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Amados irmãos e irmãs em Cristo Jesus Nosso Senhor,

Espero encontrar-vos bem, ou melhor, espero encontrar-vos na presença de Deus.


Tenho relutado há muito tempo em escrever esta carta, tanto é que alguns dos trechos que
aqui estão foram escritos há mais de um ano. No entanto, na minha experiência com Deus e
em comunidade no Congresso da Juventude Caminho, região Nossa Senhora da Assunção,
que aconteceu no final de semana do dia 14 de maio em São Paulo, percebi que não poderia
deixar de mandar-vos esta partilha. Antes de prosseguir, quero convidar-vos a rezar com a
passagem de Lucas 15, 11-31.
Gostaria de ressaltar dois pontos que a Irmã Romana nos trouxe, em sua pregação, e
que me deram coragem para escrever esta carta, e alguns outros que têm me acompanhado
nesses meses. O primeiro ponto diz respeito, na passagem em questão, ao fato de que o filho
mais jovem decide voltar para casa quando se lembra do Pai e, ao lembrar-se dele, lembra-se
de que é filho. O segundo, sobre a questão de que basta um primeiro movimento em direção
ao Pai, a decisão de irmos ao seu encontro, e de que não precisaremos fazer o caminho da
volta sozinhos, pois, ao nos ver, o Pai corre ao nosso encontro. Não deixemos passar
desapercebida a enorme graça que está nessas palavras: nós não apenas temos um Pai, mas
quando nos decidimos por Ele, Ele corre ao nosso encontro. Ele não anda, mas corre até nós e
cobre-nos de beijos, basta que nos decidamos por Ele. Assim, outro ponto, que está
intimamente ligado a esse, é o de que não apenas temos um Pai, como também somos seus
filhos.
Escuta, jovem: você não é apenas servo, você é filho a serviço do Pai. O servo na
insatisfação vai embora, o filho pode até ir, mas volta. Talvez, esteja aqui o segredo: falta-nos
apropriarmo-nos da nossa filiação a Deus e a este santo carisma. Falta-nos sermos filhos
que amam incondicionalmente e que são capazes de dar a vida, que suportam as dificuldades,
que lutam para ser melhores, para estarem por inteiro.
Agora, para você que, assim como eu, apesar de permanecer em muitos momentos,
questionou-se se conhece o Pai, esta carta é para fazer-te o mesmo convite que há algum
tempo o Senhor vem me fazendo: Levanta o teu olhar! Para de olhar para os teus pés, pois à
tua frente o Pai está de braços abertos. Fita o teu olhar nos olhos d’Ele, olhe nos olhos de
Quem te olha, lance-se nos Seus braços, sinta-se filho e filha amada. Permita-se encontrar-se
com o Deus de amor e misericórdia, que purifica o teu coração, cura as tuas feridas e te
impulsiona ao amor. Não permaneçamos na presença de Deus sem desfrutarmos da graça da
filiação.
Já diz nosso fundador: “Apressa, pois, a vinda do Senhor com tua vida”, mas não se
esqueça de que é preciso gastar tempo na presença de Deus para que possamos ter a
nossa vida configurada à d’Ele. Paremos de perder tempo com coisas vazias, paremos de
perder tempo incomodando-nos com o que é passageiro, paremos de perder tempo
brigando entre nós quando deveríamos nos unir em prol da edificação do reino. Demoremo-
nos na presença de Deus, até que haja em nós uma “profunda vontade e uma ousada
pretensão em querer Jesus por inteiro e em ser d’Ele também por inteiro”.
Quem sabe você também, assim como eu, já tenha se questionado, por muitas vezes, o
fato de que diversos aspectos da vida com Jesus já foram bem mais atrativos, e mesmo com
essa sensação de perda tens permanecido aqui, talvez porque a resposta ao que é atrativo é a
atração. E quando eu penso em atração, isso se torna tão pequeno, porque ela é um dos
efeitos, mas não é o que sustenta uma relação e muito menos o que sustenta uma vida juntos,
uma vida em Deus. “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos;
conhecereis a verdade e a verdade vos livrará” (Jo 8, 31-32). Que a verdade possa nos livrar
de um amor frágil, que ela nos ajude a reafirmá-lo todos os dias, afinal, queiramos ou não, a
nossa fragilidade faz com que o amor morra por falta de cuidado. Não permitamos que
isso aconteça conosco!
Quando vierem os momentos de dúvidas e levarem-vos a questionar onde o vosso
coração está, lembrem-se do que respondemos a cada Santa Missa, que o nosso coração está
em Deus. Espero que não sejam apenas palavras ao vento! Além disso, quando o cansaço pelo
serviço vier, lembrem-se de que é na presença d’Ele que encontraremos descanso e não
em outros lugares. Não nos cansemos de ser de Deus. Não nos tornemos indiferentes à
sua manifestação na nossa vida!
Eu sei que é difícil ser jovem e lutar para ter uma vida em Deus, eu sei que, às
vezes, é solitário e que dá vontade de se esconder, sei também que tendemos a parar em um
saudosismo fantasioso de quando chegamos na comunidade. Entretanto, eu sei mais ainda que
vale a pena gastar a juventude a serviço do reino. Não permitamos que as nossas dores e
decepções nos ceguem a ponto de não percebermos que é o próprio Jesus que caminha
conosco, assim como caminhou com os discípulos em Emaús (Lc 24, 15-16). Às vezes, os
momentos de sofrimento podem deturpar a nossa percepção. Sejamos cuidadosos, mas
cuidemo-nos também, pois, como diz nossa cofundadora, “tem dores que nós só curamos
quando saímos de nós e nos colocamos a serviço do outro”. Não percamos de vista aquilo
que é essencial! As pessoas vão nos ferir, as pessoas vão nos decepcionar, mas o carisma
seguirá sendo santo, o carisma seguirá sendo de Deus e, se em algum momento nós não
conseguirmos ver isso por algum motivo, é porque a dor já nos cegou. Podemos esperar
passar e cuidar até que sare, ou ir embora iludidos e murmurando que fomos
enganados. A decisão é nossa, nós somos livres!
Deus queira que quando nos for questionado: “Não quereis também vós partir?”
(Jo, 6-67), que possamos responder imediatamente como Simão Pedro: "Senhor, a quem
iremos? Tens palavra de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que és o Santo de
Deus” (Jo 6, 67-68). No mesmo livro dessa passagem, o apóstolo São João diz que “o filho
fica para sempre na casa” (Jo 8, 35). Que, a exemplo de Santa Teresa D’Avila, o nosso
único desejo seja morrermos filhos e filhas da Igreja Católica Apostólica Romana e
filhos e filhas do Instituto dos/as Pobres de Jesus Cristo. Quando tivermos tal desejo
enraizado em nós, seremos verdadeiramente pertencentes a esse carisma e pode vir o que for,
que não seremos arrancados porque as nossas raízes aqui são profundas.
Mais uma coisa: não estamos sozinhos, pois existem pessoas com calos nos joelhos
que acreditam no projeto de Deus de santidade para essa juventude. Nós temos uma família
imensa para caminhar e lutar conosco. Lembremo-nos sempre de que um santo não se faz
sozinho! Por isso, empenhemo-nos em buscar alguém para nos guiar nesse caminho e
busquemos diligentemente o sacramento da reconciliação, pois, conforme o Beato Carlo
Acutis, “precisamos exercitar a alma na vontade de ser perfeito”. Paremos de empenharmos
as nossas forças no que não é o essencial.
Agora, levanta o teu olhar! Lança-te nos braços do Pai e, se você sente que não está
mais na presença d’Ele, decida-se por voltar, pois, quando o fizer, o próprio Deus correrá ao
teu encontro. Que Deus nos dê a graça de, quando voltarmos para casa, encontrarmos irmãos
mais velhos que se alegrem pela volta e não que critiquem a nossa partida. Caso isso
aconteça, saberemos que nos perdemos, mesmo estando dentro da casa do Pai, e que não O
conhecemos.

Vossa irmã,
Alessandra dos Reis, filha do carisma.
Campo Mourão, 21 de maio de 2022.

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