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O Surgimento da MPB

Introdução
A MPB surgiu exatamente em um momento de declínio da
Bossa Nova, gênero renovador na música brasileira surgido na
segunda metade da década de 1950.Influenciado pela música
norte-americana a Bossa Nova deu novas marcas
ao samba tradicional.

Mas na primeira metade da década de 1960, a Bossa Nova


passaria por transformações e, a partir de uma nova geração de
compositores, o movimento chegaria ao fim já na segunda metade
daquela década.

A MPB, vagamente entendida como um estilo musical, iniciou-se em meados dos


anos 1960, com o acrônimo sendo aplicado a tipos de música não-elétricas,
que surgiram após o início, origem e evolução da Bossa Nova.
Introdução

A partir dos anos 1950, o Brasil passou por uma ebulição musical nunca antes vista

Com um caldeirão de movimentos: bossa nova, jovem guarda, tropicalismo,


música de protesto. Os festivais de música brasileira despertavam paixões
no público, com vaias e aplausos calorosos.

Mas, nos rebeldes anos 1960 e 1970, cantar virou atividade de risco, já que a censura
baixava seu carimbo sobre aqueles que se insurgiam contra o regime.
Introdução

Mas quem eram os insurgentes?

Todos foram reconhecidos?

MPB ou partidarismo político através da arte?


1-Um pouco de história
No fim dos anos 30 iniciou no Brasil a chamada Era do Rádio, acompanhando um maciço
crescimento no número de compositores e no público consumidor.

"a deficiência não era no campo da criação. Era na área da gravação, uma
vez que os estúdios existentes não dispunham, ainda, de recursos técnicos
ideais para captação e reprodução sonora. E, se os discos gravados em 78
rotações não ofereciam fidelidade, tampouco os microfones, tampouco os
transmissores e, menos ainda, os raríssimos receptores. [...] E o rádio caiu no
gosto do povo“(TAVARES,2016)

Este meio de comunicação assumiu um importante papel de divulgador de música


popular até bem dentro da década de 1950, lançando muitos novos talentos e tendo
uma programação diversificada. Várias emissoras mantinham grandes orquestras e
importantes cantores fixos, mas perdeu rapidamente espaço quando se popularizou a
televisão.
1-Um pouco de história

Logo após a Era do Rádio destaca-se a Bossa Nova, um movimento basicamente


urbano, originado no fim dos anos 50 em saraus de universitários e músicos da
classe média.

De início era apenas uma forma (bossa) diferente de cantar o samba, mas logo
incorporou elementos do Jazz e do Impressionismo musical de Debussy e Ravel, e
desenvolveu um contorno intimista, leve e coloquial, baseado principalmente na voz
solo e no piano ou violão para acompanhamento, ainda que com refinamentos de
harmonia e ritmo.
1-Um pouco de história
"Seu objetivo era colocar a música popular brasileira na vanguarda
musical do planeta. Contudo, em extensa medida, ela obedecia à
tradição. O ritmo básico continuava a ser o samba, embora
enriquecido por recursos mais sofisticados, como
as síncopes criadas por João Gilberto; as melodias eram líricas e
ternas; e, finalmente, as letras ainda tinham como principal tema
os problemas das relações afetivas, as dores do amor, e
preservavam o prazer no sofrimento que caracteriza
tradicionalmente as canções românticas. As novidades, portanto,
eram mais formais do que conteudísticas. (MACIEL,2016)

A música popular brasileira tradicional já era notável pelo lirismo de sua invenção
melódica e, principalmente, por sua vitalidade rítmica. A proposta fundamental,
agora, era de enriquecê-la com um avanço em termos de harmonia
essas inovações formais eram importantes e
manifestavam (ou tentavam ) um novo espírito: urbano,
culto e mesmo sofisticado.
1-Um pouco de história

[...] Mas não foi apenas no plano estritamente musical que se verificou uma
evolução. Ao contrário dos antigos artistas da música popular brasileira
tradicional, vindos das camadas mais pobres da população brasileira, de
instrução modesta e informação escassa, os novos artistas tinham
freqüentemente formação universitária, eram informados e até cultos. As letras
das canções passaram a manifestar uma inédita intenção literária, fazendo
com que muitos desses compositores acabassem sendo
considerados poetas até mesmo por critérios acadêmicos. (MACIEL,2016)

No entanto, no início dos anos 60, à medida que o


movimento da bossa nova evoluía, o esteticismo original
dava lugar à introdução de temas políticos, tendência
exemplificada em Zé Keti e João do Vale.
1.1- Centro Popular de Cultura (CPC)

Organização associada à União Nacional dos Estudantes(UNE). Foi criado em 1961.


Foi extinto pelo Golpe Militar em 1964.

Era um grupo de intelectuais de esquerda, com o objetivo de criar e divulgar


uma "arte popular revolucionária", reuniu artistas de diversas áreas, como
teatro, música, cinema, literatura e artes plásticas, para defender o caráter
coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista.
1.1- Centro Popular de Cultura (CPC)

Seus fundamentos e objetivos foram definidos no


"Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura"

De onde ressalta-se:

a arte do povo é "de ingênua consciência“, sem outra função


que "a de satisfazer necessidades lúdicas e de ornamento".

a concepção de que "fora da arte política não há arte popular";

a crença de que seria dever do homem brasileiro: "entender urgentemente o mundo em


que vive" para "romper os limites da presente situação material opressora"
1.1- Centro Popular de Cultura (CPC)

Seus fundamentos e objetivos foram definidos no


"Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura"

De onde ressalta-se:

combater o "hermetismo da arte alienada em nome de uma arte popular revolucionária"


e de que a arte somente deveria ir para "onde o povo consiga acompanhá-la, entendê-la e
servir-se dela.

Em resumo de todas as propostas afirmavam:


"nossa arte só irá onde o povo consiga acompanhá-la, entendê-la e servir-se dela."[

No Maranhão uma proposta que seguia essa linha foi o LABORARTE.


1.1- Centro Popular de Cultura (CPC)
Durante a década de 1960, a discussão sobre as relações entre o Brasil e os Estados Unidos
ocupou diversos espaços de debate.

Utilizando da música como instrumento de engajamento político, os artistas tinham a


preocupação de denunciar conceitos-problema como autenticidade e alienação
cultural. Dessa forma, inseriam conteúdo político de suas canções com o objetivo de
promover a comunhão de suas perspectivas políticas.

A primeira dessas canções que seriam conhecidas


como Canção de Protesto foi "Canção do
subdesenvolvido" (1961), composta por Carlos Lyra e
Chico de Assis.

Nessa canção, as críticas e referências à dependência econômica e cultural do Brasil com


relação aos Estados Unidos ganham tons explícitos em vários trechos da canção.
2- De MPM a MPB

A primeira versão da MPB foi a MPM, sigla de Música Popular Moderna, usada pela primeira
vez em 1965, para identificar canções que pareciam representar um gênero impreciso.

Um dos primeiros exemplos de canção rotulada como MPM foi “Arrastão” (1965),
de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, ano em que venceu o 1º Festival da Excelsior.

Em 1966, um conjunto vocal de Niterói, conhecido como Quarteto do CPC,


escolheu o nome MPB 4 para dar seguimento à carreira após a extinção dos
CPCs.
2- De MPM a MPB
Na virada da década de 1960 para a de 1970, a MPM foi desaparecendo e cedendo espaço para a MPB.

O conjunto de autores e cantores adeptos desse filão era cada vez maior,
incorporava as grandes revelações dos festivais e também compositores de música
de protesto.

Mas tanto nos festivais quanto na música de protesto os gêneros eram variados
e, não era raro, misturavam-se e combinavam-se.

As múltiplas possibilidades de associação e de inspiração


promoveram um caldeirão rítmico sem precedentes na década de
1970, transformando a MPB num rótulo hegemônico.
2- De MPM a MPB
Os artistas já não precisavam se alinhar com um único movimento,
acostumando-se a misturar tendências e estilos num mesmo disco.

Punha-se berimbau numa música, guitarra na outra, sanfona na terceira, e estava tudo
lindo, como exemplo temos os discos lançados por Elis Regina em 1976 e 1977:

Nesses trabalhos, a cantora registrou o rock “Velha


Roupa Colorida”, de Belchior, os boleros “Fascinação”,
de Lousada, e “Tatuagem”, de Chico Buarque, a canção
de protesto chilena “Gracias a la Vida”, de Violeta Parra,
e ainda emplacou a caipira “Romaria”, de Renato
Teixeira.
Importante lembrar que a música popular brasileira ao longo de todos esses anos fez muito mais
do que entreter ou embalar o cotidiano dos brasileiros.
2.1- Política e Música.

Foi também utilizada como uma forma de resistir e protestar contra o Golpe Militar de 64.

As músicas estiveram enraizadas em cada conflito, em cada tensão social, em cada


momento histórico:
* “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” - virou hino da geração de 1968.

* “Apesar de você” - Tanto o título da canção, quanto seu verso “..amanhã há de ser outro dia”
apareceram gravados em faixas empunhadas em passeatas no início dos anos 1970.

*“Cálice”- (vetada em 1973) teve sua letra divulgada na mesma semana no Jornal da Tarde
e em jornais universitários, sendo exibida publicamente num show de Gilberto Gil, na USP,
num gesto de desobediência civil.
2.1- Política e Música.
* “O bêbado e a equilibrista”- João Bosco e Aldir Blanc não apenas homenageavam Clarice, a viúva
de Vladimir Herzog, morto pela repressão em 1975, como clamavam pela anistia aos exilados,
simbolizados na canção pela figura de Betinho, o “irmão do Henfil”

* “Menestrel das Alagoas” - foi executada dezenas de vezes nos comícios por eleições diretas

*“Coração de Estudante” - marcou a despedida de Tancredo Neves, o primeiro presidente


civil eleito após 21 anos de ditadura militar
Em suma:
O que escutamos hoje, nas rádios e nos discos, livres de qualquer forma de censura ou
coerção, é resultado do que foi escrito, tocado e gravado naqueles anos. Muitos foram presos
e exilados em razão do que colocavam em suas músicas. Outros simplesmente deixaram de
cantar, abandonando para sempre os palcos ou o país, como Vandré e Taiguara.
3- Polêmicas (antagonismos).
Aqueles anos de chumbo foram cheios de intolerância e radicalização estética e política.

Disputas insufladas nos festivais migravam para as


gravadoras, os canais de TV, a vida pessoal.

A oposição ao governo inflamava-se de tal maneira que surgiu a patrulha ideológica de


esquerda que apontava o dedo para todos aqueles que ousavam gravar canções ufanistas e
que revelassem amor pelo país, o que bastava para ser acusado de conivência com o
sistema.

Enquanto as polarizações permaneciam — entre acústicos e plugados, engajados e


desbundados, “comprometidos” e “traidores” — a maioria dos ouvintes de música popular
brasileira queria mesmo era se divertir com o soul dançante de Simonal e Jorge Ben e,
principalmente, com o pop-cafona

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