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VIOLA
EM REALEJO
RAINER MIRANDA BRITO
Este caderno é um material integrante do projeto de promoção e difusão da
viola de dez cordas no Piauí VÁRIA – artes e violas na caatinga.
Acesse: www.varia.univasf.edu.br
Material sem fins lucrativos. O uso comercial de qualquer natureza deste material é expressamento proibido.
SUMÁRIO
A viola é um cordofone de cordas pinçadas de origem ibérica. Embora haja muitas versões sobre sua
história de origem e de difusão, há algum consenso sobre o fato de que a viola se configurou ao longo
dos séculos da relação Portugal-Brasil como um instrumento chamado de viola de arame. E por que de
arame?
Bem… a história é longa! Resumidamente diríamos: foram chamadas de violas de arame porque não
eram mais de tripa. Diferentemente de suas tias-avós, a vihuela e o alaúde, e de sua avó, a guitarra
barroca, a viola que conhecemos é encordoada com cordas de arame (metal) e não com cordas de
tripa. Ainda que isso soe um pouco genérico, é assim que conseguimos falar de tantas violas diferentes
com uma só expressão.
A diversidade das violas de arame é enorme! No Brasil as violas de arame se desenvolveram de tantos
modos que já é obrigatório, sempre que se lembra de viola por aqui, dizer: “são dezenas de afinações!
São inúmeros jeitos de construir; são muitas técnicas de ponteio e rasgueio! Tem de dez, doze, sete, oito,
treze, cinco cordas. Faz-se viola com mesa de cozinha, porta de curral, com angico e cedro, cabaça,
bambu, com tudo que é madeira!
Essas dez cordas estão arranjadas, na maioria das violas no Brasil, em pares de
cordas com calibres diferentes. Geralmente os pares inferiores possuem calibres
finos onde o par de cordas é composto por duas cordas iguais; já os pares
superiores, os bordões, costumam possuir uma corda grossa e uma corda fina
por par. Os pares de cordas finas em geral são afinado em uníssono, a mesma
nota na mesma altura para ambas as cordas, enquanto os pares com cordas
fina e grossa são afinados na mesma nota em alturas diferentes. É a questão da
afinação!
aixa Caixa: composta por tampo, laterais e fundo. É o bojo da viola, o corpo
C de ressonância do instrumento. Possui uma abertura, a boca,
ornamentada pela roseta, mosaico/desenho em volta da boca. É sobre a
caixa que está colado o cavalete.
PERSPECTIVA DESTRA
As cordas: há diversas maneiras de nomear as cordas da viola – primas, requintas, canotilho,
etc. Para simplificar vamos nomeá-las assim:
PAR 4. Penúltimo par superior. 1 corda fina, 1 corda grossa respectivamente. pares
ca
lib
oitavados
re
da
pares
ui
A maioria das violas de dez cordas são tocadas com ponteio, com o pinçar das
cordas para solos e fraseados, e com rasgueio, com o arrastar sobre todas ou
quase todas as cordas para desenvolver levadas. Hoje é comum encontrar
violas executadas com mistos de ponteio e rasgueio tanto com técnicas
dedilhadas totalmente com as unhas quanto com técnicas dedilhadas utilizando
a dedeira como guia de dedilhados com as unhas. Ainda que menos comum, o
uso de plectro, de palheta, também está presente entre as técnicas de execução
das violas de dez cordas.
Bem… falar de viola é assunto que não se acaba e nem fica pouco! Falemos um
pouco das afinações.
SOBRE AS AFINAÇÕES
E por que muitas afinações deixaram de ser tocadas? Por que poucas estruturas de afinação, em
comparação ao número de registros, mantiveram-se cultivadas?
É difícil responder. Digamos que as afinações que se mantiveram populares e/ou efetivamente
executadas talvez assim permaneceram graças à existência de repertório próprio, ao desempenho de
função social específica (especialmente em manifestações populares) e, não menos importante, devido à
compatibilidade com encordoamentos disponíveis. Muitas estruturas de afinação parecem ter sumido
com manifestações populares que esmaeceram, com mestras e mestres que faleceram; e diversas
estruturas de afinação parecem ter sido abandonadas devido à padronizações na indústria de
encordoamentos que ao mesmo tempo em que facilitaram o suprimento de cordas favoreceram mais
algumas afinações do que outras. Outros instrumentos, como o violão, o acordeom e o cavaquinho,
também vieram, em diversos casos da música popular e erudita brasileira, ocupar posições musicais
antes ocupadas pela viola de arame no Brasil.
Algumas das afinações que se mantiveram bastante conhecidas e executadas:
Natural
Aspecto: Mi menor + Lá + Ré Afinação muito parecida com a afinação padrão do violão.
Famosa na cantoria nordestina, no samba do recôncavo
baiano e no centro-sul. Historicamente é a afinação com mais
registros e reconhecimento; é a mesma afinação da guitarra
barroca! Esta estrutura de afinação é encontrada pelo Brasil
também com os nomes Quatro ponto, Oitavada, De cantoria.
Meia-guitarra
Aspecto: Sol maior + Dó
Afinação muito parecida com a rio abaixo e está geralmente
associada a ela. É conhecida e tocada em quase todos os
lugares onde ocorre a rio abaixo. Esta estrutura também é
reconhecida pelos nomes Cebolinha pelo meio, Pelas três
cordas, Guitarra, Travessa.
Rio Acima
Aspecto: Dó maior
Afinação pouco comum, conhecida em regiões do centro-oeste;
popularizada por usos e gravações de viola instrumental das
últimas décadas. Sua estrutura possui uma característica
parecida à cebolão no que diz respeito à disposição e repetição
de notas entre as cordas – as notas das cordas se repetem a
cada dois pares.
… e outras mais que talvez a gente encontre em violas tocando por aí!
A maioria dessas afinações à viola de dez cordas montam suas estruturas como
acordes abertos; isto é, como um conjunto de notas consonantes que, ferindo
todas as cordas soltas juntas, soam três notas – mesmo que algumas delas se
PERSPECTIVA DESTRA
repitam – e formam um estrutura sonora. Veja que acima de cada afinação há o
aspecto = natureza/tipo de acorde que soa ao ferir todas as cordas soltas.
Na maioria dos casos esses acordes abertos na viola são acordes maiores
(veremos isso mais para frente).
Lembre-se: uma afinação na viola de dez cordas tem menos a haver a altura
das notas em conjunto (o “nome das notas”) e mais com a relação entre as
notas de cada par de cordas da viola. Um caso bem conhecido é o do cebolão. É
fácil encontrarmos violas afinadas em cebolão em Mi maior, mas é também
cada vez mais comum ouvirmos violas por aí afinadas em cebolão em Ré maior.
A diferença entre elas? A altura das notas e, consequentemente, a tensão das
cordas: no cebolão em Mi as cordas estariam mais firmes e tensas, no cebolão
em Ré as cordas estariam mais macias e moles
Certo, mas agora com essa conversa tudo está um pouco confuso, não é? Aliás,
cadê a realejo?
Para colocar a prosa na linha, ajeitando a essa conversa das notas, vamos falar
um pouquinho, de modo simplificado, de teoria musical.
PARTE 2
O círculo cromático das notas
Antes de prosseguir...
Vamos lá: é provável que já tenhamos ouvido alguém cantando Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – e – Dó. E o que
é isso mesmo? Poderíamos dizer que isso é um jeito de dividir e organizar sequencialmente as notas
musicais que conhecemos na música ocidental; e como a gente é ocidental pensamos assim.
Sabemos que existem 7 notas diferentes. Certo? Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – e o Dó começaria tudo de
novo. Bem... na verdade existem 12 notas diferentes. Quando a gente pensa 7 notas estamos
concordando com parte da filosofia da música ocidental e sua curiosa matemática: cada uma das 7
notas não vale 1. Algumas notas dentre essas 7 notas valem 1/2. E então somando o que vale cada uma
dessas 12 notas, o resultado é 7. Um pouco contraintuitivo, não é?
Como buscamos focar a viola e a realejo podemos simplificar essa prosa. Utilizaremos um jeito diferente,
básico e intuitivo de mostrar as notas e sua organização. Você não precisa entender isso agora, mas é
importante declararmos que nossa abordagem neste caderno é mais modal do que tonal. Isto é,
estamos mais interessados nas distâncias entre as notas, a equivalência numérica delas no círculo
cromático, do que com os nomes e seus campos de possibilidades. Pensamos as notas como momentos
transitórios de números inteiros – o que é fixo são os números e não as notas!
Daqui em diante devemos lembrar de três regras para tratar das notas e tudo que se relaciona a elas.
Primeira: ao invés de pensar a sequência das notas em linha reta vamos pensar nelas sempre dispostas
em um círculo de 12 posições iguais.
Segunda: vamos considerar que ao invés de 7 existem 12 notas e que a distância de uma nota para outra
é sempre igual – e que as notas correspondem a números inteiros.
Terceira: cada nota se associada a um número no círculo de 12 posições iguais.
Compreendemos melhor essas três regras olhando o círculo cromático das notas!
Este círculo cromático nos mostra assim doze intervalos iguais, numerados, e uma constelação de notas
dispostas cromaticamente – isto é, com todas as 12 notas. Ele será uma ferramenta para entendermos
tanto a sequência das notas quanto as combinações entre elas. Não se esqueça de imprimir e montar o
seu círculo cromático antes de continuar – eles está na Parte 8 deste caderno.
E como ele funciona?
Ele funciona como um círculo que gira dentro de outro círculo – e isso nos indica como toda relação entre
notas musicais é sempre cíclica. O que importa, além de conhecermos as notas, é saber que elas são
elementos que mantém distâncias iguais entre si. Por isso neste
círculo cromático toda nota sempre está alinhada a um número.
Vejamos: ao girar o círculo laranja e posicionar uma nota
qualquer na posição 0 do círculo branco, temos todas as
relações da nota fundamental (posição 0) com as outras notas.
Conseguimos saber que depois do Dó vem o Dó# (dó
sustenido) e que depois do Ré vem o Ré# (ré sustenido) e
assim por diante. Além de nos ajudar a entender a sequência
das notas, mostrando que elas se organizam como uma
progressão de distâncias iguais (1, 2, 3, 4, 5… ), o círculo
cromático nos ajuda a associá-las.
Um exemplo: ao combinar as posições 0 4 7 temos um acorde maior.
Então se o Dó está na posição 0, o Mi está na posição 4 e o Sol está na
posição 7: temos um Dó maior! Essas notas parecem familiares, não?
Pois é, são as notas da realejo: Dó, Mi, Sol. É por isso que a realejo está
em Dó maior, porque possui três notas que formam um acorde maior
de Dó. Ou seja, quando o Dó está na posição 0 as outras duas notas
ocupam as posições 4 e 7. Quem dá nome ao acorde é a nota que
estiver na posição 0.
Nosso círculo cromático possibilita ainda que identifiquemos sequências das notas, uma escala, e as
relacionemos também para formarmos um acorde, um conjunto de notas que se combinam.
Ao progredir a sequência das notas (sentido horário; 0, 1, 2, 3 …) subimos a escala (vamos para notas mais
agudas). Ao regredir a sequência das notas (sentido anti-horário; … 5, 4, 3, 2 …) descemos a escala (vamos
para notas mais graves). Uma escala é, portanto, uma sequência de notas organizadas percorridas uma
a uma. Lembremos do famoso Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – e
Dó! Essa é a escala de Dó maior. Analisando as notas
e os números no círculo cromático, estando o Dó na
posição 0 (lembrando que a posição 0 é a referência
das relações) temos para a escala de Dó maior uma
progressão das posições: 0 2 4 5 7 9 11. Se girarmos o
círculo laranja colocando uma nota qualquer na
posição 0 e refizermos essa progressão obtemos a
escala maior da nota que estiver na posição 0! E se
continuarmos progredindo a escala, repetindo o 0, 2,
4, etc, estamos tocando as mesmas notas em um
ciclo posterior onde elas são mais agudas. É isso o
que se chama popularmente de uma oitava acima.
Por que oitava? Porque diz respeito à repetição do
ciclo após percorres as 7 notas naturais – onde com a
1a repetição seriam 8 notas. Mas não devemos
esquecer que não são 7, mas sim 12 notas, certo?
Então ao progredir na escala (sentido horário) cada nota percorrida é mais aguda que sua anterior. E ao
regredir na escala (sentido anti-horário) cada nota é mais grave que sua anterior.
Em suma: tudo se resume às relações, às distâncias entre as notas. Fazer música, no fundo, é passear por
essas distâncias, subindo e descendo!
Acorde, escala e etc, tudo ainda um pouco confuso! Para evitar que a prosa se desalinhe vamos olhar
com atenção o círculo cromático.
O círculo cromático tem números e
notas – e é isso que precisamos guardar
e entender. Um acorde e uma escala
são notas associadas. A diferença é que
o acorde associa, normalmente, três
notas de uma vez só: elas soam juntas.
A escala é a progressão, ou a
regressão, de uma sequência de notas
associadas: elas soam uma a uma e não
em conjunto. Veja: o círculo cromático é
como uma escala cromática. Ele é uma
escala com todas as 12 notas!
Mas e o acorde maior? Um acorde
maior é formado pelo soar conjunto das
notas nas posições 0 4 7. E o acorde
menor? O acorde menor é o soar
conjunto das notas nas posições 0 3 7. É
isso mesmo, só muda uma posição
entre acorde maior e acorde menor.
Uma escala maior é a progressão (ou regressão) que percorre as posições: 0 2 4 5 7 9 11. E uma escala
menor é a progressão (ou regressão) que percorre as posições: 0 2 3 5 7 8 10. Então o truque é: lembrar
das posições (dos números) para percorrer e combinar as notas.
O aspecto dos acordes e das escalas
Para simplificar a prosa utilizamos o termo aspecto para definir a natureza, o tipo de associação das
notas de um acorde ou de uma escala. Até agora mostramos dois aspectos: o aspecto menor e o
aspecto maior – sim, existem muitos outros mas não trataremos deles agora.
Como dissemos há pouco, o aspecto maior é o aspecto que referencia as posições 0 2 4 5 7 9 11. Com
esse aspecto podemos montar um acorde maior – a associação sincrônica das posições 0 4 7 – e uma
escala maior – associação serial de todas as posições deste aspecto. Com o aspecto menor, que
referencia as posições 0 2 3 5 7 8 10, podemos montar um acorde menor – associação sincrônica das
posições 0 3 7 – e uma escala menor – associação serial de todas as posições deste aspecto.
O tratamento que damos à disposição das notas musicais neste caderno é baseado na lógica de números
inteiros que organiza e “faz girar” o círculo cromático. Você não precisa se preocupar com isso agora, mas
a maneira como apresentamos aqui acordes e escalas nada mais é do que um jeito de expor um
pensamento sobre modos musicais. Isto é, uma maneira de apresentar “regras” de relações entre as
notas, sempre como unidades inteiras, que se arranjam em estruturas definidas declaradas pelas posições
numéricas do círculo cromático.
Tudo que se apresenta neste caderno em relação à viola em realejo caminha nessa direção: de reforçar
um pensamento modal de como organizar, associar e soar as notas em nossa viola. Interessa-nos os
números inteiros, as distâncias entre eles e a nota de referência – posição 0. É importante que você evite
sobrepor ao círculo cromático e olhar para esse caderno com nomes e referências de um pensamento
musical tonal – que possui complexidades e temas aqui ausentes.
O aspecto da afinação
Sabemos que as notas Dó + Mi + Sol formam o acorde de Dó maior (satisfazendo as posições 0 4 7 no
círculo cromático). São essas as notas que compõem a realejo, uma afinação que soa um Dó maior
quando feridas todas suas cordas soltas. Em geral se usa o termo “tom”
como sinônimo da natureza de acorde de referência de um exercício
musical qualquer. Mas não usaremos a ideia de “tom” por aqui.
PERSPECTIVA DESTRA
Recapitulando a prosa do círculo cromático:
●
Acorde é uma associação geralmente de três notas que soam ao mesmo tempo.
➔
Acorde maior é a associação das notas nas posições 0 4 7.
➔
Acorde menor é a associação das notas nas posições 0 3 7.
●
Escala é uma progressão (ou regressão) de uma série notas que soam uma de cada vez.
➔
Escala maior é a progressão (ou regressão) que percorre as notas nas posições 0 2 4 5 7 9 11.
➔
Escala menor é a progressão (ou regressão) que percorre as notas nas posições 0 2 3 5 7 8 10.
➔
Escala cromática é a progressão (ou regressão) que percorre todas as 12 notas – as 12 posições – que
conhecemos. É o sistema no qual o círculo cromático está organizado.
●
Aspecto é o termo pelo qual referenciamos a natureza, o tipo de associação de um conjunto de notas
que servem para armação de um acorde ou de uma escala. Exemplo: a realejo é uma afinação com
aspecto de Dó maior, a rio abaixo em Sol maior; escala possui um aspecto de Dó maior, etc.
Com essas noções básicas de nomenclaturas e com o auxílio do círculo cromático das notas podemos:
1. identificar as notas que compõe um acorde maior ou menor qualquer;
2. deduzir escalas a partir de um acorde qualquer;
3. montar escalas para quaisquer aspectos;
4. transpor escalas e acordes de um aspecto para outro.
E para fazer tudo isso basta girar o círculo laranja e prestar atenção na relação da nota que estiver na
posição 0 do círculo branco com as demais notas nas outras posições.
Daqui em diante focaremos as peculiaridades de execução e concepção da viola de dez cordas em realejo.
A realejo não é uma afinação muito conhecida. Diferentemente das demais afinações, especialmente das
mais populares (cebolão, rio abaixo e natural) que se consagraram tanto pelos discos quanto pelas
pesquisas ao longo do Brasil, a realejo aparece, extraoficialmente, como uma curiosidade. Ela é citada
“por escrito’, pela primeira vez, no encarte do LP A Magia da Viola de 1987 do violeiro Renato Andrade,
disco onde Renato a utiliza em duas músicas: Ponteado caipira e Viola bem temperada. No encarte
desse disco ela é descrita como “uma afinação que Renato conheceu ainda na infância (…) no tom de dó
maior”. Curiosamente esta é a única referência fonográfica que se tem notícia da realejo.
A outra referência importante à realejo aparece no final da década de 1990, nas denominações das
afinações presentes nos envelopes dos jogos de encordoamento da Giannini linha Cobra para viola de
dez cordas - cuja calibragem, arranjo de tensões por afinação e curadoria geral foi elaborada pelo
violeiro Fernando Deghi.
Na literatura de pesquisa e catalogação das violas de arame no Brasil a afinação conhecida que mais se
aproxima da estrutura da realejo é uma afinação que foi apresentada pelos folcloristas do sudeste como
vencedora (do par 5 ao par 1: Lá – Ré – Lá – Dó# - Fá#; que se transposta 2 intervalos abaixo: Sol – Dó –
Sol – Si – Mi). Mas, como se pode notar, a nota do par 2 não repete a nota do par 4, tal como ocorre na
realejo.
Porque se considerarmos que as afinações de viola que “existem de fato” são aquelas que foram
catalogadas e/ou mencionadas por pesquisas folclóricas e/ou documentais em torno da viola como
instrumento popular e/ou erudito até hoje, a realejo não é mencionada.
Mas se consideramos isso, que as afinações existem “oficialmente” apenas se citadas em documentos e
pesquisas anteriores, temos coisas a perder. Perdemos por exemplo informações secundárias
importantes sobre a atuação de violeiros e suas violas na indústria fonográfica; perdemos detalhes da
informalidade musical e material da viola de dez cordas tão característica em todas as regiões do Brasil;
perdemos a figura dos violeiros como sujeitos criativos musicalmente capazes de elaborar relações
musicais derivadas daquelas compreendidas como tradicionais.
Mesmo com essas perdas potenciais, a via teórica das pesquisas e dos documentos são fontes
importantes e confiáveis sobre informações históricas e musicológicas da viola de dez cordas no Brasil.
Precisamos sempre mantê-las no horizonte.
Porque ainda que a realejo não figure entre as afinações reconhecidas pela literatura sobre as violas de
arame no Brasil, aqui está ela: afinada na minha viola! E lá esteve ela na viola de Renato Andrade para
uma gravação em 1987; lá está ela ressoando na memória de repentistas e reiseiros nordestinos. Seu som
característico parece habitar uma zona cinza de lembrança das violas nordestinas: a combinação forte
de suas notas e o “empurrãozinho” que a afinação nos dá para modos de tocar e pensar próprios da
música nordestina, nos coloca uma desconfiança de que essa afinação não existe por acaso em uma
viola de arame no Brasil – e que, não por acaso, soe tão imponente quando tratada como uma afinação
de viola nordestina.
A estrutura da realejo difere consideravelmente das outras afinações conhecidas.
PERSPECTIVA DESTRA
●
A repetição de notas entre os pares é alternada e não a cada dois
cebolão
pares como em outras afinações;
●
A nota que define aspecto da afinação (posição 4 para maior e 3
para menor – referente às posições no círculo cromático) está
localizada no par 1, característica rara entre as afinações
conhecidas;
rio acima
●
Sua tessitura (a distância da nota mais grave até a nota mais
aguda), considerando as cordas soltas, é uma das maiores que se
tem notícia;
●
Os desenhos de escalas duetadas (os ponteados de viola feitos
em dois pares vizinhos) tem uma lógica diferente dos desenhos rio abaixo
presentes na maioria das afinações conhecidas.
Não foram raras as vezes que minha viola em realejo foi referenciada por
poetas repentistas como uma viola “afinada em uma afinação que só se ouvia
no tempo dos antigos”. O apelo da sonoridade nordestina da realejo se
intensificou ao longo dos anos conforme fui compondo e tocando músicas
envolvendo escalas e estruturas “nordestinas” que sempre caíam muito bem à
realejo. Até os ponteados mais intuitivos, aqueles sem compromisso,
acabavam se tornando uma brincadeira entre escalas e melodias nordestinas.
Soa razoável que a realejo seja vista como uma afinação do (e no) nordeste; temos elementos que nos
ajudam a sustentar essa ideia. Divaguemos um pouco: o nome realejo é um nome bem conhecido no
nordeste e está diretamente associado a imagens musicais. A primeira figura que vem à mente, para
maioria das pessoas do (e no) nordeste, é daquele antigo instrumento à manivela. Aquele instrumento
que era empurrado em um carrinho por um tocador; este, na maioria das vezes, acompanhado de um
passarinho que por uns trocados pegava um bilhete o os entregava àqueles que chegassem para ver e
ouvir, como na valsa de Custódio mesquita Velho realejo, “um realejo a cantar”.
No sudeste do Piauí os reisados dos antigos, dizem alguns reiseiros, empregavam
diversos instrumentos que não se usam mais – e entre eles estavam a viola e a gaita
de boca, o realejo.
É essa a segunda imagem que vem à mente ao pensar em realejo: a gaita de boca, a
harmônica. Instrumento tão popular nas referências literárias e folclóricas
nordestinas. Não por acaso é uma gaita dessas que Chicó guardava em um bolso – e
com ela João Grilo ludibriou um cangaceiro para morrer e desmorrer e ir conhecer o
Padre Cícero! Essa passagem do Auto da Compadecida de Ariano Suassuna ilustra a
memória que essa gaitinha murmurou sertão afora.
E o que todos esses exemplos têm em comum e por que tudo isso para falar da afinação realejo?
Porque todos esses instrumentos associados à imagem do termo realejo possuem um funcionamento
baseado na relação forte de duas notas cujo som é ressonante, contínuo e preenchido. Curiosamente
todos esses instrumentos têm como associação forte de notas, na maioria das vezes, Dó e Sol – ou outras
notas que ocupam as mesmas posições no círculo cromático das notas, as posições 0 e 7. Essa relação
forte é o que a teoria musical canônica chama de um intervalo de 5 a justa. É esse intervalo que une todos
nossos exemplos até aqui reunidos em torno da imagem de realejo. A impressão do “som nordestino” está
diretamente relacionado a esse intervalo forte; e a realejo é uma afinação onde quatro de suas cinco
ordens de cordas estão sequencialmente afinadas nesse padrão. Não é um mero acaso ou um acidente:
ela tem tudo de uma afinação de sabor e acento nordestino!
UMA VIOLA NORDESTINA
Misturando um pouco de pesquisa e invenção, compreendemos a viola de dez cordas em realejo como
uma viola que integra a família das violas nordestinas.
A viola machete é a violinha do samba de roda da Bahia, uma violinha peculiar; felizmente
a viola machete tem sido revitalizada e tocada cada vez mais. A viola machete é uma
viola pequena, possui cinco ordens de cordas duplas e cerca de 3/4 do tamanho de uma
viola de dez cordas comum. É uma viola de acompanhamento rítmico e também de
pequenos ponteados. Afinações: Natural, Travessa.
Uso predominante: Samba da Bahia.
Ocorrência: recôncavo baiano.
Peculiaridades: 3/4 de uma viola comum.
A viola de dez cordas é a viola “comum”: geralmente com ordens de cordas duplas, feita de madeira e
com tamanho relativamente padronizado. É possível também encontrá-la, às vezes, com 1 ordem tripla (o
par 5), 1 ordem simples e 3 ordens duplas. É essa a viola que ecoa na Música Armorial, em gravações de
Marinês, de Geraldo Vandré, no Quarteto Novo, nos discos de Elomar, nos inúmeros grupos de música
regional nordestina dos anos 70, 80 e 90. É também a viola que muitos se lembram como “a viola dos
reisados e das rodas de são gonçalo”. É esta a viola instrumental nordestina que há tempos ecoa
nordeste afora.
DEZ CORDAS EM REALEJO
Antes de colocarmos a viola no colo e soar a realejo, precisamos ter no horizonte quatro princípios que
devem nortear nossa relação com a viola.
1. Somos limitados. Todo instrumento, afinação, recurso musical é limitado. E ainda bem! Já imaginou que chato seria
um instrumento, uma afinação sem limites? Se isso existisse não precisaríamos tocar diversos instrumentos, já que
um só instrumento daria conta de todas intenções musicais. É pela limitação que cultivamos, compreendemos e
divulgamos a diversidade – há muitas maneiras de pensar a viola, as afinações, a música e nunca seremos capazes
de representar, conhecer e entender todas elas. O trunfo e o entusiasmo está em criar a partir de nossos limites
e reconhecermos universos musicais que estão além deles.
2. Tocar viola não precisa ser uma competição. Não há “o melhor violeiro do Brasil”, do mundo ou de qualquer lugar.
Tocar viola é fazer música; tocar um instrumento é uma arte de cultivo do espírito. E a viola tem muita arte para
cultivar os espíritos! Tocar viola não é promover um produto, vender uma mercadoria ou batalhar por um troféu:
essas são preocupações outras. Tocar viola não tem a haver com triunfo ou notoriedade, mas sim com
aprendizado, criatividade e paciência. Há inúmeras violas sendo tocadas de jeitos surpreendentes e criativos e
que jamais serão amplamente conhecidas mesmo tendo muito a mostrar e ensinar.
3. A viola não é só um objeto. Ela é um instrumento capaz de provocar em você emoções de intensidades e teores
tão diversos que você não vai saber explicar. A viola tem personalidade: funciona melhor em tal afinação do que
em outra, soa assim em tais notas, gosta de ser tocada mais em tal dia do que em outros. E toda viola, tal como
você, não gosta de ser abandonada e mal tratada. Ela é sua companheira e, no fim das contas, você é o
instrumento e ela é a pessoa.
4. Persistência (e eficiência) é paciência. É difícil tocar rápido, adquirir e exibir “performance”. Mas é muito mais difícil
tocar devagar, tocar notas com cuidado e atenção. É difícil tocar uma música inteira, entender sua estrutura. É difícil
aprender uma coisa depois da outra, uma técnica, uma nota, uma levada. É fácil tocar primeiro. É difícil escutar
primeiro e tocar depois. A pressa leva a viola aos atropelos; cada toque é um processo, um ritual que precisa de
tempo, jeito e cuidado. E para tanto é preciso, antes, escutar, entender e praticar.
A postura com uma viola ...
é muito variada: há quem toque sentado, em pé, com apoio do pé, com
pernas cruzadas, etc. Para nossa viola em realejo a recomendação é tocar
sentado com os joelhos paralelos e usando alça (a correia ou talabarte).
Por quê? Porque esta é uma das posições de menor tensão: sentado, com a
viola na peito, suspensa pela alça – que passa pelas costas e ombro –
fazendo-a ficar inclinada com o braço para cima. Você deve ajustar a alça a
uma altura confortável. Antigamente era comum, por exemplo, deixar a viola
bem alta no peito! Independentemente da altura em que você ajustar a alça
procure manter sempre a coluna ereta e os pés no chão.
Viola inclinada
Uso de alça
Joelhos paralelos
PERSPECTIVA DESTRA
Soando a realejo
É preciso colocar as cordas na viola. É fácil! Mas para afinarmos a realejo é preciso fazer pequenos ajustes
nos calibres das cordas. Há diversas marcas e tipos de encordoamentos disponíveis para a viola de dez
cordas; a regra geral é que eles se comparam e se equivalem pela tensão – leve, média e alta. Para afinar
em realejo é recomendável que se utilize um encordoamento de tensão leve – onde a probabilidade de se
encontrar calibres próximos aos ideais é maior.
Tendo em vista uma viola de dez cordas comum, os calibres recomendados para a realejo são:
Par 1 – 0.010” / 0.010” Não encontramos um encordoamento com esses calibres por isso precisamos adaptar. Se você tiver acesso a
diversos encordoamentos de viola de dez cordas procure fazer a adaptação nos pares 4 e 5. Mas você pode utilizar
Par 2 – 0.013” / 0.013” calibres vizinhos a esses recomendados (ex. usar no par 2 cordas 0.012”, etc). O importante é que se mantenha
esses calibres como ideais; pequenas variações vão acontecer porque a disponibilidade de cordas avulsas é
Par 3 – 0.009” / 0.019” variada. Lembre-se: na adaptação dos calibres use sempre cordas de viola ou de violão aço.
Par 4 – 0.013” / 0.027” Dica: se o calibre da corda encapada (grossa) do par 5 de seu encordoamento for próximo à recomendação do
par 4, inverta-as! Coloque a corda encapada do par 5 no par 4 e coloque uma corda mais grossa no par 5. Uma
Par 5 – 0.014” / 0.032” corda “Ré” de violão aço pode ter um calibre bom como corda encapada do par 5.
PERSPECTIVA DESTRA
A maioria dos afinadores não utiliza a nomenclatura latina das notas (Dó, Ré, Mi, etc ) e sim a nomenclatura anglo-
saxã onde se usa letras para designá-las. Só muda o jeito de chamá-las, as notas são as mesmas, ok?
Nomenclatura anglo-saxã C # D # E F # G # A # B
A realejo é uma afinação de baixa tensão nos pares oitavados (3, 4 e 5) e de tensão moderada nos pares
uníssonos (1 e 2). Se você tiver a impressão de que a viola afinada em realejo está meio “bamba” não se
preocupe: a ideia e a proposta da realejo é manter as cordas mais moles e frouxas. Trata-se de uma
característica desejada para a afinação e sua ressonância.
Não seria exagero dizer que uma viola em realejo é também uma palheta em realejo! O plectro que soa a
viola em realejo é parte da afinação: pensamos como fazer este pequeno sino – a viola – soar através da
palheta. Dito isso, não é bom pensar uma sem a outra. Uma viola em realejo tocada com palheta,
buscando reforçar as características da afinação – a ressonância e o sotaque nordestino – se mostra uma
ocasião muito especial.
A palheta desta viola não é uma palheta apressada e imponente. Esta palheta é às vezes lenta, esbarra
em um monte de coisas e se atrasa; às vezes duvida de como (e onde) deve atacar. Fazer a palheta
duvidar, atrasar e esbarras nos pares se traduz em um jogo de elasticidade dos sons e aquisição de uma
sensibilidade sobre produzir, reforçar e cessar os sons. É por meio da lida com essa elasticidade que
conseguimos sentir e manipular a ressonância que a realejo oferece.
Uma palheta apressada, dominante, que é soberana sobre todos os pares é uma palheta que não dá
espaço para que os pares “suspirem”! É uma palheta que não permite que os ruídos – que fazem parte da
música, da viola, da afinação – possam existir. É importante produzir e apreciar os ruídos para que a
sensação de poder “não suba à cabeça” da palheta! E também para lembrarmos que nossa viola é parte
da música – e que a música sem ruído é apenas a parte mentirosa do “fazer música”.
A palheta é parte de um conjunto e não sua alma; não é bom pensá-la como o ponto de canalização da
energia de quem toca a viola. A palheta é antes um ponto de tradução e fruição da intenção e do
momento que se busca produzir as notas. Uma palheta em realejo é uma palheta que está mergulhada
no conjunto e é paciente o suficiente para sentir as vibrações que ela desencadeia e imediatamente delas
se alimenta.
POR QUE A PALHETA?
Porque ela é um jeito de executar viola pouco explorado e que possui linguagem e possibilidades que
fazem o instrumento ter um sotaque peculiar. Devemos lembrar que o uso de palheta também é um
jeito tradicional de tocar viola – dona Helena Meirelles, os reiseiros do nordeste e muitos outros são bons
exemplos. Curiosidade: antes de existirem técnicas de dedilhado nos instrumentos de cordas com bojo e “pescoço” o uso de
plectro para tocar instrumentos de corda era (e continua sendo) dominante entre povos persas e árabes. Tocar com palheta é
tão antigo quanto tocar com os dedos.
●
Quais as peculiaridades de tocar viola com palheta?
O uso de plectro, de palheta, exige que a execução tenha mais precisão ao ferir as cordas –
especialmente à viola, que possui cordas duplas. O controle da mão direita (na perspectiva destra) se
resume ao controle da palheta. Há técnicas para manipular e ferir as cordas da viola com a palheta
pensadas especificamente para a viola. Tocar com palheta requer uma noção mais apurada do espaço
entre os pares e a tensão necessária para ferir cada par. A depender do estilo de toque que você deseja
imprimir diversas adaptações precisam ocorrer.
●
Por que a realejo é tocada com palheta?
Aprendi a tocá-la e a concebê-la com palheta, portanto esse é o caminho que seguimos aqui.
Conseguimos explorar a ressonância da realejo e desenvolver desenhos de solos horizontais no braço
da viola diferentes quando tocando com palheta.
●
Podemos utilizar as técnicas de palheta de guitarra elétrica ou de outros instrumentos?
Sim, mas vai soar um pouco genérico. As técnicas de utilização de palheta em uma viola de dez cordas
são técnicas pensadas e desenvolvidas na/para a viola e funcionam, obviamente, muito bem nela. E
aqui as técnicas de uso da palheta são fruto de execução na estrutura da realejo e foram elaboradas
para ela – muitas técnicas de palheta na Rio Abaixo são diferentes, por exemplo. Estamos aqui
explorado um sotaque próprio da realejo pensada e tocada com palheta.
Qual palheta usar?
Há duas opções: fazê-la ou adquiri-la. São apenas opções distintas, não há uma melhor! Conseguimos
ótimos sons em ambos os casos.
Fazê-la: se você puder e quiser experimentar fazer sua palheta, assim como se fazia e se faz popularmente
para viola, a indicação é que a faça com chifre de boi. O processo não é tão complicado: basta cortar o chifre
em lascas retangulares com cerca de 10cm X 2cm e dessas lascas picotar suas palhetas. Utilize uma faca
pequena e tesoura para isso. As palhetas não precisam ser muito grandes; um bom exemplo de formato de
palheta é como dona Helena Meirelles as fazia.
~4,5cm
varia em densidade parte a parte. A dica é: faça palhetas que
~4cm
ofereçam resistência ao tentar dobrá-las com o polegar e
indicador de uma mão. Não deixa elas muito duras, é
importante que sejam flexíveis – mas se forem muito moles
não terão força para ferir as cordas com firmeza. Você deve
experimentar a espessura que oferecer o melhor balanço
entre firmeza e flexibilidade.
~0,5cm ~0,3cm
Adquiri-la: se preferir adquirir sua palheta procure por palhetas com espessura em torno de
0,50mm – que são consideradas finas. O material que mais se aproxima do chifre de boi, e que
possui o melhor timbre para nosso propósito de viola, é o nylon. Então procure por palhetas finas
(ou médias menos espessas) feitas de nylon. Não precisa ser a palheta mais cara ou famosa;
experimente as que forem fáceis de achar e baratas. Teste outras espessuras e outros materiais
e veja qual soa melhor e é mais confortável para você tocar. A recomendação geral é que você
tenha uma palheta flexível mas firme para ferir as cordas.
E como segurar a palheta?
A palheta deve ser presa pela polpa do polegar e pela lateral do dedo indicador. A palheta deve estar
firme; ela precisa estar em uma posição na qual ela não escorregue fácil e que, ao mesmo tempo, não
esteja travada na movimentação de ataque das cordas.
PERSPECTIVA DESTRA
Uma das maiores dificuldades em segurar a palheta está em conciliar firmeza com flexibilidade: você
deve mantê-la firme para ferir as cordas mas não deve tensionar demais os seus dedos que seguram o
plectro. Como resolver isso? Não há fórmula mágica; você vai achar o seu jeito ao longo do tempo – e
quanto mais você tocar mais caminhará para encontrá-lo. Você pode experimentar diversos ângulos para
segurar a palheta em relação às cordas.
E como usar a palheta?
Com a viola no peito, sentado e utilizando sua alça: apoie o interior do seu antebraço, a região do
cotovelo, quase na quina superior do tampo de modo que sua mão, segurando a palheta, possa chegar
às cordas da viola com facilidade.
Seu antebraço deve evitar tocar o tampo além do lugar de
apoio: ele deve ser apenas um ponto para o “compasso” que
mantém sua mão suspensa para a palheta ferir as cordas.
PERSPECTIVA DESTRA
Princípio 2: a palheta deve ficar ligeiramente deitada para baixo; deve-se evitar o
ângulo de 90º com as cordas.
Por quê? Porque além de ser mais confortável, o controle entre força e flexibilidade é
melhor percebido pelos seus dedos polegar e indicador, responsáveis por segurar a palheta.
PERSPECTIVA DESTRA
Princípio 3: a palheta deve ser movida com movimentos articulados pelo antebraço.
O punho deve mover e dobrar o mínimo possível. Sua mão deve funcionar apenas
como ajuste desses movimentos.
Por quê? Porque assim você consegue manter um padrão de ataque para ferir as cordas e
se acostumar a um arco de “corte” entre sua palheta e as cordas da viola. A sensação é
que você vai estar um pouco “duro” com a palheta. A intenção é justamente essa: você
deve entender a palheta como a ponta de um compasso formado pelo seu antebraço
apoiado na viola.
PERSPECTIVA DESTRA
Princípio 4: a palheta deve se movimentar tridimensionalmente. É combinando
essas três dimensões de movimentação que se obtém variação de volume, timbre e
controle de clareza dos golpes
Como assim? Você move a palheta: no eixo que atravessa a boca da viola verticalmente (Y)
para alcançar os pares, no eixo que atravessa horizontalmente a boca da viola (X) para
adequar o ataque e no eixo que aproxima e afasta a palheta da superfície da viola (Z) por
meio do afastamento do conjunto braço-punho-palheta mais “no ar” ou mais perto do tampo. O
balanço entre eles é fundamental.
EIXO Z
Ela transforma a viola em um instrumento com uma limitação interessante: é preciso escolher onde e
quais pares serão atacados. Essa limitação nos lança em uma “filosofia” para realejo: cada ataque de
palheta precisa ser uma expressão de paciência, precisão e, às vezes, contenção. Com a palheta
podemos variar a intensidade de um ataque, podemos deixar notas faltarem para que uma nota soe
mais longa e distante. Podemos dar ênfases em pequeno gestos sobre as cordas de maneiras tão
diversas. A palheta na realejo nos convida a considerar menos com a quantidade das notas que
produzimos e mais a qualidade, a textura e elasticidade de como podemos produzir as notas com
nosso plectro – a palheta.
Agora conhecemos algumas linhas que podem ser traçadas pela palheta à realejo.
É hora de praticarmos!
Exercícios
o plectro – a palheta
Palheta: conjunto de exercícios Nº1
●
Com a viola no peito e afinada, exercite a movimentação do seu antebraço. Encontre um ângulo pelo qual a palheta
possa tocar com firmeza todos os pares de cordas na região da primeira metade da boca da viola.
●
Percorrendo esse ângulo e mantendo a mão firme, sem dobrar o punho, ataque 3 vezes cada par de cordas: “plen
plen plen”! Não é para apertar nenhuma corda com a outra mão, é apenas para ferir as cordas soltas. Lembre-se: a
palheta ataca de cima para baixo e deve ficar ligeiramente deitada para baixo. Comece pelo par 5 e ao acabar o
par 1, volte de baixo para cima (par 2, par 3, par 4, etc). Fique subindo e descendo! Repita várias vezes.
●
Agora ataque 2 vezes cada par de cordas: “plen plen”! Fique subindo e descendo pelos pares. Repita várias vezes.
●
Quando você se cansar do “plen plen plen” e
do “plen plen” experimente variar a pressão
dos ataques: em um par faça um “plen” fraco
e no próximo um “PLEN” forte. Aplique isso
aos dois exercício acima. Exemplo: no par 5
“plen PLEN plen”; no par 4 “plen PLEN plen”;
etc.
PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº2
●
Mantendo o ângulo pelo qual a palheta possa tocar com firmeza todos os pares de cordas na região da primeira
metade da boca da viola, ataque os pares indicados 1 vez alternadamente. Exemplo: par 5 e em seguida o par 1; par
4 e par 2. Lembre-se: a palheta ataca de cima para baixo e deve ficar ligeiramente deitada para baixo. Repita
várias vezes.
●
Mantendo o padrão alternado dos pares ataque 2 vezes cada par: “plen plen”! Não é para apertar nenhuma corda
com a outra mão, é apenas para ferir as cordas soltas. Repita várias vezes.
●
Depois de completar um ciclo de ataques – ex. par 5 e par 1; par 4 e par 2 – ataque 6 vezes o par 3. Refaça um ciclo
qualquer e repita o ataque ao par 3. Repita o procedimento várias vezes.
●
Quando você se cansar desses ataques alternados
experimente repetir os exercícios acima atacando
duas vezes mais os pares!
●
Continue o arrastão de palheta, mas pare a palheta ao encostar no par 1. Deixe soar! Repita várias vezes
●
Continue o arrastão de palheta, mas pare a palheta ao encostar no par 2. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Continue o arrastão de palheta, mas pare a palheta ao encostar no par 3. Deixe soar! Repita várias vezes
●
Quando você cansar desses arrastões
experimente intercalá-los. Ex. primeiro
arraste sobre todos os pares; em seguida
arraste e pare a palheta no par 3; etc.
3
2
1 PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº5
●
Utilizando o ângulo que você achou para posicionar seu antebraço para atacar as cordas na região da primeira
metade da boca da viola, faça o arrastão da palheta sobre todos os pares. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Continue o arrastão de palheta, mas agora inicie no par 4. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Continue o arrastão de palheta, mas agora inicie no par 3. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Continue o arrastão de palheta, mas agora inicie no par 2. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Quando você cansar desses arrastões
experimente intercalá-los. Ex. primeiro
arraste sobre todos os pares; em seguida
arraste e pare a palheta no par 3; etc.
4
3
2
PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº6
●
Utilizando o ângulo que você achou para posicionar seu antebraço para atacar as cordas na região da primeira
metade da boca da viola, arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 5. Repita!
●
Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 4. Repita várias vezes.
●
Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 3. Repita várias vezes.
●
Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 2. Repita várias vezes.
●
Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 1. Repita várias vezes.
●
Ao enjoar dessas repetições, experimente
recomeçar de baixo para cima. Ex.
arrastão sobre todos os pares e ataque
três vezes o par 1; Arrastão sobre todas as
cordas e ataque três vezes o par 2; etc.
●
Faça um arrastão de palheta curto: ataque os pares 5 e 4. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Faça um arrastão de palheta curto: ataque os pares 4 e 3. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Faça um arrastão de palheta curto: ataque os pares 3 e 2. Deixe soar! Repita várias vezes.
●
Faça um arrastão de palheta curto: ataque
os pares 2 e 1. Deixe soar! Repita várias
vezes.
5
4
3
2
1 PERSPECTIVA DESTRA
PARTE 5
As notas nos arames
ponteados & escalas
… pensamento em realejo II: a modulação dos arames
A viola em realejo é uma viola que se enquadra muito bem no ambiente das violas nordestinas e por isso
assim a tratamos: como uma afinação de viola à nordeste. Em grande parte das violas nordestinas os
ponteados e as escalas mais comuns são simples. Isto é, são escalas e ponteados feitos em um par
apenas, sendo às vezes acompanhado por uma nota pedal de outro par ou pelo espelhamento da nota
ponteada em outro par. Não é por acaso que a exploração de escalas e ponteados simples revelem tão
bem o espírito ressonante da realejo.
Isso quer dizer que os ponteados e escalas duetadas não são usadas na viola em realejo?
Os ponteados duetados hora ou outra aparecem e são muito importantes para as violas no Brasil, sem
exceção. O que estamos dizendo é que nossa viola em realejo não os utiliza com a mesma frequência que
utilizam outras violas em outras afinações. Nosso foco não está nos ponteados duetados. Propomos
aqui um pensamento em realejo de cordas soltas, escalas e ponteados simples que valorizam a
ressonância da afinação e dão forma a uma concepção peculiar de viola à nordeste: a viola em realejo
tocada com palheta, priorizando ponteados e escalas simples.
Os princípios básicos dessa concepção de viola em realejo são:
●
buscar precisão e calma na progressão e regressão das escalas e ponteados simples;
●
utilizar as escalas e ponteados simples como gatilhos de ressonância – afetando o máximo de
cordas soltas que “combinam” direta (se feridas) e indiretamente (vibrando por simpatia) com os
ponteados;
●
espelhar, sempre que possível, as escalas e os ponteados simples entre os pares. Lembre-se que os
pares 5 e 3, 4 e 2 se espelham diretamente;
●
Manter o par 1 sob controle: quando possível utilize-o como par mestre do ponteado para que os
demais parem possam soar livremente e a nota original do par 1 seja suprimida.
●
não se preocupar com ponteados duetados – eles surgirão eventualmente, mas não são o foco de
nossa viola em realejo e não é este o sotaque que buscamos.
Em suma: pensemos os arames da realejo como um arranjo de pares que deve ser explorado como
totalidade, tal como um mar de cordas cujo barco que por ele navega – nossos dedos – está submetido
ao movimento das águas. Pensemos assim este conjunto de cordas e nos guiemos pelas notas que se
repetem nos pares e as possibilidades de espelhamento que eles oferecem. Naveguemos visando os
caminhos simples e aproveitemos suas repetições para progredir ou regredir nossos ponteados e escalas.
O braço é onde estão os trastes – as tiras metálicas que dividem em espaços proporcionais o braço da
viola. É entre os trastes, nas casas, que pressionamos com os dedos para modular as notas dos pares de
cordas da viola. O procedimento é simples: aperta-se com o dedo de uma mão em uma casa um par de
cordas e o ferimos com a palheta, que está na outra mão. É assim que conseguimos modular as notas no
braço da viola. Com uma mão apertamos as casas dos pares e com outra ferimos as cordas. Simples, não
é?
A dificuldade está em coordenar essa duas ações: apertar as cordas nas casas com uma mão e feri-las
com outra. Uma das ações mais importantes para essa coordenação é o conhecimento do braço da viola;
habituar-se a navegar pelas casas em todos os pares. E quem dá o os caminho dessa navegação é a
afinação. Veja: na casa 0 – ou seja, com as cordas soltas, cada par de cordas soa uma nota, certo?
Número da casa
3; notas Dó nos pares 4 e 2; e a nota Mi no par 1. 3 2 1 0
Sol
Traste
Veja: quando andamos 1 casa em qualquer um
dos pares nós encurtamos os pontos de apoio das Do
cordas do par e fazemos ele vibrar mais rápido e, Sol
Casa
assim, ele soa, quando ferido, uma nota mais Do
aguda do que quando vibrando solto, na casa 0. Mi
PERSPECTIVA DESTRA
Por isso as afinações são tão importantes para a diversidade das violas de arame brasileiras: quando se sabe tocar em
uma afinação se sabe desenhos, detalhes e técnicas para combinar e modular notas que funcionam para aquela
afinação. Ao mudar de afinação, tudo muda! Algumas afinações até possuem algum parentesco e uma pequena parte
de seus desenhos podem ser semelhantes – raramente iguais.
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
PERSPECTIVA DESTRA
Antes de prosseguir com os exemplos precisamos saber como apertar as cordas.
Parece banal, mas não é. Para progredir e regredir uma escala no braço da viola é preciso dominar, memorizar e
exercitar padrões de como articular sua mão esquerda – no caso destro – nos cinco pares de cordas da viola.
Isso chamamos de digitação. A realejo tem peculiaridades que facilitam a digitação – trataremos disso daqui a
pouco.
As recomendações de digitação são quatro. Há uma regra geral de digitação no braço da viola?
1. Tente respeitar a ordem dos dedos e a ordem Não. Por mais que possamos encontrar supostas regras para a
das casas. Ex: casa 1 – dedo indicador; casa 2 – digitação, tudo é, no fim, recomendação. Há muito tempo se toca
dedo médio; casa 3 – dedo anelar; casa 4 – dedo viola por aqui; diversos violeiros inventaram maneiras de digitação
mínimo. Quando você precisar fazer uma que são eficazes para seus propósitos e nenhuma delas está mais
progressão maior que 4 casas procure repetir os certa do que a outra.
dedos nessa ordem. Repare que as falanges dos seus dedos irão se articular como uma
2. Não deixe seu pulso tensionado à toa! Mantenha- “escada” ao longo da digitação. É importante que você tente mantê-la
mais equilibrada possível: sem pender mais para uma banda do que
o relaxado e habitue seu polegar à região
para outra; sem ficar rígida demais, causando dor e desconforto; sem
mediana superior do braço, na parte traseira. ter firmeza e tropeçar nos pares!
3. Experimente às vezes trocar os dedos para fazer
progressões e regressões na escala; veja qual
5 4 3 2 1 0
configuração é mais confortável e lhe passa a
Sol
sensação de autonomia para digitação.
Do
4. Sempre que puder utilizar cordas soltas em uma
escala, utilize! Prefira o que lhe for menos Sol
trabalhoso e der oportunidade para a viola Do
vibrar mais.
Mi
PERSPECTIVA DESTRA
7 6 5 4 3 2 1 0
Sol
Do
Polegar apoiado atrás, na
Sol região mediana superior
Do do braço.
Mi
PERSPECTIVA DESTRA
Mantenha sua digitação ordenada. Tente manter cada dedo responsável por uma casa – evite que um dedo
invada a casa sob responsabilidade de outro dedo.
Há, contudo, dois dedos que podem se cambiar facilmente: o dedo indicador e mínimo. Quando? Por exemplo: em uma
progressão de 5 notas em 5 casas sequenciais você sente dificuldade em utilizar o dedo mínimo para a 4a nota; assim
ao invés de usar o dedo mínimo você pode recomeçar a sequência dos dedos e utilizar o indicador. Você estaria
fazendo a sequência: indicador, médio, anelar, indicador, médio. Não é bom deixar o dedo mínimo de fora, mas se você
achar melhor dar férias para ele, tudo bem.
Peculiaridades de digitação da realejo
●
A primeira peculiaridade é o fato do espalhamento direto e inverso dos desenhos de digitação entre os
pares. Exemplo: o que se faz entre os pares 5 e 4 se faz entre o 3 e o 2. E o que se faz entre entre os
pares 4 e 3 se faz, inversamente, entre o 3 e o 2.
●
A segunda peculiaridade é o fato da nota Mi – a nota na posição 4 do círculo cromático para o Dó
como fundamental – estar no par 1. É fácil suprimi-la; pressionando o par 1 na casa 3 temos um Sol e
assim todos os pares soam apenas Sol e Dó – a combinação do som “forte”!
Repare que o espalhamento das notas entre os pares é muito intuitiva, mesmo o
espelhamento dos ponteados duetados.
PERSPECTIVA DESTRA
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Pressionar o par 1 na casa 3 e ferir todos pares da viola é o começo de uma boa
navegação na realejo! Experimente começar com o dedo indicador na casa 3, ferindo todas
as cordas da viola, passear com este dedo entre as casas no par 1. Comece e termine seu
passeio na casa 3!
Para aproveitarmos melhor essas peculiaridades da realejo navegaremos entre as casas sempre
pensando o Dó como nota de referência – tanto para combinações de notas entre pares e casas quanto
para ponteados livres em um par só. Na prática isto significa também que tocaremos sempre tendo como
referência o Dó. Por quê? Porque é um modo didático e emblemático, com cordas soltas e maior
ressonância da realejo.
A realejo é uma afinação que funciona em todos os aspectos. Mas como nosso propósito é iniciático, o Dó é a
referência mais intuitiva e confortável para exploração da realejo. Caso você deseje explorações em outras
notas de base é só você alterar nota chefe, posição 0 do círculo cromático, a nota que você deseja e abrir os
caminhos.
Importante:
o que chamamos de escalas neste caderno são, no fundo, modos; isto é, padrões estruturados como
regras/conjuntos de notas que devem e não devem ser tocadas naquele modo. Optamos por ilustrá-
los sempre como estruturas numéricas de números inteiros, tendo em vista nosso círculo cromático.
Mas para simplificar e evitar confusões, mantemos o nome dessas estruturas como escalas, ok? Uma
escala não deixa de ser um jeito de fazer referência a um modo, mas é importante lembrar que há
outras ideias de escala que não representam o que chamamos aqui de escala. Portanto, lembre-se: o
pensamento musical deste caderno é mais modal do que tonal e seu amparo maior é o círculo
cromático.
Escalas & ponteados simples
O jeito mais fácil de pontear as notas na realejo é navegando pelos pares individualmente. Isto é:
ponteando um par só. Isso não quer dizer que ele deva soar sozinho: ele pode soar acompanhado de nota
pedal – nota que oferece um suporte para ele. Na realejo o Dó e o Sol servem, sozinhos ou combinados,
como notas pedal. Vamos começar a navegação conhecendo a escala maior e a escala menor – sempre
observando as posições no nosso círculo cromático.
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS
Si La Sol Fa Mi Re Do
Os ponteados simples, em um par só, soam muito bem e parecem oferecer algo de especial da afinação.
A realejo aprecia essa liberdade e solidão. Podemos fazer isso navegando por diversas escalas em todos
os pares, mas o passeio no par 1 tendo como referência a casa 3 é entusiasmante por um motivo curioso:
pela indução de escalas nordestinas.
Como assim? Veja: ao pressionar o par 1 na casa 3, como já dito, temos a nota Sol. E a nota Sol, tendo o
Dó como referência, é a posição 7 do nosso círculo cromático – aquela posição que combina forte com a
nota de referência, a posição 0. O par 1 está afinado em Mi, que é a posição 4 do círculo; ao suprimir esse
Mi, fazê-lo virar Sol, nós montamos um acorde que não é maior e nem menor, que possui duas notas
apenas: Sol e Dó (posições 0 e 7).
Quando na casa 3, no par 1, se regredirmos uma casa, para a casa 2, temos a posição 6 do círculo
cromático, um Fá#. E daí? E daí que essa nota está em uma posição característica de uma das escalas
nordestinas! A gente, sem querer querendo, pode ser atraído por essas notas incomuns que combinam
muito bem com o som das cordas soltas da realejo, Dó e Sol. Isso acontece em outras casas, como na
casa 6, na casa 9 – respectivamente posições 10 e 1 no círculo cromático.
Veja: navegar pelas casas no par 1 transforma a viola em realejo em uma viola que onde quase tudo que
se ponteia no par 1 é aceito de bom grado pelos demais pares, que vibram e ecoam com os ponteados. A
duplicação dessa ressonância – dois pares em Dó e dois pares em Sol – deixa tudo muito preenchido e
forte. A navegação pelos outros pares é interessante também, mas os ponteados simples no par 1 têm
algo de especial. É importante explorá-los!
As escalas nordestinas é como chamamos genericamente as sequências de notas/intervalos presentes
na música popular fonográfica e não fonográfica no/do nordeste. São escalas peculiares que, assim como
diversas outras escalas étnicas, são chamadas às vezes de “exóticas” em contraponto às escalas comuns
na teoria musica canônica.
Essas escalas do/no nordeste estão presentes em diversas violas, especialmente nas violas da cantoria,
nas violas dos reisados e folguedos e na viola instrumental nordestina. Quando ouvimos violas na
discografia nordestina elas quase sempre passeiam por alguma dessas escalas. São três as escalas mais
comuns na música do/no nordeste.
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS
La# La Sol Fa Mi Re Do
Si La Sol Fa# Mi Re Do
La Sol Fa# Fa Mi Re Do
A realejo nos ajuda a passear por essas escalas, tendo como referência o Dó, também aproveitando o
par 1 como atalho. Veja: ao invés de fazermos as progressões em um par só, podemos começar em um
par e prosseguir em outro – e descansar do passeio na casa 3 do par 1 (onde está a nota Sol).
Novamente: pensemos a realejo como um mar de cordas onde todos os pares batem e vibram uns nos
outros. Pensando assim reforçamos a unidade e o sotaque dessa viola.
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS
Re Do
Do La# La Sol Fa Mi
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS
Re Do
Do Si La Sol Fa# Mi
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS
Re Do
Do La Sol Fa# Fa Mi
Um dos sons mais lembrados das violas no Brasil é aquele dos ponteados duetados – os ponteados em
dois pares que soam juntos mas em notas diferentes. O ponteados duetado nada mais é do que um
ponteado simples acompanhado de uma nota complementar. Pensar assim facilita o entendimento dos
ponteados duetados porque basta lembrarmos das posições de um ponteado simples em uma escala e
complementarmos sua sequência sem alterar o ponteado principal. A nota que complementa essa
sequência virá no par acima ou no par abaixo do par em que a escala principal está sendo ponteada.
Para fazer os ponteados duetados devemos utilizar dois dedos na digitação. Se os ponteados duetados
forem nos pares 1 e 2 utilizamos os dedos indicador e médio. Se os ponteados forem nos outros pares
superiores (pares 2 e 3, pares 3 e 4 ou pares 4 e 5) é melhor utilizar os dedos indicador e anular.
Veja como fica mais fácil e confortável, ok? PERSPECTIVA DESTRA
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Lembrete: escalas e
Sol
ponteados duetados não
são o foco de nossa viola Do
em realejo. Por isso Sol
passaremos por elas a
Do
título mais informativo do
que formativo, ok? Mi
Navegar pelos ponteados duetados é mais simples do que parece: fazendo um dedo ser o “mestre”,
ponteando a escala principal em um par enquanto o outro dedo o acompanha em outro par. O
importante é manter o dedo “mestre” respeitando a escala principal e o outro dedo ponteando uma nota
que combina com a nota que está sendo ponteado pelo dedo “mestre”. Mas como descobrir essa nota que
combina com a outra? Na verdade a gente já as conhece: são as notas da mesma escala que se
combinam!
Veja um exemplo: um ponteado duetado na escala de Dó maior, olhando as posições no círculo
cromático, nada mais é do que notas de lugares diferentes de uma mesma escala que se combinam. A
diferença está no fato de que o ponteado principal – o dedo “mestre” – parte da posição 0 da escala em
um par enquanto o ponteado complementar parte da posição 4 em outro par. Lembrando: os pares
soam juntos!
Atenção: o dedo acompanhante não fará o mesmo caminho nas casas que o Escala de Dó maior
dedo “mestre”. O dedo acompanhante sempre caminha ligeiramente atrás. Note Ponteado principal: 0 2 4 5 7 9 11 (12)
que a combinação dos seus dedos nos dois parem formam, ao longo do caminho, Ponteado complementar: 4 5 7 9 11 12 2 (4)
um desenho. Memorize esse desenho dos seus dedos!
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Si La Sol Fa Mi Re Do
Re Do Si Lá Sol Fá Mi
Nós subimos um par para achar onde as notas Dó e Ré# se Escala de Dó menor
combinam e começamos o ponteado nesse lugar para então descer Ponteado principal: 0 2 3 5 7 8 10 (12)
para os pares 1 e 2 – e consequentemente andarmos na escala. Ponteado complementar: 3 5 7 8 10 12 2 (3)
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Do
La# Sol# Sol Fa Re# Re
Re Do La# Sol# Sol Fá
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La# La Sol Fa Mi Re Do
Re Do La# La Sol Fa Mi
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Si La Sol Fa# Mi Re Do
Re Do Si La Sol Fa# Mi
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS
La Sol Fa# Fa Mi Re Do
Do La Sol Fa# Fa Mi
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La# La Sol Fa Mi Re Do
La# La Sol Fa Mi Re Do
Veja: deslizando o ponteado da casa 5 para a casa 3 temos uma alternância entre a nota
chefe da escala (Dó) e a nota característica desta escala nordestina, a 7a menor (neste
caso um La#). Experimente fazer arrastões de palheta no progredir do ponteado e
quando voltar ao Dó, volte para o La# e volte ao Dó!
PERSPECTIVA DESTRA
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Fa Mi Re Do La# La Sol
Fa Mi Re Do La# La Sol
OBS. Visualização linear espelhada de escala nordestina A em Dó nos pares em Sol – progressão no par 3 e 5.
PERSPECTIVA DESTRA
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Fa# Mi Re Do Si La Sol
Fa# Mi Re Do Si La Sol
OBS. Visualização linear espelhada de escala nordestina B em Dó nos pares em Sol – progressão no par 3 e 5.
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Fa# Fa Mi Re Do La Sol
Fa# Fa Mi Re Do La Sol
OBS. Visualização linear espelhada de escala nordestina C em Dó nos pares em Sol – progressão no par 3 e 5.
Podemos aplicar o espelhamento de ponteados para todas as escalas desde que controlemos a nota de
referência delas – isto é, a nota chefe. O recurso que temos à mão na realejo é manter sempre o Dó (ou o
Sol, ainda que menos intuitivo) como nota chefe das escalas. O espelhamento de ponteados funciona
muito bem com cordas soltas e arrastões de palheta e por isso nossa ênfase para a exploração da realejo
aberta tal como ela é: ressonante, de combinações fortes e propícia a truques musicais reconhecidos
como nordestinos. Conheça as escalas e pense seus ponteados misturando-as, alternando-as e
experimentando começá-las em outra região do braço da viola, em outra par, etc. E não se esqueça de
nutrir uma atenção especial às escalas nordestinas!
Faça dos ponteados simples, espelhados e não espelhados, seu idioma na viola em realejo. Eles
são pedagógicos e estimulam uma liberdade de ponteado e uso da viola em realejo. Lembre-se
de que palheta é sua melhor amiga para chegar até os sons: use-a com intenção, firmeza e
paciência!
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Sol
Si La Sol Fa Mi Re Do
Sol
Si La Sol Fa Mi Re Do
Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº2
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.
●
Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e mínimo)
faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó menor no par 2. Ataque apenas esse par com a palheta.
Avance e regrida a escala; repita várias vezes.
●
Faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó menor no par 4. Ataque apenas esse par com a palheta.
Avance e regrida; repita várias vezes.
●
Utilizando dois dedos, faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó maior no par 4 e no par 2
alternadamente: primeiro ataque o par 4 e depois o par 2; avance para a próxima casa da escala e repita esta
ordem. Avance e regrida toda a escala; repita várias vezes. Cuidado para não ferir o par 3!
●
Utilizando dois dedos, faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó maior no par 4 e no par 2
simultaneamente: faça um breve arrastão de palheta do par 4 ao par 2 em cada posição da escala. Avance e regrida
toda a escala; repita várias vezes. Controle seu arrastão: ele deve começar no par 4 e terminar no par 2.
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Sol
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Sol
Re Do
Sol
Re Do
Do Si La Sol Fa Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº4
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.
●
Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e
mínimo) faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó menor no par 2 pulando para o par 1 assim que
possível. Ataque apenas um par por posição da escala. Avance e regrida a escala entre os 2 pares; repita várias
vezes.
●
Faça a regressão da escala/ponteado simples de Dó menor iniciando no par 1 (casa 8) e ao invés de pular para o
par 2 para terminar a regressão, pule assim que possível do par 1 para o par 4. Ataque apenas os pares das posições
da escala. Regrida e avance o ponteado com esse padrão; repita várias vezes.
●
Faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó menor no par 2 pulando para o par 1 assim que possível.
Faça um arrastão de palheta sobre os pares da viola para avançar e regredir o ponteado, mas evite que o par 1
soe no arrastão; inclua par 1 no arrastão apenas quando ele estiver sendo ponteado. Avance e regrida a escala.
Repita várias vezes.
Vigie a empunhadura de sua palheta: mantenha-a
levemente deitada para baixo e se habitue a conferir se a
PERSPECTIVA DESTRA ponta de ataque forma um ângulo agudo com as cordas.
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Sol
Re# Re Do
Sol
Re# Re Do
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Sol
La# La Sol Fa Mi Re Do
Sol
Re Do
Do La# La Sol Fa Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº6
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.
●
Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e
mínimo) faça a progressão da escala/ponteado simples da Escala nordestina B no par 2 pulando para o par 1 assim
que possível. Faça um arrastão de palheta sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado.
Deixe soar! Avance e regrida a escala. Repita várias vezes.
●
Faça a regressão da escala/ponteado simples de Escala nordestina B no par 4. Faça um arrastão de palheta
sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe soar! Avance e regrida a escala. Repita
várias vezes.
●
Passeie livremente, realizando arrastões de palheta, pela Escala nordestina B no par 2 e no par 1. Experimente pular
intervalos, regredir e progredir pedaços da escala; deixe os pares soarem conforme você ponteia. Repouse de seu
passeio na casa 3 (nota Sol) do par 1. Passeie bastante!
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Sol
Si La Sol Fa# Mi Re Do
Sol
Re Do
Do Si La Sol Fa# Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº7
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.
●
Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e mínimo)
faça a progressão da escala/ponteado simples da Escala nordestina C no par 2 pulando para o par 1 assim que
possível. Faça um arrastão de palheta sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe
soar! Avance e regrida a escala. Repita várias vezes.
●
Faça a regressão da escala/ponteado simples de Escala nordestina C no par 4. Faça um arrastão de palheta sobre
todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe soar! Avance e regrida a escala. Repita várias
vezes.
●
Passeie livremente, realizando arrastões de palheta, pela Escala nordestina C no par 2 e no par 1. Experimente pular
intervalos, regredir e progredir pedaços da escala; deixe os pares soarem conforme você ponteia. Repouse de seu
passeio na casa 3 (nota Sol) do par 1. Passeie bastante!
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Sol
La Sol Fa# Fa Mi Re Do
Sol
Re Do
Do La Sol Fa# Fa Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº8
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.
●
Utilizando os dedos indicador e anular, realize a progressão espelhada de ponteado simples na escala nordestina A
no par 1 e 3 por meio de arrastões de palheta. Lembre-se de começar na casa 5, haja visto que os referidos pares
estão afinados em Sol – e não se esqueça que os dedos caminham sincronizados! Repita o ciclo do começo ao fim,
várias vezes.
●
Realize a progressão espelhada da escala nordestina A no par 1 e 3 e ao término da progressão, antes de começar
um novo ciclo, repouse na casa 5 (nota Dó) e volte para a casa 3 (nota La#) como se esse retorno fosse uma nota a
mais na escala. Repita vários ciclos com essa finalização.
PERSPECTIVA DESTRA
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Fa Mi Re Do La# La Sol
Do
Fa Mi Re Do La# La Sol
Do
Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº9
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.
●
Utilizando os dedos indicador e anular, realize a progressão espelhada de ponteado simples na escala nordestina B
no par 1 e 3 por meio de arrastões de palheta. Lembre-se de começar na casa 5, haja visto que os referidos pares
estão afinados em Sol – e não se esqueça que os dedos caminham sincronizados! Repita o ciclo do começo ao fim,
várias vezes.
●
Realiza a progressão espelhada da escala nordestina B no par 1 e 3 e ao término da progressão, antes de começar
um novo ciclo, repouse na casa 5 (nota Dó) e volte para a casa 2 (nota Si) como se esse retorno fosse uma nota a
mais na escala. Repita vários ciclos com essa finalização.
PERSPECTIVA DESTRA
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Fa# Mi Re Do Si La Sol
Do
Fa# Mi Re Do Si La Sol
Do
Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº10
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.
●
Utilizando os dedos indicador e anular, realize a progressão espelhada de ponteado simples na escala nordestina C
no par 1 e 3 por meio de arrastões de palheta. Lembre-se de começar na casa 5, haja visto que os referidos pares
estão afinados em Sol – e não se esqueça que os dedos caminham sincronizados! Repita o ciclo do começo ao fim,
várias vezes.
●
Realiza a progressão espelhada da escala nordestina C no par 1 e 3 e ao término da progressão, antes de começar
um novo ciclo, repouse na casa 5 (nota Dó) e volte para a casa 2 (nota Lá) como se esse retorno fosse uma nota a
mais na escala. Repita vários ciclos com essa finalização.
PERSPECTIVA DESTRA
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re Do La Sol
Do
Fa# Fa Mi Re Do La Sol
Do
Mi
PARTE 6
As notas nos arames
acordes
… pensamento em realejo III: combinações entre os arames
Concebemos a viola em realejo como um instrumento solista; isto é, uma viola que sozinha ponteia e
funciona bem para alastrar melodias e espalhar ressonância. Isso não significa que ela não possa ser uma
boa viola para acompanhamento. Mas diferentemente de outras violas no Brasil que estão acostumadas
a acompanhar outros instrumentos e vozes, a viola em realejo não possui um sistema consolidado de
acordes – referenciado para o acompanhamento. E isso é, em alguma medida, bom. Porque podemos
explorar estratégias para montar acordes para a realejo que não se distanciem muito de seu espírito
solista e ressonante.
E como fazer isso?
Podemos aproveitas as características de disposição das notas nos pares e nos guiar pelos ponteados
simples para armar e encontrar acordes. A viola em realejo funciona bem para todos os aspectos,
embora os mais confortáveis sejam os Dó, Sol, Fá maiores e Lá, Dó e Fá menores – sempre o Dó é a
melhor opção para a realejo. É interessante utilizar acordes no meio dos ponteados solitários; muitos
acordes reforçam o espírito de ressonância da realejo. A parte mais delicada da utilização de acordes na
viola em realejo está no fato de que seu aspecto natural é pouco comum em outras violas – o Dó maior.
Isso exigirá que se tenha mais atenção à viola em realejo para acompanhamento, já que serão inevitáveis
usos de pestana e desenhos de escalas distintos daqueles que utilizamos no aspecto natural da afinação.
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Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
PERSPECTIVA DESTRA
Curiosamente, podemos montar com facilidade o mesmo acorde em mais de um lugar no braço da viola.
Isso é possível porque na viola nos basta, simplificadamente, encontrar as notas que compõem o acorde e
agrupá-las de modo que possam soar juntas. Não nos importa em que par as notas estejam: importa que
todas as notas do acorde estejam combinadas.
Mas antes de partirmos para a exposição e demonstração dos acordes, devemos acionar nossa valiosa
ferramenta: o círculo cromático das notas – novamente!
Ele será um importante guia e um tipo de gabarito das notas que precisam ser combinadas para se
formar um determinado acorde. Independente do modo que você escolha para montar um acorde, o
círculo cromático lhe auxiliará tanto na transposição (subir ou regredir a nota de referência do acorde)
quanto no mapeamento das notas que o compõem – e quais podem ser eventualmente adicionadas ou
subtraídas dele.
Seguindo o exemplo: há duas opções básicas para montar o acorde de Sol maior no
braço da viola.
A 1a opção é a mais simples: fazer uma pestana na 7a casa – isto é, pressionar
com o dedo indicador todos os pares na casa 7.
A 2a opção é pressionar os pares individualmente com os dedos a fim de que
as notas sejam moduladas em casas diferentes mas que estejam perto o
suficiente para a abertura da mão.
PERSPECTIVA DESTRA
Percorrendo a escala podemos encontrar as notas correspondentes às posições de um acorde qualquer
que desejamos montar. Por exemplo: sabemos que o acorde de Dó maior é a realejo soando solta. Isso
quer dizer que o Dó maior é uma pestana na casa 0 – e como a casa 0 é as cordas soltas, eis o Dó
maior! Mas se quisermos montar o Dó maior em outro lugar do braço, basta encontrarmos as notas das
posições 0 4 7 na escala de Dó maior – as notas Dó, Mi e Sol.
Lembre-se: não importa se as notas se repetem no momento de soar o
acorde. Importa apenas que as notas que estão soando correspondam a
notas nas posições 0 4 7 do círculo cromático na nota chefe do acorde que se
deseja montar.
Pressionar os pares individualmente nas casas é um modo às vezes mais
fácil e prático para montar os acordes. O cuidado a ser tomado, quando
montamos um acorde deste modo, é evitar que notas que não correspondem
às posições do tipo de acorde que estamos montando (0 4 7 para maiores, 0
3 7 para menores) sejam tocadas – e portanto não soem.
Acorde de Dó maior
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Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
PERSPECTIVA DESTRA
É importante notar que acordes menores não funcionam com pestana. E por quê? Porque a pestana é
uma réplica das notas na casa 0 que avançaram unidades no braço da viola – e consequentemente no
círculo cromático. Exemplo: uma pestana na casa 5 nada mais é do que uma pestana na casa 0 que
avançou 5 unidades. E se a realejo é uma afinação que soa Dó maior com as cordas soltas (casa 0), se
avançamos igualmente todas suas notas 5 unidades, ou qualquer quantia de unidades, com uma pestana,
estamos produzindo igualmente um acorde maior 5 unidades à frente.
O mesmo ocorre com qualquer acorde maior montado no braço da viola em pares e casas
individualmente pressionadas: o desenho do acorde feito pela sua mão pode andar para trás e para
frente no braço da viola e, consequentemente, no círculo cromático. Um Dó maior feito no braço da viola,
se avançado 5 casas, mantendo o desenho do acorde, vai soar 5 unidades à frente: um Fá maior.
PERSPECTIVA DESTRA
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
E os acordes menores? Para facilitar, pensemos os acordes menores como alterações pontuais dos
acordes maiores. Mesmo a pestana – que funciona para os acordes maiores – é útil para montarmos os
acordes menores, pois podemos “quebrá-la”: localizamos a nota correspondente à posição 4 do círculo
cromático e a substituímos pela nota da posição 3 e obtemos um acorde menor. O mesmo pode ser feito
com os acordes montados nos pares e nas casas individualmente: localizamos a nota correspondente à
posição 4 e a substituímos pela nota da posição 3 e temos o acorde menor!
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Acorde de Fá menor
Do Si La# La Sol# Sol
No caso da pestana
Fa Mi Re# Re Do# Do
“quebrada” utilize apenas
três dedos para Sol
Do Si La# La Sol#
pressionar as notas do
acorde que não se Fa Mi Re# Re Do# Do
repetem!
La Sol# Sol Fa# Fa Mi
Fá Sol# Dó
PERSPECTIVA DESTRA
Veja: temos aqui um Fá menor! Caso fizéssemos uma pestana na casa 5 teríamos um Fá maior. Mas ao invés de completar a
pestana, substituímos a posição 4 (nota Lá) pela posição 3 (nota Sol#). “Quebramos” a pestana e conseguimos um acorde
menor! Como não é possível fazer a pestana e o acorde menor, utilizamos os dedos individualmente para pressionar os pares
nas notas do acorde menor.
Para os acordes montados em pares e casas individualmente o raciocínio é o mesmo: substituir a nota
da posição 4 no círculo cromático pela nota da posição 3. Quais dedos utilizar? Os que lhe forem mais
confortáveis para pressionar os pares nas casas indicadas.
Lembre-se: basta “andar” com o desenho do acorde montado para avançar ou regredir a nota chefe do acorde!
PERSPECTIVA DESTRA
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Acorde de Dó menor
Do Si La# La Sol# Sol
Utilize os dedos que
forem mais confortáveis Fa Mi Re# Re Do# Do
para pressionar as notas Sol
Do Si La# La Sol#
do acorde que não se
repetem! Fa Mi Re# Re Do# Do
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Acorde de Lá menor
Do Si La# La Sol# Sol
Utilize os dedos que
forem mais confortáveis Fa Mi Re# Re Do# Do
para pressionar as notas
Do Si La# La Sol# Sol
do acorde que não se
repetem! Fa Mi Re# Re Do# Do
O acorde com 7a menor, popularmente conhecido também como acorde de preparação, é um acorde
maior que possui as posições 0 4 7 + a posição 10. É um acorde muito associado à música nordestina. É
também utilizado como transição entre outros acordes e, às vezes, utilizado como um acorde “sem
resolução” – que soa nem pra lá e nem pra cá! Veja: tendo o Dó como nota de referência,
um acorde com 7a menor é um Dó maior (Dó + Mi + Sol) + a nota Lá#.
Por que este tipo de acorde está presente na música nordestina? Porque a posição 10 é uma
posição importante em uma das escalas nordestinas. E o acorde tem a função geral de “estrada”
para a melodia – a escala – a ser executada em um determinado exercício musical. Logo, para que
escala e acorde não se choquem, a escala precisa conter as notas do acorde.
Vejamos dois exemplos simples no braço da viola:
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Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Dó Sol
Dó Mi Sol Lá#
Truques em Dó – ponteados sobre acorde
Os acordes e aspectos mais confortáveis para nossa viola são, como já dito, os de Dó, Fá e Sol maiores e
Dó, Fá e Lá menores; mas há entre eles alguns extremamente generosos. Quais? O Dó maior e o Dó
forte! Não só porque é o aspecto natural da realejo, mas também porque nos “empurra” para outros
acordes simples onde os ponteados podem funcionar na mesma lógica ao do acorde em Dó. Permite-se
assim que todas as cordas soem e incentivem o “engate” de ponteados simples ou espelhados.
Comecemos pelo mais intuitivo e confortável: o acorde Dó maior e sua transformação em acorde “forte”.
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arrastões palheta
Sol
Do
Do Sol
Do
Mi
Sol
PERSPECTIVA DESTRA
Este desenho de Dó maior valoriza as escalas Por ser o aspecto natural da realejo, o acorde em Dó maior é muito
nordestinas: podemos pontear tudo partindo confortável. O interessante do Dó maior é que ele se transforma
do Dó, seja no par 2 ou 4; no par 3 ou 1 facilmente em um Dó forte soando todos os pares e mantendo par 1
(tendo a casa 5 como referência) ou pressionado na casa 3 – e se quisermos aumentar ainda mais a
mantendo o par 1 sempre ponteado: focando ressonância, pode-se pressionar também o par 3 na casa 5. Utilizando o
o par 1 e fazendo arrastões de palheta. Veja Dó forte podemos acompanhar melodias tanto em Dó maior quando em
que podemos facilmente utilizá-las encima do Dó menor – porque mantemos apenas as notas fortes (Sol e Do) que
acorde maior e também de sua existem em ambos tipos de acorde.
transformação em acorde forte.
Vejamos como as escalas nordestinas, pensadas com ponteados simples atacados individualmente
ou com arrastões de palheta, acomodam-se bem na ressonância e derivações de Dó maior e Dó
forte.
PERSPECTIVA DESTRA
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arrastões palheta
Fa Mi Re Do La# La Sol
La# La Sol Fa Mi Re Do
Fa Mi Re Do La# La Sol
La# La Sol Fa Mi Re Do
Do La# La Sol Fa Mi
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
arrastões palheta
Fa# Mi Re Do Si La Sol
Si La Sol Fa# Mi Re Do
Fa# Mi Re Do Si La Sol
Si La Sol Fa# Mi Re Do
Do Mi
Si La Sol Fa#
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arrastões palheta
Fa# Fa Mi Re Do La Sol
La Sol Fa# Fa Mi Re Do
Fa# Fa Mi Re Do La Sol
La Sol Fa# Fa Mi Re Do
Do La Sol Fa# Fa Mi
Se nos acostumarmos a pensar os desenhos de um acorde qualquer como uma moldura das notas de
uma escala, tudo fica mais fácil. Observemos o exemplo do Dó maior e Dó forte: temos todas as notas da
escala facilmente dispostas para ponteados simples e os conseguimos executar tanto priorizando os
pares mais agudos – par 2 e 1 – como realizando ponteados simples espelhados – par 2 e 4; par 1 e 3. E,
para qualquer um dos casos, tanto ataques individuais nos pares como arrastões de palheta funcionam
bem já que todos os pares podem soar, reforçando assim a ressonância.
Meio a esses acordes, Dó maior e Dó forte, e as escalas nordestinas que se dispõem sobre eles, existe
um terceiro acorde generoso que pode ser utilizado para o mesmo mapeamento dessas escalas: o
acorde de Lá menor. Há também um outro acorde que desempenha o papel um papel melódico
importante nessas escalas nordestinas apresentadas aqui em Dó, o acorde de Ré maior – especialmente
seu desenho com pestana na casa 2.
PERSPECTIVA DESTRA
Acordes maiores agrupam e soam as notas das posições 0 4 7 do círculo cromático tendo como
referência uma nota qualquer.
Acordes menores agrupam e soam as notas das posições 0 3 7 do círculo cromático referência uma
nota qualquer.
Acordes especiais
- Acordes fortes agrupam e soam as notas das posições 0 7 do círculo cromático referência uma nota
qualquer.
- Acordes maiores com 7a menor agrupam e soam as notas das posições 0 4 7 11 do círculo cromático
tendo como referência uma nota qualquer.
Acordes importantes para ponteados na realejo
- Dó maior, Lá menor & Ré maior.
Lembre-se: todo acorde é uma reunião em bloco de algumas notas de uma determinada escala. É
possível montar um acorde a partir de uma escala conhecida e vice-versa.
Exploraremos aqui acordes de Dó, Fá e Sol – os aspectos mais confortáveis para a realejo.
Dó maior Dó maior
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Sol Do Sol
Do Mi Do
Mi
Mi Sol
Desenho 1 Desenho 2
PERSPECTIVA DESTRA
●
Monte os desenhos do acorde de Dó menor. Para o 1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule
para o 2o desenho do acorde e ataque individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2o desenho. Repita várias vezes.
Dó menor Dó menor
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Sol Re# Sol
Re# Do Sol Do
Mi Mi
Sol Do
Desenho 1 Desenho 2
Não tenha pressa ao ferir os pares e as casas. Sua palheta deve ter
precisão e firmeza mesmo para soar um acorde “em bloco”.
Acordes & exercícios em Fá
●
Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de devem estar relaxados –
polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar as cordas nas casas e pares indicados. Soe
apenas os pares e casas coloridos.
●
Observando as articulações de sua mão e buscando a melhor disposição para seus dedos, monte os desenhos do acorde de Fá maior. Para o
1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule para o 2 o desenho do acorde e ataque
individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2 o desenho. Repita várias vezes.
Fá maior Fá maior
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Do Sol
Do Fa Do
La Sol Do Sol
Do Fa Do
Fa Mi La Mi
Desenho 1 Desenho 2 Pestana!
PERSPECTIVA DESTRA
●
Monte os desenhos do acorde de Fá menor. Para o 1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule
para o 2o desenho do acorde e ataque individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2o desenho. Repita várias vezes.
Fá menor Fá menor
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Sol# Sol Do Sol
Do Fa Do
Fa Mi Sol# Mi
Desenho 1 Desenho 2
Do Sol Do
Si Sol Re Sol
Re Do Sol Do
Sol Mi Si Mi
Desenho 1 Desenho 2 A pestana pode pegar todos os pares ou excluir o par 5,
que aqui pode soar solto.
PERSPECTIVA DESTRA
●
Monte os desenhos do acorde de Sol menor. Para o 1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule
para o 2o desenho do acorde e ataque individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2o desenho. Repita várias vezes.
Do Do
PERSPECTIVA DESTRA
Sol Do Do
La# Mi Mi
Desenho 1 Desenho 2
Re# Do Fa Do
Fa Mi La Mi
Desenho 1 Desenho 2
Si Sol Fa Sol
Re Do Sol Do
Fa Mi Si Mi
Desenho 1 Desenho 2
Acordes especiais & exercícios
●
Realizando arrastão de palheta, de cima para baixo, monte e soe três vezes cada desenho de acorde forte. Soe apenas os pares e casas
indicadas (coloridos). Deixe soar! Repita a sequência várias vezes.
●
Para cada desenho de acorde realize um arrastão de palheta de cima para baixo; ao finalizar o arrastão ataque individualmente o par mais
inferior do acorde e em seguida um par superior que possua a outra nota do acorde. Repita três vezes esse procedimento por desenho de
acorde. Repita o procedimento várias vezes. Ex: arrastão no desenho 1 de Dó forte + ataque no par 1 (sol) + ataque no par 4 (do); etc.
PERSPECTIVA DESTRA
Dó forte Dó forte
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Sol Sol
Do Sol Do
Sol Mi Do Mi
Desenho 1 Desenho 2
Fá forte Fá forte
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Do Sol Do Sol
Fa Do Fa Do
Do Sol Do Sol
Do Fa Do
Mi Do Mi
Desenho 1 Desenho 2
Sol Re Sol
Re Do Sol Do
Sol Mi Re Mi
Desenho 1 Desenho 2
Acordes especiais & exercícios
●
Soando o acorde de Lá menor como ponto de partida e repouso, navegue em ponteados simples no par 1 e 2 em escalas nordestinas em Dó
– ponteie bastante!
●
Ao fim de suas navegação de ponteados, arme e soe o acorde de Ré maior. Se você quiser, encontre situações para montar e soar o Ré
maior durante os ponteados. Pratique bastante essas situações!
PERSPECTIVA DESTRA
Acorde de Lá menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
3 2 1 0
Sol
La
La
Do
Re
La
Re
Sol
+ La
Re
Do
Fa#
La# La Sol Fa Mi
Acorde de Lá menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol
La
Do Não tenha pressa em pontear
La Sol
pelas escalas. Intercale: monte o
Re Do
acorde e ponteie uma escala;
Si La Sol Fa# Mi
monte novamente o acorde e
Escala nordestina B
ponteie. Não se esqueça de
Acorde de Lá menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 encontrar momentos ao longo dos
Sol seus ponteados em que o acorde
La
Do de Ré maior possa ser montado e
La Sol
soado.
Re Do
Do La Sol Fa# Fa Mi
Escala nordestina C
PARTE 7
Arranjos & tablaturas
Este Caderno de uma viola em realejo é material instrucional fruto das atividades do projeto de
extensão VÁRIA – artes e violas na caatinga sediado na Universidade Federal do Vale do São
Francisco (UNIVASF), campus Serra da Capivara (São Raimundo Nonato PI). Assim como todas
as atividade do VÁRIA, este material é gratuito, sem fins lucrativos e tem o propósito exclusivo
de promoção e difusão da viola de dez cordas no Piauí e especialmente no semiárido.
Dito isso: os arranjos aqui apresentados são versões livres, simplificadas e adaptadas de temas
compostos, registrados e executados pelos seus respectivos autores. Não há neste caderno
qualquer intenção de explorar comercial ou publicitariamente tais temas. Os temas aqui
referenciados são propriedade de seus autores.
A fuga de Teméia de Rainer Miranda Brito. Gravação de referência: Sendeiro Âmbar (álbum), inédito.
Intérprete: o autor.
Disparada de Geraldo Vandré & Théo de Barros. Gravação de referência: Festival de Música Popular
Brasileira – TV RECORD, 1966. Intérpretes: Jair Rodrigues, Trio Novo & Trio Marayá.
Facho de Fogo de João Bá & Vidal França. Gravação de referência: Carrancas I (álbum), 1988. Intérprete:
os autores e músicos acompanhantes.
O Pedido de Elomar Figueira Mello. Gravação de referência: … Das barrancas do Rio Gavião (álbum), 1973.
Intérprete: o autor.
Uricuri de João do Vale & José Cândido. Gravação de referência: João do Vale (álbum), 1981. Intérprete:
Clara Nunes, João do Vale e músicos acompanhantes.
Tablaturas
As tablaturas apresentadas a seguir possuem marcação de duração das notas, útil para leitores
que tenham noção de leitura musical. No mais, tratam-se de tablaturas com visualização e
execução comuns, servindo como espelho da execução referência – sejam os vídeos
complementares que devem ser publicados aos poucos após o lançamento deste caderno, sejam
as tablaturas interativas online já acessíveis.
A leitura básica da tablatura para a viola é simples. Pressionar e atacar o Par 1 na casa 3
1/4
2/4
3/4
21/07/2020
4/4
Disparada
Théo de Barros & Geraldo Vandré
1/2
2/2
Facho de Fogo
João Bá & Vidal França
1/3
2/3
3/3
O pedido
Elomar Figueira Mello
1/3
2/3
3/3
Ponteio Acutilado
Antônio Nóbrega
1/3
2/3
3/3
Uricuri
João do Vale & José Cândido
1/3
2/3
3/3
PARTE 8
Complementos
Mapa geral de acordes
Círculo cromático das notas – modelo e informações complementares
Referências bibliográficas & recomendações de leitura
Mapa geral de acordes
Adiante estão os desenhos para acordes maiores, maiores com 7a e menores. Para cada acorde
são exibidos dois desenhos possíveis; no caso dos acorde maiores a nota correspondente a 7a
menor é indicada também no mesmo desenho caso queira se montar o acorde maior com 7a.
Lembre-se: há diversos desenhos possíveis para o mesmo acorde. Apresentamos adiante alguns
desenhos que julgamos mais intuitivos.
A fim de otimizar a exposição dos desenhos, em cada diagrama do braço de viola estão indicados todos os
desenhos apresentados para o respectivo acorde. Os desenhos estão diferenciados pela cor das notas e pares
que devem soar no acorde.
Do maior
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol
Do
Do Sol
Mi Do
La#
Sol Mi
Não é preciso fazer todos os pares indicados soarem se soando menos pares as notas do acorde estiverem
contempladas. Em geral a maioria dos desenhos que soam “cheios” são as notas do acorde + repetições de
algumas dessas notas. Monte o desenho do acorde que lhe for mais confortável.
Mapa de acordes PERSPECTIVA DESTRA
Do maior Do menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Mi Do Sol Re# Do
La# Sol Mi Do Sol Mi
Do# Do Do# Do
Fa Do# Do Mi Do# Do
Si Sol# Fa Mi Sol# Mi
Re maior Re menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
La Sol Sol
Re Do Do
Re La Sol Re La Sol
Fa# Re Do Fa Re Do
Do La Fa# Mi La Fa Mi
Re# Do Do
Mi maior Mi menor
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Si Sol Sol
Mi Do Mi Do
Mi Si Sol Mi Si Sol
Sol# Mi Do Sol Mi Do
Re Si Sol# Mi Si Mi
Fa maior Fa menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Do Sol Sol
Fa Do Do
Fa Re#l Do Fa Do
La Fa Mi Sol# Fa Mi
Sol Do Do
Sol Fa Re Do Sol Re Do
Sol# Do Do
Do Sol# Mi Si Sol# Mi
La maior La menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
La Mi La Mi
La# Fa Mi La# Fa Mi
Si maior Si menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Si Fa# Mi Si Fa# Mi
Círculo cromático das notas
Esta é uma ferramenta muito importante para se guiar neste material. Siga as instruções adiante
para imprimir e montar seu círculo cromático.
Para montar seu círculo cromático:
1) Imprimar os modelos (estão na próxima página) em uma folha A4;
2) Corte a folha impressa na metade -- no serrilhado indicado;
3) Cole a metade da folha onde está o círculo branco sobre um pedaço espesso de papelão, isopor, etc;
4) Cole a metade do círculo laranja sobre um pedaço de papelão e recorte-o depois de colado no papelão;
5) Com um alfinete ou preguinho fure o centro do círculo branco;
6) Coloque o círculo laranja sobre a peça onde está o círculo branco e furando o centro do círculo laranja,
deixe o alfinete/prego atravessar a peça a fim de que ele se encaixe no furo do círculo branco.
7) A peça onde está colado o círculo branco funciona como base para que o círculo laranja possa girar no
eixo, o preguinho/alfinete, que atravessa centro das duas peças.
Papelão/isopor
Informações complementares do círculo
cromático das notas
O círculo cromático das notas além de fornecer uma visualização numérica e intuitiva da disposição e
movimentação das notas (círculos branco e laranja), exibe também ao redor do círculo branco os nomes dos
intervalos tal como são conhecidos no pensamento musical tonal.
Como dito inicialmente, o círculo cromático tem a função neste caderno de guiar e reforçar nossa abordagem
modal, haja visto a apresentação e condução de nossa viola em realejo como um ambiente de modos na viola.
Isto é, como uma afinação que funciona com base em regras/conjuntos fixos entre a distância de notas que
podem ser tocadas e outras que não podem ser tocadas. Escolhemos por exemplo três modos nordestinos
como foco (os ponteados); lembra? Pensamos assim sempre a posição 0 – a nota chefe – como suporte e
referência dos modos e seguimos soando nossa realejo. Focamos nos números inteiros exatamente por isso:
para ressaltar e fixar a distância entre as notas e os conjuntos que elas formam em cada modo que opera
como regra/conjunto que pode ser tocado. Não há nota chefe fixa, qualquer nota pode ser a referência para o
conjunto desde que se respeite a distância, a cadência numérica do modo.
Preferimos não aprofundar o assunto dos modos para evitar confusões e para não expandir demasiadamente
este caderno. Lembre-se que você vai interagir fora deste caderno majoritariamente com um pensamento
musical tonal. Isto é, com um pensamento que ao invés de pensar a música como uma relação fixa de
notas/intervalos inteiros pelos quais se percorre uma linha melódica (modal), pensa a música como uma
complexa relação hierárquica de caminhos das notas para cada tom – isto é, tonal. Para mitigar esse “choque”
com o pensamento tonal, nosso círculo possui nomes complementares ao redor do círculo branco que
dialogam com as relações tonais para quando você precisar realizar pontes com o pensamento tonal.
→ Oitava Tônica →
Intervalos das “sétimas”
7o grau menor / 7o grau maior Intervalos das “segundas”
→ sensível / subtônica 2o grau menor / 2o grau maior
→ supertônica
→ superdominante /
submediante
6a menor = 5a aumentada.
Aqui estão reunidas algumas referências de leitura e conteúdo que conversam diretamente com este caderno.
Optamos por citar as referências mais amplas – que pudessem impulsionar o leitor para outras referências que aqui
não listamos. Tentamos também manter o foco no conteúdo relacionado à viola no âmbito musical nordestino.
Vale a pena visitar os itens da lista e a partir de cada item percorrer outras referências que ele oferece. Boas leituras!
ACERVO CEPE. S/D. Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco 45 anos. Disponível em <<
http://www.acervocepe.com.br/acervo/-orquestra-armorial-de-camara-de-pernambuco-45-anos >>.
Caçapa, Rodrigo. 2018. Violas eletrodinâmicas: um manual de construção. São Paulo: Garganta Records.
Corrêa, Roberto. 2019. Viola caipira: das práticas populares à escritura da arte. Brasília: Viola Corrêa.
Deghi, Fernando. 2001. Viola brasileira e suas possibilidades. São Bernardo do Campo: Violeiro Andante.
Dias, Saulo Sandro Alves. 2010. O processo de escolarização da viola caipira: novos violeiros inventano modas e
identidades. Tese de doutorado em Educação, Universidade de São Paulo.
Ferrete, J. L. 1985. Capitão Furtado: viola caipira ou sertaneja? Rio de Janeiro: Funarte.
Lima, Cássio Nobre. 2008. Viola nos sambas do recôncavo baiano. Dissertação de mestrado em Música, Universidade
Federal da Bahia.
Pereira, Amalle Catarina. 2014. A dádiva e as palavras no cantar dos repentistas: etnografia do repente no Piauí.
Dissertação de mestrado em Antropologia Social, Universidade Federal do Piauí.
PROJETO ESSA VIOLA DÁ SAMBA. S/D. Disponível em: << https://sites.google.com/view/essavioladasamba/ >>.
Queiroz, Rucker Bezerra. 2014. O Movimento Armorial em três tempos: aspectos da música nordestina na
contextualização dos Quintetos Armorial, da Paraíba e Uirapuru. Tese de doutorado em Música, Universidade Estadual
de Campinas.
Ribeiro, Vicente Samy. 2014. O modalismo na música popular urbana do Brasil. Dissertação em Música, Universidade
Federal do Paraná.
Sautchuk, João Miguel. 2009. A poética do improviso: prática e habilidade no repente nordestino. Tese de doutorado em
Antropologia Social, Universidade de Brasília.
Santos, Marília Paula. 2017. Ecos Armoriais: influências e repercussão da música armorial em Pernambuco. Dissertação
de mestrado em Música, Universidade Federal da Paraíba.
Souza, Andréa Carneiro. 2005. Viola instrumental brasileira. Rio de Janeiro: Artviva.
Taubkin, Myriam. 2008. Violeiros do Brasil. São Paulo. Ed. Myriam Taubkin.
UM BRASIL DE VIOLA – Tradições e Modernidades da Viola Caipira. S/D. Disponível em: <<
http://umbrasildeviola.blogspot.com/ >>.
www.varia.univasf.edu.br
Material sem fins lucrativos. O uso comercial de qualquer natureza deste material é expressamento proibido.
VÁRIA, São Raimundo Nonato, Piauí - 2020.