclusão educacional: o
olhar dos professores”, vinculado ao Departamento de Educação Especial – Centro de
Educação, da UFSM.
A referida pesquisa vem sendo desenvolvida desde o ano de 2016 e tem como objetivo
principal “investigar as representações sociais dos professores a respeito dos estudantes com
altas habilidades/superdotação e da inclusão educacional, compreendendo os efeitos destas
nas práticas inclusivas”.
Este trabalho de pesquisa, apesar de recente, é inspirado nas experiências oriundas em
um outro projeto, do mesmo departamento, que vigorou por quase quinze anos e era
coordenado pela professora Dra. Soraia Napoleão Freitas e desenvolvido, quase que
integralmente, pela mesma equipe executora do presente projeto. Cabe contextualizar que
devido a aposentadoria da supracitada professora, o antigo e pioneiro projeto dirigido a
identificação, bem como ao atendimento dos estudantes com AH/SD foi encerrado.
Desse modo, tanto durante a trajetória da pesquisa recentemente citada quanto na
atualidade tem-se encontrado diversas dificuldades enfrentadas no cenário da Educação
Especial. Ainda mais quando se discute acerca da inclusão dos alunos com AH/SD, tanto no
reconhecimento destes alunos como público-alvo da Educação Especial, conforme apregoa a
Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Diante
disso, um dos maiores entraves deve-se, talvez, as representações sociais equivocadas acerca
destes estudantes, pautadas em percepções distorcidas sobre sua real condição e necessidades.
Assim, observa-se, lamentavelmente, que em muitos contextos educativos, diversos
profissionais das mais variadas áreas do conhecimento, negam-se a refletir sobre o assunto
munindo-se das mais variadas justificativas, dentre as quais está a falta de tempo, incentivo,
recursos e escassez de subsídios para o estudo e compreensão deste fenômeno. Ademais, uma
situação tão grave quanto as supracitadas fundamentam-se nas justificativas, de alguns
professores, que alegam que estes estudantes não são prioridade, sobretudo no âmbito do
atendimento da Educação Especial, devido as suas percepções de que estes não necessitam de
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auxílio, uma vez que “sabem tudo”, ou “dão conta sozinhos” de aprender o que a escola deve
ensinar. Este tipo de concepção, sem nenhum interesse em julgar quem a nutre, serve apenas
para reforçar os mitos que permeiam o imaginário social e prejudicam a aprendizagem, o
desenvolvimento, a construção e descoberta de uma identidade sadia e a realização das
pessoas com AH/SD.
Nesse sentido, não se trata de procurar culpados, de responsabilizar intransigentemente
a família, a escola ou a sociedade pelas barreiras que se opõem aos direitos e necessidades dos
estudantes que carecem de atendimentos especializados. Do mesmo modo, não se trata de
acusar inflexivelmente o sistema educacional engessado e, por vezes, falido que está longe de
ser o “ideal”. Contudo trata-se de problematizar todos os fatores envolvidos nestes ambientes
e Instituições sociais, para ser possível a busca por alternativas que promovam efetivamente a
qualidade da educação, respeitando-se os princípios da inclusão, da solidariedade e da justiça
social.
Norteando-se por tais princípios éticos, estéticos e políticos o referido projeto de
pesquisa, vinculado ao Grupo de Pesquisa em Educação Especial: Interação e Inclusão Social
(GPESP), articulado aos trabalhos de um outro projeto, de caráter extensionista o qual atende
diretamente os estudantes com AH/SD, visa paulatinamente desenvolver um trabalho que
investigue e descontrua possíveis mitos, no âmbito da educação formal (escola e
Universidade).
Foi constatada a presença mitos no discurso de alguns profissionais entrevistados,
mesmo que não tenha sido observado uma amostra quantitativamente significativa,
considerase urgente e relevante desconstruí-los a fim de que os direitos dos estudantes com
AH/SD possam ser garantidos. Caso contrário, muitos permanecerão invisíveis,
desacreditados e/ou marginalizados no sistema educacional e na sociedade.
Portanto, almeja-se, por meio do trabalho desenvolvido no projeto, que se seja possível
construir uma “ponte” sólida em que transite e flua o diálogo, os debates, as ideias divergentes
e confluentes, a fim de estabelecer com a escola e com a família uma relação de reciprocidade
e confiança, compartilhando pontos de vista, experiências e concepções fundamentadas no
que concerne à temática das altas habilidades/superdotação e a inclusão.

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise do Conteúdo. Tradução Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro.
São Paulo: Edições 70, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Política Nacional de


Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC/SEESP, Brasília, 2008.
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_______ Conselho Nacional de Educação. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento


educacional especializado e dá outras providências. Resolução nº 7.611 de 17 de novembro
de 2011. Brasília: 2011.

_______ Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 2 jun.
2017.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das


Necessidades Educativas Especiais, 1994, Salamanca-Espanha. Disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:R4T5e7clSK4J:200.156.28.7/
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em: 2 jun. 2017.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23ª
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

RENZULLI, J. O que é essa coisa chamada superdotação e como a desenvolvemos?


Retrospectiva de vinte e cinco anos. Educação. Tradução de Suzana Graciela Pérez Barrera
Pérez. Porto Alegre, n. 1, p. 75–131, jan./abr. 2004.

SEVERINO, Antônio Joaquin. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. rev. e atual. São
Paulo: Cortez, 2007.

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