Leonardo Soares Trentin1(PG); Alberto Manuel Quintana1(O); Ana Marta Mazurek
Reidel1(GR); Jéssica Darós Rossi1(PG) 1 Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria
Historicamente, o estatuto social da morte e do morrer nem sempre foi o mesmo. Na
Idade Média, a morte era considerada um evento comum, familiar e comunitário. Com o desenvolvimento das ciências médicas e das tecnologias em saúde, em meados do século XVIII, a morte passou a ser considerada vergonhosa e sujeita à interdição. No entanto, com o exponencial número de óbitos devido a pandemia de COVID-19, os processos de finitude foram escancarados na esfera social e nos hospitais. À vista disso, o presente estudo teve como objetivo investigar as repercussões da morte e do morrer de pacientes no contexto da pandemia de COVID-19 na percepção dos enfermeiros. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória e descritiva de natureza qualitativa, tendo como embasamento o método clínico-qualitativo. A coleta de dados foi feita através de entrevista semiestruturada com seis enfermeiros que trabalham em uma Unidade de Pronto-Socorro de um hospital de ensino do interior do Rio Grande do Sul, a qual foi transformada em UTI COVID durante a pandemia de COVID-19. Como forma de análise dos dados coletados, utilizou-se a análise de conteúdo temática. A pesquisa somente foi colocada em prática após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (CEP/UFSM). Conforme os enfermeiros, a evolução do paciente COVID era súbita e instável, uma vez que, a partir de um quadro positivo, o paciente evoluía rapidamente para um prognóstico negativo e\ou ia a óbito repentinamente. Em consequência, a instabilidade do paciente COVID também desencadeava instabilidade dos próprios enfermeiros, que diante de tal situação não sabiam como o manejar e o assistir. Dessa forma, as limitações científicas e tecnológicas em saúde em relação a COVID-19, como também o desconhecimento sobre a evolução e os efeitos do vírus, principalmente no início da pandemia, suscitaram uma desordem subjetiva dos enfermeiros, o que desencadeou sentimentos de medo, ansiedade, angústia e sintomas semelhantes aos da Síndrome de Burnout - exaustão física e emocional no ambiente de trabalho. Além do escancaramento da morte e do morrer, salienta-se que a morte também se apresentou de forma deslocada ao atingir pessoas jovens, rompendo com as concepções acerca do ciclo vital e provocando uma irrupção do real da morte. Além disso, ressalta-se que a internação na unidade COVID de colegas de trabalho, como também a morte de familiares e de pessoas próximas, suscitou uma identificação dos enfermeiros com seus pacientes, trazendo assim, a percepção da própria finitude. Frente ao exposto, conclui-se que o desconhecimento acerca da evolução da doença no início da pandemia se apresentou como um desafio, visto que desencadeou instabilidade dos enfermeiros, pois diante da súbita evolução do paciente, não sabiam como o manejar e o assistir. Ainda, além da morte e do morrer estarem escancarados dentro dos hospitais, se mostraram de forma deslocada ao atingir pacientes jovens, bem como os próprios profissionais de saúde. Dessa forma, tal situação fomentou sentimentos de desamparo e impotência diante dos processos de morte e de morrer.
Trabalho apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES)
37ª Jornada Acadêmica Integrada - JAI
Universidade Federal de Santa Maria, 07 a 11 de novembro de 2022.