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Sagarana

João Guimarães Rosa

O livro principia por uma epígrafe, extraída de uma quadra de desafio, que sintetiza os elementos
centrais da obra : Minas Gerais, sertão , bois vaqueiros e jagunços , o bem e o mal: "Lá em cima
daquela serra, passa boi , passa boiada, passa gente ruim e boa passa a minha namorada". Sagarana ,
compõe-se de nove contos, com os seguintes títulos:

1.O BURRINHO PEDRÊS

2. A VOLTA DO MARIDO PRÓDIGO

3.SARAPALHA

4.DUELO

5.MINHA GENTE

6.SÃO MARCOS

7.CORPO FECHADO

8.CONVERSA DE BOIS

9.A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

Em sua primeira versão , os contos de Sagarana foram escritos em 1937, e submetidos a um


concurso literário (o prêmio ) "Graça Aranha", instituído pela Editora José Olympio, onde não
obtiveram premiação, apesar de Graciliano Ramos, membro do júri, Ter advogado para o livro de
Rosa (sob o pseudônimo de Viator) o primeiro lugar (ficou em segundo). Com o tempo, Guimarães
Rosa foi depurando ("enxugando") o livro , até a versão que veio à luz em 1946, reduzindo-a das
quinhentas páginas originais, para cerca de trezentas na versão definitiva. O título do livro,
Sagarana, remete-nos a um dos processos de invenção de palavras mais característicos de Rosa- o
hibridismo. Saga é radical de origem germânica e significa "canto heróico", "lenda" ; rana vem da
língua indígena e quer dizer "à maneira de " ou "espécie de " As estórias desembocam sempre numa
alegoria e o desenrolar dos fatos prende-se a um sentido ou "moral", à maneira das fábulas. As
epígrafes que encabeçam cada conto condensam sugestivamente a narrativa e são tomadas da
tradição mineira , dos provérbios e cantigas do sertão.

1 - O BURRINHO PEDRÊS (Salpicado de Preto e Branco,Carijó):

Personagens :

-Sete de Ouros - Burro

-Silvino vaqueiro

-Badu - vaqueiro

Narrativa:
-Sete de Ouro, um burrinho já idoso é escolhido para servir de montaria num transporte de gado.

-Um dos vaqueiros, Silvino , está com ódio de Badu , que anda namorando a moça de quem Silvino
gostava .

-Corre a boato entre os vaqueiros, de que Silvino pretende vingar-se do rival. De fato Silvino atiça
um touro e o faz investir contra Badu que , porém, consegue dominá-lo.

-Os vaqueiros continuam murmurando que Silvino vai matar Badu.

-A caminho de volta, este , Badu , é o último a sair do bar e tem que montar no burro.

-Anoitece e Silvino revela a seu irmão o plano de morte.

-Na travessia do Córrego da Fome, que pela cheia transformara-se em rio perigoso , vaqueiros e
cavalos se afogam .

-Salvam-se apenas Badu e Francolim , um montado e outro pendurado no rabo do burrinho.

-"Sete de Ouros", burro velho e desacreditado , personifica a cautela, a prudência e a muito mineira
noção de que nada vale lutar contra a correnteza.

2 A VOLTA DO MARIDO PRÓDIGO :

Personagens :

-Seu Waldemar Encarregado (Mulher tem aulas de violão com Lalino)

-Seu Marra Chefe de Turma

-Lalino Laio, Eulálio De Souza Salãthiel

-Maria Rita

-Major Anacleto

-Oscar

Narrativa :

-Lalino “trabalha” no corte de terra para o aterro de uma estrada

-Resolve ir para o Rio de Janeiro (Vai e se esbalda)

-Volta e encontra a mulher (Maria Rita) amasiada com Ramiro um espanhol que lhe emprestrou um
dinheiro para a viagem

-Pede ajuda a Oscar, filho do Major Anacleto, que lhe arranja um emprego de cabo eleitoral na
campanha do Major.

-Lalino usa toda a sua lábia para convencer os eleitores e consegue

-O Major acaba expulsando os espanhóis e unindo Maria Rita e Lalino.

3 - SARAPALHA

Personagens :

-Primo Argemiro das bandas do rio

-Primo Ribeiro das bandas do mato

-Prima Luísa Mulher de Ribeiro

-Ceição Preta velha

-Jiló - cachorro

Narrativa:

-A sazão (febre/malária) avança por um povoado às margens do Rio Pará

-As pessoas abandonam o povoado deixando tudo para trás, as que não se vão morrem

-O Mato toma conta do povoado

-Primo Argemiro e Primo Ribeiro observam a doença avançar em si mesmos

-Ribeiro faz Argemiro prometer enterrá-lo no cemitério do povoado.

-Ribeiro começa lembrar da esposa (que era sua prima Luísa) que fugiu com um boiadeiro

-Argemiro amava a mulher do primo e desejava ter sido ele a fugir com ela

-Argemiro confessa ao primo que amava sua mulher e foi morar com eles por causa dela

-Ribeiro expulsa o primo enquanto o tremor da maleita lhe atinge

4 DUELO

Personagens:

-Turíbio Todo

-Cassiano Gomes
-Timpim Vinte-e-um

Narrativa:

-Turíbio é traído pela mulher com o ex-praça Cassiano Gomes

-Turíbio quer vingar-se mas mata por engano o inocente irmão de Cassiano

-Cassiano persegue Turíbio durante meses

-Turíbio vai para São Paulo

-Cassiano morre do coração, por ter exigido demais de si mesmo durante a perseguição

-Antes de morrer contrata os serviços de um caboclo que lhe devia favores, um tal Timpim Vinte-e-
um

-Ao voltar de São Paulo, acompanhado por um sujeito franzino, ansioso para rever a mulher é
assassinado pelo acompanhante que ero o próprio Timpim que o acompanhava para ter certeza da
identidade da vítima.

5 - MINHA GENTE

Mesmo contendo os elementos usuais dos outros contos analisados até aqui, este conto difere no
foco narrativo ena linguagem utilizada nos demais. O autor utiliza uma linguagem mais formal, sem
grandes concessões aos coloquialismos e onomatopéias sertanejas. Alguns neologismos aparecem:
suaviloqüência, filiforme, sossegovitch, sapatogorof - mas longe da melopéia vaqueira tão gosto do
autor. A novidade do foco narrativo em primeira pessoa faz desaperecer o narrador onisciente
classíco, entretanto quando a ação é centrada em personagens secundárias - Nicanor, por exemplo -
a oniscência fica transparente. É um conto que fala mais do apego à vida, fauna, flora e costumes de
Minas Gerais que de uma história plana com princípios, meio e fim. Os "causos" que se entrelaçam
para compor a trama narrativa são meros pretextos para dar corpo a um sentimento de integração e
encantamento com a terra natal.

Personagens:

-Doutor: O narrador é o protagonista. Só sabemos que é um "Doutor" por intermédio da fala de José
Malvino, logo no início da narrativa: "( Se o senhor doutor está achando qlguma boniteza..."), fora
isso, nem mesmo seu nome é mencioando.

-Santana: Inspetor escolar intinerante. Bonachão e culto. Tem memória prodigiosa. É um tipo de
servidor público facilmente encontrável.

-José Malvino: Roceiro que acompanha o protagonista na viagem para a fazendo do Tio Emílio.
Conhece os caminhos e sabe interpretar os sinais que neles encontra. Atencioso, desconfiado,
prestitavo e supersticioso.

-Tio Emílio: Fazendeiro e chefe político, para ele é uma forma de afirmação pessoal. É a satisfação
de vencer o jogo para tripudiar sobre o adversário.

-Maria Irma: Prima do protagonista e primeiro objeto de seu amor. É inteligente, determinada,
sibilina. Elabora um plano de ação e não se afasta dele até atingir seus objetivos. Não abre seu
coração para ninguém, mas sabe e faz o que quer.

-Bento Porfírio: Empregado da fazendo de Tio Emílio. É companheiro de pescaria do protagonista e


termina assassinado pelo marido da mulher com quem mantinha um romance.

Narrativa :

-O protagonista-narrador vai passar uma temporada na fazenda de seu tio Emílio, no interior de
Minas Gerais.

- Na viagem é acompanhada por Santana, inspetor escolar, e José Malvino. na fazenda, seu tio está
envolvido em uma campanha política.

-O narrador testemunha o assassinato de Bento Porfírio, mas o crime não interfere no andamento da
rotina da fazenda.

-O narrador tenta conquistar o amor da prima Maria Irma e acaba sendo manipulado por ela e
termina casando-se com Armanda, que era noiva de Ramiro Gouvea.

-Maria Irma casa-se com Ramiro.

-Histórias entrecuzam-se na narrativa:

oa do vaqueiro que buscava uma rês desgarrada e que provocara os marinbondos contra dois
ajudantes;

oo moleque Nicanor que pegava cavalos usando apenas artimanhas;

oBento Porfírio assassinado por Alexandre Cabaça;

oo plano de Maria Irma para casar-se com Ramiro.

6 SÃO MARCOS

Personagens :

-Sá Nhá Rita Preta Cozinheira do narrador

-José Narrador

-João Mangolô Feiticeiro (Preto Véio)

Narrativa:

-Calango Frito é o nome do povoado


-José gosta de entrar na mata para caçar, observar a natureza e sempre que passa pela casa de João
Mangolô provoca-o

-Um dia caminhando pela mata encontra Aurísio Manquitola. Os dois comentam sobre a “Oração de
São Marcos” que é capaz de atrair coisas ruins. Aurísio para provar esta teoria conta alguns causos :

Gestal da Gaita : Silvério teve de pernoitar com Gestal. Gestal reza a Oração e parte para cima de
Silvério com uma peixeira, Silvério desvia e Gestral começa a subir pelas paredes até bater a cabeça
no teto e cair no chão sem lembrar de nada.
Tião Tranjão : Amigado de mulherzinha; espezinhado por Cypriano que era amante de sua amásia.
Gestal da Gaita com dó ensina a oração a Tião. Tião é acusado de ofender Filipe Turco e na cadeia
apanha dos policiais. A meia-noite Tião reza a oração e consegue escapar, ir para casa e bater na
amante, no amante da amante e quebrar a casa toda.
-José, depois deste enontro com Aurísio, continua andando e se lembra da história dos bambus :

José troca poesias com um “Quem-Será?”, usando os nós dos bambus para deixar as mensagem
para seu interlocutor anônimo, chamado por ele de “Quem será?”
-José segue caminhando pela floresta, descansa debaixo de uma árvore e repentinamente fica cego.

-Caminha desesperado pela mata e resolve rezar a oração de São Marcos. Feito isso deixa a floresta
e chega a cabana de Mangolô descobrindo que este fizera um feitiço para deixa-lo cego a fim de lhe
ensinar respeito.

-José ameaça matar o velho , mas volta a enxergar e resolve ter mais respeito pelo velho feiticeiro.

7 - CORPO FECHADO

Personagens:

-Mane Fulô

-Antonico das Pedras - Feiticeiro

-Targino o Valentão

Narrativa:

-O narrador , médico num vilarejo do interior , é convidado por Mané Fulô, para ser padrinho de
casamento.

-Mané detesta qualquer tipo de trabalho e passa o tempo a contar histórias para o doutor: de
valentões; de ciganos que ele, Mané, teria ludibriado na venda de cavalos; de sua rivalidade com
Antonico das Pedras, o feiticeiro.

-Mané possui um cavalo, Beija- Fulô, e Antonico é dono de uma bela sela mexicana; cada um dos
dois gostaria muito de adquirir a peça complementar.

-Aparece Targino o valentão do lugar, e anuncia cinicamente que vai passar a noite antes do
casamento com a noiva de Mané.
-Este fica desesperado, ninguém pode ajudá-lo, pois Targino domina o lugarejo.

-Aparece então Antonico e propõe um trato a Mané : vai "fechar-lhe o corpo, mas exige em
pagamento o cavalo.

-Mané só pôde consentir. Em seguida, enfrenta Targino e o mata.

-O casamento realiza-se sem problema e Mané Fulô assume o posto de valentão, por Ter matado
Targino apenas com uma faquinha.

8 - CONVERSA DE BOIS

O conto Conversa de Bois está inserido entre aqueles que compõem o primeiro livro do autor: é o
penúltimo entre os nove contos que se encontram em SAGARANA, livro publicado em 1946. A
marca roseana de contador de "causos" aparece logo no primeiro parágrafo: "Que já houve um
tempo em que eles conversavam, entre si e com os homens, é certo e discutível, pois que bem
comprovado nos livros das fadas carochas ( ..) "

Personagens:

-Agenor Soronho Carreador

-Tiãozinho Menino guia

-Os Bois : Buscapé, Namorado, Capitão, Brabagato, Dansador, Brilhante, Realejo e Canindé

Narrativa:

-O fato começou na encruzilhada de Ibiúva, logo após a cava do Mata-Quatro, em plena manhã, por
volta das dez horas

-Temos um carro de boi com um guia, ainda criança, Tiãozinho, e o carreador Agenor Soronho
levando uma carga de rapadura para a vila.

-Sobre a preciosa carga, um defunto a ser enterrado, o pai de Tiãozinho que falecera naquele manhã.
Velho, doente e entrevado, assistia à mulher em agrados com Soronho, seu amante, não tendo com
ele próprio nenhuma paciência. Seu filho Tiãozinho é que lhe dava comida na boca.

-Ao menino, Soronho também tratava com dureza e o moleque chega a desejar a morte do carreiro.

-Enquanto andam, os bois falam entre si, intercalando-se às falas dos humanos.

-Dormitando à frente dos bois, Tiãozinho deseja a morte de Soronho.

-Um dos bois parece incorporar-lhe o espírito, entende seu desejo a dispara, derrubando o carreiro
que cochilava e passando com as rodas sobre o seu pescoço, matando-o...
9 - A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

Pela estrutura narrativa, pela riqueza de sua simbologia e pelo tratamento exemplar concedido à luta
entre o bem e o mal e às angústias, que essa luta provoca em cada homem durante toda a vida , este
conto é considerado o mais importante de Sagarana.

Personagens :

-Nhô Augusto, Matraga e Augusto Esteves

-Joãzinho Bem-Bem

Narrativa :

-Nhô Augusto é o maior valentão de todo o lugar, gosta de briga e de deboche, tira as namoradas e
mulheres de outros, não se preocupa nem com sua mulher nem com sua filha e deixa sua fazenda
arruinar-se,

-Um dia sobrevém o castigo : A mulher o abandona, seus capangas, mal pagos, põem-se a serviço
de seu maior inimigo, Major Consilva.

-Nhõ Augusto vai até a fazenda do Major para vingar-se, mas os capangas do Major o espancam,
marcam sua nádega direita com o ferro quente de marcar o gado do Major e o jogam numa valeta
crendo que ele já estava morto.

-Todo ferido, é encontrado por um casal de pretos que o tratam; aos poucos se restabelece.

-Matraga começa, então uma vida penitência, com os velhinhos vai longe até um lugarejo bem
afastado e lá trabalha duramente de manhã a noite, é manso servidor para todo mundo, reza e se
arrepende de sua vida anterior.

-Um dia , passa o bando do destemido jagunço Joãozinho Bem- Bem, que é hospedado por Matraga
com grande dedicação.

-Quando o chefe dos jagunços lhe faz a proposta de integrar-se à tropa e receber ajuda deles,
Matraga vence a tentação e recusa. Quer ir para o céu, "nem que seja a porrete" , e sonha com um
"Deus valentão" .

-Um dia, já recuperada a sua força, despede-se dos velhinhos. Chega a um lugarejo onde reencontra
o bando de Joãozinho Bem- Bem, prestes a executar uma cruel vingança contra a família de um
assassino que fugira.

-Augusto Matraga opõe-se ao chefe dos jagunços. No duelo ambos se matam. Nessa hora , Nhõ
Augusto é identificado por seus antigos conhecidos.

Espaço :

-Murici, onde vive inicialmente como bandoleiro;


-O Tombador, onde faz penitência e se arrepende da vida de perversidade ;

Rala Coco , onde encontra sua hora e vez, duelando com Joãozinho Bem- Bem.

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