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ENTREVISTA - 14/08/2012 09h00

Stanislas Dehaene : "A neurociência deve ir


para a sala de aula"
O cientista condena o construtivismo como método de alfabetização e diz como os
estudos com cérebro podem ajudar disléxicos a ler
FLÁVIA YURI

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| NEURÔNIOS EM ATIVIDADE
O neurocientista Stanislas Dehaene em congresso na França. Há 20 anos, ele estuda o impacto dos números e das letras no cérebro
(Foto: divulgação)

Uma das tarefas comuns da ciência é desvendar a complexidade por trás de atividades aparentemente
simples. O matemático e neurocientista francês Stanislas Dehaene dedica-se a decifrar as mudanças
cerebrais causadas pelo ato de ler. Para ele, a leitura moldou o cérebro humano e preparou-o para
assimilar habilidades impossíveis de ser aprendidas por iletrados. Em seu livro Os neurônios da
leitura (Editora Penso, R$ 71), ele afirma que o conhecimento do impacto da leitura no cérebro pode
melhorar métodos de alfabetização para crianças e dá exemplos de como esse conhecimento tem
auxiliado pessoas com dislexia. E mais: Dehaene diz que a pedagogia do construtivismo, altamente
disseminada no Brasil, pode ser ineficaz para o ensino da leitura.

ÉPOCA – O que suas pesquisas sobre o impacto da leitura no cérebro revelaram?


Stanislas Dehaene – Constatamos que nosso cérebro aprendeu a ler a partir de uma reciclagem dos
neurônios. Isso quer dizer que neurônios usados na leitura antes eram empregados em outro tipo de
tarefa. Nosso cérebro de primata não teve tempo de amadurecer para aprender a ler. A leitura só foi
possível porque conseguimos adaptar os símbolos a formas já conhecidas há milhares de anos.
Diferentemente do que disse John Locke, nossa cabeça não é uma página em branco pronta para
aprender qualquer tipo de coisa. Esse é um exemplo de como a cultura se adaptou às possibilidades
de nossa mente. Concluímos que a leitura despertou em nosso cérebro a capacidade de perceber
diferenças sutis e aumentou nossa capacidade de memorizar informações. É interessante observar que
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o cérebro mobiliza a mesma área para a leitura de qualquer idioma. O processamento da leitura do
chinês ou do hebraico, da direita para a esquerda, acontece na mesma região que decodifica o inglês,
o francês e o português.

ÉPOCA – O senhor disse que a leitura usou uma parte do cérebro antes destinada a outras
funções. Que funções eram essas e o que aconteceu com elas?
Dehaene – Antes de aprendermos a ler, usávamos essa parte do cérebro para reconhecer formas de
objetos e de rostos. Se você escanear o cérebro de pessoas que não leem e comparar com as
alfabetizadas, a identificação de rostos para as iletradas mobiliza uma parte maior do cérebro que a
mesma função nas alfabetizadas. Existe certa competição de competências na mesma região do
cérebro. É como se ele tivesse de abrir espaço para a leitura.

ÉPOCA – Isso quer dizer, nesse exemplo, que o cérebro letrado passou a usar um número
menor de neurônios para a mesma função? Isso tem impacto na qualidade da função?
Dehaene – Não temos provas científicas de que ocorra perda de competência. Um mesmo neurônio
pode ter um número desconhecido de sinapses, de acordo com o estímulo do ambiente. Mas essa é
uma suposição lógica. Afinal, temos de dividir um mesmo número de neurônios em várias atividades.
Nosso grupo de pesquisas na Amazônia mostrou que o cérebro de pessoas que não leem tem
habilidades relacionadas à noção espacial e de matemática muito avançadas. Não temos dados
científicos que provem que eles sejam melhores nessas tarefas porque não leem. Mas essa é uma
possibilidade.

ÉPOCA – De que forma suas descobertas podem auxiliar no processo de educação?


Dehaene – Verificamos, por meio de várias experiências, que o método mais eficaz de alfabetização
é o que chamamos fônico. Ele parte do ensino das letras e da correspondência fonética de cada uma
delas. Nossos estudos mostraram que a criança alfabetizada por esse método aprende a ler de forma
mais rápida e eficiente. Os métodos de ensino que seguem o conceito de educação global, por outro
lado, mostraram-se ineficazes. (No método global, a criança deve, primeiro, aprender o significado
da palavra e, numa próxima etapa, os símbolos que a compõem.).

ÉPOCA – No Brasil, o construtivismo, que segue as premissas do método global para a


alfabetização, é amplamente disseminado. Por que os sistemas que seguem o método global são
ineficazes?
Dehaene – Verificamos em pesquisa com pessoas de diferentes idiomas que o aprendizado da
linguagem se dá a partir da identificação da letra e do som correspondente. No português, a criança
aprende primeiro a combinação de consoantes e vogais. A próxima etapa é entender a combinação
entre duas consoantes e uma vogal, como o “vra” de palavra. Essa composição de formas, do menor
para o maior, é feita no lado esquerdo do cérebro. Quando se usam metodologias para a alfabetização
que seguem o método global, no qual a criança primeiro aprende o sentido da palavra, sem
necessariamente conhecer os símbolos, o lado direito é ativado. Mas a decodificação dos símbolos
terá de chegar ao lado esquerdo para que a leitura seja concluída. É um processo mais demorado,
que segue na via contrária ao funcionamento do cérebro. Num certo sentido, podemos dizer que
esse método ensina o lado errado primeiro. As crianças que aprendem a ler processando primeiro o
lado esquerdo do cérebro estabelecem relações imediatas entre letras e seus sons, leem com mais
facilidade e entendem mais rapidamente o significado do que estão lendo. Crianças com dislexia que
começam a treinar o lado esquerdo do cérebro têm muito mais chances de superar a dificuldade no
aprendizado da leitura.

ÉPOCA – É possível quantificar esse atraso de leitura que o senhor menciona?


Dehaene – Quanto mais próxima for a correspondência da letra com o som, mais fácil para um
indivíduo automatizar a ação de ler. Português e italiano são idiomas muito transparentes, pois cada
letra corresponde a um som. Inglês e francês são línguas em que a correspondência de sons pode

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variar bastante. Pesquisas mostram que, ao ter aulas regulares, todos os dias, na escola, a criança leva
dois anos a mais para dominar o inglês que para dominar o italiano.

ÉPOCA – É possível identificar diferenças no cérebro de quem consegue ler palavras e frases,
mas tem dificuldade na interpretação de textos (no Brasil, eles são conhecidos como analfabetos
funcionais) em relação a alguém que lê e interpreta o conteúdo com fluência?
Dehaene – Não identificamos isso em pesquisa de imagens. Mas a dificuldade que algumas pessoas
têm de interpretar o que leem ocorre basicamente porque elas ainda não automatizaram a
decodificação das palavras. Decodificar pede esforço para quem não tem essa função bem
desenvolvida. Isso mobiliza completamente a atenção e os esforços de quem está lendo, a ponto de
não conseguir se concentrar na mensagem. A solução para melhorar a interpretação de texto é
automatizar a leitura. Por isso, é importante que crianças pequenas leiam de forma regular até que
isso se torne uma rotina. As crianças começam a interpretar textos com eficiência depois que a leitura
se torna um processo automatizado.

ÉPOCA – Aprender a ler partituras tem o mesmo efeito para o cérebro que ler palavras?
Dehaene – As áreas do cérebro usadas para ler letras não são exatamente as mesmas usadas para
decodificar música. Não há muitos estudos sobre a parte cerebral usada no aprendizado de música.
Mas há diversas pesquisas sobre o efeito da música na vida das crianças. Crianças que aprendem
música desenvolvem habilidades escolares avançadas, especialmente no domínio da leitura. Elas têm
mais facilidade para se concentrar. Aprender música aumenta os níveis de inteligência (Q.I.).
Aprender música é uma forma excelente de desenvolver o cérebro, especialmente o de crianças.

ÉPOCA – Pessoas com dislexia leem de forma diferente ou apenas mais devagar?
Dehaene – Pessoas com dislexia tendem a ter problemas com a conexão entre letra e som. É muito
difícil para elas entender essa ligação. Em parte, porque não podem distinguir muito bem as diferenças
dos sons da língua. Elas têm problemas com fonologia. Não com o som de letras como a, b, c e d.
Mas com o som da linguagem, como dã, bã e pã. Há diferentes tipos de dislexia. Há pessoas que têm
dificuldade em enxergar as letras em determinados lugares da palavra ou em visualizar símbolos
específicos. O que os disléxicos têm em comum é a dificuldade em criar o mapa dos símbolos e dos
sons.

ÉPOCA – Sua pesquisa pode ajudá-los de alguma forma?


Dehaene – Antes não era óbvio que a maioria dos disléxicos tinha problemas com os sons da
linguagem. Agora que sabemos disso, começamos a trabalhar com jogos de reabilitação com ótimos
resultados. É possível ajudar as crianças com dislexia com jogos de leitura, de rimas ou brincadeiras
de mudar sílabas. Pode-se brincar de trocar o som de “bra” de Brasil por “dra” ou “pra”. Vimos que
brincadeiras orais fáceis têm facilitado o aprendizado.

ÉPOCA – Que resultados esse tipo de exercício já produziu?


Dehaene – Constatamos com exames de imagem que partes do cérebro não usadas em pessoas com
dislexia passam a ser exercitadas com esse tipo de atividade. Isso as ajuda a perceber os sons da
linguagem, o que é muito importante para o aprendizado da leitura. Para surtir resultados, é
importante aplicar esses jogos todos os dias, de forma intensiva.

ÉPOCA – Se o cérebro dos disléxicos é organizado de forma diferente, isso sugere que eles
possam ter outras habilidades que alguém sem a dislexia não tem?
Dehaene – Essa é uma questão interessante. Assim como há a possibilidade de perdermos algumas
habilidades quando aprendemos a ler, existe a possibilidade de o cérebro disléxico ter facilidade com
algumas áreas. Ainda faltam pesquisas para podermos constatar isso. Mas estudos sugerem que o
senso de simetria do disléxico pode ser mais desenvolvido, e isso ajuda em matemática. Sabemos que

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há muitos disléxicos que podem ser bons em matemática. Estudos sugerem que eles podem enxergar
padrões sofisticados com mais facilidade.

ÉPOCA – Pode haver gênios em matemática que não sabem ler?


Dehaene – Isso é algo muito, muito raro. Pode haver pessoas iletradas muito boas em cálculos. Mas
elas não serão gênios em matemática sem ler. Para avançar em matemática, a pessoa precisa entender
diferenças sutis num nível muito sofisticado. É justamente a percepção dessas diferenças sutis que a
leitura ativa no cérebro. Ler é uma habilidade extraordinária que pode transformar o cérebro e
prepará-lo para outros níveis de aprendizado. Não dá para ir muito longe sem leitura.

Fonte:

http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/08/stanislas-dehaene-neurociencia-deve-ir-para-sala-
de-aula.html

Questão de método

Eficiência do construtivismo no processo de alfabetização é questionada por defensores do antigo método


fônico

Kristhian Kaminski e Patrícia Gil

A precariedade da alfabetização no País é uma realidade demonstrada não só na falta de letrados como no
excesso de números negativos. O Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) mostra que o
desempenho dos estudantes da rede pública, que já não era dos melhores, está piorando. Esses
indicadores educacionais, nos próximos anos, vão engrossar as fileiras de trabalhadores sem qualificação,
desempregados e sem perspectivas sociais. O fracasso das sucessivas tentativas do governo federal em
superar essa deficiência é um desafio já resolvido em muitos países desenvolvidos. No Brasil, a polêmica
pode estar apenas começando e - dentro das carências estruturais típica de um cenário de
subdesenvolvimento - parte da culpa pode estar no método de ensino e na sua falta de adequação à
realidade socioeconômica do país.

Até então considerado o que havia de mais moderno e eficaz entre as teorias de ensino, o construtivismo
passou a ser alvo mais freqüente de ataques. Mesmo os seus mais fiéis adeptos reconhecem que seu
emprego na educação básica brasileira vem sendo, no mínimo, distorcido. O conceito preconiza que é
preciso levar em consideração a bagagem cultural adquirida pela criança antes de ingressar na escola. A
técnica consiste em apresentar o mundo letrado ao aluno diretamente por meio do texto, mesmo antes que
ele seja capaz de decodificar cada palavra.

Pois é exatamente aí que se encontra a raiz do problema brasileiro: os que pregam a concepção
construtivista muitas vezes ignoram que esses estudantes-mirins trazem de casa uma bagagem bem mais
vazia do que se esperava. Eles herdam dos pais uma história de defasagem educacional. "É a mesma coisa
que pegar um texto em alemão, entregar a alguém que não conhece a língua e pedir para ler. Ou pegar
uma partitura de Chopin e dar para um iniciante em música", comenta o professor Fernando Capovilla.

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coordenador do Laboratório de Neuropsicolingüística Cognitiva Experimental (Lance), do Instituto de
Psicologia da USP.

Capovilla afirma que o construtivismo condena as crianças de classes menos favorecidas ao fracasso
escolar. Além de questionar a validade da concepção usada no Brasil, ele é um dos mais ferrenhos
defensores do emprego do método fônico. Taxado de antiquado por educadores ligados ao Ministério da
Educação, o método prevê o básico: ensinar às crianças a correspondência entre sons (fonemas) e letras
(grafemas).

Para Telma Weisz, supervisora do programa de alfabetização do MEC, o método fônico sempre teve
defensores e sempre terá: "Mas o mundo mudou e ele continuou como era na década de 20. Sempre
haverá gente com uma visão mais tecnicista do ensino e para estas o método fônico é mais adequado". Por
aí dá para se ter uma noção do abismo que separa os entusiastas de cada uma das linhas de alfabetização.

A concepção construtivista surgiu em meados da década dos 80, baseada nos estudos de psicogênese da
língua escrita apresentados pela educadora argentina Emília Ferreiro. Em 1996, essa linha de ensino foi
institucionalizada no Brasil, a partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). No
entanto, ao longo da sua implantação ocorreram alguns desencontros entre teoria e prática. O primeiro foi a
falta de preparo de muitos professores para lidar com a nova situação. Estes, por sua vez, põem a culpa no
sistema. Reclamam, entre outras coisas, que são impedidos de corrigir os erros dos alunos. Isto porque a
teoria prega, entre outras coisas, que nas séries iniciais o importante é que a criança exercite a escrita a
seu modo e somente numa etapa mais avançada é que se deve introduzir conhecimentos de ortografia e
gramática.

Outra distorção é acreditar que o construtivismo é incompatível com métodos de ensino tradicionais. A
Espanha é prova de que isso não é verdade. As escolas espanholas também se orientam pela linha
construtivista, mas sem deixar de lado o método fônico, empregado para reforçar a capacidade de leitura
dos estudantes.

No Brasil, o construtivismo esbarra num grande complicador. Ao se apoiar na bagagem cultural de cada
criança, a tendência é de que estudantes oriundos de famílias menos letradas enfrentem dificuldades. Essa
lógica é confirmada pelos resultados do Saeb de 1999. Filhos de pais que nunca freqüentaram a escola
estão na faixa de desempenho abaixo da média nacional (170 pontos) na prova de Língua Portuguesa,
numa escala que vai de 0 a 500. As crianças da quarta série do ensino fundamental nesta condição
atingiram 161,3 pontos, contra 200,2 dos filhos de pais com nível superior de escolarização. Segundo o
censo educacional de 2000, a média de estudo do brasileiro é de 5,7 anos.

A renda familiar é outro fator que contribui para que uma criança tenha um desempenho melhor ou pior, já
que interfere diretamente no grau de acesso da família ao conhecimento, como a compra de livros, por
exemplo. De acordo com dados do IBGE, cerca de 60% da população brasileira tem renda familiar média de
até cinco salários mínimos.

Pode-se supor com base nesse cenário que o construtivismo teria melhores resultados em países em que a
população é mais culta. No entanto, boa parte deles adota métodos considerados ultrapassados pelos que
defendem o construtivismo. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Itália, Canadá e Portugal, para citar
alguns exemplos de países desenvolvidos, empregam o método fônico antes de partir para a compreensão
e interpretação de textos. Ele, porém, não é aplicado isoladamente, mas como parte essencial de um amplo
programa de leitura e escrita (veja quadro). O resultado: segundo números da Unesco, esses países têm

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taxas de reprovação que não chegam a 5%. Na Alemanha, cujo sistema está centrado no método fônico, a
taxa de repetência é de apenas 2%.

É claro que não é só o método o responsável por esses resultados, mas sim toda uma estrutura
socioeconômica. No entanto, no grupo de países em desenvolvimento, também há quem aplique o método
fônico, integrados a outras ferramentas, com bons resultados. O Chile é um exemplo. Cuba, com uma taxa
de repetência de 3%, é outro.

A discussão em torno do método de ensino brasileiro está só no começo. Mas nos Estados Unidos o debate
é tão acalorado que vem sendo chamado de reading wars, o que traduzido ao pé da letra seria algo como
"guerra na leitura". Por causa dessa briga, o National Institute of Child Health and Human Development
(Instituto Nacional de Saúde da Infância e Desenvolvimento Humano) fez, entre 1997 e 1999, a pedido
do Congresso norte-americano, o mais completo levantamento já produzido naquele país sobre
métodos de alfabetização. Batizado de National Reading Panel (Painel Nacional de Leitura), a pesquisa
tinha como objetivo descobrir se a abordagem fônica era realmente eficaz.

Para executar o trabalho, foi formada uma comissão composta por pesquisadores, representantes de
escolas, professores e pais. Numa primeira etapa, o grupo identificou cerca de cem mil estudos sobre
alfabetização realizados no país desde 1966 e selecionou os mais relevantes. Foram realizadas
diversas audiências públicas, nas quais o tema foi amplamente debatido. A partir desse levantamento, a
comissão elaborou um relatório, apresentado ao Congresso em fevereiro de 1999.

A conclusão da pesquisa foi de que as crianças alfabetizadas por meio de métodos fônicos
desenvolvem melhor a compreensão e interpretação de textos, além de melhorar a expressão oral.
"As descobertas mostraram que ensinar as crianças a manipular fonemas foi altamente efetivo sob uma
variedade de condições de ensino e uma variedade de alfabetizandos de diferentes séries e idades", atesta
o estudo. Os participantes do painel destacam que o treinamento em consciência fonética não constitui um
programa completo de leitura. "No entanto, ele dá à criança conhecimento essencial sobre o sistema
alfabético. É um componente necessário a um completo e integrado programa de leitura", afirma o
relatório.

Outras entidades, como a International Reading Association (Associação Internacional de Leitura), dos
Estados Unidos, também defendem a utilização do método fônico. Segundo dados da instituição, 98% das
escolas norte-americanas utilizam o sistema em seus programas de alfabetização. "O ensino de
fonética, que foca a relação entre sons e símbolos, é um importante aspecto no começo da
alfabetização. Porém, uma instrução fônica efetiva deve estar encravada num contexto de leitura e
linguagem", defende a associação. A Educational Resources Information Center (Centro de Informações em
Recursos Educacionais) também prega que nenhuma técnica isolada tem bons resultados, mas considera o
método fônico parte integrante de um bom sistema de alfabetização.

O Ministério da Educação, a quem cabe elaborar as diretrizes do ensino no país, não admite a
hipótese de que o baixo desempenho dos alunos do ensino fundamental e médio no Saeb possa
estar associado ao modelo. Aliás, rejeita a redução do construtivismo a um método, no que está certo,
mas não aceita a possibilidade de que o sistema talvez precise ser reavaliado.

Para Telma Weisz, o método fônico ignora o que a criança já sabe e reduz o aprendizado a um processo
mecânico. Mas ela reconhece que há um movimento "ainda incipiente" que prega mudanças no atual
sistema e que, dentro deste quadro, apenas o método fônico tem sido reafirmado como uma alternativa

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válida. "A minha crítica é que ele reduz o ensino à associação de sons e letras, continua ignorando que a
língua não é apenas isso." Telma ressalta que o construtivismo é um conjunto de práticas, nas quais o
ensino é concebido dentro de um modelo de resolução de problemas. "Não há como compará-lo com o
método fônico, embora muita gente queira emplacar essa comparação", critica. Na avaliação da supervisora
de alfabetização do MEC, as taxas de repetência no Brasil sempre foram muito altas e, portanto, os
métodos de alfabetização tradicionais vinham se mostrando "inadequados desde sempre".

Países da Europa e os Estados Unidos, segundo ela, só não vinham enfrentando problemas com o método
fônico até agora porque sempre tiveram uma população bastante homogênea. Ou seja, em sociedades
mais letradas, qualquer técnica de alfabetização tende a ter sucesso. Com o aumento da imigração nos
países desenvolvidos, o sistema até então bem sucedido tende a dar sinais de esgotamento. A avaliação de
Telma inverte os argumentos dos educadores que acusam o construtivismo de elitista.

O professor Capovilla discorda da posição do MEC. "O Brasil posa de moderno, mas diversos países
desenvolvidos usam o método fônico com bons resultados. O Brasil continua na pré-história",
acredita. Para ele, o construtivismo roubou do professor a função de ensinar, ao pregar que o texto
seja introduzido desde o início da alfabetização. O método fônico, diz, não impede a introdução de
textos no aprendizado, mas prevê que isso ocorra somente depois que o aluno tiver capacidade para
decodificá-lo.

Como prova do fracasso do construtivismo entre alunos de classes mais baixas, ele cita uma escola
pública de Marília (SP) que, após constatar que as crianças chegavam à 4.ª série do ensino
fundamental sem saber ler e escrever, decidiu voltar a empregar o método fônico e conseguiu
reverter a situação.

De acordo com especialistas, existem alguns riscos de se introduzir um texto para uma criança que não
sabe ler. Um deles é de que ela passe a adivinhar o significado das palavras em vez de compreendê-las e
faça associações equivocadas. Um exemplo: se a criança conhece a palavra formiga, ela pode passar a
confundir termos parecidos, como formigamento ou formigueiro. Dados do Lacen-USP indicam que o
percentual de crianças com dificuldades de leitura gira em torno de 4% no mundo. No Brasil, chega a
10%, fato atribuído por Capovilla ao sistema de ensino brasileiro.

Para a maioria dos estudiosos da área educacional, ainda é possível apostar no construtivismo, desde que
ele passe por uma reavaliação. "A questão fundamental é a má interpretação que se faz do construtivismo.
Um grande erro é afastar totalmente o método e deixar que a criança aprenda sozinha", diz a lingüista
Magda Becker Soares. Para ela, não se pode voltar ao passado, quando o professor tinha a receita pronta e
bastava aplicá-la. "No construtivismo não se dá receita, mas sim meios para acompanhar o processo e
interferir na hora adequada. Para isso, o professor tem que conhecer fonologia, além da teoria da
aprendizagem e questões de linguagem."

Na avaliação de Magda, abandonar o construtivismo não é a solução, mas é preciso rever alguns pontos.
"Em certos momentos é preciso trabalhar com o método fônico, em outros o método silábico é mais
adequado. Há muito exagero dentro das correntes do construtivismo, como abrir mão do material didático,
por exemplo."

A lingüista Idmea Smeghini-Siqueira, professora da Faculdade de Educação da USP, também defende um


meio termo. Ao contrário do que se pensa, comenta, o professor continua sendo fundamental. Mas ele
precisa conhecer o processo de aprendizagem e a real situação do aluno, que ainda não sabe ler. Para ela,

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o grande entrave ao processo está em mudar a cabeça de quem ensina. "Alguns entraram em contato com
o construtivismo de forma muito superficial e não souberam aplicá-lo. Nesse caso, essa concepção acaba
ficando como adorno porque não tem efeito."

O problema dos baixos níveis de aprendizagem toma contornos mais graves se levarmos em conta que
junto com a concepção construtivista muitas escolas adotam processos de progressão continuada. Ou seja,
o aluno passa a ser avaliado no final de um período (geralmente ao final da quarta e da oitava séries do
ensino fundamental) e até chegar lá vai sendo aprovado mesmo que não tenha aprendido todos os
conteúdos necessários.

As pesquisas do MEC, entre elas o Saeb, mostram que o aluno tem melhor desempenho quando está entre
colegas da mesma idade. Um estudante da terceira série, por exemplo, tem mais chances de progredir se
passar para a quarta série do que se repetir o ano. O sistema de ciclos, porém, acaba por mascarar um
problema: a defasagem idade-série está sendo substituída pela defasagem de conhecimento. "O que não
pode acontecer é o professor constatar que o aluno chegou à quinta série, por exemplo, sem saber ler, e
querer insistir em ministrar o conteúdo previsto", avalia Ruben Klein, consultor da Fundação Cesgranrio.

Esse tipo de teimosia tem muito a ver com a história do construtivismo no Brasil. Não que a culpa seja toda
do modelo. Mas pode estar na insistência cega em não rediscutir um sistema que ainda não demonstrou ser
capaz de sozinho melhorar os indicadores de qualidade.

(Colaborou: Silo Meireles)

De mal a pior
Taxa de aprovação pode ser ainda menor nas próximas pesquisas, ao serem considerados os índices de
evasão

Os resultados do Saeb de 1999 mostram que os níveis de desempenho dos alunos das quarta e oitava
séries do ensino fundamental e da terceira série do ensino médio estão numa tendência de queda se
comparados aos de 1997. No caso dos alunos da quarta, a média mínima exigida para Língua Portuguesa
varia de 150 a 200 pontos. Apesar de estar dentro dessa margem, a nota média dos alunos caiu de 186,5
em 1997 para 170,7 em 1999. No caso da oitava série, cuja média deve ficar entre 200 e 250, a nota baixou
de 250 para 232,9. E entre os estudantes do ensino médio, cujo padrão exigido vai de 250 a 300 pontos, a
nota média caiu de 283,9 para 266,6.

Quando se fala em médias gerais, até pode parecer que a situação não é das piores. Mas Ruben Klein, da
Fundação Cesgranrio, faz um alerta: "O Saeb mostra que boa parte dos alunos tem um déficit de
conhecimento preocupante, que vai aumentando ao longo dos anos. Muitos alunos de quarta série
apresentam nível de conhecimento compatível com os de segunda. No caso dos alunos de oitava, eles
estariam num nível de quinta. E na terceira série do ensino médio o atraso é ainda maior: muitos estariam
num nível de sétima série".

Klein faz duras críticas ao sistema de progressão continuada e diz que o aluno deve sim ser avaliado. "Não
é proibido aplicar testes. Quando se proíbe isto é um desastre. Os testes não são para punir o aluno com a
reprovação, mas sim para avaliar o processo, para ver se o conteúdo que está sendo ministrado precisa ser
revisto", afirma.

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Segundo ele, as taxas de evasão escolar continuam altas. Em 1999, elas eram de 18%, o que equivale a
6,5 milhões de estudantes. Para Klein, a maior parte destes abandonou a escola porque não estava
aprendendo. Por causa da evasão, os índices de aprovação devem piorar nos próximos levantamentos. Até
agora, ao calcular o número de alunos que passavam de ano, o MEC ignorava os que deixavam a escola -
distorção que já está sendo corrigida. "A alteração no cálculo pode dar uma diferença de até 20%. Uma
escola com taxa de aprovação de 70%, ao considerar a evasão, pode ver esse número cair para 50%",
argumenta.

Na média geral, a taxa de reprovação no ensino público brasileiro gira em torno de 20%. De acordo com o
MEC, a repetência em 1999 chegava a 35% na primeira série do ensino fundamental. O índice é alto
também entre os alunos da segunda série, chegando a 22%. Ele cai para cerca de 15% na terceira e quarta
séries e volta a subir na quinta, quando atinge 24%. Para se ter uma idéia, países vizinhos como a
Argentina e Chile têm taxas de repetência de apenas 5%.

Revolução conservadora
Escola da periferia de Marília contraria recomendação do MEC e adota com sucesso o método fônico

Localizada na periferia do município de Marília (SP), a Escola Municipal Fundamental Professor Nelson
Gabaldi era um retrato do fracasso do ensino público. Há dois anos, de uma turma de quarenta alunos
matriculados na quarta série, dez não sabiam ler e escrever. Na primeira série, a situação era ainda pior:
metade dos alunos terminava o ano sem estar alfabetizada. "Aqui nós não aplicamos o construtivismo de
jeito nenhum. O sistema dá certo para aluno rico, não para as nossas crianças, que não tem um livro
sequer em casa", diz a diretora Ilza Seabra.

A escola, com 650 alunos, passou a empregar o método fônico e, segundo a direção e os professores, está
conseguindo alfabetizar os alunos. "A Secretaria de Educação adota a linha construtivista, mas nos deu
uma espécie de liberdade vigiada para mudar de tática", explica Ilza.

Para corrigir as deficiências dos alunos, foi preciso realfabetizá-los. "Pegamos os estudantes de todas as
séries que não sabiam ler e recomeçamos do zero com o método fônico", afirma a diretora. A professora
Pedra Bertazzi de Camargo, da quarta série, diz que acompanhou na escola crianças alfabetizadas pelo
construtivismo e pelo método fônico e notou que a diferença é grande em favor das últimas. Hoje, apenas
dois alunos entre quarenta não sabem ler e escrever adequadamente, média cinco vezes menor do que há
dois anos. "Com crianças carentes, sem estrutura, não dá para aplicar o construtivismo", comenta.

A professora Ana Cláudia de Souza, da primeira série, vai mais longe: "No meu primeiro ano aqui na
escola eu trabalhei na concepção construtivista, na qual eu até acreditava na época. Mas depois que
passei a usar o método fônico e vi os resultados, percebi o mal que tinha feito com meus primeiros
alunos."

O ABC das correntes de ensino


Tradicional : É uma proposta de educação centrada na figura do professor. O princípio é a transmissão de
conhecimentos por meio da aula, freqüentemente expositiva, numa seqüência pré-determinada e fixa que
enfatiza a repetição de exercícios com exigência de memorização. Muitas vezes não leva em consideração
o que a criança aprende fora da escola.

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Montessoriana: Criada em 1907, na Itália, pela fisioterapeuta e educadora Maria Montessori, essa
concepção prega a auto-educação dos alunos com apoio de materiais didáticos. O professor assume um
papel de observador e incentivador. A aprendizagem automotivada e individualizada é a essência do
método.

Renovada: Trata-se de uma concepção que inclui várias correntes, as quais defendem a chamada Escola
Nova ou Escola Ativa. Prega a valorização do indivíduo como ser livre, ativo e social. O centro da atividade
escolar não é o professor nem o conteúdo disciplinar, mas sim o aluno, como ser ativo e curioso. O mais
importante não é o ensino, é o processo de aprendizagem. O professor é um facilitador. A idéia do ensino
guiado pelo aluno, em muitos casos, acabou por desconsiderar a necessidade de um trabalho planejado
sobre o que deve ser ensinado e aprendido.

Tecnicismo: Nos anos 70, surgiu um conceito batizado de "tecnicismo educacional". O que é valorizado
nesse conceito é a tecnologia empregada. O professor passa a ser um especialista na aplicação de
manuais e sua criatividade fica subordinada aos limites da técnica utilizada. Instituiu uma prática
pedagógica altamente controlada e dirigida pelo professor.

Libertadora: No final dos anos 70 e início dos anos 80, ocorre uma intensa mobilização dos educadores
por uma educação crítica a serviço das transformações sociais, tendo em vista a superação das
desigualdades. A pedagogia libertadora tem suas origens nos movimentos de educação popular que
ocorreram no final dos anos 50, interrompidos pelo golpe militar de 1964. Nesta proposta, a educação está
centrada na discussão de temas sociais e políticos. O professor é um coordenador de atividades que atua
conjuntamente com os alunos. O método Paulo Freire pode ser enquadrado dentro desta linha.

Crítico-social: A pedagogia crítico-social, que surge no final da década de 70, aparece como uma reação
de alguns educadores à corrente libertadora, considerada omissa em relação ao chamado "saber
elaborado". A concepção defende que não basta apenas discutir questões sociais da atualidade, mas que é
necessário também enfatizar o conhecimento histórico.

Piagetiana: Surge com maior evidência a partir dos anos 80, baseada nos estudos de psicologia genética
conduzidos por Jean Piaget. Nesta concepção, o enfoque está centrado no caráter social do processo de
aprendizagem. Considera que além do domínio dos conhecimentos formais para uma participação crítica na
sociedade, também é necessária uma adequação pedagógica às características de um aluno que pensa.
Esse enfoque trouxe para a educação aspectos relevantes, principalmente no que diz respeito à forma de
entender a relação entre desenvolvimento e aprendizagem.

Construtivista: É a linha atualmente seguida pelas escolas públicas brasileiras, preconizada pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Surgiu em meados dos anos 80, a partir de estudos sobre a
psicogênese da língua escrita, conduzidos por Emília Ferreiro e Ana Teberowsky. Enfatiza o conhecimento
que a criança já tem antes de ingressar na escola. O processo de alfabetização está focado principalmente
na língua escrita, ou seja, na leitura. Em alguns casos, no entanto, existem distorções na aplicação do
conceito. Uma delas é a de que não se deve corrigir os erros dos alunos. Outra distorção é confundir o
construtivismo com um método ou afirmar que ele é incompatível com outras técnicas.

Método sintético: Termo utilizado para se referir à maneira como se alfabetiza a criança nesse processo. É
mais usado em escolas que adotam metodologias e posturas tradicionais. A alfabetização é feita a partir de
elementos mais simples - letra, fonema ou sílaba - que são combinados, formando as sentenças. Pode ser
alfabético, fônico ou silábico.

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Método global: Tem como ponto de partida elementos significativos, unidades de sentido - palavras,
sentenças ou pequenos textos -, que são usados para levar ao conhecimento dos elementos fonéticos.
Pode ser dividido em palavração, sentenciação ou unidades de experiências, dependendo do elemento que
se emprega na alfabetização. Existe ainda o método chamado de analítico-sintético, que mescla todos os
elementos.

Método fônico funciona


Algumas conclusões do National Reading Panel a respeito da eficácia do método empregado nos Estados
Unidos:

· A manipulação de fonemas é altamente eficaz sob as mais variadas condições de ensino. A consciência
fonológica amplia significativamente a capacidade de leitura da criança, mais do que qualquer outra técnica
que desconsidera aspectos fônicos.

· O método fônico não é uma técnica completa de ensino, embora forneça às crianças conhecimento
fundamental do sistema alfabético. Mas é parte essencial num programa de alfabetização de sucesso. É
preciso, porém, desenvolver a consciência fonológica, ou seja, não ficar limitado ao ensino da relação
letra/som e sim aplicar os ensinamentos à compreensão de textos.

· A aplicação sistemática do método fônico produz benefícios em estudantes do jardim de infância à sexta
série (acima disso ficou comprovado que a técnica pouco acrescenta aos estudantes) e para crianças em
geral com dificuldades de leitura. O estudo também verificou que o desempenho dos alunos é pior em
classes que usam menos o método fônico.

· Alunos que foram alfabetizados por meio do método fônico demonstram melhor capacidade para
decodificar textos e ler em voz alta.

· Os efeitos do método fônico são mais substanciais nas etapas iniciais (jardim de infância e primeira série)
e, portanto, ele deve ser implementado nestas séries.

Países e métodos
Brasil: Construtivismo - Concepção que se apóia no conhecimento adquirido pelo aluno antes de
ingressar na escola. O texto escrito é a base do programa de alfabetização. A criança é incentivada a ler
desde o começo e a reconhecer palavras que fazem parte do seu cotidiano. Não está associada a outras
técnicas de ensino.

Alemanha: Método misto - Os estudantes têm liberdade para opinar sobre as ferramentas que serão
utilizadas e não há um método fixo. O método fônico, baseado num conjunto de cartões em que são
associas letras a imagens, é aplicado nas séries iniciais. Até que a criança esteja apta a decodificar um
texto, a leitura é sempre feita com a ajuda deste sistema.

Itália: Método misto - Desde 1995 o país deixou de adotar apenas um método de ensino e passou a
empregar uma concepção chamada de natural. O sistema italiano trabalha simultaneamente com instrução
fônica, técnicas visuais e leva em conta também a experiência prática da criança a partir dos seis anos de
idade.

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Chile: Método holístico - O modelo utiliza o método fônico, mas não parte dos sons das letras
isoladamente e sim das sílabas. O ensino baseado nos fonemas vem diretamente associado à
compreensão do texto escrito, como forma de estímulo à leitura.

Israel: Método fônico - A maioria das escolas israelenses utiliza material didático que se apóia no ensino
da relação entre sons e letras. No entanto, muitas são as escolas que usam ao mesmo tempo métodos
alinhados à concepção construtivista.

Espanha: Construtivismo - As escolas espanholas partem do princípio que o texto integral deve ser usado
desde o início da alfabetização e que a bagagem das crianças deve ser considerada. No entanto, as
escolas utilizam diversos métodos, entre eles o fônico, para melhorar o desempenho dos alunos na
compreensão de textos.

Inglaterra: Método fônico - O sistema de ensino inglês defende que a criança não aprende a ler
simplesmente sendo colocada em contato com textos, sem a introdução de conhecimentos fônicos. O
método prevê passos: primeiro a criança aprende a associar sons e letras, passa para o aprendizado de
palavras e sentenças, para depois ter contato com textos integrais.

Portugal: Construtivismo - A exemplo da Espanha, Portugal também adota a concepção construtivista,


tendo o texto como ponto de partida na alfabetização, sem deixar de lado o método fônico e cartilhas
didáticas.

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/108/artigo233866-1.asp

Neurocientista apresenta métodos de alfabetização letra por letra


Sex, 13 de Julho de 2012 17:40

Estudos indicam que o método fônico é o mais eficiente e que qualquer criança pode ser alfabetizada em português em menos
de um ano. Estas foram algumas das principais conclusões apresentadas pelo neurocientista francês Stanislas Dehaene nesta
sexta-feira, 13, em seminário na Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina (SED) nesta sexta-feira, 13. O evento,
promovido pela parceria da SED com o Instituto Alfa e Beto (IAB) foi teletransmitido ao vivo para as 36 Gerências Regionais
de Educação do Estado e acompanhado por mais de 2 mil diretores, supervisores e outros educadores da rede estadual.

“Embora desagrade a muitos, não se aprende a ler de cem maneiras diferentes. Cada criança é única, mas, quando se trata
de alfabetização, todas têm basicamente o mesmo cérebro que impõe a mesma sequência de aprendizagem. Quanto mais
respeitarmos sua lógica, mais rápida e eficaz será a alfabetização”, garantiu o neurocientista.

Dehaene frisa que é essencial ensinar explicitamente às crianças a relação entre fonemas (sons) e grafemas (letras) porque é
dessa forma que elas ativam os circuitos decisivos para ler, ganhando velocidade e autonomia para lerem palavras novas, de
forma muito mais rápida. “Meus filhos fizeram na escola muitos exercícios de observar a forma global das palavras, mas as
imagens do cérebro mostram que isso não ativa os circuitos que importam para a leitura”, acrescentou.

Ele garantiu que a ineficácia do método global ou construtivista está provada não só em laboratório, mas em centenas de
experimentos realizados em inúmeros países e que esses conhecimentos científicos vêm reorientando as políticas públicas de
vários governos. Dehaene admite que o construtivismo e o método global nasceram da ideia generosa de evitar o adestramento
acrítico de fazer as crianças repetirem sílabas sem sentido, da preocupação com fazê-las prestar atenção no significado.

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“O problema é que o cérebro precisa decodificar para ler, só consegue prestar atenção no significado quando a leitura ganha
certa velocidade e que conseguimos isso muito mais rápido com o método fônico”. Dehaene conta que, na França, testes que
compararam crianças de mesmo nível socioeconômico no final da escolarização mostraram que os alunos que haviam sido
alfabetizados pelo método global não só liam mais lentamente, como tinham mais dificuldade para compreender textos do que
os que haviam aprendido pelo método grafo-fonológico.

Segundo o cientista, com a metodologia adequada, em português, uma criança leva poucos meses, no máximo um ano, para
aprender a ler e escrever. No Brasil, como na maioria dos países, a alfabetização tem início aos seis anos, mas, a despeito
das evidências científicas, o Ministério da Educação admite que se estenda até os oito, de acordo com portaria publicada no
último dia 5.

De acordo com o secretário de Estado da Educação, Eduardo Deschamps, Santa Catarina vai trabalhar forte para que a
alfabetização ocorra aos seis anos, diferente do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) do MEC, que firma
o compromisso de alfabetizar as crianças até no máximo aos oito anos de idade. “Na reunião realizada pelo Consed, nesta
semana, Santa Catarina foi destaque com a ideia de reduzir a idade máxima de alfabetização de nossas crianças. Temos um
longo caminho a percorrer, mas temos a certeza que estamos dando um importante passo para a educação catarinense”,
conclui Deschamps.

O cientista aproveitou para apontar as implicações destas descobertas para a prática em sala de aula. “A escola precisa ser
organizada para a aprendizagem. Um ambiente atrativo facilita o processo da leitura. O docente tem que observar em que nível
de progressão a criança se encontra e uma avaliação permanente, por parte do professor e a autoavaliação do aluno, são
essenciais para esse processo”, afirma Dehaene.

Além do método fônico, ele destacou a importância do ensino estruturado, que é feito uma sequencia que respeita a lógica de
como o cérebro aprende, começando do simples para o complexo, ensinando uma letra de cada vez, começando pelas mais
regulares na sua relação com os sons, as mais fáceis de serem pronunciados separadamente e pelas mais frequentes. Ele
também destaca a importância dos erros e da recompensa, o reconhecimento pelos avanços. “Os erros são mais úteis para a
aprendizagem do que os acertos, mas só se a criança receber logo o feedback da correção. Ela não deve ser castigada, mas
deve ser corrigida e reconhecida, elogiada por seus avanços”.

Exercícios abundantes e diversificados adequados ao nível de progressos da criança são outros elementos da receita de
sucesso de Dehaene. “Se não diversificarmos, as crianças memorizam os exercícios sem aprender a decodificação que lhes
permitirá ler qualquer palavra”. Os programas Alfa e Beto foram mencionados pelo pesquisador como bons exemplos de ensino
estruturado de alfabetização a partir do método fônico.

http://www.sed.sc.gov.br/secretaria/noticias/3640-neurocientista-apresenta-metodos-de-alfabetizacao-letra-
por-letra

França e Inglaterra regressam ao método silábico


10/09/2006 - 00:00

As orientações dos ministérios da Educação de França e do Reino Unido resumem-se à expressão anglo-
saxónica back to basics, que é o mesmo que dizer: regressar aos métodos fónicos ou silábicos para aprender a
ler, em detrimento do método global em que o professor parte da palavra. No início de Janeiro, em conferência
de imprensa, o ministro da Educação francês, Gilles de Robien, rejeitou o método global porque "a leitura
não deve ser um exercício de adivinhação", cita o jornal Libération. Também no Reino Unido a decisão
do Governo foi aceitar as recomendações do antigo director da Inspecção-Geral da Educação, Jim Rose, que,
em relatório, recomenda que o método fónico deve ser adoptado pelas escolas, noticiou o jornal The Guardian.
O Governo de Blair vai ainda proporcionar formação de 14 dias aos professores para trabalharem as novas
orientações. Com estas medidas o Reino Unido espera contrariar os maus resultados dos alunos a nível da
literacia. b.w.

http://www.publico.pt/sociedade/jornal/franca-e-inglaterra-regressam-ao-metodo-silabico-97144

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