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Redes WiMAX – Aspectos de Arquitetura e Planejamento

Marcio Eduardo da Costa Rodrigues


PUC-Rio

i
ÍNDICE GERAL

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1
1.1. Apresentação do Escopo e Objetivos.................................................................. 1
1.2. Resumo de Motivações para Novos Padrões de Redes Sem Fio ........................ 2

2. ASPECTOS SISTÊMICOS ........................................................................................ 4


2.1. Aspectos das Tecnologias Abordadas................................................................. 4
2.1.1. Banda Larga ................................................................................................ 4
2.1.2. OFDM ......................................................................................................... 5
2.1.3. Sistema de Antenas Adaptativas (AAS) ..................................................... 6
2.1.4. Modulação Adaptativa ................................................................................ 7
2.1.5. Arquitetura de rede ..................................................................................... 8
2.2. Sistemas WiMAX ............................................................................................... 8
2.2.1. IEEE 802.16 rev 2004............................................................................... 12
2.2.1.1. Designações do WiMAX 802.16 rev 2004 ....................................... 14
2.2.2. IEEE 802.16e ............................................................................................ 15
2.2.2.1. Estrutura de quadro TDD [12]............................................................. 16
2.2.2.2. Algumas características de camada PHY [12] .................................... 16
2.2.2.3. Gerência de Mobilidade.................................................................... 18
2.2.2.4. Aspectos de link budget para 802.16e .............................................. 18
2.2.2.5. Aplicações 802.16e ........................................................................... 18

3. PROPAGAÇÃO ....................................................................................................... 20
3.1. Considerações de propagação na faixa de 2 a 11 GHz ..................................... 20
3.2. Modelos de propagação .................................................................................... 21
3.2.1. IEEE 802.16 (SUI) models ....................................................................... 23
3.2.2. Modelo empírico MMDS.......................................................................... 26
3.2.3. Recomendação ITU-R P.1546-2............................................................... 27
3.2.4. Modelos Físicos ........................................................................................ 31

4. ASPECTOS DE PLANEJAMENTO........................................................................ 32
4.1. Minimização de interferências intra-sistêmicas e inter-sistêmicas ................... 32
4.2. Planejamento de freqüências............................................................................. 34
4.3. Considerações sobre planejamento de capacidade ........................................... 36
4.3.1. OFDM e Eficiência Espectral ................................................................... 37
4.4. Comparativo de cobertura................................................................................. 37

5. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 39

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 40

ii
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Tipos de acesso WiMAX ................................................................................ 10


Tabela 2 – Disponibilidade comercial esperada para equipamentos WiMAX ................. 11
Tabela 3 – Resumo de características IEEE 802.16 ......................................................... 11
Tabela 4 – Sumário das designações do IEEE 802.16 rev 2004....................................... 14
Tabela 5 – Taxas de dados de camada PHY, 802.16e ...................................................... 17
Tabela 6 – Classes de aplicações 802.16e ........................................................................ 19
Tabela 7 – Características gerais da faixa de freqüências considerada, conforme
apresentado comumente na literatura................................................................................ 20
Tabela 8 – Constantes para o modelo IEEE 802.16 (SUI) ............................................... 24
Tabela 9 – Classificação de modelos SUI......................................................................... 25
Tabela 10 – Valores de parâmetros para o modelo empírico MMDS .............................. 27

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Portadora simples e OFDM ............................................................................... 6


Figura 2 – Raios de célula relativos, conforme esquema de modulação ............................ 8
Figura 3 – Exemplo de alocação de freqüência; ponto-multiponto; 2 polarizações; 8
grupos de canais (#) .......................................................................................................... 36
Figura 4 – Comparação de cobertura – BS stardard e BS full featured ............................ 38

iii
1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação do Escopo e Objetivos

O presente trabalho tem por objetivo o estudo de tecnologias de redes sem fio para
implementação de tais sistemas em áreas metropolitanas (WMANs – Wireless
Metropolitan Area Networks). As tecnologias envolvidas tornar-se-ão de grande
utilização nos próximos anos e o estudo ora realizado tem como foco uma das vertentes
mais promissoras para a padronização e desenvolvimento de WMANs, que é o padrão
802.16, do IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers).

O avanço da tecnologia, que possibilitou trafegar serviços de comunicação de grandes


volumes e a altas taxas, em conjunto com a facilidade e rapidez de implantação de redes
sem fio a baixo custo em comparação com as redes baseadas em cabos, são os principais
atrativos deste tipo de rede. Suas aplicações incluem, entre outras coisas, a interconexão
de redes WLAN – basicamente, redes padrão IEEE 802.11 – com a Internet e a
implementação do acesso na “última milha” (ou “primeira milha”, mantendo foco na
ponta do cliente final).

É previsto que a implementação de redes deste tipo passe por uma fase de crescimento
acelerado a curto prazo. A expectativa de crescimento é confirmada pelos volumosos
investimentos que vêm sendo realizados por mais de 100 empresas que atuam na área de
comunicações, quer como fabricantes de equipamentos, quer como provedores de
serviços. Entre as empresas, pode-se citar Intel, Motorola, Siemens, AT&T, entre outras,
que se uniram na formação de um grupo – WiMax Forum – visando garantir
padronização para equipamentos e software, de forma a garantir interoperabilidade. De
fato, a perfeita interoperabilidade é uma das características mais aguardadas para essas
novas tecnologias.

No trabalho, são estudados os principais padrões IEEE 802.16 desenvolvidos e


especificados até o momento: IEEE 802.16 rev 2004 e IEEE 802.16e. São abordadas suas
caraterísticas técnicas, esquemas de modulação, arquiteturas de rede e tipos de
equipamentos existentes atualmente.

1
Estuda-se os aspectos de propagação na faixa de 2 a 11 GHz e fundamentos importantes
para o planejamento dos sistemas, como minimização de interferência intra-sistêmica e
inter-sistêmica, planejamento de freqüências e capacidade de tráfego.

1.2. Resumo de Motivações para Novos Padrões de Redes Sem Fio

O grupo WiMAX Forum apresenta um sumário interessante com motivações para o


estabelecimento de um padrão. [1]

Para fabricantes de equipamentos


▪ A adoção de plataforma comum, baseada em padrões, promove rápida
inovação e a adição de novos componentes e serviços;
▪ Concentram-se na especialização (ou seja, estações rádio-base e terminais de
usuário) – é desnecessária a criação da solução inteira, fim-a-fim, como em
um modelo proprietário;

Para consumidores
▪ Recebe serviço em regiões até então fora do atendimento de banda larga –
nações em desenvolvimento, com pequena infra-estrutura ou mesmo áreas
rurais e de difícil acesso;
▪ Maiores participantes no mercado significa maiores opções de escolha de
serviços banda larga;
▪ Relacionado ao segundo item, a existência de muitos fornecedores de serviço
padronizado tende a reduzir bruscamente preços, resultando em relativamente
baixas mensalidades para acesso à banda larga;

Para provedores de serviço


▪ A adoção de plataforma comum leva os custos para baixo, fomenta
competição saudável e encoraja a inovação;

2
▪ Propicia investimento inicial relativamente baixo de CAPEX (Capital
Expenditure), e gastos adicionais conforme o crescimento do negócio;
▪ Fim do comprometimento com um único fornecedor, comum em modelos de
tecnologia proprietária;
▪ Sistemas sem fio, natural e tradicionalmente, reduzem o risco de investimento
do operador;

Para outros participantes do mercado


▪ Padronização cria volume de oportunidades para fornecedores de chipset e
pastilhas de silício de forma geral.

3
2. ASPECTOS SISTÊMICOS

Nesta Seção, são apresentados conceitos relacionados às tecnologias abordadas e, ao


final, aspectos sistêmicos da tecnologia WiMAX são abordados.

2.1. Aspectos das Tecnologias Abordadas

2.1.1. Banda Larga

Do ponto de vista da taxa de transmissão, não há uma definição precisa e definitiva a


respeito de banda larga. Na literatura técnica, encontra-se, por exemplo, o termo “banda
larga” empregado para caracterizar sistemas de comunicação com taxas nominais
superiores a 56 kbps ou 128 kbps; porém, segundo a ITU, taxas de transmissão são
consideradas como banda larga apenas para velocidades superiores a 2 Mbps.

Sob o aspecto do estudo e modelamento da rádio-propagação, a introdução de sistemas


sem fio operando em banda larga traz novos desafios. Até o advento das comunicações
sem fio banda larga, os sistemas, ditos banda estreita (ou faixa estreita), eram bem
caracterizados pela atenuação mediana do nível de sinal calculada para a freqüência
central (ou para a maior freqüência, sem muita alteração nos resultados) e por uma
estatística que representasse a característica de desvanecimento do sinal (desvio padrão
da atenuação mediana é dos parâmetros fundamentais), importante na determinação da
margem do sistema. Em sistemas banda larga, essa caracterização não é suficiente.
Devido aos distintos efeitos de propagação presentes nos extremos da faixa e pelo fato de
se considerar potenciais problemas antes inexistentes, como interferência inter-simbólica
(ISI – Inter-Symbol Interference) e deslocamentos em freqüência por efeito Doppler (em
sistemas móveis), é necessário o conhecimento da função de transferência do canal.

Há na literatura algumas formas distintas de se classificar um canal de rádio-propagação


como sendo banda larga. Uma definição possível é: canais nos quais a faixa (range) de
freqüências é maior que 0,1% do valor da freqüência central. Entretanto, definição mais
razoável é aquela segundo a qual um canal é considerado banda larga se sua banda

4
excede a banda de coerência do canal, definida por Bc ≅ 1/(50στ), para função de
correlação entre freqüências acima de 0,9 (στ é o espalhamento temporal rms do sinal) [8].

Modelos que descrevem o canal banda larga em variados níveis de detalhe, mas
idealmente incluindo o perfil de retardos – conhecido como assinatura temporal do canal
– e a correspondente assinatura em freqüência (tomando a transformada de Fourier do
perfil de retardos), são conhecidos por modelos de canal (channel models). Uma
descrição detalhada sobre o tema é encontrada em [7].

2.1.2. OFDM

A seguir é apresentado um sumário da tecnologia OFDM (Orthogonal Frequency


Division Multiplex) e como suas características a tornam um dos mais importantes
atrativos de sistemas IEEE 802.16. [5]

OFDM não é uma técnica nova; o Bell Labs o patenteou originalmente em 1970, sendo a
tecnologia então incorporada a vários sistemas DSL (Digital Subscriber Line), assim
como no padrão de WLAN IEEE 802.11a.

O OFDM é baseado em um processo matemático denominado FFT (Fast Fourier


Transform), que permite que vários canais sobreponham grande parte de sua energia sem
perder suas características individuais (ortogonalidade), ou seja, sem interferirem entre si.
A técnica é especialmente popular em aplicações de sistemas sem fio, devido à sua
resistência a interferência e degradação. De fato, o OFDM permite que sistemas 802.16
operem com os grandes espalhamentos temporais (delay spread) de sinal, típicos dos
ambientes NLOS onde se espera que tais sistemas sejam implementados. Pelo fato de o
OFDM ser composto de múltiplas portadoras de faixa estreita (baixa taxa de transmissão,
longo período), desvanecimento seletivo está localizado em um subconjunto de
portadoras, fácil de equalizar. Interferência inter-simbólica é reduzida significativamente,
pois a taxa completa de transmissão (em portadora simples) é quebrada em taxas
menores, com símbolos de maior duração.

A Figura 1 apresenta uma comparação simples, que ilustra o conceito [10].

5
OFDM
Portadora simples

Nível

Freqüência Freqüência

Símbolos com Símbolos com


faixa larga, faixa estreita,
ocupando ocupando
pouco tempo muito tempo

Tempo

Feixe (stream) serial de Cada símbolo modula


símbolos, modulando uma uma portadora
única portadora banda larga

Figura 1 – Portadora simples e OFDM

2.1.3. Sistema de Antenas Adaptativas (AAS)

O AAS (Adaptative Antenna System) é apresentado na especificação do IEEE 802.16


para descrever as técnicas de conformação de feixe (beam-forming) nas quais um array
de antenas é usado na estação rádio-base (BS) com o objetivo de aumentar o ganho na
direção do usuário (SS) desejado, e anular – ou minimizar ao máximo – interferência de,
e para, outras SSs bem como outras fontes e destinos de interferência. As técnicas AAS
são usadas para possibilitar SDMA (Spatial Division Multiple Access), de forma que
múltiplas SSs, separadas no espaço, podem transmitir e receber no mesmo subcanal, ao
mesmo tempo. Pelo uso de conformação de feixe, a BS tem a habilidade de direcionar o
sinal desejado para as diferentes SSs, bem como distinguir entre os sinais oriundos das
diferentes SSs, ainda que estejam operando nos mesmos subcanais. [5]

Em linhas gerais, os sistemas de antenas adaptativas ajustam-se de forma a atender


determinado critério de desempenho pré-estabelecido, como a maximização da relação
S/(I+N). Há três categorias para os sistemas AAS [9]:

6
▪ Troca de feixes (Switched Beam): Várias antenas estão disponíveis para
transmissão e recepção, em cada setor do hub servidor. Os apontamentos das
antenas e diagrama de cada uma são fixos (o que é um limitante da técnica),
de forma que é um esquema semelhante à diversidade já conhecida (de duas
antenas). A cada momento, é escolhido o melhor feixe de comunicação com o
terminal;

▪ Direcionamento de feixe (Beam Steering): Aponta o máximo ganho da antena


do setor em direção ao terminal do usuário, maximizando S/(I+N). Pode ser
usado em terminais móveis ou fixos e é de complexidade intermediária entre a
técnica de troca de feixes e a próxima técnica, de combinação;

▪ Combinação para ótima relação S/(I+N): Sistema de re-alimentação


(feedback), pelo qual é verificado se a saída casa com um sinal de referência,
onde tenta-se extrair qualquer ruído ou interferência. É o esquema de mais
complexa implementação (ajustes de parâmetros de filtragem).

2.1.4. Modulação Adaptativa

A capacidade de alterar dinamicamente entre os vários esquemas de modulação definidos


pelo padrão, é uma das mais interessantes características da camada física do 802.16.
Basicamente, a definição da modulação a ser adotada é realizada pelo requisito de taxa de
transferência do usuário e pela relação sinal-ruído do enlace. Condições de propagação
severas ou enlaces muito longos, requerem esquema de modulação de menos níveis, mais
robusto, portanto. Nesse caso, em detrimento de taxa de transmissão, é garantida uma
comunicação estável a taxas mais baixas. Esquema BPSK ou QPSK é típico.

Quando altas taxas são necessárias e as condições de propagação são favoráveis,


usualmente enlaces de curta a média distâncias, esquemas de modulação de alta
eficiência espectral são empregados, para garantir taxas elevadas de transmissão. Nessas
circunstâncias, modulações 16-QAM e 64-QAM são empregadas. A modulação 64-QAM
pode suportar taxas de pico de 28 Mbps sobre um canal de 6 MHz [5].

A chave na modulação adaptativa é que ela aumenta a faixa na qual uma modulação de
mais alta ordem pode atuar, uma vez que é feita adaptação conforme distância e

7
condições de desvanecimento (particularmente crítico em ambientes NLOS), ao invés de
– como nos sistemas tradicionais – manter um esquema de modulação fixo, eficiente para
as piores condições (porém, lento). A Figura 2 apresenta o conceito, por diagrama
simplificado. Os valores de SNR (relação sinal-ruído) são de referência [10].

Figura 2 – Raios de célula relativos, conforme esquema de modulação

2.1.5. Arquitetura de rede

Sistemas 802.16 rev 4 podem operar em topologias de pontos consecutivos (CPN –


Consecutive Point Networks), formando, por exemplo, configuração em anel, da mesma
forma que enlaces ópticos. Outra possível configuração é a topologia mesh.
Configurações mesh dão a cada nó da rede, incluindo aí os terminais de usuários,
capacidade de roteamento. São redes auto-configuráveis, otimizando freqüentemente as
rotas, eliminando nós defeituosos ou percursos congestionados.

2.2. Sistemas WiMAX

WiMAX é uma tecnologia de transmissão de sinais, sem fio, banda larga, suportando
acesso fixo (ponto-a-ponto), nomádico (ponto-multiponto), portátil e móvel.

É interessante estabelecer, antes que se inicie no aprofundamento dos sistemas descritos


neste trabalho, as definições que envolvem o termo “WiMAX”. Há duas versões de
WiMAX, para endereçar diferentes tipos de necessidades de acesso [2].

8
▪ 802.16-2004 WiMAX
Essa designação abrange dois padrões de sistemas WiMAX: IEEE1 802.16 rev
2004, que se subdivide nas várias designações WirelessMAN; e ETSI2
HiperMAN.

Usa OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplex), suportando acesso


fixo e ponto-multiponto, operando em linha de visada (LOS – Line of Sight)
ou em obstrução (NLOS – Non Line of Sight). Para esse tipo de sistema,
fornecedores estão desenvolvendo equipamentos de usuário (SS – Subscriber
Station, ou CPE – Customer Premise Equipment) tanto outdoor como indoor,
bem como cartões PCMCIA para computadores. Inicialmente, os perfis de
interesse baseiam-se no uso das faixas de freqüências de 3,5 GHz e 5,8 GHz.

▪ 802.16e WiMAX
Versão otimizada para operação no canal de comunicação rádio móvel.
Baseado no padrão IEEE 802.16e, provê suporte para handoff e roaming3.
Adota SOFDMA (Scalable Orthogonal Frequency Division Multiple Access),
uma técnica de múltiplo acesso que usa sub-canalização segundo os princípios
do OFDM. As faixas de freqüências candidatas às implementações iniciais são
2,3 GHz e 2,5 GHz.

No presente trabalho, será dado enfoque aos padrões WiMAX propostos pelo IEEE. Tais
padrões, abrangem as camadas física (PHY) e MAC (Medium Access Control) dos
sistemas. A Tabela 1 apresenta um sumário dos tipos de acesso de sistemas WiMAX,
relacionando ao padrão que possibilita cada acesso [2].

1
IEEE – Institute of Electric and Electronic Engineers
2
ETSI – European Telecommunications Standards Institute
3
Handoff e Roaming são nomenclaturas usadas em sistemas móveis celulares para designar a troca de
freqüências do usuário ao mover-se entre células. O Roaming envolve, adicionalmente, troca de gerência de
comutação.

9
Definição Dispositivos Localidade/Velocidade Handoff 802.16 rev 2004 802.16e
Acesso Fixo CPEs indoor e outdoor Simples/Estacionário Não Sim Sim

Acesso
CPEs indoor, cartões PCMCIA Múltipla/Estacionário Não Sim Sim
Nomádico
Portabilidade Cartões PCMCIA ou mini- Múltipla/Velocidade de
Hard handoff Não Sim
cartões caminhada
Mobilidade Cartões PCMCIA ou mini- Múltipla/Baixa velocidade de
Hard handoff Não Sim
simples cartões, PDAs ou smartphones automóvel

Mobilidade Cartões PCMCIA ou mini- Múltipla/Alta velocidade de


Soft handoff Não Sim
total cartões, PDAs ou smartphones automóvel

Tabela 1 – Tipos de acesso WiMAX

As várias possibilidades de implementação de WiMAX, envolvendo as diferentes formas


de canalização, faixas de freqüências, duplexação, entre outras características, são
agrupadas formando os Perfis WiMAX Forum. Portanto, tais perfis são definidos pelos
seguintes parâmetros:
▪ Faixa espectral
▪ Duplexação
Duas opções: TDD (Time Division Duplex) e FDD (Frequency Division
Duplex)
▪ Largura de canal
Depende do espectro alocado pela agência reguladora local. Prevê-se que os
perfis iniciais estarão limitados a 3,5 MHz e a 7 MHz no espectro licenciado.
▪ Padrão IEEE
802.16 rev 2004 usa OFDM com 256 portadoras; 802.16e deverão usar em
grande parte o SOFDMA. Como já apresentado, apenas o 802.16e suporta
mobilidade do usuário.

A previsão de caminho (roadmap) para a evolução comercial do WiMAX é apresentada


na Tabela 2 [2].

10
802.16 rev 2004 802.16e
Primeiros produtos certificados;
2006 CPE outdoor;
CPE indoor auto-instalável;
Cartões PCMCIA para laptops

2007
Primeiros produtos certificados;
Cartões PCMCIA para laptops,
CPE indoor auto-instalável;

2008 Mini cartões PCMCIA para laptops;

PDA, smartphone

2009

Tabela 2 – Disponibilidade comercial esperada para equipamentos WiMAX

A Tabela 3 apresenta sumário contendo características gerais definidas para os padrões


IEEE 802.16 na faixa entre 2 e 11 GHz.

IEEE 802.16 rev 2004 IEEE 802.16e


Espectro 2-11 GHz 2-6 GHz
Canal de propagação LOS e NLOS LOS e NLOS
Taxa de transmissão Até 75 Mbps Até 15 Mbps
Multiplexação e/ou Acesso OFDM/OFDMA OFDM/OFDMA/SOFDMA
Modulação BPSK, QPSK, 16QAM, 64QAM BPSK, QPSK, 16QAM, 64QAM
Mobilidade Fixo (ponto-a-ponto/multiponto) Portabilidade, mobilidade, roaming
(inclusive entre tecnologias)
Larguras de canal Selecionável entre 1,25 e 20 MHz Selecionável entre 1,25 e 20 MHz
Raio de célula típico Típico 5 a 8 km ; máximo de 50 km Típico 1,5 a 5 km

Tabela 3 – Resumo de características IEEE 802.16

11
As Seções seguintes apresentam detalhamento a respeito dos padrões IEEE 802.16 rev
2004 e IEEE 802.16e.

2.2.1. IEEE 802.16 rev 2004

O Grupo de Trabalho IEEE 802.16 desenvolveu um padrão de acesso sem fio ponto-
multiponto, banda larga, para operação nas faixas de freqüências de 10-66 GHz e abaixo
de 11 GHz (basicamente, 2-11 GHz). O padrão cobre camada MAC (Media Access
Control) e PHY (Physical). [3], [4]

Uma série de considerações de camada PHY foram feitas, devido aos ambientes objetivo
de operação dos novos sistemas empregando a tecnologia. Para freqüências elevadas,
linha de visada (LOS – Line of Sight) é mandatório. Este requisito enfraquece o efeito do
multipercurso, permitindo canais de banda larga, tipicamente maiores que 10 MHz. Isso
provê ao IEEE 802.16 rev 2004 a habilidade de prover enlaces de alta capacidade, tanto
em uplink como em downlink. Para as faixas abaixo de 11 GHz, a capacidade de
operação sem linha de visada (NLOS – Non Line of Sight) é um requisito. A camada
MAC original, sofreu melhorias para acomodar diferentes camada PHY e serviços, que
endereçam as necessidades dos diferentes ambientes. O padrão é projetado para
acomodar tanto duplexação TDD (Time Division Duplex) como FDD (Frequency
Division Duplex), permitindo ainda, no caso FDD, terminais half e full-duplex.

A necessidade de operação sem visada (NLOS) foi o direcionador do projeto da camada


física (PHY) para a faixa de 2-11 GHz. São vislumbradas aplicações residenciais e
SOHO (Small Office Home Office), de forma que é esperado que topos de edificações
sejam muito baixos (obstruídos por vegetação e edificações mais altas) para que seja
possível linha de visada entre SSs e BS. Propagação por multipercursos será
predominante, quer pela faixa de freqüências envolvida, quer pelo ambiente em que a
propagação estará imersa. Ainda, para baixar custo e promover praticidade, a montagem
outdoor de antenas deverá ser evitada, levando as CPEs (Customer Premise Equipments),
ou seja, as estações de usuário (SSs), para dentro da residência ou escritório. [5]

12
Foi desenhada uma camada MAC especificamente para o ambiente de acesso sem fio.
Suporta protocolos de transporte como ATM, Ethernet e IP, sendo projetada para
facilmente acomodar futuros protocolos ainda não desenvolvidos. A camada é projetada
para as elevadas taxas de transmissão (até 268 Mbps em cada sentido) de uma autêntica
camada física banda larga, permitindo ainda QoS (Quality of Service) compatível com
ATM; UGS, rtPS, nrtPS e Best Effort.

Mecanismos na camada MAC provêm QoS diferenciado para suportar as diferentes


necessidades das diversas aplicações. Por exemplo, voz e vídeo requerem baixa latência,
porém toleram alguma taxa de erro. Por outro lado, aplicações genéricas de dados são
muito restritivas quanto a erro, mas latência não costuma ser crítica. O padrão acomoda
voz, vídeo e outras comunicações de dados pelo uso de características apropriadas na
camada MAC, o que é mais eficiente do que prover tais características em camadas de
controle acima da MAC.

Muitos sistemas no passado e atuais operam com esquemas fixos de modulação.


Modulações de mais alta ordem oferecem maiores taxas de transmissão, ao preço da
existência de enlaces ótimos; em contrapartida, modulações de mais baixa ordem são
mais robustas, porém suportando apenas baixas taxas de transmissão. O novo padrão
proposto suporta modulação adaptativa, efetivamente balanceando diferentes taxas de
transmissão às diversas condições do enlace. O esquema de modulação pode ser ajustado
quase que instantaneamente para transmissão ótima na comunicação. Modulação
adaptativa possibilita melhor uso do espectro e permite diversificação da base de
usuários.

A estrutura de quadros permite que sejam associados dinamicamente, aos terminais de


cliente, diferentes perfis de rajada, de acordo com as condições do enlace. Isso permite o
controle do compromisso entre capacidade e robustez, em tempo real; essa característica
também provê, a grosso modo, um aumento médio de duas vezes na capacidade, quando
comparado a sistemas não-adaptativos, mantendo disponibilidade adequada do enlace.

A camada MAC usa PDUs (Protocol Data Unit) de tamanho variável que, em conjunto
com outros conceitos desenvolvidos, aumenta significativamente a eficiência do padrão.
Múltiplos PDUs de camada MAC podem ser concatenados em uma rajada única,

13
economizando em overhead da camada PHY. Adicionalmente, múltiplos SDUs (Service
Data Units) para o mesmo serviço podem ser concatenados em um único PDU MAC,
economizando em overhead da camada MAC.

Mediante uso de esquema de auto-correção de requisição/garantia de banda, a camada


MAC elimina o overhead e o atraso em acknowledgements, enquanto que,
simultaneamente, permite melhor gerência de QoS do que são capazes os esquemas
tradicionais de acknowledgement. Os terminais possuem uma variedade de opções
disponíveis para a solicitação de banda, dependo dos parâmetros de QoS e tráfego dos
serviços. Os terminais podem ser acessados (polled) individualmente ou em grupos.
Terminais também podem sinalizar sobre a necessidade de serem acessados (polled),
aproveitando ainda para enviar (piggyback) pedidos de banda.

2.2.1.1.Designações do WiMAX 802.16 rev 2004

O padrão IEEE 802.16 rev 2004 possui cinco variantes, que podem ser definidas pela
camada PHY. As variantes são divididas segundo dois tipos de categorias: portadora
simples (SC – Single Carrier) ou OFDM; e faixa de freqüências, entre 2-11 GHz ou entre
10-66 GHz. Apenas como nomenclatura, as variantes são denominadas pelo IEEE como
“designações” do padrão IEEE 802.16 rev 2004. [5] A Tabela 4 fornece um resumo das
designações.

Designação Função LOS/NLOS Freqüência Duplexação


WirelessMAN-SC Ponto-a-ponto LOS 10-66 GHz TDD, FDD
WirelessMAN-SCa Ponto-a-ponto NLOS 2-11 GHz TDD, FDD
WirelessMAN Ponto-
NLOS 2-11 GHz TDD, FDD
OFDM multiponto
WirelessMAN Ponto-
NLOS 2-11 GHz TDD, FDD
OFDMA multiponto
Ponto-
WirelessHUMAN NLOS 2-11 GHz TDD
multiponto

Tabela 4 – Sumário das designações do IEEE 802.16 rev 2004

14
Designações WirelessHUMAN são versões TDD e com DFS (Dynamic Frequency
Selection) – entre outras adaptações presentes na especificação do padrão – das
designações WirelessMAN SCa, OFDM e OFDMA, para faixas não licenciadas.

2.2.2. IEEE 802.16e

O texto que segue foi em sua maior parte extraído de [12].

O padrão IEEE 802.16e, ou WiMAX Móvel (Mobile WiMAX), é uma solução de banda
larga sem fio que permite a convergência de redes banda larga, móveis e fixas, por uma
tecnologia MAN (Metropolitan Area Network) de rádio acesso de arquitetura de rede
flexível. A interface aérea (camada física) adota OFDMA (Orthogonal Frequency
Division Multiple Access), para desempenho superior quanto a multipercursos em
ambientes sem linha de visada (NLOS).O OFDMA escalável (SOFDMA) é introduzido
no padrão para suportar larguras de banda escaláveis, de 1,25 a 20 MHz. O Release-1 de
perfis de certificação do WiMAX Forum cobre as larguras de faixa de 5, 7, 8,75 e 10
MHz, nas faixas de 2,3, 2,5 e 3,5 GHz.

Algumas das importantes características do 802.16e são:

▪ Altas taxas de dados: a inclusão de técnicas MIMO (Multiple Input Multiple


Output) de diversidade espacial de antenas, em conjunto com esquemas de
sub-canalização, Codificação Avançada e Modulação permitem que o
WiMAX Móvel atinja taxas de pico de download de 63 Mbps por setor, e
picos de uplink de 28 Mbps por setor, em canal de 10 MHz;

▪ Qualidade de Serviço (QoS): A premissa fundamental da arquitetura de


camada MAC do IEEE 802 é QoS. Define Service Flows , que permitem QoS
baseado em IP, fim-a-fim. Adicionalmente, subcanalização e esquemas de
sinalização provêem mecanismo flexível para agendamento ótimo de recursos
de espaço, freqüência e tempo sobre a interface aérea, quadro a quadro;

▪ Escalabilidade: o projeto do padrão prevê adoção de diferentes possibilidades


de canalização, de 1,25 a 20 MHz. Permite que o padrão se adeqüe às
diferentes realidades mundiais de alocação de freqüências;

15
▪ Segurança: sistemas flexíveis e poderosos de segurança são nativos do
padrão. Autenticação EAP, criptografia AES-CCM. Suporte a diferentes
grupos de credenciais de usuário, incluindo: SIM/USIM cards (GSM/UMTS),
Smart Cards, Digital Certificates e esquemas Usuário/Senha;

▪ Mobilidade: suporta esquemas otimizados de handover com latências


menores que 50 ms para garantir aplicações em tempo real, como VoIP, sem
degradação de desempenho.

2.2.2.1.Estrutura de quadro TDD [12]

O padrão de camada PHY do 802.16e prevê TDD, FDD e FDD half-duplex. Entretanto,
as versões iniciais de perfis de certificação do WiMAX Forum incluirão apenas TDD.
Certificações FDD surgirão na medida em que possibilidade de mercado forem
levantadas onde regulação local proibir o uso de TDD ou aspectos locais forem mais
favoráveis ao uso de FDD. TDD é a duplexação preferida pelos seguintes motivos:

▪ Permite ajuste de taxa na relação uplink/downlink para suporte eficiente de


tráfego assimétrico, enquanto que no FDD Dl e UL são sempre fixos e, em
geral, com igual taxa;

▪ Assegura reciprocidade das características do canal, provendo melhor suporte


à adaptação de link, MIMO e outros avanços em tecnologia de antenas
empregados pelo padrão;

▪ Por requerer apenas uma faixa de canais, tende a ser muito mais flexível em
sua adaptação aos diferentes espectros alocados pelas agências reguladoras
locais;

▪ Implementações de transceptores TDD são menos complexas e, portanto, mais


baratas.

2.2.2.2.Algumas características de camada PHY [12]

Suporte a modulações QPSK, 16QAM e 64QAM é mandatório no downlink. No uplink,


64QAM é opcional.

16
A combinação de várias modulação e códigos convolucionais de taxa provê resolução
refinada de taxas de dados, como apresentado na Tabela 5 [12].

Canal de 5 MHz Canal de 10 MHz

Modulação Code Rate Taxa de DL, Taxa de UL, Taxa de DL, Taxa de UL,
Mbps Mbps Mbps Mbps

QPSK 1/2 CTC, 6x 0,53 0,38 1,06 0,78

1/2 CTC, 4x 0,79 0,57 1,58 1,18

1/2 CTC, 2x 1,58 1,14 3,17 2,35

1/2 CTC, 1x 3,17 2,28 6,34 4,70

3/4 CTC 4,75 3,43 9,50 7,06

16QAM 1/2 CTC 6,34 4,57 12,07 9,41

3/4 CTC 9,50 6,85 19,01 14,11

64QAM 1/2 CTC 9,50 6,85 19,01 14,11

2/3 CTC 12,67 9,14 26,34 18,82

3/4 CTC 14,26 10,28 28,51 21,17

5/6 CTC 15,84 11,42 31,68 23,52

Tabela 5 – Taxas de dados de camada PHY, 802.16e

Observações sobre a Tabela 5:


▪ CTC – Turbo Convolutional Code
▪ “x” – número de repetições do CTC
▪ Tamanho da FFT (Fast Fourier Transform) – 512 (5 MHz) e 1024 (10 MHz)

Quanto a perfis, tal qual descrito na Tabela 4, há perfis equivalentes para o 802.16e. Na
versão draft da descrição do padrão, emitida pelo IEEE, constam perfis com a mesma
denominação dos adotados para 802.16 rev 2004, porém com algumas funcionalidades e
parâmetros – tanto em camada física quanto em camada MAC – adequados à mobilidade.

17
2.2.2.3.Gerência de Mobilidade

O 802.16e provê dois estados de espera para o terminal móvel, para uso consumo
eficiente de bateria: Sleep Mode e Idle Mode. Também está no padrão o “seamless”
handoff, permitindo permanência de comunicação durante troca de área de cobertura, a
velocidades veiculares.

São definidos três tipos de handoff: Hard Handoff (HHO), Fast Base Station Switching
(FBSS) e Macro Diversity Handover (MDHO). HHO é o único mandatório.

No FBSS, há uma lista de BS (Base Station), chamada Active Set, envolvidas no FBSS
com a MS (Mobile Station). É definida uma Anchor BS, com quem a MS faz toda a
comunicação. A transição de anchor BS, ou seja, o handoff, é feito sem troca explícita de
mensagens de handoff, mediante medição de nível de sinais das BS pertencentes ao
active set. No MDHO a MS comunica-se com todas as BSs do active set.

2.2.2.4.Aspectos de link budget para 802.16e

Não há na literatura pesquisada referência explícita a diferenças relevantes entre o link


budget para sistemas móveis 802.16e e sistemas móveis celulares. Como principais
diferenças, pode-se citar o tratamento estatístico dado à ocupação de subportadoras
OFDMA e a consideração das soluções de antenas adaptativas/MIMO no cálculo dos
ganhos de transmissão e recepção.

2.2.2.5.Aplicações 802.16e

As aplicações vislumbradas para o WiMAX móvel podem ser categorizadas em cinco


grupos, conforme apresentado na Tabela 6 [12].

18
Requisito estimado de Requisito estimado Requisito estimado
Classe Aplicação
banda de latência de jitter
Jogos interativos
1 Baixo 50 kbps Baixo < 25 ms N/D
multiplayer
32 a 64
2 VoIP&videoconferência Baixo Baixo < 160 ms Baixo < 50 ms
kbps
Baixo a 5 kbps a 2
3 Streaming N/D Baixo < 100 ms
alto Mbps
Web&IM (Instant 10 kbps a
4 Moderado N/D N/D
Messaging) 2 Mbps
5 Downloads de mídia Alto > 2 Mbps N/D N/D

Tabela 6 – Classes de aplicações 802.16e

19
3. PROPAGAÇÃO

3.1. Considerações de propagação na faixa de 2 a 11 GHz

Tradicionalmente, na faixa de freqüências considerada neste estudo, encontra-se na


literatura uma descrição sumarizada das características da faixa como apresentado na
Tabela 7.

Freqüências Mecanismo de propagação Efeitos da atmosfera e do Aspectos de sistema Tipos de serviço


dominante terreno
propagação em visibilidade desvanecimento por antenas de abertura; fixo terrestre e por satélite;
SHF multipercursos; atenuação sistemas de alta móvel terrestre e por
(3 - 30 GHz) por chuvas (acima de 10 capacidade satélite; sensoriamento
GHz); obstrução pelo terreno remoto; radar

Tabela 7 – Características gerais da faixa de freqüências considerada, conforme apresentado comumente na


literatura

Avanços tecnológicos, especialmente em antenas, técnicas de multiplexação (OFDM) e


de acesso (OFDMA/SOFDMA) e modulação adaptativa, permitem que essa faixa de
freqüências também seja usada em sistemas ponto-multiponto e até – considerando a
porção mais baixa da faixa – ponto-área, com taxas de transmissão dentro do que se
considera banda larga.

A porção mais baixa, de 2 a 6 GHz, aproximadamente, considerando o exposto no


parágrafo acima, é ainda adequada ao provimento de cobertura em sistemas ponto-área.
Mecanismos de espalhamento (reflexão não especular), reflexão especular e difração,
desempenham papel importante na cobertura de micro e pico-células; nas proximidades
do extremo superior dessa porção de faixa considerada, o raio direto passa a desempenhar
o principal papel na cobertura.

No restante da faixa estudada, estendendo-se aproximadamente de 6 a 11 GHz, as


características de propagação são adequadas a sistemas ponto-a-ponto e ponto-
multiponto, estacionários. Sistemas ponto-a-ponto - operando com antenas de abertura de
alta diretividade para permitir link-budgets favoráveis (alta margem) e discriminar

20
reflexões -, podem ser projetados para suportar altas capacidades de transmissão.
Comunicação ponto-multiponto também é possível em toda a faixa, sendo que, no
extremo superior, a comunicação deve ocorrer primordialmente em linha de visada (LOS)
entre o cliente e a estação rádio-base. Na porção mais baixa da faixa, é possível o uso de
CPEs indoor, em situações específicas onde a cobertura em ambientes interiores for
favorável.

A partir de cerca de 8 GHz, atenuação – e, eventualmente, despolarização – por chuva


passa a ser fator preponderante na determinação do desempenho das comunicações
ponto-a-ponto e ponto-multiponto. Deve ser considerada margem não apenas para céu
claro, como agora é preciso considerar a redução da margem por eventos de chuva. Os
tópicos na Recomendação ITU-R P.530 referentes ao desempenho de enlaces em
freqüências afetadas por chuva, bem como a Recomendação ITU-R P.383 (“Specific
attenuation model for rain for use in prediction methods”), ou metodologia alternativa à
disposta nesta recomendação, devem ser considerados nos cálculos de desempenho.

Absorção atmosférica, por oxigênio ou vapor d’água, não são relevantes no intervalo de
freqüências considerado e nas distâncias tipicamente envolvidas.

3.2. Modelos de propagação

Qualquer dimensionamento de sistemas de comunicações sem fio depende,


primordialmente, da adequada escolha de modelo de propagação. Basicamente, as três
grandes categorias de modelos são: empíricos, semi-empíricos e teóricos.

▪ Modelos empíricos: gerados com base no resultado de campanhas de medidas


realizadas em determinados tipos de ambientes e para faixas específicas de
valores de parâmetros (alturas de antenas, freqüências, etc.). Costumam
apresentar relativa facilidade e rapidez de computação, porém geram
resultados tão melhores quanto mais se aproxima a região de projeto da região
de medições para obtenção do modelo. Neste trabalho, serão abordados os
modelos empíricos;

▪ Modelos semi-empíricos: gerados também com base em medidas de campo,


porém suas equações guardam relação com modelos canônicos de propagação,

21
obtidos da teoria. Como exemplo, há modelos semi-empíricos baseados na
atenuação de espaço livre, em que a dependência com a freqüência e distância
é da mesma forma, porém a constante aditiva é diferente, obtida por campanha
de medições em determinada faixa de parâmetros;

▪ Modelos teóricos: criados com base em fundamentos puramente teóricos.


Muito usados no cálculo de enlaces ponto-a-ponto, incluindo atenuação de
espaço livre e formas de se considerar efeitos de difração, reflexão no terreno
e rádio-clima.

Uma classe relevante desses modelos, são os modelos de traçado de raios. Em


linhas gerais, usam técnicas de traçado de raios (ray tracing) para mapear a
propagação das ondas eletromagnéticas no ambiente. Raio direto, reflexões,
transmissões e difrações são computadas pelo uso de algum tratamento dado
às equações exatas de campo, sendo muito comum o uso das aproximações
assintóticas da UTD (Uniform Theory of Diffraction). Costumam ser tão
melhores quanto melhor for a descrição geométrica e elétrica do ambiente,
bem como o uso de potentes técnicas de aceleração do traçado de raios.

Os modelos teóricos também recebem a denominação de modelos físicos.

Conforme apresentado acima, neste trabalho são enfocados modelos empíricos. Embora,
quando comparados a um bom modelo teórico - e considerando um ambiente muito bem
descrito -, os modelos empíricos tendam a prover resultados de menor precisão que os de
traçado de raios, modelos empíricos são muito populares por permitirem estimativa
relativamente rápida da propagação no ambiente, o que, na maioria das vezes, é suficiente
para o projeto nominal do sistema.

Para sistemas tradicionais ponto-a-ponto, e até mesmo ponto-multiponto, com antenas


externas em visada ou em difração bem determinada (que possa ser bem calculada), não
há motivo para se partir para modelos empíricos, uma vez que os modelos físicos
(teóricos) são os mais apropriados e de computação relativamente rápida. Fornecem
resultados precisos e se utilizam das informações de terreno e rádio-clima presentes na
base de dados digital. Em alguns casos, quando viável e a riqueza de informação digital

22
permitir, modelos físicos de traçado de raios também podem ser empregados, dando
ainda mais sofisticação ao resultado do dimensionamento.

Entretanto, com o crescente aumento do interesse por sistemas fixos banda-larga em


regiões densamente urbanizadas, com clientes residenciais e em escritórios, cresce o
interesse por modelos empíricos que não dependam de descrições detalhadas dos
ambientes de propagação e que forneçam resultados rápidos, para uma estimativa do
dimensionamento da rede.

A seguir, são apresentados modelos ponto-a-ponto/multiponto (estacionários), para uso


em sistemas 802.16 rev 2004 e modelos ponto-área, para uso no projeto de redes
802.16e. [9]

3.2.1. IEEE 802.16 (SUI) models

Grupo de modelos de predição de propagação para sistemas fixos, proposto como padrão
pelo próprio IEEE, para freqüências abaixo de 11 GHz. Tais modelos ficaram conhecidos
informalmente como “modelos SUI” (SUI – Stanford University Interim), pela
participação da universidade de Stanford no seu desenvolvimento.

Equação de perda básica:

d 
L = A + 10 γ log  + X f + X h + s [dB] para d > d0 Equação 1
 d0 

onde: d é a distância (m); d0 = 100 m; hb é a altura da estação rádio-base acima do


solo (m) (10 m < hb < 80 m), e

 4πd 0 
A = 20 log  Equação 2
 λ 
e
a − bh b + c
γ= Equação 3
hb

Constantes a, b e c são obtidas da Tabela 8.

23
Constante Terreno Tipo A Terreno Tipo B Terreno Tipo C

a 4,6 4,0 3,6

b 0,0075 0,0065 0,005

c 12,6 17,1 20

Tabela 8 – Constantes para o modelo IEEE 802.16 (SUI)

Os termos Xf e Xh são fatores de correção para freqüência e altura da antena do receptor


acima do chão, respectivamente.

 f 
X f = 6,0 log  Equação 4
 2000 
e

h 
X h = −10,8 log m  para Terrenos Tipo A e B Equação 5
 2,0 
h 
X h = −20,0 − log m  para Terrenos Tipo C Equação 6
 2,0 

onde: f é a freqüência (MHz) e hm é a altura do receptor (terminal remoto)


acima do solo (m).

Segundo [10] e [11], os tipos de terreno são definidos da seguinte forma:

Tipo A – Montanhoso/densidade de árvores moderada a alta


Tipo B – Montanhoso/densidade de árvores leve ou plano/ densidade de árvores
moderada a alta
Tipo C – plano/densidade de árvores leve

Na Equação 1, s é um fator de atenuação com distribuição log-normal que toma em


consideração sombreamento por árvores e estruturas em geral. Tipicamente, o valor de s
está entre 8,2 e 10,6 dB, dependendo do tipo de terreno.

24
Também em [9] (Seção 4), encontra-se referência a uma proposição para tratamento do
espalhamento no tempo (delay spread), com base em medidas feitas em faixas de
freqüências de sistemas celulares.

τ RMS = T1d α u Equação 7

onde:
T1 é o valor médio de τRMS a 1 km. 400 ns para microcélulas urbanas, 400 a
1000 ns para macrocélulas urbanas, 300 ns para áreas suburbanas, 100 ns
para áreas rurais e > 500 ns para áreas montanhosas;
α vale 0,5 para áreas urbanas, suburbanas e rurais, e 1,0 para áreas
montanhosas;
u é uma variável log-normal com média nula e desvio padrão entre 2 e 6 dB.

A Equação 7 foi obtida usando-se antenas omnidirecionais. É sugerido que essa


expressão seja reduzida por um fator de 2,3 e 2,6 para aberturas de meia potência de 32 e
10 graus, respectivamente.

Ao todo, são definidos dois modelos para cada um dos três tipos de terreno dos modelos
SUI, gerando os seis modelos apresentados na Tabela 9. Em adição à equação de
atenuação mediana, os modelos SUI incluem informação de dispersão temporal, em
forma de amplitude, atraso de tempo (time delay) e fator k da distribuição Riciana. Para
detalhamento, consultar Seções 3.4.1 e 3.3.1.2 de [9].

Modelo SUI Tipo de Terreno Delay Spread Fator k, de Rice Doppler


SUI-1 C Baixo Alto Baixo
SUI-2 C Baixo Alto Baixo
SUI-3 B Baixo Baixo Baixo
SUI-4 B Moderado Baixo Alto
SUI-5 A Alto Baixo Baixo
SUI-6 A Alto Baixo Alto

Tabela 9 – Classificação de modelos SUI

25
Os modelos SUI foram especificamente desenvolvidos para uso nas freqüências de
MMDS dos Estados Unidos, 2,5 a 2,7 GHz. A referência [9] (Seção 4) relata que o
modelo deve desempenhar bem na faixa de 2 a 4 GHz. A Equação 1 foi obtida
basicamente a partir de medidas em regiões suburbanas. Não há nenhum fator de
correção para áreas urbanas ou densamente construídas, ou mesmo para áreas rurais. Da
mesma forma, não há uma maneira de relacionar os três tipos de terreno (A, B e C) a
morfologias (clutter) comumente encontrados em bases digitais de terreno, de forma que
o método de seleção do tipo de terreno a ser considerado em determinada região do
projeto não é sistemático.

As medidas para obtenção do modelo de atenuação foram feitas em distâncias de até 7


km, adequadas para níveis de cobertura. Porém, no planejamento de múltiplas células,
prevendo uso de fatores de reuso, sinais interferentes que podem vir de 20-30 km devem
ser preditos; os modelos SUI não permitem tais cálculos com precisão.

Pelas suas limitações, os modelos SUI são mais adequados para dimensionamento do
sistema e estimativa de equipamentos, ao invés de planejamento detalhado, “location-
specific”. Para tanto, modelos físicos, que exploram os dados de topografia e morfologia
do terreno, bem como edificações, são mais apropriados.

3.2.2. Modelo empírico MMDS

Baseado em ampla campanha de medições realizada na região suburbana de Chicago, em


áreas a até 10 km do transmissor, usando antenas receptoras omnidirecionais e
direcionais, a alturas de 16,5, 10,4 e 5,2 m. Equação de perda básica:
 d 
L = L(d 0 ) + 10n log  + X σ [dB] Equação 8
 d0 

onde: L(d0) é a atenuação de propagação na distância próxima d0; n denota a


atenuação com a distância e Xσ é uma variável aleatória de média nula e desvio
padrão σ.

26
A Tabela 10 apresenta valores e parâmetros para várias situações.

LOS NLOS
Antena receptora n σ [dB] n σ [dB]
5,2 m, direcional 1,7 3,1 4,1 12,6
5,2 m, omni 2,1 3,5 4,2 10,5
10,4 m, direcional 2,9 4,7 2,9 11,4
10,4 m, omni 2,6 4,6 3,3 10,1
16,5 m, direcional 2,4 3,8 2,1 10,5
16,5 m, omni 2,4 3,4 2,7 9,4

Tabela 10 – Valores de parâmetros para o modelo empírico MMDS

Adaptações do modelo COST-231 Hata para freqüências superiores a 2 GHz também


podem ser interessantes opções de modelos de predição.

3.2.3. Recomendação ITU-R P.1546-2

Recomendação da União Internacional de Telecomunicações, para predição ponto-área


de campos, na faixa de freqüências entre 30 MHz e 3000 MHz, e distâncias entre 1 km e
1000 km. Os resultados são descritos por curvas e tabulações, apresentando valor de
campo elétrico devido a uma fonte de 1 kW de ERP (Effective Radiated Power, potência
efetiva irradiada), para diversas distâncias, nas freqüências de 100, 600 e 2000 MHz.
Como há curvas apenas para determinados valores discretos de distância, altura de
antenas, freqüência e percentagem de tempo, este é um método que se usa muito de
interpolação de valores, para que, ao final, se chegue ao valor de campo para a situação
desejada.

▪ Intensidade de campo em função da distância

São plotadas curvas para distâncias entre 1 e 1000 km. A menos que o valor desejado
esteja explícito nos gráficos, a

Equação 9 deve ser usada para interpolação.

27
Equação 9

onde:
Einf – campo em dinf
Esup – campo em dsup
d – distância de interesse para o cálculo de campo
dinf – distância tabulada, imediatamente inferior a d
dsup – distância tabulada, imediatamente superior a d

▪ Intensidade de campo em função da altura da antena transmissora

A expressão de interpolação, Equação 10, calcula campo para valores de altura efetiva h1
entre 10 m e 3000 m, e deve ser usada caso o valor de interesse não seja um dos
tabulados discretamente: 10; 20; 37,5; 75; 150; 300; 600 e 1200 m.

Equação 10

onde:
Einf – campo para a altura hinf, na distância d de interesse
Esup – campo para a altura hsup, na distância d de interesse
h1 – altura de interesse
hinf – 600 m, para h1 > 1200 m; para h1 ≤ 1200 m, é a altura efetiva nominal
imediatamente inferior a h1
hsup – 1200 m, para h1 > 1200 m; para h1 ≤ 1200 m, é a altura efetiva
nominal imediatamente superior a h1

A altura efetiva h1 é calculada como a diferença entre a altura da antena transmissora e a


altura média do terreno, entre as distâncias horizontais de 3 km e 15 km da antena
transmissora, em direção à antena receptora.

28
Se h1 está na faixa entre 0 m e 10 m, deve-se seguir procedimento de extrapolação,
baseado em distâncias do horizonte para Terra plana. Para tanto, a metodologia completa
é apresentada em [15].

▪ Intensidade de campo em função da freqüência

Percursos terrestres ou sobre o mar – em freqüência superior a 100 MHz –, a intensidade


de campo é dada pela Equação 11.

Equação 11

onde:
Einf – campo para a freqüência finf
Esup – campo para a freqüência fsup
f – freqüência de interesse
finf – 100 MHz, para f < 600 MHz; 600 MHz, para f ≥ 600 MHz
fsup – 600 MHz, para f < 600 MHz; 2000 MHz, para f ≥ 600 MHz

▪ Intensidade de campo em função da percentagem de tempo

Campo para percentagens de tempo entre 1 e 50 % é obtido por interpolação entre valores
de 1 a 10 % ou valores entre 10 e 50 %. É usada a Equação 12.

Equação 12

onde:
Esup – campo para percentual de tempo imediatamente superior ao
desejado
Einf – campo para percentual de tempo imediatamente inferior ao desejado

Equação 13

29
Equação 14 (a e b)

Em que Qi (x) é a função complementar inversa da função cumulativa


normal.

Para 0,01 < x < 0,99, as aproximações abaixo são válidas.

se x ≤ 0,5 Equação 15

se x > 0,5 Equação 16

onde:

Equação 17

Equação 18

Com base no valor final de campo elétrico determinado pelas expressões apresentadas, o
cálculo da atenuação básica é, como também recomendado por [15], dado pela
Equação 19.

Lb = 139 – E + 20logf [dB] Equação 19

onde:
E – campo elétrico calculado pelo método, em dBµV/m

30
f – freqüência, em MHz

Modelos consagrados para sistemas celulares, como COST-231 Hata e Walfish-Ikegami,


podem ser usados para predição de cobertura de sistemas 802.16e. Deve-se ter a especial
precaução de avaliar a faixa de freqüências de validade dos modelos, bem como altura de
antenas da base e de terminais.

3.2.4. Modelos Físicos

São os modelos mais usados no cálculo de enlaces fixos. De forma geral, enlaces ponto-
a-ponto e cada enlace de sistemas ponto-multiponto, são calculados pela composição da
atenuação de espaço livre com alguma forma de se considerar o terreno, quer por
difração, reflexão ou fator dependente de morfologia, ou, em geral, combinação de mais
de um fator. Nesses modelos, também são incluídos os efeitos do rádio-clima da região,
como chuvas e multipercursos troposféricos.
São os modelos adequados a uma predição específica de determinado enlace, inclusive
com cálculos os mais precisos possíveis de sinais interferentes nos receptores. Também
estão incluídos entre os modelos físicos os modelos de traçado de raios.
Entre os tópicos que mais permitem variações de cálculo e discussões estão difração por
obstáculos simples e múltiplos, chuva e rádio-clima. Descrição aprofundada de modelos
físicos é encontrada em [9] (Seção 3.5).

31
4. ASPECTOS DE PLANEJAMENTO

4.1. Minimização de interferências intra-sistêmicas e inter-sistêmicas

Sistemas de comunicações sem fio possuem dimensionamento e desempenho fortemente


impactados por ruído e interferência. No projeto do sistema, deve-se focar em combater
dois tipos de interferências:
▪ geradas dentro do próprio sistema, especialmente em malhas muito densas de
enlaces ponto-a-ponto/multiponto, e também quando é realizado reuso de
freqüências tanto em sistemas ponto-multiponto como em redes móveis ponto-
área. Essa é a interferência intra-sistêmica;
▪ geradas fora do sistema, por sistemas concorrentes em faixa de freqüência. Essa é
a interferência inter-sistêmica.

E ainda, para cada um dos dois tipos de interferência, a análise do projetista deve ser
realizada visando mitigar interferências dentro dos canais em uso pelo seu sistema,
chamada interferência cocanal, bem como interferência oriunda de faixa adjacente aos
canais em uso, denominada interferência de canal adjacente. Cabe ressaltar que no
projeto, ampliação ou otimização de rede, fixa ou móvel, a atenção deve estar
concentrada não apenas em reduzir interferências na própria rede, como também não
causar interferência em redes vizinhas.

Conforme surgem sistemas concorrentes, ou mesmo a própria rede cresce, aumenta a


preocupação com interferências e, portanto, a implementação de formas de mitigação dos
seus efeitos prejudiciais torna-se mais relevante.

O problema é ainda mais crítico em se tratando de faixas de freqüências não licenciadas,


devido ao seu uso isento de custos, embora rígidas regras de emissão devam ser
respeitadas, conforme disposto pelas agências reguladoras locais. Sistemas 802.16
rev 2004 prevêem o uso de faixas não licenciadas (license-exempt bands), de forma que
interferência é tema de alta importância nesses sistemas.

32
Em linhas gerais, a minimização de interferência é obtida por um dos elementos descritos
a seguir ou, usualmente, por uma composição de mais de um destes elementos.

▪ Adequado planejamento de faixa/canal de freqüência


A primeira decisão do operador de rede de comunicações sem fio diz respeito
a faixa de espectro que usará para o provimento dos seus serviços. Para maior
proteção contra interferência causada por emissões de concorrentes, a opção
pela aquisição de faixa licenciada é interessante. A menos de possíveis
interferências externas nas bordas da faixa adquirida, essa opção isola
eficientemente a comunicação da operadora em relação a outros sinais que se
propaguem na sua área de atuação.

Se a opção recair no uso de faixa não licenciada, ou mesmo faixas que


requerem pagamento de licença por estação/enlace, mas cujo uso é
compartilhado por qualquer empresa autorizada à prestação de serviço de
rádio-comunicações, a atividade de planejamento de freqüência para escolha
adequada da canalização a ser empregada é fundamental e, em alguns casos,
freqüente ao longo da vida útil do enlace.

Nos aspectos acima expostos, não há diferença na forma de se lidar com a


questão de planejamento de faixa/canal de freqüência, entre sistemas 802.16
rev 2004 e os sistemas convencionais ponto-a-ponto / ponto-multiponto.

▪ Adequada emissão e adequado controle de potência


No caso de sistemas 802.16e, que são sistemas móveis, ponto-área, a questão
do controle de interferência por limitação de potência é intrínseca ao projeto,
uma vez que a contenção das áreas de cobertura das células é fator primordial
para o adequado desempenho do sistema quanto a tráfego e cobertura.
Também para esses sistemas, é usual que operadores tenham faixas de
freqüências próprias, usadas apenas pelos seus sistemas, fazendo com que a
interferência relevante a ser mitigada seja a intra-sistêmica, o que é resolvido
por adequado emprego de reuso de freqüências, setorização e técnicas como
salto em freqüências (FH – Frequency Hopping), entre outras.

33
O descrito acima para sistemas móveis é também válido em grande parte para
sistemas ponto-multiponto, já que para estes o conceito celular é aplicado.
Porém, em sistemas ponto-a-ponto/multiponto operando em faixas de
freqüências não-licenciadas, torna-se fundamental adequado controle de
emissão. Sistemas ponto-a-ponto operando com altas margens podem estar
contribuindo de forma exagerada, desnecessária, para os níveis de
interferência em receptores cocanal ou de canal adjacente. A redução de
potência a níveis baixos, mas que ainda permitam operação com o
desempenho necessário, é boa prática na mitigação de interferência.

Com o objetivo básico de otimizar o controle de cobertura conforme


condições de propagação, especialmente nas situações sem visada (NLOS)
sujeitas a grandes desvanecimentos, sistemas 802.16 possuem algoritmos de
controle de potência. Sob o comando da rádio-base, a CPE cliente transmite
apenas o necessário à manutenção da qualidade adequada aos seus requisitos
de comunicação no momento. Ao impedir níveis desnecessários de potência,
estes algoritmos contribuem sensivelmente para a minimização de
interferência intra e inter-sistêmica.

Um dos grandes diferenciais de sistemas 802.16 está na tecnologia empregada para


antenas. Esquemas inteligentes de manipulação do sinal (diversidade com combinação de
sinais) e conformação de feixe, contribuem para melhoria da relação S/(N+I).

Outra forma de minimizar interferências, intra e inter-sistêmica, é o DFS (alocação


dinâmica de freqüências), apresentado na Seção 4.2.

4.2. Planejamento de freqüências

O planejamento de freqüências é feito de forma diferenciada, para sistemas fixos – ponto-


a-ponto ou ponto-multiponto (802.16 rev 2004) – e para sistemas móveis (ponto-área,
802.16e). Sistemas ponto-a-ponto possuem o maior diferencial, por dois motivos básicos:
muitas vezes operam em faixas de freqüências compartilhadas entre operadores, ou seja,

34
freqüência não proprietária; são sistemas fixos, onde não há o conceito de reuso de
freqüência em áreas não contíguas para maximizar capacidade de tráfego.

Nos sistemas ponto-a-ponto, o plano de freqüências é feito após rigoroso estudo de


interferentes na região, considerando todas as redes no entorno (em raio definido
conforme a faixa de freqüências), com corretas orientações de azimute e potências
transmitidas. O resultado dessa análise apresenta o conjunto de freqüências, e
polarizações em cada freqüência, menos sujeitas a interferência. Um diferencial nos
sistemas ponto-a-ponto 802.16 rev 2004 é que, para as faixas não licenciadas, foram
implementados algoritmos de alocação dinâmica de freqüências (DFS – Dynamic
Frequency Allocation). A freqüência mais limpa é escolhida, a cada ciclo de operação do
DFS. A implementação do algoritmo nesse tipo de faixa de freqüências é especialmente
importante, já que são faixas menores que as licenciadas – com menos canais disponíveis,
portanto –, e seu uso é, em geral, livre de qualquer cobrança de taxa, até mesmo a taxa
única de ativação de transmissores, o que faz com que rapidamente se torne uma faixa
muito utilizada (gerando altos níveis de interferência).

Sistemas ponto-área (móveis) e também ponto-multiponto estacionários, por se utilizarem


do conceito celular, adotam metodologia diferenciada de planejamento de freqüências. A
técnica para planejamento de freqüências em sistemas 802.16e é muito similar à
empregada nos sistemas celulares TDMA. A totalidade de freqüências disponível é
distribuída por clusters, onde, dentro de um mesmo cluster, não há repetição de
freqüência e evita-se canal adjacente entre setores vizinhos. A distâncias de reuso
convenientes, todo o conjunto de freqüências é repetido, buscando maximizar capacidade
de tráfego.

Ainda para sistemas ponto-multiponto, estacionários, outra técnica é também empregada,


em conjunto com o reuso de freqüências. É a alternância de polarização, associada,
eventualmente, à repetição de grupos de canais em configuração “frente-costa”. Um
exemplo é apresentado na Figura 3 [9].

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Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V
#5 #1 #1 #8 #6 #2 #2 #7
Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H
#1 #5 #8 #1 #2 #6 #7 #2

Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H


#4 #8 #5 #4 #3 #7 #6 #3
Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V
#8 #4 #4 #5 #7 #3 #3 #6

Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H


#2 #6 #7 #2 #1 #5 #8 #1
Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V
#6 #2 #2 #7 #5 #1 #1 #8

Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V


#7 #3 #3 #6 #8 #4 #4 #5
Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H Pol-V Pol-H
#3 #7 #6 #3 #4 #8 #5 #4

Figura 3 – Exemplo de alocação de freqüência; ponto-multiponto; 2 polarizações; 8 grupos de canais (#)

É esperado que, nas fases iniciais de implementação de sistemas 802.16 rev 4, a atenção
dispensada ao planejamento de freqüências seja reduzida, pois poucos sistemas estarão
em operação compartilhando freqüências. O esforço de planejamento e otimização é
intensificado à medida em que as redes crescem em volume.

4.3. Considerações sobre planejamento de capacidade

Não foi encontrado na literatura metodologia específica para o planejamento de


capacidade de sistemas 802.16.

Para sistemas 802.16 rev 2004 ponto-a-ponto, a capacidade dos enlaces seguirá
basicamente as definições de largura de faixa descritas pelas designações do IEEE, com
taxas de transmissão correspondentes às faixas, conforme eficiência espectral de cada
esquema de modulação.

Sistemas 802.16 rev 2004 ponto-multiponto e sistemas 802.16e, possuem demanda que
pode ser bastante variável entre os vários CPEs. Usualmente, cálculos de link budget são
realizados para se obter o raio para provimento de determinada taxa de transmissão
(capacidade) máxima, considerando que o público alvo a ser coberto demandará taxa
agregada inferior à capacidade máxima projetada.

36
4.3.1. OFDM e Eficiência Espectral

Para o mercado de telecomunicações o apelo fundamental do WiMAX é que, um sistema


WiMAX operando com OFDM pode trafegar, como um exemplo, 72 Mbps de dados não
codificados (aproximadamente 100 Mbps de dado codificado) em um espectro de 20
MHz. Isso se traduz em uma eficiência espectral de 3,6 bps/Hz. Se, como exemplo, 5
canais de 20 MHz estão contidos na faixa de 5,725 a 5,825 GHz, obtém-se uma
capacidade total de cerca de 360 Mbps (considerando todos os canais em conjunto, com
fator de reuso de freqüências igual a 1). Considerando reuso dos canais e mediante
aplicação de setorização no projeto, a capacidade total de transmissão de uma única BS
pode, potencialmente, ultrapassar 1 Gbps. [6]

O OFDM oferece inúmeras vantagens ao WiMAX, primordialmente relativas a robustez


da comunicação, mas talvez a mais notável das vantagens seja exatamente a eficiência
espectral [5]. Tal fato é especialmente importante em espectro licenciado, cuja utilização
requer o máximo de eficiência, pelos altos custos envolvidos na aquisição de espectro.

4.4. Comparativo de cobertura

A referência [10] apresenta um estudo comparativo de cobertura 802.16 rev 2004, em 3,5
GHz e setorização de 60o, entre BS padrão (standard) e BS denominada full featured. A
caracterização de ambos os tipos é dada abaixo.
▪ BS standard
─ Implementação básica de WiMAX (apenas características mandatórias);
─ Potência padrão de saída, para minimizar custo da estação.

▪ BS full featured
─ Maior potência de saída em relação à saída padrão;
─ Diversidade de Tx/Rx, combinada com codificação espaço-tempo e
recepção MRC (Maximum Ratio Combining);
─ Sub-canalização;

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─ ARQ (Automatic Repeat Request).

A Figura 4 apresenta a comparação, em forma esquemática.

Full featured
Standard

Figura 4 – Comparação de cobertura – BS stardard e BS full featured

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5. CONCLUSÃO

Foram apresentadas características gerais dos novos sistemas de comunicações sem fio
em banda larga, denominados WiMAX, com foco na faixa de 2 GHz a 11 GHz.

Descreveu-se os aspectos sistêmicos, características de propagação na faixa considerada,


aspectos de planejamento e mitigação de interferências.

Muitos dos avanços tecnológicos que permitem o desenvolvimento de equipamentos que


atendam completamente aos requisitos mínimos e avançados descritos nos padrões IEEE
foram apresentados no trabalho.

Com o intuito de complementar o trabalho, deve ser realizada análise aprofundada das
características específicas de planejamento, elaborando um estudo de caso com
especificações de equipamentos que começam a surgir no mercado.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] WiMAX Forum


http://www.wimaxforum.org/technology/benefits/

[2] WiMAX Forum


“Fixed, nomadic, portable and mobile applications for 802.16-2004 and 802.16e
WiMAX networks”, Novembro/2005, Senza Fili Consulting

[3] WiMAX Forum


http://www.wimaxforum.org/technology

[4] IEEE
IEEE 802.16 Technical Backgrounder (IEEE 802.16-02_12r3.pdf)

[5] Frank Ohrtman, “WiMAX Handbook – Building 802.16 wireless networks”,


McGraw-Hill

[6] Kevin F. R. Suitor, “The Road to Broadband Wireless”, white paper da Redline
Communications, Julho/2004, www.redlinecommunications.com
Referência é citada em [5].

[7] Harry R. Anderson, “Fixed Broadband Wireless System Design”, Seção 3, Wiley

[8] Theodore S. Rappaport, “Wireless Communications – Principles & Practice,”


Prentice Hall Communications Engineering and Emerging Technologies Series,
1996.

[9] Harry R. Anderson, “Fixed Broadband Wireless System Design”, Wiley

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[10] WiMAX Forum
“WiMAX’s technology for LOS and NLOS environments”

[11] SR Telecom
“WiMAX’s technology - LOS and NLOS environments”

[12] WiMAX Forum


“Mobile WiMAX – Part I: A Technical Overview and Performance Evaluation”,
Março/2006

[13] IEEE Std. 802.16-2004 “Part 16: Air Interface for Fixed Broadband Wireless
Access Systems”, Outubro/2004

[14] IEEE Std. 802.16e-2005 and IEEE Std. 802.16-2004 “Part 16: Air Interface for
Fixed and Mobile Broadband Wireless Access Systems”, Fevereiro/2006

[15] Rec. ITU-R P.1546-2 “Method for point-to-area predictions for terrestrial services
in the frequency range 30 MHz to 3000 MHz”, Rascunho da revisão da Rec. ITU-R
P.1546-1, Abril/2005

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