Terapia complementar
Geoterapia:
a cura pela
argila
Mais conhecida por quem busca cuidados com a beleza, a matéria-prima
natural também é indicada para tratar diversas doenças
J
unto com as plantas e a água, a terra in-
tegra uma tríade de cura que remonta
aos primórdios da humanidade. Co-
nhecida como geoterapia, a prática utiliza
a argila e o barro como forma de absorver
as toxinas maléficas ao organismo. O mi-
neral, que já era bastante usado entre os
povos egípcios para combater inflama-
ções e úlcera e também curou muita gen-
te durante a Idade Média, tem ganhado
cada vez mais adeptos nos dias atuais.
“Conta-se que Hipócrates, pai da Medi-
cina, frequentemente utilizava a argila em
seus tratamentos e ensinava seus discípu-
los a usá-la de maneira adequada. Discó-
rides a aplicava para estimular a cicatriza-
ção de feridas. Cleópatra adotava em seus
rituais de beleza. Os egípcios utilizavam
para a mumificação dos corpos porque
conheciam seus princípios antissépticos”,
conta Daniel Alan Costa, naturopata.
A argila pode ser aplicada em pacientes com
dores crônicas, como aquelas decorrentes de
doenças reumáticas (artroses), lombalgias,
dores musculares e tendinites
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Mas não é só a História que relata os
benefícios da argila, a ciência também.
Para entender as suas propriedades me-
dicinais, antes é necessário saber de que
tipo de material estamos falando. “As ar-
gilas são materiais naturais terrosos que
possuem em sua composição minerais
como silicatos lamelares de magnésio e
de alumínio, quartzo, feldspato, carbona-
tos, óxidos metálicos e cálcio. Podem ser
aplicadas em pacientes com dores crôni-
cas decorrentes de osteoartrite (artroses),
lombalgias, dores musculares e tendini-
tes”, explica Fábio Alfieri, fisioterapeuta.
Bom para os joelhos
Alfieri é um dos autores de um estudo
que investigou o uso desse recurso na-
foto: Tiplyashina Evgeniya/shutterstock
tural no tratamento da osteoartrite de
joelho. Para isso, os pesquisadores divi-
diram os pacientes em dois grupos: um
recebeu geoterapia associada a cinesio-
terapia (exercícios terapêuticos), e outro
grupo recebeu geoterapia associada a
fitoterapia (uso de chá de Uncaria guia-
Texto: Ana sniesko
nensis, conhecida como unha-de-gato) e
cinesioterapia. Ambos fizeram dez ses-
sões com duração de 45 minutos cada.
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Por se tratar de um produto que não oferece
riscos à saúde, o tratamento caseiro é
permitido. Mas normalmente é realizado em
áreas menores do corpo e de fácil acesso,
como pés, mãos, rosto e abdome
“Os resultados mostraram que apenas o
grupo que recebeu geoterapia associada
a fitoterapia melhorou a mobilidade fun-
cional, e ambos os grupos melhoraram
a dor e os sintomas após a intervenção,
sendo que a melhora do grupo que usou
a argila associada ao chá de unha-de-gato
foi superior em relação aos sintomas da
artrose”, explica o fisioterapeuta.
Aplicações possíveis
A lista de atribuições desse tipo de ma-
terial não é pequena: prevenir os efeitos
do tempo na pele, desintoxicar, limpar,
acalmar, revitalizar. Tem ação tensora,
refresca, esfolia, controla a produção se-
bácea, estimula a circulação, energiza e
melhora as manchas superficiais. Ajuda
a descongestionar, apresenta efeito no
combate ao inchaço e ainda acalma in-
flamações e ativa a circulação superficial,
melhorando a vitalidade da pele. Possui
efeito analgésico, anti-inflamatório, antir-
reumático e bactericida.
A argila normalmente é aplicada fa-
zendo-se cataplasmas, compressas ou
utilizando-se técnicas de massagem com
as mãos. “Geralmente é adotada em qua-
dros de dor lombar, cervical, distúrbios
osteomusculares, dor provocada por có-
lica menstrual e desconforto digestório”,
destaca Graciela Mendonça da Silva de
Medeiros, enfermeira especialista em
Medicina Chinesa e Práticas Integrativas
e Complementares, e também autora do
livro Geoterapia: teorias e mecanismos de
ação (Editora Unisul).
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Além da ação anti-inflamatória, deto-
xificante e cicatrizante, ainda é possível
contar com os benefícios em quadros
como ansiedade, estresse e insônia. “Qua-
dros psicossomáticos têm bons resulta-
dos”, conta Graciela.
Por se tratar de um produto que não
oferece riscos à saúde, o tratamento ca-
seiro é validado por especialistas. “Geral-
mente são realizados em áreas menores
do corpo e a que temos fácil acesso, como
pés, mãos, rosto e abdome”, exemplifica
a especialista. Já nas regiões lombar, to-
rácica e cervical, é mais difícil controlar
tempo, temperatura e permanecer em re-
pouso para o material fazer efeito.
“Algumas indicações e aplicações im-
põem a necessidade de acompanhar cer-
tas informações complexas para perceber
se as reações e respostas do corpo e da
mente estão progredindo de acordo com
o plano terapêutico. Vale destacar que a
argila tem ações vibracionais importan-
tes, oriundas das estruturas cristalográfi-
cas que a formam, por isso não se limita
apenas ao tratamento de uma condição
física (dor, por exemplo). Em consultó-
rio ou clínica, os quadros de saúde dos
pacientes que buscam a geoterapia se di-
ferem pela complexidade da escolha dos
procedimentos, por isso o acompanha-
mento é essencial”, acrescenta Graciela.
Já o naturopata Daniel Alan Costa afir-
ma que o uso da argiloterapia é bastante
simples e sua forma mais comum, o cata-
plasma, não traz riscos à saúde. “O mais
interessante é que as argilas são fáceis de
encontrar e têm baixo custo”, pondera.
O fisioterapeuta Fábio Alfieri alerta para
a necessidade da instrução de um profis-
sional pelo menos na primeira aplicação,
assim os passos podem ser seguidos com
tranquilidade. Existem pacientes que são
alérgicos ao recurso, portanto, seu uso
deve ser feito com precaução e cuidado.
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 Uma receita para cada caso
Argila vermelha para revitalizar
a pele: Misture 3 colheres (sopa)
de argila em pó vermelha com
suco natural de uva, o suficiente
para obter uma pasta homogênea.
Para facilitar a remoção e evitar
sujeira, aplique em forma de
cataplasma, com a pele protegida
por uma gaze. Aplique na pele uma
camada de meio centímetro. Deixe
descansar por cerca de 15 minutos.
Repita de uma a duas vezes por
semana, para diminuir as rugas
e ficar mais radiante, ou como
tratamento para flacidez.
Enxágue com bastante água.
ARGILA Branca para ganhar tônus:
Misture 1 colher (sopa) cheia de
argila branca com a mesma medida
de argila amarela ou dourada.
Adicione água mineral aos poucos
nessa mistura até obter o ponto de
mousse. Para começar o tratamento,
lave o rosto com um sabonete
foto: Geinz Angelina/shutterstock
próprio e seque bem. Após a
limpeza, aplique a máscara de
forma que cubra bem a pele (uma
camada com cerca de 0,5 cm).
Deixe a argila agir por 15 a 20
minutos e retire com bastante água.
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Argila verde para contusões
e entorses: Misture 3 colheres
(sopa) de argila verde em pó com
chá (frio) de arnica, de modo a
obter uma pasta homogênea.
Passe na área afetada. Para
facilitar a remoção, aplique em
forma de cataplasma, com a pele
protegida por uma gaze. Aplique
uma camada de meio centímetro
e aguarde cerca de 15 minutos.
Enxágue com bastante água.
Recomenda-se aplicar uma vez ao
dia até cessarem os sintomas.
Para clarear e hidratar a pele:
Prepare uma mistura com 1 colher
(sopa) cheia de argila branca
com a mesma medida de argila
rosa. Adicione água mineral
aos poucos até ficar no ponto de
mousse. Lave o rosto e seque bem.
Aplique uma camada generosa
de modo que cubra toda a região.
Deixe a argila agir de 15 a 20
minutos e retire.
Argila preta para dores
reumáticas: Misture argila preta
com chá (quente) de canela-de-
-velho. Passe na área afetada.
Para facilitar a remoção e evitar
sujeira, proteja a pele com uma
gaze e aplique em forma de
cataplasma. Faça uma camada de
meio centímetro, deixe por cerca
de 15 minutos, de uma a duas
vezes por semana. Enxágue com
bastante água.
Acne controlada com argila
vermelha: Sobre as espinhas,
coloque argila vermelha misturada
com água (adicione até dar ponto
de mousse), deixe agir por 5
minutos e, depois, retire lavando
bem o rosto e secando. Finalize o
tratamento fazendo uma máscara
no rosto inteiro, deixe agir por no
máximo 20 minutos. Retire antes
de secar. Repita o procedimento
uma vez por semana.
Importante! Independentemente
do tipo de argila, não a deixe
secar, o ponto ideal para retirada é
quando ela está úmida ainda, pois
nessa condição a máscara está
absorvendo impurezas da sua pele.
Quando seca, a argila pode irritar
e dar sensação de queimação e
coceira no local.
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 Terapia complementar
Na hora de comprar a argila, leia
na embalagem se o produto é puro e
veja se há um químico responsável que
garanta suas propriedades terapêuticas
“O tratamento realizado por profissio-
nal é assertivo no sentido da localização
exata da aplicação, preparo ideal e conti-
nuidade da terapia, pois, como se sabe, a
argila não é o tratamento todo, mas parte
dele”, observa o especialista.
A argila ideal
Antes de sair por aí adquirindo qual-
quer tipo de argila, é importante destacar
alguns cuidados: “A argila é um produto
medicinal, logo, deve ser tratada como re-
médio. O ideal é comprá-la em locais que
garantam que a fonte do material tem um
químico responsável pela sua análise e é
importante verificar o laudo químico da
argila, se foi coletada em local adequado
e é pura”, recomenda Graciela.
Alfieri destaca que existem argilas de
cores variadas com composições quími-
cas diferentes (veja ao lado). As mais usa-
das são a verde e a branca. “Por exemplo,
a argila verde tem essa coloração devido
à presença de óxido de ferro, associado
a outros componentes, e possui proprie-
dade anti-inflamatória, absorvente, an-
tiedematosa (combate o inchaço), antis-
séptica e cicatrizante”, explica. A opção
branca é rica em silício e alumínio e tem
propriedade cicatrizante, antisséptica e
absorvente. É mais suave. Conhecida por
ativar a circulação, a argila amarela absor-
ve a oleosidade e é rica em silício, alumí-
nio, ferro e potássio e, por ser estimulante
e tonificante, auxilia no tratamento de
dermatites. Já a argila vermelha possui
capacidade de absorção de temperatura,
portanto é anti-inflamatória.
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Conheça os principais
tipos e cores
Verde ou montemolinorita
Auxilia a microcirculação periférica.
Apresenta efeito analgésico
e cicatrizante, desintoxicação
metabólica, secativa e bactericida.
Branca ou caulim
Com alto índice de alumínio e
antioxidantes, auxilia no clareamento
de manchas e estimula a formação de
colágeno e elastina.
Rosa
Rica em ferro, é indicada para a
pele do rosto, já que tonifica, nutre
e suaviza linhas de expressão. Ideal
para peles delicadas e sensíveis.
Marrom
Com ação hemostática, é purificante,
adstringente, desintoxicante,
hidratante, remineralizante. Indicada
para reumatismo, artrite e bursite.
Amarela
Combate e retarda o envelhecimento
precoce, alivia desconforto digestivo
e atua contra dores articulares,
hematomas, entorses e inflamações.
Roxa
Auxilia em cãibras e espasmos
musculares, dermatites, herpes,
acne e abscessos.
Vermelha
Indicada para anemia, tratamentos de
gordura localizada, ação cicatrizante
intensa em pápulas e pústulas.
foto: Alina Kholopova/shutterstock
Cinza ou bentonita
Indicada para o tratamento de artrite,
varizes, contusões e tromboses.
Preta
É anti-inflamatória, absorvente,
antiartrítica e antiestresse.
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