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(1596 – 1650)

DESCARTES, FUNDACIONALISTA RACIONALISTA Manual pág. 60 e 61

Descreve o conhecimento como um edifício que precisa de se apoiar em alicerces sólidos. Tais
alicerces são formados por crenças básicas, que servem de fundamento a todo o conhecimento.

Precisava de encontrar um ponto de partida sólido do qual rigorosamente ninguém fosse capaz de
duvidar e a partir daí começar a construir algo de plena confiança.

Encontrar esses fundamentos para todas as nossas crenças equivale a mostrar que não há regressão
infinita da justificação e que o conhecimento é possível.

Procura, assim, demonstrar que os céticos estão enganados quando negavam a possibilidade de
conhecimento.

Procurou na razão os fundamentos do conhecimento. As crenças básicas são de natureza racional.


Descartes procura um conhecimento absolutamente seguro. Mas, como poderemos garantir que o nosso
conhecimento é absolutamente seguro?
Como procede o espírito para construir um conhecimento verdadeiro?

«Que para examinar a verdade é necessário, uma vez na vida, pôr todas as coisas em dúvida, tanto quanto se
puder. […] Será mesmo muito útil que rejeitemos como falsas todas aquelas coisas em que pudermos imaginar
a mais pequena dúvida, a fim de que, se descobrirmos algumas que, não obstante esta precaução, nos
pareçam manifestamente verdadeiras, possamos estar seguros de que elas são também muito certas e as mais
fáceis que é possível conhecer.»

René Descartes, Princípios da Filosofia

A DÚVIDA METÓDICA: “Descartes institui a dúvida como método ou instrumento de trabalho na busca de
verdades indubitáveis…”
 É o método que consiste em tomar como se fossem falsas todas as nossas crenças acerca das quais se
possa levantar a mais pequena dúvida.
 A ideia é duvidar de tudo o que seja possível duvidar até encontrar algo de que não possamos duvidar.
 Se descobrirmos que certas crenças resistem a todo e qualquer argumento cético, a qualquer dúvida,
então podemos considerá-las certas ou indubitáveis, e só essas constituem crenças básicas, o fundamento
de todo o conhecimento.
 É uma dúvida provisória.
A dúvida cartesiana é distinta da dúvida cética. O objetivo de Descartes é alcançar certezas e não
permanecer na dúvida e suspender o juízo.
CARACTERÍSTICAS DA DÚVIDA CARTESIANA
Metódica Provisória

É um meio para atingir


um conhecimento Mantém-se apenas até
seguro, a certeza e a se descobrir algo
verdade. É um indubitável.
instrumento da razão
que permite evitar o CARACTERÍSTICAS DA
erro. DÚVIDA
Manual pág.62

Hiperbólica Universal

É uma dúvida levada ao


extremo. Considera como Todas as crenças, a
falso tudo aquilo em que se posteriori e a priori, são
note a mínima suspeita de submetidas à dúvida.
incerteza.
Texto: Os velhos fundamentos

1.Explica, a partir do texto, o principal objetivo de Descartes.


O principal objetivo de Descartes é averiguar se os «velhos fundamentos» são verdadeiros e seguros.
Pretende pôr de reserva as «opiniões recebidas até então como críveis» como propósito de «as
substituir por outras melhores, ou aceitá-las, depois de as ajustar ao nível da razão.»

Texto: Dúvida

1. Assinala, a partir do texto, a importância da dúvida perante juízos precipitados.


A dúvida assume um importante papel perante juízos precipitados, na medida em que, ao
«considerar como falsas todas as coisas de que se pode duvidar», conduz-nos à descoberta das
crenças que nos pareçam que «nos pareçam manifestamente verdadeiras», permitindo-nos alcançar
o verdadeiro conhecimento.
Verifica se sabes pág.63
1.Explica em que consiste a dúvida metódica.
A dúvida é um instrumento colocado ao serviço da verdade e é metódica, no sentido em que é um meio para
alcançar um conhecimento certo e indubitável.

2. Apresenta as principais características da dúvida.


Para além de metódica, a dúvida é, também provisória, na medida em que é abandonada mal se alcance
algo indubitável. É hiperbólica porque é exagerada, leva a supor que é falso tudo o que possa levantar a mais
pequena dúvida. É universal porque todas as crenças são submetidas à dúvida – crenças a priori, crenças a
posteriori.

3. Qual é o objetivo principal de Descartes?


O objetivo principal de Descartes, ao utilizar o método da dúvida metódica, é libertar o entendimento de
todos os preconceitos e falsas crenças e constituir um saber certo e evidente.

4. Explica em que consiste uma crença indubitável e fundacional e qual é a importância deste tipo de
crenças.
Uma crença indubitável e fundacional é uma crença acerca da qual não seja possível duvidar e que sirva de
fundamento a todas as outras crenças, como ponto de partida sólido a partir do qual será reconstruído o
edifício do conhecimento certo e evidente.
APLICAÇÃO DO MÉTODO

MANUAL PÁG.64 TEXTO


Descartes não vai duvidar de todas e de cada uma das suas ideias, porque há diferentes
tipos de ideias. Descartes vai avaliar os princípios fundamentais dos diferentes domínios
do conhecimento a que elas pertencem.

Se esses princípios se revelarem falsos, todas as crenças baseadas neles terão de ser
abandonadas.
DE QUE DUVIDA DESCARTES? QUE RAZÕES TEM PARA DUVIDAR DO QUE DUVIDA?
OS DIFERENTES DOMÍNIOS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA

CRENÇAS A POSTERIORI

(Primeiro nível de aplicação da dúvida) (Segundo nível de aplicação da dúvida)

Argumento da ilusão dos sentidos Argumento do sonho (manual págs. 65 e 66)

(manual pág. 64) «Há acontecimentos que, vividos durante o sonho, são
vividos com tanta intensidade como quando estamos
Os nossos sentidos não são acordados. Se assim é, não havendo uma maneira clara de
diferenciar o sonho da realidade, pode surgir a suspeita de
completamente fiáveis e se nos que aquilo que consideramos real não passe de um sonho.»
enganam, ainda que apenas por
vezes, então o melhor é não Não existem critérios seguros que nos permitam distinguir as
experiências que temos durante o sono daquelas que temos
acreditarmos neles nunca. não são
em estado de vigília. Tudo pode não passar de uma ilusão. Os
fundamentos infalíveis. sentidos e a experiência não fonte de verdades indubitáveis.
OS DIFERENTES DOMÍNIOS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA

CRENÇAS A PRIORI – O TERCEIRO NÍVEL DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA

Hipótese do génio maligno (manual pág. 67 e 68)


Neste nível, Descartes vai pôr em causa aquilo que até então considera o modelo do saber verdadeiro: o
conhecimento matemático, as crenças a priori.

A hipótese de estarmos a ser manipulados por um génio maligno ou um deus enganador, que se diverte em
manipular sistematicamente os nossos pensamentos e nos leva a acreditar que são verdadeiras proposições
que podem ser falsas, não pode ser afastada: as verdades da razão e a existência do mundo físico não são
indubitáveis.
A HIPÓTESE DO GÉNIO MALIGNO

O que é a hipótese do génio maligno? É uma experiência mental

Uma experiência mental é uma hipótese imaginária,


O génio maligno é uma experiência mental
que serve para mostrar que as nossas ideias a que serve para testar as nossas ideias.
priori podem ser falsas.

Não, tudo o que pretende com a hipótese do génio


Está Descartes empenhado em mostrar que maligno é mostrar que podemos estar errados e
existe mesmo um génio que nos engana? não que estamos mesmo errados.
EM RESUMO, QUAIS AS RAZÕES PARA DESCARTES DUVIDAR? Manual pág. 68

Dúvida metódica

Crenças a posteriori Crenças a priori

Argumento Argumento Hipótese do


da ilusão do sonho génio maligno
Razões para duvidar

Hipótese
Falta de critério
Ilusões e enganos Enganos e da existência de um
para distinguir
dos sentidos erros de raciocínio deus enganador ou
o sonho da vigília
génio maligno

Pode existir um ser


Dado que não sabemos poderoso que faz com
Os sentidos por vezes se estamos a sonhar, Alguns seres humanos que estejamos sempre
enganam-nos iludem- não temos justificação enganaram-se e enganados: no tocante
nos, e é prudente nunca para acreditar que cometerem erros ao às verdades e às
confiar totalmente estamos despertos. raciocinar, inclusive nas demonstrações das
naqueles que nos Assim, também não questões mais simples matemáticas, às
enganaram, mesmo que sabemos se as nossas da geometria e da crenças sobre os
só uma vez. perceções sensíveis matemática em geral. objetos físicos, e à
são ou não ilusórias. própria existência do
mundo exterior.
Verifica se sabes, pág. 68

1. Explica por que razão, segundo Descartes, as crenças a posteriori não podem ser o fundamento do
conhecimento?
As crenças a posteriori não podem ser o fundamento do conhecimento, em 1º lugar porque os sentidos
enganam-nos algumas vezes e, como tal, é-nos impossível distinguir quando nos estão ou não a enganar
e, em 2º lugar, porque não existem critérios seguros que nos permitam distinguir as experiências que
temos durante o sono daquelas que temos em estado de vigília. Tudo pode não passar de uma ilusão.
2. Por que razão as crenças a priori não passaram o teste da dúvida?
As crenças a priori não passam o teste da dúvida, porque Descartes coloca a hipótese da existência de
um génio maligno, deus enganador, poderoso e astuto, que coloca todo o empenho em nos enganar,
divertindo-se com isso. Assim, mesmo as verdades que parecem indubitáveis, como as verdades da
matemática e da geometria, podem ser colocadas em dúvida, porque pode ser o génio maligno a fazer-
nos acreditar que são verdadeiras, quando, na verdade, são falsas. Basta a hipótese da existência deste
deus enganador para duvidarmos também destas crenças.
3. Se a existência do génio maligno é apenas uma hipótese, de que forma coloca em causa o
conhecimento a priori?
A dúvida proposta por Descartes é hiperbólica, o que significa que leva a supor como falso tudo o que
levante a mais pequena dúvida. Assim, embora a existência do génio maligno seja apenas uma hipótese
colocada por Descartes, conduz-nos a levantar dúvidas acerca do conhecimento a priori e isso é
suficiente para este tipo de conhecimento também não passar no teste da dúvida.
PODERÃO AS CRENÇAS A PRIORI E OU A POSTERIORI SEREM FUNDACIONAIS, OU
SEJA, SERVIREM DE FUNDAMENTO PARA O CONHECIMENTO CERTO?

Não.
Se podemos duvidar de todas estas crenças, então nenhuma delas
é fundacional.

Nenhuma das crenças resistiu ao exame impiedoso da dúvida. Neste momento,


poderíamos julgar que reina o ceticismo: tudo é falso, nada é verdadeiro, ou seja,
nada resiste à dúvida.

Contudo, essa conclusão é precipitada porque, quando a dúvida atinge o seu


ponto máximo, uma verdade indubitável vai impor-se.
QUAL É O RESULTADO DA APLICAÇÃO DA DÚVIDA?
1. O COGITO MANUAL PÁG. 69

Descartes descobre que ainda que quase nenhuma das nossas crenças seja indubitável há algo de que não
podemos duvidar.

1. Se está a colocar as crenças em 2. Ao duvidar, está a 3. Ao pensar tem


dúvida, está a duvidar exercer um ato de claramente de existir
pensamento.

Então cada um pode afirmar: penso, logo existo – esta afirmação é conhecida por COGITO, ERGO SUM,
isto é, posso duvidar de tudo, mas, para poder duvidar, tenho de existir.
E, mesmo que um génio maligno persista em enganar-me, é, ainda assim, necessário que eu exista para
ser enganado. Mas a minha existência não se pode confundir com a existência do meu corpo, do qual
posso duvidar.
O Cogito

Manual pág. 70
Crença fundacional: (crença básica, autojustificada)Refuta-se, assim, o argumento da regressão infinita da
justificação dos céticos.

Crença indubitável: não conseguimos duvidar da sua verdade.

Verdade racional e a priori, descoberta através da intuição racional. E não da dedução.

Evidência que se impõe ao pensamento como absolutamente clara e distinta.

Substância pensante distinta e independente da existência do corpo.

Modelo de verdade: serão verdadeiros todos os conhecimentos que forem tão claros e distintos como
este primeiro conhecimento.
2. O CRITÉRIO DA CLAREZA E DISTINÇÃO Manual pág. 70

Depois de ter descoberto o cogito, 1ª certeza, Descartes procura saber o que a fez resistir à dúvida. A
isto responde que está certo do cogito porque percebe ou entende, com toda a clareza e distinção,
que para pensar tem de existir. Desta resposta, Descartes extrai o seguinte critério de verdade:

Critério da clareza e distinção: “Tudo aquilo que percebemos com clareza e


distinção é verdade”. Permite distinguir as ideias verdadeiras das falsas.

► Não é um critério empírico ou a posteriori, mas racional ou a priori, porque não se trata do que é
percecionado pelos sentidos, mas do que o pensamento concebe.

► Munido deste critério, Descartes vai procurar outras ideias que consiga conceber clara e
distintamente, ou seja, ideias que se apresentam com tal evidência ao nosso espírito que não
podemos duvidar da sua verdade.
EM SÍNTESE: A APLICAÇÃO DO MÉTODO LEVA DESCARTES À DESCOBERTA

1º O COGITO 2º O CRITÉRIO DE VERDADE:


CRITÉRIO DA CLAREZA E
DISTINÇÃO
Verifica se sabes, pág.71

1.Como é que Descartes chega à primeira verdade?


Descartes chega à primeira verdade da filosofia através do próprio ato da dúvida: ao duvidar está a
exercer um ato de pensamento e, ao pensar, tem claramente de existir. Como tal, o ato de duvidar é a
prova de que existe enquanto ser pensante.

2. Explica a importância do cogito na filosofia cartesiana.


O cogito é muito importante na filosofia cartesiana, uma vez que é uma crença fundacional/básica, uma
crença indubitável, uma verdade racional e a priori descoberta através da intuição racional, uma
evidência que se impõe ao pensamento como absolutamente clara e distinta e uma substância pensante.
É o cogito que fornece o critério da verdade, que consiste na evidência: clareza e distinção das ideias.

3. Em que consiste o critério da clareza e distinção?


O critério da clareza e distinção ou da evidência permite distinguir as ideias verdadeiras das falsas: são
verdadeiras todas as coisas que concebemos clara e distintamente.
TIPOS DE IDEIAS Manual, pp.73 e 74

Munido com o seu recém-alcançado critério de verdade, Descartes decide vasculhar a sua mente em busca
de ideias claras e distintas. É, nesse momento, que toma consciência de que existem essencialmente três
tipos de ideias na sua mente:
QUEM GARANTE O CRITÉRIO DA CLAREZA E DA DISTINÇÃO?

Que razões temos para acreditar que, por mais claras e distintas que as nossas ideias sejam, elas
tenham a perfeição de serem verdadeiras? O que garante a Descartes que não se engana quando
concebe algo muito clara e distintamente?

Na ausência de um fundamento mais sólido para o conhecimento, nenhuma razão temos para acreditar que,
por mais claras e distintas que as nossas ideias sejam, elas tenham a perfeição de serem verdadeiras.
Descartes precisa de alguma garantia de que o critério da clareza e distinção funciona corretamente.
Para poder prosseguir, Descartes terá de afastar a possibilidade de um deus enganador e provar que
aquilo que conhece com clareza e distinção é absolutamente verdadeiro.
Mas o quê ou quem pode garantir tal coisa?
A NECESSIDADE DE DEUS

Decidido a encontrar algo ou alguém exterior à sua mente que possa cumprir o papel de garante da
possibilidade de verdades indubitáveis, Descartes vai procurar comprovar a existência de um Deus
omnipotente, omnisciente e inteiramente bom.

As duas provas têm como ponto de partida uma mesma premissa: ter em si uma ideia de perfeição ou a
ideia de um ser perfeito.
Argumento ontológico pág. 72

A existência está
Ideia de um ser contida
Deus existe.
perfeito. necessariamente
na essência.

A existência de Deus é a conclusão necessária da ideia de ser perfeito.

Argumento da marca impressa pág.73

Não posso É uma ideia


Se duvido,
Ideia de tirar de mim a inata colocada
sou Deus existe.
perfeição. ideia de por um ser
imperfeito.
perfeição. perfeito.
PROVAS DA A EXISTÊNCIA DE DEUS

ARGUMENTO ONTOLÓGICO MANUAL PÁG. 72

Este é um argumento que se apoia na definição de Deus – ser


perfeito. 1ª Premissa: Um ser absolutamente
perfeito (como Deus) é um ser que tem
Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível
imaginar, um ser que possui todas as perfeições. A existência é,
todas as perfeições (se assim não fosse

forçosamente, um dos aspetos desta perfeição. Um ser perfeito não seria absolutamente perfeito).
não seria perfeito caso não existisse, pois faltar-lhe-ia uma das 2ª Premissa: A existência é uma
condições necessárias da perfeição. Por conseguinte, se Deus é perfeição.
perfeito, Deus tem de existir na realidade, Deus é ou existe. Conclusão: LOGO, DEUS (SER
ABSOLUTAMENTE PERFEITO)
NECESSARIAMENTE EXISTE.
PROVAS DA A EXISTÊNCIA DE DEUS
ARGUMENTO da MARCA IMPRESSA que se apoia na ideia de causalidade. Manual pp73 e 74

Descartes tem consciência que é um ser imperfeito (pois duvida e Premissa 1- Tenho a consciência de
engana-se). Ora, Descartes não poderia ter essa consciência se não que sou um ser imperfeito.
tivesse em si a ideia de perfeição, com a qual se pode comparar Premissa 2- Se tenho a consciência
para saber que é imperfeito. Assim, vê com clareza e distinção que de que sou imperfeito, então tenho a
tem em si a ideia de perfeição. Seguidamente, pergunta-se qual é a ideia de perfeição.
origem de tal ideia. Com a mesma clareza e distinção vê que a Premissa 3 – Vejo muito claramente
causa da ideia de perfeição não pode vir de um ser imperfeito. De que tenho a ideia de perfeição e que
onde lhe terá, então, surgido a ideia de perfeição? A resposta, essa ideia tem de ter uma causa.
acredita Descartes, só pode estar num ser cuja natureza e realidade Premissa 4 - É também claro que o
objetivas sejam tão perfeitas quanto a própria ideia de perfeição – a menos perfeito (como eu) não pode
coisa perfeita e infinita, Deus. Sendo assim, só um ser perfeito a ser a causa do mais perfeito.
pode ter colocado na sua mente. E conclui que esse ser perfeito Conclusão- Logo, a ideia de perfeição
(Deus) tem que existir. Deus é ou existe e imprimiu na mente do só pode ser causada por um ser
filósofo a ideia de perfeição como uma marca inata da ação do perfeito(Deus), então esse ser (Deus)
artista na sua obra. tem de existir.
DEUS COMO GARANTIA DA VERDADE Manual pág. 77 e 78
“Mas, desde que reconheci que existe um Deus, ao mesmo tempo compreendi também que tudo o resto
depende dele e que ele não é enganador, e daí concluí que tudo aquilo que concebo clara e
distintamente é necessariamente verdadeiro. (…) Não me posso enganar naquilo que concebo com
evidência.”
R. Descartes, Meditações Sobre a Filosofia Primeira
O que nos autoriza a afirmar que este ser perfeito – Deus – não é enganador?

A infinita bondade divina, incluída na sua perfeição, afirma Descartes.


Deus não é enganador
(P1) Um ser sumamente perfeito tem todas as perfeições.
(P2) A bondade é uma perfeição.
(C) Logo, Deus que é perfeito não pode ser enganador.

Deus – ideia inata impressa no cogito como uma marca do criador na criatura e, simultaneamente, entidade
exterior à sua mente, cuja justificação se encontra na clareza e distinção com que é descoberto – garante que
aquilo que é concebido como evidente, como claro e distinto, é necessariamente verdadeiro.
DEUS EXISTE… O MUNDO EXISTE…

“Se Deus existe e é perfeito, então não pode querer que eu esteja enganado acerca da existência do
mundo ou das leis da natureza que Ele mesmo criou; isto porque, se o fizesse, não seria bom, e a
bondade é uma perfeição; logo, o mundo existe, e eu posso conhecê-lo.”
Descartes, Discurso do Método

Uma vez que Deus garante que as ideias clara e distintas são verdadeiras e que Descartes diz ter ideias
claras e distintas acerca de várias coisas e acerca do mundo, então o mundo e essas coisas existem
realmente.

Deus suporta todo o sistema cartesiano e garante a possibilidade de construir conhecimento


substancial (crenças verdadeiras justificadas) sobre o mundo (refutação do ceticismo).
A IMPORTÂNCIA DE DEUS NO SISTEMA
CARTESIANO
1. Permite afastar a hipótese do génio maligno: provada a existência de Deus nenhum
génio maligno pode incomodar Descartes. Deus é por definição perfeito e, por isso,
bom; logo não pode querer enganá-lo.

2. Deus garante a verdade das ideias que Descartes concebe clara e distintamente –
Descartes pode agora confiar nesse critério, pois é Deus que, sendo bom, lhe garante
que tal critério funciona.

3. Demonstrada a existência de Deus, Descartes pode agora quebrar a solidão do


cogito e avançar no conhecimento, bastando-lhe apenas ver com cuidado, usando bem
as suas faculdades racionais, quais as ideias que são claras e distintas. Deus valida as
nossas pretensões ao conhecimento.

4. O mundo exterior é real e pode ser conhecido. Descartes chega à conclusão de que
ele tem afinal um corpo, de que existe um mundo à sua volta. Mas não poderia ter a
certeza disso se não partisse do pensamento e se Deus não lhe garantisse tal coisa.

5. O perigo do ceticismo desapareceu e os argumentos dos céticos foram descartados,


dado que Deus nos garante que a clareza e a distinção das ideias é fiável, permitindo-
nos, assim, recusar falsas imagens e opiniões.
Verifica se sabes, pág. 79

1.Por que razão o argumento ontológico a favor da existência de Deus é uma prova a priori?
O argumento ontológico é uma prova a priori, na medida em que a partir da ideia de Deus e dos seus
atributos intrínsecos, Descartes conclui a necessidade da sua existência. A existência de Deus é necessária,
porque a sua existência está contida necessariamente na sua essência.

2. Explica o argumento da marca impressa proposto por Descartes.


Descartes tem consciência que é um ser imperfeito (pois duvida e engana-se). Ora, Descartes não poderia
ter essa consciência se não tivesse em si a ideia de perfeição, com a qual se pode comparar para saber que
é imperfeito. Assim, vê com clareza e distinção que tem em si a ideia de perfeição. Seguidamente,
pergunta-se qual é a origem de tal ideia. Com a mesma clareza e distinção vê que a causa da ideia de
perfeição não pode vir de um ser imperfeito. De onde lhe terá, então, surgido a ideia de perfeição? A
resposta, acredita Descartes, só pode estar num ser cuja natureza e realidade objetivas sejam tão
perfeitas quanto a própria ideia de perfeição – a coisa perfeita e infinita, Deus. Sendo assim, só um
ser perfeito a pode ter colocado na sua mente. E conclui que esse ser perfeito (Deus) tem que existir. Deus
é ou existe e imprimiu na mente do filósofo a ideia de perfeição como uma marca inata da ação do artista
na sua obra.
3. Distingue os tipos de ideias que podem existir na nossa mente
Os tipos de ideias que podem existir na nossa mente são: ideias adventícias, adquiridas pelos sentidos. Por
ex., a ideia de que «a neve é branca»; ideias factícias, ideias inventadas e produto da imaginação, como a
ideia de cavalo alado; e ideias inatas, que já nascem connosco, como as ideias de cogito e Deus.

4. Classifica as ideias de cogito e de Deus.


As ideias de cogito e de Deus são ideias inatas, o que significa que já nascemos com essas ideias na nossa
mente.

6. Por que razão é a existência de Deus tão importante na filosofia cartesiana?


1. Permite afastar a hipótese do génio maligno: provada a existência de Deus nenhum génio maligno pode
incomodar Descartes. Deus é por definição perfeito e, por isso, bom; logo não pode querer enganá-lo.

2. Deus garante a verdade das ideias que Descartes concebe clara e distintamente – Descartes pode agora
confiar nesse critério, pois é Deus que, sendo bom, lhe garante que tal critério funciona.

3. Demonstrada a existência de Deus, Descartes pode agora quebrar a solidão do cogito e avançar no
conhecimento, bastando-lhe apenas ver com cuidado, usando bem as suas faculdades racionais, quais as ideias
que são claras e distintas. Deus valida as nossas pretensões ao conhecimento.
4. O mundo exterior é real e pode ser conhecido. Descartes chega à conclusão de que ele tem afinal um
corpo, de que existe um mundo à sua volta. Mas não poderia ter a certeza disso se não partisse do
pensamento e se Deus não lhe garantisse tal coisa.

5. O perigo do ceticismo desapareceu e os argumentos dos céticos foram descartados, dado que Deus nos
garante que a clareza e a distinção das ideias é fiável, permitindo-nos, assim, recusar falsas imagens e
opiniões.
 O mundo físico existe
DESCARTES, FUNDACIONALISTA RACIONALISTA

A razão chega ao conhecimento verdadeiro através de duas operações fundamentais:

Intuição Dedução

INTUIÇÃO: captação imediata da evidência (clareza e DEDUÇÃO: Operação intelectual que


distinção) de uma ideia, isto é, uma espécie de luz natural permite inferir dessas verdades captadas por
da razão que a leva a descobrir as verdades que servirão intuição outras verdades através do
de ponto de partida para concluir outras verdades menos estabelecimento de relações entre as
gerais. primeiras.
CRÍTICAS A DESCARTES
O CÍRCULO CARTESIANO

A teoria de Descartes está sujeita a uma crítica especialmente poderosa: a de que envolve uma falácia de circularidade.
Vejamos esta suposta falácia, que se tornou conhecida por círculo cartesiano:

Gera-se assim uma circularidade viciosa: tenta-se justificar a proposição de que Deus existe pressupondo o critério das
ideias claras e distintas, e depois tenta-se justificar este critério apelando à existência de Deus.
CRÍTICAS A DESCARTES
Muitos dos críticos de Descartes rejeitam os seus argumentos a favor da existência de Deus.

Crítica ao argumento da marca


Uma das críticas questiona a validade da demonstração cartesiana da existência de Deus a partir da ideia
de causalidade.
Como sabe Descartes que não se engana ao pensar que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um
ser perfeito?

- Aparentemente, podemos inventar por nós mesmos a ideia de perfeição, sem referência a qualquer
modelo de perfeição. Por exemplo podemos ter a ideia de um ser humano perfeito, mas daí não se segue
que haja mesmo um ser humano perfeito que tenha causado essa ideia.

- A hipótese do génio maligno não foi ainda afastada e pode perfeitamente acontecer que tal génio o
esteja a enganar quando pensa que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito. A
demonstração da existência de Deus pode ser resultado da manipulação da sua mente pelo génio
maligno.
CRÍTICAS A DESCARTES

Crítica ao argumento ontológico

Será que da ideia da perfeição se segue que existe um ser perfeito?

No seu argumento ontológico, Descartes defende que a ideia de algo perfeito implica a sua
existência, pois a existência é uma perfeição.

No entanto, muitos críticos consideram que a ideia de algo perfeito não implica a sua existência.
Por exemplo, tal como da ideia de uma ilha perfeita não se segue que essa ilha tenha de existir,
também da ideia de Deus como um ser perfeito não se segue que ele tenha de existir.
O argumento é circular, porque a definição de Deus contém implicitamente, desde o início, o
pressuposto de que ele existe necessariamente.

É a segunda premissa que geralmente está em causa. Os seus críticos consideram que a existência
não é uma propriedade, antes uma condição para algo ter propriedades. Assim, sempre que
alguém diz que Deus é bondoso, isso deve ser interpretado como: se o ser sumamente perfeito
existir, tem a propriedade de ser bondoso. Portanto, não se inclui a existência na perfeição.

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