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Teorias da Imagem

o problema da ideia de arte


Negerplastik – Carl Einstein
Definição do problema – Alfred Gell
Imagens do trauma – Seligmann-Silva
Os escultores não parecem ter encontrado
nenhuma dificuldade para escapar do plano
bidimensional. O pescoço e o tronco são concebidos
como cilindros, e não como massas com seção
quadrada. A cabeça é concebida como uma massa
em forma de pêra. Ela é um todo único, e não foi
obtida por aproximações a partir da máscara, como
no caso de toda a arte primitiva européia. A própria
máscara é um plano côncavo extraído dessa massa
de outro modo perfeitamente unificada. E aqui
encontramos outra curiosa diferença entre a
escultura negra e a nossa.

Escultura Negra (FRY, 1906)


Negerplastik

Carl Einstein

1915/1920/2008/2011/2015
Com efeito, Negerplastik é o primeiro livro a apresentar de
modo livre de preconceitos racistas artefatos provenientes
da África como obras de arte. Einstein recusa, logo de saída,
a visão preconceituosa dos africanos como seres inferiores e
o “falso conceito de primitivismo”, pois os entende como
frutos da ignorância e álibis para a opressão injusta,
compreendendo que “o juízo até então atribuído ao negro e
a sua arte caracterizou muito mais quem emitia tal juízo do
que o seu objeto”. Para Liliane Meffre, é uma das “obras
matrizes do século XX. Com análise formal audaciosa e
inovadora, essa obra conferiu aos objetos artísticos
africanos o status definitivo de obras de arte”.

Uma crítica sem plumas (CONDURU, 2008)


Entretanto, Negerplastik é mais do que um livro de
história da arte africana. Para analisar o valor da
arte da África, Einstein a situa em relação à arte
ocidental, conectando-a com obras modernas, o
gótico, o estilo romano-bizantino, entendendo-a em
sentido universal. Discute questões relativas à visão
e percepção, criação e recepção artística, escultura,
colecionismo, psicologia, história, crítica, teoria.
Assim, Negerplastik é simultaneamente um livro de
história, crítica e teoria; livro de arte da África, de
arte moderna, de arte.

Uma crítica sem plumas (CONDURU, 2008)


Problemas
1) Imagens de coleção – “roubo colonial”
Atribuição dos nomes em 1990

2) Visão do europeu – “Arte da África”


Africanische Plastik em 1921
Definição do Problema:
a necessidade de uma
antropologia da arte
Alfred Gell {1945-1997}
Não faria sentido desenvolver uma “teoria da
arte” para a nossa própria arte e uma outra teoria,
claramente diferente, para a arte daquelas culturas
que por acaso, no passado, estiveram sob o domínio
colonialista. Se as teorias da arte ocidentais
(estéticas) se aplicam à “nossa” arte, então elas se
aplicam à arte de todos, e devem ser utilizadas para
tal. Sally Price (1989) queixa-se com razão da
essencialização e a consequente guetificação da
chamada arte “primitiva”. Argumenta ela que essa
arte merece ser avaliada pelos espectadores
ocidentais de acordo com os mesmos padrões
críticos que aplicamos à nossa própria arte.
Não faço nenhuma objeção às sugestões de Price
no que diz respeito a dar mais reconhecimento à
arte e aos artistas não-ocidentais. De fato, a única
objeção que uma pessoa bem intencionada
poderia levantar com relação a um determinado
programa seria talvez a de alguns especialistas”,
os quais têm o prazer reacionário de imaginar que
os produtores da “arte primitiva” colecionados
por eles são selvagens, ainda recentemente
moradores das árvores. Esses idiotas podem ser
deixados de lado logo de saída.
Para desenvolver uma teoria da arte nitidamente
antropológica, não basta “tomar emprestada” uma teoria da
arte existente e aplicá-la a um novo objeto; é necessário
desenvolver uma nova variante das teorias antropológicas
existentes e aplicá-la à arte. Não estou tentando ser mais
original do que os meus colegas que aplicaram teorias da arte
existentes a objetos exóticos; estou apenas querendo ser
não-original de uma maneira nova. As “teorias antropológicas
existentes” não dizem respeito à arte; elas tratam de assuntos
como parentesco, economia de subsistência, gênero, religião,
e coisas semelhantes. Assim, o objetivo é criar uma teoria
sobre a arte que seja antropológica porque se assemelha a
essas outras teorias que podem tranquilamente ser
caracterizadas como antropológicas.
Uma abordagem dos objetos de arte que seja
puramente cultural, estética e “apreciativa”
representa um beco sem saída para a antropologia.
O que me interessa não é isso, e sim a possibilidade
de formular uma “teoria da arte” que se encaixe
naturalmente no contexto da antropologia, dada a
premissa de que as teorias antropológicas são
“reconhecíveis” inicialmente como teorias sobre as
relações sociais, e não como outra coisa qualquer. A
maneira mais simples de imaginar isso é supor que
pudesse existir uma espécie de teoria antropológica
em que as pessoas ou “agentes sociais” fossem, em
certos contextos, substituídos por objetos de arte.
Dou ênfase não à comunicação simbólica, e sim à
agência, intenção, causação, resultado e
transformação. Encaro a arte como um sistema de
ação cujo fim é mudar o mundo, e não codificar
proposições simbólicas a respeito do mundo. A
abordagem da arte centrada na “ação” é
inerentemente mais antropológica do que a
abordagem semiótica alternativa, porque se
preocupa com o papel prático de mediação que
desempenham os objetos de arte no processo social,
e não com a interpretação dos objetos “como se”
eles fossem textos.
Imagens do Trauma
e sobrevivência das imagens

Márcio Seligmann-Silva {1964}


As imagens são lidas como um medium de
sobrevivência de gestos patéticos e como um
transmissor dessas emoções. Fiel ao modelo trágico,
Warburg vê nessas encenações, modos de reativar e
apaziguar o terror. Diante desse modo de encarar a
história como o retorno do recalcado, fica clara
também a proximidade do universo teórico de
Warburg ao de Freud.

“na vida da alma nada do que se formou uma vez


pode desaparecer”
Definições
1) Pathosformel: forma do pathos, fórmulas patéticas,
forma trágica, sublimemente estilizada, para
expressões miméticas e fisionômicas extremas.

2) Nachleben: sobrevivência de gestos patéticos,


transmissores de emoções; modos de reativar e
apaziguar o terror.
3) Infraimagens: forma do divino, da dor, do amor, da
catástrofe (poema de Heine: só consegue através de
imagens verbais, e nem tanto visuais
Ausência de imagens

4) Hiperimagens: inscrições mneumônicas, tanto


individuais quanto coletivas; resistem ao tempo;
tensão entre memória e esquecimento; origem em
fatos violentos, muitas relacionadas à morte.
Imagens do trauma

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