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ASMA NA CRIANÇA

Sumário

•Epidemiologia
•conceito
•etiologia
•manifestações
•diagnóstico
•gravidade da crise e da asma
•factores de que depende o tratamento
•protocolo HP
•prognóstico
Luís Batalha
ASMA NA CRIANÇA
Bibliografia
Barreto, Celeste - Asma bronquica na infancia. Importância da cinesiterapia respiratória.
Cadernos de imunologia pediátrica 1995 ;2: 62-3.
Behrman, Richard et al - Nelson. Tratado de pediatria. 14ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
koogan, 1994.
Reinkie, Lynn; Hoffman, Leslie - Como ensinar a controlar a asma. Servir 1993; 5: 27
Trindade, Costa - a asma na criança. A criança tem uma abordagem diferente Cadernos de
imunologia pediátrica 1992 ;3: 29-34.
Pinheiro, António; Aguilar, Maria - Atitudes terapeuticas na crise de asma da criança no
sector ambulatório. Saúde Infantil 1995; 17:19-26.
Brinca, Beatriz; Ferreira, Pedro Lopes - Avaliação do estado de saúde de crianças asmáticas.
Saúde Infantil 1996; 18: 51-64.

Luís Batalha
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Introdução

 Afecção frequente do aparelho respiratório;


 ocorre em todos os países a nível mundial, embora mais frequente
nos países desenvolvidos;
 doença crónica com repercussões na qualidade de vida;

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Introdução

 5 a 10 % das crianças Portuguesas são asmáticas


 Incidência antes da puberdade é de 2 rapazes para 1 rapariga;
 aparece em qualquer idade, mas 30% são sintomáticas no 1º ano de
vida;
 80 - 90% das crianças apresentam sintomatologia antes dos 5 anos;

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Conceito

Estado caracterizado por inflamação e hiperreactividade com


obstrução funcional e reversível das vias aéreas, com
componente expiatório e que ocorre em forma de crise
(Youssef, 1997)

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Etiologia

Genética e ambiental

Imunológicos
(alergenos, infecções, ambiente,etc..)

multifactorial

endocrinos
psicológicos
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Factores predisponentes

• Perturbações emocionais
• Exercício físico
• Alergenos (ácaros, fungos, pelos, polens, perfumes,…)
• Fármacos (AINE, AAS,…)
• Poluentes (tabaco, lareira,…)
• Infecções
• Alimentação: ovo, conservantes, corantes, leite de vaca…)
• Alterações climatéricas
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Fisiopatologia
Inflamação brônquica

Edema, brococonstrição, hipersecreção

hiperinsuflação Obstrução das vias aéreas atlectasias


hipoventilação

Acidose
Pco2 / Po2
Esforço respiratório Redução surfactante

Vasoconstrição pulmonar
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Manifestações

• Sinais de SDR
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Manifestações
• Tosse de inicio improdutiva; Nos casos graves pode
• sibilos (passagem do ar), ocorrer:
• pieira (acumulação secreções) • adopção de posição
• taquipneia, encurvada;
• dispneia com expiração • não anda, não fala,
aumentada; • dor abdominal, torácica;
• tiragem; • transpira,
• cianose, • febre,
• hiperinsuflação do tórax, • tórax abaulado
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Diagnóstico

 História clínica

 Observação (peito de pombo, baquetamento dos dedos)

 exames complementares de 1ª linha: hemograma, proteínas totais e


electroforese de proteínas plasmáticas; doseamento de IgA, IgG, IgM
IgE, RX (pulmão, seios nasais) PCR, teste de suor, RGE.

 exames complementares de 2ª linha: provas funcionais respiratórias,


testes cutâneos, indicie Peak-flow (crianças > 5 anos)

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Diagnóstico diferencial

 RGE
 FQ
 Aspiração corpo estranho
 Intolerância às proteínas leite de vaca
 Lactente prematuro
 Anormalidades congénitas
 Bronquiolite

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Diagnóstico

 INDICE PEAK-FLOW - velocidade do fluxo de ar produzido numa


expiração forçada, após inspiração máxima

INTERPRETAÇÃO
Asma controlada - > 80%
obstrução moderada/severa - 50-80%
obstrução severa/grave - <50
(Reinkie e Hoffman, 1993)

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Diagnóstico

Pode ser considerado como valor normal o


melhor de todos os registos na ausência de
sintomas

(Reinke e Hoffman,1993)

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Gravidade da crise

ligeira <3
moderada 3-5
grave 6-7
falência resp.>7

Escala de Wood-Downes (Pinheiro e Aguilar, 1995)


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Gravidade da asma

LEVE - 1 crise / mês, com resposta aos BD e fluxo expiratório máximo


normal ou quase normal

MODERADA - 1 crise / semana, com exacerbações diurnas e nocturnas

GRAVE - alta frequência de crises agudas, alteração do estilo de vida da


criança, importante absentismo escolar, não participação nos jogos e
actividades desportivas, variabilidade > 30% no fluxo expiratório máximo,
obstrução das vias aéreas com resposta parcial aos BD

(Brinca e Ferreira, 1996)

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Factores de que depende o tratamento

 gravidade da crise ou asma


 resposta inicial ao broncodilatador
 resposta a anteriores crises
 idade da criança
 técnica inalatória já adquirida
 recursos locais

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Tratamento

 As crises asmáticas constituem uma emergência médica

 Impõe-se reconhecimento precoce da situação

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Tratamento

•Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

•terapêutica medicamentosa

•dessensibilização

•cinesiterapia respiratória

(Barreto, 1995)

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

ÁCAROS

evitar tapetes, alcatifas, madeiras velhas


usar materiais facilmente laváveis
limpeza regular da casa (aspiração / panos húmidos), arejamento e
exposição solar.

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Tratamento
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA HABITAÇÃO IDEAL
Arejada, sem humidade, deixando entrar bem o sol.
Colchão de molas metálicas ou de esponja de borracha (aspirado com frequência).
Almofada de esponja.
Cobertores de fibras sintéticas.
Cortinados de tecido facilmente lavável.
Sem alcatifas nem tapetes felpudos.
Paredes laváveis.
Limpeza de pó com pano húmido.
Objectos de decoração em número reduzido.
Livros e revistas fora do quarto, ou em estantes fechadas.
Brinquedos facilmente laváveis e em armários fechados.

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

ALERGENOS ANIMAIS

evitar convívio com animais


lavar animais regularmente
dessensibilização com imunoterapia

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

POLENS

evitar (se possível)

dessensibilização com imunoterapia

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

AMBIENTES POLUIDOS

evitar,se possível, ambientes fechados, húmidos, fumo, etc..

Viver em altitude é a melhor forma de evitar ambientes poluídos

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

ALIMENTAÇÂO

atenção especial com alimentos potencialmente alergenos e/ ou que


contenham antioxidantes

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

INFECÇÕES

imunizado para doenças evitáveis pela vacinação

evitar contacto com pessoas doente e locais muito frequentados

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

STRESS

competição, exames, vida agitada, ansiedade, etc..

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

EXERCICIO FÍSICO

saudável, mas clinicamente controlado


usar a pré-medicação prescrita, fazer aquecimento prévio, relaxamento
em posição de descanso após esforço.

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Tratamento

Medidas para eliminar/evitar factores desencadeantes

É TAMBÉM IMPORTANTE
Manter boa higiene oral.
Tratar rapidamente qualquer infecção.
Praticar desportos, sobretudo natação ou remo.
Não fazer exercício físico em situação de crise.
Manter peso corporal aceitável.

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Tratamento

Terapêutica medicamentosa

BONCODILATADORES

 adrenégicos: relaxam musculatura lisa


xantinas: brocodilatador em doses elevadas
anticolinergicos: inibem o brocoespasmo

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Tratamento

Terapêutica medicamentosa

ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES

cromoglicato de sódio: acção anti-inflamatória evitando a brococonstrição

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Tratamento

Terapêutica medicamentosa

CORTICOIDES

acção anti-inflamatória evitando a brococonstrição


reduz secreção de muco
promove cicatrização epitelial

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Tratamento

Terapêutica medicamentosa

INDICAÇÕES DOS CORTICOIDES

criança corticodependente
crise que não cede aos  adrenégicos em doses correctas
crise que se prolonga para além de 48 horas
necessidade de corticoterapia em crises anteriores
virose respiratória associada (especialmente < 2 anos)

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Tratamento

Terapêutica medicamentosa

ANTI-HISTAMINICOS

cetotifeno: previne o brocoespasmo induzido pelo exercício ou alergenos.

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Tratamento
Terapêutica medicamentosa

INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS

absorção dos corticóides é prejudicada pelos antiácidos


associação de corticóides e  agonistas elevam a glicémia e potenciam o
efeito broncodilatador
efeito da teofilina é potenciado pelo cetotifeno, cimétidina, macrólidos,
quinolonas, vacina BCG, vacina Hib, café, chá, chocolate.
efeito da teofilina é diminuído pela rifampicina, antiepilepticos,
tabagismo, dietas hiperproteicas
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Tratamento
Terapêutica medicamentosa

VIAS DE ADMINISTRAÇÃO

INALATÓRIA: rápida, doses mais baixas, evita efeitos secundários, evita


interacções

NEBULIZADORES, CAMARAS EXPANSORAS, SISTEMAS DE


INALAÇÃO

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Tratamento

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Tratamento

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Tratamento

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Tratamento

Terapêutica medicamentosa

VIAS DE ADMINISTRAÇÃO

ORAL: facilidade, acção prolongada

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Tratamento

Imunoterapia especifica

medida terapêutica controversa na asma

eficácia duvidosa

casos de morte por reacção anafilática


(Santos, 1995)

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Tratamento
Cinesiterapia respiratória

percussão, drenagem e técnicas respiratórias - objectivo de optimizar a


ventilação pulmonar (NATAÇÂO)

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Tratamento - Protocolo HP
FASE 1

Crise leve (PEF>60%) e recente (< 24h)

Procaterol (onsudil) em câmara expansora - 2 puff (20g) dose única

ou

Procaterol (onsudil) sol. resp. - dose única nebul. 0.3 ml em 2-3 ml SF


com o2 a 6l´

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Tratamento - Protocolo HP
FASE 1

Crise moderada (PEF>50%)

câmara expansora - salbutamol (ventilan) ou terbutalina (bricanyl) 2


puff (20 em 20´) nº3 durante 1 h.

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Tratamento - Protocolo HP
FASE 1
Outras situações / alternativas

Nebulização com salbutamol (ventilan) 0.15/kg/dose (20 em 20´) nº3


durante 1 h. (Minimo 7 gotas; máximo 24 gotas (1ml=5mg))

ALTA AO FIM DE 1 H:
se resolução da crise
se PEF >70% e Sao2> 95%
ver terapêutica para domicilio

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Tratamento - Protocolo HP
FASE 2
Crise que não resolveu na 1ª h

Nebulização com salbutamol (ventilan) 0.15/kg/dose (20 em 20´) nº3


durante mais 1 h.

1ª dose de PDN oral 1 a 2 mg/kg/dose (máx. 60 mg) se


corticodependente, crise > 24 h sem resposta a b2 , nec. anterior de PDN,
virose associada (?).

Alta ao fim da 2ª h se: PEF>70%, Sao2>95%, resolução clinica.


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Tratamento - Protocolo HP
FASE 3 - UICD

O2 para manter Sao2>95%

Manter:
Nebulização com salbutamol (ventilan) 0.15/kg/dose (20 em 20
´) nº3 durante mais 1 h.

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Tratamento - Protocolo HP
FASE 4 - UICD
Crise que não resolveu na 1ª h em UICD (PEF< 40%, Sao2<90%

o mesmo que na fase 3: Nebulização com salbutamol (ventilan)


0.15/kg/dose (20 em 20´) nº3 durante mais 1 h.

Associar aminofilina EV 6mg/kg/dose 6/6h diluída em SF (20-30´) ou


aminofilina ev continua 0.9mg/kg/h

asociar PDN ev 1 a4 mg/kg/24h cada 6-12h

perfusão com KCL a 100% Luís Batalha


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Tratamento - Protocolo HP
FASE 4 - UICD
Cuidados com a administração de aminofilina

evitar crianças com menos de 12 meses


reduzir dose se criança toma teofilina retard (teofilinémias 1, 8, 24h)
(8-15 g/ml)

interacções (macrólidos, fenobarbital, cimetidina)

doença concomitante (renal, cardíaca, hepática, infecção viral)

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Tratamento - Protocolo HP
FASE 5 - UICD/ UCI
Insucesso de fase 4

•associar salbutamol EV (1 amp. 5 ml = 500 g)


(sol. 1000 g/ml, a diluir em 500 ml de Na Cl 0.9% = sol. 10 g / ml):
dose inicial - 1 g /k/ min durante 10´
depois , se nec. 0.2 g/k/ min durante 15´ e aumento progressivo
de 0.1 g /k/ min de 15 em 15´ (max. 4 g/kg/min

•manter medidas anteriores

Luís Batalha
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Tratamento - Protocolo HP
FASE 5 - UICD/ UCI
UCI

se pco2 > 40 mmHg a subir (apesar de taquipneia)


se insuficiência cardio-espiratória, exaustão ou acidose

ventilação assistida:
se pco2 > 65 mmHg ou Ph<7.2

Luís Batalha
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Tratamento - Protocolo HP
DOMICILIO
Alta após fase 1
manter no domicilio -mimético (mínimo 1 semana)
via inlatória sempre preferível (ensino da técnica)

2 inaladores:
salbutamol 200g cada 4-6h 8ventilan rotacaps ou inaldor)
procaterol 10 g cada 8-12h 8onsudil inalador)
terbutalina inalador 250 g cada 4-6h (bricanyl inalador)
terbutalina turbohaler 500g cada 4-6h (bricanyl turbohaler)

Luís Batalha
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Tratamento - Protocolo HP
DOMICILIO

Se via inalatória impossível

2 xarope:
salbutamol xarope 0.5 ml / kg/ dia 2 id (máx. 20ml / dia)
procaterol xarope 1.5 ml / kg/ dia 4 id (0.15 mg/kg/dose)
terbutalina xarope 0.8 ml / kg/ dia 4 id (0.75 mg/kg/dose)

Luís Batalha
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Tratamento - Protocolo HP
DOMICILIO

Alta após fase 2,3,4

o mesmo que na fase 1


associar PDN oral 1-2mg/kg/dia 2 id (3-5 dias)
retomar terapêutica de manutenção
informar pediatra assistente

Luís Batalha
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Tratamento - Protocolo HP
CAMARAS EXPANSORAS

Inaladores pressurizados
até 6-9 meses - aerochamber com mascara para lactente
6-9 meses - 5 anos - aerochamber com mascara para criança
5 - 8 anos - fisonair (câmara com bucal)

inaladores de pó seco
> 8 anos - turbohaler (brincanyl) ou rotacaps (venmtilan)

Luís Batalha
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Prognóstico

A asma nas crianças pequenas é mais favorável

Prognóstico agravado se: sibilância desde o 1º ano; história familiar,


doenças alérgicas e exposição a factores desencadeantes das crises

Nas crianças com asma ligeira iniciada entre os 2 anos e a puberdade,


metade apresentam remissão e 5% desenvolvem asma grave, sendo em
95% adultos asmáticos.

Luís Batalha

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