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Da perífrase verbal à

expressão formulaica:
uma proposta de
sistematização para
DAR PARA e CHEGAR
A para o ensino de
português como
segunda língua.
Lucas Rezende Almeida Ricardo Alencar
Doutorando pela PUC-Rio Professor Doutor na PUC-Rio
luks.almeida@hotmail.com vicedirector@puc-rio.br
I
ntrodução
• Projeto NURC (perífrases temporais) LONGO
e CAMPOS (1998)
• DALVE (2014), ALMEIDA (2016), BERTUCCI
(2007)
• CHEGAR + A + FORMA FINITA
• DAR + DE + FORMA FINITA
• Linguagem formulaica - TANNEN & ÖZTEK
(1981)
• Expressões formulaicas - ALENCAR (2004)
R
revisão teórica
• ASPECTO
• PERÍFRASES VERBAIS e
GRAMATICALIZAÇÃO
• LINGUAGEM FORMULAICA
• EXPRESSÕES FORMULAICAS
A
SPECTO E TEMPO
• GUILLAUME (1969): tempo (exteriorização)
X aspecto (interiorização)

• IMBS (1960): referência - presente no


tempo, ausente no aspecto.

• CASTILHO (1968): tempo (representação do


processo em um momento) X aspecto
(representação de ordem espacial do
processo, sem relação dêitica).
A
• GREGA: temporal infecta/
specto temporal perfecta
• Proposta Universalista:
semelhanças e diferenças
dos aspectos nas línguas.
• Versão Germanística:
Aspekt (subjetivo)
Aktionsart
"Daqui resulta que o aspecto se apresente (objetiva)
como uma categoria para pluridimensional,
indicando a duração, as fases, a colocação, a visão, o resultado, a repetição ou número
verbal, a determinação da orientação objetiva, etc., etc., pois, como nos diz E. Coseriu, as
dimensões espirituais são teoricamente numerosas.
Todas estas e outras dimensões (ou categorias e subcategorias)
aspectuais se podem realizar em português através de processos não gramaticais e/ou
gramaticais. Esses últimos, que integram a 'realização perifrásticas', são, de longe, os
mais funcionais, os mais rentáveis e, consequentemente, os mais sistemáticos. Eis,
portanto, a razão que explica o chamado aspecto verbal perifrástico.” (BARROSO, 1960:
78)
G
ramaticalização
TESTES DE AUXILIARIDADE

RAPOSO, 1960; TRAVAGLIA, 2014; DE PAULA, 2014; THI HAI, 2015; ALMEIDA, 2016;
RODERO-TAKAHIRA, 2012)

a) a perda da seleção do argumento interno e externo pelo verbo auxiliar: neste teste, o
verbo auxiliar não seria capaz de selecionar por meio dos papéis temáticos nenhuma das
posições dos argumentos externos e internos da sentença;

b) a impossibilidade de concorrência com orações subordinadas: este teste baseia-se na


visão proposta por Chomsky entre os verbos de controle e os verbos de alçamento.

c) a incapacidade da negação de apenas um dos verbos: neste teste, a sentença


negativa implicaria na negação de toda a perífrase verbal e não em apenas um dos seus
constituintes.

d) equivalência semântica entre as vozes verbais: este teste afirma que as estruturas
perifrásticas não desempenhariam papel semântico diferente tanto quando na voz
passiva quanto quando na voz ativa.
G
ramaticalização
Pensar-se em processo de gramaticalização para
o verbo auxiliante, não deve significar de forma alguma
esvaziamento ou perda de sentido. A valorização
recente da estrutura lingüística e, consequentemente,
da significação gramatical, elevada ao mesmo plano de
importância da significação léxica, para a significação
global de uma unidade, acentua a impropriedade de se
falar em esvaziamento de sentido, pois o que ocorre de
fato é a transformação de uma significação léxica em
uma significação gramatical. E essa transformação,
dentro do complexo da auxiliaridade, pode ser
surpreendida em qualquer de suas fases, bastando
para tanto que pensemos em opor duas construções
como hei de vencer e continuo a trabalhar. (ALMEIDA,
1980: 25)
P ERÍFRASE VERBAL
"Perífrases

aos

uma
outros
verbais
combinações de dois ou mais verbos

contribuição
são

formando uma fusão semântica por meio da


qual seus elementos constitutivos emprestam
uns
as

propriedades
morfossemânticas a fim de gerar, para a
locução, aspectual,
temporal, modal, diátesica e/ou semântica
nova(s).” (ALMEIDA, 2016: 31)
L
Inguagem Formulaica
Uma palavra ou um grupo de
palavras, provérbios, expressões
idiomáticas, orações que têm uma
função determinanda pela língua.
Alencar (2004)
L
inguagem formulaica
Estas fórmulas têm o papel de
auxiliar o falante na comunicação
diária, evitando que seja
produzida uma sequência original
a cada vez que o falante deseja
produzir um enunciado.

Ex.: Pode tirar o cavalinho da chuva.


E
xpressões formulaicas
são fórmulas que possuem seu
significado dentro de um contexto
situacional. Entendemos que tais
expressões, embora apresentem
certos elementos fixos, apresentam
também uma mobilidade na forma.

Ex.: Tudo bem?


A NÁLISE DOS DADOS
c HEGAR + A + INFINITIVO
BERTUCCI - ESCALARIDADE
ARGUMENTATIVA
C
HEGAR + A + INFINITIVO
“ Partindo das análises de Fauconnier
(1975) e Ducrot (1981), pudemos
observar que chegar tem a função de
operar sobre uma escala, antecedendo
sempre um argumento que, na
sentença, é sempre o mais forte em
defesa de uma tese levantada pelo
falante. Isso fez com que,
conseguíssemos dizer que um auxiliar
influencia não no tempo, no modo ou
no aspecto, mas no uso da sentença
como um todo.” (BERTUCCI: 89, 2007)
C HEGAR + A + INFINITIVO
Ambiguidade interpretativa = elasticidade significativa
Comecei a estudar, mas
desisti porque a matéria
era muito difícil.

Estudei, mas desisti


porque a matéria era muito
Comecei a estudar, mas não
consegui passar na prova.

Estudei, mas não consegui


passar na prova.
difícil.
Terminei de estudar, mas não
Terminei de estudar, mas consegui passar na prova.
desisti porque a matéria
era muito difícil.*
Cheguei a estudar, mas não
Cheguei a estudar, mas consegui passar na prova.
desisti porque a matéria
era muito difícil.
C HEGAR + A + INFINITIVO
Ambiguidade interpretativa = elasticidade significativa
Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que
aprendi, mas comecei a corrigir colegas meus brasileiros
quando falavam errado.

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas corrigia colegas meus brasileiros quando
falavam errado.

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas terminei de corrigir colegas meus brasileiros
quando falavam errado.*

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas cheguei a corrigir colegas meus brasileiros
quando falavam errado.
C HEGAR + A + INFINITIVO
Ambiguidade interpretativa = elasticidade
significativa
Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que
aprendi, mas comecei a corrigir todas as redações dos
colegas meus brasileiros.

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas corrigia todas as redações dos colegas meus
brasileiros.

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas terminei de corrigir todas as redações dos
colegas meus brasileiros.

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas cheguei a corrigir todas as redações dos
colegas meus brasileiros quando falavam errado.
C
HEGAR + A + INFINITIVO
Nesse sentido, a perífrase
CHEGAR A também pode ser
entendida como uma
expressão formulaica que
expressa uma conclusão:
Chegar + a + Verbo (infinitivo)
Ex.: Esforçou-se, mas não chegou
a entender tudo.
D AR + PARA + INFINITIVO
Perífrase aspectual inceptiva
com valor inovador

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas cheguei a corrigir todas as redações dos
colegas meus brasileiros quando falavam errado.

Nunca fui bom em gramática, em nenhuma das línguas que


aprendi, mas dei para corrigir todas as redações dos
colegas meus brasileiros quando falavam errado.

Cheguei a estudar, mas desisti porque a matéria era muito


difícil.

Dei para estudar, mas desisti porque a matéria era muito


difícil.
D AR + PARA + INFINITIVO
Perífrase modalizadora
com valor atenuador

“Estou numa cela de 5m por 5m. Não corro nem exercito” disse
em entrevista à revista.

“Estou numa cela de 5m por 5m. Não é possível correr nem se


exercitar” disse em entrevista à revista.

"Estou numa cela de 5 m por 5 m.. Não dá para correr nem para
se exercitar», disse em entrevista à revista
D AR + PARA + INFINITIVO
RESUMO

(1) POSSIBILIDADE E/OU PROBABILIDADE: No Brasil,


só dá para ser professor com muita abnegação.
(2) CAPACIDADE E/OU HABILIDADE: Juliana dá para
ser professora.
(3) ASPECTUALIZADOR INCEPTIVO: Quando eu digo
que esse pessoal dos Jardins vive no mundo da lua... Uma
casa na rua Polônia agora deu para ostentar um cartaz que
diz assim: «Família muda vende»
R
EFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALMEIDA, J. de. Introdução ao estudo das perífrases verbais de infinitivo. Assis-SP: ILHPA - Huctec. 1980

ALMEIDA, Lucas Rezende. Flutuações semânticas em estruturas verbais perifrásticas modais e aspectuais relevantes para o português como segunda língua. Rio de
Janeiro: Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 2016.

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BARROSO, Henrique. O aspecto verbal perifrástico em português contemporâneo visão funcional/sincrónica. Porto: Editora Porto, 1960

BECHARA, E. . Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional, 1977.

BENVENISTE,E. Le langage et l’ expérience humaine. in Problémes du langagee, Paris, Col. Diógene, Gallimard, 1966.

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Revista Veredas, Jul/Dez, 1998

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Mestrado, Universidade Estual Paulista, 2014.

ILARI, Rodolfo & BASSO, Renato Miguel. O verbo. IN: CASTILHO, Ataliba T. de. Palavras de Classe Aberta. Vol. III São Paulo: Contexto, 2014.

IMBS, Paul. L’emploi de temps verbaux en français moderne. Paris, Libr. C. Klincksieck, 1960.

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LUFT, C. P. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo, 1976.

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___________. Verbos auxiliares em português. Petrópolis: Vozes, 1973. 145p.

REICHENBACH, H. Elements of Symbolic Logic. New York: Macmillan, 1947.

RODERO-TAKAHIRA, Aline Garcia. Inacusatividade, Auxiliaridade e Propriedades de Alçamento com Acabar. IN: Anais dos XXI e XIII Encontros dos Alunos de Pós-
Graduação em Linguística da USP. São Paulo: Paulistana, pg. 124 - 14, 2012.

SAID ALI, M. Gramática historia da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1971. (Biblioteca brasileira de filologia, 19).

SILVA, Fellipe Fernandes Cavallero da. Um recorte funcionalista da aspectualidade do pretérito perfeito composto em português do Brasil e sua relevância para o
português como segunda língua para estrangeiros (PL2E). Rio de Janeiro: Tese de Doutorado, PUC-Rio, 2016

THI HAI, Nguyen. As perífrases verbais no ensino-aprendizagem de PLE: um caso em estudo. Porto: Dissertação de mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, 2015.
O BRIGADO

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