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Administrador,+206 759 1 CE
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Belo Horizonte-MG
2008, Vol. X, nº 1, 1-13
A proposal of definition of
behavior in radical behaviorism
Resumo
Abstract
Doutorem Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos. Professor adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
– campus de Paranaíba (UFMS/CPAR). E-mail: caelopes@terra.com.br
Carlos Eduardo Lopes
A princípio, a pergunta pela definição tistas (Abib, 2001; Malone, 2004), o que, difi-
de comportamento pode parecer desnecessá- cilmente, permite falarmos de uma definição
ria ou mesmo descabida. O próprio Skinner de comportamento.
(1953, 1974) nos diz que as pessoas estão sem- Portanto, embora a definição de com-
pre próximas do comportamento (nem que portamento no Behaviorismo Radical pareça,
seja apenas do seu), o que nos dá uma certa em um primeiro momento, um assunto banal,
intimidade com o assunto. No entanto, se, um exame um pouco mais cuidadoso revela
a despeito dessa intimidade, insistirmos na que se trata de um tema complexo (Kitchener,
pergunta nos depararemos com uma situação 1977). Essa constatação é corroborada pela di-
parecida com a descrita por Santo Agostinho versidade de propostas de definições de com-
(397-398/1980) em relação ao tempo: “O que portamento que pode ser encontrada na litera-
é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo tura especializada (Abib, 2004; Burgos, 2004;
perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem de Rose, 1997; Hayes & Hayes, 1992; Ribes-
me fizer a pergunta, já não sei” (p. 218). Da Iñesta, 2004; Todorov, 1989; Tourinho, 2006).
mesma forma, nossa certeza em relação ao No entanto, a despeito dessa diversidade de
comportamento acaba quando somos solici- propostas, as dificuldades apontadas ante-
tados a formular uma definição. riormente, geralmente, não são integralmente
A dificuldade de formular uma defini- levadas em consideração. É justamente nesta
ção de comportamento também encontra ecos preocupação que se insere o presente ensaio:
no Behaviorismo Radical. Embora seja con- esboçar uma definição de comportamento no
senso que o Behaviorismo Radical entende o Behaviorismo Radical tendo no horizonte as
comportamento da maneira distinta da con- dificuldades mencionadas acima e a coerên-
cepção clássica do Behaviorismo watsoniano, cia com certos pressupostos filosóficos.
uma definição inteiramente negativa – não é a
definição dada por Watson – não ajuda mui-
to. Além disso, quando se procura por tal de- Uma nota sobre a interpretação
finição no interior dos textos skinnerianos, re-
caímos em dificuldades como, por exemplo, Considerando a pluralidade de inter-
distinguir comportamento de contingência, pretações dos compromissos filosóficos do
ou comportamento de resposta. Behaviorismo Radical, anteriormente mencio-
Dificuldade suplementar surge quan- nada, é natural que nos perguntemos sobre a
do nos deparamos com afirmações no mínimo verdadeira interpretação. Ou seja, parece não
intrigantes acerca do comportamento, como: haver problema em aceitar uma pluralidade
“Desde que [o comportamento] é um proces- interpretativa, desde que dela possamos ex-
so e não uma coisa, não pode ser facilmente trair a verdadeira interpretação. Afinal, é pre-
imobilizado para observação. Ele é mutável, ciso aprimorar nossas interpretações até que
fluido e evanescente” (Skinner, 1953, p. 15). elas sejam capazes de espelhar o verdadeiro
Afinal, como conciliar, no conceito de com- sentido dado pelo autor.
portamento, essa fluidez com os objetivos de No entanto, nesse ensaio partiremos
um estudo científico? de uma posição diferente. Defende-se, aqui,
Por fim, o estabelecimento de uma uma legitimidade da pluralidade de inter-
definição de comportamento adequada ao pretações, que não pode ser substituída por
Behaviorismo Radical deve contemplar seus uma única interpretação. Nesse sentido, não
compromissos filosóficos. Mas, afinal, quais pretendemos descobrir a real interpretação do
são esses compromissos? Há interpretações Behaviorismo Radical, mas apenas construir
mecanicistas (Overton, 1984), fisicalistas (Cre- uma dentre várias interpretações possíveis
el, 1980), materialistas (Flanagan Jr., 1980), dessa filosofia da ciência do comportamento.
contextualistas (Morris, 1988, 1993), pragma- Em termos mais técnicos, neste ensaio parti-
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Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical
mos de uma hermenêutica filosófica, que, por to de vista ontológico, estaremos admitindo
considerar o texto aberto, admite a constru- que não é possível falar de estímulo “fora” de
ção de diferentes sentidos válidos (Gadamer, uma relação comportamental. Esse posiciona-
1994/1986). mento entra em conflito direto com uma in-
O próprio Skinner (1957) parece filiar- terpretação realista, que defende a existência
se a esse tipo de hermenêutica quando nos úl- de um mundo físico (estímulos) independen-
timos parágrafos do Verbal Behavior afirma: te de uma relação comportamental (Tonneau,
É uma conseqüência salutar desse ponto de 2005). Em outras palavras, enquanto o realis-
vista aceitar o fato de que os pensamentos
mo lida com estímulos que independem do
dos grandes homens nos são incessíveis hoje.
Quando estudamos grandes obras, estudamos observador, o relacionismo defende que não
o efeito sobre nós dos registros que restaram do é possível falar de estímulo “fora” de uma re-
comportamento dos homens. É nosso compor- lação comportamental.
tamento com respeito a tais registros que ob- Mas há um nível de análise relacional
servamos; nós estudamos nosso pensamento,
não o deles (p. 452).
ainda mais fundamental que pode ser empre-
endido no Behaviorismo Radical. Trata-se da
Portanto, o sentido dado pelo autor, já relação entre organismo e ambiente. Nesse
não pode ser captado ipsis litteris por quem nível, admite-se que não há organismo que
interpreta seu texto. É por isso que dizemos, não esteja em relação com o ambiente, nem
aqui, que o texto é aberto a diferentes inter- ambiente do qual não participe um organis-
pretações, e o objetivo deste ensaio é cons- mo. Isso afasta ainda mais a possibilidade de
truir uma dentre as muitas interpretações defesa do realismo, que prioriza a existência
possíveis. do ambiente sobre o organismo. Não se trata,
tampouco, de priorizar a existência do orga-
Compromissos filosóficos do Behaviorismo nismo. Em outras palavras, uma visão-de-
Radical: Visão-de-mundo relacional mundo relacional impede tanto a defesa do
realismo, quanto do solipsismo. Assim, não
Feita essa observação, podemos nos existe ambiente “vazio”, nem organismo so-
pronunciar sobre a interpretação dos com- litário.
promissos filosóficos do Behaviorismo Ra- Além disso, uma visão-de-mundo re-
dical adotada neste ensaio, sem a pretensão lacional aplicada à relação entre organismo
de estarmos propondo a verdadeira interpre- e ambiente contrapõe-se diretamente a uma
tação. Assumiremos, aqui, uma interpreta- interpretação associacionista. Não há um mo-
ção relacional do Behaviorismo Radical, que mento inicial em que temos organismo de um
nos últimos anos tem ganhado força, sendo lado e ambiente de outro, e um segundo mo-
defendida por diferentes autores (Abib, 2004; mento em que eles são colocados em relação
Barnes-Holmes, 2005; Tourinho, 2006). por algum princípio de associação. Desde o
De maneira geral, uma concepção re- início estamos no interior da relação organis-
lacional defende a prioridade da relação so- mo-ambiente.
bre os elementos relacionados. A interpreta-
ção relacional mais comum do Behaviorismo Primeira investida em direção a uma defini-
Radical se dá entre eventos comportamentais ção de comportamento: Relação organismo-
e eventos ambientais, ou seja, entre respostas ambiente
e estímulos (Tourinho, 2006). Diz-se, nesse
sentido, que não há estímulo que não esteja Assumindo, então, uma perspectiva
relacionado com uma resposta, nem resposta relacional, é possível uma primeira definição
que não esteja em relação funcional com um de comportamento. Comportamento é rela-
estímulo. Isso já coloca uma questão impor- ção entre organismo e ambiente, sem priori-
tante. Se analisarmos essa afirmação do pon- dade de existência dos elementos.
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Essa definição ampla já dá conta da (p. 65). Mas o que seria um “simples movi-
distinção entre a concepção de comporta- mento”? Uma resposta pode ser encontrada
mento adotada pelo Behaviorismo watsonia- na continuação dessa mesma citação: “en-
no (Watson, 1919/1924) e pelo Behaviorismo tão, presumivelmente, veio sensing” (p. 66).
Radical. No primeiro caso, adota-se uma con- Se sensing – entendido como suscetibilidade
cepção mecanicista-associacionista da relação a estímulos – surgiu depois do movimento,
entre organismo e ambiente: o ambiente é an- isso quer dizer que o primeiro movimento
terior ao organismo e, por isso, o força a se (o “simples movimento”) não era controlado
comportar. Já no Behaviorismo Radical, como por nenhum tipo de estimulação.
não há prioridade dos elementos, o compor- No entanto, isso coloca um problema.
tamento tem origem no interior da relação: Admitindo a possibilidade de um comporta-
nem no ambiente, nem no organismo. mento que se resumia a movimento “puro”,
No entanto, essa definição é ainda sem qualquer suscetibilidade ao ambiente,
pouco específica para os objetivos de uma ci- como seria possível para esse organismo so-
ência do comportamento: não possibilita uma breviver sem a capacidade de “perceber”, de
compreensão satisfatória do comportamento algum modo, estímulos nocivos ou partícu-
e, muito menos, previsão e controle. É preci- las nutritivas? Voltando à citação de Skinner
so, portanto, investigar o “funcionamento” (1984/1987): “o primeiro comportamento foi
dessa relação. Ou seja, como se dá a dinâmica presumivelmente simples movimento – como
da relação organismo-ambiente. aquele da ameba avançando para um novo
território e aumentando, então, suas chances
Segunda investida em direção a uma defini- de encontrar materiais necessários para a sua
ção de comportamento: Coordenação sensó- sobrevivência” (pp. 65-66, grifo meu). Como
rio-motora seria possível para essa ameba encontrar os
materiais necessários, se seu comportamento
Uma maneira de complementar a não inclui qualquer tipo de sensing?
definição de comportamento como relação Voltemo-nos, por um momento, para
organismo-ambiente é perguntarmos por a Biologia em busca de uma descrição mais
aquilo que há de comum em tudo o que Beha- detalhada do exemplo de uma ameba que se
viorismo Radical chama de comportamento. depara com um protozoário e o engloba:
Em outras palavras, por que a atividade de A presença do protozoário gera uma concen-
tração de substâncias no meio que são capazes
um organismo é considerada um comporta-
de interagir com a membrana da ameba, de-
mento, enquanto que o movimento de uma sencadeando mudanças de consistência proto-
pedra rolando em um plano inclinado não plasmáticas que resultam na formação de um
é? O que há de comum na atividade de uma pseudópodo. Este, por sua vez, produz alte-
ameba que engloba um protozoário, e de um rações na posição do animal, que se desloca,
modificando assim a quantidade de moléculas
homem que resolve um problema de lógica, do meio que interagem com sua membrana
que faz com que chamemos os dois processos (Maturana & Varela, 1987/2002, p. 164, grifo
de comportamento? meu).
Na tentativa de responder a essas
perguntas podemos nos voltar para a cons- Esse exemplo mostra que em uma das
trução de uma história do comportamento atividades mais elementares do organismo, a
(Abib, 2007; Skinner, 1984/1987). Isso porque nutrição, um tipo de sensing, mesmo que pri-
perguntando pela origem do comportamen- mitivo, já desempenha um papel fundamen-
to talvez seja possível encontrar o que há de tal. Se o movimento fosse realmente simples
mais elementar nesse conceito. Segundo Skin-
O termo sensing foi mantido em inglês devido a problemas
ner (1984/1987), “o primeiro comportamento que traduções, como “sentir” ou “sensação”, podem trazer. O
foi presumivelmente simples movimento” sentido mais próximo do buscado, nesse ensaio, é o de “susce-
tibilidade ao ambiente”.
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Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical
(na ausência de sensing), do ponto de vista pela integração dos sistemas motor e sensorial.
do organismo, não haveria concentração di- Com isso, ao invés de arco, temos uma unida-
ferencial do meio, o que equivale a dizer que de sensório-motora (Dewey, 1896/1981).
sem sensing o ambiente é sempre homogêneo, Desse modo, torna-se, agora, compre-
ou ainda que o organismo age de maneira ensível por que não podemos chamar o mo-
indiferente ao ambiente. Em suma, quando vimento de uma pedra de comportamento:
comportamento é definido como movimento porque não há aí coordenação sensório-mo-
sem sensing, a relação organismo-ambiente é tora. Da mesma forma, a presença de uma
violada, e temos que lidar com um organismo coordenação sensório-motora autoriza que
isolado do ambiente (solipsismo) e com um chamemos de comportamento tanto a ativi-
ambiente que não é alterado pelo organismo dade de uma ameba, que emite pseudópodos
(realismo). e engloba uma partícula, quanto a de um ser
Parece razoável admitir, então, que humano que resolve um problema de lógica.
qualquer ocorrência anterior à inter-relação
entre movimento e sensing, tal como descrita Terceira investida em direção a uma defi-
no exemplo acima, não pode ser chamada de nição de comportamento: Fluxo comporta-
comportamento. Do ponto de vista da origem mental
do comportamento, devemos, portanto, ini-
ciar nossa história com uma coordenação sen- Embora a participação da coordena-
sório-motora. ção sensório-motora na definição de compor-
Nesse ponto é possível retomar nosso tamento aumente nossa compreensão da na-
posicionamento relacional. O início da histó- tureza da relação organismo-ambiente, isso
ria do comportamento não é nem movimento, ainda não nos fornece um modelo de com-
nem sensing, mas uma coordenação sensório- portamento satisfatório para os objetivos da
motora. Portanto, o que há de mais elementar Análise do Comportamento.
em um comportamento é a coordenação sen- Além disso, há um aspecto que não
sório-motora. Isso vale tanto para o primeiro foi explicitamente mencionado e que mere-
comportamento, como para o complexo com- ce destaque. A natureza sensório-motora da
portamento humano. relação organismo-ambiente nos faz concluir
No caso de organismos mais simples, que o comportamento é dinâmico. Ou seja,
a coordenação sensório-motora é mais fácil não se trata de uma relação estática, mas de
de ser admitida, pois uma mesma estrutura uma relação mutável. Nas palavras de Skin-
(a membrana) é responsável tanto pelo mo- ner (1953):
vimento, quanto pelo sensing. Já no caso do O comportamento é um assunto difícil, não
porque é inacessível, mas porque é extrema-
comportamento humano, a dificuldade em
mente complexo. Desde que é um processo, e
assumirmos a presença da coordenação sen- não uma coisa, não pode ser facilmente imo-
sório-motora deve-se, possivelmente, ao fato bilizado para observação. É mutável, fluido e
de encontrarmos, nesse caso, órgãos motores evanescente, e, por essa razão, demanda gran-
e órgãos sensoriais especializados. No entan- de exigência técnica da engenhosidade e ener-
gia do cientista (p. 15).
to, é preciso ressaltar que uma das funções
Dessa forma, considerando que o mo-
primordiais do sistema nervoso é manter a
dus operandi da coordenação sensório-motora
coordenação entre esses sistemas especializa-
é fluidez, o ponto de partida em uma Aná-
dos (Maturana & Varela, 1987/2002). Aliás, é
lise do Comportamento é um fluxo compor-
justamente o reconhecimento dessa função o
tamental. Com isso, o primeiro desafio que
que nos afasta do modelo de sistema nervoso
se impõe para essa ciência é estabelecer uma
defendido pela teoria do arco-reflexo: o sis-
maneira de analisar esse fluxo, de modo que
tema nervoso não é a mera ligação entre ner-
se torne possível prever e, eventualmente
vos aferente e eferente, mas é o responsável
mudar, sua direção.
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Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical
metido pelo próprio Skinner (1969), quando mente, não parece legítimo reduzir compor-
ao falar da relação entre eventos diz que “não tamento a episódio comportamental e, menos
olhamos (...) para comportamento e ambiente ainda, a evento comportamental. Em suma,
como coisas ou eventos separados, mas para os eventos comportamentais embora necessá-
as inter-relações entre eles. Olhamos para as rios, não são suficientes para uma definição
contingências de reforçamento” (p. 10, gri- de comportamento.
fo meu). Nessa citação, se o termo comporta-
mento fosse substituído por resposta, certos Estado comportamental
constrangimentos seriam evitados. Afinal,
o enunciado de que há uma relação entre Se, em alguns momentos, Skinner
comportamento e ambiente, parece excluir o (1969) parece empregar o termo comportamen-
ambiente da definição de comportamento e, to como sinônimo de evento comportamental,
conseqüentemente, romper a relação organis- em outros, ele afirma categoricamente que
mo-ambiente. comportamento não é uma resposta:
Essa correção terminológica parece Uma instância singular na qual um pombo ele-
va sua cabeça é uma resposta. Ela é uma porção
razoável quando consideramos um trecho
da história que pode ser relatada em qualquer
encontrado no mesmo livro, algumas páginas sistema de referência que desejarmos usar. O
antes da citação anterior: comportamento chamado ‘levantar a cabeça’, in-
Uma formulação adequada do intercâmbio en- dependentemente de quando instâncias espe-
tre o organismo e seu ambiente sempre deve cíficas ocorrem, é um operante (Skinner, 1953,
especificar três coisas: 1) a ocasião em que a p. 65, grifos meus).
resposta ocorre; 2) a própria resposta; 3) as
conseqüências reforçadoras. A inter-relação
entre elas constitui as ‘contingências de refor-
Com essa citação fica evidente que
ço’ (Skinner, 1969, p. 7). operante é diferente de resposta. Mas afinal
o que é, então, um operante? O conceito de
Ora, se as contingências são a inter-re- operante, geralmente, está ligado aos objeti-
lação de três coisas que devemos especificar vos de previsão e controle defendidos pela
na descrição da relação organismo-ambiente, ciência do comportamento skinneriana (cf.
quando olhamos para as contingências, olha- Skinner, 1953, 1957, 1969). São justamente es-
mos para a relação entre eventos comporta- ses objetivos que parecem ser os responsáveis
mentais (respostas) e eventos ambientais (es- pela definição de operante como classe de
tímulos). respostas:
Uma resposta que já ocorreu não pode, é claro,
Por outro lado, em uma definição
ser prevista ou controlada. Nós podemos pre-
de comportamento não basta considerar a ver apenas que respostas similares ocorrerão
relação entre eventos comportamentais e no futuro. Portanto, a unidade de uma ciência
ambientais. Isso porque um episódio com- preditiva não é uma resposta, mas uma classe
portamental é apenas um “recorte” do fluxo de respostas. A palavra ‘operante’ será usada
para descrever essa classe (Skinner, 1953, pp.
comportamental. Além disso, não basta ligar 64-65).
diferentes episódios comportamentais, à la
associacionismo, pois isso nos distanciaria Essa mesma preocupação com o esta-
tanto do relacionismo, quanto da natureza belecimento de uma ciência preditiva, conduz
fluida do comportamento. É preciso, portan- Skinner (1957) a afirmar que “nosso dado bá-
to, encontrar uma maneira de restituir o fluxo sico não é a ocorrência de uma dada resposta
comportamental. enquanto tal, mas a probabilidade de que ela
Nesse sentido, a despeito de sua im- ocorrerá em um dado momento” (p. 22, gri-
portância, a descrição de episódios compor- fo meu). Dessa forma, o conceito de operante
tamentais é apenas um passo preliminar na acaba aproximando-se do de probabilidade,
Análise do Comportamento. Conseqüente- pois quando dizemos que determinado ope-
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Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical
é anterior à relação comportamental. Por ou- relação com eventos ambientais (estímulos), de
tro lado, a relação também “pertence” ao am- um modo organizado. Quando consideramos
biente, pois as atividades motora e sensorial o fator temporal dessa relação, concluímos
modificam e são modificadas pelo ambiente. que o padrão de organização dos eventos,
Enquanto a história do comportamento nos no tempo é responsável pela criação, manu-
ensina que, do ponto de vista evolutivo, não tenção e mudança de estados comportamentais.
há prioridade entre as atividades motora e Dessa forma, os processos comportamentais ou
sensorial de um organismo, a perspectiva re- contingências são responsáveis por “regula-
lacional reforça essa concepção, dizendo que ridades funcionais” entre as muitas respostas
a relação entre essas atividades é indissociá- emitidas por um organismo. A observação
vel e “anterior” tanto ao organismo, quanto desse padrão no responder (freqüência) nos
ao ambiente. conduz aos estados comportamentais (proba-
Portanto, no Behaviorismo Radical bilidades). Dessa forma, por meio da mani-
comportamento é relação entre organismo e pulação de processos comportamentais (via
ambiente, sem prioridade de existência nem eventos ambientais) podemos construir (ou
do ambiente, nem do organismo – há uma enfraquecer) estados comportamentais, além
simultaneidade. Dessa forma, não faz sentido de prever e controlar a ocorrência de novos
perguntar pelo que existia antes dessa rela- eventos comportamentais.
ção, uma vez que tal pergunta parece partir Se, por um lado, a interdependên-
de aceitação de uma posição neutra do obser- cia entre eventos, estados e processos apon-
vador em relação ao que é observado. Seria o ta para a impossibilidade de considerarmos
mesmo que defender a possibilidade de sair qualquer um desses elementos como a de-
do próprio comportamento para então obser- finição de comportamento, por outro, é jus-
var. tamente essa relação obrigatória e recíproca
Em segundo lugar, ao admitirmos que que acaba por nos aproximar de um conceito
essa coordenação sensório-motora é dinâmi- de comportamento. Em outras palavras, po-
ca, encontramos o comportamento como um demos dizer que, no Behaviorismo Radical,
fluxo comportamental. Esse fluxo pode ser uma relação de interdependência é o que carac-
analisado em eventos comportamentais (res- teriza o comportamento. Essa peculiaridade
postas), eventos ambientais (estímulos), esta- do comportamento nos remete a uma defini-
dos comportamentais (probabilidades ou dis- ção inteiramente relacional.
posições) e processos comportamentais (con- Comportamento é, portanto, relação
tingências). Dessa forma, eventos, estados organismo-ambiente, que pode ser entendida
e processos, podem ser considerados como do ponto de vista de sua dinâmica como uma
diferentes níveis de análise da dinâmica da coordenação sensório-motora, e do ponto de
relação de coordenação sensório-motora do vista da Análise do Comportamento como
organismo com o ambiente. uma relação de interdependência entre even-
É possível identificar uma inter-re- tos ambientais, eventos comportamentais, es-
lação entre eventos, estados e processos: os tados comportamentais e processos compor-
eventos comportamentais (respostas) estão em tamentais.
Referências Bibliográficas
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2008, Vol. X, nº 1, 1-13 11
Carlos Eduardo Lopes
12 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2008, Vol. X, nº 1, 1-13
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