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SAMUEL DE SOUZA PETEAN

Di Giorgio

Seminário apresentado para a matéria


de Educação Musical I do Curso de
Tecnologia em Luteria UFPR.

Professor Dr. Juarez Bergmann

UFPR

2019
1- Meu Di Giorgio

A partir de uma necessidade de desenvolver um seminário sobre o instrumento


que se pretende aprender a construir durante o curso de Luteria da UFPR, decidi
pesquisar sobre a história dos violões Di Giorgio por motivo de vinculo familiar.
Desde meu nascimento em 1982, convivo com um violão Di Giorgio 1976, serie
Signorina da minha mãe. O valor que eu agrego a esse violão deve-se ao fato
de que praticamente ele foi um dos motivos da constituição da minha família de
origem. Minha mãe, quando solteira, comprou esse violão pois tinha a intenção
de aprender a tocar. Ela frequentava a igreja católica e começou a fazer aulas
de violão com um seminarista, mas logo este teve que ir para outro estado e
indicou meu pai, também seminarista, para lhe dar aulas. Não demorou muitos
acordes para se apaixonarem, ele abandonou o seminário e os dois se casaram
dando início à minha amada família. Passei minha infância assistindo a meu pai
tocar e compor neste violão ao mesmo tempo que eu arrebentava cordas e
riscava o Di Giorgio. A minha adolescência foi tirando músicas de ouvido e com
revistas de acordes, tocando punk rock, levando-o para as noitadas e
emprestando para amigos. Um trágico dia, ele foi derrubado e quebrou a mão,
fui em busca de um “luthier” para fazer o reparo porém foi um serviço de péssima
qualidade e até hoje está necessitando de uma dedicação amorosa e
especializada para voltar a sua forma original. Graças ao curso de Luteria e
também a esta matéria de Educação Musical, vislumbro a esperança de colocar
este violão em seu merecido lugar.

2- Violões Di Giorgio

A história dos violões Di Giorgio começa antes de 1908, data da fundação do


Atelier de nome. Relatos de atuais diretores da empresa Giannini 1 indicam que
Romeo Di Giorgio, imigrante italiano, fundador da Di Giorgio, foi um de seus
funcionários antes de abrir seu próprio atelier. No início Romeo Di Giorgio
fabricava violinos, violão, bandolins, violas e outros instrumentos acústicos,
ficando famoso pela qualidade de seus instrumentos. Aos poucos o atelier se

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BARTOLONI, Giacomo Violão: a imagem que faz escola. São Paulo 1900 - 1960. Assis, 2000.
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transformou em uma fábrica que se instalava na rua Voluntários da Pátria no
bairro de Santana em São Paulo chamada “Grande Fábrica de Instrumentos de
Corda Romeo Di Giorgio”. Romeo se preocupava tanto com a qualidade do
violão que criou uma cartilha com 10 mandamentos para a sua utilização
intitulada “O que um violonista deve fazer”:

1º Deves tratar teu Violão com muito afeto, porque este te recompensará de mil
maneiras.

2º Deves limpar o instrumento imediatamente depois do uso.

3º Empregue somente as melhores cordas, pois economizarás dinheiro; cordas


ordinárias dão mau som.

4º Cada instrumento exige uma grossura de corda adequada. Deves


experimentar quais as que são próprias para teus instrumentos e sempre usá-
las iguais.

5º Deves proteger teu instrumento contra o ar frio e úmido, porque o frio e a


umidade são inimigos do som e de sua clareza.

6º Mande fazer a tempo as reparações necessárias; estando enfermo teu


instrumento, não podes exigir que cumpra seus deveres. Cada 12 meses no
máximo deves fazer um técnico examinar teu instrumento.

7º No caso que, apesar de todos estes cuidados, teu instrumento responda mal
algumas vezes, ao trabalho que dele tu desejas, deves ter em mente que nem
sempre a culpa é do Violão, mas sim das cordas.

8º Tenha confiança em teu fabricante, a ele interessa servir-te bem e conservar-


te como cliente permanente.

9º O Violão não se empresta.

10º A ninguém.

Em 1948 com a morte de seu filho legítimo, Romeo adota o funcionário Reinaldo
Proetti como filho, que futuramente veio a ser Sócio da fábrica. A grande
expansão da Di Giorgio deve-se graças a Reinaldo que a partir da década de 50,
com o movimento da bossa nova e o reconhecimento da qualidade de seus
instrumentos pelas mãos dos maiores músicos brasileiros, decidiu que o foco
seria a construção e exportação de violões de altíssima qualidade alcançando,
na década de 60, a produção de 1000 violões por mês. Em 1985 foi preciso
expandir para a fábrica no Município de Franco da Rocha, no Estado de São
Paulo, com uma edificação de 20.000 m² chegando a confeccionar 6.000 violões
por mês. Nos anos 2000, a Di Giorgio Já está há alguns anos sob o comando de
Reinaldo Junior e seu filho Reinaldo Neto, quarta geração da família a continuar
o negócio.

3- Curiosidades

A Di Giorgio não só fabricou violões como também ajudou a impulsionar e


divulgar a prática destes instrumentos imprimindo álbuns de partituras e
mantendo no ar por muitos anos um programa de rádio chamado Recitais Di
Giorgio que era transmitido em mais de 50 emissoras em todo o Brasil, gravado
em um estúdio próprio construído exclusivamente para isso. Dentre os músicos
famosos que em algum momento tiveram e utilizaram um violão Di Giorgo estão:
Baden Powell, Rosinha de Valença, Gal Costa, Tom Jobim, João Gilberto,
Roberto Carlos, Vinicius de Moraes, Djavan e Gilberto Gil.

A gravação de “Garota de Ipanema” em Nova York, à voz de Frank Sinatra e


Tom Jobim foi com um Di Giorgio feito especialmente para a ocasião.

4- Conclusão

Conclui-se com esta breve pesquisa que existem poucos ou nenhum trabalho
acadêmico voltado para os violões Di Giorgio a pesar da grande importância que
eles tiveram na época de ouro da bossa nova no Brasil. A maioria das
informações encontradas e utilizadas neste trabalho vieram de fontes da própria
empresa podendo ter muitos fatos importantes ocultados ou modificados. Há de
se aprofundar para descobrir ser realmente existe essa lacuna a ser preenchida
na história da luteria no Brasil.
5- Referências Bibliográficas

 BARTOLONI, Giacomo. Violão: a imagem que faz escola. São Paulo 1900
- 1960. São Paulo: Assis, 2000. 310 p.
 BARTOLONI, Giacomo. O violão na cidade de São Paulo no período de
1900 a 1950. São Paulo: Unesp, 1995.
 ELIAS LLANOS, Carlos Fernando. Nem erudito nem popular: por uma
“identidade transitiva” do violão brasileiro. São Paulo: USP, 2018. 260 p.
 https://www.violaobrasileiro.com/blog/visualizar/Violao-e-Mestres-
historia-e-sonho-de-uma-revista
 https://digiorgio.com.br/
 Vídeo 100 anos de Di Giorgio. Revista internacional de empresas e
negócios da Globo News, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=CZpqwJ0Nhj8

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