Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A IMPRENSA
JORNAL LITERÁRIO, POLÍTICO E MERCANTIL DA CAPITAL
A IMPRENSA
- Vamos ao ponto essencial... Quanto quer o Sr. Palma por me dizer quem lhe
encomendou o artigo da Corneta? [...]
- Quer cem mil réis por tudo isso? - perguntou Carlos.
Palma, com a cabeça baixa, desfazia torrões de açúcar dentro do copo de genebra. E
suspirou, findou por dizer, um pouco murcho, que era por ser entre cavalheiros, e com
amizade, que aceitava os cem mil réis...
Imediatamente Carlos tirou da algibeira das calças um punhado de libras, que começou a
deixar cair em silêncio uma a uma dentro de um prato. E Palma Cavalão, agitado com o tinir
do ouro, desabotoou logo o jaquetão, sacou uma carteira onde reluzia um pesado
monograma de prata sob uma enorme coroa de visconde. Os dedos tremiam-lhe; por fim,
desdobrou, estendeu três papéis sobre a mesa. Ega, que esperava, com o monóculo sôfrego,
teve um brado de triunfo. Reconhecera a letra do Dâmaso!
Carlos examinou os papéis lentamente. Era uma carta do Dâmaso ao Palma, curta e em
calão, remetendo o artigo, recomendando-lhe "que o apimentasse". Era o rascunho do artigo,
laboriosamente trabalhado pelo Dâmaso, com entrelinhas.
Palma, no entanto, nervoso, rufava com os dedos sobre a toalha, junto ao prato onde
reluziam as libras. E foi o Ega que o animou, depois de relancear os olhos aos documentos
por cima do ombro de Carlos:
- Recolha o bago, amigo Palma! Negócios são negócios, e o baguinho está aí a arrefecer!
Então, ao palpar o ouro, Palma Cavalão comoveu-se. Palavra, caramba, se soubesse que se
tratava de um cavalheiro como o Sr. Maia, não tinha aceitado o artigo! Mas então!... Fora o
Eusébio Silveira, rapaz amigo, que lhe viera falar. Depois o Salcede.