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Hoje de maneira especial, somos convidados a olharmos uma cena que estamos
acostumados a ver todos os anos, um dia por ano, mas que não somos capazes
de enxergar na cotidianidade da vida, não somos capazes de lançar luzes sobre
o que fazemos ou queremos fazer.
Ficamos tão acostumados a agir no modo automático, a agir sem abrir o coração
que não conseguimos ver a graça de Deus passar ou se manifestar tão próxima
de nós.
Ele pede comida, pede água, ele pede um abraço, ele pede um bom dia.
Quantas e quantas vezes Cristo veio até nós para além da eucaristia, ele veio
até través de um irmão, de uma irmã. Sentou-se ao nosso lado, na igreja, no
ônibus depois de trabalharmos tanto e estarmos bem cansados.
Quantas vezes fomos comprar algo e pelo caminho avistamos o Cristo com um
olhar triste, só esperando uma demonstração de carinho de afeto.
Olhemos para a imagem do senhor dos passos, Jesus nesta imagem já não está
mais com sua aparência jovial de quando começou suas pregações e sua vida
pública, ele se encontra abatido, cansado. Foi brutalmente torturado,
vilipendiado. Sua aparência pode não ser a mais bonita, seu semblante pode
não ser o mais cativador, mas em sua fronte conseguimos encontrar
misericórdia.
Nos encontramos com alguém que foi condenado injustamente onde o seu maior
crime foi amar demais o mundo, amar demais os seus, amar demais aqueles
que o bateram, o açoitaram, o humilharam.
Cristo já sabia desde outrora que deveria beber deste cálice, embora sua
humanidade estivesse amedrontada, ele preferiu se entregar e fazer a vontade
de Deus. Ele calou a voz de seus discípulos, calou a voz do mundo, e decidiu
livremente se entregar.
Este Jesus escolheu livremente abraçar uma cruz, embora ela não fosse sobre
medida, pois ele não havia cometido nenhum delito, nenhuma falta grave. Ele
escolheu viver a radicalidade da cruz, a radicalidade do evangelho, num mundo
que desde antigamente, o ego tomava conta e demonstrava que poderia dominar
cada um.
Ele escolheu carregar uma cruz pesada, ele escolheu pagar uma dívida que não
era dele, era de outros. Ele teve uma ousada pretensão em ser todo de Deus.
Muito nos comove em vermos quando Jesus é amparado pelo Cirineu para
ajudar a carregar a cruz, até emocionamo-nos com lágrimas nos olhos quando
assistimos tal cena no teatro da paixão. Mas que beleza seria se nos
prontificássemos em assumir este papel nos nosso dia a dia, em nossa rotina.
Por vezes vemos nossos irmãos e irmãs passando por dificuldades, sabemos
que eles vivem situações desafiadoras, mas optamos por ao invés de auxiliá-los
a carregar suas cruzes, acabamos por querer aumentar o peso, colocamos
empecilhos, barreiras, não nos solidarizamos e esquecemos que o maior
mandamento de Cristo foi amar, amar sem medidas, amar gratuitamente, sem
quaisquer reservas.
Perdemos tanto tempo em acusar que esquecemos que todos nós somos
precisados da Misericórdia de Deus, precisados deste amor.
Olhemos agora o olhar triste de Maria, de uma mulher que teve sua vida mudada
quando aceitou uma missão que para muitos é completamente sem pé, sem
cabeça. Uma mulher que em sua simplicidade, em sua fragilidade aceitou ser a
mãe do filho de Deus.
Seu olhar remonta lembranças passadas, momentos tantos que ela viveu com
seu filho. Ela quem viu Cristo dar os seus primeiros passinhos, agora o vê cair,
poder ajudar-lhe a levantar, sem poder abraçá-lo, sem poder dar um beijo de
mãe que cicatriza qualquer ferida incicatrizável.
Maria se vê de mãos atadas, mas prefere cumprir a vontade de seu filho que era
entregar-se para salvar o mundo.
Quantas e quantas mães passaram pelo mesmo sentimento de Maria ao ver que
os filhos tomaram decisões difíceis, quantas e quantas mães perderam os filhos
que foram vítimas de violência, vítimas de repostas cruéis.
Maria soube calar suas vontades, soube viver a radicalidade do amor de Deus.
Ela escolheu livremente passar por todos os tormentos junto ao Cristo, sentindo
em sua alma o que Jesus sofreu em seu corpo.
Olhemos, meus irmãos e minhas irmãos. Olhemos com atenção tão bela cena,
tão belo encontro. Um encontro de dor, um encontro de almas, um encontro de
histórias, um encontro de corações.
Olhemos tão belo encontro e nos lembremos dos encontros que já nos
aconteceram, dos encontros e desencontros que acabamos proporcionando,
sem saber viver o amor.
Nos lembremos das mãos que nos ajudaram a caminhar, que foram estendidas
para nos auxiliar. Nos lembremos de quantos rezaram por cada um de nós para
que chegássemos até aqui. Lembremos do cuidado materno de Maria, que assim
como ela teve com Jesus quando o mesmo passava do engatinhar para seus
primeiros passos, nos lembremos dela tendo todo o carinho em demonstrar ao
filho que ela estava lá.
Meus irmãos, minhas irmãs, não há nenhum pecado que o Senhor não nos
perdoe, não há nenhuma falta que nos impossibilite de reconciliarmos com Deus.
Que ao olharmos este encontro, que ao depararmos com esta tão linda cena,
lembremos que podemos repeti-la em nossas vidas. Repetir tão saudosa ação
que é se manter firme ao lado daqueles que sofrem.
Não paremos de nos encontrar com nossos irmãos, não paremos de partilhar a
vida, não paremos de perceber que Cristo vem nos visitar, não com toda sua
glória, mas com sua simplicidade, com sua humildade.
Sejamos para o mundo a face visível de Cristo, sejamos para o mundo o reflexo
de seu amor, sejamos para este mundo que muitos não veem solução, a
esperança que faz de uma terra seca, uma terra frutífera e cheia de vida.
Lancemo-nos na misericórdia de Deus, naveguemos no oceano do espírito.
Tenhamos coragem de abraçar os menos afortunados, de abraçar os que são
injuriados. Tenhamos coragem de sermos a presença de Deus a iluminar as
trevas que cercam os corações que ainda não encontraram descanso.
Tanto mais batalhemos, tanto mais nos esforcemos, tanto mais nos cansemos
por causa de Deus, por causa do reino de Deus.
Olhemos tão belo encontro, de uma mãe que ofertou o seu sim sem saber o que
iria lhe acontecer, sem ter onde morar, sem saber onde iria parar. De um filho
que escolheu fazer a vontade de seu pai, de um filho que não poupou esforços
para realizar o que havida de ser feito. Um filho que escolheu viver a maior e
única certeza de um ser humano, a de que Deus nunca iria se separar dele.
Onde está o nosso coração? Onde está nossa humanidade? Onde está o nosso
amor?
Não nos contentemos em somente dizer que somos cristãos, mas que nossas
ações falem mais alto do que vãs repetições. Que nosso comportamento neste
mundo de tanta tristeza e dor, seja de anunciadores de que Cristo é por nós, de
que Cristo nos ama, de que Cristo ao nosso lado sempre está.