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Aspectos do Romantismo Alemão

In: ROSENFELD, Anatol. Texto/contexto.


São Paulo: Perspectiva, 1973, p. 147-171.

História do Teatro 3 / 2018-1


DAC-CEART-UDESC
Professora Fátima Costa de Lima
1. Pré-romantismo
1ª onda romântica, Sturm und Drang: c. 1770-1780,
sob influência de Rousseau e poetas ingleses;
Nomes: Hamann, Herder, Lenz, Goethe e Schiller.
Características:
impulso racional,
oposição à Ilustração e à literatura classicista francesa,
subjetivismo radical,
tendência ao primitivo,
expressão emocional,
gênio suposto “bruto e inconsciente de Shakespeare”,
valorização da arte popular
(Volkslied, Volkskunst, Folklore)
- Produção rude e informe com recepção mundial;
- “Dor do mundo” (Weltschmerz de Werther);
- Pessimismo em relação à sociedade e à civilização;
- Ódio do Absolutismo -> mundo = prisão;
- “Romântico” antes nomeava “paisagens agrestes,
solitárias, selvagens e melancólicas”;
- Sturm und Drang nome dado por historiadores;
Obras: Os Sofrimentos do Jovem Werther e uma parte
do Fausto, (Goethe); Os bandoleiros (Schiller).
Romantismo (1876-1830) já não exalta paixões,
afetos, ímpeto irracionalista, melancólico-noturno,
impulso dionisíaco, individualismo e subjetivismo
anárquicos dos Stürmer und Dränger.
Românticos e pré-românticos
na Alemanha e na Europa
Irracionalismo x idealismo
Subjetividade x exterioridade
Sturm und Drang = romantismo inglês
Romantismo alemão x inglês
Romantismo alemão -> decadénce de Baudelaire,
simbolismo e autores do fin de siècle
Sturm und Drang = Romantismo:
tendências anticlássicas opostas ao
equilíbrio, proporção, ordem, harmonia, objetividade,
ponderação, disciplina e visão apolínea.
Concepção de GÊNIO
Classicismo: O POETA SERVE À OBRA com regras
eternas e finalidade moral e catártica
Romantismo: o valor se desloca para o artista, à
auto-expressão da subjetividade do poeta.
Autenticidade = verdade íntima do gênio x imitação
Estranha objetividade romântica: projeção do íntimo
no mundo exterior ( ~ expressionismo)
Imaginação transcendental = subjetivismo radical
O Não-Eu (mundo) é símbolo do Eu (poeta) =
resultado de sua tarefa de autocompreensão
Nova concepção do indivíduo
Sujeito iluminista = racionalista, liberal, mecanicista,
dado à abstração e igualdade
Sujeito romântico = singularidade concreta,
emocional, sensível; imponderável, diverso e orgânico
Pertence a uma nação = todo concreto, integrado ao
ambiente, biológico, étnico, histórico do sujeito único
Abandono dos cânones clássicos -> o característico,
mas... Às vezes conduz ao caricatural e grotesco.
Organicismo histórico: cada povo passa por fases de
crescimento vegetativo semelhantes, mas todas as
suas manifestações sociais e culturais variam de
acordo com o espírito ou alma particular, diferente
conforme fatores geográficos, clima, etnia etc.
Recusa das leis e cânones estéticos universais ->
obra de arte = totalidade orgânica fruto da
“cultura”[Bildung], não fabricada por regras exteriores
Influencia: ciências históricas, linguísticas e jurídicas
do século XIX, Hegel e Nietzsche
2. A segunda geração
Filósofos de Jena
Friedrich Schlegel, irmão de August, líder do
movimento romântico influenciado por Fichte,
rompeu com Schiller, criticou Wilhelm Meister de
Goethe e traduziu Shakespeare. Dirigiu a revista
Atheneum, colaboraram Schleiermacher e Novalis.
No fim da vida, tornou-se cristão e reacionário.
Fichte: movimento da filosofia (x encontrar a
verdade) = pensar, falar e agir x crença na
representação da verdade = superstição e erro
Novalis: filosofia = idealismo mágico x descrição
analítica da imitatio/representatio do mundo
Novalis: “palavra mágica” = importância do nome e
da linguagem; verdade das relações (x coisas)
Saber = reciprocidade entre crer e pensar.
Filosofia como passagem ao poético
Poesia com prosa, romance, não separa gêneros
Poeisis: ação e criação no mundo
filosofia = poesia transcendental re-poetisa o mundo.
Poético individual-universal e filosófico geral-abstrato
Novalis: poesia cura razão; = partes em oposição
Oposição poesia x entendimento
e verdade do pensamento lógico
3. Ironia romântica
Culto da ingenuidade pré-décadence de fin de siècle
Voluptuosidade refinada e religiosidade estetizante
Niilismo = sentimento de vazio + acrobacia cerebral;
Ironia romântica de Schlegel baseada na
filosofia de Fichte e na teoria de Schiller:
“o estado estético (o único em que o homem é
‘integralmente’ homem, em que, portanto, deixa de
ser dissociado) é um estado lúdico, de infinita
disponibilidade.”
Ironia é...
Consciência da eterna agilidade e do caos infinito
Simetria de contradições: transformação constante e
autoproduzida de pensamentos em choque.
“Antíteses absolutas não admitem uma síntese
absoluta, a não ser em aproximação infinita que
implica movimento constante.”
Oscilação exige versatilidade da mente que pode
inverter, retirar-se, virar tudo conforme quiser
Ser o mesmo e outro no jogo das contradições para
chegar à “segunda inocência”
Unidade de contradições só existe na transcendência
Fervor místico no ambiente lúdico dos virtuoses do
paradoxo; efervescência intelectual quase patológica
dos caçadores da coincidentia oppositorum;
religiosidade da “volúpia da síntese” (Novalis)
Contradição romântica antecipa a dialética de Hegel
na filosofia, mas polêmica com Hegel sobre a
incapacidade de decidir (“indecidibilidade”)
Elemento religioso: na ruptura com o pensamento
comum, exaltar o infinito
A verdadeira ironia é a do amor (Schlegel): nasce do
sentimento de finitude e da limitação do indivíduo em
aparente contradição com amor infinito verdadeiro
Eterna agilidade do pensamento no caos infinito
Constante mudança de dois pensamentos em choque
Disponibilidade ilimitada para tendências diversas
Para entender alguém, ser o mesmo e outro
Fusão religioso e filosófico no Eu transcendental
Evoca o antigo: saudosismo e imagem de Grécia
Sentimento de sublime insolência e liberdade
Acrobatas na corda bamba da reflexão e da poesia
Algo de satânico em: niilismo, duplo, fragmentação,
homem-espelho, homem-máscara, sem pátria,
vendeu a sombra, sem raiz, angústia e riso infernal
(Baudelaire)
Remitização do mundo
Fichte (x Kant): em todos nós, Eu transcendental
(essência, intuição intelectual) sob eu empírico
Imaginação do Eu transcendental inconsciente produz
um Não-Eu (multiplicidade objetiva do mundo) que
parece separado de nós
O Eu produz barreiras a fim de superá-las em
processo de decantação infinita: a ironia vai
desfazendo numa dialética contínua todas as
aparências empíricas, abandonando cada eu que
tenta se fixar; entre posição e negação, o agir supera a
eterna tensão entre Eu empírico e Eu infinito
Ironia na arte: artista cria a obra e se sua atitude é de
tomar distância dela -> obra aberta, experimental que
inclui em si seu processo de criação
Conceitos: imaginação produtora inconsciente e
intuição intelectual: pela (Schlegel) bufonaria ou
(Novalis) poesia transcendentais o gênio se torna
produtor através da ironia, sonho e alucinação >
experiência ordinária cotidiana (para revelar mundo)
Mundo exterior = mundo íntimo; fantasia = realidade;
poiesis cria realidade; artista romântico = dono do “Eu
absoluto” (Fichte); “idealismo mágico” (Novalis) =
espírito > físico
Filosofia da “identidade” (Schelling):
identidade e unidade x dilaceramentos da civilização
Reino (inconsciente) da natureza -> necessidade +
reino (consciente) humano da história -> liberdade
Se reúnem no Belo
Identidade = coincidentia oppositorum -> tendência
ao mito (unidade original homem-universo) e ao
misticismo (para recuperar a unidade perdida no
pecado original da individuação)
A razão (teórica ou prática) não supera as antinomias
Não há superação da tensão ciência-moral
Só a OBRA DE ARTE une natureza-cultura, ideal-real,
espírito-vida, finito-infinito, liberdade-necessidade
Arte = superior à natureza,
portanto não deve imitar a natureza
Poetas magos decifram hieróglifos da natureza
Flor azul = símbolo da saudade mítica romântica
Mundo = imagem do espírito -> contos de fadas, seres
sobrenaturais, fantasmas, espectros
noturno, onírico, abismos, profundezas
Presença romântica
Richard Wagner: Leitmotiv e Gesamtkunswerk =
todas as artes numa só arte
Simbolistas também atravessam os gêneros
Expressionistas: dor do mundo e
manipulação livre da realidade
Surrealistas: escrita automática, dramas de farrapos e
uso das imagens oníricas
Imagens da fantasia na realidade
Autonomia da arte
Arte concreta: tempo da poesia mais espaço gráfico
Correspondências e afinidades químicas entre as artes

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