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HELAINE: Chega! Chega! Chega! Já deu.

RAYSNER: Tava na cara que isso não ia dar certo.


HELAINE: Toda vez é assim.
VÂNIA: Onde é que nós estávamos com a cabeça?
CHARLES: (para Fabrício) Talvez seja o caso de você continuar ensaiando...
FABRÍCIO: Continuar ensaiando... Continuar ensaiando... Pra quê? Eu vou sempre
fracassar.
CHARLES: Eu acredito em você. Sempre acreditei...
RAYSNER: Da próxima vez você pode tentar outro truque, que tal?
FABRÍCIO: Pra vocês, eu não passo de uma grande piada, não é?
CHARLES: Vocês ficam falando dele, mas na hora de concordar em ter número de
mágica, todo mundo concordou.
RAYSNER: Todo mundo quem? Eu não concordei com nada.
HELAINE: Isso que a gente está discutindo é uma bobagem. Todo mundo aqui está
sujeito a erros.
VÂNIA: Eu não errei nada.
CHARLES: A gente tem que pensar que o que fazemos aqui depende do coletivo.O erro
de um é o erro de todos.
RAYSNER: Ah, larga mão dessa sua demagogia!
SÂNIA: Calma, calma... A gente precisa encontrar uma solução definitiva pra esse tipo
de situação, vocês não acham?
RAYSNER: Por acaso vocês têm alguma sugestão?

Helaine faz que não com a cabeça.


RAYSNER: Alguém?

Ninguém se prontifica.
VÂNIA: Bom... Eu acho que a gente precisa começar a sistematizar esses problemas. A
gente precisa se organizar melhor. Nós não estamos aqui de brincadeira, precisamos
ser mais profissionais.

Vânia sai e retorna com um maço de papéis e caneta.


VÂNIA: Hoje são?
CHARLES: Que isso agora?
VÂNIA: Eu proponho que a gente registre tudo o que não está funcionando aqui
neste...nesta... Como vamos chamar esse tipo de procedimento? Ei, você! (aponta
para Raysner) Pode me dar uma mãozinha aqui?

Raysner vira o apoio para a Vânia escrever.


VÂNIA: (escrevendo) Foi realizada a tentativa de um número de mágica que tinha como
objetivo fazer desaparecer uma voluntária...
HELAINE: Voluntária? Eu fui praticamente obrigada! Aliás, eu estou sendo obrigada a
muitas coisas...
VÂNIA: No entanto, a apresentação não foi até o fim porque o mágico em questão não
possuía a técnica necessária para a realização do referido número.
FABRÍCIO: Eu quero deixar claro que antes da mágica falhar foram cometidos inúmeros
erros muito mais graves...
VÂNIA: Por exemplo?
HELAINE: Por exemplo: de onde você tirou essa ideia de que eu não existia para o
sistema? Não era este o nosso combinado.
CHARLES: Eu só quis fazer uma brincadeira.
HELAINE: Você armou pra mim.Você me expôs em público! Você foi desonesto.
CHARLES: Eu não fui desonesto! Eu só queria, sei lá, que você tivesse uma dificuldade a
mais. A gente está levando tudo isso muito a sério...
VÂNIA: O nosso trabalho aqui é sério.
CHARLES: Mas não precisa carregar tanto no drama.
VÂNIA: Eu só carreguei no drama pra salvar a sua pele.
CHARLES: Minha pele?
VÂNIA: Você acha mesmo que aquela hora eu tinha pensado em algum sete de paus?
FABRÍCIO: Anota aí: desonestidade de todas as partes.
VÂNIA: (escrevendo)Desonestidade...
RAYSNER: Se for assim, eu gostaria de registrar que faltou rosquinha...
HELAINE: E eu acho que vocês desafinaram muito na hora de cantar a música do
sistema.
VÂNIA: Os papéis estavam todos fora do lugar.
RAYSNER: Mas o pior de tudo foi ele assumir um papel que não era dele!
CHARLES: Você precisa resolver esta questão.
FABRÍCIO: E parar de rir na hora errada.
RAYSNER: Eu ri porque vocês fizeram bem.
FABRÍCIO: A gente pode registrar os acertos também?
VÂNIA: Temos que registrar tudo o que for necessário!
RAYSNER: Aquele texto podia estar mais no final!
VÂNIA: Qual texto?
RAYSNER: No fim, é isso mesmo que iria sobrar: a gente aqui, com a gente mesmo,
neste lugar vazio.
HELAINE: “A gente aqui, junto com eles, neste lugar vazio”.
VÂNIA: Assim é melhor.
RAYSNER: E coloca aí também: a peça não tem fim.

AD INFINITUM

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