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23-24-O racionalismo de Descartes
23-24-O racionalismo de Descartes
Descreve o conhecimento como um edifício que precisa de se apoiar em alicerces sólidos. Tais
alicerces são formados por crenças básicas, que servem de fundamento a todo o conhecimento.
Precisava de encontrar um ponto de partida sólido do qual rigorosamente ninguém fosse capaz de
duvidar e a partir daí começar a construir algo de plena confiança.
Encontrar esses fundamentos para todas as nossas crenças equivale a mostrar que não há regressão
infinita da justificação e que o conhecimento é possível.
Procura, assim, demonstrar que os céticos estão enganados quando negavam a possibilidade de
conhecimento.
«Que para examinar a verdade é necessário, uma vez na vida, pôr todas as coisas em dúvida, tanto quanto se
puder. […] Será mesmo muito útil que rejeitemos como falsas todas aquelas coisas em que pudermos imaginar
a mais pequena dúvida, a fim de que, se descobrirmos algumas que, não obstante esta precaução, nos
pareçam manifestamente verdadeiras, possamos estar seguros de que elas são também muito certas e as mais
fáceis que é possível conhecer.»
A DÚVIDA METÓDICA: “Descartes institui a dúvida como método ou instrumento de trabalho na busca de
verdades indubitáveis…”
É o método que consiste em tomar como se fossem falsas todas as nossas crenças acerca das quais se
possa levantar a mais pequena dúvida.
A ideia é duvidar de tudo o que seja possível duvidar até encontrar algo de que não possamos duvidar.
Se descobrirmos que certas crenças resistem a todo e qualquer argumento cético, a qualquer dúvida,
então podemos considerá-las certas ou indubitáveis, e só essas constituem crenças básicas, o fundamento
de todo o conhecimento.
É uma dúvida provisória.
A dúvida cartesiana é distinta da dúvida cética. O objetivo de Descartes é alcançar certezas e não
permanecer na dúvida e suspender o juízo.
CARACTERÍSTICAS DA DÚVIDA CARTESIANA
Metódica Provisória
Hiperbólica Universal
Texto: Dúvida
4. Explica em que consiste uma crença indubitável e fundacional e qual é a importância deste tipo de
crenças.
Uma crença indubitável e fundacional é uma crença acerca da qual não seja possível duvidar e que sirva de
fundamento a todas as outras crenças, como ponto de partida sólido a partir do qual será reconstruído o
edifício do conhecimento certo e evidente.
APLICAÇÃO DO MÉTODO
Se esses princípios se revelarem falsos, todas as crenças baseadas neles terão de ser
abandonadas.
DE QUE DUVIDA DESCARTES? QUE RAZÕES TEM PARA DUVIDAR DO QUE DUVIDA?
OS DIFERENTES DOMÍNIOS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA
CRENÇAS A POSTERIORI
(manual pág. 64) «Há acontecimentos que, vividos durante o sonho, são
vividos com tanta intensidade como quando estamos
Os nossos sentidos não são acordados. Se assim é, não havendo uma maneira clara de
diferenciar o sonho da realidade, pode surgir a suspeita de
completamente fiáveis e se nos que aquilo que consideramos real não passe de um sonho.»
enganam, ainda que apenas por
vezes, então o melhor é não Não existem critérios seguros que nos permitam distinguir as
experiências que temos durante o sono daquelas que temos
acreditarmos neles nunca. não são
em estado de vigília. Tudo pode não passar de uma ilusão. Os
fundamentos infalíveis. sentidos e a experiência não fonte de verdades indubitáveis.
OS DIFERENTES DOMÍNIOS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA
A hipótese de estarmos a ser manipulados por um génio maligno ou um deus enganador, que se diverte em
manipular sistematicamente os nossos pensamentos e nos leva a acreditar que são verdadeiras proposições
que podem ser falsas, não pode ser afastada: as verdades da razão e a existência do mundo físico não são
indubitáveis.
A HIPÓTESE DO GÉNIO MALIGNO
Dúvida metódica
Hipótese
Falta de critério
Ilusões e enganos Enganos e da existência de um
para distinguir
dos sentidos erros de raciocínio deus enganador ou
o sonho da vigília
génio maligno
1. Explica por que razão, segundo Descartes, as crenças a posteriori não podem ser o fundamento do
conhecimento?
As crenças a posteriori não podem ser o fundamento do conhecimento, em 1º lugar porque os sentidos
enganam-nos algumas vezes e, como tal, é-nos impossível distinguir quando nos estão ou não a enganar
e, em 2º lugar, porque não existem critérios seguros que nos permitam distinguir as experiências que
temos durante o sono daquelas que temos em estado de vigília. Tudo pode não passar de uma ilusão.
2. Por que razão as crenças a priori não passaram o teste da dúvida?
As crenças a priori não passam o teste da dúvida, porque Descartes coloca a hipótese da existência de
um génio maligno, deus enganador, poderoso e astuto, que coloca todo o empenho em nos enganar,
divertindo-se com isso. Assim, mesmo as verdades que parecem indubitáveis, como as verdades da
matemática e da geometria, podem ser colocadas em dúvida, porque pode ser o génio maligno a fazer-
nos acreditar que são verdadeiras, quando, na verdade, são falsas. Basta a hipótese da existência deste
deus enganador para duvidarmos também destas crenças.
3. Se a existência do génio maligno é apenas uma hipótese, de que forma coloca em causa o
conhecimento a priori?
A dúvida proposta por Descartes é hiperbólica, o que significa que leva a supor como falso tudo o que
levante a mais pequena dúvida. Assim, embora a existência do génio maligno seja apenas uma hipótese
colocada por Descartes, conduz-nos a levantar dúvidas acerca do conhecimento a priori e isso é
suficiente para este tipo de conhecimento também não passar no teste da dúvida.
PODERÃO AS CRENÇAS A PRIORI E OU A POSTERIORI SEREM FUNDACIONAIS, OU
SEJA, SERVIREM DE FUNDAMENTO PARA O CONHECIMENTO CERTO?
Não.
Se podemos duvidar de todas estas crenças, então nenhuma delas
é fundacional.
Descartes descobre que ainda que quase nenhuma das nossas crenças seja indubitável há algo de que não
podemos duvidar.
Então cada um pode afirmar: penso, logo existo – esta afirmação é conhecida por COGITO, ERGO SUM,
isto é, posso duvidar de tudo, mas, para poder duvidar, tenho de existir.
E, mesmo que um génio maligno persista em enganar-me, é, ainda assim, necessário que eu exista para
ser enganado. Mas a minha existência não se pode confundir com a existência do meu corpo, do qual
posso duvidar.
O Cogito
Manual pág. 70
Crença fundacional: (crença básica, autojustificada)Refuta-se, assim, o argumento da regressão infinita da
justificação dos céticos.
Modelo de verdade: serão verdadeiros todos os conhecimentos que forem tão claros e distintos como
este primeiro conhecimento.
2. O CRITÉRIO DA CLAREZA E DISTINÇÃO Manual pág. 70
Depois de ter descoberto o cogito, 1ª certeza, Descartes procura saber o que a fez resistir à dúvida. A
isto responde que está certo do cogito porque percebe ou entende, com toda a clareza e distinção,
que para pensar tem de existir. Desta resposta, Descartes extrai o seguinte critério de verdade:
► Não é um critério empírico ou a posteriori, mas racional ou a priori, porque não se trata do que é
percecionado pelos sentidos, mas do que o pensamento concebe.
► Munido deste critério, Descartes vai procurar outras ideias que consiga conceber clara e
distintamente, ou seja, ideias que se apresentam com tal evidência ao nosso espírito que não
podemos duvidar da sua verdade.
EM SÍNTESE: A APLICAÇÃO DO MÉTODO LEVA DESCARTES À DESCOBERTA
Munido com o seu recém-alcançado critério de verdade, Descartes decide vasculhar a sua mente em busca
de ideias claras e distintas. É, nesse momento, que toma consciência de que existem essencialmente três
tipos de ideias na sua mente:
QUEM GARANTE O CRITÉRIO DA CLAREZA E DA DISTINÇÃO?
Que razões temos para acreditar que, por mais claras e distintas que as nossas ideias sejam, elas
tenham a perfeição de serem verdadeiras? O que garante a Descartes que não se engana quando
concebe algo muito clara e distintamente?
Na ausência de um fundamento mais sólido para o conhecimento, nenhuma razão temos para acreditar que,
por mais claras e distintas que as nossas ideias sejam, elas tenham a perfeição de serem verdadeiras.
Descartes precisa de alguma garantia de que o critério da clareza e distinção funciona corretamente.
Para poder prosseguir, Descartes terá de afastar a possibilidade de um deus enganador e provar que
aquilo que conhece com clareza e distinção é absolutamente verdadeiro.
Mas o quê ou quem pode garantir tal coisa?
A NECESSIDADE DE DEUS
Decidido a encontrar algo ou alguém exterior à sua mente que possa cumprir o papel de garante da
possibilidade de verdades indubitáveis, Descartes vai procurar comprovar a existência de um Deus
omnipotente, omnisciente e inteiramente bom.
As duas provas têm como ponto de partida uma mesma premissa: ter em si uma ideia de perfeição ou a
ideia de um ser perfeito.
Argumento ontológico pág. 72
A existência está
Ideia de um ser contida
Deus existe.
perfeito. necessariamente
na essência.
forçosamente, um dos aspetos desta perfeição. Um ser perfeito não seria absolutamente perfeito).
não seria perfeito caso não existisse, pois faltar-lhe-ia uma das 2ª Premissa: A existência é uma
condições necessárias da perfeição. Por conseguinte, se Deus é perfeição.
perfeito, Deus tem de existir na realidade, Deus é ou existe. Conclusão: LOGO, DEUS (SER
ABSOLUTAMENTE PERFEITO)
NECESSARIAMENTE EXISTE.
PROVAS DA A EXISTÊNCIA DE DEUS
ARGUMENTO da MARCA IMPRESSA que se apoia na ideia de causalidade. Manual pp73 e 74
Descartes tem consciência que é um ser imperfeito (pois duvida e Premissa 1- Tenho a consciência de
engana-se). Ora, Descartes não poderia ter essa consciência se não que sou um ser imperfeito.
tivesse em si a ideia de perfeição, com a qual se pode comparar Premissa 2- Se tenho a consciência
para saber que é imperfeito. Assim, vê com clareza e distinção que de que sou imperfeito, então tenho a
tem em si a ideia de perfeição. Seguidamente, pergunta-se qual é a ideia de perfeição.
origem de tal ideia. Com a mesma clareza e distinção vê que a Premissa 3 – Vejo muito claramente
causa da ideia de perfeição não pode vir de um ser imperfeito. De que tenho a ideia de perfeição e que
onde lhe terá, então, surgido a ideia de perfeição? A resposta, essa ideia tem de ter uma causa.
acredita Descartes, só pode estar num ser cuja natureza e realidade Premissa 4 - É também claro que o
objetivas sejam tão perfeitas quanto a própria ideia de perfeição – a menos perfeito (como eu) não pode
coisa perfeita e infinita, Deus. Sendo assim, só um ser perfeito a ser a causa do mais perfeito.
pode ter colocado na sua mente. E conclui que esse ser perfeito Conclusão- Logo, a ideia de perfeição
(Deus) tem que existir. Deus é ou existe e imprimiu na mente do só pode ser causada por um ser
filósofo a ideia de perfeição como uma marca inata da ação do perfeito(Deus), então esse ser (Deus)
artista na sua obra. tem de existir.
DEUS COMO GARANTIA DA VERDADE Manual pág. 77 e 78
“Mas, desde que reconheci que existe um Deus, ao mesmo tempo compreendi também que tudo o resto
depende dele e que ele não é enganador, e daí concluí que tudo aquilo que concebo clara e
distintamente é necessariamente verdadeiro. (…) Não me posso enganar naquilo que concebo com
evidência.”
R. Descartes, Meditações Sobre a Filosofia Primeira
O que nos autoriza a afirmar que este ser perfeito – Deus – não é enganador?
Deus – ideia inata impressa no cogito como uma marca do criador na criatura e, simultaneamente, entidade
exterior à sua mente, cuja justificação se encontra na clareza e distinção com que é descoberto – garante que
aquilo que é concebido como evidente, como claro e distinto, é necessariamente verdadeiro.
DEUS EXISTE… O MUNDO EXISTE…
“Se Deus existe e é perfeito, então não pode querer que eu esteja enganado acerca da existência do
mundo ou das leis da natureza que Ele mesmo criou; isto porque, se o fizesse, não seria bom, e a
bondade é uma perfeição; logo, o mundo existe, e eu posso conhecê-lo.”
Descartes, Discurso do Método
Uma vez que Deus garante que as ideias clara e distintas são verdadeiras e que Descartes diz ter ideias
claras e distintas acerca de várias coisas e acerca do mundo, então o mundo e essas coisas existem
realmente.
2. Deus garante a verdade das ideias que Descartes concebe clara e distintamente –
Descartes pode agora confiar nesse critério, pois é Deus que, sendo bom, lhe garante
que tal critério funciona.
4. O mundo exterior é real e pode ser conhecido. Descartes chega à conclusão de que
ele tem afinal um corpo, de que existe um mundo à sua volta. Mas não poderia ter a
certeza disso se não partisse do pensamento e se Deus não lhe garantisse tal coisa.
1.Por que razão o argumento ontológico a favor da existência de Deus é uma prova a priori?
O argumento ontológico é uma prova a priori, na medida em que a partir da ideia de Deus e dos seus
atributos intrínsecos, Descartes conclui a necessidade da sua existência. A existência de Deus é necessária,
porque a sua existência está contida necessariamente na sua essência.
2. Deus garante a verdade das ideias que Descartes concebe clara e distintamente – Descartes pode agora
confiar nesse critério, pois é Deus que, sendo bom, lhe garante que tal critério funciona.
3. Demonstrada a existência de Deus, Descartes pode agora quebrar a solidão do cogito e avançar no
conhecimento, bastando-lhe apenas ver com cuidado, usando bem as suas faculdades racionais, quais as ideias
que são claras e distintas. Deus valida as nossas pretensões ao conhecimento.
4. O mundo exterior é real e pode ser conhecido. Descartes chega à conclusão de que ele tem afinal um
corpo, de que existe um mundo à sua volta. Mas não poderia ter a certeza disso se não partisse do
pensamento e se Deus não lhe garantisse tal coisa.
5. O perigo do ceticismo desapareceu e os argumentos dos céticos foram descartados, dado que Deus nos
garante que a clareza e a distinção das ideias é fiável, permitindo-nos, assim, recusar falsas imagens e
opiniões.
O mundo físico existe
DESCARTES, FUNDACIONALISTA RACIONALISTA
Intuição Dedução
A teoria de Descartes está sujeita a uma crítica especialmente poderosa: a de que envolve uma falácia de circularidade.
Vejamos esta suposta falácia, que se tornou conhecida por círculo cartesiano:
Gera-se assim uma circularidade viciosa: tenta-se justificar a proposição de que Deus existe pressupondo o critério das
ideias claras e distintas, e depois tenta-se justificar este critério apelando à existência de Deus.
CRÍTICAS A DESCARTES
Muitos dos críticos de Descartes rejeitam os seus argumentos a favor da existência de Deus.
- Aparentemente, podemos inventar por nós mesmos a ideia de perfeição, sem referência a qualquer
modelo de perfeição. Por exemplo podemos ter a ideia de um ser humano perfeito, mas daí não se segue
que haja mesmo um ser humano perfeito que tenha causado essa ideia.
- A hipótese do génio maligno não foi ainda afastada e pode perfeitamente acontecer que tal génio o
esteja a enganar quando pensa que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito. A
demonstração da existência de Deus pode ser resultado da manipulação da sua mente pelo génio
maligno.
CRÍTICAS A DESCARTES
No seu argumento ontológico, Descartes defende que a ideia de algo perfeito implica a sua
existência, pois a existência é uma perfeição.
No entanto, muitos críticos consideram que a ideia de algo perfeito não implica a sua existência.
Por exemplo, tal como da ideia de uma ilha perfeita não se segue que essa ilha tenha de existir,
também da ideia de Deus como um ser perfeito não se segue que ele tenha de existir.
O argumento é circular, porque a definição de Deus contém implicitamente, desde o início, o
pressuposto de que ele existe necessariamente.
É a segunda premissa que geralmente está em causa. Os seus críticos consideram que a existência
não é uma propriedade, antes uma condição para algo ter propriedades. Assim, sempre que
alguém diz que Deus é bondoso, isso deve ser interpretado como: se o ser sumamente perfeito
existir, tem a propriedade de ser bondoso. Portanto, não se inclui a existência na perfeição.