Você está na página 1de 32

TERAPIA FAMILIAR


A Terapia Familiar está baseada na
idéia de que os comportamentos de uma
pessoa devem ser compreendidos no
contexto da família. Entendenda-se por
família o conjunto de pessoas que se
relacionam por laços de parentesco e/ou
afetivos.
TERAPIA FAMILIAR
• Assim, a Terapia Familiar é uma forma de
auxiliar a família na busca de novos caminhos
para uma melhor convivência entre os membros
e em um sentido preventivo. Ela também visa o
autoconhecimento dos membros da família e
das relações estabelecidas por eles, a fim de
possibilitar uma melhor compreensão para que
a família encontre a resolução dos conflitos e
uma maneira melhor de convivência e
comunicação.
Questionamento existencial
• - Depressão, estresse, desânimo, ansiedade-
Dependência química- Quando uma criança ou um
adolescente apresenta problemas de comportamentos-
Quando os pais brigam demais- Agressão física e/ou
verbal- Envolvimento com uma relação abusiva-
Questões envolvendo doenças ou morte na família-
Separação- Dificuldade na comunicação- Adoção-
Famílias reconstruídas- Dificuldade de relacionamento
conjugal e/ou social- Persistência de um problema, sem
resolução- Questões sexuais- Recasamentos-
Prevenção- Momentos de mudança e transformações-
Entre outros aspectos que você considera importante
O QUE FAZ O TERAPEUTA
FAMILIAR
• Auxilia os membros da família na busca de novos caminhos/recursos para lidar com conflitos;
• · Ajuda a desenvolver solidariedade;
• · Assessora as dificuldades de convivência familiar;
• · Trabalha os períodos prolongados de insatisfação e desesperança entre os membros da família;
• · Prevene o agravamento de conflitos atuais e de possíveis transtornos psicopatológicos ligados
à situação de transformação nas vidas dos envolvidos;
• · Auxilia no controle dos sentimentos destrutivos;
• · Ameniza o sofrimento de uma possível separação;
• · Prevene futuros litígios e recursos ao sistema Judiciário;
• · Estimula a permanência cooperativa das funções de cada envolvido;
• · Harmoniza as necessidades dos pais e reivindicações dos filhos;
• · Preserva os relacionamentos com as famílias de origem de cônjuges divorciantes;
• · Valoriza o potencial da família;
• · Encoraja cada membro da família a expressar a sua opinião sobre os problemas enfrentados;
• · Motiva as pessoas a empenharem-se numa relação terapêutica;
• · Entende o mundo de cada membro da família;
• · Descobre as condições em que cada pessoa se dispõe a envolver-se e a enfrentar riscos
diretos para a mudança do grupo familiar.
• ***É importante ressaltar que todo trabalho do terapeuta é privado e confidencial.
Terapia Familiar Sistêmica: um
breve histórico
• Talvez Freud , em sua genialidade, tenha sido o primeiro
a ocupar - se das relações familiares e de suas
consequencias para o psiquismo humano . Em muitos
de seus relatos clínicos encontramos verdadeiras
histórias familiares .
Mas o grande desenvolvimento, e contribuição da
psicanálise, foi no sentido de criar um privilegiado
instrumento parra a ampliação da consciência, para o
insight individual . Ao longo da primeira metade do séc.
XX , muitos terapeutas e pesquisadores aproximaram -
se das questão familiares , desenvolvendo técnicas para
trabalhar com as famílias .
• Muitos , especialmente os psicanalistas, foram
limitados pela rigidez do stablishment, que
proibia a contaminação da terapia individual dos
paciente com a inclusão de parentes em
sessões de psicoterapia .
Mas quase todos estes trabalhos pioneiros
ressentiam - se de não encontrar uma
linguagem adequada que pudesse dar conta
das interações interpessoais , da comunicação,
em suma, do modo de funcionamento dos
grupos humanos, entre eles a família .
• À partir das demandas sociais crescentes após o final
da Segunda guerra mundial , houve uma grande
inversão de recursos em pesquisas sobre a
comunicação dos seres vivos , e na busca de
compreensão dos mecanismos reguladores, do que
começava a ser chamados de sistemas vivos. A
Cibernética , especialmente com os conceitos de feed -
bach , homeostase , auto - regulação , e a Teoria Geral
dos Sistemas de Von Bertallanfy, tornaram-se
referenciais básicos para este novo campo . Mas foi um
antropólogo e biólogo, chamado Gregory Bateson ,
quem semeou as bases do que mais tarde se dominaria
Terapia Familiar Sistêmica .
• Em 1952 , Bateson e equipe iniciaram um projeto de
pesquisa sobre a comunicação entre os seres vivos, que
se focalizou mais tarde na comunicação dos pacientes
esquizofrenicos com as equipes , e dos pacientes com
seus familiares . Esta pesquisa acabou resultando em
uma Teoria , a primeira teoria sobre a gênese da
esquizofrenia que não era genética ou intrapsíquica .
Trata - se da Teoria do Duplo - Vínculo : um padrão de
comunicação repetitivo, que contém ordens
contraditórias em diferentes níveis lógicos, e que junto
com a impossibilidade do paciente abandonar o campo
relacional com a família , estaria na base dos sintomas
psicóticos .
• À partir destes estudos pioneiros, e com a utilização da metáfora da
máquina auto - reguladora , das noções de feed - bach e controle, e
das teorias sobre a comunicação humana, começaram a surgir as
primeiras escolas de Terapia Familiar de base internacional. Estes
trabalhos pioneiros, do final da década de 50, anos 60 e início da
década de 70, tinham em comum , além das raízes teóricas , a
posição do terapeuta, que se colocava como um observador
externo ao sistema , com a tarefa principal de detectar padrões
disfuncionais na família, e a prescrição de mudanças nas
sequenciais interacionais e / ou nos padrões hierárquicos e de
organização . Os conceitos - chave para as terapias deste período
foram :
· questionamento dos modelos causais lineares e deterministas .
· família vista como sistema cibernético, onde o sintoma faria parte
dos mecanismos de equilíbrio ( homeostase )
· transferencia da patologia do indivíduo para a família .
• Ao mesmo tempo em que abriu novas
possibilidades de atuação terapêutica , a
terapia Familiar dos anos 60 e 70 trouxe
questionamentos e insatisfações . Até
onde o terapeuta tem direito de intervir em
um sistema familiar, trazendo um enfoque
pré- estabelecido à partir de seus
pressuspostos de como deveria ser uma
família ? O que é uma família normal?
• As guerras , a pobreza , a ameaça de destruição do planeta em
uma hecatombe atômica , o desequilibrio ecológico, tudo isto
colocou em cheque a certeza modernista . A Terapia de Família vai
mudando, junto com o mundo que já não é mais o mesmo.
Novos aportes filosóficos, as questões da linguagem, a construção
conjunta de significados( construtivismo e construcionismo social ),
as contribuições da nova física e os novos conhecimentos sobre o
funcionamento do cérebro e da mente, formam um pano de fundo
para o surgimento de novas escolas de Terapia Família , que sem
abandonar completamente os pressupostos anteriores, passam a
explorar as narrativas dos diversos membros de uma família novas
descrições para as histórias familiares, que tragam mais recursos
para o funcionamento da família . O Terapeuta deixa de ser um
observador externo, um expert em detectar problemas, para se
transformar em um articulador , um mediador de conversações ,
mais preocupado em conhecer como esta família se organiza e
opera, quais os significados que são ou não compartilhados por
seus membros .
• Em resumo, os pressupostos fundamentais para a prática clínica
com famílias e casais nos anos 80-90, dentro do que vem sendo
denominado um enfoque construcionista-social , tem sido :
· conversação como resumo central da terapia .
· família vista como um sistema social flexível, composto por
pessoas que compartilham significados .
· terapia vista como construção de um contexto para recriação
colaborativa, que permita á família mudar versãoes de história de
vidas saturadas de problemas e deficits, e trabalhar na geração e
recuperação de alternativas vivenciadas como libertadoras e
transformadoras .
· terapeuta e cliente com co-autores de um trabalho, sem a ilusão
de uma única verdade conhecida apenas pelo terapeuta .
• A sessão de terapia parece ser antes uma
conversação com um especialista em ver
mais o lado das coisas, que sabe
acompanhar o grupo para que o conjunto
família - terapeuta vislumbre a natureza
holográfica , de multiplas perspectivas das
coisas, ou incorpore ao menos, pontos de
vistas alternativos, que permitam
resoluções originais para problemas
crônicos ..."
Transtornos alimentares
• A família se constitui em elemento importante
• na compreensão das representações acerca dos
• transtornos alimentares, uma vez que “a interiorização
• do mundo objetivo vai se dar através da transmissão
• de valores, normas, crenças, passados pela família
• que irá produzindo e reproduzindo cultura e onde seus
• membros são educados para viver em determinado
• tipo de sociedade. Esse será o primeiro espaço afetivo,
• cultural e social, expressando situações da vida
• cotidiana onde a identidade se dá a ver”(15). Por outro
• lado, compreender como os profissionais
• representam a família, nos fornecerão dados
• importantes e darão “pistas” de como elas vêm sendo
• cuidadas.
• O tema família surgiu de forma espontânea
• nos relatos, como um grupo social primário que faz
• cobranças e que, como elemento formador, tem
• participação na origem do distúrbio.
• Começa na infância, a família colabora muito.
• “Não se sabe com certeza se os transtornos
• alimentares estão relacionados com uma
• predisposição genética ou simplesmente com a
• transmissão de crenças, atitudes e valores ao longo
• das gerações. Às vezes essas se apoiam em um
• problema de saúde e outras simplesmente em um
• critério estético ou, então, em uma disposição para
• responder a situações de estresse com variações de
• conduta alimentar. É muito provável que na gestação
• de um transtorno alimentar se combinem alguns
• desses fatores, que se potenciam mutuamente”(5).
• Descrevem
• a figura do pai como uma pessoa um tanto distante e
• ausente. Já, as mães surgem como figuras centrais
• nos discursos, pessoas exigentes e perfeccionistas,
• que mantêm um relacionamento nem sempre
• tranqüilo, como vemos a seguir.
• Família que tem mãe dominadora, pai ausente. A maioria
• delas é extremamente perfeccionista. É o que a gente percebe,
• todas que passaram por aqui. E as mães... muito dominadoras...
• muito exigentes...
• Para alguns sujeitos, as famílias são
• apresentadas como muito desorganizadas, como
• famílias que são problemas, como necessitadas,
• assim como as pacientes, carentes de amparo, de
• proteção e de orientação. Na verdade, acredita-se
• que essas pessoas têm muita dificuldade de lidar com
• situações muitas vezes dolorosas e desagradáveis
• no convívio com as pessoas doentes; em decorrência
• desse fator, para evitarem conflito, acabam não
• seguindo as orientações quando o paciente vai para
• casa.
• São famílias muito complicadas,
desestruturadas e que
• o pai é aquele cara que trabalha fora, é
superausente, mesmo.
• As experiências vividas na família constituirão
• a base da identidade dos sujeitos sociais,
experiências
• marcadas por conflitos e tensões favorecerão
• sentimentos de insegurança, baixa auto-estima
que
• em muito favorecerão o desenvolvimento de
• indivíduos com dificuldade em assumir
• responsabilidade pelas suas vidas e,
conseqüentemente, desenvolver o senso de
• autonomia.
• “Um dos motivos mais comuns pelos quais
• as famílias evitam a expressão direta de suas
• emoções é porque temem o desacordo entre seus
• membros. Isso se denomina evitação do conflito. Se
• cada um diz o que pensa ou sente, podem surgir
• diferenças que tragam como conseqüência tensão e
• conflito. É freqüente que as pessoas se sintam
• ameaçadas por isso e o que percebem põe em cheque
• a unidade familiar ou questiona o afeto entre os
• membros. Isto traz consigo um risco, visto que, se
• não há um modo aceitável de estar em desacordo e
• ser diferente, será certamente difícil para a pessoa
• reconhecer e valorizar suas próprias experiências”(5).
• Por outro lado, “no passado, uma crença
de
• mães e famílias anorexigênicas foi
concebida. Hoje,
• essa tendência de culpabilização parental
foi mais
• bem estruturada e esses fatores são
vistos como
• mantenedores do comportamento”(7).
• O tema família surgiu, também, como
• elemento capaz de manter
comportamentos
• evidenciados em fases anteriores à
internação,
• norteados pelo forte envolvimento que se
estabelece
• entre seus membros.
• Em muitos casos existe um conflito familiar que precisa
• ser trabalhado. E a família acaba dando suporte para a
paciente à
• medida que é trabalhada.
• A dificuldade para identificar o que ocorre
• com o familiar que está doente aparece em vários
• depoimentos; é o conflito envolvendo todas as
• pessoas e, sendo uma doença que no seu início não
• mostra uma alteração física visível, dificulta a
• No início a família não percebe o que está ocorrendo ...
• No decorrer a paciente começa a perder peso, ficar
enfraquecida...
• A família começa a se preocupar e procura o médico.
• A facilidade que eles têm de enganar a família dificulta
• até conseguir um tratamento.
• Muitas vezes quando a família detecta que a
• paciente está doente, o quadro atingiu um estágio
• em que a internação hospitalar se torna inevitável.
• Outra característica, apontada nas
relações
• que se estabelecem no meio familiar, são
os limites
• pouco definidos entre os membros;
• eles estão
• excessivamente envolvidos uns com os outros e
de
• forma conturbada, em decorrência disso, pais e
filhos
• se relacionam na base da troca e, assim, se
evidencia
• a alteração na hierarquia: os pais passam a ser
• controlados pelo filho.
• A família não tem limite. Quando elas contam, você
• percebe a questão da troca.
• Os sujeitos afirmam, também, que a evolução
• do tratamento e da doença traz como agravante o
• fato da família ser considerada o fator de boicote ao
• tratamento, o que pode ser visto na fala seguinte.
• No decorrer da doença, eu não sei se já pelo cansaço,
• desânimo da família, eles começam consciente ou
• inconscientemente a colaborar com o agravamento da
doença e na
• manutenção dos sintomas, eu acho.
• Considerando a família como um grupo social
• primário, os depoentes a concebem ancorados
• principalmente em uma perspectiva social, na
qual
• está embutido um padrão estético determinado
• culturalmente e veiculado pela mídia e, em
qualquer
• processo de socialização, a influência da família
• desempenha papel primordial.
• E é nessa família que os entrevistados
• identificam a falta de limites, fator esse que os
• entrevistados apontam como algo que permeará
os
• relacionamentos interpessoais entre os
pacientes e
• os profissionais, causando uma série de
sentimentos
• desagradáveis.
• A criança educada à base da imposição de
• regras, sem entender o porquê (sem desenvolver,
• portanto, o sentido de si), ou aquela que ignora que
• não se pode recusar as regras (sem internalizar, o
• sentido do outro) formará uma moral heterônoma e
• tenderá a ser um adulto incapaz de escolher. O não
• desenvolvimento da autonomia leva ao tipo de
• comportamento compulsivo, em que o indivíduo não
• tem o domínio de sua própria individualidade. Esse
• domínio é condição para desfrutar das possibilidades
• de emancipação do nosso tempo, porque a fruição
• de um projeto igualitário demanda essa noção de
• limites pessoais e esse sentido do outro. A experiência
• de democratização da vida cotidiana familiar refletese
• no plano da cidadania, ao prover os indivíduos de
• recursos para participar democraticamente na esfera
• pública, a partir da internalização do princípio da
• autonomia que potencializa sua capacidade de
• discernir, julgar e escolher(16).
• Concluímos que as relações
• Concluímos que as relações familiares
• problemáticas, pautadas principalmente pela evitação
• do conflito, desencadeiam um nível de sofrimento
• difuso e intenso e que o desafio do profissional é
• trabalhar com essas pessoas para que reavaliem suas
• próprias condutas e as tornem mais flexíveis de modo
• a buscarem adaptação criteriosa que lhes permita
• vivenciar um grau de autonomia saudável.

Você também pode gostar