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CADERNO DE UMA

VIOLA
EM REALEJO
RAINER MIRANDA BRITO
Este caderno é um material integrante do projeto de promoção e difusão da
viola de dez cordas no Piauí VÁRIA – artes e violas na caatinga.

Acesse: www.varia.univasf.edu.br

Material sem fins lucrativos. O uso comercial de qualquer natureza deste material é expressamento proibido.
SUMÁRIO

Carta de apresentação sem título

PARTE 1. Prosa inicial – coisa de viola

PARTE 2. O círculo cromático das notas

PARTE 3. Ajustando a realejo

PARTE 4. O plectro – a palheta


EXERCÍCIOS

PARTE 5. As notas nos arames ponteados e escalas


EXERCÍCIOS

PARTE 6. As notas nos arames acordes


EXERCÍCIOS

PARTE 7. Arranjos e tablaturas


PARTE 8. Complementos
São Raimundo Nonato, 4 de Julho de 2020.

A você que aí está,


a viola é um instrumento teimoso e um pouco birrento. Não é bom arranjar muitas brigas com ela, é
melhor tentar um acordo porque superá-la na teimosia e na intuição é difícil...
Veja: a viola, presente desde muito cedo em minha jornada, rumou comigo pela Universidade Federal do
Vale do São Francisco enveredando até São Raimundo Nonato, no Piauí. Ficou aqui quietinha mas sempre
arranjava espaço para pontear uma musiquinha e outra – chegava até a assustar o povo por aqui. “Tem
assombração nesse lugar e deve ser alma penada de violeira véia!” dizia o povo que de repente por aqui
se encontrava com seus ponteados de surpresa. Eu tenho culpa nisso tudo, confesso. Sempre foi difícil
controlar a viola; ela me engana com essa história de “sou tímida, não quero ir” e subitamente lá está ela
ponteando e dominando o ambiente! O velho ditado “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”
acontece aqui ao contrário: por fora tímida e arredia, por dentro destemida e sem vergonha.
Essa viola afinada em realejo precisava de espaço, queria ser mais conhecida e mostrar que ela está bem
aqui no nordeste, que ela mora no Piauí e que gosta desse curioso lugar, o semiárido. Ela queria – olhe só –
fazer parte da história do lugar e da lembrança das gentes daqui e das gentes que soubessem que por
aqui ela está. Ainda que ela não possa fazer parte do passado – porque suas parentes violas por aqui
andam sumidas – insiste ela em marcar sua presença e brilha as cordinhas com a ideia de que talvez
lembrem dela amanhã. Quem sabe ela conseguisse uns parentes por aqui, não é? A viola em realejo
perguntou o que poderíamos fazer de propositivo quanto a isso. Sentamos para pensar e criamos este
Caderno de uma viola em realejo.
Ao longo de um ano pensamos como reunir aqui anotações e ideias de velhas e novas andanças da viola
em realejo. Resolvemos apresentar este caderno como uma sequencia musical e informativa da viola em
realejo tal como ela se vê: como uma viola parte da família das violas nordestinas.
Devemos frisar: este material não é um manual, um método ou um curso – ainda que seja um pouquinho
disso tudo. É um caderno, um apanhado de anotações organizadas que tem a intenção de mostrar
pensamentos ponteados de uma viola em realejo e como você pode entendê-los afinando e tocando uma
viola em realejo. Apresentamos deste modo uma concepção de viola com sotaque e lugar próprios.
É importante dizer que este caderno é pensado e apresentado como um caminho musical modal. A viola
em realejo e a breve teoria musical neste caderno são perspectivas sobre as estruturas de relações entre
as notas musicais e sua distribuição como conjuntos numéricos inteiros autorreferenciados. Esse caminho é
relativamente plano e simples – e intencionalmente limitado, tal como toda estrutura modal.
Este Caderno de uma viola em realejo possui oito partes. Ao longo delas estão distribuídas reflexões e
apontamentos de pesquisa, instruções e exercícios de execução da viola em realejo, arranjo de um
pequeno repertório construído para este caderno e algumas informações complementares sobre os
conteúdos. O título das partes são auto explicativos e o sumário é um bom panorama do caderno.
Nos esforçamos para tornar o caderno intuitivo e instrutivo sem que ele abandonasse seu tom informal e
temático. Talvez em algumas passagens ele pareça rápido ou lento demais; recomendamos que você
tenha paciência: avance aos poucos e sempre que sentir necessidade recue algumas páginas para revisitar
algo que não tenha feito muito sentido.
Embora o miolo deste caderno seja resultado de nosso longo, austero e solitário trabalho, gostaríamos de
agradecer às pessoas que direta e indiretamente nos tiraram hora ou outra dessa solidão. Quer fosse
interessando-se pela ideia deste caderno, sugerindo ideias, lembrando de coisas de viola ou fazendo fluir
boas prosas. Agradecemos diretamente à Paula Layane e Turina, Levi Ramiro, Luciano Queiroz, Júlio
Santin, Roberto Corrêa, Fernando Deghi, Marina Ebbecke, Gabriel Souza, Adalton Marques, Leilane Latorre,
Renato Cardinali, Hugo Linns, Rodrigo Veras, Cristiano Oliveira, Joaquim Izidro, Sanfoneira Sebastiana,
Anna Carolia Borges, Marinaldo Ribeiro, Agnaldo Ribeiro, Gil Iack Ximenez, Sandro Guimarães, Fábio
Martins e tantas gentes mais que não citamos por serem tantas que nossa memória falha em lembrar.
Ressaltamos que este caderno é uma das ações do VÁRIA – artes e violas na caatinga, projeto de
extensão da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) sediado no campus Serra da
Capivara, em São Raimundo Nonato PI.
O VÁRIA tem sido o mote de um objetivo maior: promover e difundir através do ensino, da divulgação
cultural e científica a viola de dez cordas no Piauí, especialmente no semiárido.
Esperamos que esse caderno seja útil tanto para aqueles que nunca tocaram uma viola de dez cordas
antes como para aqueles que já a conhecem de algum modo.

Boa jornada adiante!


Que a viola em realejo ressoe e ecoe pelos labirintos daí.

Rainer Miranda Brito & uma viola em realejo


PARTE 1
Prosa inicial – coisa de viola

Ilustração: montagem sobre xilogravura popular


Conversa, S/D.
A VIOLA DE DEZ CORDAS

A viola é um cordofone de cordas pinçadas de origem ibérica. Embora haja muitas versões sobre sua
história de origem e de difusão, há algum consenso sobre o fato de que a viola se configurou ao longo
dos séculos da relação Portugal-Brasil como um instrumento chamado de viola de arame. E por que de
arame?

Bem… a história é longa! Resumidamente diríamos: foram chamadas de violas de arame porque não
eram mais de tripa. Diferentemente de suas tias-avós, a vihuela e o alaúde, e de sua avó, a guitarra
barroca, a viola que conhecemos é encordoada com cordas de arame (metal) e não com cordas de
tripa. Ainda que isso soe um pouco genérico, é assim que conseguimos falar de tantas violas diferentes
com uma só expressão.

A diversidade das violas de arame é enorme! No Brasil as violas de arame se desenvolveram de tantos
modos que já é obrigatório, sempre que se lembra de viola por aqui, dizer: “são dezenas de afinações!
São inúmeros jeitos de construir; são muitas técnicas de ponteio e rasgueio! Tem de dez, doze, sete, oito,
treze, cinco cordas. Faz-se viola com mesa de cozinha, porta de curral, com angico e cedro, cabaça,
bambu, com tudo que é madeira!

Encontramos violas de diversos tamanhos e formatos, encordoadas de variadas maneiras e afinadas


diferentemente. Temos notícias de violas de dez cordas – cinco ordens duplas; violas de doze cordas –
seis ordens duplas ou três ordens duplas e duas triplas; violas com sete cordas – quatro ordens simples e
uma ordem tripla.
Mas foi com cinco ordens de cordas duplas, com dez cordas, que a viola se
popularizou de norte a sul do Brasil, especialmente ao longo século XX graças à
sua presença na fonografia da música raiz e regional brasileira. A viola de dez
cordas se tornou bem conhecida em sua variante do sudeste, a viola caipira. E
apesar de muita gente conhecer e se referir à viola de dez cordas no Brasil
como viola caipira, é importante pontuar que ao chamarmos a viola de viola de
dez cordas enfatizamos a variedade do instrumento no Brasil antes pela sua
morfologia, com suas dez cordas, do que pelos seus variados adjetivos
identitários regionais. Não se trata porém de uma substituição dos nomes
regionais das violas no Brasil – caipira, sertaneja, caiçara, nordestina, etc – e sim
apenas de uma tentativa de contemplar genericamente as violas de dez cordas
no Brasil.

Essas dez cordas estão arranjadas, na maioria das violas no Brasil, em pares de
cordas com calibres diferentes. Geralmente os pares inferiores possuem calibres
finos onde o par de cordas é composto por duas cordas iguais; já os pares
superiores, os bordões, costumam possuir uma corda grossa e uma corda fina
por par. Os pares de cordas finas em geral são afinado em uníssono, a mesma
nota na mesma altura para ambas as cordas, enquanto os pares com cordas
fina e grossa são afinados na mesma nota em alturas diferentes. É a questão da
afinação!

Mas antes de tratarmos da afinação: como é uma viola de dez cordas?


A morfologia da viola de dez cordas é a seguinte:

Mão: peça unida ao braço e responsável por alojar as dez tarraxas, os


mecanismos que fixam uma extremidade das cordas e permitem
s
a xa aumentar e diminuir a tensão de cada corda.
a rr
o /T
Mã Braço: peça de madeira alongada, o pescoço da viola! O lugar onde
estão fixados os trastes, tiras metálicas que dividem a face do braço em
casas. É entre os trastes, nas casas, que se pressiona as cordas para
obter variações de notas no instrumento. Para facilitar a contagem das
o
raç casas formadas pelos trastes, a maioria das violas marcam as casas 3, 5,
B 7, 9 e 12. É no fim do braço que está a mão.

Cavalete: peça de madeira responsável pela transmissão da vibração


das cordas para o tampo e, assim, para a caixa do instrumento. É no
cavalete que se aloja o rastilho, a peça feita de osso ou material sintético
pressionada pelas cordas da viola que estão fixadas no cavalete e na
e
alet mão da viola.
v
Ca

aixa Caixa: composta por tampo, laterais e fundo. É o bojo da viola, o corpo
C de ressonância do instrumento. Possui uma abertura, a boca,
ornamentada pela roseta, mosaico/desenho em volta da boca. É sobre a
caixa que está colado o cavalete.

PERSPECTIVA DESTRA
As cordas: há diversas maneiras de nomear as cordas da viola – primas, requintas, canotilho,
etc. Para simplificar vamos nomeá-las assim:

PAR 5. Último par superior. 1 corda fina, 1 corda grossa respectivamente.

PAR 4. Penúltimo par superior. 1 corda fina, 1 corda grossa respectivamente. pares
ca
lib

oitavados
re
da

PAR 3. Par intermediário. 1 corda fina, 1 corda grossa respectivamente.


s
co
rd
as

PAR 2. Penúltimo par inferior. 2 cordas finas idênticas.


di
m
in

pares
ui

PAR 1. Último par inferior. 2 cordas finas idênticas. uníssonos

E como se toca uma viola de dez cordas?

A maioria das violas de dez cordas são tocadas com ponteio, com o pinçar das
cordas para solos e fraseados, e com rasgueio, com o arrastar sobre todas ou
quase todas as cordas para desenvolver levadas. Hoje é comum encontrar
violas executadas com mistos de ponteio e rasgueio tanto com técnicas
dedilhadas totalmente com as unhas quanto com técnicas dedilhadas utilizando
a dedeira como guia de dedilhados com as unhas. Ainda que menos comum, o
uso de plectro, de palheta, também está presente entre as técnicas de execução
das violas de dez cordas.

Bem… falar de viola é assunto que não se acaba e nem fica pouco! Falemos um
pouco das afinações.
SOBRE AS AFINAÇÕES

São muitas as afinações da viola de dez cordas.


Tem gente que fala de vinte, trinte e até quarenta afinações catalogadas. Não há
consenso ou conhecimento aprofundado sobre as origens e a difusão das
afinações de viola no Brasil, mas é seguro afirmar que hoje, apesar das muitas
PERSPECTIVA DESTRA

afinações existentes, apenas seis estruturas de afinação parecem ter se mantido


populares e efetivamente executadas.
Apenas seis estruturas? Mas não era quase quarenta afinações?

Pois é! Depende do que definimos como uma afinação. Se um mesmo conjunto


de notas relacionadas é ajustada em alturas diferentes temos então afinações
diferentes? Não exatamente! Pois para efeitos de compreensão da estrutura de
relações que compõe uma afinação a altura absoluta das notas em um conjunto
não importa muito. Por exemplo: uma afinação qualquer afinada em Mi ou Ré ou
Dó ainda mantém sua estrutura, mudando a nota de referência.

É difícil resumir, mas poderíamos dizer que uma afinação se trata do


tensionamento das cordas da viola de modo que elas estabeleçam relações
sonoras por meio de intervalos. Isto é, relações de distância da nota de uma
corda para a nota de outra corda. Se uma nota do conjunto sobe, todas
precisam subir proporcionalmente; se uma nota desce, todas precisam descer
proporcionalmente.

Costumamos pensar e apresentar uma afinação com as cordas da viola soltas


usando uma nota de referência “chefe” para ilustrar a estrutura de uma
afinação.
Atualmente as afinações mais populares e efetivamente executadas nas violas de dez cordas no Brasil
são: a cebolão, a rio abaixo e a natural. Afinações como a rio acima, a boiadeira e a meia-guitarra ainda
que não sejam tão populares têm sido executadas por diversas violas pelo Brasil. Outras afinações de
viola catalogadas no Brasil se tornaram matéria de curiosidade e registro. A maior parte delas são hoje
ilustres desconhecidas, sendo em geral socialmente reconhecidas mas musicalmente abandonadas.
Há também o curioso fato de que o mesmo nome de afinação é utilizado, em diferentes regiões no
Brasil, para estruturas de afinação distintas. É, por exemplo, o caso da paraguaçu que em regiões do
Ceará, Pernambuco e Bahia diz respeito à estrutura da rio abaixo, mas que em regiões do Sudeste faz
referência a uma alteração no par 1 da estrutura da natural. Para evitar tais confusões utilizaremos
nomes das estruturas das afinações que são unívocos.

E por que muitas afinações deixaram de ser tocadas? Por que poucas estruturas de afinação, em
comparação ao número de registros, mantiveram-se cultivadas?

É difícil responder. Digamos que as afinações que se mantiveram populares e/ou efetivamente
executadas talvez assim permaneceram graças à existência de repertório próprio, ao desempenho de
função social específica (especialmente em manifestações populares) e, não menos importante, devido à
compatibilidade com encordoamentos disponíveis. Muitas estruturas de afinação parecem ter sumido
com manifestações populares que esmaeceram, com mestras e mestres que faleceram; e diversas
estruturas de afinação parecem ter sido abandonadas devido à padronizações na indústria de
encordoamentos que ao mesmo tempo em que facilitaram o suprimento de cordas favoreceram mais
algumas afinações do que outras. Outros instrumentos, como o violão, o acordeom e o cavaquinho,
também vieram, em diversos casos da música popular e erudita brasileira, ocupar posições musicais
antes ocupadas pela viola de arame no Brasil.
Algumas das afinações que se mantiveram bastante conhecidas e executadas:

Cebolão PERSPECTIVA DESTRA


Aspecto: Mi maior Afinação característica do sudeste e regiões do centro-oeste. É
a afinação dos cururus, das querumanas, do catira, das modas
de viola – e do pagode de viola: Há registros desta estrutura de
afinação também com os nomes Da viola, Paulista. Tornou-se a
afinação de viola mais conhecida nos últimos tempos.

Natural
Aspecto: Mi menor + Lá + Ré Afinação muito parecida com a afinação padrão do violão.
Famosa na cantoria nordestina, no samba do recôncavo
baiano e no centro-sul. Historicamente é a afinação com mais
registros e reconhecimento; é a mesma afinação da guitarra
barroca! Esta estrutura de afinação é encontrada pelo Brasil
também com os nomes Quatro ponto, Oitavada, De cantoria.

Rio Abaixo Bem conhecida em regiões de Minas Gerais, Mato Grosso do


Aspecto: Sol maior
Sul, Bahia, Pernambuco e Ceará. Além de correr entre as mãos
de paraguaios, argentinos e brasileiros com suas polcas e
chamamés, está presente em reisados do nordeste – e nos
braços dos violeiros das Minas Gerais. Esta estrutura de
afinação é encontrada pelo Brasil também com os nomes
Violada, Paraguaçu, Guitarra inteira, Cebolinha, Três Cordas.
... e algumas afinações menos conhecidas mas ainda executadas:

Boiadeira PERSPECTIVA DESTRA


Aspecto: Mi maior + Lá

Afinação muito parecida com a cebolão. Conhecida e usada no


centro-oeste e em regiões de Minas Gerais. Há registros desta
estrutura de afinação também com os nomes Itabira,
Criminosa.

Meia-guitarra
Aspecto: Sol maior + Dó
Afinação muito parecida com a rio abaixo e está geralmente
associada a ela. É conhecida e tocada em quase todos os
lugares onde ocorre a rio abaixo. Esta estrutura também é
reconhecida pelos nomes Cebolinha pelo meio, Pelas três
cordas, Guitarra, Travessa.

Rio Acima
Aspecto: Dó maior
Afinação pouco comum, conhecida em regiões do centro-oeste;
popularizada por usos e gravações de viola instrumental das
últimas décadas. Sua estrutura possui uma característica
parecida à cebolão no que diz respeito à disposição e repetição
de notas entre as cordas – as notas das cordas se repetem a
cada dois pares.

… e outras mais que talvez a gente encontre em violas tocando por aí!
A maioria dessas afinações à viola de dez cordas montam suas estruturas como
acordes abertos; isto é, como um conjunto de notas consonantes que, ferindo
todas as cordas soltas juntas, soam três notas – mesmo que algumas delas se

PERSPECTIVA DESTRA
repitam – e formam um estrutura sonora. Veja que acima de cada afinação há o
aspecto = natureza/tipo de acorde que soa ao ferir todas as cordas soltas.
Na maioria dos casos esses acordes abertos na viola são acordes maiores
(veremos isso mais para frente).
Lembre-se: uma afinação na viola de dez cordas tem menos a haver a altura
das notas em conjunto (o “nome das notas”) e mais com a relação entre as
notas de cada par de cordas da viola. Um caso bem conhecido é o do cebolão. É
fácil encontrarmos violas afinadas em cebolão em Mi maior, mas é também
cada vez mais comum ouvirmos violas por aí afinadas em cebolão em Ré maior.
A diferença entre elas? A altura das notas e, consequentemente, a tensão das
cordas: no cebolão em Mi as cordas estariam mais firmes e tensas, no cebolão
em Ré as cordas estariam mais macias e moles
Certo, mas agora com essa conversa tudo está um pouco confuso, não é? Aliás,
cadê a realejo?

Pois a realejo está aqui, oh! >>


Do par 5 ao par 1 temos Sol, Dó, Sol, Dó, Mi. Um Dó maior!

Para colocar a prosa na linha, ajeitando a essa conversa das notas, vamos falar
um pouquinho, de modo simplificado, de teoria musical.
PARTE 2
O círculo cromático das notas
Antes de prosseguir...

… vá para a Parte 8 deste caderno, imprima e monte o seu círculo


cromático das notas! Sem ele você não deve prosseguir – you shall
not pass!
CIRCULANDO AS NOTAS

Vamos lá: é provável que já tenhamos ouvido alguém cantando Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – e – Dó. E o que
é isso mesmo? Poderíamos dizer que isso é um jeito de dividir e organizar sequencialmente as notas
musicais que conhecemos na música ocidental; e como a gente é ocidental pensamos assim.
Sabemos que existem 7 notas diferentes. Certo? Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – e o Dó começaria tudo de
novo. Bem... na verdade existem 12 notas diferentes. Quando a gente pensa 7 notas estamos
concordando com parte da filosofia da música ocidental e sua curiosa matemática: cada uma das 7
notas não vale 1. Algumas notas dentre essas 7 notas valem 1/2. E então somando o que vale cada uma
dessas 12 notas, o resultado é 7. Um pouco contraintuitivo, não é?
Como buscamos focar a viola e a realejo podemos simplificar essa prosa. Utilizaremos um jeito diferente,
básico e intuitivo de mostrar as notas e sua organização. Você não precisa entender isso agora, mas é
importante declararmos que nossa abordagem neste caderno é mais modal do que tonal. Isto é,
estamos mais interessados nas distâncias entre as notas, a equivalência numérica delas no círculo
cromático, do que com os nomes e seus campos de possibilidades. Pensamos as notas como momentos
transitórios de números inteiros – o que é fixo são os números e não as notas!
Daqui em diante devemos lembrar de três regras para tratar das notas e tudo que se relaciona a elas.
Primeira: ao invés de pensar a sequência das notas em linha reta vamos pensar nelas sempre dispostas
em um círculo de 12 posições iguais.
Segunda: vamos considerar que ao invés de 7 existem 12 notas e que a distância de uma nota para outra
é sempre igual – e que as notas correspondem a números inteiros.
Terceira: cada nota se associada a um número no círculo de 12 posições iguais.
Compreendemos melhor essas três regras olhando o círculo cromático das notas!

Este círculo é um guia para pensarmos e


entendermos as notas. Vejamos nossas três
regras:
Primeira: note que o círculo possui 12 posições iguais (0 a
11).
Segundo: veja que existem 12 notas organizadas e que a
distância de uma nota para outra é sempre igual.
Terceiro: observe que cada nota se associada a um
número no círculo de 12 posições. Há somente números
inteiros.
Note que há dois círculos: o círculo laranja, onde
estão organizadas as notas e o círculo branco, onde
estão dispostos os números. O círculo laranja é
móvel, ele gira em ambos os sentidos, já o círculo
branco é fixo. Novamente: os números são fixo, as
notas são móveis!

Em torno do círculo branco estão os nomes musicais


comumente associados ao intervalos, mas não os utilizaremos aqui. Estão ali apenas a título informativo.

Este círculo cromático nos mostra assim doze intervalos iguais, numerados, e uma constelação de notas
dispostas cromaticamente – isto é, com todas as 12 notas. Ele será uma ferramenta para entendermos
tanto a sequência das notas quanto as combinações entre elas. Não se esqueça de imprimir e montar o
seu círculo cromático antes de continuar – eles está na Parte 8 deste caderno.
E como ele funciona?
Ele funciona como um círculo que gira dentro de outro círculo – e isso nos indica como toda relação entre
notas musicais é sempre cíclica. O que importa, além de conhecermos as notas, é saber que elas são
elementos que mantém distâncias iguais entre si. Por isso neste
círculo cromático toda nota sempre está alinhada a um número.
Vejamos: ao girar o círculo laranja e posicionar uma nota
qualquer na posição 0 do círculo branco, temos todas as
relações da nota fundamental (posição 0) com as outras notas.
Conseguimos saber que depois do Dó vem o Dó# (dó
sustenido) e que depois do Ré vem o Ré# (ré sustenido) e
assim por diante. Além de nos ajudar a entender a sequência
das notas, mostrando que elas se organizam como uma
progressão de distâncias iguais (1, 2, 3, 4, 5… ), o círculo
cromático nos ajuda a associá-las.
Um exemplo: ao combinar as posições 0 4 7 temos um acorde maior.
Então se o Dó está na posição 0, o Mi está na posição 4 e o Sol está na
posição 7: temos um Dó maior! Essas notas parecem familiares, não?
Pois é, são as notas da realejo: Dó, Mi, Sol. É por isso que a realejo está
em Dó maior, porque possui três notas que formam um acorde maior
de Dó. Ou seja, quando o Dó está na posição 0 as outras duas notas
ocupam as posições 4 e 7. Quem dá nome ao acorde é a nota que
estiver na posição 0.
Nosso círculo cromático possibilita ainda que identifiquemos sequências das notas, uma escala, e as
relacionemos também para formarmos um acorde, um conjunto de notas que se combinam.
Ao progredir a sequência das notas (sentido horário; 0, 1, 2, 3 …) subimos a escala (vamos para notas mais
agudas). Ao regredir a sequência das notas (sentido anti-horário; … 5, 4, 3, 2 …) descemos a escala (vamos
para notas mais graves). Uma escala é, portanto, uma sequência de notas organizadas percorridas uma
a uma. Lembremos do famoso Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – e
Dó! Essa é a escala de Dó maior. Analisando as notas
e os números no círculo cromático, estando o Dó na
posição 0 (lembrando que a posição 0 é a referência
das relações) temos para a escala de Dó maior uma
progressão das posições: 0 2 4 5 7 9 11. Se girarmos o
círculo laranja colocando uma nota qualquer na
posição 0 e refizermos essa progressão obtemos a
escala maior da nota que estiver na posição 0! E se
continuarmos progredindo a escala, repetindo o 0, 2,
4, etc, estamos tocando as mesmas notas em um
ciclo posterior onde elas são mais agudas. É isso o
que se chama popularmente de uma oitava acima.
Por que oitava? Porque diz respeito à repetição do
ciclo após percorres as 7 notas naturais – onde com a
1a repetição seriam 8 notas. Mas não devemos
esquecer que não são 7, mas sim 12 notas, certo?
Então ao progredir na escala (sentido horário) cada nota percorrida é mais aguda que sua anterior. E ao
regredir na escala (sentido anti-horário) cada nota é mais grave que sua anterior.

Em suma: tudo se resume às relações, às distâncias entre as notas. Fazer música, no fundo, é passear por
essas distâncias, subindo e descendo!
Acorde, escala e etc, tudo ainda um pouco confuso! Para evitar que a prosa se desalinhe vamos olhar
com atenção o círculo cromático.
O círculo cromático tem números e
notas – e é isso que precisamos guardar
e entender. Um acorde e uma escala
são notas associadas. A diferença é que
o acorde associa, normalmente, três
notas de uma vez só: elas soam juntas.
A escala é a progressão, ou a
regressão, de uma sequência de notas
associadas: elas soam uma a uma e não
em conjunto. Veja: o círculo cromático é
como uma escala cromática. Ele é uma
escala com todas as 12 notas!
Mas e o acorde maior? Um acorde
maior é formado pelo soar conjunto das
notas nas posições 0 4 7. E o acorde
menor? O acorde menor é o soar
conjunto das notas nas posições 0 3 7. É
isso mesmo, só muda uma posição
entre acorde maior e acorde menor.
Uma escala maior é a progressão (ou regressão) que percorre as posições: 0 2 4 5 7 9 11. E uma escala
menor é a progressão (ou regressão) que percorre as posições: 0 2 3 5 7 8 10. Então o truque é: lembrar
das posições (dos números) para percorrer e combinar as notas.
O aspecto dos acordes e das escalas

Para simplificar a prosa utilizamos o termo aspecto para definir a natureza, o tipo de associação das
notas de um acorde ou de uma escala. Até agora mostramos dois aspectos: o aspecto menor e o
aspecto maior – sim, existem muitos outros mas não trataremos deles agora.

Veja: o aspecto nada mais é do que o padrão de associação entre as notas.

Como dissemos há pouco, o aspecto maior é o aspecto que referencia as posições 0 2 4 5 7 9 11. Com
esse aspecto podemos montar um acorde maior – a associação sincrônica das posições 0 4 7 – e uma
escala maior – associação serial de todas as posições deste aspecto. Com o aspecto menor, que
referencia as posições 0 2 3 5 7 8 10, podemos montar um acorde menor – associação sincrônica das
posições 0 3 7 – e uma escala menor – associação serial de todas as posições deste aspecto.

O tratamento que damos à disposição das notas musicais neste caderno é baseado na lógica de números
inteiros que organiza e “faz girar” o círculo cromático. Você não precisa se preocupar com isso agora, mas
a maneira como apresentamos aqui acordes e escalas nada mais é do que um jeito de expor um
pensamento sobre modos musicais. Isto é, uma maneira de apresentar “regras” de relações entre as
notas, sempre como unidades inteiras, que se arranjam em estruturas definidas declaradas pelas posições
numéricas do círculo cromático.

Tudo que se apresenta neste caderno em relação à viola em realejo caminha nessa direção: de reforçar
um pensamento modal de como organizar, associar e soar as notas em nossa viola. Interessa-nos os
números inteiros, as distâncias entre eles e a nota de referência – posição 0. É importante que você evite
sobrepor ao círculo cromático e olhar para esse caderno com nomes e referências de um pensamento
musical tonal – que possui complexidades e temas aqui ausentes.
O aspecto da afinação
Sabemos que as notas Dó + Mi + Sol formam o acorde de Dó maior (satisfazendo as posições 0 4 7 no
círculo cromático). São essas as notas que compõem a realejo, uma afinação que soa um Dó maior
quando feridas todas suas cordas soltas. Em geral se usa o termo “tom”
como sinônimo da natureza de acorde de referência de um exercício
musical qualquer. Mas não usaremos a ideia de “tom” por aqui.

Por quê? Porque o “tom” é uma ideia do pensamento musical


tonal e tem definições que não nos convém neste caderno. Por
isso ao invés de dizer que o “tom” da afinação é maior ou menor,
dizemos apenas que a afinação tem o aspecto maior ou
aspecto menor.

Dizemos assim que realejo é uma afinação aberta com aspecto


de Dó maior, porque possui as notas que se associam para
formar o acorde de Dó maior. Mantemos portanto que já foi
dito sobre a utilização do termo aspecto, ok?

PERSPECTIVA DESTRA
Recapitulando a prosa do círculo cromático:

Acorde é uma associação geralmente de três notas que soam ao mesmo tempo.

Acorde maior é a associação das notas nas posições 0 4 7.

Acorde menor é a associação das notas nas posições 0 3 7.

Escala é uma progressão (ou regressão) de uma série notas que soam uma de cada vez.

Escala maior é a progressão (ou regressão) que percorre as notas nas posições 0 2 4 5 7 9 11.

Escala menor é a progressão (ou regressão) que percorre as notas nas posições 0 2 3 5 7 8 10.

Escala cromática é a progressão (ou regressão) que percorre todas as 12 notas – as 12 posições – que
conhecemos. É o sistema no qual o círculo cromático está organizado.


Aspecto é o termo pelo qual referenciamos a natureza, o tipo de associação de um conjunto de notas
que servem para armação de um acorde ou de uma escala. Exemplo: a realejo é uma afinação com
aspecto de Dó maior, a rio abaixo em Sol maior; escala possui um aspecto de Dó maior, etc.

Com essas noções básicas de nomenclaturas e com o auxílio do círculo cromático das notas podemos:
1. identificar as notas que compõe um acorde maior ou menor qualquer;
2. deduzir escalas a partir de um acorde qualquer;
3. montar escalas para quaisquer aspectos;
4. transpor escalas e acordes de um aspecto para outro.

E para fazer tudo isso basta girar o círculo laranja e prestar atenção na relação da nota que estiver na
posição 0 do círculo branco com as demais notas nas outras posições.

Mantenha o círculo cromático sempre por perto!


Talvez seja legal guardar ele junto da viola...
PARTE 3
Ajustando a realejo
UM REALEJO (DE ARAME)

Daqui em diante focaremos as peculiaridades de execução e concepção da viola de dez cordas em realejo.

A realejo não é uma afinação muito conhecida. Diferentemente das demais afinações, especialmente das
mais populares (cebolão, rio abaixo e natural) que se consagraram tanto pelos discos quanto pelas
pesquisas ao longo do Brasil, a realejo aparece, extraoficialmente, como uma curiosidade. Ela é citada
“por escrito’, pela primeira vez, no encarte do LP A Magia da Viola de 1987 do violeiro Renato Andrade,
disco onde Renato a utiliza em duas músicas: Ponteado caipira e Viola bem temperada. No encarte
desse disco ela é descrita como “uma afinação que Renato conheceu ainda na infância (…) no tom de dó
maior”. Curiosamente esta é a única referência fonográfica que se tem notícia da realejo.
A outra referência importante à realejo aparece no final da década de 1990, nas denominações das
afinações presentes nos envelopes dos jogos de encordoamento da Giannini linha Cobra para viola de
dez cordas - cuja calibragem, arranjo de tensões por afinação e curadoria geral foi elaborada pelo
violeiro Fernando Deghi.

Na literatura de pesquisa e catalogação das violas de arame no Brasil a afinação conhecida que mais se
aproxima da estrutura da realejo é uma afinação que foi apresentada pelos folcloristas do sudeste como
vencedora (do par 5 ao par 1: Lá – Ré – Lá – Dó# - Fá#; que se transposta 2 intervalos abaixo: Sol – Dó –
Sol – Si – Mi). Mas, como se pode notar, a nota do par 2 não repete a nota do par 4, tal como ocorre na
realejo.

Então quer dizer que a afinação realejo, oficialmente, não existe?


Na teoria? Não, ela não existe.
Na prática? Sim, ela existe!
Teoricamente ela não existe. Por quê?

Porque se considerarmos que as afinações de viola que “existem de fato” são aquelas que foram
catalogadas e/ou mencionadas por pesquisas folclóricas e/ou documentais em torno da viola como
instrumento popular e/ou erudito até hoje, a realejo não é mencionada.
Mas se consideramos isso, que as afinações existem “oficialmente” apenas se citadas em documentos e
pesquisas anteriores, temos coisas a perder. Perdemos por exemplo informações secundárias
importantes sobre a atuação de violeiros e suas violas na indústria fonográfica; perdemos detalhes da
informalidade musical e material da viola de dez cordas tão característica em todas as regiões do Brasil;
perdemos a figura dos violeiros como sujeitos criativos musicalmente capazes de elaborar relações
musicais derivadas daquelas compreendidas como tradicionais.
Mesmo com essas perdas potenciais, a via teórica das pesquisas e dos documentos são fontes
importantes e confiáveis sobre informações históricas e musicológicas da viola de dez cordas no Brasil.
Precisamos sempre mantê-las no horizonte.

Praticamente ela existe! Por quê?

Porque ainda que a realejo não figure entre as afinações reconhecidas pela literatura sobre as violas de
arame no Brasil, aqui está ela: afinada na minha viola! E lá esteve ela na viola de Renato Andrade para
uma gravação em 1987; lá está ela ressoando na memória de repentistas e reiseiros nordestinos. Seu som
característico parece habitar uma zona cinza de lembrança das violas nordestinas: a combinação forte
de suas notas e o “empurrãozinho” que a afinação nos dá para modos de tocar e pensar próprios da
música nordestina, nos coloca uma desconfiança de que essa afinação não existe por acaso em uma
viola de arame no Brasil – e que, não por acaso, soe tão imponente quando tratada como uma afinação
de viola nordestina.
A estrutura da realejo difere consideravelmente das outras afinações conhecidas.
PERSPECTIVA DESTRA


A repetição de notas entre os pares é alternada e não a cada dois
cebolão
pares como em outras afinações;

A nota que define aspecto da afinação (posição 4 para maior e 3
para menor – referente às posições no círculo cromático) está
localizada no par 1, característica rara entre as afinações
conhecidas;
rio acima

Sua tessitura (a distância da nota mais grave até a nota mais
aguda), considerando as cordas soltas, é uma das maiores que se
tem notícia;

Os desenhos de escalas duetadas (os ponteados de viola feitos
em dois pares vizinhos) tem uma lógica diferente dos desenhos rio abaixo
presentes na maioria das afinações conhecidas.

A sonoridade da realejo corresponde a uma expectativa


popular do “som nordestino”: um som ressonante, que chega
forte e direto e com a tendência de suprimir a nota que torna realejo
o acorde maior ou menor – neste caso, o Mi localizado no
par 1. Ao pressionar par 1 na casa 3 nós temos um acorde
“forte”: nem menor, nem maior; todas as cordas soam neste
caso como Sol e Dó apenas!
E essa coisa do “som nordestino”? Tem verdade nisso ou é só especulação?

Talvez um pouco dos dois: é especulação e verdade. É especulação porque,


como já dito, não há até então um registro oficial da realejo na literatura de
pesquisa de viola no Brasil, tampouco no nordeste. E tem sua verdade porque
esta é uma afinação que, ao menos no sudeste do Piauí, chama muito a
atenção dos repentistas com suas violas de cantoria!

Não foram raras as vezes que minha viola em realejo foi referenciada por
poetas repentistas como uma viola “afinada em uma afinação que só se ouvia
no tempo dos antigos”. O apelo da sonoridade nordestina da realejo se
intensificou ao longo dos anos conforme fui compondo e tocando músicas
envolvendo escalas e estruturas “nordestinas” que sempre caíam muito bem à
realejo. Até os ponteados mais intuitivos, aqueles sem compromisso,
acabavam se tornando uma brincadeira entre escalas e melodias nordestinas.

Soa razoável que a realejo seja vista como uma afinação do (e no) nordeste; temos elementos que nos
ajudam a sustentar essa ideia. Divaguemos um pouco: o nome realejo é um nome bem conhecido no
nordeste e está diretamente associado a imagens musicais. A primeira figura que vem à mente, para
maioria das pessoas do (e no) nordeste, é daquele antigo instrumento à manivela. Aquele instrumento
que era empurrado em um carrinho por um tocador; este, na maioria das vezes, acompanhado de um
passarinho que por uns trocados pegava um bilhete o os entregava àqueles que chegassem para ver e
ouvir, como na valsa de Custódio mesquita Velho realejo, “um realejo a cantar”.
No sudeste do Piauí os reisados dos antigos, dizem alguns reiseiros, empregavam
diversos instrumentos que não se usam mais – e entre eles estavam a viola e a gaita
de boca, o realejo.
É essa a segunda imagem que vem à mente ao pensar em realejo: a gaita de boca, a
harmônica. Instrumento tão popular nas referências literárias e folclóricas
nordestinas. Não por acaso é uma gaita dessas que Chicó guardava em um bolso – e
com ela João Grilo ludibriou um cangaceiro para morrer e desmorrer e ir conhecer o
Padre Cícero! Essa passagem do Auto da Compadecida de Ariano Suassuna ilustra a
memória que essa gaitinha murmurou sertão afora.

A terceira imagem que vem à mente ao pensar em realejo é a do instrumento mais


recente nessa história; um instrumento caro e dominante, capaz de deixar os outros
instrumentos em segundo plano devido ao seu volume e sua performance: o
acordeom. Luiz Gonzaga, não raramente, chamava seu acordeom de realejo – e
assim o faziam esporadicamente Sivuca, Dominguinhos e muitos outros. Talvez pela
semelhança entra a gaita de boca e o acordeom? Talvez! Um é tocado com fole,
outro com sopro, mas o princípio de funcionamento é o mesmo.
As imagens musicais associadas ao termo realejo não param por ai. No mundo ibérico, e mesmo no Brasil
há muito tempo atrás, um instrumento chamado de zanfona e/ou viela-de-roda, em inglês o hurdy-gurdy,
não raramente é referenciado também como realejo. Diferentemente dos outros instrumentos de que
falamos, este é um instrumento de cordas friccionadas por uma roda que é acionada por uma manivela.
Suas notas são moduladas por teclas – é quase quase um piano de colo à manivela!

E o que todos esses exemplos têm em comum e por que tudo isso para falar da afinação realejo?
Porque todos esses instrumentos associados à imagem do termo realejo possuem um funcionamento
baseado na relação forte de duas notas cujo som é ressonante, contínuo e preenchido. Curiosamente
todos esses instrumentos têm como associação forte de notas, na maioria das vezes, Dó e Sol – ou outras
notas que ocupam as mesmas posições no círculo cromático das notas, as posições 0 e 7. Essa relação
forte é o que a teoria musical canônica chama de um intervalo de 5 a justa. É esse intervalo que une todos
nossos exemplos até aqui reunidos em torno da imagem de realejo. A impressão do “som nordestino” está
diretamente relacionado a esse intervalo forte; e a realejo é uma afinação onde quatro de suas cinco
ordens de cordas estão sequencialmente afinadas nesse padrão. Não é um mero acaso ou um acidente:
ela tem tudo de uma afinação de sabor e acento nordestino!
UMA VIOLA NORDESTINA
Misturando um pouco de pesquisa e invenção, compreendemos a viola de dez cordas em realejo como
uma viola que integra a família das violas nordestinas.

A viola em realejo é uma viola morfologicamente similar às


violas nordestinas de dez cordas – porque afinal ela é uma
viola de dez cordas. Ela se diferencia das outras violas
nordestinas pela afinação, pelas técnicas de execução e por
sua intenção sonora. Ou seja, é uma viola de dez cordas
afinada em realejo, tocada com palheta e caracterizada
pelo seu som ressonante “forte”!

Podemos dizer, simplificada e genericamente, que a família


das violas nordestinas possui três membros: a viola
machete, a viola de cantoria e a viola de dez cordas.

Contudo, não é raro que esses membros se misturem e se


confundam pelo nordeste. Tem violas de cantoria fazendo
tudo que a viola de dez cordas faz, algumas violas de dez
cordas tocando o que a viola machete gosta de tocar e etc.
Mas, em geral, essas três violas mantém seus lugares mais
ou menos definidos. E nossa viola em realejo está integrada
nessa família como um modo de conceber e executar a
viola de dez cordas.
A viola de cantoria é a viola mais conhecida e reconhecida como nordestina: a maioria das pessoas quando
pensa em viola no nordeste lembra dessa viola. É a viola que se popularizou pelo Brasil como a ferramenta da
cantoria, do repente nordestino. Está presente em todos os estados do nordeste e se trara de uma viola
dinâmica – este modelo que possui as boquinhas e tem um som metálico característico – embora alguns
repentistas utilizem também a viola comum, a viola de dez cordas, afinada para cantoria. O uso habitual desta
viola não é solista, pois sim como apoio rítmico para o que se busca no repente nordestino: o improviso do
verso. Existem violas dinâmicas que tem sido pensadas e tocadas como viola instrumental.
Afinação: Natural (com peculiaridades).
Uso predominante: Cantoria (repente nordestino).
Ocorrência: todo o nordeste.
Peculiaridades: 4 ordens de cordas simples e 1 ordem tripla.

A viola machete é a violinha do samba de roda da Bahia, uma violinha peculiar; felizmente
a viola machete tem sido revitalizada e tocada cada vez mais. A viola machete é uma
viola pequena, possui cinco ordens de cordas duplas e cerca de 3/4 do tamanho de uma
viola de dez cordas comum. É uma viola de acompanhamento rítmico e também de
pequenos ponteados. Afinações: Natural, Travessa.
Uso predominante: Samba da Bahia.
Ocorrência: recôncavo baiano.
Peculiaridades: 3/4 de uma viola comum.

Afinações: Natural, Rio Abaixo, Realejo.


Uso predominante: Folguedos (Reisados, rodas de São Gonçalo, Ternos); Música instrumental e
regional nordestina.
Ocorrência: todo o nordeste.
Peculiaridades: uma viola que habita dos Folguedos à Música Armorial.

A viola de dez cordas é a viola “comum”: geralmente com ordens de cordas duplas, feita de madeira e
com tamanho relativamente padronizado. É possível também encontrá-la, às vezes, com 1 ordem tripla (o
par 5), 1 ordem simples e 3 ordens duplas. É essa a viola que ecoa na Música Armorial, em gravações de
Marinês, de Geraldo Vandré, no Quarteto Novo, nos discos de Elomar, nos inúmeros grupos de música
regional nordestina dos anos 70, 80 e 90. É também a viola que muitos se lembram como “a viola dos
reisados e das rodas de são gonçalo”. É esta a viola instrumental nordestina que há tempos ecoa
nordeste afora.
DEZ CORDAS EM REALEJO

Antes de colocarmos a viola no colo e soar a realejo, precisamos ter no horizonte quatro princípios que
devem nortear nossa relação com a viola.

1. Somos limitados. Todo instrumento, afinação, recurso musical é limitado. E ainda bem! Já imaginou que chato seria
um instrumento, uma afinação sem limites? Se isso existisse não precisaríamos tocar diversos instrumentos, já que
um só instrumento daria conta de todas intenções musicais. É pela limitação que cultivamos, compreendemos e
divulgamos a diversidade – há muitas maneiras de pensar a viola, as afinações, a música e nunca seremos capazes
de representar, conhecer e entender todas elas. O trunfo e o entusiasmo está em criar a partir de nossos limites
e reconhecermos universos musicais que estão além deles.

2. Tocar viola não precisa ser uma competição. Não há “o melhor violeiro do Brasil”, do mundo ou de qualquer lugar.
Tocar viola é fazer música; tocar um instrumento é uma arte de cultivo do espírito. E a viola tem muita arte para
cultivar os espíritos! Tocar viola não é promover um produto, vender uma mercadoria ou batalhar por um troféu:
essas são preocupações outras. Tocar viola não tem a haver com triunfo ou notoriedade, mas sim com
aprendizado, criatividade e paciência. Há inúmeras violas sendo tocadas de jeitos surpreendentes e criativos e
que jamais serão amplamente conhecidas mesmo tendo muito a mostrar e ensinar.

3. A viola não é só um objeto. Ela é um instrumento capaz de provocar em você emoções de intensidades e teores
tão diversos que você não vai saber explicar. A viola tem personalidade: funciona melhor em tal afinação do que
em outra, soa assim em tais notas, gosta de ser tocada mais em tal dia do que em outros. E toda viola, tal como
você, não gosta de ser abandonada e mal tratada. Ela é sua companheira e, no fim das contas, você é o
instrumento e ela é a pessoa.

4. Persistência (e eficiência) é paciência. É difícil tocar rápido, adquirir e exibir “performance”. Mas é muito mais difícil
tocar devagar, tocar notas com cuidado e atenção. É difícil tocar uma música inteira, entender sua estrutura. É difícil
aprender uma coisa depois da outra, uma técnica, uma nota, uma levada. É fácil tocar primeiro. É difícil escutar
primeiro e tocar depois. A pressa leva a viola aos atropelos; cada toque é um processo, um ritual que precisa de
tempo, jeito e cuidado. E para tanto é preciso, antes, escutar, entender e praticar.
A postura com uma viola ...
é muito variada: há quem toque sentado, em pé, com apoio do pé, com
pernas cruzadas, etc. Para nossa viola em realejo a recomendação é tocar
sentado com os joelhos paralelos e usando alça (a correia ou talabarte).
Por quê? Porque esta é uma das posições de menor tensão: sentado, com a
viola na peito, suspensa pela alça – que passa pelas costas e ombro –
fazendo-a ficar inclinada com o braço para cima. Você deve ajustar a alça a
uma altura confortável. Antigamente era comum, por exemplo, deixar a viola
bem alta no peito! Independentemente da altura em que você ajustar a alça
procure manter sempre a coluna ereta e os pés no chão.

Viola inclinada

Uso de alça

Joelhos paralelos

PERSPECTIVA DESTRA
Soando a realejo

É preciso colocar as cordas na viola. É fácil! Mas para afinarmos a realejo é preciso fazer pequenos ajustes
nos calibres das cordas. Há diversas marcas e tipos de encordoamentos disponíveis para a viola de dez
cordas; a regra geral é que eles se comparam e se equivalem pela tensão – leve, média e alta. Para afinar
em realejo é recomendável que se utilize um encordoamento de tensão leve – onde a probabilidade de se
encontrar calibres próximos aos ideais é maior.

Tendo em vista uma viola de dez cordas comum, os calibres recomendados para a realejo são:
Par 1 – 0.010” / 0.010” Não encontramos um encordoamento com esses calibres por isso precisamos adaptar. Se você tiver acesso a
diversos encordoamentos de viola de dez cordas procure fazer a adaptação nos pares 4 e 5. Mas você pode utilizar
Par 2 – 0.013” / 0.013” calibres vizinhos a esses recomendados (ex. usar no par 2 cordas 0.012”, etc). O importante é que se mantenha
esses calibres como ideais; pequenas variações vão acontecer porque a disponibilidade de cordas avulsas é
Par 3 – 0.009” / 0.019” variada. Lembre-se: na adaptação dos calibres use sempre cordas de viola ou de violão aço.

Par 4 – 0.013” / 0.027” Dica: se o calibre da corda encapada (grossa) do par 5 de seu encordoamento for próximo à recomendação do
par 4, inverta-as! Coloque a corda encapada do par 5 no par 4 e coloque uma corda mais grossa no par 5. Uma
Par 5 – 0.014” / 0.032” corda “Ré” de violão aço pode ter um calibre bom como corda encapada do par 5.

PERSPECTIVA DESTRA

PAR 5 (1 corda fina encima, 1 grossa embaixo)

PAR 4 (1 corda fina encima, 1 grossa embaixo)

PAR 3 (1 corda fina encima, 1 grossa embaixo)

PAR 2 (2 cordas finas iguais)

PAR 1 (2 cordas finas iguais)


As dez cordas afinadas em realejo
Com as cordas colocadas na viola é preciso então chegar às notas em cada corda. Fazemos isso
aumentando a tensão de cada corda, esticando-a. É fácil: gire cada tarraxa em um sentido para esticar as
cordas e em outro para afrouxá-las. Normalmente optamos por apertar no sentido anti-horário e afrouxar
no sentido horário.
Para afinar as cordas utilize um afinador eletrônico no modo
cromático e vá com calma: uma corda de cada vez! É
preferível começar de cima para baixo: do par 5 ao par 1. Na
primeira vez que as cordas chegarem na nota desejada elas
vão voltar um pouquinho, então é bom conferir várias vezes
– e esperar um pouco entre uma conferência e outra para
que as cordas se acomodem à tensão.
PERSPECTIVA DESTRA
Oriente-se pelas notas do seu círculo cromático!
G
C
G
C
E

A maioria dos afinadores não utiliza a nomenclatura latina das notas (Dó, Ré, Mi, etc ) e sim a nomenclatura anglo-
saxã onde se usa letras para designá-las. Só muda o jeito de chamá-las, as notas são as mesmas, ok?

Nomenclatura latina Do # Re # Mi Fa # Sol # La # Si

Nomenclatura anglo-saxã C # D # E F # G # A # B
A realejo é uma afinação de baixa tensão nos pares oitavados (3, 4 e 5) e de tensão moderada nos pares
uníssonos (1 e 2). Se você tiver a impressão de que a viola afinada em realejo está meio “bamba” não se
preocupe: a ideia e a proposta da realejo é manter as cordas mais moles e frouxas. Trata-se de uma
característica desejada para a afinação e sua ressonância.

Sigamos adiante e tratemos da palheta: a manivela deste realejo!


Há diversos jeitos de tocar viola: ponta e poupa dos dedos com utilização de unhas ou não; dedeira no
polegar; usos mistos entre dedeira e dedilhado; e a menos comum hoje em dia, o uso de plectro – de
palheta.

Nossa viola em realejo é tocada com palheta.


PARTE 4
O plectro – a palheta
… pensamento em realejo I: o plectro

Não seria exagero dizer que uma viola em realejo é também uma palheta em realejo! O plectro que soa a
viola em realejo é parte da afinação: pensamos como fazer este pequeno sino – a viola – soar através da
palheta. Dito isso, não é bom pensar uma sem a outra. Uma viola em realejo tocada com palheta,
buscando reforçar as características da afinação – a ressonância e o sotaque nordestino – se mostra uma
ocasião muito especial.

A palheta desta viola não é uma palheta apressada e imponente. Esta palheta é às vezes lenta, esbarra
em um monte de coisas e se atrasa; às vezes duvida de como (e onde) deve atacar. Fazer a palheta
duvidar, atrasar e esbarras nos pares se traduz em um jogo de elasticidade dos sons e aquisição de uma
sensibilidade sobre produzir, reforçar e cessar os sons. É por meio da lida com essa elasticidade que
conseguimos sentir e manipular a ressonância que a realejo oferece.

Uma palheta apressada, dominante, que é soberana sobre todos os pares é uma palheta que não dá
espaço para que os pares “suspirem”! É uma palheta que não permite que os ruídos – que fazem parte da
música, da viola, da afinação – possam existir. É importante produzir e apreciar os ruídos para que a
sensação de poder “não suba à cabeça” da palheta! E também para lembrarmos que nossa viola é parte
da música – e que a música sem ruído é apenas a parte mentirosa do “fazer música”.

A palheta é parte de um conjunto e não sua alma; não é bom pensá-la como o ponto de canalização da
energia de quem toca a viola. A palheta é antes um ponto de tradução e fruição da intenção e do
momento que se busca produzir as notas. Uma palheta em realejo é uma palheta que está mergulhada
no conjunto e é paciente o suficiente para sentir as vibrações que ela desencadeia e imediatamente delas
se alimenta.
POR QUE A PALHETA?
Porque ela é um jeito de executar viola pouco explorado e que possui linguagem e possibilidades que
fazem o instrumento ter um sotaque peculiar. Devemos lembrar que o uso de palheta também é um
jeito tradicional de tocar viola – dona Helena Meirelles, os reiseiros do nordeste e muitos outros são bons
exemplos. Curiosidade: antes de existirem técnicas de dedilhado nos instrumentos de cordas com bojo e “pescoço” o uso de
plectro para tocar instrumentos de corda era (e continua sendo) dominante entre povos persas e árabes. Tocar com palheta é
tão antigo quanto tocar com os dedos.


Quais as peculiaridades de tocar viola com palheta?

O uso de plectro, de palheta, exige que a execução tenha mais precisão ao ferir as cordas –
especialmente à viola, que possui cordas duplas. O controle da mão direita (na perspectiva destra) se
resume ao controle da palheta. Há técnicas para manipular e ferir as cordas da viola com a palheta
pensadas especificamente para a viola. Tocar com palheta requer uma noção mais apurada do espaço
entre os pares e a tensão necessária para ferir cada par. A depender do estilo de toque que você deseja
imprimir diversas adaptações precisam ocorrer.

Por que a realejo é tocada com palheta?

Aprendi a tocá-la e a concebê-la com palheta, portanto esse é o caminho que seguimos aqui.
Conseguimos explorar a ressonância da realejo e desenvolver desenhos de solos horizontais no braço
da viola diferentes quando tocando com palheta.

Podemos utilizar as técnicas de palheta de guitarra elétrica ou de outros instrumentos?

Sim, mas vai soar um pouco genérico. As técnicas de utilização de palheta em uma viola de dez cordas
são técnicas pensadas e desenvolvidas na/para a viola e funcionam, obviamente, muito bem nela. E
aqui as técnicas de uso da palheta são fruto de execução na estrutura da realejo e foram elaboradas
para ela – muitas técnicas de palheta na Rio Abaixo são diferentes, por exemplo. Estamos aqui
explorado um sotaque próprio da realejo pensada e tocada com palheta.
Qual palheta usar?

Há duas opções: fazê-la ou adquiri-la. São apenas opções distintas, não há uma melhor! Conseguimos
ótimos sons em ambos os casos.
Fazê-la: se você puder e quiser experimentar fazer sua palheta, assim como se fazia e se faz popularmente
para viola, a indicação é que a faça com chifre de boi. O processo não é tão complicado: basta cortar o chifre
em lascas retangulares com cerca de 10cm X 2cm e dessas lascas picotar suas palhetas. Utilize uma faca
pequena e tesoura para isso. As palhetas não precisam ser muito grandes; um bom exemplo de formato de
palheta é como dona Helena Meirelles as fazia.

É importante que as palhetas de chifre fiquem lisas e tenham


~2,5cm ~2cm
os cantos vivos. A ponta de ataque será a ponta menor,
portanto atenção! Sobre espessura e flexibilidade: não há
uma medida definida para a espessura já que o chifre de boi

~4,5cm
varia em densidade parte a parte. A dica é: faça palhetas que

~4cm
ofereçam resistência ao tentar dobrá-las com o polegar e
indicador de uma mão. Não deixa elas muito duras, é
importante que sejam flexíveis – mas se forem muito moles
não terão força para ferir as cordas com firmeza. Você deve
experimentar a espessura que oferecer o melhor balanço
entre firmeza e flexibilidade.
~0,5cm ~0,3cm

Adquiri-la: se preferir adquirir sua palheta procure por palhetas com espessura em torno de
0,50mm – que são consideradas finas. O material que mais se aproxima do chifre de boi, e que
possui o melhor timbre para nosso propósito de viola, é o nylon. Então procure por palhetas finas
(ou médias menos espessas) feitas de nylon. Não precisa ser a palheta mais cara ou famosa;
experimente as que forem fáceis de achar e baratas. Teste outras espessuras e outros materiais
e veja qual soa melhor e é mais confortável para você tocar. A recomendação geral é que você
tenha uma palheta flexível mas firme para ferir as cordas.
E como segurar a palheta?

A palheta deve ser presa pela polpa do polegar e pela lateral do dedo indicador. A palheta deve estar
firme; ela precisa estar em uma posição na qual ela não escorregue fácil e que, ao mesmo tempo, não
esteja travada na movimentação de ataque das cordas.

PERSPECTIVA DESTRA

Deixe como ponta de ataque cerca de 1/3 da


palheta – essa porção “para fora” será seu
termômetro sobre como está a relação firmeza
/ flexibilidade. Evite manter a palheta apoiada
nos outros dedos; não é um grande problema,
mas se você se acostumar a manter a palheta
apenas entre o polegar e o indicador o balanço
da articulação da palheta em relação aos
dedos e à mão se ajustará mais facilmente
conforme sua prática.

Uma das maiores dificuldades em segurar a palheta está em conciliar firmeza com flexibilidade: você
deve mantê-la firme para ferir as cordas mas não deve tensionar demais os seus dedos que seguram o
plectro. Como resolver isso? Não há fórmula mágica; você vai achar o seu jeito ao longo do tempo – e
quanto mais você tocar mais caminhará para encontrá-lo. Você pode experimentar diversos ângulos para
segurar a palheta em relação às cordas.
E como usar a palheta?
Com a viola no peito, sentado e utilizando sua alça: apoie o interior do seu antebraço, a região do
cotovelo, quase na quina superior do tampo de modo que sua mão, segurando a palheta, possa chegar
às cordas da viola com facilidade.
Seu antebraço deve evitar tocar o tampo além do lugar de
apoio: ele deve ser apenas um ponto para o “compasso” que
mantém sua mão suspensa para a palheta ferir as cordas.

A palheta deve mirar e ferir as


cordas na região da primeira
metade da boca da viola. É a
PERSPECTIVA DESTRA posição que oferece um
equilíbrio entre um som
“estalado” (mais perto do
cavalete) e um som “aveludado”
(mais longe do cavalete).

Você pode usar os dedos anelar e/ou


mínimo como apoio da mão no tampo
da viola. Eles ficarão apoiados abaixo
do par 1. Mas cuidado para não se
viciar nesse apoio; não é bom usá-lo
sempre.
São dois os modos básicos de uso da palheta que utilizamos:

1. O ataque pontual (ataque ao par).


O ataque pontual é o ataque aos pares da viola; eles são feitos par a par. Com a palheta se fere o par de corda
individualmente para que se produza o som. É a técnica básica para quase todos os usos de palheta que podem
surgir. É o “ponteio”; o “ponto a ponto”, onde os pares soam cada um por meio de um ataque direto e
individualizado.
2. O arrastão de palheta.
O arrastão de palheta é o ataque
sequencial dos pares: de fato um
arrastão sobre os pares da viola,
ferindo-os em sequencia e um
movimento de palheta – como se
PERSPECTIVA DESTRA
fosse um rasgueio feito com as
mãos. O arrastão de palheta é um
recurso muito importante para a
viola em realejo; é com eles que
conseguimos produzir e sentir a
forte ressonância dessa afinação.
Pense a palheta como um martelinho que golpeia as cordas para que elas soem. E, no caso da viola, é
preciso golpear duas cordas de uma vez. Nossa técnica básica de uso da palheta possui quatro princípios.

Princípio 1: os pares devem ser feridos para baixo.


Por quê? Porque a clareza do golpe para baixo é maior do que para cima – e a facilidade
de golpear as duas cordas que compõem o par também. Seja em ataques individuais aos
pares ou em arrastão, sempre ferir para baixo.

FERIR PARA BAIXO

PERSPECTIVA DESTRA
Princípio 2: a palheta deve ficar ligeiramente deitada para baixo; deve-se evitar o
ângulo de 90º com as cordas.
Por quê? Porque além de ser mais confortável, o controle entre força e flexibilidade é
melhor percebido pelos seus dedos polegar e indicador, responsáveis por segurar a palheta.

PALHETA LIGEIRAMENTE DEITADA

PERSPECTIVA DESTRA
Princípio 3: a palheta deve ser movida com movimentos articulados pelo antebraço.
O punho deve mover e dobrar o mínimo possível. Sua mão deve funcionar apenas
como ajuste desses movimentos.
Por quê? Porque assim você consegue manter um padrão de ataque para ferir as cordas e
se acostumar a um arco de “corte” entre sua palheta e as cordas da viola. A sensação é
que você vai estar um pouco “duro” com a palheta. A intenção é justamente essa: você
deve entender a palheta como a ponta de um compasso formado pelo seu antebraço
apoiado na viola.

UMA PEÇA SÓ: ANTEBRAÇO – PUNHO - PALHETA

PERSPECTIVA DESTRA
Princípio 4: a palheta deve se movimentar tridimensionalmente. É combinando
essas três dimensões de movimentação que se obtém variação de volume, timbre e
controle de clareza dos golpes
Como assim? Você move a palheta: no eixo que atravessa a boca da viola verticalmente (Y)
para alcançar os pares, no eixo que atravessa horizontalmente a boca da viola (X) para
adequar o ataque e no eixo que aproxima e afasta a palheta da superfície da viola (Z) por
meio do afastamento do conjunto braço-punho-palheta mais “no ar” ou mais perto do tampo. O
balanço entre eles é fundamental.

mais longe do tampo, EIXO Y


mais “suspenso no ar”

EIXO Z

EIXO X PERSPECTIVA DESTRA

mais próximo ao tampo


A palheta é sua expressão na viola em realejo. É ela quem dá a força para os toques, é ela quem
permite que exista dinâmica – variação de volume e intenção nos toques. E o mais importante: é ela o
ingrediente especial de nossa viola em realejo.

Ela transforma a viola em um instrumento com uma limitação interessante: é preciso escolher onde e
quais pares serão atacados. Essa limitação nos lança em uma “filosofia” para realejo: cada ataque de
palheta precisa ser uma expressão de paciência, precisão e, às vezes, contenção. Com a palheta
podemos variar a intensidade de um ataque, podemos deixar notas faltarem para que uma nota soe
mais longa e distante. Podemos dar ênfases em pequeno gestos sobre as cordas de maneiras tão
diversas. A palheta na realejo nos convida a considerar menos com a quantidade das notas que
produzimos e mais a qualidade, a textura e elasticidade de como podemos produzir as notas com
nosso plectro – a palheta.

Agora conhecemos algumas linhas que podem ser traçadas pela palheta à realejo.
É hora de praticarmos!
Exercícios
o plectro – a palheta
Palheta: conjunto de exercícios Nº1

Com a viola no peito e afinada, exercite a movimentação do seu antebraço. Encontre um ângulo pelo qual a palheta
possa tocar com firmeza todos os pares de cordas na região da primeira metade da boca da viola.

Percorrendo esse ângulo e mantendo a mão firme, sem dobrar o punho, ataque 3 vezes cada par de cordas: “plen
plen plen”! Não é para apertar nenhuma corda com a outra mão, é apenas para ferir as cordas soltas. Lembre-se: a
palheta ataca de cima para baixo e deve ficar ligeiramente deitada para baixo. Comece pelo par 5 e ao acabar o
par 1, volte de baixo para cima (par 2, par 3, par 4, etc). Fique subindo e descendo! Repita várias vezes.

Agora ataque 2 vezes cada par de cordas: “plen plen”! Fique subindo e descendo pelos pares. Repita várias vezes.

Quando você se cansar do “plen plen plen” e
do “plen plen” experimente variar a pressão
dos ataques: em um par faça um “plen” fraco
e no próximo um “PLEN” forte. Aplique isso
aos dois exercício acima. Exemplo: no par 5
“plen PLEN plen”; no par 4 “plen PLEN plen”;
etc.

Adquira o hábito de conferir a afinação. Antes e


depois de praticar verifique a realejo.

PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº2

Mantendo o ângulo pelo qual a palheta possa tocar com firmeza todos os pares de cordas na região da primeira
metade da boca da viola, ataque os pares indicados 1 vez alternadamente. Exemplo: par 5 e em seguida o par 1; par
4 e par 2. Lembre-se: a palheta ataca de cima para baixo e deve ficar ligeiramente deitada para baixo. Repita
várias vezes.

Mantendo o padrão alternado dos pares ataque 2 vezes cada par: “plen plen”! Não é para apertar nenhuma corda
com a outra mão, é apenas para ferir as cordas soltas. Repita várias vezes.

Depois de completar um ciclo de ataques – ex. par 5 e par 1; par 4 e par 2 – ataque 6 vezes o par 3. Refaça um ciclo
qualquer e repita o ataque ao par 3. Repita o procedimento várias vezes.


Quando você se cansar desses ataques alternados
experimente repetir os exercícios acima atacando
duas vezes mais os pares!

Observe sua palheta: ela está ligeiramente deitada?


Você está evitando um ângulo de 90º com as cordas?
Está deixando como ponta de ataque da palheta cerca
de 1/3 dela? Ela está mais suspensa ou mais próxima
ao tampo?
5
4
3
2
1 PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº3

Mantendo o ângulo pelo qual a palheta possa tocar com firmeza todos os pares de cordas na região da primeira
metade da boca da viola, ataque os pares 1 vez alternadamente. Exemplo: par 5 e em seguida o par 3; par 4 e par 2;
par 3 e par 1. Lembre-se: a palheta ataca de cima para baixo e deve ficar ligeiramente deitada para baixo. Repita
várias vezes.

Mantendo o padrão alternado dos pares ataque 3 vezes cada par: “plen plen plen”! Não é para apertar nenhuma
corda com a outra mão, é apenas para ferir as cordas soltas. Repita várias vezes.

Embaralhe o padrão de ataque dos pares: ataque cada par 1 vez na sequência par 5 – par 3 – par 1; em seguida na
sequência par 4 – par 2 – par 3. Repita até desembaralhar as ideias – e a palheta!

Quando você se cansar desses ataques alternados
experimente mudar o padrão uma última vez:
ataque os pares de “fora para dentro” e de “dentro
para fora”. Ataque a sequência de “fora para
dentro”: par 5 e par 1; par 4 e par 2; par 3. E depois
de “dentro para fora”: par 3; par 2 e par 4; par 1 e
par 5. Repita várias vezes.

Adquira o hábito de corrigir a postura – e evite cruzar


as pernas.
5
4
3 3
2
1 PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº4

Utilizando o ângulo que você achou para posicionar seu antebraço para atacar as cordas na região da primeira
metade da boca da viola, faça o arrastão da palheta sobre todos os pares. Deixe soar! Repita várias vezes.


Continue o arrastão de palheta, mas pare a palheta ao encostar no par 1. Deixe soar! Repita várias vezes


Continue o arrastão de palheta, mas pare a palheta ao encostar no par 2. Deixe soar! Repita várias vezes.


Continue o arrastão de palheta, mas pare a palheta ao encostar no par 3. Deixe soar! Repita várias vezes


Quando você cansar desses arrastões
experimente intercalá-los. Ex. primeiro
arraste sobre todos os pares; em seguida
arraste e pare a palheta no par 3; etc.

Procure manter o punho firme para não


desajustar o alinhamento com seu antebraço –
e não tensione demais a palheta e a mão.

3
2
1 PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº5

Utilizando o ângulo que você achou para posicionar seu antebraço para atacar as cordas na região da primeira
metade da boca da viola, faça o arrastão da palheta sobre todos os pares. Deixe soar! Repita várias vezes.


Continue o arrastão de palheta, mas agora inicie no par 4. Deixe soar! Repita várias vezes.


Continue o arrastão de palheta, mas agora inicie no par 3. Deixe soar! Repita várias vezes.


Continue o arrastão de palheta, mas agora inicie no par 2. Deixe soar! Repita várias vezes.


Quando você cansar desses arrastões
experimente intercalá-los. Ex. primeiro
arraste sobre todos os pares; em seguida
arraste e pare a palheta no par 3; etc.

Procure manter o punho firme para não


desalinhar o ângulo de seu antebraço. E
lembre-se: não tensione demais a palheta e a
mão.

4
3
2
PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº6

Utilizando o ângulo que você achou para posicionar seu antebraço para atacar as cordas na região da primeira
metade da boca da viola, arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 5. Repita!

Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 4. Repita várias vezes.

Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 3. Repita várias vezes.

Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 2. Repita várias vezes.

Arraste a palheta sobre todos os pares e em seguida ataque três vezes o par 1. Repita várias vezes.


Ao enjoar dessas repetições, experimente
recomeçar de baixo para cima. Ex.
arrastão sobre todos os pares e ataque
três vezes o par 1; Arrastão sobre todas as
cordas e ataque três vezes o par 2; etc.

Procure manter o punho firme para não


desalinhar o ângulo de seu antebraço. E
lembre-se: não tensione demais a palheta e a
mão.
5
4
3
2
1 PERSPECTIVA DESTRA
Palheta: conjunto de exercícios Nº7

Utilizando o ângulo que você achou para posicionar seu antebraço para atacar as cordas na região da primeira
metade da boca da viola, faça o arrastão da palheta sobre todos os pares. Deixe soar! Repita várias vezes.


Faça um arrastão de palheta curto: ataque os pares 5 e 4. Deixe soar! Repita várias vezes.


Faça um arrastão de palheta curto: ataque os pares 4 e 3. Deixe soar! Repita várias vezes.


Faça um arrastão de palheta curto: ataque os pares 3 e 2. Deixe soar! Repita várias vezes.


Faça um arrastão de palheta curto: ataque
os pares 2 e 1. Deixe soar! Repita várias
vezes.

Teste a flexibilidade e a tensão da sua palheta,


experimente variar a força do polegar e do
indicador para tornar a palheta mais rígida e
mais maleável.

5
4
3
2
1 PERSPECTIVA DESTRA
PARTE 5
As notas nos arames
ponteados & escalas
… pensamento em realejo II: a modulação dos arames
A viola em realejo é uma viola que se enquadra muito bem no ambiente das violas nordestinas e por isso
assim a tratamos: como uma afinação de viola à nordeste. Em grande parte das violas nordestinas os
ponteados e as escalas mais comuns são simples. Isto é, são escalas e ponteados feitos em um par
apenas, sendo às vezes acompanhado por uma nota pedal de outro par ou pelo espelhamento da nota
ponteada em outro par. Não é por acaso que a exploração de escalas e ponteados simples revelem tão
bem o espírito ressonante da realejo.

O que isso quer dizer?


Isso quer dizer que diferentemente da viola caipira em cebolão, da viola das Minas Gerais e do centro-
oeste em rio abaixo e de outras mais que têm como sotaque característico ponteados em escalas
duetadas – ponteados realizados em dois pares cordas com notas diferentes que combinam – nossa viola
em realejo é uma viola que explora ponteados e escalas feitas geralmente em um só par. E quando
ponteando em mais de um par ela nos induz a espelhar em outro par a mesma nota ponteada ou buscar
por uma nota pedal pouco variada e às vezes constante.

Isso quer dizer que os ponteados e escalas duetadas não são usadas na viola em realejo?
Os ponteados duetados hora ou outra aparecem e são muito importantes para as violas no Brasil, sem
exceção. O que estamos dizendo é que nossa viola em realejo não os utiliza com a mesma frequência que
utilizam outras violas em outras afinações. Nosso foco não está nos ponteados duetados. Propomos
aqui um pensamento em realejo de cordas soltas, escalas e ponteados simples que valorizam a
ressonância da afinação e dão forma a uma concepção peculiar de viola à nordeste: a viola em realejo
tocada com palheta, priorizando ponteados e escalas simples.
Os princípios básicos dessa concepção de viola em realejo são:


buscar precisão e calma na progressão e regressão das escalas e ponteados simples;


utilizar as escalas e ponteados simples como gatilhos de ressonância – afetando o máximo de
cordas soltas que “combinam” direta (se feridas) e indiretamente (vibrando por simpatia) com os
ponteados;


espelhar, sempre que possível, as escalas e os ponteados simples entre os pares. Lembre-se que os
pares 5 e 3, 4 e 2 se espelham diretamente;


Manter o par 1 sob controle: quando possível utilize-o como par mestre do ponteado para que os
demais parem possam soar livremente e a nota original do par 1 seja suprimida.


não se preocupar com ponteados duetados – eles surgirão eventualmente, mas não são o foco de
nossa viola em realejo e não é este o sotaque que buscamos.

Em suma: pensemos os arames da realejo como um arranjo de pares que deve ser explorado como
totalidade, tal como um mar de cordas cujo barco que por ele navega – nossos dedos – está submetido
ao movimento das águas. Pensemos assim este conjunto de cordas e nos guiemos pelas notas que se
repetem nos pares e as possibilidades de espelhamento que eles oferecem. Naveguemos visando os
caminhos simples e aproveitemos suas repetições para progredir ou regredir nossos ponteados e escalas.

Sigamos adiante para os ponteados e escalas!


AS NOTAS NOS ARAMES

O braço é onde estão os trastes – as tiras metálicas que dividem em espaços proporcionais o braço da
viola. É entre os trastes, nas casas, que pressionamos com os dedos para modular as notas dos pares de
cordas da viola. O procedimento é simples: aperta-se com o dedo de uma mão em uma casa um par de
cordas e o ferimos com a palheta, que está na outra mão. É assim que conseguimos modular as notas no
braço da viola. Com uma mão apertamos as casas dos pares e com outra ferimos as cordas. Simples, não
é?

A dificuldade está em coordenar essa duas ações: apertar as cordas nas casas com uma mão e feri-las
com outra. Uma das ações mais importantes para essa coordenação é o conhecimento do braço da viola;
habituar-se a navegar pelas casas em todos os pares. E quem dá o os caminho dessa navegação é a
afinação. Veja: na casa 0 – ou seja, com as cordas soltas, cada par de cordas soa uma nota, certo?

No caso da realejo, temos notas Sol nos pares 5 e

Número da casa
3; notas Dó nos pares 4 e 2; e a nota Mi no par 1. 3 2 1 0
Sol

Traste
Veja: quando andamos 1 casa em qualquer um
dos pares nós encurtamos os pontos de apoio das Do
cordas do par e fazemos ele vibrar mais rápido e, Sol

Casa
assim, ele soa, quando ferido, uma nota mais Do
aguda do que quando vibrando solto, na casa 0. Mi

PERSPECTIVA DESTRA

A cada 1 casa avançada se eleva 1 unidade da nota original do par.


A navegação entre as casas nada mais é do que andar para cima e para baixo em uma escala cuja nota
de referência é a nota solta do par – a nota da casa 0. É muito importante saber o número das casas!
Porque sabendo o número da casa sobre a qual se pressiona o par sabemos quantas unidades foram
avançadas em relação a nota original. Novamente: isso está intimamente ligado a afinação utilizada.
Como cada afinação tem uma combinação de notas para os pares da viola, cada afinação terá um
desenho de modulação e combinação das notas. Isso fica bastante evidente, por exemplo, quando
visualizamos os desenhos de ponteados e de escalas nos pares (chegaremos nisso logo mais).

Por isso as afinações são tão importantes para a diversidade das violas de arame brasileiras: quando se sabe tocar em
uma afinação se sabe desenhos, detalhes e técnicas para combinar e modular notas que funcionam para aquela
afinação. Ao mudar de afinação, tudo muda! Algumas afinações até possuem algum parentesco e uma pequena parte
de seus desenhos podem ser semelhantes – raramente iguais.

subindo a escala cromática


PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

descendo a escala cromática


E como se orientar nessa navegação entre as casas?
Como descobrir as notas ao longo das casas no braço da viola? Bem, o jeito mais simples é ir contando.
Exemplo: avançou uma casa no par 5? Então a nota é Sol#. Avançou sete casas no par 4? Então a nota
é Sol. Com a prática você vai memorizar onde estão as notas no braço de sua viola em realejo.
Mas existe um jeito de “pegar um atalho”: utilizando o círculo cromático das notas!

Veja: colocando a nota da casa 0 de um par qualquer como


posição 0 do círculo cromático, basta progredir no círculo! Ao
avançar 1 casa avançamos 1 unidade no círculo. O mesmo se aplica
para a regressão das casas: ao regredir 1 casa, regredimos 1
unidade no círculo.
Repare que as notas só vão até o número 11 – e por quê? Porque, como você
já sabe, a nota 12 é a mesma nota que a nota 0 só que localizada em um
ciclo posterior – portanto, mais aguda. É a tal da “oitava acima”, lembra? No
braço da viola a casa número 12 soa a mesma nota nota que a corda solta, a
casa número 0 – só que na tal “uma oitava acima”!

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

PERSPECTIVA DESTRA
Antes de prosseguir com os exemplos precisamos saber como apertar as cordas.
Parece banal, mas não é. Para progredir e regredir uma escala no braço da viola é preciso dominar, memorizar e
exercitar padrões de como articular sua mão esquerda – no caso destro – nos cinco pares de cordas da viola.
Isso chamamos de digitação. A realejo tem peculiaridades que facilitam a digitação – trataremos disso daqui a
pouco.
As recomendações de digitação são quatro. Há uma regra geral de digitação no braço da viola?
1. Tente respeitar a ordem dos dedos e a ordem Não. Por mais que possamos encontrar supostas regras para a
das casas. Ex: casa 1 – dedo indicador; casa 2 – digitação, tudo é, no fim, recomendação. Há muito tempo se toca
dedo médio; casa 3 – dedo anelar; casa 4 – dedo viola por aqui; diversos violeiros inventaram maneiras de digitação
mínimo. Quando você precisar fazer uma que são eficazes para seus propósitos e nenhuma delas está mais
progressão maior que 4 casas procure repetir os certa do que a outra.
dedos nessa ordem. Repare que as falanges dos seus dedos irão se articular como uma
2. Não deixe seu pulso tensionado à toa! Mantenha- “escada” ao longo da digitação. É importante que você tente mantê-la
mais equilibrada possível: sem pender mais para uma banda do que
o relaxado e habitue seu polegar à região
para outra; sem ficar rígida demais, causando dor e desconforto; sem
mediana superior do braço, na parte traseira. ter firmeza e tropeçar nos pares!
3. Experimente às vezes trocar os dedos para fazer
progressões e regressões na escala; veja qual
5 4 3 2 1 0
configuração é mais confortável e lhe passa a
Sol
sensação de autonomia para digitação.
Do
4. Sempre que puder utilizar cordas soltas em uma
escala, utilize! Prefira o que lhe for menos Sol
trabalhoso e der oportunidade para a viola Do
vibrar mais.
Mi

PERSPECTIVA DESTRA
7 6 5 4 3 2 1 0
Sol
Do
Polegar apoiado atrás, na
Sol região mediana superior
Do do braço.

Mi

PERSPECTIVA DESTRA

Lembre-se: evite tensionar demais o seu


pulso! Procure ângulos que façam seus
dedos chegarem às notas sem torcer
tanto a mão.

Mantenha sua digitação ordenada. Tente manter cada dedo responsável por uma casa – evite que um dedo
invada a casa sob responsabilidade de outro dedo.
Há, contudo, dois dedos que podem se cambiar facilmente: o dedo indicador e mínimo. Quando? Por exemplo: em uma
progressão de 5 notas em 5 casas sequenciais você sente dificuldade em utilizar o dedo mínimo para a 4a nota; assim
ao invés de usar o dedo mínimo você pode recomeçar a sequência dos dedos e utilizar o indicador. Você estaria
fazendo a sequência: indicador, médio, anelar, indicador, médio. Não é bom deixar o dedo mínimo de fora, mas se você
achar melhor dar férias para ele, tudo bem.
Peculiaridades de digitação da realejo

A primeira peculiaridade é o fato do espalhamento direto e inverso dos desenhos de digitação entre os
pares. Exemplo: o que se faz entre os pares 5 e 4 se faz entre o 3 e o 2. E o que se faz entre entre os
pares 4 e 3 se faz, inversamente, entre o 3 e o 2.

A segunda peculiaridade é o fato da nota Mi – a nota na posição 4 do círculo cromático para o Dó
como fundamental – estar no par 1. É fácil suprimi-la; pressionando o par 1 na casa 3 temos um Sol e
assim todos os pares soam apenas Sol e Dó – a combinação do som “forte”!

Repare que o espalhamento das notas entre os pares é muito intuitiva, mesmo o
espelhamento dos ponteados duetados.

PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

Pressionar o par 1 na casa 3 e ferir todos pares da viola é o começo de uma boa
navegação na realejo! Experimente começar com o dedo indicador na casa 3, ferindo todas
as cordas da viola, passear com este dedo entre as casas no par 1. Comece e termine seu
passeio na casa 3!
Para aproveitarmos melhor essas peculiaridades da realejo navegaremos entre as casas sempre
pensando o Dó como nota de referência – tanto para combinações de notas entre pares e casas quanto
para ponteados livres em um par só. Na prática isto significa também que tocaremos sempre tendo como
referência o Dó. Por quê? Porque é um modo didático e emblemático, com cordas soltas e maior
ressonância da realejo.

A realejo é uma afinação que funciona em todos os aspectos. Mas como nosso propósito é iniciático, o Dó é a
referência mais intuitiva e confortável para exploração da realejo. Caso você deseje explorações em outras
notas de base é só você alterar nota chefe, posição 0 do círculo cromático, a nota que você deseja e abrir os
caminhos.

Importante:
o que chamamos de escalas neste caderno são, no fundo, modos; isto é, padrões estruturados como
regras/conjuntos de notas que devem e não devem ser tocadas naquele modo. Optamos por ilustrá-
los sempre como estruturas numéricas de números inteiros, tendo em vista nosso círculo cromático.
Mas para simplificar e evitar confusões, mantemos o nome dessas estruturas como escalas, ok? Uma
escala não deixa de ser um jeito de fazer referência a um modo, mas é importante lembrar que há
outras ideias de escala que não representam o que chamamos aqui de escala. Portanto, lembre-se: o
pensamento musical deste caderno é mais modal do que tonal e seu amparo maior é o círculo
cromático.
Escalas & ponteados simples
O jeito mais fácil de pontear as notas na realejo é navegando pelos pares individualmente. Isto é:
ponteando um par só. Isso não quer dizer que ele deva soar sozinho: ele pode soar acompanhado de nota
pedal – nota que oferece um suporte para ele. Na realejo o Dó e o Sol servem, sozinhos ou combinados,
como notas pedal. Vamos começar a navegação conhecendo a escala maior e a escala menor – sempre
observando as posições no nosso círculo cromático.

OBS. Visualização linear no braço da viola – progressão em um só par.


PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Dol# Do

Si La Sol Fa Mi Re Do

Escala de Dó maior: 0 2 4 5 7 9 11 (12)

La# Sol# Sol Fa Re# Re Do

Escala de Dó menor: 0 2 3 5 7 8 10 (12)

Os ponteados simples, em um par só, soam muito bem e parecem oferecer algo de especial da afinação.
A realejo aprecia essa liberdade e solidão. Podemos fazer isso navegando por diversas escalas em todos
os pares, mas o passeio no par 1 tendo como referência a casa 3 é entusiasmante por um motivo curioso:
pela indução de escalas nordestinas.
Como assim? Veja: ao pressionar o par 1 na casa 3, como já dito, temos a nota Sol. E a nota Sol, tendo o
Dó como referência, é a posição 7 do nosso círculo cromático – aquela posição que combina forte com a
nota de referência, a posição 0. O par 1 está afinado em Mi, que é a posição 4 do círculo; ao suprimir esse
Mi, fazê-lo virar Sol, nós montamos um acorde que não é maior e nem menor, que possui duas notas
apenas: Sol e Dó (posições 0 e 7).

Lembrete: um acorde é maior quando se combinam as posições 0 4 7 e


menor quando se combinam as posições 0 3 7. Quem define se é maior
ou menor é a presença da posição 4 ou da posição 3.

Quando na casa 3, no par 1, se regredirmos uma casa, para a casa 2, temos a posição 6 do círculo
cromático, um Fá#. E daí? E daí que essa nota está em uma posição característica de uma das escalas
nordestinas! A gente, sem querer querendo, pode ser atraído por essas notas incomuns que combinam
muito bem com o som das cordas soltas da realejo, Dó e Sol. Isso acontece em outras casas, como na
casa 6, na casa 9 – respectivamente posições 10 e 1 no círculo cromático.

Veja: navegar pelas casas no par 1 transforma a viola em realejo em uma viola que onde quase tudo que
se ponteia no par 1 é aceito de bom grado pelos demais pares, que vibram e ecoam com os ponteados. A
duplicação dessa ressonância – dois pares em Dó e dois pares em Sol – deixa tudo muito preenchido e
forte. A navegação pelos outros pares é interessante também, mas os ponteados simples no par 1 têm
algo de especial. É importante explorá-los!
As escalas nordestinas é como chamamos genericamente as sequências de notas/intervalos presentes
na música popular fonográfica e não fonográfica no/do nordeste. São escalas peculiares que, assim como
diversas outras escalas étnicas, são chamadas às vezes de “exóticas” em contraponto às escalas comuns
na teoria musica canônica.

Essas escalas do/no nordeste estão presentes em diversas violas, especialmente nas violas da cantoria,
nas violas dos reisados e folguedos e na viola instrumental nordestina. Quando ouvimos violas na
discografia nordestina elas quase sempre passeiam por alguma dessas escalas. São três as escalas mais
comuns na música do/no nordeste.

Lembre: observemos as posições no círculo cromático.


PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Dol# Do

La# La Sol Fa Mi Re Do

Escala nordestina A: 0 2 4 5 7 9 10 (12)

Si La Sol Fa# Mi Re Do

Escala nordestina B: 0 2 4 6 7 9 11 (12)

La Sol Fa# Fa Mi Re Do

Escala nordestina C: 0 2 4 5 6 7 9 (12)


OBS. Visualização linear – progressão em um só par.
As escalas nordestinas são ótimas para exercitarmos o sotaque da realejo. Com a prática elas podem se
tornar a referência fundamental dos ponteados, antes mesmo das escalas maior e menor.

A realejo nos ajuda a passear por essas escalas, tendo como referência o Dó, também aproveitando o
par 1 como atalho. Veja: ao invés de fazermos as progressões em um par só, podemos começar em um
par e prosseguir em outro – e descansar do passeio na casa 3 do par 1 (onde está a nota Sol).

Novamente: pensemos a realejo como um mar de cordas onde todos os pares batem e vibram uns nos
outros. Pensando assim reforçamos a unidade e o sotaque dessa viola.

Lembrete: atenção às posições no círculo cromático.

Escala nordestina A: 0 2 4 5 7 9 10 (12)


PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS

Re Do
Do La# La Sol Fa Mi

OBS. Visualização linear – progressão no par 1 e 2.


Escala nordestina B: 0 2 4 6 7 9 11 (12)
PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS

Re Do

Do Si La Sol Fa# Mi

OBS. Visualização linear – progressão no par 1 e 2.

Escala nordestina C: 0 2 4 5 6 7 9 (12)

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS

Re Do

Do La Sol Fa# Fa Mi

OBS. Visualização linear – progressão no par 1 e 2.


Escalas e ponteados duetados

Um dos sons mais lembrados das violas no Brasil é aquele dos ponteados duetados – os ponteados em
dois pares que soam juntos mas em notas diferentes. O ponteados duetado nada mais é do que um
ponteado simples acompanhado de uma nota complementar. Pensar assim facilita o entendimento dos
ponteados duetados porque basta lembrarmos das posições de um ponteado simples em uma escala e
complementarmos sua sequência sem alterar o ponteado principal. A nota que complementa essa
sequência virá no par acima ou no par abaixo do par em que a escala principal está sendo ponteada.

Para fazer os ponteados duetados devemos utilizar dois dedos na digitação. Se os ponteados duetados
forem nos pares 1 e 2 utilizamos os dedos indicador e médio. Se os ponteados forem nos outros pares
superiores (pares 2 e 3, pares 3 e 4 ou pares 4 e 5) é melhor utilizar os dedos indicador e anular.
Veja como fica mais fácil e confortável, ok? PERSPECTIVA DESTRA

7 6 5 4 3 2 1 0
Lembrete: escalas e
Sol
ponteados duetados não
são o foco de nossa viola Do
em realejo. Por isso Sol
passaremos por elas a
Do
título mais informativo do
que formativo, ok? Mi
Navegar pelos ponteados duetados é mais simples do que parece: fazendo um dedo ser o “mestre”,
ponteando a escala principal em um par enquanto o outro dedo o acompanha em outro par. O
importante é manter o dedo “mestre” respeitando a escala principal e o outro dedo ponteando uma nota
que combina com a nota que está sendo ponteado pelo dedo “mestre”. Mas como descobrir essa nota que
combina com a outra? Na verdade a gente já as conhece: são as notas da mesma escala que se
combinam!
Veja um exemplo: um ponteado duetado na escala de Dó maior, olhando as posições no círculo
cromático, nada mais é do que notas de lugares diferentes de uma mesma escala que se combinam. A
diferença está no fato de que o ponteado principal – o dedo “mestre” – parte da posição 0 da escala em
um par enquanto o ponteado complementar parte da posição 4 em outro par. Lembrando: os pares
soam juntos!
Atenção: o dedo acompanhante não fará o mesmo caminho nas casas que o Escala de Dó maior
dedo “mestre”. O dedo acompanhante sempre caminha ligeiramente atrás. Note Ponteado principal: 0 2 4 5 7 9 11 (12)
que a combinação dos seus dedos nos dois parem formam, ao longo do caminho, Ponteado complementar: 4 5 7 9 11 12 2 (4)
um desenho. Memorize esse desenho dos seus dedos!

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Si La Sol Fa Mi Re Do
Re Do Si Lá Sol Fá Mi

OBS. Visualização linear de um ponteado duetado em Dó maior no par 2 e 1.


Todos ponteados duetados seguem o mesmo princípio: um dedo “mestre” caminhando na escala partindo
da posição 0 do círculo cromático e um dedo acompanhante que parte de algumas unidades à frente na
mesma escala. É importante se atentar que escalas em modos distintos (maior, menor, escalas
peculiares) não terão o mesmo desenho dos dedos porque as posições do dedo acompanhante vão
variar dependendo do modo da escala.
Exemplo: um ponteado duetado na escala de Dó menor, olhando as posições no círculo cromático, nada
mais é do que a mesma escala que inicia em posições diferentes – o dedo “mestre” parte da posição 0 da
escala em um par enquanto o outro dedo parte da posição 3 em outro par. Mas na realejo não podemos
fazer o desenho da escala duetada em Dó menor apenas nos dois primeiros pares. E por quê? Porque
apesar da nota da posição 0 existir como corda solta (nota Dó) para o dedo “mestre” no par 2, a nota
para o dedo acompanhante (nota Ré#) não existe por perto . E o que fazemos?

Nós subimos um par para achar onde as notas Dó e Ré# se Escala de Dó menor
combinam e começamos o ponteado nesse lugar para então descer Ponteado principal: 0 2 3 5 7 8 10 (12)
para os pares 1 e 2 – e consequentemente andarmos na escala. Ponteado complementar: 3 5 7 8 10 12 2 (3)

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 CASAS

Do
La# Sol# Sol Fa Re# Re
Re Do La# Sol# Sol Fá

OBS. Visualização linear de um ponteado duetado em Dó menor no par 3, 2 e 1.


O princípio é o mesmo para os ponteados nas escalas nordestinas. Mas diferente da escala de Dó menor, onde
precisamos começar o ponteado um par acima, conseguimos fazer os ponteados duetados já nos pares 1 e 2 em todas as
escalas nordestinas que vimos.
LEMBRETE: atenção às posições no círculo cromático.
Escala nordestina A (ponteado principal): 0 2 4 5 7 9 10 (12)
Ponteado complementar: 4 5 7 9 10 12 (2) (4) PERSPECTIVA DESTRA

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La# La Sol Fa Mi Re Do
Re Do La# La Sol Fa Mi

OBS. Visualização linear de ponteado duetado nos pares 1 e 2.

Escala nordestina B (ponteado principal): 0 2 4 6 7 9 11 (12)


Ponteado complementar: 4 6 7 9 11 12 (2) (4)

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Si La Sol Fa# Mi Re Do

Re Do Si La Sol Fa# Mi

OBS. Visualização linear de ponteado duetado nos pares 1 e 2.


Escala nordestina C (ponteado principal): 0 2 4 5-6 7 9 (12)
Ponteado complementar: 4 5-6 7 9 (12) (2) (4)

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La Sol Fa# Fa Mi Re Do

Do La Sol Fa# Fa Mi

OBS. Visualização linear do desenho de ponteado duetado nas pares 1 e 2.

Veja: os ponteados duetados na escala nordestina C possuem um desenho peculiar. O dedo


acompanhante pode se combinar mais de uma vez com a mesma posição do dedo “mestre” – e vice
versa. Isso ocorre devido à natureza peculiar dos intervalos desta escala.

Voltemos aos ponteados simples!


Espelhamento de ponteados simples
O recurso de espelhamento dos pares da realejo permite que dupliquemos um ponteado simples e
criemos uma atmosfera para progressão e regressão de escalas ao longo das casas sem se preocupar
muito com a dissonância dos pares que não estão sendo ponteados.
Esse recurso de espelhamento é mais fácil quando realizamos a progressão e regressão linear em um ou
dois pares partindo da casa 0. O espelhamento de ponteados simples reforça a realejo, especialmente
nas escalas nordestinas, como um instrumento forte e atmosférico. Por esse motivo, novamente: é
importante usar e abusar desse recurso da realejo.
Para espelhar ponteamos em dois pares afinados na mesma nota uma mesma escala. Usamos os dedos
indicador e anular da mão utilizada para pressionar as casas/pares: um dedo em um par e outro em
outro par, eles ponteiam na mesma casa. Os dedos correm em paralelo, sincronizados e a palheta pode
realizar arrastões livremente em todos os pares. Esse recurso funciona perfeitamente entre par 2 e par 4,
ambos em Dó; par 1 e par 3, ambos em Sol. Lembre-se o que o par 1 tem seus caminhos próprios – e
prefere ser ponteado na maioria das vezes sem espelhamentos.
PERSPECTIVA DESTRA

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La# La Sol Fa Mi Re Do

La# La Sol Fa Mi Re Do

OBS. Visualização linear espelhada da escala nordestina A – progressão nos par 2 e 4.


Podemos ainda utilizar uma alternância desse espelhamento. Podemos fazer o espelhamento partindo de
uma casa em um par diferente cuja nota está na escala. Por exemplo: o aspecto do nosso ponteado é Dó.
Mas ao invés de pontearmos nos pares afinados em Dó (par 2 e 4), ponteamos nos pares afinados em
Sol (par 3 e 5) tendo a casa 5 como referência – onde está a nota Dó nesses pares. Conseguimos assim
deixar os pares afinados em Dó soando livres (corda solta) reforçando ainda mais a ressonância do
ponteado que está sendo feito nos pares em Sol – que realizam um ponteado em uma escala em Dó!
Isso nos permite uma curiosa mobilidade ao longo da escala; é como se antecipássemos os estágios da escala. E no caso
das escalas nordestinas podemos atingir as notas características em uma região de casas anterior do que quando
ponteamos em um par cuja casa 0 (corda solta) corresponde à nota chefe da escala.

Veja: deslizando o ponteado da casa 5 para a casa 3 temos uma alternância entre a nota
chefe da escala (Dó) e a nota característica desta escala nordestina, a 7a menor (neste
caso um La#). Experimente fazer arrastões de palheta no progredir do ponteado e
quando voltar ao Dó, volte para o La# e volte ao Dó!

PERSPECTIVA DESTRA

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Fa Mi Re Do La# La Sol

Fa Mi Re Do La# La Sol

OBS. Visualização linear espelhada de escala nordestina A em Dó nos pares em Sol – progressão no par 3 e 5.
PERSPECTIVA DESTRA

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Fa# Mi Re Do Si La Sol

Fa# Mi Re Do Si La Sol

OBS. Visualização linear espelhada de escala nordestina B em Dó nos pares em Sol – progressão no par 3 e 5.

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Fa# Fa Mi Re Do La Sol

Fa# Fa Mi Re Do La Sol

OBS. Visualização linear espelhada de escala nordestina C em Dó nos pares em Sol – progressão no par 3 e 5.
Podemos aplicar o espelhamento de ponteados para todas as escalas desde que controlemos a nota de
referência delas – isto é, a nota chefe. O recurso que temos à mão na realejo é manter sempre o Dó (ou o
Sol, ainda que menos intuitivo) como nota chefe das escalas. O espelhamento de ponteados funciona
muito bem com cordas soltas e arrastões de palheta e por isso nossa ênfase para a exploração da realejo
aberta tal como ela é: ressonante, de combinações fortes e propícia a truques musicais reconhecidos
como nordestinos. Conheça as escalas e pense seus ponteados misturando-as, alternando-as e
experimentando começá-las em outra região do braço da viola, em outra par, etc. E não se esqueça de
nutrir uma atenção especial às escalas nordestinas!

Faça dos ponteados simples, espelhados e não espelhados, seu idioma na viola em realejo. Eles
são pedagógicos e estimulam uma liberdade de ponteado e uso da viola em realejo. Lembre-se
de que palheta é sua melhor amiga para chegar até os sons: use-a com intenção, firmeza e
paciência!

Sabemos alguns os caminhos de ponteados na realejo.


É tempo de praticá-los!
Exercícios
ponteados & escalas
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº1

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e mínimo)
faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó maior no par 2. Ataque apenas esse par com a palheta.
Avance e regrida a escala; repita várias vezes.

Faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó maior no par 4. Ataque apenas esse par com a palheta.
Avance e regrida; repita várias vezes.

Utilizando dois dedos, faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó maior no par 4 e no par 2
alternadamente: primeiro ataque o par 4 e depois o par 2; avance para a próxima casa da escala e repita esta
ordem. Avance e regrida toda a escala; repita várias vezes. Cuidado para não ferir o par 3!

Utilizando dois dedos, faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó maior no par 4 e no par 2
simultaneamente: faça um breve arrastão de palheta do par 4 ao par 2 em cada posição da escala. Avance e regrida
toda a escala; repita várias vezes. Controle seu arrastão: ele deve começar no par 4 e terminar no par 2.

Lembre-se de corrigir a postura e manter suas


PERSPECTIVA DESTRA
articulações relaxadas!

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Sol

Si La Sol Fa Mi Re Do
Sol

Si La Sol Fa Mi Re Do
Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº2

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e mínimo)
faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó menor no par 2. Ataque apenas esse par com a palheta.
Avance e regrida a escala; repita várias vezes.

Faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó menor no par 4. Ataque apenas esse par com a palheta.
Avance e regrida; repita várias vezes.

Utilizando dois dedos, faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó maior no par 4 e no par 2
alternadamente: primeiro ataque o par 4 e depois o par 2; avance para a próxima casa da escala e repita esta
ordem. Avance e regrida toda a escala; repita várias vezes. Cuidado para não ferir o par 3!

Utilizando dois dedos, faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó maior no par 4 e no par 2
simultaneamente: faça um breve arrastão de palheta do par 4 ao par 2 em cada posição da escala. Avance e regrida
toda a escala; repita várias vezes. Controle seu arrastão: ele deve começar no par 4 e terminar no par 2.

Lembre-se de utilizar a palheta como a “ponta


PERSPECTIVA DESTRA
seca” do seu braço-compasso!

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Sol

La# Sol# Sol Fa Re# Re Do


Sol
La# Sol# Sol Fa Re# Re Do
Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº3

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e mínimo)
faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó maior no par 2 pulando para o par 1 assim que possível.
Ataque apenas um par por posição da escala. Avance e regrida a escala entre os 2 pares; repita várias vezes.

Faça a regressão da escala/ponteado simples de Dó maior iniciando no par 1 (casa 8) e ao invés de pular para o par
2 para terminar a regressão, pule assim que possível do par 1 para o par 4. Ataque apenas os pares das posições da
escala. Regrida e avance o ponteado com esse padrão; repita várias vezes.

Faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó maior no par 2 pulando para o par 1 assim que possível. Faça
um arrastão de palheta sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe soar! Avance e
regrida a escala. Repita várias vezes.

Lembre-se de equilibrar a força da sua palheta quando


realiza arrastões. Tente evitar que a palheta faça
PERSPECTIVA DESTRA “estalar” um par de cordas! Elas devem soar, mais ou
menos, na mesma intensidade.

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Sol

Re Do
Sol

Re Do

Do Si La Sol Fa Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº4

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e
mínimo) faça a progressão da escala/ponteado simples de Dó menor no par 2 pulando para o par 1 assim que
possível. Ataque apenas um par por posição da escala. Avance e regrida a escala entre os 2 pares; repita várias
vezes.

Faça a regressão da escala/ponteado simples de Dó menor iniciando no par 1 (casa 8) e ao invés de pular para o
par 2 para terminar a regressão, pule assim que possível do par 1 para o par 4. Ataque apenas os pares das posições
da escala. Regrida e avance o ponteado com esse padrão; repita várias vezes.

Faça a progressão da escala/ponteado simples em Dó menor no par 2 pulando para o par 1 assim que possível.
Faça um arrastão de palheta sobre os pares da viola para avançar e regredir o ponteado, mas evite que o par 1
soe no arrastão; inclua par 1 no arrastão apenas quando ele estiver sendo ponteado. Avance e regrida a escala.
Repita várias vezes.
Vigie a empunhadura de sua palheta: mantenha-a
levemente deitada para baixo e se habitue a conferir se a
PERSPECTIVA DESTRA ponta de ataque forma um ângulo agudo com as cordas.

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Sol

Re# Re Do
Sol
Re# Re Do

Do La# Sol# Sol Fa Mi


Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº5

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e mínimo)
faça a progressão da escala/ponteado simples da Escala nordestina A no par 2 pulando para o par 1 assim que
possível. Faça um arrastão de palheta sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe
soar! Avance e regrida a escala. Repita várias vezes.

Faça a regressão da escala/ponteado simples de Escala nordestina A no par 4. Faça um arrastão de palheta sobre
todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe soar! Avance e regrida a escala. Repita várias
vezes.

Passeie livremente, realizando arrastões de palheta, pela Escala nordestina A no par 2 e no par 1. Experimente pular
intervalos, regredir e progredir pedaços da escala; deixe os pares soarem conforme você ponteia. Repouse de seu
passeio na casa 3 (nota Sol) do par 1. Passeie bastante!

Lembre-se que o par 4 é espelhado pelo par 2 e que o


par 5 é espelhado pelo par 3. Aproveite e espelhe seus
PERSPECTIVA DESTRA
ponteados entre esses pares.

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Sol

La# La Sol Fa Mi Re Do
Sol

Re Do

Do La# La Sol Fa Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº6

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e
mínimo) faça a progressão da escala/ponteado simples da Escala nordestina B no par 2 pulando para o par 1 assim
que possível. Faça um arrastão de palheta sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado.
Deixe soar! Avance e regrida a escala. Repita várias vezes.

Faça a regressão da escala/ponteado simples de Escala nordestina B no par 4. Faça um arrastão de palheta
sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe soar! Avance e regrida a escala. Repita
várias vezes.

Passeie livremente, realizando arrastões de palheta, pela Escala nordestina B no par 2 e no par 1. Experimente pular
intervalos, regredir e progredir pedaços da escala; deixe os pares soarem conforme você ponteia. Repouse de seu
passeio na casa 3 (nota Sol) do par 1. Passeie bastante!

Não tenha pressa para fazer os exercícios. Lembre-se


que a viola só quer sua companhia, ela não tem pressa
PERSPECTIVA DESTRA
de terminar nada!

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Sol

Si La Sol Fa# Mi Re Do
Sol

Re Do

Do Si La Sol Fa# Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº7

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Observando as articulações de sua mão e procurando manter a ordem dos dedos (indicador, médio, anelar e mínimo)
faça a progressão da escala/ponteado simples da Escala nordestina C no par 2 pulando para o par 1 assim que
possível. Faça um arrastão de palheta sobre todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe
soar! Avance e regrida a escala. Repita várias vezes.

Faça a regressão da escala/ponteado simples de Escala nordestina C no par 4. Faça um arrastão de palheta sobre
todos os pares da viola para avançar e regredir o ponteado. Deixe soar! Avance e regrida a escala. Repita várias
vezes.

Passeie livremente, realizando arrastões de palheta, pela Escala nordestina C no par 2 e no par 1. Experimente pular
intervalos, regredir e progredir pedaços da escala; deixe os pares soarem conforme você ponteia. Repouse de seu
passeio na casa 3 (nota Sol) do par 1. Passeie bastante!

Ao realizar os arrastões sinta a palheta passando pelos


pares. Deixe-os soar às vezes um pouco mais, às vezes
PERSPECTIVA DESTRA
um pouco menos.

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Sol

La Sol Fa# Fa Mi Re Do
Sol

Re Do

Do La Sol Fa# Fa Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº8

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Utilizando os dedos indicador e anular, realize a progressão espelhada de ponteado simples na escala nordestina A
no par 1 e 3 por meio de arrastões de palheta. Lembre-se de começar na casa 5, haja visto que os referidos pares
estão afinados em Sol – e não se esqueça que os dedos caminham sincronizados! Repita o ciclo do começo ao fim,
várias vezes.

Realize a progressão espelhada da escala nordestina A no par 1 e 3 e ao término da progressão, antes de começar
um novo ciclo, repouse na casa 5 (nota Dó) e volte para a casa 3 (nota La#) como se esse retorno fosse uma nota a
mais na escala. Repita vários ciclos com essa finalização.

Tente pensar seus arrastões de palheta como um martelo


a soar um sino: ele precisa incidir a fim de perpetuar as
vibrações!

PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa Mi Re Do La# La Sol
Do

Fa Mi Re Do La# La Sol
Do
Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº9

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Utilizando os dedos indicador e anular, realize a progressão espelhada de ponteado simples na escala nordestina B
no par 1 e 3 por meio de arrastões de palheta. Lembre-se de começar na casa 5, haja visto que os referidos pares
estão afinados em Sol – e não se esqueça que os dedos caminham sincronizados! Repita o ciclo do começo ao fim,
várias vezes.

Realiza a progressão espelhada da escala nordestina B no par 1 e 3 e ao término da progressão, antes de começar
um novo ciclo, repouse na casa 5 (nota Dó) e volte para a casa 2 (nota Si) como se esse retorno fosse uma nota a
mais na escala. Repita vários ciclos com essa finalização.

A sincronia dos seus dedos só será eficaz se você os


posicionar bem. Lembre-se de como posicionar sua mão
de ponteado no braço da viola!

PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Mi Re Do Si La Sol
Do

Fa# Mi Re Do Si La Sol
Do
Mi
Ponteados & escalas: conjunto de exercícios Nº10

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de
devem estar relaxados – polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar
as cordas.

Utilizando os dedos indicador e anular, realize a progressão espelhada de ponteado simples na escala nordestina C
no par 1 e 3 por meio de arrastões de palheta. Lembre-se de começar na casa 5, haja visto que os referidos pares
estão afinados em Sol – e não se esqueça que os dedos caminham sincronizados! Repita o ciclo do começo ao fim,
várias vezes.

Realiza a progressão espelhada da escala nordestina C no par 1 e 3 e ao término da progressão, antes de começar
um novo ciclo, repouse na casa 5 (nota Dó) e volte para a casa 2 (nota Lá) como se esse retorno fosse uma nota a
mais na escala. Repita vários ciclos com essa finalização.

Dominar o ponteado é dominar sua palheta e os


caminhos que seus dedos ponteiam. Preste atenção em
como eles estão se articulando.

PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re Do La Sol
Do

Fa# Fa Mi Re Do La Sol
Do
Mi
PARTE 6
As notas nos arames
acordes
… pensamento em realejo III: combinações entre os arames
Concebemos a viola em realejo como um instrumento solista; isto é, uma viola que sozinha ponteia e
funciona bem para alastrar melodias e espalhar ressonância. Isso não significa que ela não possa ser uma
boa viola para acompanhamento. Mas diferentemente de outras violas no Brasil que estão acostumadas
a acompanhar outros instrumentos e vozes, a viola em realejo não possui um sistema consolidado de
acordes – referenciado para o acompanhamento. E isso é, em alguma medida, bom. Porque podemos
explorar estratégias para montar acordes para a realejo que não se distanciem muito de seu espírito
solista e ressonante.
E como fazer isso?
Podemos aproveitas as características de disposição das notas nos pares e nos guiar pelos ponteados
simples para armar e encontrar acordes. A viola em realejo funciona bem para todos os aspectos,
embora os mais confortáveis sejam os Dó, Sol, Fá maiores e Lá, Dó e Fá menores – sempre o Dó é a
melhor opção para a realejo. É interessante utilizar acordes no meio dos ponteados solitários; muitos
acordes reforçam o espírito de ressonância da realejo. A parte mais delicada da utilização de acordes na
viola em realejo está no fato de que seu aspecto natural é pouco comum em outras violas – o Dó maior.
Isso exigirá que se tenha mais atenção à viola em realejo para acompanhamento, já que serão inevitáveis
usos de pestana e desenhos de escalas distintos daqueles que utilizamos no aspecto natural da afinação.

Então qual a vantagem de utilizar a realejo para acordes?


Se pensada como uma viola solista capaz de oferecer sonoridades peculiares tanto tocando sozinha
como tocando com outras violas, instrumentos ou vozes: ela tem a oferecer sua ressonância forte,
ponteados facilitados pelo espelhamento de seus pares e, sobretudo, uma disposição de notas intuitiva
para se adaptar a diversos aspectos.
OS ACORDES
Lembremos: acordes são, geralmente, três notas combinadas que soam em conjunto. Sabemos que um
acorde maior é formado pelas notas nas posições 0 4 7 do círculo cromático e o acorde menor pelas
posições 0 3 7. A utilização de acordes é comum quando se busca que um instrumento, especialmente os
de corda, funcione como suporte, como acompanhamento, de outros instrumentos ou de vozes que
tecem a melodia – ou seja, que passeiam em uma escala. O acorde, diferente da escala, não define uma
melodia: ele é um som “em bloco”, um plano de fundo para que a melodia seja desenvolvida; é a estrada
pela qual nossa bicicleta, a melodia, a escala, vai passar.
Popularmente, especialmente no universo da viola, o acorde é às vezes chamado de “posição”, mas se
trata da mesma coisa: do arranjo notas que soam em “bloco” e que podem ter uso rítmico acentuado –
uma levada com padrão específico – ou para simples demarcação de períodos de um exercício musical
solo – acorde de começo e fim de trechos, etc. Para montar os acordes é muito importante olhar e
lembrar das notas no braço da viola em realejo. É com base na posição das notas dos pares nas casas
que iremos montar os acordes.

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

PERSPECTIVA DESTRA
Curiosamente, podemos montar com facilidade o mesmo acorde em mais de um lugar no braço da viola.
Isso é possível porque na viola nos basta, simplificadamente, encontrar as notas que compõem o acorde e
agrupá-las de modo que possam soar juntas. Não nos importa em que par as notas estejam: importa que
todas as notas do acorde estejam combinadas.

Exploraremos aqui três tipos de acordes e posições:



acordes maiores;

acordes menores;

acordes especiais: acordes fortes & acordes maiores com 7a menor.

E exploraremos dois modos de montá-los: um utilizando pestana e outro utilizando a combinação de


casas e pares distintos.

Mas antes de partirmos para a exposição e demonstração dos acordes, devemos acionar nossa valiosa
ferramenta: o círculo cromático das notas – novamente!
Ele será um importante guia e um tipo de gabarito das notas que precisam ser combinadas para se
formar um determinado acorde. Independente do modo que você escolha para montar um acorde, o
círculo cromático lhe auxiliará tanto na transposição (subir ou regredir a nota de referência do acorde)
quanto no mapeamento das notas que o compõem – e quais podem ser eventualmente adicionadas ou
subtraídas dele.

O círculo cromático é nosso mapa de combinações entre as notas e nossa bússola de


navegação!
Além de nos auxiliar na progressão (e na regressão) das notas em cada par no braço da viola o círculo
cromático nos ajuda a visualizar a relação entre acorde e escala. Por exemplo: sabemos que um acorde
maior é formado pelas notas nas posições 0 4 7 do círculo, que por sua vez são posições de uma escala
maior, 0 2 4 5 7 9 11. Se tomarmos a nota Sol como referência (na posição 0 do círculo) teríamos
respectivamente Sol, Si e Ré que são notas na escala de Sol maior. Então se quisermos montar um
acorde de Sol maior no braço da viola achamos essas notas para que possam soar juntas.

Seguindo o exemplo: há duas opções básicas para montar o acorde de Sol maior no
braço da viola.
A 1a opção é a mais simples: fazer uma pestana na 7a casa – isto é, pressionar
com o dedo indicador todos os pares na casa 7.
A 2a opção é pressionar os pares individualmente com os dedos a fim de que
as notas sejam moduladas em casas diferentes mas que estejam perto o
suficiente para a abertura da mão.

Acorde de Sol maior


11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi


Todos os pares devem soar. Apenas os pares pressionados devem soar.
PERSPECTIVA DESTRA
A tal da pestana…
é um jeito intuitivo de montar um acorde. Na viola, como a maioria das afinações
E como fazer a
pestana? Tem um são abertas – com as cordas soltas soam acordes naturais – a pestana é um jeito
atalho ou um jeito de você avançar a casa 0: se as cordas soltas na realejo soam um Dó maior uma
mais fácil de fazer? pestana na casa 7 soa 7 unidades à frente do Dó. Isto é, soa um Sol – e
consequentemente apertando todos os pares na casa 7 se tem um Sol maior. É
uma estrutura de modulação de notas muito útil e por isso tão usada na viola. A
pestana é um bom jeito de você ir memorizando as notas e fazendo as contas com
seu círculo cromático na realejo!
Os dedos podem se
ajudar: utilizando o
indicador como dedo
de pressão, empilhar
sobre ele os dedos 7 6 5 4 3 2 1 0
médio e anelar pode Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
ajudar!
Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

PERSPECTIVA DESTRA
Percorrendo a escala podemos encontrar as notas correspondentes às posições de um acorde qualquer
que desejamos montar. Por exemplo: sabemos que o acorde de Dó maior é a realejo soando solta. Isso
quer dizer que o Dó maior é uma pestana na casa 0 – e como a casa 0 é as cordas soltas, eis o Dó
maior! Mas se quisermos montar o Dó maior em outro lugar do braço, basta encontrarmos as notas das
posições 0 4 7 na escala de Dó maior – as notas Dó, Mi e Sol.
Lembre-se: não importa se as notas se repetem no momento de soar o
acorde. Importa apenas que as notas que estão soando correspondam a
notas nas posições 0 4 7 do círculo cromático na nota chefe do acorde que se
deseja montar.
Pressionar os pares individualmente nas casas é um modo às vezes mais
fácil e prático para montar os acordes. O cuidado a ser tomado, quando
montamos um acorde deste modo, é evitar que notas que não correspondem
às posições do tipo de acorde que estamos montando (0 4 7 para maiores, 0
3 7 para menores) sejam tocadas – e portanto não soem.

Acorde de Dó maior
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

PERSPECTIVA DESTRA
É importante notar que acordes menores não funcionam com pestana. E por quê? Porque a pestana é
uma réplica das notas na casa 0 que avançaram unidades no braço da viola – e consequentemente no
círculo cromático. Exemplo: uma pestana na casa 5 nada mais é do que uma pestana na casa 0 que
avançou 5 unidades. E se a realejo é uma afinação que soa Dó maior com as cordas soltas (casa 0), se
avançamos igualmente todas suas notas 5 unidades, ou qualquer quantia de unidades, com uma pestana,
estamos produzindo igualmente um acorde maior 5 unidades à frente.
O mesmo ocorre com qualquer acorde maior montado no braço da viola em pares e casas
individualmente pressionadas: o desenho do acorde feito pela sua mão pode andar para trás e para
frente no braço da viola e, consequentemente, no círculo cromático. Um Dó maior feito no braço da viola,
se avançado 5 casas, mantendo o desenho do acorde, vai soar 5 unidades à frente: um Fá maior.
PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re# Re Do# Do Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

Acorde de Fá maior Acorde de Dó maior


Eis uma estratégia para “passear” entre os acordes: deslocar um desenho de acorde montado no braço
da viola para frente e para trás. Pode ser uma pestana, pode ser um acorde montado individualmente
pelos dedos em pares e casas individuais. Desde que se mantenha o desenho – o padrão, os intervalos
entre as notas – estamos reproduzindo o mesmo tipo de acorde (maior ou menor) unidades à frente ou
unidades atrás.

E os acordes menores? Para facilitar, pensemos os acordes menores como alterações pontuais dos
acordes maiores. Mesmo a pestana – que funciona para os acordes maiores – é útil para montarmos os
acordes menores, pois podemos “quebrá-la”: localizamos a nota correspondente à posição 4 do círculo
cromático e a substituímos pela nota da posição 3 e obtemos um acorde menor. O mesmo pode ser feito
com os acordes montados nos pares e nas casas individualmente: localizamos a nota correspondente à
posição 4 e a substituímos pela nota da posição 3 e temos o acorde menor!

5 4 3 2 1 0
Acorde de Fá menor
Do Si La# La Sol# Sol
No caso da pestana
Fa Mi Re# Re Do# Do
“quebrada” utilize apenas
três dedos para Sol
Do Si La# La Sol#
pressionar as notas do
acorde que não se Fa Mi Re# Re Do# Do
repetem!
La Sol# Sol Fa# Fa Mi
Fá Sol# Dó
PERSPECTIVA DESTRA

Veja: temos aqui um Fá menor! Caso fizéssemos uma pestana na casa 5 teríamos um Fá maior. Mas ao invés de completar a
pestana, substituímos a posição 4 (nota Lá) pela posição 3 (nota Sol#). “Quebramos” a pestana e conseguimos um acorde
menor! Como não é possível fazer a pestana e o acorde menor, utilizamos os dedos individualmente para pressionar os pares
nas notas do acorde menor.
Para os acordes montados em pares e casas individualmente o raciocínio é o mesmo: substituir a nota
da posição 4 no círculo cromático pela nota da posição 3. Quais dedos utilizar? Os que lhe forem mais
confortáveis para pressionar os pares nas casas indicadas.
Lembre-se: basta “andar” com o desenho do acorde montado para avançar ou regredir a nota chefe do acorde!
PERSPECTIVA DESTRA

5 4 3 2 1 0
Acorde de Dó menor
Do Si La# La Sol# Sol
Utilize os dedos que
forem mais confortáveis Fa Mi Re# Re Do# Do
para pressionar as notas Sol
Do Si La# La Sol#
do acorde que não se
repetem! Fa Mi Re# Re Do# Do

La Sol# Sol Fa# Fa Mi


Dó Re# Sol

Repare: é o mesmo desenho “andando” pelo braço da viola!

5 4 3 2 1 0
Acorde de Lá menor
Do Si La# La Sol# Sol
Utilize os dedos que
forem mais confortáveis Fa Mi Re# Re Do# Do
para pressionar as notas
Do Si La# La Sol# Sol
do acorde que não se
repetem! Fa Mi Re# Re Do# Do

La Sol# Sol Fa# Fa Mi


Lá Dó Mi
Lembrete: a casa 0 é corda solta!
E os acordes “especiais”?
Os acordes “especiais” são como chamamos aqui dois tipos de acorde: o acorde forte e o acorde com 7a menor.
O acorde forte é um acorde que suprime as posições 3 e/ou 4 de seu arranjo no círculo cromático. É o
que a teoria musical popular chama de “acorde sem 3a”. Assim o acorde forte é um acorde de 2 ou mais
notas que correspondem apenas às notas nas posições 0 e 7 no círculo cromático.
É um acorde que combina tanto com escalas e acordes maiores como
com escalas e acordes menores. É simples montá-lo: basta montar um
acorde qualquer e deixar soar apenas as posições 0 e 7. É um acorde
“seco” e que preenche bem o espaço quando soa com ressonância.
Com a realejo temos um acorde forte em Dó praticamente montado!
Basta pressionar o par 1 no casa 3 e ferir todas as cordas: temos apenas
as notas Dó e Sol soando! Uma boa estratégia para montá-los é essa:
transformar a nota da posição 3 ou 4 em uma nota da posição 0 ou 7.

O acorde com 7a menor, popularmente conhecido também como acorde de preparação, é um acorde
maior que possui as posições 0 4 7 + a posição 10. É um acorde muito associado à música nordestina. É
também utilizado como transição entre outros acordes e, às vezes, utilizado como um acorde “sem
resolução” – que soa nem pra lá e nem pra cá! Veja: tendo o Dó como nota de referência,
um acorde com 7a menor é um Dó maior (Dó + Mi + Sol) + a nota Lá#.

Por que este tipo de acorde está presente na música nordestina? Porque a posição 10 é uma
posição importante em uma das escalas nordestinas. E o acorde tem a função geral de “estrada”
para a melodia – a escala – a ser executada em um determinado exercício musical. Logo, para que
escala e acorde não se choquem, a escala precisa conter as notas do acorde.
Vejamos dois exemplos simples no braço da viola:

Acorde de Dó maior “forte” PERSPECTIVA DESTRA

7 6 5 4 3 2 1 0
Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

Dó Sol

Lembrete: há mais de um jeito de montar o mesmo acorde no braço da viola!

Acorde de Dó maior com 7a


7 6 5 4 3 2 1 0
Re Do# Do Si La# La Sol# Sol
Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Re Do# Do Si La# La Sol# Sol

Sol Fa# Fa Mi Re# Re Do# Do

Si La# La Sol# Sol Fa# Fa Mi

Dó Mi Sol Lá#
Truques em Dó – ponteados sobre acorde
Os acordes e aspectos mais confortáveis para nossa viola são, como já dito, os de Dó, Fá e Sol maiores e
Dó, Fá e Lá menores; mas há entre eles alguns extremamente generosos. Quais? O Dó maior e o Dó
forte! Não só porque é o aspecto natural da realejo, mas também porque nos “empurra” para outros
acordes simples onde os ponteados podem funcionar na mesma lógica ao do acorde em Dó. Permite-se
assim que todas as cordas soem e incentivem o “engate” de ponteados simples ou espelhados.

Comecemos pelo mais intuitivo e confortável: o acorde Dó maior e sua transformação em acorde “forte”.

9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
arrastões palheta

Sol

Do

Do Sol

Do

Mi
Sol
PERSPECTIVA DESTRA

Este desenho de Dó maior valoriza as escalas Por ser o aspecto natural da realejo, o acorde em Dó maior é muito
nordestinas: podemos pontear tudo partindo confortável. O interessante do Dó maior é que ele se transforma
do Dó, seja no par 2 ou 4; no par 3 ou 1 facilmente em um Dó forte soando todos os pares e mantendo par 1
(tendo a casa 5 como referência) ou pressionado na casa 3 – e se quisermos aumentar ainda mais a
mantendo o par 1 sempre ponteado: focando ressonância, pode-se pressionar também o par 3 na casa 5. Utilizando o
o par 1 e fazendo arrastões de palheta. Veja Dó forte podemos acompanhar melodias tanto em Dó maior quando em
que podemos facilmente utilizá-las encima do Dó menor – porque mantemos apenas as notas fortes (Sol e Do) que
acorde maior e também de sua existem em ambos tipos de acorde.
transformação em acorde forte.
Vejamos como as escalas nordestinas, pensadas com ponteados simples atacados individualmente
ou com arrastões de palheta, acomodam-se bem na ressonância e derivações de Dó maior e Dó
forte.
PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
arrastões palheta

Fa Mi Re Do La# La Sol
La# La Sol Fa Mi Re Do
Fa Mi Re Do La# La Sol

La# La Sol Fa Mi Re Do

Do La# La Sol Fa Mi

Mapeamento da Escala nordestina A encima de acorde em Dó – destaque para ponteado no par 2 e 1.

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
arrastões palheta

Fa# Mi Re Do Si La Sol
Si La Sol Fa# Mi Re Do
Fa# Mi Re Do Si La Sol

Si La Sol Fa# Mi Re Do

Do Mi
Si La Sol Fa#

Mapeamento da Escala nordestina B encima de acorde em Dó – destaque para ponteado no par 2 e 1.


PERSPECTIVA DESTRA

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
arrastões palheta

Fa# Fa Mi Re Do La Sol
La Sol Fa# Fa Mi Re Do
Fa# Fa Mi Re Do La Sol

La Sol Fa# Fa Mi Re Do

Do La Sol Fa# Fa Mi

Mapeamento da Escala nordestina C encima de acorde em Dó – destaque para ponteado no par 2 e 1.

Se nos acostumarmos a pensar os desenhos de um acorde qualquer como uma moldura das notas de
uma escala, tudo fica mais fácil. Observemos o exemplo do Dó maior e Dó forte: temos todas as notas da
escala facilmente dispostas para ponteados simples e os conseguimos executar tanto priorizando os
pares mais agudos – par 2 e 1 – como realizando ponteados simples espelhados – par 2 e 4; par 1 e 3. E,
para qualquer um dos casos, tanto ataques individuais nos pares como arrastões de palheta funcionam
bem já que todos os pares podem soar, reforçando assim a ressonância.

Meio a esses acordes, Dó maior e Dó forte, e as escalas nordestinas que se dispõem sobre eles, existe
um terceiro acorde generoso que pode ser utilizado para o mesmo mapeamento dessas escalas: o
acorde de Lá menor. Há também um outro acorde que desempenha o papel um papel melódico
importante nessas escalas nordestinas apresentadas aqui em Dó, o acorde de Ré maior – especialmente
seu desenho com pestana na casa 2.
PERSPECTIVA DESTRA

O Lá menor é um acorde importante para nossa viola em


realejo, porque ele é um acorde aparentado ao Dó maior, 5 4 3 2 1 0
ainda que um acorde menor. É dessa relação que muito La Sol
da música nordestina nasceu – lembre-se de baiões que Do
ecoaram por João do Vale, Marinês, João Bá! Sol
La
Experimente pontear as escalas nordestinas desenhadas
Do
encima do Dó mas usando o Lá menor como repouso. Ou
Mi
melhor ainda: experimente pontear uma escala nordestina
em Dó, partindo da casa 2 no par 3 no desenho de Lá
Acorde de Lá menor
menor.

Lembre-se que a movimentação tridimensional da sua palheta é um


dos grandes trunfos para fazer os acordes soarem com nuances.

Outro acorde importante para os ponteados nas escalas 5 4 3 2 1 0


nordestinas é o acorde de Ré maior – especialmente seu La Sol
desenho com pestana. Este acorde une notas
Re Do
características das escalas nordestinas e funciona como
um acorde de “tensão” para preparar a melodia do La Sol
ponteado que virá. Experimente ao longo de ponteados Re Do
nas escalas nordestinas soar este desenho de Ré maior e Mi
Fa#
voltar para o acorde de Dó maior – ou mesmo o de Lá
menor. Acorde de Re maior
Vamos recapitular antes de prosseguir.

Acordes maiores agrupam e soam as notas das posições 0 4 7 do círculo cromático tendo como
referência uma nota qualquer.
Acordes menores agrupam e soam as notas das posições 0 3 7 do círculo cromático referência uma
nota qualquer.
Acordes especiais
- Acordes fortes agrupam e soam as notas das posições 0 7 do círculo cromático referência uma nota
qualquer.
- Acordes maiores com 7a menor agrupam e soam as notas das posições 0 4 7 11 do círculo cromático
tendo como referência uma nota qualquer.
Acordes importantes para ponteados na realejo
- Dó maior, Lá menor & Ré maior.
Lembre-se: todo acorde é uma reunião em bloco de algumas notas de uma determinada escala. É
possível montar um acorde a partir de uma escala conhecida e vice-versa.

Você pode encontrar um mapa geral de


acordes para a realejo na Parte 8 deste
caderno.

Já sabemos a lógica dos acordes na realejo.


É tempo de explorar seus desenhos!
Exercícios
acordes
Os exercícios que seguem estão dispostos como mapas: como desenhos que localizam no braço da viola em
realejo as notas que compõem um determinado acorde.
São demonstrados aqui dois desenhos para cada acorde – mas não nos esqueçamos que existem mais do
que duas formas de fazê-lo. Na medida em que os mapas são apresentados também são propostos
exercícios.

Exploraremos aqui acordes de Dó, Fá e Sol – os aspectos mais confortáveis para a realejo.

Ao longo dos exercícios se esforce para:


• pensar os acordes como oportunidades de ponteados: utilize sua palheta para ferir os pares do acorde como se
fossem momentos ou etapas de uma escala – porque de fato eles são! Você não precisa sempre ferir os acordes
“em cheio”. Você pode ferir apenas algumas regiões dele “em cheio” e outra região ferir os pares
individualmente;
• utilizar os acordes como substitutos de notas mais lentas e pausas de um ponteado: ao longo de um ponteado
qualquer tente inserir acordes para “preencher” um momento mais lento ou uma pausa onde uma nota sozinha
ficaria soando;
• montar o mesmo acorde em vários lugares e conectá-los com ponteados: evite montar um acorde sempre no
mesmo lugar do braço da viola. Domine ao menos duas formas de montá-lo e sempre que possível tente “saltar”
de um para outro através de ponteados. Sempre que possível utilize cordas soltas para montar um acorde.
• aproveitar a mobilidade focal de sua palheta para pensar o ritmo no ataque ao acorde: nossa técnica de
palhetada não foca a realização de levadas ou padrões rítmicos de rasgueio com acordes. Utilize isso a seu
favor: faça de cada palhetada sua intenção rítmica; aproveite mais as notas do acorde para dar ênfase ao ritmo
– não o utilize sempre “em cheio” e nem sempre “aos poucos”. Pense em um equilíbrio!
• exercitar a complementariedade das duas mãos; sua mão de ponteio não precisa ser dependente da mão com a
palheta e vice versa. Às vezes uma pode deixar “faltando” algo para que a outra entre em cena e complete o
movimento.
Acordes & exercícios em Dó

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de devem estar relaxados –
polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar as cordas nas casas e pares indicados. Soe
apenas os pares e casas coloridos.

Observando as articulações de sua mão e buscando a melhor disposição para seus dedos, monte os desenhos do acorde de Dó maior. Para o
1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule para o 2 o desenho do acorde e ataque
individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2 o desenho. Repita várias vezes.

Dó maior Dó maior
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Sol Do Sol

Do Mi Do
Mi
Mi Sol
Desenho 1 Desenho 2
PERSPECTIVA DESTRA


Monte os desenhos do acorde de Dó menor. Para o 1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule
para o 2o desenho do acorde e ataque individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2o desenho. Repita várias vezes.

Dó menor Dó menor
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Sol Re# Sol

Re# Do Sol Do
Mi Mi
Sol Do
Desenho 1 Desenho 2

Não tenha pressa ao ferir os pares e as casas. Sua palheta deve ter
precisão e firmeza mesmo para soar um acorde “em bloco”.
Acordes & exercícios em Fá

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de devem estar relaxados –
polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar as cordas nas casas e pares indicados. Soe
apenas os pares e casas coloridos.

Observando as articulações de sua mão e buscando a melhor disposição para seus dedos, monte os desenhos do acorde de Fá maior. Para o
1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule para o 2 o desenho do acorde e ataque
individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2 o desenho. Repita várias vezes.

Fá maior Fá maior
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Do Sol

Do Fa Do

La Sol Do Sol

Do Fa Do
Fa Mi La Mi
Desenho 1 Desenho 2 Pestana!
PERSPECTIVA DESTRA


Monte os desenhos do acorde de Fá menor. Para o 1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule
para o 2o desenho do acorde e ataque individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2o desenho. Repita várias vezes.

Fá menor Fá menor
5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol

Do Do
Sol# Sol Do Sol

Do Fa Do

Fa Mi Sol# Mi
Desenho 1 Desenho 2

Lembre-se: casa 0 significa que o par soa “solto”, sem nenhuma


casa pressionada!
Acordes & exercícios em Sol

Com a viola no peito e afinada, posicione sua mão de ponteado no braço da viola. Lembre-se: sua mão e dedos de devem estar relaxados –
polegar apoiado na porção superior traseira do braço da viola e dedos prontos para apertar as cordas nas casas e pares indicados. Soe
apenas os pares e casas coloridos.

Observando as articulações de sua mão e buscando a melhor disposição para seus dedos, monte os desenhos do acorde de Sol maior. Para
o 1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule para o 2 o desenho do acorde e ataque
individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2 o desenho. Repita várias vezes.

Sol maior Sol maior


5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Re Sol

Do Sol Do

Si Sol Re Sol
Re Do Sol Do
Sol Mi Si Mi
Desenho 1 Desenho 2 A pestana pode pegar todos os pares ou excluir o par 5,
que aqui pode soar solto.
PERSPECTIVA DESTRA


Monte os desenhos do acorde de Sol menor. Para o 1o desenho faça um arrastão de palheta de cima para baixo; ao terminar o arrastão pule
para o 2o desenho do acorde e ataque individualmente, de baixo para cima, as notas/casas do 2o desenho. Repita várias vezes.

Sol menor Sol menor


5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol

Do Do

La# Sol Re Sol


Re Do Sol Do
Sol Mi La# Mi
Desenho 1 Desenho 2

Confira os desenhos dos acordes e não se esqueça que você pode


“andar” com o desenho pelo braço, subindo e descendo a nota de
referência do acorde!
Acordes especiais & exercícios

Realizando arrastões de palheta, monte e soe uma vez cada desenho de acorde com 7a; após soá-los, arme um desenho maior e em seguida
um desenho menor do respectivo acorde. Ex: desenho 1 do Dó maior com 7a, desenho 2 do Dó maior com 7a; depois Dó maior (qualquer
desenho) e depois Dó menor (qualquer desenho). Soe apenas os pares e casas indicadas (coloridos). Repita a sequência várias vezes.

PERSPECTIVA DESTRA

Dó maior com 7a Dó maior com 7a


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Do Sol La# Sol

Sol Do Do
La# Mi Mi
Desenho 1 Desenho 2

Fá maior com 7a Fá maior com 7a


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Do Sol
Do Fa Do
La Sol Re# Sol

Re# Do Fa Do

Fa Mi La Mi
Desenho 1 Desenho 2

Sol maior com 7a Sol maior com 7a


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Sol Do

Si Sol Fa Sol

Re Do Sol Do

Fa Mi Si Mi
Desenho 1 Desenho 2
Acordes especiais & exercícios

Realizando arrastão de palheta, de cima para baixo, monte e soe três vezes cada desenho de acorde forte. Soe apenas os pares e casas
indicadas (coloridos). Deixe soar! Repita a sequência várias vezes.

Para cada desenho de acorde realize um arrastão de palheta de cima para baixo; ao finalizar o arrastão ataque individualmente o par mais
inferior do acorde e em seguida um par superior que possua a outra nota do acorde. Repita três vezes esse procedimento por desenho de
acorde. Repita o procedimento várias vezes. Ex: arrastão no desenho 1 de Dó forte + ataque no par 1 (sol) + ataque no par 4 (do); etc.
PERSPECTIVA DESTRA

Dó forte Dó forte
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Sol Sol
Do Sol Do

Sol Mi Do Mi
Desenho 1 Desenho 2

Fá forte Fá forte
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Do Sol Do Sol
Fa Do Fa Do
Do Sol Do Sol

Do Fa Do

Mi Do Mi
Desenho 1 Desenho 2

Sol forte Sol forte


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Re Do Sol Do

Sol Re Sol

Re Do Sol Do

Sol Mi Re Mi
Desenho 1 Desenho 2
Acordes especiais & exercícios

Soando o acorde de Lá menor como ponto de partida e repouso, navegue em ponteados simples no par 1 e 2 em escalas nordestinas em Dó
– ponteie bastante!

Ao fim de suas navegação de ponteados, arme e soe o acorde de Ré maior. Se você quiser, encontre situações para montar e soar o Ré
maior durante os ponteados. Pratique bastante essas situações!
PERSPECTIVA DESTRA
Acorde de Lá menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
3 2 1 0
Sol
La
La
Do
Re
La
Re
Sol
+ La
Re
Do
Fa#
La# La Sol Fa Mi

Escala nordestina A Acorde de Ré Maior

Acorde de Lá menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol
La
Do Não tenha pressa em pontear
La Sol
pelas escalas. Intercale: monte o
Re Do
acorde e ponteie uma escala;
Si La Sol Fa# Mi
monte novamente o acorde e
Escala nordestina B
ponteie. Não se esqueça de
Acorde de Lá menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 encontrar momentos ao longo dos
Sol seus ponteados em que o acorde
La
Do de Ré maior possa ser montado e
La Sol
soado.
Re Do

Do La Sol Fa# Fa Mi
Escala nordestina C
PARTE 7
Arranjos & tablaturas

Ilustração: montagem com trechos de tablatura do


Instrucción de música sobre la Guitarra Española de
Gaspar Sanz, 1674.
AVISO SOBRE OS ARRANJOS E AS TABLATURAS

Este Caderno de uma viola em realejo é material instrucional fruto das atividades do projeto de
extensão VÁRIA – artes e violas na caatinga sediado na Universidade Federal do Vale do São
Francisco (UNIVASF), campus Serra da Capivara (São Raimundo Nonato PI). Assim como todas
as atividade do VÁRIA, este material é gratuito, sem fins lucrativos e tem o propósito exclusivo
de promoção e difusão da viola de dez cordas no Piauí e especialmente no semiárido.

Dito isso: os arranjos aqui apresentados são versões livres, simplificadas e adaptadas de temas
compostos, registrados e executados pelos seus respectivos autores. Não há neste caderno
qualquer intenção de explorar comercial ou publicitariamente tais temas. Os temas aqui
referenciados são propriedade de seus autores.

O uso comercial de qualquer natureza dos arranjos e tablaturas aqui apresentados


são expressamente proibidos. Este material deve ser acessado, consultado e
divulgado exclusivamente como conteúdo gratuito e educativo do projeto VÁRIA –
artes e violas na caatinga.
Arranjos
Adiante estão alguns arranjos para prática de uma viola de dez cordas em realejo. A seleção e a
construção desses arranjos ocorreram visando quatro aspectos: 1) temas que pudessem valorizar a
concepção de viola em realejo proposta neste caderno; 2) temas que fossem nem muito
desconhecidos, nem muito conhecidos e que estivessem ausentes dos repertórios usuais das violas
brasileiras; 3) temas que estivessem estruturados, em alguma medida, na exploração de escalas
nordestinas; 4) temas que estivessem na memória musical da viola em realejo do autor que aqui
escreve.

Os arranjos foram pensados como execuções melódicas ponteadas, preenchidas por


espelhamentos e replicações de notas. Assim, apesar de mantida a fidedignidade da melodias dos
temas, os arranjos não são uma transcrição total dos temas referenciados. Com exceção do
tema “A fuga de Teméia”, originalmente composto para uma viola solo em realejo, os demais temas
são adaptações livres de linhas melódicas dos temas para o propósito deste caderno. Há nos
arranjos, como é natural de se esperar, muito mais do olhar e da intenção do violeiro arranjador –
eu que aqui escrevo – do que dos autores dos temas que não pensaram tais músicas para uma
viola em realejo.

Todos os arranjos foram montados em Dó maior ou em Lá menor.

Todos os arranjos colocam em prática os exercícios apresentados neste caderno.


Os seis temas arranjados neste caderno são:

A fuga de Teméia de Rainer Miranda Brito. Gravação de referência: Sendeiro Âmbar (álbum), inédito.
Intérprete: o autor.

Disparada de Geraldo Vandré & Théo de Barros. Gravação de referência: Festival de Música Popular
Brasileira – TV RECORD, 1966. Intérpretes: Jair Rodrigues, Trio Novo & Trio Marayá.

Facho de Fogo de João Bá & Vidal França. Gravação de referência: Carrancas I (álbum), 1988. Intérprete:
os autores e músicos acompanhantes.

O Pedido de Elomar Figueira Mello. Gravação de referência: … Das barrancas do Rio Gavião (álbum), 1973.
Intérprete: o autor.

Ponteio Acutilado de Antônio Carlos Nóbrega. Gravação de referência: Do Romance ao Galope


nordestino (álbum), 1974. Intérprete: Quinteto Armorial.

Uricuri de João do Vale & José Cândido. Gravação de referência: João do Vale (álbum), 1981. Intérprete:
Clara Nunes, João do Vale e músicos acompanhantes.
Tablaturas
As tablaturas apresentadas a seguir possuem marcação de duração das notas, útil para leitores
que tenham noção de leitura musical. No mais, tratam-se de tablaturas com visualização e
execução comuns, servindo como espelho da execução referência – sejam os vídeos
complementares que devem ser publicados aos poucos após o lançamento deste caderno, sejam
as tablaturas interativas online já acessíveis.

A leitura básica da tablatura para a viola é simples. Pressionar e atacar o Par 1 na casa 3

Cada linha representa um par de cordas – e como nossa Par 1 3


viola possui 5 pares, então temos 5 linhas. Em cada Pressionar e atacar o Par 2 na casa 4
linha estarão escritos números que correspondem ao Par 2 4
número da casa que aquela corda deve ser pressionada
e atacada. Caminhamos na tablatura da esquerda para Par 3 5
a direita.
ATENÇÃO: ao olhar uma tablatura você está “vendo” o Par 4
braço da viola invertido. A linha superior corresponde
ao par 1 (o par de baixo, mais fino), a segunda linha Par 5
superior corresponde ao par 2 e assim até a última OBS. Veja que as notas estão alinhadas
verticalmente. Isso significa que elas soam juntas. Pressionar e atacar o Par 3 na casa 5
linha inferior, que corresponde ao par 5 (par de cima,
mais grave da viola).

As tablaturas apresentadas possuem versão online interativa. Acesse as tablaturas


interativas no website do VÁRIA: << www.varia.univasf.edu.br >>.
A fuga de Teméia
Rainer Miranda Brito

1/4
2/4
3/4
21/07/2020

4/4
Disparada
Théo de Barros & Geraldo Vandré

1/2
2/2
Facho de Fogo
João Bá & Vidal França

1/3
2/3
3/3
O pedido
Elomar Figueira Mello

1/3
2/3
3/3
Ponteio Acutilado
Antônio Nóbrega

Arranjo: Rainer Miranda Brito

1/3
2/3
3/3
Uricuri
João do Vale & José Cândido

1/3
2/3
3/3
PARTE 8
Complementos


Mapa geral de acordes

Círculo cromático das notas – modelo e informações complementares

Referências bibliográficas & recomendações de leitura
Mapa geral de acordes
Adiante estão os desenhos para acordes maiores, maiores com 7a e menores. Para cada acorde
são exibidos dois desenhos possíveis; no caso dos acorde maiores a nota correspondente a 7a
menor é indicada também no mesmo desenho caso queira se montar o acorde maior com 7a.
Lembre-se: há diversos desenhos possíveis para o mesmo acorde. Apresentamos adiante alguns
desenhos que julgamos mais intuitivos.

A fim de otimizar a exposição dos desenhos, em cada diagrama do braço de viola estão indicados todos os
desenhos apresentados para o respectivo acorde. Os desenhos estão diferenciados pela cor das notas e pares
que devem soar no acorde.
Do maior
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol

Do

Do Sol

Mi Do
La#
Sol Mi

Desenho 2: bolinhas laranjas Desenho 1: bolinhas azuis


Nota de 7a menor (para acorde maior com 7a): bolinha tracejada vermelha

Não é preciso fazer todos os pares indicados soarem se soando menos pares as notas do acorde estiverem
contempladas. Em geral a maioria dos desenhos que soam “cheios” são as notas do acorde + repetições de
algumas dessas notas. Monte o desenho do acorde que lhe for mais confortável.
Mapa de acordes PERSPECTIVA DESTRA

Do maior Do menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol

Do Do

Do Sol Re# Sol

Mi Do Sol Re# Do
La# Sol Mi Do Sol Mi

Do# maior Do# menor


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol# Sol Sol

Do# Do Do# Do

Do# Sol# Sol Do# Sol# Sol

Fa Do# Do Mi Do# Do
Si Sol# Fa Mi Sol# Mi

Re maior Re menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
La Sol Sol
Re Do Do
Re La Sol Re La Sol

Fa# Re Do Fa Re Do
Do La Fa# Mi La Fa Mi

Re# maior Re# menor


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
La# Sol Sol

Re# Do Do

Re# La# Sol Re# La# Sol

Sol Re# Do Fa# Re# Do


Do# La# Sol Mi La# Fa# Mi
Mapa de acordes PERSPECTIVA DESTRA

Mi maior Mi menor
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Si Sol Sol

Mi Do Mi Do

Mi Si Sol Mi Si Sol

Sol# Mi Do Sol Mi Do
Re Si Sol# Mi Si Mi

Fa maior Fa menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Do Sol Sol

Fa Do Do

Do La Sol Do Sol# Sol

Fa Re#l Do Fa Do

La Fa Mi Sol# Fa Mi

Fa# maior Fa# menor


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Do# Sol Sol
Fa# Do Do
Do# La# Sol Do# La Sol

Fa# Mi Do# Do Fa# Do# Do

La# Fa# Mi La Fa# Mi

Sol maior Sol menor


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol

Sol Do Do

Re Si Sol Re La# Sol

Sol Fa Re Do Sol Re Do

Si Sol Mi La# Sol Mi


Mapa de acordes PERSPECTIVA DESTRA

Sol# maior Sol# menor


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Re# Sol Sol

Sol# Do Do

Re# Do Sol Re# Si Sol

Sol# Fa# Re# Do Sol# Re# Do

Do Sol# Mi Si Sol# Mi

La maior La menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol

Do Do

Do# La Sol Do La Sol


Sol Mi Do# Do Mi Do

La Mi La Mi

La# maior La# menor


9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol
Do Do
Re La# Sol Do# La# Sol
Sol# Fa Re Do Fa Do# Do

La# Fa Mi La# Fa Mi

Si maior Si menor
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Sol Sol

Do Do

Re# Si Sol Re Si Sol


La Fa# Re# Do Fa# Re Do

Si Fa# Mi Si Fa# Mi
Círculo cromático das notas
Esta é uma ferramenta muito importante para se guiar neste material. Siga as instruções adiante
para imprimir e montar seu círculo cromático.
Para montar seu círculo cromático:
1) Imprimar os modelos (estão na próxima página) em uma folha A4;
2) Corte a folha impressa na metade -- no serrilhado indicado;
3) Cole a metade da folha onde está o círculo branco sobre um pedaço espesso de papelão, isopor, etc;
4) Cole a metade do círculo laranja sobre um pedaço de papelão e recorte-o depois de colado no papelão;
5) Com um alfinete ou preguinho fure o centro do círculo branco;
6) Coloque o círculo laranja sobre a peça onde está o círculo branco e furando o centro do círculo laranja,
deixe o alfinete/prego atravessar a peça a fim de que ele se encaixe no furo do círculo branco.
7) A peça onde está colado o círculo branco funciona como base para que o círculo laranja possa girar no
eixo, o preguinho/alfinete, que atravessa centro das duas peças.

Papelão/isopor
Informações complementares do círculo
cromático das notas
O círculo cromático das notas além de fornecer uma visualização numérica e intuitiva da disposição e
movimentação das notas (círculos branco e laranja), exibe também ao redor do círculo branco os nomes dos
intervalos tal como são conhecidos no pensamento musical tonal.

Como dito inicialmente, o círculo cromático tem a função neste caderno de guiar e reforçar nossa abordagem
modal, haja visto a apresentação e condução de nossa viola em realejo como um ambiente de modos na viola.
Isto é, como uma afinação que funciona com base em regras/conjuntos fixos entre a distância de notas que
podem ser tocadas e outras que não podem ser tocadas. Escolhemos por exemplo três modos nordestinos
como foco (os ponteados); lembra? Pensamos assim sempre a posição 0 – a nota chefe – como suporte e
referência dos modos e seguimos soando nossa realejo. Focamos nos números inteiros exatamente por isso:
para ressaltar e fixar a distância entre as notas e os conjuntos que elas formam em cada modo que opera
como regra/conjunto que pode ser tocado. Não há nota chefe fixa, qualquer nota pode ser a referência para o
conjunto desde que se respeite a distância, a cadência numérica do modo.

Preferimos não aprofundar o assunto dos modos para evitar confusões e para não expandir demasiadamente
este caderno. Lembre-se que você vai interagir fora deste caderno majoritariamente com um pensamento
musical tonal. Isto é, com um pensamento que ao invés de pensar a música como uma relação fixa de
notas/intervalos inteiros pelos quais se percorre uma linha melódica (modal), pensa a música como uma
complexa relação hierárquica de caminhos das notas para cada tom – isto é, tonal. Para mitigar esse “choque”
com o pensamento tonal, nosso círculo possui nomes complementares ao redor do círculo branco que
dialogam com as relações tonais para quando você precisar realizar pontes com o pensamento tonal.
→ Oitava Tônica →
Intervalos das “sétimas”
7o grau menor / 7o grau maior Intervalos das “segundas”
→ sensível / subtônica 2o grau menor / 2o grau maior
→ supertônica

→ superdominante /
submediante

6a menor = 5a aumentada.

Intervalos das “terças”


3o grau menor / 3o grau maior
→ mediante

Intervalos das “quintas”


→ dominante
Intervalos das “quartas”
→ subdominante
Referências bibliográficas & indicações de leitura

Aqui estão reunidas algumas referências de leitura e conteúdo que conversam diretamente com este caderno.
Optamos por citar as referências mais amplas – que pudessem impulsionar o leitor para outras referências que aqui
não listamos. Tentamos também manter o foco no conteúdo relacionado à viola no âmbito musical nordestino.

Vale a pena visitar os itens da lista e a partir de cada item percorrer outras referências que ele oferece. Boas leituras!

ACERVO CEPE. S/D. Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco 45 anos. Disponível em <<
http://www.acervocepe.com.br/acervo/-orquestra-armorial-de-camara-de-pernambuco-45-anos >>.

ARMAZÉM MEMÓRIA. S/D. Discos Marcus Pereira. Disponível em <<


http://armazemmemoria.com.br/discos-marcus-pereira/ >>.

Caçapa, Rodrigo. 2018. Violas eletrodinâmicas: um manual de construção. São Paulo: Garganta Records.

Corrêa, Roberto. 2019. Viola caipira: das práticas populares à escritura da arte. Brasília: Viola Corrêa.

Deghi, Fernando. 2001. Viola brasileira e suas possibilidades. São Bernardo do Campo: Violeiro Andante.

Dias, Saulo Sandro Alves. 2010. O processo de escolarização da viola caipira: novos violeiros inventano modas e
identidades. Tese de doutorado em Educação, Universidade de São Paulo.

Ferrete, J. L. 1985. Capitão Furtado: viola caipira ou sertaneja? Rio de Janeiro: Funarte.

IPHAN. 2006. Samba de roda do recôncavo baiano. Brasília: IPHAN.

Lima, Cássio Nobre. 2008. Viola nos sambas do recôncavo baiano. Dissertação de mestrado em Música, Universidade
Federal da Bahia.
Pereira, Amalle Catarina. 2014. A dádiva e as palavras no cantar dos repentistas: etnografia do repente no Piauí.
Dissertação de mestrado em Antropologia Social, Universidade Federal do Piauí.

PROJETO ESSA VIOLA DÁ SAMBA. S/D. Disponível em: << https://sites.google.com/view/essavioladasamba/ >>.

Queiroz, Rucker Bezerra. 2014. O Movimento Armorial em três tempos: aspectos da música nordestina na
contextualização dos Quintetos Armorial, da Paraíba e Uirapuru. Tese de doutorado em Música, Universidade Estadual
de Campinas.

Ribeiro, Vicente Samy. 2014. O modalismo na música popular urbana do Brasil. Dissertação em Música, Universidade
Federal do Paraná.

Sautchuk, João Miguel. 2009. A poética do improviso: prática e habilidade no repente nordestino. Tese de doutorado em
Antropologia Social, Universidade de Brasília.

Santos, Marília Paula. 2017. Ecos Armoriais: influências e repercussão da música armorial em Pernambuco. Dissertação
de mestrado em Música, Universidade Federal da Paraíba.

Souza, Andréa Carneiro. 2005. Viola instrumental brasileira. Rio de Janeiro: Artviva.

Taubkin, Myriam. 2008. Violeiros do Brasil. São Paulo. Ed. Myriam Taubkin.

UM BRASIL DE VIOLA – Tradições e Modernidades da Viola Caipira. S/D. Disponível em: <<
http://umbrasildeviola.blogspot.com/ >>.
www.varia.univasf.edu.br

Material sem fins lucrativos. O uso comercial de qualquer natureza deste material é expressamento proibido.
VÁRIA, São Raimundo Nonato, Piauí - 2020.

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