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Jean Cocteau
…
AYISHA - Je voudrais dire la vérité. J'aime la vérité. Mais elle ne m'aime pas. Voilà la
vérité vraie: la vérité ne m’aime pas.
VITÓRIA - Gostaria de dizer a verdade. Gosto da verdade. Mas ela não gosta de mim.
A verdade é esta: a verdade não gosta de mim.
AYISHA - Dès que je la dis, elle change de figure et se retourne contre moi.
BEATRIZ - A verdade não gosta de mim. Mal acabo de dizê-la ela muda de rosto e
volta-se contra mim.
TODOS - Juro!
DÉBORA - Quando me perguntam alguma coisa, quero responder o que penso. Quero
responder a verdade. Ardo no desejo de dizer a verdade.
TODOS - Minto!
NICOLAS - Não há nada a fazer. Demasiado tarde para voltar atrás. Depois de se
começar a mentir, tem de se continuar. E não é cómodo, juro.
AYISHA - Et ce n'est pas commode, je vous de jure. C'est si facile de dire la vérité.
C'est un luxe de paresseux.
VITÓRIA - A mentira não é uma vertente a pique. São montanhas russas que nos
transportam, nos deixam sem fôlego, nos fazem parar o coração, nos põem um nó na
garganta.
DÉBORA - Montanhas russas que nos transportam, nos deixam sem fôlego, nos fazem
parar o coração, nos põem um nó na garganta.
ISABELLA - Se eu amo, digo que não amo e se amo digo que amo. Adivinha-se a
continuação.
RUBEN - Mais vale disparar um tiro de revólver sobre si próprio e acabar com tudo.
TODOS - Não!
AYISHA - Par surprise, elle se retourne, elle se recroqueville, elle se ratatine, elle
grimace et elle devient mensonge.
DÉCIA - Mas não encontro a força necessária para isso. Deixo-me insultar e rebento
de raiva.
VITÓRIA - E é esta raiva que se acumula, que se amontoa em mim, que me enche de
ódio.
NICOLAS - Mas basta que me chamem mentiroso para que o ódio me sufoque.
BEATRIZ - Mas é assim: eu não queria mentir e não suporto que não compreendam
que minto contra a minha vontade.
DÉCIA - Que minto contra a minha vontade porque é o diabo que me instiga.
RUBEN - Não voltarei a mentir. Encontrarei um sistema para não mentir, para não
continuar a viver na assustadora desordem da mentira.
VITÓRIA - Tenho vergonha. Detesto as minhas mentiras e iria até ao fim do mundo
para não ser obrigada a fazer esta confissão.
DÉBORA - Eu não.
TODOS - Apanhei-os!
RUBEN - Sabem, minhas senhoras e meus senhores, por que é que lhes disse que
mentia?
NATANAEL - Cada um gostaria de fugir do seu lugar e receia ser interpelado por mim.
ISABELLA - O senhor disse à sua mulher que ontem esteve a jantar com uns amigos,
não foi?
DÉCIA - É falso.
TODOS - Perfeito.
VITÓRIA - É fácil acusar os outros. É fácil deixá-los mal colocados. Vocês dizem-me
que minto e, afinal, são vocês que mentem.
NATANAEL - É admirável.
DÉBORA - É para evitar fazer sofrer… É para evitar um drama. Mentiras piedosas.
ISABELLA - Hã? O quê? Que diz? Ah… Julgava… Acharia estranho que me
censurassem este género de mentira.
TODOS - A mentira…
VITÓRIA - A mentira é uma coisa magnífica. Digam lá, imaginar um mundo irreal e
fazer acreditar nele.
TODOS - Mentir!
TODOS - A verdade.
DÉBORA - Menti quando vos disse que mentia. Menti quando vos disse que mentia ou
quando vos disse que não minto?
(Turn around)
Every now and then I get a little bit lonely
And you're never coming 'round
(Turn around)
Every now and then I get a little bit tired
Of listening to the sound of my tears
(Turn around)
Every now and then I get a little bit nervous
That the best of all the years have gone by
(Turn around)
Every now and then I get a little bit terrified
And then I see the look in your eyes
(Turn around)
Every now and then I get a little bit restless
And I dream of something wild
(Turn around)
Every now and then I get a little bit helpless
And I'm lying like a child in your arms
(Turn around)
Every now and then I get a little bit angry
And I know I've got to get out and cry
(Turn around)
Every now and then I get a little bit terrified
But then I see the look in your eyes