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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS DE ALTA


RESOLUÇÃO OBTIDA COM IMAGEAMENTO DE
LINHAS SÍSMICAS NA FASE RIFT DA BACIA
POTIGUAR - (EO-CRETÁCEO).

ENIO LUIZ ROSSETTI

Orientador: Dr. Jorge Carlos Della Fávera


Co-orientador: Dr. César Cainelli

Comissão Examinadora: .Dr. Jorge Carlos Della Fávera...............

.Dr. Mario Carminatti.........

.Dr. Nilo Chagas de Azambuja..........

Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial para obtenção


do título de Mestre em Geociências.

1996
Dedico este trabalho à

Marinês, minha espôsa

Êmili e Nani, minhas filhas

Quero deixar expresso neste trabalho


minha eterna gratidão ao GRANDE
AUTOR DA VIDA e aos meus PAIS
que me possibilitaram a consciência
deste agradecimento.

II
ÍNDICE

AGRADECIMENTOS.............................................................................................................................. V
LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................................................VI
RESUMO ..................................................................................................................................................XI
ABSTRACT ............................................................................................................................................ XII

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1

1.1. Considerações gerais............................................................................................................... 1


1.2. Metodologia ............................................................................................................................. 3

2. BACIA POTIGUAR ............................................................................................................................. 5

2.1. Localização ................. .............................................................................................................5


2.2. Arcabouço tectono-estrutural ................................................................................................ 5
2.3. Seqüências tectono-sedimentares......................................................................................... 11
2.3.1. Fase rift .................................................................................................................... 11
2.3.2. Fase transicional ..................................................................................................... 12
2.3.3. Fase drift .................................................................................................................. 13

3. ÁREA DE ESTUDO............................................................................................................................ 14

3.1. Localização ............................................................................................................................ 14


3.2. Graben de Umbuzeiro ........................................................................................................... 14
3.3. Estratigrafia da área estudada............................................................................................. 16
3.4. Faciologia e ambientes deposicionais da área estudada .................................................... 18
3.5. Linhas sísmicas e poços......................................................................................................... 21

4. SISMOESTRATIGRAFIA E ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS.......................................... 23

4.1. Sismoestratigrafia ................................................................................................................. 23


4.1.1. Seqüência sísmica............................................................................................................... 24
4.1.2. Fácies Sísmicas ................................................................................................................... 26
4.2. Estratigrafia de seqüências .................................................................................................. 26

5. CONCEITOS SOBRE IMAGENS DIGITAIS ................................................................................. 38

5.1. Estrutura das imagens digitais............................................................................................. 39


5.2. Resolução de imagens digitais .............................................................................................. 39
5.3. Histogramas de uma imagem............................................................................................... 41
5.3.1. Histograma unidimensional ................................................................................... 42
5.3.2. Histograma cumulativo .......................................................................................... 43
5.3.3. Histograma multi-dimensional .............................................................................. 44
5.4. Contraste de uma imagem.................................................................................................... 44

6. LINHAS SÍSMICAS PROCESSADAS COMO IMAGENS ........................................................... 50

7. DIVISÃO EM SEQÜÊNCIAS DO INTERVALO


MESOVALANGIANO/EOBARREMIANO NA ÁREA DE CACHOEIRINHA ......................... 67

7.1. Seqüências de 3ª ordem ........................................................................................................ 72


7.1.1. Seqüência Azul ........................................................................................................ 77
7.1.2. Seqüência Verde...................................................................................................... 83
7.1.3. Seqüência Laranja .................................................................................................. 91

III
7.1.4. Seqüência Amarela ................................................................................................. 96
7.2. Seqüências de 4ª ordem ........................................................................................................ 98
7.2.1. Limites de seqüências de 4ª ordem ...................................................................... 108
7.2.2. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Azul............................................ 108
7.2.3. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Verde ......................................... 119
7.2.4. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Laranja...................................... 128
7.2.5. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Amarela..................................... 136

8. CONCLUSÕES .................................................................................................................................. 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 145

IV
AGRADECIMENTOS

Expresso meus agradecimentos à PETROBRÁS e à UFRGS pela oportunidade


de realizar este trabalho.

Agradeço aos orientadores Dr. Jorge Carlos Della Fávera e o Dr. Cesar Cainelli
pela orientação, sugestões e revisão dos manuscritos.

Agradeço a todos os professores e colegas do curso de pós-graduação em


geociências da UFRGS, pelo companheirismo e o excelente ambiente de convívio e, em
especial, aos colegas Clóvis Francisco Santos, Dario Chiossi, Carlos Becker e Edison
Milani, pelas discussões desenvolvidas e que muito contribuíram para o meu
aprimoramento profissional.

Agradeço aos colegas da PETROBRÁS, Ubiraci Soares, Marcio Azevedo


Ramos, Renato M. D. Matos, Leodilson G. da Silva e Ricardo N. Waick pela leitura
crítica e sugestões ao trabalho. Também aos colegas Vivaldo A. Rocha, Paulo R.
Menezes, Otaviano Pessoa, Tadeu Deusdará e Ticiano, pelo apoio técnico.

Agradecimento especial à minha esposa Marinês e minhas filhas Êmili e Nani,


pela paciência, privações e carinho que tiveram.

V
RELAÇÃO DE FIGURAS

Fig. 01 - Mapa de localização com arcabouço tectônico da Bacia Potiguar. ..................06


Fig. 02 - Evolução das bacias sedimentares brasileiras segundo a tectônica de placas. .07
Fig. 03 - Sistema de rifts do nordeste brasileiro............................................................. 08
Fig. 04 - Carta estratigráfica da Bacia Potiguar. .............................................................09
Fig. 05 - Seções geológicas da parte emersa e submersa da Bacia Potiguar...................10
Fig. 06 - Ambiente depocisional da fase rift. ..................................................................11
Fig. 07 - Ambiente deposicional da fase transicional......................................................12
Fig. 08 - Ambiente deposicional da fase drift .................................................................13
Fig. 09 - Mapa de localização e arcabouço estrutura ......................................................15
Fig. 10 - Compartimentos estruturais da porção sudoeste do Rift Potiguar ....................16
Fig. 11 - Mapa estrutural sísmico do embasamento em profundidade............................17
Fig. 12 - Sumário bioestratigráfico com a divisão em seqüências da Formação
Pendência proposta por Della Fávera et al., (1994) e as litofácies da Formação
Pendência...........................................................................................................21
Fig. 13 - Mapa base com a posição relativa das linhas sísmicas e poços........................22
Fig. 14 - Conceitos básicos de seqüência deposicional - seção estratigráfica
generalizada de uma seqüência e a seção cronoestratigráfica correspondente .25
Fig. 15 - Terminações de reflexões sismoestratigráficas dentro de uma seqüência
sísmica ...............................................................................................................26
Fig. 16 - Padrões de configurações das reflexões sísmicas .............................................27
Fig. 17 - Relações entre depósitos costeiros e onlap costeiro durante levantamento
relativo do nível do mar.....................................................................................28
Fig. 18 - Transgressão, regressão e linha de praia estacionária, dependendo da taxa
de aporte de terrígenos, durante um levantamento relativo do nível do mar ...29
Fig. 19 - Terminações em toplap durante período de nível de mar estacionário ............30
Fig. 20 - Deslocamento do onlap costeiro em direção à bacia........................................30
Fig. 21 - Associação dos tratos de sistemas com a curva eustática.................................32
Fig. 22 - Bloco diagrama - Trato de sistemas de mar alto - TSMA ................................32
Fig. 23 - Deslocamento do onlap costeiro caracterizando discordâncias tipo 1 e 2........33
Fig. 24 - Bloco diagrama - Trato de sistemas de mar baixo - leque de assoalho de
bacia TLMB......................................................................................................34
Fig. 25 - Bloco diagrama - Trato de sistemas de mar baixo - cunha de mar baixo
TCMB................................................................................................................34
Fig. 26 - Bloco diagrama - Trato de sistemas transgressivo TST ...................................35
Fig. 27 - Apresentação da seção condensada e SIM em perfil de raios gama................35
Fig. 28 - Bloco diagrama - Trato de sistemas de mar alto II - TSMA II.........................36
Fig. 29 - Bloco diagrama - Trato de sistemas de margem de plataforma TSMP ............36
Fig. 30 - Relação dos sistemas deposicionais com os tratos de sistemas e com as
mudanças do nível do mar .................................................................................37
Fig. 31 - Exemplo de uma imagem simples representada por uma matriz numérica......40
Fig. 32 - Pequeno pedaço de uma linha sísmica mostrando a importância do número
de níveis em uma imagem .................................................................................41
Fig. 33 - Histograma unidimensional ..............................................................................42
Fig. 34 - Histograma bimodal e histograma uni-modal...................................................43

VI
Fig. 35 - Histograma uni e bi-modal com indicação dos valores de moda e média ........43
Fig. 36 - Histograma unidimensional e histograma cumulativo......................................43
Fig. 37 - Histograma em três dimensões da distribuição de freqüência de duas
imagens e o scattergrama correspondente .........................................................44
Fig. 38 - Histogramas mostrando diferenças de contraste de uma imagem ....................44
Fig. 39 - Disposição de amostras em um traço sísmico ..................................................45
Fig. 40 - Traço sísmico com plot em wiggle + área variável e em densidade variável...46
Fig. 41 - Pequena porção da linha sísmica nº1 com diferentes tons de cinza .................47
Fig. 42 - Histograma da fig. 41 com distribuição dos Dns..............................................47
Fig. 43 - Pedaço de um refletor com seus respectivos histogramas ................................48
Fig. 44 - Pedaço de um refletor sobreposta por três linhas de contorno .........................49
Fig. 45 - Linha sísmica de alta resolução do Delta de Dwangwa....................................51
Fig. 46 - Linha sísmica 2D com padrão geométrico dos refletores essencialmente
plano-paralelos ..................................................................................................52
Fig. 47 - Linha sísmica nº1, plot em densidade variável, com refletores essencialmente
plano-paralelos com poucas evidencias de clinoformas...................................53
Fig. 48 - Tela de controle para aumento de contraste......................................................56
Fig. 49 - Tela do filtro de contorno .................................................................................56
Fig. 50A- Teste com a ferramenta de contorno (valor de contorno = 50).......................58
Fig. 50B- Teste com a ferramenta de contorno (valor de contorno = 100) .....................59
Fig. 50C- Teste com a ferramenta de contorno (valor de contorno = 150) .....................60
Fig. 50D- Teste com a ferramenta de contorno (valor de contorno = 200).....................61
Fig. 50E- Teste com a ferramenta de contorno (valor de contorno = 250) .....................62
Fig. 51 - Pequena porção da linha sísmica nº1 mostrando que o plot tracejado envolve
os refletores do plot de densidade variável ......................................................63
Fig. 52 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot normal...............................................64
Fig. 53 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido ...........................................65
Fig. 54 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado ...........................................66
Fig. 55 - Carta geocronológica e bioestratigráfica das seqüências de 3ª e 4ª ordens
propostas neste trabalho ...................................................................................68
Fig. 56 - Modelo generalizado de meio graben, com os principais componentes de
highstand e lowstand em rifts lacustrinos ........................................................69
Fig. 57 - Carta estratigráfica comparativa das seqüências propostas por Della Fávera
et al., (1994) e neste trabalho ...........................................................................70
Fig. 58 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando 3 pacotes com
geometrias sísmicas diferentes .........................................................................73
Fig. 59 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot normal mostrando as discordâncias
limites das seqüências de 3ª ordem ...................................................................74
Fig. 60 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando as divisões
limites das seqüências de 3ª ordem ...................................................................75
Fig. 61 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado mostrando as divisões
limites das seqüências de 3ª ordem ...................................................................76
Fig. 62 - Sistemas de níveis de base das seqüências de 3ª ordem ...................................77
Fig. 63 - Seção geológica mostrando a discordância superior da Seqüência Azul .........79
Fig. 64 - Sistemas de níveis de base da Seqüência Azul .................................................80
Fig. 65 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Azul................................................................81

VII
Fig. 66 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Azul...............................................................................82
Fig. 67 - Linhas sísmicas nº 1 e 2, mostrando o relevo irregular da discordância limite
entre as Seqüências Verde e Laranja ................................................................83
Fig. 68 - Relação entre os sistemas de níveis de base da Seqüência Verde, com perfil
de raios gama do poço Y ..................................................................................84
Fig. 69 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Verde..............................................................85
Fig. 70 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Verde..............................................................86
Fig. 71 - Descrição de testemunho do poço Z. ................................................................87
Fig. 72 - Fotografia do testemunho nº1 do poço Z..........................................................88
Fig. 72A- Fotografia do testemunho nº1 do poço Z ........................................................89
Fig. 73 - Fotografia do testemunho nº2 do poço Z..........................................................90
Fig. 74 - Linha sísmica nº1, plot normal mostrando discordância angular limite
superior da Seqüência Laranja com a Seqüência Amarela...............................92
Fig. 75 - Linha sísmica nº1, plot invertido mostrando as superfícies erosivas na
Seqüência Laranja ............................................................................................93
Fig. 76 - Relação entre os sistemas de níveis de base da Seqüência Laranja com perfil
de raios gama do poço Y ..................................................................................93
Fig. 77 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Laranja ...........................................................94
Fig. 78 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Laranja ...........................................................95
Fig. 79 - Perfis de raios gama mostrando quebra acentuada separando a Seqüência
Amarela da Seqüência 4 de Della Fávera et al., (1994) ...................................96
Fig. 80 - Relação entre os sistemas de níveis de base da Seqüência Amarela com
perfis de raios gama do poço Y ........................................................................97
Fig. 81 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Amarela..........................................................99
Fig. 82 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado mostrando os sistemas de
de níveis de base da Seqüência Amarela........................................................100
Fig. 83 - Perfil de meio graben com suas principais províncias fisiográficas ..............101
Fig. 84 - Seção através de delta tipo Gilbert .................................................................102
Fig. 85 - Diagrama dos principais tipos de fluxos dentro de uma bacia .......................104
Fig. 86 - Mapa de fácies da Seqüência Verde ...............................................................106
Fig. 87 - Lago Malawi com sua drenagem e os cinco deltas estudados........................107
Fig. 88 - Perfil esquemático com a posição paleogeográfica da área estudada.............109
Fig. 89 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido com as seqüências de
4ª ordem dentro da Seqüência Azul.................................................................111
Fig. 90 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado com as seqüências de
4ª ordem dentro da Seqüência Azul.................................................................112
Fig. 91 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando detalhes do
processo de regressão forçada ........................................................................113
Fig. 92 - Arquitetura esquemática da regressão normal e forçada ................................114
Fig. 93 - Perfis hipotéticos de poços através de uma sucessão de linhas de praia no
sistema de nível baixo ....................................................................................115

VIII
Fig. 94 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido mostrando a Seqüência
2 az com seus sistemas de níveis de base .......................................................115
Fig. 95 - Detalhe da Seqüência 4 az mostrando a relação agradação versus
progradação ....................................................................................................116
Fig. 96 - Modelo esquemático da relação agradação versus progradação ....................117
Fig. 97 - Detalhe da linha nº1 com Seqüência 4az mostrando regressão forçada .........117
Fig. 98 - Detalhe da linha nº1 com Seqüência 4az mostrando modelo de drenagem
para explicar os diferentes padrões sísmicos..................................................118
Fig. 99 - Bloco diagrama mostrando deposição de lobos deltaicos e como podem
serem vistos em linhas sísmicas .....................................................................120
Fig. 100 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido com as seqüências de
de 4ª ordem dentro da Seqüência Verde.........................................................121
Fig. 101 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado com as seqüências de
de 4ª ordem dentro da Seqüência Verde.........................................................122
Fig. 102 - Detalhe da linha sísmica nº1 mostrando onlap sobre cunha progradante
do sistema de nível baixo da Seqüência 1ve.................................................123
Fig. 103 - Detalhe da linha sísmica nº1 mostrando cunha de regressão forçada e
refletor truncado no topo do pacote progradante da Seqüência 2ve.............124
Fig. 104 - Perfil de raios gama do poçop Y, mostrando Seqüência Verde com as
seqüências de 4ª ordem e seus respectivos sistemas de níveis de base ........124
Fig. 105 - Expressão estratigráfica de um limite de seqüência .....................................125
Fig. 106 - Perfil esquemático da formação da superfície de ravinamento ....................126
Fig. 107 - Perfil esquemático da distribuição de sedimentos derivados da erosão do
substrato durante a transgressão da linha de praia ........................................126
Fig. 108 - Detalhe da linha sísmica nº1 com a Seqüência 3ve mostrando a boa
correspondência entre a linha sísmica e o perfil de raios gama do poço Y...127
Fig. 109 - Detalhe da linha sísmica nº1 com Seqüência 3ve mostrando refletor como
uma provável feição de turbidito de frente deltaica ......................................129
Fig. 110 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido com as seqüências de
de 4ª ordem dentro da Seqüência Laranja ......................................................130
Fig. 111 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado com as seqüências de
de 4ª ordem dentro da Seqüência Verde........................................................131
Fig. 112 - Perfil de raios gama do poço Y mostrando a Seqüência Laranja com as
Seqüências de 4ª ordem e seus respectivos sistemas de níveis de base.........132
Fig. 113 - Detalhe da linha sísmica nº1 com as Seqüências 1la e 2la...........................134
Fig. 114 - Detalhe da linha sísmica nº1 mostrando um modelo de preenchimento
de vale inciso na Seqüência 2la.....................................................................135
Fig. 115 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot invertido com as seqüências de
de 4ª ordem dentro da Seqüência Amarela.....................................................137
Fig. 116 - Linha sísmica nº1, horizontalizada, plot tracejado com as seqüências de
de 4ª ordem dentro da Seqüência Amarela.....................................................138
Fig. 117 - Perfil de raios gama com as seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência
Amarela com seus respectivos sistemas de níveis de base...........................139
Fig. 118 - Detalhe da linha sísmica nº1 mostrando as clinoformas maiores na seqüência
5 am...............................................................................................................140
Fig. 119 - Palinologia quantitativa do poço X...............................................................140
Fig. 120 - Detalhe da linha sísmica nº3 mostrando o processo de sucessivas
regressões forçadas........................................................................................142

IX
TABELA 1 - Associação de fácies e ambientes deposicionais (Silva, 1993) ...................19
TABELA 2 - Associação de fácies e ambientes deposic. (Della Fávera et al. 1992) ...... .20
TABELA 3 - Associação de fácies e ambientes deposic. (Della Fávera et al. 1992) .......20
TABELA 4 - Tipos de seqüências com os respectivos tratos de sistemas ........................31
TABELA 5 - Duração de tempo dos ciclos de variação relativa do nível do mar ............67
TABELA 6 - Relação das Seqüências de 3ªordem e 4ª ordem..........................................98

X
RESUMO

Os princípios básicos da estratigrafia de seqüências, em associação com o


modelo de sedimentação em bacias lacustres, aplicados sobre linhas sísmicas 3D,
possibilitaram a identificação de quatro (4) seqüências de 3ª ordem e quinze (15)
seqüências de 4ª ordem, com seus respectivos tratos de sistemas de nível de base, na
megaseqüência rift da Bacia Potiguar.

A seção estudada, com aproximadamente 1800 metros de espessura, abrange a


época neocomiana-eogálica, entre as idades mesovalangiana a eobarremiana (mesorio
da serra a mesoaratu) da Formação Pendência, na área sudoeste do Graben de
Umbuzeiro, denominada de Cachoeirinha.

Os sedimentos desta seção depositaram-se em um lago relativamente raso, que


variou desde 200 metros de lâmina d’água para as seqüências inferiores até cerca de 20
metros nas seqüências superiores. O sistema deposicional predominante foi o deltaico,
bem caracterizado nas linhas sísmicas. Os refletores plano-paralelos representam
depósitos pelíticos lagunares e as planícies deltaicas, enquanto os pacotes de
clinoformas, expressam as progradações deltaicas e cunhas progradacionais associadas
a regressões forçadas.

O tratamento de linhas sísmicas convencionais (em densidade variável)


simplesmente como imagens, através de programas gráficos que rodam em
microcomputadores PCs, revelou-se uma poderosa ferramenta de visualização para
análise estratigráfica, pelo nível de detalhe obtido, permitindo a individualização das
seqüências de 4ª ordem com relativa segurança e riqueza de detalhes, mesmo para uma
área com pouco controle de poços.

XI
ABSTRACT

Basic concepts of lacustrine basin sedimentation and sequence stratigraphy


applied over a unique data set, including high quality 3D seismic data, offer an
integrated interpretation, and provided the recognition of 4 third-order sequences and 15
forth-order sequences within the Rift-mega-sequence of the Potiguar Basin - NE, Brazil.

The studied section includes about 1800 meters of a rift sequence (mainly of
Neocomian age) known as Pendencia Formation, located within the Cachoeirinha
region, in the Umbuzeiro Graben. This is the depocenter of an elongated graben, which
architecture was controlled by a major basin bonding fault, known as the
Carnaubais/Baixa Grande Fault System.

The major facies association indicates a lacustrine sedimentation, with


associated deltaic and fluvial deposits. The lake became shallow through time, ranging
between 200 meter of water deph within the lower section, and 20 meters in the upper
section. The deltaic system seems to be dominant in the studied area, as its signature is
well established in seismic lines. Two seismic patterns were easily recognized in
seismic lines: a parallel configuration, interpreted as representative of lacustrine pelitic
deposits and delta plains; and clinoforms, which were developed as a consequence of
deltaic progradations and progradacional wedges related to forced regressions.

A new methodology was tested to help integrate seismic an geologic data.


Convencional sismic lines, plotted in the variable density mode, were treated as
digitized images, through the use of commercial graphic software’s, running in simple
PC machines. This study proved that this methodology is a powerful visualization tool
for stratigraphic analysis, helping to identify even fourth-order eustatic cycles within
the studied area, even though well control was limited in the region.

XII
1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações iniciais

Dois tópicos principais nortearam as pesquisas para esta dissertação: o primeiro


foi a aplicação da metodologia da estratigrafia de seqüências no estudo de uma seção
tipicamente rift, Formação Pendência, Bacia Potiguar emersa, de idade Neocomiana e o
segundo objetivo, foi o de buscar novas alternativas para melhor visualizar as feições
existentes nas linhas sísmicas utilizadas, através de artifícios computacionais simples e
possíveis de serem aplicados em microcomputadores pessoais.

Os conceitos de estratigrafia de seqüências podem ser aplicados de dois modos


diferentes: o primeiro objetivando as correlações dos principais eventos que afetaram
uma determinada bacia aos eventos sumarizados no diagrama de variação global do nível
do mar (Haq et al., 1987), e o segundo visando a predição dos sistemas deposicionais e a
formulação de um arcabouço estratigráfico baseados na interpretação de ciclicidade no
registro litológico (Vail et al., 1977, 1984).

Nesta dissertação, será dada ênfase à arquitetura estratal, baseada quase que
exclusivamente em dados de reflexão sísmica, com suporte em dados de poços,
procurando-se seguir os preceitos básicos da estratigrafia de seqüências. Os princípios
básicos da estratigrafia de seqüências, começaram a evoluir a partir de Vail et al. (opus
cit) quando publicaram os conceitos de sismoestratigrafia, tendo como fator fundamental
a eustasia e sua influência no onlap costeiro. O conceito de seqüência deposicional foi
definido por Mitchum (1977) como uma unidade estratigráfica composta por uma
sucessão de estratos geneticamente relacionados, limitados no topo e na base por
discordâncias ou suas concordâncias relativas. Uma publicação importante a respeito da
estratigrafia de seqüências foi publicada pelo SEPM, em sua publicação especial nº 42 de
1988, reunindo uma série de artigos onde Van Wagner et al., Jervey, Posamentier & Vail,
e Posamentier et al., apresentam modelos conceituais descrevendo a relação entre
padrões estratais e taxas de mudanças eustáticas e de subsidência.

Neste trabalho, procurou-se associar os conceitos básicos da estratigrafia de


seqüências ao modelo de sedimentação lacustrina de Scholz et al., (1990). As principais
diferenças que devem ser levadas em conta quando se aplica a estratigrafia de seqüências
em bacias lacustres diz respeito a escala física, a freqüência de variação de nível da água e
o grau da influência tectônica. (Scholz et al., opus cit). Outra diferença importante que
deve ser acrescentada é a proveniência das áreas fontes.

O tamanho das bacias lacustres, com arquitetura em meio graben, é geralmente da


ordem de 50 km de largura por 100 km de comprimento (Lambiase, 1990), onde o Rift
Potiguar se enquadra. As variações de fácies em bacias tipo rift são da ordem de dezenas
de quilômetros, enquanto que em bacias de margem passiva, são de centenas de
quilômetros (Rosendahl & Livingstone, 1983 in Scholz et al., opus cit). A freqüência com
que o nível das águas varia é muito maior em bacias lacustres, principalmente quando a
bacia está em regime fechado, que em bacias marginais. Um exemplo recente é o dos lagos
africanos, onde flutuações de dezenas a centenas de metros ocorreram durante os últimos
15.000 anos, enquanto que, mesmo durante a grande glaciação pleistocênica, o nível do
mar não oscilou mais que poucas centenas de metros.

O clima em uma bacia tipo rift atua inevitavelmente no nível do lago e em


concordância com o suprimento sedimentar, o que pode não ocorrer nas bacias marginais.
Um exemplo é que durante uma transgressão o início de condições mais úmidas eleva o
nível do lago ao mesmo tempo que ativa as fontes, aumentando a descarga fluvial
possibilitando uma entrada anômala de sedimentos.

2
A quantificação dos efeitos tectônicos e da subsidência térmica é crítico para o
entendimento do desenvolvimento de uma bacia. Existem, porém, grandes dificuldades nas
análises quantitativas, normalmente pela falta de dados litológicos e bioestratigráficos.
Entretanto, o fator climático parece ser o fator controlador mais importante das flutuações
do nível do lago do que a tectônica (Scholz & Rosendahl, 1990).

A área fonte para bacias marginais é praticamente uma só, isto é, do continente para
o oceano, enquanto em bacias lacustres as fontes podem vir de todos os quadrantes,
dependendo da paleofisiografia na época de deposição, mas, de modo geral, as principais
proveniências são as axiais, as da rampa homoclinal e a borda falhada. Em bacias
compartimentadas, as zonas de acomodação são fontes importantes de clásticos para a
bacia.

1.2. Metodologia

Sobre uma área de 27,5 km², no sudoeste do Graben de Umbuzeiro, na Bacia


Potiguar, parte emersa, foram selecionadas 19 linhas sísmicas 3D, totalizando 100 km e
mais uma linha 2D de 9 km de extensão. Foram selecionados ainda cinco poços com seus
perfis geofísicos, dados de testemunhos bem como dados bioestratigráficos.

A fase inicial dos trabalhos, propriamente dito, constou de um estudo


sismoestratigráfico sucinto da área, procurando-se identificar as principais feições como a
presença de discordâncias, superfícies de downlap, terminações de refletores e os padrões
sísmicos e geométricos dos refletores.

Os bons resultados obtidos com o processamento de uma linha sísmica como


imagem, fizeram deste método uma das principais linhas de pesquisa desta dissertação. A
segunda fase envolveu, então, uma série de testes, desde mudanças de escalas
(estiramento/compressão) até, principalmente, tentativas de conseguir uma nova maneira
de representar os dados sísmicos, através do tratamento das linhas sísmicas simplesmente
como imagens. Para este fim foram utilizados microcomputadores pessoais com programas
especializados em tratamento de imagens, como o CorelDRAW!, PHOTO-PAINT e Photo
Styler.

3
A fase seguinte consistiu na identificação de superfícies chaves como as superfícies
discordantes e superfícies de downlap e ainda unidades genéticas deposicionais. Estas
feições sismoestratigráficas foram correlacionadas com dados de poços e separadas em
seqüências de 3ª e 4ª ordens.

Apesar da maior facilidade em se identificar as superfícies de downlap em relação


às discordâncias, mesmo nas linhas sísmicas, preferiu-se utilizar como limites de
seqüências as superfícies erosivas e suas conformidades relativas. Os motivos desta
escolha foram os mesmos que nortearam os argumentos de Posamentier & Allen (1994),
ou seja, as superfícies erosivas e suas concordâncias relativas devem ser preferidas
primeiro, porque o próprio termo seqüência envolve um contínuo de sedimentação e o
segundo, sob a perspectiva exploratória de hidrocarbonetos, porque junto às discordâncias
há maiores possibilidades de desenvolvimento de rochas reservatórios.

4
2. BACIA POTIGUAR

2.1. Localização

A Bacia Potiguar está localizada no extremo nordeste brasileiro, nos estados do Rio
Grande do Norte e Ceará, entre as cidades de Natal (E-SE), e Fortaleza (W-NW). A bacia é
limitada aproximadamente pelos meridianos 35º00” e 38º30” e paralelos 3o10” e 5º45”.

A Bacia Potiguar compreende cerca de 22.500 km² na sua parte emersa e 26.500
km² na porção submersa, até a cota batimétrica de 2000 metros. A parte emersa está
delimitada ao norte e oeste pela Plataforma de Aracati e a leste e sul pelo Oceano Atlântico
e Plataforma Leste. (Figura 01).

2.2. Arcabouço tectono-estrutural

Após a separação das Américas do Norte e do Sul, há cerca de 210 milhões de


anos, teve início a fragmentação do continente Gondwana com a conseqüente separação da
América do Sul e a África, aproximadamente há 140 milhões de anos atrás.

A figura 02 mostra os diversos estágios que ocorreram durante a fragmentação do


megacontinente Pangea (Szatmari et al., 1985 e Françolim & Szatmari 1987). Segundo
esses autores, no estágio Neocomiano, 130 milhões de anos, a rotação diferencial dextral
entre a América do Sul e África, gerou grandes fraturas tensionais (fase rift) sobre a

5
microplaca do nordeste brasileiro, promovendo o desenvolvimento de pequenas bacias
controladas por falhas transcorrentes, entre elas o Graben Pendência.

Recentemente Matos (1992) propõe que os rifts Neocomianos intracontinentais que


compõem o Sistema de Rifts do Nordeste Brasileiro (Mattos, 1987) compreendendo as
Bacias do Recôncavo, Tucano, Jatobá, Araripe, Rio do Peixe, Iguatu, Potiguar e Sergipe-
Alagoas foram implantados ao longo de grandes falhas normais de direção nordeste, com
prováveis falhas de transferências de direção noroeste/sudeste em resposta a um processo
de estiramento e afinamento crustal atuante na região durante a fragmentação do
Gondwana (Figura 03).

No Eobarremiano/Neo-aptiano, a continuidade dos esforços distensivos, promoveu


um espetacular tectonismo com grandes movimentações e reativações de blocos que, na
Bacia Potiguar se traduziu principalmente pelo levantamento dos horsts internos (figura
01), culminando esta fase com uma grande discordância. Após este estágio, começa uma
fase de subsidência contínua, Neo-aptiana, provocada pelo progressivo afastamento da
América do Sul e África que, com o conseqüente resfriamento progressivo da crosta
oceânica, deu origem ao Oceano Atlântico.

6
A arquitetura da Bacia Potiguar é composta de três unidades básicas: grabens,
horsts internos (altos internos) e plataformas do embasamento (figura 01), que comportam
seqüências sedimentares neocomianas a terciárias, distintas para cada compartimento
morfoestrutural (Figura 04).

Na parte emersa da bacia, duas amplas plataformas rasas do embasamento são


separadas por uma porção abatida com direção geral nordeste/sudoeste. As plataformas do
embasamento são denominadas de Plataforma de Aracati ( a norte e noroeste) e Plataforma
Leste (a sul e sudeste, Figura 01). O embasamento raso apresenta falhas de pequenos
rejeitos, normalmente dezenas de metros a no máximo poucas centenas de metros, e
mergulha até cerca de 1500 metros junto às bordas dos grabens da parte emersa.

7
A calha central é uma feição assimétrica com maiores profundidades junto às falhas
a leste-sudeste (Falha de Carnaúbais, NE-SW) e sul-sudoeste (Falha de Apodi, NW-SE). O
rejeito destas falhas ultrapassa os 5.000 metros. Nas direções opostas, o rejeito é menos
pronunciado (Charneira de Areia Branca, Figuras 01 e 05).

Na porção emersa, a calha central está subdividida em quatro meio grabens: Apodi,
Umbuzeiro, Guamaré e Boa Vista. Todas estas feições são lineares, com eixos orientados
na direção geral nordeste/sudoeste.

Os grabens da parte submersa, também são assimétricos, porém com eixos


orientados aproximadamente paralelos à atual linha de costa (Figuras 01 e 05).

8
9
Os horsts internos são feições alongadas e estreitas, de direção geral
nordeste/sudoeste, que separam os principais meio grabens (Figuras 01 e 05). São blocos
do embasamento soerguidos por falhas normais. Para Bertani et al. (1990), o
desenvolvimento destes horsts é uma conseqüência da formação dos grabens através de
grandes falhas lístricas, com rotação de blocos até que as tensões concentradas na placa
flexurada sejam aliviadas através de falhas normais antitéticas. Este mecanismo, segundo
estes autores, explica a forma destes horsts, limitados por escarpas abruptas de um lado e
mergulhando como uma rampa com falhas antitéticas secundárias no lado oposto.

10
Os principais horsts internos na porção emersa, são denominados de Alto de
Quixaba, Alto da Serra do Carmo e Alto de Macau (Figura 01).

2.3. Seqüências tectono-sedimentares

Souza (1982) definiu pelo menos três grandes ciclos deposicionais que podem ser
distinguidos no registro estratigráfico e que correspondem diretamente às fases evolutivas
da Bacia Potiguar: fase rift, fase transicional e fase drift.

2.3.1. Fase rift

Tem início no Neocomiano até o Eo-aptiano (figura 04). Durante esta fase,
desenvolveram-se as grandes falhas normais e de transferência, formando uma fossa
tectônica romboédrica, onde se depositaram os sedimentos fluvio-lacustres da Formação
Pendência. A deposição destes sedimentos ocorreu em um lago de nível variado e são
caracterizados por progradações de arenitos deltaicos de planície fluviais ao longo do eixo
dos grabens ou a partir da linha de charneira a noroeste. Matos et al., (1987) (Figura 06).

Junto as
grandes falhas limites
da bacia,
depositaram-se
espessos pacotes
conglomeráticos de
escarpa de falha.

A seção
lacustre é
caracterizada por
folhelhos ricos em
matéria orgânica intercalados por areias turbidíticas. Mais para o final da fase rift,
predominam sedimentos fluviais, que correspondem ao seu assoreamento (Figura 06).

Durante o assoreamento do rift, ocorre um grande evento tectônico, mais


pronunciado na porção emersa, responsável pelo soerguimento generalizado e

11
basculamento de blocos, resultando nos altos internos e uma discordância regional de
caráter erosional e angular, conhecida na bacia como discordância pré-Aptiana (Figura 04
e 05).

Os sedimentos desta fase alcançam uma espessura máxima da ordem de 5.000


metros.

2.3.2. Fase transicional

Inicia-se no Eo-aptiano até o Eo-albiano (Figura 04), com o resfriamento da crosta


e gradual subsidência. Nesta fase depositaram-se os sedimentos lagunares restritos com
influência marinha, representados por folhelhos e carbonatos da Formação Alagamar, que
são intercalados por arenitos deltaicos que gradam para fácies mais grosseiras nas áreas
mais proximais. (Costa et al., 1983 in Bertani et al., 1990). (Figura 07). Os depósitos
sedimentares desta fase atingem uma espessura máxima da ordem de 300 metros na porção
terrestre.

12
2.3.3. Fase drift

Esta fase é conseqüência da deriva continental onde predominaram processos


termais e isostáticos. Dois sistemas deposicionais caracterizam esta fase. O primeiro,
transgressivo, iniciado no Albiano ao Neocampaniano com deposição de arenitos fluviais
grossos a médios da Formação Açu, interdigitados e sobrepostos por folhelhos
transicionais a marinhos e carbonatos de plataforma rasa, das Formações Ponta do Mel,
Quebradas e Jandaíra
(Figura 04 e 5b). A
parte distal (folhelhos e
margas) destas
unidades pertencem a
Formação Ubarana
(Figura 08a). O
segundo sistema
deposicional de caráter
regressivo, que vai
desde o
Neocampaniano até o
Plioceno, caracterizado
por depósitos de
arenitos costeiros da
Formação Tibau,
carbonatos de
plataforma da Formação Guamaré e por folhelhos marinhos rasos e profundos da
Formação Ubarana, com intercalações de turbiditos (Figura 08b).

13
3. ÁREA DE ESTUDO

3.1. Localização

A área sobre a qual foi realizada esta dissertação, está localizada na porção emersa
da Bacia Potiguar, no extremo sudoeste do Graben de Umbuzeiro, área de Cachoeirinha,
abrangendo uma área aproximada de 27,5 km², limitada pelas coordenadas UTM
(MC=39º):
X=9.378.700 km, Y=663.900 km;
X=9.384.000 km, Y=662.400 km;
X=9.385.400 km, Y=667.200 km;
X=9.380.000 km, Y=668.700 km (Figura 09).

3.2. Graben de Umbuzeiro

O Graben de Umbuzeiro é uma das principais feições morfo estruturais de meio


graben basculado para sudeste, que formam o Rift Potiguar emerso. Possui forma alongada
(sudoeste-nordeste) com cerca de 100 km de comprimento e 10 a 15 km de largura. Limita-
se a sul-sudeste com a Plataforma Leste através dos sistemas de falhas de Carnaubais e
Baixa Grande, e o limite norte-noroeste pelos altos de Rio do Carmo e Quixaba. O limite
entre os grabens de Umbuzeiro e Apodi não é suficientemente definido, porém Borges
(1993) definiu que “Graben de Umbuzeiro é todo graben situado a sudeste do Alto de
Quixaba, restringindo-se a denominação de Graben de Apodi ao

14
compartimento estrutural que, juntamente com o Graben de Boa Vista, ocupa a posição
noroeste deste alto” (Figura 10).

3.3. Estratigrafia da área estudada

A coluna litoestratigráfica da área estudada compreende as formações Pendência,


Alagamar, Açu e Jandaíra (Figura 04).
O embasamento cristalino alcança uma profundidade em torno de 5.500 metros
junto ao bloco baixo da Falha de Baixa Grande (Figura 11).

A definição formal da Formação Pendência foi proposta por Souza (1982) para
designar uma seqüência de idade Neocomiana a Barremiana (Neo-rio da Serra e Jiquiá),
caracterizada por conglomerados, arenitos, siltitos e folhelhos, depositados em ambiente
predominantemente fluvio-deltaico progradando sobre pelitos lacustres, os quais são
entremeados por freqüentes turbiditos e leques aluviais associados aos falhamentos de
borda do Rift Potiguar.

Na área de estudo, esta unidade alcança em torno de 4.950 metros de espessura,


sendo que a seção estratigráfica estudada é de aproximadamente 1.800 metros.
Separada da Formação Pendência por uma discordância regional que marca o fim
da fase rift da bacia, ocorre a Formação Alagamar, Souza (1982), representada por uma
sedimentação em fase de maior quiescência tectônica. É constituída de dois membros
separados por um marco regional chamado de Camadas Ponta do Tubarão (CPT),
formadas por folhelhos e carbonatos. O membro inferior, denominado Upanema,
caracteriza-se por arenitos fluvio-deltaicos com intercalações de folhelhos e carbonatos
lacustres. O membro superior, denominado Galinhos, é predominantemente pelítico, com
folhelhos cinza escuros e calcilutitos creme claro, representando sistemas deltaicos
marcados por influência marinha. Na área, esta formação possui uma espessura média de
150 metros.

17
Sobreposta discordantemente à Formação Alagamar, ocorre a Formação Açu,
definida por Kreidler & Andery (1949) in Araripe & Feijó (1994). Caracteriza-se na área,
por arenito cinza, fino a muito grosso com intercalações de argilito e siltito castanho
avermelhado. Os principais ambientes deposicionais são os leques aluviais, sistemas
fluviais entrelaçados e meandrantes (Vasconcelos et al., 1990 in Araripe & Feijó, 1994). A
espessura média da Formação Açu na área é em torno de 300 metros.

A Formação Jandaíra, proposta por Sampaio & Schaller (1968) in Araripe & Feijó
(opus cit), designa uma seção carbonática de alta energia sobreposta agradacionalmente à
Formação Açu. Na área é caracterizada por calcarenitos cremes, bioclásticos, micríticos,
de planície de maré. A espessura média desta unidade na área é de aproximadamente 100
metros.

3.4. Faciologia e ambientes deposicionais na área estudada

Silva (1993) realizou estudo estratigráfico detalhado na área e áreas circunvizinhas,


em uma seção de 900 metros de espessura da Formação Pendência. As principais
ferramentas, utilizadas pelo autor, foram a análise faciológica através de estudos
sedimentológicos realizados em testemunhos obtidos em 18 poços, aliados aos dados de
perfis geofísicos dos poços e dados bioestratigráficos. O limite inferior desta seção
corresponde ao início do Andar Aratu e o limite superior coincide com a ocorrência da
espécie Reconcavona Sp2. Este intervalo corresponde à metade superior da seção estudada.
O autor identificou doze litofácies que foram agrupadas em duas sucessões de fácies
baseado nas relações estratigráficas e genéticas das mesmas. Essas sucessões foram
denominadas: Sucessão de Fácies Lacustres Perenes e Sucessão de Fácies Lacustres
Marginais (Tabela 01 e Figura 12).

A Sucessão de Fácies Lacustre Perene é composta de cinco litofácies, que


representam depósitos de leques turbidíticos associados a sistemas de canais sublacustres e
depósitos de diques marginais, além de sedimentos dominantemente pelíticos,
característicos de ambiente lacustre profundo.

A Sucessão de Fácies Lacustre Marginal é constituída de sete litofácies


representando depósitos oriundos de sistemas de deltas dominados por rios com
retrabalhamento periódico por ondas e de sistemas de braid deltas.

18
ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES AMBIENTES DEPOSICIONAIS
1- Folhelho com laminações várvicas Depósitos de LEQUES
(Flv) TURBIDÍTICOS associados a
2- Ritmitos sílticos-argilosos (Rsag)
SUCESSÃO DE 3- Ritmitos sílticos-arenosos (Rsar)
sistemas de CANAIS
FÁCIES 4- Arenito médio/fino maciço ou SUBLACUSTRINOS e
LACUSTRES com estratificação plano-paralela depósitos de DIQUES
PERENES (Amfp) MARGINAIS, e sedimentos
5- Arenito grosso/conglomerático dominantemente pelíticos de
com estratificação cruzada acanalada
ambiente LACUSTRE
e gradação normal e inversa (Agni)
PROFUNDO.
6- Folhelhos sílticos com níveis de
arenito muito fino (Fsna)
7- Arenito fino/médio com
laminação plano paralela (Afp)
DELTAS
SUCESSÃO DE 8- Arenito grosso/conglomerático
FÁCIES com estratificação cruzada acanalada
LACUSTRES (Agca)
MARGINAIS 9- Conglomerados e arenitos
conglomeráticos com estratificação
cruzada acanalada (Cca)
10- Arenito grosso/conglomerático
com estratificação cruzada acanalada BRAID DELTAS
(Agca)
11- Arenito médio/fino com
laminação plano paralela (Amp)
12- Folhelho síltico e níveis de siltito
com laminação plano paralela (Fns)

Tabela 1 - Associação de fácies e ambientes deposicionais (Silva, 1993)

A faciologia e os sistemas deposicionais da porção inferior da seção estudada, bem


como a seção inferior da Formação Pendência na área, são inferidas pelos estudos
faciológicos regionais realizados por Della Fávera et al., (1992) (Tabelas 2 e 3 ), quando
subdividiram a Formação Pendência em quatro seqüências deposicionais (vide maiores
detalhes no capítulo 7). A figura 12 mostra o diagrama estratigráfico proposto por estes
autores.

A Seqüência 1, na maior parte da bacia, é constituída por folhelhos lacustres com


contribuição de arenitos turbidíticos/deltaicos e fanglomerados. No Graben de Guamaré, o
predomínio é de arenitos e conglomerados dos leques deltaicos. Foram identificadas quatro
associações faciológicas (Tabela 2 e Figura 12).

19
A Seqüência 2 é caracterizada por um intervalo transgressivo na base e outro
regressivo no topo, separados por uma seção argilosa interpretada como uma superfície de
inundação máxima, SIM. Foram identificadas cinco associações de fácies (Tabela 3).

ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES AMBIENTES DEPOSICIONAIS


1a- Depósitos de suspensão: Conglomerados maciços, arenitos SISTEMAS DE LEQUES
maciços/laminados, ritmitos areno-argilosos gradacionais, DELTAICOS
siltitos maciços e folhelhos com lâminas sílticas. Os clásticos
grossoss exibem grãos líticos, fragmentos de bivalves e de
carvão.
1b- Depósitos arenosos e argilosos de suspensão: arenitos DEPÓSITOS EM ÁGUAS
grossos, maciços a sílticos, fluidizados e ritmitos areno- PROFUNDAS
argilosos (decimétricos a centimétricos) com aleitamento
gradacional.
1c- Arenitos grossos com estratificação cruzada, gradam para DEPÓSITOS EM ÁGUAS RASAS
cima a interlaminações ondulares (wavy), bioturbações, e siltitos (DELTAICO)
com concreções carbonáticas (caliche?).
1d- Folhelhos cinza escuros a esverdeados, com restos vegetais DEPÓSITOS PRODELTAICOS
e concreções de marga e níveis de interlaminações
ondular/bioturbação. Raros ritmitos areno-argilosos.
Tabela 2 - Associação de fácies e ambientes deposicionais da Seqüência 1 de Della
Fávera et al., (1992).

ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES AMBIENTES DEPOSICIONAIS


2a- Conglomerados polimíticos de escarpa de falha
2b- Arenitos grossos/conglomeráticos maciços a laminados, mal
selecionados, ricos em grãos líticos, clastos de folhelho, e
localmente com seixos de calcário e bioclastos. As litologias
finas subordinadas são ritmitos delgados de arenito muito fino
gradando a siltito e folhelhos.
2c- Espessos bancos de arenitos intercalados com folhelhos. Os LEQUES SUBLACUSTRINOS
arenitos são maciços a gradacionais e variam de finos a grossos, PROFUNDOS
seleção regular a má, contendo localmente clastos de folhelho,
podendo apresentar fluidização, estruturas de escorregamento e
aspecto diamictítico. Folhelhos e ritmitos delgados de arenito-
folhelho estão intercalados nos arenitos.
2d- Predominam folhelhos cinza-escuros, localmente várvicos
ou com concreções calcíferas, contendo intercalações de arenito
muito fino/siltito, fluidizado, com pseudonódulos, aleitamento
agradacional, estruturas de escorregamento, microfalhas, etc.
2e- Delgados corpos de arenitos maciços/laminados e também DEPÓSITOS EM ÁGUAS RASAS
escorregados; as interlaminações ondulares de arenito e folhelho
mostram estruturas de retrabalhamento por ondas.
Tabela 3 - Associação de fácies e ambientes deposicionais da Seqüência 2 de Della
Fávera et al., (1992).

20
3.5. Linhas sísmicas e poços

Foram escolhidas aleatoriamente, dezenove (19) linhas sísmicas de levantamento


3D totalizando 100 km, e mais uma linha sísmica 2D, multicanal, de 9 km. Dentre as 19
linhas sísmicas 3D, nove (9) são de direção nordeste-sudoeste (strike) e dez (10) são de
direção noroeste-sudeste (dip). A linha 2D tem direção dip. O mapa base da figura 13,
mostra a posição relativa das linhas sísmicas e os poços analisados.

As linhas sísmicas 3D
foram obtidas através da
captura de suas imagens na
tela de estações gráficas e
posteriormente trabalhadas e
plotadas através de
microcomputadores PC (vide
maiores detalhes nos capítulos
5 e 6).

Todas as linhas
sísmicas foram analisadas e
interpretadas, compondo um
quadro sismoestratigráfico
regional para a área. Do total
das linhas sísmicas 3D, cinco
delas foram selecionadas
como representantes das
feições geológicas da área, de
acordo com os propósitos desta dissertação. As cinco linhas foram numeradas conforme o
mapa base da figura 05. A linha sísmica nº 1, foi utilizada como principal referência neste
trabalho.

Foram ainda escolhidos cinco (5) poços para obtenção dos dados de testemunhos e
perfis geofísicos, principalmente o de raios gama. Infelizmente os poços encontram-se

21
concentrados numa pequena porção à Sul da área, e alcançaram apenas a metade superior
(+/- 900 metros) da seção estratigráfica estudada.

22
4. SISMOESTRATIGRAFIA E ESTRATIGRAFIA DE
SEQÜÊNCIAS

4.1. Sismoestratigrafia

Até o final da década de 60 e início da década de 70, muitos autores já publicavam


os modernos conceitos da Estratigrafia de Seqüências, [Wheeler (1958, 1959), Weller
(1960) e Sloss (1962, 1963) in Posamentier & Allen (1993)]. Estes autores não
conseguiram se firmar perante a comunidade geológica, pela falta de uma importante
ferramenta que era uma sísmica de boa qualidade. A partir da década de 70, surge a
sísmica de reflexão multicanal com a técnica CDP (commom deep point). Paralelo a
evolução na aquisição de dados sísmicos de reflexão, surgem os programas de
processamento sísmico, melhorando em muito, a qualidade e a confiança destes dados.
Atualmente, a sísmica 3D, é outro marco histórico em termos de aquisição, processamento
e visualização de dados sísmicos. A grande vantagem desta metodologia é o imageamento
estratigráfico contínuo e nas três dimensões, diminuindo o risco das interpolações sem
informação, entre dois pontos distantes.

23
A partir do grande salto na qualidade dos dados sísmicos, eles deixaram de ser
usados somente para interpretações meramente estruturais e passaram a ser uma disciplina
própria, que é a sismoestratigrafia.

A sismoestratigrafia procura identificar o maior número possível de características


geológicas dos dados sísmicos, como por exemplo: correlação cronoestratigráfica,
definição de unidades genéticas deposicionais, espessuras e ambiente deposicional das
unidades genéticas, paleobatimetria, história de soterramento, paleogeografia e história
geológica (Vail & Mitchum, Jr. 1977 in Ramos 1982). Estas características podem ser
identificadas através de:

a) análise das seqüências sísmicas, baseada na identificação das unidades


sismoestratigráficas.

b) análise das fácies sísmicas, que é o reconhecimento dos padrões de reflexões sísmicas e
suas associações dentro das seqüências sísmicas definidas.

c) construção de seções cronoestratigráficas regionais o que permite a análise das variações


relativas do nível do mar (Vail & Mitchum, Jr. 1977).

A estratigrafia sísmica ou sismoestratigrafia, pode então ser definida como o estudo


da estratigrafia e das fácies deposicionais interpretadas a partir dos dados sísmicos. As
terminações e configurações das reflexões sísmicas são interpretadas como padrões de
estratificação e, assim, são usadas para reconhecer e relacionar as seqüências
deposicionais, inferir os ambientes deposicionais e prognosticar as litofácies.

4.1.1. Seqüência sísmica

Seqüência sísmica é uma seqüência deposicional, identificada em uma linha


sísmica, formada por uma sucessão relativamente concordante de refletores, interpretados
como estratos geneticamente relacionados. Estes estratos são limitados no seu topo e base
por superfícies de descontinuidade, marcadas pelas terminações das reflexões e
interpretadas como discordâncias ou suas concordâncias relativas (Mitchum, Jr. et al.,
1977). Se os limites inferior e superior de uma seqüência são concordantes, podemos
interpretar que a idade da seqüência está compreendida entre as idades de cada um de seus

24
limites. Se os limites são discordantes, a idade dos estratos pode variar de lugar para lugar
dentro da seqüência.

Mitchum, Jr. et al.,(1977) sumarizam os conceitos de seqüência deposicional na


figura 14, traçando uma correlação entre uma seção estratigráfica generalizada (A) e a
seção cronoestratigráfica generalizada da mesma seqüência (B). Dentro da seqüência
considerada, o espaço de tempo geológico varia de lugar para lugar, mas a variação está
confinada dentro de limites síncronos em termos de tempo geológico.

25
As terminações das reflexões são o principal critério para reconhecimento dos
limites da seqüência sísmica e estão ilustradas esquematicamente na figura 15.

TRUNCAMENTO DISCORDÂNCIA
SUPERIOR TOPLAP

DISCORDÂNCIA
INFERIOR ONLAP
LAP
ON
DOWNLAP

4.1.2. Fácies sísmicas

A análise de fácies sísmicas é a descrição e interpretação geológica dos parâmetros


das reflexões sísmicas, que incluem as configurações das reflexões, sua continuidade,
amplitude, freqüência e velocidade intervalar. O padrão de configuração das reflexões é o
parâmetro mais utilizado em uma análise de fácies sísmicas. Os padrões de reflexões
fornecem grosseiramente os padrões de estratificação a partir dos quais os processos
deposicionais, erosões e paleotopografia podem ser interpretados (Mitchum, Jr. et al.,
1977). A figura 16 mostra os principais padrões de configuração, compreendendo as
configurações paralelas, divergentes, progradantes (sigmóides, oblíquas, shingled e
hummocky), caóticos, ou em sua ausência, áreas isentas de reflexões (reflexões free).

As linhas sísmicas da área estudada mostram uma riqueza muito grande nos
padrões de reflexões, principalmente nas configurações progradantes. A análise destes
padrões possibilitou a divisão em seqüências de até 4ª ordem, com relativa segurança e
detalhamento (vide capítulo 7).

4.2. Estratigrafia de seqüências

Segundo Vail, (1987) a Estratigrafia de Seqüência é a aplicação da


sismoestratigrafia na análise de bacias, objetivando a divisão, correlação e mapeamento
das rochas sedimentares.

26
Para Vail et al., (1977) as seqüências deposicionais são controladas
fundamentalmente pelas variações eustáticas de mais alta freqüência superimpostas às
variações tectônicas de mais baixa freqüência.

A publicação de Vail et al., (opus cit), dá início a uma intensa e acalorada polêmica
no meio geocientífico, com posições à favor e questionamentos sobre a validade das
correlações estratigráficas inter-bacinais baseadas nos ciclos globais de variações do nível
do mar.

As críticas, antes de provocar o enfraquecimento no paradigma da Estratigrafia de


Seqüências, reforçaram o entendimento da arquitetura deposicional de uma bacia dentro
das interrelações geométricas e temporais dos estratos. Provocaram também uma maior
integração das ferramentas de análise de uma bacia, como a sísmica, paleontologia,
sedimentologia e perfis de poços. Mas o principal ganho, gerado por esta polêmica, é que a
Estratigrafia de Seqüências hoje, é vista mais como uma ferramenta ou uma abordagem do
que um gabarito ou modelo rígido. Os modelos estratigráficos conceituais são baseados em
princípios primários (básicos), e é o entendimento destes princípios, mais que a

27
memorização do modelo, a chave para a aplicação bem sucedida da Estratigrafia de
Seqüências (Posamentier & James 1993).

Nesta dissertação, as análises estratigráficas da área levaram em consideração os


princípios primários da Estratigrafia de Seqüências, conciliadas ao modelo de deposição
em bacias lacustres de Scholz et al., (1990).

Desta maneira, será feita uma breve abordagem de alguns princípios básicos da
Estratigrafia de Seqüências, que apesar de terem sido desenvolvidos em bacias marginais,
podem ser adaptados também para bacias lacustres.

Vail et al., (1977) agrupam as evidências de variações relativas do nível do mar em


três linhas principais:

1) onlap costeiro, indicando um levantamento relativo do nível do mar

2) toplap costeiro, indicando períodos de equilíbrio com nível do mar estacionário


(stillstand)

3) deslocamento do onlap costeiro em direção à bacia, indicando abaixamento do nível do


mar.

O onlap costeiro (figura 17), segundo Vail et al., (opus cit), é o onlap progressivo
em direção ao continente dos depósitos costeiros (litorâneos ou não-marinhos) em uma
dada seção estratigráfica. A espessura destes depósitos, denominada de agradação costeira,
é a medida do levantamento relativo do nível do mar num determinado intervalo de tempo.
O componente
horizontal associado é
denominado de invasão
costeira (coastal
encroachment) e
depende da inclinação
da superfície
deposicional inicial.

28
O onlap costeiro pode resultar de:

1) levantamento do nível do mar enquanto a bacia subside, permanece estacionária ou


mesmo sobe a uma taxa inferior ao do levantamento do nível do mar;

2) o nível do mar permanece estacionário enquanto a bacia subside;

3) abaixamento do nível do mar acompanhado de subsidência da bacia a uma taxa mais


rápida.

A figura 18, mostra três situações: transgressão, regressão e linha de costa


estacionária, durante um mesmo período de elevação relativa do nível do mar, dependendo
da taxa de influxo sedimentar.

O período de nível de mar estacionário é indicado em linhas sísmicas por toplap


costeiro que pode resultar de:

1) o nível do mar e a
bacia permanecem
estacionários;

2) ambos subsidem
ou se elevam à
mesma taxa.

Como não há
criação de espaço, os
sedimentos
ultrapassam a
plataforma (sem
agradação) e irão se
distribuir por
progradação,
produzindo toplap
costeiro (Figura 19).

29
O rebaixamento
relativo do nível do mar
ocasiona um
deslocamento brusco do
onlap costeiro em direção
à bacia (Figura 20). Este
rebaixamento forma uma
superfície erosiva que é o
limite entre duas
seqüências.

O rebaixamento relativo do mar pode resultar de:

1) abaixamento do nível do mar enquanto a bacia subside à uma taxa mais lenta,
permanece estacionária ou se eleva;

2) o nível do mar permanece estacionário com levantamento da bacia;

3) o nível do mar se eleva com levantamento associado da bacia a uma taxa mais rápida.

O intervalo de tempo durante o qual ocorre um levantamento e um rebaixamento


relativo do mar, intercalado por um período de equilíbrio (stillstand), compõe um ciclo de
variação relativa do nível do mar. O termo “ciclo”, implica em ocorrência repetitiva,
provocada por algum mecanismo com regularidade no tempo.

30
Segundo Vail et al., (1977), ciclos regionais podem ser comparados com os ciclos
globais de variação do nível do mar e estabelecer correlações cronoestratigráficas em
termos mundiais, sugerindo a contemporaneidade dos processos em toda parte.

Dentro de uma seqüência, encontram-se sistemas deposicionais contemporâneos.


Uma série de sistemas deposicionais contemporâneos foi definida por Brown & Fisher
(1977) como Tratos de Sistemas. Posamentier & Vail ( 1988) e Posamentier et al., (1988)
associaram cada trato de sistema a uma porção específica da curva eustática (Figuras 21a
e 21b) e ilustraram os trato de sistemas, em blocos diagramas de acordo com o tipo de
seqüência, isto é, com o tipo de discordância sobre a qual a seqüência se apoia (Tabela 4).

Seqüência tipo 1 Seqüência tipo 2

Trato de sistemas de mar alto (TSMA) Trato de sistemas de mar alto (TSMA)

Trato de sistemas transgressivo (TST) Trato de sistemas transgressivo (TST)

Trato de sistemas de mar baixo (TSMB) Trato de sistemas de margem de plataforma


(TSMP)

Tabela 4 - Tipos de seqüências com os respectivos tratos de sistemas. Posamentier &


Vail (1988) e Posamentier et al., (1988).

No desenvolvimento deste modelo conceitual sobre a influência do controle


eustático na deposição clástica, os autores assumiram quatro premissas básicas:

1. Uma taxa de subsidência do fundo do mar constante.

2. Aumento crescente da subsidência em direção à bacia.

3. Uma taxa constante de suprimento sedimentar.

4. A curva de mudança eustática é aproximadamente senoidal.

31
Sobre os
depósitos do trato
de sistema de mar
alto (highstand),
figura 22, inicia-
se uma queda
rápida do nível do
mar, sendo a
queda mais rápida
do que a
subsidência. A
taxa de variação é
a derivada
primeira da curva
eustática. A taxa
de variação é mais
alta no ponto de
inflexão (ø1)
(Figura 21a).
Esta queda relativa do nível do mar, resulta em um rápido deslocamento em direção à
bacia, do sistema deposicional, agora denominado de trato de sistema de nível de mar

baixo (lowstand)
(TSMB). Durante o
tempo do TSMB,
ocorre erosão
subaérea na
plataforma
proximal, erosão
submarina na
plataforma mais
distal e a formação
de canyons

32
submarinos, se o talude da bacia possuir inclinação suficiente. Este tipo de discordância
caracteriza uma discordância tipo 1 (Figura 23). Se o mergulho do talude é suave, forma-
se uma superfície regional com exposição subaérea e deslocamento do onlap costeiro para
uma posição que não chega a atingir o limite deposicional da linha de costa. Ocorre uma
ampla e lenta erosão subaérea, provocando a gradual degradação da fisiografia sem estar
associada ao rejuvenescimento da drenagem. Esta superfície caracterizada como
discordância tipo 2, se forma quando a taxa de rebaixamento eustático é menor que a taxa
de subsidência da bacia, junto a quebra da linha de praia deposicional.

O TSMB pode ser subdividido em quatro partes: leque de assoalho de bacia, o


leque de talude, a cunha de mar baixo e os vales incisos. Os dois primeiros são sistemas
turbidíticos e suas presenças ajudam a caracterizar uma seqüência tipo 1. Se em bacia com
margem em rampa, desenvolve-se apenas uma cunha de nível de mar baixo (Figuras 24 e
25).

A cunha de mar baixo desenvolve-se quando a curva de variação do nível do mar


alcança sua posição mais baixa (Figura 25). Este ponto representa o início do
deslocamento do trato de sistemas em direção a margem da bacia novamente. O contínuo
levantamento do nível do mar, alcança o outro ponto de máxima variação (ø2 na figura

33
21a). Ainda durante
a subida lenta ou
estabilização do
nível do mar até ø2,
começa deposição
dentro dos vales
incisos, pela
agradação dos
sedimentos fluviais.

. Os sistemas
deposicionais estão
sendo deslocados
rapidamente em direção à margem da bacia, e o espaço disponível para sedimentação
aumenta dramaticamente (bacia faminta). Desta maneira, é formado o trato de sistemas
transgressivo (TST) (Figura 26). No topo do TST está a superfície de inundação marinha
que corresponde à máxima transgressão na seqüência e por isso é conhecida como
superfície de inundação máxima (SIM). Também é conhecida como superfície de downlap
porque é a superfície sobre a qual as clinoformas progradantes do trato subseqüente
“downlapam”. As SIM são encontradas no meio de um pacote de finas camadas de
sedimentos
pelágicos ou
hemipelágicos
depositados com
taxas de
deposição muito
baixa. Estas
fácies são
conhecidas como
seção condensada
(Figura 27).

34
Quando o
nível do mar
alcança a parte
superior da curva,
onde a taxa de
variação é baixa,
deposita-se o trato
de sistema de mar
alto (TSMA II).
Este trato “onlapa”
o limite de
seqüência em
direção ao
continente e “downlapam” o topo do trato transgressivo ou de mar baixo, em direção à
bacia (Figura 28).

A subseqüente queda do nível do mar é modelada como sendo mais gradual (mais
lenta do que a taxa de subsidência na quebra deposicional do TSMA II). O trato
deposicional é deslocado em direção a margem da plataforma (ø3 na figura 21a), mas não
tão rápido como antes, depositando então o trato de sistemas de margem de plataforma
(TSMP). Este é o trato de sistema mais inferior associado a um limite de seqüência tipo 2
(Figuras 29 e 23).

A relação dos sistemas


deposicionais com os tratos de sistemas
estão sumarizados na figura 30.

Posamentier & Vail (1988) in


Posamentier & James (1993),
identificaram pelo menos 1152
combinações possíveis de variáveis
levando a um igual número de cenários de
blocos diagramas possíveis. Desta
maneira é extremamente improvável que

35
qualquer arranjo
geológico ajuste-
se perfeitamente
aos blocos
diagramas
apresentados em
Posamentier et
al., (1988).
Posamentier &
Vail (1988) in
Posamentier &
James (1993),
especificamente
estabelecem que antes da aplicação dos conceitos de estratigrafia de seqüências, as
condições locais referentes à tectônica, fluxo sedimentar e fisiografia, devem ser levados
em conta.

NÍVEL DO MAR

PLANÍCIE DELTAICA

40
0m 200m 0

PLATAFORMA

TRATO DE SISTEMA DE
MARGEM DE PLATAFORMA

EUSTASIA
ALTO
LITOLOGIA

FÁCIES DO FÁCIES DE FÁCIES FÁCIES FÁCIES DE


LEQUE PLANÍCIE FLUVIAL MARINHA LEVEE DE
SUBMARINO COSTEIRA CANAIS
E PRAIA
BAIXO TEMPO

Fig.29 - Trato de sistemas de m argem de plataforma - TSMP


Posamentier et al. (1988).

36
37
5. CONCEITOS SOBRE IMAGENS DIGITAIS

O processamento digital de imagens é uma ferramenta poderosa para facilitar a


identificação e a extração de informações não prontamente identificáveis em imagens
digitais. Linhas sísmicas (2D ou 3D) e time-slices (3D), oferecem a oportunidade de se
explorar e identificar feições geométricas difíceis de serem reconhecidas, seja em seções
convencionais (em papel) ou em estações de trabalho (monitores coloridos).

Não é intenção e nem objetivo discutir conceitos técnicos avançados sobre


tratamento digital de imagens. Este é um assunto bastante complexo e por isso serão
abordados apenas alguns conceitos teóricos e não matemáticos, envolvidos no
processamento digital de imagens. Os conceitos foram extraídos de Crósta (1992), que
discute aquisição, processamento e interpretação de imagens em sensoriamento remoto,
onde inclui os sistemas que adquirem imagens da superfície terrestre a bordo de
plataformas aéreas (aviões) ou orbitais (satélites).

A diferença entre uma imagem digital qualquer, como no caso de imagens de linhas
sísmicas, e imagens geradas por sensores remotos, é que estas últimas, quase sempre
possuem a característica de serem multiespectrais, ou seja, são adquiridas em diferentes
porções do espectro eletromagnético, geralmente variando da porção visível (VIS),
passando pelo infravermelho próximo (NIR), médio (MWIR) e de comprimento curto
(SWIR), e chegando até o infravermelho termal (TIR) e micro-ondas. Os conceitos gerais
descritos, são os que podem ser aplicados a imagens digitais simples.

38
O sistema visual humano possui uma notável capacidade de reconhecer padrões,
mas dificilmente é capaz de processar todas as informações contidas numa imagem. As
degradações e distorções geradas pelos processos de aquisição, transmissão e visualização
de imagens, contribuem para limitar ainda mais a capacidade do olho humano. Portanto, o
objetivo principal do processamento de imagens é o de remover essas barreiras, inerentes
ao sistema visual humano, facilitando a extração das informações contidas nas imagens.

5.1 Estrutura das imagens digitais

A natureza discreta de uma imagem permite que cada pequena porção (cela) desta
imagem seja contida em uma malha ou grid, com endereço “x” e “y” definidos. Por
convenção, a origem do grid é sempre no seu canto superior esquerdo. O nome dado a esta
cela é pixel (picture element).

Cada cela possui um atributo numérico “z”, indicando o nível de cinza dessa cela,
que varia do preto ao branco. Esse nível de cinza é conhecido por “DN” (digital number).
Em imagens de sensoriamento remoto o DN de um pixel corresponde sempre à média da
intensidade de energia refletida ou emitida pelos diferentes materiais enquadrados nesse
pixel, que por sua vez, representa uma área na superfície da Terra. No caso da imagem de
uma linha sísmica, o DN do pixel é a média dos DN de cada amostra contida dentro deste
pixel.

Uma imagem digital é em resumo, uma matriz de dimensões “x” linhas e por “y”
colunas, com cada elemento possuindo um atributo “z”.

A figura 31 exemplifica uma imagem simples, composta apenas por áreas quase
brancas e quase pretas, e sua respectiva matriz numérica, representando a forma pela qual
essa imagem seria utilizada no processamento digital.

5.2 Resolução das imagens digitais

A resolução em sensoriamento remoto é dada através de três parâmetros diferentes


e independentes: resolução espacial, resolução espectral e resolução radiométrica.

39
A resolução
espacial em
sensoriamento remoto
é definida pela
capacidade do sensor
em “enxergar” objetos
na superfície terrestre;
quanto menor o
objeto, maior a
resolução. De forma
simplificada, a área
vista no terreno é o
tamanho do pixel.
Para linhas sísmicas o conceito é semelhante; quanto mais detalhes, vistos em
subsuperfície, maior a resolução e portanto, quanto menor a quantidade de amostras
dentro de um pixel, maior a resolução. Como o DN do pixel é a média dos DNs das
amostras contidas no pixel, é importante que um pixel contenha apenas uma amostra
horizontal (distância entre traços) e uma vertical (amostra em tempo = razão de
amostragem).

A resolução espectral é melhor utilizada para imagens multiespectrais, sendo


definida pelo número de bandas espectrais de um sistema sensor e pela largura do intervalo
de comprimento de onda coberto por cada banda. Quanto maior o número de bandas e
menor a largura do intervalo, maior é a resolução espectral. Toma-se como exemplo
simples a diferença entre uma foto preto e branco e uma colorida. A foto preto e branco
tem apenas uma banda, enquanto a foto colorida representa o mesmo objeto em três
bandas, vermelha, azul e verde que, quando combinadas por superposição resultam na foto
colorida. Portanto, uma imagem de uma linha sísmica é de apenas uma banda.

O terceiro e importante tipo de resolução é a radiométrica que é dada pelo número


de níveis digitais, representando níveis de cinza, usados para expressar os dados coletados
pelo sensor. Quanto maior é o número de níveis, maior é a resolução radiométrica. Para
exemplificar, tomemos uma imagem com apenas dois níveis (branco e preto) e uma com
256 níveis de cinza, obviamente a segunda imagem possui uma resolução nos detalhes

40
muito maior que a primeira. Os níveis são representados pelo número de dígitos binários
(bits) necessários para armazenar, na forma digital, o valor do nível máximo. O valor do
bits é sempre uma potência do número 2, ou seja, 6 bits quer dizer 26=64 níveis.

A imagem de uma linha sísmica representada nas estações gráficas é de 8 bits, igual
a 256 níveis de cinza.

A figura 32 mostra a importância do número de níveis em uma imagem. Em A, a


imagem com resolução radiométrica de 8 bits (256 níveis de cinza) e B, a mesma imagem

convertida para 1 bit (dois níveis de cinza apenas).

5.3 Histograma de uma imagem

O histograma é a forma mais comum de representar a distribuição de DNs de uma


imagem e, talvez a mais útil em processamento digital de imagens. Ele fornece a
informação sobre quantos pixels de uma imagem possuem o mesmo DN ou, qual a
proporção da imagem corresponde a cada valor de DN. Os histogramas representam as
distribuições de intensidade por colunas discretas correspondentes a números inteiros. Em
imagens de linhas sísmicas, o histograma é um importante auxiliar no estabelecimento da
distribuição dos DNs, obtendo-se a melhor imagem para aplicação posterior de outras
ferramentas.

41
5.3.1 Histograma unidimensional

É o histograma aplicado a imagens com apenas uma banda e pode ser representado
por uma tabela ou um gráfico contendo o número de pixels atribuído a cada um dos
possíveis DNs.

A observação de um histograma fornece a imediata noção sobre as características


da imagem. A forma do histograma apresenta informações sobre a intensidade média e
espalhamento dos valores de DN, sendo que o espalhamento dá a medida do contraste de
uma imagem, ou seja, quanto maior o espalhamento ao longo do eixo dos DNs, maior o
contraste da imagem (Figura 23).

O histograma de uma imagem não


contém informação espacial sobre a imagem,
isto é, ele não informa onde está localizado o
pixel com determinada intensidade em relação a
outro pixel com qualquer outra intensidade.

Outro aspecto importante é a


característica modal dos histogramas. Por
exemplo, numa imagem de satélite com áreas
cobertas por água e outra coberta por solo (uma
região costeira) terá seu histograma bi-modal
(Figura 34a). Os pixels correspondentes à água, mais escuros, vão aparecer agrupados
perto da origem, enquanto os demais poderão se agrupar, de forma menos pronunciada, na
extremidade do histograma correspondente aos DNs mais claros. O histograma de uma
área homogênea como por exemplo, uma área de monocultura, irá produzir um histograma
uni-modal (Figura 34b). Em áreas com diferentes tipos de cobertura produzirá um
histograma multi-modal.

Dois termos estatísticos básicos úteis ao se tratar com histogramas:

Média - representa a média aritmética de um conjunto de valores. (DNs por


exemplo). Num histograma é o “centro de gravidade” do mesmo.

42
Moda - é o valor
mais comum de um
conjunto de valores. Num
histograma, é o ponto
mais alto do gráfico
(Figura 35).

5.3.2 Histograma cumulativo

Neste tipo de histograma, é plotado a freqüência cumulativa dos pixels com


determinado DN contra
valores de DNs. Para
cada valor de DN, a
freqüência cumulativa é
aquela do DN mais as
freqüências de todos os
DNs abaixo dele. Neste
caso, a inclinação da
curva do gráfico é a
medida do contraste,
sendo que as heterogeneidades se mostram como quebras na curva (Figura 36).

43
5.3.3 Histograma multi-dimensionais

São histogramas aplicados a imagens multiespectrais, sendo o de duas dimensões o


mais simples. Este histograma chama-se scattergrama onde são plotados os DNs de uma
banda contra os DNs de uma outra banda. Estes gráficos mostram o grau de correlação
entre as bandas e identificam, visualmente, as situações em que a superfície mostra
claramente diferentes tipos de resposta nas duas bandas (Figura 37).

Os
scattergrama
são úteis na
avaliação do
grau de
correlação entre
pares de
imagens e na
decisão sobre
tipos de
técnicas de
aumento de
contraste a
serem aplicadas as imagens multiespectrais, para produzir imagens coloridas realçadas.

5.4 Contraste de uma imagem

O contraste de uma imagem é uma medida do espalhamento dos níveis de


intensidade que nele ocorrem, isto é, quanto mais espalhado for o histograma, maior o
contraste e vice-versa (Figura 38). O intervalo
de espalhamento é sempre positivo e limitado
por um mínimo e um máximo.

Normalmente as imagens de satélites


possuem um baixo contraste porque os valores
de DNs dos dados, comumente se concentram
em uma pequena faixa do intervalo possível de níveis de cinza (256 valores de cinza, entre

44
o preto e o branco para uma resolução radiométrica de 8 bits). O principal motivo deste
baixo contraste é que os objetos cinza escuros se parecem com o preto e o branco pode
desaparecer devido à saturação do sensor. Além disso, dificilmente um local da superfície
da Terra apresenta esses dois extremos ao mesmo tempo. Outras causas incluem ainda a
presença de bruma atmosférica, má iluminação solar da cena, atuação deficiente do sensor
e as próprias características da cena.

Antes de estabelecer uma analogia dos conceitos de contraste em imagens de


sensoriamento remoto para imagens de linhas sísmicas, é interessante abrir parêntese para
uma breve explicação de como os dados sísmicos são apresentados. Atualmente as duas
principais maneiras de apresentação são wiggle + área variável e densidade variável. A
apresentação em papel normalmente é feita na forma wiggle + área variável, e na tela de
estações gráficas (workstation) a apresentação se faz por densidade variável.
Esquematicamente os dois sistemas obedecem o mesmo princípio, onde os valores de
amplitude de cada amostra é discretamente colocada a uma distância, (positiva ou
negativa) equivalente ao seu valor, a partir do eixo zero (Figura 39). No plot wiggle, esses
pontos são contornados por uma curva. Quando as
curvas no seu lado positivo ou negativo, são
preenchidas com cor preta, diz-se que o plot é wiggle +
área variável (Figura 40A). Na apresentação em
densidade variável, cada intervalo de amostragem é
representado por uma área poligonal, geralmente um
retângulo (depende da distância entre dois traços) em
que o valor de amplitude correspondente a cada área
poligonal é representado por uma cor cinza, dentro do
intervalo de 0 a 255 para dados de 8 bits (Figura 40B).

O aumento de contraste é provavelmente uma


das mais poderosas e importantes técnicas de processamento para extração de informações
de imagens de sensoriamento remoto. Pode-se afirmar o mesmo para imagens de linhas
sísmicas, como pode ser visto no exemplo a seguir.

45
A figura 41 é uma pequena porção retirada da linha nº 1, aleatoriamente escolhida,
amostrando o equivalente a 100 ms. Esta imagem esta em plot normal, em grayscale de 8
bits e possui escala vertical de tal maneira que, a altura de 1 pixel corresponde ao intervalo
de amostragem. Portanto, em 100 ms há 50 amostras (razão de amostragem de 2 ms) e 50
pixels. Em uma análise cuidadosa desta figura, pode-se distinguir em torno de 10 a 12 tons
de cinza. A mesma análise feita por computador (softwares PHOTO-PAINT e Photo
Styler) revela 15 tonalidades de cinza. Isto demonstra que a linha possui um bom contraste,
como mostra o seu histograma onde os valores de DNs estão razoavelmente distribuídos ao
longo do eixo dos DNs (Figura 42).

Deve-se levar em conta que o sistema visual humano só consegue distinguir cerca
de 30 tons de cinza desde que estejam bastante espalhados no intervalo 0-255. Portanto,
quanto mais expandido um histograma, mais informações podem ser extraídas. Em
compensação, quando se trata de cores, o sistema visual humano é capaz de distinguir até
aproximadamente 7 milhões de cores diferentes.

Outro exemplo da importância do aumento do contraste sobre uma imagem, e no


caso sobre a imagem de linha sísmica, é dado pela figura 43. Em A tem-se a imagem de
apenas um refletor, extraído da figura 41, no tempo entre 65 e 80 ms; em B, o mesmo
refletor com mudança no parâmetro de contraste (-77 %) e em C, aplicado um valor
positivo de contraste (+77 %). A diferença entre as três imagens é bastante clara e muito
bem representada pelos respectivos histogramas. O histograma da imagem A, está mais

46
distribuído ao longo do eixo dos DNs, demonstrando maior contraste, enquanto os
histogramas B e C estão concentrados em uma faixa estreita sobre o mesmo eixo.

Atribuindo uma velocidade média de 3500 m/s para a profundidade onde se


encontram os refletores da figura 41, tem-se que cada 2
ms corresponde a 3,5 metros. Isto significa que cada
pixel também corresponde a 3,5 metros em subsuperfície.
Como o refletor possui uma espessura de 10 pixels , o
refletor possui 35 metros de espessura. A figura 43 A
mostra que em 35 metros há uma grande variação de
valores de amplitude representadas pelas variações nos
tons de cinza dos pixels. Os valores diferentes de
amplitude contidas no refletor (tons de cinza) podem ser
mapeadas, ou seja, passar uma linha de contorno entre um valor de DN fornecido e os
outros valores (menores ou maiores). Visualmente esta seria uma tarefa bastante difícil
devido as limitações do sistema visual humano, mas com auxílio de computador, esta
tarefa é simples e rápida. A figura 44 mostra algumas linhas de contornos traçadas sobre o
refletor da figura 43A. O software utilizado foi o Photo Styler com a ferramenta Trace
Contour... e os valores utilizados foram escolhidos do histograma.

47
Este tipo de mapeamento é de grande importância pelo número de informações que
pode fornecer dentro de grandes resoluções, como no caso de estudos de continuidade de
reservatórios para hidrocarbonetos, contato hidrocarbonetos-água, etc.

Um ponto importante, que deve ser levado em conta, são os valores de amplitudes
das amostras do traço sísmico, que devem ser o mais próximo possível da amplitude
verdadeira. Deve-se ter cuidado com os parâmetros de processamento sísmico, que podem
causar distorções nos valores de amplitude, como, por exemplo, a equalização nas
amplitudes, filtros e ganhos. Outro ponto importante é a equivalência da razão de
amostragem e a distância entre traços com o tamanho dos pixels. Se um pixel contiver duas
amostras, o valor DN deste pixel será a média do valor DN de cada amostra.

O aumento de contraste sobre uma imagem deve ser feito de acordo com o objetivo,
uma vez que esse processamento pode afetar o resultado de operações subseqüentes.
Apesar do aumento de contraste não revelar informações novas, que não estejam já

48
contidas na imagem original,
ela pode ser responsável pela
perda de informações,
dependendo da forma como é
feito o aumento de contraste.

49
6. LINHAS SÍSMICAS PROCESSADAS COMO IMAGENS

Este capítulo discute os ganhos obtidos com o tratamento digital de imagens de


linhas sísmicas 3D, extraídas de estações gráficas de trabalho. Através do processo de
captura de tela, o arquivo obtido é transformado para o formato GIF, o qual pode ser
transferido para microcomputadores PC, onde é processado como imagem através de
softwares comerciais gráficos.

Desta maneira, a estratégia de pesquisa adotada foi tratar as linhas sísmicas


simplesmente como imagens e não como um banco de dados digitais organizados em
traços sísmicos. Para isto, foram utilizados softwares gráficos como o PHOTO-PAINT!,
CorelDRAW, ambos na versão 5.00.D1 da Corel Corporation e o Photo Styler, versão
2.0 da Aldus, todos programas que rodam em microcomputadores PC.

Inicialmente, foram testadas exaustivamente diversas escalas, tanto na horizontal


(distância entre traços) como na vertical (tempo) e aplicação de filtros disponíveis, tais
como, luminosidade, brilho, contraste, gama, sharpen, noise, emboss, etc. Os resultados se
mostraram bastante animadores, estimulando novas investigações.

Com a continuidade dos testes, aplicou-se outros algoritmos, denominados de


“efeitos”, sobre a imagem das linhas sísmicas e o resultado foi surpreendente!

50
Estes programas tem a característica de realçar detalhes sutis entre as tonalidades
de cinzas imperceptíveis ao olho humano como já discutido anteriormente. Baseado nos
experimentos pode-se afirmar que estas diferenças de tons, refletem detalhes
geológicos/estratigráficos não facilmente detectáveis em linhas sísmicas normais de
trabalho, ressaltadas com o processamento das imagens.

Aigner et al., (1990) observaram que na grande parte das bacias que apresentam
superfícies deposicionais do tipo rampa, as seqüências são sismoestratigraficamente
monótonas, com padrões essencialmente plano-paralelo, sem offlaps.

Scholz et al.,(1990), analisando linhas sísmicas regionais multicanais com boa


resolução e linhas sísmicas unicanais de alta resolução, nos lagos Malawi e Tanganyika
(no leste africano), concluem que os padrões de offlaps em bacias lacustres são raros e só
percebidos nas seções deltaicas de lago baixo (lowstand), visíveis apenas em linhas
sísmicas de alta resolução.

Scholz (1995) estudando os cinco principais deltas no Lago Malawi, através de


levantamento sísmico sistemático de alta resolução, (unicanal), observa uma grande
quantidade de espessos depósitos deltaicos do tipo lowstand, reconhecidos nos dados
sísmicos através das reflexões de clinoformas progradantes (Figura 45).

W 2 km
E
0.10 LOBOS DELTAICOS DO TRATO DE
SISTEMAS DE NÍVEL BAIXO (LOWSTAND)
Tempo duplo (s)

0.20

0.30

0.40

Fig. 45 - Linha sísmica dip de alta resolução, da margem flexural do Delta de Dwangwa
no Lago Malawi mostrando sigmóides de progradação deltaica do trato de
sistemas de nível baixo. Scholz (1995).

Na área estudada (e provavelmente no rift Potiguar como um todo), observa-se


padrões semelhantes aos observados por Aigner et al., (opus cit) e Scholz et al., (opus cit)
quando estudada através de linhas sísmicas 2D (figura 46) ou mesmo 3D (Figura 47). Os
dois tipos de linhas apresentam sismofácies semelhantes de seus refletores, do tipo plano-

51
52
53
paralelo. As linhas sísmicas 3D apresentam indicações de clinoformas progradantes devido
a sua mais alta resolução e imageamento tridimensional.

O tratamento de imagens de linhas sísmicas 3D, no entanto, revela que os padrões


sismoestratigráficos de offlaps não são incomuns e mostram em detalhe belíssimas
clinoformas progradantes.

A resolução está diretamente relacionada aos parâmetros de aquisição e


processamento do dado sísmico, como freqüência, tamanho da cela, etc., e posteriormente
aos parâmetros de captura da imagem. Os principais parâmetros das linhas sísmicas
utilizadas neste trabalho e tratadas como imagem são: cela X (subsuperfície) = 25 metros;
cela Y (subsuperfície) = 75 metros; multiplicidade nominal = 34; lanço 2525-25-0-25-
2525 e migração em 3D.

Na borda sudeste da área estudada, junto a Falha de Baixa Grande, os sedimentos


do Rift Potiguar estão fortemente estruturados, como pode ser visto nas linhas sísmicas
ilustradas nas figuras 46 e 47.

Como boa parte da estruturação foi devido a deformação sin- e principalmente pós
deposicional, a interpretação dos ambientes deposicionais através dos padrões geométricos
dos refletores fica muitas vezes comprometida. Para minimizar a deformação, as linhas
dips foram horizontalizadas, utilizando-se software e hardware da Landmark®. O refletor
horizontalizado representa uma superfície deposicional média do pacote estudado,
optando-se por um refletor de maior continuidade (próximo a discordância representativa
do limite superior da Seqüência Laranja).

Um fator importante, já comentado anteriormente, é o equilíbrio entre o par


intervalo de amostragem/distância entre traços com o tamanho do pixel amostrado na
figura. Através destes experimentais, foi provada a importância desta correspondência, a
partir da linha nº 1, a qual apresentou os melhores resultados. Para conseguir esta
correspondência, a linha sísmica teve sua escala diminuída (aumento físico de seu
tamanho), obtido a partir de sua segmentação, capturada em seis segmentos adjacentes.
Como conseqüência deste processo, é necessário um tratamento das imagens no micro
computador buscando compor novamente uma única imagem de mais alta resolução, a
partir da “emenda” dos vários segmentos, gerando arquivos do tipo bitmap com

54
aproximadamente 1.8 Mbytes. A metodologia de trabalho gera arquivos com tamanhos
crescentes, atingindo 8 Mbytes após processamento de “contorno” (que será discutida mais
adiante) e 12 Mbytes quando transformado em arquivo CDR (formato CorelDRAW!)

O procedimento seguinte é transformar uma figura com 256 tons de cores em uma
figura com 256 tonalidades de cinza. Isto é conseguido com a ferramenta de transformação
para escalas de cinza em 8 bits, disponíveis nos softwares gráficos.

Esta transformação geralmente não causa grandes mudanças no aspecto geométrico


da imagem, mas em algumas linhas se percebe uma melhor homogeneização nas
tonalidade de cinza (este passo pode ser opcional).

Em seguida é trabalhado o contraste da imagem. Como discutido no capítulo


anterior, este é talvez o procedimento mais importante a ser aplicado sobre uma imagem
digital, com o propósito de realçar aspectos geométricos da imagem. Existem um grande
número de ferramentas com esta finalidade nos programas gráficos disponíveis no
mercado. As ferramentas são em geral, bastante simples e de fácil operação. Porém
recomenda-se cautela na determinação dos parâmetros para que o processo não subtraia
informações espaciais importantes.

Neste trabalho foram testadas de maneira empírica, praticamente todas as


ferramentas disponíveis nos programas PHOTO-PAINT e Photo Styler (bastante
semelhantes para o usuário). Finalmente foi aplicado o filtro Brilho-Contrate-Intensidade
(Brightness-Contrast-Intensity), o qual apresentou bons resultados.

A ferramenta Brilho-Contraste-Intensidade é usada para tornar uma imagem mais


clara ou escura (Brilho) ou alterar a distinção entre áreas claras e escuras (contraste) além
de tornar as áreas claras da figura, ainda mais claras ou as escuras ainda mais escuras
(Intensidade). Os três processos podem ser manipulados através de valores (-100 a 100) o
que exige mais uma série de testes, através de uma metodologia de tentativa e erro, até
obter-se a melhor imagem (Figura 48).

55
O emprego de histogramas uni-modais, nesta fase, é
importante para estabelecer a melhor distribuição dos valores
de DNs, para se ter uma imagem adequada com o objetivo
proposto.

Após a obtenção da melhor imagem, aplicou-se o


filtro de contorno (Contour Filter) no Photo Paint. Este filtro
contorna as bordas de uma imagem, segundo os valores de
DNs desta imagem. O nível pode ser modificado de acordo
com valores que variam de 0 a 255 (Figura 49). No caso da
imagem de uma linha sísmica, o filtro considera cada refletor
como uma imagem.

Sobre o plot de contorno é aplicado o filtro inverso (invert filter) obtendo-se uma
imagem negativa da anterior. O plot negativo se mostrou mais eficaz para a visualização de
detalhes na imagem.

Como o nível de contorno pode ser ajustado, é


necessário testes para determinar qual o valor mais adequado,
evitando-se a produção de imagens muito escuras ou muito
claras.

A figura 50 (A,B,C,D e E) mostra uma série de testes


com a ferramenta de contorno e o seu inverso. Em um trecho da
linha sísmica nº 1, em plot normal (densidade variável), foram
aplicados os valores de contorno de 50, 100, 150 , 200 e 250.
Os melhores resultados estão compreendidos entre os valores
de 100 e 150. Em a, plot normal, aparecem evidências de
clinoformas, mas não muito bem definidas; em b, o plot de contorno correspondente ao
valor definido de DN e em c, o plot inverso, isto é, o negativo do processo de contorno
aplicado em b, onde as clinoformas estão melhor definidas, revelando um sistema
regressivo seguido de uma cunha progradante de regressão forçada. (ver discussão mais
adiante, no capítulo referente a seqüências de 4ª ordem).

56
O exemplo ilustrado na figura 51 indica que os métodos aplicados sobre imagens
de linhas sísmicas não acrescentam informações inexistentes na linha original. O método
consistentemente melhora a visualização, fornecendo uma riqueza de detalhes. Em a, está
ilustrado um plot invertido, sobre o qual foi traçado manualmente uma linha no meio dos
refletores brancos. Em b, plot tracejado resultante do procedimento realizado em a. Em c,
sobreposição do plot tracejado sobre o plot normal (figura 50B). Note-se que os traços
limitam perfeitamente os refletores de maneira detalhada, evidenciando detalhes difíceis de
serem distinguidos pelo intérprete em estações convencionais de interpretação. A figura
51 mostra em destaque um refletor que, no plot normal (c), apresenta um padrão
descontínuo, aparentemente sem significado estratigráfico. Este refletor submetido ao filtro
de contorno (a) e o plot tracejado (b), fornece detalhes interessantes que podem levar à
interpretação de que as descontinuidades são resultantes de um processo deposicional
progradante.

A qualidade do resultado está intimamente relacionado ao nível de contraste


aplicado, a razão de amostragem (vertical e horizontal), tamanho do pixel e aos valores dos
níveis de contorno.

As figuras 50 e 51 são exemplos do nível de detalhe (resolução) obtido a partir do


tratamento de linhas sísmicas como imagens. O nível de detalhamento é bastante grande e
poderá ser empregado na exploração de hidrocarbonetos, na identificação de ambientes
deposicionais e a conseqüente caracterização de potenciais zonas reservatório/selante,
através do estudo da geometria deposicional (trapas estratigráficas), como também e
principalmente, na delimitação de reservatórios, isto é, definir as descontinuidades dentro
de reservatórios, contatos hidrocarbonetos-hidrocarbonetos, hidrocarbonetos-água, etc.

As figuras 52, 53 e 54 mostram respectivamente: a linha sísmica nº 1


horizontalizada e em densidade variável; o resultado da aplicação do filtro inverso sobre o
filtro de contorno da linha nº1 horizontalizada e; o tracejamento manual sobre o filtro
inverso da linha nº 1 horizontalizada. Desta maneira, a linha sísmica nº 1, principal linha
de referência neste trabalho, com suas três formas de apresentação, será chamada de agora
em diante de: linha sísmica nº 1, horizontalizada, plot normal; linha sísmica nº 1,
horizontalizada, plot invertido e; linha sísmica nº 1, horizontalizada, plot tracejado.

57
LINHA Nº 1 Valor de contorno= 50

Fig. 50A - Teste c om a ferramenta de c ontorno. Em a , pequena porção da linha nº 1,


horizontalizada, c om plot normal (densidade variável). Em b , plot com a
aplic aç ão da ferramenta de c ontorno. Nível de c ontorno no valor de 50.
Em c , plot c om a aplic ação do filtro inverso (negativo de b ).

58
LINHA Nº 1 Valor de contorno= 100

Fig. 50B - Teste c om a ferramenta de c ontorno. Em a , pequena porção da linha nº 1,


horizontalizada, c om plot norm al (densidade variável). Em b , plot com a
aplicação da ferramenta de contorno. Nível de contorno no valor de 100.
Em c , plot com a aplicação do filtro inverso (negativo de b ).

59
LINHA Nº 1 Valor de contorno= 150

Fig. 50C - Teste c om a ferramenta de contorno. Em a , pequena porção da linha nº 1,


horizontalizada, com plot norm al (densidade variável). Em b , plot com a
aplic ação da ferramenta de contorno. Nível de contorno no valor de 150.
Em C , plot com a aplic ação do filtro inverso (negativo de b).

60
LINHA Nº 1 Valor de contorno= 200

Fig. 50D - Teste com a ferramenta de contorno. Em a , pequena porção da linha nº 1,


horizontalizada, com plot normal (densidade variável). Em b, plot com a
aplicação da ferram enta de c ontorno. Nível de contorno no valor de 200.
Em c , plot com a aplicaç ão do filtro inverso (negativo de b).

61
LINHA Nº 1 Valor de contorno= 250

Fig. 50E - Teste c om a ferramenta de contorno. Em a , pequena porção da linha nº 1,


horizontalizada, com plot normal (densidade variável). Em b , plot com a
aplicação da ferramenta de contorno. Nível de contorno no valor de 250.
Em c , plot com a aplicação do filtro inverso (negativo de b ).

62
a

63
64
Fig. 53 - Linha nº 1 horizontalizada, plot invertido. (ver mapa base para localização - Fig. 13)
65
Fig. 54 - Linha nº 1 horizontalizada, plot tracejado. (ver mapa base para localizaç ão - Fig.13)
66
7. DIVISÃO EM SEQÜÊNCIAS DO INTERVALO
MESOVALANGIANO/EOBARREMIANO NA ÁREA DE
CACHOEIRINHA

Estudos realizados na seção mesovalangiana(?)-eobarremiana (Formação


Pendência) da área a sudoeste do Graben de Umbuzeiro, área de Cachoeirinha,
propiciaram a subdivisão da mesma em quatro seqüências de 3ª ordem e quinze seqüências
de 4ª ordem. As ordens obedecem a tabela proposta por Vail et al.,(1991) (Tabela 5 e
Figura 55).

Tabela 5 - DURAÇÃO* DE CADA ORDEM O principal critério para a


Vail et al., (1991) divisão do pacote sedimentar
1ª > 50 Ma
2ª 3 - 50 Ma estudado em seqüências
3ª 0,5 - 3 Ma deposicionais foram as diferenças
4ª 0,08 - 0,5 Ma
5ª 0,03 - 0,08 Ma nas feições sísmicas (terminações,
6ª 0,01 - 0,02 Ma padrões geométricos e
(*) referindo-se a:
- Períodos em que o processo esteve ativo. identificação de superfícies chaves,
- Período em que o processo não mudou significativamente
suas características. como as superfícies de downlap e
- Período de um ciclo ou duração de um evento.
superfícies erosivas), presentes nas
linhas sísmicas da área, nos perfis de poços, testemunhos, sempre apoiados por dados
bioestratigráficos e por estudos já realizados na área e circunvizinhanças.

67
Registros, na literatura mundial, de trabalhos que apliquem os conceitos de
estratigrafia de seqüências, sobre linhas sísmicas, a bacias do tipo rift são escassos e
geralmente pobres em comentários sobre a funcionalidade dos tratos de sistemas
deposicionais nas mesmas. O pacote estudado, incluso na seção rift da Bacia Potiguar,
evidenciou, através da sísmica 3D, exemplos bastantes didáticos em termos de arquitetura
deposicional. O reconhecimento de padrões geométricos de empilhamento estratal distintos
permite a identificação dos tratos de sistemas deposicionais e, com certas restrições, a

68
aplicação do método da estratigrafia de seqüências, definida em bacias marginais, nesta
bacia lacustre.

Scholz et al. (1990), estudando os sedimentos recentes e subrecentes dos lagos


africanos Tanganyika e Malawi, com sísmica de alta resolução, apresentam um modelo
alternativo para sedimentação em bacias lacustres, diferente daquele desenvolvido por Vail
et al.,(1977) para seqüências marinhas. Estes autores associam as fácies turbidíticas a
períodos de lago profundo, isto é, aos highstands, enquanto que os sistemas deltaicos
seriam preferencialmente desenvolvidos nos períodos de lago baixo ou lowstand (Figura
56).

69
Recentemente, Della Fávera et al., (1992), baseados no modelo proposto por Scholz
et al., (1990), associado aos modernos conceitos da estratigrafia de seqüências, dividiram a
Formação Pendência em 4 seqüências de 3ª ordem, da mais velha para a mais nova:
Seqüência 1, 2, 3, e 4 (Figura 57). Estes autores visualizaram os seguintes tratos de
sistemas:

1) Trato de sistemas de fase de lago profundo: Caracterizado por espessos pacotes de


arenitos turbidíticos. Apresenta ciclos essencialmente simétricos. Pode compreender um

70
intervalo transgressivo, onde há uma passagem mais ou menos gradual de uma seção
arenosa na base para argilosa no topo (caracterizado nas Seqüências 1 e 2);

2) Trato de sistemas de fase de lago raso: Os ciclos são assimétricos e os


depósitos são deltaicos. Iniciam com folhelhos pretos, altamente orgânicos
(prodelta), que passam a arenitos de frente deltaica do tipo flysch-lyke delta front,
para o topo. À medida que o lago é assoreado, os ciclos passam a culminar em
sedimentos de planície deltaica, de natureza essencialmente fluvial (caracterizado
na Seqüência 3);

3) Trato de sistemas de lago assoreado: Formado por espessos corpos de arenitos


médios a grossos, de origem fluvial, que, em perfis de raios gama, mostram
forma de caixote, onde a ciclicidade não é tão conspícua. Devido às rápidas
variações do nível do lago, estes arenitos apresentam finas intercalações de
folhelhos orgânicos bacinais. (caracterizado na Seqüência 4).

Silva (1993), em sua dissertação de mestrado, faz uma análise sedimentológica


através de testemunhos aliada à correlação rocha versus perfis e divide o inicio do andar
Aratu, na porção sudoeste do Graben de Umbuzeiro, em três seqüências deposicionais com
seus respectivos tratos de sistemas.

A seção estudada representa um trato de sistemas de fase de lago raso. Os


complexos deltaicos que caracterizam este sistema podem ser representados por três
modelos, segundo Della Fávera et al., (1992): 1) lobos sigmoidais - depósitos de frente
deltaica que avançam sobre lamas prodeltaicas sem qualquer evidência de componentes de
planície deltaica associada; 2) braid deltas - depósitos de frente deltaica e prodelta
sobrepostos por depósitos tracionais de planície deltaica, incluindo depósitos fluviais de
alta energia amplamente distribuídos; 3) fan deltas - depósitos arenosos de granulometria
grossa a muito grossa com estruturas indicativas de processos gravitacionais, sugerindo
uma maior proximidade da área fonte.

Todos estes modelos foram constatados nas seqüências definidas neste trabalho,
tanto a nível de 3ª ordem como a nível de 4ª ordem.

71
7.1. Seqüências de 3ª ordem

A evolução tectono-sedimentar do Rift Potiguar está muito bem retratada


sismicamente no bloco estudado, onde foram identificados três pacotes com geometrias
sísmicas distintas (Figura 58). O pacote inferior destaca-se por apresentar feições
progradantes com alto ângulo das clinoformas; o pacote intermediário apresenta
clinoformas com menores ângulos de mergulho e superfícies erosivas bem marcadas e; o
pacote superior caracteriza-se por refletores essencialmente plano-paralelos com pequenas
clinoformas. Ressalte-se ainda que foi o pacote inferior subdividido em dois, não tanto
pelas suas características sísmicas geométricas, mas pelas quebras apresentadas em
diversos perfis de poços como o raios gama, na velocidade RMS, e nos perfis de mergulho
das camadas. Em outras áreas da bacia, esta quebra é caracterizada como uma marcante
discordância regional.

Estes quatro pacotes serão aqui identificados como quatro seqüências de 3ª ordem:
Seqüência Azul (mais antiga); Seqüência Verde ; Seqüência Laranja e; Seqüência
Amarela (figuras 59, 60, 61 e 62)

A notável distinção nas feições sísmicas e a passagem, até certo ponto brusca, entre
as quatro seqüências são fortes argumentos a favor de que elas provavelmente foram
precedidas por forte tectonismo, desenvolvendo-se em ambientes tectônicos distintos. A
maioria das grandes discordâncias limitantes das seqüências, não são prontamente
perceptíveis nas linhas sísmicas, devido a posição bacinal que a área se encontrava durante
todo o preenchimento do rift.

Os poços perfurados sobre as estruturas associadas à Falha de Baixa Grande, estão


concentrados apenas na porção distal do perfil paleotopográfico. As descrições de amostras
de calha e de testemunhos, aliadas às informações de perfis dos poços, confirmam esta
posição mais bacinal.

72
73
74
de
an
Gr
ixa
Ba
de
lha
Fa
75
de
an
Gr
ixa
Ba
de
lha
Fa
76
7.1.1. Seqüência Azul

Esta seqüência, apresenta nas linhas sísmicas, feições típicas de um sistema


deltaico progradante bem desenvolvido, com grandes clinoformas e alto ângulo de
mergulho. Infelizmente os poços da área não atingiram esta seqüência. A divisão dos tratos
de sistemas está, essencialmente, baseada em interpretação sísmica.

O limite inferior desta seqüência é um limite apenas operacional, isto é, a


discordância, propriamente dita, não faz parte da seção estudada ocorrendo
estratigraficamente mais abaixo.

Por correlação com áreas vizinhas, admite-se para a porção basal desta seqüência
uma idade Valangiano médio (Rio da Serra médio), caracterizada pela ocorrência de
formas paleontológicas como os conchostráceos e os ostracodes Theriosynoecum spp.
(Figura 55).

77
Os conchostráceos são formas paleontológicas diagnosticas de paleoclimas mais
secos e portanto, as condições paleoclimáticas durante este período, foram mais
estressantes.

A porção superior desta seqüência caracteriza-se pela presença dos ostracodes


Cypridea (M) sp.., de idade Valangiano tardio (Rio da Serra tardio) (figura 55), sendo
limitada no topo por uma discordância, que nesta área está representada por uma
concordância relativa. Ressalte-se porém, que em outras áreas da bacia esta discordância
encontra-se bem definida, como na região nordeste do Graben de Boa Vista, é responsável
em colocar sedimentos mais novos em contato direto sobre o embasamento cristalino
(Figura 63). Este limite coincide com o topo da Seqüência 2 de Della Fávera et al., (1992).

Em direção ao topo da seqüência, evidencia-se uma retrogradação contínua. Este


fato está bem registrado nos pacotes progradacionais, que diminuem em espessura
sucessivamente, demonstrando que houve uma subida do nível de base em direção à
margem flexural da bacia, que culminou numa superfície de inundação máxima (SIM)
coincidente com a SIM de 2ª ordem de Della Fávera et al., (opus cit) (figura 57), que
assinala o período de maior profundidade do lago Pendência durante todo o seu
preenchimento. Acima desta SIM, aparece um grande pacote progradante marcando o trato
de sistemas de nível alto desta seqüência (Figuras 64, 65 e 66). Portanto, esta seqüência
está representada na área de estudo por dois tratos de sistemas: um trato de sistemas de
nível transgressivo e um trato de sistemas de nível alto, com uma SIM significativa
separando os dois. O trato de sistemas de nível baixo, se deixou registro, ocorre abaixo do
limite inferior (operacional) arbitrado neste trabalho.

Segundo Della Fávera et al., (opus cit), esta SIM assinala o início do sistema de
fase de lago raso na bacia, que se estende até o topo da Seqüência 3, limite superior do
pacote estudado neste trabalho.

Sismicamente, a Seqüência Azul tem boa qualidade, com freqüência relativamente


alta. Os refletores com maior continuidade apresentam mais alta amplitude e freqüência
mais baixa, destacando-se dos demais.

78
?

?
?

Seqüênc ias verde,


laranja e am arela

Seqüênc ia azul
Seç ão não atingida
pelo estudo

Discordânc ia superior
da seqüênc ia azul

Fig.63 - Seção geológic a esquem ática A - A', mostrando a discordânc ia superior da seqüênc ia azul colocando sedimentos m ais novos sobre
79

sedimentos inic iais do preenc himento do rift Potiguar.


Interessante notar que os refletores possuem
maior continuidade para noroeste, enquanto que,
para sudeste, em direção à falha de borda, aparecem
descontínuos e por vezes inclinados, intercalados
ciclicamente aos refletores fortes e contínuos
(Figura 65).

As linhas tratadas como imagens (ver


capítulo 6) permitem um modelo geológico razoável
para o comportamento diferenciado dos refletores.
Os refletores mais contínuos e plano paralelos
representariam um paleoambiente lagunar franco.
Na direção noroeste, os refletores contínuos e
paralelos de ambiente plataformal passam, a
sudeste, para clinoformas progradacionais no talude
associadas aos depósitos progradantes de regressões
forçadas e nas porções mais distais aos prováveis
turbiditos de frente deltaica.

Esses padrões geométricos dos refletores, serão tratados com maior detalhe, mais
adiante, no capítulo referente às seqüências de 4ª ordem que compõem esta seqüência.

Duas feições em forma de cunha, junto a Falha de Baixa Grande, parecem


representar depósitos de fan deltas, que teriam avançado para o interior da bacia. Esses
leques, provenientes da falha de borda, foram posteriormente cortados pela Falha de Baixa
Grande (Figura 66).

Esta seqüência foi subdividida em quatro seqüências de 4ª ordem, da mais velha


para a mais nova: Seqüência 1az; 2 az; 3 az e 4 az.

80
TSNA
SIM

TST
81

Fig. 65 - linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, mostrando os tratos de sistemas de níveis de base da Seqüência Azul.
Notar a presença de duas feições em c unha, provavelmente relacionadas aos fan deltas provenientes
da falha de borda. (ver mapa base para localização - Fig. 13)
82
7.1.2. Seqüência Verde

A exemplo da seqüência sotoposta, esta se caracteriza por espessos pacotes


deltaicos progradantes. Geralmente, em frente ao talude deltaico, desenvolvem-se cunhas
progradantes associadas a regressões forçadas. A amplitude das clinoformas sugere um
lago com lâmina d’água mínima em torno de 100 a 200 metros para esta área da bacia.

A porção basal da seqüência registra a presença do intervalo informal denominado


Monofauna, caracterizado pelos ostracodas Cypridea aff. C. ambigua de idade Rio da
Serra tardio, sotoposto à Subzona RT-005.2, que, na bacia do Recôncavo, define a base do
Andar Aratu (Picarelli et al., 1993). Na parte superior aparecem os ostracodas
Reconcavona LG (Figura 55).

O limite inferior, discordante com a Seqüência Azul, sotoposta, é de idade


Valangiano tardio (Rio da Serra tardio) e o limite superior, discordante com a Seqüência
Laranja sobrejacente, é de idade Hauteriviano médio (Aratu inicial) (Figura 55).

O limite superior é marcado por uma grande discordância em termos de bacia,


visível na área apesar da posição mais bacinal, o que demonstra poder ter ocorrido um
importante evento tectônico nesta época. A discordância é responsável pela escavação de
grandes vales incisos, bem evidenciados nas linhas sísmicas da figura 67.

83
O fator tectônico parece ter sido predominante neste momento pois este limite é
melhor representado em outras áreas da bacia, onde o tectonismo de blocos foi mais
intenso.
A análise da seqüência em função dos sistemas de níveis de base, conjugando as
informações de perfis elétricos e linhas sísmicas, evidencia que: a) o trato de sistemas de
nível baixo é caracterizado nas linhas sísmicas por um sistema regressivo progradacional
(os poços não atingiram este sistema); b) o trato de sistemas de nível transgressivo é
marcado na sísmica por onlap sobre os sedimentos progradantes do trato de sistemas de
nível baixo e nos perfis de raios gama pela tendência de fining-up e c) o trato de sistemas
de nível alto esta representado sismicamente por uma seção progradante regressiva e nos
perfis de raios gama por uma feição de coarsenning up (Figuras 68, 69 e 70).

Alves e
Carlúcio (1988)
descreveram 5
litofácies no
testemunho nº 1:
litofácies A, B e C,
compostas por
arenitos grossos,
médios e finos,
coesos, localmente
micáceos, com raros
fragmentos de carvão
e de folhelhos
maciços, com
gradação normal;
litofácies D,
caracterizada por
siltitos com grãos
dispersos e
intercalados com

84
TSNA
SIM SNT

TSNB
85

Fig. 69 - linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, mostrando os trato de sistemas de níveis de base da Seqüências Verde.
(ver mapa base para localização - Fig. 13)
86
arenitos finos e litofácies E composta por folhelhos cinza escuros com intercalações
delgadas de siltito cinza, calcíferos, apresentando laminação plano-paralela, feições de
escorregamento, fragmentos de carvão e algumas microfalhas. O ambiente deposicional
para essas rochas foi interpretado como uma “seqüência de ciclos turbidíticos (arenitos
com gradação normal) intercalados com folhelhos lacustres” (Figuras 71, 72 e 73a).
ESTRUTURAS
GR (POÇO - Z) SEDIMENTARES
O testemunho nº 2 é descrito como
E
DEMAIS
(G API)
MG S
FEIÇÕES pertencendo à litofácies de folhelhos com
CG L

100 200
MF
M
G

A
F

M
laminações várvicas, composta de
M folhelhos com microlaminações plano-
paralelas (predominantemente menores
M

que 1 mm de espessura), formando pares


de lâminas cinza escuros/esverdeados
(ricas em argila), e acastanhadas (ricas
em matéria orgânica) (Silva 1993)
M

(Figura 73). Cada par possui base plana,


M
M contato abrupto e não-erosional e às
vezes apresenta fragmentos de vegetais
M carbonizados e pirita. Exibe espessura de
M
poucos centímetros a acima de 1 m. e
mostra valores maiores de 200 unidades
M
Granod ec rescênc ia a scendente
Mac iç o
Microfalha normal
Erosivo API (unidade padrão do Instituto
Estratific aç ão ou laminaç ão p lano-pa ra lela Brusc o
Estratific aç ão ou laminaç ão p lano-pa ra lela
pouc o definida
Marc a de c arga
Bolas e almofadas Americano do Petróleo) no perfil de raios
Fra gmentos de folhelho Dique de arenito
Bola s de argila Estrutura em c hama
Nível c om alta c onc entra çã o de m atéria esc ape d e água gama. A preservação de sua fina
org ânic a c arbonosa
Ver figura 72 e 72a
laminação várvica exige a ausência de
Fig. 71 - Descrição de testemunho do POÇO - Z.
Modificado de Alves & Carlúcio (1988). correntes de fundo bem como de
bioturbações. A grande quantidade de
matéria orgânica deve ser preservada em condições redutoras, em ambiente anóxico. De
acordo com Anderson et al., (1985), Allen & Coddinson (1986) in Silva (opus cit), estas
condições são verificadas em lagos termais e quimicamente estratificados, denominados
meromictic lakes cujas águas de fundo são perenemente anóxicas.

87
POÇO - Z - RN
1386,00m 1387,00m
T B B
O A
B
P
O

B
D
B

B
A

B
A

E B
D
D
B
B
A

E
E

A= arenito grosseiro/c onglom erático


B= arenito m édio/grosseiro, localm ente fragmentos de c arvão
Litofácies: C= arenito fino/m uito fino
D= folhelho/siltito, eventualmente fragmentos de folhelho disperso
E= folhelho, presenç a de delgados fragm entos de c arvão

88
POÇO - Z - RN
1396,00m 1397,00m
T D
O B
E
P
O

B D
E
B

D
D

D
D E E

A
E

A= arenito grosseiro/c onglom erátic o


B= arenito m édio/grosseiro, localmente fragmentos de carvão
Litofácies: C= arenito fino/m uito fino
D= folhelho/siltito, eventualmente fragm entos de folhelho disperso
E= folhelho, presenç a de delgados fragm entos de c arvão

89
1 cm

Fig. 73 - Fotografia de testemunho Nº 2 do poç o - K, mostrando as litofácies


descritas por Silva (1993).

90
Os sistemas de canais sublacustres e leques turbidíticos característicos no Grabem
de Umbuzeiro são melhor desenvolvidos em áreas com maiores gradientes topográficos,
normalmente adjacentes às linhas de charneira, formando espessos depósitos canalizados
de arenitos grossos e/ou conglomeráticos imersos em folhelhos. Na posição mais bacinal
da área estudada, onde o gradiente topográfico é mais suave, o número de canais deve
diminuir, formando depósitos de granulometria mais fina e com menores espessuras. Estes
canais também são alimentadores de lobos, formando extensos depósitos não canalizados.

Durante os períodos de lago mais alto, a sedimentação é dominantemente pelítica


nas áreas mais profundas da bacia com a deposição de folhelhos laminados, ricos em
matéria orgânica.

Sismicamente, esta seqüência é semelhante à seqüência sotoposta, onde os


refletores com maiores amplitudes e maior continuidade representam os sedimentos finos
das inundações do lago. As superfícies de downlap ou SIM aparecem no perfil de raios
gama como picos de mais alta radioatividade, associadas a folhelhos ricos em matéria
orgânica. Grandes progradações deltaicas estão, também, sismicamente bem definidas,
com as clinoformas apresentando mergulhos que chegam alcançar em torno de 18º.

Esta seqüência foi dividida em 3 seqüências de 4ª ordem: Seqüência 1ve (mais


velha); 2 ve e 3 ve.

7.1.3. Seqüência Laranja

Sem dúvida, esta é a seqüência que apresenta a maior complexidade, tanto


sismicamente quanto em relação às fácies deposicionais, refletidas pelos diversos
ambientes de deposição. O lago, nesta porção da bacia, apresentava-se bastante raso
durante este intervalo, com profundidade mínima média, em torno de 20 a 50 metros, como
indicam as clinoformas sísmicas.

O limite inferior, discordante com a seqüência verde sotoposta, é bem caracterizado


tanto em linhas sísmicas com nos perfis elétricos (vide considerações precedentes na
Seqüência Verde). O limite superior é bem marcado por uma discordância angular,
provavelmente de caráter tectônico, que aparece na porção noroeste da área (Figura 74).

91
Esta seqüência, de idade Hauteriviano médio (Aratu inicial), é a seqüência de 3ª
ordem com menor duração em tempo, entre as estudadas 0,5 a 0,8 Ma, caracterizada pela
biozona de ostracodes Reconcavona Sp1 (Figura 55).

A complexidade característica desta seqüência parece ter sido provocada por um


período de tectonismo que rejuvenesceu a drenagem fluvial, causando intenso escavação e
preenchimento de vales incisos.

O estabelecimento de causas para os limites de seqüências, se tectônicas ou


climáticas, é sempre discutível. O crédito maior para o fator tectônico que o climático para
justificar as discordâncias nesta seqüência reside, porém, na soma de algumas
características que, por si só, não são diagnosticas de tectonismo, mas que juntas reforçam
a hipótese de terem sido provocadas por eventos tectônicos tais como: 1) há uma marcante
diferença no comportamento dos limites de seqüências de maiores ordens, internos às
seqüências de 3ª ordem sotopostas (Seqüências Azul e Verde) e à seqüência sobreposta
(Seqüência Amarela), onde os limites estão em concordância relativa. Nesta seqüência,
estes limites são erosivos, caracterizando limites do tipo 1, com escavações de grandes
vales incisos, o que implica em grande rejuvenescimento de drenagem, atingindo as
porções mais distais da bacia, o que é mais provável ter acontecido por pulsos tectônicos
(Figura 75); 2) a discordância no topo da seqüência é do tipo angular, definida como
sendo produzida pelo basculamento ou dobramento de uma sucessão mais antiga antes de
ser erodida, sendo sobreposta por um pacote estratificado, com mergulho diferente. As
discordâncias internas à seqüência são típicas discordâncias erosivas, que também podem
ter sido provocadas por tectonismo, como comentado acima (Figuras 74 e 75).

92
Os refletores de boa qualidade, internos à esta seqüência, são abruptamente
interrompidos perdendo suas características sísmicas. Este fato foi interpretado como
sendo provocado por discordâncias menores do tipo 1 (4ª ordem), formando complexas
superfícies de ravinamento.

A expressão das fácies sísmicas


que representam o preenchimento
desses vales incisos durante o nível
baixo tardio e/ou o início do nível
transgressivo, são caracterizadas por
um padrão de reflexões, às vezes
descontínuas às vezes com evidencidas
geométricas progradacionais de
preenchimento lateral do vale inciso
(Figura 75).
Na figura 76, os tratos de
sistemas são obtidos do perfil de raios
gama do poço Y. Com as linhas
sísmicas, percebe-se que o trato de
sistemas de nível baixo é inexpressivo
junto aos poços, mas espessa em
direção noroeste (figuras 77 e 78).

O trato de sistemas transgressivo, no perfil de raios gama, se constitui de pelo


menos cinco pacotes bem definidos de feições em fining-up ( Figura 76).

A seqüência foi subdividida em 2 seqüências de 4ª ordem: 1la (mais velha) e 2 la.

93
TSNA SIM
TST
TSNB

Fig. 77 - linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, mostrando os trato de sistemas de níveis de base da Seqüência Laranja.
94

(ver m apa base para localização - Fig.13)


95
7.1.4. Seqüência Amarela

De idade Hauteriviano tardio a Barremiano inicial (Aratu médio), apresenta os


ostracodes Reconcavona Sp1, Rconcavona Sp2 e Reconcavona PV/RT (Figura 55).

O limite inferior desta seqüência se dá por discordância angular com a Seqüência


Laranja sotoposta (Figura 74). O limite superior é dado por uma discordância bem
marcada, onde ocorrem uma série de incisões de drenagem preenchidos por depósitos do
sistema fluvial da Seqüência 4 de Della Fávera et al., (1992). Esta passagem é bem notada
tanto em perfis de poços (figura 79) como em linha sísmicas, onde há uma mudança, mais
ou menos brusca, de refletores plano paralelos para refletores descontínuos e caóticos
(Figura 59). Este limite marca a passagem de um ambiente deltaico para um ambiente
dominantemente fluvial, que
caracteriza a fase de assoreamento do
Rift Potiguar (Della Fávera et al.,
opus cit).

Silva (1993) identificou fácies


arenosas de origem fluvial na porção
mais basal desta seqüência, em áreas
adjacentes (NW), sem, no entanto,
conseguir encontrá-las nesta área de
estudo. Segundo este autor, estas
litofácies pertenceriam ao trato de
sistemas de nível baixo. Sobre este
sistema fluvial ocorre um grande
nível de afogamento, muito bem
identificado nos perfis de raios gama,
caracterizando o trato de sistemas
transgressivo, marcado pela presença
da biozona Reconcavona Sp1
próximo a superfície de inundação
máxima, que é um horizonte bioestratigráfico de ampla distribuição areal constituindo-se
em um importante datum para a área (Figura 80).

96
O trato de sistemas de
nível alto apresenta-se bem
caracterizado, tanto nas linhas
sísmicas quanto nos perfis de
poços, com suas fácies
associadas. Nas linhas
sísmicas, a seqüência se
apresenta com muito boa
qualidade, com os seus
refletores bem contínuos, boa
amplitude e relativamente alta
freqüência.

Estas características são


propiciadas pela ótima
ciclicidade dos seus depósitos
sedimentares, interpretados
por Della Fávera et al., (1992)
como resultante de eventos
climáticos relacionados à excentricidade orbital da Terra (periodicidade de 100.000 anos).
Nos perfis elétricos de raios gama, esta ciclicidade também é bem evidente, como mostra a
figura 80, com uma sucessão vertical de padrões tipo “sino invertido”, característicos de
depósitos progradantes relacionados a arenitos finos a médios da frente deltaica. Esta
ciclicidade marcante confere a esta seqüência uma qualidade sísmica muito boa.

Em áreas adjacentes, mais proximais às áreas fontes (NNW), as fácies dominantes


são os “caixotes” de arenitos grossos dos canais distributários da planície deltaica.
Portanto, o principal sistema deposicional encontrado nesta seqüência são os braid deltas
com espessuras entre 10 a 25 metros, granocrescência ascendente, limitados no topo por
folhelhos radioativos lacustres.

A geometria sísmica está totalmente de acordo com o padrão de deposição


progradante de um lago relativamente raso. As linhas sísmicas horizontalizadas e

97
tracejadas, mostram um padrão progradante com pequenas clinoformas, que estabelecem
um lago com lâmina d’água em torno de 30 metros (Figuras 81 e 82).

A descrição do testemunho nº 4 desta seqüência, feita por Alves (1993), apresenta-


se com uma laminação muito fina, indicando deposição em lago com ausência de correntes
de fundo e quimicamente estratificados, similar ao testemunho nº 2 da Seqüência Verde.

Próximo ao topo da seqüência, algumas linhas sísmicas mostram evidências de que


o lago tornou-se mais profundo, pela presença de clinoformas de maior porte, sugerindo
um lago com lâmina d’água em torno de 80 a 100 metros (Figuras 81 e 82. Será discutido
mais adiante, no capítulo referente às seqüências de 4ª ordem).

Esta seqüência foi subdividida em 6 seqüências de 4ª ordem, da mais velha para a


mais nova: Seqüência 1am; 2; 3; 4; 5 e 6am.

7.2. Seqüências de 4ª ordem

As 4 seqüências de 3ª ordem anteriormente identificadas foram subdivididas em 16


seqüências de 4ª ordem (Tabela 6).

As seqüências classificadas de 4ª
ordem abrangem um período de tempo entre
0,08 a 0,5 Ma, segundo a tabela de duração
de ciclos proposta por Vail et al., (1991)
(Tabela 5). A bacia rift Potiguar, como um
todo, não possui um refinamento
bioestratigráfico tão acurado, mas, pela
divisão simples dos intervalos
bioestratigráficos da bacia é perfeitamente
razoável supor que as seqüências de 4ª
ordem estudadas neste trabalho estejam
dentro deste intervalo de tempo.

A partir das seqüências de 4ª ordem,


percebe-se com mais clareza que a condição de lago raso torna a bacia mais sensível às

98
Fig. 81 - linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, mostrando os tratos de sistemas de níveis de base da Seqüênc ia Amarela. Notar na porç ão
superior da seqüência, grandes c linoformas relacionadas a maior profundidade do lago neste período.
99

(ver mapa base para localização - Fig. 13)


100
mudanças climáticas, provocando repetidas variações nos níveis do lago e propiciando a
definição de grande número de seqüências.

Os pacotes de reflexões clinoformes presentes em toda seção estudada, bem


visíveis nas Seqüências Azul e Verde, são admitidos como sendo formados por complexos
deltaicos depositados durante o trato de sistemas de nível baixo do lago. Scholz (1995)
interpreta estas feições no Lago Malawi como de nível baixo, pela similaridade na forma
externa do pacote de clinoformas com aquelas associadas aos deltas atuais. Além disso,
elas guardam grande semelhança com feições similares em outras bacias lacustres e
marinhas, interpretadas como sendo de nível baixo. Outra feição que pode ser citada, é o
pacote de clinoformas da Seqüência 4 az (vide maiores detalhes mais adiante) que
apresenta uma relação, agradação versus progradação, inversa ao que ocorre em pacotes de
clinoformas do trato de sistemas de nível alto.

Scholz et al., (1990) e Scholz & Rosendahl (1990) modelaram a


deposição deltaica em bacias de meio graben, colocando o desenvolvimento de sistemas
deltaicos tanto em lago profundo como em lago raso. Em lago profundo, os deltas se
depositam na margem flexural convexa, mas, com a subseqüente descida do nível do lago,
a tendência é de erosão destes depósitos, portanto, o potencial de preservação é mínimo.
Os deltas de lago raso são depositados na margem flexural côncava e sobre o assoalho
bacinal, com excelentes condições de preservação (Figuras 83 e 56).

O aumento do
interesse pelo estudo
do sistema deltaico,
principalmente por
parte da indústria do
petróleo, fez surgir
diversas tentativas de
classificá-los. Estudos
de deltas recentes restringem-se basicamente às camadas superficiais, subaéreas, enquanto
que para as observações sedimentológicas diretas das camadas subaquosas, com grandes
inclinações e profundidades, o acesso é difícil, além de perigoso e muito caro. Daí, a
grande maioria dos esquemas de classificação empregarem critérios mais genéticos que

101
descritivos e, portanto, com pouca aplicabilidade no registro litológico. No caso de deltas
lacustres, as dificuldades aumentam, pois, os modelos de sedimentação deltaica são
fortemente influenciados pelas observações em ambiente marinho, não levando em conta: a
própria restrição do ambiente lacustre imposta pelas dimensões do lago; o pequeno
contraste de densidade entre as águas do rio e do lago; a força das ondas e a circulação de
correntes subaquosas; o processo de marés que é quase nulo; o ambiente tectonicamente
mais ativo e a própria oscilação do nível do lago, que pode sofrer variações de 100 a 200
metros em poucos milhares de anos em resposta às mudanças climáticas, como verificado
nos lagos recentes africanos.

O alto ângulo das clinoformas, nas Seqüências Azul e Verde, que chegam a
alcançar até 18º, é sugestivo de deltas tipo Gilbert.

Delta tipo Gilbert


foi primeiro descrito por
Gilbert (1885-1890) in
Elliot (1994), estudando o
delta pleistocênico do
Lago Bonneville onde
observou uma divisão
distinta das camadas: de
fundo, frontais e de topo
(bottomset, foreset e
topset) ( Figura 84).

Postma (1990)
advoga que para um rio
ser capaz de formar um
delta tipo Gilbert com
processos de
escorregamento, as
condições mais
importantes são: (1)
transporte de carga

102
sedimentar suficiente até a desembocadura do rio (alta razão carga de fundo/carga total);
(2) profundidade

suficiente da água imediatamente após a desembocadura do rio e (3) expansão dos


efluentes como um jato turbulento axial. Ainda, segundo esse mesmo autor, esta condição
homopicnal na desembocadura do rio, como sugerido por Bates (1953), é menos
importante, já que ocorrem deltas tipo Gilbert tanto em bacias de águas doces como
salgadas.

Embora Postma (1990), advogue que as condições de influxo tenham importância


secundária, Elliott (1994) defende a relação de densidade entre as águas do rio e as águas
da bacia, como um controle de primeira ordem na dispersão da carga dentro de um corpo
d’água. Por isso, vale a pena sintetizar os tipos básicos de influxos e os depósitos deltaicos
definidos por Bates & Freedmam (1953) in Bates (1953), esquematizados no diagrama da
figura 85.

a) Influxo hiperpicnal (influxo mais denso), onde o fluido carregado de sedimento flui para
dentro da bacia e no seu fundo se movimenta como uma corrente turbidítica. Como o
fluido é mais denso que o corpo da água, este fluido procura permanecer no seu nível mais
baixo, impedindo uma mistura vertical, resultando em um modelo de fluxo com jato plano.
O local apropriado para ocorrência de tais fluxos é na desembocadura de canyons
submarinos.

b) Influxo homopicnal (influxo de igual densidade), onde o fluido carregado de sedimentos


entra em uma bacia com fluido de densidade comparável, como no caso de um rio entrando
em um lago de água doce. A mistura se dá prontamente nas três dimensões, e o modelo de
fluxo é de jato axial. O tipo de delta formado é o clássico delta com camadas de topo,
frente e base, descrito por Gilbert em 1890.

c) Influxo hipopicnal (influxo menos denso), onde o fluido carregado de sedimento entra
em um corpo com água mais densa, como no caso de um rio descarregando no mar. A
mistura vertical é inibida devido a estabilidade entre as camadas, e o padrão de fluxo
formado é de jato plano. Se a magnitude da descarga é pequena, na saída do canal
aparecem as barras em forma de lua; e se a descarga é moderada a grande, formam-se os
deltas em forma de pés de pássaro (bird-food).

103
No rift
Potiguar não há
registro da
ocorrência de
depósitos
evaporíticos,
demonstrando
que o influxo de
água para
dentro do lago
sempre foi
maior do que a
taxa de
evaporação não
permitindo uma
completa
dessecação. O
lago
permaneceu
com
profundidade
suficiente para a
formação de
feições
sedimentares de
alto relevo.
Estas feições poderiam incluir grandes deltas progradantes, fan deltas, canais subaquosos e
leques turbidíticos. (Olsen, 1990). O clima também não teria colaborado. A palinologia
mostra uma alternância relativamente grande entre clima seco e úmido. (Picarelli et al.,
1993). Estas condições são mais propícias para influxos do tipo homopicnal.

A geometria tipo Gilbert é mais comum de ser encontrada junto a falha de borda,
Gawthorpe & Colella (1990), com suprimentos vindos destas ombreiras. Na área, é nítida a

104
proveniência dos sedimentos em direção contrária à falha de borda, isto é, os deltas estão
vindo da grande fonte deltaica do extremo noroeste do Graben de Apodi (Figura 86).

Os fan deltas vindos da borda falhada não avançaram muito para dentro da bacia,
com exceção de dois possíveis leques da Seqüência Azul, que tiveram um avanço maior,
como mostrado na figura 66. No restante das seqüências, os leques ficaram restritos entre a
falha de borda (Falha de Carnaubais) e a Falha de Baixa Grande, que estão distantes uma
da outra de aproximadamente 650 metros. O pequeno desenvolvimento desses fans deltas
adjacentes à falha de borda, nesta porção da bacia, mostra que as ombreiras agiram como
uma barreira para a drenagem, desviando-a para fora ou para outro ponto de entrada da
bacia.

Johnson et al., (1995) realizaram estudos descritivos em 5 deltas recentes do Lago


Malawi na África com razoável nível de detalhe (Figura 87). Estes autores não
enquadram os deltas em nenhum modelo deltaico existente, mas, apresentam conclusões
bastante interessantes: (1) Dentro do Lago Malawi existe uma notável diferença entre os
deltas, na sua morfologia e fácies deposicionais e muitas feições são as mesmas dos
grandes deltas marinhos; (2) O tectonismo domina o desenvolvimento global das fácies
sedimentares, embora muitas feições morfológicas e litológicas de menor escala sejam
originadas por processos de mais alta freqüência como ventos, ondas (em determinadas
épocas do ano as ondas podem atingir até 2 metros de altura com período de 5 segundos),
avulsão dos rios e mudanças no nível do lago; (3) As plataformas são uniformemente
cobertas com areias e a maioria delas fica confinada nas porções mais proximais do talude
superior, entretanto, pode ser encontrada areia em todas as profundidades de água, e há
vários sítios de deposição de areia grossa em águas profundas; (4) Os deltas de borda de
falha e zonas de acomodação possuem elevados gradientes, plataformas arenosas e
estreitas, e passagem de areia para a bacia profunda mediante fluxo turbidítico, enquanto
os deltas da margem flexural possuem amplas plataformas arenosas que são retrabalhadas
por ondas e correntes costeiras, e exibem pequeno transporte de areia para as partes mais
profundas da bacia; (5) Não pode ser aplicado um modelo único para os processos
deposicionais e para a geometria dos corpos arenosos do Lago Malawi. Apesar da
proximidade das fontes de sedimentos e do forte mergulho do talude, estes deltas guardam

105
106
mais similaridades na geometria, estrutura e processos com os deltas marinhos com
mistura de energia que com os leques deltaicos de rios entrelaçados (braid deltas).

Scholz (1995) não classifica


os deltas do Lago Malawi como do
tipo Gilbert devido as suas
clinoformas possuírem mergulhos
muito suaves (2-6º), bem abaixo dos
mergulhos típicos deste tipo de delta,
que chegam até 30º ou mais. Wood
(1994) coloca também que, os
complexos deltaicos lacustres
identificados nos dados sísmicos são
em escalas bem menores do que os
deltas descritos por Gilbert.

Alves (1985), através de seu


estudo petrográfico e de diagênese
no Campo de Serraria, nordeste do
Graben de Umbuzeiro, concluiu que
o modelo deposicional para as fácies
reservatórios é o de delta do tipo
Gilbert. Carrasco (1989) e Silva
(1993) estudando área circunvizinha a área aqui estudada, conseguiram uma boa
correlação de fácies agradacionais (planície deltaica) e progradacionais (frente deltaica
sobre prodelta) semelhantes a área de Serraria, apesar da distância relativamente grande.
Portanto, estes estudos somados a arquitetura deltaica mostrada nas linhas sísmicas, com as
camadas de topo, base e o alto ângulo das camadas frontais de até 18°, sugerem que o
sistema deltaico tipo Gilbert é o modelo deposicional representativo também para esta
área.

107
7.2.1. Limites de seqüências de 4ª ordem.

Os limites de seqüências são identificadas nas superfícies erosivas formadas


durante o rebaixamento relativo do nível de base. Estas superfícies são mais facilmente
detectáveis quanto mais proximal é a área, onde os processos são mais marcantes,
enquanto que, em direção à bacia, estas superfícies estão em concordância relativa.

A posição paleogeográfica bacinal da área estudada não permitiu a clara


identificação de superfícies erosivas. A boa qualidade sísmica, no entanto, possibilitou a
identificação dos limites de seqüências de 4ª ordem, para as Seqüências Azul, Verde e
Laranja, como sendo a superfície onde os pacotes de reflexões clinoformes, do trato de
sistemas de nível baixo, estão em downlap.

Na Seqüência Amarela, por ser mais regressiva, isto é, estar em posição mais
proximal, as poucas evidencias de progradações correspondem aos depósitos regressivos
do trato de sistemas de nível alto. A divisão das seqüências de 4ª ordem dentro desta
seqüência, é melhor definida em perfis de raios gama.

A figura 88 mostra esquematicamente os limites de seqüências de 4ª ordem da


Seqüência Azul (descrita mais adiante). Os onlaps costeiros dos pacotes das regressões
forçadas, depositados durante a descida relativa do nível do lago, caracterizam depósitos
de mais alta ordem (5ª ordem).

7.2.2. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Azul

A seqüência Azul foi dividida em 4 seqüências de 4ª ordem: Seqüência 1 az; 2 az; 3


az e 4 az. A divisão foi baseada unicamente em linhas sísmicas, já que os poços da área
não atravessam esta seqüência (Figuras 89 e 90).

Os tratos de sistemas de nível baixo são muito bem desenvolvidos nesta seqüência,
enquanto que os tratos de sistemas transgressivo e alto são pouco expressivos e
representados por refletores plano-paralelos, com alta amplitude e boa continuidade.
Portanto, as geometrias clinoformes que estão em downlap sobre uma superfície, são do
trato de sistemas de nível baixo. Vale lembrar que a posição bacinal que a área se

108
M
A
R
G
E
M
F L
E X
U
R
A
L Fan delta

RF1
RF2 RF3
Trato de sistemas de lago alto
RF4 RF5

Trato de sistemas transgressivo

Trato de sistemas de lago baixo

1 az Seqüência de 4ª ordem
RF Regressões forçadas (5ª ordem)

Fig. 88 - Perfil esquemático com a posição paleogeográfica da área estudada. Os depósitos do trato de sistemas de nível baixo,
da Seqüência Azul, são bem mais desenvolvidos que os tratos de sistemas transgressivo e alto. Notar as cunhas de
regressões forçadas de mais alta ordem. Modificado de Cainelli (1996), inédito.
109
encontrava, não permitiu o desenvolvimento de superfícies erosivas expressivas, estando
estes limites em concordância relativa (Figura 88).

Os depósitos do trato de sistemas transgressivo geralmente possuem poucos metros


de espessura, principalmente em ambientes lacustres. Isto torna difícil sua identificação
nos dados sísmicos. Scholz (1995) atribui esta pouca espessura, em parte, as rápidas
subidas do nível do lago, que são comuns nos lagos tropicais. Owen et al., (1990) estimam
que uma redução de 20% de chuva, pode provocar uma queda do nível no Lago Malawi de
até 100 metros em 500 anos. Um retorno ao regime de precipitação original faria com que
a bacia voltasse ao seu nível em poucas centenas de anos. Esta transgressão
geologicamente instantânea, não deve ser preservada nos sedimentos.

Um levantamento do nível do lago de cerca de 100 metros em 300 anos deixaria um


registro de apenas alguns centímetros de deposição o que está muito abaixo da resolução
sísmica usada neste trabalho.

O trato de sistemas de nível alto também é pouco desenvolvido na posição distal da


bacia. Estes depósitos são mais desenvolvidos nas margens flexurais onde a taxa de
subsidência é mais lenta, porém, possuem baixa probabilidade de preservação no registro
estratigráfico, devido a prolongada exposição durante a parada do nível relativo do lago
(stillstand).

A Seqüência 1az , vista no detalhe, revela uma geometria progradacional, resultado


de sucessivos depósitos de regressões forçadas, de mais alta ordem, em direção à bacia. A
separação dos tratos de sistemas de nível transgressivo e alto não é resolvida pelos dados
sísmicos (Figura 91).

A interpretação da linha sísmica nº 1 (figura 91), mostra que o lago, experimentou


sucessivos rebaixamentos do nível do lago, iniciando pela deposição da unidade RF-1, e
logo após ocorreu um rebaixamento do nível relativamente grande, depositando a unidade
RF-2; depois, outro pequeno rebaixamento depositando a unidade RF-3; seguiu-se então,
uma subida relativa do nível do lago, até aproximadamente alcançar o nível RF-1, e
depositou a unidade RF-4; a partir daí, ocorrem pelo menos duas novas quedas, pequenas,
do nível relativo do lago, depositando as unidades RF-5 e RF-6. A subida relativa do nível

110
SEQ. 4 AZ

SEQ. 2 AZ
SEQ. 1 AZ
111

Fig. 89 - linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, com as 4 seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Azul (de 3ª ordem).
(ver mapa base para loc alização - Fig. 13)
SEQ. 4 AZ

SEQ. 2 AZ
SEQ. 1 AZ

Fig. 90 - linha nº 1 horizontalizada e plot trac ejado, com as 4 seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Azul (de 3ª ordem).
(ver mapa base para localização - Fig. 13)
112
113

FAL
HA
DE
BA
IXA
GR
AN
DE
do lago com deposição da unidade RF-4, aparentemente deixou pouco registro sedimentar,
pelo menos a nível de resolução dos dados sísmicos, podendo inclusive ter provocado
pequena erosão no topo das unidades RF-2 e RF-3.

A diferença entre regressão normal e regressão forçada, está sumarizada na figura


92 de Posamentier & Allen (1994).

Na regressão normal, o deslocamento da linha de praia em direção ao centro


da bacia ocorre devido a taxa de deposição suplantar a taxa do novo espaço de acomodação
produzido pela subida do nível do mar, enquanto que, na regressão forçada, este
deslocamento é independente da quantidade do suprimento sedimentar, sendo “forçada”
pela descida do nível do mar.

O progressivo deslocamento da linha de praia em direção à bacia mostra a grande


variação que o nível do lago experimentou em curtos intervalos de tempo e/ou, o
suprimento sedimentar foi intermitente, acumulando discretos depósitos mergulho abaixo.

A erosão no topo de cada unidade de regressão forçada pode ocorrer durante a


queda ou a subida do nível do lago. Dependendo do poder desta erosão pode ocorrer que
os sedimentos se tornem progressivamente mais ricos em areia em direção à bacia. Esta
situação é esquematizada na figura 93.

114
A

a d e Aa
Sub unid
a d e Ab
Sub unid a d e Ac
Sub unid

B a de
Ba

u nid e
Bb
Seç ão erodida Su
b ad
nid Bc
bu de
Su a
u nid
b
Su

Seç ão preservada

Fig. 93 - Perfís hipotéticos de poços através de uma sucessão de linhas de praia no sistema de nível baixo.

A Seqüência 2 az oferece o mesmo nível de detalhe da Seqüência 1 az sotoposta. O


interessante a ser destacado nesta seqüência, e também na Seqüência 3 az, é a presença de
refletores contínuos, de alta amplitude, na porção superior destas seqüências, e que devem
estar relacionados a sedimentos mais finos, representantes de ambiente de deposição dos
tratos de sistemas de nível transgressivo e/ou alto, bastante difíceis de serem separados nos
dados sísmicos, como discutido anteriormente (Figura 94).

115
A Seqüência 2 az parece ter se depositado diretamente sobre o trato de sistemas de
nível baixo da Seqüência 1 az. As linhas sísmicas, dentro de sua resolução, não mostram
refletores que pudessem ser interpretados como do trato de sistemas de nível transgressivo
ou de nível alto no topo da Seqüência 1 az.

A figura 95, da unidade progradacional da Seqüência 4 az, em detalhe, mostra a


relação agradação versus progradação. A parte inferior da unidade apresenta uma taxa
maior de progradação e menor de agradação, enquanto que na parte superior ocorre o
contrário. Esta é a resposta estratigráfica da variação na taxa de acomodação, isto é, nas
mudanças do nível relativo do lago. No início da lenta descida do nível relativo do lago o
espaço de acomodação diminui sobre a plataforma, sobrando mais sedimento que é
deixado para a progradação. A medida que o nível relativo do lago sobe lentamente, o
espaço aumenta, induzindo uma deposição agradacional. É bom lembrar que neste modelo,
a taxa de sedimentação está sendo considerada constante. Quando a taxa de acomodação
suplanta a taxa do fluxo sedimentar, cessa a regressão da linha de praia e começa a
transgressão.

A relação agradação versus progradação do trato de sistemas de nível alto se dá de


maneira contrária. Como a taxa de adição de espaço geralmente decresce por todo o nível
alto, a seção inferior será caracterizada mais pela agradação do que pela progradação,
enquanto que para a seção superior, acontece o inverso (Posamentier & Vail 1988, Figura
96).

116
A interpretação sísmica da Seqüência 4 az leva a crer que antes de começar o ciclo
transgressivo ocorreu um novo rebaixamento do nível relativo do lago, levando a
conseqüente deposição de sedimentos sob processo de regressão forçada (Figura 97).

Ainda na Seqüência 4 az, os refletores sísmicos com caráter descontínuo a caótico


na figura 98, podem ser interpretados dentro de pelo menos duas hipóteses: a primeira é
representando canais fluviais sobre a plataforma deltaica: a segunda correspondendo a
lobos deltaicos “cortados” em diferentes ângulos. Este mesmo tipo de feição é encontrada

em diversas seqüências de 4ª ordem e normalmente associada a ambientes de planície


deltaica.

Na primeira hipótese, na metade inferior do pacote deltaico, onde predomina a


progradação sobre a agradação, o menor espaço de acomodação disponível propicia uma
maior estaqueamento dos canais fluviais. O empilhamento vertical dos depósitos destes
canais poderia causar perturbações nas ondas sísmicas, resultando num padrão
descontínuo/caótico dos refletores. Na metade superior do pacote deltaico, onde o espaço
de acomodação é maior, há um menor empilhamento dos canais, propiciando uma
deposição plataformal menos “recortada” e conseqüentemente, refletores mais contínuos
(Figura 98).

117
118
Leeder & Allen (19XX), in Posamentier & Allen (1994), sugerem que o
estaqueamento dos canais distributários com a variação da acomodação se dá pelo
processo de avulsão. Heller & Paola (1994), in Posamentier & Allen (opus cit),
argumentam que a avulsão sozinha deve ser independente da taxa de nova acomodação
adicionada. Posamentier et al., (1988) sugere que com a lenta taxa de agradação, a avulsão
deve ser menos freqüente, levando a um aumento da expansão lateral dos meandros.

Na segunda hipótese, talvez a mais plausível para explicar este padrão sísmico,
seriam os diversos deslocamentos do fluxo fluvial que causariam mudanças no sítio de
deposição, fazendo com que a carga sedimentar suprisse outros sítios da construção
deltaica. A linha sísmica nº 3, perpendicular a linha nº 1, também mostra um padrão
sísmico “caótico” que, dentro do contexto da arquitetura deposicional, pode ser
interpretado como sigmóides vistas de frente (“olho da sigmóide”) (Figura 99).

A Seqüência 4 az está representada na área apenas pelo trato de sistemas de nível


baixo. Os tratos de sistemas de nível transgressivo e alto não foram preservados pela
discordância limite entre as Seqüências Azul e Verde.

7.2.3. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Verde

A Seqüência Verde foi dividida em 3 seqüências de 4ª ordem: Seqüência 1 ve; 2 ve


e 3 ve (Figuras 100 e 101).

A Seqüência 1 ve apresenta o trato de sistemas de nível baixo razoavelmente bem


desenvolvido, com o complexo deltaico progradante se desenvolvendo em posição mais
regressiva que as seqüências de 4ª ordem sotoposta e sobreposta. O trato de sistemas de
nível transgressivo é distinguido pelo onlap observado sobre a cunha deltaica de nível
baixo. É difícil estabelecer sismicamente, onde está a SIM e o começo do trato de sistemas
de nível alto (Figura 102).

O perfil de raios gama do poço Y alcança a porção superior desta seqüência,


evidenciando o contraste litológico entre o topo mais argiloso e a seção síltica arenosa do
pacote depositado pelo processo de regressão forçada da Seqüência 2 ve (Figuras 103 e
104).

119
Fig. 99 - Bloco diagrama mostrando deposiç ão de lobos
deltaic os e como podem ser vistos em linhas
sísmicas. Na linha sísm ica nº 1, vista lateral
mostrando clinoform as progradantes e na linha
sísmica nº 3, vista frontal mostrando formas sigmoidais
dos refletores, representando os "olhos das sigmóides"

CRUZAMENTO - LINHA Nº 3

NW SE
100ms

Linha sísmica nº 1
plot invertido
SW CRUZAMENTO - LINHA Nº 1 NE
100ms
120

Linha sísmic a nº 3 0 metros 500


plot normal
121
SEQ. 2 ve
SEQ. 1 ve

Fig. 101 - linha nº 1 horizontalizada, plot tracejado, com as 3 seqüênc ias de 4ª ordem dentro da Seqüência Verde (de 3ª ordem).
(ver mapa base para loc alizaç ão - Fig. 13)
122
Fig. 102 - Detalhe da linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, com a Seqüênc ia 1 ve .
O onlap sobre a cunha progradante do trato de sistem as de nível baixo,
evidência que o trato de sistem as transgressivo teve bom desenvolvim ento
e preservação nesta seqüênc ia. A distinção entre os tratos de sistem as de
nível transgressivo e alto bem como a SIM, é bastante difícil sísmic am ente.
123
A Seqüência 2 ve não apresenta depósitos dos tratos de sistemas de nível
transgressivo e alto, dentro da resolução sísmica. No perfil de raios gama estes depósitos
são representados por sedimentos finos, onde o trato de sistemas de nível baixo da

Seqüência 3 ve está
em downlap
(Figuras 103 e
104).

Em frente a
cunha deltaica
progradante da
Seqüência 2 ve, em
direção à bacia,
aparece um extenso
depósito
progradante de
regressão forçada,
demonstrando que o
lago ainda sofreu
um rebaixamento no
seu nível relativo,

124
antes de ocorrer o evento transgressivo.

A figura 103 mostra detalhe da Seqüência 2 ve, onde há vestígios de ter ocorrido
erosão no topo da unidade progradante do trato de sistemas de nível baixo, evidenciada
pelo corte abrupto do último refletor junto a quebra da plataforma deltaica desta unidade.
Esta situação pode definir duas condições possíveis.

Na primeira situação, os sucessivos episódios de queda relativa do nível de base


resultam em sucessivas quedas dos depósitos de linha de praia, originando discordâncias
de mais alta freqüência. Estas discordâncias de alta freqüência, estão no topo de cada
unidade progradante da linha de praia, que se formam com a sucessiva descida do nível de
base, expondo a planície costeira do trato de sistemas de nível baixo. Posamentier et al.,
(1992) (Figura 105).

Alguns autores consideram estas superfícies erosivas como limites de seqüências

(Hunt & Tucker, 1992, in


Posamentier & Allen, 1994), mas
para Posamentier et al., (1992), estas
superfícies erosivas de alta
freqüência são apenas ramificações
do limite de seqüência erosiva
iniciada no começo da queda
relativa do nível de base, ou seja, o
limite de seqüência, propriamente
dito, começa antes da deposição dos
sedimentos sobre os quais estas
superfícies de alta freqüência se
formam.

Na segunda situação, a
erosão pode ter sido causada quando
da subida relativa do nível de base,
originando a superfície de
ravinamento.

125
A superfície de ravinamento se forma pela ação erosiva das ondas, quando da
transgressão da linha de praia (Figura 106). A quantidade de sedimentos erodidos é função
da energia das ondas, do grau
de dureza do substrato e do
tamanho dos grãos do
substrato. Os sedimentos
erodidos neste processo são
distribuídos de acordo com o
tamanho dos grãos, sendo que
a fração mais grosseira
permanece como um fino depósito sobre a superfície de ravinamento; a fração areia mais
fina forma complexos de barreiras (efêmeras) de praia, que migram em direção ao
continente e que podem ou não serem preservadas. Finalmente, a fração síltica e argilosa
tende a ser transportada em direção ao centro da bacia pelas correntes de tempestades e
litorâneas, depositadas abaixo do nível de base das ondas, em forma de cunha, após a
última linha de praia regressiva, originando os depósitos de healing phase (Figura 107).

O trato de sistemas de
nível baixo da Seqüência 3 ve
é bem notado, tanto em linhas
sísmicas, através de uma
arquitetura progradante do
complexo deltaico, como
também pela tendência
regressiva evidenciada nos
perfis de raios gama (Figura
108).

Esta seqüência apresenta um pacote relativamente espesso de refletores plano


paralelos e contínuos, relacionados a deposição nos tratos de sistemas de nível
transgressivo e alto. Como discutido anteriormente, a distinção entre estes dois sistemas,
em sísmica, é bastante difícil. No perfil de raios gama da figura 104, logo acima da seção

126
TSNA = SISTEMA DE NÍVEL ALTO

TST = SISTEMA DE NÍVEL TRANSGRESSIVO

TSNB = SISTEMA DE NÍVEL BAIXO

Fig. 108 - Detalhe da linha nº 1 horizontalizada e trac ejada, c om a Seqüênc ia 3ve


mostrando a boa correspondência entre a linha sísm ica e o perfil de
raios gama do poço Y. Na linha sísm ica, trato de sistemas de nível baixo
aparece com o um pacote progradante regressivo enquanto que no perfil
TSNA
de raios gama, este sistem a é muito bem c arac terizado por um pacote SIM
litológico regressivo. Os tratos de sistem as transgressivo e alto, são TST
representados na linha sísmica por refletores plano paralelos e boa
continuidade. A distinç ão entre estes dois tratos, em linhas sísmic as, é TSNB
bastante difíc il. O perfil de raios gama mostra um pico de folhelho
correspondente a superfície de inundaç ão máxima (SIM). O trato de sistemas
de nível alto é relativamente espesso nesta seqüênc ia, m as, provavelm ente o
lago não alc anç ou profundidade sufic iente, durante esta fase, para
127

desenvolver clinoformas com espessura c ompatível com a resolução sísmica.


regressiva, aparece um pico de folhelho mais radioativo, representativo da superfície de
inundação máxima e, acima deste, uma seção novamente regressiva do trato de sistemas de
nível alto. Portanto, os depósitos transgressivos são pouco espessos e praticamente fora da
resolução sísmica (em torno de 20 metros). O trato de sistemas de nível alto, apesar de
espesso nesta seqüência, não apresenta as clinoformas características de um sistema
progradante, talvez porque o lago durante a sua deposição nunca alcançou uma
profundidade suficiente para desenvolver clinoformas detectáveis nos dados sísmicos.

Uma feição interessante, que encontra suporte indireto de testemunhos e análises já


realizadas na área, é um refletor que aparece em meio a cunha progradante. Este refletor
parece começar na posição mediana do talude, avançar sobre a frente deltaica e prodelta e
desaparecer em direção à bacia (Figura 109). Possui uma extensão, sismicamente visível,
de aproximadamente 1500 metros na posição dip (NW-SE) e 1300 metros na posição strike
(NE-SW). Apesar de não ter sido possível o mapeamento deste refletor, sua característica
posição em um talude íngreme (~18º) e a ocorrência comum de depósitos turbidíticos de
frente deltaica nesta seção, sugerem que esta feição represente um grande depósito
turbidítico de frente deltaica. O front deltaico íngreme é um dos fatores fundamentais para
que ocorra este tipo de depósito, pois gera instabilidade nos depósitos, provocando
movimentos de massas nas suas posições mais distais.

7.2.4. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Laranja.

A Seqüência Laranja foi dividida em 2 seqüências de 4ª ordem: Seqüência 1 la e 2


la (Figuras 110, 111 e 112).

Os cortes abruptos e as mudanças nos padrões sísmicos dos refletores, que passam
de contínuos e subparalelos para descontínuos e caóticos, foram interpretados como
resultantes de processos erosivos mais intensos nesta seqüência do que nas seqüências
sotopostas e sobrepostas.

Estas discordâncias tiveram um grande poder erosivo, capaz de grandes incisões,


sendo classificadas como discordâncias do tipo 1. (Vail et al., 1984 e Posamentier et al.,
1988).

128
NW SE

Fig. 109 - Linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, m ostrando detalhe da seqüência


3 ve . O refletor em amarelo pode ser uma feiç ão relacionada com turbidítos
de frente deltaica. As suas dimensões limitadas tanto na direção do
mergulho como na direção strike , sua posição em frente a um talude
deltaic o c om grande inc linação (~ 18º) e a ocorrênc ia com um de
turbidítos de frente deltaica na área sugerem esta interpretação.
129
130

Fig. 110 - Linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, com as 2 seqüênc ias de 4ª ordem dentro da Seqüênc ia Laranja (de 3ª ordem).
(ver m apa base para loc alização - Fig. 13)
Fig. 111 - Linha nº 1 horizontalizada, plot tracejado, com as 2 seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüênc ia Laranja (de 3ª ordem).
(ver mapa base para localização - Fig. 13)
131
As discordâncias tipo 1 são caracterizadas pelo rejuvenescimento da drenagem e
incisão fluvial, com o transpasse dos sedimentos através da plataforma e por abrupto
deslocamento das fácies e do onlap costeiro em direção à bacia (Posamentier & Vail
1988). Este tipo de discordância define as seqüências tipo 1, que são seqüências limitadas
na base por discordâncias tipo 1 e limitadas no topo por discordâncias tipo 1 ou 2.

As discordâncias tipo 2 são discordâncias mais suaves e caracterizam-se por


deslocamento do onlap costeiro em direção à bacia e lenta erosão subaérea, acompanhando
denudação gradual ou degradação da plataforma (Posamentier & Vail, opus cit).

A ocorrência de discordâncias tipo 1 ou 2 depende da taxa de queda eustática ser


maior ou menor que a taxa de subsidência na “quebra de linha de praia deposicional”.
Portanto, uma queda eustática pode resultar em uma discordância tipo 1 em margens de
bacias com baixas taxas de subsidência e tipo 2 em margens com altas taxas.

O termo
“quebra da linha
de praia
deposicional” é
usado por
Posamentier &
Vail (opus cit)
como a quebra
fisiográfica a
partir da qual, na
direção do
continente, o fundo do mar está próximo ou no nível de base, e na direção da bacia, está
abaixo do nível de base. Esta quebra pode ocorrer na linha de costa ou na direção da bacia.
Conseqüentemente, refere-se a uma quebra fisiográfica deposicional ativa, em oposição à
feição fisiográfica pré existente na borda da plataforma continental.

O padrão caótico dos refletores sísmicos, que aparecem tipicamente sobre as


superfícies erosionais, foi interpretado como representante de depósitos do trato de
sistemas de nível baixo tardio e do trato de sistemas de nível transgressivo. Os refletores
mais contínuos, sobrejacentes, são interpretados como pertencentes a sedimentos

132
depositados durante o trato de sistemas de nível transgressivo e o trato de sistemas de nível
alto (Figura 113).

Um pacote arenoso com espessura entre 25/30 metros, de relativa extensão lateral,
bem marcado em perfis de raios gama, parece estar associado a sigmóides regressivas
depositadas durante o trato de sistemas de nível alto. As sigmóides progradam sobre os
vales incisos assoreados por sedimentos mais finos, dos tratos de sistemas de nível
transgressivo e baixo tardio (Figura 114).

Internamente às Seqüências 1 la e 2 la, aparecem feições sísmicas que sugerem


outras discordâncias (difíceis de serem rastreadas), como resultado de sucessivos episódios
de queda relativa do nível do lago. Estas propiciam o retrabalhamento nas incisões fluviais,
resultando em depósitos de praia em patamares sucessivamente mais baixos em direção à
bacia, os quais são separados por discordâncias de mais altas freqüências (Posamentier et
al., 1992) (Figura 105).

A deposição do trato de sistemas de nível baixo em bacias do tipo rampa, como é o


caso das bacias lacustres divide-se em duas partes: a primeira é caracterizada por
rejuvenescimento de canais e transpasse de sedimentos provenientes da costa, devido à
queda relativa do nível do mar, diretamente para a linha de praia; a segunda está
representada pelos depósitos resultantes do início do preenchimento dos vales incisos,
com progradação contínua da linha de praia e alguma agradação, em conseqüência da lenta
subida do nível relativo do mar (Posamentier & Vail 1988).

Os primeiros depósitos são caracterizados por sedimentos relativamente grossos


depositados numa bacia restrita, durante os períodos de descida relativa do nível do mar e
sendo definidos como depósitos do trato de sistemas de nível baixo inicial.

A segunda cunha deposicional deposita-se no intervalo em que o nível relativo do


mar alcança sua posição mais baixa e o inicio de uma transgressão significativa da linha
de praia. Este é um período de estabilidade e subseqüente subida lenta do nível relativo do
mar. Durante este tempo as linhas de praia são caracterizadas por regressão. Entretanto,
como a taxa de subida do nível relativo do mar acelera gradualmente, a regressão diminui.
Como resposta, a progradação da praia gradualmente dá lugar à agradação. Estes depósitos

133
SEQÜÊNCIA 1 la SEQÜÊNCIA 2 la

Fig. 113 - Detalhe da linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, c om as Seqüências 1 la e 2 la .


Notar o padrão sísm ico descontínuo dos refletores em amarelo, atribuído ao
preenc him ento dos vales incisos formados durante o trato de sistemas de nível
baixo na Seqüência Laranja.
134
são definidos como do trato de sistemas de nível baixo tardio. O volume total de
sedimentos é menor que na fase antecedente devido a parada da canibalização do substrato
pela incisão fluvial. A razão areia/argila também diminui, devido ao retrabalhamento dos
depósitos fluviais dentro dos vales incisos com remoção da fração mais grosseira
(Posamentier & Allen, 1994) (Figura 95). Devido ao nível relativo do mar permanecer
estável ou com uma subida bastante lenta, as regressões forçadas também cessam.

Com o início da transgressão, os vales incisos são transformados em


estuários que podem ser preenchidos por um complexo de fácies que varia desde os não
marinhos para o marinho marginal até marinho aberto (Allen 1991; Allen & Posamentier
1993, 1994; Dalrymple et al., 1992, in Posamentier & Allen opus cit). Durante a subida do
nível relativo do mar, os perfis fluviais são eventualmente inundados, cessando a
sedimentação fluvial. Se a taxa de transgressão for rápida, a deposição fluvial fica restrita
somente à seção do canal (Allen & Posamentier 1993).

135
7.2.5. Seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Amarela

A Seqüência Amarela foi dividida em 6 seqüências de 4ª ordem: Seqüência 1 am;


2; 3; 4; 5 e 6 am (Figuras 115 e 116). Depositou-se em um domínio de sedimentação
lacustre rasa de plataforma, ou seja, no sistema de fase de lago raso, cujo principal sistema
deposicional é o de braid deltas.

As fácies dominantes dos depósitos de braid deltas nesta Seqüência Amarela são
representadas em perfis de raios gama com o formato de “sino invertido”, caracterizando
arenitos grossos de planície deltaica seguidos de arenitos finos a médios de frente deltaica.
No topo destes pacotes progradantes aparecem folhelhos radioativos de prodelta.

A pouca profundidade do lago, por quase todo tempo de deposição da Seqüência


Amarela (em torno de 30 metros para esta área), não permitiu o desenvolvimento de
progradações deltaicas com espessuras suficientes para serem perfeitamente detectáveis
pelos dados sísmicos. Onde aparecem evidências destas progradações, elas estão em
downlap sobre superfícies contínuas (refletores contínuos), as quais são amarradas nos
perfis de raios gama com os folhelhos radioativos que sempre aparecem no topo de cada
pacote regressivo.

A posição mais proximal desta seqüência, ou seja, mais regressiva do que as


seqüências sotopostas, aliado a condição de lago raso com deposição em substrato plano,
como demonstram os refletores plano-parelelos, criaram condições para preservação dos
depósitos do trato de sistemas de nível alto com relativa espessura. Em contrapartida, não
favoreceu a deposição dos depósitos do trato de sistemas de nível baixo e o
desenvolvimento do trato de sistemas transgressivo.

Como as clinoformas do trato de sistemas de nível alto não estão bem


caracterizadas na sísmica, com exceção da seqüência 5 am, a divisão em seqüências e dos
respectivos tratos de sistemas, são melhores interpretados no perfil de raios gama como
mostra a figura 117.

Na Seqüência 5 am, a cunha progradante do trato de sistemas de nível alto, está


muito bem representada pelas clinoformas sísmicas (Figura 118). Isto se deve a maior

136
137

Fig. 115 - Linha nº 1 horizontalizada, plot invertido, com as 6 seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Amarela, (de 3ª ordem ).
(ver mapa base para localização - Fig. 13)
Fig. 116 - Linha nº 1 horizontalizada, plot tracejado, com as 6 seqüências de 4ª ordem dentro da Seqüência Amarela (de 3ª ordem).
(ver mapa base para localização - Fig. 13)
138
profundidade do
Lago Pendência
durante este
tempo. As
clinoformas
sísmicas indicam
um lago com
profundidade
mínima, para esta
área, em torno de
100 metros.

Interessan
te comparar esta
análise com os
dados da análise
quantitativa
palinológica.,
onde foram
analisadas as
formas
diagnosticas de
paleoclima dos
pólens
Classopollis non-
striate e dos
esporos
Cicatricosisporite
s spp.. (Picarelli
et al., 1993). Esta
análise mostra a
tendência geral
do clima tornar-se progressivamente mais seco, mas apresenta uma retomada da umidade
coincidente com a deposição da Seqüência 6 am (Figura 119). A retomada da umidade na

139
bacia, é indicadora de uma maior quantidade de chuvas e conseqüentemente de um lago
mais profundo.

Este fato, somado a perfeita


ciclicidade deposicional, resultante de
eventos climáticos relacionados à
excentricidade orbital da Terra (Della
Fávera et al., 1992), evidencia que o fator
climático foi preponderante sobre o fator
tectônico na influencia dos processos
deposicionais durante a deposição da
Seqüência Amarela como um todo.

A maior espessura da
Seqüência 5 am, também permitiu a
identificação dos depósitos de trato de
sistemas de nível baixo, representado pelos
depósitos de regressões forçadas de mais
alta ordem, na direção SW para NE. A
figura 120 mostra este belo exemplo, com
cinco pequenas e sucessivas descidas do
nível do lago até o início, novamente, da
subida do nível do lago.

140
O trato de sistemas transgressivo da seqüência 6 am também está muito bem
caracterizado sismicamente, como mostra a figura 118, com os sucessivos onlaps sobre os
depósitos progradantes do trato de sistemas de nível alto da Seqüência 5 am sotoposta. A
discordância limite superior da Seqüência Amarela, foi responsável pela erosão, nesta área,
dos sedimentos depositados durante o trato de sistemas de nível alto da Seqüência 6 am.

141
SW NE

ALTO

Trato de sistemas transgressivo/alto


BAIXO

TEMPO
142
8. CONCLUSÕES

♦ Registros, na literatura mundial, de trabalhos que apliquem os conceitos de estratigrafia


de seqüências, sobre linhas sísmicas, à bacias do tipo rift são escassos e geralmente
pobres em comentários sobre a funcionalidade dos tratos de sistemas deposicionais nas
mesmas. O pacote estudado, incluso na seção rift da Bacia Potiguar, evidenciou através
da sísmica 3D, exemplos bastantes didáticos em termos de arquitetura deposicional. O
reconhecimento de padrões geométricos de empilhamento estratal distintos permite a
identificação dos tratos de sistemas deposicionais e, tomando-se em conta a
paleogeografia, tamanho da bacia, tectonismo, etc., a aplicação do método da
estratigrafia de seqüências, definida em bacias marginais, nesta bacia lacustre.

♦ A associação dos princípios básicos da estratigrafia de seqüências, desenvolvida pela


escola da EXXON para bacias marginais, com os modelos de sedimentação em bacias
lacustres é perfeitamente possível e foi o fator fundamental para o desenvolvimento
desta dissertação.

♦ A posição bacinal no perfil paleogeográfico da bacia, não permitiu o desenvolvimento


de grandes superfícies discordantes derivadas de exposição subaérea, porém, os limites
de seqüências, tanto de 3ª ordem quanto de 4ª ordem, puderam ser razoavelmente bem
definidas.

♦ Apesar das discordâncias não serem bem visíveis, a diferença nos padrões de
configurações sísmicas, permitiu a divisão da seção estudada, em três pacotes distintos.
Um pacote inferior com clinoformas de alto ângulo de mergulho e indicativas de um
lago com lâmina d’água mínima dentre 100 a 200 metros; um pacote intermediário com
a presença de erosões internas escavando vales incisos e clinoformas mais suaves,
indicando um lago com lâmina d’água máxima entre 20 e 50 metros; e um pacote
superior com refletores essencialmente plano-paralelos com algumas indicações de
clinoformas indicando uma lâmina d’água de 10 a 25 metros.

143
♦ O pacote inferior foi ainda subdividido em dois pacotes, por apresentar quebras em
perfis de poços e principalmente por correlação com áreas vizinhas.

♦ A divisão dos quatro pacotes gerou quatro seqüências de 3ª ordem.

♦ A boa qualidade sísmica permitiu a visualização de unidades geneticamente


relacionadas com grande resolução, o que possibilitou a subdivisão das seqüências de 3ª
ordem, em quinze (15) seqüências de 4ª ordem.

♦ O alto ângulo das clinoformas, em torno de 18º, sugere uma deposição deltaica com
grande aporte de sedimentos, em superfície deposicional de baixo ângulo (< 1º) e com
sistema de influxo homopicnal, características de deltas do tipo Gilbert

♦ As clinoformas, bem caracterizadas sismicamente, principalmente nas seqüências azul e


verde, foram associadas a progradações deltaicas de regressões forçadas do trato de
sistemas de nível baixo (lowstand). As clinoformas, menos evidentes, da Seqüência
Amarela, foram associadas a progradações deltaicas do trato de sistemas de nível alto,
pela posição mais proximal desta seqüência, com deposição predominante de
plataforma.

♦ Junto a falha de borda (Falha de Baixa Grande) praticamente não se percebe depósitos
sedimentares provenientes desta falha, demonstrando que os depósitos de fan deltas
estão restritos a uma faixa muito estreita (~600 metros) junto a falha, na seção estudada.

♦ Os excelentes resultados obtidos com o tratamento das imagens das linhas sísmicas 3D
da área, possibilitou a divisão em seqüências estratigráficas de 3ª e 4ª ordens e
identificar detalhes sismoestratigráficos interessantes e que estão associados a
seqüências de 5ª ordem.
♦ O tratamento digital de imagens de linhas sísmicas 3D convencionais em
microcomputadores, através de softwares comerciais gráficos, é uma ferramenta
poderosa na observação detalhada de feições sísmicas, que, refletem detalhes
geológicos/estratigráficas não facilmente detectáveis em linhas sísmicas normais. Este
procedimento, além de abrir um campo para pesquisa, alcança um nível de
detalhamento que torna este processo uma importante ferramenta exploratória e
explotatória, sob a perspectiva de exploração de hidrocarbonetos.

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