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Educadores Promotores de Saúde e Resiliência:

um estudo exploratório com crianças em situação de risco*


Glicéria Gil¹, José Alves Diniz²
¹gliceria@iol.pt, Jardim de Infância nº 4 de Portimão
²jadiniz@fmh.utl.pt, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa
1- INTRODUÇÃO 4 - RESULTADOS (continuação)
Variável “Local de trabalho” (Dimensão Percepção
•Estima-se que em Portugal 11% das crianças com idades compreendidas entre os 0 e 6 anos apresentam NEE[1] e
mecanismos de risco e protecção)
37% das crianças vítimas de maus-tratos e abandono sujeitas a processo tutelar em 1996, tinham idade inferior a 6 5
anos. (Santos et al.1998; Dias, 2001). 4,5
•A presença destas crianças nas escolas implica um notável desafio para aqueles que, nas escolas e jardins de infância, 4
lidam com essas crianças e têm de desenvolver uma prática educativa que vá de encontro às necessidades 3,5
diagnosticadas (Winfield, 1994; Bernard,1991; Wang, Haertel & Walberg, 1997; Seng, 1997; Rebane, 2000; 3 oficial
Krovetz,1999; Wolkow e Ferguson, 2001). 2,5 particular
•A Promoção da Saúde e Resiliência junto de crianças em risco tem demonstrado resultados positivos no que respeita 2
IPSS
à prevenção de comportamentos de risco na adolescência e idade adulta (Benard e Marshall, 2001). 1,5
[1] Necessidades Educativas Especiais 1
0,5
0
2- ESTRUTURA DO MODELO DE ANÁLISE disc.compl. discordo neutro concordo conc.intei.
Legenda: os valores apresentados correspondem ao nº de modalidades obtidas em cada nível
A- OBJECTIVO GERAL:
Estado oficial- único estado com um nível de discordância total em cinco mecanismos de risco nomeadamente:
1- Temáticas sobre tabagismo e alcoolismo no J.I; 2- Ausência de temáticas sobre SIDA e
Factores critério Identificar o conceito de promoção de saúde e resiliência dos toxicodependências no J.I; 3- Abordagem da EpS como temática ocasional; 4- EpS vista unicamente como
Contexto do Exercício Profissional Intervenção em EpS
educadores de infância. satisfação de necessidades básicas; 5- As crianças em risco apresentam mais comportamentos
problemáticos.
- crianças em situação de risco - temáticas curriculares

- J.I pertence à RNEPS - planificação em EpS


- EpS integrada no PE de escola - atitudes/estratégias de EpS
- apoio de equipa saúde escolar B- HIPÓTESE ORIENTADORA:
PERFIL DO EDUCADOR PROMOTOR
Cariz interno
Cariz externo

Perfil do

DE SAÚDE E RESILIÊNCIA
Educador
Promotor de
Saúde e
Prevemos que um perfil de educador de infância favorável à
Formação em EpS Resiliência Percepção da EpS
e Resiliência Promoção da Saúde e Resiliência é o resultado, por um lado, de
uma maior experiência formativa, do contexto profissional e uma
- formação inicial - opiniões sobre mecanismos de
- formação complementar protecção e risco
- crenças em EpS
- valor da EpS maior frequência interventiva na área da EpS, e por outro, de uma
- atribuições de sucesso
percepção concordante com os mecanismos de protecção e
Factores preditores discordante com os mecanismos de risco subjacentes às vivências Classe A Classe B
Figura 1 - Modelo empírico para a análise do perfil de promoção de saúde e
resiliência dos educadores de infância das Regiões do Algarve e Alentejo (variáveis
das crianças em situação de risco. (60%) (40%)
Contexto
do inquérito por questionário) – Fonte Torres (1997)
Formação do exercício
-Alentejo -Algarve
C- ANÁLISE DOS DADOS: -Vinculados
profissional -Efectivos,
-Rede oficial contratados e IPSS
No intuito de preservar ao máximo a natureza complexa -J.I na RNEPS -Não J.I. na RNEPS
-EpS no PE Caracterização - Não EpS no PE
3-AMOSTRA E INSTRUMENTO da interacção dos dados em análise, utilizámos uma
-Formação em saúde sócio – demográfica - Sem formação em
estratégia de análise de dados que passou pela saúde no Compl. Form.
no Complemento Form.
realização de uma análise de correspondências -Apoio Saúde Escolar - Não apoio Saúde Esc.
múltiplas (ACM) seguida de uma classificação -Sem crianças NSE [1] -Com crs NSE e em outra
274 educadores hierárquica, cuja árvore de agregação foi fraccionada ou outra situação risco situação

110 (40%)
•Inquérito por questionário em grupos consistentes, cujas características foram [1]Necessidades de Saúde Especiais
164 (60%) Figura 1: Dados obtidos através da Análise de Correspondências Múltiplas (classificação hierárquica) para determinar
no Alentejo
no Algarve - 16 questões fechadas
- 2 questões abertas
analisadas e descritas . as duas classes de educadores de infância Promotores de Sáude e Resiliência nas dimensões (Formação, Contexto do
exercício profissional e caracterização sócio-demográfica)

•Teste-reteste nas quatro escalas QUADRO I


199
(73%)
13 (5%)
particula
62 (23%) tendo-se obtido valores entre Caracterização das duas classes de educadores promotores de saúde e resiliência
IPSS
oficial r .958 (p<0.1) e .756 (p<0.5) na dimensão “Percepção mecanismos de risco (sub-dimensão Temáticas de EpS)”
•Validade interna e validade
195 (71%) com externa Educadores Infância MAIS promotores (Classe A) Educadores Infância MENOS promotores (Classe B)
crs em sit.
risco
•Fiabilidade α de Cronbach= .72 Modalidades obtidas p Modalidades obtidas p
[18-O] Ausência de temáticas de prevenção da SIDA [18-O] Ausência de temáticas de prevenção da SIDA
e toxicodependência no J.I (disc. completamente) 0,001 e toxicodependência no J.I (não conc. nem disc.) 0,038
[18-O] Ausência de temáticas de prevenção da SIDA [18-O] Ausência de temáticas de prevenção da SIDA
4- RESULTADOS e toxicodependência no J.I (conc. inteiramente ) 0,044 e toxicodependência no J.I (concordam) 0,001
[18-X] temáticas sobre tabagismo e alcoolismo [18-X] temáticas sobre tabagismo e alcoolismo só
só no 1º ciclo do básico (disc. completamente) 0,002 no 1º ciclo do ensino básico (não conc. nem disc ) 0,001
[18-T] EpS como abordagem ocasional de uma [18-X] temáticas sobre tabagismo e alcoolismo só
 Variável “Local de trabalho” temática (ex.alimentação) (disc. completamente) 0,001 no 1º ciclo do ensino básico (concordam) 0,002
[18-T] EpS como abordagem ocasional de uma
(Dimensão Intervenção em Educação para a Saúde - EpS) temática (ex: alimentação) (não conc. nem disc.) 0,001
[18-T] EpS como abordagem ocasional de uma
temática (ex: alimentação) (concordam) 0,001
12 p< 0,05
nota. o nº entre parênteses corresponde ao nº da questão formulada no questionário

10
5- CONCLUSÕES
8
oficial Identificaram-se duas classes de educadores – mais e menos promotores de saúde e resiliência de acordo com as dimensões
6
particular estudadas (formação em EpS, contexto profissional, intervenção em EpS e percepção dos mecanismos de risco e protecção). Os
4 IPSS resultados das duas primeiras dimensões sugerem que a integração de crianças em situação de risco não é condição imprescindível
para que os educadores sejam considerados mais promotores de saúde e resiliência. Do mesmo modo, parece também não existir
2 associação entre a disciplina de EpS[1] ou similar, presente na formação inicial, e uma prática mais promotora de saúde e
resiliência. Contudo, exercerem funções na rede pública, trabalharem em Jardins de Infância pertencentes à RNEPS[2], a EpS
0
nunca raramente algumas muitas sempre integrada no PE[3] de escola e o apoio de equipa de saúde escolar são elementos impulsionadores para uma intervenção nesta área.
[1] Educação para a Saúde [2] Rede Nacional de Escolas Promotoras de Saúde [3] Projecto Educativo de Escola

Legenda: os valores apresentados correspondem ao nº de modalidades 6- BIBLIOGRAFIA


(ex: Educação para a Saúde, Educação Sexual, Educação do Consumidor,
Benard, B. (1991). Fostering resiliency in kids: protective factors in the family, school and community. Portland, OR: Western Center for Drug-Free Schools and Communities.
Prevenção de Acidentes, Organização do Ambiente Educativo e o Benard, B., Marshall, K. (2001). Opportunities for child-initiated learning: long-term follow-up studies of preschool programs. National Resilience Resource Center, University of Minnesota.
Envolvimento das Famílias, etc) obtidas em cada um dos níveis de Dias, N. (2001). Observatório dos apoios educativos. Ministério da Educação.
Krovetz, M. L. (1999). Resiliency: a key element for supporting youth at-risk. The Clearing House, vol.73, nº 2, p.121-123.
frequência. Rebane, K. (2000). Promoting Resiliency in Education Through Choice Theory and Quality Schools. International Journal of Reality Therapy, vol.20, nº1, p.51-55
Santos, B. Pedroso. J., Gersão, E., Fonseca, G., Lourenzo, I., Pinto, P., Santos. R., (1998). Relatório do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, volume IV. Centro de Estudos Sociais. Faculdade de Economia -
Universidade de Coimbra. URL: http://www.mj.gov.pt/images/articles/846/0capa.doc
Seng, S. (1997). Developing resilience in young children. [Eric document reproduction nº ED 413 054].
Wang, M. C., Haertel, G. D., Walberg, H. J. (1997). Fostering Resilience: What do we know? Laboratory for student success (LSS), nº308. URL: www.temple.edu/LSS/htmlpublications/spotlights/300/spot308.htm.
Winfield, L. (1994). Developing Resilience in Urban Youth.URL: www.ncrel.org/sdrs/areas/issues/educatrs/leadrshp/leOwin.htm .
Wolkow, K. E., Ferguson, H. B. (2001). Community factors in the development of resiliency: considerations and future directions. Community Mental Health Journal, vol.37, nº 6, p.489-498.

*Este trabalho corresponde a uma dissertação de mestrado em Saúde Escolar aprovada na Faculdade de Medicina de Lisboa

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