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PROCESSO HISTÓRICO DO CONCEITO

DE BEM CULTURAL E AMBIENTAL:

DA TUTELA À CONSERVAÇÃO
INTEGRADA

Profa. LÍVIA VIERNO


BEM CULTURAL
 Englobam toda sorte de coisas, objetos, artefatos e
construções obtidas a partir do meio ambiente e do
saber fazer.

 Devemos sempre prestar atenção às relações


necessárias que existem entre o meio ambiente, o saber
e o artefato: entre o artefato e o homem. Entre o
homem e a natureza.

 Assim, um objeto isolado de seu contexto deve ser


entendido como um fragmento, ou um segmento, de
uma ampla urdidura de dependências e entrelaçamentos
de necessidades e interesses satisfeitos dentro das
possibilidades locais da sociedade a que ele pertence ou
pertenceu.
GRÉCIA

 A arte sempre se baseou na tradição, no conceito de


imitação.

 Para Platão, o real não está no mundo palpável, está no


mundo das idéias, no mundo ideal, tudo o que nos
rodeia é uma cópia imperfeita do mundo das idéias.
ROMA
 Tem início o costume de colecionar objetos de arte. Os
objetos gregos espoliados pelos exércitos romanos
começam por entrar discretamente no interior de
algumas residências patrícias – muda o conceito quando
Agripa pede que as obras entesouradas sejam expostas
à vista de todos, à luz viva das ruas e dos grandes
espaços públicos.

 Não existe o novo e o antigo. Nem os bens móveis


colecionados (esculturas, pinturas, vasos, camafeus)
nem os edifícios antigos (religiosos ou civis) admirados
são revestidos de um valor histórico. No Mundo Romano,
a restauração se identifica com uma ação de regredir a
uma forma anterior.
IDADE MEDIA

 A Idade Média se inicia com a destruição do Mundo


Antigo. Se contrapõe ao período greco-romano (matéria
x idéia); período medieval (matéria x símbolo) – possui
uma visão simbólica e alegórica do universo.

 No medievo o edifício não precisava ser


modificado ou restaurado. Restaurar os antigos
templos pagãos da Antigüidade era colocar neste uma
cruz ou uma imaginária. Simbolicamente faziam deste
um templo cristão. Exemplo do Panteão de Roma ao
colocar uma cruz sobre ele, está restaurado, convertido
ao cristianismo. A parte material não interessa.
IDADE MEDIA
 Carlos Magno(rei dos Francos, imperador romano 742-
814) – é o primeiro a citar a natureza no tratado.
Conceito medieval de cidade/ natureza. Exige o
equilíbrio destes dois elementos.

 No Art. 36 do documento Capitolare de Villis delineia a


missão dos agentes reais: “... que os nossos bosques e
nossas florestas sejam bem vigiadas, que determinem
seus espaços e que não deixem os campos crescerem
mais que os bosques...” A floresta é a primeira
riqueza natural ameaçada, que seja protegida por
regulamentos precisos. Particularmente sua relação
entre arquitetura x ambiente medieval.
RENASCIMENTO

 Retoma o antigo, negando a idade média. Antigo faz referência


à Antigüidade clássica, ao período greco-romano, e tudo aquilo
que não é do medievo.
 Procura entender os princípios da arte antiga para fazer sua
própria arte. Não é a imitação do edifício antigo, mas a sua
lógica.
 Neste período houve a destruição de muitos edifícios antigos,
cujo material era utilizado em novos edifícios.
 Para os renascentistas os edifícios antigos têm valor
apenas instrumental. Depois de compreendê-los destroem,
pois podem fazer melhor.
 A idéia de conservação no renascimento é progressista. Não
derrubava o antigo, mas modernizava-o, inseria-o na cultura
atual.
 A conservação é um processo de modernização, de
modificação para o estilo atual.
MANEIRISMO

 Se refere aos mestres, ao factual, e à arte feita


“à maneira de algum mestre”. Um grande
exemplo é Miguelangelo que imitava os
mestres do renascimento.

 Bruneleschi - critica os maneiristas que


copiam os mestres.
BARROCO
 Imita a natureza e os antigos. O barroco quer
entender os antigos, mas nesse entendimento ocorre
a articulação das obras gregas, romanas e
renascentistas.

 Borromine, arquiteto do século XVII, via na história o


grande mestre das novas obras. É preciso conhecer os
antigos e a história para saber projetar; aprende-se a
fazer arquitetura com a história. Ao intervir em Santa
Geovani, restaura uma igreja paleocristã em uma
figuratividade barroca. Troca a linha linear paleocristã
numa dinâmica barroca. Restaura modernizando,
segundo a idéia da época.
NEOCLÁSSICO

 O Neoclássico se difere do Renascimento. Os modelos são os


mesmos, a concepção e a idéia de imitação são diferentes.

 É a época dos REVIVALS - porque só imitar os clássicos?

 Polêmica se polariza entre Neoclássicos e Neogóticos.


Neoclássico - herdeiros do antigo, trabalham com idéias.
Neogóticos - os modernos, estilo que se presta para a
utilização dos novos materiais, em especial o ferro.

 A restauração se converte em guardiã do conhecimento


histórico, o voltar a uma forma anterior e a garantia da
autenticidade necessária na capacidade de comprovação do
testemunho do passado se faz necessário formular a norma da
atividade do restauro, onde França e Itália se destacam.
ROMANTISMO
 Os conceitos modernos relacionados com a conservação do
patrimônio cultural e natural estão fundamentalmente relacionados
com o desenvolvimento da modernidade.

 O conceito de patrimônio cultural é baseado no novo conceito


de história. Foi proposto que o significado real e verdadeiro de
objetos e estruturas que formaram tais patrimônios somente poderia
ser entendido quando visto no contexto cultural especifico ao qual
eles pertenciam.

 Essa abertura levou ao pluralismo e ao reconhecimento da


diversidade cultural, associada a valores não necessariamente
mensuráveis.

 Na sociedade tradicional, um objeto era reconhecido principalmente


em relação à sua função; na modernidade emergente, pelo
contrário, os objetos herdados do passado eram associados a um
valor histórico e a uma personalidade cultural e artística específicos.
Monumentos da Antigüidade
 Na segunda metade do século dezoito, o campo de ação do reparo de
monumentos da Antigüidade em Roma começou a refletir conceitos
modernos de restauração.

 Para isso contribuiu Johann Joachim Winckelmann (1717-68), um


professor alemão que reconheceu a qualidade artística especifica de
um trabalho de arte (especialmente da Antigüidade Clássica). Como
resultado, ele foi chamado o pai da arqueologia moderna.

 As restaurações do Coliseu por Raffaele Stern (1774 -1820) objetivou,


principalmente, a conservação da estrutura histórica, usando simples
contrafortes como reforços; e do Arco de Tito por Giuseppe Valadier
(1762-1838) visava o restabelecimento da forma arquitetural do
monumento, enquanto distinguia ainda o trabalho novo do antigo (são
construídas novas partes em travertino com detalhes simplificados, de
forma a mostrar claramente a estrutura original em mármore.)

 Essas idéias foram levadas a outros países, como por exemplo França e
Grécia, e se tornaram referências-padrões para trabalhos de restauração
posteriores.
Construções medievais
 Enquanto na Itália foi dada maior atenção aos monumentos da Antigüidade, os
países do norte europeu, tais como a Inglaterra, Alemanha e França, começaram
a procurar por 'antigüidades locais', identificadas em estruturas medievais que
refletiam suas próprias histórias e identidades nacionais.

 Rapidamente, esse movimento gerou o renascimento de estilos antigos, tais como


o Renascimento Clássico e o Renascimento Gótico, ambos extremamente
elegantes, embora baseados em princípios diferentes.

 Na Inglaterra, já no fim do século dezoito, ocorreram críticas e debates calorosos


sobre as restaurações de moda que freqüentemente resultavam em
catedrais e igrejas completamente renovadas. Arquitetos treinados em
tradições clássicas tendiam a favorecer projetos axiais e perspectivas abertas,
alterando assim o projeto original e eliminando características históricas.

 O mais ativo desses críticos foi John Carter (1747-1817), que estava envolvido
no estudo e registro de catedrais históricas para a Sociedade de Antiquários.

 Mais tarde, a restauração tornou-se mais radical, e o principal arquiteto foi


George Gilbert Scott (1811-78), responsável por centenas de restaurações de
edificações históricas, especialmente igrejas e catedrais, em meados do século
dezenove.
Restauração Estilística
 A França sofreu as conseqüências da Revolução Francesa e somente em
1830 ocorreu uma iniciativa para proteger prédios históricos, quando
Ludovic Vitet (1802-73) foi nomeado o primeiro Inspetor Chefe dos
monumentos, sucedido por Prosper Mérimée (1803-70), em 1834.

 Em 1837, uma Comissão governamental foi apontada para supervisionar as


atividades de restauração. O projeto estava nas mãos de arquitetos, o mais
conhecido sendo Eugène E. Viollet-le-Duc (1814-79), encarregado da
maioria das maiores restaurações de cerca de 1840 até sua morte.

 Em seus trabalhos, foram desenvolvidos os princípios da 'restauração


estilística', cujo objetivo de tal restauração era então restabelecer a
edificação histórica, de uma forma que se supunha que ela tivesse no
período mais significativo de sua história. Lidando com a arquitetura
medieval, isso geralmente significava a remoção de adições posteriores,
especialmente aquelas em estilo clássico, e a 'restauração' da estrutura
em sua forma ideal.

 Essa abordagem tornou-se um verdadeiro modismo, que foi exportado para


outros países na Europa e depois para todo o mundo.
Movimento de conservação
 Restaurações estilísticas - provocaram fortes críticas. A nova consciência
histórica que evoluiu do século dezoito chamou a atenção para o
significado da autenticidade do material histórico dos monumentos
antigos.

 Compreendeu-se que o trabalho de um artesão ou de um artista era


inevitavelmente caracterizado pela cultura e pelas condições
socioeconômicas da época. Era, portanto, impossível reproduzir o
trabalho em seu significado original em um contexto cultural
diferente, mesmo que as formas fossem fielmente copiadas.

 O principal promotor desse movimento conservacionista foi John Ruskin


(1819-1900), que condenou a restauração como “a destruição mais
total que uma edificação pode sofrer, uma destruição da qual não se
podem recolher vestígios: uma destruição acompanhada de uma
descrição falsa da coisa destruída”.

 O resultado de suas críticas foi uma mudança gradual das atitudes para
uma abordagem mais conservadora e mais respeitosa para com as várias
fases históricas da construção.
Movimento de conservação
 A partir de 1860, o debate levou a um aumento da atenção para
com a conservação, acusando a palavra 'restauração' de indicar
uma ação negativa.

 Junto com Ruskin, um lutador destacado do movimento 'anti-


restauração' foi William Morris (1834-96), que fundou a
Sociedade para a Proteção das Edificações Antigas (SPAB), em
1877. A política da SPAB tinha foco na promoção da manutenção e
do cuidado, publicando manuais e diretrizes, inclusive o Manifesto
(1877), escrito por Morris.

 O movimento expandiu-se para outros países. Na Itália, o


movimento conservacionista encontrou eco nos círculos
universitários de Milão, difundido por Camillo Boito (1836-
1914), cuja 'Carta del restauro' (1883) enfatizava a
manutenção dos materiais históricos de todos os períodos,
assegurando que as novas intervenções fossem claramente
marcadas, por exemplo, diferenciando-as ou datando-as. A
abordagem foi chamada de 'restauração filológica'.
Desenvolvimento urbano
 A segunda metade do século dezenove viu o desenvolvimento gradual de
administrações estatais responsáveis pela proteção e conservação das
estruturas históricas.

 Na fase inicial, a principal atenção foi dada a edificações simples ou


monumentos. Uma tomada de consciência do valor de áreas históricas só
aconteceu muito mais tarde.

 Áreas urbanas históricas foram submetidas a renovações radicais, e


distritos inteiros puderam ser reconstruídos, como foi relatado por John
Ruskin, na França e na Itália.

 Assim também foi a renovação do centro de Paris, conforme o projeto de


Hausmann no entorno de 1850, que praticamente não causou preocupação
aos arquitetos restauradores.

 Mesmo em alguns casos de restaurações, cidades inteiras poderiam ser


consideradas monumentos, como no caso da cidade fortificada de
Carcassonne, restaurada por Viollet-le-Duc e por seus sucessores na
segunda metade do século.
Valores Patrimoniais
 No final do século, as associações de historiadores nos
países de língua alemã discutiam os problemas dos
centros urbanos, e políticas de conservação foram
gradualmente sendo desenvolvidas em muitos países.
 Para isso contribuíram os estudos (1889) de Camilo Sitte
sobre a natureza dos centros urbanos medievais.
 Uma importante contribuição para a formulação da teoria
da restauração veio de Alois Riegl (1857-1905), um
historiador da arte austríaco, cujo Denkmalkultus (Cult of
Monuments) foi publicado em 1903.
 Riegl tornou clara a distinção entre 'monumentos'
(edificados para transmitir uma mensagem) e 'monumentos
históricos' (edificações que adquiriram valor histórico
através do tempo).
 Sua analise dos valores (valores históricos e valores
contemporâneos) foi uma contribuição importante para o
pensamento moderno.
Primeiras Cartas
 Nas primeiras décadas do século 20, o arquiteto Italiano e planejador
de cidades Gustavo Giovannoni (1873-1947) deu atenção especial a
prédios residenciais, a 'arquitetura menor‘, como uma parte essencial
da estrutura das áreas históricas, junto com os principais 'monumentos'
públicos.

 O pensamento e os ensinamentos de Giovannoni foram fundamentais


para o desenvolvimento das políticas italianas de conservação no
contexto politicamente delicado do Fascismo Italiano. Ele enfatizou o
papel da pesquisa e da analise científica na tentativa de ler e interpretar
os monumentos antigos.

 Chamada de 'restauração cientifica'. Suas idéias foram resumidas na


Carta del Restauro, de 1932, seguindo a linha e indo além da
declaração da Conferência Internacional de Atenas (Carta de Atenas),
no outono de 1931, para a qual ele também contribuiu.

 Nesses documentos, houve um movimento definitivo para longe da


restauração estilística, em direção à política moderna de
conservação.
CIAM
 Enquanto alguns arquitetos ainda estavam inclinados a procurar incentivos
nos estilos históricos, o Movimento Internacional tendeu a afastar-se do
passado, visando às necessidades emergentes da sociedade
contemporânea, baseada numa racionalidade clara.

 Foi significativo o estabelecimento das Conferências Internacionais em


Arquitetura Moderna (CIAM), em 1928.

 conferência da CIAM, de 1932, em Atenas, produziu uma declaração


importante, a chamada Carta de Atenas, editada e comentada por Le
Corbusier (não confundir com o documento de 1931).

 Mesmo lidando com o projeto moderno, a CIAM fez referências à proteção


de áreas históricas - caso fossem saudáveis o suficiente para as pessoas.

 Deveriam ser projetadas novas construções dentro do espírito


contemporâneo, sem se permitir o pastiche. Isso foi levado algumas vezes
a um extremo quase destrutivo, não demonstrando qualquer simpatia para
com o tecido histórico.
Reconstrução pós-guerra
 A Segunda Guerra Mundial causou enorme destruição nas cidades
históricas, especialmente na Europa Central, mas também em
outras partes do mundo, resultando em uma grande campanha de
reconstrução nas décadas seguintes.

 A perda súbita de arredores e vizinhanças familiares chocou as


pessoas, e houve uma vontade generalizada de reconstruir os
prédios perdidos.

 As soluções variaram da reconstrução das edificações


históricas, na forma que elas tinham antes da guerra, como em
Varsóvia, ao uso de formas modernas de construção, como nos
arredores de St. Paul, em Londres.

 No caso de Florença, houve uma concessão que produziu a


reconstrução de volumes e ritmos antigos, mas usando uma
linguagem arquitetural moderna.
Teoria da Restauração
 A destruição enfatizou a necessidade de se clarearem as diretrizes para a
restauração de estruturas históricas danificadas. Na Itália, o pensamento filosófico
foi muito influenciado por Benedetto Croce (1866-1952), que fortaleceu a
importância de uma abordagem crítico-filosófica para a história e a historiografia.

 Nos anos 30, houve uma abertura em direção ao pensamento alemão, como
expresso na filosofia por Edmund Husserl e Martin Heidegger, assim como a
teoria da restauração de Alois Riegl.

 O Instituto Italiano de Restauração foi estabelecido em 1938 pelo historiador da arte


Giulio Carlo Argan (1904-94). Cesare Brandi (1906-88) foi nomeado seu
primeiro diretor.

 Brandi desenvolveu sua teoria da restauração (1963); considerava relevante o valor


de uso para coisas que tinham sido concebidas como um instrumento ou ferramenta,
em que a principal questão se relacionava com o restabelecimento de suas funções.
Ele via a restauração fundamentalmente como uma metodologia e como um
momento crítico no reconhecimento do trabalho em sua consistência física e suas
polaridades estética e histórica.

 A teoria de Brandi pode ser vista como uma síntese do pensamento restaurador
moderno, e ele fornece a metodologia fundamental para a prática da restauração,
tanto em relação aos trabalhos de arte como de arquitetura.
Legislação Francesa

 Na França, as políticas oficiais tinham favorecido fortemente prédios


públicos importantes. A proteção podia ser estendida aos arredores de tais
monumentos, até uma distância de 500 metros.

 Uma novidade importante na identificação de áreas históricas foi a


legislação proposta pelo Ministro da Cultura, André Malraux, a assim
chamada Lei Malraux, de 1962.

 No inicio, o propósito era selecionar áreas pitorescas negligenciadas e


restaurá-las ou reconstruí-las como áreas monumentais, enfatizando suas
qualidades estéticas e históricas particulares.

 Os resultados foram problemáticos, especialmente do ponto de vista


sociocultural, uma vez que os habitantes iniciais tiveram de ser removidos
para ser substituídos por famílias mais abastadas, aptas a sustentar o custo
da restauração. Com o tempo, entretanto, as políticas mudaram e foram
buscadas soluções mais simpáticas, como no caso de Strasbourg.
Planejamento Italiano
 Na Itália, importantes cidades históricas foram danificadas durante a guerra, tais como
Florença e Gênova, exigindo maiores esforços de reconstrução, aumentando a
consciência da importância dessas áreas históricas.

 Debate nos anos 1950, promovendo várias iniciativas – foi dada atenção especial a
pequenos vilarejos nas montanhas, tais como Assisi, onde toda a cidade e suas
paisagens circundantes foram protegidos no plano diretor (1952).

 No caso de Urbino, nos anos 1960, o plano diretor integrou harmoniosamente o


desenvolvimento moderno com o tecido histórico existente, dando também proteção
especial à paisagem circundante.

 Como resultado dos debates Italianos, o conceito de 'centro histórico', inicialmente


limitado ao centro real da cidade, foi concebido em referência a qualquer parte da cidade
tendo significado histórico. Gradualmente, todo o ambiente construído foi 'historicizado'.

 Nos anos 1970, houve alguns projetos-chave para a implantação desses conceitos na
prática. No caso de Bolonha, o tecido urbano histórico foi concebido como parte do
'serviço social' oferecido pela comunidade, considerando o valor adicional do significado
cultural.

 Foram desenvolvidos métodos aplicados ao tecido histórico, baseados em uma leitura e


análise sistemáticas do tecido em referência à tipologia e morfologia das habitações.
Conservação integrada

 O conceito de ''conservação integrada', já experimentado na Itália, foi definido e


divulgado, primeiro na Carta Européia da Herança Arquitetural (26 de Setembro de
1975), e, depois, na Declaração de Amsterdã (25 de Outubro de 1975), um resultado do
Ano da Herança Arquitetural Européia.

 A Carta declara que o patrimônio arquitetural consiste "não apenas de nossos


monumentos mais importantes: ela inclui os grupos de edificações menos
importantes em nossas cidades antigas e vilarejos característicos em seus
estados naturais ou modificados pelo homem". Tal herança é considerada em
perigo, e a conservação integrada afastaria esses perigos".

 A conservação integrada é alcançada pela aplicação de técnicas de restauração sensíveis


e pela escolha correta das funções apropriadas.

 No curso da história, os corações das cidades e algumas vezes de vilarejos foram


deixados a se deteriorar e se tornaram áreas de habitações de baixo nível. Sua
restauração precisa ser feita com um espírito de justiça social e sem levar à expulsão dos
habitantes mais pobres. Por isso, a conservação deve ser uma das primeiras
considerações em todos os planejamentos urbanos e regionais.

 Deve-se notar que a conservação integrada não elimina a introdução da arquitetura


moderna em áreas contendo edificações antigas, uma vez que o contexto existente,
proporções, formas, tamanhos e escalas sejam completamente respeitadas e sejam
usados materiais tradicionais.
Bibliografia

 BOITO, Camillo. Os Restauradores. (Conferência feita na Exposição de Turim em 7 de junho


de 1884). Cotia SP: Ateliê Editorial, 2002.
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 CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. Trad. Luciano Vieira Machado. São Paulo:
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 FEILDEN, Bernard M. Conservation of Historic Buildings. Technical Studies in the Arts,
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 FEILDEN, Bernard M. e JUKKA, Jokilehto. Manual para el manejo de los sitios culturales del
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 JOKILEHTO, Jukka ... et al. Gestão do Patrimônio Cultural Integrado. Apresentação e
organização Silvio Mendes Zancheti. UFPE / Centro de Conservação Integrada Urbana e
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da UFPE, 2002.
 LEMOS, Carlos A. C. O que é Patrimônio Histórico. 2a.ed. São Paulo: Brasiliense, 1982,
(Primeiros Passos, 51).
 VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel. Restauração. Cotia SP: Ateliê Editorial, 2002.

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